Manual de oratória

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Página 1 Manual de Oratória Manual de Oratória Manual de Oratória Manual de Oratória Reinaldo Polito Reinaldo Polito Reinaldo Polito Reinaldo Polito 1 1 1 1 - Estou chegando para dar dicas de como falar Estou chegando para dar dicas de como falar Estou chegando para dar dicas de como falar Estou chegando para dar dicas de como falar Estou começando hoje. Cheguei com a caneta cheia de tinta para ocupar este espaço. A partir de agora, todas as semanas, vamos nos encontrar aqui para falar de comunicação e de outros temas relacionados a comportamento e carreira. Vou dar dicas bem práticas para que você possa falar com confiança, desembaraço e consiga se sair bem nas reuniões sociais e de negócios; nos processos de negociação; nas palestras, lendo, falando de improviso, ou usando recursos de apoio; nas apresentações de projetos profissionais ou acadêmicos; nas entrevistas de emprego; nas apresentações de produtos e serviços; nos debates; nas entrevistas para o rádio e para a televisão; nas aulas, como professor ou como aluno; no xaveco. Sim, porque, como ninguém é de ferro, de vez em quando vamos mudar o rumo da prosa e falar sobre assuntos bem amenos, como, por exemplo, sobre as regras infalíveis para o homem conquistar a mulher, a mulher conquistar o homem, e, para que ninguém fique de fora, como o homem conquistar o homem e a mulher conquistar a mulher. Enfim, onde você tiver de falar terá aqui a orientação simples e correta para que possa se sair bem e brilhar nas suas empreitadas. Tudo bem arejado, divertido, com bastante humor e, ao mesmo tempo, com bastante profundidade. Não importa qual seja a sua formação ou atividade profissional, se tiver necessidade de falar para grupos de pessoas, ou conversar com alguém isoladamente, com certeza, você vai encontrar aqui as respostas que estiver procurando. Se ocorrer algum fato relevante com a comunicação de alguma figura de destaque da política, do mundo artístico, ou empresarial, vou refletir e analisar com você onde foi que ela errou ou acertou, e o que poderemos aproveitar desse episódio para melhorar a nossa própria vida. Por exemplo, se eu já estivesse por aqui na semana passada, não deixaria passar a oportunidade de falar a respeito do destempero do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, expulsando um manifestante na AMA (Assistência Médica Ambulatorial).

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Um manual de oratória com dicas para falar em público.

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Manual de OratóriaManual de OratóriaManual de OratóriaManual de Oratória Reinaldo PolitoReinaldo PolitoReinaldo PolitoReinaldo Polito

1 1 1 1 ---- Estou chegando para dar dicas de como falar Estou chegando para dar dicas de como falar Estou chegando para dar dicas de como falar Estou chegando para dar dicas de como falar Estou começando hoje. Cheguei com a caneta cheia de tinta para

ocupar este espaço. A partir de agora, todas as semanas, vamos nos encontrar aqui para falar de comunicação e de outros temas relacionados a comportamento e carreira.

Vou dar dicas bem práticas para que você possa falar com confiança, desembaraço e consiga se sair bem nas reuniões sociais e de negócios; nos processos de negociação; nas palestras, lendo, falando de improviso, ou usando recursos de apoio; nas apresentações de projetos profissionais ou acadêmicos; nas entrevistas de emprego; nas apresentações de produtos e serviços; nos debates; nas entrevistas para o rádio e para a televisão; nas aulas, como professor ou como aluno; no xaveco.

Sim, porque, como ninguém é de ferro, de vez em quando vamos mudar o rumo da prosa e falar sobre assuntos bem amenos, como, por exemplo, sobre as regras infalíveis para o homem conquistar a mulher, a mulher conquistar o homem, e, para que ninguém fique de fora, como o homem conquistar o homem e a mulher conquistar a mulher.

Enfim, onde você tiver de falar terá aqui a orientação simples e correta para que possa se sair bem e brilhar nas suas empreitadas. Tudo bem arejado, divertido, com bastante humor e, ao mesmo tempo, com bastante profundidade.

Não importa qual seja a sua formação ou atividade profissional, se tiver necessidade de falar para grupos de pessoas, ou conversar com alguém isoladamente, com certeza, você vai encontrar aqui as respostas que estiver procurando.

Se ocorrer algum fato relevante com a comunicação de alguma figura de destaque da política, do mundo artístico, ou empresarial, vou refletir e analisar com você onde foi que ela errou ou acertou, e o que poderemos aproveitar desse episódio para melhorar a nossa própria vida.

Por exemplo, se eu já estivesse por aqui na semana passada, não deixaria passar a oportunidade de falar a respeito do destempero do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, expulsando um manifestante na AMA (Assistência Médica Ambulatorial).

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Mas, agüente firme porque esse é um dos temas que já está na manga: as conseqüências negativas de agir com atitude destemperada.

Já escrevi 15 livros que venderam mais de um milhão de exemplares. Todos esses conceitos que tenho pesquisado para escrever essas obras e orientar meus alunos para que aprendam a falar corretamente e sem inibições daqui para frente estarão neste espaço aguardando a sua visita.

Será um enorme prazer responder às questões que você queira formular e resolver as dúvidas que por ventura venha me apresentar. Minha experiência publicando textos pela Internet tem sido muito gratificante.

Basta dizer que o meu último livro 'Superdicas para falar bem em conversas e apresentações', um dos dez mais vendidos no Brasil em 2006, e que em pouco mais de um ano vendeu mais de 200 mil exemplares, foi produzido quase totalmente a partir de artigos que escrevi para a Internet.

Aqui no UOL achei o melhor espaço que poderia desejar para conversar com você sobre esses temas aos quais tenho me dedicado ao longo dos últimos 30 anos. Espero ficar por aqui conversando sempre com você por muitos e muitos anos.

2222---- Lágrimas presidenciais Lágrimas presidenciais Lágrimas presidenciais Lágrimas presidenciais

Lula chorou. De novo. Ao participar do jantar que abriu o encontro do Diretório Nacional

do PT, na cidade de Salvador, o presidente Lula, mais uma vez, derramou lágrimas em público.

Como normalmente ocorre em suas apresentações, o presidente discursava com veemência tentando persuadir os companheiros de partido a procurarem os inimigos nas trincheiras adversárias, e não dentro da própria agremiação, como tem ocorrido com freqüência nos últimos tempos, numa verdadeira troca de fogo amigo.

Em determinado instante, quando fez referência aos momentos maravilhosos vividos no PT, e sobre as dificuldades que precisou enfrentar quando foi obrigado a disputar o segundo turno das eleições presidenciais em 2006, Lula ficou emocionado e chorou.

Essa não é a primeira vez em que o presidente chora em público e, provavelmente, não será a última, pois, ao que parece, Lula fez do choro mais um recurso para conquistar a simpatia da população. Quando falo 'fez do choro' não estou insinuando que se trata de um teatro, semelhante ao artista que derrama as lágrimas de acordo com as conveniências do

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papel que desenvolve. Não, o presidente apenas não se incomoda de que o vejam chorando em público. Literalmente, deixa rolar.

As lágrimas de Lula já regaram as mais diferentes regiões do país. A primeira vez como presidente foi no momento em que soube que havia vencido as eleições; a seguinte ao ser diplomado; outras duas ocorreram no mesmo dia 26 de janeiro de 2003, uma ao ouvir o garoto de 6 anos Luan Conceição cantar uma música típica do Rio Grande do Sul, e pouco mais tarde quando ouviu um jovem contando a própria história como menino de rua.

Bem, o que não falta é exemplo de situações onde o presidente Lula chorou. Só como curiosidade coloquei a expressão 'Lula chorou' num site de busca e o resultado mostrou mais de mil ocorrências.

Em todas essas circunstâncias, o choro não prejudicou a imagem do presidente, pois foi interpretado como demonstração de sentimento verdadeiro e se transformou até em excelente meio para conquistar a empatia de muitos brasileiros.

Nem sempre, entretanto, o choro é visto com tanta naturalidade. Imagine um executivo apresentando um projeto diante do conselho da empresa e se desmanchando em lágrimas. Provavelmente, essa demonstração de ter sido dominado pela emoção, nessa circunstância, seria desastrosa.

Infelizmente ainda há uma sombra cultural machista imbecil que permeia a nossa sociedade, mesmo que estejamos em pleno século 21. A velha frase que pressionou gerações recentes -'homem não chora'- continua produzindo eco nos dias de hoje.

Como as mulheres disputam os mesmos espaços que os homens, e, não raro, com muito mais competência, de certa maneira também foram apanhadas pela mesma advertência. Como a conquista profissional da mulher é mais ou menos recente, a maioria faz um enorme esforço para não chorar em público e, portanto, não se mostrar vulnerável, já que o choro poderia ser visto como uma demonstração desfavorável dessa fragilidade. Assim, embora a frase seja 'homem não chora', para a nossa reflexão, as mulheres também vão participar da roda.

Por outro lado, há situações em que o choro pode ser bem recebido. Alguém chorar ao receber um prêmio ou uma homenagem poderia ser visto com simpatia. Como você pode observar, cada caso deve ser analisado dentro das suas próprias circunstâncias.

Como nem sempre é conveniente chorar em público, é prudente saber como esse comportamento pode ser evitado.

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Alguns assuntos nos emocionam e podem nos fazer chorar. Os mais comuns são aqueles que falam de nossos familiares e amigos, especialmente daqueles que já faleceram. Para essas situações temos duas saídas. A primeira é treinar várias vezes a apresentação da mensagem. Você irá chorar na primeira vez em que falar no nome deles, e irá se tranqüilizando cada vez mais à medida que for repetindo a informação.

Quando chegar o momento de se apresentar diante do público, talvez volte a se emocionar e até chore, mas não com a intensidade como se comportou no ensaio ao proferir as palavras pelas primeiras vezes.

Se depois de todas as repetições, ainda assim sentir que não irá resistir e que será dominado pela emoção diante da plateia, simplesmente evite a informação e não toque no nome dessas pessoas.

Tenho observado também que o choro funciona em determinadas circunstâncias como espécie de fuga. A pessoa começa a se sentir fragilizada, incompetente para continuar transmitindo a mensagem de maneira segura, e, sem ter a quem ou ao que recorrer, chora.

Se você for surpreendido pelo choro, procure se recuperar fazendo pausas prolongadas. Depois da pausa, volte a falar mais baixo e, se sentir que o choro ainda está por perto, faça mais uma pausa. Quando perceber que está conseguindo dominar a apresentação, fale mais alto, até para desenroscar a voz que ficou embargada.

Alguns goles de água logo nas primeiras pausas proporcionam bons resultados, pois você terá mais tempo de recuperação e, ao beber água, estará desenvolvendo outra atividade e desviando a concentração das suas preocupações.

É provável que o presidente Lula continue chorando. Se, entretanto, resolver mudar a atitude, poderia começar pelas sugestões que acabei de passar. É a minha contribuição para o segundo mandato.

3 3 3 3 ---- Vença o medo de falar em público Vença o medo de falar em público Vença o medo de falar em público Vença o medo de falar em público

Meu contato com os leitores do UOL tem sido excelente. Tem gente

do país inteiro mandando e-mail para comentar sobre os textos que escrevi e dando sugestões para novos temas. A maioria quer dicas de como vencer o medo de falar. Por isso, hoje já vou tratar desse assunto tão importante na vida de quem precisa falar em público.

O medo é um mecanismo natural de defesa que foi aperfeiçoado pelo homem desde os tempos mais primitivos. Naquela época quando as pessoas viam, por exemplo, um raio caindo, com receio de ser atingidas, fugiam para se defender. Com o tempo, o organismo foi aprendendo a se

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proteger para poder fugir mais depressa. Quando o homem via o raio caindo, ficava com medo, mas antes que começasse a fugir ocorria uma descarga de adrenalina que aumentava a pressão sanguínea, fortalecia os músculos e o preparava para uma fuga mais rápida.

Herdamos esse mecanismo de defesa. Hoje, quando sentimos medo, sofremos uma descarga de adrenalina para que possamos nos movimentar mais depressa enquanto ela vai sendo metabolizada. Só que, para falar em público, nós sentimos medo, sofremos a descarga de adrenalina para que possamos nos movimentar mais rápido durante a fuga-, mas não dá para fugir. Por isso, ela permanece um tempo maior no organismo e provoca a confusão que todos conhecemos: as pernas tremem, as mãos suam, o coração bate mais forte, a voz enrosca na garganta e até os pensamentos maravilhosos que eram tão claros antes de falar desaparecem diante do público.

Agora que entendemos o mecanismo do medo, fica mais simples compreender as suas causas na hora de falar em público.

São três os motivos do medo de falar em público: 1111 ---- Falta de con Falta de con Falta de con Falta de conhecimento sobre o assuntohecimento sobre o assuntohecimento sobre o assuntohecimento sobre o assunto Se não conhecemos o assunto, durante a apresentação, estaremos

sempre seguindo por um caminho desconhecido, com receio de esquecer algum dado importante ou até de que apareça alguém na plateia conhecendo mais o assunto do que nós. Com receio de que esse fato possa mesmo ocorrer, entra em funcionamento o mecanismo do medo e, como conseqüência, a descarga de adrenalina para nos proteger.

2222 ---- Falta de prática no uso da palavra em público Falta de prática no uso da palavra em público Falta de prática no uso da palavra em público Falta de prática no uso da palavra em público Se não tivermos experiência no uso da palavra em público, estaremos

desenvolvendo uma atividade desconhecida diante da plateia e com receio de fazer mal esse trabalho, pois, se não nos apresentarmos bem, nossa imagem também poderá ser prejudicada. Com receio de que o resultado possa ser esse, mais uma vez entra em funcionamento o mecanismo do medo e, como conseqüência, a presença da adrenalina para nos proteger.

3333 ---- Falta de autoconhecimento Falta de autoconhecimento Falta de autoconhecimento Falta de autoconhecimento Nós não nos conhecemos. Principalmente quando estamos diante de

uma plateia é que não sabemos mesmo quem somos. Nós temos internamente dois oradores distintos: um real e outro

imaginado. O real é o verdadeiro, aquele que as pessoas vêem

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efetivamente. O imaginado é fruto da nossa imaginação, aquele que nós pensamos que as pessoas vêem quando falamos.

Esse orador imaginado é construído principalmente pelos registros negativos que recebemos os momentos de tristeza, de derrota, de cerceamento que passamos ao longo da vida. Esses registros formam uma auto-imagem negativa, distorcida, diferente da imagem verdadeira que possuímos.

O orador imaginado se apoia nessa auto-imagem e, por isso, normalmente é também muito negativo. Como conseqüência, ficamos com receio das críticas e julgamos que as pessoas estão censurando nossa apresentação. Temendo estar passando por essa situação, ficamos com medo e, mais uma vez, a adrenalina surge para nos defender.

Como combater o medo de falar em público Conhecendo as causas do medo de falar em público, fica um pouco

mais fácil encontrar o caminho para combatê-lo: 1111 ---- Conheça o assunto c Conheça o assunto c Conheça o assunto c Conheça o assunto com profundidadeom profundidadeom profundidadeom profundidade Conheça sempre muito bem o assunto que irá apresentar. Saiba

muito mais do que deverá expor-se precisar falar durante uma hora, prepare pelo menos duas horas de fala a respeito da matéria. É preciso que saiba sobre o assunto para que tenha tranqüilidade e fale com confiança.

Saiba também organizar a seqüência da apresentação. Divida sua exposição em quatro ou cinco etapas e tenha consciência das informações que deverão compor cada uma delas. Conhecer e dominar a seqüência da apresentação dá mais confiança e ajuda a dominar o medo.

2222 ---- Pratique e adquira experiência Pratique e adquira experiência Pratique e adquira experiência Pratique e adquira experiência Aproveite todas as oportunidades para se apresentar diante das

pessoas. Faça perguntas nas palestras a que assistir, aceite convites para expor trabalhos escolares, apresentar oradores, dar avisos, enfim, sempre que tiver chance de falar em público, mesmo que se sinta constrangido, vá em frente e fale. Você precisa de prática para ter segurança e combater o medo.

3 3 3 3 ---- Identifique suas qualidades Identifique suas qualidades Identifique suas qualidades Identifique suas qualidades Nós temos, geralmente, muita facilidade para identificar nossos

defeitos, mas muita dificuldade para falar das nossas qualidades. Por isso, aprenda a conhecer suas qualidades. Veja se você tem boa voz, bom vocabulário, boa expressão corporal, presença de espírito, humor,

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raciocínio bem ordenado, enfim, descubra suas qualidades de comunicação e encontre a partir delas segurança para falar.

O medo não desaparece. Você poderá combater e dominar o medo de falar, mas ele sempre poderá estar por perto. Com essas três regrinhas que acabamos de estudar, você reduzirá o excesso de adrenalina e ficará mais tranqüilo para falar. Essa quantidade reduzida de adrenalina poderá se transformar em energia positiva que o ajudará a falar com mais envolvimento e emoção. Domine o medo de falar, seja mais confiante e conquiste vitórias com suas apresentações.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

Para ajudar a combater o medo, observe as dicas desta semana:

• Leve sempre um roteiro escrito com os principais passos de apresentação, mesmo que não precise dele. É só para dar mais segurança.

• Ao chegar diante do público, não tenha pressa para começar. Respire o mais tranqüilo que puder, acerte devagar a altura do microfone (sem demonstrar que age assim de propósito), olhe para todos os lados da plateia e comece a falar mais lentamente e com volume de voz mais baixo. Assim, não demonstrará instabilidade emocional para o público.

• No início, quando o desconforto de ficar na frente do público é maior, se houver uma mesa diretora, cumprimente cada um dos componentes com calma. Desta forma, ganhará tempo para superar os momentos iniciais tão difíceis.

• Antes de fazer sua apresentação, reúna os colegas de trabalho ou pessoas próximas e treine várias vezes. Lembre-se de exercitar respostas para possíveis perguntas ou objeções. Com esse cuidado, não se surpreenderá diante do público.

4 4 4 4 ---- Melhore o vocabulário e a fluência verbal Melhore o vocabulário e a fluência verbal Melhore o vocabulário e a fluência verbal Melhore o vocabulário e a fluência verbal

Se você for como a maioria das pessoas que freqüentam meu curso de

Expressão Verbal, garanto que possui um vocabulário melhor do que imagina. Vou mostrar como pode ser simples tornar sua comunicação muito mais eficiente apenas usando as palavras que já aprendeu ao longo da vida.

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Antes quero refletir com você sobre exemplos curiosos que estão à nossa volta e nos ajudam a entender os motivos que travam a língua de algumas pessoas, impedindo-as de falar de forma fluente e desembaraçada.

Confesso. Quando leio um texto do Luis Fernando Veríssimo fico morrendo de inveja. Falo para mim mesmo: como é que ele consegue construir períodos tão perfeitos, com ideias completas, prontas e acabadas?

Entretanto, com esse vocabulário excepcional que o ajuda a produzir páginas que serão imortais, ao falar, Luis Fernando Veríssimo é um desastre. Pronuncia as palavras como se fosse um aprendiz de datilógrafo (digitador, para dar uma atualizada) catando milho, tecla por tecla.

Da mesma maneira, se você quiser falar, selecionando palavras com o mesmo rigor usado para escrever, ou revestir sua comunicação de uma formalidade que não seja usual no seu cotidiano, as chances de se dar mal aumentam. A não ser, evidentemente, que a circunstância exija.

Considere também que, quando falamos, podemos ficar preocupados com a opinião que as outras pessoas terão da nossa mensagem e da nossa imagem e, por isso, procuramos caprichar ainda mais. Um cuidado excessivo que acaba nos tolhendo.

Quando escrevemos, mesmo que tenhamos preocupação com a opinião das outras pessoas, temos tempo de meditar sobre o que vamos comunicar e reescrever o que não julgarmos oportuno.

Fico arrepiado, entretanto, quando vejo alguém tentando escrever o que pretende falar, principalmente se não ensaiar o que vai dizer.

O ritmo, a cadência, a pausa, a estrutura melódica da comunicação oral são aspectos muito diferentes dos da comunicação escrita. Uma palavra, uma vírgula, uma entonação distinta da planejada são detalhes que modificam a seqüência e a maneira de transmitir a mensagem.

A falta de compreensão dessa realidade pode levar a alguns enganos de avaliação. Ao longo desses 30 anos ministrando cursos de expressão verbal, tenho recebido, com freqüência, alunos que chegam reclamando da falta de vocabulário ou da dificuldade que sentem para encontrar as palavras que identifiquem de maneira correta o seu pensamento.

Nessas circunstâncias, peço que a pessoa me conte qual é exatamente sua dificuldade com o vocabulário. E durante uns dois ou três minutos ela passa a falar sobre os problemas que tem enfrentado e de como, às vezes, sofre sem saber como agir diante de um grupo quando as palavras não aparecem. Conseguem até escrever com facilidade, mas não se saem tão bem ao falar. O mais curioso, entretanto, é que para explicar o problema do vocabulário encontram todas as palavras de que precisam, sem nenhuma dificuldade.

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O problema do vocabulário, de maneira geral, está mais na atitude que temos do que propriamente nele em si. Se, numa situação formal, diante de um grupo de pessoas, lançarmos mão das palavras que usamos no dia-a-dia, quando estamos conversando com amigos, parentes, ou colegas de trabalho teremos à disposição um vocabulário mais do que suficiente para corporificar e expressar todas as nossas ideias.

Entretanto, em ocasiões mais formais, algumas pessoas costumam se expressar com palavras diferentes daquelas que usam nas situações do cotidiano. Procuram construir frases com estrutura mais sofisticada e por isso sentem dificuldade para transmitir o que estão pensando. Ou, como no caso de certos escritores, que pensam e meditam sobre cada palavra que põem no papel ou na tela do computador, e se atrapalham e dão verdadeiro nó na língua quando precisam se expressar oralmente.

Não estou dizendo que quem escreve bem não fala bem. Muito ao contrário, normalmente, quem escreve bem também possui boa comunicação oral. Quem tem boa redação, de maneira geral, é dotado de bom preparo intelectual e está familiarizado com um vocabulário mais abrangente, que o ajuda a transmitir o que pensa. Mesmo assim, insisto, falar e escrever são duas atividades distintas.

Por isso, se você deseja falar com fluência e desembaraço, precisa treinar e praticar a comunicação oral para adquirir essa espécie de automatismo da fala, essa capacidade de pensar e, praticamente, falar ao mesmo tempo.

Um bom exercício para desenvolver o hábito de verbalizar o pensamento é ler artigos de jornais e revistas e, na primeira oportunidade, comentar sobre essas informações com as pessoas que encontrar.

Assim, habituando-se a verbalizar os pensamentos, a falar sobre as informações que acabar de ler e a usar nas situações mais formais o mesmo tipo de vocabulário que costuma empregar nas conversas com as pessoas mais próximas; no dia-a-dia, além de tornar sua comunicação muito mais eficiente poderá contar com um apoio excepcional para transmitir suas ideias e projetos, aprimorando-se na arte de persuadir e de se relacionar bem com os seus semelhantes.

Vamos lá, ponha esse objetivo de falar de maneira mais fluente em qualquer circunstância entre suas prioridades e se transforme num comunicador ainda melhor.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Anote a palavra que desconhecer ou sobre a qual tiver dúvida

do significado • Esclareça a dúvida com o auxílio de um dicionário • Escreva algumas frases diferentes incluindo a nova palavra • Aproveite a primeira conversa ou o primeiro texto para usá-la • Procure utilizá-la o mais rápido que puder em outras ocasiões,

para que a palavra se incorpore definitivamente ao seu vocabulário

5 5 5 5 ---- Arrebente na entrevista de emprego Arrebente na entrevista de emprego Arrebente na entrevista de emprego Arrebente na entrevista de emprego

Cada vez que vejo o número de candidatos a uma vaga de emprego

limpo os olhos para me certificar de que não estou enganado. Sinto pena dessa garotada que se atropela para encontrar um lugar ao sol.

A estatística chega a ser desanimadora - de 15 mil a 25 mil candidatos para 15 a 20 vagas. Há casos em que a procura para esse número de vagas ultrapassa a marca dos 100 mil pretendentes. Lógico que não são todas as empresas, nem todas as atividades que oferecem tão poucas vagas para esse número elevado de candidatos, mas a concorrência é sempre muito grande.

Nos últimos anos, tenho recebido no meu curso de expressão verbal, com freqüência crescente, jovens interessados a aprender a falar bem na peregrinação que fazem em busca de uma chance no mercado de trabalho. As mesmas orientações que tenho dado a eles vou passar agora a você, para que amplie suas chances de se sair bem numa entrevista e conquiste o emprego que tanto deseja.

Ah, e se você já estiver empregado, fique atento, porque as mudanças na vida profissional ocorrem quando menos se espera.

Talvez você não se dê conta, mas ao chegar para a entrevista já terá passado por uma fina seleção. Estará entre candidatos que possuem mais ou menos o seu preparo. A mesma formação acadêmica, o domínio das mesmas línguas, a mesma competência tecnológica, a mesma experiência profissional. A entrevista irá avaliar se além de todos esses pré-requisitos você possui o perfil ideal para a empresa e para a função que deverá ocupar.

É agora, no momento da entrevista, que começa a verdadeira competição. O que você tinha de fazer para se capacitar e chegar até ser entrevistado já fez; daqui para frente estará por sua conta.

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Hoje vou falar das preliminares, alertar para os cuidados que você deve tomar antes de chegar à frente do entrevistador. Na próxima semana vou mostrar como deverá agir quando estiver diante dele.

Faça a lição de casa antes da entrevista Vamos começar pela página um da cartilha. São detalhes que

provavelmente nem precisariam ser comentados, mas que se forem deixados de lado você não passará nem sequer da primeira conversa.

Se você for homem, por mais que você goste da sua juba, não vacile, meta a tesoura na cabeleira. Quase todos os entrevistadores dão preferência aos entrevistados com cabelos curtos. São raras as atividades que não se incomodam com esse aspecto da aparência - algumas agências de publicidade, empresas de informática e mais meia dúzia de organizações 'descoladas'. E só. Por isso, se deseja conquistar o emprego, apare os cachos.

Você usa bigode? Bonito, bem aparado? Mas, precisa muito do emprego? Hum, pelo menos no período das entrevistas seria melhor tirá-lo da frente. Eu sei que, se você usa, é porque gosta do bigodinho, ou é uma exigência da mulher ou da namorada que não se cansa de dizer como ele dá um charme todo especial a você. Entretanto, mais de 90% dos entrevistadores preferem candidatos que não usam bigode.

Dê uma checada nas unhas. Verifique se elas estão cortadas e limpas. Com unhas de gavião talvez você não passe nem da recepcionista.

Capriche no figurino. Se não quiser errar, use terno azul marinho, cinza escuro ou preto. Para essas cores a melhor combinação é feita com meias da mesma cor do terno. Você sabia que os primeiros detalhes que as mulheres observam no homem são os sapatos e a gravata? Com o entrevistador talvez não seja muito diferente. Por isso, para essas roupas que acabei de sugerir, escolha sapatos pretos - sempre limpos e engraxados. Embora tenha certa liberdade para combinar a gravata, tome cuidado com as cores espalhafatosas ou que fiquem em desarmonia com o conjunto.

Se você for mulher, prefira vestir um tailleur elegante, discreto. Use maquiagem suave e, assim como os homens, cabelos preferencialmente curtos e com bom corte. Quando for participar de dinâmicas de grupo prefira usar calça comprida para ter mais liberdade e se sentir mais à vontade.

Em todos os casos, sendo você homem ou mulher, vá para a entrevista vestido sempre de maneira formal, mesmo que a região seja propícia para roupas mais informais, como cidades praianas e interioranas. Vale a pena seguir as orientações de um bom livro de moda. Verifique

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especialmente o capítulo sobre roupas clássicas, para conhecer melhor as combinações mais adequadas.

Como você deseja acertar, talvez quisesse fazer esta pergunta: Polito, o que mata as chances de um candidato? Segure firme que lá vão os pecados capitais.

Se o candidato for fumante ou rechonchudo já chegará em desvantagem. Se você entrou para esse grupo de risco, não fique chateado comigo, são as pesquisas que constatam que mais de 70% dos entrevistadores têm restrições a fumantes e a obesos.

Assim como também torcem o bico quando descobrem que o candidato presta serviços de consultoria independente. A receptividade não é das melhores se o candidato for dono de uma empresa ou se dedicar a algum negócio paralelo. É importante você ter essas informações para não chegar falando maravilhas do seu negocinho paralelo, como se fosse uma grande vantagem.

Pode levar desvantagem também quem estiver beirando um ano como desempregado, ou ainda ultrapassando a linha dos 50. Eu sei que é nessa idade que você está no auge da experiência e da produtividade. Mas o que fazer se essa turma é chegada nos garotões?

Mulher com filho em idade que exija muito da sua atenção também perde uns pontinhos na competição. Digamos que é um pecado venial.

E para concluir a lista dos contra, as chances do candidato despencarão se permaneceu empregado por menos de dois anos em cada empresa.

Não significa que você será barrado se esbarrar em um ou mais desses aspectos restritivos, mas é bom botar a barbinha de molho para enfrentar dificuldades maiores. Ah, já que a barbinha ficou de molho, dê uma boa aparada nela.

Continue cuidando das preliminares Falando em lição de casa, procure saber o máximo que puder sobre a

empresa que irá entrevistá-lo. Quase todas possuem informações disponíveis na Internet que poderão ser muito úteis nas conversas que mantiver com os entrevistadores.

Tome cuidado para não querer ensinar o pai-nosso ao vigário e começar a dar aulas para o entrevistador. Mas inteire-se da nacionalidade, origem, países onde atua, ramo de negócio, principais produtos, faturamento, concorrência, clientes e, principalmente, se foi motivo de alguma boa notícia nos últimos tempos. Será muito mais apropriado falar sobre a empresa do que a respeito de assuntos que não estejam relacionados com o trabalho que irá desenvolver.

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Durante a semana da entrevista, leia os jornais para saber quais são as notícias mais importantes. Esteja muito bem informado para falar sobre qualquer tipo de assunto.

Parece absurdo precisar dar esta orientação, mas a experiência mostra que é um cuidado muito relevante. Estude muito bem seu próprio currículo. Durante a entrevista você precisará ser coerente. Assim, se informou no currículo que seu inglês é fluente, não poderá mudar a história e dizer que possui apenas o nível intermediário; ou, da mesma forma, se disse que tem facilidade para falar em público, não poderá revelar depois que nunca enfrentou uma plateia. Esse tipo de incoerência poderá ser fatal para suas pretensões.

Saiba também quem será o entrevistador, o cargo que ocupa, qual o nome dele e como deve ser pronunciado.

Faz parte da lição de casa dirigir-se ao local da entrevista com antecedência suficiente para chegar pelo menos 15 minutos antes do horário marcado.

Antes de sair, verifique se está levando seus documentos e uma cópia do currículo. Mesmo que já tenha mandado um exemplar, não custa nada se prevenir e levar mais um.

Você está prontinho para enfrentar a fera. Na semana que vem vou mostrar como você deverá falar com o entrevistador.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Vista-se de maneira sóbria e elegante. Nada de espalhafato para a entrevista

• Chegue para a entrevista com pelo menos quinze minutos de antecedência

• Estude bem seu próprio currículo, para dar informações sempre coerentes

• Pesquise bastante sobre a história e as atividades da empresa que irá entrevistá-lo

• Se você for universitário e quiser saber mais sobre o tema, procure a ONG Via de Acesso

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6 6 6 6 ---- Fale bem na entrevista de emprego Fale bem na entrevista de emprego Fale bem na entrevista de emprego Fale bem na entrevista de emprego

Na última semana, eu falei das preliminares de uma entrevista de

emprego. O texto está disponível para sua leitura aqui ou em 'índice de artigos' no pé da página. Hoje vou colocá-lo diante do entrevistador e mostrar como poderá ter um ótimo desempenho. E quem sabe faturar aquele emprego tão desejado.

Você já fez direitinho a lição de casa. Está bem vestido, unhas e cabelos cortados, devidamente inteirado das atividades da empresa, sabe quem é o entrevistador e como se pronuncia o nome dele. Agora é só enfrentar a fera.

Assim que for recebido, cumprimente-o com aperto de mão firme, sem exagero. Pega mal cumprimentar com a mão mole, como se não tivesse vontade de estar ali. Da mesma maneira, é irritante e desagradável aquele que faz da mão um alicate e cumprimenta com tanta força que parece querer esmagar a mão da outra pessoa.

Se você for encaminhado para uma sala de reunião, com várias cadeiras em volta da mesa, espere que o entrevistador indique o lugar para se sentar. Assim, não correrá o risco de se sentar exatamente na cadeira preferida dele.

Desligue o telefone celular e concentre-se apenas na entrevista. Comporte-se com naturalidade, como se estivesse conversando de

maneira animada, sem exagero, com uma pessoa amiga, com quem mantém relacionamento mais formal. Você deve conversar de forma cordial, sem ser engraçadinho. Fale com educação, sem se colocar em posição de desvantagem. Ouça com atenção, sem excesso de intimidade. Vá direto ao assunto, sem secar a conversa.

Isto é, seja uma pessoa agradável, simpática e comunicativa. Embora não seja tão simples agir assim numa conversa com o entrevistador, pois é natural que você fique nervoso e apreensivo. Esse é o comportamento ideal para que possa se sair bem numa entrevista.

Amenidades iniciais Praticamente todas as entrevistas se iniciam com assuntos leves e

descontraídos. O entrevistador experiente age assim para deixar o entrevistado mais à vontade e obter dele as informações de que necessita para sua avaliação. Embora você não deva perder o foco da entrevista, aproveite esses instantes para relaxar e queimar um pouco da adrenalina que, provavelmente, estará fervendo no seu organismo.

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O ideal seria manter esse tom natural e espontâneo da conversa inicial durante toda a entrevista. Para saber se você não está sendo artificial, falando como se fosse um político em cima do palanque, ou parecido com aquele vendedor que, tendo decorado tudo o que precisa dizer, fala como se fosse uma maquininha de produzir palavras, faça a você mesmo esta pergunta: se eu estivesse conversando em minha própria casa com aquela pessoa amiga, com quem tenho relacionamento mais formal, o meu comportamento seria o mesmo? Assim, saberá como se comportar da maneira mais apropriada.

Ponha-se no lugar do empregador Se você fosse o empregador, que tipo de resposta esperaria ouvir do

entrevistado? Nessa posição, você saberá que as respostas mais apropriadas são aquelas que revelam sua experiência e seus feitos nas atividades que já exerceu. Ele deseja saber se você tem competência e habilidade para resolver problemas, se relacionar bem com as pessoas por tempo prolongado, liderar grupos, negociar, trabalhar e agir sob pressão.

Atenção: em nenhuma hipótese critique seus ex-empregadores. Mesmo que você os odeie, guarde esse segredinho para você! Atitude positiva e discrição profissional são qualidades indispensáveis no atual mercado de trabalho.

A empresa irá contratá-lo se perceber que você poderá ajudá-la a atender necessidades do mercado. Por isso, mostre como suas aptidões são úteis para alcançar esse objetivo. Se você tiver dúvida a respeito do que a empresa pretende conquistar no segmento em que atua, não hesite em fazer perguntas que o ajudem a encontrar a resposta de que precisa. O entrevistador irá valorizar essa sua iniciativa, pois é esse comportamento que precisará ter quando estiver trabalhando com eles.

A objetividade é uma característica sempre apreciada, mas se precisar de um pouco mais de tempo para explicar como conseguiu resolver um problema grave, ou agiu para atingir determinado resultado excepcional, desde que o fato seja pertinente ao objetivo da entrevista, o entrevistador terá certamente interesse em ouvi-lo.

Como deve ser sua comunicação Além da naturalidade na maneira de falar e da motivação que deverá

demonstrar, tome alguns cuidados com sua comunicação que poderão se constituir na diferença para que seja ou não admitido.

Independentemente de sua idade e da função que esteja pleiteando, evite o uso de gírias e de palavrões e não queira bancar o engraçado fazendo piadas ou trocadilhos.

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Tome cuidado com a gramática. Esse é um estudo que deve ser desenvolvido a vida inteira, mas no momento da entrevista fique atento às concordâncias, à conjugação dos verbos, à construção das frases. Observe se não está interrompendo pensamentos pela metade, que poderiam dificultar o entendimento da sua mensagem ou produzir distorções no que tentou transmitir.

Quando estamos mais nervosos, a tendência é a de acelerar a fala. Se perceber que está agindo assim, procure controlar a respiração e passe a falar de maneira mais cadenciada. A fala acelerada poderá demonstrar um comportamento ansioso e descontrolado. Leitura de poesias em voz alta ajuda a desenvolver o ritmo e a cadência da fala, além de melhorar bastante a dicção e a respiração.

Quando estiver falando ou ouvindo, não fuja com os olhos, nem fique encarando o entrevistador. A primeira atitude poderá passar a ideia de timidez, enquanto que a última, ao contrário, poderá ser entendida como demonstração de arrogância.

De todos os defeitos que você poderia apresentar numa entrevista, falar muito pode ser um dos mais graves. Por isso, procure interagir com o entrevistador deixando que ele possa falar e fazer as perguntas que julgar mais importantes.

Não interrompa o entrevistador só para mostrar que tem conhecimento sobre o tema que ele desenvolve. Tenha calma e aguarde que ele conclua o que está dizendo. Entretanto, nunca deixe de tomar iniciativa para falar, quando julgar o momento oportuno. Essas atitudes são bem vistas pelas empresas.

Se conseguir ser natural e parecer sincero, sorria nos momentos que entender serem oportunos. Manter o semblante simpático tornará sua presença mais agradável e envolvente. Como sempre, só tome cuidado com as atitudes exageradas.

Você deverá ser sempre sincero ao responder às perguntas. Só quebre essa regra quando tiver de falar de seus pontos fracos. Não caia na besteira de dizer que é dorminhoco, que não consegue pensar direito antes das dez da manhã, e outras fraquezas que poderão prejudicá-lo na avaliação.

Prefira falar de como é rígido com funcionário que desconsidera hierarquia. Mas, alerte que já está mudando esse comportamento, pois percebeu que profissionais com um pouco mais de liberdade podem produzir melhor. Também pode mencionar como tem dificuldade para delegar tarefas que são vitais para a empresa.

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Mas, da mesma forma, revele como tem procurado preparar melhor as pessoas para essas emergências, porque sabe que às vezes outros terão de resolver essas questões mais relevantes.

Essas são algumas sugestões de como você poderá se comportar para se sair bem numa entrevista. Entretanto, você irá descobrir pela própria experiência que cada caso é distinto do outro e que, às vezes, um candidato que fuma um cigarro atrás do outro, se veste mal e conta piadinhas poderá ser o escolhido.

Enquanto você, que seguiu todas as orientações de como se comportar para se sair bem na entrevista, foi preterido. Realmente esses fatos podem ocorrer, mas apenas de vez em quando, pois na maioria das ocasiões os escolhidos são aqueles que se apresentaram, sob a ótica da empresa, de maneira correta.

Boa sorte e que você seja feliz no emprego que conquistar.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Fale de maneira natural, mas com certa formalidade • Nunca critique ex-empregadores • Evite o excesso de piadas e trocadilhos • Fique atento à correção gramatical • Fale e ouça sem fugir com os olhos. Mas também sem encarar

7 7 7 7 ---- Saiba Saiba Saiba Saiba enfrentar o brancoenfrentar o brancoenfrentar o brancoenfrentar o branco

É desesperador quando, ao transmitir uma mensagem diante de um

grupo de pessoas, sem mais nem menos dá branco e você não tem a mínima ideia do que pretendia falar.

Meio atordoado, você tenta descobrir o motivo daquele lapso. Imagina tratar-se de uma falha passageira do vocabulário e procura outra palavra para dar seqüência ao raciocínio. Em seguida, transcorridos alguns poucos segundos, o que na cabeça de quem está diante do público parece ser um tempo interminável, conclui que não foi apenas uma palavra que desapareceu, mas sim praticamente toda a linha de pensamento.

O coração parece querer sair pela boca. Quanto mais você luta para contornar o problema, mais as ideias fogem. Além do coração acelerado, bate uma espécie de vertigem que provoca mal-estar e até certa tontura. As pernas dão uma bambeada. O rosto fica branco, como se fosse de cera. As mãos desobedecem qualquer comando e não sabem o que fazer nem onde se posicionar. E ao olhar para os ouvintes só consegue ver o público envolto numa nuvem escura e bastante espessa.

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O sentimento de impotência é tão forte que a vontade nesse momento é a de que o chão se abra para que você possa desaparecer e fugir daquele verdadeiro pesadelo.

Se você já se meteu nesse tipo de saia justa, deve ficar arrepiado só de relembrar o episódio. Se não for o seu caso, provavelmente faz figa para escapar dessa armadilha desconfortável, pois sabe que todos estamos sujeitos a ela.

Por ser uma preocupação da maioria, o tema é recorrente: 'Polito, morro de medo de que me dê branco diante dos ouvintes. O que fazer nessa hora?'

As dicas que vou passar funcionam e poderão ajudá-lo a livrar-se desse verdadeiro fantasma que vive assombrando as apresentações de principiantes e de oradores experimentados.

Esteja preparado e muito bem treinado Não dê chances ao azar. É ingenuidade pensar que uma ou duas

lidas na matéria que irá expor o deixarão preparado para se apresentar diante da plateia.

Prepare-se da melhor maneira que puder. Se tiver uma semana para se preparar, prepare-se durante toda a semana; se tiver um mês, prepare-se durante todo o mês. Enfim, quanto mais preparado estiver, menores serão as chances de que ocorra o branco.

Ensaie de maneiras diferentes, mudando as palavras, a ordem dos tópicos, com e sem o apoio de recursos visuais. Com esse cuidado, irá adquirir capacidade de adaptação para promover alterações que a circunstância exigir.

Você não deve se limitar a apenas um tipo de treinamento porque, se diante do público esquecer-se de uma informação relevante na seqüência da mensagem, suas possibilidades de manobra serão reduzidas para contornar o problema.

São inúmeros os exemplos de executivos que me procuram traumatizados por causa da experiência negativa de terem tido um branco durante uma apresentação importante. Alguns revelam que sua imagem profissional chegou a ser arranhada em conseqüência do incidente.

Portanto, não arrisque. Prepare-se, prepare-se, prepare-se. Tenha um pequeno roteiro à mão Se antes de uma apresentação você ficar preocupado com a

possibilidade de que dê um branco, leve um roteiro como apoio. Ponha no roteiro frases que o orientem na seqüência da exposição,

especialmente os números, datas e cifras que precisam ser decorados.

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Você ficará surpreso com o efeito psicológico desses roteiros. Como você sabe que se esquecer de uma informação terá um recurso para se apoiar, irá se sentir muito mais tranqüilo e, provavelmente, se lembrará de todos os detalhes da apresentação.

O que fazer se der branco Atenção, muita atenção: procure não se desesperar nem entrar em

pânico se tiver um branco. O desespero é o pior de todos os inimigos de uma apresentação bem- sucedida.

Quanto mais você se desesperar mais irá se pressionar e menores serão suas chances para encontrar uma saída. Eu sei que não é tão simples assim, mas o caminho é esse mesmo, empenhe-se nessa direção e tente manter a calma.

A insistência só atrapalha. Ao perceber que deu branco insista apenas uma vez para tentar se lembrar da informação, se não conseguir resgatá-la na primeira tentativa, repita a última frase que pronunciou, como se estivesse querendo dar ênfase àquela parte da mensagem - é provável que ao chegar ao ponto em que deu branco a informação surja naturalmente.

Se essa estratégia falhar, use a expressão mágica, que se constitui no melhor remédio contra o branco. É tiro e queda. Diga: - na verdade o que eu quero dizer é... Com essa expressão você se obrigará a explicar a informação por outro ângulo e o pensamento se reorganizará para retomar a seqüência planejada. Não falha, use que dá certo.

E, se por qualquer motivo não funcionar, informe aos ouvintes que logo mais voltará a discorrer sobre aquele aspecto da mensagem e passe imediatamente para outro tópico.

Mais tranqüilo e sem a pressão de ter que encontrar a informação, provavelmente no transcorrer da exposição você se lembrará dela com mais facilidade. E mesmo que não consiga se lembrar, dificilmente você será cobrado por isso.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Esteja preparado e bem treinado para falar • Tenha um roteiro escrito à mão • Se der branco, não seja insistente • Repita a última frase como se quisesse dar ênfase à mensagem • Diga - na verdade o que eu quero dizer é... • Informe que voltará ao tema mais à frente

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8 8 8 8 ---- Como apresentar e aprovar um projeto Como apresentar e aprovar um projeto Como apresentar e aprovar um projeto Como apresentar e aprovar um projeto Aprendemos cedo que em Roma devemos agir como os romanos. A

aplicação dessa velha e sábia filosofia dos nossos avós cai como uma luva no momento de apresentar um projeto, pois com essa capacidade de adaptação as chances de que ele seja aprovado aumentam consideravelmente.

O caminho é simples. Basta fazer a lição de casa e analisar bem quais são as expectativas que as pessoas têm com relação ao projeto e se preparar para dançar de acordo com a música.

Para esclarecer melhor, vamos supor que você tenha grana sobrando e que um banco proponha uma aplicação para o seu rico dinheirinho.

Se você é tipo pé no chão, que vai ao cassino e põe uma ficha no preto e outra no vermelho para ter risco zero, qual seria sua atitude se o gerente da instituição financeira insistisse em lhe oferecer negócios que envolvessem ações, ou outros produtos de risco?

Mesmo a proposta sendo boa, com esse perfil conservador, é quase certo que depois de saber que haveria chances de ganhar, mas também de perder, diria com toda convicção: obrigado, mas me inclua fora dessa.

Por outro lado, se você tiver estilo mais arrojado e gostar de viver perigosamente, ainda que a operação parecesse vantajosa, fugiria das propostas que ele fizesse sobre fundos de renda fixa como o diabo foge da cruz.

Para a apresentação de um projeto, os aspectos a serem considerados são os mesmos. Se desejar que sua proposta seja bem-sucedida, você deverá dirigir os argumentos em direção às aspirações e às características dos ouvintes.

Portanto, ao se preparar para defender um projeto, o primeiro passo é descobrir que vantagens poderiam interessar aos responsáveis pela sua aprovação e elaborar a exposição nesse sentido.

Observe que estou me referindo às vantagens que poderiam interessar aos responsáveis pela aprovação, pois de nada adiantaria ser uma vantagem se o ouvinte não estivesse tão interessado nela.

Vamos supor que o projeto seja destinado à área industrial, e que os diretores estejam interessados em acabar com as paralisações da linha de produção por causa dos freqüentes gargalhos no acabamento.

Nessa circunstância, a introdução que serviria como chave de ouro para abrir o apetite dos ouvintes seria esclarecer logo nas primeiras palavras que a sua proposta visa o rápido escoamento da produção.

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Entretanto, se o interesse dos ouvintes fosse diferente, como, por exemplo, conquistar num prazo mais curto maior fatia do mercado pelo aprimoramento da qualidade do produto, ao revelar que essa será a grande finalidade do projeto, suas palavras soariam como música aos ouvidos da plateia.

Fica claro que para fisgar o interesse dos ouvintes na apresentação de um projeto e deixá-los atentos até o final, você deve usar as primeiras palavras para mostrar que as vantagens da implementação da sua proposta vão ao encontro das expectativas deles.

Por isso empenhe-se em descobrir quais os benefícios que irão interessar mais aos ouvintes e inicie falando sobre eles para que as pessoas fiquem mais receptivas desde o princípio.

Polito, quer dizer que vale até enganar um pouquinho? Em nenhuma hipótese. Tenha muito cuidado. Você só poderá fazer

promessas sobre as vantagens do projeto se elas forem verdadeiras. Caso contrário, além de frustrar as expectativas dos ouvintes e criar resistências às suas ideias, correrá sério risco de comprometer sua reputação.

Além disso, durante toda a exposição, você deverá lançar mão de argumentos que comprovem a veracidade da existência das vantagens prometidas desde o início.

Pode ser também que as suas sugestões firam os interesses de algumas pessoas. O que não é tão incomum no mundo corporativo. Neste caso, acautele-se para não tentar fazer com que sua opinião prevaleça logo no princípio.

Por mais divergentes que sejam as opiniões, com certeza você irá encontrar vários pontos coincidentes entre sua forma de pensar e a dos ouvintes.

Em momentos como esse, comece falando sobre esses pontos comuns até que as pessoas sejam levadas a deduzir que vocês pensam da mesma maneira. A partir daí elas se desarmarão, passarão a ouvi-lo sem resistências e você terá muito mais chances de conquistá-las.

Só depois de ter construído esse campo de neutralidade é que poderá dizer o que realmente deseja. Também nesse caso, não concorde com os ouvintes apenas por concordar. Por mais opostas que sejam suas trincheiras, sempre existirão pontos de convergência verdadeiros.

Tenha cuidado para não demonstrar que concordou com as pessoas apenas como um ardil pra conquistá-las. Se essa artimanha for descoberta, você talvez tenha que dar adeus à vitória do seu projeto.

A não ser que você seja muito conhecido no ramo em que atua, ou fale para pessoas com as quais trabalha na mesma empresa, não parta da

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pressuposição de que todos conhecem sua autoridade para apresentar o projeto.

Para quebrar a resistência dos ouvintes com relação a você, porque não confiam na sua autoridade sobre o assunto, comente com sutileza sobre outros projetos que desenvolveu, ou empreendimentos de que tenha participado. Ao tomar conhecimento da sua experiência, naturalmente ficarão mais receptivos.

Tomando esses cuidados, suas chances de ver seu projeto aprovado serão maiores.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Descubra os desejos dos ouvintes • Revele as vantagens do projeto que atendam a esses desejos • Conquiste a atenção e o interesse dos ouvintes logo no início • Antes de dar sua opinião, fale dos pontos comuns que possui

com os ouvintes • Fale sutilmente das suas experiências

9 9 9 9 ---- Planeje apresentações vencedoras Planeje apresentações vencedoras Planeje apresentações vencedoras Planeje apresentações vencedoras

Quando me entrevistam para dar 'dicas' de comunicação,

invariavelmente os jornalistas perguntam quais os erros mais comuns de quem fala em público.

Quase todos esperam que eu fale sobre problemas relacionados à voz, ao vocabulário ou à postura do orador. Por isso, ficam surpresos ao ouvir que um dos deslizes mais graves na comunicação está na estrutura e na organização das ideias.

De maneira geral, as pessoas não sabem como planejar as apresentações de forma lógica, persuasiva e eficiente. Julgam que basta ter um bom conteúdo para obter sucesso em suas exposições.

É evidente que ter conteúdo de boa qualidade é fundamental para que a comunicação seja bem-sucedida. Mas de nada adiantará ter a posse desse conhecimento se não houver concatenação organizada do raciocínio.

Por isso hoje vou passar a você um roteiro que, apesar de simples, dá excelentes resultados no planejamento de qualquer tipo de apresentação. Seja para entabular uma conversa informal, ministrar uma palestra, fazer a exposição de um produto ou projeto ou proferir uma complexa conferência.

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Além da utilidade para a comunicação oral, essas orientações são úteis também para escrever todos os tipos de mensagens, desde simples relatórios na vida corporativa até importantes projetos acadêmicos ou profissionais.

Imagino que você concorda comigo que é difícil prestar atenção em quem se apresenta sem organizar de maneira correta a seqüência da fala.

Alguns oradores transformam suas apresentações num verdadeiro samba do crioulo doido. Depois de muito tempo fazendo considerações periféricas a respeito do tema, quando você espera que finalmente vão entrar no assunto dão marcha à ré, coçam a cabeça, reviram os olhos, com aquela expressão de quem está viajando no tempo e começam a contar histórias da infância ou da cidade natal.

Mais adiante quando a hora é boa para concluir, pegam de novo a ponta do novelo e voltam a falar tudo o que já haviam desenvolvido no assunto central, repetindo com pormenores os mesmos argumentos, como se as informações fossem inéditas e constituíssem uma grande novidade para o público.

E surpresa! No instante em que seria preciso esclarecer pontos relevantes da matéria, fazem cara de missão cumprida, batem as anotações sobre a mesa ou a tribuna e ponto final, concluem de forma inesperada, passando a sensação de que novos capítulos ainda deveriam ser desvendados.

Polito, mas como é possível estruturar a fala de forma apropriada? Na maioria dos casos, as apresentações não possuem seqüência lógica

e bem ordenada porque não são bem planejadas. E o aspecto mais curioso nessa história toda é que pouca gente sabe que a ordem usada para planejar uma apresentação deve ser diferente da seqüência da exposição.

Vamos observar algumas regrinhas que ajudam a planejar bem qualquer tipo de apresentação, desde um simples bate-papo com amigos até a mais importante conferência. Não é nada muito complicado e você verá que tudo segue uma lógica fácil de ser percebida.

Deixe o começo para o final Aqui vai uma dica preciosa: nada de iniciar o planejamento da fala

pela introdução. A maioria comete o erro de iniciar o plano da exposição elaborando em primeiro lugar o que pretende transmitir no começo.

É fácil deduzir que você só poderá saber como deverá ser o início depois de estar consciente do assunto que irá abordar e dos objetivos que pretende atingir.

Talvez pareça estranho para alguns, mas a introdução deverá ser planejada em último lugar, depois mesmo da conclusão, quando já souber

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qual o trajeto que a mensagem seguirá e quais as barreiras e os desafios que precisará superar durante a exposição.

A introdução só poderá ser preparada de forma adequada quando você já souber quem serão os ouvintes, que informações possuem sobre a matéria e se irão ou não levantar resistências com relação a você ou ao tema da exposição.

Por isso, ao planejar as etapas da apresentação leve em conta inicialmente o tema que irá abordar e deixe a introdução e a conclusão para o final.

Primeiro passo: identifique o assunto Para que uma apresentação seja bem planejada, sua primeira atitude

deve ser a de identificar qual o assunto que pretende desenvolver. Acredite, muitas pessoas falam em público sem ter noção clara sobre o assunto que irão expor.

Por exemplo, poderão estar certas de que falarão sobre rentabilidade das operações, quando na verdade esse era apenas um dos aspectos de um assunto mais abrangente: planejamento estratégico.

Depois que você identificar qual é o assunto, elabore a linha de argumentação que pretende utilizar: estatísticas, pesquisas, estudos técnicos e científicos, teses, exemplos, comparações, testemunhos.

Dica especial: inicie a organização dos argumentos escolhendo para o início um que seja bom, e na seqüência vá pela ordem crescente, desde o mais frágil até chegar àquele que considere irrefutável.

Para descobrir que tipo de resistência poderá encontrar, imagine como você reagiria se estivesse no lugar dos ouvintes. Na posição deles, como se sentiria diante da proposta que você irá apresentar. Tente deduzir que objeções eles poderiam levantar contra os argumentos e prepare-se para refutá-las de maneira conveniente.

Saiba quais são os objetivos Quero alertá-lo para o fato de que você ainda está no assunto central,

no primeiro passo do planejamento. Após identificar o assunto descubra que objetivo o motivou a se

apresentar. Sugerir solução para um problema? Ou comunicar uma novidade? Descobriu? Agora você já está pronto para planejar o segundo passo da sua apresentação.

Segundo passo: facilite a compreensão dos ouvintes O fato de você saber qual é o conteúdo da sua exposição não significa

que os ouvintes também já saibam. De maneira geral, não só não sabem como precisam ser bem orientados, para que possam compreender o assunto que irão ouvir.

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Para facilitar a compreensão dos ouvintes, revele a eles qual o assunto que irá expor e esclareça qual o problema que precisa ser solucionado.

Se você pretende discorrer sobre um assunto novo, sobre o qual eles não estejam devidamente inteirados, faça um retrospecto, um histórico mostrando como os fatos evoluíram no transcorrer do tempo até chegar ao momento presente.

Note que essas informações só serão possíveis depois de você ter cumprido o primeiro passo do planejamento, isto é, ter identificado qual é o assunto e quais são os objetivos da apresentação.

Terceiro passo: finalmente a conclusão e a introdução Neste momento você já está em condições de planejar como fará a

conclusão, levando os ouvintes a refletir ou agir de acordo com a sua mensagem ou sua proposta.

E depois de ter organizado todas as etapas da apresentação você finalmente poderá se decidir pela melhor introdução.

Sabendo agora qual será a sequência da exposição e as dificuldades que deverá suplantar, estará em condições de planejar o início da apresentação. Estará consciente de como deverá agir para afastar desde o princípio as resistências dos ouvintes e conquistar a atenção e a simpatia de todos.

A partir desse planejamento simples você irá ordenar melhor o seu pensamento e possibilitará que o ouvinte acompanhe sem esforço toda a seqüência do discurso.

Com tudo planejado, agora é só ir para frente do público e começar a falar pelo começo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Em primeiro lugar, identifique o assunto e quais são seus objetivos

• Facilite a compreensão dos ouvintes, revelando qual é o assunto que irá expor, o problema a ser solucionado ou fazendo um histórico das informações

• Prepare a conclusão • Escolha a introdução mais adequada

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10 10 10 10 ---- Aprenda a falar de improviso Aprenda a falar de improviso Aprenda a falar de improviso Aprenda a falar de improviso Falar de improviso. Assim como ocorre com a maioria das pessoas,

talvez essa também seja uma das suas maiores aspirações. Imagine este quadro: você está rodeado de gente, sem a mínima

noção de que alguém poderia ter a 'brilhante' ideia de convidá-lo a se apresentar, e é chamado para falar em público de improviso!

Veja se este não é um sonho que merece ser acalentado. Mesmo tomado de surpresa, sem nenhum preparo, você, diante de

uma circunstância tão adversa, tendo condições de falar com desembaraço, muita desenvoltura e conseguindo alinhavar o pensamento, concatenando as ideias com tranqüilidade e competência.

Vou lhe contar um segredo: realizar esse sonho de falar de improviso em qualquer situação de maneira segura e eficiente é mais simples do que você talvez esteja imaginando. Basta seguir os passos que vou sugerir neste texto.

Saiba antes o que significa falar de improviso Falar de improviso, diferentemente do que algumas pessoas

imaginam, não significa falar sem conhecer o assunto. Se uma pessoa se atreve a falar em público sem ter informações sobre o tema que irá transmitir, o adjetivo mais benevolente que poderíamos lhe atribuir é o de irresponsável.

Quem fala sem conhecimento do conteúdo que pretende transmitir põe em risco sua imagem e reputação. Assim, se você for convidado para falar sobre um assunto que não conhece e não tiver tempo suficiente para estudá-lo, a atitude mais sensata é recusar o convite.

Da mesma forma, um dos erros mais graves que você poderia cometer é o de se sentir tão seguro e confiante para falar em público e negligenciar a preparação, passando a refletir sobre o assunto que irá expor apenas no momento em que já estiver frente a frente com os ouvintes.

Por isso, de todos os recursos com os quais poderá contar para se sair bem numa apresentação os mais importantes serão sempre o preparo e o domínio do conteúdo.

Agora que já chamei a atenção para esses aspectos que considero fundamentais para uma boa apresentação em público, podemos tratar do conceito e das técnicas do improviso.

Falar de improviso significa falar sem ter preparado de forma conveniente a apresentação.

Suponha que você esteja em uma reunião ou em um evento e é convidado para falar sobre determinado tema. Embora o assunto não lhe

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seja estranho, você terá de estruturar o pensamento e organizar a seqüência da exposição ali diante dos ouvintes. Essa é uma situação que identifica a fala de improviso.

Veja quais são as técnicas que poderão ajudá-lo a se sair bem em momentos como esse.

Fale antes sobre um assunto de seu domínio Antes de desenvolver o tema que é a matéria central da sua

apresentação, fale a respeito de um assunto que conheça com bastante profundidade e que tenha alguma ligação direta ou indireta com o conteúdo que deverá transmitir.

Esse assunto de apoio, que você domina, poderá ser uma notícia que esteja acompanhando com interesse, fatos que tenha presenciado, cenas dos filmes que foram marcantes, passagens de livros que tiveram significado especial, viagens que realizou, desafios que enfrentou, conquistas que experimentou, temas relacionados à sua atividade profissional ou ao seu passatempo preferido. Enfim, qualquer assunto sobre o qual possa falar com segurança e tranqüilidade.

Depois de discorrer algum tempo sobre esse assunto de apoio, você deverá encontrar uma maneira de fazer a transição para o assunto principal.

Nesse momento você poderia questionar: Polito, mas o ouvinte não vai perceber o artifício? Se você agir de maneira correta, não. Veja onde está o segredo.

É natural que ao falar você saiba quais as etapas que cumpre na apresentação. Saberá quando faz a introdução, a preparação, o desenvolvimento do assunto central e a conclusão. Entretanto, os ouvintes receberão a mensagem como sendo uma só, desde o princípio até o final.

Ora, como você fala com desembaraço e desenvoltura ao abordar o assunto de apoio, pois é uma matéria de seu domínio, o ouvinte, recebendo a mensagem como sendo uma só desde a introdução até a conclusão, terá a impressão de que o seu domínio é da informação toda. Na verdade, você conhece bem o assunto de apoio, e talvez apenas superficialmente o tema principal.

Resumindo: fale antes sobre o assunto que você conhece bastante e depois ligue com o tema que talvez não conheça tanto, e que é o objetivo da sua exposição.

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Alguns cuidados sobre o uso do assunto de apoio:

• Não desenvolva o assunto de apoio por tempo demasiado, para não dar a impressão de que ele é mais importante que o tema principal;

• Escolha como apoio aquele assunto que você conheça muito bem. Não caia na armadilha de optar por um assunto para apoiar a apresentação apenas pelo fato de existir algum tipo de ligação entre ele e o principal;

• Não passe de maneira abrupta do assunto de apoio para o tema principal;

• Não dê a impressão de estar 'enrolando' ou 'enchendo linguiça', pois não é esse o objetivo da técnica do improviso.

Tenha em mente que o assunto de apoio deverá servir para que os

ouvintes o vejam como alguém que conhece bem o tema da apresentação e também para auxiliá-lo a organizar de forma mais criteriosa e correta a seqüência da fala.

Outras funções do assunto de apoio Mesmo sabendo que a objetividade é cada vez mais requisitada, pois

com a vida corrida que levamos não sobra tempo para ouvir exposições muito longas, secar conversa pode ser visto como atitude de gente chata.

Um bom orador nem sempre é aquele que já nos primeiros instantes da exposição entra diretamente no assunto que pretende transmitir.

O orador de qualidade, às vezes, para tornar sua apresentação mais interessante, mais estimulante, mais atraente, mesmo conhecendo bem o tema que irá apresentar, separa o assunto e procura preservá-lo. Atinge essa finalidade usando como apoio um assunto que lhe é muito familiar.

Ao abordar um assunto preliminar, de seu conhecimento, cria uma expectativa adicional nos ouvintes, deixando-os mais interessados em receber as informações da mensagem principal.

Observe o desempenho dos grandes oradores. Note que a maioria deles se vale de assuntos que conhece muito bem para preparar de maneira mais apropriada suas apresentações e torná-las ainda mais interessantes.

Procure seguir o exemplo desses oradores. Antes de apresentar o assunto central da sua mensagem, analise se não poderia se valer do apoio de um assunto que conheça muito bem, e que tornasse sua exposição mais instigante.

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Se os assuntos forem ligados um ao outro de forma natural, poderá dar a impressão aos ouvintes de que se trata de uma só mensagem e tornar a apresentação muito mais atraente.

Também serve para o improviso Além dos assuntos de seu conhecimento que você poderá lançar mão

como recurso para as falas de improviso, será possível contar também com os fatos que tenha observado pouco antes do momento da sua apresentação.

Por exemplo, você poderá iniciar citando uma notícia que tenha ouvido há pouco durante o trajeto em uma emissora de rádio, ou um fato curioso que tenha lido no jornal pela manhã, ou ainda um diálogo que manteve com alguns ouvintes pouco antes da apresentação.

Esses assuntos atuais darão a você mais confiança, por serem recentes. E por causa dessa atualidade, provavelmente, serão ainda mais estimulantes para os ouvintes.

Esses são apenas alguns dos recursos com os quais você poderá contar para fazer bem os improvisos. Saiba, todavia, que quanto mais você conhecer o assunto da sua apresentação, mais seguro se sentirá diante do público e mais eficiente será a sua comunicação.

Por isso, por mais irônico que possa parecer, prepare-se cuidadosamente para que possa fazer cada vez melhor seus improvisos.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Tenha sempre na 'manga' um assunto de apoio para falar de improviso

• Use como apoio notícias recentes para tornar o improviso mais interessante

• O assunto da conversa que manteve há pouco pode ser um ótimo apoio para o improviso

• Mesmo que a chance seja remota, pense no que dizer se for convidado a falar de improviso

11 11 11 11 ---- Fale com naturalidade Fale com naturalidade Fale com naturalidade Fale com naturalidade

Nos últimos 30 anos, tenho empunhado uma bandeira que considero

uma das mais preciosas para o sucesso da comunicação: a naturalidade. Parece ironia. Mas, você só conseguirá desenvolver uma

comunicação eficiente se aprender a explorar seu próprio potencial, preservar suas características e falar com naturalidade. Isto é, terá de se dedicar e aprender muito para no final conseguir ser você mesmo.

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Dá a impressão de ser muito simples. Afinal, basta que você se comporte diante do público sem máscara, sem afetação, sem artificialismo e passará a fazer parte do seleto grupo dos grandes comunicadores.

Entretanto, esse objetivo possível de ser atingido por todas as pessoas, independentemente da sua situação econômica, social ou intelectual, é o que exigirá de você maior esforço, estudo e dedicação.

Por isso, se você me perguntasse o que considero mais importante para que a sua comunicação seja vitoriosa, com toda a convicção e sem nenhum receio de errar eu diria: seja natural.

Aprenda e aplique todas as regras da comunicação, mas jamais perca sua naturalidade. Fale nas reuniões da empresa, nos contatos sociais e de negócios preservando seu estilo e respeitando seu jeito de ser.

A grande meta da comunicação é a credibilidade. Se os ouvintes acreditarem em suas palavras, tudo poderá ser conquistado. Você terá a aprovação do projeto, a assinatura no pedido, o voto em seu nome, a solidariedade à sua causa. Enfim, todos os seus anseios serão atendidos se você tiver credibilidade.

Para que essa qualidade esteja presente em sua comunicação, o primeiro e mais relevante requisito é a naturalidade.

Se você cometer erros técnicos de comunicação, mas conseguir se expressar de maneira natural e espontânea, as pessoas ainda poderão confiar na sua mensagem. Se, entretanto, você aplicar todas as técnicas, mas se apresentar com artificialismo, os ouvintes duvidarão das suas intenções e se mostrarão resistentes ao que disser a eles.

Para saber como deve ser a sua comunicação quando você se apresenta com naturalidade, observe como se comporta quando está falando com as pessoas mais íntimas -amigos e familiares- e procure se apresentar em outros ambientes mantendo essa mesma forma de ser.

Se você conseguir falar diante de uma plateia ou de um grupo em reuniões formais com a mesma liberdade e desenvoltura com que se expressa em situações mais descontraídas, atingirá o mais elevado nível de comunicação que poderia pretender, pois estará transportando essa competência para todas as circunstâncias.

Talvez contando como procedo com meus alunos no Curso de Expressão Verbal você tenha uma ideia melhor de como deverá agir.

Ao receber o aluno, antes de iniciar a aula, converso com ele de maneira amigável até que possa se sentir à vontade e se expressar com espontaneidade.

Durante essa conversa descontraída posso analisar o ritmo da sua fala, a maneira como faz as pausas, como gesticula, olha, ri, o tipo de

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vocabulário que utiliza, se possui e como explora a presença de espírito, como ouve e participa do diálogo. Enfim, como se comunica a partir do seu verdadeiro estilo.

Após essa observação o aprendizado passa a ser mais simples, pois ele apenas terá que fazer na tribuna, diante do microfone e da câmera, o que já sabe. Quando ele conseguir se apresentar nesta situação mais formal da mesma maneira como estava se comunicando comigo naquela conversa inicial mais solta, estará pronto para falar em qualquer situação com desembaraço, confiança e eficiência.

Quase todos os alunos se mostram surpresos, pois esperavam participar de um processo de aprendizado que impusesse regras prontas de conduta. Entretanto, ficam aliviados ao descobrir que para ser bons comunicadores não precisarão se violentar, interpretando papéis ou vivendo personagens diferentes da sua realidade pessoal.

É evidente que você deverá buscar cada vez mais o seu aprimoramento e se dedicar para assimilar e aplicar todas as boas técnicas da comunicação, mas sem jamais perder sua naturalidade.

Saiba também que ser natural não significa continuar cometendo erros, mas sim aproveitar os aspectos positivos que aprendeu e desenvolveu ao longo da vida.

Falando com naturalidade você se sentirá muito mais confiante, e essa segurança permitirá que explore melhor sua inteligência, bom humor e capacidade de associar ideias e informações, o que tornará suas apresentações muito mais expressivas, desembaraçadas e atraentes.

Aprenda, estude, pratique todas as boas técnicas, mas jamais deixe de ser como é, pois -tenha certeza- o melhor de você será sempre você mesmo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Fale diante da plateia como se conversasse em casa com amigos

• Aprenda todas as técnicas, mas nunca deixe de ser natural • Prefira errar na técnica e continuar sendo natural • Prefira ser natural a acertar na técnica • Estude e se aplique para acertar na técnica e continuar sendo

natural

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12 12 12 12 ---- Com inimigo não se brinca Com inimigo não se brinca Com inimigo não se brinca Com inimigo não se brinca Aprendi muito cedo, ainda criança, sobre a importância dos limites

para o uso do humor e da brincadeira. Mais tarde descobri que próximo do humor e da brincadeira há sutilezas que podem fazer toda a diferença entre o sucesso e o fracasso na convivência social.

Vivi minha infância e juventude em Araraquara, localizada bem no centro do Estado de São Paulo. Nessa cidade interiorana, famosa por sua limpeza e efervescência cultural, eu e meus amiguinhos crescemos brincando e aprendendo. Embora imaginássemos que mais brincávamos do que aprendíamos, hoje vejo que a realidade pode ter sido outra, pois, talvez, mais aprendíamos do que brincávamos.

Veja esta lição de casa. Literalmente de casa. Quando eu, meu irmão, meus primos e toda garotada da rua invadíamos o sagrado espaço da cozinha de casa, defendido com olhares de censura pela minha avó Joana, depois de nos divertirmos com duas ou três brincadeiras mais ruidosas, ela nos dizia pausadamente: opa, opa, opa, graça por graça uma vez só basta.

Acusávamos a reprimenda e batíamos em retirada. Aprendi assim, depois de levar muitos desses puxões de orelhas, que brincadeiras ruidosas podem irritar algumas pessoas e que não é um comportamento bem-vindo em todos os lugares.

É possível que você esteja com vontade de questionar: mas, Polito, você não vai me dizer que não se pode brincar? Pode e deve. A vida com alegria é quase um sinônimo de felicidade. Pessoas bem-humoradas, de espírito leve são muito bem recebidas em praticamente todas as rodas de conversa.

Entretanto, aqui entra um complicômetro do relacionamento humano. As piadas e brincadeiras barulhentas, além de irritar Joanas, quase sempre prejudicam a imagem do engraçadinho. Por isso, o bom humor exige investimento permanente no aprendizado e no aperfeiçoamento da sutileza.

São dois extremos. Se por um lado o humor sutil, refinado transforma-se num atestado de inteligência e de preparo intelectual, por outro o trocadilho grosseiro e a piada rasteira demonstram rusticidade social.

Mas, antes de respirar aliviado, achando que com o aprendizado desse conceito todas as questões relacionadas ao humor foram solucionadas, veja quantos detalhes ainda precisam ser considerados.

A ironia fina e as tiradas espirituosas, espontâneas, leves atestam originalidade e formação requintada. Até aqui nada de novo nos dez

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mandamentos da convivência humana. Só que, por ser sutil, o mesmo humor que pode nos projetar, pode também, às vezes, nos trazer aborrecimentos.

Seria desnecessário explicar que a sutileza do humor funciona quando o interlocutor também é dotado de sensibilidade e massa cinzenta. Tanto que para nos relacionarmos bem com diferentes grupos precisamos medir esse nível de sutileza, de acordo com a capacidade de compreensão das pessoas com quem mantemos contato.

Quanto mais inteligentes e bem preparadas forem as pessoas, mais sutil e subentendido pode ser o humor. Um simples jogo de palavras pode ser suficiente para que a mensagem seja perfeitamente compreendida.

Quanto mais rústicas e despreparadas forem as pessoas, mais evidente e ostensivo deve ser o humor. A informação deve ser tão clara e concreta que ninguém precisará fazer nenhum esforço para compreendê-la.

Se depois de fazer uma brincadeira, você tiver de explicar que sua intenção foi diferente daquela entendida pelo interlocutor, provavelmente errou na medida e não soube usar o humor de forma adequada. Humor usado de maneira apropriada não necessita de explicações complementares.

Lembro-me de uma estratégia interessante usada pelo Chico Anísio. Ele dizia que iniciava seus shows sempre com uma piada bem leve, que poderia ser contada no chá das freiras, e media a reação do público. Depois ia colocando mais tempero nas seguintes, até a risada da plateia ficar meio forçada. Essa era a medida. Daí para cima era como se falasse com a linguagem própria para os freqüentadores dos bares noturnos do cais do porto.

Leve em conta também que o humor sutil, além de não ser entendido por todos, pode se transformar numa poderosa arma nas mãos dos nossos inimigos e adversários.

Esses Joaquim Silvério dos Reis de plantão ficam aguardando a oportunidade para dar o bote e nos atacar. Pegam ao pé da letra as palavras que deveriam ser entendidas apenas no sentido figurado, fingem que não entenderam a intenção sutil da brincadeira e se mostram, normalmente diante de outras pessoas, indignados.

E ficamos desesperados dando explicações de que tudo não passou de uma ingênua brincadeira. A pessoa que nos atacou finge querer ajudar e faz aquele ar de quem está perdoando nosso deslize. Só que as outras pessoas que participam da conversa também podem ficar contaminadas e acreditar que fomos mesmo grosseiros.

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Por isso, quando suspeitar da presença de algum inimigo na conversa, não vacile. Faça brincadeiras com sutileza, use o humor sutil, que é a medida do seu preparo e a marca da sua inteligência, mas exagere na maneira de comunicar.

Fale fazendo caretas, imitando vozes estranhas, use pausas mais prolongadas, para que não fique nenhuma dúvida de que a intenção é muito distinta do que a mensagem direta comunica. Na dúvida, não arrisque e fique na sua.

Redobre o cuidado quando for escrever. No papel, ou na tela do computador você não poderá contar com a ajuda da expressão corporal ou da voz para informar que está brincando. Portanto, aqui valem as aspas, as reticências e até os avisos explícitos de 'brincadeirinha'.

Não deixe de brincar ou de usar seu humor sutil, mas fique atento para se defender dos cabeças-de-ostra e das pessoas bem preparadas que não possuem escrúpulos para dar uma boa puxada no seu tapete.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Sempre que puder use o humor em sua comunicação • Use humor sutil e presença de espírito como medida da sua

inteligência • Lance mão de todos os recursos para que não o tomem ao pé

da letra • Se brincar perto de um 'inimigo', não deixe dúvidas de que

está brincando

13 13 13 13 ---- Fuja do olho gordo Fuja do olho gordo Fuja do olho gordo Fuja do olho gordo Inveja, olho gordo, seca pimenteira. Xô, Satanás. Longe de mim essa

gente que não se conforma com o sucesso e o bem-estar dos outros. Pessoas invejosas são como ervas daninhas: brotam e proliferam em

qualquer cantinho. Bastou aparecer alguém se dando bem na vida para despertar à sua volta esse sentimento que além de ser rasteiro e desprezível é tão antigo quanto a história da humanidade.

E põe antigo nisso! Caim matou Abel por inveja. Nãããooo! É mesmo? Polito, com informações tão inéditas como essa, daqui a pouco você vai dizer que já inventaram a roda.

Fique tranqüilo. Eu sei que essa passagem bíblica não é nenhuma novidade. Fiz a citação só para lembrar que olho gordo não é invenção da moçada de hoje - apareceu com o primeiro homem a pisar na Terra e que, portanto, já deveríamos ter aprendido algo sobre esse sentimento.

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Entretanto, mesmo sendo a inveja uma velha de praça, é impressionante como, de maneira geral, nós a estranhamos e estamos sempre nos surpreendendo com ela.

Se refletirmos melhor sobre os motivos da inveja e conseguirmos identificar as formas apropriadas de nos defendermos dela, talvez possamos acrescentar um precioso ingrediente para melhorar o relacionamento com as pessoas e para o sucesso da nossa comunicação. E ousaria dizer, não só para nos protegermos da inveja dos outros, mas, quem sabe, principalmente, da presença desse sentimento em nós mesmos.

Sim, porque se perguntarmos a dez pessoas se elas são invejosas, talvez 11 respondam que não, pois temos a tendência de supor que os outros é que são invejosos, não nós.

Por isso, ligue as antenas e fique esperto para não ser surpreendido por esse sentimento tão negativo, que pode até impedir que nos relacionemos de forma mais harmoniosa com as pessoas.

A partir de uma reflexão aristotélica, e supondo que você, como um ser humano normal, sinta inveja, pense nas seguintes questões:

Você sentiria inveja do boy que acabou de ser admitido na empresa e anda perdido de um lado para o outro, pagando o mico de principiante, obrigado a procurar no almoxarifado a máquina de desentortar clipes? Provavelmente não.

Você sentiria inveja do velhinho australiano que quase ao apagar da última velinha ganhou o prêmio Nobel por descobrir as propriedades nutritivas das patas do rinoceronte? Provavelmente não.

Sabe por quê? Segundo Aristóteles, porque 'invejamos os que nos são iguais por nascença, parentesco, idade, disposição, reputação, bens em geral', e tanto o boy como o velhinho cientista são avaliados num nível tão distante de inferioridade ou de superioridade aos nossos olhos, ou aos olhos dos outros, que não os consideraríamos iguais a nós.

Por isso sentimos inveja daqueles que almejam os mesmos objetivos que nós, não daqueles que estão com a cabeça voltada para outros horizontes. Daqueles que venceram com facilidade nas situações em que fracassamos, ou tivemos que fazer muito sacrifício para atingir o mesmo resultado, não daqueles que fracassaram nas situações em que nos tornamos vencedores. Daqueles que conseguiram vantagens que um dia foram nossas, ou que julgamos que deviam nos pertencer, não daqueles que obtiveram benefícios que nunca aspiramos possuir.

Resumo da ópera: sentimos inveja de quem nasce ou vive na mesma casa ou no mesmo bairro, freqüenta o mesmo clube, trabalha na mesma empresa ou na mesma atividade, disputa o mesmo mercado. Isto é,

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parente, amigo, colega e concorrente. Você não? Ok, já estou alterando a estatística de 11 para 12.

Observe que os invejosos estão mais próximos do que imaginamos. É claro que não é para ficar paranóico e começar a tomar banho com sal grosso ou andar com galho de arruda na orelha, mas sim saber quem são, onde estão e como agir com eles da maneira mais adequada.

Embora eu tenha iniciado este texto fazendo uma espécie de prece para ficar sempre longe dos invejosos, você percebeu que, por eles estarem muito próximos de nós, até debaixo do mesmo teto, não há como evitá-los. Precisamos compreendê-los e aprender a conviver com eles da forma mais positiva possível.

Veja também como esse conhecimento pode ser útil no resultado da sua comunicação. Ao fazer uma apresentação será possível, a partir dos parâmetros que acabamos de destacar, saber se os ouvintes poderiam ou não se mostrar resistentes por causa da inveja ou de uma rivalidade mais acentuada.

Se entre os ouvintes houver uma boa parcela de pessoas que se enquadram nesse 'grupo de risco', a melhor tática para quebrar essa resistência é identificar as qualidades que elas possuem e enaltecê-las com elogios sinceros que possam, sem nenhum tipo de desconfiança, parecer verdadeiros. Essa atitude poderá fazer com que a plateia se desarme, afaste as resistências e passe a ouvi-lo com maior benevolência.

Assim, se ao falar em público, concluir que a inveja é o verdadeiro motivo da resistência dos ouvintes, seja compreensivo e entenda esse sentimento sem mágoa ou revanchismo, pois compreendendo as pessoas como elas são, com suas carências, seus medos, suas inseguranças e defeitos, haverá de sua parte um movimento favorável que poderá ser o caminho mais curto e eficiente para conquistá-las.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Se você se incomodar com o sucesso ou o bem-estar dos outros, talvez esteja com inveja

• Sentimos inveja dos que nos são iguais por nascença, parentesco, idade, disposição, reputação, bens em geral

• Sentimos inveja de quem vive na mesma casa, trabalha na mesma empresa, exerce a mesma atividade

• Invejamos quem vive na mesma época que nós. Não invejamos quem já morreu ou ainda não nasceu

• Para combater a inveja ou a rivalidade da plateia, elogie os ouvintes com sinceridade

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14 14 14 14 ---- Papa bom de papo Papa bom de papo Papa bom de papo Papa bom de papo Em seus primeiros pronunciamentos no Brasil, o Papa Bento 16

mostrou que é quase tão bom de papo quanto seu antecessor, João Paulo 2º.

Ele precisava conquistar a simpatia e a benevolência dos brasileiros no instante em que chegou ao Brasil. Só assim teria condições de fazer suas pregações com boas chances de sucesso.

As circunstâncias que cercaram sua chegada não eram das mais favoráveis. Com imagem de conservador, viu a Igreja Católica no Brasil batendo cabeça e perdendo fiéis por todos os lados.

Só para dar uma ideia das dificuldades que encontrou ao chegar, basta mencionar as seguintes: trombou de frente com a turma que defende o aborto, falou grosso contra o sexo antes do casamento, condenou o uso de preservativos, ameaçou gente graúda de Brasília de excomunhão, mostrou o crucifixo aos que pregam a eutanásia.

Quer mais? Como ainda não está muito acostumado com o Brasil, talvez não soubesse que informações sigilosas aqui vazam com bastante facilidade. Por isso, a possível negociação do Vaticano com o governo brasileiro, considerando alguns assuntos pra lá de delicados, não resistiu ao primeiro cochicho e aterrissou nas primeiras páginas dos jornais antes que seus sapatos vermelhos pisassem em solo tupiniquim.

Bem, dá para ver que não foram só flores que Sua Santidade vislumbrou sobre o tapete que o acolheu ao desembarcar. Tem consciência de que vai precisar lançar mão de sua ligação direta com o Todo Poderoso e dançar miudinho para que suas pregações sejam acatadas.

Por isso, sem perder tempo, afinou o gogó e botou o verbo para funcionar. Mostrou que não está para brincadeira e que se depender da sua competência oratória volta vitorioso para o Vaticano.

Falando para uma multidão de jovens católicos no Estádio do Pacaembu, de maneira habilidosa, Bento 16 fez referência a João Paulo 2º e foi interrompido pelo aplauso entusiasmado da plateia. Ele enfatizou que os jovens são os primeiros protagonistas do terceiro milênio.

Em outro trecho de seu discurso, Bento 16, mais uma vez com grande competência oratória, associou o conteúdo da sua mensagem ao Hino Nacional Brasileiro. Seu objetivo era o de sensibilizar a plateia para a preservação da Amazônia e o cuidado que devemos ter com seus habitantes. Por isso, estabeleceu interdependência entre a letra do nosso

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hino e o tema da sua apresentação, ao dizer: 'Nossos bosques têm mais vida'.

Esse aproveitamento de circunstância de pessoa (referência a João Paulo 2º) e de circunstância de lugar (referência ao Hino Nacional Brasileiro) foi um excelente recurso para estabelecer identidade com o público e conquistar a simpatia das pessoas.

Ao mencionar João Paulo 2º, Bento 16 disse nas entrelinhas para os ouvintes que, assim como a população do Brasil, ele também tinha admiração por seu antecessor, tanto que o estava citando.

Ao mencionar o trecho do hino, também de maneira indireta, disse à plateia que compartilhava a mesma informação conhecida por todos e que, portanto, sabia do que estava dizendo ao discutir sobre a Amazônia.

Seus primeiros discursos em território brasileiro, portanto, já se transformaram numa extraordinária aula de oratória. Reflita comigo.

A grande maioria dos brasileiros ainda se lembra com carinho e bastante saudade do papa João Paulo 2º. Aquela carinha de vovô bonzinho sorridente está sempre na nossa frente. Além de ser uma figura carismática, o papa anterior foi um dos maiores mestres na arte oratória. Os discursos que proferiu em nosso país podem ser vistos como lições excepcionais de comunicação.

Bento 16 sabe que, para conquistar os brasileiros, precisa suar a camisa, isto é, a batina, para ser visto com simpatia, pois, queira ou não, será o tempo todo comparado com João Paulo 2º. E, para concorrer com seu antecessor, precisa pôr em jogo tudo o que sabe e um pouco mais sobre comunicação. Mas, já mostrou que é do ramo.

Entretanto, o placar imparcial da comunicação ainda marca uma larga vantagem para João Paulo 2º. O papa anterior batia escanteio, corria na área, cabeceava, fazia gol e comemorava feliz com a galera, que não se cansava de aplaudi-lo.

É também por esse motivo que já estou tirando o chapéu para Bento 16. Ele sabe que se não dá para vencer o concorrente, o melhor a fazer é se juntar a ele. Quer ver como João Paulo 2º era um craque no uso da palavra? Saboreie estes trechos de discursos em que ele usou como recurso oratório o elogio aos ouvintes e o aproveitamento de uma circunstância de lugar.

