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Ferramentas para Todos os direitos reservados. Parte integrante do livro Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável, do WWF-Brasil. Para conhecer os outros capítulos do Manual, o método de elaboração, os projetos parceiros e demais informações sobre este livro, visite o site do WWF-Brasil – www.wwf.org.br. SECÇÃO 01 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO CONTATOS DOS PARCEIROS E CONSULTORES P ARCERIA: APOIO: Ferramentas para um planejamento responsável Manual de Ecoturismo de Base Comunitária Arquivo pdf com 250 k 22 páginas, capa e verso da capa

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Ferramentas para

Todos os direitos reservados. Parte integrante do livro Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável, do WWF-Brasil.

Para conhecer os outros capítulos do Manual, o método de elaboração, os projetos parceiros e demais informações sobre este livro, visite o site do WWF-Brasil – www.wwf.org.br.

SECÇÃO 01SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

CONTATOS DOS PARCEIROS E CONSULTORES

PARCERIA:

APOIO:

Ferramentas para um planejamento responsável

Manual deE c o t u r i s m ode BaseComunitária

Arquivo pdf com 250 k22 páginas, capa e verso da capa

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIAFERRAMENTAS PARA UM PLANEJAMENTO RESPONSÁVEL

Publicação do Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil

FICHA TÉCNICA

Organizadora do Manual Sylvia Mitraud

Autores Anna Paula Santos, Ariane Janer, GilbertoFidelis, Jane Vasconcelos, Johan van Lengen,Leandro Ferreira, Marcos Borges, Max Dante,Monica Corulón, Roberto Mourão, SérgioSalazar Salvati, Sylvia Mitraud, TimothyMolton, Verônica Toledo, Waldir Joel deAndrade.

Edição TécnicaRobert Buschbacher, Sérgio Salazar Salvati,Sylvia Mitraud, Leonardo Lacerda

Coordenador do Programa de Turismo e MeioAmbiente do WWF-BrasilSérgio Salazar Salvati

Coordenação das Oficinas Sylvia Mitraud

Consultores do ProjetoJane Vasconcelos, Roberto Mourão, VerônicaToledo, Waldir Joel de Andrade, Ariane Janer,Gilberto Fidelis, Marcos Martins Borges

Coordenação EditorialAlexandre Marino - Varanda Edições Ltda

Projeto Gráfico, capa e edição em pdfPaulo Andrade

Fotos da capa:Sérgio Salazar Salvati

Tiragem: 3.000 exemplaresNovembro de 2003

Esta publicação, "Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável” é pu-blicada com o apoio da USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional - com sede naEmbaixada Americana no Brasil, nos termos do acordo nº 512-0324-G-00-604. As opiniões expressas do(s) autor(es)não necessariamente refletem as opiniões da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

Esta publicação contou com o apoio da Kodak Company, USA, nos termos do acordo de cooperação técnica celebra-do para apoio ao desenvolvimento dos projetos do Programa de Ecoturismo de Base Comunitária do WWF-Brasil. Asopiniões expressas do(s) autor(es) não necessariamente refletem as opiniões da Kodak Company.

A viabilidade desta publicação contou com a participação da Companhia Suzano de Papel e Celulose, por meio deconvênio de parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto Ecofuturo. As opiniões expressas do(s) autor(es) não necessa-riamente refletem a opinião desta Companhia.

Publicado em papel Reciclato - 100% reciclado

M294e Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamen-to responsável. /

[Organização: Sylvia Mitraud] - [Brasília]: WWF Brasil, c2003. 470p.: il. Color. ;21x14 cm.

BibliografiaISBN: 85-86440-12-4

1. Ecoturismo - Brasil. 2. Turismo Comunitário. 3. Metodologia de Planejamento e Gestão– Ecoturismo. 4. Capacitação Comunitária. 5. Conservação.

CDU 504.31

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Manual de Ecoturismo de Base ComunitáriaFERRAMENTAS PARA UM PLANEJAMENTO RESPONSÁVEL

Sumário

Agradecimentos ............................................................................................... . ........ 7

Apresentação ................................................................................................ . . .......... 9

Introdução ....................................................................... . . . . .......................... . . . . . . . . . . . 11

O WWF-Brasil e o Turismo Responsável .............. ..... . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

SEÇÃO 1

Planejamento Estratégico –Instrumentos para planos, diagnósticos

e desenvolvimento de projetos e produtos

1. Planejamento do ecoturismo .................................................................. . . . . . .. . .. 33

2. Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) ............................. . . . . . ....... 89

3. Elaboração do produto ....................................................................... . .. .......... 145

4. Viabilidade econômica ....................................................................... . . . . ......... 189

SEÇÃO 2

Implementação Responsável –Instrumentos para desenvolvimento físico,

educação e capacitação

5. Infra-estrutura de apoio ........................................................................ . . ... . . . . . . . 217

6. Implantação e manejo de trilhas .......................................... . . . . ....................... 247

7. Interpretação ambiental ................................................................................... 261

8. Capacitação comunitária ................................................ . . . . . . . ......................... 295

A numeração de páginas deste sumário corresponde à edição impressa em Novembro de 2003.

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SEÇÃO 3

Gestão Integrada –Instrumentos para controle,

administração e participação

9. Monitoramento e controle de impactos de visitação .............................. . . . . . . .... 315

10. Administração e práticas contábeis ........................................ . . . . . . . ................... 363

11. Participação comunitária e parcerias ................................................................ 381

12. Participação de voluntários em projetos de ecoturismo .................................... 399

13. Pesquisa na atividade de ecoturismo .................................................. . . . . . ......... 415

Glossário .......................................................................... . . . . . . ................................... 423

Contatos dos projetos parceiros e profissionais participantes do Manual .................. 443

Declaração de Ecoturismo de Quebec ............................. . . . . . . ................................... 447

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omo produto de um projeto desenvolvido de forma participativa e de longo prazo,muitas são as pessoas, os profissionais e as instituições que colaboraram de formadefinitiva para a publicação deste Manual, e é com prazer que o WWF-Brasilaproveita esta oportunidade para fazer seus agradecimentos. No entanto, a

menção a entidades e profissionais a seguir não esgota a lista de instituições e indivíduos queprestaram apoio e colaboração a este projeto, em diversas ocasiões.

Primeiramente, agradecemos à Associação Brasileira de Ecoturismo (ECOBRASIL), pelacolaboração desde o início do projeto. Foi desta parceria que surgiu a semente que gerou oPrograma de Ecoturismo do WWF-Brasil, posteriormente denominado Turismo e MeioAmbiente. Em especial, a idealização do programa, tanto em seus objetivos quanto em seumétodo de desenvolvimento, deve-se à criativa e crítica interação entre o WWF-Brasil, comsua especialidade em assuntos de conservação ambiental e de processos participativos, e àECOBRASIL, com seus conhecimentos na área empresarial do turismo.

Igualmente importante foi a participação e, principalmente, a dedicação de diversosprofissionais que atuaram como consultores; são especializados nas diversas áreas relevantesdo ecoturismo, mas também altamente compromissados com os objetivos de conservaçãoambiental e responsabilidade sócio-econômica do ecoturismo. Apesar do título de “consul-tores”, a colaboração desses profissionais em muito excedeu as expectativas e determinaçõescontratuais com o WWF-Brasil.

Ao longo de quatro anos, o WWF-Brasil trabalhou em parceria com as instituições execu-toras de oito projetos de conservação e desenvolvimento de diferentes regiões do Brasil,empregando de forma participativa, prática e interativa os diversos métodos apresentadosneste Manual, e capacitando técnicos para coordenar o desenvolvimento do ecoturismo nosprojetos. As instituições colaboradoras deste programa foram:

u Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC) – Silves/AM.u Associação dos Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros (ACV-CV) –

Alto Paraíso/GO.u Associação Mico Leão Dourado (AMDL) – Casimiro de Abreu/RJ.u Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR); Associação dos Seringueiros do

Vale do Guaporé (AGUAPÉ); e Ação Ecológica Guaporé (ECOPORÉ) –Porto Velho/RO.

u Projeto TAMAR (IBAMA e Fundação Pró-TAMAR) – Fernando de Noronha/PE.u Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) – Campo Grande/MS;

Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo (SEMATUR) – Corumbá/MS.u Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) –

Curitiba/PR.u Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (ISDM) – Tefé/AM.

Agradecimentos

Roberto Mourao
Highlight
Roberto Mourao
Highlight
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Sem a colaboração e o compromisso dessas instituições parceiras, suas diretorias e seusrepresentantes técnicos, e dos consultores, este Manual não poderia ter sido elaborado. Aotodo, foram mais de 45 pessoas, trazendo suas perspectivas profissionais e regionais paraconstituir um único produto. O entusiasmo, o esforço, o compromisso, a paciência e, porvezes, a persistência dos técnicos e técnicas que as representaram neste projeto foram impres-cindíveis para a realização prática das atividades em cada um dos projetos parceiros. Umagradecimento especial fica registrado para as instituições e projetos que sediaram as ofici-nas semestrais do projeto.

Com essas colaborações e esforços, o Projeto de Capacitação em Ecoturismo do WWF-Brasil e a metodologia do Manual seguiram os princípios do ecoturismo comunitário, consti-tuindo um processo participativo desde sua concepção.

A realização do Programa de Capacitação e a elaboração deste Manual foi possível tam-bém devido ao apoio da parceria com a USAID, cujos recursos ao longo de três anos possi-bilitaram não só a realização das oficinas, mas também o apoio técnico e financeiro aos pro-jetos que possuíam carências específicas para o desenvolvimento do ecoturismo.Conseqüentemente, precisamos também estender os agradecimentos às instituições queapoiam diretamente o desenvolvimento do ecoturismo dos projetos parceiros.

Além de agradecer a todo o quadro do WWF-Brasil, pela confiança e colaboração, nãopodemos deixar de lembrar daqueles que contribuíram para esta publicação e que hoje nãomais pertencem à sua equipe. Apoiando os técnicos que participaram ativamente no desen-volvimento do programa, outros colaboraram nas etapas posteriores de edição, revisão eencaminhamentos logísticos etc, como Rogério Dias (ex-coordenador do Programa deEcoturismo), Leonardo Lacerda (ex-Superintendente de Conservação) e Garo Batmaniann (ex-Secretário-Geral).

Que todo o esforço e dedicação investidos para a elaboração deste Manual se traduzamem efetiva contribuição para o desenvolvimento de experiências de Ecoturismo no Brasil con-forme seus princípios de sustentabilidade.

Brasília, novembro de 2003

Sylvia MitraudOrganizadora do Manual

Sérgio Salazar SalvatiCoordenador do Programa de Turismo

e Meio Ambiente do WWF-Brasil

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Em 1994, o WWF-Brasil deu início aosprojetos Silves e Veadeiros, primeirosprojetos de campo de conservação e

d e s e nvolvimento, cujo objetivo eram odesenvolvimento do ecoturismo como alter-nativa econômica sustentável. Também datade 1994 a elaboração, pelo Gove r n oFederal, das Diretrizes para uma PolíticaNacional de Ecoturismo, onde definiu-se,entre outras abordagens, o conceito bra-sileiro de ecoturismo adotado neste docu-mento. No ano seguinte, o WWF-Brasilapoiou a realização da 1ª Bienal deEcoturismo de Canela, Rio Grande do Sul.

Esses eventos, associados a diversos con-tatos com profissionais que iniciavam o tra-balho no campo do ecoturismo, levaram aoclaro diagnóstico da ausência e/ou fragili-dade dos mecanismos existentes para asse-gurar que a atividade respeitasse os seusprincípios, tanto no que diz respeito à suainterface com a conservação da naturezaquanto com o beneficiamento prioritáriodas comunidades locais. A principal pre-ocupação do WWF-Brasil era com a possi-bilidade de o ecoturismo se transformar emmais uma atividade econômica exploradorae degradadora das unidades de conservaçãodo Brasil, em especial os Parques Nacionais.

Especificamente quanto ao objetivo deapoiar e consolidar modelos de ecoturismono Brasil, o W W F - B rasil primeira m e n t eprocurou estabelecer claramente os fatoreslimitantes e críticos para seu desenvolvi-mento e para o atendimento aos princípiosde sustentabilidade. Foi observado que osprincípios e a atual dinâmica da proposta doecoturismo no Brasil, a complexidade de

regiões e comunidades envolvidas e acarência de profissionais e de informaçõeslevavam a um quadro que vem distorcendoos princípios do ecoturismo.

Para o WWF-Brasil, o fator crítico quepoderia definir o tipo de relação que o eco-turismo teria com o ambiente natural e cul-tural – de degradação ou de conservação –e ra o desenvolvimento de metodologiaspara a realização das diversas atividadesque compõem o ecoturismo e que o difer-enciam do turismo tradicional. Por exemplo,métodos de interpretação ambiental, decontrole de impactos ambientais, da capaci-tação regional para prestação de serviços deecoturismo e do manejo de trilhas de baixoimpacto, adaptados à realidade das dife-rentes regiões do Brasil, e a capacitação deprofissionais de nível técnico para sua ade-quada aplicação, foram algumas das neces-sidades apontadas e que mereciam estudosde desenvolvimento.

Dessa forma, nasceu o Programa deEcoturismo do WWF-Brasil (PEC), posterior-mente chamado de Programa de Turismo eMeio Ambiente, tendo como meta principale de longo prazo “apoiar a adoção da ‘cer -tificação independente’ do ecoturismo noBrasil, por meio de uma metodologia multi -disciplinar aperfeiçoada em projetos decampo".

O objetivo específico dos primeiros trêsanos do projeto foi "propor e testar umametodologia de capacitação para treinarorganizações brasileiras de caráter ambien -tal para o desenvolvimento de ecoturismode base comunitária". O Manual deEcoturismo de Base Comunitária é o resul-

Apresentação

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tado da primeira fase deste programa, rea-lizada entre o final de 1996 e 2000, pormeio do projeto intitulado Capacitação parao Desenvolvimento do Ecoturismo de BaseComunitária.

A segunda e terceira fases, treinamento ecertificação, já vêm sendo implementadasem projetos parceiros.

A segunda fase compreende a dissemi-nação dos métodos do Manual em nívelnacional para públicos selecionados e o iní-cio de um programa de capacitação nosdiferentes biomas, destinados a técnicos emposições estratégicas e lideranças regionais,cujas funções serão de multiplicar seu con-teúdo em suas bases de atuação.

O Projeto de Capacitação para oD e s e nvolvimento do Ecoturismo de BaseComunitária, por intermédio deste Manuale da parceria com os projetos de campoque colabora ram para sua elaboração, pro-c u ra gerar meios práticos para uma melhore mais adequada implantação de projetosde ecoturismo visando o desenvo l v i m e n t ofuturo de um sistema de certificação, queconstitui a terc e i ra fase do programa, ema n d a m e n t o .

Apesar do longo processo de elabora ç ã o ,este Manual ainda não é um produto acaba-do. Desde o início do projeto, considerou-seo Manual como uma primeira versão sobrepráticas em ecoturismo. Entendemos, no en-tanto, que muitas das melhorias necessáriasvirão com a utilização e crítica do Manual poroutros profissionais e instituições de dive r s a spartes do Brasil. Com a sua publicação, nãose pretende esgotar os temas e métodosnecessários para a realização do ecoturismo,e muito menos colocá-lo como o únicoinstrumento disponível para técnicos e institu-ições. Pretende-se contribuir para a formaçãode profissionais capacitados nas dive r s a s

áreas temáticas do desenvolvimento de proje-tos, oferecendo um produto ainda inédito porconter orientações práticas para a realizaçãode atividades ligadas aos aspectos ambientais,sociais e econômicos do ecoturismo.

O tema abordado nesta publicação – oEcoturismo de Base Comunitária – permitiua organização sob a forma de Manual. Noentanto, devido à complexidade de algunstemas, por exemplo A d m i n i s t ração ePráticas Contábeis e Pesquisa, o desenvolvi-mento dessas atividades sempre requererá aorientação de especialistas, não bastando oconteúdo do Manual.

A abrangência e a complexidade dosprincípios do ecoturismo mostram queseria muita pretensão tentar elaborar ummanual que atendesse a todas as questõese demandas do ecoturismo de base comu-nitária. Este não foi o objetivo do W W F -B rasil. Nos diversos capítulos, várias técni-cas e experiências são disponibilizadas,algumas passíveis de adaptação e apli-cação sem necessidade de assessoria técni-ca. Outras fornecem subsídios para dis-cussão e contratação de serviços técnicosespecializados, ou leitura especializada.

O importante é que, pela primeira vezno Brasil, organizou-se de forma prática,acessível e, principalmente, atenta à reali-dade brasileira, um rico conjunto de infor-mações e orientações para a prática de eco-turismo no país. E com base neste programade capacitação, o WWF-Brasil vem procu-rando testar e aplicar seus conceitos emetodologias nos seus diversos projetos decampo, em todos os biomas brasileiros.

Espera-se que a leitura e aplicação dasferramentas aqui disponíveis venham a con-tribuir para s adoção do conceito de ecotu-rismo e seu desenvolvimento responsávelno Brasil.

Rosa Lemos de SáSuperintendente de Conservação

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O turismo é a setor econômico queapresenta os mais elevados índicesde crescimento no contexto mundi-

al, tendo expandido suas atividades nadécada de 90 em cerca de 60%, de acordocom dados da Organização Mundial doTurismo. No Brasil, o turismo é uma ativi-dade ainda emergente, porém de cresci-mento intenso nos últimos anos.

O desenvolvimento desse merc a d o ,inserido principalmente em locais de inte-resse cênico e tendo como base recursosnaturais de alta biodiversidade, tais como aAmazônia, o Pantanal, o Cerrado, a MataAtlântica e a costa litorânea, tem trazidopreocupações aos governos locais, às comu-nidades anfitriãs e às organizações conser-vacionistas por colocar em risco áreas natu-rais, protegidas ou não, de riquezas imensu-ráveis, assim como importantes patrimônioshistórico-culturais.

Isto deve-se à velocidade e escala dosinvestimentos públicos e privados, em detri-mento da aplicação prévia de mecanismosde planejamento participativo, legislação deuso do solo, zoneamento e proteção ambi-ental, educação dos visitantes e planos demonitoramento da atividade, que podemgarantir a proteção da base dos recursos na-turais e culturais que fundamentam os negó-cios do turismo. Na verdade, estes mecanis-mos não existem, não estão disponíveis ounão estão aplicados e consolidados. A buscadestes mecanismos, e de sua real eficiência,é o desafio de governos, mercados, comu-nidades e entidades não-governamentais.

Formas sustentáveis de turismo, como oecoturismo, têm potencial para contribuir

para a conservação da diversidade biológicadentro e fora de áreas protegidas, assimcomo promover melhorias na qualidade devida das comunidades locais e regionais.

I. O Ecoturismo e os princípios da sustentabilidade

Dentro dos diversos segmentos turísticos,o ecoturismo vem sendo apontado comoaquele que apresenta os mais altos índicesde crescimento, com um aumento dedemanda variando de 10 a 20% ao ano, deacordo com diversos estudos.

No Brasil, a realidade não é diferente. Ocontexto internacional favorecendo aschegadas estra n g e i ras, o crescimento domercado doméstico após o Plano Real, quealcança hoje mais de 40 milhões de desem-barques, e o grande potencial do Brasilcomo destino turístico têm, nos últimosanos, provocado um volume expressivo deinvestimentos governamentais e privados naindústria brasileira do turismo e em especialno ecoturismo. Esses fatos, associados àenorme diversidade cultural e de ecossis-temas do país e a ampla promoção do eco-turismo como negócio, fizeram com quehouvesse um aumento considerável de pro-jetos e programas de ecoturismo no Brasil. Aatividade, inicialmente praticada por orga-nizações não-governamentais como umaalternativa de desenvolvimento sustentável,é hoje prioridade e realidade para diversossegmentos da sociedade. Governos estadu-ais e municipais, bancos de investimentos,fundos verdes, empresários e organizaçõesnão necessariamente ambientalistas, como

Introdução

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o SEBRAE, passaram a investir no ecoturis-mo como uma opção de negócio ou comoopção de geração de emprego e renda.

O crescimento do ecoturismo no Brasil éinteressante e ao mesmo tempo preocu-pante. Interessante por ser a afirmação eexpansão de uma proposta associada aosprincípios de conservação e benefício comu-nitário. Preocupante devido à velocidade desua disseminação e crescimento como negó-cio, à complexidade dos seus propósitos eseu entendimento pelos diferentes atores dom e rcado, à fragilidade de ambientes ecomunidades diretamente envolvidas e àsdificuldades humanas e materiais dos dife-rentes órgãos públicos responsáveis pelocontrole da ativ i d a d e .

O ecoturismo é norteado por mínimosimpactos ambientais e culturais e por bene-fícios econômicos às comunidades envolvi-das. Ao observarmos a realidade do ecotu-rismo nas diversas regiões brasileiras, ficaevidente a dificuldade encontrada por pro-jetos e programas para atender aos princí-pios básicos acima descritos. Leva-se emconta que as dificuldades para encontraroportunidades econômicas no ambienterural brasileiro fazem com que as comu-nidades exerçam pressão demasiada sobreos recursos naturais, tais como vemos hojenas florestas tropicais da Amazônia e daMata Atlântica ou sobre o estoque pesqueirono Pantanal.

Por outro lado, o turismo também causaimpactos ambientais negativos significativosou não atinge as expectativas destas regiõesou das comunidades em termos de melho-rias socioeconômicas. Em diversos casos,ambos os resultados desfavoráveis ocorrem.E como o ecoturismo busca originalidade,áreas conservadas e autenticidade cultural,é comum que seja praticado em regiões degrande sensibilidade e complexidade sociale ambiental. Portanto, o bom planejamento,a definição correta de infra-estrutura, de umsistema de monitoramento e de vários ou-tros fatores são fundamentais para o sucessoda implantação do ecoturismo. No entanto,tudo isso é complexo e possui alto custo.

Outro problema é que, por ser uma ativi-dade nova e dinâmica, o ecoturismo noBrasil carece de metodologias, de infor-mações e de profissionais capacitados.

É também relevante a quantidade de pro-dutos que são associados ao ecoturismounicamente por envolverem atividades emambientes naturais, conservados ou não,sem qualquer outro objetivo além do lucro.Voluntariamente ou não, poder público,empresas e pessoas se aproveitam de falsosesquemas de “marketing ecológico” paravender um produto que, na verdade, não éecoturismo, processo que vem sendochamado de green washing (maquiagemverde de produtos). Entre outras razões, istoocorre por não haver um organismo e ummétodo de certificação de produtos de eco-turismo.

Observando o crescimento desordenadodo ecoturismo no Brasil, que preva l e c eainda hoje, os Ministérios do MeioAmbiente (MMA) e da Indústria, Comércio eTurismo (MICT), formaram, em 1994, umGrupo de Trabalho Interministerial que esta-beleceu diretrizes para o desenvolvimentodo ecoturismo no Brasil. Um dos produtosdesse grupo de trabalho foi a definição deecoturismo no contexto brasileiro:

O QUE É ECOTURISMO?

“Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável,

o patrimônio natural e cultural, incentivasua conservação e busca a formação

de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente,

promovendo o bem-estar das populações envolvidas”.

(Embratur, 1994)

Por ser uma conseqüência do movimen-to preservacionista da década de 70, asprimeiras definições de ecoturismo associa-vam a atividade apenas ao papel de preser-vação do ambiente natural. Este conceito

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INTRODUÇÃO

passou a ser reelaborado a partir daevolução do conceito de desenvolvimentosustentável e da conseqüente inclusão dohomem no processo de sustentabilidade.Portanto, a definição brasileira de ecoturis-mo acompanhou uma nova tendência doecoturismo mundial ao incorporar a popu-lação envolvida nos benefícios da atividadeturística (Whelan, 1991; Borges, 1995), on-de o maior ou menor grau de atendimentoàs necessidades socioculturais das regiõesreceptoras parece ser o maior diferencial en-tre as diversas definições.

Neste sentido, três grandes eixos temáti-cos sustentam o conceito brasileiro de eco-turismo: a sustentabilidade, a educação dovisitante e os benefícios às comunidadeslocais (Salvati, 2002).

A sustentabilidade se refere primordial-mente à conservação do ambiente natura lcomo pré-requisito para a manutenção doecoturismo à longo prazo. Mas sua viabili-dade (e sustentabilidade) econômica devetambém ser colocada em contexto, pois se oecoturismo não for planejado adequada-mente, seu desenvolvimento estará fadado aof racasso econômico e à degradação social eambiental. As bases que sustentam os negó-cios são os ambientes natural e cultural, naforma de recursos atra t ivos. Se esta base derecursos não permanecer conservada, nãoh averá mais o interesse da visitação. A sus-tentabilidade envo l ve, portanto, a criteriosautilização destes recursos, principalmente emparques e reservas. No âmbito da sustentabi-lidade econômica, metodologias e estra t é g i a sd e vem ser buscadas, criadas ou adaptadasp a ra se diagnosticar as atividades econômi-cas locais atuais e potenciais, visando ad iversificação econômica para a melhor ge-ração de renda e emprego, com a devidamanutenção do equilíbrio ambiental. Outroaspecto a ser levado em consideração é aadequada formulação de planos de viabili-dade econômica e de marketing, sem osquais o produto não se concretiza.

A questão da educação do visitante deveser entendida num sentido mais amplo den-tro do contexto de que o turismo deve ser

sempre informativo e educacional. Alémdisso, o ecoturismo proporciona ao visitantea compreensão e a consciência daimportância de se conservar a natureza, ahistória e a cultura dos lugares de visitação.A prática da educação ambiental no ecotu-rismo, principalmente por meio da interpre-tação da natureza, contribui para que o visi-tante tenha a possibilidade de transformar erenovar seu comportamento cotidiano. Arealidade urbana com a qual o turista con-vive rotineiramente passa a ser questionadagerando reflexões sobre consumo, poluiçãoe qualidade de vida. Objetiva-se, assim, aincorporação e tradução destas reflexões naforma de comportamento e posturas no seuambiente de origem. A educação do visi-tante para o respeito às culturas e tradições,ao uso da terra e aos sítios históricos, artísti-cos e arqueológicos deve também sercondição necessária para o ecoturismo.

O desenvolvimento socioeconômicosustentável de uma região deve ser o objeti-vo maior do ecoturismo e deve ser alcança-do quando há envolvimento das comu-nidades anfitriãs e a preocupação prementeem gerar benefícios locais. E isto somenteserá atingido se houver investimentos nacapacidade da comunidade em se prepararpara recebê-lo. O envolvimento da comu-nidade deve existir desde a fase de planeja-mento, participando e auxiliando na tomadade decisões sobre que tipo de ecoturismodeve ser desenvolvido e quais as suas neces-sidades e expectativas. Os benefícios para acomunidade somente virão com in-vestimentos na economia local, na infra-estrutura básica (saneamento, educação esaúde) e o seu efetivo envolvimento nacapacitação profissional para o turismo.

Podemos também analisar o conceitobrasileiro de ecoturismo sob o foco do de-safio a ser enfrentado para compatibilizarseu caráter de atividade econômica comseus dois outros aspectos definidores: porum lado a proteção ambiental das áreasonde se realiza e, por outro, a participaçãoe benefício das comunidades envolvidas,conforme segue:

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a) Potencial econômico X Proteção ambiental

O ecoturismo tem como principal atrati-vo ambientes naturais conservados, o quetransforma unidades de conservação, públi-cas ou particulares, em grandes alvos para odesenvolvimento da atividade. Garantir queo aspecto econômico não assuma pre-cedência sobre o ambiental significa que:❐ A atividade só deve ser desenvolvida

quando o potencial de impactos ambi-entais do ecoturismo é avaliado e con-siderado aceitável. Em áreas onde hárazões para se acreditar que o risco dedegradação ambiental é maior do que acapacidade de controlar os impactos davisitação o ecoturismo não deve serdesenvolvido, mesmo que a demandaturística e o potencial econômico sejamgrandes.

❐ Qualquer área natural que receba a visi-tação ecoturística deve possuir mecanis-mos para o monitoramento e controlede impactos ambientais. Esta é umaatividade que deve ser realizada perma-nentemente. Impactos excessivos ou quenão se consegue controlar por meio dediferentes estratégias são razão para ofechamento da área para o ecoturismo.

❐ Os rendimentos econômicos do ecotu-rismo devem colaborar para a proteçãoda área como um todo. O compromissocom a conservação na atividade de eco-turismo refere-se à proteção da áreacomo um todo e não apenas das áreasdiretamente visitadas. Pode ser feito dire-tamente, com métodos de intervenção erecursos financeiros e humanos de apoioà conservação, ou indiretamente pormeio da educação ambiental de visi-tantes e comunidades.

b) Potencial econômico x Participação e benefício da comunidade

Como qualquer outra ativ i d a d eeconômica no mercado competitivo, ao se

mostrar viável em uma determinada região,o ecoturismo tende a atrair investidores deporte, muitas vezes de fora da região. Atendência é a comunidade local ser atro-pelada por um processo de desenvolvimen-to de infra-estrutura e serviços onde ela figu-ra na melhor das hipóteses como emprega-da. Mas comumente é marginalizada domercado por incapacidade de manter omesmo nível de investimentos.

Geralmente, os impactos da atividadeecoturística sobre as comunidades sãopercebidos apenas quando atingem grandesdimensões e os benefícios esperados nãoocorrem. Isso acontece porque:❐ Nem sempre são utilizados os mecanis-

mos participativos e de interpretação dapercepção das expectativas e necessi-dades dessas comunidades sobre o eco-turismo na fase inicial do desenvolvi-mento da atividade.

❐ A atividade começa a se desenvolver porforça da demanda turística ao invés depor iniciativa da comunidade local. Abusca por novos destinos e atrativos éatividade sempre presente no ecoturismoe turismo de aventura. O mercado e ospróprios turistas não esperam o desen-volvimento de um produto para começara visitar uma área. Ao contrário, geral-mente o fluxo de turistas é o motivadordo desenvolvimento do ecoturismo. Istoleva ao desenvolvimento descontroladode infra-estrutura e serviços e freqüente-mente à eventual destruição dos atrativosnaturais e culturais. O ciclo de vida doturismo é muito dinâmico e uma regiãoou comunidade pode ser “descoberta” e“abandonada” pelo turismo com incrívelrapidez.

Este dilema possui um significado aindamaior quando se observa o papel do turismona cadeia econômica. A receita gerada peloturismo incrementa a circulação de moedanos destinos, não só pelos gastos diretos doturista, mas também nos indiretos. É o quechamamos de efeito econômico multipli-cador. Para que o turismo se realize não bas-

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INTRODUÇÃO

tam os serviços da agência de viagens, domeio de transporte, do meio de hospedageme de alimentação. É preciso tambémestradas de acessos, telecomunicações, sis-tema de saúde e segurança, e até pequenosserviços automotivos, como borracheiros. Eos seus gastos movem a economia local.Assim, o dinheiro circula pela economialocal, a partir dos gastos dos turistas, sejadiretamente através de serviços turísticos(hospedagem, alimentação, transportes eentretenimento), nos serviços de apoio turís-tico (postos de combustíveis, comuni-cações, infra - e s t r u t u ra, farmácias, postostelefônicos, marcenaria, agricultura etc), ouindiretamente, nos recursos gerados emimpostos e taxas ou nos gastos dos presta-dores de serviços turísticos.

II. O MANUAL

Disponibilizando metodologias inova d o-ras para a sustentabilidade ambiental,econômica e social de projetos de ecoturis-mo, o Manual de Ecoturismo de BaseComunitária orienta o planejamento de pro-jetos, sua implementação e monitoramento ea avaliação dos resultados. Onde o Manualnão se basta para a execução, ele orientatanto a contratação de serviços como a ava-liação do trabalho a ser realizado.

O tema abordado nessa publicação – oEcoturismo de Base Comunitária – estáapresentado sob a forma de metodologias,onde cada capítulo apresenta ferramentaspráticas para aplicação no campo. A maio-ria das metodologias contidas no Manual foitestada pelos projetos parceiros. Além disso,o Manual fornece informações sobre os pro-jetos parceiros e diversos estudos de casosenvolvendo suas experiências na aplicaçãodas metodologias deste Manual.

Pa ra facilitar a compreensão e utilizaçãodeste Manual, sua organização é compostapor três seções que apresentam as três fasesprincipais de qualquer projeto: planejamento,implementação e gestão. A impressão decompartimentação do processo de viabiliza-ção de um projeto não deve acontecer, pois

todas as fases de um projeto são de caráteraltamente dinâmicos e a integração dos dive r-sos temas em planejamento, implementaçãoe gestão é um caminho desejado. Vários capí-tulos possuem fases de planejamento e imple-mentação em suas metodologias e o momen-to de aplicá-las caberá aos técnicos do proje-to decidir. Como exemplo, a necessidade daparticipação da comunidade (cap. 3.11) ou aadesão de voluntários (cap. 3.12) no processode levantamento do potencial de ecoturismo(cap. 1.2). Deve-se salientar ainda que cadacapítulo apresenta uma bibliografia de refe-rência, que complementa mas tampoucoesgota as fontes disponíveis aos interessados.

O Manual está composto dos seguintestópicos e sessões:

IntroduçãoApresenta os temas turismo e ecoturis-

mo, define o conceito brasileiro de ecoturis-mo, seguido de uma discussão sobre as difi-culdades dos projetos para alcançar os seusprincípios. Além disso, apresenta os nomese a descrição dos projetos parceiros, o de-talhamento do método aplicado para a ela-boração deste Manual e o público-alvo aquem este trabalho se dirige.

O WWF-Brasil e a visão para

um turismo responsávelD e s c r e ve os trabalhos desenvo l v i d o s

pelo Programa de Turismo e Meio Ambientedo WWF-Brasil e sua visão de posiciona-mento sobre turismo e ecoturismo.

SEÇÃO I: Planejamento Estratégico –

Instrumentos para planos, diagnósticos e desenvolvimento de projetos

1- Planejamento do Ecoturismo Introduz conceitos em planejamento do

turismo e do ecoturismo e orienta na elab-o ração de planos em unidades de conser-vação, municípios ou regiões para a imple-mentação de um programa de ecoturismo.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

2 - Levantamento do Potencial Ecoturístico (Inventário)

Fornece uma metodologia participativa eadequada à realidade local para o levanta-mento de informações, propiciando acapacitação de moradores no planejamen-to, desenvolvimento e execução das ativi-dades de inventário e pesquisa, incluindo atabulação dos dados pesquisados e disponi-bilização de resultados para realização dediagnóstico e planos de ações.

3- Elaboração do ProdutoD e m o n s t ra os passos básicos para a

elaboração de produtos de ecoturismo apli-cando conceitos universais de marketing.

4- Viabilidade EconômicaDiscute os conceitos básicos para a

avaliação de investimentos no desenvolvi-mento de programas de ecoturismo e abor-da os aspectos empresariais da atividade afim de garantir seu sucesso econômico.

Seção 2Implementação Responsável –

Instrumentos para desenvolvimento físico,educação e capacitação

5- Infra-estruturade Apoio ao Ecoturismo

Reúne informações sobre o planejamentoe implantação de infra - e s t r u t u ra para o eco-turismo, utilizando tecnologias alternativa s .

6- Manejo de TrilhasApóia a capacitação em técnicas de leva n-

tamento, mapeamento, implantação e manu-tenção de trilhas, observando-se as peculiari-dades do ecossistema e da cultura local.

7- Interpretação AmbientalOrienta o desenvolvimento de progra-

mas educativos baseados na interpretaçãoambiental, como forma de conciliar a satis-fação do ecoturista e a conservação ambi-ental e cultural das áreas visitadas. Visa tam-bém promover mudanças positivas de com-portamento.

8- Programa de CapacitaçãoPropicia metodologia e informações

básicas - tendo como base a participaçãocomunitária - para a identificação de cursosprioritários, adequação de cursos à reali-dade da comunidade, valorização e capaci-tação de instrutores e monitores locais eidentificação de possíveis parceiros.

Seção 3Gestão Integrada – Instrumentos paracontrole, administração e participação

9- Monitoramento e Controlede Impactos de Visitação

Oferece aos gerentes de áreas prottegidas,sítios e atra t ivos naturais um instrumentoprático e viável que possibilite o monitora-mento e controle dos impactos de visitação.

10 Administração e Práticas ContábeisApresenta mecanismos práticos para

controles administrativo e contábil de umempreendimento de ecoturismo, comênfase nos conceitos mais importantes e aspráticas mais acessíveis para pequenasempresas.

11 Participação Comunitária e ParceriasDetalha os elementos que compõem os

conceitos de “participação comunitária” e“parcerias”, e apresenta um conjunto demétodos e estratégias para introduzir estesconceitos e processos dentro de um projetodo ecoturismo.

12 A Contribuição de Voluntários em Projetos de Ecoturismo

Demonstra a importância do diagnósticodas necessidades e potencialidades na ela-boração de um programa eficaz de volun-tariado para o ecoturismo, e fornece orien-tações gerais para seu planejamento deforma a ampliar o impacto social das açõesinstitucionais.

13 Pesquisa na Atividade de EcoturismoD e s c r e ve a importância da pesquisa

científica no contexto do ecoturismo e

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Para melhor compreensão do quadro da página seguinte:

Siglas da coluna “Estágio de desenvolvimento”,

A AvançadoMO Mediano, em operaçãoMI Mediano, em início de operaçãoM Mediano

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INTRODUÇÃO

mostra como seus resultados podem aper-feiçoar essa atividade. Pretende tambémfornecer subsídios para o desenvolvimentoda pesquisa.

No final do Manual constam ainda osseguintes tópicos:

– Glossário, com os principais conceitose definições usadas no Manual com os ter-mos técnicos e profissionais em turismo emeio ambiente.

– Contatos dos projetos parceiros e dosconsultores participantes;

– Carta de Quebec, com as diretrizesmundiais para o desenvolvimento respon-sável do ecoturismo por parte de empresas,g overnos, mercados, comunidades eagentes financeiros.

III. PROJETOS PARCEIROS

Para desenvolver um instrumento práticoe útil para técnicos leigos em ecoturismo eranecessário que o Manual fosse elaboradopor meio de um processo onde os diferentestemas desenvolvidos – os capítulos – fossemtestados na prática em diferentes contextosambientais, culturais e institucionais doBrasil. A composição dos projetos parceirosdo WWF-Brasil e do Manual respondeu aoscritérios de diversidade de:

❐ Ecorregiões do Brasil.❐ Tipos de unidade de conservação.❐ Tipos de instituição líder.❐ Tipos de proposta ecoturística.❐ Estágios de desenvolvimento da ativi-

dade ecoturística.

Nas páginas seguintes, apresentamos omome uma descrição detalhada de cadaprojeto parceiro, incluindo um encarte col-orido com mapa de localização e fotos dosprojetos.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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INTRODUÇÃO

IV. PÚBLICO-ALVO

Este Manual foi pensado para ser usadopor técnicos de entidades que desenvolvematividades de ecoturismo em unidades deconservação. Porém, o objetivo pode sermais amplo. Pode funcionar como uminstrumento de apoio a conservacionistasque desejem aplicar, em suas regiões de atu-ação, o ecoturismo como alternativa ded e s e nvolvimento socioeconômico e, aomesmo tempo, desenvolvimento ambientalde áreas protegidas ou não.

Por outro lado, ele será útil para alunos,professores e pesquisadores de unive r s i-dades, técnicos e planejadores de institui-ções governamentais e não-gove r n a m e n t a i s ,proprietários e gerentes de sítios e atrativose técnicos de projetos com abrangênciamunicipal ou regional. Se bem aplicado,pode facilitar o trabalho de implantação deprojetos de ecoturismo e propiciar melhorescondições para reduzir riscos e impactosn e g a t ivos diversos e ampliar as oportu-nidades e resultados.

Vale ressaltar aos leitores que esta publi-cação é uma experiência inédita no país,cujo conteúdo é proveniente de váriosautores de várias partes deste imenso Brasil.Por isto, sugere-se ao público-alvo, que ten-tará aplicá-lo em campo, que não veja oscapítulos como uma metodologia acabada,mas sim para ser adaptada frente às reali-dades locais e regionais.

A todos esses leitores, sugere-se o envio desugestões e críticas ao conteúdo dos capítulos.O W W F - B rasil está aberto para receber adap-tações e correções metodológicas efetuadasnos instrumentos aqui oferecidos a partir dosresultados de suas aplicações práticas.

V. MÉTODO DE ELABORAÇÃO DO MANUAL

O método de elaboração deste Manual sebaseou em um processo decisório participa-t ivo, subsidiado por etapas de teste e ava l i-ação do material produzido. Em um períodode dois anos e meio, foram realizadas seisoficinas técnicas que estabeleceram dire-

trizes, conteúdo e atividades do Manual,além de proceder à avaliação do materialproduzido e testado entre as oficinas.

Com o intuito de realizar um projeto quegerasse resultados práticos e adaptáveis aosdiferentes contextos socioculturais, políticose ambientais do País, o WWF-Brasil realizouuma oficina visando identificar os desafiospara o ecoturismo no Brasil e elaborar oscomponentes do projeto que seria desen-volvido. A oficina reuniu representantes doWWF-Brasil, especialistas atuantes no Brasilem diferentes e relevantes áreas para odesenvolvimento do ecoturismo e represen-tantes de organizações parceiras já enga-jadas na promoção dessa atividade. O grupodefiniu que a problemática do ecoturismono Brasil poderia ser assim descrita:

O ecoturismo praticado atualmente

no Brasil não aproveita seu potencial

de geração de benefícios para

as comunidades e para a conservação.

O contexto apresentado acima motivoua instituição de um Programa de Ecoturismopelo WWF-Brasil e a conceituação e desen-ho de um método para implementaçãoresponsável de projetos que viessem de fatoa contribuir para orientar o mercado ecomunidades rumo à elaboração e imple-mentação de projetos que se aproximemdos princípios do ecoturismo.

As etapas da metodologia definidas pelaequipe do Manual envolveram três aspectos– a definição dos participantes, o métodopropriamente dito e a assistência técnicaaos projetos parceiros.

➨ Participantes

A experiência dos participantes no dia-a-dia de projetos de ecoturismo, assim comoa sistemática de utilização e avaliação damaioria dos capítulos na implementaçãodos projetos parceiros, muito contribuírampara que o resultado final deste Manualfosse o mais próximo possível das diferentes

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

realidades do ecoturismo no Brasil. Cadaprojeto apontou um ou dois técnicos paraparticipar do Manual. Apesar de ter-se bus-cado a participação dos mesmos técnicosdurante todo o Manual, em alguns casosisso não foi possível. Esses profissionais sed i s t r i b u í ram da seguinte forma (ver nosAnexos do Manual a lista com os nomes dosparticipantes):

❐ Projeto Mamirauá: uma técnica perma-nente; um técnico parcial.

❐ Projeto Mico-Leão-Dourado: uma técni-ca permanente; um parcial.

❐ Projeto Superagui: duas técnicas perma-nentes; um parcial.

❐ Projeto Silves: um técnico e um comu-nitário permanentes.

❐ Projeto Estrada Parque Pantanal: umatécnica da Secretaria Estadual de MeioAmbiente permanente; dois técnicos daSecretaria Municipal de Meio Ambientee Turismo parciais.

❐ Projeto Veadeiros: dois técnicos/comu-nitários permanentes; um técnico/comu-nitário parcial.

❐ Projeto TAMAR / Noronha: um técnicopermanente.

❐ P rojeto de Ecoturismo de Rondônia:uma técnica permanente; dois comu-nitários parciais.

❐ WWF-Brasil: duas técnicas permanentes;sete técnicos parciais.

❐ Consultores: cinco permanentes; quatroparciais.

❐ Colaboradores: seis técnicos que partici-param apenas da oficina sobre partici-pação e parcerias (ver descrição de cadaoficina abaixo).

➨ Método

Foram realizadas seis oficinas entre 1996e 1999. A primeira, realizada em novembrode 1996, reuniu diversos consultores comexperiência em áreas-chave para o desen-volvimento do ecoturismo (que se transfor-maram em capítulos do Manual), represen-tantes de projetos parceiros do WWF-Brasil

que já desenvolviam o ecoturismo, e mem-bros da equipe técnica do WWF-Brasil paradesenvolver tanto o conceito do Manualquanto a sua estrutura.

Fazendo parte da estratégia metodológi-ca, tanto para aprofundar a compreensão doconceito de ecoturismo como para subsidiara elaboração deste Manual, os participantesda primeira oficina detalharam, segundo seuentendimento, os princípios do ecoturismoe estabeleceram as diretrizes que orientamseu desenvolvimento. Os tópicos gera i sdesses princípios, que estão detalhados noCapítulo 1.1 - Planejamento do Ecoturismo,são:

a) O ecoturismo deve contribuir paraa conservação do meio ambiente;

b) O ecoturismo deve promover a valorização cultural das comunidades, bem como sua capacitação para o gerenciamento participativo e de mínimo impacto dos recursos envolvidos;

c) O ecoturismo deve buscar a diversificação e integração econômica para a melhoria da qualidade de vida das comunidades;

d) No desenvolvimento do ecoturismo, a integração e equilíbrio entre conservação ambiental, respeito pela cultura local e a diversificação de atividades econômicas devem ocorrer via processo participativo.

Assim, foi nesta oficina que as diretrizeso r i e n t a d o ras do Manual, seu conteúdo,estrutura inicial e cronograma de elabo-ração foram definidos. Além disso, os par-ticipantes da oficina distribuíram entre si aresponsabilidade de elaborar a primeira ver-são dos diferentes capítulos que vieram acompor este Manual.

Os elementos básicos do método deimplementação do projeto de ecoturismo doWWF-Brasil foram assim definidos:

❐ Oficinas de capacitação e elaboração doManual. Foram planejadas quatro outras

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OFICINA

Elaboração ePlanejamento

Capacitação 1

Capacitação 2

Capacitação 3

Participação eParcerias

Capacitação 4

DATA

Novembro de1996

Setembro de1997

Março de1998

Setembro de1998

Novembro de1998

Maio de 1999

LOCAL

Projeto Veadeiros:Alto Paraíso, GO.

Projeto Silves:Silves, AM.

Projeto Mico-Leão-Dourado: SilvaJardim, RJ.

Projeto Estrada-Parque Pantanal:Corumbá, MS.

Brasília, DF.

Brasília, DF.

CONTEÚDO BÁSICO

Conceituação do Manual, diretrizes, estrutura e planejamento.

Capacitação em levantamento dePotencial Ecoturístico, ViabilidadeEconômica, Manejo de Trilhas eInterpretação Ambiental

Capacitação em Elaboração deProduto, Participação e Parcerias,Pesquisa e Voluntários

Capacitação em Monitoramento eControle de Impactos de Visitação,Programas de Capacitação, Infra-estrutura de Apoio ao Ecoturismo ePráticas de Administração eContabilidade.

Conceituação e elaboração de passos metodológicos.

Apresentação do capítulo deParticipação e Parcerias, elaboraçãodos exemplos referentes a cada projeto, avaliação final dos capítulos,elaboração de estratégias de disseminação e multiplicação doManual, planejamento da faseseguinte do Programa deEcoturismo do WWF-Brasil: a certificação.

21

INTRODUÇÃO

oficinas, com quatro sessões cada: (a)apresentação e discussão dos trabalhosrealizados no período anterior à oficina;(b) capacitação nos diferentes temas doManual, com base nos esboços iniciaisdos capítulos; (c) avaliação e aperfeiçoa-mento dos capítulos com base na expe-riência de sua implementação; (d) plane-jamento de atividades para o períodoseguinte. Buscou-se realizar as oficinasnas áreas de desenvolvimento dos proje-tos, colaborando para a troca de expe-riências entre os participantes. Umaquinta oficina foi realizada com o intuito

de subsidiar a elaboração do capítuloParticipação Comunitária e Pa rc e r i a s .Participantes do Manual com experiên-cia no desenvolvimento de processos departicipação e parceria foram reunidoscom colaboradores convidados especial-mente para a oficina (ver relação denomes nos anexos). O capítulo resul-tante desta oficina foi apresentado para orestante do grupo do Manual na últimaoficina de capacitação. Assim, somando-se todas as oficinas realizadas para aelaboração e implementação do Manual,foram realizadas seis oficinas:

OFICINAS REALIZADAS DURANTE O MANUAL

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❐ Assistência técnica para implementaçãode atividades planejadas nas oficinas. OWWF-Brasil garantiu a assistência técni-ca aos projetos parceiros de duas formas.Primeiro, por meio da visita dos consul-tores aos projetos durante os intervalosentre as oficinas (por exemplo, no inter-valo entre as oficinas de capacitação 1 e2, dois projetos receberam a visita técni-ca do consultor em manejo de trilhas).Segundo, durante as oficinas, parte doperíodo de trabalho foi alocado para aassistência técnica individualizada (porprojeto). Cada projeto pôde discutir comos diversos consultores presentes aspec-tos sobre o planejamento e implemen-tação das atividades que estavam desen-vo l vendo. Assim, buscou-se atender àsnecessidades de cada projeto, em dife-rentes fases de implementação do ecotu-rismo, mesmo que a atividade ainda nãot ivesse sido abordada na capacitação.

BIBLIOGRAFIA

WHELAN, T. (ed.). 1991. Nature Tourism.Washington, DC: Island Press.

BORGES, M. M. 1995. Tourism on the RioA raguaia, Brazil: To u r i s t ’s perc e p t i o n sand motor boat erosion. (Dissertação deMestrado) -- Department of Geographyand Recreation. University of Wyoming,WY, EUA.

EMBRATUR. 1994. Diretrizes Para umaPolítica Nacional de Ecoturismo. SílvioM. de Barros II e Denise H. de La Penha(Coord.). Embratur. Brasília,DF.

SALVATI, S. S. 2002b. Turismo responsávelcomo instrumento de desenvolvimento econservação da natureza. In: Diálogosentre a esfera global e local: con-tribuições de organizações não governa-mentais e movimentos sociais brasileirosp a ra a sustentabilidade, eqüidade ed e m o c racia planetária. Rubens Born[org.]. São Paulo: Peirópolis.

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Em 1996, iniciaram-se os primeirosprojetos de conservação e desenvolvi-mento do WWF-Brasil que incluíam o

incentivo ao ecoturismo como uma dasa l t e r n a t ivas para o uso sustentável dosrecursos naturais. Atualmente, o W W F -Brasil possui a maior carteira de projetos emturismo e meio ambiente do Terceiro Setorno Brasil.

Atuando em nível nacional, o WWF-Brasil está trabalhando com turismo onde háameaças à conservação da natureza ouonde o turismo possa ajudar na busca porsoluções. Com um enfoque integrado, amissão estabelecida para o Programa prevê:

Contribuir para a manutenção

das paisagens e da biodiversidade de áreas

prioritárias para a conservação por meio

do turismo responsável.

Para o WWF-Brasil, o turismo, em umanova concepção estratégica, deve ser umconjunto de bens e serviços que promova odesenvolvimento sócio-econômico em nívellocal. Assim, não deve ser considera d osomente como a implantação de meios dehospedagem, alimentação e locais derecreação e lazer, mas sim um conceito queintegra o desenvolvimento urbano e rural,criando um novo pólo de desenvolvimentocom investimentos em infra-estrutura, viasde acesso e na melhor qualidade nosserviços de educação, saúde, saneamento esegurança.

Há também que valorizar e proteger aspaisagens e sua diversidade biológica, assim

como o patrimônio histórico-cultural comobase essencial para o desenvo l v i m e n t oresponsável do turismo, contribuindo para asustentabilidade da atividade a longo prazo.

O WWF acredita que o ideal do “turismos u s t e n t á vel” é, atualmente, demasiadoambíguo e discutível pois o merc a d oenvolve aspectos de difícil solução como,por exemplo, o controle das emissões deCO2 dos transportes aéreos, responsáveispor 3% do total de emissão dos "gases estu-fas". O WWF-Brasil prefere trabalhar com otermo “turismo responsável” no contexto deuma estratégia para a sustentabilidadeampla (social, econômica e ambiental).

Turismo responsável é aquele que mantém

e, onde possível, valoriza as características

dos recursos naturais e culturais nos

destinos, sustentando-as para as futuras

gerações de comunidades, visitantes

e empresários.

Dentro do conceito de turismo respon-sável, o ecoturismo de base comunitáriapode ser descrito como:

Turismo realizado em áreas naturais,

determinado e controlado pelas

comunidades locais, que gera benefícios

predominantemente para estas e para as

áreas relevantes para a conservação

da biodiversidade.

Uma variedade de instrumentos é

O WWF–Brasil e o Turismo Responsável

Sérgio Salazar Salvati

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requerida para o alcance do turismo respon-s á vel. Isto inclui políticas e regulamentos,planejamento integrado em nível nacional,regional e local, principalmente para o zo-neamento, uso e ocupação do solo e deáreas protegidas, incentivos e códigos de éti-ca e de conduta empresarial, diretrizes seto-riais para o mercado, campanhas de educa-ção do visitante e esquemas de certificação.Pa ra ser efetivo, estes instrumentos precisamser integrados e combinados em uma políti-ca nacional com estratégias específicasdefinidas em programas e projetos.

OS PRINCÍPIOS DO TURISMORESPONSÁVEL

O WWF-Brasil acredita que o mercadoturístico precisa aceitar a responsabilidadepor seus impactos no ambiente natural e naspopulações e ativamente buscar reconhecê-los e lidar com sua redução. E neste sentido,os seguintes princípios são oferecidos comodiretrizes para os temas que o WWF-Brasilacredita que devem ser considerados nabusca pelo turismo responsável:

• O turismo deve ser parte de um desen -volvimento sustentável amplo e desuporte para a conservaçãoO turismo deve ser compatível e fazer

parte de planos em níveis internacional,nacional, regional e local de desenvolvi-mento sustentável e de conservação. Deveser planejado, administrado e empreendidode modo a evitar danos à biodiversidade eser ambientalmente sustentável, economi-camente viável e socialmente eqüitativo.

Todo o desenvolvimento do turismo deveser empreendido com uma visão preventiva.O turismo não deve comprometer as opor-tunidades de uma economia local diversifi-cada, deve ser empreendido dentro dos“limites aceitáveis de mudança” (ou capaci-dade de carga) e em preferência a outrasformas de desenvolvimento potencialmentemais prejudiciais. No caso de o próprio tu-rismo ser a atividade mais prejudicial, eledeve então ser evitado.

O ordenamento territorial, o monitora-mento contínuo dos impactos ambientais eo respeito às paisagens naturais e às áreasprotegidas podem ajudar a evitar impactosnegativos em áreas sensíveis. Sempre queapropriado e possível, devem ser usadosinstrumentos e incentivos econômicos paraalcançar o turismo responsável. Em particu-lar, o princípio poluidor-pagador deve seraplicado na mitigação de impactos.

O turismo deve apoiar a conservação danatureza, especialmente a proteção da vidaselvagem nos ecossistemas terrestres, aquá-ticos, costeiros e marinhos e evitar contri-buir para a fragmentação e a degradaçãodas paisagens naturais, que reduzem a qua-lidade da experiência do turista e impactamnegativamente o ambiente.

O turismo deve ser planejado de modo aprevenir a degradação de sítios arqueológi-cos, históricos, pré-históricos, científicos eremanescentes e deve apoiar ativamente asua conservação. O turismo deve obedecera convenções internacionais e leis nacio-nais, estaduais e locais que apóiam o desen-volvimento sustentável e a conserva ç ã o .Onde tal regulamentação não existir, o setordo turismo deveria tomar a iniciativa deincentivá-las ou criá-las.

• O turismo deve usar os recursos naturaisde modo sustentávelA conservação e o uso sustentável dos

recursos naturais são essenciais paramanutenção de um meio ambiente sadioem longo prazo. A concentração de turistasno tempo e no espaço pode impor um sa-crifício muito pesado a recursos naturaiscomo a água. Sistemas de manejo turísticodevem se esforçar para distribuir, da melhorforma, os fluxos turísticos ao longo do ano ea renda obtida deve apoiar tecnologias eestratégias de uso sustentáveis.

Esportes e atividades ao ar livre, incluin-do caça amadora e pesca em áreas ecologi-camente sensíveis, devem obedecer aos re-gulamentos existentes em conservação euso sustentável de espécies e habitats. Ondeos regulamentos são ineficazes, as ativi-

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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O WWF-BRASIL E O TURISMO RESPONSÁVEL

dades turísticas devem buscar orientação deespecialistas e o conhecimento da área deinteresse.

• O turismo deve eliminar o consumoinsustentável e minimizar a poluição e odesperdícioReduzindo a poluição e o consumo, os

danos ambientais também serão menores,m e l h o rando a experiência do turismo,reduzindo os custos operacionais e der e c u p e ração do ambiente. O consumo dec o m b u s t í veis fósseis e o transporte motor-izado, dentro e no entorno dos destinosd e vem ser evitados sempre que possível. Épreciso ter atenção particular aos impactosambientais causados pelo tráfego aéreo,especialmente em áreas ecologicamentes e n s í veis. A busca por fontes de energiamais limpas e o uso eficiente do recursosão essenciais.

• O turismo deve respeitar as culturaslocais e prover benefícios e oportu -nidades para as comunidades locaisAs comunidades locais têm o direito de

manter e controlar a sua herança cultural eassegurar que o turismo não tenha efeitonegativo sobre ela. O turismo deve entãorespeitar os direitos e desejos dos povoslocais e prover a oportunidade para queamplos setores da comunidade contribuamnas decisões e nas consultas sobre o plane-jamento e a administração do turismo.

D e ve-se levar em consideração ast radições locais nas construções, ou seja, épreciso que o desenvolvimento ar-quitetônico seja harmônico com o ambi-ente e a paisagem. O conhecimento e aexperiência das comunidades locais emmanejo sustentável dos recursos podemt razer uma grande contribuição para o tur-ismo responsável. O turismo deve respeitare valorizar o conhecimento e as experiên-cias locais, buscando maximizar os benefí-cios para as comunidades e promover orecrutamento, treinamento e emprego depessoas do lugar.

• O turismo deve ser informativo e educa -cionalEducação, conscientização e capaci-

tação compõem a base do turismo respon-sável. Todos os integrantes do setor devemser alertados sobre seus impactos positivos enegativos e encorajados a serem respon-sáveis e apoiar a conservação por meio desuas atividades. Isto inclui o mercado, osg overnos locais e nacionais, as comu-nidades locais e os consumidores. Os turis-tas devem receber informações sobre assun-tos ambientais, culturais e sociais comoponto essencial da viagem. Sempre que pos-sível, deve haver a oportunidade de os visi-tantes compartilharem a cultura e astradições locais.

AS ESTRATÉGIAS DO PROGRAMA

O WWF-Brasil entende que a estratégiapara o desenvolvimento responsável do tu-rismo no Brasil deve considerar, entre outrasquestões:

– O planejamento integrado, através daarticulação política intersetorial entretodos os atores da atividade: ONG's(ambientalistas e sociais), comunidades,academia, mercado, governo, mídia eturistas;

– A normatização e regulamentação daatividade, principalmente com relaçãoao uso e ocupação do solo, códigosambientais e planos de desenvolvimentor e s p o n s á vel do turismo em todos osníveis;

– A efetiva participação das comunidadesenvolvidas nos destinos turísticos nastomadas de decisão para o planejamentoe gestão da atividade;

– A valorização de áreas naturais prioritá-rias para a conservação da biodive r s i d a d e;

– A efetiva implementação e gestão susten-tável e participativa das áreas protegidas,com foco na conservação da biodiversi-dade e bem-estar das comunidades deentorno;

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

– A sustentabilidade de áreas naturais, pro-tegidas ou não, e suas populações,inseridas em regiões com dificuldades ded e s e nvolvimento econômico, comple-mentando e incrementando as atividadeseconômicas tradicionais;

– A capacitação profissional das empresase das comunidades para a implantaçãode modelos de ecoturismo;

– A educação de consumidores, funcio-nários e fornecedores de serviços turísti-cos para o turismo socialmente e ambi-entalmente amigável;

– A certificação para o turismo, através da

criação de um Conselho Brasileiro deTurismo Sustentável (CBTS) de amploespectro de representatividade.

OS PROJETOS EM DESENVOLVIMENTO

Os projetos em turismo do WWF-Brasilpossuem alcance nacional, envolvendo par-ceiros locais ou intervenções diretas, emprojetos de campo na Amazônia, na MataAtlântica, no Cerrado, no Pantanal e naZona Costeira. O mapa abaixo localiza osprojetos de campo.

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O WWF-BRASIL E O TURISMO RESPONSÁVEL

As linhas de ações do Programa, os pro-jetos e atividades atualmente em desen-

volvimento são:

LINHAS DE AÇÃO

1.Capacitação em Ecoturismo de Base Comunitária –contribuindo para seu desenvolvimento como ferra-menta para a conservação da natureza e alternativana geração de benefícios socioeconômicos

2. Desenvolvimento de “Modelos de Ecoturismo” comfoco no fortalecimento da base comunitária, pormeio de assistência técnica

3. Planejamento de Ecoturismo em Unidades deConservação – propondo, apoiando e implementan-do o planejamento participativo em projetos decampo, por meio de pesquisas e assistência técnica

4. Educação e Informação – disseminando informaçõese promovendo atividades de educação ambientalpara o ecoturismo, propondo alternativas para con-scientização dos consumidores

5. Políticas Públicas e Privadas em Turismo eEcoturismo – participando ativamente do debate emtorno das políticas de desenvolvimento do setorturístico, propondo alternativas e planos nacionais eregionais, assim como diretrizes e regulamentação

6. Certificação em Turismo – apoiando um processoindependente e participativo de certificação, combase em pesquisas e projetos de campo

PROJETOS E ATIVIDADES RELACIONADAS

➼ Desenvolvimento de metodologias por meio da pub-licação “Manual de Ecoturismo de BaseComunitária”

➼ Apoio e promoção do Turismo Comunitário pormeio de projetos de campo e da página www.turismocomunitario.org.br

➼ Treinamento nas ecoregiões

Projetos de campo:➼ Estímulo ao ecoturismo no entorno do Pa r q u e

Nacional da Chapada dos Ve a d e i r o s / G O➼ Apoio a comunitários ribeirinhos para a construção e

gestão da Pousada Aldeia dos Lagos, Silve s / A M➼ Apoio a comunitários seringueiros para a construção

e gestão da Pousada Pedras Negras e Centro deVisitantes, Vale do Guaporé / RO

Projetos de campo:➼ Ecoturismo na Estrada-parque Pantanal, Corumbá e

Ladário/MS ➼ Ecoturismo na Estrada Transpantaneira, Poconé/MT➼ Uso Recreativo no PA R NA Chapada dos Ve a-

deiros/GO➼ Uso Recreativo no PARNAMAR de Fernando de

Noronha/PE➼ Uso Recreativo no PETAR, Vale do Ribeira, SP➼ Uso Recreativo no PE Pe d ra Branca, Rio de Janeiro, RJ

➼ Apoio à Rede Brasileira de Ecoturismo, lista de dis-cussão

➼Apoio à “Campanha Pega Leve - Mínimo Impacto emÁreas Naturais”, visando a conduta consciente deviajantes em ambientes natura i s .

➼ Apoio a discussão sobre a regulamentação do eco-turismo no CONAMA

➼ D e s e nvolvimento do Plano Estratégico doEcoturismo no Vale do Ribeira, SP

➼ Debate sobre políticas públicas locais, por meio dapublicação "Turismo Responsável: Manual paraPolíticas Locais"

➼ D e s e nvolvimento de software para facilitar a gestãoambiental na pequena e média hotelaria

➼ Contribuição para a criação do Conselho Brasileirode Turismo Sustentável (CBTS)

➼ Participante dos conselhos executivos da propostano Brasil

➼ Disseminação de informações sobre o processo pormeio da página www.cbts.org.br

➼ Apoio à Rede CBTS, lista de discussão do processode certificação do turismo sustentável

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

AS PARCERIAS

O WWF-Brasil trabalha em parceria como mercado, governos, comunidades locais,organizações multinacionais, organizaçõesnão-governamentais e com a sua própriaRede para que o turismo no Brasil projete asua sustentabilidade sob os enfoques dacapacitação de empresas e comunidades,educação de consumidores e empresários,regulamentação governamental e mecanis-mos de certificação.

Os principais parceiros, executores ouapoiadores dos projetos que o WWF-Brasilexecuta ou participa são:

– ACV-CV – Associação dos Condutores deVisitantes da Chapada dos Veadeiros/GO

– Agenda de Ecoturismo do Vale doRibeira/SP

– AGUAPÉ – Associação dos Seringueirosdo Vale do Guaporé, Costa Marques/RO

– A S PAC – Associação de Silves para aProteção Ambiental e Cultural, Silve s / A M

– BID – Banco Interamericano deDesenvolvimento

– Bioma Cerrado, São João da Aliança/GO– Brazil Nature/SP– CBTS – Conselho Brasileiro de Turismo

Sustentável– CET – Centro de Excelência em Turismo,

Brasília/DF– CEU – Centro Excursionista Unive r s i t á r i o / S P– CNRBMA – Conselho Nacional da Re-

serva da Biosfera da Mata Atlântica/SP– Comitê Gestor da Estrada Pa r q u e

Pantanal, Corumbá/MS– Diretoria de Ecossistemas/Ibama/MMA– ECOPORÉ – Ação Ecológica Guaporé,

Porto Velho/RO– FEMA – Fundação Estadual de Meio

Ambiente/MT– Fundação Ecotrópica/MT– Fundação Pró-Tamar/Ibama/PE– Fundação SOS Mata Atlântica/SP– GOPAN – Grupo de Operadora do Pan-

tanal, Campo Grande/MS– GRUDE – Grupo de Defesa Ecológica/RJ– I BA M A – Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Natura i sRenováveis

– IH – Instituto de Hospitalidade /BA– Imaflora/AM– Instituto Ecofuturo – Cia. Suzano de

Papel/SP– Instituto Ing Ong/SP– Instituto Terra Mar/CE– Instituto Vitae Civilis/SP– Parque Estadual da Pe d ra Bra n c a ,

Instituto Estadual de Florestas/RJ – Parque Estadual Turístico do Alto Ribei-

ra/Instituto Florestal – Secretaria do MeioAmbiente do Estado/SP

– Parque Hotel Passo do Lontra ,Corumbá/MS

– Parque Nacional da Chapada Ve a d e i r o s / G O– Parque Nacional Marinho de Fernando

de Noronha/IBAMA/PE– Pró-Várzea/IBAMA/MMA– Rainforest Alliance / Costa Rica– Rede Brasileira de Ecoturismo– Sebrae/GO– Secretaria Estadual de Meio A m-

biente/MS– Secretaria Municipal de Meio Ambiente,

Cultura e Turismo de Corumbá, MS– Secretaria para Políticas de Desen-

volvimento Sustentável/MMA– UNIMEP – Universidade Metodista de

Piracicaba/SP

AS PUBLICAÇÕES

A partir das experiências de campo, oupor meio de pesquisa em nível nacional,d iversos documentos vêm sendo elabora-dos. Baseados em pesquisas e estudos de consultoria, visam contribuir para oso b j e t ivos do Programa e para servir demodelos para outras entidades, governos em e rcados.

❐ MANUAL DE ECOTURISMO: FERRA-M E N TAS PARA UM PLANEJA M E N TORESPONSÁVEL – publicação contendo13 ferramentas práticas para o planeja-mento, implementação e gestão do eco-turismo.

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O WWF-BRASIL E O TURISMO RESPONSÁVEL

❐ USO RECREAT I VO NO PA R Q U ENACIONAL MARINHO DE FERNAN-DO DE NORONHA: UM MODELO DEPLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO –baseado em trabalho de pesquisa e naimplementação do planejamento egestão do ecoturismo em Pa r q u eNacional.

❐ CERTIFICAÇÃO EM TURISMO: LIÇÕESMUNDIAIS E RECOMENDAÇÕES PARAO BRASIL – apresenta no Brasil o tema,focando nas principais recomendaçõespara a elaboração e aplicação de um sis-tema de normas e padrões de sus-tentabilidade para o turismo.

❐ TURISMO RESPONSÁVEL: MANUALPARA POLÍTICAS LOCAIS – publicação

a ser lançada, trata de um amplo debatesobre a importância do incentivo e con-trole do turismo por meio de políticaspúblicas locais.

❐ DIVERSOS – folders, cartilhas, mapas,sites e demais materiais promocionaisdos projetos de campo, educativos oucom enfoque turístico, que são constan-temente publicados pelo Programa.

Para maiores informações:

WWF–BrasilPrograma de Turismo e Meio AmbienteSHIS EQ/QL 6/8, Conjunto E – Lago Sul – Brasília – DF – [email protected] –Fone: (61) 364-7400 – Fax: 364-7474

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

I. OBJETIVOS

E ste capítulo tem como objetivo deli-near os diferentes tipos e níveis deplanejamento do ecoturismo, a partir

de uma base bem delimitada de princípiose características desejáveis para seu desen-volvimento responsável. O planejamento éuma atividade interdisciplinar, dinâmica,contínua e presente em todas as dive r s a sfases do desenvolvimento do turismo, e qued e ve representar os anseios de diferentesatores de interesse. Assim, serão abordadosos diferentes objetivos e contextos para suae l a b o ração, assim como as diferentes abor-dagens em que o planejamento pode sei n s e r i r.

Cabe ressaltar que cada capítulo quecompõe este Manual pode ser consideradocomo um guia de planejamento, implemen-tação e gestão das diferentes atividades eprocessos que compõem o desenvolvimentodo ecoturismo. Mais específicamente, estecapítulo deve ser estudado em conjuntocom o capítulo de Participação e Parcerias.

II . INTRODUÇÃO CONCEITUAL

Para o planejamento do ecoturismo nãobastam técnicas e ferramentas práticas dee l a b o ração de planos e projetos. Destaforma entende-se que refletir intensamentesobre a atividade e seus objetivos de sus-tentabilidade econômica social e ambientalé fundamental para o sucesso na implan-

tação do ecoturismo, atendendo aos seusprincípios.

O ecoturismo vem trazendo algumasimportantes lições para a busca da sus-tentabilidade no mercado do turismomundial. A atual discussão sobre o turismosustentável dentro de importantes organiza-ções mundiais como a UNEP (UnitedNations Environment Program), OMT(Organização Mundial de Turismo), WTTC(World Travel and Tourism Council), BID(Banco Interamericano de Desenvo l v i-mento), GEF (Global Environment Facility),entre outras, nada mais é do que o reflexo daintrodução dos métodos desenvolvidos paraplanos de ecoturismo sendo adotados e repli-cados para o mercado convencional. Essasmetodologias são, no caso do ecoturismo,essenciais para se alcançar seus objetivos dec o n s e r vação e desenvolvimento local.

A sustentabilidade defendida pelosprincípios do ecoturismo não deve serentendida como um fim a ser alcançado emplanos, programas e projetos. Na verdadedevemos perceber a sustentabilidade comoas condições ótimas de desenvolvimento doecoturismo, e atentar aos seus princípios, osquais podem não estar presentes em todosos momentos. Instabilidade de mercados,alterações no perfil e nas tendências dosviajantes, proliferação de doenças tropicais,alterações nas políticas de desenvolvimentoe investimentos regionais e nacionais sãoalgumas das externalidades que podem afe-tar a sustentabilidade de projetos. Daí a

1

1. Planejamento do ecoturismo

Sérgio Salazar Salvati (1)

(1) – NOTA DO AUTOR: Este capítulo contou com a contribuição técnica de Marcelo de Oliveira Sáfadi, Sylvia Mitraud e Marcos Martins Borges.

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PLANOS, PROGRAMAS E PROJETOS

Não devemos confundir planos

com programas e projetos. Um plano

é uma grande missão, é o objetivo maior

almejado de um governo ou entidade,

sem maiores detalhamento de projetos

ou atividades. Envolvem diretrizes gerais

para serem adotados por setores ou

regiões, incluindo a identificação da fonte

de recursos e dos responsáveis por ações

de implementação. O plano pode possuir

programas específicos (capacitação,

conservação, envolvimento comunitário,

marketing, patrimônio histórico etc.),

que podem ser setorizados

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

importância de processos de monitoramen-to e de re-planejamento como itens funda-mentais para o sucesso do desenvolvimentodo ecoturismo. Além disso, o ecoturismonão pode ser a única alternativa econômica,ou a predominante, num município ouregião, pois qualquer alteração na deman-da, como, por exemplo, o aparecimento dedestinos concorrentes, pode levar todo ummunicípio ou uma região a ter problemas deordem econômica e social em função dalacuna na geração de receitas.

Para melhor entendimento serão aborda-dos nesta Introdução os conceitos básicossobre processos de planejamento, e especi-ficamente sobre planejamento do ecoturis-mo, sob uma ampla visão de sustentabili-dade econômica, social e ambiental.

1. O planejamento - conceito, objetivos e processos

P lanejamento pode ser entendido como adefinição de estratégias e meios para

sair de uma situação atual visando alcançaruma situação futura desejada. Parece nãoser percebido pela sociedade, mas o plane-jamento está em nosso cotidiano profissio-nal e familiar. Por exemplo, ao planejar umnovo emprego, um profissional estabeleceo b j e t ivos (ser valorizado em um novoemprego), metas (alcançar o objetivo em 6meses), recursos (curriculum, tempo e di-nheiro) e métodos (pesquisar em jornais,falar com amigos e participar de entrevis-tas). Esta idéia de planejamento vem sendodefinida de várias formas e algumas delasforam compiladas por Barreto (2000):❐ planejar é decidir antecipadamente o

que deve ser feito;❐ planejar é determinar objetivos e meios

para seu alcance;❐ planejar é projetar um futuro desejado e os

meios específicos para torná-lo realidade.

Ignarra (s.d) afirma que planejamento éum processo lógico de pensamento me-diante o qual o ser humano analisa a reali-dade que o cerca e estabelece meios que

lhe permitirão transformá-la de acordo comseus interesses e aspirações.

Com base nos conceitos acima, devemosc o n s i d e rar o planejamento como umprocesso dinâmico e contínuo de definiçãode objetivos, metas e ações, de formaintegrada entre os diversos agentes sociaisde interesse. Esta afirmativa torna-se maiscomplexa quando pensamos nas diferentesdimensões em que se pode adotar planos eprogramas visando alcançar uma desejadasituação futura. Estas dimensões de planeja-mento consideram os seguintes elementos:❐ elemento temporal – planejamento de

curto, médio e longo prazo;❐ elemento político – regulador, incenti-

vador, financiador, integrado;❐ elemento administrativo – público ou

privado;❐ elemento social – participativo ou de

gabinete;❐ elemento geográfico – internacional

(continente, bloco de países, regiõest rans-fronteiriças), nacional (país oumacroregiões), regional (delimitado porbacias hidrográficas, por pólos de desen-volvimento, por grandes parques), local(municipal) ou sítio (propriedades, áreasprotegidas de pequeno porte).

1

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

ou regionalizados, e demonstra

praticamente como se alcança os objetivos

do plano. Cada programa possui projetos,

que são compostos por atividades

detalhadas que devem ser conduzidas

para se concretizar os programas.

Por exemplo, o WWF-Brasil possui

uma missão conservacionista (“contribuir

para que a sociedade brasileira conserve

a natureza, harmonizando a atividade

humana com a preservação

da biodiversidade e com o uso racional

dos recursos naturais, para o benefício

dos cidadãos de hoje e das futuras

gerações”) que deve ser alcançada

por meio de vários programas específicos

que envolvem biomas e temas estratégicos.

O turismo foi identificado como uma

das ferramentas para se alcançar

os objetivos da missão (ou do plano).

Assim, o Programa de Turismo e Meio

Ambiente possui uma carteira de projetos

que visam "contribuir para

o desenvolvimento do turismo responsável

no Brasil em áreas prioritárias para

a conservação da natureza". Estes projetos

envolvem fomento ao ecoturismo,

ao turismo de base comunitária,

ao ordenamento da visitação em Parques,

campanhas de conscientização de visitantes

em áreas naturais, certificação do turismo

sustentável entre outros.

Muitos destes projetos dividem-se

em sub-projetos e atividades, cada uma

com metas e recursos próprios.

No caso do Ecoturismo, o planejamento

pode possuir, então, vários programas

que permitem atingir os princípios

do ecoturismo e definir os projetos

que são necessários para alcançá-los.

Como o planejamento deve ser visto

de forma integrada, alguns projetos

são elaborados de forma a poderem

ser executados utilizando-se

dos métodos integrados de intervenção,

estabelecendo-se parcerias e otimizando

recursos humanos e financeiros.

Alguns consultores adotam outras visõespara se definir o escopo do planejamento,classificando-os em estratégico, tático eo p e racional. O planejamento estra t é g i c oseria aquele em que se projeta um espaçode tempo de implementação de médio alongo prazo. Isto pode ocorrer também emfunção da dificuldade em se obter dadosfundamentais e os recursos necessários parao plano. O planejamento tático, por outrolado, envolve um horizonte de tempo inter-mediário, cerca de um ano, enquanto oplanejamento operacional é implementadoem curto prazo, semanas ou meses.Obviamente que para estes dois últimosníveis de planejamento deve-se contar comuma base ampla e sólida de dados, e osrecursos técnicos e financeiros devem jáestar disponíveis.

Além de contínuo, o planejamento deveser flexível. Um planejamento participativoe que possua momentos freqüentes de ava-liação, permite ajustes em todas as suasfases (do diagnóstico ao monitoramento daimplementação e gestão). Somente se obser-varão ajustes se houver um processo conti-nuado de coleta de informações e de con-sultas aos diretamente envolvidos e interes-sados sobre os resultados. Durante a imple-mentação, e de acordo com a disponibili-dade de recursos humanos e financeiros, émuito comum optar-se por estabelecer prio-ridades de intervenção. E após sua imple-mentação, com a capacidade técnica insta-lada e com o suporte do conhecimento jáadquirido, aliado à adoção de sistemas dem o n i t o ramento, deve-se prever revisões,atualizações e correções nos objetivos e nosmétodos estabelecidos.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Durante o desenvolvimento de progra-mas e projetos de ecoturismo, os benefíciosgerados por um planejamento adequadopodem ser vitais para o sucesso da emprei-tada. O planejamento evita riscos demasia-dos, permite maximizar os benefícios para aconservação e incrementar o envolvimentoe a organização comunitária. Além disso,otimiza recursos humanos e financeiros. E,atendendo aos princípios do ecoturismo, oplanejamento contribui para que seu proje-to minimize os impactos indesejáveis nosrecursos naturais e culturais.

Sem planejamento não se pode buscarparceiros, financiamentos e apoios, pois nãoestá claro para os futuros parceiros qual asituação que se deseja alcançar, quais obje-tivos e resultados serão almejados e quais osmeios e técnicas de que se dispõe. Assim,possuir um bom planejamento facilita aavaliação e a tomada de decisão por partede parceiros e investidores.

Para se aprofundar melhor sobre o plane-jamento aplicado para o desenvolvimentoturístico, o item 2 abaixo apresenta algumasreflexões sobre essa atividade.

2. O turismo, seus componentes, benefícios e desvantagens

O turismo é movimento de pessoas, éintegração entre povos, é fenômeno

econômico e social. Turismo é deslocamen-to e permanência voluntária fora de seulocal de residência. Turismo é um conjuntode bens e serviços tangíveis e intangíveis.Fazer turismo é reflexo das vontades psicos-sociais do viajante durante seu tempo livre.

Várias definições vêm sendo usadas paraentender o turismo e todas podem seraceitas. O que se tem em comum entreespecialistas é que o turismo possui umag rande importância sócio-econômica nomundo atual. Por um lado, é uma necessi-dade para o bem-estar psico-físico do serhumano, principalmente para aqueles quevivem nos conturbados centros urbanos. Poroutro, o turismo é uma fonte importante deriqueza econômica e um dos setores de

crescimento mais rápido na economiamundial, considerado um fenômeno pelomundo inteiro, e envolvendo um númerocrescente de postos de trabalho.

Porém, enquanto o turismo pode con-tribuir sensivelmente para o desenvo l v i m e n t osócio-econômico e cultural de amplasregiões, tem, ao mesmo tempo, o potencialp a ra degradar o ambiente natural, as estru-t u ras sociais e a herança cultural dos povo s .Pa ra países como o Brasil, o turismo, em uman ova concepção estratégica, deve ser enten-dido como um conjunto de bens e serviçosque promova o desenvolvimento em níve llocal. Assim, não pode ser considera d osomente como a implantação de meios dehospedagem e alimentação e locais de visi-tação e lazer, mas também como um con-ceito que integra o desenvolvimento urbanoe rural, criando um novo pólo de desenvo l v i-mento econômico diversificado, com inve s t i-mentos em infra - e s t r u t u ra, nas vias de acessoe melhor qualidade nos serviços de edu-cação, saúde e segurança. (SALVATI, 2002a).

O turismo em uma comunidade se ca-racteriza pela oferta de pelo menos cincoelementos: atrativos, serviços, infra-estrutu-ra, comunidades e turistas, que atuam deforma interrelacionada, objetivando gerar osbenefícios desejados.

Dentro da comunidade incluem-sevários segmentos da sociedade que podembeneficiar-se do turismo. Os mais envolvi-dos, e também responsáveis pelo seu suces-so, são os moradores locais, os proprietários(de terra e estabelecimentos comerciais) e ogoverno local. Todos possuem diferentes for-mas de agir para o desenvolvimento do tu-rismo e diferentes formas de se beneficiardele. Porém, o principal benefício decomum alcance é a melhoria da qualidadede vida da comunidade.

❐ Os componentes do turismoAs Ficha 1 e Figura 1 (a seguir) oferecem

subsídios para identificar os diversos seg-mentos envolvidos pelo turismo e o papelde cada um no desenvolvimento da ativi-dade e no atendimento aos interesses da

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è Transportes ® Você precisa dele para ir do mercado ao destino.è Promoção ® Como trazer o mercado ao destino (ver capítulo Elaboração

do Produto de Ecoturismo).è Atração ® O que faz alguém ir a um destino (atrativos naturais ou artificiais,

eventos especiais, entretenimento, história, cultura, família e amigos, negócios etc.).

è Serviços ® Alimentação, acomodações, comércio etc. Geram dinheiro paraa comunidade e acrescentam na experiência do turista. Sem servi-ços, não há dinheiro para a comunidade

è Atmosfera ® 1) Dimensão humana (característica local): hospitalidade, tumulto, congestionamento de pessoas e/ou carros;

2) Dimensão física: limpeza, acesso, estradas, estética (paisagem, paisagismo), segurança etc.

è Pesquisa ® Quem é o mercado, qual é o perfil do turista, do que ele gosta ede Mercado do que ele não gosta, como ele descobriu nossa comunidade,

como é seu comportamento etc. (ver capítulo Elaboração do Produto de Ecoturismo).

37

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

comunidade. O conjunto dos cinco elemen-tos – atra t ivo, infra - e s t r u t u ra, serviços,comunidade e turista – cria um ambienteque chamamos de atmosfera do turismo.

❐ Benefícios e Desvantagens do TurismoAssociada a diversos capítulos deste

Manual, a Fi cha 2 a seguir demonstra que o

ecoturismo provocará mudanças na comu-nidade, algumas positivas e outras negativa s .O inventário é um instrumento para melhorse conhecer a realidade e favorecer a adoçãode medidas de planejamento que incre-mentem os impactos positivos e minimizemos negativos. (ver capítulo L e vantamento doPotencial Ecoturístico – Inve n t á r i o)

DESTINO

Elo de comunicação

PESQUISA DE MERCA D OElo físico

1

/ FICHA 1

✑ FIGURA 1

COMPONENTES DO TURISMO

COMPONENTES DO TURISMO

PROMOÇÃO

TRANSPORTE

MERCADO

ATRAÇÃO

ATMOSFERA

Serviços

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

/ FICHA 2

BENEFÍCIOS DO TURISMO

O desenvolvimento do turismo tem gera-do uma série de benefícios. A seguir, lis-tamos algumas das contribuições que oturismo pode trazer à qualidade de vidade sua comunidade.

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS

❐ O turismo ajuda a diversificar e esta-bilizar a economia local. Tambémpode ajudar a trazer outras atividadeseconômicas para a comunidade.

❐ O turismo gera impostos e traz di-nheiro novo para a comunidade.

❐ O turismo gera empregos e oportu-nidades comerciais.

BENEFÍCIOS SOCIAIS

❐ O dinheiro gerado pelo turismo ajudaa financiar serviços e estabelecimen-tos públicos que a comunidade talveznão tivesse condições de financiar(estradas públicas, energia, comuni-cação, saúde e segurança).

❐ O turismo incentiva a participaçãocívica e o orgulho pela comunidade esuas manifestações culturais.

❐ O turismo proporciona o resgate e ointercâmbio cultural.

BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

❐ O turismo pode incentivar a preser-vação de recursos naturais, culturais ehistóricos.

❐ O turismo pode estimular a revitaliza-ção e embelezamento paisagístico dacidade ou vila.

❐ O turismo pode contribuir para a sus-tentabilidade de áreas protegidas.

❐ O turismo educa para a conservaçãoda natureza.

DESVANTAGENS DO TURISMO

Embora o turismo traga muitos benefí-cios, o seu desenvolvimento não acon-tece livre de impactos negativos nacomunidade. Abaixo listamos algunsdesses possíveis malefícios.

DESVANTAGENS ECONÔMICAS

❐ O turismo necessita de custos opera-cionais para pesquisa, promoção etc..

❐ O turismo se utiliza de serviços públi-cos que são mantidos pelo contribuintelocais, excedendo seus custos.

❐ O turismo pode exigir o treinamentode empregados, proprietários e a edu-cação da população local.

❐ O turismo pode gerar fuga de capitais.

DESVANTAGENS SOCIAIS

❐ O turismo pode atrair visitantes comcomportamento conflitante com o dacomunidade e seus padrões culturais.

❐ O turismo pode criar tumulto,poluição em vários níveis e conges-tionamento.

❐ O turismo pode aumentar os índicesde criminalidade e marginalidade.

❐ O turismo pode gerar conflito entre osque o querem e os que são contra oseu desenvolvimento.

DESVANTAGENS AMBIENTAIS

❐ Turismo desordenado ou sem critériospode degradar a qualidade de impor-tantes recursos naturais e históricos.

❐ Lixo, barulho e poluição do ar podemaumentar com o turismo.

❐ O sucesso econômico do turismopode levar a maior pressão sobre osrecursos naturais.

BENEFÍCIOS E DESVANTAGENS DO TURISMO

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3. O planejamento para um turismo responsável

O turismo vem sendo considerado umdos maiores fenômenos da atualidade.

Para muitos países e regiões, principalmentepara os detentores de vastos recursos natu-rais, riquezas de paisagens, forte herançac u l t u ral e dificuldades de crescimentoeconômico, o turismo vem sendo identifica-do como a "bola da vez" e para muitos é a"salvação da pátria". E com o aumento dotempo livre na sociedade contemporânea,aliado às novas facilidades em transportes ecomunicação, entre outras causas e condi-cionantes, o crescimento deste merc a d ovem ocasionando diversas situações noslocais atra t ivos, algumas positivas (p.ex.emprego), outras negativas (p. ex. degra-dação ambiental). Alia-se a esta conjunturao uso do empirismo no planejamento e aausência de especialistas em posiçõeschaves dos setores estratégicos de governose mercados.

a) Identificando os objetivos do planejamento

O planejamento em turismo pode tervários objetivos, os quais dependem de umaanálise crítica, profissional e participativa,da situação em que se encontra sua região,seu empreendimento ou sua propriedade.No caso de destinos turísticos potenciais,onde a atividade ainda não vem ocorrendode forma significativa (ou seja, o momentoideal para o planejamento), podemos terplanos como instrumento para:❐ orientar uma nova atividade econômica

incrementando o desenvolvimento locale/ou regional;

❐ desenhar que tipo de turismo (e de turis-tas) queremos em nossa região;

❐ valorizar as culturas locais e a manu-tenção da paisagem e da biodiversidade;

❐ evitar, ou minimizar, os efeitos sociais,econômicos e ambientais negativos daatividade;

❐ diversificar a economia local e qualificara mão-de-obra local;

❐ direcionar a instalação de equipamentose infra-estrutura, ordenando as ações eatividades humanas sobre o território;

❐ estabelecer os marcos legais para a ativi-dade;

❐ orientar a circulação de veículos epedestres;

❐ desenvolver produtos, identificar merca-dos e estabelecer um programa de mar -keting estratégico.

Pa ra regiões que já percebem fluxosturísticos, os objetivos do planejamento têmforte caráter de ordenação e regulação, cor-rigindo distúrbios e problemas já instalados,direcionando o desenvolvimento do turismopara um nível adequado de controle parti-cipativo das atividades atuais e projetandomedidas incentivadoras de oportunidadesfuturas. Neste caso, além de adotar comnovo enfoque alguns dos itens já menciona-dos acima, pode-se prever esforços para:❐ educar o visitante, avaliando criteriosa-

mente o perfil da demanda atual;❐ (re)capacitar os prestadores de serviços e

estimular novas ocupações;❐ mitigar impactos socio-ambientais;❐ acordar com os agentes sociais do turis-

mo (mercado privado, comunidades,gestores de UC's, políticos e populaçãoem geral) medidas normativas e indicati-vas, efetivas para um novo ordenamentoda atividade;

❐ incentivar um ganho de qualidade dosprodutos, incluindo a possibilidade deinserí-los em processos de certificação(veja item 6 da Caixa de Ferramentas);

❐ (re)estabelecer estratégias de comuni-cação e marketing para os produtos eroteiros atuais e potenciais.

b) Adotando uma abordagem integrada

Para um bom plano exige-se profissiona-lismo, consulta aos interessados do mercadoe da sociedade civil, uma visão de longoprazo e disponibilidade de recursos finan-ceiros. Em qualquer das situações em que seencontra o turismo em sua região (presente

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ou ausente), o planejamento do turismo quese almeja integrado e sustentável deveenvolver os seguintes aspectos, sempre pen-sando-se numa escala de tempo:❐ físico e ambiental: as paisagens, a biodi-

versidade, o uso do solo e dos recursosnaturais, as áreas protegidas, o ambienteurbano e rural;

❐ legal: as normas restritivas e/ou incenti-vadoras do turismo, as normas exigidasde controle e estímulo da atividade;

❐ fi na n c e i ro: a otimização e internalizaçãona cadeia produtiva local do fluxo de re-cursos gerados pelo turismo; a previsão dereceitas, investimentos e custos de admi-n i s t ração do turismo; a busca de parc e i r o se s t ratégicos; o estabelecimento de fundosde investimentos locais (FUMTUR);

❐ político-institucional e outras políticasde interface com M.A., AG etc: as políti-cas nacionais, regionais e locais em tu-rismo, os conselhos participativos de tu-rismo (COMTUR), órgãos executivo s(secretarias ou departamentos), as insti-tuições públicas e privadas;

❐ promocional: estabelecer a imagem dodestino, o diferencial para destinos con-correntes, o público-alvo, as estratégiasde comunicação etc.

❐ econômicos: os incentivos de mercado,a diversificação da economia local, aintegração com outros setores econômi-cos, a qualidade e competitividade deprodutos e roteiros;

❐ sociais: a organização e o envo l v i m e n t ocomunitário, o coopera t ivismo e o associa-t ivismo, as necessidades de capacitaçãoprofissional, a satisfação do visitante;

❐ culturais: o resgate e a valorização demanifestações e bens culturais de inte-resse social e turístico.

c) Adotando uma abordagem geográficaComo já afirmado anteriormente, o

planejamento do turismo, quando integradoe participativo, também deve prever sua for-mulação, implementação e monitoramento

levando-se em conta a unidade geográficade maior interesse. As vezes é preferível umprocesso mais complexo de planejamentointegrado entre dois ou mais municípios,visando um planejamento regional, do quecentralizar este processo em nível local eignorar que os recursos naturais e as pai-sagens de interesse turístico não respeitamdivisões político-administrativas. Em todo ocaso podemos ter diferentes abrangênciasgeográficas no planejamento turístico: ❐ o âmbito internacional, podendo ser

mundial (p. ex. diretrizes da Declaraçãode Quebec - 2002, plano global de cer-tificação do turismo sustentável – Sust-ainable Tourism Stewardship Council),regional (Mercosul, Comunidade Andi-na, Certificação do Turismo para aCentro-América) e tra n s - f r o n t e i r i ç o(Pantanal brasileiro e boliviano)

❐ o âmbito nacional, geralmente em formade uma política nacional, com diretrizesgerais para o desenvolvimento de planose programas setoriais e regionais;

❐ o âmbito macro e micro regional, p.ex.e nvo l vendo um bioma (p. ex. A m a-zônia), uma bacia hidrográfica (Vale doRibeira) ou um conjunto de municípios(entorno do PA R NA Chapada dosVeadeiros);

❐ o âmbito municipal, p. ex. envolvendoas ações necessárias para o desenvolvi-mento do ecoturismo em nível local; e

❐ o âmbito de um local ou sítio atrativo, p.ex. uma unidade de conservação (parqueou RPPN) ou uma propriedade rural.

4. O contexto do planejamento turístico no Brasil (2)

O turismo no Brasil é uma ativ i d a d eainda emergente, porém de crescimen-

to intenso nos últimos anos. O desenvolvi-mento deste mercado, inserido principal-mente em locais de interesse cênico e tendocomo base recursos naturais de alta biodi-versidade, tais como a Amazônia, o Pan-

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(2) – NOTA DO AUTOR: Adaptado a partir de vários artigos e textos deste autor.

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tanal, a Mata Atlântica e a costa litorânea,tem trazido preocupações aos gove r n o slocais, às comunidades anfitriãs e às organi-zações conservacionistas por colocar emrisco áreas naturais protegidas ou não, deriquezas imensuráveis, assim como impor-tantes patrimônios histórico-culturais.

As áreas rurais e urbanas que já apresentamfluxos turísticos regulares, via de regra não pos-suem planejamento algum para receber visi-tantes. Em nível local, isto diz respeito à ausên-cia de legislação em turismo e meio ambiente,planejamento do uso do solo, identificação,criação e zoneamento de áreas protegidas,equipamentos de apoio turístico ou progra m a sde orientação e controle de visitação, incluin-do atividades de educação ambiental. Domesmo modo, muitas empresas turísticas, prin-cipalmente os meios de hospedagem e aso p e ra d o ras, não possuem critérios para oplanejamento de suas atividades e para pro-teção da base dos recursos naturais e cultura i sque fundamentam seus negócios.

Adiciona-se a esta conjuntura o fato de oB rasil estar, atualmente, vivendo umaexplosão de investimentos em turismo (etambém em ecoturismo). Diversos progra m a spúblicos vêm se desenvo l vendo e possuemtotal ou parte de suas estratégias vo l t a d o sp a ra o desenvolvimento do turismo e do eco-turismo, como é o caso do Proecotur/ MMA–BID (desenvolvimento de pólos de ecoturis-mo na Amazônia), Prodetur/MT–BID (desen-volvimento de turismo nas regiões Nordestee Sul), Programa Pa n t a n a l / B I D – M M A(Gestão sustentável dos recursos naturais noPantanal de MS e MT), Programa Pólos daSecretaria de Desenvolvimento Sustentá-vel/MMA, Programa de Ecoturismo emReservas Extrativistas/IBAMA/CNPT (envol-vendo 8 projetos em todo o Brasil), entreoutros. Ao mesmo tempo o país está defini-tivamente inserido no circuito dos grandescapitais investidores estrangeiros, associa-dos ou não ao capital brasileiro, para aimplantação de parques temáticos, com-plexos hoteleiros e resorts, boa parte locali-zada em ambientes que apresentam fragili-dade ambiental e comunidades rurais.

De certo que o Brasil possui um amplopotencial para o desenvolvimento de umm e rcado turístico de qualidade, e quenecessita deste aporte de inve s t i m e n t o s .Porém, para ser viabilizado com sustentabi-lidade, há a necessidade de se avaliar cuida-dosamente o contexto em que se encontramnossos destinos potenciais, quais os obje-t ivos de desenvolvimento sustentável aserem alcançados e os meios para atingí-los,por meio de uma Política Nacional deTurismo Sustentável, integradora e associa-da às visões de mercado e das comunidadesanfitriãs. Esta necessidade está baseada noseguinte contexto:❐ Existem exemplos de planos públicos de

d e s e nvolvimento turístico que nãodefiniram claramente (ou ignoraram) osobjetivos de sustentabilidade do turismoe os reais beneficiários, e vêm tendo difi-culdades em sua implantação, nãoalcançaram as metas desejadas ou estãocausando distúrbios sócio-ambientais;

❐ Há uma forte onda de investimentos pri-vados, porém com lacunas na definiçãode critérios ambientais e sociais, assimcomo há uma certa facilidade de finan-ciamentos por agências de fomento go-vernamentais, onde observa-se clara-mente a fragilidade na avaliação dosresultados em prol da sua sustentabili-dade ampla (econômica, social e am-biental);

❐ Ausência de regulamentos governamen-tais em nível regional e local, e fracaintegração entre as diferentes políticasde desenvolvimento econômico nacio-nais, tais como as políticas agrícolas, dei n f ra - e s t r u t u ra, de energia e comuni-cações, de saneamento etc.

❐ Falta de compromisso com o desenvolvi-mento local por parte de projetos públi-cos e privados, associado à banalizaçãodos conceitos “eco” (ecoturismo, e c o r s o r t,ecopousada etc.);

❐ Áreas protegidas ameaçadas por pressãode visitação associada a carência de recur-sos humanos, técnicos e financeiros parase garantir o lazer e a segurança do visi-

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O WWF-Brasil, por meio de seu Programa de Turismo e Meio Ambiente, vem articulan-do com entidades da sociedade civil e órgãos governamentais, o fomento ao debate sobrea adoção de uma política de longo prazo para o desenvolvimento responsável do turismono Brasil. Desta articulação surgiu o Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável, entidaderepresentativa dos setores social, econômico e ambiental do turismo, com objetivo de esta-belecer uma estratégia para a implantação de um esquema unificado de certificação do tu-rismo no Brasil. Neste mesmo sentido de participação e representatividade, espera-se dogoverno que convoque a sociedade para o debate em torno de uma Política Nacional deTurismo Sustentável, que deve considerar, entre outras estratégias:

è A integração das diversas políticas governamentais que incentivam, afetam ouinibem a atividade turística, envolvendo diferentes órgãos da administração direta eindireta, assim como as instituições públicas e multilaterais de financiamento e inves-timento no setor;

è A normatização e regulamentação da atividade, principalmente com relação ao usoe ocupação do solo, códigos ambientais e planos de desenvolvimento responsável doturismo, orientando governos estaduais e municipais na adoção de políticas e sis-temas de gestão sustentável da atividade;

è A efetiva participação das comunidades envolvidas nos destinos turísticos nastomadas de decisão para planejamento e gestão do turismo;

è A sustentabilidade de áreas naturais protegidas, com a efetiva implementação egestão sustentável e participativa, envolvendo suas populações de entorno, comple-mentando e incrementando as suas atividades econômicas sustentáveis e valorizan-do e priorizando a manutenção da biodiversidade;

è A capacitação e qualificação pro f i s s i o n a l das empresas e das associações comu-nitárias voltadas ao turismo, facilitando o acesso à tecnologias limpas e outras linhasde crédito;

è A educação de consumidores, funcionários e fornecedores de serviços turísticospara o consumo do turismo de forma socialmente e ambientalmente amigável;

è O estímulo e reconhecimento de esquemas representativos para a certificação do tu-rismo sustentável, por meio do Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável de amploespectro de representatividade.

E no contexto FINANCIAMENTO/PROMOÇÃO do ecoturismo, para que o Brasil obte-nha sucesso de longo prazo, deve-se considerar, entre outras questões, que a partir do esta-belecimento de uma Política Nacional do Turismo Sustentável, acordada com o mercado ea sociedade civil, se estabeleça um planejamento e desenvolvimento integrado, por meio

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tante e a integridade de nossos parques;❐ Métodos de planejamento e marketing

não responsáveis, empíricos ou baseadossomente no enfoque da lucratividade;

❐ Baixa capacidade técnica e financeira depequenas e médias empresas de turismo

e de comunidades nos destinos;❐ Ausência de diretrizes, códigos de ética

e conduta no meio empresarial e profis-sional, associado à ausência de enti-dades de classe representativas em eco-turismo e turismo sustentável.

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1 QUADRO 1

POR UMA POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO SUSTENTÁVEL

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

5. O planejamento e os princípios do ecoturismo

Para aprofundar a compreensão do eco-turismo e subsidiar a elaboração de

planos de ecoturismo, os participantes daprimeira oficina do Manual detalharam osprincípios do ecoturismo segundo sua com-preensão, estabelecendo as diretrizes queorientaram o desenvolvimento do Manual eseus diversos instrumentos de planejamentotemático. Os princípios são: ❐ O ecoturismo deve contribuir para a

conservação do meio ambiente;❐ O ecoturismo deve promove r, onde pos-

s í vel, a valorização cultural das comu-nidades, bem como sua capacitação parao gerenciamento participativo e de míni-mo impacto dos recursos envo l v i d o s ;

❐ O ecoturismo deve buscar a diversifi-cação e integração econômica para amelhoria da qualidade de vida dascomunidades;

❐ No desenvolvimento do ecoturismo, ai n t e g ração e equilíbrio entre conser-vação ambiental, respeito pela culturalocal e a diversificação de atividadeseconômicas devem ocorrer via processoparticipativo.

A seguir, apresentamos os resultadosdeste trabalho:

è O ecoturismo deve contribuir para aconservação do meio ambiente

A prática deste princípio se dá em trêsaspectos:

da articulação política e inter-setorial entre todos os atores da atividade: ONG's (ambien-talistas e sociais), comunidades, academia, mercado, governo (Ibama / Embratur) e turistas.Dentro desta política podem-se estabelecer estratégias e diretrizes nacionais específicas quecompreendam as atividades de turismo comunitário e ecoturismo, como vêm fazendo paí-ses como Austrália, Equador e Costa Rica.

(1) Minimizando os impactos ambientaisnegativos por meio de:

❐ Planejamento baseado em estudos e co-nhecimentos específicos, como porexemplo, os realizados para o desen-volvimento do Plano de Uso Recreativono Parque Nacional Marinho de Fernan-do de Noronha(3) e que envolve:- Zoneamento da área (área intacta eáreas de usos diferenciados; restrições erecomendações de acesso e uso);- Definição dos limites aceitáveis deimpactos;- Realização do monitoramento contínuode impactos, por meio de indicadorespré-estabelecidos e de fácil verificação.

❐ Informação e educação diferenciadaspara visitantes e residentes.

❐ Capacitação dos profissionais inter-mediários entre visitantes e residentes(gestores, administradores, proprietários,guias, funcionários de unidades de con-servação etc.).

(2) Gerando benefícios por meio de:❐ Destinação de recursos financeiros para

conservação (manejo, criação de uni-dades de conservação, apoio, voluntaria-do etc.).

❐ Motivação para o trabalho voluntário emconservação

(3) Viabilizando o retorno econômico esocial para as comunidades em unidadesde conservação (ex.: Reserva Extrati-vista) ou entorno, permitindo a geraçãode benefícios diretos e indiretos do usosustentável do ecoturismo na unidade

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(3) – NOTA DO AUTOR: A experiência deste projeto, os métodos utilizados e as lições aprendidas estão registra d a sna publicação "Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha – um exemplo de planeja -mento e implementação", lançado pelo W W F - B rasil em 2001 e disponível em w w w. w w f . o r g . br.

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de conservação, a qual passa a ser va-lorizada (ex.: ex-garimpeiros do ParqueNacional da Chapada dos Veadeiros sãohoje guias do Parque e colaboram comsua proteção). Isto se dá por meio de:

❐ Participação nos conselhos gestores daunidades de conservação, opinando epropondo estratégias de uso sustentável;

❐ Avaliações da capacidade local ded e s e nvo l ver negócios sustentáveis deinteresse direto (artesanato, condução degrupos, abertura e manutenção de atra-tivos e trilhas etc) ou indireto (agricul-tura, extrativismo, marcenaria, pesca etc)para o ecoturismo;

❐ Preparo, capacitação e convite à so-ciedade local para participar do proces-so de terceirização de serviços em par-ques nacionais(4) em desenvolvimentopela DIREC/IBAMA, induzindo o empre-endedorismo comunitário.

è O ecoturismo deve promover, onde possível, a valorização cultural das comunidades, bem como suacapacitação para o gerenciamento participativo e de mínimo impacto dos recursos envolvidos.

Deve ser desenvolvido levando em contaos seguintes aspectos:❐ Valorização (se for o caso) da cultura

local, minimizando impactos e aumen-tando a auto-estima na comunidade.

❐ Interpretação do processo histórico decolonização e uso do solo para com-preender os valores sociais existentes,subsidiando um trabalho mais coerentecom a realidade local.

❐ Promoção e apoio à articulação depolíticas públicas voltadas para o benefí-cio das comunidades.

è O Ecoturismo deve buscar a diversificação e integração econômicapara a melhoria da qualidade de vida das comunidades.

A diversidade de atividades econômicas éfundamental na busca e manutenção doequilíbrio sócio-econômico e ambiental deuma região. O desenvolvimento exclusivo doecoturismo pode levar ao uso intensivo dosrecursos naturais, impactos negativos, perdade qualidade de vida e da visita, concorrên-cia extremada gerando lucros baixos e, eve n-tualmente, descaracterização da ativ i d a d e .

O ecoturismo não deve ser ativ i d a d eeconômica única, mas sim complementar ei n t e g rada às outras atividades locais, fortale-cendo-as e colaborando para mov i m e n t a ç ã omicro-regional dos recursos oriundos da visi-tação. Pa ra tal, deve desenvo l ver mecanismosde estímulo à produção local (alimentos, arte-sanatos, serviços etc.), suprindo necessidadesde consumo do ecoturismo e locais (ex.: estí-mulo à produção de alimentos, objetos arte-sanais de decoração, objetos de marcenaria em ovelaria, confecção têxtil etc. para restau-rantes/pousadas), evitando evasão de rendaoriunda do turismo para outros centros.

A organização e fortalecimento de enti-dades locais (públicas, comerciais, rurais, declasse etc.) é fundamental na busca de equi-líbrio e incremento dos benefícios econômi-cos. O estabelecimento de preços mínimoscom padrão de qualidade (explorar o turis-mo e não o turista), o retorno econômicop a ra o município (impostos, taxas), o estabe-lecimento de um fundo de investimentos emanejo do ecoturismo (vinculado à comu-nidade ou a um órgão público, p.ex. FUM-TUR), criação e facilitação de fontes dei n c e n t ivo para pequenos empresários, pro-g ramas de capacitação e empreendedorismo

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(4) – NOTA DO EDITOR: O processo de terceirização dos serviços de turismo em parques nacionais tem comoo b j e t ivo garantir um dos objetivos destas unidades - o lazer e a recreação de visitantes, por meio de concessõese permissões ao setor privado para prestação de serviços de hospedagem, transporte, alimentação, venda deartigos diversos, condução de grupos, atividades esportivas entre outras.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

e diversas outras atividades são facilitadasquando há compreensão e vontade comu-nitária, principalmente quando esta vo n t a d eé expressa por meio de entidades civ i s .

Por fim, é importante monitorar impactossociais da mesma forma como se deve mo-nitorar os impactos ambientais. Cada proje-to, ou comunidade, deve estabelecer seuspróprios métodos para identificar benefíciose malefícios provenientes do ecoturismo.

Alguns indicadores de mudanças positivas ounegativas de qualidade de vida já sãopesquisados por órgãos governamentais ouentidades não governamentais, e outrosd e vem ser estabelecidos de acordo com asc a racterísticas da região. Pa ra que esta ava l i a-ção com base em indicadores seja efetiva ef a c t í vel, o estabelecimento de parâmetros defácil verificação e realistas e a adoção de ava l i-ação continuada são fundamentais (Fi cha 3).

· Renda per capita

· Concentração de renda

· Escolaridade

· Mortalidade/natalidade/índices de saúde

· Estrutura familiar

· Densidade populacional/área verde

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è No desenvolvimento do ecoturismo, a integração e equilíbrio entre conserva ç ã oambiental, respeito pela cultura local e ad iversificação de atividades econômicasd e vem ocorrer via processo participativo .

D e vem ser levados em conta osseguintes aspectos:

❐ Representação das partes interessadas(elementos ou representantes) formais einformais da comunidade local e externa.

❐ Estabelecimento de estruturas e mecanis-mos para resolução de conflitos, tomadade decisão, planejamento, execução,monitoramento, avaliação e autogestãodas atividades.

❐ Resolução de conflitos buscandootimizar benefícios.

❐ Processos de educação, capacitação et ransferências de tecnologias apropri-adas, envolvendo os beneficiários na suaelaboração e multiplicação.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Este capítulo sugere um processo deplanejamento especialmente adequado parao ecoturismo de base comunitária, ou seja,para uma atividade que objetiva o desen-volvimento econômico e social aliado àc o n s e r vação da natureza em regiões,municípios e sítios de visitação. Assim, estaseção do capítulo tratará do planejamentodo ecoturismo para diferentes abordagens eestratégias de desenvolvimento: 1. Identificando as etapas do

planejamento do ecoturismo.2. Planejando o ecoturismo

em busca de sustentabilidade.3. Planejando o ecoturismo local

e regional.4. Planejando o ecoturismo em áreas

protegidas ou propriedade rural particular.

5. Planejando produtos ou empreendimentos de ecoturismo.

6. Projetando a sustentabilidade de produtos para a certificação.

/ FICHA 3

INDICADORES BÁSICOS NA AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA

· Poluição em todos os níveis

· Infra-estrutura (energia, comunicação, saneamento) para a comunidade

· Marginalidade e criminalidade

· Preços de terras e produtos comerciais básicos

· Preços de m2 construído

· N í vel e quantidade de emprego/desemprego

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u Análise da situação(Onde estamos?)

É o conhecimento da realidade, dasestruturas, atrativos, serviços, clientes, a vi-são da comunidade sobre o turismo, proble-mas e necessidades existentes etc. A investi-gação da situação atual considera um

enfoque integrado de âmbito político, legal,social, econômico e ambiental. Apresen-tando os dados à comunidade e discutindocom lideranças, governos e empresas par-c e i ras tanto para o desenvolvimento dediagnósticos estratégicos participativo scomo para a elaboração dos objetivos e

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1. Identificando as etapas do planejamento do ecoturismo

Em função das considerações adotadas naIntrodução Conceitual, pode-se estabele-

cer de forma organizada as etapas para umplanejamento criterioso, integrado, participa-t ivo e sustentável, onde os métodos podemser adaptados tanto para áreas sem presençado turismo como para áreas já em desen-volvimento. Assim, no momento da elabo-ração de um plano de desenvolvimento deecoturismo, seja para uma região ou municí-pio, uma empresa ou uma ONG, quatro per-guntas básicas devem ser respondidas.

] Onde estamos? u Análise da Situação

] Aonde u Objetivos e queremos chegar? Metas

] Como u Açõeschegaremos lá?

] E como saberemos u Avaliaçãose já chegamos?Na Ficha 4, podemos ilustrar essas per-

guntas e o elo entre elas. E para se fazer umbom planejamento de implantação do eco-turismo, devemos responder à primeira per-gunta e gerar subsídios para elaboração dasoutras três respostas.

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/ FICHA 4

QUATRO PASSOS NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO

ANÁLISE DA SITUAÇÃO

Inventário/Diagnósticos/Consultas

AVALIAÇÃOResultados alcançados/

M o n i t o ramento continuado/Consultas aos atores

OBJETIVOS E METASElaboração do Plano/

Definição de programas e projetos/

Participação ampla

AÇÕESImplementação do Plano

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

metas e para tomada de decisões.

u Objetivos e metas(Aonde queremos chegar?)Diante da realidade apresentada, quais

são os nossos objetivos, o que queremos doturismo e para a comunidade a curto, médioe longo prazos? Quem serão os benefi-ciários em termos de conservação e desen-volvimento local?

u Ações (Como chegaremos lá?)Definição das ações necessárias para

atingir nossos objetivos. Quais as medidasm i t i g a d o ras de impacto socio-ambiental?Deve-se pesquisar o mercado atual e poten-cial: produtos existentes, concorrentes, seuspreços e diferenciais, demanda efetiva epotencial, tendências de desenvolvimentoetc. Como desenvolver produtos, roteiros eserviços diversos ? Como integrar todos elesem uma imagem diferenciada para o eco-turismo na região?

u Avaliação(Como saberemos se já chegamos?)Estabelecer metas, produtos e sistemas

de monitoramento que forneçam indica-dores sobre o andamento dos objetivos eresultados e as necessidades de correção emudança de rumo.

2. Planejando o ecoturismo em busca de sustentabilidade

Conforme identificado no item anterior, odesenvolvimento de qualquer plano de

ecoturismo, de base comunitária ou não,deve ser apoiado em atividades que resul-tem no conhecimento das necessidades eexpectativas dos atores sociais, do efetivopotencial ecoturístico em termos atrativos,financeiros e de mercado e dos benefíciospara a conservação e para as comunidadeslocais. Durante este processo, algumas con-siderações são pertinentes para qualquertipo, nível ou interesse no desenvolvimentode planos de ecoturismo, necessárias para

se consolidar uma visão estratégica eresponsável que planejadores devem adotar.Assim, as pré-condições que um plano ded e s e nvolvimento do ecoturismo deve secomprometer a analisar cuidadosamentesão detalhadas a seguir.

a) Refletir sobre se o ecoturismo é apropriado

A decisão de planejar por si só já mereceuma análise mais aprofundada. Deve havermotivações suficientes para se decidir peloesforço em se estabelecer um plano para oecoturismo. No Brasil freqüentemente temse falado em planos ecoturísticos comoalternativa econômica para as regiões emlocalidades relativamente remotas e compotencial atrativo. E, neste caso, as moti-vações são a exploração de nossa rica pai-sagem natural para viabilizar um desen-volvimento local responsável. Neste contex-to, nem sempre as decisões de se iniciar oplanejamento são motivadas por interesses eexpectativas das comunidades onde se daráo ecoturismo.

O planejamento integrado, aquele emque se estabelecem diagnósticos mais am-plos, envolvendo não somente as potencial-idades turísticas, mas o contexto regionalpara desenvolvimento e conservação, per-mite que o planejador obtenha uma visãodas circunstâncias políticas, legais, conser-vacionistas e de desenvolvimento em que seencontra seu objeto de planejamento. Ospré-requisitos mínimos e razoáveis para secontinuar pensando em se estabelecer oecoturismo podem ser:❐ Conhecer os marcos legais e políticos

que não inviabilizam o ecoturismo, ouque não impeçam o seu investimento,tais como entorno de unidades de con-servação de proteção integral, locais deconstrução de barragens, áreas de confli-to indígena etc;

❐ Um certo grau de salubridade, ausênciade moléstias transmitidas em ambientesnaturais, como cólera, malária e febreamarela, e acesso facilitado para ser-viços de saúde;

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❐ Um alto grau de segurança ao visitante,principalmente com relação à criminali-dade, atividades e acessos de risco, ouáreas de conflito político-social;

❐ Uma avaliação responsável sobre aspotencialidades atrativas da região, pro-priedade ou UC (diversidade e quanti-dade de paisagens e de espécies dafauna e flora de interesse ecoturístico)suficientes para se atrair visitantes;

❐ Ver a oferta de atrativos naturais em quese conheça razoavelmente sua capaci-dade de manejo em receber fluxos devisitantes;

❐ A implantação estruturas organizacio-nais (espaços institucionais adequados emecanismos claros) para se conhecer eintegrar o nível de consciência e a visãoda comunidade sobre suas expectativasem relação ao turismo, inclusive para atomada participativa de decisões;

❐ Uma pré-avaliação de mercado quedetermine a existência de uma demandapotencial e os esforços necessários paraalcançá-la;

❐ Um grau confiável sobre a propriedadeda terra de uso ecoturístico.

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RESERVAS EXTRATIVISTAS DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO:

UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Questão fundiária

epois de iniciado o Projeto de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho (RO), descobriu-se que a área da Reservade Pedras Negras estava sendo requisitada pela FUNAI – Fundação Nacional

do Índio, por ser provavelmente ocupada por índios isolados. Apesar de envolver diretamente a comunidade, que poderia ser retirada do local por esse motivo, os nativose as associações civis parceiras desconheciam a intenção da FUNAI. Caso a fundaçãoganhasse a posse da área, o que não ocorreu, todas as benfeitorias já construídas parao projeto seriam perdidas.

O planejamento estratégico recomenda que, antes de se iniciar atividades de desenvolvimento do ecoturismo em uma região, principalmente de estruturas físicas,seja feito um amplo levantamento sobre a legislação pertinente, o uso e posse da terra,se há projetos de desenvolvimento urbano, agrícola e rural, entre outros aspectos.

Os órgãos públicos que comumente podem ter demanda ou interferir diretamente sobreo uso da propriedade são FUNAI, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(INCRA), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Departamento de Estradas de Rodagem (DER) (relativo à novas estradas que podem direcionar ou modificar os acessos), o Ministério das Minas e Energia ou a ANEEL, sua agência reguladora (relativo aos planos para construção de hidrelétricas), o IBAMA (relativoa planos de novas áreas protegidas), e os governos do Estado e município, além docartório de registros de imóveis e terras.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma avaliação positiva sobre estes pré-requisitos não permite afirmar que o ecotu-rismo é a melhor (ou única) opção, mass e r ve como ponto de afirmação para se pen-sar em continuar a desenvo l ver o plano deecoturismo. Tendo em mãos esta pre-ava l i-ação, esta pode também ser uma importantef e r ramenta para se comunicar com agênciasf i n a n c i a d o ras, por meio de cartas deintenção, possibilitando a obtenção de umsinal verde para possíveis apoios financeiros.

b) Verificar as vantagens potenciais para a conservação da natureza

A conservação de habitats e paisagens éum dos princípios do ecoturismo. Mas ocontexto de conservação nos destinospotenciais de ecoturismo nem sempre éf avo r á vel. Dificuldades econômicas nomeio rural e ausência de políticas governa-mentais de apoio às atividades tradicionaisno campo, entre outros fatores, tem levadoas comunidades a uma sobre-exploraçãodos recursos naturais. Se melhorar a quali-dade de vida local é objetivo de plane-jadores e comunitários, a visão que seespera no planejamento é a de que estanova atividade (o ecoturismo) possa vir a seruma ferramenta para lograr uma forma maissustentável de se relacionar com a natureza.

Com o diagnóstico das potencialidadesdo ecoturismo, aliado ao diagnóstico sobreas potencialidades de outros usos econômi-cos na região, pode-se questionar se o eco-turismo é realmente a melhor alternativa.Assim, questões ch aves que devem serrespondidas por planejadores e liderançascomunitárias são:è Qual o número de beneficiários

do projeto de ecoturismo?è Quais as atitudes que se espera

em nível local para reverter processosde degradação da natureza?

è E que papel o ecoturismo pode ter nas mudanças de atitudes?

è Quais problemas adicionais paraa conservação (contrapondo-se aos seusbenefícios) o ecoturismo pode trazer?

è Poderia outras alternativas econômicas

sustentáveis ter o mesmo papel ou alcançar os mesmos resultados que o ecoturismo, pelo mesmo esforço comunitário?

Em muitas localidades rurais tem sidoobservada uma relação equilibrada entrecomunidades e meio ambiente. A chegadado ecoturismo pode trazer uma nova visãode uso econômico da natureza, modifican-do hábitos e pressionando o uso dos recur-sos naturais. Assim, caso o ecoturismo seja aopção de desenvolvimento local, essarelação deve ser mantida, buscando-se umequilíbrio adequado.

Ao se definir claramente quem será bene-ficiado (a conservação da natureza, a co-munidade local, os turistas etc.), as ações ee s t ratégias para isto e os indicadores de fácilverificação para se conhecer o grau desucesso do ecoturismo, o plano terá gra n d e schances de cumprir com um dos seusmaiores objetivos: promover desenvo l v i m e n-to local aliado à conservação da natureza.

c) Identificar as necessidades e expectativas dos atores sociais envolvidos

Durante o processo de planejamento,deve-se estabelecer as estratégias e técnicasp a ra garantir a participação dos setoresinteressados, dosando adequadamente assuas necessidades e expectativas.

Para que o núcleo receptor seja benefi-ciado com o turismo os planejadores locaisprecisam satisfazer as necessidades dos tu-ristas e do mercado turístico, as necessi-dades de proteção dos recursos naturais eculturais e as necessidades da comunidadereceptora, assim como precisam estabelecerseus interesses específicos.

Os moradores locais dos destinos de eco-turismo questionam em como se beneficiar.Já os turistas esperam como conhecer anatureza por meio da atividades de lazer,porém buscando preço, conforto, segura n ç ae qualidade nos serviços. Os governos vêemo turismo como item de exportação (princi-palmente em nível nacional) e gerador de

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

renda e riquezas (principalmente em níve lregional e local). Já os ambientalistas optampelo ecoturismo como uma oportunidadeem desenvolvimento social e conserva ç ã oda natureza. Os mercados e demais profis-sionais vêem o ecoturismo como oportu-nidade econômica, os sociólogos pelo seuvalor sócio-cultural e até escritores, produ-tores e publicitários se interessam por umm e rcado de publicações abundantes. As uni-versidades, seus alunos e pesquisadoresdesejam oportunidade para aplicar seus co-nhecimentos e técnicas em parcerias comg overnos locais e entidades sociais.

Este exercício gera uma visão de plane-jamento com maior amplitude, favorecendoo diagnóstico e a elaboração de planos. AFicha 5 abaixo apresenta alguns dos inte-resses dos agentes sociais do turismo.

d) Aproximar a visão de planejamento às visões das comunidades e do mercado

Pa ra se perceber melhor a importância e asp o s s í veis características do planejamento doecoturismo de base comunitária em uma deter-minada região, município ou área natural pro-tegida ou não, duas abordagens merecemdestaque para se ampliar a visão dos plane-jadores: as de mercado e as da comunidade. A sFi chas 6 e 7 a seguir trazem o detalhamento dealgumas visões desejáveis para planejadores.

Essas visões não são difíceis de se identi-ficar, se o planejamento é participativo e seo método adotado basear-se num diagnósti-co efetivo e amplo, onde fiquem claras aspotencialidades e o papel do ecoturismo nod e s e nvolvimento sócio-econômico local/regional. Este é talvez, o passo mais impor-tante para se estabelecer planos adequadospara o ecoturismo.

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/ FICHA 5

IDENTIFICANDO AS DIFERENTES NECESSIDADES E INTERESSES

SETOR PRIVADO DO TURISMO PROCURA:

❐ Oportunidade econômica❐ Recursos Humanos

capacitados❐ Infra-estrutura, facilidades

e acessos❐ Atrativos em quantidade

e qualidade

O MEIO AMBIENTE NATURAL E CULTURAL NECESSITA:

❐ Proteção e recuperação❐ Conscientização e valorização

A COMUNIDADE DESEJA:

❐ Saúde, trabalho, educaçãoe saneamento

❐ Respeito aos seus direitos e suas tradições e partici-pação nas tomadas dedecisões

❐ Benefícios sociais e econômicos

MEIO AMBIENTESETOR PRIVADO

COMUNIDADE/GOVERNO

LOCAL

MELHOR QUALIDADE DE VIDA

FONTE: Adaptado de OMT - Desenvolvimento do Turismo Sustentável: manual para organizadores locais.EMBRATUR, 1994.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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/ FICHA 6

CONSIDERANDO AS VISÕES DAS COMUNIDADES

[ Atentando para os conflitos cultura i s – Em se tratando o ecoturismo de uma ativ i d a d ecom forte característica de integração cultural, muitas vezes observa-se a sobreposiçãodas culturas urbanas contemporâneas da origem do turista e empresários turísticossobre aquelas tradicionais e rurais. Sabe-se que outras influências econômicas e soci-ais também agem desta forma, e que nenhuma cultura é estática. Mas o ecoturismodesordenado ou indesejável tem o caráter de potencializar as alterações quesobrepõem valores e riquezas tradicionais locais. Desta forma, o inventário tambémd e ve considerar a pesquisa sobre valores e costumes tradicionais e históricos que pre-cisam ser resgatados, tais como linguagem, danças, gastronomia e artesanato, maioreschances de se manter a autenticidade dos futuros produtos.

[ Atendendo aos anseios e expectativas das comunidades envolvidas – Diante de umpossível cenário de alterações no cotidiano e na economia das comunidades pelaimplantação de projetos de ecoturismo, é importante conhecer o que a comunidadepensa sobre isto, sendo presente ou não a atividade. Esse conhecimento pode dire-cionar a escala desejada de desenvolvimento do turismo, indicar as causas de descon-forto da comunidade com os problemas gerados pela visitação ou as necessidades deinformação da comunidade em relação ao turismo. O descontentamento da popu-lação provoca um ambiente hostil ao turismo, diminuindo a qualidade da “atmosfera”e, portanto, podendo causar redução do fluxo de turistas.

[ Ampliando os benefícios do desenvolvimento do ecoturismo – Pa ra que a comunidadeobtenha vantagens econômicas do turismo, ao mesmo tempo em que proporc i o n amaior qualidade à experiência do turista, a infra - e s t r u t u ra e os serviços são planejadose criados. O levantamento daquilo que existe ou necessita ser criado em termos dei n f ra - e s t r u t u ra turística, serviços e equipamento de apoio, do montante de empregos ede produtos locais é essencial para se otimizar o benefício econômico gerado pelosvisitantes, especialmente no que se refere à diversificação da economia local.

[ Adotando uma visão de precaução – A identificação dos impactos existentes (e pos-síveis) e da capacidade de carga natural e social, facilita a adoção de medidas queminimizem o prejuízo causado à natureza e à comunidade, indicando a necessidadede novas estruturas ou serviços.

[ Observando acessibilidade como fator chave no ecoturismo – Estradas e acessosimplantados em função do ecoturismo podem ser úteis também para escoamento deprodução agropecuária local. Da mesma forma, estradas causam impacto a um deter-minado ambiente (erosão, poluição etc.), como também aceleram o processo de ocu-pação desordenada nas áreas de entorno. Portanto, estradas e trilhas são necessárias,mas nem sempre desejáveis.

/ FICHA 7

CONSIDERANDO AS VISÕES DO MERCADO

[ Percebendo as potencialidades dos recursos para se atingir mercados – As potenciali-dades de uma região são definidas, no caso do ecoturismo, pelos conjunto de atrativose localização do destino. Este último é fator decisivo na elaboração do planejamento,pois orienta uma série de investimentos em infra-estrutura. Os atrativos naturais, cul-

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e. Dosar as expectativasO desenvolvimento do ecoturismo em

uma região, propriedade ou Unidade deC o n s e r vação deve encontrar formas decoordenar o trabalho de planejamento comas expectativas da comunidade, principal-mente quando se pretende compatibilizar aspotencialidades econômicas com a conser-vação ambiental da região.

A participação da comunidade na ativi-dade turística deve ser compatível com suadisponibilidade para o trabalho e sua habi-

lidade para o relacionamento comerc i a lcom o público. As questões a seguir indicamque alguns assuntos devem ser criteriosa-mente investigados nos primeiros momentosdo planejamento, mais especificamente nasfases de inventário, diagnóstico e apresen-tação do plano. è A comunidade quer mudar seu ritmo

de vida? è Muito trabalho, estresse e maior

rentabilidade, ou trabalho menos intensivo com menor rentabilidade?

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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/ FICHA 7

CONSIDERANDO AS VISÕES DO MERCADO (Continuação)

turais e históricos determinam a atmosfera do local, e a capacidade de carga dos mes-mos determina o potencial de crescimento. A presença de atrativos naturais, em maiornúmero que os demais, determina uma vocação para o ecoturismo de caminhadas,passeios e, consequentemente, um público mais jovem. Se os atrativos tiverem fácilacesso, o público pode ser estendido a uma faixa etária mais elevada. Se houver diver-sidade de pássaros pode-se pensar em um público mais especializado – observadoresde pássaros. A história da comunidade e suas atividades tradicionais são fatores impor-tantes para a elaboração de produtos de ecoturismo, valorizando a cultura local, comgrandes chances da população anfitriã passar a compreender melhor sua influência noprocesso de definição das características do destino. Enfim, pequenas diferenças noconjunto de recursos disponíveis modificam ou diversificam muito o público alvopotencial. Somente um processo adequado (e geralmente lento, podendo levar meses)de envolvimento dos diferentes setores da comunidade (ou das comunidades daregião) associado aos resultados do inventário poderão definir claramente as poten-cialidades naturais, culturais e históricas da região para o ecoturismo.

[ Identificando, atraindo e mantendo o público alvo – Em um mundo cada vez maiscompetitivo e de consumidores cada vez mais exigentes, é importante conhecer a per-cepção de nosso cliente, o turista, em relação ao que lhe oferecemos ou vendemos.Por que o turista busca nosso produto (atra t ivo, hotel etc.)? O que falta em nosso municí-pio e o que podemos fazer para agradar mais o visitante? Será que ele ficou satisfeitocom o que viu, experimentou, vivenciou, comprou? Qual é a sua percepção em relaçãoao impacto ambiental/cultural do turismo na região? O que podemos fazer paradiminuir os impactos e mudar essa percepção? As respostas podem nos aproximar doque o visitante quer, melhorar nossos serviços e infra - e s t r u t u ra ou mesmo mudar nossosistema de comunicação para que o visitante já venha consciente do que vai encontra r.Ao evitar uma falsa expectativa, atraímos o turista ideal para nossos propósitos.

[ Avaliando os acessos – A t ra t ivos visitados ou potenciais, visitantes habituais, prov á ve i sm e rcados e principalmente a existência, qualidade e localização dos meios de tra n s p o r t ee dos acessos devem ser identificados e avaliados no início do processo de planejamen-to. Quanto maior o grau de dificuldade para se chegar a um determinado destino, maioro preço do produto, menor é o mercado e, consequentemente, a renda gera d a .

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Criação de empregos ou de micro-empresas?

è Visitantes o ano todo ou concentradosem uma determinada época?

è Visitantes passeando por locais de trabalhos comunitários ou em locaispróprios somente para o turismo?

è Qual é a melhor opção paraa comunidade?

Se por um lado pode-se praticar umapolítica de estímulo às pequenas empresas,o que fortalece as empresas familiares, poroutro podem-se atrair investidores de médioporte em turismo para geração de empregos.No primeiro caso a comunidade local é for-talecida. No segundo, os moradores sãotransformados em simples funcionários dosempreendimentos.

Turismo de massa, turismo especializa-do, visitação com guias locais, trilhas auto-guiadas, comida tradicional, comida natu-ral, misticismo... Várias são as modalidades,atividades e serviços na definição de umproduto, mas qual é o interesse da comu-nidade? O turista deve ser jovem? De ter-c e i ra idade? Estudante? Famílias? Rico?Místico? Esportista? Qual será o mais ade-quado? Poucos turistas de alto poder aquisi-tivo e com resultados mais rentáveis? Oumaior quantidade de turistas de classemédia para ganhos em volume de ope-ração? A identificação do turista adequadodeve ser motivada não só pelo potencialecoturístico da região (tanto natural e cul-

tural quanto econômico), mas também pelaspreferências da comunidade quanto aopúblico com que desejam ou concordamem se relacionar.

Estas perguntas, relativas às expectativasdos diferentes setores da comunidade, sãoformuladas durante o diagnóstico, a pri-meira etapa do planejamento. As respostasdeterminam o plano, e um diagnósticoequivocado ou um processo inadequado dei n t e g ração da comunidade à discussãosobre o desenvolvimento do ecoturismo(além do capítulo referente ao inventário,ver capítulo Participação Comunitária eParcerias) podem causar danos sociocultu-rais irreparáveis.

Outra questão referente à dosagem deexpectativas diz respeito à ansiedade queuma proposta de ecoturismo pode gerar emlideranças e na comunidade como um todo.Dizer que o ecoturismo vai chegar logo eque todos serão beneficiados ainda é prati-ca comum entre consultores e técnicos daárea, prática extremamente condenáve l ,sabendo-se que o ecoturismo é um segmen-to de interesse específico e que sua viabili-dade e retorno financeiro é lento. Mesmotomando este cuidado, é sempre aconse-lhável deixar claro em todos os momentosdo processo, das fases necessárias para aimplementação do ecoturismo e que osresultados comerciais nem sempre chegamrápidos. Esta abordagem é tanto mais difícilem locais onde há sérias dificuldades emdesenvolvimento econômico.

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RESERVAS EXTRATIVISTAS DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO: UM EXEMPLO DE PROJETO

DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Expectativa e motivação

uando se trabalha com comunidades, é muito difícil manter ou controlar a fasede motivação e um trabalho mal feito pode levar rapidamente ao desânimo edescrédito. Nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho (RO), onde as necessidades básicas são urgentes, tomou-se o cuidado de, junto

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

3. Planejando o ecoturismo regional e local

No Brasil, o planejamento não é umaatividade muito comum na sociedade

e, principalmente, nos governos. Planejar eexecutar um plano são tarefas complexas,principalmente quando se procura integraros interesses da sociedade com os dospoderes públicos, sejam nacionais, esta-duais ou municipais, e esses às necessi-dades de mercado. Como afirmado anterior-mente, uma proposta de desenvolvimentode um plano deve ser entendida como resul-tado de um estudo das diversas variáveisque compõem o cenário social, político,legal, econômico, cultural e ambiental den-tro de uma perspectiva integradora, apoiada

em valores éticos. Os passos desejáveis paraeste processo em nível regional e local sãodetalhados a seguir.

è Avaliando e diagnosticando a situação atual

Tanto o planejamento em nível localcomo regional(5) se inicia com as ações doinventário (ver capítulo Levantamento doPotencial Ecoturístico – Inve n t á r i o). Deposse dos dados do inventário, inicia-se ainterpretação e análise dos dados (diagnós-tico) e a proposição de um caminho a seguir(prognóstico). O diagnóstico avalia a situa-ção atual da região para fins do desenvolvi-mento do ecoturismo, esboçando a idéiabásica do potencial e do perfil da região

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(Continuação)com a comunidade, definir muito bem todas as etapas a serem cumpridas, desde omomento de apresentação do projeto.

Sempre foi dada atenção especial ao esclarecimento das dificuldades e do temponecessário para avaliação, aprovação e liberação de recursos, que podem demorar anos.Durante o período de espera, o contato com a comunidade continuou a ser mensal ou bimestral. Algumas atividades foram realizadas, mesmo com poucos recursos, paraque a organização comunitária se fortalecesse, e para que a população sentisse a seriedade do projeto e das pessoas envolvidas, evitando o desânimo. Assim, construiu-se um pomar comunitário, uma casa teste para receber os primeiros visitantes, umaoperação turística demonstrativa e teve início o processo de capacitação e treinamento.

Após a inauguração da Pousada Pedras Negras, em setembro de 2001, utilizou-se dasmesmas estratégias, visto que a demanda não chegou de modo satisfatório nos primeirosmeses. Dependendo do esforço de marketing disponível, a comunidade tem que estar esclarecida de que a consolidação do produto dar-se-á em alguns meses e até anos. No mundo dos negócios, e dentro de padrões de investimentos normais, nenhum projetoapresenta balanço financeiro positivo antes de dois anos. No ecoturismo, produtosnovos, autênticos e originais, podem ter resultados positivos mais cedo, mas isso nãodeve ser encarado como regra.

(5) – NOTA DO EDITOR: Neste item 3 da Caixa de Ferramentas estamos considerando o termo planejamentolocal como aquele desenvolvido em âmbito municipal, e o termo planejamento regional para identificarplanos desenvolvidos para vários municípios de uma mesma região. Neste último caso, dependendo daabrangência geográfica do plano, ele pode assumir, com adaptações, contornos de um plano estadual e atémesmo interestadual.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

p a ra a atividade e das altera ç õ e s / a d e-quações necessárias. Além disso, o diagnós-tico se baseia também nas informações ge-radas pelas pesquisas de mercado, definido-ras das oportunidades mercadológicas naoferta de produtos e roteiros de ecoturismo,assim como projeta os perfis de demandaefetivas e potenciais.

A qualidade do diagnóstico está direta-mente ligada à qualidade do inventário. Asinformações coletadas durante o inventáriosão a base para as discussões que elaboramo diagnóstico. Nesta fase, o cuidadoso tra-balho realizado na identificação das per-guntas a serem formuladas e das infor-mações a serem inventariadas durante o le-vantamento do potencial ecoturístico daregião prova a sua validade.

Os diferentes setores da sociedade quep a r t i c i p a ram e/ou foram consultados dura n t eo inventário são reunidos em um processop a r t i c i p a t ivo para avaliar seus resultados edefinir estratégias, por exemplo, do tipo dei n f ra - e s t r u t u ra básica e dos serviçosnecessários, das normas para o uso e ocu-pação do solo pelo turismo e de regras paraconstrução de empreendimentos específi-cos, do zoneamento espacial da ativ i d a d eturística, da proteção de recursos de inte-resse ecológico e cultural, da disponibilidadede recursos financeiros entre outros.

O diagnóstico deve ser feito com a par-ticipação da comunidade local / regionalem reuniões de trabalho, principalmentecom a criação de uma instância oficial paraa integração dos diversos setores dasociedade, como por exemplo, o ConselhoMunicipal de Turismo (COMTUR). Nessemomento, é imprescindível a presença dostécnicos que orientaram e facilitaram a rea-lização do inventário, porém é precisoatenção para que eles não direcionem osdebates e as tomadas de decisão. É muitocomum os técnicos utilizarem dados estatís-ticos e referências técnicas desconhecidospara a comunidade, procurando convencê-la a assumir posturas que terá dificuldadesem manter posteriormente. Mas a satisfaçãoplena da comunidade com a atividade eco-

turística é fator determinante do sucesso desua implementação.

Durante a fase de diagnóstico, é precisobuscar o equilíbrio entre o uso de exemplosde outras regiões e a identificação do perfilatual e desejado do ecoturismo para aregião. Seja por iniciativa dos técnicos faci-litadores ou por iniciativa dos participantes,é muito comum que as discussões do diag-nóstico sejam orientadas pela “importação”de características de ecoturismo em umaoutra localidade que os participantes te-nham visitado ou que tenham informaçãode ser exemplo bem sucedido de ecoturis-mo. Assim, freqüentemente durante o diag-nóstico (e planejamento) ouvem-se frasescomo: “Lá em Porto Seguro as cabanas naspraias fazem o maior sucesso. Por que agente não faz o mesmo por aqui?”; oualgum prefeito dizer: “Lá no meu municípiotem uma cachoeira linda, será que podemosfazer turismo?”; ou então “Precisamos fazeruma represa para atrair turistas”. Essas afir-mativas demonstram a falta de entendimen-to da atividade pela grande maioria dosadministradores públicos e até mesmo poraqueles que já trabalham com o turismo hámuito tempo. Porém, mais importante, se ouso de tais exemplos não for controlado econtextualizado durante as discussões, operfil do ecoturismo na região, ou seja, oresultado do diagnóstico, pode ser equivo-cado, com conseqüências graves para osucesso da atividade, seja do ponto de vistada vocação cultural e ambiental da região,seja do ponto de vista do mercado.

Como no caso do inventário, ou de qual-quer outro processo participativo de caráterregional, para se realizar um bom diagnósti-co é necessário realizar uma série dereuniões ou outros eventos em diferenteslocais da região, para diferentes grupos dacomunidade. A mesma equipe que realizouo inventário pode iniciar este trabalho, bus-cando envolver representantes de cada setororganizado ou área da comunidade. Maisdo que um documento com objetivos eestratégias, o sucesso do plano, ou seja, suabem sucedida implementação, depende

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

desde processo de elaboração coletiva naregião. E, desta forma, o diagnóstico deveapresentar as seguintes respostas:

❐ Pontos negativos e positivos, oportu-nidades e ameaças (conhecida porplanejadores como "análise SWOT"(6))do desenvolvimento do ecoturismo naregião, pelas perspectivas ambiental,social, cultural e econômica.

❐ Estimativa preliminar da capacidade decarga dos atrativos. Caso as propriedadesnão possuam a avaliação de sua capaci-dade de carga (ver capítulo Monitora -mento e Controle de Impactos deVi s i t a ç ã o), pode-se optar inicialmentepor uma estimativa do número de pes-soas que pode visitar a área em um diasem prejudicar a qualidade da visita. Estaestimativa deve basear-se na experiênciados proprietários ou usuários freqüentesda área (guias ou moradores locais, ope-radores, visitantes).

❐ Contraste entre a estimativa de capaci-dade de carga dos atrativos naturais coma oferta de leitos atuais na região.

❐ Quais atrativos podem ser utilizados acurto, médio e longo prazos.

❐ Análise da infra-estrutura e identificaçãode suas deficiências.

❐ Tipos e oportunidades de empreendi-mentos necessários.

❐ Quais os públicos preferenciais, ou seja,que tipos de visitante se deseja ou sepode atrair de acordo com as caracterís-ticas ambientais, culturais e de infra-estrutura do local.

❐ Número de ocupações profissionais ouempregos.

❐ Vocação da comunidade.❐ Tipo e nível de formação profissional dos

moradores locais (tanto a formação esco-lar quanto a prática).

è Estabelecendo uma base política, legal e administrativa

A partir do diagnóstico, pode-se esta-belecer um processo político que objetive acriação de uma Política Regional ou Mu-nicipal de Ecoturismo, incluindo as grandeslinhas de ação acima mencionadas, e esta-belecendo as bases administrativas e legaispara o desenvolvimento do Plano.

A partir da adoção de uma Política deEcoturismo, o conteúdo do plano constitui-seprincipalmente de regras acordadas pelogrupo, das responsabilidades individuais ec o l e t ivas, e sua implementação vai depender,mais uma vez, da qualidade e da efetividade daparticipação e da relação entre os diferentes se-tores da sociedade. A realização de uma oumais oficinas com a participação de pessoas ded iversos setores da comunidade, como em-presários, guias, vereadores, secretários muni-cipais e até pessoas não ligadas ao turismo,também é uma boa estratégia para definir omodelo de ecoturismo que se pretende.

