Manual de Ocupação de Morros
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RECIFE PERNAMBUCO BRASIL
2003
MARGARETH MASCARENHAS ALHEIROS
MARIA ÂNGELA DE ALMEIDA SOUZA
JAN BITOUN
SÔNIA MARIA GOMES DE MATOS MEDEIROS
WASHINGTON MOURA AMORIM JÚNIOR
Fundação de Desenvolvimento Municipal FIDEM
F981m Fundação de Desenvolvimento Municipal FIDEM
Manual de ocupação dos morros da região metropolitana do Recife / Fundação de Desenvolvimento Municipal FIDEM ; coord. Margareth Mascarenhas Alheiros... (et al.). - Recife : Ensol, 2004 20, 344, 32p. : il.
PeR-BPE
Programa Viva o Morro ISBN 85-88632-04-7
1. MORROS - RECIFE, REGIÃO METROPOLITANA DO.2. URBANISMO - RECIFE (PE). 3. DESLIZAMENTOS (GEO-LOGIA). 4. ENCOSTAS (MECÂNICA DO SOLO). 5. MURO DEARRIMO. 6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL. I. Alheiros, MargarethMascarenhas. II. Título
CDU 711
Este trabalho poderá ser reproduzido total ou parcialmente, desde que seja citada a fonte.
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO Governador JARBAS DE ANDRADE VASCONCELOS
SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL Secretário JOSÉ ARLINDO SOARES
FUNDAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL Diretora Presidenta AMÉLIA REYNALDO
Município de ABREU E LIMA Prefeito JERÔNIMO GADELHA DE ALBUQUERQUE MELO
Município do CABO DE SANTO AGOSTINHO Prefeito ELIAS GOMES DA SILVA
Município de CAMARAGIBE Prefeito PAULO ROBERTO DE SANTANA
Município de IGARASSU Prefeito YVES RIBEIRO DE ALBUQUERQUE
Município de IPOJUCA Prefeito CARLOS JOSÉ DE SANTANA
Município de JABOATÃO DOS GUARARAPES Prefeito FERNANDO ANTÔNIO RODOVALHO
Município de MORENO Prefeito EDVALDO RUFINO DE MELO E SILVA
Município de OLINDA Prefeita LUCIANA BARBOSA DE OLIVEIRA SANTOS
Município de PAULISTA Prefeito ANTÔNIO WILSON SPECK
Município de RECIFE Prefeito JOÃO PAULO LIMA E SILVA
Município de SÃO LOURENÇO DA MATA Prefeito JAIRO PEREIRA DE OLIVEIRA
Este Manual foi produzido no âmbito do PROGRAMA VIVA O MORRO,objeto do Convênio Nº 082/1999,firmado entre o Governo do Estado de Pernambuco e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUDENE
Comissão de AcompanhamentoConselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife CONDERM
CÂMARA METROPOLITANA DE MEIO AMBIENTE E SANEAMENTO CMMAS
UNIÃO DE VEREADORES DE PERNAMBUCO UVP Luciana Vieira deAzevedo
FÓRUM ESTADUAL DE REFORMA URBANA FERU Demóstenes Andrade Alexandre Ramos
SINDICATO DE EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL SINDUSCON Marcelo Walter Pedrosa
COMPANHIA PERNAMBUCANA DE MEIO AMBIENTE CPRH Natércia C. de Araújo Nélson Maricevichc
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE FUNASA Helena Magalhães
CÂMARA METROPOLITANA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO CMDUOT
SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE SUDENE Sílvio Silveira Braga
ParceriaPrefeituras Municipais Abreu e Lima Camaragibe Cabo de Santo Agostinho Igarassu Ipojuca Jaboatão dos Guararapes
Moreno Olinda Paulista Recife São Lourenço da Mata
Serviços de ConsultoriaAssociação Tecnológica de Pernambuco ATEPE
Órgão ExecutorFundação de Desenvolvimento Municipal FIDEM
CRÉDITOS
INSTITUCIONAIS
Associação Tecnológica de Pernambuco ATEPEFundação de Desenvolvimento Municipal FIDEM
CoordenaçãoSônia Maria Gomes de Matos Medeiros
Aspectos Urbanísticos e GestãoDalvânio Fernando CastanhaEliana PiresErmelinda GonçalvesAntônia Santamaria de Queiroz LimaGoldberger Romeu NunesWilberto Carlos Pereira
CoordenaçãoMargareth Mascarenhas AlheirosMaria Ângela de Almeida SouzaJan BitounWashington Moura Amorim Júnior
Riscos GeológicosMargareth Mascarenhas Alheiros
GeotecniaJaime de Azevedo Gusmão FilhoWashington Moura Amorim Júnior
UrbanismoMaria Ângela de Almeida SouzaAna Paula Oliveira VilaçaJosé Gleidson Dantas da CunhaLuciana Carvalho GomesSocorro P. B. Rodrigues Leite
Gestão Urbana e Interação SocialJan Bitoun
CRÉDITOS
EQUIPE TÉCNICA
“O Recife tem um grande número de bairros populares cuja população não podemos estimar,
mas é enorme a sua concentração sobre os morros do noroeste da cidade.
É um terreno magnífico para fazer uma cidade popular modelo,
mas é preciso dar-lhe um tratamento diferente e acreditarmos com Gilberto Freire
que é preciso não pensar na sua transformação em habitat de tipo europeu e, sim,
no melhoramento do habitat nativo, sob o aspecto da higiene e num tipo de urbanização original.
O sítio é magnífico, mas os trabalhos são consideráveis.
Entretanto temos certeza de que bons urbanistas dariam um tratamento adequado a esse grande bairro que,
de uma maneira muito interessante,
viria permitir uma vida sadia a essa população subproletarizada ou em rápida via de subproletarização.”
TEXTO de PADRE LEBRET L.J.Sér i e Plani f i ca ção Econômica
CODEPE, Reci fe , 1955
“A concepção da ocupação de encostas, com uso habitacional, deve resultar de uma atuação global, onde o eventual parcelamento do solo e a
implantação das edificações são concebidos simultaneamente, a partir da topografia e das restrições geológico-geotécnicas específicas da área a
ocupar. Nesse modelo, a urbanização - o sistema viário, os eventuais lotes e as edificações - pode-se afastar, em muito, das concepções usuais.
A tendência incorreta é a de se ver o parcelamento em lotes individuais como a única forma de se utilizar as glebas, observando os seus princípios
básicos convencionais. A prática tem demonstrado que o simples loteamento não é nem mesmo um processo plenamente adequado ao uso
habitacional em encostas, mostrando-se as mais adequadas implantações de características condominiais, com tipologias próprias de edificações.
Caso seja empregado, o loteamento nessas áreas deve, no mínimo, ser acompanhado por projetos de habitações, adequados aos principais tipos
de lotes, de acordo com as condições geotécnicas do terreno e as técnicas construtivas a empregar.
Deixar por conta de futuros moradores a concepção e implantação de casas em lotes individuais, nas áreas de encostas, pode envolver riscos
geotécnicos e insalubridade nas habitações.”
TEXTO do arquiteto FLÁVIO FARAH
Reci fe , 2002
Este Manual pretende trazer uma nova forma de abordagem para os morros urbanos, tanto no que se refere
às soluções técnicas para a estabilidade das encostas ocupadas, como também na perspectiva da ocupação
segura de novas áreas, por iniciativa do setor privado e do poder público, desmistificando os morros como
espaços problemáticos e inviáveis para o crescimento das cidades e realçando as suas potencialidades paisagísticas
e de conforto ambiental.
Respaldado no conhecimento local, nas práticas desenvolvidas em outras regiões do Brasil e em outros países
que enfrentam problemas similares de ocupação desordenada de morros, o Manual expressa o momento
atual do conhecimento de ocupação de encostas, exigindo, com certeza, futuras atualizações. Ele recorre aos
Manuais Técnicos produzidos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT-SP e pelo GeoRio-RJ, para
referências de aplicação geral e dirige-se a engenheiros, geólogos, arquitetos, urbanistas, administradores,
assistentes sociais e demais profissionais que atuam no campo técnico ou na gestão pública. Seu objetivo é
também o de apresentar uma linguagem de fácil compreensão, evitando-se o aprofundamento, com certeza
disponibilizado em textos técnicos específicos.
APRESENTAÇÃO OS AUTORES Reci fe, 2003
Traz, aqui, novo paradigma para a ocupação urbana do solo, de modo que idéias, conhecimentos, criatividade e vontade política voltem-se para
o potencial do espaço ondulado dos morros, refletindo na formação acadêmica de engenheiros e arquitetos – nos quais ainda domina a visão do
espaço plano – buscando o desenvolvimento de soluções específicas para novas formas de ocupação, padrões construtivos, urbanísticos e de
infra-estrutura, entre muitos outros aspectos ainda não devidamente solucionados.
Trata-se, portanto, de uma obra cuja finalidade recai sobre uma nova forma de se planejar e de se administrar os morros, que traga qualidade
e segurança para os referidos espaços, com investimentos contínuos e significativos, e aponte para soluções estruturadoras e mais adequadas às
características físicas e ambientais da Região Metropolitana do Recife.
SUMÁRIO
PARTE
A OS MORROSDA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
CAPÍTULO 1Características Ambientais ........................................................................................... 5
CAPÍTULO 2Padrão Urbanístico de Ocupação dos Morros .................................................... 17
2. 1 Modo de ocupação dos morros ....................................................................... 21
2. 2 Modelo de ocupação em morros ..................................................................... 24
1. 1 Localização ...................................................................................................... 71. 2 Clima .............................................................................................................. 81. 3 Geologia ......................................................................................................... 91. 4 Relevo ............................................................................................................. 13
1. 5 População ....................................................................................................... 15
CAPÍTULO 4Processos que Causam Acidentes ............................................................................ 57
4. 1 Ação das águas sobre o relevo ......................................................................... 59
4. 2 Erosão ............................................................................................................ 60
4. 3 Movimentos de massa .................................................................................... 63
PARTE
POR QUE CAEM AS BARREIRAS
CAPÍTULO 3Risco Geológico ............................................................................................................... 35
3. 1 Conceitos ........................................................................................................ 37
3. 2 Elementos de risco ......................................................................................... 40
3. 3 Classes de risco ............................................................................................... 41
3. 4 Fatores de risco ............................................................................................... 42
B
PARTE
COMO OCUPAR OS MORROS DE FORMA SEGURACCAPÍTULO 5Diretrizes para Implantação Urbana nos Morros ............................................. 71
5. 1 Princípios de intervenção ................................................................................ 73
5. 2 Diretrizes de concepção urbanística ................................................................. 76
5. 3 Medidas normativas para ocupação em áreas de morros .................................. 81
CAPÍTULO 6Vias de Acesso ................................................................................................................. 83
6. 1 Concepção integrada dos sistemas viário e de drenagem .................................. 86
6. 2 Traçado do sistema viário ................................................................................ 88
6. 3 Dimensionamento das vias de acesso .............................................................. 94
6. 4 Concordância das vias de acesso ...................................................................... 100
6. 5 Humanização das vias de acesso ...................................................................... 103
6. 6 Estudo de casos .............................................................................................. 104
CAPÍTULO 7Lotes de Interesse Social ............................................................................................ 107
7. 1 Implantação dos lotes ................................................................................... 111
7. 2 Dimensionamento dos lotes ......................................................................... 115
7. 3 Concepção integrada de lotes às redes de infra-estrutura urbana .................... 118
7. 4 Estudo de caso ............................................................................................. 120
CAPÍTULO 8Edificações ......................................................................................................................... 123
8. 1 Padrões de edificações ................................................................................... 125
8. 2 Expansão de edificações ................................................................................ 131
CAPÍTULO 9Espaços Livres de Uso Público ................................................................................ 135
9. 1 Sem lugar para ficar ....................................................................................... 137
9. 2 Estudo de casos ............................................................................................ 140
PARTE
COMO ESTABILIZAR AS ENCOSTASDCAPÍTULO 10Obras sem Estrutura de Contenção ....................................................................... 149
10. 1 Retaludamento ............................................................................................. 151
10. 2 Proteção superficial ....................................................................................... 162
10. 3 Estabilização de blocos ................................................................................. 185
CAPÍTULO 11Obras com Estrutura de Contenção ...................................................................... 187
11. 1 Muro de arrimo ............................................................................................ 190
11. 2 Outras soluções de contenção ....................................................................... 206
CAPÍTULO 12Obras de Proteção para Massas Movimentadas ................................................ 211
12. 1 Contenção de massas movimentadas ............................................................ 213
CAPÍTULO 13Drenagem............................................................................................................................. 217
13. 1 Importância da drenagem para a segurança dos morros ................................... 219
13. 2 Elementos do sistema de drenagem ................................................................ 220
13. 3 Obras de drenagem ......................................................................................... 226
13. 4 Estudo de casos .............................................................................................. 234
CAPÍTULO 14Esgotamento Sanitário .................................................................................................. 243
14. 1 Impacto sócioambiental das práticas de esgotamento sanitário ....................... 245
14. 2 Soluções de esgotamento sanitário .................................................................. 247
14. 3 Modelo de gestão para o saneamento integrado .............................................. 252
CAPÍTULO 15Lixo ........................................................................................................................................ 257
15. 1 O efeito do lixo nas encostas ........................................................................ 259
15. 2 Tipos de soluções para a coleta do lixo ......................................................... 261
CAPÍTULO 17Gerenciamento de Risco.............................................................................................. 311
17. 1 Organização da Defesa Civil .......................................................................... 313
17. 2 Procedimentos para a gestão do risco ............................................................ 320
17. 3 Ações permanentes de Defesa Civil em áreas de morros ................................ 323
17. 4 Plano Preventivo de Defesa Civil - PPDC .................................................... 327
COMO GERENCIAR OS RISCOS NOS MORROS
CAPÍTULO 16Planejamento e Gestão ................................................................................................. 275
16. 1 Ações de planejamento e gestão .................................................................... 279
16. 2 Práticas de gestão .......................................................................................... 280
16. 3 Instrumentos técnicos de planejamento e gestão ........................................... 288
16. 4 Instrumentos normativos de regulação da ocupação ..................................... 301
EPARTE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................... 335
Uma referência de comunicaçãoGUIA DE OCUPAÇÃO DOS MORROS .................................................................................................................. 345
CRÉDITOS ............................................................................................................................................................. 337
OS MORROSDA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
PARTE
ACAPÍTULO 1
Características Ambientais
CAPÍTULO 2Padrão Urbanístico de Ocupação dos Morros
3
A ocupação dos morros da Região
Metropolitana do Recife tem sua origem
na própria história da construção do
Recife. Desde o período colonial, os
segmentos pobres constroem em terrenos
pouco propícios à edificação, levando a
um paradoxo: enquanto as áreas que
apresentam melhores condições para
construção (terraços emersos enxutos, topos planos de colinas) foram ocupadas por segmentos sociais mais bem aquinhoados, as
áreas cuja ocupação exigia conhecimento especializado e investimentos maiores (planícies de inundação, manguezais, zonas
estuarinas e as encostas) foram sendo deixadas para o segmento da população incapaz de prover os referidos conhecimentos e
investimentos.
Em meados do século XX, com a ocorrência das grandes enchentes, que afetaram fortemente as planícies estuarinas, a Liga
Social Contra os Mocambos determinou a erradicação parcial dos mocambos nas áreas mais centrais do Recife, deixando um
déficit de quase cinco mil habitações. Iniciou-se, então, na década de 40, a transferência não planejada dos moradores expropriados
das suas habitações, para os morros de Casa Amarela, Beberibe e Água Fria, impulsionando a ocupação sistemática dos morros
da zona norte do Recife.
BACIA do RIO BEBERIBE
ocupação recente
vista aérea
4
As famílias de baixa renda para lá transferiram também os seus hábitos, técnicas construtivas e práticas
domésticas: criar o seu chão, aplainando-o (nos alagados pelo acréscimo dos aterros, nos morros através de
cortes); construir o espaço sem maiores preocupações com as características físico-naturais. Se os alagados eram
bem conhecidos, esse não era o caso dos morros, onde o caminho das águas define um delicado jogo de equilíbrio
com as formas de relevo. Acostumados a despejar, nos arredores da casa para ser levado pelas águas das
marés, o que lhes sobrava, esses hábitos transpostos para os morros passaram a constituir o principal
desencadeador de acidentes: as águas servidas saturando as encostas e o lixo obstruindo a drenagem.
A partir da década de 60, a implantação das Vilas da COHAB, no Ibura, inaugurou um ciclo de construção dehabitações populares em conjuntos, que ocuparam os topos dos morros, conquanto a autoconstrução se davanas encostas adjacentes, invadidas pela população carente. Novamente, terrenos difíceis para quem dispõe depoucos meios para implantar corretamente uma edificação.
Esse modelo de ocupação, inicialmente adotado no Recife, foi reproduzido nos municípios vizinhos, e é
atualmente adotado como padrão em toda a Região Metropolitana do Recife, inclusive nas ocupações recentes
que contam com a interveniência do poder público.
5
CAPÍTULO 1Características Ambientais
Localização 1. 1
Clima 1. 2
Geologia 1. 3
Relevo 1. 4
População 1. 5
7
1. 1 Localização
A Região Metropolitana do Recife é formada por 14 municípios que
têm parte significativa dos seus territórios caracterizada como área
de morros, com declividades médias superiores a 30%. Está
situada na Zona Costeira do Estado de Pernambuco, limitada pelas
coordenadas UTM 9.050.000 e 9.150.000mN e 250.000 e
300.000mE, estando assim subordinada direta ou indiretamente
aos processos que regem essa faixa de transição continente-oceano.
A variação de alguns centímetros no nível do mar, alterando o
nível de base dos sistemas fluviais, pode resultar em intensificação
dos processos de erosão e transporte de massas, afetando indiretamente
a estabilidade das encostas que circundam as planícies costeiras.
Pequenas mudanças na temperatura das águas oceânicas afetam
as condições climáticas e podem implicar invernos localmente mais
severos, deflagrando eventos de deslizamentos ou aumento da
erosão nessas encostas.
Para a análise do risco geológico das encostas, é imprescindível o
conhecimento dos processos que regem essas transformações, a
identificação dos materiais geológicos que constituem as encostas
(rochas, sedimentos e solos), e a resposta desses materiais à ação
dos agentes geológicos, sob diferentes condições climáticas. Por
outro lado, os modos de ocupação, os modelos urbanísticos
implementados e a ausência de intervenções estruturadoras para
o tratamento das encostas levam à deflagração de acidentes, e
tudo isso merece uma atenção especial.
MAPA de LOCALIZAÇÃO
Região Metropol i tana do Reci fe FIDEM, 1998
8
O clima da Região Metropolitana do Recife é tropical chuvoso (tipo As’ a Ams’ na
classificação de Köppen), com precipitação total anual acima de 750mm e temperaturamédia do ar sempre superior a 18°C. A umidade relativa do ar é alta, variando entre79,2% e 90,7% nos meses mais chuvosos, entre abril e julho, chegando a atingir100% em alguns municípios, como é o caso do Recife. Essas características favorecemo intemperismo químico das rochas graníticas e dos sedimentos feldspáticos,aumentando o conteúdo de argilas nos solos, o que leva a uma maior probabilidade deocorrência de deslizamentos.
1. 2 Clima
As isoietas
(curvas de igual intensidade de chuva)
construídas com as médias anuais
de chuvas registradas
em 12 postos pluviométricos da
Região Metropolitana do Recife,
mostram que os municípios recebem,
em média, mais de 1.500mm
de água de chuva por ano.
As menores concentrações
são registradas em Moreno.
MAPA de ISOIETAS
Região Metropol i tana do Reci fe Alheiros, 1998
Postos pluviométricos
Isoietas
Limites municipais
CHUVAS MÉDIAS MENSAIS
Região Metropol i tana do Rec i f e Alheiros, 1998
Média histórica
MÉDIAS PLUVIOMÉTRICAS ANUAIS
XGRAUS de SUSCETIBILIDADE
Alheiros, 1998
altomédiobaixo
Intervalos de chuva média Graus de suscetibilidade ( mm/ano )
> 1.5001.000 - 1.500
< 1.000
9
Na área de morros da Região Metropolitana do Recife, ocorrem as seguintes
macro-unidades geológicas:
Embasamento Cristalino (rochas cristalinas precambrianas)
Bacia Cabo e Bacia PE-PB (rochas sedimentares cretácico-terciárias)
Coberturas Sedimentares (sedimentos terciários e quaternários)
O Embasamento Cristalino é formado por rochas de composição granítica
(granitos, migmatitos, gnaisses e micaxistos) e ocorre extensivamente em toda
a faixa oeste da Região Metropolitana do Recife. Os maciços cristalinos estão
em sua maior parte capeados pelo seu solo residual, sendo comum a presença de
matacões sobre o terreno, nessas regiões. A formação de argilominerais nos
solos dessas rochas tem um papel importante nas ocorrências de deslizamentos,
embora o relevo maduro e a manutenção da cobertura vegetal tenham sido
suficientes para manter as encostas em boas condições de estabilidade natural.
A Bacia Cabo, mais recentemente denominada por Bacia de Pernambuco, é
constituída por conglomerados e argilitos da Formação Cabo, os quais se encontram
parcialmente cobertos ou cortados por rochas vulcânicas da Formação Ipojuca
(riolitos, traquitos e basaltos) e interrompidos pelo granito do Cabo de Santo
Agostinho. Os sedimentos da Formação Cabo, embora muito argilosos, mostram
boa estabilidade em suas encostas, graças ao pré-adensamento resultante do
soterramento profundo a que foram submetidos. Entretanto áreas expostas por
grandes cortes mostram instabilidade de algumas encostas, como se observa na
área do Complexo Industrial-Portuário de Suape, onde as intervenções são
freqüentes para a implantação de novas indústrias.
1. 3 Geologia
ROCHAS do EMBASAMENTO CRISTALINO
com seu SOLO RESIDUAL
Ibura - UR 7, Recife
CONGLOMERADO DA FORMAÇÃO CABO
PE - 60, Cabo de Santo Agostinho
3m
10
A Bacia Pernambuco-Paraíba tem, na base, os arenitos da Formação Beberibe, e, no topo, os calcários das Formações Gramame
e Maria Farinha. A Formação Beberibe tem origem fluvial, razão pela qual apresenta areias com excelentes condições para
acumulação de água subterrânea, sendo o maior e mais importante aqüífero da Região Metropolitana do Recife, conhecido como
aquífero Beberibe.
FORMAÇÕES BEBERIBE e GRAMAME
Alto do Céu, Recife
Fm. Gramame
Fm. Beberibe
Fm. Gramame
Fm. Maria Farinha
FORMAÇÕES MARIA FARINHA e GRAMAME
Mina Poty, Paulista
11
As Coberturas Sedimentares são compostas pelos sedimentos terciários da Formação Barreiras, que afloram em posições
mais elevadas, e pelos terraços fluviais e marinhos quaternários, que formam as áreas de planície. A Formação Barreiras,
também de origem fluvial, foi depositada sobre parte do embasamento cristalino e das bacias sedimentares já
mencionadas. As camadas que a constituem são mais arenosas na base, e passam em direção ao topo para pacotes onde
se intercalam camadas arenosas e argilosas, típicas de depósitos por enxurradas (leques aluviais). As areias dessa
formação mostram um alto conteúdo de feldspatos, os quais, sujeitos aos processos de argilização sob o clima quente e
úmido, favorecem episódios de deslizamentos. A ação antrópica sobre os tabuleiros morfologicamente instáveis e os
morros com encostas de declividade elevada induzem diferentes processos de desestabilização, com erosão pronunciada
nas camadas mais arenosas, e com deslizamentos naquelas mais argilosas. É na Formação Barreiras em que se observa
a maior incidência de casos de deslizamentos e erosões na RMR, particularmente em Recife, Camaragibe, Olinda e
Jaboatão dos Guararapes, pelo fato de essas áreas terem sido adensadas através de ocupações espontâneas ou informais.
Focos de erosão, como os encontrados no Cabo de Santo Agostinho (Parque Armando Holanda), são decorrentes de reativações
dos processos pluvio-fluviais, em áreas de relevo imaturo.
Fácies argilosa
Fácies arenosa
FORMAÇÃO BARREIRAS
12
Embasamento Cristalino
Formações Cabo e Ipojuca
Formações Beberibe, Gramame e Maria Farinha
Planície Costeira
Formação Barreiras
MAPA GEOLÓGICO
Região Metropol i tana do Reci fe Alheiros, 1998
UNIDADES GEOLÓGICAS e sua RELAÇÃO com a SUSCETIBILIDADE para DESLIZAMENTO e EROSÃO
Região Metropol i tana do Rec i f e
13
A Região Metropolitana do Recife tem cerca de ¾ deseu território constituído por relevos movimentados,genericamente denominados morros. Essa área abrange partedos domínios geomorfológicos denominados tabuleiroscosteiros e planalto rebaixado litorâneo, e tem como pontoculminante a Serra do Urucu, com 424 metros de altitude.
1. 4 Relevo
Esses relevos movimentados, apesar de reuniremelementos geneticamente diferentes (ao norte, ostabuleiros costeiros e, ao sul, as chãs do planaltorebaixado l i torâneo) , apresentaram respos tageomórfica similar, evoluindo para uma seqüência demorros e colinas com encostas relativamente estáveisnos dias atuais, salvo quando afetadas por processosantrópicos.Relevo com Tabuleiros
Serra do Urucu, Cabo de Santo Agostinho Morros
Colinas
14
Na área de morros da Região Metropolitana do Recife, foram
individualizadas seis tipologias básicas de relevo: serras, morros altos,
tabuleiros, morros baixos, colinas e planícies costeiras. Essas feições
apresentam comportamentos geológico-geotécnicos diferenciados para
os topos, encostas e planícies.
As encostas constituem a unidade que apresenta maior suscetibilidade
quando ocupada. Os municípios costeiros tendem a ter mais problemas
com a ocupação de suas encostas, tendo em vista as condições climáticas
tropicais mais rigorosas e a alta densidade ocupacional.
MAPA dos TIPOS de RELEVO
Região Metropol i tana do Reci fe Alheiros, 1998
Unidades de re levoUnidades de re levoUnidades de re levoUnidades de re levoUnidades de re levo
Planícies costeiras
Serras
Morros altos
Morros baixos
Tabuleiros
Colinas
15
1. 5 População
A Região Metropolitana do Recife concentra 41,7 % da população do Estado, em uma área de
apenas 2.766 km2 do território pernambucano, segundo dados preliminares do Censo Demográfico
de 2000. São 3..337 milhões de habitantes, com uma densidade de 1.116 hab/km2, enquanto que,
para o Estado como um todo, a densidade é de 75 hab/km2. Desses, calcula-se que 1,4 milhão de
habitantes encontram-se em territórios de relevo movimentado, localizados na parte oeste da região,
formando uma ferradura ao longo do contorno da planície litorânea.
Dos quatorze municípios metropolitanos, dez possuem população inferior a 200 mil habitantes, os
outros quatro - Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista - constituem os maiores núcleos urbanos.
Os territórios localizados nas áreas de planície possuem elevado valor e interesse imobiliário, ficando
as áreas de morros como espaço territorial de expansão para moradia do segmento mais pobre da
população. No período de 1996 a 2000, verificou-se um aumento de 251,6 mil pessoas morando em
áreas de morro, o que provocou aumento da densidade e expansão urbana desse território.
16
POPULAÇÃO e ÁREA
Municípios da Região Metropol i tana do Reci f e IBGE, Dados Preliminares do Censo Demográf ico de 2000
CAPÍTULO 2Padrão Urbanístico de Ocupação dos Morros
Modo de ocupação dos morros 2. 1
Modelo de ocupação em morros 2. 2
19
Os assentamentos urbanos diferenciam-se, quanto ao seu padrão urbanístico, em função de dois aspectos básicos:
Modelo de ocupação
Refere-se ao desenho urbano e é definido, fundamentalmente, pelo traçado viário e pela disposição dos lotes
e das edificações.
Nos morros da Região Metropolitana do Recife, os traçados apresentam malha ORTOGONAL, RADIAL,
em PATAMARES ou em TOPOS PLANOS de morro.
Esses aspectos definem condições diferenciadas de implantação urbana e situações diferenciadas de risco.
Modo de ocupação
É a forma como ocorre a ocupação dos espaços urbanos e expressa a organização prévia dos assentamentos.
Pode ocorrer de maneira espontânea ou planejada.
A ocupação espontânea se dá, geralmente, pela invasão de áreas, públicas ou privadas,
remanescentes de loteamentos, ou nas suas proximidades, por iniciativa individual ou
coletiva da população.
A ocupação planejada decorre da necessidade de acréscimo da oferta de novas áreas urbanas
para atender à demanda potencial de terras para habitação e outros usos. Acontece através
da oferta de lotes e de conjuntos habitacionais, por parte da iniciativa pública ou privada.
20
OCUPAÇÃO PLANEJADAConjunto habitacional em topo plano construído pelo setor público
OCUPAÇÃO ESPONTÂNEAocupação das encostas pe la população
Curado IV, Recif e
21
2. 1 Modo de ocupação dos morros
Ocupações Espontâneas
As ocupações espontâneas nos morros da
Reg i ão Metropo l i t ana do Rec i f e s e dão
geralmente a partir de invasões e de ocupações
consentidas da terra. Esse tipo de ocupação
ocorre de forma desordenada, já que os lotes
são obtidos através de cortes para a criação
de terreno plano, com lançamento do material
cortado na borda da encosta, sem a compactação
exigida para um aterro.
O solo removido e lançado sobre a encosta
o r i g ina l apre senta a l t a po ro s idade e
permeabilidade, favorece a infiltração da água
no solo e, conseqüentemente, aumenta o risco
de e rosão e e s cor regamento . Quando a s
ocupações espontâneas ocorrem de modo
rápido, criam-se vários focos de instabilização
numa mesma encosta, o que potencializa a
possibilidade de ocorrência de acidentes.
CCCCC A R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A S P P P P P R E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E S D A SD A SD A SD A SD A S O O O O O C U PC U PC U PC U PC U PA Ç Õ E SA Ç Õ E SA Ç Õ E SA Ç Õ E SA Ç Õ E S E E E E E S P O N T Â N E A SS P O N T Â N E A SS P O N T Â N E A SS P O N T Â N E A SS P O N T Â N E A S
ocupações desordenadas
inexistência de reserva de áreas de servidão
rede viária descontínua e sem hierarquização
corte da barreira para criar terreno
aumento do talude de corte para ampliação de terreno
lançamento de aterro não compactado (bota-fora) na borda da encosta
remoção da vegetação natural
árvores de grande porte no talude de corte e na crista da encosta
baixo padrão construtivo das habitações
inexistência de calhas, biqueiras e impermeabilização no entorno da casa
inexistência de canaletas para a drenagem das águas servidas e pluviais
inexistência de rede de coleta e estações de tratamento de esgotos
fossa localizada na borda da encosta
deficiência do sistema de coleta do lixo domiciliar
obstrução da drenagem pelo lixo jogado sobre os taludes e canaletas
22
Ocupações Planejadas
através de oferta de lotes urbanizados e de núcleos habitacionais. A intervenção do setor público nos morros abrange também
a requalificação de áreas degradadas pela ocupação espontânea e desordenada, que pode ocorrer tanto em áreas passíveis de
serem consolidadas com pequenos remanejamentos de habitacões, dentro da própria localidade, como em áreas onde a situação
de risco obriga à remoção das habitações para outros espaços. Em novos assentamentos o setor público tem utilizado,
predominantemente, o processo de terraplenagem generalizada, aplainando os topos dos morros, deixando as encostas sem
tratamento e sujeitas às invasões pelas famílias pobres, que são atraídas pelos serviços urbanos instalados e pela possibilidade
de acesso à prestação dos serviços disponíveis nesses núcleos habitacionais.
As ocupações planejadas nos morros da Região Metropolitana do Recife atendem a demandas do mercado imobiliário popular
e são promovidas:
através da oferta de loteamentos formais ou
irregulares e de habitações. Os modelos de
ocupação dos morros, adotados pelo setor
privado, nem sempre são adequados às
condições de estabilidade das encostas e têm
como agravante a inobservância dos parâmetros
urbanísticos regulamentados. Também não
oferecem a infra-estrutura recomendada,
principalmente nos loteamentos irregulares,
não aprovados pelos órgãos competentes.
POR INICIATIVA DO SETOR PÚBLICO
POR INICIATIVA DO SETOR PRIVADO
CCCCC A R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A SA R A C T E R Í S T I C A S P P P P P R E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E SR E D O M I N A N T E S D A SD A SD A SD A SD A S O O O O O C U PC U PC U PC U PC U PA Ç Õ E SA Ç Õ E SA Ç Õ E SA Ç Õ E SA Ç Õ E S P P P P P L A N E J A D A SL A N E J A D A SL A N E J A D A SL A N E J A D A SL A N E J A D A S
ocupação ordenada com lotes e vias definidas
rede viária hierarquizada
reserva de espaço para lazer e equipamentos de uso público
definição de espaços para uso não habitacional
adoção de terraplenagem generalizada aplainando o topo dos morros
baixo padrão construtivo das moradias
ausência de tratamento das encostas adjacentes à ocupação
23
Setor PúblicoConjunto Habitacional Artur Lundgr en - Paratibe, Paulista
Setor PrivadoLoteamento Rosa Selvagem - Camaragibe
OCUPAÇÃO PLANEJADA
aerofoto fx21 foto 019 FIDEM/97 aerofoto fx103 foto 001 FIDEM/97
OCUPAÇÃO ESPONTÂNEA
Cór rego do Boleiro - Vasco da Gama, Reci f e
aerofoto fx17 foto 045 FIDEM/97
24
Os modelos de ocupação em áreas de morros, expressos pelo desenho urbano, têm no sistema viário um dos elementos
mais importantes para a sua definição. As diversas possibilidades de disposição das vias em relação às curvas de nível
definem distintos modelos de ocupação nessas áreas.
Na ocupação espontânea, os caminhos naturais e/ou acessos construídos
determinam o local das primeiras casas e direcionam a localização de novas edificações.
Na ocupação planejada, a rede viária é definida e hierarquizada
simultaneamente ao parcelamento dos lotes.
Ocupação em malha ortogonalOcupação em malha ortogonalOcupação em malha ortogonalOcupação em malha ortogonalOcupação em malha ortogonal
As vias de acesso formam uma malha ortogonal sem relação com as curvas de nível.
Ocupação radia lOcupação radia lOcupação radia lOcupação radia lOcupação radia l
Os acessos principais “cortam” o morro no sentido perpendicular às curvas de nível, formando um sistema radial
convergente para o topo, de onde derivam os caminhos secundários paralelos às curvas de nível.
Ocupação em patamaresOcupação em patamaresOcupação em patamaresOcupação em patamaresOcupação em patamares
Os acessos principais acompanham paralelamente as curvas de nível, gerando lotes dispostos ao longo da via,
configurando uma paisagem que alterna “faixas” de casas com “faixas” de ruas.
Ocupação em topos planosOcupação em topos planosOcupação em topos planosOcupação em topos planosOcupação em topos planos
Ocorre pelo nivelamento de topos de morros, criando um grande platô, onde se desenvolve a malha viária e os demais
elementos urbanos- lotes, edificações e redes de infra-estrutura, nos moldes de uma ocupação em áreas planas.
2. 2 Modelo de ocupação em morros
25
A ocupação em malha
ortogonal nos morros utiliza
o modelo tradicional, próprio
para as áreas planas, sem
levar em consideração as
peculiaridades desse espaço.
Esse é um padrão adotado
em ocupações planejadas,
onde as quadras ortogonais,
dispostas sobre as áreas do
morro, não consideram as
características topográficas do
terreno, exigindo grandes
movimentos de terra.
Ocupação em Malha Ortogonal acessos paralelos em malhas ortogonais sem relação com as curvas de nível
Vantagem Desvantagens
Facilita a implantaçãodo loteamento.
Exige cortes com grandes movimentos de terras para implantaçãodo sistema viário e construção das edificações;
restringe os acessos devido ao perfil do sistema viário longitudinal,em aclive e declive sucessivos ( modelo tobogã );
gera problema de concordância do sistema viário;
prejudica a implantação e operação das redes de infra-estruturapela discordância das diretrizes das vias com a direção naturaldas linhas d’água.
aerofoto fx20 foto 016 FIDEM/97
OCUPAÇÃO em MALHA ORTOGONAL
Alto Santo Antônio, Camaragibe
vista aérea
26
A ocupação radial é o padrão mais comum nas ocupações espontâneas. É um modelo
mais adequado para colinas suaves e morros de baixa amplitude topográfica. No entanto
é freqüentemente adotado nas altas declividades, nas quais o acesso principal é feito por
escadarias e o acesso às casas, por via de pedestre, atendendo ao conjunto de moradias
dispostas ao longo da curva de nível. Nesse modelo de ocupação, a drenagem, na maioria
dos casos, é conduzida para a escadaria, que funciona como escada d’água, ficando inviabilizada
para o acesso durante e logo após as chuvas intensas.
Vantagens Desvantagens
Os acessos principais já servem comoelementos de drenagem e auxiliamno escoamento das águas;
as edificações ficam voltadas para asvias de acesso principais e secundárias;
menores movimentos de terra.
No caso de grandes declividades, provoca desconforto aos pedestres,em especial aos idosos e portadores de deficiências;
dificulta o acesso de veículos, inclusive aqueles de atendimentoemergencial (bombeiro e ambulância ), e a oferta de outros serviços,como abastecimento de mercadorias ao comércio local e coleta de lixo.
Ocupação Radial acessos perpendiculares às curvas de nível
28
Ocupação em Patamares acesso viário principal paralelo às curvas de nível
Essa solução apresenta-se tanto em ocupações espontâneas, promovidas pela população, como em ocupações
decorrentes de intervenções de iniciativa do setor público. Esse modelo de ocupação possibilita três diferentes
situações de acesso, em decorrência da posição das edificações em relação às vias de acesso e aos taludes.
VIA ENTRE A EDIFICAÇÃO
E A CRISTA DA BARREIRA
VIA ENTRE A EDIFICAÇÃO
E O PÉ DA BARREIRA
VIA ENTRE AS EDIFICAÇÕES
29
vista aérea
Ocupação planejada em
patamares, com vias de
acesso entre a edificação e
a crista da barreira inferior
aerofoto fx18 foto 046 FIDEM/97
Vasco da Gama, Recife
Ocupação espontânea em
patamares, com vias de
acesso entre a edificação
e o pé da barreira superior
vista aérea
Buriti - Macaxeira, Recife
aerofoto fx18 foto 045 FIDEM/97
30
Ocupação em Topos Planos sem tratamento das encostas adjacentes
A ocupação de topos planos predomina nos núcleos habitacionais em áreas de morros da Região Metropolitana do Recife,
implantados pelo setor público, especialmente pela COHAB-PE. Adotam o processo de terraplenagem generalizado, criando
patamares nos topos dos morros, para gerar um grande terreno plano. Ignoram as especificidades de áreas de encostas,
causando desequilíbrios no meio ambiente natural, provocando alteração nas características mecânicas do solo, interferência
nas bacias de drenagem contíguas e remoção da cobertura vegetal. A via de acesso principal une a base e o topo da encosta
na direção ortogonal (em baixas declividades) ou oblíqua (em declividades mais elevadas) às curvas de nível, daí se ramificando
em vias secundárias no topo do morro. As encostas desocupadas tornam-se, por sua vez, suscetíveis de seguidas invasões
por parte da população mais pobre, atraída pela proximidade da infra-estrutura e dos serviços públicos, pela condição
fundiária do terreno de propriedade pública e pela carência de mecanismos de controle por parte dos gestores públicos. Essas
invasões expandem-se e consolidam-se de forma precária, agravando a estabilidade do maciço.