O primeiro, em Belo Horizonte, ao falar com os jovens mineiros e elogiando-os de maneira poética:

'Peço que me seja permitido dedicar aos jovens do Brasil esta homilia.

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Pode-se olhar as montanhas, atrás, e se pode dizer: belo horizonte! Pode-se olhar a cidade, e se deve dizer: belo horizonte! Mas, sobretudo, pode-se olhar a vocês, e se deve dizer: que belo horizonte!'

O outro no Rio de Janeiro, aos pés do Cristo Redentor, aproveitando a circunstância de lugar. Uma verdadeira obra-prima da oratória:

'Redentor. Os braços abertos abraçam a cidade aos seus pés. Feita de luz e de cor e, ao mesmo tempo, de sombras e escuridão, a cidade é vida e alegria, mas é também uma teia de aflições e sofrimentos, de violência e desamor, de ódio, de mal e de pecado. Radiosa à luz do sol, silhueta luminosa suspensa no ar à noite, o Redentor, em pregação muda, mas eloqüente, aqui continua a problemar que 'Deus é luz', 'é amor'. Um amor maior do que o pecado, do que a fraqueza e do que a 'caducidade do que foi criado' mais forte do que a morte.

Sim, no cume destes montes, não há quem não possa contemplar a sua imagem, em atitude de acolher e abraçar, e imaginá-lo como é, sempre disposto ao encontro com o homem, desejo de que o homem venha ao seu encontro'.

Fale a verdade: dá para concorrer com uma fera dessas? O jeito é fazer como Bento 16 fez, juntar-se a ele.

A permanência do papa Bento 16 no Brasil, além de todos os motivos e conseqüências que você poderá encontrar, será uma excelente oportunidade para estudar um pouco mais sobre arte de falar em público e aprofundar os conhecimentos de como conquistar plateias e afastar resistências dos ouvintes.

Vamos aproveitar a oportunidade. Afinal, 'habemus papa'!

SUPERDICAS DA SEMANA:SUPERDICAS DA SEMANA:SUPERDICAS DA SEMANA:SUPERDICAS DA SEMANA: • Angarie a simpatia dos ouvintes citando pessoas que eles

admiram. • Aproxime-se da plateia mencionando lugares que conheçam. • Conquiste a torcida das pessoas elogiando-as de forma sincera. • Quebre resistências com relação ao assunto falando antes sobre

o que concordam.

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15 15 15 15 ---- Deixa disso Deixa disso Deixa disso Deixa disso Do nada, quando tudo parece estar na mais completa tranqüilidade,

você ouve alguém gritando lá no fundo da sala: se abrir a boca de novo, vou te encher de porrada, seu safado.

Todo mundo olha para ver o que está acontecendo e você fica perplexo com o que acaba de descobrir. Aquele que está esbravejando todo destemperado é o João, um cara do bem, supergente boa.

Quem já não presenciou pessoas perdendo o controle e girando a metralhadora verbal sem muita noção do que está fazendo? E o pior é que a pessoa fica tão ensandecida que enquanto não gastar a última 'bala' não consegue parar de falar.

Se você perceber alguém rodando a baiana, fungando como se fosse um dragão, com o rosto arroxeado, a boca salivando, quase espumando, fique esperto porque com gente brava assim nem sempre há condições de apaziguar.

Esse quadro que aparentemente é tão surrealista, na verdade é uma cena que pode ser presenciada em quase todos os lares, até naqueles onde vivem famílias que são exemplos de harmonia e tranquilidade.

Sem mais nem menos, de vez em quando aparece um com a veneta virada, arma o circo e o pau começa a comer. Se for numa casa que tem gente boa por perto, com jeito, dá para acalmar a fera. Aparece a turminha do deixa-disso e o ambiente vai se normalizando.

Quando o pega-pra-capar se restringe ao ambiente familiar, fica parecendo caso especial de televisão, que começa e acaba no mesmo dia. E não raro se transforma em história para ser lembrada com boas risadas nos encontros sociais.

Em casa, salvo exceções mais pesadas, geralmente tudo é mais simples porque entre marido e mulher, na cama, um leve toque no pé, como se fosse por acaso, uma escorregada para perto do parceiro, acaba pintando um clima, e tudo começa a se resolver.

A mesma paz pode voltar a reinar quando o entrevero ocorre com pais e filhos, irmãos, pois como há amor no relacionamento, em pouco tempo a raiva se dissipa e a paz nossa de cada dia retorna quase sem seqüelas.

Já não se pode dizer o mesmo quando a história é protagonizada por pessoas estranhas, que convivem sem que haja amor na relação. Por causa de besteirinhas, armam o bico, viram a cara um para o outro e, nos casos mais graves, fazem solenes promessas de vingança.

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Passado algum tempo, as causas da desavença desaparecem e só fica um sentimento de mágoa com a sensação de que alguém atravessou a linha e abalou o relacionamento. Poucos conseguem explicar quais foram os motivos da briga ou da discussão.

Veja que não estou tratando aqui de confrontos motivados por atitudes que justificaram o rompimento. Refiro-me especialmente ao destempero e à reação intempestiva das pessoas que não contam até três antes de subir nas tamancas e armar um sururu. É o tipo de gente que num piscar de olhos, por impulso, levantam a voz, esbravejam, abrem a mochila e libertam as cobras e lagartos que levam de prontidão.

São aqueles que não conseguem se controlar, perdem completamente a calma e só se satisfazem depois que despejam o estoque de bílis naqueles que tiveram o topete de contrariá-los.

Eu sei que sangue de barata não é um líquido que corre nas veias da maioria de nós, e que não é fácil engolir sapo e levar desaforo para casa. Até para os mais santinhos, seguir os preceitos bíblicos e virar a outra face é um sacrifício que exige bastante espírito de resignação. Já vi muitos desses com diploma registrado de anjinho perderem a calma e na segunda esperneada guardarem a auréola na gaveta.

Mesmo sendo difícil, é preciso aprender a contar além de dez para evitar problemas que em determinadas circunstâncias podem ser irreversíveis. Essas atitudes destemperadas e irrefletidas podem gerar conseqüências muito desagradáveis na vida pessoal e nas relações do ambiente corporativo.

Reagir de maneira impensada, tomar decisões em momentos de raiva, só porque foi contrariado, para se defender de ofensas recebidas não é uma boa prova de sensatez.

É quase matemático. Se você estiver descontrolado emocionalmente e num acesso de cólera tomar uma decisão, no dia seguinte, muito provavelmente, terá vontade de bater a cabeça na parede de tanto arrependimento.

Para tomar decisões importantes que envolvam muito dinheiro ou mexam com a vida das pessoas, você precisa no mínimo de uma boa noite de sono.

Eu não me excluo. Também já desenvolvi o hábito de contar com a noite como conselheira para as minhas decisões. Não foram poucas as vezes em que redigi e-mails com adrenalina raivosa na ponta dos dedos, mas antes de clicar o 'send' tive a lucidez e a prudência de deixar o texto dormindo sossegado por uma noite e adiei o envio dos impropérios para o

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dia seguinte - como eu me arrependeria se tivesse me guiado pelos meus impulsos e encaminhado a mensagem de maneira irrefletida.

Por isso, reflita com bastante cuidado antes de passar para frente uma decisão importante. E, se depois de pensar bastante, ainda assim julgar que deveria esperar mais um dia antes de agir, principalmente se estiver com a emoção à flor da pele, revoltado ou indignado com as atitudes de alguém, veja se é possível esperar passar a noite e, quem sabe, no dia seguinte se surpreenda com sua nova disposição mais equilibrada e conciliadora.

Que ninguém nos ouça - neste caso, é muito mais simples dizer o que fazer do que agir. Mas, enquanto falo com você eu também aprendo e me conscientizo cada vez mais que devo esperar uma noite antes de dizer o que não devia. Desta forma, vamos todos aprendendo a deixar para amanhã o que não deveríamos dizer hoje.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Nunca reaja emocionalmente. Conte sempre pelo menos até dez antes de revidar

• Espere baixar a adrenalina antes de responder a uma ofensa • Durma uma noite antes de tomar decisões importantes que

envolvam muito dinheiro • Durma até mais de uma noite antes de tomar decisões que

mexam com a vida das pessoas • Habitue-se a enviar e-mails 'raivosos' só no dia seguinte

16 16 16 16 ---- O vício de reclamar O vício de reclamar O vício de reclamar O vício de reclamar

João Carlos é um espalha-roda. Assim que se aproxima, a turma vai

encontrando um jeitinho de cair fora. Ninguém agüenta mais ouvir suas lamúrias, pois se transformou num viciado em choramingar.

Se você estiver ao lado dele, talvez agüente uma choradinha, duas, até três. Mas, como ele não consegue se conter, garanto que na primeira chance você também baterá em retirada. João Carlos é incansável, três choradas são suficientes só para aquecimento. Todo santo dia ele encontra algum motivo para reclamar.

Uma hora a vítima é o governo que, segundo ele, está sempre aumentando os impostos, ou caprichando sem perdão nas obscenas taxas de juros, que se transformam em obstáculo para o desenvolvimento econômico.

Pouco depois o alvo muda de direção e ele passa a descer o cacete nos responsáveis pela falta de emprego que, também de acordo com suas

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profundas reflexões, é a causa maior do aumento incontrolado da criminalidade e das mazelas sociais.

E quando você pensa que o estoque se esgotou, o resmungão abre outro compartimento de nhenhenhém e se volta contra ele mesmo dizendo que o tempo ficou muito curto e não consegue dar conta do recado, pois às 24 horas do dia são insuficientes para cumprir todos os seus afazeres.

Mas, como se especializou na arte de reclamar, passado um tempinho, complementa o comentário dizendo que por ter trabalho demais não consegue pelo menos um momento de lazer para se divertir.

Você pensa que termina por aí? Que nada. Num piscar de olhos encontra outros bons motivos para vociferar e espinafra a demasiada liberdade das mulheres. Por outro lado, os paletós também não lhe escapam e ele alerta que os homens continuam grosseiros, sem educação e chauvinistas.

Pois é, João Carlos fez do chororô sua marca registrada. Desenvolveu enorme facilidade para reclamar de tudo e de todos. Dá para dizer que ele se esmerou tanto nessa arte de chorar com os olhos sem lágrimas, que nem precisa de plateia para reclamar. Desconfio que resmunga até quando está sozinho, sem ninguém por perto. Por isso, as pessoas fogem dele como o demônio foge da cruz.

Antes que você me critique por cair de pau sem dó em cima do João Carlos, aviso que tenho consciência de que não devemos nos iludir pensando que a vida seja possível sem problemas. Sei que eles acompanham o homem desde que o mundo é mundo e continuarão a nos rondar enquanto estivermos respirando.

Sei que a vida é assim porque presenciei reclamações ainda dentro de casa. É possível até que a minha história pessoal seja muito parecida com a que você também presenciou. Mesmo nas boas famílias sempre tem alguém chiando por algum motivo.

Quando eu era criança já ouvia meu bisavô esbravejar contra a situação do país. A velha cartilha foi adotada pelo meu avô que entoou o mesmo cântico das avaliações negativas. Meu pai correspondeu com louvor ao DNA. Eu fiz minha parte para preservar a herança familiar. E para minha surpresa, se não bastassem meus quatro filhos resmungões, agora já posso contar com a Letícia, uma neta que nos primeiros aninhos ensaia suas primeiras esperneadas.

Portanto, sei muito bem que reclamar faz parte da vida de todos nós. Uma resmungadinha de vez em quando, talvez até ajude a movimentar o organismo e a dar mais liberdade ao espírito. Mas, daí a nos

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transformarmos num João Carlos e passar a existência ruminando desgraça vai uma longa distância.

Quando o chororô vira mania, escapa do controle, deixa de se restringir aos limites caseiros, ultrapassa fronteiras e se transforma num tipo de praga que vai se alastrando por onde passa.

A doença pega. Quem der ouvidos às carpideiras, dia mais cedo, dia mais tarde, começa a fazer parte do time. Sem perceber, se transforma em arauto das desgraças da vida.

Fico atento o tempo todo porque, como já confessei há pouco, não sou apenas um simples observador dessa agremiação de choramingueiros. Vez ou outra sinto que também mereço umas penitências, pois vacilo e me pespego reclamando só por reclamar.

Por isso ao falar sobre esse assunto me junto a alguns leitores e começo a analisar melhor minha maneira de agir. E antes mesmo de encerrar já estou ajoelhando no milho por causa de algumas atitudes condenáveis que adotei em épocas bem recentes.

Se você quiser, eu topo entrelaçar as mãos para juntos darmos um xô, satanás e mandar para bem longe o vício de só cultivar lamentações. A vida nunca foi e jamais será feita só de flores perfumadas e notícias boas, mas, se quisermos, poderemos pôr um pouco mais de luz na escuridão e enxergar um futuro melhor.

Que tal começar agora? Se o que o aborrece é o excesso de trabalho, pare para pensar naqueles que perambulam dia após dia na esperança de encontrar um emprego e retornam desanimados pelas buscas malsucedidas.

Reflita também no fato de que trabalhar mais ou menos talvez dependa só da sua decisão e do que você deseja da vida. Para a falta de tempo, sempre haverá um jeito de organizar com mais sabedoria suas atividades diárias e se dedicar àquelas que sejam prioritárias.

Tenho quase certeza de que você se surpreenderá com a quantidade de afazeres que poderá ser adiada. De maneira geral, quem reclama da falta de tempo nunca se preocupou em delegar algumas de suas tarefas.

Experimente delegar, mas, em benefício da sua qualidade de vida, não exija que as outras pessoas sejam tão eficientes quanto você. Quem sabe você descubra que, mesmo sem a sua competência, alguém poderá dar conta do recado, que a vida seguirá seu rumo e que às 24 horas cabem em um só dia.

Como primeiro passo para viver melhor, analise o jeito como você atende ao telefone. Se depois do alô, você disser que 'a vida está na

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correria de sempre' para responder à pergunta de 'como vai?', mude de faixa e toque uma música diferente.

Não pense que as pessoas ficam preocupadas porque você está trabalhando demais e vive o tempo todo ocupado. O mais provável é que mesmo sem dizer nada estejam censurando: xi, lá vem ele de novo com aquela choradeira de sempre.

Não vacile, porque sem nos darmos conta, somos atacados por essa praga do chororô, passamos a agir como o nosso amigo João Carlos, e de um momento para outro ela contamina nossa comunicação.

Por isso, se você perceber qualquer vontade de reclamar sem motivo, faça figa, meta um galho de arruda na orelha, espalhe um pouco de sal grosso e mande o chororô perturbar em outra freguesia.

Aproveite este texto e o encaminhe para aquele seu conhecido resmungão. Quem sabe ele não muda de atitude? Para fazer isso, basta ir ao final da tela, logo depois das 'Superdicas da semana', e clicar no link 'Envie por e-mail', no canto direito, bem lá embaixo.

SUPESUPESUPESUPERDICAS DA SEMANARDICAS DA SEMANARDICAS DA SEMANARDICAS DA SEMANA

• Não reclame sem motivo • Procure não reclamar mesmo tendo motivo • Estabeleça prioridades e aproveite melhor o tempo • Aprenda a delegar e se dedique ao que for mais importante • Se alguém começar a reclamar, mude de assunto e melhore o

astral da conversa

17 17 17 17 ---- Paixão por livros Paixão por livros Paixão por livros Paixão por livros As professoras ficavam de marcação cerrada. Obrigavam-nos a ler os

livros, depois exigiam que fizéssemos trabalhos escritos sobre as obras, e, finalmente, nos colocavam na frente da classe para que contássemos ou interpretássemos os capítulos que elas indicavam ao acaso.

Não havia como escapar. Ou líamos e nos dedicávamos às tarefas que nos eram atribuídas, ou passávamos vergonha com as notas vermelhas no boletim que levávamos para os pais assinarem.

Graças a essa disciplina, aos poucos fui tomando gosto pela leitura, até que ler se tornou um hábito que sempre me deu muito prazer. Quem se habitua aos livros nos primeiros anos de vida dificilmente se afastará da leitura.

Embora essa seja a regra geral, o gosto pelos livros, excepcionalmente, também pode surgir na idade mais madura.

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Entretanto, para que o adulto passe a encarar a leitura como uma atividade prazerosa, e não como uma espécie de sacrifício, precisará de muito mais empenho, disciplina e dedicação.

Presenciei verdadeiros milagres. O maior de todos foi com um vizinho da minha casa na rua Carajás, lá em Araraquara, no interior de São Paulo. Ele se chamava 'seu' Vitor e aprendeu a ler com quase 80 anos. Depois que passou a freqüentar a igreja Mórmon, descobriu que conhecer a Bíblia era importante, e, sozinho, sem ajuda de ninguém, aprendeu a ler. Só lia a Bíblia, mas, todos os dias, passava horas sentado na calçada da sua casa com o livro nas mãos, sussurrando as palavras para ele mesmo. Nada dava mais prazer àquele homem.

Nessa minha longa carreira como professor, já tive a satisfação de iniciar muita gente de cabelo branco no mundo da leitura. Para que essa tarefa seja bem-sucedida, é preciso acertar na indicação do autor. Se o livro foi escrito por uma pessoa instigante, que consiga transportar o leitor para um mundo de sonhos, aventuras, paixões, as chances de que o adulto passe a gostar de ler se ampliam de maneira considerável.

Tenho uma experiência curiosa com os alunos do nosso curso de Expressão Verbal. Muitos deles passam a se interessar mais por leituras quando percebem que não adianta nada aprender a falar bem se não houver conteúdo. À medida que se tornam mais desembaraçados na tribuna, descobrem que poderão e precisarão enriquecer a mensagem com a ajuda dos livros.

Minha relação com os livros vem de longa data. Além das professoras, de quem falei há pouco, que me iniciaram no mundo da leitura, nos primeiros anos, antes de ser alfabetizado, também contei com a ajuda da minha prima Vanderli Portioli. De vez em quando ela saía de Mirassol e passava uns dias na minha casa em Araraquara, e, nessas oportunidades, com bastante paciência, pegava um livro de histórias infantis e lia para mim. Foi assim, com o incentivo das professoras e a presença da minha prima Vanderli, que nasceu minha paixão pelos livros.

Entretanto, o acesso aos livros exigiu de mim algumas peripécias. Quando era menino, a grana era curta. Ao dizer que era curta talvez esteja desvirtuando a realidade, pois não tinha de onde tirar. Os bolsos estavam sempre vazios.

Para arrumar uns trocos, só havia um jeito. O Tunão, que morava na rua Tupi, a uma quadra distante da minha casa, separava uns legumes, como chuchu e abobrinha para eu vender de porta em porta e levantar uns tostões. Não era muito, mas tudo o que entrava eu gastava em livro em

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uma das poucas livrarias de Araraquara, que se limitavam à Casa Rodella, Bizelli, Brasil e à livraria da Marina, perto dos Correios.

Como eu tinha apenas 12 ou 13 anos, meu gosto pelos livros era bem modesto. As publicações que mais me atraíam eram as edições condensadas das grandes obras publicadas pela Melhoramentos.

Cada compra era uma emoção. Começava a ler já na rua, e não via a hora de chegar em casa para me sentar na soleira da porta da cozinha e devorar página por página até a última linha. Com tanto sacrifício, não dava para ler e descartar. Nunca. Tenho todos eles até hoje. E como sinto prazer em dar uma folheada de vez em quando nesses velhos companheiros.

E veio a biblioteca. Como a vontade de ler era muita e a grana nenhuma, a única forma de resolver o problema foi me tornar assíduo freqüentador da biblioteca, quando ainda era lá na Rua Quatro (ah, não se impressione com o fato de a rua ser identificada por número, Araraquara sempre teve esse jeito nova-iorquino de denominar as ruas e avenidas por números).

Minhas idas à biblioteca quase deram confusão. Como eu gostava de ficar com os livros que lia, relutava muito em devolver os que tomava emprestado da biblioteca. Não era gatunice, não. Só queria ficar com eles mais um pouquinho, reler as partes importantes, entender como o autor havia encadeado as ideias, enfim, me envolver um pouco mais com uma história que agora já era minha conhecida.

Para me pôr na linha, entrava em ação um personagem fabuloso, o velho e simpático Bonavina. Transcorridos alguns dias sem que eu tomasse a iniciativa de devolver os livros emprestados, lá estava ele com sua inseparável bicicleta para levar as obras de volta, numa boa.

As visitas do Bonavina se repetiram incontáveis vezes. Sorridente, ele nunca me repreendeu, nunca reclamou, nem cobrou um tostão de multa. Parece que entendia bem meu amor pelos livros, e como julgava que ninguém saía prejudicado com aqueles pequenos atrasos, não se incomodava em fechar um olho para os meus ingênuos deslizes.

Depois de ter dedicado quase a vida inteira zelando pelos livros da Biblioteca Municipal Mario de Andrade de Araraquara, Bonavina se aposentou. Fui reencontrá-lo mais de 30 anos depois tomando uma cervejinha e batendo papo com os amigos num bar do Jardim Primavera, próximo à sua casa.

Foi um momento de grande emoção para mim. Perguntei do filho, Zé Bonavina, e comentei que sempre me lembrava da sua esposa, dona Ana. Ele perguntou da minha mãe, Lúcia e do meu irmão, Alemão.

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Relembrei dos tempos em que ele fazia o resgate dos livros e em troca recebi um sorriso igualzinho àqueles que dava quando pegava as obras de volta.

Mesmo não tendo prejudicado ninguém e agido com o aval do guardião dos livros, essa história de usar a biblioteca e não ter sido pontual na devolução das obras sempre me fez sentir um devedor. Recentemente voltei à biblioteca, agora em novo endereço. Olhei as prateleiras, folheei umas obras, e, para minha grande surpresa, encontrei alguns livros de minha autoria com várias fichas de retirada preenchidas.

Fiquei feliz ao descobrir uma forma de pelo menos em parte pagar minha antiga dívida com a biblioteca. Já que os meus livros eram bem procurados, nada melhor do que fazer uma doação de alguns títulos. Aproveitei uma semana de folga e me dirigi para lá com uns dez livros que publiquei mais recentemente.

Fui recebido com festa e muita cordialidade pela Fátima Aparecida Zampiero Ramos, que trabalha lá há cerca de 20 anos. Enquanto eu autografava os livros, comentei com ela minhas aventuras com o Bonavina.

Para grande tristeza minha, fiquei sabendo que ele havia falecido. Que perda. Queria tanto contar ao meu 'comparsa' que, de certa maneira, eu estava recuperando meu crédito com a doação que acabara de fazer.

Mas, quem sabe ele, lá de cima, não esteja me vendo com aquele sorriso maroto e dizendo baixinho, só para eu ouvir - quem diria que um dia você sozinho poderia trazer livros para a biblioteca, sem que eu precisasse correr atrás com a minha bicicleta!

SUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SEMANAMANAMANAMANA

• Anote suas opiniões e faça um arquivo pessoal sobre os livros que ler

• Leia tudo o que lhe der prazer: livros, revistas, jornais, Internet, gibis

• Inclua sempre um clássico em suas leituras • Incentive as crianças a lerem o máximo que puderem • Dê livros de presente

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18 18 18 18 ---- Jeito perigoso de falar Jeito perigoso de falar Jeito perigoso de falar Jeito perigoso de falar Mesmo que você não tenha intenção de ofender ninguém, esteja

sempre atento, pois seu jeito de falar pode não ser considerado politicamente correto.

Vamos começar pelo número de primaveras que você já comemorou. Você dobrou a linha dos 40? Já? Huumm, com essa idade sua situação é delicada e vai exigir cuidados redobrados com a história do politicamente correto.

Explico. Você é de uma época em que tratar o amiguinho de rua por negão ou por pretinho, por japinha, por alemão, era de uma naturalidade tão ingênua que ninguém se incomodava.

Lembro-me de quando era garoto, por gostar muito de futebol, todas as vezes que um time grande ia jogar contra a Ferroviária, em Araraquara, eu ficava plantado na porta do vestiário só para observar a saída dos jogadores. Especialmente os craques do Santos e do Palmeiras, que no final dos anos 1950 e início da década de 1960 ganhavam praticamente todos os títulos que disputavam.

Certa vez eu estava observando os jogadores do Santos entrarem no ônibus e alguns perguntaram onde estava o Zito. Vários responderam quase ao mesmo tempo: ele foi de carro com o Negão. Esse 'Negão' era o Pelé. Era assim que os companheiros de clube naturalmente o tratavam.

Com os meus amigos de infância não era diferente. Tive muitos amigos negros. Quando passavam em casa (ou di casa, como diziam no meu bairro), deixavam recado com a minha mãe: avisa que o negão, ou o pretinho, passou 'daqui'.

Passados alguns anos, a história foi se transformando. Tratar as pessoas usando termos ou expressões que identificavam a cor da pele ou a origem racial passou a ser politicamente incorreto.

Num primeiro momento, houve uma fase de transição. No finalzinho da década de 1960 e princípio dos anos 1970, as pessoas começaram a mudar o jeito de falar. Por exemplo, o tratamento passou a ser 'pessoa de cor'.

Durou pouco essa tentativa, pois a questão que se levantava era curiosa: 'Pessoa de cor? Mas de que cor você está falando?' Essa observação demonstrava que o novo tratamento também era visto como preconceituoso.

Esse período foi bastante delicado para o pessoal mais veterano. Eles não sabiam como agir. Porque não era só uma questão de mudança de hábito, o problema é que eles não tinham a mínima noção de como se

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comportar. Afinal, como chamar o velho amigo que sempre foi tratado por negão, ou japinha, ou alemão? Tanto não havia desrespeito ou agressão que eles nunca se incomodaram. Ao contrário, todos encararam esse tratamento como uma indicação carinhosa de relacionamento.

Quando se iniciou o processo de repúdio a esse tratamento, eu me lembro de ter conversado com alguns dos meus amigos negros; (cito os amigos negros porque era muito raro encontrar descendentes da raça amarela no Jardim Primavera, que era o bairro onde eu morava lá em Araraquara) para saber se eles se incomodavam com a forma como sempre foram chamados, e todos disseram que encaravam como forma carinhosa e demonstração de amizade.

Hoje aqui, puxando pelo pensamento, não consigo mesmo imaginar como é que o Jurandir poderia ficar chateado com o Serjão, menino de paz e amigo de todo mundo, quando este o convidava com sua voz chorosa: 'Oh, Negão, vamos bater loca comigo, vai?'

Para quem não sabe, bater loca era a 'aventura' de pegar peixe cascudo com as mãos nos buracos (locas) que ficavam nas paredes das margens do rio.

Pouco tempo depois, curiosamente, dizer que a pessoa era negra, amarela ou branca também passou a ser visto por alguns como tratamento preconceituoso. Aí os quarentões quase piraram. E agora, como falar? Afro-brasileiro, nórdico, oriental? O pior da história é que esses tratamentos condenados são usados por quem tem mais de 40 sem maldade e com a mesma espontaneidade de sempre. Só que agora são tachados de criminosos. Sim, porque agora é lei, um crime inafiançável.

Antes que os descontentes de plantão se voltem contra mim, quero esclarecer: não estou discutindo o mérito da lei que trata do preconceito. Eu também luto para que essa agressão seja combatida, repudiada e tenha um fim.

O que estou discutindo é a situação daqueles que foram criados e formados dentro de uma cultura em que determinadas atitudes eram vistas e aceitas com naturalidade, mas que agora precisam mudar o registro, mesmo não existindo a mínima intenção de agredir.

Você ainda é novinho e não entrou na casa dos 40? Então não deve redobrar, mas sim quintuplicar os cuidados com o politicamente correto.

O motivo é óbvio. Quem tem menos de 40 já foi educado numa sociedade consciente de que tratar as pessoas pela cor da pele ou origem racial é demonstração evidente de preconceito. Portanto, se cometer esse deslize, não terá desculpa - errou sabendo que estava errando.

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Mas qual é o objetivo dessa minha reflexão? Simples. Ao falar em público, seja diante de uma grande plateia, ou para poucos interlocutores, tenha em mente que ser politicamente correto não é sempre conversa de gente chata que não tem o que fazer na vida. É um cuidado que precisamos ter para considerar o próximo, com suas características, anseios, formação e experiências.

Por outro lado, não há como esconder o fato de que existe muita gente hipócrita por aí. São aqueles encrenqueiros que adoram uma confusão: tomam tudo ao pé da letra e se dedicam a vigiar cada sílaba do que é dito para cair de pau em cima do desavisado.

Como dizia a minha querida professora de arte doutora Marlene Fortuna: 'Dá uma enxada para ele, porque o que falta aí é serviço'.

Entretanto, não se pode vacilar com essa questão. Uma palavra meio atravessada pode comprometer o resultado de uma apresentação.

Comece a observar seu jeito de falar, especialmente nas conversas informais, pois a forma como nos comunicamos com as pessoas mais próximas, com pequenas adaptações, é a que também utilizamos para falar em público.

Você não precisa nem deve se tornar um chato ou um paranóico como alguns bobinhos que andam por aí à caça de assombrações. Mas fique antenado.

Tenho larga experiência nesse tema. Só para dar um exemplo: quando escrevi o livro 'Como falar Corretamente e Sem Inibições', que está na 111ª edição e acaba de comemorar 20 anos de existência com mais de 500 mil exemplares vendidos, tive um problema.

No capítulo referente ao medo de falar em público, usei uma citação de um dos mais importantes nomes da história da psicologia, o ex-professor da Getúlio Vargas e renomado conferencista Emílio Mira Y. Lopes. Em uma passagem da sua famosa obra 'Quatro Gigantes da Alma', o autor afirma que o medo é o gigante negro.

Fiquei atordoado com as cartas que recebi dos leitores me acusando de ser preconceituoso. Observe que fui acusado de ser preconceituoso apenas por usar uma citação extraída da obra desse conceituado estudioso.

Se você analisar o livro a partir da quarta edição, vai observar que acrescentei uma nota de rodapé com a seguinte explicação: Emílio Mira Y. Lopes, na sua obra Quatro Gigantes da Alma, identifica cada gigante por uma cor característica - o medo é negro, a ira é rubra, o amor é róseo e o dever é incolor.

Eu, hein! Diante desse campo minado, construído por alguns extremistas exagerados, recomendo que você também tome cada vez mais

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cuidado para não ser visto como uma pessoa politicamente incorreta. Mas, com equilíbrio, sem paranoia ou hipocrisia.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Saiba o que é considerado politicamente incorreto • Treine nas conversas informais evitar o uso de informações

politicamente incorretas • Observe como o público reage diante de mensagens

politicamente incorretas • Não faça brincadeiras relacionadas com sexo, religião ou

origem racial • Trate as pessoas com o respeito que gostaria que elas o

tratassem

19 19 19 19 ---- O que reluz pode ser ouro O que reluz pode ser ouro O que reluz pode ser ouro O que reluz pode ser ouro Conheço muita gente que desenvolveu o hábito de dizer não.

Independentemente da proposta que recebem reagem sempre com um não. Você quer fazer um negócio? Não. Você quer ganhar dinheiro? Não.

Houve uma época em que eu também havia adotado essa tática. Para tudo o que me propunham, a resposta era sempre não. Só se o interlocutor insistisse com argumentos irrefutáveis, eu passava a ponderar sobre as vantagens do negócio. Devo ter perdido boas oportunidades por causa desse comportamento.

Talvez você esteja pensando que essa atitude radical também pode ter me tirado de algumas enrascadas. Nunca vou saber. Embora hoje tenha consciência de que teria agido melhor se não tivesse dito sim em certas oportunidades.

O problema não está em dizer não ou sim, a questão que deve ser considerada é a precipitação em dar uma resposta sem avaliar com cuidado a proposta, só por desconfiança.

Entre os diversos motivos que me ajudaram a mudar de atitude e deixar de ser tão desconfiado está uma história curiosa que teve a participação do meu amigo Oduvaldo Silva.

Em uma das viagens que fiz ao exterior, antes da era iPod, o Oduvaldo me pediu que comprasse um rádio portátil de não sei quantas bandas para presentear o pai.

Assim que pus os pés em Nova York, para tirar logo a obrigação da cabeça, fui rapidinho a uma das inúmeras lojas de eletrônicos na 5ª

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Avenida. Quase caí duro de susto quando o vendedor me disse que o aparelho custava a 'bagatela' de US$ 200.

Mas, como já levei muitas bastonadas com histórias semelhantes e aprendi que essas coisas enroscam a viagem, resolvi comprar e deletar o assunto. Mesmo sabendo que deveria ser mais um brasileiro portando identificação de otário naquele mundo em que o comércio é tocado por espertalhões.

Eu e minha mulher programamos a viagem com bastante cuidado para aproveitar bem o tempo e não gastar muito. Pelo roteiro que havíamos traçado, nossa próxima parada depois de Nova York era Buffalo, na divisa com o Canadá. Passaríamos por Chicago e regressaríamos a Nova York antes de voltarmos ao Brasil.

Como havíamos planejado retornar ao mesmo hotel em Nova York, o bom senso nos recomendou que deixássemos no 'locker' uma mala grande com roupas usadas e todos os objetos de que não iríamos precisar. Ao chegar a Buffalo, descobrimos que no corre-corre havíamos feito uma tremenda besteira - levamos a mala trocada! Tudo o que era desnecessário estava conosco e o que seria útil para a viagem ficara no hotel.

Empreendemos uma correria para comprar cuecas, calcinhas, escovas de dente e demos uma ajeitada na situação.

Ah, essa era a época em que eu usava o não a torto e a direito. Ao chegarmos a Chicago, a recepcionista do hotel nos disse que poderíamos aproveitar uma excelente oportunidade. Como era fim de semana, se ficássemos em uma ala diferente daquela que havíamos reservado, teríamos um desconto de quase 50%. Bem, um descontão desses para quem viaja com a grana contadinha não é de se desprezar.

Mas, como eu era bem desconfiado, disse à minha mulher, Marlene: sei não, isso não está me cheirando bem. É mamata demais, ainda por cima partindo de americanos. Vai ver que o quarto é um pardieiro lá no fundo com algum tipo de desconforto.

Em todo caso, achei que valia a pena fazer uma 'auditoria' no local. Pareceu tudo em ordem e, para minha surpresa, bem acima de qualquer expectativa.

Lá pelas 2 horas da madrugada, ouvi uma música que tocava bem alto. Comecei a ficar irritado e comentei com a minha mulher: 'Eu não disse que havia alguma armação? Puseram a gente nesse quarto em cima de alguma danceteria e vamos agüentar este barulhão a noite inteira'.

Eu já estava pegando o telefone para reclamar com o hotel, mas resolvi ouvir melhor de onde vinha o som e descobri que não era de nenhuma danceteria - ele saia de dentro da mala. Provavelmente, com os

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deslocamentos da bagagem de um lado para o outro, o bendito rádio de US$ 200 que eu havia comprado para o Oduvaldo começou a funcionar sozinho e a produzir aquele barulho.

Depois de rir e me divertir muito com aquele engano provocado pelo que prejulguei apenas com base em minhas próprias experiências de um bom desconfiado, passei a refletir melhor a respeito dos inúmeros erros aos quais somos induzidos por não analisarmos de maneira conveniente as propostas que nos são feitas e por termos olhos limitados apenas para o que está em nossa frente.

Analise se não incorremos em enganos semelhantes no nosso dia-a-dia. Talvez, sem nos darmos conta, perdemos ótimas chances em inúmeras atividades. Quando participamos de reuniões na empresa, negociamos com clientes e fornecedores, discutimos projetos, às vezes, por prejulgarmos os fatos e analisarmos as questões somente por alguns ângulos que nos interessam ou que nos sejam familiares, podemos não perceber que talvez sejam distintos de como os concebemos em nossa imaginação.

Assim como um quarto oferecido por preço muito menor pode ser bom, também uma proposta estranha às nossas convicções poderá ser valiosa. Afinal, o que reluz também pode ser ouro.

E para concluir a história do radinho. No dia seguinte ao nosso retorno ao Brasil, a primeira atitude que

tomei foi levar o rádio para o Oduvaldo. Entretanto, antes de entregar, tive um pressentimento e perguntei

quanto ele imaginava ser o preço do radinho. Ele deu uma coçada na cabeça, fez uns cálculos em voz alta e disse: bem, se o Venezuelano comprou no free shop, onde os preços não são tão acessíveis assim, por US$ 65, lá em Nova York você não deve ter pagado mais do que US$ 34, US$ 40.

Fiz um grande esforço para não demonstrar nenhuma reação e dei a boa notícia ao meu amigo: 'Nem uma coisa nem outra, você não vai pagar nada, esse rádio é um presente'.

E assim aquele belo desconto que conseguimos em Chicago foi junto com o radinho do meu amigo Oduvaldo.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Diante de uma proposta nunca dê respostas precipitadas • Se não souber o que responder, diga que vai pensar • Se julgar que o negócio não é bom, ainda assim pense antes de

responder • Se sentir que a proposta é excelente, também peça um tempo

para pensar • De vez em quando dê a resposta na hora, senão a vida fica

muito chata • Porém, sem riscos de grandes prejuízos

20 20 20 20 ---- Ih! Ih! Ih! Ih! Deu Deu Deu Deu brancobrancobrancobranco

Ter um branco no momento de falar em público é uma saia justa que

ninguém gostaria de enfrentar. Reflita comigo no constrangimento desta circunstância: ao fazer uma apresentação diante da plateia, num determinado momento, sem mais nem menos, dá um branco, as ideias desaparecem e você fica sem saber qual rumo tomar.

A situação começa a ficar desesperadora depois que você descobre não se tratar apenas do desaparecimento de uma ou outra palavra que deveria corporificar de maneira adequada o pensamento. Você percebe que a falha é muito mais grave, pois o que sumiu na verdade foi toda a seqüência do raciocínio.

Entre o momento do branco e a descoberta de que você ficou sem saber por onde seguir na apresentação transcorrem apenas alguns poucos segundos, mas na sua cabeça a impressão é de que foram longos e intermináveis minutos.

Esse é um cenário muito apropriado para o aparecimento do medo. Afinal, todas as condições indicam que, se a situação persistir, a sua imagem como orador poderá ser prejudicada. Por isso é natural que ocorra uma descarga de adrenalina no organismo e que a partir daí o descontrole se generalize.

Um dos erros mais graves que se pode cometer para tentar afastar o branco é o de insistir sem nenhum critério para reencontrar a linha de pensamento. A experiência mostra que, quanto mais se insiste, mais o pensamento tenderá a escapar.

Ah, se fosse possível fugir e não ter de passar por esse sofrimento. Como seria bom se aparecesse um buraco no chão e pudesse desaparecer

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da frente dos ouvintes. Melhor ainda seria acordar e se dar conta de que tudo não passou de um pesadelo.

Se você já teve um branco ao falar em público, sabe exatamente o que eu estou dizendo. Se você nunca foi apanhado por ele, tem consciência de que precisa se cuidar, pois todos nós estamos sujeitos a passar por essa situação diante da plateia.

Essa é uma preocupação não só de quem se inicia na arte de falar em público, mas também daqueles já experimentados em freqüentar tribunas. Quase todas as semanas alguém me diz: 'Polito, tenho medo de que me dê um branco'.

Se você seguir as sugestões que vou passar a partir deste momento, terá à disposição um conjunto de recursos para se proteger do branco.

Esteja muito bem preparado Embora o preparo nem sempre seja suficiente para impedir o

aparecimento do branco, as chances de que ele ocorra se ampliam ainda mais se você não se preparar de maneira conveniente. Por isso não se arrisque.

Não se limite a uma preparação apenas superficial. Saiba que passar os olhos duas ou três vezes no texto que irá expor, provavelmente, não será suficiente para que se sinta seguro e em condições de falar.

Não seja negligente. Cuide da sua preparação o máximo que puder. Use todo o tempo que tiver à disposição. Se puder contar com uma semana para se preparar, prepare-se durante toda a semana. Se tiver um mês, prepare-se durante todo o mês. Enfim, quanto mais preparado estiver, maior será o seu domínio sobre o tema, mais organizada será a seqüência do raciocínio e, conseqüentemente, menores serão as chances de que ocorra o branco.

Uma boa estratégia de preparação é a de ensaiar o discurso de maneiras diferentes, alterando as palavras, modificando a ordem das etapas e dos tópicos. Procure alternar o treinamento com e sem o apoio de recursos visuais. Esse procedimento permitirá que promova as adaptações que julgar convenientes diante dos ouvintes, no momento da apresentação.

Estou fazendo essa sugestão porque se você se submeter a uma única forma de treinamento e durante a apresentação não se lembrar de uma ou outra informação importante, ficará limitado para encontrar alternativas que o ajudem a superar o problema.

São inúmeros os exemplos de pessoas das mais diferentes formações dizendo-se abaladas por causa da desagradável experiência de terem

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enfrentado um branco quando era importante que se saíssem bem na apresentação.

O problema de algumas delas foi tão grave que chegou a prejudicar sua imagem profissional.

Não permita que o mesmo ocorra com você. Prepare-se bastante. E, quando achar que já está pronto, volte a se preparar ainda mais.

Leve um roteiro como apoio Não haverá nenhum mal se você resolver levar um roteiro escrito

como apoio para ter mais segurança na apresentação. Você poderá contar com o auxílio do roteiro sempre que desejar, mas recorra a esse apoio especialmente quando se sentir desconfortável, imaginando que pelo nervosismo poderá ter um branco.

Prepare o roteiro de tal forma que possa se sentir à vontade para manuseá-lo diante do público. Uma recomendação que dá bons resultados é escrever frases que possam ajudá-lo a seguir a seqüência da exposição. Inclua também no roteiro os números, as datas e as cifras que precisam ser mencionados.

Você se sentirá mais amparado com o uso de um roteiro. Provavelmente o fato de saber que, se não se lembrar de alguma informação poderá recorrer ao recurso de apoio, vai deixá-lo mais seguro. E é quase certo que nunca precise recorrer a ele, pois essa confiança permitirá que se lembre de todos os dados de que precisar.

Como agir na hora do branco Até aqui eu me preocupei em orientá-lo como agir para evitar o

branco. Agora vou dar algumas dicas de como proceder se for surpreendido por ele.

O maior e mais importante de todos os conselhos que eu poderia dar é que procure não perder a calma e muito menos se desesperar se der o branco - por maior que seja a dificuldade para agir assim.

Tenha em mente que, se ficar desesperado, perderá o controle da situação e agravará ainda mais o problema. Se você for dominado pelo desespero, mais irá se pressionar e menores serão as chances de se safar dessa verdadeira armadilha que armará para você mesmo. Por isso, quanto mais puder manter a calma, maiores serão as possibilidades de sucesso.

Há pouco, eu disse que um dos erros mais graves para quem é apanhado pelo branco é o de ficar insistindo para encontrar a informação que perdeu. Por isso, não insista. Se tiver um branco insista apenas uma vez para tentar se lembrar da informação.

Se não for possível recuperá-la na primeira tentativa, veja se consegue repetir a última frase que pronunciou, como se estivesse querendo dar

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ênfase àquela parte da mensagem - às vezes dá certo e ao chegar ao ponto em que deu branco a informação poderá surgir naturalmente.

Bem, se esse recurso não der certo, recorra à expressão que dá excelentes resultados, o melhor remédio contra o branco. Diga: 'na verdade, o que eu quero dizer é...' Essa expressão o obrigará a recontar a informação por um novo ângulo, e o pensamento se ajustará para continuar com a seqüência planejada. Funciona mesmo, pode usar que dá resultado.

Se mesmo assim esse remédio que estou dizendo que é infalível fracassar, comente com os ouvintes que mais à frente voltará a abordar esse ponto da apresentação e passe imediatamente para o tópico seguinte. Dessa forma, tendo saído da pressão do momento e com mais tranqüilidade, ao longo da apresentação você terá melhores condições de se lembrar do que havia esquecido. Ainda que não consiga se lembrar da informação, é pouco provável que alguém se manifeste pedindo que volte a falar daquele tópico.

Você também poderá contar com o auxílio de um ponto eletrônico. Com esse aparelho imperceptível no ouvido e com a ajuda de uma pessoa bem treinada para passar informações, você estará ainda mais protegido contra o branco.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Prepare-se e ensaie o máximo que puder • Recorra a um roteiro de apoio • Não insista • Repita a última frase como se quisesse dar ênfase à mensagem • Use a expressão mágica - na verdade o que eu quero dizer é... • Informe que retornará ao assunto mais à frente

21 21 21 21 ---- É hora de ser gentil É hora de ser gentil É hora de ser gentil É hora de ser gentil

Para falar da gentileza, vou aproveitar o comentário que o filósofo

René Descartes fez sobre o bom senso na sua obra 'Discurso do Método': 'o bom senso deve ser o bem mais bem distribuído da face da Terra, pois ninguém deseja ter quantidade maior do que já possui.'

E não é assim que a maioria de nós se comporta? Queremos um pouco mais de tudo - mais poder, mais riqueza, mais fama, porém, julgamos ter bom senso em quantidade mais que suficiente.

O mesmo ocorre com a gentileza. Quase sempre imaginamos que já somos suficientemente gentis. Se dissermos a uma plateia que de cada

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cem pessoas apenas dez são gentis, provavelmente todos os presentes julgarão que se enquadram nesses 10%.

Por isso, vamos refletir um pouco sobre como temos nos relacionado com as pessoas e sejamos nosso próprio juiz para decidirmos se a gentileza está ou não presente em nossas atitudes.

Se chegarmos à conclusão de que o bom relacionamento anda ausente do nosso manual de conduta, talvez possamos rever a maneira como temos nos comportado e passemos a levar uma vida social diferente, com mais generosidade.

É simples ser gentil Embora um dos símbolos da gentileza seja o do homem que tira o

casaco e o coloca sobre a poça para que uma mulher caminhe sem molhar os pés, no dia-a-dia, ser gentil não exige tanto sacrifício.

Para ser gentil basta tomarmos alguns pequenos cuidados que não nos darão tanto trabalho, nem nos desviarão muito dos nossos afazeres. Vamos analisar alguns exemplos de gentilezas que podemos incorporar com facilidade aos nossos hábitos.

Segurar a porta de entrada do restaurante ou do elevador para que a pessoa a encontre aberta. Essa atitude tão simples demonstra educação, generosidade e espírito de solidariedade.

Quem sabe alguém pudesse questionar agora: 'Polito, mas o que eu ganho sendo gentil?' Bem, nós não deveríamos nos preocupar se há ou não algum tipo de lucro, benefício ou vantagem para quem age com gentileza. Em todo caso, se for preciso falar em dividendos para que uma pessoa se anime a ser gentil, motivos não faltarão.

No exemplo acima, ao segurar a porta na entrada do restaurante ou do elevador, a atitude simpática talvez não seja valorizada apenas por quem foi beneficiado pelo gesto, mas também, e acima de tudo, por todos que presenciaram aquela gentileza.

Não é difícil deduzir que com esse procedimento projetaremos aos olhos dos outros uma imagem bastante positiva, de que somos pessoas bem formadas, que merecemos admiração.

E gentileza se paga com gentileza. Se alguém segurar a porta para nós, devemos retribuir com um agradecimento. Sei que parece desnecessário esse tipo de recomendação, mas já perdi a conta do número de pessoas que observei passando duras e indiferentes por aquele que gentilmente segurou a porta para elas. Essa desconsideração é um bom motivo para que nos vejam como mal-educados, grosseiros e poderemos conquistar antipatias até sem mencionarmos uma única palavra.

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Ainda dentro dos exemplos das gentilezas que nos cercam no dia-a-dia, podemos incluir o gesto cada vez mais raro de ceder o lugar no transporte coletivo ou numa sala de espera às pessoas mais velhas, ou de qualquer idade que estejam carregando crianças no colo, sacolas, ou objetos que claramente demonstrem algum tipo de desconforto.

Eu disse que esse gesto é cada vez mais raro porque o costume de ceder lugar, que fazia parte das nossas boas tradições, começa a ser desprezado. Mais grave ainda é a atitude do homem que ao invés de oferecer o lugar a uma senhora idosa, rasga a cartilha do bom comportamento e privilegia uma moça jovem e saudável. Provavelmente nem ela que foi beneficiada goste daquela atitude. Os que estão a sua volta vão torcer o nariz e encará-lo como alguém desprezível.

Observe que as gentilezas que estou mencionando são as mais simples e comuns no nosso cotidiano. Convivemos a vida inteira com situações onde elas poderiam ser usadas de maneira bastante natural, praticamente sem esforço.

Exemplo de gentilezas é que não falta. Vamos supor que tenhamos ido a uma festa ou um jantar na casa de amigos. Para saber que atitude eles gostariam que tivéssemos, basta nos colocarmos no lugar deles e imaginarmos como desejaríamos que nossos amigos agissem no dia seguinte.

É claro que esperaríamos que dessem um retorno dizendo como o encontro havia sido agradável. Por isso, não negligenciemos, não custa nada ligar para eles e falar com detalhes, de maneira natural, sobre tudo o que foi positivo.

Não seria mal se mandássemos algumas flores acompanhadas de um cartão elogiando a maneira como nos recepcionaram. Não dará muito trabalho, e eles se lembrarão de nós sempre com simpatia.

A gentileza também pede passagem nas reuniões e nos bate-papos. Se há uma situação desagradável, é estar numa conversa e ficar à margem, como se nós não existíssemos. Quando a pessoa é inibida, o constrangimento é ainda maior, pois além de ficar marginalizada ela se sente pressionada e sem condições de participar.

Se nós incluirmos na conversa uma pessoa tímida ou que se sinta deslocada numa reunião, ela jamais nos esquecerá. Mesmo que o assunto não tenha nenhuma ligação com ela, podemos olhar em sua direção, pedir sua opinião, perguntar sobre o filho dela, enfim, mostrar que ela tem importância. É quase certo que essa atitude gentil a sensibilizará e a deixará sempre agradecida.

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Abrir a porta do carro e puxar a cadeira para uma mulher continua na moda e é uma gentileza do homem sempre vista com bons olhos. Se você for homem e não estiver acostumado a abrir a porta do carro ou puxar a cadeira para uma mulher, é possível que se sinta sem jeito quando começar a tomar essas atitudes, pois terá a impressão de que todos olham em sua direção para ridicularizá-lo. Mas é só impressão, em pouco tempo terá se acostumado e passará a agir com espontaneidade.

Nessas situações não podemos hesitar, devemos agir com determinação e nos comportar de maneira convicta, como se fosse uma iniciativa bastante natural. Se você for mulher e receber esse tipo de gentileza, lembre-se de agradecer e se mostrará muito gentil se em locais movimentados, escuros ou em dia de chuva retribuir abrindo a porta do motorista por dentro, para facilitar a entrada do seu companheiro.

Falando em gestos gentis, enviar flores, independentemente de ser homem ou mulher, será uma atitude sempre admirada e com excelentes resultados para o relacionamento.

Expressões de ouro Além das atitudes gentis que acabamos de analisar, algumas

expressões são excepcionais para nos aproximar das pessoas. Mas, por sua importância não ser considerada de forma correta, tem gente que nem se lembra mais de que elas existem.

Se dissermos 'por favor' ao iniciarmos ou concluirmos qualquer pedido, adicionaremos à frase uma simpatia capaz de afastar barreiras que nem os mais poderosos argumentos conseguiriam suplantar.

Esse poder mágico do 'por favor' não se restringe à comunicação oral. Se essa expressão gentil for usada ao escrevermos uma carta, um relatório, um e-mail, ou mesmo um simples bilhete, dará à mensagem poderes adicionais que ajudarão a persuadir e afastar as mais resistentes objeções.

Lembremo-nos, todavia, de que o tom de voz tem importância fundamental nesse processo. De nada adiantará pedirmos 'por favor' com um tom de voz que indique uma atitude autoritária, ou apenas uma espécie de obrigação de alguém que deseja apenas se valer de uma técnica, de um recurso que não corresponda ao que estiver sentindo. As pessoas irão perceber essa artimanha e duvidarão de nossas intenções. Devemos falar com sinceridade e demonstrar que reconhecemos que a pessoa fará algum tipo de sacrifício ou de esforço para nos atender, ainda que seja obrigação dela.

Para sermos gentis, não podemos economizar a palavra mais importante que temos à disposição, 'obrigado'. Embora o Aurélio estabeleça apenas três conceitos para definir o sentido de obrigado, eles

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são bastante abrangentes e podem se encaixar facilmente em praticamente todas as circunstâncias: agradecido, grato, reconhecido.

Por isso, a regra geral é agradecer a todas as pessoas o tempo todo. Se alguém nos der passagem, vamos dizer 'obrigado', se nos der atenção, vamos dizer 'obrigado', se atender a um pedido nosso, vamos dizer 'obrigado'. Não existe nada tão fácil e mais eficiente do que dizer 'obrigado'. Se o que nos fizerem for muito importante, estiquemos um pouco mais e vamos dizer 'muito obrigado', será uma forma simpática de dizer que nós ficamos realmente agradecidos.

Os comerciantes que tiveram de sobreviver a duras penas, procurando manter seus negócios a cada dia, aprenderam o valor das gentilezas. Para eles, dizer 'obrigado', 'pois não, em que posso servi-lo?', 'volte sempre', tornou-se um hábito natural como respirar ou se alimentar. E, por saberem como os clientes são importantes, usam essas expressões com sinceridade, cativando as pessoas com as quais precisam se relacionar.

Ser solidário nas realizações bem-sucedidas das outras pessoas é uma bonita demonstração de gentileza. Precisamos aproveitar todas as oportunidades para cumprimentar os vitoriosos pelos seus feitos. Se uma pessoa que conhecemos ou alguém da sua família recebe uma homenagem, é aprovada num concurso, é citada com destaque, vamos cumprimentá-la.

Parabéns é uma palavra que todo mundo espera ouvir pelas conquistas que obteve. Essa expressão sempre que possível deverá ser acompanhada dos motivos da façanha; por exemplo, parabéns por ter conseguido passar no vestibular; parabéns pelo nascimento do filho. Devemos ficar atentos e, ao descobrirmos que alguém tem motivo para ser cumprimentado, tomemos a iniciativa.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Pratique a gentileza • Segure a porta para as pessoas • Agradeça se alguém segurar a porta para você • Ceda seu lugar para alguém que realmente precise se sentar • Diga sempre 'por favor' • Diga sempre 'obrigado'

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22 22 22 22 ---- Você é o famoso que Você é o famoso que Você é o famoso que Você é o famoso quem?m?m?m? Talvez não exista nada pior que ser apresentado ao público por gente

que, por erro ou incompetência, mete os pés pelas mãos. O risco de encontrarmos apresentadores que nos deixam em posição desconfortável diante da plateia precisa ser considerado com cuidado e atenção.

Fui contratado por uma empresa multinacional para proferir palestra aos seus executivos sobre como falar em público. Até aí nada de novo, pois essa é uma das minhas atividades regulares.

Entretanto, a experiência de décadas cometendo alguns erros me ensinou que o sucesso de um evento está diretamente associado ao seu bom planejamento. Por isso, assim como ocorreu nessa palestra, procuro ser bastante criterioso no esclarecimento dos detalhes que cercam a minha participação. Tudo preto no branco para não ficar nenhuma dúvida.

Cheguei ao local da palestra com bastante antecedência e percebi que os responsáveis pelo evento estavam ansiosos. Disseram-me que as atividades que antecederam a minha apresentação foram antecipadas e que ficaram aliviados pelo fato de eu ter chegado mais cedo. Assim poderiam dar seqüência ao evento sem interrupções.

Ocorre que eles estavam tão preocupados em manter o ritmo da programação que, enquanto distribuíam uma complexa pesquisa para os mais de cem ouvintes responderem, o mestre de cerimônias se adiantou e fez a minha apresentação.

Foi um desastre. Embora eu tenha tido o cuidado de enviar meus dados atualizados, o currículo que ele leu estava defasado pelo menos uns dez anos. O que também não teve conseqüências, já que ninguém prestou atenção em nem uma palavra sequer! Mantiveram-se concentrados na pesquisa o tempo todo de cabeça baixa.

Após ter sido apresentado, eu não tinha outra opção a não ser ir até ao palco e iniciar a palestra. Cumprimentei a plateia de maneira entusiasmada, até para chamar a atenção dos ouvintes que continuavam respondendo à pesquisa.

Mas qual o quê, ninguém se preocupou em levantar a cabeça para ver quem estava falando. Continuei mais um tempo em silêncio, sorrindo para ver se me davam atenção, entretanto nada os retirava daquela tarefa.

Plano B. Bati em retirada. Como não adiantava falar diante de pessoas que ainda não estavam prontas para ouvir, comentei que esperaria mais alguns minutos até que terminassem de responder à pesquisa e que em seguida iniciaríamos. Desconfio que nem essa explicação eles

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ouviram. Saí do palco e aguardei até que encerrassem aquela atividade. A essa altura, minha adrenalina já estava fervendo.

Ao retornar, eu precisava motivar o grupo e despertar o interesse dos ouvintes logo no início. Também não podia deixar de fazer algum tipo de comentário sobre o que havia ocorrido.

Procurei me manter o mais calmo possível e tentei uma brincadeira. Eu disse que resolvera só iniciar quando todos já tivessem respondido à pesquisa porque queria que acompanhassem atentamente uma piada que programara para começar. Sucesso! Todos riram. Diante daquela reação, fiquei corajoso e emendei: a piada era essa. E não é que funcionou de novo!

Com a minha saída do palco naquele primeiro momento em que ninguém prestava atenção em mim e o uso de um fato bem-humorado, aproveitando a circunstância do próprio ambiente, resolvi um episódio que poderia ter jogado por terra toda a minha palestra.

A história serve para alertá-lo que, por mais preparado que você esteja e por mais que tenha planejado os detalhes de uma apresentação, ou de um evento, sempre haverá o risco de que algo errado possa ocorrer. Nessas circunstâncias, precisamos estar atentos para encontrar saídas de emergência que nos permitam contornar os obstáculos. Quanto mais calmos nos mantivermos, maiores serão as chances de sucesso.

Essa não foi a primeira vez em que me vi metido numa saia justa por causa de falhas cometidas por organizadores de eventos.

Quando o IOB publicou minha obra 'Técnicas e Segredos para Falar Bem' (cujos direitos de publicação foram adquiridos depois pela Editora Saraiva), programamos um plano de palestras para eu me apresentar em todas as capitais do país.

Iniciei pelo Rio de Janeiro diante de uma plateia com mais de mil pessoas. Desde aquela época eu tomo todo o cuidado para que tudo seja realizado sem contratempos. Assim que cheguei ao local do evento, como sempre faço, chequei se todos os itens haviam sido preparados para o bom resultado da apresentação: equipamentos, fios de extensão, voltagem da eletricidade, posição da tela, tipo de microfone, enfim, se o auditório estava pronto para ser usado.

Testei o som, o aparelho de projeção, e andei sobre o palco para observar até que ponto poderia locomover-me sem atrapalhar a visão da plateia quando os visuais fossem projetados. Confirmei que estava tudo em ordem.

De acordo com a minha lista, faltava checar um último item -quem me apresentaria? O responsável pelo evento me tranqüilizou dizendo que

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havia cuidado pessoalmente dessa questão e incumbira um importante político para fazer a apresentação. Disse também que ele já estava com meu currículo, só aguardando o início do evento.

Para meu desespero, esse tal político não se preocupou em ler meu currículo e estava totalmente desinformado. Não tinha a mínima ideia de quem eu era e qual seria o assunto da minha palestra. Resolvera aceitar a tarefa de me apresentar apenas para poder falar e aparecer diante daquela plateia lotada.

Nunca presenciei uma apresentação tão ruim em toda minha vida. Não acertou um dado sequer. Disse que a palestra seria motivacional e que o grande palestrante, conhecido em todo o território nacional (exceto por ele, que talvez não soubesse nem onde ficava sua própria casa), era o professor Alfredo Hipólito.

Diante daquele público numeroso, fiquei com vontade de iniciar a palestra dizendo que Alfredo Hipólito era a avó dele, mas tive de reprimir essa atitude de forma resignada.

É sensato não brigar com um apresentador que atravessa o sinal e troca o tema da palestra ou erra na pronúncia do seu nome. Quase sempre, ele pertence àquela comunidade e, se foi encarregado de fazer sua apresentação, não é difícil deduzir que provavelmente tem representatividade no grupo.

Por isso, mantenha-se calmo e não arrume confusão com ele. Saiba que o desconforto nessas circunstâncias é seu e que o público, embora possa estranhar as informações passadas pelo apresentador, na realidade está ali para ouvir sua palestra.

Mesmo chateado, consegui manter o equilíbrio e contornar aquele momento de constrangimento. Olhei na direção do político que acabara de me apresentar, agradeci às suas palavras e fiz um elogio sincero à voz bonita que ele tinha. Realmente era uma voz de barítono, sonora e bastante melodiosa.

Em seguida, contei um fato verdadeiro que acabara de acontecer comigo. Disse que há poucas semanas, ao fazer uma palestra em Recife, o organizador do evento havia comentado que ao receber o programa e ler o meu nome não se cansava de dizer para si mesmo: 'Polito, Polito, eita nominho esquisito. Mas, por ser estranho, jamais irei me esquecer do nome desse palestrante, Reinaldo Polito'. Deu certo. Fiz o comentário a respeito do sobrenome e, de passagem, corrigi também o nome. Com o problema superado, pude me concentrar apenas na minha palestra.

Esses exemplos mostram que você precisa ficar atento a todos os detalhes que cercam sua apresentação. Deve cobrar a ação dos

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responsáveis pelo evento. E mais, estar pronto para planos de emergência caso surjam imprevistos.

Na próxima semana, vou mostrar como podemos agir quando o responsável pela nossa apresentação não se comporta de maneira adequada.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Planeje bem todos os detalhes que cercam sua apresentação • Observe se os responsáveis pelo evento seguiram suas

recomendações • Acompanhe os testes dos equipamentos, sempre que puder • Prepare um plano B, caso surjam contratempos • Esteja pronto para um plano de emergência, caso tudo dê

errado

23 23 23 23 ---- Aprenda a guardar o nome das pessoas Aprenda a guardar o nome das pessoas Aprenda a guardar o nome das pessoas Aprenda a guardar o nome das pessoas Já disseram que o som do próprio nome é semelhante a uma linda

canção. Mesmo que você julgue essa comparação exagerada, provavelmente deve concordar que ser chamado pelo nome é muito agradável.

Por isso, acostume-se a guardar o nome das pessoas. Esse hábito é bom para o relacionamento, para os negócios e para o sucesso de seus empreendimentos.

Muita gente sofre por não ter essa habilidade. De maneira geral, a reclamação é mais ou menos esta:

- Polito, por mais que eu tente, não consigo guardar o nome da pessoa com quem converso. Há situações em que termino de conversar sem saber o nome de quem estava falando comigo. Tenho consciência de que posso estar perdendo excelentes chances de construir novas amizades e estabelecer bons relacionamentos.

Se você também tem a mesma dificuldade para guardar nomes, siga esta regra bastante simples que dá ótimos resultados: ouça, repita e associe. Aplicando esse método tão elementar, em pouco tempo você terá resolvido definitivamente o problema. Por isso, comece a praticar já.

OuçaOuçaOuçaOuça O problema tem origem nas apresentações. Observe como muitas

pessoas não se preocupam em ouvir o nome de quem lhes é apresentado. É evidente que você não vai guardar o nome de uma pessoa se nem ao menos o ouviu. Por isso, o primeiro passo é prestar atenção no nome.

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Seja obstinado nesse propósito. Se mesmo tendo prestado bastante atenção ainda assim não conseguir entender, não fique constrangido em perguntar até mais de uma vez. Pode ser que por inibição ou por hábitos culturais a pessoa ao ser apresentada a você use um volume de voz tão baixo que fica difícil entender o nome dela. Assim, se por acaso não ficou claro, pergunte até entender.

RepitaRepitaRepitaRepita Após ter cumprido a primeira etapa de ouvir e entender o nome da

pessoa, o passo seguinte é repeti-lo pelo menos três vezes logo no início da conversa.

Por exemplo: Antonio Carlos, quanto tempo você gastou para organizar toda a reunião? Antonio Carlos, achei bem interessante a maneira como você montou as mesas para o evento. Parece tudo muito simples agora que a sala está organizada, mas imagino o trabalho que Antonio Carlos teve para deixar tudo no lugar.

A recomendação de dizer o nome três vezes não significa que você não poderá repeti-lo novamente. Durante a conversa, se você julgar conveniente e adequado, fale o nome da pessoa até ter certeza de que conseguiu memorizá-lo.

AssocieAssocieAssocieAssocie Embora algumas pessoas tenham nomes incomuns, dificilmente você

será apresentado a alguém que possua um nome tão estranho que nunca tenha ouvido.

Aproveite a familiaridade que você tem com o nome e, ao repeti-lo, procure associar a fisionomia da pessoa que acabou de conhecer com a de alguém que você conheça e que tenha o mesmo nome.

Para não correr o risco de esquecer, imagine uma cena inusitada e até ridícula. Por exemplo, pense que essa pessoa que você conhece, e que possui o mesmo nome, esteja sentada ou sapateando na cabeça do seu novo conhecido. Esse exagero possibilitará que você se recorde do nome mesmo muito tempo depois do encontro.

Um caso folclórico. Tive uma aluna, gerente de uma organização financeira, que não conseguia se lembrar do nome de nenhuma pessoa que lhe era apresentada, mesmo que o repetisse dezenas de vezes.

Como era muito extrovertida e brincalhona, adotou um método que a retirava de situações embaraçosas. Sempre que conversava com uma pessoa, ela a tratava de lindinho ou lindinha. Esse tratamento carinhoso funcionava quase tão bem quanto se a chamasse pelo nome.

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O cartão de visitas ajuda a guardar nomesO cartão de visitas ajuda a guardar nomesO cartão de visitas ajuda a guardar nomesO cartão de visitas ajuda a guardar nomes Use o cartão de visitas da pessoa que você acaba de conhecer para

guardar o nome dela. Se você estiver sentado à mesa, deixe o cartão à sua frente o tempo todo.

Principalmente quando diversas pessoas nos são apresentadas num encontro ou numa reunião, é prudente dispô-los sobre a mesa na direção em que o dono do cartão está sentado. Essa precaução evitará que você se esqueça do nome da pessoa já no momento em que ainda estiverem conversando.

Faça anotaçõesFaça anotaçõesFaça anotaçõesFaça anotações Os cartões de visitas são ótimos para anotações, pois geralmente um

dos lados está em branco. Um bom hábito é o de escrever tudo o que puder a respeito da pessoa na primeira oportunidade que tiver. Falo isso porque se você receber muitos cartões, depois de algum tempo não se lembrará de quem se trata.

Por isso, anote no cartão a data e o local onde encontrou a pessoa, quem os apresentou, se ela tem interesse por algum assunto específico, enfim, todos os dados que julgar conveniente.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Preste atenção no nome da pessoa que acaba de conhecer • Repita o nome dela pelo menos três vezes logo no início da

conversa • Associe a fisionomia dela com a de um velho conhecido que

tenha o mesmo nome • Imagine cenas inusitadas para fazer associações • Use o cartão de visitas do novo conhecido para ter o nome dele

à sua frente

24 24 24 24 ---- Ei, ei, você se lembra da minha voz? Ei, ei, você se lembra da minha voz? Ei, ei, você se lembra da minha voz? Ei, ei, você se lembra da minha voz? A propaganda do xampu Colorama mostrando uma moça de voz

desafinada fez história na publicidade brasileira. É impressionante como depois de tantas décadas ainda tem gente que se lembra do anúncio veiculado pela televisão.

Na peça publicitária, a moça de voz esganiçada aparecia fazendo anúncio do xampu. A voz era tão aguda e estridente que num primeiro momento não deu para entender como foi levada ao ar. Nunca soube se a participação dela no anúncio se deu por causa de uma vacilada da agência de propaganda, devidamente endossada pelos caciques da Bozzano, que

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era a empresa anunciante, ou se tudo foi muito bem planejado como preparação para o próximo anúncio.

Não posso afirmar, por falta de informações, mas minha intuição diz que foi uma bela pisada na bola. E, se foi, a correção merece aplausos. Nesse caso, a emenda ficou muito melhor que o soneto.

No anúncio seguinte, lá estava a moçoila toda saltitante entoando com a voz ainda mais descolorida a seguinte mensagem: 'Ei, ei, você se lembra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos - quanta diferença!'. E no final a mesma moça surgia com voz melodiosa e sedutora dizendo: 'Quando os cabelos são lindos, tudo é lindo numa mulher'.

Bingo! Até hoje, passados tantos anos aquela vozinha ridícula ainda está na minha mente. Na minha e na de muita gente, pois basta acionar a espoleta com a frase 'a minha voz continua a mesma' e logo aparece alguém para completar 'mas, os meus cabelos - quanta diferença!'.

Não é tão comum, entretanto, encontrarmos pessoas com qualidade vocal tão ruim. Por outro lado, é curioso que mesmo não tendo nenhum problema na voz a maioria das pessoas não gosta de se ouvir em gravação.

Mas, se a voz até tem boa qualidade, por que há tanta resistência em ouvi-la gravada? De maneira geral, não morremos de amores pela nossa voz quando a ouvimos reproduzida numa gravação, porque é comum julgarmos que ela tem melhor qualidade. Quando uma pessoa ouve sua própria voz gravada, estranha tanto o som que chega até a afirmar ou que não parece ser ela quem está falando ou que a qualidade do gravador é ruim.

Pensamos assim porque, quando falamos, ouvimos o som da voz dentro de nossa cabeça com toda a ressonância produzida pelos ossos. Entretanto, os ouvintes e, da mesma forma, o gravador, captam a vibração de uma onda de ar, isto é, um som distinto daquele que nos acostumamos a ouvir.

Depois de ouvir a própria voz gravada várias vezes, a pessoa vai se habituando e passa a aceitá-la naturalmente.

Portanto, se por causa da qualidade da sua voz, você já estava imaginando ser um bom modelo para fazer a propaganda do xampu Colorama, saiba que é quase certo que sua avaliação está equivocada. Faço essa afirmação com segurança porque, assim como ocorre com quase todas as pessoas, sua voz deve ter mais qualidade do que você supõe.

Se, depois de analisar bem, chegar à conclusão de que sua voz não é boa mesmo, o melhor que tem a fazer é consultar um fonoaudiólogo para uma avaliação, pois ele é o profissional indicado para dar um diagnóstico correto e sugerir o tratamento apropriado.

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Entre todos os motivos que prejudicam a beleza da voz, os dois principais são respiração inadequada e mau aproveitamento dos ressoadores.

Se você desenvolver uma respiração correta e distribuir melhor o som produzido pelas pregas vocais (vulgarmente chamadas de cordas vocais) na boca , faringe e nariz, que formam os ressoadores, a voz terá beleza e qualidade, tornando-se mais agradável, mais expressiva e comunicativa.

Vale a pena lembrar também que alguns dos grandes oradores, que se projetaram e continuam se projetando nas mais diferentes atividades, possuem voz feia. Ou será que o ex-presidente Jânio Quadros e o presidente Lula podem ser considerados exemplos de oradores com voz bonita? É evidente que não. Mas, mesmo assim, são pessoas que apesar da voz conquistaram os votos necessários para se eleger.

Independentemente da qualidade da sua voz, é importante que ela tenha 'personalidade' e que ajude a transmitir credibilidade na sua comunicação.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não se precipite na avaliação da sua voz • É quase certo que sua voz tenha mais qualidade do que você

imagina • Adquira o hábito de ouvir sua voz gravada até se acostumar

com ela • Se tiver problema na voz, consulte um fonoaudiólogo • Voz feia não tira necessariamente a eficiência da comunicação

25 25 25 25 ---- O se O se O se O sentido maroto das palavrasntido maroto das palavrasntido maroto das palavrasntido maroto das palavras

Uma mesma mensagem poderá ter sentido totalmente distinto,

dependendo da maneira como você apresenta as palavras e as frases no momento de se comunicar.

Em determinadas circunstâncias, bastará apenas modificar a ordem da informação para que uma mensagem com pouca ou sem nenhuma chance de sucesso se transforme numa argumentação poderosa e persuasiva. Veja alguns exemplos que podem ensinar como é possível organizar o pensamento para que a comunicação tenha mais chances de ser vitoriosa.

As histórias que vou relatar são interessantes, divertidas e tive o prazer de ouvi-las das próprias personagens envolvidas. São essas aulas

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espontâneas de comunicação que nos fazem refletir e nos permitem aprimorar cada dia mais a nossa maneira de falar com as pessoas.

A primeira delas é curiosa e verdadeira. Foi contada em sala de aula por um aluno que é juiz de direito. Ele disse aos colegas de curso que no início de sua carreira teve de trabalhar em uma cidade do interior. A localidade era muito pequena e quase todos os habitantes se conheciam pelo nome. Freqüentavam a mesma praça, o mesmo supermercado e no final de semana, depois da missa, iam ao único campo de futebol para se divertir vendo os pernas de pau bater uma bola, ou, segundo o meritíssimo, apanhar dela.

As atividades do juiz eram tranqüilas, tirando uma ou outra discussão de vizinhos por causa de divisa de propriedade, quase nunca havia novidade. Um belo dia, durante um julgamento, ele precisou usar de muito jogo de cintura para sair de uma saia justa.

Para elucidar o caso que estava sendo julgado era preciso saber se o réu tinha ou não o hábito de beber muito. Em determinado momento o juiz se volta para um velho companheiro de bocha, que fora chamado como testemunha, e naturalmente fez a ele uma pergunta, como se estivessem batendo papo, tomando uma cervejinha no boteco:

- Juarez, conta pra nóis aqui, você sabe se o Zé Antonio bebe muito? Sem se preocupar com o fato de que estava participando de um

julgamento, Juarez respondeu como se também estivesse conversando na pracinha:

- Ó doutor, pra explicar assim de um jeito facinho de entendê, digo que ele bebe que nem nóis. Nem mais, nem menos.

O juiz sentindo que estava com uma batata quente nas mãos, virou-se para quem fazia as anotações e orientou com a severidade própria do cargo e da posição que ocupava:

- Para que não paire dúvidas sobre essa questão, deve ficar consignado que a testemunha alega que o réu bebe... Moderadamente.

Esse é um ótimo ensinamento - suavizar as palavras e reinterpretar certas respostas como forma de nos defendermos de situações delicadas e constrangedoras. Assim, em reuniões, ou diante da plateia respondendo a perguntas dos ouvintes, podemos fazer pequenas adaptações que restabelecem o rumo mais apropriado para a apresentação.

Essa outra história foi contada por um dos mais brilhantes comunicadores que conheci, o Padre Vasconcelos. Ele foi um dedicado estudioso da comunicação e se tornou famoso em São Paulo, especialmente na região do Paraíso, por suas extraordinárias pregações.

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Era uma espécie de Padre Marcelo Rossi dos anos 70. Falava rápido e brincava com a plateia o tempo todo. Embora eu tenha ouvido o relato da boca do próprio padre, desconfio que ele, querendo mostrar com bom-humor como as palavras usadas de maneira correta podem ser muito mais persuasivas, tenha dado asas à imaginação e carregado um pouco nas cores.

Ele contou que um seminarista, em dia pleno de orações, estava louquinho para dar umas tragadas. Lembre-se de que nos anos 70, cerca de quatro décadas atrás, nem os padres se preocupavam muito com o fato de que contar histórias de fumantes era politicamente incorreto. Como o seminarista era obediente e não queria transgredir as rígidas normas que proibiam fumar sem autorização, assim que avistou o bispo dirigiu-se a ele e perguntou:

- Reverendíssimo, será que eu poderia fumar enquanto estou rezando?

O bispo não pensou duas vezes para negar o pedido do seminarista. No dia seguinte, sem se conformar com a negativa que havia

recebido, dirigiu-se ao mesmo bispo e fez a mesma pergunta, com uma pequena mudança no seu pedido:

- Reverendíssimo, será que eu poderia rezar enquanto estou fumando?

O bispo pensou um pouco e respondeu com o semblante alegre: - Claro que pode, meu filho, seria muito bom se enquanto você

estivesse fumando pudesse rezar. O cuidado com as palavras é procedimento simples, que exige apenas

um pouco de atenção, e pode ser fundamental para que possamos encontrar boas soluções para os problemas de comunicação.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Prefira dizer 'eu não fui claro', em vez de falar 'você não me entendeu'

• Dê preferência a 'nós precisamos' trabalhar com mais empenho, em vez de 'vocês precisam'

• Verifique como a mesma mensagem pode melhorar o sentido ajustando a ordem das palavras

• Observe como políticos e advogados experientes conseguem valorizar suas causas pela ênfase que dão às palavras

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26 26 26 26 ---- E se eu não souber a resposta? E se eu não souber a resposta? E se eu não souber a resposta? E se eu não souber a resposta? Essa é uma questão recorrente em sala de aula: Polito, como deverei

agir se o ouvinte fizer uma pergunta e eu não souber a resposta? Quando as pessoas não estão diretamente envolvidas, costumam dizer

que nessas circunstâncias revelam honestamente não saber a resposta. Entretanto, cuidado para não embarcar nesse barco sem leme, pois uma coisa é o que as pessoas dizem, e outra é o que efetivamente fazem.

Fica bonito dizer que a sinceridade deve prevalecer e que, portanto, basta fazer aquela cara de bom cristão e confessar a ignorância na frente do público. Embora essa seja uma das atitudes que podemos tomar, outras também precisam ser consideradas.

Para que você possa avaliar todas as possibilidades de resposta e tenha condições de compreender bem qual a conduta que deverá adotar, vou relacionar antes os motivos que levam um ouvinte a formular uma pergunta.

Um ouvinte formula uma pergunta ao orador por vários motivos: a.a.a.a. Por dúvida -quando não compreende bem o que está sendo

transmitido. b.b.b.b. Por vontade de aprender -quando assimila as informações

fornecidas, mas deseja saber mais sobre o assunto. c.c.c.c. Por necessidade de se destacar no ambiente -quando deseja ser

notado pelas outras pessoas que formam o auditório, independentemente de ter entendido ou não o que está ouvindo.

d.d.d.d. Para provocar -quando deseja atrapalhar o desenvolvimento da apresentação por causa da hostilidade que nutre contra o tema ou contra o próprio orador.

e.e.e.e. Para testar os conhecimentos de quem fala -quando deseja certificar-se da segurança do orador sobre a matéria.

Note que a situação é bastante complexa e exige muita reflexão antes de nos decidirmos por um ou outro caminho. Cada circunstância poderá ser contornada de forma diferente, desde que seja possível manter a tranquilidade e identificar o objetivo da indagação.

Atenção: você não é mentiroso, portanto, em todas as situações, nunca invente respostas, pois esse artifício poderá ser percebido pelo auditório, que deixará de acreditar nas suas palavras. Por outro lado, talvez não seja conveniente dizer que não conhece a resposta, porque sua autoridade poderia ser enfraquecida. Muitos acreditam que a franqueza de dizer 'sinto muito, mas não sei a resposta' é reconhecida como grande qualidade, mas quem já se defrontou com episódios semelhantes sabe que

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isso nem sempre é verdadeiro. Apenas não se devem preocupar muito com as conseqüências dessa afirmação os oradores que possuem larga e inquestionável reputação no campo do assunto de que tratam. Afora estes, antes de utilizar o último recurso - a confissão de que não sabe a resposta -, alguns procedimentos poderiam ser adotados:

a.a.a.a. Se conseguir identificar no ouvinte que faz a pergunta alguém que deseja demonstrar conhecimento, destacar-se no ambiente, provocar ou testar seus conhecimentos, uma alternativa que geralmente apresenta bons resultados é devolver a questão ao interlocutor. Por exemplo: 'O que você pensa a respeito?' Existe boa possibilidade de receber a resposta da própria pessoa que formulou a pergunta. Se ainda assim a resposta for negativa, isto é, se o ouvinte não souber responder, aja de acordo com a sugestão dada na hipótese seguinte.

b.b.b.b. Se perceber que a pergunta tem como origem a dúvida ou a vontade de aprender, poderá devolvê-la ao grupo. Por exemplo: 'O que vocês pensam desta questão?'. Também haverá chances de que alguém possa ajudá-lo com a resposta. Como o tema abordado numa apresentação é familiar a você, uma sugestão da plateia poderá ser suficiente para que se encontre uma saída para o problema formulado. Mesmo que ninguém tenha respondido, haverá uma divisão da responsabilidade com o grupo e, nesse momento, você poderá prontificar-se a pesquisar a solução em nome de todos, preservando assim a sua imagem.

Se julgar que a circunstância é desfavorável para adotar uma dessas sugestões e que no transcorrer da exposição poderá encontrar uma saída, avise que em seguida voltará ao tema. Dificilmente alguém discordará e você ganha tempo ou para uma resposta mais apropriada ou para depois, a sós com quem fez a pergunta, dizer que irá pesquisar.

Agora, se sentir que tais procedimentos não serão convenientes, não hesite em confessar que desconhece a resposta.

Veja que antes de revelar que não sabe a resposta há um extenso trajeto a ser percorrido. Tudo dependerá da tranqüilidade que você possa ter e da habilidade em identificar os motivos que levaram o ouvinte a fazer a pergunta. É um longo aprendizado que exigirá paciência, perseverança e capacidade de observação.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Aprenda a identificar os motivos que levam um ouvinte a

perguntar • Se a pergunta for muito complexa, há grande chance de o

próprio ouvinte saber a resposta • Nunca caia na armadilha de inventar respostas, pois poderá ser

fatal para sua reputação • Se prometer pesquisar a resposta para uma pergunta, cumpra

sempre a promessa

27 27 27 27 ---- Conversas paralelas Conversas paralelas Conversas paralelas Conversas paralelas Que atitude você deve tomar se estiver fazendo uma apresentação e

algumas pessoas conversam em voz alta atrapalhando o andamento da exposição?

Nos últimos meses, tenho tratado nesta coluna de vários temas que envolvem comportamento e conduta. Fiquei impressionado com a quantidade de e-mails de professores se dizendo impotentes diante da falta de respeito e de consideração dos alunos em sala de aula. Alguns comentaram que ao tentar impor um pouco de ordem para que a aula pudesse seguir normalmente foram ameaçados e até agredidos.

Infelizmente o comportamento condenável desses jovens é o reflexo da sociedade em que vivemos. Os desmandos, a corrupção, a inoperância da máquina estatal, a violência incontrolável, o péssimo exemplo de alguns que deveriam nos representar são fatores que contaminam e desviam a conduta social.

Não adianta os pais cobrarem a ação dos professores se eles mesmos não conseguem educar seus filhos. Largá-los nas mãos dos professores como se eles fossem os únicos responsáveis pela educação das crianças e dos jovens é um comodismo que precisa ser revisto com urgência.

Embora essa grave situação mereça nosso repúdio e uma tomada de posição, nesta semana quero falar qual deve ser o comportamento do orador diante de pessoas que conversam e atrapalham a concentração dos outros ouvintes. Mas não vou me referir a esses verdadeiros marginais que freqüentam salas de aula intimidando os professores. Esse assunto talvez possa ser abordado em outra oportunidade. Neste texto vou falar, se é que seria correto dizer, de ouvintes que apresentam um comportamento mais 'normal'.

Comecei a me preocupar com esse assunto quando ainda era um garotão. Certa vez, ainda quando eu estava no curso básico, ocorreu uma

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cena que jamais fugiu da minha lembrança. Um colega de classe, ao perguntar, inocentemente, a um companheiro que se sentava ao lado qual a frase pronunciada pelo professor, foi pego em flagrante pelo mestre, que o retirou da sala sem chances de defesa.

Fiquei imaginando se alguém teria o direito de expulsar um ouvinte da sala porque conversou, em vez de prestar atenção à exposição.

Sim, tem o direito, mas esse é o último recurso de que dispomos. Antes de tomar uma atitude tão extrema, existem alguns passos que precisam ser dados:

a. Fale um pouco mais baixoa. Fale um pouco mais baixoa. Fale um pouco mais baixoa. Fale um pouco mais baixo Alguns palestrantes cometem o erro de falar num tom mais intenso

quando percebem ruídos no ambiente. Essa atitude, além de não resolver o problema, poderá agravá-lo, porque quase sempre passa a existir uma espécie de concorrência, em que o participante no auditório também aumentará o volume da voz. Fale mais alto somente na primeira ou segunda frase, para chamar a atenção. Depois baixe a altura para que a voz da pessoa na plateia sobressaia no ambiente, forçando-a naturalmente a ficar em silêncio.

b. Passe a falar olhando na direção de quem conversab. Passe a falar olhando na direção de quem conversab. Passe a falar olhando na direção de quem conversab. Passe a falar olhando na direção de quem conversa Aqui a situação já começa a ficar delicada. Se o primeiro

procedimento -falar mais baixo- não for suficiente, o passo seguinte é olhar com insistência na direção de quem conversa, sempre falando com voz mais baixa. Ao perceber que foi notado, talvez ele se cale. Nesse momento, um sorriso ou brincadeira podem ajudar a solucionar o problema de maneira mais leve e simpática.

c. Pare de falarc. Pare de falarc. Pare de falarc. Pare de falar Agora complicou de vez. Praticamente todas as situações poderão ser

resolvidas com os dois procedimentos anteriores, mas, se isso não ocorrer, pare de falar e continue olhando na direção daquele que atrapalha a sua exposição. Dificilmente alguém continuaria a se manifestar no auditório sentindo que o orador parou de falar e lhe dirige o olhar.

d. Peça que se caled. Peça que se caled. Peça que se caled. Peça que se cale A luz vermelha com indicação de perigo está piscando com

insistência. É desagradável ter que chegar a esse estágio. Nesse instante, já se caracterizou uma certa animosidade que nunca interessa a qualquer orador, mas se, depois de todas as tentativas, ainda persistir o problema, não tenha receio, peça que o importunador se cale.

e. Retiree. Retiree. Retiree. Retire----o da salao da salao da salao da sala Por mais experiente que seja o orador, a adrenalina deve estar a mil.