Em âmbito regional, num pólo de eco-turismo, no entorno de uma grande área pro-tegida ou em uma bacia hidrográfica, a ado-ção de uma política pode ser estabelecidapor meio de consórcios ou comitês intermuni-cipais. Como exemplo, o estabelecimentode uma política regional de uso e gestão sus-tentável de bacias hidrográficas, por meiode consórcios intermunicipais, com uma vi-são estratégica sobre todas as atividades eco-nômicas (indústria, agricultura e serviços),servirá para que cada município adote emnível municipal uma política local harmoni-zada aos municípios de entorno. E na A m a z ô -nia, o Grupo Técnico de Coordenação doEcoturismo para a Amazônia (GTC) vem há6 anos estabelecendo políticas de ecoturis-mo de forma participativa pela integraçãode interesses de nove estados da regiãojunto com o governo federal.

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(6) – NOTA D O AU TO R: A análise SWOT – Strengths (pontos fortes), Weaknesses (pontos fracos), Opportunities (opor-tunidades), Threats (ameaças) é um método que parte da idéia de que deve-se avaliar e atuar estrategicamente sobreos fatores atuais (maximizar as forças e corrigir as fraquezas) e futuros (realizar as oportunidades e evitar as ameaças)que influenciam ou venham a influenciar o desenvolvimento de atividades e projetos que compõem os planos.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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Dois programas públicos de desenvolvimento do ecoturismo, com enfoque regional,vêm se desenvolvendo no Brasil nos últimos anos. Um é conduzido pela Secretaria deCoordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente (SCA/ MMA) e outro con-duzido pela Embratur, órgão do Ministério de Esportes e Turismo(7). Há ainda um terceiroprojeto, não constituído em forma de programa, desenvolvendo dois pólos de ecoturismo,conduzidos pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável também doMinistério do Meio Ambiente (SDS/MMA). Apesar de adotarem, infelizmente, diferentesmetodologias, os programas vêm trazendo valiosas contribuições para a definição deplanos estratégicos de desenvolvimento do ecoturismo em nível regional. Segue abaixouma breve descrição de cada programa.

PROGRAMA PÓLOS DE ECOTURISMO – EMBRATUR / MTUR

D e s e nvolvido pelo Ministério de Esportes e Turismo (MET, atual Ministério do Tu r i s m o ) ,por intermédio do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e de sua Diretoria de Economiae Fomento, em parceria com o Instituto de Ecoturismo do Brasil (IEB), o Programa Pólos deEcoturismo possui entre seus objetivos identificar as localidades bra s i l e i ras onde a prática doecoturismo vem ocorrendo com sucesso e aquelas com potencial de desenvolvimento masainda carentes de infra - e s t r u t u ra e recursos humanos capacitados. Ainda em implantação, esem um orçamento definido, o Programa abrange todo o território brasileiro e já identificou96 regiões ou pólos com potencial para o desenvolvimento de atividades ecoturísticas.Atualmente vem fazendo um levantamento das características, das potencialidades e dascondições da infra - e s t r u t u ra nos locais onde o ecoturismo se apresenta como uma novaa l t e r n a t iva de desenvolvimento. A implementação do Programa dar-se-á por um ComitêG e s t o r, onde os diferentes representantes do setor privado e não-governamental vão con-tribuir para consolidar os Pólos. Fazem parte do Comitê Gestor, entre outras entidades, oInstituto de Ecoturismo do Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, W W F - B rasil, ConselhoNacional da Reserva Biosfera da Mata Atlântica, Eco Associação para Estudos do A m b i e n t e ,Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Instituto para o Desenvolvimento daEconomia e Indivíduo do Ambiente e da Sociedade (IDEIAS), Instituto de Hospitalidade (IH)e Brasil Connects.

PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL -PROECOTUR - SCA / MMA

D e s e nvolvido pela Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA) do Ministério do MeioAmbiente, por meio do Grupo Técnico de Coordenação do Ecoturismo para Amazônia(GTC Amazônia), o Programa Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo na AmazôniaLegal (Proecotur), está sendo desenvolvido por meio da definição de nove pólos de eco-turismo, um em cada estado da Amazônia Legal - Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia,R o raima, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. Serão implementados em cada estado por meiode diversas ações estratégicas, ações de definição e de detalhamento de um pólo, a elabora ç ã ode planos de desenvolvimento, a criação e implantação de áreas protegidas, programas decapacitação profissional, estratégias de m a r k e t i n g entre outras. O programa conta com dive r-

PLANEJAMENTO REGIONAL DE PÓLOS DE ECOTURISMOEXEMPLO:

(7) – NOTA DO EDITOR: Em 2003, o Ministério dos Esportes e Turismo foi desmembrado em dois (Ministério dosEsportes e Ministério do Turismo)

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Em nível municipal(8), uma política deecoturismo identificará o papel e as açõesdos diversos setores e instituições, propondoe regulamentando a interface entre poderpúblico e a sociedade civil, a partir de umplano integrado e participativo. A criação deConselhos Municipais de Tu r i s m o(COMTURs) de caráter consultivo e, maisimportante, deliberativo, é um passo impor-tante por estabelecer um foro instituciona-lizado e legítimo para as tomadas dedecisão em nível local, desde que possuaparidade em sua composição entre governo,mercado privado e setores sociais e ambien-tais da sociedade. Criado por decretomunicipal e elevado à condição de fórumlegítimo de debate do turismo, o Conselho éformado por pessoas de vários segmentossociais. Seu caráter diversificado deve serum motivador ao senso comum.

O Consórcio Intermunicipal ouConselho Municipal de Turismo (COMTUR),ou o grupo formado com representaçãod iversificada de setores da comunidade,deve debater o turismo de maneira a darcontinuidade ao processo de planejamento,

definindo a “missão” que deverá desempe-nhar o ecoturismo no município ou naregião. O Conselho ou o grupo de trabalhoé a instância onde o planejamento pode sermonitorado da melhor forma possível, é uminstrumento institucional que permite a par-ticipação da comunidade nas decisões dedesenvolvimento do ecoturismo.

Ainda pensando-se em âmbito munici-pal a regulamentação pode ser definida pormeio de um plano diretor amplo, que inte-gre o desenvolvimento urbano e rura l ,observando os limites para o uso e ocu-pação do solo pelas diferentes aptidõeseconômicas locais, a definição de espaçosespecialmente protegidos (sítios natura i s ,históricos e culturais) e até especificando alimitação das estruturas dos equipamentosturísticos e de lazer, tais como a escala dosempreendimentos, altura das edificações,áreas verdes e jardins etc., definição depadrões arquitetônicos e tecnologias para osempreendimentos na área rural e outrasnormas. Esse controle é de fundamentalimportância, pois tem-se verificado nospólos de ecoturismo uma invasão de

1

(Continuação)sas parcerias, além de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO – SDS / MMA

Desenvolvido pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável (SDS)do Ministério do Meio Ambiente, vem elaborando ações de planejamento para o desen-volvimento de pólos de ecoturismo em duas regiões brasileiras: no Delta do Parnaíba,entre Piauí e Maranhão, e no entorno do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na regiãoserrana do Rio de Janeiro. No caso do Delta do Parnaíba, uma das estratégias de planeja-mento é o estabelecimento do Zoneamento Econômico-Ecológico permitindo-se efetuarum diagnóstico amplo dos potenciais de desenvolvimento econômico aliado à conser-vação ambiental. E o ecoturismo é uma das atividades potenciais identificadas.

EXEMPLOS:

(8) – NOTA DO AUTOR: Uma política do turismo em nível local, com base legal ampla, reguladorae fomentadora foi motivo de estudo de consultoria por parte do Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil, que gerou uma publicação a ser lançada em 2003: Turismo Responsável: Manual paraPolíticas Locais, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

empresários de outras localidades, deten-tores de maiores recursos financeiros, maiorentendimento da atividade ecoturística emenor compromisso com o desenvolvimen-to local sustentado. Isto gera um tipo de tu-rismo que centraliza os benefícios econômi-cos ou que ocupa os melhores espaçoscomerciais, ou mesmo espaços tradicionaisda comunidade, expulsando-a para a perife-ria das cidades e ainda impedindo estascomunidades de usufruir de sítios atrativos,antes de gozo comum.

è Estabelecendo o prognóstico

Uma vez definido o grupo responsávelpela elaboração do Plano de Desen-volvimento do Ecoturismo (local ou regio-nal), a primeira responsabilidade do grupo

formado é estabelecer o chamado prognós-tico, ou diagnóstico futuro, definindo umcenário desejável em função da situaçãodiagnosticada, e onde já começam a ficarclaros os desafios e as estratégias para serealizar as idéias geradas pelo diagnóstico.A pergunta que deve ser feita na etapa doprognóstico é: “Aonde queremos chegar?” ea resposta, na forma de um Plano, será umaresultante das potencialidades e das expec-tativas compatibilizadas com as perspecti-vas do mercado. Expectativas, potenciali-dades e mercado são as “ch aves” doprognóstico para o desenvolvimento doecoturismo em um município ou região. Noentanto, nem todas as cidades ou regiõestêm a obrigação de optar pelo ecoturismocomo atividade econômica, e o diagnósticodeve ser capaz de identificar isto.

1

VALE DO RIBEIRA, SP – CONSELHO CONSULTIVO

E PLANO ESTRATÉGICO REGIONAL

região do Vale do Ribeira contém as maiores áreas contínuas dos remanescentesde Mata Atlântica do Brasil, sendo de grande importância para a conservaçãodesse bioma. Trata-se de uma das áreas piloto da Reserva da Biosfera da Mata

Atlântica, que abrange 29 milhões de hectares em 14 Estados brasileiros, e área reconhecida pela UNESCO como Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade.Localizada na região mais pobre do Estado de São Paulo, a região vive permanentementeos conflitos que envolvem a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento.Próxima a algumas horas de um dos maiores centros urbanos do mundo, a cidade deSão Paulo, o Alto Vale do Ribeira possui grande potencial para a implantação de um turismo planejado, sustentável e que seja uma alternativa econômica concreta para aspopulações.

O ecoturismo já vem sendo discutido com as populações do Vale do Ribeira comouma alternativa para um modelo de desenvolvimento que melhore as suas condições devida e promova a conservação deste importante patrimônio natural. O WWF-Brasil, emparceria com o Vitae Civilies, observando que haviam diversas iniciativas em turismo emeio ambiente na região, mas que elas não estavam integradas por um plano regional,desenharam um projeto que objetiva, entre outras atividades de conservação da MataAtlântica, apoiar iniciativas ligadas ao fortalecimento do ecoturismo na região.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(Continuação)

Dividido em 3 componentes, o projeto prevê:

1. Apoiar o desenvolvimento de um Plano Estratégico Regional de Ecoturismo;2. Apoiar a consolidação das Áreas Protegidas da região;3. Promover a criação de RPPN no entorno das Unidades de Conservação

Mais voltado para o planejamento do ecoturismo, o componente 1 teve como estratégias fazer a) o mapeamento de atores e ações em ecoturismo no Vale do Ribeira,b) promover um diagnóstico amplo da atividade na região, c) elaborar uma visão defuturo comum para os diversos temas que envolvem o ecoturismo e d) elaborar o planoestratégico de desenvolvimento da atividade.

O Mapeamento de Atores Sociais e de Ações em ecoturismo identificou as entidades públicas e privadas que já promovem trabalhos de ecoturismo na região formando um cadastro. O cadastro foi dividido, para efeito de melhor noção de representatividade, eminstituições governamentais que teve a participação de Prefeituras, Secretarias e ConselhosMunicipais de turismo, Instituto de Te r ras, Escritório Regional do SEBRAE e gerências dosParques Estaduais, entre outros. Pelo setor privado participaram agências de viagens e turismo,pousada e hotéis, restaurantes, revistas regionais além de proprietários r u rais. Por parte dasassociações e ONGs participaram as Associações de Monitores A m b i e n t a i s , Associação de Moradores e de Bairros, Associação de Produtores Rurais e associações Quilombolas. A l é mdisso, participaram instituições de ensino e pesquisa como universidades e escolas locais.

As entidades foram convidadas para compor um Grupo Consultivo, que tem o papel desugerir estratégias e diretrizes para a melhor realização do projeto, além de ser o ve r d a d e i r oautor do futuro Plano Estratégico. Não se esperava que o aceite fosse imediato, porém conforme as reuniões se desenvolviam, mais entidades foram aderindo ao Grupo. Fo ra md e s e nvolvidas oficinas participativas para complementar o cadastro de entidades e desenvo l ver o mapeamento de atores sociais, uma espécie de “quem é quem” no ecoturismo da região, e o que cada um vem desenvo l vendo dentro de temáticas pré-estabelecidas. O quadro a seguir mostra o mapeamento resumido em formato de matriz. Cabe ressaltar que além das informações abaixo, o mapeamento pode buscar e detalhar outras informações como por exemplo, a missão da entidade, seus pontos fortese fracos em sua área de atuação etc.

Na Tabela da página seguinte, cada entidade é representada por um símbolo, de forma a seidentificar as parcerias em cada área de atuação.

Após o mapeamento, foi possível identificar lacunas de trabalhos em áreas estratégicas do turismo na região como, por exemplo, a inexistência de uma estratégiade comercialização do produto turístico instalado e a necessidade de educação ambiental com escolas e a população local. Foi possível também que as entidades visualizassem parcerias de fácil alcance, o que de fato veio a ocorrer.

Com o mapeamento e as parcerias atuais e potenciais identificadas, passou-se paraa fase de construção do plano, cuja primeira etapa foi a coleta de documentos institucionais, diagnósticos, informativos, revistas locais regionais, teses e dissertações,inventários disponíveis, além de diversas visitas de campo nos municípios de interesse.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

(Continuação)

A base do Plano é um diagnóstico da infra-estrutura e serviços, da comercialização do produto turístico, do perfil da demanda e dos atrativos existentes nos municípios da região. Em função de já haver um inventário, realizado em 1998, porém incompletoe desatualizado, optou-se pela sua retomada, em parceria com a Agenda de Ecoturismodo Vale do Ribeira e associações de monitores ambientais da região. Para o diagnóstico(análise crítica dos dados levantados), foi contratado um consultor especializado.

FONTE: Vitae Civiles e WWF-Brasil. Relatório do Projeto "Apoio a conservação da Mata Atlântica no corredor ecológico da Serra de Paranapiacaba, Estado de São Paulo/Brasil”LEGENDA: ONG – organização não governamental;

OSC – organização da sociedade civil;OG – organização governamental;PRIV – empresas privadas; Símbolos – parcerias entre instituições.

Pa ra efeito de demonstração e modelo, esta tabela retirou os nomes de algumas organizações identificadas.

GRUPO CONSULTIVOIDENTIFICAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS EM ECOTURISMO NO VALE DA REIBEIRA,

SUAS ATIVIDADES E PARCERIAS

INSTITUIÇÃO

Agenda de Ecoturismo/Cepam/IEADiretor PETARIBAMASebraePrefeitura ItaócaCOMTUR ApiaíAMAIRAGUASUTACOING ONGGAIAWWF/BrasilVitae Civilis Revista ValeturAmbientalExpediçõesUniversidadesFundesvarEmbratur

OG

OGOGOGOGOSCOSCOSCOSCONGONGONGONGPRIV

PRIVOG/PRIV

OGOG

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Características desejáveis para se estabelecer uma "Missão"

❐ É o norte de orientação do Plano.❐ As palavras têm que ser objetivas e diretas.❐ O caráter da missão é atemporal, ou seja, a missão não possui prazo de implementação.❐ Serve sempre como a orientação maior para empresas, funcionários, fornecedores

e políticos locais

Exemplo:

Missão ] “Consolidar o ecoturismo como atividade econômica rentável, valo-rizando nossa cultura e nossa natureza e satisfazendo as necessidades da comu-nidade e dos visitantes, por meio de produtos e serviços de qualidade e de respon-sabilidade sócio-ambiental.”

è E l a b o rando o Plano de Desenvo l v i m e n t odo Ecoturismo Local / Regional

O primeiro passo para se elaborar oPlano de Desenvolvimento do Ecoturismo éo estabelecimento de sua missão. A missãoé o cenário que a comunidade deseja cons-

gerais, objetivos específicos, metas e ativi-dades. Para o objetivo geral, elaboram-seobjetivos específicos. Para cada objetivo es-pecífico requer-se metas e, para cada meta,

Definida a missão ou o que se pretendecom a atividade ecoturística, o passoseguinte será detalhar de que forma a mis-são será buscada, por meio de objetivos

truir, um cenário ideal, onde todas as neces-sidades e desejos são atendidos. Sem serdemasiado específica, a missão deve noentanto expressar a escolha da comunidadeem termos de qualidade social e ambientalque o ecoturismo pode trazer.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(Continuação)

A partir do diagnóstico, foi planejada uma oficina de 2 dias para se estabelecer a análise dos pontos fortes e fracos e das oportunidades e riscos para a implantação do ecoturismo na região para cada tema de interesse (os mesmos temas definidos namatriz de mapeamento dos atores). Com esta análise foi possível estabelecer os objetivosestratégicos para cada área temática, detalhando os projetos, ações, responsabilidades eparcerias, indicadores, orçamento, fonte de recursos, monitoramento etc

Por fim, para otimizar o trabalho de comunicação, e para estimular o debate, foi criado um fórum eletrônico de discussão. Foi previsto ainda, a elaboração de um boletim para a divulgação do fórum e da elaboração e distribuição de material de divulgação do Projeto. Todo o resultado dos trabalhos estará disponível em livro, e outros formatos adequados para o público amplo, além de estar previsto a elaboraçãoe manutenção de páginas na Internet e localizados em sites do VC e WWF, entre outros.

EXEMPLO: MISSÃO DO PLANO DE ECOTURISMO DE UM MUNICÍPIO OU REGIÃO

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

diversas atividades. Os objetivos devem atender aos princí-

pios do ecoturismo, ao mesmo tempo emque são descritos dentro do cenário deseja-do e almejado. Dividem-se em objetivosgerais – aqueles que abordam de formaglobal o interesse do plano – e objetivosespecíficos – que definem resultados inter-mediários que conjuntamente respondem

aos objetivos gerais dentro das característi-cas da região. É então necessário definir asmetas a serem cumpridas para que os obje-tivos específicos possam ser alcançados. Asmetas devem ser mensuradas e datadas, edefinidas as responsabilidades por seucumprimento (indivíduos, instituições, em-presas ou grupos comunitários que estejampresentes na elaboração do Plano).

1

Características desejáveis para se estabelecer "OBJETIVOS":

❐ Os objetivos ajudam a definir o que se pretende alcançar.❐ Refletem a afirmação da missão.❐ Refletem coletivamente a direção aceita para a região ou município.❐ Podem variar, e geralmente variam, de uma região para outra.❐ São definidos dentro do prazo de implementação do ecoturismo como Plano (partin-

do do princípio que eventualmente a atividade, se bem sucedida, passará a integrar arotina de vida da comunidade).

Para o ecoturismo de base comunitária os objetivos devem contemplar:❐ Preservação de modos de vida sustentáveis e valores locais.❐ Conquista de benefícios econômicos, sociais e ambientais.❐ Proteção do meio ambiente.

Exemplos:Objetivo geral w “Desenvolver produtos e roteiros de ecoturismo geridos porpequenos e médios empresários do local / região.”O b j e t ivo específico (1) w “Buscar ou criar uma linha de crédito para implantaçãode pequenos estabelecimentos de operação, hospedagem e alimentação para o eco-t u r i s m o .”Objetivo específico (2) w “Apoiar tecnicamente pequenos estabelecimentos de ope-ração, hospedagem e alimentação para o ecoturismo na obtenção de créditos.”

Características desejáveis para se estabelecer "METAS":❐ As metas são os resultados necessários para atingir os objetivos.❐ São quantificadas e qualificadas de forma a permitir sua verificação.❐ Possuem prazos para seu cumprimento que são no máximo iguais aos prazos dos obje-

tivos específicos.

Exemplos:Meta (1.1) w “Criar um fundo municipal / regional, controlado pela sociedade, paradisponibilizar micro-créditos para estabelecimento ou fortalecimento de pequenosnegócios de ecoturismo, até março de 2000, pela Secretaria Municipal de Turismo emparceria com o Estado e agências governamentais e bancos de financiamentos.”

EXEMPLOS: OBJETIVOS, METAS E ATIVIDADES

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Definidos os parâmetros do Plano – mis-são, objetivos gerais, objetivos específicos emetas – estão constituídos os elementoscentrais (a coluna vertebral) do Plano deDesenvolvimento do Ecoturismo. Com basenesses parâmetros é elaborado o roteiro, ouplano de ação, composto pelas atividadesnecessárias – assim como prazos, recursos eresponsáveis – para se atingir as metas. Oplano de ação responderá a pergunta“Como chegaremos lá?”.

è Priorizando objetivos

Um Plano de Desenvolvimento doEcoturismo Local ou Regional pode, even-tualmente, conter um ou mais objetivosgerais, dependendo da complexidade daárea de abrangência e da complexidade daprópria missão e dos objetivos do Plano. Emalguns casos, o objetivo geral pode ser aprópria missão. Em outros a missão é

demasiada complexa para se elabora rplanos de ação sob um único objetivo geral.Assim, a partir da missão estabelecida,define-se diferentes objetivos gerais, cadaum com objetivos específicos e metas dife-renciadas entre si.

Partindo-se desta visão, pode-se esta-belecer Programas dentro do Plano. Cadaprograma vai possuir seus objetivos (geral eespecíficos, metas e atividades). Os prazos,os responsáveis e os recursos necessáriospodem ser diferentes em cada programa. Eainda, se o Plano for demasiadamente com-plexo, a sua divisão em Programas podefacilitar a captação de recursos por dife-rentes fontes de financiamento.

Sabendo-se que o ideal é que o planoseja implementado de forma integrada, con-templando todos os objetivos e programas,caso seja necessário sua implementação deacordo com os limites de recursos, ummétodo de priorização deve ser desenvolvi-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(Continuação)

Meta (2.1)w “Dar suporte técnico e viabilizar o crédito para a implantação, aquisiçãode equipamentos e/ou reforma de 02 operadoras de receptivo, 10 pousadas e 2 restau-rantes na região da Lapinha, entre março de 2000 a setembro de 2001 pela SecretariaMunicipal de Turismo.”

Características desejáveis para se estabelecer "ATIVIDADES":

❐ São as ações específicas que serão tomadas para atingir as metas.❐ São bastante objetivas, com prazos menores do que os das metas, e identificação dos

responsáveis, preferencialmente seu nome ou a função que ocupam.❐ Geralmente apresentam-se como uma seqüência de ações necessárias para atingir

cada meta.Exemplos:Atividade (1.1.1) w Firmar contrato com governo estadual para uso do Fundo ‘XYZ’como linha de crédito para pequenos empreendimentos locais voltados para o ecotu-rismo – até março de 2000 – Secretário Municipal de Turismo.Atividade (2.1.1) w Elaborar os critérios e termos para concessão de crédito – AtéJunho de 2000 – Dois membros do COMTUR (buscar auxílio técnico especializado,caso necessário).Para mais detalhes sobre a elaboração de objetivos, metas e atividades, consultar o

capítulo Participação Comunitária e Parcerias e a bibliografia sugerida.

EXEMPLOS: OBJETIVOS, METAS E ATIVIDADES

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OBJETIVOS CURTO MÉDIO LONGO PRAZO PRAZO PRAZO

• Gerar e manter renda por meio do desenvolvimento de produtos e roteiros de ecoturismo geridos por pequenos e médios empresários do local / região 3 2 1

• Proteger e manter a qualidade dos recursos naturaismotivos de interesse turístico 3 3 3

• Ampliar a arrecadação de impostos municipais 1 2 3Escalas de Prioridades: 0 = ausente; 1 = mínima; 2 = média; 3 = máxima

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

do. É necessário uma criteriosa avaliaçãopara se decidir se os diferentes programasserão implantados conjuntamente ou sepa-radamente, influindo nesta decisão a priori-

dade estabelecida pela comunidade ou adisponibilidade de recursos para os dife-rentes programas. Abaixo, segue um exemplo.

1

EXEMPLO: PRIORIZANDO OBJETIVOS

FONTE: Adaptado de IGNARRA, s.d

PROJETO SILVES, AM – FASE 3 – CARAVANA MERGULHÃO

Um modelo de Participação, Integração, Planejamento e Re-Planejamento

m Silves, Amazonas, após as duas primeiras fases (1994 a 1999) de planejamentoe implementação (veja a apresentação do Projeto Silves na Introdução) a comunidade assumiu o controle total do projeto. Ao longo do período de 2000

à 2002, e após diagnosticar a necessidade de ajustes para se atingir os objetivos e asmetas iniciais, a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC),optou por um processo de re-planejamento, com o estabelecimento de novos, e maisamplos, objetivos e metas de conservação e uso sustentável dos recursos da várzea.

O novo planejamento identificou como objetivo principal a implantação e consolidação de um plano de desenvolvimento e conservação da várzea, por meio de diferentes programas de intervenção, aliado a um processo organizado de envolvimento e participação comunitária (veja o diagrama abaixo).

O método identificado para este novo processo foi a Caravana Mergulhão, projeto deEducação Ambiental organizado pelo W W F - B rasil e A S PAC em 2000. As novas Carava n a sMergulhão consistem de equipes multi-disciplinares e multi-temáticas, compostas principalmente pelos próprios comunitários, que percorrem as comunidades em barcosequipados com materiais educativos e técnicos, para atuar com educação ambiental eassistência técnica, buscando um maior envolvimento comunitário. Este envolvimentovisa a atuação coletiva sobre diversos temas de interesse local – gestão de lagos (zoneamento, acordos de pesca), controle da pesca (comunitária, comercial e esportiva),

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(Continuação)qualidade d'água (monitoramento), agricultura e pecuária (técnicas de uso e permacultura ) ;turismo (identificação, implantação e monitoramento de atrativos e paisagens de usoturístico), lixo (geração e disposição) entre outros.

Após uma etapa de planejamento e diagnósticos participativos com representantes e lideranças de 10 comunidades locais, foram delimitados os principais problemas das comunidades em cada um dos temas centrais. Os próprios comunitários indicaram o cenário futuro desejado para suas comunidades, as formas como a Caravana (o método) irá intervir, ressaltando que as atividades (palestras, oficinas, apoios técnicos,jogos e artes para os públicos adulto e infanto-juvenil) deverão compor um processointegrado de busca de soluções. As caravanas percorrerão o entorno da Ilha de Silves e do Lago Canaçari aos fins-de-semana durante 7 meses.

Por meio deste método, o qual adquire o formato e a intensidade de uma campanhaque pode ser idealizada para qualquer tipo de ambiente e de situação, são contempladosprojetos em todos os programas, ao longo de determinado tempo, facilitando a execuçãodo plano. Para monitorar as Caravanas foram elaborados formulários simplificados estabelecendo quais as necessidades, atividades, custos, responsáveis, agenda de tarefasfuturas, resultados alcançados e demais itens para o sucesso da proposta. No caso doturismo, o método utilizado para apoio técnico é o constante deste Manual. Avaliaçõesserão feitas ao final de cada rodada de caravanas (1 mês e meio), identificando e corrigindo eventuais lacunas e falhas do método. Todos os resultados serão compiladosem um estudo demonstrativo, para ampla disseminação.

PLANO DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAÇÃO DA VÁRZEA EM SILVES / AM

MÉ TO D O IN T E G R A D O - CA R AVA NA ME R G U L H Ã O

PROGRAMA DEGESTÃO INTEGRADA

DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

Projeto de Criação

da APAde Silves

Projeto deM o n i t o ra m e n t oda Qualidade

d'água

Projeto deZoneamentoe Controledos Lagos de Pesca

Projeto deAssistência

Técnica paraUso do Solo

Projeto deMapeamento

eM o n i t o ra m e n t ode Atrativos

Projeto deOperação eMarketing

deEcoturismo

PROGRAMA DE USOSUSTENTÁVEL

DOS RECURSOS DA VÁRZEA

PROGRAMA DE CONSOLIDAÇÃO

DO ECOTURISMO

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

è Áreas mínimas a serem contempladasno plano de ações

Abaixo são apresentados de formaresumida algumas atividades estra t é g i c a sque devem compor o plano de ações doPlano de Desenvolvimento do EcoturismoRegional.

a) Definição do zoneamento, da infra-estrutura urbana e rural e serviços necessários:

❐ Definição do zoneamento de uso e ocu-pação do solo, incluindo o mapeamentodas áreas de conservação (áreas protegi-das legalmente, reserva legal e áreas deproteção permanente)

❐ Quantificação das necessidades de infra-estrutura de acesso, iluminação, sanea-mento, energia, comunicação, segu-rança e saúde, baseadas nos resultadosdo diagnóstico.

❐ Definição das necessidades e tipologiasdas estruturas, dos equipamentos e insta-lações e suas características especiais eserviços para atender ao público de-finido no diagnóstico.

b) Zoneamento dos atrativos e infra-estrutura de apoio turístico:

❐ Definição das áreas de uso interditado(intangível), restrito, extensivo, intensivoe outras de acordo com o diagnósticoambiental.

❐ Mapeamento e hierarquização dos atra-tivos de acordo com o prazo para seudesenvolvimento.

❐ Definição da localização dos equipa-mentos necessárias aos atrativos (esta-cionamento, acessos etc.)

c) Desenvolvimento do produto ecoturístico regional e a interação com outras atividades da comunidade:

❐ Definição da identidade visual e ar-quitetônica do pólo e dos produtos.

❐ Definição do público ou dos públicospotenciais.

❐ E l a b o ração de roteiros e pacotes turísticos.❐ Estabelecimento de uma política de

preços.❐ Definição das necessidades de sistemas

de sinalização turística (educativas e deorientação).

❐ Integração de outros setores econômicos(produção agrícola, construção civil emarcenaria, produção de suvenires, con-fecções e artesanato etc).

d) Estratégia de marketinglocal / regional:

❐ Identificação do mercado consumidor.❐ Estabelecimento de uma estratégia de

divulgação, buscando objetividade naatração do público potencial, dentro deuma política de associar a divulgaçãoinstitucional (feita pelo Poder Público) àdivulgação comercial (feita pela iniciati-va privada).

❐ Definição de uma identidade visual paraa área de abrangência do ecoturismo,compatibilizando logomarca, folhetos,sinalização, vídeos etc..

❐ Elaboração de um calendário de pro-moções e eventos que possam poten-cializar a publicidade e estruturar o mar -keting, atuando com estratégias específi-cas em cada época do ano, dentro daperspectiva de sazonalidade do turismo.

è Estratégia de implantação do Plano de Ações

A estratégia de implantação é a últimaetapa da elaboração do Plano de Desen-volvimento do Ecoturismo Regional ouLocal, onde as ações são organizadas dem a n e i ra cronológica (ações organizadas aolongo do tempo). Além do cronograma físico(por exemplo, atividades por mês), deve - s eavaliar e definir um cronograma financeiro,onde insere-se os custos da implantação doplano, ordenados por atividades, permitin-do-se observa r, de maneira coerente, anecessidade de captação de recursos.

Na implantação do plano de ecoturismoem nível local ou regional, duas abordagens

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merecem destaque para garantir o desen-volvimento equilibrado e a viabilidadeeconômica e social – a capacitação dacomunidade e a obtenção e uso de recursosfinanceiros. No primeiro caso, os moradoresda localidade ou da região necessitam detreinamento e capacitação tanto para parti-cipar ativamente do processo de planeja-mento (como, por exemplo, no inventárioparticipativo) como para atender à demandade mercado (ver capítulo P r o g rama deCapacitação Comunitária). Para gerar rendade forma mais equilibrada, mais importanteque a atração de empresas de fora da regiãoserá a criação de empresas por empreende-dores locais, que devem ser estimuladas porprefeitos e vereadores. Normas legais dife-renciadas de incentivo ao empreendedoris-mo para os atores locais, aliadas às parceriasestratégicas, por exemplo, com o SEBRAE,permitirão melhor competitividade do mer-cado, ao oferecer incentivos e isenções fis-cais aos pequenos empresários da própriacomunidade e treinamentos específicospara diversas ocupações que direta ou indi-retamente o turismo exige.

A busca de fontes de financiamento ei nvestimento é outro gargalo com que sed e p a ram prefeitos e entidades na busca de seviabilizar seus planos locais e regionais. Osprojetos de caráter comunitário e que atendemaos princípios do ecoturismo têm conseguidorecursos de fontes governamentais – nacionaisou bilateriais (como Banco Mundial, BancoI n t e ramericano de Desenvolvimento, GEF,PPG7 etc.) –, ou não governamentais commaior facilidade do que projetos conve n-cionais. Não cabe a este Manual detalhartodas as possibilidades na busca por financia-mentos de projetos, mas apenas algumas con-s i d e rações que ilustram caminhos alterna-t ivo s .( 9 ) D iversos programas públicos, emn í vel federal e estadual, de planejamento,ordenamento e fomento ao turismo vêm sed e s e nvo l vendo e cabe ao planejador identi-ficar e procurar inserir sua região como partedestes programas (ver item 4 da I n t r o d u ç ã o

C o n c e i t u a l e o exemplo do item 3 da Caixa deFe r ra m e n t a s deste capítulo).

No caso do planejamento re g i o n a l, ao seadotar a unidade de bacias hidrográficasp a ra a gestão ampla dos recursos natura i s ,como vem ocorrendo por diversas iniciativa sfinanciadas pela Agência Nacional de Águas( A NA), pode-se aproveitar deste inve s t i m e n-to para se implantar algumas estratégias doplano de ecoturismo o qual, por ser integra-do, tem objetivos comuns em termos degestão dos recursos naturais. Essa adoção deuma visão de planejamento integrado, quevem sendo implantado nos Comitês deBacias, só tende a favorecer a implantaçãodo ecoturismo em nível regional.

O u t ra estratégia alternativa é observar osmecanismos de compensação ambiental pelaimplantação de grandes obras de infra - e s t r u-t u ra, os quais têm também gerado recursoss i g n i f i c a t ivos para projetos integrados demanejo dos recursos. Por exemplo, ao passarpor vasta área de influência do Pa r q u eNacional da Chapada dos Veadeiros (GO), aimplantação do linhão de distribuição deenergia da Usina Hidrelétrica de Serra daMesa vai gerar recursos financeiros de com-pensação ambiental que serão reve r t i d o sp a ra iniciativas locais que contribuem para aconsolidação do Parque e seu entorno,incluindo atividades de educação ambientale ecoturismo. E recursos de compensaçãoambiental serão destinados ao Pa r q u eNacional da Tijuca (RJ), simplesmente pelaexistência de antenas de rádio e TV que sei n s t a l a ram em sua área montanhosa.

Em nível local, a busca por investimentosnão é menos árdua. Mas a criação de umFundo Municipal de Turismo (FUMTUR),com o estabelecimento de taxas paralicenças de implantação de empreendimen-tos, atividades e serviços turísticos, acorda-das com o mercado, pode subsidiar aimplantação de itens importantes do plano,como por exemplo uma estratégia comumde promoção turística, ou mesmo financiaratividades básicas locais, como a coleta e

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(9) – NOTA DO EDITOR: Ver ítem Riscos e Recomendações no final deste capítulo.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

destinação do lixo, a sinalização turística,cursos de guias, segurança pública etc.

Por fim, os investimentos financeirosd e vem nortear-se por princípios susten-t á veis, determinados por contabilidadeambiental e econômica e sua relação com

os impactos socioculturais. Esses investi-mentos devem resultar no benefício à popu-lação local, seja ela tradicional ou migrante,e orientar as possibilidades de crescimentosegundo a capacidade de suporte ambientale cultural.

RESERVAS EXTRATIVISTAS

DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO:

UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Captação de recursos

Projeto de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho (RO) teve sua proposta de trabalho, integral ou em partes, encaminhada para várias agências financiadoras nos últimos dois anos, tendo

tido relativo sucesso na aprovação de algumas delas. Cada agência possui um perfildiferente de financiamento, principalmente no que diz respeito a salários e equipamentospermanentes, que algumas não permitem incluir.

Deve-se ficar atento para o fato de que muitas dessas entidades não consideram o ecoturismo uma atividade extrativista, conservacionista ou produtiva, diminuindo opotencial de arrecadação de recursos nessas fontes. Como estratégia, o pedido de recur-sos para o ecoturismo pode vir a ser parte de um proposta maior de conservação, facili-tando o entendimento de órgãos financiadores de projetos ambientais, sobre o ecoturis-mo como instrumento de conservação.

Assim, antes de iniciar o processo de elaboração e encaminhamento de proposta, éimportante avaliar o histórico e o momento da entidade à qual o apoio está sendo solici-tado, principalmente se for governamental. Em Rondônia, apesar da proposta ter sidoaprovada e de haver um convênio, o repasse de recursos tardou quase dois anos, em vir-tude de mudanças político-governamentais.

Deve-se considerar também as dificuldades já reconhecidas para esse tipo de processo,tais como a demora para avaliação, aprovação e liberação do recursos.

è Monitoramento, avaliação e continuidade do planejamento

O planejamento deve ser visto comoprocesso que dura tanto quanto a ativ i d a d eque ele visa desenvo l ve r. Ou seja, o planeja-mento não acaba quando o Plano deD e s e nvolvimento do Ecoturismo Regional édevidamente aprovado pelos diferentessetores da comunidade e implementado pelo

plano de ações. O monitoramento da imple-mentação do Plano – ou seja, o acompan-hamento da realização das atividades deacordo com seus prazos –, a avaliação pe-riódica da efetividade das atividades paraalcançar as metas e objetivos, e a adequaçãodo plano de ações de acordo com os resul-tados da avaliação – muitas vezes ch a m a d ade re-planejamento –, são partes do proces-so que chamamos de planejamento. A con-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

t inuidade do processo de planejamento é deresponsabilidade do mesmo grupo que oiniciou, daí o preferência pela criação doCOMTUR. Os capítulos de Pa r t i c i p a ç ã oComunitária e Parcerias e Monitoramento eControle de Impactos de Visitação oferecemsugestões para a elaboração e implemen-tação de um sistema de monitoramento,avaliação e re-planejamento.

A base do planejamento em ecoturismoé a participação dos diferentes setores e gru-pos da comunidade dentro de uma estraté-gia que divide responsabilidades entre osinteressados. O planejamento participativoé feito a partir do entendimento de que acomunidade, ou parte expressiva da comu-nidade, deseja empreender o ecoturismo naregião e deter controle de parte considerávelde seu desenvolvimento. Esse entendimentoé desenvolvido ao longo do processo dee nvolvimento da comunidade (capítuloParticipação Comunitária e Parcerias) e derealização do inventário e diagnóstico dopotencial ecoturístico.

Porém, como em qualquer sociedade,dificilmente haverá consenso entre todos ossetores e grupos, ou mesmo internamenteem um setor ou grupo, sobre a atividade doecoturismo como um todo ou sobre aspec-tos específicos da atividade na região.Quantas pessoas constituem “parte expressi-va da comunidade”? Não há resposta clara aesta pergunta. É necessário que o COMTUR,ou grupo de trabalho, ou equipe técnicafacilitadora, ou todos esses grupos estejamatentos às reações e questionamentos dosparticipantes em cada evento, seja comoindivíduos ou como representantes de dife-rentes setores ou áreas da comunidade. Umbom termômetro do nível de comprometi-mento da comunidade com o desenvolvi-mento do ecoturismo é a distribuição deresponsabilidades no Plano de Desen-volvimento do Ecoturismo Regional.Naturalmente, melhor termômetro é a efeti-va participação na subseqüente implemen-tação do Plano.

4. Planejando o ecoturismo em áreas protegidas

ou propriedade rural particular

Unidades de conservação (UCs) e pro-priedades particulares com atra t ivos nat-

u rais e culturais são o patrimônio indispen-s á vel para o desenvolvimento do ecoturismo.Sem a sua existência ou sem o seu adequadod e s e nvolvimento, não há ecoturismo (mesmoque haja turismo). É neste âmbito que oprincípio da conservação deve estar sempre àfrente das atividades de desenvolvimento doecoturismo, prevalecendo sobre interesses ounecessidades empresariais.

D iversos capítulos do Manual orientam od e s e nvolvimento de infra - e s t r u t u ra e serviçosem áreas naturais, especialmente os da Seção2 (ver capítulos "Manejo de Tr i l h a s" ,"Interpretação A m b i e n t a l", "M o n i t o ramento eControle de Impactos de Vi s i t a ç ã o" e "I n f ra -e s t r u t u ra de Apoio ao Ecoturismo"), de formaa assegurar o respeito ao princípio da pro-teção ambiental. Entretanto, a abertura detrilhas, a construção de infra - e s t r u t u ra deserviços, a elaboração de materiais interpre-t a t ivos e o controle dos impactos ambientaisd e vem ser feitos no âmbito da UC ou da pro-priedade como um todo.

Do ponto de vista da conservação, asUCs e as propriedades (particulares ou públi-cas) com diversidade de recursos naturais ec u l t u rais, detentoras de paisagens autênticase exuberantes, com elevado grau de conser-vação ou com características ecológicasincomuns demandam esforços prioritáriosp a ra assegurar sua proteção e manutençãop e rante a presença do turismo. Do ponto devista do ecoturismo, enquanto ativ i d a d eeconômica, essas áreas são o principal atra-t ivo, a base do produto que se coloca nom e rcado. Sem elas, não há ecoturismo.

Neste item, estaremos sugerindo proce-dimentos para orientar o plano de visitaçãode uma UC ou outra propriedade em árear u ral de forma a garantir a sua conservação emelhor aproveitar o seu potencial tanto recre-a t ivo quanto educativo. Porém, é de funda-mental importância conhecer a legislação

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

vigente e consultar os gestores das áreas pro-tegidas antes de se estabelecer planos de eco-turismo que envo l vam estas unidades.

Segundo o Sistema Nacional de Unidadesde Conservação (SNUC – Lei Fe d e ra l9.985/00) a visitação pública para ativ i d a d e sde ecoturismo e de educação ambiental sópode ser desenvolvida em algumas categoriasde unidades, tanto de Uso Sustentável comode Proteção Integral. As especificidades apre-sentadas na Fi cha 8, a seguir, demonstra m

que na grande maioria das categorias deunidades de conservação é permitida a visi-tação pública, por meio de atividades de eco-turismo e de educação ambiental. Mas emtodas elas há restrições, as quais referem-seàquelas contidas em regulamentos próprios(decretos), em Planos de Manejo, em consul-tas a proprietários, a concessionários (no casode Reservas Extra t ivistas) de terras inseridasem áreas protegidas ou a conselhos gestores,entre outras regras.

/ FICHA 8

USO PÚBLICO NAS DIFERENTES CATEGORIAS DE UCS

ESTAÇÃO ECOLÓGICA

RESERVA BIOLÓGICA

PARQUE NACIONAL

MONUMENTO NATURAL

REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE

Sim

Sim

Sim

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Não

Não

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

ÁREA DE RELEVANTE INTERESSEECOLÓGICO

FLORESTA NACIONAL

RESERVA EXTRATIVISTA

RESERVA DE FAUNA

RESERVA DE DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

RESERVA PARTICULAR DOPATRIMÔNIO NATURAL

Independe

Independe

Sim

Sim, com usoc o n c e d i d o

Sim

Sim

Não

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

FONTE: Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei Federal 9.985 / de 18 de julho de 2000.

CARACTERÍSTICAS DOMÍNIO VISITAÇÃO EDUCAÇÃO PESQUISA E USOS PÚBLICO PÚBLICA AMBIENTAL CIENTÍFICA

CATEGORIA DE UC – PROTEÇÃO INTEGRAL

CATEGORIA DE UC – USO SUSTENTÁVEL

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Ecoturismo em UCs depende de aprovação

pelos órgãos competentes

O desenvolvimento do ecoturismo

em Unidades de Conservação deve seguir

estritamente as orientações contidas no

Plano de Manejo, sem o qual nenhuma

atividade de uso poderá ser implementada.

O plano de manejo define os objetivos

gerais da unidade, sua inserção numa

realidade geográfica e o estabelecimento

de diferentes programas temáticos

de gestão, tais como de administração, de

controle e manejo, de educação ambiental

e de visitação. Os dois últimos, para que

possam ser desenvolvidos, terão seu

planejamento e gestão definidos em

instrumento específico, chamado Projeto

Específico. Este plano, no caso de

unidades de conservação federal de

proteção integral (PARNA, EE, RB), deve

ser orientado e implementado por

aprovação prévia da Diretoria de

Ecossistemas do Ibama (DIREC), e deve

abordar, pelo menos:

• Identificação do Projeto (título,

autoria e localização);

• Objetivos e justificativas;

• Descrição do projeto enfocando as

atividades a serem desenvolvidas;

• Dados disponíveis para o projeto

e suas recomendações técnicas;

• Custo estimado de implementação

e fonte (s) de recursos;

• Instituições e pessoas envolvidas.

FONTE: Roteiro Metodológico de Planejamento:Parque Nacional, Reserva Biológica, EstaçãoEcológica. MMA, 2002.

Pa ra ilustrar o desenvolvimento da ativ i-dade, utilizamos como exemplo o Plano deUso Recreativo do Parque Nacional Marinhode Fernando de Noronha, metodologiad e s e nvolvida como parte de um projeto pilo-to no manejo de visitação pública em UCs,implementado pelo W W F - B rasil em parc e r i acom o Pa r q u e / I BAMA e com o ProjetoTAMAR em Fernando de Noronha.

O planejamento de uma UC ou pro-priedade rural para o ecoturismo tem poro b j e t ivo desenvo l ver um sistema de áreas devisitação (trilhas, áreas de mergulho ee s p o r t ivas, de piquenique, de contemplaçãoetc.), infra - e s t r u t u ra de apoio ao visitante(centro de visitantes, áreas de repouso,pontes, camping, canopy wa l k way s, escadasetc.), meios de interpretação ambiental (pla-cas, folhetos, orientações para guias etc.),capacitação dos gestores do parque e dosprestadores de serviços, de forma a otimizartanto a experiência recreativa e educativa dovisitante quanto a proteção da UC ou pro-priedade rural. O planejamento baseia-se naidentificação de alternativas recreativas deacordo com a diversidade e cara c t e r í s t i c a sdo ambiente (natural e cultural) e dos visi-tantes, com base no conceito de que quantomaior o conjunto de oportunidades ofereci-das, mais fácil é atrair e distribuir as pessoas,aumentar seu nível de satisfação e diminuiros impactos no ambiente.

Pelo método desenvolvido pelo W W F -B rasil para o PA R NAMAR de Fernando deNoronha, quatro etapas foram considera d a sno processo de planejamento de uma UC oupropriedade rural para o uso recreativo:

❐ Levantamento e revisão das informaçõesdisponíveis.

❐ Levantamento de campo e mapeamentopara o uso recreativo.

❐ Diagnóstico do uso recreativo incluindoo potencial de visitação, fragilidade am-biental, necessidade de infra-estrutura,definição de tema(s) interpretativo(s).

❐ Zoneamento do uso recreativo na área(incluindo descrição das característicasde cada zona).

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Levantamento e revisão das informações disponíveis

O passo inicial para o planejamento é ol e vantamento de informações sobre a área.No caso de uma UC, esta etapa inicia-se coma revisão do plano de manejo, caso exista.D e vem-se analisar os objetivos de proteção,de visitação recreativa, educação e interpre-tação ambiental. Especial atenção deve serdada ao zoneamento da unidade e ao tipo deuso e atividades permitidas em cada zona. Sefor o caso, o plano pode ser atualizado coma proposição de novas estratégias de visi-tação. Deve-se analisar as possíveis áreasp a ra compor um programa de lazer erecreação que melhor explore as possibili-dades ambientais, culturais e recreativas daUC, observando-se também as potenciali-dades de mercado. Além do plano de mane-jo, outros documentos referentes à visitaçãoda área, assim como documentos referentesaos aspectos-ch ave tanto ambientais quantoc u l t u rais, devem ser pesquisados. O leva n t a-mento de informações deve também identi-ficar pessoas com conhecimento prático daárea: funcionários, guias, outros membros dacomunidade local, pesquisadores etc., osquais deverão ser entrevistados.

MONTANDO EQUIPES

PARA O PLANEJAMENTO

Esta é uma etapa crucial para garantir tantoa proteção da área quanto sua viabilidadeeconômica. Neste sentido recomenda-se,sempre que possível, trabalhar com uma

equipe multidisciplinar, com técnicos quepossuam conhecimentos sobre os difer-entes aspectos da área. Em Fernando de

Noronha, o plano de uso recreativoenvolveu

diretamente 14 profissionais de diferentesespecialidades, além dos técnicos do WWF,

do Parque e do Ibama. Dependendo da complexidade da área e de limitações

(Continuação)

orçamentárias, pode-se satisfazer a maiorparte dos procedimentos sugeridos neste

processo contratando um profissional de renomada experiência em turismo

e conservação, colhendo sugestões junto a entidades com experiência nessa área.Convidar acadêmicos e pesquisadores

de universidades também pode ser umasolução ao mesmo tempo profissional e de baixo custo para seu plano. Assimcomo treinar e envolver a comunidade

local para atividades específicas em pesquisa e manejo.

No caso de propriedades privadas, casonão possuam um instrumento de referênciacomo o plano de manejo, é necessário nãosó coletar todas as informações possíveissobre a área como também definir em queáreas da propriedade o uso recreativo serádesenvolvido, quais áreas serão destinadasintegralmente à conservação, quais áreasserão destinadas para instalações físicas oude uso do proprietário para outros fins etc.

O zoneamento da área como um tododeve incluir, por exemplo, a definição de:

❐ Áreas relevantes destinadas à preserva ç ã oambiental e áreas protegidas por lei como,por exemplo, as Áreas de ProteçãoPermanente e as de Reserva Legal definidasno Código Florestal (Lei Fed. 4.771/65) ouuma área para implantação de uma RPPN;

❐ Usos diferenciados dos espaços territoriais.❐ Áreas de produção rural e de manejo

sustentável dos recursos naturais.❐ Áreas para o uso recreativo, incluindo as

áreas para construções físicas de serviços(p. ex. centro de visitantes, pousadas) ou degestão do uso recreativo (escritórios) etc.

❐ Acessos e áreas para estacionamento.❐ Áreas para residência do proprietário, de

funcionários e outros usos particulares.❐ Áreas para pesquisa e/ou treinamento.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

è Levantamento de campo e mapeamentopara o uso recreativo

Com base nas informações contidas nosdocumentos pesquisados ou no zoneamen-to geral da área, inicia-se o trabalho de le-vantamento de campo e mapeamento detodas as trilhas e áreas de visitação, seja ematual uso por visitantes, comunidade localou proprietário, seja novas possibilidadesapontadas pelo levantamento de infor-mações. No caso de trilhas, o método pararealizar esta etapa está descrito no capítuloManejo de Trilhas.

O levantamento de campo é mais do quea simples medição de uma trilha. Ele é ori-entado pelo objetivo maior de minimizar os

O mapeamento da área contendo osdados do plano de manejo e os dados delevantamento é de extrema utilidade para adefinição do zoneamento e seus diferentesusos, dos sítios de visitação turística e dasfuturas estruturas, equipamentos e acessos ep a ra a gestão da área como um todo.Sugere-se que se desenvolva uma base car-tográfica de referência, utilizando-se aque-las existentes – por exemplo, mapas doIBGE ou imagens de satélites – e efetuandoconfirmações de campo com uso de GPS(Global Position System, aparelho para adeterminação das referências geográficas depontos de interesse). Segundo o RoteiroMetodológico de Planejamento de UC's

(MMA, 2002), a base cartográfica deve con-ter, pelo menos, os seguintes dados:

- rede hidrográfica;- sistema rodoviário;- curvas de nível e seus pontos altimétri-

cos relevantes;- limites políticos.De posse dessa base de dados, podem-se

elaborar mapas temáticos (de preferência namesma escala da base cartográfica feita ouexistente), que podem conter:

- a vegetação;- a geologia e geomorfologia;- as áreas de uso e/ou pressão antrópica;- o zoneamento da área ou da UC como

um todo, incluindo seu entorno, ou

impactos de visitação, considerando quequalquer tipo de uso sempre implicaráimpactos nos recursos naturais. O nível deimpacto dependerá de:

1) variáveis sociais e de manejo da visi-tação, como época e hora da visitação, tipode atividade desenvolvida (caminhada,esportes de aventura, cavalo, bicicleta, con-templação, piquenique etc.), intensidade devisitação, comportamento do visitante; e

2 ) va r i á veis físicas e ecológicas como car-acterísticas de solo, declividade e topogra f i a ,altitude, clima, tipos de ecossistema, fauna(tanto silvestre quanto doméstica, se houve r ) ,tipo de vegetação na área de visitação e seuentorno, construção e manutenção dos aces-sos aos sítios de visitação e de trilhas.

1

O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha possui áreas de visitação tanto emambiente terrestre quanto no ambiente marinho. Como parte do levantamento de infor-mações no plano de manejo e em entrevistas com funcionários e pesquisadores atuantes noparque, definiu-se no ambiente terrestre o desenvolvimento das trilhas (que incluem áreasde repouso, interpretação ambiental e contemplação) e no ambiente marinho a identifi-cação de pontos para mergulho autônomo (com garrafas de ar) e/ou livre (com snorkel).

No ambiente terrestre, foi feito o levantamento e mapeamento de sete trilhas e uma área comtrês pontos de visitação (mirante, sítio arqueológico e acesso a praia manejada pelo ProjetoTAMAR). No ambiente marinho foram mapeados 20 pontos de mergulho, sendo 14 de mergul-ho autônomo, quatro de mergulho livre e dois de mergulho tanto autônomo quanto liv r e .

EXEMPLO: LEVANTAMENTO DE ÁREAS DE VISITAÇÃO NO PARNAMAR NORONHA

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

zona de amortecimento, no caso deUCs;

- o zoneamento das área de uso turístico;- as áreas de uso da comunidade (se for

o caso).

è Diagnóstico do uso recreativo

As informações colhidas durante o le-vantamento de campo e mapeamento possi-bilitam a elaboração do diagnóstico do poten-cial de uso recreativo de cada área de visi-tação, indicando os atra t ivos, suas fra g i l i d a d e sambientais, as necessidades de infra - e s t r u t u rae equipamentos, a definição do(s) tema(s)i n t e r p r e t a t ivo(s), o perfil do visitante etc.

Para a realização do diagnóstico, deve-sereunir a equipe envolvida no planejamento,que analisará conjuntamente todo o materi-al produzido durante o levantamento decampo e mapeamento. A análise deve con-ter os seguintes passos:❐ Análise de cada área de visitação quanto

aos atrativos (do ponto de vista da inter-pretação ambiental e de atividade re-creativa), condições físicas, acesso, infra-estrutura, fragilidade ambiental.

❐ Definição sobre áreas intangíveis, ouseja, que devem ser interditadas ou nãoabertas ao uso recreativo, conformedefinido no Plano de Manejo. Isto podeocorrer por razões de fragilidade ambi-ental, de segurança do turista ou de iso-lamento de outras áreas de visitação (oque pode causar problemas tanto deacesso quanto de fiscalização).

❐ Visualização de todas as áreas de visi-tação mapeadas (identificação em mapada área) e identificação de infra-estruturade apoio necessária para a gestão do usorecreativo como um sistema (por exem-plo, áreas para serviços, sanitários, fisca-lização, acessos, estacionamentos etc.).

❐ Priorização para a abertura (quais áreasdevem ser preparadas para uso recreati-vo a curto, médio e longo prazos).

è Zoneamento para uso recreativo

Após o mapeamento e diagnóstico, as tri-lhas devem ser classificadas de acordo com asc a racterísticas de infra - e s t r u t u ra, meios interpre-t a t ivos e intensidade de manejo. Pa ra orientaresta classificação, sugerimos o uso do métodonorte-americano de Espectro de OportunidadesR e c r e a t ivas (ROS - Recreational Opportunity

Spectrum, idealizado por R. Moore em 1994),com adaptações para uso ecoturístico.

O ROS visa criar variadas alternativas derecreação, possibilitando experiências dealta qualidade para os visitantes. De acordocom as expectativas das pessoas que bus-cam, ao ar livre, uma variedade de ativi-dades e de ambientes, esperando diferentesresultados ou experiências, o método ROS

1

A Trilha dos Golfinhos foi diagnosticada como a principal trilha no ambiente terrestre,sendo prioritária para o desenvolvimento de infra-estrutura de apoio e materiais de inter-pretação ambiental. Segue a descrição da trilha de acordo com o seu diagnóstico:

“Pe rcurso de mediano comprimento (2.160m), principalmente plano, que deve serp r e p a rado para que públicos de diferentes idades e habilidades físicas possam perc o r r ê - l o(com exceção de cadeira de rodas). Esta trilha é ideal para observação e interpretação da faunaterrestre, principalmente de aves. A trilha também dá acesso a um dos locais mais visitados dailha, o Mirante dos Golfinhos. Desse local, posicionado na borda de um penhasco a 70m dea l t u ra, pode-se observar durante todo o ano a comunidade de mais de 300 golfinhos rotadoresem sua área de repouso e procriação. A Praia do Sancho, uma das mais belas e populares dailha, é acessada por esta trilha, por meio de uma escada encravada em uma fenda natural. Naságuas da baía de mesmo nome é possível fazer o mergulho liv r e” (WWF, 2001a).

EXEMPLO: DIAGNÓSTICO DA TRILHA DOS GOLFINHOS DO PARNAMAR NORONHA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

estabelece um quadro de demanda recrea-cional, composto pela integração, observa-da em uma determinada propriedade, entrequatro fatores, determinados pela possibi-lidade que os visitantes têm de:

(a) realizar suas atividades preferidas;(b) nos ambientes recreativos com

características de sua preferência;(c) visando experimentar determinado

tipo de resultado psicológico;(d) o qual resulta dos benefícios

advindos de uma experiência satisfatória.

No planejamento de uma área, conformeseu potencial de oferta recreativa, um ououtro fator assume maior importância. Emáreas naturais protegidas, maior ênfase écolocada no nível (b), ou seja, nas cara c t e r í s-ticas específicas do ambiente visitado (biofísi-cas, sociais, de gestão), buscando-se a maiorr e p r e s e n t a t ividade da variedade do local. Ad iversidade de características é utilizada paraclassificar os locais de visitação em diferenteszonas recreativas, que variam desde níve i smínimos de alteração humana (cara c t e r í s t i-cas biofísicas), interação humana (cara c t e r í s-ticas sociais) e intensidade de manejo (cara c-terísticas de gestão), até níveis bastante eleva-dos destas mesmas características.

Dessa forma, o zoneamento baseia-se nop r o g r e s s ivo aumento da intensidade de uso,indo desde uma Zona Primitiva, bem natura l ,com pouca ou nenhuma infra - e s t r u t u ra ebaixa intensidade de manejo, para uma ZonaS e m i - P r i m i t iva, Zona de Uso Extensivo, umaZona Natural, uma Zona Rural, até uma ZonaUrbana, bastante alterada, com muita infra -e s t r u t u ra e manejo visíveis (ver Fi g u ra 2).

O zoneamento de uso recreativo orientaos gestores da área em suas decisões quantoao nível de intervenção e melhorias noslocais visitados, tais como nível de com-pactação ou tipo de pavimentação de umaárea ou trilha, quantidade, tamanho e loca-lização de infra - e s t r u t u ra (banheiros, postosde fiscalização, lanchonete etc.), localizaçãoe tipo de sinalização e de interpretação, for-mas de realizar a fiscalização, entre outros.

Para detalhar as características do zonea-mento ROS para uma área específica, asvariáveis principais são:

❐ Tipo de local (área particular ou pública,isolada ou não etc.);

❐ Tipo de atrativos;❐ Características sociais (tipo e quantidade

de presença humana, encontros e inte-ração entre grupos de visitantes etc.);

❐ Características de manejo (tipo e quanti-dade de restrições colocadas ao visit a n t e ,

1

Além de um Centro de Visitantes localizado em área central da ilha principal, foramdefinidos quatro setores para facilitar a gestão do uso recreativo no Parque, inseridas naszonas já estabelecidas. Nessas áreas foi indicada a instalação de edificações, contendo: salapara fiscalização, lanchonete, sanitários e local para orientação e interpretação ambientaldo setor. Posteriormente, decidiu-se nomear estes locais de “Postos de Informação eControle” ou PIC.❐ Golfinhos 4 acesso às trilhas dos Golfinhos, Baía dos Porcos, Farol e Capim-açu.❐ Caieiras 4 acesso à trilha da Pontinha - Pedra Alta, ao mirante do Buraco da Raquel, e

apoio à fiscalização no porto.❐ Atalaia 4 acesso à Praia do Atalaia e alternativa de acesso às trilhas da Pontinha - Pedra

Alta e dos Abreus.❐ Sueste 4 acesso à trilha dos Abreus, Praia do Sueste e Área de Visitação Leão–Ponta das

Caracas–Forte São Joaquim do Sueste.

EXEMPLO: SISTEMA DE USO RECREATIVODO PARNAMAR / NORONHA

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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assim como a evidência destas infor-mações para o visitante – por exemplo, afiscalização de acesso a uma área frágilpode ser feita de forma ostensiva, com pre-sença de um fiscal, ou então de formamais discreta com a colocação de peque-

na placa ou de cordão de isolamento).❐ Infra-estrutura recreativa (trilhas, inter-

pretação etc.).Há, ainda, Zonas Externas à UCs tais

como as de Amortecimento e os CorredoresEcológicos.

✑ FIGURA 2

ZONAS DE USO RECREATIVO SEGUNDO O ROS

FONTE: Extraído do documento “The Opportunity Spectrum Concept and Behavioral Information in OutdoorRecreational Resource Supply Inventories: a Rationale” (MOORE: 1994).

PrimitivaSemi-

Primitiva NaturalUso

extensivo Usointensivo

P ro g re s s iva intervenção humana no ambiente

ZONEAMENTO, INTERVENÇÕES E USOS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

O zoneamento de uma UC é definido pela Lei 9.985/00 como sendo "a definição

de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo

e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para

que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica

e eficaz". E de acordo com o novo Roteiro Metodológico de Planejamento,

as zonas internas de uma UC e os graus de intervenção são assim descritos:

Zonas de nenhuma ou baixa intervenção:

Intangível e Primitiva

Zonas de média intervenção:

Uso Extensivo e Histórico-Cultural

Zonas de alto grau de intervenção:

Uso Intensivo, Recuperação, Uso Especial, Uso Conflitante,

Ocupação Temporária, Superposição Indígena e Interferência

Experimental.

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DEFINA COM CUIDADO AS ATIVIDADES RECREATIVAS

PERMITIDAS EM CADA ÁREA DE VISITAÇÃO.

Um dos aspectos mais importantes para o zoneamento do uso recreativo é a definição do

tipo de atividade que o turista pode realizar: caminhada, ciclismo, escalada, canoagem,

cavalgada, passeio de carro, de moto, de barco motorizado, acampamento, piquenique,

excursões de escolas etc. Além de influenciar o tipo de tratamento que se dará à área

de visitação, é importante estar atento para os possíveis conflitos de uso turístico.

Por exemplo, trilhas para pedestres são incompatíveis com o uso de veículos motorizados,

bicicleta, ou cavalgada pela perspectiva do pedestre.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

Para a aplicação do método no Parque, foi solicitado pelo IBAMA que se adotasse umanomenclatura semelhante àquela utilizada no zoneamento de parques. Assim, foram ado-tadas as seguintes zonas: Primitiva, Semi-Primitiva, Uso Extensivo, Natural, Uso Extensivo,Uso Intensivo. (10)

Para o ambiente terrestre, foi necessário descrever em detalhes as características de cadazona de uso recreativo no contexto do Parque. Como no diagnóstico foi definido que todasas trilhas proporcionam o mesmo tipo de atividade, ou seja, são restritas a pedestres comfins de caminhada, contemplação, acesso a praias, mergulho livre e banho de sol ou mar,foram definidas três zonas de uso recreativo, correspondentes a semi-primitiva, natural erural. A seguir descrevemos as características de trilhas na Zona de Uso Extensivo, de formaque possibilitou o diagnóstico da Trilha dos Golfinhos:

Na Zona de Uso Extensivo:❐ As trilhas devem possibilitar a interpretação ambiental mais intensiva e estar desen-

volvidas para um tráfego grande de visitantes;❐ O leito da trilha deverá ter entre 1,20m e 1,50m e ser bastante compactado, priorizan-

do, sempre que possível, a utilização de materiais encontrados no arquipélago;❐ Para cruzamento de cursos de água perenes, a utilização de pontes é recomendável,

sendo para os sazonais recomendada a estrutura de pequenos aquedutos;❐ As áreas de descanso e edificações deverão estar preparadas para receber todos os tipos

de visitantes (diferentes faixas etárias e condicionamento físico), estimando-se que osmesmos permanecerão nas áreas de descanso por períodos relativamente longos;

❐ A sinalização poderá ser colocada em toda a trilha;❐ A interpretação ambiental deverá ser colocada ao longo da trilha, independente de

haver materiais escritos complementares, favorecendo-se sempre o posicionamento deplacas rente ao solo;

❐ Os mirantes deverão conter painéis interpretativos nos temas relevantes;❐ O corredor da trilha deverá ser aberto com até 2m de largura por 2m de altura.

EXEMPLO: ZONEAMENTO DO USO RECREATIVONO PARNAMAR NORONHA

(10) – NOTA DO AUTOR: Pa ra efeito de entendimento deste e de outros exemplos, estão sendo mantidas as denominações de zoneamento de UCs anteriores às novas definidas no novo Roteiro Metodológico de Planejamento.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma vez que as quatro etapas do planeja-mento de uma UC ou propriedade rural para ouso recreativo tenham sido realizadas,recomenda-se que as informações sobre cadaárea de visitação (cach o e i ra, trilha, ponto de

mergulho etc.) sejam resumidas e sistematiza-das em formulários específicos para orientar oseu desenvolvimento. No caso do PA R NA M A Rde Fernando de Noronha foram elaborados for-mulários como no exemplo que se segue.

11) Nome: Trilha dos Golfinhos.

2) Localização: Inicia e termina no atual estacionamento da Trilha dos Golfinhos.

3) Tipo: Circular, com 3 braços de trilha para mirantes/atrativos.

4) Tamanho em metros: Circuito principal: 2.160 m; Mirante do Golfinho 2: 280 m; descida para a Praia do Sancho: 103 m.

5) Atrativos: 2 Mirantes para observação dos golfinhos; pássaros ao longo do penhasco entre Mirante dos Golfinhos e Mirante do Sancho; geologia ao longo do penhasco; vista cênica; Forte e antiga bateria antiaérea; banho na praia do Sancho; mergulho livre na Baía do Sancho; cachoeiras sazonais na praia do Sancho.

6) Problemas e limitações (incluindo sazonalidade): grande impacto no solo e vege-tação devido ao pastoreio de animais e antigo manejo de abertura de estrada/acesso por trator.

7) Temas interpretativos: Golfinhos, pássaros, ciclo de degradação e recuperação de vegetação, geologia na formação do penhasco e fenda no acesso à Praia do Sancho, história militar no Forte e antiga bateria.

8) Zoneamento de acordo com o ROS: Zona de Uso Extensivo

9) Nível de dificuldade: baixo, com exceção da descida à Praia do Sancho.

10) Grupo etário generalizado: todos, sendo que na descida à Praia do Sancho há limitações para pessoas com problemas em relação a altitude ou dificuldade em descer/subir escadas.

11) Avaliação de resistência e resiliência: Alto grau de resistência uma vez que o terrenoem partes de maior declividade tenha sido corrigido (ver capítulo Manejo de Tr i l h a s); área ao longo do penhasco entre Golfinhos e Sancho deve ser monitorada para o impacto no seu comportamento geomorfológico, pois trata-se de uma falésia em atividade, com risco de desmoronamento.

12) Aspectos de segurança: Vários locais entre o Mirante dos Golfinhos 1 e o Mirante do Sancho merecem consideração para construção de muretas de pedras fixadas com cimento (guarda-corpos). A descida do Mirante do Sancho até a Praia do Sancho deverá ser melhorada com equipamentos de segurança. Entretanto, como nunca houve um acidente até o presente momento e a área é atualmente a de maior intensidade de uso, recomenda-se que as estruturas colocadas sejam as mínimas possíveis e que seja monitorada, por meio de questionários, a percepção dos visitantes sobre a necessidade de maiores estruturas preventivas de acidentes.

13) Necessidade de intervenção corretiva de trilha e desenvolvimento de infra-estrutura:No começo do circuito: estacionamento, lanchonete por concessão, (Cont…)

EXEMPLO: DESCRIÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS –PARNAMAR/NORONHA

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Após o término do planejamento, sãoiniciadas as etapas de desenvolvimento deinfra-estrutura (ver capítulo Infra-estruturade Apoio ao Ecoturismo), de desenvolvi-mento das trilhas (ver capítulo Manejo deTrilhas), de elaboração de produtos de eco-turismo (ver capítulo de mesmo nome), deelaboração do sistema de monitoramento econtrole de impactos de visitação (ver capí-tulo de mesmo nome), e de elaboração doprograma de interpretação ambiental (vercapítulo de mesmo nome).

5. Planejando produtos ou empreendimentos de ecoturismo

Dentro do contexto do plano regionaldesenvolvem-se os empreendimentos

específicos (um restaurante, pousada, umapropriedade com atrativos a serem visitados)e os produtos ecoturísticos compostos poruma combinação entre atrativos e serviços( ver capítulo E l a b o ração do Produto deEcoturismo). Na verdade a combinação é

um pouco mais complexa e envolve umaavaliação cuidadosa dos seguintes compo-nentes: o mercado consumidor, o mercadoconcorrente, seus fornecedores e os obje-tivos e características de sua empresa.

Neste nível a sociedade civil é o principalagente do planejamento. Quando o planeja-mento regional é realizado de forma adequa-da, ou seja, quando resulta no compromissodos diferentes setores da sociedade civil coma implementação do plano, cada empresárioou proprietário buscará desenvo l ver seuempreendimento ou produto de acordo comas orientações, normas e acordos definidosno planejamento regional, incentivado porp a rcerias e incentivos específicos.

Quando o planejamento de umempreendimento se faz de forma integrada aum planejamento regional, o principaldesafio para um empresário é desenvolverum produto ou empreendimento que sejaoriginal (diferenciado) o suficiente na regiãopara atrair turistas e garantir sua viabilidadeeconômica e ao mesmo tempo manter-se

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(Continuação) sanitários, placa descritiva da trilha com mapa, restrições e atrativos, posto de fiscalização para dois fiscais com rádio e equipamentos de primeiros socorros. Na trilha: definição e correção/preparação da trilha, com desenvolvimento de estruturas de drenagem, algumas pontes e pequenos aquedutos, abertura de trilha em alguns pontos entre o Mirante dos Golfinhos 1 e Mirante do Sancho e do Mirante do Sancho para o Forte; estruturas de segurança ao longo do penhasco entreo Mirante dos Golfinhos 1 e Mirante do Sancho e na descida para a Praia do Sancho; nesta última parte, desenvolvimento de degraus de pedras fixadas com cimento; melhorar os cabos de proteção ao redor da escada de descida no penhascoe depois, dando mais segurança com corrimão; retirada de cercas de antigas propriedades particulares; desenvolvimento de mirantes com quiosques, bancos e centro de interpretação no Mirante dos Golfinhos 1.

14) Ações de recuperação necessárias: Revegetação ao longo da trilha até o Mirante dosGolfinhos 1 nas partes mais degradadas e do Mirante do Sancho até o estacionamento, aumentando o sombreamento da trilha e possibilitando a interpretação com o tema de recuperação de vegetação degradada.

15) Recomendação de priorização baseada no diagnóstico e nos princípios ROS:(1) de 8 trilhas.

EXEMPLO: DESCRIÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS –PARNAMAR/NORONHA

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

dentro dos parâmetros acordados no plane-jamento regional.

Como a maior parte dos capítulos desteManual foram desenvolvidos visando orien-tar o planejamento e realização de açõespara criar um empreendimento de ecoturis-mo, esta seção apresenta um roteiro resumi-do das ações, aproximadamente na ordemem que devem ser realizadas. Porém deve-se observar que as atividades envolvidas nacriação e operação de um empreendimentosão interativas, e partindo de uma situaçãoideal, no caso, onde o negócio ainda não foielaborado.

a) Levantamento de informações e diagnóstico

Uma pessoa que deseje desenvolver umempreendimento de ecoturismo em umaregião deve antes de mais nada coletarinformações sobre o potencial de ecoturis-mo da região em geral e de sua propriedadeou tipo de empreendimento, em particular.Pa ra efeito deste capítulo, partimos doprincípio de que um inventário local ouregional participativo foi realizado. Destaforma, o empresário potencial pode acessare analisar não só as os resultados do inven-tário, como também do diagnóstico e plane-jamento regionais. Isto não o desobriga derealizar um inventário específico e detalha-do para conhecer as bases que fundamen-tarão o diagnóstico do seu futuro negócio,de forma completa (se não houver o inven-tário regional ou local) ou de aprofunda-mento (se houver).

Adicionalmente, e se for o caso, é pre-ciso fazer uma avaliação da propriedadeque deseja adequar ao ecoturismo, seja umacasa que se deseja transformar em pousadaou restaurante, ou uma propriedade onde sedeseja abrir um camping, ou ainda uma pro-priedade com atrativos naturais onde sedeseja receber visitantes. O próprio inven-tário pode fornecer as informações básicassobre sua disponibilidade de bens eserviços, existentes ou necessários, queincluem:

❐ Atrativos naturais e culturais;❐ Estrutura física;❐ Equipamentos de apoio turístico;❐ Serviços ; ❐ Características da identidade visual da

estrutura física e equipamentos;❐ Caso o empreendimento já esteja em

andamento, volume da visitação e perfildo turista. Caso negativo, buscar estainformação em empreendimentos noentorno, ou na região, ou na origem doturista potencial.

Além de estudar os outros empreendimen-tos do mesmo tipo existentes na localidade ouna região e contrastá-los com o que se desejad e s e nvo l ve r, deve-se especialmente buscaridentificar o desempenho econômico dosempreendimentos similares, sua adequaçãoaos princípios de proteção ambiental do eco-turismo, seu público, sazonalidade, entre ou-tros elementos que se julgue necessário.E ventualmente, no caso de recursos altamenteespecializados, como um conjunto de cave r-nas, a pesquisa de produtos concorrentes exis-tentes pode não estar em sua região (porexemplo, duas das maiores províncias espeleo-lógicas do Brasil localizam-se uma no Vale doR i b e i ra, SP, e outra em São Domingos, GO)

Neste momento, é importante observaras informações que lhe permitam identificaros potenciais parceiros comerciais do seufuturo negócio e iniciar conversas sobresuas idéias. É neste momento também quese deve iniciar contatos com a comunidadede entorno ao seu empreendimento, bus-cando saber o que pensam, como podemagregar valor ao produto e que vocaçãoprofissional possuem ou desejariam possuire que possam ser úteis em seu negócio.

A avaliação deste conjunto de infor-mações gerará um diagnóstico preliminarsobre o setor que se deseja participar.Finalmente, deve-se esboçar o projeto doempreendimento, já incluindo as altera ç õ e snecessárias à propriedade (no caso da pessoainteressada não possuir ainda a propriedade,a compra da mesma passa a ser parte do pro-jeto, devendo ser descrita em detalhes).

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b) Elaboração tentativa do produto

Com o resultado positivo do diagnósticopreliminar e o projeto preliminar doempreendimento, o empresário potencialdeve esboçar o seu produto, seguindo asorientações fornecidas no capítulo Elabo -ração do Produto de Ecoturismo. Esta faseprecede o desenvolvimento de qualqueri n f ra - e s t r u t u ra ou investimento de porte.Como foi observado no início do capítulo,as fases de diagnóstico, elaboração do pro-duto e viabilidade econômica são intera t iva s .

c) Verificação da viabilidade econômica do produto

O passo seguinte é realizar o estudo deviabilidade econômica do empreendimentoe do produto, seguindo as orientações docapítulo Viabilidade Econômica. De acordocom os resultados, é possível que se neces-site adequar o produto.

Por meio da interação entre estas três eta-pas, que vão se ajustando e se complemen-tando, chega-se à versão final do produto ede sua viabilidade econômica. Só então,caso os resultados sejam positivos do pontode vista do empresário, deve-se partir para oplanejamento dos investimentos e açõesnecessários para desenvo l ver o empreendi-mento e iniciar a operação do produto.

d) Preparando o Plano de Desenvolvimento

O plano organiza, de forma racional eoperativa, os produtos e serviços passíveisde serem imediatamente oferecidos aopúblico visitante com a estrutura existente,bem como a programação de ações decurto, médio e longo prazos, compatibi-lizando os recursos e os atra t ivo sd i s p o n í veis, associados ao potencial dedemanda e à capacidade de investimentos.Uma boa parte do plano de desenvolvimen-to já terá sido feita durante a elaboração doproduto e do plano de negócios (parte doestudo de viabilidade econômica).

Adicionalmente, deve-se planejar:

❐ A construção ou reforma de infra-estru-tura, incluindo áreas de camping (verorientações no capítulo Infra-estrutura deApoio ao Ecoturismo).

❐ No caso de propriedades com atrativosnaturais, deve-se realizar o zoneamentoda propriedade (ver seção 4 da Caixa deFerramentas deste capítulo, acima).

❐ Capacitação de mão-de-obra (incluindoa do próprio empresário).

❐ Elaboração de materiais interpretativos epromocionais.

❐ Elaboração de atividades que promovama conservação da região (e da pro-priedade), e a educação ambiental (vercapítulos de A Contribuição deVoluntários em Projetos de Ecoturismo ePesquisa na Atividade de Ecoturismo).

❐ Elaboração do plano de ação, incluindoum cronograma físico-financeiro detodas as atividades planejadas.

❐ Elaboração da estratégia de implemen-tação, incluindo avaliação de custos eidentificação de fontes de apoio e/oucrédito.

6. Esquemas de certificação como indutores de um turismo

mais responsável

Um esquema de certificação é ummecanismo não governamental e vo-

luntário de controle social sobre os produ-tos, serviços e destinos turísticos, baseadonuma avaliação independente dos desem-penhos sociais, econômicos e ambientaisdas suas operações.

A necessidade de se buscar uma certifi-cação independente, como vem ocorrendono Brasil e no mundo, pode ser umademonstração de que os empreendimentosturísticos privados não estão cumprindocom o papel que freqüentemente lhes é de-signado: “indústria” limpa, gerador de rendae riquezas, promotor de justiça social e doresgate cultural etc. E mais, a ampliaçãodestes esquemas significa claramente que

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

empreendedores responsáveis, aqueles queinvestem no seu negócio como indutor paraum desenvolvimento local amplo, susten-tável e integrado, estão se sentindo inco-modados pelo oportunismo que o uso depalavras como ecoturismo e turismo susten-tável vem sendo aproveitado como alavancade marketing, mais conhecido como greenwashing.

Esquemas de certificação de turismopodem representar um papel importante aotrazer mais responsabilidade e competitivi-dade para o setor privado do turismo.Configura-se pela formulação e adoção deum plano de ações que visam o aperfeiçoa-mento dos negócios e que vem unido a umincentivo de mercado, em forma de selo. Oselo, ou logotipo de marketing, será forneci-do para negócios que alcançam um padrãode eficiência e desempenho, demonstrandoas suas credenciais ambientais e sociais quepermitem aos consumidores identificarcompanhias responsáveis.

Uma variedade de esquemas de certifi-cação em turismo já existe no mundo ealguns são mais amplos e consistentes queoutros. O objetivo de gerar nos destinosturísticos competitividade e sustentabilidadeainda não foi comprovado. No Brasil, a cer-tificação já não é uma novidade e as difer-entes iniciativas, envolvendo a certificaçãoambiental de produtos e serviços turísticos,ainda carecem de embasamento técnico oupossuem perfil geograficamente ou setorial-mente limitados, podendo causar confusãoe descrédito no empresariado e no consum-idor. A necessidade de produtos susten-táveis, a maior consciência do consumidor eo falso uso de eco-determinantes são osmaiores argumentos a favor de programasde certificação (WWF, 2001c).

Existe um consenso entre os especialistasde que esquemas eficazes são aqueles emque os padrões de sustentabilidade do turis-mo incluem critérios de desempenho (per-formance) amplamente acordados pelosatores de interesse, e que devem ser ratifica-dos através de processos complementares eindependentes. Um meio de distinguir entre

esquemas eficazes e ineficazes vem a ser acriação de um corpo de credenciamentoindependente. Tal corpo poderia empregarum único logotipo, credenciar e descreden-ciar empresas certificadoras e clarear a con-fusão oriunda da diversidade de logotiposexistentes atualmente.

Depois de um trabalho participativo eorganizado por algumas das mais expressiva sentidades ambientalistas da sociedade civ i l ,surge o Conselho Brasileiro de Tu r i s m oS u s t e n t á vel - CBTS, entidade que vêm procu-rando dar consistência técnica e merc a d o l ó-gica ao esquema brasileiro de certificação,por meio do planejamento e implementaçãode uma estratégia de certificação que sejap a r t i c i p a t iva, independente e voluntária. OCBTS pretende obter a credibilidade de mer-cados e consumidores por permitir a partici-pação ativa dos setores sociais, ambientais eeconômicos envolvidos com o turismo noB rasil, principalmente para a formulação depadrões (ou normas) sustentáve i s .

O objetivo maior desta iniciativa é con-tribuir para o desenvolvimento sustentável dosetor do turismo no Brasil por meio de umametodologia que objetiva ser tecnicamentev i á vel, cientificamente embasado, politica-mente negociado e comercialmente focado.

A certificação em turismo é um desafio,por um lado em função da dinâmica natura lde um dos mais pujantes setores econômicosdo mundo, aliada a sua importante funçãocomo meio de lazer. Por outro, por ser com-posto por uma cadeia de fornecedores instá-vel e variada, sobrepujada por diferentesn í veis de interesses públicos e priva d o s .

p Como funciona a certificação Os programas de certificação em turismo

s u s t e n t á vel objetivam fazer com que tanto osprodutos e empresas sócio-ambientalmenter e s p o n s á veis como os que não respeitam omeio ambiente e as relações sociais se afi-liem a programas de certificação. Eles deve mser motivados pelo ganho em competitiv i-dade no mercado, levando a uma mudançap r o g r e s s iva em favor da maior sustentabili-dade da atividade (WWF, 2001c).

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Num mercado competitivo como o doturismo, a busca de consumidores torna-seuma batalha de mensagens comerciais (pu-blicitárias, propagandas) cada qual com seuapelo de marketing. Num momento em queassuntos de meio ambiente tornam-se cadavez mais presente na mídia, ao mesmotempo em que há tendências de consumi-dores optarem por produtos social e ambi-entalmente mais amigáveis, as estratégias demarketing aproveitam para utilizar apeloscomerciais que visem atrair consumidorespor suas pretensas qualidades ecológicas esociais. Muitas vezes são apenas men-sagens, não correspondendo efetivamenteàs qualidades do produto. São chamados degreen washing as empresas que se comuni-cam com o mercado como ambientalmenteamigáveis, porém operacionalmente nadaou muito pouco nesta área é feito.

A certificação permite atestar que asmensagens enviadas ao comprador sobre aqualidade e/ou característica do produto ouserviço turístico que ele está adquirindo sãoverdadeiras. Para que esta mensagem sejaatestada com eficiência e credibilidade, énecessário que um organismo independenterealize uma verificação da qualidade ou dacaracterística anteriormente declarada peloempreendedor. A verificação deve ser feitapelo certificador. Para garantir o bom fun-cionamento da certificação, existe umorganismo controlador, chamado Creden-ciador (no caso brasileiro, o CBTS), quedefine as regras e media o processo. O cre-denciador controla o certificador e osdemais envolvidos na certificação, assimcomo garante o bom uso do selo.

p Benefícios da Certificação do TurismoBenefícios econômicos

❐ Proporciona um diferencial de market -ing, gerando vantagens competitivas aosprodutos e empreendimentos.

❐ Facilita o acesso a novos mercados, prin-cipalmente o internacional.

❐ Desenvolve e melhora a imagem públicada empresa.

❐ Contribui para a conservação dos atra t ivo s

e, conseqüentemente, para a sustentabili-dade econômica dos produtos turísticos.

Benefícios ambientais❐ Contribui para a conservação da biodi-

versidade e de seus valores associados:água, solos, paisagens e ecossistemas,entre outras coisas.

❐ Favorece a manutenção da qualidadeambiental dos atrativos turísticos.

❐ Auxilia na proteção de espéciesameaçadas ou em perigo de extinção ede seus habitats.

Benefícios sociais❐ Auxilia na legalização da atividade. ❐ Favorece a melhora das condições de

trabalho. ❐ Promove o respeito aos direitos dos tra-

balhadores, povos indígenas e comu-nidades locais.

❐ Proporciona um novo espaço de partici-pação para os trabalhadores e comu-nidades locais na definição dos padrõese no monitoramento das operações certi-ficadas.

❐ Reconhece os valores culturais locais,tais como a gastronomia, arquitetura fol-clore e artesanato, entre outros.

p O CBTSO CBTS - Conselho Brasileiro de Turismo

Sustentável, fundado em 29 de junho de2002, é o órgão executivo e consultivo dacertificação e promotor e controlador doprocesso.

A missão maior do CBTS é desenvolver eimplementar uma metodologia para a certi-ficação do turismo sustentável no Brasilbaseada nos desempenhos econômico,social e ambiental de produtos, serviços edestinos turísticos e com caráter indepen-dente (desenvolvido e controlado pelasociedade), tecnicamente consistente(embasamento técnico-científico), não-dis-criminatória (de setores ou de escalas pro-dutivas), transparente (participação e divul-gação ampla do processo) e voluntária (par-ticipação não obrigatória).

O CBTS é formado pela seguinte arquite-tura organizacional:

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

CÂMARAS SETORIAIS (CS)Fórum amplo para se discutir, criar, alte-

ra r, adaptar, harmonizar ou suprimir critériose indicadores (padrões) do turismo susten-t á vel, onde se desenvo l ve a plena partici-pação democrática, contribuindo tecnica-mente para a viabilização e garantindo acredibilidade do Programa de Certificação.São formadas por entidades relacionadas aos e t o r, representando os interesses sociais,econômicos e ambientais da atividade, ondeseus integrantes exercem seu direito de vo t o .

CONSELHO DIRETOR (CD) Conselho tri-cameral, formado por 9

membros integrantes das Câmaras Setoriaisdo CBTS, eleitos para períodos de 3 anos.Reúne-se para ajustes e encaminhamentodas discussões e aprovação dos relatóriostécnicos.

SECRETARIA EXECUTIVA (SE)Representante administra t ivo e finan-

ceiro do CBTS, responsável pelo gerencia-mento de documentos, materiais, equipa-mentos e recursos. Fornece apoio para aampla divulgação do processo e para osencontros regionais do CBTS, prestandocontas à sociedade.

CONSELHO FISCAL (CF) Conselho tri-cameral formado por 3

membros integrantes das Câmaras Setoriaisdo CBTS, eleitos para períodos de 3 anos.Responsável pela análise das prestações decontas, autorizando gastos diferenciados eencaminhando os relatórios financeiros.

COMITÊ DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS(CRC)

Conselho tri-cameral formado por 3 mem-bros integrantes das Câmaras Setoriais doCBTS, eleitos para períodos de 3 anos. Éacionado para indicar o melhor encaminha-mento quando não se obtém o consenso nasdiscussões dos padrões de sustentabilidade.

p A PROPOSTA DO CBTSO Programa Brasileiro de Certificação do

Turismo Sustentável prevê a implementaçãodos seguintes componentes, por meio dopróprio CBTS ou de seus parceiros, como oInstituto de Hospitalidade e associações dem e rc a d o .

A. Estabelecimento da estrutura consultiva eexecutiva do CBTS

B. Desenvolvimento participativo do sis-tema de normas e padrões de certifi-cação, por meio da mobilização dasociedade para o debate sobre a sus-tentabilidade do turismo e por meio deestudos e pesquisas de base

C. Desenvolvimento do sistema de avali-ação e auditorias

D. Elaboração de um programa de capaci-tação de auditores

E. Estabelecimento e apoio a programas decapacitação e assistência técnica para omercado, principalmente o pequeno emédio empreendedor

F. Elaboração e implementação de apli-cações práticas do sistema de certifi-cação em pilotos de campo para teste dametodologia

G. Promoção de parcerias para a integraçãodo Programa com esquemas de certifi-cação setoriais, regionais e/ou interna-cionais, assim como inserir o Programano Sistema Brasileiro de Qualidade (SIN-METRO)

H. Lançamento do selo CBTS, por meio dae l a b o ração de um plano de marketinginstitucional do Programa de Certificaçãovoltado para os mercados empreendedore consumidor, assim como estabelecermecanismos de promoção e marketingdos produtos certificados

p Como participarVocê e/ou sua Instituição tem um impor-

tante papel a desempenhar, na composiçãode uma das Câmaras Setoriais (Social/Am-biental/Econômica), que integram o CBTS.

A criação de um corpo de credencia-mento independente (o CBTS), de caráterparticipativo, é um meio eficiente de distin-guir sistemas eficientes e sérios, evitando a

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

confusão oriunda da diversidade de selosexistentes atualmente.

Sua participação e/ou de sua Instituiçãopermitirá garantir ampla representativ i-dade, enriquecendo as discussões e con-tribuindo para a credibilidade e consistên-cia do processo.

A forma de participação, fichas deadesão, direitos e deveres, possibilidade devoto, participação nos grupos de trabalho edemais atividades do CBTS estão definidasno Estatuto Social, disponível emwww.cbts.org.br.

É imprescindível que a confirmação doaceite para composição de uma das câmara ssetoriais seja efetuado por meio do envio aoCBTS, da ficha de adesão preenchida e deuma breve descrição da instituição e dasa t ividades empreendidas relacionadas aod e s e nvolvimento do turismo.

Para conhecer melhor todo o processodesenvolvido pelo CBTS e obter seus con-tatos, visite sua h o m e - p a g e e mwww.cbts.org.br.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

A qualquer momento podem estar ocor-rendo simultaneamente em uma regiãovários níveis de planejamento público eprivado que afetam (ou mesmo inibem)propostas de desenvolvimento do eco-turismo. Políticas de desenvolvimento depólos de turismo/ecoturismo, inve s t i-mentos públicos em infra-estrutura (es-tradas, barragens) ou privados em turis-mo (complexos turísticos e resorts)podem interferir na imagem que vocêprojetou para seu município ou regiãoou trazer uma demanda turística nãocompatível com a imagem de seu produ-to. Por um lado, nunca deixe de procurarintegrar sua proposta às diversas iniciati-vas dos diferentes planos. Por outro, nãoexite em abandonar suas idéias se proje-tos de maior abrangência influírem emriscos para seu plano. O ecoturismo sempre se apresenta comoum forte expoente do turismo sustentá-

vel, onde a relação entre a capacidadede suporte e a rentabilidade é construídaa partir de uma contabilidade ambiental,que determina que uma ativ i d a d eeconômica não deve gerar prejuízosambientais que ultrapassem os benefí-cios. Do ponto de vista da contabilidadeambiental, o manejo pautado pelaadministração dos recursos naturais éuma ciência ainda nova, e deve orientar-se por um princípio básico: se o ecotu-rismo propõe a visitação de ambientesnaturais preservados, destruí-los é umato de insanidade econômica.A diversificação de produtos nummesmo pólo de turismo sustentável éuma boa alternativa para diminuir apressão sobre espaços naturais.No desenvolvimento industrial conven-cional, o fracasso de um produto podeser minimizado com mudanças na linhade produção. No ecoturismo, a mudançade um produto não ocorre com veloci-dade, e os impactos gerados podem serirreparáveis. Apesar de ser impossívelprever e prevenir todos os problemas deimplementação e resultados adversos dod e s e nvolvimento do ecoturismo, énecessário evitar os erros advindos domau planejamento ou de interesseseconômicos ou políticos imediatos.No caso do planejamento de produtos,por mais atrativo que seja seu sítio emaior a demanda que bate a sua porta,não abdique das ferramentas de planeja-mento. Tomando atitudes pró-ativas ee s t ratégicas, o empreendedor estarágarantindo um crescimento equilibradoda visitação, garantindo a qualidadeambiental de seus atrativos e conseqüen-temente estará observando um incre-mento seguro de receitas. E a visão deavaliar, planejar, avaliar (monitorar) e re-planejar deve ser uma tarefa constantepara o empreendedor, onde cada setorda empresa deve ser planejado e ba-lanceado com todos os outros setoresinternos e externos que propiciam o eco-turismo.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Por fim, os capítulos de Elaboração deProdutos de Ecoturismo e de ViabilidadeE c o n ô m i c a t razem mais informaçõessobre desenvolvimento de negócios emecoturismo.Atualmente há uma diversificada fontede recursos disponível para projetos deecoturismo, por meio de financiamentoscrédito ou a fundo perdido. Bancospúblicos, como o BASA, possuem umalinha de crédito específica para negóciosem ecoturismo de base comunitária.Outros possuem linhas de crédito paraqualquer negócio em turismo, como aCaixa Econômica Fe d e ral, BNDES,Banco do Brasil, Banco do Nordeste doBrasil e outros. A ABONG, AssociaçãoBrasileira de Organizações Não Gover-namentais, lançou um livro sobre oassunto, “Manual de Fundos Públicos2003”, disponível em www.editorapeiropolis.com.br.Alguns sites de referência para financia-mento são:

Governo:www.mma.gov.br - Ministério do MeioAmbiente, Fundo Nacional do MeioAmbiente;w w w. m r e . g ov. b r - Ministério das RelaçõesExteriores, Cooperação Internacional;w w w. p l a n e j a m e n t o . g ov.br - Ministériodo Planejamento, Assuntos Internacionais;www.integração.gov.br - Ministério daIntegração Nacional, Planafloro (RO) eProdeagro (MT);www.ambiente.sp.gov.br - Secretaria doMeio Ambiente do estado de São Paulo;www.fehidro.sp.gov.br - Fundo Estadualde Recursos Hídricos;www.prodam.sp.gov.br/svma - Secretariado Verde e do Meio Ambiente - PMSP.

Sobre o Terceiro Setor• www.gife.org.br - Grupo de Institutos,

Fundações e Empresas;• www.rits.org.br - Rede de Informações

do 3º Setor;• w w w. e t h o s . o r g . b r - Responsabilidade

Social;

• www.abong.org.br - Associação Brasi-leira de ONGs (Pesquisa sobre Fundos);

• www.iser.org.br - Instituto de Estudos daReligião (Leyla Landim e Samy ra Crespo);

• w w w. a b c r. c o m . b r - Associação Bra s i l e i rade Captadores de Recursos;

• www.voluntarios.com.br - Vo l u n t a r i a d o ;• w w w. vo l u n t a r i a d o . o r g . b r - Centro de

Voluntariado de São Paulo - (11) 288-9056;• w w w.filantropia.com.br - Portal do Te rc e i r o

Setor;• w w w. a s h o k a . o r g . b r - Empreendedores

Sociais;• w w w. r e p e a . o r g . b r - Rede Paulista de

Educação Ambiental (a partir de nov. de2000);

• www.ecoar.org.br - [email protected] -Ecoar - Facilitador da REBEA - RedeBrasileira de Educação Ambiental;

• www.portaldomicrocredito.org.br - Portal do Microcrédito.

Centros de Estudos do Terceiro Setor• CETS - Centro de Estudos do Terceiro

Setor - FGVwww.fgvsp.br/academico/estudos/cetsCentro de Estudos do Terceiro Setor -FGV-EAESP - Av. 9 de julho, 2029, Cep:01313-092 - São Paulo, SP - Tel: 55-11/281-7892 - Fax: 55-11/2841789 - e-mail: [email protected] - Coordenador: Prof.Luiz Carlos Merege;

• CEATS - Centros de Estudo e Admi-nistração do Terceiro Setor - FEA/USPwww.fea.usp.br/ceatsAv. Prof. Luciano Gualberto, 908 - Cep:05508-900 - São Paulo, SP - Tels: (11)3818-5811/5800 - Fax: (11) 3814-3814 -e-mail: [email protected]

• SENAC - Fórum Permanente do TerceiroSetor - Informações: SENAC/Centro deEducação Comunitária para o Trabalho -Tel: (11) 6191-5151.

Alguns Prêmios na Área Sosial e Ambiental:Prêmio Ethos/Va l o r - Instituto Ethos;Prêmio Henry Ford - Fundação Ford;Prêmio von Martius - Câmara de Comér-cio e Indústria Brasil/Alemanha;

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Prêmio Eco - A M C H A M - CâmaraAmericana de Comércio;Prêmio Top de Ecologia - ADVB;Prêmio Idéias Inovadoras em Captaçãode Recursos - Ashoka;Prêmio Bem Eficiente - Kanitz A s s o-ciados ePrêmio FENEAD - Federação Nacionalde Estudantes de Administração.

V. BIBLIOGRAFIA

BA R R E TO, M. 1991. Planejamento eOrganização em Tu r i s m o. Campinas:Papirus.

BOO, E. 1992. The Ecotourism boom: plan -ing for development and management.Washington, DC, WWF.

CEBALLUS-LASCURAIN, H. 1996. Tourism,Ecotourism and Protected Areas. Paris:UNEP.

DRIVER, B. L.; BROWN, P. 1978. Th eOpportunity Spectrum Concept andB e h av i o ral Information in OutdoorRecreation Resource Supply Inventories:a Rationale. Paper apresentado durante aoficina “I n t e g rated Inventories ofRenewable Natural Resources”. Anais daoficina. 8 a 12 de janeiro de 1978.Tucson, AZ.

I G NARRA (s.d). Planejamento Tu r í s t i c oMunicipal, um modelo brasileiro. SãoPaulo: CTI.

GALANTE, M. L.. V.; BESERRA, M. M. L.;MENEZES, E. O. 2002. R o t e i r oMetodológico de Planejamento: ParqueNacional, Reserva Biológica, EstaçãoEcológica. Brasília, DF: MMA/DIREC.

MOORE, R. 1994. Conflicts on Multi-useTrails: a Survey of National Park Service

Managers. Report nº HWA-PD-94-031.Fe d e ral Highway A d m i n i s t ra t i o n .Washington, DC.

OMT, 1994. Desenvolvimento do TurismoSustentável: manual para organizadoreslocais. Brasília, DF: Embratur.

S A LVATI, S. S. 2002a. Ecoturismo noPantanal Brasileiro e Boliviano: estudosde políticas e alternativas sustentáveis.São Paulo: Prolam / USP, 139 p.[Dissertação de Mestrado]

SALVATI, S. S. 2002b. Turismo responsávelcomo instrumento de desenvolvimento econservação da natureza. In: Diálogosentre a esfera global e local: con -tribuições de organizações não governa -mentais e movimentos sociais brasileirosp a ra a sustentabilidade, eqüidade ed e m o c racia planetária. Rubens Born[org.]. São Paulo: Peirópolis.

SISTEMA Nacional de Unidades deConservação. 2002. SNUC: lei nº 9.985,de 18 de julho de 2000; decreto nº4.340, de 22 de agosto de 2002. 2 ed.Aum. Brasília: MMA/SBF.

WWF, 2001a. Uso Recreativo no ParqueNacional Marinho de Fernando deNoronha: um modelo de planejamento eimplementação. Série Técnica nº VIII.Brasília, DF: WWF.

WWF, 2001b. Directrices para el desarrollodel turismo comunitario. Gland: WWF.

W W F, 2001c. Certificação do Tu r i s m o :lições mundiais e recomendações aoBrasil. Série Técnica nº IX. Brasília, DF:WWF.

W W F, (no prelo). Turismo Responsáve l :manual para políticas locais. Brasília,DF: WWF

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

I. OBJETIVOS

A realização do inventário da ofertaturística, a identificação do perfil edas opiniões do turista e o reconhe-

cimento das expectativas e percepções dacomunidade receptora formam a base doplanejamento e orientam as fases deimplantação e monitoramento de programasde ecoturismo, sendo, portanto, determi-nantes para o sucesso da proposta.

O objetivo deste capítulo é fornecer umametodologia participativa, e de fácil ade-quação às diferentes realidades regionais,para o levantamento dessas informações.Como um dos principais instrumentos deenvolvimento e participação, as pesquisasdo inventário aqui proposto sugerem acapacitação de moradores no planejamen-to, desenvolvimento e execução das ativi-dades. E inclui a tabulação dos dadospesquisados e disponibilização de resulta-dos para realização de diagnóstico e para adefinição dos objetivos e metas do projetode ecoturismo, contribuindo de forma deter-minante para a consolidação das etapasseguintes propostas neste Manual.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

O levantamento do potencial do ecotu-rismo representa a primeira e fundamentaletapa do processo de planejamento estra t é g i-co da atividade. Inventariar é pesquisar er e l a c i o n a r, de modo quantitativo e qualitati-vo, os bens (p. ex. atra t ivos naturais ou cul-t u rais, acessos) e serviços (p. ex. meios dehospedagem e guias) de uma determinada

região. No caso do ecoturismo podemos con-s i d e rar como área de interesse para a realiza-ção do inventário tanto a área total de ummunicípio, uma região (vários municípios) ouuma área protegida e seu entorno imediato.

Por ser um segmento da indústria do turis-mo, o ecoturismo trabalha com e dependedos mesmos componentes básicos do turis-mo convencional. Desta forma, ao propor ol e vantamento de dados e informações parasubsidiar o planejamento do ecoturismo,d e vemos primeiramente compreender osprincipais mecanismos dessa ativ i d a d edescritos no capítulo de Planejamento doE c o t u r i s m o. Durante o desenvolvimento deprojetos, os atra t ivos, o turista, a infra - e s t r u t u-ra, os serviços e a comunidade são elementosque devem ser pesquisados e avaliados parase chegar a uma compreensão mínima dassuas características e necessidades.

O inventário deve fornecer dados impor-tantes para uma análise da situação atual daregião de interesse e, no final deste proces-so de coleta e análise de dados, tem-se umdiagnóstico do potencial ecoturístico quepermite responder as seguintes questões:- Qual o potencial que os recursos na-

turais e culturais da minha região tempara atrair visitantes?

- Esses recursos estão conservados ep r e p a rados para se tornar atra t ivo secoturísticos?

- Quais os serviços e equipamentos deque dispomos para facilitar a visitaçãoe quais as necessidades de capaci-tação profissional?

- Os acessos e os meios de transportessão adequados e seguros?

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2. Levantamento do potencial ecoturístico (inventário)

Marcos Martins Borges

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- Qual os limites de mudanças que estaregião, sua infra-estrutura, as comu-nidades e os atrativos podem aceitar?

- Como as diversas lideranças comu-nitárias percebem o ecoturismo equais benefícios que esperam receber?

- Quais as restrições legais, políticas eeconômicas que podem afetar odesenvolvimento do projeto?

- Qual a visão e as expectativas dosc o m e rciantes, empresários e dasONG's locais?

- Qual o compromisso do poder públicolocal (prefeito e vereadores) com relaçãoao desenvolvimento do ecoturismo? Estas e inúmeras questões devem ser

respondidas pelo diagnóstico final, baseadonas informações da pesquisa do inventário.Cabe ao diagnóstico determinar as vocaçõesespecíficas, bem como as possibilidades ded e s e nvolvimento de produtos turísticosregionais integrados. E para se definir bonsprodutos, de baixo impacto ambiental, quegere amplos benefícios econômicos e soci-ais, devemos ter uma boa análise dos dadoslevantados, os quais subsidiarão as etapasseguintes do projeto, incluindo a definiçãode objetivos e metas.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

O processo de planejamento, aplicaçãoe análise do inventário ecoturístico é umconjunto de atividades que interage comdiversas outras atividades abordadas nesteManual. Assim, lendo-o atentamente, prin-cipalmente o capítulo de Planejamento doE c o t u r i s m o, percebe-se que o inve n t á r i o

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

subsidia e é subsidiado por diversos capítu-los. A plena compreensão do que se propõe,do que é o ecoturismo e quais são seusprincípios, é fundamental para a compreen-são do porquê do inventário e do que quer-emos dele.

Em muitas ocasiões, a realização doi nventário de ecoturismo será o primeirocontato da comunidade com o tema doecoturismo de uma forma mais profunda,concreta, menos especulativa. Idealmente,isto deveria ocorrer apenas após umprocesso participativo de conhecimento dacomunidade e envolvimento desta – seusd iversos setores – no planejamento e de-s e nvolvimento do ecoturismo, inclusive adecisão de realizar um inventário. A s s i msendo, apesar de muitos procedimentosdiscutidos neste capítulo constarem deforma mais aprofundada no capítuloParticipação Comunitária e Pa rc e r i a s ,decidiu-se tratá-los aqui também, sendoque neste capítulo os procedimentos suge-ridos focalizam o caso específico do inve n-tário. Entretanto, utilize este capítulo con-juntamente com o de Participação Comu-nitária e Pa rcerias, especialmente se o in-ventário de potencial de ecoturismo estive rsendo realizado sem o devido processo ini-cial de apresentação e envolvimento ded iversos setores da comunidade no desen-volvimento do ecoturismo.

Também cabe reforçar que os ques-tionários utilizados para exemplificar osd iversos temas de pesquisa incluídos em umi nventário, devem ser adaptados para a reali-dade de cada local. Ao utilizar o capítulo, asf i chas e questionários, procure sempre asso-ciar o exposto a exemplos locais, dando rea-lismo ao que parece ser teórico e distante.

Nesta seção serão apresentados osseguintes tópicos:

1. Apresentação à comunidade.2. Definição de parcerias e manejo

de informações.3. Definição da área a ser pesquisada.4. Recursos materiais e humanos

necessários – previsão de custos.

2

Somente após o conhecimento

do potencial atrativo,

das lacunas e dificuldades

para implementação e da visão

e expectativas da comunidade

é que um programa ou projeto

de ecoturismo deve ser implantado.

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

5. Seleção da equipe de pesquisadores para realizar o inventário.

6. Treinamento da equipe – nivelamento de informações e motivação.

7. Principais elementos a serem inventariados.

8. Elaboração de questionários específicos.

9. Aplicação dos questionários.10. Tabulação de dados.11. Manuseio dos dados coletados –

análise de resultados.

1. Apresentação à comunidade

Ap r i m e i ra fase para a realização doinventário é justamente a apresentação

do tema à comunidade. Caso o procedi-mento proposto no capítulo ParticipaçãoComunitária e Parcerias para este fim nãotenha sido realizado, isto pode ser feito nomomento em que for detalhado o projeto doinventário como um todo. Promover umseminário com apoio da prefeitura ou doCOMTUR e tomando o cuidado para quetodos os principais atores sociais eeconômicos locais estejam presentes, podeser um passo importante. Caso necessário,faça reuniões formais e informais em todosos locais de interesse, incluindo para ascomunidades que estão mais afastadas.Utilize as fichas do capítulo de Planeja -mento do Ecoturismo como subsídios para aintrodução da proposta de ecoturismo jun-tamente com as fichas deste capítulo.

Essa primeira introdução ao tema para acomunidade tem três objetivos básicos:❒ Propiciar à população um primeiro

esclarecimento sobre a importânciado inventário e notificá-la de quealguns, ou muitos, serão procuradospor pesquisadores.

❒ Em caso de não haver um grupo jáidentificado para realizar o inven-tário (por exemplo, uma associaçãode guias), informar sobre a necessi-

dade de recursos humanos para estefim e já iniciar o processo de identi-ficação dos mais preparados e inte-ressados.

❒ Obter apoios diversos ou parceriasinstitucionais para o desenvolvimen-to, análise e publicação dos resulta-dos juntos aos setores interessados.

É bom ressaltar que a efetiva compreen-são da comunidade sobre a importância doinventário tem um papel fundamental naqualidade da informação que será coletada.Coletar dados, muitas vezes não quantita-tivos, já é difícil. Se não houver interesse porparte da fonte, ou seja, a pessoa entrevista-da, e do próprio pesquisador, essa tarefa setorna ainda mais difícil, aumentando amargem de erro.

2. Definição de parcerias e manejo de informações

O levantamento de informações turísticasé de interesse e depende de vários

setores da comunidade ou fora dela. Nacomunidade local, a prefeitura, associaçõesde classe (comercial, guias etc.) e os pró-prios empresários individualmente podemter um interesse direto no conhecimento emanuseio dos dados levantados pelo inven-tário. Da mesma forma, outros órgãos públi-cos, como a EMBRATUR, o órgão de turis-mo do estado ou do município, universi-dades (trabalhos de pesquisadores oualunos), ONG's, prefeituras do entorno ououtros tipos de organizações, como oSEBRAE, também podem se interessar pelasinformações. Eventualmente inve n t á r i o spodem já ter sido realizados e, através depesquisas secundárias (de gabinete) emalguns dos órgãos acima citados, pode-sep r o c u rar conhecer seu conteúdo previa-mente e prever o uso, a complementação oua atualização dos dados coletados. Essesinteresses devem ser materializados pormeio de parcerias, gerando subsídios técni-cos e financeiros para a realização do inven-tário e pesquisas.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Parcerias estratégicas

O momento do inventário é extremamente

relevante para se iniciar o processo

de estabelecimento de relações parceiras,

sejam comerciais ou não, entre os diversos

componentes do turismo. Proprietários de

terra, chefe de unidades de conservação,

donos de pousadas, agências de turismo

receptivo, proprietários de vans e barcos

e condutores de visitantes são atores

importantes e podem vir a merecer

um tratamento diferenciado mediante

uma pesquisa mais aprofundada

e o estabelecimento de parcerias formais.

Para que se mantenha a integridade doprocesso de realização do inventário e, prin-cipalmente, da própria parceria, os se-guintes procedimentos devem ser observa-dos (ver capítulo Participação Comunitária eParcerias):

❒ Oficialização de contratos formais et ransparentes, identificando clara-mente:Os objetivos da parceria.Deveres, responsabilidades e benefí-cios de cada parte.Um cronograma de execução dotrabalho.Procedimentos gerais técnicos,administrativos e financeiros.Resumo simplificado do acordo paraexposição à comunidade.

❒ Estabelecimento de um sistema decomunicação eficaz entre as partes.

❒ No caso de prefeituras, a apresen-tação e discussão do projeto naC â m a ra dos Vereadores ou, preferen-cialmente, no Conselho de Tu r i s m o ,pode dar maior representativ i d a d ena formalização do acordo proposto.

❒ Produção de relatórios periódicos,com apresentações em foros públi-

cos, como a Câmara, associaçõescomunitárias e de proprietários.

❒ Definição de critérios para acesso eutilização das informações.

O estabelecimento de parcerias para oinventário pode ou não se dar no início doprojeto de ecoturismo. O importante é queelas sejam buscadas e bem trabalhadas parapropiciar um levantamento de informaçõesadequado. Além disso, deve-se discutir ostermos do acordo de parceria com as pes-soas que irão realizar o levantamento deinformações, facilitando a compreensão detodos os envolvidos no processo, bem comoo destino dos dados levantados.

3. Definição da Área a ser Pesquisada

Ao se elaborar um projeto de ecoturismo,provavelmente a área de abrangência

do mesmo já pode estar previamente defini-da. Pode ser um município, um pólo turísti-co (vários municípios), uma bacia hidrográ-fica, uma Unidade de Conservação, oumesmo a área de influência de uma deter-minada comunidade ou empreendimento.No caso do inventário turístico, a abrangên-cia da área a ser pesquisada pode ser amesma do projeto como um todo ou não.De qualquer forma, essa definição é básicapara o planejamento do inventário.

D e ve-se lembrar que os recursoshumanos e financeiros oriundos das parce-rias podem limitar ou ampliar a área e otempo necessário para realizar o inventário.Acordos institucionais com a Prefeitura, porexemplo, podem permitir a ampliação daárea de abrangência da pesquisa para gerardados mais completos, e necessários paraum melhor planejamento integrado do eco-turismo na região. Abaixo listamos algunsprocedimentos para facilitar a definição deuma área a ser pesquisada que atenda aosinteresses e limitações do projeto:

❒ Solicitar à equipe de pesquisadoreslocais que faça uma lista de atrativosjá conhecidos (visitados ou não),i n f ra - e s t r u t u ra turística e outra s

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

informações que possam ajudar nadefinição da área. Nesse caso, valel e m b rar que certos elementos aserem pesquisados podem estar forada área inicialmente pensada peloprojeto. Por exemplo, um grandeatrativo pode se localizar no municí-pio vizinho, mas ser relevante para odesenvolvimento do ecoturismo nomunicípio proponente do projeto.Ou apesar de estar no município vi-zinho, seu acesso é mais fácil pelomunicípio do projeto.

❒ Quais são os recursos humanos,materiais e financeiros disponíveis?Não adianta planejar um inventáriomuito abrangente se não há recursossuficientes. Utilizar informações le-vantadas pela equipe de pesquisa-dores, fazer o planejamento de cus-tos (ver item Recursos materiais ehumanos necessários – previsão decustos, a seguir) e definir as áreasprioritárias.

❒ Áreas já visitadas, mesmo porm o radores da região, são priori-tárias. Significa que têm atrativos,despertam o interesse do público,podem ter infra-estrutura turística e,certamente, já sofrem algum tipo deimpacto de visitação.

❒ Áreas potenciais identificadas pelaequipe de pesquisadores ou outrosmoradores vêm a seguir, priorizan-do-se, neste caso, atrativos de maiorrelevância.

❒ P r e ver uma reserva técnica parasuprir necessidades decorrentes denovos atrativos descobertos duranteo inventário. É comum que a equipede pesquisadores descubra umaseqüência de atra t ivos em localainda pouco conhecido da comu-nidade, principalmente em áreasparticulares.

❒ Conforme a equipe for coletandodados em campo, outra equipe jápode ter começado a sua tabulação.

2

CRITÉRIOS NA DEFINIÇÃO DA ÁREA A SER PESQUISADA

Para maximizar tempo e recursoshumanos e financeiros, pode-sedividir a região em zonasde pesquisa, cada umadelas com uma equipe depesquisa responsável pela geração dos dados. Nesteexemplo a zona prioritáriaé a zona 2 (FICHA 1). As zonas prioritárias sãovisitadas primeiro.Durante a pesquisa emd e t e r m i n a d a zona, várioselementos são pesquisados (sinalização, acesso,equipamentos e serviços)assim como outros atrativos, que podem ser complementares.

Atrativosecundário ou ainda

não visitado

Atrativoou conjuntode atrativos

principais oujá visitados

ZONA 1 ZONA 2Zonas de influência –

atrativos e serviços de apoio

Complementares

/ FICHA 1

Núcleo urbano mais próximo

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

4. Recursos materiais e humanosnecessários – previsão de custos

Por menor que seja a área a ser pesquisa-da, a realização do inventário e de

pesquisas com turistas e comunidade vaidemandar investimentos em recursoshumanos e materiais. O planejamentoprévio dos recursos necessários é impor-tante para garantir a continuidade do proje-to. A interrupção por falta de recursos podecomprometer todo o trabalho já realizadode mobilização comunitária, treinamento eparceria, e gerar descrédito em relação aoprojeto.

Ao se realizar uma estimativa prévia dosrecursos necessários pode-se, então, dimen-sionar a área a ser pesquisada de acordocom os recursos disponíveis, ou buscarnovas parcerias para viabilizar a propostainicial. A seguir, listamos os recursos ne-cessários para realizar o inventário que de-vem ser apresentados à comunidade e aosp o s s í veis parceiros para definição deapoios. Alguns deles não são impres-cindíveis, mas facilitam e dão maior quali-dade ao trabalho, cabendo à equipe decoordenação definir o que julga pertinenteou não.❒ Recursos humanos e serviços de ter-

ceiros tais como coordenador deequipes, pesquisadores e tabula-dores do inventário, assistência téc-nica em informática, revelação defilmes, serviços de xerox etc.

❒ Meios de transporte tais como carro,barco, animais, bicicleta etc. De-pendendo do tamanho da equipe edo tempo disponível para realizar oinventário, mais de um meio det ransporte pode ser necessário,sendo um item imprescindível narealização do inventário.

❒ Diárias de alimentação e, casonecessário, hospedagem dos técni-cos e pesquisadores de campo.

❒ Remuneração, mesmo que seja atítulo de incentivo, para os partici-pantes.

❒ Mapas do IBGE e do Ministério doExército – baratos – de todo o Brasil.

❒ Imagens de satélite e labora t ó r i oajudam a localizar atrativos, identi-ficar áreas mais preservadas oudegradadas e aprimoram e enrique-cem qualquer mapa turístico daregião.

❒ Equipamento fotográfico, filmes epilhas para registro de atra t ivo s ,equipamentos e acessos.

❒ Binóculos pois ajudam a localizaratrativos, observar animais e aves.

❒ Pedômetro para medir distâncias detrilhas e/ou atrativos.

❒ M o chilas, lanternas, bússolas,c a p a s - d e - ch u va, equipamentos desegurança e primeiros socorros parapesquisadores de campo.

❒ Aparelhos de localização geográfica(GPS – Global Position System –Sistema de Posicionamento Global)pode ajudar a localizar atrativos eplotá-los em mapas turísticos.

❒ Material de consumo tais comopapel, pranchetas, lápis e canetas,cartuchos de impressora, combus-tível etc.

❒ Computador com softwares taiscomo processadores de texto(Word), planilhas eletrônicas (Excel)e sistemas de bancos de dados(Access) para tabulação e análise dedados, impressora para impressãode relatórios e scanner, que facilita otrabalho de arquivamento e disponi-bilização de fotos dos atrativos eestabelecimentos.

5. Seleção da equipe de pesquisadorespara realizar o inventário

Oagente pesquisador é peça importantena construção e direcionamento das

relações entre os componentes do turismo.D u rante a pesquisa pode-se convidar oempreendedor entrevistado para uma parce-ria e para que contribua de qualquer outraforma no projeto. Desta forma, e diante do

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

objetivo deste Manual – capacitar comu-nidades para uma gestão autônoma do eco-turismo – e das qualidades necessárias aqualquer pesquisador, a seleção e treina-mento da equipe para realização do inven-tário devem seguir alguns critérios:

• Selecionar pessoas que tenham umaforte ligação com a comunidade e com olocal onde moram. Ou seja, buscar indi-víduos que apresentam menor possibili-dade de migração para outras regiões. Amelhor forma de selecionar pessoascompromissadas com a comunidade éconsultar a própria comunidade (ve rcapítulo Participação Comunitária eParcerias).

• Apesar de não ser um pré-requisitoeliminatório, pessoas com maior conhe-cimento da região colaboram muito nomomento de realizar o inventário deatrativos e serviços.

• A aplicação dos questionários do inven-tário demandam diálogo com infor-mantes. Por isso é muito importante queos pesquisadores tenham facilidade decomunicação oral.

• Realizar um inventário de grande escalaexige, de fato, motivação e afinidade daequipe selecionada com a proposta doprojeto. Fazer um mesmo questionáriodez ou mais vezes em um mesmo dia ouentrevistar uma pessoa desinteressada oumal humorada tendem a levar aocansaço ou à monotonia e, muitas vezes,ao erro.

• Por envolver o preenchimento constantede questionários, todos os membros daequipe devem ter boa capacidade deleitura e escrita.

• Atenção especial deve ser dada à estru-tura das equipes de trabalho. Definirresponsabilidades e hierarquias pode serum fator de sucesso. Caso a escala dapesquisa exija grandes equipes de traba-lho sugere-se a identificação de um líderresponsável para cada uma das três prin-cipais atividades: coordenadores geral,de campo e da tabulação.

Por fim, a seleção da equipe a ser treina-da deve atender a três preocupações:❒ Capacitar um número de pessoas

que seja suficiente para realizar oinventário do município ou região.

❒ Mudança de residência ou desinte-resse são situações que podem sem-pre ocorrer. Portanto, o grupo deveter um número mínimo de pessoasque comporte abandonos e garantaa realização de pesquisas e a capa-citação de novos pesquisadores nofuturo.

❒ Sugere-se que o grupo não exceda10 pessoas, pois é muito difícil trei-nar uma equipe muito grande.

6. Treinamento da equipe – nivelamento de informações

e motivação

Du rante a apresentação da proposta dei nventário à comunidade, e posterior-

mente à equipe que o realizará, é importanteressaltar que o ecoturismo é uma ativ i d a d ec o m p l e m e n t a r, que veio para se somar a ou-t ras atividades, que seu crescimento é lento e,e s p e ra-se, criterioso. É muito importante quetodos os passos fiquem claros para a comu-nidade evitando, ou ao menos minimizando,a geração de falsas expectativas, fato comumem muitos projetos comunitários.

Como mencionado anteriormente, éessencial que a equipe de pesquisadores seencontre motivada para fazer o inventário.Para que isso ocorra, é necessário que todoscompreendam a totalidade do projeto deecoturismo e a importância do inventáriopara o projeto. Portanto, é preciso que sefaça uma apresentação mais detalhada detodos os passos do projeto e deste Manual,inclusive trabalhando com maior profundi-dade os princípios do ecoturismo. Como aequipe do inventário será porta-voz do pro-jeto perante boa parte da comunidade, acompreensão de todo o processo não sóajudará na motivação como também capa-citará os pesquisadores para uma claraexposição do projeto ao entrevistado.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Importante é ressaltar para a equipe decampo que os dados levantados nessapesquisa são sigilosos. Sempre serão trata-dos e divulgados para a comunidade deforma agregada e não serão, portanto, divul-gados individualmente.

Pa ra este treinamento deve-se utilizar asf i chas do capítulo de Planejamento Integra d oe deste capítulo para motivar a equipe naaplicação dos questionários. Como o objeti-vo é o de capacitar e treinar uma equipe, esteroteiro deve ser utilizado com maior profun-didade e tempo para discussão do que quan-do apresentado à comunidade.

Pe rcepções pessoais sobre o potenciala t ra t ivo dos recursos naturais e culturais de

uma região podem ser muito subjetivas, demodo que é importante estabelecer critériosp a ra se definir hierarquias (ou potencial dea t ra t ividade) para seus recursos. Por exem-plo, uma cascata de 5m pode ser perc e b i d apela comunidade como um grande atra t ivo eserão abordadas desta forma na pesquisa,como a maior atração da região. Porém, eco-turistas experientes já terão vivenciados atra-t ivos de maior enve r g a d u ra. Nestes casos,p a ra ter elementos mais concretos sobre opotencial de seus recursos, os pesquisadorespodem atribuir notas aos atra t ivos de acordocom o potencial de atra t ividade que pos-suem dentro do contexto turístico, de acordocom os seguintes critérios :

7. Principais elementos a serem inventariados

Dependendo do estágio de desenvolvi-mento sócio-econômico da região

pesquisada, da oferta de infra-estrutura eserviços, assim com da presença de fluxosturísticos, podem ser diversos os elementosque devem ser inventariados. Assim, a

decisão de quais serão incluídos em cadainventário depende destas condições e tam-bém dos objetivos que se espera alcançarcom o projeto de ecoturismo de forma gerale, de forma específica, com o inventário.D e ve-se atentar para que a escala dealcance da pesquisa seja condizente com osrecursos humanos e materiais que o projetodisporá. Por exemplo, deslocamentos para

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Hierarquia para definir potencial de atratividade dos recursos

• HIERARQUIA 4: Recurso turístico de grande interesse capaz de, por si só, motivarimportantes correntes de visitantes internacionais, interestaduais e regionais.

• HIERARQUIA 3: Recurso turístico de interesse capaz de, por si só, motivar impor-tantes correntes de visitantes interestaduais e regionais, servindo ainda de comple-mento para aqueles de hierarquia 4.

• HIERARQUIA 2: Recurso atrativo de relativo interesse capaz de, por si só, motivarcorrentes de visitantes regionais, podendo servir ainda, de complemento para aque-les de hierarquia superior.

• HIERARQUIA 1: Recurso turístico sem potencial suficiente para, por si só, motivarcorrentes de visitantes locais, podendo servir, porém, de complemento para aquelesde hierarquia superior.

CRITÉRIOS NA PESQUISA DOS ATRATIVOS

/ FICHA 2

FONTE: Compilado pelo Editor.

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4 Á reas naturais pro t e g i d a s –parques públicos e privados edemais áreas que permitemvisitação;

4 Montanhas – picos, serras ecânions, suas trilhas e seusmirantes;

4 Planaltos e Planícies –chapadas e vales;

4 Costas e Litora i s – pra i a s ,manguezais, recifes de corais,baias e enseadas, barras derios e dunas;

4 Ilhas e arquipélagos –locais para mergulhos;

4 Cavidades Subterrâneas –grutas e cavernas;

4 Recursos Hídricos – rios, lagos,lagoas, nascentes, canais e re-presas, cachoeiras e corredei-ras, praias de rio, balneários;

4 Flora – mata primária, matasecundária, exemplares rarosou em extinção;

4 Fauna – observação de aves,ninhais, criadouros natura i s ,presença ou vestígios de ma-míferos, animais em extinção,criadouros comerciais, locaispara pesca.

4 Culturais e Históricos - s í t i o shistóricos, arqueológicos o uétnicos; (índios,caiçaras e qui-lombolas), monumentos, cons-truções, ruínas e escultura s

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

locais distantes que exigem carros traciona-dos ou muitas horas de barco, são custosose nem sempre possíveis.

A ficha a seguir mostra a importância doinventário, dos dados que se quer coletar ea relação destes com as necessidades dediagnóstico e planejamento. Os exemplos

oferecidos devem ser expandidos e adequa-dos à realidade do município ou da regiãoem questão. As possibilidades de levanta-mento devem ser consideradas junto com aequipe na ocasião de decidir o que é ou nãorelevante para o projeto.

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ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Atrativos naturais(cênicos, recursosremanescentes ou em extinção)

❐ Como o próprio nome indica,os atrativos fazem com que oturista seja atraído até umadeterminada região.

❐ D e ve-se hierarquizar o seupotencial de atração atribuin-do valores dentro de um con-texto de mercado mais amplo.

❐ Para sabermos o que promo-ver, quantos e quais tipos deturistas queremos em nossaregião, é necessário conheceros atrativos, a oferta de equi-pamentos e serviços de apoioe quantas pessoas podem teracesso a esses atrativos em ummesmo momento sem geraralto impacto ambiental ouqueda na qualidade da expe-riência do visitante (capaci-dade de carga).

❐ Da mesma forma, o inventáriooferece dados para subsidiar ae l a b o ração de medidas dep r e s e r vação e recupera ç ã o ,bem como possibilitar o mo-nitoramento da qualidade eintegridade destes atra t ivo s ,seus acessos e serviços agre-gados.

❐ Idem, pelo item acima.Atrativos eManifestaçõesCulturais Religioso,Cívico, Artístico ou popular)

PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – ATRATIVOS

/ FICHA 3

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PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – SERVIÇOS

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Serviços de apoiodireto ou indiretoao ecoturismo

4 Meios de hospedagem – hotel,hotel fazenda, resort, colôniade férias, hotel de lazer, motel,spa, apto. ou chalé tempo-rário, hotel residencial ou flat, hospedaria, albergue da ju-ventude, alojamento, pousa-da, pensão, camping, casas dealuguel e ve ra n e i o ;

4 A l i m e n t a ç ã o – restaura n t e s( variado, ch u r rasco, pizza,peixes/frutos do mar, comidacaseira, comida típica e re-gional) e diversos (mercado,açougue, lanchonete, bar,doceria, sorveteria);

4 A g ê n c i a s – de turismo receptivo ;4 Serviço de guiagem – guias,

condutores, monitores, mateiros;4 Meios de transportes e aces-

sos Intermunicipais e Inte-restaduais – Rodoviário, flu-vial (balsas e/ou barcos), fer-roviário, aéreo;

4 Meios de transportes e acessosl o c a i s – táxis, vans, kombis,

❐ Os serviços geram benefí-cios econômicos para acomunidade e são a base desustentação para uma maiorpermanência e satisfação doturista.

❐ O aprimoramento e a di-versificação dos serviçosexistentes geram maiorespossibilidades de lucros paraa comunidade e de ativi-dades para o turista.

❐ A identificação de serviçosturísticos sendo oferecidosna região, como agências eguias, são estratégicos paraestabelecimento de parc e-rias futuras.

❐ O conhecimento dessa reali-dade facilita o planejamentode novos serviços necessários.Preocupe-se principalmentecom qualidade, quantidade ed iversidade dos serviços, ge-ração de empregos e necessi-dade de mão-de-obra.

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

c ivis, religiosas e históricas;museus; eventos e festas cul-turais; minas antigas; estradas etrilhas históricas;

4 G a s t ro n ô m i c a s – bebidas, co-midas, doces e salgados típicos;

4 Artísticas – contadores de his-tórias, grupos étnicos, folclóri-cos e populares de danças emúsica;

4 Artesanato – Cestarias, tapetes,cerâmicas, metais, pintura s ,papel, motivos locais;

4 Eventos programados – Feiras,m e rcados, exposições, con-gressos/seminários, eventos es-portivos, eventos turísticos;

4 Centros Técnicos – zoológico,jardins botânicos/hortos.

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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b a rcos, avião destinados aoapoio para acesso aos atra t ivo s ;

4 Outros serviços de turismo elazer – locação de motos, bi-cicletas e cavalos, locação evenda de equipamentos deescalada/espeleologia ou es-portes de aventura em geral(p.ex.) bóia-cross;

4 Recreação, entretenimento eespaços para eventos artísti-cos e culturais – cinema, tea-tro, casas de shows, centrose s p o r t ivos, centros cultura i s ,parques de diversão, boate,clubes;

4 Estabelecimentos comerc i a i sde apoio turístico – loja demateriais fotográficos, de arte-sanatos ou “souvenirs”.

❐ O inventário pode tambéml e vantar quais subprodutosestes serviços necessitam,demonstrando quais tipos deatividades devem ser incenti-vadas no município (porexemplo, sub-produtos doleite).

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Infra-estruturabásica e de apoioao ecoturismo

4 Auto-Serviços – postos de ga-solina, borra charia, oficinasmecânicas e elétricas, guinchose auto-peças;

4 C o m u n i c a ç ã o – Posto telefôni-co, emissoras de rádio e tele-visão, jornais, agências postais etelegráficas, emissoras, editora s ;

4 B a n c o s – Agência comum,posto de serviço ou caixaseletrônicos 24 horas;

4 S a ú d e – Hospitais, postos desaúde e pronto-socorro públi-cos ou privados, farmácias,clínicas médica e odontológica;

4 S e g u ra n ç a – Polícia MilitarFlorestal e Bombeiros, políciasf e d e ral, civil ou rodov i á r i a ,Receita Federal, Defesa Civil,Guarda Municipal;

4 O u t ro s – sinalização turística er o d oviária, paisagismo, ilumi-nação, sistema de água e esgoto,coleta de lixo, banheiros públi-cos, áreas públicas, aparênciag e ral da cidade ou vila etc.

❐ A infra - e s t r u t u ra não sófacilita o acesso e permanên-cia do turista, mas tambémtem papel importante naforma como ele percebe acomunidade.

❐ Regiões com muitas carên-cias em infra-estrutura po-dem ter problemas na exe-cução de projetos ou paraatrair demandas.

❐ A identificação da infra -estrutura disponível é neces-sária para informar o turista,e também para suprir even-tuais carências através deindicações das necessidadesbásicas ao poder público.

❐ Além das necessidades nor-mais de qualquer comuni-dade, o incremento da visita-ção e as concentrações de v i-sitantes em determinadaépoca gera maior demanda dei n f ra - e s t r u t u ra no município.

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – INFRA-ESTRUTURA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Comunidade

Visitantes

4 População envolvida e nãoenvolvida com o turismo.

4 Prefeitos e técnicos públicosem turismo

4 Representantes de ONG'ssocio-ambientalistas

4 Líderes comerciais, de coope-rativas (pesca, artesanato), decondutores de visitantes

4 Chefes e técnicos de Unidadesde Conservação

4 Donos de pousadas e agências

4 Dados geográficos – Origem,meio de transporte;

4 Dados sócio-econômicos –faixa etária, profissão, sexo,m o t ivações, média de per-manência e de gastos diários,grau de satisfação;

4 Motivações – como soube daregião, decisão de compra ,expectativas;

4 Percepções e satisfação – su-gestões, percepção de impactoambiental ou de carências nosserviços etc.

❐ Alguns destes podem vir amerecer um tra t a m e n t odiferenciado mediante umapesquisa mais aprofundada eo estabelecimento de parce-rias formais

❐ Por exemplo, uma pesquisacom o chefe de unidade deconservação pode ser rele-vante para ecoturismo dentroou no entorno de áreas pro-tegidas.

❐ É fundamental para osprincípios do ecoturismo oconhecimento do que a co-munidade pensa e quer emrelação à atividade. Istopode direcionar o grau dese-jado do seu desenvolvimentono município, indicar ascausas de desconforto dacomunidade com os proble-mas gerados pela visitação,ou as necessidades de infor-mação da comunidade emrelação ao turismo.

❐ O turista é nosso cliente,aquele que traz benefícios eproblemas. Ao conhecê-lomais profundamente, noscapacitamos para melhoratendê-lo, aumentando suasatisfação, sua permanênciano município e, conseqüen-temente, incrementando obenefício econômico para acomunidade.

❐ Da mesma forma, podemostentar atrair o turista idealpara nossos objetivos e de-sestimular atividades de visi-tantes indesejáveis.

PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – COMUNIDADES E VISITANTES

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

8. Elaboração de Questionários Específicos

A s fichas apresentadas dão uma idéia daampla abordagem que pode vir a ter a

pesquisa de dados para o planejamento ade-quado do ecoturismo e, assim, surge a ne-cessidade de adaptar e melhorar os modelosou mesmo elaborar questionários novos eespecíficos. Provavelmente será mais fáciluma ou duas pessoas desenvolverem osquestionários e os apresentarem à equipe,por economizar tempo em discussões. Noentanto, a participação direta do grupo nodesenvolvimento dos questionários apresen-ta duas grandes vantagens:❒ A primeira se refere à adequação do

questionário à realidade a ser pes-quisada. A participação da equipede pesquisadores locais gara n t emaior abrangência na coleta de da-dos, ao mesmo tempo que propiciaa eliminação de variáveis não exis-tentes na região.

❒ A segunda vantagem se refere aopreparo da equipe para aplicaçãodos questionários. A não compreen-são de questões abordadas no ques-tionário, e especialmente do que sequer obter por meio dessas ques-tões, é uma das grandes causas deerros de preenchimento ou de des-m o t ivação para aplicar o ques-tionário. Ao sugerir, questionar eaprovar itens dos questionários, aequipe se sentirá mais motivada porser aquele um produto do grupo enão algo pronto que deve ser inter-pretado e compreendido.

A Ficha 3, Principais elementos a sereminventariados, deve ser utilizada para deter-minar o que queremos inventariar e o quede mais importante precisamos saber. Porexemplo, tanto a Ficha 3 como o ques-tionário de atrativos nos indicarão uma sériede locais ou atividades que podem atrair oturista. Na elaboração do questionário, oexercício é o de se criar perguntas específi-cas para os atrativos existentes na região e

que atendam às necessidades para o diag-nóstico e planejamento.

Os questionários apresentados em anexosão modelos / exemplos de questionáriosp a ra servir de base para essa adequação.Como estes questionários são frutos daexperiência em aplicá-los em projetos deecoturismo, muitas questões podem ser uti-lizadas em qualquer ambiente. Por outrolado, a realidade do grupo que desenvo l ve uo questionário apresenta va r i á veis quepodem não ser aplicáveis em outras regiões.Da mesma forma, características particularesde diferentes regiões podem não estar sendoabordadas. É por isso que os modelos serve mapenas de base, devendo ser analisados ediscutidos pelo grupo de pesquisadores,criando-se, então, o questionário local.Como é muito difícil se chegar a um ques-tionário ideal sem testá-lo, recomenda-se aadoção do seguinte método:

a. Distribuição dos modelos ao grupo, comtempo suficiente para que todos avalieme identifiquem questões procedentes,improcedentes e as necessárias emrelação à realidade local. Para agilizar aavaliação em grupo, solicitar a cada umque faça suas observações por escrito.

b. Tendo por base os modelos oferecidos eo conhecimento próprio da equipe, osquestionários podem ser reconstruídos,com a eliminação, alteração e/ouinserção de novas questões. Esta é umaatividade desgastante, sendo, portanto,aconselhável fazer o trabalho em etapas,preferencialmente desenvo l vendo umquestionário por dia.

c. Após a construção de todos os ques-tionários, estabelecer um período paratestes. Todos os questionários devem sertestados por diferentes pessoas em dive r-sas situações reais, ou seja, em campo.Nesta fase, a qualidade da informaçãoobtida não é uma preocupação, mas simconhecer a forma de aplicação do ques-tionário. Todas as questões que geram difi-culdades de respostas por parte do entre-vistado e/ou de preenchimento por parte

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

do pesquisador, devem ser marcadas e asdevidas observações anotadas. É tambémneste momento que são detectadas “lacu-nas” no questionário – questões que nãof o ram previamente formuladas mas quesão relevantes e devem ser pesquisadas.

d. É importante observar que o momento deteste serve também como treinamento daequipe para as atividades de pesquisa,avaliação dos itens pesquisados eexposição do projeto. É sempre bom lem-b rar que o pesquisador será um porta-vo zde todo o projeto e que a explicação dosm o t ivos do inventário pode ter influênciana qualidade dos dados a serem obtidos.Portanto, o teste também serve param o s t rar se a equipe está afinada e quaissão as maiores dificuldades de aplicação.Por ser um momento importante e debusca de confiança por parte de toda aequipe, aconselha-se que a fase de testese inicie com o grupo todo junto, apli-cando um mesmo questionário e pra t i-cando a apresentação. Num segundomomento, o teste pode ser desenvo l v i d oem duplas ou indiv i d u a l m e n t e .

e. Findo o período de testes, reavaliar, reor-ganizar ou eliminar questões problemáti-cas, elaborar e inserir as questõesausentes e trabalhar os problemas indi-viduais e de grupo quanto à compreen-são e explanação do projeto.

f. Após a readequação dos questionários epreparo da equipe, estabelecer um novoperíodo para testes e avaliação dos ques-tionários. Nesse momento, o primordialpassa a ser a qualidade dos dados cole-tados, com a avaliação da estrutura dosquestionários sendo um segundo objeti-vo. Deve-se corrigir ou refazer ques-tionários aplicados na primeira fase detestes e aplicar novos questionáriosrepetindo as fases 3, 4 e 5.

g. Ao final de todo o inventário, fazer umaúltima avaliação dos questionários e, sefor o caso, recomendar mudanças ne-cessárias para futuros levantamentos.Um questionário pode conter perguntas

abertas ou fechadas. Nas fechadas, as

respostas são exatas e objetivas (“sim” ou“não”, quantidades, uma ou mais entrevárias opções), facilitando a tabulação epermitindo que dados estatísticos sejam ge-rados automaticamente. Nas abertas as per-guntas exigem respostas descritivas (emtexto), com muito conteúdo subjetivo, difi-cultando a geração estatística em computa-dores. Para facilitar o trabalho de tabulaçãoe análise dos dados, orientar a equipe paraser objetiva no preenchimento, solicitandoesclarecimentos de respostas imprecisas,escrevendo de forma concisa e evitandoadjetivos vagos.

Também é possível checar a qualidadedos questionários e do trabalho realizadopelos pesquisadores por meio da tabulaçãodos dados. Textos incompreensíveis, difícilinterpretação de respostas subjetiva s ,números contraditórios e vícios de preen-chimento são problemas comuns. Para mini-mizar e corrigir estes problemas deve-seidentificá-los através da prévia tabulaçãodos dados originados nos testes de campo,mesmo que manualmente, visto o sistemade tabulação só ficar pronto com adefinição final da estrutura dos ques-tionários, e devem ser comunicados àsequipes de campo em novas reuniões denivelamento.

Uma das formas de afinar o tra b a l h oda equipe, principalmente nas questõess u b j e t ivas e/ou que demandam uma ava l i-ação por parte dos pesquisadores, é pormeio da conferência da aplicação pora m o s t ragem, pela seleção aleatória dealguns questionários preenchidos e aavaliação dos mesmos nos locais aondef o ram aplicados.

9. Aplicação dos questionários

M esmo após toda a fase preparatória detreinamento da equipe de pes-

quisadores o ideal é que se estabeleça umae s t ratégia de monitoramento e ava l i a ç ã oi n d ividual e em grupo do andamento dos tra-balhos. Alguns procedimentos básicos para ot rabalho de campo são indicados a seguir:

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

• Questionários devem ser preench i d o spela equipe de pesquisadores.Pode parecer mais fácil e prático solici-

tar ao proprietário de um empreendimentoou atra t ivo que preencha o questionário.Mas este não teve o treinamento da equipe,desconhece muitos dos termos abordados epode não estar muito disposto a preench e ro questionário. Além disso, certos itens,como avaliação de impactos, dependem dainterpretação e conhecimento do pes-q u i s a d o r. Se for necessário, somente oquestionário de visitantes deve ser preen-chido pelo entrevistado.

• Distribuir equipe em duplas (idealmenteum homem e uma mulher).O trabalho em duplas proporciona mais

confiança e conforto aos pesquisadores.Facilita a definição de levantamentos nãoo b j e t ivos, como impactos ambientais equalidade de estruturas.

• Boa aparência e seriedade.Roupas e pessoas limpas, seriedade na

abordagem e na realização do questionáriosão importantes. É sempre bom lembrar queos pesquisadores são os representantes doprojeto e a seriedade do(a) entrevistador(a)influencia a percepção do(a) entrevistado(a)em relação ao projeto. Camisetas ou cra-chás de identificação do projeto podemauxiliar.

• Boa logística.A realização de inventário para projetos

de ecoturismo sempre envolve viagens decampo. O bom planejamento de distânciasa serem percorridas, do número de atrativose estabelecimentos em uma determinadaárea e dos recursos necessários facilita o tra-balho do pesquisador, maximiza resultadose minimiza custos.