Ocupação planejadapromovida por iniciativa do setor público,em topos terraplenados,sem tratamento das encostas adjacentes.
Ocupação espontâneapromovida por iniciativa da populaçãoatravés de invasão, em tabuleiros.
O relevo aplainadofacilita o traçadodo loteamentoe a execução da obra.
Os tabuleiros planosoferecem menor riscoque as suas encostas.
Resulta em profunda desorganizaçãoestrutural do solo, facilitando e induzindoa deslizamentos ou altas taxas de erosão,com formação de voçorocas.
Tendência de expansão desordenadada invasão, avançando sobre as encostas;
apresenta alta suscetibilidade à erosãoe aos deslizamentos.
Tipos de Ocupação Vantagens Desvantagens
A indefinição urbanísticado entorno da ocupação formalpermite a invasão das encostas;
apresenta alta suscetibilidade à erosãoe aos deslizamentos.
O relevo natural planofacilita o traçadoe a execução da obra.
Ocupação planejadapromovida por iniciativa do setor privadosob a forma de loteamentosem topos de tabuleiros,sem tratamento das encostas adjacentes.
31
OCUPAÇÃO PLANEJADA em TOPO PLANO
com ocupação espontânea nas encostaS
Conjunto Habitacional Curado IV, Jaboatão dos Guararapes
Ocupações em tabuleiros devem ser
evitadas ou relocadas face à velocidade
com que se desencadeiam os processos
de erosão ou movimentos de massa, tendo
em vista tratar-se de relevos imaturos,
com linhas de drenagens encaixadas em
vales mais estreitos e profundos, em franco
desenvolvimento geomorfológico.
vista aérea
vista aérea
OCUPAÇÃO ESPONTÂNEA em TABULEIROS
Caetés I - Frei Damião, Abreu e Lima
aerofoto fx25 foto 011 FIDEM/97
POR QUE CAEM AS BARREIRAS
PARTE
BCAPÍTULO 3
Risco Geológico
CAPÍTULO 4Processos que Causam Acidentes
CAPÍTULO 3Risco Geológico
Conceitos 3. 1
Elementos de risco 3. 2
Classes de risco 3. 3
Fatores de risco 3. 4
37
3. 1 Conceitos
Essa é uma expressão corriqueira para a Região Metropolitana do Recife. A cada inverno ela retorna
às manchetes dos noticiários e jornais, porém o seu entendimento tem-se mostrado bem diverso
quando expresso por moradores, gestores públicos, técnicos e população em geral; não há um consenso
quanto ao entendimento do risco.
O risco expressa a possibilidade de perdas materiais ou sociais, através
da ocorrência de um acidente. Algumas vezes, uma área onde ocorreu
um deslizamento pode ficar naturalmente estabilizada, cessando o
movimento da encosta ou reduzindo a sua intensidade. Nesse caso, o
próprio acidente pode eliminar ou reduzir o risco.
Para existir o risco, é necessário que haja alguma ocupação do espaço.
Os processos geológicos naturais só criam situações de risco quando as
pessoas ocupam os locais onde eles ocorrem. Deslizamentos, erosões e
inundações já ocorreram em várias partes do mundo, alterando as paisagens
e os materiais terrestres, sem causar danos às pessoas, e algumas vezes
não sendo sequer detectados, caracterizando, portanto, um evento natural.
Risco de desl izamentoRisco de desl izamentoRisco de desl izamentoRisco de desl izamentoRisco de desl izamento
38
RISCO de DESLIZAMENTO
ACIDENTE SOTERRANDO PARCIALMENTE a CASA
EVENTO de DESLIZAMENTO
fissura
fenda
cicatriz de deslizamento
massa escorregada
Risco
Poss ibi l idade de ocorrência de um
acidente, ou seja, possibilidade de perdas
materiais ou de vidas.
Acidente
Fato já ocorrido, no qual foram registradas
perdas econômicas e/ou sociais relacionadas
diretamente ao fato.
Evento
Fato já ocorrido, no qual não foram
registradas perdas sociais e/ou econômicas
relacionadas diretamente ao fato.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Adaptado de UNESP - IGCE/DGA/PROIN/CAPES, 2000
39
São assim denominados taludes de corte ou encostas naturais que apresentam
problemas de estabilidade, podendo vir a causar acidentes. São definidos por
uma análise local do problema, que se dá no dia-a-dia da Defesa Civil, voltada
para as condições da barreira e da moradia. A atenção se volta para as evidências
de erosão e de movimentos de massa como fissuras e fendas, ressaltos no
terreno, rupturas de tubulações, inclinação de árvores, surgências de água,
embarrigamento de muros, entre outros. A análise é feita caso a caso e a solução
deve ser indicada levando em conta o contexto geral da encosta, para evitar que
a intervenção venha a induzir novos pontos de risco nas proximidades.
Aos pontos de risco não se aplicam escalas de intensidade, como se faz para
os Mapas de risco. Os locais mais perigosos são identificados simplesmente
como “Ponto de risco” (ou “Ponto de alto risco”), e aqueles com alta probabilidade
de ocorrência de acidente em curto prazo, identificados como “Ponto de risco
iminente”.
Os mapas de risco mostram os graus de risco (alto, médio, baixo) atribuídos
às áreas ocupadas dos morros, com base na análise dos fatores geológicos,
morfológicos, climáticos, hidrológicos e antrópicos. Os dados são obtidos
através de levantamento de campo e posteriormente integrados pela aplicação
de modelos qualitativos e/ou quantitativos. Têm grande importância para o
planejamento da cidade, permitindo indicar as áreas mais seguras para o
crescimento, fundamentar projetos para captação de recursos destinados a
obras para a segurança dos morros e negociar prioridades com as lideranças locais.
FISSURA
UR-10 - Ibura, Reci fe
PPPPPontos de riscoontos de riscoontos de riscoontos de riscoontos de risco
40
O Risco resulta da interação de vários componentes, destacando-se ascaracterísticas do meio físico (geologia, morfologia, hidrologia, clima) queexpressam a suscetibilidade e as alterações antrópicas (densidade ocupacional,infra-estrutura), que por sua vez expressam a vulnerabilidade.
Perigo indica a probabilidade de ocorrência do acidente.
Vulnerabilidade é a predisposição de um sujeito, sistema ou elemento, ser
afetado por ocasião de um acidente. Expressa o grau das perdas (vidas
humanas, bens materiais, infra-estrutura), refletindo a fragilidade dos
sistemas implantados na área. Áreas mais vulneráveis implicam maiores
perdas e, conseqüentemente, maior grau de risco.
Grau de Exposição reflete a duração ou intensidade do acidente.
Suscetibilidade é uma característica inerente ao meio e representa a fragilidade
do ambiente frente aos processos geológicos (deslizamento, erosão). Áreas
mais suscetíveis a esses processos terão maior grau de risco.
3. 2 Elementos de risco
PREVISÃO DE RISCO
Identificação das áreas de risco com a indicação dos locais
onde poderão ocorrer acidentes e o estabelecimento das
condições e circunstâncias para a ocorrência dos processos,
ou seja: como e quando eles poderão ocorrer.
PREVENÇÃO DO RISCO
Adoção de medidas preventivas visando inibir a ocorrência
dos processos; ou reduzir suas magnitudes; ou minimizar
os seus impactos sobre o ambiente.
Adaptado de UNESP - IGCE/DGA/PROIN/CAPES, 2000
ELEMENTOS para a ANÁLISE de RISCO
Adaptado de Hays, 1991
41
3. 3 Classes de risco
Riscos Geológicos Exógenos
DeslizamentosErosão HídricaAssoreamentoSubsidências
Solos Colapsíveis e ExpansivosErosão Marinha
Riscos Hidrológicos
InundaçõesEnchentesSalinização
Contaminação de Mananciais
Riscos Naturais mais Freqüentesna Região Metropolitana do Recife
As Classes de Risco têm por base a natureza do processo gerador. De um modo geral, todas as modalidades
de risco aqui tratadas são ambientais, tendo em vista resultarem de fenômenos que afetam o meio ambiente.
Quando resultam de eventos espontâneos da natureza, são chamados de Riscos Naturais.
Quando decorrem de intervenções humanas, são considerados Riscos Induzidos.
42
São elementos ou características que determinam a Suscetibilidade do Meio e a Vulnerabilidade do Sistema
e contribuem para a composição do risco.
3. 4 Fatores de risco
Grau de riscoGrau de riscoGrau de riscoGrau de riscoGrau de risco
Dimensiona a probabilidade de perdas em decorrência de acidentes, considerando
individualmente o risco para cada fator.
MUITO BAIXO BAIXO ALTO MUITO ALTOMÉDIO
A escala para o grau de risco usualmente contém três a cinco intervalos:
Fato
res d
e Vu
lner
abili
dade
Tipologia das edificações
Densidade populacional
Equipamentos públicos
Viária
Água
Esgoto
Luz
Telefone
Gás
Redesde infra-estruturaexistentes
43
São fatores de suscetibilidade por se referirem às características dos materiais sobre os quais ocorrem os processos. Ou seja, os
terrenos serão mais ou menos suscetíveis a um determinado fenômeno (deslizamento ou erosão) a depender de suas características
litológicas, texturais ou estruturais. Cada um dos fatores (Litologia, Textura, Estrutura, Pré-adensamento) deve ser analisado
quanto à sua maior ou menor suscetibilidade aos deslizamentos e erosões e associado aos graus de risco.
Litologia
tipo de rocha, sedimento ou solo
Os solos residuais são produzidos sobre as rochas a partir da
sua alteração, aumentando a espessura com o tempo.
A faixa do solo que ainda mostra detalhes estruturais e
texturais da rocha chama-se saprolito ou solo de alteração.
Os sedimentos e rochas sedimentares podem ser formados:
pelo transporte e acumulação de fragmentos;(exemplo: arenito)
pela precipitação de um composto químico;(exemplo: calcário)
pela acumulação de restos orgânicos.(exemplo: turfa)
Fatores geológicosFatores geológicosFatores geológicosFatores geológicosFatores geológicos
PERFIL DE SOLO RESIDUAL
Adaptado do Manual de Recuperação de Áreas Degradadas em Loteamentos IPT e Governo do Estado de São Paulo, 1986
44
Estrutura
disposição espacial das camadas ou dos planos das fraturas e falhas
A Estrutura pode ser expressa pelo arranjo de
camadas (horizontais, inclinadas e até verticais),
estratificações de origens diversas e fraturas e falhas
geológicas. Estruturas com camadas inclinadas
podem determinar diferentes suscetibilidades para
o maciço, em função da posição do talude; quando
o declive fica no sentido do mergulho das camadas,
há maior suscetibilidade de deslizamento; quando
a posição do talude é contrária ao mergulho das
camadas, a suscetibilidade é bem menor.
Textura
granulometria dos sedimentos e solos
A Textura controla a porosidade e a permeabilidade
do solo ou sedimento. Materiais arenosos são
mais porosos e permeáveis e apresentam baixa
suscetibilidade a deslizamentos e alta suscetibilidade
à erosão. Já os materiais argilosos, embora possam
apresentar boa porosidade, são praticamente
impermeáveis e se mostram mais resistentes à
erosão e muito mais suscetíveis aos deslizamentos.
Pré - adensamento
soterramento a que foi submetido o sedimento ou solo
O Pré-adensamento confere maior compacidadeao so lo ou sed imento, aumentando a suaresistência ao cisalhamento. Portanto, quanto maispré-adensado, maior será o coeficiente de atrito,e o solo mais resistente à ruptura.
45
As formas do relevo expressam o estágio de equilíbrio entre os processos naturais exógenos e os tipos de materiais
expostos às transformações, sob o controle do clima. Nos climas quentes e úmidos, os relevos maduros (estáveis)
mostram formas sinuosas com colinas arredondadas e vales abertos em forma de “U”. Os relevos imaturos (instáveis,
ainda em construção), mostram tabuleiros com vales verticalizados em forma de “V” e cabeceiras de drenagem ativas.
Fatores morfológicosFatores morfológicosFatores morfológicosFatores morfológicosFatores morfológicos
PERFIS das ENCOSTAS
Adaptado de Unesp, IGCE/DGA/PROIN/CAPES, 2000
46
Do ponto de vista geotécnico, topos e encostas são áreas com diferentes graus de suscetibilidade a deslizamentos; enquanto as
encostas exigem cortes e aterros para a sua ocupação, os topos podem ser ocupados com pouco, ou nenhum movimento de terras.
Embora situadas em topos, as áreas planas próximas a quebras abruptas de relevo, como bordas de tabuleiros e bordas de cortes
íngremes, devem ser consideradas não edificáveis para uma faixa com pelo menos 5 metros a partir da linha de crista e 10 metros
a partir da base do colúvio.
São mais suscetíveis aos deslizamentos as encostas que se apresentam:
mais altas
mais extensas
com perfil côncavo
com baixa sinuosidade (rampas retilíneas)
com alta declividade
RELAÇÃO ENTRE MORFOLOGIA E SUSCETIBILIDADE A DESLIZAMENTOS
Alheiros, 1998
47
Fatores c l imáticosFatores c l imáticosFatores c l imáticosFatores c l imáticosFatores c l imáticos
Umidade e temperatura são aspectos do clima que favorecem os processos de intemperismo químico. Sob condições de calor
e umidade elevados, ocorre a decomposição dos minerais mais frágeis como os feldspatos e micas, promovendo sua argilização.
Feldspatos e micas (entre outros minerais argilizáveis) são comuns tanto nas rochas graníticas do embasamento cristalino como
nas coberturas sedimentares que ocorrem na área. Os depósitos originalmente arenosos da Formação Barreiras são formados
principalmente por quartzo e feldspatos. Desse modo, a parte feldspática do material vai sendo gradativamente argilizada,
favorecendo a ocorrência de deslizamentos.
As chuvas que caem ao longo dos períodos de inverno tanto podem escoar causando a erosão, como se infiltrar propiciando o
umedecimento e a saturação dos solos.
chuva acumulada satura os solos,
chuvas concentradas funcionam como gatilhos que deflagram os deslizamentos.
chuva acumulada
soma das precipitações desde o início do inverno
chuva concentrada
valor da precipitação (em 24 horas)
48
A partir do monitoramento de morros da Formação Barreiras,
em Olinda, entre 1985 e 1986, foi feita uma relação entre
precipitação e instabilidade de encostas, com base nos níveis
piezométricos, sabidamente associados à estabilidade dessas
encostas (Gusmão et al., 1987). Foi identificado um parâmetro
para essa relação:
R= Pac
x Il
onde
O valor encontrado para R = 60.000mm2 é o valor limite
para a ocorrência de deslizamentos, pois representa o nível
d’água máximo suportado, em condições de estabilidade.
Nessas circunstâncias, quando as chuvas acumuladas atingem 600mm, basta uma chuva de 100mm para que ocorram
deslizamentos em grande escala. A pluviosidade tem um papel fundamental no desencadeamento dos processos de
deslizamentos e de erosão; em áreas onde os movimentos de massa se dão espontaneamente, é possível estabelecer uma
relação de causa e efeito entre chuvas e deslizamentos.
RELAÇÃO CHUVA X SATURAÇÃO
Gusmão Filho, 1998
R Relação entre os níveis piezométricos e a precipitação
Pac
Precipitação acumulada (mm)
Il
Intensidade da chuva concentrada (mm)
49
A água é um elemento natural indispensável à vida e exerce
um importante papel de agente geológico modificador da
superfície terrestre. Sua ocorrência na Terra obedece a um
ciclo de transformações de estado e energia, chamado Ciclo
Hidrológico. As águas correntes do escoamento superficial
formam uma rede natural de drenagem (sistema fluvial),
cuja densidade depende da morfologia da bacia, da
permeabilidade do solo e da intensidade das chuvas.
Fatores hidrológicosFatores hidrológicosFatores hidrológicosFatores hidrológicosFatores hidrológicos
CICLO HIDROLÓGICO
Adaptado de www.ana.gov.br/Bacias/c i c lo/c i c lo.htm em 30.11.2001
Quanto maior a densidade da rede de drenagem e a
concentração das linhas d’água, mais suscetível de erosão
será a área. As águas superficiais atuam principalmente nos
processos de erosão-sedimentação, controlados pela
gravidade: quanto maior a declividade, maior a velocidade
de fluxo e, conseqüentemente, maior o poder de ação.
50
As águas de infiltração, ou águas
subterrâneas, penetram nos poros
dos solos e dos sedimentos ou nas
fraturas e falhas das rochas, migrando
para as zonas mais profundas onde
se vão acumulando e saturando os
espaços vazios, formando os mananciais
subterrâneos, chamados aqüíferos.
Quando os solos ou sedimentos são
mais argilosos, as águas subterrâneas
atuam principalmente nos processos de deslizamento: quanto maior a taxa de infiltração e a altura do nível freático,
maior a suscetibilidade do terreno para deslizar. Por outro lado, quando o material é muito arenoso, quanto maior a
infiltração e mais alto o nível freático, maior a probabilidade de erosão acelerada com a formação de voçorocas.
NÍVEL FREÁTICO
Adaptado de www.ana.gov.br em 18.10.2001
51
A superfície da zona saturada pela água é
denominada de Nível Freático. Quanto mais
elevado esse nível, mais saturados estão os
terrenos e, conseqüentemente, maior o risco
de deslizamento. O nível freático não alcança
o topo dos morros. Nos períodos muito
chuvosos, quando esse nível f ica mais
elevado, pode formar surgências ou fontes e
ajudar a descalçar a base das encostas,
fac i l i tando o processo de ruptura, ou
amplificando a erosão formando voçorocas.
Uma parte das águas que se infiltram não chega a recarregar os aqüíferos. Fica retida nos poros dos solos, formando uma franja
de umedecimento, que atinge, nos períodos de chuva, espessura aproximada de 3 metros. É principalmente nesse intervalo do
solo onde se dão os deslizamentos na Formação Barreiras (Gusmão Filho, 1998).
NÍVEL FREÁTICO
Adaptado de Cunha, 1991
52
Os fatores antrópicos têm um papel muito importante na composição do risco. A alta freqüência de acidentes nos
sedimentos da Formação Barreiras não se deve apenas às suas características geológicas, nem às suas feições topográficas,
mas principalmente à forma como essas áreas são ocupadas, com cortes e aterros, lançamento de águas servidas e lixo.
Estudos sobre a importância relativa dos fatores de risco (Gusmão Filho et al., 1993a) mostraram que a freqüência de riscos
mais altos é maior para os fatores antrópicos, quando comparados aos fatores geológicos ou morfológicos.
Fatores antrópicosFatores antrópicosFatores antrópicosFatores antrópicosFatores antrópicos
IMPORTÂNCIA RELATIVA dos FATORES ANTRÓPICOS sobre o RISCO
Gusmão Filho et al. , 1993a
53
Principais fatores antrópicos
Densidade populacional
Freqüência de cortes e aterros
Taxa de solo exposto
Freqüência de pontos de lançamento de lixo
Freqüência de fossas nas encostas
Freqüência de pontos de vazamentos/lançamento de águas
54
ÁREAS com ALTA DENSIDADE POPULACIONAL
Dois I rmãos , Rec i f eOcupação Espontânea
foto aérea fx18 foto 058 FIDEM/97
Caetés , Abreu e LimaOcupação Planejada
foto aérea fx100 foto 023 FIDEM/97
vista aérea
Casa Amare la , Re c i f e
55
Densidade populacional
O adensamento é um e lemento de grande
significado na formação do risco, particularmente
nas Ocupações Espontâneas, que resultam da busca
individual ou coletiva pela moradia, onde os
próprios ocupantes são os agentes modificadores
do espaço. A decisão de onde e como habitar é
estabelecida à medida que o assentamento cresce.
As necessidades vão criando o lugar e consolidando
um tipo de ocupação desordenada considerada como
o principal responsável pelo desequilíbrio das
encostas.
Em contraposição, as Ocupações Planejadas, que
têm no poder público o agente modificador do
espaço, deveriam resultar em menor risco para a
área. Entretanto os conjuntos habitac ionais
implantados nos morros adotam a terraplenagem
generalizada, construindo nos topos e deixando sem
tratamento as áreas das encostas, levando a
sucessivas invasões por parte das camadas mais
pobres da população, agravando a instabilidade das
encostas.
56
Freqüência de pontos de lançamento de lixo
O acúmulo de lixo sobre uma encosta contribui para
a saturação do solo. Sua progressiva acumulação pode
levar a acidentes de deslizamento da massa de lixo,
associada ou não à encosta. Quanto maior o número
de pontos de concentração de lixo e maior o seu volume,
maior a probabilidade de ocorrência de deslizamentos
associados a esses maciços artificiais.
Freqüência de fossas nas encostas
As fossas absorventes (ou sumidouros) funcionam
como pontos de concentração de água, de modo que
quanto mais próximas e numerosas, maior o risco
de deslizamentos que trazem para as moradias
próximas.
Freqüência de cortes e aterros
As alterações que o processo de ocupação promove
no relevo natural, através de cortes e aterros, são
fortes indutores de deslizamentos e erosões. Quanto
maior o número de moradias, maior o número de
cortes/aterros e maior a probabilidade de verticalização
dos taludes, por falta de espaço, aumentando o grau
de risco. Um caso particular de cortes são aqueles
associados às atividades de mineração urbana, nas quais
os grandes volumes de material de construção
explorados deixam grandes e abruptos desníveis no
relevo, gerando áreas suscetíveis de deslizamentos e
transformando em áreas de risco as faixas ocupadas
próximas à crista e ao pé desses cortes.
Freqüência de pontos de vazamentos/lançamento de águas
À semelhança das fossas, os pontos de lançamento de águas
servidas e de vazamentos diretamente sobre o solo são fortes
indutores de acidentes. Quanto mais bem servida de biqueiras,
canaletas e outros condutos de água superficial, menor é o risco
para os ocupantes da encosta.
Taxa de solo exposto
Este fator de r isco é representado pela
percentagem de cobertura vegetal removida
em relação à área total da encosta. A remoção
da vegetação expõe o solo ao choque direto da
chuva e às águas correntes, permitindo uma
maior infiltração de água nas encostas.
CAPÍTULO 4Processos que Causam Acidentes
Ação das águas sobre o relevo 4. 1
Erosão 4. 2
Movimentos de massa 4. 3
59
As águas que escoavam suavemente sobre a encosta passam por um grande aumento de sua energia potencial
e, conseqüentemente, pelo aumento de velocidade devido à verticalização do perfil.
Associado a isso, o patamar e o talude de corte ficam desprovidos da proteção oferecida pelo solo e pela
vegetação, passando a absorver muito mais água para o subsolo, acelerando o processo de saturação da encosta,
facilitando a ocorrência de rupturas e erosões.
4. 1 Ação das águas sobre o relevo
Quando uma superfície com o relevo em equilíbrio,
é submetida a cortes, esse equilíbrio é bruscamente rompido.
apresentando encostas estabilizadas
com cobertura vegetal remanescente preservada
e drenagem não erosiva com escoamento natural,
60
4. 2 Erosão
A erosão hídrica é um processo de
transporte de partículas pelas águas
superficiais, podendo ser laminar ou
linear em função da menor ou maior
concentração do fluxo de água e das
características dos solos afetados.
Consiste na remoção dos solos e
sedimentos, inicialmente formando
sulcos e ravinas na superfície das
encostas, que podem evoluir para
formas erosivas mais severas, como
as voçorocas.
A erosão resulta da remoção e transporte de partículas de solos, sedimentos ou outros materiais friáveis,
provocados pela ação de um fluido (água, vento, neve), sendo, por isso, classificada como um processo de
transporte de massa.
EROSÃO na FORMAÇÃO BARREIRAS
Ibura, Rec i f e
61
A formação de voçorocas resulta de erosão linear acelerada em
terrenos arenosos. Quando a superfície de erosão atinge a zona
saturada dos solos (nível freático), forma-se um fluxo acelerado
das areias encharcadas e quase sem atrito entre os grãos (piping),
o que intensifica a erosão, podendo atingir algumas dezenas de
metros de avanço em poucas horas.
ASSOREAMENTO
VOÇOROCA
SITUAÇÕES no ANO de 2000Córrego do Desastre , Camaragibe
62
As águas do escoamento superficial podem apresentar alto grau de erosão em função da intensidade e da duração das chuvas e
das características do relevo. Se os terrenos são arenosos, e estão desprotegidos pela retirada da cobertura vegetal, podem
apresentar alto grau de erosão. A combinação dessas propriedades acarreta a remoção de grandes quantidades de sedimentos
das áreas altas para as planícies, assoreando córregos e canais, ocasionando, em decorrência, alagamentos e inundações.
O impacto das gotas de chuva sobre a superfície desprotegida
do terreno remove os grãos superficiais de areia, concentrando
a fração mais fina do solo (silte + argila), formando uma
crosta de alguns centímetros de espessura que passa a proteger
a superfície nua do solo enquanto ela for mantida intacta.
A presença dessa crosta, embora proteja inicialmente a superfície do terreno, promove maior concentração das
águas superficiais, já que reduz a capacidade de infiltração, podendo vir a responder por linhas de erosão em
decorrência do aumento da velocidade das águas.
Assim, é importante reforçar as linhas d’água com revestimento superficial e canaletas, a fim de se evitar a formação
de focos de erosão nas áreas naturalmente protegidas pelas crostas.
EROSÃO ASSOREAMENTO INUNDAÇÕES
CROSTAS FORMADAS em SOLO ARENOSO
63
Os movimentos de massa são processos gravitacionais,
envolvendo sedimentos, solos e blocos de rocha
a partir da desestabilização de terrenos inclinados ou encostas.
Podem assumir diferentes magnitudes,
desde movimentos lentos de solos
rastejos
a outros rápidos e catastróficos
corridas de lama ou areia
rolamentos e quedas de matacões ou blocos de rochas
deslizamentos de sedimentos e solos
4. 3 Movimentos de massa
64
Os rastejos são movimentos lentos (poucos centímetros por
ano) e superficiais, retomados a cada período chuvoso, em
massas pouco consolidadas de sedimentos ou solos, como
os colúvios, por exemplo. Fendas superficiais e inclinação
progressiva de postes e árvores são indicadores desses
movimentos. Até os dias atuais não se tem registro de
rastejos significativos na Região Metropolitana do Recife.
Ra s t e j o sRas te j o sRas te j o sRas te j o sRas te j o s
Adaptado de Cunha, 1991
65
CORRIDA de AREIA
Córrego do Desastre, Camarag ibe
As corr idas de are ia ou de lama são
movimentos muito rápidos, envolvendo
grandes quantidades de água misturadas aos
sedimentos e solos, formando um fluido
viscoso com características próprias de
escoamento. São comuns em áreas de
relevo forte e têm grande poder destrutivo
em virtude da trajetória mais longa do
fluxo, se comparadas aos deslizamentos.
Águas correntes muito turvas e densas
(barrentas) são indícios de formação de
corridas de lama.
Corr idasCorr idasCorr idasCorr idasCorr idas
66
SOLO com MATACÕES
Os rolamentos de matacões são próprios de
encostas formadas em rochas cristalinas
alteradas pelo intemperismo químico. A
decomposição progress iva ao longo das
fraturas e falhas vai individualizando blocos
arredondados (matacões), que ficam dispersos
na massa de solo residual. As quedas de
blocos, pouco comuns na Região Metropolitana
do Recife, ocorrem em relevos mais acentuados,
como serras e morros de rochas cristalinas.
Isso se deve ao desequilíbrio de blocos rochosos,
que se soltam ao longo de descontinuidades
(fraturas e planos de xistosidade), principalmente
quando os maciços são submetidos a cortes.
Rolamentos e quedasRolamentos e quedasRolamentos e quedasRolamentos e quedasRolamentos e quedas
Adaptado de Cunha, 1991
67
Os deslizamentos são movimentos gravitacionais de massa, mobilizando sedimentos, solos
e/ou rochas, que ocorrem de modo brusco em decorrência de rupturas nesses materiais,
deixando uma cicatriz de geometria plana ou ligeiramente côncava.
Diferentemente da erosão, na qual existe um fluido (água) transportando as partículas do
solo, os deslizamentos causam maior impacto pelo caráter brusco da ruptura de parte da
encosta.
Adaptados da Unesp, IGCE/DGA/PROIN/CAPES, 2000
Des l izamentosDes l i zamentosDes l i zamentosDes l i zamentosDes l i zamentos
68
Os deslizamentos resultam da ruptura das condições de
equilíbrio, definidas por fatores geológicos, geomecânicos e
climáticos, tendo as chuvas papel fundamental na deflagração
desses processos. O solo pode ter seus espaços vazios
preenchidos por ar e água, determinando um maior ou menor
grau de saturação. O aumento da umidade nos solos implica
perda de sucção e, conseqüentemente, maior perda de resistência
no caso de solos coesivos e em variações de pressões no
interior dos maciços. A água infiltrada nos terrenos provoca
a saturação dos solos mais superficiais, formando uma frente
de umedecimento que avança em subsuperfície, enquanto o
gradiente potencial hidráulico total permitir.
Os fatores mais comumente considerados na análise de
estabilidade de encostas são as cargas externas, o peso próprio,
a pressão da água e a resistência do solo. A água de chuva
infiltrada no terreno aumenta os valores do peso próprio e da
pressão da água, e reduz a resistência do solo. Em decorrência
dessa redução das forças de resistência, diminui o fator de
segurança do talude.
Fendas e desníveis nos solos (batentes), trincas em paredes,
estufamento de muros e revestimentos, postes ou árvores
inclinados e surgências de água nas encostas são evidências
de um processo de deslizamento em curso.
ESCORREGAMENTO
Córrego do Bole iro , Rec i f e
SITUAÇÕES no ANO de 2000
CAPÍTULO 5Diretrizes para Implantação Urbana nos Morros
CAPÍTULO 6Vias de Acesso
CAPÍTULO 7Lotes de Interesse Social
CAPÍTULO 8Edificações
CAPÍTULO 9Espaços Livres de Uso Público
COMO OCUPAR OS MORROSDE FORMA SEGURA
PARTE
C
CAPÍTULO 5Diretrizes para Implantação Urbana nos Morros
Princípios de intervenção 5. 1
Diretrizes de concepção urbanística 5. 2
Medidas normativas para ocupação em áreas de morros 5. 3
73
5. 1 Princípios de intervenção
Os morros fazem parte da cidade, merecendo,
por parte dos agentes públicos, um tratamento
específico, face à realidade existente nesses locais,
de modo a integrá-los à estrutura urbana formal
Integração dos morros à estrutura urbana da cidade
da cidade, através do planejamento e da gestão
urbana e de riscos. A ordenação do espaço dos
morros e as obras de uso coletivo devem guardar a
qualidade, o conforto, a segurança e a estética.
Os morros da Região Metropolitana do Recife são formados por
unidades geoambientais vulneráveis a desequilíbrios do meio
ambiente produzidos por processos naturais ou pela ação do homem,
devendo sua ocupação, bem como as intervenções nela realizadas,
estarem subordinadas aos seguintes princípios:
74
Qualidade do ambiente natural
Os espaços urbanos dos morros devem ser tratados
como patrimônio natural da paisagem urbana da
Cidade Metropolitana, e devem ser conservadas as suas
características morfológicas e a sua capacidade potencial
de ocupação. Os morros constituem um espaço onde
as mudanças são intimamente relacionadas ao binômio
relevo-água. Essa relação, que tem vários outros
condicionantes (tipo de solo, clima e vegetação), é
refletida na morfologia das bacias hidrográficas, na qual
se dá a convergência e a concentração das linhas d'água.
Qualquer intervenção desejada para as áreas de morros
terá que considerar a dinâmica do relevo da microbacia
envolvida, sob pena de vir a provocar a aceleração de
processos naturais como deslizamentos e erosões nas
encostas, além de assoreamento e inundações nas áreas
baixas. As áreas parceladas ou não parceladas, que
estejam sujeitas a eventos geológicos, naturais ou
induzidos, devem ser objeto de monitoramento
permanente do risco. Do mesmo modo, as práticas
que provocam acidentes nas encostas, como cortes e
aterros inadequados, retirada de vegetação, lançamento
de águas em encostas e bloqueio das linhas d'água
naturais por lixo ou entulho, devem estar sujeitas ao
controle e à fiscalização do poder público, em parceria
com a comunidade.
75
Qualidade da habitabilidade
A qualidade de vida nos morros é medida pela salubridade
e adequação da moradia, pela oferta de infra-estrutura,
equipamentos urbanos, espaços de usos coletivos e pelo
acesso aos serviços públicos essenciais. Merecem atenção os
assentamentos populares localizados em áreas de risco e
em áreas com degradação ambiental, os quais devem ser
objeto de requalificação, compreendendo o reordenamento
urbano e a melhoria da infra-estrutura. A regularização
fundiária das áreas localizadas em morros, que apresentem
situação legal para aplicação do usucapião especial coletivo
de imóveis urbanos em condomínio, deve ser assistida pelo
poder público - Estado e Municípios.
Responsabilidade social
A integração do ambiente natural e construído,
e a segurança nas áreas de morros, são de
responsabilidade conjunta do poder público e
dos cidadãos que vivem nesses espaços urbanos
e os ocupam. A responsabilidade social dos
moradores e ocupantes concretiza-se pelo
conhecimento do risco e pela mudança de
hábito, adotando práticas cotidianas adequadas
e ações individuais e coletivas de preservação
do ambiente natural.
76
5. 2 Diretrizes de concepção urbanística
A ocupação de novas áreas dos morros da Região Metropolitana do Recife e a requalificação das áreas urbanas já ocupadas
deverão ser orientadas para atingir e manter a qualidade da habitabilidade, dotando-as de condições sanitárias adequadas,
de infra-estrutura e equipamentos urbanos, e de espaços de convivência social.
DIRETRIZES DE REGULAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
o dimensionamento e a disposição em relação às curvas de níveldo sistema viário, da rede de drenagem e dos lotes;
o padrão das edificações;
os demais componentes de infra-estrutura integrados às soluções adotadas
para o sistema viário e para o conjunto de lotes;
as áreas de uso coletivo.
A implantação de assentamentos urbanos em áreas de morro exige tratamento diferenciado e integrado
de cada elemento urbano, com adaptação a cada situação particular do terreno.
Devem ser observados:
Fixar exigências especiais para a ocupação e construção nas áreas de morros, com base na natureza e intensidade do riscoavaliado.
Elaborar ou rever legislação especial para as áreas de morros, impedindo, através da regulação, a ocupação em áreas perigosas.
Adotar medidas preventivas, proibindo mutilações de terreno, como cortes incorretos e/ou retirada extensiva devegetação, que possam vir a afetar a estabilidade das encostas.
Promover a regularização fundiária, aplicando o usucapião coletivo em áreas com ocupação consolidada.
77
Conceber o parcelamento do solo e a implantação do projeto urbanístico de modo simultâneo e integrado,considerando a topografia e as restrições geológico-geotécnicas do terreno.
Priorizar, para novas ocupações ou expansão de ocupações existentes, áreas com relevos menos movimentados,que disponham de espaços, mesmo que descontínuos, com declividades inferiores a 30%.
Considerar as características morfológicas, individualizando as microbacias de drenagem e respeitando o caminhodas águas.
Evitar a terraplenagem generalizada, que desestrutura os solos, causando futuros focos de erosão acelerada.
Definir os limites entre espaço público e de uso comum e espaços privados, visando à regularização fundiária,a gestão e o controle urbanístico.
Delimitar as áreas de encostas passíveis de serem ocupadas de forma segura, restringindo a ocupação noslocais de risco, identificando-os como áreas não edificáveis.
Tratar as encostas adjacentes aos topos ocupados, para garantir a segurança e a salubridade do lugar.
Interditar ou ocupar os espaços onde o risco não pode ser mitigado, utilizando-os como áreas de uso comum eevitando novos processos de ocupação com edificações.
DIRETRIZES PARA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO
78
DIRETRIZES PARA ORDENAMENTO DA OCUPAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO URBANA
Adotar soluções urbanísticas que rentabilizem as redes de infra-estrutura, a ocupação do solo e a reduçãodos custos.
Dispor as edificações com sua maior dimensão paralela às curvas de nível, para reduzir os cortes.
Dotar os espaços públicos de qualidade paisagística, criando espaços de lazer e oportunidades para otimizaro convívio entre os moradores, especialmente ao longo das vias locais e de pedestres.
Preservar a tipicidade da área ocupada, minimizando a remoção de famílias, nas ações de requalificação.
Relocar famílias situadas em áreas de risco para áreas mais seguras, na própria localidade ou nas proximidades,mantendo, ao máximo, as suas relações de vizinhança.
DIRETRIZES PARA DEFINIÇÃO DOS SISTEMAS VIÁRIO E DE DRENAGEM
Observar a microbacia e a drenagem natural.
Integrar os sistemas viário e de drenagem.
Criar elementos para o escoamento das águas pluviais e servidas, de modo a evitar a sua infiltração nas encostas.
Hierarquizar o sistema viário criando vias locais para circulação de veículos, possibilitando o acesso dos moradoresa todos os lotes.
Pavimentar as vias de maior declividade para evitar a erosão.
79
Reduzir o risco e a degradação ambiental das áreas de morros, provocados pela ocupação desordenadae pelas práticas cotidianas dos moradores.
Reabilitar áreas de risco, degradadas pela ocupação indevida, e promover a relocação dos assentamentos.
Manter a cobertura vegetal com espécies adequadas às áreas de alta declividade, para dar sustentação ao soloe evitar a erosão, difundindo a prática de tratamento paisagístico com espécies da flora local.
Controlar as atividades que provocam impactos ao ambiente natural e prejudicam as condições de estabilidade,como a retirada de vegetação, cortes e aterros, lançamento de águas, obstrução da drenagem natural e construída.
Controlar, através de licenciamento, as atividades de mineração em áreas urbanas e de expansão urbana,evitando criar futuras áreas potenciais de risco.
Adotar mecanismos de incentivo aos proprietários para a recuperação das áreas degradadas.
DIRETRIZES DE CONSERVAÇÃO E DE REABILITAÇÃO DO MEIO FÍSICO NATURAL
80
As áreas de alta instabilidade, com taludes altos e extensos que não oferecem segurança (mesmo para a
ocupação fortuita), ao invés de dispendiosos tratamentos de estabilização, devem ser interditadas e deixadas
para que os processos de erosão e escorregamento promovam a sua estabilização natural, contendo-se o
avanço de sua massa coluvionar na base da encosta, com muros de espera ou barreiras vegetais.
DIRETRIZES PARA A GESTÃO E CONTROLE DA OCUPAÇÃO URBANA
Exercer o controle da ocupação e do adensamento.
Apoiar a população de baixa renda na execução de suas moradias, facilitando o acesso a projetos de arquitetura, estruturais,de instalações elétricas e hidráulicas, e ao conhecimento de alternativas de materiais de construção de baixo custo.
Garantir e potencializar o desenvolvimento de atividades artísticas, culturais e socioeconômicas dos moradores.
Promover programas permanentes de educação ambiental, usando, sempre que possível, os sistemas integrados de educação,de saúde e de defesa civil.