É o último recurso. Tudo já foi tentado para que a exposição tivesse um

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rumo normal, mas a pessoa que ainda continua falando não está interessada nas suas palavras e não demonstra nenhum respeito ao ambiente. É uma espécie de corpo estranho indesejável que precisa ser eliminado. Retire-a da sala.

Opa, parado aí. Antes de tomar esta decisão, com certeza você já estará certificado de que possui autoridade para isso. Como é que poderíamos colocar alguém fora da sala se ele é o presidente de uma companhia para a qual necessitamos vender nossos serviços?!

f. Faça uma pergunta simplesf. Faça uma pergunta simplesf. Faça uma pergunta simplesf. Faça uma pergunta simples É tudo ou nada. Nesse caso, nada mais resta a fazer. O indivíduo

continua conversando, atrapalha totalmente a apresentação e não existe autoridade para retirá-lo da sala. Antes de desistir, faça uma pergunta bastante simples relacionada com o tema que desenvolve e procure envolvê-lo pela sua própria resposta.

Sabe rezar? Se, depois de todo esse esforço, sentir que as tentativas foram infrutíferas, peça a Deus que o ajude. Se nem Ele ajudar, pare de falar e se retire. Mas isso provavelmente nunca ocorrerá.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Fale mais baixo para que a voz do ouvinte que conversa sobressaia na sala

• Olhe na direção de quem conversa, sempre de maneira simpática

• Pare de falar e continue olhando na direção de quem conversa • Peça que o ouvinte se cale. Ainda dá para continuar simpático • Retire da sala o ouvinte que conversa. Aja assim sem se alterar • Em todas as situações mantenha o equilíbrio e a simpatia

28 28 28 28 ---- Aprenda a ler em público Aprenda a ler em público Aprenda a ler em público Aprenda a ler em público

Muitas pessoas acham que ler em público é simples, já que basta

transmitir o texto que está pronto no papel. Posso garantir, entretanto, que a leitura se constitui na técnica mais difícil e complexa para o orador comunicar uma mensagem.

Ao longo dos últimos 30 anos, tenho treinado pessoas das mais diferentes atividades para falar com desembaraço e confiança diante da plateia. Essa experiência me permitiu constatar que é muito raro encontrar alguém que saiba ler em público de maneira correta e eficiente.

A maioria não se dá conta de como deverá se dedicar para ter o domínio total da técnica da leitura. A não ser que você já tenha alguma

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experiência, precisará de pelo menos cinco horas de exercícios para desenvolver uma leitura de boa qualidade.

Ao pesquisar os motivos que levam as pessoas a ter tanta dificuldade com essa técnica de comunicação, entre as causas mais relevantes pude observar duas que se destacam:

A primeira é que a maioria teve poucas chances de ler em público. Se você pensar bem, vai concluir que falamos de improviso desde o primeiro ano de vida. Entretanto, as chances de ler em voz alta diante de um grupo de ouvintes são bem mais reduzidas. Alguns passam a vida toda sem nenhuma oportunidade de ler em público

A outra causa é que além de, normalmente, as pessoas não terem experiência suficiente para ler em público, quando precisam recorrer a esse recurso de comunicação se apresentam sem critérios técnicos adequados.

Embora a técnica seja complexa e exija treinamento, as orientações que você deve seguir para aprender a ler bem em público são bastante simples.

Cuidado - comece agora mesmo a se aprimorar na leitura em público. Se você esperar o momento em que tenha necessidade de ler, talvez a circunstância impeça que se prepare de forma conveniente.

Observe quais os pontos mais importantes para tornar a leitura em público eficiente:

Mantenha contato visual com os ouvinMantenha contato visual com os ouvinMantenha contato visual com os ouvinMantenha contato visual com os ouvintestestestes Tenha em mente que a mensagem deve ser transmitida para os

ouvintes. Por isso, não fique olhando para o texto o tempo todo, como se estivesse conversando com o papel. Durante as pausas prolongadas e nos finais de frases, olhe para os ouvintes e demonstre com essa atitude que as informações estão sendo transmitidas para eles.

Cuidado também para não olhar sempre para as mesmas pessoas. Distribua a comunicação visual olhando ora para um lado, ora para outro. Assim, todos se sentirão incluídos no ambiente.

Uma boa dica para você não se perder, enquanto olha para os ouvintes, é marcar a linha de leitura com o dedo polegar, pois ao voltar para o texto saberá exatamente onde parou.

Outro defeito que aparece com freqüência é o de tirar os olhos do texto, mas em vez de olhar para os ouvintes o orador olha para o teto, revirando os olhos como se estivesse em transe.

Mantenha o papel na altura corretaMantenha o papel na altura corretaMantenha o papel na altura corretaMantenha o papel na altura correta Se você deixar o papel muito baixo, terá dificuldade para enxergar o

texto. Se, entretanto, deixar muito alto, esconderá seu rosto da plateia. Por

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isso, procure deixar a folha na parte superior do peito, para ler com mais facilidade e não se esconder do público.

Considere também que, se o papel estiver muito baixo, você terá que abaixar muito a cabeça para ler e levará muito tempo para retornar, olhar e ver as pessoas. Deixando a folha na parte superior do peito, bastará levantar um pouco a cabeça para tirar os olhos do texto e já estará mantendo a comunicação visual com os ouvintes.

Falando em não abaixar a cabeça, ao digitar o texto procure usar apenas os dois terços superiores da página, deixando o terço inferior em branco. Esse cuidado permitirá um contato visual mais tranqüilo e suave, já que para ver as pessoas bastará apenas levantar os olhos, sem movimentar muito a cabeça.

Faça poucos gestosFaça poucos gestosFaça poucos gestosFaça poucos gestos Se a gesticulação na fala de improviso, sem papel nas mãos, deve ser

moderada, na leitura, essa moderação dos gestos deve ser ainda maior. Exceto nos casos em que a mensagem exigir expressão corporal mais

ativa, como nas circunstâncias de grande emoção, ao ler uma página, de maneira geral, você poderá se limitar a meia dúzia de gestos.

É melhor que você faça poucos gestos, que destaquem as informações mais relevantes com convicção e firmeza, do que demonstrar hesitação e insegurança soltando repetidamente a mão do papel e retornando depressa, como se estivesse arrependido de ter feito aquele gesto.

Como a falta dos gestos não trará tanto prejuízo ao resultado da apresentação, se você for muito inexperiente e encontrar dificuldade para gesticular, será melhor que não gesticule. Fique o tempo todo segurando a folha com as duas mãos.

Aqui você poderia perguntar: mas, Polito, se a falta do gesto não prejudica tanto o resultado da leitura, por que gesticular? A falta do gesto não prejudica a apresentação a ponto de comprometer o objetivo da mensagem, mas é evidente que gestos harmoniosos, coerentes e expressivos serão importantes para tornar a leitura ainda mais eficiente.

Em outras palavras. A gesticulação na leitura é boa. Mas, enquanto você não souber gesticular, é melhor não correr riscos.

Faça marcaçõesFaça marcaçõesFaça marcaçõesFaça marcações Pequenas marcações no texto podem facilitar a interpretação da

mensagem. Use, por exemplo, traços verticais antes das palavras para indicar o momento de fazer pausas mais expressivas, e traços horizontais embaixo das palavras que mereçam maior destaque.

Observe que essas marcações não coincidirão necessariamente com a pontuação gramatical. Por exemplo, nessa frase que você acabou de ler, se

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você fizesse uma pausa depois da palavra 'marcações', poderia dar mais expressividade à leitura.

E se você tremer? Até oradores muito experientes chegam a temer quando precisam ler

diante do público. Se você também costuma sentir tremores nas mãos, uma boa saída é usar folhas de gramatura mais encorpada. Somente pelo fato de saber que, com as folhas mais grossas os pequenos tremores não serão percebidos, você irá se comportar com mais tranqüilidade e, provavelmente, não tremerá.

Não se canse de treinarNão se canse de treinarNão se canse de treinarNão se canse de treinar Você não pode ter preguiça para treinar. Para exercitar, selecione

textos de jornais ou de revistas, faça marcações para ajudar na interpretação e treine com auxílio de uma câmera de vídeo - na falta desse equipamento, faça os exercícios na frente de um espelho. Dê atenção especial às pausas expressivas, à comunicação visual e aos gestos.

Um texto para ser bem lido e interpretado necessita de pelo menos quinze ensaios, pois somente aí é que conseguirá soltar-se do papel com tranqüilidade e se comunicar de forma eficiente com os ouvintes. Não se esqueça, entretanto, de que para você ter domínio total da técnica precisará daquelas cinco horas que comentei no início.

Cuidado também para não ensaiar muito a ponto de decorar a mensagem e se esquecer de olhar para o papel. Se este fato ocorrer, diante da plateia, pelo menos finja que está lendo.

Situações em que a leitura é recomendável A leitura deve ser reservada para circunstâncias especiais como: · Pronunciamentos oficiais · Textos muito técnicos que não possam conter erros · Discursos de posse de presidentes de entidades, pois esse é o

momento em que apresentam as bases da sua administração e não devem, portanto, improvisar

· Discursos de despedida de presidentes de entidades, pois ao deixar o cargo, de maneira geral, fazem um levantamento das suas realizações

· Agradecimentos de homenagens feitas a grupos, especialmente quando a mensagem representar a filosofia das pessoas, ou o discurso tiver de ser distribuído para a imprensa

· Discursos de oradores de turma, pois nesse momento estão representando a vontade de todos os colegas formandos

Além dessas situações e de uma ou outra que poderia ser acrescentada, a leitura deveria ser substituída por outros recursos, que tratarei nesta coluna em outra oportunidade.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Para facilitar a identificação de cifras, misture números com palavras. Por exemplo, fica mais fácil ler 38 milhões, do que 38.000.000, ou trinta e oito milhões

• Encerre sempre a página com ponto final. Frases incompletas no final da página o obrigarão a se apressar na busca do complemento da informação na página seguinte

• Numere as folhas com números bem visíveis para não se perder • Deixe as folhas soltas, sem clipes ou grampos • Use um corpo de letra de acordo com sua capacidade de

enxergar, mesmo que para isso seja obrigado a usar muitas folhas

• A tipologia minúscula de letras possui desenhos mais fáceis de ler do que a maiúscula. Por isso, use corpo de letra grande com tipologia minúscula

29 29 29 29 ---- Não atropele a gramática ao falar Não atropele a gramática ao falar Não atropele a gramática ao falar Não atropele a gramática ao falar

Você fala 'fazem três anos' ou 'faz três anos'? 'Éramos em cinco' ou

'Éramos cinco'? Pois é, deslizes primários como esses podem jogar por terra uma

carreira profissional construída durante uma vida inteira com muito sacrifício. Vale a pena dar uma olhada em algumas questões gramaticais que podem ser aperfeiçoadas até com facilidade.

Não sou professor de português. Não me sinto qualificado para exercer essa atividade tão complexa, difícil e desafiante.

Por outro lado, por sorte, tenho grandes amigos que são craques no ensino da nossa língua, como o professor Pasquale Cipro Neto, um dos mais competentes mestres nessa matéria em todo o país e a professora Edna Barian Perrotti, autora do excelente 'Superdicas para Escrever Bem Diferentes Tipos de Texto'. Sempre que tenho dúvidas recorro a eles.

Tive bons professores de português e aprendi muito também com os revisores dos meus livros. Tenho todas as revisões bem guardadas. Quando recebia meus originais 'rabiscados' pela revisão da editora, mandava encadernar para usar como fonte de consulta. Como já escrevi 15 livros, deu para formar uma boa biblioteca com esse material.

É muito difícil escrever um texto sem dar pelo menos uma escorregadela. De vez em quando, escapa uma daquelas bem caprichadas.

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Esses deslizes quase nunca passam despercebidos, pois conto também com a ajuda dos leitores, que sempre me alertam para as incorreções nos artigos.

Talvez, no final, você me mande um e-mail perguntando: 'Polito, esse erro que encontrei no seu texto não faz parte da 'coleção de livros que você mandou encadernar''? Tomara que esse fato não ocorra. Mas, se o erro aparecer, vamos rir juntos.

Entretanto, vou deixar a preocupação gramatical com textos escritos para os meus amigos professores de português e perambular por uma praia que me é mais familiar: a importância das regras gramaticais na comunicação oral.

Você poderia questionar: Mas as regras gramaticais não são as mesmas para falar e para escrever? Sim. E não. Citando novamente o professor Pasquale, a comparação que ele faz da língua com as roupas do nosso armário é ótima para esclarecer a importância da adequação da nossa linguagem.

Temos roupas diferentes para as mais diversas ocasiões, e usamos uma ou outra dependendo da circunstância.

Com a língua não é diferente. Se tivermos de apresentar um projeto acadêmico, a linguagem deverá ser própria para a academia. Se fizermos uma exposição na empresa, os termos do mundo corporativo serão os mais apropriados. Se estivermos conversando com um grupo de amigos, a comunicação solta, do cotidiano, sem muita preocupação com acertos ou desvios gramaticais é a mais indicada.

Podemos ter o mesmo raciocínio também quando nos referimos à gramática para a comunicação escrita e para a oral .

Se cometermos um ou outro pecado lingüístico na comunicação falada, provavelmente não seremos encaminhados para o cadafalso. Entretanto, um deslize na comunicação escrita não será visto com a mesma benevolência, já que houve condições para ler, reler e providenciar as correções.

Mesmo assim, descuidos grosseiros na comunicação oral podem ser um desastre para a imagem e a reputação de uma pessoa. É um sinal evidente da sua falta de formação e de preparo. Uma indicação explícita de que houve uma lacuna no seu processo de educação.

Há uma corrente de estudiosos que pensa de forma diferente. Julgam que essa preocupação não passa de perfumaria. Não concordo. Mas, como são autoridades nesse tema, preciso mencionar esse ângulo distinto da questão.

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Ao longo dos anos, notei um fato curioso com a comunicação dos meus alunos: alguns negligenciam as regras gramaticais quando falam, mas não quando escrevem. O nervosismo, a pressão de estar diante do público, a ansiedade são fatores que tiram a tranqüilidade e podem predispor ao erro.

Com base nessas observações, colecionei os deslizes gramaticais mais freqüentes na comunicação oral. Como são incorreções muito evidentes e facilmente identificadas, não custa nada fazer uma avaliação para constatar se você, até por descuido, não está cometendo alguns desses deslizes.

1. 'Fazem muitos anos' que este erro ocup1. 'Fazem muitos anos' que este erro ocup1. 'Fazem muitos anos' que este erro ocup1. 'Fazem muitos anos' que este erro ocupa o primeiro lugar no a o primeiro lugar no a o primeiro lugar no a o primeiro lugar no

pódiopódiopódiopódio Não é conveniente, por exemplo, dizer 'fazem três anos, fazem

muitos anos'. A explicação para essa questão gramatical é simples. Quando o verbo

'fazer' se refere a tempo ou indica fenômenos da natureza deve permanecer na terceira pessoa do singular, porque é impessoal, não tem sujeito e, por isso, não pode ser flexionado.

Portanto, mais apropriado seria dizer: Faz três anos que ocupo o cargo de diretor na empresa. Faz oito meses que parei de fumar.

A mesma regra pode ser aplicada para o verbo haver quando usado no sentido de existir. Por exemplo: Havia manchas em todas as roupas, e não 'haviam manchas em todas as roupas'. Houve comentários favoráveis à proposta, e não 'houveram'.

2. A segunda posição vai para haja visto2. A segunda posição vai para haja visto2. A segunda posição vai para haja visto2. A segunda posição vai para haja visto De acordo com as minhas anotações, o segundo deslize gramatical de

maior incidência na comunicação oral é o uso de 'haja visto' no lugar de 'haja vista'.

A expressão haja vista não varia, pois sua formação ocorre com a terceira pessoa do imperativo do verbo haver acrescida de vista, um substantivo feminino. Exemplo: Haja vista as notícias de corrupção estampadas nos jornais.

3. Mim tem presença garantida no pódio3. Mim tem presença garantida no pódio3. Mim tem presença garantida no pódio3. Mim tem presença garantida no pódio Explique melhor 'para mim entender'. O terceiro deslize gramatical

mais freqüente na comunicação oral possui uma peculiaridade bastante curiosa: a maioria que desconsidera essa regra sabe como deveria falar, mas o hábito é tão automatizado que quando as pessoas se dão conta já escapou.

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É mais fácil entender do que pôr em prática. O 'eu' deve ser usado antes do verbo porque nesse caso ele funciona como sujeito do infinitivo. Só se usa o 'mim' quando não houver um verbo depois do 'para', como neste exemplo: Ele trouxe a roupa para mim.

Também em casos em que se completa o sentido de adjetivos, como difícil e impossível, o certo é para mim, porque já não haverá sujeito. Está difícil para mim aceitar esse acordo com os fornecedores. É quase impossível para mim manter esse nível de produção.

Como eu disse, essa é uma questão delicada. Se você for uma das vítimas dela, arregace as mangas para uma longa contenda, pois dá trabalho se livrar de um erro que participa naturalmente da comunicação.

4. A pessoa fica 'meia chateada' quando comete esse erro4. A pessoa fica 'meia chateada' quando comete esse erro4. A pessoa fica 'meia chateada' quando comete esse erro4. A pessoa fica 'meia chateada' quando comete esse erro E é para ficar mesmo, pois se há uma incorreção que tira uma pessoa

do pedestal é usar meia no lugar de meio quando se referir a um adjetivo. Nesse caso, quando equivale a mais ou menos, um pouco, meio é um

advérbio e por isso não pode variar. Portanto, esse erro de gramática deixa a imagem da pessoa meio prejudicada, e não meia prejudicada.

Lembre-se de que meia só é usado quando equivale a metade: meia garrafa, meia carga...

5. Quando ele vir ao seu encontro vai ser uma tristeza!5. Quando ele vir ao seu encontro vai ser uma tristeza!5. Quando ele vir ao seu encontro vai ser uma tristeza!5. Quando ele vir ao seu encontro vai ser uma tristeza! Esse erro puxa o tapete das pessoas o tempo todo. É impressionante

como confundem o verbo vir com o verbo ver no futuro do subjuntivo (precedido de se ou quando).

Para não errar, lembre-se de que o verbo vir exige a forma vier. 'Quando ele vier para o trabalho...' - e não: Quando ele vir... 'Se os jogadores vierem para o treino...' - e não: Se os jogadores virem...

Por outro lado, o verbo ver exige a forma vir. Assim sendo, devemos usar: 'Quando a professora vir o aluno' - e não: 'Quando a professora ver o aluno'. 'Se os consultores virem o diagnóstico' - e não: 'Se os consultores verem...'

6. Há d6. Há d6. Há d6. Há diferença entre 'ir de encontro a' e 'ir ao encontro de'iferença entre 'ir de encontro a' e 'ir ao encontro de'iferença entre 'ir de encontro a' e 'ir ao encontro de'iferença entre 'ir de encontro a' e 'ir ao encontro de' É bastante comum confundirem o significado de 'ir ao encontro de'

com o de 'ir de encontro a'. 'Ir ao encontro de' significa estar a favor, concordar, comungar da mesma opinião. Enquanto 'ir de encontro a' significa estar contra, discordar, não partilhar a mesma opinião.

Por esse motivo, diga: As decisões foram ao encontro dos nossos interesses (a favor). As medidas governamentais não podem ir de encontro às

necessidades da população (contra).

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7. Muit7. Muit7. Muit7. Muitas incorreções gramaticais, menas essaas incorreções gramaticais, menas essaas incorreções gramaticais, menas essaas incorreções gramaticais, menas essa Essa não dá nem para comentar. Em todo caso, lá vai uma explicação

rápida e resumida -menos é palavra invariável, portanto não existe a palavra menas, por mais feminino que seja o substantivo.

8. Aqui no final, alguma8. Aqui no final, alguma8. Aqui no final, alguma8. Aqui no final, algumas rapidinhas que podem ser perigosass rapidinhas que podem ser perigosass rapidinhas que podem ser perigosass rapidinhas que podem ser perigosas • Há cinco anos atrás é redundância Ou você usa há cinco anos, ou cinco anos atrás, mas não há cinco

anos atrás. • Um plus a mais também Plus é um advérbio de origem latina que significa mais. Portanto,

pare nele, sem o a mais. • Não troque nenhum por qualquer Não use qualquer em orações negativas no lugar de nenhum. Assim, diga: Não temos nenhuma chance de perdoá-lo, e não: Não

temos qualquer chance de perdoá-lo. • Apesar de ser título de livro famoso, ainda continuam dizendo

éramos em seis no lugar de éramos seis Não use a preposição 'em' entre o verbo e o numeral. Diga: Éramos

cinco, íamos quatro no trem. E não: Éramos em cinco, íamos em quatro no trem.

• Ele está a par ou ao par? As informações são diferentes. A par significa informado, ciente, e é

uma expressão usada com o verbo estar. Por exemplo: Não estava a par do que ocorrera. Ao par, por sua vez, significa título ou moeda do mesmo valor. Por exemplo: Com as últimas medidas tomadas pelos ministros, o câmbio ficará ao par.

• E, só para lembrar, devemos pronunciar: Canhota (nhó), clitóris (tó), fluido (úi), gratuito (úi), ibero (bé),

ínterim (ín), Nobel (bél), rubrica (brí), ruim (ím). Deixei aqui apenas algumas pílulas de uma lista que cabe

confortavelmente em um livro. O objetivo deste texto foi o de chamar a atenção para o cuidado que devemos ter com algumas questões gramaticais que poderiam ser corrigidas com um pouco de observação e prática.

Se você não comete nenhum desses erros, parabéns. Agora, se percebeu que precisa de aprimoramento, comece já a estudar. É um aprendizado valioso para a vida toda.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Elimine erros gramaticais grosseiros para falar ou escrever • Tenha sempre à mão uma boa gramática da língua portuguesa • Aprenda a consultar corretamente os dicionários • O corretor do computador alerta para alguns erros de gramática • Entretanto, cuidado para não aceitar todas as sugestões sem

análise 30 30 30 30 ---- Sexo na tribuna Sexo na tribuna Sexo na tribuna Sexo na tribuna

Pode acreditar nesta informação porque ela está respaldada em

pesquisa científica: relações sexuais aprimoram a qualidade da comunicação.

Por mais crentes que sejamos, não tem jeito: diante de uma notícia assim, nosso desconfiômetro fica superantenado. Afinal, resolver problemas da arte de falar em público com um remédio tão saboroso parece algum tipo de armação.

Entretanto, para tudo há um preço. E, nesse caso, uma boa surpresa: não é que o pagamento é tão agradável quanto o benefício recebido! A condição para que a estratégia dê resultado é que não pode ser assim um encontro amoroso qualquer. A relação sexual precisa ter um mínimo de qualidade.

Assim como talvez esteja acontecendo com você, eu também fiquei intrigado quando tomei conhecimento dessa informação. Afinal, que tipo de associação pode ser feita entre a tribuna e as relações sexuais? Vamos matar essa charada já, já.

O mundo da oratória é tão fascinante quanto imprevisível e, por esse motivo, não paro de me surpreender. Quando penso que já tomei contato com todas as 'mandrakarias' disponíveis para ajudar os oradores a se sair bem diante do microfone, lá vem outra novidade.

O folclore é inesgotável. De repente, surge um Professor Pardal afirmando que o orador vai se sentir mais confortável e confiante para falar em público se usar a criatividade e imaginar que todas as pessoas da plateia estão vestidas apenas de cueca. E a sugestão tem direito a explicação e tudo: ao observar os ouvintes trajados de forma tão ridícula o receio de falar se dissipa.

Por mais estranhas e absurdas que possam parecer essas invencionices, eu não implico com nenhuma técnica de oratória. Como professor, desde cedo adotei a filosofia de que cada um se vira e encontra segurança para falar da maneira que julgar mais conveniente. Se a tática funcionar, está aprovado pelo melhor de todos os controles de qualidade

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que é a experiência prática. Pelo menos para essa situação é possível dizer que o fim terá justificado os meios.

A história está repleta de grandes oradores que usaram métodos pouco convencionais para melhorar suas chances de se dar bem na tribuna. Lacordaire foi um deles. Considerado o maior nome da oratória do século 19, adotava um recurso peculiar para preparar e ensaiar seus discursos.

Embora seu método fosse extremamente simples, era também muito eficiente: organizava um roteiro com as principais ideias que pretendia desenvolver, ressaltando com expressões e frases a seqüência a ser seguida. Depois ia até o jardim do convento onde residia e praticava falando para as flores, imaginando em cada uma delas a plateia que teria pela frente.

Lacordaire repetia o exercício algumas vezes mantendo o roteiro planejado e mudando as palavras para conquistar certa liberdade na exposição. Concluído o treinamento, estava pronto para encantar o público que superlotava a catedral de Notre Dame.

O que não falta é exemplo de orador utilizando métodos pouco ortodoxos para preparar suas apresentações. Dizem que Frei Francisco do Monte Alverne, considerado um dos maiores pregadores da nossa história, usava técnica semelhante à de Lacordaire, só que no seu caso o treinamento era feito na horta do convento, e a plateia imaginária eram os repolhos.

Os diretores de cinema não se cansam de arrumar artifícios para que os personagens das produções que dirigem sejam bem-sucedidos na tribuna. No filme 'Encontro de amor', dirigido por Wayne Wang, que teve como atores principais Jennifer Lopez (Marisa) e Ralph Fiennes (Chris Marshall), há uma sugestão bastante curiosa para combater o medo de falar.

Marisa tem um filho chamado Ty, que fica totalmente desestabilizado diante dos colegas de escola na hora de fazer um discurso. Ao contar o fato a Chris Marshall, orador experiente e candidato ao senado, o menino fica sabendo que o político tão admirado também se sente desconfortável quando precisa falar em público, e que atenua o nervosismo segurando um clipe para descarregar a tensão. O menino segue o conselho e consegue se sair bem.

A literatura também ajuda a enriquecer esse folclore. No livro 'Memória das Gueixas', de Arthur Golden, publicado pela Editora Imago, a gueixa conta como agiam para afastar o medo do palco: 'No inverno, Abóbora e eu devíamos endurecer nossas mãos mantendo-as em água gelada até gritarmos de dor, e depois tocávamos lá fora, no ar gelado no

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pátio. Pode parecer terrivelmente cruel, mas assim as coisas eram feitas naquele tempo. Com efeito, endurecer as mãos assim realmente ajudava a tocar melhor. E se a gente já se habituou a tocar com mãos insensíveis e doloridas, o medo do palco se torna um problema muito menor.'

Bem, como eu disse, cada um tem seu caminho e se defende como pode. Se você sentir que falar olhando para as flores ou para os repolhos, segurar clipes ou deixar os dedos congelados irá ajudá-lo e dar tranqüilidade para que se apresente com mais desenvoltura nas reuniões da empresa ou diante de um auditório numeroso, vá em frente e receba os aplausos da plateia.

Saiba, no entanto que, se você segurar um objeto que não faça parte do contexto da apresentação, correrá o risco de distrair os ouvintes e prejudicar o resultado final. Por exemplo, se você falar em pé segurando uma caneta esferográfica, como ela não participa do contexto da exposição poderá desviar a atenção do público, que deixará de acompanhar seu raciocínio.

Por outro lado, se você segurar a caneta quando estiver sentado, ticando alguns itens numa folha de papel, a presença dela estará justificada porque faz parte do contexto da apresentação.

Depois de todas essas considerações, podemos voltar ao sexo. Nesse caso, mesmo o estudo sendo sério, por enquanto vou virar as costas e não considerar essa técnica. Primeiro porque, por mais respaldadas que sejam as conclusões, eu as considero esquisitas demais. Depois, não tenho a mínima ideia de como orientar meus alunos sobre o tipo de relação sexual mais apropriado para tornar suas apresentações eficientes.

Em todo caso, ainda aqui preciso ser fiel à minha filosofia e continuar pregando que cada um deve lançar mão do recurso com o qual se sinta mais à vontade. Se você julgar que uma relação sexual antes de falar em público vai ajudá-lo a se tornar mais eloqüente, não vacile, vá em frente. Mesmo que você não se saia tão bem diante da plateia, pelo menos será um orador mais feliz.

Se você ainda duvida da seriedade da informação, veja como e de onde ela surgiu. A pesquisa foi feita na Universidade de Paisley, na Escócia. Segundo o estudo realizado com 22 homens e 24 mulheres, todos heterossexuais, durante duas semanas, as pessoas se saem melhor falando diante da plateia se no período que antecedeu à apresentação tiverem relações sexuais.

Ah, e tem mais: relações sexuais com penetração. Por isso que eu disse que era preciso ter um mínimo de qualidade, não poderia ser assim

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um relacionamento amoroso qualquer. Lembrando ainda que masturbação também está fora do cardápio.

Conclui-se que sexo à la Bill Clinton e Monica Lewinsky não vale. Malabarismos com charutos então nem pensar. Como Clinton sempre se saiu muito bem em seus discursos, podemos concluir que o motivo da sua competência oratória, provavelmente, teve origens menos eróticas. Ou não?

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Experimente diversos métodos de treinamento para fazer seus discursos

• Procure saber como os oradores que você admira costumam se preparar

• Treine seus discursos imaginando que as pessoas estejam nas cadeiras vazias da sala

• Pense duas vezes antes de falar usando métodos que considere muito extravagantes

31 31 31 31 ---- Saiba xavecar, seduzir e conquistar Saiba xavecar, seduzir e conquistar Saiba xavecar, seduzir e conquistar Saiba xavecar, seduzir e conquistar

Você está muito a fim de conquistar uma pessoa, mas sente certa

insegurança e por isso se retrai? Longe de ser um problema, é quase certo que esteja precisando de alguns conselhos simples para solucionar suas dúvidas.

Saiba que, com pequenas adaptações, as dicas da arte do xaveco para seduzir e conquistar a pessoa desejada são as mesmas para todos os sexos.

Em muitos casos, a química entre duas pessoas bate de forma tão intensa a partir de um simples olhar que a conquista pode ser consumada sem que nenhuma sílaba seja pronunciada. Entretanto, a admiração por uma pessoa não se restringe apenas aos aspectos físicos, há inúmeros outros fatores que devem ser considerados num processo de sedução.

Por isso, avalie algumas condutas que, independentemente de seus atributos estéticos e da sua experiência em conquistas amorosas, poderão melhorar seu desempenho.

Conquistar uma pessoa que se deseja é daqueles momentos que podem marcar uma vida toda. Conquistar a pessoa que se ama pode não apenas marcar a vida, mas, também, e, principalmente, mostrar como vale a pena viver.

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1111 ---- Perambule Perambule Perambule Perambule Vamos começar pelo princípio. O que você tem feito para se

encontrar com as pessoas? Se ficar em casa, esperando que elas entrem pelo telhado e caiam no seu colo, continue sentado, porque de pé só irá se cansar. Você já deve saber que mulheres e homens não caem no colo assim.

Dê um tempo longe das tarefas e divertimentos caseiros. Desligue um pouco o computador, esqueça a televisão, o videogame e outras atividades que o impeçam de circular.

A ordem agora é perambular, sair da inércia, mexer-se. Freqüente lugares onde as pessoas estejam, como festas, baladas e bares que combinem com seu estilo.

2222 ---- Frequ Frequ Frequ Frequente sua praia ente sua praia ente sua praia ente sua praia Reflita comigo: se você já está inseguro, será fácil deduzir como irá se

sentir transitando por lugares que não conhece ou não o deixem confortável. Se você não tem o hábito de sair, no princípio poderá ficar meio deslocado. Por isso não desista nas primeiras investidas, insista até estar mais familiarizado e à vontade para estreitar os primeiros relacionamentos.

Uma boa iniciativa é conversar com amigos que estejam acostumados a sair; eles poderão indicar os lugares mais freqüentados pelas pessoas do seu círculo social. Assim, você terá com quem conversar e não se sentirá só.

3333 ---- Coma pelas bordas Coma pelas bordas Coma pelas bordas Coma pelas bordas Vá de leve. Nada de investir logo de cara nos aviões, pois esses

homens e mulheres são assediados o tempo todo, e escorregam com uma facilidade desconcertante. Para começar, faça amizade com a moçada mais receptiva, aberta, sem nariz empinado ou estrelismo, aqueles que não aspiram passarelas ou capas de revistas.

Com o tempo você, por intermédio dessa turma, poderá se aproximar dos 'puros-sangues' e aumentar as chances de conquista. Mas, aí talvez já tenha chegado à conclusão de que as pessoas mais comuns, de maneira geral, embora nem sempre sejam tão bonitas, são mais interessantes. Bem, mas ainda não é o momento de escolher, dê um passo de cada vez.

Eu disse 'coma pelas bordas' porque quanto mais sutil, jeitoso e natural você se aproximar de um homem ou de uma mulher, maiores serão suas chances de sucesso.

Se você for mulher, saiba que por mais liberadas que as mulheres estejam, as melhore táticas femininas para se sair bem na conquista são o charme e a insinuação.

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Se você for homem, a melhor atitude são os comentários aparentemente despretensiosos sobre a roupa ou observações a respeito do próprio ambiente.

Nos dois casos, não se preocupe em ser criativo, genial ou muito divertido nessa aproximação inicial. O importante é que use uma forma interessante e espontânea para começar a conversa.

4444 ---- Cuide bem do visual Cuide bem do visual Cuide bem do visual Cuide bem do visual Eu disse cuide. Não sugeri que exagerasse. Não me vá aparecer na

balada, por exemplo, com aquela roupinha conservadora de ir à missa aos domingos, nem com o mais avançado modelito do último desfile de Milão e muito menos ainda com aquele trapo confortável que talvez use para lavar o carro ou limpar as janelas no sábado à tarde. Vista-se com bom gosto e elegância. Esse é um item que não pode ser negligenciado.

Se tiver dúvida ou não souber como agir, consulte um bom livro sobre o assunto. Você ficará surpreso com o que poderá fazer com as roupas que já possui, ou com aquelas que terá condições de comprar sem gastar muito.

Uma roupa bonita, com bom corte, poderá melhorar sua auto-estima e torná-lo mais confiante para conversar e se relacionar com as pessoas.

5555 ---- Esteja antenado Esteja antenado Esteja antenado Esteja antenado Uma boa conversa é fundamental. Sem papo de qualidade, a

conquista amorosa pode não dar liga. Por isso, você precisa ter assunto para conversar. E um estoque bem variado para não patinar com aquela ladainha que sempre vai e retorna ao mesmo ponto.

Mantenha-se atualizado com o noticiário: leia jornais, revistas, bons livros, notícias na Internet e ouça a programação de rádio. Dê preferência aos assuntos ligados a cinema, música, turismo e literatura, porque são os temas que mais agradam.

Embora um papo intelectual possa ser bastante apropriado para alguns homens e mulheres, salvo exceções, o momento da conquista nem sempre é o mais adequado para esse falatório empolado. Deixe Sócrates e a arte etrusca para outra oportunidade.

Ser jeitoso para dançar também ajuda. Se não souber, inscreva-se o mais rápido possível num curso intensivo de dança e ponha a cintura para requebrar. Sem contar que nesses cursos já terá boas chances de treinar suas investidas.

De nada adiantará, entretanto, estar municiado com esse arsenal todo se não tomar a iniciativa de conversar. Encha o peito e tenha um pouco de ousadia.

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Aproxime-se conversando naturalmente, sem demonstrar que está preparando o bote. No meio do papo as coisas vão se ajeitando. E mais, se a pessoa ficar resistente, será simples encerrar ou dar outro rumo à conversa.

6666 ---- Modere a língua Modere a língua Modere a língua Modere a língua Quem fala demais corre o risco de se tornar um chato insuportável.

Se a outra pessoa estiver falando, fique na sua e não interrompa. Deixe-a concluir o que está dizendo e limite-se a fazer perguntas que a estimulem a falar e demonstrem seu interesse pelo assunto que ela desenvolve.

Se, por exemplo, o assunto for viagens, faça o possível para contar apenas um detalhe da sua viagem mais interessante e dê chance para que ela fale como foi a dela. Pode ter certeza de que assim tornará a conversa mais atraente e estimulante.

7777 ---- Saiba ouvir Saiba ouvir Saiba ouvir Saiba ouvir Insisto. Preste atenção no que a outra pessoa estiver falando e faça

perguntas que demonstrem sua inteligência e ressaltem sua presença de espírito. Mas, sua quem, Polito? Minha ou dela? Dos dois.

O processo de conquista de um homem ou de uma mulher inclui o interesse por tudo o que a pessoa diz. Se ela tiver o desejo de contar uma história da vida dela para você, pode ser um excelente sinal de que começa a ficar interessada. Por isso, não vá estragar esse momento abrindo a boca fora de hora.

8888 ---- Conte histórias Conte histórias Conte histórias Conte histórias Quase todas as pessoas gostam de ouvir uma história interessante e

curtinha de vez em quando. Sentiu? De vez em quando, nada de se transformar num contador de histórias - ninguém aguenta uma pessoa que não saiba colocar ponto final na hora certa. Por melhor que seja a história, se for longa, resista, não conte.

O melhor laboratório para testar suas histórias e tiradas espirituosas é em casa ou com os amigos. Fique atento, pois se nem com eles funcionar, tenha certeza de que com a pessoa que você deseja conquistar será ainda pior.

9999 ---- Seja bem Seja bem Seja bem Seja bem----humoradohumoradohumoradohumorado Tenha bom-humor, mas não fique com palhaçada. Muito menos caia

na vulgaridade. Se você evitar os trocadilhos grosseiros e aprender a aproveitar bem as informações da própria circunstância para torná-las engraçadas, sempre terá alguém querendo ficar do seu lado para conversar.

10101010 ---- Não se leve muito a sério Não se leve muito a sério Não se leve muito a sério Não se leve muito a sério Quer conquistar? Então aprenda a fazer autogozação, brincar com

seus defeitos e a rir das próprias gafes. Tudo sem exagero, claro. Você se

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tornará uma pessoa muito mais simpática e todos terão prazer em estar na sua companhia.

Atenção: Não se esqueça de elogiar - com sinceridade. Este é o início e o ponto final do processo de conquista: o elogio. Entretanto, todos os elogios que fizer precisam ser e parecer sinceros.

Se você não puder encontrar uma qualidade verdadeira que deva ser elogiada, provavelmente essa pessoa não mereça ser conquistada.

Fique bastante atento a essa peculiaridade da arte do xaveco, pois se a pessoa perceber que o seu elogio é vazio e se baseia apenas na demagogia, ficará resistente e dificilmente irá confiar em você.

Boa sorte. Que você consiga conquistar uma pessoa que lhe dê muita felicidade.

Obs.: Embora alguns dicionários definam as gírias 'xaveco' e 'xavecar' como tratantice, patifaria, velhacada, chantagear, trapacear, o sentido empregado neste texto, conforme você deve ter notado, é conversa e conquista, adotado popularmente.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Amplie o relacionamento para conhecer novas pessoas • Fique antenado para ter sobre o que conversar • Seja bem-humorado • Saiba contar histórias curtas e interessantes • Faça elogios sinceros

32 32 32 32 ---- Sucesso pela credibilidade Sucesso pela credibilidade Sucesso pela credibilidade Sucesso pela credibilidade

Vamos imaginar que você tivesse de conversar com uma pessoa para

tratar de negócios relevantes ou precisasse fazer a exposição de um projeto que exigiu meses de pesquisa, análise e envolvimento seu e da sua equipe.

São momentos como esses que podem determinar o futuro de um empreendimento ou escrever a história da reputação de um profissional. Por isso, como em situações semelhantes a essas, você não pode vacilar, provavelmente, iria se preparar de maneira bastante criteriosa para ser muito bem-sucedido no resultado da apresentação.

Você faria um bom planejamento de todas as etapas do processo de negociação e organizaria cada um dos passos da exposição do projeto. Capricharia na roupa, nos recursos audiovisuais e em todos os componentes logísticos exigidos. Está mais do que provado que a falta de preparo quase sempre é um dos caminhos mais curtos para o fracasso do orador.

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Entretanto, todo esse planejamento criterioso terá pouco valor se você não estiver de posse de um atributo que sobrepuja todos os outros aspectos da comunicação: a credibilidade.

O bom resultado de uma apresentação depende principalmente da credibilidade. Em todas as circunstâncias a confiança é a chave que abrirá as portas para o sucesso na arte de falar.

Seja em simples conversas com uma ou duas pessoas, em palestras diante de plateias numerosas, ou em exposições de produtos ou projetos para grupos de clientes, fornecedores, ou funcionários da mesma empresa, você só se tornará vitorioso se os ouvintes acreditarem na sua mensagem.

Para que você possa conquistar credibilidade na comunicação e ser bem-sucedido em situações como essas que acabamos de idealizar, entre os diversos requisitos a serem considerados quatro são essenciais: naturalidade, emoção, demonstração de conhecimento e coerência.

NaturalidadeNaturalidadeNaturalidadeNaturalidade A naturalidade não pressupõe necessariamente a participação do erro,

do defeito, do deslize. Entretanto, é preferível que você até cometa erros técnicos de comunicação, mas se apresente de maneira natural, do que estar amparado por uma técnica correta, mas falando de forma artificial.

Se você errar na técnica, mas conseguir se expressar com naturalidade, os ouvintes ainda poderão confiar na sua mensagem. Por outro lado, se você acertar na técnica, mas se apresentar com artificialismo, dificilmente a plateia acreditará em suas intenções.

Por isso, as técnicas de comunicação só serão convenientes se elas se integrarem de forma espontânea ao seu estilo, às suas características e à sua maneira de ser.

EmoçãoEmoçãoEmoçãoEmoção Se na mesa de negociação ou na reunião apresentando o projeto você

falar apenas com naturalidade, as possibilidades de se sair bem serão limitadas, pois com esse comportamento só irá passar as informações para os ouvintes.

Para ter credibilidade você não pode apenas falar por falar. Ao expor um assunto para um grupo você precisará envolver as pessoas, fazer com que elas participem da sua causa e ajam de acordo com sua vontade.

Por isso, além da naturalidade, para que os ouvintes confiem em suas palavras e comunguem de suas ideias, você precisa se apresentar com energia, disposição, entusiasmo. Com emoção.

Se você não demonstrar envolvimento e interesse pelo assunto que se dispôs a transmitir, como poderá pretender que o público se envolva e se interesse pelo tema da sua apresentação?

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Demonstração de conhecimentoDemonstração de conhecimentoDemonstração de conhecimentoDemonstração de conhecimento Ter conhecimento sobre o assunto que irá comunicar é fundamental

para suas pretensões de sucesso. Todavia, tão importante quanto dominar o tema é demonstrar que possui esse conhecimento.

Se você se apresentar de maneira tímida, hesitante, desconfortável, a plateia poderá julgar que essa falta de confiança e inabilidade para falar decorre do seu despreparo sobre a matéria, e que, portanto, não tem autoridade para tratar daquele assunto.

Por esse motivo, prepare-se para falar bem. Desenvolva e aperfeiçoe sua competência para falar em público. Faça um bom curso de expressão verbal, leia livros especializados em oratória, aproveite todas as oportunidades para falar diante das pessoas e adquira experiência.

Falando com desembaraço e desenvoltura você fará com que as palavras fluam com facilidade e essa segurança demonstrará também que o tema que expõe faz parte das suas pesquisas, da sua experiência, das suas atividades. Essa habilidade para falar em público creditará a autoridade que você precisa para conquistar a confiança das pessoas.

CoerênciaCoerênciaCoerênciaCoerência Imagino que, assim como eu, você também anda meio desiludido

com os políticos. Os últimos acontecimentos no Senado Federal foram desanimadores e até revoltantes.

Alguns políticos mentiram com tanto descaramento que, se ainda existisse alguma esperança de credibilidade, eles acabaram por sepultá-la de uma vez por todas.

Entretanto, não é esse o nosso tema. Só faço referência aos políticos como exemplo para o estudo da coerência.

Para ter credibilidade deve existir coerência entre o que falamos e a forma como agimos. De nada adiantará, por exemplo, uma pessoa falar que o trabalho em equipe é importante se, no dia-a-dia, ela se mantiver isolada, distante, afastada do grupo de trabalho.

Por isso, uma mensagem só conquistará confiança se o seu comportamento corresponder ao que estiver transmitindo. Mesmo que a sua atitude não seja muito simpática, se o que fizer corresponder à sua pregação haverá chance de obter credibilidade.

Se, ao contrário, você se mostrar generoso com as palavras e amável com as promessas, mas agir de maneira diversa, dificilmente alguém irá acreditar no que estiver comunicando.

Essa credibilidade com a comunicação é a conquista de uma vida inteira. Quando nos apresentamos diante das pessoas elas não nos avaliam

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apenas por aquele momento, mas sim por todo o passado que construímos com nossas ações.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Fale em público com a mesma naturalidade como se comporta no dia-a-dia

• Demonstre envolvimento e interesse pelo assunto que transmite

• Mostre conhecimento pela habilidade como se apresenta • Seja coerente com seu discurso

33 33 33 33 ---- Aprenda a dizer 'não' Aprenda a dizer 'não' Aprenda a dizer 'não' Aprenda a dizer 'não'

Algumas pessoas com quem você se relaciona em casa ou no trabalho

andam folgadas demais e você se chateia com o comportamento delas? Entretanto, por ser da paz você não quer arrumar encrenca e prefere engolir sapo e ficar no seu canto?

Saia dessa, amigo. Está na hora de deixar de ser o bonzinho e botar essa turma na linha. Você não vai, gratuitamente, azucrinar a vida de ninguém. Por outro lado, também não vai baixar a cabeça e permitir que os outros tripudiem sobre você.

Se você tiver de escolher entre ficar aborrecido porque se manteve quieto diante do comportamento inconveniente de alguma pessoa ou agir para se defender, mas com chances de que ela se chateie, meta o xis na segunda hipótese.

Dizer 'não' e recusar é uma arte que leva uma vida inteira para ser aprendida e aperfeiçoada. Uma arte que precisa ser cultivada o tempo todo, pois nunca desaparece o risco de que possamos cair em tentação, fraquejar diante do canto da sereia e dizer sim, quando na verdade desejaríamos dizer não.

Se alguém que trabalha ao seu lado costuma fazer brincadeiras de mau-gosto diante de outras pessoas e isso o incomoda. Se a sua namorada ou namorado tem o péssimo hábito de não cumprir horários e esse descompromisso o chateia.

E você se desgasta porque não consegue dizer que gostaria muito que adotassem outro jeito de se comportar, está mais do que na hora de você mudar e aprender a ser mais assertivo.

Saiba, entretanto, que ter uma atitude assertiva não significa declarar guerra e passar a digladiar com outras pessoas, mas sim dizer tudo o que for necessário, na hora certa e da maneira apropriada.

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Quando as pessoas adotam a política do 'deixa pra lá' e se mantêm passivas diante das situações que as incomodam, o resultado pode ser desastroso. Além do desconforto que as infelicita, correm o risco de se sentirem tão pressionadas que às vezes não conseguem medir suas reações. Algumas perdem o controle, viram a mesa e se tornam agressivas.

Se aquele colega de trabalho não souber que as brincadeiras que faz diante das outras pessoas o incomodam, poderá interpretar erroneamente que o motivo da sua cara emburrada seja outro.

Com atitudes assertivas você terá condições de construir relacionamentos mais sólidos, projetará uma personalidade mais consistente e terá mais atenção e admiração das pessoas.

O primeiro passo na busca da assertividade é aprender a não ser agressivo. Saiba como se relacionar com as pessoas de maneira clara, direta, objetiva, mas sempre levando em conta os sentimentos que elas possuem e a circunstância em que se encontram.

Insisto, não confunda ser assertivo com ser agressivo. Não saia por aí armando barraco, repreendendo as pessoas porque não agem de acordo com sua vontade. Isso é grosseria, não assertividade.

A comunicação assertiva tem por objetivo esclarecer situações obscuras, enevoadas, que por não serem discutidas de forma correta e permanecerem desconhecidas por pelo menos uma das partes podem produzir desconfortos e mal-entendidos.

Como e onde falar Naquele exemplo hipotético que vimos acima, como você deveria

falar com o colega de trabalho que o incomoda com aquelas brincadeiras? Você poderia falar, sem tom de crítica, como o comportamento dele

se repete quando estão diante de outras pessoas, como essa atitude o deixa contrariado e pediria para que ele mudasse a maneira de se comportar. Em seguida explicaria como você se sentiria mais confortável e mais à vontade com essa mudança.

Embora você devesse evitar o tom de crítica, provavelmente ele sentiria que o comportamento dele está sendo criticado e tentaria se defender com gracejos, risadas ou comentários que pudessem minimizar a importância do fato.

Por isso, durante a conversa você deveria falar de maneira firme, sem hesitações, para deixar claro que o assunto é importante. Entretanto, repito, sem agressividade.

Nessas circunstâncias é muito importante, embora seja difícil, não demonstrar nervosismo ou descontrole emocional.

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Se um dia você passar por situação semelhante, fale sem desviar os olhos do interlocutor. Evite esfregar nervosamente as mãos. Não grite nem segure a voz na garganta.

Para agir assim você precisará de prática e de determinação. Exercite inicialmente em situações mais simples, com pessoas mais próximas, onde as conseqüências não sejam tão graves. À medida que for se sentindo mais experiente e seguro atire-se em empreitadas mais complexas.

Escolha o lugar certo. Esse tipo de conversa não pode ocorrer diante de outras pessoas, nem em lugares inadequados como corredores ou elevadores. Muito menos por telefone.

Quanto mais reservado for o lugar da conversa, maiores serão as chances de sucesso. Procure falar também em um horário com pouca ou nenhuma chance de interrupção.

O coração vai disparar. Eu sei que nem sempre é tão simples agir assim, mas esse é o melhor caminho a ser seguido. Mesmo que o coração esteja saindo pela boca, faça o possível para manter o equilíbrio.

Não dê uma de coitadinho. Nada de chororô. Se quiser ser respeitado e ouvido seja firme, olhe na direção do interlocutor sem fugir com os olhos, fale 'para fora', não fique esfregando as mãos ou cruzando e descruzando as pernas nervosamente. Mostre que você tem razão.

Prepare-se para o embate Principalmente se você não estiver acostumado com conversas

assertivas, saiba que terá de aprender a lidar com os sentimentos. Com os seus e com os do seu interlocutor.

Não existe atalho mágico. Por mais gentil e claro que você seja, ao dizer a uma pessoa que o procedimento dela o desagrada, poderá provocar uma atitude defensiva e, em alguns casos, até agressiva.

Por isso, prepare-se para enfrentar essas reações como sendo normais e fazendo parte do processo. Tenha em mente também que nem todas as pessoas aceitarão uma conversa mais franca.

O importante é saber que a situação deve ser resolvida, ou por ser errada, ou por ser injusta, ou porque o desagrada.

Você agirá da forma mais eficiente que puder para não desagradar ou não tornar a outra pessoa infeliz, mas se isso vier a ocorrer, ela deverá se conscientizar de que não estava agindo de maneira adequada e encontrar dentro de si mesma o equilíbrio de que precisa.

Tome cuidado também para não imaginar desnecessariamente e de forma exagerada que a outra pessoa irá se sentir muito mal ao ouvir suas ponderações.

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Embora isso possa ocorrer, nem sempre acontece e, quando surge a reação negativa, na maioria das vezes a intensidade é menor do que se esperava.

Saiba que se acomodar em conversas superficiais, evitando esclarecer situações que o incomodam é só uma forma de adiar um confronto que no futuro terá muitas chances de ocorrer.

Sem contar que embora possa existir um desconforto momentâneo, os resultados da comunicação assertiva projetarão sua imagem e sua personalidade de maneira muito mais positiva.

O preço de ser assertivo Para dizer a alguém o que precisa ser dito com o fim de esclarecer

mal-entendidos, marcar sua posição, reorientar rumos, tomar partido e até afastar da vida algum desconforto ou incômodo, será preciso conviver com algumas pessoas magoadas e até enfurecidas.

Lógico que com jeito, traquejo e experiência essas inconveniências vão diminuindo, mas nunca desaparecerão totalmente. Cabe a você decidir se vale ou não a pena ser mais respeitado e viver uma vida plena e enfrentar alguns pequenos dissabores, ou continuar incomodado e até infeliz só para que as outras pessoas que o estão desconsiderando não sejam perturbadas.

Vá com calma. Não precisa tratar todas as situações a ferro e fogo. Se você se comportar com sensibilidade, inteligência, bom senso e capacidade de discernimento, saberá julgar quando é o momento de agir e quando deverá se resguardar.

Se essa conversa servir para que você faça uma boa reflexão sobre as vantagens e as inconveniências de ser assertivo, ficarei satisfeito. Espero que tome sempre a melhor decisão para melhorar o relacionamento com as pessoas e, acima de tudo, que seja muito feliz.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Não permita mal-entendidos no seu relacionamento com as

pessoas • Se a atitude de uma pessoa o desagrada, converse com ela a

respeito • Seja firme ao falar com as pessoas, mas nunca use um tom

agressivo • Saiba que algumas pessoas se sentirão magoadas com sua

conversa franca • Fale com as pessoas sempre separadamente, em local

apropriado • Escolha o melhor horário para ter conversas assertivas

34 34 34 34 ---- Fale com objetividade Fale com objetividade Fale com objetividade Fale com objetividade

Se você é daqueles que pensam que falar com objetividade significa

apenas falar pouco, cuidado porque às vezes essa crença pode se transformar em uma armadilha para o sucesso da comunicação.

Imagine, por hipótese, que alguém comentasse triunfante: consegui falar com objetividade. Em dois minutos liquidei a fatura.

Seria interessante questionar: e nesses dois minutos você conseguiu passar todas as informações que precisava? Conseguiu persuadir os ouvintes a agirem de acordo com a sua proposta?

Se não obteve esses objetivos, que são algumas das mais importantes metas de uma apresentação, qual foi o mérito de falar em apenas dois minutos?!

Por outro lado, se a pessoa continuar falando depois de ter completado a mensagem e persuadido os ouvintes, da mesma forma poderá estar a um passo de pavimentar o caminho para o insucesso.

É certo que quase sempre quem fala com objetividade não consome muito tempo com suas apresentações. Entretanto, o conceito que caracteriza essa importante qualidade da comunicação é muito mais abrangente e deve ser analisado além dos limites do tempo.

A objetividade deve ser considerada também e especialmente com relação ao conteúdo da mensagem e à finalidade da apresentação.

Identifique e delimite o assuntoIdentifique e delimite o assuntoIdentifique e delimite o assuntoIdentifique e delimite o assunto O primeiro passo para falar com objetividade é identificar e delimitar

de forma clara o assunto que pretende expor. Se você não souber quais são os aspectos do assunto que deverão ser considerados, também não terá condições de saber o que poderá ser excluído.

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Na seqüência relacione os argumentos de que dispõe para sustentar suas informações. Ao fazer essa seleção coloque sobre a mesa tudo que encontrar, sem nenhuma censura. A tesoura entra em ação em seguida.

Neste momento você já está em condições de fazer o primeiro filtro e tirar um pouco da 'gordura' desnecessária: elimine os argumentos mais frágeis, suprima as informações supérfluas e lance mão apenas do que for mais relevante.

Nada de piedade nessa hora. Meta a caneta com vontade para eliminar tudo o que não merece ser incluído.

Observe ainda se você não se apaixonou demasiadamente por algum argumento que julgou importante e que, por isso, talvez, esteja repetindo com freqüência. Por melhor que seja um argumento, se ele for repetido muitas vezes, além de enfraquecer o trabalho de persuasão, tornará a exposição prolixa.

Analise bem os ouvintesAnalise bem os ouvintesAnalise bem os ouvintesAnalise bem os ouvintes Ir diretamente ao assunto principal logo de início é o sonho de

consumo de todos que desejam falar com objetividade. Entretanto, você só poderá tomar essa atitude se os ouvintes já estiverem preparados para receber a mensagem.

Você irá prejudicar a compreensão da plateia e comprometerá o resultado da apresentação se transmitir o assunto diretamente, sem que as pessoas já saibam qual o tema que será tratado, que problema está desejando solucionar e as etapas que pretende cumprir durante a exposição.

Preparei este roteiro simples para que você possa ter mais objetividade, sem comprometer a qualidade e o resultado da apresentação. Faça as perguntas a si mesmo:

---- Passo um: Passo um: Passo um: Passo um: os ouvintes já sabem qual é o assunto que vou expor? Nem ao céu nem ao inferno. Ainda que os ouvintes já saibam qual o

tema que você irá abordar, não custa nada gastar uma simples frase para comunicar qual o assunto a ser exposto.

Por exemplo: O objetivo desta reunião é determinar os critérios para o controle de qualidade da produção.

Você não gastaria nem cinco segundos para dar esse esclarecimento. Portanto, por mais que os ouvintes já saibam qual o assunto que você irá tratar e por mais objetiva que deva ser a apresentação, não custa nada usar uma frase para eliminar qualquer possibilidade de dúvida.

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---- Passo dois: Passo dois: Passo dois: Passo dois: os ouvintes sabem qual é o problema que desejo solucionar, ou o histórico das informações atuais, ou as etapas que pretendo cumprir?

Nesta fase você deverá ficar bem atento e ter bastante prudência, pois é um dos momentos que consomem mais tempo e, quase sempre, sem necessidade.

Aqui há duas situações a serem consideradas a partir do nível intelectual e da posição hierárquica dos ouvintes.

Se as pessoas tiverem baixo nível intelectual ou ocuparem posição hierárquica inferior, a explicação do problema e os dados históricos deverão ser mais detalhados, já que naturalmente terão mais dificuldade de entendimento.

Por outro lado, se forem pessoas com boa formação intelectual ou ocuparem posições hierárquicas mais elevadas, um rápido comentário poderá ser suficiente para que acompanhem o desenvolvimento do raciocínio.

Observe que, neste momento, você estará analisando se precisará mesmo preparar os ouvintes com orientações adicionais para que compreendam a mensagem.

Se chegar à conclusão de que já estão prontos, não vacile, vá metendo a caneta e riscando o que não serve. Lembre-se de que se não enxugar, não terá objetividade na comunicação.

Os ouvintes compreenderam bem a mensagem? Objetividade e ilustração não gostam muito de se sentar à mesma

mesa. Não se dão muito bem. São duas 'senhoras' diferentes, com estilo diverso.

Em certas situações, entretanto, você precisará ajudar os ouvintes a entenderem melhor as informações já transmitidas. Nessas circunstâncias o uso da ilustração é fundamental. Você poderá se valer de uma história, verdadeira ou não, que ajude o ouvinte a compreender a mensagem.

Quase sempre as histórias são longas e chegam a consumir mais tempo do que a própria mensagem em si. Por isso, para ser objetivo nas apresentações só conte uma história como ilustração se for muito necessário.

Tenha em mente também que se resolver lançar mão desse recurso, deverá dar preferência aos exemplos concretos, que em geral são mais curtinhos e servem também para reforçar a linha de argumentação.

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O início e a conclusãoO início e a conclusãoO início e a conclusãoO início e a conclusão As exposições mais comuns na vida corporativa, como, por exemplo,

apresentação de resultados em reuniões, permitem introdução simples e rápida.

Nessas ocasiões será suficiente fazer um agradecimento à presença de todos, ou mostrar de forma clara os benefícios que os ouvintes poderão obter com o assunto que será tratado.

Já com a conclusão a história é um pouco diferente, pois nem sempre é tão simples encerrar uma apresentação.

Muitos oradores ficam dando voltas intermináveis e não conseguem concluir o discurso. Quando você pensa que vão encerrar retomam a linha de argumentação e voltam a desfiar o novelo.

Por esse motivo, em qualquer circunstância onde deva se apresentar, principalmente se a situação exigir objetividade, saiba com antecedência o que deverá dizer na conclusão.

Leia a reação dos ouvintesLeia a reação dos ouvintesLeia a reação dos ouvintesLeia a reação dos ouvintes A objetividade pressupõe que a sua apresentação seja adequada ao

ambiente e ao contexto do evento. Por isso, preste atenção às reações das pessoas para ler os sinais que indiquem o momento de encerrar.

Se o ouvinte começar a dar tapinhas na perna, tamborilar com os dedos um objeto qualquer, mudar o apoio do corpo, mexer em papéis sem motivo, afastar-se da mesa com a cadeira, olhar demoradamente para baixo ou para cima, fixar os olhos no vazio, o tempo já estará esgotado. Tchau. Levante acampamento e dê até logo.

Pratique sempre a objetividade na comunicação, mas nunca se esqueça de que mais importante do que falar pouco é transmitir o que for preciso e atingir os objetivos que pretende no menor tempo possível.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Para ser objetivo, identifique o assunto de forma clara • Saiba qual é exatamente a finalidade que deseja • Só diga o que os ouvintes ainda não saibam • Encerre depois de dizer o que precisava • Não encere antes de informar o que desejava • Só conclua após ter atingido seus objetivos

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35 35 35 35 ---- Poderoso Sexo Frágil Poderoso Sexo Frágil Poderoso Sexo Frágil Poderoso Sexo Frágil A conversa é de homem, mas elas vão querer ouvir. Notícia do IBGE: 29,2% dos lares brasileiros são chefiados pelas

mulheres. Um crescimento excepcional se considerarmos que dez anos atrás a proporção era de 21,6%.

Não é de hoje que estou de olho nessa revolução feminina. Devagar, sem muito alarde, como quem não quer nada, elas foram ocupando e dominando espaços que eram redutos aparentemente impenetráveis dos homens.

Lembro-me muito bem de quando recebi os primeiros sinais claros dessa transformação. Faz tempo. Era mais um dia na minha vida como professor.

Uma aula normal como tantas outras ao longo dos últimos 30 anos. Eu estava iniciando um treinamento particular para uma aluna que

viera de outro Estado com o objetivo de desenvolver sua comunicação. Sem nenhuma dúvida, foi uma das mais inteligentes e charmosas que

passaram pela minha escola. Por causa de sua sólida formação acadêmica, domínio dos mais

diferentes temas contemporâneos e por ter presidido uma das mais importantes organizações comerciais do país, era constantemente convidada a proferir palestras para grupos de mulheres. Ela defendia uma tese inédita.

A partir de seus estudos e observações, chegara à conclusão de que já havia passado o tempo em que a mulher precisava erguer a espada e sair bradando pelos quatro cantos que era competente, que tinha as mesmas condições que o homem e, em muitos casos, que era até mais bem preparada do que ele.

Defendia a ideia de que essa verdade, salvo uma ou outra opinião contrária, já não se contestava. De acordo com sua maneira de pensar, as mulheres precisariam aprender a abrir o coração e entender que, por causa da posição de destaque que elas conquistaram na sociedade moderna, o homem havia se transformado num ser frágil e desamparado.

E, depois de provar que nós, homens, estamos numa pindaíba de fazer dó, conclamava suas parceiras para uma nova revolução - dizia que se elas não agissem com inteligência e sensibilidade para perceber essa condição masculina vulnerável, as relações entre homens e mulheres poderiam ficar seriamente abaladas.

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Ora, se você for homem sabe que por estarmos levando bordoada de todos os lados das mulheres, precisávamos, pelo menos uma vez na vida, ouvir mensagem tão compreensiva e acolhedora.

O que mais impressiona é a proposta de uma revolução para nos pegar no colinho, ouvir com o coração nossas angústias de machos feridos e nos recolocar no rumo certo! Fale a verdade, não é música agradável de se ouvir?!

Estamos perdendo de lavada. Realmente, as mulheres estão com tudo. Do jeito que as coisas

andam, nós, homens, estamos irremediavelmente perdidos. Enquanto elas reclamam e exigem cada vez mais direitos, estão se preparando muito melhor do que nós - basta ver o vertiginoso crescimento do número de mulheres que freqüentam as universidades. As estatísticas não mentem, as moças tomaram conta. Veja só estes números:

Vamos começar pelo ensino médio. Enquanto os homens correspondem a 46% das matrículas, as mulheres já chegaram aos 54%. Na faculdade, a diferença entre homens e mulheres que era de 8,7% em 1996, pulou para 12,8% em 2003.

Quer mais? O número de homens docentes nas universidades aumentou 67,9% de 1996 até 2003. Excelente, desde que não se considerem os números conquistados pelas mulheres, pois nesse mesmo período o aumento delas foi de 102,2%.

E a sova não pára por aí, amigo. Enquanto o aumento de homens docentes com mestrado cresceu 106,1%, o número de mulheres com essa titulação aumentou em 119,4%. Ah, Polito, você está revelando os números referentes aos docentes com mestrado porque não quer falar dos docentes com doutorado só para distorcer a estatística?

Pois então segura lá: o número de docentes homens com doutorado cresceu 69,2%. Sabe o que ocorreu com o número correspondente às docentes? Aumentou 104%!

Não dá para comparar. Qualquer dado estatístico que seja observado, enquanto nós homens andamos, elas estão correndo ou voando. Além disso, sempre tiveram algumas qualidades das quais, por melhores que venhamos a ser, estaremos a anos-luz de distância.

Só para citar algumas que nos derrotam por goleada: sensibilidade, intuição, organização, controle à dor e ao sofrimento. E nós aqui em berço esplêndido, achando que o mundo é nosso.

Até aqueles que enaltecem as mulheres com discursos politicamente corretos, falando das qualidades e das conquistas femininas, repudiando as

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injustiças que são cometidas contra elas, no fundo pensam que na verdade os homens ainda levam vantagem.

E não é só nas atividades profissionais que elas nos passaram a perna ou estão a um passo de cruzar a linha da vitória. Conforme já comentei, segundo dados recentes do IBGE, hoje em cada três famílias brasileiras praticamente uma é chefiada pela mulher.

E todos esses números estão crescendo numa proporção impressionante. E antes que você pense que estou me contradizendo, é bom esclarecer que nesses lares chefiados por mulheres normalmente não há um homem por perto cuidando dos filhos e fazendo comida. Por onde você olha tem salto alto dando as cartas.

As grandes corporações, que se preocupam com lucros e resultados, não se importam se no registro de admissão dos CEOs o quadradinho é preenchido por um M ou por F. Desde que haja expansão e venham os dividendos, tanto faz ser um homem ou uma mulher - e se tanto faz, lá estão elas cada vez mais na ponta da pirâmide.

Nós nos iludimos achando que estamos no comando e que podemos decidir o rumo quando bem entendermos. Parecemos aqueles viciados em cigarro. Sempre dizem que fumam porque gostam e sentem prazer, mas que na hora que desejarem parar não terão nenhum problema. Só descobrem que são incompetentes para essa decisão 'tão simples' quando resolvem deixar o cigarro e não conseguem.

Não, parceiro, nada de comodismo, pois a concorrência com elas é cada vez mais pesada e, que ninguém nos ouça, como vimos, por circunstâncias até da própria natureza. Confie em mim, tenho autoridade nessa praia.

Dos meus quatro filhos três são mulheres, moro com minha esposa e minha mãe, tenho uma neta e mantenho bom relacionamento com a ex-mulher e com a primeira sogra. Mais de 80% dos funcionários da minha empresa são mulheres.

Embora nos últimos anos o salário das mulheres tenha subido proporcionalmente muito mais que o dos homens, elas ainda são discriminadas. De maneira geral, para exercer as mesmas funções recebem menos que os homens. Pelo andar da carruagem, entretanto, é só uma questão de tempo. Breve elas chegarão lá.

Vamos pôr as barbichas de molho e ficar de olho nesse movimento todo. Tomara que essa tese da minha aluna seja abraçada por muitas outras mulheres, para que nos acolham de maneira compreensiva. Afinal, nós nos transformamos no sexo frágil.

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Se essa campanha não der certo e continuarmos à sombra desse poder feminino que se torna a cada dia mais atuante, vai chegar o dia em que teremos de fazer um grande movimento para queimar cuecas em praça pública.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Procure sempre se aperfeiçoar - a busca da excelência vale para

ambos os sexos • Aprenda a lidar com as diferenças - esse conhecimento é

valioso • Saiba somar esforços - homens e mulheres possuem qualidades

que se complementam

36 36 36 36 ---- Um livro e um amigo de quase cem anos Um livro e um amigo de quase cem anos Um livro e um amigo de quase cem anos Um livro e um amigo de quase cem anos Só de pensar nos fatos que vou relatar fico emocionado. Talvez tenha

sido um dos momentos mais marcantes da minha vida. Essa história real tem como protagonistas um livro antigo e um amigo

de quase cem anos de idade. Vou começar pelo princípio. No início dos anos 1980, convidei o

Deputado Fernando Mauro Pires Rocha para ser o paraninfo de uma das turmas do nosso Curso de Expressão Verbal.

Durante a solenidade de formatura, ele me deu de presente um livro que lhe havia servido como fonte de consulta para o discurso que fez aos formandos. Era uma primeira edição de 'A Arte de Falar em Público', publicada pelo professor Silveira Bueno em 1933.

Embora tivesse mais de 50 anos, o livro estava com a capa original e muito bem conservado. À medida que lia cada um de seus capítulos, fui me apaixonando pela obra. Os conceitos do autor eram muito semelhantes a tudo o que eu considerava importante sobre a arte de falar.

Sempre que tinha oportunidade, pegava o livro, que estava à minha cabeceira, folheava sem pressa cada uma de suas páginas e ficava matutando como teria sido a vida do professor Silveira Bueno.

Por uma dessas boas coincidências, ao conversar por telefone com meu amigo Fernandes Soares, que também era professor de oratória, falei sobre essa minha curiosidade.

Ele me disse: 'Polito, é muito fácil matar essa sua curiosidade, o professor Silveira Bueno está bem velhinho, mas ainda está vivo'.

Aquela informação me deixou sem fôlego: 'Ele está vivo? Velhinho como? Quantos anos ele tem? Onde ele mora? Você tem contato com ele?'

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Soares se divertiu bastante com a minha ansiedade e me contou o que sabia: 'O professor Silveira Bueno está vivo, goza de ótima saúde e já ultrapassou a faixa dos 90 anos. Mora mais ou menos perto de você, ali na Vila Mariana'.

'Vou passar o telefone dele, mas preciso lhe dar um aviso importante Polito: o professor se tornou uma pessoa muito reservada, até um pouco ranzinza e não é lá muito dado a receber visitas.'

Embora as palavras do Fernandes tenham me deixado um pouco preocupado, como eu tinha muita vontade de conhecê-lo, não hesitei nenhum instante para tomar a iniciativa de procurá-lo.

Quem atendeu meu telefonema e passou a ligação para ele foi seu sobrinho Geraldo.

Ele me atendeu com a voz de uma pessoa idosa, mas que também demonstrava muita firmeza e segurança:

'Pois não, aqui é o professor Silveira Bueno, quem deseja falar comigo?'

Meu discurso já estava pronto. Procurei agir com naturalidade e contei toda a história em poucos segundos: 'O senhor não me conhece, meu nome é Reinaldo Polito, sou leitor e admirador do seu livro. Quem me deu o número do seu telefone foi o professor Fernandes Soares, e tenho muita vontade de conhecê-lo'.

Sua resposta foi surpreendente: 'Terei muito prazer em recebê-lo na hora em que o senhor desejar'.

Diante daquela amabilidade inesperada, não vacilei. Disse que, se ele não se incomodasse, gostaria de visitá-lo ainda naquela mesma tarde.

Ele me recebeu com um largo sorriso, como se nos conhecêssemos há muitos anos. Abriu a porta, me convidou para entrar, conhecer sua biblioteca e me deixou à vontade para retirar das estantes os livros que desejasse.

Ao consultar algumas obras, comentei o fato interessante de todas terem anotações. Sua resposta veio com uma voz bem marota: 'é verdade, professor Polito, eu costumo ler meus livros'.

Foi uma tarde inesquecível. Os assuntos da nossa conversa foram os mais variados. Falamos de livros, aulas, imprensa, formas de proteger a biblioteca das traças, oratória do passado e do presente, família, enfim, todos os temas que aguçaram minha curiosidade nas inúmeras vezes em que folheei seu livro.

Sua história era fascinante. Havia sido catedrático de filologia na Universidade de São Paulo, educado na Europa, sempre foi muito religioso e se manteve solteiro.

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Entre suas maiores façanhas, está o fato de que foi professor de português do Papa Pio XII. Sua experiência como professor de oratória se limitou apenas a duas turmas de alunos.

Fiquei impressionado quando ele me mostrou as revisões que estava fazendo em seus livros. Nunca presenciei vitalidade semelhante, reescrever e revisar livros aos 93 anos. Segundo ele me disse, fazia aquele trabalho por paixão pelos livros que escreveu e para deixar um bom legado para as futuras gerações.

Ao nos despedirmos, ele perguntou se eu poderia voltar no dia seguinte. Voltei no dia seguinte e nunca mais parei de freqüentar sua casa. Convivi com o professor Silveira Bueno até o fim de sua longa e produtiva vida.

Neste momento, enquanto falo dele com saudade e emoção, estou folheando aquele mesmo livro que nos aproximou. O livro está intacto, bonito, autografado com sua letra trêmula, mas com evidente personalidade: 'Ao batalhador da oratória, senhor Reinaldo Polito, a minha admiração. Professor Silveira Bueno. 12.12.1987.'

A emocionante palestraA emocionante palestraA emocionante palestraA emocionante palestra

No final de 1987, eu o convidei para participar da solenidade de

formatura do nosso curso de expressão verbal e fazer uma palestra. Convidei sem acreditar em uma resposta afirmativa, pois com 93 anos julguei que ele fosse recusar. Surpresa: aceitou sem relutar.

O auditório do Buffet Colonial, em São Paulo, estava totalmente lotado. Foi difícil conter a emoção quando o professor caminhou sorridente pelo corredor e foi longamente aplaudido de pé por todos os ouvintes.

Sua palestra foi uma magistral aula de comunicação. Espirituoso, bem-humorado, eloqüente, lúcido, expressivo, arrancou gargalhadas da plateia o tempo todo.

A primeira lição do mestre foi dada a partir de um sutil e inteligente artifício. Ele iniciou pedindo desculpas por falar sentado, pois alegou que não se apresentava em pé porque estava muito velho.

Lógico que esse pedido de desculpas foi o meio que encontrou para explicar que se puder o orador sempre deve falar em pé para ter condições de se impor diante da plateia, ter maior domínio e poder sobre os ouvintes.

Durante os 34 minutos da sua palestra, ensinou como falar em público, criticando a comunicação de Rui Barbosa, que ele havia assistido em três oportunidades.

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Silveira Bueno saiu do ostracismoSilveira Bueno saiu do ostracismoSilveira Bueno saiu do ostracismoSilveira Bueno saiu do ostracismo

O jornalista Heródoto Barbeiro, que é professor de história, foi o

paraninfo daquela turma e ficou entusiasmado com o discurso do professor Silveira Bueno. Disse que aquela tinha sido uma grande aula de história, pois nunca ouvira dizer que Rui Barbosa, o grande Águia de Haia, tivesse sido péssimo orador.

Na semana seguinte, Silveira Bueno, que há tantos anos vivia recluso entre seus livros, virou notícia. Heródoto Barbeiro fez um programa inteiro na emissora de rádio comentando trechos da sua fala.

Nessa mesma época, uma das alunas do nosso curso, que era jornalista do 'Estadão', fez uma matéria extensa com o professor Silveira Bueno, com uma enorme foto dele na capa do caderno 2, contando sua vida.

Eram os últimos tributos prestados ao grande mestre, porque pouco tempo depois viria a falecer aos 94 anos. As emissoras de televisão que noticiaram sua morte utilizaram imagens gravadas na palestra que fez na nossa formatura.

Fui à missa de sétimo dia na Igreja da Consolação, que, atendendo à sua vontade, foi rezada com cantos gregorianos. Somente ali pude conhecer alguns de seus antigos amigos, a maioria constituída de professores universitários aposentados e de ex-alunos.

Só saudadeSó saudadeSó saudadeSó saudade

Quando produzi o CD que acompanha meu livro 'Como Falar

Corretamente e sem Inibições', fiz questão de incluir o trecho do discurso em que o professor Silveira Bueno fala de Rui Barbosa. Pedi autorização para o Geraldo, seu sobrinho, aquele que atendeu o meu primeiro telefonema. Ele consentiu sem nem mesmo ter ouvido a gravação.

Quando o livro ficou pronto mandei entregar um exemplar em sua casa. Pouco tempo depois ele me ligou em prantos, dizendo que foi o melhor presente que já havia recebido.

Estava chorando de felicidade e me disse que era exatamente assim que gostaria que as pessoas conhecessem seu tio, alegre, bem-humorado, espirituoso. E, por ser muito religioso, disse que o querido mestre estava lá no alto contente sabendo que a sua voz seria ouvida por milhares e milhares de pessoas.

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Como até hoje procuro explicações para o sucesso do meu livro depois que saiu com a edição acompanhada do CD, permanecendo três anos nas listas dos mais vendidos, quem sabe não tenha sido a mão do velho professor. Afinal, ele tinha um papa como ex-aluno que poderia intermediar seus pedidos.

Foi a última vez que falei com o Geraldo. Há alguns meses sua esposa, Lais, me telefonou avisando que ele havia falecido e que sempre falava da amizade bonita que eu mantivera com seu tio nos últimos anos de sua vida.

Tenho todos os livros do professor Silveira Bueno, que pacientemente os autografou para mim. Alguns de seus dicionários continuam fazendo muito sucesso com sucessivas reedições.

De todos eles, entretanto, tenho um carinho e um apego especial à primeira edição de 'A Arte de Falar em Público', livro que me proporcionou a oportunidade de conviver com uma das personalidades mais marcantes que já tive a felicidade de conhecer.

Neste momento, enquanto escrevo este texto, durante as pausas, fico admirando o livro que está aqui na minha frente e penso mais uma vez no professor Silveira Bueno, só que de uma maneira diferente daquela em que o li pelas primeiras vezes.

Agora já sei quem ele foi, o que representou, com quem vivia, como cuidava de seus livros e quem eram seus amigos, e me sinto realizado por saber que fiz parte da sua vida, assim como ele fará parte da minha vida para sempre.

Vou encerrar meu texto desta semana usando como superdicas informações que retirei do livro do meu saudoso e querido amigo professor Silveira Bueno.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Sobre os gestos - as mãos não andem a catavento, como pás de moinho doido, em luta com sombras e fantasmas

• Sobre a voz - não deve ser trêmula ou flauteada, entrecortada de soluços ou enriquecida de clarineios

• Sobre a aparência - quem sabe apresentar-se, quem sabe ter uma aparência agradável já conseguiu cercar-se da atenção simpatizante da assistência

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37 37 37 37 ---- Jogador de futebol ensina a falar Jogador de futebol ensina a falar Jogador de futebol ensina a falar Jogador de futebol ensina a falar Se eu disser que você pode aprender a falar bem tomando lições com

os jogadores de futebol, provavelmente vai achar que estou com algum tipo de brincadeira.

Garanto que não estou brincando e que o assunto é bastante sério. Para aprimorar sua habilidade de falar e conversar a tarefa de casa é

simples, interessante e muito instrutiva: passe a ouvir as entrevistas dos jogadores de futebol e aprenda com eles como se livrar de algumas falhas que podem atrapalhar a qualidade da sua comunicação.

Você deve estar pensando: - Esse Polito pirou! Seria natural que você até ficasse indignado: - Onde já se viu alguém

ter o topete de imaginar que jogadores de futebol podem me ensinar a falar?! Afinal, eles são despreparados e óbvios demais.

E mais. Ficam o tempo todo com a mesma ladainha: ''Levamu' um gol bobo de bola parada, mas agora a gente conversa no vestiário e no segundo tempo dá pra 'revertê'. 'Temu' 'qui' 'respeitá' o adversário porque o jogo só acaba depois que o juiz apita o final'.

Ok, vamos esclarecer. Eles não sabem falar, cometem erros grosseiros de gramática, escorregam na concordância, conjugam verbo como se estivessem chutando de bico, fazem aleluia de pronome jogando-o no meio das frases e onde cair está bom, pronunciam as palavras de maneira defeituosa, enfim são péssimos exemplos de comunicadores. Certo?

Errado! Ninguém pode negar que quase todos os jogadores estão 'dotados'

dessas incorreções e de inúmeras outras que seria simples acrescentar. Entretanto, é preciso reconhecer que, de maneira geral, eles possuem

também uma habilidade, uma diplomacia e um jogo de cintura, que normalmente não encontramos em muitos profissionais que atuam em outras atividades.

Até na política que deveria abrigar uma inteligente e exemplar qualidade de comunicação, vemos gente o tempo todo pisando na bola.

Por mais 'cabeça-de-bagre' que seja o jogador de futebol e por mais 'experiência' que ele tenha, do alto dos seus 20 ou 22 anos de idade, veja se não dá vontade de aplaudir a maneira como responde às perguntas provocativas e até capciosas dos repórteres esportivos.

Em determinadas circunstâncias esses jovens se comportam com tanta habilidade que dá a impressão de terem enfrentado um longo e rigoroso programa de treinamento no Itamarati. Por mais quadrada que

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venha a pergunta eles não matam de canela, quase sempre respondem com a bola no chão.

Se, por exemplo, o repórter pergunta, em tom afirmativo: - Você estava atuando como titular e jogando muito bem até o mês

passado, quando o técnico o sacou do time. Essa injustiça o deixou muito revoltado, não?

Será que existe alguma dúvida de que ele está louco da vida e com vontade de jogar o Ceasa na cabeça do treinador? Entretanto, sua resposta é inteligente e impregnada de sutilezas diplomáticas. Ele não mente, mas revela o lado da verdade que deveria ser exposto:

- Faço parte de um grupo de 22 jogadores em condições de pertencer a qualquer grande clube. Estar nessa equipe é o sonho da maioria dos atletas profissionais. E todos nós, jogando ou não, torcemos sempre para que o time conquiste os melhores resultados.

O professor (geralmente é assim que se referem ao técnico) tem um esquema tático muito bem montado, que varia de acordo com as características do adversário, e ora precisa da participação de um jogador, ora de outro. O que importa é estarmos prontos para entrar bem quando ele precisar.

Elimine os pouquíssimos contumazes criadores de caso e ouça as entrevistas de alguns dos milhares de jogadores 'normais' para confirmar o que estou dizendo.

De onde vem essa habilidade de falar? Talvez da necessidade mais acentuada de sobrevivência do jogador,

que atua numa atividade tão arriscada, repleta de armadilhas, em que nada é definitivo e só se tem uma certeza - de que terá duração curta, pois com 32 anos já é um veterano.

Quem sabe a explicação possa estar também no treinamento constante do jogador, pois como precisa tomar decisões para suas jogadas numa fração de segundo, desenvolve o raciocínio para analisar rapidamente as conseqüências de uma resposta indevida.

Por mais que você esteja com vontade de criticar a comunicação de alguns jogadores, não pode negar que eles são bons nessa história de falar e dar respostas às perguntas difíceis.

Essa habilidade que os jogadores têm para falar com diplomacia e inteligência é cada vez mais importante no relacionamento profissional.

Não é novidade para ninguém que as empresas vivem uma época de incertezas, constantes e rápidas mudanças e exigências de novas habilidades e competências dos, agora multifuncionais, colaboradores, e que por isso a comunicação precisa ser ainda mais eficiente.

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Por causa dessas incertezas produzidas pelas mudanças as pessoas se sentem inseguras e chegam até a duvidar da sua capacidade para se adaptar às novidades.

Por isso, diante de uma proposta que contrarie sua forma de pensar, é comum reagirem de maneira emocional, sem considerar o peso dos argumentos opostos.

Esquecem da bola e batem da medalhinha para cima. Nesse clima não tem razão que se sustente. Vira briga de arquibancada.

Nas reuniões ou nos processos de negociação para que as suas propostas sejam vencedoras é preciso aprender a afastar a defesa emocional dos interlocutores, para que pelo menos fiquem dispostos a ouvir suas ponderações. É como se você jogasse pelas pontas para driblar o ferrolho formado pela muralha dos beques.

Aqui deve entrar a 'sabedoria futebolística' para evitar confrontos, neutralizar a emoção e fazer com que o defensor da ideia não o veja como um adversário.

Entenda como você poderá passar de um agressivo esquema quatro, dois, quatro, para outro mais cauteloso:

Use seu próprio exemplo Se no passado pensou ou agiu da mesma maneira como age o

defensor da ideia, revele esse fato a ele e diga também como foi difícil mudar de opinião. Assim, terá mais autoridade sobre o tema e essa demonstração de solidariedade com o companheiro aumentará suas chances de fazer com que ele ouça sua proposta.

Comece concordando Um bom recurso para desarmar opiniões contrárias e fazer com que o

opositor fique interessado em pelo menos ouvir suas ponderações é concordar de forma sincera no início com certos pontos da proposta e dizer que deseja apenas adicionar alguns dados ao raciocínio.

Eleja um adversário comum Se você souber que a parte contrária possui um adversário e que seja

possível tomar sua defesa contra ele, demonstre essa identidade atacando o 'inimigo' comum, antes de dar sua opinião contrária à proposta.

Talvez os jogadores de futebol não tenham consciência de que se valem de uma grande habilidade de comunicação para falar de questões até delicadas, mas é assim que a maioria se comporta.