• Fazer reuniões periódicas do grupo.As experiências e dúvidas são sempre

freqüentes. O grupo deve ter oportunidadede permutá-las, enriquecendo o processo derealização do inventário e transformando-o

em um procedimento de capacitação e apri-moramento permanente. A freqüência dasreuniões deve ser definida de antemão, deforma a criar uma rotina para o grupo.

• As responsabilidades pela conferênciados dados são de todos da equipeAlém da revisão efetuada pelo coorde-

nador do inventário, o próprio pesquisador(e o coordenador de campo se houver), é oresponsável pela conferência criteriosa dosquestionários, antes de entregá-lo ao tabu-lador. Dessa forma, possíveis problemas oudificuldades da equipe podem ser resolvidosde imediato evitando paralisações oumesmo o comprometimento do trabalho.

10. Tabulação de dados

Após a definição da estrutura final doquestionário, passa-se ao processo de

elaboração do sistema de tabulação dosdados e do treinamento da equipe respon-sável. Reparem que os modelos de ques-tionários apresentados nos anexos não estãoindexados. Esse processo exige alguém ouuma empresa com conhecimento de infor-mática e se divide nas seguintes fases: (a)preparo do sistema de tabulação (softwareou planilhas); (b) teste do sistema; e (c) ta-bulação dos dados. Por ser custoso, procureparcerias com empreendedores locais oucom a prefeitura, entre outros.

a) Preparo do Sistema de TabulaçãoCaso não haja na comunidade alguém

com conhecimento em informática, deve-sebuscar pessoa ou empresa para desenvolverum sistema de tabulação que seja adequadoaos questionários desenvolvidos, prático osuficiente para que pessoas da comunidadetenham condição de utilizá-lo e queforneça, ao final da tabulação, os principaisresultados desejados.

Nesse caso, pode-se optar tanto pelodesenvolvimento de um programa específi-co para o gerenciamento dos dados dosquestionários ou apenas pela utilização deplanilhas eletrônicas disponíveis em soft-

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wares de fácil acesso como Excel e Access.Contratar uma empresa para desenvolverum programa específico (banco de dados)para os questionários elaborados, apesar deser um pouco mais cara, é aconselhável porfacilitar todo o trabalho e disponibilizardados com mais eficiência e ra p i d e z .Independente da opção escolhida (progra-ma de gerenciamento de dados ou planilhaseletrônicas), é necessária a assessoria detécnicos especializados. É importante saberque qualquer sistema de tabulação, porenvolver cruzamentos de informações, sófica realmente pronto após testado.Portanto, ao ser contratada uma assessoria,esta deve garantir treinamento da equipepara manejo do sistema e manutenção domesmo por um bom período de tempo.

b) Teste do Sistema de Tabulação De posse do sistema de tabulação, é pre-

ciso definir quem será responsável pela ta-bulação dos dados. Recomenda-se que essetrabalho seja feito por um número reduzidode pessoas (entre 2 e 4) para garantir se-qüência e qualidade. É um trabalho que de-manda muita concentração, sendo reco-mendável, se possível, pessoas com algumconhecimento de informática.

Inicialmente é necessário fazer um testecom o sistema, tabulando alguns ques-tionários e verificando o que deve ser corrigi-do ou melhorado. Recomenda-se a tabulaçãode pelo menos dois questionários de cadamodelo (atra t ivos, meios de hospedagemetc.), para que seja possível avaliar também ocruzamento e a totalização de dados.

b) Tabulação de DadosApós a fase de testes e correção do sis-

tema, é feita a tabulação de todos os ques-tionários. Durante a tabulação, os seguintesdetalhes devem ser observados:❒ O tabulador é também o revisor fi-

nal dos questionários. Questionárioscom respostas incompletas, duvi-dosas ou números questionáve i s ,devem ser separados para futurascorreções.

❒ Por ser um trabalho repetitivo ecansativo, erros de tabulação acon-tecem. Se possível, uma pessoa deverevisar os dados tabulados. Nessecaso, é melhor que a revisão sejafeita por uma pessoa que não tenhasido designada anteriormente paratabular os dados, pois, após dezenasde questionários tabulados, qual-quer pessoa desenvolve vícios naleitura e digitação dos mesmos.

❒ Para evitar surpresas desagradáveisdeve-se fazer cópia de segurança(backup) dos dados tabulados.

11. Manuseio dos Dados Coletados –Resultados

F eita a tabulação dos dados, a etapaseguinte é justamente disponibilizar

estes dados para as pessoas que farão odiagnóstico e o planejamento, para os tu-ristas e para outras pessoas ou empresasque possam utilizar as informações, comoagentes e agências de turismo. Além disso,é importante definir os dados que nãoserão colocados à disposição de pessoasalheias ao projeto. Por exemplo, áreas queapresentam grande potencial de visitação,mas ainda não descobertas pelos turistas,d e vem ser resguardadas até que se decidase elas serão abertas à visitação e comoserão preparadas e monitoradas. In-vestidores não residentes na comunidadepodem descobrir as áreas de maior poten-cial e adquiri-las, dificultando todo umpropósito de ecoturismo com bases comu-nitárias. O ideal é que coordenadores doprojeto e representantes da comunidadedecidam antecipadamente quem terá aces-so às informações e de que forma poderãoser utilizadas.

Para geração de resultados, é necessárioque as pessoas que os utilizarão forneçam, aquem for desenvolver o sistema de tabu-lação, indicativos do que se quer extrair dosquestionários. A seguir, listamos algumasinformações básicas que poderão ser obti-das por meio do inventário:

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❒ Informações gerais, ou seja, totaisabsolutos. Por exemplo, número dehotéis e leitos, de restaurantes, deatrativos naturais e históricos, deempregos gerados, etc.

❒ Particularidades diante de totais ge-rais (em porcentagem). Por exemplo,entre todos os atra t ivos natura i s ,quantos apresentam baixos índicesde degradação ambiental?

❒ Informações segmentadas e cruza-das (por local, por tipo de turista,por tempo de existência, dia dasemana, temporada, origem, porárea mais impactada). Exemplos:quantos são os atrativos com ca-ch o e i ras? Qual é a porc e n t a g e mdesses atrativos que se encontrammuito degradados? E pouco degra-dados? Que tipo de turista freqüentaeste tipo de atrativo? E qual é o tipode turista que freqüenta mirantes?

❒ Listagens. Exemplos: lista de todosos restaurantes, com seus respec-tivos proprietários e endereços; listade todos os atrativos que apresentamalto grau de degradação ambiental;lista de atrativos ainda não visitados.

❒ Etiquetas para endereçamento. Porexemplo, etiquetas com nome eendereço de todos os proprietáriosde estabelecimentos inventariados.

Como se pode observar, as respostas àperguntas fechadas (números objetivos eopções pré-determinadas) dão margem auma infinidade de usos. Para facilitar a orga-nização dos dados, perguntas como as for-muladas acima devem ser feitas no desen-volvimento do sistema de tabulação paraque as respostas sejam obtidas automatica-mente ao final da tabulação. Já as respostas

das perguntas abertas, por possuir demasia-do caráter subjetivo que dificulta a precisãono estabelecimento de padrões objetivos derespostas, demandam um trabalho deseleção e interpretação que não se podefazer automaticamente. A única coisa quese pode obter rapidamente é uma relaçãodos principais padrões de respostas em cadapergunta aberta, que devem ser trabalhadasposteriormente. De posse dessa relação,respostas similares podem ser agrupadas econtabilizadas, gerando um diagnóstico.

Quanto mais se trabalham os dados,mais se descobrem as possibilidades deresultados e interpretação. Mesmo que sesolicite da empresa ou pessoa responsáveluma ampla gama de resultados, é pratica-mente impossível imaginar com antecedên-cia toda essa diversidade de utilização dosdados do inventário. Portanto, é aconselhá-vel que uma ou duas pessoas sejamtreinadas para “mergulhar” um pouco maisno sistema, facilitando futuras necessidadesde obtenção e cruzamentos de dados.

Os principais objetivos de uso dos resul-tados do inventário podem ser diagnósticoscomplexos para planejamento regional ousimplesmente para se estabelecer um pro-duto de ecoturismo. Alguns usos são lista-dos a seguir, lembrando que eles podemtambém ser usados para setores que não odo turismo:• Dependendo da escala e abrangência do

inventário, a prefeitura pode se benefi-ciar dos dados para planejar (ou recupe-rar) itens da infra-estrutura, tais comoestradas, iluminação ou coleta de lixo;

• Agentes de turismo podem elaborar pro -dutos com maior facilidade;

• Investidores de fora ou da própria locali-dade podem decidir seus projetos tendopor base informações mais seguras.

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INVENTÁRIO PARTICIPATIVONA COMUNIDADE DA BARRA DO SUPERAGUI

GUARAQUEÇABA, PARANÁ

Parque Nacional do Superagüi localiza-se no município de Guara q u e ç a b a ,l i t o ral norte do Estado do Pa raná, compreendendo cerca de 11% da Área deProteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba. Foi criado em 1989, sendo amplia-

do em 1997, abrangendo partes da A PA e ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) daIlha do Pinheiro e Pinheirinho, e estendendo sua proteção ao continente, totalizando34.254 ha.

O Parque é formado pelas ilhas das Peças, Superagüi, Pinheiro e Pinheirinho, com formações costeiras arenosas, Floresta Atlântica, restingas e manguezais. Suas florestas de restinga abrigam grande variedade de orquídeas, uma espécie de primata recém identificada, o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) e espécies ameaçadas de extinção, como o papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis). Suas praias, entre as últimas preservadas com características originais, recebem espécies migratórias todosos anos. Em 1953 foi aberto o Canal do Varadouro, transformando em ilha artificial o braço do continente – Superagüi – e permitindo a ligação marinha segura entre Iguapee Paranaguá.

Nos últimos anos vem sofrendo crescente pressão do turismo descontrolado e, conseqüentemente, tem perdido cobertura vegetal nativa, assim como têm crescido os problemas de comercialização de animais silvestres, exploração de recursos florestais e construções irregulares.

PROJETO DE ECOTURISMO

Um dos objetivos do programa de ecoturismo é o desenvolvimento de ações conjuntascom a comunidade de forma que haja maior integração com o projeto e maiores benefícios sociais e econômicos para a população local. Entre as ações delimitadas estão a realizaçãode um inventário da infra - e s t r u t u ra, equipamentos, serviços e atra t ivos turísticos existentesno entorno do Parque Nacional do Superagüi, capacitando a comunidade no processo de pesquisa e planejamento de ecoturismo. Dessa forma, resolveu-se aplicar o método p a r t i c i p a t ivo de inventário de ecoturismo.

Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre a região, levantando dadossobre fauna, flora e história das comunidades. Depois, procedeu-se à elaboração e aplicaçãodo questionário para o levantamento sócio-econômico, realização de reuniões, encontros ep a l e s t ras sobre o tema ecoturismo, a seleção e capacitação de equipe local para a realizaçãode inventário da oferta turística, a aplicação dos questionários de inventário, a tabulação eanálise dos dados, e, finalmente, a apresentação dos resultados para a comunidade.

Dentre os resultados positivos, ressaltamos a participação da comunidade no processode implantação do ecoturismo, a capacitação da equipe local para realização de i nventário da oferta turística e a realização do inventário da infra - e s t r u t u ra, equipamentos,serviços e atrativos naturais existentes no entorno do Parque Nacional do Superagüi.

As dificuldades encontradas pelos técnicos do projeto foram de diversos tipos. Porum lado, o início do trabalho foi marcado pela necessidade de superar a desconfiançada comunidade local com os “de fora” e o desconhecimento sobre o tema ecoturismo. As características geográficas de distribuição das comunidades, associadas às condições

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climáticas adversas, impossibilitaram por vezes a realização de reuniões e encontros. Para vencer essas dificuldades, a equipe intensificou os contatos com a comunidade, constantemente reiterando sua presença e seus intuitos, sem pressa em avançar nas atividades do diagnóstico. Foram realizadas vários tipos de atividades em diversoslocais: oficinas, palestras, encontros, reuniões sobre o tema ecoturismo.

Um outro aspecto foram as dificuldades operacionais da SPVS para tabular os dados,pois os técnicos do projeto não conseguiram operacionalizá-los. Assim, um técnico daempresa que desenvolveu o software visitou a SPVS para implantar o sistema e capacitar a equipe para o seu manuseio.

Finalmente, como este foi o primeiro projeto a realizar o inventário participativo,houve algumas dificuldades na aplicação das fichas de inventário. Por um lado, as fichasaplicadas foram as originais desenvolvidas para o Projeto Veadeiros, não adequadas paraas características sociais e ambientais da região (estuário). Por outro lado, algumasquestões das fichas suscitaram dúvidas quanto à sua interpretação, demandando repetidas consultas com o autor do capítulo para esclarecimentos. Assim, foi necessárioreestruturar as fichas para melhor compreensão dos responsáveis por sua aplicação(grupo da comunidade) e para sua melhor adequação às características locais.

LIÇÕES APRENDIDAS

As principais lições aprendidas durante a realização do inventário participativo fora m :❐ Os trabalhos com comunidades devem ser frequentes; mensais, no mínimo.❐ D e vem-se criar mecanismos de motivação para a comunidade participar das atividades. ❐ Deve-se trabalhar sempre com pequenos grupos, de no máximo 10 pessoas, para

facilitar a adequação da linguagem, compatibilização de conhecimentos, utilizando-se de recursos didáticos variados.

❐ Sugere-se a utilização da técnica de psicosíntese com atividades não verbais.❐ É de extrema importância que a instituição não assuma compromissos com

as comunidades que não poderão ser realizados.❐ O estabelecimento e manutenção da credibilidade institucional diante das

comunidades é essencial para a realização da atividade de forma participativa.❐ Deve-se planejar todas as atividades com tempo hábil e realista.

OUTROS COMENTÁRIOS

❐ A psicosíntese foi fator primordial no contato com as comunidades. Desinibidos, elestornaram-se muito mais atentos, interessados e participativos.

❐ O projeto funciona como um intermediador em negociações em nome da comunidade junto a interlocutores não locais para trazer-lhes melhorias, como porexemplo, serviços odontológicos etc.

❐ Todo o processo de desenvolvimento de cada uma das atividades deve estabelecer-secomo uma troca, evitando cair no sistema de assistencialismo.

❐ A remuneração do trabalho da equipe de pesquisadores locais foi muito importantepois, em alguns casos, foi a primeira vez que os membros da comunidade receberam algo em troca de seu trabalho.

❐ Um dos objetivos do desenvolvimento do ecoturismo é a geração de renda. A remuneração da equipe de inventário foi uma forma de fazer chegar à comunidade o dinheiro captado pela SPVS para a realização do projeto.

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IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

❒ Adapte este capítulo ao seu projeto

Apesar da aparente complexidade desdecapítulo, deve-se levar em conta que ele foie s t r u t u rado para atender situações dive r s a s ,i n c l u s ive a possibilidade de escala e abra n-gência significativamente maiores que muitosprojetos de ecoturismo de base comunitária.Assim, a adaptação, e conseqüentemente asimplificação, para a realidade de pequenosprojetos é um trabalho de percepção crite-riosa do que deve ser investigado ou não.

❒ Cuidados com a interpretação dosresultados.

Ao se interpretar os resultados de leva n t a-mento de dados ou de pesquisas junto àcomunidade e turistas, é importante ques-tionar qual é o grau de precisão desses resul-tados. Uma série de fatores pode implicar dis-torção da realidade. Erros na aplicação dosquestionários e no manuseio dos dados obti-dos são os mais óbvios. Outros podeme nvo l ver métodos de pesquisa inadequados.Por exemplo, ao se pesquisar o mercado con-sumidor dificilmente um projeto terácondição de entrevistar todos os turistas emtodas as diferentes épocas do ano. Po r t a n t o ,uma pesquisa com turistas geralmente entre-vista um certo número de turistas (amostra) ee x t rapola os resultados para todos os turistas(população). Fatores como baixa/alta estação,feriados, dias comuns e finais de semanapodem afetar o tipo de turista em um deter-minado atra t ivo. Da mesma forma, sexo,idade, profissão, nível de renda, escolaridadee origem são fatores que interferem na moti-vação e percepção de turistas. Se a amostranão for adequadamente selecionada, ég rande o risco de que os resultados dapesquisa não correspondam à realidade.Então, deve-se atentar para mecanismos dechecagem de resultados e, nos casos em quea pesquisa for trabalhar apenas com amostra s ,recomenda-se a consulta a especialistas paraque o resultado seja de maior confiança.

❒ Dados do inventários devem seratualizados

Os dados coletados representam as ca-racterísticas de um momento, o momentoda pesquisa. Tanto para as fases seguintes doprojeto como momentos futuros é aconse-lhável se manter atualizados os dados dobanco. Por exemplo, determinados acessosa recursos ainda não utilizados podem sermelhorados ou contar com novas alternati-vas de transporte ou de serviços e equipa-mentos de apoio. Desta forma o projetopode se beneficiar, por exemplo, com aelaboração de novos produtos de ecoturis-mo, se houver uma estratégia de busca eatualização de dados.

❒ Programa RINTUR da EMBRATUR

A EMBRATUR tem um programa deincentivo à realização de inventário turísti-co, o RINTUR, que fornece questionáriospara inventários turísticos. Recomenda-se aconsulta à EMBRATUR para obtenção dosquestionários e verificar possibilidade deoutras formas de apoio à realização deinventário turístico.

V. BIBLIOGRAFIA

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York, NY, EUA. MODELOS DE QUESTIONÁRIOS DE PESQUISA DE INVENTÁRIO

Os questionários apresentados neste anexo são frutos da experiência de aplicação emdiferentes municípios. Como foram baseados na realidade de municípios com contextossócio-ambientais distintos, os questionários abordam uma diversidade de situações. De acor-do com o mencionado anteriormente, estes questionários estão sendo fornecidos para servirde base, um ponto de partida para a elaboração de questionários específicos para sua região(ver item 8 deste capítulo).

Para a compreensão dos questionários cabem algumas observações gerais:

❒ CódigosForam idealizados para permitir o armazenamento e cruzamento de dados por computa-

dor. O “Código do Formulário” é o número daquele formulário específico, contendo o códi-go do pesquisador (três letras) associado ao número do questionário (três dígitos). O “Códigode Base” é utilizado nos casos em que um determinado atrativo ou serviço apresente mais deuma atividade ou função e serve para que o computador possa identificar estes atrativos eserviços associados.

EXEMPLO: USO DE CÓDIGOS DE FORMULÁRIOS: CURSO ITINERANTE

Um determinado local é conhecido pela exuberância de sua cach o e i ra. Ao fazer o inve n-tário, o pesquisador preenche um questionário de “A t ra t ivo Turístico – Águas”. Como nessac a ch o e i ra é oferecido o serviço de camping, é preenchido também um questionário de “OfertaRegular de Leitos”. Refeições também são servidas em um pequeno restaurante, sendo, então,p r e e n chido um questionário de Restaurantes e Lanchonetes. Cada um dos questionários( A t ra t ivos, Oferta Regular de Leitos e Restaurantes) terá, então, um “Código do Fo r m u l á r i o ”diferente e seqüencial. Como a cach o e i ra é o elemento principal naquele ambiente ouempreendimento, o questionário de atra t ivo fica sendo o principal e, portanto, não tem “CódigoBase”. Como o camping e o restaurante existem em função da cach o e i ra, o Código Base dosquestionários destas duas atividades fica sendo o mesmo do Código do Formulário do atra t ivo .

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❒ Nomes, Datas e EndereçosOs campos contendo nomes, datas e endereços são importantes para:u Manter uma ordem e referência cronológica da coleta dos dados

(o que é muito útil para monitoramento e cruzamento de dados).u Construir um banco de dados com relação de endereços e nomes de proprietários

de estabelecimentos, atrativos, turistas e outras pessoas importantes para o processode planejamento, implantação e monitoramento do ecoturismo.

u Relacionar dados pesquisados a pesquisadores (para esclarecimento de dúvidas ou mesmo buscar impressões pessoais).

Por esses e outros motivos, é sempre bom enfatizar a necessidade de preenchimento des-ses campos. Caligrafia incompreensível, erros e/ou não preenchimento de pequenos detalhesnos endereços são práticas comuns que podem ser minimizados com o treinamento prévioou monitoramento contínuo de questionários preenchidos.

❒ AcessosNa questão “Acessos mais Utilizados” (questionário de atrativos), a distância se refere à

localidade mais próxima do estabelecimento ou do atrativo.

❒ Origem de FuncionáriosAlguns questionários abordam a origem de proprietários e funcionários de estabeleci-

mentos, tendo por objetivo conhecer a porcentagem de proprietários e funcionários que sãonativos e/ou moradores do município. São dados que ajudam a compreender o real benefí-cio para a comunidade e a acompanhar este benefício ao longo dos anos.

❒ Local de ComprasNos questionários “Oferta Regular de Leitos” e “Restaurantes e Lanchonetes” podem ser

pesquisados dados relativos à origem dos produtos consumidos nos estabelecimentos. Oobjetivo destas questões é o de fornecer subsídios para a diversificação da economia local pormeio do incentivo à produção dos alimentos que são adquiridos fora do município.

❒ Infra-Estrutura TurísticaNos questionários sobre atrativos, restaurantes, oferta de leitos e camping, devem ser feitas

perguntas relativas ao tipo da infra-estrutura dos estabelecimentos. Algumas destas questõespropiciam uma visão da qualidade do estabelecimento para atender ao turista, subsidiandoprogramas de melhorias dos serviços existentes.

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MODELOS DE QUESTIONÁRIOS DE PESQUISA DE INVENTÁRIO

QUESTIONÁRIO CÓDIGO CÓDIGO DO FORMULÁRIO BASE

Atrativo Turístico – Águas MMB001 Não tem(cachoeira)Oferta Regular de Leitos MMB002 MMB001(Camping)Restaurantes e Lanchonetes MMB003 MMB001(Restaurante)

* MMB é a parte do código que se refere ao pesquisador

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❒ QUESTIONÁRIOSPa ra maior fidelidade das informações e eficiência no preenchimento, os questionários,

com exceção da pesquisa com visitantes, devem ser preenchidos pelos próprios pesquisadores.

a) Questionário 1 – ATRATIVOS TURÍSTICOSEste questionário apresenta subdivisões. Além do questionário geral para atrativos Os atra-

tivos turísticos foram subdivididos em cinco categorias (tipos):

u Águas (rios, cachoeiras, lagos, etc.).u Mirantes (naturais ou artificiais).u Cavernas.u Históricos, Culturais, Espiritualistas.u Costeiros.

O campo subtipo se refere à característica daquele tipo de atrativo. Por exemplo, no tipoáguas, o subtipo pode ser cachoeira.

Muitos campos são preenchidos de acordo com a avaliação do pesquisador (impactosambientais, paisagem circundante, riscos, aspectos sanitários e aparência, capacidade decarga, etc.). Por isso, é importante a plena compreensão do projeto de ecoturismo e o treina-mento em conjunto para se estabelecer diretrizes para essas avaliações.

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MODELOS DE QUESTIONÁRIOS DE PESQUISA DE INVENTÁRIO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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8. Elaboração de Questionários Específicos

A s fichas apresentadas dão uma idéia da ampla abordagem que pode vir a ter a pesquisade dados para o planejamento adequado do ecoturismo e, assim, surge a necessidade de

adaptar e melhorar os modelos ou mesmo elaborar questionários novos e específicos.Provavelmente será mais fácil uma ou duas pessoas desenvolverem os questionários e osapresentarem à equipe, por economizar tempo em discussões. No entanto, a participaçãodireta do grupo no desenvolvimento dos questionários apresenta duas grandes vantagens:❒ A primeira se refere à adequação do questionário à realidade a ser pesquisada. A par-

ticipação da equipe de pesquisadores locais garante maior abrangência na coleta de

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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dados, ao mesmo tempo que propicia a eliminação de variáveis não existentes naregião.

❒ A segunda vantagem se refere ao preparo da equipe para aplicação dos questionários.A não compreensão de questões abordadas no questionário, e especialmente do quese quer obter por meio dessas questões, é uma das grandes causas de erros depreenchimento ou de desmotivação para aplicar o questionário. Ao sugerir, ques-

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tionar e aprovar itens dos questionários, a equipe se sentirá mais motivada por seraquele um produto do grupo e não algo pronto que deve ser interpretado e com-preendido.

A Ficha 3, Principais elementos a serem inventariados, deve ser utilizada para determinaro que queremos inventariar e o que de mais importante precisamos saber. Por exemplo, tantoa Ficha 3 como o questionário de atrativos nos indicarão uma série de locais ou atividadesque podem atrair o turista. Na elaboração do questionário, o exercício é o de se criar per-guntas específicas para os atrativos existentes na região e que atendam às necessidades parao diagnóstico e planejamento.

Os questionários apresentados em anexo são modelos / exemplos de questionários paraservir de base para essa adequação. Como estes questionários são frutos da experiência emaplicá-los em projetos de ecoturismo, muitas questões podem ser utilizadas em qualquer ambi-ente. Por outro lado, a realidade do grupo que desenvo l veu o questionário apresenta va r i á ve i sque podem não ser aplicáveis em outras regiões. Da mesma forma, características particularesde diferentes regiões podem não estar sendo abordadas. É por isso que os modelos servem ape-nas de base, devendo ser analisados e discutidos pelo grupo de pesquisadores, criando-se,então, o questionário local. Como é muito difícil se chegar a um questionário ideal sem testá-lo, recomenda-se a adoção do seguinte método:

a. Distribuição dos modelos ao grupo, com tempo suficiente para que todos avaliem e iden-tifiquem questões procedentes, improcedentes e as necessárias em relação à realidadelocal. Para agilizar a avaliação em grupo, solicitar a cada um que faça suas observaçõespor escrito.

b. Tendo por base os modelos oferecidos e o conhecimento próprio da equipe, os ques-tionários podem ser reconstruídos, com a eliminação, alteração e/ou inserção de novasquestões. Esta é uma atividade desgastante, sendo, portanto, aconselhável fazer o trabal-ho em etapas, preferencialmente desenvolvendo um questionário por dia.

c. Após a construção de todos os questionários, estabelecer um período para testes. Todos osquestionários devem ser testados por diferentes pessoas em diversas situações reais, ou seja,em campo. Nesta fase, a qualidade da informação obtida não é uma preocupação, mas simconhecer a forma de aplicação do questionário. Todas as questões que geram dificuldadesde respostas por parte do entrevistado e/ou de preenchimento por parte do pesquisador,d e vem ser marcadas e as devidas observações anotadas. É também neste momento que sãodetectadas “lacunas” no questionário – questões que não foram previamente formuladas masque são relevantes e devem ser pesquisadas.

d. É importante observar que o momento de teste serve também como treinamento da equipep a ra as atividades de pesquisa, avaliação dos itens pesquisados e exposição do projeto. Ésempre bom lembrar que o pesquisador será um porta-voz de todo o projeto e que a expli-cação dos motivos do inventário pode ter influência na qualidade dos dados a serem obti-dos. Portanto, o teste também serve para mostrar se a equipe está afinada e quais são asmaiores dificuldades de aplicação. Por ser um momento importante e de busca de confi-ança por parte de toda a equipe, aconselha-se que a fase de teste se inicie com o grupotodo junto, aplicando um mesmo questionário e praticando a apresentação. Num segundomomento, o teste pode ser desenvolvido em duplas ou indiv i d u a l m e n t e .

e. Findo o período de testes, reavaliar, reorganizar ou eliminar questões problemáticas, elab-orar e inserir as questões ausentes e trabalhar os problemas individuais e de grupo quan-to à compreensão e explanação do projeto.

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8. Elaboração de Questionários Específicos

A s fichas apresentadas dão uma idéia da ampla abordagem que pode vir a ter a pesquisade dados para o planejamento adequado do ecoturismo e, assim, surge a necessidade de

adaptar e melhorar os modelos ou mesmo elaborar questionários novos e específicos.Provavelmente será mais fácil uma ou duas pessoas desenvolverem os questionários e osapresentarem à equipe, por economizar tempo em discussões. No entanto, a participaçãodireta do grupo no desenvolvimento dos questionários apresenta duas grandes vantagens:❒ A primeira se refere à adequação do questionário à realidade a ser pesquisada. A par-

ticipação da equipe de pesquisadores locais garante maior abrangência na coleta dedados, ao mesmo tempo que propicia a eliminação de variáveis não existentes naregião.

❒ A segunda vantagem se refere ao preparo da equipe para aplicação dos questionários.A não compreensão de questões abordadas no questionário, e especialmente do quese quer obter por meio dessas questões, é uma das grandes causas de erros depreenchimento ou de desmotivação para aplicar o questionário. Ao sugerir, ques-tionar e aprovar itens dos questionários, a equipe se sentirá mais motivada por seraquele um produto do grupo e não algo pronto que deve ser interpretado e com-preendido.

A Ficha 3, Principais elementos a serem inventariados, deve ser utilizada para determinaro que queremos inventariar e o que de mais importante precisamos saber. Por exemplo, tantoa Ficha 3 como o questionário de atrativos nos indicarão uma série de locais ou atividadesque podem atrair o turista. Na elaboração do questionário, o exercício é o de se criar per-guntas específicas para os atrativos existentes na região e que atendam às necessidades parao diagnóstico e planejamento.

Os questionários apresentados em anexo são modelos / exemplos de questionários paraservir de base para essa adequação. Como estes questionários são frutos da experiência emaplicá-los em projetos de ecoturismo, muitas questões podem ser utilizadas em qualquer ambi-ente. Por outro lado, a realidade do grupo que desenvo l veu o questionário apresenta va r i á ve i sque podem não ser aplicáveis em outras regiões. Da mesma forma, características particularesde diferentes regiões podem não estar sendo abordadas. É por isso que os modelos servem ape-nas de base, devendo ser analisados e discutidos pelo grupo de pesquisadores, criando-se,então, o questionário local. Como é muito difícil se chegar a um questionário ideal sem testá-lo, recomenda-se a adoção do seguinte método:

a. Distribuição dos modelos ao grupo, com tempo suficiente para que todos avaliem e iden-tifiquem questões procedentes, improcedentes e as necessárias em relação à realidadelocal. Para agilizar a avaliação em grupo, solicitar a cada um que faça suas observaçõespor escrito.

b. Tendo por base os modelos oferecidos e o conhecimento próprio da equipe, os ques-tionários podem ser reconstruídos, com a eliminação, alteração e/ou inserção de novasquestões. Esta é uma atividade desgastante, sendo, portanto, aconselhável fazer o trabal-ho em etapas, preferencialmente desenvolvendo um questionário por dia.

c. Após a construção de todos os questionários, estabelecer um período para testes. Todos osquestionários devem ser testados por diferentes pessoas em diversas situações reais, ou seja,em campo. Nesta fase, a qualidade da informação obtida não é uma preocupação, mas simconhecer a forma de aplicação do questionário. Todas as questões que geram dificuldadesde respostas por parte do entrevistado e/ou de preenchimento por parte do pesquisador,

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Data: Hora: Pesquisador: Cód. Formulário:

Município: Distrito/Vila: Bairro:

A) DADOS DO (A) ENTREVISTADO (A)

1 Nome (opcional)

Nativo? Residente? Se sim, há quantos anos?

Idade (opcional) Sexo: Masculino Feminino

Idade (estimada) 0 a 10 anos 10 a 16 anos 17 a 36 anos

36 a 60 anos 61 acima

Escolaridade Nenhuma Prim. incompleto Primário Sec. incompleto

Secundário Sup. incompleto Superior Pós graduação

Profissão Renda mensal (opcional)

B) O TURISMO E O ECOTURISMO

2 Você sabe o que é Turismo?

Se sim, por favor, fale o que é turismo?

3 Você sabe o que é Ecoturismo?

Se sim, por favor, fale o que é Ecoturismo?

C) SOMENTE PARA COMUNIDADE QUE AINDA NÃO TRABALHA COM O TURISMO

4 Você gostaria de ter turistas visitando sua comunidade ou região?

Porque?

5 Você acha que sua comunidade mudaria com a

chegada do turismo em sua região?

Porque?

diversificação de serviços e comércio gera emprego movimenta a economia

mais locais de lazer p/a comunidade novos conhecimentos conhecer novas pessoas

qualidade de vida pode melhorar trará mais infra-estrutura presença e natureza

Outros

Sim Não Sim Não

Sim Não

Sim Não

Sim Não

Sim Não

COMUNIDADE

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12

COMUNIDADE6 Quais empregos / serviços / atividades você acha que pessoas de sua comunidade

terão com o ecoturismo?

G e r ê n c i a / a d m i n i s t r a ç ã o Serviços de Manutenção e Limpeza A t e n d i m e n t o

Chefe de cozinha/cozinheiro (a) Auxiliar de Cozinha O u t r o s

Outros

7 Você acha que o turismo traria problemas para a sua comunidade?

Se sim, quais?

barulho congestionar acabar com maus costumeso transito a tranqüilidade

drogas crime/violência impactos na lixo na cidadenatureza

lixo nos aumentar o aumentar atrativos custo de vida o preço da terra

Outros

8 Vocâ acha que o turismo traria mais benefícios do que problemas?

9 Existem locais em sua comunidade, cidade ou região

que não devem ser visitadas por turistas?

Quais?

10 Quais são os locais que as pessoas de sua comunidade gostam de visitar/passear ou que

você acha que são diferentes? Existe algum local em que é possível observar animais? (pos-

síveis atrativos)

11 Que tipos de utensílios, artesanatos, alimentos ou outros ítens produzidos localmente você

compra ou conhece?

12 Se você pudesse opinar ou interferir no desenvolvimento do turismo em sua comunidade,

cidade ou região, o que faria?

Não faria nada Estimularia o turismo da região Proibiria o turismo na região

Outros

Sim Não

Sim Não

Sim Não

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13 Comentários finais

D) SOMENTE PARA COMUNIDADE QUE JÁ TRABALHA COM O TURISMO

14 Você trabalha direta ou indiretamente com o turismo?

15 Durante a alta estação, quantas vezes você entra em contato com turistas?

Todo dia Sempre, mas não todos os dias 1 vez por semana

2 vezes por semana Raramente Nunca

16 Durante a baixa estação, quantas vezes você entra em contato com turistas?

Todo dia Sempre, mas não todos os dias 1 vez por semana

2 vezes por semana Raramente Nunca

17 Durante feriados e fins de semana prolongados, quantas vezes você entra em contato

com turistas?

Todo dia Sempre, mas não todos os dias Raramente Nunca

18 Você gosta de turistas visitando sua comunidade ou região?

19 Qual é a sua reação a respeito de turistas visitando sua região?

Amigável Muito amigável Indiferente Hostil Muito hostil

20 Qual é a reação da sua comunidade a respeito de turistas visitando sua região?

Amigável Muito amigável Indiferente Hostil Muito hostil

21 Qual é a reação dos turistas dos turistas que visitam sua comunidade ou região?

Amigáveis Muito amigáveis Indiferentes Educados Mal educados

22 Você acha que sua comunidade mudou

com a chegada do turismo em sua região?

Sim Não

Sim Não

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COMUNIDADE

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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23 Se você acha que sua comunidade mudou, como foi essa mudança?

Positiva Negativa

Em qual intensidade? Muito Mais ou menos Pouco

O que mais mudou?

24 O que você mais gosta por ter turistas visitando sua comunidade ou região?

Diversificação Gera emprego Movimenta a economia

de serviços e comércio

Mais locais de lazer Novos conhecimentos Conhecer novas pessoas

Qualidade de vida Trouxe mais Preserva a natureza

melhorou infra-estrutura

Outros

25 Geralmente, as pessoas de sua comunidade são contratadas para que nível de

emprego/serviço?

Gerência/administração Serviços de Manutençao e Limpeza Atendimento

Chefe de cozinha/ Auxiliar de cozinha Guia

cozinheiro(a)

Outros

26 O que você menos gosta por ter turistas visitando sua comunidade ou região?

Fazem barulho C o n g e s t i o n a m Acabou Trazem

o trânsito a tranqüilidade maus costumes

Trazem drogas Trazem crimes/ Impactam Lixo na cidade

v i o l ê n c i a o ambiente

Lixo nos atrativos Custo de vida Aumentou o preço da terra

a u m e n t o u

Outros

27 Os benefícios do turismo superam os impactos negativos da atividade?

28 O turismo melhorou a sua condição de vida?

29 O turismo melhorou as condições de vida de sua comunidade?

Sim Não

Sim Não

Sim Não

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COMUNIDADE

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30 Existem locais em sua comunidade, cidade ou região

que não devem ser visitados por turistas?

Quais?

31 Quais são os locais que as pessoas de sua comunidade gostam de visitar/passear ou que

você acha que são diferentes? Existe algum local em que é possível observar animais? (pos-

síveis atrativos)

32 Se você pudesse opinar ou mudar o turismo em sua comunidade, o que faria?

Não faria nada Reduziria o número de visitantes

Proibiria o turismo na região Aumentaria o turismo na região

Outros

33 Comentários finais

Sim Não

12 e

COMUNIDADE

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

I. OBJETIVO

O objetivo deste capítulo é mostrar ospassos básicos para a elaboração deprodutos de ecoturismo aplicando

conceitos universais de m a r k e t i n g. Oenfoque é prático, mas é bom lembrar quesempre serão necessárias adaptações paraaplicar tais conceitos a uma situação real.

Em casos onde o projeto de ecoturismovem sendo desenvolvido por organizaçõesambientalistas, estas provavelmente nãoserão diretamente responsáveis pelo desen-volvimento e operação de produtos e pro-gramas de ecoturismo. Mas, é muito impor-tante entender como isso funciona, para quese saiba escolher os melhores fornecedorese operadoras (organizadoras de viagens),cooperar com eles e aproveitar melhor opotencial ecoturístico do seu projeto. Paraum melhor entendimento, no final do capí-tulo, a título de exemplo, abordaremos aimplantação de um projeto de ecoturismopara uma unidade de conservação.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

A elaboração do produto é parte inte-grante do marketing, como podemos vernessas duas definições:

❐ Marketing é uma atividade humana quetem como objetivo satisfazer necessi-dades e desejos por meio de processosde intercâmbio.

❐ Produto é alguma coisa (objeto, serviço,atividade, pessoa etc.) capaz de satisfa-zer uma necessidade ou desejo.

No caso do ecoturismo podemos dizerque a função do marketing é fazer com queum atrativo natural ou cultural vire umaatração. E o produto é o conjunto destesatrativos acrescido de infra-estrutura e infor-mação, que os valorizam e os tornam maisacessíveis.

Com freqüência a palavra marketing éusada num sentido mais restrito. Exemplossão:

❐ Marketing é promoção.❐ Marketing é inovação de produto.❐ Marketing é posicionar seu produto no

mercado.❐ Marketing é análise de mercado e plane -

jamento e controle de vendas.

Neste capítulo é usado o conceito deMarketing Mix, composto basicamente dequatro elementos ou os 4 P’s de Marketing.Ou seja, o desenvolvimento do marketingde um atrativo envolve a definição de cadaum dos elementos, que são:❐ Produto ✒ Trata-se da avaliação do

atrativo e da adição de serviços, infra-estrutura, informação, etc., que tornam oatrativo um produto que se pode oferecerao mercado.

❐ Preço ✒ Trata-se da definição de quan-to cobrar pelo produto.

❐ Praça ✒ Trata-se da definição de comoo produto será colocado no mercado oudistribuído. Ou seja, é a estratégia parafacilitar ao seu público-alvo a compra doproduto.

❐ Promoção ✒ Trata-se da estratégia paraatrair o público-alvo para comprar o pro-

3

3. Elaboração do produtode ecoturismo

Ariane JanérRoberto Mourão

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

duto, ou seja, como fazer com que op ú b l i c o - a l vo tome conhecimento daexistência do produto e se interesse emcomprá-lo.No caso de m a r k e t i n g e c o l ó g i c o

podemos falar em um quinto P, de

Preservação, tema que será abordado aolongo do capítulo. Sobre este assunto, epara efeito conceitual, o Quadro 1 a seguirdetalha os principais temas de marketingpara produtos de ecoturismo.

3

1 QUADRO 1

O marketing ecológico e social pode ser entendido como um conjunto de atividades queo empreendedor de ecoturismo dispõe ao adotar estratégias e ações sociais e ambientais noslocais atra t ivos que são de interesse coletivo. No mundo atual, com a adoção cada vez maiorpelas empresas de estratégias de responsabilidade ambiental e social, deve-se salientar queo cumprimento das leis e o pagamento de impostos são apenas as obrigações mínimas exigi-das. Agir solidária e eticamente, mantendo uma relação sadia com toda a cadeia produtivado turismo, com as comunidades anfitriãs e também com seus funcionários e clientes, sãoconquistas importantes e valorizadas por ecoturistas mais exigentes.

Freqüentemente, na ausência de pesquisa de produto e de mercado, o desenvo l v i m e n t ode m a r k e t i n g de produtos de ecoturismo é baseado em muito empirismo e pouco método,ou ainda naquele m a r k e t i n g cuja promoção é baseada em mitos, imagens ou apelos inexis-tentes. Assim, o mau m a r k e t i n g r e verterá numa má imagem do produto no mercado e na pos-sibilidade de desgaste precoce de seu atra t ivo. Por outro lado, o m a r k e t i n g r e s p o n s á vel atra i r ávisitantes que melhor apreciarão a sua destinação, seus serviços e a filosofia do seu negócio.

Deste modo, em cada um desses elementos (os "Ps"), deve-se ter uma abordagem éticae de responsabilidade social e ambiental na formulação de muitos instrumentos de market -ing, principalmente no desenvolvimento do produto e nas formas de promoção. Algumasconsiderações a respeito:

❐ Desenvolvimento de produtos✔ Consumidores do ecoturismo têm dado maior atenção aos produtos que dão

suporte a comunidades locais, incrementam a conservação ambiental e educamseus clientes sobre como minimizar os impactos ambientais da visitação erespeitar as culturas locais.

✔ Os produtos devem ser desenhados preocupando-se em gerar o menor impactopossível nos destinos e atrativos.

✔ O projeto deve providenciar um minucioso diagnóstico turístico (bens e serviços)e sócio-ambiental para diagnosticar a sensibilidade do núcleo receptor em supor-tar a demanda do turismo.

❐ Promoção no mercado✔ O projeto deve ter ciência de que consumidores provenientes de grandes centros

urbanos não têm a real consciência de que o consumo do produto turístico gerauma maior demanda de consumo, principalmente de recursos naturais sensíveis aaltas cargas turísticas, afetando seu equilíbrio e sua própria capacidade de atração.

MARKETING ECOLÓGICO E SOCIAL PARA O ECOTURISMO (1)

(1) – Compilado pelo Editor

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Como já alertado em outros capítu-los, não se pretende formar profissionais emelaboração de produtos de ecoturismo, masapenas orientar sobre os elementos quecompõem um produto e as etapas do seuprocesso de elaboração. Neste capítuloserão tratados os seguintes tópicos:

1 Público-alvo: conheça seu cliente.1.2. Elaboração do produto.1.3. Preço: quanto cobrar.1.4. Praça ou distribuição: como

chegar até o público-alvo.1.5. Promoção: como atrair

o público-alvo.1.6. O plano de marketing.1.7. Produto e m a r k e t i n g de ecoturismo

para projetos de conservação.

1. Público-alvo:conheça seu cliente

Você dispõe de um atrativo, ou um con-junto deles, e quer elaborar um produ-

to. A primeira coisa a ser feita é pensar noseu mercado, seu cliente em potencial, ouseja, seu público-alvo. É muito comum, nomundo dos negócios, não se dar a devidaatenção a esse primeiro passo. Mas o suces-so do produto depende das respostas àsseguintes questões:

❐ Há mercado suficientemente grande? ❐ O potencial cliente está disposto a pagar

o preço que pretendo cobrar? ❐ Como faço para o público-alvo saber

que meu produto existe?

Usando o conceito dos 4 P’s, estas per-guntas se apresentam assim:❐ Produto: o produto será desenhado para

um grupo de terceira idade ou um grupoescolar?

❐ P re ç o: o preço será popular ou exclusivo ?❐ Praça ou distribuição: a estratégia de dis-

tribuição será de vender direto ao turistaou via intermediários (como agências deturismo)?

❐ Promoção: a promoção será feita pormeio de mala direta com folheto simplese para públicos segmentados ou seráfeita uma campanha ampla em revistasde abrangência nacional?

Como tomar decisões sobre isso semconhecimento do mercado? Quais dadosl e va n t a r, e como? Infelizmente, os dadossobre turismo no Brasil são muito genéricose é difícil encontrar estudos sobre segmentosespecíficos como o ecoturismo. Essa falta deinformação torna ainda mais importante acoleta de dados sobre o perfil dos visitantes,uma vez que um destino (ou seja, umaregião, como a Amazônia, ou uma cidade,como o Salvador) comece a recebê-los.

3

✔ A promoção deve assegurar e alavancar a distribuição e consumo do seu produ-to, pensando-se nos meios mais adequados para se atingir visitantes realmenteinteressados no meio ambiente. Mas não deve ser considerada somente comouma mera manobra de venda. Deve buscar o viajante que, de fato, está interes-sado em visitar áreas naturais, e que adotam práticas de consumo sustentável ecomportamento ético.

✔ A promoção do ecoturismo deve refletir as suas diretrizes e suas práticas ambi-ental e socialmente responsáveis.

✔ A promoção deve envolver uma análise cuidadosa da imagem da região comoum todo, principalmente se esta contiver áreas protegidas. Desvirtuar a men-sagem comercial para apelos inexistentes, ou que vão contra à imagem da região,pode gerar descontentamento de ecoturistas experientes ou gerar uma demandanão compatível com o real conceito de seu produto.

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Contudo, na falta de dados sobre o turis-mo ou sobre a visitação a um destino, estu-dos no Brasil e no exterior nos permitemselecionar alguns fatores importantes paraajudar a entender melhor o cliente:❐ P ro c e d ê n c i a ✒ B rasil (mercado interno

local, regional ou nacional), Argentina, Es-tados Unidos, Europa (mercado externo).

❐ Poder de compra ✒ Mochileiro, excur-sionista, ou turista de hotel de luxo.

❐ Faixa de idade ✒ Crianças, jovens, adul-tos, meia idade, terceira idade.

❐ Atividades ou interesses específicos ✒Mergulho, orquídeas, observação depássaros, etc.

❐ Forma de viajar ✒ Individual ou emgrupo, com ou sem filhos, etc.

❐ Tempo disponível ✒ Férias integrais oufracionadas, feriados ou fins-de-semana

❐ S a z o n a l i d a d e ✒ Alta ou baixa tempora d a .❐ Especial ✒ Deficiente auditivo, visual, etc.

✒ Procedência (2)

A origem ou nacionalidade do turista éum fator muito importante. A Embratur esti-ma que de 80% a 85% da movimentaçãoturística no Brasil deve-se ao turismodoméstico. Apesar da carência de infor-mações no país, ainda vale a pena colher asprojeções e estatísticas sobre turismo e eco-turismo, usando-as após passar por umaanálise crítica profissional. As entidades quegeram publicações onde se pode encontrardados e projeções gerais são: ❐ E M B R ATUR – Instituto Brasileiro de

Turismo – www.embratur.gov.br❐ FIPE / USP – Fundação Instituto de

Pesquisas Econômicas da Universidadede São Paulo

❐ A BAV – Associação Bra s i l e i ra deAgências de Viagens – www.abav.com.br

❐ ABIH – Associação Bra s i l e i ra daIndústria de Hotéis – www.abih.com.br

❐ Infraero – Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária

❐ CBTS – Conselho Brasileiro de Turismo Sus-t e n t á ve l – www.turismosustentavel.org.br

❐ Rede Brasileira de Turismo Comunitário– www.turismocomunitario.org.br

❐ E c o b rasil – Associação Bra s i l e i ra deEcoturismo – www.ecobrasil.org.br

❐ IEB – Instituto de Ecoturismo do Brasil –www.ecoturismo.org.br

❐ TIES - The International EcotourismSociety – projeções mundiais –www.ecotourism.org

❐ Planeta.com – Ecoturismo nas Américas– www.planeta.com

❐ OMT – Organização Mundial de Turismo– dados e tendências mundiais –www.world-tourism.org

❐ WTTC – Conselho Mundial de Viagens eTurismo – dados e projeções mundiais –www.wttc.org

❐ UNEP – Programa de Meio Ambiente dasNações Unidas – www.uneptie.org

Regionalmente, deve-se pensar em con-tatar as Secretarias de Turismo, Faculdadesde Turismo e não esquecer de falar direta-mente com quem recebe turistas, as ope-radoras de turismo receptivo. Vale a penalembrar que a maioria dessas organizaçõestem um website e às vezes fornecem dadosou projeções sobre o mercado na Internet.

Entidades representativas do setor deecoturismo no Brasil fazem projeções diver-sas sobre o mercado, mas esbarram na faltade uniformidade sobre o conceito de eco-turismo que o mercado pratica para poderaplicar as estimativas. Assim, podemos terum número significativo de turismo emáreas naturais, não necessariamente fazen-do ecoturismo. O que podemos afirmar éque a demanda para um turismo no meionatural (ou rural) vem crescendo e muitodeste crescimento se deve a uma novanecessidade de se praticar um turismo dife-renciado do convencional.

Com base na experiência de algunso p e radores importantes do merc a d obrasileiro, deduz-se que o perfil do ecotu-rista brasileiro é:

3

(2) – NOTA DO EDITOR – Todos os dados sobre o mercado de turismo e ecoturismo deste item foram compilados e atualizados pelo Editor

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❐ Grande parte oriundo de grandes e con-turbados centros urbanos.

❐ Relativamente jovem – 25 a 40 anos❐ Tem médio poder de compra, e bom

nível educacional / cultural.❐ Solteiro(a).❐ Viaja em feriados prolongados e férias,

muitas vezes em grupos (organizadospor operadoras nacionais de ecoturismoou clubes de montanhismo).

❐ P r o c u ra realizar alguma ativ i d a d eesportiva durante a visita (mountain bike,montanhismo, mergulho etc.).

Visando o mercado brasileiro, mesmonão existindo dados reais sobre o ecoturis-mo no mercado doméstico, dados sobre oturismo em geral no Brasil fornecem boasdicas para elaborar e operar seus produtos.Em 2001, foram 32 milhões de desembar-ques de brasileiros nos 16 principais aero-portos do país. Uma criteriosa pesquisa rea-lizada em 2001 pela FIPE / USP, a pedido daEmbratur, revela dados interessantes sobre oturista doméstico. Por exemplo, a pesquisadiz que 50 milhões de pessoas viajam – ou36,4% da população brasileira, sendo que70% destas somente uma vez por ano,durante dez dias e sem sair da região ondereside. Assim, o turista nacional, e próximoda região de seu projeto, pode vir a repre-sentar seu maior público alvo. Para se teruma idéia desta importância, o viajantebrasileiro gera R$ 20 bilhões, ou 75% dototal da receita turística gerada no país, esti-mado em R$ 29,5 bilhões.

A pesquisa revela também que uma dastendências observadas no turismo (e quepode ser extrapolada para o ecoturismo emregiões com fluxos consolidados) é oaumento da concorrência. E com isto, aestratégia principal do empreendedor foibaixar os preços, o que derruba a rentabili-dade e ameaça a lucratividade do negócio.Por exemplo, o excesso de leitos em deter-minados destinos vem provocando a quedano valor médio da diária, cerca de 50% nosúltimos 3 anos, e as passagens aéreas setornaram muito populares com a entrada de

outras companhias no mercado. Pode-seobservar também, que os pacotes turísticosestão mais acessíveis com a chegada dosvôos charters (linhas aéreas locadas poroperadoras), que chegam aonde não há li-nhas regulares, barateando a chegada de tu-ristas nos destinos.

Estes tipos de pesquisas mostram aoempreendedor as alterações e as possíveistendências no comportamento do viajantebrasileiro. Outros dados importantes quepodem ajudar a definir o seu produto sãodetalhados abaixo (EMBRATUR, 2002):❐ Meio de Transporte utilizado: ônibus

(36%); carona - viagem em carro de ami-gos (9,9%) e avião (9%)

❐ Meio de Hospedagem: Casa de amigos(65,9%); hotéis (15%); pousadas (5%);

❐ O gasto médio dos turistas brasileiros foide R$ 419,00 por viagem. Porém, quemganha mais de R$ 3.000 por mês, gastaR$ 1.800 numa viagem

❐ O perfil médio do viajante brasileiro dizque sua renda média mensal é de R$ 860e que ele não fez faculdade;

❐ Uma das tendências mundiais é aregionalização das viagens. No casob rasileiro, 70% dos turistas viaja naregião em que residem. Por exemplo,66,6% dos paulistas visita apenas MG, RJe ES, 20% visitam o Nordeste brasileiro eo resto distribui-se pelo país.

Pensando no turismo internacional, pro-jeções de especialistas, do mercado e daOMT estimam que entre 7 e 10% do merca-do mundial de mais de 650 milhões de via-jantes, ou entre R$ 45 e 65 milhões de via-jantes, podem ser considerados ecoturistas.Dados coletados por Ceballus-Lascuráin(1996) para a UNEP trazem algumas dicasimportantes, tais como:❐ Em 1991, 260 milhões de turistas visi-

t a ram as áreas protegidas (principal-mente os Parques Nacionais) nos EUA,gerando renda de Us$ 3 bilhões.

❐ Parques no Kenya, na África, movimen-tam 750.000 visitantes / ano.

❐ Dependendo da região, o ecoturismo é

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de 40 a 60 % do movimento turísticototal. E o turismo relacionado a vida sel-vagem é 20 a 40% do movimento total.

❐ Em 1998 estimava-se entre 157 e 236milhões os ecoturistas no mundo e entre79 e 157 milhões os turistas interessadosem vida selvagem.

❐ O ecoturismo contribui anualmente comalgo entre Us$ 93 e Us$ 233 bilhões nasrendas nacionais de vários países. O tu-rismo relacionado a vida selvagem entreUs$ 47 e Us$ 155 bilhões e turismointernacional de observação de pássarospode ter atraído 78 milhões de viajantescom impacto econômico de Us$ 78 bilhões.

❐ Juntando turismo doméstico com o inter-nacional mundo afora, o ecoturismo gerareceitas totais de Us$ 660 bilhões a Us$1,2 trilhões anualmente.

Recente publicação da UNEP traz maisluz sobre estas projeções (WOOD, 2002):❐ As taxas de visitação para destinos

baseados na natureza de 1990 a 1999,cresceram significativamente na Áfricado Sul (486%), Costa Rica (136%),Indonésia (116%), Belize (78%) eEquador (41%);

❐ Em 1995, a Austrália tinha 50% (850 mil)de seus turistas estrangeiros totais visi-tando pelo menos um de seus parquesnacionais;

❐ Os europeus, mais do que os canadensese norte-americanos, vêm obtendo asmaiores taxas de viajantes com interessepelo turismo baseado na natureza;

Para o Brasil, especialistas avaliam queesse mercado cresceu menos do que seupotencial indica. Isso pode ser explicadopelo fato da nossa imagem ter sido prejudi-cada pela predominância de notícias nega-t ivas no exterior (violência, problemaseconômicos, queimadas etc) e pela falta dei nvestimentos em publicidade positiva edirecionada para o lazer em ambientes na-tural e culturalmente ricos.

O número de visitantes estrangeiros no

Brasil, em 2001, foi de cerca de 4,8 mi-lhões. Pesquisa da Embratur indica que 13%do total de visitantes estrangeiros, cerca de611 mil, tem como fator decisório a práticade ecoturismo, porém boa parte destaspráticas se resume, por exemplo, num pas-seio de 1 dia no Parque Nacional do Iguaçu,para ver as Cataratas. Assim, cerca de 82%destes procuram a contemplação e obser-vação da natureza, caminhadas por trilhas(12%), pesca esportiva (2%), mergulho sub-marino (2%) e exploração de cavernas (2%).

Até o inicio de 1999, devido ao va l o rdo Real, os preços no Brasil estavam muitoaltos, comparados aos de outros países,impedindo um crescimento maior denosso turismo. Com a desvalorização damoeda, em 2000 e 2002, este quadro devem e l h o ra r.

Os argentinos, apesar da crise, conti-nuam sendo o maior mercado, representan-do cerca de 29% dos estrangeiros que visi-tam o Brasil no ano 2001. Mas entre osestrangeiros que possuem maior tradiçãoem ecoturismo, como os norte-americanos,com 594 mil visitantes, e europeus (princi-palmente Alemanha, Itália, França, Portugal,Inglaterra e Espanha, nesta ordem), com 1,4milhão, juntos representam 42% dos visi-tantes estrangeiros. Outro dado importante éque hoje em dia uma boa parcela desses vi-sitantes tem outros objetivos. Atualmente,menos da metade dos americanos vêm aoBrasil por motivação de turismo. Na Tabela1 (página ao lado) as diferenças entre trêstipos de turistas estrangeiros são claras.

O argentino viaja ao Brasil para co-nhecer e aproveitar as praias do Sul (ou atépegar um vôo charter até Búzios ouSalvador), e não costuma ter interesse emecoturismo (Manaus não é citado como des-tino). Geralmente não é a primeira vez quevisita o Brasil, gasta pouco e se deixa influ-enciar mais pela TV do que por revistas ejornais.

Menos da metade dos americanos viajapor motivo de turismo. 50% deles visitam oRio de Janeiro e 6% vão a Manaus, umaindicação de interesse pela natureza. Para

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❐ As experiências mais admiradas são oscenários silvestres, observar a vida sel-vagem e fazer caminhadas.

❐ Permanece no país por no mínimo 8dias.

❐ Prefere viajar no período junho – setem-bro.

Os alemães constituem um merc a d ointeressante. Cerca de 50% deles viaja pormotivo de turismo. A permanência média éde 20 dias (em geral, os períodos de fériasna Europa são muito maiores que nosEstados Unidos), e o consumo / gasto pordia é maior. Além do Rio de Janeiro e SãoPaulo, os alemães visitam Salvador e Recife

dois terços dos americanos, essa visita não éa primeira. Eles consomem quase o dobrodos argentinos e acima da média geral dosturistas que visitam o Brasil. Numa pesquisafeita nos Estados Unidos em 1994, o perfildo ecoturista americano resultou noseguinte:❐ Tem idade entre 35 – 54 anos (56%).❐ Viaja sem os filhos (85%), sendo 60%

viajando em casal e 13% sozinhos;❐ Tem educação superior (82%).❐ Tem como destino favorito as florestas

tropicais.❐ As motivações são contemplar paisagens

naturais, ter novas experiências e co-nhecer novos lugares;

PROCEDÊNCIA/NACIONALIDADE

Motivo da viagem: turismoOrganizado por agênciaPrimeira vez que visita o BrasilPermanência médiaInfluência da viagem: TVInfluência da viagem: revista/jornalInfluência: informação de amigosInfluência: informação de

folders/impressosGasto médio por pessoa por dia,

sem hospedagem e transporte

CIDADES MAIS VISITADAS

Rio de JaneiroSão PauloFlorianópolisSalvadorFoz do IguaçuManaus

GERAL

56 %22 %35 %12 dias

8 %7 %

47 %

6 %

US$ 81

US$

29 %17 %16 %11 %11 %

ND %

ARGENTINA

73 %24 %26 %10 dias40 %5 %

32 %

10 %

US$ 64

US$

10 %5 %

36 %7 %

14 %– de 1 %

A M E R I CA NA

34 %14 %36 %15 dias33 %

7 %44 %

2 %

US$ 126

US$

50 %32 %-- %7 %5 %6 %

ALEMÃ

51 %19 %46 %20 dias26 %7 %

30 %

5 %

US$ 85

US$

45 %23 %-- %

23 %12 %-- %

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Fonte: Embratur – 2002

TABELA 1

COMPARAÇÃO DO PERFIL DOS TURISTAS ARGENTINO, AMERICANO E ALEMÃO

ANO 2001

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e vem se influenciando cada vez mais porprogramas de TV.

Pode-se observar também que vem cain-do o número de viajantes que chegam aoBrasil de forma organizada por agênciasemissivas. Isto pode ser reflexo da influênciade guias especializados e da internet, ondeos próprios viajantes estariam planejandosuas viagens com mais facilidade e con-tatando diretamente os prestadores deserviços no país de destino. Para americanose canadenses, o Brasil era, em 1998, o ter-ceiro destino de preferência, segundo dadosde pesquisa sobre o turismo na AméricaLatina, e suas principais fontes de pesquisapara o planejamento da viagem foram asinformações prestadas por amigos (60%),agências de viagem (57%), internet (47%),guias turísticos (36%) entre outros.

O u t ra análise que pode ser de interessep a ra se entender a procedência e como oturista estrangeiro chega ao Brasil é feita pelapesquisa dos portões de entrada no país. Noano de 2001, o turista ch e g ava por São Pa u l o(34%), Rio Grande do Sul (17%), Rio deJaneiro (19%) e Pa raná (11%). Neste ano, noestado do Amazonas, ch e g a ram diretamentedo exterior cerca de 28 mil turistas, menosde 1% do total, sendo 10 mil norte-ameri-canos. Já na Bahia e Pernambuco ch e g a ra m89 mil e 60 turistas respectivamente, sendo ag rande maioria da Europa (74 e 90% respec-t ivamente). No caso da região do Pa n t a n a l ,dos 108 mil turistas (2,3% do total) quech e g a ram do exterior diretamente ao estadodo Mato Grosso do Sul, apenas 27 mil era mamericanos e europeus.

Atualmente vêm sendo desenvo l v i d o sestudos para se implantar corredores deecoturismo a partir dos principais portões deentrada brasileiros. Os corredores em estu-do envolvem o portão de entrada de Foz doIguaçu, fazendo conexão com o Pantanal ea Amazônia e também o Centro-Oeste.

✒ Poder de Compra

O poder de compra é muito importantep a ra definir preços. A prática do ecoturismo

muitas vezes implica viagens a locais dis-tantes ou de acesso mais difícil, na necessi-dade de guias especializados, no uso deequipamentos e na formação de grupospequenos. Além disso, espera-se uma con-tribuição para projetos locais de conser-vação. Isto quer dizer que os preços dos pro-g ramas serão superiores aos de um tour deônibus para 40 pessoas em visita ao Pão deAçúcar ou ao Corc ovado, no Rio de Ja n e i r o .

Logicamente, pessoas com baixo poderde compra não têm condições de pagar opreço de muitos dos produtos de ecoturismoc o m e rcializados. Mesmo assim, não sãoexcluídas do ecoturismo, porque existemclubes de montanhismo e excursionismo, deo b s e r vação de aves, etc., que organizam pas-seios de baixo custo. Um grande merc a d op a ra o ecoturismo brasileiro são as escolas.

✒ Faixa de Idade

A faixa de idade do grupo é muitoimportante para a definição e adaptação dograu de dificuldade e conteúdo do seu pro-grama.

Estudantes, de 1º, 2º e 3º graus, são umm e rcado interessante para o ecoturismonacional. Escolas já são grupos pré-forma-dos e fáceis de localizar e contatar. Deve-selembrar, no entanto, que crianças e adoles-centes geralmente são menos disciplinados,precisam de mais divertimento e de ativi-dades físicas. Aconselha-se incluir profes-sores nos grupos, gratuitamente ou comcusto distribuído nos preços individuais.Eles ajudam a promover a disciplina, divi-dem a responsabilidade profissional com aoperadora e podem ainda atuar como pro-motores para formação de grupos.

A Terceira Idade é um mercado cres-cente, tanto no exterior quanto no Brasil.Boa parte possui tempo, dinheiro e vontade,fundamentos essenciais para se viajar e quenem sempre estão presentes nos outros gru-pos etários. Existem clubes organizados depensionistas e aposentados. Para esse seg-mento devem ser providenciadas medidasadicionais de segurança, boas informações

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

e roteiros com menos atividades que exijamesforço físico e/ou emocional. Pe s q u i s arecente diz que a oferta detalhada de infor-mações sobre facilidades médicas nos desti-nos, são garantias de segurança para a toma-da de decisão do visitante norte-americano.

✒ Atividades ou Interesses Específicos

Se o atrativo oferece possibilidades paraa t ividades ou interesses específicos, nãodeixe de aproveitar esses merc a d o s .Geralmente as pessoas já têm um grau deorganização, por meio de clubes ou asso-ciações, o que facilita o marketing. Maslembre-se também que são turistas exi-gentes; como ‘conhecedores’, eles sabem oque querem.

Convém sempre procurar entender me-lhor as diferentes motivações e nível deexperiência dos futuros visitantes.Atualmente tem-se falado em ecoturistas"hard" (aquele com espírito de aventura emelhor preparo físico) e "soft" (preferemexperiências fisicamente mais leves e cur-tas). Esta mesma terminologia tem sidousada para se definir o visitante menosengajado (soft) e o mais engajado (hard) noecoturismo, em razão deste produto sermais ou menos próximo dos seus princípios.

No caso do turismo pedagógico, desen-volvido por estudantes de vários níveis, aose fazer o acerto com determinadas esta-belecimentos de ensino deve-se atentar paraas atividades e abordagens do roteiro, quedevem estar ligadas a algum conteúdo cur-ricular e, assim, exige-se conhecimento naárea. A vantagem é que os grupos são garan-tidos e grandes, exigindo-se porém técnicasde manejo de visitação para adequá-los aoslocais atrativos.

✒ Forma de Viajar

Em geral é mais fácil trabalhar com gru-pos pré-formados ou pacotes do que com tu-ristas individuais. No primeiro caso, já sesabe com antecedência quantas pessoas vême quando; basta manter contato com o orga-

nizador do grupo que faz as reservas e opagamento. No segundo caso, o mercado in-d ividual (S.I.B. – (a) Seat in (the) Bus ou “umlugar no ônibus”), é necessário um fluxo bas-tante grande para justificar saídas regulares,porque os custos fixos são mais altos: asr e s e r vas são feitas em cima da hora, há orisco de ‘no-show‘ (turista não aparecer), ogrupo é heterogêneo e o pagamento pulve r i-zado. Hoje em dia as principais opera d o ra se m i s s o ras nacionais de ecoturismo tra b a l h a mem parcerias com opera d o ras receptivas nosdestinos, facilitando a saída de turistas emqualquer época e número (no mínimo dois)não necessitando, assim, aguardar a for-mação de um número mínimo de viajantes.

✒ Tempo Disponível

O tempo disponível é uma considera ç ã oimportante para determinar a duração do seup r o g rama. Como já vimos na Tabela 1, osamericanos têm cerca de duas semanasd i s p o n í veis, e nesse tempo querem ver oB rasil de norte a sul. Brasileiros têm a opçãode viajar nos feriados e não têm a ansiedadede visitar muitos lugares diferentes em um sóperíodo de viagem. Hoje, vê-se tendênciasem alguns países, incluindo o Brasil, e emp a rcelas da população, de se obter fériasmais curtas, fracionadas em diferentes perío-dos do ano. E nestes curtos períodos, de 7 a15 dias, estas pessoas tendem a viajar.

✒ A Sazonalidade

A sazonalidade de visitas é determinadapor dois fatores:

a) O período de férias do visitante,em geral coincidindo com fériasescolares, no verão. Cabe lembrarque o verão nos países do hemis-fério norte ocorre no meio do ano.Assim, enquanto as férias esco-lares nos países do hemisfério sulocorrem entre dezembro efevereiro, nos países do hemisférionorte as férias vão de junho aagosto.

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b) A melhor época para visitar deter-minado lugar, principalmente pelascondições climáticas regionais.

A sazonalidade das entradas devem seranalisadas para se compreender como equi-librar melhor os custos de seu produto aolongo do ano e para melhor estabelecere s t ratégias de promoção. Em 2001, porexemplo, dos 594 mil norte-americanos edos 1,4 milhão de europeus que chegaramao Brasil, quase a metade (41 e 42% respec-tivamente) se concentraram nos 4 meses"quentes" do ano – janeiro, fevereiro, marçoe dezembro. Já a chegada de visitantesestrangeiros a São Paulo, cujo perfil é maispara o turismo de negócios, se dilui aolongo do ano.

Os dados na Tabela 2 são ilustrativos: em2000/2001, os argentinos visitavam o Brasilprincipalmente no verão, que é na mesmaépoca nos dois países. Os alemães parecempreferir o período de dezembro a fevereiro,quando ocorre o verão no Brasil e o invernona Alemanha. Isto apesar do período deférias de verão na Alemanha ser de junho aagosto. Os americanos não fogem destepadrão de preferência, mas deve-se lembrarque boa parte deles está aqui a negócios. Éinteressante notar que a pesquisa feita em1994, referida anteriormente, revela que osecoturistas americanos preferem viajar entrejunho e setembro, que coincide com asférias de verão deles.

Cabe destacar que há muitos destinosecoturísticos com grande apelo fora daépoca de verão. Por exemplo: o Pantanal noinverno e as Serras do Mar e Gaúcha nooutono. Existem, então, grandes oportu-nidades de se vender o Brasil como destinoecoturístico a um outro tipo de turista, forada temporada. No caso do turismo domésti-co, prepare-se para aproveitar todo e qual-quer feriado e pense sempre que boa partedas férias hoje são usufruídas de forma fra-cionada (2 a 3 vezes por ano).

As estratégias para driblar a sazonalidadepodem ser variadas, entre elas trabalharcom grupos de estudantes (que viajam mais

no período escolar), oferecer espaços paraencontros e oficinas de trabalho, promoverfestivais de música, gastronomia, folclore eartes em geral, entre outras.

✒ Especial

Muito tem-se falado sobre parcelas dapopulação que não viajam por diversosm o t ivos. Segundo pesquisa da Embra t u rcom o turismo doméstico, os motivos pelosquais o brasileiro não viaja são falta de di-nheiro (60,3%), excesso de trabalho (15%) eproblemas de saúde (8%). Estes últimospoderiam estar viajando se os roteiros de

3

NACIONALIDADE

GeralArgentinosAmericanosAlemães

DEZ/2000 AMAR/2001

44 %56 %44 %41 %

JUN/2001 ASET/2001

27 %24 %30 %31 %

RESTO DO ANO(2001:ABR, MAI,

OUT. NOV.)

29 %20 %26 %28 %

TABELA 2

SAZONALIDADE DE VISITANTES EXTRANGEIROS NO BRASIL

EM 200O/2001

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

determinados destinos, como as regiões ser-ranas ou de águas termais, incluíssem práti-cas de saúde alternativas como atividadesem seus produtos.

E uma pequena parte, mas que pode serum número significativo, é composta pordeficientes físicos, que muitas vezes, porausência de simples adaptações nos equipa-mentos turísticos e nos materiais de comuni-cação, deixam de viajar. Deficientes visuaise auditivos e deficientes com dificuldades delocomoção podem praticar o ecoturismocom uma capacitação específica para guias,e l a b o ração de materiais informativos especí-ficos e melhorias de baixo custo nos acessose infra - e s t r u t u ra nos locais atra t ivos.

Por fim, para aprimorar o conhecimentosobre o seu cliente, e sempre dispor deinformações concretas para adaptar e me-l h o rar seu produto, convém estabeleceruma pesquisa de demanda continuada (vercapítulo Inventário). Ou seja, é importantetanto no início do projeto, para identificar oconsumidor potencial, como para melhorconhecer o consumidor atual, inclusiveanalisando os dados para prever tendênciasfuturas. Assim, o modelo de pesquisa abaixoestá formatado para produtos já implemen-tados. No caso de não haver demanda turís-tica atual, a pesquisa é para conhecer ademanda potencial e deve centrar-se nasquestões de perfil do viajante, suas moti-vações e expectativas quando viaja e deveser feita no local de origem do turismo.

2. Elaboração do produto

Q uando passamos a entender melhor omercado, a tarefa de elaborar o produ-

to fica mais fácil. É importante lembrar tam-bém que o conceito de marketing consideranão apenas o “P” de produto, mas os outrostrês “Ps” – preço, praça e promoção – e oconjunto deve ser coerente. Por exemplo, seo mercado identificado é o popular, não fazsentido elaborar um produto sofisticado,que tenha custos altos e distribuído emrevistas especializadas. No caso do quinto"P", o marketing ecológico nos induz a

cuidar para que o produto popular nãocause degradações no atrativo devido aodescuido em se gerar fluxos crescentes poruma promoção mal balanceada.

No FL U X O G R A M A 1 (página seguinte),descrevemos como uma operadora de turis-mo elabora seu produto, partindo do zero .A operadora de turismo será um clienteimportante, por isso um projeto de conser-vação voltado para o desenvolvimento epromoção do ecoturismo deve escrutinar oseu produto em potencial (atrativo) tendoem mente o mercado de operadoras de tu-rismo. O passo-a-passo para elaborar o pro-duto é muito semelhante, como será mostra-do a seguir.

A operadora sempre estará interessadaem destinos novos e produtos diferentes dosseus concorrentes e procura sempre manter-se informada das possibilidades por meio deviagens, imprensa, contatos no mercado,dicas etc. Uma boa operadora deve ter umbanco de dados – de preferência no com-putador – com informações básicas de cadadestino/atrativo, além de um banco de ima-gens e clippings (recortes de reportagens). Aoperadora que já está no mercado há algumtempo deve ter uma idéia sobre o que o seupúblico-alvo gosta e mesmo as dicas deecoturistas mais experientes, captadas emquestionários de avaliação, podem lhe serúteis. Usando o banco de dados, sele-cionará novos destinos possíveis de seremdesenvolvidos. Essa seleção tem como base,entre outros aspectos:

p O potencial aparente do atra t ivo ,incluindo sua inserção como novidadeou exclusividade no mercado.

p A acessibilidade e o meio de transporteadequado.

p A infra-estrutura e os equipamentos exis-tentes.

p As informações e a literatura existentessobre a cultura e a história do lugar.

p As informações e a literatura existentessobre os ecossistemas do lugar.

p A importância ecológica e a existência deprojetos de conservação na região etc.

3

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3

VENDAS

FONTES DE INFORMAÇÃO

Viagens, imprensa, contatos, etc.

Computador, Imagens,Recortes, Relatórios, etc.

Se não satisfatório, fazer relatório

Muitas vezes é necessáriofazer mais visitas

FASE DE MARKETINGAjustar produto

se necessário

Ajustar campanha se necessário

Verificar em situ,conhecer fornecedores

· Mapas (detalhes)· Factsheets· Treinamento

de Guias

· Avaliação· Publicidade

· Medir resposta

Avaliação contínua de:· Qualidade· impacto· desempenho

comercial

BANCO DE DADOS DE DESTINOS

SELEÇÃO DE DESTINOS COM

POTENCIAL PARA VISITA

VISITA DE INSPEÇÃO

DESENHO DO TOUR E DEFINIÇÃO

DO PÚBLICO ALVO

FAMTOURS PARA CLIENTES E

IMPRENSA

CAMPANHA DE MARKETING

FLUXOGRAMA 1

FASES DE DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO TURÍSTICO

Avaliar: · Acessibilidade· Atrativos· Infra-estrutura· Conservação· Informações

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

O próximo passo é fazer uma visita deinspeção para verificar as características eos dados básicos do atrativo, coletar infor-mações adicionais, conhecer fornecedores eoperadores e pesquisar preços. Se já foi feitoo inventário (ver capítulo Levantamento dePotencial Ecoturístico), este facilitará o tra-balho. Se a inspeção corresponder às expec-tativas, começa o trabalho de desenhar oprograma em detalhes:

p O número de dias ideal para a visita.p A programação e o roteiro de cada dia

(incluindo hospedagem, alimentação,transporte, guias locais e atividades).

Começam as negociações de preçoscom fornecedores identificados no inve n-tário, procurando o estabelecimento dep a rcerias locais de forma mais concreta.As informações para guias e turistas deve mser preparadas e os guias da opera d o rap r ovavelmente devem receber um treina-mento. Depois de elaborado o programa edefinido seu público-alvo, deve-se fazeruma campanha de distribuição e pro-moção (o M a r k e t i n g) para incentivar osr e vendedores a oferecer o produto aosseus clientes. A opera d o ra escolhe oscanais de venda a serem usados e começaa fase de m a r k e t i n g. Quando se trata deum produto novo, é bom organizar umFamtour (t o u r de familiarização) para osr e vendedores e/ou imprensa. Um reve n d e-dor que realmente conhece o produto – egosta – saberá vendê-lo com mais sucesso.Preste atenção nas sugestões dos reve n d e-dores que participam do Fa m t o u r, poispodem ser úteis para fazer ajustes no pro-duto ou no roteiro. Artigos em revistas ejornais ajudam a divulgar o destino, osprojetos de conservação associados e onome da opera d o ra .

No caso de venda direta ao turista (semo intermédio de uma agência ou opera d o-ra de turismo), colocam-se anúncios emjornais e revistas, divulga-se por mala dire-ta de clientes de viagens anteriores ouainda, dependendo do produto, pela tele-

visão. Deve ser dada uma atenção especialà divulgação via Internet – cujos usuáriosestão na mesma faixa etária e de podera q u i s i t ivo que o ecoturista padrão – inclu-s ive disponibilizando páginas específicasem inglês. Isto encurta o processo de pro-moção, com sua informação indo diretoao seu potencial cliente.

A campanha de vendas começa quandoo produto está sendo divulgado. Medir aresposta de sua campanha de m a r k e t i n g evendas ajuda nas futuras decisões sobrecomo vender melhor seu produto (ver capí-tulo A d m i n i s t ração e Práticas Contábeis) .

Passo 1 – O atrativo é a base de seu produto

A base de seu produto são os atrativos dolugar. Um atrativo pode ser uma cachoeira,uma espécie animal, um ecossistema, umprojeto de conservação, uma comunidadetradicional com cultura bem marcada, umhotel especial etc. É importante analisartudo em detalhes e definir o perfil do turistaao qual seu produto é dirigido.

Para não esquecer aspectos importantes,é bom fazer um inventário para avaliar oa t ra t ivo ou o destino (ver capítuloLevantamento do Potencial Ecoturístico -Inventário). Não só pelo aspecto quantitati-vo (quanto atra t ivos significativos estãodisponíveis?) mas também por alguns deseus aspectos qualitativos, os quais devemser abordados no inventário, tais como:

❐ Qual o ecossistema (por exemplo, flores-ta tropical de Mata Atlântica)?

❐ Há atrativos específicos dentro do ecos-sistema (por exemplo, cach o e i ra s ,mirantes)?

❐ Qual o tipo e a duração mais adequadaao programa que se tem em mente?

❐ Existe algum apelo conservacionista (porexemplo, espécies em extinção, áreasprotegidas) ?

❐ Há atividades/interesses associados (porexemplo, canoagem e observação depássaros)?

❐ Existe informação suficiente para sub-

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sidiar os estudos sobre capacidade decarga turística do local e quais são osoutros usos atuais e potenciais da área(por exemplo agricultura)?

❐ Existe mapa detalhado da área (porexemplo, mapa do IBGE) ou é necessáriofazer um? Hoje em dia é também possí-vel comprar fotos de satélite em CD-Romou adquiri-las pela Internet

❐ Quais as fontes de informações sobre oatrativo e região ?

Depois de fazer o inventário, deve-seescrever um breve relatório, explicando osaspectos mais importantes, os pontos fortese fracos, as oportunidades e desafios que aregião e os atrativos lhe oferecem. Umacurta descrição sobre o que faz desse lugaralgo especial é o primeiro passo para a cam-panha de publicidade.

Técnicos, lideranças locais e outrosgestores de projetos não tão experimentadoscom o turismo tendem a superestimar o seuatrativo. Por isso, seguem algumas orien-tações importantes para uma ava l i a ç ã oobjetiva e imparcial:

a) Cuidado com avaliações subjetivas

É preciso ser objetivo na análise, parasaber qual é seu “raio de atra ç ã o ” .Lembre-se que o ecoturista geralmente éum viajante experiente e bem informadoe não adianta exagerar os atra t ivos dol u g a r. Além das dicas de hiera r q u i z a ç ã odo potencial de atração oferecidas nocapítulo do Inventário, um bom critério éo uso de estrelas, adotado pelo GuiaM i chelin e também pelo Guia 4 Rodas noB rasil. O índice de estrelas indica oesforço que o turista deve fazer para visi-tar um lugar:

❐ Uma estrela (*): o lugar é interessante,vá se você já está por perto.

❐ Duas estrelas (**): merece uma visita, sevocê está na região vale fazer uma voltamaior.

❐ Três estrelas (***): vale a viagem.

O mico-leão-dourado só vive livrementeem um único lugar do mundo, o que lheproporciona um potencial de atração forte obastante para alguém que está no Rio deJaneiro estender sua estadia para fazer umaviagem de um dia para vê-lo (duas estrelas).Mas um mico-leão não é tão imponente econhecido como um gorila. O desejo de vergorilas pode ser razão para uma viagem àÁfrica (três estrelas).

b) Qual é o diferencial?

Em geral as pessoas são inundadas cominformações e dedicam pouco tempo paraler tudo com atenção. Pense nos atrativos“concorrentes” ao seu e procure identificarqual é o seu diferencial, ou seja, o que faz oseu atrativo diferente – e mais interessante –do que os demais.

Pa ra melhor embasar a tomada dedecisão sobre o diferencial do seu atrativoem relação à concorrência, uma pesquisade produto pode ser extremamente útil. APesquisa de Produto serve para se identificaro perfil dos produtos e dos destinos concor-rentes, seus preços e suas estratégias de pro-moção e vendas, definindo-se seus pontosfortes e fracos. Permite verificar se seu pro-duto é viável regionalmente e permite esta-belecer a sua estratégia de conquista demercado. Na página seguinte, no Quadro 2,um modelo simplificado de pesquisa deproduto.

3

AVALIAÇÃO DE ATRATIVOS SEGUINDO A CLASSIFICAÇÃO

DO GUIA MICHELIN

Uma cachoeira de 10 metros pode ser achada em muitos lugares

e só atrai quem passa perto (uma estrela).

Cataratas como Foz de Iguaçu e Niágara são espetáculos da natureza

e atraem turistas do mundo inteiro (três estrelas).

EXEMPLO:

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3

ELEMENTOS QUE DÃO UM DIFERENCIAL AO SEU ATRATIVO

Um turista que quer ver floresta tropical pode escolher entre quatro continentes (Áméricas, Ásia, África e Oceania).

Se ele tem interesse na floresta Amazônica, vai comparar Brasil com Equador, Colômbia,Peru, Venezuela e Guianas. Mesmo dentro do Brasil há muitas portas de entrada

(cidades ou Estados na Amazônia ou Mata Atlântica). Alguns exemplos que podem fazer seu produto se diferenciar da concorrência podem ser:

1) Oferecer equipamentos ou meios que constituam uma forma especial de ver a floresta, como por exemplo uma canopy walkway (passarela suspensa

na altura da copa das árvores); 2) oferecer a oportunidade de ver espécies de flora e fauna

chamativas e endêmicas por meio de guias mateiros; 3) desenhar seu produto para ser gerenciado por comunidades

ribeirinhas ou de extrativistas; 4) vincular o roteiro à atividades diferenciadas de aventura e ainda

5) ter disponíveis boas listas e guias para observação da avifauna local .

EXEMPLO:

CARACTERÍSTICAS PRODUTO PRODUTODO PRODUTO CONCORRENTE 1 CONCORRENTE 2

NOME DO PRODUTO

COMPONENTES DO PRODUTO

MERCADO CONSUMIDOR -

ORIGEM E VOLUME

PREÇO DO PRODUTO

DURAÇÃO DO PACOTE

DIFERENCIAL DO PRODUTO

PONTOS FORTES

PONTOS FRACOS

FORMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE MATERIAL DE MARKETING

ABORDAGEM DE MARKETING (APELO ESPECIAL)

1 QUADRO 2

FONTE: Adaptado pelo Editor a partir de MacGregor, 1994.

EXEMPLO DE PESQUISA DE PRODUTO

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UM ATRATIVO,MAIS DE UM PÚBLICO-ALVO

O Parque Nacional de Itatiaia/RJ é visitado por montanhistas, especialmente no inverno,

e por ornitólogos, na primave ra .A Pousada Aldeia dos Lagos, em

Silves/AM, recebe ecoturistas ao longo do ano, mas também grupos pararealização de oficinas (workshops)

na baixa estação.

160

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

c) Sinergias

Nem sempre o atrativo precisa valer aviagem. A proximidade de um outro atrativo(não necessariamente ecoturístico) podevalorizar o que você está propondo.

d) O mesmo lugar pode ter atrativos diferentes para diferentes públicos-alvo

Não limite o seu atra t ivo a um público-alvomuito específico. Se você fizer bem o inve n-tário, vai descobrir várias maneiras de utilizarseu atra t ivo ou conjunto deles, e elabora n d oprodutos e roteiros de diferentes perfis, paramais de um público-alvo, podendo ainda dis-tribuir melhor a visitação durante o ano.

e) Os atrativos não são apenas paraísos ecológicos intocados

Se próximo ao seu atrativo houver áreasdesmatadas e/ou poluídas, uma rápida visi-ta, ou a simples passagem por estes locaispodem ser uma forma valiosa para demon-strar o valor de trabalhos de conservação,desde que seja interpretado de maneira queressalte o aspecto degradado do local e a

necessidade de conservação. Nesse caso, odiferencial está na qualidade da informaçãot ransmitida ao visitante como forma decompensação pelo aspecto visual denatureza degradada.

f) Atividades especializadas ou de interesse específico podem agregar valor ao seu atrativo

Para que a visitação não se resuma aa t ividades físico-esportivas ou de obser-vação contemplativa das paisagens, algu-mas atividades de caráter recreativo, educa-tivo e informativo devem ser inseridas, cons-truindo um verdadeiro roteiro de ecoturis-mo. A simples observação e interpretaçãodas paisagens pode não ser suficiente paracriar o diferencial de seu produto. Técnicasde educação ambiental e de interpretaçãodo ambiente são necessárias e contribuempara que a vivência no ambiente naturalseja mais enriquecedora, ao mesmo tempoem que conscientiza o visitante para temasambientais relevantes.

Todas as atividades de lazer e recreaçãop raticadas em áreas naturais são de caráteraltamente dinâmico, alterando-se princi-palmente de acordo com a flutuação em o t ivação da demanda turística, nãosendo raro o aparecimento de nova smodalidades. Todas necessitam de orien-tação, algumas de treinamento específico eequipamentos de segurança individuais ou

3SINERGIA COM OUTROS ATRATIVOS NA REGIÃO

Uma fazenda antiga do ciclo de caféperto de uma reserva privada de mataprimitiva ou secundária de bom porte.

Os turistas com interesses culturais vão gostar de fazer uma visita curta

ao ecossistema original, e os ecoturistasvão achar o roteiro mais rico se

puderem também visitar a fazenda.Da forma mais ampla, propriedades ou unidades de conservação comremanescentes de Mata Atlântica

localizadas próximo ao Rio de Janeiroou São Paulo também geram

esta sinergia.

EXEMPLOS:

EXEMPLOS:

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

c o l e t ivos. A TABELA 3 (páginas 162 a 164)pode dar uma boa idéia das principaisa t ividades que vem sendo desenvo l v i d a satualmente em ambientes naturais. Po r é m ,procure sempre um especialista para umestudo caso a caso e para desenvo l v ê - l a sseguindo os princípios de mínimo impacto.

Depois de definir o atra t ivo e a melhorforma como serão explorados, o próximopasso é identificar a melhor forma de apre-sentá-lo ao turista, considerando que vo c êquer causar o mínimo impacto no ecossis-tema, oferecer ao turista valor condizentecom o preço pago e propiciar retorno àcomunidade e à conservação. Analisando a

logística e a fragilidade do ecossistema,você vai encontrar alguns obstáculos, maspoderá descobrir formas para diferenciarseu atra t ivo em relação ao dos concor-r e n t e s .

Passo 2 – Acesso, Transporte e Taxas de visitação: Como o turistavai chegar ao atrativo e quanto custa ?

Se vai chegar de avião deve-se avaliarqual é o aeroporto mais próximo (emquilômetros e tempo) e, uma vez na cidadede acesso, que tipo de transporte seráusado, qual a sua capacidade e disponibili-dade para transportar visitantes até o atrati-vo. Avaliar também se há problemas deacesso em certas épocas do ano, procuran-do caminhos ou meios de transporte alter-nativos. Se o acesso, ou parte dele, do aero-porto até o atrativo é agradável, ecologica-mente interessante e paisagisticamentebonito, este pode ser melhor aproveitado epropositadamente inserido no roteiro. Sep o s s í vel, fazer o transporte de maneiraecológica (uma canoa a remo ao invés demotorizada) e contratando empresas res-ponsáveis. Evite atividades e meios de trans-porte motorizados dentro de áreas protegi-das ou de fragilidade ambiental conhecida,e procure também controlar para que osacessos não causem perturbações em vilascomunitárias. Lembre-se que alguns locaisatrativos, como áreas naturais públicas e pri-vadas, protegidas ou não, possuem taxas deacesso, as quais geralmente são incluídas nopreço do passeio. Nestes casos, atente paraas necessidades de agendamento e autoriza-ção prévias (ver Exemplo na página 163).

3

ATRATIVOS QUE NÃO SÃO PARAÍSOSECOLÓGICOS INTOCADOS

Na borda da Reserva Biológica de Poço das Antas há uma barragem

abandonada que tem causado impactosambientais sérios na região.

Uma visita a essa barragem com umguia contando a história de como foi(mal) planejada, e nunca usada, pode

ser um assunto muito interessante.No Rio de Janeiro, os favela-tours

são populares entre os turistas quequerem conhecer outras realidades.Na Chapada dos Guimarães / MT,

antes de se chegar ao Parque Nacional,há um lixão a céu aberto,

o qual pode ser objeto de temas interpretativos para se conscientizarsobre o problema de lixo excedente

que o turismo pode causar em pequenas localidades.

No Vale do Ribeira, sul de São Paulo, o Canal do Valo Grande foi obra

que causou sérios problemas sociais e ambientais, podendo demonstrar ao visitante como a interferênciaantrópica no ambiente pode gerar

conseqüências negativas não previstasem médio-longo prazo.

EXEMPLO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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ATIVIDADES /INTERESSES

Bóia-cross(Acquaraid)

Asa delta, pára-quedismo, para-pente, paraglyder,balonismo

Acampamento(Camping)

Cannyoning /Cachoeirismo(Cascading)

Canoagem(Canoeing, cayaking) e Rafting

Ciclismo /Mountain Biking

Caminhadas eTravessias (Hikking/Trekking)

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

Percorrer rios de corredeiras pormeio de bóias infláveis. O equipamento pode ser umacâmara de pneu de caminhão ouequipamentos específicos, melhorelaborados e resistentes.

Práticas aéreas que permitem umavisualização das paisagens de formapanorâmica e sem muitos impactosna fauna e flora.

Forma mais econômica dehospedar-se próximo à natureza.

Explorar e percorrer rios de vale,driblando os acidentes naturaiscomo cânions, gargantas e cachoeiras. A variante "cascading"é conhecida como rappel de cachoeira.

Passeios de canoas e caiaques realizados em lagoas, lagos, rioscom ou sem corredeiras, baías,mangues etc. Rafting é a descida de rios com corredeiras e pequenascachoeiras com botes infláveis de estrutura reforçada.

Passeios de bicicleta adaptadas a terrenos irregulares por roteirospré-determinados. Pode-se alcançarlugares mais distantes do que as caminhadas e com menor esforço físico.

Caminhadas simples de até 3-4 kmnão exigem preparo físico, apenas adefinição de paradas para descansoe lazer. Trekking são caminhadas

NECESSIDADES ESPECIAIS

Equipamentos como capacete esalva vidas, além de sabernadar e conhecer o percurso.

Treinamento especializado e autorização de vôo. Osequipamentos são caros e, na sua grande maioria, importado. Necessita tambémapoio por terra.

As barracas estão mais leves e mais baratas hoje em dia.Campings regularizados, com ummínimo de estrutura, evitando-seo camping selvagem.

Bons equipamentos, equipes treinadas, preparo e experiência.

Não necessita técnica especializada, mas apenasacompanhamento e sabernadar, além de coletes salva-vidas e capacete. Canoase caiaques não são baratos, masprodutos nacionais são bons eacessíveis.

Exige-se preparo físico eequipamentos de segurançacomo capacetes e joelheiras.

Para a prática de longas caminhadas e travessias nãobasta disposição. Tem que terum roteiro bem definido e um

TABELA 3

ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3

ATIVIDADES /INTERESSES

Mergulho livre eautônomo (Diving)/ flutuação(Snorkelling)

Montanhismo

Observaçãoastronômica

Observação dafauna / flora / Safarifotográfico

Observação de pássaros(Birdwatching)

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

mais longas, de até um dia. Trave s s i a sp e rcorrem longas distâncias, entre duas regiões de interesse, e podem durar de 1 a 4 dias.

O mergulho em áreas marinhascosteiras e em águas interiores éprática já bem desenvolvida noBrasil, porém pouco explorada peloturismo. A flutuação é realizada emrios e mares de águas cristalinas,equipado apenas com máscara,snorkell e pé de pato.

Caminhadas em ambientes serranose montanhosos, que podem ou nãoincluir atividades de escalada simples ou vertical.

O b s e r var e conhecer planetas, estrelase constelações. Melhor realizadolonge de centro urbanos e em locaisde amplos horizontes. Cartas celestesauxiliam na observação e podemensinar as noções básicas de orientação geográfica.

Realizadas em todo e qualquer passeio, seja de barco, a cavalo ou à pé, ou em equipamentos especializados, como torres de observação. Exige-se técnicas de interpretação ambiental comguias naturalistas especializados ou guias mateiros treinados.

O b s e r va r, identificar e estudar pássaros em seu ambiente natura l .Trilhas específicas para esta ativ i d a d epodem ser implantadas. Os pássarospodem ter hábitos muito diferentesentre as diversas famílias e deve - s econhecer as melhores épocas e oshorários específicos para observá-los.

NECESSIDADES ESPECIAIS

mínimo de estrutura logística(equipamentos e vestuário),além de preparo físico.

Saber nadar. Equipamentos demergulho livre e de flutuaçãosão baratos. O de mergulhoautônomo nem tanto e necessi-ta de cursos especializados.

Atividades com elevados grausde dificuldade podem exigirtreinamento, equipamento eacompanhamento específicos.

Pode ser realizada mesmo a olho nu, porém binóculos e telescópios amadores, assimcomo instrutores especializados,podem enriquecer a experiência.

Especialmente para a fauna,pode-se precisar de roupascamufladas, técnicas de caminhadas, livros de identificação de animais e de pegadas e equipamentoscomo binóculos, torres de o b s e r vação e c a n o py wa l k way.

Necessita de equipamentoscomo binóculos e bons livros de identificação da av i f a u n a .Técnicas ousadas, guias treinados e equipamentos como torres de observação e passarelas suspensas (c a n o pywa l k) permitem maiores ch a n c e sde observa ç ã o .

TAB. 3 (continuação)

ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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FONTE: Compilado pelo Editor a partir de consulta a operadoras, especialistas, guias turísticos e guias de turismo.

ATIVIDADES /INTERESSES

Passeio eqüestre/Enduro eqüestre

Pesca amadora/esportiva

Visita em cavernas /Espeleomergulho

Visitas às comunidades locais/ tradicionais

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

Passeios em cavalos treinados paravisitantes de "primeira cavalgada", de poucas horas ou de até um dia,formando típicas comitivas. O cava l oé resistente a longas caminhadas ep r o p o rciona uma maior intera ç ã ocom a paisagem. Enduro eqüestre é o deslocamento por roteiros maislongos e acidentados, exigindo animais mais robustos e treinados.

Muito popular em vários países, ganhando muitos adeptos no Brasil. A prática da soltura do peixe apóssua captura (pesque e solte) tambémestá crescendo. Equipamentos simples e baratos são suficientes p a ra uma boa pescaria.

A visita em cavidades naturais permite conhecer um ambienteúnico, frágil e inóspito. Algumas c avernas apresentam graus de dificuldade e só devem ser e x p l o radas com acompanhamentopor especialistas, pois possuem abismos, travessias de rios e lagosinternos e até quedas d'água.

A t ividades que proporcionam ao visitante trocas de conhecimentos,v ivências e experiências cultura i s .Regionalismos e marcas de miscigenação racial possuem gra n d einteresse turístico, tais como a gastronomia, a arquitetura, a música,o artesanato e as vestimentas. Modosde vida, tais como atividades de lidacom o gado, de pesca, de fabricaçãode medicamentos e cosméticos n a t u rais entre outros, agregam va l o rc u l t u ral ao roteiro ecológico.

N E C E S S I DADES ESPECIAIS

No caso do passeio eqüestre, não há necessidade de experiência prévia, apenas de orientações gerais do guia e de proteção do sol. O enduroequestre é para visitantes maisexperientes. Neste caso é precisotambém equipamentos e conhecimento do roteiro.

Utilizar anzóis sem farpas mach u-cam menos os peixes. Obedeça alegislação local e federal, eobtenha a licença de pesca. Hárestrições para a época de repro-dução (nov. à março) e para otamanho máximo de captura dealgumas espécies. Deve-se evitaras áreas de pesca de subsistênciadas comunidades locais.

O Ibama exige plano de manejoda visitação e acompanhamentoespecializado. A fauna éextremamente sensível às a l t e rações ambientais provo c a d a spela visitação. Os espeleotemassão frágeis. Exige-se certo esforçofísico e equipamentos, algunsnão tão baratos.

Estudos antropológicos e sócio-ambientais são necessários parase conhecer as fragilidades c u l t u rais de alguns povos, principalmente indígenas equilombolas. Ações de resgate evalorização cultural podem sernecessárias se receber visitantes dediferentes culturas. Planejamentop a r t i c i p a t ivo contribui nopreparo da comunidade e paraampliar os benefícios.

TAB. 3 (continuação)

ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3

Passo 3 – Tempo: Quanto tempo o turista deve ficar no atra t ivo ?

Qual é o período mínimo que o turistateria que passar no lugar para apreciar osencantos? Por quanto tempo se podeentretê-lo, pensando no conjunto de atra-tivos e atividades de que se dispõe? Qual onúmero ideal de dias? Se o acesso é difícil,também deve-se pensar em tempo para des-cansar. Se o clima no local é muito quente,deve-se diminuir o ritmo dos passeios ea t ividades, aumentando-se o número dedias de visita. Se a região tem vários atra-tivos, deve-se analisar se são concorrentesou complementares, ou seja, se induzem oturista a ficar mais tempo na região.

Passo 4 – Hospedagem: Onde – caso necessário – o turista vai dormir?

Se o atrativo requer (ou merece) mais deum dia de visita, ou se o tempo de viagematé o lugar é longo, é preciso pensar nahospedagem. Deve-se fazer um levantamen-to (ver capítulo Levantamento do PotencialTurístico – Inventário) dos hotéis/pousadasou outros tipos de hospedagem nas proxim-idades, identificando suas cara c t e r í s t i c a s(conforto, preço, tamanho, localização,serviços etc.). Pode-se até chegar à con-clusão que não há hospedagem de quali-dade por perto e é necessário se hospedarem alojamentos coletivos ou acampar.

O ACESSO AO ATRATIVO

A R e s e rva Biológica de Poço das Antas e seu entorno e o Pa rque Nacional Chapada dosVe a d e i ros e seu entorno ficam a aproximadamente duas horas de viagem de carro de grandes aeroportos (respectivamente aeroportos do Rio de Janeiro e de Brasília),

com vôos freqüentes de diversas procedências.O arquipélago de Fernando de Noro n h a, que inclui o Parque Nacional Marinho de mesmonome, é acessado em aproximadamente uma hora por meio de empresas aéreas regionais

e nacionais, que oferecem vôos diários a partir de três aeroportos em capitais do nordeste (Fortaleza, Recife e Natal). A R e s e rva de Desenvolvimento Sustentáve l

M a m i ra u á também está próxima a um aeroporto regional (cidade de Tefé). Porém, é precisoainda o transporte por barco por aproximadamente uma hora .

Na E s t rada Pa rque Pa n t a n a l, o acesso é também um atra t ivo. Ela pode ser um meio p a ra se atingir as pousadas ou o próprio objetivo do roteiro: percorrer e observar

a fauna e flora pantaneira. Na Chapada dos Ve a d e i ro s, o acesso para a Vila de São Jorge também é feito por uma estrada cênica, margeando o Parque Nacional.

Pa ra a Pousada Aldeia dos Lagos, em Silves, o acesso é feito a partir da cidade de Manaus, que recebe vôos diários nacionais e internacionais. O traslado, feito por vias terrestre

(locação de vans e táxis) e náutico (barco do Hotel), é mais longo, podendo levar até 5h o ras. Uma opção pode ser somente via barco, o chamado Expresso, que chega pelo

Rio Amazonas em 5 horas, opção segura enquanto o turista observa a paisagem da floresta de várzea.

Já para a Pousada Pe d ras Negra s, na Reserva Extra t ivista de mesmo nome, no Vale doGuaporé, em Rondônia, o acesso, a partir de Porto Velho, é longo e relativamente custoso,porém muito belo e rico de cenários selvagens. Pode ser feito por via aérea e por barco, oudiretamente por via aérea até a reserva. Porém, nas épocas de seca, o acesso pode ser viaaérea até o município de Costa Marques e o restante por barcos motorizados, observa n d o -se as belas paisagens naturais, com o aparecimento das praias de rio, e pernoitando-se em acampamento selvagem no meio do caminho, conferindo um perfil de ave n t u ra no roteiro.

EXEMPLO:

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técnicas ecológicas na operação, comoenergia renovável, sistema de esgoto debaixo impacto, reciclagem, suporte comu-nitário etc. (ver capítulo I n f ra - e s t r u t u ra) .Mesmo sabendo que o acesso e uso destastecnologias nem sempre é fácil, o simplesfato do hotel ser responsável na sua gestão,oferecer mão-de-obra local capacitada,arquitetura, gastronomia e decoração típicase contribuir com projetos de conservação jáé um diferencial e deve ser preferido.

A organização para a hospedagem é umitem importante, principalmente na saída ena chegada. Elaborar rooming-lists (lista deocupação dos quartos) evita transtornos.Observe também se o meio de hospedagemescolhido está acostumado a trabalhar comgrupos. Caso negativo, alguns acertosprévios são necessários.

Passo 5 – Alimentação : O quê e quando o turista vai comer?

Em geral, o ecoturista gosta de conhecercomidas regionais, mas deve haver umaalternativa para quem tem menos disposiçãoe espírito de aventura. Uma boa parte dosecoturistas prefere comida natural ou vege-tariana. Não se esqueça da higiene!Problemas digestivos podem atrapalhar edeixar uma lembrança negativa, que podevir a ser associada ao seu produto. A apre-sentação dos pratos e a decoração comm o t ivos regionais do estabelecimentopodem fazer a diferença.

As refeições têm que ser planejadas como roteiro do passeio em mente. Se o grupoprecisa levantar muito cedo, é melhor umcafé da manhã simples (frutas e torradas) e,mais tarde, complementar com alguma coisamais substancial em forma de lanche. A p e s a rde que os turistas devem ser lembrados del e var água, o guia sempre tem que levar águae x t ra para evitar desidratação. Ta m b é mrecomenda-se que o guia leve algum doceou chocolate para casos de hipoglicemia(queda no nível de açúcar no sangue).

Se o grupo vai passar o dia longe derestaurantes (ou dias, no caso de travessias),é necessário providenciar um box lunch (ou

3

A DIVERSIDADE DE ATRATIVOS DEUMA REGIÃO AFETA O TEMPO DE

PERMANÊNCIA DO TURISTA

Poço das Antas pode ser feito num tour de um dia (partindo

do Rio de Janeiro), mas o turista pode ser induzido a ficar mais tempo econhecer a RPPN Fazenda Bom Retiro.

Já o turista que vai para Mamirauáprovavelmente vai ficar somente lá,

porque a cidade de Tefé não tem nenhum atrativo. Assim, o tempo

de permanência será definido exclusivamente pelos atrativos da Reserva. No caso de Silves,

para determinados públicos pode-seoferecer uma visita à Madeireira Mil,em Itacoatiara, que possui certificado

de manejo florestal responsável,mostrando como pode ser viável

a exploração madeireira na Amazônia.Já no Pantanal, pode-se aproveitar a ida do visitante a Bonito (MS),

e convidar as operadoras a esticar o roteiro até a Estrada-Parque.

EXEMPLO:

Neste caso o visitante deve ser claramenteinformado. Caso haja nas redondezas umhotel-fazenda, que também é um atrativo,pode-se mudar o roteiro preliminar que setinha em mente. Se você dispuser de váriasopções, dê preferência àquela que, devido asua localização, lhe facilite o deslocamentoaos atrativos.

Em alguns casos, a construção de umhotel ecológico, comunitário e/ou dearquitetura típica, pode ser decisivo paraa t rair turistas, como no caso de Silve s ,Pedras Negras e Mamirauá. Embora seja umconceito pouco difundido, deve-se darpreferência à hospedagem em pousadas depequeno porte (até 25-30 UH's) e que usam

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

seja, um almoço simples, conhecido tam-bém como lanche de trilha – que é levadoem sacos ou caixas de papel). No Quadro 3a seguir veja alguns alimentos geralmente

Passo 6 – Quem vai guiar o grupo?Este é um componente chave no seu

roteiro. Um bom guia pode salvar um pro-duto medíocre, mas um guia ruim podedestruir um bom produto. O guia é respon-sável pela imagem do produto, é o anfitriãodo próprio projeto e da região. No caso doecoturismo, o guia é um intérprete e umeducador (ver também capítulo Interpre -tação Ambiental) . Um guia deve ter:

❐ Compromisso com o projeto, com aregião e com o mínimo impacto.

❐ Capacidade em técnicas de condução einterpretação em ambiente natural e cul-tural.

❐ Simpatia, personalidade e capacidade demediar conflitos.

❐ Liderança e noções de relações pessoais.❐ Conhecimentos gerais e específicos so-

bre o atrativo e a região.

❐ Conhecimentos de primeiros socorros ede como agir em emergências.

❐ Habilidade para se comunicar (inclusivefalar outros idiomas se o seu público-alvo incluir o mercado estrangeiro).

É lógico que, se possível, sempre deve-sedar preferência aos guias locais. Além de serum dos objetivos do ecoturismo de basecomunitária, os próprios turistas gostam deser acompanhados por gente do lugar, taiscomo guias mateiros. A necessidade de con-tratar um guia naturalista bilíngüe dependedo seu público-alvo.

Se a visita ao seu produto faz parte deum roteiro maior, o grupo de visitantesprovavelmente já tem um guia que os acom-panha. Normalmente, grupos estrangeirosenviam um guia (tour conductor) que, emgeral, tem seus custos dissolvidos nos preçosindividuais. A operadora pode então incluir

usados em roteiros ecoturísticos. Evite levarenlatados, bebidas alcoólicas, leite emcaixa, ovos ou perecíveis.

3❐ Sanduíches reforçados, preferencialmente de pão integral;❐ Queijos de consistência dura; ❐ Mate, chá preto, água mineral e sucos naturais;❐ Passas ou frutas secas;❐ Chocolates, castanhas, amendoim e barra de cereais;❐ Biscoitos empacotados;❐ Frutas de consistência dura (laranja, maçã, goiaba);❐ Carne seca, salame e presunto (para não-vegetarianos);❐ Mel em bisnaga (preferencialmente) ou açúcar;❐ Sopas e alimentos desidratados;❐ Leite e café em pó, do tipo instantâneos.

1 QUADRO 3

EXEMPLO DE ALIMENTAÇÃO MAIS COMUM EM ROTEIROS

FONTE: Compilado pelo Editor a partir de consulta a operadoras, especialistas, guias turísticos e guias de turismo

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um guia local especializado para a parte doroteiro realizada no seu produto. Em algunscasos, dependendo das características doseu produto e do grupo, pode até ser feitauma combinação entre um guia local e umcientista ou naturalista para acompanhar ogrupo no trecho do roteiro realizado no seuproduto.

Se o grupo vai ser acompanhado porvários guias, podem surgir conflitos (cadaum se acha dono do grupo). É bom esclare-cer as competências de cada um antes decomeçar o programa, que podem serdefinidas de acordo com a experiência eenvolvimento com seu projeto.

Há falta de bons guias de ecoturismo nom e rcado. Se seu produto precisa de guias eo mercado local não atende, vale a penamanter um cadastro de guias (ou seja, o re-gistro dos nomes e contatos com guiasespecializados com características quesejam adequadas ao seu produto), tantop a ra o público estrangeiro quanto para onacional. Também pode valer a pena inve-stir em treinamento (ver capítuloC a p a c i t a ç ã o) .

Passo 7 – São necessários vestuário, equipamentos e materiais especiais?

Para melhor aproveitar o atrativo, podeser que o turista precise de equipamentos emateriais especiais: binóculos para obser-vação, máscaras e snorkel (equipamentopara mergulho sem garrafa de ar), roupasespeciais, repelente de insetos etc. Algunsdeste itens podem ser vendidos ou locadospelo seu projeto (use o bom senso !),aumentando sua rentabilidade. Nas infor-mações transmitidas ao cliente deve - s edeixar claro o quê ele deve trazer, o quê aoperadora fornecerá e o quê pode ser aluga-do ou vendido no local. Segue no Quadro 4(página seguinte) um resumo dos principaisitens que devem ser considerados emroteiros de ecoturismo, que devem ser adap-tados tanto para seus guias como para osvisitantes, de acordo com o perfil do atrati-vo e das atividades a serem realizadas.

Passo 8 – Quais são as informações que o turista vai receber?

O marketing responsável prevê que oturista receba informações consistentesantes, durante e após o tour. O primeiropasso é providenciar a redação promocionaldo produto e/ou roteiros, de forma a induziro consumo e, mais importante, preparandoo visitante de forma realista para a viagem.A oferta de informações detalhadas e dequalidade pode ser um diferencial para seuconcorrente. O potencial visitante devereceber ou ter acesso fácil às informaçõesdo seu produto (também disponíveis viaInternet) de forma bem organizada sobre:

❐ os dados gerais do destino - localização,acesso, clima, características dos ecos-sistemas e das culturas locais e suaimportância para a conservação (incluin-do áreas protegidas, se houver, e suaimportância) etc. Cuidado com textosmuito longos. Centre-se nos seus diferen-ciais.

❐ os dados do(s) roteiro(s) - duração, tras-lados, serviços, atra t ivos e ativ i d a d e sdiárias (incluindo os períodos liv r e s ) ,custos, formas de pagamento, o que estáe não está incluso etc;

❐ seu apelo de marketing e o seu diferen-cial;

❐ os equipamentos e materiais (conformeitem acima);

❐ as precauções de saúde e segurança e asfacilidades para atendimento médico; e

❐ as orientações quanto ao c o m p o r-tamento durante a visita (este item é fun-damental quando a visita incluir popu-lações indígenas ou tradicionais).

Durante a viagem a maioria das infor-mações são transmitidas pelo guia (ou, casonão haja um guia, por intermédio de umCentro de Visitantes ou de trilhas interpreta-t ivas – ver capítulo I n t e r p r e t a ç ã oAmbiental). Eventualmente são organizadaspalestras com meios audiovisuais. Muitoúteis também são as listas de espécies ani-mais (aves, mamíferos, peixes, etc.) e de

3

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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VESTUÁRIO

❐ O vestuário de guias e de ecoturistas deve atender às necessidades do ambiente.Roupas leves, confortáveis, resistentes e ventiladas são as mais indicadas para o nosso clima.

❐ Calçados do tipo bota e calças compridas (exceto jeans) dão maior proteção contra arbustos, espinhos e animais peçonhentos.

❐ Proteja-se do sol (chapéus e bonés) e de mosquitos (camisetas de manga comprida).

❐ Pensando-se em mudanças climáticas (chuvas e ventos), usar preferencialmente oanorak - roupa de nylon impermeável.

❐ Em regiões de clima úmido, e em caso de travessia de rios e pernoites, leve umamuda de roupa.

❐ Em regiões de clima frio e em caso de camping selvagem, leve malhas finas de lã,gorro e luvas.

❐ Os calçados são relevantes. Botas de 1/2 cano com solado de borracha são as maisusadas.

❐ As meias são igualmente importantes. É necessário em excursões de média oulonga duração pares de meias para trocas periódicas, a fim de manter os pés secose confortáveis.

MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

❐ Dependendo do roteiro, orientar os clientes na montagem de "mochila de ataque"(mochila pequena / média de costas). Esta deve ser montada de acordo com aduração e tipo do percurso e deve conter o essencial. Sem peso excessivo na colu -na e mantendo suas mãos livres, o visitante ganha em conforto e segurança.

❐ O material básico, de acordo com o seu roteiro, é: cantil ou garrafa pequena deágua; saco de lixo, roupa de frio e muda de roupa (se for o caso), capa de chuva,repelente, chapéu ou boné, protetor solar, máquina fotográfica e lanterna (compilhas extras), toalha pequena (em caso de cachoeiras / praias), binóculos paraobservação da fauna e lanches entre outros.

❐ O material específico dos guias envolve, além de alguns itens acima: cordas, estojode primeiros socorros, rádio-comunicadores, lâminas (faca, canivete), mapas e bús -sola, sal (para pressão alta) e açúcar (para hipoglicemia), fósforos e isqueiros.

❐ Em caso de pernoite em acampamento selvagem, deve-se providenciar: barracas,redes com mosquiteiros, sacos de dormir, fogareiro, panelas e talheres, alimen-tação para desjejum, lanches e refeições, vela, álcool em gel ou benzina, entreoutros itens.

1 QUADRO 4

EQUIPAMENTOS E MATERIAIS MAIS COMUNS EM ROTEIROS DE ECOTURISMO

FONTE: Compilado pelo Editor, a partir de consultas a guias de turismo, operadores e especialistas.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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plantas que podem ser encontradas nolugar, assim como guias de identificação(guidebooks) que incluam as espécies queocorrem na região.

Depois de uma viagem, apostilas curtas(factsheets), que resumem as informaçõesmais importantes dadas pelo guia, são muitoapreciadas. É importante ser objetivo nasinformações (deve-se evitar frases como “olugar com o maior ....... do mundo”),respeitar a inteligência das pessoas echamar a atenção para semelhanças e dife-renças com ecossistemas que o turista jáconhece (por exemplo, no Vale do Guaporé,uma zona de transição entre o Pantanal e aAmazônia, podem-se apontar os elementosou espécies que são de um ou de outroecossistema).

Passo 9 – Não esquecer do conforto e segurança do turista e de outras responsabilidades

No desenho do produto, sempre devemser considerados o conforto e a segurançado turista. Essas considerações influirão naescolha de transporte, hospedagem, alimen-tação, guias, equipamentos e até nas infor-mações que serão transmitidas ao turista.Essas escolhas poderão refletir no custo doproduto.

Lembre-se que a maioria dos ecoturistasgosta de uma aventura na selva, mas depoisquer água mineral e tomar um banhoquente. O ecoturista gosta de ver animaisselvagens, mas pode detestar uma nuvem demosquitos ou morrer de medo de contrairuma doença tropical. Deve-se pensar nosproblemas de segurança ou imprevistos(picadas de insetos, cobras, acidentes, pro-blemas particulares de saúde) que podemocorrer, e ter preparado um plano de açãoemergencial caso ocorram (médico/hospitalmais próximo, como se chega lá). Deve-seponderar se vale a pena levar turistas pararegiões com altos índices de doenças de

difícil prevenção e/ou cura, tais como amalária. E o uso de rádio-comunicadores,bem acessíveis atualmente, são de funda-mental importância tanto na logística daoperação, quanto em casos emergenciais.Telefones celulares via satélite, ainda muitocaros, podem ser um item importante emdestinos isolados, principalmente na regiãoamazônica.

O turista deve ter um seguro de viagem eassinar um termo de responsabilidade paraevitar problemas sobre quem paga a conta deum resgate ou de um tratamento médico. EsteTermo de Responsabilidade, que pode serfeito na forma de um contrato de prestaçãode serviços, faz-se também necessário quan-do o roteiro apresentar certos graus de difi-culdade (médio/alto), quando envo l ver a visi-ta a ambientes selvagens ou quando foremrealizadas atividades de esportes na natureza,com perfil radical ou não. Após as devidasexplicações, no ato da venda, dos cuidados edo comportamento necessário para o roteiro,o termo de responsabilidade pode ser umaboa forma de resguardar a responsabilidadedos gerentes do projeto sobre os atos inade-quados dos visitantes e suas conseqüências.Mas lembrem-se de que as orientações sobreo comportamento e a segurança do visitanted e vem ser ressaltadas em todos os momentosque o guia julgar necessário, em função dasa t ividades desenvolvidas ou do momento dor o t e i r o .

O guia deve receber um treinamento empronto-socorrismo (Suporte Básico de Vida)e levar um kit básico de primeiros socorrosnas viagens, de acordo com as condições dolocal. Por fim, o ideal é providenciar que ovisitante preencha, previamente à realiza-ção da viagem, de preferência no ato defechamento da compra, uma ficha de saúde(ver Quadro 6) a qual deve ser mantida coma equipe durante todo o roteiro. Pode-seinserir esta ficha no verso do Termo deResponsabilidade.

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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NOME: _______________________________________________________________________

IDADE: ____ ROTEIRO: _______________ DATA: ____________________

❐ Sofre de algum tipo de alergia ?

( ) Medicamento. Quais?

______________________________________________________________________________

( ) Alimentos. Quais?

______________________________________________________________________________

( ) Insetos. Quais ?

______________________________________________________________________________

( ) Outros. Quais ?

______________________________________________________________________________

❐ Está tomando algum medicamento atualmente ? ( ) não ( ) sim Qual?

______________________________________________________________________________

❐ Sofre, atualmente, de algum problema de saúde ? ( ) não ( ) sim Qual?

______________________________________________________________________________

❐ Sofreu intervenção cirúrgica recentemente ? ( ) não ( ) sim Qual?

______________________________________________________________________________

❐ Recomendação para atividade física: ( ) normal ( ) moderada

❐ Sabe nadar? ( ) sim ( ) não ❐ Tipo de sangue: _____

❐ Sofre de asma? ( ) sim ( ) não • Tratamento:___________________________________

❐ Sofre de bronquite? ( ) sim ( ) não • Tratamento:_______________________________

❐ Em caso de emergência, comunicar-se com:

Nome______________________________________ Telefones ( ) ___________________

❐ Em caso de acidente ou consulta médica:

( ) convênio ou assistência médica: ______________________________________

N.º sócio ________________

( ) médico particular: __________________________________________________

Telefones ( ) ____________________

1 QUADRO 5

MODELO SIMPLIFICADO DE FICHA DE SAÚDE

FONTE: Compilado pelo Editor a partir de consulta a operadoras e especialistas.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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3. Preço: Quanto Cobrar ?

Para estabelecer um preço para seu pro-duto deve-se considerar três pontos de

vista:

❐ Qual é o valor do produto para o cliente?❐ Quanto a concorrência está cobrando

por produtos semelhantes?❐ Quais são os custos?

O mais fácil é verificar o preço da con-corrência. Isto pode ser feito por meio de vi-sitas, levantamento de anúncios, Internet etc.Se você acha que o seu produto oferecealguma coisa a mais, o seu preço pode terum prêmio acima do preço da concorrência.Por outro lado, se seu concorrente é forte, evocê estiver iniciando suas atividades, umapolítica de preços promocionais, oferecendomais por menor custo (e tendo capacidadep a ra isto), pode lhe dar a chance de atrair eformar seu público inicial.

Sem os parâmetros da concorrência, omais difícil será estabelecer o valor para oseu cliente. Neste caso, pense também nopoder de compra do cliente e nas suasdespesas com outras formas de lazer, comopor exemplo quanto custa ir a um parque ded iversões, quanto se gasta para ir aozoológico, à praia no fim-de-semana etc.Em todos os casos, é preciso fazer um cál-culo dos custos. A diferença entre o preçode venda e a base de custos vai determinara rentabilidade do negócio. O cálculo decustos e preços e a análise de viabilidadesão abordados em detalhes no capítuloViabilidade Econômica. Seguem abaixoduas importantes considerações: o comis-sionamento e a política de preços.

[ ComissionamentoNo mercado de turismo há geralmente

vários possíveis intermediários ou revende-dores – operadoras e agências de turismo –que podem vender o mesmo produto para oturista. Apesar do fornecedor poder vendero seu produto diretamente aos turistas, o usode operadoras de turismo é fundamental

para uma melhor colocação no mercado.Mesmo que o destino e o produto sejambem conhecidos e que o fornecedor tenharecursos suficientes para promoção, as ope-radoras de turismo facilitam e aumentam acapacidade de distribuição do produto parao público-alvo desejado.

Em mercados onde o mesmo produtopode ser vendido tanto diretamente dorevendedor como por meio de diferentesrevendedores, é comum o uso de preçoscomissionados. Para que isto funcione ofornecedor do produto estabelece:

- um preço net - é o preço líquido,sem comissão, ou seja, é o mínimoque o fornecedor quer receber porturista, e- um preço balcão – é o preço detabela, onde está inserido o valor dacomissão. Esta pode ser destinada aorevendedor final do seu produto, porexemplo, o operador, ou ser absorvi-do pelo fornecedor, no caso de ele terefetuado a venda diretamente ao tu-rista.

Nesse sistema, teoricamente, o turistasempre pagaria o mesmo preço (o preçobalcão) por um produto, independente decomprá-lo do fornecedor ou de um revende-dor. O fornecedor então vende o seu produ-to ao preço balcão. O valor da comissãoque ele repassa a cada revendedor é acor-dado entre as partes e varia geralmente de10 a 30%, no máximo, dependendo doesforço de venda que o revendedor emquestão faz para vender o produto. Ou seja,as operadoras preferenciais recebem umacomissão máxima de 30%, mas em trocaeles destacam o produto em feiras e em con-tatos com seus clientes.

No mundo real nem o fornecedor nemos revendedores aderem fielmente a essesistema. O resultado disso é que o turistapode comprar o mesmo pacote por preçosdiferentes (um teste simples é perguntar aseus vizinhos no avião quanto eles pagarampela passagem para um mesmo percurso).Alguns problemas podem surgir devido ao

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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não cumprimento do sistema de comissio-namento. Por exemplo, o revendedor colo-ca um preço mais alto que o preço balcãocombinado, prejudicando o seu fornecedor,ou o fornecedor dá um preço mais baixopara o turista que entra em contato direto,prejudicando assim seu reve n d e d o r. Acomissão é calculada do ponto de vista do

[ Política de PreçosÉ bom pensar e estabelecer uma política

de preços. Seguem algumas dicas:

❐ Tabelas de preços complicadas confundem.❐ Preços com valores arredondados são

mais fáceis de lembrar.❐ Freqüentes mudanças de preços podem

resultar em perda de clientes.❐ Às vezes, é usado o conceito loss leader,

ou seja, um produto que se vende comprejuízo ou com margem baixa de lucro afim de atrair interesse por outros produtos.

❐ Para produtos com altos custos fixos (verc a p í t u l o Viabilidade Econômica), écomum dar descontos de baixa estação,visando atrair turistas na baixa tempora-da e não ficar sem entrada para cobrir,ao menos, parte dos custos fixos.

❐ É preciso monitorar os seus custospara avaliar ajustes de preços.

Para o mercado nacional e regional, pro-moções de preços são sempre bem-vindas.Alguns casos em que se pode praticá-lassem causar confusões no mercado são:❐ quando da elaboração de novos pacotes,

por exemplo, que coincidam com a rea-lização de eventos culturais locais (fol-clóricos, gastronômicos, artísticos emusicais) que se quer resgatar e que são promovidos pelo seu projeto;

❐ quando se quer atrair grupos fechados,de interesses específicos, por exemplo,de estudantes, realizadores de eventosde negócios ou profissionais (oficinas,encontros), grupos de pesca esportiva, deobservadores de pássaros, de pesqui-sadores etc;

❐ quando se quer apresentar um novo pro-duto ao mercado.

Uma vez definidos o produto e seupreço, o próximo passo é ve n d ê - l o .Primeiro, deve-se torná-lo acessível aopúblico-alvo, de forma que se possa facil-mente obter informações, fazer reservas epagamentos. Depois, deve-se fazer propa-ganda, divulgando o produto e estimulandoo público a comprá-lo. As decisões sobredistribuição e propaganda estão intima-mente ligadas. Estes dois temas serão trata-dos nos pontos a seguir.

revendedor, ou seja, o valor da comissão emmoeda é calculado com base no preço totalpago pelo turista pelo produto (preço bal -cão). Deste valor, o revendedor retira suacomissão e repassa o restante (preço net)para o fornecedor. Por isso, o cálculo dopreço balcão partindo do preço net é feitoda seguinte maneira:

DESCRIÇÃO FÓRMULA EXEMPLO

Preço net: A US$ 40.00Comissão em porcentagem: B (em %) 20%Preço balcão: C = A x (100% + B%) 40.00 x 1,2 = US$ 50.00Preço net: A = C x (100% – B%) 50 x 0,8 = US$ 40.00 Comissão em moeda D = C – A US$ 10.00

TABELA 4

FÓRMULA PARA CALCULAR A COMISSÃO E O PREÇO BALCÃO

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4. Distribuição: Como chegar até o público-alvo

Em um mundo ideal não haveria inter-mediários e a promoção seria feita boca

a boca: o fornecedor do produto conheceriacada indivíduo de seu público-alvo pessoal-mente, e o público saberia exatamente quetipo de produto desejaria comprar e ondeachá-lo. Além disso, os dois lados teriamconfiança total um no outro nessatransação. Contudo, uma vez que o público-alvo está espalhado no Brasil e no mundo,os custos de marketing aumentam com adistância entre o fornecedor do produto e opossível comprador.

Parte das operadoras nacionais de eco-turismo que vendem para o públicobrasileiro divulgam seus produtos por meiode pequenos anúncios em revistas e jornais(os tijolos), e por meio da propaganda bocaa boca. Também montam um banco dedados de clientes, para quem enviam, comalguma freqüência, uma mala direta com onovo programa da operadora, num folhetosimples.

Mas se o público-alvo estiver no exterior,geralmente não há dados a seu respeito, oumeios de encontrá-lo. O custo de mala dire-ta para o exterior é mais alto (custo do cor-reio, de um folheto bem produzido etraduções, se for necessário), e mesmo se ocliente se interessar, é complicado fazerreservas e pagamento. Então, os custos demarketing serão muito altos com poucachance de um bom retorno.

A saída é trabalhar com intermediáriosque já têm acesso a esse público-alvo, poisos custos fixos de marketing serão baixos eos custos variáveis serão pagos por meio decomissões (ver sobre custos fixos e variáveisno capítulo Viabilidade Econômica).

No Fluxograma 2 são mostrados muitoscaminhos para que o seu produto de ecotu-rismo chegue ao público-alvo no exterior.Um indivíduo que quer fazer uma viagemde ecoturismo no Brasil tem duas opções:ou ele faz tudo sozinho (pesquisa aonde ir,planeja a viagem, faz reservas e pagamentos

etc.; esta opção foi muito facilitada pelocrescimento do uso da internet) ou usa inter-mediários (ou revendedores). Um clienteusa intermediários porque, se fizer tudo so-zinho, gastará muito tempo e nem sempreconseguirá bons preços por falta de poderde negociação. Se o turista não sabe muitobem o que quer, provavelmente usará umaagência de viagem (por exemplo, AmericanExpress), que tem vários produtos a oferecer.Se ele gosta de um certo tipo de viagem,pode ter preferência por uma operadora deecoturismo especializada (por exemplo,Mountain Travel/Sobek). Se ele tem certosinteresses ou quer atividades específicas, éprovável que seja sócio de uma ONG (porexemplo, o WWF) ou alguma instituição(por exemplo, a American Association ofMuseums), que organizam viagens para seusmembros. No mercado internacional de tu-rismo, o número de intermediários e suasdiferentes especializações pode tornar- s ebastante grande.

A agência de viagem emissora passa areserva para a operadora que realmente estáorganizando a viagem (ou a uma agênciaassociada no Brasil, que passa para ope-radoras locais).

Uma típica operadora emissora ofereceviagens com datas fixas no mundo inteiro epublica isso anualmente (ou até com maiorfreqüência) num catálogo muito bem pro-duzido, ilustrado com fotos e mapas, que éenviado por meio de mala direta, ou a pedi-do, ao seu público-alvo. Uma equipe deatendimento dá maiores informações paratodo o mundo via telefone e anota as reser-vas e dados específicos sobre o turista. Osclientes que fizerem reservas recebem infor-mações mais detalhadas sobre a viagem.Hoje em dia, uma importante fonte de infor-mações é a internet, principalmente noexterior.

Essa viagem é subcontratada ou con-tratada diretamente a uma operadora. Nocaso de uma viagem para diferentes regiõesdo Brasil ou viagem mista (turismo geral /ecoturismo), contrata-se uma grande agên-cia brasileira. A agência subcontratada ou

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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FLUXOGRAMA 2

UNIVERSO DE ECOTURISTAS

Observadores de Pássaros Mochileiros Terceira Idade..Mergulhadores Orquidófilos Naturalistas.

Crianças Trekkers Turista

etc...

Agência de viagem

Operadorade turismo

Operadorade turismo

PR O D U TO

Agência de viagem

OnG ConservaçãoHobby Instituição

O CAMINHO DO CLIENTE NO EXTERIOR ATÉ O SEU PRODUTO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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contratada repassa a operação para as dife-rentes operadoras dos produtos. A subcon-tratada já conhece as datas de viagens, massó recebe a confirmação se tiver um grupomínimo.

Se o fluxo de turistas aumenta muito, ficainteressante para ambas as pontas cortarcaminho dispensando intermediários, masexiste uma certa ética em não roubarclientes de outras agências, visto que aestrutura de comissões foi criada para evitarerosão de preços. É importante ressaltar quecom o recurso da internet (que funcionacomo um boca-a-boca porém em meioeletrônico numa comunidade global) temhavido mudanças nesse cenário.

5. Promoção: Como atrair o público-alvo

Apromoção do produto depende do ca-minho até o cliente final. Se houver a

decisão de vender o produto para um inter-mediário, a promoção deve ser dirigida aesse cliente, em geral “atacadista”, e não aoecoturista. A escolha do melhor inter-mediário dependerá do tipo de produto: sefor uma caminhada de meio dia no JardimBotânico do Rio de Janeiro, deve-se venderpara agências receptivas no Rio; se for umaexpedição de duas semanas para subir oMonte Roraima, deve-se vender para umaoperadora especializada em montanhismo.

Quem optar por vender para o clientefinal, deverá investir em uma loja própria,em mala direta, em folhetos de produçãoelaborada e em anúncios. Para vender a umintermediário, deve-se investir em maladireta específica, apostilas práticas,Famtours e contatos pessoais.

Não se deve esquecer que o atrativodeve chegar ao conhecimento do mercado,caso o destino não seja conhecido. O turistaque viaja não gosta de voltar e dizer que foipara determinado lugar que não despertouinteresse ou reconhecimento nos seusouvintes. Na terminologia de marketing, odestino precisa de uma marca. A Amazôniajá tem uma marca forte no Brasil e no exte-

rior, mas um produto ou programa no esta-do do Amapá, um destino em desenvolvi-mento, apesar de estar na Amazônia, é umaincógnita para a maioria dos viajantes.

Pa ra tornar um lugar conhecido, aimprensa tem um papel muito importante.Uma reportagem ou um documentário natelevisão, um artigo numa revista ou jornalpodem ter grande impacto. Deve-se lem-brar, no entanto, que jornalistas são inde-pendentes e vão escrever o que pensarem arespeito do atrativo, bem ou mal.

Também vale mencionar que, se por umlado um lugar conhecido ajuda a vender oproduto, por outro ele desperta o interessede concorrentes.

Em todos os casos, sempre aproveitepara destacar o seu principal diferencial.Seguem abaixo alguns comentários sobre osmeios de promoção:

a) O boca-a-boca É o melhor tipo de promoção, porque as

pessoas confiam nos amigos. É o ideal paraquem vende direto para o cliente final. Umprojeto de conservação tem uma rede de“amigos” em forma de organizações par-c e i ras, consultores, visitantes e simpati-zantes. Uma outra forma de boca-a-bocasão os guias de viagem (impressos) para via-jantes independentes, inserindo seu produtoem guias como o Lonely Planet Brazil TravelSurvival Kit, The South American Handbookno exterior. Também são mantidos sites nainternet para troca de experiências entre via-jantes (por exemplo, o Thorn Tree nawww.lonelyplanet.com). No Brasil, vale apena mandar informações para a QuatroRodas (Guia Brasil, Guia de Tu r i s m oEcológico e Brasil: Viajar Bem e Barato) epara o Guia Phillips.

b) ImprensaA imprensa é um tipo de boca-a-boca

com alcance muito maior. Pode ser muito útilp a ra familiarizar o público com um destino eajudar a divulgar o produto, o nome de umao p e ra d o ra ou de um hotel. Mas tem que serbem usado e dosado. A imprensa pode

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

p r ovocar uma demanda além da capacidadede um destino ou atrair um público indeseja-do. Um artigo em jornal com alcancenacional ou um espaço no Jornal Nacionalpodem resultar em muitos telefonemas deturistas brasileiros individuais para uma ope-ra d o ra voltada para grupos de estra n g e i r o s ,f r u s t rando ambos os lados.

Vale a pena entrar em contato com asrevistas especializadas como Caminhos daTe r ra, Horizonte Geográfico, Fa m í l i aAventura, Outdoor Travel, Mares do Sul,Ecotour entre outras. E também, caso tenhafôlego financeiro, com revistas que tratamde temas ambientais, como a Eco-21,Ecologia e Desenvolvimento, Ciência Hoje,National Geografic entre outras.

c) FolhetosPa ra investir em material impresso deve -

se ponderar a respeito do público-alvo, cus-tos e qualidade. Hoje em dia, com um com-p u t a d o r, um scanner e uma impressora co-lorida já é possível fazer folhetos simples ebem elaborados. Pa ra opera d o ras peque-nas, um folheto simples é muito útil navenda a turistas individuais (direto ou porintermédio de uma agência). Também podeservir para quem vende por meio der e vendedores que já produzem seu própriocatálogo. Uma opera d o ra que tem umag rande variedade de produtos ou um hotelde porte já devem pensar num folheto demelhor qualidade. Uma boa dica parabaixar custos é preparar folhetos em parc e-ria com seus fornecedores, tais como pou-sadeiros, restaurantes, empresas de tra n s-portes, operadores etc. Ou então, se forp o s s í vel e se quiser promover uma regiãomais ampla, produzir folhetos junto comoutros empreendedores turísticos da região,como por exemplo, uma associação depousadeiros da Estrada Tra n s p a n t a n e i ra .

d) Feiras e CongressosParticipar de feiras e congressos é uma

maneira de conhecer e se manter informadosobre o mercado (clientes e concorrentes).Se já é uma operadora conhecida, poderá

renovar contatos já estabelecidos. Muitoscongressos e feiras são organizados anual-mente, e muitos são perda de tempo. Vale apena se informar com antecedência sobreos mais adequados e pedir opinião a alguémque já conhece. Neste caso, valem tambémas parcerias com seus fornecedores.

e) VisitasNa maior parte do tempo a comunicação

com seus clientes revendedores é feita pelainternet ou por fax e telefone. Assim, visitaspessoais são importantes para se estabelecercontato pessoal, discutir novos produtos,p o s s í veis problemas, comissionamentos,parcerias em promoções etc.

f) Mala diretaO resultado de uma mala direta está li-

gado à qualidade de seu banco de dados, aoutras atividades de promoção (como umartigo no jornal, um anúncio) e à con-tinuidade do contato. No caso de revende-dores, o envio de uma mala direta pode serusado para marcar entrevistas para esse fim.Montar malas diretas é um exercício diárionos negócios do turismo. Cadastre todos osseus clientes. E por qualquer via de comuni-cação que lhe chegar interessados (fone,balcão, internet etc), não perca a oportu-nidade de cadastrá-los para formar suaprópria mala direta.

g) AnúnciosAnúncios podem ser úteis para divulgar

o nome do produto e ganhar credibilidade.Como sempre, deve-se pensar no custo e nop ú b l i c o - a l vo, assim como em possíve i sparcerias, antes de decidir por uma formade anúncio e qual tipo de revista ou jornal(página na Veja vs. tijolo nos cadernos deviagens).

h) InternetA internet já está mudando o mundo do

turismo, que é o segundo produto maiscomercializado na rede mundial de com-putadores. Nos Estados Unidos, 20% dospasseios já são comercializados por inter-

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médio desse canal. A internet ajuda a cortarcaminho entre o fornecedor e o cliente finale dificulta a vida dos intermediários deinformações (agências).

A possibilidade de investir em umahomepage e em sistemas para garantir reser-vas on-line deve ser considerada. Porém,deve-se lembrar que vender pela internet éum negócio que envo l ve confiança. Ocliente precisa acreditar que por detrás domundo virtual que lhe é mostrado há umarealidade correspondente. Se isso não acon-tecer, ele não se sentirá seguro para fornecero número de seu cartão de crédito.

A Internet também pode ser usada paraum boca-a-boca eletrônico. As famosas car-tas em rede podem ser aplicadas tambémpara promoção. Mande uma carta sobre oseu novo produto para cinco amigos e peça-lhes que a reenviem para outros cinco.

O WWF-Brasil e parceiros criaram o sitewww.turismocomunitario.org.br especifica-mente para abrigar e divulgar projetos deturismo de base local, possuindo ainda bi-blioteca de assuntos de interesse e mecanis-mos de trocas de experiências entre projetos.Participar das mais importantes listas de dis-cussão eletrônicas nacionais (Rede Bra s i l e i rade Ecoturismo) e internacionais (GreenTravel e Green Tour), enviando freqüente-mente notícias e releases sobre as nov i d a d e sde seu produto, pode garantir uma boa opor-tunidade de promoção. Porém, procure co-nhecer os critérios de participação estabele-cidos por seus modera d o r e s .

Por fim, veja no Quadro 6, na páginaseguinte, algumas informações específicaspara se montar uma página eletrônica efi-ciente sobre seu projeto na Internet.

3

Ter um website (literalmente, sítio na teia) na internet (rede mundial interligada de computadores) para promover e distribuir seu negócio em ecoturismo pode ser uma boa alternativa para tornar seu produto conhecido e, consequentemente, incrementar os seus rendimentos.

C e rca de 20 milhões de lares brasileiros possuem computador, e 14 milhões de brasileiros possuem acesso à internet (IBGE, 2002). E, segundo pesquisas recentes, quase75% destes são das classes sociais A e B, possuem em média 33 anos, 19,7% já compraram viagens e 15,2% não comprariam.

Estes números são muito mais significativos nos países da Europa e dos EUA. Nos EUA são cerca de 85 milhões de internautas. De acordo com dados de pesquisa da entidade norte-americana TIA (Travel Industry Association), 59 milhões de viajantes utilizaram a internet em 2000, sendo que 25 milhões destes efetivaram algum tipo de compra, porém 84% foram de bilhetes aéreos.

Mesmo que não efetuem compras pela internet, a função de um site como fonte de pesquisa pode ser, em muitos casos, decisivo. Para ter um site de sucesso e eficiente, vejaalgumas dicas:

u entre montar uma página rústica, sem planejamento e pecando em sua manutençãoe optar por não montá-la, fique com a segunda opção;

u cuide para escolher bem o endereço de seu site, exatamente o nome que vem apóso "www". Evite nomes cumpridos demais (p. ex. www.ecoturismoeaventura.com.br).Abreviações também nada significam para identificar seu produto, a não ser quesejam marcas já conhecidas (como www.wwf.org.br). Se puder vincular o endereço

1 QUADRO 6COMO MONTAR E GERENCIR UM BOM WEBSITE PARA O ECOTURISMO

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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diretamente ao nome principal de seu produto, fica mais fácil para lembrar (p. ex.www.aldeiadoslagos.com.br);

u as terminações de seu endereço podem ser variadas. Empresas comerciais devemregistrar-se com terminação ".com". No caso do turismo as empresas podem optarpor ".tur";

u pode-se ainda optar ou não por acrescentar a terminação ".br" ao endereço. Paraoptar, deve-se contatar a Fapesp (www.fapesp.br) único órgão de registro no Brasil.Os preços, em 2002, são de R$ 40,00, mais uma anuidade de R$ 40,00.;

u no caso das terminações ".com", sem o ".br", algumas empresas cobram algo emtorno de R$ 70,00 pelos dois primeiros anos e uma anuidade de R$ 35,00 para osanos seguintes;

u o w e b s i t e possui um custo de construção das páginas, feito por agências de propaganda, estúdios de design ou outras empresas especializadas. Além disso há o custo de manutenção técnica e do serviço de hospedagem em servi -dores, empresas que a sustentam na rede mundial. Recomenda-se fazer umapesquisa de preços e de qualidade dos serviços a serem contratados;

u identifique um funcionário para cuidar da manutenção mensal do seu site. O mesmofuncionário pode ser o responsável pelo envio de releases e jornais eletrônicos (men-

sagens específicas dos produtos e novidades de seu projeto) para ampla divulgação,assim como pelo tratamento e respostas às mensagens de solicitação de informações;

-u Se possuir pessoal especializado em informática, elabore formulários de preenchi -mento no próprio site como forma de melhor organizar os interesses e as solicitaçõesdo visitantes virtuais, medir a sua eficiência e iniciar um banco de dados (mailing list)eletrônico.

u Pode-se ainda estabelecer um sistema de reserva on-line, mas o processo e amanutenção são mais complexos, correndo-se o risco de permitir o chamado over -booking (vender mais do que a capacidade do tour ou da hospedagem);

u Visite-o freqüentemente, assim como visite e examine regularmente sites de projetosde ecoturismo concorrentes;

u Insira seu site nos serviços especializados de busca na internet, utilizando palavraschaves para fácil identificação dos internautas (ecoturismo, turismo comunitário, tu-rismo e meio ambiente etc)

Por fim, mesmo com a tendência de aumento do uso da internet para o turismo, nada substitui os contatos pessoais. Profissionais de turismo bem capacitados vão continuarsendo os melhores instrumento de promoção e venda de seus produtos.

1 QUADRO 6 (continuação)

COMO MONTAR E GERENCIR UM BOM WEBSITE PARA O ECOTURISMO

FONTE: Organizado pelo Editor, a partir de consultas a especialistas.