Em áreas ainda não ocupadas, o projeto de intervenção deve considerar:
as características geológico-geotécnicas dos terrenos;
a suscetibilidade natural da encosta à erosão ou a escorregamentos;
as características topográficas do terreno e sua adequação às mesmas para evitar
cortes extensos, que exijam tratamentos suplementares de custo elevado;
o traçado natural das drenagens;
a manutenção de vegetação para a contenção natural do terreno.
81
5. 3 Medidas normativas para ocupação em áreas de morros
Medidas normativas e de caráter geral e urbanístico devem conter recomendações técnicaspara ocupação em áreas de morros, adequadas às suas características.
Impermeabilização da encosta e dos taludes de corte
Obrigatoriedade de impermeabilização do talude de
corte por vegetação protetora da erosão superficial
(gramíneas ou equivalente) ou por qualquer meio que
impeça o choque direto da água no solo e a sua
infiltração na encosta.
Taludes de corte e aterro
Definição de declividades máximas para
a execução de cortes (1:1,5) e aterros (1:2)
em áreas de morros, estabelecendo as
exigências complementares de segurança
para as situações excepcionais.
Definição de Unidades de Conservação
situadas em áreas de morros, estabelecendo
as condições restritivas de sua ocupação.
Unidades de Conservação
Obrigatoriedade de impermeabilização
construtiva de pelo menos 80% da área
total do terreno gerado pelo corte, sendo
a parte restante coberta por vegetação
protetora da erosão superficial (gramíneas
ou equivalente).
Impermeabilização dos terrenos
Densidade habitacional
Estabelecimento de distância mínima
- horizontal e vertical - entre cortes,
em função das características do solo
e das intervenções pretendidas.
82
Sistema de drenagem na área do terreno
Obrigatoriedade de colocação de calhas, construção de
canaletas e direcionamento das águas de chuva e servidas para
o sistema de drenagem formal (escadarias, canaletas e canais),
ou, na sua ausência, para a drenagem natural existente,
evitando novos sulcos e ravinas; proibição de lançamento de
lixo e entulhos no sistema de drenagem.
Vazamentos de tubulações locais e adutoras
Exigência de monitoramento permanente, com
reparos imediatos em tubulações locais e adutoras,
tendo em vista a velocidade com que esses
vazamentos desencadeiam acidentes. Em 1996,
o vazamento de uma adutora no Córrego do
Boleiro, em Recife, causou acidente que provocou
várias mortes.
Construção de fossas e cisternas
Proibição de construção de fossas absorventes,
sumidouros ou valas de infiltração e cisternas
próximos à borda das encostas, em virtude do
aumento da saturação e da sobrecarga, nessa
área instável.
CAPÍTULO 6Vias de Acesso
Concepção integrada dos sistemas viário e de drenagem 6. 1
Traçado do sistema viário 6. 2
Dimensionamento das vias de acesso 6. 3
Concordância das vias de acesso 6. 4
Humanização das vias de acesso 6. 5
Estudo de casos 6. 6
85
O sistema viário é um componente fundamental na definição da ocupação do espaço urbano.
Possibilita o acesso a todos os pontos do território ocupado e articula as atividades que ocorrem na cidade.
O sistema viário desempenha funções que permitem:
circulação de veículos e de pedestres;
acesso aos lotes e edificações;
estacionamento de veículos;
espaço para implantação de infra-estrutura urbana e equipamentos públicos;
comércio local;
espaço livre público de recreação e convívio social.
86
6. 1 Concepção integrada dos sistemas viário e de drenagem
Os sistemas viário e de drenagem devem ser concebidos de modo integrado, quanto à sua disposição em relação às curvas
de nível e quanto ao dimensionamento dos seus elementos, de modo que as águas possam escoar o mais livremente
possível, reduzindo a taxa de infiltração na encosta.
CANALETA de DRENAGEM ACOPLADA à ESCADARIA
Córrego do Bole iro , Rec i f e
O dimensionamento dos dois sistemasdeve considerar os seguintes requisitos:
sistema de drenagem
as maiores precipitações e as vazões
sob condições de forte gradiente hidráulico
sistema viário
os limites mínimos de dimensionamento
das vias, conforme a sua tipologia
87
A rede viária deve ser projetada e implantada observando-se a drenagem natural.
O sistema de microdrenagem, que inclui calhas, canaletas de borda e de pé dos
taludes, canaletas de descida entre patamares e canaletas principais, deve ser,
sempre que possível, associado às vias de acesso. Esse sistema deve recolher
as águas pluviais e servidas, escoando-as do topo à base das encostas, até os
canais localizados nas baixadas e vales (macrodrenagem).
ESCADARIA - SEÇÃO TIPO
Adaptado de FIDEM, 2001a
CANALETA PRINCIPAL ACOPLADA à ESCADARIA
RECEBENDO CONTRIBUIÇÃO de CANALETA de BORDA
Alto Santo Antônio, Camaragibe
88
6. 2 Traçado do sistema viário
Dependendo de sua disposição em relação às curvas de nível do terreno, as vias podem ser ortogonais,
paralelas ou oblíquas.
Elementos a serem observados na concepção e implantação do sistema viário:
as restrições geológico-geotécnicas e topográficas específicas do terreno
as características das microbacias, de modo a contribuir para o escoamento das águas pluviais e servidas
a hierarquização e os parâmetros recomendados para cada tipologia de vias
a minimização de conflitos entre a circulação de veículos e de pedestres
o aproveitamento das vias locais e das vias de pedestres como pontos de lazer e convívio social
VVVVV A N TA N TA N TA N TA N TA G E N SA G E N SA G E N SA G E N SA G E N S EEEEE D D D D D E S VE S VE S VE S VE S VA N TA N TA N TA N TA N TA G E N SA G E N SA G E N SA G E N SA G E N S DDDDD O SO SO SO SO S T T T T T R A Ç A D O SR A Ç A D O SR A Ç A D O SR A Ç A D O SR A Ç A D O S D O SD O SD O SD O SD O S S S S S S I S T E M A SI S T E M A SI S T E M A SI S T E M A SI S T E M A S V V V V V I Á R I O SI Á R I O SI Á R I O SI Á R I O SI Á R I O S
89
VIA ORTOGONAL às CURVAS de NÍVEL
escadarias
VIA PARALELA às CURVAS de NÍVEL
acesso local
Vasco da Gama, Recif e
VIA OBLÍQUA às CURVAS de NÍVEL
90
Tem como função coletar e distribuir o tráfego de veículos geradonas diferentes zonas da cidade, integrando-o ao sistema viário principal;
é pela via coletora que o transporte coletivo deve circular.
Permite a acessibilidade e os fluxos internos de veículosde uma unidade espacial restrita, integrando-a às demais áreas da cidadeatravés de sua conecção com as vias coletoras;
o fluxo de veículos deve ser baixo e a velocidade, reduzida.
É compreendida por escadarias e rampas de acesso aos lotes e edificaçõese por caminhos que permitem, eventualmente, a circulação de pequenosveículos de utilidade pública.
Via Coletora
Via Local
Via de Pedestre
HIERARQUIZAÇÃO DAS VIAS
HIERARQUIZAÇÃO DAS VIAS DE ACESSO
O sistema viário deve ser estruturado com vias hierarquizadas, de modo a possibilitar:
o ordenamento do fluxo viário;
a minimização dos conflitos de trânsito;
a circulação de veículos;
o acesso de pedestre a todos os lotes e edificações;
a redução dos custos de urbanização.
91
VIA COLETORA
VIA LOCAL
VIA de PEDESTRE
SISTEMA VIÁRIO VIAS DE ACESSOfoto aérea fx100 foto 019 FIDEM/97
92
CONDICIONANTES PARA TIPOLOGIA DE VIAS DE ACESSO
Para as encostas que não apresentam grandes variações de inclinação e têm declividade
abaixo de 30%, as vias coletoras poderão ter qualquer tipo de traçado, desde que seja bem
integrado às soluções urbanísticas, existentes ou propostas, e respeitados os parâmetros
recomendados.
Para as encostas com declividades máximas entre 30% e 50% são recomendadas soluções
em que as vias coletoras assumam direções paralelas ou oblíquas às curvas de nível, respeitando
a inclinação longitudinal (greide) máxima tolerada de 20%.
Para as vias locais, é recomendada a direção paralela às curvas de nível, adotando-se uma
declividade transversal mínima de 0,5% e declividade longitudinal de, no máximo, 20%.
Excepcionalmente, em ocupações consolidadas, a via local oblíqua ou ortogonal às curvas de
nível pode atingir a inclinação longitudinal máxima de 30% (desde que os trechos não
excedam a extensão de 50m), de modo a permitir o acesso de veículos destinados à prestação
de serviços essenciais, como ambulância e bombeiro.
Acima de 20% de inclinação longitudinal, as vias devem ser pavimentadas para evitar a erosão,
e, acima de 30%, os pavimentos das vias devem ser reforçados com recravas transversais em
pedras de meio-fio, a cada 5m, para evitar abatimento e remoção da argamassa e garantir
a durabilidade do pavimento.
Em declividade que ultrapasse 30%, recomenda-se, para as vias de pedestres, o uso preferencial
de rampas e/ou escadarias para o acesso aos lotes e edificações, alternando-as com patamares,
quando possível.
93
Recomendações
diferenças máximas do nível de corte de 2,50m entre a crista do corte e o nível da via pública
desníveis máximos de 1,50m entre a via pública e a base do aterro
Para cortes e aterros na implantação do sistema viário
PLANTA e CORTE
de VIAS PARALELAS às CURVAS de NÍVEL
Adaptado de Cunha, 1991
94
6. 3 Dimensionamento das vias de acesso
11111 As vias coletoras e locais deverão contar com guia rebaixada em cada cruzamento, para permitir a circulação de cadeiras de rodas.
22222 Em casos especiais, as vias locais podem ter faixa única de rolamento, com largura mínima de 3,5m e extensão de até 50m.
33333 O dimensionamento das vias de pedestres deve considerar a rede de infra-estrutura a ser implantada, de modo associado ao sistema viário.
4 4 4 4 4 Em caso de vias com um só passeio lateral, ele deverá ter largura mínima de 1,50m.
5 5 5 5 5 As vias com declividade de 30%, excepcionalmente admitidas, não podem ultrapassar 50m de extensão, requerendo aprovaçãodo órgão municipal competente, mediante análise especial.
6 6 6 6 6 O valor apresentado para as declividades transversais mínimas (0,5%) é adequado quando a via é revestida de concreto ou asfalto.No caso de vias revestidas em paralelepípedo, o valor deve ser alterado para 0,8%, tanto para as vias coletoras como para as vias locais.
Vias coletoras e locais
DIMENSIONAMENTO DAS VIAS COLETORAS, LOCAIS E DE PEDESTRE
95
DIMENSIONAMENTO da VIA COLETORA
Adaptado de Cunha , 1991
DIMENSIONAMENTO para TRANSPOSIÇÃO de VEÍCULOS em VIA LOCAL
Adaptado de Moretti, 1997
excepcionalmente com faixa de rolamento de 3,50m
Em casos especiais, em que as vias locais têm faixa única derolamento, com largura mínima de 3,5m, recomenda-se que sejafeito o alargamento de pistas para transposição de veículos, naextensão mínima de 50m.
DIMENSIONAMENTO da VIA LOCAL
Adaptado de Cunha, 1991
96
O dimensionamento das vias de pedestres deve considerar a rede de infra-estrutura a ser implantada
de modo associado ao sistema viário.
Vias de pedestres
De modo geral, a largura mínima das vias de pedestres
deve corresponder a 5% do seu comprimento,
adotando-se 3,5m como largura mínima.
Para as novas vias a serem implantadas, os passeios
devem contar, no mínimo, com 1,0m de largura,
contínuos e livres de obstáculos como árvores, postes
e mobiliários urbanos, permitindo o acesso de cadeira
de rodas e o cruzamento de 2 pessoas.
Para as vias já existentes em áreas ocupadas, pode-se
adotar a largura mínima de 0,90m, de modo a permitir
o acesso de cadeira de rodas.
LARGURAS MÍNIMAS RECOMENDADAS para as VIAS de PEDESTRES
VIAS de PEDESTRES
Adaptado de Moretti, 1997
97
DIMENSIONAMENTO e ELEMENTOS de ESCADARIA
Quando são extensas, as rampas e escadarias devem ser intercaladas com patamares para descanso.
DISTÂNCIAS MÁXIMAS RECOMENDADAS
para COLOCAÇÃO de PATAMARES
em rampasa cada 50 metros
em escadarias a cada 12 degraus
Solução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
98
Para segurança dos usuários,
as escadarias e rampas devem ter corrimões e piso antiderrapante.
ESCADARIA com CORRIMÃO LATERAL
Córrego do Tiro, Reci fe
ESCADARIA com CORRIMÃO CENTRAL
Córrego do Tiro, Reci fe
ESCADARIA com CORRIMÃO
Adaptado de FIDEM, 2001a
99
Vias sem saída devem apresentar terminação em balão ou baia de retorno,
de modo a permitir a execução de manobra de veículos.
RETORNO DE VIAS SEM SAÍDA
DIMENSIONAMENTO de BAIA de RETORNO CIRCULAR
vias com 6m de largura Adaptado de Morett i , 1997
DIMENSIONAMENTO de BAIA de RETORNO CIRCULAR
vias com 9m de largura Adaptado de Morett i , 1997
100
6. 4 Concordância das vias de acesso
Para as concordâncias horizontais das vias de acesso, os raios de curvatura a serem
adotados devem respeitar um mínimo de 9m nas vias de acesso com possibilidade
de tráfego de ônibus e de 5m nas vias locais.
Em ambos os casos refere-se à porção interna da curva.
Para os cruzamentos oblíquos deve ser adotada uma concordância auxiliar,
transformando-se o ângulo de cruzamento em ângulo reto, para evitar, inclusive,
a erosão no campo interno do cruzamento.
Concordância horizontal
CONCORDÂNCIA HORIZONTAL de VIAS em ÁREAS de MORRO
Adaptado de Cunha, 1991
101
Para concordância vertical das vias de tráfego é preciso:
verificar se a curva de concordância não implica problemas para os veículos de passeio;
garantir a visibilidade, observando uma determinada curvatura.
Concordância vertical
DIMENSIONAMENTO do PATAMAR
para CONCORDÂNCIA VERTICAL entre VIAS
Adaptado de Morett i , 1997
102
DIMENSIONAMENTO ADEQUADO
da CURVATURA das VIAS COLETORAS e LOCAIS
Adaptado de McCluskey (1985, p.129), in Moretti , 1997
CURVATURAS INSUFICIENTES
para VEÍCULOS de PASSEIO
Adaptado de Moretti, 1997
103
As vias de acesso devem ser humanizadas através da urbanização dos espaços de uso comum, com arborização e embelezamento,
principalmente nas áreas mais densas, onde o elevado número de pessoas e a escassez de áreas livres dentro dos lotes forçam
a vida compartilhada. Os acessos locais e de pedestres, quando urbanizados, propiciam pontos de convívio da comunidade e
espaços de contemplação, maximizando o potencial visual que os morros possuem.
6. 5 Humanização das vias de acesso
Os espaços de contemplação são recantos nas vias que podem
servir de mirantes, tirando partido do potencial de visibilidade
da paisagem que os morros possuem.
são destinados à passagem, onde a melhoria da
arborização (onde for possível) é muitas vezes
suficiente para garantir o conforto do usuário;
podem ser usados como espaços de convívio,
especialmente nas áreas de maior densidade.
Os espaços de convívio nas vias locais e de pedestres
possuem dupla função:
Por falta de espaços de lazer e convívio nos morros, os moradoresutilizam alargamentos circunstanciais nas escadarias para o bate-papoe contemplação da paisagem, principal potencial dessas áreas altas.ESCADARIA UTILIZADA como ESPAÇO de CONTEMPLAÇÃO e de CONVÍVIO
Córrego Sérgio Loreto - Tabatinga, Camaragibe
104
Não se percebe, nas escadarias
encontradas, a preocupação em
tornar a subida mais confortável,
com patamares que propiciem
o descanso e o bem-estar dos
usuários, com corrimões que
ofereçam mais segurança e
auxiliem idosos e pessoas com
dificuldade de locomoção, assim
como a preocupação estética.
Obras simples e de baixo custo
podem ser também bonitas,
duráveis e seguras.
6. 6 Estudo de casos: ESCADARIAS E RAMPAS
O desenho urbanístico espontaneamente criado para os morros da Região
Metropolitana do Recife, com a predominância de vias ortogonais às curvas
de nível para os acessos principais, tem, na declividade, um fator limitante
para a abertura de vias para veículos, levando à adoção das escadarias como
elemento de acessibilidade ao topo dos morros.
RAMPA ADAPTADA à ESCADARIA para ACESSO
de CARRINHO de MÃO e de FEIRA, BICICLETA e MOTO
Vasco da Gama, Recif eSolução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
REQUALIFICAÇÃO da ESCADARIA com RAMPA
105
Em geral, não é analisada a viabilidade de uma rampa no lugar da escadaria, pleito muito freqüente dos moradores entrevistados
durante o diagnóstico realizado para a produção deste Manual. As rampas viabilizam o trânsito de motos, bicicletas e carrinhos
de mão, largamente utilizados nos morros, além de facilitar o acesso de cadeiras de rodas. Em muitos locais, alterações feitas
durante ou após a construção, pelos próprios moradores, adaptam faixas de rampas entre os degraus.
RAMPA IMPROVISADA entre os DEGRAUS
REQUALIFICAÇÃO da ESCADARIA com RAMPA
Solução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
106
EMBELEZAMENTO da ESCADARIA por INICIATIVA da COMUNIDADE
Ibura - UR 1, RecifeSUGESTÃO para o EMBELEZAMENTO de ESCADARIAS
Considerar, nos projetos de acessibilidade, a implantação de patamares combinados com rampas e escadarias,
onde a declividade permitir. Vincular seu desenho à funcionalidade do sistema de drenagem.
Otimizar os alargamentos permitidos pelo terreno, ou ao menos evitar a sua obstrução para o uso, utilizando-os
como pontos de convivência.
Estimular a criatividade para soluções de embelezamento dos elementos urbanos, tais como escadarias, rampas
e revestimento de encostas.
Adotar, para escadarias e rampas, a implantação de corrimão.
Recomendações
Solução proposta pela arquitetaAna Paula Vilaça
Projeto Altas Artesda Prefeitura da Cidade do Recife
CAPÍTULO 7Lotes de Interesse Social
Implantação dos lotes 7. 1
Dimensionamento dos lotes 7. 2
Concepção integrada de lotes às redes de infra-estrutura urbana 7. 3
Estudo de caso 7. 4
109
A realidade dos morros da Região Metropolitana do Recife
demonstra que a ocupação espontânea ou promovida por loteamentos
irregulares se faz em declividades acima dos parâmetros estipulados
pela Lei Federal nº 6766/79 ( alterada pela Lei nº 9785/99 ) e pela
Lei Estadual 9.990/87, trazendo como conseqüências:
ameaça permanente à segurança física da população;
deslizamento de barreiras com perdas humanase materiais;
restrições para circulação de veículos;
dificuldade de locomoção de pedestres;
ausência de áreas para ampliação das edificações;
insalubridade das habitações por dificuldade de aeraçãoe insolação;
investimentos maiores com infra-estruturaquando da regularização fundiária e urbanização.
110
É necessário que haja um controle urbano e ambiental que fiscalize as ocupações espontâneas promovidas pela população e que
discipline o parcelamento de glebas, observando as legislações federal, estadual e municipal, bem como atenda aos preceitos do
Estatuto da Cidade, no que se refere às ocupações de interesse social.
O parcelamento ou as ocupações em áreas com declividade acima de 30% só deverá ocorrer mediante atendimento das exigências
específicas dos órgãos competentes, demonstradas em estudo de viabilidade técnica que ateste as condições do terreno para
implantação dos lotes e construção das edificações, resguardada a estabilidade da encosta, como determina a legislação pertinente.
OCUPAÇÃO em ÁREAS de MORROS
Alto da Estrela, Moreno
111
7. 1 Implantação dos lotes
O parcelamento do solo em áreas de morro, resultando em lotes para
uso habitacional, deve ser feito dentro de um planejamento urbanístico
que observe as características do relevo e as restrições geológicas e
geotécnicas do terreno a ser ocupado. É importante integrar esse novo
espaço à rede urbana da cidade, de modo a possibilitar a interligação
dos sistemas viários, de drenagem, de saneamento e de energia elétrica
com a infra-estrutura urbana já implantada.
Em áreas ainda não ocupadas, o parcelamento de glebas para fins urbanos
está condicionado ao atendimento das normas estabelecidas pelas legislações
federal, estadual e municipal, devendo, para tanto, ter a aprovação dos
órgãos competentes.
A regularização fundiária e a urbanização de áreas ocupadas por população
de baixa renda devem obedecer às normas especiais de interesse social
estabelecidas pelo poder público municipal, que dispõem sobre:
as condições de uso e ocupação do solo e da edificação;
a situação socioeconômica da população a ser atendida;
as condições exigidas para preservar e recuperaro meio ambiente natural e construído.
DISPOSIÇÃO dos LOTES em RELAÇÃO às CURVAS de NÍVEL
Adaptado de Cunha, 1991
112
A paisagem própria das áreas de morro constitui um patrimônio ambiental da região.
A terraplenagem do lote, quando inevitável, só deve ocorrer no momento da preparação do terreno para construção da
edificação, visando assim reduzir a geração do plano contínuo que desconfigura o morro, desprotege o solo e o expõe a
processos de erosão.
Os grandes movimentos de terra com terraplenagem dependem de prévia autorização dos órgãos competentes e devem ser
previstos mecanismos de manutenção da estabilidade da encosta.
LOTES IMPLANTADOS em PATAMARES
113
ACESSO às EDIFICAÇÕES ATRAVÉS de ESCADARIA
A delimitação dos lotes e a definição dos espaços privados, para efeito de regularização fundiária e de gestão urbana, devem
levar em conta as áreas de servidão para implantação de infra-estrutura urbana e as necessidades das famílias a fim de se obter:
acessibilidade aos lotes e edificações;
espaço de usos externos (lavagem e secagem de roupas);
afastamento entre a casa e os taludes de corte inferior e superior;
espaço para expansão (quando possível).
Morro da Conceição, Recife Alto José do Pinho, Recife
114
LOTES com ÁREAS e TESTADAS DIFERENCIADAS
Adaptado de Cunha, 1991
CORTES
Adaptado de Cunha, 1991
Os lotes devem ser dispostos, preferencialmente, com a sua
maior dimensão na direção paralela às curvas de nível,
visando à implantação da edificação no sentido longitudinal,
de modo a minimizar os cortes e os riscos.
115
7. 2 Dimensionamento dos lotes
Com o propósito de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana nas áreas ocupadas
pela população de baixa renda, o poder público permite flexibilizar as normas de uso e ocupação do solo e de edificação nos lotes,
de forma a viabilizar a regularização fundiária e a urbanização dessas áreas.
A Lei Federal nº 10.257/2001
Estatuto da Cidade, artigo 2º, inciso XIV
e s tabe l e c e c omo d i r e t r i z que a
regularização fundiária e a urbanização
de áreas ocupadas pela população de
baixa renda deverão ocorrer mediante
o estabelecimento de normas especiais
de urbanização, uso e ocupação do solo
e edificação, consideradas a situação
soc ioeconômica da popu lação e a s
normas ambientais.
A Lei Federal nº 6766/79,
modificada pela Lei nº 9785/99,
estabelece no seu artigo 4º, inciso II
para o lote mínimo, a área mínima
de 125m2 e a testada (frente) mínima
de 5m2, “salvo quando o loteamento
se destinar à urbanização específica
ou edificação de conjuntos habitacionais
de interesse social, previamente
aprovados pelos órgãos públicos
competentes.”
A Lei n.º 16.113/95,
que modifica as Leis de nº 15.870/94
e nº 14.947/87 do Município do Recife,
no artigo 9º, parágrafo único, incisos I e II
e artigo 10, parágrafo 3º, estabelece as condições
para criação de Zonas Especiais de Interesse
Social – ZEIS e dispõe sobre o Plano de
Regularização das Zonas Especiais de Interesse
Social - PREZEIS
e determina que as áreas do lote mínimo
criado são de 40m2 e o lote máximo não pode
exceder a 250m2, podendo o poder público
promover a remoção, através de soluções
negociadas com a comunidade através dos
canais institucionais do PREZEIS, e que a
reserva de solo virgem, tratada com vegetação,
corresponderá a 20% da área total do lote.Os municípios de Camaragibe, Olinda e Jaboatão dos Guararapes
também instituíram as Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS,
estabelecendo formas de ocupação e gestão dessa áreas.
116
Para as áreas de interesse social, recomendam-se padrões diferenciados de lotes, segundo a declividade da encosta, ampliando
a área mínima e a testada mínima dos lotes para as declividades mais altas, visando reduzir os cortes e aterros mediante a
disposição da edificação no sentido longitudinal às curvas de nível.
(1) Cunha, 1991
(2) Em projetos com edificações acopladas, essas dimensões mínimas de áreas e de testada do lote podem serreduzidas mediante aprovação do órgão municipal competente. Em casos especiais e em patamares planos ouaplainados, onde a área já é consolidada, a área mínima do lote, excepcionalmente, pode ser reduzida para 90.00m2
Declividade%
DIMENSIONAMENTO MÍNIMO DO LOTE
Área mínima do lotem 2
IPT ( 1 ) FIDEM ( 2 )
Testada mínima do lotem
IPT ( 1 ) FIDEM ( 2 )
00 – 15
15 – 30
150 120 6 6
200 200 8 8
117
A realidade dos morros da Região Metropolitana do Recife, ocupados com famílias de baixa renda, apresenta parâmetros
urbanísticos diferenciados, a partir dos quais é possível dimensionar o lote mínimo para habitação, para efeito, especialmente,
de requalificação de áreas ocupadas.
(1) No caso de corte muito alto e íngreme, esse recuo deve ser de 5 metros.
(2) Em terrenos inclinados, a área mínima e a testada mínima dos lotes devem aumentar na proporção da declividade.
Característica
DIMENSIONAMENTO MÍNIMO PARA LOTES E HABITAÇÕES EM ASSENTAMENTOS HABITACIONAIS DE INTERESSE SOCIAL
Dimensionamento
EdificaçãoRecuo mínimo
entre edificaçãoe base da encosta
Recuo mínimoentre edificação
e crista da encosta
Recuoentre edificações
Expansão Lotes
30m2
Habitaçãocom sala,quarto,cozinha
e banheiro.
Distância que permitea locação de uma
canaleta e o acessopara manutenção.
Distância mínimade segurança da encosta,que deve ser considerada
área não edificável
Distância que permite apassagem de uma pessoae as condições mínimasde aeração e insolação.
Tamanhomínimo deum quarto
Considerandotipologias geminadas
duas a duas,com implantaçãoem patamar plano
ou aplainado.
3m 3m (1) 1,5m 5m2 90m2 (2)
118
SERVIDÃO de DRENAGEM entre os LOTES
Adaptado de Cunha, 1991
7. 3 Concepção integrada de lotes às redes de infra-estrutura urbana
O relevo natural dos terrenos localizados nos morros exige condições especiais para implantação e operação da infra-estrutura
urbana, sendo necessária a reserva de áreas de servidão entre os lotes (áreas não edificáveis e de uso comum). Para assegurar
esses espaços, a concepção dos lotes deve ser feita simultaneamente e de forma integrada à definição dos traçados das redes
de drenagem e de esgotamento sanitário, assim como da rede viária.
Nas áreas já ocupadas e de elevado adensamento, sem reserva de áreas de servidão para as redes de infra-estrutura, a
implantação dos sistemas de drenagem e de esgotamento sanitário exige investimentos elevados e remoção de edificações.
119
SERVIDÃO de ESGOTO entre os LOTES
Adaptado de Cunha, 1991
para implantação do sistema de esgotamento sanitárioao longo das vias, no sentido paralelo às curvas de nível, para atender aos lotes de montante (superiores).
Quando as edificações são implantadas em nível inferior ao da rua, torna-se necessária a reserva de áreas não
edificáveis entre os lotes, criando áreas de servidão para a implantação das redes de drenagem e de esgotamento
sanitário. Nesses casos, a disposição desses espaços deve observar as seguintes condições:
para implantação do sistema de drenagemem vielas, ao longo dos lotes.
120
7. 4 Estudo de caso: EXPANSÃO DE LOTEAMENTOS
A expansão de loteamentos em áreas de morro da Região Metropolitana do Recife se dá, na maioria dos casos, de forma
desordenada, em territórios de alta declividade e de difícil urbanização. Essa é uma prática comum, adotada pela população
de baixa renda da região que busca a vizinhança de uma ocupação consolidada, especialmente de uma ocupação formal, para
usufruir da infra-estrutura instalada (ônibus, redes de abastecimento, postos de saúde, escola, entre outras facilidades) e das
oportunidades de oferta de trabalho pouco especializado nas suas proximidades.
PRECARIEDADE das MORADIAS de INVASÃO nas ENCOSTAS
Frei Damião, Abreu e Lima
121
No Conjunto Caetés I (A), observam-se dois estratos de invasão,
onde o primeiro (B) segue ocupando os topos dos espigões, divisores das drenagens,
e um segundo (C) começa a ocupar as encostas, desguarnecidas de qualquer tratamento,
com moradias de baixo padrão construtivo em condições ainda mais precárias.
A remoção da cobertura vegetal vai-se generalizando nas encostas adjacentes,
viabilizando mais invasões e comprometendo, em longo prazo, a mata de Caetés.
O lixo não é coletado, sendo totalmente lançado sobre as encostas.
As águas servidas e os esgotos correm a céu aberto, morro abaixo.
Conjunto Caetés I (A)
Ocupação nos topos dos espigões (B)
Ocupação nas encostas (C)
EXPANSÃO DESORDENADA no ENTORNO do CONJUNTO HABITACIONAL
Conjunto Caetés I - Frei Damião, Abreu e Lima
vista aérea
aerofoto fx100 foto 019 FIDEM/97
122
Recomendações
Para evitar a anexação de invasões que levarão a situações de risco, em curto prazo, é importante que o projeto da implantação
habitacional considere o tratamento das encostas, evitando a instalação de processos de degradação
ambiental, que acabam funcionando como um “sinalizador” para as invasões.
Recomposição da cobertura vegetal nas encostas adjacentes, para reduzir a erosão.
Formação de uma barreira vegetal para funcionar como delimitadora da área urbanizada e redutora dos processos de erosão.
Implantação de um sistema de canaletas (de borda, de descida e de pé), para drenagem das águas pluviais e servidas.
Ligação do acesso principal com o sistema viário formal, para permitir o acesso de serviços essenciais
(coleta de lixo, atendimento emergencial por ambulâncias e bombeiros).
Delimitação dos lotes.
Criação de espaços públicos de convívio e lazer, como pracinhas e mirantes.
PROPOSTA de INTERVENÇÃO
Frei Damião, Abr eu e Lima
Solução proposta pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
125
A conformação dos morros sugere uma grande diversidade de tipologias construtivas que variam em função da implantação de
edificações nas encostas. A definição da tipologia construtiva das edificações deve considerar as características das encostas e os
impactos nelas causados por cada tipo de edificação.
8. 1 Padrões de edificações
Edificações com cortes e aterros nas encostas
EDIFICAÇÕES ISOLADAS OU GEMINADAS
implantadas em patamar (A1)
implantadas em degraus (A2)
CONJUNTO DE EDIFICAÇÕES EM BLOCOS SUPERPOSTOS
implantado em degraus (A3)
implantado em patamar (A4)
Edificações sem cortes nas encostas
EDIFICAÇÕES EM BLOCOS SOLTOS (A5)
EDIFICAÇÕES em ÁREAS de MORRO
em FUNÇÃO da ENCOSTA e da DISPOSIÇÃO dos ACESSOS VIÁRIOS
Adaptado de Andrade & Souza, 1981
126
Edificações com cortes e aterros nas encostas
Edificações isoladas ou geminadasImplantação com corte e aterro formando um patamar
Este tipo de edificação é construído em terrenoplano, parcialmente formado por solo naturale por aterro.
Essa implantação é a mais utilizada nosassentamentos espontâneos de baixa renda,pois a construção da edificação torna-se maisfácil e de menor custo. O processo de corte alteraa estabilidade da barreira, expondo a edificaçãoa risco e requerendo cuidados maiores deproteção dos taludes.
Quanto maior a declividade da encosta, maioro espaço necessário para um retaludamento emaior o gasto com contenção, pois os cortessão maiores.
acesso por via superior
acesso por via inferior
EDIFICAÇÃO CONSTRUÍDA em PATAMAR PLANO,com CORTE e ATERRO nas ENCOSTAS
Soluções propostas pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
127
Este tipo de edificação é menos prejudicial à
encosta, visto que o seu perfil natural é pouco
alterado, com pequenos cortes e aterros.
O processo de corte e aterro em áreas de
morro deve ser evitado ao máximo, pois a
encosta fica mais suscetível a deslizamentos.
Quanto maior a declividade, mais patamares
deverão ser criados e mais contenção deverá
existir, o que aumenta o custo da obra.
acesso por via superior
acesso por via inferior
Edificações isoladas ou geminadasImplantação com corte e aterro em degraus
EDIFICAÇÃO CONSTRUÍDA em NÍVEIS,com CONTENÇÃO de ENCOSTAS em MURO de ARRIMO
Soluções propostas pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
128
Esta tipologia de edificação propicia um maior
aproveitamento do terreno, com um maior
número de edificações.
Requer um processo estrutural complexo, com
fundações e contenções reforçadas.
A possibilidade de implantação dessa tipologia
está relacionada ao tipo de solo.
Em morros de material sedimentar, como os
da Região Metropolitana do Recife, não é
recomendáve l e s se t ipo de implantação
construtiva, por causa da instabilidade gerada
pela sobrepressão da água do solo sobre as
paredes de fundação.
Já em solos rochosos, isso é perfeitamente
possível, com a fundação executada diretamente
sobre a rocha.
EDIFICAÇÃO CONSTRUÍDA em NÍVEIS ,com CONTENÇÃO da ENCOSTA com MURO de ARRIMO
Conjunto de edificações em blocos superpostosImplantação com corte e aterro em degraus
Solução proposta pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
129
Esta t ipologia de edi f i cação propic ia um
aproveitamento maior do terreno, com um maior
número de edificações.
Como solução verticalizada, pode tirar partido
da declividade através de um acesso intermediário.
A carga no solo, resultante deste tipo de edificação,
é concentrada em poucos pilares, sendo por isso
recomendada para maciços rochosos.
EDIFICAÇÃO VERTICALIZADA CONSTRUÍDA sobre PATAMAR
Conjunto de edificações em blocos superpostosImplantação com corte e aterro formando um patamar
Solução proposta pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
130
Este tipo de edificação não requer corte nem aterro
para sua implantação.
O custo torna-se elevado em função da estrutura
de sustentação da laje sobre a qual a edificação está
implantada.
O aumento na declividade da encosta acarreta
maiores paredes ou pilares de sustentação e,
conseqüentemente, maior custo.
A drenagem do terreno se faz de modo natural
e a necessidade de contenção da encosta é mínima.
EDIFICAÇÃO CONSTRUÍDA sobre LAJE
APOIADA em PAREDES
EDIFICAÇÃO CONSTRUÍDA sobre LAJE
APOIADA em PILARES
Conjunto de edificações em blocos soltosImplantação sem corte e aterro
Soluções propostas pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
131
A expansão das ed i f i cações quase sempre é
decorrente do aumento das necessidades de seus
ocupantes, seja pelo aumento da família, seja para
uso comercial. Essa expansão é comum em áreas
carentes, onde a população constrói suas casas à
medida que sua condição financeira permite. Em áreas
de morros, essa expansão é mais problemática,
tendo em vista as peculiaridades do relevo. Quase
sempre essa ampliação compromete a estabilidade
da encosta, pondo em risco a vida das famílias vizinhas.
8. 2 Expansão de edificações
CORTE para EXPANSÃO de EDIFICAÇÃO
Adaptado de Cunha, 1991
132
Foram observadas
na Região Metropolitana do Recife,
basicamente, três formas
de expansão das edificações.
Expansão cortando a encosta
Expansão sobre a encosta
Expansão vertical
133
Expansão cortando a encosta
A ampliação de cortes e aterros numa encosta aumenta a
probabilidade de situações de instabilidade. Nos morros, é
muito comum a expansão do lote feita em direção à barreira
que fica atrás da casa, deixando os taludes de corte cada
vez mais verticalizados. Essa prática é a mais perigosa, tendo
em vista que não apenas compromete a segurança da casa
expandida, como também põe em situação de risco as que
ficam acima e abaixo, pela instabilização de um volume maior
da encosta. Além disso, a casa acima tem seu terreno
diminuído, podendo comprometer a sua fundação.
Expansão sobre a encosta
A expansão sobre a encosta é feita de cima para baixo
e quase sempre se faz com a implantação de pilares
ou muros que sustentam a casa no nível original. Esse
tipo de expansão, quando feita corretamente, é menos
prejudicial à estabilidade da encosta.
Expansão vertical
A expansão por verticalização tem sido
crescentemente utilizada nos morros, em
função dos pequenos espaços disponíveis,
diminuindo as possibilidades de expansão
horizontal. A verticalização acontece pelos
mesmos motivos da expansão horizontal, e
pode ser menos prejudicial ao meio ambiente,
pois a lâmina ocupada pela construção não
se altera, não havendo cortes nem aterro.
Em aterros não compactados, a sobrecarga
representada pelas construções sobrepostas
pode ser um agravante da condição de risco.
Essa sobrecarga não é significativa quando
os problemas de drenagem são revolvidos.
Entretanto a estrutura da casa (fundações,
pilares e vigas) deve ser dimensionada para
suportar esses pavimentos a mais.
134
O corte na barreira só deve ser executado quando houver
uma distância entre as edif icações, que permita
retaludamento adequado.
A verticalização só é segura quando a capacidade de carga do
solo permite, e não deve ser executada em edificações próximas
à borda da encosta.
A expansão sobre pilares só deve ser indicada para terrenos com
características geológico-geotécnicas adequadas. O cintamento
na base das colunas confere maior rigidez à edificação.
Cuidados para expansão em morros
Soluções propostas pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
137
9. 1 Sem lugar para ficar
As ocupações nas áreas de morros ocorrem de modo espontâneo,
através de invasões de terrenos e loteamentos irregulares, que não
observam parâmetros urbanísticos de parcelamento do solo.
Caracterizam-se por forte adensamento, o que dificulta a reserva de
espaços livres de uso público com equipamentos de lazer, como praças,
parques, campinhos de vôlei e de pelada, e outros recantos aprazíveis.
É comum a presença de crianças brincando nas vias públicas, muitas
vezes em condições de absoluta insalubridade, por falta de espaços
adequados para as atividades de lazer.
Os investimentos em equipamentos de lazer e bens culturais públicos
concentram-se nos bairros de classe média e alta das cidades. Nas áreas
pobres, como é o caso de grande parte dos morros da Região Metropolitana
do Recife, os recursos públicos são investidos em obras de recuperação
voltadas essencialmente para a redução do risco ou para a solução dos
problemas mais urgentes.