Com esses cuidados, ao debater ideias na vida profissional, você agirá como os craques da bola quando precisam contornar situações difíceis nas entrevistas. E se no final, com toda essa cautela, sentir que o resultado não

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é bem o desejado, poderá dizer com a consciência tranqüila, como eles diriam ao final da partida: 'Dei tudo de si, graças a Deus'.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Considere as defesas emocionais do interlocutor • Mostre que você quer contribuir, não criticar • Use informações consistentes para concordar antes de

contrapor uma opinião • Cuidado com o uso do 'mas'. Ele é perigoso • Não dê a entender que você só se vale de um ardil para poder

discordar

38 38 38 38 ---- Se vira nos 30 Se vira nos 30 Se vira nos 30 Se vira nos 30 Você sabia que se as pessoas não estiverem prestando atenção em suas

palavras, provavelmente, a culpa é sua? Esta é uma regra que vale a pena considerar - salvo uma ou outra

exceção, não existe ouvinte desinteressado, mas sim orador desinteressante. Entendi, Polito. Devo ser interessante para atrair a atenção e manter a

concentração dos ouvintes. Só preciso saber como agir e por onde começar.

Você já deve ter ouvido falar ou até ter assistido ao quadro 'se vira nos 30', levado ao ar no programa do Faustão pela Rede Globo de Televisão. Muita gente se inscreve para participar do programa e ter a chance de mostrar seus 'excepcionais dotes artísticos'.

Em 30 segundos, o candidato precisa se virar do jeito que puder para encantar um grupo de jurados e não ser gongado. Por isso, fazem de tudo, desde equilibrar os mais inusitados objetos, tocar sozinhos vários instrumentos estranhos de uma só vez, dançar de cabeça para baixo, assobiar e chupar cana.

O que a maioria dessa turma faz só por brincadeira, outros, no dia-a-dia, fazem para sobreviver: são os camelôs. De maneira geral, são pessoas com pouca ou nenhuma formação escolar, que passam o dia tentando reunir grupos de curiosos para vender o que cair em suas mãos.

Você talvez esteja pensando: 'mas, que raio de conversa esquisita é essa? Afinal, o que tem a ver o 'se vira nos 30' com os camelôs e com o meu desempenho na arte de falar para conquistar o interesse dos ouvintes?'

Pode parecer estranho, mas tem tudo a ver. Se você desejar ser bem-sucedido com a sua comunicação verbal, precisará aprender um pouco

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com cada um desses 'guerreiros' que usam o que sabem fazer de melhor para dar seu espetáculo na tentativa de atingir seus objetivos.

É o espetáculo que torna o conteúdo atraente. Se você se preocupar apenas com o conteúdo da mensagem imaginando que só com esse ingrediente conquistará os ouvintes, corre o risco de estar enganado.

Observe os palestrantes que vivem com agenda tomada. Todos vão para o palco prontos para participar de um verdadeiro show. Provocam risos, arrancam lágrimas, mexem com as emoções dos ouvintes, fazem tudo o que podem para que plateia não fique desinteressada nem caia na apatia.

É assim também que os camelôs tocam seu trabalho. Precisam atrair a atenção das pessoas e seduzi-las para que comprem seus produtos. Se eles apenas se preocupassem em destacar as qualidades dos produtos que precisam vender, poderiam voltar para casa com as mãos abanando.

É questão de sobrevivência - ou vendem e garantem os trocados de que necessitam para manter a família ou terminam o dia sem ter ao menos o que comer. Temos muito que aprender com esses heróis das ruas.

Certa vez participei de uma reportagem do Programa Vitrine da TV Cultura, sobre a atividade dos camelôs. Atuando como repórter, fui até o centro velho de São Paulo para entrevistá-los e tentar descobrir um pouco sobre suas estratégias de comunicação. Fiquei surpreso e muito impressionado com o conhecimento que possuem sobre a arte de falar!

Um deles me contou qual a tática que utiliza para chamar a atenção das pessoas, que sempre passam apressadas. Ele usa a força da sua voz para pronunciar algumas frases de impacto. Dessa forma os transeuntes ficam curiosos e param para ver o que está acontecendo.

Esse é um ótimo recurso para introduzirmos no nosso show. Especialmente nos casos em que os ouvintes estejam dispersos, alheios, desligados, algumas frases com informações que possam provocar impacto poderão deixá-los curiosos e interessados no que temos a dizer.

O segundo que entrevistei me disse que sua maior preocupação era com o comportamento e a reação das pessoas. Assim que percebia os primeiros sinais de desatenção, por exemplo, se passassem a olhar para o chão, para os lados, movimentar muito a cabeça, ou mudar com freqüência o apoio do corpo ora sobre uma perna, ora sobre outra, estava na hora de contar uma história instigante, curiosa, para trazer o pensamento de volta.

Ele me confidenciou que nada poderia ser pior do que perder a atenção dos ouvintes. Por isso, se a história não funcionasse, não hesitava em usar sua arma secreta - punha a Catarina na roda. Catarina era uma

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cobra enorme que havia sido treinada para fumar. Não dava outra, ninguém batia em retirada enquanto Catarina dava suas baforadas.

Não tenha ilusões. Por melhor que seja sua mensagem, depois de algum tempo, entre cinco e dez minutos, o ouvinte cria um foco de atenção viciado e passa a ter dificuldade para se manter concentrado em suas palavras. Uma história curta, atraente na hora em que o público começa a perder a atenção, fará com que a plateia volte a se concentrar na mensagem.

Finalmente, a descoberta mais surpreendente. O terceiro camelô que entrevistei disse que depois da aplicação de toda essa estratégia - contar histórias engraçadas, fazer o público rir ou chorar, introduzia nas trincheiras adversárias os serviços do 'agá'.

O 'agá' atua como cúmplice do camelô. Ele fica no meio das pessoas como se fosse mais um entre tantos interessados. No momento certo ele toma a iniciativa de maneira acintosa para comprar o produto do camelô.

Eu perguntei se essa atitude não poderia ser vista como uma trapaça. Ele não se mostrou ofendido com meu questionamento e respondeu com toda naturalidade: não se esqueça de que estamos em uma verdadeira praça de guerra e eu preciso vencer essa batalha. Acredito que um agazinho bem plantado não prejudica ninguém. É só uma isca para garantir o leitinho das crianças.

Analise o que você sabe fazer de melhor. Talvez você saiba fazer imitações. É possível que tenha habilidade para contar histórias. Quem sabe tenha o dom para cantar ou tocar algum instrumento. Vale também sapatear ou fazer mágicas. Aperfeiçoe o que já sabe fazer e se torne ainda melhor.

Durante a apresentação, lance mão desses recursos para que façam parte do seu show. Se conseguir contextualizar bem essas inserções, elas poderão participar de maneira tão harmoniosa no conjunto da exposição que o resultado será muito positivo.

Quanto maior o público e mais inculto, maior a quantidade de espetáculo que você deverá utilizar. À medida que o tamanho da plateia diminui e o nível intelectual aumenta, menor também deverá ser o volume do show.

Entretanto, por mais bem preparados que sejam os ouvintes e por menor que seja o público você nunca poderá deixar de usar algum tipo de espetáculo. Afinal, os ouvintes serão sempre seres humanos, e todos nós gostamos de receber o conteúdo de uma mensagem de forma atraente e estimulante.

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Para que a sua mensagem seja bem-sucedida e você consiga as vitórias que deseja em suas apresentações, deve lançar mão de tudo o que puder para dar o seu show. Precisa aprender a se virar nos 30 e a ser cativante como um bom camelô.

Tirando todos os excessos e exageros e guardadas todas as proporções devidas, esta pode ser uma boa proposta para que tenha ainda mais sucesso com a comunicação.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Use em público as mesmas habilidades que o tornam interessante diante dos amigos

• Aperfeiçoe o que já sabe fazer para dar um espetáculo ainda melhor

• Seja ousado e não tenha receio de tornar sua apresentação leve e atraente

• Teste as histórias, piadas e imitações antes de se arriscar diante da plateia

39 39 39 39 ---- Como conquistar as pessoas Como conquistar as pessoas Como conquistar as pessoas Como conquistar as pessoas

Se você deseja se aproximar das pessoas e conquistá-las, não

embarque nessa história de que esse objetivo pode ser alcançado com elogios falsos, vazios e demagógicos.

O caminho é outro. Faça elogios sinceros, verdadeiros, bem sustentados para conquistar a simpatia das pessoas. Assim construirá relacionamentos honestos, duradouros e não se sentirá violentado como se fosse um mercador barato de sentimentos.

A competência para conquistar pessoas deve estar no próprio comportamento, especialmente na simpatia cativante, envolvente e verdadeira.

Aprendi muito cedo o real significado de conquistar pessoas. Embora o fato tenha ocorrido há muitos anos, nunca mais escapou à minha lembrança. Até hoje agradeço por ter vivenciado uma experiência que me serviu de lição para a vida toda.

Eu não poderia ter tido infância melhor. Fui criado na Rua Carajás, no Jardim Primavera, em Araraquara, no Estado de São Paulo. Era um bairro habitado por pessoas simples, pobres, íntegras e que se davam muito bem.

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Era tudo muito precário. Ruas sem asfalto, sem iluminação. Casas sem forro, sem esgoto e protegidas por cerca de bambu. Não havia sequer vestígios de televisão.

Aquele bairro, com toda a aparente pobreza, era um paraíso para a garotada. Vivíamos o tempo todo num verdadeiro parque de diversões - livres, leves e totalmente soltos.

Cedinho, antes das oito, os meninos e as meninas que estudavam à tarde já estavam prontos para brincar. As meninas se divertiam brincando de casinha, pulando amarelinha ou trocando roupas das bonecas de pano.

Para os meninos havia, duas atividades preferidas: caçar passarinho e, o que mais gostávamos, jogar futebol.

Precisávamos apenas vestir um calção. Andávamos sem camisa e com os pés descalços. A sola do pé era tão grossa que, se pisássemos num caco de vidro, cortava, mas não saia sangue.

Por volta de onze e meia, as mães iam para o portão da casa, sempre com o inseparável lenço na cabeça, pano de prato na mão e gritando o nome do filho para avisar que o almoço estava quase pronto, que era hora de tomar banho e que não poderia chegar atrasado na escola.

Não havia exceção. Em todas as famílias, o único que trabalhava para garantir o sustento da tropa era o pai. A turma fazia milagre. Ganhavam apenas para comer, pois a roupa e sapatos não eram descartáveis como hoje. Duravam anos, até não servirem mais e serem passados para o irmão mais novo.

O lazer ficava por conta do footing na praça, ouvir o programa de calouros pela Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, tomar quentão quando havia quermesse, pôr uma cadeira na calçada para conversar e trocar doces caseiros e licores com os vizinhos.

Cinema era passeio só para ocasiões especiais, quando, por exemplo, havia lançamento dos filmes do Mazaroppi, que formavam filas até dobrar o quarteirão. Afora esses momentos, as crianças e adolescentes do nosso bairro usavam a porta do cinema apenas como ponto de encontro para trocar gibis.

Todo mundo se virava como podia. As famílias tinham uma pequena horta no fundo do quintal, ao lado de um galinheiro e de um chiqueiro. Para comer só precisavam comprar arroz, feijão e batatas.

Como ninguém ganhava, ninguém gastava, e a vida transcorria tranqüila, como diziam meus conterrâneos, do jeito que Deus queria.

De repente, uma novidade. Eu estava jogando pelada com os amiguinhos, como fazia todos os dias, quando a rotina foi quebrada por

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um carrão que chegou devagarzinho, sem fazer barulho e parou no meio da Rua Carajás, que se transformava no nosso campo de futebol.

Paramos o jogo para ver quem estava chegando. Um senhor sorridente abriu a porta do carro e foi cumprimentando a garotada como se todos fossem velhos conhecidos. Veio na minha direção, perguntou meu nome e se podia conversar um pouco com minha mãe.

Ele entrou em casa com o mesmo sorriso com que havia cumprimentado os meninos. Como não era comum a visita de estranhos, minha mãe o atendeu meio sem jeito, enxugando as mãos no avental.

Seu nome era Antonino. Não demorou nada para que conquistasse toda a família com suas histórias da Itália. Até eu, menino novinho, fiquei tão fascinado e magnetizado com a conversa simpática e agradável do visitante que nem me lembrei mais dos coleguinhas que continuavam animados com o jogo.

Ao sair de casa havia conseguido algo impensável - vendeu uma coleção de seis dicionários enciclopédicos da Editora Formar. Como imaginar alguém vendendo um produto, que não era assim de primeiríssima necessidade, para pessoas que tinham dinheiro apenas para comprar alimentos?

A capacidade de persuasão do Antonino estava na sua simpatia, na forma cativante como envolvia as pessoas, no seu jeito simples e na maneira animada como contava histórias.

Ao retornar ao carro, Antonino me perguntou se poderia lhe apresentar alguns amiguinhos. Eu disse que sim sem hesitar. Não deixaria de ouvir suas histórias por nada. Foram dois dias inesquecíveis e que marcariam minha vida para sempre.

Antonino era um homem de sete instrumentos - literalmente. Se na casa que visitávamos tinha acordeão, ele se transformava em sanfoneiro, tocava e cantava as músicas de que a família mais gostava.

Se na outra casa o instrumento era o violão, lá estava ele dedilhando e entoando canções. Se não havia instrumentos, ele ia para a cozinha ensinar receitas que davam água na boca.

Ele era tão sedutor que foram poucas as casas de onde saiu sem vender ao menos um pequeno livro. Em nenhum momento, demonstrou contrariedade ou deixou de sorrir se as pessoas não podiam comprar.

No final dos dois dias, ao me deixar em casa, depois de visitarmos o meu último amiguinho, com jeito paternal pôs a mão no meu ombro e disse:

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Você é um bom menino e tem jeito para o comércio, Reinaldo. Não importa o que você faça na vida, lembre-se sempre de que o comércio pode ser o meio de conseguir o que deseja.

Nunca mais vi o Antonino, mas jamais me esqueci do seu nome, das suas palavras e do seu jeito de ser. Embora eu não tenha abraçado o comércio, usei seus ensinamentos em todas as atividades que exerci.

Os livros que vendeu à minha mãe foram tão úteis para os meus estudos que, mesmo desatualizados, até hoje os conservo em minha biblioteca.

Aprendi com aquele vendedor de livros que para conquistar as pessoas é preciso saber interagir com elas e desenvolver a capacidade de envolvê-las de maneira honesta e aberta.

Compreendi que se conseguirmos abrir o coração das pessoas, sua mente se desarmará de resistências e avaliará com benevolência nossa mensagem.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Elogie as pessoas sempre com sinceridade • Faça o que souber fazer com intuito verdadeiro de ajudar as

pessoas • Seja simpático, gentil e atencioso • Mostre sua simpatia mesmo quando não conquistar seus

objetivos

40 40 40 40 ---- Participe bem das reuniões Participe bem das reuniões Participe bem das reuniões Participe bem das reuniões Talvez você não se dê conta, mas a avaliação do seu desempenho

profissional é feita principalmente nas reuniões. É nessa circunstância que você apresenta seus projetos e mostra como está preparado para debater assuntos relacionados à sua área e a outros setores importantes para o bom desempenho da empresa.

Não importa o seu papel na reunião, seja como líder, seja como integrante do grupo, se você vacilar e não tiver boa participação correrá o risco de acrescentar marcas negativas à sua imagem profissional.

A maneira como você participa das reuniões pode indicar sua competência e o resultado da sua atuação. Por isso, ligue as antenas e aprenda como se comportar nessas circunstâncias para valorizar ainda mais a qualidade do seu trabalho.

Uma pauta bem elaborada - Sugerir a elaboração de pauta para garantir o bom resultado de uma reunião parece meio sem sentido. Onde

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já se viu chamar a atenção para um aspecto tão simples da vida corporativa!

Entretanto, muitas reuniões fracassam por falta de pautas bem organizadas. Não dá para aceitar que profissionais importantes adiem a realização de suas tarefas para participar de uma reunião sem ao menos saber dos assuntos que serão tratados.

Ao elaborar a pauta da reunião, estabeleça o tempo que irá consumir com cada tópico e programe o horário de encerramento. Se durante a reunião você perceber que um item vai ultrapassar a duração prevista, terá condições de reorganizar a seqüência pré-estabelecida, reduzindo ou até suprimindo alguns pontos que não poderão ser discutidos.

Você até se surpreenderá durante o planejamento da pauta que muitas reuniões seriam pura perda de tempo, já que os assuntos poderiam ser facilmente resolvidos com telefonemas, conversas de corredores ou trocas de e-mails.

Se você não for o líder e atuar como um dos integrantes do grupo, fique atento à pauta para saber que providências deverá tomar para ter uma ótima participação, contribuindo com informações ou com perguntas adequadas.

Os passos da reunião - Se você for o líder, ao organizar as etapas da reunião tenha em mente que deverá contribuir para o bom desempenho dos participantes, ajudá-los a trocar informações e permitir que tomem as decisões mais acertadas.

Como participante você saberá pela seqüência da pauta o momento apropriado para debater os problemas e o instante certo para sugerir soluções.

Embora não exista um único modelo a ser seguido, já que você deverá se adaptar às circunstâncias de cada evento, esta seqüência simples, com apenas quatro etapas, poderá ajudá-lo a organizar suas reuniões com sucesso:

A) Comece esclarecendo quais são os assuntosA) Comece esclarecendo quais são os assuntosA) Comece esclarecendo quais são os assuntosA) Comece esclarecendo quais são os assuntos Ao iniciar a reunião, exponha de forma rápida e clara quais as

questões que serão debatidas, quais os objetivos a serem atingidos e quais os dados já esclarecidos.

Este é o momento para posicionar o grupo a respeito dos motivos e da finalidade da reunião, contribuindo para que todos tenham uma participação produtiva e os ajudem na conquista dos resultados almejados.

Se você for um dos participantes, preste bem atenção a esses esclarecimentos iniciais para se certificar de que havia compreendido bem seu papel na reunião.

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B) Debata os temas B) Debata os temas B) Debata os temas B) Debata os temas Depois dessa rápida orientação inicial, abra para a discussão do

primeiro tema da pauta permitindo que os participantes debatam, aprofundem o problema, levantem e sugiram soluções.

Como participante você deverá estar preparado para contribuir com informações relevantes e fazer questionamentos que ajudem a elucidar os pontos levantados.

C) Tome as decisõesC) Tome as decisõesC) Tome as decisõesC) Tome as decisões As sugestões que resistiram ao debate deverão compor o conjunto das

decisões a serem tomadas. Cuidado para não voltar desnecessariamente ao debate de pontos que já foram esclarecidos e encerrados.

Como participante você deverá colaborar para tornar clara a posição da sua área e mostrar as conseqüências das decisões que serão tomadas. Observe se os seus comentários não estão saindo, sem motivos, da sua esfera de atuação.

D) RecapituleD) RecapituleD) RecapituleD) Recapitule Chegou o momento de encerrar. Esta última etapa da reunião é uma

das mais importantes, pois é a derradeira chance de eliminar possíveis dúvidas ou equívocos. Se descobrir que algum ponto não ficou totalmente elucidado, será possível trazê-lo novamente para o debate.

Saiba como se comportar como líder de uma reunião - Sua atuação como líder será fundamental para o bom resultado de uma reunião. Veja como você deve se comportar para ter um bom desempenho:

• Motive a participação de todos os profissionais •Acompanhe com atenção as ações dos participantes • Forneça subsídios para que o debate seja produtivo • Mantenha a discussão dentro dos limites das questões levantadas e

dos objetivos pretendidos • Mantenha um ambiente descontraído • Deixe que o grupo se relacione de maneira informal, sem permitir

que caiam na vulgaridade • Suplante as situações delicadas e, de preferência, evite que elas

ocorram • Use a presença de espírito nos momentos apropriados • Faça perguntas que motivem o grupo a pensar • Seja pontual para começar e concluir a reunião • Evite dar opiniões pessoais para não inibir a participação dos outros • Mantenha a tranqüilidade, a calma, a cordialidade e a tolerância • Reconheça a importância de cada participante

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Saiba se comportar como participante de uma reunião - Lembre-se de que sua atuação nas reuniões será importante para o seu futuro profissional. Por isso, tenha uma conduta que ajude a construir uma imagem positiva:

• Quando for questionado, responda de maneira firme, convicta e segura

• Fale com voz pausada e audível • Quando seus conhecimentos e experiência puderem ajudar, peça a

palavra sem hesitar • Não responda a perguntas dirigidas a outros participantes, salvo

quando não forem respondidas, e tenha certeza de estar colaborando com sua intervenção

• Restrinja-se a conversar sobre o tema abordado e evite diálogos paralelos

• Ao falar, olhe para todos os participantes, quando ouvir olhe para quem fala

• Não crie antipatias ridicularizando os colegas ou usando ironias desnecessárias

• Se precisar refutar, cuidado para não magoar os grupos participantes. Use 'diplomacia', entendendo o ponto de vista contrário

• Não fale sozinho, dê oportunidade aos outros. Finalmente, não seja ingênuo de pensar que para participar bem de

uma reunião precisará falar o tempo todo. Há momentos em que mesmo sem falar é possível ter uma atitude participativa. Se você demonstrar interesse pelos assuntos debatidos, fizer anotações e levantar questões apropriadas, poderá ser visto como alguém envolvido com os propósitos da empresa.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Elabore sempre uma pauta para as reuniões que liderar • Informe com antecedência quais os temas da reunião • Fale o suficiente para permitir o debate e motivar a

participação • Estude bem os temas da reunião para ter boa participação • Evite falar de assuntos alheios à sua área • Mostre uma atitude participativa e descontraída

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41 41 41 41 ---- Vergonha só atrapalha Vergonha só atrapalha Vergonha só atrapalha Vergonha só atrapalha Acabe com a vergonha e seja uma pessoa muito mais feliz. Esta

conquista só depende de você. Aprenda quais são os segredos que poderão ajudá-lo a se livrar desse sentimento indesejável.

Antes de mostrar o caminho que você deverá seguir para aproveitar a vida de forma muito mais plena, conheça a história de uma antiga peleja pela ocupação do mesmo espaço.

Desde os primeiros momentos da humanidade existem duas velhas senhoras que nunca se bicaram. Com elas não há hipótese de bandeira branca. É só uma delas aparecer que a outra vira as costas, levanta acampamento e bate em retirada. Elas são a vergonha e a confiança.

É questão de sobrevivência. Uma só dá sinal de vida se a outra estiver ausente. Por estarem o tempo todo disputando espaço, elas se conhecem muito bem. Sabem exatamente onde estão os pontos fracos e os flancos mais vulneráveis da adversária.

Essas eternas inimigas são onipresentes. Por isso, transformam todas as pessoas, de todos os cantos do mundo, em seu campo de batalha. Como não há exceção, desde que nasceu você também serve de arena para o duelo entre as duas.

Embora vivam em eterna disputa, não se confrontam diretamente. Elas só aproveitam as melhores oportunidades para tomar conta do território. As velhas rivais possuem o mesmo poder, a mesma força e a mesma resistência. A diferença entre elas está na estratégia adotada para as ações de combate.

Enquanto a confiança, para se instalar, depende de você para recrutar aliados bons de briga, a vergonha conta com o apoio de voluntários que compõem uma tropa de elite da pesada.

A ação de ataque da vergonha é conhecida. Ao primeiro sinal de fraqueza ela surge de mansinho, como quem não quer nada, e passa a comandar cada uma de suas ações.

De repente, sem você se dar conta, as bochechas ficam vermelhas, os olhos se voltam para o chão, os dedos das mãos se entrelaçam e a voz perde o vigor. São os sinais evidentes de que a 'senhora sorrateira' acaba de chegar.

Ao sentir que ela se alojou em você, sua reação natural é tentar de todas as formas se livrar do sentimento desconfortável. A confiança, que seria a única defesa eficiente para socorrê-lo, como não suporta a presença da vergonha, e não se vê protegida pelos aliados que você deveria ter providenciado, está longe do seu alcance.

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Com a vergonha não dá para vacilar. Você precisa trabalhar o tempo todo para impedir a sua presença. Essa 'madame' é traiçoeira. Ela tem cara de boazinha, mas de gente fina mesmo só tem a aparência. O trabalho dela é feito nos bastidores, aliciando cúmplices para se dar bem nas investidas que faz.

Seus companheiros poderosos são nossos conhecidos: menosprezo, fracasso, humilhação, censura, desdém, crítica e inadequação. Todos os componentes desse bando foram muito bem treinados para que a vergonha seja bem-sucedida e tome conta de você.

Por isso, se essa força-tarefa bater à sua porta e você se sentir envergonhado, convoque sua guarnição de combate para permitir que a confiança o proteja e o liberte desse sentimento negativo. E aja com determinação, já que em determinadas situações a vergonha encontra um cantinho tão aconchegante que passa a ser hóspede permanente.

A vergonha é matreira. Por ser indesejável e repudiada, ela vive sempre espreitando, aguardando a melhor oportunidade para convocar seus cupinchas para atacar.

Já a confiança, por ser tão desejada, fica na dela esperando ser cortejada. Para estar ao seu lado, ela exige a presença de uma guarnição de primeira: preparo, experiência, humildade, tolerância, trabalho, persistência, autoconhecimento, personalidade, entre inúmeros outros atributos.

Vale a pena desenvolver e aprimorar cada vez mais essas qualidades para conquistar a confiança, pois poucas coisas na vida lhe darão mais prazer e o tornarão mais realizado do que ser uma pessoa confiante.

Com ela ao seu lado você pode fazer praticamente tudo o que desejar: conversar com desenvoltura e desembaraço, participar com muita competência das reuniões e dos debates, apresentar com eficiência projetos e produtos, participar de forma admirável de entrevistas em emissoras de rádio e televisão, fazer palestras excepcionais, persuadir e convencer as pessoas nos processos de vendas e de negociações, liderar e motivar equipes.

A confiança não é um objetivo distante e inatingível. Ela participa da sua vida desde que você nasceu. Durante a infância você se acostumou a viver num mundo onde tudo parecia ocorrer normalmente - havia coerência entre os fatos, os acontecimentos obedeciam a uma seqüência determinada, tudo se encaixava de maneira harmoniosa. Enfim, era possível acreditar neste mundo e não havia motivo para não ser dependente dele.

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Essa segurança fez com que você julgasse que esse 'conforto' seria sempre mantido. A vida, porém, nem sempre é assim tão linear. Ao se deparar com situações que frustram aquelas expectativas de viver num mundo coerente, sem surpresas, você se sente inadequado, e a confiança é abalada. Você deixa de confiar nas pessoas e naquele mundo 'certinho' que acreditava existir.

Você se dedicou a existência toda e continua empenhado para ter uma história de vida e construir uma biografia da qual possa se orgulhar. Se por qualquer motivo essa narrativa de vida for violada e você não puder se mostrar ao mundo como gostaria que as pessoas o vissem, ficará envergonhado.

Quanto mais você se sentir obrigado a proteger seus valores, sua imagem, suas conquistas, sua trajetória, mais estará sujeito às investidas da vergonha. Pois quanto mais possuir e mais necessitar preservar o que amealhou, mais terá a perder.

Quantas pessoas que conquistaram fortuna, reputação, poder, fama, respeito social, tiram a própria vida depois de experimentarem um fracasso! Essa decisão extrema é tomada porque não suportam a vergonha de serem vistas pela sociedade como perdedoras ou fracassadas.

Cuidado, todavia, para não confundir vergonha com outro sentimento bastante parecido que é a culpa. Embora guardem semelhanças e disputem o mesmo espaço, eles têm origem distinta e características peculiares.

Se você perceber que de alguma forma sua integridade foi violentada, quem bateu à sua porta foi a vergonha. Se, entretanto, você concluir que errou na maneira de agir, a visitante foi a culpa.

Independentemente de quem o visite, a melhor defesa será sempre a confiança.

Cultive a confiança e deixe-a o tempo todo ao seu lado. Assim, a vergonha, a culpa ou qualquer outro sentimento semelhante ficarão distantes de você.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Combata a vergonha desenvolvendo a confiança • Invista no preparo, adquira experiência, seja humilde, tolerante

e trabalhe muito • Aprenda todos os dias a se adaptar a um mundo em constante

mudança • Faça da confiança seu escudo contra a investida de

sentimentos negativos

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42 42 42 42 ---- Seja b Seja b Seja b Seja bom de papoom de papoom de papoom de papo

Antes de dar as dicas de como se tornar um conversador irresistível,

quero esclarecer que ser bom de papo não significa abrir a matraca e soltar a verborragia em cima das vítimas que estão ao seu lado. Meu avô já dizia que quem fala muito acaba dando bom dia a cavalo e se transformando num chato espalha-roda. É só o tagarela aparecer que a turma levanta acampamento e tira o time de campo.

Vale a pena aprender a conversar de maneira agradável, simpática e atraente. Se você souber manter um bom papo, será bem recebido e admirado em todos os lugares. As pessoas terão prazer com a sua presença e muito interesse em ouvir suas histórias e pedir suas opiniões.

Estação de trem de Bueno de Andrada, onde moradores conversavam e contavam casos (Foto de Antônio Alberto Ravagnani)

Conheço muita gente que sabe conversar. São pessoas tão agradáveis que você fica horas batendo papo e nem vê a hora passar. São tão comunicativas que o semblante da turma se abre de alegria assim que elas se aproximam do grupo.

Uma dessas pessoas construiu sua história de vida bem-sucedida apoiada na forma habilidosa como conversa, interage e se relaciona com todos que cruzam seu caminho. É uma história que serve de exemplo e mostra como a arte de conversar pode ser desenvolvida e aprimorada.

Renato Saes é um dos maiores fabricantes de transformadores do país e, por isso, pode dar a impressão de que foram apenas as revolucionárias técnicas da gestão empresarial e as tecnologias de ponta que serviram de escada para sua trajetória de vida vitoriosa.

É lógico que sem competência empresarial ele não chegaria aonde chegou. Entretanto, o motivo do seu sucesso está, literalmente, em outros campos.

Renato Saes é meu conterrâneo, nasceu em Araraquara, bem no centro do interior do Estado de São Paulo. Seu pai era ferroviário e, por isso, teve de viver em diversas pequenas cidades até encontrar um lugar ideal para criar os quatro filhos, Bueno de Andrada.

Bueno, como é chamada carinhosamente por seus moradores, não é uma localidade fácil de ser encontrada em qualquer mapa. Fica entre Araraquara e Matão. Até bem pouco atrás só se chegava lá por estrada de terra batida. Na época em que Renato viveu ali, somando a população urbana com o povo que vivia nos sítios e fazendas ao seu redor, mais o

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padre que se deslocava para lá todos os domingos para rezar a missa não chegava a mil habitantes.

Esse lugarejo não possuía muitas alternativas de lazer. Como a televisão ainda não havia chegado por aquelas bandas, o único divertimento noturno da população era ver a parada do trem das sete, o último trem de passageiros do dia.

Assim que o trem partia, todos, em silêncio, ficavam olhando até o comboio fazer a curva e dar o apito, que funcionava como espécie de despedida. Algumas pessoas, especialmente as mais idosas, permaneciam na estação, sentadas no banco para contar 'causos' e ouvir histórias. Algumas dessas histórias eram verdadeiras, outras nem tanto, ficavam por conta da criatividade daqueles simpáticos senhores.

Foi nesse ambiente de contadores de histórias que Renato Saes passou sua infância, e aprendeu, ali com as pessoas mais velhas, a arte de prosear. Essa habilidade desenvolvida e cultivada de forma tão espontânea fez com que ele saísse daquele local, que era um verdadeiro paraíso para um menino brincar com liberdade, mas, usando a imagem da estrada de ferro, quase um de fim de linha para as pessoas adultas.

Um belo dia, já mocinho, Renato Saes pegou uma pequena mala com poucas roupas, enrolou seu diploma de professor primário e resolveu partir. Tomou o trem que parava na porta da sua casa e contando apenas com sua boa conversa interiorana rumou para São Paulo. Foi, viu e venceu na desafiadora cidade grande. E se existe alguém que ganhou a vida na conversa foi ele.

Renato Saes se transformou num verdadeiro mestre na arte de conversar.

Ele não deixa ninguém sem participar de uma conversa. Mesmo as pessoas mais tímidas, que geralmente diante de um grupo se retraem, com o Renato por perto não ficam de boca fechada. Ele pergunta da saúde da mãe de um, pede para o outro contar como o filho venceu o processo tão difícil de seleção para conquistar o emprego. E assim todos falam sem constrangimento.

Para ter sucesso nos negócios, em suas conversas Renato Saes usa as perguntas como arma mais poderosa. Ele sabe que se fizer as perguntas certas, terá todas as informações de que precisa. O tipo de pergunta depende das circunstâncias e dos objetivos que ele pretende atingir.

Se a sua intenção for a de iniciar uma conversa ou aparar o terreno para chegar a um acordo, usa perguntas fechadas, que levam o interlocutor a dar respostas rápidas e curtas. As mais indicadas são: 'Quem?', 'Há quanto tempo?', 'Onde?', 'Quando?'.

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Com as perguntas fechadas, ele consegue respostas objetivas, que lhe dão oportunidade de obter em pouco tempo informações importantes, sem prejudicar o andamento da conversa, ou comprometer a concentração.

Se, entretanto, pretender estimular as pessoas a se envolverem mais na conversa, ou identificar as intenções, desejos ou necessidades que elas realmente possuem, lança mão de perguntas abertas, que produzem repostas mais longas e exigem informações mais bem elaboradas. As mais indicadas são: 'O quê?', 'Por quê?', 'Como?', 'De que maneira?'.

Com as perguntas abertas, ele consegue fazer com que as pessoas falem mais, se obriguem a elaborar raciocínios amplos e forneçam informações que mostram um pouco mais da personalidade e da forma de pensar delas.

Sua tática para não criar resistências desnecessárias é a de não discordar das pessoas antes de fazer perguntas e não as deixar constrangidas com questões coercitivas, complexas ou difíceis de serem respondidas.

Em uma situação de confronto, não imagino Renato Saes dizendo, por exemplo: você acha que sou ingênuo de concordar com suas imposições?

Com certeza, seu comentário seria diferente, mais diplomático, como por exemplo: vamos ver se consigo compreender bem os motivos da sua proposta.

Renato Saes não deixa uma conversa morrer. Sempre tem um jeito de motivar o bate-papo. Desenvolveu essa qualidade ainda lá em Bueno de Andrada, pois à noite, no banco da estação, se não tivesse conversa, acabava a diversão.

Por isso, para fazer uma conversa mudar de rumo, esticar um assunto ou levantar maiores detalhes dos temas discutidos usa como recurso algumas expressões como: 'e aí?'; 'estou entendendo'; 'e o que você fez?'; 'e então?'; 'como assim?'; 'por exemplo?'; 'e você teve receio?'; 'o que você teria feito se a resposta fosse negativa?'; 'vamos imaginar que tudo tivesse falhado'.

Com essas observações e questionamentos, ele demonstra interesse pelo assunto, estimula e realimenta a conversa. Dessa forma, possibilita, de maneira simpática e educada, que as pessoas se comuniquem com naturalidade e, no caso de estar negociando, que o tema vá ao encontro de seus objetivos.

Outra qualidade da comunicação de Renato Saes é a maneira eficiente como se vale da expressão corporal, especialmente da fisionomia.

Em certos momentos, ele faz pequenos movimentos com a cabeça para afirmar ou negar, em outros faz cara de espanto, depois inclina o

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corpo como se quisesse prestar mais atenção, mais à frente apoia o queixo na mão.

Quem é que não sente prazer em conversar com uma pessoa que dá tanta atenção e se mostra tão interessada?

Esse é o segredo do Renato Saes. Com essa habilidade de conversar, principalmente de saber ouvir com atenção o que as pessoas têm a dizer, sem esforços, ele vai cada vez mais ampliando seu relacionamento, realizando negócios e prosperando.

Você percebeu que todas as técnicas utilizadas por esse simpático conversador estão à sua disposição. Aprenda a contar histórias, saiba ouvir e dê atenção às pessoas. Com esses cuidados você desenvolverá uma conversa irresistível.

Cultive essas qualidades tão antigas quanto a própria história da humanidade e realize você também seus maiores sonhos de conquista.

Comece a treinar hoje mesmo com os amigos, familiares e colegas de trabalho. Depois entre na minha página ou mande um e-mail para me contar o resultado.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda a contar histórias interessantes • Ouça as pessoas com atenção • Aprenda a fazer perguntas • Considere todas as pessoas que estejam ao seu lado

43 43 43 43 ---- Ria das suas gafes Ria das suas gafes Ria das suas gafes Ria das suas gafes

Há muita gente encrenqueira que não consegue viver um instante

sequer sem arrumar algum tipo de confusão. Você deve conhecer algumas pessoas com esse jeitão briguento.

Olhou. Não gostou. Pronto. O circo já está armado. Na primeira oportunidade, o Zé Pimenta fecha o tempo e apronta o sururu.

Aprender a pegar leve e não levar tudo a ferro e fogo é uma arte que ajuda a manter o equilíbrio, a paz e a serenidade. E viver em paz conosco e com os outros é sinônimo de qualidade de vida.

Tão ruim quanto viver tirando satisfação para mostrar que só você sabe marchar e que os outros andam com o pé trocado é tentar se proteger e não permitir o mínimo deslize no próprio comportamento.

Certas pessoas ficam tão preocupadas em proteger a própria imagem que não percebem que essa atitude acaba por isolá-las, e até provocando insegurança e sofrimento.

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Há situações e situações. Se eu dissesse que você não deveria reagir ainda que uma pessoa o criticasse sem razão, mesmo estando certo, eu receberia uma montanha de e-mails indignados, já que o endereço da minha página está sempre no final dos meus textos para que os leitores possam se manifestar livremente e me conhecer melhor.

Por isso, vou me referir às críticas e observações que as pessoas possam fazer com fundamento, e as que você faz a si mesmo, censurando determinados comportamentos que julga inadequados no convívio social.

Vamos imaginar que alguém critique sua roupa, sua gravata, seu brinco, os aros dos seus óculos, sua dicção, ou seus erros gramaticais. Talvez ele tenha razão, talvez não.

Para assuntos dessa natureza, a pessoa tendo ou não razão, não vale a pena retrucar.

Ao invés de se defender apenas para tentar proteger sua imagem, provavelmente, seria mais conveniente ficar na sua e aceitar o comentário.

Talvez a crítica parasse por aí se você dissesse, por exemplo, que deveria ter optado por uma roupa mais apropriada, ou que achava também ser o momento de acabar com alguns deslizes gramaticais.

Espernear ou reagir a certos comentários inofensivos, apenas para proteger a imagem, e até sem ter razão, quase nunca é a melhor política. Ao contrário, além de não proporcionar nenhum benefício, pode deixar você ainda mais desgastado.

Aprender a rir dos seus próprios tombos, a zombar dos seus deslizes e a se divertir com suas gafes é um bom caminho para se tornar uma pessoa mais leve e cativante, que aceita a vida de forma mais tranqüila, sem aborrecimentos, com mais domínio do que ocorre à sua volta.

Veja o caso do Jô Soares. No início de seu programa, ele tem o hábito de contar algumas piadas. De vez em quando, entretanto, as piadas não se mostram lá muito interessantes.

No princípio, o insucesso da tentativa de humor deixava o entrevistador frustrado. Com o tempo ele descobriu que a solução para o problema estava no próprio problema.

Depois de contar a piada, se o público rir, ótimo, ele faz aquela carinha feliz de quem escolheu com bom gosto e inteligência uma ótima piada.

Se, entretanto, a plateia não reagir, de maneira habilidosa ele se junta ao grupo e critica o que acabou de falar: 'Essa não tem graça nenhuma'; 'e eu ainda tenho a coragem de ler uma besteira dessas'; ou simplesmente dá uma risada irônica debochando da própria atitude.

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Com essa autogozação, invariavelmente, arranca gargalhadas da plateia - mais até do que conseguiria se a piada tivesse sido engraçada.

Essa estratégia deixou o apresentador de televisão muito mais à vontade, pois passou a contar as piadas com maior desenvoltura, com a certeza de que, no final, o resultado é sempre positivo.

Outro ótimo exemplo foi dado por George W. Bush. Depois de assumir a presidência dos Estados Unidos ele usou e abusou das escorregadelas gramaticais e das impropriedades lingüísticas.

Foram tantos os erros cometidos que, em pouco tempo de governo, publicaram um livro com seus deslizes. A obra de Jacob Weisberg tem o título 'George W. Bushisms', que em bom português significa Bushismos de George W.

O livro contempla pérolas como esta: 'Mais e mais nossas importações vêm do exterior'. Cá entre nós, é preciso ser um 'gênio' para saber que as importações vêm do exterior!

De maneira habilidosa, ao invés de tentar se explicar e se defender, juntou-se ao grupo e passou a rir das próprias gafes. Por exemplo, durante o jantar na Associação dos Correspondentes de Rádio e Televisão, que se realiza anualmente em Washington, ele não hesitou em fazer coro com o livro que aponta suas impropriedades:

'Eis aqui uma do livro - e eu de fato disse isto (risos): 'Sei que seres humanos e peixes podem coexistir pacificamente (risos)'. Isso dá o que pensar (risos e aplausos). Qualquer um pode fazer uma sentença coerente, mas uma como esta leva a uma dimensão totalmente nova (risos)'

E assim, lendo suas frases, Bush divertiu a plateia e se divertiu com ela. Quem poderia criticá-lo se ele mesmo tomou a iniciativa de fazer a autogozação?!

No final, aproveitou o momento de descontração e deixou para a plateia a mensagem que desejava:

'Não penso que seja saudável levar-se muito a sério. Mas levo muito a sério minha responsabilidade como presidente de todo o povo americano. É o cargo que ocupo. E foi isto que vim dizer-lhes esta noite. Obrigado por me considerarem, e obrigado por sua 'horspitality' (sem tradução - risos e aplausos).' (Frank Bruni, do jornal 'The New York Times')

Observe que a autocrítica e a autogozação são excelentes recursos para cativar as pessoas, pois demonstram que você não é guiado pela vaidade e que não vive se policiando com atitudes defensivas.

Note, entretanto, que nos exemplos mencionados as pessoas utilizaram o recurso da autogozação com inteligência. Jô Soares passou a

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criticar as piadas sem graça que contava como um meio de evitar o constrangimento e conquistar a simpatia do público.

Bush tomou a iniciativa de brincar com seus erros porque já tinham sido divulgados, publicados e por isso mesmo eram muito conhecidos. E aproveitou a circunstância para reafirmar que achava importante não se levar muito a sério, mas que agia com muita seriedade nas suas funções como presidente dos americanos.

Quando alguém der uma sugestão ou fizer uma crítica, procure não se justificar ou dar explicações - apenas agradeça. A maioria, quando recebe uma sugestão ou crítica, independentemente de a pessoa ter ou não razão, começa a se justificar e tentar dar explicações. Cuidado, pois pode passar a ideia de insegurança e tirar a liberdade para que os outros continuem ajudando.

O recurso é muito bom. Tome sempre cuidado, entretanto, para não exagerar na medida, transformando-se em verdadeiro arauto das suas imperfeições.

Nada de dizer sem necessidade, por exemplo, que de manhã tem muita dificuldade para funcionar e que, neste período, se tiver que fazer algo importante, precisa pegar no tranco.

Também não deve revelar gratuitamente que tem dificuldade para raciocinar, que se acha meio burrinho, preguiçoso, lerdo, desorganizado, impontual, dorminhoco e tantos outros adjetivos que só contribuirão para desgastar sua imagem.

Essas atitudes não são sensatas e podem comprometer sua reputação. A não ser, conforme vimos, que o fato seja muito conhecido e que por isso não haveria possibilidade de ocultá-lo.

Ao tomar a iniciativa de se criticar, lembre-se sempre de aproveitar a oportunidade para valorizar alguns outros aspectos das suas atividades ou da sua personalidade.

Assim, com inteligência, sensatez, habilidade, você poderá não se levar tão a sério e ter uma vida muito mais descontraída.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda a contar histórias interessantes • Brinque com suas características físicas • Ria dos seus próprios deslizes • Ironize as gafes que cometer • Concorde com críticas inofensivas, mesmo que infundadas • Recomende este texto a alguém que vive se justificando

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44 44 44 44 ---- Quebre as regras Quebre as regras Quebre as regras Quebre as regras Faça isso. Não aja assim. Essa atitude está errada. Esse

comportamento está incorreto. Não pode. Não deve. Não está certo. Não, não, não e não.

O que não falta é gente dizendo o que pode e o que não deve ser feito. São pessoas que cristalizam e impõem regras como se fossem dogmas.

Precisamos ficar atentos a esses conceitos engessados e tomar cuidado com as regras. Temos de desconfiar das cartilhas que os 'especialistas' querem nos impor.

Às vezes nos tornamos presas fáceis dessas imposições autocráticas porque nos sentimos protegidos com a posse de algumas regrinhas. Com elas temos a sensação de que não correremos o risco de errar e a certeza de que assim não seremos criticados, o que nos dá mais confiança no momento de falar, especialmente diante de uma plateia.

Até aí tudo bem. Sentir segurança para falar em público é o que mais precisamos e desejamos na comunicação. Concluir, entretanto, que se essas regras não forem seguidas e adotadas sempre estará tudo errado é uma grave distorção.

Parece incrível, mas há pessoas que deixam de fazer curso comigo porque têm a noção equivocada de que se submeterão a um treinamento que lhes obrigará a agir dentro de padrões rígidos e determinados.

Não são poucos aqueles que no final do curso se surpreendem ao constatar que aprenderam a falar bem explorando apenas seu próprio potencial, preservando suas características. É comum confessarem que estavam totalmente enganados com suas ideias preconcebidas.

De vez em quando, um orador interrompe sua apresentação para dizer que seria censurado se o professor Polito estivesse na plateia porque está falando com a mão no bolso ou apoiado na tribuna.

E mesmo quando estou presente não apalpam. Dizem que eu devo estar me revirando na cadeira por causa do seu comportamento.

Até sei por que fazem esse tipo de comentário. Primeiro, porque alguns têm uma ideia embaçada do que seja o ensino da arte de falar bem nos dias de hoje. Depois, porque querem mostrar que não se submetem às regras e que são ótimos comunicadores mesmo sem terem recebido nenhum tipo de orientação.

O que esses oradores, provavelmente, não sabem é que há mais de 30 anos ensino os meus alunos a falar preservando exatamente esse comportamento natural e espontâneo. Se você ler o texto que publiquei

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aqui mesmo no UOL vai verificar que para mim a melhor de todas as técnicas da comunicação é a naturalidade.

A regra na comunicação verbal deve servir para ajudar, nunca para atrapalhar ou escravizar o orador. Garanto: se você tiver dificuldade para usar uma regra, ou ela não é boa, ou não é apropriada para o seu estilo. Regra boa é essa que você já traz com o que aprendeu ao longo da vida.

Portanto, falar de vez em quando com as mãos nos bolsos, ou com os braços nas costas, ou debruçado sobre a tribuna, desde que por pouco tempo, de maneira natural, sem demonstrar que se comporta assim por inibição, desconforto ou hesitação, não só não constitui erro, como pode ser uma atitude recomendável.

Outro exemplo conhecido é a censura que se faz ao uso do palavrão e da gíria. Falar palavrão ou usar gíria é uma atitude condenável na maioria das situações. Observe que eu disse 'na maioria das situações', e não que seja condenável sempre. Você já deve ter visto pessoas transgredindo essa regra e mesmo assim encantando os ouvintes e conquistando sucesso.

Ao contar uma piada diante dos mais próximos, como amigos e familiares, o palavrão e a gíria poderão até fazer parte da boa comunicação. Dependendo da maneira como você se comporta, mesmo diante do público esse palavreado poderá não ser tomado como vulgar. Tudo dependerá do seu estilo, do seu charme e da circunstância que cerca sua apresentação.

Apenas para ajudar a refletir sobre o perigo das regras, vamos analisar o exemplo das apresentações com apoio de projetores. O manual do orador diz: não se deve passar na frente do aparelho de projeção.

É evidente que se você transitar muitas vezes na frente da projeção poderá prejudicar a concentração dos ouvintes. Entretanto, se você agir assim de vez em quando, não apenas não estará cometendo falha, como poderá ajudar a reconquistar a atenção da plateia.

Como o pensamento trabalha numa velocidade quatro vezes mais rápido que a capacidade de pronunciar as palavras, depois de alguns minutos, os ouvintes tendem a se distrair e desviar a atenção do orador. Ao passar na frente do aparelho de projeção, você poderá quebrar o foco de atenção que ficou viciado e recuperar a concentração do público.

Citei apenas alguns exemplos para que você possa pensar sobre a conveniência de seguir ou não determinadas regras que são repetidas à exaustão.

Observe os grandes oradores. Não existe nenhum igual ao outro. Eles não se submetem às mesmas regras. Tornaram-se extraordinários também

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porque conseguiram encontrar seu próprio estilo e ousaram contrariar algumas dessas imposições.

O responsável pelo sucesso ou fracasso da sua apresentação será sempre você mesmo. Por isso, só acate uma regra se concluir que ela será realmente útil. Se julgar que seguindo um caminho próprio terá melhor resultado, ainda que contrarie qualquer orientação recebida, assuma a responsabilidade e vá em frente.

Se ficar em dúvida sobre a conveniência de quebrar ou não uma regra, não hesite em me escrever. Terei prazer em ajudá-lo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda todas as boas regras da comunicação • Abandone uma regra se julgar que assim terá melhor resultado • Adote apenas as regras que se adaptem ao seu estilo • Desconfie de todas as regras, mesmo daquelas já consagradas

45 45 45 45 ---- O que você lucra tendo bom relacionamento O que você lucra tendo bom relacionamento O que você lucra tendo bom relacionamento O que você lucra tendo bom relacionamento

Um dos patrimônios mais preciosos que podemos ter são as pessoas

que conhecemos e com as quais nos relacionamos. Seja você quem for, esteja onde estiver, se investir parte do seu tempo

e da sua energia conhecendo pessoas e se relacionando com elas, abrirá portas que poderão levá-lo à realização de tudo o que desejar.

Há pouco tempo fui convidado para uma conversa com os diretores da Fecap, a mais tradicional faculdade de economia do país e uma das melhores escolas de Administração de Empresas do Brasil.

O objetivo do encontro foi o de me entregar um exemplar da revista comemorativa do centenário da instituição e dizer que eu fora um dos ex-alunos citados na edição.

Fiquei emocionado ao atravessar a porta da faculdade. Eu voltava para aquela instituição de ensino como um convidado. Afinal, para concluir os dois cursos superiores, de Ciências Econômicas e de Administração de Empresas, tive de superar muitos desafios.

Com dinheiro contado, que mal dava para pagar a pensão e a mensalidade escolar, muitas vezes fui obrigado a ir do trabalho para a faculdade sem comer e pendurado na porta dos ônibus. Por isso, me emocionei ao retornar àquele local após 32 anos.

Vendo a minha foto tomando quase uma página inteira comecei a rir. Um dos diretores me perguntou o que havia de engraçado naquela

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matéria, se era algo relacionado com o tempo em que freqüentei aqueles mesmos bancos escolares.

Contei a ele rapidamente a história. Eu era bastante jovem quando saí de Araraquara, onde nasci e fui criado, e rumei para a capital de São Paulo tentando a transferência de faculdade. Entretanto, cheguei atrasado e bati com o nariz na porta, pois as inscrições já estavam encerradas.

Depois de ouvir do próprio secretário da faculdade que para aquele ano não havia nenhuma possibilidade de transferência, fiquei resignado e consciente de que só me restava pegar a mala e retornar.

Mauro Eid, que era o pai da minha namorada, trabalhava no Citibank e, por causa da sua atividade profissional, tinha um bom relacionamento com o gerente-geral da Arthur Andersen, Renato Costivelli. Um dia me convidou para ir com ele visitar o amigo na empresa de consultoria, que ficava no centro velho de São Paulo.

Costivelli nos recebeu muito bem e disse que já no ano seguinte poderia me contratar como estagiário. Aquela notícia que deveria ser motivo de alegria me deixou ainda mais desapontado. Afinal, sem a transferência para a faculdade eu não poderia ficar na Capital e perderia também a chance de estágio.

Enquanto eu comentava com ele sobre a impossibilidade de me matricular, um dos sócios da empresa, descendente de orientais, entrou na sala e ficou ouvindo nossa conversa. No final, Costivelli olhou para o sócio e perguntou: e aí, você pode fazer alguma coisa pelo garoto?

Sem hesitar, ele tirou um cartão de visitas do bolso do paletó e me disse: 'Sou professor da faculdade há muitos anos e temos um ótimo relacionamento. Entregue este cartão ao Pardini e diga

que eu pedi para atendê-lo'. O próprio Pardini, que era o secretário da escola, havia dito que o

período de transferências estava encerrado. Por isso, foi sem nenhuma esperança que peguei o cartão e agradeci ao seu gesto simpático. Sem ter o que perder, voltei à faculdade e entreguei o cartão ao secretário.

Pardini ficou uma onça de bravo e subiu pelas paredes. Sem olhar para mim começou a praguejar enquanto andava de um lado para o outro da sala com o cartão de visitas na mão: esses caras querem me matar. Como é que eu posso abrir a matrícula para você se não existe mais nenhuma vaga? E ironizando, com os olhos voltados para o teto, falava entre os dentes: só se eu enfiar você num canto desta secretaria.

No final, para grande surpresa minha, ele abriu um largo sorriso e me disse: será um prazer recebê-lo na nossa faculdade. Não posso dizer não a um pedido como este.

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Eu saí de lá tão atordoado que fiquei um tempão sentado na calçada tentando entender o que ocorrera. Nem sabia o nome do sócio do Costivelli que havia resolvido o meu problema. Aprendi muito cedo, entretanto, que ser bem relacionado vale tanto quanto o conhecimento que adquirimos ao longo da vida.

Mauro Eid conhecia o Renato Costivelli, que conhecia seu sócio e professor da faculdade, que conhecia o Pardini e por causa desse relacionamento resolvi um problema que mudou totalmente meu destino.

Hoje, mais que nunca, se torna ainda mais importante ter uma extensa rede de contatos para o sucesso da carreira e da projeção social. Ser bem relacionado significa abrir portas para uma vida mais descomplicada, mais fácil, melhor.

Por isso, saia da toca, circule, conheça gente nova, resgate velhos contatos, vá a lugares onde possa ver e ser visto por pessoas interessantes. Amplie suas amizades.

Mesmo que você não conheça pessoas que saibam como resolver determinada questão, com um relacionamento mais extenso, as chances de que alguém abra as portas certas se ampliam.

Não perca a oportunidade de participar dos eventos que envolvem profissionais ligados à sua atividade. Você só terá benefícios e multiplicará suas chances de conhecer novas pessoas e de reencontrar velhos amigos.

Reforce a quantidade de cartões de visita e acrescente novos nomes na sua agenda de endereços e telefones. Amplie suas possibilidades de ver e ser visto.

Falando em cartões de visitas, não existe nada mais prático e eficiente do que esse antigo recurso para estreitar o relacionamento. Por isso, ande sempre com um bom estoque deles na carteira.

Nem preciso dizer que deve tomar cuidado para não sair por aí distribuindo cartões como se fossem panfletos publicitários. Eles devem ser entregues com critério e bom senso, isto é, quando o contato com a pessoa for mesmo efetivado.

É desagradável quando uma pessoa transita por um evento distribuindo cartões a qualquer um que passe pela sua frente. Às vezes a falta de critério é tamanha que alguns chegam a entregar mais de um cartão para a mesma pessoa. Essa atitude ao invés de aproximar acaba afastando as pessoas.

Alguns contatos são tão importantes que vale a pena dedicar a eles atenção especial. Por exemplo, antes de entregar o cartão, anotar a mão no verso o número do seu celular ou da sua residência. Essa atitude será uma demonstração de como você considera a pessoa.

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Aproveite o verso do cartão para registrar depois do encontro tudo o que souber a respeito da pessoa. Escreva especialmente o nome de quem a apresentou a você e o local onde se conheceram.

Guardar o nome das pessoas também é fundamental para se relacionar bem. Se quiser saber mais sobre cartões de visitas e como guardar o nome das pessoas, clique aqui e leia o texto que escrevi sobre esse assunto.

O e-mail pode ser um poderoso aliado para ampliar e estreitar relacionamentos. Logo depois de ter conhecido uma pessoa, procure encontrar um motivo para mandar um e-mail a ela. Redija uma mensagem simples e curta, apenas para marcar presença e fazer com que ela não se esqueça de você.

Para não parecer uma atitude invasiva, durante a conversa avise que enviará um e-mail dando algum endereço ou complementando algum tema que tenha surgido naquele momento. Assim, ao receber sua correspondência a pessoa entenderá como uma iniciativa natural, já que você estará cumprindo uma promessa feita.

Você precisa ser sincero. Ter bom relacionamento não significa manter contato com pessoas para se aproveitar do fato de conhecê-las. Para que um relacionamento seja interessante é preciso existir uma troca, em que você e a pessoa com a qual passou a manter contato se sintam à vontade para continuar conversando, correspondendo-se e apresentando novas pessoas que conheçam.

Procure ser útil às pessoas que conhecer, pondo seus contatos e informações à disposição delas. Pode ter certeza de que os outros procurarão fazer o mesmo por você.

Não existe nada mais repulsivo do que perceber que uma pessoa só se aproximou tentando estreitar o relacionamento para levar algum tipo de vantagem. Agindo com transparência e sinceridade, se no futuro um precisar da ajuda do outro, naturalmente o auxílio será prestado.

Conhecer e se relacionar com outras pessoas sem 'segundas intenções' proporciona alegria incomparável. Você ficará surpreso ao verificar como a vida se torna mais interessante e as possibilidades de novos projetos surgem com maior facilidade. Não custa nada, dá muito prazer e é extremamente motivador.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Conheça pessoas e estreite relacionamentos consistentes • Circule por locais onde possa encontrar pessoas interessantes • Compareça a eventos ligados à sua atividade profissional • Use o cartão de visita e o e-mail para se aproximar mais das

pessoas • Seja sincero nos contatos que mantiver

46 46 46 46 ---- Enfrente as agressões verbais cam Enfrente as agressões verbais cam Enfrente as agressões verbais cam Enfrente as agressões verbais camufladasufladasufladasufladas

Se ao conversar você sentir no ar uma agressão velada, avalie bem a

circunstância antes de reagir. Tome cuidado porque as agressões verbais camufladas podem ou ser ou não intencionais, e se você interpretar mal, além de vítima talvez se transforme também no bandido da história.

Com algumas variações a história tem um roteiro mais ou menos semelhante. A pessoa o trata bem, com gentileza, de maneira muito simpática, mas algum detalhe na conversa do interlocutor o deixa desconfortável. Pode ser o tom de voz, algumas expressões usadas nas entrelinhas, o olhar, ou outro indicador que você capta até de forma inconsciente.

Freud disse que o nosso inconsciente pode receber a mensagem transmitida pelo inconsciente da outra pessoa, sem que a informação passe necessariamente pelo nosso consciente. Ou seja, nem quem transmitiu a mensagem, nem quem a recebeu estão sempre conscientes desse processo da comunicação.

Há situações, entretanto, em que a pessoa passa a informação agressiva de forma consciente, mas teatraliza, interpreta um comportamento, como se quisesse transmitir uma mensagem diferente.

De qualquer maneira, a pessoa tendo ou não consciência de que a comunicação dela é agressiva, você não se sente bem, e, quase sempre, tem dúvidas de como deveria agir.

A agressão verbal camuflada pode ocorrer quando menos se espera e todos estamos sujeitos a ela nas situações mais imprevisíveis: em nossa casa, no relacionamento com amigos ou no ambiente de trabalho.

Embora a agressão explícita seja indesejável em qualquer circunstância, como nós a identificamos com facilidade, podemos decidir sobre a conveniência de nos defendermos ou não.

Por outro lado, a agressão velada não nos permite a mesma atitude, pois apenas nos sentimos ofendidos e ficamos impotentes, ou por não

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percebermos o fato de maneira consciente, ou por notarmos a intenção da outra pessoa, mas devido à sutileza da sua atitude ficamos sem reação.

Nesta semana vou discutir as características da agressão verbal camuflada não intencional e mostrar algumas atitudes para combatê-la. Na próxima semana vou tratar da agressão camuflada intencional.

A agressão verbal camuflada não intencional talvez seja a mais complexa e delicada de todas as situações, porque não há intenção de a pessoa agredir. Na verdade, até quisesse mesmo elogiar, mas suas palavras, se não nos ofendem, nos deixam o sentimento de que fomos desconsiderados.

Veja o exemplo maravilhoso deixado pelo meu querido e saudoso amigo Blota Júnior, o melhor orador e dos mais competentes apresentadores de televisão que conheci. Devo muito do sucesso do meu livro 'Como falar corretamente e sem inibições' ao prefácio que ele fez à obra.

Quando já estava fora da telinha, ao participar como convidado de um programa de televisão a apresentadora o elogiou muito. Entretanto, ao lhe entregar de presente uma caneta disse gentilmente esperar que ele a usasse para assinar um contrato que o colocasse novamente na televisão, qualquer que fosse a emissora.

A saia justa de Blota estava costurada. A apresentadora o elogiava de forma sincera, amável e verdadeira, mas, nas entrelinhas, sem perceber, dava a entender, na verdade, que ele estava desempregado e que a televisão não tinha interesse em seu trabalho.

Se, por um lado, ele não tinha como recusar elogios tão simpáticos e amigos, por outro, não se sentia considerado com as palavras que acabara de ouvir. Sem magoar a apresentadora que havia sido tão amável, precisaria dar uma resposta mostrando que aquela informação não correspondia à realidade.

Veja com que habilidade o grande orador usou a comunicação para contornar de maneira eficiente a posição difícil em que se encontrava:

'Se eu tivesse a capacidade de resistir à emoção, mas acho que já não a tenho, poderia dizer que você, com esse coração tão grande, tão alto, tão generoso, está sempre procurando ajudar os seus semelhantes. Eu a conheço a muitos anos, desde que começou a trabalhar na televisão e nos tornamos grandes amigos.'

Depois desses elogios iniciais, em que demonstrou a amizade e a admiração pela apresentadora, deu a resposta genial:

'Eu diria um pouco poeticamente que, no momento em que estou, a televisão brasileira já não tem tanto interesse na minha participação. O

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fato é que, com a minha idade, já penetrei no que chamo as doces penumbras de outono.

Estou naquele momento em que, no outono, no crepúsculo, as árvores vão perdendo um pouco das suas flores, das suas folhas, mas adormecem muito tranqüilamente, certas de que já cumpriram toda a sua finalidade.

Já hospedaram pássaros que nelas fizeram seus ninhos, já floriram e já enfeitaram as paisagens, já deram frutos e, portanto, alimentaram apetites. Enfim, cumpriram dignamente essa missão.

As suas raízes estão fundadas. Elas pertencem a essa paisagem e não precisam necessariamente retornar à atividade do passado para se sentirem certas de que um dia na vida puderam e souberam cumprir a sua missão.'

Assim, sutil, com inteligência e diplomacia, Blota Júnior conseguiu discordar, sem demonstrar nenhuma contrariedade.

Em circunstâncias semelhantes essa é a melhor atitude: retribuir o elogio e, com simpatia, sem demonstrar que se sentiu agredido, dar a versão do fato para poder preservar e elevar sua imagem.

Agora uma sugestão especial a quem vai fazer uma defesa oral, seja de um TCC, seja de uma dissertação de mestrado ou de uma tese de doutorado. Cuidado com suas reações diante da banca examinadora.

Lembre-se de que o componente da banca não está ali para prejudicá-lo. Portanto, não responda às indagações dele de maneira agressiva, como se estivesse se defendendo. Por mais inadequada que seja a observação, responda com respeito e consideração.

Ao invés de dizer: o senhor não entendeu direito o que eu quis dizer. Prefira utilizar essas ou outras palavras semelhantes: muito obrigado

pela sugestão. Vou procurar considerar esse ponto em um próximo trabalho. Com relação a esse aspecto procurei analisar o...

Essa forma mais 'diplomática' de discordar evitará que o avaliador tenha um comportamento hostil com relação a você ou ao seu trabalho, sem necessidade.

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SUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SEMANAMANAMANAMANA • Analise se em suas conversas não está sendo agressivo sem

intenção • Antes de reagir, observe se a pessoa teve mesmo intenção de

ofendê-lo • Verifique se não ficou ofendido por se lembrar de outro

assunto alheio à conversa • Responda à agressão não intencional apenas para esclarecer os

fatos

47 47 47 47 ---- Não leve desaforo para casa Não leve desaforo para casa Não leve desaforo para casa Não leve desaforo para casa Na semana passada falei sobre as agressões verbais camufladas não

intencionais, hoje vou falar da agressão verbal intencional indireta. Nome pomposo para explicar uma das variações do olho gordo.

A agressão verbal indireta ocorre a partir da apropriação de discursos de terceiros. É até muito fácil perceber que o interlocutor tem intenção de agredi-lo, mas como ele apenas transmite a crítica feita por outra pessoa, não é tão simples adotar uma defesa eficiente.

Por exemplo, alguém diz que está chateado e até meio sem jeito de contar o que tem ouvido sobre você. Aproveitando o mesmo tom de voz consternado, não perde a chance de dar umas pinceladas com tintas mais fortes no comentário.

Pelo fato de a crítica ter sido feita por outras pessoas, você se sente chateado e meio impotente para reagir. Uma reação normal seria a de demonstrar que ficou contrariado e passar a se defender da agressão anônima.

Essa seria uma péssima atitude, já que talvez esse tal crítico nem exista, e se existir, provavelmente possui uma fisionomia muito diferente do monstro que acaba de ser desenhado.

Esse é o momento ideal para praticar o velho conselho de contar até dez antes de reagir. Uma boa saída antes de rodar a metralhadora é perguntar com firmeza, mas demonstrando sempre calma e serenidade, quem fez o comentário e em que circunstância ele ocorreu.

Independentemente de como a resposta seja dada, a tática deve ser a de atenuar o fato minimizando a intenção do autor da crítica ou justificando a atitude pela circunstância em que ela foi feita.

Para minimizar a intenção do autor da crítica, você poderá ponderar, por exemplo, que ele tem passado por períodos delicados, pois está desempregado, ou não obteve a promoção que esperava, ou foi deixado

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pela esposa ou pelo marido, ou qualquer outra informação que não seja novidade para ninguém.

Para justificar a atitude pela circunstância em que a crítica foi feita, você poderia dizer que, em situações como aquela, as pessoas agem sem pensar, sem terem muita consciência do que estão dizendo.

Se você tiver esse tipo de ação, a pessoa que o está agredindo com o uso de palavras de terceiros talvez fique desnorteada e sem saber como continuar, já que ela sentirá que o intento dela fracassou.

Por outro lado, se a pessoa não souber dizer quem fez a crítica, ou por alegar que não o conhece, ou porque ele na verdade não existe, e usa as palavras de terceiros apenas com a intenção de agredi-lo, a melhor reação é dizer, com a maior sinceridade possível que esse tipo de comentário não o incomoda.

Dependendo da circunstância, se sentir que o momento é favorável, para não levar desaforo para casa, poderá dizer ainda que se alguém perde tempo para fazer fofoca pelas costas, é porque deve estar atacado pela inveja ou atormentado por uma crise de auto-estima.

Agindo assim você dá um belo troco nessa cobra peçonhenta. O melhor da história é que a pessoa terá de engolir o desaforo, pois você não a está censurando diretamente, mas sim se referindo àquele que ela disse ter feito a crítica. 'Touché'!

Um parente próximo dessa agressão verbal indireta é o respaldo da autoridade. Talvez seja mais comum ainda que a anterior. Trocando em miúdos, é o seguinte: a pessoa se vale de uma afirmação feita por outro, quase sempre por uma autoridade no assunto, quando, na verdade, ela mesma é quem deseja fazer a crítica.

Vamos imaginar que ela queira descer o pau na decoração verde-azulada da sua sala de visitas. Como não seria adequado fazer a crítica diretamente, ela diz que o renomado arquiteto Pedrinho Língua Solta comentou, no último workshop sobre a arte e o bom gosto na decoração de interiores, que o verde deveria ficar longe das salas de visita.

É evidente que a opinião é dessa pessoa com quem você está conversando. Provavelmente o arquiteto jamais tenha dado qualquer informação sobre pinturas de salas de visita. Entretanto, ela usa o nome da autoridade para dar peso a própria opinião e esconder o fato de estar pessoalmente fazendo a crítica.

Se notar que existe essa intenção camuflada, apenas desconverse, dizendo, por exemplo, que esses profissionais não entram mesmo em acordo e que cada um possui opinião diferente dos outros.

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Ah, e, por favor, mantenha distância desse tipo de gente. Assim que ela aparecer, coloque uma vassoura com a piaçava voltada para cima e encha de sal grosso. É tiro e queda para espantar olho gordo.

Dei esses exemplos mais caseiros, mas o procedimento é o mesmo na vida corporativa. Na verdade, esse tipo de agressão velada intencional ocorre principalmente no relacionamento profissional, onde a concorrência e a disputa por espaços são maiores.

Na próxima semana vamos ver outro tipo de agressão verbal camuflada. Aquela que a pessoa chega com a voz suave, mas destilando fel por todos os poros. Até lá.

Se você tiver alguma história sobre esse tipo de agressão, entre no endereço da minha página que está embaixo do texto e me conte.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Se perceber que a pessoa tem intenção de agredi-lo de forma indireta, não reaja

• Atenue a situação do pseudo-agressor, justificando a atitude dele

• Minimize a força da crítica pela circunstância em que ocorreu • Se a pessoa usar a autoridade de outro para criticar,

desconverse • Afaste-se de quem faz críticas indiretas. Eles dificilmente

endireitam

48 48 48 48 ---- As palavras agridem com voz de veludo As palavras agridem com voz de veludo As palavras agridem com voz de veludo As palavras agridem com voz de veludo A pessoa que fala com você tem a voz meiga, suave, pausada, mas as

palavras ferem como se fossem um punhal afiado. Como se defender de gente que se aproxima com a intenção de agredir, mas esconde suas garras de tal forma que nem a própria vítima consegue perceber?

Nas últimas semanas tenho me dedicado a tratar das agressões verbais camufladas. Falei inicialmente da agressão verbal camuflada não intencional, situação em que a pessoa, até querendo elogiar, sem querer acaba por agredir o interlocutor.

Em seguida abordei os aspectos mais relevantes da agressão verbal intencional indireta, onde a pessoa, com intenção de agredir, se esconde no discurso de um terceiro para passar a mensagem que deseja.

Em cada caso, dei sugestões de como poderíamos nos comportar. Sabendo que esta é uma questão que está presente na vida de muita gente, pedi que os leitores entrassem no meu site, que está no final do texto, e me

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contassem suas experiências. A resposta foi impressionante. Recebi e-mails até do exterior.

Hoje vou tratar de um tipo de agressão verbal camuflada mais sutil, mais difícil de ser identificado e que exige experiência e traquejo para ser contornado. Talvez você até tenha enfrentado situações como essa sem entender bem por que se sentiu tão desconfortável.

A pessoa fala com aquela vozinha meiga, doce e aveludada. Aos poucos, entretanto, vai destilando o veneno que demora a ser sentido. Sem que possamos perceber, já estamos contaminados e nos sentindo agredidos.

Às vezes a conversa que gerou a agressão é tão velada, tão disfarçada, que em determinadas circunstâncias só conseguimos nos dar conta de que a intenção da pessoa era nos agredir depois de muito tempo. Fazemos essa constatação quando já estamos sozinhos, procurando entender a causa daquele sentimento negativo.

O primeiro sintoma é o de um desconforto que vai se transformando em sentimentos que nos deixam atormentados, como a ideia de inferioridade, fracasso, incapacidade e insegurança.

A pior reação ao perceber que estamos sendo agredidos seria a de revidarmos ao ataque de maneira veemente, pois perderíamos o papel de vítimas e passaríamos a ser os agressores. A pessoa que agride com fala mansa e voz suave, de forma geral não altera seu comportamento e se delicia ao verificar que conseguiu irritar e tirar o equilíbrio do outro.

Você poderia questionar: Polito, mas não seria mais simples mostrar à pessoa que percebemos a sua intenção de nos agredir e sugerir que ela fosse procurar a turma dela ou plantar batatas? Ficar constrangido em posição defensiva não é a identificação de uma personalidade frágil e vulnerável?

Teoricamente, sim. Mas nem sempre é tão simples desmascarar o agressor. Lembre-se de que a pessoa se comporta como se a conversa fosse a mais amigável e natural possível. Ela não terá nenhuma dificuldade para dizer que você está enganado. E não há forma de você dizer o contrário.

A melhor saída para situações delicadas como essa é fingir não ter percebido a agressão e conversar normalmente, como se nada estranho estivesse ocorrendo. Ao notar que não está conseguindo seu intento, a pessoa poderá ficar desmotivada a continuar.

Por exemplo, quando um casal briga, os filhos e as outras pessoas da família tendem a apoiar o cônjuge que se comportou de maneira mais suave e equilibrada e a condenar aquele que gritou e agiu com atitude destemperada.

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Ocorre que aquele que falou mais alto e esbravejou talvez estivesse apenas revidando aos ataques que recebeu a partir de agressões que foram feitas com sutileza, de maneira suave e aparentemente gentil.

Observe que em algumas brigas de casais é o que acontece: a vítima dos ataques acaba se transformando em agressora. Por causa dessa atitude, perde a razão e a solidariedade dos outros.

Também nesse caso vou passar a mesma sugestão que tenho dado para enfrentar as pessoas que atacam com agressões verbais camufladas - mantenha distância. Elas não têm escrúpulos e fazem tudo o que podem para prejudicá-lo.

Se você for obrigado a se relacionar com pessoas que agem dessa forma, por fazerem parte da sua família ou conviverem no ambiente de trabalho, procure conversar com elas em situações normais, quando não estejam tentando agredi-lo. Provavelmente elas dirão que você está enganado, mas saberão que o truque foi descoberto. Talvez funcione.

Não perca a oportunidade de esclarecer essas situações delicadas, especialmente quando estiverem prejudicando seu relacionamento com as pessoas com as quais precisa conviver. Se desejar saber como deverá se comportar nessas circunstâncias reveja o texto 'Aprenda a dizer não'.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Procure não revidar com violência quando sentir uma agressão velada

• Faça de conta de que não entendeu que a pessoa desejava agredi-lo

• Tente se afastar das pessoas que agridem com palavras suaves • Esclareça as agressões verbais só quando puder conversar

tranquilamente

49 49 49 49 ---- A arte de puxar tapetes na vida corporativa A arte de puxar tapetes na vida corporativa A arte de puxar tapetes na vida corporativa A arte de puxar tapetes na vida corporativa Algumas expressões sutis, inseridas de maneira estratégica ao longo de

um comentário, podem boicotar suas ideias e puxar seu tapete. Veja como funciona e algumas formas de se defender.

Vamos supor que você seja o responsável pelo desenvolvimento de um projeto e que, depois de se dedicar semanas ou meses à sua elaboração, fosse apresentá-lo para a apreciação de um diretor.

Suponha, ainda, que, pela função exercida, ele tivesse a obrigação de receber o trabalho e discutir com os demais membros da diretoria a

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possibilidade de implantá-lo. E vamos imaginar também que ele não desejasse a sua aprovação.

Ele poderia prejudicar as possibilidades de sucesso da sua nova ideia, e jogar no lixo o resultado do esforço de toda a equipe envolvida no processo, fazendo apenas um comentário aparentemente ingênuo e não intencional.

Se ele dissesse, por exemplo, que reconhecia o fato de o projeto ter demandado grande esforço de muitos profissionais e que 'teoricamente até poderia' dar resultado, estaria usando de maneira sutil uma expressão que talvez atuasse como objeção ao plano apresentado.

A expressão 'teoricamente até poderia', em circunstâncias como essa que exemplificamos, possui sentido pejorativo e pode induzir à conclusão de que, se é teórico, talvez na prática não funcione.

Como nem sempre é recomendável estabelecer confronto e medir forças com o chefe, a solução para casos como esse é fingir que não entendeu a intenção do 'boicote' e reforçar a linha de argumentação, enfatizando os aspectos sólidos e práticos do projeto.

Veja outro exemplo em situação totalmente diversa. Há algum tempo estava assistindo a um programa de televisão e percebi que dois profissionais sutilmente trocavam farpas, embora a aparência fosse de perfeita cordialidade.

Em determinado momento, após um deles fazer brilhante explanação de um tema comportamental, o entrevistador perguntou ao outro profissional o que ele achava daquele assunto. Antes de dar sua opinião sobre a questão, ele fez um comentário sobre a exposição do colega dizendo que, em parte, estava de acordo com o que acabara de ouvir.

Observe que, ao dizer que concordava 'em parte', de maneira sutil demonstrava que não comungava com as ideias do colega. E o pior de tudo é que, em seguida, ao dar sua opinião com outras palavras, disse exatamente o que já havia sido exposto pelo outro entrevistado.

Atenção, portanto, ao uso dessas expressões, pois, dependendo da maneira como são usadas e da entonação como são pronunciadas, poderão funcionar como verdadeiro veneno para o sucesso da sua causa.

Nessas circunstâncias, a melhor saída é, mais uma vez, ignorar a intenção velada de prejudicá-lo, e demonstrar que ficou feliz com o comentário, complementando que tinha certeza de que uma pessoa bem preparada e inteligente como ele iria mesmo concordar com seu ponto de vista, eliminando, assim, a força implícita da objeção.

Cuidado, entretanto, para não começar a ver fantasmas em todas as situações, imaginando sempre que alguém está querendo puxar seu tapete.

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Use o bom senso e aprenda a identificar, principalmente pelo tom da voz, quais são as verdadeiras intenções do interlocutor.

Se quiser compartilhar comigo suas experiências sobre esse assunto, entre no endereço da minha página que está embaixo e me escreva.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda a identificar quando as expressões sutis funcionam como objeção

• Finja não entender a sutileza da expressão e use argumentos para derrubá-la

• Preste atenção no tom da voz para saber a real intenção do interlocutor

• Use o bom senso e não fique imaginando que todos querem prejudicá-lo

50 50 50 50 ---- Por que alguns políticos roubam Por que alguns políticos roubam Por que alguns políticos roubam Por que alguns políticos roubam

Assim como eu, você também deve ficar escandalizado com a cara-

de-pau de alguns políticos que metem a mão nos cofres públicos como se estivessem sacando dinheiro da própria conta.

Embora as notícias da roubalheira tenham sido mais intensas nos últimos tempos, a verdade é que essa prática não é privilégio dos dias atuais. Desde que o mundo é mundo alguns espertalhões sempre usaram a política para forrar os próprios bolsos.

Vamos tentar entender os motivos que levam alguns políticos a seguir o caminho, ou melhor, os descaminhos, que os colocam à margem da sociedade e em pé de igualdade com os bandidos da pior espécie.

São as condutas éticas que governam as ações sociais. Cada sociedade é organizada a partir de princípios éticos próprios da sua história, da sua cultura e do seu contexto.

Para algumas tribos indígenas, por exemplo, roubar cavalos era uma façanha admirável entre seus guerreiros. Já na Idade Média, em alguns feudos, as moças permaneciam virgens até o casamento. Entretanto, por lei, quem tinha direito à primeira noite não era o noivo, mas sim um nobre, dono das terras.

Visto de fora, longe da realidade desses povos e distante da época em que cultivavam naturalmente esse costumes, pode nos parecer que as condutas eram abomináveis. Assim como, provavelmente, no futuro nossa forma de viver em sociedade hoje poderá parecer estranha e até sem sentido.

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Sejam quais forem os princípios éticos, são eles que sustentam a vida em sociedade. Sem esses preceitos, a convivência social seria um caos, pois as pessoas não se respeitariam.

A sociedade contemporânea, salvadas as diferenças pontuais, se submete a princípios éticos bastante semelhantes. Entre as diversas condutas éticas estabelecidas, e que se subordinam também aos mandamentos de Deus, está a orientação de não roubar.

Considerando-se que os políticos também fazem parte desse tecido social, não deveriam roubar. Quando, todavia, esse 'representante do povo' surrupia a grana da população, passa por três estágios para chegar à deterioração ética:

Não sentiu medo - A certeza de que não seria punido foi tão evidente que não teve medo de receber represálias para o seu ato inescrupuloso. Se uma pessoa tiver receio de que será punida, irá refrear seus impulsos e não cometerá o crime. O que anima o ato de delinqüência é o baixo risco de punição.

Não sentiu vergonha - A frase 'ele não tem vergonha na cara' pode ser interpretada como não se sentir menosprezado ou ridicularizado por não ter princípios éticos sociais. A vergonha é um valioso freio para os desvios sociais.

Ao cometer o crime, esse político não sente vergonha de ser ridicularizado ou menosprezado pela sociedade, pois a falta de escrúpulos e de princípios já se instalou de forma tão acentuada no seu caráter que essas circunstâncias não aborrecem seu sono.

Não sentiu culpa - Como diz o psicoterapeuta Flávio Gikovate: culpa é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando sentimos na própria pele o mal que fazemos à outra pessoa, estamos experimentando o sentimento da culpa.

Se um político desvia o dinheiro que seria usado para a compra do leite das crianças ou para a aquisição de ambulâncias destinadas aos pobres desprotegidos, a culpa passou longe de suas preocupações.

Um político deve ser admirado e respeitado quando possui princípios éticos tão evidenciados que, se cometesse um deslize, antes de sentir medo de ser punido, sentiria culpa e vergonha pelos seus atos.

Não vamos perder a esperança, pois tem muita gente séria ainda na política. Cabe à sociedade, entretanto, construir sua proteção. Se a educação que alguns políticos receberam não foi suficiente para que sentissem culpa ou vergonha pelos crimes que poderiam cometer, que pelo menos sintam medo de ser punidos se não se comportarem como deveriam.

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E, por incrível que pareça, um dos maiores pesadelos do político é perder uma eleição. Que tal começarmos por aí?

Se quiser comentar esse assunto comigo, entre na minha página. O endereço está logo abaixo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Sejamos éticos para ajudarmos a construir uma sociedade melhor

• Façamos o que pudermos para que os políticos tenham medo de roubar

• Usemos o voto para que os bandidos não cheguem ao poder • Propaguemos a importância da ética àqueles que nos cercam.

É nosso dever

51 51 51 51 ---- Você precisa falar bem em público Você precisa falar bem em público Você precisa falar bem em público Você precisa falar bem em público Quase todas as atividades profissionais exigem comunicação eficiente

e desembaraçada. Quem não sabe se comunicar tem suas chances reduzidas para obter sucesso na carreira.

Nem sempre foi assim. Quando comecei como professor dessa matéria, sabe o que algumas pessoas diziam sobre quem falava em público? Isso é coisa de gente metida, vaidosa, que quer aparecer. Principalmente quem falava mal tinha essa opinião.

Com a abertura política do país e a conseqüente abertura econômica, o mundo corporativo teve de se movimentar. Não só os políticos, advogados, professores, religiosos e mais uma ou outra atividade precisavam falar diante de grupos, mas sim profissionais de todas as áreas.

Com a chegada das grandes empresas estrangeiras, especialmente as americanas, falar bem passou a ser sinônimo de lucro. A experiência dessas organizações dizia que o executivo que se expressa bem em público consegue transmitir a mensagem de forma mais clara, mais direta, mais assertiva, mais persuasiva.

A partir daí houve uma verdadeira revolução nos hábitos das organizações. Os executivos que até então saíam da minha escola com o livro de oratória encapado, para que ninguém soubesse que eles estavam fazendo um curso para aprender a falar melhor, passaram a dar destaque a essa preparação em seus currículos.

Houve um caso marcante que foi o divisor de águas na tomada de consciência sobre a importância de o executivo falar bem em público. Esse fato realmente provocou um alvoroço nas corporações.

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No comecinho dos anos 1980, Peter Schrer, que era o presidente da Kibon, deu uma entrevista à revista 'Exame' dizendo como conseguiu sucesso em sua carreira profissional.

Ele contou que, ao participar de um workshop nos Estados Unidos, promovido pela General Foods, aproveitou para conversar com os psicólogos e fazer uma avaliação das suas competências. Aconselharam-no a procurar profissionais que pudessem ensiná-lo a falar bem em público, pois precisava aprimorar sua comunicação.

De acordo com seu relato, ao retornar ao Brasil optou pelo nosso curso. Revelou à revista que em poucas semanas aprendeu a organizar o raciocínio de forma lógica, estruturada e concatenada, a participar com mais eficiência das reuniões, a falar de improviso, a falar com desenvoltura e desembaraço.

A reação do mercado foi surpreendente. Finalmente um dos mais destacados executivos do país revelava sem constrangimentos em entrevista para uma revista do porte da Exame que freqüentara uma escola para aprender a falar bem.

Pouco tempo depois, Léo Wallace Cochrane Júnior, que era o vice-presidente do Banco Noroeste e presidente da Febraban, deu entrevista semelhante ao jornal 'Folha de S.Paulo'. Também nesse caso contando, com detalhes, como foi parar na nossa escola.

Esses depoimentos de executivos bem-sucedidos tiveram o mérito de romper com aquele preconceito velado que desmotivava as pessoas a procurar ajuda para aperfeiçoar a comunicação.

Embora a história do aprendizado da arte de falar em público tenha se transformado nos dias de hoje, ainda há pessoas que não atentaram para a importância da boa comunicação oral.

Talvez você mesmo nunca tenha pensado na seriedade deste assunto, mas não há alternativa: para se sair bem em qualquer carreira que tenha abraçado é essencial que saiba falar bem. Trata-se de uma habilidade tão importante que sem ela você não conseguirá valorizar tudo o que aprendeu estudando ou trabalhando.

Vamos imaginar que você ainda esteja estudando e graças a um bom 'paitrocínio' consiga se dedicar apenas à vida escolar - se pensa que vai poder ficar com a boquinha fechada o tempo todo, está muito enganado.

