MandariM - Chinbra · O comitê organizador promete colocar à venda 7 milhões de ingressos para...

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62 ESTADÃOINVESTIMENTOS ESTADÃOINVESTIMENTOS 63 MANDARIM: Os brasileiros que se dispõem a estudar o idioma oficial da China têm bons dividendos profissionais Por Rita Tavares André Conti/AE Foi contratado pela Embraer e continua pilotando jatos. Na disputa pela vaga, Fer- reira acredita que pesou o conhecimento de mandarim. “Foi um diferencial”, diz o pro- fissional, que estuda o idioma há dois anos. Embraer, Embraco, Perdigão e Weg são algumas das empresas brasileiras que estão na China, porque apostam no futuro. A potência oriental é o único país que poderá desafiar o poderio dos Estados Unidos neste século. O banco de investimento Goldman Sachs projeta que o Produto Interno Bruto chinês será de US$ 44 trilhões em 2050, superando o norte-americano. Antes disso, a importân- cia do mandarim no mundo dos negócios deverá estar consagrada. Uma pesquisa, encomendada pelo British Council, diz que a importância do inglês será de 28% em 2010, enquanto a do mandariam será de 23%. “Hoje, estudar mandarim pode ser uma aposta de risco. Mas a tendência é de quem não souber o idioma daqui a vinte ou trinta anos estará obsoleto”, diz o gerente da Michael Page, Augusto Puli- ti, lembrando o básico: antes, é preciso aprender inglês e espanhol. > Básico em doze meses Hoje, no recrutamento de um executi- vo para uma indústria brasileira que se instale na China, a fluência no idioma conta mais do que a experiência profis- sional. “Temos dificuldades em achar profissionais”, explica Puliti. Para con- tornar o problema, Petrobras e Vale do Rio Doce, por exemplo, oferecem aulas para funcionários. Quando os primeiros amigos do piloto Ferreira foram trabalhar para companhias aéreas de Taiwan, ele decidiu que chegara a hora de estudar mandarim. Atualmen- te, mora em São José dos Campos, onde fica a Embraer, e percorre 96 quilômetros para uma aula semanal, em São Paulo. Ele assegura que vale a pena. O piloto é um dos quase 300 alunos do Centro de Língua e Cultura Chinesa Chinbra. O número de alunos vem crescendo rapidamente desde 2000 – na mesma velocidade em que se intensifica o comércio entre Brasil e o país mais populo- so do mundo. Entre 1999 e 2005, a China saltou do 12º para o 3º lugar na lista dos principais des- tinos das exportações brasileiras. Os chine- ses são os principais compradores da soja e do miné- rio de ferro brasileiros. “A maioria dos alunos vem motiva- mandarim, estão também João e Helena, da família Saad, pro- prietária da TV Bandeirantes. No Brasil há quase vinte anos, a professora Yan utiliza o método de ensino Pinyin, que reproduz, em alfabeto romano, os sons do manda- rim. Esse é o caminho mais fácil para o aluno aprender a falar – a parte mais dura do aprendizado. Há sons que não existem no português. Em vez de 26 letras, há milhares de ideogramas e uma única sílaba em mandarim permite quatro ou cinco entonações. “Mai”, por exemplo, pode signifi- car “comprar” ou “vender”, dependendo da entonação utilizada. Nada que se aprenda rapidamente, e essa é ape- nas parte do desafio. Ao mesmo tempo, é preciso aprender a ler e desenhar os ide- ogramas. No Chinbra, o curso básico de mandarim dura um ano, mas Yan afirma que o aluno só terá fluência após quatro anos de aulas. Em 1995, havia 5 mil inscritos para as provas de proficiência em mandarim que são aplicadas anu- almente ao redor do mundo pela Universidade de Pequim. Dez anos depois, eram 40 mil. Atualmente, a estimativa do governo chinês é de que 40 milhões de pessoas ao redor do mundo estejam estudando o idioma, e a expectativa é que o número suba para 100 milhões até 2010. O gover- no chinês lançou um A prender mandarim, o idioma oficial da China, é uma tarefa tão difícil que muitos a consideram um projeto de vida. Atualmente, quem se dispõe a enfrentar esse desafio intelectual ganha mais do que o acesso a 5 mil anos de história, arte e ciência de uma civilização prodigiosa – conquista, também, dividendos profissionais. É o caso do piloto Fernando Amado Fer- reira, que, após trabalhar 18 anos na Varig, trocou de emprego, em abril de 2006, e escapou do fim melancólico da empresa. aprenda aqui e agora EDUCAÇÃOIDIOMAS { André Conti/AE Katia trocou a USP por um intercâmbio de nove meses em Hangzhou da pelo trabalho”, explica a vice-diretora do Chinbra, Yan Liang. No início, a procura era de empresários de comércio exterior. Depois, chegaram advogados, auditores, médicos e outros profissionais. Na terceira onda, apareceram os universitários. Agora, ainda timidamente, é a vez das crianças. É o caso do pequeno Antônio, de oito anos, filho do publicitário Nizan Guanaes, dono da agência África. Quando o garoto teve a primeira aula particular, o professor encontrou um aluno pouco interessado. Bastaram duas ou três aulas – de acordo com o professor Alexan- dre Qi, da Chinbra – para que Antônio mudasse de idéia e começasse a memo- rizar as primeiras palavras. No grupo da meninada pioneira no