O aumento dos índices de criminalidade entre os jovens do segmento
mais pobre da população, com números crescentes de homicídios, vem
sendo associado à falta de perspectivas de inserção social, pela falta de
oportunidade de acesso à educação, profissionalização e convívio social
saudável. Programas e projetos especiais, voltados para a sensibilização
e motivação desses jovens para atividades culturais e de lazer, têm
obtido sucesso na redução da violência local e, principalmente, na
melhoria da qualidade de vida dessas pessoas.
CRIANÇA BRINCANDO em LOCAL INSALUBRE
Tabatinga, Camaragibe
138
A criação de espaços de lazer e convívio social deve considerar o perfil da população, seus interesses e padrões culturais, de
modo que as pessoas possam usufruir da cultura que produzem. A articulação com as escolas, clubes de serviços, indústria,
comércio, instituições de desportos e associações de classe deve ser estimulada.
Ambientes de uso comum, com qualidade paisagística, incluindo vias locais como patamares, escadarias e rampas de tráfego
esporádico, podem propiciar espaços de convívio e de lazer. O relevo movimentado possibilita excelente condição de uso
como mirante natural, descortinando belas paisagens.
CRIANÇAS BRINCANDO na ESCADARIA
Mirueira, Paulista
CRIANÇAS BRINCANDO na ESCADARIA
Alto José do Pinho, Recife
139
CRIANÇA sem LUGAR para BRINCAR
Casa Amarela, Recife
Dotar os morros, as vias e os espaços de uso comum, de vegetação apropriada para a amenização do ambiente.
Implantar equipamentos urbanos em espaços de uso comum – bancos de praça, mesinhas para jogos, brinquedos
para crianças, gradil de proteção – adequados ao lugar, para garantir o uso seguro.
Garantir a preservação de áreas íngremes não edificáveis, impróprias para a ocupação urbana, demarcando espaços
livres públicos de equilíbrio ambiental onde ainda ocorrem maciços vegetais e remanescentes
de ecossistemas naturais, para a proteção de encostas e redução do risco.
Recomendações
140
9. 2 Estudo de casos: RAMPAS
Recomendações
São espaços potenciais de valor paisagístico e ambiental que oferecem oportunidades de convívio social e
de lazer propícios à contemplação nos mirantes criados pelo relevo dos morros
Substituir escadarias por rampas, sempre que a declividade permitir.
Qualificar o espaço livre, definindo áreas de interesse coletivo através da implantação de bancos e gradil de proteção.
Adensar a arborização nas áreas de uso comum, para amenizar a paisagem.
Solução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
RAMPA EXECUTADA pelo PODER PÚBLICO, UTILIZADA pelas CRIANÇAS para BRINCAR
Mirueira, Paulista
141
Praças são espaços livres públicos dotados de equipamentos para propiciar o convívio social, a recreação e realização de eventos.
Criar um espaço de atividades múltiplas, voltadas para crianças, jovens e adultos, por se tratar de uma área ampla.
Implantar parque infantil, área para patinação e ciclismo, mesas para jogos e áreas de estar, principalmente nos espaços sombreados.
Tratar a arborização do local e criar jardins para embelezar e conferir qualidade paisagística ao ambiente.
Dar um tratamento ao piso, considerando o caminho utilizado pelos usuários.
Recomendações
Vegetação muito densa, sem tratamento, e com mau aproveitamento do espaço.O espaço ocioso favorece o acúmulo de entulhos que são utilizados para brincadeiras,pelas crianças do local.
PRAÇAS
Solução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
ÁREA LIVRE PARCIALMENTE UTILIZADA como PRAÇA
Sítio dos Pintos, Recife
142
O campo de pelada foi improvisado em área desocupada, sem qualquertratamento da vegetação, sem equipamentos de apoio e sem proteçãopara o canal que passa ao lado.
Os campos de pelada ocupam os espaços livres, localizados em terrenos públicos ou privados, em topos de morros ou patamares
mais largos. Os usuários, moradores da comunidade, mantêm a guarda e a conservação do espaço.
Regularizar a utilização da área ocupada com o campo de pelada.
Equipar o campo de pelada com arquibancadas, barras de gol e vestiário.
Humanizar o entorno, através de jardins, com vegetação apropriada.
Colocar guarda-corpo ao longo do canal.
Recomendações
CAMPOS DE PELADA
Solução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
ÁREA LIVRE UTILIZADA como CAMPO de PELADA
Sítio dos Pintos, Recife
143
A área livre entre as vias principais foi destinada, inicialmente, à criação de uma praça,mas passou a ser utilizada pelos moradores como campo de pelada.
Recomendações
Manter o uso dado pela população – campo de pelada – desde que protegido das ruas que o limitam.
Garantir a utilização do campo de futebol de forma segura, instalando equipamentos, tais como:
gradil para proteção dos usuários do campo e dos pedestres;
bancos voltados para o campo de pelada e para o passeio público;
elementos próprios do campo de pelada – barra de gol, demarcação da quadra.
Solução proposta pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
PRAÇA entre VIAS UTILIZADAS como CAMPO de PELADA
Morro da Conceição, Recife
144
Esses espaços oferecem bom potencial paisagístico
e podem ser requalificados e aproveitados como
áreas de lazer, com intervenções de baixo custo,
envolvendo a comunidade na concepção e
execução do projeto e na manutenção do local.
São áreas livres de pequena dimensão, situadas em nichos urbanos, sem maiores exigências de equipamentos, criadas até pelo
sombreamento da copa de uma árvore.
RECANTOS de LAZER e CONVÍVIO SOCIAL
RECANTOS
CAPÍTULO 10Obras sem Estrutura de Contenção
CAPÍTULO 11Obras com Estrutura de Contenção
CAPÍTULO 12Proteção para Massas Movimentadas
CAPÍTULO 13Drenagem
CAPÍTULO 14Esgotamento Sanitário
CAPÍTULO 15Lixo
COMO ESTABILIZAR AS ENCOSTAS
PARTE
D
147
As soluções estruturadoras para os morros são aquelas que possibilitam condições de estabilidade, que só se viabilizam quando a
encosta é tratada como um todo, com soluções combinadas de retaludamento, de proteção superficial com materiais naturais e
artificiais e de drenagem adequada à microbacia em questão, além de obras de estrutura de contenção, tais como muros de
arrimo, quando necessários.
Obras pontuais, mesmo aquelas que utilizam muros de arrimo, podem perder sua eficácia em pouco
tempo, chegando até a serem destruídas, pela falta de harmonia com o restante da área. Focos de erosão ou
infiltração na descontinuidade de obra/solo surgem rapidamente após a sua conclusão.
Nos casos de avanço de massas já escorregadas ou resultantes de corridas, as soluções são encontradas em
barreiras naturais ou artificiais, feitas com vegetação ou muros convencionais. Situações mais raras na
Região Metropolitana do Recife, como a movimentação de blocos fraturados ou de matacões, podem ser
resolvidas através de telas para sua retenção, ou apenas pela sua remoção, quando for tecnicamente viável.
Essas soluções servem para apoiar decisões que permitem a escolha do tipo de obra e serviço que melhor se ajuste à estabilizaçãoda encosta. Apresentam também como objetivo estimular a criatividade para adaptação e/ou modificação total ou parcial dastécnicas apresentadas, diante das características geotécnicas encontradas, dos recursos e mão-de-obra disponíveis e de outrosfatores condicionantes.
É indispensável a visita de inspeção, para identificar as características particulares de cada lugar (litologia, morfologia, drenagem).
As principais técnicas empregadas nas intervenções para estabilização de encostas, relacionadas nos próximos capítulos,
são agregadas em três grandes grupos:
OBRAS SEM ESTRUTURA DE CONTENÇÃO
OBRAS COM ESTRUTURA DE CONTENÇÃO
PROTEÇÃO PARA MASSAS MOVIMENTADAS
A drenagem, o esgotamento sanitário e o lixo nos morros são abordados nos capítulos que seguem, uma vez que são elementos
relevantes para a manutenção da estabilidade das encostas.
148
OBRAS DE ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTAS
Grupos Subgrupos Tipos de Obras
Obras sem estruturade contenção
Obras com estruturade contenção
Obras de proteçãopara massas movimentadas
Retaludamento
Proteção superficial
Estabilização de blocos
Muro de arrimo
Outras soluções de contenção
Contençãode massas movimentadas
Cortes
Aterro compactado
Materiais naturais
Materiais artificiais
Retenção
Remoção
Solo cimento
Pedra rachão
Concreto
Gabião
Bloco de concreto articulado
Solo-pneu
Terra armada
Micro-ancoragem
Solo compactado e reforçado
Materiais naturais
Materiais artificiais
Taludes contínuo e escalonado
Carga de fase de talude ( muro de terra )
Gramíneas
Grama armada com geossintético
Vegetação arbórea ( mata )
Selagem de fendas com solo argiloso
Canaleta de borda, de pé e de descida ( ver caps. 10 e 13 )
Cimentado
Geomanta e gramíneas
Geocélula e solo compactado
Tela argamassada
Pano de pedra ou lajota
Alvenaria armada
Asfalto ou polietileno
Lonas sintéticas ( pvc e outros materiais )
Tela metálica e tirante
Desmonte
Solo cimento ensacado ( sacos de fibra têxtil ou geossintética )
Pedra seca ( sem rejunte )
Alvenaria de pedra ( com rejunte )
Concreto armado
Concreto ciclópico
Gabião-caixa
Bloco de concreto articulado ( pré-moldado encaixado sem rejunte )
Solo-pneu
Placa pré-moldada de concreto, ancoragem metálica ou geossintética
Placa e montante de concreto, ancoragem metálica ou geossintética
Geossintético
Paramento de pré-moldado
Barreira vegetal
Muro de espera
CAPÍTULO 10Obras sem Estrutura de Contenção
Retaludamento 10. 1
Proteção superficial 10. 2
Estabilização de blocos 10. 3
151
Os retaludamentos podem se destinar a um talude específico ou à alteração de todo o perfil de uma encosta.
São intervenções para a estabilização de taludes, através de mudanças na sua geometria, particularmente
através de cortes nas partes mais elevadas, visando regularizar a superfície e, sempre que possível, recompor
artificialmente condições topográficas de maior estabilidade para o material que as constitui. Muitas vezes são
combinados a aterros compactados para funcionar como carga estabilizadora na base da encosta.
Áreas retaludadas ficam frágeis em virtude da exposição de novas áreas cortadas, razão pela qual o projeto de
retaludamento deve incluir, indispensavelmente, proteção do talude alterado, através de revestimentos naturais
ou artificiais associados a um sistema de drenagem eficiente.
10. 1 Retaludamento
152
SITUAÇÃO SEM TRATAMENTO
SITUAÇÃO TRATADA
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de RETALUDAMENTO
Adaptado de Cunha, 1991
154
Os cortes podem ser contínuos (se a altura for inferior a 5m) ou escalonados (se a altura for superior a 5m).
Cortes verticais a subverticais são incompatíveis com as condições naturais de equilíbrio dos materiais envolvidos. Os solos ou
sedimentos têm o seu relevo definido pela ação da água e da gravidade, e suas formas e declives devem-se, por um lado, aos
diferentes tipos de litologias, granulometrias, adensamento, estratificação e estruturas e, por outro, às condições climáticas locais,
particularmente à umidade, temperatura e pluviosidade.
Os cortes subverticai s que não oferecem condições de
retaludamento para declividades mais seguras podem ser
estabi l izados com recorte esca lonado e tratados com
microdrenagem e revestimentos adequados.
RETALUDAMENTO e REVESTIMENTO VEGETAL em ENCOSTATALUDE VERTICAL
Nesses casos, a extensão
máxima de talude deverá
ter cana leta de pé e de
borda , c om dec l i v idade
mínima longitudinal de 2%.
Cada solo ou sedimento, quando sujeito aos agentes
geológicos de denudação, define seu perfil de equilíbrio, que
se consolida com a fixação da vegetação. Com os cortes, esse
equilíbrio é rompido e acentuam-se os processos de erosão e
movimentos de massa. Essas a lterações podem ser
compensadas por retaludamentos e proteção posterior do
corte com revestimentos e microdrenagem.
Cortes
155
Fazer a remoção do material a partir do topo do talude,
para evitar acidentes com deslizamentos quando se descalça a base.
Em taludes contínuos, com mais de 5m de altura,
escalonar degraus (bermas ou banquetas),
para reduzir o percurso da água sobre a face do talude.
Fazer a proteção superficial do talude
harmonizada ao sistema de microdrenagem,
previamente dimensionado no projeto de retaludamento.
Remover o material excedente, evitando danos às áreas vizinhas,
bem como o assoreamento das linhas de drenagem.
Recomendações Cunha, 1991
Em solos arenosos, a frente de trabalho não deve
ter mais de 2 metros de extensão horizontal;
taludes com maior extensão devem ser executados
por etapas, dentro dos limites de segurança.
FRENTE de TRABALHO para RETALUDAMENTO
Adaptado do Manual de Recuperação de Áreas Degradadas em Loteamentos IPT e Governo do Estado de São Paulo, 1986
156
A ocorrência de solos residuais ou sedimentos friáveis, facilmente desagregáveis com o auxílio de enxadas, ou outro
instrumento similar, facilita a prática de cortes e aterros nas encostas, para a criação de lotes planos. São assim gerados
os terrenos ou patamares para a ocupação, onde o material retirado do corte é lançado encosta abaixo, sem uma
limpeza preliminar, formando um bota-fora inadequadamente chamado de aterro.
A cobertura vegetal e o solo superficial com raízes, além do lixo lançado na superfície, quando soterrados por esse
material, vão sofrendo decomposição ao longo do tempo e passam a constituir uma superfície rica em matéria orgânica,
que quando saturada pelas águas percolantes funciona como lubrificante para o deslizamento. Esses depósitos são utilizados
para ampliar o patamar, e quando a casa é parcialmente construída sobre eles desenvolve fissuras em paredes e piso, ao
longo da linha divisória solo/aterro. Ocorrem, com grande freqüência, deslizamentos decorrentes da ruptura desses “aterros”.
PATAMARES ESCALONADOS DESLIZAMENTO de ATERRO não COMPACTADO
Adaptado de Cunha, 1991
Aterro compactado
157
A execução de aterros, de um modo geral, envolve preparação
prel iminar do terreno a ser aterrado (desmatamento,
destocamento e limpeza), seguida das operações de descarga,
espalhamento, homogeneização, umedecimento e compactação.
Os materiais empregados devem atender às normas vigentes e
não podem conter matéria orgânica (turfas e argilas orgânicas),
material micáceo ou diatomáceo (FIDEM, 2001 a). Para o corpo
dos aterros a espessura de cada camada compactada não deve
ultrapassar 20cm para a compactação manual, podendo chegar a
30cm nas camadas compactadas mecanicamente (sapinhos,
chapas vibratórias e outros).
Nas encostas, deverão ser observados cuidados adicionais: além
da limpeza, a superfície da encosta deverá ser escarificada
formando sulcos horizontais paralelos às curvas de nível, e em
caso de declividades altas deve ser cortada em degraus
escalonados, antes da aplicação dos aterros.
A inclinação dos taludes de aterros varia com a natureza dos
solos uti l izados e as condições locais. Nas encostas, é
conveniente não ultrapassar a declividade de 1:2 (vert:horiz).
Em áreas onde não é possível o uso de máquinas, devem ser
usados soquetes manuais ou sapos mecânicos, mantendo-se,
entretanto, as especificações quanto à massa específica aparente
seca de, no mínimo, 95% da obtida no próctor normal, e a
umidade controlada de mais ou menos 1% em torno da umidade
ótima do próctor normal, exigidas para o corpo de aterros. Há
meios simples de realizar tais controles (FIDEM, 2001 a).
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de ATERROS
Adaptado de Cunha, 1991
158
Fazer o retaludamento dos aterros, deixando-os com declividades não superiores a 1:2 (vert:horiz).
Construir bermas para aumento da carga, no pé dos aterros.
Recompor o revestimento vegetal dos taludes para reduzir a infiltração e conter a erosão.
Fazer o redirecionamento da drenagem (canaletas de borda, de descida e de pé) para evitar concentração de água sobre o talude.
Recomendações
159
Relações da moradia com os taludes de corte e aterro
Embora cada situação exija análise técnica para definir o projeto de
intervenção, de um modo geral os seguintes limites devem ser observados:
CONVERSÃO das DECLIVIDADES MAIS USADAS
CLASSIFICAÇÃO dos TALUDES
Scholz , 1972 declividade máxima do talude de corte - (1:1,5)
declividade máxima do aterro - (1:2)
distância mínima entre a casa e o talude superior - 3m
distância mínima entre a fossa e a borda do talude inferior - 5m
distância mínima da moradia para a borda do talude inferior - 3m
No caso de cortes muito altos e íngremes, acima de 15m,a distância mínima entre a casa e a borda do talude é de 5m.
RECUOS MÍNIMOS entre a EDIFICAÇÃO e os TALUDES
160
Estudo de caso: ENCOSTAS ÍNGREMES EM AGUAZINHA, OLINDA
As jazidas e áreas de empréstimo para a
construção civil são, tradicionalmente, objeto
de invasões pela população pobre. Resultam
sempre em situações de risco, tendo em vista
a construção de moradias na linha de crista
e próximas ao pé da frente de exploração,
que é um corte de grande altura e praticamente
vertical.
As moradias do topo correm sério risco de
desabamento, seja por deslizamentos ou por
erosão (a depender da textura do sedimento
ou do solo e das condições das chuvas); aquelas
construídas na base ficam muito próximas
aos depósitos de colúvio, sujeitas, portanto,
ao soterramento por ocasião dos movimentos
de massa ou das corridas de lama/areia,
durante as enxurradas.
DETALHE
Moradias em Risco ao Pé do Colúvio
ÁREA de MINERAÇÃO
Aguazinha, Olinda
161
Remover as moradias a menos de 5 metros da linha de crista e a menos de 10 metros da massa
de colúvio, definindo oficialmente esta faixa como área não edificável.
Construir barreiras vegetais e/ou muros de espera, para reduzir o assoreamento e proteger vias públicas
ou moradias a jusante das corridas de terra e dos deslizamentos.
Recomendações
Solução proposta pela arquitetaSocorro P. B. Rodrigues Leite
ENCOSTA ÍNGREME
162
Quando a população dos morros é consultada sobre o
que acha que segura as encostas, a resposta é quase
unânime: muros de arrimo. Com certa freqüência, têm
ocorrido acidentes de quedas de muros sobre as casas
situadas logo abaixo, com não raros casos de óbitos. Esses
acidentes são, em sua maioria, decorrentes de construções
incorretas e maldimensionadas, concebidas e construídas
pelos próprios moradores, sem a orientação técnica
necessária, ou mesmo sob a responsabilidade do poder
público, por falta de fiscalização e controle de qualidade
da obra executada.
Embora seja uma solução indispensável para a contenção de encostas, quando se aplicam ao caso, os muros de arrimo não precisam
ser a primeira opção nas situações de redução e prevenção do risco. Em sua grande maioria, taludes naturais ou de corte têm nas
soluções de revestimento e drenagem as respostas mais eficientes, de mais rápida execução e com mais baixo custo, para a sua
estabilização. Os desmatamentos e a remoção das camadas superficiais dos solos, expondo os terrenos à erosão e à infiltração da
água, são a principal causa dos desmoronamentos e deslizamentos que ocorrem nos morros. A proteção superficial de taludes
tem um papel fundamental na sua estabilização, impedindo a ocorrência de processos erosivos e reduzindo a infiltração de água
nas superfícies desprotegidas. Os revestimentos para essa proteção podem utilizar materiais naturais ou materiais artificiais,
em função das características do solo e da topografia local, ambos com resultados positivos e duradouros, a depender da manutenção
que recebem. O revestimento superficial tem a função de reduzir o volume da água de infiltração, fazendo, portanto, com que
aumente o volume das águas de escoamento superficial. Daí a importância de um projeto que considere a encosta no contexto da
sua micro-bacia, buscando resolver o escoamento superficial através de um sistema de microdrenagem, com canaletas e dissipadores
de energia compatíveis com as vazões e os caminhos naturais da água.
MURO de ARRIMO em PEDRA RACHÃO parcialmente destruído
Dois Carneiros - Ibura, Recife
10. 2 Proteção superficial
163
O revestimento vegetal tem várias funções: atenuar o
choque das chuvas sobre o solo, contendo a erosão; reduzir a
infiltração das águas, fazendo-as escoar em grande parte sobre
suas folhas; proteger a parte superficial do solo da erosão,
em decorrência da trama formada por suas raízes, reduzindo
também a infiltração das águas, além de contribuir para
amenizar a temperatura local e criar um ambiente
visualmente mais agradável.
Os materiais naturais adotados nos revestimentos são os vegetais e o solo natural,
este último utilizado, principalmente, no fechamento de fendas e em alguns revestimentos rudimentares.
Não se observa, por parte da população dos morros, os cuidados necessários
para a manutenção da vegetação nos taludes,
alegando que, em razão da grande proximidade da moradia para com a barreira,
a vegetação traz, para dentro das casas, insetos e ratos.
Além disso, a sensação de segurança é mais forte quando as encostas recebem
revestimentos cimentados, exigindo um esforço adicional de convencimento
para a aceitação dos tratamentos com retaludamento e recomposição da vegetação.
REVESTIMENTO VEGETAL
Buri t i , Rec i f e
Proteção superficial com materiais naturais
164
TÉCNICA de REVESTIMENTO VEGETAL
Adaptado de FIDEM, 2001a
Adotar, para o revestimento dos taludes próximos às moradias, gramíneas de menor porte, a fim de evitar ninhos
de animais nocivos; em taludes muito próximos da casa, usar preferencialmente revestimentos cimentados.
Adotar a recomposição vegetal nativa nas áreas desmatadas, em encostas íngremes e em áreas não edificáveis,
interditadas à ocupação, adotando práticas de plantio de mudas ou lançamento de sementes.
Sugerir sempre o corte (e destoca) das touceiras de bananeiras em taludes inclinados ou próximas a depósitos de lixo.
Erradicar as árvores de grande porte no terço superior da encosta, particularmente as que já se apresentam inclinadas.
As árvores situadas no pé da encosta, que podem funcionar como barreira vegetal, devem ser mantidas;
árvores nos patamares, afastadas da borda da encosta, geralmente não oferecem risco.
Sugerir ou induzir (através da doação de mudas) o plantio de frutíferas de pequeno porte, como pitanga, acerola,
goiaba, que não oferecem perigo nas encostas e representam fonte alimentar.
Recomendações
-
165
A vegetação herbácea, popularmente conhecida como mato
ou relva, onde se inclui grande parte das gramíneas (família
vegetal que abrange diversas variedades de gramas, alguns
capins, milho, cana-de-açúcar, entre outras), é o revestimento
vegetal mais indicado para a proteção de taludes de corte
ou encostas desmatadas para ocupação urbana.
REVESTIMENTO com GRAMÍNEA
Adaptado de Cunha, 1991
Revestimento com gramíneas
166
A utilização do revestimento em grama armadaé recomendada para taludes que apresenteminclinações e/ou presença de solos áridos queimpossibilitem o plantio de vegetação em curtoespaço de tempo. Para evitar o deslizamento, amontagem das placas de grama armada deve serfeita no talude, de baixo para cima, fixando-asimediatamente com tela geossintética presa porgrampos.
A confecção dos grampos metálicos deve ser feitaem aço comum utilizado na construção civil.
Após a fixação da tela geossintética sobre o talude,pode-se adicionar terra vegetal para propiciarmelhor desenvolvimento da grama aplicada.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de GRAMA ARMADA em GEOSSINTÉTICO
Adaptado de SAMPA, 1992
Revestimento com grama armada com geossíntético
167
Algumas encostas que tiveram sua cobertura natural removida podem sofrer deslizamentos ou erosão, oferecendo risco para
redes viárias, gasodutos, linhas de transmissão e outros equipamentos públicos. A recomposição da vegetação de maior
porte é, muitas vezes, indicada para restaurar a mata natural, melhorando as condições de estabilidade pela presença das
raízes e para proteger o solo da erosão e infiltração excessivas. Em áreas de alto risco, interditadas para a ocupação, é
também indicada a recomposição da vegetação natural. Dependendo das condições de acesso e segurança, pode ser feito o
replantio através de mudas e sementes, ou através do lançamento aéreo de sementes, de espécies variadas da flora nativa,
ou ainda por hidrossemeadura.
Revestimento com vegetação arbórea
ENCOSTA com COBERTURA NATURAL ARBÓREA
PERFIL de SOLO RESIDUAL
Adaptado do Manual de Recuperação de Áreas Degradadas em Loteamentos IPT e Governo do Estado de São Paulo, 1986
168
Um importante efeito mecânico da vegetação é a estruturação
do solo através do sistema radicular. O sistema formado pelo
entrelaçamento das raízes retém o solo, inserindo-se em espaços
vazios, agregando grânulos, seixos e até blocos maiores aos materiais
mais finos, com um efeito importante sobre a resistência ao cisalhamento
dos solos.
Ensaios de cisalhamento “ in situ”, realizados em blocos moldados em
solos contendo raízes vivas (Endo & Tsuruta, 1969, in: Prandini et al. 1973),
mostraram um incremento de resistência diretamente proporcional
à densidade das raízes existentes. Com a morte da camada vegetal,
esse efeito cessa gradualmente (4 a 5 anos), pela decomposição das
raízes.
TIPOS de RAÍZES
Mesquita, 1996
sistema radicular pivotante profundo
sistema radicular superficial
169
No caso de árvores de grande porte, o efeito mecânico principal é o de
alavanca, como resultado da ação da gravidade, combinado à ação dos
ventos mais fortes. Árvores de grande porte (coqueiros, mangueiras,
jambeiros, entre outras) em encostas de alta declividade devem ser
erradicadas, podendo ser substituídas por outras de pequeno e médio
porte, como pitangueiras, aceroleiras e goiabeiras, mais compatíveis com
as condições topográficas do lugar. Os patamares mais extensos e estáveis
suportam, sem maiores problemas, as árvores frutíferas de grande porte,
comuns nos morros. Árvores inclinadas, mesmo que ligeiramente, podem
ser um sinal de movimentação da encosta, devendo ser imediamente
erradicadas, a fim de reduzir as trações sobre a massa de solo. Quando
começam a sofrer inclinação (os coqueiros mostram bem esse problema),
formam-se curvaturas no tronco, pela tendência a retomar a posição vertical.
CLASSIFICAÇÃO das ESPÉCIES ARBUSTIVAS e ARBÓREAS SEGUNDO o PORTE
Mesquita, 1996
Elementos Definidores
( m )Espécies Vegetais
Altura Circunferência do Tronco à Altura do Peito
( CAP )
Diâmetro da Copa
Arbustos
Arvoretas
Árvores de pequeno porte
Árvores de médio porte
Árvores de grande porte
0,2
0,2
0,4
0,7
1,0
–
–
–
–
–
0,35
0,50
0,80
1,75
3,00
1,5
2,0
5,0
8,0
–
–
<
–
–
3,0
3,5
5,0
10,0
15,0
2,0 5,0
2,5 6,0
6,0
6,0 12,0
–
–
<
–
> 12,0
ÁRVORES em ENCOSTAS
ÁRVORE na BORDA do TALUDE
170
As bananeiras, tão comuns nas paisagens dos morros, embora pertençam à família das herbáceas, têm um efeito muito negativo
quando instaladas em encostas. Desenvolvem-se sobre colúvios ou aterros não compactados, geralmente com a presença de lixo
orgânico, aproveitando a boa porosidade e permeabilidade desses depósitos para acumular grandes volumes de água, de que
necessitam para o seu metabolismo. São particularmente exuberantes as bananeiras nascidas próximas a fossas e locais de
lançamento de águas servidas.
Suas raízes não cumprem o papel de estruturação dos solos desempenhado por outros vegetais, sendo comumente responsáveis
pelo arrastamento desses solos durante os deslizamentos: bananeiras têm presença quase obrigatória nas imagens de acidentes
ocorridos na Região Metropolitana do Recife.
BANANEIRAS na ENCOSTA
171
As fendas nos terrenos podem resultar do ressecamento de solos calcários (vérticos)
e sedimentos com argilas expansivas, determinando uma malha com padrão
grosseiramente hexagonal, sendo também conhecidas como gretas de dissecação.
Esse tipo de fenda facilita a penetração da água no solo (razão pela qual devem
ser seladas), porém não tem relação com rupturas ou tensões internas no maciço.
Aberturas alongadas, isoladas ou paralelas, na superfície do terreno, representam
fendas de rupturas em solos, aterros, ou no contato solo/aterro, por tensões de
cisalhamento sobre as massas em desequilíbrio gravitacional. Quando o terreno mostra
desnível entre os dois lados de uma fenda, indicando movimento na encosta, é
um sinal evidente de risco de acidentes para as moradias já afetadas por trincas,
ou no raio de ação do provável deslizamento (próximas ao topo e à base do talude
rompido).
Ao permanecerem abertas, essas fendas permitem maior percolação de água
para o interior dos solos, exatamente ao longo do plano de ruptura, sendo
recomendável o seu fechamento ou selagem. Vários materiais podem ser usados
como selantes: solos argilosos, calda de solo cimento, asfalto ou resinas sintéticas,
estas de custo bem mais elevado. A lama de bentonita, com propriedades
expansivas, tem sido ocasionalmente usada no fechamento de fendas em solos
arenosos, pela sua boa aderência aos espaços porosos. Entretanto esse material
pode apresentar consequências negativas a longo prazo, quando aplicado em fendas
profundas que venham a ser alcançadas intermitentemente pelo nível freático
nos períodos chuvosos, intercalando fases de expansão e contração.
O recobrimento da área da fenda com lonas plásticas reduz a infiltração direta de
água através da fenda, porém, sem o redirecionamento das águas que se infiltram
na superfície da encosta, representa uma solução tópica, de pequeno efeito.
GRETAS de DISSECAÇÃO
Oliveira et al, 1992
FENDA de RUPTURA
UR-10, Rec i f e
Selagem de fendas com solo argiloso
172
Remoção imediata das edificações que se encontrem total ou parcialmente sobre a massa rompida e a menos de 5 metros
da fenda, no topo; na base da encosta, deverão ser removidas as casas que fiquem nas imediações da frente do
deslizamento, sendo que a distância depende das dimensões da ruptura e do volume de solo envolvido no processo, mas não
deve ser inferior a 10 metros; em encostas muito íngremes, essas distâncias precisam ser redimensionadas em função da
geometria da encosta e da superfície de ruptura.
Selagem das fendas, juntamente com as soluções de drenagem,
quais sejam, redirecionamento das águas, através de
canaletas de borda, no lado não movimentado, e canaletas
de descida, lateralmente posicionadas em relação ao
corpo rompido.
Usar, sempre que possível, solo argiloso, não expansivo e não
orgânico, pelas suas propriedades impermeabilizantes,
baixo custo e facilidade de aplicação.
Obras para a contenção da massa rompida só se justificam
quando a perda material, por um possível acidente, for
significativa; na maioria das vezes, a área deve ser
interditada, deixando-se que ocorra a estabilização
natural, pela ação da gravidade.
Fechamento imediato das fendas com argi las ou outros
materiais selantes.
Recomendações
FECHAMENTO de FENDAS em ENCOSTAS
173
REVESTIMENTO COMPLETO com DRENAGEM
Córrego do Boleiro, Reci fe
Os revestimentos artificiais para impermeabilização de
encostas mostram melhor rendimento e vida útil quando
executados juntamente com retaludamento e microdrenagem,
tratando o talude de modo completo.
É importante que o revestimento seja parte de um
tratamento estruturador para a encosta, onde a drenagem,
os acessos e a contenção sejam solucionados em conjunto.
Em grande parte dos casos, o tratamento dispensa a
construção de muros de arrimo, sendo a solução baseada
essencialmente na impermeabilização e no s i stema de
microdrenagem e vias de acesso.
A escolha do tipo de revestimento depende da
natureza do material (rocha, solo ou sedimento) e
da declividade do talude: solos mais argilosos
respondem melhor à fixação das telas que os
arenosos; lajotas em taludes verticalizados podem
provocar acidentes, quando ocorre o seu descolamento.
REVESTIMENTO PARCIAL sem SOLUÇÃO de DRENAGEM
Dois Carneiros - Ibura, Recife
Proteção superficial com materiais artificiais
174
O cimentado para revestimento de taludes é constituído
por uma mistura de cimento Portland, areia e água, usando
o traço 1:3. Poderá ser utilizado o próprio solo do talude,
desde que não contenha matéria orgânica, ou material
retido na peneira de 4,8mm, sendo nesse caso também
denominado de solo-cimento (Cunha, 1991). Os materiais
serão misturados até atingir cor uniforme e o solo-cimento
deve ser aplicado e compactado imediatamente, não
ultrapassando 3 horas entre o momento de incorporação
do cimento e o acabamento do revestimento. A mistura
deve ser aplicada sobre o talude, a partir do pé para a
sua crista, de forma a se obter a seção projetada. No caso
de execução de revestimento em degraus ou bermas,
serão utilizadas formas de madeira, nas quais será lançada
a mistura.
As superfícies dos taludes deverão ser preparadas, limpas e
aplainadas, removendo os ressaltos terrosos. Quando
forem rochosos, não precisam ser removidos. Os sulcos de
erosão, provocados pelas águas pluviais, deverão ser
preenchidos com solo-cimento, na umidade ótima, com
um teor variável até 10% em peso de cimento Portland
comum e compactado com soquete, antes de executar o
revestimento (FIDEM, 2001 a).
REVESTIMENTO CIMENTADO
Camara g i b e
Revestimento com cimentado
175
É de suma importância a execução da compactação e do
acabamento. O tempo consumido nessa operação deverá ser
o estritamente necessário, antes que se inicie a pega do cimento.
A compactação será executada a partir do pé do talude, em
direção à crista, por meio de soquetes manuais ou mecânicos.
O revestimento executado deverá ser mantido úmido,
durante sete dias, para a cura. A aplicação de emulsão
asfáltica do tipo RR-2K, diluída em partes iguais em
água, poderá ser recomendada para a cura do solo-
cimento.
Cunha (1991 ) sugere a ap l i c a ção de uma
mistura amplamente ut i l izada em Hong
Kong, de solo-cal-cimento na proporção 20:3:1,
aplicada em duas camadas com espessura
mín ima de 2cm cada , sendo a pr ime i ra
rugosa, e a segunda, lisa. Destaca que embora
frágil, esse revestimento, quando monitorado
(para a execução de reparos) pelo próprio
morador, pode ter grande durabilidade. Eles
devem contar com drenos (barbacãs) para
reduzir as poro-pressões da água bloqueada
pelo revestimento.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de REVESTIMENTO com SOLO-CIMENTO
Adaptado de Cunha, 1991
176
A geomanta atua como proteção contra erosões superficiais
provocadas pelo impacto das chuvas e fluxos superficiais
durante o período de desenvolvimento e fixação dos vegetais.
Constituída de materiais sintéticos que não degradam,
tem aparência de uma manta extremamente porosa
que oferece ancoragem adequada para as raízes após o crescimento da vegetação.
Essa solução apresenta vantagem de utilização quando não se dispõe de tempo suficiente
para implantação da coberta vegetal,
e/ou quando a inclinação do talude dificulta solução com o plantio de gramíneas.
foto cedida pela empresa MACCAFERRI do Brasil Ltda (Recife) foto cedida pela empresa MACCAFERRI do Brasil Ltda (Recife)
Revestimento com geomanta e gramíneas
177
Constituído por células de materiais geossintéticos, de estrutura semiflexível, é um revestimento indicado
para aplicação em talude em solo árido, onde não se consegue um bom desenvolvimento de vegetação.
De construção simples e rápida, promovem a formação de uma cobertura que protege o solo natural,
favorecendo a retenção de material de “terra vegetal” que permite a fixação do revestimento vegetal.
Em alguns casos, os espaços da geocélula podem ser preenchidos com concreto para revestimentos,
coberturas e proteções de superfícies.
Como o revestimento com geomanta, as geocélulas apresentam vantagem de utilização quando não se dispõe
de tempo suficiente para implantação da cobertura vegetal e/ou quando a inclinação do talude dificulta
a plantação de gramíneas.
foto cedida pela empresa MACCAFERRI do Brasil Ltda (Recife)
Revestimento com geocélula e solo compactado
GEOGRELHA
178
A tela argamassada, para revestimento de taludes,
consiste no preenchimento e revestimento de uma
tela galvanizada, por uma argamassa de cimento
Portland e areia, no traço 1:3.
A água deverá ser isenta de teores nocivos de sais,
ácidos, álcalis, matéria orgânica e outras substâncias
prejudiciais; a tela é de aço galvanizado, em arranjo
hexagonal com malha 2-E em fio 18; o agregado
miúdo é formado por areia natural, com diâmetro
máximo de 4,8mm, sem matéria orgânica e outras
substâncias prejudiciais (FIDEM, 2001 a).
A ancoragem das telas de aço galvanizado é feita sobre a superfície do talude regularizado, com traspasse, em todas as extremidades,
de 20cm, e fixadas ao terreno com ganchos de ferro de 3/8", instalados a cada 1,00m, em todas as direções. Deverão ser
instalados drenos em tubos de PVC de 4", com filtro de geotêxtil (ou bidim com 20cm x 30cm x 20cm) na parte interna, e fixados
com profundidade de 20cm.
Sobre a tela, fixada ao talude regularizado por ganchos, inicia-se a execução de chapisco com argamassa de cimento e areia no
traço 1:3. Esta operação deverá prosseguir até a completa cobertura da malha de telas galvanizadas, que deve ficar completamente
envolvida. A argamassa deve ser aplicada sobre o talude na espessura de 4cm, a partir do pé para a sua crista, de forma a se obter
a seção projetada.
Revestimento com tela argamassada
REVESTIMENTO com TELA ARGAMASSA
Camara g i b e
179
Recomendações
Solos argilosos são mais adequados que os solos arenosos para receber
telas argamassadas, já que implicammaior retenção
de umedecimento interno.
Solos arenosos, cujo maior problema é a erosão, podem receber
revestimentos simples (cimentados, solo-cimento).
As superfícies dos taludes deverão apresentar-se planas, sem
ressaltos nem cavidades. Os sulcos de erosão, provocados
pelas águas pluviais, deverão ser preenchidos
com solos e compactados com soquete.
É de suma importância a execução do desempolamento e
acabamento, dispensando-se especiais cuidados com
o tempo consumido nessa operação, para que ela
ocorra antes que se inicie a pega do cimento.
Para a proteção e cura, o revestimento executado deve ser mantido
úmido por meio de irrigação, por, pelo menos, 7 dias.
ESQUEMA CONSTRUTIVO de REVESTIMENTO com TELA ARGAMASSADA
Adaptado de Cunha, 1991
180
ESQUEMA CONSTRUTIVO de REVESTIMENTO de TALUDE com LAJOTAS
Adaptado de Cunha, 1991
O revestimento com pedra rachão é feito com blocos de rocha, talhados
em forma regular e tamanho conveniente (entre 20 e 40cm), sobre o
talude previamente limpo e regularizado. Os blocos são arrumados sobre
o talude e rejuntados com argamassa (cimento/areia no traço 1:3), criando
uma superfície impermeável estável, que protege o talude da erosão.
Para o maior travamento possível na interface pedra/solo natural,
deve-se cravar a face mais aguda do bloco na superfície a ser protegida.