Cada vez mais as escolas exigem que os alunos apresentem oralmente seus trabalhos, e, se a comunicação for deficiente, poderá até comprometer a nota de avaliação. Significa que já ao dar os primeiros passos a comunicação tem de funcionar.

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Agora vamos supor que já tenha deixado de engatinhar e que esteja procurando um emprego. Piorou! Você vai participar de dinâmicas de grupo, entrevistas e para ter sucesso dependerá essencialmente da boa comunicação.

Ufa! Conseguiu se encaixar no mercado de trabalho, agora é relaxar. Que nada! Quanto mais você crescer na hierarquia da empresa, mais dependerá da eficiência da sua comunicação.

À medida que for se aproximando do topo da pirâmide, mais participará de reuniões, de processos de negociação, fará apresentações de projetos, de planos de trabalho - sempre falando e sendo avaliado pela sua comunicação.

E atenção para esta notícia importante: se não fizer exposições orais de boa qualidade, perderá as posições que conquistou ou, no mínimo, não continuará crescendo.

Enfim, qualquer caminho que tenha escolhido ou venha a escolher sempre dependerá da boa qualidade da comunicação para progredir e se realizar. Mais cedo ou mais tarde, e, com certeza, muito mais cedo do que imagina, você precisará estar com a comunicação bem afiada.

Por isso, não espere mais para aperfeiçoar essa competência tão importante para sua carreia e para sua vida.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Falar bem em público é importante para qualquer atividade profissional

• Faça cursos, leia livros e tenha excelência na comunicação • Acredite, se você explorar seu potencial, terá uma ótima

comunicação • Para falar bem você não precisa mudar, só aprimore o que tem

de melhor

52 52 52 52 ---- Teste: Descubra se você é bom de papo Teste: Descubra se você é bom de papo Teste: Descubra se você é bom de papo Teste: Descubra se você é bom de papo Faça o teste e descubra se você é bom de papo.Faça o teste e descubra se você é bom de papo.Faça o teste e descubra se você é bom de papo.Faça o teste e descubra se você é bom de papo.

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53 53 53 53 ---- Cuidado! Tem gente ouvindo suas conversas Cuidado! Tem gente ouvindo suas conversas Cuidado! Tem gente ouvindo suas conversas Cuidado! Tem gente ouvindo suas conversas Vira e mexe aparece um escândalo descoberto com gravações

telefônicas ou filmagens. Entretanto, a moçada não aprende e continua falando como se vivesse fora das vistas, ou melhor, para a nossa conversa, dos ouvidos dos bisbilhoteiros.

História sobre esse assunto é que não falta. Filmagem de pagamento de propina nos Correios, advogado sendo flagrado pelas câmeras e microfones ao combinar a estratégia de defesa com sua cliente, gravação de assessor de alto escalão negociando sua parte em saguão de aeroporto etc.

Você se lembra bem do que ocorreu com o ex-ministro Rubens Ricupero. Ele estava numa emissora de televisão conversando de maneira descontraída com o jornalista Carlos Monforte, enquanto aguardava o momento para ser entrevistado.

Não observaram, entretanto, que já estavam com o microfone na lapela e toda a conversa foi transmitida por uma antena parabólica. Não deu outra, o ministro dançou. E não conseguiu se segurar no cargo mesmo sendo um homem íntegro, experiente e muito bem-preparado.

Nem sempre nossas opiniões pessoais, que expressamos apenas nas situações mais íntimas, como em casa ou nas pequenas rodas de amigos, podem ser discutidas livremente na vida pública ou nos contatos profissionais.

Foi o que ocorreu com o ex-ministro. Estava num momento de descontração, muito à vontade com o jornalista, comportou-se como se estivesse em casa e sem maldade, despoliciado, fez algumas revelações indiscretas e contou algumas vantagens.

Quando você estiver em emissoras de rádio ou de televisão, em auditórios ou salas de evento evite fazer comentários que de alguma maneira poderiam prejudicá-lo ou provocar mal-entendidos.

Esses locais estão empestados de microfones com todas as sensibilidades possíveis, e o risco de estar sendo ouvido por alguém nunca pode ser descartado.

O perigo do avião. O avião é muito perigoso, mas não como meio de transporte, pois dizem os especialistas que em matéria de segurança só perde para o elevador. Como você já deve estar imaginando, estou me referindo ao perigo que o avião representa para conversas que deveriam ser sigilosas.

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Como viajo muito de avião, já ouvi de tudo de pessoas que estavam no banco da frente, de trás, do lado e até de algumas que em viagens mais longas ficam de pé para dar uma esticada nas pernas.

Ouvi relatos inteiros sobre estratégia de lançamento de produtos, compra e venda de empresas, fusões e, como não poderia deixar de ser, de confusões matrimoniais.

Há poucos dias comentei esse fato com o diretor de uma grande empresa de telecomunicação do norte do país, que fazia um treinamento individual comigo para aperfeiçoar sua comunicação.

Ele me disse que mudou toda uma campanha publicitária que estava pronta para ser lançada porque durante um vôo de São Paulo para Belém ouviu com detalhes a conversa de um concorrente que estava sentado bem à sua frente.

Por mais protegido e isolado que você possa se sentir num avião ou num ônibus, mesmo que o passageiro do lado esteja com os olhos fechados e pinta de quem está no terceiro sono, não fale o que ele não poderia ouvir, e se falar acerte o volume para que ele não ouça.

Aproveitando o fato de ter incluído o ônibus no assunto, presenciei um fato que mostra que a inconveniência da conversa pode continuar até fora do avião.

Num dia de grande movimento no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, depois de descermos de um avião que nos trouxera de Brasília, ficamos um bom tempo dentro do ônibus que nos levaria até a sala de desembarque.

Na parte de trás do ônibus, estava um grupo de executivos de uma instituição financeira conversando calorosamente. Em alguns minutos foi possível saber toda a história da empresa.

Revelaram o nome do vice-presidente, a quantidade de créditos mal-sucedidos que aprovara na sua gestão, o volume do prejuízo, enfim, todas as informações que só poderiam constar de um relatório confidencial dos auditores.

De leve no celular. Pelo fato de a pessoa falar pelo celular sem que o seu interlocutor possa ser visto e ouvido pelos outros, os cuidados com o sigilo da conversa em determinadas circunstâncias diminuem muito.

Já que falamos em avião, o aeroporto é um local onde as pessoas por precisarem quase sempre esperar muito tempo aproveitam para pôr seus contatos e compromissos em ordem.

É comum observar executivos com agendas abertas ligando para várias pessoas e tratando dos mais diferentes assuntos. Alguns se fecham no seu mundo e se esquecem de que estão falando pelo telefone em público.

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Sem censura vão desfiando confidências que fazem a alegria dos passageiros que estão ao seu lado, antenados em tudo que se passa ao redor. Estou me referindo aos aeroportos, mas pode ocorrer o mesmo nas rodoviárias.

Portanto, tenha muito cuidado com o uso de telefone celular em locais públicos e fique atento para não conversar sobre assuntos delicados, que deveriam ser guardados em segredo, quando puder ser ouvido por aqueles que estão perto de você.

Falando em telefone e em sigilo de conversa, nunca confie que ao falar pelo telefone, seja ele celular ou fixo, esteja tendo a privacidade que precisa. A cada dia surgem notícias de telefones que foram grampeados e de pessoas que tiveram sua conversa divulgada pelos meios de comunicação.

Quando tiver de tratar de um assunto muito importante, que não possa ser ouvido por ninguém, prefira falar pessoalmente, e, se não for possível, por causa da distância ou da urgência, troque de aparelho e sugira que o seu interlocutor faça o mesmo.

Mas, se posso dar um bom conselho, evite sempre tratar de qualquer assunto mais delicado pelo telefone, pois além do perigo do grampo há ainda o risco das ligações cruzadas, que também são muito comuns.

Cuide-se em toda parte. Não vamos nos transformar em pessoas paranóicas, imaginando que em todo lugar há gente querendo ouvir nossa conversa, mas não podemos facilitar e sermos negligentes diante de situações que poderiam ser evitadas.

Fique atento nos elevadores, corredores da empresa, saguões de hotel, aeroportos, enfim, em todos os lugares onde outras pessoas possam estar ouvindo o que falamos.

E, para encerrar, uma anedota relacionada a esse tema. Não é nova, mas é boa: um homem estava indo para casa quando sentiu uma forte dor de barriga. Como estava perto de um shopping, entrou para usar o banheiro. Ao verificar que o primeiro sanitário estava ocupado, dirigiu-se imediatamente para o seguinte que estava livre.

Assim que se sentou, ficou intrigado ao ouvir uma pergunta da pessoa que estava ao lado:

- E aí? Tudo bem? Julgou que seria melhor ficar calado e não responder, mas para evitar

confusão deu uma rápida resposta: - Legal... Vou indo. Em seguida a mesma pessoa voltou a perguntar: - E o que você anda fazendo de importante?

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Embora achasse esquisito o fato de responder a perguntas de um estranho que nem estava vendo e num banheiro público, ainda com o firme propósito de não criar encrenca, respondeu:

- Conforme você percebeu, agora estou aqui no banheiro. E saindo daqui vou para casa descansar.

E quase caiu duro quando o vizinho resmungou: - Acho melhor ligar depois. Apareceu um babaca aqui ao lado que

responde sempre que faço uma pergunta a você. Ninguém mais falou nada.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Não fale em público sobre assuntos confidencias • Tome cuidado com o que fala em elevadores, táxis, aeroportos

e rodoviárias • Não converse sobre assuntos sigilosos pelo telefone, seja ele

celular ou fixo • Quando receber visitas não deixe documentos importantes

abertos sobre a mesa • Lembre-se do conselho de Sêneca: seu amigo tem um amigo, e

este amigo tem outro amigo, por isso, seja discreto

54 54 54 54 ---- Tenha uma comunicação irresistível Tenha uma comunicação irresistível Tenha uma comunicação irresistível Tenha uma comunicação irresistível Chega a ser incompreensível. Por mais que você procure uma

explicação, torna-se quase impossível encontrar a resposta. Afinal, por que algumas pessoas conseguem ser tão sedutoras ao falar?

Bem, dizem que a beleza física de quem conversa ou fala em público é fundamental para ser aceito e admirado pelos ouvintes. Quem sabe essa não seja uma boa explicação, pois dizem os mais afortunados pela natureza que o velho ditado 'beleza não põe mesa' é desculpa de gente feia.

Sei, não. Há tantos que passam longe do perfil de Adônis e empolgam quem está à sua volta. Portanto, vamos riscar da relação esse aspecto estético porque a história está repleta de gente sem esse predicado que fez e faz sucesso com a comunicação.

Se possuir aparência de galã ou de modelo de passarela não influencia muito para ser vitorioso na comunicação, talvez a explicação para o sucesso de alguns oradores esteja no profundo conhecimento que possuem sobre o tema da sua apresentação.

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Ah, agora sim apareceu um motivo relevante. É sabido que ter domínio sobre o assunto é um dos requisitos fundamentais para conquistar as pessoas e persuadi-las a agir de acordo com a proposta do orador.

Entretanto, será que dá para simplificar a explicação toda com apenas esta resposta? Por mais que detestemos reconhecer, gente que convive conosco na vida corporativa, dotada apenas de um leve verniz sobre o que fala, está o tempo todo recebendo cumprimentos daqueles que dirigem a organização.

Inveja, inveja, inveja, poderiam dizer alguns. Contudo, não tem inveja nenhuma nessa história, só estamos aqui constatando fatos que estão a nossa volta. Vamos continuar procurando os motivos do sucesso desses comunicadores.

Deve ser a voz. Só pode ser a voz. Um homem ou uma mulher com voz melodiosa, bem timbrada, sonora está a um tiquinho de tocar o coração dos ouvintes. Afinal, quando falam mais parece que estão entoando uma bonita canção.

Se for verdade, como explicar que alguns oradores conquistaram, conquistam e continuarão conquistando multidões falando com uma voz que está a anos-luz de Plácido Domingo? Quer exemplo? Há aos borbotões.

Deixe de lado a simpatia ou antipatia que possa nutrir com relação a alguns políticos e pense nos milhões de votos conquistados por Jânio Quadros, que possuía voz roufenha, e do Lula, que fala com voz arrastada, bombardeada madrugada após madrugada ao gritar nas portas das fábricas em São Bernardo.

Você já deve ter deduzido que a boa comunicação não é constituída apenas de um ingrediente, mas sim da conjugação de uma série de fatores que ajudam a envolver e conquistar as pessoas.

Infelizmente não é possível vestir o manto de Merlin, juntar num caldeirão fumegante umas penas de pavão (eu me recuso a acreditar que o velho mago com aquela cara de vovô bonzinho usasse unhas de urubu) e num passe de mágica nos transformar num orador perfeito como foi, por exemplo, Joaquim Nabuco.

Para desenvolver uma excelente comunicação, além de alguns desses fatores que acabamos de analisar, é preciso considerar vários outros que se associam e se complementam entre si. E para estabelecer essa conjugação você vai precisar de muita dedicação, empenho e determinação.

A boa notícia é que todos, sem exceção, independentemente do nível de comunicação que possuem hoje, e do tipo de dificuldade que

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encontram para se expressar diante das pessoas, poderão falar bem se estiverem dispostos a perseguir esse objetivo.

Sua voz não precisa ser bonita, mas deve ter personalidade, para que passe credibilidade. Use um volume apropriado ao ambiente, para que todos possam ouvi-lo sem dificuldade. Imprima um ritmo agradável, alternando a velocidade da fala e o volume da voz.

Ao falar em pé ou sentado, tenha uma postura correta, elegante, sem afetação. Gesticule na medida certa, sem excesso e sem falta de gestos. O semblante deve ser expressivo, para complementar a mensagem e demonstrar coerência com o sentido das palavras.

Desenvolva um vocabulário amplo que permita vestir suas ideias com facilidade. Evite usar expressões vulgares e elimine os vícios que truncam o pensamento, como os conhecidos 'né?', 'tá?', 'ok?'.

Escolha um tema sobre o qual tenha domínio e que desperte o interesse dos ouvintes. Leve em conta a expectativa das pessoas e as características do grupo. Avalie especialmente o nível cultural, quanto os ouvintes sabem sobre o assunto e a faixa etária predominante.

Ordene a exposição com início preparação, desenvolvimento e conclusão. Na introdução conquiste a plateia, na preparação explique o que vai apresentar, no desenvolvimento transmita a mensagem e na conclusão peça a reflexão ou ação dos ouvintes.

E seja simpático. Se você se apresentar com simpatia, sua imagem será positiva para os ouvintes. Às vezes, as pessoas até se esquecem da mensagem, mas nunca se esquecem da simpatia do orador.

Se você souber aproveitar todos esses aspectos de maneira harmoniosa e equilibrada estará no caminho certo para ser bem-sucedido.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Conjugue diversos aspectos da comunicação para ser bem-sucedido

• Use personalidade na voz, mesmo que ela não seja muito bonita

• Tenha um vocabulário amplo, para dar fluência à fala • Procure gesticular de forma moderada. É melhor a falta que o

excesso • Seja simpático e mantenha o semblante expressivo. Se o

momento permitir, sorria

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55 55 55 55 ---- Apresentações brilhantes em sala de aula Apresentações brilhantes em sala de aula Apresentações brilhantes em sala de aula Apresentações brilhantes em sala de aula Do curso básico ao doutorado, passando pela universidade, pelos

cursos de especialização, de pós-graduação, pelo MBA e mestrado. Não importa o curso que esteja freqüentando, em todos eles os professores poderão exigir que você faça apresentações orais de trabalhos em sala de aula.

Apresentar trabalhos escolares em sala de aula, além de ser importante para a avaliação do aluno, é ótima oportunidade para desenvolver a comunicação, uma competência que poderá ser sempre requisitada na vida profissional.

A escolha do tema Escolher bem o tema é o primeiro passo para que a apresentação seja

bem-feita. Veja que procedimentos adotar para que ele seja adequado ao seu conhecimento, à matéria que esteja cursando e ao contexto da exposição.

Se você tiver a liberdade de escolher, decida-se por um tema sobre o qual tenha algum tipo de conhecimento e interesse em pesquisar. Lembre-se de que além do seu interesse terá de ter condições de encontrar subsídios nas bibliotecas, livrarias, arquivos ou na internet.

Prefira temas relacionados à sua atividade profissional ou a assuntos com os quais, por qualquer motivo, você tenha alguma ligação, como hobbies ou matérias jornalísticas que colecione. Assim, atenderá aos requisitos do conhecimento e do interesse, simultaneamente.

Considere ainda a atualidade do assunto. Para que a apresentação seja bem-sucedida precisa despertar o interesse e mexer com a emoção dos ouvintes, que, no caso de trabalhos escolares até a conclusão do curso universitário, são os colegas de classe e o professor.

Se for uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado, a plateia estará acrescida dos membros da banca julgadora - três para o mestrado e cinco para o doutorado, mais os convidados, por serem essas exposições abertas ao público.

Por isso, ou o tema provocará esse interesse por suas próprias características, ou você cuidará para que esse objetivo seja atingido, ligando seu conteúdo a algum assunto que cumpra esse papel. E as matérias mais recentes, de maneira geral, são as mais interessantes.

Nem sempre o tema poderá ser escolhido por você. Há casos em que o assunto é determinado pelo professor, sem chances da sua interferência na decisão. Ou com uma relativa liberdade de escolha dentro de uma relação indicada por ele.

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Se o professor determinar o tema, ou disponibilizar uma relação com alguns assuntos, praticamente você não terá liberdade de escolha no primeiro caso e terá opções limitadas no segundo. Nessa circunstância, a melhor saída é a de aproximar o assunto, por semelhanças, contrastes ou comparações, com as matérias que você tenha mais domínio.

Suponha que tenha de falar sobre transportes e que você tivesse muita experiência em viagens, poderia falar das semelhanças e das diferenças dos transportes que utilizou nos diversos países que visitou.

Tema de apoio Não é fácil fazer uma apresentação oral atendo-se apenas ao tema.

Torna-se ainda mais difícil nos casos em que a fonte de consulta é apenas uma, como, por exemplo, um capítulo de um livro, ou mesmo o próprio livro.

Para se desvencilhar dessa limitação, sempre que tenha oportunidade, desenvolva o assunto com o apoio de outro que o ajude a organizar o raciocínio e a seqüência da exposição.

Vamos imaginar que o professor determinasse como tema 'os planos econômicos'. Seria possível usar como apoio os diferentes planos implantados no Brasil, de 1986 até agora.

Você teria mais argumentos, sua exposição seria interessante por se apoiar em dados históricos e políticos que se movimentaram ao longo do tempo, e as informações seriam organizadas em seqüência lógica, de estrutura simples, pois diversos planos poderiam ser analisados a partir da política de um mesmo governo.

Análise técnica das informações A partir da abordagem histórica, ficará mais simples você desenvolver

a análise técnica das informações, que será uma espécie de fio condutor a orientar a seqüência da exposição.

Suponha que o professor determinasse o tema 'Mitos da globalização', escrito por Paulo Nogueira Batista Jr. Nesse texto, o autor relaciona cinco argumentos utilizados em favor da globalização, e que ele contesta, procurando provar que são posições falsas, que não passam do que chamou de mitos da globalização.

Você poderia expor esse assunto fazendo uma análise das técnicas utilizadas pelo autor (que tentou provar a tese de que os argumentos dos defensores da teoria da globalização são fantasiosos):

Ele apenas negou os argumentos contrários? Defendeu sua posição com estatísticas, estudos técnicos, dados históricos ou pesquisas? Iniciou as objeções contestando os argumentos mais fortes e deixou os mais frágeis para o final? Ou agiu de maneira diversa?

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Observe que, com análises dessa natureza, o assunto ampliará as possibilidades de exposição com ótimas chances de sucesso.

Técnicas de ordenação do tema O seu trabalho poderá ser organizado com o auxílio de técnicas como

ordenação no tempo, ordenação no espaço e soluções de problemas. Essas técnicas poderão ser utilizadas isoladas ou simultaneamente.

Ordenação no tempo - Este método, como é fácil deduzir, mostra como as informações se apresentaram no passado, como se manifestam no presente e como se comportarão no futuro.

Ordenação no espaço - O recurso da ordenação no espaço é muito útil porque, além de permitir a divisão do assunto, possibilita também o aproveitamento das circunstâncias que cercam o local mencionado.

Você poderia usar, por exemplo, práticas religiosas, costumes sociais, atividades políticas etc. Esse mesmo aproveitamento das circunstâncias também poderá ser usado na técnica da ordenação no tempo, analisada há pouco.

Soluções de problemas - Para planejar uma boa apresentação, você poderá identificar quais os problemas que seriam solucionados com a abordagem dada ao assunto e comentar em seguida as conseqüências dessa solução.

Como treinar sua apresentação Lembre-se de que pensar sobre um assunto é uma coisa, escrever

sobre ele é outra e apresentá-lo oralmente é outra muito diferente. Portanto, treine o que vai expor falando em voz alta. Cuidado para

não tentar reproduzir palavra por palavra o que escreveu, pois essa atitude poderia deixá-lo inseguro e artificial.

SUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SESUPERDICAS DA SEMANAMANAMANAMANA

• Use um volume de voz para ser ouvido por quem esteja no fundo da sala

• Alterne o volume da voz e a velocidade da fala para que o ritmo seja interessante

• Mantenha o semblante arejado e simpático e olhe para todos os colegas da sala

• Fale com a maior naturalidade possível, como se estivesse animado com os amigos

• Faça uma rápida introdução comentando a importância do tema que irá expor

• Conclua sua apresentação com uma reflexão sobre o tema, ou falando da sua satisfação em ter pesquisado sobre o assunto, ou

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ainda incentivando os colegas a se aprofundarem mais nesta matéria que julga tão importante

• Use anotações e consulte-as sem receio, mas não se escravize a elas

• Se usar recursos visuais, como PowerPoint ou retroprojetor, ensaie com eles

56 56 56 56 ---- Surpre Surpre Surpre Surpresa! Os livros estão falandosa! Os livros estão falandosa! Os livros estão falandosa! Os livros estão falando

US$ 923 milhões em vendas em 2007! Quase um bilhão de dólares!

É muita grana, não? E sabe quem faturou essa bufunfa toda? O mercado de audiolivros nos Estados Unidos. Pois é, os livros estão falando.

Segundo pesquisa divulgada pela Audio Publishers Association, as vendas de audiolivros no mercado americano cresceram 6% de 2005 a 2007. E tendem a crescer ainda mais.

Em terras tupiniquins, a história começa a esquentar agora. O começo foi titubeante. As primeiras tentativas de produzir audiolivros no Brasil foram de razoáveis para baixo.

Para começar, a dificuldade técnica. Para gravar todo o conteúdo de um livro com mais de 300 páginas eram necessários cerca de 20 CDs. Era muita mão-de-obra levar esse pacote todo para cima e para baixo.

Já pensou você tendo de trocar 20 CDs na seqüência correta? Pior, desembolsar uma nota para adquirir um único livro gravado? Essas duas dezenas não custavam menos de R$ 80,00. Muito caro, trabalhoso e desestimulante.

Com a entrada do MP3 no mercado de áudio, tudo se transformou. Hoje é possível pôr todo o conteúdo de um livro em um único CD. O aspecto negativo é que nem todo mundo tem aparelho MP3.

Também dá para contornar rodando o CD num computador ou no CD/DVD player. É questão de pouco tempo, pois a cada dia mais carros saem de fábrica com esse acessório instalado.

Segundo Robson Fragetti, gerente comercial da empresa Audiolivros, a pioneira e maior empresa do segmento no Brasil, de quase 40 títulos que eles têm disponíveis no mercado, apenas quatro são em CDs comuns; os outros todos são em MP3.

Eles contam com um banco de profissionais da voz para interpretar os mais variados tipos de textos. De acordo com Fragetti, um livro pode ter mais de 50 personagens e um locutor interpreta no máximo meia dúzia de vozes.

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Entretanto, fora as interpretações, um único locutor grava um livro de ponta a ponta. Uma obra entre 250 a 300 páginas requer uma semana de gravação, com dedicação de seis a oito horas por dia.

Ainda há muito por fazer. Boa parte dos leitores não aceita trocar o livro de papel pelo livro em áudio. Eu mesmo não posso atirar a primeira pedra, pois fiz coro com essa turma e também torci o nariz quando me deparei com o produto à venda.

Afinal, para quem sempre gostou de ler, a ideia de botar um fone de ouvido e trocar o sentido da visão pelo da audição para entrar em contato com a mensagem do autor parecia atitude de 'gente vagabunda', que não gostava de ler.

Com o passar do tempo, muita coisa mudou. Os habitantes das cidades grandes tiveram o tempo de lazer reduzido e começaram a enfrentar trânsito cada vez mais congestionado.

A falta de tempo para ler e boa parte da vida consumida dentro dos carros para ir e voltar ao local de trabalho abriu espaço para o uso de engenhocas eletrônicas como Ipod, MP3 e MP4. Esses aparelhinhos, que foram lançados com preços elevados, baratearam e passaram a ser nossos companheiros.

E com eles reapareceu a ideia do audiolivro. Só para ver como anda esse mercado, dei uma passeada pelo site da Saraiva e me deparei ali com cerca de 80 títulos. A Fnac já está com mais de 20 títulos.

Não é muito se considerarmos que são lançados mais ou menos 1.200 títulos novos de livros em papel todos os meses, mas é um crescimento extraordinário se compararmos com a quantidade desse mesmo produto há menos de dois anos.

Recentemente, ouvi 'O monge e o executivo' e um dos volumes de 'Pensamento Vivo' do Rubem Alves. O best seller de James Hanter foi muito bem produzido, com canto gregoriano ao fundo e o farfalhar da folhas, mostrando a calma do local onde o monge dava suas lições ao executivo.

Rubem Alves gravou, ele mesmo, sua obra em áudio, sem produção sofisticada. Gostei dos dois. Realmente parece que começaram a acertar o rumo do produto.

Para a comunicação verbal o audiolivro é um apoio extraordinário. Sem conteúdo não há que falar. E sem leitura fica difícil ter conteúdo. Com o audiolivro as pessoas terão mais uma boa opção para obter informações e enriquecer a mensagem.

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A Editora Saraiva resolveu entrar no mercado de audiolivro. O primeiro produzido foi o livro de minha autoria 'Superdicas para falar bem', que eu mesmo gravei. Deu certo.

Já é o audiolivro mais vendido no Brasil. Está em primeiro lugar nas duas principais redes de livrarias que comercializam audiolivros: Saraiva e FNAC.

Devido à possibilidade de interpretação, em determinados trechos, o áudio é muito superior ao livro impresso, pois consegue dar ao ouvinte a dimensão exata das técnicas sugeridas.

Fui contratado para coordenar os audiolivros da Editora, inicialmente com os livros da série superdicas, que também está sob minha coordenação. Todos serão gravados pelos próprios autores.

Se você ainda não ouviu um audiolivro, sugiro que experimente. Tenho quase certeza de que terá muito prazer em ouvir o conteúdo de um livro de sua preferência.

Quando for a uma livraria, escolha um bom título. Ou, se preferir, pesquise pela internet. Se ouvir o meu, depois me conte o que achou.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Escolha um audiolivro gravado de um bom livro • Selecione um título que esteja em seus planos de leitura • Procure ouvir em local onde possa se concentrar • Aproveite o tempo dentro do automóvel para pôr as 'leituras'

em dia

57 57 57 57 ---- Há milonga nessa história das livrarias Há milonga nessa história das livrarias Há milonga nessa história das livrarias Há milonga nessa história das livrarias A partir desta semana, a história dos livros, das livrarias e da leitura

em nosso país passa a ser contada de uma forma totalmente distinta. Provavelmente, com a compra da Siciliano pela Saraiva a educação no Brasil seguirá um rumo diferente, e, esperamos, muito mais promissor.

Por R$ 60 milhões, a Saraiva, que possuía 36 lojas em sua rede de livrarias, ficou com mais 63, totalizando agora 99 lojas. Um império que chega a assustar muitas editoras, já que deverão se confrontar com um forte e, até então, desconhecido poder de barganha.

O lado positivo da questão é que uma organização desse porte só sobrevive se o país tiver muitos leitores. E pessoas começam a ler ou aumentam a quantidade de obras lidas se forem estimuladas, incentivadas e seduzidas a se aproximar dos livros.

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Para a arte de falar em público a notícia não poderia ser mais alvissareira. Comunicação de qualidade pressupõe conteúdo e conhecimento. E um dos meios mais eficientes para se obter esses ingredientes fundamentais à estruturação da boa mensagem é a leitura.

Há pouco tempo a CBL (Câmara Brasileira do Livro) pediu que eu escrevesse um texto para falar sobre o mercado de livros no Brasil. Além de me dedicar à pesquisa sobre o tema em nosso país, aproveitei para incluir os argentinos na conversa. Vamos aos pontos e contrapontos.

Os argentinos se vestem melhor que os brasileiros - concordo. Produzem vinhos de qualidade superior aos nossos - concordo. 'Los hermanos' têm mais librerias que 'nosotros' - não concordo. Não? Ué, mas sempre disseram que na Argentina havia mais livrarias que no Brasil!

Pois é, jogaram essa milonga e nós a engolimos sem pesquisar os fatos. Não só não tem, como a diferença a nosso favor é quase a mesma que temos com o número de campeonatos mundiais de futebol.

Adoro a Argentina e os argentinos. Perdi a conta de quantas vezes aterrissei em Buenos Aires. Passear a pé por suas calles é sempre um prazer indescritível. Entretanto, essa história sobre o número de livrarias precisa ser contada direitinho.

Segundo levantamento da Associação Nacional de Livrarias (ANL), realizado com o apoio da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), que está saindo agora do forno, temos hoje no Brasil 2.767 livrarias. Desse total, 50% estão em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Da outra metade, 35% estão nas regiões Sul e Nordeste.

As informações sobre o número recente de livrarias na Argentina são escassas e divergentes, mas, pelas publicações que li na imprensa dos próprios argentinos, com o fechamento recente de inúmeros pontos-de-venda, estão beirando mil.

Ou seja, a goleada a nosso favor é de mais ou menos duas vezes e meia. Antes que você empunhe a bandeira e comece a comemorar na Avenida Paulista com o grito de 'ééé campeããão, ééé campeããão', há outros pontos que precisam ser esclarecidos.

São quesitos negativos para o Brasil que, diante dos argentinos, nos obrigam a meter o rabo entre as pernas e ficar meio corados.

A recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) é que o número ideal de livrarias seja de uma para cada 10 mil habitantes. Nem os norte-americanos chegam lá, pois possuem uma livraria para cada 15 mil habitantes.

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Pelos números recentes, demos uma melhorada, mas a estatística ainda é bem ruinzinha: 2.767 livrarias para 190 milhões de pessoas, o que dá por volta de uma para cada 70 mil habitantes.

O Estado de São Paulo, que com 676 livrarias está na liderança, para uma população de 40 milhões de habitantes atinge uma livraria para cada 60 mil paulistas. Aqui está a grande vantagem dos argentinos: eles têm uma livraria para cada 50 mil habitantes. Feito o mea-culpa, vamos a algumas considerações relevantes.

De acordo com um estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para a CBL e o Snel, do total de 310 milhões de livros comercializados no Brasil em 2006, apenas 125 milhões foram comprados e vendidos pela livre iniciativa; os outros 185 milhões nem passaram perto da porta das livrarias, pois foram adquiridos pelo governo diretamente das editoras.

Para 2008 o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC) irá comprar, de 14 editoras e grupos editoriais, 127 milhões de livros para serem distribuídos aos alunos dos ensinos médio e fundamental.

É fácil deduzir que, se esse público comprador estivesse adquirindo livros normalmente no mercado, o número de livrarias seria muito maior.

O ponto positivo dessa informação é que o governo compra em grande quantidade e, por isso, consegue fazer negociação mais vantajosa. É o maior programa de compra de livros por parte do governo para estudantes em todo o mundo.

Mais um dado para refletirmos. Quando se fala em grande livraria na Argentina, as pessoas só se lembram da El Ateneo e de mais uma ou outra. Cada megastore inaugurada pela Fnac, Cultura e Saraiva no Brasil representa quase dez pequenas livrarias. Vai somando tudo isso para ver aonde chegam os números.

Embora as informações atuais indiquem que, enquanto o brasileiro lê em média 1,8 livro por ano, o colombiano 2,4 e o argentino 4, os próprios argentinos reclamam do baixo nível de leitura dos seus estudantes.

A pesquisa da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) de 2002 não está atualizada, mas mostra bem como, pelo menos dentro das escolas, estamos na frente: um estudante argentino lê 0,9 livro por ano; no Brasil a média é de 4 livros anuais.

Outro dado alentador para o mercado livreiro do Brasil está no interesse pelas bienais. Os números da última Bienal do Livro de São

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Paulo impressionam: 1,5 milhão de livros expostos, mais de 800 mil pessoas circulando pelos estandes e 3 mil novos títulos lançados.

É livro para argentino nenhum botar defeito. O resultado prático é animador, pois 80% das pessoas que visitaram as bienais compraram livros. O dobro do resultado obtido pelas feiras argentinas.

Lógico que essa comparação com os argentinos foi mais para dar uma apimentada na conversa e desfazer um mito que foi propagado por falta de análise mais criteriosa das estatísticas.

Vale a pena observar também como está situado o mercado livreiro no Brasil. Pelas informações da ANL, as 2.767 livrarias existentes no País estão assim distribuídas: 13% são redes com até 20 filiais e lojas independentes e 61% compõem a parte mais representativa do mercado - são redes de 21 a 50 lojas.

As livrarias de pequeno e médio porte, com faturamento mensal que varia de 35 mil a 45 mil reais, representam 70% dos estabelecimentos.

Para que surjam pequenas livrarias, e para que elas possam se manter no mercado, os empreendedores precisam se dedicar a um atendimento especializado e diferenciado. Desta forma, complementariam ações das grandes redes, como a gigante Saraiva, atendendo a um interesse específico do consumidor.

Outro tema que precisa continuar sendo debatido é o estabelecimento do preço fixo para o livro, com limite para o desconto concedido ao consumidor final, como já adotado em muitos países. São saídas para manter e ampliar o número de livrarias no Brasil.

As estatísticas e pesquisas que usei para alinhavar meu raciocínio podem ser contestadas, e em alguns casos talvez até sejam imprecisas, pois, como dizia Roberto Campos, estatística é como biquíni, mostra tudo, mas esconde o essencial. O importante, porém, é incentivar o debate e a reflexão sobre esse tema tão relevante para o Brasil.

Finalmente, precisamos nos conscientizar da importância de se incentivar a leitura, especialmente entre as crianças, pois é a infância a fase da vida em que se toma o gosto pelos livros.

Assim, vamos preparar nosso País para crescer e prosperar. Ninguém pode cruzar os braços diante dessa realidade, pois essa é uma responsabilidade de todos nós.

Investimentos como esse feito pela Saraiva devem ser vistos com bons olhos, pois estão acreditando que o brasileiro passará a ler ainda mais. Quem sabe um dia possamos conquistar resultados semelhantes aos países do primeiro mundo. Oxalá!

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Incentive as crianças a ler. Dê livros de presente • Estabeleça uma meta para suas leituras. Pelo menos um livro

por mês • Alterne a leitura entre livros técnicos e obras de ficção • Habitue-se a comentar as obras que lê • Monte uma biblioteca com livros que mereçam ficar na sua

cabeceira 58 58 58 58 ---- Cinco passos para você ter sucesso na comunicação Cinco passos para você ter sucesso na comunicação Cinco passos para você ter sucesso na comunicação Cinco passos para você ter sucesso na comunicação

Antes de dizer quais são os cinco passos que poderão torná-lo bem-

sucedido na arte de falar, quero comentar como cheguei a essa conclusão e mostrar porque você poderá seguir as sugestões com segurança.

É evidente que essa pesquisa se baseou principalmente nos mais de 30 anos em que me dedico ao ensino da expressão verbal. Com essa intensa atividade pude constatar o que efetivamente dá resultado na comunicação oral.

Entretanto, além da experiência acumulada ao longo de todos esses anos proferindo palestras, ministrando aulas, preparando executivos, profissionais liberais e políticos para falar com segurança e desembaraço, também contribuiu para a seleção desses cinco passos a dissertação de mestrado que defendi há quase dez anos.

Nesse meu estudo acadêmico tratei de um tema pelo qual sempre tive muito interesse: a emoção. O próprio título do trabalho já identifica a essência do seu conteúdo - 'A influência da emoção do orador no processo de conquista dos ouvintes'.

Para verificar se a emoção do orador tem mesmo influência no processo de conquista dos ouvintes, precisei comparar esse aspecto da comunicação com outros que imaginei serem relevantes na arte de falar, como voz, vocabulário, expressão corporal, conteúdo, entre outros.

Em uma gravação de vídeo analisei 20 oradores que venceram concursos de oratória. Comparei todas as apresentações para identificar quais os aspectos foram importantes no resultado de cada um deles.

Posso antecipar que a conclusão da pesquisa confirmou que a emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos ouvintes.

Entretanto, há outros que também são fundamentais para o sucesso da comunicação. São os passos que você poderá dar para se sair bem em suas apresentações.

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1º passo 1º passo 1º passo 1º passo ---- o conteúdo o conteúdo o conteúdo o conteúdo De todos os atributos da comunicação, o aspecto mais importante

para que você possa influenciar os ouvintes é o conteúdo. Todos os oradores que venceram os concursos de oratória demonstraram preparo e domínio sobre o tema.

Procure nunca se apresentar com conhecimento superficial a respeito do assunto. Estude, pesquise, consulte. Saiba sempre muito mais do que precisará para o momento. Essa 'sobra' de informações lhe dará segurança e credibilidade.

2º passo 2º passo 2º passo 2º passo ---- a emoção a emoção a emoção a emoção Não basta apenas conhecer a matéria que irá expor. Para ser bem-

sucedido é preciso que você fale sempre com energia, disposição, entusiasmo - com emoção.

Se você não demonstrar interesse e disposição para falar sobre determinado assunto, não poderá desejar que os ouvintes se interessem e se envolvam pelo tema que apresenta.

Por isso, esteja consciente de que antes de interessar e envolver as pessoas, você deverá estar interessado e envolvido pela causa que abraçou e pela mensagem que transmite.

3º passo 3º passo 3º passo 3º passo ---- a voz a voz a voz a voz Nem todos os oradores que venceram os concursos possuíam voz

bonita, que pudessem servir de exemplo estético, mas todos, sem exceção, demonstraram personalidade na maneira de se expressar.

Independentemente da qualidade estética da sua voz, fale com firmeza e demonstre personalidade na maneira de se expressar. Sem agredir os ouvintes, lógico, fale com volume um pouco acima do que seria suficiente para que pudessem ouvi-lo.

Esse volume adicional poderá demonstrar de forma mais evidente sua disposição, envolvimento e interesse pelo tema da exposição. Lembre-se também de alternar o volume da voz e a velocidade da fala para construir um ritmo agradável e interessante.

4º passo4º passo4º passo4º passo ---- os ouvintes os ouvintes os ouvintes os ouvintes Falar em público não é uma representação teatral. O conteúdo da

mensagem e a forma como você se expressa deve levar em conta sempre os ouvintes. Tudo deve ser feito pensando nas características e nas aspirações da plateia.

O volume da voz, o tipo de vocabulário, o tamanho e a extensão dos gestos, enfim todos os aspectos da comunicação precisam atuar em

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harmonia para conquistar os ouvintes. Venceram os oradores que tiveram essa preocupação com o público.

Antes de se apresentar dedique-se a esta reflexão: quem são os ouvintes e como devo me comportar para que a mensagem possa chegar de maneira interessante até eles.

5º passo 5º passo 5º passo 5º passo ---- a naturalidade a naturalidade a naturalidade a naturalidade O conhecimento, a emoção, a voz e a propriedade como a

comunicação deve considerar os ouvintes são atributos que precisam atuar de forma harmoniosa e natural. Quanto mais espontânea for a sua maneira de se comunicar, mais confiança você sentirá e mais respeito e admiração terá do público.

Tenha em mente que se sua comunicação apresentar erros técnicos, mas preservar a naturalidade, poderá conquistar credibilidade. Entretanto, dificilmente acreditarão em suas palavras se você for artificial.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Conheça e demonstre domínio sobre o tema que vai apresentar • Ordene bem o raciocínio com começo, meio e fim • Fale com envolvimento e emoção • Tenha personalidade na voz e na maneira de se expressar • Saiba o máximo que puder sobre os ouvintes • Seja natural

59 59 59 59 ---- Descubra sua vocação e seja feliz Descubra sua vocação e seja feliz Descubra sua vocação e seja feliz Descubra sua vocação e seja feliz

Há pouco tempo, conversei com meu amigo Flávio Gikovate sobre

um tema em que se especializou - felicidade. Achei interessante o que ele me disse sobre como ser feliz a partir da vocação profissional.

Segundo Gikovate, entre outros motivos, é feliz a pessoa que consegue descobrir sua vocação profissional e tem condições de se dedicar a essa atividade. Concordo com ele. Trabalhar com prazer é sinônimo quase perfeito de felicidade.

Por isso, cada um deve perseguir o sonho de encontrar uma profissão pela qual se apaixone e sinta prazer em se dedicar a ela. A realização desse sonho depende de vocação, preparo, oportunidade, sorte e muita dedicação.

De nada adianta se preparar se não existir vocação. A oportunidade talvez nem seja percebida se não houver preparo. A sorte só mostrará sua face diante da oportunidade. A dedicação só será produtiva se a sorte indicar o caminho certo.

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Minha história é uma conjugação de todos esses ingredientes. Não planejei ser professor de oratória. Na verdade eu nem sabia da existência dessa atividade até o dia em que o destino me levou à escola do Prof. Oswaldo Melantonio.

Eu tive um amigo que era extremamente tímido - ficava ruborizado só pelo fato de ser apresentado a alguém. Ele sofria muito por ser assim e me confidenciou que gostaria de mudar, de ser diferente, mais desembaraçado e comunicativo.

Procurei um meio de ajudá-lo e descobri que na Rua Bela Cintra, em São Paulo, havia o curso de comunicação verbal do Professor Oswaldo Melantonio. Eu nunca ouvira falar nesse tal professor e no seu curso, mas disseram-me que ele era muito competente.

Em uma quarta-feira à noite fomos assistir a uma aula de apresentação do curso para saber qual era a proposta do professor. Meu amigo gostou da aula, mas não teve coragem de continuar.

Eu, entretanto, que não tinha a mínima intenção de participar de um curso que ensinava a falar em público, fiquei maravilhado com o que presenciei. Nunca na minha vida vira nada igual.

Naquela noite, ao voltar para casa, não consegui dormir, repassei mentalmente cada detalhe daquela experiência - os temas que foram abordados, a atmosfera da sala de aula, a inteligência, a cultura, a competência e o carisma daquele professor.

Foi uma noite que mudou minha vida. Durante muitos anos freqüentei aquela escola como aluno, depois como assistente e posteriormente como professor do curso.

Quando penso no Professor Oswaldo Melantonio, a primeira imagem que me vem à cabeça é a da sua figura sorridente, esfregando as mãos ao entrar pela porta da frente na sala de aula.

Com barba sempre bem-feita, terno impecavelmente passado, camisa branca de colarinho engomado, sapatos lustrosos e bochechas rosadas, reluzentes.

Diante da sua figura, ninguém mais continuava falando, os alunos emudeciam em uma espécie de reverência àquele que tanto admiravam. Sua figura era eloqüente e às vezes eu chegava a pensar que muito desse magnetismo era produzido pelas suas bochechas rosadas, que davam mais vida ainda à sua expressiva fisionomia.

Posso afirmar que o Professor Melantonio era eloqüente o tempo todo - desde os momentos de maior arrebatamento, quando os temas viajavam entre a história, a política e a filosofia, passando pelos momentos mais plácidos (se é que placidez alguma vez esteve presente no seu

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comportamento), até os instantes em que estava em silêncio, apenas querendo ouvir e observar.

Às vezes o Professor Melantonio parecia ser eloqüente pela voz, em outros momentos pelos gestos, em outros ainda pelo olhar, permanentemente vivos por trás das lentes dos óculos, mas me surpreendia ao notar que sua eloqüência existia ainda no silêncio.

Sua eloqüência estava em cada detalhe da comunicação. Na maneira correta de usar a linguagem, sem afetação. Pelo estilo natural e elevado como se dirigia aos alunos. Falava com alma, com vivacidade. Como ele mesmo dizia - com anima e cuore.

Em época recente, ao visitar nossa escola, do alto dos seus 80 e tantos anos, usou a palavra para falar diante de um público numeroso que lotava o auditório e, com o mesmo sorriso simpático de sempre, como se avisasse que já tinha a plateia na mão, empolgou a todos - com anima e cuore!

Durante todos esses anos ouvindo o Professor Melantonio nunca o vi tratar de um tema pelo qual não estivesse apaixonado. Falava com paixão da esposa Margot, dos quatro filhos, dos pais, dos alunos, do Corinthians, do socialismo e da sua eterna e inseparável amante, a oratória.

Essa era sua pregação às dezenas de milhares de alunos que preparou: - Apaixone-se por uma causa, não importa qual seja, a religião, a política, a família, o trabalho, a educação, enfim, apaixone-se por uma ideia que julgue valer a pena defender.

De todos os méritos do Professor Melantonio, o mais admirável foi sua habilidade em descobrir qualidades nas pessoas. Impressionava ainda mais a maneira como as elogiava. Sempre com sinceridade.

Se alguém pegar carona no meu carro provavelmente irá ouvir um dos CDs com uma aula do Professor Melantonio, que gravei há mais de 30 anos, na época em que trabalhei como professor na sua escola.

Se olhar atentamente na minha biblioteca, encontrará um enorme livro de capa preta, em que encadernei as apostilas do seu curso no período em que fui seu aluno.

Se assistir às minhas aulas, ou às minhas palestras, e já tiver tido algum contato com o mestre, ficará surpreso com a semelhança do estilo e da maneira de falar. Veja nos vídeos que estão no meu site no final do texto.

Sinto orgulho de ser seu discípulo e seguidor do seu trabalho. Tive muita sorte em tomar a iniciativa naquela longínqua quarta-feira de levar meu amigo tímido para conhecer sua escola.

O mestre não me ensinou apenas a falar em público, preparou-me para fazer o que ele mais sabia - me ensinou a ensinar.

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Foi o Prof. Melantonio quem propôs meu nome para ser um dos membros titulares da Academia Paulista de Educação. Na minha posse tivemos um momento de grande emoção ao nos abraçar.

Naquela noite, mesmo sem precisar dizer palavras, sabíamos que em algum lugar no tempo o destino havia reservado algumas páginas comuns para a história das nossas vidas.

Espero que você tenha tido a sorte, ou ainda venha a ter, de encontrar uma pessoa que sirva de referência e de estímulo para suas realizações.

Às vezes essa pessoa já existe e não nos damos conta - pode ser uma antiga professora lá do curso primário, um chefe, um amigo, um tio, enfim, alguém que com seu exemplo e orientação nos ajude a pegar o rumo da vida com as mãos firmes e o coração confiante.

Acima de tudo, tomara que, como eu, você encontre a pessoa que o ajude a descobrir sua verdadeira vocação, que lhe sirva de estímulo para que se apaixone por uma atividade. E que você seja feliz, muito feliz com a profissão que abraçar.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Procure uma atividade pela qual possa se apaixonar • Prefira fazer o que gosta mesmo que seja para ganhar menos • Se você fizer o que gosta, o dinheiro virá naturalmente • Quanto mais você conhecer uma atividade, mais gostará dela • Encontre uma pessoa em quem possa se inspirar • Não desista nunca. Esteja sempre atento às oportunidades

60 60 60 60 ---- Segredo do sucesso dos melhores palestrantes Segredo do sucesso dos melhores palestrantes Segredo do sucesso dos melhores palestrantes Segredo do sucesso dos melhores palestrantes

Neste ano completo 32 anos como palestrante e professor de oratória.

Ao longo desta longa e gratificante carreira, tive o privilégio de conviver com os melhores e mais importantes palestrantes do país. Sou amigo da maioria deles.

Embora minha atividade seja a de ensinar a falar, aprendi muito com a comunicação desses profissionais. Cada um com sua característica, com seu jeito, com seu estilo próprio de se expressar.

O sucesso desses palestrantes é tão extraordinário que muitos deles fazem palestras todos os dias e mesmo assim não conseguem atender metade dos convites que recebem para fazer suas apresentações.

O que esses comunicadores possuem de excepcional? Por que conseguem ser admirados e disputados pelas corporações? Quais as técnicas que utilizam para encantar as plateias?

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Aproveitei nossa amizade e estreito relacionamento para conversar com vinte dos melhores deles. Perguntei sobre os recursos, os métodos, os segredos que cada um guarda na manga para ser vitorioso na arte de falar em público.

De maneira resumida, quase em formato de dicas, vou revelar em uma dúzia de pontos o que descobri nessa pesquisa pessoal.

1 1 1 1 ---- Consideram os ouvintes. Consideram os ouvintes. Consideram os ouvintes. Consideram os ouvintes. Todos, sem exceção, levam em consideração as características, as necessidades e as aspirações dos ouvintes. Sempre procuram saber da maneira mais detalhada possível quem vai compor a plateia e o que essas pessoas esperam da sua apresentação.

2 2 2 2 ---- Conquistam logo no início. Conquistam logo no início. Conquistam logo no início. Conquistam logo no início. Revelaram que se esforçam para conquistar os ouvintes logo no início da palestra. Preparam um início que julgam apropriado para a circunstância, mas ficam atentos para descobrir se alguma informação do próprio ambiente poderia ser usada para substituir o que haviam preparado. Se encontram algo interessante não hesitam em mudar.

3 3 3 3 ---- Usam o humor. Usam o humor. Usam o humor. Usam o humor. Alguns de forma mais espalhafatosa, outros de maneira mais comedida, fazem do humor um recurso sempre presente para tornar a mensagem mais interessante e atraente. Para isso contam com a presença de espírito e a capacidade de observação para lançar mão de tudo o que ocorra no ambiente.

4 4 4 4 ---- Contam histórias. Contam histórias. Contam histórias. Contam histórias. Parece uma espécie de marca comum entre todos os bons palestrantes - todos sabem e gostam de contar histórias. Alguns deles até disseram que se não conhecem uma boa história verdadeira, inventam uma que ilustre seus conceitos e ajude os ouvintes a se lembrarem da mensagem.

5 5 5 5 ---- Analisam a reação da plat Analisam a reação da plat Analisam a reação da plat Analisam a reação da plateiaeiaeiaeia.... Por mais criteriosa que tenha sido a preparação, não hesitam em abandonar o que haviam planejado para ir ao encontro da nova realidade mostrada pelos ouvintes.

Consideram principalmente a emoção e a reação do público. Dizem que se o lado emocional não for aflorado, abrem espaço para a razão. E usam a emoção caso a razão não seja suficiente para motivar.

6 6 6 6 ---- Capricham nos recursos visuais. Capricham nos recursos visuais. Capricham nos recursos visuais. Capricham nos recursos visuais. Quase todos usam recursos visuais, filmes, músicas para esclarecer, ilustrar, tornar claro o que transmitem. Entretanto, esses apoios também têm como finalidade sensibilizar, emocionar para que possam persuadir, entreter e, às vezes, até convencer.

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7 7 7 7 ---- Mudam. Mudam. Mudam. Mudam. Pesquisam o que dá certo e afastam o que não estiver funcionando. Parece tão simples e óbvio, mas quantos oradores continuam insistindo nos mesmos erros por falta de iniciativa para promover mudanças.

Brincadeiras que dão certo hoje, podem não funcionar amanhã. Ao contrário, informações que não despertavam interesse em determinada época passam a ser motivadoras em outros momentos. Por isso a importância da mudança.

8 8 8 8 ---- Mantém o foco. Mantém o foco. Mantém o foco. Mantém o foco. Depois que chega a fama aparecem convites para falar sobre uma infinidade de temas. É difícil resistir à tentação. Afinal, como falam bem, basta estudar um pouco o assunto proposto e a palestra estará montada.

Depois de algum tempo, entretanto, quem age com esse descompromisso pode perder o foco. E quem fala sobre tudo acaba não sendo referência em nada.

9 9 9 9 ---- Atentam para a atualidade. Atentam para a atualidade. Atentam para a atualidade. Atentam para a atualidade. Embora a maioria trate quase sempre do mesmo tema, e em certas ocasiões até com as mesmas palavras, são estudiosos e eternos aprendizes.

O contato com as diversas regiões, a interação com pessoas de diferentes formações, a observação das constantes mudanças na vida corporativa, acabam se constituindo em fonte inesgotável de aprendizado e de conhecimento.

10 10 10 10 ---- Organizam a seqüência. Organizam a seqüência. Organizam a seqüência. Organizam a seqüência. Estruturam o raciocínio com rigor quase matemático. Sabem passo a passo todas as etapas que deverão cumprir, desde o início até a última frase. Assim podem cumprir os horários que lhes são determinados e contribuem para o sucesso e a organização dos eventos de que participam.

11 11 11 11 ---- Dão espetáculo. Dão espetáculo. Dão espetáculo. Dão espetáculo. O conteúdo é fundamental. É o que existe de mais importante em uma apresentação. Se o palestrante, todavia, se preocupar apenas com o conteúdo correrá grande risco de fracassar.

O conteúdo precisa ser regado de espetáculo, de tal forma que se torne atraente e interessante. Alguns palestrantes até não gostam de brincar muito, mas não hesitam em fazer o que for preciso para agradar os ouvintes.

12 12 12 12 ---- Gostam do que fazem. Gostam do que fazem. Gostam do que fazem. Gostam do que fazem. Todos gostam do que fazem e se emocionam diante do público, mesmo que tenham de repetir a mesma apresentação centenas de vezes durante o ano. Falam com o mesmo entusiasmo, independentemente do local onde tenham de se apresentar.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Prepare a forma de apresentar o conteúdo de acordo com os

ouvintes • Planeje um início de impacto e uma conclusão emocionante • Aprenda a usar o humor e a presença de espírito • Saiba contar histórias interessantes • Adapte o jeito de falar conforme a reação da plateia • Para me ver falando sobre alguns desses temas entre no meu

site no final deste texto

61 61 61 61 ---- Aprenda a ouvir e melhore de vida Aprenda a ouvir e melhore de vida Aprenda a ouvir e melhore de vida Aprenda a ouvir e melhore de vida Haja paciência para escutar o que alguns chatos nos dizem! Falam

pelos cotovelos e, no fim, por mais que você esprema as palavras, não sobra nada. A conseqüência grave dessa história toda é corrermos o risco de generalizar e nos fecharmos para quase todos aqueles que desejam falar conosco.

Embora muita gente fale bastante sem dizer nada, nem todo mundo é assim. Na verdade, o problema está também na outra ponta. A maioria efetivamente não sabe escutar. Pesquisas recentes realizadas por Larry Barker apresentam resultados impressionantes.

Segundo seus estudos, de maneira geral, usamos apenas 25% da nossa capacidade de audição, e depois de dois meses, se a comunicação for de muito boa qualidade, do total ouvido só 25% serão lembrados. Ou seja, além de ouvirmos mal, nossa memória auditiva também não é lá uma maravilha.

Por isso se você quiser crescer, prosperar, ser vitorioso nas relações sociais e na carreira profissional, vai precisar aprender a ouvir melhor. Veja como pode ser simples aprimorar a habilidade de ouvir e descubra benefícios e vantagens que irá obter.

Para alguns autores, há diferença entre ouvir e escutar. Ouvir é apenas uma atividade biológica, que não exige maiores esforços do nosso cérebro, enquanto que escutar pressupõe um trabalho intelectual, pois após ter ouvido, é preciso interpretar, avaliar e reagir à mensagem.

Como nem entre esses estudiosos há consenso, pois o que para uns é ouvir, para outros é escutar, e vice-versa, vamos desconsiderar essa polêmica. Independentemente do termo empregado, para a nossa análise vamos levar em conta a atividade da audição que põe o cérebro para funcionar e agir.

Por que temos dificuldade para escutar

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Velocidade em descompasso - Diferentes estudos mostram que o nosso pensamento trabalha numa velocidade quatro vezes mais rápido do que as palavras transmitidas oralmente.

Por esse motivo, às vezes, temos dificuldade de concentração. A pessoa precisa de um minuto inteiro para expressar o que podemos compreender em 15 segundos.

Sobram, portanto, 45 segundos para voar com o pensamento ocioso. Depois de algum tempo, podemos ficar entediados e em muitas situações deixamos de escutar o que estão falando.

Talvez essa diferença entre a velocidade do pensamento e das palavras ajude a explicar também por que a maioria das pessoas sente muito mais prazer em falar do que em ouvir.

Ouvidos interesseiros - Nossa audição é seletiva. De maneira geral, prestamos atenção nas informações que favorecem a nossa causa e os nossos interesses, e nos afastamos das mensagens que julgamos desfavoráveis aos nossos anseios.

Prejulgamos e distorcemos - Quando ouvimos uma mensagem que contraria a nossa forma de pensar, iniciamos um processo defensivo onde passamos, mentalmente, a debater as ideias contrárias, criticando as informações já transmitidas e procurando antecipar e resistir às novas mensagens.

O ambiente distrai - Todos os elementos e fatos que estão à nossa volta podem interferir na concentração. O ranger das cadeiras, a temperatura, uma pessoa tossindo, as máquinas que fazem barulho fora da sala podem desviar nossa atenção.

Escutar dá trabalho - Já vimos que escutar exige uma atitude ativa, concentração e esforço intelectual. Ocorre, entretanto, que a maioria de nós prefere ouvir de maneira passiva, sem analisar ou interpretar o que está sendo falado.

Por que escutar melhor Agora que já vimos alguns dos motivos que nos levam a ouvir mal,

vamos analisar por que é importante escutar. Só o fato de saber que muito do que conhecemos foi aprendido ouvindo as pessoas já justificaria mais dedicação para escutar melhor.

Pesquisa revelada por S. Moss e S. Tubbs revela como dividimos o tempo em que passamos acordados -17% lendo, 16% falando, 14% escrevendo e 53% ouvindo. Não é difícil deduzir as vantagens que obteríamos se aproveitássemos melhor todo esse tempo desperdiçado.

A maneira como escutamos pode interferir de forma decisiva no sucesso profissional e na qualidade do nosso relacionamento pessoal. As

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pessoas que têm dificuldade para escutar apresentam baixa produtividade no trabalho e dificuldade para se relacionar.

Se você tiver de se submeter a um processo de seleção de emprego, por exemplo, o fato de saber escutar irá se constituir num importante diferencial para perceber, de maneira correta, quais são as intenções da empresa e o que ela espera de você.

Como escutar melhor Para aprimorar a habilidade de escutar, dedique-se à prática de

algumas regrinhas muito simples e que dão excelente resultado: Entenda antes de interpretar ou criticar - O primeiro passo para

escutar melhor é refrear a tendência de interpretar ou criticar uma mensagem, antes mesmo que ela tenha sido concluída ou perfeitamente entendida.

Meça a sua compreensão - Pelo fato de termos, de maneira geral, uma audição passiva, quase sempre não nos preocupamos em saber quanto do que ouvimos efetivamente conseguimos lembrar. Um bom exercício para escutar melhor é procurar lembrar quais as informações que ouviu e quanto da mensagem conseguiu guardar.

Faça anotações - Um bom método para se concentrar nas informações que ouve é fazendo anotações dos tópicos que julgar mais importantes. É evidente que esse exercício deverá ser reservado para a participação em palestras, aulas e reuniões.

Saia um pouco de si mesmo - De maneira geral, ficamos tão preocupados conosco que acabamos nos esquecendo de que as outras pessoas necessitam ser reconhecidas e consideradas. Por isso, para melhorar sua capacidade de escutar, procure aceitar as pessoas como elas são e não como você gostaria que fossem.

Reconheça que existe a possibilidade de estar enganado em algumas opiniões e dê um voto de confiança para a maneira de pensar dos outros. Prepare-se para se empenhar nessa empreitada porque, com freqüência, poderá ficar tentado a desistir e se voltar novamente para si mesmo.

Não interrompa - Quando alguém estiver falando tente não interromper. A pessoa não irá ouvi-lo, pois ainda estará preocupada com o que teria a dizer. A pessoa que ouve pode ser mais bem vista do que a que fala.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Faça o teste que está no meu site - 'Analise sua capacidade de

ouvir' • Esteja consciente de que, se escutar melhor, só terá benefícios

na vida • Procure não julgar ou criticar o que uma pessoa tem a dizer

antes de ouvi-la • Depois de falar com alguém, revise os pontos mais importantes

da conversa • Anote as informações relevantes de palestras, aulas e

conferências para se concentrar • Faça o possível para levar em conta outras opiniões. Você pode

estar enganado

62 62 62 62 ---- Teste: Descubra se você fala bem Teste: Descubra se você fala bem Teste: Descubra se você fala bem Teste: Descubra se você fala bem Você fala bem? Faça o teste.Você fala bem? Faça o teste.Você fala bem? Faça o teste.Você fala bem? Faça o teste.

63 63 63 63 ---- Diga ¨não¨ sem magoar Diga ¨não¨ sem magoar Diga ¨não¨ sem magoar Diga ¨não¨ sem magoar Às vezes temos de dizer não. Entretanto, dizer não sem deixar que o

outro fique aborrecido é uma habilidade de comunicação que exige diplomacia, experiência, capacidade de observação e conhecimento dos sentimentos e das reações das pessoas.

A grande lição que recebi sobre esta verdadeira arte do convívio e do relacionamento talvez possa ser muito útil a você também. O mestre, provavelmente, não sabia que estava me ensinando, pois a aula foi ministrada naturalmente a partir de um exemplo prático.

Eu me lembrei dessa história porque há pouco tempo fui treinar um grupo de executivos no Hotel Jaraguá em São Paulo. Ao ver o ambiente, hoje todo remodelado, me veio à mente um encontro que tive naquele mesmo local com Leonel Brizola.

Eu havia sido contratado para preparar a comunicação do deputado Adhemar de Barros Filho, que se candidatara ao governo de São Paulo. Por isso, como eles pertenciam ao mesmo partido político, pedi a ele que intercedesse junto a Brizola, para que aceitasse ser o paraninfo de uma das turmas do nosso curso de expressão verbal. Era importante que ele aceitasse, pois os alunos o consideravam um dos melhores oradores em atividade no país.

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Fomos eu e o professor Jairo até o hotel para fazer o convite pessoalmente. Assim que terminaram a reunião do partido, o líder revolucionário veio em minha direção com um largo sorriso: 'Caro professor Polito, o senhor não imagina a satisfação que tenho em conhecê-lo. O Adhemar me falou muito bem a seu respeito. Em que posso ajudá-lo?'

Eu, todo satisfeito com a receptividade, fui direto ao ponto: 'Gostaria muito que aceitasse o convite para ser o paraninfo das turmas do nosso curso de expressão verbal. Os alunos estão aguardando ansiosamente por uma resposta positiva, pois o consideram um dos maiores oradores da nossa história'.

Mantendo o mesmo sorriso ele me disse: 'Professor Polito, além de ter a honra de conhecê-lo pessoalmente, o senhor acaba de me dar uma das maiores alegrias, a de ser convidado para ser o paraninfo das turmas do seu curso. Jamais vou me esquecer deste momento que me envaidece e me dá tanto orgulho. Prometo que vou caprichar no discurso para não decepcionar seus alunos e ao senhor.

Quando o Adhemar falou a seu respeito e me perguntou se havia ouvido falar sobre a sua escola de oratória, eu disse a ele que já o conheço de longa data e sempre refleti sobre uma questão: como a minha vida de orador teria sido diferente se tivéssemos nos encontrado há mais tempo'.

'Professor, embora estejamos nos conhecendo pessoalmente agora, as referências que tenho sobre o seu trabalho são tantas que tenho a impressão de conhecê-lo há muitos anos. Pode ter certeza de que não somos estranhos um para o outro.'

'Esta data que o senhor marcou coincide com as viagens que programamos para esta fase da campanha. Por isso, peço-lhe que mantenha o convite de pé para que eu possa realizar este sonho que agora passa a fazer parte da minha vida - ser paraninfo de uma das turmas do seu curso.'

Nós nos despedimos, e o Jairo comentou satisfeito: 'Puxa, que belo encontro. Viu como ele gostou do convite?! Foi só elogio o tempo todo.' E eu, caindo em mim, disse a ele; 'Mas, você percebeu que ele não aceitou o convite?' Demonstrou tanta consideração pelo nosso pedido que mesmo dizendo não, saímos com a sensação tão positiva como se ele tivesse dito sim.

Analise bem a maneira como tem dito não às pessoas. Se concluir que não está levando em conta os sentimentos delas, procure mudar o comportamento e passe a agir com mais diplomacia e gentileza. Lembre-

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se de que às vezes precisamos dizer não, mas nem por isso precisamos magoar as pessoas.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Leia o texto 'Aprenda a dizer não' • Não diga sim quando tiver de dizer não • Procure dizer não sem magoar as pessoas • Diga não, valorizando a pessoa, o pedido ou a circunstância

64 64 64 64 ---- Aprenda a falar no elevador Aprenda a falar no elevador Aprenda a falar no elevador Aprenda a falar no elevador

Manter contato com gente importante é difícil. Essas pessoas são

muito ocupadas e vivem cercadas de secretárias e assistentes que atuam como verdadeiros cães de guarda. O mais complicado da história é que se você tiver algum negócio de peso para resolver só elas é que poderão decidir.

Por isso, um contato inesperado fora do quartel-general onde os manda-chuvas costumam se alojar pode significar a solução de meses de tentativas malsucedidas.

Só que tudo fica simples no papel, pois é fácil dizer: vai lá e fala com a fera. Entretanto, quando chega a hora de colocar o sino no gato é preciso ter peito. Diria mais, peito e técnica.

Só como exemplo, imagine que esteja no avião onde também viaja aquela importante pessoa que poderia influenciar na aprovação de um grande projeto que exigiu muita dedicação da sua equipe.

O contato tem de ser muito rápido, logo após o embarque, ou no momento do desembarque, quando passamos pela poltrona em que ela está sentada. Nenhuma palavra poderá ser desperdiçada, pois o tiro precisa ser na mosca.

É a realidade. Quem toma decisões importantes quase sempre é muito ocupado e não tem tempo para ouvir demoradamente uma proposta, por mais relevante que ela seja.

E sabe onde essa comunicação rápida, objetiva, direta, encantadora pode ser treinada e aperfeiçoada? Entre as diversas opções disponíveis, uma das mais práticas, eficientes, e por que não dizer, estranhas, é no elevador.

Nem todo mundo gosta de falar no elevador. Alguns até se esquivam dessas situações. Inicialmente protegem seu espaço, mantendo a maior distância dos outros passageiros.

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Começam a se instalar nos cantos e só usam o espaço central quando todos já foram ocupados. Olham no rosto das demais pessoas só no momento de cumprimentar e depois desviam os olhos para outros lugares daquele restrito espaço.

Talvez por causa do constrangimento quase generalizado que se observa nos elevadores é que alguns estudiosos da etiqueta comportamental aconselham categoricamente que não se deve falar neste local.

Entretanto, para o nosso objetivo, que é desenvolver técnicas para comunicar mensagens completas e importantes em alguns segundos, vamos rasgar as cartilhas da etiqueta e fazer do elevador nosso campo de treinamento.

Se você conseguir iniciar, desenvolver e concluir uma conversa agradável, simpática e cativante, dentro do elevador - no percurso entre quatro ou cinco andares -, estará apto a falar com quem quer que seja dentro de aviões, saguões de aeroportos, restaurantes, filas de teatros e, assim, atingir seus objetivos.

Para começar cumprimente. Embora alguns cumprimentem os outros passageiros assim que entram no elevador, a verdade é que nem todos têm essa atitude educada e cordial e, aqueles que cumprimentam, de forma geral o fazem com reservas e sem simpatia.

Não estou sugerindo que alguém banque o palhaço e fique tagarelando como um bobo da corte. Esse comportamento é inconveniente e pode ser encarado como uma atitude desrespeitosa. As pessoas podem sentir que estão tendo sua privacidade invadida.

Começar é o mais complicado. Depois do cumprimento, você precisa iniciar rapidamente a conversa, até porque o tempo é curto e qualquer hesitação poderá fazer com que as pessoas se desviem e levantem barreiras para sua aproximação.

Os comentários casuais são os mais eficientes porque dão a impressão de que é a seqüência natural de uma conversa. Assim, se perceber uma sacola de compras na mão do outro passageiro, evite perguntar se ele foi ao supermercado. Tome o fato como consumado.

Comente, por exemplo, como você tem se surpreendido com o aumento de preços de alguns produtos ou como a qualidade de alguns itens vendidos pelos supermercados tem melhorado. Fazer comentários sobre objetos que a pessoa está carregando é a primeira dica para iniciar a conversa.

Quando as pessoas estão saindo ou chegando, é comum carregarem algum tipo de objeto, como sacolas de supermercados, livros, revistas,

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aparelhos e muitos outros ligados ao dia-a-dia. Ao comentar sobre esses objetos indicará que possuem informações comuns.

Se, depois do seu comentário, a pessoa não der continuidade à conversa, aí sim faça uma pergunta relacionada ao tema para estimulá-la a falar. Por exemplo, se você disse que já tinha lido alguns livros do Cesar Romão, mas que ainda não teve a oportunidade de ler aquele particularmente que ela está levando, e mesmo assim a pessoa continuar calada, você poderia perguntar, por exemplo, se ela já havia começado a ler e se estava gostando da história.

Use as crianças. As crianças se constituem em excelentes motivos para você iniciar uma conversa no elevador. Se estiverem cansadas ou com sono, poderá comentar como é difícil para elas agüentarem o corre-corre do dia-a-dia.

Se estiverem serelepes, será possível falar da sua energia e disposição. Se estiverem vestidas para a festa, diga como ficam bonitas com esse tipo de roupa.

Evite fazer o comentário ou dirigir a pergunta para a própria criança, pois geralmente são arredias e, no lugar da resposta, coçam a cabeça e resmungam irritadas. Fale sobre elas com os pais ou com quem as estiver acompanhando.

Atenção: se os pais estiverem repreendendo os filhos, ou se estes estiverem chorando por qualquer motivo, é melhor apenas sorrir, demonstrando simpatia e compreensão, e ficar quieto. Outras vítimas virão.

É hora da boia. Horário de refeição pode proporcionar bons comentários. Seria possível dizer, por exemplo, que depois de um intenso dia de trabalho, com o frio que está fazendo, nada como uma sopinha com pão para recuperar o ânimo, ou, se estiver muito calor, nada como uma boa salada para não empanturrar e dar uma refrescada.

Dependendo do tipo físico da pessoa, se você perceber que ela possui uma barriguinha proeminente e as bochechas rosadas, deve ser chegado numa loirinha gelada e, neste caso, poderá falar também da cervejinha.

Falando em comida, se notar que a pessoa fez regime para emagrecer, não perca a oportunidade de comentar sobre o assunto. Com a vantagem de que, se ela ficar empolgada com a explicação do número de calorias, em mais três ou quatro andares você estará livre.

No final de semana não falha - sempre tem alguém chegando com uma caixa de pizza e prontinho para devorá-la. Falar desse troféu domingueiro é uma das melhores maneiras de tocar no assunto de seu interesse.

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Tenha cautela com as flores. Quando alguém entra no elevador carregando um ramalhete de flores, de maneira geral fica pouco à vontade com essa demonstração de romantismo.

Lógico que é besteira, mas é comum que se sintam constrangidos. Por isso, fale do seu gosto pelas rosas, cravos, orquídeas. Diga que não tem encontrado flores tão bonitas e não pergunte se é dia de festa ou se tudo isso é amor ou paixão.

Existe esse constrangimento natural das pessoas quando estão no elevador, mas há também aquelas situações em que a contrariedade ocorreria em qualquer circunstância. Fique atento para perceber essas reações e não fazer comentários ou perguntas inconseqüentes.

Afora esses casos especiais, não vacile, vá em frente, aprenda a conversar no elevador e a esgotar assuntos em pouco tempo. Essa habilidade bem treinada ajudará muito quando precisar falar rapidamente em qualquer circunstância e o projetará como uma pessoa simpática e comunicativa.

Tomara que na próxima oportunidade já consiga fechar um bom negócio. Se essa proeza ocorrer, escreva contando para mim no endereço que está no final do texto.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Quando entrar no elevador, cumprimente as pessoas • Comente sobre os objetos que elas estejam levando • Comente sobre o comportamento das crianças acompanhadas

dos adultos • Comente sobre as flores, sem perguntar quem será presenteado • Se o clima estiver pesado, prefira ficar quieto

65 65 65 65 ---- Que novidade é essa? Que novidade é essa? Que novidade é essa? Que novidade é essa?

Talvez o que você imagina ser uma grande novidade não passe de

velhas práticas com nova roupagem. As pessoas se surpreendem ao descobrir que atividades que pareciam ser obras dos novos tempos não passam de costumes antigos que foram modernizados.

Minha atividade de comunicador começou cedo. Eu não tinha ainda 15 anos de idade quando já perambulava pelos serviços de alto-falante em Araraquara, no interior de São Paulo.

Até hoje me lembro do jargão que usávamos nos anos 1960: este é o serviço de alto-falante que abrilhanta as festividades da quermesse da igreja

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Nossa Senhora das Graças. Aqui você ouve as mais belas canções de ontem, de hoje e de sempre.

Dando início à programação desta noite vamos ouvir na voz de Ângela Maria, Babalu, que o rapaz de camisa azul oferece à moça de vestido rosa como prova de admiração e muito interesse.

Tudo muito simples, primário, ingênuo, bem de acordo com a vida tranqüila e sem sofisticação que se levava. A comunicação perfeita para a época certa.

O objetivo era chamar a atenção das pessoas para que comparecessem à quermesse e, ao mesmo tempo, proporcionar alegria e descontração àqueles que praticamente não tinham nenhum outro tipo de lazer.

A voz dos locutores (incluindo a minha) era impostada de maneira artificial e as palavras pronunciadas de forma exagerada. Eu era um garotão, estava ainda engrossando a voz, e várias vezes fui repreendido com severidade pelo Grila, que era o responsável zeloso por tudo o que acontecia naquele rudimentar serviço de comunicação.

Ele dizia que se eu continuasse usando o erre gutural jamais poderia me dedicar à comunicação. Eram conceitos de uma época em que o jeito de falar afetado se constituía num padrão dos locutores, principalmente daqueles que atuavam nos serviços de alto-falante.

Mas não se iluda pensando que só tocávamos Babalu. Não, entre um Babalu e outro giravam, com todos os chiados que tinham direito, Quero beijar-te as mãos, com Anísio Silva e Carinhoso, com Orlando Silva, e... dá-lhe Babalu.

Os rapazes costumavam se comunicar com as moças oferecendo músicas e se identificando pela cor da roupa. O 'footing' começava por volta das 19h e terminava no máximo às 22h30. Era um tempo em que as pessoas se deitavam cedo porque no dia seguinte precisavam madrugar.

Os rapazes enfileiravam-se dos dois lados da calçada, enquanto as moças, como se fosse um cortejo, em duplas ou em trios, de braços dados, passeavam entre eles, fazendo o mesmo trajeto o tempo todo.

Nessa caminhada elas 'flertavam' com aqueles que lhes despertavam interesse e, como não fazia parte do costume a mulher tomar a iniciativa de conversar com os rapazes, ficavam na torcida para que eles as procurassem.

Por isso, os mais tímidos usavam o recurso do alto-falante para revelar suas intenções. Algumas moças que não eram tão bonitas frequentavam o 'footing' todos os finais de semana e voltavam sozinhas para casa.

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Jovem ainda, eu ficava com dó delas e de vez em quando inventava que alguém que não existia lhes oferecia uma música. Não sei se ajudava ou não, mas a intenção era dar a elas um pouco de alento e de alegria.

Pelo menos no dia seguinte teriam como contar alguma vantagem: 'ontem à noite me ofereceram música o tempo todo, mas enquanto não aparecer aquele que me interessa mesmo prefiro ficar sozinha'.

Falar em 'footing', serviço de alto-falante e quermesse nos dias de hoje soa como se fossem informações de outro século - e na verdade são. A maioria dos leitores, e muito provavelmente você, ainda não havia nascido.

Entretanto, se observarmos bem, vamos verificar que o que era feito na época das quermesses interioranas ocorre hoje com uma roupagem diferente. As músicas que os rapazes ofereciam às moças identificando-se apenas pela cor da roupa nada mais são que os 'modernos' e 'revolucionários' torpedos enviados pelos telefones celulares, com ou sem imagem.

Os 'footings' que as moças faziam todas as semanas, na esperança de encontrar alguém que pudessem namorar, nada mais são que os passeios descontraídos que as meninas e meninos fazem pelos corredores dos shoppings, ou na praia, com o mesmo objetivo de encontrar o parceiro ou a parceira com quem possam 'ficar', 'dar um rolo', ou até namorar (essa expressão não precisa de aspas).

Quanto à comunicação, o Grila, provavelmente, me pediria desculpas por ter insistido tanto para que eu mudasse o erre gutural. Deve se espantar ao ver que a maioria da população se expressa dessa maneira e que é uma forma de falar perfeitamente aceita por quem vive dentro ou fora dos praticamente extintos serviços de alto-falante.

As músicas, bem, as músicas. Quase caí das pernas quando outro dia, num badaladíssimo programa de televisão, vejo nada mais, nada menos que Ângela Maria interpretando de forma magistral... Babalu.

Fiquei ali diante da tela, matando a saudade daquele tempo em que as pessoas viviam com tanta simplicidade, movidas por objetivos tão ingênuos para os dias de hoje.

Naqueles poucos minutos em que a grande rainha do rádio cantava aquela canção tão antiga, passou pela minha lembrança as moças de braços dados, sorrindo timidamente ao cruzarem com os olhos dos rapazes e com o coração disparado na esperança de que eu ou o Grila disséssemos pelo serviço de alto-falante que ele estava oferecendo aquela música para ela, como prova de admiração e muito interesse.

Fiquei emocionado, quase chorei. Olhei dos lados para me certificar de que estava sozinho e disse, estalando os dedos - dá-lhe Babalu!

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Afeto, amizade, relacionamento são valores sempre atuais • Por mais sofisticada que seja a tecnologia, a simplicidade

continua tendo valor • A felicidade não depende da sofisticação, mas da forma de viver

a vida • Dizer 'eu te amo' nunca sai de moda

66 66 66 66 ---- Aprenda a descrever para emocionar Aprenda a descrever para emocionar Aprenda a descrever para emocionar Aprenda a descrever para emocionar

A capacidade de descrever é tão importante na comunicação que

Pascal chegou a dizer que 'eloqüência é a pintura do pensamento'. Ou seja, segundo o grande pensador, é eloqüente aquele que com as palavras consegue pintar o quadro que está em sua mente.

Os grandes oradores, de maneira geral, possuem extraordinária habilidade para descrever cenas reais ou imaginárias. É assim que envolvem ou persuadem os ouvintes.

Waldir Troncoso Peres, um dos mais extraordinários oradores da história do Direito do país, quando compareceu à conclusão de um dos nossos cursos de expressão verbal, falou sobre a importância dessa habilidade na comunicação.

Ele comentou que o poder de descrição usado pelo famoso advogado criminalista italiano Enrico Ferri era tão eloqüente que quando descrevia uma locomotiva atropelando uma criança, os ouvintes se levantavam com a impressão de que a máquina estava atravessando o plenário.

O próprio Troncoso Peres sempre foi um orador eloquente também pela habilidade com que descrevia cenas ou as criava na imaginação do público. Ao falar da sua paixão pela advocacia, descreveu o fato com tanta expressividade que deu a impressão de que era perseguido, agarrado e quase sufocado por sua atividade:

- Porque quando eu estava cansado da advocacia, e eu ia descansar, só me retemperava na advocacia. Num processo de obstinação patológica. Porque eu sempre a amei, porque ela vive dentro de mim, porque ela está incorporada a mim. Porque ela é minha companheira, porque ela não se descarta de mim, porque ela não me é infiel, porque ela não me dá trégua, porque ela me persegue. E apesar de tudo isso eu a amo.

Procure ler esse discurso falando rápido, como se estivesse querendo fugir de uma perseguição. Assim compreenderá e sentirá melhor a competência da descrição do orador.

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Outro comunicador excepcional, que soube como ninguém usar a capacidade para descrever foi o saudoso Fiori Gigliotti. Era um verdadeiro artista da palavra. A maneira como descrevia as jogadas transportava o ouvinte para dentro do campo de futebol.

Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo, torcida brasileira. Era assim que Fiori avisava ao torcedor que o jogo havia terminado. Essa e outras frases marcaram sua longa trajetória narrando jogos de futebol.

Ele sabia como poucos descrever e criar cenas que mexiam com a emoção dos ouvintes. Transformava jogos sem muitos atrativos em espetáculos inesquecíveis.

Um de seus méritos era narrar o jogo exatamente como ele ocorria, só que da maneira como o torcedor gostaria de ouvir. Fazia com que as pessoas se sentissem dentro do estádio, acompanhando lance por lance cada momento da partida. O início já era uma emoção com mais uma de suas famosas frases: 'Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, torcida brasileira'.

Nós, interioranos, sempre tivemos muito orgulho em ver um jogador que havia pertencido ao nosso time atuando numa grande equipe. Por isso, mexia com esse sentimento ao dizer: 'Balão subindo, balão descendo, cabeça na bola aliviando. Pelé tenta passar e não passa, a bola fica com Dudu, o moooço de Araraquara'.

O encerramento do jogo era mais emocionante ainda, pois o torcedor da equipe que estava vencendo ansiava por aquele momento, enquanto o do time perdedor rezava para que o jogo continuasse, mas, como ele mesmo dizia 'agora não adianta chorar' e encerrava: 'apita o árbitro, fecham-se as cortinas e termina o espetáculo, torcida brasileira'. Que saudade do Fiori Gigliotti!

Em certas circunstâncias a descrição, deve servir apenas para tornar clara determinada informação e ajudar o ouvinte a acompanhar com mais facilidade o desenvolvimento do raciocínio. Em outros momentos, ela deve criar imagens na mente do ouvinte para sensibilizá-lo e envolvê-lo com a proposta da mensagem.

Veja a diferença de dois discursos políticos que falam do mesmo tema. Na hipótese A, embora a mensagem seja verdadeira, dificilmente conseguiria persuadir os eleitores. Na hipótese B, ao usar o recurso da descrição, as chances de conquistar votos são maiores:

A - Se eleito, prometo asfaltar e iluminar as ruas deste bairro. B - Vocês têm sofrido muito por causa da falta de asfalto e de

iluminação. Quando chove, as ruas viram um verdadeiro inferno. Vocês são obrigados a caminhar na lama, sujar os sapatos e a roupa.

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Quando faz sol a situação pode ser ainda pior. É só bater o vento e a poeira vai para dentro de casa, sujando a roupa que está no varal, as cortinas, os lençóis da cama.

A falta de iluminação se transformou em motivo de desespero. Quem consegue dormir sossegado enquanto os filhos não chegam do trabalho ou da escola? Quantos já foram assaltados e, infelizmente, até estuprados porque são obrigados a caminhar sozinhos, sem proteção à noite pelas ruas escuras.

Nós podemos mudar essa situação. Basta que me elejam como seu representante na Câmara Municipal. Em outubro, votem em mim para vereador.

A descrição mais detalhada dos fatos pode fazer com que os ouvintes percebam de forma mais clara os problemas que estão enfrentando e se sintam motivados a ter ao seu lado alguém interessado em solucioná-los.

Embora o exemplo tenha sido da fala do político, o recurso da descrição pode ser utilizado em todas as situações.

O risco de quem começa a descrever os detalhes da mensagem com o objetivo de esclarecer ou persuadir os ouvintes é o de cair no outro extremo e se tornar prolixo. Lembre-se de que a cada dia mais as pessoas estão ocupadas, atarefadas e, por isso, exigem apresentações objetivas e diretas.

Essa é uma qualidade que exige muita prática, observação e bom senso. Foi assim que sempre atuou Troncoso Peres nos 50 anos em que freqüentou o tribunal do júri.

Foi assim que agiu Fiori Gigliotti também nos cinqüenta e tantos anos em que esteve à frente dos microfones criando e descrevendo quadros que em muitas ocasiões existiram apenas na imaginação dele.

Fiori partiu há dois anos. Nunca mais vou ouvir aquela voz que me acompanhou durante toda a vida. Ele esteve presente em uma época em que a televisão era privilégio de poucos e podíamos apenas contar com a magia do rádio.

Parece que estou ouvindo sua frase de despedida: 'fecham-se as cortinas e termina o espetáculo, torcida brasileira'. Que pena!

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda a descrever cenas para que os ouvintes possam vê-las em pensamento

• Fale como se precisasse entender com as limitações do ouvinte • Treine sua capacidade de descrever nas conversas do dia a dia • Tome cuidado para não se tornar um orador prolixo

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67 67 67 67 ---- Sua comunicação deve ser um show Sua comunicação deve ser um show Sua comunicação deve ser um show Sua comunicação deve ser um show Se você tiver de falar em uma convenção de vendas para uma plateia

de 500 vendedores, num hotel à beira da praia, e tentar passar uma mensagem com conteúdo profundo do princípio ao fim, suas chances de fracasso serão de dez para dez.

Se, por outro lado, em uma reunião para explicar resultados e definir o planejamento estratégico para o ano seguinte, diante de meia dúzia de conselheiros passar o tempo todo contando piadinhas e histórias engraçadas, suas chances de fracasso talvez mudem um pouco. Possivelmente, serão de onze para dez.