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6. O plano de marketing

Oplano de marketing tem como objetivovender o produto ao cliente da forma

mais eficaz possível. A premissa é a de queexiste um público-alvo bastante grande parac o m p rar o produto. O m a r k e t i n g m i x(decisões sobre produto, preço, distribuiçãoe promoção) deve ser coerente e casar como perfil do público-alvo. Além disso, o planode marketing deve ter objetivos quantifica-dos, um cronograma, um orçamento e umcálculo de retorno.

A seguir, apresentamos um exemplo sim-ples, baseado no produto e preço dese-nhados. Os números usados são apenaspara ilustrar e não devem ser usados como

indicação de custos ou preços reais.Quaisquer decisões sobre marketing têm

que contemplar o retorno financeiro. Paradar um exemplo simples :

❐ O tour tem uma margem de lucro deUS$ 50 por pessoa.

❐ O congresso custa US$ 5.000 e deve ren-der 100 novos clientes para compensar oi nvestimento (US$ 5.000 / 50 = 100). Pa rater um retorno de 20% (US$ 6.000 div i-didos por US$ 5.000) deve render 120n ovos clientes (US$ 6.000 / 50 = 120).

No capítulo Viabilidade Econômica aparte financeira é abordada em detalhes.

DEFININDO OS OBJETIVOS DO MARKETING MIX

EXEMPLO:

ITEM

Público-Alvo

Clientes e Distribuição

Produto

Preço

Promoção

DESCRIÇÃO

Ecoturistas americanos e europeus: mercado total de 50.000

– Operadoras Estrangeiras(total no cadastro do fornecedor: 200)

– Agências Receptivas(total no cadastro do fornecedor: 1000)

Tour de trekking 2D/1N (dois dias/uma noite)

Net médio parao Cliente final/Comissão

– Viagem ao exterior/congressos

– Famtours– Folhetos/Mala direta

OBJETIVOS QUANTIFICADOS

800 turistas (1,6% do mercado)por ano até o final do ano 2

– 10 operadoras

– 35 agências que vendem oproduto

Nível de satisfação do turista:80% bom/excelente

– US$ 250, margem US$ 50– 20% de comissão

– Investimento de US$ 5000

– Investimento de US$ 5000– Investimento de US$ 3000

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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7. Produto e marketing de ecoturismo para projeto

de conservação

Oque muda no processo de elaboraçãodo produto e marketing no caso de um

projeto de conservação? Nesse caso é muitoimportante a participação dos responsáveispelo projeto no desenvolvimento do produ-to. Um projeto de conservação pode mudara ênfase em algumas fases desse processo.

O projeto pode ou deve operar diretamente o ecoturismo?

D e s e nvo l ve r, vender e operar roteiros dá

muito trabalho e trata-se de atividade espe-cializada, em um mercado bastante dinâmi-co. Além disso, mesmo tratando-se de umprojeto de conservação, sem fins mera m e n t el u c ra t ivos, a operação de ecoturismo é umaa t ividade comercial que deve ser viável finan-c e i ramente (ou seja, gerar lucros, que no casoserão revertidos para as atividades de conser-vação). Pa ra tanto, o projeto deve gerenciaruma operação profissional do ecoturismo,mantendo-se atualizada sobre o mercado.

Assim, em geral é melhor passar a tarefapara quem vive disso. Uma operadora deecoturismo já tem experiência em montarroteiros, já tem um público-alvo, sabe orga-

CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE MARKETING

EXEMPLO:

PERÍODO

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Semana 4

Mês 2

Mês 4

Mês 6

PERÍODO

Ano 1

18 meses

Ano 2

DESCRIÇÃO

Mala direta Agências Receptivas

Famtour ImprensaFollow-up da mala diretaConvites para Famtour para agências

Famtour para agências

Primeiros artigos na imprensa

Mala direta Operadoras Emissoras. Follow-up(manutenção de contatos), planejar viagem aoexterior

Viagem exterior

Tours realizadosConvidar jornalistas/agências/operadoras paraparticipar de viagens planejadas

DESCRIÇÃO

Tours realizadosFollow-up Agências/Operadoras

Tours realizados

Tours realizados

No cronograma de implantação deve-sequantificar suas ações e metas no tempo.

OBJETIVOS QUANTIFICADOS

1000 agências

10 participantes

10 participantes

150 operadoras

Visita a 20 operadoras

5 roteiros/50 turistasFaturamento US$ 7.500

OBJETIVOS QUANTIFICADOS

10 tours/100 turistasFaturamento US$ 25.000

30 tours/300 turistasFaturamento US$ 75.000

80 tours/800 turistasFaturamento US$ 200.000

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Nesta avaliação, busque o maior detalhamento possível. Em alguns dos itens abaixo, basta atribuirvalores como "alto, médio ou baixo", "sim ou não" ou ainda "bom, regular e ruim".

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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conservação em busca de fundos extras.

[ Como avaliar operadores responsáveis e estabelecer boas parcerias

É normal que a operadora e os respon-sáveis pelo projeto de conservação tenhamvisões e expectativas bem diferentes daspossibilidades de operação do ecoturismo.Na primeira reunião, cada parte deve exporo seu trabalho e suas expectativas. Avalie,por meio do Quadro 7 a seguir, as oportu-nidades de formar parcerias com operadoresde ecoturismo. A avaliação envolve tantouma análise da qualidade de serviços e daeficiência comercial do futuro parc e i r o ,como sua postura em adotar os princípiosdo ecoturismo.

nizar os grupos e está disposta a investir. Issoimplica a necessidade de uma avaliaçãosobre a opção por serviços de operadores, equais seriam eles.

Em alguns casos (por exemplo, lugarescom baixa capacidade de carga) é impor-tante limitar o número de operadoras autori-zadas. Ter mais de uma operadora é bompara incentivar a concorrência, porém umnúmero grande pode gerar uma cargaadministrativa alta para o projeto.

[ Contato inicial entre operadorade ecoturismo e o projeto de conservação

A iniciativa do contato pode partir tantoda operadora de ecoturismo, que está vendouma oportunidade, quanto do projeto de

ITENS DE AVALIAÇÃO PARCEIRO A PARCEIRO B

Tempo de serviço e volume de negócios

Perfil e qualidade dos programas / roteiros

Perfil e extensão do marketing

Qualidade dos catálogos

Referências de outros operadores e clientes

Adota Código de Ética ou Conduta empresarial

Experiência e reputação em baixo impacto

Envolvimento e benefícios à comunidade local

Obtenção de serviços e suprimentos locais

Guias qualificados e instruídos

Apoio à conservação ambiental

Atenção à questão do lixo,energia, água e saneamento

Outras Informações

1 QUADRO 7

AVALIAÇÃO PARA ESTABELECIMENTO DE PARCERIAS COMERCIAIS

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

[ Discussões preliminares sobreas possibilidades do ecoturismo

Se a conclusão da análise anterior é deque há uma base comum (filosófica e/ouoportunidade comercial) para trabalhar, osseguintes aspectos têm que ser discutidosem maior profundidade:

❐ Quais são as partes envolvidas?❐ Quais podem ser os benefícios para cada

parte?❐ Quais são os riscos e restrições de cada

parte?❐ Quais poderiam ser os clientes –

público-alvo?❐ Qual é (ou como podemos determinar) a

capacidade de carga ou os limitesaceitáveis de mudança ?

❐ Qual é a carga de trabalho e o envo l v i-mento de cada parte no desenvolvimento epromoção do produto?

❐ E s t i m a t ivas (metas, resultados) pararesultados e contribuições para o projetoe como monitorá-los.

É importante registrar todo o processo dediscussão entre operadora e projeto e, antesde começar a receber os turistas, formalizarum contrato legal com os direitos e deveresde cada uma das partes.

[ Visitas ao ProjetoNessa fase é importante a troca de infor-

mações. A operadora deve conhecer o dia-a-dia e as restrições do projeto, as pessoase nvolvidas e as informações do projetodisponíveis para o público (tanto científicasquanto operacionais). Em geral, os partici-pantes do projeto conhecem melhor aregião e a comunidade e podem facilitar otrabalho da operadora, além de estimular ouso de mão-de-obra e serviços locais.

[ Desenho do ProgramaO roteiro de visita não deve interferir na

rotina do dia-a-dia do projeto. Guias sele-cionados pela opera d o ra devem recebertreinamento específico e devem se entrosarcom a equipe do projeto. Com base nas

informações dadas pelo projeto, a operado-ra elabora seus informativos para guias,clientes e turistas. Com base no cálculo decustos de fornecedores de transporte e empreços finais aceitáveis para o turista, deveser determinada a taxa de contribuição parao projeto de conservação.

[ Operação DemonstrativaÉ sempre recomendável fazer um teste

operacional com um grupo de amigos econhecidos, que tenham o perfil do públi-co-alvo, para verificar a logística e o con-teúdo do tour. A operação demonstrativapode ser feita também com uma operadoraque seja cliente freqüente, desde que previ-amente informada, e com a participação deum guia experiente, que saiba lidar comimprevistos.

[ MarketingNo marketing é importante não esquecer

que a própria instituição responsável peloprojeto poderá ter bons contatos com aimprensa, ter meios de divulgação própriospor meio de boletins informativos e tambémter uma mala direta, facilitando o marketing.

Uma ação de marketing em conjuntopode ser a melhor maneira para começar adivulgar o produto. Deve-se deixar bemclaro quem deve ser contatado no caso deinteresse em visitar o projeto, ou seja, aoperadora ou o projeto diretamente.

[ MonitoramentoOs sistemas de monitoramento podem e

d e vem ser simples. É essencial que o projetotenha seu próprio sistema de controle: custosreais, número de visitantes, procedência,número de grupos, arrecadação direta e indi-reta (m e rch a n d i s i n g, ou a venda de produtosa turistas com a marca do projeto). Também éimportante monitorar os indicadores escolhi-dos para o controle dos impactos de visitação( ver capítulo M o n i t o ramento e Controle dosImpactos de Vi s i t a ç ã o). Os dados coletadosnessa fase poderão estar contribuindo com oseu banco de dados, facilitando futuros con-tatos com seus clientes.

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[ Merchandising O m e rch a n d i s i n g pode ser uma fonte de

renda significativa. A possibilidade devender camisetas, cartões postais e peças deartesanato local, ou de oferecer pequenosbrindes, deve ser avaliada. O momento paraoferecer isso ao turista também deve serplanejado. Você observará que terá melhorresultado se isso for feito no final do roteiro.Depois de já ter conhecido melhor seu pro-jeto, ficará mais fácil conseguir apoio adi-cional do turista. Caso a instituição queimplementa o projeto, ou seus parc e i r o s ,possuam quadro de afiliados, deve haver for-mulários para filiação à disposição dos turis-tas tanto no projeto quanto na opera d o ra .

[ Algumas dicasNem sempre é possível para projetos de

conservação ter pesquisadores disponíveispara receber turistas, sendo isso feito porassistentes de pesquisas ou guias locais que,embora treinados e capacitados, não têm aprofundidade de conteúdo que um pes-quisador da área teria. No entanto, depen-dendo do perfil do grupo (pesquisadores,

profissionais de agências financiadoras deprojetos, imprensa, estudantes unive r s i-tários, etc.) vale a pena encarregar um pes-quisador de recebê-los, tendo em vista,principalmente, as futuras possibilidades decontatos, trabalhos cooperativos e volun-tários, e mesmo doações que a visita poderágerar. Disponibilize o máximo de infor-mações práticas em temas ambientais, vin-culados ou não ao seu projeto de conser-vação (folhetos institucionais, revistas, pu-blicações técnicas, livro de fotos etc.).Visitantes gostam de utilizar o tempo livrepara leituras e novos aprendizados. Essasinformações servirão ainda como item depromoção de sua e de outras entidades con-servacionistas.

Se o projeto localiza-se em área remota,de difícil acesso e comunicação, deve-seprever algum esquema para comunicaçãoimediata com quem está operando o tour,caso não seja o próprio projeto. Algunsroteiros podem ficar inviabilizados porrazões climáticas, e é necessário ter comoavisar a operadora sobre isso.

3

O MICO-LEÃO-DOURADO E A CONTRIBUIÇÃO DO ECOTURISMO

NA CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES E HABITATS AMEAÇADOS

pós vários anos de iniciativas de apoio do WWF na proteção do Mico-leãoDourado, teve início no Brasil em 1983 o Programa de Conservação parao Mico-Leão-Dourado (PCMLD), por meio de uma parceria entre o IBAMA,

a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) /Centro de Primatologiado Rio de Janeiro e o Zoológico Nacional de Washington. Sua missão é aumentar a probabilidade de sobrevivência da espécie em seu ambiente natural, assegurando que,no ano de 2025, pelo menos 2.000 micos-leões-dourados estejam vivendo soltos em 23.000 hectares de florestas protegidas.

O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é uma espécie criticamente ameaçada de extinção, endêmica da Mata Atlântica de Baixada Costeira do Estado do Rio de Janeiro e cuja distribuição atual está restrita aos remanescentes florestais de seis municípios: Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Rio Bonito, Cabo Fr i oe Búzios. A maior ameaça sobre a espécie é a perda e fragmentação do seu habitat devido ao desmatamento e a incêndios florestais.

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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O PCMLD possibilitou o estabelecimento de infra estrutura para pesquisa e educaçãoambiental na Reserva Biológica Poço das Antas/IBAMA. Numa iniciativa pioneira emReservas Biológicas, em 1989, o IBAMA permitiu que o PCMLD construísse e operasse oCentro Educativo de Poço das Antas, posteriormente ampliado para abrigar a sede daAssociação Mico-Leão-Dourado, criada em 1992, para coordenar todos os trabalhos doPCMLD.

Já em meados da década de 90, como resultado das ações de educação ambiental,era crescente a pressão pública para a abertura da visitação aos micos-leões-dourados.Buscando atender essa demanda, técnicos do PCMLD iniciaram um processo de discussão interna, visando o estabelecimento de um programa com objetivos integradosà sua missão institucional e que viabilizasse a visitação ao ambiente dos micos, semcontudo prejudicar as pesquisas e a conservação da espécie. O ecoturismo foi a soluçãomais indicada para atender aos requisitos acima.

Nessa época, o PCMLD teve a colaboração de uma voluntária do Consulado Geraldos Estados Unidos no Brasil, que fez os contatos iniciais com duas operadoras, a Bromélia Expeditions e a Expeditours, para o desenvolvimento do produto, trabalho feito sem qualquer ônus para o PCMLD.

Como o mico-leão tem sido objeto de pesquisas desde a década de 70, dispõe-se de grande volume de informações sobre a espécie e seu comportamento social, reprodutivo, alimentar, demográfico, territorial etc. Essas informações foram compiladas,tratadas e apresentadas de maneira a despertar o interesse do visitante paraa conservação da espécie e seu habitat.

Também participaram desse processo, a equipe da Reserva Biológica de Poço dasAntas/IBAMA e os proprietários de fazendas de entorno da Reserva, que contribuem parao programa de reintrodução de micos nascidos em cativeiro, já que o roteiro envolvetanto a Reserva quanto essas propriedades.

Alguns grupos de micos reintroduzidos foram selecionados com base na acessibilidadeà área, tamanho e comportamento do grupo de micos, proximidade de Poço das Antasetc. O ecoturismo é operado em propriedades particulares por diversos motivos, entreeles: a visitação pública não é prevista em Reservas Biológicas; micos nascidos emcativeiro são mais habituados à presença humana; o ecoturismo é um incentivo para ac o n s e r vação de florestas particulares, uma vez que sua operação é economicamente rentáve l .

O roteiro é acompanhado por guias locais e da operadora, especialmente capacitados para tal. Por se tratar de uma pesquisa de longo prazo, todos os micos têm sido monitorados sistematicamente, o que requer dos assistentes de pesquisas habilidades para trabalhar com equipamentos de radiotelemetria para localização dos animais. Não somente devido à especificidade dessa tarefa, mas também ao conhecimento acumulado pelos mesmos, os guias locais são os próprios assistentes.Durante o roteiro, de prancheta e lápis na mão, eles demonstram para os visitantes quaise como são coletados os dados sobre os micos. Ao mesmo tempo que essa atividade em si já é uma atração para o turismo, os dados coletados durante as visitas são usadospara monitorar e avaliar o impacto sobre o comportamento dos micos.

O roteiro definido é composto pela visita a um grupo de micos reintroduzidos emfazenda particular, com duração média de 2 a 3 horas de caminhada e acompanhamentodos micos, além de lanche e visita ao Centro Educativo da REBIO Poço das Antas,

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palestra, vídeo, sala de exposições, lojinha de souvenirs e retorno ao Rio de Janeiro nofinal da tarde. Posteriormente, foi incluído o almoço opcional na RPPN Fazenda BomRetiro, que atualmente dispõe de infra-estrutura para hospedagem de até 24 pessoas.

O levantamento dos custos operacionais incluiu o tempo dos assistentes de pesquisae de educação envolvidos, os equipamentos utilizados, a taxa do fazendeiro e umadoação compulsória individual para o PCMLD, como forma de fazer do ecoturismo umaatividade que contribui para a conservação da natureza. O roteiro é operado com nomáximo 20 pessoas. Toda promoção ficou sob a responsabilidade das operadoras ediversos famtours foram realizados. Ao final do roteiro, os visitantes são convidados aavaliar o programa por meio de um breve questionário (“tour comments”). A operaçãoteve início em 1992 com o recebimento de diversas delegações internacionais que par-ticiparam da “Rio 92”. Desde então, os grupos são freqüentes e foram recebidos mais de50 grupos de ecoturistas, a maioria procedente do exterior.

Essa iniciativa despertou a região para o seu potencial ecoturístico. Prefeituras locaistêm adotado políticas e programas públicos de apoio e incentivo ao ecoturismo, que também passou a ser um incentivo adicional à reintrodução dos micos em fazendasparticulares. Com o apoio técnico da AMLD para a implementação do ecoturismo empropriedades particulares, algumas estão transformando a atividade na principal fonte dearrecadação das fazendas e tem sido também observado um aumento no número deproprietários interessados na criação de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural)como forma de viabilizar o ecoturismo. Em última análise, o ecoturismo tem provocadoum incremento na área legalmente protegida, contribuindo diretamente para a conserva ç ã oda Mata Atlântica de baixada costeira do Estado do Rio de Janeiro, habitat natural domico-leão-dourado.

As dificuldades encontradas referem-se à utilização dos assistentes de pesquisas comoguias locais, atividade que, mesmo indiretamente, acaba interferindo na coleta de dados.Os custos de contratação e capacitação de um assistente para atuar exclusivamente comoguia ainda não se justificam. Outra dificuldade de ordem operacional é o deficiente sistema de comunicação externa, feito por meio de rádio-telefonia, uma vez que a regiãoainda não conta com sistema de telefonia tradicional. Esta limitação acaba por dificultara comunicação com operadoras, resultando, em alguns casos, na perda de potenciaisgrupos de visitantes.

A experiência positiva com o mico-leão-dourado vem reforçar o grande potencialatrativo das espécies ameaçadas de extinção, especialmente aquelas que já têm projetosvoltados para a sua conservação. O ecoturismo deve ser associado a esses projetos, poisa divulgação de sua missão possibilita o envolvimento direto das comunidades locais eainda assegura retorno financeiro para os envolvidos. No entanto, qualquer empreendimentoecoturístico deve ser objeto de estudo prévio de viabilidade econômica, essencial paranortear os investimentos. E, finalmente, pesquisadores, organizações comunitárias, com-erciantes e proprietários dos atrativos devem ser envolvidos desde a concepção e plane-jamento até a operação do ecoturismo, legitimando e validando todo o processo.

O Programa de Ecoturismo da Associação Mico-Leão-Dourado contou com o apoioinicial das duas operadoras mencionadas e do Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil. Atualmente, tem apoio financeiro do WWF-Brasil, do InternationalEnvironmental Studies Program / Smithsonian Institute e da Frankfurt Zoological Society.

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Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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VI. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

_ Não se deixe enganar por números geraisPrever a demanda para produtos eco-

turísticos é difícil. As estatísticas só abordamgrandes números, que não são muito bemdefinidos. É muito comum a informação deque o ecoturismo cresce a taxas acima de15% ao ano e representa de 7% a 10% damovimentação turística.

É necessário lembrar que, geralmente, sea demanda cresce rápido, a oferta tambémcresce e um maior número de turistas é dis-putado por um maior número de destinos.Então, mesmo que o mercado cresça à razãode 20% ao ano, não significa, obrigatoria-mente, que a visitação a um destino especí-fico vá crescer na mesma proporção, oumesmo que vá crescer.

Para avaliar a demanda por seu produto,é importante comparar os números geraiscom parâmetros regionais ou com produtossemelhantes.

_ Fique de olho e implante um sistema de monitoramentoDificilmente o produto será perfeito

desde o início; ainda mais difícil será nãoencontrar obstáculos para conquistar os tu-ristas. É necessário monitorar o desempenhodo produto e o plano de marketing parasaber identificar por que o produto é ou nãoé um sucesso e se necessita de ajustes. Nãocusta muito para incorporar o monitoramen-to ao dia-a-dia. O objetivo do monitora-mento (de marketing) é responder rapida-mente a perguntas tais como:❐ Quais são os melhores produtos em ter-

mos de satisfação?❐ Quais são os melhores guias?❐ Quais são os custos reais dos produtos

(em comparação com os custos orçados)?❐ Quais são os produtos mais lucrativos?❐ Quais meios de promoção são mais efi-

cazes? Pode ser que um artigo no jornalresulte em muitos pedidos de infor-mação mas em poucas reservas, porquenão atingiu o público alvo.

❐ Quais clientes (agências) mandam omaior número de turistas e por quê? Elasparticiparam do Famtour?

❐ Quem são os meus clientes?Além disso, outros itens de fundamental

importância para garantir a eficiência dosprodutos e o cumprimento de seus objetivossão detalhados a seguir.a) Qualidade do produto

A forma mais comum utilizada paramedir a satisfação do cliente é o tour com -ment, um pequeno questionário de 1 ou 2páginas com perguntas sobre os pontoschaves do programa (atrativos, transporte,hospedagem, guia, alimentação, conteúdo,preço, etc.), entregue aos turistas em algummomento durante o passeio e recolhido aofinal. Entretanto, nada substitui o contatodireto entre o fornecedor ou gerente do pro-duto e os turistas. Isto pode ser feito ao finaldo roteiro, antes da partida do turista, ouentão por meio de contato telefônico, porcarta ou correio eletrônico após o retornodo turista à sua cidade de origem.b) Verificação da operação do tour

O guia deve entregar sempre umrelatório resumido sobre a logística ("oônibus chegou no horário?"; "o hotel aten-deu bem?" etc.), o aproveitamento do tempod u rante o passeio, observações sobre ogrupo, o que foi visto e possíveis impactosna natureza. Este relatório ajuda a entenderos comentários dos turistas.c) Satisfação dos intermediários

Vale a pena telefonar para as opera d o ra se agências de turismo para saber se tudo cor-reu bem do ponto de vista deles, se gostara mdo tour, se vão mandar mais grupos, etc.d) Resultado comercial

Pa ra avaliar o resultado comercial éessencial:u Uma contabilidade tra n s p a re n t e. Isso

quer dizer: alocar os custos tanto portipo de custo (telefone, viagem etc.)quanto por produto (desenvolvimento,promoção, operação etc.).

u Sistema para medir resposta às ações demarketing. Deve fazer parte da rotina det rabalho perguntar ao cliente como

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soube do programa e/ou da operadora(artigo no jornal X, mala direta Y etc.).

_ Quem é meu clienteQuem recebe grupos e/ou turistas indi-

viduais diretamente pode coletar infor-mações por meio de uma breve pesquisa dedemanda junto ao formulário de inscriçãoconforme orientado na Caixa de Fe r ra m e n t a s- Público-alvo: conheça o seu cliente. Quemrecebe grupos encaminhados por um inter-mediário fica dependente das informaçõespassadas por ele, ou tem que pedir aos turis-tas que preencham um livro de visitas.

Ver também o capítulo Administração ePraticas Contábeis para mais detalhes.

V. BIBLIOGRAFIA

BRACKENBURY, M. 1993. Responsible mar -keting of ecotourism destinations andattractions. Revue de Tourisme, 3/1993.

CEBALLUS-LASCURÁIN, H. 1996. Tourism,Ecotourism and Protected Areas: the stateof nature-based tourism around theworld and guidelines for its develop -ment. Gland, Switzerland: IUCN.

DRAFFEN et al. 2002. Lonely Planet Brazil.Oakland, CA: Lonely PlanetPublications. 5ª.ed. 3

BRASIL. Embratur – Instituto Brasileiro deTurismo. 2002. Pesquisa de DemandaTurística Internacional. Bra s í l i a :Embratur.

FIPE – Fundação Instituto de Pe s q u i s a sEconômicas. 2001. C a racterização eDimensionamento do Turismo Domés -tico no Brasil. Brasília: Embratur.

3 Este é um dos mais usados guias de viagens para estrangeiros.4 Esta é a bíblia de marketing, muito bem escrito e cheio de exemplos práticos.5 Este livro dá um bom panorama do mercado de ecoturismo incluindo marketing.

HIGGINS, B. R. 1996. Global Structure ofthe Nature Tourism Industry. In: Journalof Travel Research, Vol. 35, No. 2, pp.11-18.

JANÉR, A. Análise de Ecoturismo no Brasil.s.d., s.l, s.ed.

KOTLER, P. 1994. A d m i n i s t ração deMarketing. São Paulo: Atlas. 4

K U TAY, K. 1993. Ecotourism Marketing:capturing the demand for special interestnature and culture tourism to supportconservation and sustainable develop -m e nt. Paper prepared to the Fi r s tVenezuelan Ecotourism Seminar,October. Mimeo.

SILLS, E. 1993. Report on the Survey ofBrazilian Travel Agents. Durham, NC:Duke University

WHELAN, T. (ed.). 1991. Nature Tourism.Washington, DC: Island Press. 5

W I G H T, P. 1996. North A m e r i c a nEcotourists: Market Profile and Tr i pC h a ra c t e r i s t i cs. In: Journal of Trave lResearch, Vol. 34, No. 4, pp. 2-10.

W I G H T, P. 1996. North A m e r i c a nEcotourism Markets: motivations, prefer -ences and destinations. In: Journal ofTravel Research, Vol. 35, No. 1, pp. 3-10.

WOOD, Megan E. 2002. Ecotourism, princi -ples, practices and policies for sustain -ability. Paris: UNEP.

❐ Outras FontesEMBRATUR Anuário Estatístico – 1987 –

2001 – Estudo de Demanda Turística 1991 – 2001

4 Rodas Guia Brasil 2000 - WTO -Yearbook of Tourism Statistics 1997 - 2001

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

I. OBJETIVO

Uma análise cuidadosa sob o pontode vista de sua viabilidade econômi-ca é fundamental para um projeto

de ecoturismo de base comunitária. Paracontribuir para o desenvolvimento susten-tável, com geração de benefícios para ascomunidades e para a conservação danatureza, investimentos em ecoturismo de-verão dar um retorno adequado. Como oassunto é complexo, o objetivo deste capí-tulo não é formar economistas, mas apenasoferecer um panorama para leigos.

O estudo de viabilidade econômica éfeito com o objetivo final de elaborar oPlano de Negócios de um investimento.Porém, para que este objetivo seja alcança-do é necessário também que seja desen-volvido o Produto, ou seja, aquilo que sedeseja comercializar. O usuário do Manualp e rceberá que o capítulo Vi a b i l i d a d eEconômica está interligado ao capítulo ante-rior: Elaboração do Produto de Ecoturismo .

Neste capítulo serão discutidos conceitosbásicos para a avaliação de inve s t i m e n t o s ,assunto geralmente ausente no dia-a-dia depessoas ou instituições que não são profis-sionais na área de administração, economiaou contabilidade. Há muitos termos técnicosque poderão ser “traduzidos” apenas atécerto ponto. Ao decidir empenhar-se nod e s e nvolvimento de programas de ecoturis-mo, o indivíduo ou instituição deve empe-n h a r-se também no entendimento dos aspec-tos empresariais da atividade. Caso contrário,correrá o risco de não atingir o sucesso n u maspecto fundamental da atividade ecoturísti-

ca: a geração de lucros – como toda ativ i-dade comercial ou empresarial.

Para facilitar o acompanhamento e acompreensão dos diferentes passos (ou me-lhor, cálculos) necessários, será usado umúnico exemplo, simples, ao longo do capí-tulo: um roteiro (ou tour) de 2 dias (2D) e 1noite (1N).

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

É importante distinguir o Plano de Ne -gócios d o Estudo de Viabilidade Econômica.

1. O Plano de Negócios

Ap r i m e i ra pergunta de um potencialinvestidor interessado em um projeto é

saber se já foi elaborado um plano de negó-cios. O plano de negócios (em inglês: busi -ness plan) deve mostrar, de forma qualitati-va e quantitativa, por que vale a pena inve-stir nesse projeto. Mesmo se o investidor é opróprio empreendedor, a experiência depassar pelos passos metódicos da elabo-ração de um plano de negócios vai ajudá-loa sair da “idéia” para uma proposta prática,bem detalhada. Mais importante, por esteprocesso o investidor poderá ponderar sevale realmente a pena proceder ao investi-mento.

Um plano de negócios deve responderàs seguintes perguntas:

• O produto é bom? Por quê?• Existe mercado para esse produto e

é suficientemente grande?

4.Viabilidade econômicaAriane Janér

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• A estratégia de marketing é coe-rente?

• A empresa terá administração com-petente?

• A rentabilidade do negócio com-pensa os riscos?

O conteúdo do plano deve convencer osinvestidores ou patrocinadores de que oproduto ou projeto responde a essas dúvi-das. O plano de negócios também servecomo ponto de partida para o futuro geren-ciamento do projeto de ecoturismo. O for-mato de um plano de negócios varia deacordo com o tipo de empreendimento eeventuais exigências de investidores, masexistem alguns elementos mínimos, queapresentamos na Tabela 1 (pág.191). Comofoi mencionado anteriormente, o Plano deNegócios é o resultado final dos trabalhosdesenvolvidos não só neste capítulo, comotambém no de Elaboração do Produto deEcoturismo. Assim, apesar de apresentadosseparadamente, para se chegar ao Plano deNegócios é necessário realizar os trabalhosdescritos em ambos os capítulos. A Tabela 1aponta em que capítulo cada sessão doPlano de Negócios é tratada.

2. Estudo de Viabilidade Econômica: OModelo Financeiro

Oestudo de viabilidade econômica deveresponder à seguinte pergunta:

A rentabilidade do negócio compensa os riscos?

Pa ra responder a esta pergunta, énecessário quantificar as suas idéias para onegócio. Os dados e premissas do plano denegócios fomentam o modelo financeiro doprojeto. Esse modelo pode ser montadonuma planilha eletrônica. O grau de com-plexidade e o número de planilhas ne-cessárias dependem do tipo de projeto. Osmódulos principais são os seguintes:

❒ Planilha de Demanda / Faturamento.

❒ Planilha de Custos e Cálculo dePreços.

❒ Conta de Resultados (o Faturamentomenos os Custos).

❒ Especificação do Investimento.❒ Fluxo de Caixa (entrada e saída físi-

ca de dinheiro, incluindo investi-mento, depreciação, amortização dedívidas, etc.).

❒ Balanço Patrimonial (Raio-X donegócio no final de cada ano).

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Como foi dito anteriormente, é impossí-vel apresentar neste Manual um guia com-pleto para o cálculo de cada elemento deum estudo de viabilidade econômica.Assim, apresentaremos alguns elementosmais críticos:

1. Planilha de demanda para calcular o faturamento do negócio.

2. Planilha de custos.3. Conta de resultados.4. Balanço patrimonial.5. Fluxo de caixa.6. Especificações do investimento.7. Cálculo de viabilidade.8. Benefícios sociais e ambientais

locais.

1. Planilha de demanda para calcular o faturamento do negócio

A seguir são descritos os dados quedevem ser levados em consideração ao

elaborar uma planilha de demanda. Umexemplo é apresentado na Tabela 2 (pág.193) após a descrição dos dados. As letrasmaiúsculas entre parênteses referem-se àidentificação do dado na tabela.

❒ Nº total de turistas 4 Trata-se do nú-mero total de turistas no mercado. Estedado é disponibilizado pelas secretariasde turismo municipal, estadual ou pelaEMBRATUR. Pode ser necessário adaptar

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

este dado para refletir o mercado real doproduto. Pa ra assegurar a tra n s p a r ê n c i adas informações, é importante registrar afonte e a data de publicação dos dados.

Exemplo: estima-se que durante o primeiroano de operação do tour, o número total deturistas – ou seja, o mercado total para otour – é de 100.000 (M, ano 1).

❒ C rescimento do merc a d o 4 Taxa decrescimento estimada para o merc a d ototal. Esta estimativa também é calculadapor órgãos governamentais de turismo.Como no caso anterior, deve-se registra ra fonte e data de publicação dos dados.

Exemplo: estima-se que o mercado cresceráa uma taxa anual de 5% (T), gerando no ano

SESSÕES DO PLANO ASSUNTO CAPÍTULO ONDEDE NEGÓCIOS ABORDADO O ASSUNTO É TRATADO

1 Resumo Executivo Principais pontos do plano apresentados de forma resumida em uma página.

2 Descrição do Produto Explicação detalhada do produto, seu E l a b o ração do Produtofuncionamento e vantagens competitiva s . de Ecoturismo (ou

apenas “Produto”)

3 Mercado e Competição Análise detalhada de mercado e Produtopossível concorrência, inclusivequantificação de vendas.

4 Custo de Investimento Especificação e justificativa do Viabilidade Econômicai nvestimento. Eventuais investimentos já (ou apenas feitos, formas e valores de investimento “Viabilidade”)necessários (financiamento vs. capital).

5 Custo Operacional Especificação de todos os custos ligados Viabilidadeà operação do empreendimento e fontes

6 Estratégia de Marketing Elaboração da estratégia de marketing Exemplo apresentado com base na análise de mercado, nos em Produtocustos de investimento e operacional.

7 Viabilidade Econômica Quantifica todas as premissas de venda, Viabilidadeinvestimentos e custos operacionais; cálculo da atratividade do negócio por meio de um Modelo Financeiro.

8 Alternativas Se apropriado, vale a pena considerar Viabilidadeconsideradas alternativas e calcular o retorno.

9 Administração Em qualquer negócio a qualidade da Viabilidadeadministração é um fator decisivo parao sucesso. Detalhar o tipo de gestão, divisão de tarefas e experiência.

10 Cronograma Da implantação do negócio e da Produto e Viabilidadenecessidade de recursos.

TABELA 1

FORMATO BÁSICO DE UM PLANO DE NEGÓCIOS

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2 um total de 105.000 turistas, no ano 3 umtotal de 110.250 turistas e assim por dianteaté o ano 5 (M, anos 2 a 5).

❒ Clientes 4 Número de turistas espera-dos no período para o seu tour. Geral-mente o período é um ano, mas espe-cialmente no primeiro ano pode ser útilespecificar por mês.

Exemplo: são esperados 100 turistas, ouseja, 10 grupos de 10 turistas (A). Para nossoexemplo serão considerados grupos de 10turistas.

❒ Participação no mercado 4 Taxa departicipação do seu tour no mercado.Ou seja, o crescimento esperado ouestimativas de número de turistas nosperíodos seguintes com base na relaçãoentre turistas esperados para cada ano(A) e mercado total (M).

Exemplo: estima-se que a participação doseu tour no mercado crescerá de 0,1% noprimeiro ano para 0,9% no quinto ano (P).

❒ Capacidade máxima 4 Trata-se dacapacidade máxima do seu negócio dereceber turistas. Isso pode limitar ocrescimento ou indicar novos investi-mentos para expandir.

Exemplo: se a capacidade máxima fosse de880 turistas, o número de turistas pararia decrescer após o ano 3. Esta categoria nãoconsta da tabela porque estamos con-siderando que a capacidade máxima nãoserá atingida nos 5 anos.

❒ Preço Net do Produto 4 Trata-se dopreço do tour, que é calculado naplanilha de custos, apresentada nopróximo passo. O preço net é individ-ual, ou seja, mesmo que calculado combase em um grupo de turistas, o valor éo que deverá ser pago por cada inte-grante do grupo. A partir desta catego-ria, os valores precisam ser calculadosseguindo as instruções dos passos apre-sentados a seguir neste capítulo, quemostram como o valor utilizado naTabela 2 foi calculado.

Exemplo: preço de R$ 290 por pessoa é cal-culado na planilha de custos com basenuma média de 10 pax (ou seja, 10 pas-sageiros) por grupo (B).

❒ Fa t u ramento bruto 4 Trata-se do totalque será recebido dos turistas ou que ao p e ra d o ra passará para vo c ê .

E x e m p l o : seu faturamento bruto então é pre-ço x número de turistas (A x B), ou seja R$ 290x 100 turistas = R$ 29.000 no ano 1 (C).

❒ Faturamento ligado/associado 4 É of a t u ramento proveniente de serviçosadicionais oferecidos ao turista, nãoincluídos no preço do tour (ex.: vendasde souvenirs).

Exemplo: se cada turista comprasse lem-branças no valor médio de R$ 5, o fatura-mento associado seria de R$ 500 noprimeiro ano. Esta categoria não aparece noexemplo porque estamos considerando quenão há nenhum serviço extra, associado aoseu tour, disponível para os turistas.

❒ Impostos sobre o faturamento 4 deve-se consultar um contador, porque osimpostos dependem do tipo deempreendimento, tipo de empresa eregião do Brasil – ver no capítuloAdministração e Práticas Contábeis al-guns tributos comuns.

Exemplo: os impostos que incidem sobre ofaturamento bruto do seu tour são de 7% ouR$ 2.030 no ano 1 (D).

❒ Faturamento líquido4Trata-se do fatu-ramento total do tour uma vez que ten-ham sido somados o faturamento bruto,o faturamento associado e descontadosos impostos.

Exemplo: Para o primeiro ano o faturamentolíquido é de R$ 29.000 – R$ 2.030 = R$ 26.970 (E).

O resultado é uma planilha de demandae faturamento, que é o ponto de partida parasaber se o seu negócio vai dar certo. A mon-tagem de um modelo financeiro é umprocesso interativo, ou seja, na primeira vez

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2. Planilha de Custos

É importante distinguir entre vários tiposde custos: diretos e indiretos.

Custos Dire t o s : são custos feitos emfunção da venda do produto. Se não temvenda, o custo é zero. Podem ser subdiv i-didos em duas categorias:a) Diretos variáveis que mudam em

função do número de turistas. Porexemplo, o custo de um almoço,cada turista a mais significa umalmoço a mais.

b) Diretos fixos são custos que nãovariam em função do número de tu -r i s t a s . Por exemplo, no aluguel deônibus o valor de aluguel não va r i aaté a capacidade máxima doô n i b u s .

Custos Indiretos: são custos que não

podem ser atribuídos diretamente à vendado produto. Também são chamados de“ove r h e a d”. Por exemplo, aluguel deescritório: você paga mesmo sem vendernenhum pacote.

Para montar a planilha é necessário co-nhecer todos os itens que representam cus-tos na operação do seu produto e entendercomo eles se comportam. Por exemplo, umhotel precisa definir seu quadro físico defuncionários com base no número de quar-tos e no nível de serviços que quer ofereceraos clientes. Assim, ele determina os custoscom a folha de pagamento.

Para ilustrar a elaboração de uma plani-lha de custos, vamos ver a montagem depreço de um produto em detalhes, usando otour fictício de 2D e 1N. O exemplo tam-bém mostra a importância do conhecimen-to do negócio para identificar o “comporta-mento” dos custos.

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

que você monta a sua planilha alguns dadosainda não são definitivos e passarão porvários ajustes. Por exemplo, existe umarelação entre preço e demanda. Com um

preço mais alto a demanda por seu produtovai ser menor. Este assunto é abordado nasessão sobre custos e formação de preço.

4ANO

CATEGORIA CÓDIGO 1 2 3 4 5

Nº total de turistas M 100.000 105.000 110.250 115.763 121.551

Crescimento T --- 5% 5% 5% 5%

Participação Mercado P = A / M 0,1% 0,8% 0,8% 0,8% 0,9%

Clientes A 100 800 880 968 1.065

Número de Grupos 10 80 88 97 106

Preço Net Produto 1 * B *290 *290 *290 *290 *290

Fa t u ramento Bruto * C = A x B *2 9 . 0 0 0 *2 3 2 . 0 0 0 *2 5 5 . 2 0 0 *2 8 0 . 7 2 0 *3 0 8 . 7 9 2

Impostos * D = 7% x C * 2.030 *16.240 *17.864 *19.650 *21.615

Faturamento Líquido * E = C - D *26.970 *215.760 *237.336 *261.070 *287.177

TABELA 2

( NOTA * Valores em R$

EXEMPLO DE PLANILHA DE DEMANDA: CALCULANDO O FATURAMENTO DE UM TOUR 2D – 1N

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

b) HospedagemHotéis ou pousadas geralmente dão um

pequeno desconto (10%) no Preço Balcão (opreço final pago pelo turista) para agências eo p e ra d o ras. Descontos acima disso depen-dem do poder de negociação: se é baixat e m p o rada, se a agência ou opera d o ra costu-ma trazer grupos com freqüência etc..

Ecoturistas estrangeiros geralmente divi-dem o quarto. No caso de brasileiros, existeuma tendência à privacidade, mesmo comcusto adicional. Quem quer ficar sozinhod e verá pagar uma taxa extra, o S i n g l eSupplement (a diferença entre a metade doquarto duplo e um quarto Single – ou quar-to de solteiro).

c) Ingressos/Taxas Este item considera os ingressos para

e n t rada em Parques Nacionais e Reserva sParticulares do Patrimônio Natural (RPPN) eas taxas de permanência, como as que sãoc o b radas em Fernando de Noronha. No casode projetos de base comunitária, é comum seestipular um valor para doação direta ao pro-jeto, criando-se um fundo para conserva ç ã ode ambientes ou para as comunidades.

❒ Custos Diretos Variáveis

Os custos que variam diretamente emfunção do número de turistas são alimen-tação, hospedagem, ingressos e taxas,equipamentos e materiais. No caso de ali-mentação e hospedagem deve-se ficar aten-to pois, dependendo do tamanho do grupo,cortesias para guias e motoristas são comunse devem ser considerados na conta.

a) AlimentaçãoO ideal é oferecer uma escolha entre

p ratos com preços similares e combinar umpreço por pessoa com o restaurante. Ve r i f i q u eo tamanho das porções: um ecoturista nãogosta de ver comida desperdiçada. Entretanto,o público brasileiro está acostumado a umacerta variedade de pratos (não necessaria-mente uma grande variedade). Sobremesas ebebidas, especialmente alcóolicas, gera l-mente são cobradas à parte. Às vezes, quandohá este tipo de serviço disponível sem quehaja necessidade de prévia “encomenda” dasrefeições, o programa deixa o turista livre paracomer por conta própria. Isso gera l m e n t eocorre em cidades maiores.

CUSTO POR PAX (PASSAGEIRO) QUANDO A AGÊNCIAOU OPERADORA TROUXER, AO MESMO TEMPO:

ITEM 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Hospedagem 1 N 1/2 DBL * R$ 50,00 R$ 50,00 R$ 50,00

Refeições:um jantar, 2 almoços, lanches R$ 45,00 R$ 45,00 R$ 45,00

Equipamentos R$ 5,00 R$ 5,00 R$ 5,00

Ingressos R$ 20,00 R$ 20,00 R$ 20,00

Total Variável R$ 120,00 R$ 120,00 R$ 120,00

TABELA 3

( NOTA * DBL é a sigla utilizada para referir-se ao quarto duplo, ou para duas pessoas se hospedando no mesmo quarto. O quarto de solteiro, ou single, é muitas vezes indicado pela sigla SGL.

EXEMPLO DE CÁLCULO DE CUSTOS DIRETOS VARIÁVEIS

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4

Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

d) Equipamentos/MateriaisOs equipamentos (ex.: snorkel – equipa-

mento de mergulho livre sem tanque de arcomprimido; cordas e capacetes de escala-da; bóias para acquaraid) fornecidos ao tu-rista têm um custo de uso, manutenção oude aluguel que precisa ser calculado.Material impresso, como apostilas, tambémtem um custo que precisa ser contabilizado.

❒ Custos Diretos FixosOs custos diretos fixos desse exemplo

incluem o guia e o transporte.

a) GuiaO guia do grupo ganha uma diária que

varia de acordo com sua classificação comoguia. Um guia local geralmente ganhamenos (R$ 30,00 a 50,00 / dia) que um guiade ecoturismo contratado no Rio de Janeiroou São Paulo (R$ 60,00 a 100,00 / dia). Umguia especialista (ornitólogo) pode ganharmuito mais (R$ 100,00 a R$ 150,00 / dia).

Um guia pode acompanhar grupos de nomáximo 10 pessoas. Se o programa tem umalto grau de dificuldade, deve-se pensar emusar mais de um guia por razões de segura n ç a .Também podem ser usados mais de um guiap a ra dar mais conteúdo ao programa. Po rexemplo, um guia local que conte sobre aslendas e crenças do lugar e um guia natura l i s t aque dá um pano de fundo mais científico.

b) Guia – Custos AdicionaisSe o grupo é pequeno, pode ser difícil

conseguir hospedagem e refeições de corte-sia e, nesse caso, os custos adicionais do guiad e vem ser embutidos no preço para o turista.Se o grupo já vem acompanhado por seupróprio guia, costuma-se pedir aos fornece-dores do produto uma cortesia para o guia. Épreciso verificar se isso não traz custos extra s ,o que depende do tamanho do grupo.

c) Transporte (veículos, barcos, aviões,cavalos, bicicletas etc.)

O transporte alugado é geralmente oitem que mais pesa no custo fixo. Por issovale a pena pesquisar os preços, especial-

mente porque variam bastante de umfornecedor para outro. Pa ra os fornecedoresde transporte, os custos fixos são altos, porisso na baixa temporada eles estão maisdispostos a dar descontos. Por exemplo,uma locadora de carros terá muitas despe-sas, alugando carros ou não. Assim, mesmoque não tenha grande margem de lucro, al o c a d o ra poderá alugar os carros a preçosmais baixos durante a baixa tempora d a ,p a ra pagar parte dos custos fixos.

Na escolha do transporte, preço não é oúnico critério. Deve-se pensar no conforto( a r-condicionado, banheiros, espaço parabagagem etc.), na segurança (idade e estadode manutenção do veículo, perfil domotorista) e também no menor nível de emis-são de poluentes (atmosféricos e sonoros).

O tipo de transporte tem que ser adequadoao tamanho do grupo. Evite chegar à lotaçãomáxima de um meio de transporte. O grupopode vir com muita bagagem ou seus inte-g rantes podem ter 2 metros de altura e pesar120 quilos. No caso de transporte rodov i á r i o ,são sugeridos os seguintes critérios:

• Até 3 Pax: alugar carro ou van pequena

• 4 a 10 Pax: van até 12 –14 lugares• 11 ou mais: microônibus

Em geral, é possível hospedar e alimen-tar o motorista sem custo extra. Medianteacordo prévio, os hotéis costumam dardesconto para pacotes ou agências queenviam turistas com freqüência. Por medidade segurança, convém verificar com ante-cedência e, se não for o caso, esses custosdevem ser incluídos nos cálculos. Assimcomo deve-se atentar para outros custosdiretos fixos, tais como taxas de estaciona-mento de veículos, pedágios e balsas, ouainda taxas turísticas municipais.

No nosso exemplo, o guia recebe corte-sia no hotel e refeições se acompanhar gru-pos acima de 6 pax. O tipo de transportevaria em função do tamanho do grupo: umavan para grupos de até 10 turistas; acimadisso um microônibus. Observe o efeito da

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4

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

POR PAX 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo direto fixo R$ 92,00 R$ 40,00 R$ 35,00

Custo direto variável R$ 120,00 R$ 120,00 $ 120,00

Custo Direto Total R$ 212,00 R$ 160,00 R$ 155,00

TABELA 5

economia de escala: o custo (fixo) de guia etransporte é quase o dobro por pessoa para

❒ Custos Diretos TotaisConsolidando as duas tabelas, custos

variáveis e fixos, chegamos ao custo total do

tour de 2 dias/1 noite, por passageiro, paragrupos de 4, 8 ou 12 passageiros.

grupos de 4 pax, comparado com gruposmaiores.

TABELA 4

( NOTAS * Isto quer dizer que o valor total do custo fixo será dividido entre o número de passageiros. Assim, o custo do guia para um grupo de 4 passageiros será de R$ 30,00 por pessoa.

** Neste exemplo estamos estimando que para grupos de até 4 passageiros o custo das refeições do guia deverá ser incluído no preço do tour. Para seguir a lógica da tabela anterior,este valor deveria ser de R$ 45,00, mas para efeitos de facilitação de conta, optamos por utilizar o valor de R$ 48,00, que ao ser dividido por 4, dá um valor inteiro.

CUSTO POR PAX (PASSAGEIRO) QUANDO A AGÊNCIAOU OPERADORA TROUXER, AO MESMO TEMPO: *

ITEM TOTAL4 PAX 8 PAX 12 PAX

Guia (2 diárias) R$ 120,00 R$ 30,00 R$ 15,00 R$ 10,00

Adicional de guia R$ 48,00 ** R$ 12,00 R$ 0 R$ 0até 4 pax

Transporte R$ 200,00 R$ 50,00 R$ 25,00 R$ 25,00até 10 pax;R$ 300,00

mais de 10 pax

Total Fixo R$ 320,00 R$ 368,00 R$ 320,00 R$ 420,00 a R$ 420,00 ou R$ 92,00 R$ 40,00 ou R$ 35,00

p/pax p/pax p/pax

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS DIRETOS TOTAIS

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS DIRETOS FIXOS

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❒ Custos IndiretosPara determinar o preço que você deve

cobrar, é preciso também estimar seus cus-tos indiretos ou overhead. Novamente é im-portante lembrar que esta análise é intera t iva ,ou seja, o resultado pode levar à necessi-dade de refazer as contas. Por exemplo,após estimativa você conclui que seus cus-tos indiretos são altos demais, então vocêdeve checar as possibilidades de atrair maisturistas ou de reduzir os custos indiretos.Nos dois casos, você deve reduzir o custoindireto por turista.

Vamos usar o exemplo para ilustrar isso.O nosso empresário levantou os seguintesdados:[ Aluguel de escritório (uma pequenasala) vai custar R$ 6.000 por ano.[ Inicialmente será só ele e uma se-cretária eletrônica, a um custo de R$ 26.000 de pro-labore para ele, já incluí-dos os encargos. No ano 2 ele contrata umassistente a R$ 13.000 por ano entre salárioe encargos. A partir do ano 3 ele contratamais um assistente, também com um custo

total de R$ 13.000 por ano. Assim, o custototal do empresário com remuneração depessoal (pro-labore, salários e encargos) será de R$ 26.000 no ano 1, R$ 39.000 noano 2, e R$ 52.000 a partir do ano 3. Parafacilitar nossos cálculos, não estamosincluindo a possibilidade de aumento anualde salários e benefícios. Porém, você deveavaliar a necessidade de incluir uma taxaanual de aumento para esta categoria doorçamento.[ A conta de luz fica em média R$ 100 por mês.[ A conta de telefone sobe gradativa-mente de R$ 1.200 no ano 1 para R$ 3.600 no ano 5.[ Material de escritório sobe, tambémgradativamente, de R$ 500 no ano 1 até R$1.800 nos anos 4 e 5.[ Ele vai gastar em marketing (incluin-do viagens): R$ 10 mil no primeiro ano ealternando entre R$ 15 mil e R$ 10 mil nospróximos anos.[ O contador vai custar R$ 2 mil porano.

VALOR EM R$

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Aluguel de escritório

Eletricidade

Telefone

Pro-labore eRemuneração de pessoal

Material de escritório

Promoção

Contador

Total de custos indiretos (ou ove r h e a d ) ,por ano

6.000,00

1.200,00

1.200,00

26.000,00

500,00

10.000,00

2.000,00

46.900,00

6.000,00

1.200,00

3.600,00

52.000,00

1.800,00

10.000,00

2.000,00

76.600,00

6.000,00

1.200,00

3.500,00

52.000,00

1.800,00

15.000,00

2.000,00

81.500,00

6.000,00

1.200,00

3.300,00

52.000,00

1.600,00

10.000,00

2.000,00

76.100,00

6.000,00

1.200,00

3.000,00

39.000,00

1.500,00

15.000,00

2.000,00

67.700,00

TABELA 6

ITEM

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS INDIRETOS

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VALOR EM R$

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Custo indireto por ano (CI-a)

Nº de turistas por ano (T-a)

Total de custos indiretos(CI-a / T-a)

46.900,00

100

469,00

76.600,00

1.065

76,63

81.500,00

968

84,19

76.100,00

880

86,48

67.700,00

800

84,63

TABELA 7

DESCRIÇÃO

Uma vez que tenha sido calculado ocusto indireto por ano, deve-se calcular

o custo indireto por turista por ano, deacordo com a seguinte fórmula:

Utilizando os valores estimados naTabela 2 para o número total de turistas nos5 primeiros anos de operação do t o u r,

temos o seguinte cálculo para o custo indi-reto por turista, por ano:

Antes mesmo de calcular o custo totaldo produto (custo direto por p a x + custoindireto por p a x/ano), é possível ver pelatabela de custo indireto por p a x/ano que oseu primeiro ano de operação é crítico. Ovolume de turistas ainda é pequeno paraa rcar com o custo indireto projetado.Assim, o empresário volta à tabela de cus-tos indiretos e avalia suas opções deredução. Ele chega à conclusão de que amelhor forma de garantir a redução do

overhead sem prejudicar o seu produto nosanos seguintes é montar o escritório emcasa – eliminando não só o aluguel mastambém o custo de eletricidade – e nãopagar pro-labore para si mesmo e contra t a rserviços de terceiros para pequenas tarefas.Após estas decisões, o empresário calculan ovamente o seu overhead anual, incluindoas alterações para o primeiro ano (veja quesomente a coluna referente a este ano sofrea l t e rações:

Custo indireto turista/ano =

custo indireto por ano número de turistas por ano

EXEMPLO DE CÁLCULO DO CUSTO INDIRETO TURISTA / ANO – 1ª TENTATIVA

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

VALOR EM R$

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Aluguel de escritório

Eletricidade

Telefone

Pro-labore eRemuneração de pessoal

Material de escritório

Promoção

Serviços Terceiros eContador

Total de custos indiretos(ou overhead), por ano

0

0

1.200,00

0

500,00

10.000,00

12.000,00

23.700,00

6.000,00

1.200,00

3.600,00

52.000,00

1.800,00

10.000,00

2.000,00

76.600,00

6.000,00

1.200,00

3.500,00

52.000,00

1.800,00

15.000,00

2.000,00

81.500,00

6.000,00

1.200,00

3.300,00

52.000,00

1.600,00

10.000,00

2.000,00

76.100,00

6.000,00

1.200,00

3.000,00

39.000,00

1.500,00

15.000,00

2.000,00

67.700,00

TABELA 8

ITEM

É necessário também recalcular o ove r -head por turista para o ano 1:

Este valor final ainda é alto compara d ocom os valores para os anos 2 a 5,refletindo uma empresa que ainda estácomeçando. Por isto, o empresário dáprosseguimento ao cálculo do preço de seuproduto, usando o nível de turistas pre-tendido nos próximos anos. A próximaetapa é calcular o custo total do t o u r.

❒ Custo total do t o u rO cálculo do custo total do t o u r é tam-

bém chamado de Ponto de Equilíbrio (eminglês, b r e a k e ven point), ou seja, o valor dotour onde todos os custos são pagos pelavenda do produto: não há ganhos, mas tam-pouco há perdas. O cálculo do custo totaldo tour é feito de acordo com a seguintef ó r m u l a :

Seguindo o nosso exemplo, o em-presário precisa calcular o custo total dot o u r p a ra cada ano, para cada uma das trêscategorias de grupos que definimos ante-riormente, ou seja, 4, 8 e 12 p a x.

Custo total do t o u r =custo direto por turista +

custo indireto por turista/ano

Custo indireto turista/ano =

custo indireto por ano número de turistas ano 1

Custo indireto turista/ano =R$ 23.700,00100 turistas

Custo indireto turista/ano =R$ 237,00 no ano 1

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS INDIRETOS – 2ª TENTATIVA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Por ser atípico, o empresário desconsi-dera o ano 1 como referência para continuarseus cálculos.

Além de calcular o custo total do tourpor ano para cada tamanho de grupo, ana-lisando os valores da Tabela 9, o empresáriopercebe que apenas para grupos de até 4turistas, no ano 1, o custo total do tour apre-senta um valor mais elevado do que a médiados outros grupos e anos. O passo seguinteé a formação do preço.

❒ Formação de PreçoDeterminar o preço a cobrar não é fácil.

Em termos econômicos, o preço deve sermaior que a soma de seus custos diretos eindiretos (ou seja, maior do que o Ponto deEquilíbrio). Quão maior depende de 4fatores:

a) Demanda esperada para o produto. b) Preços praticados no mercado. c) Valor que o turista atribui ao diferen-

cial que o produto tem quando comparadocom outros. O diferencial é aquilo que oproduto oferece e que os demais no merca-do não oferecem.

d) O lucro que se quer obter.

Para calcular o preço também deve serconsiderado:

Comissão – Lembre-se que você recebe oPreço NET, mas o turista paga o preçobalcão, que ele compara com a concor-rência.

Câmbio – Para quem vende seu produtono exterior, a cotização de preço é emdólares, que são convertidos em reaispela taxa de câmbio de compra. Comoseus custos serão, na maioria, em reais esempre há o risco da flutuação do câm-bio não ser compatível com a inflação, asolução é ter uma margem de segurançanos cálculos da conversão para dólares.

Impostos – Dependendo do tipo de pes-soa jurídica e do regime fiscal, háincidência de impostos sobre o fatura-mento (ver capítulo A d m i n i s t ração ePráticas Contábeis).Pa ra efeito de simplicidade, demons-

traremos a formação de preço para apenasum ano. Assim, vamos usar as seguintes pre-missas :

• A base de cálculo é o ano 2, com es-t i m a t iva de receber 800 turistas no ano.

• Não há forte concorrência no merca-do, mas o preço-balcão – aquele pago pelo turista pelo pacote – não deve ultrapassar R$ 375,00 para gru-pos acima de 7 pessoas.

4

VALOR EM R$, ARREDONDADO PARA UNIDADE

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 54 8 12 4 8 12 4 8 12 4 8 12 4 8 12

Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax

Custo Direto*

Custo Indireto por turista**

Custo total do tour

212 160 155 212 160 155 212 160 155 212 160 155 212 160 155

237 237 237 85 85 85 86 86 86 84 84 84 77 77 77

449 297 292 297 245 240 298 246 241 296 244 239 289 237 232

TABELA 9

DESCRIÇÃO

( NOTAS : * Ver Tabela 5.

** Ver Tabela 6 mais valor para ano 1 calculado após a Tabela 8.

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS TOTAIS DO TOUR

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Seguindo o procedimento corretoacima para o cálculo do Custo Total +

Adicional, o empresário chega aosseguintes valores para o ano 2:

201

Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

• O lucro líquido desejado é por volta de 8%.

• A carga de impostos é, em média, 7% do faturamento.

• Não há venda do produto no exterior,ou seja, não é preciso preocupar-se com margem de câmbio.

A primeira etapa é calcular o Preço Netdo produto. Para tanto, deve-se acrescentarao custo total do tour por passageiro a

margem de lucro que se deseja e o valor queserá necessário pagar de impostos.

Ao calcular este valor adicional é fun-damental lembrar que este é baseado novalor total recebido pelo empresário. Umerro comum é adicionar uma porc e n t a g e mao custo total do produto. A Tabela 10m o s t ra a diferença entre as duas formas decálculo, usando como exemplo o cálculodo valor do lucro para um grupo de 8 paxno ano 2: 4

Geralmente, para se calcular um valor adicional com base em uma porcentagem, no caso 15% (margem de lucro + impostos),calcula-se o valor real da porcentagem (Lucro),que se adiciona ao valor inicial (Custo Total).

Adicional (R$) = Custo Total x 15%Adicional (R$) = 245 x 15%Neste caso o adicional é de R$ 36,75.

Portanto:

Custo Total + Adicional = Preço AlvoR$ 245 + R$ 36,75 = R$ 281,75

Ao receber do turista R$ 281,75, o empresáriovai calcular a sua margem de lucro apósdeduzir os impostos. Veja o que acontece:

Impostos (R$) = preço alvo x 7%Impostos (R$) = 281,75 x 7% = R$19,72

Preço Alvo – Impostos – Custo: R$ 281,75 – R$ 19,72 – R$ 245 = R$ 17,03

Margem de Lucro = Lucro : Preço A l voMargem de Lucro = R$ 17,03 : R$ 281,75 = 6%

Ou seja, o lucro é menor que pretendido

Para evitar o prejuízo, calcula-se o valor total a ser recebido (Custo Total + Adicional) pela seguinte fórmula:

Preço A l vo = Custo To t a l = Custo To t a l1 – Adicional (%) 1 – 15%

Preço Alvo (R$) = 245 : 0,85 = R$ 288,24O adicional neste caso foi de R$ 43,24.

Portanto:

Custo Total + Adicional = Preço AlvoR$ 245,00 + R$ 43,24 = R$ 288,24

Ao receber o valor de R$ 288,24, o empresáriovai calcular a sua margem de lucro apósdeduzir os impostos.

Impostos (R$) = preço alvo x 7%Impostos (R$) = 288,24 x 7% = R$ 20,18

Preço Alvo – Impostos – Custo:R$ 288,24 – R$ 20,18 – R$ 245 = R$ 23,06

Margem de Lucro = Lucro : Preço AlvoMargem de Lucro = R$ 23,06 : R$ 288,24 = 8%

Ou seja, o lucro está adequado ao pretendido.

TABELA 10

CÁLCULO INCORRETO CÁLCULO CORRETO

–– –

COMO CALCULAR O PREÇO NET

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4

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

POR PAX 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo total (A) R$ 297,00 R$ 245,00 R$ 240,00

Custo total + lucro 8% + impostos 7% (B) R$ 349,41 R$ 288,24 R$ 282,35

Valor da margem paraimpostos e lucro (A – B) R$ 52,41 R$ 43,24 R$ 42,35

TABELA 11

ITEM 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo Direto R$ 212,00 R$ 160,00 R$ 155,00

Margem Bruta R$ 138,00 R$ 130,00 R$ 135,00

Preço Net R$ 350,00 R$ 290,00 R$ 290,00

Preço Balcão* R$ 437,50 R$ 362,50 R$ 362,50

Comissão 20% R$ 87,00 R$ 72,50 R$ 72,50

TABELA 12

( NOTA:* Os valores foram arredondados para a unidade mais próxima.

O empresário arredonda os Preços N e tdo seu produto para R$ 350,00 para gru-pos até 6 passageiros, R$ 290,00 para gru-pos maiores.

A diferença entre o Preço N e t e o custodireto do t o u r é chamada de MargemBruta. Nosso empresário precisa de umamargem bruta média de R$ 135,00 por tu-rista para cobrir seu ove r h e a d e obter olucro desejado. Este valor médio, obtidopor meio da soma dos valores das trêsmargens brutas dividida por 3 (ver tabela12), é importante como referência para oempresário negociar preços para gruposde diferentes tamanhos.

A última etapa da formação de preçop a ra o produto é a inclusão da comissãoque o empresário passará para a agênciaou opera d o ra de turismo que vender o seuproduto. O resultado será o Preço Balcão.No nosso exemplo, o empresário decidiuadotar 20% de comissão para agências eo p e ra d o ras. Mais uma vez, o Preço Balcãod e verá ser calculado antes de se poderverificar o valor absoluto da comissão. Afórmula utilizada para calcular os va l o r e sapresentados na Tabela 12 é:

P reço Balcão =

Preço Net = Preço Net 1 – Comissão (20%) 0 , 8

EXEMPLO DE CÁLCULO DO PREÇO BALCÃO

EXEMPLO DE CÁLCULO DO CUSTO TOTAL + LUCRO

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

CUSTO POR PAX (EM R$)

ITEM TOTAL 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo Direto Fixo

a) Guia local (2 diárias) R$ 60,00 15,00 7,50 5,00

b) Guia ornitólogo (2 diárias) R$ 200,00 50,00 25,00 16,67

c) Adicional de guia R$ 84,00 até 4 pax 21,00 0 0d)Transporte R$ 200,00 até 10 pax;

R$ 300,00 mais de 10 pax 50,00 25,00 25,00

Total Custo Direto Fixo (DF) R$ 460,00 a R$ 560,00 136,00 57,50 46,67

Total Custo Direto Va r i á vel (DV ) 120,00 120,00 120,00

Custo Direto Total (CD = DF + DV) 256,00 177,50 166,67

Custo Indireto (CI) 85,00 85,00 85,00

Custo Total (CT = CD + CI) 341,00 262,50 251,67

Lucro + Impostos 15% (L+I) 60,17 46,32 44,41

Preço Net (net = CT + L + I) 401,17 308,82 296,08

Comissão 20% 80,24 61,76 59,22

Preço Balcão 481,41 370,58 355,30

Preço Balcão arredondado (final) do Programa Alternativo (PA) 485,00 375,00 355,00

Preço Balcão arredondado (final) do Programa Padrão (PP) 350,00 290,00 290,00

Diferença entre o Programa Padrão e o Alternativo (PA – PP) 135,00 85,00 65,00

TABELA 13

Interpretando os valores da Tabela 12p a ra grupos de 8 pax, temos que:

• Cada turista pagará o valor de R$ 362,50 pelo pacote.

• Deste va l o r, R$ 72,50 serão pagos à agência ou opera d o ra de turismo como comissão.

• Dos R$ 290,00 que o empresário receberá, R$ 160,00 serão utiliza-dos para pagar os custos diretos (fixos e va r i á veis).

• Da margem bruta de R$ 130,00, o empresário pagará imposto sobre o f a t u ramento no valor de R$ 20,3 (=7% x R$ 290) , aplicará R$ 85,00 p a ra cobrir custos indiretos (Tabela 9) e retirará o restante (R$ 24,70)

como lucro. • Como os preços finais foram

arredondados para cima, os valores absolutos para pagamento de im-postos e margem de lucro mostra muma pequena diferença em relaçãoà tabela 10.

❒ P ro g ramas e Pro d u t o s

Com o mesmo produto podem sermontados diferentes programas, mudandoo número de dias e o enfoque do progra-ma. Se no exemplo abaixo o programa émudado para ornitologia, o custo comguia vai aumentar (Tabela 13). Va m o ssupor que o programa alternativo inclui:

EXEMPLO DE CÁLCULO PARA PROGRAMA ALTERNATIVO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

• Um guia local a R$ 30,00 por dia.• Um especialista em ornitologia que

custa R$ 100,00 por dia.• C o n s i d e rando que os 2 guias div i d a m

um quarto, resultando em um adicionalde custos com os guias de R$ 84,00 até4 turistas.

• O programa é criado no ano 2.

Nosso empreendedor vai ter prejuízo noprimeiro ano. Por meio desta análise elesabe que deve ter uma reserva de Capital deGiro de, no mínimo, R$ 12.730 para sobre-viver ao primeiro ano.

4. Balanço Patrimonial

Aconta de resultados mostra se umaempresa teve lucros ou prejuízos, mas

não se ela tem dinheiro em caixa. Pa ra saber,precisamos examinar o Balanço Pa t r i m o n i a l .

Balanço Patrimonial é uma radio-grafia da empresa em uma certa data(geralmente o fim de um trimestre).O balanço patrimonial mostra o quea empresa tem (ativo) e como isso éfinanciado (passivo). O que uma em-presa tem é dinheiro, contas a rece-ber, estoques e investimentos (em

terrenos, construções, veículos, etc.).O passivo mostra como a empresafinancia essas coisas: por meio definanciamentos (do banco ou defornecedores) ou recursos próprios(o patrimônio líquido).

Tanto o ativo quanto o passivo são divi-didos em curto prazo (menos que um ano) elongo prazo. Essa distinção é importantepara verificar a liquidez, ou seja a rapidezcom que a empresa pode cumprir suas obri-gações. Uma empresa que tem um hotelque vale R$ 1 milhão mas não tem dinheirono banco, não tem liquidez, porque a vendado hotel leva tempo e, com a venda, aempresa deixa de ter seu ativo principal.

Como o ativo e o passivo compõe doislados da mesma moeda, o valor total dos doisé sempre igual e qualquer operação finan-c e i ra tem reflexos nos dois lados do balanço.

3. Conta de Resultados

AConta de Resultados mostra se umaempresa teve lucros ou prejuízos nas

suas operações. Juntando os dados princi-pais de faturamento e custos numa mesmaplanilha, chega-se à Conta de Resultados.( Tabela 14). O formato básico desta conta é:

4

ITEM CÁLCULO EXEMPLO PARA ANO1 PARA 8 PAX (em R$)

Faturamento Bruto (FB) Preço net x nº de turistas 29.000

Impostos (I) 7% x FB 2.030

Faturamento Líquido (FL) FB – I 26.970

Custos Diretos (CD) custo direto x nº de turistas 16.000

Margem Bruta (MB) FL – CD 10.970

Custos Indiretos (CI) 23.700

Lucro Bruto (LB) MB – CI – 12.730

Lucro Líquido (LI) LB – IL – 12.730

TABELA 14

EXEMPLO DE CONTA DE RESULTADOS

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O b s e r ve que os itens inve s t i m e n t o s ,financiamentos e provisões estão sem va-lores. Eles serão discutidos no item sobreFluxo de Caixa, abaixo.

5. Fluxo de Caixa

O Fluxo de Caixa é o ponto de partidap a ra a avaliação de inve s t i m e n t o s .

Muitos negócios entram em falência nosprimeiros anos devido ao planejamentoinadequado do Fluxo de Caixa. O Fluxo deCaixa mostra as saídas e entradas físicas dedinheiro na caixa, que geralmente não sãoiguais à Conta de Resultados. Isto porqueexistem regras determinadas pela ReceitaFe d e ral de como as saídas e entradas de din-heiro devem ser contabilizadas. Veja a ra z ã odas principais diferenças:

a) Compra e depreciação de bens

Quando você compra um bem (terreno,imóvel, móvel, equipamento, veículo etc.),esse dinheiro sai de seu caixa no momentoda compra, mas não é mostrado comodespesa na sua demonstração de resultados.O que aparece lá é a depreciação, que é umcusto anual determinado pela vida útil dobem. Depreciação é a desva l o r i z a ç ã o(perda de valor) de um bem pelo seu uso aolongo dos anos. O bem pode simplesmentese acabar e necessitar de substituição (p. ex.um barco), ou tem que passar por consertosou reformas (p. ex. uma construção). Adepreciação não é um custo que sai fisica-mente do caixa. Na realidade, ao incluir adepreciação de bens no Fluxo de Caixavocê está criando uma reserva futura para o

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Voltando ao nosso exemplo, vamossupor a seguinte situação:• O empresário investiu R$ 22.730 de seu

próprio capital inicial no negócio (capi-tal social).

• O balanço no final do ano 1 mostra quesobraram R$ 10.000 em caixa.

• Ele ainda vai receber R$ 5.000 de seusclientes.

• Ele precisa pagar R$ 5.000 para osfornecedores.

• Como ele teve prejuízo no primeiro ano,o capital inicial ou patrimônio líquido foireduzido em R$ 12.730 e totalizou R$10.000 no final do período.

4

ATIVO R$ PASSIVO R$Curto prazo4 Caixa e depósitos no banco 10.0004 Antecipações de pagamentos 04 Contas a receber 5.0004 (– provisões contra

maus pagadores) 04 Estoques 0

Longo prazo4 Investimentos 04 (– depreciação) 0

TOTAL 15.000

Curto prazo4 Contas a pagar 5.0004 Juros a pagar 04 Impostos a pagar 04 Financiamentos 0

Longo prazo 4 Financiamentos 0

Patrimônio Líquido (capital social – prejuízos acumulados) 10.000

4 Capital Social 22.7304 Prejuízos Acumulados – 12.730

TOTAL 15.000

TABELA 15

EXEMPLO SIMPLES DE BALANÇO PATRIMONIAL

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ITEM SEM DEPRECIAÇÃO COM DEPRECIAÇÃO

Faturamento Liquido R$ 100.000 R$ 100.000

Custos R$ 50.000 R$ 50.000

Depreciação (não sai do caixa) 0 R$ 50.000

Lucro R$ 50.000 R$ 0

Impostos (20% do lucro) R$ 10.000 R$ 0

Lucro Líquido R$ 40.000 R$ 0

Em caixa R$ 40.000 R$ 50.000

TABELA 16

momento que precisar substituir ou reformaro bem.

Para calcular o valor da depreciação deum bem, utiliza-se a seguinte fórmula:

b) Provisões e reversõesEm vários casos é permitido fazer pro-

visões, que são reservas para despesasf u t u ras, como por exemplo 13º salário,devedores duvidosos, ações trabalhistas ouimpostos. Se a despesa prevista não ocorrer(o devedor duvidoso acaba pagando a dívi-da) deve-se fazer uma reversão.

Por ser uma despesa contábil, a provisão

acarreta diminuição do lucro contábil e dosimpostos pagos. No entanto, como não saido caixa da empresa, não tem efeito noFluxo de Caixa. Em caso de reversão acon-tece o contrário.

c) Financiamento, juros e amortizaçãoQuando se contrata um financiamento

são estabelecidas taxas de juros e a forma

Este cálculo indica o percentual dedepreciação anual. Porém, o valor absolutoda depreciação anual é calculada da mesmaforma. Basta substituir 100% pelo valorabsoluto do bem:

Um prédio de R$ 1 milhão com vidaútil de 20 anos, tem um custo dedepreciação anual de 5% (100% dovalor / 20 anos) ou R$ 50 mil (R$1.000.000/20). O valor absoluto dadepreciação, ou seja R$ 50.000, é ovalor que aparece como despesa na

Conta de Resultados.

Depreciação é o custo que aparece naConta de Resultados. Ela reduz o lucro e,consequentemente, os impostos que inci-dem sobre o lucro. Por isso, a ReceitaFederal determina como calcular a depreci-ação de um bem de acordo com o seu tipo.

Por ser um custo contabilizado na Contade Resultados, e o valor de depreciação seralto, uma empresa pode ter prejuízos, master um fluxo de caixa positivo (porque ovalor de depreciação efetivamente não saiuda caixa). Isto permite que a empresa sobre-viva.

No exemplo a seguir, observe que aempresa com custo de depreciação tem umcusto mais alto e, conseqüentemente, umlucro mais baixo (neste caso, zero). Mascomo a empresa paga menos impostos, temmais dinheiro em caixa que a empresa quenão tem custo de depreciação.

% Depreciação anual =100% (valor do bem)

nº anos de vida útil do bem

EXEMPLO DO EFEITO DA DEPRECIAÇÃO NO FLUXO DE CAIXA

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TABELA 17

Compra de bens Saída Aumenta ativo de longo prazo Não aparece

Depreciação de bens Não sai Reduz ativo de longo prazo Sim, despesa

Financiamento Entrada Aumenta passivo Não aparece

Juros sobre financiamento Saída Não aparece Sim, despesa

Amortização financiamento Saída Reduz passivo Não aparece

Provisão Não sai Depende Sim, despesa

Reversão (de provisão) Não entra Depende Sim, receita

EFEITO BALANÇO CONTA DEAÇÃO NO CAIXA PATRIMONIAL RESULTADOS

TABELA 18

O empresário teve um lucro líquido de R$ 100.000 + R$ 100.000

A depreciação anual dos bens é R$ 50.000 + R$ 50.000

Ele investiu num anexo de R$ 100.000 - R$100.000

Ele obteve um financiamento de R$ 25.000 (carência de 1 ano) + R$ 25.000

Ele fez uma provisão contra devedores duvidosos de R$ 5.000 + R$ 5.000

Ele fez uma reversão de provisão referente a ações trabalhistas de R$ 10.000 - R$10.000

TOTAL +R$ 70.000

da amortização (prazo, valor e data devencimento das parcelas) do empréstimo.O financiamento e a amortização nãoaparecem na Conta de Resultados porquenão são despesas, mas recursos que apare-

A montagem do Fluxo de Caixa devec o n s i d e ra r, além do lucro líquido, todos oselementos que:

a) Não entra ram na conta de resultados:• I nvestimento • Financiamento / amortização

b) Fo ram contabilizados no lucro líqui-do como despesa ou receita, mas na reali-

dade não saíram ou entra ram no caixa. • D e p r e c i a ç ã o• P r ovisões e reve r s õ e s

Pa ra ilustrar usaremos um exemplo,porém, neste caso, diferente do exemplopadrão. Vamos supor que um empresárioque possui um hotel já em operação estejana seguinte situação:

cem no passivo do Balanço. Só o paga-mento de juros aparece na Conta deResultados como despesa. A tabela a seguirm o s t ra como esses itens discutidos sãoc o n t a b i l i z a d o s :

Ou seja, o fluxo de caixa é R$ 30 mil amenos que o lucro líquido neste exemplo.

COMO CONTABILIZAR OS BENS, FINANCIAMENTOS E PROVISÕES

EXEMPLO DE MONTAGEM DE FLUXO DE CAIXA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

6. Especificação do Inve s t i m e n t o

O investimento deve ser especificado emdetalhes. Esta nem sempre é uma tare-

fa fácil, mas é essencial porque a primeirapergunta do investidor é: como podemosreduzir o investimento?

Como o investimento é pequeno noexemplo da opera d o ra de um t o u r, va m o sd e m o n s t rar o exemplo de uma pousada.Primeiro temos o custo do projeto, construçãoe decoração da pousada. A pousada vai ter 20quartos com 3 camas cada, e ocupar 1.000m2. Além disso vai ter um restaurante. Natabela abaixo é mostrado o cálculo do inve s-timento. Na última coluna tem-se a perc e n t-agem de depreciação anual. No caso da con-strução, estamos falando de um custo anualde 5% X R$ 500.000 = R$ 25.000 por ano.

Observe que a maior parte do investi-mento está na construção (R$ 500.000 deR$ 567.750). Uma redução de 10% nopreço da construção paga quase todo oresto do investimento. O empreendedordeve saber negociar bem esta parte.

Além do custo para montar a pousada

(ou qualquer outro projeto),

deve-se verificar se há despesas

pré-operacionais. No exemplo

da pousada, precisa-se contratar e treinar

empregados (e pagar salários antes

da abertura), organizar um famtour para

agências (ver capítulo Elaboração do

Produto de Ecoturismo), etc..

O Fluxo de Caixa provisório tambémvai mostrar a necessidade de capital degiro. Se a empresa terá prejuízos nosprimeiros anos de existência, o que é bas-tante comum, isso deve ser previsto. Po risso é necessário uma reserva de capital,caso contrário o empresário irá à falência.

Supondo que as despesas pré-opera-cionais serão de R$ 50.000 e o capital degiro necessário para sobreviver nosprimeiros dois anos também é de

R$ 50.000, o empresário dessa pousadapassará a precisar de um total de R$ 667.750 para ter sucesso (v. Tabela 19).

7. Cálculo de Viabilidade Econômica

Ocálculo de viabilidade econômica é uti-lizado para conciliar o risco de um

empreendimento com o retorno esperado. Ocálculo é sempre feito com base no Fluxo deCaixa, que considera: a) investimento iniciale b) fluxo de caixa da empresa em opera ç ã o .

Voltando ao exemplo da opera d o ra deum tour de 2D e 1N, o investimento dele foi:• Computador / Fax 4 R$ 6.000• Móveis / Material 4 R$ 5.000• Dinheiro / tempo 4 R$ 29.000• Total R$ 40.000

O item dinheiro / tempo deve-se ao fatode que, no primeiro ano, o empresário nãorecebeu remuneração por seu tra b a l h o ,então fez um investimento pessoal, nestecaso um pouco mais baixo do que o pro-labore planejado a partir do ano 2.

Os três critérios de viabilidade geral-mente usados são:

• Recuperação do investimento (Payback).• Valor presente.• Taxa interna de retorno.

A seguir apresentaremos cada um deles.

❒ R e c u p e ração do inve s t i m e n t o(Payback). Payback ou recuperação doinvestimento é o número de anos emeses para recuperar o investimento.No caso de nosso exemplo, o investi-mento inicial foi de R$ 40.000 e igno-ramos a depreciação do computador edos móveis. No Fluxo de Caixa observeque nosso empreendedor só irá recu-perar o investimento no quarto ano. Ométodo payback de recuperação doinvestimento é um cálculo rápido parapequenos investimentos, mas não servepara investimentos maiores porque nãoconsidera o Fluxo de Caixa depois darecuperação do investimento.

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TABELA 19

ITEM UN. QTDE. VALOR/UN. VALOR VIDA ÚTIL DEPRECIAÇÃOEM R$ TOTAL ANOS ANUAL

EM R$

TABELA 20

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Lucro líquido* -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209

Fluxo de caixa -40.000 -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209

Cumulativo -40.000 -52.730 -32.670 -12.234 12.456 47.664

( NOTA * Estes valores foram calculados de acordo com a Tabela 14.

Construção4 Projeto Arquitetônico 1 10.000 10.0004 Construção m2 1000 500 500.000 20 5%4 Paisagismo m2 500 20 10.000

Móveis4 Camas, colchões 60 250 15.000 10 10%4 Armários 20 300 6.000 10 10%4 Mesas, cadeiras 6/24 350 2.100 10 10%4 Sofás, poltronas 4 300 1.200 10 10%4 Balcão recepção 1 500 500 10 10%

Equipamentos4 Computador, Impressora 1 3.000 3.000 5 20%4 Telefone (2 linhas), fax 2 1.500 3.000 5 20%4 Microondas 1 300 300 5 20%4 Geladeira, freezer 2 1.000 2.000 5 20%4 Fogão 1 500 500 5 20%4 Televisão, som 2 600 1.200 5 20%4 Ventilador teto 22 150 3.300 5 20%4 Chuveiros 22 50 1.100 5 20%

Outros4 Cama, mesa, banho 80 60 4.8004 Louças, talheres 50 15 7504 Decoração 3.000 3.000

TOTAL 567.750

EXEMPLO DE ESPECIFICAÇÃO DO INVESTIMENTO

EXEMPLO DE CÁLCULO DE PAYBACK

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O método payback de recuperação doinvestimento é um cálculo rápido parapequenos investimentos, mas não servepara investimentos maiores porque nãoconsidera o Fluxo de Caixa depois darecuperação do investimento.

❒ Valor Presente O Valor Presente partedo princípio que há um custo de oportu-nidade ao se investir num empreendi-mento. Quando você decide fazer umi nvestimento, há uma variedade deopções no mercado: você pode depositarseu dinheiro em renda fixa, num fundode ações ou em outro empreendimento.Se nosso empreendedor tivesse investidoR$ 40.000 em renda fixa, poderia terganho 15% por ano.

Para fazer a escolha certa, precisa-sedescontar do valor do fluxo de dinheirofuturo a taxa de rendimento que se poderiater em outro investimento. Geralmente ataxa de desconto usada é a da renda fixa(risco mínimo). A fórmula usada é:

Ou seja, (1 + taxa de desconto) expo-nenciado ao número de períodos – ou anos

– em que se quer verificar o Valor Presente.Isto quer dizer que a taxa de desconto écumulativa a cada ano. A uma taxa de 15%,a fórmula fica assim:

Assim, é preciso definir um horizonte, ouseja, o Valor Presente do fluxo de caixafuturo durante um período de 5 anos, 10anos, e assim por diante. Veja como nossoexemplo, descontado a 15% por ano,durante 5 anos, chega a um Valor PresenteCumulativo de R$ 9.157. Isso significa queo investimento do empreendedor rendeu R$ 9.157 a mais que um investimento nomesmo prazo em renda fixa com taxa de15%.

TABELA 21

Fluxo sem desconto -40.000 -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209

Fluxo Cumulativosem desconto -40.000 -52.730 -32.670 -12.234 12.456 47.664

Valor Presente Fluxo com 15% de desconto* -40.000 -11.070 15.168 13.437 14.116 17.505

Fluxo Cumulativo com 15% desconto -40.000 -51.070 -35.901 -22.464 -8.348 9.157

( NOTA: * Valores arredondados para a unidade.

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Valor Presente = Valor do Fluxo do Período

(1 + taxa desconto) número de períodos

Valor Presente Ano 1 = Valor do fluxo do período 1 = Valor (1 + 15%) 115%

EXEMPLO DE CÁLCULO DE VALOR PRESENTE

Valor Presente Ano 2 = Valor do fluxo do período = Valor (1 + 15%) x (1 + 15%) 132%

Valor Presente Ano 3 = Valor do fluxo do período = Valor (1+15%) x (1+15%) x (1+15%) 152%

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❒ Taxa Interna de Retorno – Para sabera rentabilidade do inve s t i m e n t o ,usa-se a Taxa Interna de Retorno(TIR). Na tabela acima pudemosverificar que o rendimento é maiordo que 15% ao ano em 5 anos, poiso Valor Presente indicou que meurendimento foi de R$ 9.157. A TaxaInterna de Retorno diz quanto é esterendimento e, por isto, é igual à taxade desconto que faz o valor presentecumulativo chegar a zero.

O cálculo é um processo intera t ivo, ou

8. Benefícios Sociais e Ambientais Locais

Um investimento em ecoturismo de basecomunitária visa beneficiar social e

economicamente a comunidade local,assim como garantir melhor uso e conser-vação dos recursos naturais, principalmenteáreas protegidas. Para se acompanhar se osbenefícios de fato possuem impacto nacomunidade, deve-se partir do ponto dodiagnóstico. Ou seja, no momento doinventário (Ver capítulo Levantamento doPotencial do Ecoturismo) tem-se o pontozero, antes do investimento econômico doecoturismo. Ao passar por exemplo 5 anos,pode-se fazer um novo levantamento quedirá, em quantidade e qualidade, os benefí-cios introduzidos por esta atividade em ter-mos ambientais, sociais e econômicos.

Economicamente, ao analisar um projetodeve-se fazer uma estimativa da renda adi-cional gerada pelo ecoturismo. O ecoturis-mo pode diversificar e ativar sobremaneira a

economia local. Para estimar o impactoeconômico do negócio na comunidade,deve-se:

a) Identificar e calcular as fontes de renda para a comunidade, tais como:

• Salários locais (direto da Conta de Resul-tados).

• Fornecedor de refeições (% do custo dealimentação na Conta de Resultados).

• Fornecedor de transporte.• Fornecedor de artesanato e outros produ-

tos típicos locais e também equipamen-tos diversos.

• Participação no lucro.

b) Estimar a renda per capita da comunidade.

O impacto econômico do projeto deecoturismo pode ser deduzido calculando-

seja, aplica-se uma taxa de desconto everifica-se o resultado: se o Va l o rPresente cumulativo é maior que zero, épreciso aumentar a taxa de desconto; se oValor Presente cumulativo é menor quezero, é preciso diminuir a taxa até que oresultado aproxime-se de zero. Fe l i z-mente, no programa Excel do MicrosoftOffice existe uma formula para fazer isto(Fórmulas Fi n a n c e i ras T I R ) .

Veja na Tabela 22, usando o exemplo daTabela 21, que, para se atingir o Valor PresenteC u m u l a t ivo a zero, esta taxa é de 20,9%.

4

TABELA 22

Fluxo sem desconto -40.000 -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209

Valor Presente do Fluxo com 20,9% de desconto -40.000 -10.533 13.733 11.576 11.571 13.653

Cumulativo -40.000 -50.533 -36.800 -25.224 -13.653 0

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

EXEMPLO DE CÁLCULO DA TAXA INTERNA DE RETORNO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

se o quanto a renda gerada pelo ecoturismoaumenta a renda per capita atual da comu-nidade. Para tanto deve-se estabelecer oponto zero da situação sócio econômicapormeio de um diagnóstico específico.

Os benefícios sociais da ativ i d a d epodem também ser diversos. Como o eco-turismo demanda melhorias na infra-estrutu-ra local, há geração de benefícios adicionaispara a comunidade tais como:

• Postos de saúde.• Melhorias no transporte e vias de acesso.• Acesso a novas tecnologias (por exem-

plo, sanitário seco).• Treinamento (diversificação do emprego).

Em termos ambientais, o ecoturismopode vir a gerar mais recursos para a con-servação de áreas naturais, tais como:

• Divisas (ingressos) nos parques públicose reservas particulares

• G e rar recursos para fundo de conserva ç ã oou fundo para demandas da comunidade.

• Diminuir a pressão por extração de pro-dutos naturais.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

A decisão de investir ou não num proje-to depende da avaliação do risco desse pro-jeto e das outras opções de investimento. Osriscos percebidos são ligados às perguntasdo início do capítulo:

• Um produto novo tem risco maior queum produto já conhecido.

• Um mercado novo tem risco maior queum mercado já conhecido.

• Gerentes sem experiência no ramo sig-nificam risco maior.

• Um empreendimento com altos custosindiretos tem menos flexibilidade e, por-tanto, maior risco que um empreendi-mento com baixos custos indiretos.

Além disso, há um risco geral próprio dopaís – Brasil – com seu histórico de instabi-

lidade econômica, ou em uma macroregião, como é o caso do Mercosul. Deve-setambém considerar eventos inespera d o scomo incidentes políticos internacionaisque refletem nos fluxos de turistas.

Além de considerar os riscos, há que seponderar as diferentes opções de investi-mento. A princípio, ninguém investe numprojeto que dá retorno menor que uma apli-cação em renda fixa (antes do pacote fiscalde novembro de 1998, estava em 10% realao ano; em 1999 estava em 15%; em 2000continuou em torno de 15%). Para investi-mentos de risco no Brasil, as taxas deretorno desejadas são de, no mínimo, 25%para empresas com experiência no ramo.

Pa ra projetos de ecoturismo de basecomunitária, a análise de viabilidade devereconhecer que:

• O investidor, na realidade, é um incenti-vador e nem sempre busca a mais altarentabilidade para seu dinheiro.

• O projeto de ecoturismo pode (e deve)ter outros efeitos, como um aumento narenda da comunidade ou a conservaçãode áreas naturais prioritárias.

Por essas razões, a taxa interna deretorno exigida pode ser mais baixa quepara um projeto puramente comercial, masde preferência deve ser maior que o rendi-mento da renda fixa. De qualquer forma,vale a pena considerar outras alternativas dei nvestimentos para escolher aquela commelhor relação risco / retorno. Nem sempreo ecoturismo é o melhor investimento. Estemomento de decisão é extremamenteimportante pois deve-se levar em conta ou-tros pontos abordados neste Manual, comopor exemplo, o inventário de oferta turística,a geração de impactos ambientais ou a me-lhor vocação profissional e estratégica dacomunidade e da região. Por exemplo pode-se preferir investir em um manejo florestalcomunitário, visando desenvolver produtoscertificados, pois atende à vocação dacomunidade, possui mais fácil acesso aosmercados, possui variada oferta de áreas

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Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

para serem exploradas e melhor acesso atreinamentos.

Como foi dito no começo deste capítulo,nosso objetivo não é o de formar economis-tas. O estudo de viabilidade econômica écomplexo, tornando-se mais complexo deacordo com o tamanho do negócio ou àmedida em que ele cresce (mais produtos,mais clientes, maiores investimentos, maispessoal, infra - e s t r u t u ra etc.). Po r t a n t o ,recomenda-se enfaticamente que uma pes-soa com conhecimento específico na áreaeconômica seja encarregada da elaboraçãodo estudo de viabilidade econômica oupelo menos acompanhe regularmente seud e s e nvolvimento enquanto o negócio éplanejado, implementado e gerenciado nosseus primeiros anos. Os tópicos tratadosneste capítulo ajudam o leitor do Manual aentender como se calcula a viabilidadeeconômica e lhe dão instrumentos para que

possa acompanhar o trabalho de um profis-sional e assegurar-se de que seus cálculosestão corretos.V. MAIS INFORMAÇÕES

As mais importantes fontes de apoio paraempreendedores de turismo no Brasil são:

• Serviço Brasileiro de Apoio à Micro ePequena Empresa - SEBRAE - http://www.sebrae.com.br(cada estado tem um SEBRAE cujo ende-reço na Internet é o mesmo acima acres-cido da UF ao nome “sebrae”, antes doponto, por exemplo, w w w. s e b ra e d f .com.br)

• Instituto Brasileiro de Turismo - Embraturhttp://www.embratur.com.br

• Serviço Nacional de Aprendizagem Co-mercial - SENAC - http://www.senac-nacional.br/

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

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I. OBJETIVO

O objetivo deste capítulo é prestar ori-entação a projetos de ecoturismopara a adoção de tecnologias alter-

nativas na implantação de infra-estrutura eequipamentos. São abordadas tambémquestões como geração de energia, trata-mento de detritos e aproveitamento derecursos e paisagem naturais .

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

Nas últimas décadas, tem-se observadoque o consumidor está mais atento paranegócios que respeitam o meio ambiente.Assim, produtos que apresentam soluçõestecnológicas socialmente e ambientalmenteadequadas tendem a agregar valor à suaqualidade e conquistar maiores faixas demercado. No caso do turismo, um númerocrescente de viajantes tem procurado ambi-entes menos alterados, em busca de contatomais direto com paisagens naturais ou mani-festações culturais representativas.

O ecoturismo reflete essa nova reali-dade. Pa ra atender a tal público, oempreendedor deve estar atento não só aolugar onde irá instalar-se, à forma de rece-ber, hospedar ou conduzir seus clientes,mas principalmente deve proporcionar amaior interação e integração possíveis entreos visitantes e entre esses e a natureza.

Para isso, pode-se valer de atividadescontemplativas, esportivas e educativas quep r o p o rcionam maior contato com anatureza, além de investir no uso equilibra-do e adequado dos espaços e materiais, no

aproveitamento das condições físicas e damão-de-obra local, entre outros.

Assim, as estruturas e equipamentos deapoio para a adequada implantação do eco-turismo, tais como edificações em hospe-dagem, recepção ao visitante e áreas decamping e suas respectivas construções paratratamento de resíduos líquidos e sólidos,geração de energia e captação e tratamentode água, devem demonstrar uma filosofia ese inspirar numa conduta ecologicamentecorretas. O aproveitamento equilibrado dosespaços e a integração com o ambiente doentorno, além de proporcionar ao hóspedeou cliente uma sensação de bem-estar,demonstram as intenções e atitudes das pes-soas envolvidas com o empreendimento. Damesma forma, as questões ligadas ao sanea-mento podem demonstrar mais do que umapreocupação imediatista com a saúde, masuma visão mais abrangente de qualidadeambiental e de vida.

Este capítulo aponta o emprego de algu-mas técnicas e ecotécnicas (aquelas queminimizam o impacto ambiental negativo)no planejamento e implantação de infra-estrutura e equipamentos para as atividadesecoturísticas. O emprego das mesmas noplanejamento arquitetônico de estruturas,na construção, geração de energia e sanea-mento básico contribui para um melhoraproveitamento dos recursos naturais e paraa manutenção da qualidade ambiental.Muitas dessas técnicas também contribuempara a economia nos custos mensais deoperação do empreendimento, tornando-seum ponto importante no plano de viabili-dade econômica.

5. Infra-estruturade apoio ao ecoturismo

Waldir Joel de AndradeJohan van Lengen

Anna Paula Costa Santos

IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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ECOPOUSADA

Pequena área construída em relação à área verde.

Incentiva a culinária local.

Valoriza mão-de-obra local.

Proporciona lazer e educação.

Construção mais rústica.

Estabelecida necessariamente em localcom atrativos naturais e/ou culturais.

POUSADA/HOTEL

Pode ter praticamente toda a área construída.

Não incentiva, necessariamente, a culinária local.

Mão-de-obra especializada ou de grandes centros.

Proporciona lazer.

Construção mais luxuosa.

Maior flexibilidade para a localização.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Na Caixa de Ferramentas a seguir, sãoabordadas formas práticas de proporcionarmaior interação entre homem e ambientenatural, por meio do uso adequado deecotécnicas. Também será apresentado oconceito de ecopousada (Ecolodge – ou re-fúgio ecológico), as várias formas de cam -ping e outras estruturas necessárias às ativi-dades ecoturísticas.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Nesta seção serão apresentadas breve-mente diversas técnicas alternativas quepodem ser aplicadas na construção de infra-estrutura voltada para o ecoturismo. Umdetalhamento mais aprofundado da apli-cação de cada técnica escapa à abrangênciadeste capítulo, mas são indicativos na toma-da de decisão neste campo. E como com-plemento, sugere-se a contratação deespecialistas em seus diversos assuntos.

Neste capítulo serão abordados osseguintes tópicos:

1. Critérios sustentáveis paraecopousadas (Ecolodges).

2. Integração casa, pessoa e ambiente.

3. Uso de material local e geração de empregos.

4. Saneamento adequado.5. Sistemas alternativos de geração

de energia.6. Áreas de acampamento.7. Equipamentos complementares.

1. Critérios sustentáveis para ecopousadas (Ecolodges)

Consideramos que o principal tipo deconstrução gerado para fins de ecotu-

rismo é a ecopousada e, assim, apresenta-mos algumas considerações específicas paraeste tipo de estrutura. Uma ecopousadapode ser definida como um estabelecimen-to turístico de pequeno porte, localizado emambientes naturais privilegiados, e queadota os princípios ecoturísticos.

A qualidade ambiental, a valorização dacultura e da mão-de-obra local são questõessempre vinculadas a esse tipo de em-preendimento.

Para efeito de ilustração, apresentamosalgumas diferenças entre uma ecopousada euma pousada ou hotel conve n c i o n a i s ,observadas no quadro a seguir:

5

DIFERENÇAS ENTRE ECOPOUSADAS E POUSADAS/HOTÉIS

1 QUADRO 1

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

Os princípios de sustentabilidade qued e vem ser aplicados em uma ecopousadapodem ser sintetizados como "estrutura sc o n s t r u t ivas que otimizam espaço, paisagens,

materiais, equipamentos e mão-de-obra, for-mando um sistema funcional que minimiza oimpacto ambiental na implantação e no con-sumo de recursos naturais na sua operação".

5

DURANTE O PLANEJAMENTO

❐ Definir um zoneamento do terreno e daárea de uso intensivo (estacionamento,construções etc) e das áreas de proteção,p r o c u rando estabelecer reservas natura i spróprias protegidas sob a forma de ReservaParticular do Patrimônio Natural (RPPN);

❐ Respeitar os locais legalmente protegidos,tais como Áreas de Preservação Pe r m a n e n t e(APP's) (p. ex. ninhais e beira de rios e lagos,encostas de morros) e Reserva Legal;

❐ Ter atenção especial para o uso de árease x t ra t ivistas, recreativas e agrícolas dacomunidade local e, principalmente, deáreas indígenas ou protegidas;

❐ Planejar as edificações e os equipamentosp a ra que tenham identidade com aarquitetura e estilos regionais;

❐ Planejar as construções para melhor apro-veitamento das condições solar e eólica, deforma a propiciar conforto aos visitantes;

❐ Usar fontes alternativas de produção deenergia (solar, eólica etc) e de água;

❐ Proteger a qualidade dos recursos hídri-cos, planejando os sistemas de abasteci-mento e de tratamento e lançamento ade-quado de efluentes líquidos;

❐ Possuir tratamento de resíduos sólidos (cole-ta seletiva, reciclagem, disposição adequa-da, produção de composto orgânico etc);

❐ Ter inventários de flora e fauna e tambémdos recursos culturais atra t ivos, proporc i o-nando trilhas e equipamentos para ativ i d a-des tais como: caminhadas, cavalgadas etc.

❐ Envolver a comunidade local, tornando-seuma alternativa econômica local e/ouregional;

❐ Valorizar a cultura local / regional naarquitetura, gastronomia, artesanato, fol-clore, produtos de consumo etc;

DURANTE A IMPLANTAÇÃO

❐ Adotar práticas de mínimo impactoambiental durante sua construção;

❐ Utilizar mão-de-obra local e mutirãocomunitário;

❐ Adotar o uso de tecnologias tradicionaislocais;

❐ Utilizar materiais locais, porém de fontessustentáveis ou reciclados;

DURANTE A GESTÃO / OPERAÇÃO

❐ Buscar a eficiência na conservação eadministração de água e energia;

❐ Orientar os funcionários e clientes para aredução da demanda de água e energia;

❐ Reduzir o consumo de qualquer materialevitando o desperdício, e quando possí-vel, implantar métodos de reutilização ereciclagem;

❐ Disponibilizar informações e recomen-dações ambientais aos clientes por meiode guias e cartilhas;

❐ Treinar funcionários com atividades deeducação ambiental;

❐ Promover a integração e interação entreos visitantes e as comunidades locaisreceptoras;

❐ Monitorar todas as atividades do empre-endimento para controle de eventuaisimpactos ambientais e/ou culturais.

DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE DE UMA ECOPOUSADA (1)

1 QUADRO 2

(1) – Compilado pelo editor, com base em Salvati, 2002

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Uma ecopousada deve estar, obrigatoria-mente, localizada em ambiente que propor-cione maior contato dos hóspedes com anatureza, ou com os aspectos culturais deuma comunidade e, para tanto, pode:

❐ Buscar cenários de beleza natural, ❐ Buscar regiões com atrativos naturais e

culturais, ou ❐ Buscar locais com potencial para o

desenvolvimento de atividades ecoturís-ticas (caminhadas, contemplação danatureza, esportes radicais, entre outras).

A arquitetura de uma ecopousada devevalorizar as belezas naturais e as cara c-terísticas culturais do local onde está insta-lada. Além disso, outras questões impor-tantes a serem destacadas são:

❐ Identificar espécies vegetais nativas, paraa recomposição de áreas alteradas e parao projeto de paisagismo;

❐ Pesquisar o patrimônio histórico do lugar,buscando referências técnicas e artísticas;

❐ Buscar equilíbrio entre a paisagem deentorno e a instalação;

❐ Garantir a segurança de hóspedes e fun-cionários;

❐ Priorizar o conforto ambiental (apro-veitamento da luz, ventilação e calornaturais);

❐ Pensar na proporção entre o volume daobra e seu entorno;

❐ Refletir na infra-estrutura a filosofia deconservação ambiental presente no turis-mo ecológico.

A adoção de alguns destes procedimen-tos permitirá ao produto de ecoturismo, nocaso a ecopousada, adquirir maior confia-bilidade e competitividade no mercado egarantirá o seu comprometimento com ac o n s e r vação ambiental, enquanto reduzcustos, principalmente nos gastos com ener-gia e na geração de resíduos poluentes.

Mas estes aspectos não são únicosfatores determinantes para a decisão de seinvestir em uma ecopousada. Assim, uma

pesquisa de mercado, a análise de legis-lação restritiva e um plano de viabilidadeeconômica, entre outros pontos abordadosem capítulos específicos neste Manual,devem ser atentamente considerados.

Os elementos tratados nos tópicosabaixo também são aplicáveis a qualquerconstrução, particular (casas, edifícios, etc.),comercial (restaurantes, hotéis, lojas, etc.)ou comunitária (escola, centro social, etc.).

2. Integração casa,pessoa e ambiente

❐ ZONEAMENTO E LOCALIZAÇÃO

O zoneamento inclui o planejamento detodas as áreas de uso, de acordo com a uti-lização a que se destinam: área de chegada,estacionamento, hospedagem, refeições,serviço e manutenção. Não menos impor-tantes são as áreas de lazer, que devemincluir trilhas, locais para a prática deesportes de aventura, mirantes e outros, deacordo com o potencial da área.

Na escolha do local devem ser conside-radas o tamanho e a declividade do terreno,p r o c u rando observar a drenagem da água emdias de ch u va. Deve-se evitar grandes mov i-mentações de terra (aterro e corte), aprove i-tando a declividade natural do terreno paracriar níveis no projeto das edificações.

O b s e r var uma distância adequada delocais de uso tradicional das comunidades,assim como dos pontos de atração, evitandoconflitos de usos (ruídos, impacto visual etc.).

Por fim, deve-se planejar as facilidadesde acesso e estacionamento, procurandoevitar distâncias consideráveis do pontoatrativo principal.

❐ ORIENTAÇÃO

Durante a fase de projeto, deve-se pen-sar que a orientação dos cômodos deve pro-p o rcionar conforto climático aos seususuários. Na visita ao local observar atenta-mente a origem predominante dos ventos ea posição do sol. Geralmente os povos

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

locais conhecem muito bem essas orien-tações. Por exemplo, a posição dos ventosfortes e das chuvas devem ser consideradospara orientar a casa (ou os quartos) em umaposição mais abrigada.

Nas regiões abaixo da linha do Equador,a face sul é a que recebe menor insolação,permanecendo mais fria e úmida. A faceleste recebe os primeiros raios do sol e aface norte o maior número de horas de inso-lação por dia. Por exemplo, dormitórios orientados para a face leste recebem osprimeiros raios de sol, fator importante nasregiões mais frias, como nas montanhas. Emlugares mais quentes, os dormitórios podemestar voltados para a face sudoeste, evitandoo calor excessivo pela manhã ou o sol dire-to da tarde.

Áreas de lazer devem ser orientadas deacordo com sua função. Uma piscina deveestar localizada entre as faces leste e norte,aproveitando o maior número de horas deinsolação possível. Quando a intenção foraproveitar a beleza do pôr-do-sol, o jardimou o mirante devem ser orientados preferen-cialmente para a face oeste. Áreas quegeram calor (cozinha, lavanderia) devem serorientadas para a face sul, evitando o acú-mulo de calor. A face sul pode seraproveitada também para jardins ou paraalgumas aberturas da construção que ve-nham a refrescar o ambiente da pousada.

❐ CLIMA E CONFORTO

Em arquitetura existem duas formas deprojetar: uma passiva e outra ativa (Lengen,1996). Projeto ativo é aquele que, con-siderando funcionamento e estética, propõea instalação de equipamentos mecânicosque proporcionem conforto ambiental aosocupantes dos prédios (aquecimento, venti-lação etc.).

O projeto passivo considera ascondições climáticas locais, proporcionan-do conforto por meio de ventilação natural,materiais apropriados e escolha atenta dasplantas que darão abrigo do calor e dachuva. A localização correta em relação à

topografia, vegetação e direção predomi-nante dos ventos pode tornar qualquerespaço interno confortável. Te r raços evarandas proporcionam abrigo confortávelsem isolar o hóspede da paisagem. No eco-turismo, recomenda-se o projeto passivo,pois prioriza a interação harmoniosa entre oambiente e a área construída.

❐ PAISAGISMO

A atenta observação da paisagem do ter-reno onde será construída a ecopousada, eda região onde se insere, permite identificaro conceito a ser aplicado no paisagismo doentorno da construção. O aproveitamentonatural de pedras, riachos, árvores frutíferas,ornamentais ou de sombra são o primeiropasso para um projeto integrado à natureza.Para o paisagismo de entorno, busque nacomunidade pessoas com vocação em jardi-nagem e que conhecem os exemplares daflora local melhor adequados para seu pro-jeto. E procure não fugir dos padrões danatureza existentes no ecossistema local.

3. Uso de material local e geração de empregos

Oecoturismo desenvo l ve-se principal-mente em lugares afastados dos

grandes centros urbanos, onde as comu-nidades são pouco populosas e conservamvalores e tradições importantes para amanutenção do equilíbrio sócio-econômi-co. Nesse cenário, a implantação de qual-quer empreendimento, mesmo pequeno,apresenta um forte potencial de interação,negativa ou positiva, com a comunidade ecom o meio ambiente.

Algumas ações podem potencializar osimpactos sócio-ambientais positivos e miti-gar os negativos advindos dessa nova ativi-dade. Por exemplo, uma ecopousada podegerar novos empregos para a populaçãolocal, não somente na fase de construção,mas também na operação. E para minimizaros custos de implementação pode-se utilizar

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

dos métodos de mutirão comunitário, ondetodos se beneficiam com a economia derecursos.

Um programa de educação para o tra-balho comunitário pode, e deve, ser partedo processo de implantação de umempreendimento ecoturístico. Pa ra tanto,todas as etapas do processo de implantaçãoe operação devem contar com o envolvi-mento da comunidade. A valorização damão-de-obra local estimula os moradores aaprender novas técnicas e ofícios (ver capí-tulo P r o g rama de Capacitação Comuni -

tária). Quando um dos objetivos é envolvermão-de-obra e comunidades locais e, maisque isso, contribuir para melhorar a quali-dade de vida local, o método de construçãoe os materiais devem ser escolhidos cuida-dosamente.

❐ SELEÇÃO DO MÉTODO DE CONSTRUÇÃO

Todo desenvolvimento de infra-estruturavoltada para a prática do ecoturismo deveconsiderar a possibilidade de uso de ecotéc-nicas, principalmente porque em grande

parte não são técnicasmuito complicadas. Pode-se identificar se uma técni-ca de construção é umaecotécnica por meio daverificação de algumas ca-racterísticas.

Pa ra cada fase da obra ,fundação, estrutura e ve d a-ção, deve-se escolher a me-lhor técnica em função darealidade local (técnicas emateriais existentes e con-dições do terreno). Po rexemplo, casas totalmentede pedras são comuns emalgumas regiões e apresen-tam uma estética atra e n t ep a ra o turismo.

Para a construção dosd iversos componentes deuma edificação deve - s el e var em conta as suasdiferentes funções. As fun-dações suportam a con-strução e devem ser elabo-radas com materiais bemresistentes, tais como pe-dras e madeiras. As estru-turas (ou colunas) supor-tam o peso das paredes etelhados e podem ser feitasde madeira. As paredes sãonecessárias para ve d a respaços e, assim como ostelhados que cobrem a

5COMO IDENTIFICAR ECOTÉCNICAS:

Para reconhecer uma ecotécnica, é preciso responder afirmativamente

às seguintes questões:

❑ A nova técnica auxilia na redução de consumo deinsumos?

❑ A nova técnica vai satisfazer às necessidades básicas das pessoas, tais como abrigo, alimentação, saúde e educação?

❑ A construção vai empregar mão-de-obra e materiais da região?

❑ Na aplicação desta técnica, as pessoas da região têminiciativa própria e são orientadas por pessoal local?

❑ A nova técnica leva em conta os valores tradicionais da comunidade?

❑ A técnica é simples e permite a participação criativadas pessoas?

❑ A técnica prevê uso racional de materiais, originários de fontes sustentáveis e de baixo impacto no ambi-ente?

❑ Essa técnica melhora a estética das edificações e valoriza a paisagem do ambiente ao seu redor?

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

construção, pode-se utilizar as mais varia-das técnicas e materiais.

Ambientes específicos como a várzeaamazônica, onde o regime de ch e i a simpede a construção direto no solo, devemser, efetivamente, objeto de uso de técnicaslocais.

❐ SELEÇÃO DE MATERIAIS

Sempre que possível, deve-se privilegiar ouso de materiais locais, reduzindo itens exter-nos ou industrializados ao mínimo indispen-s á vel. Por exemplo, atualmente existemn ovos métodos de construção que bara t e i a me reduzem o uso de cimento sem comprom-eter a segurança e a estética. A mistura decimento com terra, chamado de solo cimen-to, é uma técnica eficiente. No caso do usode madeiras uma opção é obtê-las a partir dereflorestamentos (Pinus e Eucaliptus são bonsmateriais para construção) ou, melhor ainda,de florestas certificadas pelo selo FSC (Fo r e s tS t e wardship Council).

O uso de materiais tradicionais ou abun-dantes da região, como bambus, madeiras,pedras ou materiais construídos por técnicaslocais, como tijolo adobe, assim como o usode materiais devolutos de outras cons-truções ou demolições, são exemplos decomo minimizar o uso de recursos na cons-trução ou de como otimizar a reciclagem demateriais.

❐ PRODUÇÃO OU EXTRAÇÃO LOCAL

DE COMPONENTES – PARTICIPAÇÃO DA

POPULAÇÃO LOCAL E SEU TREINAMENTO

A maior parte dos componentes e materi-ais usados na construção em geral são pro-duzidos em outras regiões e trazidos para ocanteiro de obras. Esta prática está começan-do a ser alterada. Por exemplo, já se adota aprática da produção local de tijolos, uti-lizando-se prensas manuais. Outro exemploé o "plasmo", que é o desenvolvimento daargamassa armada ou ferrocimento. No plas-mo se usa cimento, areia e bolsa ou rede deplástico (como por exemplo as utilizadas em

sacos de laranja) para a produção do tijolo.As peças são montadas a partir de placasdelgadas, podendo ser montadas para pro-duzir diversos elementos comuns às mora-dias como por exemplo caixas d’água, fil-tros, lajes e escadas pré-moldadas, painéisp a ra tetos, lavatórios, pias, tanques,p ra t e l e i ras e sanitários secos (Lengen, 1996).

Uma outra opção é a extração local dematerial, desde que observadas as normaslegais. A madeira é um dos exemplos maiscomuns. Apesar de oferecer menor durabili-dade, a economia na compra e fretamentode materiais pode justificar o seu uso. Alémdisso, o emprego de madeira em cons-truções pode ser mais adequado à arquitetu-ra e tradição locais, proporcionando ambi-entes mais “naturais”, e pode facilitar a con-tratação de mão-de-obra local.

O uso ou produção local de materiaisproporciona uma série de vantagens:

a) Possibilita construções a um custo maisreduzido.

b) Permite que os construtores sejam ospróprios proprietários.

c) Permite o aprendizado de novos ofícios.d) Promove a geração de novos empregos.e) Reduz impactos ambientais negativos.f) Colabora para o aumento de auto-estima

e cidadania entre os membros da comu-nidade.

❐ GERAÇÃO DE EMPREGOS

Nas técnicas indicadas, a comunidade sebeneficia diretamente com o uso de mão-de-obra e materiais locais e aprimoramentode tecnologias construtivas, que podem serposteriormente empregadas para benefíciopróprio ou como ofício.

4. Saneamento adequado

❐ ÁGUA: CAPTAÇÃO, TRATAMENTO

E ARMAZENAMENTO

Nascentes ou minas são formadas poráguas subterrâneas que em determinado

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Como fazer a captação de água em uma nascente:

➘ remove-se o lodo e a terra até encontrar a camada impermeável;➘ constrói-se uma caixa com paredes de argamassa e um revestimento de cimento

e areia;➘ coloca-se um cano de saída;➘ a caixa deve ser coberta com uma tampa;➘ cava-se um canal de drenagem para desviar a água da chuva;➘ cobre-se a tampa e o cano com terra. Na saída do tubo faz-se um muro para apoiá-lo.

CAPTAÇÃO DE ÁGUA EM NASCENTES

Canal de desvio

TerraTampa

MuroÁgua

Manancial

Caixa

Camada impermeávelCano condutor

✑ FIG. 1 – PROTEÇÃO DE NASCENTES

1 QUADRO 3

ponto do terreno afloram à superfície. Pelofato de se infiltrarem pelo terreno, as águaspassam por um processo natural de purifi-cação. Mas aquelas armazenadas no subso-lo sujeitam-se à contaminação e poluiçãoao brotarem à superfície. Assim, o principalcuidado com relação às nascentes é umbom sistema de captação.

a) Captação:Quando a nascente está em terreno incli-

nado a captação torna-se mais fácil. O cor-reto é fazê-la em um sistema fechado, ouseja, captar a água antes que ela apareça nasuperfície. Caso não seja possível, deve-seprocurar uma forma que atenda às necessi-dades de abastecimento, de qualidade daágua e de mínimo impacto.

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5

225

Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

b) ArmazenamentoNas regiões com longos períodos de

seca, recomenda-se a construção de cister-nas para armazenar a água da chuva, cole-tada pelas calhas do telhado. A cisternadeve estar próxima da casa e longe depotenciais fontes de poluição, como latri-

nas, estábulos e fossas. Deve ainda sercoberta para evitar a entrada de poeira einsetos. O tamanho da cisterna depende daduração da seca e do consumo diário deágua. Uma cisterna é composta basica-mente de 3 elementos (veja quadro na pági -na seguinte):

Para adução de água com sua própria energia – quando o rio apresenta pouca queda – pode-se construir uma bomba para elevar a água por força mecânica denominada bomba carneiro.

➘ Como funciona uma bomba carneiro:Por exemplo, com uma queda d’água de 2 metros, o carneiro terá um cano de entradade 8 metros. Com esta queda pode-se subir água a uma distância de 20 metros, numaquantidade de 200 litros por dia. Se quisermos subir mais alto, por exemplo, 40 metros,só chegarão 80 litros por dia. Deve-se ajustar o batimento para que trabalhe bem lenta-mente, e o nível do rio dever estar sempre acima do cano de entrada, para que nuncaentre ar nele. A água que sobe pelo cano, depois de passar por algumas válvulas, éimpulsionada até o tanque de armazenamento. A pressão da água no cano de entradafaz a primeira válvula bater, forçando a água a subir.

FUNCIONAMENTO DE BOMBA CARNEIRO

Cano de entrada

Cano de saída

Cisterna

Peneira

Carneiro

Rio

✑ FIG. 2 – ADUÇÃO DE ÁGUA

1 QUADRO 4

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

5

✑ FIG. 3 – ELEMENTOS DE UMA CISTERNA

NÍVEL DA ÁGUA

A água passa de C a Bpor um tubo “T”

PENEIRA

BOMBAD’ÁGUA

ABERTURAS COM TAMPASpara facilitar a limpeza

B

A

C

T

➘ Área de captação:Corresponde à cobertura das construções rurais, podendo ser de diferentes tipos de materiais, como telhas, laje de concreto, sapé e outros.

➘ Sistema de filtragem:Para garantir a boa qualidade da água, as cisternas devem ser dotadas de filtros e de um tanque de sedimentação, que deve ser limpo de vez em quando para retirar olodo do fundo. Os filtros são compostos de camadas de pedras (brita ou seixo rolado),carvão vegetal, areia grossa e fina, superpostas nessa ordem, de baixo para cima.

➘ Tanque de armazenamento:Construído sobre o solo, semi enterrado ou totalmente subterrâneo. Em sua construção,a alvenaria pode se substituída por outros materiais, como lona plástica, tela de aramee argamassa de cimento e areia e sika (produto líquido impermeabilizante).

COMPOSIÇÃO DE UMA CISTERNA

1 QUADRO 5

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➘ Um destilador simples pode ser feito com uma bandeja ou um tabuleiro dentro de umacaixa de madeira com tampa de vidro.

➘ A caixa é mais alta de um lado para que as gotas possam correr para o lado maisbaixo.

➘ A caixa deve ser bem vedada em volta da bandeja. ➘ Dependendo do tipo de construção e das condições do clima, um destilador com uma

bandeja de um metro quadrado purifica entre quatro e nove litros de água por dia. ➘ Os raios do sol esquentam a água que evapora, quando o vapor chega ao vidro ele

condensa e as gotas d’água escorrem pelo vidro (por causa da inclinação) até um tubo,cortado pelo meio.

➘ As gotas correm por este tubo, que deve estar inclinado até uma jarra, do lado de forada caixa.

5

Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

227

c) Tratamento

Existem sistemas simples para a purifi-cação da água. O destilador solar é reco-mendado para regiões com pouca água emuito sol, pois purifica a água salgada oupoluída. Dependendo do tipo de construção

e das condições do clima, um destiladorcom uma bandeja de um metro quadradopurifica entre quatro e nove litros de águapor dia. Sistemas montados na cisterna –gotejamento automático de cloro e sistemade filtro de carvão ativado – também são efi-cientes na purificação da água.

FUNCIONAMENTO DE DESTILADOR SIMPLES

✑ FIG. 4 – FUNCIONAMENTO DO DESTILADOR SOLAR

CAIXA DE MADEIRA

ÁGUA

VIDROTUBO

CORTADO

BANDEJA

2

1

3

1 QUADRO 6

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um Planejamento Responsável

8

Como fazer um destilador solar:

A BANDEJA é feita com uma chapa metálica de 130 x 90 cm.

➘ Fazer as bordas com 5 cm e soldar bem os cantos.➘ Pintar a bandeja por dentro de preto fosco e envolvê-la por fora com material isolante.

Pode ser isopor (1 polegada de espessura), fibra de coco ou serragem.

Fazer uma CAIXA COM COMPENSADO. O lado mais baixo da caixa tem um cano cortado ao meio (de comprido) que sai por um dos lados da caixa. Por dentro a caixadeve ser pintada de branco.

➘ Coloca-se um outro cano para a entrada da água não potável.➘ Por cima, coloca-se o vidro (bastante limpo) com massa de vidraceiro.

MONTAGEM DO DESTILADOR SOLAR

1 QUADRO 7

130 cm

90cm

BANDEJA

Dobrar e soldar os cantos

Compensado

Massa de vidraceiro

Cano cortado

Bandeja

Vidro

CAIXA DE COMPENSADO

Todas as uniões devem serbem vedadas, para não deixarescapar o ar quente

✑ FIG. 5.1 DESTILADOR SOLAR

✑ FIG. 5.2 DESTILADOR SOLAR

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Programa de capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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ATENÇÃO: Todas as emendas do destilador devem ser bem unidas para que o ar quente não escape.

ERROS MAIS COMUNS: nível da água muito alto (+ que 5 cm) / vidro muito alto / vidrocom pouca inclinação / poeira no vidro / destilador na sombra.

Compensado

Cano cortado

Jarra Bandeja

Caixa

Vidro

Registro

Fundo dematerialisolante

MONTAGEM DAS PARTES

✑ FIG. 5.3DESTILADOR SOLAR

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d) Tratamento de efluentes

A necessidade de uma fossa provém dafalta de esgotamento sanitário que requersuprimento de água encanada nas residên-cias. Uma das inconveniências do esgoto éa falta de destinação correta do efluente edo lodo (ambos contaminados), comprome-tendo os lençóis freáticos e a saúde pública.

Para escolher qual tipo de sanitário utilizar,deve-se considerar:2 A quantidade de água disponível e;2 Se os dejetos serão usados como

adubo.

A seguir são descritas algumas formas detratamento de efluentes.

5

Existem basicamente três tipos de fossaséptica: câmara única, câmaras em série,câmaras sobrepostas. As de câmara única eem série apresentam a mesma eficiência deremoção de matéria orgânica, porém acâmara em série é utilizada quando se dese-

ja um efluente com baixo teor de sólidossuspensos. As fossas de câmaras sobrepostassão recomendadas para melhorar a digestãodo lodo, fornecer maior flexibilidade opera-cional ao sistema e aumentar a eficiência deremoção da matéria orgânica.

Situações em que há transporte hídrico

➘ Utilização de AguapéTrata-se de planta aquática que em tanques artificiais isolados, funciona como filtro biológico, recuperador de nutrientes lixiviados, matéria-prima para compostoorgânico e até para a alimentação animal. Não deve ser utilizada em corpos abertosde água ou mesmo lagos que não sejam exclusivamente destinados ao tratamento de efluentes visto sua rápida proliferação (quanto mais sujo o ambiente, maior a proliferação). Em caso dos componentes poluidores possuírem alto teor tóxico,deve-se evitar o uso do excesso de biomassa da planta para adubo ou alimentaçãoanimal.

➘ Fossa Absorvente É utilizada em locais servidos de água encanada, mas que não possuem sistemas deesgotos. Sua utilização é de curta duração, pois as paredes se contaminam facilmente.

➘ Tanque Imnoff É composto de dois tanques: um para sedimentação e outro para digestão. A comunicação entre os dois é feita por uma fenda que dá passagem ao lodo.

➘ Fossa Séptica É um tanque enterrado, fechado e impermeável, que recebe todo material procedentede sanitários, bem como água de banheiros, lavatórios, tanques e pias. É um tanquede sedimentação e digestão. O líquido escoa continuamente no sentido horizontal,permitindo que os materiais em suspensão se depositem no fundo. Dessa forma, o material recebe um tratamento compatível com a simplicidade e custo da fossa.Deve-se lembrar que esse sistema não purifica o esgoto, apenas reduz a carga orgânica a um grau de tratamento aceitável em determinadas condições.

FORMAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

1 QUADRO 8a:

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

FOSSA SÉPTICA

(de duas câmaras)

A água suja entra em 1 e passa para a câmara 2 , deixando a sujeira flutuando na câmarade entrada. Dimensões (aproximadas) da fossa: 1,00 m X 2,00 m X 1,20 de altura, para residência.

Laje com tampa de acesso(para limpar)

Tubo de saída

Tubo de entrada Espuma (sujeira)

Nível da água

Passagem de água

+ 24 cms1

2

✑ FIG. 6

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e) Tratamento de resíduos sólidos

No turismo, o setor de hospedagem é omaior consumidor de recursos naturais emateriais diversos, e também o maior gera-dor de resíduos. No ecoturismo, principal-mente os pequenos empreendimentos doramo hoteleiro, geram resíduos equiva-lentes aos domiciliares, porém em maiorescala. São resíduos orgânicos e inorgâni-cos não perigosos. O dono de uma pousa-da, ou ecopousada, consciente dos proble-mas ambientais gerados pela disposiçãoinadequada dos resíduos sólidos, pode, ed e ve, buscar alternativas para que os resí-

duos gerados tenham tratamento e/ou desti-no adequado.

Do ponto de vista ambiental, lixo e reci-clagem devem ser palavras sempre associ-adas. Portanto, o primeiro passo é implantara coleta seletiva, facilitando a reciclagem ea compostagem (ver quadro a seguir). Acoleta deve ser feita da seguinte maneira:plásticos, papéis, alumínio, vidro e restos dealimento são coletados em recipientes sepa-rados. A partir daí, pode-se até pensar emum programa de educação ambiental, queenvolva não somente o seu negócio, mastambém a comunidade de entorno ou ou-tros empreendedores locais. A coleta seleti-

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Situações em que não há transporte hídrico (fossa seca)

➘ Fossa Seca ou Privada HigiênicaConsiste em uma escavação aberta no solo, devidamente protegida, distante do lençolfreático pelo menos 1,5 m, com plataforma de piso e abrigo ou casinha, situada a pelomenos 15 metros do poço de abastecimento e na parte mais baixa do terreno.

➘ Fossa NegraÉ a fossa seca que está a menos de 1,5 metro do lençol freático. É uma solução condenável, por contaminar o solo e a água, apesar de ser a fossa mais encontradano meio rural. Só pode ser tolerada se o abastecimento não for do próprio lençol

que está sendo contaminado e, quando construída, deve estar a mais de 45 metros de distância dos suprimentos de água. Também deve estar localizada na parte maisbaixa do terreno.

➘ Fossa TubularÉ a fossa seca com diâmetro menor (ao invés de 0,90 m, mede cerca de 0,40 m).

➘ BasonO princípio de funcionamento deste sanitário seco é o mesmo da compostagem, ondeos dejetos animais são misturados ao lixo orgânico, sendo então decompostos porbactérias aeróbicas que trabalharão transformando toda a mistura em adubo. No Bason, a câmara de compostagem, completamente impermeável em toda suavolta, fica sob o assento. O material decomposto após certo período de tempo, apresenta redução de 90% em seu volume total. Assim periodicamente, uma ou duasvezes ao ano, se esvazia o compartimento inferior do Bason, podendo seu conteúdo ser incorporado ao solo, pois já está transformado em adubo de excelentequalidade. Vantagens: grande redução no uso de água potável, eliminando-se a necessidade de um sistema de tratamento de esgoto. (Ilustração na página seguinte)

FORMAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

1 QUADRO 8b

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

va pressupõe um programa de tratamento ereaproveitamento dos resíduos. Então, o lixoterá três possíveis destinos:

2 Compostagem - Os restos de alimentoscoletados podem passar pelo processode compostagem, produzindo adubo orgânico a ser vendido, cedido paraa comunidade ou utilizado na pro-priedade. Existem técnicas apropriadaspara obter um composto de boa quali-dade. Portanto, para empregar essas téc-nicas torna-se necessária a orientação detécnico especializado.

2 R e c i c l a g e m - Plásticos, alumínios,metais, papéis e vidros são reciclados oumesmo reutilizados. Todos os materiais

não aproveitados devem seguir para umaterro sanitário.

2 Disposição em aterro sanitário.

Na página seguinte apresentamos deforma resumida as características das prin-cipais formas de tratamento de resíduoss ó l i d o s .

5. Sistemas alternativos de geração de energia

❐ FOTOVOLTÁICO

O sol é a fonte primordial de energia,responsável por todas as formas de vida naterra. A transformação dessa energia gratui-

O SANITÁRIO BASON

O mesmo princípio de funcionamentoda compostagem usada na agricultura: mistura de dejetos e lixo orgânico.

Não há odores

Entram dejetos

Não poluiSem conexões

Sai aduboNão

precisa deágua

✑ FIG. 7

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ta, não poluente e inesgotável em energiaelétrica está ao alcance de todos. As placassolares de silício convertem diretamente luzdo sol em eletricidade, que é armazenadaem baterias para manter o sistema funcio-nando à noite ou em dias nublados.

A energia é utilizada para iluminação,telecomunicação, bombeamento d’água e

na maioria dos eletrodomésticos. Entretanto,não deve ser utilizada para refrigeração,pois a quantidade de energia necessária ébastante elevada e conseqüentemente ocusto de produção da energia fica muitoalto. Enquanto o acesso à tecnologia e seusaltos custos não permitirem a ampla utiliza-ção do sistema fotovoltáico, para total pro-

5

➘ Aterro SanitárioLocal onde são dispostos os resíduos sólidos, após tratamento adequado do solo, quedeve ser impermeabilizado com sistema de drenagem para o chorume, evitando a con-taminação do lençol freático. Nele podem ser depositados os resíduos inertes e nãoinertes. Os resíduos perigosos, como químicos (baterias), só podem ser dispostos emlocais ou aterros específicos. Importante destacar que os aterros controlados devem ser o destino final da maioria dos resíduos, pois os outros métodos freqüentementeapresentam alguma escória.

➘ IncineradorLocal onde é feita a queima controlada dos resíduos sólidos. Esse processo transformaa maioria dos resíduos orgânicos e dos resíduos perigosos que não podem ser depositados nos aterros, como por exemplo os resíduos hospitalares. Porém, a incinera ç ã olibera gases poluidores, e alguns tóxicos, devendo-se usar com ponderação.

➘ Usina de CompostagemLocal onde o lixo orgânico é separado do inorgânico e transformado em composto quepode ser usado como adubo ou ração. Esse método, além de proporcionar oreaproveitamento de material orgânico, reduz a quantidade de lixo depositado nosaterros e, pelo processo de separação dos resíduos, acaba por induzir o processo dereciclagem. Os resíduos são dispostos em pequenas pilhas, periodicamente mexidas,para que haja aeração do material, evitando a decomposição anaeróbica e produtosindesejáveis. Após dois ou três meses obtém-se o composto, material escuro, solto eleve, que é utilizado como adubo, fornecendo nutrientes (matéria orgânica) ao solo.

➘ ReciclagemMétodo que promove a reutilização e transformação dos resíduos sólidos inertes, comoalumínio, plástico, vidro e papel. A reciclagem, assim como a compostagem, podediminuir significativamente o volume de resíduos nos aterros sanitários. Além disso,reaproveita matéria-prima, muitas vezes derivada do petróleo, e reduz o consumo dematéria-prima, energia elétrica e água dos seus processos produtivos, contribuindopara um melhor aproveitamento e conservação dos recursos naturais.

FORMAS DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

1 QUADRO 9

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

dução de energia com adequada relaçãocusto-benefício, é sugerida a utilização deenergia fotovoltáica combinada com outrotipo, formando um sistema híbrido (foto-voltáica mais eólica ou hidráulica).

Um sistema fotovoltáico é composto deplacas solares, baterias, regulador de carga e,quando necessário, um conversor de 12 para110 Volts. A sua vida útil é comprova d a m e n t ede 25 anos, exceto o sistema de baterias quetem vida útil bem menor. Não possui peçasm ó veis, é de fácil e imediata instalação e dis-pensa manutenção. Garante total inde-pendência de cortes, racionamento, aumen-tos de preços, elimina riscos de falta de ener-gia elétrica e dispensa a utilização de com-b u s t í veis fósseis (diesel ou gasolina).

Uma placa fotovoltáica não deve serusada para aquecer a água. É muito comumconfundir um coletor solar térmico (placasolar – ver item a seguir), que aproveita o solpara aquecimento de água, e uma placafotovoltáica, que transforma a luz solar emeletricidade. É muito mais simples e baratoaquecer a água usando diretamente umcoletor térmico, ao invés de usar uma placaf o t ovoltáica para produzir eletricidade edepois transformá-la em calor.

❐ PLACA SOLAR PARA AQUECIMENTO DE ÁGUA

Esse sistema consiste em placas solarescom tubulações de cobre em seu interior,por onde circula a água a ser aquecida. Oideal é que as placas sejam fixadas sobre otelhado. O calor das placas expostas ao solé transmitido para a água que circula em seuinterior.

❐ EÓLICO

A energia eólica é proveniente doaproveitamento do vento, que deve ser fortee constante para movimentar os moinhos.Embora não cause dano ambiental, tem oinconveniente de alto custo de instalação eapresentar baixo rendimento, sendonecessárias grandes estruturas para produzir

uma quantidade razoável de energia. Emlocais voltados para o ecoturismo, deve-seconsiderar também o impacto visual que asg randes estruturas causam na paisagem.Assim como no caso dos sistemas foto-voltáicos, as grandes vantagens dos sistemas

INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE

PRODUÇÃO DE ENERGIA POR PLACAS

FOTOVOLTÁICAS E CONSUMO

DE ENERGIA ELÉTRICA:

A eletricidade produzida pelas

placas é de 12 Volts em corrente

contínua, que pode ser convertida

para 110/220 Volts em corrente

alternada.

Para utilização em iluminação

calcula-se uma placa para cada

lâmpada tipo PL de 9 watts, que é

suficiente para iluminar durante

15 horas.

O custo de uma placa é de

R$ 600,00*. Cada placa tem

36 células, que vão alimentar as

baterias de 12 Volts. Para

dimensionamento das placas,

deve-se medir o consumo total em

Ampères por dia. Geralmente os

aparelhos trazem em suas

especificações o consumo

em Ampères.

Para utilização em aparelhos

de baixo consumo ampère/hora

(iluminação, televisão, computador

e rádio), o custo aproximado em

células e acumuladores é de

R$ 5.000,00*. * VALORES EM MEADOS DE 2000.

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eólicos são não gastar combustível e nãopoluir fisicamente o ambiente.

❐ HIDRÁULICO

A roda d’água é uma opção barata e útilpara produzir energia. Numa pequena pro-priedade a roda d’água é suficiente paramanter a iluminação da casa e o uso deeletrodomésticos. Este equipamento podeainda acionar uma bomba de sucção, ummoinho, um monjolo ou um picador.

❐ BIODIGESTORES

Um biodigestor é um depósito fechadoonde se põe esterco e lixo com água. Seufuncionamento é um tanto trabalhoso, porisso, recomenda-se que só seja usado se aregião não possuir fonte de energia elétricaou a gás. Além disso, é preciso contar comum rebanho de animais para grande pro-dução do esterco, usado para alimentar obiodigestor.

❐ FORNOS, FORNALHAS E LAREIRAS

O uso de fornos e lareiras para geraçãode calor também é um item a ser observado,pois quando mal dimensionados podemg e rar desperdício de recursos, além decausarem poluição dos ambientes internos.

COMO FAZER UM FORNOPor baixo das varetas do forno colo-ca-se carvão, retirado do fogo. Otúnel entre o forno e a ch a m i n émede, em geral, 5 cm de diâmetro.Pode-se fazer um forno em conjuntocom um fogão.

Cuidados: • Depois de fazer os acabamentos,

deve-se esperar mais dois dias paraacender o forno.

• O cano da chaminé (ou cano de ventilação) não deve estar em conta-to com o madeiramento do teto.A chaminé deve ser limpa a cada seismeses, quando retiramos a bra s a ,para evitar incêndios.

5

Cada pessoa utilizaria 100 litros de água por dia e cada coletor tem capacidade paraaquecer 100 litros de água por dia, ou seja, para cada pessoa são 100 litros por dia e 1 coletor para cada pessoa. O coletor deverá ser direcionado ao norte magnético,ou no máximo a 34 º à direita, que seria o norte geográfico. Existem dois sistemas

disponíveis no mercado:

➘ Termossifão – depende da altura do telhado. Quanto mais alto, maior a eficiência.➘ Circulação forçada – para utilização em casos de telhados mais baixos.

Para uma casa com 4 pessoas seriam utilizados 400 litros de água e o custo por sistema seria:

➘Termossifão – R$1.700,00➘Circulação forçada – R$1.900,00

Em locais onde a incidência do sol é limitada, é aconselhável providenciar uma opção alternativa, que poderia ser a gás.

EFICIÊNCIA DOS COLETORES SOLARES

1 QUADRO 10

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Como fazer uma roda d’águaMATERIAL NECESSÁRIO:

❐ 32 retângulos de madeira de 2 cm de espessura com 40 cm de comprimento por 23 cmde largura

❐ 32 sarrafos com 3 cm de espessura , 175 cm de comprimento e 5 cm de largura❐ 2 chapas de ferro com 3 mm de espessura❐ 32 parafusos zincados de 8 cm por 0,5 cm de espessura❐ 32 parafusos zincados de 6 cm por 0,5 cm de espessura❐ 1 eixo central de ferro maciço de 1,5 polegada com 3 m de comprimento❐ 1 dínamo de caminhão❐ 1 conjunto de polias

É aconselhável usar sempre madeira resistente, como a peroba, em qualquer parte da construção. Isso, bem como a pintura, aumenta a durabilidade da roda d’água. É precisomanter uma uniformidade nas dimensões das peças, para não criar um desequilíbrio no conjunto, principalmente nas pás. Você pode utilizar polias e correias trapezoidaismais baratas e fáceis de encontrar.

MANEIRA DE FAZER:

Instalar firmemente no solo os troncos de eucalipto enterrados até 2 m de profundidade.Calcular um altura de 1,70 m a partir de um ponto dentro d’água do córrego, onde as pástocarão a água. Medir uma distância de 2,70 m a partir de um ponto no centro dos troncos.O eixo da roda d’água será encaixado entre os dois e sobre as canaletas ou o córrego.Após cortar os 32 retângulos de madeira e os 32 sarrafos, para formar as pás da roda d’águafixar os retângulos nos sarrafos com os parafusos zincados de 6 cm por 0,5 cm de espessura .Prender as pás nas chapas de ferro com parafusos zincados de 8 cm por 0,5 cm de espessura, fazendo os furos para os parafusos na chapa de forma circular.Fixar com solda o eixo central às chapas, com as pás já presas, calculando uma distânciade 1 m num lado a partir do ponto de fixação. Nesse lado maior do eixo irão presas asbarras de ferro e a polia.Ajustar a cada três pás um reforço de sarrafos (iguais aos das pás). Esses reforços tambémfixarão, com parafusos, ferros colocados no lado maior do eixo (mãos francesas) queestarão soldados no eixo.Fixar a polia depois da solda e antes do limite do tronco.Apoiar o eixo nos troncos de eucalipto com rolamentos acoplados a mancais que deverãoser engraxados para que não haja fadiga precoce.Fixar dois parafusos, 1 de cada lado dos rolamentos, para não haver deslizamento do eixona horizontal.A velocidade da roda d’água será a mesma do fluxo da água que a faz girar. Para a produçãoe armazenamento de eletricidade pode ser usado um dínamo de caminhão, que ligado ao conjunto das polias poderá carregar uma bateria de 12 Volts. Isso pode ser calculado a partir de uma velocidade de 14 rotações por minuto (rpm) na roda d’água, que seria transformada em 373 rpm no dínamo (0,5 HP-10 Volts). Desse modo a bateria seria carregada em menos de um dia e sua energia acumulada seria suficiente para a iluminaçãoda casa e consumo de eletrodomésticos.

CONSTRUÇÃO DE UMA R0DA D’ÁGUA

1 QUADRO 11

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Para fazer o biodigestor funcionar, siga estes procedimentos:➘ Encha uma parte do barril com a mistura de algum composto em funcionamento. Sem

essa mistura, o processo de decomposição levará vários meses. Encha o resto do barrilcom esterco e água quente;

➘ Abra a válvula e empurre o barril pequeno para baixo até o fim. Feche a válvula. Já não haverá ar no barril;

➘ Depois de algumas semanas o barril começará a ficar cheio de gás e subirá pouco a pouco;➘ CUIDADO! Nunca queime a primeira quantidade de gás, pois se houver ar misturado

haverá uma explosão. Então deixe escapar um pouco do primeiro gás. Empurre novamente o barril menor para baixo, feche a válvula e espere que suba novamente.Agora sim, estamos certos de que não há ar misturado ao gás;

➘ Para queimar o gás, abra o parafuso um pouquinho e acenda um fósforo perto do canode saída. Pode ser que não acenda logo. Deixe escapar o gás e espere mais uma semana para acumular mais.

FUNCIONAMENTO DE UM BIODIGESTOR DE BARRIL

Como fazer um biodigestor de barrilPode-se fazer um depósito com dois barris. Depois de algumas semanas colocando esterco e lixo orgânico, já haverá gás metano, que poderá ser utilizado para cozinhar.Um biodigestor de barril é composto por:a) barril de 200 litros (sem a tampa) b) barril de 120 litros (s/ o fundo) c) válvula de uma polegadad) mangueirae) coletor de sujeiraf) válvula de escape da pressãog) queimador de gásO coletor de dejetos é feito com uma lata de metal com tampa. No fundo da lata são soldados dois canos, um de uma polegada e outro de 1/4. O lodo é recolhido por baixo e, de vez em quando, é retirado por cima. A válvula de escape da pressão impede que ocorra uma explosão no barril, ela é feitacom um frasco ou garrafa, de 20 cm de altura. Dentro, coloca-se um cano de 1/4 de polegada, em forma de T; enche-se o frasco com 20 cm de água e liga-se a mangueiraem “T’” às duas mangueiras de 1/4 de polegada.O queimador é feito com um cano de 1/2 polegada e 50 cm de comprimento. Em um extremo, solda-se um pedaço de cano de 1/4 de polegada para ligar a mangueira.Deve-se colocar um parafuso com braçadeira na mangueira, para regular a chama. O cano passa por um bloco de argila, para que permaneça fixo.