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MandariM:Os brasileiros que se dispõem a estudar o idioma oficial da China têm bons dividendos profissionais• Por rita Tavares

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Foi contratado pela Embraer e continua pilotando jatos. na disputa pela vaga, Fer-reira acredita que pesou o conhecimento de mandarim. “Foi um diferencial”, diz o pro-fissional, que estuda o idioma há dois anos.

Embraer, Embraco, Perdigão e Weg são algumas das empresas brasileiras que estão na China, porque apostam no futuro. a potência oriental é o único país que poderá desafiar o poderio dos Estados Unidos neste século. o banco de investimento Goldman sachs projeta que o Produto Interno Bruto chinês será de Us$ 44 trilhões em 2050, superando o norte-americano. antes disso, a importân-

cia do mandarim no mundo dos negócios deverá estar consagrada. Uma pesquisa, encomendada pelo British Council, diz que a importância do inglês será de 28% em 2010, enquanto a do mandariam será de 23%. “Hoje, estudar mandarim pode ser uma aposta de risco. mas a tendência é de quem não souber o idioma daqui a vinte ou trinta anos estará obsoleto”, diz o gerente da michael Page, augusto Puli-ti, lembrando o básico: antes, é preciso aprender inglês e espanhol.

> Básico em doze meses

Hoje, no recrutamento de um executi-vo para uma indústria brasileira que se instale na China, a fluência no idioma conta mais do que a experiência profis-sional. “temos dificuldades em achar profissionais”, explica Puliti. Para con-tornar o problema, Petrobras e vale do Rio doce, por exemplo, oferecem aulas para funcionários.

Quando os primeiros amigos do piloto Ferreira foram trabalhar para companhias aéreas de taiwan, ele decidiu que chegara a hora de estudar mandarim. atualmen-te, mora em são José dos Campos, onde fica a Embraer, e percorre 96 quilômetros para uma aula semanal, em são Paulo. Ele assegura que vale a pena. o piloto é um dos quase 300 alunos do Centro de Língua e Cultura Chinesa Chinbra. o número de alunos vem crescendo rapidamente desde 2000 – na mesma velocidade em que se intensifica o comércio entre Brasil e o país mais populo-so do mundo. Entre 1999 e 2005, a China saltou do 12º para o 3º lugar na lista dos principais des-tinos das exportações brasileiras. os chine-ses são os principais compradores da soja e do miné-rio de ferro brasileiros.

“a maioria dos alunos vem motiva-

mandarim, estão também João e Helena, da família saad, pro-prietária da tv Bandeirantes.

no Brasil há quase vinte anos, a professora Yan utiliza o método de ensino Pinyin, que reproduz, em alfabeto romano, os sons do manda-rim. Esse é o caminho mais fácil para o aluno aprender a falar – a parte mais dura do aprendizado. Há sons que não existem no português. Em vez de 26 letras, há milhares de ideogramas e uma única sílaba em mandarim permite quatro ou cinco entonações. “mai”, por exemplo, pode signifi-car “comprar” ou “vender”, dependendo da entonação utilizada. nada que se aprenda rapidamente, e essa é ape-nas parte do desafio. ao mesmo tempo, é preciso aprender a ler e desenhar os ide-ogramas. no Chinbra, o curso básico de

mandarim dura um ano, mas Yan afirma que o aluno só terá fluência após quatro anos de aulas.

