Manifesto Campanha Colorindo a Faculdade de Negro 2012

download Manifesto Campanha Colorindo a Faculdade de Negro 2012

of 2

Transcript of Manifesto Campanha Colorindo a Faculdade de Negro 2012

  • 7/28/2019 Manifesto Campanha Colorindo a Faculdade de Negro 2012

    1/2

    Li

    Nesta semana, o COLETIVO FEMINISTADANDARA lanou a campanha Colorindo afaculdade de Negro , com oficinas e debates,alm de intervenes culturais e artsticas nasArcadas. Todas essas atividades, apesar de serempromovidas por um coletivo que prioritariamente formado por mulheres brancas,foram protagonizadas por mulheres negras, quecompartilharam suas histrias, pontos de vista,opinies e arte.

    Mas qual o sentido detrazermos essa semana?

    A construo destasemana denota aimportncia de trazermos

    o debate de raa e decultura negra para dentroda universidade, alm derefletir a maneira pelaqual ns entendemos quea cultura negra deva ser trazida para afaculdade, rompendo com o modelorepresentado pelas Mulatas no Grito do Peru.

    RAA E CULTURA NEGRA NA

    UNIVERSIDADE

    Se observarmos quantas pessoas negras soestudantes nessa faculdade, com certeza,conseguimos contar nos dedos o nmero demulheres e homens negros que sentam ao nossoredor nas salas de aula.

    Ao mesmo tempo, a maioria das funcionrias efuncionrios terceirizados negra, prestandoservios socialmente desvalorizados, como ocaso da limpeza das salas e dos banheiros.

    Essaconstataoexplicita um forte recorte racial e classista nasuniversidades pblicas brasileiras, especialmentena Universidade de So Paulo. A nossauniversidade no comporta diversidade de raae classe, de forma que sua estrutura permaneceda mesma maneira que fora criada: visandoformar as elites brancas e economicamentepoderosas do pas. Elitista, a universidade se

    fecha para a insero de novas camadas dopovo, mantendo e aprofundando seu vis anti-

    democrtico e anti-popular.

    Essa falta de diversidadena universidade significaque, dentro dela, muitasvozes so abafadas, e avoz da negritude, com

    certeza, uma delas. Sedependermos dos debatestradicionais da

    faculdade, dificilmentedebateremos que a

    estrutura hierrquica e segregadora de raa latente tanto na esfera material quanto culturalda vida. De um lado, temos a dificuldade deacesso s universidades e aos cargos de poder,contribuindo para manuteno da excluso e

    marginalizao da populao negra. De outro,temos que a cultura negra sempre avaliadacom base na diferena ou inferioridade emrelao cultura hegemnica, de maneira queou desvalorizada (como as religies negras) ou vista somente como sensual, quente e extica(como o caso das mulatas).

    Tendo em vista essa estrutura hierrquica, oCOLETIVO FEMINISTA DANDARA se prope a

    promover, junto com outros coletivos dafaculdade, o debate sobre cotas raciais e sociaisnas universidades pblicas, acreditando queatividades como as realizadas durante esta

    COLETIVO FEMINISTA DANDARA apresenta a campanha:

    COLORINDO A

    FACULDADE DE NEGRO

  • 7/28/2019 Manifesto Campanha Colorindo a Faculdade de Negro 2012

    2/2

    semana so fundamentais nesse processo. Nestesentido, trazer a cultura negra para as arcadas,prestigiando as apresentaes e oficinas, cumpreo papel de dar voz a essa negritude que aindaest fora da universidade, mas que precisa estarcada vez mais dentro dela!

    MULATAS NO GRITO DO PERUEstudamos em uma das mais antigas Academiasde Direito do Brasil, onde muitas personalidadesestudaram, criaram e fizeram histria. A partirdessas criaes que ns reproduzimos, ao longodos anos, muitas prticas que viraram tradio!A mais famosa delas a Peruada, antecedidapelo Grito do Peru!

    E se perguntssemos: qual o motivo de termulatas no Grito do Peru? Alguns poderiamresponder que porque uma tradio danossa faculdade. Mas o fato que as mulatasnem sempre existiram no Grito do Peru, emesmo se existissem, as tradies no soeternas, elas mudam conforme as percepes dasociedade. E se h uma tradio que violenta,que ressalta a submisso de uma raa e de umgnero ao outro, podemos e devemos mud-la.

    As mulatas refletem e reforam essa submisso.H quem diga que elas esto prestando umservio qualquer, permeado por um contrato.No se considera, entretanto, que esse servio naverdade revela uma estrutura de poder que sevale da mercantilizao do corpo da mulhernegra. Esta cresce e convive em uma sociedadeque historicamente ensina aos negros, desdemuito cedo, que para ser aceito preciso negar-se a si mesmo, preciso esconder sua negritude.Ao mesmo tempo, o imaginrio do senso comumerotiza o seu corpo e lhe diz que pode sersocialmente reconhecida se utiliz-lo comoreferncia sexual e sensual. A mulata, nocarnaval, justamente isso: a possibilidade deuma mulher que sofre cotidianamente com adiscriminao racial e com os trabalhos maisprecarizados ser prestigiada pelo menos uma vezao ano.

    Nesse sentido, a campanha Colorindo afaculdade de Negro pretende ser um entremuitos momentos, de trazer a cultura e o debatede negritude para dentro da universidade,reforando o protagonismo das mulheres negrasneste processo.

    Dana, msica, capoeira, oficina de costura soferramentas de troca e de sensibilizao, j queno preciso ter pele escura ou cabelo crespopara se agregar luta contra o racismo.

    Questione, debata, participe! A campanha estaberta a todos e todas que queiram umafaculdade mais colorida!

    COLETIVO FEMINISTA DANDARA