CONSTRUÇÃO DE UM BIODIGESTOR DE BARRIL

1 QUADRO 12

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

5

COMO FAZER UMA LAREIRA

Uma lareira é composta por: caixa oucâmara de fogo, coifa, duto e chami-né. A lareira deve ficar numa paredeinterna, para não perder o calor. Sefor bastante usada, pode ser embutidauma serpentina na chaminé paraesquentar a água. Importante salientar que as dimen-sões da lareira devem ser definidas deacordo com o volume do ambiente aser aquecido. As laterais e os fundosdevem ser ligeiramente inclinados,para que o calor do fogo não subatodo pela chaminé e seja refletidopara o espaço do cômodo para aque-

cê-lo melhor.Para que a fumaça saia pela chaminée não se espalhe pelo ambiente, faze-mos uma “pra t e l e i ra” na base dachaminé.

Outros modelos de lareira, mais alterna-t ivos, também podem ser utilizados. A slareiras de barro, por exemplo, produzemmuito calor usando pouca lenha. São feitasde barro misturado com pedaços de cerâmi-ca triturada.

Também pode-se fazer uma lareira debarril, onde em um barril de 120 litros faz-se uma porta para colocar a lenha e retiraras cinzas e uma abertura para a fumaça,onde deve-se soldar um cano de lata.

Descrição das partes:A. barril de 200 litros (sem tampa)B. barril de 120 litros (sem fundo)C. válvula de 1 polegadaD. mangueiraE. coletor de sujeiraF. válvula de escape da pressãoG. queimador de gás

✑ FIG. 7 – UM BIODIGESTOR DE BARRIL

A

C

D

E F

G

B

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Os erros mais comuns na construção deuma lareira:➘ escolha do material a ser utilizado;➘ fumaça espalhada por falta de câmara

de fogo;➘ chaminés mal dimensionadas.

6. Áreas de Acampamento

O segundo tipo principal de infra-estrutu-ra de apoio ao ecoturismo que merece

atenção especial é a área de acampamentoou camping. A principal finalidade de umaárea de acampamento é criar uma atmosferaque possibilite experiências positivas para oturista, no que se refere aos aspectos físicos,sociais e psicológicos. Para tanto, deve-selevar em conta a capacidade da área parasustentar o uso planejado com mínimodesequilíbrio e degradação do ambiente.

❐ CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE CAMPING

Com base no trabalho de J. A. Wagar,elaborou-se uma classificação de acordocom a realidade brasileira, baseada nospadrões de uso pelos visitantes:

a) Área de camping para Viajantes em Trânsito:

Área planejada para o visitante de umanoite. Deve satisfazer necessidades comobanho, lavagem de roupa, depósito de lixo ealimentação. Como geralmente o visitantefaz uso de um veículo, a localização destetipo de área de camping deve ser próxima àrodovia principal. Não há preocupação complanejamento de atividades ou programas,uma vez que a intenção do viajante é ape-nas se hospedar de maneira simples, emíntimo contato com a natureza, com confor-to e segurança.

b) Área de camping Central:Área planejada para oferecer uma gama

de serviços, lembrando que o visitante usa aárea como um quartel-general, daí saindo(geralmente com o veículo) para passeios deum dia, retornando para o pernoite. Deve

estar localizada o mais eqüidistante possíveldos diversos atrativos da região e tambémsatisfazer necessidades como banho,lavagem de roupas, alimentação, aquisiçãode mercadorias (por exemplo, deve possuirum mini-mercado). Ao mesmo tempo quehá necessidade de um desenvolvimento físi-co razoável do local, deve-se manter o má-ximo possível suas características naturaisoriginais.

c) Área de camping de Longo Prazo: Assim como o camping central, este tam-

bém é planejado para oferecer uma gamade serviços para acomodar visitantes, só quepor períodos de tempo mais extensos. Aênfase desse tipo de camping está centradanas atividades inerentes ou associadas àárea, tais como pesca, contemplação,natação, caminhadas curtas, escaladas,práticas esportivas, atividades lúdicas, etc..O camping e suas proximidades são o cen-tro das atividades. Como no camping cen-tral, a manutenção de um ambiente naturalé bastante desejável.

d) Área de camping Selvagem : Este tipo de c a m p i n g é desenvolvido para

oferecer um mínimo de facilidades básicas,pode ser planejado para permitir o acesso deveículos motorizados, muito embora namaioria das vezes seja localizado em áreasd e s p r ovidas de estradas para atrair os ave n-tureiros praticantes de caminhadas, cava l-gadas, canoagem, ciclismo de ave n t u ra, etc..O planejamento é baseado em mínima alter-ação do local e baixos custos de manutençãoe proteção. As facilidades devem limitar- s eao preparo de locais para barracas, mesas ebancos rústicos para piquenique, local paraf o g u e i ra protegido por um círculo de pedra s ,banheiros rústicos com fossas adequadas eabastecimento de água potável. Este é ochamado c a m p i n g de mínimo impacto.

❐ TIPOS DE ÁREAS DE CAMPING

Abaixo são apresentadas cinco sugestõesde projetos para áreas de acampamento

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b) Para viajantes em trânsito: O modelo apresentado na figura 9 pres-

supõe uma expansão futura.

c) Selvagem para mochileiros:O modelo da figura 10 é uma sugestão

p a ra apoio a visitantes trilheiros (moch i l e i r o s ) .

d) Para grupos: Apresenta-se um modelo para grupo

único e um projeto conceitual de campingpara multi-grupos (figuras 11 e 12).

e) Apresenta-se ainda uma área específicap a ra t railer ( f i g u ra 13) e um projeto de umaunidade padrão para se instalar uma barra c ae estacionar o respectivo veículo (figura 14).

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

( Ju venbille, 1976). As figuras correspon-dentes encontram-se na seqüência.

a) Multi-loop:Pode ser utilizado para camping do tipo

central, longo prazo e para viajantes emtrânsito (figura 8).

5

CAMPING TIPO MULTILOOP

✑ FIG. 8

PARA VIAJANTES EM TRÂNSITO

✑ FIG. 9

SELVAGEM PARA MOCHILEIROS

✑ FIGURA 10

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CAMPING PARA GRUPO ÚNICO

✑ FIGURA 11 CAMPING PARA MULTIGRUPOS

✑ FIGURA 12

UNIDADE PADRÃO PARA ÁREAS DE CAMPING

✑ FIGURA 13 ÁREA TIPO LOOP. PARA TRAILER

✑ FIGURA 13

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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❐ FATORES A SEREM CONSIDERADOS

NA IMPLANTAÇÃO DE UM CAMPING

Os seguintes fatores devem ser levadosem consideração quando do planejamentoe implantação de uma área de camping.

a) Seleção do local Deve-se observar fatores como tamanho

da área, facilidade de acesso e privacidadepara grupos individuais. Estima-se que parasuportar 100 campistas é necessária umaárea de 40 ha, considerando-se as cons-truções administrativas (guarita, escritório,casa do guarda-c a m p i n g), acomodaçõespara campistas (área para estacionamento,barracas, banheiro e cantina), bem comoáreas ao ar livre para atividades recreativas eeducativas.

b) Diversidade topográfica e ecológicaA diversidade topográfica valoriza a

paisagem e a ecológica favorece atividadeseducativas. Caso seja necessário algum tipode nivelamento de terreno deve-se abdicarde maquinário pesado e optar-se por ferra-mentas convencionais.

c) Inclusão ou proximidade de atrativonatural e ou cultural.

d) Utilidades e comunicações Deve-se atentar para o abastecimento e

distribuição adequados de água, tratamentode efluentes, abastecimento de energiaelétrica ou a gás, tratamento de resíduossólidos (lixo), madeira para fogueira etc.Com relação à comunicação externa, deve-se considerar a possibilidade de serviçostelefônicos e de correio. É também impor-tante observar a proximidade com pontos deabastecimento de hortifrutigranjeiros paracantina e campistas.

7. Equipamentos Complementares

A lém dos elementos principais de infra-e s t r u t u ra mencionados em mais detalhes

nos pontos acima, há outros elementos, ou

tipos de infra-estrutura e equipamentos que,ao serem implementados, valorizam locaisou empreendimentos voltados ao ecoturis-mo. Abaixo apresentamos brevemente osmais comuns.

❐ OBSERVATÓRIO

Originalmente utilizados para obser-vação do céu, são locais especialmente de-signados por sua paisagem privilegiada eusados para observação de maneira geral,como um local estratégico em um parque,onde pratica-se a observação de aves.

❐ MIRANTE

Por definição, entende-se como miranteum ponto elevado de onde se descortinaamplo horizonte, possibilitando a aprecia-ção de vistas panorâmicas. Pode ser umlocal desabrigado ou contar com pequenaedificação ou torre de observação. Atual-mente, mirantes especialmente construídosp a ra observação de aves são bastantecomuns. Em matas abertas ou fechadas, asestruturas devem ser discretas, camufladas epossuir pequenas janelas de observação.

❐ QUIOSQUES

Qualquer tipo de edificação, em locaispúblicos ou privados, utilizados como abri-go, apoio às atividades recreativas, descan-so, alimentação ou reunião de pessoas.

❐ PASSARELAS PELA COPA DAS ÁRVORES

(Canopy walkway)Passarelas são pontes suspensas na altura

da copa das árvores. São utilizados diversostipos de materiais na construção, comom a d e i ra da própria região, preferencial-mente de área de reflorestamento. Esse tipode equipamento facilita a visualização depássaros, primatas e outros animais queusam o ”andar” superior da floresta, bemcomo flores e frutos de grandes árvores.

❐ CENTRO DE VISITANTES

O Centro de Visitantes, seja em umaUnidade de Conservação ou em uma regiãoonde a visitação pública é compatível, é um

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espaço que concentra a coordenação dasa t ividades de uso público. É uma estruturade grande valor educativo, recreativo ei n f o r m a t ivo, capaz de orientar o ecoturistap a ra um melhor proveito de sua visita.

Seu objetivo é receber, orientar, educare conduzir o público, por meio de ativ i-dades de trabalho e comunicação. As ativ i-dades aí desenvolvidas devem despertar ointeresse e sensibilidade do público para ot rato com as questões ambientais. UmCentro de Visitantes pode possuir um con-junto de componentes. Segue abaixo adescrição de alguns:

a) Sala de recepção e informação:Espaço onde o visitante receberá breve

orientação sobre as atividades e serviçosoferecidos pelo Centro ou pela unidade dec o n s e r vação ou região em gera l .

b) Sala de exposições ou museu:Destinada a informar o visitante sobre

as características da região de uma formag e ral, sua fauna e flora, as culturas locais,por meio do uso de painéis, fotogra f i a s ,objetos, animais empalhados, jogos intera-t ivos e outros recursos visuais que des-pertem o interesse do visitante.

c) Au d i t ó r i o :Equipado com aparelhos audiov i s u a i s

(televisão, vídeo, projetor de slides, sistemade som etc.) para realização de palestra s ,conferências, apresentação de grupost e a t rais, musicais, cursos comunitários etc.Na medida do possível, essa sala deve tert ratamento acústico. Pode também seranexo ao Centro de Visitantes, ao ar liv r eou coberto por tendas.

d) B i b l i o t e c a :Com um acervo mínimo sobre a região

e seu ecossistema, dispondo de serviços deconsulta e empréstimo de livros, a bibliote-ca deve beneficiar principalmente ascomunidades locais. Se possível, pode terum arquivo de fotos e slides.

e) Sala de monitore s :Espaço de trabalho para o pessoal

e nvolvido com a condução de grupos emonitoria ambiental, bem como com suap r o g ramação e coordenação.

f) Venda de suve n i re s :É recomendado que se destine um

pequeno local para venda de camisetas,b r o ches, bonés, adesivos, artesanato local,postais, fotos etc.. Inclusive como forma deg e rar recursos para a manutenção doCentro e para os produtores locais.

g) Sala de equipamentos:Sala com espaço suficiente para o

acondicionamento de equipamentos emateriais utilizados no Centro. É recomen-d á vel o controle de umidade e tempera t u ra .

h) O u t ro s :D e verá também prover facilidades

como sanitários, bebedouros, lixeira s ,depósito de materiais de limpeza. Se for ocaso, pode ainda ter uma pequena cozinhap a ra facilitar a alimentação dos fun-cionários do Centro.

I V. RI S C O S E RE C O M E N DA Ç Õ E S

A busca por tecnologias 100% efi-cientes, em termos de técnicas, materiais em ã o - d e - o b ra, é desejável mas pode setornar um tarefa impossível, principal-mente na questão energética. Se dentro deuma lista de ecotécnicas desejadas naimplantação de seu projeto, a maior partepuder ser contemplada, já será um gra n d eavanço. Mesmo se esta área não for oponto forte do empreendimento, mas ou-tros procedimentos estão sendo contem-plados, com amplos benefícios para acomunidade ou para a conservação deáreas protegidas, seu projeto poderá ter sta-tus de sustentável.

É importante, então, enaltecer suasqualidades para os visitantes. Por exemplo,um pequeno quadro em lugar de destaque,d e m o n s t rando todas as suas ações na área,

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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com fotos e textos, pode vir a ser um ele-mento de educação do visitante e de va-lorização de seu projeto perante os con-c o r r e n t e s .

Por fim, o rápido avanço da tecnologiana área de ecotécnicas tende a reduzir oscustos de materiais e de implantação.

❐ EN T I DA D E S D E R E F E R Ê N C I A:O Instituto de Tecnologias Intuitivas e

B i o - A r q u i t e t u ra (TIBA), o Instituto dePe r m a c u l t u ra e Ecovilas do Cerrado (IPEC),o Instituto de Pe r m a c u l t u ra da Bahia e oInstituto DOMO são entidades conceitua-das, formuladoras e aplicadoras de técni-cas alternativas para construção de infra -e s t r u t u ra e equipamentos de baixoi m p a c t o .

T I BA – Instituto de Tecnologias Intuitivas eB i o - A r q u i t e t u ra

Rua Roquete Pinto, 20 A – Urca – Rio de Janeiro / RJ – 22.291-210Fones: (21) 2244-5930E - m a i l: t i b a @ t i b a . o r g . b rH o m e - p a g e: w w w. t i b a . o r g . b r

IPEC – Instituto de Pe r m a c u l t u ra e Ecov i l a sdo Cerra d o

Fones: (62) 331 1529 ou (61) 353-2080E - m a i l s: i p e c 1 @ t e r ra . c o m . b r e r e c i c l e 1 3 @ h o t m a i l . c o m

Instituto de Pe r m a c u l t u ra da BahiaContato: Marsha HanziE - m a i l: h a n z i b [email protected]

Instituto DOMO de Te c n o l o g i a sS u s t e n t á ve i s

Contato: Maurício LimaE-mail:i n s t i t u t o d o m o @ yahoo.com.br Fone: (61) 9975-7075

V. BI B L I O G R A F I A

ANDRADE, Waldir Joel de, et al.. 1998.Eco-Técnicas. In Curso de Formação de

G u a r d a - Parque para Unidades de Con-s e r vação. São Paulo: SENAC .

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E D I TORES. 1994. Por dentro das lareira s .I n A r q u i t e t u ra & Construção. Revistamensal. São Paulo: Editora Abril, 86-9 3 p .

S A LVATI, S. S. 2002. Ecoturismo noPantanal Brasileiro e Boliviano: estudosde políticas e alternativas sustentáve i s.São Paulo: Prolam / USP, 139 p.[Dissertação de Mestra d o ]

✑ TOME NOTA:

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I. OBJETIVO

O objetivo deste capítulo é apresentarsubsídios para a capacitação emtécnicas de levantamento, mapea-

mento, implantação e manutenção de tri-lhas, observando-se as peculiaridades doecossistema e da cultura local.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

A principal função das trilhas sempre foia de suprir a necessidade de deslocamento.No entanto, pode-se verificar que ao longodos anos houve uma alteração de valoresem relação às trilhas.

De simples meio de deslocamento, astrilhas surgem como novo meio de contatocom a natureza. A caminhada incorpora umnovo sentido e recebe um grande númerode adeptos.

Atualmente uma das principais ativ i-dades em ecoturismo é a caminhada em tri-lhas e suas variantes. As trilhas oferecemaos visitantes a oportunidade de desfrutarde uma área de maneira tranqüila ealcançar maior familiaridade com o meion a t u ral. Trilhas bem construídas e devida-mente mantidas protegem o ambiente doimpacto do uso, e ainda asseguram aos visi-tantes maior conforto, segurança e satis-fação. Terão papel significativo na im-pressão que o visitante levará sobre a área ea instituição que a gerencia.

Após mais de 50 anos de criação doprimeiro Parque Nacional, o Brasil não temainda um sistema nacional ou estadual de

trilhas em unidades de conservação devida-mente implantado.

As trilhas existentes, principalmente delonga distância, não recebem manutençãoadequada, quase todas sofrem o problemade erosão e há pontos críticos com relaçãoà segurança. Surgem não se sabe de onde efreqüentemente desaparecem, tomadas pelomato, devido ao desuso. Algumas aindaapresentam bifurcações que não levam alugar algum. Some-se a isso a constanteausência de mapas, sinalização e meiosinterpretativos.

Este capítulo oferece orientações paraauxiliar técnicos, proprietários e gestores deunidades de conservação de todos os tipos anão incorrerem na mesma falha.

Com o desenvolvimento adequado detrilhas e o aumento da consciência de quetrilhas em unidades de conservação ou ou-tras áreas onde se pratica o ecoturismo nãosão apenas picadas improvisadas, espera-seque não só novas áreas sejam abertas deforma correta, mas também que seja reme-diada a situação das áreas desenvolvidas deforma incorreta.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Esta seção tratará dos seguintes tópicos:

1. Classificação de trilhas.2. Impactos ambientais decorrentes

da implantação e uso de trilhas.3. Planejamento de trilhas.4. Implantação.5. Manutenção.

6. Implantação e manejo de trilhas

Waldir Joel de Andrade

GESTÃO INTEGRADA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1. Classificação de trilhas

Podemos classificar as trilhas quanto àfunção, forma e grau de dificuldade.

❒ Quanto à funçãoAs trilhas são utilizadas em serviços

administrativos – normalmente por guardasou vigias, em atividades de patrulhamento(a pé ou a cavalo) – ou pelo público visi-tante, em atividades educativas e/ou recrea-tivas. Nestes casos, podem ser divididas emtrilhas de curta distância, as chamadas "tri-lhas interpretativas" (Nature Trails) ou de tri-lhas selvagens e de longa distância(Wilderness Trails).

Trilhas de curta distância apresentamcaráter recreativo e educativo, com progra-mação desenvolvida para interpretação doambiente natural. Já as de longa distânciavalorizam a experiência do visitante quebusca deslocar-se por grandes espaços sel-vagens, como as viagens de travessia pelaregião. Um exemplo clássico em nosso paísé a travessia Petrópolis – Teresópolis, atravésdo Parque Nacional de Serra dos Órgãos, noRio de Janeiro. Lembra-se que a interpre-tação ambiental deve ocorrer nos dois tiposacima citados, mudando-se apenas os meios(ver capítulo Interpretação Ambiental).

❒ Quanto à formaa) Trilha Circular

A trilha circular oferece a possibilidadede se voltar ao ponto de partida sem repetiro percurso no retorno. Pode-se tambémdefinir um sentido único de uso da trilha, oque permite que o visitante faça o percursosem passar por outros visitantes no sentidocontrário (FIG. 1).

b) Trilha em OitoEssas trilhas são muito eficientes em

áreas limitadas, pois aumentam a possibili-dade de uso desses espaços (FIG. 2).

b) Trilha LinearEsse é o formato de trilha mais simples e

comum. Geralmente seu objetivo é conectar

o caminho principal, quando já não é opróprio, a algum destino como lagos,c l a r e i ras, cavernas, picos etc.. Apresenta asd e s vantagens do caminho de volta ser igualao de ida e a possibilidade de passar por ou-tros visitantes no sentido contrário (FI G. 3).

d) Trilha em AtalhoEsse tipo de trilha tem início e fim em

diferentes pontos de uma trilha ou caminho

6

✑ FIG. 1– Trilha circular

✑ FIG. 2 – Trilha em oito

✑ FIG. 3 – Trilha linear

Trilha

Estrada

Trilha

Estrada

Trilha

Lago

Pico, caverna, etc

Estrada

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Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

principal. Apesar do nome, o objetivo natrilha em atalho não é “cortar caminho”,mas sim mostrar uma área alternativa à tri-lha ou caminho principal (FIG. 4).

❒ Quanto ao grau de dificuldadeEsse tipo de classificação é subjetivo,

pois independentemente da presença deacidentes geográficos, de desníveis de alti-tude e da qualidade topográfica do terreno,o grau de dificuldade varia de pessoa parapessoa, dependendo do condicionamentofísico e peso da bagagem (mochila) carrega-da. A classificação do grau de dificuldadede trilhas é distinto para trilhas guiadas etrilhas auto-guiadas (ver capítulo I n t e r -pretação Ambiental).

a) Trilhas guiadasGeralmente a classificação para trilhas

guiadas é elaborada utilizando-se combi-nações de letras (variando de A a E) enúmeros (de 1 a 3), aquelas referindo-se aonível técnico e estes à intensidade, não ne-cessariamente nessa ordem.

Atualmente, no Brasil, esse tipo de clas-sificação é usado por empresas especiali-zadas em turismo de aventura, onde a maiorparte dos programas dizem respeito às cami-nhadas. Em 1997 a Free Way Adventures,uma das maiores operadoras do Brasil, ado-tava a seguinte classificação:

• Quanto à intensidade:A Leve

B RegularC Semi-pesada

• Quanto ao nível técnico:1 Fácil2 Com obstáculos naturais3 Exige habilidade específica

Nos Estados Unidos, o Mountain Travel(1985) considera o seguinte:

• Quanto à intensidade:1 Fácil2 Moderada3 Difícil

• Quanto ao nível técnico:A Fácil, é necessário apenas

boa saúde.B Requer atividade física como

caminhada de 3 a 7 horas ao dia.C Caminhadas equivalentes a B

só que acima de 4.500m, o que requer melhor condicionamento físico.

D Grande condicionamento físico, com experiência básica de montanhismo.

E É necessária comprovada experiência de pelo menos três anos no tipo de expedição.

Como se pode ver, apesar de em ambosos casos se utilizar tanto letras quantonúmeros para a classificação, a interpre-tação atribuída a cada um varia. Assim, éimportante que ao adotar uma escala declassificação das trilhas quanto ao grau dedificuldade, anote-se os padrões adotadospara cada nível da escala.

b) Trilhas auto-guiadasNos casos apresentados acima, deve-se

c o n s i d e rar sempre a presença do guia.Quando isso não ocorre, nas caminhadasauto-guiadas, o grau relativo de dificuldadeé outro. Tendo em vista essa possibilidade,apresenta-se uma classificação baseada naexperiência e vivência deste autor junto a

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✑ FIG. 4 – Trilha em atalho

Trilha

Estrada

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

grupos excursionistas nacionais:

1 Caminhada leve.2 Caminhada semi-pesada.3 Caminhada pesada.

Nessa classificação leva-se em conta ocomprimento da trilha, características dorelevo, necessidade ou não de acampar,características de sinalização e a existênciade mapas ou roteiros.

É importante indicar o grau de dificuldade

das trilhas antes do início do passeio.

No ato da venda deve-se deixar claro

a indicação do grau de dificuldade.

É possível também se demonstrar

em um painel já no início da trilha e nos

materiais de divulgação, como folhetos.

Deve-se elaborar um croqui do percurso,

do comprimento e do tempo para

percorrê-la e o perfil das variações

de altitude, para que o ecoturista saiba,

além da distância a percorrer, o quanto vai

subir e descer durante a caminhada.

2. Impactos ambientais decorrentes daimplantação e uso de trilhas

A s trilhas representam uma interferênciado homem na natureza. Provocam tanto

impacto físico como visual, sonoro e decheiro. Ao mesmo tempo, restringem essainterferência a um único e delimitado itine-rário. Usualmente, as trilhas para ecoturis-mo passam por ambientes naturais frágeisou carentes de proteção. Os efeitos que umatrilha causa no ambiente ocorrem principal-mente na superfície da trilha propriamentedita, mas a área afetada pode ser de ummetro a partir de cada lado.

Há quatro elementos ambientais sobinfluência direta do uso de trilhas:

a) SoloHá pelo menos dois fatores de alteração

do solo decorrentes da utilização de trilhas:compactação e erosão. O efeito do pisoteioproduz um impacto mecânico direto, queresulta na exposição das raízes das árvores,causando riscos de doenças e quedas, e nadiminuição da capacidade de retenção dear e absorção de água, alterando a capaci-dade do solo de sustentar a vida vegetal eanimal associada.

Erosão é um processo natural que causagraves problemas em áreas onde existemtrilhas, principalmente em regiões monta-nhosas. A erosão depende do tipo de solo,da topografia e do padrão de drenagem daárea. A alteração e eliminação da vegetaçãoe o pisoteio facilitam o processo de erosão.

As trilhas alteram ainda o padrão deescoamento da água na região. Por estarcom a superfície limpa, o solo absorvemenor quantidade de água, por isto escorrecom maior velocidade devido à ausência deobstáculos. A água provoca o deslocamentode partículas, aumentando a erosão. Quantomaior a inclinação do terreno, maior avelocidade da água e maior a quantidade departículas deslocadas.

b) VegetaçãoA presença de uma trilha provo c a

mudanças na composição da vegetação aoredor. Quando uma trilha é aberta há alte-ração da luminosidade disponível, o quefacilita o crescimento de plantas tolerantes àluz. O constante pisoteio na trilha acabadestruindo as plantas por choque mecânicodireto e pela compactação do solo. A erosãodo solo expõe as raízes das plantas, dificul-tando sua sustentação e facilitando a conta-minação por pragas. Os caminhantes tam-bém trazem novas espécies para dentro doecossistema, principalmente gramíneas eplantas daninhas em geral.

c) FaunaO impacto de trilhas em relação à fauna

ainda não é bem conhecido. Provavelmentedeve haver uma alteração no número de

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Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

i n d ivíduos de cada espécie, isto é, umaumento no caso de espécies tolerantes àpresença humana e uma diminuição paraaquelas mais sensíveis. Quando é detectadoum grave distúrbio potencial na fauna, taiscomo em refúgios ou áreas de ninhais, emdecorrência do uso de trilhas, pode-se alte-rar o traçado ou mesmo fechar a trilha (vercapítulo M o n i t o ramento e Controle deImpactos de Visitação). O fechamento podeser total (a trilha deixa de ser usada) ou par-cial (a trilha deixa de ser usada somente emperíodos críticos, como épocas de repro-dução). A multiplicação de trilhas podeainda fragmentar a área, interferindo direta-mente no deslocamento e na dinâmica daspopulações animais.

d) Outros fatores antrópicosLixo, incêndios, vandalismos e coleta de

materiais são problemas comuns associadosà utilização das trilhas. Os ecoturistasdevem ser orientados a trazer de volta o lixoproduzido durante a caminhada, evitarqualquer prática que possa provocar incên-dios, bem como não coletar materiais natu-rais durante a caminhada e muito menosdepredá-los.

O capítulo Monitoramento e Controle deImpactos de Visitação apresenta um métodopara manter os impactos causados pelo usode trilhas em áreas naturais dentro de limitesaceitáveis.

3. Planejamento de trilhas

❒ TraçadoUm dos objetivos de trilhas de uso públi-

co em áreas naturais é manter o ambienteestável e proporcionar ao visitante a oportu-nidade educativa e recreativa, com segu-rança e conforto.

As trilhas devem encorajar o visitante ap e rcorrê-las por serem reconhecidas comocaminho mais fácil, que evita obstáculos eminimiza o dispêndio de energia. Pa ra tanto,d e vem manter uma regularidade e con-tinuidade de seu trajeto, porém sem mono-tonia, evitando ainda mudanças bruscas de

direção e sinalização. Obstáculos comop e d ras, árvores caídas e poças de lamad e vem ser prontamente corrigidos ou adap-tados, pois provocam a abertura de desvios.

O planejamento de trilhas deve levar emco n s i d e ração fatores como variação climáti-ca, em função das estações do ano; infor-mações técnicas (levantamentos, mapas,f o t o g rafias, etc.) disponíveis sobre a região; aprobabilidade de volume de uso futuro; e asc a racterísticas de drenagem, solo, ve g e-tação, hábitat, topografia, uso e exeqüibili-dade do projeto. Características históricas ec u l t u rais devem ser pesquisadas e ressal-tadas, a fim de otimizar as informações e dardimensão educacional às trilhas.

A concepção e desenho de uma trilhadependem também do acesso (como sechega até a trilha), necessidade de esta-cionamento (existência ou não e tamanhodos estacionamentos) e do tipo de uso queela suportará (caminhada apenas, passeio acavalo, bicicleta, grupos escolares, etc.).Antes de uma trilha ser traçada, o tipo depúblico-alvo preferencial deverá ser identifi-cado (este aspecto deve ser refletido dentrodo contexto de planejamento maior da área– ver capítulo Planejamento Integrado – e deplanejamento para a interpretação ambien-tal – ver capítulo de mesmo nome).

Todos estes fatores influenciarão nacapacidade de carga da trilha, que deveráser definida para averiguar a viabilidade dese desenvolver a trilha. A capacidade decarga de uma trilha é a quantidade de visi-tas que ela pode suportar sem que isso gereimpactos inaceitáveis ao meio ambiente (vercapítulo M o n i t o ramento e Controle deImpactos de Visitação).

Tanto quanto possível, as áreas atraves-sadas pelas trilhas devem apresentar grandediversidade biológica, climática e topográfi-ca. Um dos problemas do desenho de trilhasé a variação de nível, pois as subidas sãoprejudicadas pela erosão causada pelaágua. O sistema de drenagem deve assegu-rar que a água escoe pelas laterais da trilha,evitando que a direção da água seja amesma da trilha.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Uma ascensão moderada pode ser con-seguida por meio de um traçado emziguezague, com curvas espaçadas, paraque uma não seja visível de outra, de modoa evitar que as pessoas cortem caminho.

PLANEJAMENTO DE UM SISTEMA

DETRILHAS EM UMA MESMA ÁREA

Nos casos de unidades de conservação

como parques, geralmente há potencial

e necessidade de mais de uma trilha.

Mesmo que já haja várias trilhas em uso,

a adequação e melhoria de trilhas

existentes, e especialmente a abertura

de novas trilhas, devem ser precedidas

de um planejamento conjunto de toda

a área, como um sistema de trilhas.

Assim, é possível propiciar o acesso a uma

diversidade de públicos-alvo e a maior

variedade de ambientes e atrativos da área,

com possibilidade de realizar atividades

diferentes sem que haja sobrecarga

do ambiente ou conflitos entre visitantes

devido aos objetivos de uso diversos

(ver capítulo Planejamento Integrado).

p Levantamento de trilhasUma vez definido o traçado, deve-se

realizar o levantamento da trilha, ou seja, amedição de diversas variáveis para toda aextensão da trilha. Os resultados do levanta-mento podem, por vezes, levar à necessi-dade de alteração do traçado da trilha.

O levantamento é feito por trechos datrilha, e geralmente envolve o trabalho deduas pessoas. Para definir o tamanho do tre-cho, uma das pessoas (A) coloca-se nocomeço da trilha e a outra (B) vai cami-nhando pela trilha até que:

❒ Haja uma mudança acentuada de dire-ção na trilha, de forma a que A não maispossa ver B. Em locais descampados, énecessário que A imagine um ambiente

de mata, e pense se nestas circuntânciasainda poderia ver B.

❒ Haja uma mudança acentuada dedeclividade (inclinação) na trilha, tantoascendente (termina uma descida ecomeça uma subida; ou a trilha del i g e i ramente inclinada passa a forte-mente inclinada; ou ainda de fortementeinclinada passa a levemente inclinada)quanto descendente (termina uma subi-da e começa uma descida).

Quando uma ou ambas as condiçõesacima ocorrerem, B interrompe a caminha-da e A e B começam, no trecho delimitado,o levantamento das variáveis apresentadasabaixo. Ao terminar o levantamento do tre-cho, A coloca-se no ponto onde B estava, eeste último caminha até a identificação deum novo trecho.

Este processo é seguido até que toda atrilha tenha sido percorrida e suas medidasl e vantadas. O levantamento envo l ve amedição das seguintes variáveis em cadatrecho da trilha:

a) Metragem Trata-se da distância entre os dois pontos A

e B, medida com roda métrica (ver quadro aseguir), por vezes cinta métrica, e ainda emdois casos por estimativa no mapa. Am e t ragem é necessária não só para conheci-mento da extensão total da trilha, mas tambémp a ra identificação e marcação de trechos de

O QUE É RODA MÉTRICA?

Roda métrica é um instrumento que facilita

muito medições de distância. Constitui-se

de uma roda com um odômetro e um cabo

para ser empurrada pela pessoa que realiza

a medida (como um carrinho). É adequada

para este tipo de trabalho que não exige

precisão absoluta das medidas de distância.

Pode ser eletrônica ou mecânica.

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Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

trilha com características específicas, localiza-ção de necessidades de sinalização, de tra b a l-hos de manutenção e marcação de pontos dep a rada para interpretação ambiental.

b) DireçãoA direção de cada trecho é medida com

uma bússola. Esta variável é de especialimportância para a posterior plotagem datrilha (ou seja, para fazer o traçado da trilhaem escala, geralmente necessário para usoem mapas, placas, etc.).

c) Declividade A declividade (ou inclinação) de cada

trecho é medida com um clinômetro, apa-relho específico para se tomar este tipo demedida.

Esta variável é essencial para a determi-nação de vulnerabilidade à erosão, grau dedificuldade da trilha (ver tabela de relaçãoentre declividade e vulnerabilidade aerosão, e entre declividade e grau de difi-culdade, na Seção III.6.b – Determinação daCapacidade de Carga Real – do capítuloMonitoramento e Controle de Impactos deVisitação) e descrição de trabalhos de cor-reção na trilha (por exemplo, de acordocom a declividade de um trecho, deverãoser escolhidos determinados métodos dedrenagem).

Em casos de extrema declividade (maisde 20%) deve-se estudar cuidadosamente apossibilidade de alterar o traçado propostopara a trilha ou adequá-la com soluções téc-nicas construtivas.

d) Observações geraisEste campo é dedicado a anotações

sobre condições de solo, pontos de interessepara a interpretação ambiental, conflitos deuso no local, necessidades de trabalhos demanutenção e outras informações que pos-sam assessorar o diagnóstico da trilha.

Durante as medições deve ser feito oestaqueamento das trilhas a cada 100 me-tros e também a cada variação significativade direção ou declividade na trilha (ou seja,a cada trecho medido).

O ESTAQUEAMENTO É NECESSÁRIO

PARA O PLANEJAMENTO

E MANUTENÇÃO DAS TRILHAS.

O estaqueamento facilita as etapas

posteriores do trabalho, como

o planejamento de intervenções

corretivas de engenharia,

postura da sinalização, montagem

do sistema de monitoramento

de impactos de visitação

(ver capítulo Monitoramento

e Controle de Impactos de Visitação),

marcação de pontos de parada

para interpretação ambiental

(ver capítulo Interpretação Ambiental).

Nos casos de trilhas intepretativas

(de curta distância),

o estaqueamento inicial, caso feito

com material não resistente ao tempo

e às condições locais de uso

(por exemplo, passagem de veículos,

animais domésticos, vandalismo, etc.)

deve ser substituído por permanente

a cada 100m, para facilitar o trabalho

de manutenção das trilhas.

Geralmente é suficiente utilizar

estacas grossas de madeira

(5cm de diâmetro),

colocadas com boa profundidade

no solo (com a base enterrada

aproximadamente 15cm),

com os números pintados com

tinta óleo e envernizados.

A utilização de materiais

de boa durabilidade para

as estacas evita a necessidade

de substituição freqüente

das mesmas.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Pa ra se realizar o levantamento pode-seutilizar uma tabela conforme a apresentadaacima, feita para a Trilha do Vale da Luapor participantes do Projeto Ve a d e i r o s ,o n d e :

• TRECHO ] Identificação da parte datrilha medida, definido pela distân-cia entre duas estacas. A numeraçãoé a das estacas.

• DIR. ] Direção • DEC. ] Declividade• MET. ] Metragem do trecho em

específico (p. ex. entre A e B)• DIS. ] Distância total desde o iní-

cio da trilha • OBSERVAÇÕES ] Anotações sobre

as características do solo, necessi-dades de intervenção corretiva natrilha, fragilidade ambiental etc..

Uma vez realizado o levantamento datrilha, de volta ao escritório, com auxílio derégua, transferidor e lápis, deve-se plotar otraçado da trilha em papel milimetrado. Oproduto final será o croqui da trilha, que é abase para seu monitoramento e divulgação.

2 ObrasD e vem ser consideradas como inter-

venções construtivas simples e de fácilmanutenção que evitam o desgaste precoceda trilha. Madeiras caídas na própria regiãosão materiais suficientes para sua implan-tação. Geralmente são três os fatores gera-dores de obras em trilhas: drenagem,sobreposição de corpos d’água e contençãode erosão, tratado em detalhes mais abaixo.Porém, outras obras podem vir a sernecessárias para garantir a segurança do vi-sitante (corrimões e guarda-corpos) ou para

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Trilha do Vale da Lua – Projeto Veadeiros

TRECHO DIR. DEC. MET. DIS. OBSERVAÇÕES

0-1 195º -10% 25,85 25,85 P-0: Painel; croqui da trilha; legenda/

regularizar o piso; 4 drenagens.

1-2 205º -8% 63,68 89,53 Cancelar antiga trilha; replantar;

bizel indicativo.

2-3 184º -7% 11,49 101,02 Drenagem; regularizar o piso.

3-4 162º -7% 16,81 117,83 Barreira no P-4.

4-5 193º -5% 10,62 128,45 Barreira no P-5; drenagem antes do P-5.

5-6 158º -7% 4,26 132,71 P-6: Cancelar bifurcação e replantar.

6-7 141º -6% 28,20 160,91 Eliminar 20 m de trilha duplicada.

7-8 181º -8% 20,72 181,63 Canaleta e drenagem; cancelar

atalho à direita.

8-9 132º -6% 7,84 189.47 Mureta (cimentar e replantar);

canaleta de drenagem.

9-10 ... ... ... ... ...

... ... ... ... ... ...

FORMULÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE TRILHA

EXEMPLO:

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b) Sobreposição de corpos d’águaInclui a sobreposição de rios e riachos,

bem como de locais alagados. No primeirocaso, as obras são basicamente de cons-trução de ponte.

Para a ultrapassagem de alagados (FIG.6) podem ser usados blocos de pedra e/ou“fatias” de troncos dispostos seqüencial-mente. Outra opção são os tablados oue s t rados, que permitem uma caminhadafácil e segura, transferindo a superfície deuso direto do solo para a madeira.

c) Contenção de erosãoDois tipos de obras podem ser aplicados

na contenção de erosão: degraus e paredes,lembrando que elas devem ser implemen-tadas junto com as obras de drenagem.

A construção de degraus é uma das maisdifíceis obras em trilhas, e é solução somentequando não houver outra alternativa. Deve -

255

Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

os meios interpretativos utilizados (canopy-walkway, passarelas, quiosques e mirantes).

a) DrenagemComo a trilha altera o padrão de circu-

lação de água no solo, algumas obras dereorganização da drenagem são necessárias.

Podem-se construir canais laterais deescoamento, canais que cruzam perpendi-cularmente ou diagonalmente a trilha (tantoem nível quanto por baixo da mesma) e va l a sou barreiras oblíquas à superfície da trilha,p a ra facilitar o escoamento da água (FIG. 5).

se evitar longos trechos de degraus em linhasretas, e em terrenos ao lado de quedas abrup-tas (terrenos normalmente instáveis). É impor-tante analisar o local da obra sob o ponto devista de quem desce e de quem sobe.

Os degraus podem ser feitos com pedras,troncos e pranchas de madeira.

A construção de paredes de contençãoem declives (FIGURA 8) tanto previne aerosão da trilha quanto a deposição dematerial carreado da encosta. Pode tambémser feita de pedras, troncos ou com os dois.

2 SinalizaçãoA sinalização de trilhas visa a segurança

do excursionista e dos recursos da área. Isto

6✑ FIG. 5 – Canais, valas e barreiras

✑ FIG. 6 – Pedras ou troncos e tablados ouestrados para ultrapassagem de alagados

✑ FI G. 7 – Tipos de degraus utilizados em trilhas

Trilha

Trilha

Vala

Canal lateral de escoamento

Canais perpendiculares

Barreira

DRENAGEMDEGRAU

Trilha Trilha

Pedras oufatias de tronco

Com pedras

Com tábuasisoladas

Com troncos

Em escada

Estrado

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

é especialmente importante em trilhas lon-gas, que geralmente não recebem sinaliza-ção interpretativa (ver capítulo InterpretaçãoAmbiental) ou mesmo estaqueamento. Asinalização deve ser sistemática, compreen-sível e à prova de vandalismo.

a) Marcação a tintaM a rca padronizada, utilizada para

d e m a rcar a trilha, colocada estra t e g i c a-mente numa árvore ou pedra. Deve - s edefinir a forma e cor padrão para a trilha. Asmelhores cores são o azul, ve r m e l h o ,amarelo, branco e laranja. É interessanteadotar as cores primárias para a trilha prin-cipal e uma cor secundária para as trilhassecundárias. Tinta látex se presta bem a isso.

Os pontos a serem marcados – troncos deá r vores ou pedras – devem ser raspados come s c ova de aço ou raspador de metal.Quando o traçado da trilha sofrer altera ç õ e s ,as marcações antigas devem ser eliminadas,p a ra não confundir os excursionistas.

b) PlacasAs placas devem ser dispostas ao longo

da trilha, e informar sobre o nome da trilha,a direção, os pontos importantes, a distân-cia, o destino etc. Podem ser confec-cionadas em pedra, metal ou madeira. Estaúltima é a mais popular e atrativa e, se devi-damente afixada, dificilmente será levadacomo souvenir por visitantes inescrupu-

losos. Na escolha do tipo de madeira deve-se levar em conta a durabilidade, facilidadede ser trabalhada, disponibilidade e custo.Uma placa de madeira de boa qualidadenão possui nós e não empena.

As dimensões das placas são variáveis.As placas do início da trilha, por conteremmais informações, tais como mapas e orien-tações gerais, devem ser maiores. Forma,cor e tipo de letra devem ser padronizados.As letras podem ser entalhadas na madeira ea pintura deve distinguir o fundo, que podeser pintado ou natural; nesse caso, deve-seaplicar verniz náutico ou automotivo, paraproteger das intempéries.

Para a instalação, utiliza-se poste demadeira tratada ou totem (pilhas de pedra).Não se deve fixar placas diretamente emtronco de árvores com o uso de pregos.

c) Montes de pedras (Totem) Para se marcar as orientações de direção

em trilhas que não possuem árvores, podemser usadas pilhas de pedras, que são de fácilvisualização. Também conhecidas comototens (FIGURA 9).

A distância entre os totens deve ser talque o excursionista ao lado de um totempossa visualizar outros dois – o da frente e ode trás. Em locais sujeitos à neblina,recomenda-se a pintura das pedras do topodo totem para facilitar a visualização.

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✑ FIG. 8 – Paredes de contenção

Contenção de erosão “acima” da trilha com uso de madeira

Contenção de erosão“abaixo” da trilha

com o uso de pedrasContenção de erosão “acima”

da trilha com uso de mais de um material

Trilha

Trilha

Trilha

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Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

A SINALIZAÇÃO DEVE SER INTEGRADA

VISUALMENTE AO MÉTODO INTERPRETATIVO

ESCOLHIDO PARA A TRILHA.

A escolha do método de sinalização deve

ser feita levando-se em consideração

a escolha de método interpretativo para

a trilha. Por exemplo, em uma trilha

auto-guiada, com placas, a sinalização da

trilha em si pode ser também em placas.

Por outro lado, em trilha auto-guiada

com folheto, que exige a marcação

clara de pontos na trilha onde o visitante

deve parar e ler o folheto, a adoção

do método de sinalização da trilha a tinta

deve ser feita de forma a não conflitar

com a marcação interpretativa.

Também é indispensável que

os dois tipos de sinalização sejam

integrados quanto a tamanho, estilo,

cor, padrão de letra, materiais,

modo de fixação. Os dois tipos

de sinalização devem ser percebidos

como um conjunto visual e gráfico únicos.

d) FitasOutra forma de se marcar o caminho são

as fitas coloridas (plásticos são duráveis enão perdem a cor) amarradas nos galhos,em troncos de árvores ou arbustos, ou noalto de uma estaca de madeira ou ferro.

4. Implantação

❒ REVISÃO DO TRAÇADO PROPOSTO

O mais importante trabalho de insta-lação de uma trilha é feito em campo e devecontar com a assistência de técnicos para odesenho – como engenheiros civis – e depessoas da região familiarizadas com ascondições da área. Por vezes, as necessi-dades de intervenção física na área tornaminviável o traçado inicialmente proposto(por exemplo, quando exige a construçãode estruturas demasiadamente cara s ) ,exigindo sua modificação.

O trabalho de instalação de trilhaspode ser feito pelos próprios responsáve i spela área desde que recebam treinamentoadequado e assistência técnica para odesenho de soluções complexas, quandon e c e s s á r i o .

❒ FERRAMENTAS E ACESSÓRIOS

As ferramentas usadas variam de acordocom a área e o tipo de trabalho necessário.Deve-se sempre ter a ferramenta adequadapara cada tipo de tarefa. As ferramentasmais comuns estão listadas abaixo. Tambémé recomendável ter à mão um kit deprimeiros socorros.

a) Foice e penado: utilizados para aber-tura ou clareamento da trilha (roçada).

b) Enxada e enxadão: utilizados pararegularizar o piso da trilha e abrir valetas dedrenagem.

c) C ava d e i ra : p a ra cavar bura c o s ;podem ser de haste simples ou dupla.

c) Machados: são muito utilizados paracortar árvores e grandes galhos caídos e

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✑ FIG. 9 – Monte de pedra (Totem).

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

para preparar mourões ou dormentes usadosem degraus ou na contenção de paredes.

e) Pé-de-cabra: essencial no desloca-mento de grandes pedras ou troncos.

f) Serras: são utilizadas para cortar ga-lhos e árvores.

g) Chibanca: ferramenta para destocaros terrenos, com um lado para cavar a terrae outro para cortar as raízes e o tronco dasárvores.

h) Pá comum.

i) Pá reta ou vanga: muito utilizada naconstrução de degraus.

j) Baldes e carrinhos: utilizados paratransportes da terra, areia, etc..

c) Kit com martelo, prego, arame, bar-bante, pano (para secar os cabos das ferra-mentas em tempos úmidos e para limpar pla-cas de sinalização), etc.

D e ve-se salientar a necessidade de equipa-mentos de segurança dos trabalhadores, comoóculos para a proteção dos olhos, luvas, capa-cetes, botas e roupas adequadas.

5. Manutenção

Amanutenção de trilhas é extremamentenecessária para prevenir e corrigir pro-

blemas como locais escorregadios e comlama, erosão, aparecimento de caminhosmúltiplos e outros (ver capítulo Monito -ramento de Impactos de Visitação)

Neste tópico estão a construção de me-lhorias, substituição periódica das placas desinalização danificadas e “limpeza” ou“clareamento” de trilhas.

Uma trilha “limpa” é aquela onde umexcursionista alto, com uma grande mochi-la, pode andar sem tocar folhas, árvores ougalhos. A trilha é fácil de ser seguida, pois ocaminho é aberto e desobstruído.

A limpeza de trilhas, com a retirada depedras, árvores e galhos caídos, permite queas mesmas sejam fáceis de seguir eagradáveis de usar. Pequenos obstáculos,como pedras, raízes e troncos caídos podemser deixados pelo percurso, pois permitemao visitante ter a sensação de dificuldade ede vencer obstáculos naturais, mantendoum aspecto de ambiente selvagem.

O material orgânico no solo não deveser retirado, pois diminui o impacto me-cânico e desagregador da ch u va e impede aerosão, por evitar um rápido escoamentoda água pela superfície. Manter a qualidadedas trilhas facilita seu uso e dificulta seuf e ch a m e n t o .

A largura da trilha é variável, dependen-do diretamente do terreno, da vegetação edo próprio uso. Deve-se sempre pensar quequanto menor a largura, menor será opisoteio, conseqüentemente, menor oimpacto ambiental.

Por ser um trabalho permanente, amanutenção de trilhas deve ser feita porequipe local, envolvida com o manejo daárea visitada e devidamente treinada. Otreinamento deve envolver todas as fases deplanejamento e implantação de trilhas (vercapítulo P r o g rama de CapacitaçãoComunitária).

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

Um dos principais cuidados que sed e ve ter ao desenvo l ver uma trilha é o ded e s e nvolvê-la com base em um público-a l vo já identificado ou estabelecido. Ouseja, não só o traçado e os tra b a l h o sd e s e nvolvidos na trilha devem ser adequa-dos para garantir a proteção ambiental e avalorização dos atra t ivos locais, comotambém devem buscar favorecer o acessoao público identificado. Se durante oplanejamento da área e da trilha – ve rcapítulo Planejamento Integra d o – forconstatada a necessidade de sua ade-quação para o uso por pessoas de terc e i raidade, o solo da mesma deverá ser limpo,n ivelado e preparado, de forma a diminuir

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Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

as possibilidades de escorregamento,tropeço ou torção de pés.

As obras e sua implementação podemser executadas utilizando-se materiais emão-de-obra locais. Quanto menor o uso demateriais não naturais, menor a alteração dopadrão visual dos elementos naturais.

Visitantes educados e informados con-tribuem para a manutenção de trilhas bemconservadas. Visite o site da Campanha PegaLeve! – Conduta Consciente em AmbientesNaturais para obter mais informações sobrecomo trabalhar com o visitante para este serum agente contribuidor na conservação detrilhas (www.pegaleve.org.br).

V. BIBLIOGRAFIA

AGATE, E. 1983. Footpaths; a practical con-s e r vation handbook. Wembley Press.Berkshire, Inglaterra.

BELART, J. L. 1978. Trilhas para o Brasil.FBCN, Boletim nº 13, Vol 1, pp. 49-51.Rio de Janeiro, RJ.

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GRIFFITH, J. J. 1983. Análise dos recursosvisuais do Parque Nacional do Caparaó.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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✑ TOME NOTA:

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IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

I. OBJETIVO

E ste capítulo tem o objetivo de orientaro desenvolvimento de progra m a se d u c a t ivos baseados na interpretação

ambiental, conceito que estabelece critériosp a ra uma ampla compreensão do ambienten a t u ral. A partir desse conceito, busca aconciliação entre a satisfação do ecoturista ea conservação ambiental e cultural das áreasvisitadas. Visa também promover mudançasp o s i t ivas de comportamento dos turistas.

Além de propor o desenvolvimento deprogramas de interpretação ambiental emgeral, o capítulo também orienta a interpre-tação ambiental em trilhas natura i s .Caminhadas em trilhas são atividades dasmais procuradas no ecoturismo e a existên-cia de programas educativos por meio dainterpretação ambiental torna-se muitoimportante.

Apesar deste capítulo apresentar-se maisdirecionado para a interpretação danatureza, os conceitos e técnicas aquid e s e nvolvidos podem perfeitamente seradaptados para ambientes e sítios histórico-culturais. Mesmo para locais onde se desen-volvem principalmente atividades de aven-tura e esportes radicais, programas educa-tivos podem ser elaborados, conferindo aoprojeto maior consistência e contribuindopara a compreensão da natureza. Na ver-dade, considera-se importante que toda equalquer atividade turística empreenda pro-gramas educativos e informacionais, quevalorizem a integração cultural dos povos,em vez de ações estéreis do ponto de vistado conhecimento.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

O ecoturismo surgiu com a crescentedemanda das pessoas por maior contatocom os ambientes naturais, buscando nesseslocais uma oportunidade de relaxamento,beleza e interação. Essa demanda, porém,ao mesmo tempo que representa umareação positiva da sociedade à crescenteconcentração e turbulência das cidades,vem sendo fonte de alguns conflitos:

❒ De um lado, as áreas naturais con-têm recursos raros ou únicos, geral-mente frágeis e suscetíveis de perdasirreparáveis; não possuem estruturae manejo adequados para o usopúblico recreativo.

❒ De outro lado, os visitantes encon-tram-se desvinculados e distancia-dos dos ambientes naturais, desco-nhecendo até seus mais simplesprocessos, e não se dão conta deque cada uma de suas ações corres-ponde a um efeito ambiental. Nãose sentindo como parte integrantedo ambiente natural, o homem nãopercebe os efeitos de suas atitudes,ou, se percebe, não os avalia.

O ecoturismo, tendo como princípio oequilíbrio entre a utilização e a conservaçãodas áreas naturais visitadas e consequente-mente o desenvolvimento sócio-econômicolocal, deve buscar alternativas para asolução desses conflitos. O sucesso de umprojeto ecoturístico depende de sua eficiên-cia para conciliar a satisfação do visitante e

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7. Interpretação ambientalJane Maria de Oliveira Vasconcelos

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

a conservação das áreas visitadas. Pa ratanto, o ecoturismo precisa influenciar ati-tudes e comportamentos, não podendoprescindir de atividades educativas.

Educação Ambiental, conformedefinição da UNESCO, 1987, “é ump rocesso permanente no qual osindivíduos e a comunidade tomamconsciência do seu meio ambiente ea d q u i rem conhecimentos, habili-dades, experiências, va l o res e adeterminação que os tornam capazesde agir, individual ou coletivamente,na busca de soluções para os proble-mas ambientais, presentes e futuros.”

Isso significa que os objetivos da edu-cação ambiental estão diretamente rela-cionados com mudanças de valores e de ati-tudes, as quais necessariamente devem pas-sar por reflexões a respeito da visão do serhumano sobre si mesmo, sobre seu ambi-ente e as relações entre o ambiente humanoconstruído e o ambiente natural.

Áreas naturais protegidas são locaisideais para implantação de progra-mas educativos, uma vez que cons-tituem fonte inesgotável de meiosque facilitam o re-ligar do homem aseu ambiente.

A t ividades de Educação A m b i e n t a l ,como parte dos programas de ecoturismo,d e vem levar os visitantes a uma compreen-são e apreciação mais profunda dos recursosn a t u rais e culturais das áreas visitadas, possi-bilitando comportamento mais consciente.

Porém, os ecoturistas buscam recreaçãosaudável, relaxamento, inspiração... e nãoleituras e ensinamentos. Para conciliar arecreação e a educação, vem sendo desen-volvida desde o final do século passado aarte e a técnica da interpretação ambiental.

1. A Interpretação Ambiental como Instrumento de Educação

A Interpretação Ambiental ou daNatureza é uma forma estimulante de

fazer com que as pessoas entendam o seuentorno ecológico. É bastante antiga e estáintimamente ligada à história dos ParquesNacionais norte-americanos. Alguns dessesParques, no final do século passado, jáestavam legalmente protegidos e contavamcom os chamados naturalistas, “pessoasconhecedoras dos valores naturais do lugare que acompanhavam grupos de excursio-nistas por trilhas e rotas, fazendo, com o seuentusiasmo, que o visitante vibrasse comsuas mensagens” (Morales, 1989).

I n t e r p retação Ambiental é umatradução da linguagem da naturezapara a linguagem comum dos visi-tantes, fazendo com que os ecoturis-tas sejam informados em vez de d i s t raídos, e educados, além dedivertidos.

As bases e a filosofia da interpretação sóf o ram estabelecidas em 1957 por um dra-maturgo e filósofo norte-americano, Fr e e m a nTilden, através dos seguintes princípios:

• A interpretação deve relacionar os obje-tos de divulgação ou interpretação coma personalidade ou experiência das pes-soas a quem se dirige.

• A informação, como tal, não é interpre-tação. A interpretação é uma forma decomunicação que vai além da infor-mação, tratando dos significados, inter-relações e questionamentos. Porém, todainterpretação inclui informação.

• A interpretação é uma arte que combinamuitas artes (sejam científicas, históricas,arquitetônicas) para explicar os temas,utilizando todos os sentidos para cons-truir conceitos e provocar reações noindivíduo.

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O que diferencia a interpretação da sim-ples comunicação de informações é justa-mente a forma como a comunicação é feita.Baseada em técnicas especiais de comuni-cação, a abordagem interpretativa provoca,cativa e estimula o visitante a observar obje-tivamente, pensar criticamente e agir cons-cientemente.

❒ A abordagem InterpretativaA abordagem ou linguagem interpretati-

va caracteriza-se por possuir quatro carac-terísticas essenciais.

a) Amena (a abordagem entretém)

Entreter é manter a atenção da audiência.Consegue-se isso de variadas formas, con-forme o meio utilizado. Uma exposiçãoamena tem qualidades diferentes de umap a l e s t ra também amena. De um modo gera lutiliza-se a informalidade, tom de voz amis-toso, movimento, cores vivas, humor, música,i n t e ração. Mesmo não sendo um comuni-cador talentoso, o intérprete pode ser ameno.

b) Pertinente (a abordagem tem significado e é pessoal)

Para ser significativa, uma informaçãotem que relacionar-se com algo que já éconhecido, tem que fazer parte de um con-texto já formado. Quando ouvimos ouvemos algo que não nos recorda nada, nãoencontramos sentido para essa informação.Para que informações novas façam sentido,ou tenham significado, utilizam-se exem-plos, comparações, analogias, as quaisservem de “ponte” com um conteúdo jáconhecido ou com o cotidiano.

Uma informação é pessoal quando serelaciona com algo que é do interesse doindivíduo. As coisas mais interessantes sãosempre as que envolvem o próprio indiví-duo, sua família, sua saúde, seu bem-estar,sua qualidade de vida, seus valores, suascrenças, seus princípios e suas convicções.

Para que uma informação se torne perti-nente, é preciso tanto que tenha significadoquanto que seja interessante. Porém, umainformação pode ser significativa e não ser

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

• O objetivo fundamental da interpretaçãonão é a instrução, mas a provocação;deve despertar curiosidade, ressaltandoo que parece, a princípio, insignificante.

• A interpretação deve tratar do todo emconjunto e não de partes isoladas; os

temas devem estar interrelacionados.• A interpretação deve ser dirigida para

públicos e interesses determinados: gru-pos de escolas, adultos em férias etc.

• A linguagem interpretativa adota os com-ponentes fundamentais da comunicação:

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EMISSOR RECEPTOR

MEIO

MENSAGEM

RESPOSTA

1 QUADRO 1

COMPONENTES DA COMUNICAÇÃO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

interessante. Por isso é difícil, por exemplo,manter a atenção em um filme já visto ounum livro já lido. Uma boa técnica paratornar a informação mais pessoal é referen-ciá-la a situações já vividas pela audiência,como por exemplo:

2 Pense na última vez que você...2 Alguma vez você já...2 Em um momento ou outro a maioria

de vocês já...2 Nós, que entendemos o valor de

uma floresta, sabemos que...2 Os pais que se preocupam com...

c) Organizada (a abordagem não requer muito trabalho da audiência)

A informação organizada não requermuito esforço da audiência, é fácil de seracompanhada. É mais fácil seguir uma infor-mação se ela estiver organizada em catego-rias lógicas, como títulos e subtítulos, início,meio e fim.

Resultados de pesquisas demonstra mque as pessoas têm capacidade para reter,em média, somente sete idéias novas decada vez. Esse número pode variar entrecinco e nove, o que significa que alguns sópodem manejar até cinco idéias nova s .Portanto, as palestras, exposições, audiovi-suais etc., serão mais interessantes einteligíveis se forem organizadas em nomáximo cinco idéias principais. Também éimportante que a audiência possa facil-mente distinguir os pontos principais e asinformações secundárias.

Essas regras se aplicam a todos os tiposde apresentações, sejam faladas ou escritas,auditivas ou visuais.

d) Temática (a abordagem tem uma mensagem a ser comunicada)

O tema é a idéia principal ou chave dequalquer informação. Quando uma apre-sentação tem um tema ela contém umamensagem. Ao final de uma boa atividadede interpretação o público deve poder resu-

mi-la em uma só oração. Esta oração será o tema ou a mensagem que se pretendetransmitir.

Muitas vezes, tópicos e temas são confun-didos e isto dificulta tanto a elaboração dosconteúdos como a sua compreensão pelopúblico. Um tópico é o assunto que se quert ra t a r, como por exemplo: “A contaminaçãoda água.” O tema será a mensagem que sedeseja passar, também chamada de moral dahistória, frase ch ave, idéia principal.

A mensagem pode ser simples como: “Acontaminação da água está se transforman-do em um problema sério.” Ou mais com-plexa, como: “A contaminação da águaameaça tanto a nossa saúde como nossaeconomia e há algo que todos podemosfazer com relação a isso”.

Cada um desses temas trata de fatos econceitos próprios e terão diferentes abor-dagens, mas os dois partiram de um mesmotópico.

Muitas interpretações não alcançam osresultados esperados, porque são elabo-radas e organizadas no nível do tópico enão do tema. Os tópicos, por serem muitoamplos, não estabelecem um enfoque, umadireção. As apresentações baseadas emtópicos tendem a dizer tudo e nada aomesmo tempo. No final ficam as perguntas“E daí? O que importa?”.

O tema deve ser pensado em forma deuma oração completa, que expresse a men-sagem que se deseja que o público entenda.As pessoas normalmente expressam-se deforma temática quando falam ao telefone oucontam uma piada.

O tema funciona como um fio con-dutor, tanto para o planejador comopara o público.

Para o planejador, um tema bem definidopor si só já indica as diferentes classes deinformações necessárias, facilitando a inves-tigação e busca destas informações (cincoidéias principais e informações de apoio).

Pa ra o público, uma apresentaçãotemática é mais fácil de ser compreendida,

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II. CAIXA DE FERRAMENTAS

Considerando que este capítulo apresen-ta orientações tanto para o desenvolvimentoe realização de programas de interpretaçãoambiental em geral, como também para odesenvolvimento da interpretação ambien-tal em trilhas, esta seção do capítulo estáorganizada da seguinte forma:

1. Como elaborar Programas Interpretativos para o Ecoturismo:

❒ Planejamento.❒ Implementação.❒ Avaliação.

2. Trilhas interpretativas:❒ Tipos de Trilhas Interpretativas.❒ Como preparar a interpretação de

uma trilha guiada.❒ Como preparar a interpretação de

uma trilha autoguiada.❒ Modelos que se complementam.

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

principalmente quando o tema e as cincoidéias principais são explicitados desde oprincípio. Isso confere um propósito, umsentido para a apresentação, facilitando a

organização das idéias.Temas interessantes e motiva d o r e s

devem estimular a observação, a ação e areflexão.

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1) Pense nos tópicos gerais relacionados aos seus objetivos:

Alguns exemplos de tópicos gerais podem ser: Aves, Florestas, Rios, Erosão. Assim, o tópico principal pode ser:

“Quero que minha apresentação (palestra, exposição etc.) seja sobre aves”.

2) Formule seu tópico em termos mais específicos:

Alguns exemplos de tópicos específicos podem ser: Adaptações das aves para o vôo; Asaves da floresta; A importância dos falcões e das águias. Por exemplo:

“Mais especificamente, eu quero falar sobre as espécies de aves que estão desaparecendo”.

3) Agora expresse seu tema, completando a seguinte oração: “Depois da minha apre -sentação, quero que minha audiência compreenda que...”:

Para o tópico "aves" alguns exemplos de temas podem ser: As aves formam um grupomuito interessante de animais devido às suas adaptações para o voar; As aves exercemimportante papel na dispersão das sementes florestais; As águias e os falcões ajudam acontrolar os roedores. Desse modo a formulação do tema pode ficar assim:

“Depois da minha apresentação, quero que minha audiência compreenda que ‘as avesnativas de nossa região estão desaparecendo rapidamente’.”

(Adaptado de Ham, 1992: p.37-40).

COMO IDENTIFICAR E FORMULAR UM TEMA

EXEMPLO:

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QUANTO?

POR QUÊ e PARA QUÊ?

O QUÊ e PARA QUEM?

COMO? QUEM?QUANDO? e ONDE?

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1. Como elaborar Programas Interpretativos para o Ecoturismo

Todo programa educativo / interpretativodeve passar por 3 fases distintas:❒ Planejamento.❒ Implementação.❒ Avaliação.

❒ O PLANEJAMENTO

O planejamento é um processo quedefine objetivos, examina diversas opções ealternativas e considera as conseqüênciasdas propostas.

Para que os Programas (ou projetos) deEducação e Interpretação Ambiental sejam

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eficazes, recomenda-se que o planejamentoseja fundamentado em sete passos básicosna sua elaboração:

1) Identificação das questões específicas aserem tratadas em cada local (Por quê?).

2) Identificação do público-alvo e suasnecessidades (Para quem?).

3) Identificação dos objetivos ou resultadosesperados para cada público-alvo (Paraquê?).

4) Elaboração das mensagens a serem trans-mitidas para o público-alvo (O quê?).

5) Seleção das atividades, recursos, meios emétodos a serem utilizados na transmis-são de cada mensagem (Como? Quem?Quando? Onde?).

6) Decisão sobre a possível integração dealgumas atividades e prazos de execução(Quando?).

7) Avaliação dos recursos humanos e finan-

ceiros necessários e distribuição deresponsabilidades (Quem? Quanto?).

É bom lembrar que o planejamento éuma atividade multi e interdisciplinar.Pa ra responder satisfatoriamente a todasas questões e, como conseqüência, obterum bom plano educativo e interpretativo ,é necessário contar com uma equipe det rabalho integrada e, sempre quenecessário, buscar ajuda (apoio, infor-mações, críticas) em outras instituições –ONGs, associações, universidades ousindicatos. É importante que na equipehaja a participação de representantes daárea natural e/ou cultural protegida, umavez que os principais atra t ivos ecoturísti-cos a serem interpretados se encontra mnesses locais.

A montagem de uma equipe especializa-da multidisciplinar pode representar um

QUANTO?

POR QUÊ e PARA QUÊ?

O QUÊ e PARA QUEM?

COMO? QUEM?QUANDO? e ONDE?

O PLANEJAMENTO RESPONDEÀS SEGUINTES PERGUNTAS:

1 QUADRO 2

PASSOS DO PLANEJAMENTO

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

grande investimento de recursos financeiros.As parcerias institucionais e a busca de vo-luntários são muitas vezes fundamentaispara viabilizar a montagem de uma boaequipe. Também é possível valer-se de umaequipe “virtual”, ou seja, que pode ser con-sultada à distância. Neste caso, o principalcuidado de quem organiza a equipe é pro-mover a real interdisciplinaridade do pro-grama. Isto é, não basta ter informações dediferentes disciplinas, é preciso que elassejam apresentadas de forma integrada. Assalas de conversa (chats de bate-papo) dainternet ou as listas de discussão em grupospor e-mails (mensagens eletrônicas), ofere-cem uma real possibilidade de trabalharintegradamente à distância com uma equipemultidisciplinar. Porém, para que isto sejapossível, é indispensável que os integrantesda equipe “virtual” possuam algum conhe-cimento prévio sobre a área.

Passo 1 – Identificando as questões a serem tratadas (Por quê?)

De modo geral, numa região com atra-tivos para o ecoturismo, as questões a seremtratadas em programas educativos são muitoamplas e variáveis, mas devem sempre bus-car a conexão das pessoas com o lugar.Podem estar mais diretamente voltadas paraos visitantes, relacionando-se principal-mente com o que se pretende (oportu-nidades) que estes usufruam, apreciem,conheçam e respeitem, ou direcionadospara as comunidades visitadas, as quais pre-cisam estar integradas no processo, inclu-sive nos esforços de conservação ambientale cultural local.

Nem todas as oportunidades e questõesambientais e culturais poderão ser tratadasem programas educativos. Prioridades terãoque ser estabelecidas de acordo com asnecessidades do público e do ambiente,buscando-se a identificação de questões-chave. Algumas perguntas podem auxiliarnesse processo:a) Por que a área está sendo especial-

mente protegida?b) Quais os seus principais atrativos?

c) O que seria mais importante que opúblico soubesse ou conhecesse?

d) Quais atividades podem ser reali-zadas pelo público durante a visita?

e) O que faria as pessoas sentirem-semais envolvidas e conectadas?

f) Quais os principais obstáculos àconservação e proteção dos atra-tivos?

g) Quais os principais problemasambientais da região?

h) Quais as causas desses problemas?i) Existem soluções técnicas viáveis?j) Quais os comportamentos e atitudes

impactantes por parte dos visitantes? k) E por parte dos visitados?

Algumas vezes as oportunidades

educativas e interpretativas surgem

a partir da identificação de problemas

ambientais locais. É bom lembrar que

as pessoas podem causar problemas

por ações ou por omissões.

A escolha das questões-chave determi-nará as demais etapas do planejamento, ouseja: o público, o conteúdo, os métodos e oscritérios de avaliação. Nessa fase, os plane-jadores devem reunir e compilar todas asinformações já existentes sobre a região:inventários de atrativos e de recursos, levan-tamentos de flora, fauna, solos, hidrografia eoutros, levantamentos sócio-econômicos,cadastros, avaliações e cara c t e r i z a ç õ e s ,publicações científicas, teses, planos demanejo, plano diretor, lei orgânica etc..

Sempre que o atrativo ecoturístico estiverem uma área protegida, como um parque,um refúgio, uma APA ou uma RPPN, é fun-damental saber quais são os objetivos deconservação da área e quais as suas pro-postas de manejo para uso sustentável. Se aárea não tiver um plano de manejo, os obje-tivos que constam no instrumento legal desua criação (lei, decreto, portaria), serão osseus objetivos de conservação.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Passo 2 – Conhecendo o público(Para quem?)

Após a definição das questões-chave aserem tratadas, deverão ser identificadas aspessoas ou grupos para quem o programaserá desenvolvido, que constituirão o públi-co-alvo do programa.

Quanto mais o público for conhecido,maior a possibilidade de ser desenvolvidoum programa pertinente e envolvente. Esseconhecimento prévio facilita todas asdemais etapas do planejamento, pois cadapúblico terá características próprias e neces-sidades e interesses especiais. Um grupo deidosos, por exemplo, possui mais tempolivre, geralmente aprecia a oportunidade deinteração e troca de experiências, mas podeter menos mobilidade, audição e visão,necessitando de programas especiais.

Pode-se caracterizar o público quanto aoseu nível cultural, idade, procedência, moti-vação, atividades que deseja realizar na áreae tempo disponível. Pa ra identificar quais asc a racterísticas do público que visita umaárea são utilizados registros já existentes,o b s e r vações, entrevistas e questionários (ve rcapítulo L e vantamento do Potencial Eco -turístico – Inve n t á r i o) .

Públicos específicos podem ser atraídospor meio de convites, eventos direcionadose divulgação de programas especiais.

Exemplos dos tipos de público a que osp r o g ramas educativos e interpretativo spodem destinar-se são:

a) Visitantes em geral, crianças, idosos,estrangeiros;

b) Montanhistas e praticantes deesportes radicais;

c) Professores de diferentes níveis;d) Estudantes de vários níveis e disci-

plinas;e) Extensionistas e outros técnicos da

região;f) Cientistas e pesquisadores;g) Comunicadores (rádios, TVs,

jornais, ...);h) Administradores e funcionários da

área protegida;

i) Comunidades locais (urbanas erurais);

j) Líderes locais, associações etc...

Quando se está planejando para o eco-turismo, há uma tendência em eleger comopúblico-alvo apenas os visitantes. Porém, osprogramas educativos que visam o desen-volvimento do ecoturismo de base comu-nitária devem tentar atingir a toda a comu-nidade envolvida, incluindo os vários tiposde visitantes, os vários grupos de visitados,os funcionários e administradores das áreasnaturais/culturais atrativas e as comunidadesdo seu entorno.

É evidente que um único programa nãopoderá atender às necessidades desses dife-rentes públicos, pois cada um tem suaspróprias características e peculiaridades.Mas, em alguns casos, bastam pequenasadaptações para que um mesmo programapossa ser dirigido aos vários tipos de públi-cos, tornando-o mais eficaz.

Passo 3 – Estabelecendo objetivos (Para quê?)

Nesta etapa é preciso estabelecer comclareza quais são os resultados espera d o sno final do programa educativo e interpre-t a t ivo. Pa ra cada público esperam-se deter-minados resultados ou objetivos que deve mser estabelecidos desde o primeiro momen-to, logo após a definição dos públicos.

Para que as pessoas sintam-se conec-tadas com o ambiente, percebendo as con-seqüências de suas atitudes (ou falta de ati-tudes) sobre este ambiente, os objetivos doprograma educativo poderão ser o aporte den ovos conhecimentos, a sensibilização,motivação, desenvolvimento de habilidadese conscientização. Os objetivos devem rep-resentar alternativas viáveis (dentro do con-texto específico de uma área) a serem ado-tadas para que os resultados esperados doprograma educativo e interpretativo sejamalcançados.

Objetivos verificáveis facilitam o plano,organizam as ações e produzem resultadostangíveis.

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

Passo 4 – Escolhendo as mensagens (O quê?)

A escolha das mensagens a serem trans-mitidas reveste-se de grande importância. Éaqui que o Programa começa a ter conteú-do. Conhecendo o público-alvo e os resul-tados esperados decide-se o que será incluí-do ou excluído do Programa. Ou seja, quaismensagens farão com que os resultadosesperados sejam mais facilmente alcança-dos. Torna-se necessário um profundo co-nhecimento da área a ser trabalhada e seusrecursos.

A pesquisa é fundamental nesta fase doplanejamento e nada pode substituí-la, pormais difícil e cansativa que possa parecer.Pode-se pesquisar em bibliotecas, arquivos,instituições públicas, museus, jornais anti-

gos e atuais, revistas especializadas, ONGs,pesquisadores ou especialistas, moradoresda região, entre outros.

Também é preciso ouvir o público-alvoantes de decidir sobre a escolha das men-sagens. Saber o que as pessoas pensam, noque acreditam e o que valorizam pode sersurpreendente e decisivo na escolha dasmensagens (temas) e conteúdos mais ade-quados.

Uma boa forma de conhecer o que pen-sam as pessoas sobre determinados assuntosé a aplicação de questionários ou entrevis-tas, além da convivência.

De um modo geral, o conteúdo deveresponder à pergunta “o que o público-alvoprecisa saber, compreender e acreditar paramudar seu comportamento?”

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Um problema-chave identificado em determinada região foi a caça e captura de espéciesameaçadas de extinção e protegidas no parque. O público-alvo, diretamente envolvidocom o problema (caçadores), foi identificado na comunidade do entorno. Poderiam tam-bém ser envolvidos no programa educativo públicos multiplicadores e formadores deopinião.

Os objetivos formulados foram:1. Conscientizar o público sobre espécies ameaçadas.2. Possibilitar à comunidade do entorno do parque amplo reconhecimento

das espécies da fauna regional ameaçadas e protegidas, bem como conhecimento da legislação protetora e das penalidades previstas.

O objetivo 1 é de difícil verificação. O que se entende por “conscientizar” e como pode-ria ser medido? Espera-se só conscientizar ou melhorar a conservação das espéciesameaçadas com mudanças de comportamento? Quem é o público? As espéciesameaçadas são da flora e da fauna?O objetivo 2 é mais específico e pode ser facilmente verificável. O reconhecimento podeser medido antes e depois do programa. O público foi definido, podendo ser nomeado equalificado. "Espécies da fauna regional ameaçadas e protegidas" estabelece o foco etorna o objetivo mais prático e viável. A informação sobre a legislação e penalidades éadicional e visa tornar a proteção mais efetiva.

(Adaptado de Berkmüller, 1984: p.120)

A FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS PARA PROGRAMAS EDUCATIVOS E INTERPRETATIVOS

EXEMPLO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

A escolha e o desenvolvimento do temapodem ser facilitados pelo uso de algumastécnicas:a) Tempestade de idéias.b) Tempestade de metáforas e analogias.c) Tempestade de comparações.

Essas técnicas auxiliam a remover a”blindagem cultural” que costuma envolveros objetos do dia-a-dia, criando novas pos-sibilidades na forma de vê-los e de tratá-los.Para que sejam efetivas, é necessário quetodas as idéias formuladas sejam registradas,sem julgamento prévio. Só depois é que seestabelecerão relações, fazendo-se entãouma seleção.

Mesmo assim, muitas idéias poderãoficar em ebulição até serem destiladas aque-las que serão pesquisadas. Com base nessasinformações, as idéias vão sendo elaboradase o desenvolvimento do tema vai sendodelineado e ajustado.

Passo 5 – Selecionando estratégias (Como? Quem? Quando? Onde?)

Nesta etapa escolhem-se os meios, osmétodos e as técnicas mais adequados paraa transmissão das mensagens educativas e

i n t e r p r e t a t ivas: a escolha das estra t é g i a sinterpretativas. A estratégia será a forma dechegar até o público-alvo e eficazmentecomunicar a mensagem do programa.

7

Se belas paisagens e espécies raras de pássaros constituem-se no principal atrativoecoturístico de uma região e estão desaparecendo em conseqüência do desmatamentopraticado por moradores locais pelo sistema de corte e queima, essa é a questão-chavea ser tratada, tendo como principal público-alvo a população local. Para que o objetivo – diminuir ou eliminar o desmatamento – seja alcançado, a mensagem precisa ser assimilada por esse público-alvo, envolvendo questões do seu interesse.Nesse caso, seria mais fácil produzir a mudança de comportamento esperada utilizando uma mensagem que relacionasse, por exemplo, a inundação de áreas residenciais, como conseqüência do desmatamento da bacia hidrográfica. O desaparecimento de espécies raras e a perda de belas paisagens podem ser menosimportantes para este público e não deveriam ser o foco da mensagem.

(Adaptado de Wood e Wood, 1990: p. 18-19)

ESCOLHENDO AS MENSAGENS DO PROGRAMA EDUCATIVO E INTERPRETATIVO

EXEMPLO:

PERGUNTAS QUE AUXILIAM

A DEFINIÇÃO DE UM TEMA

4 O tema está formulado como uma

oração completa?

4 O tema conta uma história importante

sobre o local,podendo enriquecer

a experiência do visitante? Ele tem

significância ecológica ou histórico-

cultural?

4Este é um tema com significado

(pertinente) para o público ao qual

se destina?

4Este é um tema de meu interesse? Tenhovontade de pesquisá-lo? (Entusiasmo écontagioso!)

4No final da atividade, o público poderá,com facilidade, identificar o temadesenvolvido?

(Adaptado de Regnier, Gross e Zimmerman, 1994: p.12)

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

A seleção dos meios, métodos e técni-cas, local e momento apropriados será feitade acordo com os tipos de mensagens(temas) que se quer transmitir e os tipos depúblico que se deseja atingir.

Respondendo à pergunta “onde e quan-do interpretar”, pensa-se logo nos locais ouáreas com os principais atrativos ecoturísti-cos. São locais que oferecem excelentesoportunidades para observar intera ç õ e secológicas e culturais, e devem ser utiliza-dos pelo programa. Não se pode esquecer,porém, que a interpretação, como instru-mento educativo, pode ser utilizada eminúmeros ambientes (auditórios, salas deaula, hotéis, pousadas, centros de infor-mação, ônibus e outros) e para todos ostipos de público, atendendo às variadasnecessidades e oportunidades.

Quando se decide “como fazer a inter-pretação”, muitos aspectos devem ser con-siderados. Por parte do público, é impor-tante considerar suas limitações de tempo,de interesses e motivações.

Há também que se considerar diferentescapacidades: há pessoas que captam melhoras informações pela visualização, outraspela audição, algumas precisam ”tocar”;mas de um modo geral, captam e retêmmais a informação quanto mais puderemutilizar seus sentidos.

Independente de suas cara c t e r í s t i c a sespecíficas, as pessoas demonstram gostarmais, em ordem de importância, de:• Envolvimento sensorial.• Humor.• Novas informações inteligíveis.• Intérprete entusiasmado.

E desgostam de:• Leituras.• Intérprete que fala muito.• Programas técnicos.• Apresentações longas e sem

entusiasmo.

Quanto aos meios interpretativos, nãoexistem fórmulas ou receitas para a suaescolha, nem para a sua utilização. As infor-

mações disponíveis foram aprendidas com aexperiência prática em determinados locaise circunstâncias.

Resta ainda um largo campo para o usocombinado da técnica e da arte. O impor-tante é encontrar a forma de comunicaçãomais clara, objetiva e adequada ao públicoque já se escolheu.

É sempre bom que se faça um levanta-mento prévio do que já existe na região emtermos de estruturas, equipamentos, materi-ais, além de experiências anteriores.

Na escolha, devem também ser consid-erados os fatores limitantes como espaço,tempo de utilização e custos. Mas o maisimportante é aliar a técnica com a imagi-nação, criando novas alternativas de utiliza-ção para as potencialidades do local que, aomesmo tempo, atendam às necessidades dopúblico, aumentando a sua satisfação.

a) Meios lnterpretativos comumente utilizados

Os meios interpretativos podem ser clas-sificados em personalizados e não personal-izados. Os meios personalizados propor-cionam uma interação entre o público euma pessoa que é guia ou intérprete. Sãovantagens dos meios personalizados: 2 Possibilitam comunicação efetiva

entre visitante e intérprete.2 A presença e atuação do intérprete

despertam maior interesse.2 A mensagem pode ser adaptada

para diferentes públicos.

São desvantagens:2 Requerem o treinamento e a

presença do intérprete.2 Sua efetividade depende

da habilidade do intérprete.2 Atendem pequenos grupos.d) Geralmente têm de médio

a alto custo, a longo prazo.

Os meios não personalizados são os quenão utilizam pessoas diretamente, apenasobjetos ou aparatos.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

7

Os exemplos mais comuns de meios interpretativos personalizados são:

❒ Trilhas Guiadas – passeios conduzidos por um guia ou intérprete, em caminhospreestabelecidos.

❒ Audiovisuais com Atendimento Pessoal – filmes, projeções, amplificação de sonsem que o intérprete está presente para explicar e responder perguntas, ou é opalestrante.

❒ Palestras ou Conferências – em diversos estilos, onde o especialista traduz seusconhecimentos em linguagem compreensível para o público.

❒ Animação Passiva – representação em forma teatral, sem contar com a participaçãodireta do público: pode passar uma mensagem complexa, criando um clima derealismo, que torna a visita memorável e facilita a apreciação e a conscientização;os animadores precisam ser bons para conquistar o interesse do público; reconstruircenários, roupas e objetos pode ser caro.

❒ Animação Ativa – simulações, jogos, representações teatrais, utilização de instru-mentos em que o público participa utilizando conhecimentos prévios ou adquiri-dos durante a visita à área: aprender fazendo é mais efetivo, é provocativo, estimu-la a exploração de várias facetas individuais, permite que o intérprete esclareçaconceitos; o êxito depende, em grande parte, da reação das pessoas e requer tempoe pessoal treinado, sendo aplicável somente a grupos reduzidos.

Os exemplos mais comuns de meios interpretativos não personalizados são:

❒ Trilhas Autoguiadas – caminhos preestabelecidos onde se utilizam folhetos, placas,painéis e gravações sonoras.

❒ Audiovisuais Automáticos – podem fornecer informação de alta qualidade, criamuma atmosfera especial, com aumento da receptividade; são geralmente caros,requerem fonte de energia e controle permanente.

❒ Exposições – objetos ou coleções que ilustram ou explicam um tema, tanto em inte-riores, em centro de visitantes, como em exteriores.

MEIOS INTERPRETATIVOS PERSONALIZADOS

MEIOS INTERPRETATIVOS NÃO PERSONALIZADOS

EXEMPLO:

EXEMPLO:

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

São vantagens dos meios não persona-lizados:2 São auto-explicativos.2 Estão sempre disponíveis.2 Garantem a transmissão da mensagem

planejada.2 Atendem grande número de visitantes.2 Constituem forma rápida de educação.

São desvantagens:2 Não possibilitam o esclarecimento

de dúvidas.2 A mensagem é dirigida para um

público médio.2 É difícil manter o interesse do visitante.2 Estão sujeitos a vandalismo.

Uma análise sobre os meios interpreta-t ivos mais utilizados nos Parques daAmérica Latina (Morales, 1992) apresentouos seguintes resultados: 4 Meios mais utilizados – Centros de inter-

pretação (ou de visitantes), palestra s ,publicações, painéis, exposições, mi-rantes, excursões com guias, trilhas auto-guiadas e audiovisuais.

4 Meios menos utilizados – Jogos ecológi-cos, saídas noturnas e museus.

4 Meios mais eficazes – Os personalizados,como as trilhas guiadas e as palestra s .

4 Meios de maior alcance – Os não persona-lizados, como as trilhas autoguiadas e oscentros de visitantes ou de informações.

4 Meios que precisam ser mais desen-volvidos – Trilhas autoguiadas, atividadeslúdicas (conhecimentos básicos de psi-cologia infantil), arquitetura em harmo-nia com o meio natural, técnicas decomunicação inovadoras, como teatro erepresentações, a participação por meiodo uso dos sentidos, o planejamento e aregularização do ecoturismo, e asexposições temporárias.

Passo 6 – Integrando algumas atividades, estabelecendo prazos (Quando?)

Nesta etapa do planejamento o quadrogeral do plano já está montado e alguns

ajustes provavelmente se farão necessários.Prevendo, por exemplo, o desenvolvimentodas várias atividades semelhantes parapúblicos diferentes, pode-se pensar em jun-tar esses públicos, integrando as atividades,aproveitando tempo e pessoal. Pode-se tam-bém decidir pela integração de atividades aoutros programas já em andamento.

Essas decisões, porém, precisam ser bemanalisadas para que não se perca qualidade,dificultando os resultados. Algumas ativi-dades, principalmente aquelas dirigidas aum público muito específico, ou que tratamde questões muito localizadas, requeremum desenvolvimento especial e devem sermantidas separadas das demais.

Depois dos ajustes feitos, torna-se entãop o s s í vel estabelecer um cronograma deatividades que conterá uma previsão para osprazos de desenvolvimento do programa,estabelecendo o início e o fim de cada umadas atividades. Se o programa estender-sepor mais de um ano, é aconselhável montarum cronograma para cada ano.

A elaboração desse cronograma, além defacilitar a organização das tarefas, facilitaráo planejamento do passo seguinte, que tratada previsão dos recursos necessários, e seráfundamental para a posterior avaliação.

Passo 7 – Prevendo as necessidades, distribuindo responsabilidades(Quem? Quanto?)

A previsão dos recursos necessários deveser feita de forma bem realista. Um planeja-mento mal feito, nesse sentido, leva aimprovisações que colocarão em risco osucesso de todo o programa.

Dois fatores poderão ser limitantes e pre-cisam ser seriamente considerados: osrecursos humanos e os recursos financeiros.

As atividades educativas de interpre-tação requerem pessoal treinado e capaz,além da implantação dos meios interpreta-tivos. Um bom educador/intérprete precisaser inteligente, ter a capacidade e a vontadede relacionar-se com o público e requercapacitação especializada. Na execução deum programa desse tipo, normalmente são

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

necessárias várias pessoas (recursoshumanos), sendo importante que se façauma real previsão, deixando bem claroquem fará o quê, organizando as ações e adivisão de responsabilidades.

a) Como fazer previsões realistas?Pode-se iniciar imaginando cada uma

das atividades como se elas já estivessemem desenvolvimento, prevendo em detalhes(e anotando) tudo o que envolvem: pessoal( i n c l u s ive de apoio), transporte, alimen-tação, hospedagem, materiais de consumo epermanente, serviços, estruturas locais,construções etc.

Após montar essa lista para cada ativi-dade, monta-se uma única lista final na qualtodos os itens semelhantes devem ser agru-pados, e cada item quantificado e orçado.Essa listagem final pode ser estruturada emforma de um cronograma financeiro, combase no cronograma de atividades. Muitasvezes o orçamento final extrapola todas asprevisões e são necessários ajustes.

b) Como enfrentar as limitações financeiras e de pessoal?

Diante da escassez de recursos, tantohumanos como financeiros, é prov á vel que op r o g rama tenha que ser multi-institucional.Sendo assim, é importante que se esta-beleçam claramente as responsabilidades decada um dos parceiros. Algumas agências,instituições e ONGs poderão participar sócom apoio de pessoal, outras com materiale/ou recursos financeiros, outras com olocal. Todos os parceiros devem ser bem-vin-dos, desde que assumam um real compro-metimento na viabilização da sua parte.

Pa ra suprir a necessidade de pessoal seriainteressante vincular o programa de interpre-tação a um programa de capacitação (ve rcapítulo P r o g rama de CapacitaçãoC o m u n i t á r i a). Atualmente, existem muitaspossibilidades de financiamento para umbom programa de educação ambiental,como o Fundo Nacional do Meio A m b i e n t e .(FNMA) Sempre é importante que sebusquem alternativas que tornem o progra-

ma total ou parcialmente auto-sustentáve l ,tanto em termos financeiros, como organiza-cionais e opera c i o n a i s .

❒ IMPLEMENTANDO O PROGRAMA

Com o planejamento concluído e osrecursos assegurados, chega o momento daexecução do programa. A implementação éo planejamento posto em prática, é omomento em que as idéias saem do papel epassam a ser testadas na prática. Uma dascausas de problemas nessa fase é que geral-mente a equipe que planeja não é a mesmaque implanta.

Nesse processo é necessário muita sensi-bilidade por parte da equipe, para que oserros e os acertos sejam percebidos e osajustes possam ser adotados. Também éimportante perceber e saber aproveitar asnovas oportunidades que surgem no proces-so. Uma boa estratégia é manter um registrode tudo o que acontece. Esse registro facili-tará a análise, a reflexão, a avaliação e atomada de decisões.

❒ AVALIANDO OS RESULTADOS ALCANÇADOS

Esta última fase do programa interpretati-vo é, na realidade, um processo contínuo,que tem seu início já na fase do planeja-mento. É por meio da avaliação que o planopoderá ser ajustado – reflexão na ação.

O processo de avaliação é um instru-mento de controle que vai demonstrar seo tempo, o pessoal e os recursos estãosendo utilizados de forma produtiva, se oso b j e t ivos estão sendo alcançados, e tam-bém se o educador escuta e aprende como público.

Um programa educativo e interpretativo,mesmo bem elaborado, não terá valor senão alcançar os resultados esperados. Aavaliação possibilitará ainda conhecer equantificar os resultados alcançados, previs-tos ou não no planejamento.

O modelo de avaliação denominadoPlanejamento-Processo-Produto (PPP) temsido aplicado com sucesso em programas de

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• Necessidades• Participação

da comunidade• Metas e objetivos• Avaliação dos recursos

(humanos e materiais)• Suporte institucional• Orçamento

Decisões:Estruturação do programa

e do “design”

Decisões:Mudanças

e aperfeiçoamentos

Decisões:Mudanças

e melhorias futuras

• Métodos• “Design” e escolha

das atividades• Estratégias

(antes da visita; no local;após visita)

• Treinamento de pessoal• Administração

• Metas e objetivos atingidos

• Resultados esperados• Resultados não

esperados• Uso dos dados para

modificar ou reforçar o programa

• Divulgação dos resultados

RETROALIMENTAÇÃO

Os produtos ou resultados alcançados, deum modo geral, estarão relacionados com: a) A conservação da área visitada.b) O nível dos impactos ambientais e/ou

culturais e das mudanças de comporta-mento dos visitantes, visitados e comu-nidades do entorno.

c) O grau de satisfação dos visitantes.d) A qualidade de vida dos visitados.

As técnicas de avaliação mais comu-mente utilizadas têm sido:a) Observações sistemáticas.

b) Questionários abertos ou fechados, compré e pós-testes.

c) Entrevistas.d) Depoimentos.e) Registros fotográficos.f) Filmagens.g) Gravações.h) Análises de impactos.

Testes piloto, especialmente planejadose monitorados, podem medir e demonstrar aeficiência do Programa.

275

Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

educação ambiental. Esse modelo envolvetrês etapas integradas, nas quais a avaliaçãoé um processo permanente.

O Quadro 3 dá uma idéia desse proces-so de avaliação, exemplificando o que pode

ser avaliado e os tipos de decisões possíveisem cada uma das etapas. Quando os obje-t ivos do programa forem claros e ve r i-ficáveis, avaliar o seu produto fica bem maisfácil.

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1 QUADRO 3

MODELO DE AVALIAÇÃO (Pádua e Jacobson, 1993)

PLANEJAMENTO PROCESSO PRODUTO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

PLANEJAMENTO❒ Tem metas claras.❒ Apresenta objetivos mensuráveis e realistas.❒ Adota abordagem interdisciplinar.❒ Identifica os públicos-alvo e os envolve no processo.❒ Avalia as características sócio-educativas e econômicas dos públicos.❒ Proporciona programas relevantes para a população local.❒ Desenvolve o necessário suporte comunitário, organizacional, governamental

e empresarial.❒ Possui um plano orçamentário.❒ Desenvolve um plano sustentável interno/organizacional.❒ Desenvolve estratégias para problemas potenciais e resolução de conflitos.

IMPLEMENTAÇÃO❒ Adota uma abordagem integrada.❒ Usa efetivamente as organizações e associações existentes.❒ Estimula a participação ativa e voluntária.❒ Envolve criativamente participantes relutantes.❒ É sensível à audiência.❒ Proporciona contato direto com o ambiente natural e/ou cultural.❒ Utiliza efetivamente ecossistemas/recursos/espécies chaves/sítios...❒ Seleciona meios educativos apropriados.❒ Utiliza eficientemente a mídia.❒ Focaliza valores econômicos e culturais.❒ Prevê incentivos para a conservação.❒ Mantém a qualidade do programa prazerosa e informal.❒ É flexível.

PRODUTO (AVALIAÇÃO)❒ Avalia continuamente os componentes do programa.❒ Utiliza mais de um método de avaliação.❒ Utiliza efetivamente a retroalimentação para modificação do programa e criação

de novos programas.❒ Liga o programa com outros componentes da conservação, por exemplo,

incentivos econômicos e culturais.❒ Transfere o programa para o controle e suporte local.❒ Desenvolve planos para a sustentabilidade a longo prazo.❒ Dissemina amplamente seus resultados.

(Jacobson, 1995)

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1 QUADRO 4

ELEMENTOS DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO/INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL QUE CONDUZEM AO SUCESSO

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

2. Trilhas Interpretativas

C aminhar, passear, escalar, excursionarlonge do atropelo, da aglomeração e do

tráfego de veículos é hoje em dia um dospassatempos favoritos de um grande númerode pessoas. Muitas destas atividades sãorealizadas em trilhas em meio natural, prin-cipalmente em áreas protegidas. Trilhas são,além de tradicional meio de deslocamento,caminhos através do espaço geográfico,histórico e cultural que, atualmente, vêmsendo utilizadas como meio de contato daspessoas com o ambiente. E as trilhas inter-p r e t a t ivas constituem-se num dos instru-mentos educativos mais facilmente utiliza-dos em programas de ecoturismo.

Diferentes estratégias estão sendo uti-lizadas para transformar a recreação em tri-lhas em oportunidades prazerosas de edu-cação, traduzindo para o visitante os fatosque estão além das aparências, tais comoleis naturais, interações, funcionamentos,história ou fatos que, mesmo aparentes, nãosão comumente percebidos. Têm o propósi-to de desenvo l ver nos usuários um novocampo de percepções, levando-os a desco-brir um mundo ainda não conhecido.Mesmo para visitantes já experientes emcaminhadas por trilhas em diversos am-bientes e ecossistemas, como os monta-nhistas, programas interpretativos criativo se, de fato, focados na realidade local, serãoa p r e c i a d o s .

Uma trilha interpretativa é um meio enão um fim. Deve ser planejada de acordocom os objetivos do programa interpretativoe as características e valores intrínsecos queo local oferece. O capítulo Manejo deTrilhas trata do planejamento, construção emanutenção de trilhas. A abordagem nestecapítulo é voltada para a interpretaçãoambiental de trilhas.

❒ TIPOS DE TRILHAS INTERPRETATIVAS

a) Trilhas guiadasSão trilhas que requerem a presença de

um intérprete treinado, que acompanha os

visitantes na caminhada, levando-os a obser-va r, sentir, experimentar, questionar e desco-brir os fatos relacionados ao tema estabele-cido. A sua eficiência é influenciada pelacapacidade do guia. Os temas podem va r i a rconforme interesses e objetivos dive r s o s .b) Trilhas autoguiadas

São trilhas com pontos de parada marca-dos onde o visitante, auxiliado por placas,painéis ou por folhetos contendo infor-mações em cada ponto, explora o percursosem o acompanhamento de um guia.2 Trilhas autoguiadas com placas

ou painéis interpretativosO tema é desenvolvido por meio de

mensagens (textos, imagens, grav u ra s )gravadas em placas ou painéis, colocadosem pontos estratégicos (pontos de interesse). 2 Trilhas autoguiadas com folhetos

interpretativosO tema é desenvolvido em um folheto

explicativo, contendo referência aos pontosde parada na trilha. Os folhetos podem con-ter mensagens mais detalhadas do que asplacas. Esse tipo de trilha comporta temasdiferentes a serem utilizados nos mesmospontos de parada, de acordo com o perfil einteresse do usuário/visitante.

❒ Como preparar a interpretação de uma trilha guiadaO planejamento de uma trilha guiada

começará sempre com o reconhecimento epesquisa da área a ser interpretada, seja emque ambiente for. Conhecer bem a área,percorrendo muitas vezes o caminho, facili-ta a escolha dos possíveis temas, preparapara as possíveis perguntas e possibilita omelhor aproveitamento de fatos novos.

Durante este reconhecimento é semprebom ir pensando tematicamente: “Quandoas pessoas terminarem a caminhada gostariaque soubessem que...”.

Com base no conhecimento da área e dopúblico e diante dos objetivos do programa,a planificação seguirá a regra 2-3-1(prepara-se primeiro o corpo da apresen-tação, depois a conclusão, e por último aintrodução), com cinco ou menos idéias

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

principais e uma abordagem interpretativa(amena, pertinente, organizada e temática).

As possibilidades de interpretação guia-da variam de acordo com o local, o públicoe os objetivos propostos. Por exemplo:a) Um biólogo pode conduzir um grupo emuma trilha no interior de uma floresta emostrar como as diferentes partes do ecos-sistema estão relacionadas.b) Um extensionista pode levar um grupode agricultores a um campo demonstrativo,mostrando como a conservação do soloaumenta a colheita.c) Um guia pode demonstrar aos visitantescomo funcionava uma antiga aldeia.

A interpretação guiada pode ocorrerainda em edifícios e instalações, centros devisitantes, museus, centros históricos, caver-nas, zoológicos, jardins botânicos, cemi-térios, lavouras, parcelas experimentais decultivo, estradas, rios, monumentos etc.

Mesmo com objetivos e conteúdos dife-rentes, todas essas caminhadas representamo mesmo tipo de desafio para quem asplaneja e guia: criar consciência, incorporarapreciação e/ou sugerir uma nova maneirade pensar ou encarar algo. A organização dacaminhada em etapas, com propósitosdefinidos (início, meio e fim), facilita a supe-ração do desafio.7

❒ Preparação para a saída:u Apresentação do guia e saudação aos participantes.u Informação sobre a duração e g rau de dificuldade da caminhada.u Informação e verificação sobre qualquer roupa ou equipamento necessários.u Recomendações sobre normas de conduta e de segurança.u No caso de trilhas extensas, abordagens sobre condicionamento físico e prática de

exercícios de aquecimento e alongamento muscular.u Busca de cordialidade e clima amistoso.

❒ Introdução (no local de saída ou próximo da primeira parada):u Introdução ao ambiente (ecossistema) visitado.u Orientação sobre o tópico e o tema da caminhada.u Orientação sobre a organização do tema nas paradas, dando idéia de unidade (uma

história em vários capítulos e não várias histórias).u Motivação para a participação.u Criação de expectativa e curiosidade.

❒ Corpo (ao longo das paradas):u Apresentação do tema em cada uma das paradas.u Transmissão de informações pertinentes ao tema, sem fugir das idéias principais;u Resposta às perguntas.u Transição de uma parada a outra sem cortes, mantendo a unidade e a expectativa.

❒ Conclusão (última parada):u Reforço da mensagem.u Relação entre o tema e as coisas vistas e discutidas ao longo do caminho.u Finalização, com agradecimentos do guia e da instituição pela participação.

1 QUADRO 5

PARTES DE UMA CAMINHADA GUIADAE SEUS PROPÓSITOS

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

2 O guia-intérprete e o sucesso das caminhadasA imagem e o comportamento do guia-

intérprete pode influir diretamente na respos-ta da audiência durante a atividade. De ummodo geral, os guias podem ser enquadra d o sem quatro tipos de personalidades:r O policial – Preocupa-se bem mais com

a proteção do ambiente local do quecom a interpretação, não confia na au-diência e está sempre recordando asregras e fazendo recomendações.

r A máquina – Comporta-se como repeti-dor humano da mensagem, dizendo dememória todo o conteúdo da excursão,quase sem respirar.

r O sabe-tudo – É o recitador de dados einformações técnico-científicas, que apro-veita a excursão para demonstrar tudo o

que sabe sobre aquele tópico e maisainda.

r O anfitrião – Recebe sua audiência maiscomo convidados a participar de umevento especial, do que como ouvintespassivos, ouvintes insaciáveis ou amea-ças ambientais. É o tipo de guia commaior êxito.

Independente de suas características depersonalidade, um guia-intérprete é sempreum educador. Seu compromisso é fazer comque as pessoas conheçam, aprendam, seinteressem e participem ativamente da con-servação de seu ambiente natural e cultural.O melhor dos planos poderá não ter suces-so se o guia não atuar como um profissionalintérprete.

7

❒ Tenha à mão ajuda visual e material de apoio à comunicação para usar tanto nas paradas previstas como em oportunidades inesperadas (guias de campo, binóculo,lentes manuais, termômetro, trena, corda, mapas, fotos, desenhos, gravador, gravações,argila, amostra de solos, partes de animais e de plantas, fantoches, bonecos, artefatos)conforme o tema e o local a ser percorrido.

❒ Faça uso das prefigurações e do mistério, principalmente na transição entre as paradas.

❒ Incorpore atividades curtas em suas paradas, como medições, uso dos sentidos, jogos,adivinhações.

❒ Faça perguntas para envolver intelectualmente as pessoas no que você está fazendo. Elas servem para aumentar a atenção e podem ajudar em comparações, deduções, resoluções de problemas, demonstrações, avaliações.

❒ Envolva seu grupo na caminhada, estimulando cada um a usar todos os sentidos na busca de coisas que você possa não estar percebendo ou que lhes interesse.

❒ Se a sua caminhada for em um ambiente natural, não esqueça que esta é uma oportunidade para que as pessoas redescubram o seu lugar no mundo e aprendam sobre si mesmas. O papel do intérprete é o de assisti-las nessa descoberta.

(Adaptado e ampliado de Ham, 1992: p. 147-149)

1 QUADRO 6

COMO TORNAR UMA CAMINHADA MAIS DINÂMICA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ Como preparar a interpretação de uma trilha autoguiada

Oplanejamento de uma trilha autoguiadatambém inicia-se pelo reconhecimento

e x a u s t ivo da área: seus recursos, potenciali-dades, usos, limitações, problemas.

A interpretação autoguiada tambémpode ser feita em variados locais, devendo-se levar sempre em conta que as pessoasfarão sua caminhada sem o acompanha-mento de um guia. Portanto devem ser evi-tados locais naturalmente frágeis, susce-tíveis a impactos e locais que possam repre-sentar riscos à segurança do público, comobeiras de precipícios, autopistas, locais complantas venenosas ou animais perigosos.

A opção pelo método autoguiado é umaalternativa interessante à medida que man-tém as informações sempre disponíveis parao público, todos os dias e a qualquer hora.Não necessitando de um guia intérprete,torna-se mais barata que as ativ i d a d e sguiadas, apesar dos maiores custos iniciais.Também atende às necessidades de quemprefere usufruir de uma caminhadadesacompanhado.

A caminhada autoguiada representa sem-pre um desafio para quem a planeja e im-planta: atingir os objetivos recreativo s - e d u c a-t ivos, capturando a atenção e a imaginaçãoda audiência, sem o auxilio de um guia.

Para a apresentação do tema (conteúdo,mensagens), em cada parada são gera l-mente utilizados dois tipos de meios: fo-lhetos interpretativos ou painéis.

O folheto interpretativo apresenta umconteúdo para cada um dos pontos de para-da, os quais são marcados por discretas epequenas placas numeradas ao longo datrilha. Os visitantes param em cada um doslocais numerados e lêem no folheto o textorespectivo. Esses folhetos devem ser visual-mente atrativos, de preferência bem ilustra-dos, e com textos curtos e de fácil leitura.

Para uma mesma trilha podem ser elabo-rados folhetos com diferentes temas, comohistória, cooperação entre seres vivo s ,relações animal-planta, diversidade de for-

mas, tamanhos, texturas e cores, importân-cia da água e muitos outros. Para um mesmotema podem ser feitos folhetos adaptadospara diferentes públicos, diferentes estaçõesdo ano, diferentes idiomas.

Os painéis ou placas apresentam direta-mente o tema a ser lido em cada local, oque limita a quantidade de informação,geralmente muito resumida. A opção poressa forma de interpretação é mais adequa-da para locais que recebem grande númerode visitantes, devendo ser evitada em zonasou áreas consideradas mais primitivas, ondeo guia tem papel fundamental.

O desenvolvimento do tema ao longodas paradas, tanto em forma de folhetoscomo em painéis, deve seguir os princípiosda interpretação, adotando uma linguagemamena, pertinente (com significado e pes-soal), organizada (não pode requerer muitotrabalho da audiência) e temática (tem umamensagem organizada a ser comunicada).

Deve também ser estruturada de forma aapresentar uma introdução, um corpo euma conclusão, de forma resumida ea t raente, contando em capítulos umahistória que tenha mensagem, com início,meio e fim. Isso é o que distingue uma cami-nhada autoguiada interpretativa daquelasque só identificam uma miscelânea decoisas isoladas.

As informações de cada parada deve mc o n t e r, em primeiro lugar, um título-tema,que expresse a idéia central da parada; já quea maioria das pessoas só lê os títulos. Se estesenfocarem apenas o tópico – “A agricultura ” ;“Erosão do Solo”; “Plantas Medicinais” –t ransmitirão bem menos do que títulos-temas, tais como: “Nossas Vidas Dependemda A g r i c u l t u ra”; “Estamos Perdendo o NossoSolo”; “A Floresta é Sua Fa r m á c i a ” .

Assim, as informações devem ser organi-zadas para:

a) Enfocar a atenção da audiência no deta-lhe que está sendo interpretado.

b) Explicar o que é significativo ou impor-tante de observar no detalhe.

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

c) Amarrar a explicação ao tema ou men-sagem.

A planificação também deve ser cuida-dosa quanto às relações existentes entre oconteúdo tratado em cada parada e o quepode ali ser observado. Quanto ao númerode paradas, não existe um consenso. Algunsrecomendam 15 a 18 paradas em 1 km, ou-tros sugerem entre 20 a 30, e outros dizem

que 12 é um número ótimo. A práticademonstra que não se deve exceder 15paradas, sendo 10 ou 12 um bom número.Mais importante do que o número é fazercom que cada parada seja clara, curta eenvolvente. Obviamente que a definição donúmero de paradas envolve também os ele-mentos da natureza a serem observados equanto mais rica a biodiversidade, maioresas oportunidades de interpretação.

w Utilizando algumas Técnicas da Comunicação Visual

Um texto que seja realmente interpretati-vo é sempre resultado de inspiração, bemmais do que de técnica. Porém, algumastécnicas de comunicação visual podemtorná-lo mais atrativo e interessante.

Tanto os folhetos como os painéis devemter: unidade, ênfase, equilíbrio e cor.

Para que se tenha unidade, todos os ele-mentos (moldura, tipos de letra, cores, for-mas, linhas, ângulos, ilustrações) devem serconsistentes entre si, formando um conjuntoharmônico.

Quando se deseja atrair a atenção paraum título, uma idéia, uma ilustração, estespodem ser enfatizados ou salientados dentrodo conjunto por meio de tamanhos, formasou cores diferenciadas.

O equilíbrio está associado à dis-tribuição espacial dos diferentes ‘pesos’visuais com a qual se obtêm simetrias ouassimetrias.

Não existem critérios para a escolha dascores, mas de um modo geral utiliza-se umesquema cromático, formado por uma corpredominante e outras cores (uma, duas,raramente três) que ressaltam a predomi-nante, harmonizando-se com ela. Deve-seatentar para não se utilizar cores fortes queagridem a paisagem de entorno.

Cuidado especial deve ser dispensado àescolha da forma e distância das letras, desímbolos e uso de gráficos. De um modogeral é recomendado o uso de letras minús-culas. Letras maiúsculas só devem ser uti-lizadas em títulos com poucas palavras. Avariação do tamanho das letras – alturas elarguras – facilita o reconhecimento e a

71. Tem um título-tema (não só um título-tópico).2. Enfoca diretamente um fato visível e de interesse.3. Explica os fatos de forma rápida e interessante.4. Relaciona o tema da parada com o tema geral da caminhada.5. Contém menos de 65 palavras.6. Tem orações curtas, com menos de 20 palavras cada uma.7. Usa verbos simples e na voz ativa, sempre que possível.8. Apresenta uma linguagem familiar, sem utilizar termos técnicos.9. Utiliza recursos visuais para ilustrar a mensagem.10. Estimula a participação da audiência, sempre que possível (com perguntas ou

sugestões de atividades ou buscas).

(Ham, 1992: p.314)

1 QUADRO 7

DEZ CARACTERÍSTICAS DE UMA PARADA TEMÁTICA EFETIVA

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memorização das palavras em forma de tex-tos. Também os espaçamentos entre asletras, palavras e linhas, podem facilitar oudificultar a leitura.

Quanto ao material a ser utilizado namontagem dos painéis, devem ser conside-radas basicamente as relações entre a dura-bilidade, o custo e a estética.

O tamanho dos painéis (incluindo seusuporte) e a sua localização precisam estaradaptados ao ambiente, formando um con-junto harmônico.

Pa ra as áreas naturais protegidascomo unidades de conservação federais, oIBAMA editou um manual que estabelece asnormas e padrões a serem seguidos nas pla-cas de sinalização e de interpretação.

w Métodos que se complementam

Os diferentes tipos de trilhas interpretati-vas apresentam vantagens e desvantagens.O ideal seria poder contar, no mínimo, comos três tipos básicos de interpretação paracada trilha. Os painéis oferecem permanen-temente uma orientação resumida para asdescobertas do público. Os folhetos, já commaiores detalhes, podem ser distribuídospara grupos ou pessoas interessadas. Emdatas e horários preestabelecidos um guia-intérprete poderá estar à disposição para oacompanhamento de grupos previamenteinscritos.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

A interpretação ambiental oferece cami-nhos que facilitam a conexão entre as pes-soas e seus ambientes. Utilizada de formaeficiente, viabiliza os objetivos educativosdo ecoturismo de forma prazerosa, conci-liando a recreação com a educação.

Porém, não existem fórmulas mágicas.Todas as orientações existentes auxiliam muitona tomada de decisão, mas é fazendo querealmente se aprende. Mesmo porque cadalocal é único e requer soluções apropriadas.

O grande objetivo é fazer com que o eco-turismo resulte em benefícios para todos os

e nvolvidos, de forma que cada vez mais pes-soas se re-liguem ao seu ambiente, apren-dam a avaliar as conseqüências das suasações e possam tomar decisões conscientes.

É importante lembrar que abordagens deeducação ambiental em projetos de ecotu-rismo iniciam-se com programas voltadospara a comunidade local, inserem-se noplanejamento dos produtos, executam-se navenda aos ecoturistas e consomem-sedurante os programas de visitação.

V. BIBLIOGRAFIA

Muitos textos, dados e exemplos utiliza-dos no capítulo foram retirados das publi-cações a seguir, as quais também sãorecomendadas como leituras comple-mentares.

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

Abaixo apresentamos dois dos diversos materiais interpretativos elaborados pela parceriaentre o WWF-Brasil e IBAMA para o projeto de Uso Recreativo do Parque Nacional Marinhode Fernando de Noronha.

O primeiro refere-se aos textos contidos nas placas na Trilha dos Golfinhos, auto-guiada.O segundo diz respeito aos textos que compõem o folheto Ecossistema Marinho, com abor-dagem interpretativa da riqueza da vida marinha e também destacando as espécies de golfi-nhos e tartarugas, dois dos projetos conservacionistas lá executados.

Esses textos serviram de base para elaboração final de folhetos e placas e são apenas umindicativo de como foi preparado o material.

Os textos das placas e do guia temático marinho foram depois modificados em sucessivosprocessos de edição, seja para adequação ao tamanho dos materiais, seja por questões de lin-guagem, seja por necessidade de complementar ou eliminar informações.

SISTEMA DE PLACAS INTERPRETRATIVAS

TRILHA DOS GOLFINHOS

Trilha auto-guiada com placas de interpretação, sinalização, advertência e segurança

PLACA 1: VOCÊ ESTÁ AQUISeja bem-vindoAqui começa a Trilha dos GolfinhosCaracterísticas:r caminhada guiada das 5:00 às 8:00 horasr caminhada livre das 8:00 às 17:00 horasr percurso circular com 2,2 km de extensãor baixo nível de dificuldadePrincipais atrativos:r observação dos golfinhos, aves e outros animais; r acesso à Praia do Sancho, com banho e mergulho livresr acesso à trilha Sancho-Porcos

Lendo as placas, ao longo do caminho, você terá oportunidade de conhecer um poucomais sobre os animais que vivem neste Parque. São mamíferos, répteis e muitas aves, ter-restres e marinhas. Para conhecê-los melhor preste atenção em todas as características doambiente, pois tudo está relacionado, nada existe de forma isolada.

Durante sua caminhada observe as normas do Parque, principalmente:❐ caminhe somente na trilha

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Pública e da Eficiência de DiferentesTipos de Trilhas Interpretativas no ParqueEstadual Pico do Marumbi e ReservaNatural Salto Morato. Tese de Doutoradoem Ciências Florestais, Unive r s i d a d eFederal do Paraná. Curitiba, PR.

WOOD, David S. e Wood, Diane W. 1990.

Como Planifícar Un Programa deEducacíon Ambiental. WRI. Washington,DC, USA.

ZABALETA, P. de B., MOLINO, C. H. eDIAZ, A. P. 1991. Resposta Educatíva aIa Crisis Ambiental. CIDE. Madrid,Espanha.

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PLACA 1:VOCÊ ESTÁ AQUI

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

❐ respeite o ambiente e todas as formas de vida❐ não perturbe os animais, caminhe em silêncio❐ não alimente os animais❐ não danifique a vegetação❐ não retire nada do ambiente❐ ajude a manter o Parque limpo

PLACA 2: EM TEMPO DE GUERRA (à direita da atual área de estacionamento do Sancho, atrás da cerca)Esta edificação era uma bateria, de artilharia de costa, durante a II G u e r ra Mundial. Esta bateria foi construída com pedras em grande parte retiradas do Forte São João Batista dos Dois Irmãos. Durante a g u e r ra, esta região da ilha, chamada de Quixaba, era habitada por c e rca de 3.000 soldados, entre brasileiros e americanos.

PLACA 3: AS AVES TERRESTRES (na trilha dos Golfinhos)Neste caminho você poderá ir conhecendo as aves terrestres que habitam a ilha: arribaçãs (Zenaida auriculata noronha), cocorutas (Elaenia spectabilis); cebitos (Vireo gracilirostris).As arribaçãs constroem seus ninhos nos galhos das árvores mais altas,como o mulungu e a gameleira. Isto parece ser uma adaptação local para proteger os ovos contra os ataques do lagarto-teju, pois no con–tinente seus ninhos são feitos no chão.

PLACA 4: ÁREA DE RECUPERAÇÃO FLORESTAL (+ ou - 160m)Aqui já existiu uma densa Floresta Atlântica Insular. Agora ela está sendo recuperada com o plantio das espécies de árvores mais ca-racterísticas da floresta original. Por ser uma floresta insular, isolada do continente, sua recuperação natural, sem o auxílio de uma inter-venção humana, seria bastante difícil. Participe deste esforço respei-tando este berçário natural.

PLACA 5: ÁREA DE RECUPERAÇÃO FLORESTAL (400m)Um dos objetivos deste Parque Nacional Marinho é a conservação da sua vegetação. É por isso que as áreas alteradas precisam ser recuperadas. Mesmo sendo impossível reproduzir a floresta original, com o plantio e a proteção destas novas árvores, um dia toda esta região será novamente uma floresta repleta de vida. As árvores aqui plantadas são o joão-mole, o jitó, a quixabeira, o mulungu e o ipê.

PLACA 6: UM LOCAL PREPARADO PARA A GUERRADevido à sua localização estratégica, Fernando de Noronha foi t ransformada em posto avançado de defesa contra o eixo - A l e m a n h a ,Itália e Japão. Nesta ocasião a ilha foi ocupada por cerca de 5000 mili-tares brasileiros e, também, norte-americanos. Esta é uma BATERIA ANTIÁEREA construída durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), como parte do sistema defensivo aqui montado pelo exército bra s i l e i r o .

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PLACA 2:EM TEMPO

DE GUERRA

PLACA 3:AS AVES TERRESTRES

PLACA 4:ÁREA DE

RECUPERAÇÃOFLORESTAL

PLACA 5:ÁREA DE

RECUPERAÇÃOFLORESTAL

PLACA 6:UM LOCAL PREPARADO

PARA A GUERRA

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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PLACA 7: ÁREA DE RECUPERAÇÃO FLORESTAL (na quixabeira, entre 600 e 700m)O joão-mole e o jitó, aqui plantadas, são espécies chamadas de pio-neiras. Elas agüentam muito sol e crescem rápido, criando a sombranecessária para o desenvolvimento das mais sensíveis ao sol. Quandoestas últimas crescerem vão criar um ambiente com muita sombra e, então, as pioneiras vão desaparecer, ficando apenas nas beiras dos caminhos ensolarados. Este é o processo de sucessão das espécies da floresta que fará esta trilha voltar a ter muito mais vida e também sombra .

PLACA 8: O QUE VOCÊ PODE OBSERVAR DAQUI (Próximo ao mirante)No mar, em frente, nadam os golfinhos rotadores e, próximo da base do penhasco, as tartarugas-de-pente juvenis se alimentam. Voando ou abrigando-se nas árvores e nas rochas das encostas há várias espécies de aves marinhas. Nas pedras, junto ao chão, correm mui-tas lagartixas mabuias, enquanto os mocós escondem-se nas frestas.

PLACA 9: (na beira do mirante)Texto 1: OS GOLFINHOS AVISTADOS NAS ÁGUAS DA BAÍAOs golfinhos observados nesta enseada são mamíferos marinhos da ordem dos Cetáceos, que vivem nas regiões tropicais, subtropicais e temperadas quentes de todos os oceanos. Seu nome científico é Stenella longirostris, devido ao seu bico longo e fino. Estes golfinhos podem atingir 2 metros e 75 quilos e são comumen-te chamados de golfinhos rotadores, devido às piruetas ou giros que executam em seus saltos. Estes saltos, facilmente observados daqui, podem ser uma simples brincadeira, uma sinalização sonora ou servir para desalojar parasitas e comensais, como as rêmoras, geral-mente aderidos aos seus corpos.Texto 2: COMO ELES VIVEMOs golfinhos rotadores são animais sociais, que vivem em grupos. Os grupos podem ser formados por pares ou até por mais de 100 indiv í d u o s ,de ambos os sexos e de todas as classes de idade. Ao raiar do sol, os gru-pos vêm para esta enseada de águas calmas para descansar, reproduzir, criar seus filhotes e se socializar. Há registros da ocorrência dos golfinhos neste local desde 1556. No final da tarde eles se deslocam para as águas profundas, na face sul do arquipélago, para se alimentar. Pes-cam de forma cooperativa para capturar pequenos peixes, lulas e camarões.

PLACA 10: OS GOLFINHOS ROTADORES SE REPRODUZEM NESTAENSEADAAqui é possível a observação do comportamento reprodutivo dos golfinhos rotadores, em todas as épocas do ano. Grupos reprodu-tivos deslocam-se rapidamente, com alguns indivíduos mantendo o ventre branco voltado para cima, o que pode ser observado pelo tom

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PLACA 7:ÁREA DE

RECUPERAÇÃOFLORESTAL

PLACA 8:O QUE VOCÊ PODEOBSERVAR DAQUI

PLACA 9:OS GOLFINHOS

PLACA 10:AQUI OS GOLFINHOS

R OTADORES SE REPRODUZEM

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

azul mais claro que isto provoca na água. O cortejo é seguido pelo acasalamento, quando vários machos acasalam com a mesma fêmea, para garantir a fecundação. A gestação dura de 10 a 11 meses. Os filhotes nascem com cerca de 77 cm e mamam de 1 a 2 anos, mantendo uma forte relação com a mãe.

PLACA 11: A LAGARTIXA MABUIA E O ROEDOR MOCÓ (no mirante, junto às pedras)As mabuias (Mabuya maculata) são as pequenas lagartixas que cor-rem sobre as rochas. Elas são muito curiosas e mansinhas, aproxi-mam-se facilmente das pessoas, mas precisam de sossego parasobreviver. Alimentam-se de pequenos seres vivos e qualquer outro tipo de alimentação pode lhes causar distúrbios. Esta é uma espécie característica de Fernando de Noronha, pois é endêmica destas ilhas, só existe aqui. Observando com atenção, você também poderá avistar os mocós (Keredon rupestris), abrigando-se nas rochas das encostas. Este roedor é muito arisco, mas é comum nesses am-bientes. Eles foram introduzidos na ilha por volta de 1967 e aqui se adaptaram e se expandiram. Como toda espécie exótica (ou seja, não natural de determinado ecossistema), os mocós causam danos à vegetação das encostas, pois roem as raízes que dão suporte à rocha, levando à sua derrubada.

PLACA 12: AVES (antes da saída para Sancho)Estes locais são utilizados por um grande número de aves marinhas. As viuvinhas, os atobás ou mumbebos, os atobás-marrom e as fra -gatas podem ser facilmente vistos por toda parte, voando, pescando ou recolhendo-se nos galhos das árvores. Com cuidado e silêncio, você terá a oportunidade de vê-los, até a curta distância. Observetambém, as relações existentes entre os diversos elementos destas paisagens: as aves, a vegetação e os demais seres vivos, visíveis ou não, as encostas rochosas, o mar, tudo está relacionado formando um todo chamado "ecossistema".

PLACA 13: (mirante 1)Texto 1: OS NUMEROSOS ATOBÁSDaqui já é possível avistar a Ilha Dois Irmãos, já no limite do Parque, e uma grande quantidade de aves. Uma delas, os atobs ou mumbe-bos (Sula sula), habitam as encostas, desde Dois Irmãos até a Ponta da Sapata, à esquerda, formando uma das maiores populações de aves marinhas residentes nestas ilhas.Eles alimentam-se de peixes, lançando-se ao mar de grandes alturas. Para se proteger do impacto da água, seu sistema respiratório se expande, funcionando como umamortecedor.Texto 2: COMO ELES VIVEMEles estão pousados nos galhos das árvores, descansando, muitas

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PLACA 11:A LAGARTIXA MABUIA E O ROEDOR MOCÓ

PLACA 12:AVES

PLACA 13:OS NUMEROSOS

ATOBÁS

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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vezes com a cabeça e o pescoço pendentes, arrumando suas penas, ou voando e pescando. Seu período de reprodução vai de março até agosto. Constroem seus ninhos preferencialmente nos galhos das árvores e as fêmeas raramente põem 2 ovos e quando isto acontece, apenas um sobrevive. Seus excrementos tingem de branco rochas e árvores. Ricos em fosfato e outros sais minerais estes são os maiores responsáveis pelos depósitos de guano, adubo orgânico formado pelos excrementos das aves e matéria orgânica. Entretanto, o exces-so de excrementos depositados diretamente nas folhas e galhos dasárvores, como daqui se observa, pode levar à morte das árvores devi-do às grandes concentrações de ácidos, como uréia e amônia.

PLACA 14: (mirante 2)Texto 1: CONHECENDO AS VIUVINHAS-NEGRASNumerosas viuvinhas (Anous minutus), com plumagem inteiramente n e g ra-amarronzada e fronte branca são aves pescadoras residentes per-manentes destas encostas. Esta é a espécie de ave marinha mais co-mum nestas ilhas, com uma população estimada em 20.000 indiv í d u o s .Sua principal área de reprodução e concentração de ninhos está entre a Praia do Sancho e a Ponta da Sapata, onde já foram conta-dos mais de 10.000 ninhos. Elas constroem os ninhos com algas, sobre árvores, arbustos, moitas e nos paredões rochosos, sempre protegidos dos ventos fortes. Seu principal período reprodutivo é entre março e agosto. Seus excrementos formam manchas brancas no solo, nas pedras e nas árvores.Texto 2: AS FALÉSIAS DO SANCHODaqui avista-se a Praia do Sancho e suas imponentes falésias ou en-costas, repletas de vida. Elas são formadas por rochas escuras, do tipo ankaratríticas (Formação Quixaba), típicas dos últimos eventos vulcânicos que formaram este arquipélago. Elas estão ali no mínimo há 2 milhões de anos.

PLACA 15: AS AVES NAS ÁRVORES (logo após primeira ponte)Este é um local especial para observação das aves marinhas. Em uma só árvore concentram-se dezenas de indivíduos de várias espécies. Nos períodos de reprodução é possível acompanhar o namoro, a cons-trução dos ninhos e o revezamento dos pais no cuidado dos filhotes.Além dos numerosos mumbebos e viuvinhas-negras, você poderá facilmente avistar as viuvinhas-marrons (Anous stolidus), com plumagem marrom e fronte esbranquiçada, e as noivinhas (Gygis alba), totalmente brancas, com bico, pernas e olhos negros. As noi-vinhas constróem seus ninh-os em forquilhas de árvores altas, pre-ferencialmente o Mulungu, sem nenhuma proteção. Os filhotes nascem com plumagem escura que o confunde com o galho, dando-lhe proteção.

7PLACA 14:

CONHECENDO AS VIUVINHAS-NEGRAS

PLACA 15:AS AVES

NAS ÁRVORES

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

PLACA 16: AQUI COMEÇA UMA CACHOEIRA (na segunda ponte)Aqui, na época das chuvas, passa um forte córrego que, logo adian-te, despenca na encosta íngreme, formando a Cachoeira do Sancho. Como a maioria dos outros córregos da ilha, este também desapa-rece durante a seca, devido ao clima e a baixa retenção de água no subsolo.

PLACA 17: A PRAIA COM VIDA CONVIDA (antes dos 1500m)Toda esta paisagem pode ser aproveitada mais de perto. A Praia do Sancho, com acesso um pouco mais adiante, é uma praia onde o banho é agradável e seguro. O mergulho livre também é permitido, possibilitando a observação de grande variedade de peixes, corais e outros organismos. É um mergulho fácil, recomendado para iniciantes.

PLACA 18: A AVE SÍMBOLO (mirante com bancos)Nestes céus, voam também os rabos-de-junco (Phaeton lepturus), ave símbolo de Fernando de Noronha. Podem ser facilmente identi-ficados pela sua longa cauda, que mede até 50cm. Sua população varia entre 100 e 300 indivíduos e este parece ser um dos seus úni-cos locais de reprodução no Brasil. Eles constróem seus ninhos nas fendas dos paredões rochosos das encostas, entre dezembro e mar-ço. A fêmea põe um ovo de cada vez. Alimentam-se de peixes como os agulhas, voadores e manjubas. Esta é uma das espécies de maior vocalização no arquipélago, especialmente quando são perseguidos por outras aves, como as fragatas, que tentam roubar-lhes os peixes.

PLACA 19: (no quiosque, placas maiores, com mais texto)Texto 1: UMA FENDA NATURAL NA ROCHAA descida para a Praia do Sancho é feita através de uma profunda fenda natural existente no interior do paredão de rochas. Observebem esta fenda, sabendo que estas são rochas vulcânicas, vindas do interior da terra para a superfície, em altas temperaturas. Esta fenda deve ter se formado como conseqüência das tensões surgidas no processo de resfriamento. Estas rochas formaram-se aqui entre 6 e 2 milhões de anos atrás, último período de derrame das lavas for-madoras deste arquipélago.Texto 2: AS INTERAÇÕES DA NATUREZADeste local é possível observar algumas interações entre aves, árvo r e s ,solos, paisagem. Aqui ao lado, ocorrem 2 espécies de árvores típicas daFloresta Atlântica Insular que no passado recobria quase toda a ilha. A de tronco reto e 'listrado' é o mulungu (Erythrina velutina varie-dade aurantiaca - Fam. Lugominosae - Faboideae). É uma das espé-cies de árvores mais altas da ilha. Nos meses de agosto e setembro colore a paisagem com suas flores vermelho-alaranjadas. Muitas aves constróem ninhos em seus galhos, protegendo-se dos ventos. Aárvore com uma verdadeira cortina de raízes aéreas é a gameleira(Ficus noronhae - Fam. Moraceae). As raízes aéreas ajudam a sus-

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PLACA 19:UMA FENDA

NATURAL NA ROCHA

PLACA 16:AQUI COMEÇA

UMA CACHOEIRA

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

PLACA 17:A PRAIA COM VIDA

CONVIDA

PLACA 18:A AVE

SÍMBOLO

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MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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tentar os seus grandes galhos, uma vez que, neste solo raso, as raízes subterrâneas tornam-se insuficientes. Também é uma das árvores mais altas desta floresta e muito utilizada pelas aves, que comem seus frutos, abrigam-se e constróem ninhos em seu galhos. As aves também são importantes para as árvores, pois dispersam suas se-mentes, possibilitando que nasçam árvores até sobre as rochas dos altos paredões. Na natureza é assim, tudo está relacionado, formandoum grande ecossistema. Este Parque existe para manter estas intera-ções em seu estado natural e precisa contar com a sua colaboração.

PLACA 20: FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA DOS DOIS IRMÃOS(no forte)Este forte foi construído pelos portugueses em 1737, para guardar as praias da Cacimba do Padre (à direita de Dois Irmãos) e do Sancho, últimas praias do mar de dentro onde o desembarque era possível. Em forma de trapézio, abrigava 6 peças de artilharia e podia cruzar fogo com o Forte de São Pedro do Boldró.

PLACA 21: ÁREA DE REFLORESTAMENTO (no caminho PIC-Sancho)

GUIA TEMÁTICO – FOLHETO

O ECOSSISTEMA MARINHO

para venda a visitantes sobre ecossistema marinho do arquipélagocomplemento para interpretação de todos os pontos de mergulho

OS DOIS MARES DE NORONHAEm Noronha, existem dois diferentes ambientes marinhos: o Mar de Dentro e o Mar de Fora.O Mar de Dentro, mais abrigado dos ventos, é calmo durante a maior parte do ano, comgrandes áreas cobertas por corais (principalmente Montastrea cavernosa) e algas marrons.O mar de fora, lado voltado para a África, é mais exposto aos ventos, mexido, com ondasaltas e fortes correntes. Neste mar, nas áreas rasas, próximas da praia, há formações muitosemelhantes aos recifes, comumente confundidas com estes. São as cristas algais, formadaspor algas calcárias e moluscos e não por corais, como os verdadeiros recifes. Na Praia doLeão, as cristas algais formam os "esguichos" e na Praia do Atalaia dão origem às "piscinas".

A BIODIVERSIDADE MARINHAA grande importância dos dois mares de Fernando de Noronha está nas suas variadas formasde vida. São algas, esponjas, corais, moluscos, ouriços, peixes como os tubarões, moréias,arraias e muitas outras espécies de variados tamanhos, formas e cores, além de tartarugas,golfinhos e, ocasionalmente, até mesmo baleias.

7PLACA 20:FORTE DE

SÃO JOÃO BATISTADOS DOIS IRMÃOS

PLACA 21:ÁREA DE

REFLORESTAMENTO

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

OS CORAISNas rochas submersas, chamam a atenção, as manchas coloridas formadas por colônias simétri -cas de corais. São 11 as espécies de corais que formam estas manchas. Porém, apesar de 9destas espécies serem de corais construtores, aqueles que normalmente formam recifes, nãoexistem, em volta de todo o arquipélago, formações ve r d a d e i ras de recifes de coral. Ta l vez istoo c o r ra devido à forte ação das ondas e ao tipo de substrato, formado por rochas vulcânicas.

OS OURIÇOS (texto pequeno ao lado da foto)Os ouriços são herbívoros que se alimentam de pequenas algas. Eles buscam seu alimentodurante a noite, raspando o substrato onde vivem. Aqui na ilha vivem três espécies de ouriços:ouriço branco (Tripneustes sp.), mais abundante no arquipélago , ouriço preto (Diadema sp.)e Eucidaris sp.

AS MINHOCAS DO MAR (texto pequeno ao lado da foto)As poliquetas (Spirobranchus) são um tipo de minhocas do mar, muito atrativas, com seustufos de pelos e suas variadas cores (vermelho, amarelo, marrom). Elas costumam perfuraralgumas espécies de corais, principalmente os Porites astreoides.

A COMUNIDADE DE PEIXESA comunidade de peixes é semelhante à do Caribe, porém menos diversa, com mais de 100espécies registradas. Algumas são muito abundantes e freqüentes, como a donzelinha derocas (Stegastes rocasensis), a garoupinha (Cephalopolis fulva) e o sargentinho (Abudefdufsaxatilis).

CADA UM NO SEU LUGAREm cada ambiente vivem grupos diferentes de peixes. Fuçando o fundo, em busca de ali -mento, estão os peixes carnívoros. Os carnívoros, como os bodiões (Halichoeres radiatus) eas duas espécies de saramunetes (Pseudopeneus maculatus e Mulloidichthys martinicus), ali -mentam-se de pequenas poliquetas, moluscos e crustáceos. As garoupinhas (Cephalopolisfulva) e as barracudas (Sphyraena barracuda), podem ser vistas alimentando-se das papudi -nhas. Os cardumes de peixes cirurgião (Acanthurus spp.) e os peixes papagaio (Sparissomaspp.), são herbívoros que ficam pastando sobre as algas.No meio da coluna d'água, vivem os peixes que se alimentam de plancton, tais como o sar -gentinho ou saberé (Abudefduf saxatilis) e os cangulos (Melichthys niger). Nas sombras ou nasfendas, descansam os peixes de hábitos noturnos, como as mariquitas (Holocentrus ascen-siones e Myripristis jacobus) e os cardumes de papudinhas (Pempheris schomburgki). Ali per -manecem até o anoitecer, quando saem para se alimentar em águas abertas.Na areia, podem ser vistos alguns montes de cascalho grosso. São tocas construídas pelopeixe aipim (Malacanthus plumieri), onde também se abrigam camarões e outros peixes,como a donzelinha (Stegastes pictus).

PEIXES COOPERATIVOSOs pequenos peixes néon, da família G o b i i d a e, apresentam um comportamento dos maisinteressantes, alimentando-se dos parasitas, tecido doente e muco do corpo de outros peixes.Os peixes aproximam-se e solicitam o seu serviço de limpeza, através de movimentos especí -ficos, que podem aqui ser observados. Em troca, os neon conseguem alimento. Esta relação detroca acontece com peixes de variados tamanhos, inclusive com tubarões, arra i a s e barra c u d a s .

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MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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MACHOS GUARDIÃESNa família de peixes Pomacentridae, são os machos que cuidam dos ovos, após o acasala -mento. O sabaré ou sargentinho (Abudefduf saxatilis), facilmente observado nos costões, apóso acasalamento muda a sua cor de branco com faixas amarelas e pretas azul escuro, per -manecendo sempre perto da parede onde os ovos estão grudados.Outra espécie desta família é a donzelinha de rocas (Stegastes rocasensis), que é endêmica,ou seja, só existe em Fernando de Noronha e no Atol das Rocas.

AS TARTARUGASAs águas tropicais do arquipélago de Fernando de Noronha são uma das principais áreas dereprodução da tartaruga verde (Chelonia mydas), no Atlântico Sul. Servem também, comoimportante área de alimentação para os jovens desta espécie e para a tartaruga de pente(Erotmochelys imbricata). As tartarugas verdes quase foram extintas devido à matança de fê -meas e captura de seus ovos, durante séculos. Desde 1984, quando o Projeto TAMAR/IBAMAinstalou-se na ilha para proteger e pesquisar as tartarugas, vem aumentando o número das tar -tarugas que chegam nas praias para desovar.Elas chegam sempre no início da noite, principalmente na Praia do Leão, de dezembro ajunho e, com seus 300 kg, levam cerca de 2 horas no trabalho de construção do ninho, pos -tura dos ovos, camuflagem do ninho e retorno para o mar. As tartaruguinhas nascem entre 50e 60 dias depois e correm rápido para o mar. No processo natural, de cada 1000 filhotes ape -nas 1 ou 2 chegam à fase adulta. Quando isto acontece, 20 anos depois, elas voltam para pôrseus ovos no mesmo lugar onde nasceram.

OS GOLFINHOS E OUTROS MAMÍFEROSVárias espécies de mamíferos marinhos utilizam os mares de Fernando de Noronha, como asbaleias jubarte (Megaptera novaeangliae) e bicuda (Ziphius cavirostris), o cachalote-pigmeu(Kogia breviceps) e os golfinhos cabeça-de-melão (Peponocephala electra), pintado-pantro -pical (Stenella attenuata) e rotador (Stenella longirostris). A baleia-jubarte pode ser observada no seu período migratório na costa brasileira, de julho adezembro, quando pode inclusive, formar grupos mistos com o golfinho-pintado-pantropicale o golfinho-rotador.As outras espécies ocorrem mais para fora do arquipélago, sendo raramente avistadas. Os golfinhos-rotadores merecem destaque especial por constituírem uma população resi -dente nas águas protegidas do Parque. Quase que diariamente (80% dos dias do ano),reúnem-se em numerosos grupos na Baía dos Golfinhos, onde chegam ao nascer do sol parapassar boa parte do dia descansando, procriando, cuidando das crias ou se socializando. Nofinal da tarde, retiram-se para as águas profundas do mar de fora, com o objetivo de pescardurante a noite. Geralmente chegam todos juntos na baía, mas não saem todos ao mesmotempo. Dentro da baía o bando se divide em vários grupos que podem variar de 2 a 80 indi -víduos. O número de golfinhos e o seu tempo de permanência na baía variam com os perío -dos de clima seco e chuvoso, condicionados a fatores oceanográficos, meteorológicos ebiológicos.Por serem muito vulneráveis às perturbações em seu ambiente, necessitam de tranqüilidadepara manter o seu comportamento e permanecer residindo nesta área. Como medidas de pro -teção, desde 1986, estão proibidos a circulação de embarcações e o mergulho dentro da baíae a Portaria 05 de 25/01/95 proíbe tocar, alimentar e perseguir os golfinhos, bem como per -

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MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

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Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

turbá-los com instrumentos sonoros ou algazarras, e estabelece normas para o deslocamentode embarcações além das bóias de sinalização que protegem a baía.

RECOMENDAÇÕES PARA UM MERGULHO CONSCIENTE

Sinta-se confortável!❐ ajustando bem seus equipamentos, você evita que eles toquem ou se prendam nos corais;❐ controlando bem a sua flutuabilidade você impede que o seu corpo e seus equipamentos

toquem os corais e outros organismos frágeis, contribuindo para a manutenção da quali-dade do ambiente;

❐ mantenha-se atento às recomendações do guia e siga sempre o plano de mergulho.

Você é o convidado!O local de mergulho é a casa de milhares de seres submarinos,

onde você deve se comportar como um convidado:❐ respeite todos os tipos de organismos como você espera ser respeitado;❐ entenda que cada organismo, mesmo um fragmento de concha, é parte importante deste

ecossistema e deve permanecer no local;❐ observe, fotografe e filme, mas entenda que os animais não devem ser perturbados pela

sua presença, interrompendo sua alimentação, acasalamento e descanso;❐ aumente sua satisfação ao mergulhar, conhecendo mais sobre a vida marinha e anote as

curiosidades que encontrar - você passará a enxergar muito mais.

FONTE::VASCONCELLOS, J. M. 1997. Método de desenvolvimento da interpretação ambiental e tex-

tos de base para elaboração de programação visual. Relatório de Interpretação Ambientalpara o Convênio IBAMA / WWF-Brasil. WWF-Brasil, Brasília. (não publicado).

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✑ TOME NOTA:

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I. OBJETIVO

O o b j e t ivo deste capítulo – tendocomo base o princípio de partici-pação comunitária – é propiciar

metodologia e informações básicas para aidentificação de cursos de treinamentodirigidos a membros ou setores de comu-nidades para fins de atividades de ecoturis-mo. O capítulo também visa orientar sobrea adequação de cursos à realidade dacomunidade local, sobre a valorização ecapacitação de instrutores e monitoreslocais e sobre a identificação de possíveisparceiros.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

O ecoturismo, como qualquer outra ativ i-dade moderna, gera competitividade local eregional. O turista é um cliente e está dis-posto a consumir, mas quer qualidade emserviço e preço justo. Além disso, um dosprincípios básicos do ecoturismo é fazercom que as comunidades se beneficiem eco-nomicamente da atividade turística. Pa ra sealcançar eficiência, qualidade e dive r s i d a d enos produtos oferecidos, a comunidade temque se capacitar, profissionalizando seus ser-viços e produtos.

Capacitar significa fornecer às pessoasou grupos competências e habilidadesespecíficas, por meio de métodos de treina-mento diversos. Cursos técnicos com instru-tores e aulas téorico-práticas são os métodosmais comuns, mas pode-se preparar mode-los alternativos como, por exemplo, com ouso de vídeo e internet.