Peguei duas situações hipotéticas extremas para mostrar que o resultado de uma apresentação irá depender de como você adapta a maneira de falar à circunstância, ao contexto e, principalmente às características dos ouvintes.

Nas duas hipóteses você deveria ter a preocupação de deixar uma mensagem importante, só que a maneira de falar precisa ser adequada ao tipo de evento onde irá se apresentar.

A boa comunicação deve ser a conjugação bem dosada de conteúdo e espetáculo. Você deve 'regar' o conteúdo com a quantidade ideal de espetáculo para que os ouvintes possam se interessar pela mensagem e para que o resultado da apresentação seja positivo e atinja os objetivos desejados.

Na primeira hipótese, a convenção de vendas, você deveria transmitir o conteúdo com uma grande dose de espetáculo. Essa não seria uma situação propícia para mensagens técnicas que exigissem concentração por tempo muito prolongado.

São eventos em que você deve resumir os pontos mais relevantes das informações que deseja comunicar e fazer o show para que os ouvintes fiquem interessados.

Já na reunião do conselho a expectativa dos ouvintes é a de receber o conteúdo com precisão e objetividade. Neste caso você deveria programar a maior quantidade possível de informações técnicas e o mínimo de espetáculo.

Não se esqueça, entretanto, de que mesmo sendo uma reunião de conselho você irá tratar com seres humanos, que sempre precisam de um pouco de show para manter o interesse.

Você deve estar pensando que show é esse, já que, talvez, não tenha dons artísticos que pudessem atrair a atenção e manter o interesse de uma

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plateia. Garanto que você possui condições para dar o espetáculo de que precisa para ter sucesso em suas apresentações.

Pense bem: o que você sabe fazer que agrada as pessoas em suas conversas sociais, com amigos, colegas de trabalho ou pessoas da família? Você sabe contar histórias, piadas, ou fazer imitações? Você tem presença de espírito e sabe se valer de ironias finas para deixar o ambiente mais descontraído? Enfim, o que você sabe fazer de interessante?

São essas habilidades que você usa tão naturalmente no dia-a-dia que servirão de recurso para que possa dar o espetáculo na medida certa de acordo com as necessidades da circunstância e do tipo de ouvinte que terá pela frente. Você não precisará fazer nada diferente do que já sabe fazer, apenas usar um pouco mais ou menos de 'tempero' para se adequar à situação.

Agora, uma informação interessante: você precisa ver a quantidade de alunos que já treinei e que me disseram que eram casos perdidos, pois não possuíam nenhum atributo que os tornassem estimulantes diante do público. Em quase todos os casos foi possível descobrir habilidades que estavam adormecidas, esperando uma boa oportunidade para serem exploradas.

A maioria não tinha consciência do que poderia produzir de positivo com sua comunicação. Outros, por comodismo, preferiam dizer que não sabiam fazer nada só para não se exporem.

Talvez esse também seja o seu caso. Por isso, observe nas conversas que mantém com as pessoas mais próximas o que dá certo para mantê-las interessadas quando você fala. Mesmo imaginando a pior das hipóteses, posso garantir que sempre haverá tempo para aprender. Como dizia meu avô, ainda que seja como um remédio.

Comece contando histórias curtas para as pessoas mais próximas, de preferência da sua família. Vá aperfeiçoando a narrativa até sentir que possui pleno domínio do que irá contar, com começo, meio e fim.

Não precisa ser nada muito sofisticado, qualquer história curta e interessante poderá servir nessa fase de aprendizado. Quando já tiver dominado a primeira, parta para a segunda, para a terceira, até que consiga montar um repertório que o ajude a dar o espetáculo que suas apresentações precisam para ser bem-sucedidas.

Vale a pena investir no aprimoramento desses recursos que poderão garantir excelentes resultados para sua comunicação. Espero que descubra o que sabe fazer de melhor e passe a explorar esse potencial sempre que precisar falar em público.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Descubra o que você sabe fazer de melhor e use em suas

apresentações • Treine contar histórias interessantes para amigos e pessoas da

família • Tudo o que agrada nas conversas informais poderá dar certo

diante da plateia • Saiba dosar o show de acordo com o tipo de ouvinte que terá

pela frente 68 68 68 68 ---- Dica do homem que mais ganhou dinheiro no Dica do homem que mais ganhou dinheiro no Dica do homem que mais ganhou dinheiro no Dica do homem que mais ganhou dinheiro no mundo mundo mundo mundo

Impressionante a notícia publicada pelo 'Valor Econômico'. Warren

Buffett, o homem mais rico do mundo, aquele que mais sabe ganhar dinheiro, dá uma dica de ouro aos executivos: invistam na comunicação escrita e oral.

Segundo Buffett, 'essa competência tem um enorme retorno, pois aquele que se comunica bem tem um grande impacto para vender e persuadir'. O investidor bilionário também faz um alerta: 'A importância da comunicação não está sendo devidamente enfatizada nas escolas de negócios'.

Observe que Buffett não está afirmando que o executivo (e aqui dá para estender aos profissionais de quase todas as áreas) deva ter talento natural, nem que as escolas de negócio precisam se dedicar a esse ensino, mas sim que chamem a atenção sobre a importância da boa comunicação no mundo corporativo.

Outra informação relevante desse lendário mago das finanças é que 'aquele que comunica bem tem um grande impacto para vender e persuadir'. Com certeza, esse homem tão inteligente, sagaz e experiente não escolheu esses dois verbos sem motivo.

Buffett sabe que na vida, de uma maneira ou de outra, estamos sempre vendendo, seja um produto, seja uma ideia, seja uma competência. E não há dúvida de que, quanto melhor for a qualidade da comunicação, mais eficiente será o vendedor.

Da mesma forma, o homem dos cifrões é astuto o suficiente para saber que, de maneira geral, no mundo dos negócios mais persuadimos do que convencemos.

Enquanto convencer é levar alguém a agir pelo argumento em si, persuadir é fazer com que uma pessoa tome ou não uma iniciativa sem que esteja necessariamente convencida.

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A importância da arte de falar bem no processo de persuasão é fundamental, porque pressupõe que aquele que comunica a mensagem sabe quais são as aspirações e os desejos do interlocutor. E conhecer o ouvinte está na essência do estudo da oratória.

Finalmente, cabe aqui analisar a primeira palavra da sua mensagem - retorno. Nesse caso podemos considerar o retorno tanto para quem sabe se expressar bem, como para organização para a qual o executivo trabalha. Mesmo não sendo possível mensurar o resultado com números exatos, os benefícios são muito evidentes.

Bem, se a boa comunicação é assim tão importante para a carreira do executivo e para os negócios das corporações, como será que esse assunto está sendo tratado em nosso país? Até por vivência profissional posso dizer que o tema não foi negligenciado.

Algumas faculdades e universidades, em alguns de seus cursos especiais, ensinam os executivos a falar com segurança, desembaraço e de forma persuasiva. Assim como Buffett, essas escolas também concluíram que a boa comunicação é importante para a atividade do executivo.

Pessoalmente tenho algumas experiências interessantes. Por exemplo, ministro a matéria 'Comunicação Oral' nos cursos de pós-graduação em Gestão Corporativa, na ECA-USP, e 'Técnicas de Comunicação' no MBA da Faap. Além de conversas adiantadas para assumir as mesmas matérias nos cursos de pós-graduação da Fecap.

Talvez não seja muito, pois esse tema deveria ser ampliado de forma generalizada. Entretanto, temos de concordar que a iniciativa dessas escolas de ponta é um sinal bastante positivo de que a comunicação está sendo vista como assunto relevante.

As empresas também se dispõem a preparar seus funcionários mais importantes para que desenvolvam uma comunicação de boa qualidade. Basta dizer que mais de 60% dos gerentes e diretores que freqüentam meu curso são financiados pelas empresas onde trabalham.

Cuidado para não se enganar. Não pense que falar bem significa apenas 'falar bonito', ou que se trata de uma arte que tem importância apenas nos seus aspectos periféricos.

Saiba que, ao contrário do que alguns imaginam, falar bem é saber explorar de forma competente todo o potencial de comunicação que a pessoa desenvolveu ao longo da vida.

Além de saber aproveitar o que a vida naturalmente proporcionou para o desenvolvimento da comunicação, falar bem é acima de tudo saber ordenar o pensamento, usar a argumentação adequada e as técnicas de persuasão para atingir os objetivos pretendidos.

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Assim, aprovar um projeto, vencer uma contenda na mesa de negociação, motivar uma equipe a superar desafios impostos pelo mercado, e tantas outras conquistas que fazem parte das atribuições normais dos executivos dependem essencialmente da qualidade e da eficiência da comunicação.

Por isso se você for executivo, ou estiver se preparando ocupar essa função, ou desenvolve uma profissão liberal, ou esteja em qualquer atividade que exija competência na comunicação, não espere mais para buscar seu aprimoramento. Falar bem é uma atividade que além de ser útil dá muito prazer em qualquer circunstância.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Falar bem tem grande impacto para vender e persuadir • Falar bem dá retorno para o executivo e para a organização • Falar bem não significa apenas falar bonito • Falar bem significa explorar e aperfeiçoar a comunicação já

aprendida • Falar bem significa concatenar bem o raciocínio • Falar bem significa usar os argumentos com competência

Se você deseja saber como Warren Buffett consegue ganhar tanto

dinheiro, leia o livro 'O jeito Warren Buffett de investir', de Robert G. Hagstrom, publicado pela Editora Saraiva

69 69 69 69 ---- Logo você será um grande orador Logo você será um grande orador Logo você será um grande orador Logo você será um grande orador

Se você não gosta de futurologia sugiro que não perca tempo lendo

este texto. Eu apenas me baseei nas informações disponíveis em 2008 e brinquei com a imaginação para prever o futuro da arte de falar em público.

Supondo que eu esteja certo, no futuro você poderá falar em público com segurança, desembaraço e muita eficiência sem se preocupar em fazer um curso de oratória. Ou seja, estou prevendo que como professor nessa área meus dias estão contados.

Escolhi uma data não muito distante para chegar com minhas previsões - 2020. Embora este período de 12 anos seja relativamente curto para uma expectativa de vida que vai romper a casa dos 80, uma verdadeira revolução vai ocorrer na vida de todos nós, especialmente na comunicação.

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Nos próximos 12 anos vamos experimentar transformações tão acentuadas que conheceremos uma existência distinta, nova, muito diferente da que temos hoje.

O que consumia décadas para ser desvendado agora fica esclarecido em meses, às vezes em semanas e até em dias, pois os resultados das descobertas científicas são cumulativos e se somam ao conhecimento já existente para acelerar o encontro de outras soluções.

Segundo alguns pesquisadores, a ciência evoluirá com tal velocidade que a maioria dos problemas que nos afligem agora daqui a poucos anos parecerá informação pré-histórica.

Duas áreas do conhecimento têm papel preponderante nesta verdadeira metamorfose que a sociedade experimentará nos próximos anos: as descobertas decorrentes das pesquisas do genoma e o desenvolvimento da informática.

Para apoiar minhas previsões vou me valer da afirmação feita pelo cientista americano Raymond Kurzweil: os computadores pessoais vão atingir inteligência equivalente à humana em 2020.

Outro fato relevante é que os recentes mapeamentos do código genético já indicam que por esse caminho os cientistas descobrirão a origem das doenças que hoje nos destroem, e poderão indicar os meios terapêuticos que nos livrarão delas.

É possível supor que com esse mapeamento os fatores orgânicos que nos provocam desconforto para usar a palavra em público poderão ser controlados e nos deixar seguros e confiantes diante das plateias.

Pense como seria confortável fazer apresentações diante de qualquer tipo de plateia sem que o organismo sofresse nenhum tipo de alteração. Tudo amparado rigorosamente no conhecimento científico.

Ainda segundo Kurzweil, a inteligência artificial que será desenvolvida com o auxílio dos computadores dará ao ser humano uma competência que hoje ele ainda não possui para se expressar verbalmente.

Os chamados nanobots, computadores tão pequenos quanto o tamanho das células sangüíneas, poderão chegar ao cérebro e suprir as deficiências da linguagem.

Com a velocidade própria e cada vez maior dos computadores, essas minúsculas engenhocas ajudarão a encontrar palavras e a construir frases com a entonação perfeita para a transmissão de todo tipo de mensagem.

Essa conjugação da inteligência humana com a eficiência da informática permitirá que você estruture rapidamente o raciocínio. Além disso, você estará 'equipado' para prever as resistências dos ouvintes e encontrar os melhores caminhos para afastar essas objeções.

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Você poderá se comunicar com qualquer região do mundo, pois os computadores associados ao seu cérebro traduzirão automaticamente a mensagem em qualquer língua que desejar.

O volume da sua voz será regulado automaticamente pela avaliação que os sensores dos nanobots farão do ambiente, levando em conta o tamanho do recinto, a acústica da sala, os ruídos externos e até a dificuldade de audição da plateia.

A postura, a gesticulação, a comunicação facial, enfim toda a sua expressão corporal atuará de acordo com as informações captadas e enviadas aos seus robôs individuais estrategicamente implantados em seu corpo.

Todo esse conjunto será monitorado pela inteligência artificial, que passará a participar normalmente da sua vida, e adequará a comunicação para que atinja sempre o objetivo desejado.

Assim como eu não serei mais útil como professor de oratória, já que as suas apresentações serão desenvolvidas e comandadas pela inteligência artificial, nem você precisará estar presente para fazer suas exposições.

Se hoje -quando apenas engatinhamos nesse processo- as pessoas já conseguem fazer apresentações sem estar presentes, pois podem projetar sua própria imagem em três dimensões em qualquer auditório do mundo, dando a impressão de que estão verdadeiramente ali diante dos ouvintes, imagine então o que ocorrerá dentro de cinco ou dez anos.

Você terá condições de interagir totalmente com os ouvintes, indo com sua imagem e sua inteligência natural ou artificial a qualquer parte do planeta, ou recebê-los da mesma maneira sem que precisem viajar para estar com você.

Ah!, e a sala onde vocês se encontrarão será montada artificialmente de acordo com as necessidades da reunião. A tecnologia permitirá que você receba seus convidados em uma floresta com pássaros, riachos, brisa, farfalhar das folhas e cheiro de mato - tudo virtual, mas com todo jeitão de um ambiente natural.

Sei que você talvez possa estar desconfiado dessas minhas previsões, mas tenho cá comigo que possivelmente elas estejam muito aquém do que efetivamente irá ocorrer.

Imagino que nem todas as pessoas tão cedo terão acesso a essas conquistas científicas, mas não há dúvida de que essa evolução estará à disposição da humanidade bem antes dessa data.

Analise bem. Quem imaginaria há poucos anos que pessoas com o dinheiro contadinho só para a condução poderiam um dia andar pelas ruas com celulares, tirando fotografias e as enviando para outros aparelhos

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com toda a naturalidade e por valores acessíveis?

Espero que estejamos vivos para que eu possa resgatar esse texto e dizer a você todo cheio de orgulho: 'eu não disse que seria assim?!'

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aproveite a tecnologia já existente para falar em público • Aprenda a usar o teleprompter para transmitir bem as

mensagens • Lance mão do ponto eletrônico para falar com segurança e ser

mais eficiente • Saiba como se comunicar usando a videoconferência

70 70 70 70 ---- Seja determinado, fale bem e seja um grande líder Seja determinado, fale bem e seja um grande líder Seja determinado, fale bem e seja um grande líder Seja determinado, fale bem e seja um grande líder

Determinação foi sempre uma das características mais importantes na

vida dos grandes líderes. Se analisarmos a trajetória daqueles que influenciaram a história da humanidade vamos constatar que praticamente todos foram pessoas determinadas, que nunca esmoreceram diante dos desafios que tiveram de enfrentar.

Relembremos, por exemplo, a vida de Demóstenes. Logógrafo extraordinário. Demóstenes tinha tanta habilidade para escrever discursos que chegava a ser convidado pelas partes adversárias para produzir as peças de acusação e de defesa. E escrevia ambas com a mesma competência.

Só para dar uma ideia do tamanho dessa proeza, podemos compará-la ao jogo de xadrez, quando uma pessoa joga contra si mesma. Imagine você tendo de mover as pedras brancas e pretas, sabendo sempre como será o próximo lance do adversário.

Entretanto, para falar, Demóstenes não possuía a mesma competência que tinha para escrever. Suas características pessoais o deixavam longe da imagem de um grande orador.

Possuía voz fraca, não pronunciava bem as palavras e era motivo de zombaria por causa do vício de levantar seguidamente um dos ombros enquanto falava.

Essas dificuldades naturais poderiam fazer com que qualquer outra pessoa desistisse de ser orador. Mas Demóstenes era determinado e não se conformou com a condição que a natureza havia lhe imposto.

Para fortalecer a voz, passou a fazer longas caminhadas na praia e falava diante do mar, procurando desenvolver um volume que superasse o bramido das ondas.

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Com o objetivo de aperfeiçoar a dicção, punha seixos na boca e, com as pedrinhas dificultando a fala, aprimorou a pronúncia das palavras.

O vício do ombro foi corrigido com um recurso muito curioso - colocou uma espada pendurada no teto, com a ponta voltada para baixo, e, ao exercitar os discursos na frente de um espelho, era ferido sempre que produzia o movimento involuntário.

Determinado a se concentrar nos seus exercícios e a não desistir, raspou metade do cabelo e metade da barba e, com essa aparência ridícula, ficou impedido de aparecer em público e se obrigou a continuar seu treinamento.

Depois de todo esse sacrifício e com atitude sempre determinada, Demóstenes não apenas pôde falar em público, como se tornou o maior orador da antigüidade.

Costuma-se comparar Demóstenes a outro extraordinário orador, o romano Cícero. Bem preparado, culto, eloqüente, era um orador imbatível e difícil de ser enfrentado.

Todavia, era muito vaidoso e não tinha escrúpulos para juntar-se aos poderosos sempre que julgava conveniente. Por isso, ao mesmo tempo em que angariava admiração pelo seu talento, despertava ódio e antipatia pelas suas atitudes.

Dizem os historiadores que a grande diferença entre um e outro está no fato de que, enquanto Cícero falava, o povo exclamava: Que maravilha, como fala este orador! E, quando Demóstenes falava, o povo marchava.

Aqui temos duas reflexões que podem nortear nossa vida. A primeira se refere ao nosso potencial para falar em público de maneira eficiente: as dificuldades que me impedem de ser um grande orador são maiores que as enfrentadas por Demóstenes?

Será que com tantos recursos para nos ajudar a falar melhor em público não está faltando um pouco desse precioso ingrediente - a determinação?

A segunda reflexão parte da comparação feita entre Demóstenes e Cícero: será que, ao falar, estamos apenas preocupados em ser admirados pela maneira como nos expressamos, ou interessados em fazer com que as pessoas vejam em nossas atitudes um exemplo, aceitem nossa liderança e concordem em abraçar a mesma causa que nos permitirá afastar os mais pesados obstáculos e caminhar para a conquista das vitórias?!

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Seja determinado. Essa qualidade só depende de você • Não há dificuldade para falar em público que não possa ser

superada • Não fale apenas para ser admirado, tenha um propósito • Use a comunicação para conquistar e exercer a liderança

71 71 71 71 ---- O melhor orador do Brasil O melhor orador do Brasil O melhor orador do Brasil O melhor orador do Brasil

Eu não tive a felicidade de conhecer Joaquim Nabuco, o melhor

orador do Brasil. Você poderia indagar: se você não conheceu, como pode saber que foi o melhor? Por relatos. Felizmente, gente que sabia fazer uma boa descrição deixou para a posteridade essas preciosas informações.

Mais importante ainda, sabendo como era a comunicação desse extraordinário orador podemos aprender muito e melhorar a nossa maneira de falar em público.

No seu livro 'Oito anos de parlamento', Afonso Celso descreve com rara habilidade as características oratórias dos parlamentares com quem conviveu. Um deles é Joaquim Nabuco.

A maneira como o autor comenta sobre os dotes oratórios de Nabuco é uma aula excepcional de comunicação, pois se trata de um modelo que, feitas as devidas adaptações para nossa época, pode ser observado como um ideal a ser atingido:

'A figura de Nabuco formava por si só o melhor dos exórdios. Bastava assomar à tribuna para empolgar a atenção e a simpatia.

Muito alto, bem-proporcionado, a cabeça e o rosto de uma pureza de linhas escultural, olhos magníficos, expressão a um tempo meiga e viril, nobre conjunto de força e de graça, delicado gigante, Nabuco sobressaía em qualquer turba, tipo de eleição, desses que a natureza parece fabricar para modelo, com cuidado e amor.

A voz estridulava como um clarim; dominava os rumores; cortava, penetrante e poderosa, as interrupções. De ordinário, despedia rajadas, como um látego sonoro.

Não enrouquecia, antes, adquiria, com o exercício, vibrações cada vez mais metálicas e rijas. Voz de combate - a do comandante excitando os soldados, no acesso da batalha.

A gesticulação garrida, as atitudes plásticas de Nabuco contribuíam para a grande impressão produzida pelos seus discursos. Consistia um de seus movimentos habituais em meter dois dedos da destra na algibeira do colete.

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Desses e outros gestos provinha-lhe vantajoso ar de desembaraço e petulância. Articulava sílaba por sílaba os vocábulos, sublinhando os mais significativos.

A tantos e preciosos predicados juntavam-se imensa verbosidade, vivaz imaginação poética, corroborada por aturados estudos literários, fértil em radiantes metáforas, entusiasmo, natural eloqüência, inspiração.

Nabuco, demais, sempre escolhia para tema assuntos levantados, problemas sociais, filosóficos e religiosos, de alcance universal. Fugia às polêmicas individuais, às intrigas da politiquice. Não se submetia à disciplina e às conveniências partidárias; desconhecia chefe.

...A imprensa abolicionista vivia a endeusá-lo. Tudo, em suma, cooperava para determinar e encarecer os seus inolvidáveis triunfos oratórios de então. Fascinava; os próprios adversários, que tamanhas superioridades irritavam, reconheciam-lhe e proclamavam-lhe o imenso valor.

Acorria gente de todas as condições, numerosas senhoras para vê-lo e ouvi-lo. As galerias o aclamavam.

Mal o presidente proferia a frase regimental: tem a palavra o senhor Joaquim Nabuco, corria um calafrio pela assistência excitada; eletrizava-se a atmosfera. A oração não tinha um curso contínuo e seguido: fazia-se por meio de jatos.

Nabuco disparava um pedaço mais ou menos longo, rematado por uma citação justa, uma bela imagem, um mot a la fin. Parava, descansava, consentia que se cruzassem os apartes e os aplausos.

Olímpico, sobrepujando a multidão com a avantajada estatura, manuseava vagarosamente as notas, sorria, os olhos entrefechados, refletia, aguardava a cessação do rumor, desprezava os apartes, ou levantava o que lhe convinha e, de repente, partia para novo arremesso.

Mal descerrava os lábios, restaurava-se o silêncio. Nem era possível detê-lo. Continuasse o ruído, e a portentosa voz, a vertiginosa dicção de Nabuco prestes o abafariam.

As perorações, de ingente sopro lírico, eram cuidadosa e habilmente preparadas. Para aí a imagem mais pomposa, a declaração de maior alcance, o gesto mais teatral provocavam estrepitosas ovações nas galerias.

Sentava-se Nabuco, e, durante minutos, ficavam os trabalhos virtualmente suspensos, enquanto não se esvaeciam as ressonâncias de seus possantes e mágicos acentos, repercutidos no que a inteligência e o coração possuem de mais elevado e sensível...'

Um espetáculo! Entretanto, se Nabuco hoje, com toda sua competência oratória, se apresentasse sem fazer as necessárias adaptações

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que o levassem ao encontro das características e das expectativas da sociedade atual, provavelmente, fracassaria.

Os microfones sensíveis permitem que oradores sem voz forte e portentosa se imponham diante de plateias numerosas.

A irreverência, a presença de espírito, a comunicação mais solta e ligeira, o conteúdo quase sempre mais superficial e menos refletido, que sucumbiriam naquele cenário dominado por Nabuco, hoje encontra eco nas plateias acostumadas à superficialidade das mensagens televisivas.

Alguns segmentos da população, em determinadas circunstâncias, se envolvem mais pela forma do que pela profundidade do conteúdo. É a rapidez, a velocidade, a valorização cada vez mais acentuada das imagens que determinam o gosto, a preferência, a expectativa e a receptividade das plateias atuais.

Não nos cabe neste estudo da comunicação criticar ou censurar o comportamento das sociedades em qualquer época, mas sim analisar e constatar seu perfil para que a arte de falar em público possa se adaptar a cada momento e, a partir dessa compreensão, ser apropriada e eficiente.

A própria linguagem de Afonso Celso poderia parecer rebuscada e demasiado sofisticada para algumas plateias dos dias de hoje. Para ser bem aceita precisaria passar por atualização e adaptações.

Não serei eu, entretanto, que me atreverei a fazer essa mudança. Minha consciência diz que mexer em um texto como esse seria imperdoável.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda com os exemplos dos grandes oradores • Aprenda com os exemplos, mas não perca seu próprio estilo • Analise sempre se sua linguagem está de acordo com a época • Faça adaptações para ir ao encontro dos anseios e do gosto das

plateias.

72 72 72 72 ---- Remédio que acaba com o medo Remédio que acaba com o medo Remédio que acaba com o medo Remédio que acaba com o medo O medo é um mecanismo de defesa que existe para nos proteger de

algo que poderá nos prejudicar ou nos fazer mal. Quando ficamos com medo as glândulas supra-renais liberam adrenalina para aumentar a pressão arterial.

Esse processo prepara os músculos para fugirmos mais rapidamente, enquanto o hormônio é metabolizado. Se nós não fugimos, a adrenalina

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não é metabolizada como deveria se os músculos estivessem se movimentando depressa.

Como conseqüência ocorre um excesso de energia provocado pela adrenalina, que não é consumido pela atividade física da fuga. Há um descontrole generalizado no organismo, e daí surge o nervosismo. Um desconforto do qual quase todos querem se livrar.

Por isso cada vez mais em minhas aulas e palestras as pessoas me perguntam se o nervosismo que sentem por causa do medo de falar em público poderia ser afastado com o uso de betabloqueadores.

Os betabloqueadores são drogas que ajudam a combater os efeitos do medo. São usados especialmente por pessoas que ficam nervosas diante do público, com o objetivo de melhorar o controle das ações físicas e diminuir a ansiedade.

Estudos desenvolvidos por Liebowitz e outros pesquisadores entre os anos 1980 e 1990, concluíram que, controlados os sintomas do nervosismo, o desempenho diante do público melhorava por causa da diminuição da ansiedade.

Por se tratar de um assunto que exige autoridade médica, entrevistei uma especialista com conhecimentos científicos sobre o tema, a dra. Mellysande Pontes Faccin. Minha entrevistada tem estudado a droga e convivido há anos com a aplicação terapêutica dos betabloqueadores.

Fiz a ela as perguntas que normalmente são levantas pelos alunos em sala de aula e pelos leitores dos meus artigos. Selecionei as questões que despertam maior interesse e que ajudam a esclarecer os pontos mais relevantes da questão.

Dra. Mellysande, o que são e como funcionam os betabloqueadores? Os betabloqueadores são drogas que reduzem a ação da adrenalina

no organismo. Logo, diminuem o batimento cardíaco, a sensação de pânico, a pressão arterial, os tremores nas mãos, só para citar alguns dos seus efeitos.

Esse grupo de drogas surgiu na década de 1970. Seu protótipo, o propanolol, revolucionou a farmacologia na época, a ponto de o seu descobridor, James Black, ganhar o prêmio Nobel.

Para que são usados normalmente? O betabloqueador é utilizado na medicina como anti-hipertensivo,

antiarrítmico, para tratamento de insuficiência cardíaca, cefaleias e alguns casos de síndrome do pânico. É fundamental no tratamento do infarto do miocárdio.

Uma pessoa que tenha medo de falar em público poderá utilizá-los?

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Sim, suas ações bloqueadoras são interessantes até para quem precisa fazer uma apresentação em público e tem uma liberação da adrenalina muito acentuada.

Entretanto, como nenhuma droga é isenta de efeitos colaterais, o propanolol mal utilizado pode levar a risco de morte. Se a pessoa tem algum tipo de fobia, precisa ser bem tratada, e, na maioria das vezes, nem é com betabloqueador.

Quem tiver interesse em fazer uso do betabloqueador a quem deverá recorrer?

O tratamento dessas situações de fobia social é feito por um médico, em geral o psiquiatra. Vale muito a pena: tanto pela potencial chance de cura ou de entendimento da doença, como porque essa manifestação do medo pode ser um sintoma de outros desajustes.

Há contra-indicações? Quais os perigos da automedicação? Alguém que se apresente em público todos os dias pode fazer uso do betabloqueador diariamente?

É uma droga que não deve, de maneira alguma, ser tomada sem receita médica, independentemente do motivo da sua utilização. É contra-indicado para pessoas com asma, bronquite, bloqueios cardíacos e, ainda, deve ser utilizado com cuidado em diabéticos.

Os pacientes que utilizam propanolol para hipertensão, por exemplo, tomam a droga por vários anos seguidos. Mas, caso seja tomada todos os dias, não deve ser suspensa abruptamente.

As pessoas podem ficar viciadas com os betabloqueadores? Não, a droga não gera dependência, nem psíquica, nem física. O

organismo também não desenvolve tolerância à medicação. Meu conselho, todavia, é que não use o propanolol como 'muleta'. Há outros meios para se sair bem diante do público.

Com base nas orientações da Dra. Mellysande, fica claro que os betabloqueadores só deverão ser receitados por profissionais especializados, pois os perigos da automedicação podem até comprometer a vida.

Mesmo sendo recomendados por diversos especialistas, ainda não há confirmação científica de que os betabloqueadores sejam sempre eficazes no combate aos sintomas do medo de falar em público.

Embora não exista o risco de alguém ficar viciado na droga, ela poderá atuar como espécie de 'muleta' psicológica, ou seja, pode ocorrer de a pessoa julgar que se saiu bem na apresentação só por causa da droga, sem que tenha havido influência dela.

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Bem, por essa discussão você já deve ter percebido que não existe mágica para superar o medo de falar em público.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não use betabloqueadores sem orientação médica • Procure combater o medo de falar em público sem uso de

medicamentos • Para combater o medo, conheça o assunto, ordene as ideias e

pratique bastante • O nervosismo bem controlado pode ser útil para você falar bem

em público

73 73 73 73 ---- Chega de dizer né? Chega de dizer né? Chega de dizer né? Chega de dizer né? Alguns vícios se tornam tão desagradáveis na comunicação que

podem prejudicar e até comprometer o resultado da mensagem. Um dos mais comuns e também dos mais irritantes é o 'né?'.

Se você for daqueles que dizem 'né?' com freqüência no final das frases, talvez esteja prejudicando o resultado de suas conversas sociais e de negócios e até de suas apresentações diante das plateias.

Embora o 'né?' seja o vício de maior destaque, ele é apenas um dos componentes de um time de chatos bastante familiares como 'tá?', 'ok?', 'percebe?', 'entendeu?', 'tá certo?' e tantos outros.

Por isso, ainda que eu me refira apenas ao 'né?', saiba que as considerações podem ser aplicadas a todos eles. Veja como esse vício se intromete na comunicação e o que fazer para eliminá-lo.

O 'né?' vai se infiltrando de forma tão sorrateira que você passa a usá-lo sem perceber. Alguns alunos do meu curso ficam surpresos quando percebem na gravação dos seus exercícios que em dois minutos usaram mais de uma dezena de 'né?'.

Portanto, o primeiro passo para afastá-lo da sua comunicação é ter consciência da existência dele. Ao se dar conta de que o 'né?' participa ativamente de suas conversas irá se sentir desconfortável que tenderá a evitá-lo.

No início, como o uso do 'né?' é inconsciente, você terá alguma dificuldade para eliminá-lo de uma vez. É possível que fique revoltado por se sentir impotente para retirá-lo da sua comunicação.

Com o tempo, entretanto, você aumentará o controle e passará a reduzir a incidência até chegar a um número tolerável de dois ou três em

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uma conversa ou apresentação, o que até faz parte da forma natural de se expressar.

Para saber se o 'né?' é um problema em sua comunicação, quando estiver falando ao telefone use um gravador de áudio comum para gravar sua conversa.

Deixe o aparelho gravando o tempo todo para que possa falar com naturalidade, sem se incomodar com ele. Talvez se surpreenda com o resultado e seja um dos candidatos a trabalhar para afastar o 'né?' da comunicação.

Outro motivo para o surgimento do 'né?' é a insegurança. Minhas pesquisas junto aos alunos do nosso curso de oratória mostram que este é o motivo mais forte para a presença desse vício.

Quando uma pessoa está insegura, de maneira geral, precisa de um retorno positivo dos interlocutores ou da plateia, e fala como se estivesse perguntando: 'Estou sendo claro, né?', 'estou falando bem, né?', 'vocês estão entendendo, né?'

Ainda que esteja inseguro, não revele esse fato aos ouvintes. Fale sempre como se tivesse certeza e estivesse convicto da sua mensagem e se expresse afirmando e não perguntando.

Fique atento: se perceber que o tom e inflexão da voz no final das frases são de quem faz uma pergunta, mude a maneira de falar e conclua a informação como se estivesse afirmando. A não ser, evidentemente, que o seu objetivo seja mesmo o de perguntar.

Trabalhe com afinco para combater esse vício e fique sempre vigilante, pois, se negligenciar, ele reaparecerá nos momentos em que se sentir mais inseguro e vulnerável. Por isso, não vacile, fique sempre muito vigilante.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Grave suas conversas ao telefone para verificar se possui o vício

do 'né?' • Se o 'né?' insistir em permanecer, não desanime; com o tempo,

ele desaparecerá • Use a entonação de quem afirma quando desejar afirmar, não

de quem pergunta • Nem sempre o 'né?' é um vício, às vezes verifica a

compreensão do interlocutor • Entre no meu site para ver outras dicas de comunicação.

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74 74 74 74 ---- Acabe com o vício do ããããã, ééééé Acabe com o vício do ããããã, ééééé Acabe com o vício do ããããã, ééééé Acabe com o vício do ããããã, ééééé O gerente estava... ããããã... no escritório da empresa e... ããããã..., aí

tocou o... ããããã... Se você já estava ficando irritado com o 'ããããã' que usei só como exemplo, imagine como as pessoas se sentem diante de alguém que se expressa com esse tipo de vício o tempo todo.

Por melhor e mais interessante que seja a mensagem, o excesso de 'ããããã' se transforma num ruído tão avassalador que mata a concentração do interlocutor, mesmo que ele esteja muito interessado em acompanhar e prestar atenção no raciocínio.

O 'ããããã', 'ééééé' e outros, que fazem parte da mesma família, se intrometem na comunicação por um motivo curioso: nosso pensamento trabalha a uma velocidade quatro vezes mais rápida que as palavras.

Em vista desse fato, é comum sabermos o que vamos dizer, só que as palavras ainda não surgiram para identificar o que desejamos comunicar. Sem nos darmos conta, procuramos uma forma de nos livrar desse desconforto.

Como conseqüência, enquanto procuramos as palavras damos uma espécie de aviso de que o pensamento está pronto e de que só falta externá-lo - aí é que entra o 'ããããã'. É como se disséssemos assim: 'Eu sei o que quero dizer 'ééééé', 'ããããã'...'

Um 'ããããã' aqui, outro ali não comprometem a qualidade da comunicação. Em determinadas circunstâncias podem até conferir certa naturalidade à maneira de falar. Entretanto, se participarem da fala com muita freqüência, podem tirar a concentração dos ouvintes.

Para eliminar o vício do ããããã é importante que tenha consciência da presença dele na sua comunicação. Para isso, valem as mesmas sugestões que dei para acabar com o 'né?'.

Para saber se está usando o 'ããããã' com freqüência, faça uma auto-avaliação. Observe se ao conversar normalmente costuma preencher as pausas com esse vício.

Outra maneira boa de saber se esse intruso está atrapalhando sua comunicação é pedir ajuda a um amigo ou a alguém da sua família. Provavelmente, como a pessoa está acostumada a ouvi-lo já dirá se você possui ou não o vício.

Outra boa solução é gravar suas conversas mais íntimas, especialmente quando estiver falando ao telefone. Deixe o gravador ligado durante toda a conversa para que possa fazer uma boa avaliação.

Talvez você fique até um pouco contrariado ao descobrir que usa tantos 'ããããã'. Ficará mais irritado ainda ao perceber que usa o vício

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independentemente da sua vontade. Porém, depois de tomar consciência de que você possui o vício, aos poucos conseguirá afastá-lo.

Tenha muita paciência, pois quanto mais você se pressionar para encontrar a palavra que irá vestir seu pensamento, mais tenderá a usar o 'ããããã'. Por isso, lembre-se sempre de que as palavras demoram um pouco mais para surgir, mas aparecem.

Valerá a pena você se esforçar para ficar em silêncio enquanto aguarda a palavra que irá corporificar suas ideias. Esse momento de silêncio funcionará como uma pausa expressiva e poderá criar maior expectativa sobre o que pretende comunicar, ou ainda valorizar o que acabou de transmitir.

Não seja negligente com esse aspecto tão relevante da comunicação. Dedique-se a eliminar esse vício que, de maneira geral, só atrapalha o resultado da mensagem. Tenha certeza de que assim se sairá melhor ao conversar com as pessoas ou quando tiver que falar em público.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Descubra se ao falar usa o 'ããããã' com freqüência • Faça uma auto-avaliação, grave suas conversas ou peça a ajuda

de um amigo • Procure ficar em silêncio durante as pausas, por mais

desconfortável que seja • Se usar o 'ããããã', não corrija na hora, procure só não usar de

novo • Entre no meu site para ver outras dicas de comunicação

75 75 75 75 ---- Aprenda com os erros e Aprenda com os erros e Aprenda com os erros e Aprenda com os erros e conquiste o que desejarconquiste o que desejarconquiste o que desejarconquiste o que desejar

Você pode encarar os erros e as derrotas de duas maneiras: agindo

como um avestruz, escondendo a cabeça para que ninguém o veja, ou sacudindo a poeira e olhando para frente, pronto para continuar lutando.

Se você entregar os pontos antes de iniciar a luta, talvez passe a vida inteira procurando um culpado para o seu fracasso. A pessoa quase nunca acha que a culpada por suas derrotas seja ela mesma. É mais fácil e reconfortante dizer que os outros é que provocaram sua infelicidade.

Entretanto, por mais que você esperneie e jogue o peso de suas derrotas nos ombros daqueles que estão à sua volta, lá no fundo sua consciência será testemunha de que o fracasso começou no momento em que se sentiu incapaz de vencer aquele desafio.

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Se você enfrentar os momentos de dificuldades com coragem e determinação, mesmo que não consiga a vitória almejada, saberá que não recuou no instante em que você precisou mais de você mesmo.

Independentemente do resultado que venha alcançar, sua disposição para a luta o deixará fortalecido, energizado, pronto para seguir adiante enfrentando os novos desafios que vida sempre nos oferece.

Como exemplo, eu poderia citar inúmeros brasileiros, que nos momentos de maior dificuldade souberam lutar e derrubar todos os obstáculos que pareciam intransponíveis. Preferi, todavia, buscar um ensinamento da história universal, que sempre me ajudou a não esmorecer - Abraham Lincoln.

Vale a pena conhecer um pouco mais sobre a história de Lincoln, porque é certo que, se aprendermos com as adversidades, saberemos, cada vez mais, como agir de forma competente e segura.

Talvez não encontremos na história líderes que tenham enfrentado mais adversidades que Abraham Lincoln. Uma das marcas mais impressionantes da sua trajetória é que saiu derrotado em praticamente todas as disputas de que participou.

Lincoln perdeu duas vezes as eleições para o congresso, fracassou como comerciante, não o aceitaram como ministro do interior e não venceu o pleito ao se candidatar a vice-presidente. Só depois de muitas tentativas conseguiu chegar à presidência dos Estados Unidos.

Começou exercendo funções braçais e teve um percurso profissional impressionante. Trabalhou como lenhador, foguista de máquina a vapor, agricultor, caixeiro de armazém, carteiro, agrimensor e advogado.

Essa vida sacrificada foi a têmpera do seu caráter, da força de vontade, da persistência e a responsável pela habilidade que desenvolveu para entender os sentimentos e as aspirações do povo que liderou.

Além da sua vida repleta de lutas e superações, Lincoln deixou para o estudo da oratória um dos melhores exemplos de concisão e eficiência ao proferir o discurso que passou para a história como o discurso de Gettysburg.

Em 1863, Gettysburg, na Pensilvânia, foi palco de uma das mais terríveis lutas fratricidas de que se tem notícia. Nesta batalha, cerca de 6 mil americanos perderam a vida e 27 mil ficaram feridos.

Ali foram enterrados os corpos, transformando os pomares daquela região em um grande cemitério. Por isso, a Comissão de Cemitérios da União consagrou aquele local como um monumento nacional.

Programaram um grande evento para a inauguração, mas os responsáveis sequer convidaram Lincoln. Por motivações políticas,

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preferiram chamar como orador o Sr. Everett, famoso pela eloqüência e pela forma agitada como se expressava.

Lincoln soube da solenidade por um impresso. Acostumado ao jogo e às intrigas políticas, não demonstrou estar perturbado com o fato e, para surpresa dos organizadores da solenidade, mandou avisar que estaria presente.

Embora surpresos com a notícia da sua presença, não se sensibilizaram e mantiveram o mesmo orador. Decidiram apenas que o presidente americano faria alguns comentários complementares depois do discurso.

Além de chegar atrasado, o Sr. Everett castigou as 30.000 pessoas que acorreram ao local com um discurso de mais de duas horas. Lincoln, conhecendo melhor a alma humana, pelo intenso aprendizado de uma vida inteira de sacrifícios, fez o seu discurso em apenas dois minutos.

Ele sabia que o povo não estava em condições de ouvir por muito tempo e que a objetividade seria naquele momento a atitude mais apropriada. Este discurso, que cabe na palma da mão, entrou para a história, e a sua conclusão talvez seja um dos trechos mais repetidos em todo o mundo:

'Cumpre-nos fazer que esses homens não tenham tombado em vão, que, com o auxílio de Deus, a Nação assista à renascença da liberdade e que o governo do povo, pelo povo e para o povo, jamais desapareça da face da terra'.

Esse grande ensinamento nos foi legado por Lincoln: enfrentar as adversidades com a certeza de que, por mais difícil e até impossível que seja a chance de vitória, poderemos conquistar o que desejamos.

E também que a humildade e a generosidade são atributos que nos aproximarão ainda mais dos nossos semelhantes. São conquistas que tornam a vida mais digna de ser vivida.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Um desafio só pode ser vencido se for enfrentado • Nunca desista de buscar a vitória antes de tentar • Faça de cada erro e de cada derrota uma oportunidade de

aprendizado • A humildade e a generosidade nos aproximam ainda mais das

pessoas

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76 76 76 76 ---- Você fala como orador ou como ator? Você fala como orador ou como ator? Você fala como orador ou como ator? Você fala como orador ou como ator? Grandes oradores são raros hoje. Quando se faz referência a alguém

extraordinário na arte de falar em público, geralmente, são destacados antigos políticos como Carlos Lacerda ou Jânio Quadros. De novo, quase nada.

De vez em quando, surge um advogado criminalista que impressiona com sua eloqüência, como Waldir Troncoso Peres; religiosos que encantam os fiéis e arrebatam multidões, como o padre Marcelo Rossi ou o bispo Edir Macedo. E só.

Não que tenham desaparecido os bons oradores. Não que não possamos encontrar pessoas que saibam enfrentar e persuadir com competência uma plateia. Ao contrário, eles estão assomando as tribunas em número cada vez maior.

Entretanto, oradores marcantes, que fazem as pessoas mudarem compromissos ou se disponham a ouvi-los independentemente de qualquer outro programa que pudessem ter, escassearam muito nos tempos recentes.

Talvez a última grande novidade em oratória tenha sido o ex-deputado Roberto Jefferson. Ele apareceu como um furacão e conquistou uma legião de admiradores. Muitas pessoas ficaram tão empolgadas com seu desempenho diante dos microfones que me pediram que as ensinasse a falar como ele.

Como sua maior exposição ocorreu na época da CPMI dos Correios e das denúncias do esquema do mensalão, muita gente associou sua imagem com aquele triste momento da história do Brasil e deixou de observar sua excepcional capacidade de comunicação.

João Mellão Neto, extraordinário jornalista, disse em um de seus textos: 'Assisti, por mais de três horas, ao depoimento do deputado Roberto Jefferson no Conselho de Ética da Câmara. Impecável. Nota 10 em postura, retórica, clareza de raciocínio, domínio da plateia. O professor Reinaldo Polito, grande mestre da oratória, haverá de me dar razão'.

Sem dúvida o ex-ministro estava certo em sua avaliação. Mas, por que as pessoas ficaram fascinadas pela comunicação do ex-deputado petebista? Quais os aspectos da sua oratória o tornaram diferenciado e poderiam servir como exemplo para que você pudesse também aprimorar a comunicação?

Vamos começar pela voz de Roberto Jefferson. A voz tem ótimo timbre, é sonora, forte e muito bem articulada. A dicção é perfeita. Alterna

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a velocidade da fala e o volume da voz com naturalidade, produzindo um ritmo melodioso e agradável.

Sempre que encerra um pensamento faz pausas apropriadas, conseguindo assim valorizar as informações que transmitiu e permitir que os ouvintes tenham condições de refletir sobre a mensagem que acabou de comunicar.

Sabe ser agressivo quando enfrenta um adversário e mostra-se indignado ou se vale da ironia para se defender dos ataques que recebe. Recorre à voz para evitar os apartes quando os julga inconvenientes.

Outro aspecto que chama a atenção pela qualidade na comunicação do orador é o seu vocabulário. Roberto Jefferson jamais hesita quando precisa encontrar a palavra adequada para corporificar seu raciocínio.

A construção das frases é perfeita, sempre com começo, meio e fim. Não comete erros gramaticais grosseiros. Conjuga os verbos de forma correta e se preocupa em fazer com acerto as concordâncias.

Possui o automatismo da fala. Isto é, por causa das diversas atividades que exerceu ou ainda exerce como apresentador de televisão, advogado, político, está tão acostumado a falar em público que ao pronunciar a primeira palavra de uma frase, todas as outras aparecem automaticamente para concluir o pensamento.

Basta observar as diversas entrevistas que deu sobre o mesmo tema -algumas frases são exatamente as mesmas. Essa qualidade dá a ele fluência e muito desembaraço.

E talvez esteja na expressão corporal um dos pontos mais fortes da sua comunicação. Os gestos, o jogo fisionômico, especialmente o olhar, a forma como inclina o corpo para a frente durante o ataque, e recua para se defender ou refletir, são detalhes que trabalham em perfeita harmonia com a inflexão da voz e a mensagem. O conjunto é harmonioso e coerente.

Nenhum orador pode pretender sucesso se não tiver conteúdo. Roberto Jefferson navega com tranqüilidade sobre qualquer tema, seja assunto relacionado ou não à política. Sabe organizar os argumentos em uma ordenação lógica que desnorteia seus adversários.

Refuta as objeções contrárias como se soubesse com bastante antecedência o que as pessoas iriam dizer. Não deixa apartes ou ataques sem resposta. Sabe que do choque entre a tese e antítese irá prevalecer o que não for destruído, e que servirá como síntese, ou seja, sobrará para o julgamento.

Além de todas essas qualidades, fala com paixão, com envolvimento, com entusiasmo, com emoção. Em nenhum momento se expressa só por

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se expressar - demonstra de maneira evidente e bastante clara que a mensagem que está comunicando é relevante, e se é importante para ele, deve ser também para os ouvintes.

Mostra-se destemido e muito corajoso. Entretanto, embora possua todas essas qualidades, que constituem a aplicação prática dos conceitos teóricos da boa comunicação, só a história poderá dizer se ele é realmente um bom orador.

Na verdade, as únicas pessoas que podem dar essa resposta são ele próprio e aqueles a quem acusou. Por enquanto vamos nos ater apenas aos aspectos estéticos da comunicação, sabendo que alguém só poderá ser considerado um bom orador se o que diz estiver respaldado na ética e na verdade.

Faço a ressalva porque seus oponentes disseram que suas acusações são infundadas. Por isso se ele tiver sido verdadeiro, se as suas acusações encontrarem amparo na sinceridade, poderá ser considerado um dos melhores oradores que o Brasil já conheceu.

Se, por outro lado, alguma informação não tiver apoio na realidade dos fatos, poderá ser considerado apenas um bom ator. Como eu disse, só o futuro poderá nos dar a resposta.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Fale com volume de voz adequado ao ambiente • Alterne a velocidade da fala e o volume da voz para bom ritmo • Tenha harmonia entre a expressão corporal, a inflexão de voz e

a mensagem • Ordene bem o pensamento, com começo, meio e fim • Fale com emoção e envolvimento • Saiba a diferença entre falar como orador e interpretar como

ator

77 77 77 77 ---- Não desista diante das dificuldades Não desista diante das dificuldades Não desista diante das dificuldades Não desista diante das dificuldades Quando alguém aparece meio desanimado, pensando em desistir de

algum projeto que não consegue caminhar, costumo contar uma história que vivi quando tentei publicar meu primeiro livro, 'Como falar corretamente e sem inibições'.

Levei nove longos anos para chegar ao fim do último capítulo. Um dos motivos para tanta demora foi a falta de prática. Até então eu não havia me aventurado em um trabalho dessa envergadura. Meus textos se limitavam a redações acadêmicas e a um ou outro artigo esporádico.

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Também fui perfeccionista. Na época em que me dediquei a escrever o livro, havia em São Paulo duas grandes escolas de oratória que concorriam comigo, a do professor Oswaldo Melantonio (o melhor durante os 50 anos em que atuou) e a do professor Admir Ramos.

Para que nada saísse errado no livro, eu escrevi cada um dos capítulos imaginando que os dois mestres concorrentes estavam postados em pé, ao meu lado, me observando escrever e aguardando qualquer deslize para criticar.

Eu era muito ingênuo. Pensava que terminado o livro encontraria inúmeras editoras disputando a tapas o 'privilégio' de publicá-lo. E houve um fato que aumentou ainda mais minha autoconfiança.

No princípio da década de 1980, Nilson Lepera, hoje diretor comercial da Editora Saraiva, foi meu aluno no curso de Expressão Verbal e se mostrou interessado em conhecer a obra.

Ele me perguntou se eu já havia assumido compromisso com alguma editora e, diante da minha resposta negativa, pediu que o procurasse assim que o livro estivesse concluído.

Cerca de dois anos depois, com o último capítulo finalizado, liguei para avisá-lo de que o livro estava concluído. Assim que ele atendeu, percebi que a história mudara de rumo.

Ele me disse: Polito, há pouco interesse em publicar seu livro, porque o assunto foge do nosso foco de atuação, que se restringe às obras didáticas e jurídicas.

Fiquei sem chão. Afinal, já estava até fazendo as contas dos direitos autorais que receberia! E, agora, por onde começar? Eu não havia suposto aquela negativa e não me preparara com planos alternativos.

Aí começou a minha peregrinação mandando os originais para diversas editoras. Na maioria dos casos nem resposta recebia. Ninguém se interessou. Por isso, como última e única saída, fiz o levantamento de custos para bancar a publicação.

No dia em que eu estava para bater o martelo e me comprometer com os diversos fornecedores, ainda vislumbrando uma pequena chama de esperança, resolvi fazer uma derradeira ligação para o Nilson e avisar que publicaria o livro por minha própria conta.

O resultado desse telefonema foi surpreendente - ele me disse de maneira veemente: 'não faça isso'. E explicou: 'O fato de o assunto não estar em nenhuma das nossas áreas não significa que eu tenha desistido'.

Falou ainda com entusiasmo: 'Acho que seu livro poderá dar início à publicação das obras de interesse geral na nossa editora. Tenho certeza de

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que o 'Como falar corretamente e sem inibições' será um sucesso histórico'.

Só que a novela não estava concluída. Ele passara os originais para o editor responsável para que fizesse uma análise mais criteriosa. Esse profissional aproveitaria o final de semana para avaliar o conteúdo e dar um parecer.

Foi o fim de semana mais longo da minha vida. Durante o dia eu ficava imaginando que parte do livro ele estaria lendo. Será que ele estaria gostando de determinado capítulo? Torcendo o nariz para outro?

Demorei a pegar no sono no domingo. Na segunda-feira, tive que conter minha ansiedade e não ligar para a editora logo às 8 horas da manhã. Às 9 horas em ponto disquei os números que sabia de cor.

Conversa vai, conversa vem e em pouco tempo eu estava em sua jugular: e aí, qual foi o parecer do editor? O Nilson, que evidentemente nem de longe tinha a mesma preocupação com o assunto, me respondeu com toda a naturalidade: 'Rapaz, você não sabe o que aconteceu. Na correria, ele acabou deixando os originais na gaveta. Mas, fica tranqüilo que ainda neste mês vamos ter uma resposta'.

Agradeci, desliguei o telefone e fui dar uma volta de carro para atenuar minha frustração.

Três dias depois recebi o telefonema que tanto esperava. O Nilson me dizendo que estava peitando o projeto e que assumiria a responsabilidade pela publicação. Agradeci feliz, desliguei o telefone e comecei a dar pulos de alegria para comemorar a conquista.

Não sei se o meu hoje querido amigo Nilson Lepera baseou essa profecia apenas na sua experiência e visão profissional ou em algum tipo de intuição. Conhecendo seu caráter e profissionalismo sei que só por amizade ele jamais tomaria essa decisão.

Os anos que se seguiram mostraram que ele, felizmente, tinha toda razão. A área de interesse geral da Saraiva é uma realidade e o 'Como falar corretamente e sem inibições' está fazendo história, pois é de longe a obra no gênero mais publicada no Brasil.

O livro entrou para as listas dos mais vendidos do país e permaneceu nelas por três anos, sendo que em algumas delas figurou em primeiro lugar. Desde o seu lançamento caminhou bastante e chegou agora na 111ª edição, com mais de 500 mil exemplares vendidos.

Entre suas proezas, está o fato de ter sido selecionado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e para o programa Fome de Saber, que integra a ação do Governo Federal Quero Ler - Biblioteca para todos. Além de ter sido lançado em diversos países.

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O livro ganhou outros parceiros com ótima aceitação dos leitores. Hoje tenho 16 livros publicados, sendo que cinco deles entraram para as listas dos mais vendidos. O último, 'Superdicas para falar bem', foi um dos dez mais vendidos no país em 2006.

É só lançar um livro novo e o 'Como falar corretamente e sem inibições' volta a ser exposto com destaque. E lá, do alto das estantes, garboso, ele parece dizer aos novos livros que escrevo: sejam bem-vindos, mas não se esqueçam de que fui o primeiro, o iniciador dessa história.

É uma fabulação, mas, afinal, se seu próprio título é Como falar, por que ele também não poderia contar essa vantagem, ainda que em silêncio?!

Não sei o que teria sido da minha carreira profissional e da minha vida como escritor se o Nilson Lepera não tivesse aparecido no meu caminho e acreditado na qualidade do meu primeiro livro.

Às vezes, fico pensando qual seria a história desse livro que fez e faz tanto sucesso se eu o tivesse publicado por conta própria. Conhecendo melhor o mercado editorial como conheço hoje, muito provavelmente ele não teria passado da primeira edição.

O melhor de todos os aprendizados, entretanto, foi o de ter acreditado naquela remota possibilidade e feito aquele último telefonema. As pessoas que me conhecem sabem que essa se tornou uma espécie de marca no meu comportamento - nunca desistir de um projeto até que todas as chances tenham sido efetivamente esgotadas.

Tenho contado essa história para os alunos que precisam de uma palavra de incentivo para continuar firmes em sua trajetória de vida. E cada vez que narro este fato eu também me estimulo cada vez mais a perseverar na busca dos meus objetivos.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Mesmo que tudo pareça perdido, nunca deixe de fazer mais uma tentativa

• Só pare de tentar quando todas as opções estiverem esgotadas • Cada tentativa fracassada pode ser mais um degrau no caminho

da vitória • É melhor errar tentando do que fracassar por ter desistido

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78 78 78 78 ---- Vale a pena escrever um livro Vale a pena escrever um livro Vale a pena escrever um livro Vale a pena escrever um livro Alguma vez passou pela sua cabeça escrever um livro? Se ainda não

pensou nessa possibilidade, comece a arquitetar esse plano. É um projeto que vale a pena ser perseguido, independentemente do tema que você queira tratar e da atividade que desenvolva.

Se tomar a decisão de ser um escritor, prepare-se para fazer bastante sacrifício e dedicar um bom tempo a esse trabalho. Saiba, entretanto, que será um investimento que dará muitos dividendos à sua vida.

Se você deseja mesmo escrever um livro comece reservando algumas horas por semana para concretizar esse plano. Não faça como a maioria que diz ter vontade de escrever um livro, mas a única atitude que toma é postergar essa tarefa.

Saiba também que a dificuldade não se resume apenas em escrever, pois, além de descobrir um bom tema, você precisará se empenhar em pesquisas para colher material substancioso e interessante para envolver o leitor.

Será mais difícil ainda encontrar uma editora disposta a aceitar o projeto de publicação. Depois você vai sofrer para que a obra chegue às livrarias. E o maior de todos os pesadelos será o de não ver sua produção intelectual exposta ao mercado comprador.

De cada dez escritores que encontro nas livrarias, pelo menos oito reclamam por não terem seus livros em destaque nas mesas das novidades ou dos mais vendidos. Os outros dois já nem reclamam mais por saberem que não vai adiantar nada.

Os vendedores já se acostumaram tanto com essa choradeira que desenvolveram explicações próprias para cada caso; a mais usada é dizer que lá na seção dedicada ao assunto da obra a chance de vender é muito maior.

Alguns autores acreditam, outros fingem que se convenceram com os argumentos e continuam esperançosos de que um dia seu querido livro se transforme em um famoso best seller.

A esta altura você talvez esteja pensando: ora, já que vou ter de passar por tudo isso o melhor que tenho a fazer é desistir. Essa é uma péssima decisão! Mesmo imaginando que você não consiga publicar, o fato de pesquisar e escrever será muito importante para o seu desenvolvimento pessoal.

Você chegará ao final dessa jornada muito mais experiente e preparado. Supondo que você consiga publicar e que o livro não seja um grande sucesso de venda, não encare o resultado como uma derrota

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pessoal, pois dos mil e tantos livros publicados todos os meses no Brasil só uns poucos conseguem sobressair.

Pense também que vender livro não deve ser a maior preocupação. O importante mesmo é saber que, escrevendo a obra, você terá a oportunidade gratificante de compartilhar sua experiência com outras pessoas.

Eu já escrevi 16 livros e todos foram muito bem-sucedidos. Significa que as dificuldades que acabei de mencionar não existem? Acredite, são até maiores do que descrevi. É uma luta que vale a pena enfrentar, mas que nunca tem fim.

Se você observar os autores campeões de vendas, irá constatar que a maioria vive trocando de editora, pois sempre julgam que em outra casa poderiam vender mais. Todo escritor acha que seu livro é o melhor e que deveria estar mais bem exposto.

E quando não conseguem vender como gostariam a culpa deve ser creditada a alguém, que de maneira geral recai sobre a editora. Lembro-me de quando participei de um programa de televisão, e ao meu lado estava uma psicóloga que também faria parte do debate.

Enquanto não entrávamos no ar ela passou o tempo todo criticando a editora que não era competente para vender seu livro. Depois de ouvir as reclamações da autora, eu perguntei se ela havia levado o livro ao programa para tentar mostrá-lo em algum momento. Como resposta ela me disse: você tem razão, sem me censurar acabou mostrando que a culpa é mais minha do que da editora.

Talvez, quando começou a ler este texto, você tivesse a esperança de que eu iria ensinar como escrever um livro, ou que pelo menos desse algumas dicas de como iniciar esse trabalho. Você mesmo vai encontrar os próprios caminhos.

Se tiver dificuldade para redigir, inscreva-se num curso de redação. Se ainda não tiver o hábito de escrever, comece produzindo textos curtos sobre assuntos do cotidiano, só para praticar. Encontre uma pessoa experiente que possa dar sugestões e que o ajude a refinar o resultado da sua redação.

Quando já estiver mais tarimbado tente publicar alguns artigos em jornais, revistas ou sites, assim já terá a opinião de outras pessoas sobre a sua atividade como escritor. Pode ser que esses artigos se tornem a base para os futuros capítulos do seu livro.

Vai dar trabalho e exigirá persistência, mas com o tempo você irá se sentir cada vez mais desenvolto e competente para pôr suas ideias no papel

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ou na tela do computador. Não acredite muito nessa história de inspiração de escritor, pois o que vale é o trabalho e a dedicação.

Você vai descobrir que escrever se aprende escrevendo e que quanto mais errar mais saberá como acertar. É um longo caminho que requer sua rápida decisão. Não deixe para amanhã o texto que você já poderia escrever hoje.

Não desista de um sonho antes de tentar realizá-lo. Se estiver mesmo interessado em escrever um livro e sentir que essa é uma importante aspiração da sua vida, vá em frente. Esteja consciente de que irá enfrentar dificuldades e obstáculos. Algumas vezes terá vontade de desistir.

Durante alguns períodos deixará o texto de lado e terá de fazer muito esforço para retomá-lo. Entretanto, assim como muitos escritores, talvez, você encontre alguém que reconheça o seu trabalho e o leve pela mão, ajudando-o a realizar o seu sonho.

Por outro lado, se isso não ocorrer, como eu disse no início, na pior das hipóteses, você será uma pessoa melhor, mais competente e mais bem preparada para enfrentar a vida e se sair vitorioso em seus embates.

Boa sorte. Espero encontrá-lo feliz em uma noite de autógrafos, agradecendo a Deus por não permitir que desistisse antes mesmo de ter tentado.

SUPERDISUPERDISUPERDISUPERDICAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANA

• Comece a escrever textos curtos, de uma ou duas páginas • Encontre alguém que avalie a qualidade dos seus textos • Comece escrevendo sobre temas relacionados à sua atividade • Tente publicar os textos em jornais, sites ou revistas

79 79 79 79 ---- Você va Você va Você va Você vai falar daqui a poucoi falar daqui a poucoi falar daqui a poucoi falar daqui a pouco

Você está tranqüilo participando de um evento e, para sua surpresa,

fica sabendo que em poucos minutos será convidado a se dirigir à tribuna e dizer algumas palavras diante da plateia.

Eu já orientei nesta coluna como preparar uma apresentação com algum tempo de antecedência, pelo menos um, dois ou mais dias, e também sugeri outras técnicas que mostram saídas para superar o desafio de falar de improviso.

Agora vou dar algumas sugestões de como você deverá se preparar para falar em público quando tiver alguns minutos ou até uma hora inteira à disposição - uma situação muito comum.

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São aquelas circunstâncias em que você sabe que vai usar a palavra diante do grupo, mas precisa aguardar que outras pessoas se apresentem, ou que diversas partes de uma programação sejam antes cumpridas.

Concentre-se no tema e no motivo do evento - Esse é o primeiro e um dos mais importantes passos para planejar bem uma apresentação, qualquer que seja o tempo que você tenha à disposição - identificar com clareza qual é o motivo do evento e o tema que será abordado.

Sabendo qual é o tema da reunião e os motivos que levaram as pessoas a estar presentes naquele local, será mais simples encontrar as informações que o ajudarão a planejar em poucos minutos o conteúdo de sua mensagem.

Use as informações que já domina muito bem - Com apenas alguns minutos para se preparar, não caia na besteira de querer dar uma de Rui Barbosa e fazer uma conferência sobre o tema de sua apresentação.

Não é hora para grandes vôos oratórios; ao contrário, nessa circunstância você precisa manter os pés no chão, cumprir bem seu papel e transmitir uma mensagem simples, no menor tempo possível.

Verifique quais são as informações que você conhece bem e que, ao menos remotamente, possam ser associadas ao tema do evento. Faça uma escolha rápida, pois quanto mais depressa puder organizar suas ideias, mais confortável e seguro irá se sentir.

Alguns temas são mais apropriados pelo fato de, normalmente, possuírem diversas possibilidades de associação com a maioria dos assuntos. Por exemplo, suas viagens mais interessantes de negócio ou de lazer, os livros e filmes que considere marcantes por terem propiciado momentos de reflexão e aprendizado.

São úteis também os desafios profissionais que determinaram a trajetória de sua carreira, as histórias da vida de pessoas que conheceu, as notícias que esteja acompanhando, ou qualquer informação que sirva de preparação e lhe proporcione desenvoltura e desembaraço diante da plateia.

Habitue-se a manter alguns desses assuntos preparados, como se fossem cartas na manga, para utilizá-los da forma mais conveniente, de acordo com o tema que precisar abordar.

Encontre a ideia de ligação - A passagem do assunto que você escolheu para servir de apoio ao tema da reunião precisa ser feita com auxílio de uma ideia de ligação, de maneira sutil e imperceptível.

Depois de ter selecionado o assunto que considerou mais adequado para usar como apoio ao desenvolvimento do tema da reunião, concentre-

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se para descobrir a ideia que possa servir como ponte de ligação entre um e outro.

Se, por exemplo, o tema da reunião fosse o estabelecimento de metas para o próximo exercício e você resolvesse escolher como assunto de apoio a trajetória profissional de alguém que conhecesse muito bem e fosse admirado pelo grupo; ou notícias sobre o desemprego no país, que têm chamado sua atenção nos noticiários de jornais e revistas, uma ideia apropriada para ligá-los poderia ser 'desafio'.

Dessa forma, depois de descrever a trajetória profissional dessa pessoa, ou de falar sobre os planos para superação dos elevados níveis de desemprego, poderia dizer que as etapas profissionais que a pessoa ultrapassou, ou a decisão tomada para solucionar o problema do desemprego, constituem-se sempre em um enorme 'desafio' a ser vencido.

E, usando até o mesmo termo 'desafio', seria possível ligar o seu assunto com o tema da reunião. Poderia promover essa passagem dizendo, por exemplo, que esse 'desafio' que simbolizou a conquista profissional dessa pessoa, ou os planos implementados para resolver a questão do desemprego, pode ser comparado ao 'desafio' para atingir e superar as metas estabelecidas para o próximo exercício.

Para esses mesmos assuntos hipotéticos que mencionei com o objetivo de exemplificar a técnica da ideia de ligação, outras ideias poderiam ser utilizadas para estabelecer a passagem do assunto ao tema.

Algumas delas são dedicação, planejamento, superação, enfim, qualquer ideia que possa servir de passagem de um assunto a outro e que indique a interdependência entre eles.

Esse é um momento muito importante no planejamento da apresentação, pois é essa palavra, expressão ou ideia que permitirá estabelecer a associação natural do assunto que você escolheu, por conhecê-lo com profundidade, e o tema da reunião.

Fique atento e observe bem que ideias poderiam possibilitar essa passagem. Você verá que em alguns casos essa transição será efetuada por uma palavra ou expressão logo no início do assunto.

Em outros, somente no fim e em outros ainda em nenhum momento, pois poderá apenas ser deduzida de tudo o que foi exposto, isto é, embora a palavra nem seja mencionada, a ideia estará implícita no raciocínio.

Fique atento aos outros palestrantes e ao andamento da reunião - Além dos assuntos que você conhece com profundidade, e que poderiam servir para apoiar o desenvolvimento do tema da reunião, outro recurso que poderá ser muito útil para ajudá-lo a planejar sua apresentação em

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pouco tempo é prestar muita atenção no que os outros palestrantes estão dizendo e em todos os detalhes do evento.

Os discursos dos outros palestrantes poderão fornecer uma infinidade de subsídios preciosos para que você, em poucos minutos, ordene o pensamento e planeje sua apresentação de maneira interessante e segura.

Anote as frases mais relevantes dos outros palestrantes que possam ser associadas às informações que planeja transmitir. Cuidado, entretanto, para não ficar tentado a escrever palavra por palavra, períodos muito longos, ou até o discurso todo.

Dê preferência às frases e comentários que tenham provocado reações positivas mais acentuadas na plateia, pois essas informações já estarão, de certa forma, aprovadas por uma espécie de controle de qualidade dos ouvintes.

Lembre-se sempre de que as mesmas regras discutidas há pouco sobre a ideia de ligação deverão ser observadas quando associar as frases dos outros palestrantes ao assunto principal.

Os discursos dos outros palestrantes poderão fornecer uma infinidade de subsídios preciosos para que você, em poucos minutos, ordene o pensamento e planeje sua apresentação de maneira interessante e segura.

Dessa forma, em pouco tempo, você terá condições de deixar uma mensagem adequada à circunstância e poderá projetar uma ótima imagem no ambiente onde tiver de se apresentar.

SUPERDICAS DA SEMANSUPERDICAS DA SEMANSUPERDICAS DA SEMANSUPERDICAS DA SEMANAAAA

• Identifique o tema e o motivo da reunião • Escolha um assunto que domine bem para iniciar sua fala • Preste atenção nas palavras dos outros palestrantes e faça

anotações • Lance mão de ideias de ligação para fazer transições de um

assunto para outro.

80 80 80 80 ---- Obrigação de falar bemObrigação de falar bemObrigação de falar bemObrigação de falar bem Já tive oportunidade de comentar aqui nesta coluna sobre a

importância da comunicação verbal. Falar em público de maneira objetiva, clara, desembaraçada e eficiente é uma competência exigida para o bom desempenho de quase todos os profissionais.

Entretanto, para algumas atividades, falar bem é requisito fundamental. Não apenas porque a palavra oral está intimamente ligada às

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suas funções, mas também pelo fato de existir grande expectativa de que possuam mesmo essa qualidade.

Pense em algumas profissões como a do advogado, psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo. Na cabeça da maioria das pessoas, pelas próprias características das atividades que desenvolvem, esses profissionais deveriam ser uma espécie de sinônimo de boa comunicação.

Além das indicações dos próprios clientes e dos artigos científicos que publicam, para divulgar a qualidade do seu trabalho, o psiquiatra e o psicólogo, por exemplo, costumam ministrar palestras e conferências, além de concederem entrevistas para emissoras de rádio e televisão.

Imagine esses profissionais se apresentando de forma hesitante, desconfortável, tímida. Provavelmente, uma das primeiras indagações que faríamos seria: como é que eu vou me colocar nas mãos desse profissional se ele não conseguiu resolver nem seus próprios problemas?!

Da mesma forma o fonoaudiólogo, que trabalha diretamente com a comunicação. Se esse profissional se apresentar falando de maneira defeituosa, sem técnica, por mais competente que possa ser dificilmente passaria credibilidade.

Ocorre que em todas essas profissões que acabei de citar não existe sempre um treinamento ou uma orientação adequada para o desenvolvimento da boa oratória. A maioria sai da faculdade sem ter a mínima noção do que seja falar em público.

Outro sofredor é o advogado. Por estarmos acostumados a assistir a filmes de julgamentos, com duelos espetaculares entre acusação e defesa, construímos a imagem de que todos se expressam com essa mesma facilidade.

Depois há a questão do 'DNA'. A área do direito sempre foi pródiga em produzir oradores excepcionais, como Waldir Troncoso Peres, Evandro Lins e Silva, Evaristo de Moraes Filho, Márcio Thomaz Bastos, Edilson Mougenot Bonfim, Luiz Flávio Borges D'Urso, só para citar alguns. Para boa parte da população, se alguém milita na advocacia também possui naturalmente essa eloqüência aflorada.

Como sabem que serão julgados também pela qualidade da sua comunicação, muitos costumam se esconder, se esquivar das oportunidades para falar em público, prejudicando assim o futuro de sua carreira.

Pior. Quando se aventuram a fazer apresentações demonstram sua incompetência para enfrentar plateias, frustrando expectativas, decepcionando os ouvintes e projetando a imagem de profissionais despreparados e até desqualificados.

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Não foram poucas as vezes que me perguntaram: Professor Polito, como é que esse advogado foi procurá-lo para aprender a falar em público? Essa competência já não deveria fazer parte da profissão dele? Para essas pessoas advocacia e oratória estão intimamente relacionadas.

Por isso, além preparar em meus cursos nos últimos 30 anos advogados dos mais diferentes ramos do direito para falar em público, na semana passada realizei um sonho acalentado há décadas - lancei pela Editora Saraiva o livro 'Oratória para advogados e estudantes de direito'.

A obra, que também será lançada na Itália, tem a chancela e recomendação expressa da OAB-SP para o uso dos advogados, traz o prefácio do seu presidente, D'Urso; e o posfácio desse que é considerado um dos mais brilhantes promotores de justiça da história do país, Mougenot Bonfim.

É a minha contribuição para essa classe de profissionais com quem também aprendi muito. Aprendi com o exemplo de suas brilhantes apresentações e pela leitura das dezenas de livros com discursos judiciários que orgulhosamente ostento em minha biblioteca.

De tudo o que eu disse até aqui, podemos tirar uma conclusão simples e objetiva: todos devemos falar bem em público, pelos benefícios que essa competência naturalmente pode nos proporcionar, mas alguns profissionais assumem um compromisso ainda maior com a comunicação: eles têm obrigação de falar bem em público.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprimore a comunicação independentemente da sua atividade profissional

• Se há expectativa de que profissionais da sua área falem bem, dedique-se ainda mais ao aperfeiçoamento da comunicação

• Se tiver dificuldades para falar, não fuja - enfrente e será vitorioso

• Aprenda a falar vendo exemplos dos bons oradores que atuam em sua atividade

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81 81 81 81 ---- Seu semblante revela o que você pensa Seu semblante revela o que você pensa Seu semblante revela o que você pensa Seu semblante revela o que você pensa Certa vez uma jornalista me entrevistou para falar sobre a mentira.

Ela queria saber como seria possível identificar um mentiroso novo. Isso porque, dizia ela, os velhos mentirosos, principalmente os que atuam na política, já são muito conhecidos, mas os novos, não. Estão chegando agora para nos enganar.

Não titubeei na resposta: pela fisionomia. Sim, é pela fisionomia que as pessoas normalmente se traem. Podem até interpretar muito bem a personagem, mas em algum momento serão traídas pela fisionomia.

Nem sempre percebemos conscientemente o detalhe do jogo fisionômico, mas algo lá no nosso inconsciente, como disse Freud, identificará essa mensagem do inconsciente do outro.

A fisionomia possui duas funções muito importantes na comunicação - a expressividade e a coerência. Deve ser expressiva para auxiliar na condução da mensagem e na complementação das informações. E precisa ser coerente para que a mensagem transmitida pelas palavras tenha respaldo e legitimidade na comunicação do semblante.

Se você falar de tristeza, a sua fisionomia deverá demonstrar esse sentimento. Tanto assim que, em algumas circunstâncias, você precisará interpretar sua própria verdade, pois, ao falar de um sentimento, mesmo que esteja sentindo o que está dizendo, a fisionomia deverá mostrar de forma expressiva essa mensagem. Você sente, diz que sente e interpreta o que efetivamente sente.

Na minha dissertação de mestrado, publicada em livro pela Editora Saraiva, com o título de 'A influência da emoção do orador no processo de conquista dos ouvintes', recorri à teoria de Wilhelm Reich na obra 'Análise do caráter', para falar da maneira como percebemos a emoção do outro:

'A linguagem humana atua, interfere na linguagem da face e do corpo. Por isso, a expressão total de um organismo deve ser literalmente idêntica à impressão total que o organismo provoca em nós'.

Essa expressão total, que caracteriza a coerência da comunicação, é confirmada ou negada especialmente pela fisionomia. Por isso, procure sempre sentir o que está dizendo e analise se a sua fisionomia está sendo coerente com esse sentimento.

Fazendo parte da fisionomia, os olhos também são um excelente indicador da coerência entre a mensagem transmitida com as palavras e o sentimento. Durante uma apresentação, os olhos cumprem dois objetivos: o de receber o retorno, analisando como os ouvintes reagem e se

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comportam diante da mensagem, e o de valorizar a presença das pessoas no ambiente.

Se, ao olhar para a plateia, você perceber que as pessoas estão desatentas, movimentando a cabeça de um lado para outro, distraídas com objetos ou com qualquer outro sinal de desinteresse, talvez haja tempo de trazê-las de volta à realidade e estimulá-las a continuar prestando atenção.

Você poderá, por exemplo, mudar o ritmo da fala, alterar a gesticulação, incluir novas informações, leves e interessantes, e quem sabe até resgatar uma apresentação praticamente perdida.

Se você não olhar para os ouvintes, não terá condições de saber se eles estão ou não gostando, se estão acompanhando o desenvolvimento do seu raciocínio, se estão interessados e assimilando a mensagem.

Quando você olha para a plateia, mesmo que não consiga ver cada um dos ouvintes, as pessoas se sentem olhadas, prestigiadas, incluídas no ambiente. Por isso, distribua a comunicação visual para todos os lados do auditório, olhando ora para quem está sentado à esquerda, ora para quem está sentado à direita.

Há dois tipos de ouvintes que atrapalham muito a apresentação - aquele que se mostra hostil, balançando negativamente a cabeça e fazendo caretas de desaprovação, e o bonzinho, que está sempre concordando com o orador acenando com o sim de aprovação.

Não caia nessa armadilha. Evite olhar a maior parte do tempo para o ouvinte hostil com a intenção de fazê-lo mudar de opinião, e também não olhe muito para o ouvinte bonzinho só porque sentiu o conforto do seu consentimento.

Nas duas situações estaria se escravizando a esses ouvintes e deixando de olhar a plateia toda, correndo o risco de que os demais dispersassem a atenção.

A fisionomia, incluindo aí a comunicação visual, é um aspecto de importância fundamental para o sucesso da arte de falar em público ou nas conversas do dia a dia. Por isso, observe bem como tem usado o semblante na sua comunicação para melhorar ainda mais o resultado de suas apresentações.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Observe se há coerência entre suas palavras e seu semblante • Há casos em que o semblante pode complementar a

mensagem sem apoio dos gestos • Evite exageros com o semblante para não se tornar caricato • Ao falar, procure olhar para todos os ouvintes • Não se escravize ao ouvinte que só concorda, nem se abale

diante de reações negativas

82 82 82 82 ---- Evite gestos errados ao falar Evite gestos errados ao falar Evite gestos errados ao falar Evite gestos errados ao falar Usei de propósito 'errados' no título com a intenção de mudar o

adjetivo para 'desaconselháveis' logo no princípio. Estou sugerindo o uso de desaconselháveis porque não existe nada tão errado em comunicação que não possa ser feito em certas circunstâncias.

É comum ouvir pessoas censurando o comportamento de alguns oradores como se houvessem cometido o pior de todos os erros: 'Polito, assisti a uma palestra com um consultor que não sabia se apresentar. Virava e mexia e ele punha a mão no bolso'.

Em alguns casos ocorreu de eu conhecer o palestrante que estava sendo criticado e saber que ele era muito bom comunicador. Como, entretanto, alguns aprendem regrinhas de conduta e se moldam totalmente a elas, caem no exagero de achar que qualquer comportamento fora do padrão determinado constitui erro.

Por isso, nada de levar regrinhas ao pé da letra. Saiba que, embora algumas atitudes sejam desaconselháveis, em certas situações, dependendo do ambiente e das características de quem as utiliza, poderão até ser recomendáveis.

Considerando essa relatividade das regras, de maneira geral, não fale com as mãos nos bolsos, nas costas, com os braços cruzados, apoiados por muito tempo sobre a mesa, a tribuna ou a haste do microfone. Evite gesticular com as mãos abaixo da cintura ou acima da cabeça.

Tome cuidado com a postura. Às vezes podemos nos sentir intimidados pelo tipo de público que iremos enfrentar e acabamos por nos apresentar com a cabeça baixa, corpo curvado, demonstrando excesso de humildade e com atitude perdedora, de alguém fracassado.

Por outro lado, corremos o risco de subestimar os ouvintes e, por isso, nos apresentarmos com a cabeça levantada, olhando por cima da plateia, numa atitude que pode aparentar arrogância e prepotência.

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Outro comportamento que pode comprometer a qualidade da apresentação é o fato de o orador se movimentar diante do público, de um lado para outro, sem objetivo, de maneira desordenada

Ao se posicionar, procure não ficar apoiado apenas sobre uma das pernas, muito menos trocar com freqüência a posição de apoio, ficando ora sobre uma, ora sobre outra.

Não abra ou feche demasiadamente as pernas, pois a primeira posição poderá tirar sua elegância e esta última prejudicar seu equilíbrio e deixá-lo com a postura muito rígida.

Fique atento para os movimentos involuntários que podem desviar a atenção dos ouvintes, como, por exemplo, coçar a cabeça, segurar a gola da blusa ou do paletó, mexer na aliança, na pulseira, brincar com objetos como o fio do microfone, o laser pointer, a caneta, o lápis e outras atitudes que possam tirar a concentração das pessoas.

E, para finalizar a relação das atitudes desaconselháveis, deixei por último o conselho que considero mais importante: os dois erros mais comuns na gesticulação são a falta e o excesso de gestos. Como os gestos são importantes para ajudar na comunicação da mensagem, a sua ausência pode prejudicar a qualidade da comunicação.

Por outro lado, o excesso de gestos pode desviar a atenção, dificultando a compreensão das informações. Todavia, é preferível você não fazer nenhum gesto a se apresentar com gesticulação exagerada.

Se você não fizer gestos, mas apresentar uma boa mensagem, os ouvintes ainda conseguirão acompanhar seu raciocínio. Se, entretanto, você exagerar com os movimentos, dificilmente as pessoas poderão se concentrar nas suas palavras.

Esses são os cuidados mais importantes para que você possa evitar gestos que podem prejudicar suas apresentações. Lembre-se, entretanto, do que eu disse no início: não existe nada tão errado em comunicação que não possa ser feito em certas circunstâncias.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Evite a falta e o excesso de gesticulação • Entre as duas atitudes desaconselháveis prefira a falta ao

excesso • Alguns gestos desaconselháveis podem ser usados em certas

circunstâncias • Você pode se movimentar em frente dos ouvintes com

objetivos definidos

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83 83 83 83 ---- O sucesso começa for O sucesso começa for O sucesso começa for O sucesso começa fora da tribunaa da tribunaa da tribunaa da tribuna Nem sempre o sucesso de uma apresentação se apoia nos aspectos

mais visíveis. Para ser bem-sucedido na comunicação você deverá observar alguns fatores que podem estar distantes da tribuna: bom sono e alimentação adequada.

Especialmente quando você tiver de fazer apresentações importantes procure descansar bem à noite para manter o sono em ordem. Uma boa noite de sono permite que os reflexos fiquem aguçados e que a voz esteja em boas condições no dia seguinte.

Embora cada organismo possa ter sua própria reação e, por isso, se mostrem distintos uns dos outros, de maneira geral, quando não dormimos bem o raciocínio fica lento, a voz se mostra frágil, sem vida e pode impedir que a comunicação seja disposta e envolvente.

No meu caso não deixo por menos. Embora não precise de muitas horas de sono para descansar, como gosto de estar inteiro para as minhas apresentações, ao chegar à cidade onde vou fazer a palestra, sendo possível, dirijo-me direto ao hotel e caio na cama.

O resultado é impressionante. Às vezes uma ou duas horas de sono têm um poderoso efeito para o sucesso da apresentação. Esse tempo de descanso aumenta o poder de concentração e dá mais disposição para falar em público.

Aceite meu conselho - se você não dormiu tempo suficiente, ao chegar à localidade onde vai se apresentar, prefira descansar a ficar 'cirandolando' sem rumo, visitando lugares desnecessariamente. Seus reflexos e sua voz vão lhe agradecer por esse cuidado.

Outro fator relevante para que você possa se dar bem nas apresentações é a alimentação. Sabe aquele muco que enrosca na garganta e o obriga a pigarrear? Ele surge principalmente devido à ingestão de alimentos derivados do leite. Por isso, evite esse tipo de alimentação até três horas antes de falar.

Imagino que você saiba da importância do diafragma para a produção da fala. Esse músculo localizado embaixo dos pulmões é responsável por encaminhar o ar até a laringe para que o som seja produzido.

Se o diafragma tiver problemas de funcionamento o resultado da apresentação poderá ser comprometido. A movimentação desse músculo tão importante para a comunicação oral pode ser prejudicada quando há presença de alimentos gordurosos, ou feitos com temperos muito fortes.

Por isso, nas refeições que precedem às palestras evite esses alimentos para que a respiração funcione de maneira mais livre. Já que me referi a

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refeições antes de falar, nessas circunstâncias não deixe de se alimentar, mas também não coma demais.

Fique de olho nas armadilhas. A salinha VIP, localizada próximo ao auditório onde a apresentação será realizada, que funciona como espécie de mordomia ao palestrante, é um local propício para o envenenamento da voz.

Nessa sala é comum você encontrar garrafas de café e de chá, normalmente feitos bem cedinho e que resistem bravamente até o momento em que você irá se apresentar. Chegam a se transformar em verdadeiro inimigo silencioso.

Enquanto você aguarda a hora de falar, vai tomando um cafezinho aqui, um chazinho ali, e nem percebe que essas bebidas, tão presentes no nosso dia-a-dia, podem atrapalhar seu desempenho.

Café e chá contribuem para aumentar a acidez e iniciar um desagradável refluxo gastresofágico, que irá lembrá-lo dos alimentos que ingeriu nas últimas três horas, durante toda a apresentação. Se estiver acostumado a tomar café ou chá, vá em frente, mas não exagere.

