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AMBINCIA-Servios Ambientais, Lda. [email protected] http://ambienciaonline.blogspot.com 962640031 Ambincia 933031962 (Eng. Raquel Sousa)

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NDICE Objectivos Pedaggicos do Curso------------------------------------------------------------3 1. Introduo----------------------------------------------------------------------------------------4 2. Fertilidade do Solo-----------------------------------------------------------------------------5 3. Tcnicas Preventivas em agricultura Biolgica----------------------------------------15 4. Estimativa de risco e nvel econmico de ataque-------------------------------------24 5. Luta Biolgica----------------------------------------------------------------------------------26 6. Produtos Autorizados para proteco fitossanitria----------------------------------27 7. Bibliografia--------------------------------------------------------------------------------------28

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Objectivos Pedaggicos do Curso de Biohorta Pretende-se que no final deste curso os participantes sejam capazes de: 1 Sesso: Planificar uma horta segundo as tcnicas de Agricultura Biolgica

2 Sesso: Elaborar uma pilha de composto, verificar os parmetros de compostagem e aplicar o composto

3 Sesso: Planificar uma sebe

4 Sesso: Planificar a colocao de armadilhas de forma a poderem proceder Estimativa de Risco e correspondente NEA 5 Sesso: Identificar as principais pragas da horta e as tcnicas curativas de Agricultura Biolgica aplicveis em cada situao.

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1. IntroduoA Agricultura Biolgica (AB) um sistema de produo agrcola (vegetal e animal) que procura a obteno de alimentos de qualidade superior, recorrendo a tcnicas que garantam a sua sustentabilidade, preservando o solo e o meio ambiente, evitando o recurso a produtos qumicos de sntese e adubos facilmente solveis e privilegiando a utilizao dos recursos locais. Na agricultura convencional so muitos os problemas associados, nomeadamente causados pela aplicao de adubos qumicos de sntese e pesticidas. Aplicao de adubos qumicos de sntese: Poluio dos recursos hdricos; Inibio da componente biolgica do solo; o o o o Maior desenvolvimento de pragas; Diminuio da fertilidade do solo; Aumento da eroso; Aumento da dependncia em relao aos adubos;

Qualidade dos produtos; Aplicao de pesticidas.

Aplicao de pesticidas: Poluio do solo; Poluio dos recursos hdricos; Contaminao dos alimentos; Desiquilbrios biolgicos; o Desaparecimento de espcies; o Resistncias; Intoxicaes;

Outros problemas: Elevado consumo energtico Uso de plantas geneticamente modificadas Produo animal intensiva o Antibiticos, hormonas, etc.

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2. Fertilidade do Solo2.1 Constituio do solo - Matria Mineral Slida ( fragmentos de rocha e minerais): Textura ( proporo relativa de argila, limo, areia) depende da rochame Estrutura pode ser melhorada por aco do agricultor ( cobertura do solo, sementeira de gramneas, aplicao de matria orgnica, mobilizao em perodo de sazo, com alfaias de dentes). Afecta a permeabilidade/ drenagem do solo, o arejamento a compactao e mobilizao e a germinao das razes.

- Matria Orgnica: Tem efeitos sobre o aquecimento do solo, estrutura, capacidade de reteno de gua, actividade microbiana, etc. fundamental para a fertilidade do solo.

2.2 Biologia do solo Um solo pode ter 5 ton de microorganismos/ha! Minhocas Fungos Bactrias Actinomicetas

Micorrizas Associao simbitica de fungos com as razes das plantas. Acontece espontaneamente na maioria das espcies vegetais. Benefcios: - Aumentam a absoro de P e outros nutrientes (p.e., cobre, zinco,ferro) - Aumentam a captao de gua e a resistncia das plantas secura - Produzem hormonas vegetais que promovem o crescimento e a entrada em florao das plantas - Melhoram a estrutura do solo - Protegem a planta contra organismos patognicos -Aplicao regular de matria orgnica

Como favorecer as micorrizas:

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-No aplicao de adubos qumicos P e N -No aplicao de herbicidas e fungicidas -Mobilizao para arejamento do solo Nitratos em gua gua para consumo humano: VMR Valor mximo recomendado 25 mg/l VMA Valor mximo admissvel 50 mg/l Estudo do ISA ( Batista et al, 1998) Regio: Ribatejo e Oeste 55 furos de abastecimento pblico 55% : 25 mg/l 15% : 26 a 50 mg/l 20% : > 50 mg/l 2.3 Fertilizao em AB 2.3.1 Aplicaes regulares de matria orgnica Reciclagem de todas as matrias orgnicas da quinta, sem queimar os resduos de cultura/compostagem/mulching Sideraes Aplicao complementar de adubos orgnicos

2.3.2 Aplicao de correctivos e adubos minerais em formas insolveis ou pouco solveis Em pr-mistura nas camas dos animais ou nos compostos orgnicos, em aplicao de superfcie, com ligeira incorporao Quantidades moderadas ( controlo por anlises de terra)

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Quadro I Valores de pH preferidos pelas culturas Cultura pH Cultura pH Cultura Abbora 5,5-7 Cebola 6-7 Girassol Acelga Agrio Aipo Alface Alho Alho francs Amndoa 6-7,5 6-6,8 6,17,4 5,5-7 5,5-8 6-6,8 6-7,5 Cenoura Centeio Cevada Chicria Couvebrculo CouveBruxelas Couve-flor Couve galega Couve Portuguesa Couve Rbano Ervilha Escarola Espargo Espinafre Espinafre NZ Feijo Funcho doce 5,7-7 5-6,5 6,5-8 5-6,8 6-7,3 5,77,3 6-7,3 5,56,8 5,57,5 5,56,8 6-7,5 5,66,7 6,27,7 6,27,6 6-6,8 5,6-7 5-6,8 Laranja Linho Luzerna Maa Marmelo melancia Melo Milho

pH 6-7,5 6-7,5 5-7 6,5-8 5,47,5 5,77,2 5-6,8 6-7

Cultura Rbano Repolho Ruibarbo Rutabaga Salsa soja Tabaco

pH 6,17,4 6-7 5-6,8 5,5-7 5,56,8 6-7

Amendoim 5,36,6 Arroz 5-6,5 Aveia Aveleira Banana Batata Batata doce Beringela Beterraba Castanha 5-7 6-7 6-7,5 4,86,5 5-6,8 5,4-6 6-7,5 5-6,5

5,57,5 Mostarda 5,56,8 Nabo 5,56,8 Noz 6-8 Oliveira Pepino Pera Pimento Quiabo rabanete 6-7,5 5,77,3 5,67,2 7-8,5 6-6,8 5,5-7

5,57,5 Tomate 5,57,5 Tremocilha 4-6 Trevo Alexandria Trevo branco Trevo encarnado Trigo Videira 6-7,5 5,6-7 5,57,5 6-7,5 5,4-7

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Quadro II Tolerncia das hortcolas salinidade e perdas de produo para diferentes valores de salinidade do solo. Cultura Beterraba Brculo Tomate Pepino Melo Espinafre Couve Batata Milho doce Pimento Alface Rabanete Cebola Cenoura Feijo 0% 4 2,8 2,5 2,5 2,2 2 1,8 1,7 1,7 1,5 1,3 1,2 1,2 1 1 Diminuio da produo 10% 25% 50% 5,1 6,8 9,6 3,9 5,5 8,2 3,5 5 7,6 3,3 4,4 6,3 3,6 5,7 9,1 3,3 5,3 8,6 2,8 4,4 7 2,5 3,8 5,9 2,5 3,8 5,9 2,2 3,3 5,1 2,1 3,2 5,2 2 3,1 5 1,8 2,8 4,3 1,7 2,8 4,6 1,5 2,3 3,6

100% 15 13,5 12,5 10 16 15 12 10 10 8,5 9 9 7,5 8 6,5

2.3.3 Trabalho do solo sem reviramento em perodo de sazo Trabalho superficial frequante: estimula bactrias fixadoras de livre azoto e limita perdas de gua Trabalho profundo mas sem reviramento

2.3.4 Boa rotao Prados temporrios de flora variada includos na rotao Cereais: no mais de 2 anos seguidos no mesmo solo Leguminosas de gro, sobretudo em quintas sem animais Cultura sistemtica de adubo verde entre duas culturas principais Em horticultura: rotao de legumes e consociaes

Em termos prticos o agricultor no tem que se preocupar com todos os parmetros ao nvel da fertilizao. O carbono, o hidrognio e o oxignio no fazem parte do plano de fertilizao, mas os restantes macronutrientes e os micro Fe, Zn, Mn, Cu e B j tm de ser muitas vezes aplicados. Em AB, quando feita uma boa fertilizao orgnica as carncias de micronutrientes so raras. Mas muitas vezes os fertilizantes orgnicos so escassos ou caros e as carncias podem surgir.