De acordo com os objetivos desteManual, o processo de capacitação aquiproposto extrapola a simples realização decursos padronizados e profissionalizantes,sendo fundamental o estímulo à partici-pação de proprietários, funcionários e ou-tros interessados, desde a definição dos cur-sos até a replicagem (ou multiplicação) dosmesmos.

É importante destacar que, no ecoturis-mo, manter a originalidade e a autenticidadedos comunitários, considerando seu ritmo esuas técnicas de trabalho, pode vir a setornar um diferencial no mercado. Assim, op r o g rama de capacitação (método, técnicas,conteúdo e instrutores) deve adaptar-se àrealidade e originalidade locais, sem perdero foco nas competências e habilidadesnecessárias para a satisfação do visitante.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Os seguintes tópicos serão aborda-dos nesta seção:

1. Identificando potencialidades e necessidades de capacitação.

2. Definição de metodologia para cursos.

3. Áreas prioritárias para capacitação.4. Monitoramento e avaliação.

1. Identificando potencialidades e necessidades de capacitação

Oprimeiro momento da capacitação éidentificar as potencialidades e neces-

sidades do município e/ou comunidade.

8 . Capacitação comu n i t á ri aMarcos Martins Borges

Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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Parte desse trabalho já é feito na fase deInventário, ao se pesquisar as estruturas eserviços existentes, a demanda profissionale, em caso de já existir visitação, o perfil ep e rcepções dos turistas (ver capítuloL e vantamento de Potencial Ecoturístico(Inventário). Outra parte é feita quando sefaz a avaliação do perfil do público-alvo (vercapítulo E l a b o ração do Produto deEcoturismo), seja ele para um empreendi-mento ou unidade de conservação. Ocruzamento das informações entre o queexiste e o que o público demanda oudemandará, fornecerá uma visão mais rea-lista das necessidades imediatas e futuras decapacitação na região.

Pesquisar a impressão dos visitantespode apontar eventuais descontentamentos.Reclamações quanto ao atendimento nosestabelecimentos podem ser indícios danecessidade de um curso de hospitalidadeou qualidade no atendimento. Se a crítica éem relação à pouca diversidade de ativi-dades, o problema pode ser a deficiência naidentificação e/ou elaboração de produtos.Pode ser também ausência ou baixa criativi-dade dos guias. Ou seja, uma deficiênciapode gerar a necessidade de diferentes cur-sos. Por exemplo, na situação aqui exposta,os cursos poderiam ser voltados à elabo-ração de produtos, à formação ou à reci-clagem de guias.

Por outro lado, o estudo de mercadopode indicar como público-alvo turistascom características de consumo e compor-tamento aos quais os empreendimentos dacomunidade não estão preparados paraatender. Se o público definido pela pesquisade mercado é fundamental para o projeto deecoturismo, será importante capacitar acomunidade para satisfazer esse público. Seos estudos indicam que o turista desejável (enecessário) é de um nível de renda superior,as estruturas e serviços têm que se adequaràs demandas associadas a esse tipo decliente.

Portanto, os estudos técnicos e levanta-mentos iniciais indicam uma boa parte dademanda de cursos e treinamentos. Mas,

para que realmente se atenda de formaplena às necessidades da comunidade e doecoturismo, os processos de identificaçãodos cursos prioritários e de definição daforma como serão planejados e oferecidosd e vem ser feitos de forma participativadesde o início.

A seguir, são indicadas algumas vanta-gens que podem ser relatadas para comu-nidade e empresários com o objetivo demotivá-los a participar da definição e rea-lização dos cursos, apresentadas por meiode alguns exemplos e seus benefícios.

MOTIVANDO A PARTICIPAÇÃO

Neste Manual,os capítulos Participação

Comunitária e Parcerias e Levantamento

de Potencial Ecoturístico (Inventário)

sugerem métodos e técnicas para

se motivar a participação. A necessidade

de aprimoramento profissional

e de intervenção no processo decisório

em relação aos tipos de cursos a serem

promovidos,bem como a metodologia

a ser utilizada na sua realização,devem

fazer parte do processo de discussão do

projeto de ecoturismo com a comunidade.

Uma das sugestões é aproveitar

o trabalho de campo feito durante

o inventário para a sensibilização

e esclarecimento de empresários,

funcionários,proprietários de atrativos

(visitados ou não) e outros membros

da comunidade sobre a importância

do ecoturismo e da capacitação profissional

e da participação,tanto na definição

de cursos como,em alguns casos,

na disseminação de conhecimentos

e técnicas já existentes na região.

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Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

❐ BENEFÍCIOS DA CAPACITAÇÃO

a) Melhoria dos Produtos e Serviços Existentes

E x e m p l o : O restaurante da Po u s a d aEcológica Aldeia dos Lagos em Silves, noAmazonas, vinha servindo um prato típico,saboroso, com alimentos de boa origem equalidade. No entanto, utilizavam-se vasi-lhas de má aparência ou que não formavamum conjunto harmônico, prejudicando aapresentação do produto. Além disso, per-dia-se muita comida no armazenamentoinadequado e manuseio dos alimentos.Benefício: Um curso na área de manipulaçãode alimentos, centrado nas questões dehigiene, armazenamento, decoração e dis-posição de pratos, promoveu uma melhoriasubstancial na aparência da alimentaçãoservida, favorecendo uma boa impressão porparte do cliente e valorização do alimentoservido. Diante da estrutura já existente emS i l ves, o investimento para se fazer essas mel-horias foi mínimo.

Ao se aprimorar as técnicas de estoque,apresentação e manipulação, ganha-se naeconomia na utilização de matéria prima,na otimização do tempo e da mão-de-obra,na valorização do produto e, consequente-mente, em maior satisfação do cliente.

b) Diversificação dos produtos e serviços existentes

Exemplo: O Projeto Mico-Leão-Doura d onecessita de áreas preservadas no entornoda Reserva Biológica de Poço das Antas parao repovoamento de micos. No entanto, aspráticas tradicionais de agropecuária con-tinuam a provocar a redução das florestas naregião. A região maior onde se encontra areserva, Região dos Lagos do estado do Riode Janeiro, é um dos maiores destinos turís-ticos do litoral fluminense.

Apesar do grande fluxo de turistas, opotencial de ecoturismo na região de flores-ta não é aproveitado, seja para o mercadonacional, seja para o internacional. Háalguns anos o Projeto Mico-Leão-Douradocomeçou a levar turistas selecionados e de

alto poder aquisitivo a fazendas de entornoda Reserva Biológica, onde há micos-leões,para assim aumentar a receita do projeto e aconsciência ambiental sobre as dificuldadespara a conservação da floresta. Entretanto,esta atividade é restrita à Associação Mico-Leão-Dourado e a uns poucos proprietários. Benefício: A realização de cursos pode gerardois tipos de benefícios na diversificação deprodutos na região. Por um lado, pode moti-var diversos setores já envolvidos no turismoa lidar também com ecoturismo na árearural da Região dos Lagos.

Além disso, a compreensão do potencialde mercado de ecoturismo da região e acapacitação para explorá-lo, podem estimu-lar proprietários de terras a diversificar suasatividades. A mudança do eixo e da filosofiade desenvolvimento de muitas dessas fazen-das valorizariam a preservação das suas flo-restas. A Associação Mico-Leão-Dourado edemais entidades ambientalistas da região(juntamente com outros parceiros institu-cionais) estão promovendo essa compreen-são por meio de cursos e assessoria na cri-ação de RPPNs, introdução ao turismo,estudo de viabilidade, identificação de li-nhas de financiamento para projetos turísti-cos, hotelaria, receptivo, interpretação eelaboração de produtos.

c) Aproveitamento de produtos locais,promovendo a verticalização da produção

Exemplo: Na comunidade extrativista daRESEX de Pedras Negras, em Rondônia, fru-tas nativas e plantadas sob regime agro-florestal são abundantes somente em deter-minadas épocas do ano, impossibilitandooferecê-las aos turistas fora da estação pro-d u t iva. No pique da produção, gra n d e squantidades são perdidas, pois é muito difí-cil o transporte para os centros consumi-dores e de maior visitação turística. Alémdisso, por se vender a fruta na temporada deprodução, o preço é muito baixo.Be n e f í c i o : Um curso de doces e compotasaplicado às frutas da região e ensinando téc-nicas de conservação e embalagem artesanal

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de alimentos, propiciou a oferta de um pro-duto de qualidade, com valor agregado ed u rante todo o ano. Com isto, aprove i t a m - s eos recursos locais na composição da alimen-tação diária dos turistas (café-da-manhã,sobremesas, lanches, etc.), criam-se váriosprodutos para comercialização e aindafacilita-se o transporte e venda dos produtosnos mercados de maior consumo.

d) Maior capacitação das pessoas implica melhores condições salariais

E x e m p l o : Em muitos lugares, o guia é aque-le que leva as pessoas de um ponto a outro,padronizando serviço e o preço de guiagem.B e n e f í c i o : Cursos de guia, de interpretação,de história natural e outros podem tra n s f o r-mar o guia em uma atração a mais, va-lorizando o produto turístico e, conse-quentemente, a remuneração deste guia. NaChapada dos Veadeiros, em Goiás, a AC V-CV (Associação dos Condutores de Vi s i t a n t e sda Chapada dos Veadeiros) tem uma taxamínima de guiagem, respeitada por seusassociados que só são credenciados apósalguns cursos. No entanto, guias mais expe-rientes e oferecendo um serviço mais elabo-rado cobram preços mais altos e, o que ém e l h o r, o cliente paga com satisfação.

e) Aumento da renda familiar e ampliação do número de beneficiários

E x e m p l o : No projeto Pantanal, centros deatendimento ao turista serão criados ao longoda Estra d a - Parque. Nesses locais é comum avenda de suvenires e produtos de uso imedi-ato, geralmente de custo mais baixo.Benefício: Além do curso de doces e com-potas já mencionado, cursos de artesanato ede produção de iscas para a pesca esportiva(devidamente monitorada para respeitar alegislação) podem capacitar pessoas nãodiretamente associadas ao produto turísticoa utilizarem o próprio quintal e produtos daregião para desenvolver uma nova fonte derenda complementar.

f) Uma nova profissão ou a p r i m o ramento da atual pro f i s s ã o

Exemplo: A ampliação do Parque Nacionalde Superagui, no Paraná, afetou cerca de1.200 pessoas. Como muitos utilizavam aárea agora transformada em parque paraalgum tipo de exploração econômica, criou-se um problema social.B e n e f í c i o : O projeto de ecoturismo tem entreseus objetivos motivar o turismo na região einserir essa população neste novo merc a d ode trabalho. Por ser uma nova ativ i d a d e ,muitos iniciarão um novo processo profis-sional por meio dos diversos cursos e ativ i-dades relacionados neste manual. Outros,como proprietários de pequenos hotéis, secapacitarão para adequar o estabelecimentoe os serviços a um novo tipo de visitante.

g) O ecoturismo valoriza ofícios tradicionais

O programa de capacitação pode vir aidentificar ofícios tradicionais, alguns atémesmo esquecidos, principalmente aquelesligados ao extrativismo e ao artesanato, paraacomodá-los dentro da gama de serviçosofertados ao visitante. A pesca por meiostradicionais, por exemplo, pode continuartendo sua importância de subsistência,assim como oferecer ao visitante uma ativi-dade singular, por acompanhar as técnicasde captura do peixe e depois degustá-lo.

h) O aprendizado dos cursos pode também ser útil em casa

Entre outros, os cursos de doces e com-potas, manuseio e fornecimento de alimen-tos podem gerar economia, maior qualidadee mais higiene nas refeições feitas em casa.

i) Melhores condições de c o m p e t i t iv i d a d eno mercado turísticoComo dito anteriormente, o ecoturismo

é uma atividade comercial que apresenta asmesmas características de competição deoutras atividades. Estruturas adequadas, pro-dutos melhor elaborados, serviços de quali-dade e preço justo fazem a diferença emqualquer lugar. Vale lembrar que uma dasmaiores formas de divulgação dos locaisturísticos é o boca-a-boca. Portanto, turista

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Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

satisfeito volta e traz mais turistas. O insatis-feito não só não volta como também fazpropaganda negativa.

j) Maiores benefícios econômicosTodos os fatores acima implicam maiores

benefícios econômicos. Maior competitivi-dade, qualidade, diversidade de produtos,verticalização da produção e outros fatoresmencionados asseguram mais renda, seja noâmbito de um empreendimento ou de umpólo turístico comunitário.

❐ VANTAGENS DO PROCESSO PARTICIPATIVO

PARA O PLANEJAMENTO E REALIZAÇÃO

DE CURSOS

a) Possibilita a escolha de cursos que realmente atendam às necessidades do projeto de ecoturismo

Atualmente existe uma profusão de ofer-ta de cursos e oficinas na área de ecoturis-mo. Não adianta fazer um curso decamareiro(a), se ainda não existe uma pou-sada ou hotel no local. Mesmo que hajapousada ou hotel, fazer o curso decamareiro(a) quando não há percepção sufi-ciente da comunidade – especialmentedos(as) donos(as) de pousada e dos(as)camareiros(as) – de que tais cursos real-mente são necessários e vantajosos paraeles, tampouco leva ao resultado desejadode melhora dos serviços: faz-se o curso, masnão se altera o serviço. Devem-se priorizaras necessidades imediatas, de curto e médioprazo, ou corre-se o risco de desgaste e des-perdício de recursos humanos e financeirosao se capacitar pessoas para atividades queo mercado ainda não absorve.

b) Possibilita a escolha de cro n o g ra m amais adequado à realidade local e à maioria dos futuros alunos

Cursos em épocas de pique de trabalhogeralmente têm pouca participação. Umcurso na época do corte da seringa emRondônia vai dificultar ou inviabilizar a par-ticipação da comunidade extra t ivista doprojeto ecoturístico de Pedras Negras.

c) Gera informações para subsidiar a estrutura dos cursos de formamais adequada à realidade dacomunidade

O Curso de Guias na Chapada dosVeadeiros tem como uma de suas priori-dades a abordagem sobre o perigo dascabeças-d'água (imensa corrente de águaem rios de fundo de vale) na época das chu-vas, com treinamento em prevenção e res-gate. Já em Fernando de Noronha, o mesmocurso concentrou-se nos riscos e cuidadosna prática do mergulho.

d) Favo rece a escolha/indicação de pessoasda comunidade com conhecimento e capacidade para ministrar cursos

Muitas vezes há pessoas na comunidadecom conhecimento em áreas indicadas paracapacitação. Por exemplo, para um curso deartesanato pode-se trazer um técnico comespecialidade em adequação de produtosao mercado (design, dimensão, preço, etc.).Já as técnicas de produção do artesanatopodem ser ensinadas por algum artesão daprópria região, mesmo que sob orientaçãodidática de instrutores de fora.

e) Favo rece a escolha/indicação de pessoasda comunidade para serem monitores dos cursos

Muitas vezes a demanda é maior do queum único curso pode atender. Neste sentido, acapacitação de pessoas da comunidade, prin-cipalmente as que já têm algum conhecimen-to prático do que se está ensinando (como nocaso do artesanato), pode favorecer a multipli-cação e reciclagem dos cursos, pois custamenos que trazer um instrutor de outra região.

❐ COMPETITIVIDADE E A IMPORTÂNCIA

DOS SERVIÇOS NO TURISMO

a) O mercado de ecoturismo tem concorrência

O ecoturismo é uma atividade comooutra qualquer, portanto uma região com-pete com outra, o que também ocorre entreempreendimentos e produtos da mesma

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

natureza. Quem estiver mais capacitadopara atender às demandas do turismo, e/oupossuir serviços diferenciados da concor-rência, terá maiores chances de atrair, man-ter e aumentar a clientela.

b) A qualidade do serviço é crucial paraa sobrevivência do empreendimento

em um mercado competitivoNo ecoturismo, como no turismo con-

vencional, a qualidade dos serviços é muitoimportante. Pesquisas de demanda com tu-ristas indicam o boca-a-boca como uma dasformas mais eficientes de propaganda, posi-tiva ou negativa. Portanto, quanto melhor oserviço mais chances de agradar, e manter, ocliente visitante.

❐ OS PRINCÍPIOS DO ECOTURISMO

O capítulo de Planejamento Integradofaz uma abordagem sobre os princípios doecoturismo e mostra uma série de fatoresque devem ser observados para que se pos-sam classificar como ecoturismo as ativi-dades relacionadas a um empreendimentoou pólo turístico. Priorização do benefíciogeral sobre o individual, monitoramento deimpactos positivos e negativos, educação decomunidade e turistas, qualidade de vida eoutros princípios só podem ser alcançadosmediante um processo participativo decapacitação da comunidade.

a) Identificação de prioridadesDa mesma forma que o projeto de eco-

turismo, o programa de capacitação tam-bém deve passar por uma etapa de planeja-mento. A primeira fase consiste em identi-ficar as maiores necessidades de capaci-tação da comunidade ou empreendimento.Um processo para identificar essas priori-dades consiste nos seguintes passos:

Passo 1 – Utilizar dados do Inve n t á r i op a ra fazer uma análise sobre os serviçose estruturas existentes, suas deficiências emaiores necessidades de mão-de-obra .Discutir isto com as pessoas interessadas.

Passo 2 – Discutir os cursos comproprietários e funcionários de estabe-lecimentos comerciais diversos, associ-ações classistas, empresariais, ONGs,funcionários da prefeitura, proprietáriosrurais e outras pessoas interessadas ouque possam se interessar pelo projetode ecoturismo e pelos cursos. Comoestratégia para este item, pode-se insti-tuir um comitê local de capacitação,envolvendo os principais atores e inte-ressados no ecoturismo, para o planeja-mento participativo.

Passo 3 – Mostrar e explicar aos interes-sados as áreas mais comumente enfo-cadas como prioritárias em programasde capacitação para o ecoturismo (veritem 3 desta seção). Passo 4 – Perguntar em quais áreas aspessoas gostariam e/ou têm maior neces-sidade de treinamento/aprendizado.Passo 5 – Relacionar todos os cursossugeridos e fazer um quadro de priori-

O PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO

DEVE SER ADEQUADO AO ECOTURISMO

E NÃO AO TURISMO CONVENCIONAL.

É importante ter em mente

que se está trabalhando em um programa

de capacitação para ecoturismo

e não turismo convencional. Não é preciso

um guia que fale sobre a história natural

do Brasil, mas que saiba interpretar

sua região, mesmo que por meio

de sua própria compreensão da natureza

e das transformações do ambiente.

O ecoturista quer o diferente,

o inusitado e, principalmente,

autenticidade. Ele não quer comida

francesa, quer o prato típico,

mas bem apresentado

e preparado de forma higiênica.

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Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

dades. É sempre bom lembrar que acapacitação é um processo contínuo eque não se pode, nem se deve, tentaraprender tudo de uma só vez. Uma pro-posta de hierarquização de prioridadespode basear-se em três grupos distintos:1 ) o que é necessário aprender, b u s c a n-do atender às deficiências em áreasbásicas do turismo, como hospedagem,alimentação e guias; 2 ) o que se devea p r e n d e r, ou seja, carências de qualifi-cação que são importantes, porém nãotão urgentes como as do grupo anterior;3 ) e o que seria bom aprender, c o m-preendendo, por exemplo, cursos emáreas complementares às principaisdemandas do turismo ou módulosavançados de cursos já oferecidos. Osexemplos listados abaixo fornecemalguns princípios para facilitar o proces-so de se estabelecer prioridades de acor-do com as características do projeto dee c o t u r i s m o .

2 Melhorar o que já existePor exemplo, em Superagui já existem

moradores que podem trabalhar como guiaslocais. Cursos de primeiros socorros, de in-terpretação e introdução ao turismo podemcapacitar esses moradores a se tornaremguias de ecoturismo.

2 Oferecer o que é extremamente necessário

Por exemplo, curso de guias, quandonão existirem guias.

2 Oferecer o que puder colaborar na diversificação dos serviços

Por exemplo, curso de produção dedoces e compotas, artesanato, marcenaria,marchetaria etc.

2 Estabelecimento de cronograma de execução dos cursos

Fazer uma lista com cursos desejados eprioritários é muito importante para a ela-boração do cronograma dos cursos, buscade recursos e a conseqüente efetivação dos

mesmos. Provavelmente várias pessoasdesejarão fazer diferentes cursos, por isto éaconselhável se elaborar um cronogramaque evite cursos simultâneos ou em seqüên-cia muito próxima.

Ao se elaborar este cronograma, é muitoimportante realizar primeiro os cursos moti-vadores. Se o primeiro curso não “pegar”,corre-se sério risco de baixa participação nosdemais. Pela lógica, o primeiro deve ser ocurso de introdução ao turismo e hospitali-dade, justamente por trazer uma série deinformações novas, apresentar um panora m ada atividade, inclusive a crescente demandapor produtos ecoturísticos, e introduzir ahospitalidade como uma necessidade co-m e rcial. Os cursos seguintes devem seraqueles que propiciam a geração quase queimediata de trabalho e renda, como os cur-sos de Guias e Produção e Comerc i a l i z a ç ã ode Produtos Locais (ver item 3 a seguir).

b) Identificação de participantes, instrutores e monitores locais

2 ParticipantesJustamente por ser uma nova atividade e de

demanda crescente, a oferta de cursos decapacitação na área de ecoturismo tem des-pertado grande procura, principalmente quan-do gratuitos. Como sempre há um limite devagas e de recursos, é aconselhável o estabe-lecimento de critérios para seleção dos parti-cipantes, como descrito a seguir:

w Realizar teste de conhecimento s o b r emunicípio/região e motivação – pode serescrito ou oral, já que em muitos projetos oanalfabetismo é uma realidade.w Priorizar proprietários e prestadoresde serviços, principalmente no início, quan-do se busca resultados para motivar. O eco-turismo trabalha, na maioria dos casos, commicroempresas familiares – funcionáriossão, geralmente, flutuantes.w Realizar teste de aptidão. Por exemp-lo, um guia em Fernando de Noronha temque saber nadar para o caso de precisar au-xiliar no salvamento de algum turista.

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w Estabelecer idade mínima para osparticipantes.w Priorizar do pretendente tempo mí -nimo de residência no município/região.

Mais importante do que testar conheci-mentos, esses procedimentos aumentam aseriedade e valorizam o compromisso paracom o curso. Deixa de ser algo “dado” parase tornar algo conquistado. Portanto, oscritérios e processos de seleção são indica-dos mesmo em situações onde há vagaspara todos.

O processo de seleção dos que seinscreverem para os cursos vai possibilitar aidentificação daqueles que já trabalham outêm as condições necessárias para iniciar aatividade a ser ensinada pelos cursos. Mastambém vão se inscrever muitos que nãodesempenham uma atividade relacionada,embora tenham interesse no conhecimentoe na possibilidade de uma nova profissão.Havendo condições, e em se optando porcapacitar esses dois grupos, pode-se separá-los, formando turmas diferentes, facilitandoo trabalho do instrutor e otimizando oaprendizado de ambos os grupos.

2 Instrutores locaisAo mesmo tempo em que são levantadas

as necessidades e prioridades, deve-se tam-bém identificar possíveis instrutores locais.Por exemplo, alguém da própria comu-nidade pode ser hábil na produção de docescom frutas regionais e exóticas, com práticana conservação desses doces. Essa pessoapode ser instrutora de um curso de doces ecompotas.

Caso não tenha habilidades para elabo-rar um curso, o projeto pode se propor aajudar na preparação. Da mesma forma,pode-se indicar essa pessoa como monitorade um curso de doces e compotas ministra-do por alguém com mais experiência. Dessaforma, o curso faria dupla capacitação: dosalunos e de um monitor para transformá-loem instrutor.

A identificação de instrutores regionaisvaloriza pessoas e produtos da região, mini-

miza os custos e facilita o processo deassistência aos alunos após o fim do curso.

2 Monitores locaisMonitores são parceiros dos instrutores

no processo de treinamento, auxiliando nacondução dos cursos e na execução de tare-fas por parte dos alunos, recebendo, paratanto, instrução adequada e conhecimentosespecíficos sobre o tema explorado. Oprocesso de identificação de monitoreslocais ocorre simultaneamente à identifi-cação de instrutores locais, sendo impor-tante o desejo e capacidade de aprenderpara replicar.

Preferencialmente, os monitores devemter algum conhecimento sobre a atividadeou área de conhecimento dos cursos queirão assessorar. Os monitores também sãofundamentais para assessorar os alunos apóso término do curso, além de, em muitoscasos, se capacitarem para replicar o cursoposteriormente. O aconselhável é que emcada curso pelo menos dois monitoressejam capacitados.

Ao se definir quem vai ser monitor é bomtambém estabelecer a forma de trabalho dosmesmos, se serão remunerados ou não ecomo aplicarão na comunidade os conhe-cimentos adquiridos. Neste caso, monitoresremunerados, mesmo com uma pequenaquantia, trabalham mais motivados duranteo curso e depois, na assistência aos alunosou ministrando cursos semelhantes. Damesma forma, é possível fazer acordos: porser monitora a pessoa aprende mais do queos outros e recebe uma remuneração; emtroca tem que dar assistência durante umperíodo, visitar estabelecimentos e orientarproprietários, ou ministrar cursos gratuitos àcomunidade.

O importante é escolher bem os moni-tores e negociar tudo antes de começarem oscursos. Por fim, atentar para que não haja um“monopólio da monitoria”, ou seja, ampliaras oportunidades ao evitar que algumas pes-soas sejam monitores de vários cursos.

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2. Definição de metodologia para cursos

Existem muitos órgãos, empresas e profis-sionais que ministram cursos na área de

turismo. No entanto, a maior parte dessescursos contempla realidades muito distintasdas comunidades rurais que vivem osmomentos iniciais da atividade turística,especialmente do ecoturismo.

A necessidade de cursos motivadores, aimportância dos primeiros cursos, o fato deque pessoas de pequenas comunidades têmpouca ou, muitas vezes, nenhuma escolari-dade, implicando dificuldade para acom-panhar métodos didáticos tradicionais e deficar em uma sala de aula por muito tempo,e o próprio contexto da atividade ecoturísti-ca demandam uma definição prévia dametodologia básica, ou de diretrizes aserem adotadas antes, durante e após oscursos. Essa definição é fundamental para aseleção e orientação dos capacitadores,favorecendo a elaboração de cursos maisadequados à realidade da comunidade.

❐ CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE INSTRUTORES

ESPECIALIZADOS E/OU DE FORA DA REGIÃO

O ecoturismo é uma atividade nova quedemanda conhecimento técnico e profis-sionalismo. Portanto, instrutores, consul-tores e técnicos serão sempre necessáriosem determinadas fases de um programa deecoturismo. Isso deve ficar bem claro desdeo início do processo, pois quando a comu-nidade já tem uma certa organização sociale política, é comum haver questionamentosquanto à necessidade de se trazer técnicosde fora, principalmente devido ao valor daremuneração, que com certeza é bem maiordo que a média salarial da região.

Os motivos enumerados neste capítulodemonstram que os cursos de capacitaçãoem ecoturismo não podem ser similares aoscursos realizados em grandes centros. Estefato faz com que seja limitado o número deprofissionais disponíveis no mercado paracursos dessa natureza. De qualquer forma,alguns critérios devem ser estabelecidospara a contratação desses instrutores:

a) Experiência na área temática em questão (inclusive com trabalhos decampo).

b) Experiência em trabalhos com comu-nidades (de preferência com ecotu-rismo).

c) Apresentação de proposta prelimi-nar, contendo metodologia e con-teúdo do curso. Propostas dinâmicas e que envolvam experiências práti-cas são as mais adequadas.

d) Disponibilidade para visitar a comu-nidade antes da elaboração da pro-posta final do curso (quando o custo desta visita for mínimo).

❐ REUNIÃO ENTRE CAPACITADORES,COORDENADORES DO PROJETO E ALUNOS

Após a identificação dos cursos e dosfuturos instrutores, a melhor forma de se ela-b o rar programas mais próximos à realidadelocal é fazer com que os instrutores se reú-nam com alunos ou possíveis alunos paradiscuti-los. Além da percepção de cada um,

A ESCOLHA DE INSTRUTORES

E MONITORES DEVE SER CUIDADOSA.

A escolha de instrutores e monitores

locais, sua remuneração e atividades

a serem desempenhadas devem ser

sempre bem discutidas e feitas sob

critérios preestabelecidos. Além disso,

p r o c e d i m e n t o s de acompanhamento

e monitoria devem ser estabelecidos.

Apesar de haver o interesse e demanda

para que sejam contratadas pessoas

da região, sempre há certa resistência

em ter alguém de casa ensinando algo.

Em suma,

“santo de casa não faz milagre”.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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das características de cada curso e dametodologia do instrutor, seguem sugestõesde temas a serem discutidos na reuniãop r e p a ra t ó r i a :

a) Evitar o muito em pouco tempo.Muitos cursos são elaborados de forma

condensada, transmitindo muitas infor-mações em pouco tempo. Com isso, alunosde comunidades rurais, que não têm o cos-tume de permanecer, por exemplo, oitohoras por dia dentro de uma sala de auladurante uma semana, tendem a dispersar enão aproveitar o curso. É mais importanteobservar o ritmo dos alunos e transmitir oessencial, não se preocupando com o vo-lume. O ideal é um curso modular (emmódulos de temas específicos) onde evita-sea sobrecarga de informação e permite quese aplique trabalhos ou exercícios de campoentre um módulo e outro, favorecendo oaprendizado.

b) Trabalhos práticos e em grupos (aprender fazendo)

A realização de trabalhos práticos e emgrupos é uma das melhores formas de seensinar e aprender, pois quebra a monoto-nia e dá mais dinamismo ao curso. Porexemplo, no curso de alimentação, na abor-dagem sobre formas apropriadas de estoquede alimentos, deve-se levar os alunos aosmercados e apontar o que está certo, o queestá errado e como se pode melhorar. O usode desenhos representativos e construçõesde mapas da região de interesse são umaforma interessante de se entender o univer-so do conhecimento local. O ideal é que ocurso tenha metade do seu tempo em ativi-dades práticas.

c) Técnicos devem se adequar às limitações e costumes dos alunos

Evitar informações muito complexas oumuito distantes da realidade local, que seperdem e desestimulam os alunos. Damesma forma, a utilização de linguajar po-p u l a r, expressões e exemplos regionaisfacilitam a compreensão por parte dos

alunos e criam maior identidade com o queestá sendo ensinado. Além da reunião comos futuros participantes dos cursos, o instru-tor deve buscar o conhecimento prévio dosestabelecimentos, dos atra t ivos ou mesmodas residências de seus alunos. Comoexemplo, o instrutor do curso de alimen-tação deveria conhecer antecipadamentealgumas das cozinhas de seus alunos.Muitas vezes, o conhecimento da reale s t r u t u ra e funcionamento é mais impor-tante para o instrutor do que o debate comos participantes.

c) Assegurar, ouvir e treinar os monitores locais

Apesar de que muitos instrutores prefe-rem trabalhar com seus próprios auxiliares,é importante assegurar a capacitação demonitores locais, já que estes farão umimportante papel de elo entre instrutor ecomunidade. E é importante que monitoressejam ouvidos por instrutores antes da ela-boração final da estrutura do curso. Damesma forma, como os monitores auxiliarãona execução do curso, é interessante quetenham algum tipo de treinamento antes doinício dos mesmos.

❐ RECURSOS DIDÁTICOS

Uma boa estratégia é a utilização devídeos, transparências, fotos, slides, folhetose outros recursos que demonstrem a reali-dade do ecoturismo em outras áreas. A l é mde dinamizar o curso, tornando-o mais inter-essante, colabora com o processo de edu-cação e informação em relação ao turismo.

Mesmo havendo alunos sem capacidadede leitura, é aconselhável a produção e dis-tribuição de apostila para todos. Dessaforma, evita-se o sentimento de discrimi-nação ou constragimento entre os alunos,além do fato de que as cartilhas são tidascomo um troféu, uma prova concreta departicipação no curso. Por fim, adultos nãoalfabetizados têm sempre alguém em casaou na vizinhança que sabem ler, o que podeassegurar a utilidade da cartilha.

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❐ CURSOS ITINERANTES

Alguns cursos podem ser um misto entreaulas teóricas e visitas aos estabelecimentoslocais, se possível com todos os partici-pantes. Com autorização prévia dos proprie-tários, o instrutor deve visitar os empreendi-mentos e realizar uma assessoria em grupo,levantando problemas, comentando pontospositivos e indicando soluções e melhoriasnecessárias. Essa prática tem uma série devantagens: movimenta o curso, ajuda noprocesso de capacitação do próprio instru-tor (realidade e práticas locais), facilita oprocesso de aprendizado do aluno e oferecesubsídios diretos para melhoria dosempreendimentos locais.

❐ REPLICAGEM DOS CURSOS

Trata-se de um dos itens mais impor-tantes quando se pensa na busca de finan-ciamentos para o programa de capacitação.A replicagem dos cursos ministrados énecessária tanto para favorecer os que aindanão os fizeram como para fixar o conheci-mento dos que já tive ram essa oportu-nidade. A melhor forma para se repetir oscursos é por meio dos monitores e instru-tores locais. Portanto, durante a fase deplanejamento, é importante assegurar recur-sos financeiros para remunerar o trabalho decontinuidade dos cursos.

3. Áreas prioritárias para capacitação

Não obstante a necessidade de umplanejamento participativo para definir

prioridades de cursos para cada comu-nidade/região, o ecoturismo é um segmentobem definido do mercado de turismo. Issoquer dizer que há uma série de serviçosenvolvidos na atividade, qualquer que sejao local onde se desenvolva.

A seguir apresentamos, em ordem deprioridade, os cursos que em geral devemcompor um programa de capacitação para oecoturismo em uma comunidade/região. Oplanejamento participativo discutirá não sóa real necessidade de cada um desses cur-sos, mas também sua priorização, conteúdoe formato adequados para a comu-nidade/região em questão. Nesse processo,poderão aparecer novos cursos.

❐ INTRODUÇÃO AO TURISMO E HOSPITALIDADE

Fornece informações necessárias paraquem está investindo ou pensa em investirno ecoturismo, tais como noções básicas deturismo e de hospitalidade, o contextoregional, nacional e internacional do turis-mo e da crescente demanda por produtosecoturísticos, a importância do bom atendi-mento e da receptividade ao turista, doboca-a-boca como forma eficiente de pro-paganda (a favor e contra), impactos posi-t ivos e negativos do turismo, tipos de turistas.

Um curso de introdução ao turismo ehospitalidade é aplicável para todos os seg-mentos, mesmo aqueles não envo l v i d o sdiretamente com o turismo. Através de estu-dos de casos, pode-se mostrar os pontosp o s i t ivos e negativos, ajudando a evitarriscos e a maximizar benefícios, sendo umcurso motivador por ajudar a compreendero conjunto da atividade e demonstrar que ovisitante tem que ser atraído e bem tratadopara se obter sucesso.

Consequentemente, estimula a buscapor mais conhecimentos, melhoria nosserviços e estruturas, favorecendo a partici-pação em outros cursos.

Como já indicado, este deve ser o

CURSO ITINERANTE

No curso de doces e compotas rea-lizado por um programa de ecoturismoem Alto Pa raíso e outros três municípiosgoianos, o instrutor iniciava o curso comum passeio pelos quintais nas residênciasdos participantes. Dessa forma, tomavaconhecimento das frutas mais comunsnos municípios e todo o curso era vo l t a-do para o processamento dessas frutas,com o aprimoramento de técnicas locaisde produção de doces e compotas.

EXEMPLO:

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primeiro curso a ser oferecido. Considera - s eideal incluir seu conteúdo básico em todos osoutros cursos. Pode-se também optar por criarum curso básico de Introdução ao Turismo eHospitalidade como pré-requisito para que sepossa participar dos outros cursos.❐ GUIAS LOCAIS, GUIA MATEIRO E

CONDUTORES OU MONITORES DE VISITAÇÃO

Além dos conceitos básicos da atividadede guia, como orientação e condução degrupos, o curso de guias pode abranger ou-tras áreas do conhecimento como biologia(fauna e flora), geologia e geomorfologia,história natural e de ocupação da região outécnicas como primeiros socorros, busca eresgate, interpretação ambiental e atémesmo inglês, onde for necessário.Portanto, um só curso não pode abrangertudo e todos de uma só vez, sendo melhor aorganização em módulos, estabelecendoum processo contínuo de capacitação ereciclagem.

Importante ressaltar que o condutor seencontra em uma posição privilegiada parasensibilizar e motivar a organização dacomunidade no desenvolvimento do ecotu-rismo. Por conduzir grupos por diversos

empreendimentos como atrativos, hotéis erestaurantes, e por ser a pessoa que melhorpercebe os anseios e expectativas dos visi-tantes, o guia atua como um agente orienta-dor de melhores práticas em serviços, deeducação ambiental e sanitária.

O curso de guias é motivador por favore-cer a geração quase que imediata deemprego e renda, dependendo do grau devisitação do local. Além disso, incentiva aformação de associações locais, por criaruma nova categoria de trabalhadores onde oecoturismo se implanta e pela necessidadede preservação dos atrativos, que são a gali-nha dos ovos de ouro da atividade. Por essasrazões, e pela associação quase naturalentre ecoturismo e o serviço de guia local,este também deve ser um dos primeiros cur-sos oferecidos.

Dependendo do perfil do grupo, o cursode guias pode ser incrementado com ativi-dades práticas tais como a execução departe do inventário ou a observação de umprojeto de implantação e manejo de trilhas.

A Associação de Condutores deVisitantes da Chapada dos Veadeiros (ACV-CV), entidade que recebe o apoio do WWF

PROJETO VEADEIROSUM PROJETO INTEGRADO DE CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (PICD) NO CERRADO,

ALTO PARAÍSO, GO

ocalizado na região central do Brasil, o cerrado ocupa 22% do país e está sendodevastado pela agricultura e pecuária de larga escala, sendo que menos de 2% da área total do bioma está protegido na forma de parques ou reservas.

Uma das poucas unidades existentes é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,em Goiás, a 240 quilômetros de Brasília, atualmente ampliado para 235.000 hectares e sob a responsabilidade do IBAMA. Há um crescente e desordenado fluxo turístico que explora a bela paisagem e as inúmeras cachoeiras existentes. A ocupação do soloameaça a integridade do entorno do Parque e a sua consolidação enfrenta problemasfundiários. Dentre as diversas prioridades do Projeto Integrado de Conservação eDesenvolvimento (PICD) está o incentivo à implementação do ecoturismo comunitário.

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A Associação dos Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros (ACVCV), que tem mais de 200 associados, é o principal parceiro local na execução do programade ecoturismo. Dentro do programa de capacitação da ACVCV, uma das atividades realizadas foi a capacitação de guias para o planejamento e execução de técnicas de Manejo e Interpretação de Trilhas, utilizando métodos que reduzam o impacto da visitação, promovam a segurança dos visitantes e valorizem os elementos naturais e culturais do local.

Primeiramente, o consultor técnico capacitou dois guias para atuarem como monitores durante o curso, definindo as trilhas a serem manejadas, selecionando os interessados, coordenando e dando esclarecimentos técnicos durante as atividades.

Os monitores iniciaram seus trabalhos definindo a primeira trilha e avaliando sua viabilidade dentro do contexto do ecoturismo. Depois conseguiram a autorização do proprietário do local e, conforme os métodos fornecidos pelo consultor, prepararam o material a ser utilizado durante o curso (ferramentas, mapas e planilhas da trilha, bússola, clinômetro, etc.).

Para selecionar os guias que participariam da capacitação foram utilizados os critérios de interesse, disposição e envolvimento com a região. Depois disso, foi feita uma reunião para apresentação da proposta e a programação das atividades,confirmando o interesse e o comprometimento de cada um.

Com tudo preparado, o consultor realizou o curso para o grupo, apresentando e aplicando as técnicas de manejo. Todos participaram das atividades, vivenciando os diferentes tipos de trabalhos que podem ser feitos em uma trilha, garantindo, assim,um bom aproveitamento.

Com a ajuda de especialistas em flora e geologia, o grupo realizou o levantamentodos aspectos mais significativos da trilha que deveriam ser passados aos visitantes por meio da interpretação. De posse dessas informações, foram elaboradas placas interpretativas e indicativas e afixadas na trilha.

Após a finalização da primeira trilha, foi planejada e executada uma segunda, de acordo com os mesmos métodos, mas sem o acompanhamento técnico do consultor.Este segundo trabalho serviu para reforçar e aprimorar a capacitação nas técnicas de manejo e interpretação de trilhas.

Seguindo o método proposto no capítulo de Manejo de Trilhas e InterpretaçãoAmbiental, foram capacitados oito guias que formaram um grupo técnico dentro da associação. O objetivo do grupo é fornecer assessoria técnica e acompanhamento na execução de trabalhos de manejo e interpretação de trilhas nas áreas de visitação da região, tanto públicas quanto particulares, incrementando os serviços da ACVCV,promovendo sua auto-sustentabilidade e melhorando as condições e qualidade dos atrativos, além da redução de impactos por visitação.

Uma das dificuldades para se realizar a atividade foi ocasionada pelo fato de que o método de capacitação não estava ainda bem definido, gerando alguns conflitos durante o processo de coordenação das atividades. Outro problema é que os participantes não tinham o costume de trabalhar com planejamento, cronograma e horários a serem cumpridos, provocando atrasos e contratempos nas tarefas realizadas.Por fim, foi notada a dificuldade de alguns participantes para assimilar o conteúdo técnico mais elaborado.

ESTUDODE CASO (cont….)

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por meio do Projeto Veadeiros e é parceirano desenvolvimento dos métodos desteManual, oferece cursos de guias locais epode ser contatada para uma melhor orien-tação sobre este curso (ver anexo, comendereços de participantes do PEC).

❐ PRODUÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E

COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS LOCAIS

(AGROPECUÁRIA, EXTRATIVISMO

E HORTICULTURA, DOCES E COMPOTAS,FRUTAS DESIDRATADAS, ARTESANATO,MARCENARIA E MARCHETARIA,CONFECÇÕES ETC.)

Quanto maior e mais diversificada for aprodução local, mais a comunidade se be-neficiará do ecoturismo. Por isso o inve n-tário pode oferecer subsídios para identi-ficar lacunas na produção local, ligados ounão ao turismo, já indicando cursos a serem

p r o m ovidos com o objetivo de suprir falhase evitar a fuga de recursos para outra sr e g i õ e s .

Por outro lado, problemas de mercadoou detalhes de produção podem reduzir oconsumo. Se determinado produto tem umaapresentação ruim, ou um doce é excessiva-mente doce, sua venda pode ser prejudica-da. Por isso, alguns cursos devem se con-centrar na melhoria do que é feito na região,levando aos produtores a demanda do mer-cado. Tome-se como exemplo uma cesta depalha, que pode ser feita de vários tama-nhos, utilizando a mesma técnica. É possíve lque as menores tenham melhores chancesde venda, já que boa parte dos turistas dis-põe de pouco espaço em suas bagagens.

Os cursos também devem abordar oscuidados na coleta e utilização de recursosnaturais, como o extrativismo (flores, plan-tas, rochas, penas etc.), pois não é objetivo

Para evitar estes e outros problemas, fazemos as seguintes recomendações:❐ O método de capacitação deve ser definido de acordo com as características

da atividade a ser desenvolvida, do local e dos participantes, ou seja, adequar-se ao contexto de cada projeto.

❐ O planejamento, o cronograma e os objetivos da capacitação devem ser apresentados e discutidos no início do processo, de forma que fiquem bem claros para todos.

❐ Os coordenadores locais devem estar bem informados e capacitados em relação aos métodos e ao conteúdo técnico da capacitação, facilitando o trabalho de acompanhamento e motivação.

❐ Escolher as melhores épocas para iniciar as atividades, evitando períodos de interrupções prolongadas (épocas de chuva, de colheita ou alta temporada turística, por exemplo), que podem causar demandas por outras ocupações ou perda de interesse por parte de participantes.

❐ Fazer uma boa seleção dos interessados para garantir o aproveitamento e a multiplicação do curso.

Finalmente, o processo de capacitação gera expectativas nos participantes, tanto no que se refere ao seu envolvimento com as atividades na região, como com suaprópria melhoria profissional. Esta expectativa e os resultados do programa de capacitação devem ser utilizados para gerar um maior comprometimento dos participantes com os ideais do ecoturismo.

ESTUDODE CASO (cont….)

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Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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de projetos de ecoturismo incentivar práti-cas não sustentáveis.

Esses cursos também devem ser ofereci-dos no início do programa, por proporc i o n a rmelhoria de produtos já existentes e dive r s i-ficar o ganho com o ecoturismo, além depossibilitar que pessoas de diferentes níve i seconômicos, idade e escolaridade desem-penhem uma atividade produtiva, utilizandoe evitando o desperdício de produtos locais.

❐ ALIMENTAÇÃO

Nos cursos na área de alimentação, aprioridade é para conservação, estoque emanuseio de alimentos, higiene, controlebacteriológico, decoração do estabeleci-mento e dos pratos, utilização de produtos epratos regionais, tendências vegetarianas,naturalistas e de saúde e equipamentos bási-cos. Como mencionado anteriormente, nãoé necessário um curso de culinária francesa– apenas aprimorar os produtos locais, ade-quando-os às demandas do mercado e ofe-recendo subsídios para maior economia ehigiene no manuseio de alimentos.

Por ser a alimentação um serviço básicode ecoturismo (a maioria dos estabeleci-mentos lida com alimentos) e por implicarbenefícios também na cozinha familiar, estetambém é um curso que costuma motivarbastante a participação.

❐ MEIOS DE HOSPEDAGEM

Cursos relacionados à área dehospedagem são oferecidos por diversasempresas e entidades. No caso do ecoturis-mo, deve-se buscar orientação para o plane-jamento e administração de pousadas,chalés, pequenos hotéis, hospedagem resi-dencial (conhecido internacionalmentecomo Bed and Breakfast ou cama e café) ecampings. Mais uma vez, é preciso estaratento às necessidades locais. Não sãonecessários cursos para grandes empreendi-mentos hoteleiros, mas ensinamentos bási-cos de administração, marketing, arquitetu-ra e serviços de hospedagem.

❐ OPERAÇÃO LOCAL

(AGÊNCIAS E OPERADORAS)

Um produto de turismo é um casamentoentre atrativos, serviços e estruturas, associ-ados a um cronograma (ver capítuloElaboração de Produto de Ecoturismo). Écomum haver atrativos e serviços, sem queo produto seja elaborado. Apesar do ecotu-rista ter um perfil aventureiro, a tendência épara viagens curtas e bem planejadas. Umadeterminada região pode ter atra t ivos eserviços em locais isolados, necessitando deuma ponte para colocá-los no mercado.Uma agência ou operadora local podemfazer essa ligação, elaborar e operar os pro-dutos. Como o mercado turístico em comu-nidades rurais é pequeno e incipiente, ademanda por operadoras locais ainda éreduzida. Nesses casos, talvez seja mais ren-tável para o projeto conseguir estágios e cur-sos em agenciamento e operação de roteirosem centros urbanos para os interessados, oque facilitaria também os contatos comgrandes agências e operadoras interessadasnos produtos da região. Associações deguias devem ser consideradas prioritáriaspara este curso, possibilitando um cresci-mento profissional dentro da atividade deecoturismo.

❐ ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO

(COMERCIALIZAÇÃO, CONTABILIDADE,ESTABELECIMENTO DE CUSTOS, ETC.)

Com raras exceções, nas regiões ondesão implementados projetos de ecoturismov ivem comunidades que trabalham comatividades tradicionais, como o extrativismoe culturas de subsistência. A realidade dessetipo de produção segue o seguinte padrão:produzir/extrair, armazenar, vender no cen-tro comprador. Já o turismo traz uma novaprática: o produto não é armazenável e ocliente tem que vir até o “produtor”. Porexemplo, um quarto de hotel é vendido naforma de diária. Se ele não é ocupado emum determinado dia, é um rendimento quese perdeu. Além disso, o hotel se desva-

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loriza dia a dia devido ao desgaste naturalou por uso. Portanto, ao contrário de umsaco de arroz que pode ser vendido hoje ouamanhã, o produto turístico não utilizadohoje não tem como ser reposto amanhã.

Da mesma forma, a maioria dos estabe-lecimentos de ecoturismo tem origem ea d m i n i s t ração familiar. São quintais que vira mcampings e residências que viram restau-rantes e pousadas. Portanto, diante da neces-sidade de se cortar custos, não será fácil paraa proprietária despedir o marido ou um filho...

Devido à diversidade de proprietários eempreendimentos e da própria complexidadede se gerenciar um estabelecimento, a su-gestão é que se faça um módulo teórico bási-co e que o curso ofereça, como complemen-to, assessoria direta aos empreendimentos, ouseja, um trabalho de assistência técnica. Oscapítulos Viabilidade Econômica e A d m i -n i s t ração e Práticas Contábeis d e vem ser uti-lizados como orientação deste(s) curso(s).

Além das noções e sistemas simplificadosp a ra se administrar um empreendimento, osproprietários devem compreender os proces-sos de venda que fazem um turista ch e g a raté seu estabelecimento. Assim, orientaçõesde marketing podem ser úteis por ensinar at rabalhar com as altas e baixas tempora d a sdo turismo, a adotar práticas de incentivo sp a ra se aumentar a ocupação em época debaixa temporada, entre outros temas.

4. Monitoramento e avaliação

Omonitoramento e a avaliação da quali-dade e eficiência dos cursos devem ser

feitos constantemente, de forma a garantir acontinuidade e o sucesso do programa decapacitação.

A avaliação do curso e de seu(s) instrutor(es) deve ser feita imediatamenteapós o curso e com a participação dealunos, monitores e instrutores. Pode serfeita das seguintes formas:

❐ AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

Por meio de questionário padrão abor-

dando questões relativas à didática, conteú-do, motivação e aprendizado. Deve serrespondido individualmente, mesmo que deforma oral quando for o caso.

❐ EM GRUPO, COM OS ALUNOS

E SEM A PRESENÇA DO INSTRUTOR

Conversa aberta discutindo os mesmositens do questionário individual, levantandoe compreendendo os pontos positivos e ne-gativos, bem como alternativas de melhoriasdo curso.

❐ EM G R U P O, C O M A L U N O S E I N S T R U TO R E S, FA Z E N D O O M E S M O T I P O D E AVA L I A Ç Ã O

A N T E R I O R

Pode ser duro para o instrutor ou inibiros alunos, mas é uma forma bem democráti-ca e positiva de se buscar o crescimento detodos. Neste caso, é fundamental a presençamoderadora de um coordenador e seriabom que este tivesse conhecimento dasavaliações individuais antes da reunião.

❐ REUNIÃO ENTRE INSTRUTORES, MONITORES

E COORDENAÇÃO DO PROGRAMA

Os itens da discussão são os mesmos,mas com os técnicos aprofundando a dis-cussão nas questões mais técnicas e outra sque devem ser discutidas somente noâmbito da coordenação. É sempre boml e m b rar que certas críticas ou comentáriostêm melhor efeito quando feitas reserva-d a m e n t e .

Seguem algumas sugestões para avalia-ção e monitoramento, não significando quetodas precisam ser implementadas. O idealé que cada projeto desenvolva a metodolo-gia que melhor se adequar ao seu contexto.

a) Avaliação de resultados de curto prazo

Visita aos proprietários de empreendi-mentos que fizeram os cursos, degustação eteste de produtos e serviços (fazer uma trilhacom o novo guia, por exemplo) e entrevista

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Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

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com turistas, que podem refletir melhoriasou não em praticamente todos os segmentos.

b) Avaliação de resultados de médio e longo prazo

A mesma metodologia acima, fazendocomparação com avaliações anteriores.

c) Checar cronograma de execução dos cursos e reprodução dos mesmos por monitores, quando for o caso.

Cursos de monitores devem passar pelomesmo processo de avaliação acima sugerido.

d) Durante todo o processo de avaliação e monitoramento, identificar necessidades de novos cursos ou mesmo da repetição de cursos já realizados.

Várias das sugestões acima podem serseguidas por meio do sistema de inventárioturístico e seu processo de monitoramento.Outras necessitam do desenvolvimento demetodologia apropriada e de acompan-hamento constante por parte do coorde-nador ou comissão responsável pelo proje-to. O importante é que se estabeleça algumsistema de monitoramento para assegurar acontinuidade e o aprimoramento do progra-ma de capacitação.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

❒ RISCOS AO SE CAPACITAR ALÉM

DA DEMANDA

Um dos riscos de um programa decapacitação é o de se capacitar um númerode pessoas bem maior do que a demanda demercado. Além da má gestão de recursoshumanos e financeiros, excesso de pessoascapacitadas em uma determinada área podeprovocar a decepção com o projeto porparte dos participantes/comunidade pelaquebra de expectativa em relação a umapossível ocupação e favorece a concorrên-cia baseada no menor preço em detrimentoda qualidade. Desta forma, a conseqüência

final de um programa de capacitação malplanejado e desatento à realidade localpode ser o contrário dos objetivos do pro-g rama: produtos de baixa qualidade emenos competitivos, menor benefícioeconômico à comunidade, possíveis confli-tos entre moradores e decepção com o pro-grama de ecoturismo.

❒ CAPACITAÇÃO GERA DEMANDA

DE INVESTIMENTOS

Ao objetivar mais qualidade e diversi-dade de produtos, o programa de capaci-tação vai gerar a necessidade de investi-mentos tanto de quem já está no ramo ou dequem quer iniciar uma atividade. O projetode ecoturismo deve procurar se antecipar aesta demanda através de ações de orien-tação à comunidade (por exemplo, linhasde financiamento existentes, cuidados aofinanciar, práticas de menor custo) e criaçãoou gestão de fundos destinados à populaçãode baixa renda ou programas de conser-vação ambiental.

V. BIBLIOGRAFIA

BRUNS, D., RICHARDSON, S. & SULLIVANT. 1994. Recreation – To u r i s mCommunity Partnerships for SustainableA dventure Travel. In The Fi f t hInternational Symposium on Society andResource Management. Colorado StateUniversity, Fort Collins, Colorado, USA.

BYERS, Bruce. 2000. Understanding andInfluencing Bahavior: a Guide.Biodiversity Support Program, USAID.Washington, DC, USA.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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M U R P H Y, Peter E.. 1985. Tourism: ACommunity Approach. Methuen, Inc.:Nova York, NY, EUA,.

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SPENCER, Laura J.. 1989. Winning ThroughParticipation: Meeting the Challenge ofCorporate Change With the Technologyof Participation. The Group FacilitationMethods of the Institute of Cultura lAffairs. Kendall/Hunt PublishingCompany. Chicago, IL, USA.

✑ TOME NOTA:

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GESTÃO INTEGRADA

I. OBJETIVO

O o b j e t ivo deste capítulo é oferecerum instrumento prático e viável quepossibilite o monitoramento e con-

trole dos impactos de visitação por parte dosr e s p o n s á veis pela gestão de áreas natura i s .

O método aqui proposto – Monito-ramento do Impacto de Visitação (MIV) –incorpora as principais e mais conhecidasmetodologias existentes para gestão do usorecreativo de áreas naturais.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

Como foi visto na Introdução e no capí-tulo de Planejamento do Ecoturismo desteManual, há uma série de princípios rela-cionados às questões sócio-econômicas e àc o n s e r vação ambiental que orientam odesenvolvimento do ecoturismo.

A visitação causa alterações ao ambientenatural. É necessário adotar medidas decontrole para protegê-lo, e ao mesmo tempoassegurar qualidade à visita.

O método proposto neste capítulo con-templa o princípio da viabilidade ambiental,segundo o qual o ecoturismo deve serdesenvolvido com o controle dos impactos,de forma a não gerar danos irreversíveis aolocal visitado, inclusive como forma de nãocomprometer o próprio negócio.

Os dados recolhidos por meio do moni-toramento ou acompanhamento das alte-rações podem subsidiar a formulação demedidas de proteção.

1. O princípio básico

Odesafio para se controlar o impacto devisitação em áreas naturais não deve

ser menosprezado. Problemas ambientaisdecorrentes da interferência humanaexigem uma postura preventiva, para equili-brar o uso, e pró-ativa, de forma que asolução venha em tempo hábil.

Em geral, para se resolver um problemaisolam-se suas causas, elaboram-se estraté-gias para eliminá-las ou minimizá-las, esta-belecem-se metas a serem cumpridas eacompanham-se os eventos de implemen-tação, até que tenham sido atingidas asmetas ou o problema tenha sido resolvido.

Esse processo, tão simples e cotidiano,torna-se complexo quando se trata de con-trole de impactos de visitação, pois oimpacto ambiental indesejável no local visi-tado é muitas vezes difícil de ser percebido.Além disso, o conhecimento disponíve lsobre os processos e relações entre os diver-sos elementos de um determinado ecossis-tema geralmente é insuficiente para seentender que determinada alteração é inde-sejada ou proveniente de causas não natu-rais. A alteração na população de umadeterminada espécie animal pode ser provo-cada por ações antrópicas, ou pela própriadinâmica populacional da espécie, ou poroutras mudanças no ecossistema (no solo,na vegetação, nos recursos hídricos, em ou-tras espécies de fauna, no clima etc.) dasquais não se tem qualquer conhecimento,ou não se é permitido conhecer.

Sem que determinada situação seja diag-nosticada como um “problema”, como é

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9. Monitoramento e controle de impactos de visitação

Sylvia Mitraud

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

possível identificar causas e traçar estraté-gias para solucioná-la? E mais importante, senão há problema perceptível, por que sepreocupar com a situação?

A resposta é simples: o fato de não seidentificar um problema não significa queeste não exista. Usualmente, quando sepercebe um problema ambiental, este jáatingiu tal nível de gravidade que é comumter se tornado irreversível, ou de soluçãosomente a longo prazo e/ou de alto custo.

Assim, no monitoramento e manejo deimpactos de visitação, o esforço dos respon-sáveis pela gestão deve ser voltado para aantecipação e prevenção de problemas. Por

2. As características do sistema

Od e s e nvolvimento e a aplicação demétodos de monitoramento e controle

(ou seja, o manejo) de impactos de visitaçãoem áreas naturais são processos ainda emelaboração e teste, não só no Brasil comoem todo o mundo. Dessa forma, o métodoaqui apresentado deve ser visto como um

modelo experimental, como o início de umprocesso de construção de um método quedeverá ser refinado após sua implementaçãomonitorada em diversos contextos.

O método ora proposto possui duas ca-racterísticas básicas:

❒ É FLEXÍVEL e VERSÁTIL, podendo seradaptado a uma diversidade de si-

meio do acompanhamento criterioso e sis-temático de alterações observáveis no ambi-ente visitado, e seu controle, espera-se queproblemas maiores, mais complexos epouco perceptíveis sejam detectados commaior facilidade.

O enfoque na prevenção de problemasimplica alterações nos procedimentos maiscomumente seguidos para os processos demonitoramento de projetos.

Para aqueles que já possuem experiênciaem monitoramento de projetos, a seguirapresentamos um quadro que contrasta asduas abordagens e aponta as diferençasentre elas.

9MONITORAMENTO DE PROJETOS MONITORAMENTO DE IMPACTOS DE VISITAÇÃO

1 Identificam-se problemas 1 Planeja-se ou inicia-se a visitaçãoe diagnosticam-se causas em uma área natural

2 Define-se a estratégia de ação 2 Define-se a situação desejada para resolver os problemas para uma área natural visitada

3 Definem-se metas a serem alcançadas 3 Definem-se indicadores e meios deacompanhar o estado atual de acordo com o desejado

4 Definem-se indicadores 4 Definem-se parâmetros máximosde monitoramento das metas aceitáveis de alteração, os quais não

se quer alcançar

5 Monitora-se o alcance dos resultados 5 Monitoram-se as alterações nos indicadores

6 Caso não sejam alcançados, 6 Caso sejam atingidos os parâmetros, elaboram-se novas estratégias de ação elaboram-se estratégias de ação

1 QUADRO 1

MONITORAMENTO DE PROJETOS E DE IMPACTOS

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

tuações – desde o manejo de umapequena propriedade particular,sem pessoal ou recursos para manterum sistema sofisticado de monitora-mento e controle de impactos, atéum parque nacional marinho. Aolongo do capítulo serão utilizadosexemplos ilustra t ivos desses doistipos de casos.

❒ Sendo um método flexível, o resulta-do de sua implementação depende,em grande parte, da A B R A N G Ê N C I A eda C O M P L E X I DA D E do sistema definidaspor aqueles que o aplicam.

Independentemente da complexidade dosistema montado, este deve ser:

❒ PR Á T I C O, com procedimentos einstrumentos de monitoramento omais simples possível.

❒ DINÂMICO, permitindo a fácil ade-quação do sistema de acordo com oaprendizado gerado pela sua apli-cação.

❒ ACESSÍVEL aos proprietários, gerentes,ou pessoas responsáveis pela apli-cação do sistema.

❒ CONFIÁVEL, com coleta e registro dedados realizados nos prazos e naforma definida no sistema.

❒ FOCALIZADO NO MANEJO DA VISITAÇÃO enão em pesquisa em geral.

❒ GERADOR DE INFORMAÇÕES CUMULATI-VAS, ou seja, seu objetivo é observarmudanças em um mesmo elementoao longo do tempo.

❒ SI S T E M AT I CA M E N T E O R G A N I Z A D O p a ranão haver perda ou mistura de infor-mações sobre os dados coletados.

❒ DE A P L I CA Ç Ã O I M E D I ATA, sem estarcondicionado à realização depesquisas prévias, ou do alcance decondições ótimas de gestão.

3. Os métodos utilizados

Nenhum dos métodos até agora desen-volvidos foi suficiente, de forma isola-

da, para atender às características citadasacima. Por isso, optou-se pela associação dequatro métodos: um desenvolvido para aelaboração de planos de manejo em par-ques nacionais nos Estados Unidos; doisd e s e nvolvidos especificamente para omanejo dos impactos de visitação em áreasnaturais protegidas; e um "importado" daárea de acompanhamento e avaliação deprojetos. A esses foram acrescentadaspequenas contribuições de outros métodosexistentes. O quatro métodos são:

A. LAC OU LIMITES DE MUDANÇA ACEITÁVEL -desenvolvido por George Stankey, DavidCole, Robert Lucas, Margaret Petersen eSidney Frissell, para o Serviço Florestaldos Estados Unidos, publicado em 1985.

B. CA PAC I DA D E D E CA R G A D E VI S I TA Ç Ã O

RECREATIVA EM ÁREAS PROTEGIDAS - desen-volvido por Miguel Cifuentes, apresenta-da de forma sistemática pela primeiravez em 1992.

C. VIM OU MANEJO DE IMPACTO DE VISITAÇÃO -desenvolvido por Fred Kuss, Alan Graefee Jerry Vaske, para a National Parks andC o n s e r vation Association – USA(Associação de Parques Nacionais eConservação dos EUA), publicado em1990.

D. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROJETOS

- modelo de matriz de monitoramento deprojetos utilizado pela Intera m e r i c a nFoundation – IAF.

Fundamentalmente, esses métodos nãose contrapõem. Devido às suas diferentesabordagens, são complementares, gerandosubsídios para o manejo.

O LAC – LIMITES DE MUDANÇA ACEITÁVEL,desenvolveu-se com base no princípio deque qualquer ação de manejo ou uso (inclu-sive visitação recreativa) em um ambientenatural necessariamente gera alterações nomesmo. Portanto, o objetivo do gestor nãodeve ser evitar ou eliminar as alterações noambiente natural causadas pela açãohumana, mas sim mantê-las dentro deparâmetros aceitáveis. No caso da visitação

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recreativa, os gestores devem estabelecer aquantidade e o tipo admissíveis ouaceitáveis. Outro ponto chave do método, éque ele não define os limites em termos dequantidade e tipo de uso da área, mas simem termos de impactos gerados pelo uso.

A CAPACIDADE DE CARGA desenvolveu-secom o objetivo de gerar um indicador quan-titativo, uma espécie de “termômetro”, paraos gestores de áreas onde nunca se fez oacompanhamento sistemático dos impactosde visitação: os gestores da área devemmanter o número de visitantes em uma áreaprotegida abaixo da capacidade de cargaestabelecida, ou seja, do número máximode visitantes que a área pode receber, esta-belecido pelo método. A capacidade decarga garante um instrumento de controlemínimo para iniciar a implementação dosistema de monitoramento e controle deimpacto de visitação. A determinação dacapacidade de carga de visitação de umaárea pode também auxiliar no estudo deviabilidade econômica do ecoturismo nolocal. Por exemplo, em um atrativo, públicoou privado, onde a única infra-estrutura paravisitação é uma trilha, a capacidade decarga dessa trilha será o fator limitante dofaturamento.

Este método representa a busca de alter-nativas para o manejo sustentável de visi-tação em áreas protegidas, dentro de umcontexto latino-americano. Dessa forma,baseia-se na conjunção de cinco fatores:

1. Conhecimento existente sobre a biodi-versidade protegida na unidade de con-s e r vação, especialmente espéciesendêmicas e/ou ameaçadas, e sobre osprocessos ecológicos do ecossistemaprotegido e suas características físico-ambientais.

2. Disponibilidade de pessoal em númeroadequado e capacitado para desen-volver atividades técnicas de manejo devisitação.

3. Disponibilidade de recursos financeiros.4. I n f ra - e s t r u t u ra e equipamentos ade-

q u a d o s .

5. Satisfação do visitante em sua experiên-cia recreativa dentro da unidade.

Além de relacionar os critérios acimap a ra nortear o limite de uso recreativo deuma determinada área, o método define queo manejo da visitação não pode ser conside-rado um elemento independente do restantedo manejo da unidade de conservação (UC),ou da propriedade. Ao contrário, deve serorganizado levando-se em conta todas asa t ividades ali realizadas, buscando um equi-líbrio de qualidade. A preocupação é de queo investimento na propriedade – de pessoal,i n f ra - e s t r u t u ra e financeiro – não seja dire-cionado exclusivamente para o ecoturismo,evitando assim o enfraquecimento econômi-co, social e ambiental da propriedade.

Uma outra contribuição desse método éa inclusão da capacidade de gestão comofator de manejo de impacto da visitação. Éum fator importante, considerando-se queas propriedades com potencial ecoturísticono Brasil, em sua maior parte, não possuematividades voltadas para a pesquisa, têmlimitados recursos humanos e financeirospara investir no manejo de visitação e care-cem de instalações e equipamentos sofisti-cados para controle de impactos.

O V I M aceita o princípio fundamental doL AC. Sua principal contribuição para o méto-do proposto neste capítulo é o esta-belecimento dos mecanismos e procedimen-tos para fazer do manejo de visitação umprocesso dinâmico para diagnóstico deimpactos, subsidiando a tomada de decisões.

Na definição das variáveis e padrõesp a ra a determinação de parâmetrosaceitáveis de mudança, os pesquisadorese nvolvidos no desenvolvimento do V I Mchegaram às seguintes conclusões:

❒ Dentre as va r i á veis biológicas, sociais, físi-cas, etc., não é possível estabelecer umaúnica resposta previsível dos impactos douso recreativo. Os impactos são gera l-mente identificados por uma relação entred iversos fatores. Em outras palav ras, émuito difícil identificar va r i á veis que iso-

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

ladamente indiquem a ocorrência dealgum dano inaceitável (ou seja, qued e s c a racteriza o ambiente ou alguma desuas partes de forma irreve r s í ve l ) .

❒ Pa ra a maioria dos impactos, não sepode estabelecer uma relação direta elinear com a intensidade de uso(número de visitantes). A relação va r i ade acordo com diversos outros fatores,podendo ser mais ou menos forte. Essaconclusão indica que os métodos deaferição da capacidade de carga sãoinstrumentos limitados de controle deimpactos inaceitáve i s .

❒ Um dos principais fatores que influen-ciam a determinação da capacidade decarga (ou limite de uso) é a tolerânciadiferenciada dos elementos do ecossis-tema (resiliência) e dos diferentes gruposde visitantes às alterações ambientais. Aintensidade de uso pode beneficiaralguns elementos/grupos, enquanto pre-judica outros.

❒ Algumas atividades geram impactos maisrapidamente do que outras, e a formacomo a atividade é realizada pode ace-lerar ou desacelerar esse processo. Ouseja, dependendo do comportamento dovisitante e do tipo de atividade, umúnico visitante pode causar maisimpacto ao ambiente do que um grupocom 20 ou mais pessoas.

❒ Os impactos do uso recreativo tambémsão influenciados por fatores específicosde cada local visitado, como o clima, atopografia ou o solo.

O SISTEMA DE MONITORAMENTO DE PROJETOS

permite a sistematização da coleta e registrode dados de forma contínua e confiáve l ,sendo um instrumento que possibilita a iden-tificação de problemas potenciais ou efetivo srelacionados à visitação. É constituído de umatabela, chamada Matriz de Monitora m e n t o ,que orienta o que se deve acompanhar, onde,quando, e por quem. A Matriz é complemen-tada por diversos formulários que auxiliam acoleta e registro dos dados, de acordo com asdeterminações da Matriz.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Esta caixa de ferramentas apresenta as trêsprincipais etapas do processo de desenvo l v i-mento e implementação do MIV, quais sejam:

1. Montando o Sistema de Monitoramento e Controle de Impactos de Visitação (MIV);

2. Aprendendo a desenvolver o MIV para uma área; e

3. Ensinando outros a desenvo l ver o MIV.

1. Montando o Sistema de Monitoramento e Controle de Impactos de Visitação (MIV)

Odesenvolvimento do MIV envolve arealização de 10 passos:

1 Montar equipe multidisciplinar, deacordo com as características levan-tadas no planejamento e mapeamento.

2 Revisar a legislação e as políticas am-bientais e de turismo relevantes para aUC (Unidade de Conservação) ou pro-priedade.

3 Analisar ou elaborar objetivos geraispara o uso da área protegida ou pro-priedade, objetivos específicos para aatividade de ecoturismo e definir obje-tivos específicos por trilha ou local devisitação.

4 Determinar indicadores para moni-toramento de cada área.

5 Determinar parâmetros de impactosa c e i t á veis para cada indicador, in-cluindo as unidades de medida.

6 Determinar a capacidade de carga.7 Elaborar a Matriz de Monitoramento,

incluindo os instrumentos de coleta ecompilação de dados.

8 Coletar dados iniciais para o monitora-mento de todos os indicadores, ajustaros instrumentos de coleta e compi-lação de dados e realizar a primeiraetapa de treinamento dos responsáveispelo manejo.

9 Analisar os usos conflituosos ou exces-

9

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

s ivos observados durante a coleta dedados iniciais para o monitoramento edeterminar ações de manejo corretiva s .

10 Treinar os responsáveis para imple-mentar o MIV.

O MIV não pode ser desenvolvido iso-ladamente dentro de uma unidade de con-servação (UC) ou propriedade. Ao contrário,algumas ações prévias são condições paraque se possa implementá-lo:

❒ Planejamento da UC ou propriedadecomo um todo, para definir as áreasonde será desenvolvido o uso recreativo,tais como trilhas.

❒ Mapeamento da área de visitação, nocaso de trilhas, p. ex., levantamento docomprimento, direção, declividade eidentificação de tipos de solo predomi-nantes ao longo da trilha (ver capítuloManejo de Trilhas).

Caso seja necessário, e isto é importantedestacar, fazer correções nos locais de visi-tação, e caso os gestores da UC ou da pro-priedade desejem providenciá-las imediata-mente, convém aguardar sua conclusãoantes de realizar os passos 3 a 5 da mon-tagem do sistema de monitoramento, poispodem haver alterações em locais de coletade dados e no estado dos indicadores.Deve-se levar em conta que atividades cor-retivas que implicam melhor comportamen-to por parte do visitante (p. ex. sua edu-cação via folhetos e placas), assim como ainstalação de equipamentos e infra-estru-turas na área, podem vir a alterar a capaci-dade de carga dessas áreas ou alterar osindicadores. Entretanto, a análise da legis-lação (passo 1), a descrição de objetivos(passo 2) e a capacidade de carga (passo 6)devem ser desenvolvidos antes de qualqueralteração corretiva no local de visitação.

9

OS EXEMPLOS A SEREM UTILIZADOS NESTE CAPÍTULO:

Para auxiliar na compreensão deste capítulo, os MIVs de duas áreas serão utilizadospara ilustrar os passos do método.Um foi desenvolvido pelo Projeto Veadeiros (ver apresentação na Introdução)durante a elaboração deste manual. O MIV foi elaborado para uma trilha de 1.500mnuma área chamada Vale da Lua, cujos proprietários possuem baixa capacidade deinvestimentos financeiros e pela qual há apenas um responsável permanente.O outro foi elaborado como parte do Planejamento e Implantação do UsoRecreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, projeto realizadopelo WWF-Brasil em parceria com o MMA/IBAMA. O Parque possui oito trilhas, 20pontos de mergulho e uma equipe de funcionários correspondente a 70% do ideale contou com financiamento específico para o desenvolvimento das atividades pro-postas em caráter piloto.Apesar das diferenças extremas entre os casos, ambos são considerados bons exemplosde MIV, cumprindo com os critérios expostos no item II.2 (C a racterísticas do Sistema). A olongo desta Caixa de Fe r ramentas, serão apresentados trechos selecionados dos tra b a l h o sem cada área. Como anexo, serão apresentados os resultados do MIV do Pa r q u eNacional Marinho de Fernando de Noronha para uma de suas trilhas. A apresentação naí n t e g ra do MIV de qualquer uma das áreas utilizadas como exemplos é impossível port ratarem-se de documentos mais extensos do que este capítulo.

1 QUADRO 2

EXEMPLOS A SEREM UTILIZADOS NESTE CAPÍTULO

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Passo 1 – Montar equipe multidisciplinar, de acordo com as características levantadas no planejamentoe mapeamento

A elaboração do MIV começa com amontagem da equipe que realizará o traba-lho. Uma equipe com especialidades varia-das é determinante para a qualidade e pro-fundidade de detalhamento do sistema.Quanto mais completa for a equipe de tra-balho, mais completo será o sistema. Note-se também que essa equipe poderá, em umamesma visita, colaborar com o desenvolvi-mento do programa de interpretação ambi-ental (ver capítulo específico) do local.

Porém, uma equipe multidisciplinar comconhecimentos prévios sobre a área podeter alto custo, e o resultado do trabalhopode tornar-se complexo ou demora d odemais, impossibilitando sua implantaçãopela equipe responsável pela gestão. Cabeaos gestores da UC ou ao proprietário pon-derar os diversos fatores para decidir sobre otamanho e nível de especialização daequipe de montagem do monitoramento,entre eles:

❒ A necessidade de um trabalho maisdetalhado e cuidadoso. UmaUnidade de Conservação, uma área

muito extensa em ambiente frágil,uma extensa rede de trilhas ou delocais de visitação gera l m e n t eindicam a necessidade de cuidadosmaiores no controle dos impactoscausados pela visitação. A diversi-dade na oferta de atividades de eco-turismo, como por exemplo umacaminhada aliada a escalada ecanyoning, também implica um sis-tema mais complexo.

❒ A disponibilidade de recursos finan -ceiros. Uma equipe de especialistaspode ter alto custo, não só em hono-rários como também em transporte,hospedagem e alimentação. Umaalternativa natural é conseguir a co-laboração de voluntários e estagiá-rios, ou estabelecer convênios comONG's e institutos de ensino e pes-quisas (ver capítulos Voluntariadoem projetos de ecoturismo e Pe s q u i s ana atividade de ecoturismo) .

❒ Os recursos humanos disponíve i spara a implementação do MIV. Casoseja desenvolvido um sistema maiscomplexo do que a capacidade e otamanho da equipe disponível, o sis-tema certamente não será imple-mentado. Nesse caso, é preferívelelaborar um sistema simples, dentroda capacidade de implementaçãodos proprietários ou responsáveis.

9

Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

A equipe que elaborou o MIV A equipe do Projeto Noronha contoudo Vale da Lua era constituída por com um total de 18 técnicos, cobrindo um técnico e pela coordenadora 14 áreas de especialidades diferentes,do Projeto Veadeiros / WWF-Brasil. tais como história e arqueologia,

ecossistemas terrestres (flora e fauna) e marinhos (corais, ictiofauna, golfinhos e tartarugas), geologia, engenharia e arquitetura (para a infrae os equipamentos), educação e interpretação ambiental, comunicação visual (para sinalização e folhetos) etc.

EXEMPLO 1 - EQUIPES DE TRABALHO

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Passo 2 – Revisar a legislação e as políticas ambientais e de turismo relevantes para UC ou propriedade

Com a equipe de tamanho e cara c t e r í s t i-cas adequados, o segundo passo é realizaruma cuidadosa revisão da legislação e políti-cas de conservação, de turismo e de uso dosolo pertinentes ao local e propriedade. Arevisão deve abranger os níveis federa l ,estadual e municipal. Convém também co-nhecer acordos ou práticas não-formais dacomunidade local. O objetivo é assegura rque as atividades propostas e desenvo l v i d a sp a ra o uso recreativo não estejam em con-t radição com as normas vigentes ou com oscostumes locais, e que ao mesmo tempo sepossa tirar melhor proveito das políticas quef avorecem e incentivam a atividade ecoturís-tica. Essa revisão deve ser realizada dura n t eo diagnóstico e planejamento do ecoturismo( ver capítulos referentes).

Passo 3 – Analisar ou elaborar objetivos gerais para o uso da área protegida ou propriedade, objetivosespecíficos para a atividade de ecoturismo e definir objetivos específicos por trilha ou local de visitação

A definição de objetivos específicos portrilha ou área de visitação deve recebercuidadosa atenção, pois todas as demaisetapas do monitoramento e avaliação dosimpactos de visitação são feitas com basenesses objetivos.

No caso das propriedades particulares,dificilmente haverá clareza na definição deo b j e t ivos. Deve-se ter o cuidado de não“ i nventar” objetivos que nada representamp a ra o proprietário. Em casos como este, bastaidentificar ou elaborar um objetivo que reflitao potencial da área para receber visitantes e ointeresse do proprietário em trabalhar com oecoturismo (evitando restringir-se à respostaó bvia e simplista do interesse econômico).

A equipe deve concentrar-se, principal-mente, no estabelecimento de objetivo sp a ra cada trilha ou local de visitação.Quanto mais específicos os objetivos, maisfáceis serão os passos seguintes e, maisimportante, mais claro será para os respon-sáveis identificar como deve ser utilizado olocal visitado. Para ilustração, os objetivosde trilhas podem referir-se a:

❒ Infra-estrutura e manutenção de tri -lhas (largura da trilha, tipo de mate-riais, construção, locais de descan-so, colocação de bancos, mirantes,pontes etc.).

❒ Interpretação ambiental (trilha guia-da ou não, tipo, quantidade e locali-zação de sinalização, materiais deinterpretação etc.).

❒ Experiência do visitante (tipo dea t ividade, tipo de visitante, faixaetária, encontros com outros grupos,visitas de excursões, permanênciaem mirantes, visualização de infra-estrutura etc.).

❒ Proteção contra usos indevidos ( va n-dalismo, danos aos recursos natura i s ,danos em sinalização, lixo, etc.).

❒ Proteção biológica e/ou ecológica(proteção de espécies endêmicas, deespécies que ocorrem ao longo datrilha, período de reprodução, pro-teção da paisagem, refúgios e ninhos etc.).

Passo 4 – Determinar indicadores para monitoramento de cada área

Os indicadores limitam a abrangênciado MIV. Por meio deles, definimos os itensou aspectos sobre os quais faremos o acom-panhamento de alterações, permitindo ap r e venção de danos considerados ina-ceitáveis. Os indicadores devem ser esta-belecidos a partir dos objetivos específicosde cada trilha, pois eles são a referênciapara a condição desejada em cada local.

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Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Objetivo da propriedade e de visitação:Promover o uso adequado da área paraa sua conservação, educação ambientale uso recreativo.

2) Objetivos da trilha do Vale da Lua:a) orientar o visitante por um percurso que promova a interpretação das c a racterísticas geológicas e botânicas do local; b) delimitar o espaço de trânsito e de mirantes interpretativos, impedindo o alargamento e duplicação de trilhas. (Há 3 outros objetivos, não citados aqui).

323

Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Como em qualquer contexto, indi-cadores devem ser:

❒ C l a ro s, sendo apresentados comdetalhes suficientes para não haverdúvida sobre o que se quer moni-torar.

❒ Específicos, devendo tratar de ape-nas um aspecto.

❒ Práticos, buscando a maneira maissimples e direta de acompanhar oaspecto desejado.

❒ R e l eva n t e s, t ratando apenas dosaspectos centrais apontados nosobjetivos identificados ou definidosno Passo 3, acima.

No estabelecimento dos indicadores demonitoramento, deve-se ter em mente queos dados serão coletados e analisados pelosresponsáveis pela gestão da área, e que o

objetivo é facilitar a percepção e controle deimpactos indesejados que tenham relaçãodireta com a visitação recreativa.

Nesse sentido, é especialmente difícil omonitoramento de indicadores biológicosou ecossistêmicos. Como apontado pelospesquisadores que desenvolveram o MIV, émuito difícil estabelecer correlação diretaentre alterações populacionais e impactosde visitação. Assim, além de ser difícil cole-tar dados para indicadores biológicos deforma confiável, a sua análise irá requererauxílio de especialistas.

No entanto, sempre que possíve ld e vem-se estabelecer alguns indicadoresbiológicos. Ao fazê-lo, além de observar seo mesmo está de acordo com o previsto nosobjetivos, outros fatores devem ser levadosem consideração:

❒ Utilizar apenas espécies sobre as quaishaja conhecimento razoável em ecolo-gia e dinâmica de população, de prefe-rência gerado em pesquisas no própriolocal. Se possível, deve haver algumapesquisa em andamento sobre a espé-cie no local, de forma a poder contarcom a assessoria eventual de umpesquisador especializado para a coletae análise dos dados.

❒ Apenas monitorar indicadores biológi-

9

1) Objetivo de uso recreativo do Parque:Minimizar os impactos negativos resultantes do uso público. (Há 4 outros objetivos, não citados aqui).

2) Objetivos da Trilha dos Golfinhos:a) manter a área do costão entre Golfinhos e Sancho como área de reprodução de aves; b) propiciar experiência de visitação apropriada para grupos com prováveis encontros com outros grupos e compartilhamento de mirantes. (Há 4 outros, não citados aqui).

EXEMPLOS DE OBJETIVOS:

É importante notar que,

apesar dos indicadores serem definidos

por decisões de manejo, tendo portanto

um nível de subjetividade, eles não são

aleatórios ou generalizados para qualquer

ambiente ou mesmo para todas as trilhas

de uma mesma unidade.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

cos caso os objetivos da propriedade e/oudo uso recreativo para aquele local deter-minem explicitamente a espécie que sedeseja estabelecer como indicador.

❒ Como os funcionários da propriedadeserão os responsáveis pela coleta, regis-tro, armazenamento e análise inicialdos dados de monitoramento, énecessário que os métodos e instrumen-tos de coleta e registro sejam adequa-dos à capacidade do pessoal. Indi-cadores que não possam ser acompa-nhados não devem ser utilizados.

SOCIAIS FÍSICOS BIOLÓGICOS

● Número de encontros comoutros indivíduos por dia

● Número de encontros por tipo de transporte

● Número de encontros por tipo de atividade realizada

● Número de encontros por tamanho de grupo

● Número de encontroscom outros grupos por dia

● Percepção do visitantequanto a “multidão”

● Número de encontros por local de encontro

● Número de reclamaçõesfeitas por visitantes

● Percepção do visitantequanto a impacto ambiental

● Quantidade de lixo no local

● Satisfação do visitante● Relatos de visitantes

quanto a comportamentoindesejável de outros visitantes

● Compactação do solo● pH do solo● Quantidade de húmus

no solo● Área de solo desnudado● Área total de camping● Tamanho dos restos

de fogueiras● Erosão visível● Drenagem do solo● Química do solo● Profundidade

do húmus no solo● Número de locais

de fogueira● Número de trilhas

paralelas ou duplicadas(ou picadas)

● Fauna e microflorado solo

● Porcentagem de perda decobertura do solo

● Densidade de coberturado solo

● Diversidade de espéciesde plantas

● Composição de espéciesde plantas

● Proporção de espéciesexóticas de plantas (com-parado com as nativas)

● Altura das plantas● Vigor de espécies de

plantas selecionadas● Extensão da vegetação

doente● Extensão de árvores com

cicatrizes ou mutiladas● Número de mudas novas

e árvores jovens● Raízes expostas● Abundância de espécies

de vida silvestre sele-cionadas

● Presença / ausência deespécies selecionadas

● Freqüência de avistamen-to de fauna

❒ Ao definir o indicador, a equipe deve seperguntar para que servirá a informaçãoque este indicador gerará. Por maisinteressante ou tentador que possa ser oacúmulo de informações sobre espéciesde fauna ou flora, o objetivo do moni-toramento é o manejo de impactos devisitação e não a pesquisa científica.

Os indicadores aos quais se deve darpreferência são os físicos e sociais. A seguir,são listadas as principais variáveis sociais,físicas e biológicas sobre as quais geral-mente se elaboram indicadores:

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1 QUADRO 3

VARIÁVEIS COMUMENTE UTILIZADAS PARA INDICADORES

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Uma vez definidos os indicadores, aequipe deve descrever os meios de verifi-cação dos mesmos e a técnica a ser utiliza-da para a coleta de dados. O objetivo destaetapa não é somente detalhar mais os indi-cadores, mas sim: ❒ Verificar a viabilidade de se utilizar o

i n d i c a d o r. Ta l vez as únicas técnicas

possíveis estejam além da capacidadedos responsáveis ou então sejam muitodispendiosas.

❒ Refletir sobre a utilidade do indicadorrespondendo à seguinte pergunta:Quais resultados serão obtidos utilizan-do-se este indicador, por meio destatécnica de coleta?

Passo 5 – Determinar parâmetros de impactos aceitáveis paracada indicador, incluindo as unidades de medida

O primeiro pressuposto básico no mane-jo de visitação é que, se há visitação, neces-sariamente haverá alterações ou impactosno ambiente. O segundo é que o ambientenatural possui capacidade relativa de recu-p e ra r-se (resiliência), incorporando alte-rações, antrópicas ou não, desde que nãoocorram perdas biológicas ou de processosecológicos significativos.

NÃO EXISTE PARÂMETRO ACEITÁVEL

DE MUDANÇA “ZERO”.

No momento de definir os parâmetros

aceitáveis de mudança, observa-se uma

forte tendência dos membros da

equipe – especialmente de pesquisadores

especializados em flora ou fauna –

a colocar limites “zero”, ou então muito

próximos a isto. Esta atitude

é compreensível. Dizer que aceitamos

a perda de “x” por cento na vegetação ao

longo da trilha, ou a presença de “x” litros

de lixo, ou alguma variação

no comportamento de determinada ave

é uma ação contrária à que geralmente

os profissionais envolvidos com

a conservação ambiental realizam ao longo

de toda sua carreira. Caso verifique-se

algum impacto realmente inadmissível,

a área deverá ser fechada ou não deverá ser

aberta à visitação recreativa.

Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Metragem da largura da trilhaO indicador será verificado com a medição em trechos propensos a alagamentos, tomando três medidas para cada local, sendo a segunda medida 5 metros após a primeirae a terceira 5 metros após a segunda.

2) Quantidade de lixo encontrado na trilhaO indicador será medido por meio da coleta e contagem das unidades de lixo, verificando seu volume sem compactação em saco de lixo de 30 litros. O lixo encontrado deverá ser retirado do local sempre que for observado.

1) Número médio de indivíduos por espécie (de aves) observados em dias devisitação comparado com dias sem visitação. O indicador será verificado por meio do estabelecimento de área controle com características similares à área visitada.

2) Número de danos à infra-estrutura e/ou sinalização provocados por visitantes em uso não adequado (depredação voluntária). O indicador será verificadopor meio de contagem absoluta de ocorrências ao longo da trilha.

EXEMPLO 3 – INDICADORES PARA MONITORAMENTO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Cabe aos manejadores da área determi-nar, para os indicadores estabelecidos, oslimites ou parâmetros de impacto aceitáveis.

Este é o ponto crucial do monitora m e n t ode impacto de visitação, onde mais se evi-dencia a subjetividade da elaboração doM I V. A definição de parâmetros aceitáveis deimpacto é sempre uma decisão de manejo,que envo l ve maior ou menor grau de subje-t ividade, dependendo dos conhecimentosacumulados pelos responsáveis e/ou equipesobre determinados fenômenos na área.

Deve-se evitar ao máximo a definição deparâmetros aleatórios ou “ch u t a d o s ” .Quando a equipe não estiver certa sobre osníveis aceitáveis de mudança em determina-dos indicadores, deve:

❒ Consultar a bibliografia e estudos decaso para observar os parâmetros uti-lizados em outras áreas.

❒ Consultar um especialista na áreatemática de que trata o indicador.

❒ Fazer pesquisa com visitantes para le-vantar a opinião deles, especialmenteno que se refere aos indicadores sociais.

❒ Estabelecer parâmetros com base nobom senso da equipe e testá-los pormeio de um monitoramento intensivodurante os primeiros meses.

Para determinar os limites aceitáveis deimpacto, a equipe deve rever os objetivosgerais e específicos da área e depois quan-tificar e/ou qualificar, dentro de um períodode tempo, cada indicador.

A quantificação deve ser feita segundo amesma unidade apresentada no indicador(porcentagem, número absoluto, diferençasignificativa, observações etc.).

Deve haver apenas um parâmetro porindicador:

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Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Metragem da largura da trilha 1,5m como trilha desenvolvida e até 0,5m de cada lado com impactos de visitação, desde que a cobertura do solo (vegetação) não seja eliminada

2) Quantidade de lixo encontrado na trilhaAté 30 litros por semestre (não compactado)

1) Número médio de indivíduos por espécie (de aves) observados em dias de visitação comparado com dias sem visitação.Ausência de diferença significativaentre médias de número de indivíduos por espécies principais entre áreas visitadas e de controle.

2) Número de danos à infra-estruturae/ou sinalização provocados por visitantes em uso não adequado (depredação voluntária).Até uma ocorrência por trimestre no primeiro ano.

EXEMPLO 4 – PARÂMETROS ACEITÁVEIS PARA IMPACTO:

A aplicabilidade e efetividade

dos parâmetros definidos

deve ser avaliada no primeiro ciclo

de monitoramento

e avaliação dos impactos.

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Passo 6 – Determinar a capacidade de carga

O passo seguinte é a determinação dacapacidade de carga por área. Essa etapa iráindicar a quantidade máxima de uso queuma trilha ou local visitado pode recebersem correr riscos elevados de gerar danosirreversíveis ou impactos inaceitáveis noambiente natural.

O resultado da aplicação desta etapa dométodo é um número, que não se pretendeestanque ou inquestionável. Como foi ditona introdução, a capacidade de carga deuma trilha vai se alterando com as condiçõesde infra - e s t r u t u ra e gestão da área. É

necessário revê-la periodicamente de acordocom as instruções do próprio método.

Também não é um número mágico, cujocumprimento absoluto resolve e previnetodo e qualquer impacto inaceitável. Muitasvezes o tipo de uso e o comportamento dovisitante são fatores que oferecem um riscomuito mais elevado do que a quantidade devisitantes. Soma-se a isto o fato de que ocálculo da capacidade de carga envolve atomada de decisões de manejo, gerandoassim um grau de subjetividade no resultadofinal, como no caso da definição de indi-cadores e parâmetros.

Assim, mesmo com o cumprimento rigo-roso da capacidade de carga, é indispensáve l

9CAPACIDADE DE CARGA DE VISITAÇÃO

EM ÁREAS DE MERGULHO NO PARQUE NACIONAL MARINHO DE FERNANDO

DE NORONHA – O PRINCÍPIO DO MANEJO CONSERVADOR DA VISITAÇÃO

u rante a realização dos cálculos da capacidade de carga das áreas de mergulho, aequipe técnica que estava desenvo l vendo o MIV para o Parque observou ser bas-tante difícil a adaptação do método para o ambiente submarino. A dificuldade foi

o b s e r vada já na determinação da Capacidade de Carga Física, visto que o método, elabora-do para trilhas no ambiente terrestre, considera apenas o solo e o ambiente às suas margenscomo áreas possíveis de serem ocupadas pelos visitantes. No ambiente submarino, há tam-bém a coluna da água. Uma segunda grande dificuldade encontrada foi a mobilidade doselementos no ambiente submarino, com presença abundante e diversificada de fauna.Te rceiro, como o ambiente marinho no Parque é ainda menos conhecido do que o terrestre,mesmo a consulta aos especialistas não conseguiu resolver as dificuldades anteriores.Finalmente, por determinação do diagnóstico e planejamento do uso recreativo no Pa r q u e ,as áreas de mergulho não possuem trilhas demarcadas.

Estas quatro características somadas leva ram a equipe a adotar o princípio do manejo con-s e r vador da visitação, segundo o qual, em não se podendo estabelecer a capacidade de carga,d e ve-se determinar um limite máximo de visitação bastante restritivo .

Assim, foi recomendado que os níveis de uso fossem pré-determinados pelas seguintesações de manejo: 1) limitação do número de mergulhadores presentes a qualquer momentoem um local de mergulho autônomo (com garrafa) por meio de poitas (no máximo duas porárea, com capacidade para 2 barcos cada); 2) mergulho livre (snorkel), na maioria dos locais,feito com acompanhamento de guia, e sinalização de que há mergulhadores, por meio debóia. Também foi limitado o número de mergulhadores por guia (cinco).

O sistema de monitoramento deverá gerar dados que possibilitem averiguar a efetiv i d a d edessas medidas para manter os níveis de impacto dentro de parâmetros aceitáveis e conser-va d o r e s .

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ O mesmo raciocínio se aplica ao usodas trilhas pelos responsáveis, por indi-víduos a trabalho ou isentos de paga-mento: do ponto de vista da capacidadede carga, todos os eventos são consi-derados visitas.

a) Determinação da Capacidade de Carga Física (CCF).

A CCF estima a capacidade máxima deuma trilha em receber visitas, baseado no seucomprimento, distância entre grupos e no pe-ríodo em que a trilha fica aberta à visitação.

A CCF é calculada por meio da fórmula:

CCF = S x Ts.v. t.v.

Onde:

S a A superfície total da trilha, ou seja, a distância total entre o começo e o fim da trilha.

s.v.a A superfície ocupada por um visi-tante (1m linear é o padrão mais comumente empregado, indepen-dente da real largura da trilha), adicionado do espaço ideal entre grupos de 10 pessoas, de forma que um grupo não interfira na experiência do outro com ruídos ou visualização ao longo da trilha. O intervalo entre grupos varia de acordo com o tamanho do grupo e com os objetivos relacionados à experiência do visitante em cada trilha. Por exemplo, em uma trilha onde pode haver alguns encontros entre grupos, mas onde espera-se que seja raro um grupo ouvir a conversa do outro, em geral esti-ma-se que a distância mínima entre grupos de 10 pessoas deveser de 100m. Assim, cada pessoa ocupa 1m linear adicionado de 10 metros referentes a 100m do grupo dividido pelo número de pessoas no grupo, ou seja, 10. Em outras

que os responsáveis realizem ao menos umm o n i t o ramento simplificado de impactos.

A determinação da capacidade de cargatem três funções importantes:

❒ Quando não bem manejada, a intensi-dade de uso é um fator que ofereceriscos de alterações aceleradas no ambi-ente visitado, especialmente na fauna.Portanto, é mais um fator que deve serm o n i t o rado pelos responsáve i s .

❒ Para as propriedades com baixa capaci-dade de gestão, a capacidade de cargaé um instrumento forte de controle deimpactos, apesar de não eliminar anecessidade do monitoramento.

❒ A capacidade de carga é um instrumen-to chave para que proprietários de áreascom trilhas possam avaliar a viabilidadeeconômica de sua operação.

O método adotado para determinação dacapacidade de carga foi originalmente desen-volvido para aplicação em trilhas no ambi-ente terrestre. Assim, sua aplicação em outrosambientes exige adaptação, e pode nem serv i á vel. No exemplo abaixo, são apresentadosos resultados da tentativa de aplicação dométodo em um ambiente marinho. Há tam-bém experiências de aplicação em áreas dep raia, mirantes e áreas de descanso – o exem-plo mais completo é o do Parque Nacional deGalápagos, no Equador. A equipe deve r áadequar o método quando necessário.

A capacidade de carga é determinada emtrês etapas, ao final das quais chega-se aonúmero máximo de visitas a uma trilha pordia. Uma quarta etapa refere-se à definiçãodas formas de manejo desse número. Duaso b s e r vações importantes sobre o entendi-mento da capacidade de carga:

❒ A capacidade de carga é definida combase no número de visitas e não de visi-tantes. Um mesmo visitante poderealizar mais de uma visita por dia auma mesma trilha. O que importa équantas vezes ela foi percorrida, e nãoquantas pessoas a percorreram.

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

palavras, cada visitante ocupa 11 metros lineares de trilha.

T a O tempo total em que a área está aberta para visitação pública. Por exemplo, se uma UC está aberta das 8:00 às 16:00, o tempo total é de 8 horas. Ou então, em uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) o horário de funcionamento para o público é também no período de 8:00 às 16:00, mas há um fechamento de 1 hora para almoço, das 12:00 às 13:00, o tempo total “T” é de 7 horas.

t.v.a O tempo necessário para percorrer a trilha (no caso de trilhas de ida e volta, conta-se apenas o trecho de ida porque está-se contando a superfície total da trilha apenas uma vez). Assim como no caso da s.v. (superfície ocupada pelo visi-tante), esta medida deverá ser esti-mada pelos gestores da área, de

acordo com a experiência dos mesmos no local. Geralmente, em uma área já utilizada para uso r e c r e a t ivo há algum tempo, os gestores (ou guias do local) sabem dizer qual é a média aproximada de tempo que a maioria das pes-soas leva para percorrer a trilha.

D e ve-se lembrar que a estimativa considera a velocidade do público preferen-cial da trilha. Ou seja, se a trilha foi dese-nhada para atender ao público de terceiraidade, deve-se estimar a média de tempoque este público leva para percorrer a trilha.Por outro lado, uma trilha voltada para opúblico mais aventureiro, com muitos tre-chos difíceis ou desafiadores, deve consi-derar a média de tempo que o público aven-tureiro leva para percorrer a trilha, mesmoque o público de terceira idade também uti-lize a trilha. Deve-se levar em conta as pa-radas necessárias para a interpretação ambi-ental, atividades específicas ou descanso.

9

Onde:

FL1 a FLn a Fatores limitantes da capacidade de carga física, ou se-ja, fatores que limitarão o núm e -ro de pessoas que terão acessoa determinada trilha. Esses fato-res consideram o ambiente visi-tado e não o visitante em si.

b) Determinação da Capacidade de Carga Real (CCR).

A CCR reduz a CCF com base em diversosfatores limitantes do ambiente ou específi-cos de cada área.

A CCR é calculada da seguinte forma:

CCR = CCF x 100 - FL1 x 100 - FL2 x 100 - FLn100 100 100

Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Sè 1.202m2) s.v.è 6m (1m linear por pessoa mais

5m referentes ao espaço entre grupos de 50m para grupos de 10 pessoas).

3) Tè 10 hs (das 8:00 às 18:00)4) t.v è 3 hs (a trilha é curta e para todos

os públicos, mas os visitantes param em média por 2 horas nas áreas de banho ao longo da trilha).

CCF = 666 visitas por dia

1) Sè 2.843m2) s.v.è 6m (1m linear por pessoa mais

5m referentes ao espaço entre grupos de 50m para grupos de 10 pessoas)

3) Tè 10 hs (das 8:00 às 18:00)4) t.v è2,5 hs (a trilha foi desenhada

para todos os tipos de público)

CCF = 1.895 visitas por dia

EXEMPLO 5 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA FÍSICA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Podem ser: biofísicos (vulnerabilidade aerosão de acordo com declividade e tipo desolo; distúrbio na fauna; dificuldade deacesso etc.), ambientais (precipitação,intensidade de sol, marés etc.), e de mane-jo (fechamentos para manutenção, entreo u t r o s ) .

Calculam-se os fatores limitantes para cadatrilha, de acordo com a seguinte fórmula:

FL1 = q.l. x 100Q.T.

Onde:

q.l. a Quantidade limitante do fator considerado (ex.: horas de sol intenso por mês por ano; metros de trilha em alta declividade com solo argiloso; período de repro-dução de pássaros etc.).

Q.T. a Quantidade total em que se con-sidera o fator limitante (ex.: total de horas por mês e ano do par-que aberto; total de metros da trilha; total de meses etc.). Amesma unidade de medida uti-lizada para estimar a quantidade limitante deve ser utilizada paraa quantidade total. No caso de medidas de tempo, tanto para a quantidade limitante quanto paraa quantidade total, utiliza-se, preferencialmente, o número de horas em que a área visitada está aberta durante o ano.

O resultado é a porcentagem em queaquele fator irá diminuir a capacidade decarga física. Ao se considerar esta porcen-tagem na fórmula da CCR, observa-se quenão será calculada a limitação da CCF, masa quantidade não limitante.

Todo fator limitante incluído no cálculo,necessariamente reduz a CCF. Assim, caso aequipe elabore uma grande quantidade defatores limitantes, a capacidade de carga

pode tornar-se tão reduzida que será inviá-vel permitir a visitação. Por outro lado, hámesmo situações de ambientes demasiada-mente frágeis nos quais a visitação não deveser permitida.

Para lidar com essa questão, a equipedeve selecionar apenas aqueles fatores querealmente implicam uma redução da visi-tação, seja por exigirem o fechamento per-iódico (manutenção, épocas de reproduçãode alguma espécie muito sensível e ameaça-da, risco de enxurrada etc.), por tornarem avisitação impossível (alagamento da trilha,chuvas torrenciais, calor de mais de 40ºetc.), ou por dificultarem o acesso (altadeclividade, locais de segurança limitadaetc.). Geralmente, há entre 4 e 7 fatores li-mitantes.

A capacidade de carga real pode sercalculada para diferentes períodos do ano.Esta é uma importante decisão de manejoque a equipe que desenvo l ve o MIV deuma UC ou propriedade deverá tomar.Acima recomendou-se o uso do número dedias por ano como a base do cálculo daCCR. Isto quer dizer que apesar de algunsfatores limitantes serem condicionados adeterminados períodos do ano (por exem-plo, mêses de reprodução de fauna, perío-dos de inundação, etc.) ou do dia (porexemplo, horas do dia em que considera - s ea intensidade do sol muito grande para vis-itação), o cálculo da CCR representa amédia para todo o ano. Assim, deve - s eentender a capacidade de carga como umindicador para os gestores da UC ou pro-priedade do nível de visitação que a áreapode receber, uma vez considerados osfatores que reduzirão em alguns períodos avisitação recreativa.

Esta é a forma mais fácil de aplicação econtrole da CCR. Porém, a CCR pode sercalculada de duas outras formas, de acordocom a gravidade do fator limitante: a CCRpode ser baseada no fechamento total daárea por certos períodos de tempo, ou entãopode ser diferenciada para períodos dife-rentes do ano.

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

9

Uma trilha se torna mais ou menos suscetível à erosão de acordo com o tipo de solo, adeclividade do terreno e o tipo de atividade que nela se desenvolve. Para o caso de cami-nhada, o quadro a seguir mostra o nível de vulnerabilidade considerando a relação entretipo de solo e declividade:

Usualmente, são considerados limitantes os trechos de média e alta vulnera b i l i d a d e .D e ve-se consultar o formulário de levantamento de trilha e verificar quantos trechos seencaixam nesta categoria. A soma de todos eles será equivalente à quantidade limitante (q.l.).

Em alguns casos onde há curtos trechos de alta vulnerabilidade, que no entanto são sig-nificativamente limitantes, a equipe pode optar por multiplicá-lo por um fator de 2 ou 3. Porexemplo: um trecho de 100m muito vulnerável, dentro de uma trilha de 2.000m, seriamuito pouco representativo; para melhor representar o potencial limitante deste trecho naCCR, pode-se multiplicá-lo por 2, considerando-o um q.l. de 200m. Esta é mais umadecisão de manejo da equipe responsável.

A mesma relação pode ser utilizada para definir nível de dificuldade da trilha:a declividade < 10% è sem dificuldadea 10% £ declividade < 20% è dificuldade medianaa declividade ≥ 20% è grande dificuldade

Tipo Declividade (Dec)

de Solo Dec < 10% 10% < Dec < 20% 20% < Dec

Pedregoso Baixa Baixa Alta

Argiloso Baixa Média Alta

Areno-argiloso Média Alta Alta

EXEMPLO 6 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA REAL

Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Cálculo do fator limitante paradificuldade de acesso:Q.T. = 1.202mq.l. = 210,42mFL = 17,30%

2) Fatores limitantes e CCR:Intensidade do sol = 7,39%Vulnerabilidade à erosão = 11,10%Dificuldade de acesso = 17,30%Intensidade de chuva = 16,43%Fechamento para manutenção = 3,28%

CCR = 666 x 0,92 x 0,88 x 0,82 x 0,83 x0,96 = 352 visitas por dia

1) Cálculo do fator limitante para fauna (período de reprodução de aves)Q.T.è 365 diasq.l. è 60 diasFL è 16,44%

2) Fatores limitantes e CCR:Intensidade do sol è 17,26%Vulnerabilidade à erosão è 21,17%Dificuldade de acesso è 4,29%Distúrbio na fauna è 16,44%Fe chamento para manutenção è 3 , 2 9 %

CCR = 1.895 x 0,83 x 0,79 x 0,96 x 0,84 x0,97 è 972 visitas por dia

1 QUADRO 4

COMO CALCULAR O NÍVEL DE VULNERABILIDADE À EROSÃO E TRANSFORMÁ-LA EM FATOR LIMITANTE.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O cálculo da CCR tendo por base ofechamento completo da área em determi-nados períodos deve ser adotado quando aequipe que desenvolve o MIV verificar umfator tão limitante em determinado períodoque a melhor opção para a proteção da áreaé a não utilização para a visitação recreati-va. Neste caso, o cálculo dos fatores limi-tantes que envolvem unidades de tempo emdias ou meses passam a ser feitos com baseno período em que a UC ou propriedadeestão abertos à visitação recreativa. Po rexemplo, no Parque de Noronha, conside-rou-se que o período de reprodução de duasespécies de aves, abundantes ao longo daTrilha dos Golfinhos, representava um fatorlimitante de visitação na trilha durante doismeses. A equipe que desenvolvia o MIVconsiderou a possibilidade de fechamentototal da trilha durante estes dois meses.Neste caso, a base de cálculo para a CCRanual da Trilha dos Golfinhos seria de 10meses ou 305 dias, e a trilha passaria a serinterditada durante o período. Entretanto, aespecialista em aves que integrava a equipefez alguns testes ao longo da trilha que nãoindicaram um nível significante de pertur-bação das aves em decorrência da visitação.

A isto somou-se o conhecimento dosgestores da área, que testemunharam nãohaver diminuição aparente na populaçãodas aves ou no nível de anidação ao longoda trilha desde que o Parque começou areceber visitantes (1988), observação par-cialmente reforçada pelos resultados de le-vantamentos científicos da população ecomportamento das aves no arquipélago deFernando de Noronha. Portanto, a equipedo MIV optou por manter a trilha abertatodo o ano, utilizando a CCR média para oano todo, sendo que a matriz de monitora-mento incorporou medidas específicas paraacompanhar e controlar possíveis impactosde visitação na reprodução das aves.

Outra opção para o cálculo da CCR é aadoção de níveis diferenciados por períodosdo ano. Por exemplo, uma propriedade desolo e topografia muito vulneráveis àerosão, poderia adotar uma CCR diferencia-

da para o período de chuvas intensas. Aopção por esta estratégia é especialmenterecomendada para os casos das UCs ou pro-priedades que não terão condições dedesenvolver mecanismos de monitoramentode impactos (ou seja, uma matriz de moni-toramento). Ademais, para que a capaci-dade de carga possa ser utilizada comoprincipal instrumento de controle da visi-tação de uma determinada área, devem-sedesenvolver mecanismos para o efetivo con-trole de acesso às áreas (por exemplo, entra-da numerada por dia, funcionário disponí-vel para controle de entrada, cercamento daárea para impedir acesso por áreas não con-troladas etc.).

Caso a equipe que desenvo l ve o MIVoptar pelo cálculo da CCR por períodos dife-rentes no ano, a Capacidade de Carga Efetivadeverá ser calculada para cada período.

c) Determinação da Capacidade de Carga Efetiva (CCE).

Esta etapa considera que uma área temoutros objetivos e atividades além da visi-tação pública e que, para o cumprimento detodos os objetivos e atividades com igualnível de qualidade, são necessários pessoal,infra-estrutura e equipamentos passíveis deserem contabilizados.

Os responsáveis por uma área nãod e vem concentra r-se exclusivamente naoperação do ecoturismo em detrimento dosdemais objetivos da UC ou propriedade.O b s e r va-se que, geralmente, os demaisobjetivos são gravemente afetados quandouma operação rentável de visitação inicia-se, e todos os recursos humanos, físicos efinanceiros são consumidos ou orientadospara o manejo da visitação. Um dos princí-pios do ecoturismo é que o mesmo não sejaa única atividade econômica de uma pro-priedade, mas uma alternativa adicional nabusca de estabilidade econômica e finan-ceira para a gestão sustentável da área.

Calcula-se a CCE de acordo com aseguinte fórmula:

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Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Pessoal è CA = 7; CI = 6Instalações è CA = 5; CI = 3Equipamentos è CA = 15; CI = 10

Total : CA = 27; CI = 19CM = 70,37%CCE da trilha = 247 visitas por dia

1) Pessoal è CA = 26; CI = 18Instalações è CA = 8; CI = 2Equipamentos è CA = 151; CI = 71

Total = CA = 197; CI = 91CM = 46,19%CCE da trilha = 449 visitas por dia

333

Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Onde:

CM a Capacidade de manejo da área.Este número é encontrado pormeio da elaboração de duaslistagens: primeiramente, lista-gem de todos os recursos hu-manos, de equipamentos e deinfra-estrutura necessários para aimplementação de toda a áreaprotegida. A seguir, contam-se osrecursos disponíveis de acordocom a lista. A CM será igual àp o rcentagem da capacidadeinstalada em relação à capaci-dade adequada:

Capacidade Instalada (CI) CM = x 100

Capacidade Adequada (CA)

A multiplicação por 100 aqui visa apre-sentar um resultado em porcentagem. Ouseja, o resultado final é a capacidade demanejo como uma porcentagem da capaci-dade adequada.

No caso de um sistema de trilhas em umdeterminada área, e uma vez que se deter-mine a CCE de cada trilha, é necessária umaanálise da capacidade de controle dosresponsáveis sobre o acesso a este sistema.Ou seja, todas as trilhas a que se tem aces-so através de uma mesma entrada devem sermonitoradas por uma só contagem. Issoporque uma vez que o visitante tenha pas-sado pelo ponto de controle da área, não sepode impedir que ele visite todas as trilhasdaquele sistema.

Pode-se pesquisar junto aos visitantes, naentrada e/ou saída da área, quais trilhasforam visitadas, mas até que se tenha segu-rança de que esses dados são confiáveis,deve-se considerar a medida conservadora,tendo como limite de uso a CCE mais restri-tiva de todas as trilhas.

9

Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

Por ser apenas uma trilha, não há alterações na CCE já mencionada de 247visitas por dia.

A Trilha dos Golfinhos faz parte de um setor que possui 3 outras trilhas. A seguir a CCE de todas elas:è Golfinhos = 449 visitas por diaè Farol = 159 visitas por diaè Baía dos Porcos = 87 visitas por diaè Capim-açu = 192 visitas por dia

EXEMPLO 7 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA EFETIVA

EXEMPLO 8 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA EFETIVA POR SETOR

CCE = CCR x CM100

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O setor Golfinhos, como é chamado,possui uma capacidade de carga de 87 visi-tas por dia. Em outras palavras, mesmo queo visitante queira visitar apenas a Trilha dosGolfinhos, que possui capacidade de cargaefetiva de 449 visitas ao dia, é impossívelimpedir que ele visite também a trilha daBaía dos Porcos uma vez que ele tenhaentrado no Setor Golfinhos. Portanto, paraproteger adequadamente a trilha da Baíados Porcos, é necessário controlar o acessoa todas as outras trilhas no nível dela.

d) Como utilizar o resultado da capacidade de carga

Há três formas de utilizar o resultado dacapacidade de carga. A primeira é o con-trole diário de uso da área. Isso só é possívelpara aquelas áreas que possuem um con-trole de ingressos numerados, com registrodiário de quantos foram vendidos.

A segunda é o controle mensal de aces-so. Nesse caso, o controle de uso é cumula-tivo para o mês, podendo até mesmo, emalgumas ocasiões (dias), exceder o limiteestabelecido pela CCE diária, desde que olimite da CCR mensal não seja excedido. Avantagem de fazer este tipo de controle éque relativizam-se as diferenças entre visi-tação em dias de semana e fins de semana.Por outro lado, caso a visitação de fim desemana ou de feriados seja muito maior doque aquela dos dias de semana, freqüente-mente ultrapassando a CCE diária, deve-sedeterminar um monitoramento intensivo deimpactos e opinião de visitantes durante osdias de pico. É possível que seja necessáriorestringir a visitação durante esses períodos.

Em ambos os casos, uma vez que secomece a monitorar o número de visitas,caso se observe ligeiro excesso em compara-ção à CCE, antes de tomar decisões de mane-jo restritivas do número de visitas é precisoacumular resultados ao menos durante umperíodo de duas a quatro semanas.

O limite estabelecido para a Capacidadede Carga Real Diária da trilha, em hipótesealguma pode ser ultrapassado. Isso ocorren-do, o acesso deve ser imediatamente con-

trolado para que o evento não se repita.Nesse caso, é indispensável intensificar omonitoramento e a avaliação de impactos.

A terceira maneira de utilizar a CCE refe-re-se aos casos onde os responsáve i soptaram pela determinação de CCR diferen-ciada de acordo com o período do ano.Neste caso, a CCE deverá ser calculada paracada período escolhido. Uma vez que istotenha sido feito, os responsáveis ainda deve-rão determinar se o controle será feito diáriaou mensalmente dentro de cada período.

Em resumo, a ultrapassagem dos níveisde uso estabelecidos deve ser encaradapelos responsáveis como um alerta de quepodem estar ocorrendo mudanças no ambi-ente natural e que medidas corretivas demanejo são necessárias. O desenvolvimentoda matriz de monitoramento vem comple-mentar este parâmetro geral de alerta pormeio da identificação de mudanças – quepodem estar em níveis aceitáveis ou não –nos indicadores adotados no Passo 4(Determinar indicadores para monitoramen-to de cada trilha).

Passo 7 – Elaborar a Matriz de Monitoramento

A principal função da matriz é a organi-zação visual de todas as informações sobrea área de visitação. Em um só instrumento,pode-se facilmente verificar os objetivo sgerais e específicos da área, indicadores,parâmetros e informações sobre a coleta eanálise de dados. Para cada trilha ou área devisitação, recomenda-se que seja elaboradauma matriz própria.

Toda matriz de monitoramento deimpactos deve ter, pelo menos, os seguintescampos referentes à etapa de planejamento:

❒ Objetivos gerais.❒ Objetivos específicos da trilha ou

área de visitação.❒ Indicadores.❒ Parâmetros aceitáveis de impacto.❒ CCR e CCE do ponto de controle

para a trilha.

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Outros campos são flexíveis, de acordocom especificidades do local e da intensi-dade de monitoramento. Especialmenteflexível é a forma de nomear os campos,que deve ser adequada à compreensão dosresponsáveis pelo monitoramento. Geral-mente, a matriz de monitoramento possuitambém os seguintes campos:

❒ Localização de pontos de monitora-mento (pode ser identificado em seg-mentos da trilha ou na trilha inteira ) .

❒ Valor de início de monitoramento.❒ Nº da ficha de coleta (que é levada

para o campo).❒ Nº da ficha de registro dos dados

(onde se registram as informaçõestrazidas nas fichas de coleta).

❒ Responsáveis envolvidos (de prefe-rência nomear a(s) pessoa(s), aoinvés de apontar um segmento oudepartamento).

❒ Freqüência mínima de coleta (háindicadores cujos dados devem sercoletados todas as vezes que osresponsáveis visitam a área – é ocaso do lixo; há outros que devemter um período mínimo de coleta –g e ralmente trimestral; entretanto,todos eles podem ser coletados aqualquer momento se os respon-s á veis identificarem necessidadepara tanto).

❒ Data de análise para ações de mane-jo (ou de avaliação dos dados).

❒ Nº do documento com decisões demanejo.

A avaliação deve ser feita em duasocasiões:

a) Todas as vezes que, ao voltar do campoe registrar os dados, os responsáveiso b s e r varem que algum parâmetroaceitável de impacto foi extrapolado.

b) Uma vez por ano, mesmo que osparâmetros individualmente não tenhamsido extrapolados. Nessa ocasião,avaliando os dados de todos os indi-

cadores durante o ano, deve-se atentarpara mudanças que os indicadores, indi-vidualmente, não captam:

2 Avaliar a utilidade dos in d i c a d o r e sque estão sendo monitora d o s e anecessidade de se criar novos.

2 Rever a Capacidade de Carga dastrilhas em áreas visitadas.

2 Rever os objetivos e a possibilidadede abertura ou fechamento de áreasde visitação.

Pa ra a avaliação anual deve-se reunir omaior número possível de pessoas envo l v i d a scom o manejo da área. Também recomenda-se que sejam convidados técnicos envo l v i d o sna elaboração inicial do MIV e especialistasem áreas relevantes para a área.

G e ralmente a matriz é organizada comouma tabela, onde cada campo é uma colu-na. Como é impossível organizar a tabelap a ra que todas as colunas fiquem lado alado, recomenda-se que seja montada umatabela para os campos de planejamento eo u t ra para os campos de monitoramento.

A seguir, as tabelas elaboradas para oParque Nacional Marinho de Fernando deNoronha. No Anexo deste capítulo é apre-sentada na íntegra a Matriz de Monito-ramento da Trilha dos Golfinhos.

A matriz de monitoramento tem comocomplemento indispensável os instrumentosde coleta e compilação de dados. Antes quese possa iniciar o monitoramento, estesinstrumentos, geralmente chamados defichas, devem ser esboçados pela equipeque desenvolve o MIV, com base nos indi-cadores e parâmetros definidos.

Pa ra elaborar as fichas (e também ajustá-las, trabalho descrito no próximo passo),d e ve-se estar atento para os seguinte aspectos:

a) O objetivo das fichas de coleta é levan-tar os dados especificamente apontadosnos indicadores: nem mais, nem menos!Como são preparadas separadamente, háuma tendência em incluir mais um ououtro detalhe nas fichas, o que poderesultar em grande quantidade adicional

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Identificação da trilha ou área de visitação:

G.1.1

G.1.2

G.2.1

G.2.2

I n d i c a d o rNº de fich ade coleta de dados

Nº de fich ade registro

Respon-sáveis

Fr e q ü ê n c i ade

c o l e t a D a t aNº do

doctº deregistro

L o c a l i z a ç ã odo ponto

Valor dei n í c i o

Monitoramento Avaliação

TABELA 1

MATRIZ DE MONITORAMENTO – PARTE 1(objetivos, indicadores e parâmetros de impacto aceitáveis)

336

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de trabalho para coletar informações quena prática não têm utilidade dentro damatriz de monitoramento.

b) Deve-se aglutinar o máximo possível deindicadores em uma mesma ficha. Umaquantidade muito grande de fichas difi-culta o trabalho de campo e geraimpacto psicológico negativo nos res-

ponsáveis. Por outro lado, as fichas de-vem ser claras, de fácil leitura e interpre-tação.

c) As instruções de como coletar os dadosdevem ser inseridas na própria ficha decoleta ou em uma ficha exclusiva paratal, que possa ser levada a campo. Asegunda opção é mais recomendável,

9

Identificação da trilha ou área de visitação: CCR da trilha: CCE da trilha: CCR do ponto CCE do ponto

de controle: de controle:Objetivos específicos de visitação na trilha:

G1 -

G2 -

Indicadores de verificação: Parâmetros de mudança aceitável:

G1.1 - G1.1.1 -

G1.2 - G1.2.1 -

G2.1 - G2.1.1 -

G2.2 - G2.2.1 -

TABELA 2

MATRIZ DE MONITORAMENTO – Parte 2(Orientação para coleta e compilação dos dados)

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

porque, com a prática daqueles que vãocoletar os dados, a ficha de instruçõestorna-se dispensável.

d) Há situações em que se pode deixar várioscampos para serem preenchidos com textod u rante a coleta. Entretanto, deve-se evitarao máximo a elaboração de fichas cujosdados dependam inteiramente da opinião( o b s e r vação) de quem faz a coleta, o quee l e va bastante o grau de subjetiv i d a d e .D e ve-se eliminar, ao máximo e sempre quep o s s í vel, a necessidade de escreve r, priv i l e-giando-se números ou marcação de itens.

EXEMPLOS DE FICHAS DE COLETA E COMPILAÇÃO

A seguir são apresentadas uma ficha decoleta e uma de compilação para cada umdos projetos que exemplificam este capítu-lo. Essas fichas foram adequadas para o usoexclusivo nesses projetos (esse assunto seráabordado no próximo passo). Devem ser uti-lizadas como ponto de partida para que aequipe elabore os materiais para a áreaespecífica. Não se recomenda o uso direto,sem revisão, de nenhuma das fichas.

9Ficha de Coleta de dadosTrilha: Responsável:Data: Início do monitoramento:

(i) PontoEstaca

nºIndicador

Meio decoleta

Identifi-cação da medida

Medida Observações

EXEMPLO 9 – FICHA DE COLETA – PROJETO VEADEIROS

Ficha de compilação de dados de monitoramento por indicador

Trilha: Indicador:

Responsável: Data:

Início do monitoramento:

(i) Po n t o Estaca n º _ _ / _ _ / _ _ _ _ / _ _ / _ _ _ _ / _ _ / _ _ _ _ / _ _ / _ _ _ _ / _ _ / _ _ _ _ / _ _ / _ _

EXEMPLO 10 – FICHA DE COMPILAÇÃO – PROJETO VEADEIROS

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Ficha de coleta Formulário B _____Nome do responsável:

Nome daTrilha

Localização do problemaData

Va n d a l i s m o Dano deanimais Picadas

Comentários

Marque o problema específico

9

No Projeto Veadeiros, como a equipe decoleta de dados era de técnicos com treina-mento específico, foi adotada apenas umaficha de coleta, adequada para todos os

indicadores, e várias fichas descrevendo ospontos ou tipos de coleta.

A seguir uma das fichas com instruçõesde coleta:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLO 11 – FICHA DE COLETA - PARNAMAR NORONHA

Trilha:Data do início do uso da ficha: Data de último registro nesta ficha:

Limpeza

Conserto

Drenagem

Vandalismo

Estragos feitos por animais

Picadas feitas por visitantes

IndicadorObs.

(*)Obs. Obs.

nº de casos em

----/----/----

nº de casos em

----/----/----

nº de casos em

----/----/----

EXEMPLO 12 – FICHA DE COMPILAÇÃO - PARNAMAR NORONHA

(*) Nesta coluna você deve indicar se na ficha de coleta foi feita alguma observação para este dia. Coloque “S”para sim e “N” para não. Se colocar “S”, anote também o número do formulário de coleta (no canto direito, naparte superior da ficha de coleta há um código de letra e número).

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Instruções para usar a ficha e coletar os dados:

A mesma ficha pode ser usada para todasas trilhas e para mais de um dia. Leve-ajunto com você todos os dias que for para astrilhas.

1 Anote o seu nome no espaço reservadopara “nome do responsável”.

2 Ao encontrar problemas em alguma tri -lha, anote o nome da trilha e a data dasanotações nas colunas específicas.

3 Anote onde o problema está. Procure amarcação das estacas em metros.

4 Marque com um “x” o tipo de problemaque você encontrou (vandalismo - desinalização, de infra - e s t r u t u ra, deá r vores, pedras, etc.; problemas dedanos de animais – pisoteio das trilhas,destruição de infra-estrutura ou de mar -cação de trilhas, etc.; picadas – trilhas oucaminhos não planejados abertos pelosvisitantes).

5 Marque mais de uma coluna se houvermais de um problema no mesmo local.

6 O espaço para comentários serve paravocê anotar alguma observação especial.

7 Organize com seus colegas o trabalho demanutenção necessário para corrigir osproblemas observados!

PONTO: Início do monitoramento:

Indicadores monitorados:

Trilha:

Objetivo de monitoramento:

Número da estaca (localização do ponto):

Outras informações:

Frequência de monitoramento: Frequência de avaliação:

Meio Identificação Medida Instruções de posicionamento de coleta da medida inicial para a medição

1 QUADRO 5

FICHA DE DESCRIÇÃO DO PONTO DE MONITORAMENTO –

PROJETO VEADEIROS

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

A equipe deve preparar-se para enfrentar o espanto e receio dos responsáveis quando osmesmos virem estes materiais. Primeiro, eles imediatamente pensarão que o monitoramen-to representará grande quantidade de trabalho extra, necessariamente uma sobrecarga parao pessoal. Também é comum pensarem que será muito complicado fazer o trabalho, tendoque preencher, ler e entender “aquele monte de fichas!”.

A esse receio, justificado em vista do tipo e quantidade de materiais que compõem estee qualquer sistema de monitoramento, soma-se o fato de que, a não ser em raras ocasiões,os responsáveis não vêem a utilidade de “fazer todo este trabalho!”. Quando muito, há umacompreensão geral de que é preciso controlar os impactos inaceitáveis.

Recomenda-se, então, que se evite tentar explicar a matriz de monitoramento no abstra-to. Sequer é recomendável que se mostre aos responsáveis todas as fichas iniciais pensadaspela equipe que desenvolve o MIV antes de ter os primeiros dados concretos. Ao invésdisso, cada material deve ser apresentado na ocasião da primeira coleta de dados.Especialmente importante é realizar a primeira reunião de avaliação logo após passar osdados das fichas de coleta para as fichas de registro. Assim, os gestores da área poderão verna prática como o processo de monitoramento relaciona-se com o trabalho deles e, maisimportante, qual a sua utilidade.

Mostrar como na prática o monitoramento auxilia e facilita o trabalho de manutençãoda área é de responsabilidade da equipe que desenvolve o MIV.

Passo 8 – Coletar dados iniciais parao monitoramento de todos os indicadores, ajustar os instrumentos de coleta e compilação de dados e realizar a primeira etapa de treinamento dos responsáve i s

A coleta de dados iniciais para o monitora-mento é também a ocasião em que se faz aadequação das fichas de coleta e compilação.Este passo exige um trabalho muito próximoentre a equipe que desenvo l ve o MIV e osr e s p o n s á veis pela coleta e compilação dosdados. As fichas que foram esboçadas pelaequipe do MIV visando apenas a geração dosdados necessários para o indicador, de formac o n f i á vel e clara, agora deverão ser ajustadasp a ra que possam ser compreendidas por aque-les que as preench e r ã o .

Um aspecto ch ave durante a adequação def i chas de coleta e compilação é entender quenão há um tipo universal de ficha. Pa ra se

chegar às fichas adequadas, a equipe do MIVd e ve adotar uma postura flexível quanto aoformato e linguagem utilizadas. Somentedepois de uma série de aplicações práticas ede pelo menos um evento de avaliação seráp o s s í vel considerar que as fichas estão prontas.

A coleta inicial dos dados é feita pormembros da equipe do MIV juntamente comos indivíduos que serão responsáveis pelarealização do monitoramento. Este é o inícioe f e t ivo do monitoramento, quando inicia-seo levantamento de informações seguindo amatriz de monitoramento. Assim, deve - s eproceder à coleta de dados da forma como sed e verá fazer uma vez que a equipe do MIVtenha terminado seu trabalho. Ou seja, nestepasso inicia-se o treinamento prático daque-les que assumirão a responsabilidade defazer o monitoramento da área.

O processo de coleta de dados envolve:

❒ Consultar a matriz de monitora m e n t o

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1 QUADRO 6

QUANDO E COMO APRESENTAR A MATRIZ DE MONITORAMENTOE OS MATERIAIS DE COLETA E REGISTRO PARA OS RESPONSÁVEIS?

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

p a ra identificar quais indicadores deve-rão ser tratados em quais trilhas.

❒ Selecionar as fichas de coleta neces-sárias para cada indicador e cada trilha.

❒ Caso as instruções de coleta para cadaindicador não constem da ficha de cole-ta, selecionar as instruções a serem le-vadas para campo.

❒ Preparar os equipamentos necessáriospara coletar as informações (por exem-plo, pra n cheta, trena, lápiz, relógio,binóculo, máquina fotográfica, etc.). Asf i chas de instruções devem conterinformações necessárias para identificarquais equipamentos são necessários,podendo inclusive apresentar uma listade equipamentos.

Nesta etapa não só as fichas de coletasofrem mudanças. É comum também quesejam identificadas necessidades de ade-quação dos locais de monitoramento e dosprocedimentos para coleta de dados – pro-postos durante a definição dos indicadores(passo 4) – que apresentem necessidade deadequação.

Após a coleta de dados, é feito tambémo primeiro evento de registro dos dadoscoletados nos instrumentos de compilação.Há duas diferenças principais entre osinstrumentos de coleta e os de compilação.O primeiro é que, nos instrumentos de com-pilação para cada indicador em cada trilha,os dados de coleta em diferentes datas sãoapresentados lado a lado, o que facilita avisualização sobre a ocorrência demudanças. A segunda diferença é que asfichas de compilação nunca são levadas acampo. Um sistema de arquivo em pastas –que pode ser bastante simplificado – deveser elaborado para guardar todos os mate-riais referentes ao monitoramento, especial-mente as fichas de compilação.

É no momento do registro das infor-mações iniciais para monitoramento que asf i chas são ajustadas; é também nessaocasião que os responsáveis pela aplicaçãodo MIV fazem seu primeiro treinamentosobre como registrar os dados coletados.

Passo 9 Analisar os usos conflituosos ou excessivos observados durante a coletade dados iniciais parao monitoramento e determinar ações de manejo corretivas

Esta é a etapa de comparação dos dadoscoletados e compilados com os parâmetrosa c e i t á veis de impactos negativos. Pa rarealizar esse trabalho, são necessários pro-cedimentos sistemáticos de discussão dosproblemas, elaboração de propostas desolução, decisão e planejamento de ação e

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A COLETA DE DADOS INICIAIS

DE MONITORAMENTO E A PRIMEIRA AVALIAÇÃO

PODEM LEVAR A ALTERAÇÕES DA MATRIZ

DE MONITORAMENTO.

No PA R NAMAR Noro n h a ,d u rante o trab a l h o

de levantamento de dados iniciais

e treinamento dos fiscais para a coleta

dos dados, foi adicionado um novo objetivo

em todas as tri l h a s , seguido de indicadore s

de monitora m e n t o . O objetivo em questão

re fe re-se a um uso conflitante do Pa rq u e :

p resença de animais domésticos nas tri l h a s ,

especialmente va c a s .Ao perc o rrer as tri l h a s ,

recém constru í d a s , os fiscais

em treinamento apontaram para a equipe

do MIV que a grande maioria dos estrago s

o b s e rvados haviam sido feitos

por animais domésticos.

Portanto, apesar de não ser um objetivo

de uso recreativo na área,decidiu-se

incluir o objetivo “Manter o ambiente

visitado livre da presença e impactos

de animais domésticos”na matriz

de monitoramento de cada trilha

do Parque.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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a) Junte as fichas de compilação de dados e as matrizes de monitoramento para cada trilha.

b) Compare os dados observados na trilha para cada indicador com os parâmetros (ou limites) indicados como aceitáveis.

c) Caso os dados observados sejam maiores, reúna alguns colegas de trabalho paradiscutir a situação, as prováveis causas e possíveis soluções.

d) Em uma folha de papel em branco, anote a data, o seu nome, o nome dos participantesda reunião. A reunião deverá ser registrada. Comece escrevendo qual ou quais problemas serão discutidos.

e) Apresente para seus colegas um problema de cada vez.

f) Juntos, pensem as possíveis soluções para o problema. Anotem na folha de registro dareunião todas as sugestões para cada problema. As soluções podem ser de tipos diferentes:

2 Mudanças ou trabalhos físicos – infra-estrutura, consertos, mudança de caminho da trilha, novos guarda-corpos etc..

2 Distribuição de informações – informações passadas pelos guias, campanhas nas escolas, folhetos, novas placas etc..

2 Limitações econômicas – cobrança de taxas diferenciadas (mais caras para uns quepara outros) ou aumento geral do ingresso.

2 Limitações de uso – determinação de número máximo de pessoas que podem entrarem um lugar a cada dia; restrição para uso acompanhado de guia etc..

2 Limitação do tipo de atividade – impedir determinados tipos de atividades ou limi-tar o acesso; impedir o uso de cavalos ou entrada de animais; proibir o banho etc..

g) Sejam criativos: tentem pensar ao menos em duas soluções!

h) Façam uma análise de cada solução e registrem a conversa. Pensem nos seguintesaspectos:

2 Adequação aos objetivos – esta solução está de acordo com os objetivos do parque, de uso recreativo e da trilha (consulte a matriz de monitoramento da trilha)?

2 Custos – quanto vai custar para implementar a solução?2 Trabalho envolvido – é uma solução fácil de se aplicar?2 Responsabilidade – quem vai fazer? O parque mesmo ou outros?2 Probabilidade de dar bons resultados – esta solução tem boa chance de dar certo?2 Conseqüências ou impactos em outros indicadores – ao aplicar esta solução, vocês

estarão criando um problema em outro indicador ou lugar?2 Provável impacto para o visitante – a solução vai ser muito desagradável para

o visitante? Será que a solução é mais radical do que o problema pede?

1 QUADRO 7

DISCUTINDO E DEFININDO AÇÕES PARA CORRIGIR OU PREVENIR IMPACTOS DE VISITAÇÃO (Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha)

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Durante a primeira reunião de avaliação realizada após a coleta inicial de dados, seguin-do as matrizes de monitoramento de todas as trilhas do Parque, os fiscais em treinamentoapresentaram ao grupo maior de fiscais do Parque um problema de conflito de uso com acomunidade local em duas trilhas.

Tradicionalmente, as trilhas do Farol e do Capim-açu são utilizadas como vias de aces-so de pescadores a uma das áreas de pesca de determinado tipo de peixes. Por ser um longocaminho (mais de 3.000m), os pescadores geralmente usam o cavalo como meio de trans-porte até o mirante do Capim-açu, ponto final da Trilha do Capim-açu, que por sua vez temseu início quase no final da Trilha do Farol. Como a coleta de dados iniciais foi realizadadurante o período das chuvas, foi possível observar o imenso dano que esta forma de trans-porte estava causando às trilhas.

D u rante a reunião, houve intensa discussão sobre os interesses da comunidade e a neces-sidade de manutenção das trilhas (especialmente porque no caso de Fernando de Noronhaos fiscais são da própria comunidade local, por vezes também pescadores). Seguindo oprincípio de que há sempre alguma medida possível ao alcance dos próprios fiscais, ch e g o u -se a um acordo no qual os cavalos seriam utilizados apenas no trecho da Trilha do Fa r o l(aproximadamente três quartos de todo o percurso), poupando a Trilha do Capim-açu, queapresentou danos significativamente maiores. O grupo de fiscais também definiu um proces-so para informar os pescadores e comunidade em geral, buscando conscientizá-los de qued u rante o período de ch u vas, o impacto do uso de cavalo na Trilha do Farol é demasiadog rande. Os fiscais entenderam que com a demonstração de flexibilidade por parte do Pa r q u ee o trabalho de conscientização será possível dentro de uma ou duas temporadas conve n c e ros pescadores a utilizar outros locais de pesca durante o período de ch u va s .

343

Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

i) Uma vez escolhida a solução, planejem a sua aplicação (se houver necessidade depedir autorização para realizar o trabalho, o pedido será uma etapa do trabalho).Registrem a solução escolhida e o plano de trabalho.

Guardem os papéis onde foi registrada a discussão e a escolha da solução junto com a ficha de compilação do indicador que apresentou problemas.

Se mais de um indicador for discutido em um só dia e houver apenas um documento de registro da discussão, tirem cópias do documento para guardar junto com as fichas

de compilação de cada indicador.

registro das reuniões. A seguir, observe que,assim como nas etapas anteriores, os passossugeridos devem ser desenvolvidos para seadequar à capacidade dos responsáveis enão o contrário.

A primeira reunião deve ser feita aindad u rante o passo oito, como forma dedemonstrar na prática como o levantamentodos dados pode facilitar e gerar informaçõespara o trabalho de gerenciamento diário queos responsáveis já realizam na área.

Passo 10 Treinar os responsáveis para implementar o MIV

Como foi visto, o treinamento para uti-lizar os materiais, assim como a compreen-são mínima sobre o que é o MIV, deve serfeito nas etapas anteriores.

Pa ra assegurar a continuidade do proces-so e um formato adequado para os ajustes,recomenda-se que seja elaborado um crono-g rama de implementação assessorada do

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EXEMPLO 13 – RESULTADO DE REUNIÃO DE AVALIAÇÃO – PARNAMAR Noronha

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

M I V, com visitas periódicas ou consultas àequipe que elaborou o sistema (caso não sejaa mesma que o vai implementar), a partici-pação da equipe durante as avaliações deter-minadas, além de eventuais cursos de treina-mento em uma ou outra técnica, de acordocom a identificação das necessidades.

Essa implementação assessorada deved u rar preferencialmente um ano, paraabranger a coleta de dados durante todas asestações do ano.

2. Aprendendo a desenvolver o MIV para uma área

Ométodo proposto neste capítulo não édifícil de ser aplicado, mas é dividido

em diversas etapas, que por sua vez pos-suem vários estágios de desenvolvimento. Ométodo envolve muitas decisões de manejopor parte da equipe responsável por seudesenvolvimento. Há duas formas de asse-gurar que o resultado do MIV de uma áreanão seja demasiado subjetivo:

❒ Conhecimentos prévios variados sobre os aspectos ambientais da área.

❒ Experiência acumulada no desenvolvimento de MIV.

Na primeira vez em que um indivíduoou equipe realiza esse tipo de trabalhosurgem várias dúvidas. Há um grande receiode não se estar tomando a decisão apropri-ada. Esta é uma reação saudável, já que ométodo é muito dependente das decisões dequem o implementa. Recomendam-se asseguintes precauções na primeira vez emque se usa o método:

a) Selecione uma propriedade, particularou pública, que possua um programa devisitação não muito complexo. Caso nãoseja possível, selecione uma área parcialda UC ou propriedade para começar otrabalho. Em outras palavras, evite iniciaro aprendizado com um projeto como odo Parque Nacional Marinho de Fer-nando de Noronha.

b) Procure montar uma equipe, mesmo quepequena (três a quatro técnicos além devocê), que possua conhecimentosprévios sobre diferentes aspectos ambi-entais relevantes. De preferência, sele-cione ao menos um profissional quetenha alguma experiência prévia commonitoramento de projetos.

c) Este é um trabalho que deve ser feitoestritamente no campo. Há que se per-correr a área várias vezes, que se co-nhecer bem cada trecho de todas as tri-lhas e, de preferência, conhecer a áreaem diferentes estações climáticas. Casovocê não tenha esse nível de conheci-mento, assegure-se de consultar pessoasque o tenham.

d) A escolha da primeira área de visitaçãopara aplicação do método não deve serdemasiadamente complexa. No caso deuma trilha, esta não deve ser nemdemasiadamente longa, nem demasiada-mente curta (entre 1.000m e 2.500m éuma boa margem).

e) Participe diretamente da realização detodas as etapas, desde as prévias ao MIV(levantamento de trilha) até a coleta,compilação e avaliação de dados. Assimvocê poderá ter noção do tipo de traba-lho envolvido, possibilitando a melhoradequação do MIV às condições locais.

f) Faça, juntamente com os membros daequipe e os responsáveis pela gestão daárea, uma avaliação geral sobre todo oprocesso.

3. Ensinando outros a desenvolver o MIV

Para ensinar outras pessoas a aplicar ométodo do MIV, são feitas as seguintes

recomendações:

❒ É necessário, primeiro, que o técnicoesteja bastante familiarizado com todasas etapas, limites e possibilidades do mé-todo. Isso implica não só conhecer bemtodas as etapas e a bibliografia referenteao assunto, mas principalmente ter apli-

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

cado o método pelo menos duas vezes.❒ Antes de iniciar o treinamento, o técnico

deve selecionar cuidadosamente o localque será utilizado para tal. Após aseleção, o técnico deve procurar conhe-cer bem a área, se necessário fazendoconsultas bibliográficas, consultas a es-pecialistas e à comunidade local.

❒ Outro passo é a orientação para a sele-ção de participantes do curso. É impor-tante que os mesmos sejam entrevista-dos, pessoalmente ou por meio de ques-tionário, para levantamento de informa-ções sobre o tipo de público que serátreinado (lembrando que o MIV pode terdiferentes “caras”, dependendo da capa-cidade da equipe responsável pela suaimplantação), e também para se ter aoportunidade de falar um pouco sobre otipo de trabalho envolvido.

❒ O curso deve ser montado em etapas,realizadas em ocasiões diferentes. Tentar cobrir todas as etapas do método em umsó curso é demasiado ambicioso, pois aquantidade de informações e novidadesé muito grande. O melhor é pensar emtrês fases: 1) Passos 1 a 5; 2) Passo 6; 3)Passos 7 a 10. Durante o intervalo entrecada fase, deve ser elaborado um crono-grama de trabalho prático para os partici-pantes do curso. Reconhece-se que émuito difícil realizar um curso nesse for-mato ideal. Assim, caso não seja possívelfazê-lo, o técnico deve elaborar cuida-dosamente uma grade para o curso,intercalando cada etapa com o trabalhode campo.

❒ Finalmente, vale para os participantes deum curso a mesma observação feita paraquem aprende sozinho: somente a apli-cação prática de todas as etapas, aomenos duas vezes, poderá garantir umacapacitação adequada na implementaçãodo método para efeitos de multiplicação.