Caso a inclinação do talude seja muito elevada ou a área muito extensa,
o revestimento deve ser precedido de uma fundação corrida simples
(Cunha, 1991).
Esse tipo de impermeabilização pode também utilizar pedra de face
ou lajotas pré-moldadas (40x40cm), aplicadas com argamassa sobre
o talude previamente preparado. Como esse material apresenta menor
condição de travamento no solo, recomenda-se o retaludamento para
a redução da declividade, ou sua aplicação em encostas menos
inclinadas. É comum o descolamento de lajotas em taludes úmidos,
oferecendo risco de acidentes para as pessoas que utilizam com freqüência
os espaços próximos à base da barreira. Independentemente do
material usado para o revestimento, devem ser executados os drenos
subterrâneos (barbacãs) e o sistema de microdrenagem superficial,
indispensáveis para a durabilidade e a segurança da obra.
Revestimento com pano de pedra ou lajota
ESQUEMA CONSTRUTIVO de REVESTIMENTO com PEDRA RACHÃO
Adaptado de Cunha, 1991
181
Os taludes que colocam em situação de risco as casas próximas,
e que não permitem retaludamento/revegetação, devem
ser impermeabilizados com solução completa para a
drenagem, ou seja, com canaletas de borda, de descida
e de pé, e quando se aplicar, escadarias
ou rampas para acessso.
Solos arenosos têm alta porosidade e permeabilidade, exigindo
sempre a instalação de drenos na base do talude
para evitar a destruição do revestimento.
Recomendações
TALUDE REVESTIDO com PEDRA de FACE
TALUDE SUBVERTICAL com QUEDA de LAJOTAS
Sítio dos Pintos, Recife
182
O muro de alvenaria armada é um muro de flexão com funcionamento similar ao de concreto armado, formado por uma
parede de alvenaria armada assentada com argamassa de cimento e areia (1:3), apoiada em uma base de concreto enterrada. A
sua utilização é recomendada para alturas inferiores a 2,00m. A alvenaria deve ser executada com blocos vazados de concreto
simples para alvenaria com função estrutural e a armação deve ser feita com CA 50 ou CA 60, com bitolas e espaçamentos
definidos em projeto específico. O preenchimento das células da alvenaria em que estão posicionadas as armações deve ser
executado com concreto, e a base (sapata) deve ser executada em concreto armado com dimensões e armações de acordo com
projeto específico (FIDEM, 2001a).
Devem ser previstos dispositivos de drenagem
constituídos por drenos de areia ou barbacãs, para
reduzir a pressão da água sobre o muro e para
aliviar as poropressões na estrutura de contenção,
aumentando a vida útil da obra. O projeto deverá
indicar juntas estruturais com espaçamento máximo
de 10m, as quais devem receber tiras de geotêxtil
sintético com 0,20m de largura, de forma a evitar a
fuga de material do reaterro, que deve ser executado
em camadas com espessuras de 0,20m, compactadas
manualmente com cepos ou através de equipamento
mecânico leve, para evitar danos na estrutura.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de ALVENARIA ARMADA
Adaptado de FIDEM, 2001a
Revestimento com muro de alvenaria armada
183
Este tipo de revestimento tem caráter temporário e emergencial e consiste na aplicação, por rega ou aspersão, de uma delgada
camada de asfalto diluído a quente, ou em emulsão, com a finalidade de proteger os taludes da erosão e da infiltração. Para uma
maior durabilidade, o revestimento deve ser aplicado sobre a encosta previamente limpa e destocada, exigindo manutenção
constante, já que a película sofre deterioração pela ação do calor solar e não resiste a impactos ou carga. Seu emprego em áreas
habitadas é considerado inconveniente, seja pela aparência escura, pela ausência de vegetação, ou pelo aumento da temperatura
local (Cunha,1991 ).
O uso de polietileno não é muito difundido, embora já aplicado experimentalmente com bons resultados no município do Recife.
Exige limpeza prévia da encosta e mostra boa aderência a solos areno-argilosos, suportando cargas de até 1,8kg/m2.
Sua aplicação é feita através de jatos, com uma produção de 1.000m2 /dia /3 pessoas e o tempo de cura é de 2 horas.
Revestimento com asfalto ou polietileno
184
É um revestimento utilizado largamente nos períodos de inverno, em
caráter emergencial, nos morros da Região Metropolitana do Recife,
embora sempre levante polêmicas quanto ao seu uso. Tem uma vida
útil curta (semanas, a poucos meses), apresentando melhores resultados
quando corretamente colocadas. Devem ser aplicadas antes da saturação
da encosta, tendo um importante efeito na redução do volume da água
infiltrada, reduzindo a ocorrência de acidentes. A permanência da lona
após as chuvas impede a retomada do crescimento da vegetação sobre
a encosta e a evaporação da água da encosta, devendo ser removida
quando as condições de segurança permitirem.USO GENERALIZADO de LONAS PLÁSTICAS no INVERNO
A encosta deve ser previamente preparada com roçagem, destocamento e remoção de arbustos,
deixando apenas gramíneas e vegetação rasteira.
Escavar no solo uma valeta de crista, que funcionará como canaleta de borda e servirá para a fixação superior da lona.
Recobrir a borda superior da lona com o solo escavado para a valeta, fixando-a com pontaletes (estacas de madeira com 30 a 40 cm
de comprimento), em intervalos máximos de 2 metros; as laterais das lonas também deverão ser fixadas com os pontaletes.
Quando a altura da encosta ultrapassar as dimensões da lona, as partes deverão ser colocadas com pelo menos
1 metro de superposição, usando-se a lógica do escoamento contínuo, em que a parte superior deve recobrir a inferior.
Recomendações
Revestimento com lonas sintéticas (PVC E OUTROS MATERIAIS)
185
Este tipo de proteção deve ser adotado em taludes de maciços rochosos,
passíveis de queda de blocos pequenos, que causem, em conseqüência,
o descalçamento e a instabilização de partes mais altas da encosta.
As telas são fixadas no
topo da crista e na parede
da encosta, com grampos
de fixação distribuídos em
intervalos regulares. A
tela deve ser protegida da
corrosão para garantir sua
ef icác ia de proteção e
aumentar sua vida útil.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de TELA METÁLICA
Adaptado de Cunha, 1991
10. 3 Estabilização de blocosRetenção com tela metálica e tirante
TELA METÁLICA
186
Encostas em áreas de rochas cristalinas podem estar sujeitas à instabilização de blocos fraturados (como se
observa na Serra das Russas, ao longo da BR-232, em Pernambuco) ou ao rolamento de matacões. O clima
quente e úmido da Região Metropolitana do Recife favorece a decomposição química gradual da rocha, de
fora para dentro, e com maior intensidade ao longo das fraturas. Dessse modo, é pouco provável a ocorrência
de encostas naturais em rochas cristalinas, que preservem blocos angulosos: a tendência final é o seu
arredondamento, formando os matacões que se posicionam nas camadas mais superficiais dos solos.
A remoção é indicada quando esses blocos ameaçam moradias ou rodovias, devendo ser executada com
equipamento adequado para evitar acidentes durante a remoção.
Remoção e desmonte
189
Os muros de arrimo ou de gravidade são obras de contenção que têm a finalidade de
restabelecer o equilíbrio da encosta, através de seu peso próprio, suportando os empuxos
do maciço (Cunha, 1991). O atrito de sua base contra o solo deve ser suficiente para
assegurar a estabilidade da obra e sua geometria trapezoidal destina-se a evitar o
tombamento por rotação em torno da aresta externa da base. São indicados em situações
de solicitações reduzidas já que, para atender a esforços elevados, passam a demandar
maior espaço para a implantação da base e podem-se tornar economicamente inviáveis,
pelo alto custo de sua execução. Exigem projetos específicos e, em função da complexidade
de cada situação, poderão demandar a execução de estudos geotécnicos necessários à
escolha e ao correto detalhamento da solução.
Em boas condições de fundação, podem-se utilizar muros rígidos (pedra rachão, concreto
e outros tipos). Se a fundação pode deformar, é recomendável o uso de muros flexíveis,
como gabião.
Todos os muros deverão ser construídos
com base em projeto executivo e com acompanhamento técnico
MURO de ARRIMO ou GRAVIDADE
FATORES PARA ESCOLHA DO TIPO DE MURO
condições da fundação
tipo de solo do aterro
disponibilidade de espaço e acessos
sobrecarga
altura do muro
custo dos materiais disponíveis
qualificação da mão-de-obra
190
Antes de se optar pela utilização do solo-cimento, deve-se verificar o tipo de solo do local e a ocorrência, nas proximidades, de jazidas
de material adequado a essa técnica. Em princípio, qualquer solo pode ser estabilizado com cimento. No entanto os solos que contenham
de 50% a 90% de areia produzem um solo-cimento mais econômico e durável. Os solos finos (argila) apresentam alguns inconvenientes,
tais como dificuldade na pulverização e maior consumo de cimento. Nesses casos, recomenda-se a mistura do solo argiloso com solos
arenosos, em proporções capazes de produzir uma composição que atenda aos requisitos de economia, durabilidade e resistência mecânica
(FIDEM, 2001a). Os solos escuros, com matéria orgânica, mostram grande retardo nas reações de hidratação do cimento, o que reduz
gradualmente a estabilidade do solo-cimento resultante, não devendo ser utilizados na mistura.
Erroneamente conhecida como Rip-Rap (um tipo de
enrocamento usado em barragens), esta é uma técnica
alternativa para contenção de encostas que utiliza sacos de
solo estabilizado com cimento. Esse tipo de muro apresenta
como vantagens o seu baixo custo e o fato de não requerer
mão-de-obra ou equipamentos especializados. A sua
utilização é recomendável para alturas máximas de 4 a 5m,
e pode ser aplicado largamente em áreas arenosas sujeitas
à erosão acentuada, prestando-se para recomposição do
relevo afetado por voçorocas e outras formas erosivas menos
severas.
MURO de SOLO-CIMENTO
11. 1 Muro de ArrimoMuro de solo-cimento ensacado
191
O solo deve ser inicialmente submetido a um peneiramento em
malha de 9mm, para a retirada de pedregulhos de maior porte.
Em seguida, o cimento é espalhado e misturado, de modo a permitir
uma coloração homogênea do material, numa proporção cimento-solo
da ordem de 1:10 a 1:15 (em volume), adicionando-se água em
quantidade 1% acima da correspondente à umidade ótima de
compactação do proctor normal. Após a homogeneização, a mistura
é colocada em sacos de poliéster ou similares, com preenchimento
até cerca de dois terços do volume útil do saco. Procede-se, então,
ao fechamento mediante costura manual. O ensacamento do
material facilita o transporte para o local da obra e torna dispensável
a utilização de fôrmas para a execução do muro.
No local de construção, os sacos de solo-cimento são arrumados
em camadas posicionadas horizontalmente e, a seguir, cada camada
do material é compactada de modo a reduzir o volume de vazios.
A compactação é, em geral, realizada manualmente com soquetes.
As camadas ficam com cerca de 10cm de altura, o que corresponde
à espessura dos sacos preenchidos com a mistura. A seguir, uma
nova camada de sacos é posicionada e compactada sobre a camada
anterior, propositadamente desencontrada, de modo a garantir
um maior intertravamento entre eles.
MURO de SOLO-CIMENTO em PATAMARES
192
Com o tempo, os sacos desintegram-se
totalmente, preservando na mistura a
forma original moldada por eles. Estas
faces externas do muro podem receber uma
proteção superficial de argamassa de
concreto magro, para prevenir contra a
ação erosiva de ventos e água superficiais,
ou podem ser deixadas ao natural para o
desenvolvimento de lodos e outros vegetais
menores, que servirão de base para a
formação de uma cobertura vegetal mais
bem desenvolvida.
A mistura de solo-cimento deve ser compactada e utilizada o mais rápido possível, em menos de uma hora.
Quando o solo da encosta for muito argiloso, é recomendável inserir barbacãs ou a substituição de
alguns sacos do muro por geotêxtil.
O muro deverá ter a face externa inclinada contra o talude, no mínimo em 10o com relação à vertical.
A utilização de cobertura vegetal pode ser adotada sobre o solo-cimento, melhorando visualmente o
resultado e protegendo o material da ação direta do sol.
Recomendações
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de SOLO-CIMENTO ENSACADO
Adaptado de FIDEM, 2001a
193
É o tipo mais simples de arrimo, formado pelo arranjo
manual de pedras rachão, cuja resistência resulta
unicamente do imbricamento dessas pedras (Cunha, 1991)
e funciona como carga de compensação no pé do talude.
Os blocos devem ter dimensões regulares para sua
estabilidade, o que resulta num menor atrito entre as
pedras. O muro deve ter espessura mínima de 0,6m e
não deve ser usado em taludes com mais de 1,5m
de altura.
É de fácil construção e de baixo custo, por não exigir
mão-de-obra especializada e, particularmente, se
houver jazidas próximas ao local. Dispensa a drenagem
interna (barbacãs) pela sua capacidade autodrenante, que
evita a ocorrência de pressões da água contra o muro.
A base do muro deve estar apoiada em terreno firme e situar-se abaixo do nível da base do talude a ser protegido,
evitando que o muro venha a ser arrastado pela movimentação desse espaço e sua construção deve estar associada
à execução da microdrenagem (canaletas de borda e de pé).
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de PEDRA SECA
Adaptado de Cunha, 1998
Muro de pedra seca (sem rejunte)
194
Estes muros possuem uma estrutura rígida, com baixa capacidade de deformação, o que exige bom terreno de fundação, drenagem
eficiente e prevenção contra tendência ao deslizamento. São estruturas economicamente viáveis para alturas de até 3m e em situações
em que há disponibilidade de pedras e mão-de-obra com mínima qualificação. A alvenaria deve ser executada com pedras graníticas,
não intemperizadas, malhadas e isentas de impurezas ou detritos, com diâmetro médio superior a 0,30m (FIDEM, 2001a).
O assentamento deve ser executado com argamassa de cimento e areia no traço 1:4, e todos os espaços internos da estrutura
devem ficar preenchidos com essa massa. A escolha das pedras deve ser feita de tal forma que possibilite um melhor acabamento
para a face externa do muro. A superfície do topo do muro deverá ser revestida com uma camada de argamassa, com espessura
mínima de 2cm.
MURO de ALVENARIA de PEDRA
Muro de alvenaria de pedra (com rejunte)
195
Devem ser previstos dispositivos de drenagem constituídos por
drenos de areia e barbacãs de acordo com o projeto específico,
para alívio da pressão da água na estrutura de contenção. O
reaterro deve ser executado em camadas com espessuras de 0,20m
compactadas manualmente com cepos ou através de equipamento
mecânico leve, de forma a evitar danos na estrutura.
Os elementos da microdrenagem deverão ser considerados na
obra, para evitar descalçamentos e remoção lateral de solos,
reduzindo a sua vida útil.
Devem ser adotados em taludes com até 3 metros de altura.
É indispensável a execução de dreno de areia grossa e
barbacãs para reduzir a pressão da água sobre o muro,
aumentando a segurança da obra.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de ALVENARIA de PEDRA
Adaptado de FIDEM, 2001a
196
Os muros de concreto armado podem ser de vários tipos
e têm como principal vantagem diminuir o volume da
estrutura de arr imo, embora tenham como fator
limitante o seu custo, bem mais elevado que as demais
modalidades de muros de gravidade. A sua estabilidade é
garantida pelo peso do retroaterro, que age sobre a laje da
base fazendo com que o conjunto muro-aterro funcione
como uma estrutura de gravidade.
Os muros utilizam fundação direta, porém em casos
especiais poderão ter fundações profundas constituídas por
estacas ou tubulões , as qua i s devem atender às
especificações do projeto. Devem ser previstos dispositivos
de drenagem constituídos por drenos de areia ou geotêxteis
e barbacãs, de acordo com o projeto específico, para alívio
da pressão da água na estrutura de contenção. Devem ser
previstas juntas estruturais, com espaçamento máximo
de 20m. O fechamento das aberturas deve ser feito com
juntas de neoprene ou material similar. O reaterro deve ser
executado em camadas com espessuras de 0,20m,
compactadas manualmente com cepos ou através de
equipamento mecânico leve, de forma a evitar danos na
estrutura (FIDEM, 2001a).
TIPOS DE MURO DE CONCRETO ARMADO
muro em “T” invertido ou em “L”
Os muros em “T” invertido ou em ”L” são constituídos
por uma laje-base enterrada no terreno e uma face
vert i ca l . A sua execução é mai s s imples e é
recomendada para alturas acima de 5,00m.
Os contrafortes devem ser inclinados de acordo com
projeto específ ico, que leva em consideração os
esforços atuantes e faz variar também a espessura
dos contrafortes e do paramento frontal.
muro com contrafortes
Muro de concreto armado
197
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO
de MURO de CONCRETO ARMADO com CONTRAFORTE
Adaptado de FIDEM, 2001a
Estes muros podem ser adotados para quaisquer tipos de solicitações,
desde que o terreno de fundação seja compatível com as tensões atuantes.
MURO com BASE em T INVERTIDO
Adaptado de FIDEM, 2001a
198
Muro de concreto ciclópico
Devem ser previstos dispositivos
de drenagem constituídos por
drenos de areia ou barbacãs, de
acordo com o projeto específico,
para alívio da pressão da água na
estrutura. O reaterro deve ser
executado em camadas com
espessuras de 0,20m, compactadas
manualmente com cepos ou
através de equipamento mecânico
leve, de forma a evitar danos na
estrutura.
Estes muros são recomendáveis para
contenção de taludes com altura
máxima entre 4 e 5m. A mão-de-
obra para sua execução exige alguma
qualificação devido à utilização de
fôrmas. O concreto ciclópico utilizado
na estrutura deve ser constituído
por 70% de concreto estrutural e
30% de pedra rachão granítica, não
intemperizada. O concreto, seus
componentes e as fôrmas devem
atender às especificações do projeto.
A pedra rachão deve ser limpa e isenta
de impurezas, para não prejudicar a
sua aderência ao concreto (FIDEM, 2001a).
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de ALVENARIA de PEDRA
Adaptado de FIDEM, 2001a
Em taludes mais altos, é aconselhável o uso de contrafortes na estrutura do muro, aumentando sua resistência, sem
demandar maiores volumes de concreto.
É indispensável a drenagem com barbacãs e drenos para a redução da pressão da água no muro.
A microdrenagem superficial também é imprescindível para garantir a durabilidade e efetividade da obra (Cunha, 1991).
199
Muro de gabião-caixa
Os gabiões-caixas são abertos na obra para a armação das peças uma a uma. O enchimento das caixas deve ser manual para
reduzir, para cerca de 30 a 35%, o índice de vazios entre as pedras, já que arranjos muito frouxos podem comprometer a estabilidade
do muro. As costuras das caixas são feitas, de modo contínuo, em todas as arestas de contato entre os painéis, bem como na união
das caixas laterais, nas superiores/inferiores e nos diafragmas.
alta permeabilidade e grande flexibilidade, permitindo construir estruturas monolíticas
altamente drenantes e capazes de aceitar deslocamentos e deformações sem se romperem;
rapidez de construção, facilidade de mão-de-obra e utilização direta de material natural;
integração com a vegetação local.
Gabiões são gaiolas formadas por redes de aço zincado preenchidas com pedras de mão, com pesos unitários de até 15Kg, com
tamanhos entre 10cm e 20cm, não intemperizadas. Esse tipo de muro funciona como muro de gravidade e deve ser executado a
partir de um projeto executivo específico, desenvolvido para cada tipo de situação, sendo recomendável para alturas de até 5m.
Vantagens dos muros com gabião-caixa:
200
As caixas deverão ser bem alinhadas,
para dar melhor estabilidade do conjunto.
Nas caixas com 2m de comprimento em
diante são inseridos, durante o processo
de fabricação, diafragmas de metro em
metro para dar maior robustez às peças,
facil itar o enchimento e melhorar o
alinhamento da estrutura na hora da sua
execução (FIDEM, 2001a).
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de GABIÃO-CAIXA
Adaptado de FIDEM, 2001a
201
O terreno deve ser previamente limpo e nivelado, antes da colocação da primeira camada de gabiões- caixas.
A tela metálica deve ser protegida contra corrosão e depredações.
É recomendável o uso de geotêxtil ou areia, na transição entre os gabiões e o material do corte ou aterro (Cunha, 1991).
Recomendações
202
Muro de bloco de concreto articulado (pré-moldado encaixado sem rejunte)
Os vazios frontais da camada interna
dos blocos serão preenchidos com terra
de boa qualidade e adubada para
posterior plantio de vegetação. Deve
ser molhada abundantemente, fazendo
com que a terra colocada dentro do
bloco se compacte. A escolha do tipo
de vegetação deve levar em conta
fatores climáticos e a disponibilidade
de água para regar, observando
sempre plantas resistentes que sejam
bem adaptadas ao local. Em pouco
tempo o muro de contenção se
transforma em um jardim.
O sistema de contenção de encostas com blocos de concreto articulados utiliza o princípio básico de encaixe lateral sem o uso de
argamassa para a montagem do muro, formando um revestimento ecológico, ideal para uso em muros com altura e ângulo variado,
podendo se acoplar escadaria, integrada ao muro de arrimo. Esse processo construtivo permite executar contenção em encostas
com inclinações baixas de 35º até a vertical. Em encostas com ângulo superior a 70º, possibilita o plantio de vegetação, transformando
o muro de arrimo em um jardim inclinado. É recomendado para taludes que apresentam problemas de infiltração de água.
foto cedida pela empresa BLOKRET
203
O acabamento superior do muro, junto à última camada de blocos, geralmente não necessita de nenhum tratamento
especial, podendo-se preencher os dois vazios da última camada com terra vegetal e plantar vegetação. Caso não exista o
interesse em utilizar vegetação no muro, os vazios frontais podem ser preenchidos com brita ou concreto magro. Geralmente
é possível fazer o acabamento lateral embutido no terreno através de curvas. Este acabamento proporciona à obra uma
estética agradável e é extremamente eficiente no controle de águas superficiais, evitando o surgimento de erosões no
entorno do muro.
A manutenção dos muros limita-se aos cuidados com a vegetação. A área acima e em torno dele deve possuir drenagem na
parte posterior, confeccionado em tubos plásticos, que levarão a água para a parte externa, a fim de evitar o surgimento de
focos de erosão que possam evoluir e causar o descalçamento de blocos. Da mesma maneir,a devem ser evitadas infiltrações
superficiais acima do muro, principalmente aqueles tipos que suportam estradas. Eventuais trincas decorrentes de deformações
ou desgaste devem sempre ser corrigidas e impermeabilizadas.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO
de BLOCOS de CONCRETO PRÉ-MOLDADOS ENCAIXADOS sem REJUNTE
Adaptado de J. W. VICTORETTI, 2002
foto cedida pela empresa BLOKRET
204
Nos muros de espera ou de arrimo, também poderão ser utilizados pneus descartados. Algumas experiências satisfatórias,
embora ainda em pequena escala, foram realizadas em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro (Sieira et al., 1997). São obras de fácil
construção e de baixo custo, com boa drenabilidade, que utiliza o solo da própria encosta associado a uma estrutura montada
com pneus inservíveis, amarrados uns aos outros segundo um arranjo pré-estabelecido em função da altura da encosta e das
dimensões do muro.
Ao final, o muro de solo-pneu deve ser recoberto por uma camada de terra para preenchimento dos vazios formados pelo encaixe
dos pneus, com semeadura de gramíneas para sua fixação, evitando que pneus expostos possam representar risco de incêndio.
O número de camadas de pneus é função da altura e inclinação do talude, bem como das condições de estabilidade do muro.
Caso o solo utilizado no enchimento dos pneus seja argiloso (má drenagem), deve-se colocar barbacãs para a saída de água do
dreno de areia ou de brita.
Vantagem dos muros com pneus usados:
Essa técnica apresenta uma vantagem ecológica, por
oferecer destino final aos pneus descartados, os quais
causam sérios problemas sanitários pela acumulação
de água, com proliferação de mosquitos e outros insetos.
Muro de solo-pneu
205
EXEMPLO do SISTEMA CONSTRUTIVO de SOLO-PNEU
VISTA LATERAL
camada parcamada ímpar
2
6
4
EM PLANTA
VISTA FRONTAL
DETALHE CONSTRUTIVO de MURO de SOLO-PNEU
Adaptado de SIEIRA, 1998
1
5
3
205
206
Composta por elemento pré-moldado de concreto que funciona como “pele” e distribuição das pressões com
tirantes metálicos ou geossintéticos que resistem aos esforços pelo atrito desenvolvido no solo compactado.
11. 2 Outras soluções de contençãoContenção com terra armada com placa pré-moldada de concreto,ancoragem metálica ou geossintética
PLACAS PRÉ-MOLDADASTIRANTE de GEOSSINTÉTICO
DETALHES do SISTEMA CONSTRUTIVO
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de PLACAS PRÉ-MOLDADAS de CONCRETO,ANCORAGEM METÁLICA ou GEOSSINTÉTICA
Adaptado de ABNT, 1985a
207
O sistema construtivo de placas e montantes de concreto com ancoragem metálica ou geossintética
apresenta as seguintes vantagens:
Contenção com microancoragem com placa pré-moldada e montante de concretoancoragem metálica ou geossintética
É aplicado em parede vertical.
É uma solução econômica e simples que outros sistemas de parede vertical.
Utiliza tirante de aço comum de construção ou geossintético.
É uma peça de ancoragem de concreto pré-moldado de fácil execução.
Permite pequenas deformações.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de PLACAS e MONTANTES de CONCRETO,ANCORAGEM METÁLICA ou GEOSSINTÉTICA
Adaptado de ABNT, 1985b
208
Semelhante à contenção com gabião convencional, o solo reforçado utiliza a geogrelha como elemento de armação e ancoragem
do solo, permitindo estabilizar os taludes mais íngremes e a fixação de revestimento vegetal, reduzindo o impacto ambiental.
Contenção com solo compactado e reforçado com geossintético
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO
em GEOSSINTÉTICO e SOLO COMPACTADO
Adaptado de MACCAFERRI, 2002
209
Sistema especialmente vantajoso para contenção de taludes em áreas urbanas, é indicado quando se deseja obter uma estrutura
semiflexível, de construção simples e rápida, com paramento frontal em blocos de concreto pré-moldado e maciço estrutural
com geogrelhas. A estrutura de contenção obtida com esse sistema pode ser aplicada em qualquer altura.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO em BLOCOS PRÉ-MOLDADOS
com ANCORAGEM em GEOGRELHA METÁLICA ou GEOSSINTÉTICA
Adaptado de MACCAFERRI, 2002
Contenção com solo reforçado com paramento de pré-moldado
DETALHES da GEOGRELHA
213
As barreiras vegetais têm como finalidade
reter massas escorregadas ou transportadas
por processos de erosão de montante, que
podem trazer r isco de ac identes para
ocupações ou infra-estruturas a jusante. A
retenção desses materiais cumpre ainda um
importante papel de redução de solos no
processo de assoreamento das áreas baixas
e das calhas de rios e canais, atenuando as
inundações.
A retenção desses sedimentos exerce
também um papel estruturador na encosta,
já que permite aumentar o volume de
sedimento estacionário na base do talude,
contribuindo para sua estab i l i zação e
retomada do espalhamento espontâneo da
cobertura vegetal na sua superfície.
BARREIRA VEGETAL
Adaptado de Cunha, 1991
12. 1 Contenção de massas movimentadas Contenção com barreira vegetal
214
Recomendações
Embora demandem longo tempo para sua consolidação, em razão
do lento crescimento das árvores, as barreiras vegetais podem ser
adotadas em áreas historicamente afetadas por massas escorregadas
ou erodidas, servindo para a recuperação ambiental do lugar.
A vantagem das barreiras vegetais, em relação aos muros de espera,
é o menor custo de execução e o embelezamento paisagístico.
As barreiras vegetais devem ser combinadas a muros de espera, aumentando a margem de segurança da intervenção.
Seu uso deve ser amplamente difundido em áreas urbanas, no intuito de permitir a melhoria das condições ambientais,
particularmente nas áreas impactadas pela mineração urbana.
215
Os muros de espera são obras similares aos muros de arrimo já apresentados, porém com a finalidade de impedir a passagem
de massas escorregadas ou transportadas por processos de erosão, que podem ocorrer a montante.
Em virtude do alto custo de execução, eles aplicam-se apenas às situações em que outras barreiras (como as vegetais, por
exemplo), não têm capacidade de contenção do material, e representam um risco para ocupações ou infra-estruturas a jusante.
Uma vantagem em relação às barreiras vegetais é o menor tempo para sua execução, podendo ser usada como solução emergencial.
Recomendações
Os muros de espera podem ser combinados a barreiras vegetais,
aumentando a margem de segurança da intervenção.
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de MURO de ESPERA em MEIA ENCOSTA
Adaptado de Cunha, 1991
Contenção com muro de espera
CAPÍTULO 13Drenagem
Importância da drenagem para a segurança dos morros 13. 1
Elementos do sistema de drenagem 13. 2
Obras de drenagem 13. 3
Estudo de casos 13. 4
219
13. 1 Importância da drenagem para a segurança dos morros
A água é o principal agente deflagrador dos movimentos gravitacionais de massa (rastejos,
deslizamentos e corridas) e de transporte de massa (erosão), fazendo com que a maioria
das movimentações de encostas ocorra no período chuvoso. Embora os acidentes estejam
associados à saturação generalizada das encostas, são potencializados pela concentração de
águas servidas (banheiro, cozinha e lavanderia), ou de vazamentos de tubulações do sistema
de abastecimento d’água sobre os taludes de cortes ou mesmo sobre as encostas naturais.
Esse fato torna-se mais crítico quando a rede é improvisada pelos moradores, através de
canos e mangueiras sujeitos a desconexões freqüentes.
A drenagem superficial se faz pelas linhas
d’água naturais e pelo sistema formal construído
(macro e microdrenagem), que deve estar
harmonizado com as feições do relevo para
permitir o efetivo escoamento das águas. Todo
o sistema precisa ser dimensionado em função
das vazões e do potencial hidráulico, definido
pela declividade.
DRENAGEM NATURAL
Abreu e Lima
DRENAGEM FORMAL
Sítio dos Pintos, Recife
220
Os sistemas de drenagem, em função de suas dimensões, são classificados como:
13. 2 Elementos do sistema de drenagem
Os elementos da microdrenagem devem ser bem
dimensionados para evitar transbordamentos nos
períodos de chuvas intensas. Os revestimentos adotados
são a cobertura vegetal e os panos cimentados, com
eventuais arrimos na base da encosta. Os patamares
são drenados pelas canaletas de borda e de pé de
talude, e as canaletas de descida levam as águas para
os canais que margeiam a via coletora que coincide
com a planície principal da microbacia. Na ausência
de redes coletoras de esgotos, as fossas sépticas e suas
valas de infiltração ficam localizadas atrás das casas,
próximas ao pé das barreiras, e as canaletas coletam
as águas servidas de banho, lavanderia e cozinha. O
tratamento completo da área estabiliza a encosta de
modo permanente, desde que garantidos os cuidados
com a manutenção do sistema de drenagem e com os
revestimentos vegetais e artificiais, evitando-se
também novos cortes para ampliação das moradias
que possam desestabilizar o ambiente.
O modelo apresentado é válido para encostas côncavas ou convexas e temcomo pressupostos a intervenção estruturadora da área e o menor custo deobras (Gusmão Filho, 1993).
MODELO de TRATAMENTO de DRENAGEM em ENCOSTA
Gusmão Filho et al ., 1972
sistemas de microdrenagem
sistemas de macrodrenagem
responsável pela coleta e afastamento das águas superficiais
inclui as redes de galerias de maior porte e os elementos receptores, como lagoas, rios e canais
221
Um sistema de drenagem eficiente para os morros deve ser planejado por microbacias, com uma
rede que atenda a todas as casas, a partir das calhas ou biqueiras até as canaletas de descida, de
bordo e de pé de talude, as quais devem chegar às canaletas principais ou de escadarias e finalmente
aos canais. Todo o sistema precisa ser dimensionado para receber a contribuição de águas pluviais
da microbacia natural de drenagem, de modo a evitar problemas de transbordo quando ocorrem
chuvas mais intensas.
Em áreas de ocupação densa e desordenada, é pouco
produtiva a elaboração de projetos executivos, tendo
em vista a complexidade dos acessos, a irregularidade
dos lotes e as diferenças de cotas entre eles. Um Plano
Geral da Intervenção (anteprojeto) deverá identificar
sobre uma base plani-altimétrica, em função da morfologia
da encosta, as principais linhas de convergência da
água, para a definição do traçado do escoamento
principal. As soluções de detalhe da intervenção vão
sendo definidas durante a execução dos trabalhos.
ESCOAMENTO de CHUVAS INTENSAS
Casa Amarela, Rec i f e
foto cedida pelo jornal “Folha de Pernambuco”
222
Enquanto o sistema de macrodrenagem é formalmente reconhecido pelo poder público e dispõe de registro nos setores
municipais de obras, com recursos regulares para a sua manutenção, a microdrenagem é precariamente conhecida e
administrada. Tendo em vista a sua importância para a estabilização das encostas, fica o desafio de melhor conhecer essa
rede de escoamento para realizar o monitoramento e controle, com vistas à sua manutenção e efetiva contribuição para
a redução do risco.
O lançamento de águas servidas sobre as encostas decorre, em geral, da inexistência ou da precariedade da microdrenagem
para responder aos eflúvios domésticos, além das águas das chuvas, para as quais é essencialmente destinada.
CANAL
SISTEMA de MACRODRENAGEM
Vasco da Gama, Rec i f e
223
Calhas e Coletores (casas)
Canaletas de Descida (entre patamares)
Canaletas de Borda de Talude
Canaletas de Pé de Talude
Canaletas Principais (acopladas às escadarias)
Principais elementos da drenagem nos morros
Esses elementos compõem o sistema de
microdrenagem para as encostas, o qual
deve estar conectado com a rede de
macrodrenagem, formada pelos canais,
rios ou lagoas.
SISTEMA de MICRODRENAGEM para os MORROS
baseado no modelo de Gusmão Filho et al., 1972
224
O procedimento ideal pressupõe a realização dos cálculos por profissional qualificado, considerando todas as variáveis do sistema.
Na impossibilidade dessa solução, é possível fazer uma simplificação para a estimativa das vazões e das dimensões dos
elementos que compõem o sistema de microdrenagem ( calhas, coletores, valas revestidas e canaletas ). Esses elementos devem
manter um nível de declividade mínimo de 2% para o escoamento das águas.
Dimensionamento simplificado da vazão
Garantir declividade que permita uma velocidade mínima de 1m/seg
Q . VAZÃO (litros por segundo )
C . COEFICIENTE de ESCOAMENTO (adimensional )
I . INTENSIDADE da PRECIPITAÇÃO (milímetros por hora )
A . ÁREA DA BACIA de CONTRIBUIÇÃO (metros quadrados )
ondeC. I. A.
360Q =
A Intensidade da Precipitação (I) depende do local, da estação do ano, das condições atmosféricas e de vários outros fatores. Sua
avaliação é feita através de análise estatística das chuvas históricas no local, considerando o tempo de recorrência, a duração da
chuva e o tempo de concentração da bacia. Para o Recife, pode-se admitir uma intensidade de chuva concentrada de 40mm/h.
No cálculo simplificado,
podem ser adotados os seguintes valores:
CARACTERÍSTICAS da ÁREA VALOR de “C”
área pavimentada ou coberta 0,8
área com solo exposto 0,3
No caso de áreas mistas, adotar uma média ponderada dessesdois valores, tomando como base as áreas correspondentes.
O coeficiente de escoamento (C) depende,
entre outras variáveis,
da distribuição de chuva;
das condições iniciais de umidade do solo;
do tipo de solo.
225
As canaletas devem ser dimensionadas de modo a atender aos critérios de velocidade máxima e velocidade mínima, levando-se em
conta a declividade, o material construtivo, os sedimentos transportados, entre outros. Uma canaleta com seção retangular de
base (b) e altura (h), com paredes e fundo de cimento, pode utilizar os seguintes parâmetros:
Dimensionamento de canaletas
Q . VAZÃO EM METROS CÚBICOS POR SEGUNDO
b . LARGURA EM METROS
h . ALTURA MOLHADA EM METROS
Rh . RAIO HIDRÁULICO
i . DECLIVIDADE LONGITUDINAL EM METROS
n . COEFICIENTE DE MANNING
n = 0,015 para canaleta de cimento
Para transformar a vazão de litros por segundo para metros cúbicos por segundo, divide-se o valor por mil.
b.h. Rh2/3 . i ½Q = n
onde
b
h
226
13. 3 Obras de drenagem
As obras de drenagem têm por finalidade captar e conduzir convenientemente as águas superficiais
e subterrâneas de uma encosta, visando evitar a ocorrência de erosões e escorregamentos (Cunha, 1991).
Deve-se respeitar, na medida do possível, o caminho natural das águas e promover a implantação
de rede de coleta e condução das águas servidas, preferencialmente separada da rede de drenagem
das águas pluviais, bem como garantir a manutenção das redes já implantadas. É importante o
plantio de gramíneas, pois a cobertura vegetal representa proteção para o solo, diminuindo o
impacto e a infiltração das águas pluviais, além de proporcionar uma maior resistência, através
das raízes. A drenagem é uma medida complementar a toda obra de contenção, já que garante a
redução da ação da água sobre a estrutura.
A drenagem é, muitas vezes, a intervenção mais importante para a estabilização de um talude,
sendo indissociável das obras de proteção superficial e de contenção, pois garante a redução dos esforços
a serem suportados pela estrutura, devido à ação da água.
227
As águas de chuva que caem dos telhados concentram-se em volta da casa ou escoam rapidamente para a encosta, a depender da
permeabilidade dos solos e das declividades do terreno. A coleta dessas águas pode ser uma solução temporária para o abastecimento
da casa, ao mesmo tempo que reduz a água disponível para escoamento ou infiltração no solo. O correto direcionamento das águas de chuva
para o sistema de drenagem tem nas calhas um elemento importante para reduzir a saturação das barreiras.
As águas servidas (pia, lavanderia, banho) têm
contribuição reconhecida nos acidentes de
deslizamento e queda de encostas. Essas águas
devem ser canalizadas para lançamento na rede
de esgotos; na sua ausência, as canaletas passam
a ser o único s istema disponível para o
escoamento.
calhas e coletores
Drenagem superficial
Vazamentos na rede de abastecimento d’água,
além do desperdício podem provocar sérios
acidentes em áreas de morros.
SISTEMA de COLETA de ÁGUAS PLUVIAIS
Adaptado de Cunha, 1991
228
Embora de durabilidade menor, exigindo maiores cuidados com a manutenção, o revestimento e
impermeabilização de valas no terreno podem ser uma solução de baixo custo e de rápida execução. Trata-se
de pequenos canais escavados no solo, revestidos por uma fina camada de impermeabilização asfáltica
ou argamassa de cimento e areia (traço 1: 3). Além de impedir a erosão ao longo da linha d’água, facilita
o escoamento e reduz a infiltração. É indicado para pequenas vazões.
valas revestidas
REVESTIMENTO de VALETAS com ARGAMASSA
Adaptado de Cunha , 1991
229
As canaletas podem ser construídas associadas a obras de retaludamento,
revestimento e contenção, assim como associadas a escadarias de acesso ou
leitos de ruas, e podem ser abertas ou fechadas com tampas removíveis de
concreto. Podem ter seções retangulares, trapezoidais ou triangulares e serem
executadas em concreto moldado na hora, ou podem ter apenas o fundo
concretado, utilizando blocos pré-moldados para as laterais.