Evite também água muito gelada, com gás, e refrigerantes. Os fonoaudiólogos recomendam sucos de laranja ou de limão, que produzem maior salivação, frutas mais consistentes como pêras e maçãs, e chás de frutas e ervas mornos.

Alguns poderiam me perguntar: Polito, eu gosto de tomar 'umazinha' de vez em quando. Posso tomar uma dose só para dar uma calibrada e me deixar mais esperto para falar?

Cuidado. Um dia você toma uma dose para dar uma calibrada, depois vai precisar de duas, e chega o dia em que não vai conseguir falar se não tomar alguma bebida alcoólica.

Não recomendo que tome bebidas alcoólicas antes de falar em público. Entretanto, se não resistir dê preferência ao vinho tinto - e só uma taça. Evite tomar uísque e cerveja, pois, além de tornar mais rígida a mucosa das cordas vocais, deixará a voz pastosa.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Evite falar em público sem se alimentar, pois poderá sentir

fraqueza • Evite comer muito antes de falar em público, pois poderá ficar

indisposto • Evite tomar café, chá, água gelada, com gás e refrigerante

quando falar em público • Evite alimentos derivados do leite e comidas gordurosas antes

de falar • Ponha o sono em ordem antes de se apresentar em público

84 84 84 84 ---- O significado dos O significado dos O significado dos O significado dos gestos em diferentes culturas gestos em diferentes culturas gestos em diferentes culturas gestos em diferentes culturas

Você deixaria de realizar um negócio só porque o diretor de uma

empresa norte-americana fez o sinal de OK, encostando a ponta do polegar na ponta do dedo indicador, formando um círculo? Ou julgaria que dois membros do Politburo soviético são homossexuais porque trocaram beijos ao se encontrar? Estou quase certo de que sua resposta é não.

Por isso, acho meio exagerado. Na verdade, não acredito muito nessas histórias de grandes contratos que deixaram de ser assinados só porque o executivo de determinado país fez um gesto considerado ofensivo pelos diretores da organização de outro país com quem estava negociando.

Bem, talvez fatos isolados possam ter ocorrido uma vez ou outra. Entretanto, sinto que alguns textos tratam desse assunto carregando nas cores e inventam histórias com o objetivo de ressaltar a importância de se conhecer o significado dos gestos em países diferentes.

No mundo globalizado em que vivemos dificilmente uma pessoa de qualquer parte do mundo irá se sentir tão ofendida com o gesto de um estrangeiro, a ponto de cancelar um contrato ou desfazer um negócio. Mesmo interpretando o gesto como ofensivo, provavelmente, saberá que se trata de uma questão cultural e que, por isso, deverá ser relevado.

Considere ainda que, de maneira geral, o gesto não deve ser observado de forma isolada, mas sim ser avaliado dentro de um contexto muito mais amplo e abrangente. Assim como a palavra tomada isoladamente pode não ter significado, também o gesto deslocado do contexto dificilmente completará uma informação.

Tanto a palavra como o gesto precisam ser estruturados em contextos que construam ideias completas. Para que uma atitude possa ser

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compreendida e interpretada há necessidade, portanto, de que os gestos estejam inter-relacionados e em harmonia uns com os outros.

Temos de levar em conta também que talvez haja mais risco nos contatos de pessoas de uma mesma cultura do que entre habitantes de países diferentes, porque entre as pessoas que convivem dentro de uma mesma sociedade o gesto é interpretado, até inconscientemente, com a acepção que conhecem e estão acostumados a observar.

Josué Montello, na sua interessante obra 'Anedotário Geral da Academia Brasileira', conta que José Maria Paranhos, futuro Visconde de Rio Branco, possuía na tribuna um gesto característico, que se transformou numa espécie de cacoete: erguia o braço, dedo indicador em riste, nos momentos em que parecia mais arrebatado. E diz que o próprio orador deu esta explicação para ao seu gesto: 'Quando a ideia não vale por si para ir bastante alto, trato de suspendê-la na ponta do dedo'.

Antes de iniciar os comentários sobre o significado de alguns gestos em diversos países, julgo oportuno lembrar que uma atitude pode, às vezes, não ter nenhum outro sentido, além do próprio fato em si.

É conhecido o caso em que Freud estava fumando um charuto e ao perceber que alguns dos seus discípulos confabulavam para tentar entender o que aquele fato significava, chamou-os e disse: há momentos em que um charuto é apenas um charuto.

Assim, creditando à diferença do significado dos gestos a importância relativa que efetivamente existe, vale a pena observarmos alguns casos bastante curiosos de certos gestos que possuem diferença acentuada de um país para outro.

Alguns dos gestos que apresentam diferenças de interpretação mais curiosas são:

Apertar a ponta da orelhaApertar a ponta da orelhaApertar a ponta da orelhaApertar a ponta da orelha No Brasil - É um sinal de aprovação Na Índia - É uma forma de se desculpar, ou de mostrar

arrependimento por uma falha ou erro cometido. Na Itália - Indica que a pessoa que está sendo apontada é

homossexual Apontar com o polegar para cima, com os quatro outros dedos Apontar com o polegar para cima, com os quatro outros dedos Apontar com o polegar para cima, com os quatro outros dedos Apontar com o polegar para cima, com os quatro outros dedos

fechados na palmafechados na palmafechados na palmafechados na palma No Japão - Significa o número 5 Na Alemanha - Significa o número 1 No Brasil - Significa que está tudo certo e serve também para pedir

carona

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Na Europa e EUA - É o pedido de carona Na Turquia - Significa uma cantada para sair com homossexual Na Nigéria e Austrália - É um gesto obsceno. O mesmo significado que tem no Brasil o gesto de encostar a ponta

do polegar na ponta do indicador, formando um círculo. Por sinal, o significado que esse gesto tem no Brasil é o mesmo na Turquia e na Rússia.

Falando um pouco mais desse gesto, que é tão obsceno no Brasil, vamos ver que significado possui em outros países.

Nos EUA - Significa que está tudo certo, positivo. No Japão - Significa valor financeiro - moeda, dinheiro. Na França - Significa que é algo sem valor, zero. Na Turquia - Significa que alguém é homossexual. Mão em forma de figa Mão em forma de figa Mão em forma de figa Mão em forma de figa No Brasil - Significa fato auspicioso, de boa sorte. Na Croácia - Bem diferente do que ocorre no Brasil, o significado é

de algo sem valor ou de um não. Na Turquia e Grécia - Tem significado obsceno. É o mesmo

significado que tem no Brasil o gesto de bater no círculo formado com o indicador e o polegar, quase fechados, com a palma da outra mão.

Na Tunísia e Holanda - Significa o pênis. Raspar o queixo com a ponta dos dedosRaspar o queixo com a ponta dos dedosRaspar o queixo com a ponta dos dedosRaspar o queixo com a ponta dos dedos (como se estivesse jogando

algo grudado embaixo do queixo para fora) No Brasil - Significa sei lá, não tenho essa informação. Na Itália (região Sudeste) - Significa sem chance. Na França - Significa sai daqui. Mover a cabeça no sentido lateral, de um lado para outro Mover a cabeça no sentido lateral, de um lado para outro Mover a cabeça no sentido lateral, de um lado para outro Mover a cabeça no sentido lateral, de um lado para outro Talvez seja a diferença mais gritante que poderíamos encontrar no

significado de um gesto entre os diversos países. Em quase todos os países do ocidente - Significa não. Na Bulgária, Grécia, Irã e Turquia - Significa, por incrível que possa

parecer, sim.

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Movimentar o dedo indicador esticado em círculos na região da Movimentar o dedo indicador esticado em círculos na região da Movimentar o dedo indicador esticado em círculos na região da Movimentar o dedo indicador esticado em círculos na região da têmpora têmpora têmpora têmpora

No Brasil e nos EUA - Significa que alguém não está batendo bem da cabeça, que pirou, está doido.

Na Argentina - Significa que uma pessoa está querendo falar com a outra.

Na Alemanha - Significa que alguém fez barbeiragem no trânsito. O chifre feito com o dedo mínimo e indicador, enquanto o O chifre feito com o dedo mínimo e indicador, enquanto o O chifre feito com o dedo mínimo e indicador, enquanto o O chifre feito com o dedo mínimo e indicador, enquanto o

médio e o anulamédio e o anulamédio e o anulamédio e o anular ficam fechados r ficam fechados r ficam fechados r ficam fechados No Brasil e na Itália - Significa que o marido está sendo traído,

corneado pela mulher. Na Venezuela - Significa conquista, sorte, futuro promissor. Nos EUA - região do Texas - Significa que o torcedor está solidário e

dando apoio ao seu time. O gesto precisa ser observado e entendido sempre dentro de um

contexto maior, que inclui o seu significado específico em si, as palavras, o conteúdo da mensagem, as circunstâncias e os outros gestos que participaram do processo de comunicação.

O fato de estarmos nos comunicando com pessoas de cultura diferente da nossa não deve nos inibir ou provocar constrangimento. Primeiro porque se um ou outro gesto transmitir uma mensagem distinta daquela que estávamos pretendendo, provavelmente o interlocutor irá compreender, assim como nós compreendemos o OK do americano ou os beijos dos soviéticos, pois é quase certo que tenha consciência das diferenças culturais.

Depois, dificilmente essa situação ocorrerá, porque, como vimos, a comunicação se dará, normalmente, não por um gesto isolado, mas sim por um conjunto de informações que precisa ser considerado.

Mesmo assim, convém não negligenciar para não correr o risco de comprometer a qualidade ou o sentido da comunicação por causa de um gesto impensado.

Além da minha observação pessoal para identificar essas diferenças culturais dos gestos, pesquisei em obras de autores que se dedicaram ao estudo do relacionamento intercultural, como Roger Axtell ('Gestures - The do's and taboos of body language around the world') e Gerard Nieremberg e Henry Calero ('How to read a person like a book')

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Se você deseja ser bilíngüe, aprenda e domine também os

gestos da outra cultura • Conheça bem o significado dos gestos usados nos países com

quem precisa manter contato para evitar mal-entendidos • Se um estrangeiro fizer algum gesto que você considere

ofensivo, ponha na conta das diferenças culturais e não se incomode com o fato

• Leia livros sobre relacionamento intercultural para se sentir mais confortável nos contatos com pessoas de outros países

85 85 85 85 ---- Aprenda com quem sabe ensinar Aprenda com quem sabe ensinar Aprenda com quem sabe ensinar Aprenda com quem sabe ensinar

Conquistar e manter a atenção das pessoas é uma arte almejada por

todos os comunicadores, seja em apresentações em público, diante de plateias numerosas, seja em conversas informais, com amigos e familiares. Afinal, de que adianta falar bem e expor excelente conteúdo se os ouvintes não prestam atenção?

Embora existam muitas regras para obter a atenção, considerando a circunstância do ambiente e as características dos ouvintes, o que deve contar mesmo é o seu estilo próprio, com a experiência que você acumula a cada dia. Desde muito cedo meu campo de observação preferido foram os professores.

Há matérias escolares que apaixonam, outras, entretanto que se transformam em verdadeiro martírio para os alunos. Matemática, por exemplo, sempre foi, para a maioria dos estudantes, matéria para paixão ou sacrifício.

Talvez tenha sido a responsável pelos melhores engenheiros e advogados do país. Alguns abraçaram a engenharia por serem muito apegados aos números. Outros se dedicaram à advocacia por detestarem tanto os cálculos.

Modificam essa estatística, entretanto, os que, como eu, tiveram a sorte de ser alunos do professor Ulisses Ribeiro. Sua maneira própria e alegre de tratar os alunos envolvia e cativava a todos. Em suas aulas, a matemática adquiria sentido objetivo, razão de ser. Com ele, era muito fácil entender e gostar da matéria.

Quando, por exemplo, aquele professor magro, gentil e sempre sorridente percebia um aluno desatento, punha para funcionar uma de suas inigualáveis habilidades para trazê-lo de volta à realidade. O mestre

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andava o tempo todo com o bolso do jaleco cheio de pedacinhos de giz e tinha uma pontaria impressionante.

Sem que o aluno percebesse, independentemente da distância, atirava o pedaço de giz, como se joga uma bolinha de gude, e acertava a testa do distraído. Era um momento sempre aguardado pelos alunos.

Todos se divertiam muito com aquele seu gesto característico, e ninguém se sentia agredido ou magoado. Nunca conheci professor mais querido que Ulisses Ribeiro. Quando faleceu, Araraquara inteira parou para se despedir do mestre.

Hoje, quando vejo pessoas perdendo a paciência e se irritando com ouvintes que conversam ou ficam desatentos, lembro-me com saudade da competente comunicação do antigo professor, que fez história nas salas de aula das escolas araraquarenses.

É possível até que alguns adeptos da 'moderna pedagogia' torçam o nariz para o inusitado método aplicado pelo professor Ulisses. A esses dou uma sugestão: pergunte aos ex-alunos do querido mestre o que aprenderam com ele e o que achavam de suas aulas.

Vendo com tristeza como a nossa educação se deteriorou ao longo do tempo, imagino a utilidade que ele teria para ensinar com seu exemplo, mostrando como conquistar e manter com alegria e simplicidade a atenção dos alunos.

Como eu era amigo de seu filho, também Ulisses, hoje respeitado médico anestesista em Araras, de vez em quando ia até sua casa estudar para as provas de matemática.

Como o professor sabia que no fundo eu estava atrás de alguma dica, aparecia com seu sorriso maroto e relacionava todos os exercícios do livro do Oswaldo Sangiorgi (hoje meu querido colega da Academia Paulista de Educação), dizendo que o exame se basearia naquelas questões.

Lógico que se fizéssemos, como na verdade fazíamos, todos os exercícios, o aprendizado estaria garantido. Mais uma aula que procuro sempre seguir, pois falar em público é sempre uma prova, e saber tudo o que precisamos transmitir dá confiança e melhores chances de aprovação.

Ulisses Ribeiro foi um grande professor. Além da matemática, ensinou, com seu jeito de ser, como cativar e manter a atenção dos ouvintes de maneira alegre e gentil e foi um exemplo que influenciou muitas gerações araraquarenses.

Foi tão importante em sua missão de ensinar que até agora me permite usar seu exemplo para continuar orientando em textos como este. Que saudade!

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Desenvolva seu próprio método para conquistar e manter a

atenção das pessoas • Observe com atenção como agem os grandes comunicadores e

aprenda com eles • Pense sempre em como mostrar para os ouvintes o benefício da

mensagem • Saia do lugar-comum, seja ousado e amplie suas chances de

conquista

86 86 86 86 ---- Aprenda com Lula Aprenda com Lula Aprenda com Lula Aprenda com Lula ---- o mestre da oratória o mestre da oratória o mestre da oratória o mestre da oratória Sei que vou mexer num vespeiro. Muita gente já correu com a faca

entre os dentes para ler o texto e cair de pau no autor, só porque eu disse para aprender com Lula - o mestre da oratória.

Outro tanto, sem me conhecer bem, já prepara um papelzinho para pôr num altar e fazer pedidos para que eu tenha vida longa e feliz - só porque eu disse para aprender com Lula - o mestre da oratória.

Não há meio termo nessa história. O sentimento quase sempre é de amor ou de ódio. Em todo caso, vou procurar ser só professor de oratória para explicar os motivos que levam Lula a angariar tanta popularidade e ser tão querido.

São dados das últimas pesquisas. Ao conquistar quase 80% de aprovação pessoal Lula transformou-se num dos maiores fenômenos políticos de todos os tempos. Já comecei a sentir algumas abelhas picando, mas vamos em frente.

Há algum tempo, o senador amazonense Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado e um dos mais ferrenhos e competentes opositores do governo Lula, disse nas Páginas Amarelas da 'Veja': 'O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um líder de massas, o maior que o país já teve desde Getúlio Vargas. Ele sempre foi identificado com causas populares. É o principal protagonista da história das eleições presidenciais. O carisma dele é inegável'.

Fernando Henrique Cardoso, que tem todos os motivos para enxergar Lula com os olhos críticos, pois passou os dois mandatos levando bordoada do opositor, e, por isso, vive trocando farpas com seu sucessor, já disse com outras palavras o mesmo que Arthur Virgílio. Revelou em uma de suas palestras que seu maior mérito político havia sido o de vencer Lula, um líder carismático.

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Gostando ou não do presidente Lula, não há como negar que o 'cara' é fera! Analise comigo. Mesmo tendo sido massacrado pela imprensa durante um ano inteiro por causa do escândalo do mensalão, conseguiu o 'milagre' de receber votos de mais de 60% da população. Eu não consigo pensar em outra pessoa no mundo inteiro que conquistasse façanha semelhante.

Sabemos que depois de algum tempo no poder o governo vai perdendo um pouco do encanto e sua imagem fica desgastada. Afinal, é impossível cumprir todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral.

Lula quebra essa regra. Passados cinco anos, sua aceitação pessoal continua intacta, ou melhor, em alta. Repito - quase 80% de aceitação pessoal. Parece que acabou de sair dos braços do povo que o elegeu pela primeira vez.

A oposição não sabe para onde correr. Vive atrás de 'um fato novo' para virar o jogo. Entretanto, entra dia, sai dia e o 'homem' continua, como dizia o ex-ministro Magri, imexível.

Alguns adversários argumentam que seu sucesso é devido àqueles que se beneficiaram do bolsa-família. Outros, inconformados, arrancam os cabelos - como é que alguém nasce assim com o 'bumbum virado pra Lua?'

E é verdade. Vai ter sorte assim lá em Garanhuns. Exceto a turbulência recente, nunca a economia mundial foi tão favorável como nos últimos anos. E de quebra a descoberta dentro do nosso quintal de uma das maiores bacias petrolíferas do mundo - no seu governo.

Temos de reconhecer, entretanto, que essas vantagens ajudam, mas com ou sem elas Lula teria apoio popular. Sabe por quê? Ele é um craque na oratória. Sabe como tratar as massas e se identificar com o povo.

Lula traçou um plano de ação vencedor. Conseguiu 'colar' a imagem de que pertence ao povo, ora como paizão, ora como mais um brasileiro comum. Quando lança uma medida popular é o pai protegendo seus filhos. Quando é atacado, se junta ao povo como igual para se defender das 'elites' opressoras.

Pesquisas recentes mostraram dados alarmantes. 50% dos brasileiros não sabem onde fica o Brasil, 84% não têm ideia de onde está a Argentina e 97% não conseguem localizar a França no mapa. Em interpretação de textos somos um dos últimos colocados no mundo. Ou seja, vivemos num país inculto e despreparado.

Aí entra a melhor face da capacidade de comunicação do Lula. Ele sabe usar uma linguagem que as pessoas conseguem entender, por mais incultas que sejam. Lula conta histórias, lança mão de metáforas, brinca,

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compara assuntos econômicos com futebol. Tudo com uma simplicidade que entra na cabeça dos eleitores e vai direto ao coração.

Quando fala para empresários ou investidores estrangeiros, embora o discurso mantenha a mesma leveza, a mensagem se reveste de dados econômicos e financeiros que mostram o bom desempenho do país. Isto é, um discurso na medida certa para cada tipo de ouvinte.

Parodiando o próprio Lula - nunca antes na história desse país apareceu um político que soubesse usar tão bem a comunicação a seu favor como ele. A análise é simples e direta, Lula sabe como ajustar o discurso de acordo com o perfil, a característica e as aspirações dos ouvintes.

Dá para aprender oratória com ele. Se nós soubermos usar a comunicação apropriada para os diferentes tipos de ouvintes, com a competência demonstrada pelo Lula, o resultado das nossas ações será muito melhor e mais eficiente.

Portanto, essa é a lição de casa: aprender a falar bem como o Lula. Mesmo que você não goste muito dele. Não sou eu que estou dizendo, são seus próprios opositores.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Analise as características dos ouvintes e adapte seu discurso a eles

• Conquiste empatia. Faça com que os ouvintes se vejam na mesma situação que você

• Revele como sua mensagem atenderá as aspirações dos ouvintes

• Use uma linguagem apropriada a cada tipo de plateia

87 87 87 87 ---- Garanta o sucesso de sua apresentação Garanta o sucesso de sua apresentação Garanta o sucesso de sua apresentação Garanta o sucesso de sua apresentação Uma das maiores dificuldades de quem precisa falar em público é a

escolha da forma de apresentação da mensagem. Por causa da insegurança e do receio de esquecer as informações alguns recorrem à fala decorada e à leitura.

Esses dois recursos, entretanto, de maneira geral, por apresentarem muitos inconvenientes, são os menos indicados. Devem se utilizados em momentos específicos, sendo que a fala decorada quase nunca é recomendada.

O maior problema da fala decorada talvez seja o risco constante de se esquecer de uma palavra importante na ligação de duas ideias. Nessa

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circunstância, enquanto a palavra não surge, para o orador uma fração de segundo parecerá uma eternidade.

Além da pressão de tentar ali diante da plateia se lembrar da informação, considere ainda que, normalmente, quem decora não se prepara para falar de improviso e por isso fica sem condições de manter a seqüência da exposição.

Outra desvantagem da fala decorada é o artificialismo. Quem decora tende a ficar com um brilho nos olhos, como se estivesse lendo um papel depositado na sua mente, enquanto se esforça para se lembrar da seqüência memorizada.

E para encerrar as 'contra-indicações' da fala decorada está o fato de o orador deixar de aproveitar informações do ambiente, que poderiam ajudar a tornar o discurso mais estimulante e atraente.

Em tom de brincadeira é possível dizer que quem decora fica tão preocupado em se esquecer do roteiro memorizado que se você observar bem vai notar que ele nem movimenta a cabeça, com receio de misturar as informações.

A leitura, embora possa ser uma forma de apresentação recomendada para algumas circunstâncias, conforme já mostrei nesta mesma coluna, sua indicação, todavia, se restringe a situações especiais, devendo ser evitada na maioria dos casos.

Entre o céu e o inferno, entretanto, há excelentes recursos que podem tornar a apresentação muito mais eficiente, como é o caso do roteiro escrito. É um procedimento muito simples, prático e fácil de ser usado.

Escreva numa folha de papel algumas frases que ajudem a ligar a seqüência da sua apresentação. Cada frase deverá conter uma ideia completa, isto é, a essência do pensamento que deseja comunicar.

Quando estiver diante da plateia você deverá ler a frase e em seguida fazer comentários a respeito dela, criticando, elogiando, ampliando, concordando, discordando, associando com outras informações, até que essa parte da mensagem esteja concluída.

Logo após você deverá ler a próxima frase e fazer outras observações. E assim, lendo as frases e fazendo comentários que as complemente poderá realizar uma boa apresentação.

A vantagem do roteiro escrito é que com esse recurso você terá a segurança da seqüência de todas as etapas importantes da apresentação, relacionadas pelas frases que serão lidas, e a liberdade para desenvolver o raciocínio diante dos ouvintes.

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O roteiro escrito poderá ser utilizado em qualquer circunstância e em todos os momentos se mostrará sempre muito útil. Muitos oradores experientes se valem dele como recurso para apoiar suas apresentações.

Ao levar o roteiro escrito como apoio da sua apresentação aja com naturalidade e leia as frases sem tentar disfarçar essa atitude. Se perceber que os comentários complementares consumirão tempo prolongado deixe a folha de papel sobre a mesa ou coloque-a no bolso para ter um pouco mais de liberdade com as mãos.

Quando, entretanto, os comentários forem mais rápidos continue com o papel na mão, pois o fato de guardar e pegar muito seguidamente a folha com as anotações pode passar a ideia de insegurança ou hesitação.

Em apresentações menos complexas você poderá usar um cartão de notas. Esse recurso é diferente do roteiro escrito. Consiste em um cartão pequeno, uma folha de cartolina aproximadamente do tamanho da palma da mão.

Nesse cartão você anotará as palavras mais importantes na seqüência da sua apresentação, além de algumas cifras e datas que precisariam ser mencionadas.

Observe que os dois recursos são muito diferentes. O roteiro escrito contém frases com ideias completas que deverão ser lidas, enquanto que o cartão de notas possui apenas as palavras que ajudarão a constatar se a seqüência planejada para a apresentação está sendo seguida.

Embora o roteiro escrito seja recomendado para apresentações mais longas e complexas e o cartão de notas para exposições mais curtas e simples, nada o impedirá de optar por um ou por outro em qualquer circunstância.

Lembre-se de que a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso da apresentação é de quem fala.

Por isso, você deverá escolher aquele com o qual possa se sentir mais confortável.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Recorra sempre que desejar a um recurso de apoio • Segure a folha ou o cartão naturalmente, sem disfarçar a leitura • Escreva com letras grandes para ler com mais facilidade • Se usar vários cartões, numere-os para não se perder • Escolha o recurso com o qual se sinta mais à vontade

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88 88 88 88 ---- Descaminhos e sutilezas da comunicação Descaminhos e sutilezas da comunicação Descaminhos e sutilezas da comunicação Descaminhos e sutilezas da comunicação A maneira como você fala ou escreve classifica as pessoas. Por isso,

cuidado, pois sem que se dê conta, talvez esteja construindo armadilhas para o sucesso da sua comunicação.

Mesmo sem nenhuma intenção de ofender, pela maneira como se expressa, falando ou escrevendo, você poderá criar resistências e comprometer os objetivos de suas apresentações.

A forma como se dirige às pessoas deixa transparecer o valor que você atribui a elas - valor social, profissional ou afetivo. E elas reagirão à sua mensagem de acordo com a interpretação que derem a esse tratamento.

E aí garotão, tudo bem? Aparentemente, essa frase seria identificada como elogio a uma pessoa mais velha, pois, normalmente, gostamos de ser vistos como mais jovens. Por causa do poder classificatório das palavras, entretanto, esse tratamento poderia ter outra interpretação.

A expressão 'garotão' pode soar também como referência pejorativa, indicando não a idade, mas a inexperiência ou posição social inferior, especialmente se for utilizada por alguém que tenha mais ou menos a mesma idade, ou que seja um pouco mais jovem.

O sentido da mensagem não é transmitido apenas pelo sentido das palavras, mas principalmente pelo tom, pela forma como elas são pronunciadas. A maneira como falamos classifica as pessoas às quais nos dirigimos.

Quando você fala com uma pessoa de baixa formação intelectual observe como a tendência é explicar com cuidado todas as informações para facilitar o entendimento dela. Essa forma quase didática de falar, semelhante à que usamos quando conversamos com as crianças, classifica o ouvinte como alguém despreparado.

Ao contrário, quando o ouvinte possui bom preparo, a comunicação perde essa característica didática e você se expressa sem a preocupação de explicar detalhadamente o que pretende dizer.

Nessa circunstância, você utiliza de maneira mais acentuada os recursos da ironia e se vale com freqüência da presença de espírito, pois sabe que esse tipo de comunicação é compreendido com facilidade por pessoas com boa formação.

A importância de você se conscientizar de que a entonação é classificatória está justificada no risco permanente de que um pequeno deslize na avaliação feita sobre a formação e as características dos ouvintes pode trazer conseqüências negativas irreversíveis.

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Por exemplo, talvez você angariasse a antipatia e a resistência de um grupo se usasse tom condescendente afirmando que os ouvintes não precisariam se preocupar com o entendimento da mensagem porque houve um trabalho intenso no sentido de tornar as informações mais fáceis de serem compreendidas.

Ora, qualquer ouvinte com razoável formação intelectual se sentiria ofendido com esse tom que o classifica como pessoa despreparada. O problema se agrava pelo fato de essa avaliação ser feita no instante em que as palavras são proferidas.

Mesmo que você tenha estudado com pormenores e com bastante antecedência quais as características dos ouvintes, no momento de falar, ao vê-los, provavelmente usará a entonação de acordo com a avaliação que faz das pessoas naquele momento e não apenas a que havia planejado nos instantes de preparação. Se errar, poderá prejudicar o resultado da sua comunicação.

Segundo Mikhail Bakhtin, um dos mais importantes estudiosos da linguagem, o fenômeno da entonação é lugar de memória acústica social. O que esse grande teórico lingüista russo pretende dizer com essa afirmação? Simplesmente que todos nós nos impregnamos de entonações desde os primeiros instantes de nossa existência.

De acordo com o pensador, são 'vozes' que estarão presentes em nossa vida. 'Vozes' formadas pelas características das pessoas com as quais convivemos, que por sua vez foram influenciadas por outras pessoas com as quais conviveram. Pelas músicas que ouvimos. Pelos cursos que freqüentamos. Pelas imagens que observamos.

Enfim, toda nossa formação influenciada durante a vida participa dessa entonação classificando o grupo social a que pertencemos e nos levando a usar uma forma de comunicar, de receber a mensagem e de interagir para determinar seu sentido.

Observe o comportamento de uma criança de aproximadamente quatro anos. Já nessa idade, nos primeiros aninhos de vida, ela aprende a classificar as pessoas e reage de acordo com as características de cada uma.

Com a tia que brinca e conta historinhas, ela se mostra afável, sorridente e alegre com sua chegada. Com a prima ranheta, que disputa seus brinquedos, ela se mostra resistente e procura se manter distante.

Com o avô carinhoso e paciente, ela tanto pode correr para o seu colo, como fazer manha e pleitear presentes impossíveis. Esse aprendizado social ficará para sempre em sua memória, e quando estiver na idade adulta suas atitudes ao falar ou ao ouvir serão resultado dessa sua formação.

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Por isso, ao falar, ouvir, escrever e ler a memória social interfere não apenas na determinação do conteúdo como também na forma como a mensagem é transmitida. Por exemplo, ao ler, ou ouvir, você interpretará se a pessoa que escreve ou fala está sendo irônica, contundente, séria, brincalhona, pois ao transmitir a mensagem ela dará pistas do sentido que pretende comunicar.

Você já percebeu que ao falar deverá ter em mente que esse fenômeno da entonação estará sempre por perto. O resultado será desastroso, por exemplo, se você, que teve uma excelente formação cultural e conviveu com pessoas bem preparadas e, portanto, se impregnou dessa marca social, falar com pessoas que não tiveram a mesma formação como se pudessem perceber com facilidade suas brincadeiras e as sutilezas de sua linguagem.

Nessas circunstâncias, você deverá produzir e comunicar sua mensagem considerando essa característica diversa dos seus interlocutores. E entender também que a sua atuação alcançará êxito se souber se comunicar levando em conta as expectativas que essas pessoas têm com relação ao seu desempenho, ao assunto abordado e à maneira como ele está sendo tratado.

SUPERDISUPERDISUPERDISUPERDICAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANA

• Observe se o tom voz que você usa corresponde ao que deseja falar

• Adapte a mensagem ao nível intelectual dos ouvintes • Analise se sua forma de falar está de acordo com a realidade

cultural dos ouvintes • Não avalie o público apenas pela aparência dos ouvintes

89 89 89 89 ---- Seu corpo diz o que você pensa Seu corpo diz o que você pensa Seu corpo diz o que você pensa Seu corpo diz o que você pensa

Criança tem cada uma! Essa história movimentou a garotada da

minha rua durante um bom tempo, e até hoje respinga nas conversas entre aqueles que protagonizaram cenas que dariam inveja aos mestres da ficção.

Tive um amigo de infância, Ariovaldo, que durante um bom tempo sofreu porque achava que as outras pessoas conseguiam ouvir seus pensamentos. Se estivesse conversando com alguém e surgisse um pensamento negativo, rápido cuidava de pensar em algo diferente porque tinha certeza de que o interlocutor ouvia tudo o que se passava em sua cabeça.

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Como não tolerou a pressão, caiu na besteira de abrir a alma e contar essa sua insegurança para um 'capetinha' do grupo, Serjão. Sua vida, que já andava de cabeça para baixo, virou de vez um inferno. Serjão anunciou a esquisitice do Ari a todo ser que respirava.

Depois dessas inconfidências, assim que ele aparecia na esquina sempre havia um moleque para azucrinar seu sossego: 'Ari, se você continuar pensando essas besteiras sobre minha irmã, vou te encher de porrada'. E o Ari que até então ficava vermelho, daí para frente começou a ficar roxo.

Encheram tanto a paciência do pobre do Ari, que, de repente, num estalo, ele percebeu o tamanho da asneira que havia criado para si mesmo, e se juntou ao grupo fazendo autogozação. Antes que alguém dissesse alguma coisa ele se antecipava: 'Meus pensamentos são um livro aberto. Aí perdeu a graça e deixaram o Ari em paz'.

Nossos pensamentos não têm voz, não falam independentemente de nossa vontade. Entretanto, todo o nosso corpo fala - e muito!

Nossos pensamentos não falam, como imaginava o Ari, contudo, é possível perceber a partir dos sinais dados pelo corpo o que estamos verdadeiramente sentindo e se a mensagem transmitida pelas palavras é ou não consistente, se possui ou não coerência.

Na obra Human Communication, Stewart L. Tubbs e Sylvia Moss dizem: 'Uma interessante questão levantada por Ekman é se as pistas dadas pelos movimentos do corpo são diferentes daquelas dadas pela cabeça e pelos movimentos faciais. Suas descobertas indicam que a cabeça e o rosto sugerem qual emoção está sendo experimentada enquanto o corpo dá pistas a respeito da intensidade dessa emoção. As mãos, contudo, podem nos dar as mesmas informações que nós recebemos da cabeça e do rosto'.

Pelo que disseram esses estudiosos, se não houver coerência e harmonia entre as palavras, os sentimentos transmitidos, a entonação usada, os sutis movimentos do corpo, a expressão facial, os gestos -enfim a coerência e harmonia nos traços de uma mesma linguagem- nossa comunicação estará seriamente prejudicada e o nosso preparo, confiança e credibilidade questionados.

Todos esses aspectos estão relacionados à competência da comunicação. Nas diferentes fases da formação as pessoas aprendem a usar de maneira adequada o tom da voz, os gestos, a comunicação facial, as reações do corpo, enfim, desenvolvem habilidades que as preparam para conviver naturalmente em sociedade.

De acordo com a cultura em que são educadas, as sutilezas são incorporadas na maneira de se comunicar e de se expressar: um discreto

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levantar de sobrancelha, que indique surpresa. Uma quase imperceptível mordida no lábio inferior, que demonstre ansiedade. Um rápido tamborilar com os dedos que informe impaciência.

Ainda nessa fase de aprendizado a pessoa descobre até que ponto pode ou não tocar ou se aproximar fisicamente dos outros, qual o tom de voz apropriado para as mais diferentes situações e todas as reações próprias para uma boa convivência. Com o passar do tempo esse comportamento é naturalizado e constantemente monitorado.

Anthony Giddens na obra 'Modernidade e identidade', afirma que 'aprender a tornar-se um agente competente -capaz de se juntar aos outros em bases iguais na produção e reprodução de relações sociais- é ser capaz de exercer um monitoramento contínuo e bem-sucedido da face e do corpo'.

Deduz-se, portanto, que para o indivíduo se sentir competente precisa manter o domínio sobre o corpo em todas as situações sociais. Além disso, o autor afirma que 'ser um agente competente significa não só manter tal controle contínuo, mas ser percebido pelos outros quando o faz'.

Se, por acaso, a primeira condição não puder ser atendida, ou seja, a pessoa não conseguir manter o controle do corpo, ela perderá sua proteção, e sua confiança básica será ameaçada. Conseqüentemente a segunda condição será afetada, pois os outros perceberão este descontrole e poderão desconfiar da sua competência.

Por isso vale a pena investir no autoconhecimento, no aprimoramento da comunicação para que possa dominar suas ações e ser visto como uma pessoa segura e confiante. Com esses atributos você conquistará mais credibilidade e admiração ao falar e se relacionar com as pessoas.

Por incrível que pareça, então, o Ari não era tão esquisito assim. Seu corpo, realmente, podia revelar seus pensamentos - até que ele bem era normalzinho!

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Invista no aprimoramento da comunicação • Aprenda a dominar as ações do seu corpo • Procure levar para todas as situações seu comportamento

natural • Aprenda a 'ler' a linguagem do seu corpo e das outras pessoas • Observe sempre se há coerência entre o que as pessoas falam

com as palavras e com o corpo

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90 90 90 90 ---- Lições de um psiquiatra bom de oratória Lições de um psiquiatra bom de oratória Lições de um psiquiatra bom de oratória Lições de um psiquiatra bom de oratória

Içami Tiba, colunista do UOL na área de educação, é um fenômeno

que merece ser estudado. Em todos os lugares em que se apresenta é sempre aclamado com entusiasmo pelo público.

Há pouco tempo participei de um evento em Sorocaba com outros 14 palestrantes, entre eles Içami Tiba. Foi um dia inteiro de palestras promovido pelo Luiz Marins, em comemoração ao aniversário da fundação que leva seu nome.

Cerca de mil educadores, entre diretores e professores da rede pública de ensino, estavam na plateia para ouvir os palestrantes discutirem sobre o tema ensinar a aprender (as 15 palestras se transformaram no livro 'Superdicas para ensinar a aprender', publicado pela Editora Saraiva).

À medida que os palestrantes chegavam ao auditório eram aplaudidos com entusiasmo pelo público. Só para citar alguns, estavam lá: Max Gehringer, do Fantástico, e Carlos Alberto Júlio, na época presidente da HSM.

Em determinado momento, entretanto, o auditório quase veio abaixo. Todos os ouvintes ficaram em pé aplaudindo e gritando com toda força que podiam para saudar o palestrante que acabara de chegar - Içami Tiba. O grande educador sorriu com seu jeito simpático e agradeceu humildemente àquela manifestação.

Qual o segredo desse psiquiatra para ser tão admirado? Como ele se apresenta em público? Qual sua estratégia para envolver e conquistar as mais diferentes plateias em todos os cantos do país? Vejamos como ele escolhe os temas das palestras, como estrutura a fala e envolve os ouvintes.

Como seus livros são muito conhecidos, de maneira geral suas palestras são solicitadas a partir de algum tema abordado em suas obras. Por ser uma pessoa muito generosa, tudo o que estudou e aprendeu com sua larga experiência transporta para seus livros e trata desses temas em suas palestras.

Um dos pontos fortes de suas apresentações é a linguagem simples e descomplicada. Os ouvintes têm a impressão de que o orador esteve ouvindo a conversa deles quando estavam em casa, pois toca em assuntos que costumam debater no dia-a-dia. Para manter a atenção dos ouvintes, conta piadas e histórias interessantes. Usa com rara habilidade a comunicação fisionômica. Em determinados momentos consegue ser engraçado e arrancar gargalhadas da plateia sem dizer nenhuma palavra, apenas usando o semblante.

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Entretanto, não joga conversa fora, pois tudo o que diz tem relação direta com o conteúdo da palestra. Além dessa característica pessoal, movimenta-se bastante no palco e promove um trabalho interativo com os ouvintes, sugerindo exercícios de alongamento, pedindo que se espreguicem ou massageiem o colega.

Surpresa! Tiba não usa recursos de apoio, como projeção de telas ou filmes. O fato é surpreendente, pois não é comum ver a apresentação de um renomado palestrante sem apoio de visuais. Também não gosta que gravem suas palestras. E tem uma boa justificativa para tomar essa atitude.

Explica que suas apresentações são feitas sempre de acordo com a característica da plateia e a reação dos ouvintes, aproveitando a emoção do ambiente. Ora, como é que uma gravação poderia registrar esse envolvimento do palestrante com o público? Fora do contexto, provavelmente, a compreensão seria distorcida.

Revela que sempre procura uma forma de melhorar suas conclusões. Um dos recursos que mais utiliza é contar uma história ligada ao conteúdo da apresentação, até como forma de recapitular os aspectos mais importantes da palestra.

Recentemente eu o entrevistei no meu programa de televisão 'Falando com Polito', pela JBN TV, na rede Sky. O entusiasmo da produção do programa foi tão grande que repetiram a entrevista várias vezes a pedido dos telespectadores, que queriam saber um pouco mais da vida do seu ídolo.

Tiba aplica o que prega. Fala em amor e é sempre amoroso com a esposa Natércia, com os filhos e com os amigos. É um profissional que merece ser conhecido e admirado.

SUPERDISUPERDISUPERDISUPERDICAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANA

• Sempre que encontrar um bom palestrante analise os motivos do seu sucesso

• Adapte a mensagem e a forma de falar à circunstância da apresentação

• Aprenda a contar histórias interessantes e as utilize nas palestras e conversas

• Use recursos visuais na medida certa. Se julgar oportuno, elimine-os

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91 91 91 91 ---- Dicas para você falar muito bem Dicas para você falar muito bem Dicas para você falar muito bem Dicas para você falar muito bem 1. A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa 1. A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa 1. A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa 1. A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa

comunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicação Se você cometer alguns erros técnicos durante uma apresentação em

público, mas comportar-se de maneira natural e espontânea, tenha certeza de que os ouvintes ainda poderão acreditar em suas palavras e aceitar bem a mensagem. Se, entretanto, você usar técnicas de comunicação, mas apresentar-se de forma artificial, a plateia poderá duvidar de suas intenções.

2. Não confie na memória 2. Não confie na memória 2. Não confie na memória 2. Não confie na memória ---- leve um roteiro como apoio leve um roteiro como apoio leve um roteiro como apoio leve um roteiro como apoio Para se sentir mais seguro, use um roteiro com as principais etapas da

exposição e frases que contenham a essência das ideias. Se a memória falhar o roteiro estará à mão para socorrê-lo.

3. Use uma linguagem correta 3. Use uma linguagem correta 3. Use uma linguagem correta 3. Use uma linguagem correta Uma escorregadela na gramática aqui, outra ali, talvez não chegue a

prejudicar sua apresentação. Afinal, quem nunca cometeu deslizes gramaticais que atire a primeira pedra. Entretanto, equívocos grosseiros poderão prejudicar a sua imagem e a da instituição que estiver representando.

4. Saiba quem são os ouvintes 4. Saiba quem são os ouvintes 4. Saiba quem são os ouvintes 4. Saiba quem são os ouvintes Cada público possui características e expectativas próprias, que

precisam ser consideradas em uma apresentação. Procure saber qual é o nível intelectual das pessoas, até que ponto

conhecem o assunto e a faixa etária predominante dos ouvintes. Assim poderá se preparar de maneira mais conveniente e com maiores chances de se apresentar bem.

5. Tenha começo, meio e fim 5. Tenha começo, meio e fim 5. Tenha começo, meio e fim 5. Tenha começo, meio e fim Guarde essa regrinha simples e muito útil para organizar uma

apresentação: anuncie o que vai falar, fale e conte sobre o que falou. Depois de cumprimentar os ouvintes e conquistá-los com elogios

sinceros, ou mostrando os benefícios da mensagem, conte qual o tema que irá abordar.

Em seguida, transmita a mensagem, sempre facilitando o entendimento dos ouvintes. Se, por exemplo, desejar apresentar a solução para um problema, diga antes qual é o problema.

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Use toda a argumentação disponível: pesquisas, estatísticas, exemplos, comparações, estudos técnicos, científicos etc.

Se, eventualmente, perceber que os ouvintes apresentam algum tipo de resistência, defenda os argumentos refutando essas objeções.

Depois de expor os argumentos e defendê-los das resistências dos ouvintes, diga qual foi o assunto abordado, para que a plateia possa guardar melhor a mensagem principal. Finalmente, peça que reflitam ou ajam de acordo com suas propostas.

6. Tenha uma postura correta 6. Tenha uma postura correta 6. Tenha uma postura correta 6. Tenha uma postura correta Evite os excessos, inclusive das regras que orientam sobre postura.

Alguns, com o intuito de corrigir erros, partem para os extremos e condenam até atitudes que, em determinadas circunstâncias, são naturais e corretas.

Assim, cuidado com o 'não faça', 'não pode', 'está errado' e outras afirmações semelhantes. Prefira seguir sugestões que dizem 'evite', 'é desaconselhável', 'não é recomendável' e outras semelhantes.

Portanto, evite apoiar-se apenas sobre uma das pernas e procure não deixá-las muito abertas ou fechadas. É importante que se movimente diante dos ouvintes para que realimentem a atenção, mas esteja certo de que o movimento tem algum objetivo, como, por exemplo, destacar uma informação, reconquistar parcela do auditório que está desatenta etc. Caso contrário, é preferível que fique parado.

Cuidado com a falta de gestos, mas seja mais cauteloso ainda com o excesso de gesticulação.

Procure falar olhando para todas as pessoas da plateia, girando o tronco e a cabeça com calma, ora para a esquerda, ora para a direita, para valorizar e prestigiar a presença dos ouvintes, saber como se comportam diante da exposição e dar maleabilidade ao corpo, proporcionando, assim, uma postura mais natural.

Evite falar com as mãos nos bolsos, com os braços cruzados ou nas costas.

7. Seja bem7. Seja bem7. Seja bem7. Seja bem----humorado humorado humorado humorado Nenhum estudo comprovou que o bom humor consegue convencer

ou persuadir os ouvintes. Se isso ocorresse, os humoristas seriam sempre irresistíveis. Entretanto, é óbvio que um orador bem-humorado consegue manter a atenção dos ouvintes com mais facilidade.

Se o assunto permitir e o ambiente for favorável, use sua presença de espírito para tornar a apresentação mais leve, descontraída e interessante.

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Cuidado, entretanto, para não exagerar, pois o orador que fica o tempo todo fazendo gracinhas pode perder a credibilidade.

8. Prepare8. Prepare8. Prepare8. Prepare----se para falar se para falar se para falar se para falar Saiba o máximo que puder sobre a matéria que irá expor, isto é, se

tiver de falar 15 minutos, saiba o suficiente para discorrer pelo menos 30 minutos.

Não se contente apenas em se preparar sobre o conteúdo, treine também a forma de exposição. Faça exercícios falando sozinho, ou se tiver condições, diante de uma câmera de vídeo. Reúna um grupo de amigos, familiares, colegas de trabalho ou de classe, e converse bastante sobre o assunto que irá expor.

9. Use recursos audiovisuais 9. Use recursos audiovisuais 9. Use recursos audiovisuais 9. Use recursos audiovisuais Use, mas não abuse. Tome cuidado com os excessos. Um bom visual

deverá atender a três grandes objetivos: destacar as informações importantes, facilitar o acompanhamento do raciocínio e fazer com que os ouvintes se lembrem das informações por tempo mais prolongado. Portanto, não use o visual como 'colinha', só porque é bonito, para impressionar, ou porque todo mundo usa. Observe sempre se o seu uso é mesmo necessário.

10. Fale com emoção 10. Fale com emoção 10. Fale com emoção 10. Fale com emoção Fale sempre com energia, entusiasmo, emoção. Se nós não

demonstrarmos interesse e envolvimento pelo assunto que estamos abordando, como é que poderemos pretender que os ouvintes se interessem pela mensagem?

A emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos ouvintes.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Tenha essas dicas sempre à mão • Use as dicas como recurso de apoio. Não se escravize a elas • Faça sua própria relação de dicas observando os bons oradores • Esteja sempre pronto para quebrar as regras em benefício da

sua individualidade

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92 92 92 92 ---- Para usar bem os recursos audiovisuais Para usar bem os recursos audiovisuais Para usar bem os recursos audiovisuais Para usar bem os recursos audiovisuais - E aí, gostou da apresentação? - Show, foi muito legal. - E sobre o que o palestrante falou? - Cara, sabe, o que me impressionou mesmo foram os recursos

audiovisuais. A cada tópico o orador comandava uma espécie de raios que cruzavam o ambiente, acompanhados de sons tão fortes que até balançaram a sala - impressionante. Você precisava estar lá.

- Certo, mas sobre o que exatamente ele falou? - Bem, na verdade não me liguei muito na mensagem, mas achei

bastante interessante. Esse diálogo não é apenas fruto de fantasia. Cada vez mais surgem

exemplos de apresentações que valorizam tanto o visual, que acabam comprometendo a verdadeira razão de ser do evento - a mensagem.

Os recursos visuais são importantes para que os ouvintes compreendam melhor a mensagem e guardem as informações por muito mais tempo.

Quando utilizados de forma apropriada, facilitam a boa ordenação da mensagem e permitem ao orador apresentar as informações em seqüência coerente e destacar os tópicos mais relevantes da exposição.

Alguns estudos mostram que, se transmitirmos a mensagem apenas verbalmente, depois de três dias os ouvintes irão se lembrar apenas de 10% do que falamos. Entretanto, se essa mesma mensagem for apoiada por um recurso visual, no final do mesmo tempo os ouvintes se recordarão de 65% do que comunicamos.

Fica claro, portanto, que o visual é extremamente importante para o sucesso de uma apresentação, mas se não for usado com critério pode fazer mais mal que bem.

Tome cuidado, portanto, para não exagerar. O rápido desenvolvimento dos recursos audiovisuais pode produzir uma perigosa armadilha para os palestrantes afoitos, novidadeiros e desavisados.

Tenho visto pessoas que, durante suas apresentações, usam material de apoio tão sofisticado que dão a impressão de terem sido planejadas para fazer demonstrações de equipamentos e programas de computação gráfica.

Os palestrantes se valem de todos os sons, cores, movimentos e tipos de imagens que conseguem lançar mão. São exposições tão espetaculares que no final fica difícil até lembrar-se do conteúdo da mensagem.

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Quando você consegue se concentrar na seqüência do raciocínio, surge um raio colorido, acompanhado de um som com todos os decibéis disponíveis que desvia o pensamento e dispersa a atenção.

Por isso, atualize-se, acompanhe as novidades, mas seja cauteloso. Lembre-se de que numa apresentação o mais importante é o palestrante, o papel dos visuais deverá ser sempre de apoio.

Observe também que tipo de equipamento irá utilizar, pois a sua imagem profissional poderá começar a ser medida pelo tipo de recurso que lançar mão. Não ficaria bem, por exemplo, um executivo de uma grande empresa fazer a apresentação de um produto, que pretende ser revolucionário, usando um velho retroprojetor como apoio.

Lembre-se sempre de que um visual eficiente deve atender a três objetivos principais:

Destacar as informações importantes; Facilitar o acompanhamento do raciocínio; Possibilitar a lembrança do assunto por tempo mais prolongado. Ao produzir uma apresentação faça sempre essa pergunta: o visual

está atendendo a esses três objetivos? Se a resposta for positiva, use-o sem receio. Entretanto, se a resposta para um dos itens não for afirmativa, comece a desconfiar da utilidade dele e prepare-se para meter a tesoura e eliminá-lo.

Você não deverá usar um visual como recurso de apoio se ele servir apenas como ilustração para tornar a exposição mais atraente, se substituir informações que poderiam ser transmitidas verbalmente, se for para ser seguido como simples roteiro ou, o que é pior, se for para imitar outros palestrantes que sempre se apoiam em recursos visuais.

Deixe-o de lado também se o custo e o tempo de preparação não puderem ser justificados pelos resultados pretendidos.

Dez regras básicas para produzir um bom visual: 1.1.1.1. Coloque um título 2222.... Faça legendas 3.3.3.3. Escreva com letras legíveis 4444.... Limite a quantidade de tamanhos de letras 5.5.5.5. Crie frases curtas 6.6.6.6. Use poucas linhas 7.7.7.7. Use cores

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8.8.8.8. Apresente apenas uma ideia em cada visual 9.9.9.9. Utilize apenas uma ilustração em cada visual 10.10.10.10. Retire tudo o que for dispensável ou incompatível com a

mensagem Para usar bem o visual e manter um bom contato com os ouvintes

você poderá obedecer a seguinte seqüência: - Avise que vai projetar determinada informação - Projete - Olhe para tela como indicação para onde os ouvintes deverão olhar - Comente em uma ou duas frases sobre a importância ou a

característica da informação projetada - Desenvolva a exposição Observando essa ordem você fará com que o visual seja um ótimo

apoio e não irá se escravizar a ele.

SUPERDICAS DA SUPERDICAS DA SUPERDICAS DA SUPERDICAS DA SEMANASEMANASEMANASEMANA • Evite números quebrados. Arredonde as cifras para facilitar a

visualização • Ao preparar o visual prefira escrever 10 mil no lugar de 10.000 • Use cores contrastantes • Apenas três ou quatro cores podem ser suficientes • Ponha um título em cada visual e use legendas

93 93 93 93 ---- Seja breve nos e Seja breve nos e Seja breve nos e Seja breve nos e----mailsmailsmailsmails

Quando idealizei o livro 'Superdicas para falar bem' me impus uma

condição: escrever 60 dicas práticas, no máximo entre 1.650 a 1.800 toques com espaço cada uma. Em determinados momentos parecia impossível, pois dava a impressão de que precisaria ir um pouco além dessa medida. Resisti, pois estava determinado a concluir a tarefa conforme havia planejado.

A Editora Saraiva gostou muito do projeto e pediu que coordenasse a série superdicas. Minha incumbência tem sido a de convencer os melhores autores do país para que escrevam um superdicas sobre o tema da sua especialidade.

O fato curioso é que quase todos os autores me procuraram em determinado momento para pedir mais flexibilidade no tamanho do texto. No final, todos, sem exceção, concordaram que era possível fazer o trabalho com qualidade mantendo o limite determinado.

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Essa experiência não é muito diferente do que ocorre com os textos que escrevemos no dia-a-dia. Especialmente os textos que enviamos por e-mail. A cada dia as caixas de e-mails estão mais sobrecarregadas. Com freqüência cada vez maior ouço reclamações de amigos que dizem perder um tempo precioso lendo os e-mails que recebem.

Além dos desagradáveis spams, que nos perturbam com propagandas de todos os tipos, desde eventos na Índia até aparelhos milagrosos para aumentar o tamanho do pênis, ainda temos de ler mensagens quilométricas que poderiam ser resumidas a pouquíssimas linhas.

Por isso, se deseja que suas mensagens sejam bem recebidas evite a tentação de escrever romances nos e-mails. Se julgar que a mensagem longa é necessária, mande-a como anexo e redija o e-mail em poucas linhas comentando o conteúdo do texto. Assim, seu contato poderá julgar se terá ou não interesse em ler a informação toda.

Além da extensão desnecessária há outro grave problema com os e-mails - as piadinhas. Cuidado com as piadinhas, pois ao encaminhar esses textos humorísticos, mesmo que tenha custado apenas o toque em uma tecla de enviar, para quem recebe poderá parecer que você é um desocupado e que não tem nada importante para fazer.

Por mais engraçada que possa ser a piada pense duas vezes antes de encaminhá-la. Esse cuidado deve ser redobrado se a piada for acompanhada de imagens pesadas. Ainda há muitas conexões lentas, que exigem um tempão para a imagem entrar.

O destinatário do e-mail quase espuma de raiva enquanto aguarda para descobrir quem foi o engraçadinho que o fez esperar por aquele interminável 5 de 48 que parece nunca sair do lugar.

Esteja atento também para não cometer o erro oposto e transformar o remédio em veneno. Essa história de entrar na comunicação on-line dizendo oi e tchau pode dar a impressão de que você não tem interesse em manter contato com a pessoa com a qual está conectado.

Nesses casos procure analisar pelas respostas que for recebendo até que ponto a outra pessoa poderia estar disponível. Se perceber que sua presença não é tão oportuna, aí sim não hesite em se despedir.

Só para não esquecer, revise tudo mais de uma vez quando for mandar uma mensagem por e-mail. Erros gramaticais e palavras digitadas com falhas passam ideia de negligência e até de despreparo.

Se alguém redigir o texto para você, dedique um tempinho para dar uma boa olhada no que foi feito. Afinal, é sua assinatura e, portanto, sua imagem que estará em jogo. Todo cuidado é pouco.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Aprenda a escrever mensagens completas com brevidade • Pegue os últimos textos que escreveu e reescreva-os usando

metade do tamanho • Em seguida, sem prejudicar o conteúdo, reduza pela metade o

que já havia reduzido • Adquira o hábito de escrever e-mails bem curtinhos

94 94 94 94 ---- A magia das tiradas espirituosas A magia das tiradas espirituosas A magia das tiradas espirituosas A magia das tiradas espirituosas

Há pessoas espirituosas que transformam situações difíceis e

desconfortáveis em excelentes oportunidades para demonstrar sua inteligência e capacidade criativa. Presenciei há pouco tempo uma cena que ilustra bem essa habilidade que distingue a genialidade de alguns oradores.

O grupo de 15 palestrantes a que pertenço já escreveu dois livros coletivos, todos com direitos autorais destinados a instituições beneméritas. O primeiro, dentro da série 'Superdicas', que coordeno para a Editora Saraiva, com o título de 'Superdicas para ensinar a aprender'. Os direitos autorais desta obra foram doados à Fundação Luiz Almeida Marins, de Sorocaba.

O segundo, publicado pela Editora Integrare, com o título de 'Pensamento estratégico para líderes de hoje e amanhã', coordenado por Dulce Magalhães e prefaciado por Max Gehringer. Os direitos autorais desta obra foram doados à Unipaz.

O lançamento deste segundo livro ocorreu em movimentada noite de autógrafos que lotou a Livraria Saraiva do Shopping Morumbi, em São Paulo. Dos quinze autores dez estavam presentes. A presença de tantos palestrantes renomados atraiu um grande público, que queria ver e ouvi-los de perto.

Dá para imaginar o que significa dez palestrantes felizes, com microfone na mão, falando sem tempo determinado. Falaram inicialmente o presidente da Integrare, a gerente de comunicação da Saraiva e a Dulce, para explicar como alinhavou a obra. Daí para frente foi um desfile de discursos. Eu tive a sorte de ser um dos três primeiros a falar.

O Luiz Marins, que estava na ponta da mesa foi o último a se apresentar. Cada vez que um palestrante terminava o pronunciamento dava para vê-lo balançando a cabeça, como se dissesse: esse também roubou um pedaço do meu discurso.

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Finalmente chegou sua vez de empunhar o microfone. Assim como eu muita gente estava se indagando como o Marins sairia daquela saia justa, pois os temas ligados à publicação do livro haviam se esgotado na fala dos outros autores.

Momento de pura genialidade. Marins se levanta calmamente, ainda em silêncio olha para todos os lados da plateia, saboreia aqueles instantes de expectativa e dispara: estou me sentindo como o 8º marido da Elizabeth Taylor na noite de núpcias - o que posso fazer hoje para surpreender esta mulher?! A plateia veio abaixo. Ninguém poderia supor uma tirada tão oportuna e apropriada para aquela circunstância.

Na verdade nem me lembro do que ele disse depois, mas sua participação foi a mais comentada por todos. Afinal, ele conseguira apresentar uma novidade e 'surpreender Liz Taylor na sua 8ª noite de núpcias'.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Se tiver de falar junto com outros palestrantes, fique atento às circunstâncias

• Exagere alguma informação do ambiente para torná-la bem-humorada

• Colecione tiradas espirituosas para usá-las em momento oportuno

• Procure sair da mesmice e usar informações que surpreendam os ouvintes

95 95 95 95 ---- Aprenda a usar bem o teleprompter Aprenda a usar bem o teleprompter Aprenda a usar bem o teleprompter Aprenda a usar bem o teleprompter

O uso do teleprompter tem sido cada vez mais comum nos mais

diferentes tipos de eventos, desde pronunciamentos de presidentes da república, lançamentos de produtos feitos por executivos, até agradecimentos de homenagens.

O teleprompter é um equipamento muito simples e bastante eficiente, idealizado para permitir a leitura de textos de maneira que os ouvintes mal percebam que você está lendo. O texto é produzido por um programa próprio de computador e projetado sobre placas de cristal que ficam à sua frente, por meio de monitores.

Devido à angulação das placas e à sua superfície espelhada, você consegue ler o texto refletido como se estivesse mantendo contato visual com a plateia falando de improviso, de forma que os ouvintes praticamente não percebam a leitura.

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As placas de cristal transparentes permitem que o público veja o seu rosto sem perceber o texto projetado pelo monitor, por causa de um tratamento próprio em sua superfície.

No princípio, o teleprompter foi utilizado nos estúdios de televisão, principalmente para apresentações de programas jornalísticos. Nesse caso, dentro dos estúdios, a placa de cristal é acoplada com angulação própria, em frente à câmera.

Com este sistema você lê o texto projetado na placa espelhada e, como olha na direção da lente da câmera, os telespectadores recebem a mensagem como se estivesse falando de improviso.

Mais tarde, os políticos, depois de conhecerem as vantagens desse recurso nos seus pronunciamentos pela televisão, passaram a utilizá-lo em outros ambientes e, hoje, profissionais de todas as áreas, em especial empresários e executivos, se valem do teleprompter nas suas apresentações.

A instalação de duas placas de cristal colocadas lateralmente, refletindo o mesmo texto, permite que você gire a cabeça e o tronco como se estivesse olhando para todo o auditório. Podem ser colocadas placas de cristal adicionais se a circunstância exigir ou indicar a conveniência de maior deslocamento seu na frente do público.

Em geral, os aparelhos de teleprompter possuem placas de cristal de aproximadamente 20 centímetros de largura por 25 de altura, fixadas em hastes reguláveis de acordo com a sua estatura. De maneira geral, cada placa comporta de quatro a sete linhas de até 20 caracteres por linha, cerca de quatro a cinco palavras.

Essa quantidade de linhas e de palavras pode ser alterada de acordo com o tamanho de letras utilizado como fonte. Para que você possa fazer a melhor escolha, as empresas prestadoras desse serviço costumam disponibilizar três opções de fontes, que são selecionadas conforme a sua capacidade de leitura.

As placas produzidas com essas características ficam praticamente imperceptíveis a partir de 6m de distância do público. Em geral, são instaladas de 1m a 1,5m de distância de onde você vai ficar, para uma perfeita visibilidade do texto.

Os programas são preparados para que você possa armazenar o texto em um pen drive. Assim, você pode fazer um treinamento criterioso sozinho, em casa ou no escritório, e, na hora da apresentação, bastará colocar o pen drive no computador para ter o discurso da forma como foi ensaiado.

Um teleprompter completo poderá ser adquirido ou alugado. A opção vai depender muito da freqüência com que for utilizado. De maneira

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geral, quando o uso é apenas esporádico, o aluguel é sempre mais conveniente, pelo fato de você poder contar com os equipamentos mais atualizados e com a assistência de um operador experiente.

É preciso certo treino para se habituar à leitura de quatro a cinco palavras por linha, sem ter a visão de toda a frase. Nas primeiras vezes, a fala poderá sair um pouco truncada e você talvez se apresente com artificialismo. Com a prática, a leitura adquire um ritmo natural e o comportamento diante do aparelho passa a ser espontâneo.

Quinze orientações importantes para você usar bem o teleprompter 1 1 1 1 ---- Faça um bom treinamento antes de lançar mão desse recurso na

frente do público. 2 2 2 2 ---- Pratique, sozinho ou com a ajuda de algum orientador, pelo

menos dez leituras de textos diferentes de, no mínimo, cinco minutos cada uma.

3 3 3 3 ---- Durante o treinamento, desenvolva principalmente o sincronismo entre a leitura das informações projetadas na tela e a comunicação visual com a plateia.

4 4 4 4 ---- Se fizer seus exercícios num auditório, imagine que os ouvintes estejam sentados nas cadeiras vazias e fale olhando para eles, como se os estivesse vendo. Assim você não fixará demais os olhos na placa de cristal.

5 5 5 5 ---- Não tenha pressa em chegar ao final do texto; as palavras não desaparecerão da placa enquanto você não terminar de ler.

6 6 6 6 ---- Sempre que puder, valha-se da assistência de um operador para regular a velocidade do texto de acordo com o ritmo da sua leitura.

7 7 7 7 ---- Se você apressar a leitura, o operador o acompanhará, acelerando a velocidade da projeção. Como conseqüência, você aumentará ainda mais a velocidade da leitura para acompanhá-lo. Esse círculo vicioso poderá prejudicar a apresentação.

8 8 8 8 ---- Tenha calma e tranqüilidade. Lembre-se sempre de que a velocidade do operador seguirá a sua velocidade de leitura.

9 9 9 9 ---- Fale de forma cadenciada e com bom ritmo, atendendo às pausas e enfatizando as informações mais importantes.

10 10 10 10 ---- Exercite a movimentação da cabeça olhando de um lado a outro da plateia, para desfazer a rigidez da postura e demonstrar mais naturalidade com o giro do tronco, mesmo que você esteja usando apenas uma placa de cristal para leitura.

11 11 11 11 ---- Cuidado para não virar a cabeça enquanto estiver lendo o texto no teleprompter, pois a cabeça se voltaria para um lado da plateia,

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enquanto os olhos continuariam voltados para o outro, acompanhando o texto.

12 12 12 12 ---- Para ter postura natural, gire a cabeça de um lado para o outro somente no final das frases. Não há necessidade de girar a cabeça sempre a cada frase.

13 13 13 13 ---- Deixe o semblante arejado e descontraído, para evitar que os ouvintes percebam a concentração no texto e o processo de leitura.

14 14 14 14 ---- Faça o possível para não mexer os olhos durante a leitura. Treine para manter os olhos fixos no meio da linha e em condições de ler a frase toda sem se movimentar.

15 15 15 15 ---- É conveniente que você leve o texto impresso em papel e fale com as folhas nas mãos ou apoiadas sobre a tribuna, para dar a impressão de que, de vez em quando, você consulta o texto como um roteiro. Além disso, como nunca se sabe o que pode ocorrer com aparelhos eletrônicos, na eventualidade de algum defeito, você estará seguro com o texto nas mãos, podendo continuar a leitura naturalmente.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Providencie para que coloquem uma marca no texto para você saber o momento de virar a página que tem em mãos. Se precisar mesmo ler o texto no papel, ele já estará na página correta

• Se usar recursos visuais projetados, deixe bem visível um monitor pequeno, de cinco a sete polegadas, com o mesmo sinal enviado para a tela. Esse dispositivo permitirá que você acompanhe o que está sendo projetado sem se desviar da leitura

• Se você improvisar com informações que estejam fora do discurso projetado, ao voltar à leitura, recomece por uma palavra ou frase que possa ser facilmente percebida pelo operador, para que ele saiba que é o momento de movimentar o texto

• Se você tiver bastante domínio do tema, poderá fazer a apresentação projetando no teleprompter apenas as frases que dêem a você a seqüência da exposição

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96 96 96 96 ---- Será que você está sendo claro nas conversas? Será que você está sendo claro nas conversas? Será que você está sendo claro nas conversas? Será que você está sendo claro nas conversas? Algumas pessoas andam tão ensimesmadas que acham que os outros

têm obrigação de entender até o que elas não dizem. Começam a falar pelo meio da informação, truncam o pensamento, mudam o rumo da conversa sem avisar nem ligar o sinal de seta. E ainda ficam irritadas porque suas palavras não foram entendidas.

Outras acham ainda que os ouvintes compartilham as mesmas informações, e se expressam como se todos pudessem compreender claramente a mensagem que comunicam. Observe este diálogo hipotético:

- Você não vai acreditar, fechamos o contrato ontem. Quando eles ligaram para mim na semana passada e disseram que queriam conversar, eu pensei, só pode ser alguma brincadeira de mau-gosto, esses caras não estão a fim de nada, só querem zoar. Em todo caso, mandei a proposta conforme haviam solicitado, esperei mais um dia e mandei buscar o resultado.

A história foi incrível. Assim que ela chegou à porta do escritório, eles mandaram esperar porque ainda faltava analisar detalhes da operação. Quase uma hora depois veio a autorização para que ela subisse para pegar o pedido. Bem, eu fiquei aqui o tempo todo com o coração quase saindo pela boca, fumando um cigarro atrás do outro.

Cada passo que eu ouvia, tinha a impressão de que era ela chegando com a resposta. Finalmente ela chegou com um sorriso maior que a boca. Era melhor do que se podia imaginar - eles aprovaram tudo sem pedido de desconto, sem mudança no projeto, sem antecipação de prazo. Agora é só botar mãos à obra e faturar. Já estou contabilizando cada centavo desse pedidão.

- Desculpe, mas de quem e do que você está falando. Quem são eles.

Quem é ela? Que raio de pedido é esse? Não me leve a mal não, mas tenho a impressão de que você está falando grego. Explique direitinho que história é essa.

- Explicar direitinho? Mas, onde você estava com a cabeça enquanto eu falava sobre o novo contrato?

É mais ou menos assim que algumas pessoas tentam se comunicar.

Abusam dos pronomes como se todos pudessem entender o que pretendem dizer. É 'ela' aqui, 'ele' acolá, 'aquele' mais adiante, 'deles' a seguir, sem identificar as pessoas pelo nome.

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Só que as informações que estão na cabeça de quem fala não são, necessariamente, as mesmas que estão na cabeça de quem ouve. Às vezes o que é tão claro e simples para quem fala, pode ser extremamente complexo, difícil e estranho para quem ouve.

O 'ela' que foi buscar a aprovação no escritório poderia ser Janete Soares, a gerente de projetos; mas, poderia ser também Cláudia, a recepcionista. O 'eles' ou 'esses' poderia ser a Construtora Compasso; mas, poderia ser também o Escritório de Planejamento e Arquitetura Gustavo Campos.

Quem contou a história sabia de quem se tratava. Entretanto, quem ouviu, como não acompanhou todo o processo, não tinha ideia sobre que pessoa e a respeito de qual empresa seu interlocutor se referia.

Por isso, confira sempre se os ouvintes entenderam o sentido que você está tentando comunicar. E, depois de analisar a reação que suas palavras provocam explique, esclareça e defina fatos, lugares, causas, efeitos, consequências; identifique pessoas e use informações concretas. Assim, use pronomes apenas quando o nome já for conhecido do ouvinte ou do leitor.

Tenha a cautela de identificar de forma clara os personagens das suas histórias. Se não quiser repetir o nome por questões estéticas, e também não desejar fazer uso de pronomes, lance mão de identificadores alternativos.

Por exemplo, se já tiver usado o nome do 'Geraldo Antonio', ao se referir a ele novamente, se for um profissional conhecido, e não desejar usar um pronome, poderia identificá-lo como o 'gerente da produção'. O ouvinte ou o leitor saberia que se trata da mesma pessoa.

Portanto, fique bem atento, pois se ao falar perceber que seu ouvinte demonstra um semblante de quem não está entendendo nada, talvez esteja na hora de usar mais nomes e menos pronomes.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Avalie quanto seu interlocutor já sabe sobre o assunto que você fala

• Contextualize bem o tema para ser compreendido nas conversas

• Faça perguntas no meio da conversa para se certificar de que está sendo compreendido

• Observe as reações do interlocutor para avaliar seu nível de compreensão. Na dúvida explique melhor o que estiver dizendo

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97 97 97 97 ---- Revele quem você é Revele quem você é Revele quem você é Revele quem você é

Se você tiver boa comunicação, provavelmente, receberá convites

para falar sobre diferentes temas, até fora do seu campo de conhecimento. Cuidado, entretanto, com esse canto da sereia, pois poderá cair numa armadilha.

Quem fala sobre assuntos sobre os quais não tenha autoridade, por melhor que seja a qualidade de sua comunicação, correrá o risco de ser visto apenas como um falador presunçoso.

Esse é um fato frequente nos escritores que, após granjearem notoriedade em determinadas matérias, aproveitam-se da fama para se aventurar a tratar de questões sobre as quais não têm experiência. Além de correr o risco de fracassar na nova aventura, na maioria dos casos comprometem o bom nome que haviam construído.

Entretanto, ainda que você conheça bem o tema, não parta da pressuposição de que todos estejam conscientes desse seu preparo. Antes de se apresentar diante do público, cuide para que sua experiência seja conhecida. Seja cuidadoso, todavia, ao falar de si mesmo, caso contrário o tiro pode sair pela culatra.

Ouço com frequência pessoas criticando palestrantes que passaram boa parte da apresentação falando de seus próprios méritos. Falam dos livros que publicaram, dos cursos que realizaram, das viagens que fizeram, dos prêmios que receberam.

Se, por um lado, essas conquistas reforçam a credibilidade do orador sobre o assunto que irá tratar, por outro o tornam antipático e desacreditado de suas intenções. Se existe um momento apropriado para usar sutileza, é o instante em que estamos diante da plateia falando de nós mesmos.

Ao se apresentar diante do público, fale dos feitos que o credenciam a estar ali, mas seja tão sutil nessa tarefa que os ouvintes não imaginem que esteja se vangloriando de suas conquistas. Procure incluir essas informações no contexto de alguma história para que a plateia não as perceba ostensivamente.

Assim as pessoas saberão de sua autoridade sobre o assunto, mas não o criticarão por presunção. Use de sutileza ao falar de você mesmo, mas não seja econômico, nem tenha pudores, apenas seja discreto na forma de se expressar.

Embora essas informações sobre sua competência no assunto possam ser dadas a qualquer momento da apresentação, o início, entretanto, é o

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instante mais adequado. Ao iniciar a exposição, diga quais são suas credenciais para estar ali diante do público. Normalmente, revelar a atividade que exerce pode ser suficiente para demonstrar autoridade no assunto.

Uma pessoa que se dispusesse a falar sobre mercado financeiro e se apresentasse como diretor de um banco, naturalmente estaria credenciada a tratar do tema. Sua credibilidade poderia ser ampliada se contasse alguma história da época em que fez curso de pós-graduação em administração financeira, ou de quando participou de um congresso internacional sobre investimentos financeiros em grandes corporações.

Além dessa propaganda quase subliminar do seu conhecimento sobre o tema, valerá muito a maneira como abordará o assunto. A forma convicta de se expressar, a segurança com que constrói o raciocínio, a maneira correta como elabora as frases, conjuga os verbos, faz as concordâncias, ajudarão a projetar uma imagem positiva e confiante.

Aproveite todas as oportunidades para demonstrar a consistência do seu conhecimento. Use estatísticas e pesquisas de fontes idôneas, exemplos fiéis, que possam ser comprovados. Seja muito cuidadoso com os números e os dados que apresentar, pois uma falha no resultado de um estudo técnico, por exemplo, poderá pôr tudo a perder.

Portanto, é importante que você tenha autoridade no assunto que irá apresentar, mas os ouvintes só confiarão em suas palavras se souberem desse seu conhecimento. Precisam saber que o assunto é fruto de sua experiência, de suas pesquisas, das atividades que desenvolve ou que desenvolveu.

Quando as pessoas perceberem que você domina naturalmente o conteúdo da mensagem, aceitarão sua autoridade e respeitarão sua competência. Mas, nunca se esqueça de ser discreto.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Mostre com sutileza que você tem autoridade para falar sobre o tema.

• Procure incluir essas informações no contexto de alguma história.

• Fale de suas experiências que estejam diretamente ligadas ao assunto da apresentação.

• Elogie a competência de uma equipe da qual fez ou ainda faz parte.

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98 98 98 98 ---- Era uma vez... A maravilhosa arte de contar histórias Era uma vez... A maravilhosa arte de contar histórias Era uma vez... A maravilhosa arte de contar histórias Era uma vez... A maravilhosa arte de contar histórias Tenho quatro filhos. Três filhas e um filho. Todos estão bem

encaminhados na vida, trabalhando, produzindo e sendo úteis à sociedade. Na formação deles só sinto não terem tido a oportunidade de passar pela experiência que passei quando era criança e morava no interior de São Paulo.

Tirando a Times Square em New York, a Sete de Abril, com o Viaduto do Chá em São Paulo e a Rua Carajás dos anos 50, no Jardim Primavera em Araraquara, talvez não possamos encontrar muitos outros locais com movimentação parecida. Parece exagero? Só na família do Bonani havia 11 filhos - nunca vi a Izaura sem estar grávida. Cada um deles tinha uma penca de amigos de todos os bairros.

Lá pelas quatro e meia, cinco horas da tarde aquela pequena rua de cem metros de comprimento se transformava numa Disney World. Futebol, esconde-esconde, bolinha de gude, pião, papagaio, botão, figurinha, tudo, tudo o que você imaginar para brinquedo e brincadeira de crianças poderia ser visto naquele paraíso infantil. Eram tantos atrativos que as crianças de todos os outros bairros iam para lá.

O Alemão andando de costas na bicicleta era um espetáculo à parte. Devia trabalhar no circo do Negrito Landa, diziam os admiradores mais empolgados. O corredor de entrada da casa do Zé Bonavina era o local preferido para o campeonato de botão, com jogos narrados de maneira empolgada pelo Bertão. E naquela época feitos de botões mesmo, tirados do casacão do avô e lixados até ficarem lisinhos.

O quintal de terra onde moravam o Seró e o Decião Mantegassi era excelente para um tipo especial de jogo de bolinhas de gude, a biroca. A casa do Carlão e Miguel Jafelice, quando a mãe Linda deixava, era o canto ideal para jogar figurinha. Virando a esquina ficava a casa do Marquinho, perfeita para treinar embaixadas.

Os bons momentos daquela rua continuavam à noite, depois das oito. A prefeitura acabara de instalar luz elétrica na rua e nós aproveitávamos a maravilhosa novidade. Um dos meninos, Nim, dos poucos que já trabalhavam, durante o dia era assistente em uma oficina mecânica e à noite saia da Rua Tupi, que ficava nas proximidades, sentava-se com a garotada toda a sua volta, e fazia o que mais gostava: contar histórias.

Seu repertório era inesgotável. Todas as noites, como se fosse um velho índio rodeado pelos guerreiros da tribo - em que o mais velho não chegava aos dez anos - encostado no poste, debaixo da luz, com voz pausada e envolvente começava com sua frase preferida: era uma vez.

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Naquela época nós não tínhamos televisão e precisávamos nos contentar com os programas de rádio. Por isso, as histórias cativantes contadas pelo Nim eram uma diversão imperdível. Muitas delas não vinham de lugar nenhum, eram só fruto de sua impressionante criatividade.

Não sei se o Nim continuou trabalhando como mecânico ou se explorou sua habilidade para contar histórias e interpretar personagens para se dedicar ao teatro ou a algum outro ramo da comunicação. Ele também não sabe, mas ainda hoje, mesmo contando histórias diferentes me oriento na lembrança de suas performances para fazer minhas palestras e ministrar muitas das minhas aulas.

Infelizmente está cada vez mais difícil encontrar crianças contando histórias numa roda de amigos. É uma pena que não existam mais Ruas Carajás como naquela época. Uma época em que todos nos sentíamos seguros, alegres e muito livres.

A Rua Carajás ainda está ali no mesmo lugar e algumas das antigas famílias continuam morando nas mesmas casas, mas as histórias do Nim e os jogos da molecada naquele chão de terra batida são apenas lembranças de um passado que nunca mais voltará.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda a contar histórias curtas e interessantes • Inclua as boas histórias em suas conversas e apresentações • Quando ouvir uma boa história tome nota para não esquecer • Na primeira oportunidade conte a história que acabou de

aprender

99 99 99 99 ---- Citações, máximas e provérbios na medida certa Citações, máximas e provérbios na medida certa Citações, máximas e provérbios na medida certa Citações, máximas e provérbios na medida certa Há uma dúvida recorrente: até que ponto os pensamentos, máximas,

provérbios e citações contribuem para o sucesso ou fracasso de uma apresentação? As opiniões se dividem com defensores ardorosos de um lado e críticos implacáveis do outro. De maneira geral, quando encontramos duas correntes tão distintas a melhor saída é o equilíbrio, a moderação.

'Há uma medida em todas as coisas, existem afinal certos limites' Horácio

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Em quase tudo se condena o excesso. Assim também ocorre com as citações. Não podemos transformar uma apresentação num repertório de citações. Inicia-se com uma ideia aqui, e dá-lhe uma citação. São feitas afirmações ali, e lá vem outra citação. Recomenda-se um procedimento mais à frente, e aparece uma nova citação. São tantas, e usadas com tal frequência, que os ouvintes se cansam delas e tendem a se desinteressar pela mensagem.

Por mais apaixonado que você esteja pelas citações, evite seu uso excessivo, pois ainda que sejam aparentemente apropriadas para suas ideias farão muito mais mal que bem. Usadas na medida certa, as citações produzem surpresas interessantes e instigam o ouvinte a acompanhar o raciocínio.

Lembre-se sempre, portanto, de que pensamentos, máximas e provérbios devem ser usados como apoio, complemento ou ilustrações para as ideias mais importantes da mensagem, e não se transformar por si no conteúdo, a não ser em casos excepcionais, como o deste texto em que eles são a própria razão da sua existência.

'A entrada em momento oportuno vale por meia vitória' Coelho Neto Em tese, a citação pode ser usada em qualquer lugar e em qualquer

tempo, desde que cumpra bem seus objetivos de ilustrar a mensagem, tornando-a mais clara e compreensível. De instigar o ouvinte a refletir sobre seu conteúdo, recordando-se dele por tempo prolongado e interessando-se em conhecer a obra do autor. De dar maior credibilidade à informação. De valorizar a estética da exposição. De demonstrar sutilmente o bom preparo e a formação do orador.

Entretanto, o lugar mais apropriado para a citação, geralmente, é a introdução e a conclusão da fala. No início, auxilia no processo de conquista dos ouvintes, pois é na introdução, logo nos primeiros momentos da exposição, que o orador deverá se dedicar com maior empenho para tornar a plateia benevolente, torcendo pelo seu sucesso. Atenta, interessada no assunto. Dócil, desarmada de resistências.

A citação feita de maneira oportuna na introdução pode ajudar o orador a atingir simultaneamente vários desses objetivos, como a atenção, pelo impacto que produz; a benevolência, pela demonstração de sensibilidade; e a docilidade, por fortalecer a credibilidade.

O cuidado que se deve ter é o de preservar a coerência da citação com o conteúdo da mensagem. Todas as informações deverão sempre

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guardar interdependência, isto é, o início precisa estar relacionado com o corpo da fala e com a conclusão.

Por isso, não caia na armadilha de usar uma citação só com objetivos estéticos, pois, se não fizer parte naturalmente de todo o contexto da apresentação, poderá prejudicar o resultado final.

Quando usada de forma adequada na conclusão, possibilitará aos ouvintes compreenderem melhor a mensagem e a refletirem ou agirem de acordo com a proposta sugerida.

'Muitos pensam que sabem; poucos sabem que não sabem; quem sabe,

sabe que sabe muito pouco' Alexandre Canalini Afinal, onde devemos buscar os pensamentos para as citações? Bem, o

ideal seria ler toda a obra do autor, compreendê-la na sua plenitude e extrair dela a essência transformada num pensamento. Entretanto, sabemos que esse ideal jamais poderá ser conquistado, por mais dedicada que a pessoa seja.

Por isso podemos recorrer aos livros de citações e frases célebres, tomando sempre o cuidado de afastar aquelas vulgarizadas pelo uso excessivo ou de autores comprometidos. Por melhor que seja o livro consultado, lembre-se de que a responsabilidade da citação será sua, sempre sua. Algumas obras, na introdução, alertam que o fato de reproduzirem os pensamentos não significa que concordem com a mensagem.

Uma boa sugestão é a de anotar frases que encontre nas leituras de livros, jornais e revistas, ou pronunciadas em filmes, palestras e peças de teatro. Com o tempo irá montando seu próprio repertório e, no futuro, poderá contar com frases inéditas para fazer as citações.

Até lá, não tenha constrangimento, recorra aos livros e saiba que estará em boa companhia, inclusive a minha, pois foi nos livros de citações que pesquisei todas as frases usadas neste texto.

'E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas' Epístola do apóstolo S. Paulo aos Colossenses - 2.4 Não se esqueça da Bíblia. Cá entre nós, se você sair por aí citando a

Bíblia a torto e direito acabará passando a imagem do chato religioso, a não ser que a sua proposta seja realmente a da pregação religiosa.

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Principalmente se você não tiver o hábito de tocar em assuntos de religião, ao fazer uma citação bíblica sua fala terá um impacto ainda maior.

Fonte de sabedoria milenar em nossa cultura, a Bíblia tem citações para todas as ocasiões. Cuidado, entretanto, para não dar a entender que está apenas tirando proveito da Bíblia, pois sua mensagem poderá encontrar resistências desnecessárias.

O sentimento religioso é tratado quase sempre com muita seriedade e toca as pessoas tão profundamente que qualquer deslize poderá resultar em fracasso. Para não errar, é muito simples: seja sempre sincero nas citações que fizer, e muito mais sincero ainda (se esse superlativo fosse possível) quando se referir à Bíblia.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Use citações que correspondam à essência da sua mensagem • Evite citações desgastadas pelo excesso de uso • Surpreenda os ouvintes com citações curiosas e interessantes • Desenvolva o hábito de anotar e colecionar citações • Dê preferência às citações que encontrar em suas leituras

100 100 100 100 ---- Riscos e armadilhas das citações Riscos e armadilhas das citações Riscos e armadilhas das citações Riscos e armadilhas das citações

Na última semana escrevi sobre o uso de pensamentos, máximas,

provérbios e citações. Vou denominá-los todos como citações. Alertei para o fato de que o assunto é controvertido. Não deu outra - recebi uma grande quantidade de e-mails de pessoas dizendo que são contra e de outras afirmando que são favoráveis a esses recursos.

Fiquei admirado com um leitor, Rubens Costa. Ele me enviou 2.000 citações, de excelente qualidade, que colecionou com paciência e critério ao longo dos anos. Um trabalho muito interessante, que poderia ter grande utilidade se publicado em livro. Ele me garantiu que irá publicar.

Não me surpreendi com a reação dos leitores. Embora tenha deixado claro que o equilíbrio é a medida desejável para o uso das citações, alguns escreveram para dizer exatamente o que eu havia dito - que o excesso delas pode prejudicar a qualidade da comunicação.

Vejamos algumas opiniões que se confrontam e que, por isso, podem nos auxiliar a refletir melhor sobre o assunto. Vou começar citando a opinião de Jules Lemaître, que é contra o uso das citações: 'Os pensamentos e máximas são um gênero esgotado e um gênero fútil'.

Por outro lado, há aqueles que fazem a apologia das citações, como, por exemplo, Eno T. Wanke, ao afirmar em Pensamentos Moleques: 'os

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provérbios são telegramas que os antigos nos deixaram para nos transmitir notícias de sua sabedoria'.