Em 1995, havia 5 mil inscritos para as provas de proficiência em mandarim que são aplicadas anu-almente ao redor do mundo pela Universidade de Pequim. dez anos depois, eram 40 mil. atualmente, a

estimativa do governo chinês é de que 40 milhões de pessoas

ao redor do mundo estejam estudando o idioma, e

a expectativa é que o número suba para

100 milhões até 2010. o gover-

no chinês lançou

u m aprender mandarim, o idioma oficial da China, é uma tarefa tão difícil que muitos a consideram um projeto de vida. atualmente,

quem se dispõe a enfrentar esse desafio intelectual ganha mais do que o acesso a 5 mil anos de história, arte e ciência de uma civilização prodigiosa – conquista, também, dividendos profissionais.

É o caso do piloto Fernando amado Fer-reira, que, após trabalhar 18 anos na varig, trocou de emprego, em abril de 2006, e escapou do fim melancólico da empresa.

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Katia trocou a USP por

um intercâmbio de nove

meses em Hangzhou

da pelo trabalho”, explica a vice-diretora do Chinbra, Yan Liang. no início, a procura era de empresários de comércio exterior. depois, chegaram advogados, auditores, médicos e outros profissionais. na terceira onda, apareceram os universitários. agora, ainda timidamente, é a vez das crianças. É o caso do pequeno antônio, de oito anos, filho do publicitário nizan Guanaes, dono da agência África.

Quando o garoto teve a primeira aula particular, o professor encontrou um aluno pouco interessado. Bastaram duas ou três aulas – de acordo com o professor alexan-dre Qi, da Chinbra – para que antônio mudasse de idéia e começasse a memo-rizar as primeiras palavras. no grupo da meninada pioneira no

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site que ensina a língua gratuitamente.no Brasil, o interesse aumentou após

a viagem do presidente da República à China em 2004. muitas empresas decidi-ram oferecer aulas de mandarim aos fun-cionários, de olho nos negócios. ao abrir um escritório em Xangai, a Bolsa de mer-cadorias e Futuros (Bm&F) precisou ofe-recer uma versão, em mandarim, do seu site na internet para atender à demanda dos investidores sobre cotações de merca-dorias básicas, como soja e minério de ferro.

o escritório em Xangai prepara a maior parte do material e a equipe de comunicação da Bm&F abastece o site com as traduções.

diante dessa demanda, a instituição contratou um professor de manda-rim para dar aulas a um grupo de funcionários. “as pessoas precisam ter um conhecimento mínimo para evitar erros básicos

no site”, afirma o diretor de comunicação da Bm&F, noênio spinola.

Essa troca de informações é facilitada pela presença de um chinês naturalizado brasileiro no comando do escritório da Bm&F em Xangai. aos sete anos, Guey Chien veio para o Brasil, onde estudou e trabalhou. Em 2004, voltou para a terra natal, representando a bolsa brasileira. ainda há, porém, poucos profissionais com o perfil de Guey no mercado de traba-lho, o que vem impulsionando carreiras.

a trajetória de Paulo Farkas Bitelman prova isso. Em 2003, no último ano do curso de Relações Internacionais, ele

Viagem para o futuro

Que tal ser um dos 800 mil turistas estrangeiros

esperados pelo governo chinês para a Olimpíada de 2008? Como falta um bom tempo, é possível planejar e estar lá na época dos jogos, entre 8 e 24 de agosto de 2008. A cerimônia de abertura está marcada para as 20h do dia 8, porque o número 8 significa prosperidade e boa sorte na cultura chinesa.A agência de viagens China Tur estima que uma pessoa precisa de US$ 8 mil para ir à Olimpíada. Passagem aérea, 15 dias de hospedagem em apartamento duplo em hotel quatro estrelas, ingressos para a cerimônia de abertura e quatro ou cinco disputas esportivas devem custar cerca de US$ 5 mil. O restante seria destinado a alimentação, passeios e outras despesas. “Já tenho trinta reservas”, conta Sokan Kato Young, dono da China Tur. Os preços são uma estimativa, porque as companhias aéreas e os hotéis só aceitarão reservas no 1º trimestre de 2007.

oLImPíada 2008

O comitê organizador dos jogos anunciou que serão colocados à venda mais de 7 milhões de ingressos, a maioria com preços “muito baratos”, embora não haja estimativa desses valores. Para quem não conseguir ingresso para um dos 30 estádios em Pequim, haverá telões nas ruas – ou seja, diversão gratuita.Quem pretende fazer a viagem de 30 horas até Pequim deve começar a se preparar. O ideal é trabalhar com horizonte de 18 meses – o ano de 2007 e o primeiro semestre de 2008. Sem rendimento, seria preciso reservar US$ 445 ao mês para acumular US$ 8 mil. O consultor Paulo Fraletti sugere duas estratégias:

1. quem não puder destinar o equivalente a US$ 445

por mês para esse projeto, mas conseguir poupar parte expressiva do necessário (o equivalente a US$ 345 por

mês, por exemplo) e estiver disposto a se arriscar, pode investir num fundo de ações. Ao final, o poupador pode ter mais ou menos dinheiro do que aplicou. “Quem assume o risco, pode sonhar”, diz o consultor. O desempenho passado de ações não indica como será seu desempenho futuro, mas prova que é possível ocorrer valorização expressiva ao longo de um ano e meio. Em 18 meses até o final de setembro, o Ibovespa médio subiu 37% e o IBRX-50 teve alta de 46%. Esses dois índices são os mais utilizados pelos fundos de ações;

2. quem puder reservar o equivalente a US$

445 por mês, deve apenas proteger da desvalorização cambial o dinheiro já guardado. Há diversas formas de fazer isso. Uma é comprar dólares nos bancos e corretoras credenciados pelo Banco

Central. Outra possibilidade é comprar traveller’s checks, que permitem reembolso em caso de roubo ou perda dos papéis. No ato da compra, assine os cheques no canto superior.Pode-se também aplicar num fundo cambial, que cobra taxa de administração e tem ganho tributado pelo IR. Uma alternativa inovadora é o Visa Travel Money (VTM), um cartão eletrônico para saques e compras na rede Visa, “carregado” por depósitos do cliente. O cartão vale por três anos e, no Brasil, é oferecido pelo Banco Rendimento.

O comitê organizador promete colocar à venda 7 milhões de ingressos para os jogos

Após 18 anos na Varig, o mandarim pesou na contratação de Ferreira pela Embraer

Chinês em livrosEstá à venda nas livrarias e na internet o “Manual Chinês para Brasileiros em 60 Horas: Ouça, Fale, Leia, Escreva”, em dois volumes, acompanhado de CDs. O livro foi escrito pela professora Yuan Aiping, que dá aulas no Centro Cultural China Brasil. A instituição tem três filiais na cidade do Rio de Janeiro e 250 alunos, incluindo turmas apenas com funcionários da Petrobras e da Vale do Rio Doce.No manual, estão listadas, com tradução e pronúncia, as 540 palavras mais usadas no cotidiano e diálogos com temas específicos que socorrem iniciantes. Em fevereiro de 2007, Aiping lançará o livro “Como dizer tudo em chinês para negócios”.

arranjou um estágio na Câmara Brasil-China de desenvolvimento Econômico. Lá, começou a estudar mandarim. seis meses depois, formado, aos 22 anos, foi transferido para a China, representando a câmara. Bitelman tinha aulas diárias de quatro horas de mandarim. os professores não dominavam o inglês e seus companhei-ros de turma eram japoneses e coreanos. “Entrei de cabeça. Foi uma imersão forte”, conta, relembrando as dificuldades. Quatro meses depois, em dezembro de 2003, Bitel-man deu outro salto profissional.

Foi convidado para comandar o escritó-rio de uma grande empresa de comércio exterior brasileira em Xangai. depois de um ano do “intensivão” em mandarim, Bitelman relaxou um pouco e passou a fazer duas aulas por semana. “Hoje, falo bem, mas ainda tenho muito a aprender”, afirma modesto, após os anos de estudos e de vida na China. na metade de 2006, Bitelman voltou para são Paulo, para a sede da empresa, mas continua conectado à China. “Fiquei acostumado a trabalhar de madrugada”, explica, lembrando a dife-rença de 11 horas entre os países, o que faz com que, para negociar, um dos lados mude o horário do sono.

Quem busca uma experiência como essa tem de ficar atento às oportunidades. a China vem dando os primeiros passos para facilitar o intercâmbio educacional com o Brasil. Em outubro, mandou repre-

Comitê organizador da Olimpíada http://en.beijing2008.com/Agência China Tur é www.chinatur.com.brCorretoras e bancos credenciados pelo BC para atuar no mercado de câmbio www.bacen.gov.br/?RED-INSTCREDCartão Visa Travel Money www.rendimento.com.br

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sentantes de 32 instituições acadêmicas para participar de uma feira de educação em são Paulo. o país quer atrair alunos de graduação, mestrado, doutorado e cursos de mBa. Um dos organizadores da feira, o pre-sidente-executivo da Câmara Brasil-China de desenvolvimento Econômico, Paul Liu, afirma: os jovens que derem importância a aprender o mandarim valerão muito no mercado nos próximos anos.