O alto percentual de canaletas subdimensionadas e destruídas pela ação das águas
recomenda alguns cuidados para o seu posicionamento no terreno, como a direção
consonante com as linhas de maior declividade da microbacia de drenagem, altura
que permita a captação das águas superficiais e dimensões adequadas às vazões
durante chuvas fortes, tudo aliado a um projeto que reduza pontos de acúmulo
de solo e/ou lixo e facilite a manutenção da canaleta.
A depender de sua posição na encosta (borda, pé, descida de patamar, descida
principal), as canaletas poderão ter diferentes formatos, dimensões e tipos
construtivos, desde que atendam à finalidade básica de escoar a água da
encosta. Assim, valas argamassadas poderão se conectar com canaletas
triangulares da borda do talude, que por sua vez se conectam com canaletas
retangulares de descida.
Para maior durabilidade da obra, é importante compactar uma faixa de 50cm
de solo nas laterais da canaleta, evitando a formação de sulcos de erosão na
descontinuidade canaleta/solo, assim como a entrada da água por baixo da
canaleta.
CANALETA de BORDA ACOPLADA à CANALETA PRINCIPAL
canaletas moldadas no local
230
São peças pré-fabricadas em concreto, geralmente em forma de meia cana, ou em caixa, com diâmetro e espessura variáveis, de
acordo com a vazão da água a ser conduzida. Seu uso é freqüente devido à grande facilidade e rapidez de instalação (Cunha, 1991).
Os cuidados quanto ao posicionamento no terreno são maiores que os aplicados às canaletas executadas no local, pois,
caso não fiquem bem assentadas no solo, poderão facilitar a percolação da água por baixo delas, acelerando sua destruição.
O local deve ser preparado com uma camada de solo-cimento ou argamassa bem compactada, antes de receber a
canaleta, evitando os espaços vazios.
canaletas pré-moldadas
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de CANALETAS PRÉ-MOLDADAS
Adaptado de Cunha, 1991
231
São canaletas geralmente abertas, com fundo construído em forma de degraus visando reduzir a velocidade das
águas superficiais, em encostas com inclinações elevadas. Podem transportar grandes vazões, devendo ser executadas
no local, em concreto armado. A principal vantagem sobre as canaletas e tubos de concreto é a de conduzir
grande volume de água em fortes inclinações, com menor desgaste do concreto e sem necessidade de caixas de
dissipação (Cunha, 1991).
Se o solo local está bem compactado, com boa resistência,
pode-se usar o concreto simples, sem armação.
Os mesmos cuidados dispensados às canaletas deverão ser
tomados para as escadas d’água, no que se refere à direção
preferencial das linhas d’água, altura dos pontos de captação
em relação ao nível do terreno e dimensionamento.
ESCADAS d’ÁGUA como CANALETAS PRINCIPAIS
escadas d’água
232
trincheiras drenantes
Drenagem subterrânea
Constam de valetas de 30cm x 30cm,
com profundidade variável em função
das características do nível freático,
preenchidas por material drenante
(areia, pedregulho, brita) envolvido em
geotêxtil, deixando um tubo longitudinal
perfurado para servir de dreno coletor
da água. Após o preenchimento, são
seladas com solo argiloso, protegido com
gramíneas e o tubo coletor deve ter na
saída uma caixa de dissipação para
evitar a formação de um foco de erosão.
ESQUEMA de TRINCHEIRA DRENANTE
Adaptado de Cunha, 1991
233
BARBACÃS em MURO de ARRIMO
Os barbacãs fazem parte da drenagem das estruturas de contenção e de alguns
revestimentos. São tubos de PVC colocados em posição sub-horizontal (inclinação
de 5o ), com no máximo 1,5m nas estruturas de contenção, com o fim de
coletar águas subterrâneas dos maciços situados a montante, rebaixando o
nível do lençol freático e diminuindo a pressão da água sobre a estrutura.
Podem, também, ser utilizados como saídas dos drenos (areia, brita) existentes
atrás das estruturas de contenção. O tubo é lateralmente perfurado e deve
ser envolvido com tela de nylon ou geotêxtil, deixando pelo menos 10cm
(sem perfurar) para fora do muro. Devem ficar mergulhados numa caixa de
geotêxtil de 20 x 20 x 30cm, que fará a transição entre o solo e o tubo.
barbacãs
ESQUEMA do SISTEMA CONSTRUTIVO de BARBACÃ
Adaptado de Cunha, 1991
Drenagem de estruturas de contenção
234
CASA sem BIQUEIRAS e sem SOLUÇÃO de DRENAGEM
Alto da Estrela, Moreno
13. 4 Estudo de casos
O patamar onde se implanta a moradia fica
completamente encharcado durante as chuvas,
tendo em vista as águas que descem do telhado
e do talude adjacente, além das águas servidas
da casa.
A encosta assim parcialmente exposta, sujeita
à alta taxa de infiltração, põe a casa em risco
pela probabi l idade de desl izamento em
períodos de chuva. O risco de acidente com
vítimas fatais aumenta, tendo em vista a
posição dos quartos voltados para a barreira.
AUSÊNCIA DE MICRODRENAGEM
235
Instalar calhas para recolhimento da água de chuva, a qual pode ser aproveitada parcialmente para o
abastecimento da família, com os devidos cuidados no intuito de evitar a proliferação de mosquitos(dengue ).
O excedente das águas do telhado deve ser encaminhado para uma canaleta de pé do talude, a qual recebe
também as águas direcionadas pela canaleta de borda e de descida.
Alterar a ocupação dos cômodos internos, posicionando os quartos, no lado oposto ao da barreira, para
prevenir acidentes em casos de deslizamentos.
Recomendações
Solução proposta pelo arquitetoGleidson Dantas
DRENAGEM DEFINIDA pelas CALHAS, CANALETAS de BORDA, de DESCIDA e de PÉ
236
CANALETA LATERAL de ALTA VAZÃO
Morro da Conce i ção, Rec i f e
Via de acesso principal (escadaria) associada a canaletas laterais subdimensionadas para a vazão em períodos
de chuvas mais intensas.
A alta declividade da via de acesso implica potencial aumento da velocidade das águas ao longo das canaletas,
aumentando o atrito e, conseqüentemente, o desgaste do seu material.
O lixo lançado nas canaletas agrava a situação, seja pelo ataque das substâncias produzidas pela decomposição
dos resíduos, seja pela obstrução localizada da passagem das águas, levando ao transbordamento e à erosão
das canaletas.
CANALETAS DANIFICADAS E OBSTRUÍDAS PELO LIXO
237
Reconstrução e ou recuperação das canaletas, aprofundando gradualmente a sua calha até a base da encosta.
Construção de escadas d’água, para dissipação da energia da água corrente.
Limpeza permanente das canaletas, removendo lixo e vegetação.
Recomendações
Solução proposta pela arquitetaAna Paula Oliveira Vilaça
238
A construção de moradias em patamares dispersos, sem qualquer preocupação com o sistema de drenagem,
é uma situação freqüente nos morros.
Águas superficiais não canalizadas tendem à infiltração generalizada e erosões, em virtude da porosidade e
permeabilidade dos solos e sedimentos presentes.
A ausência de revestimentos naturais ou artificiais amplificam o problema.
SITUAÇÃO CARACTERÍSTICA de DRENAGEM INDEFINIDA na ENCOSTA
Bolo de Noiva - Buriti, Recife
DRENAGEM INDEFINIDA NA ENCOSTA
239
Retaludar e revestir o talude de corte abaixo da casa.
Recompor a cobertura vegetal nos taludes naturais.
Melhorar a acessibilidade através de escadaria, acoplada a canaletas de descida.
Construir canaletas de pé e de borda no patamar frontal, que deve ser preservado da ocupação,
podendo destinar-se a uma área de convivência e lazer.
Solução proposta pela arquitetaAna Paula Oliveira Vilaça
Recomendações
240
Canaletas de descida, agregadas à escadaria
sem a devida preocupação com as condições
topográficas, podem comprometer a eficiência
da microdrenagem.
No caso observado, a altura excessiva da base
da canaleta da esquerda não permitiu a entrada
das águas correntes, perdendo sua finalidade;
a canaleta da direita, para a qual convergem
as águas do patamar, também não cumpre
sua função a contento, tendo em vista uma
perfuração na sua base, onde se dá a fuga da
água para o solo.
A partir do ponto (A) as águas passam sob a
escadaria, vindo a desaguar no extremo oposto
(B), demonstrando que a implantação do
sistema acesso/drenagem, ao não respeitar os
caminhos naturais da água, mostrou-se
subdimensionada para suportar as pressões e o
desgaste exercidos por ela.
CANALETAS DISSOCIADAS DA MICRODRENAGEM NATURAL
SISTEMA de MICRODRENAGEM sem ADEQUAÇÃO à TOPOGRAFIA
Problema ilustrado pela arquitetaLuciana Carvalho Gomes
241
O anteprojeto para a construção de acessos deve verificar a sua adequação à drenagem natural da área, já que
vias e drenagens devem ter soluções associadas.
As linhas de maior declividade do terreno devem ser preferencialmente escolhidas para direcionar a drenagem.
Em projetos que impliquem alterações substanciais da topografia da área, o cuidado em definir as linhas d’água
deve se pautar pela mesma lógica: as águas correm preferencialmente segundo linhas de maior velocidade, ou seja,
acompanham as maiores declividades.
Recomendações
CAPÍTULO 14Esgotamento Sanitário
Impacto socioambiental das práticas de esgotamento sanitário 14. 1
Soluções de esgotamento sanitário 14. 2
Modelo de gestão para o saneamento integrado 14. 3
245
14. 1 Impacto socioambiental das práticas de esgotamento sanitário
A ausência de serviços de esgotamento sanitário nos morros tem levado os moradores
dessas áreas a seguirem práticas rudimentares e inadequadas para destino dos seus
efluentes domésticos. É comum aos que moram nessas localidades lançarem as águas
servidas diretamente sobre o solo, em valas abertas ou em fossas negras, com o
transbordamento ou vazamento dos efluentes contribuindo para a poluição do lençol
freático e dos corpos d’água, e para o agravamento das condições de estabilidade das
encostas, por erosão ou escorregamento de talude.
Nas áreas urbanas não saneadas, mas já consolidadas e dotadas de ruas pavimentadas e escadarias associadas à
drenagem, o lançamento das águas servidas é feito diretamente nas canaletas e galerias, chegando aos canais e rios,
com elevado teor de poluentes e contaminantes. Essa prática, que tem como efeito positivo a atenuação dos problemas
com a estabilidade dos taludes, chega a ser impropriamente tomada como um estágio final de solução.
ÁGUAS SERVIDAS LANÇADAS em CANALETA
FOSSA ABSORVENTE na BORDA da ENCOSTA
Bolo de Noiva - Buriti, Recife
246
O adensamento habitacional nos morros, com decorrente
concentração e aumento do volume de água lançada,
cotidianamente, sobre os terrenos, satura o solo,
desestabilizando as encostas e favorecendo, mesmo
sem chuvas, a ocorrência de acidentes. Essa situação
agrava-se em períodos de inverno, quando as chuvas
se intensificam, e os solos, já encharcados, recebem
maior infiltração de água, aumentando os processos de
deslizamento e erosão e, conseqüentemente, elevando
a magnitude dos acidentes.
A mudança desse quadro, proporcionando uma melhor
condição de saneamento ambiental nos morros, é um
desafio que se impõe ao setor público e aos próprios
moradores. A necessidade de arcar com investimentos
para implantação da infra-estrutura de esgotamento
sanitário e a própria necessidade de mudança das práticas
culturalmente arraigadas à população são obstáculos ao
beneficiamento sanitário dessas áreas.
SATURAÇÃO dos SOLOS por FOSSAS
ESGOTO LANÇADO a CÉU ABERTO
247
14. 2 Soluções de esgotamento sanitário
As condições que prevalecem na ocupação dos morros produzem uma urbanização complexa, de baixo padrão construtivo e sanitário
e uso inadequado do solo, caracterizada pela inexistência de alinhamento das ruas e de faixas de servidão entre as casas. Essas
condições tornam as áreas de morros dependentes de tecnologias apropriadas à topografia de terrenos com alta declividade,
impondo uma resposta voltada para sua estabilidade e com a garantia de que os dispositivos de coleta e de transporte dos esgotos
sejam resistentes às situações de uso e às elevadas velocidades de fluxo.
As intervenções em saneamento básico nos
morros presupõem um planejamento inicial que
considere bacias e microbacias de esgotamento
como unidades de coleta independentes e de
tratamento descentralizado, podendo ter vida
própria para sua operação, de forma a permitir
que sua implantação se faça de forma parcial,
por e tapas . É nece s sá r i o t ambém um
reordenamento urbaníst ico, abrangendo a
remoção de habitações, a pavimentação de vias
de acesso e escadarias. A drenagem de águas
pluviais, assim como os serviços de coleta e
tratamento de l ixo , const i tuem também
intervenções a serem consideradas quando da
estruturação do sistema de esgotamento, pois
juntos possibilitam o saneamento integrado e a
melhoria da habitabilidade.
REMOÇÃO/RELOCAÇÃO
DE HABITANTES
EDUCAÇÃO SANITÁRIA
E AMBIENTAL
CONTROLE DE VETORES
DE DOENÇAS ÁGUA
SISTEMA DE ESGOTODRENAGEMPAVIMENTAÇÃO
COLETA E DESTINAÇÃO
DO LIXO
SANEAMENTO
INTEGRADO
248
A tecnologia para a coleta de esgotos mais adequada às condições encontradas nos morros é a do sistema condominial, que se
baseia na definição da unidade de atendimento, que deixa de ser o lote e passa a ser o conjunto de domicílios vizinhos em uma
mesma quadra ou frontais em vias de pedestres, formando uma unidade de coleta de esgotos. Por sua vez, essa unidade ou
condomínio é interligada à rede pública através de um ramal condominial. Esse ramal apresenta a possibilidade de ser implantado
a pequenas profundidades, podendo o seu traçado ser mais sinuoso, atendendo às irregularidades da ocupação, e sua localização
pode ser negociada com a população residente, visando otimizar a operação e evitar conflitos.
O traçado das redes-tronco requer a minimização de extensões e de profundidade das canalizações, já que tais processos
podem favorecer as erosões ou o aparecimento de pontos críticos de instabilidade. O traçado dessas redes deve considerar a
ocupação urbana e procurar o caminho que melhor se ajuste ao esgotamento dos condomínios e à união dos pontos de
concentração das quadras, de forma a definir as redes de esgotos até o ponto de reunião de cada bacia ou sub-bacia.
Em áreas de morros não é recomendada a utilizaçãode fossas individuais seguidas de infiltração no solo.A alternativa de fossas-filtro individuais só deveser empregada provisoriamente, em casos isoladose devidamente justificados. Devem-se buscar, paraessas áreas, soluções de tratamento coletivo, como emprego de fossas-filtro ou reator anaeróbio.Essas unidades devem estar localizadas em áreasplanas, fora das encostas, e de fácil acesso para
operação e manutenção.
A estruturação de sistemas ou microssistemas de esgotamentosanitário deverá compreender, além da rede de coleta e destinaçãofinal dos esgotos, as soluções internas individuais de cada domicílio,fazendo com que cada uma das unidades seja provida de instalaçõessanitárias mínimas, elevando o padrão de higiene dos moradores epermitindo sua ligação, de forma adequada, ao sistema implantado.Quando necessário, os investimentos públicos devem prover osdomicílios dessas instalações, já que o baixo poder aquisitivo dosmoradores, muitas vezes, não permite a construção das instalaçõeshidrosanitár ias mínimas. Ainda na fase de planejamento, éindispensável que seja definida a gestão da operação e manutençãodo sistema a ser implantado, ficando explicitadas as atribuições ecompetências dos agentes envolvidos, para assegurar o efetivofuncionamento.
249
Componentes do sistema de esgotamento sanitário
INSTALAÇÃO HIDROSSANITÁRIA DOMICILIAR
Compreende a rede de tubulação interna da casa e as
peças sanitárias (bacia, chuveiros e pias) que recebem
as águas servidas e as levam até a tubulação de saída
do ramal predial.
LIGAÇÃO INTRADOMICILIAR
Compreende o trecho de tubulação que liga cada uma
das peças sanitárias ao ramal predial.
RAMAL PREDIAL
É o trecho de tubulação que recebe as ligações
intradomiciliares, interligando-as ao ramal coletor.
RAMAL COLETOR OU RAMAL CONDOMINIAL
Recebe as contribuições dos ramais prediais e as
encaminha à rede coletora pública. A localização dos
ramais depende das restrições físicas dos terrenos e
deverá ser aquela que melhor se adapte a cada uma
das localidades, podendo passar pelo interior do lote
(quintal ou jardim) ou nas vias públicas (calçadas).
Define-se a posição do ramal em função da topografia,
da posição do imóvel no lote e da localização das instalações
sanitárias, passando também por uma negociação com
os usuários, de forma coletiva.
REDE COLETORA PÚBLICA
É o conjunto de canalizações e poços de visita que
recebem os efluentes dos ramais coletores ou ramais
condominiais e os encaminha para um ponto de reunião.
ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DE ESGOTO (EEE)
É a unidade do sistema que tem por finalidade elevar
os esgotos do nível do poço de sucção até cotas
adequadas ao funcionamento do sistema.
EMISSÁRIOS
Trecho da tubulação que recebe contr ibu ição
exclusivamente na extremidade de montante.
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO (ETE)
Após a coleta, os esgotos devem ser encaminhados
por redes elevatórias e emissários para uma unidade
de tratamento, que tem por finalidade atribuir-lhes
características compatíveis com a capacidade do corpo
d’água receptor.
250
PLANTA de REDES de ESGOTAMENTO SANITÁRIO em ÁREA de MORROS
PLANO de INTERVENÇÃO na UE-17 - PASSARINHO, OLINDA
FIDEM, 2001
ramal
caixa de passagem
co le tor
poço de visita
l igação domici l iar
escadaria
251
ESQUEMA de LIGAÇÃO INTERDOMICILIAR, RAMAL PREDIAL e RAMAL CONDOMINIAL
PLANO de INTERVENÇÃO na UE-17 - PASSARINHO, OLINDA
FIDEM, 2001
instalação intradomicil iar
ramal com ligação diretana rede principalatravés de selim e curva 45
ramal condominia l
rede básica principal
caixa sifonada
caixa de passagemtipo 1 Ø 40cm H < 0,60m
CS
poço de visita
caixa de passagemtipo 2 Ø 60cm H < 0,60m
caixa de inspeçãoCI
C P 1
C P 2
P V
252
Princípios gerais
A implantação, operação e manutenção dos sistemas de
esgotamento sanitário em morro devem ser feitas em
forma de gestão compartilhada, envolvendo representantes
de governo, empresa operadora e população.
Como instrumento fundamental de gestão e controle, deve
ser instalado um Grupo Gestor do Saneamento Integrado,
composto por moradores eleitos em assembléias, por
representantes indicados pela prefeitura e pela empresa
concessionária dos serviços de água e esgoto.
As ações desenvolvidas pelos agentes de saúde e de educação
ambiental devem ser ampliadas e permanentes, e articuladas
com os gestores dos sistemas de esgotamento sanitário.
Atribuições do grupo gestor
Acompanhar o desenvolvimento das ações de implantação
e operação do saneamento integrado desenvolvidas na
área, primando pela melhor qualidade dos serviços.
Participar dos trabalhos de mobilização comunitária e
divulgação das ações do saneamento integrado.
Participar do desenvolvimento dos trabalhos de educação
sanitária e ambiental.
Promover reuniões periódicas para discussão de propostas
voltadas ao pleno desenvolvimento das ações do Programa
de Saneamento Integrado.
Repassar informações sobre o Saneamento Integrado para
a comunidade em geral e suas respectivas representações
(associações, escolas, conselhos, entre outros).
14. 3 Modelo de gestão para o saneamento integrado
253
O envolvimento da comunidade beneficiada é condição indispensável para implantação de um processo
de estruturação dos serviços de esgotamento sanitário dos morros, visando ao seu pleno funcionamento.
A escolha da solução a ser adotada deverá ter a compreensão e adesão da comunidade usuária, a
partir do que se torna possível garantir o sucesso do empreendimento.
A interação entre o poder público e a população usuária representa a introdução de uma nova cultura
na relação das pessoas, no que se refere à adoção de soluções para os esgotos domésticos. Essa nova
cultura se traduz na realização, por parte da população, de melhoria das instalações sanitárias
domiciliares, conscientização da necessidade de oferecer destino diferenciado para as águas pluviais
e águas servidas (esgotos), e, finalmente, a disponibilidade de se ligar a um serviço de saneamento
que se apresentava, anteriormente, sem ônus financeiro para a família.
Para isso, é necessário o estabelecimento de um pacto entre a população e o poder público, com a
delimitação dos novos papéis que se reconhecem indispensáveis à incorporação das novas práticas e
comportamentos.
Esse processo não será dissociado daquele que deverá compreender o mesmo tipo de acerto, voltado
para a questão da estabilidade dos terrenos e que, por enquanto, ocupa o lugar mais importante
nas relações bilaterais governo-comunidade.
A concepção aqui requerida deverá ser abrangente às várias instâncias e modalidades de abordagem,
cuidando-se das metodologias e instrumentos a serem utilizados.
Importância do envolvimento da população usuáriano planejamento e gestão
254
Roteiro para elaboração de projeto de implantaçãode sistema de esgotamento sanitário
1 LEVANTAR A BASE CARTOGRÁFICA PLANIMÉTRICA E ALTIMÉTRICA DISPONÍVEL
2 DELIMITAR A ÁREA DE INTERVENÇÃO
3 DEMARCAR AS BACIAS DE ESGOTAMENTO ONDE A ÁREA ESTÁ INSERIDA
reconhecer as bacias de esgotamento;
identificar os pontos de reunião das sub-bacias;
identificar os talvegues e divisores naturais de águas;
definir as unidades de esgotamento sanitário.
4 LEVANTAR A SITUAÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA
elaborar mapa de ocupação urbana;
definir sistema viário e de acessos;
identificar tipo de pavimentação;
identificar as redes de infra-estrutura existentes.
5 LEVANTAR E CARACTERIZAR OS IMÓVEIS
tipo de uso;
posição no lote;
drenagem do lote;
existência/condições das instalações sanitárias prediais;
número de famílias residentes.
255
6 DEFINIR PARÂMETROS BÁSICOS DE PROJETO
consumo per capita;
taxa de ocupação.
7 IDENTIFICAR A MELHOR FORMA DE ESGOTO PARA OS LOTES
8 IDENTIFICAR OS PONTOS DE REUNIÃO DAS QUADRAS
9 TRAÇAR AS REDES UNINDO OS PONTOS DE CONCENTRAÇÃO DOS LOTES
10 DEFINIR AS REDES DE ESGOTO ATÉ O PONTO DE REUNIÃO DE CADA BACIA OU SUB-BACIA
11 ELABORAR ESTUDOS DE ALTERNATIVAS PARA DESTINAÇÃO FINAL DOS ESGOTOS
12 DEFINIR E RESERVAR AS ÁREAS DESTINADAS A ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS DE ESGOTOS - EEE
E A ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTOS - ETE
13 ELABORAR ESTUDOS COMPLEMENTARES DO SISTEMA DE DRENAGEM
259
15. 1 O efeito do lixo nas encostas
O lixo acumulado nas encostas absorve grande quantidade de água e desenvolve um processo
bioquímico de degradação e produção de chorume, líquido negro e espesso, favorecendo a
sua interação com o solo. À medida que se avoluma e absorve água, essa massa de lixo
pode induzir rupturas e deslizamentos de encostas. Mesmo que o deslizamento contenha
apenas a massa de lixo, ele poderá provocar acidentes consideráveis, dependendo do seu
volume. O lixo nas valetas do terreno e nas canaletas obstrui o escoamento da água,
permitindo extravasamento e aumento da sua infiltração nos solos, não esquecendo que é
ambiente propício para a proliferação de ratos, baratas e insetos.
LIXO na ENCOSTA
DESLIZAMENTO CAUSADO por LIXO na ENCOSTA
Adaptado de Cunha, 1991
260
Para qualificar o ambiente urbano, eliminando a presença dos tradicionais
pontos de acúmulo de lixo, é necessário estimular a população a mudar seus
hábitos de higiene, para evitar o descarte do lixo em locais inadequados.
Várias experiências têm sido levadas a efeito pelas administrações públicas,
algumas até por iniciativa das comunidades. Todas elas partem de campanhas
de mobilização da comunidade, no intuito de sensibilizar os moradores para a
adoção de práticas corretas de destinação do lixo, gerando assim impactos
positivos à saúde das pessoas e reduzindo o risco de acidentes nos morros.
O lançamento do lixo, cotidianamente, nas encostas e nas linhas de drenagem, pelos moradores dos morros, é um dos fatores
de risco que oferecem maior resistência para a sua solução. A dificuldade de sensibilizar a população para juntar o lixo gerado,
entregá-lo diretamente aos garis, em sacos plásticos, ou colocá-lo em locais indicados para coleta pela prefeitura é um desafio
que deve ser enfrentado e perseguido.
LANÇAMENTO de LIXO na ENCOSTA
Fosfato, Abreu e Lima
LANÇAMENTO de LIXO em ESCADA
261
15. 2 Tipos de soluções para a coleta do lixo
Os serviços de limpeza urbana nos morros são diferenciados pelas condições de acessibilidade
aos pontos de recolhimento do lixo. Para implantar um sistema de coleta em áreas de morros,
é necessário conhecer bem a localidade onde vão se realizar os serviços de coleta.
ELEMENTOS PARA DEFINIÇÃO DO PLANO OPERACIONAL DE COLETA EM ÁREAS DE MORROS
zoneamento dos setores e rotas de coleta definidos em mapa da localidade
freqüência e horário da coleta
formas de coleta
especificação e dimensionamento de equipamentos
equipe de operação
ELEMENTOS PARA DEFINIÇÃO DO SISTEMA DE LIMPEZA URBANA EM ÁREAS DE MORROS
volume do lixo a ser recolhido
topografia do terreno
sistema viário
circulação de veículos
acesso às unidades domiciliares
largura e tipo de pavimentação das vias
262
A mecanização da coleta domicil iar
convencional só é possível nas vias abertas
à circulação de veículos de grande porte.
A coleta é feita em carro compactador
convencional, no qual são uti l izados
caminhões com carroceria, tipo baú, adaptada
com prensa compactadora. O carregamento
é feito pela parte traseira do veículo, o qual
tem uma abertura ampla e uma placa
giratória que empurra o lixo para o interior
da caçamba, onde é comprimido contra o
painel. A guarnição para este tipo de coleta
é composta por três garis e um motorista, o
qual é responsável pela operação da coleta.
SISTEMA de COLETA CONVENCIONAL
Caminhão recolhendo lixo na rua, porta a porta
Coleta domicil iar mecanizada convencionalColeta domicil iar mecanizada convencionalColeta domicil iar mecanizada convencionalColeta domicil iar mecanizada convencionalColeta domicil iar mecanizada convencional
263
Estação de transbordo com caçamba estacionária compactadoraEstação de transbordo com caçamba estacionária compactadoraEstação de transbordo com caçamba estacionária compactadoraEstação de transbordo com caçamba estacionária compactadoraEstação de transbordo com caçamba estacionária compactadora
Trata-se de espaços reservados para descarga do lixo coletado através de diversas modalidades de coleta - veículo de pequeno
porte, carroça, carrinho de mão, bangüê, e que, após completarem suas cargas, fazem a transferência do lixo para ser
acondicionado e compactado em caçamba estacionária, de onde é feito o transporte para o destino final. As estações devem
estar localizadas em áreas estratégicas, próximas das zonas de coleta, de forma a permitirem a realização das viagens dos
veículos até eles completarem os seus roteiros de coleta. É necessário também que essas áreas permitam acessos aos caminhões
de grande porte, tipo roll-on / roll-off e a realização de manobras para colocação, estacionamento e recolhimento da caçamba
estacionária.
A caçamba compactadora estacionária
compacta o lixo através de um sistema hidráulico,
aumentando a capacidade do transporte ao destino final.
264
A coleta alternativa manual é recomendada para locais íngremes e estreitos onde não existem possibilidades de acesso a
veículo de grande e médio porte, e o transbordo não pode ser executado diretamente para o caminhão compactador
convencional. Nesses locais, o tipo de coleta recomendado deve adotar sistemas operacionais e equipamentos alternativos,
utilizando veículo de pequeno porte, carroça, carro de mão e bangüê, através dos quais o lixo domiciliar é coletado porta a
porta, e depositado em pontos indicados pela prefeitura. Em qualquer solução alternativa adotada, o lixo deve ser acondicionado,
se possível, em sacos plásticos, coletado e transportado em veículo compactador para o seu destino final. É importante orientar
a população sobre as formas de acondicionamento do lixo, os locais, disposição e horário da coleta, evitando, assim, a prática
generalizada de jogar fora o lixo, logo que seja gerado, lançando-o nas encostas.
Coleta alternativa manualColeta alternativa manualColeta alternativa manualColeta alternativa manualColeta alternativa manual
Os sacos devem ser colocados suspensos, em
cima do muro ou plataforma, ou ainda pendurados
em ganchos, para reduzir a ação de cães e de outros
animais que rasgam os sacos e espalham o lixo.
ENCOSTA ÍNGREME
com ACESSOS
ESTREITOS
265
CAMINHONETE em OPERAÇÃO de COLETA
Para as áreas em que as ruas são estreitas, sem condições de tráfego para veículos de grande porte,
a opção para coleta é a utilização de caminhonete de carroceria aberta, tipo toyota, com capacidade
para 3,5m3 de lixo solto. Esse lixo é recolhido, porta a porta, pela caminhonete e transbordado para
um carro de maior porte, que circula nas vias coletoras da área e transporta-o ao destino final.
Coleta com apoio de veículo de pequeno porteColeta com apoio de veículo de pequeno porteColeta com apoio de veículo de pequeno porteColeta com apoio de veículo de pequeno porteColeta com apoio de veículo de pequeno porte
TRANSBORDO para o CAMINHÃO COMPACTADOR
266
A coleta alternativa de lixo, em carroça, é indicada
para local de elevada densidade, onde a ocupação
urbana é desordenada, com ruas estreitas que não
permitem o acesso de veículos motorizados.
Coleta com apoio de carroçaColeta com apoio de carroçaColeta com apoio de carroçaColeta com apoio de carroçaColeta com apoio de carroça
COLETA ALTERNATIVA MANUAL ENSACADA
pela EMLURB - Recife
Nessa modalidade de coleta, um cesto coletor revestido de saco
plástico de 100 litros é adaptado à carroça, onde é depositado o
lixo acondicionado ou não pela população, que, ao ser completado,
é lacrado e depositado no interior da carroça. Ao término da coleta,
os sacos são depositados em logradouros que permitam o acesso
de veículo coletor de médio e grande porte, para que sejam recolhidos
e encaminhados ao seu destino final.
267
A coleta porta a porta, com apoio do carrinho de mão é
solução alternativa para as áreas onde a ocupação urbana
se dá em áreas íngremes, e o acesso é feito através de
rampas que permitem a circulação de carrinhos de mão.
Essa forma de coleta é associada e complementada por
veículo de pequeno porte, que recolhe o lixo nas vias
coletoras e o leva para transbordo em carro compactador,
que faz o transporte até o destino final.
Coleta com apoio de carrinho de mãoColeta com apoio de carrinho de mãoColeta com apoio de carrinho de mãoColeta com apoio de carrinho de mãoColeta com apoio de carrinho de mão
COLETA ALTERNATIVA EXECUTADA com APOIO de CARRINHO de MÃO
Camarag ibe
268
Este equipamento é recomendado para executar a coleta em
escadaria ou em locais de alta declividade e de difícil acesso. O
bangüê é feito com a metade de um tonel de 200 litros de metal
ou plástico resistente, tendo nas suas extremidades cabos de apoio
para transportar o lixo, conduzido de forma suspensa por dois garis.
Coleta com apoio de bangüêColeta com apoio de bangüêColeta com apoio de bangüêColeta com apoio de bangüêColeta com apoio de bangüê
COLETA ALTERNATIVA EXECUTADA em ESCADARIA com APOIO de BANGÜÊ
pela EMLURB - Recife
O recolhimento do lixo é feito porta a porta
e levado para locais que permitem o acesso
aos caminhões de pequeno porte ou de
caminhões compactadores. Um bangüê tem
capacidade para conduzir 100 litros de lixo
por viagem.
Essa coleta pode ser executada com o
acondicionamento do lixo pelo gari, em sacos
plástico de 100 litros que são depositados
em logradouros para serem recolhidos pelo
caminhão coletor.
269
A reciclagem do lixo nos morros é uma saída para a redução de vasilhames PETs e outros materiais recicláveis, lançados e
acumulados sobre as encostas dos morros e levados para os canais, criando problemas para a drenagem das águas de chuva.
Reciclagem de l ixoReciclagem de l ixoReciclagem de l ixoReciclagem de l ixoReciclagem de l ixo
O custo da coleta do lixo domiciliar nas áreas de
morros é muito alto devido à baixa produtividade do
caminhão de coleta, além do que os resíduos gerados
não são coletados na sua totalidade. A disposição
irregular de lixo no ambiente leva à perda de receita,
uma vez que as empresas concessionárias recebem
de acordo com o peso do volume coletado. Pode ser
economicamente interessante criar um sistema
alternativo de coleta seletiva, operado pela própria
comunidade, de forma a ampliar a capacidade da coleta
desse material, ao mesmo tempo em que fomente um
programa de educação ambiental e de geração de
renda para a população nos morros.
VASILHAMES PET ACUMULADOS, OBSTRUINDO a DRENAGEM
Canal Lava-Tripa, Olinda
270
A experiência de coleta feita por garis comunitários consiste no estabelecimento de parceria entre as
empresas públicas, as concessionárias dos serviços de limpeza urbana e as associações de moradores, para
operar, de forma complementar, os serviços de coleta do lixo produzido na comunidade. Os garis, na sua
maioria mulheres da própria comunidade, são selecionados pela associação dos moradores e organizados
em cooperativas. Eles passam por um processo de capacitação em educação ambiental e gerência de
negócios e são remunerados pelos serviços prestados, além de receberem uma parcela da receita resultante
da comercialização dos materiais reciclados pela cooperativa. A presença dos garis comunitários permite
uma vigilância permanente, que tem contribuído para o aumento da quantidade de lixo recolhido nas
cidades que adotaram esse tipo de coleta, a exemplo de Santo André, em São Paulo, e da cidade do Rio
de Janeiro. Essa experiência já vem sendo desenvolvida na Região Metropolitana do Recife, no município
de Camaragibe, com êxito e aceitação pela comunidade, resultando na redução do volume de lixo jogado
nas encostas e nos logradouros.
A incorporação da coleta comunitária nos morros poderá significar menos lixo nas encostas e nas linhas
de drenagem, minimizando situações de risco.
Coleta comunitáriaColeta comunitáriaColeta comunitáriaColeta comunitáriaColeta comunitária
271
Roteiro para planejamento e operação da coleta do lixo
Definir a freqüência e horário de coleta.
Manter a regularidade da coleta domiciliar.
Definir a guarnição ou equipe de trabalhadores.
Estabelecer formas de comunicação com o objetivo de
mobilizar a comunidade para uma participação efetiva
no cotidiano da limpeza urbana.
Estabelecer os padrões e indicadores para controle
da qualidade na prestação dos serviços.
Acompanhar e avaliar sistematicamente a operação dos
serviços de coleta, buscando formas adaptadas a cada
localidade, e mais eficientes.
Delimitar as áreas a serem atendidas.
Zonear as áreas por tipo de coleta.
Estimar a população a ser atendida.
Estimar a geração e a composição do lixo.
Levantar as características topográficas.
Levantar o sistema viário urbano, o tipo de
pavimentação, a declividade das vias, o sentido
e intensidade do tráfego e as condições de acesso.
Definir o método da coleta, especificando e
mencionando os tipos de veículo coletores, os
equipamentos, a infra-estrutura para transbordo ou
transferência, a forma de utilização da mão-de-obra
e outros procedimentos operacionais.
Definir o tipo de recipiente a ser usado pela população
para acondicionamento do lixo.
Demarcar os pontos de confinamento do lixo.
Determinar e traçar em mapa indicando os roteiros
por setores de coleta e o número de viagens.
Sites para consulta: http://www.resol.com.br
http://www.recife.pe.gov.br
http:// www.ibam.org.br
CAPÍTULO 16Planejamento e Gestão
CAPÍTULO 17Gerenciamento de Risco
COMO GERENCIAR OS RISCOS NOS MORROS
PARTE
E
CAPÍTULO 16Planejamento e Gestão
Ações de planejamento e gestão 16. 1
Práticas de gestão 16. 2
Instrumentos técnicos de planejamento e gestão 16. 3
Instrumentos normativos de regulação da ocupação 16. 4
277
A estruturação urbana e a requalificação das áreas de morros devem ter por base um processo de
planejamento que permita promover uma consolidação urbanística capaz de elevar as condições da
habitabilidade para os moradores dessas áreas. A gestão urbana dos morros consiste no desenvolvimento
de atividades de natureza administrativa e operacional, orientadas por um conjunto de diretrizes para
evitar e minimizar os impactos gerados pelas práticas de ocupação das áreas de morros e pelos eventos
naturais. As intervenções ou tratamentos para a redução do risco de erosão e deslizamento de encostas
devem considerar a sua eficácia técnica e o seu alcance social, frente aos investimentos exigidos.
A gestão pública no âmbito da Região Metropolitana do Recife exige um processo de longo prazo para reverter a reprodução de
padrões de ocupação nos morros que levam à degradação dos espaços urbanos, ao comprometimento da qualidade do ambiente
natural e à geração de novas situações de risco para os seus habitantes. Por outro lado, algumas práticas de gestão em áreas
de morros merecem ser estimuladas e reproduzidas em outros municípios.
O planejamento para as áreas de morros deve considerar:
procedimentos de estruturação, requalificação e manutenção da rede urbana em conformidade
com as determinações estabelecidas nos instrumentos de política urbana.
AÇÕES DE ESTRUTURAÇÃO URBANA
AÇÕES DE PREVENÇÃO E RESPOSTA AOS ACIDENTES
procedimentos estratégicos para atuar na redução de desastres e após a sua ocorrência.
278
O município do Recife tem sido pioneiro na implementação de ações
inovadoras de gestão de morros. No entanto, mesmo com resultados
positivos em curto e médio prazos, essas ações foram sistematicamente
interrompidas pelas descontinuidades político-administrativas,
expondo a fragilidade do setor público para desenvolver ações que
exijam continuidade. A exemplo do Programa Parceria nos Morros,
que teve sua continuidade garantida pela boa aceitação junto à
comunidade, a Prefeitura do Recife criou, no início de 2001, o
programa Guarda-Chuva, cuja aceitação popular o credencia como
um modelo de gestão duradouro para áreas de morros. Esse
programa tem como eixos principais a ação integrada dos órgãos
da administração pública, com rebatimento nas áreas de morros
(obras, controle urbano, defesa civil, habitação, manutenção urbana);
a descentralização administrativa, com a criação de cinco “Estações”
nos morros para atendimento permanente à população; o
planejamento microrregional por localidades; o monitoramento
permanente das áreas de risco; a execução de pequenos serviços
que minimizem o risco, reduzindo a necessidade de grandes obras
de estabilização; e orientação à população para a mudança das
práticas nocivas à estabilidade das encostas.