IV. CUIDADOS E RECOMENDAÇÕES

O método proposto neste capítulo careceainda de testes em variados contextos e,

mais importante, de avaliações metodológi-cas baseadas em pelo menos dois anos deaplicação dos sistemas implantados.

O processo proposto baseia-se emgrande parte na visão e entendimento daequipe que desenvolve o MIV e dos respon-sáveis pela gestão da área. As decisões demanejo que os responsáveis tomarão, ape-sar de embasadas em informações práticas ecoletadas com rigor, não deixarão deenvolver um grau de subjetividade inerenteao "julgamento" de um processo de tomadade decisão. Assim, os desafios apresentadospelo processo são grandes e, de certa forma,imprevisíveis.

Vários aspectos com os quais se deve tercuidado já foram abordados no corpo docapítulo. Convém, entretanto, lembrar algu-mas questões adicionais a que estão sujeitosos responsáveis pela área. Uma vez que oMIV é implementado, novas questõespoderão ocorrer. O que fazer se o sistemade monitoramento indicar impactos que fre-qüentemente extrapolam tanto a Capa-cidade de Carga Efetiva como os limitesaceitáveis de impacto em diversos indi-cadores, mesmo após repetidas tentativas decontrole? Ou, ainda, o que fazer se acapacidade de carga de uma área for muitopequena, indicando grande fragilidade epotencial para impactos de visitação?

No caso de uma unidade de conser-vação, é difícil uma resposta para essas per-guntas, mas é indiscutivelmente ainda maisdifícil para um proprietário particular.Porque no caso de uma UC não há obriga-toriedade de receber visitação, e um ParqueNacional não deveria ser criado em umlocal que não pode suportar a visitaçãorecreativa (ou seja, uma outra categoria deunidade de conservação seria apropriada).Assim, em resposta às duas questões, a UCpoderia, em caso extremo, ser fechada paraa visitação recreativa.

No caso de áreas particulares, o propri-etário geralmente desenvolve a atividade deecoturismo como alternativa econômicaambientalmente correta. A sua interrupçãopode gerar redução na receita, talvez até

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

afetando sua subsistência. Pode ainda gerarimpactos socioeconômicos na comunidadelocal que presta serviços integrados à visi-tação da área.

Para lidar com essas questões, é precisobasear-se no princípio definidor do ecoturis-mo: essa atividade deve obrigatoriamentepromover a conservação do local visitado eser realizada com controle de impacto ezelo pela qualidade do ambiente.

Assim, em última instância, o ecoturismodeve ser descartado como atividade em umlocal demasiado frágil ou em uma situaçãoem que não se consiga manejar os impactosdentro de limites aceitáveis. Ao menos atéque se possa atingir condições de gestãoadequadas.

Essas considerações nos remetem a umaquestão de ética na motivação para o desen-volvimento do ecoturismo: qual é o com-promisso daqueles que promovem o ecotu-rismo com a qualidade do ambiente naturalaberto à visitação pública? Essa perguntadeve ser respondida por todos os atores,desde o proprietário, passando pelos técni-cos envolvidos no planejamento e imple-mentação das atividades, pelas agências eoperadoras, até o ecoturista. Uma decisãoreferente à visitação de uma área natural(seja em termos de quantidade ou tipo deatividade recreativa) que se manifeste con-trária à conservação do ambiente visitadodesqualifica a atividade como ecoturismo.

V. BIBLIOGRAFIA

CIFUENTES, Miguel. 1992. Determinacionde Capacidade de Carga Turística en

Áreas Protegidas. Série técnica. Informetécnico nº 194. Centro Agronómico deI nvestigación y Ensenanza CAT I E .Turrialba, Costa Rica.

DRIVER, B.L., BROWN, Perry. 1978. Th eOpportunity Spectrum Concept andB e h av i o ral Information in OutdoorRecreation Resource Supply Inventories: aR a t i o n a l. Paper apresentado durante aoficina "Integrated Inventories of Renew-able Natural Resources". Anais da oficina.8 a 12 de janeiro de 1978. Tucson, A Z .

KUSS, Fred, GRAEFE, Alan e VASKE, Jerry.1990. Visitor Impact Management.National Parks and Conserva t i o nAssociation. Washington, DC.

MILLER,K.1980 Planificacion de Pa r q u e sNacionales para el Ecodesarrollo enLatinoamerica, Madrid, FEPMA. 500 p.

W W F - B rasil. 2001. Uso Recreativo noParque Nacional Marinho de Fernandode Noronha: um exemplo de planeja -mento e implementação. [Coordenação:Sylvia F. Mitraud] WWF-Brasil, vol. 8.Brasília, DF.

MOORE, Roger. 1994. Conflicts on multi-use trails: a survey of national park serv -ice managers. Report nº HWA-PD-94-031. Fe d e ral Highway A d m i n i s t ra t i o n .Washington, DC.

STANKEY, George, COLE, David, LUCAS,Robert, PETERSEN, Margaret, FRISSELL,Sidney. 1985. The Limits of AcceptableChange (LAC) System for Wi l d e r n e s sPlanning. General Technical Report INT– 176. United States Department ofAgriculture, Forest Service. Ogden, UT.

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

.

N este anexo apresentamos alguns dos instrumentos de monitoramento desenvolvidospara o Sistema de Monitoramento e Controle de Impactos de Visitação – MIV daTrilha dos Golfinhos, no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.

Considerando que os diversos passos para desenvolver o MIV foram suficientementeabordados no corpo do capítulo, apresentamos a seguir a Matriz de Monitoramento e osinstrumentos de coleta e compilação de dados. Eles fazem parte do Plano de Uso Recreativodo Parque, desenvolvido entre 1997 e 2000 pela parceria WWF-Brasil e IBAMA / MMA evem sendo aplicados atualmente.

É importante lembrar que, para se chegar a estes instrumentos específicos, deve-se seguiros passos recomendados pelo MIV (ver abaixo). No caso do sistema desenvolvido para aTrilha dos Golfinhos, os passos desenvolvidos que podem ser encontrados no documento“Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha: um exemplo deplanejamento e implementação” , lançado pelo WWF-Brasil em fevereiro de 2002, porocasião do lançamento do sistema pelo MMA. Para obter este documento, contate o WWF-Brasil. Para obter os resultados integrais do MIV para o Parque, solicite ao Departamento deUnidades de Conservação – DEUC, no IBAMA-Brasília.

Dos 10 passos propostos no MIV, os anexos do documento acima citado apresenta osresultados do sistema aplicado na Trilha dos Golfinhos para os passos de número 3 a 6. Osinstrumentos gerados nos passos de número 7 são apresentado neste anexo, conforme segue:

1. Montar equipe multidisciplinar, de acordo com as características levantadas no plane-jamento e mapeamento.

2. Revisar a legislação e as políticas ambientais e de turismo relevantes para a UC(Unidade de Conservação) ou propriedade.

3. Analisar ou elaborar objetivos gerais para o uso da área protegida ou propriedade, obje-tivos específicos para a atividade de ecoturismo e definir objetivos específicos por trilhaou local de visitação.

4. Determinar indicadores para monitoramento de cada trilha.5. Determinar parâmetros de impactos aceitáveis para cada indicador, incluindo as uni-

dades de medida.6. Determinar a capacidade de carga.7. Elaborar a Matriz de Monitoramento, incluindo os instrumentos de coleta e compilação

de dados (apresentado a seguir).8. Coletar dados iniciais para o monitoramento de todos os indicadores, ajustar os instru-

mentos de coleta e compilação de dados e realizar a primeira etapa de treinamento dosresponsáveis pelo manejo.

9. Analisar os usos conflituosos ou excessivos observados durante a coleta de dados ini-ciais para o monitoramento e determinar ações de manejo corretivas.

10. Treinar os responsáveis para implementar o MIV.

BIBLIOGRAFIA

CIFUENTES, Miguel. 1992. Determinacion de Capacidade de Carga Turística en ÁreasProtegidas. Série técnica. Informe técnico nº 194. Centro Agronómico de Investigación y

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SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS DE VISITAÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS DO PARNAMARFERNANDO DE NORONHA

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G1.1 - Número de inivíduos adultos de viuvinhas(anous minutus) avistados em ponto fixo selecionado por tempo.

G1.2 - Número de indivíduos por espécie avistados em transecto em movimento.

G1.3 - Número médio de indivíduos por espécieobservados em dias de visitação comparadocom dias sem visitação.

G2.1 - Metragem da trilha com predominância de espécies exóticas e invasoras.

G2.2 - Sobrevivência de mudas de árvores nativasplantadas por área plantada ao longo da trilha.

G3.1 - Metragem da largura da trilha.

G1.1.1 - Ausência de diferença significativaobservada entre área visitada

G1.2.1 - Ausência de diferença significativaentre médias de índices de diversidadeentre áreas visitadas e de controle.

G1.3.1 - Ausência de diferença significativaentre médias de número de indivíduos por espécies principais entre áreas visitadase de controle.

G2.1.1 - Atualmente, a maior parte da trilha.Procurar recuperar a área para ter até 10%de suas bordas com predominância deinvasoras apenas.

G2.2.1 - 50% de taxa de mortalidade (máximo).

G3.1.1 - 1,5 a 2 m como trilha desenvolvida e até 50 cm de cada lado como o impactode visitação (sendo que a vegetação/solopodem estar danificados, mas não eliminados ou expostos)

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Ensenanza CATIE. Turrialba, Costa Rica.FUNATURA. 1990. Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha,

IBAMA / FUNATURA. Brasília.WWF-BRASIL. 2001. Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha:

um exemplo de planejamento e implementação. [Coordenação: Sylvia F. Mitraud] WWF-Brasil, vol. 8. Brasília, DF.

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 1(Descrição de objetivos, indicadores de monitoramento

e parâmetros aceitáveis de mudança)

IDENTIFICAÇÃO DA TRILHA OU ÁREA DEVISITAÇÃO: Trilha dos Golfinhos

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DEVISITAÇÃO NA TRILHA:

G1 - Manter a área do costão entre Golfinhos e Sancho como área de reprodução de aves;

G2 - Aumentar e manter a área de cobertura vegetal nativa;

G3 - Desenvolver trilha do tipo intensiva de acordo com o ROS, que favoreça a interpretação ambiental

ao longo da trilha para todas idades, com segurança e conforto para caminhadas;

G4 - Manter os ambientes visitados livres de danos ou ações danosas por parte dos visitantes.

G5 - Propiciar experiência de visitação apropriada para grupos, com prováveis encontros com outros grupos,

e compartilhamento de mirantes

G6 - Concentrar o esforço interpretativo nos temas de avifauna e golfinhos.

G7 - Manter o ambiente visitado livre da presença e impactos de animais domésticos (vacas, carneiros, cabra

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INDICADORES DEVERIFICAÇÃO: PARÂMETROS DE MUDANÇA ACEITÁVEL:

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

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G3.2 - Número de trechos de trilha em estado inadequado, de insegurança, ou com estruturas danificadas.

G4.1 - Número de picadas ou trilhas sociais (caminhos que o visitante faz quando sai da trilha demarcada)

G4.2 - Número de observações de vandalismo a recursos naturais, infra-estruturaou sinalização.

G5.1 - Número de encontros entre grupos de visitantes.

G5.2 - Número de grupos em um só momento nos mirantes Golfinho 1 e Sancho.

G5.3 - Número de reclamações referentes à trilha.

G5.4 - Quantidade de lixo encontrado ao longo da trilha.

G6.1- Número, tipo e descrição dos meios interpretativos disponíveis.

G7.1 - Número de observações de danos à trilha(naturais ou infra-estrutura) causados.

G7.2 - Número de avistamentos de animaisdomésticos na trilha.

349

Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

G3.2.1 - Até 3 por trimestre

G4.1.1 - Até 1 por trimestre

G4.2.1 - Até 1 incidente/ocorrência por trimestre

G5.1.1 - Encontros com 5 outros grupos

G5.2.1 - Até 3 grupos ou 15 pessoas, o que ocorrer primeiro

G5.3.1 - Até 3 por trimestre

G5.4.1 - Até 15 unidades por trimestre

G6.1.1 - Materiais interpretativos sobre aves e golfinhos suficientes para no míinimo 3 meses de visitação

G7.1.1 -

G7.2.1 -

9

INDICADORES DE VERIFICAÇÃO: PARÂMETROS DE MUDANÇA ACEITÁVEL:

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 2(Elementos de orientação para coleta e compilação de dados)

Identificação da trilha ou área de visitação:

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 1 (continuação)

I

G1.1

G1.2

G1.3

G2.1

G2.2

G3.1

L 1

1 - Mirante dos Golfinhos II – área controle

2 - Mirante dos Golfinhos I

3 - Mirante IV

Contagem t o t a lao longo da trilha

V

N/a 2

N/a

N/a

650m

f.CD 3

D

F

f.CO

2

3

Responsáveis 4

José Silva eMaria Ferreira

Freqüênciade Coleta

Trimestral

Trimestral

Trimestral

Trimestral

Trimestral

Trimestral

Data deavaliação

realizada 5

Nº DocR. A.

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350

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

9

G3.2

G4.1

G4.2

G5.1

G5.2

G5.3

G5.4

G6.1

G7.1

G7.2

L 1

C

B

B

E

E

A

A

B

A

5

5

5

4

1

4

4

5

4

Coleta: todos os funcionários

Registro: José Silva e

Maria Ferreira

Trimestral

Trimestral

TrimestralTr i m e s t ral e emdias de gra n d e

movimentoTr i m e s t ral e emdias de gra n d e

movimento

Sempre quehouver

ocorrênciaSempre que

houver ocorrência

S e m e s t ra l m e n t ee a cada

ocorrência

Trimestral

Trimestral

V f.CD 3 f.CO Responsáveis 4 Freqüênciade Coleta

Data deavaliação

realizada 5

Nº DocR. A.

I

ONDE:

I Indicador.L 1 L é Local da coleta de dados e 1 : no caso destas duas colunas, apresentamos apenas alguns valores

a título de ilustração. Como cada indicador é monitorado em vários locais da trilha, a parte 2 da matriz de monitoramento fica muito extensa, tornando-se impossível a sua reprodução total neste anexo.

2 Até a elaboração deste capítulo, os dados iniciais de monitoramento destes indicadores não haviam sido ainda coletados.

V Valor inicial de monitoramento.f.CD 3 f.CD é Número da Ficha de Coleta de Dados e 3 indica que algumas das fichas ainda não haviam

sido concluídas até a elaboração deste capítulo. Aquelas que já haviam sido adequadas são indicadas por letras do alfabeto. As fichas são apresentadas a seguir.

f.CO Número da Ficha de Compilação.4 Dois fiscais são responsáveis pela coleta e compilação dos dados de monitora m e n t o do MIV do

Parque. Porém, os nomes aqui apresentados foram inventados.5 Cada vez que os dados de um indicador forem discutidos em uma avaliação, a data da avaliação

d e ve ser anotada nesta coluna. A cada novo evento de ava l i a ç ã o , a data deve ser anotada abaixo da anterior. O mesmo procedimento vale para a coluna seguinte.

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 2 (continuação)

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Data dacoleta

Nome da trilha Comentários

Lixo ReclamaçõesAnimais

domésticos

Marque as unidades de cadaproblema que encontrar na trilha

9

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

A mesma ficha pode ser usada para todas as trilhas e para mais de um dia. Leve-a junto com você todos osdias que for para as trilhas. Quando terminar os espaços vazios na ficha, troque-a por uma nova.

1 u Anotar o seu nome no espaço reservado para “nome do responsável”.2 u Ao encontrar lixo, animais domésticos, ou receber alguma reclamação de visitante em alguma trilha,

anote a data e o nome da trilha nos espaços indicados.3 u Anote a quantidade de lixo ou animais ou reclamações nas colunas indicadas (o que importa é a

quantidade).4 u Pode usar apenas uma linha por trilha, por dia.5 u No caso de reclamações, anote na coluna de “comentários” o assunto da reclamação.6 u Use o espaço de comentários para anotar outras informações que você ache importante, como local

onde achou uma grande quantidade de lixo, ou o tipo de animal encontrado, etc.7 u Se no mesmo dia você encontrar tanto lixo quanto animais domésticos NA MESMA T R I L H A , pode

usar a mesma linha para anotar.

INDICADORES u LIXOu RECLAMAÇÕES DE VISITANTESu PRESENÇA DE ANIMAIS DOMÉSTICOS

Monitoramento a Permanente Formulário: A______

FICHA DE COLETA

Nome do responsável

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

9

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Data dacoleta

Nome da trilha

Localização do problema Comentários

VandalismoDano

de animais Picadas

Marque o problemaespecífico

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

A mesma ficha pode ser usada para todas as trilhas e para mais de um dia. Leve-a junto com você todos osdias que for para as trilhas.

1 u Anote o seu nome no espaço reservado para “nome do responsável”.2 u Ao encontrar problemas em alguma trilha, anote o nome da trilha e a data das anotações

nas colunas específicas.3 u Anote a localização onde o problema está. Procure a marcação das estacas em metros.4 u Marque com um “x” o tipo de problema que você encontrou (vandalismo – de sinalização,

de infra-estrutura, de árvores, pedras etc. –, problemas de danos de animais – pisoteamento das trilhas, destruição de infra-estrutura, ou de marcação de trilhas etc. –, ou picadas – trilhas ou caminhos não planejados abertos pelos visitantes).

5 u Marque mais de uma coluna se houver mais de um problema no mesmo local.6 u O espaço para comentários serve para você anotar alguma observação especial.7 u Ao terminar a trilha, conte o total de casos de cada tipo de problema e anote na linha de TOTAL.8 u Organize com seus colegas o trabalho de manutenção necessário para corrigir os problemas observa d o s !

INDICADORES u VANDALISMOu ESTRAGO FEITO POR ANIMAIS DOMÉSTICOSu PICADAS FEITAS POR VISITANTES

Monitoramento a Permanente Formulário: B______

FICHA DE COLETA

Nome do responsável

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

9

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

Use uma ficha para cada dia e para cada trilha.Antes de sair do escritório, verifique na ficha de registro destes indicadores se há algum local específico quevocê precisa checar. Pode ser um local onde foi feita alguma correção anteriormente, pode ser um local ondehá risco de problemas de manutenção, etc. Se houver, anote na ficha a localização e marque um “x” se forlimpeza, drenagem, ou conserto.

1 u Anotar o seu nome, o nome da trilha e a data das anotações nos espaços específicos.2 u Antes de sair, anote os dados de locais que devem ser monitorados.3 u Nestes locais, anote na coluna de “c o m e n t á r i o s” a situação atual (pode ser que continue o problema,

pode ser que tenha sido consertado, etc.)4 u Ao caminhar a trilha, também observe se há novos problemas. Anote a de acordo com a marcação

das estacas em metros.5 u Marque com um “x” o tipo de problema que você encontrou (limpeza de trilha, problemas

de drenagem – escoamento, erosão, alagamento –, ou necessidades de conserto – de infra-estrutura,de estrutura de trilha).

6 u O espaço para comentários serve para você anotar alguma observação especial.7 u Ao terminar a trilha, conte o total de casos de cada tipo de problema e anote na linha de TOTAL.8 u Organize com seus colegas o trabalho de manutenção necessário para corrigir os problemas observa d o s !

INDICADORES u LIMPEZA DE TRILHAu DRENAGEMu CONSERTO DE INFRA-ESTRUTURA

TOTAL

Localização do problema Comentários

VandalismoDano

de animais Picadas

Escolha um problema abaixo

Monitoramento a Permanente Formulário: C______

FICHA DE COLETA

Nome do responsável

Nome da trilha Data da coleta:

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INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

Esta ficha deve ser preenchida nas datas indicadas pela matriz de monitoramento de cada trilha. Antes de irpara a trilha, copie da matriz de monitoramento, os locais anteriores onde já foram observados estes mesmosindicadores. Não se esqueça de levar a trena!

1 u Anote o seu nome e data da coleta.2 u Nos pontos já anotados para invasoras, verifique se os locais de início e fim do trecho

marcado continuam os mesmos. Anote na coluna de “comentários” as novas medidas – maiores ou menores. Se não houve mudança, escreva “sem mudança”.

3 u No caso de novos locais com invasoras, marque o local na trilha onde elas começam e onde terminam – procure as estacas marcadoras.

4 u Quando você voltar para o escritório, calcule o tamanho em metros dos trechos anotados (diferença entre o final e o começo da marcação do trecho).

INDICADOR u INVASORAS354

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

9

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Nome da trilha Comentários ou espécie

início em metros

final em metros

com invasoras

total emmetros de

cada pedaço

Localização dos pedaços de trilha com invasoras -

verificar localização nas estacasda trilha

Monitoramento a Periódico Formulário: D______(ver a data de monitoramento na matriz por trilha)

FICHA DE COLETA

Nome do responsável

Nome da trilha Data da coleta:

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

9

Mirante: Mirante:

grp1

grp2

grp3

grp4

grp5

grp1

grp2

grp3

grp4

grp5

0’a10’

11’a20’

21’a30’

31’a40’

41’a50’

51’a60’

0’a10’

11’a20’

21’a30’

31’a40’

41’a50’

51’a60’

nº pessoas por grupoTotal

pes/grps

NÚMERO DE GRUPOS E NÚMERO DE PESSOAS NOS MIRANTES AO MESMOTEMPO

nº pessoas por grupoTotal

pes/grps

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:Esta ficha deve ser preenchida nas datas indicadas pela matriz de monitoramento de cada trilha. Antes de sair,verifique na matriz de monitoramento para cada trilha os mirantes que devem ser monitorados e anote nosespaços indicados acima. Prepare-se para ficar uma hora parado em cada mirante, coletando os dadosnecessários! Leve um relógio que marque os minutos.1 u Anotar o seu nome, nome da trilha e data da coleta nos espaços reservados.2 u Ao chegar aos mirantes em que deve coletar os dados, anote o nome do mirante no local específico

e marque a hora de começo do monitoramento.3 u A cada 10 minutos, marque o número de pessoas por grupo novo que aparecer no mirante dentro

dos quadradinhos na tabela daquele mirante. A cada novo grupo que chegar, mesmo que seja mais tarde, utilize uma outra coluna.

4 u Quando o grupo sair, cruze o quadradinho na fração de hora em que eles saíram.5 u Ao final, some o número de pessoas que esteve no mirante a cada fração de hora e marque na

posição “pes” da coluna de total. Some o número de grupos e coloque na posição “grps”.

INDICADORES u ENCONTROS COM GRUPOSu GRUPOS EM MIRANTES

INSTRUÇÕES PARA COLETA:

Ao caminhar ao longo da trilha, marque com um “x” ou um “/” todas as vezes que cruzar com um grupo depessoas. O número de pessoas por grupo não interessa. Se a trilha for linear (ida e volta pelo mesmo camin-ho) e se você encontrar com o mesmo grupo duas vezes, marque as duas vezes. Não inclua nesta parte osencontros nos mirantes. No final do dia, anote na coluna de “TOTAL” o número de grupos que você viudurante a caminhada.

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Encontros com grupos durante a caminhada Total

Monitoramento a Periódico Formulário: E______(ver a data de monitoramento na matriz por trilha)

FICHA DE COLETA

Nome do responsável

Nome da trilha Data da coleta:

/

/

/

/

/

/

/

/

/

/

/

/

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INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

Esta ficha deve ser preenchida nas datas indicadas pela matriz de monitoramento de cada trilha. Antes de irpara a trilha, copie da matriz de monitoramento, a localização de pontos que começaram a ser monitoradosanteriormente. Anote também as instruções para pegar as medidas de largura nestes pontos. Não se esqueçade levar a trena!

1 u Anotar o seu nome, nome da trilha e data da coleta nos espaços reservados.2 u Ao caminhar na trilha, procure os locais anotados, onde o monitoramento começou anteriormente.

Tome as medidas seguindo com precisão as instruções indicadas.3 u Preste atenção para outros locais ainda não anotados onde você acha que a trilha está se alargando.

Anote a localização de acordo com a marcação das estacas.4 u Tome ao menos duas medidas da largura da trilha, 5 ou 10 metros na frente uma da outra. Anote a

metragem da largura e descreva com precisão as instruções para que você ou um colega possam tirar as medidas exatamente nos mesmos locais da próxima vez.

5 u Ao terminar a trilha, conte o total de casos anotados onde a trilha está se alargando e coloque na última linha, ao lado do “TOTAL”.

INDICADOR u LARGURA DE TRILHA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Localização

Total

Instruções para pegar a medidaMedida

Monitoramento a Periódico Formulário: F______(ver a data de monitoramento na matriz por trilha)

FICHA DE COLETA

Nome do responsável

Nome da trilha Data da coleta:

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SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

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SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

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SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

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1 0

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I. OBJETIVO

O objetivo deste capítulo é apresentarmecanismos práticos para controlesa d m i n i s t ra t ivo e contábil de um

empreendimento de ecoturismo. Como osempreendimentos de ecoturismo em basecomunitária são, em sua maioria, depequeno porte e o assunto de administraçãoe contabilidade muito extenso, será dadaênfase aos conceitos mais importantes e àspráticas acessíveis para pequenas empresas.

Assim como nos capítulos de ViabilidadeEconômica e Elaboração de Produto, estecapítulo não pretende ser um completo guiapara o desenvolvimento de sistemas admi-nistrativo-contábeis, mesmo para pequenasempresas.

Recomenda-se que toda empresa ouassociação legalizada contratem o serviçoperiódico ao menos de um contador.Entretanto, cabe ressaltar que a administra-ção de um negócio não se resume à con-tabilidade.

Este capítulo ajudará a orientar em-presários iniciantes sobre os elementos queconstituem uma boa prática administrativa econtábil.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

Uma vez constatado que um projeto deecoturismo é viável, começa a fase degestão do empreendimento. O plano denegócios é o ponto de partida, mas sem umaboa administração as chances de sucessonum mercado competitivo são reduzidas.Na implantação de um plano de negócios,

geralmente aparecem imprevistos: o cenárioeconômico geral muda; o governo mudaseu regime fiscal; entram novos concor-rentes no mercado, e assim por diante.Quem não tem um sistema administrativoadequado corre o risco de tomar decisõeserradas.

“Será que preciso aumentar o preço demeus produtos? É melhor investir na expan-são do meu hotel ou na compra de umequipamento novo?” Para responder per-guntas como essas e tomar decisões geren-ciais, é preciso informação. Essa informaçãosó chega a tempo e com transparência se osistema administrativo for adequado. Essesistema não precisa ser complicado. Para al-guns pequenos empreendimentos até podeser só no papel.

O importante é a organização das infor-mações e a disciplina para manter o sistemaatualizado.

A contabilidade é só uma das fontes dedados de apoio para a administração, masexistem muitas outras. É importante distin-guir as duas atividades:

❒ Administração é um conjunto de princí-pios, normas e funções que têm por fimordenar os fatores de produção e contro-lar sua produtividade e eficiência, parase obter determinado resultado.

❒ Contabilidade é o estudo e prática dasfunções de orientação, controle e re-gistro dos atos e fatos de uma adminis-tração econômica.

10.Administração e práticas contábeis

Gilberto FidelisAriane Janér

GESTÃO INTEGRADA

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Neste capítulo são abordados os se-guintes assuntos :

1. Forma Organizacional2. Documentação e Legalização3. Tributação4. Práticas Contábeis Básicas 5. Planejamento e Controle

Os primeiros três assuntos são impor-tantes para começar o empreendimento,determinar a carga de impostos e, conse-qüentemente, seus lucros. Os últimos doiss e r vem para dar maior agilidade et ransparência à administração do em-preendimento.

1. Forma Organizacional

O tipo de pessoa jurídica da instituiçãoque vai gerir o projeto de ecoturismo é

muito importante. A decisão sobre isso deveser tomada na fase do plano de negócios,porque, como está demonstrado em exem-plo na seção Tributação, o tipo de pessoajurídica afeta diretamente a lucratividade doprojeto.

As formas organizacionais mais usadassão ONG, empresa comercial e cooperativa.Cada um tem vantagens e desvantagens.Para decidir qual a melhor opção para oprojeto de ecoturismo devem ser considera-dos os seguintes fatores :

1) Objetivo Social da OrganizaçãoÈ um projeto comunitário? É um projetosem fins-lucrativos? Se trata apenas deecoturismo ou envolve também outrasatividades? Existem planos de expandir?Por exemplo, se é um projeto comu-nitário com fins lucrativos, a cooperativapode ser uma boa opção.

2) Fontes de financiamentoDe que forma a organização vai serfinanciada? Com dinheiro de patrocínio,com empréstimos ou com capital dei nvestidores? Por exemplo, se quiser

atrair capital de investidores precisa teruma empresa comercial.

3) Provisões para distribuir lucros/superávit

De que forma o projeto vai distribuirlucros ou superávit para a comunidade epara projetos de conservação? Por exem-plo, uma ONG / OSCIP não pode dis-tribuir lucros, somente reinvestir em pro-jetos ligados a seu objetivo social.

4) Custos de Administração e Cargo de ImpostosQual a carga de impostos (sobre fatura-mento e sobre lucro) e qual o custoa d m i n i s t ra t ivo (transparência da con-tabilidade para fiscalização e da admi-nistração para investidores e/ou patroci-nadores)?

A seguir apresentamos de formaesquemática as principais alternativas depessoa jurídica. Porém, é importante lembra rque existem mudanças freqüentes na tribu-tação das diferentes formas organizacionais,que não podem ser detalhadas neste Manualem função de sua complexidade. Por exem-plo, os Estados podem estabelecer taxasespecíficas de ICMS ou regulamentar ou nãoo SIMPLES. Um outro exemplo diz respeito àn ova lei do Te rceiro Setor, (Lei 9799 / 99) querepresenta um marco legal de regulação dasa t ividades das ONG’s. Esta lei prevê parainstituições, associações, coopera t ivas e fun-dações abaixo descritas, quando reconheci-das pelo governo como Organização daSociedade Civil de Interesse Público(OSCIP), a oportunidade de usufruir de boaparte dos benefícios relacionados. Po r t a n t od e ve-se sempre consultar um contador sobreas atualizações da legislação tributária,assim como especialistas em organizaçõesda sociedade civil (ver maiores informaçõesno final do capítulo).

Institutos e Associações (ONG’s)São pessoas jurídicas que aplicam inte-

g ralmente seus recursos na manutenção dos

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365

Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

seus objetivos institucionais, não distribuindoquaisquer parcelas de seu patrimônio ou desua renda a título de lucros ou participaçãoem seus resultados. A aplicação dos recursosd e ve também ser feita apenas dentro do país.

Suas vantagens são:❒ Agilidade nos processos de legalização

e/ou alterações estatutárias.❒ Isenção total e imediata dos seguintes

impostos e taxas: PIS (Programa deIntegração Social), ISS (Imposto SobreServiços), IRPJ (Imposto de Renda dePessoa Jurídica), CSLL (ContribuiçãoSocial sobre Lucro Líquido), entre outros,sob a forma de incentivos.

❒ Facilidade na busca de patrocínios econvênios para suas atividades.

❒ Facilidade em conseguir inscrição comoentidade de Utilidade Pública.

Suas desvantagens são:❒ Demora na tomada de algumas decisões

(é necessário reunir a assembléia geral).❒ Contabilidade específica, que precisa ser

feita por profissional com qualificaçãoespecífica.

Fundações (ONG)São instituições de caráter social, criadas

e mantidas por iniciativas de particulares oudo Estado, com finalidades filantrópicas,educacionais, assistenciais, culturais, cientí-ficas ou tecnológicas, tendo como funda-mento de sua existência um patrimônio des-tinado a um fim.

Suas vantagens são:❒ Por ter patrimônio próprio, a Fundação

fica investida de um alto grau de confia-bilidade.

❒ Isenção e/ou redução de impostos fede-rais, estaduais e/ou municipais, taiscomo: PIS, ISS, CSLL, IRPJ, dentre outros.

❒ Facilidade de inclusão como entidade deUtilidade Pública, após decorrido o pra z omínimo de três anos de sua constituição.

Suas desvantagens são:❒ Necessidade de patrimônio para ser criada.❒ Necessidade de obter o aval do Minis-

tério Público, tornando o processo delegalização demorado.

❒ Dificuldade de enquadrar a atividade deecoturismo dentro dos seus objetivo ssociais.

Empresa Comercial LimitadaC a racteriza-se pela execução de ativ i-

dades comerciais diversas, estando sujei-ta a tributação. É constituída por um mí-nimo de dois sócios e o seu capital éf e chado, constituído em cotas.

Suas vantagens são:❒ Maior agilidade no processo de legaliza-

ção e alterações contratuais.❒ Estrutura organizacional bem simples,

facilitando seu gerenciamento.

Sua desvantagem é:❒ Custo tributário elevado.

CooperativasSão associações de pessoas físicas ou

jurídicas, de responsabilidade limitada ouilimitada, com interesses comuns, economi-camente organizadas de forma democrática,contando com a participação livre de todose respeitando direitos e deveres de cada umde seus cooperados, que lhe prestamserviços, sem fins lucrativos.

Suas vantagens são:❒ Custo tributário reduzido, além da isen-

ção de alguns impostos, tais como IPRJ eCOFINS em alguns casos.

❒ Redução do custo para contratação deserviços.

Suas desvantagens são:❒ Dificuldade na organização de sua estru-

tura, tendo em vista a necessidade de, nomínimo, 20 pessoas para criar umacooperativa.

❒ A forma de tomada de decisões pormaioria simples de todos os cooperados.

2. Documentação e Legalização

Aajuda de advogados e contadores éimportante para a orientação e encami-

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366

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

nhamento do processo de constituição deuma pessoa jurídica. Como esses profissio-nais cobram pelo tempo de consultoria, éaconselhável a preparação prévia da docu-mentação (por exemplo, fazer um esboçodo contrato social), diminuindo assim asdespesas de consultoria. Pode-se optar pororientações do SEBRAE regional.

Os passos a serem seguidos paralegalizar a pessoa jurídica e os documentosnecessários são os seguintes :

Institutos e Associações

❒ Preparação da Ata de Constituição e dosEstatutos Sociais.

❒ Registro no Cartório do Registro Civil dasPessoas Jurídicas.

❒ Após o registro dos Atos, pedido de re-gistro de CNPJ no Ministério da Fazenda.

❒ Com os Atos Constitutivos devidamenter e g i s t rados e o CNPJ, registro no órgão deturismo estadual vinculado à Embra t u r.

❒ Registro na Secretaria Municipal da Fa z e n-da, que dará direito ao número de Inscri-ção Municipal e ao A l vará de localização.

❒ Compra dos livros fiscais e impressãodas Notas Fiscais.

❒ Custo de legalização estimado emR$1.500,00 (base do Rio de Janeiro, emnovembro de 2000).

❒ P razo de legalização estimado em 60 dias.

Fundações

❒ P r e p a ração da Ata da reunião quedeliberou pela constituição da entidade.

❒ E s c r i t u ra pública (Cartório de Notas),onde constarão os nomes dos fun-dadores, o patrimônio que constitui adotação e a especificação dos objetivosda fundação.

❒ Preparação do Estatuto que regerá a fun-dação.

❒ A p r ovação do Ministério Público(Curadoria de Fundações).

❒ Registro de todos os Atos acima men-cionados no Cartório de Registro Civildas Pessoas Jurídicas.

❒ Transferência da dotação para a fun-dação.

Caso haja interesse em registrar o institu-to, a associação ou a fundação como insti-tuição de Utilidade Pública, deve-se obser-var os seguintes pré-requisitos e proceder daseguinte forma:1º) O pedido de declaração de UtilidadePública será dirigido ao Secretário de Justiçado Estado, acompanhado dos seguintes do -cumentos comprobatórios:a) Certidão de registro dos estatutos no

cartório componente.b) Atestado passado por autoridade judicial

da comarca onde está sediada a institu-ição requerente, sobre o seu funciona-mento efetivo e contínuo nos 3 (três)anos imediatamente anteriores no casodas fundações e 3 (três) anos no caso deassociações e institutos, com exataobservância dos princípios estatutários.

c) Atestado de bons antecedentes dosmembros da diretoria.

d) Demonstração do patrimônio existente,da receita e da despesa realizada noexercício financeiro imediatamente ante-rior à formulação do pedido.

e) Licença da autoridade policial compe-tente para o funcionamento sempre que,pela natureza da instituição, seja exigívelpela Legislação.

f) Ata da assembléia de eleição da diretoria.g) Outros comprovantes de registros, das

Secretarias Estaduais de Educação eCultura, do Ministério do Trabalho ou deoutro órgão em que por lei a entidadetenha que se registrar.

h) Relatório dos últimos três anos, em quefique demonstrado efetivo exercício dasatividades.

1 0

A prova das condições estabelecidas acima

poderá também ser feita na Assembléia

Legislativa, caso se trate de lei

a ser votada pela Assembléia.

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367

Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

2º) A declaração de Utilidade Pública, bemcomo a sua manutenção, fica subordinada àefetiva observância dos seguintes requisitosestatutários:a) Fim público sem qualquer discriminação

quanto aos beneficiados.b) Ausência de finalidades lucrativas.c) Ausência de remuneração para seus diri-

gentes ou conselheiros.d) Ausência de distribuição de lucros ou

dividendos aos sócios ou participantes.e) Escrituração das receitas e despesas em

livros revestidos de formalidades regula-mentares capazes de comprovar-lhes aexatidão.

f) Aplicação integral de seus recursos noPaís, na manutenção dos objetivo sestatutários.

Empresa Comercial Limitada

❒ Preparação dos Atos Constitutivos comos objetivos específicos para a atividadede ecoturismo.

❒ Registro dos Atos no Cartório do RegistroCivil das Pessoas Jurídicas ou na JuntaComercial Estadual.

❒ Registro de CNPJ no Ministério daFazenda, após o registro dos Atos.

❒ Registro no órgão de turismo estadualvinculado à Embratur.

❒ Registro na Secretaria Municipal daFazenda, que dará direito ao número deInscrição Municipal e ao A l vará deLocalização.

❒ Registro de Inscrição Estadual naSecretaria de Fazenda do Estado (vendade produtos).

❒ Compra dos livros fiscais e impressãodas Notas Fiscais.

❒ Custo de legalização estimado emR$1.500,00 (base do Rio de Janeiro, emnovembro de 2000).

❒ P razo de legalização estimado em 60 dias.

Cooperativas

❒ Preparação do Estatuto.❒ Apresentação do Estatuto à entidade re-

presentativa das cooperativas no estadopara apreciação, a fim de verificar se nãohá conflito com a legislação coopera-tivista vigente.

❒ Registro na Junta Comercial.❒ Registro de CNPJ no Ministério da Fa-

zenda, após o registro dos Atos.❒ Certificado do Corpo de Bombeiros.❒ Registro da Inscrição Estadual na

Secretaria de Fazenda do Estado (vendade produto).

❒ Requerimento junto à Prefeitura Muni-cipal, do Alvará de Licença para esta-belecimento e da Inscrição Municipal.

❒ Registro na entidade representativa dascooperativas no estado.

❒ C o m p ra e Autenticação dos Liv r o sFiscais.

❒ Impressão das Notas Fiscais.

3. Tributação

O s impostos representam um custoimportante em qualquer empreendi-

mento e merecem bastante atenção. Valelembrar que sonegar impostos é crime e aReceita Fe d e ral está cada vez melhorequipada para fiscalizar possíveis sone-gadores. Os impostos e tributos podem serdivididos em três categorias gerais: tribu-tação sobre faturamento, sobre lucro e sobrefolha de pagamento.

Impostos sobre Faturamento

❒ PIS (Programa de Integração Social) 4Tributo federal sobre o faturamento brutocom uma alíquota de 0,65%. Caso aopção seja pela criação de uma ONG,esse imposto poderá incidir sobre a folhade pagamento, a uma alíquota de 1%.

❒ COFINS 4 Tributo federal, com alíquotade 2% incidente sobre o faturamentobruto da empresa, com exceção dasmicroempresas, que podem ser enqua-

1 0

Caso haja necessidade de re g i s t ro no regime do Simples (ver item 3, abaixo),é necessário um enquadramento específico.

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368

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

dradas no regime fiscal Simples (ver itemespecífico após a Tabela 1).

❒ ISS (Imposto Sobre Serviços) 4 Tributomunicipal, geralmente com uma alíquo-ta de 5%, incidente sobre o faturamentobruto do mês. Por exemplo, venda depacotes (serviços) turísticos.

❒ I C M S (Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços) 4 Tributo esta-dual, com alíquota em torno de 18%,dependendo do Estado, incidente sobrea venda de mercadorias. Por exemplo,venda de camisetas.

Impostos sobre o lucro

❒ CSLL (Contribuição Social sobre LucroLíquido) 4 Tributo federal, que pode sercobrado conforme o lucro real ou olucro presumido:

LUCRO REAL: a empresa tributada só recolhea Contribuição Social no momento do

IRPJ, incidindo uma alíquota de 8%sobre o lucro líquido.

LUC R O P R E S U M I D O: a empresa tributada reco-lhe 1% sobre o faturamento bruto mensal.

❒ I R P J (Imposto de Renda de Pe s s o aJu r í d i c a) 4 Tributo federal, cobrado con-forme o regime de tributação da empresa:

LU C R O R E A L: alíquota de 15%, até um lucro deR$ 240 mil por ano; além desse va l o r, aalíquota é de 25% sobre o lucro líquido.

LU C R O P R E S U M I D O: alíquota de 4,8%, naatividade de ecoturismo.

Incentivos fiscais

Pa ra atrair novos empreendimentos,vários estados e municípios oferecem incen-t ivos fiscais na forma de isenção (por pra z odeterminado) ou redução de impostos. Aexistência de incentivos deve ser ve r i f i c a d ae, em caso afirmativo, as alíquotas mostra d a sna Tabela 1 a seguir devem ser adequadas.

1 0

IMPOSTOS INCIDENTES SOBRE A FORMA OPERACIONAL DE CADA EMPRESA

TIPOS DE IMPOSTOSPESSOA JURÍDICA SOBRE O FATURAMENTO (%) SOBRE O LUCRO (%)

FEDERAL MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL

PIS COFINS ISS ICMS IRPJ CSLLComercial Limitada:- Lucro Real 0,65* 2* Geralmente Sobre vendas 15*** 8***

5** de mercadorias- Lucro Presumido 0,65* 2* 5** Sobre vendas Conforme 0,96****

de mercadorias AtividadesInstituições 1***** Isenta Isenta Isenta Isenta Isentae AssociaçõesFundações 1***** Isenta Isenta Isenta Isenta IsentaCooperativas 1***** Isenta 5** Sobre vendas Isenta Isenta

(A) de mercadorias

( REFERÊNCIAS:* % sobre o Faturamento** % sobre Serviços*** % sobre Lucro

**** % sobre Receita Estimada***** % sobre Folha de Pagamento(A) observar o disposto na legislação

específica

TABELA 1

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IMPOSTO PERCENTUAIS POR FAIXA DE RECEITA BRUTACONTRIBUIÇÃO MICRO EMPRESA EMPRESA DE PEQUENO PORTE

I* II* III* IV* V* VI* VII* VIII*ATÉ DE DE ATÉ DE DE DE DE

60.000,00 60.000,01 90.000,01 240.000,00 240.000,01 360.000,01 480.000,01 600.000,01A A A A A A

90.000,00 120.000,00 360.000,00 480.000,00 600.000,00 720.000,00

IRPJ zero zero zero 0,13% 0,26% 0,39% 0,52% 0,65%

PIS/PASEP zero zero zero 0,13% 0,26% 0,39% 0,52% 0,65%

CSLL zero 0,4% 1% 1% 1% 1% 1% 1%

COFINS 1,8 % 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2%Contribuições Previdenciárias do Empregador 1,2% 1,6% 2% 2,14% 2,28% 2,42% 2,56% 2,7%

Subtotal I 3% 4% 5% 5,4% 5,8% 6,2% 6,6% 7%

IPI 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5%

Subtotal II 3,5% 4,5% 5,5% 5,9% 6,3% 6,7% 7,1% 7,5%

ICMS e/ou ISS Até 1% Até 1% Até 1% Até 2,5% Até 2,5% Até 2,5% Até 2,5% Até 2,5%

Total Geral Até 4,5% Até 5,5% Até 6,5% Até 8,4% Até 8,8% Até 9,2% Até 9,6% Até 10%

1 0

369

Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira)

Sobre todas as movimentações finan-ceiras, também incide atualmente a CPMF.Previsto inicialmente para desaparecerassim que o Governo equilibrasse suas con-tas, esse imposto tende a tornar-se perma-nente. A alíquota é de 0,38% sobre qual-quer tipo de movimentação financeira.

A Tabela 1 apresenta um resumo dosimpostos sobre faturamento e lucro de acor-do com a forma organizacional.

Enquadramento no regime fiscal Simples para micro empresas e empresas de pequeno porte

Uma forma de evitar o custo tributárioe l e vado é enquadrar o empreendimento noregime fiscal Simples. Pa ra isso, a empresa

d e ve ser limitada e o faturamento anual nãopode ultrapassar R$ 720 mil. Também hárestrições quanto às atividades e aos sócios.Como as restrições são muitas, enquadrar noSimples um empreendimento de turismodepende da interpretação da lei. Por exem-plo, uma agência de turismo é excluídaporque revende produtos de outros, o que écorretagem, atividade que não pode see n q u a d rar no Simples. Espera-se que essa lei,que é nova, ainda sofra algumas adaptações.

D e ve-se ficar atento para legislaçõesespecíficas em cada Estado que regulamen-tam o SIMPLES. Alguns deles, por exemplo,não regulamentaram e, portanto, não se per-mite adesões. Outros prevêem diferentestaxas de ICMS para empresas inscritas noSIMPLES. Consulte seu contador ou aSecretaria da Fazenda do estado.

Na tabela 2 apresentamos um resumo daforma de calcular os impostos incidentes emempresas enquadradas no Simples.

( REFERÊNCIA: *Valores em R$

TABELA 2

IMPOSTOS E ALÍQUOTAS INCIDENTES EM EMPRESAS ENQUADRADAS NO REGIME FISCAL SIMPLES

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IMPOSTO NATUREZA DA ORGANIZAÇÃO

Empresa: Limitada Empresa: Simples Entidade: Isenta / IR Contrato Temporário

% % % %2 0 , 0 0 Incidência s/total 1 , 2 0 Pa ra fatura m e n t o 2 0 , 0 0 Incidência s/total 2 0 , 0 0 Incidência s/total

dos salários até R$ 60.000,00 dos salários dos saláriosI N S S a n u a l

2 , 0 0 Incidência s/total 2 , 0 0 Incidência s/total 1 , 0 0 Incidência s/total salários – seguro salários – seguro salários – seguro

5 , 8 0 Incidência s/total 2 , 7 0 Variação para 4 , 5 0 Incidência s/total 2 , 9 0 Incidência s/total T E R C E I - salários – terc e i r o s f a t u ramento até salários – terceiros salários – terc e i r o sR O S R$ 720.000,00F G T S 8 , 0 0 Incidência s/ total 8 , 0 0 Incidência s/total 8 , 0 0 Incidência s/total 8 , 0 0 Incidência s/total

dos salários dos salários dos salários dos saláriosP I S – – – – 1 , 0 0 Incidência s/otal – –

dos salários

P R OV I S Õ E S

13º 8 , 3 3 Incidência s/total 8 , 3 3 Incidência s/total 8 , 3 3 Incidência s/ total 8 , 3 3 Incidência s/totalS a l á r i o dos salários dos salários dos salários dos saláriosF é r i a s 1 1 , 1 0 Incidência s/total 1 1 , 1 0 Incidência s/total 1 1 , 1 0 Incidência s/total 1 1 , 1 0 Incidência s/total

dos salários dos salários dos salários dos saláriosMulta – 3 , 2 0 Incidência s/total 3 , 2 0 Incidência s/total 3 , 2 0 Incidência s/total – –F G T S dos salários dos salários dos saláriosAv i s o 8 , 3 3 Incidência s/total 8 , 3 3 Incidência s/total 8 , 3 3 Incidência s/total – –P r é v i o dos salários dos salários dos salários

1 0

370

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Impostos sobre a Folha de Pagamento ou Encargos Sociais

❒ PIS sobre a Folha de Pagamento4 Nocaso das ONGs, recolhimento de 1%sobre a folha de pagamento.

❒ FGTS (Fundo de Garantia por Tempo deServiço) 4 Para um contrato normal sãorecolhidos 8% sobre a folha de paga-mento mensal. Além disso, deve ser feitauma provisão para multa de 3,2% paracasos de rescisão de contrato. Para umcontrato temporário (ver abaixo), o reco-lhimento é de 2% sobre a folha de paga-mento sem necessidade de fazer pro-visão para rescisão de contrato.

❒ INSS (Seguridade Social) 4 A con-tribuição é de 20%. Também é pago umseguro de 2%.

❒ Te rceiros (Salário Educação, INCRA,SENAC, SESC, SEBRAE, etc.) 4 Para umcontrato normal é 5,8% sobre a folha depagamento; para um contrato temporário

é 2,9%.❒ O u t r o s4 Também considerados encargos

sociais mensais são as provisões de 13ºsalário, correspondente a 8,33% do salário(1 salário dividido por 12 meses); férias,correspondentes a 11,1% do salário (ou 11/3 salário dividido por 12 meses); e av i s oprévio, correspondentes a 8,33% (1 saláriod ividido por 12 meses).

Contrato TemporárioPa ra empresas em expansão ou com ativ i-

dades cíclicas (sazonais), a nova legislaçãot rabalhista permite contratos temporáriossobre os quais incidem os mesmos encargossociais, porém são necessárias provisões emcaso de demissão ou rescisão de contra t o .Um contrato temporário pode dura r, no má-ximo, 2 anos, e só pode ser renovado umavez. Esse contrato vai depender de anuênciados sindicatos de classe para ser firmado.

A Tabela 3, a seguir, apresenta o resumodos encargos sociais.

TABELA 3

ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS

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Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

Para ilustrar a importância da pessoajurídica e do regime fiscal, seguem doisexemplos.

O EFEITO DA ESCOLHA DA PESSOA JURÍDICA

Tomemos como exemplo umempreendimento com faturamento bruto de

R$ 250 mil, que paga salários (excluídos osencargos) de R$ 60 mil e tem outras despe-sas na ordem de R$ 100 mil.

Como se pode observar na Tabela 4, omelhor resultado se obtém com uma ONGde Utilidade Pública, e o pior com umaempresa limitada que declara pelo lucropresumido. Coopera t ivas e o regime Sim-ples também são vantajosos neste exemplo.

Para mostrar que tudo depende do fatu-ramento e estrutura de custo do empreendi-mento, vamos a outro exemplo.

O EFEITO DO FATURAMENTO E DAESTRUTURA DE CUSTOS

Tomemos um empreendimento bemmais lucrativo, com faturamento de R$ 650mil, e despesas e salários iguais aos doexemplo anterior. Na tabela 5 (pág.seguinte) observa-se que, para uma empresa

limitada, é melhor declarar lucro presumidoque real. O regime Simples, que no exem-plo já visto deu um resultado bem parecidoao de uma ONG, torna-se menos atrativo.

Concluindo os dois exemplos, paradecidir qual é a melhor pessoa jurídica parao empreendimento de ecoturismo, devemser considerados:

❒ Objetivo do empreendimento 4 lucropara acionistas ou função “social” para acomunidade.

1 0

EXEMPLO 1:

EXEMPLO 2:

TIPO DE PESSOA FAT.1 IMPOSTOS FAT. DESPESAS SALÁRIOS ENCARGOS LUCRO IMPOSTOS LUCRO

JURÍDICA BRUTO SOBRE LÍQUIDO SOCIAIS3 BRUTO SOBRE LÍQUIDO

FAT.2 LUCRO4

Ltda Lucro Real 250.000 19.125 230.875 100.000 60.000 38.195 32.680 7.516 25.163

Ltda Lucro 250.000 33.525 216.475 100.000 60.000 38.195 18.280 0 18.280

Presumido

Ltda Simples 250.000 15.225 234.775 100.000 60.000 19.667 55.108 0 55.108

ONG 250.000 0 250.000 100.000 60.000 38.862 51.138 0 51.138

Fundação 250.000 0 250.000 100.000 60.000 38.862 51.138 0 51.138

Cooperativa 250.000 12.500 237.500 100.000 60.000 9.000 68.500 0 68.500

Utilidade 250.000 0 250.000 100.000 60.000 16.648 73.353 0 73.353

Publica

( REFERÊNCIAS:1 Fat. = Faturamento.2 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 1 para os impostos

PIS, COFINS, ISS, ICMS. No caso da pessoa jurídica enquadrada no regime fiscal Simples, ver alíquotas na Tabela 2.

3 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 3, exceto no caso do Simples (Tabela 2).

4 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostrada na Tabela 1 para os impostos IRPF e CSLL, exceto no caso do Simples (Tabela 2)

TABELA 4

ILUSTRANDO A IMPORTÂNCIA DA CUIDADOSA SELEÇÃO DA PESSOA JURÍDICA (EM R$)

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ Tamanho de empreendimento 4 se ofaturamento for maior que R$ 720 mil, oregime não pode ser o Simples.

❒ N ú m e ro e tipo de sócios 4 quem e quan-tos estão envolvidos na parc e r i a .

❒ Facilidade de vender participação4 é mais fácil no caso de empresa co-mercial.

❒ C o n t a b i l i d a d e 4 d e c l a rando-se lucro pre-sumido, reduz-se a burocra c i a .

4. Práticas contábeis básicas

Por exigência legal, qualquer pessoa jurídi-ca precisa ter uma contabilidade. Essa

contabilidade é a base para apuração dosimpostos e tributos a serem pagos, bem comop a ra o planejamento das contas do empre-endimento. Se a pessoa jurídica receber a visi-ta de um fiscal da receita, precisa abrir osl ivros contábeis, mostrar as notas fiscais, etc.

Se o objetivo de fazer contabilidade fossesó para prestar informações à Receita Fe d e ra l ,

qualquer profissional poderia fazê-lo comêxito. Porém, a contabilidade também é aprincipal fonte de dados para a administra ç ã odo empreendimento. Por isso precisa sert ransparente, de forma que os admi-n i s t radores possam tomar suas decisões.

Os elementos básicos de uma contabili-dade são :

Livro caixaTodas as entradas e saídas de caixa são

escrituradas no livro caixa. Essa é a forma decontabilidade mais simples. Veja o Exemplo3 na página seguinte.

O objetivo é controlar as despesas ereceitas futuras, para que se possa planejar ofluxo de dinheiro no caixa.

Contas a pagar e receberO objetivo é controlar as despesas e

receitas futuras, para que se possa planejar ofluxo de dinheiro no caixa.

1 0

TIPO DE PESSOA FAT.1 IMPOSTOS FAT. DESPESAS SALÁRIOS ENCARGOS LUCRO IMPOSTOS LUCRO

JURÍDICA BRUTO SOBRE LÍQUIDO SOCIAIS3 BRUTO SOBRE LÍQUIDO

FAT.2 LUCRO4

Ltda Lucro Real 650.000 49.725 600.275 100.000 60.000 38.195 402.080 92.478 309.601

Ltda Lucro 650.000 49.725 600.275 100.000 60.000 38.195 402.080 0 402.080

Presumido

Ltda Simples 650.000 33.475 616.525 100.000 60.000 19.667 436.858 0 436.858

ONG 650.000 0 650.000 100.000 60.000 38.862 451.138 0 451.138

Fundação 650.000 0 650.000 100.000 60.000 38.862 451.138 0 451.138

Cooperativa 650.000 32.500 617.500 100.000 60.000 9.000 448.500 0 448.500

Utilidade 650.000 0 650.000 100.000 60.000 16.648 473.353 0 473.353

Publica

( REFERÊNCIAS:1 Fat. = Faturamento.2 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 1 para os impostos

PIS, COFINS, ISS, ICMS. No caso da pessoa jurídica enquadrada no regime fiscal Simples, ver alíquotas na Tabela 2.

3 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 3, exceto no caso do Simples (Tabela 2).

4 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostrada na Tabela 1 para os impostos IRPF e CSLL, exceto no caso do Simples (Tabela 2)

ILUSTRANDO O IMPACTO DO NÍVEL DE FATURAMENTO E DA ESTRUTURA DE CUSTOS(EM R$)

TABELA 5

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373

Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

Plano de contasPara um maior controle das finanças da

empresa, aconselha-se fazer um plano decontas, ou seja, organizar as receitas, despe-

sas, investimentos e financiamentos em ca-tegorias e subcategorias, de forma queretrate o funcionamento do empreendimen-to. É importante separar cada categoria.

1 0

Item Data Entrada Saida Saldo

Saldo 30/06/98 200

Birding Brazil 15/07/98 1.499 1.699

Hotel Beija Flor 20/07/98 300 1.399

Saldo 31/07/98 1.399

Supermercado 07/08/98 90 1.309

Restaurante Ticotico 08/08/98 110 1.199

Restaurante Bem-te-vi 08/08/98 145 1.054

Ingressos 08/08/98 200 854

Restaurante Sai 09/08/98 115 739

Guia Local 10/08/98 60 679

Guia Ornitólogo 10/08/98 200 479

Hotel Beija-Flor 10/08/98 300 179

Gratificações 10/08/98 20 159

Birding Brazil 15/08/98 1.525 1.684

Transporte 18/08/98 280 1.404

Saldo 31/08/98 1.404

LIVRO CAIXAEXEMPLO 3:

= Venda de serviços/produtos.

= Salários temporários.

= Salários fixos.

= Alimentação.

= Combustível.

= Manutenção.

= Material de consumo.

= Pagamento de água/luz.

= Telefone.

MODELO DE PLANO DE CONTAS E O CASO DO PROJETO SILVESEXEMPLO 4:

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374

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O Projeto Silves mantém uma pousada,Pousada Ecológica Aldeia dos Lagos, edesenvolve projetos com a comunidade. Nocomeço do Programa de Ecoturismo de BaseComunitária a A S PAC, entidade que imple-menta o projeto, já registrava todos os gastose receitas num livro caixa. Dessa forma, jáe ra possível saber se havia dinheiro em caixaou em quanto crescia ou diminuía o saldopor mês. No entanto, não havia controle dedespesas com projetos com a comunidade equanto se faturava com ecoturismo. Ta m b é mnão havia subsídios para avaliar se os preçosp raticados eram corretos. Quando os

mecanismos de controle adequados fora md e s e nvolvidos, observou-se que os preçosc o b rados estavam subestimados, ou seja,abaixo dos custos da pousada.

Conta RazãoEsse controle visa demonstra r, de forma

t ransparente, a posição de cada conta doplano de contas, seus saldos e mov i m e n-tações diárias. O exemplo a seguir mostraos custos diretos (ver capítulo Vi a b i l i d a d eE c o n ô m i c a) de um hotel, divididos empagamentos para autônomo, conta de com-b u s t í vel, serviços, supermercado e tra s l a d o .

ESPECIFICAÇÃO CONTA DATA MOVIMENTO

Arrumadeiras Autônomo 11/07/98 40

Arrumadeiras Autônomo 18/07/98 40

Arrumadeiras Autônomo 23/07/98 20

Arrumadeiras Autônomo 28/07/98 20

Auxiliar de Cozinha Autônomo 11/07/98 20

Auxiliar de Cozinha Autônomo 18/07/98 20

Auxiliar de Cozinha Autônomo 23/07/98 20

Cozinheira Autônomo 11/07/98 40

Cozinheira Autônomo 18/07/98 40

Cozinheira Autônomo 23/07/98 40

Cozinheira Autônomo 28/07/98 40

Guias Locais Autônomo 11/07/98 60

Guias Locais Autônomo 18/07/98 45

Guias Locais Autônomo 23/07/98 30

Guias Locais Autônomo 28/07/98 15

Salário de Guia Naturalista Autônomo 11/07/98 400

Salário de Guia Naturalista Autônomo 18/07/98 400

Salário de Guia Naturalista Autônomo 23/07/98 400

Autônomo Total 1.690

Combustível para Barco 1 Combustível 07/07/98 600

Combustível para Barco 1 Combustível 14/07/98 600

Combustível para Barco 1 Combustível 19/07/98 600

CONTA RAZÃO E UM EXEMPLO DE SUA UTILIDADEEXEMPLO 5:

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Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

ESPECIFICAÇÃO CONTA DATA MOVIMENTO

Combustível para Barco 2 Combustível 07/07/98 300

Combustível para Barco 2 Combustível 24/07/98 300

Combustível Total 2400

Lavanderia Serviços 12/07/98 75

Lavanderia Serviços 19/07/98 50

Lavanderia Serviços 24/07/98 40

Lavanderia Serviços 29/07/98 25

Serviços Total 190

Supermercado Supermercado 07/07/98 500

Supermercado Supermercado 14/07/98 350

Supermercado Supermercado 19/07/98 300

Supermercado Supermercado 24/07/98 250

Supermercado Total 1400

Traslado terrestre Traslado 07/07/98 50

Traslado terrestre Traslado 11/07/98 50

Traslado terrestre Traslado 14/07/98 50

Traslado terrestre Traslado 18/07/98 50

Traslado terrestre Traslado 19/07/98 50

Traslado terrestre Traslado 23/07/98 50

Traslado terrestre Traslado 24/07/98 25

Traslado terrestre Traslado 28/07/98 25

Traslado Total 350

TOTAL GERAL 6.030

CONTA RAZÃO E UM EXEMPLO DE SUA UTILIDADEEXEMPLO 5:

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376

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Sabendo-se também quantos turistas sehospedaram no hotel em determinado mês equal foi a receita, é possível verificar se o

custo direto por turista está dentro do plane-jado. Suponha-se que o hotel recebeu 38turistas nesse período:

Se no planejamento do ano tivesse sidoprojetado um custo direto médio de R$ 150por turista, o administrador saberia que adespesa desse mês foi excessiva, e tambémpoderia constatar que o problema está nogasto com combustível.

Contas bancárias separadasSe um projeto tiver várias atividades dis-

tintas, é recomendável ter contas bancáriasdistintas.

A base do Projeto TA M A R / I BAMA em Fernando de Noronha construiu um Centro deVisitantes (um bem para ser depreciado – ver capítulo Viabilidade Econômica), com uma lojae uma cafeteria. Também desenvo l ve atividades de ecoturismo. Além disso, mantém projetosde conservação, financiados em parte pelo IBAMA. Se todas as despesas e receitas entra s s e mna mesma conta, não se saberia onde (e quanto) se ganha e como se gasta o dinheiro. Seriadifícil responder perguntas simples como :

· Quanto custou construir o Centro de Visitantes? · Os ganhos da loja e da cafeteria podem pagar as despesas de manutenção do

Centro de Visitantes, os projetos de conservação e os custos administra t ivos do TA M A R / F N ?

· O IBAMA nos deve dinheiro, ou vice-versa?

Ao se criar contas separadas para a construção do Centro de Visitantes, as atividadescomerciais, os projetos de conservação e a administração, transferências bancárias entrecontas tornam claras as seguintes questões:

· O investimento no Centro de Visitantes.· O lucro (bruto) das atividades comerciais.· Os subsídios das atividades comerciais para as atividades de conservação.

CONTA BANCÁRIAS SEPARADAS NO PROJETO TAMAR EM FERNANDO DE NORONHA

EXEMPLO 6: Custo direto por turista = R$ 6.030 : 38 = R$ 159, divididos da seguinte forma:

CONTA VALOR 7/98 % TOTAL POR TURISTA PLANO

Autônomo Total 1.690 28% 44 45

Combustível Total 2.400 40% 63 50

Serviços Total 190 3% 5 5

Supermercado Total 1.400 23% 37 40

Traslado Total 350 6% 9 10

Total 6.030 100% 159 150

EXEMPLO 7:

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Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

5. Planejamento e Controle

Quem não sabe planejar não tem con-trole sobre o futuro. Um plano não

protege contra tudo, mas evita erros básicose permite reagir mais rapidamente diante daocorrência de problemas.

Ciclo de planejamentoUma empresa bem administrada tem

sempre um planejamento adequado àssuas atividades. O plano de negócios é seuprimeiro projeto estratégico de longo pra z o( ver capítulo Viabilidade Econômica) .

Recomenda-se fazer um plano anualde atividades (por setor, se o em-preendimento for grande), com uma pre-visão de vendas e necessidades finan-ceiras (orçamento anual). De preferên-cia, esse plano deve ser detalhado mês amês. Periodicamente (com maior oumenor freqüência, dependendo danecessidade), discutem-se em reunião asdiferenças entre as metas e o uso derecursos financeiros projetados e realiza-dos, e se é necessário ajustar o plano auma nova realidade.

Uso de contabilidade paramonitoramento e planejamento financeiro

As práticas contábeis já foram discutidasno item 4. Resumindo, para melhor monitora rseu desempenho financeiro, precisa-se de:❒ Contas bancárias separadas para ativi-

dades separadas, como por exemplo,vendas em loja, operação de hotel, pro-jeto de conservação, etc. Cabe atentarpara o fato de que se o movimento deuma atividade for pouco expressivo, nãoé necessário criar uma nova conta. Porexemplo, se o movimento de vendas naloja do hotel for muito baixo, ele podeser gerenciado pela própria conta daoperação do hotel.

❒ Criação de categorias de custos, deforma a acompanhar custos diretos ecustos indiretos (ver capítulo ViabilidadeE c o n ô m i c a). Isto é bastante útil, por

exemplo, para o estabelecimento depreços.

❒ Projeção do fluxo de caixa a curto prazo.Esta ação é útil, por exemplo, para nãoentrar no vermelho, o que obrigará oempresário a pagar altas taxas de jurossobre o financiamento a que tiver neces-sariamente que recorrer.

❒ Projeção de lucros/superávit, parapoder planejar a médio e longo pra z o s .

Administração de marketingO m a r k e t i n g é um aspecto ch ave do

sucesso de um empreendimento, portantod e ve estar presente nas rotinas administra t i-vas (para toda esta seção, ver capítuloE l a b o ração do Produto de Ecoturismo). Umadas primeiras providências a se tomar, quan-do se pretende investir em ecoturismo, ép r e p a rar um cadastro de contatos, de sumaimportância para o m a r k e t i n g. Esses contatossão, além de clientes atuais e em potencial,a imprensa, patrocinadores, consultores,líderes de comunidade, amigos do projeto,etc. Esse banco de dados é a base para :❒ Mala direta dirigida 4 Por exemplo,

informação para a imprensa.❒ Controle do retorno de ações de market -

ing 4 Este cliente é fruto de qual inicia-tiva de promoção?

❒ Ações específicas 4 Por exemplo, háproblemas que podem ser resolvidoscom a mobilização de pessoas cominfluência política.

Além disso, é necessário um sistema dereservas que deve gerar as seguintes infor-mações:❒ Número de turistas recebidos e sua per-

manência.❒ Taxa de cancelamento.❒ Previsão de turistas para os próximos

meses.❒ Fonte da reserva 4 Por exemplo, via

Internet, via agência, direto com oempreendimento, etc.

❒ Como o cliente soube de seu produto? 4Já era cliente, por folheto, por recomen-dação de amigos, etc.

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IDENTIFICAÇÃO DO MEIO DE TRANSPORTE:

Dia Hora Trajeto Motivo Responsável Gastos (Combustível, Manutenção)

Tipo Litros Custode gasto total R$

378

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

A satisfação dos clientes deve ser medi-da através de um tour comments, ou seja,qualquer mecanismos de avaliação dosserviços prestados que se estabeleça no seunegócio, como por exemplo, fichas de ava-liação (mais formal) ou telefonemas e e-mails após o final da viagem (mais infor-mal). Os comentários dos turistas devem seravaliados para subsidiar alterações nosserviços ou instalações. Deve-se arquivar osformulários para subseqüentes avaliações.

Também deve-se manter um diário sim-ples no qual são anotados detalhes sobre oclima, acontecimentos importantes (“Vimosuma onça ao lado do hotel”; “Turista X que-brou a perna”). Esse diário é uma memóriaútil para consultas sobre as chances dechuva em determinado mês, ou para evitarimprevistos que provoquem insatisfações.

Administração OperacionalQuando o desempenho financeiro reve-

lar que os gastos do empreendimento sãomuito altos, é necessário entender as causapara que se possa cortá-los. Deve-se ter umaidéia do que “fisicamente” acontece. Paraisso, é preciso prestar atenção em três itensespecificamente:

a) AlimentaçãoDespesas elevadas com alimentação têmvárias causas. É possível que se estejajogando muita comida fora (deve-se veri-ficar, a propósito, se o turista está satis-feito com a comida). É necessário umcontrole de compras e estoque, e veri-ficar se o(a) cozinheiro(a) sabe dimen-sionar a quantidade de comida a sercomprada para o número de turistas. Outra causa pode ser a excessiva pulve-rização das compras entre váriosfornecedores. A não ser que isso sejaintencional (para distribuir benefíciospara a comunidade), deve-se concentrarmais as compras e negociar descontos.

b) TransporteEm caso de uso de transporte próprio(barcos, veículos, etc.) deve-se adminis-t rar as despesas com combustível emanutenção. A primeira providência ésaber a distância normalmente percorri-da e quanto combustível se gasta emmédia. Dessa forma se obtém umparâmetro de comparação. Depois deve-se instituir um controle diário de uso domeio de transporte, ou seja, uma cader-neta onde se anote, no mínimo, os itensmostrados no exemplo abaixo.

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CONTROLE DIÁRIO DE USODE MEIO DE TRANSPORTE PRÓPRIOEXEMPLO 8:

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Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

Assim, identifica-se o uso inadequado domeio de transporte, os gastos excessivoscom manutenção etc. No caso específico decarro, van, micro-ônibus etc., pode-seincluir uma coluna na tabela para colo-cação da quilometragem no começo e nofinal do trajeto.

c) Recursos HumanosO turismo é um negócio altamente

dependente de recursos humanos. Muitasvezes são os funcionários e contratados quefazem a diferença entre uma empresa eoutra. Isso começa no atendimento ao tele-fone no primeiro contato e continua atédepois do tour.

Os salários e encargos representam amaior parte dos custos de overhead (custosindiretos) de uma empresa. Geralmente setrabalha com funcionários e free lancers,estes últimos contratados temporariamentenas épocas de maior movimento.

Os salários no mundo do turismo são rela-t ivamente baixos e a rotatividade (turn ove r) derecursos humanos é alta. O “troca-troca” defuncionários enfraquece a memória e o estilode uma empresa. Ta l vez valha a pena pagarum pouquinho melhor, vincular o salário aodesempenho da empresa, ou procurar outra sformas (treinamento, benefícios) de incentiva ra lealdade dos funcionários. O custo pode sermais alto, mas isso pode ser compensado pelamaior produtiv i d a d e .

O treinamento dos funcionários e con-tratados é uma maneira de personalizar oestilo da empresa. Deve-se, por exemplo,levar funcionários de escritório a participarde um tour o que aumentará o seu envolvi-mento com o trabalho.

ComputadoresO computador é quase indispensável no

dia-a-dia do turismo. Empreendimentospequenos, com uma operação simples,podem funcionar com papel, mas para amaioria dos empreendimentos turísticos ocomputador pode ser uma arma poderosap a ra facilitar o trabalho administra t ivo .Possíveis usos para o computador são:

❒ Elaboração de formulários (reserva, reci-bos, vouchers, tour comments, etc.) eprocessamento de informações dos for-mulários preenchidos automaticamente.

❒ Desenho e produção de folhetos e apos-tilas.

❒ Manutenção de um banco de dados declientes (mala direta, melhoria de atendi-mento, etc.).

❒ Contabilidade.❒ Internet (pesquisa e marketing).

Existem vários softwares no mercado quepodem ser usados por pequenas e médiasempresas. Por exemplo, para um nível maissimples e pessoal, o Microsoft Money e oQuicken, e para um nível mais sofisticado oQuickbooks (brasileiro).

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

É muito importante, no início do negócio,apoio técnico para buscar conhecimento etreinamento. O grande risco é o empreende-dor acreditar que não precisa se organizar, porestar tudo transparente dentro de sua cabeça.O que ele esquece é que se o negócio crescerápido, ele pode não conseguir acompanhar.Se ele viajar, ficar doente ou incapacitado deestar à frente do negócio, o substituto será ca-paz de assumir o empreendimento?

Outro risco é exagerar na administraçãoe criar uma grande burocracia, que paralisaa estrutura e eleva custo, não justificadopelos ganhos.

Mais informaçõesAs instituições do SEBRAE e do SENAC

possuem representações regionais e podemser importantes no apoio ao planejamento,implantação e gestão do ecoturismo.Serviços como incubadoras de empresas etécnicas de empreendedorismo existem nosSEBRAE regionais e em algumas universi-dades (p. ex. empresa júnior formada porestudantes de turismo ou administração).

Por causa das freqüentes mudanças nalegislação é melhor se atualizar via contadore sites no Internet. As mais importantes fontes

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de apoio gerais para empreendedores são :

SEBRAE www.sebrae.com.br

SENACwww.senac.com.br

RITS – Rede de Informações para o TerceiroSetorwww.rits.org.br

Nova Lei do Terceiro Setorwww.comunidadesolidaria.org.br

OCB - Organização das Cooperativas doBrasilwww.ocb.org

Secretaria da Receita Federal – Ministério daFazendawww.receita.fazenda.gov.br

Rede Governo – busca de informaçõesdiversaswww.redegoverno.gov.br

Embratur www.embratur.gov.br

V. BIBLIOGRAFIA

HIGUCHI H. Imposto de Renda das Empresas – Interpretação e Prática. São Paulo, Atlas, 2001

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GESTÃO INTEGRADA

I. OBJETIVO

N este capítulo objetiva-se detalharos elementos que compõem osconceitos de “participação comu-

nitária” e “parcerias”, e apresentar umconjunto de métodos e estratégias paraintroduzir esses conceitos e processos den-tro de um projeto de desenvo l v i m e n t o d oe c o t u r i s m o .

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

A implementação de programas de ecoturismo por meio de um processo departicipação ativa da comunidade e doestabelecimento de parcerias é uma pre-missa que permeia todo este manual.Como esses conceitos já se tornaram obri-gatórios nos discursos relacionados aod e s e nvolvimento socioeconômico, é ne-cessário detalhar os componentes cara c t e-rísticos de um processo participativo e deuma parc e r i a .

Entendemos participação a atuação vo-luntária, individual ou de grupo, articuladoem experiências coletivas que contribuemp a ra a construção de uma sociedadedemocrática, socialmente justa e cultural-mente conservacionista.

Já a parceria é o processo de cooperaçãomútua entre duas ou mais partes, acordadoe comprometido com a satisfação de inte-resses comuns e/ou complementares.

Há muitas características comuns entreos dois processos:

❒ Ambos ocorrem em diferentes formas:individual, em grupo ou institucional. E

em diferentes níveis ou intensidade: par-cial, integral, periódica ou pontual.

❒ Pa ra promover o crescimento indiv i d u a lou de um grupo, a participação e a parc e-ria devem ser desenvolvidas comoprocessos de conquista. Assim, não acon-tecem quando não há motivação, inicia-t iva e empenho das partes envo l v i d a s .

❒ Ambos têm um tempo histórico, similar a um “prazo de validade”. Ou seja, envelhecem, o que neste casosignifica que se burocratizam. Daí que,para lhes assegurar a atualidade, devemser vividos como um processo históricode reconquista diária.

❒ Em vista das características anteriores,participação e parcerias devem ser moni-toradas, isto é, durante seu desenvolvi-mento devem ocorrer avaliações, revisõese ajustes, para que os seus objetivos sejama t i n g i d o s .

❒ Participação e parcerias são tambémprocessos de articulação, isto é, pro-cessos que provocam, dão origem a, ecombinam outros mov i m e n t o s .

Apesar desses pontos em comum, osdois processos apresentam diferenças signi-ficativas, quanto aos seguintes aspectos:

a) Interesses comuns:

❒ A participação não depende, necessaria-mente, da existência de interessescomuns. Por exemplo, três pessoas par-ticipando de um mesmo ritual religiosopodem estar ali com objetivos diversos:

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11. Participação comunitária e parceria

Verônica ToledoSylvia Mitraud

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

uma o faz como parte de um procedi-mento de pesquisa; outra para se aqui-etar internamente; outra ainda paraagradecer uma benção.

❒ Na constituição de uma parceria é ne-cessário haver interesses em comume/ou complementares.

b) Sujeito do processo:

❒ A participação é uma ação individual (deuma instituição, de um indivíduo ou deum grupo).

❒ A parceria pressupõe que existe um “outro”, ou seja, um parceiro.

c) Regulamentação:

❒ A participação, além de voluntária, não pressupõe arranjos prévios.

❒ A parceria, além de voluntária, é regida por acordos claros, estabelecidospreviamente.

No âmbito deste Manual, sugere-se queos processos de participação e parc e r i asejam desenvolvidos com base nosseguintes princípios:

❒ Reconhecimento dos interesses comuns;❒ Reconhecimento dos interesses dive r g e n t e s ;❒ Representatividade dos interesses;❒ Estabelecimento de compromissos e res-

p o n s a b i l i d a d e s ;❒ Transparência na tomada de decisões;❒ Legitimidade nas relações, onde enten-

de-se por relações legítimas aquelas quesão autênticas (que se estabelecem poriniciativa própria de todos os envolvidos,sem falsa representação), ou que sãoorientadas por documento legal (porexemplo, contrato);

❒ Respeito pleno à autonomia dos par-ceiros, entendendo-se por autonomia odireito do indivíduo ou do grupo de criare/ou escolher as normas e acordos queregem a sua conduta;

❒ Respeito pleno ao direito de ser escutadoe de escutar.

Para que uma comunidade se sinta comotal – isto é, aquela que tenha consciência desua trajetória histórica e de sua potenciali-dade, que saiba realizar escolhas comautonomia e que desenvolva ações paraconcretizar essas escolhas – é necessárioque possua suficiente identidade de grupo.Sem identidade de grupo não há comu-nidade, mas um aglomerado de pessoas.Essa identidade é criada na cultura, expres-sa nas formas de produzir e sobreviver, derefletir sobre a própria vida. As duas dimen-sões da cultura – material e simbólica –refletem o que há de mais visível na identi-dade cultural. Por isso, a reflexão e elabo-ração de estratégias para tornar visível aidentidade cultural da comunidade, assimcomo estimular o aprofundamento dosaspectos da participação e parceria, devemser preocupações daqueles que trabalham oecoturismo de base comunitária.

As estratégias apresentadas neste capítulo,que fazem parte do método de pesquisa par-t i c i p a t iva, têm-se revelado um bom instru-mento de apoio ao processo de tornar visíve l

Porém, participação e parceria sãoprocessos recentes em nossa cultura, semainda integrar a identidade cultura lbrasileira, não sendo ainda componentesestruturais da maneira de produzir e de serdas pessoas. Isso dificulta o desenvolvimen-to de processos participativos em grupos depessoas no âmbito de comunidade.

1 1

Para o ecoturismo de base comunitária,

a participação dos moradores

locais é premissa para assegurar

a legitimidade, a representatividade

e o sucesso nas ações do projeto.

Por sua vez, o estabelecimento

de parcerias é um instrumento

capaz de viabilizar ações.

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

a identidade cultural. Como parte deste ins-trumento, o diagnóstico participativo é elabo-rado no interior de uma comunidade parar e velar as características, causas, consequên-cias e atores sociais presentes no seu proble-ma. O método estimula uma prática gera d o rade mudança na percepção e na atitude daspessoas perante os problemas e seus fatoresdeterminantes. Assim, além de tornar a identi-dade cultural existente, o método tambémpermite que se vá gerando uma cultura – euma identidade cultural – participativas.

III. Caixa de Ferramentas

Algumas estratégias consideradas essen-ciais para o desenvolvimento de processosde participação e parceria são:

1. Mapeamento de dados secundários.2. Estabelecimento de mecanismos cla-

ros e contínuos de informação e comunicação.

3. Promoção do conhecimento mútuo entre as pessoas.

4. Introdução à pesquisa participante: construindo uma equipe de trabalho.

5. Diagnóstico participativo ou avalia-ção sociocultural participativa rápida.

6. Apresentação do projeto para a comunidade.

7. Planejamento participativo.8. Integração de ações.9. Legitimidade do processo.10. Monitoramento e avaliação.11. Parcerias no processo participativo.

1. Mapeamento de dados secundários

Oprimeiro passo de um trabalho comu-nitário participativo é o levantamento

de informações sobre o lugar, o processo deocupação e a organização do espaço: quemsão, onde moram, como moram, quantossão, onde fazem suas preces, onde sereúnem e por quê; enfim, como vivem osmembros da comunidade com a qual sepretende interagir num processo participati-vo e de parceria.

Esse mapeamento é feito por meio dacoleta, organização e análise de dadossecundários relacionados à história da áreae da comunidade: geografia, recursos natu-rais, demografia, escolaridade, faixa de ren-da, condições de moradia, de saúde, ativi-dades produtivas, festas locais, conflitos cul-turais históricos ou processos de mudanças o c i o c u l t u ral em andamento, e outrosaspectos relevantes.

Ao longo do levantamento, também énecessário identificar as instituições gover-namentais e não-governamentais que atuamna região – sua missão, seus objetivos e suaforma de atuação – listando as possibili-dades de parcerias quando seus objetivoscoincidirem.

2. Estabelecimento de mecanismos claros e contínuos de informação

e comunicação

Oestabelecimento de canais de comuni-cação e informação adequados entre as

diversas partes envolvidas é um dos maioresdesafios na condução de um processo par-t i c i p a t ivo. Em avaliações de projetos, éconstante a identificação da comunicaçãoinadequada ou insuficiente como causa devários problemas de participação ou confli-to entre parceiros.

É comum a confusão entre informação ecomunicação. Informação constitui-se deum dado, uma mensagem transmitida de umindivíduo a outro numa via de mão única. Acomunicação pressupõe troca de men-sagens – ou informações – entre emissor ereceptor, para que seja estabelecido umentendimento conjunto. Ou seja, a comuni-cação é uma via de mão dupla, que envolvenão só o transmitir, mas também o receber,compreender e refletir.

Em conseqüência, a comunicação deveusar linguagem e meios adequados à com-preensão dos diferentes atores envolvidos.Deve também considerar que quanto maioro acesso às informações envolvidas noprocesso de comunicação, melhor será opotencial de compreensão mútua.

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384

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Outro fator determinante é que a neces-sidade de mecanismos adequados de comu-nicação não se inicia com a aprovação deum projeto ou a formalização de umaparceria, mas já nos primeiros contatos coma comunidade. Ao abrir caminhos na comu-nidade na busca de aliados para o desen-volvimento do ecoturismo de base comu-nitária, deve-se atentar para que a relaçãoseja baseada em mecanismos de comuni-cação mutuamente adequados. É impor-tante escutar o outro, mas também criarcondições para que a comunidade seescute, o pesquisador se escute, vendo-sea t ravés do entendimento que os outrosexpressam.

Uma vez que os contatos tenhame voluído para o estabelecimento de parc e-rias mais claras e estruturadas, até mesmoformalizadas, é necessário considerar maisalguns fatores. Um deles é a necessidadede compartilhamento dos resultados, difi-culdades e sucessos de todas as partes dap a rceria, e também de refletir coletiva-mente sobre os interesses comuns, os obje-t ivos de cada um, os rumos da parceria, asvisões de rumos futuros. Esses fatores man-têm a comunicação atualizada e con-tribuem para se evitar ou mesmo resolve re ventuais conflitos.

Outro fator é a necessidade de mecanis-mos sistemáticos de visualização global dosestágios do trabalho em parceria. Essesmecanismos devem se adequar às caracte-rísticas de todas as partes envolvidas e, umavez estabelecidos, é muito importante man-ter a sua continuidade.

3. Promoção do conhecimentomútuo entre as pessoas

Uma vez conhecido o perfil “oficial” dacomunidade, deve-se conhecer sua

identidade, diversidade e dinâmica, aquiloque a movimenta, que a atrai, como estáorganizada, quais são seus líderes formais einformais. É nesse processo, que ocorre emdiferentes situações de encontro com acomunidade, que se inicia, espontânea e

informalmente, a introdução dos temas rela-cionados ao ecoturismo. É preciso identi-ficar dentro da comunidade os pontos deunidade e os focos de conflitos relacionadosao tema, direta ou indiretamente.

Nesta fase inicia-se a formação dogrupo de trabalho local – comunitário –, ouseja, o grupo fonte. Esse grupo será forma-do pelos aliados naturais encontra d o sd u rante as visitas iniciais, as pessoas sen-s í veis às necessidades de mudanças, recep-t ivas à criação de uma alternativa conser-vacionista sustentável para a geração derenda (o ecoturismo de base comunitária) es e n s í veis à necessidade de organizaçãosocial. Valendo-se de técnicas de comuni-cação clara, especialmente a escuta cuida-dosa da fala do outro e o esclarecimentomútuo do que se escuta, os vínculos entreo pesquisador – ou equipe externa – e acomunidade vão sendo criados.

As associações de moradores e outrasformas de organização social pré-existentestêm-se revelado boas portas de entrada parao início do processo de conhecimento entreos atores. Nesse estágio do contato – conhe-cimento mútuo – é bom aprofundar o co-nhecimento sobre a identidade e linguagemlocais. O estabelecimento de práticas clarasde comunicação depende de uma boa com-preensão desses aspectos da comunidade.

D u rante o contato inicial com a so-ciedade civil organizada, os assuntos qued e verão ser foco de conhecimento mútuosão a missão, objetivos, interesses locais eforma de atuação de cada instituição,especialmente da instituição que se apro-xima da comunidade. Ao abordar o temado ecoturismo, é recomendável evitar ouso de conceitos não compreensíveis paraa comunidade, ou utilizar clichês do dis-curso do desenvolvimento socioeconômi-co. Por exemplo, ao invés da expressão“qualidade de vida”, deve-se abordar oselementos que compõem o conceito de“qualidade de vida”: trabalho, saúde,escola, segurança, lazer, água, expectativade vida, etc. Os temas abordados deve mser facilmente identificados e contextual-

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

izados pela própria comunidade, sem umfiltro conceitual externo a eles.

Apesar de a sociedade civil organizadaser uma porta de entrada eficiente e acessí-vel, a equipe necessita abordar a comu-nidade por outros ângulos, buscando não sóconhecer as diversas faces inerentes a qual-quer comunidade, como também fazer-seconhecer por diversos grupos em diversoscontextos. Neste sentido, uma outra exce-lente porta de entrada é a participação em

festas locais, que permitem o contato nãoformal entre a equipe e a comunidade, ofe-recendo a oportunidade de participaçãomútua em atividades relacionadas à festa.Na descontração do evento, a equipe tem aoportunidade de mostrar-se como um “vi-zinho” potencial. Permite também o registrodas pessoas e da cultura por meio de diver-sos instrumentos (fotografia, filmagem,gravação, desenhos, registros escritos, etc.).

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COMO INICIAR CONTATOS COM UMA COMUNIDADE

OS EXEMPLOS E ESTRATÉGIAS ABAIXO SÃO ÚTEIS PARA TODOS OS TRABALHOS

COM A COMUNIDADE E NÃO SÓ PARA OS MOMENTOS INICIAIS.

a) Visitar a comunidade em data festiva e participar dos eventos de comemoração. Fotografar pessoas, casas, decoração; filmar apresentações; gravar discursos.

b) Voltar à comunidade em oportunidade a mais próxima possível para trazer fotos e outros materiais.

c) Fazer contato com associações, escolas e/ou igrejas, postos de saúde, postos da guarda florestal e lideranças formais: professores, pastores, padres e seus representantes locais, agentes de fiscalização, dirigentes comunitários, agentes de saúde.

d) Apresentar-se, falar do trabalho que faz, deixar material institucional, pedir espaço para organizar uma exposição das fotos, convidar para ver.

e) Organizar a exposição com a ajuda dos que estiverem em volta e daqueles que conheceu na primeira visita.

f) Desenvolver atividade de arte-educação com as pessoas disponíveis e/ou interessadas (jovens, mulheres e crianças).

g) A todo momento, aprofundar o conhecimento: durante o cafezinho, visitas, bate-papo, futebol, sala de costura, troca de receitas, etc. Conversar, perguntar,escutar muito. Permitir que o morador, ao falar, se escute.

h) Criar um ponto de encontro, que pode ser até a varanda de onde se hospeda, por exemplo.

EXEMPLO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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UMA EXPERIÊNCIA DE ECOTURISMO COMUNITÁRIO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA,

S I LVES, A M

PA RT I C I PAÇÃO E PARCERIA – UM T R A BALHO COM ENTIDADES E COMUNIDADES RIBEIRINHAS

m busca de auto-sustentabilidade para as atividades de conservação, a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC), com o apoio do W W F - B rasil, investiu no ecoturismo, construindo o Hotel Aldeia dos

Lagos, e oferecendo um produto ecoturístico que envo l vesse as comunidades de Silve se de outras ilhas da Reserva. O projeto de preservação dos lagos envo l ve educaçãoambiental, desenvolvimento comunitário e administração, sendo que o ecoturismo, de um jeito ou de outro, guia todos os objetivos e ações do projeto.

P r i m e i ramente, a direção da Associação apresentou a proposta de operação de ecoturismo pela comunidade local como forma de geração de recursos tanto p a ra o sustento da própria comunidade quanto para a conservação dos lagos.

Logo após esse contato inicial, foi feito um trabalho de pesquisa sócio-econômica. Ao começar o projeto de ecoturismo, realizaram-se novas visitas às localidades parad e s e nvolvimento de produto, com “olhos de visitante”. Fo ram construídos roteiros ecoturísticos, operados pelas comunidades da forma que elas decidiram. A partir daí, as visitas passaram a ser sistemáticas, especialmente para o programa de educaçãoambiental, de conservação dos lagos e para a organização das atividades de ecoturismo.

A única experiência da comunidade com visitação era associada ao turismo tra d i c i o n a l .Assim, a maior dificuldade da A S PAC foi justamente diferenciar o ecoturismo do turismo convencional. Pa ra facilitar a compreensão e romper preconceitos, o ecoturismo foi apresentado como uma proposta de turismo diferente, consciente, de valorização das pessoas, cultura e mão-de-obra regionais, e com o princípio da participação direta das comunidades envo l v i d a s .

Os resultados têm se mostrado positivos. A A S PAC e o projeto de ecoturismo desfrutamde maior credibilidade junto às comunidades, passando a ter o apoio político das mesmas. Com isso, alguns comunitários que antes não acreditavam no ecoturismo hoje estão envolvidos nas atividades do projeto.

Pa ra atingir os objetivos, foi muito importante ter alguém experiente e confiável p a ra fazer os contatos com as comunidades. Neste caso, duas pessoas da própriacomunidade, que já tinham uma boa experiência em trabalhos comunitários, r e c e b e ram treinamento específico para o projeto. Essas pessoas são fundamentais p a ra todo o processo.

Quando se chega a um povoado, uma família, uma comunidade, é necessário terfirmeza sobre o projeto e as informações que serão trocadas. É importante ter a noçãoda permuta, saber ouvir, querer aprender, valorizar a comunidade, o conhecimento das

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

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pessoas e os valores regionais. Mas também deve-se ter objetividade em relação às propostas do projeto e, principalmente, não acrescentar nada que não esteja dentrodo possível, não agir como político, fazendo promessas. É também muito importantet rabalhar as expectativas das pessoas, deixando claro que nada acontecerá instantaneamente, que são ações de longo prazo e que é um processo de aprendizagemp a ra todos, inclusive técnicos e especialistas.

Finalmente, para otimizar trabalho e resultados, nas reuniões com as comunidadesd e ve-se buscar o máximo de participação possível, não só das lideranças de cadacomunidade. Pa ra que isso ocorra, é importante considerar o calendário, o ritmo e oscostumes da comunidade em questão, escolhendo a melhor forma, o melhor dia, locale hora para a reunião.

4. Introdução à pesquisa participante:construindo uma equipe de trabalho

Du rante o trabalho de conhecimentomútuo, a equipe deve estar atenta para a

identificação de indivíduos da comunidadeque possam formar o grupo fonte. Depoisdisso, devem ser realizadas atividades queacarretem e facilitem a formação do grupo,criando laços e identificação entre eles.

Este é o início do diagnóstico participati-vo – também chamado de avaliação socio-c u l t u ral participativa rápida, ou aindasondagem exploratória participativa. O tra-balho pode ser realizado num fim de sema-na, envolvendo as seguintes atividades:

a) Distribuir máquinas fotográficasdescartáveis entre os moradores já amigos(sempre privilegiando jovens, mulheres ecrianças), prováveis formadores do núcleode apoio local, ou o grupo fonte.

Máquinas fotográficas descartáveis,

filmadora e gravador são apenas algumas

das possibilidades, de efeito ímpar,

mas não as únicas. O mesmo processo

pode ser desencadeado, por exemplo,

via desenhos, construção de mapas,

esculturas, painéis, entrevistas escritas,

entre outros.

b) Pedir que façam fotos temáticas dacomunidade: pontos de beleza cênica, pon-tos de problemas, lazer, trabalho, pessoasmais antigas do lugar, pessoas mais jovensdo lugar, recém-nascidos, espaços e/ouconstruções comunitárias importantes (hor-tas, oficinas), pontos de encontro (escola,posto de saúde, barracão comunitário), etc.

c) Com uma filmadora e algunsg ravadores, pedir e fornecer orientaçõesbásicas para que entrevistem:

❒ As autoridades e/ou lideranças dolugar (o grupo é que decide quemsão as autoridades e/ou liderançascomunitárias), indagando-lhes sobresonhos, projetos e dificuldades.

❒ As pessoas que sabem as histórias,as lendas e os “causos” do lugar.

❒ Os elementos do grupo fonte entre si,fazendo-lhes indagações semelhantes.

d) Fotografar o grupo em ação.

e) Recolher e organizar o material,sempre coletivamente: distribuir tarefas,estabelecer prazos e organizar/executar aedição artesanal e cooperativa, do Livro daComunidade.

f) Produzir mais de um exemplar do livropara distribuir na biblioteca da escola, nasassociações e nos pontos de referênciacomunitária.

Desse modo, não só a comunicação estáse processando, mas também a cooperação,

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

a articulação e alguns processos incons-cientes de conquista, manifestados na pro-dução individual e coletiva, visual e escritado conhecimento acerca do lugar (avaliaçãosociocultural participativa rápida ou auto-diagnóstico participativo). Além da comuni-cação, esses elementos são cruciais na ge-ração e manutenção dos processos de par-ticipação e parceria.

g) Realizar uma oficina comunitária deduas ou três horas para apresentar e entregaro material produzido. Durante a oficina, aequipe de trabalho se apresenta, expõe eentrega os materiais, e explicita a propostade trabalho do projeto.

Na proposta deste Manual a equipe

de trabalho/pesquisa participante

é constituída pelos pesquisadores

do projeto e seus aliados locais,

o grupo fonte, em procedimentos

permanentes de apoio mútuo, discutindo,

analisando, construindo juntos

o conhecimento sistemático acerca

do lugar. E devem ser simultaneamente

estimulados em oficinas

de atividades de auto-descoberta

e crescimento pessoal, com técnicas

que facilitem a transformação

do grupo inicial em equipe de trabalho,

atendendo ao conjunto das expressões

emocionais presentes e em elaboração.

Na abordagem, é importante que opesquisador de campo sempre esteja sin-tonizado com aquilo que o identifica com olugar e com as pessoas do lugar:

❒ São percepções-chaves: como me reco-nheço no outro, como me sensibilizo eme envolvo com a realidade do outro eda comunidade.

❒ Nutrir atenciosamente o grupo fonte: oentusiasmo desse grupo é o referenciallocal para os efeitos demonstrativos e demultiplicação.

❒ Priorizar contatos com as lidera n ç a sidentificadas na sondagem.

❒ Trabalhar com palav ras e conceitos que te-nham significado na realidade local.

As etapas de mapeamento, conhecimen-to mútuo e formação da equipe de trabalho(grupo fonte) requerem tempo e disponibili-dade de pessoal. O pesquisador ou equipede trabalho que conduz o processo devebuscar o equilíbrio entre a necessidade decumprir um planejamento próprio para odesenvolvimento do projeto e o ritmo doprocesso de abordagem.

5. Diagnóstico participativo ou avaliaçãosociocultural participativa rápida

Apartir deste ponto, o grupo fonteprovavelmente já se criou e há um

número mínimo de moradores (cinco é umbom número para começar), atraídos pelomovimento do pesquisador e dispostos a searticular com ele. Esta é a condição para darseqüência aos procedimentos da pesquisaparticipante, com a elaboração do diagnós-tico participativo ou avaliação socioculturalparticipativa rápida.

O diagnóstico participativo é realizadopor meio dos seguintes passos:a) Identificar as lideranças da comu-nidade: munindo-se das fotos das lidera n ç a sp r é-identificadas, fazer um leva n t a m e n t ojunto aos diversos membros da comunidade,escolhidos aleatoriamente mas de forma aa s s e g u rar representatividade dos segmentospré-diagnosticados. Mostrando as fotos, per-guntar aos entrevistados quem eles ch a m a-riam para coordenar um tra b a l h o .b) Elaborar mapas ou esquemas, mentaisou falados, que refletem a situação local. c) Realizar o levantamento de infor-mações para a pesquisa de percepção, ati-tudes e valores ambientais. A seguir, exem-plo de um questionário para este fim:

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Instrumento para coleta de dados sobre percepção ambiental

DADOS PESSOAIS: Gênero: Feminino ( )

Masculino ( )

Idade ______ Há quanto tempo mora aqui ____________

Onde nasceu ______________________________________

1. Feche os olhos, pense na Ilha das Peças. Qual a primeira imagem ou palavra que vema sua cabeça?

2. Descreva a Ilha das Peças para alguém que ainda não conhece o lugar.

3. O que você colocaria (+) na Ilha das Peças?

4. O que retiraria (-) da Ilha das Peças?

5. O que você faz em seu tempo livre?

6. “Bem estar” é uma palavra que te lembra o quê?

7. “Progresso” é uma palavra que te lembra o quê?

8. Para você, é importante a existência do Parque Nacional do Superagüi?

Sim ( ) Não ( )

9. Você mora no entorno do Parque Nacional do Superagüi. Que influência tem este fato em sua vida?

10. Uma catástrofe eliminou a comunidade e o lugar. Reconstrua-o (desenhando ou escrevendo).

FORMULÁRIO PARA PESQUISA DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL EM UMA COMUNIDADE

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

d) Realizar o levantamento de infor-mações para a pesquisa sobre identidade cul-t u ral dos moradores do lugar. Vejam, na pági-na a seguir, um exemplo de instrumento pararealizar esta etapae) Identificar e descrever o movimentoda comunidade, seus problemas ambientais,causas e conseqüências.f) Identificar as necessidades de ge-ração de renda.g) I nvestigar alternativas ambiental-mente sustentáveis para a geração de renda.h) Realizar um inventário participativodos recursos naturais, plotando os dados emmapas mentais e/ou falados ou construindomaquetes (ver capítulo Levantamento dePotencial Ecoturístico / Inventário).i) Realizar levantamento da percepçãoda comunidade em relação às instituições

que atuam no lugar: o quê faz e como fazcada instituição existente, do ponto de vistada comunidade. j) Realizar levantamento da percepçãode cada instituição a respeito de si mesma edas demais – o que faz, como faz e se fazbem feito.

Todo o material produzido deve

ser discutido com o grupo fonte

(que eventualmente vai crescendo),

de modo que tanto a produção quanto

a apropriação do conhecimento

sejam coletivas e qualificadoras,

características da pesquisa participante.

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EXEMPLO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Após a organização e discussão preliminardos dados, o grupo fonte deve apresentar àcomunidade os resultados, se possível por meiode oficinas. Oficinas aqui são entendidas comouma forma privilegiada para a produção coleti-va do conhecimento, condição para o exerc í c i oda gestão participativa. O facilitador (ou moder-ador) deve conduzir a oficina de modo a possi-

bilitar que os moradores interessados discutam,complementem e se apropriem do conjunto doconhecimento produzido. A apresentação,visual e oral, deve ser conjugada à distribuiçãode material gráfico, ilustrado e intera t ivo, quepossibilite a cada participante incluir sua con-tribuição. Só depois de discutidas, analisadas ei n c o r p o radas as contribuições da oficina é que

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Instrumento para coleta de dados para estudos de identidade cultural

1. Nome e sobrenome:2. Nome da mãe (nome de solteira):3. Nome do pai: 4. Avós maternos: 5. Avós paternos: 6. Bisavós maternos: 7. Bisavós paternos: 8. Onde moro:9. Como moro: 10. De onde vieram os meus parentes e ancestrais?11. Qual o meu parente predileto?12. Por quê?13. Com quem eu me pareço?14. Religião ■ De fato: ■ De direito:15. Minha casa com o meu canto favorito (descreva, desenhe ou registre em qualquer

outra forma de expressão gráfica):16. Profissões e/ou atividades que ocorrem na família:17. Cantos da infância:18. Brinquedos e brincadeiras da infância:19. Mitos da infância:20. Religiões existentes:21. Danças da região:22. Festas que comemoro:23. Histórias que ouvia:24. Histórias que conto:25. Agricultura que desenvolvo em casa:26. Comida predileta:27. Criação de bichos e animais domésticos (quem escolheu/quem trata):

FORMULÁRIO PARA PESQUISA DE IDENTIDADE CULTURALEXEMPLO:

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

será preparada a versão definitiva do material,em duas formas: uma em linguagem técnica,p a ra uso institucional, e outra para divulgação euso prático da comunidade.

Como parte final dessa oficina, deve serresgatada e formalizada a proposta do pro-jeto do ecoturismo de base comunitária, edefinidas as pessoas sensíveis ao seu desen-volvimento e dispostas a trabalhar nele, jun-tando-se ao grupo fonte.

6. Apresentando o projeto para a comunidade

Uma vez atualizado o grupo fonte, suap r i m e i ra tarefa deve ser produzir e

realizar uma oficina de sensibilização espe-cialmente voltada para o projeto. A oficinadeve ser fartamente ilustrada com fotos,filmes, livros e outros relatos de experiên-cias afins – bem e mal sucedidas – paraserem dissecadas em equipe. Esta oficinad e ve ser conduzida por um facilitador,tendo como pano de fundo a realidade dolugar, investigada e sistematizada no diag-nóstico participativo.

Como resultado dessa oficina deve - s ebuscar a definição e realização de umap r o g ramação de intercâmbio: promove rvisitas de observação e aprendizagem alugares onde experiências semelhantes sedesenrolam e receber pessoas de outra scomunidades com atividades afins paraouvir sugestões. Assim, inicia-se umprocesso participativo de tomada dedecisões, planejamento e administra ç ã odo ecoturismo na comunidade, configu-rando uma sistemática de gestão igual-mente participativa .

7. Planejamento Participativo

O s processos de conhecimento mútuo,mapeamento e diagnóstico participati-

vo preparam o cenário para a gestão parti-cipativa do projeto que se pretende realizarcom a comunidade. No âmbito desteManual, gestão participativa é um sistemacoletivo de gerenciamento em que o grupo

r e s p o n s á vel pela execução da ativ i d a d etambém responde pela sua concepção,planejamento e administração. Essa formade gestão estimula uma compreensão desucesso que vai além da excelência doserviço oferecido e da fonte de receita,i n c o r p o rando, no conceito, bem-estar equalidade de vida – tanto pessoal quantocomunitária –, e requer mobilização e par-ticipação de todos os envolvidos.

O planejamento participativo é a colunavertebral do processo de gestão participati-va. Sua realização é feita com a participaçãodo grupo fonte e outros moradores interes-sados, com base na proposta elaborada nasetapas anteriores, valendo-se do diagnósticoparticipativo como subsídio.

A partir do conhecimento da proposta(passos 5 e 6), uma oficina de planejamentocom o grupo fonte definirá:

❒ Objetivos (o quê se quer).❒ Metas (distribuição do planejamento no

tempo: período a período, o produtointermediário esperado).

❒ A t iv i d a d e s (ações desejadas e priorizadas).❒ I n d i c a d o re s (quais fatos ou situações indi-

carão que o objetivo foi atingido).❒ Divisão de responsabilidades (quem faz

o quê, quando, com quem).❒ Recursos necessários, incluindo necessi-

dades de capacitação.

É desejável que o planejamento seja pre-cedido e acompanhado internamente pormecanismos de comunicação e informação, eexternamente por mecanismos de documen-tação e análise da sustentabilidade da ativ i-dade (ver capítulo Viabilidade Econômica) .

O planejamento deve ser conduzido pormeio de uma dinâmica de grupo onde todosparticipem, valendo-se de técnicas de visua-lização do andamento da oficina para faci-litar o trabalho conjunto e a elaboração depropostas de consenso. Esse registro visualdos trabalhos favorece a racionalização eo b j e t ividade das discussões, ao mesmotempo que possibilita o seu aprofundamen-to. Isso porque funciona como ajuda-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

memória das afirmações, divergências econclusões, que em discussões posteriorespodem ser recuperadas para evitar arepetição dos mesmos argumentos.

Sugere-se o uso da técnica de cartõesretangulares de papel medindo 10cm x20cm (tarjetas), apresentados por grupos decores, onde são registradas palav ra s - ch ave sou frases curtas que sintetizam o pensamen-to expressado. As diferentes propostas fre-qüentemente geradas por meio de “ch u va deidéias”, são anotadas em cartões posterior-mente fixados em painéis (com fita crepe,ímã) para que possam ser vistos por todos osparticipantes. Além das cores diferentes, oscartões podem ser cortados em diferentesformatos a partir do retângulo padrão. Estasdiferenças ajudam a apresentação hiera r-quizada de informações e ainda a visualiza-ção do processo de síntese. Idéias inicial-mente conflitantes ou que num primeiro mo-mento interrompem a fluência do encami-nhamento vão para um canto específico( “ g e l a d e i ra ou estacionamento de idéias”)p a ra serem oportunamente retomadas.

Essa técnica é democrática em três níveisessenciais:❒ Favorece a igualdade entre participantes,

pois dá o mesmo destaque às idéiasexpressadas por todos.

❒ Estimula a participação de pessoas tími-das ou que têm dificuldades em expres-sar publicamente sua opinião, pois oscartões podem ser escritos individual-mente, sem identificação de quem escre-veu, e geralmente são mesclados antesde serem apresentados ao grupo maior.Em outras palavras, a técnica assegurarelativo anonimato, por vezes essencialem situações de resolução de conflitos.

❒ Permite o exercício em grupo da análisee síntese de idéias, assim como resoluçãode conflitos, favorecendo não só a cons-trução de um produto gerado por todos,mas também a percepção pelos partici-pantes de que o produto é coletivo .

É indispensável a presença de um facili-tador para acompanhar as atividades dura n t e

todo o desenrolar dos trabalhos, conduzin-do, passo a passo, sua seqüência, estimulan-do a participação, distribuindo e coordenan-do tarefas, despertando as memórias, recu-p e rando as relações entre eventos e pessoas,mantendo o cumprimento dos horários.

O trabalho com tarjetas pressupõe

que o grupo que participa da oficina

sabe ler e escrever. O uso deste meio

para um grupo onde há elevado

número de pessoas que não possuem essas

habilidades, além de improdutivo,

pode tornar-se um fator para o retraimento

daqueles que não conseguem acompanhar

o trabalho. Em grupos onde há casos

isolados de analfabetismo, o facilitador

pode ajudar diretamente essas pessoas.

Para verificar se todos sabem ler e escrever,

pergunte a alguém do grupo fonte

que conheça bem os demais, como por

exemplo, um(a) professor(a).

8. Integração de ações

A gestão participativa requer ações articu-ladas e convergentes dentro da comu-

nidade: ações de escolas, igrejas, associ-ações de moradores e outras organizaçõessociais existentes, instituições gove r n a m e n-tais e setor produtivo organizado. Pa ra queisso seja possível, é necessário não só que osi n t e g rantes do grupo fonte estejam atentosp a ra as ações de outras instituições de queparticipam ou têm conhecimento, mas prin-cipalmente a comunicação entre os grupos,de forma a otimizar o trabalho de todas asinstituições e evitar duplicação de esforços.

Em casos onde esse processo de comu-nicação e integração entre diferentes institu-ições atuantes em uma mesma região já seencontra relativamente cristalizado, pode-sepromover a formação de conselhos ou gru-pos de trabalho em nível institucional.

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

r e l e vantes, e iniciados os trabalhos deplanejamento e gestão do projeto, a comu-nicação torna-se um fator crítico para amanutenção da legitimidade estabelecida.Um processo participativo deve contemplarmecanismos de checagem da representativi-dade dos indivíduos que atuam em nome degrupos. Para isto, sugere-se ampla divul-gação na comunidade, dando aos represen-tados a oportunidade de se inteirar sobre oandamento do projeto por meio de outrasfontes além de seus representantes. Osmecanismos podem ser:

9. Manutenção da legitimidade do processo

Aparticipação efetiva dos diferentes seg-mentos da comunidade, por meio de

representantes por eles reconhecidos comotal (o reconhecimento de lideranças sugeri-do no diagnóstico participativo identificaessas representações), é o que confere legi-timidade às decisões do grupo, reconhecen-do sua pertinência e autoridade nos proce-dimentos e nas pessoas.

Assegurada a representação dos setores

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R E S E RVAS EXTRAT I V I S TAS DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO

UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

E X P E C TAT I VA E MOT I VA Ç Ã O

uando se trabalha com comunidades, é muito difícil manter ou controlar a fase de motivação e um trabalho mal feito pode levar rapidamente ao desânimo e descrédito. Nas Reservas Extra t ivistas Estaduais de Pe d ras N e g ras e Curralinho (RO), onde as necessidades básicas são urgentes,

tomou-se o cuidado de, junto com a comunidade, definir muito bem todas as etapas a serem cumpridas, desde o momento de apresentação do projeto.

Sempre foi dada atenção especial ao esclarecimento das dificuldades e do temponecessário para avaliação, aprovação e liberação de recursos, que podem demora ranos. Durante o período de espera, o contato com a comunidade continuou a ser mensal ou bimestral. Algumas atividades foram realizadas, mesmo com poucosrecursos, para que a organização comunitária se fortalecesse, e para que a populaçãosentisse a seriedade do projeto e das pessoas envolvidas, evitando o desânimo. Assim, construiu-se um pomar comunitário, uma casa teste para receber os primeiros visitantes, uma operação turística demonstra t iva e teve início o processo de capacitação e treinamento.

Após a inauguração da Pousada Pe d ras Negras, foram utilizadas as mesmas estra t é g i a s ,visto que a demanda não chegou de modo satisfatório nos primeiros meses.Dependendo do esforço de marketing disponível, a comunidade tem que estar esclarecida de que a consolidação do produto dar-se-á em alguns meses e até anos. No mundo dos negócios, e dentro de padrões de investimentos normais, nenhum projeto apresenta balanço financeiro positivo antes de dois anos. No ecoturismo, produtos novos, autênticos e originais podem ter resultados positivos mais cedo. Porém, isso não deve ser encarado como regra .

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ Encontros informais ou formais periódi-cos sobre o andamento dos trabalhos.

❒ Murais em pontos de encontro.❒ Spots (breves mensagens) em programas

de rádio.❒ Atividades internas de treinamento em

ação (um grupo de guias conduzindomoradores do lugar pelos caminhos doecoturismo local).

❒ Geração de benefícios para a comu-nidade como um todo.

❒ Oportunidades de trabalho e renda paragrupos cada vez maiores de pessoas.

10. Monitoramento e avaliação

Aelaboração de um sistema de monitora-mento e avaliação do projeto, com a

definição de indicadores – ou seja, listagemde indícios objetivos e observáveis, que pos-sibilitem o acompanhamento da implemen-tação do projeto – é fundamental para corri-gir ou redirecionar ações durante o proces-so de implementação. O monitoramento e aavaliação visam prevenir erros de encami-nhamento ou de rumo antes que se tornemirreparáveis. Visa também otimizar açõespositivas e atualizar o planejamento (estraté-gias, abordagem, parcerias, etc.).

Para montar um sistema de monitora-mento, é preciso:a) Consultar os objetivos, metas, ativ i d a-des e indicadores planejados na etapa 8 acima.b) Definir os meios de verificação decada indicador, avaliando sua viabilidadeem termos de quantidade de esforço e derecursos financeiros. Indicadores inviáveisdevem ser eliminados.c) Elaborar instrumentos de coleta eregistro de dados.d) Elaborar procedimentos para a sis-tematização e avaliação periódicas, respei-tando o processo participativo.e) Elaborar plano de monitoramento,com a periodicidade de coletas, registro dosdados e os responsáveis.f) Realizar treinamentos e exerc í c i o spráticos para os responsáveis pela coleta eregistro de dados.

g) Realizar treinamentos e exerc í c i o spráticos para o grupo fonte sobre como uti-lizar os resultados do monitoramento paraavaliações em curso do projeto.

No estabelecimento do sistema de moni-toramento, a elaboração de indicadores éprovavelmente a etapa que exige maiorcuidado. No capítulo M o n i t o ramento eControle de Impactos de Visitação o tema édiscutido em mais detalhes, incluindo ascaracterísticas de um bom indicador e aelaboração de instrumentos de coleta, re-gistro e análise dos dados ve r i f i c a d o s .Entretanto, recomenda-se a consulta à bi-bliografia especializada.

11. Parcerias no processo participativo

Pessoas e grupos se encontram, se sepa-ram, se aliam e se confrontam, criam

laços, se organizam de diversas maneiras.Uma delas é o estabelecimento de parceriaspara levar adiante projetos, qualificar umprocesso, realizar sonhos comuns.

A parceria ocorre quando, no mínimo,duas pessoas ou grupos com interessescomuns ou complementares estabelecemacordos de cooperação mútua e se compro-metem com a sua realização.

Ainda que compromissos acordadossejam pré-requisitos para a parceria, nemtodas parcerias precisam ser formalizadas.Em cada situação é preciso analisar as van-tagens e desvantagens de se formalizar umaparceria. Por exemplo, quando a experiên-cia da ação cooperativa é apenas inicial,sem nitidez de perdas e ganhos ou da reci-procidade possível, a formalização daparceria pode inibir a ação de um ou deoutro parceiro. Isto porque acordos têm umtempo e um ritmo para serem definidos.Deve-se estar atento para decidir o momen-to ou a situação oportuna para a formaliza-ção da relação. Por outro lado, é possível,por vezes, que uma parceria longa e produ-tiva nunca chegue a ser formalizada.

Entretanto, há situações em que a for-malização é recomendada:

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

❒ Quando o compromisso estabelecido éinstitucional e é necessário garantir acontinuidade do processo.

❒ Quando uma das partes é gove r n a m e n t a l .❒ Quando há recurso financeiro envo l v i d o.❒ Quando há produção conjunta de co-

nhecimento técnico.❒ Quando a formalização gera benefícios

políticos ou institucionais mútuos, inter-nos e externos.

Há diferentes instrumentos legais para aformalização de parcerias: ❒ Acordos de cooperação.❒ Convênios.❒ Termo de compromisso.❒ Contrato de prestação de serviços.❒ Carta de intenções.❒ Termo de Cooperação “guarda-chuva”

(vinculado a planos de trabalho ou ter-mos aditivos).

Há diversos modelos para cada um des-ses tipos de contrato. Quando uma daspartes ou ambas possuem um padrão, éimportante negociar os termos e, eventual-mente, gerar um terceiro contrato que aten-da aos interesses dos parceiros. Nas parce-rias com o setor governamental, em que éobrigatório o uso do modelo oficial, é im-portante negociar a flexibilização dascláusulas tendo como parâmetro o históricoe as necessidades do grupo.

Alguns cuidados devem ser tomados naformalização de uma parceria:❒ Definir os termos do acordo com cuida-

do para torná-los claros e práticos.❒ Elaborar cláusulas pensando no contrato

como um instrumento de resolução depossíveis conflitos, como por exemplopropriedade intelectual, aplicação derecursos financeiros, etc.

❒ Rever e ratificar compromissos, respon-sabilidades, competências, deveres eacordos de planejamento.

❒ Incluir cláusulas de rescisão, aditamentoe prazo de vigência do contrato.

12. A constituição formal de grupos de interesse

No processo de desenvolvimento doecoturismo de base comunitária, é

comum que sejam formados grupos deinteresse, seja de membros da comunidadeque trabalham em um mesmo segmento deserviços de ecoturismo (por exemplo, guiaslocais, donos de pousada, restaura n t e s ,etc.), seja de pessoas envolvidas no geren-ciamento de um negócio de propriedadecoletiva (por exemplo, a Pousada EcológicaAldeia dos Lagos em Silves). Por vezespodem-se também formar grupos compos-tos dos moradores de uma determinadaregião da comunidade ou município. Háuma diversidade de possíveis grupos. Emalguns casos, como nos dois primeiros tiposmencionados (segmento de serviços egerenciamento de negócio) é importanteque o grupo seja formalmente organizado ejuridicamente constituído, seja como umaorganização não governamental (por exem-plo, uma associação), uma coopera t iva ,uma microempresa, ou outra pessoa jurídicada sociedade civil. Dessa forma, o grupopassa a constituir uma instância de podercom competência e autoridade reconheci-das (tanto internamente na comunidadequanto externamente junto a governo e ou-tras entidades da sociedade civil).

D e ve atentar-se, entretanto, para omomento adequado para a formalização dainstituição e para o processo pelo qual isto éfeito. Uma instituição formal só deve serconstituída por iniciativa dos seus membros.A definição de missão, objetivos, estratégiase composição de membros deve ser feitainternamente ao grupo. Geralmente técni-cos de instituições governamentais ou nãog overnamentais têm orientado gruposcomunitários para a formalização de institu-ições de forma a facilitar o acesso a crédito,a programas governamentais, ou para pres-sionar a comunidade ao trabalho em grupo.Entretanto, como vimos no começo destecapítulo, o trabalho em grupo, participativo,só é possível quando há um amadurecimen-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

to da identidade do grupo e das relaçõesexistentes nele.

Para a criação de instituições locais,especialmente associações e cooperativas,recomenda-se a consulta ao SEBRAE regio-nal. Essa entidade não só orienta tecnica-mente a criação de instituições, mas tam-bém oferece cursos de capacitação para oseu gerenciamento.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

Sensibilização da comunidade epreparação da equipe de trabalho são o fiocondutor de um processo que tem na par-ticipação e mobilização comunitárias achave do sucesso.

C o nvém destacar que o projeto se propõea realizar um trabalho com os mora d o r e sinteressados e não para eles. Isso é particu-larmente importante no processo de desen-volvimento do ecoturismo, em que a inva s ã oc u l t u ral não é apenas um risco, mas quaseuma contingência. Deve-se ter cuidado paranão atropelar valores e espaços constituídosna comunidade antes de sua chegada. A strocas culturais sempre ocorrerão, mas de-vem ser resultado de processos de afinidadese escolhas, nunca imposições. “Respeito” éuma palav ra - ch ave.

Mesmo no turismo denominado eco-lógico, ou ecoturismo, a atividade podeg e rar o afastamento das comunidades nati-vas, expropriando-as e desrespeitando-asem seus locais de residência, dando inícioa um processo de marginalização e subva-l o r i z a ç ã o .

Apesar do discurso promovido porempresas de turismo, a atividade turísticanão tem predominantemente valorizado oque o lugar a ser visitado tem de diferente,na sua especificidade, vegetação, hidro-grafia, relevo, seu povo e a sua cultura, amúsica, seus hábitos, a culinária local.Entretanto, a cultura é a “ponte” que podegerar o respeito entre as populações dediferentes origens. Sem esse conhecimento,predomina a relação superficial com osmoradores do lugar e o comportamento pre-

datório sobre a natureza.Quando o desenvolvimento da atividade

não segue os princípios do processo partici-pativo, ambiente e cultura locais se transfor-mam em mercadorias e passam a ser con-sumidas como mais um produto descartá-vel. O ecoturismo deve, e precisa, gerarrenda, mas sua condição é a conservação dabiodiversidade e da diversidade cultural:este é o seu diferencial em relação a outrasmodalidades de turismo.

Do ponto de vista do método, algunsprocedimentos são fundamentais para que otrabalho resulte numa prática de escuta efala, num processo de comunicação entre aspessoas da equipe, o conjunto dos mo-radores e suas organizações:

❒ Evitar emprestar ouvidos a disse-que-disse.❒ Evitar ser platéia para histórias desvita-

lizadoras.❒ Ter ciência de que tudo o que não adi-

anta o trabalho, atrasa.❒ Evitar alimentar divisões, inclusive entre

organizações e instituições.❒ Ter clareza sobre o que une e o que se-

para, e estar atento à dinâmica desseprocesso.

❒ Manter o foco na ação e nos objetivo s .❒ Nutrir atenciosamente o grupo fonte: o

entusiasmo deste grupo é o referenciallocal para os efeitos de “multiplicação”.

❒ A s s e g u rar o reconhecimento dos mora-dores locais como agentes tra n s f o r-madores e parceiros, garantindo a pro-teção ambiental e o desenvolvimento dea l t e r n a t ivas de trabalho, educação e lazer.

❒ Comprometer-se com a cultura local demodo a criar condições para que osmoradores não sejam violentados emsua essência, suas raízes e seus valores.

❒ Gerar encontros de integração.❒ Promover intercâmbios entre os grupos

das diferentes comunidades trabalhadas.❒ Promover intercâmbios entre os grupos,

as instituições e os moradores (equipelocal funcionando como articuladora/organizadora).

❒ Viabilizar intercâmbios técnicos de ca-

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Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

pacitação, cobrindo as demandas degerência e outras identificadas no pro-cesso de planejamento e acompanha-mento das atividades.

V. BIBLIOGRAFIA

AVELINE, C. C. 1998. Apontando para oF u t u r o. Revista Planeta no.9, EditoraTrês.

D E M O, P. 1984. Participação e MeioAmbiente – uma proposta educativa pre -l i m i n a r. Secretaria Especial do MeioAmbiente, Brasília.

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FIGUEIREDO, L. A. V. 1997. Ecoturismo e

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HIRSCHMAN, A. 1989. O Progresso emColetividade. tradução de João FranciscoB e z e r ra. São Paulo: Fundação InterAmericana.

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VIEZZER, MOEMA & OVALLES, O. 1995.Manual Latino-Americano de Educ-AçãoAmbiental. São Paulo: Editora Gaia.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

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GESTÃO INTEGRADA

I. OBJETIVO

E ste capítulo visa apresentar o con-ceito de Vo l u n t á r i o e dar orien-tações básicas para que projetos de

ecoturismo possam incorporar o tra b a l h ovoluntário na dinâmica de sua implemen-t a ç ã o .

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

A experiência de projetos de campo nasáreas de conservação e desenvolvimentos u s t e n t á vel mostra que há sempre umademanda pelo trabalho voluntário, especia-lizado ou não. Esta demanda parte tanto dosprojetos quanto da população local. Nod e s e nvolvimento de projetos destanatureza, atualmente coloca-se o desafioduplo de, por um lado, estimular e envolvera sociedade por meio do trabalho voluntárioe, por outro, administrar adequadamenteeste tipo de trabalho dentro do contexto dacomunidade local e do projeto em questão.

Projetos de ecoturismo devem orientar-se pelo objetivo de harmonizar a atividadehumana, visando a conservação da naturezaem que todos vivemos. Um dos fatores queinfluenciam a capacidade de um projeto deecoturismo de alcançar este objetivo maior

junto à sociedade é a ampliação das opor-tunidades de participação de pessoas inte-ressadas em conhecer as discussões atuaisacerca das questões ambientais, especial-mente aquelas que residem em áreasurbanas, com limitado contato direto com oambiente natural.

É necessário mobilizar o maior númeropossível de cidadãos que, solidários à causaambiental, poderão contribuir para a multi-plicação desta discussão, sensibilizandooutros quanto à importância das ações deconservação e desenvolvimento sustentável.A partir dessa mobilização, mais pessoaspoderão participar da formulação e controlede políticas públicas que efetivamente con-servem a biodiversidade de nosso planeta eracionalizem o uso dos recursos naturais.

Por outro lado, existe um númeroexpressivo de pessoas dispostas a emprestarseu talento e doar algum tempo livre paracolaborar em projetos ou programas de con-s e r vação e desenvolvimento sustentáve l .São pessoas de todas as idades, com for-mação e/ou experiência em diversas áreasde conhecimento, já sensibilizadas, quepoderão comprometer-se com essa con-tribuição voluntária, cidadã e solidária. Anatureza dos projetos de ecoturismo (conser-vação ambiental, benefícios para as comu-

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12.A contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo

Max DanteMónica Corullón

Marcos Martins Borges (1)

(1) – Devido à relativa novidade que este tema representa a coordenação do PEC (Programa de EcoturismoComunitário), do WWF, optou por uma abordagem dupla para o desenvolvimento deste capítulo. Primeiro, o assunto foi discutido em uma das oficinas participativas (ver a sessão A p r e s e n t a ç ã o), onde elencou-se umasérie de recomendações para a abordagem do tema no Manual. Este material foi então passado a MarcosBorges, que o sistematizou e iniciou a composição do capítulo. Em um segundo momento, o material foi passado para dois especialistas em programas de voluntários em geral, a nível nacional, para que estes compusessem o capítulo integrando seu conhecimento especializado às experiências práticasdos participantes do PEC.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

nidades locais, potencial educativo, entreoutros) e a localização em áreas natura i sbem conservadas e dotadas de atra t ivos turís-ticos (ambientais e culturais), tornam estesprojetos especialmente atraentes para vo l u n-tários interessados na questão ambiental.

Este capítulo pretende mostrar aimportância do diagnóstico dessas necessi-dades e potencialidades na elaboração deum eficaz programa de voluntários para oecoturismo, além de fornecer orientaçõesgerais para seu planejamento de forma aampliar os benefícios tanto para o projetoquanto para os voluntários.

❒ Um Novo Conceito de Voluntário

O uso da palav ra vo l u n t á r i o não deveser associado a termos arcaicos comoassistencialismo ou caridade. Deve, istosim, ser ligado à idéia de ampliação dasoportunidades de participação socialr e s p o n s á vel em questões relevantes para amelhoria na qualidade de vida coletiva. Oserviço voluntário deve ter caráter comple-mentar às ações essenciais que uma orga-nização social desenvo l va. Não se deveconfundir a disponibilidade solidária decidadãos com uma oportunidade de explo-ração gratuita de trabalho profissional. Ouseja, um projeto não deve desenvo l ver ump r o g rama de voluntários como umae s t ratégia de suprir necessidades perma-nentes de trabalho especializado e/ou dedriblar os encargos e responsabilidades tra-balhistas da instituição.

Por outro lado, é claro que uma organi-zação de base ou de atuação local, e espe-cialmente um projeto de ecoturismo, temobjetivos específicos que demandam umavariedade de conhecimentos especializadose para cuja realização muitas vezes não hárecursos financeiros ou há recursos insufi-cientes. Assim, o desenvolvimento de umprograma de voluntários pode ser um exce-lente meio de cumprir com seu objetivosocial e ambiental maior de sensibilização emobilização da sociedade em gera l ,enquanto também promove a realização de

seus objetivos específicos.Em resumo, a procura pelo voluntário não

d e ve ser motivada principal ou exclusiva-mente pela escassez de recursos humanos oufinanceiros. A reconceituação da palav ra vo -l u n t á r i o passa pelo entendimento de que énecessário responsabilizar e qualificar a par-ticipação de toda a sociedade nas questõespúblicas e sociais. No contexto do ecoturis-mo como alternativa econômica e de conser-vação, assim como em outras ativ i d a d e sa l t e r n a t ivas, a sustentabilidade do processodepende da capacidade dos projetos e comu-nidades locais de ampliar a participação dasociedade no seu desenvolvimento.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Voluntários podem prestar serviços signi-ficativos em praticamente todas as áreas deprojetos de ecoturismo, dos serviços delimpeza e manutenção às atividades deplanejamento e gerenciamento. A seguir,uma lista das principais áreas citadas portécnicos dos oito projetos parceiros nodesenvolvimento deste Manual como áreasem que o envolvimento de voluntários seriaespecialmente útil:❒ Diagnóstico participativo. ❒ Inventário do potencial ecoturístico.❒ Pesquisa.❒ Capacitação e treinamento.❒ Condução de grupos.❒ Interpretação ambiental.❒ Manejo de trilhas.❒ Implantação de infra-estrutura.

O planejamento cuidadoso para incluiro serviço voluntário nas atividades do proje-to manterá a qualidade das ações desen-volvidas. O voluntário é um profissionalqualificado que empresta solidariamentealgum talento ou experiência, que deve serotimizada profissionalmente pelo projeto.Igualmente crítico é o posterior gerencia-mento eficiente do programa de voluntários.Ambos poderão garantir a qualidade e efe-tividade dos trabalhos realizados pelos vo-luntários. A relação entre o voluntário e o

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

projeto deve ser de caráter institucional,sendo profissionalizada não pela remune-ração financeira, mas pelo padrão deexcelência dos serviços prestados. Os vo-luntários em uma organização não sãoamadores, e jamais deverão ser vistos outratados como tais.

Um grupo de voluntários profissional-mente gerenciado ampliará a legitimidadeda instituição ao participar da discussão depolíticas institucionais, de eventos decapacitação e formação profissional, ou aomobilizar outras pessoas e recursos. O vo-luntário bem motivado, profissionalmentecapacitado e gerenciado, terá maior engaja-mento nas questões de conservação edesenvolvimento sustentável. Poderá sensi-bilizar outras pessoas de sua família, traba-lho ou associações de que faça parte.

Abaixo serão apresentados os ele-mentos principais para a elaboração egerenciamento de um programa de volun-tários que, na verdade, são orientações bási-cas e não de um detalhado passo-a-passo.São cinco os elementos tratados:

1. Planejamento.2. Recrutamento.3. Monitoramento e avaliação

do Programa.4. O voluntariado jovem

e os estagiários.5. Continuidade das atividades

e do Programa.

1. Planejamento

Oplanejamento profissional de um progra-ma de voluntários é elaborado a partir de

um diagnóstico das potencialidades e necessi-dades existentes no projeto de ecoturismo e nacomunidade em que este se desenvo l ve .

As especificidades de cada projeto e todaa diversidade de necessidades, recursospotenciais e oportunidades têm que sercuidadosamente analisadas e cruzadas, antesque se definam as funções do serviço vo l u n-tário. O gerenciamento adequado de um pro-

g rama de voluntários – pela ótica tanto dainstituição quanto do voluntário – demandatempo, dedicação e recursos da instituiçãoque o desenvo l ve. Por exemplo, o vo l u n t á r i odemanda treinamento em rotinas da institui-ção e supervisão na execução de ativ i d a d e s .Em termos de recursos financeiros, o(a) vo-luntário(a) tem despesas de hospedagem,t ransporte, alimentação e etc que gera l m e n t enecessitam ser ao menos parcialmente cober-tas pela instituição que o(a) recrutou.

Assim, é essencial que sejam recrutadosvoluntários para atividades que sejam real-mente necessárias e que estejam claramentedelineadas como funções e tarefas a seremexecutadas. Por outro lado, o bom planeja-mento aumenta a garantia de que o volun-tário terá uma experiência positiva, estimu-lando-o(a) a não apenas continuar a volun-tariar seu tempo e conhecimento especia-lizado, como também a envolver outras pes-soas no mesmo tipo de atividade. Emresumo, o recrutamento, seleção, capaci-tação e integração de voluntários ao projetodevem ser realizados somente após o plane-jamento e descrição de suas funções.

❒ A Política de Voluntários

O plano de trabalho com voluntáriosdeve ser orientado estrategicamente pelosprincípios, concepções e valores maiores daorganização, expressos em sua missão insti-tucional.

O consenso conceitual é essencial parao sucesso no trabalho com voluntários. Paratanto, é necessário que seja formulada umapolítica de voluntários que envolva desdesua elaboração, a participação de todas asequipes de trabalho da instituição. Essa par-ticipação poderá ocorrer em momentos eformas distintos, para que não haja prejuízonos trabalhos realizados e se garanta oentendimento e envolvimento de todos nanova responsabilidade assumida, ou seja, ogerenciamento do trabalho voluntário.

É também fundamental que haja sintoniaentre a política de voluntários e os eixostemáticos que direcionam os projetos e pro-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

gramas da instituição. Isto quer dizer que apolítica de voluntários não poderá ser muitodiversa de sua política de gerenciamento derecursos humanos, sob risco da política devoluntários não se integrar à cultura institu-cional e conseqüentemente encontrar difi-culdades em sua implantação.

❒ Elementos do planejamento de um pro-grama de voluntários

a) Objetivos:Os objetivos de um programa de volun-

tários devem ser estabelecidos a curto,médio e longo prazos. É necessário aindabuscar a coerência entre os objetivos e amissão da organização que o implantará,com a verificação sistemática de sua cola-boração para um objetivo geral. Isto poderáser feito por meio do monitoramento e ava-liação do programa de voluntários.b) Descrição de atividades:

Planejar previamente as atividades quedeverão ser realizadas pelo(a) voluntário(a)de maneira clara e objetiva. Preferen-cialmente, deve-se elaborar um termo dereferência para cada “função“ ou duraçãodo serviço de um(a) voluntário(a).c) Análise de custo e benefício

para a instituição:O número de voluntários tem que ser

adequado às necessidades e condições doprojeto. É preciso analisar o custo-benefíciode utilizar voluntários, levando em consi-deração o custo financeiro e de tempo paraadministrar adequadamente o voluntário nainstituição em geral e nas atividades especí-ficas do termo de referência.d) Definição de critérios e processo

de seleção e relacionamento com voluntários:

Além de definir os critérios para sele-cionar voluntários baseado no termo dereferência, é preciso também definir previa-mente as medidas que deverão ser tomadascaso haja problemas durante a realizaçãodo serviço. Apesar do serviço voluntário sergeralmente realizado com profissionalismoe compromisso, deve-se estar ciente dos

principais problemas potenciais e ter umaestratégia para identificá-los e lidar comeles. Os principais problemas que um proje-to ou instituição podem enfrentar na inte-gração de voluntários à sua equipe de tra-balho são dois:

2 Conflitos com a população localdevido a comportamento inadequa-do no contexto social ou cultural.

2 Baixo nível de comprometimentodo(a) voluntário(a) com os objetivosmaiores da instituição e do projeto.

e) Definição de equipe de gerenciamento do programa:

A instituição deve definir um coorde-nador adequado para trabalhar com os vo-luntários. Recomenda-se também adefinição de uma “comissão” de pelomenos três pessoas de diferentes setores dainstituição para avaliar o trabalho com osvoluntários. Isto permite uma maior inte-gração da instituição com os voluntários,aumentando o potencial de apendizadomútuo. Por outro lado, esta medida tambémfacilita a identificação e administração deproblemas no relacionamento com o(a) vo-luntário(a) ou no seu desempenho.f) Contratação de seguro de vida

e acidentes para voluntários:Pa ra os casos em que os voluntários deve-

rão trabalhar em campo, recomenda-se quea instituição assegure-se de que os mesmospossuam seguro de vida, acidentes e saúde.O seguro pode ser provido pelos própriosvoluntários ou então pela instituição. A últi-ma opção pode ser mais adequada para ainstituição que opte por um programa per-manente de voluntários. Neste caso, conv é mfazer um levantamento das ofertas do merc a-do para contratar um pacote institucional.g) Conhecimento e cumprimento

da legislação brasileirapara voluntários:

O recente crescimento do debate sobre areconceituação do serviço voluntário noBrasil motivou a criação da Lei Federal nº9.608/98, reproduzida a seguir:

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

2. Recrutamento

Baseado no planejamento do programade voluntários, a instituição ou o proje-

to pode prosseguir ao recrutamento.

❒ DivulgaçãoA intensidade e diversidade da divul-

gação dependem das necessidades do pro-

jeto. Se poucos voluntários são necessários,deve-se fazer a divulgação mais pontual,menos onerosa, e voltada ao perfil especifi-cado no programa (por exemplo, para umapesquisa sobre fauna, divulgar junto aodepartamento de biologia de uma universi-dade). Se são necessários vários voluntáriose de diferentes áreas do conhecimento,então deve-se realizar uma divulgação mais

Reprodução da Lei Federal nº 9.608/98, que define e regulamenta o serviço voluntário no Brasil.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinteLei:

Art.1 • Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a ativi-dade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública dequalquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, quetenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativosou de assistência social, inclusive, mutualidade.

Parágrafo Único - O serviço voluntário não gera vínculo empregatícionem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Art.2 • O serviço voluntário será exercido mediante a celebração determo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador doserviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições doseu exercício.

Art.3 • O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelasdespesas que comprovadamente realizar no desempenho das ativi-dades voluntárias.

Parágrafo Único - As despesas a serem ressarcidas deverão estar expres-samente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço volun-tário.

Art.4 • Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art.5 • Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 18 de fevereiro de 1999

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ampla, buscando os meios de comunicaçãop o s s í veis (internet, folhetos, mala direta,anúncios, imprensa etc.) e contatos diretosem locais de alta probabilidade de retorno(universidades, cursos afins, grupos de ter-ceira idade, escoteiros etc.).

Sem dúvida, as universidades são umexcelente local para a busca de voluntários.Pessoas já aposentadas, apesar de por vezesapresentarem limitações físicas para certostipos de trabalho ou ambientes, têm tempo,conhecimento e disposição para o trabalhovoluntário. O site www.programavolunta -rios.org.br é destinado às entidades queestão precisando de trabalho vo l u n t á r i o(cerca de 2.000 entidades já o utilizam).

❒ SeleçãoIndependente do número de voluntários

necessários, para a seleção é importanteseguir os critérios e processo estabelecidosdurante o planejamento. Isto ajuda a evitarem grande parte os problemas mencionadosneste capítulo. O coordenador do programade voluntários deve ser também o coorde-nador da seleção, e deve envo l ver naseleção os membros das equipes queestarão trabalhando com os vo l u n t á r i o s .Assim, garante-se que as pessoas queestarão trabalhando com os vo l u n t á r i o sestejam de acordo com o processo e pos-sivelmente tornem-se co-responsáveis pelobom andamento do programa.

Durante o processo de seleção, deve-seprestar especial atenção aos seguintesaspectos:a) Atentar para a adequação do perfil dos

c a n d i d a t o s aos serviços que deverão serr e a l i z a d o s. O termo de referência ajuda ainstituição a definir com maior clareza oque necessita, mas o processo de seleçãoe nvo l ve também a atenção ao que o can-didato deseja, tem aptidão e qualificaçãop a ra realizar. Deve-se atentar especial-mente para o fato de que perfil inadequa-do para determinado serviço não signifi-

ca necessariamente ausência de capa-citação. Um voluntário muito capacitadop a ra um trabalho mais simples tambémtem dificuldades em se adaptar.

b) Verificar a disponibilidade de tempo dosvo l u n t á r i o s. Muitos podem ter um dia dasemana ou algumas horas do dia para ot rabalho. Pa ra resolver este problema, oprojeto tem que se planejar, distribuindo atarefa de acordo com o tempo disponibi-lizado ou conseguindo mais vo l u n t á r i o s .

c) Estabelecer claramente os limites deatuação (direitos e deveres) tanto do(a)voluntário(a) quanto da instituição, umavez que se tenha definido um(a) can-didato(a). Igualmente importante é infor-mar claramente o(a) voluntário(a) sobreas condições de trabalho do local ondeele(a) estará realizando o trabalho.

Voluntários podem se sentir “íntimos” doprojeto, do corpo técnico ou da comu-nidade e interferir negativamente nosprocessos e relações. Isto ocorre principal-mente quando o trabalho envolve comu-nidade tradicional e um colaborador commais conhecimentos. Para evitar este tipo deinterferência, deve-se deixar clara a hierar-quia do projeto, o papel do(a) voluntário(a)e alertá-lo(a) para estes problemas.

Recomenda-se que antes da decisãofinal, como em qualquer outro processo deseleção de pessoal, realize-se uma entre-vista para esclarecimento e adequação doplano de trabalho a ser realizado e definiçãodas regras de conduta.

❒ Seguindo a legislação brasileira, firmartermo de adesão antes do início do tra -balho. O termo de adesão deve ter comoanexo o plano de trabalho, as respon-sabilidades e direitos já discutidos. Aseguir encontra-se um modelo do Termode Adesão citado no Artigo 2 da LeiFederal nº 9.608/98.

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

Termo de Adesão para Voluntários

Nome da Instituição:

Endereço: Área de atividade: Nome do voluntário:Documento de identidade: CPF Referências pessoais

O trabalho voluntário a ser desempenhado junto a esta instituição, de acordo com a Leinº 9.608 de 18/02/98, é atividade não remunerada, com finalidades assistenciais, edu-cacionais, científicas, cívicas, culturais, recreativas e tecnológicas, entre outras afins, enão gera vínculo empregatício nem funcional, ou quaisquer obrigações trabalhistas,previdenciárias e afins.

Trabalho voluntário na área de: Tarefa específica:Duração: de até Horários:

Declaro que estou ciente da legislação sobre Serviço Voluntário e que aceito atuar comoVoluntário nos termos do presente Termo de Adesão.

Cidade Data

Assinatura do voluntário, RG e CPF

Testemunhas:

Assinatura, RG e CPF Assinatura, RG e CPF

De acordo:Superintendente/Coordenador da Instituição

MODELO DE TERMO DE ADESÃOEXEMPLO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

3. Monitoramento e avaliaçãodo Programa

Om o n i t o ramento e avaliação do progra m ad e vem seguir o plano de atividades acor-

dado. Outros capítulos deste Manual tra t a mem detalhe de procedimentos de moni-t o ramento e avaliação (ver capítulosParticipação Comunitária e Pa rc e r i a, C o n t r o l ede Impactos de Vi s i t a ç ã o, L e vantamento doPotencial Ecoturístico (Inve n t á r i o ), entre ou-tros). Essencialmente, deve-se acompanharperiodicamente a realização dos trabalhos deacordo com o plano de atividades do termode referência (ou do documento de planeja-mento da atividade do(a) voluntário(a). Esteacompanhamento deve ser preferencial-mente feito com a participação do(a) vo l u n-t á r i o ( a ) . Também periodicamente deve - s efazer a avaliação do trabalho, identificando-se os pontos positivos e os pontos que neces-sitam de melhoria, seja no trabalho do(a) vo-luntário(a), seja no trabalho da instituiçãop a ra com o(a) voluntário(a) (apoio, super-visão, treinamento etc.).