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Quadro III Principais causas das carncias de alguns nutrientes e plantas mais sensveis. Elemento Causas de carncias Magnsio Excesso de calcrio; Exportao mdia: 20 a excesso de amnio em 100 kg/h solo cido; excesso de potssio, sobretudo em solo hmido e cido Enxofre Falta de matria Exportao mdia orgnica; solo muito 30-100 kg/ha cido e pouco arejado; solo lixiviado; solo calcrio Ferro Muito calcrio activo; pH Exportao mdia: alto; excesso de cido 0,5-1 kg/h fosfrico em solo cido, de cobre ou zinco. Cobre Rocha me pobre Exp. Mdia: 25-100g/ha (granitos, basaltos); solos cidos ou muito alcalinos; excesso de azoto e potssio Zinco pH alto, excesso de Exp.mdia: 100-300 fsforo; tempo frio e kg/h hmido Plantas mais sensveis Milho, sorgo, batata, beterraba, tabaco, macieira, videira, citrinos, nogueira, roseira Colza, couve, mostarda, alho, trevo, fava, feijo, ervilha, girassol, soja

rvores de fruto, em especial os citrinos; tremoo; soja; feijo

Cevada, trigo, gramneas forrageiras, ervilha, milho, batata, pessegueiro, ameixeira, citrinos,pereira Milho, sorgo, linho, feijo, fava, batata, beterraba, macieira, pereira, damasqueiro Boro Rocha-me pobre; pH Beterraba, nabo, couve, Exp.Mdia: 60-200 kg/ha alto; lixiviao pela gua tomate, leguminosas, da chuva ou por rega girassol, rvores de fruto. excessiva Mangans pH e calcrio activo rvores de fruto: Exp mdia: 150-600 altos; falta de matria pessegueiro, cerejeira, kg/ha orgnica; excesso de macieira, pereira; aveia, cobre ou zinco cevada, trevo, ervilha, feijo, batata. Molibdnio Solo cido; solo neutro Melo, pepino, tomate, Exp.Mdia: 10-20 kg/ha ou alcalino lixiviado leguminosas, couve, citrino, vinha

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3. Tcnicas Preventivas de Agricultura Biolgica A AB utiliza tcnicas de forma a manter a produtividade do solo, a nutrir as plantas e a controlar insectos, infestantes e outros inimigos das culturas: Rotaes de culturas; Consociaes; Compostagem; Adubao verde; Cobertura de solo; Limitao natural;

3.1 Rotaes A rotao ds culturas tem uma grande importncia em AB, e tem vindo a perdla na agricultura convencional devido vulgarizao dos adubos e pesticidas de sntese. A rotao importante principalmente por razes de fertilizao e sanidade das culturas, ou seja, na reduo de pragas, doenas e infestantes. Uma rotao obriga diviso do terreno em folhas de cultura, em nmero igual ao dos anos da rotao, isto de maneira a que, em cada ano, todas as culturas da rotao sejam cultivadas. Objectivos da rotao: Exportao de nutrientes mais equilibrada; Diversificar as substncias libertadas pelas razes e consequentemente diversificar a populao microbiana; Reduzir os ataques de pragas, doenas e infestantes; Aumentar a biodiversidade.

Critrios para o estabelecimento de uma rotao: Alternar culturas que tenham tipos de vegetao, sistemas radicais e necessidades nutritivas diferentes; No suceder plantas da mesma familia; No suceder plantas que sejam sensveis s mesmas doenas.