O modelo de gestão nos morros que vem sendo
adotado pelo município de Camaragibe, centrado
num sistema de defesa civil permanente, apresenta
resultados positivos na redução do número de
acidentes. Priorizando investimentos em obras
estruturadoras e aplicando extensivamente a
so lução de r e ta ludamento a s soc i ado à
microdrenagem e plantio de gramíneas, a cidade
tem enfrentado invernos rigorosos com maior
tranqüilidade e com significativa redução no
número de ocorrências.
Experiências de planejamento e gestão em áreas de riscoExperiências de planejamento e gestão em áreas de riscoExperiências de planejamento e gestão em áreas de riscoExperiências de planejamento e gestão em áreas de riscoExperiências de planejamento e gestão em áreas de risco
279
16. 1 Ações de planejamento e gestão
Estabelecimento de políticas públicas de requalificação e reabilitação dos espaços urbanos.
Normatização dos requisitos de sustentabilidade ambiental e dos padrões de ocupação.
Adequação e fortalecimento dos instrumentos regulatórios e institucionais.
Comprometimento das administrações públicas na definição de prioridades e na alocação
de recursos financeiros, técnicos e de pessoal que assegurem a viabilização dos investimentos
necessários.
Implementação de medidas de mitigação e prevenção de desastres, buscando soluções
para se contrapor às ameaças de riscos.
Disponibilização de um sistema de informações técnicas e gerenciais, como suporte para
a tomada de decisões.
ATIVIDADES DE PLANEJAMENTO
Monitoramento, controle e fiscalização do uso e ocupação do solo, dos processos construtivos e das práticas cotidianas.
Produção de instrumentos técnicos para o conhecimento das realidades ambiental, urbanística e social das áreas de
morro e para a avaliação das formas e condições em que se dão as ocupações e os processos construtivos.
Produção de material de comunicação social para mobilizar e sensibilizar a população sobre o entendimento dos
fatores de risco e práticas de conservação.
ATIVIDADES DE GESTÃO
280
16. 2 Práticas de gestão
O caminho para a consolidação das práticas de gestão deve considerar e fortalecer as redes de solidariedade entre os moradores
dessas áreas, como forma de viabilizar um trabalho contínuo de estruturação do espaço, através da mudança das práticas que
levam à degradação ambiental e ao risco. Isso exige um trabalho de coordenação e articulação da estrutura administrativa,
com o envolvimento das comunidades dos morros, nos diagnósticos e propostas de intervenção.
Um arranjo institucional fortalecido, aliado ao esforço para a formação de recursos humanos capacitados para o trabalho nos
morros e à participação efetiva e consciente da população, parece ser a única forma de garantir um fio condutor para atravessar
as descontinuidades políticas no setor público.
Uma nova postura do setor público vem sendo reclamada nesse processo de consolidação dos espaços urbanos,com expressas reivindicações:
inclusão dos morros no planejamento da cidade;
implantação de práticas de gestão de proximidade;
adoção de mecanismos que assegurem a participação da populaçãoe a integração dos setores públicos;
disseminação de instrumentos de comunicação social voltados paraa conservação ambiental dos morros;
fortalecimento do sistema de defesa civil, tornando-o atualizado e
ágil, para ser compartilhado pelos diferentes setores envolvidos;
disponibilização de um sistema de informações gerenciais.
281
As intervenções públicas em áreas de morros usualmente ficam restritas à estabilização de algumas encostas, em função de demandas
isoladas, até onde os recursos financeiros permitirem. Entretanto intervir para a melhoria dos morros significa ir além da realização de
obras para reduzir o risco e evitar mortes e perdas materiais. Significa requalificar esses espaços para a melhoria da vida de seus
ocupantes, seguindo diretrizes de tratamento, reordenamento de áreas já ocupadas e de ocupação de novos terrenos nos próprios
morros, de modo que a ocupação se faça ordenada e segura, adequada às peculiaridades geológico-geotécnicas, topográficas e hidrológicas
do terreno, e atendendo às expectativas de seus moradores. Priorizar os morros é também qualificar a cidade metropolitana como um todo.
A acentuada carência de recursos públicos, que limita as ações, não impede que haja um esforço dos setores de planejamento para a
melhoria do nível de conhecimento do território municipal. Essa base de conhecimento técnico é um importante subsídio para a elaboração
de projetos de intervenção e um forte argumento nas discussões orçamentárias.
Inclusão dos morros no planejamento da cidadeInclusão dos morros no planejamento da cidadeInclusão dos morros no planejamento da cidadeInclusão dos morros no planejamento da cidadeInclusão dos morros no planejamento da cidade
ÁREA de MORRO DENSAMENTE OCUPADA
Zona Norte do Reci fe
282
Implantação de práticas de gestão de proximidadeImplantação de práticas de gestão de proximidadeImplantação de práticas de gestão de proximidadeImplantação de práticas de gestão de proximidadeImplantação de práticas de gestão de proximidade
abordagem espacializada em unidades de gestão, que deve ser o referencial físico para o planejamento
das áreas de morros;
implantação de comissões locais de acompanhamento de obras, visando monitorar a qualidade e as
condições de manutenção das obras de pequeno porte;
implantação da Comissão de Urbanização e Legalização, adaptando sua estrutura organizacional, com
base na experiência do PREZEIS, para tratar da regularização fundiária, considerando os instrumentos do
recente Estatuto da Cidade e dos planos urbanísticos, preferencialmente em escala de microbacia ou
unidade de coleta de saneamento. É também nessa escala que devem ser elaborados os instrumentos
normativos de uso e ocupação do solo, adaptados à diversidade das situações existentes nos padrões de
urbanização dos bairros de morros;
setorialização da ação da Defesa Civil e do Setor de Obras, implantando “estações” ou escritórios nos
morros, identificados pela população, pelos voluntários, pelos estudantes e pelos agentes de saúde como
locais de interação e de disponibilidade de informações sobre intervenções para redução do risco.
Para exercitar a gestão de proximidade, deve-se considerar:
As experiências de convivência nas áreas de morro mostram uma forte e direta interferência nas intervenções de cada
morador no lote do vizinho, cabendo uma gestão em regime de condomínio.
283
Uma estratégia global, que pode alcançar efeitos estruturadores, é ampliar
a participação da população nos processos decisórios da formulação, implementação
e avaliação da política urbana para os morros, possibilitando aos seus moradores
serem agentes e beneficiários de intervenções, utilizando-se de novos canais
como o Orçamento Participativo.
Adoção de mecanismos que assegurem a participação da populaçãoAdoção de mecanismos que assegurem a participação da populaçãoAdoção de mecanismos que assegurem a participação da populaçãoAdoção de mecanismos que assegurem a participação da populaçãoAdoção de mecanismos que assegurem a participação da populaçãoe a integração dos órgãos públicose a integração dos órgãos públicose a integração dos órgãos públicose a integração dos órgãos públicose a integração dos órgãos públicos
O a l cance de r e su l tados ma i s
consistentes exige que se traga, para a
formação de recursos humanos nas mais
diversas especializações, o conhecimento
específico sobre a cidade não formal,
suas demandas próprias de intervenção
e relações sociais. A formação de
competências especializadas para
atender a essa crescente demanda das
cidades levará as univers idades e
centros tecnológicos para o território
da efetiva integração institucional.
A urbanização ou requalificação dos morros não é responsabilidade exclusiva
das Secretarias de Obras e da Defesa Civil. A implantação/recuperação de redes
de infra-estrutura (acesso e drenagem) depende da integração dos setores
de planejamento, controle urbano, obras, ação social, defesa social, comunicação,
educação, saúde, serviços de limpeza urbana, saneamento, transporte,
administração e finanças. É indispensável uma atuação de forma articulada e
coordenada desses setores na construção de um programa comum e contínuo,
e medidas de prevenção e redução de desastres, buscando soluções para se
contrapor às ameaças de acidentes.
284
A comunicação social para a conservação ambiental e melhoria da habitabilidade é um importante mecanismo de mudança de
comportamento. Deve ser metodologicamente consistente, valorizando a cultura local e a produção artística como veículos de mensagens
de caráter mais utilitário, promovendo interação entre agentes públicos e famílias que moram em bairros de morros.
Comunicação social como instrumento da conservação ambiental dos morrosComunicação social como instrumento da conservação ambiental dos morrosComunicação social como instrumento da conservação ambiental dos morrosComunicação social como instrumento da conservação ambiental dos morrosComunicação social como instrumento da conservação ambiental dos morros e da segurança dos seus habitantes e da segurança dos seus habitantes e da segurança dos seus habitantes e da segurança dos seus habitantes e da segurança dos seus habitantes
mobilização e sensibilização por parte dos moradores de
áreas de risco para a discussão de práticas que se
recomendam, visando à conservação ambiental dos morros;
divulgação de processos e técnicas de
como ocupar os morros e construir neles;
estímulo à parceria entre órgãos públicos e
população na construção de soluções que
evitem a criação de situações de risco e
minimizem as já existentes.
É preciso que haja:
285
Fortalecimento do sistema de defesa civilFortalecimento do sistema de defesa civilFortalecimento do sistema de defesa civilFortalecimento do sistema de defesa civilFortalecimento do sistema de defesa civil
É fundamental fortalecer o sistema de defesa civil,
nas escalas municipais e metropolitana,
tendo em vista a realidade das emergências
e a capacidade desse setor de promover integração com outros setores
e de mobilizar a população.
A exemplo do que já ocorre em alguns municípios, o fortalecimento da Defesa Civil depende
da montagem de um sistema que responda por:
controle das ocupações e remoções das famílias em situações de risco;
pequenas obras corretivas;
intervenções mais amplas na escala das microbacias de drenagem;
requalificação urbanística das redes de infra-estrutura (drenagem e acesso) e produção habitacional;
ação permanente de defesa civil, inibindo práticas de degradação e monitorando os casos de maior risco.
286
Estratégia para o fortalecimento da Defesa Civil:
criar e/ou consolidar o setor da Defesa Civil nas estruturas públicas estadual e municipais, com mecanismosde articulação e integração metropolitana;
ampliar a capacidade sistêmica do setor, dotando-o de sistemas de informações integrados a outros municípios;
atualizar os cadastros imobiliários municipais, envolvendo nessa tarefa o setor de Controle Urbano.
Para que esse sistema possa efetivamente se estabelecer, há importantes investimentos a serem feitos no setor de
Controle Urbano da administração municipal, que deve ser ampliado e dotado dos instrumentos jurídicos necessários,
que lhes permitam atuar nos morros de modo rotineiro. O corpo técnico deve ser adequadamente treinado. O
envolvimento do Planejamento Urbanístico e do Setor de Obras, na busca de soluções habitacionais, trará o respaldo
desejado, reduzindo as pressões por ocupações em áreas de risco.
287
A disponibilização de informações técnicas e gerenciais é indispensável para orientar o bom desempenho da Defesa
Civil e para monitorar as intervenções urbanísticas em áreas de morros, quer para implantação de novas ocupações,
quer para requalificação de ocupações existentes, conhecimento do território e condições de sua ocupação.
Disponibil ização de um sistema de informações gerenciaisDisponibil ização de um sistema de informações gerenciaisDisponibil ização de um sistema de informações gerenciaisDisponibil ização de um sistema de informações gerenciaisDisponibil ização de um sistema de informações gerenciais
Geológicas unidades litológicas, texturas e estruturas
Morfológicas topografia e dinâmica do relevo
Pedológicas tipos e evolução dos solos
Geotécnicas tipos e processos de instabilizações
Risco Geológico fatores de suscetibilidade e vulnerabilidade
Hidrológicas drenagem superficial, características da microbacia,gradiente hidráulico, superfície piezométrica,características hidrogeológicas
Meteorológicas dados climáticos, previsão do tempo, rede de pluviômetros
Biológicas cobertura vegetal, áreas de proteção e reservas ambientais
INFORMAÇÕES URBANÍSTICAS E SOCIAIS
Zoneamento Urbano
Ocupação do Solo
Redes de Equipamentos e Serviços Urbanos
Cadastro Imobiliário
Indicadores de Densidade de Ocupação
Indicadores de Desempenho Espacial
Indicadores Ambientais
Indicadores de Desenvolvimento Humano
INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS
Diretrizes e Prioridades
Programas e Projetos de Intervenções
Atendimento de Serviços Públicos
INFORMAÇÕES GEOAMBIENTAIS
288
16. 3 Instrumentos técnicos de planejamento e gestão
Microbacias são unidades menores de uma bacia hidrográfica, que abrangem uma sub-rede do sistema
fluvial escolhida em função da escala de observação ou de trabalho. A escala 1:10.000 é recomendada
para o planejamento municipal, enquanto 1:2.000 se presta bem para intervenções e obras.
A delimitação das microbacias permite separar unidades fisiográficas completas, que respondem
pela formação do relevo, pela dinâmica das águas e, conseqüentemente, pelo balanço das massas
de solo envolvidas nos processos superficiais. Representam uma importante ferramenta para o
planejamento do espaço (urbano ou rural), devendo constar dos Planos Diretores Municipais,
orientando o uso e a ocupação do solo.
A definição das microbacias é feita a partir de carta planialtimétrica da área de intervenção, ligando-se
os pontos mais elevados do relevo, que correspondem aos divisores de água, envolvendo a rede de
drenagem escolhida. Pode ser facilmente executado por técnicos que dominem a leitura de cartas
topográficas.
Mapa das microbacias de drenagemMapa das microbacias de drenagemMapa das microbacias de drenagemMapa das microbacias de drenagemMapa das microbacias de drenagem
289
As águas que escoam superficialmente sobre os terrenos
organizam-se em uma rede de drenagem natural
(rede hidrográfica), em função da gravidade. Assim,
linhas de drenagem são necessariamente linhas de maior
declividade de um terreno, que convergem para os
pontos mais baixos, agrupando-se e reduzindo-se em
número, até formar o rio (ou riacho) principal. A área
que abrange toda essa malha convergente, desde as
ravinas das cabeceiras até a desembocadura desse rio
ou riacho, é a bacia hidrográfica.
O mapa de microbacias tem um papel destacado no
planejamento das intervenções urbanísticas e na
definição das obras nas áreas de morros, onde a
ocupação promove bruscas mudanças no relevo e,
conseqüentemente, nas suas relações com os processos
naturais associados à infiltração e escoamento das
águas. Uma ferramenta que melhora em muito a
visualização da rede de drenagem e do relevo é a
foto interpretação (visão 3D do terreno, a partir de
pares de fotograf ias aéreas, com o auxí l io de um
estereoscópio ).
DELIMITAÇÃO de MICROBACIA em PLANTA PLANIALTIMÉTRICA
MODELO de BACIA HIDROGRÁFICA
Extraído de www.ana.gov.br/Bacias/bacias.htm, em 24.11.2001
limite da microbacia
290
Recomendações
As cabeceiras de drenagem, particularmente as ativas (onde está acontecendo a erosão) deverão ser tratadas em
primeiro lugar, para evitar que obras a jusante sejam destruídas ou danificadas. De um modo geral, os tratamentos
em uma microbacia devem considerar a chegada das linhas d’água até o centro ou base do sistema (desembocadura).
As intervenções em uma microbacia, mesmo que localizadas ou parciais, devem ser concebidas de forma estruturadora,
com a visão de conjunto dos processos naturais e induzidos que ali atuam. Assim, o conjunto das obras e serviços deve
ter complementaridade, de modo a permitir a estabilização da área como um todo, à medida em que puder ser
executado, de acordo com as disponibilidades financeiras.
Exemplo de MICROBACIAS em ÁREAS OCUPADAS
Sít io do Rosár io
microbaciasdivisores d’água
291
A carta geotécnica classifica os diversos tipos de litologias e solos,
bem como suas principais características diante das possibilidades
de uso urbano. Caracteriza-se pela divisão do território em unidades
homogêneas denominadas Unidades Geotécnicas, que expressam
comportamentos gerais do espaço representado. Depende de
informações intermediárias, oriundas dos mapas geológico,
geomorfológico, hidrológico, pedológico, de cobertura vegetal e de
ocupação e uso do solo, bem como de ensaios para caracterização de
solos, nível de saturação, permeabilidade, entre outros. É usualmente
produzida na escala municipal (1:10.000 a 1:25.000), a depender das
dimensões do território, e utiliza informações diretas (dados de campo
e sondagens) e indiretas (dados secundários, correlações e extrapolações).
Suas informações não dispensam estudos de detalhe e ensaios
específicos quando da elaboração de projetos executivos para a
execução de obras. Tem um importante papel no planejamento da
cidade, permitindo estabelecer recomendações técnicas para prevenir
problemas potenciais e corrigir os já desencadeados, definir áreas
com restrições e problemas para fundações, e orientar a formulação
de leis para a ocupação e o controle do espaço urbano.
Carta geotécnicaCarta geotécnicaCarta geotécnicaCarta geotécnicaCarta geotécnica
Exemplo de CARTA GEOTÉCNICA
Unidade VII
Unidade IX
Unidade X
Unidade IV
Unidade IUnidade VI
292
Os mapas de risco são elaborados em função da
modalidade de risco que se pretenda anal isar,
preferencialmente numa escala de semidetalhe
(1:10.000 a 1:25.000). Assim poderão ser produzidos
mapas de risco de deslizamentos, risco de erosão, risco
de inundações, algumas vezes combinando mais de uma
modalidade de risco, quando a superposição não
comprometer a clareza do mapa.
Mapa de riscoMapa de riscoMapa de riscoMapa de riscoMapa de risco
O mapa de risco mostra os graus de risco atribuídos às áreas ocupadas dos morros, com base na análise dos
fatores de suscetibilidade e de vulnerabilidade agrupados como fatores geológicos, morfológicos, climáticos,
hidrológicos e antrópicos. Os dados obtidos através de levantamento de campo são integrados pela aplicação
de modelos qualitativos e/ou quantitativos, sendo as áreas hierarquizadas em função do grau de risco
(Gusmão Filho et al., 1993).
Exemplo de MAPA de RISCO
risco baixo
risco médio
risco alto
risco muito alto
293
O mapa de risco é um importante instrumento para o planejamento
urbano. O conhecimento prévio pelo poder público das áreas mais críticas,
ou mais suscetíveis aos fenômenos de erosão e deslizamentos, permite
planejar formas de ocupação menos agressivas, impedir a ocupação de áreas
perigosas, priorizar investimentos públicos nas áreas de morros, captar recursos
com base em argumentos técnicos e negociar prioridades de intervenções
com a comunidade, também sob essa ótica.
O mapa de risco deve conter:
fatores de SUSCETIBILIDADE (S),que expressam a maior ou menor probabilidade de acontecer um acidente naquele tipo de ambiente
físico;
fatores de VULNERABILIDADE (V),que expressam a probabilidade de perdas por ocasião de um acidente.
Esses dois fatores, suscetibilidade e vulnerabilidade, são diretamente proporcionais ao risco.
Quando se somam à alta suscetibilidade do terreno com a alta vulnerabilidade da ocupação,
têm-se as situações mais críticas de RISCO (R).
R = f (S x V)R = f (S x V)R = f (S x V)R = f (S x V)R = f (S x V)
294
Mapa de decl ividadeMapa de decl ividadeMapa de decl ividadeMapa de decl ividadeMapa de decl ividade
O mapa de declividade, também traçado a partir da carta topográfica, possibilita a delimitação,
em planta, de trechos do terreno cujas declividades se situam em faixas recomendáveis para
ocupação, bem como aquelas que devem ser preservadas (Cunha, 1991) .
Exemplo de MAPA de DECLIVIDADES
5 - 10%
30 - 46%
0 - 5%
46 - 100%
Topos
10 - 30%
295
Os mapas de declividade poderão ser produzidos
em diferentes escalas, em função de sua aplicação:
as escalas entre 1:10.000 e 1:25.000 têm aplicação
no planejamento municipal, permitindo estabelecer
as principais limitações para o uso e ocupação do
solo. Entretanto, para os licenciamentos e para a
montagem de projetos, a escala 1:2.000 tem-se
mostrado bem mais adequada. Dependendo do tipo
adotado, deverão ser escolhidos os intervalos de maior
interesse e que expressem as limitações de uso.
20% inclinação máxima longitudinal (greide) recomendada para as
vias de circulação de veículos pesados (ônibus, caminhões);
30% inclinação máxima longitudinal (greide) admitida para as vias
coletoras, em casos especiais, sendo tolerada, em casos excepcionais
e em trechos de até 50m de extensão, inclinação de até 50%;
30% declividade máxima prevista em lei para ocupação de encostas,
sem projetos especiais;
30% inclinação máxima longitudinal (greide) admitida para as vias
locais e de acesso a serviços essenciais (ambulância, bombeiros), desde
que os trechos acima de 30% não excedam a extensão de 100m;
50% declividade máxima para ocupação; exige projetos especiais;
a ocupação só se pode dar em terrenos em que as condições
geológico-geotécnicas permitam edificações, e para assentamentos
habitacionais de interesse social, mediante apreciação técnica que ateste
a viabilidade do parcelamento, por parte do órgão municipal competente.
INTERVALOS PARA MAPAS DE DECLIVIDADES
escala de projetoescala municipal
acima de 50%
0 - 30%30 - 50%
acima de 50%
0 - 5%
20 - 30%30 - 50%
5 - 20%
296
O mapa dos pontos de risco registra as diversas situações de possíveis acidentes na área, analisadas ou
vistoriadas pelo órgão de Defesa Civil responsável pelo território. Devem ser distinguidos na legenda os pontos
que se referem a risco alto ou iminente, com o fim de chamar a atenção para as áreas onde pode acontecer um
acidente a qualquer momento.
A escala adequada varia em função da densidade de pontos de risco. Nas áreas mais problemáticas, a visualização
dos pontos exige uma escala de detalhe, entre 1:2.000 e 1: 5.000. Por outro lado, é importante lançar esses pontos
na escala municipal, expressando assim as áreas onde se deu maior concentração de situações de risco. Essa
transposição de escala será bastante facilitada se os dados estiverem em meio digital e geo-referenciados .
Esse mapa deve estar intimamente associado a um cadastro dos pontos de risco que deve conter os principais
elementos da Ficha de Vistoria preenchida no local, pelo técnico responsável. A continuidade histórica desses
registros, e a sua atualização permanente, embasa a análise de risco e permite atualizar o mapa sempre que um
daqueles pontos, após o tratamento, deixe de oferecer risco e passe a ser considerado um local seguro.
As faixas mais perigosas dos terrenos, mesmo aquelas que ainda não foram ocupadas, também deverão constar
nele, refletindo assim as situações mais críticas a serem enfrentadas pelos técnicos. Essas faixas, denominadas
de áreas não edificáveis, assim definidas por critérios técnicos que estabeleçam os recuos mínimos das edificações
em relação à crista e ao pé dos taludes, deverão ser objeto de monitoramento permanente, intensificado no
período das chuvas, ficando as edificações sujeitas a remoções temporárias ou definitivas, de acordo com o
equacionamento do problema habitacional.
Mapa dos pontos de riscoMapa dos pontos de riscoMapa dos pontos de riscoMapa dos pontos de riscoMapa dos pontos de risco
297
Apesar da sua importância para a análise de risco, estes dados não vêm sendo lançados no sistema
de informações do município, dificultando o gerenciamento do risco. Por ocasião das mudanças de
administração municipal, o que na Região Metropolitana do Recife acontece pouco tempo antes de um
período de chuvas, é indispensável a disponibilização desses dados para os novos gestores. Essa
descontinuidade tende a desaparecer à medida que o sistema de informações fica mais consistente
e compartilhado com outros órgãos e setores técnicos, e com os próprios habitantes dessas áreas.
Exemplo de MAPA com PONTOS de RISCO
risco médio
risco alto
298
O levantamento das características geológico-geotécnicas e
topográficas da área de intervenção deve ser feito através de:
base cartográfica – UNIBASES, ortofotocartas
(cartas altimétricas com base em fotos aéreas restituídas)
apoiada por fotografias aéreas mais recentes;
levantamento de campo para complementação das
informações, identificação do sistema viário formal e
informal, e dos elementos de risco, com indicação do
tratamento necessário para cada caso.
Mapa de ocupaçãoMapa de ocupaçãoMapa de ocupaçãoMapa de ocupaçãoMapa de ocupação
Exemplo de MAPA de OCUPAÇÃO
Devido à grande dinâmica de cortes e aterros nos morros, não se recomenda
o levantamento topográfico completo, que além de dispendioso sofre rápida
desatualização.
O mapa de ocupação apresenta as áreas mais adequadas para uso urbano,
destacando os espaços que exigem menor investimento com obras suplementares
de contenção, mantendo-se os padrões de segurança necessários.
ZEU zona de expansão urbana
ZMD zona de média densidade
ZPA zona de preservação ambiental
ZPA
ZMD
ZEU
299
O mapa de remoções identifica as edificações que devem ser removidas por estarem situadas em áreas de risco alto
ou iminente. Algumas situações de risco podem ser resolvidas com remoções de parte das edificações existentes na
área de intervenção, especialmente aquelas situadas na borda dos taludes, ou mesmo com a remoção de muros ou
cercas. A remoção parcial dessas edificações pode, também, ser efetuada para desadensar regiões dentro da área de
intervenção, em que a sua proximidade provoca um ambiente insalubre, ou impede a implantação das redes de abastecimento
d’água, esgotamento sanitário, microdrenagem e acessos viários.
Mapa de remoçõesMapa de remoçõesMapa de remoçõesMapa de remoçõesMapa de remoções
SITUAÇÕES PARA REMOÇÃO
Risco de deslizamento de barreirasCasas ameaçadas por deslizamento de taludes de corte muito íngremes
e por aterros na borda da encosta.
Risco de desmoronamento de edificaçõesCasas com problemas estruturais, com fissuras ou fendas, paredes inclinadas,
decorrentes ou não da instabilidade do lugar.
Insalubridade das edificaçõesCasas que apresentem condições insuficientes de iluminação e ventilação,
coladas umas às outras, sem espaço para expansão.
Reparcelamento
Casas implantadas de forma desordenada impedindo a redefinição dos lotes,
sem a preocupação com os acessos, que formam “teias” complexas,
dificultando o reordenamento da área.
DesadensamentoAdensamento pondo em risco a estabilidade da encosta, com casas
construídas muito próximas umas das outras, deixando a encosta instável.
Implantação das redes de infra-estrutura
Algumas casas impedem a circulação na área e dificultam a implantação
das redes de abastecimento d’água, esgotamento sanitário, microdrenagem
e acessos viários.
300
Mapa fundiárioMapa fundiárioMapa fundiárioMapa fundiárioMapa fundiário
O mapa fundiário complementa os diversos
mapeamentos da área de intervenção, quando
ela inclui a regular ização fundiár ia dos
moradores. Delimitando as relações dominiais
existentes na área de intervenção, esse mapa
subsidia a definição dos instrumentos legais
necessários para a legalização da área.Exemplo de MAPA FUNDIÁRIO
301
Um dos requisitos fundamentais para intervenções em áreas de morros é a observância dos instrumentos normativos que
restringem a ocupação nessas áreas.
As normas urbanísticas contidas nas legislações federal, estadual e municipal em vigor têm se apresentado, de certo
modo abrangentes e com tendência homogeneizadora, no trato das áreas de morros.
No caso de empreendimentos ou intervenções que envolvem habitações de interesse social, as exigências normativas, na
sua maioria, estabelecem parâmetros que, na prática, são transgredidos pela ocupação espontânea. Para a solução desse
conflito, o poder público deve-se responsabilizar pelo estabelecimento de normas especiais de urbanismo e simplificação
na legislação de parcelamento de uso e ocupação do solo, facilitando, assim, o enquadramento das construções informais,
possibilitando a redução dos custos de construção e o aumento da oferta de lotes e unidades habitacionais (Oliveira, 2001).
16. 4 Instrumentos normativos de regulação da ocupação
302
LEGISLAÇÃO FEDERAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS
Lei n.º 6.766/79modificada pela Lei n.º 9.785/99
Parcelamento do soloem zonas urbanas
ou de expansão urbana
Lei n.º 4.771/65Código florestal
modificado pela Lei n.º 7.803/99
O parcelamento em encostas não é permitido em terrenos com declividade igual ou superiora 30%, salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; em terrenosonde as condições geológicas desaconselhem a edificação; em áreas de preservação ecológicaou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção(artigo 3º incisos II, III, IV e V );
as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamentos urbano e comunitário,bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupaçãoprevista pelo Plano Diretor, ou aprovada por Lei municipal para a zona em que se situem(artigo 4º inciso I, parágrafo 1º );
os lotes terão área mínima de 125m2 e frente mínima de 5m, salvo quando a legislação estadualou municipal determinar maiores exigências, ou quando o loteamento se destinar à urbanizaçãoespecífica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovadopelos órgãos competentes(artigo 4º inciso II );
as vias de loteamento deverão se articular com as vias adjacentes oficiais, existentes ou projetadas,e harmonizar-se com a topografia do local(artigo 4º inciso IV ).
Considera de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação naturalsituada nas encostas ou parte destas, com declividade superior a 45%, equivalente a 100% dalinha de maior declive, nas bordas dos tabuleiros, a partir da linha de ruptura do relevo, emfaixa nunca inferior a 100 metros, em projeção horizontal. No caso de áreas urbanas e nasregiões metropolitanas, observar-se-á o disposto nos planos diretores e leis de uso do solo,respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo(artigo 2º alíneas e e g, parágrafo único ).
303
CONTINUAÇÃOLEGISLAÇÃO FEDERAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS
Lei n.º 10.257/2001Estatuto da cidade
Estabelece normas para proteger as águas que correm natural ou artificialmente no subsolo,ou que escoam na superfície do solo, especialmente as nascentes e as cabeceiras de drenagem.
Estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade em proldo bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental;a regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda deve se darmediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação,consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais(artigo 2º inciso XIV).
aquele que possuir como sua, área ou edificação urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados,por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural(artigo 9º ).
Decreto n.º 24.643/34Código das águas
304
LEGISLAÇÃO ESTADUAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS
Lei n.º 9.990/87Anuência prévia
Decreto n.º 7.246/81Licenciamento de projetos
Decreto n.º 7.269/81Ocupação territorial
Lei n.º 9.860/86Proteção de mananciais
Lei n.º 9.989/87Reservas ecológicas da
Região Metropolitana do Recife
Lei n.º 11.206/95Política florestal
do Estado de Pernambuco
Estabelece normas para concessão de anuência prévia, pela autoridade metropolitana, à aprovaçãopelos municípios da Região Metropolitana do Recife, dos projetos de parcelamento do solo parafins urbanos, na forma do artigo 13 da Lei Federal n.º 6766/79.Estabelece normas para a ocupação de áreas com declividade superior a 30%.(artigo 14, incisos I e II, parágrafos 1º e 2º ).
Estabelece diretrizes e procedimentos de atuação do Estado na Região Metropolitana do Recife,para a organização da ocupação territorial metropolitana.
Estabelece a participação da CPRH no processo de licenciamento de projetos de loteamento doEstado de Pernambuco, no que se refere às soluções de drenagem, abastecimento d’água, esgotamentosanitário e limpeza urbana, capazes de apresentar riscos de emissão de efluentes poluidores.
Estabelece normas de parcelamento, uso e ocupação das áreas de proteção ambiental e definecondições de preservação dos recursos hídricos(artigo 9º a 14 );
devem ser preservados: os talvegues formadores de rede hidrográfica, com declividade maiorque 30%, bem como as bordas dos tabuleiros. As áreas de reservas florestais ou biológicas situadastotal ou parcialmente nas áreas protegidas das bacias hidrográficas(artigo 6º incisos IV e V ).
Estabelece condições gerais de utilização e manejo, com restrições: ao parcelamento para finsurbanos e de ocupação com edificações; ao desmatamento e à remoção da cobertura vegetal àmovimentação de terras, bem como à exploração de pedra, areia, argila, cal, ou qualquer espécie(artigo 3º incisos I, II e III ).
São consideradas de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetaçãosituadas: nos topos dos morros, montes e montanhas; nas encostas ou partes destas; nas bordas detabuleiros ou chapadas(artigo 9º inciso IV,V, VI e X ).
305
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS - Recife
A política de produção e organização do espaço urbano será orientada pelos seguintesobjetivos: ...dar prioridade e garantir o tratamento urbanístico das Zonas Especiais de InteresseSocial – ZEIS(artigo 13 inciso VII );
as áreas especiais de urbanização serão objeto de estudo específico na legislação de uso e ocupaçãodo solo, quanto aos coeficientes de aproveitamento e controle urbanístico, compreendendo:Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS ... e áreas de Programas Habitacionais(artigo 35 incisos I e III );
as Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS – são áreas de assentamentos habitacionaissurgidas espontaneamente, existentes, consolidadas ou propostas pelo Poder Público noqual o interesse jurídico da posse da terra, a identificação dos assentamentos habitacionaiscom ocupação irregular serão objeto de legislação de uso e ocupação do solo(artigo 36 );
as áreas de Programas Habitacionais são aquelas em que o Município deve implantar ações deurbanização, construção de residências e equipamentos públicos que atendam preferencialmentea população a ser relocada por estar assentada em áreas de risco, leitos de canais e córrego eáreas públicas...(artigo 38 );.
o programa de reestruturação e renovação urbana será implantado em áreas ...de morros,compreendendo as unidades urbanas ... que deverão conter as operações urbanísticas, visandoassegurar a contenção de encostas nas áreas de risco, controle de erosão e drenagem, a segurançadas habitações, o ordenamento do sistema local de transporte, o saneamento básico e o controleambiental, de acordo com a realidade do meio físico e social da área(artigo 47 inciso IV );
o programa de estruturação urbana será implantado em áreas ...que devem ser integradas aotecido urbano através ...do uso habitacional e de ações que assegurem o equilíbrio ambiental...constituído pelo projeto de estruturação e consolidação habitacional nas áreas de risco queincluam contenção de encostas, controle de erosão e drenagem(artigo 48 inciso II ).
Lei n.º 15.547/91Plano Diretor
de desenvolvimentoda cidade do Recife
306
CONTINUAÇÃOLEGISLAÇÃO MUNICIPAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS - Recife
O território municipal compreende as seguintes zonas ...Zona de Urbanização de Morros - ZUM(artigo 7º inciso II );
a Zona de Urbanização de Morros – ZUM – é constituída de áreas que, pelas suas característicasgeomorfológicas exigem condições especiais de uso e ocupação do solo de baixo potencialconstrutivo(artigo 11 );
as Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS – são áreas de assentamentos habitacionais depopulação de baixa renda, surgidos espontaneamente, existentes, consolidados ou propostospelo Poder Público, em que haja possibilidade de regularização fundiária(artigo 17 );
para o reconhecimento de ZEIS pelo poder público será necessário o cumprimento dosseguintes requisitos – ter uso predominantemente habitacional, apresentar tipologia depopulação com renda familiar média igual ou inferior a 3 (três) salários mínimos; tercarência ou ausência de infra-estrutura básica; possuir densidade habitacional inferior a 30residências por hectare; ser passível de urbanização(artigo 17 parágrafo 2º );.
a urbanização e a regularização das ZEIS obedecerão às normas estabelecidas no Plano deRegularização das Zonas Especiais de Interesse Social – PREZEIS, aplicando-se, no quecouber, as condições de uso e ocupação do solo previstas nesta Lei(artigo 18 );
as áreas especiais de regularização correspondem às ZEIS, onde o município promoveráações de urbanização, regularização e titulação das áreas ocupadas pela população de baixa renda(artigo 30);
as condições de ocupação do solo e a taxa de ocupação do solo nas ZEIS obedecerão a parâmetrosespecíficos definidos em plano urbanístico elaborado para cada ZEIS pelo órgão municipalresponsável pela urbanização, com a participação das instâncias de gestão das ZEIS(artigo 93);.
o Plano Urbanístico elaborado para cada ZEIS promoverá a regularização fundiária e estabeleceránormas para urbanização de cada ZEIS, integrando-a à estrutura urbana e do entorno, epossibilitando o controle urbanístico(artigo 93 parágrafo único).
Lei n.º 16.176/96Uso e ocupação do solo
da cidade do Recife
307
CONTINUAÇÃOLEGISLAÇÃO MUNICIPAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS - Recife
As vias de pedestres deverão apresentar as seguintes inclinações máximas: 40% (quarenta por cento)quando construírem escadaria e 15% (quinze por cento) quando construírem rampas(artigo 26 incisos I e II );
são faixas non aedificandi ...os terrenos que contenham fundo de vale, numa faixa de 20 metros delargura, de cada lado do eixo do talvegue(artigo 46 inciso III );
nos projetos de loteamento de terreno com declividade superior a 10% (dez por cento),deverá ser reservada uma faixa non aedificandi destinada à implantação dos serviços de escoamentod’água, de acordo com os critérios estabelecidos pelos órgãos competentes do Estado e/oudo Município(artigo 47 );
a parte do terreno que apresentar declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento) seráreservada para fins non aedificandi ...e poderá ser tratada com terraplenagem, na forma econdições estabelecidas pelos órgãos competentes no Município e/ou do Estado, não podendoessa terraplenagem exceder a 35% (trinta e cinco por cento) da aludida faixa(artigo 48 parágrafo único );
é proibida a terraplenagem de terrenos com declividade igual ou superior a 60% (sessenta por cento)(artigo 49 ).
Lei n.º 16.286/97Parcelamento do soloda cidade do Recife
308
A paisagem urbana do Recife é a fisionomia assumida pelo ecossistema original da cidade, noprocesso coletivo de sua criação e expressão em uma contínua evolução de ambientes e perfis,dispostos ao longo do tempo e do espaço, resultantes das construções, dos vazios, da presença davegetação e dos movimentos de pessoas e coisas ...nos morros...(artigo 8º incisos XXXII );
dependerá de prévia autorização da SEPLAM a movimentação de terra, a qualquer título, quandoimplicar sensíveis degradações ambientais, incluindo modificações indesejáveis da cobertura vegetal,erosão, assoreamento ou contaminação de coleções hídricas, poluição atmosférica ou descaracterizaçãosignificativa da paisagem(artigo 24 );
para qualquer movimento de terras deverão ser previstos mecanismos de manutenção da estabilidadedo talude, rampas e platôs, de modo a impedir a erosão e suas conseqüências(artigo 25 );
o aterro ou desaterro deverá ser seguido de reposição, ou recomposição do solo, bem como do replantioda cobertura vegetal, para assegurar a contenção do carreamento pluvial dos sólidos(artigo 25 parágrafo 2º );
são prioritárias para as ações de implantação e manutenção do sistema de drenagem as áreas que indiquema existência de problemas de segurança, que afetem o serviço e o meio ambiente(artigo 26 parágrafo único );
a manutenção do sistema de drenagem inclui a limpeza e desobstrução da malha de macro e microdrenageme as obras civis de recuperação dos elementos físicos construídos, visando a melhoria das condiçõesambientais(artigo 28 );
o sistema de esgotamento sanitário, inclusive tratamento final dos efluentes, nas ZEIS, deverá serdefinido nos respectivos projetos urbanísticos, respeitadas as normas legais e regulamentos pertinentes(artigo 32 parágrafo 2º );
são definidas como de preservação permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural,em conformidade com o código florestal, suas alterações e complementos, situadas....no topo demorros..., assim como nas suas encostas ou parte destas com declividade superior a 45%(artigo 75 parágrafo 1º inciso IV );
consideram-se objeto de proteção imediata os seguintes espaços, ambientes e recantos detentores detraços típicos da paisagem recifense ...áreas de amenidade, reconhecidas como recinto agradável einteressantes ao convívio social, dadas as características da composição, do dimensionamento e davizinhança(artigo 86 inciso V );
o município desenvolverá campanhas educativas alertando as comunidades sobre problemassocioambientais globais e locais(artigo 95 parágrafo 2º ).