> Alojamento da fábrica

o número de opções de cursos aumenta dia a dia. a agência paulistana de viagens sem destino oferece dois pacotes: um deles, de quatro semanas, em que o aluno faz um curso básico de mandarim. são 20 horas semanais de aulas e custa cerca de Us$ 2 mil. o outro, de 12 semanas, oferece o mesmo curso e, em seguida, um estágio não remu-nerado, e sai por pouco mais de Us$ 4,5 mil. a sem destino tem parcerias com a escola francesa de idiomas BLs e o International students Center – ambas em Pequim.

Uma das estudantes que zarpou para o outro lado do mundo em 2006, para um programa de intercâmbio, é Katia Urata, de 23 anos. Ela trancou a matrícula no quarto ano de Engenharia de telecomu-nicações da Universidade de são Paulo (UsP). o objetivo é fazer um estágio de nove meses em uma empresa estatal de telecomunicações em Hangzhou.

no início de 2006, ela viu um anúncio da associação Internacional para Inter-câmbio de Estudantes para Experiência técnica (Iaeste, na sigla em inglês), que oferece a possibilidade de intercâmbio em vários países do mundo. disputou a vaga com estudantes de outros países e vai ganhar Us$ 250,00 por mês. Katia vai morar num alojamento para funcionários

da empresa. “Quero ficar mais tempo”, diz, contando que tentará concluir o curso de graduação numa universidade chinesa. Em abril, quando percebeu que o estágio estava bem engatilhado, Katia começou a estudar mandarim. Ela tinha noções básicas de japonês, o que ajudou o enten-dimento dos ideogramas chineses, porque há semelhança na escrita das duas lín-guas. mas, em seis meses, não foi possível aprender muito e Katia chegou ao destino falando apenas o básico.

antes de viajar, a estudante já tinha des-coberto um outro brasileiro entre os fun-cionários da empresa, o que lhe deu algum alívio sobre a chegada. sua preocupação concentrava-se sobre a reação que os chi-neses teriam ao saberem que ela é filha de japoneses. sua professora recomendou que ela dissesse apenas que é brasileira, sem dar detalhes sobre a ascendência. China e Japão enfrentaram-se em duas

guerras nos séculos 19 e 20, e a animosi-dade e o rancor ainda persistem entre as duas populações. ter problemas por causa da ascendência é uma questão menor no Brasil, mas corriqueira por lá.

a maior dificuldade na vida de estudan-te de Renata Wang na China era conven-cer seus interlocutores que ela era, de fato, brasileira. ao explicar-se, dizia que seu pai descendia de chineses, e sua mãe, de japo-neses. o relato provocava estranheza pro-funda, porque um casamento desse tipo era freqüentemente considerado absurdo. Cansada das reações, Renata passou a dizer que era coreana, japonesa, filipina ou mesmo chinesa – de Hong Kong, o que explicaria seu sotaque.

aos 22 anos, Renata embarcou em 2004 para a China. sem falar uma pala-vra em mandarim, e com um inglês capenga, foi com parentes para uma viagem de férias, mas decidiu ficar para estudar o idioma, trancando a matrícu-la do curso de arquitetura. “Liguei para minha mãe e ela concordou”, conta. todo o processo foi facilitado pela família chinesa, que cuidou dos deta-lhes práticos.

Renata planejava ficar seis meses, mas morou o dobro do tempo num hotel no campus da Universidade de Língua e Cultura de Pequim. tinha quatro horas de aulas diárias. Cercada de estudantes de todo o mundo, não foi nada difícil a adaptação. só ficou triste mesmo nas festas de natal. À medida que o domínio do mandarim melhorava, viajou sozinha ou com amigas por 28 cidades do país. “Hoje, leio, escrevo e falo mandarim”, afirma Renata, que planeja, no entanto, voltar a estudar para não esquecer o que aprendeu. se quiser, poderá fazer isso até mesmo sozinha, com material didá-tico existente no Brasil (veja o quadro). a professora de mandarim Yuan aiping, porém, alerta que os livros devem ser usados como complemento de aulas. “Chinês é um idioma muito difícil”, diz aiping, em português impecável. O

Aos 22 anos, Bitelman assumiu a representação de uma empresa brasileira em Xangai

A maioria dos alunos procura as aulas

motivada pelo trabalho, afirma Yan Liang

Para aprender: Chinbra www.chinbra.com.br; Centro Cultural China Brasil www.chinabrasil.com/index.html e site do governo chinês www.ecchinese.netPara intercâmbios: Sem Destino www.semdestino.com.br e Iaeste www.iaeste.org

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