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Quadro IV- Culturas precedentes favorveis e desfavorveis em rotao

Familia/Cultura Compostas: Alface, alcachofra Crciferas: Couve, nabo Cucurbitceas: Melo, Melancia, pepino Liliceas: Alho, Alho francs, cebola Leguminosas: Ervilha, fava, feijo Solanceas: Batata, beringela, pimento, tomate Umbelferas: Aipo, cenoura

Precedente favorvel Alho, alho francs, batata, cebola Alho, alho francs, cebola, espinafre Alho, alho cebola Crucferas, Cucurbitceas, Leguminosas Alho, alho cebola Alho, alho cebola Alho, alho cebola, milho

Precedente a evitar Beterraba, couve, nabo, as Compostas Abbora, aipo, cenoura, feijo, melo, pepino, tomate, as Crucferas francs, Abbora , as Cucurbitceas Beterraba, milho, Liliceas francs, Leguminosas francs, Abbora, melo, pepino, Solanceas francs, Aipo, beterraba, cenoura

Vantagens Aumento da fertilidade do solo e melhoria da fertilizao das culturas; Eliminao e/ou diminuio do risco de pragas, doenas e ervas infestantes.

Inconvenientes Maior exigncia em mquinas e em planeamento das operaes culturais e da prpria rotao; Dificuldade em adequar as culturas tecnicamente mais aconselhveis procura do mercado.

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3.2 Consociaes Consociao uma tcnica de cultivo de pelo menos duas espcies de plantas ao mesmo tempo no mesmo terreno com o objectivo de funcionarem como estmulo favorvel uma em relao ao desenvolvimento da outra (melhorando a utilizao dos nutrientes do solo, o combate a pragas atravs de alelopatia e efeito barreira ou evitando infestantes devido a sombreamento). No Quadro V apresentam-se consociaes favorveis (S), desfavorveis (N) e sem efeito conhecido( ).1 2 3 S S S N S S S S S S S S S S S S S S S N N S N S S N N S N S S N N S S S S N S S N N N S S S S S S S S S S N N S S 4 5 S 6 N S S S S 7 8

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Acelga Aipo Alface Alho Alhofrancs Batata Beterraba Cebola Cenoura Couve Ervilha Espinafre Feijo Milho Morango Nabo Pepino Rabanete Tomate

9 S

10 S S S N S N S N

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S N N N N S S S

13 S S S N N S S N S N S S S S S S S

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S S S N N

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S S S N S S S N S S S

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Exerccio Proposto Preencha com um X nos espaos correctos a disposio de hortculas no terreno. Plantas companheiras Alface couve tomate cebola pepino abbora nabo fava feijo

3.3 Adubao Verde A adubao verde uma prtica ancestral da fertilizao do solo, pelo enterramento de plantas herbceas semeadas propositadamente para o efeito. Para escolher as espcies que se utiliza como adubo verde tem de se ter em conta: Tipo de solo; Clima; poca da sementeira; Cultura seguinte; Tipo de cultura; Disponibilidade de gua.

Nota: prefervel semear espcies consociadas. As plantas mais usadas como adubos verdes so as leguminosas com capacidade de fixao de azoto atmosfrico na raiz pela aco da bactria rizbio. Exemplos mais comuns em Portugal: - tremoo, temocilha, fava - ervilha, ervilhaca, chcharo, - trevo

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Trevo Fava Quadro VI Quantidades aproximadas de azoto fixadas pelas leguminosas Espcie Ervilha forrageira Ervilhaca Fava Feijo Gro de bico Lentilhas Ltus Luzema Meliloto Soja Trevo branco Trevo branco ladino Trevo encarnado Trevo subterrneo Trevo violeta Azoto fixado (kg/ha) 174-195 111 177-250 2-215 23-84 167-188 49-112 78-222 4 22-309 128 164-187 64 58-183 68-113

A incorporao do adubo verde segue os seguintes passos: 1) Corte do adubo verde em florao/frutificao; 2) Secagem sobre o terreno a cultivar durante 2 a 3 dias; 3) Enterramento a 5-10 cm de profundidade com grade de discos, escarificador ou charrua. A poca de incorporao depende da cultura seguinte. A fase mais indicada entre o final da florao e a frutificao do adubo verde, conforme as exigncias em azoto da cultura seguinte (a fertilizar).

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Quadro VII Classificao de culturas quanto sua exigncia em azoto Muito exigente (>120 kg/ha) Acelga Agrio Aipo-branco Alho Beringela Batata Beterraba Couve-deBruxelas Couve-flor Couve-repolho Endvia Espargos Milho Morango Tabaco Tomate Exigente (75-120 kg/ha) Aboborinha Alcachofra Alface Alho-francs Cardo Cebola Cebolinho Cenoura Centeio Cevada Chicria Escarola Espinafre Nabo Pepino Pimento Rabanete, rbano Trigo Pouco exigente (