CONTINUAÇÃOLEGISLAÇÃO MUNICIPAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS - Recife
Lei n.º 16.243/96Código do meio ambiente edo equilíbrio ecológico da
cidade do Recife
309
Estabelece as condições para criação de Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS – e dispõe sobre o Plano de Regularizaçãodas Zonas Especiais de Interesse Social – PREZEIS, fixando normas, procedimentos e estrutura de gestão concernenteàs ZEIS, com a finalidade de proceder sua urbanização e regularização fundiária, integrando-as à estrutura urbana da cidade(artigo 1º );
poderão ser consideradas ZEIS: os assentamentos habitacionais consolidados de baixa renda, surgidos espontaneamentee carentes de infra-estrutura básica e as áreas destinadas a programas habitacionais de interesse social(artigo 2º incisos I e III );
em função da tipicidade da ocupação local definida no projeto de urbanização e regularização fundiária da respectiva área,o lote máximo a ser considerado para as ZEIS é de 250m2, devendo a área que exceder ao limite traçado ser desmembrada,podendo resultar em um novo lote com área mínima de 40m2, complemento de outro lote, desde que não exceda a 250m2,em área pública ou área verde(artigo 9º parágrafo único inciso I e III );
o lote mínimo a ser considerado para as ZEIS é 18m2 .os lotes com área inferior ao mínimo traçado no plano urbanístico específico de cada ZEIS, localizados em áreasnon aedificandi , serão objeto de relocação, preferencialmente para áreas adjacentes, através de soluções negociadas coma comunidade nos canais institucionais do PREZEIS(artigo 10 caput e parágrafo 3º );
os novos lotes resultantes dos planos urbanísticos ou de remoção deverão ter área mínima de 40m2
(artigo 11 );
os lotes destinados à implantação de equipamentos urbanos poderão exceder o limite do lote máximo de 250m2
(artigo 12 );
a Comissão de Urbanização e Legalização – COMUL – é o espaço privilegiado para discussão e deliberação acerca dosprojetos de urbanização e regularização jurídica a serem desenvolvidos pelos Executivos Municipais nas respectivas ZEIS(artigo 27 );
são atribuições das COMUL ...definir prioridade ...coordenar e fiscalizar a elaboração e execução dos planos de urbanização e regularização fundiária...dirimir os conflitos referentes à urbanização e regularização fundiária ...viabilizar a participação da população nas diversas etapas dos processos de urbanizaçãoe regularização fundiária ...elaborar parecer de encerramento a ser apresentado ao Fórum do PREZEIS, o qual extinguirá a COMUL.(artigo 29 incisos I,II,III,IVe V );
são atribuições do Fórum do PREZEIS ...promover debates, encontros e seminários de capacitação sobre temas relacionados com o PREZEIS; geriro fundo do PREZEIS; articular, junto aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a solução das questões pertinentes às ZEIS; solicitar .. a criação e extinçãodas COMULs; ...(artigo 35 );
fica instituído o Fórum do PREZEIS, espaço institucional de articulação e deliberação dos segmentos que integram o PREZEIS(dois representantes de cada ZEIS com COMUL instalada; um representante de cada ZEIS sem COMUL instalada; quatro representantes das entidades geraisdo movimento popular; dois representantes de entidades de pesquisa; dois representantes de entidades profissionais; um representante da Câmara de Vereadoresdo Recife, seis representantes da Empresa de Urbanização do Recife – URB-Recife, um representante da Secretaria de Políticas Sociais; um representante daSecretaria de Planejamento Urbanismo e Meio Ambiente, um representante da Secretaria de Finanças, um representante da Secretaria de Assuntos Jurídicose Administrativos; um representante da EMHAPE; e um representante de cada organização não governamental integrante do PREZEIS )(artigo 36 ).
Lei n.º 16.113/95PREZEIS
que modifica as Leis n.º 15.870/94
e n.º 14.947/87
CONTINUAÇÃOLEGISLAÇÃO MUNICIPAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS - Recife
310
CONTINUAÇÃOLEGISLAÇÃO MUNICIPAL INCIDENTE SOBRE ÁREAS de MORROS - Recife
Estabelece o funcionamento das plenárias; da coordenação e das câmaras consultivas deurbanização, legislação, orçamento e finanças, instâncias consultivas e de caráter técnico quetêm como finalidade subsidiar o Fórum do PREZEIS.
Decreto Municipal n.º 17.595/97
Regulamenta o funcionamentodo PREZEIS
Decreto Municipal n.º 17.595/97
Regulamenta o funcionamentodas Comissões de Urbanização
e Legislação das ZEIS
Lei n.º 15.790/97Institui e Regulamenta o
Fundo do PREZEIS
Institui o Fundo do PREZEIS que se constituirá em um instrumento da política urbana parapermitir a captação e gestão de recursos destinados às ações previstas no Plano de Regularizaçãodas Zonas Especiais de Interesse Social da Cidade do Recife(artigo 1º ).
Estabelece o funcionamento das plenárias; das Comissões de Urbanização e Legislação das ZEIS.
Lei n.º 16.838/03Torna obrigatória a colocação
de placa de interdição, comproibição de uso, nas áreas
consideradas de risco
Obriga a Prefeitura da Cidade do Recife a afixar placa de interdição, com proibição de usohabitacional ou de qualquer título, nas áreas consideradas de risco, após realização de períciapelos órgãos competentes (artigo 1º );
o órgão fiscalizador do uso e ocupação do solo, realizará regularmente a vistoria dos imóveisinterditados, a fim de verificar a conservação e manutenção de placas de interdição e de uso(artigo 2º );
os imóveis interditados só serão liberados para uso, após a realização de obras de restauração desegurança do local, nos casos em que estas forem possíveis, seja por iniciativa ou obrigação doserviço público, ou de particular (artigo 3º );
sanadas as razões da interdição, o Poder Executivo deverá adotar ou permitir medidas deocupação tecnicamente possíveis ou, em caso contrário, realizar ações de isolamentos queevitem em definitivo a reocupação das áreas sem condição técnica de segurança, após realizaçãode perícia pelos órgãos competentes (artigo 3º ).
CAPÍTULO 17Gerenciamento de Risco
Organização da Defesa Civil 17. 1
Procedimentos para a gestão do risco 17. 2
Ações permanentes de Defesa Civil em áreas de morros 17. 3
Plano Preventivo de Defesa Civil - PPDC 17. 4
313
17. 1 Organização da Defesa Civil
Defesa civil é um conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais, reabilitadoras
e reconstrutivas destinadas a evitar ou minimizar os efeitos dos desastres, restabelecendo
a normalidade social. No âmbito do município, essas ações são exercidas por um conjunto
de órgãos e setores da administração pública, acrescida de grupos voluntários da sociedade
civil, sob a orientação de uma Coordenadoria Municipal de Defesa Civil - COMDEC.
A organização do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC – é prevista na Constituição Federal (Art. 21 inciso XVIII)
e é regida pelo Decreto no 895/93, que estabelece como objetivos:
planejar e promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo homem;
atuar na iminência e em situações de desastres;
prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações atingidas e recuperar áreas deterioradas por desastres.
é o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobreum ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais econseqüentes prejuízos econômicos e sociais.
DESASTRE
314
AÇÃO de SOCORRO pela CODECIPE
A resposta do Sistema de Defesa Civil aos desastres tem como objetivo principalo resgate de pessoas atingidas e de seus bens.
315
Órgãos componentes Funções
SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL
COREDECs
Coordenadorias Regionais de Defesa Civil
CONDEC
Conselho Nacional de Defesa Civil
SEDEC
Secretaria Nacional de Defesa Civil
CORDECS
Coordenadorias Regionais de Defesa Civil
CODECS
Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil
COMDECs
Coordenadorias Municipais de Defesa Civil
Órgãos e Entidades da Administração Pública Federal
Órgãos e Instituições Estaduais e Municipais
Empresas Privadas
Clubes
Associações
Organizações Não Governamentais
órgão superior
órgão central
órgão regional nível nacional
órgão estadual
órgãos regionais nível estadual
órgãos municipais
órgãos de apoio
órgãos setoriais
316
Prevista pelo Sistema Nacional de Defesa Civil, a Coordenadoria Metropolitana de
Defesa Civil, integrada pelas coordenadorias municipais de defesa civil, possibilita a
implantação de uma política comum de atuação entre os municípios participantes e
fortalece a defesa civil regional.
Essa instância regional cria um espaço propício ao desenvolvimento de mecanismos
e instrumentos de apoio às ações de cada uma das coordenadorias, favorecendo uma
articulação permanente, intercâmbio técnico e de experiências exitosas. Favorece
ainda o desenvolvimento de programas de capacitação das equipes técnicas, de
comunicação e mobilização social e de disponibilização de uma base de informações
com cadastros de interesse da gestão de riscos.
SISTEMA METROPOLITANO DE DEFESA CIVIL
317
Estabelecer procedimentos comuns de prevenção de acidentes;
estimular o constante intercâmbio entre as instituições de defesa civil;
promover a integração de informações e comunicação;
identificar e buscar a otimização da comunicação;
identificar e buscar a otimização dos recursos humanos, materiais e financeiros.
CODECIPE
Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco
CORMEDEC
Coordenadoria Metropolitana de Defesa Civil
FMDCFórum Metropolitano de Defesa Civil
COMDECS
Abreu e LimaAraçoiabaCabo de Santo AgostinhoCamaragibeIgarassuIlha de ItamaracáItapissumaIpojucaJaboatão dos GuararapesMorenoPaulistaOlindaRecifeSão Lourenço da Mata
ÓRGÃOS SETORIAIS
Órgãos e Entidades da Administração Pública Estadual
ÓRGÃOS DE APOIO
Órgãos e Instituições MunicipaisEmpresas PrivadasClubesAssociaçõesOrganizações Não Governamentais
COORDENADORIA ESTADUAL DE DEFESA CIVIL
Principais funçõesÓrgãos componentes
318
SISTEMA MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL
Ao município cabe criar e instalar a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil - COMDEC, tendo em vista a
necessidade de dispor de uma unidade administrativa equipada e capacitada para atuar na redução do risco
e no atendimento à população em situações adversas e em ameaças ou ocorrência de acidentes.
A estrutura organizacional para uma COMDEC pressupõe uma instância colegiada, uma estrutura de viabilização
técnica e administrativa e uma base operacional.
Para os municípios com menos de 50.000 habitantes, a estrutura deve ser simplificada, reduzindo-se a um
Coordenador, uma Secretaria Executiva e um Setor Técnico-Operacional, preferencialmente ligado à
Secretaria de Planejamento ou, no caso de sua inexistência, à Secretaria de Obras e Serviços Públicos.
Em situações críticas, de inverno rigoroso, devem ser formados Grupos de Apoio, onde o corpo técnico do
sistema é acrescido de outros setores e de voluntários, com atuações específicas tais como: informação e
mobilização, remoção, saúde e socorro, trânsito, alojamentos e suprimentos, policiamento e proteção de
bens, coordenados pela COMDEC.
319
GABINETE DO PREFEITO
CONSELHO MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL
COORDENADORIA MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL
COMDEC
SECRETARIA EXECUTIVA
CÂMARAS TÉCNICAS
Análise de RiscoControle Urbano
Saneamento
DEPARTAMENTO
DE PLANEJAMENTO
DEPARTAMENTO
DE OPERAÇÕES
DEPARTAMENTO
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
E ARTICULAÇÃO COMUNITÁRIA
DEPARTAMENTO
ADMINISTRATIVO
E FINANCEIRO
NÚCLEO COMUNITÁRIO DE DEFESA CIVIL
NUDECS
Voluntários - Observadores Ambientais
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
COORDENADORIACOORDENADORIACOORDENADORIACOORDENADORIACOORDENADORIA MUNICIPMUNICIPMUNICIPMUNICIPMUNICIPALALALALAL DEDEDEDEDE DEFESADEFESADEFESADEFESADEFESA CIVILCIVILCIVILCIVILCIVIL
PROPOSTA DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
320
17. 2 Procedimentos para a gestão do risco
A gestão de riscos ambientais é um processo que geralmente se inicia pela percepção individual da ameaça de um acidente.
Compreende um conjunto de procedimentos voltados para a redução de desastres, sejam eles provocados por processos
naturais ou induzidos pelas atividades humanas.
IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS
Consiste na caracterização dos possíveis desastres e na indicação dos locais mais suscetíveis de ocorrência.
A Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (CODAR) é um roteiro para identificação, adotado pelo
Sistema Nacional de Defesa Civil.
ANÁLISE DE RISCO
Fornece dados sobre as condições ambientais, a magnitude do possível acidente e as perdas potenciais humanas
e materiais envolvidas na sua deflagração. Considera os fatores de suscetibilidade dos terrenos, a vulnerabilidade
do cenário e os danos resultantes da sua deflagração, permitindo a hierarquização ou gradação dos riscos por
meio de representação cartográfica (Mapa de Risco). A definição de graus de risco para uma área pode apoiar-se
em métodos probabilísticos ou, o que é mais comum, no estabelecimento de graus relativos de risco.
ETAPAS na GESTÃO do RISCO
IDENTIFICAÇÃO DO RISCO
ANÁLISE DE RISCO
AVALIAÇÃO DAS OPÇÕES aceitação, intervenção, ação emergencial, relocação
ESCOLHA DA SOLUÇÃO TÉCNICA E DO SEU DESENHO
COMUNICAÇÃO DA SOLUÇÃO discussão com a comunidade
IMPLEMENTAÇÃO
MONITORAMENTO
321
AVALIAÇÃO DAS OPÇÕES
É feita em função das condições identificadas pela análise de risco, quando já se dispõe de dados suficientes para
indicação de soluções mais seguras. Devem ser consideradas não apenas as propostas mais eficientes, mas a capacidade
de implementação e operação do sistema pelo gestor público, sendo maior a eficiência quando a população é envolvida
na tomada de decisão.
Principais opções:
Relocação temporária
Adota-se, de modo preventivo, a fim de minimizar ou eliminar
as conseqüências ou impactos dos acidentes. Nesse caso, as
ações estão voltadas para a retirada da população, para um
local seguro, nos períodos de inverno, quando há maior risco,
e o seu retorno, quando a área passar a oferecer mais
segurança. Essa é considerada a forma de intervenção de menor
custo operacional, embora exija uma difícil negociação com
os moradores.
Aceitação ou não intervenção
Deixa-se a natureza seguir seu curso e orienta-se a remoção
de pessoas e estruturas transportáveis. Em áreas de baixa
ocupação, essa é uma decisão que pode ser adotada, salvo
quando o local apresenta alto valor estético, histórico ou
cultural. Convém salientar que, além de não impedir a
destruição de bens e patrimônios, a decisão de não intervir
implica retirada definitiva da população e, em alguns casos,
na recuperação da área degradada, após o acidente.
Intervenção
É feita através de obras de engenharia
ou de intervenções estruturadoras, que
irão reduzir ou neutralizar os processos
geológicos.
Ação emergencial
Aplica-se quando o acidente está acontecendo, ou já
ocorreu. Deve ser executada de acordo com o Plano
Preventivo de Defesa Civil, através dos mecanismos
para previsão e alarme e dos instrumentos para o
socorro às vítimas do acidente e aos bens recuperáveis.
322
ESCOLHA DA SOLUÇÃO TÉCNICA E DO SEU DESENHO
Ocorre quando a opção for a intervenção. É baseada em critérios técnicos, que definirão os tipos de obras e
outras benfeitorias mais adequadas àquela situação. Deve considerar a relação custo-benefício, importante
ferramenta de decisão. Intervir numa situação de risco significa arcar com custos de obras e outros procedimentos
de segurança, que muitas vezes não se justificam diante do valor dos bens protegidos.
COMUNICAÇÃO DA SOLUÇÃO
É uma etapa fundamental para o êxito das operações. É através dos mecanismos de comunicação social que o
sistema de Defesa Civil fará o convencimento da população sobre os riscos potenciais e sua magnitude, e sobre
o papel da comunidade na redução dos desastres e na conservação do ambiente e das obras de contenção.
IMPLEMENTAÇÃO
Corresponde às etapas de elaboração dos projetos básicos e executivos de engenharia e execução dos serviços. Os
projetos devem buscar as sugestões dos moradores mais antigos, cuja experiência adquirida pela longa convivência
com as situações de risco lhes dá condições de opinar durante a elaboração do projeto e fiscalizar complementarmente
a execução dos serviços, nas proximidades das suas moradias.
MONITORAMENTO
Deve ter caráter permanente e sistemático, sendo intensificado nos períodos de inverno. Pode ser ampliado
através da participação dos grupos organizados de outros setores públicos que adotam a gestão de proximidade,
como os programas voltados para a saúde das populações carentes (Agentes Comunitários de Saúde, Programa
de Saúde da Família e Agentes de Saúde Ambiental), além dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil e de outros
grupos voluntários formados nas comunidades dos morros.
323
Pesquisas realizadas nas prefeituras municipais da Região Metropolitana do
Recife (FIDEM, 2001b) mostraram que a ação da Defesa Civil nos morros se faz
presente apenas em alguns municípios, sendo descontinuada e concentrada nos
períodos de invernos mais severos, quando os acidentes em encostas são
freqüentes. Desse modo, as ações restringem-se ao socorro emergencial, cessando
logo após o término das chuvas. Para uma resposta efetiva, a ação da Defesa
Civil precisa ser continuada tanto nos períodos de anormalidades, quanto nos
de normalidade, ocasião em que as áreas afetadas ou sujeitas a acidentes
poderão ser reabilitadas e reconstruídas.
17. 3 Ações permanentes de Defesa Civil em áreas de morros
324
Monitoramento permanente
Nas áreas de morros, é um procedimento indispensável para realimentar o processo de planejamento, definindo prioridades de intervenções e pequenos
tratamentos, que levam necessariamente à redução das ocorrências de acidentes, pelo seu caráter preventivo. Mesmo quando a intervenção formal não se
processar a contento, se a área for bem conhecida, é possível a retirada das famílias em situação de risco, evitando-se mortes e perda de bens materiais.
PREPARAÇÃO
RESPOSTA AOS DESASTRES
PLANEJAMENTO
ETAPAS DE AÇÃO DA DEFESA CIVIL
REABILITAÇÃO
(emergência)
MONITORAMENTO PERMANENTE
Planejamento
É a etapa mais importante da atuação da defesa civil: são reunidos os
instrumentos técnicos d isponíve is e def in idos aqueles a produzir ;
estabelecidas as parcerias e feitas as articulações entre os diferentes
setores que participarão do processo. Assim, deve ser elaborado o Plano
Preventivo de Defesa Civil (PPDC), que estabelece as formas de atuação
e os mecanismos de controle.
PreparaçãoÉ a etapa que consta das providências operativas para a execução do
PPDC: contatação de pessoal, formação e capacitação das equipes; definição
de suas áreas de atuação; aquisição de viaturas, ferramentas e outros
materiais para emergência; identificação de locais para abrigos temporários;
preparação de material informativo e dos mecanismos de comunicação
com a população; realização de vistorias para identificação das situações
mais críticas.
Resposta aos desastres
É a etapa que corresponde ao socorro de vítimas de possíveis acidentes
(Emergência) e aos procedimentos para restauração da normalidade da
vida das pessoas envolvidas, através de levantamento dos danos para o
reconhecimento de Situação de Emergência, quando os danos podem ser
superáveis pela comunidade afetada, ou de Calamidade Pública, quando
a estrutura local não consegue superar a magnitude desses danos.
Reabilitação
é o conjunto de ações que levam à possibilidade de retorno da população
retirada durante as chuvas intensas: religação de redes de infra-estrutura
afetadas, reparos em telhados e outras providências construtivas para o uso
seguro das moradias que podem ser reocupadas.
Reconstrução
Refere-se às obras necessárias à estabilização de encostas, incluindo-se aí a recomposição de acessos, a redefinição e recuperação do sistema de
drenagem, retaludamentos, recomposição da cobertura vegetal, impermeabilizações e a implementação de soluções habitacionais, como kits de
reconstrução de moradias e programas de moradias populares para a redução do deficit habitacional.
RECONSTRUÇÃO
325
O controle urbano é uma ação básica para evitar novas ocupações de risco, respaldada pelo
monitoramento da Defesa Civil em caráter permanente, e não apenas nos períodos de
anormalidade. A execução de pequenos serviços corretivos de microdrenagem, retaludamento
e plantio de gramíneas minimizam o risco e alongam a vida útil das obras existentes. A
requalificação urbanística das áreas de morros, com intervenções de caráter estrutural (que
inclui obras), ou não estrutural, para a estabilização das encostas, deve estar sintonizada com
uma política habitacional que viabilize moradias em áreas seguras dos morros, reduzindo as
pressões nas áreas de risco. A mudança das práticas cotidianas dos moradores, através de
programas de comunicação adequados ao perfil da comunidade, visando à redução do risco, fecha
esse ciclo.
URBANIZAÇÃOobras estruturadorasPOLÍTICA HABITACIONAL
MUDANÇA DA CULTURAdos habitantes
PEQUENAS AÇÕESminimizam riscos
DEFESA CIVILpermanente
CONTROLEde novas ocupações
CODECIR, 2001
CICLO DE INTERVENÇÕES PARA PREVENÇÃO E REDUÇÃO DOS ACIDENTES
326
O gerenciamento do risco nos períodos de inverno exige a concentração dos esforços dos participantes do sistema, para atender às situações
emergenciais nas áreas críticas e às demandas da população afetada. O estabelecimento de “estados” para o sistema de defesa civil durante
o inverno deve estar previsto no plano preventivo. São definidos pelos indicadores climáticos disponibilizados pelos serviços meteorológicos
e pelas respostas do ambiente à chuva acumulada no período, com o aumento do número de ocorrências de deslizamentos e erosões.
MEDIDAS PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES
Objetivo Medida de Prevenção Ação Técnica
Eliminar e/oureduzir os riscosinstalados.
Evitar a instalaçãode novas áreas de risco.
Conviver comos riscos atuais.
Recuperaçãodas áreas de risco.
Controle da expansãoe do adensamentoda ocupação.
Remoção preventivae temporária da populaçãoinstalada em áreasde risco iminente.
Perenização da ocupação de encostas (quandopossível), por meio de projetos de urbanização eda implantação de obras de estabilização.
Estabelecimento de diretrizes técnicas, expressasem mapas, que permitam a adequada ocupaçãodo meio físico.
Elaboração e operação de planos preventivos dedefesa civil, visando reduzir a possibilidade deperdas de vidas, após constatada a iminentepossibilidade de ocorrência de acidentes.
Estado Critérios Ação/Medida Principal
Atenção
Alerta
Chuvas de longa duração em eventos descontínuos.
Chuvas contínuas e prolongadas;
registros de instabilizações e deslizamentosdiretamente correlacionados a episódios chuvosos.
Total de chuvas acumuladas no inverno excede 600mm;
previsão meteorológicade chuvas contínuas ou concentradas;
erosão e escorregamentos generalizados.
Vistoria de camponas áreas de risco identificadas.
Remoção preventiva dos moradoresem áreas de risco iminente,indicadas por vistorias de campo.
Alerta MáximoRemoção da populaçãode todas as áreas de riscoalto e iminente.
Observação Início do inverno;chuvas esparsas.
Acompanhamentodos índices pluviométricose da previsão meteorológica.
ESTESTESTESTESTADOSADOSADOSADOSADOS DADADADADA DEFESADEFESADEFESADEFESADEFESA CIVILCIVILCIVILCIVILCIVIL DURANTEDURANTEDURANTEDURANTEDURANTE OOOOO INVERNOINVERNOINVERNOINVERNOINVERNO
Adaptado de NOGUEIRA, 2002
Adaptado de NOGUEIRA, 2002
327
17. 4 Plano Preventivo de Defesa Civil - PPDC
O PPDC é um importante instrumento para o gerenciamento de riscos.
Tem a finalidade de reunir o conhecimento sobre o problema do risco
nos morros ocupados, definindo as estratégias para o seu enfrentamento
e deve ser formalmente implementado, através de instrumento legal.
O esforço para a redução e minimização do risco baseia-se num
conjunto de medidas não estruturais (que não dependem da execução
de obras), de caráter eminentemente preventivo. É desenvolvido pelo
Sistema de Defesa Civil Municipal, articulado aos setores estadual e
metropolitano, permitindo-lhe maior viabilidade de implementação
quando comparado a soluções de redução do risco, baseadas na execução
de obras em grande escala.
Além da sua mais fácil viabilização econômica, o sucesso de um Plano
Preventivo deve-se, principalmente, à capacidade de atuação integrada
dos diversos segmentos que o compõem e à sua aceitação pela comunidade.
328
Item 1 O Sistema Municipal de Defesa Civil
1.1. Os órgãos e setores envolvidos
1.2. Formas de articulação
1.3. Montagem do sistema
1.4. Viabilidade técnica e administrativa
1.5. Estruturação das equipes e do suporte operacional
1.6. Capacitação técnica e institucional
Item 2 Estratégias de Ação
2.1. Etapas de ação da Defesa Civil
2.2. Integração dos setores de planejamento, obras, recuperação, controle e habitação
2.3. Integração com a comunidade – NUDEC
2.4. O sistema de comunicações
2.5. O planejamento global e setorizado por localidades
Item 3 Diagnóstico de Risco no Município
3.1. Características do meio físico e o risco de acidentes
3.2. Formas de ocupação do espaço urbano
3.3. O mapa de risco das encostas ocupadas
3.4. O mapa de pontos de risco e o zoneamento das áreas não edificáveis
Item 4 Parâmetros Técnicos para o PPDC
4.1. Parâmetros pluviométricos
4.2. Estados de alerta
4.3. Base cartográfica: (áreas de risco, rotas, abrigos)
4.4. O sistema de informações (cadastro único)
Anexos
Cadastro dos órgãos e setores envolvidos
Cadastro das localidades de baixa renda
Relação dos técnicos participantes por localidades
Mapas de detalhe das áreas ocupadas (UNIBASE)
PLANO PREVENTIVO DE DEFESA CIVIL - PPDC Roteiro para elaboração
329
FASE DE ELABORAÇÃO
Sistematização do acervo de conhecimentos e documentos existentes sobre riscos ambientais, bem como das lacunas de informações importantes:
análise dos condicionantes e processos, identificação de áreas sujeitas aos riscos
zoneamento de risco ou de suscetibilidade
análise dos cadastros de pontos de risco, cadastros sociais, definição do período crítico de pluviosidade
Definição dos critérios técnicos para estados de alerta e dos procedimentos correlatos para a população e as instituições
Definição dos critérios técnicos de deflagração de ações emergenciais
Definição dos sistemas de monitoramento de feições de instabilidade nas encostas
Definição do sistema de acompanhamento pluviométrico e de previsão meteorológica
Definição de medidas preventivas ou corretivas emergenciais a serem implementadas antes do início do período chuvoso:pequenas obras públicas, serviços de manutenção, fiscalização, interdições, remoções, demolições, etc.
Revisão do andamento de obras públicas em execução em áreas de risco
Definição das ações de atendimento de emergência (Plano de Contingência)
Inventário de recursos físicos, humanos e financeiros
Organização interinstitucional e definição de funções e responsabilidades inter e intra-instituicionais
Definição das formas de informação pública e campanha de divulgação
Definição das formas de participação da população
Organização operacional:definição de atribuições, plantões, equipamentos, estrutura de apoio, redes de comunicação, registro de ocorrências, notificação, co ordenação,
formas de capacitação de funcionários, contato com imprensa, socorro, resgate, urgência urbana, ações corretivas, avaliação de impactos e
danos, providências de reabilitação, inventário de recursos materiais necessários para as equipes operacionais, abrigo e alimentação
Definição e elaboração de suporte legal para a operação:notificação de riscos, decretos e portarias, atribuições e procedimentos
O PPDC é o documento básico para a ação pública preventiva,razão pela qual precisa ser respaldado pelos órgãos participantes do sistema e formalmente aprovado no âmbito do município.Pressupõe o amplo conhecimento da realidade local, das características do ambiente físico-natural, do processo de ocupação
e das intervenções necessárias à segurança da população a ser atendida.
FASES PARA A MONTAGEM DO PLANO PREVENTIVO DE DEFESA CIVIL - PPDCAdaptado de NOGUEIRA, 2002
330
Revisão, em campo, das informações disponíveis
Execução de ações e medidas preventivas ou corretivas:obras públicas, serviços de manutenção, fiscalização, interdições, demolições, etc
Reuniões com órgãos da administração municipal para informação e treinamento
Reuniões com instituições - parceiras na operação:
setores de limpeza urbana e obras, bombeiros, Polícia Militar, líderes comunitários, empresas, universidades, agentes de saúde e outros
Apresentação do planejamento à imprensa, ao Poder Legislativo, ao Ministério Público, órgãos públicos e outros
Reuniões com moradores de áreas de risco, notificação e treinamento da população
Implantação dos sistemas de comunicação, de alerta, de monitoramento pluviométrico e de previsão meteorológica
Preparação do material de divulgação e informação. Estabelecimento de procedimentos junto aos órgãos de imprensa
Capacitação de funcionários, exercícios de simulação e organização de escalas de plantão e esquemas de acionamento para prontidão
Providência de materiais, recursos e equipamentos para a operação do Plano
Publicação de decretos estabelecendo os procedimentos adotados, atribuições e responsabilidades
Lançamento público do PPDC e dos planos e contingência
FASE DE IMPLANTAÇÃO
331
FASE DE OPERAÇÃO
Plantões permanentes
Vistorias de campo
Participação da população
Redes de comunicação
Mudanças de estados e procedimentos
Acompanhamento pluviométrico e da previsão meteorológica , e identificação de sinais de instabilidade em campo
Comunicação de perigo
Atendimentos preventivos e emergenciais
Avaliação de riscos preventivos e emergenciais
Socorro e resgate em ocorrências
Evacuação das zonas de risco / isolamento e segurança
Atendimento emergencial por profissionais da saúde
Registro de ocorrências
Remoções preventivas e guarda de bens
Atenção às pessoas atingidas
Alojamento temporário e provisão de alimentos e vestuário
Serviços de urgência
Ações específicas para trânsito e serviços
Apoio solidário do voluntariado
Avaliação de danos e proposição de providências imediatas
Estudo técnico de soluções para locais ou moradias atingidos
Decretação de situação de emergência ou de calamidade pública
332
FASE DE AVALIAÇÃO
Balanço e revisão crítica do gerenciamento do período
Incorporação da avaliação no planejamento das ações rotineiras de gerenciamento de risco:avaliação de risco e estudos de processos, prevenção e mitigação, informação, capacitação e treinamento
Reparação de danos nas áreas públicas atingidas por ocorrências
Encaminhamento de alternativas para os desabrigados definitivos
Avaliação das soluções técnicas para recuperação de áreas instabilizadas
Divulgação pública da avaliação
Encerramento oficial do Estado de Alerta
333
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
CANAL DO TEMPO - Recife
http://br.weather.com/weather/local/BRXX0195?y=22&x=9
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA
http://www.inmet.gov.br
DEFESA CIVIL DE PERNAMBUCO
http://www.fisepe.pe.gov.br/codecipe
DEFESA CIVIL DO RECIFE
http://www.recife.pe.gov.br/especiais/guardachuva
DEFESA CIVIL NACIONAL
http://www.integracao.gov.br/sindec/index.htm
CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS
http://www.cptec.inpe.br
DEFESA CIVIL DO RIO DE JANEIRO
http://www.rio.rj.gov.br/georio
DEFESA CIVIL DO CEARÁ
http://www.sas.ce.gov.br/sasdef.htm
DEFESA CIVIL DO PARANÁ
http://www.pr.gov.br/defesacivil
DEFESA CIVIL DE SÃO PAULO
http://www.defesacivil.cmil.sp.gov.br
335
REFERÊNCIAS
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VICTORETTI, J. W. Soluções ecológicas de contenção de encostas. Catálogo Blokret. São Paulo, 2002.
337
CRÉDITOS
CONSULTAS TÉCNICASPARTICIPANTES
Prefeituras Municipais
André Ferreira de M. Luna
Antonio da Silva Rosa
Bertrand Sampaio Alencar
Cybelle Coêlho de Araújo
Coronel Humberto de Azevedo Viana Filho
Isaias Alves de Oliveira Junior
Jaime Ferreira Barbosa
Marco Antonio Carneiro da Cunha
Marcelo Fernandes Viana Filho
Marcos Ferreira de Moraes
CABO DE SANTO AGOSTINHO
ARAÇOIABA Christiane A. Guimarães
ABREU E LIMA Diomari Diniz
Dolores Perez Rodrigues Pimenta
Kátia Rosângela Maciel Marsol
Maria Auxiliadora de Souza Vieira
Roberto Lucena Silva
CAMARAGIBE
Carlos Tadeu Ramos Barbosa
David Borromeu Ferreira
Elizandra Regina Leite Luna
Janaína Viana de Melo
Josenilson Silva de Moura
Luiz Henrique Emídio
Márcia Cavalcanti
Mércia Vânia Brito Ribeiro
Pio Alves dos Santos
JABOATÃO DOS GUARARAPES
ITAPISSUMA Luciana Bernardo da Silva
ITAMARACÁ Lilian Cadete
IPOJUCA José Romildo Leão
Sandra Regina de O. Silva
IGARASSU Manuel Felipe de Araújo Neto
Maria da Conceição S. Albuquerque
Renato Fernando L. Ferreira
338
Alexandre José Gonçalves da Silva
Amélia Rodrigues Lucena
Cláudia F. Mota Duarte
Cláudio de Andrade Lira
Clifford Ericson
Kleber Ramos de Carvalho
Luciana Azevedo
Márcia Vilela Ferraz
Maria Alice Domingues
Maria Augusta C. Cavalcanti
Maria José de Biase
Maria Leonor Alves Maia
Rogério Fernandes Barbosa
Susy Rodrigues Vieira da Silva
Ana Elizabeth Cavalcanti Jucá
Euse Maria Soares Vieira
José Varsil Vieira da Costa
MORENO Alexandre Sávio Pereira Ramos
César Augusto Lopes
Rivaldo Melo
Ubirajara Paz
Bernadete Zimmerle
Hilda Wanderley Gomes
Maria Lúcia de Oliveira
Maria Auxiliadora Porto Vasconcelos
Miguel Gustavo V. de Araújo
Nina Celeste Macário
Tenente-Coronel Artur Paiva
Girlene Azevedo Lima
Ivaldo Beltrão Martins
José Carlos Borba
Jorge dos Santos
Paula Francinete dos Santos Leal
Aluízio Vasconcelos
Adelmo Aragão
Marleide Maria dos Santos
Maria José Diniz
OLINDA
PAULISTA
RECIFE
EMLURB
SÃO LOURENÇO DA MATA
339
Empresa de Fomento Informática do Estado de PernambucoFISEPE Maria Valéria Lins Tenório
Marcos Aurélio Carvalho Macedo
Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco CODECIPE Tenente-Coronel Wilson Rodrigues de Lima
Major Helder Carlos da Silva
Major Luiz Bezerra da Silva Filho
Major Manuel Francisco de Oliveira Cunha Filho
Capitão Alberto D’Albuquerque Maranhão Filho
Kleber Rolin Miller
Julio Maia
Maria Ester Sampaio
Nathanael Ramalho
Rosana Mesquita
Sérgio Tavares do Rego Barros
Companhia Pernambucana de SaneamentoCOMPESA
Companhia Pernambucana do Meio AmbienteCPRH Ana Lúcia Carneiro Leão
Ângela Maria Cirilo
Lúcia Maria Alves
Nélson Maricevichc
Governo do Estado de Pernambuco
340
Djanira Gondin
Maria Clara S. Santos Ferraz
Silvana Viana Torres
Empresa de Melhoramento Habitacional de PernambucoEMHAPE
Ana Regina L. Uchôa de Moura
Carlos Wellington Pires Sobrinho
Lucyana Vieira de Melo
Fundação Instituto Tecnológico do Estado de PernambucoITEP
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio AmbienteSECTMA Normando Carvalho
Nilton Gomes
Sônia Maria Mota Didier
Secretaria de EducaçãoSEDU
Ana Paula Valença
Helena Sansolo
Nilse Helena Gondin
Secretaria de Infra-EstruturaSEIN
Andréa Franklin
Thereza Regina Pereira
Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento SocialSEPLANDES
Carine Antunes Correia da Silva
Maria Carolina da Motta Agra
Secretaria de Recursos HídricosSRH
341
Edja Lúcia Santana
Maria Edizia de Oliveira Veiga
Caixa Econômica FederalCAIXA
Edneia Cavalcanti
Fundação Joaquim NabucoFJN
Edvânia Torres
Geraldo Santana
Gorete Linhares
Jaime J. S. Pereira Cabral
José Almir Cirilo
Mônica Raposo
Roberto Quental Coutinho
Universidade Federal de PernambucoUFPE
Eutália Oliveira
Instituto Brasileiro do Meio AmbienteIBAMA
Governo Federal do Brasil
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de Pernambuco - CREA - PE
Maurício F. Pinho Mauricio O. Andrade Roberto Muniz Ronald Vasconcelos Sérgio Xavier dos Santos Telga de Araújo Filho
Empresa CONDOMINIUM - Empreendimentos Ambientais
José Carlos Melo
Outras Entidades
342
CRÉDITOS
DESENHOS E FOTOGRAFIAS
Os desenhos ilustrativos deste manual, adaptados de desenhos técnicos de origens diversas, são de autoria das arquitetas
ELIZABETH GOMES DE MATOS MEDEIROS e MANUELA XAVIER GOMES DE MATOS
As fotografias dos temas técnicos deste livro são de autoria de
ANA PAULA DE OLIVEIRA VILAÇA
ANTÔNIA SANTAMARIA DE QUEIROZ LIMA
EDINÉA ALCÂNTARA BARROS E SILVA
IVALDO BEZERRA
JOSÉ GLEIDSON DANTAS DA CUNHA
LUCIANA CARVALHO GOMES
MARIZA CHAVEZ
SÔNIA MARIA GOMES DE MATOS MEDEIROS
343
desenho originalgrafite preto em cartão15cm x 30cm2000
As ilustrações de capa e apoio gráfico deste livro são fragmentos do desenho da artista plástica ISOLINA AZEVEDOcom reserva de direitos
CRÉDITO
ARGUMENTO ARTÍSTICO
344
Criação e execução do projeto gráficoSÔNIA LESSA NORÕES FERNANDO MARINHO
Arte-finalizaçãoRITA DE CÁSSIA SANTOS ANE CLEIDE SILVA
RevisãoLEIDSON MACEDO
Editora
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ImpressãoONONONO LTDA
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CRÉDITOS
PROJETO GRÁFICO