Para um programa de voluntários cabeapresentar algumas recomendações para ogerenciamento do Programa que podemevitar problemas no desempenho dosserviços voluntários e na relação entre vo-luntários, instituição e comunidade local:

❒ Integrar ativamente os voluntários aosdiferentes setores da instituição.

❒ Integrar os voluntários à comunidade oudemais instituições onde irão desempe-nhar suas atividades.

❒ Prover treinamento adequado para osvoluntários desempenharem suas ativi-dades no contexto da instituição e doprojeto. Uma vez iniciado o trabalho, ovoluntário deve receber ao menos amesma atenção e orientação que ummembro fixo da equipe de trabalho.

❒ Não sobrecarregar os voluntários, ou oinverso, não deixá-los desocupados.

❒ O coordenador do programa, ou super-visor, deve trabalhar em conjunto com a“comissão” do programa de voluntários.

❒ Ao término do trabalho, recomenda-seque a instituição dê um certificado derealização do serviço vo l u n t á r i o .

4. O voluntariado jovem e os estagiários

Acondição dos projetos de ecoturismo,no que diz respeito à conservação da

natureza e ao desenvolvimento social decomunidades, além de sua priv i l e g i a d alocalização em áreas preservadas e de altointeresse turístico, são elementos de fortepotencial motivador para o voluntariadojovem e para estudantes universitários embusca de formação complementar e profis-sional por meio de estágios.

Esse voluntariado latente pode ser facil-mente recrutado nas universidades e se ca-racteriza também pelo grande interesse departicipação nas questões sociais. A decisãosobre um contrato de estágio ou serviço vo-luntário depende da natureza da atividadeplanejada.

Principalmente no caso de estagiáriosou voluntários jovens, o investimento feitoem formação e capacitação tem caráterdeterminante para manutenção da moti-vação inicial. É importante pensar que aqualidade de um serviço depende direta-mente do grau de motivação daqueles queo desempenham. Portanto, é necessário tersempre presentes as expectativas que osvoluntários ou estagiários trazem e, seneste caso a demanda for por educaçãoambiental, é essencial que seja satisfatoria-mente atendida.

Pode-se afirmar ainda que estagiários evoluntários jovens, mesmo trazendo "poucabagagem" em experiência profissional, sãocapazes de promover renovação e apri-moramento técnico de programas e projetospor meio da acentuada prontidão para aação prática e reflexiva. Portanto, havendodisponibilidade das equipes remuneradas,esses voluntários podem promover uma"oxigenação" motiva d o ra, conceitual ee s t ratégica em uma organização socialambientalista.

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Porém, com este público também corre-se maior risco de problemas, principalmentecom voluntários, mas também com esta-giários. Há dois problemas que podem ocor-rer com maior frequência com este grupo:

❒ Conflito com a população localÀs vezes por inexperiência dos jovens, o

comportamento durante a realização do tra-balho pode ser menos profissional do que oque se esperaria de um funcionário.Envolvimentos pessoais – ou a mistura deaspectos pessoais com profissionais – oua t ividades fora do âmbito do tra b a l h opodem gerar conflitos que envolvem ines-peradamente a instituição.

❒ Baixo nível de comprometimento profissionalO trabalho voluntário jovem e estágios

em projetos de ecoturismo, quando oserviço é realizado no destino ecoturísticopropriamente dito, geram por vezes o inte-resse de candidatos mais motivados pelaoportunidade de lazer do que de trabalho.

Em ambos os casos, a melhor forma deevitar os problemas ou de solucioná-los éseguir as recomendações feitas no item 3acima e não hesitar em tomar medidas maissérias em casos graves (como por exemplova l e r-se das diretrizes elaboradas no planeja-mento do programa de voluntários pararescindir o acordo de colaboração entre e o(a)voluntário(a) ou estagiário(a) e a instituição).

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

A EXPERIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO COM ESTAGIÁRIOS

Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) tem um programa de estágios desde 1984,que já treinou e capacitou 120 estagiários. A busca é feita principalmente nas uni-versidades brasileiras e, às vezes, no exterior, dependendo das necessidades. Há

dois tipos de estágios: de curta e de média duração.Os estágios de curta duração – um mês – são destinados aos estudantes de graduaçãodurante o período de férias. Normalmente, são selecionados três estudantes para as fériasde verão e um para as de inverno. Nesses casos, são oferecidos ao estudante a hospedagem,alimentação e transporte terrestre até a área de trabalho. Na primeira semana, o estudante é apresentado às diversas equipes e passa pelo menos umdia no campo com cada uma delas, conhecendo rapidamente as peculiaridades de cadaprojeto da associação. A partir da segunda semana, o estudante pode optar por uma equipe com a qual trabalharáo restante do tempo. Não havendo atividade previamente programada, os fins de semanasão livres. Ao final do estágio, o estudante produz um relatório e o entrega ao coordenador da equipeque acompanhou. Esta é a condição para que receba o certificado. Quando a AMLD iden-tifica uma necessidade que pode ser suprida por estagiário, a seleção é feita de acordo como perfil necessário. Esses estágios, normalmente, duram de três a seis meses. Além do mencionado acima, o Projeto de Conservação do Mico-Leão-Dourado ofereceainda uma pequena ajuda de custo para o estagiário. Este tipo de estágio é direcionado pormeio de um termo de referência e seus resultados são relatados pelo estagiário ao final doperíodo. Muitos estudantes produzem suas monografias de graduação por esse programa.Em alguns casos, os estagiários foram contratados pela AMLD após terem se graduado. Écomum também o recebimento de recém-formados para esse tipo de estágio. Dos 120estagiários treinados desde que o programa foi iniciado, muitos ainda continuam atuandoem projetos de conservação.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

5. Continuidade das atividades e do programa

Um dos desafios na implementação deum programa de voluntários é manter a

continuidade em dois níveis: sempre queo(a) voluntário(a) tenha partido e/ou um(a)n ovo(a) voluntário(a) assuma a posição;segundo, manter o programa em andamentouma vez que a primeira leva de vo l u n t á r i o stenha cumprido o seu termo de tra b a l h o .

Em ambos os casos, a continuidadedependerá principalmente do compromis-so da instituição para com o programa. Ocoordenador do programa tem papel-ch ave neste processo. Porém, a instituiçãopode também estabelecer convênios ep a rcerias, tanto para garantir o “suprimen-to” de voluntários ou estagiários (porexemplo, uma parceria com uma institu-ição cuja principal função é a organizaçãode voluntários, ou com uma unive r s i d a d e ) ,quanto para garantir a disponibilidade derecursos financeiros para cobrir os gastoscom voluntários e até mesmo com amanutenção do programa (como porexemplo, o pagamento de despesas det ransporte, hospedagem e alimentação, ouo pagamento do salário do coordenadordo progra m a ) .

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

Ao longo do capítulo procura m o sressaltar os principais riscos e apresentarrecomendações para o projeto de ecotu-rismo ou instituição lidar com os proble-mas mais prov á veis no trabalho com vo-l u n t á r i o s .

❒ Mais InformaçõesSe essa argumentação for suficiente para

promover uma reflexão mais aprofundadasobre o planejamento de um programa devoluntários que possa efetivamente recon-ceituar e recontextualizar a palavra volun-tário, fica a sugestão de consulta aosendereços eletrônicos que tratam daquestão, em nível nacional e internacional.

p ECOSOLIDARIEDADE –PROGRAMA ECOVOLUNTÁRIOS

www.programavoluntarios.org.brO site tem como objetivo angariar recur-

sos de empresas parceiras e patrocinadoraspor meio da escolha e voto do internautanos projetos de conservação de diferentesO N G ’s, incluindo o W W F - B rasil, quejulguem mais importantes. As empresaspatrocinadoras destinam recursos para avencedora. Há um link para ecovoluntáriosonde o interessado se inscreve e aguarda oretorno da ONG que possui vaga disponívelpara atuação em área de atuação do interes-sado e em região próxima da sua.

p PROGRAMA VOLUNTÁRIOS DO

CONSELHO DA COMUNIDADE SOLIDÁRIA

www.programavoluntarios.org.brApresenta artigos e informações vari-

adas, forum de discussão, os endereços dosCentros de Voluntários no Brasil, além deuma novidade: o voluntário virtual. Já hámais de 2.000 voluntários cadastrados queoferecem seu trabalho via Internet. São dia-gramadores, tradutores, criadores de pági-nas na rede (webpages, ou homepages),publicitários, advogados, contadores, etc.

p PORTAL DO VOLUNTÁRIO

www.portaldovoluntario.org.brPossui notícias e entrevistas, ações das

empresas, relatos de experiências, além decadastro para serviço voluntário.

p ECOVOLUNTÁRIOS

www.geocities.com/ecovoluntarios A Ecovoluntários é uma lista que dis-

tribui informações sobre todos os progra-mas de voluntariados em projetos de vidas i l vestre que existem na América Latina eem todo o mundo. Existem diversos tiposde voluntariados, tais como tartarugas ma-rinhas, primatas, aves, mamíferos marinhose muito mais. Também há informaçõessobre cursos, reuniões, seminários e ofici-nas que podem ser de interesse.

Maiores informações no e-mail e c o [email protected]

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

p ENERGIZE

www.energize.com ouwww.energizeinc.com

Dedicado a diretores de programa devoluntariado, há debates sobre assuntospolêmicos na gerência e coordenação devoluntários. Inclui formulários intera t ivo spara pesquisas de opinião e agenda de con-ferências, eventos e encontros sobre o tema.

p THE CONTACT CENTER NETWORK

www.contact.org Oferece uma base de dados que permite

que as entidades coloquem informaçãosobre seus serviços, eventos especiais, opor-tunidades de voluntariado. Possui links com10.000 sites de entidades sem fins lucrativosna internet e outros sites de interesse.

p TH E CO R P O R AT I O N O F NAT I O NA L SE RV I C E

www.cns.govServiços comunitários operados por

agências governamentais. Sites sobre volun-tariado e formas de associar educação eserviço comunitário.

p CYBERVPM – GRUPO DE DISCUSSÃO

Grupo de discussão para gerentes ecoordenadores de programas de vo l u n-tários. A s s i n a t u ras pelo endereçol i s t s e r v @ l i s t s e r v. a o l . c o m, colocando nocorpo da mensagem “Subscribe cybervpm ”seguido de seu nome (por exemplo,“Subscribe cybervpm Maria Fe r r e i ra ” ) ,deixando o item Assunto (ou Subject) emb ranco e não colocando nenhum outroendereço de e-mail na mensagem.

p IMPACT ONLINE

www.impactonline.orgOportunidades de voluntariado de curto

p razo, uma base de dados para que as entidadesincluam suas oportunidades e necessidades, eassessoria e conselhos para vo l u n t á r i o s .

p PROJECT AMERICA

www.project.orgInclui o “Guia de Ação para o Serviço

Comunitário”, assistência para desenvolver

projetos com voluntários e dicas paralocalizar grupos de serviço locais.

p SERVENET

www.servenet.orgPermite que as entidades divulguem suas

oportunidades de serviço. Inclui fatos edicas sobre voluntariado, uma agenda deencontros e discussão on-line sobre diversosaspectos.

p SOUND VOLUNTEER MANAGEMENT

w w w. h a l cyo n . c o m / p e n g u i m / s v m . h t mContém duas seções: uma para volun-

tários, com oferta de oportunidades deserviço; outra para coordenadores de volun-tários, com artigos e informações sobrediversos tópicos, como relações entre vo-luntários e funcionários, como recrutar eselecionar voluntários, etc.

p VOLUNTEER.POINT

w w w. a c c e s s p t . c o m / c iv i c s y s / m a i n . h t m lPermite a colocação de anúncios de enti-

dades procurando voluntários. Inclui artigossobre voluntariado e uma lista de Centros deVoluntários dos EUA, por estado.

p VOLUNTEER TODAY:AN ELECTRONIC GAZETTE

www.bmi.net/mbaBoletim on-line sobre como recrutar,

treinar e manter os voluntários na insti-tuição.

p VOLUNTEERS - Grupo de DiscussãoGrupo de discussão on-line para volun-

tários. A s s i n a t u ras pelo endereçol i s t s e r v @ l i s t s e r v. a o l . c o m, colocando nocorpo da mensagem “Subscribe Volunteers”seguido de seu nome (por exemplo,“Subscribe Volunteers José Bra n d ã o ” ) ,deixando o item Assunto (ou Subject) emb ranco e não colocando nenhum outroendereço de e-mail na mensagem.

Vale também consultar alguns endereçosde Centros de Voluntariado que estão pro-duzindo Banco de Dados e tecnologia na

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implantação de políticas e programas devoluntários no Brasil. A maioria dos Centrosde Voluntários oferece orientação, capaci-tação e treinamento para indivíduos e parainstituições.

p O Voluntários Candangos, de Brasília,por exemplo, tem um excelente materialpara candidatos a voluntários, onde sediscutem questões como ética, respon-sabilidade e compromisso.

p O Centro de Voluntariado de São Paulopublicou o documento Manual deOrientação com Direitos e Responsa -bilidades, Atitudes e Valores dosVoluntários.

p O Ação Voluntária Curitiba o f e r e c ecapacitação de alto nível para instituições.

p O Voluntários em Ação, de Florianó-polis, oferece cursos de gestão de volun-tários para entidades.

Muitos Centros foram capacitados emplanejamento e gerenciamento de progra-mas de voluntários. A seguir, lista deendereços de alguns Centros de Voluntáriosno Brasil:

1) ARACAJU/SECentro de Voluntários de Sergipe -CVSETravessa Adolfo Rollemberg, 63 – SãoJosé - Aracaju - SE - CEP: 49015-010Contato: Andréa TorresAzevedo/Enrique Daniel FigueredoTel./Fax: (55 79) 214-6735 – Tel.: 214-7380e-mail:[email protected] www.voluntariosse.org.br

2) BELO HORIZONTE/MGCentral de Articulação e Promoção doVoluntariado de Minas GeraisR. Silva Freire, 133 - HortoBelo Horizonte - MG - CEP: 31035-070Contato: Demóstenes Romano FilhoTel./Fax: ( 55 31) 3481-1188e-mail: [email protected]

3) BLUMENAU/SCCentro Voluntários em Ação -BlumenauR. XV de Novembro, 701 - Sala 101Centro - Blumenau - SCCEP: 89010-300Contato: Martina OdebrechtBornhausenTel.: (55 47) 222-1299 - Fax: (55 47) 322-2655e-mail: [email protected]

4) BRASÍLIA/DFVoluntários Candangos - Centro de Voluntariado do DFSEPN - Q 506 - BL. C - s/s 01Brasília - DF - CEP: 70740-530Contato: Olivia Volker Rauter Tel./Fax: (55 61) 340-6127/347-5560e-mail: [email protected]

5) CAMPINAS/SPCentro de Voluntariado de CampinasR. Barão de Atibaia 890 - GuanabaraCampinas - SP - CEP: 13023-011Contato: Cleuza Luiza R. SironiTel./Fax: (55 19) 3232-0817/3235-1974e-mail: [email protected]

6) CAMPO GRANDE/MSCentro de Voluntariado de CampoGrande R. João Erovaldo de Campos, 90Campo Grande - MS - CEP 79009-250Contato: Eliane Medeiros BrunetTel./Fax: (55 67) 765-1986e-mail: [email protected]: [email protected]

7) CASCAVEL/PRCentros de Voluntários CascavelR. Paraná, 2621 - Centro Cascavel - PR - CEP 85812-001Contato: Rosa Ângela/Ivanilde CoelhoTel.: (55 45) 322-4090 Fax: (55 45) 322-4206e-mail: [email protected]

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

8) CURITIBA/PR Centro de Ação Voluntária de CuritibaR. Ébano Pereira, 359 - Centro Curitiba - PR - CEP: 80410-240Contato: Mariângela Budant HortmannTel./Fax: (55 41) 322-8076 e-mail: [email protected]

9) FLORIANÓPOLIS/PICentro de Voluntários do NUCS -Núcleo de Cidadania e SolidariedadeR. Marechal Pires Ferreira, 512 -CentroFloriano - PI - CEP 64800-000Contato: Sérgio Ricardo CostaCarneiro/Maria do Carmo DrummondTel./Fax: (55 86) 522-1677e-mail: [email protected]: [email protected]

10) FLORIANÓPOLIS/SCInstituto Voluntários em Ação - SCRua Deodoro, 226, sala 701Florianópolis - SC CEP: 88010-020Contato: Ana Maria W. do Vale PereiraTel./Fax: (55 48) 222-1299 e-mail: [email protected]

11) FORTALEZA/CECentro Ceará VoluntáriosAv. Barão de Studart, 1980 - Térreo Fortaleza - CE - CEP: 60120-001Contato: Célia Costa DantasTel./Fax: (55 85) 244-7225/224-2058e-mail: [email protected]/ccv

12) GOIÂNIA/GOCentro Goiano de VoluntariadoR. 87, 648 - Setor Sul Goiânia - GO - CEP 74093-300Contato: Thaís Araújo e SilvaTel./Fax: (55 62) 545-3002e-mail: [email protected] e-mail: [email protected]

13) GUARAPUAVA/PRVoluntários Lobo Solidário

R. XV de Novembro, 3566 - sala 20Shopping Maria Antonia - Centro Guarapuava - PR - CEP 85010-000Contato: Sandra Lúcia Cúnico HyczyTel/Fax: (55 42) 622-6495e-mail: [email protected]: [email protected]

14) ITOBI/SPNúcleo "Fermento e Sal" -Desenvolvimento e Capacitação Caixa Postal 05 Itobi - SP - CEP 13715-970 Contato: Odille Maria SampaioVianna/Josefina Lepri MorandinTel.: (55 19) 671-3156/673-1246 - Fax: (55 19) 647-1355 e-mail: [email protected]: [email protected]

15) LIMEIRA/SPPrograma Voluntários de LimeiraR. Santa Cruz, 647, 1º andar, sala 4Limeira - SP CEP: 13480-041Contato: Maria Elizabete Mecatte VargaTel./fax: (55 19) 451-2600e-mail: [email protected]/voluntarios/

16) NATAL/RNNatal VoluntáriosAv. Rodrigues Alves, 871 - TirolNatal - RN - CEP 59020-200Contato: Mônica Mac DowellTel./fax: (55 84) 211-1527e-mail: [email protected]

17) NOVO HAMBURGO/RSFundação SemearR. Joaquim Pedro Soares, 540N ovo Hamburgo - RS - CEP: 93510-320Contato: Nara Grivot CabralTel.: (55 51) 594-4044 - Fax: (55 51) 595-2134e-mail: [email protected]

18) PALMAS/TOAssociação do VoluntariadoTocantinense

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

104 Sul, Conjunto 01, Lote 24Palmas - TO - CEP: 77000-000Contato: Olívia Coelho MacedoTel./Fax: (55 63) 218-2218e-mail: [email protected]

19) PORTO SEGURO/BACentro de Voluntariado do Sítio doDescobrimento – CVSDR. Gaspar de Lemos, 02 – Areião Porto Seguro – BA – CEP 45810-000Contato: Elisabete Reis Leite dosSantosTel.: (55 73) 288-2739 Fax. (55 73)679-1090e-mail: [email protected]: [email protected]

20) PRESIDENTE PRUDENTE/SPCentral de Voluntários em Ação dePresidente PrudenteAv. Onze de Maio, 2501 - JardimMarupiara - Presidente Prudente - SP -CEP 19061-360Contato: Júlia Terezinha da Silva santosTel./Fax: (55 18) 221-9040e-mail: [email protected]

21) PORTO ALEGRE/RSONG Parceiros VoluntáriosLargo Visconde do Cairu, 17, 8º andarPorto Alegre - RS - CEP: 90030-110Contato: Maria Elena PereiraJohannpeter Tel.: (55 51) 227-5819 Fax: (55 51) 226-1066e-mail: [email protected]

22) RECIFE/PERecife Voluntário Av. Visconde de Suassuna, 255 - Boa Vi s t aRecife - PE - CEP: 50050-540Contato: Rui Mesquita/Joaquim doRêgo Barros FilhoTel.: (55 81) 3221-7151 Tel /Fax: (55 81) 3221-6911e-mail: [email protected]: [email protected]

23) RIBEIRÃO PRETO/SPCentro de Voluntariado de RibeirãoPretoR. Visconde de Inhaúma, 489, 5º andar Ribeirão Preto - SP - CEP: 14010-100Contato: Domingos Mendes AlvesTel./Fax: (55 16) 605-1563e-mail: [email protected]

24) RIO CLARO/SPCentro de Voluntariado de Rio ClaroR. 8, 1600 - Rio Claro - SP - CEP13500-210Contato: Maria Teresa Machado LuzTel./fax: (55 19) 533-3144e-mail: [email protected]: [email protected]

25) RIO DE JANEIRO/RJRioVoluntáRioAv. General Justo, 275 – Loja B –Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20021-130Contato: Heloísa CoelhoTel.: (55 21) 262-1110/ 533-8877 -Fax: (55 21) 533-8844e-mail: [email protected]

26) SALVADOR/BACentro de Voluntários BahiaR. Francisco Muniz Barreto, 02, 1ºandar - PelourinhoSalvador - BA - CEP: 40025-090Contato: Maria das Graças Bispo dosSantosTel/Fax.: (55 71) 322-9953/ 322-1867e-mail: [email protected]

27) SANTA FÉ DO SUL/SPCentro de Voluntariado de Santa Fé do SulAv. Navarro de Andrade, 36 Santa Fé do Sul - SP - CEP: 15775-000Contato: Marcela Regina da Costa A.BragaTel/Fax: (55 17) 631-1388e-mail: [email protected]/voluntariado

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Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

28) SANTOS/SPCentro de Voluntários de Santos R. Maestro Heitor Villa Lobos, 160 -Ponta da PraiaSantos - SP - CEP: 11030-240Contato: Marialva Carrer da Cruz Tel./Fax: (55 13) 3261-2027/261-4890e-mail: [email protected]

29) SÃO GONÇALO/RJCENFLUV - Central Fluminense deVoluntáriosR. Mello e Souza, 161 - MutondoSão Gonçalo - RJ - CEP: 24450-290Contato: Júlia Tadeu GolulartTeixeira/Ana Maria da C. SilvaTel./Fax: (55 21) 725-5527e-mail: [email protected]

30) SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP Centro de Voluntariado de São José dos CamposR. Coronel João Cursino, 104 - apto 71São José dos Campos - SP -CEP 12243-680Contato: Angela Meirelles da Rocha Tel. (55 12) 341-8291Fax: (55 12) 341-9394e-mail: [email protected]

31) SÃO PAULO/SPCentro de Voluntariado de São PauloAv. Paulista, 1313, 4º andar, sala 460

São Paulo - SP - CEP: 01311-200Contato: Maria Amália Del BelMunerattiTel./Fax: (55 11) 284-7171/288-9056e-mail: [email protected]

32) TERESINA/PICentro Piauí CidadãoAv. José dos Santos e Silva, 1769 –Centro/SulTeresina - PI - CEP: 64001-300Contato: Jorge da Cunha/Kleber GallasTel.: (55 86) 3084-3591/222-0735e-mail: [email protected]

33) VITÓRIA/ESMovimento Capixaba de VoluntáriosAv. Américo Buaiz, 205 - Sala 506Vitória - ES - CEP: 29050-950Contato: Alexandre Rampazzo/ MariaJosé QuinteiraTel./Fax: (55 27) 382-3873e-mail: [email protected]

34) VITÓRIA/ESAção Comunitária do Espírito Santo Praça Costa Pereira, 52 – 12º andarVitória – ESCEP 29010-080Tel/Fax: (0+xx+27) 222-1388E-mail: [email protected]

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

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GESTÃO INTEGRADA

I. OBJETIVO

E ste capítulo tem como objetivo des-c r e ver a importância da pesquisacientífica no contexto do ecoturismo

e mostrar como seus resultados podem aper-feiçoar essa atividade. Pretende, também,fornecer subsídios para seu desenvolvimen-to na forma de orientação sobre os elemen-tos e fases que compõem o processo de rea-lização da pesquisa.

II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

A pesquisa é uma investigação sistemáti-ca, com o fim de descobrir ou estabelecerfatos ou princípios relativos a um campoqualquer do conhecimento. Tanto a pesquisaquanto a aplicação de seus resultados sãoimportantes para o desenvolvimento hu-mano. Todos os ramos das ciências e do co-nhecimento dependem das atividades depesquisa para avançar e evo l u i r, e ao mesmotempo para nos ajudar a compreender e me-l h o rar nossa conv ivência com o ambienteque nos circunda, usando-o sem agredi-lo.

As atividades de pesquisa podem ser div i-didas em dois grandes grupos: a p e s q u i s ap u ra e a pesquisa aplicada. A pesquisa puraconsiste na aquisição do conhecimentosobre determinado assunto, sem finalidadede utilização prática e/ou imediata. Apesquisa aplicada consiste na geração deconhecimentos da ciência e da tecnologia(instrumentos, meios e métodos) para sechegar às aplicações práticas.

A pesquisa é uma atividade intrínseca ànossa espécie. Temos um desejo inerente de

entender o mundo. Daí vem a "pesquisap u ra". Também temos necessidades, rela-cionadas ao desenvolvimento e à sobre-v ivência, que implicam aplicação dos nos-sos conhecimentos, e daí vem a "pesquisaaplicada". Contudo, essa divisão é muitoquestionada e subjetiva. Os avanços do co-nhecimento e da tecnologia, muitas ve z e sobtidos nas chamadas atividades de pes-quisa aplicada, têm suas origens nas ativ i-dades desenvolvidas pela pesquisa pura.

A pesquisa é um processo de comuni-cação, por meio do qual uma pessoa ou gru-pos de pessoas dialogam com o ambienteusando uma linguagem comum. Contudo, ag rande diferença é que esse diálogo não sed e s e nvo l ve como uma conversa social oucotidiana, em que ambas as partes pergun-tam e respondem. A pesquisa é um processomais complexo. Deve-se formular uma per-gunta e escolher (ou mesmo desenvo l ver) osmétodos mais adequados para se encontra ras respostas. Esse é o método ou procedi-mento científico, no qual a conversa com anatureza ocorre por meio de perguntas(hipóteses) e as respostas chegam por meiode experimentos científicos. Dessa forma, aexperimentação é a maneira de aquisição deconhecimentos na qual o pesquisador fixa,manipula e introduz va r i á veis no objeto deestudo (exemplo: química, física, biologia ouecoturismo), coletando informações quantita-t ivas e/ou qualitativa s .

A grande vantagem da pesquisa é que asperguntas podem ser testadas, direta ou indi-retamente, por procedimentos experimen-tais. Isso é diferente das hipóteses não cien-tíficas, onde a ve racidade ou não das per-

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13. Pesquisa na atividade de ecoturismo

Leandro Valle FerreiraTimothy Molton

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

guntas não pode ser posta à prova por pro-cedimentos experimentais, como as hipóte-ses teológicas ou filosóficas.

A pesquisa é geralmente entendida comouma atividade exclusivamente acadêmica,pesada e incompreensível para o público leigoou técnico. Porém, como alguns capítulosdeste Manual mostram (ver capítulosMonitoramento e Controle de Impactos,Levantamento de Potencial Ecoturístico( I nve n t á r i o ), entre outros), a pesquisa tambémpode ser simples e cotidiana. Isto vai dependerda pergunta que se deseja responder. Po rexemplo, um agricultor deseja saber qual aprofundidade adequada para colocar asemente de uma determinada planta paraotimizar a produção de mudas. Pa ra tanto, elecoloca sementes em 3 níveis diferentes de soloe observa e compara seu desenvolvimento emcada nível, atentando para diversos fatores,como por exemplo, número de mudas quenascem, rapidez do brotamento, vigor daplanta, mortalidade ao longo do tempo, entreoutros fatores. Em suma, a pesquisa é umaa t ividade importante e fundamental para oplanejamento de qualquer atividade humana.Desta forma, para que o ecoturismo contribuacom a conservação dos recursos naturais, ep a ra a melhoria da condição de vida de comu-nidades locais, suas atividades devem serplanejadas e monitoradas com auxílio depesquisas científicas.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Como foi explicado anteriormente, estecapítulo não visa formar pesquisadores, massim orientar os usuários do Manual sobre oselementos e processo de realização depesquisa. Isto será feito por meio dosseguintes itens:

1. Pesquisa em ecoturismo2. Passos da metodologia científica

1. Pesquisa em ecoturismo

Apesquisa deve ser integrada ao ecoturis-mo desde a fase de planejamento até o

manejo. Ela é muito importante para assegu-rar conteúdo às informações fornecidas parao ecoturista. Os resultados da pesquisad e vem ser incorporados ao ecoturismo,implicando um diálogo constante com ospesquisadores. O conhecimento e a div u l-gação do ambiente natural e cultural é umdos pontos que asseguram qualidade a qual-quer programa de ecoturismo. Por outrolado, a atividade ecoturística pode contribuira t ivamente para o processo de pesquisa.

Em qualquer programa de ecoturis-mo, o monitoramento dos impactos deve serprevisto no planejamento, o que exigedesenvolvimento de pesquisa, por meio deum programa de coleta de dados, análises etomada de decisões. Por exemplo, o capítu-lo Monitoramento e Controle de Impactosapresenta um método sistemático para acoleta e avaliação de informações sobre oambiente visitado (no caso, trilhas). Apesquisa também não se resume ao ambi-ente natural. Pesquisas de diagnóstico sócio-econômico, importantes para se identificar,prever e mensurar os benefícios que umanova atividade econômica vai gerar (nocaso, o ecoturismo), são de extremo inte-resse para planejadores e também parafinanciadores de projetos. O capítulo Parti -cipação Comunitária e Parceria sugere umprocesso de coleta e avaliação de dadosbaseado no planejamento participativo daatividade de ecoturismo em determinadalocalidade. Ou seja, os métodos apresenta-dos representam atividades de pesquisa.Entretanto, nenhum dos dois métodos cor-responde ao método científico de pesquisaque muitas vezes será necessário para oestudo mais aprofundado sobre algum ele-mento crítico identificado no ambiente visi-tado, ou mesmo no processo de organiza-ção social.

p Envolvimento comunitário na pesquisa.A comunidade local é uma fonte impor-tante (muitas vezes a mais importante) deconhecimentos sobre a região pesquisa-da, conhecimentos estes que obviamented e vem ser incorporados ao projeto.

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Pesquisa na atividade de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

Pessoas da comunidade que têm co-nhecimentos sobre as áreas natura i spodem contribuir no desenvolvimento ena operação do produto ecoturístico.Podem ainda ser capacitadas para atuarcomo guias ou assistentes de pesquisasde campo, pois ninguém conhece me-lhor sua área do que o próprio morador.Portanto, além de ser fonte de infor-mações, a comunidade local pode con-tribuir na busca de informações. Deveainda ser uma das maiores beneficiadaspelas pesquisas. Para isso, deve ser con-sultada e informada sobre a proposta dapesquisa e ter acesso aos respectivosresultados. Em certos casos, quando otipo de pesquisa é aplicado e o assuntopesquisado referente a um problema dacomunidade (por exemplo, de organiza-ção social), a comunidade pode partici-par da elaboração do objetivo e defini-ção do método da pesquisa.

p Envolvimento do ecoturista na pesquisa.Muitas vezes é possível incluir um com-ponente de pesquisa dentro do programado ecoturista. Sob orientação do guia, ogrupo de ecoturistas pode anotar obser-vações de determinadas aves, borbole-tas, pegadas de animais, etc. Para ser útil,o programa tem que ser bem orientado evistoriado.

O extremo de envolvimento de eco-turistas em pesquisa tem seu exemploclássico nos programas de organizaçõescomo o Earthwatch, nos quais volun-tários (que arcam com suas própriasdespesas de transporte, alimentação eestadia) trabalham como assistentes deum projeto de pesquisa.

p Envolvimento do pesquisador no ecotu-rismo. Às vezes é possível mostrar comosão desenvolvidas as pesquisas. Ospesquisadores devem ser encorajados afazê-lo, atuando como guias especializa-dos para demonstração de campo ou pormeio de palestras e debates com o eco-turista, sem muita formalidade.Eventualmente, um bate-papo na horado jantar cumpre esse papel.

Em alguns casos, a critério dopesquisador e se for de interesse do pro-jeto, o ecoturista pode conhecer oandamento da pesquisa no campo,como por exemplo na observação eauxílio na coleta de aves por meio deredes, ou na visita para observação deum plantio agrícola experimental.D e ve-se atentar para que as visitas nãoi n t e r f i ram no experimento e que opesquisador responsável sempre estejap r e s e n t e .

p Elaboração de roteiros e eventos cientí-ficos. Se entre os objetivos do projetoestiver a pesquisa científica, e esta jápossuir experimento em andamento,dados já disponibilizados e resultadospara análise, pode-se oferecer ao merca-do roteiros de interesse científico, desti-nados a pesquisadores e estudantes uni-versitários. Os grupos devem serpequenos e o responsável pelo projetodeve ser também o responsável pela ela-boração e condução do roteiro. Pode-setambém pensar na promoção de encon-tros científicos que tenham como base osequipamentos e os recursos naturais eculturais da região, que seriam utilizadoscomo estudos de caso. Para esse fim, uti-liza-se o espaço do empreendimento(pousada, sítios de pesquisa), cobrando-se taxas de administração, contribuindopara a divulgação e enriquecimento doproduto. Universidades próximas àregião de influência do projeto, princi-palmente aquelas que possuem cursosna área biológica e do turismo, devemser encorajadas e convidadas a realizarvisitas técnicas e pesquisas espontâneas(pequenos diagnósticos) e contribuindopara o fortalecimento e amadurecimentoda atividade. Na Amazônia, um barco-escola de uma universidade local levaseus estudantes para conhecer experiên-cias de turismo, e contribui para cons-trução de ferramentas úteis para o pro-duto, tais como páginas na internet, fo-lhetos promocionais e treinamentos demão-de-obra diversos.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Algumas estruturas usadas tradicional-mente na pesquisa se prestam como exce-lentes facilidades para o ecoturismo. Algunsexemplos:

a) Walkways (passarelas), trilhas ou transectos:

São trilhas desenhadas de forma a causaro menor impacto possível no ambiente quese está estudando. Podem ser feitas no níveldo solo ou suspensas, no caso de áreas ala-gadas ou quando se quer estudar espéciesde copas de árvores. b) Blinds:

São estruturas construídas e, preferen-cialmente camufladas ou mimetizadas noambiente, para facilitar pesquisas quee nvo l vem a observação de fauna. Sãopequenas casinhas de madeira ou mesmode lona, montadas no ambiente onde hámaior probabilidade de se encontrar ani-mais. Nas paredes existem pequenas aber-turas em tamanho suficiente para que oobservador veja os animais a olho nu ouusando binóculo.

2. Passos da metodologia científica

Em alguns casos será necessário comple-mentar as atividades de pesquisa simples

apresentadas em outros capítulos doManual com pesquisas mais rigorosas, quesigam o método científico. No caso de umprojeto de ecoturismo, caso os sistemas demonitoramento (seja de impacto de visi-tação em trilhas, seja de atividades apresen-tadas em outros capítulos) indiquem que háalgum problema mais grave ocorrendo, semque seja possível identificar as suas causascom as informações existentes (e conse-qüentemente elaborar estratégias para solu-cioná-lo), é necessário proceder à realiza-ção de pesquisa seguindo o método científi-co (especialmente no caso de impactosbiológicos e ecológicos).

Uma vez que se tenha optado pelapesquisa científica, o primeiro passo a serseguido refere-se à viabilização técnica efinanceira da pesquisa. Ou seja, montagem

de uma equipe de pesquisa e necessidadede utilização de materiais e equipamentos,busca de apoio financeiro e parcerias insti-tucionais que garantam a continuidade dapesquisa pelo período necessário. Uma vezmontada a equipe, procede-se à aplicaçãodo método científico para desenvolver apesquisa.

A metodologia científica é um conjuntode técnicas e processos que visam a formu-lação e solução dos problemas de maneiraobjetiva e sistemática. Desta forma, diantede um problema os procedimentos podemser resumidos nas etapas apresentadas aseguir. Para efeito de melhor compreensão,daremos um exemplo prático após a apre-sentação de todas as etapas.

ETAPA 1 4Formulação de uma hipótese A primeira etapa é a formu-lação de uma hipótese (per-gunta) que, de acordo comcertos critérios, pode ser ounão rejeitada. Esse conceito édenominado "Princípio da fal-sidade".

ETAPA 2 4Desenvolvimento do experi-mentoEscolher uma situação com oobjetivo de testar a hipótese(pergunta), identificando to-dos os métodos e técnicas (in-c l u s ive computacionais eestatísticos) a serem usados napesquisa. Assim, testaremos aHipótese 1 e se ela for falsa,isto significa que a alternativaoposta (o que queremos cons-tatar) ganha credibilidade.

ETAPA 3 4Coleta sistemática de dados Coletar as informações dem a n e i ra sistemática. Nessafase, os seguintes passos de-vem ser sempre seguidos:

a Estudos observacionais (estudos de campo, coleta de dado, etc.).

a Estudos experimentais (manipulação das variáveis

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Pesquisa na atividade de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

de estudo, coleta de resul-tados).

a Medição e comparação dedados de desempenho, uso, impacto etc. (quando for pesquisa metodológica).

ETAPA 4 4Análise dos dadosO tipo de análise depende dostipos de va r i á veis coletadas,tamanho e número de grupos,etc. Existem diversos manuaise livros estatísticos que sãofundamentais nesta etapa ed iversos programas de soft-ware de fácil manipulação.

ETAPA 5 4Conclusões e recomendaçõesCom base nos resultados ori-undos da análise dos dados, ahipótese elaborada é rejeitada

ou aceita. Esta conclusão levaao encaminhamento de pro-cedimentos a serem adotados.

Etapa 6 4Divulgação dos resultadosOs principais resultados econclusões da pesquisa de-vem ser divulgados, para quepossam ser conhecidos poraquelas pessoas e instituiçõesque influenciam o assuntopesquisado, e para que asrecomendações possam seraplicadas. As formas decomunicação podem ser oral( p a l e s t ras, seminários, con-gressos, televisão, rádio etc.)ou escrita (relatórios, artigoscientíficos, internet, revistas,jornais etc.). 1 3

S uponha que você é responsável por uma área muito visitada por ecoturistas, devidoà excelente oportunidade para observação de uma espécie de pássaro, ameaçada deextinção, que ali nidifica freqüentemente. Alguns trechos de vegetação onde as aves

nidificam são atravessados por trilhas usadas pelos ecoturistas. Suponha que o número deninhos ativos dessa espécie tem diminuído ao longo dos anos (ver capítuloMonitoramento e Controle de Impactos sobre como esta informação pode ser gerada).Logo, você tem um grande problema em suas mãos: será que essa redução é resultanteda visitação, de algum problema na dinâmica populacional natural desta espécie ou dequalquer outra variável ambiental? Como resolver esse problema? O sistema de moni-toramento e controle de impactos sugerido no capítulo de mesmo nome pode ser utiliza-do para assegurar a coleta mínima de informações a este respeito; entretanto, a melhorestratégia, neste caso, é a pesquisa, seguindo os passos descritos na caixa de ferramentase detalhados a seguir.

Antes de dar início ao processo da pesquisa propriamente dita, é necessário montaruma equipe de trabalho, envolvendo minimamente membros da equipe responsável pelomanejo do ecoturismo e/ou proteção da área (seja uma unidade de conservação ou umapropriedade particular), e um ou mais pesquisadores especializados no assunto emquestão (aves).

A realização de pesquisa pode durar um bom tempo e consumir recursos financeiroselevados. Assim, o ideal é desenvolver uma parceria com instituição de pesquisa quepossa garantir não só a continuidade e qualidade da pesquisa, mas também ser co-respon-sável pelos gastos advindos da pesquisa. A parceria institucional também facilitará apesquisa na disponibilização de equipamentos especializados.

PESQUISA SEGUNDO O MÉTODO CIENTÍFICOEXEMPLO:

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PESQUISA SEGUNDO O MÉTODO CIENTÍFICO (continuação)EXEMPLO:

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ETAPA 1 4Formulação de uma hipótese: Uma vez montada a equipe de pesquisa, aprimeira etapa é desenvolver uma hipótese composta por duas alternativasopostas, sendo a primeira aquela que se vai testar, e a segunda a que real-mente se deseja averiguar: Hipótese 1: A visitação nas trilhas não causa impacto no número de ni-

nhos ativos da espécie.Hipótese 2: A visitação nas trilhas causa impacto no número de ninhos

ativos da espécie.Lembre que esta é a fase fundamental do procedimento científico. Vocêdeve discuti-la com a equipe de trabalho e com outras pessoas que possamcolaborar com conhecimento sobre o tema ou sobre a área, pois, se a per-gunta for mal formulada, todas as etapas posteriores ficarão seriamenteprejudicadas. Em bom português: lixo entra, lixo sai.

ETAPA 2 4Desenvolvimento do experimento: A próxima etapa consiste em desen-volver um experimento para a coleta dos dados necessários para testar ahipótese, ou seja, inicia-se a construção do experimento ou "desenhoexperimental". No nosso exemplo, vamos selecionar algumas trilhas ondeos pássaros fazem seus ninhos. Por exemplo, seis trilhas que serão posteri-ormente divididas em dois grupos: Grupo 1: As trilhas 1 a 3, a visita será interditada. Em pesquisa, esse

grupo é denominado "grupo controle";Grupo 2: Nas trilhas 4 a 6, a visita será normal. Esse é o "grupo expe-

rimental".ETAPA 3 4Coleta sistemática de dados: Em cada uma das seis trilha serão computa-

dos todos os locais de nidificação da espécie de pássaro (por exemplo, umaárvore). A partir daí serão monitorados os ninhos ativos durante todo operíodo de reprodução, nos dois grupos de trilhas.

ETAPA 4 4Análise dos dados: Nessa etapa, os dados coletados durante o experimentoserão analisados de maneira sistemática, usando-se preferencialmente testesestatísticos para uma melhor fundamentação dos resultados do tra b a l h o .

ETAPA 5 4Conclusões e recomendações: A rejeição da Hipótese 1 dá suporte àHipótese 2, de que a visitação nas trilhas causa diminuição no número deninhos ativos da espécie. Portanto, esse estudo mostra a necessidade de sebuscar soluções para eliminar ou minimizar o problema. Uma vez identificado o problema, a equipe de manejo do ecoturismo na área, juntamente com a equipe de pesquisa, deve reunir-se para definir ações de manejo que sejam adequadas (ver capítulo Monitoramento e Controle de Impactos ).

ETAPA 1 4Divulgação dos resultados: Para finalizar a atividade de pesquisa, devemser divulgados os resultados da melhor maneira possível, conforme abor-dado na Etapa 3. Nesse caso, é muito importante que o visitante da áreaseja informado dos possíveis impactos que sua visita pode causar à espéciee sobre as regras de comportamento para melhor preveni-los.

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Pesquisa na atividade de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

V. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

Como qualquer atividade humana, apesquisa científica será prejudicada ou atémesmo inviabilizada por uma série de pro-blemas. Entre os principais problemaspodemos citar: ❒ Perguntas mal formuladas: lembre-se de

que todo processo científico é direciona-do a responder uma pergunta (hipótese).Portanto, se a pergunta é mal formulada,todas as etapas seguintes ficam compro-metidas.

❒ Dados mal coletados.❒ Análises malfeitas.❒ Não uso dos resultados obtidos como

instrumento de planejamento e gestão daatividade ecoturística.

As principais recomendações para evitarriscos no desenvolvimento da pesquisa são: ❒ As perguntas (hipóteses) devem ser for-

muladas de maneira clara e detalhada-mente discutidas entre as partes envolvi-das. Lembre-se novamente de que estafase é fundamental para que a pesquisatraga benefícios, ao invés de problemas.

❒ Pedir ao pesquisador cópia de seu proje-to de pesquisa. Quando a pesquisaenvolver coleta de materiais, certificar-sesobre o destino que será dado aos mes-mos. Além disso, o pesquisador deverácomprometer-se em enviar cópia de seurelatório final e de quaisquer publi-cações resultantes dessa pesquisa.

❒ Para evitar os problemas resultantes darealização incorreta da pesquisa, acon-selha-se a formação de parcerias cominstituições de ensino (Unive r s i d a d e s )e/ou de Centros de Pesquisa.

Para finalizar, apesar de estar trabalhan-do em equipe com os manejadores da área,deve-se lembrar que o principal agente dapesquisa é o pesquisador especializado.Portanto, é essencial que ele tenha habili-dades para planejar, conduzir e concluir apesquisa, levantar e conhecer a literaturacientífica relacionada ao tópico, utilizar osconhecimentos e experiência adquiridosdurante a realização da pesquisa e con-tribuir com o enriquecimento e a divulgaçãodo conhecimento.

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P R O J E TO TA M A RPE S Q U I S A C O M O I N S T R U M E N TO D E M A R K E T I N G

esde o início de suas atividades, em 1980, o Programa Brasileiro de Conservação e Manejo das Tartarugas Marinhas (TA M A R / I BAMA) atua em diversos sítios reprodutivos ao longo da costa bra s i l e i ra, procurando

i n t e g rar ao projeto as comunidades que originalmente se beneficiavam das espécies de tartarugas marinhas como recurso alimentar. Ao longo dos anos, o TAMAR foi expandindo as atividades pelo litoral, criando novas frentes de trabalho e desenvolvendo com criatividade várias estratégias para buscar a auto-sustentabilidade.As duas atividades melhor sucedidas na geração de recursos próprios foram a venda de produtos com a marca do Projeto TAMAR e o ecoturismo. Em ambos os casos o Projeto TAMAR valeu-se das informações geradas pelo seu programa de pesquisa p a ra oferecer produtos únicos para o público.

A produção científica do TAMAR, a partir de meados da década de 90, decolou, com a consolidação das principais estações (Coordenações Regionais) e com a criaçãodas Coordenações Técnicas. Vários aspectos tornaram o TAMAR pioneiro: o envolvimento comunitário, a criação de Unidades de Conservação Marinhas

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

C o n t … )

e Litorâneas, a idealização de Centros e Parques de Visitação Turística, passando pela participação efetiva em discussões internacionais (Redes de conservação de tartarugas marinhas no mundo, como o Wide Cast e MTSG-IUCN).

Muitos resultados podem ser comemorados nos últimos 20 anos: 3 milhões de filhotesl i b e rados, mais de 100 trabalhos científicos publicados, centenas de estudantes e profissionais capacitados. Esses fatores, associados ao carisma e docilidade das tartarugas, e à divulgação na mídia nacional e internacional, tornaram esse animaluma referência bra s i l e i ra de um bem-sucedido projeto de conservação, além de umam a rca de mercado extremamente forte.

A t ividades em Fernando de Noro n h a

Em Fernando de Noronha não foi diferente. Em 1995, com o aumento do fluxo turísticono arquipélago, o TAMAR idealizou e construiu, em parceria com o W W F, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e com a Petrobrás, o C e n t ro de Vi s i t a n t e s /Museu Aberto da Tartaruga Marinha de Fernando de Noro n h a, mais uma iniciativa p i o n e i ra na região. Vídeos, painéis, fotos, pequeno acervo de material biológico e oquiosque do CD-ROM do TAMAR também estão disponíveis aos visitantes, além daLojinha, Café e serviços públicos, como telefone e caixa de coleta de correios.

A criação desse espaço proporcionou a concentração de grande parte dos turistas que visitam o arquipélago, principalmente à noite, quando acontecem, de domingo a domingo, palestras sobre programas diversos, que não se resumem a temas marinhos.História, geografia, pesquisas em ecologia são alguns dos temas tratados, tra n s f o r m a n d oo Centro de Visitantes numa referência como centro educativo e informativo.

Dentro do programa de turismo participativo, algumas atividades do Projeto TA M A Rpodem ser acompanhadas por visitantes. Realizado desde 1992, foi intensificado a partir de 1994 com a campanha “Adote uma tartaruga marinha”. A partir de 1997, foi formado o Grupo de Guias-mirins do TAMAR, com crianças entre 9 e 13 anos, o u t ra parceria entre o TAMAR e o W W F - B rasil, que formam hoje a linha de frente c o n t ra a extinção das tartarugas marinhas.

Além de proporcionar atra t ivos e serviços aos visitantes, o C e n t ro de Visitantes / MuseuAberto da Tartaruga Marinha é um local aconchegante, considerado uma referênciap a ra a educação ambiental no arquipélago. O Projeto TAMAR busca a sua auto-sustentabilidade por meio da venda de material de divulgação, programas de adoção e atividades participativas. Atualmente, mais de 80% dos recursos do TAMAR em Fernando de Noronha são provenientes das atividades ligadas ao fluxo turístico no arquipélago, que geram inúmeros empregos diretos e indiretos.

V. BIBLIOGRAFIA

R E J OWSKI, Miriam.1998. Turismo ePesquisa Científica. Campinas. Papirus.

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Abiótico – Componente não-vivo do meioambiente, como o solo, o ar ou a água.

Ação Antrópica – Tudo que resulta de inter-ferência humana no ambiente, podendoser positiva ou negativa.

Adaptação – Processo terminal de ajusta-mento fenotípico ou genético, de organ-ismos ou populações, às condiçõesambientais particulares, que lhes permi-tam sobreviver, reproduzir e desenvolver.

Aeróbico – Relativo a um organismo quenecessita de oxigênio para sobreviver.

Agência de Ecoturismo – agência de turis-mo especializada que respeita os princí-pios do ecoturismo e comercializa pro-dutos ecoturísticos.

Agente emissivo – quem envia e agencia oturista.

Agente receptivo – quem recebe e prestaserviço ao turista.

Agência de Turismo – cabe à Agência deViagens e Turismo, e somente a ela, aoperação de viagens e excursões, indi-viduais ou coletivas, compreendendo aorganização, contratação e execução dep r o g ramas, roteiros e itinerários(MICT/EMBRATUR, 1980). Conforme osserviços que estejam habilitadas aprestar, e os requisitos para seu registro efuncionamento, as Agências de Turismoclassificam-se em duas categorias, aAgência de Viagens e Turismo, conheci-da no mercado como agência operadora,pois desenvolve e vende roteiros e pro-dutos de turismo e a Agência de Viagens,que apenas comercializa para o públicofinal. As Agências de Turismo são

sociedades que têm por objetivo social,exclusivamente, as atividades de turismodefinidas no Decreto n° 84.934 de 1980.São elas: I - venda comissionada ou intermedi-ação remunerada de passagens individu-ais ou coletivas, passeios, viagens eexcursões; II - Intermediação remunerada na reser-va de acomodações; III - recepção transferência e assistênciaespecializadas ao turista ou viajante;IV - representação de empresas trans-p o r t a d o ras, empresas de hospedagemoutras prestadoras de serviços turísticos; V - divulgação pelos meios adequados,inclusive propaganda e publicidade, dosserviços mencionados nos itens acima.

Agricultura de "corta e queima" – Prática defazer derrubada de árvores seguida douso de fogo para preparar a terra paral avo u ra; após alguns anos, a área éabandonada ou transformada em pas-tagem, exigindo a mudança das lavouraspara nova área de floresta ou capoeira.

Agroflorestal – sistema de cultivo combina-do envo l vendo árvores, frutíferas emadeireiras, nativas e espécies agrícolasadaptadas aos vários estágios de cresci-mento das árvores.

Agrotóxico – Pesticida utilizado na agricul-tura.

Água subterrânea – É a água armazenadanos aqüíferos e no solo abaixo do lençolfreático. As águas subterrâneas estãoexpostas a duas grandes ameaças. Aprimeira é sua redução, como resultado

Glossário unificadoem turismo e meio ambiente

Termos e conceitos em português e inglês usados neste Manual e comumente utilizados em turismo e meio ambiente.

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do consumo excessivo ou superex-plotação (uso com proveito econômico).A segunda é a poluição proveniente devazamentos dos aterros e de outra sfontes de substâncias tóxicas, principal-mente dos produtos químicos utilizadosna agricultura.

Airline – Companhia aérea.Airpass – Passe ou passagem aérea vendida

pelas companhias para vôos regionais noexterior.

Alfabeto aeroviário - Conjunto de palavrasutilizadas para informar, sem erros, asletras que compõem, por exemplo, umcódigo de reserva.

A - Alfa J - Julliet S - SierraB - Bravo K - Kilômetro T - TangoC - Charlie L - Lima U - Urbano D - Delta M - Mick ou uniformE - Eco N - November V - VitorF - Fox O - Oscar W - WhiskyG - Golf P - Papa X - XadrezH - Hotel Q - Quebec Y - YankI - Índia R - Romeu Z - Zulu

ALI (Aditional Liability Protection) – Ouseguro para terceiros, no caso delocação de veículos, dá proteção adi-cional contra danos pessoais e materiaiscausados a terceiros.

All inclusive – Termo normalmente associa-do à hotelaria. Determina o sistema noqual todas as despesas (como refeições,bebidas alcoólicas e até gorjetas) estãoincluídas no valor da diária paga pelohóspede.

All suites – Hotel que possui apenas suites –apartamentos com uma sala anexa.

Ambiente – Todos aspectos condicionantesque possam de alguma forma ter influên-cia sobre a atividade que se pretendedesenvolver , correspondendo às forçasexternas, condições e circunstâncias quepropiciam a existência desta, incluindo-se as fontes de riscos. O ambiente deveincluir as tecnologias empregadas, osclientes, o mercado, a política estratégi-

ca em relação ao tema, ambiente, físico,químico e biológico e suas inter-relações(reais e potenciais) . Deverão ser levadosem conta os distintos aspectos referidoscom elementos bióticos, abióticos,mecanismos de integração, dinâmica(real / potencial) de populações, elemen-tos potenciais de permitir / inibir aexistência de certos ecossistemas (natu-rais / modificados / introduzidos), alémde outros fatores que se façamnecessários de serem avaliados emfunção de algumas especificades de pro-jetos a serem apresentados.

Anaeróbico – Organismo que não necessitade oxigênio para sobreviver.

Análise custo-benefício – Método utilizadopelos economistas para determinar a via-bilidade de um projeto. Os benefíciosfinanceiros de um projeto são divididospelo seu custo total durante toda a suaduração. Se o número obtido for superi-or à unidade, o projeto é consideradoválido. Parece ser uma abordagem sim-ples e direta, mas é difícil atribuir umvalor monetário a alguns benefícios ecustos, como a preservação de umaespécie ou a qualidade do ar.

Andaime – armação de madeira ou ferrousado em construção civil como apoiopara os operários levantarem uma obra.

Animais taxidermizados – peles de animaisespecialmente tratadas e montadas co-mo se o animal ainda estivesse vivo. Sãoos animais empalhados.

Antropogênica – relativo ao estudo das ori-gens e da evolução do homem.

Aqüífero – Formação geológica quearmazena água no subsolo. Os aqüíferossão objeto de acirrados debates em áreasque dependem deles para o fornecimen-to de água doce. O consumo da águaproveniente de um aqüífero por popu-lações urbanas, agricultores e indústriascom freqüência excede a taxa dereposição natural. Baixos níveis dosaqüíferos podem resultar na insuficiên-cia de água, na sua contaminação – de-

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GLOSSÁRIO

vido ao aumento da salinidade e do teordos diversos minerais nela dissolvidos –e na formação de "sink holes" (depres-sões no terreno causadas pela superex-ploração do aqüífero).

Área controle – em pesquisa, refere-se àárea ou amostra que não sofre qualquertratamento ou interferência da pesquisa,ou seja é mantida em seu estado originalpara ser usada em comparação dasmudanças resultantes de interferênciasem outras áreas.

Área de influência direta – É a áreanecessária à implantação das obras ativi-dades, propriamente dita, bem comoaquelas que envolvem a infra-estruturade operacionalização de testes, plantios,armazenamento, transporte, distribuiçãode produtos/insumos/água, além da áreade administração, residência dosenvolvidos no projeto e entorno. São asáreas (laboratórios/campos) diretamenteabrangidas.

Área de influência indireta – É o conjuntoou parte dos municípios envo l v i d o s ,tendo-se como base a bacia hidrográficaabrangida. Na análise socioeconômica,esta área pode ultrapassar os limitesmunicipais e inclusive os da bacia hidro-gráfica.

Arrival – Desembarque.Arte-ambiente – Programas educativos, artísti-

co ou culturais que se inspiram nosprocessos da natureza, utilizam materiaisn a t u rais de fontes renov á veis ou con-tribuem para a conscientização ecológica.

A r u n k – A b r e v i a t u ra do inglês "A r r iva lU n k n ow n" que significa "ch e g a d adesconhecida"; é usado quando o pas-sageiro tem uma data de saída de umdestino, sem que no mesmo bilheteaéreo conste a data em que chegouàquele mesmo destino.

Assoreamento – Obstrução de um rio oucanal, por areia ou outro material, tor-nando os rios rasos e diminuindo ascondições de vida para determinadasespécies de peixes, animais etc.

Aterro sanitário – Método de dispor resídu-os sólidos, que são compactos e enterra-dos. Em geral, são escavações forradascom plástico ou argila, os quais possuemum sistema de coleta de "ch o r u m e "(líquido que contém substâncias dis-solvidas, retiradas de sólidos permeáveiscom altos teores de tais substâncias. Porexemplo, os aterros sanitários gera mchorume que, com freqüência, está con-taminado por substâncias tóxicas eameaça as águas subterrâneas).

Ativo – em contabilidade, indica a parte dobalanço que mostra como os recursos daempresa estão aplicados. Por exemplo,dinheiro aplicado no banco, veículos,terrenos, construções, etc.

Atrativo – é o recurso trabalhado que moti-va o deslocamento temporário dos turis-tas. Pode ser natural ou cultural.

Avaliação de riscos – a identificação,medição e priorização dos riscos .

Bacia – Área na qual um rio capta sua água.O termo também é utilizado para descre-ver as fontes de água de lagos e regiões.

Bactérias – Organismos de uma única célu-la, algumas espécies sendo parasitas deanimais ou vegetais.

Ballroom – Salão de eventos, como festas,congressos e bailes.

Bason – sanitário seco para compostagem.Bed & Breakfast – Literalmente, cama e café

da manhã. Termo normalmente utilizadopara designar hospedagem econômica.

Bell boy – Mensageiro; termo, associadoprincipalmente aos hotéis

Biodegradável – Substância que pode serdecomposta mediante a ação de seresvivos (como bactérias ou microorganis-mos), formando produtos inócuos,inofensivos.

Biodiversidade – Abrangência de todas asespécies de plantas, animais e microor-ganismos, e dos ecossistemas e proces-sos ecológicos dos quais são parte.

B i o g e o g rafia – Estudo multidisciplinar, centra-do numa perspectiva ecológica, que anali-sa a distribuição espacial, atual e passada,

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de plantas e animais, levando em consi-d e ração fatores histórico-causais.

Bioma – (do grego bios, vida + ome, massa)Amplo conjunto de ecossistemas ter-restres, caracterizados por tiposfisionômicos semelhantes de vegetaçãocom diferentes tipos climáticos.

Biomassa – Peso total de todos os seres vivosem um determinado ambiente ou emuma amostra. O tempo também é uti-lizado na descrição de materiais orgâni-cos que podem ser empregados comoc o m b u s t í vel – material vegetal seco,lenha, resíduos orgânicos etc.

Biosfera – Sistema integrado de organismosvivos e seus suportes, compreendendo oenvelope periférico do planeta Terra coma atmosfera circundante, estendendo-separa cima e para baixo até onde existanaturalmente qualquer forma de vida.

Biossegurança – é o conjunto de açõesvoltadas para a prevenção, minimizaçãoou eliminação dos riscos inerentes àsatividades de pesquisa, produção, ensi-no, desenvolvimento tecnológico eprestação de serviços, riscos que podemcomprometer a saúde do homem, dosanimais, das plantas, do meio ambiente.

Biotecnologia – aplicação de processosbiológicos à produção de materiais esubstâncias para o uso industrial, medi-cinal, farmacêutico, etc. São exemplos –a fermentação, a produção de antibióti-cos como a penicilina, obtenção deinsulina e métodos de controle biológico.

Biótico – Componente vivo do meio ambi-ente, como os animais, as plantas e osmicro-organismos.

Boarding-Pass – Cartão de embarque con-tendo os principais dados da passagem(destino, nome do passageiro, poltrona eos números do vôo).

B raztoa – Associação Bra s i l e i ra dasOperadoras de Turismo.

Bridge – Ponte; no caso dos navios, Ponte deComando.

Budget – Termo que, quando associado aum hotel, designa um tipo de empreen-

dimento econômico.Business travel – Viagem de negócio.By night – Passeio noturno pela cidade.Camada de ozônio – Camada de gás ozônio

situada na estratosfera, a qual filtra aperigosa radiação ultravioleta-B (queestá associada ao aumento na freqüênciade câncer de pele, cataratas em mamífe-ros e danos às lavouras). A camada deozônio diminuiu nas últimas duasdécadas, em especial sobre o HemisférioSul. Muitos cientistas atribuem a reduçãoda camada de ozônio a um aumento noteor de cloro na atmosfera, resultante daliberação de CFCs (Ver cloro-fluorcar-bonos). Outros acreditam que a camadade ozônio flutua de acordo com umciclo natural de longo pra z o .Independentemente da causa, a camadade ozônio sobre a Antártida fica, peri-odicamente, tão fina que os cientistascriaram a expressão buraco de ozônio.

Canopy walkway – passarelas de copada,são estruturas que possibilitam a obser-vação da flora e de avistamento eventualde fauna (aves, primatas) “por dentro” dacopa ou ramagem das árvores, ponto devista diferente do normal à dimensãohumana (de baixo para cima). São cons-truídas em estruturas pênseis, de um oumais lances, apoiados em torres e/ouplataformas suspensas. As torres decopada (do inglês canopy towers), sãoconstruídas ao lado ou no entorno de“árvores-tema”, que devem ser escolhi-das dentre espécies que se destaquempela altura, forma ou dimensão do tron-co e permitir uma interpretação vertical.Torres de copada podem fazer parte depassarelas de copada (início/inter-mediário/fim). As torres são complemen-tos e alternativas de menor investimentoque passarelas.

Canteiro – espaço externo no entorno deuma construção.

Carry on – Bagagem de mão que os pas-sageiros podem levar consigo, sem anecessidade de despachar

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GLOSSÁRIO

Casa de vegetação – refere-se a uma estru-tura com paredes, um teto e um piso,projetada e usada, principalmente, parao crescimento de plantas em ambientecontrolado e protegido. As paredes e oteto são geralmente construídos dematerial transparente ou translúcido parapermitir passagem de luz solar.

CDW (Collision Damage Waiver) – Te r m o sutilizado em locação de veículo, é oseguro do carro contra roubo, furto, coli-são ou incêndio, sem pagamento fra n q u i a .

Cenários de risco – método para identificare classificar os riscos através da apli-cação criativa de eventos prováveis esuas consequencias. É usado tipicamentecom técnicas de brainstorming ou outra,que estimulem “o que pode acontecer”.

C h a r t e r – Vôo fretado, geralmente maisbarato que o regular, com saída única(mesmo que dentro de uma série), edatas pré-determinadas.

CHD – Abreviatura de children (criança). Hávariações, mas normalmente é para pas-sageiros com idade de 2 a 11 anos.

Check-In – Procedimento de embarque rea-lizado no aeroporto junto ao balcão dacompanhia aérea; ou procedimento deentrada em hotel.

Check-Out – Procedimento de saída emhotel.

Chorume – líquido poluente resultante dadecomposição de resíduos sólidos dis-postos em aterros sanitários e lixões, quepodem provocar a contaminação dolençol freático ou das águas superficiaisde rios do entorno.

Chuva ácida – Precipitação (chuva) com PHinferior ao normal. Precipitação ácidaseria, de fato, o termo mais preciso poisa neve, o granizo e a mistura de chuvacom neve também podem ser ácidos. Aprecipitação normal é apenas ligeira-mente ácida. Já a ácida é causada poremissões de enxofre e óxidos denitrogênio na queima de combustíveisfósseis. Os óxidos de nitrogênio reagemna atmosfera, produzindo ácido nítrico

(HNO3), óxidos de enxofre e ácidosulfúrico (H2SO4). A chuva ácida podeprejudicar a reprodução dos animaisaquáticos, causar danos às plantações,construções e automóveis, entre tantosoutros efeitos nocivos.

Ciclo de nutriente – Rota do nutriente atra-vés do ecossistema, desde sua assimi-lação pelos organismos até sua liberaçãopor decomposição ou eva p o t ra n s p i ração.

Ciclo hidrológico – Movimento da águaatravés do ecossistema. O ciclo dependeda capacidade da água de estar presentenas formas líquidas e gasosa. O ciclo temquatro fases – evaporação, condensação,precipitação e deflúvio.

City tour – Passeio turístico pelos principaispontos de uma cidade.

Clinômetro – instrumento usado para medira declividade de terrenos.

C l o r o f l u o rcarbonos/CFCs – Gases inertesfabricados para uso em sistemas de arcondicionado e refrigeração e como sol-ventes industriais. Quando liberados, osCFCs migram à atmosfera superior, ondedestroem a camada de ozônio que pro-tege a Terra.

Code Share – Código compartilhado; acon-tece principalmente quando duas com-panhias aéreas utilizam o mesmo aviãoem determinada rota.

Código de ética para o ecoturismo – con-junto de diretrizes que orientam as ativi-dades e serviços, de modo que os princí-pios do ecoturismo sejam respeitados.Embora não haja obrigatoriedade de suaadoção, selos verdes estão sendo criadospara valorizar produtos ecoturísticos queadotem estas diretrizes.

Coffee Break – Lanche rápido oferecido nointervalo dos eventos.

Coliforme fecal – Tipo de bactéria normal-mente presente no intestino grosso dosmamíferos. Quando presente na água,no solo, ou nos alimentos, serve comoindicador de contaminação fecal poranimais ou seres humanos. Sua ingestãopode causar doença e morte.

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Collect call – Ligação telefônica a cobrar.Coluna da água – pressão exercida sobre o

mergulhador, variável de acordo com aprofundidade e características físico-quimicas da água.

Combustíveis fósseis – Principal fonte deenergia nas sociedades modernas, essescombustíveis, que têm como base o car-bono, são constituídos pelos restosorgânicos de organismos fossilizados. Ocarvão de pedra e o petróleo são os doisprincipais combustíveis fósseis. O gásnatural é uma subcategoria do petróleo,já que é gerado durante a formação dopetróleo.

Complexo turístico – Conjunto de equipa-mentos, serviços e atra t ivos turísticosconcentrados em uma área, onde os visi-tantes têm condições de permanecer porvários dias. Embora disponha de umacerta infra-estrutura turística de alimen-tação, hospedagem, entretenimento, nãose constitui em um centro urbano.

Compostagem – Processo de tratamentodos resíduos orgânicos capaz de pro-duzir adubo orgânico.

Comunidade local – pessoas residentes emuma região visitada.

Comunidade tradicional – grupo de pessoas“...que apresentam um modelo de ocu-pação do espaço e uso dos recursos na-turais voltado principalmente para a sub-sistência, com fraca articulação com omercado, baseado em uso intensivo demão de obra familiar, tecnologias debaixo impacto derivadas de conheci-mentos patrimoniais e, via de regra, debase sustentável. Estas populações –c a i ç a ras, ribeirinhos, seringueiros,quilombolas e outras variantes em geralocupam a região há muito tempo, nãotêm registro legal de propriedade privadaindividual da terra, definindo apenas olocal de moradia como parcela indivi-dual, sendo o restante do território enca-rado como área de uso comunitário,com seu uso regulamentado pelo cos-tume e por normas compartilhadas inter-

namente” ( ARRUDA, 1997).Comunidade – Conjunto de populações co-

ocorrentes e que usualmente interagemde forma organizada em uma determina-da área (biótopo). O mesmo que bio-cenose.

Conciergerie – Departamento responsávelpela assistência às pequenas necessi-dades dos hóspedes, que necessaria-mente não são atendidas pelo hotel. Porexemplo: compra de ingressos parashows e envio de flores.

Condutor de Visitantes – chama-se condutorde visitantes a pessoa residente naregião, capacitada para acompanhar ovisitante dentro da mesma e no seuentorno, e muitas vezes credenciadapelo órgão gestor da Unidade deConservação.

Conexão – Termo associado principalmenteaos vôos; designa a necessidade de trocade aeronave em um determinado aero-porto para o prosseguimento da viagematé o destino final. Exemplo: do Rio deJaneiro para Manaus, com conexão emBrasília.

Consangüinidade – Cruzamento entre pa-rentes de sangue. Essa prática favorece oenfraquecimento das raças.

Conservação – Sistema flexível ou conjuntode diretrizes planejadas para o manejo eutilização sustentada dos recursos natu-rais, a um nível ótimo de rendimento ep r e s e r vação da diversidade biológica.Manutenção de áreas naturais preser-vadas por meio de um conjunto de nor-mas e critérios científicos e legais. Podeser classificado também como manejodos recursos naturais de forma a con-seguir alta qualidade de vida humanasustentada.

Contabilidade ambiental – Valoração dosrecursos naturais, seus bens e serviços,geralmente inserida nos balanços sociaisdas empresas, utilizado como referênciana tomada de decisões em novos e atu-ais investimentos. O Balanço Social éum instrumento que demonstra mone-

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GLOSSÁRIO

tariamente os investimentos e aplicaçõesdas empresas nas áreas social e ambien-tal, atualmente uma tendência crescenteno meio empresarial.

Contaminante – Qualquer substância pre-sente num ambiente ao qual nãopertença, que cause problemas estéticose de risco à saúde. Em geral, divide-seentre contaminantes físicos e químicos.

Controle biológico – introdução de organis-mos em uma região na qual estes nor-malmente não existiam, com o objetivode erradicar ou suprimir um determina-do grupo alvo de espécies.

Convention bureau – Autarquias respon-sáveis pelo fornecimento de informaçõesturísticas aos visitantes; também atuamna captação de eventos que são organi-zados nas cidades.

Conversão de dívida – Acordo financeiropelo qual uma determinada parte dadívida externa de um país é perdoada seo país concordar em preservar suas áreasnaturais. Em geral, essas conversões sãoefetuadas em associação com um grupoindependente, como uma organizaçãoambientalista.

Corredor de fauna – Área que permite otrânsito de animais silvestres entre blo-cos de florestas.

Corte raso – Derrubada total da vegetação,desmatamento.

CRS – Do inglês "Computerized Reserv -ations System" (sistema computadoriza-do de reserva). Utilizado principalmentepelas agências de viagens e sites de tur-ismo, permite consultar e fazer reservasem companhias aéreas do mundo todo,além de hotéis pertencentes a grandesredes e locadoras de veículos. Foram cri-ados para automatizar o processo deemissão manual de bilhetes aéreos. Osmaiores CRS do mundo são, em ordemalfabética, Amadeus, Galileo, Sabre aWorldspan. Veja também GDS.

Cruise line – Companhia de cruzeiro maríti-mo.

DAC – Sigla de Departamento de Aviação

Civil, órgão federal responsável pela fis-calização e normatização da avião co-mercial e executiva do País.

Day use – Utilização durante o dia. Termoutilizado principalmente para hotelaria,referindo-se à utilização de umquarto/apartamento apenas durante o diae não para passar a noite. É comum emescalas entre vôos cujo o intervalo é demuitas horas. Também usado em sítios eatrativos, quando não há hospedagem,apenas atrações para usufruir em um dia.

DBL – abreviação de Double ou QuartoDuplo.

Deck – Termos utilizado basicamente paran avios, referindo-se aos andares. Écomum também a utilização do termo"ponte".

Declividade – inclinação de terrenos.Deflúvio – Escoamento superficial da água.

Aproximadamente um sexto da precipi-tação numa determinada área escoacomo deflúvio. O restante evapora oupenetra no solo. Os deflúvios agrícolas edas estradas podem ser uma importantefonte de poluição de água.

D e g radação ambiental – Destruição doambiente natural ou artificial, causandoo desaparecimento das cara c t e r í s t i c a soriginais de um determinado local.

Departure – Origem, embarque.D e s e nvolvimento sustentável – Teoria segun-

do a qual o bem estar da humanidadedepende da conservação dos recursosn a t u rais. Em outras palav ras, o desen-volvimento sustentado permite o progres-so para atender às necessidades do pre-sente, mas sem comprometer a capaci-dade das futuras gerações de atender àssuas próprias necessidades.

Desertificação – Processo de tra n s f o r-mação de terras não-desérticas emdeserto, como resultado, em geral, depastagem excessiva, exaustão damatéria orgânica, uso excessivo daságuas subterrâneas, mudança nospadrões de precipitação etc.

Design – desenho.

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Desmatamento – Perda de florestas comoresultado de atividades madeireira s ,agropecuárias, de mineração, ou de cons-trução de estradas. O desmatamentopode causar erosão do solo, processosde assoreamento e perda de biodiversi-dade e de habitats essenciais.

Destino ou Destinação turística – localiza-ção de um grupo de atrações, instalaçõese serviços turísticos relacionados que umturista ou grupo de turistas decide visitarou que os fornecedores decidem pro-mover.

Diária – Utilizado principalmente para desi-gnar um período pelo qual está sendofeita a reserva ou pagamento. Há varia-ções: em muitos hotéis, por exemplo, asdiárias começam e terminam ao meiodia; em outros às 14 horas.

Diversidade genética (biodiversidade) – re-lativo a área com grande número de es-pécies diferentes.

Early check-in – Entrada no hotel antes dohorário normal ou programado.

Earthwatch – Organização que intermediatrabalho de voluntários para projetos depesquisa. O projeto de pesquisa estrutu-ra um trabalho de campo que pode serfeito sem muito preparo e dá hospeda-gem e alimentação para o voluntário,enquanto o esse além de contribuir comtrabalho e com recursos financeiros parapesquisa, também paga seus custos dealimentação, hospedagem e transporte. Éuma forma de ecoturismo.

Ecolodge (Ecopousada) – alojamento cujodesenho arquitetônico está integrado aoentorno natural e cultural; sua cons-trução é idealizada e realizada levando-se em consideração a minimização dosimpactos negativos ao meio. (PELLEGRI-NI, 2000).

Ecologia – Ciência que estuda as relaçõesdos seres vivos entre si e com ambiente.

Ecossistema – conjunto dos relacionamen-tos mútuos entre determinado meioambiente e a flora, a fauna e os micror-ganismos que nele habitam, e que

incluem os fatores de equilíbrio biológi-co, geológico, meteorológico e atmos-férico. Um lago é um bom exemplo deum ecossistema que compreende orga-nismos e componentes que interagemdentro de uma unidade definida. Asfunções do ecossistema compreendemas transferências de energia, ciclagem denutrientes e manutenção da estruturafísico–biológica. Qualquer ecossistema,seja ele degradado, parc i a l m e n t edegradado ou intacto, mostra transferên-cia de energia e ciclagem de nutrientes,mas o "bom funcionamento" de um "sis-tema intacto" implica que essas funçõesestejam dentro das taxas normais.

Ecotécnicas – técnicas que minimizam osimpactos ambientais negativos, tanto noprocesso de elabora ç ã o / c o n s t r u ç ã o ,como durante sua operação.

Educação ambiental – dimensão dada aoconteúdo e à prática da educação, ori-entada para a resolução dos problemasconcretos do meio ambiente por meio deenfoques interdisciplinares e de umaparticipação ativa e responsável de cadaindivíduo e da coletividade. Se caracte-riza por incorporar as dimensões sócio-econômica, política, cultural e histórica.D e ve permitir a compreensão danatureza complexa do meio ambiente einterpretar a interdependência entre osdiversos elementos que conformam oambiente, com vistas a utilizar racional-mente os recursos do meio na satisfaçãomaterial e espiritual da sociedade nopresente e no futuro.

Efeito estufa – Processo pelo qual determi-nados gases, principalmente o dióxidode carbono e o vapor d’água, retêm partedo calor do sol e refletem-no para aTerra. Os gases deixam passar a energiado sol de onda curta, mas absorvem aenergia de onda mais longa impedindo,portanto, que o calor do sol seja refletidopara o espaço. Sem esse processo natu-ral, a Terra seria consideravelmente maisfria do que é e não poderia sustentar avida. Muitos cientistas estão preocupa-

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GLOSSÁRIO

dos com o aumento, nos últimos anos,das concentrações atmosféricas dos ga-ses que provocam o efeito estufa, poisreceiam que as temperaturas médias daterra aumentem como resultado dessefenômeno. A maioria dos pesquisadoresconcorda que está ocorrendo um aque-cimento global, embora haja incertezaquanto à taxa de aquecimento e suamagnitude. Entre os “gases do efeito es-tufa”, além do CO2, estão o metano, oóxido nitroso e os CFCs.

Efluente – Qualquer resíduo despejado nomeio ambiente. Nem todos os efluentescausam poluição, mas toda poluição éproveniente de efluentes.

Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo,órgão federal vinculado ao Ministério doTurismo.

Endêmica – é a qualidade daquelas espéciesda flora e da fauna cuja origem e ocor-rência são restritas a determinada região.Um bom exemplo é o mico-leão-doura-do, espécie endêmica da Mata Atlânticade Baixada Costeira do Estado do Rio deJaneiro.

Equilíbrio ecológico – Equilíbrio de relaçõesentre seres vivos e o meio ambiente(solos, rochas, corpos d'água e fatoresclimáticos) de uma região.

Equipamentos e serviços de apoio – insta-lações e serviços que existem para aten-der necessidades da comunidade, masque são de muita utilidade para o turis-mo, tais como hospitais, clínicas, automecânicas, agências bancárias, locais deentretenimento (Barreto, 1995).

Equipamentos turísticos – incluem todos osestabelecimentos administrados pelosetor público ou privado que se dedicama prestar serviços básicos para o turismo,como meios de hospedagem, meios det ransporte, restaurantes e similares,locais de entretenimento, agências deviagens etc.

Erosão – Desgaste do solo devido ao vento,às chuvas ou a outras forças da natureza.A erosão pode ser acelerada pela agri-

cultura, excesso de pastagem, atividademadeireira e construção de estradas.

Escala – Termo utilizado principalmente emrelação aos vôos; parada em um deter-minado aeroporto, sem necessidade detroca de avião, antes da chegada ao des-tino final. Exemplo: de São Paulo paraFortaleza, com escala em Salvador.

Esgoto – Resíduos líquidos, incluindo deje-tos humanos e águas servidas.

Especiação – processo evolutivo pelo qualsurge uma nova espécie; mecanismopelo qual uma espécie da origem aoutra.

Espécie – A unidade da classificação ta-xonômica para as plantas e os animais;uma população de indivíduos similaresnas suas características estruturais e fun-cionais.

Estuário – Foz de um rio ou baía, onde semisturam a água doce do rio e a águasalgada do mar.

Estudos ambientais – todos e quaisquer estu-dos relativos aos aspectos ambientais,relacionados à localização, instalação,operação e ampliação de uma atividadeou empreendimento apresentados comosubsídio para a análise da licença (ambi-ental) requerida

E-ticket – Abreviatura de "eletronic ticket".Dispositivo que começa a ser utilizadopelas empresas aéreas em substituição àpassagem aérea emitida em papel. Oviajante informa um código recebidopreviamente, apresenta uma identifi-cação e recebe o cartão de embarque.

Eutrofização – Processo pelo qual um corpode água adquire uma alta concentraçãode nutrientes, especialmente fosfatos enitratos, que geralmente promovem ocrescimentos excessivos de algas. Àmedida que as algas morrem e sedecompõem, altos níveis de matériaorgânica e organismos em decom-posição esgotam o oxigênio disponívelna água, provocando a morte de outrosorganismos, como os peixes. A eutrofiza-ção é um processo natural, de envelhe-

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cimento lento, para o corpo de água,mas a atividade humana acelera muito oprocesso.

Evapotranspiração – Quantidade de águaliberada do solo e de corpos d’água(evaporação) e também a proveniente deorganismos vivos (transpiração). Ou seja,todo o vapor d’água naturalmente libera-do num determinado local, por meio deprocessos físicos e biológicos.

Excursionista – “(...) é toda a pessoa que sedesloca individualmente ou em grupopara local diferente de sua residênciapermanente, por período inferior a 24horas, sem efetuar pernoite.” (Pellegrini,2000, p.100). Por outro lado, o termoexcursionista vem sendo considerado,historicamente no Brasil, como o visi-tante de áreas naturais, independente donúmero de dias e pernoites.

Exóticos – organismos cujas espécies, culti-vares, estirpes, linhagens ou raças, nãotenham ocorrência relatada no país.

Explotação – Exploração com fins comerci-ais, especialmente de recursos naturais.

Extração de madeira – Ato de colher seleti-vamente árvores.

Fact sheets – Apostilas com resumos dosfatos básicos e interessantes sobre oecossistema, suas espécies e sua historiacultural. São uma apoio para a interpre-tação e não devem ter mais de 2 páginas.Podem conter fotos.

Famtour – viagem ou visita na qual são con-vidadas pessoas do meio turístico e damídia com objetivo de promoção denovos produtos turísticos.

Fatores Abióticos – Aqueles que caracteri-zam as propriedades físicas e químicasda biosfera.

Fatores Bióticos – Aqueles produzidos diretaou indiretamente por um ser vivo.

Fatores de risco – manifestações ou cara c t e r í s-ticas mensuráveis e observáveis de umprocesso que indica a presença de risco.

Fauna – Conjunto de animais próprios deuma região.

Ferry boat – Meio de transporte aquático,para pessoas acompanhadas ou não porcarros.

Fertilidade – Qualidade de fértil. Terra ricaem minerais e outras cara c t e r í s t i c a snecessárias à boa produção.

FFair – Tarifa Fitness center - Termo normal-mente associado a hotéis; local ondeficam a sauna, sala ginástica, sala demassagem, piscina e embelezamento;chamado também de Health Club.

Flora – Conjunto de plantas de uma deter-minada região.

Floração das algas – Fenômeno em que oaumento do número de algas, numcorpo d’água, interfere em outras formasde vida devido, principalmente, ao con-sumo do O2 dissolvido na água. Essefenômeno pode ser causado pelaeutrofização. A floração das algas tam-bém pode ser denominada “boom dealgas”.

Folder – palavra da língua inglesa que se ref-ere a um folheto, não periódico, utiliza-do para fins de divulgação. No caso doturismo é muito empregado para divul-gação de produtos e atrativos turísticos.

Fortait – Roteiro de viagem feito sob medida Fossa séptica – tanque de sedimentação e di-

gestão, no qual se deposita o lodo cons-tituído pelas matérias insolúveis do despe-jo doméstico, sofrendo decomposiçãopela ação de bactérias anaeróbias.

Free lancer – colaborador independente.Fretamento – Veja "charter". Full fare – Tarifa cheia, sem a aplicação de

descontos promocionais.Fungos – Organismos que se apresentam

sob várias formas, como mofo, orelha depau, algumas espécies sendo parasitasde plantas ou animais.

Gate – Portão de embarque.GDS – Do inglês "Global Distribution

System" (sistema global de distribuição).São uma evolução dos CRS e utilizadosprincipalmente pelas agências de via-gens e sites de turismo, permite consultar

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GLOSSÁRIO

e fazer reservas em companhias aéreasdo mundo todo, além de hotéis perten-centes a grandes redes e locadoras deveículos. Os maiores GDS do mundosão, em ordem alfabética, A m a d e u s ,Galileo, Sabre a Worldspan.

Gestão Ambiental – Aplicação de programasde utilização dos ecossistemas, baseadaem teorias ecológicas sólidas, de modoque mantenha da melhor forma possívelas comunidades vegetais e/ou animaiscomo fontes úteis de produtos biológicospara o homem e, também como fontesde conhecimento científico e de lazer. Aorientação de tais programas deve garan-tir que os valores intrínsecos das áreasnaturais não sejam alterados, para o des-frute das gerações futuras. Agestão/manejo correta(o) exige primeiroo conhecimento profundo do ecossis-tema para o qual ele é aplicado.

Guarda-parque – “Profissional que atua naponta de ligação entre a sociedade e asáreas naturais preservadas. Misto deguia, autoridade policial, solucionadorde problemas, educador e colaboradorpara a gestão de áreas naturais, o guarda-parque tem função de destacadaimportância no processo de conciliaçãoentre o turismo na natureza e a preser -vação do meio ambiente” (SENAC ,1995).

Guia de Turismo – É considerado Guia deTurismo o profissional que, devidamentec a d a s t rado na EMBRATUR - InstitutoBrasileiro de Turismo, nos termos da Leinº 8.623, de 28 de janeiro de 1993,exerça as atividades de acompanhamen-to, orientação e transmissão de infor-mações a pessoas ou grupos, em visitas,excursões urbanas, municipais, estadu-ais, interestaduais, internacionais ouespecializadas. O cadastramento e aclassificação do Guia de Turismo emuma ou mais das classes previstas acimaestará condicionada à comprovação devários requisitos, entre eles ter concluídoCurso de Formação Profissional de Guia

de Turismo reconhecido pelaEMBRATUR, na classe para a qual estiversolicitando o cadastra m e n t o(MICT/EMBRATUR, 1993). Conforme aespecialidade de sua formação profis-sional e das atividades desempenhadas,comprovadas perante a EMBRATUR, osguias de turismo serão cadastrados emuma ou mais das seguintes classes:I - guia regional - quando suas atividadescompreenderem a recepção, o traslado,o acompanhamento, a prestação deinformações e assistência a turistas, emitinerários ou roteiros locais ou intermu-nicipais de uma determinada unidade dafederação, para visita a seus atrativosturísticos; II - guia de excursão nacional - quandosuas atividades compreenderem o acom-panhamento e a assistência a grupos deturistas, durante todo o percurso daexcursão de âmbito nacional ou realiza-da na América do Sul, adotando, emnome da agência de turismo responsávelpelo roteiro, todas as atribuições denatureza técnica e administra t ivanecessárias à fiel execução do programa; III - guia de excursão internacional -quando realizarem as atividades referi-das no item acima para os demais paísesdo mundo; IV - guia especializado em atrativo turís-tico - quando suas atividades compreen-derem a prestação de informações técni-co-especializadas, sobre determinadotipo de atrativo natural ou cultural deinteresse turístico, na unidade da federa-ção para o qual o mesmo se submeteu aformação profissional específica.

Guia local – Monitor ou condutor de visitan-tes não credenciado pela EMBRAT U R .

Habitat – Lugar onde um animal ou plantav ive ou se desenvo l ve normalmente,g e ralmente diferenciado por cara c t e r í s t i-cas físicas ou por plantas dominantes. Sãohabitats os desertos, os lagos e as florestas.

Health Club – Similar a fitness center, indi-ca uma área, normalmente em hotéis,

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que oferece serviços como massagem,sauna, relaxamento, ginástica e condi-cionamento físico.

Hipótese Gaia – Teoria de que a Terra e suaatmosfera funcionam como um organis-mo auto-regulador. A hipótese utiliza onome da deusa grega da terra. Algunsacreditam que esta teoria aponta para afragilidade essencial da Terra e os perigosdos distúrbios causados pelo homem nomeio ambiente. Outros proponentes daHipótese Gaia enfatizam a interde-pendência do homem com os solos, osoceanos, as florestas, a biomassa etc.Um terceiro grupo argumenta que, porser a Terra um organismo auto-regulador,ela poderá adaptar-se às mudanças cau-sadas pelo homem.

Impacto Ambiental – Toda ação ou ativi-dade, natural ou antrópica, que produzalterações bruscas em todo o meio ambi-ente ou apenas em alguns de seus com-ponentes. De acordo com o tipo de alte-ração, pode ser ecológico, social e/oueconômico.

INF – Abreviação de "infantil", normalmenteassociada a criança de 0 a 1 ano.

Infra-estrutura básica – são os elementosessenciais à qualidade de vida dascomunidades e que beneficiam comple-mentarmente os turistas ou osempreendimentos turísticos. Elementosque, embora não sejam implantadospara beneficiar exclusivamente os turis-tas, podem contribuir para a qualidadedo produto turístico (vias de acesso,saneamento básico, rede de energiaelétrica, comunicações, iluminaçãopública, etc.).

Inimigos naturais – Espécies que se alimen-tam de outras na natureza.

Insetívoros – Animais que se alimentam deinsetos.

Jet lag – Mal-estar causada pela mudança defuso horário; acontece normalmenteapós vôos de longa duração.

Jurcaib – Sigla de Junta de Representantesdas Companhias Aéreas Internacionais

no Brasil, entidade que reúne as empre-sas estra n g e i ras com operações ouescritórios no país.

King size bed – Cama de casal maior que onormal, normalmente com 2m x 2m.

Late check-out – Saída do quarto/aparta-mento após o horário normal ou progra-mado. Normalmente os hotéis dão umatolerância de até duas horas.

LDW (Loss Damage Waiver) – Ou SeguroTotal sem Franquia, para o caso delocação de veículo.

Leasing – Sistema comum principalmentena França, pelo qual o passageiro torna-se dono de um carro zero quilômetro porperíodos que podem variar de 17 dias aseis meses. Depois desse tempo o carro é"recomprado" pela empresa, que não fazmais o leasing do mesmo.

Lei 6938/81 (na forma da lei) – 1) com-petência de órgãos de licenciamentoambiental ( do SISNAMA) de concederLicença Ambiental e de exigir EIA/RIMA;2) competência do Conama de regula-mentar o licenciamento ambiental eEIA/RIMA.

Lençol freático (lençol de água subterrâneo)– Parte da água que cai no solo, decor-rente das chuvas, infiltrando-se na terraaté o ponto em que alcança a camada derocha impermeável, formando assim oslençóis d'água.

Life boat – Bote/barco salva-vidas.L i f t – Termo normalmente associado às

estações de esqui, designa os "meios deelevação" que levam os esquiadores atéos pontos de onde descem as pistas.

Liquidez – em contabilidade, o termo indicaa facilidade de uma empresa em pagarsuas obrigações.

LIS (Liability Insurance Supplement) – Termoutilizado em locação de veículos noexterior, que significa Suplemento aoseguro de responsabilidade.

Lista de espera – Relação com nomes depassageiros que desejam embarcar emum vôo que já está com todos os lugares

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GLOSSÁRIO

reservados. Havendo alguma desistênciaou não comparecimento, são convoca-dos os nomes da lista.

L i x iviados– refere-se ao processo delavagem dos solos em consequência doescoamento superficial da água sobre omesmo. Solos lixiviados são aqueles queperderam seus nutrientes por meio doprocesso de lixiviação.

Localizador – Termo comum na aviaçãocomercial, é um código que identificauma reserva.

Lounge – Salão, sala de estar dos hotéis ousala vip no caso de aeroportos.

Lucro contábil– o lucro apurado segundo alegislação vigente.

Manejo florestal – Modo de exploração dafloresta observando-se os critérios técni-cos e legais que visam assegurar a sus-tentabilidade da atividade e a conser-vação da diversidade biológica e dosecossistemas.

Maquete – modelo construído em trêsdimensões de prédios, áreas naturais, etc.

Meia pensão – Sistema de hospedagem comcafé da manhã e mais uma refeição(almoço ou jantar).

Meio Ambiente – Conjunto de todas ascondições, leis e influências externas cir-cundantes, de ordem física, química ebiológica, que interagem com um orga-nismo, população ou uma comunidade.

Merchandising – a venda de produtos comlogomarca. O objetivo é que o uso dalogomarca estimula a venda destes pro-dutos e assim resultando em retornofinanceiro para o proprietário da logo-marca.

M e rcúrio – Elemento metálico líquido,venenoso, pesado. O mercúrio é um sol-vente para a maioria dos metais, pro-duzindo amálgamas. É usado em ter-mômetros, barômetros, comutadores deluz, tintas e baterias. Uma vez no ambi-ente, o mercúrio persiste e se concentrana medida em que sobre na escala ali-mentar atingindo níveis especialmente

altos nos peixes e crustáceos. Aexposição prolongada ao mercúrio, porinalação ou por ingestão, pode preju-dicar o sistema nervoso central.

Metais pesados – Metais com números atômi-cos de médios a altos, como o cobre, ocádmio, a prata, o arsênico, o cromo e om e rcúrio, e que são tóxicos em concen-t rações relativamente baixas. Persistem noambiente e podem se acumular em níve i sque interrompem o crescimento das plan-tas e interferem na vida animal. Os detri-tos de atividades minera d o ras e industriaise o lodo de esgoto são fontes de concen-t ração de metais pesados potencialmentep r e j u d i c i a i s .

Microorganismos – São os conhecidosmicróbios. Animais e vegetais de tama-nho microscópico que vivem em todanatureza, no ar, na água, em outros seresvivos e no solo.

Milhagem – Também conhecido comoPlano de Milhagem, é uma premiaçãoque as companhias oferecem em trocada fidelidade dos passageiros. Exemplo:ao comprar uma passagem São Paulo-Manaus o passageiro pode ganhar 10 milmilhas. Ao juntar 20 mil pode trocá-laspor uma passagem aérea. A utilizaçãodas milhas, contudo, deve ser solicitadacom antecedência, pois é sujeita àdisponibilidade de lugar.

Missão – finalidade pela qual se cria deter-minado projeto ou instituição.

MMAP – Sigla que indica "meia pensão" .Modificação genética – tecnologia usada

para alterar material genético de célulasvivas ou organismos, a fim de que omesmo seja capaz de produzir novassubstâncias ou realizar novas funções.

Monitor ambiental – pessoa não credencia-da pela EMBRATUR responsável pelacondução de um turista ou grupo de tu-ristas em ambientes naturais, geralmentecapacitado para tal. Quando residenteno local visitado, pode ser chamado demonitor local, condutor de visitantes oupopularmente de guia local.

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Monocultura – Cultura de uma só espécie eem larga escala, ocupando grandes áreasde terra.

NET price – ë o preço de um produto turís-tico menos a comissão do operador e/ouagência.

Nicho – Papel funcional de uma espécie (emuma comunidade ou em um habitat) quefornece as condições necessárias a umdeterminado organismo.

Nidificar – fazer ninho.No Show – Não comparecimento de um

passageiro ao embarque ou a não entra-da do hóspede.

Nobrea k – Equipamento utilizado para estabi-lizar a corrente elétrica e fornecer, por umcurto período de tempo, energia (tembaterias ou conexão para baterias exter-nas). Muito utilizado como suporte paraequipamentos de informática, evitandodanos aos equipamentos e perda de tra-balho por queda súbita da energia elétrica.

Non Stop – Vôo sem escalas.Oferta turística – Conjunto de elementos

composto por atra t ivos turísticos,serviços turísticos, serviços públicos einfra-estrutura.

OGM – organismos geneticamente modifi-cado.

On time – No horário.ONG – Abreviatura de organização não-

g overnamental. Organizações vo l u n-tárias, sem fins lucrativos, não afiliadas anenhuma organização do governo.

OP – Autorização para emissão de pas-sagem em outro local, normalmente nosaeroportos. É utilizado principalmenteem viagens de última hora.

Open voucher – Documento que garante aprestação de um serviço que ainda nãotem data definida.

O p e ra d o ra – Empresa responsável pelamontagem dos pacotes turísticos (ve rAgência de Viagens e Turismo).

Operadora de ecoturismo – Termo popular-mente atribuído às agências de viagens eturismo responsáveis pela operação de

roteiros de ecoturismo (ver Agência deViagens e Turismo).

Operator – termo em inglês para operadora.Organismo – toda entidade biológica capaz

de reproduzir e/ou transferir materialgenético, incluindo vírus, príons e outrasclasses que venham a ser conhecidas.

Ornitólogo – especialista em aves, pássaros.Outlet – Loja de fábrica ou conjunto de lojas

que vendem diretamente do fabricantepara o consumidor; podem ser chamadastambém de outlet mall ou factory outlet.

Overbooking – Acontece quando a empresaaérea vende mais assentos que o númerototal do avião; ou quando o hotel reservaum número maior de apartamentos doque o disponível.

Overhead – custos indiretos.Ozônio – Gás azulado, constituído por três

átomos de oxigênio (O3). Na terra, oozônio é formado pela reação dooxigênio com os poluentes do ar urbano,quando expostos à luz solar. Na estratos-f e ra, o ozônio é criado quando asmoléculas de oxigênio são divididas pelaluz solar.

Pacote turístico – Roteiro de viagem prede-terminado pela operadora de viagem,que inclui os meios de tra n s p o r t e ,hospedagem, alimentação, passeios,t raslados etc. Os pacotes podem sercoletivos (excursão) ou individuais (for -fait).” (Pellegrini, 2000, p.190).

PA I (Personal Accident Insura n c e) – OuSeguro Pessoal, cobre as despesas médi-cas dos ocupantes do carro alugado emcaso de acidente.

Paisagem – aspecto visível e perceptível doespaço. É classificada como natural, cul-tural e urbana.

Passivo – em contabilidade, indica a partedo balanço que mostra os recursos finan-ceiros de uma empresa. Também podeser visto como as obrigações que aempresa tem perante terceiros eacionistas. Por exemplo: empréstimos, ocapital dos acionistas.

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GLOSSÁRIO

Patrimônio cultural – os bens de naturezamaterial e imaterial, tombados indivi-dualmente ou em conjunto, portadoresde referência à identidade, à ação, àmemória dos diferentes grupos dasociedade nos quais se incluem: os con-juntos urbanos e sítios de valor histórico,paisagístico arqueológico, paleontológi-co e científico.

Patrimônio natural – Considera-se patri-mônio natural o conjunto de monumen-tos naturais (formações físicas ou bioló-gicas), acidentes geológicos, hábitats deespécies ameaçadas de extinção, desdeque apresentem valor científico e/ouestético excepcional (Pellegrini, 2000).

Pax – pessoa. No mundo do turismo, é umaabreviação de passageiro (turista).

Payback – prazo de retorno de um investi-mento.

Pensão completa – Sistema de hospedagemque inclui todas as refeições.

Perdas biológicas significativas – são aque-las perdas que comprometem os proces-sos ecológicos.

Perenes – Culturas de ciclo longo que per-manecem por vários anos em formação eou produção.

Pesticida – Produto químico utilizado paramatar pragas, especialmente insetos eroedores. Esta categoria inclui insetici-das, herbicidas, fungicidas e raticidas.

PH – Medida da condição ácida ou alcalinade uma solução química. O PH varianuma escala de 0 a 14, sendo 0 acondição mais ácida e 14, a mais alcali-na. Uma solução com PH de 7,0 é neu-tra. O PH indica quantos átomos dehidrogênio há num líquido.

Plasmo – o desenvolvimento da argamassaarmada ou ferrocimento.

Plasto – argamassa armada com tela plásticatipo rede.

P N R – Do inglês "Passanger NumberReservation"; trata-se do resumo de umareserva de passagem aérea.

Pólo ecoturístico – conjunto de destinos

ecoturísticos de uma mesma região,planejados e divulgados de maneiraintegrada. Possui um núcleo receptordotado de maior infra-estrutura turísticado que as regiões adjacentes.

Poluição – a degradação da qualidadeambiental resultante de atividades quedireta ou indiretamente: a) prejudiquema saúde, a segurança e o bem estar dapopulação, b) criem condições adversasàs atividades sociais e econômicas, c)afetem desfavo ravelmente a biota, d)afetem as condições estéticas ou sani-tárias do meio ambiente, e) l a n c e mmatérias ou energia em desacordo comos padrões ambientais estabelecidos.

Poluição de fonte não-pontual – Poluição defontes difusas, como o deflúvio, adeposição aérea ou a agricultura.

Poluição de fonte pontual – Qualquerpoluição derivada de uma fonte fixa,como um cano ou uma chaminé. Emgeral, refere-se à poluição da água.

Poluição do ar – Introdução de contami-nantes no ar. Os poluentes do ar divi-dem-se em quatro categorias principais –aerossóis (gotículas de líquido suficiente-mente pequenas para estarem em sus-pensão no ar), partículas (cinzas, poeirae outros pequenos pedaços de matériasólida flutuando no ar), radiação e gases.Os quatro principais tipos de gases po-luentes são o monóxido de carbono(CO), os óxidos de nitrogênio, os óxidosde enxofre e os compostos orgânicosvoláteis.

Poluição térmica – Aumento prejudicial natemperatura da água decorrente, comfreqüência, da liberação de água aqueci-da utilizada no arrefecimento das usinasgeradoras de eletricidade. A poluiçãotérmica é danosa, em especial, para avida aquática.

Ponto a Ponto – Tarifa promocional para oexterior, em que as datas são previa-mente marcadas e o tempo de per-manência é limitado e estipulado

População local – ver comunidade local.

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População tradicional – ver comunidadetradicional.

População – Conjunto de indivíduos de umaespécie que ocupa uma determinadaárea.

Porosididade – Espaço entre partículas desolo que permite a passagem de ar eágua.

Pousada – estabelecimento localizado empontos de atrativos turísticos que ofereçaalojamento de conveniência para o hós-pede que se caracterize pela hospitali-dade e ambientação simples,a c o n chegante e integrada à região(EMBRATUR, 1998).

Pré-moldado – componentes pré-fabricadosde concreto utilizados em construção.

P r e s e r vação – Ações que garantem amanutenção rigorosa das característicaspróprias de um ambiente e as interaçõesentre os seus componentes.

P r ivate fair – Tarifa priva t iva, normalmented i s p o n í vel apenas para grandes empresas.

Processos ecológicos – são processos dei n t e ração entre elementos do ecossistema,fundamentais na manutenção da quali-dade e do funcionamento desse ecossis-tema, por exemplo, o ciclo de nutrientes,cadeia alimentar, polinização etc.

PTA – Pre Pay Ticket Advice, termo para de-signar que o pagamento do bilhete serárealizado em um lugar e a emissão seráfeita em outro, normalmente em umaeroporto da mesma cidade ou mesmode outra. O passageiro deverá apresentaro RG ou passaporte para a retirada.

Qualidade em serviços – geralmente a satis-fação do cliente é apontada como aspec-to fundamental para afirmar-se que umserviço prestado tem qualidade. No casode qualidade ambiental, as teorias sobreTQEM - Total Quality Env i r o n m e n t a lManagement consideram não apenas asatisfação do cliente (consumidor) mastambém a satisfação de outros atoresenvolvidos na prestação de serviços de

uma empresa, tais como seus pro-prietários, empregados, fornecedores,comunidade local, as instituições públi-cas responsáveis pela legislação (BEN-NETT & FREIERMAN, 1994).

Receptivo – Serviços prestados aos viajantesno local de destino. Normalmente asempresas contratam os serviços dereceptivo onde não têm filiais.

Reciclagem – Reutilização dos recursos,especialmente os não-renov á veis, pormeio de recuperação de detritos, recon-centração e reprocessamento para usodos resíduos sólidos orgânicos einorgânicos.

Recursos ambientais – a atmosfera, as águasinteriores, superficiais e subterrâneas, osestuários, o mar territorial, o solo, o sub-solo, os elementos da biosfera, a fauna ea flora.

Recursos culturais – formados por diferentesmanifestações próprias de um modeloc u l t u ral: formas de vida, tra d i ç õ e s ,culinária, folclore, manifestações técni-cas, artísticas e culturais contem-porâneas, festas e celebrações, etc.( M a chín citada por Pellegrini Filho, 2000)

Recursos turísticos naturais – recursos dis-tribuídos no espaço geográfico e queconstituem aquilo que se convencionouchamar de paisagem, identificados ouqualificados como de valor e/ou de inte-resse para uso turístico. (Pellegrini Filho,2000, p.231)

Reflorestamento – Replantio de florestasdevastadas ou de áreas devolutas.

Relações Interespecíficas – Relações entreespécies que vivem numa comunidade;efeito que indivíduos de uma espéciepode exercer sobre indivíduos de outraespécie.

Relações Intraespecíficas – Relações entreindivíduos, populações ou subespéciesda mesma espécie.

Rent – Aluguel; no caso de veículos, rent-a-car/aluguel de carros.

Resíduo perigoso – Resíduo líquido ou sóli-

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GLOSSÁRIO

do que ameaça a segurança ou a saúdeda população e/ou do meio ambiente.

Resíduos biológicos perigosos – Materialhumano ou animal que pode transmitirsubstâncias prejudiciais ao meio ambi-ente. Incluem fezes, secreções, hemode-rivados (vindos do sangue), ataduras eoutros materiais. Os hospitais produzemgrande quantidade de resíduos biológi-cos perigosos.

Resort – meio de hospedagem “...localiza -do em área de conservação ou em equi -líbrio ambiental, sua construção deve serantecedida de Estudo de ImpactoAmbiental (EIA) e de planejamento e usodo solo, sempre tendo em vista a conser -vação ambiental. Deve ter condições dese classificar nas categorias “luxo” e“luxo superior” e possuir, ainda, áreasnão edificadas, infra - e s t r u t u ra deentretenimento e lazer significativa -mente superiores às dos empreendimen -tos similares não classificados nessa ca -tegoria” (EMBRATUR 1998).

R e volução Verde – Pacote tecnológicodesenvolvido por cientistas americanos.Incluiu o uso de sementes melhoradas euso intensivo de insumos (adubos,agrotóxicos etc).

Risco (risk) – é uma medida de incertezas.Nos processos comerciais , a incertezatrata de obter objetivos organizacionais.Pode consistir em consequencias positi-vas ou negativas apesar de que na maiorparte das vezes os riscos positivos dechamam oportunidades e os riscos nega-tivos são nada mais que riscos.

Salinização – Degradação de terras férteiscausadas pelo sal. A salinização das ter-ras agrícolas é comum em áreas quedependem de irrigação – a eva p o ra ç ã osuperficial retira sais do solo e das pedra sno subsolo, sendo que a redução daságuas subterrâneas aumenta o perc e n t u a lde minerais e sais na água armazenada.

Scanner – equipamento eletrônico que digi-taliza imagens, facilitando edição e repro-dução destas imagens com computador.

Sedimentação – Acúmulo de solo e/oupartículas minerais no leito de um corpod’água. Em geral, esse acúmulo é causa-do pela erosão de solos próximos oupelo movimento vagaroso de um corpod’água como ocorre quando um rio érepresado para formar um reservatório.

Serviços turísticos – elementos fundamen-tais que possibilitam a permanência doturista na localidade visitada e o desfrutedos atrativos turísticos. Esses serviçospodem ser meios de hospedagem, ali-mentação, agenciamento turístico, trans-portes turísticos, locação de veículos eembarcações, espaço para eventos etc.

Sightseeing – Visita aos pontos turísticos dacidade.

Silvicultura – Cultivo de certos tipos deárvores para fins comerciais, como lenhaou fabricação de papel.

Sindetur – Sindicato das Empresas deTurismo, uma das entidades mais antigasdo setor; tem diversos capítulos estaduais.

Single Supplement – suplemento adicionalao preço para turista que não divide oquarto.

Site – Do inglês, significando local. É muitoutilizada na Internet, significando o localonde se localiza uma Home Page (pági-na eletrônica) de uma determinada pes-soa ou organização.

SLI (Supplemented Liability Insura n c e ) –Veja Ali e LIS.

Slide – é o produto final de um processofotográfico de imagem positiva, projeta-da através de uma fonte de luz contrauma superfície lisa e branca. A diferençaentre slide e foto comum é esta é umnegativo impresso em papel.

Snea – Sigla de Sindicato Nacional deEmpresas A e r oviárias, entidade quereúne as empresas aéreas nacionais.

Snorkel – tubo respirador para mergulhoesportivo de superfície.

Software/Hardware – Na informática, asmáquinas (computador, monitor etc.) sãoos Hardwares. Os programas utilizados

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pelos computadores, como os editoresde texto, são os Softwares.

Spots – mensagens curtas e rápidas transmi-tidas pela imprensa falada para a divul-gação de eventos, idéias, etc..

Stand by – Quando o passageiro/viajanteestá em situação sujeita a disponibili-dade de lugar.

Standard (STD) – Categoria de apartamentopadrão na hotelaria.

Superávit – sobra. No caso de ONGs semfins lucra t ivos o lucro geralmente échamado de superávit.

Surface – Termo associado ao bilhete aéreo.É um trecho implícito que é feito porterra. Exemplo - Vôo São Paulo-Miami,surface, Orlando-São Paulo. Ou seja,não há o trecho aéreo entre Miami eOrlando.

Terceira idade – segmento de mercado depessoas com mais de 55 anos.Geralmente já estão aposentados e os fi-lhos já são adultos.

Tonelagem – Termo utilizado principal-mente em relação aos cruzeiros maríti-mos. Não significa, contudo, o peso,sendo mais uma medida de espaço. Parasaber se um navio tem bom espaço inter-no, por exemplo, é comum dividir atonelagem pelo número de passageiros.Se o resultado for superior a 23 o navio éc o n s i d e rado como tendo um comespaço médio.

Tour – Muitas vezes utilizado como sinôni-mo de passeio / roteiro.

Tour comment – breve questionário deavaliação do roteiro respondido peloecoturista.

Tour conductor – Guia de turismo.Tour guide – Guia turístico (de informações

turísticas).Tour operator – Operadora de Turismo.Toxicidade – Capacidade de uma substância

de causar envenenamento ou morte.Trade de ecoturismo – Conjunto de empre-

sas ligadas à atividade ecoturística.

Transectos – Trilhas delimitadas para pes-quisa em ambientes naturais.

Transfer – Transporte, normalmente do aero-porto para o hotel; o mesmo que trasla-do; comum também na formação "trans -fer in" ou "transfer out", respectivamentetransporte de chegada e saída.

Traslado – O mesmo que "transfer".Traveller's Check – Cheque de viagem que

pode ser comprado em qualquer casa decâmbio do país mediante apresentaçãode passaporte e passagem aérea; tam-bém podem ser comprados em algumasagências bancárias.

Trip – Viagem.Turismo de massa – caracteriza-se pelo

deslocamento de grande número de pes-soas para os mesmos lugares nas mesmasépocas do ano, levando consequente-mente ao superdimensionamento dosequipamentos receptivos para atenderaos turistas (RUSCHMANN, 1997).

Uma perna – Apenas um trecho de umaviagem e não uma ida e volta. Exemplo:São Paulo–Rio de Janeiro.

Unidade de conservação – Espaço ambien-tal e seus recursos ambientais incluindoas águas jurisdicionais. Possui caracterís-ticas naturais relevantes e é legalmenteinstituído pelo Poder Público com obje-t ivos de conservação. Possui limitesdefinidos e existe sob o regime especialde administração, ao qual se aplicamgarantias adequadas de proteção.

Upgrade – Transferência de uma classe paraoutra superior sem pagamento de taxaadicional.

Valet Pa r k i n g – Estacionamento commanobrista.

Vip – Do inglês Very Important Person (pes-soa muito importante).

Visto de entrada – Autorização, concedidaou não, para que um estrangeiro possavisitar outro país. Antes de viajar ou decomprar a viagem é fundamental saberse o país de destino exige ou não o vistode brasileiros. Em caso positivo, informe-

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GLOSSÁRIO

se sobre a documentação necessária e osprazos para a entrega do requerimento.

Vôo regular – Que faz parte dos serviçosrotineiros de uma empresa aérea, compartida e chegada independente donúmero de passageiros .

Voucher – Ordem de serviço turístico emiti-do pela agência, operadora ou sua repre-sentante legal. Normalmente os viajanteslevam consigo e devem fazer a contra-apresentação para a prestação doserviço.

Workshop – reunião de trabalho

FONTE

Além das fontes abaixo citadas, esteglossário foi obtido por diferentes consultasao mercado de turismo, como a ABIH, aoglossário disponível no site do WWF-Brasil,e à técnicos e especialistas em turismo emeio ambiente. Parte dele foi desenvolvidopelo GEECO – Grupo de Estudos emEcoturismo. As fontes principais foram:

ARRUDA, R., “Populações Tradicionais e aProteção dos Recursos Naturais emUnidades de Conserva ç ã o”. In:Congresso Brasileiro de Unidades deConservação, Anais vol. 1. Curitiba: IAP,UNILIVRE, Rede Nacional Pró Unidadede Conservação, 1997.

BARRETTO, M. Manual de Iniciação aoEstudo do Tu r i s m o. Campinas, SP,Papirus, 1995.

BENNET, S.J., FREIERMAN, R., GEORGE, S.C o r p o rate Realities & Env i r o n m e n t a lTruths - Strategies for Leading yo u rBusiness in the Environmental Era, USA:John Wiley & Sons, Inc.,1994.

B O O, E. Ecotourism: the Potentials andPitfalls. World Wildlife Fund, 1990. 2v.

BRASIL. Lei da Política Nacional do MeioAmbiente (Lei nº 6.938/81). Bra s í l i a :DOU, 1981

BRASIL. Resolução nº 237 - ConselhoNacional do Meio Ambiente. Brasília:DOU, 1997

CNPQ. Glossário de Ecologia. São Paulo:ACIESP, 1987.

CEBALLOS-LASCURÁIN, H. Tourism, eco -tourism and protected areas: The state ofnature-based tourism around the worldand guidelines for its development. IVWorld Congress on National parks andProtected Areas. IUCN, GlandSwitzerland, and Cambridge, UK. 1996.

E M B R AT U R / I BAMA. Diretrizes para umaPolítica Nacional de Ecourismo. Brasília:EMBRATUR, 1994.

E M B R AT U R / I N M E T R O. Regulamento eMatriz de Classificação dos Meios deHospedagem e Turismo. 1998.

MICT/EMBRATUR. Legislação Brasileira deTurismo. Decreto n° 84.934/80.1980.

MICT/EMBRATUR. Legislação Brasileira deTurismo. Lei n° 8.623/93.1993.

MILANO, S. M. Unidades de Conservação –Conceitos Básicos e Princípios Gerais dePlanejamento, Manejo e Administração.In: Manejo de Áreas Natura i sProtegidas. Pa ra n á ,UNILIVRE/FBPN/FUNBIO, 1997.

PELLEGRINI, A. Dicionário Enciclopédicode Ecologia & Tu r i s m o. São Pa u l o :Editora Manole, 2000.

RUSCHMANN, D. M. Turismo ePlanejamento Sustentável – A Proteçãodo Meio A m b i e n t e. Campinas-SP:Papirus, 1997.

S E NAC / C E T. I n f o r m a t ivo sobre CursoTécnico de Administração de Unidadesde Conservação e Auxiliar T é c n i c oGurada-Parque. 1995.

TAKAHASHI, L. Y. Limite A c e i t á vel deCâmbio (LAC) – Manejando eM o n i t o rando Visitantes. In: Anais doCongresso Brasileiro de Unidades deC o n s e r va ç ã o. Vol. I – Conferências,Pa l e s t ras, Resumos, Relatórios,Workshops e Moções A p r ova d a s .Curitiba, IAP/UNILIVRE, 1997.

VASCONCELLOS, J. Trilhas Interpretativas:Aliando Educação e Recreação. In: Anaisdo Congresso Brasileiro de Unidades de

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C o n s e r va ç ã o. Vol. I – Conferências,Pa l e s t ras, Resumos, Relatórios,

Workshops e Moções A p r ova d a s .Curitiba, IAP/UNILIVRE, 1997.

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Projetos parceiros,participantes e consultores

LISTA DE CONTATOS

A lista das instituições parceiras do projeto deste Manual, dos técnicos do WWF-Brasil participantes e dos consultores está apresentada abaixo. Por uma questão de pratici-dade, os nomes de todos os técnicos que participaram deste projeto, em todos ou

alguns de seus eventos, estão listados por projeto que representaram.

Os participantes indicados com (*) não pertencem mais às suas instituições de origem e,assim, sugere-se que se busque na sua entidade de origem o contato atualmente disponível.Os participantes do WWF-Brasil podem ser encontrados pelo e-mail [email protected].

Projetos parceiros, instituições e respectivos técnicos:

1) Projeto TAMARInstituição: IBAMA e FUNDAÇÃO PRÓ-TAMAR – Fernando de NoronhaEndereço: Projeto TAMAR/IBAMA – Caixo Postal 50 - CEP.: 53.900-000 - Fernando de

Noronha, PE • Tel/Fax: (81) 3619-1171 e 3619-1367 Internet: www.tamar.org.br e-mail: [email protected]écnico: Cláudio Bellini - oficina de elaboração e planejamento do PEC, oficinas 1, 3 e 4

2) Projeto MamirauáInstituição: INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ

Endereço: Av. Brasil, 197 – Tefé – AM – CEP: 69.470-000 • Tel/Fax: (92) 743-2736 Internet: www.mamiraua.org.br e-mail : [email protected]écnicos: Ricardo Borges Ferrão - oficinas 3 e 4 • Aline Azevedo - oficinas 1 a 4 (*)

3) Projeto Mico-Leão-DouradoInstituição: ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO (AMLD)Endereço: Rod. BR 101, km 214 – Cx. Postal 109.968 – CEP: 28.860-970 – Casimiro de

Abreu - RJ • Tel/Fax: (24) 2778-2025 e-mail: [email protected] Técnicos: Denise Rambaldi - oficina de elaboração e planejamento do PEC, oficinas 1 a 4

• Alexandre J. F. Vieira - oficina 2

4) Projeto VeadeirosInstituição: ASSOCIAÇÃO DE CONDUTORES DE VISITANTES DA CHAPADA DOS VEADEIROS (ACV-CV)Endereço: Av. Ary R. V. Filho, quadra 47, APM 9 – Cx. Postal 10 – CEP 73.770-000 – Alto

Paraíso - GO • Tel/Fax: (62) 446-1690 e 446-1159Técnicos: Elias Martins - oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficina 1 •

Ion David Z. da Silva - oficinas 1 a 4 • Fernando Santana - oficinas 2 a 4 – (*)

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5) Projeto RondôniaInstituição: ORGANIZAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE RONDÔNIA (OSR)Endereço: Rua Joaquim Nabuco, 1215 – Bairro Areal – CEP: 78.916-420 – Porto Velho -

RO • Te l / Fax: (69) 224-1368e-mail: o s r @ e n t e r- n e t . c o m . b r

Instituição: AÇÃO ECOLÓGICA GUAPORÉ (ECOPORÉ)Endereço: Rua Rafael Vaz e Silva, 3335 – CEP: 78.900-000 – Porto Velho - RO

Tel/Fax: (69) 224-7870e-mail: [email protected]écnico: Carolina Dória – oficinas 1 a 4 •

Instituição: ASSOCIAÇÃO DOS SERINGUEIROS DO VALE DO GUAPORÉ (AGUAPÉ)Endereço: Av. Santa Cruz, 963 – Centro – Costa Marques - RO • Tel/Fax: (69) 651-2676Internet: w w w. p o u s a d a s n e g ra s . c o me-mail: [email protected]écnicos: Manoel Teófilo da Silva - oficina 1 • Elias Silva L. Vale - oficinas 3 e 4

6) Projeto SilvesInstituição: ASSOCIAÇÃO DE SILVES PELA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E CULTURAL (ASPAC)Endereço: Ponta do Macário, s/n – CEP 69.119-000 – Silves - AM •

Tel/Fax: (92) 528-2124Internet: www.aldeiadoslagos.com.bre-mail: [email protected] Técnicos: Vicente Neves - oficinas 1 a 4 • Tibério Allogio - oficinas 1 a 3 - (*)

7) Projeto PantanalInstituição: SECRETARIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, CULTURA E TURISMO / MSEndereço: Rua Projetada, s/n, Setor 3, Quadra 3, Parque dos Poderes – 79.031-920 –

Campo Grande - MS • Tel/Fax: (67) 318-5600Internet: www.ms.gov.brTécnica: Sylvia Torrecilha - oficinas 1 a 4

Instituição: SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E TURISMO – CORUMBÁ/MSEndereço: Rua Manoel Cavassa, 275 – CEP: 79.300-900 – Corumbá – MS •

Tel/Fax: (67) 231-7336Técnica: Silvia Gervásio - oficinas 1 a 3 - (*)

8) Projeto SuperagüiInstituição: SOCIEDADE DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL (SPVS)Endereço: Rua Gutemberg, 296- Batel - CEP: 80420-030 - Curitiba -PR •

Tel/Fax: (41) 242-0280Internet: www.spvs.org.br e-mail: [email protected] Técnicas: I velise Vicenzi - oficinas 1 a 4 - • Vitória Yamada Muller - oficinas 1 a 3 – (*)

• Verônica “Kusum” Toledo - oficina de participação e parcerias, oficina 4 - (*)

WWF-Brasil (em ordem alfabética)

Bernadete Lange – oficinas 3 e 4 e oficina de participação e parcerias • Eduardo Mongeli –

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PROJETOS PARCEIROS, PARTICIPANTES E CONSULTORES

oficina 4 • Walter Suiter – oficina 4.

Técnicos que não mais pertencem ao quadro do WWF-Brasil:Mário Menezes – oficina de participação e parcerias • Irineu Tamaio – oficina de participação e parc e r i a s • Leandro Fe r r e i ra – oficina 3 • Nira Fialho – oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4; oficina de participação e parcerias •Robert Buschbacher – oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficina 1 • SylviaMitraud – oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4; oficina de partici -pação e parcerias •Ulisses Lacava – oficina 4.

Consultores (em ordem alfabética)

1) Ariane JanérOficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.Especialidade: Elaboração de Produtos; Marketing e Administração Financeira.Endereço: Rua Av. Pres Antonio Carlos 51/sala 601, Castelo, Rio de Janeiro •

Telefone: (21) 2422 6228 • Fax: (21) 2262 1103e-mail: [email protected]

2) Gilberto FidelisOficinas: oficina 3.Especialidade: Contabilidade para ONGs.Endereço: Av. Presidente Wilson, 164 - 5º andar – Sala 506 - Centro - CEP: 20030-

020 - Rio de Janeiro - RJ • Tel/Fax: (21) 2533-1950 / 2262-6535e-mail: [email protected]

3) Jane VasconcellosOficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.Especialidade: Interpretação AmbientalEndereço: Rua Cel. Fernando Machado, 813 / 1303 - CEP - 90.010-321 - Porto

Alegre - RS • Tel/Fax: (21) 212-3215e-mail: [email protected]

4) Johan van LengenOficinas: oficina 3.Especialidade: Infra-estrutura de Baixo Impacto EcológicoEndereço: Rua Roquete Pinto, 20 A - Urca - CEP: 22.291-210 - Rio de Janeiro / RJ

• Tel/Fax: (21) 2244-5930e-mail: [email protected] • Internet: www.tiba.org.br

5) Marcos Martins BorgesOficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.Especialidade: Inventário Participativo; Diagnóstico e Planejamento Regional.e-mail: [email protected]) Roberto MourãoOficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.Especialidade: Elaboração de Produtos de Ecoturismo

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Endereço: Rua Visconde do Pirajá, 605 - Apto. 608 - Ipanema - CEP: 22410-003 - Rio de Janeiro - RJ • Tel/Fax: (21) 2512-4187

e-mail: [email protected] • Internet: www.ecobrasil.org.br

7) Waldir Joel de AndradeOficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4;

oficina de participação e parcerias.Especialidade: Manejo de Trilhase-mail: [email protected]

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Declaração de Ecoturismo de Quebec

Documento revisto e aprovado pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas

e pela Organização Mundial do Turismo - 10/06/2002

Documento traduzido pelo Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil

C omo parte do Ano Internacional do Ecoturismo, declarado pelas Nações Unidas, e soba égide do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e da OrganizaçãoMundial do Turismo (WTO), mais de mil integrantes dos setores público e privado e

de organizações não-governamentais provenientes de mais de 132 países participaram daCúpula de Especialistas em Ecoturismo em Quebec, no Canadá. O evento aconteceu de 19a 22 de maio de 2002 e teve como organizadores a Tourisme Quebéc e a ComissãoCanadense de Turismo.

A série de 18 reuniões preparatórias realizadas em 2001 e 2002, que culminou com esteencontro em Quebec, teve a participação de 3 mil representantes de governos nacionais elocais (incluindo técnicos de turismo e de meio ambiente), de agências de turismo, de orga-nizações não-governamentais, de empresas de consultoria, de universidades e de comu-nidades locais e indígenas.

Este documento considera o processo preparatório, assim como as discussões realizadasdurante a Cúpula. Embora seja o resultado de uma discussão de múltiplas partes interessadas,este não é um relatório oficial. A sua principal utilidade é registrar uma agenda preliminar eestabelecer uma série de recomendações para o crescimento das atividades de ecoturismoimplementadas sob o contexto do desenvolvimento sustentável.

Durante o encontro, definiu-se a Conferência de Desenvolvimento Sustentável Rio+10,que acontece em Joanesburgo, África do Sul, em agosto/setembro de 2002, como o espaçode discussão e de estabelecimento de políticas internacionais para o setor para os próximos10 anos. Enfatizou-se que o turismo deve ser mundialmente visto como prioridade por suapotencial contribuição para a erradicação da pobreza e conservação dos ecossistemasameaçados. Assim, os integrantes da Cúpula solicitam que as Nações Unidas, suas organiza-ções e os representantes dos governos que estive ram em Quebec disseminem estaDeclaração e os demais resultados deste evento durante a Rio+10.

Os participantes, cientes da limitação deste processo consultivo para incorporar sugestõese contribuições de uma grande variedade de interessados, particularmente de organizaçõesnão-governamentais e de comunidades indígenas e locais,

❐ reconhecem que o ecoturismo compreende em si os princípios do turismo sustentávelconsiderando seus impactos econômico, social e ambiental. Ele também traz consigo osseguintes pontos:

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• contribui para a conservação das heranças naturais e culturais• em seu planejamento, desenvolvimento e operações, inclui as comunidades locais e

indígenas e contribui para seu bem-estar• interpreta as heranças naturais e culturais para seus visitantes• funciona de forma ideal para indivíduos e pequenos grupos organizados

❐ reconhecem que o turismo tem significantes e complexas implicações sociais, econômi-cas e ambientais que podem trazer benefícios e custos para o meio ambiente e para ascomunidades,

❐ levam em consideração o crescente interesse das pessoas em visitar áreas naturais, ❐ reconhecem que o ecoturismo tem tido papel primordial na introdução de práticas sus-

tentáveis ao setor do turismo,❐ enfatizam que o ecoturismo deve contribuir para que a indústria do turismo seja mais sus-

t e n t á vel elevando os benefícios econômicos para as comunidades anfitriãs, contribuindo ati-vamente para a conservação dos recursos naturais e integridade cultural das comunidades econscientizando os turistas a respeito da importância das heranças naturais e humanas,

❐ reconhecem a diversidade cultural associada às áreas naturais, especialmente por causada presença histórica das comunidades locais responsável pela manutenção dos conhe-cimentos tradicionais, usos e práticas sustentáveis trazidas ao longo dos séculos,

❐ reiteram que os fundos mundiais para a conservação e manutenção de áreas ricas cul-turalmente e em biodiversidade têm sido inadequados,

❐ reconhecem que o turismo sustentável pode ser uma importante fonte de receita para asáreas protegidas,

❐ enfatizam que muitas destas áreas são habitadas por populações rurais pobres que, comfreqüência, carecem de sistemas de saúde, educação, comunicação e de outras infra-estruturas necessárias para um desenvolvimento adequado,

❐ afirmam que diferentes formas de turismo, especialmente o ecoturismo, são valiosas opor-tunidades econômicas para as populações locais e, se realizadas de forma sustentável,podem contribuir de forma intensa para a conservação,

❐ reforçam que, quando mal planejada e desenvolvida, a atividade do turismo em áreasnaturais e rurais contribui para o aumento da pobreza, deterioração das paisagens, erosãodas culturas tradicionais, redução da qualidade e quantidade de água e constitui umaameaça para a vida selvagem e biodiversidade,

❐ lembram que o ecoturismo deve reconhecer e respeitar os direitos à terra dos indígenas edas comunidades locais, incluindo suas áreas protegidas e sagradas,

❐ afirmam que, para a obtenção de reais benefícios sociais, econômicos e ambientais e paraa prevenção de impactos negativos, é necessário que o ecoturismo e demais atividadesturísticas tenham mecanismos participativos de planejamento permitindo que as popu-lações locais e indígenas definam o uso de suas áreas e optem, se julgarem necessário,pela não adoção da prática,

❐ reconhecem a necessidade de se combater preconceitos de raça, sexo ou outras circuns-tâncias pessoais entre as pessoas com respeito ao seu envolvimento com o turismo comoconsumidoras ou fornecedoras/prestadoras de serviços,

❐ atribuem aos visitantes a responsabilidade de promover a sustentabilidade do destino e domeio ambiente em geral por meio da sua escolha de seus passeios e atividades e por meiode seus comportamentos. Com base nestas informações, os participantes da Cúpula de Quebec produziram uma

série de recomendações para governos, setor privado, organizações não-governamentais,444

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DECLARAÇÃO DE ECOTURISMO DE QUEBEC

associações de base comunitária, instituições de ensino e pesquisa, agências financiadoras ede auxílio ao desenvolvimento e comunidades indígenas e locais, presentes abaixo.

A. Aos governos nacionais, regionais e locais

1. formular políticas e estratégias de desenvolvimento nacional, regional e local quesejam compatíveis com os objetivos do desenvolvimento sustentável. É importante queisto seja conduzido por meio de um amplo processo de consulta àqueles que see nvo l verão ou que serão afetados pelas atividades de ecoturismo. Se possível, deve - s eampliar os princípios do ecoturismo às demais atividades do setor de turismo;

2. em conjunto com as comunidades locais, setor privado, ONGs e todas as partes inte-ressadas, garantir a proteção da natureza, das culturas locais e especialmente do co-nhecimento tradicional, dos recursos genéticos, direito à terra e à água;

3. g a rantir o envolvimento e a participação apropriada de cada instituição pública emn í vel local, regional e nacional, incluindo o estabelecimento de grupos de tra b a l h oi n t e r-ministeriais, quando necessário. Além disso, são necessários orçamentos adequa-dos e legislações apropriadas que permitam a implementação dos objetivos e metasestabelecidos pelas partes interessadas;

4. i n c l u i r, em níveis nacional, local e regional, em seu plano de ação mecanismos regu-latórios e de monitoramento, além de indicadores de sustentabilidade aceitos pelaspartes interessadas e estudos de impacto ambiental para prevenir ou minimizar a ocor-rência de impactos negativos nas comunidades ou no meio ambiente. Os resultadosdos monitoramentos devem estar à disposição do público, já que estas informaçõespermitirão que os turistas escolham operadores que adotam princípios do ecoturismo;

5. d e s e nvo l ver mecanismos de avaliação dos custos ambientais em todos os aspectos doproduto de turismo, incluindo o transporte internacional;

6. d e s e nvo l ver a capacidade de implementação de mecanismos de gestão do crescimen-to, como zoneamento, e de uso participativo do solo tanto em áreas protegidas comoem seus entornos e em outras zonas de desenvolvimento do ecoturismo;

7. utilizar manuais de utilidade e eficiência consagradas para servir de base para proces-sos de certificação, adoção de selos verdes e outras iniciativas voluntárias promov i d a sem nome da sustentabilidade do ecoturismo. É necessário encorajar os operadores ase unir a tais iniciativas e promover o seu reconhecimento por parte dos consumidores.Os sistemas de certificação da atividade, no entanto, devem sempre seguir critériosregionais, promover capacitações e fornecer apoio financeiro de forma a se tornara c e s s í veis também aos pequenos e médios operadores. Uma série de critérios e méto-dos é necessária para que estes esquemas atinjam seu objetivo ;

8. g a rantir o acesso ao desenvolvimento dos recursos técnicos, financeiros e humanosp a ra micro, pequenas e médias opera d o ras, que são a base do ecoturismo, de forma alhes garantir o estabelecimento, crescimento e desenvolvimento de uma maneira sus-t e n t á ve l ;

9 . definir políticas apropriadas, planos de manejo e programas interpretativos para visi-tantes. Estabelecer mecanismos de identificação de fundos adequados para a gestão deáreas protegidas com acelerado crescimento de visitantes e proteção de ecossistemasvulneráveis. Estes planos devem incluir normas claras, estratégias de manejo direto eindireto e regras para uso de recursos de forma a garantir o monitoramento dos impactos

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sociais e ambientais para todos os empreendimentos de ecoturismo na área;

10. incluir as micro, pequenas e médias operadoras de ecoturismo, assim como aquelas debase comunitária, na estratégia promocional e programas desenvolvidos pelas empresasnacionais de turismo, tanto no mercado nacional como internacional;

11. desenvolver redes regionais para a promoção e marketing de produtos de ecoturismo emnível nacional e internacional;

12. criar incentivos para que os operadores de turismo tornem suas atividades mais ambi-ental, social e culturalmente responsáveis;

13. garantir que alguns princípios ambientais e sanitários básicos sejam definidos e adota-dos para todos os empreendimentos de ecoturismo, mesmo para aqueles conduzidosem parques nacionais e áreas rurais. Isto deve incluir aspectos como a escolha de locais,planejamento, tratamento de lixo, proteção de córregos e riachos, entre outras coisas.Deve-se garantir ainda que as estratégias de desenvolvimento do ecoturismo sejam con-duzidas sob uma forma que preveja investimentos em infra-estrutura sustentável e emcapacitação das comunidades para que elas monitorem estes aspectos;

14. investir ou dar apoio a instituições que investem em programas de pesquisa em ecotu-rismo e turismo sustentável. Instituir estudos e pesquisas que levantem dados sobrefauna e flora, com atenção especial para espécies ameaçadas, como parte de um pro-grama de levantamento de impactos para as atividades de ecoturismo;

15. apoiar o desenvolvimento de princípios internacionais, manuais e códigos de ética parao turismo sustentável fortalecendo as políticas nacionais e internacionais que utilizam oconceito de desenvolvimento sustentável na atividade;

16. considerar como uma opção o remanejamento de áreas públicas de produção intensivapara a atividade do turismo combinada à conservação, quando esta mudança pudertrazer benefícios sociais, econômicos e ambientais para as comunidades em questão;

17. promover e desenvolver programas educacionais para crianças e adolescentes paraaumentar a consciência a respeito da importância da conservação da natureza e do usosustentável, das culturas locais e indígenas e da sua relação com o ecoturismo;

18. promover a colaboração entre operadores de turismo, demais prestadores de serviços eONGs para permitir a educação de turistas e influenciar seu comportamento nos desti-nos, especialmente em países em desenvolvimento;

19. incorporar os princípios de transporte sustentável no planejamento e implementação doturismo e promover locomoções de baixo impacto sempre que possível.

B. Ao Setor Privado

20. planejar, desenvolver e conduzir seus empreendimentos minimizando impactos e con-tribuindo para a conservação de ecossistemas sensíveis, do meio ambiente em geral elevando benefícios às comunidades indígenas e locais;

21. ter em mente que, para ser sustentável, um empreendimento de ecoturismo precisa serrentável às partes envolvidas, incluindo proprietários, investidores, gerentes e emprega-dos, assim como às comunidades e às organizações de conservação presentes na áreaonde a atividade é desenvolvida;

22. garantir que a utilização de materiais, planejamento e operações incorporem os princí-446

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pios da sustentabilidade, como conservação da água, energia e materiais;

23. adotar formas confiáveis de regulação voluntária, como selos verdes, de forma ademonstrar aos seus potenciais clientes o seu real compromisso com os princípios dasustentabilidade;

24. cooperar com organizações governamentais e não-governamentais que trabalham comconservação de áreas protegidas e de biodiversidade assegurando que suas práticas deecoturismo sejam realizadas de acordo com planos de gestão e outras regulações paraestas regiões. Desta forma, fica evidente que se preocupam em minimizar quaisquerimpactos negativos garantindo a qualidade das experiências de turismo e contribuindofinanceiramente para a conservação dos recursos naturais;

25. aumentar o uso de materiais, produtos, logística e recursos humanos locais em suasoperações de forma a manter a autenticidade da atividade de ecoturismo e ampliar osbenefícios financeiros ao destino. Para que isso seja possível, é necessário também quese invista no treinamento e na capacitação da mão-de-obra local;

26. trabalhar ativamente com lideranças indígenas para garantir que suas comunidades eculturas sejam tratadas com respeito e que seu quadro de funcionários e clientes sejabem informado a respeito das áreas indígenas, de seus costumes e história;

27. garantir que a cadeia de produtos e serviços que compõem a operação de ecoturismoseja sustentável e compatível com o nível de sustentabilidade exigido ou esperado peloconsumidor;

28. t rabalhar ativamente com lideranças indígenas e com comunidades locais para gara n-tir que elas sejam tratadas com respeito e que os turistas tenham informações arespeito delas;

29. p r o m over entre seus clientes, os turistas, uma forma consciente de comportamento dando-lhes a oportunidade de participar de experiências de educação ambiental e de conv ive rcom pessoas de outras culturas. Além disso, contribuições voluntárias às comunidadeslocais e às atividades de conservação realizadas na região devem ser encora j a d a s ;

30. gerar um nível de consciência entre funcionários por meio de aulas de educação am-biental e dar suporte ao trabalho que eles e suas famílias realizam em nome da conser-vação, de desenvolvimento econômico da comunidade e na redução da pobreza;

31. diversificar suas ofertas desenvolvendo um leque de atividades turísticas e estendendosuas visitas a locais diversos de forma a disseminar o potencial de ecoturismo destasregiões e evitar que um determinado local seja superexplorado e sua sustentabilidadecolocada em perigo. Para tanto, as operadoras devem respeitar e contribuir para o esta-belecimento de limites de visitas de cada local;

32. criar e desenvolver mecanismos de arrecadação de fundos para a manutenção de asso-ciações e cooperativas que podem fornecer treinamento e divulgação e desenvolverprodutos e pesquisas;

33. formular e implementar políticas para sustentabilidade com uma visão para aplicá-lasem cada parte da operação do turismo.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

C. Às organizações não-governamentais, associações de base comunitária e instituições de ensino e pesquisa

34. fornecer apoio técnico, financeiro, educacional, capacitação e demais suportes aosdestinos de ecoturismo, às suas organizações comunitárias, pequenos negócios eautoridades locais de forma a garantir a aplicação de políticas apropriadas, o desen-volvimento de planos de gestão e os mecanismos de monitoramento compatíveis coma sustentabilidade;

35. monitorar e conduzir estudos do impacto das atividades de ecoturismo nos ecossis-temas, na biodiversidade e nas culturas indígenas locais;

36. cooperar com as organizações públicas e privadas garantindo que os dados e infor-mações gerados com os estudos sejam utilizados na tomada de decisões durante oprocesso de desenvolvimento e gestão do ecoturismo;

37. cooperar com as instituições de pesquisa de forma a se encontrar as soluções mais práti-cas e adequadas para as questões relacionadas ao desenvolvimento do ecoturismo.

D. Às instituições internacionais de financiamento e agências de assistência ao desenvolvimento

38. planejar e acompanhar a implementação de políticas nacionais e locais de desenvolvi-mento do ecoturismo e a avaliação de sua relação com a conservação, desenvolvimen-to socioeconômico, direitos humanos, redução da pobreza e outras questões ligadas aodesenvolvimento sustentável, além de intensificar a transferência destes conhecimentospara outros países. Uma atenção especial deve ser dada aos países em desenvolvimen-to e às ilhas e aos países montanhosos, já que 2002 foi estabelecido como o “AnoInternacional das Montanhas” pelas Nações Unidas;

39. promover capacitações em organizações locais, regionais e nacionais para a formulaçãoe aplicação de políticas e planos de ecoturismo baseados em padrões internacionaisconsagrados;

40. d e s e nvo l ver padrões mundiais e mecanismos para sistemas de certificação do ecotu-rismo que considerem empreendimentos de pequeno e médio portes e a eles facilite oseu acesso;

41. incorporar o diálogo entre as diversas partes interessadas nas políticas, manuais e pro-jetos em níveis global, regional e nacional para a troca de experiências entre os paísese setores envolvidos no ecoturismo;

42. fortalecer seus esforços em identificar os fatores que determinam o sucesso e fracassodas atividades de ecoturismo ao redor do mundo de forma a transferir estas experiênciase melhores práticas para outras nações por meio de publicações, missões de campo,seminários e projetos de assistência técnica. O Programa de Meio Ambiente das NaçõesUnidas (UNEP) e a Organização Mundial do Turismo (WTO) devem continuar este diá-logo promovendo, por exemplo, avaliações periódicas do ecoturismo em encontrosinternacionais e regionais;

43. adaptar, sempre que necessário, suas formas de financiamento e empréstimo às micro,pequenas e médias operadoras de ecoturismo, que são a base da atividade, de forma agarantir sua sustentabilidade econômica a longo prazo;

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44. desenvolver a capacidade dos recursos humanos internos para lidar com o turismo sus-tentável e com o ecoturismo como uma atividade de desenvolvimento em si só e garan-tir que o conhecimento interno, a pesquisa e a documentação permitam que o ecotu-rismo seja visto como uma ferramenta de desenvolvimento sustentável;

45. desenvolver mecanismos financeiros para o treinamento e capacitação das comu-nidades indígenas e locais, permitindo que elas participem do desenvolvimento do eco-turismo.

E. Às comunidades locais e indígenas

Além das referências à comunidades locais e indígenas feitas nos parágrafos anterioresdesta Declaração (principalmente as recomendações A 2 e 17; B 21 e 27; C 35; D 45) os par-ticipantes fizeram estas recomendações a estes grupos:

46. como parte de uma visão de desenvolvimento para a comunidade, definir e implemen-tar estratégias para um aumento de benefícios para a localidade, incluindo o acesso àinformação, o desenvolvimento humano, físico, financeiro e social, que venham com ocrescimento da prática do ecoturismo;

47. fortalecer, estimular e encorajar a habilidade da comunidade em manter e utilizar co-nhecimentos tradicionais que sejam relevantes para a atividade do ecoturismo, como oartesanato, a agricultura, o folclore, a culinária e demais atividades que utilizam osrecursos locais de forma sustentável.

F. À Conferência de Desenvolvimento Sustentável Rio+10

48. reconhecer a necessidade de se aplicar os princípios de desenvolvimento sustentável aoturismo e o importante papel do ecoturismo na geração de benefícios econômicos, so-ciais e ambientais;

49. integrar o turismo, incluindo o ecoturismo, nos resultados do evento.

Quebec, 22 de maio de 2002.