Paulo Rónai, no prefácio do seu Dicionário Universal Nova Fronteira de Citações inicia suas considerações com uma frase de Machado de Assis: 'sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocados jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para discursos de sobremesa, de felicitação e de agradecimento'.

Feitas as considerações contrárias e favoráveis, deixo aqui minha opinião como professor de oratória - gosto das citações e recomendo seu uso. Desde que não haja excessos, que se observem os riscos das inadequações (pensamentos que não guardam interdependência com o conteúdo), que se afastem autores controversos (autores polêmicos, que podem enfraquecer a credibilidade da mensagem).

Outra questão que precisa ser avaliada é o uso abusivo de um mesmo pensamento ao longo do tempo. Acaba se transformando em chavão, em frase feita. Houve uma época em que o humorista Chico Anysio interpretava uma personagem que reagia de forma curiosa ao uso de chavões. Ele não admitia que alguém usasse frases feitas ou lugares-comuns.

Todas as vezes que a pessoa iniciava com a pérola batida, como por exemplo - água mole em pedra dura... - ele interrompia dizendo: não vai me dar uma dessa, você não vai me dizer que é aquela história de água mole em pedra dura tanto bate até que fura?

Esse exagero do humorista indica bem o efeito que os chavões e as frases feitas podem produzir. Embora possam até representar um pensamento profundo, acabaram se desgastando pelo uso excessivo e deixaram de provocar admiração. A saída é colocar uma roupagem nova sobre as velhas ideias e torná-las atraentes.

Portanto, evite frases como: quem não se comunica se trumbica, o sol nasceu para todos, a união faz a força, uma andorinha só não faz verão, e outras preciosidades da mesma família. Ou, se resolver usá-las coloque uma roupagem diferente, que dê a impressão de se tratar de uma novidade. Como disse Unamuno: 'Repensar os lugares-comuns mais surrados é a filosofia mais profunda e o único modo de apagar-lhes o malefício'.

Algumas frases produzidas por autores renomados e que conquistaram reputação excepcional também foram usadas com tanto excesso que acabaram se vulgarizando, como, por exemplo: 'tudo vale a pena quando a alma não é pequena', de Fernando Pessoa, e a não menos votada 'tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas',

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de Saint Exupéry, usada por 11 entre 10 misses do mundo inteiro. A não ser excepcionalmente, quando o contexto quase exigir a utilização de alguma delas, deixe-as de lado.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Ponha uma roupagem nova sobre as velhas citações • Evite o chavão e as frases vulgares • Observe se a citação é adequada ao conteúdo • Afaste citações de autores polêmicos ou de reputação duvidosa

101 101 101 101 ---- Entrevista com o Padre Antonio Vieira Entrevista com o Padre Antonio Vieira Entrevista com o Padre Antonio Vieira Entrevista com o Padre Antonio Vieira

Com frequência ouvimos comentários elogiosos à competência do

Padre Antonio Vieira. Os críticos referem-se a ele como tendo sido o maior escritor e o maior orador da língua portuguesa. Há aqueles, entretanto, que embora reconheçam seus méritos o coloquem em pé de igualdade e até em posição inferior a um seu contemporâneo, o autor de 'Nova floresta', Padre Manuel Bernardes.

O filólogo Silveira Bueno, com quem tive o privilégio de conviver durante seus últimos anos de vida, ao se referir à excelência dos textos produzidos por Rui Barbosa, disse: ninguém escreveu melhor que Rui Barbosa, somente o Padre Vieira, que foi o professor dele.

A obra de Vieira é vastíssima. Há em seus sermões respostas para praticamente todas as perguntas que pudéssemos fazer. Por isso, resolvi imaginar uma entrevista hipotética com o grande pregador, especialmente levantando questões sobre a arte de falar em público.

Polito - Algumas pessoas julgam que o senhor tenha nascido no Brasil, porque fazem essa confusão? Quem foram seus pais?

Vieira - Talvez pelo fato de eu ter vindo ainda menino para o Brasil. Nasci em Lisboa no dia 6 de fevereiro de 1608 e vim para o Brasil quando ainda não havia completado 8 anos. Sou filho de Cristovão Vieira Ravasco e de D. Maria de Azevedo.

P - Como nasceu sua vocação para o sacerdócio? V - Iniciei meus estudos no colégio da Companhia de Jesus, na

Bahia, e encontrei ali campo fértil para despertar minha vocação. Na verdade, descobri de um momento para outro que esta seria a vida que desejava. Em 1623 ouvi uma pregação do Padre Manuel do Carmo, que falava sobre as penas infernais, e fiquei encantado. Naquele momento senti que seria sacerdote.

P - Como foi o início de seus estudos para se tornar sacerdote?

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V - Entrei para a Companhia de Jesus aos 15 anos de idade. Não foi fácil porque meus pais foram muito resistentes a essa minha decisão. Tive de fugir para ingressar no Colégio dos Jesuítas, e pude professar ainda jovem, com 17 anos, no dia 6 de maio de 1625.

P - Seu gosto pela oratória também começou cedo? V - Aos 18 anos atuei como professor de retórica em Olinda. Escolhi

como tema das minhas aulas as obras de Sêneca e Ovídio. Confesso, entretanto, que não me sentia bem com essa atividade fechada em sala de aula, meu anseio era o de me envolver com a vida missionária. Ao contrário do meu contemporâneo Manuel Bernardes, que sempre foi mais contemplativo, eu desejava ação.

P - Não vejo o Padre Manuel Bernardes como sendo um homem apenas contemplativo.

V - Eu não disse que ele foi apenas contemplativo, mas sim que foi mais contemplativo. E estava fazendo essa observação apenas para tentar esclarecer a vida que escolhi para mim.

P - Quando se tornou padre? V - Os jesuítas pediram que eu ficasse na Bahia para concluir os

estudos de Filosofia e Teologia. Assim, pude ser ordenado padre em 1635. Sempre gostei do púlpito. Em 1640 proferi um dos meus sermões preferidos, Sermão contra os holandeses - Bom sucesso das armas de Portugal contra a Holanda.

P - Não foi nesse sermão que o senhor confrontou e interpelou Deus? V - Absolutamente. Meu objetivo foi o de levantar o ânimo da nossa

gente, usando argumentos legítimos para persuadir Deus a nos ajudar. Jamais poderia confrontar Deus sendo eu um de seus servos mais fieis.

P - O senhor disse, entretanto, nesse sermão - 'Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os Homens, mais alto hão de sair as minhas palavras ou as minhas vozes: a vosso peito Divino se há de dirigir todo o sermão'.

V - Sim, disse. Foi apenas um recurso retórico para chamar a atenção daqueles que me ouviam. Se na verdade eu desejasse apenas que Deus me ouvisse faria sozinho uma prece silenciosa, não um sermão.

P - Acho difícil entender. V - Entenderia melhor se você estivesse lá no ano de 1640, diante de

uma batalha. P - O senhor foi acusado de misturar religião com política. Em algum

momento suas atividades favoreceram os poderosos? V - Essa é uma invencionice daqueles que nunca se conformaram

com a sinceridade das minhas pregações. No Sermão dos Escravos, que

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preguei no ano de 1653, em São Luis do Maranhão, para a 1ª Dominga da Quaresma, enfrentei os mais poderosos pleiteando que libertassem os índios do cativeiro, pois considerava pecado mortal escravizá-los.

E respondendo diretamente à sua pergunta uso as palavras que disse nesse mesmo sermão: 'Subir ao Púlpito para dar desgosto, não é de meu ânimo, e muito menos a pessoas a quem eu desejo todos os gostos, e todos os bens. Por outra parte, subir ao Púlpito e não dizer a verdade é contra o ofício, contra a obrigação, contra a consciência; principalmente em mim, que tenho dito tantas verdades, e com tanta liberdade, e a tão grandes ouvidos. Por esta causa resolvi trocar um serviço de Deus por outro: e ir-me doutrinar os índios por essas aldeias'. Se disser o que eu disse com tanta coragem é ser político, então eu fui um político.

P - Embora, de certa forma, a nossa conversa esteja ligada a arte de falar em público, gostaria de ser mais específico neste assunto. Lendo seus sermões será possível aprender a falar em público?

V - Não produzi os sermões com essa finalidade. O objetivo das minhas pregações sempre foi o de levar às pessoas a palavra de Deus. Por outro lado, não posso ser hipócrita e ficar com falsa humildade dizendo que não. Os sermões que proferi, embora tenham sido respaldados na verdade e na sinceridade, foram elaborados no que pude encontrar de melhor na arte oratória. A leitura criteriosa e crítica poderá dar ao leitor um bom caminho para o aprendizado da comunicação em público.

P - O senhor recomenda algum em especial? V - O mais apropriado para essa finalidade é o Sermão da

Sexagésima, que preguei na Capela real em 1655. Nessa pregação mostrei aos padres como deveriam agir para planejar e proferir seus sermões. Foi na verdade uma aula de oratória. Trato ali de todos os aspectos relevantes sobre o orador, o tema e os ouvintes. A respeito do orador analiso suas cinco 'circunstâncias': a Pessoa, o Estilo, a Ciência, a Matéria e a Voz.

P - O senhor julga que esses princípios pregados há mais de 300 anos teriam aplicação prática nos dias de hoje?

V - Tenho certeza que sim. Quer algo mais apropriado para os dias de hoje que o trecho desse sermão? 'Sabem, Padres Pregadores, por que fazem pouco abalo os nossos sermões? Porque não pregamos aos olhos, pregamos só aos ouvidos. Por que convertia o Batista tantos pecadores? Porque assim como as suas palavras pregavam aos ouvidos, o seu exemplo pregava aos olhos.'

Diga-me, será que existe matéria mais atual que essas palavras? Já pensou se os nossos políticos, governantes, educadores, pregadores, todos, enfim, seguissem esses mesmos conselhos?!

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P - O senhor poderia me ajudar a escolher as superdicas desta semana?

V - Com prazer. Vou selecionar frases do Sermão da Sexagésima.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são

necessárias obras • O estilo há de ser muito fácil e muito natural • O Sermão há de ter um só assunto e uma só matéria • O que sai só da boca, pára nos ouvidos; o que nasce do juízo

penetra e convence o entendimento • E como os brados no mundo podem tanto, bem é que bradem

algumas vezes pregadores, bem é que gritem

102 102 102 102 ---- Dez lições curiosas de oratória Dez lições curiosas de oratória Dez lições curiosas de oratória Dez lições curiosas de oratória Entre todas as lições de oratória que tive esta foi, sem dúvida, a mais

curiosa. Ganhei de presente um livro excepcional, 'El arte de hablar bien', de Paul C. Jagot e J.C. Noguin. O livro é uma obra comum e por si não mereceria um comentário tão entusiasmado. Trata-se de uma 2ª edição publicada na Argentina em 1943, traduzida do francês por J. G. Guiñon.

O exemplar chama a atenção por ter pertencido ao poeta Guilherme de Almeida, que assinalou com mais ou menos destaque todas as passagens que considerou importantes na obra. O poeta leu e estudou o livro.

Sublinhou palavras e frases em praticamente todas as páginas, fez marcações e anotações nas margens e em diversas passagens escreveu comentários elogiando ou criticando o conteúdo. Promoveu um verdadeiro encontro da poesia com a oratória.

Prestou-nos um belíssimo serviço, pois o livro assim anotado e comentado nos dá uma excelente oportunidade de estudar e analisar como uma das cabeças mais privilegiadas da história cultural do país aprendeu a falar bem.

Selecionei e comentei dez tópicos que o poeta assinalou com maior destaque por serem esses, provavelmente, os que julgou mais relevantes:

1111---- Considero uma medida de higiene mental evitar discussões sem

necessidade. Analise bem a circunstância antes de iniciar uma discussão. Verifique

se é mesmo muito importante tentar convencer as outras pessoas do seu

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ponto de vista e de maneira consciente tome a decisão que julgar mais acertada. Vai descobrir que quase sempre o lucro será maior se ficar na sua.

2222---- O sentimento de inferioridade oratória tem às vezes outro inconveniente: que determina em muitos casos a irritação, quando não os arrebatamentos de cólera. Perde-se então o sangue frio e ao antagonismo normal somam-se desnecessárias animosidades.

O domínio da comunicação e a confiança nos argumentos de que dispõe faz com que a pessoa saia da posição defensiva e a torna mais equilibrada, tolerante e com controle das suas atitudes. Não pense que é fácil conquistar o controle emocional - esse deve ser um exercício permanente.

3 3 3 3 ---- Os piores defeitos físicos perdem muito do seu caráter repulsivo naqueles que falam de maneira encantadora. Por mais desagradável que seja a aparência do indivíduo, pode ser procurado, admirado, querido, se tiver uma maneira agradável de expor suas ideias, se cultivar sua voz, sua forma de articular as palavras, seu vocabulário e seu talento.

Conheci um rapaz sem nenhum predicado para ser galã - baixinho, magrinho, cabelos lisos e espetados que mais pareciam capim barba de bode, mas de conversa tão cativante que ganhou o apelido de Bico Doce. Virava e mexia lá estava o Bico Doce desfilando com uma das meninas mais cobiçadas da cidade.

Todas ficavam encantadas com ele - falava sobre todos os assuntos, sem presunção, mantinha um leve e sincero sorriso no rosto, ouvia com atenção, apresentava-se de maneira bem-humorada, construía as frases com vocabulário apropriado, gramática correta, pronunciando bem as palavras e sempre de forma natural, descontraída e interessante. Sua aparência sem atributos de beleza era compensada com vantagem pela eficiência da comunicação.

4 4 4 4 ---- O falar bem é atuar sobre si mesmo, vigiar a própria espontaneidade, obrigar-se ao cuidado da retidão, a uma atenção minuciosa, a um esforço de direcionamento das palavras empregadas na conversação.

Vigiar a própria espontaneidade não significa agir de maneira artificial, ao contrário, pressupõe o uso da naturalidade, com honestidade de princípios, no sentido de valorizar ainda mais a comunicação.

Aquele que consegue ter atitudes coerentes com o que diz conquista respeito e admiração. As pessoas poderão até discordar das suas ideias, mas jamais deixarão de respeitá-lo.

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As palavras possuem significados que podem ir além do sentido que conhecemos. Devemos estar atentos e nos esforçar para empregar palavras que possam identificar o nosso pensamento e as nossas intenções da forma mais correta possível.

5 5 5 5 ---- Com um mínimo de conhecimento sobre o tema e se mantiver a calma, falará com facilidade para milhares de pessoas como se estivesse falando para meia dúzia de ouvintes.

Fale diante de uma grande plateia como se estivesse se expressando de forma animada para um grupo de amigos na sala de visitas da sua casa. Com esse comportamento sua comunicação será mais natural, você se sentirá muito mais confiante e usará de maneira eficiente todo seu conhecimento.

6 6 6 6 ---- Antes de falar, deve-se evitar os alimentos que exijam muito do organismo (álcool, açúcar e carne em excesso), a companhia de pessoas agitadas e muito falantes, as discussões inúteis, assim como fortes doses de café e de chá se elas o deixarem excitado.

Bebidas alcoólicas em doses excessivas podem comprometer a clareza do raciocínio. O uísque e a cerveja são ainda piores porque deixam a voz pastosa. Refeições muito pesadas antes de falar podem prejudicar o desempenho do orador. Quanto ao café e ao chá, se tiver o hábito de tomar essas bebidas com frequência, o seu organismo não se incomodará com uma dose a mais ou a menos.

Antes de fazer uma apresentação, fuja das pessoas chatas. Gente que fala demais, que conta histórias longas ou que discute temas banais sem necessidade atrapalha a concentração e pode deixá-lo inseguro.

7 7 7 7 ---- Adote uma atitude resoluta. Para isso, a autossugestão, praticada de forma afirmativa, contribui sempre para aquisição da segurança verbal. Ninguém está eternamente desprovido de elementos geradores de vigor psíquico.

Tenha uma atitude positiva: imagine que fará uma apresentação de sucesso, pense que os ouvintes gostarão de você e que, se esquecer de alguma informação, estará em condições de contornar o obstáculo como faz no dia-a-dia quando está conversando com os amigos. Além disso, estude e pratique muito para reforçar esse sentimento sempre de forma consistente.

8 8 8 8 ---- Ao acabar de ler o capítulo de um livro, resuma o conteúdo, o significado da mensagem da mesma maneira como se precisasse expô-lo diante de uma centena de pessoas.

O conselho dos autores atende a dois objetivos simultaneamente: aprender sobre os assuntos da leitura que fazemos, pois ao resumir o

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capítulo de um livro como se fôssemos apresentá-lo diante de uma plateia nos permite fixar e ter maior domínio da matéria; e imaginar que o assunto seria apresentado diante de um grupo de pessoas, especialmente se esse exercício for feito em voz alta, nos aproximará da experiência de fazer exposições em público.

9 9 9 9 ---- À noite, pouco antes de dormir, descreva minuciosamente seus feitos e atitudes do dia, construindo frases que expressem com clareza as informações de que puder se lembrar.

É mais fácil falar sobre esse exercício e sugerir que as pessoas o executem que fazê-lo. Pense bem, você pouco antes de dormir, depois de uma jornada cansativa de trabalho ou tendo cumprido qualquer outro compromisso noturno ainda ter de ficar fazendo um balanço do que ocorreu durante o dia. Haja vontade e disposição.

São essas atitudes, entretanto, que deverá tomar se quiser aperfeiçoar sua comunicação, aprender a raciocinar com clareza e a se projetar na atividade que abraçou.

10 10 10 10 ---- Na fase de aprendizado, não convém ainda se preocupar com a elegância e a beleza da comunicação. Agora só interessa adquirir segurança e clareza. Por isso, é preciso repudiar as formas presunçosas, o purismo gramatical, as palavras incomuns e todas as expressões das quais ainda não tenha entendido perfeitamente o sentido.

Eu complementaria dizendo que não só na fase de aprendizado, mas sim em todos os momentos e fases da nossa vida como oradores devemos nos afastar da fala rebuscada, dos termos incomuns e do excesso de preocupação com a forma. Não complique sua comunicação -seja simples, direto, objetivo, natural e simpático- essa é a fórmula para o sucesso.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Evite discutir sem necessidade. Se discutir, mantenha o equilíbrio emocional

• Aprimore sua comunicação, domine os argumentos e amplie suas chances de sucesso

• Fuja da fala rebuscada e se apresente com simplicidade • Treine suas apresentações em voz alta

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103 103 103 103 ---- Enfrentei Clodovil Hernandez Enfrentei Clodovil Hernandez Enfrentei Clodovil Hernandez Enfrentei Clodovil Hernandez Sai de cena o guerreiro e irreverente Clodovil Hernandez. Minha

mãe está triste, pois era admiradora do apresentador de televisão, do estilista e, nos últimos tempos, do deputado. Ela o considerava inteligente, lúcido, e muito competente em tudo que se propunha a fazer.

Todas as vezes que ele mudou seu programa de emissora ela o acompanhou de maneira fiel, como se fosse uma escolha natural. Se não por outros motivos, só o fato de ele agradar e dar alegria a minha mãe já seria suficiente para que eu o admirasse.

Sempre achei curioso como ele tratava os entrevistados em seus programas de televisão. Não entendia como algumas pessoas simplesmente não se levantavam no meio da entrevista e o deixavam falando sozinho. Em alguns casos ele chegava até a ser desrespeitoso.

Talvez até por esse motivo tenha conseguido conquistar uma legião de fãs. Tanto que conseguiu se eleger deputado com a terceira maior votação, quase 500 mil votos. Ficou atrás apenas de Paulo Maluf e Celso Russomano.

Meu encontro com ele foi quase uma tragédia. Quando lancei meu livro 'Fale muito melhor' surgiram excelentes oportunidades de entrevistas. Já estava agendada a gravação no programa do Jô Soares e combinado que eles me buscariam em casa por volta das seis horas da tarde.

A produção do programa do Clodovil, entretanto, também entrou em contato para marcar uma entrevista naquela mesma tarde. Eu tinha interesse em participar dos dois programas por causa da boa audiência, mas por uma questão de responsabilidade disse que só poderia ir ao programa do Clodovil se pudesse ser entrevistado logo no início da tarde, por volta das duas e meia, três horas.

Concordaram e antes do horário combinado eu já estava na emissora. Lá me encontrei com uma querida amiga, Mara Behlau, uma das mais importantes fonoaudiólogas do país, e com quem já havia participado de vários eventos, como a jornada de comunicação em Cuiabá, o primeiro congresso internacional de laringologia e voz realizado no Rio de Janeiro e o segundo em São Paulo, dirigidos por ela.

Por isso, além do relacionamento profissional, desenvolvemos também uma excelente afinidade pessoal. Enquanto aguardávamos o momento da entrevista ficamos na sala de espera pondo os assuntos em dia.

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Lá pelas três e tanto, como ninguém se manifestava sobre a nossa entrevista, procurei o pessoal da produção do programa para alertar mais uma vez que eu tinha um compromisso importante logo mais à tarde, e como havíamos combinado, minha participação deveria iniciar o mais breve possível.

Disseram para que eu ficasse tranqüilo que logo seria chamado. Às quatro e quinze eu disse a Mara Behlau que não poderia esperar

mais e que iria me retirar. Mara avisou à produção do programa sobre a minha decisão e imediatamente nos levaram para o estúdio.

Não sei se foi por causa dessa pressão ou porque o Clodovil era mesmo assim, mas a entrevista foi uma verdadeira provação.

Ele simplesmente me ignorou e só falou com a Mara. Por ser minha amiga e me conhecer bem, ela tentou mudar o rumo da conversa dizendo ao apresentador que eu era um autor renomado de livros, que era um profissional muito experiente na área da comunicação, que várias personalidades já haviam requisitado meus serviços como professor, mas era como se ela não houvesse dito nada, pois ele continuava a conversa como se eu não estivesse presente.

Até a produção do programa ficou incomodada e passou a sugerir pelo ponto eletrônico que ele me incluísse na entrevista. Ele não só não me incluiu como respondeu no ar à produção que gostava muito da Mara e queria continuar só conversando com ela.

Nunca na minha vida eu havia passado por momentos como aqueles, completamente ignorado pelo entrevistador e com outro compromisso importante para atender.

Pensei em levantar-me e abandonar o programa, mas conclui que essa atitude poderia prejudicar minha imagem, pois, com certeza, muitos telespectadores que me conheciam estavam aguardando para ver como me sairia daquela enrascada.

Eu sabia também que se quisesse falar do meu livro, que era o objetivo da minha presença no programa, deveria antes conquistar o interesse do entrevistador, para depois sim, com a autorização e até com a ajuda dele, me dirigir aos telespectadores com minha mensagem. Resolvi enfrentá-lo.

Usei uma tática bem-sucedida. Num determinado momento surgiu a oportunidade para eu dar a opinião sobre um assunto bastante simples sobre comunicação, e o meu comentário foi tão óbvio que não haveria possibilidade de ser contestado.

Pois não é que o Clodovil, querendo me desafiar de maneira ostensiva, discordou! Essa foi a minha chance de conquistá-lo. Em vez de

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tentar um contra-argumento, com sinceridade fiz uma observação sobre a atitude que ele havia tomado.

Mais ou menos com essas palavras, eu disse: Sabe Clodovil, quando alguns amigos souberam que eu viria ao seu programa, me alertaram para que eu tomasse cuidado, pois você às vezes deixa o entrevistado em situação delicada, mas agora vejo que suas intervenções tornam o programa mais interessante.

Por exemplo, nesse assunto que estamos discutindo, o fato de você discordar me obriga a encontrar outros argumentos para sustentar minha forma de pensar.

Com isso a entrevista sai de qualquer plano que eu pudesse ter idealizado e toma rumos inesperados, o que com certeza estimula o telespectador a acompanhar.

Essas minhas palavras agradaram o apresentador, pois a partir daquele momento pediu que eu falasse do meu livro, do meu trabalho, das minhas palestras e disse que gostaria de me convidar para participar de outros programas.

Foi uma excelente lição para mim e para muitas pessoas que nos assistiam.

Se eu tivesse aberto confronto com ele, provavelmente o objetivo da minha entrevista não seria atingido. Soube depois que havia mesmo muitos telespectadores aguardando para ver o desfecho da entrevista.

Quando li sobre a morte do Clodovil fiquei muito triste. Primeiro porque sabia que minha mãe estava sofrendo com a notícia. Depois porque foi graças à experiência dessa entrevista tão difícil e desafiadora que aprendi um pouco mais sobre comunicação. Jamais esquecerei.

Descanse em paz, Clodovil. Que as pessoas possam se lembrar de você com saudade da sua irreverência e capacidade de comunicação. Que usem seus conselhos para ter coragem de enfrentar os desafios que a cada dia põem a prova nosso potencial para superar adversidades. Com seu jeito você foi um guerreiro que soube lutar até o fim.

Livro de minha autoria que trata do relacionamento com a imprensa: 'Oratória para advogados e estudantes de direito', publicado pela Editora Saraiva.

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104 104 104 104 ---- Táticas para interagir com os ouvintes Táticas para interagir com os ouvintes Táticas para interagir com os ouvintes Táticas para interagir com os ouvintes Para interagir com os ouvintes, alguns palestrantes têm usado táticas

de comunicação que mais parecem instrumentos de tortura. Com a intenção de melhorar o resultado de suas apresentações fazem perguntas de forma tão grosseira que deixam plateias inteiras com os nervos à flor da pele.

Com poucas variações a cena se desenvolve mais ou menos assim: o sabichão chega diante do público e começa a fazer perguntas como se estivesse comandando um interrogatório. Geralmente inicia com um rápido comentário sobre o tema e parte para o ataque.

Diz, por exemplo, vamos ver o que vocês entendem por planejamento estratégico. A partir daí dá início à fase das execuções. Olha bem nos olhos da vítima sentada na primeira fileira e sem nenhuma sutileza formula a pergunta: 'O que é planejamento estratégico para você?'

Apanhado de surpresa, o ouvinte, meio sem jeito, arrisca uma tímida resposta tentando se lembrar dos conceitos aprendidos na faculdade, ou em algum livro de administração para não administradores. O palestrante faz aquela cara de quem já esperava tamanho despreparo e sentencia: nãnaninanã, não é nada disso não.

Com ar satisfeito, como se acabasse de colocar mais uma marca no coldre, volta-se para outro ouvinte sentado lá no fundo da sala e repete a mesma pergunta. E depois de ouvir a resposta, mais uma vez com a fisionomia que demonstra impaciência, mas que não esconde o sorriso de triunfo, passa o mesmo veredicto.

E assim, sem dó nem piedade vai executando vítima por vítima, que ali indefesas, constrangidas, diante de colegas da mesma empresa, ou da mesma profissão, como se fossem iniciantes desinformados vão sucumbindo e se desmoralizando.

No final, depois de repetir meia dúzia de vezes a mesma pergunta, que são acompanhadas do mesmo número de respostas e de igual quantidade de nãnaninanãs, o algoz projeta uma colorida e sofisticada tela com o conceito que julga ser a melhor definição de planejamento estratégico.

Só que se o conceito formulado pelo palestrante for bem observado, será possível constatar que ele não difere muito das respostas dos ouvintes que foram reprovadas. Age assim para tentar uma tese que fica subentendida - vejam como tenho muito a ensinar.

Envolver as pessoas para que possam participar e se interessem pelo assunto é um recurso excepcional para o bom resultado de uma palestra.

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Entretanto, fazer perguntas à plateia apenas com o objetivo de mostrar que os ouvintes não conhecem o assunto e que terão muito a aprender com o palestrante, pode criar uma atmosfera negativa e tornar o público resistente.

Se você desejar interagir com as pessoas fazendo perguntas, vá em frente, mas proceda de forma diferente, mais vantajosa e com melhores chances de sucesso. Valorize qualquer informação que os ouvintes usem como resposta.

Faça perguntas e aproveite a resposta adaptando-a ao conteúdo de sua mensagem. Vamos imaginar um exemplo bem exagerado. Suponha que depois de questionar a plateia sobre o conceito de marketing alguém dissesse que é uma venda no atacado.

Até uma resposta absurda como essa poderia ser aproveitada para dar sequência a sua palestra. É evidente que você não poderia elogiar a resposta, pois os ouvintes perceberiam a falta de sinceridade e sua credibilidade ficaria comprometida.

Sem criticar o ouvinte, você poderia dizer que um dos recursos mais importantes para viabilizar vendas no atacado é uma política de marketing bem planejada. Você não estaria dizendo que a resposta está correta, mas o fato de continuar sua exposição a partir da informação do ouvinte iria respeitar a imagem e a posição dele diante das outras pessoas.

Essa atitude simpática mostraria sua preocupação e respeito para com a imagem das pessoas, motivaria os outros ouvintes a participarem com respostas e sugestões e produziria um ambiente mais favorável e útil ao sucesso de sua apresentação.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Faça perguntas para interagir com os ouvintes. • Não faça perguntas só para demonstrar que sabe mais que os

ouvintes. • Se fizer perguntas, procure sempre valorizar as respostas dos

ouvintes. • Ao valorizar uma resposta você motivará outros ouvintes a

participar.

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105 105 105 105 ---- Surpresas desafiam quem fala em público Surpresas desafiam quem fala em público Surpresas desafiam quem fala em público Surpresas desafiam quem fala em público Quem fala em público sabe que cada experiência diante da plateia

poderá ser um novo desafio. De repente, quando tudo parece estar sob controle, surge o imponderado. Em determinada circunstância aparece um bêbado na plateia que resolve 'jogar água no seu chope', e em voz alta começa a falar nada com nada.

Em outro momento é a pancadaria de uma reforma nas imediações do evento. E assim, os mais diferentes contratempos, como gente que pede para fazer uma pergunta e resolve fazer um discurso; um garçom desastrado que deixa cair uma bandeja com todos os copos; som que não funciona; imagem do projetor que não entra.

Há pouco tempo ocorreram dois fatos que quase prejudicaram minha apresentação. O primeiro foi em uma palestra que fiz em Manaus. Chequei com cuidado todos os detalhes para evitar surpresas, mas não adiantou. O material que seria usado como visual estava na mala que despachei. Só que o voo era nº 1640, e o atendente se enganou e marcou 1648. A bagagem que deveria ir para Manaus foi parar em Porto Seguro.

Consegui que me transmitissem de São Paulo as imagens que seriam projetadas pelo computador, mas não os filmes que serviriam como ilustração. Deu para manter a calma e pus em funcionamento um plano alternativo: substituí as imagens por algumas histórias que sempre levo na manga. Deu certo.

Como desgraça pouca é bobagem, coincidentemente, uma semana depois fui fazer uma palestra em Goiânia. A mala chegou direitinho. Entretanto, a surpresa estava reservada para outro incidente. Na hora marcada para a palestra caiu uma tremenda chuva, acompanhada de um vento muito forte e, como conseqüência, o auditório ficou totalmente no escuro.

A plateia de mais de 600 pessoas aguardou pacientemente na escuridão durante uma hora e quinze minutos. Como não havia previsão de quando o problema seria resolvido, pedi que fizessem a minha apresentação para que eu pudesse falar mesmo no escuro e sem microfone.

Chegaram a me apresentar no escuro, mas no exato momento em que me dirigi à tribuna a energia voltou. Também nesse caso, eu substituiria todas as imagens por histórias com o objetivo de ilustrar a palestra e entreter os ouvintes. Apesar do transtorno deu certo.

Interessante que em conversa com o Max Gehringer comentei esse episódio e ele me disse surpreso: que baita coincidência, Polito. Nesse

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mesmo dia fiz palestra em Belo horizonte e deve ter caído lá o mesmo toró que passou por Goiânia. Também ficamos sem energia, só que no meu caso continuamos no escuro.

Perguntei como ele havia se virado. Max respondeu que fez adaptação de uma famosa história contada pelo extraordinário humorista José Vasconcelos, que de maneira resumida foi interpretada pelo comediante da seguinte maneira:

'No meio do espetáculo apagam-se as luzes. O teatro fica na mais

completa escuridão. A plateia permaneceu em seus lugares, imaginando que se tratava de um curto-circuito. E eu senti que aquela pausa forçada estava jogando o espetáculo no chão. A coisa mais importante num espetáculo é manter o ritmo sempre vivo para que o público esteja preso ao mesmo. E hiatos como aquele derrubam uma apresentação'.

E então, na escuridão, o Zé (Vasconcelos) acende a vela e conta a

história do velhinho e da velhinha (criada propositalmente, segundo observação empolgada do Max, para ser tão longa quanto a situação exigisse. Poderia durar 30 segundos ou dez minutos).

O velhinho e a velhinha vão a um hotel, as luzes se apagam e eles recebem uma vela para ir ao quarto. Na hora de dormir, nenhum dos dois tem sopro suficientemente forte para apagar a vela. E aí começam a chamar gente para ajudá-los.

Entretanto, sem sucesso, porque cada um dos que chegam sopram de um jeito diferente - para cima, para baixo, para o lado, com a bochecha murcha, com a cabeça torta, e a vela continua acesa. Até que chega o gerente, que toma um imenso e looongo fôlego, e aí apaga a vela com os dedos.

O que José Vasconcelos fez ao contar a história dos velhinhos tentando apagar a vela, enquanto esperava a energia elétrica do teatro voltar, foi um bom exemplo de como usar a circunstância na comunicação. Sobre essa história o Max fez um comentário curioso: hoje a falta de luz poderia ser isso mesmo, ou o notebook que pifa, ou a lâmpada do retroprojetor que queima. Desgraças durante uma apresentação nunca desaparecem, apenas ficam mais tecnológicas...

A adaptação que o Max fez em Belo Horizonte foi acender isqueiros no lugar da vela e completou assim sua palestra. Segundo ele me disse, os ouvintes o cumprimentaram tanto pela solução que encontrou ao usar os isqueiros quanto pelo conteúdo da palestra. Essa eu gostaria de ter visto. Acho que daqui para frente vou andar com um isqueiro no bolso.

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Por isso, independentemente da sua experiência na arte de falar em público, precisará sempre ficar atento para o imponderável. Se você for iniciante, não desanime diante das primeiras dificuldades. Elas são normais e acontecem com quase todos que estão começando.

Se você já tiver hora de vôo (de tribuna para ser mais exato), saiba que não pode negligenciar nunca, pois quando menos esperar ocorre uma dessas surpresas que podem tirar o chão do orador.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Tenha algumas histórias interessantes para substituir a falta de visuais.

• Esteja sempre pronto para lançar mão de um plano alternativo. • Procure manter a calma, por maior que seja o contratempo. • Não reclame de problemas com equipamentos. Aproveite para

brincar com esses fatos.

106 106 106 106 ---- Quem manda é o ouvinte Quem manda é o ouvinte Quem manda é o ouvinte Quem manda é o ouvinte Você já deve ter ouvido falar que Garrincha foi tão ingênuo quanto

bom de bola. Jogador irreverente, brincalhão, com aparência de quem sempre estava na dele. Levou a vida como se nunca tivesse crescido, com um jeito de menino despreocupado e mais ou menos desligado do mundo.

Foi ainda assim, comportando-se como se pertencesse a outro planeta, que protagonizou histórias que se tornaram imortais. Uma das mais conhecidas aconteceu em 1958, durante a Copa do Mundo na Suécia, e é sempre usada como ilustração para explicar as deficiências de concepção dos planos estratégicos.

Pouco antes do jogo contra a União Soviética, o técnico Feola montou uma tática que julgava perfeita para vencer o jogo. Era algo parecido como orientar o Garrincha para driblar uns dois ou três jogadores da defesa adversária, cruzar na cabeça de um atacante brasileiro e sair para o abraço comemorando o gol.

Garrincha ouviu com bastante atenção e no final fez a pergunta mais óbvia e lúcida que alguém poderia ter feito: 'O senhor já combinou com o adversário para deixar a gente fazer tudo isso?'

Com a comunicação os fatos não são muito diferentes. Alguns oradores montam as apresentações sem levar em conta a ação dos ouvintes, como se eles fossem se comportar da forma mais favorável possível. São momentos em que a mesma pergunta poderia ser feita: você combinou com a plateia?

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Ao planejar uma apresentação, considere em primeiro lugar quais são as características predominantes dos ouvintes. Eu falo predominantes porque é muito difícil encontrar uma plateia homogênea. Entretanto, por mais diferentes que sejam as pessoas, sempre será possível perceber pontos comuns que as identifiquem. São essas características que você precisará levar em conta.

Você não poderá falar para uma plateia constituída de pessoas incultas da mesma maneira como se comunicaria com um grupo de ouvintes de nível intelectual elevado. A comunicação também não poderá ser a mesma para os jovens e para os adultos. Assim como terá de ser distinta se forem especialistas em determinada matéria ou se forem leigos.

Cada uma dessas características exigirá de você um comportamento adequado. Se o público tiver nível intelectual baixo, fale de forma simples e clara sempre que possível, usando ilustrações e metáforas para facilitar a compreensão. Diante de pessoas mais bem preparadas o raciocínio poderá ser mais complexo e abstrato.

Se a plateia for jovem, você poderá obter melhores resultados se falar de planos, do futuro, se acenar com propostas associadas ao amanhã. Por outro lado, se o público for constituído de pessoas com idade mais avançada, suas chances de vitória serão ampliadas se desenvolver o raciocínio e a linha de argumentação com apoio nas informações do passado.

Analise bem a experiência e o conhecimento do público. Se os ouvintes conhecerem bem o assunto, vá fundo e use todo o seu conhecimento sobre a matéria. Se forem leigos, caminhe na superfície e dê explicações básicas, elementares.

Além de identificar as características predominantes da plateia, saiba também quais são as aspirações do grupo que irá ouvi-lo. O que as pessoas desejam? Querem ter dinheiro, segurança, prestígio, destaque social, harmonia familiar, poder? O fracasso baterá à sua porta se, por exemplo, oferecer dinheiro, rentabilidade a uma plateia interessada apenas em segurança. E vice-versa.

Como você não vai poder combinar os lances do jogo com o adversário, altere a tática de acordo com o andamento da partida. Assim, depois de ter estudado bem todos esses aspectos referentes aos ouvintes, fique atento para verificar se as previsões que fez sobre as características e os interesses das pessoas estão corretas.

Se perceber que algum dado não se encaixa com a realidade que está à sua frente, altere o esquema, faça as adaptações necessárias até que a

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mensagem e a maneira de apresentá-la estejam em sintonia com o público. Aí sim, poderá comemorar a vitória e partir para o abraço.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Obtenha todas as informações que puder sobre os ouvintes. • Planeje suas apresentações de acordo com a plateia. • Altere a maneira de falar para se adaptar às circunstâncias da

apresentação. • Não confie apenas na aparência das ouvintes, fique atento às

reações delas.

107 107 107 107 ---- Para se livrar das visitas indesejáveis Para se livrar das visitas indesejáveis Para se livrar das visitas indesejáveis Para se livrar das visitas indesejáveis Gosto de receber visitas. Também gosto de visitar meus amigos.

Imagino que trago esse jeito de me relacionar com as pessoas da época em que vivi em Araraquara, no interior de São Paulo. Ali era comum as pessoas se visitarem. Mesmo assim, por mais que eu goste de conversar com as pessoas algumas são verdadeiras malas duras de agüentar.

Você já recebeu aquela visita indesejável, que não tem um mínimo de semancol? Chega para bater papo exatamente na hora em que a seleção brasileira de futebol acaba de entrar em campo para disputar uma partida da copa do mundo contra a Argentina; ou no momento de passar o último capítulo da novela; ou na véspera da data fatal da entrega da declaração do imposto de renda, em que a papelada está toda sobre a mesa.

E sem o mínimo de escrúpulo ainda comenta: - Se tem uma coisa que detesto é futebol, não sei que graça vocês

acham em ver 22 marmanjos correndo atrás de uma bola. Ou, as novelas são todas iguais, se assistir ao primeiro capítulo já sabe como vai terminar. Ou, por isso que faço a declaração logo no começo, quando chega no final do prazo já estou tranquilo.

Chega, sem preocupações com cerimônias, vai abrindo a geladeira, pegando uma cerveja, dá uma resmungada porque ela não está tão bem gelada e passa a encher a paciência de todo o mundo com relatos de doença da família ou da sua última viagem à praia (grande!).

Fala dos filhos, dos outros, porque os seus só merecem elogios, pois são os mais inteligentes, preparados e injustiçados; comenta sobre o último crime, ocorrido há um mês, que a imprensa noticiou exaustivamente todos os dias, como se fosse a maior novidade do mundo.

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Você é educado, não tem o que fazer a não ser cruzar e descruzar as pernas, tentar mudar de assunto, falando do jogo que está duríssimo, da novela, pois estão para revelar quem é o assassino, ou do imposto de renda, dizendo que os cálculos não estão batendo e que faltam documentos.

Mas, qual o quê!, é como se você não tivesse falado nada - assim que faz uma pausa para respirar, ele aproveita o descanso do diafragma e retorna ao ponto e continua firme, de onde parou, revendo alguns detalhes que havia esquecido.

Último recurso - você vai até à cozinha, põe uma vassoura virada para cima atrás da porta e joga com os olhos fechados, e muita esperança, três pitadas de sal, implorando que aquele chato se levante e vá perturbar em outra freguesia.

Antes de voltar, repete a operação com outra vassoura e um sal mais grosso, só para garantir o resultado da bruxaria. E, quando retorna, não acredita no que está vendo: ele está olhando para o relógio e se levantando.

Mas, como desgraça pouca é bobagem e alegria é passageira, o ilustre visitante vai para o lugar de onde você veio, para a cozinha, pegar mais uma cervejinha, e agora sem reclamar, pois está, segundo o comentário do especialista intrometido, estupidamente gelada.

Você pode estar pensando que eu não tenho pulso firme e que a minha personalidade é frágil e por isso fico agüentando esse tipo de mala especial. Posso garantir que de maneira geral sou firme. Falo o que precisa ser dito, sempre procurando evitar bicos, de maneira diplomática, mas falo. Mas nem todas as malas são iguais, algumas são feitas sob medida, personalizadas.

Se você está pensando que existe uma regra infalível que mostre como é que se livra desse tipo de gente, sem deixar seqüelas, se enganou. Eu também estou à caça dela. Mas também não vou dar uma de Oswaldão. Oswaldo é o nome do meu barbeiro. Simpático, cheio de prosa. Não é daqueles que, quando pergunta como é que você deseja o corte, sua vontade é dizer:

- Em silêncio. Uma vez, entretanto, ele deu uma derrapada feia. Começou

contando a história de um filme a que tinha assistido na noite anterior - é evidente que não perguntou se eu tinha assistido ou não, esses detalhes insignificantes são sempre dispensados - e eu fui ficando interessado no seu relato, muito curioso para saber como é que tinha terminado.

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Em determinado momento fez uma pausa, que foi se prolongando demasiadamente, e quando a minha ansiedade ultrapassou o limite do silêncio, perguntei:

- E aí, Oswaldo? - E aí o quê? - Como foi que terminou o filme? - Ah, rapaz, sabe que chegou uma hora que eu estava com tanto sono

que acabei apagando. - E como é que você tem coragem de contar um filme que não tem

fim? - É só para passar o tempo. Pratique a tática do Dr. Cambraia Para não dizer que passei em branco, posso contar rapidinho a

história do Dr. Cambraia. Ele era um advogado muito competente, especializado em falências e concordatas e vivia com o escritório abarrotado de trabalho.

Era alto, magro, olhos inteligentes disfarçados pelas lentes grossas dos óculos e sem paciência para ouvir uma sílaba do que não fosse necessário.

Certa vez, a empresa de um amigo estava passando por sérias dificuldades. Se pintasse um soprinho mais forte, quebrava.

Recomendei o Dr. Cambraia. Depois de algum tempo, ao voltar de uma viagem de negócios

prolongada, procurei o meu amigo para saber como estava a situação. Ele disse que tinha contornado os problemas mais graves e que o Dr. Cambraia era uma figura incrível.

Eu, orgulhoso, disse que tinha certeza da competência do advogado, por isso o havia indicado. Meu amigo sorriu e explicou melhor o que pretendeu dizer:

- Ele é incrível também como advogado, graças a ele hoje já consigo

respirar um pouco mais aliviado, mas estou me referindo à outra característica.

- Qual? - Bem, no começo estranhei um pouco, mas depois me acostumei.

Quando ia visitá-lo para discutir alguma questão, ele me cumprimentava, perguntava qual era o problema, ouvia o que precisava para entender a essência da mensagem, e, ainda de pé, porque não tinha se sentado, nem me convidado para sentar, estendia o braço e dizia - já entendi, aguarde

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notícias, até logo e passar bem. Virava as costas e sumia dentro do escritório.

E o engraçado é que nunca fiquei bronqueado, porque percebi que não era nada contra mim, e sim o jeitão dele.

E se ficasse chateado também não adiantaria nada. Ele não se incomodaria.

O caminho é esse, se passar dos limites, dê um Cambraia nele. E espere os deuses do Olimpo se voltarem enraivecidos contra você.

Também poderá ser mais 'sutil'. Se der duas da manhã e ele, ainda folgadão, pedir mais uma pedrinha de gelo para o uísque, levante-se discretamente, vista o pijama e diga para não esquecer de bater a porta ao sair. É brincadeirinha, são só umas vontades que aparecem de vez em quando.

Mas não tem muita alternativa, mala é mala, ou você agüenta ou despacha.

Visitar mala também é jogo duro Se receber a visita do mala é desconfortável, visitar um também não

fica atrás. No meu livro Como falar de improviso e outras técnicas de

apresentação, reproduzi um fato narrado pelo jornalista Heródoto Barbeiro, quando paraninfou uma das turmas do nosso curso de Expressão Verbal, sobre uma visita que o governador de São Paulo, Adhemar de Barros, fez a uma cidade do interior paulista.

Cansado da viagem, debaixo de um sol muito forte, daqueles que racham mamonas, ao perceber que o prefeito se preparava para ler um volumoso discurso para homenageá-lo, não titubeou, arrancou os papéis das mãos do assustado orador e disse com voz triunfante e ao mesmo tempo condescendente: não se dê ao trabalho. Deixe que eu o leia com tranqüilidade no aconchego do meu lar.

Outros brincam e acabam fazendo o que querem. Fidel Castro é famoso também pelos seus longos discursos - chegou a falar sete horas e meia sem parar. Quando esteve discursando em uma reunião da ONU, ao chegar à tribuna onde estavam instaladas três lâmpadas com cores diferentes - verde para indicar o tempo livre; amarela para alertar que o tempo está terminado; e vermelha como aviso de que o tempo se esgotou -, retirou um lenço do bolso e, sorrindo, cobriu as lâmpadas.

Quis dizer com essa atitude que sua fama de falador era verdadeira e que aquelas lâmpadas não o obrigariam a ser diferente. Se ele fosse o prefeito, para Adhemar de Barros arrancar o discurso das suas mãos, talvez tivesse que sair no tapa.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Fique atento às reações do corpo do seu interlocutor. • Se perceber que a pessoa está tamborilando a mesa ou dando

tapinhas nas pernas saiba que é hora de encerrar a conversa. • Não faça visitas sem combinar. • Chegar atrasado é falta de educação, mas chegar antes da hora

marcada pode atrapalhar a vida das pessoas.

108 108 108 108 ---- Caça aos sonegadores Caça aos sonegadores Caça aos sonegadores Caça aos sonegadores Alguns empresários gostam de viver perigosamente. Sonegam

imposto imaginando que fazem um belíssimo negócio e que estarão sempre fora do alcance do fisco.

Está certo que superando 37% do PIB a carga tributária no Brasil é uma das mais elevadas do mundo e que manter as atividades pagando todas as dezenas de taxas e impostos direitinho se transforma num desafio permanente. Entretanto, será que vale a pena se arrastar por baixo da jaula do leão e transgredir?

Vejamos: Quem não pagar os impostos não poderá manter o dinheiro sonegado em sua conta bancária. Vai precisar distribuir em contas de parentes e amigos. Depois que o fisco aprendeu a ficar de olho na movimentação bancária ninguém escapa. Por isso, o sonegador vai precisar de um batalhão de gente para que os valores de cada conta não deem na vista.

E dinheiro nas mãos dos outros é certeza de problema. Assim que surgir uma dor de barriga financeira, a turma não terá o menor escrúpulo em sacar a grana. Afinal, a consciência deles não vai pesar, já que foi produto de sonegação.

E problema financeiro é o que não falta na vida das melhores famílias! O sonegador deve ficar consciente também de que estará sempre nas mãos deles. No primeiro bate-boca a vizinhança toda saberá de cada um dos capítulos da sigilosa aventura.

Haveria ainda a opção de guardar o produto da operação em dinheiro vivo, real, dólar, euro, ou outra moeda qualquer. Agora, guardar onde? Num cofre de banco? Os ladrões estão cansados de saber que tudo o que roubarem desses cofres jamais será reclamado, pois se fosse dinheiro quente estaria depositado ou aplicado em operações normais.

Em casa? Piorou. Porque além dos ladrões profissionais, a história contará com a participação especial dos gatunos de ocasião. Os

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empregados domésticos que não sejam tão ilibados, ou os eventuais prestadores de serviço de conduta semelhante acabam encontrando, mesmo que o esconderijo seja o colchão, a porta do guarda-roupa, o forno de um velho fogão, ou o teto da casinha do cachorro.

Parece ironia, mas, nessas circunstâncias, o digníssimo proprietário do caixa dois vai ser roubado e ainda por cima torcer para que ninguém descubra - nem reclamar com a polícia vai poder. E antes que alguém resolva globalizar a peripécia fiscal é bom saber que o sigilo das contas numeradas e dos paraísos fiscais tem todo o jeitão de estar com os dias contados.

Para quem ainda não ficou convencido, aqui vai mais: cada vez menos os fiscais precisam visitar as empresas para saber como andam as operações, pois tudo está sendo informatizado, com informações cruzadas automaticamente por programas aperfeiçoados e aprimorados dia-a-dia.

Sem sair da cadeira, a fiscalização cruzará todas as declarações que a empresa está obrigada a entregar, como declaração dos débitos e créditos tributários, declaração do Imposto de Renda retido na fonte, declaração das atividades imobiliárias, demonstrativo de apuração de contribuições sociais. Só para citar algumas. Ou seja, a sonegação vai exigir a montagem de um controle tão perfeito que será impossível deixar de dar uma vacilada.

Vamos imaginar ainda que o empresário se dê a esse trabalho todo e consiga enganar o fisco. E aí? Vai fazer o que com o dinheiro se não poderá comprar nada com ele? Vai passar a vida comprando carro usado, passando escrituras de imóveis por preços menores? Haja vocação para clandestinidade!

E se depois de toda essa mão-de-obra, o espertinho ainda for apanhado e comprovarem a intenção da fraude, vai morrer com uma multa de até 150% do valor apurado.

Por essas e por outras, talvez seja mais apropriado contratar um consultor competente e investir num bom planejamento tributário. Essa iniciativa poderá fazer com que a empresa, legalmente, pague menos impostos e seu proprietário deixe de se apavorar quando anunciarem a visita de uma fiscalização.

Tudo o que acabei de falar, com as adaptações adequadas, poderá ser transportado do CNPJ para o CPF, isto é, os perigos da sonegação valem tanto para a pessoa jurídica quanto para a pessoa física. Por isso, fique bem atento e pense duas vezes antes de tentar ser mais esperto que o fisco.

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SUPERDISUPERDISUPERDISUPERDICAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANACAS DA SEMANA • Pagar imposto é antes de tudo questão de cidadania. • Erro pode ser considerado sonegação, por isso confira sua

declaração várias vezes. • Contrate um consultor competente para assessorá-lo. • Faça planejamento tributário. Você pagará menos imposto de

maneira legal.

109 109 109 109 ---- Faça despedidas com classe Faça despedidas com classe Faça despedidas com classe Faça despedidas com classe Na última semana escrevi sobre como lidar com visitas indesejáveis.

O objetivo foi o de brincar um pouco com certos tipos 'malas' que vez ou outra atazanam nossa vida e tiram nosso sossego. Hoje vou inverter o tema e dar dicas para você fazer discursos marcantes de despedida.

Depois de permanecer como visitante em um local onde precisou desenvolver um trabalho, fazer uma pesquisa, participar de um curso, ou até a passeio, ao se despedir, tendo oportunidade, e julgando a circunstância conveniente, poderá fazer um pequeno discurso para marcar sua passagem.

Fale da sua partida - De maneira geral, as pessoas já sabem quando alguém está partindo. Para brincar um pouco, poderíamos dizer que não só sabem como talvez até estejam vibrando com aquela despedida. Mas não é desse tipo que estamos falando, e sim de quem deseja fazer com que sua passagem àquele local seja positiva.

Pelo fato de as pessoas, provavelmente, saberem que você irá partir, evite dar essa notícia como se fosse uma grande novidade. Use o recurso de demonstrar que apenas está comentando um fato já conhecido. Por exemplo: Como todos sabem, hoje é o dia da minha partida e eu infelizmente estou me despedindo de vocês.

Esse tipo de introdução é muito eficiente para essas circunstâncias, porque, além de conquistar a simpatia dos ouvintes pela demonstração sutil de estar entristecido pela partida, serve também como proposição, informando qual é o assunto que está sendo tratado.

Fale dos seus sentimentos e da sua experiência com o grupo - Uma boa forma de falar sobre seus sentimentos e da experiência que teve com o grupo é dizer como foi que chegou àquele local, como foi tratado pelo grupo e o que está sentindo na partida.

Como chegou àquele local - Fale do seu sentimento ao chegar àquele local. Você estava feliz, porque sempre tivera muita vontade de participar daquele grupo? Estava com medo, porque havia recebido

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informações negativas sobre eles? Ou estava revoltado, porque foi obrigado a deixar amigos queridos em sua cidade natal? Não importa que o sentimento tenha sido negativo, porque depois irá dizer que recebeu um bom tratamento das pessoas e mudou de opinião.

Como foi tratado pelo grupo? - É evidente que irá dizer que foi tratado com muita gentileza e amabilidade por todos. Mesmo que tenha passado por alguns dissabores. Até porque dificilmente reconheceriam que não o consideraram bem, e também porque esse não é o momento mais apropriado para tocar nesse assunto.

O que está sentindo na partida - É natural que, depois de ter convivido com pessoas tão generosas e amáveis, no momento da partida diga que está triste por ter que se separar daquele grupo.

Fale dos motivos da partida e revele suas expectativas - Ao dizer quais os motivos da sua partida e que tipo de expectativa tem para o seu novo destino, estará se aproximando ainda mais do grupo, pois essa é uma atitude que, de maneira geral, temos com os amigos mais íntimos, quando estamos nos despedindo de algum lugar.

Você não chegaria para o seu amigo e diria simplesmente que estava de partida! Com certeza, diria também por que estava saindo e o que pretendia fazer.

Se estiver voltando para casa, poderá dizer que retorna para rever a família; se estiver indo para outra organização, poderá dizer que irá enfrentar um novo desafio profissional; se estiver retornando para a empresa, depois de um curso prolongado, ou de uma pesquisa, que também consumiu um bom tempo, poderá dizer que volta às suas origens para pôr em prática o que aprendeu, ou encontrou.

Observe que, ao falar o que pretende fazer, estará estreitando ainda mais os laços com o grupo, pois ao revelar seus planos, é como se estivesse dizendo que não tem segredos com eles.

Fale da sua vontade de voltar - Depois de dizer que foi tão bem tratado e de como se sentiu à vontade convivendo com aquele grupo, ao completar suas novas tarefas e concretizar seus planos, seria natural mencionar que o seu desejo é o de retornar e continuar convivendo com todos.

Não preciso alertar também para que não diga ao seu anfitrião em Nova York, que recepcionou você e sua família na casa dele, que pretende voltar breve para outra visita. Provavelmente, ele recorreria ao expediente de jogar três pitadas de sal na vassoura virada para cima atrás da porta. Fale sim de como ficaria feliz se ele e a família pudessem passar as próximas férias em sua casa no Brasil.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Faça discursos de despedida breves. • Se ficar emocionado ao falar na despedida não se preocupe, a

circunstância permite. • Ao se despedir diga que sentimento tinha ao chegar, com foi

tratado e o que sente ao sair. • Como, provavelmente, todos já saberão da sua partida, comece

dizendo 'como todos sabem'.

110 110 110 110 ---- Como não falar Como não falar Como não falar Como não falar O sucesso de suas apresentações talvez dependa mais dos erros que

você deve evitar do que dos acertos da sua comunicação. São cuidados simples e fáceis de serem observados que garantem o bom resultado da oratória em quase todas as circunstâncias. Aproveite esta oportunidade para refletir como tem sido seu comportamento diante do público e o que poderá fazer para melhorar.

Não seja morno - Já vi inúmeras apresentações que poderiam ser excepcionais falharem por causa desse defeito. Oradores que falam sem vida, sem vibração, sem entusiasmo não conseguem motivar e envolver os ouvintes. Por isso, se a sua comunicação tem sido morna, sem energia, talvez esteja na hora de pôr um pouco de tempero na sua fala. Conte histórias, use humor, dê exemplos, toque a emoção do público e amplie suas chances de sucesso.

Não fale muito baixo - Aloôô, não estou dizendo para sair por aí gritando com as plateias, mas sim que não fique sussurrando sem necessidade diante dos ouvintes, obrigando que façam enorme esforço para entender o que você está tentando comunicar. Como regra geral, fale um pouco mais alto do que seria suficiente para que as pessoas pudessem ouvir, para demonstrar seu interesse e envolvimento com o assunto. A não ser que a interpretação da mensagem ou o ritmo da fala exijam volume de voz mais baixo, evite cochichar diante do público.

Não use vocabulário rebuscado - Se você transmitir a mensagem usando termos incomuns, difíceis de serem compreendidos, estará a um passo do fracasso com sua comunicação. Vocabulário com essa característica pode tornar a comunicação incompreensível e afastar a concentração e o interesse da plateia.

Esse cuidado pode ser dispensado se os ouvintes tiverem bom nível intelectual, pois, se não conseguirem entender a palavra em si,

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provavelmente a compreenderão dentro do contexto da mensagem. Como, entretanto, esse tipo de público não é muito comum, é melhor simplificar.

Não use palavras vulgares - O conceito de vulgaridade é bastante relativo. Depende do tipo de ouvinte e da característica de quem fala. Palavrões podem parecer linguagem inocente na boca de algumas pessoas, enquanto palavras não tão pesadas poderão ser entendidas como indecência quando proferidas por outras.

Mesmo considerando essa relatividade, evite usar palavrões e excesso de gírias ao falar em público. Esse vocabulário rasteiro poderá comprometer sua imagem e prejudicar o resultado da sua apresentação.

Não gesticule demais - Se você não gesticular, estará deixando de usar um precioso recurso da comunicação. Entretanto, é preferível que não use nenhum gesto a falar com excesso de gesticulação. Lembre-se sempre dessa boa regra: entre os dois defeitos comuns da gesticulação, que são a falta e o excesso, prefira sempre a falta ao excesso. Quase sempre, o ideal é falar com gestos moderados, que acompanhem o ritmo e a cadência da fala.

Não fale sem objetivo - Esse conceito não é novo, mas se aplica muito bem à comunicação: quem não sabe aonde deseja chegar não sabe o rumo que deve tomar. Por isso, tenha em mente o que deseja com sua apresentação: é persuadir, informar, entreter, provocar? Enfim, o que você pretende com sua mensagem? Estabeleça seu plano e caminhe na busca dos seus objetivos.

Não fale sem ordenar o pensamento - Se você não souber as etapas que pretende cumprir na apresentação, parecerá um papagaio de papel sem rabo, indo de um lado para outro sem saber os passos que deve dar. Ainda que não seja com muito rigor, saiba sempre como iniciar, preparar, desenvolver e concluir suas apresentações. Você se sentirá mais seguro, será mais lógico na exposição e facilitará a compreensão dos ouvintes.

Não fale da mesma maneira para ouvintes diferentes - Um dos maiores erros que você pode cometer é o de falar do mesmo jeito para plateias distintas. Em cada apresentação, considere sempre o nível intelectual dos ouvintes, o conhecimento que possuem sobre o tema e a faixa etária predominante do grupo. Assim poderá adaptar a mensagem e a maneira de falar de acordo com as características da plateia.

Não fale sem conhecer o assunto - De todos os aspectos de uma apresentação nenhum pode ser considerado mais relevante que o conteúdo. Se você falar sem domínio do que vai expor, provavelmente, será visto como um 'falador presunçoso', mas nunca avaliado como um

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orador. Conheça sempre o máximo que puder sobre o assunto da sua apresentação. E, se não tiver o conhecimento que deveria ter, pense duas vezes antes de aceitar o convite para falar.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não aceite convite para falar se não dominar o assunto. • Não fale aos gritos, mas também não fale baixo demais. • Não apresente uma mensagem como se os ouvintes fossem

sempre iguais. • Não fale sem demonstrar envolvimento com a mensagem.

111 111 111 111 ---- Aulas com Silvio, Hebe, Jô e Faustão Aulas com Silvio, Hebe, Jô e Faustão Aulas com Silvio, Hebe, Jô e Faustão Aulas com Silvio, Hebe, Jô e Faustão

Tenho certeza de que só o título deste texto já conseguiu torcer o

nariz de muita gente. Se você for um deles talvez esteja pensando: 'Aprender com os apresentadores de TV? Esse Polito surtou! Só me faltava alguém me dizer que vou aprender a falar assistindo aos programas do Faustão, do Silvio Santos e da Hebe Camargo!'

Para o fã de televisão a reação pode ser diversa, talvez até expressa com aplauso: finalmente aparece alguém para elogiar meus ídolos. Por essas e outras, peço aos resistentes que antes de se colocarem na defensiva acompanhem o que tenho a dizer sobre alguns dos principais apresentadores e, depois, sem preconceitos, tirem suas próprias conclusões.

Como argumento inicial, levanto esta reflexão: se esses apresentadores são vistos todos os dias, ou todas as semanas, há tantos anos, por milhões de pessoas nos mais diferentes cantos do país, provavelmente, devem possuir qualidades excepcionais de comunicação, que os diferenciam e os revestem de um brilho especial que vale a pena ser analisado.

Vem cá, vem cá, vem cá. Quem quer dinheirooo??? Vem cá, vem cá, vem cá. Quem quer dinheirooo??? Vem cá, vem cá, vem cá. Quem quer dinheirooo??? Vem cá, vem cá, vem cá. Quem quer dinheirooo??? Silvio Santos é o rei. São mais de 20 anos no ar, todas as semanas,

revelando descontração contagiante e mantendo audiência impressionante. E é exatamente essa alegria constante do 'homem sorriso' que o mantém na telinha há tanto tempo.

Não é fácil não. Numa época em que tudo parece ser descartável e os ídolos são substituídos num abrir e fechar de olhos, para permanecer décadas fazendo sucesso, precisa ser mesmo muito bom.

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Já no princípio ele elegeu seu público. Temos duas possibilidades para conquistar os ouvintes: ou adaptamos nossa maneira de nos comunicar ao tipo de público que pretendemos cativar ou selecionamos a plateia conforme nossa própria característica.

Silvio Santos percebeu, no início da carreira, que seu jeito simpático, divertido e envolvente, aprimorado, provavelmente, quando ainda era um camelô, atingia os telespectadores das classes mais populares. Foi hábil em desenvolver um programa que agradasse a essa camada da população e venceu.

O que podemos aprender com seu exemplo. Um dos maiores erros que o comunicador pode cometer é o de fazer apresentações sem considerar a característica de seu público. Silvio Santos foi perfeito nessa avaliação, pois soube planejar o que pretendeu comunicar, de acordo com o nível intelectual dos ouvintes, o tipo de expectativa que eles provavelmente possuíam e a faixa etária do seu público.

Ô loco, meu!Ô loco, meu!Ô loco, meu!Ô loco, meu! Acompanho a carreira de Fausto Silva desde a época em que ele

trabalhava nos programas de esporte da rádio Excelsior (hoje CBN) de São Paulo. Inicialmente ao lado do maior narrador esportivo de todos os tempos, Osmar Santos, em seguida com ele próprio no comando.

Já nessa oportunidade, as pessoas perguntavam como é que um apresentador com o carisma, a inteligência e a presença de espírito do Fausto Silva não estava na televisão. A oportunidade surgiu num programa que tinha tudo para não dar certo: 'Perdidos na noite', na Bandeirantes.

Com domínio total da plateia, quando me entrevistou para falar sobre técnicas de comunicação, conseguiu que cerca de 2 000 pessoas que estavam no auditório ficassem em silêncio o tempo todo. E o resultado foi tão positivo que naquela semana foi esgotada uma edição inteira de um dos meus livros que havia levado para divulgação.

Sem requintes técnicos, com baixo orçamento e mais ou menos improvisado, o programa, em pouco tempo, emplacou, graças à competência e à habilidade de Fausto Silva. Algum tempo depois, foi, como Faustão, devido a seu porte avantajado, para a Globo, onde mais uma vez brilhou e encanta os telespectadores de todo o país até hoje.

Jamais abandonou sua presença de espírito. Quando Fausto Silva saiu da Bandeirantes e foi para a Globo, diziam que ali perderia a liberdade para trabalhar e fracassaria. Esse comentário já poderia ser considerado um elogio para o apresentador, pois, se diziam que o programa na Globo não daria certo porque ele não poderia ser o mesmo, significava que, se seu

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talento deixasse de ser explorado, a qualidade da contratação seria desperdiçada.

Os prognósticos pessimistas foram por água abaixo, e ele, como a maioria imaginava, foi sempre um grande sucesso. Nunca abandonou sua irreverência e, principalmente, sua presença de espírito, incomparável na história da televisão brasileira.

O que podemos aprender com seu exemplo. Uma apresentação deve ser planejada em seus menores detalhes. Nada pode ser deixado ao acaso. Quanto mais pudermos ensaiar o que vamos dizer, melhor. Entretanto, nenhum preparo, por mais criterioso que seja, poderá ser considerado mais importante que a presença de espírito.

Quando o orador consegue aproveitar uma informação que nasce no ambiente e adaptá-la à mensagem, está dando atualidade ao assunto e demonstrando que sua fala é própria para aquela plateia. Por isso, sempre que puder, prepare sua apresentação de maneira minuciosa.

Ao chegar ao local onde deverá falar, entretanto, fique atento a todos os acontecimentos e, se observar um detalhe que possa ser incluído na sua exposição, mesmo que seja para substituir o que trouxe pronto, não hesite; prefira se valer da circunstância e use sua presença de espírito.

Muito obrigado pela presença, daqui a pouco a gentMuito obrigado pela presença, daqui a pouco a gentMuito obrigado pela presença, daqui a pouco a gentMuito obrigado pela presença, daqui a pouco a gente voltae voltae voltae volta.... Jô Soares é o melhor entrevistador dos 50 e tantos anos de existência

da televisão no Brasil. Participar como entrevistado de seu programa é uma aspiração até de quem já conquistou muita fama.

Falar em uma entrevista com ele sobre o lançamento de um livro é garantia de sucesso. A exemplo do que ocorreu comigo quando fui entrevistado pelo Fausto Silva, também depois de participar do programa do Jô Soares foi vendida uma edição inteira de cada um dos dois livros que levei para mostrar na entrevista.

Jô Soares sabe explorar todos seus atributos de comunicador - dança, canta, toca instrumentos, conta piadas, narra 'causos', entrevista pessoas simples e famosas, em inglês, francês, espanhol, sempre com a mesma naturalidade e desenvoltura.

Entrevistas que não apresentam atrativos e estão prontas para fracassar são salvas por sua habilidade de bom comunicador. É comum ele abandonar o roteiro de uma entrevista que empacou e passar a fazer brincadeiras com o entrevistado, ou com os músicos do seu sexteto, e terminar a conversa em altíssimo astral.

É vaidoso, mas não tem o mínimo constrangimento de se chamar de gordo burro quando conta uma piada sem graça. Na verdade, usa esse

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expediente da autogozação como um inteligente recurso para salvar piadas e histórias que não deram o resultado que esperava. Não tem igual.

O que podemos aprender com seu exemplo. É comum conversarmos com pessoas espirituosas, interessantes, que sabem contar piadas, cantar, narrar histórias que comovem ou fazem rir e que, quando precisam falar diante de um grupo, parecem ficar embalsamadas, sem vida e sem atrativos.

Ninguém deve mudar seu jeito de ser só porque está diante de uma plateia. Ao contrário, quanto mais natural, quanto mais espontâneo, quanto mais puder ser ele mesmo, mais eficiente será sua comunicação. Por isso, se você tiver alguma habilidade que possa projetá-lo de maneira positiva, não hesite em usá-la em público.

Cante, recite poesias, dance, conte piadas, plante bananeiras, enfim, faça o que souber de melhor e aumente suas chances de sucesso. Jô Soares não teria o mesmo brilho se limitasse sua atuação a perguntar e ouvir respostas.

Que gracinhaQue gracinhaQue gracinhaQue gracinha Hebe Camargo é uma das poucas apresentadoras de televisão que

consegue dar atenção a muitas pessoas ao mesmo tempo. Até os convidados mais tímidos, ainda que estejam em grupos numerosos, conseguem falar e dar suas opiniões sobre assuntos que ela aborda nas entrevistas.

Quando deseja cortar a conversa de alguém, sempre age com delicadeza e amabilidade. Já assisti a cenas em que ela passou a elogiar uma convidada para poder interrompê-la - que gracinha, que bonita você está com este vestido, espero que volte sempre aqui para desfilar esta beleza estonteante, tchau, linda. A entrevistada parou de falar, foi embora do programa e, com certeza, não ficou chateada.

O que podemos aprender com seu exemplo. Se pudermos usar essa competência para tratar com muitas pessoas ao mesmo tempo, também conquistaremos sucesso como comunicadores, pois, seja em nossa casa, seja numa reunião de negócios, conseguiremos deixar todas as pessoas à vontade.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Assista aos programas de televisão e analise as técnicas dos

apresentadores. • Avalie pelos programas qual a formação dos ouvintes. • Experimente recursos dos apresentadores diante de plateias

com perfil semelhante. • Avalie por que alguns apresentadores deixam de fazer sucesso.

112 112 112 112 ---- Dói perder alguém muito querido Dói perder alguém muito querido Dói perder alguém muito querido Dói perder alguém muito querido

As palavras não são vazias. Temos de ter a consciência de que ao nos

comunicarmos, seja falando ou escrevendo, nossa mensagem poderá mexer com os sentimentos das pessoas, e, às vezes, até transformar a vida delas. Prova disso é um pequeno texto que me marcou e que talvez fale também ao seu coração.

Entre os meus amigos queridos tenho um muito especial - Ailton Trevisan. Eu o conheci quando ele foi aluno no meu curso de expressão verbal há quase 20 anos. Desde aquela época, sem que precisássemos nos encontrar com muita freqüência, naturalmente construímos uma amizade sólida de admiração mútua e respeito.

Além de ser um advogado excepcional, Ailton é uma das pessoas mais inteligentes que conheci. A história da sua carreira foi pontuada de vitórias extraordinárias, atuando em causas famosas. Sua fazenda na região de Campinas é cinematográfica. Nunca vi nenhuma tão bonita nem ao vivo, nem em revista, nem em filmes.

De todas as qualidades do Ailton, além da inteligência e da competência profissional, destacam-se a bondade, o bom-humor e o amor ao próximo. Sempre sorridente, é ótimo ouvinte e sabe dizer a palavra certa no momento mais apropriado.

De repente, por uma dessas linhas que só Deus sabe explicar o sentido, perdeu a esposa por quem sempre foi profundamente apaixonado. A tragédia, todavia, não o esmoreceu. Continuou de cabeça erguida, dedicou-se à educação dos quatro filhos, preparando-os para enfrentar a vida. Tem ao seu lado hoje a Fernanda, uma mulher bonita, alto-astral, cativante e companheira de todas as horas.

Entretanto, eu sempre quis saber como foi que ele suportou a perda da esposa que tanto amava. A resposta veio num texto tocante de Santo Agostinho, que ele mantém em uma das paredes da sua casa e que pode servir de alento para todos nós que um dia perdemos um ente querido:

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O amor não desaparece A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do

caminho. Eu sou eu, Vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei

sendo. Dêem o nome que vocês sempre me deram. Falem comigo como

sempre vocês fizeram. Vocês continuam vivendo no Mundo das Criaturas, eu estou vivendo

no Mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste. Continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de

nenhum tipo, sem nenhum traço de sombra. A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi

cortado. Por que eu estaria fora de seus pensamentos agora que estou apenas

fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho... Quando, por acaso, li esse texto compreendi melhor como ele

conseguiu caminhar firme com sua família e com seu trabalho. Assim que terminei de ler, ao olhar para trás, vi que ele estava me olhando com um largo sorriso. Ele sabia que eu havia encontrado a resposta para muitas das minhas indagações.

Se você sente saudade de alguém que sempre gostou e que partiu para o outro lado do caminho, imprima este texto e o leia de vez em quando. Tomara que assim consiga suportar a ausência com mais serenidade.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Cuidado com o que você fala - sua mensagem poderá mexer com a vida de alguém.

• Sempre que puder, procure melhorar a vida das pessoas com sua comunicação.

• Nunca magoe alguém sem necessidade. • Há momentos em que a pessoa só precisa de alguém para ouvi-

la.

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113 113 113 113 ---- Prefiro elogio falso à crítica sincera Prefiro elogio falso à crítica sincera Prefiro elogio falso à crítica sincera Prefiro elogio falso à crítica sincera Tenho um amigo. Conhecido em todo o país. Como ele se expõe

muito imaginei que estivesse acostumado a receber críticas e não se incomodasse com elas. Pensei, esse cara deve ter levado tanta bordoada na vida que ficou com o couro duro, impenetrável.

Por duas vezes, entretanto, me surpreendi. Em certa oportunidade fiz uma sugestão para ele mudar alguns rumos da sua atividade. Não era uma crítica. Só estava tentando ajudá-lo com base na minha experiência. Ele ouviu e ficou quieto. Estranhei um pouco.

Em outra ocasião comentei que o resultado da sua atuação poderia ser ainda melhor se tivesse usado um recurso diferente, mais simples, mais barato e com maiores chances de sucesso. Mais uma vez ele ouviu e permaneceu calado. Fiquei muito intrigado.

Sua atitude não era normal. Pelo menos não era o comportamento que eu esperava. Por isso, não hesitei, fiz uma pergunta mais ou menos em tom de afirmação: - você não gosta de receber críticas, né? Depois de algum tempo em silêncio veio a pérola: - Polito, prefiro um elogio falso a uma crítica sincera.

Pois é, de maneira geral, as pessoas não revelam, mas quase todo mundo detesta ser criticado. Às vezes, por ingenuidade ou falta de experiência, caímos no canto da sereia e acreditamos que quando alguém nos pede uma crítica está sendo sincero. Precisamos nos conscientizar de que, quase sempre, quem pede crítica está implorando por elogios.

Experimente fazer uma crítica e observe a reação da pessoa. Ao invés de concordar e agradecer, ela começa a se justificar para tentar explicar porque teve aquele comportamento. Ora, se, de forma geral, as pessoas se defendem é óbvio que não ficaram muito satisfeitas com o que ouviram.

Por isso, tome cuidado no relacionamento com colegas de trabalho, parentes e amigos. Pense duas vezes antes de tomar a iniciativa de dar conselhos ou de fazer críticas. Mesmo tendo a intenção de ajudar poderá magoar e provocar constrangimentos. As suposições que fazemos nem sempre coincidem com a verdadeira história de vida de uma pessoa.

Não temos informações suficientes sobre seus infortúnios, suas derrotas, seus momentos de angústia e de sofrimento. Não sabemos quais foram as injustiças que ela cometeu, nem aquelas cometidas contra ela. Sem perceber ao fazermos a crítica podemos revolver um intrincado e complexo mundo que delineia seus sentimentos.

Não caia nessa de fazer crítica construtiva. É uma armadilha, pois, no fundo, é crítica da mesma forma. A pessoa sabe que errou, que não se

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comportou bem, mas ao receber a crítica fica chateada da mesma maneira. Iria se sentir melhor se ninguém tocasse no assunto.

Observe também se não está fazendo o comentário por pura vaidade. Nem nós mesmos percebemos, mas, em determinadas circunstâncias, mais que ajudar estamos querendo mostrar conhecimento, preparo, experiência e não nos damos conta de que nossas palavras machucam e ferem os sentimentos de quem criticamos.

Não se faz compensação com as críticas. Não pense que fazendo dois ou três elogios terá adquirido o direito de fazer uma crítica. A quantidade de elogios não diminui a agressão da crítica. Por isso, a não ser que seja muito necessário, se sua intenção era a de fazer duas críticas e um elogio, talvez, consiga ajudar mais a pessoa se mudar a estratégia e depois dos dois elogios fizer mais um elogio.

Lógico que se uma pessoa comete falhas graves, que poderão prejudicar a ela ou a outras pessoas, dependendo do envolvimento que possamos ter torna-se quase uma obrigação alertá-la e mostrar como o comportamento ou as atitudes dela estão equivocados. Se você observar bem, entretanto, irá constatar que essas situações são raras, pois, de maneira geral, as pessoas não se comportam mal com tanta frequência.

Temos de considerar também questões culturais. Os europeus, como os alemães, por exemplo, são mais diretos e assertivos no relacionamento e, por isso, devem estar mais acostumados com as críticas. Os latinos, como nós, brasileiros, somos mais sensíveis e, por esse motivo, temos o hábito de fazer rodeios, sem irmos diretamente ao ponto.

Se achar que precisa mesmo fazer crítica, seja cuidadoso e use de toda 'diplomacia' que puder. Vamos imaginar que um colega de trabalho tenha o hábito de chegar atrasado. Em vez de você criticá-lo diretamente e, provavelmente, deixá-lo magoado, poderia agir de forma mais sutil.

Suponhamos que ele chegue no horário dois ou três dias seguidos. Nesse momento, como se fosse uma comemoração, você poderia dizer que estava contente em ver como ele conseguira resolver a questão do horário. Dessa forma, sem fazer a crítica diretamente, iria alertá-lo para a existência do problema, provavelmente, sem magoá-lo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Evite criticar as pessoas. • Se tiver de fazer críticas, seja diplomático. • Não faça elogios para depois poder criticar. • Não imagine que uma pessoa possa ser criticada porque

demonstra ser forte.

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114 114 114 114 ---- Mesmo com razão, você pode estar errado Mesmo com razão, você pode estar errado Mesmo com razão, você pode estar errado Mesmo com razão, você pode estar errado

Você percebeu que algumas pessoas não conseguem manter

relacionamentos e amizades estáveis por muito tempo. A história se repete com precisão quase matemática. De repente, a pessoa vira a cara e corta relações com quem, aparentemente, estava convivendo tão bem.

Assim como eu, você também deve conhecer muita gente assim. É só questão de tempo para ter notícias de que o barraco foi armado e, aquela amizade, que parecia tão bonita, virou pó. Às vezes não conseguimos compreender como esses fatos ocorrem com as mesmas pessoas. Dá até para apostar que dia mais cedo, dia mais tarde, por um motivo ou outro, vão romper relações com alguém.

No ambiente de trabalho esse comportamento pode ser fatal. Cada vez mais os profissionais precisam interagir, trabalhar em equipe e ter uma conduta solidária. Se a pessoa começar a cortar o relacionamento com seus pares, depois de algum tempo poderá se sentir sozinha, desamparada e sem clima para continuar na empresa. De maneira geral, os profissionais são contratados por sua competência, mas são demitidos por seu comportamento.

Algumas são 'encrenqueiras profissionais'. Veem inimigos e perseguidores até na própria sombra. Sem terem razão, sem nenhum motivo relevante resolvem criticar ou acusar pessoas que não fizeram absolutamente nada. Se você observar o comportamento dessas pessoas, vai constatar que a vida inteira mantiveram o mesmo padrão de conduta. É uma espécie de vício do qual não conseguem se livrar.

Há outras, entretanto, que também não conseguem manter relacionamentos duradouros, que estão sempre rompendo amizades e se afastando daqueles com quem convivem, mas justificam esse comportamento provando que estão certas, que têm a razão do seu lado, e que os outros é que pisaram na bola com elas.

É sobre esse tipo de pessoas que desejo discutir. Pessoas que não fazem nada de errado, mas por causa do comportamento equivocado dos outros são obrigadas a se afastar. São vistas como vítimas e, por mais que tentem compreender os motivos de os outros agirem mal com elas, não conseguem uma boa explicação. Afinal, elas estão certas e os outros, que cometeram os erros, é que estão errados.

O que essas pessoas não conseguem entender é que o ser humano não é infalível. Todos nós estamos sujeitos a cometer erros. Às vezes erramos por ingenuidade, por não percebermos que a nossa conduta

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poderia contrariar alguém. Em outras circunstâncias erramos por negligência, por falta de atenção, ou porque não somos tão bonzinhos e tínhamos a intenção de levar algum tipo de vantagem.

Exagerei um pouco nas 'nossas falhas humanas', talvez até errando nas generalizações, para mostrar que cometer erros, especialmente nos relacionamentos com pessoas com as quais convivemos por mais tempo, é normal, e pode ocorrer com qualquer pessoa, mesmo com aquelas mais equilibradas, ponderadas e sensatas.

Por isso, se nós levarmos tudo a ferro e fogo, sem nos darmos conta de que as pessoas com as quais convivemos, vez ou outra, podem cometer falhas, dificilmente conseguiremos manter e preservar amizades e relacionamentos. Sei que é difícil ficar engolindo sapos, tentando compreender que qualquer um poderia ter determinados deslizes, mas não há outra forma de conviver com as pessoas.

Certa vez assisti a uma palestra da Luiza Helena, dona do Magazine Luiza, e ela comentou que quando um funcionário chega fazendo reclamações e se enchendo de razão porque foi contrariado de alguma maneira, olha bem nos olhos da pessoa e pergunta: afinal, você quer ter razão ou ser feliz?

É essa pergunta que devemos fazer a nós mesmos quando pensarmos em cortar um relacionamento com alguém que teve uma conduta inadequada: será que vale a pena nos afastarmos dessa pessoa por esse motivo? Será que não seríamos mais felizes procurando entender que qualquer outro poderia ter o mesmo comportamento? E, parafraseando a Luiza Helena: eu quero ter razão ou ser feliz?

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não julgue uma pessoa por uma atitude específica. Avalie a história de vida dela.

• Antes de romper relações com alguém, analise se não poderá relevar a falha dele.

• Mesmo tendo razão, talvez não esteja certo mantendo sua posição.

• Se julgar que um relacionamento irá prejudicá-lo, não hesite em se afastar da pessoa.

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115 115 115 115 ---- Não comece contando piada Não comece contando piada Não comece contando piada Não comece contando piada O título deste texto precisa de reparos. Combato tanto essa história de

'deve', 'não deve' em comunicação, e faço logo uma afirmação contundente como esta: não comece contando piada. Seria mais adequado dizer que é desaconselhável iniciar uma apresentação contando piadas.

Vamos refletir sobre as consequências do uso da piada na introdução da fala para que você possa decidir se deve ou não lançar mão desse recurso como técnica oratória para conquistar plateias. Você vai observar que tudo depende do seu estilo e do contexto em que estiver envolvido.

Se você iniciar uma apresentação contando piadas enfrentará pelo menos dois riscos: contar uma piada que não tenha graça, ou que tenha graça, mas seja muito conhecida. Em qualquer das duas circunstâncias a piada poderá se transformar em perigosa armadilha para seu sucesso diante do público.

Os primeiros instantes diante da plateia são os mais difíceis para o orador. A adrenalina acabou de ser despejada no nosso organismo. Estamos tentando ocupar o lugar mais adequado na frente do grupo. Procurando ouvir o som da nossa própria voz. Fazendo esforços para conquistar os ouvintes. Quase sempre, é um momento de grande desconforto e insegurança.

Suponha, então, que você, com esse desconforto, se apresente diante do público contando uma piada e perceba que a piada não teve graça. O momento que já era difícil passa a ser ainda mais constrangedor. Dependendo do momento, talvez esse contratempo prejudique o resultado da sua apresentação.

Alguns perguntam: Polito, e se a piada for boa? A situação pode ser pior. Piada boa, engraçada, se espalha com muita facilidade. Você chega contando uma piada diante da plateia, com a certeza de que todos vão achar muita graça, só que, por ser engraçada, todo mundo conhece e, por isso, ninguém ri. Desespero!

Há ainda outra questão importante a ser considerada. Todas as partes de uma apresentação, desde o início até a conclusão, devem ter interdependência. O que dizemos no começo precisa guardar relação com o meio e com o final. Se uma informação não se encaixar nessa composição, provavelmente, deveria ser retirada.

De maneira geral, mesmo a piada sendo boa e inédita deve ser evitada porque apresenta esse defeito: não guarda interdependência. Você conta a piada, as pessoas riem, mas como não possui relação com o

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assunto, deve ser deixada de lado, pois não irá contribuir para a compreensão dos ouvintes e o sucesso da mensagem.

Se, entretanto, a piada for boa, inédita e guardar interdependência com as outras etapas da apresentação, poderá ser usada e se tornar um excelente recurso de comunicação. Considere também que o risco é muito grande, pois são muitos aspectos que precisam ser considerados.

Prefira um fato bem humorado. No lugar da piada, prefira usar a presença de espírito e fazer um comentário sobre uma informação que nasça no próprio ambiente da apresentação e a transformá-la em um fato bem humorado. Se a plateia rir, excelente, você marcou um belo tento. Se não rir, não haverá problema, pois não havia a obrigação de fazer graça.

Se tiver uma boa piada, prefira contá-la no meio da apresentação, quando já estiver mais à vontade diante do público. Mesmo que a piada não tenha graça ou seja engraçada e tenha o inconveniente de ser muito conhecida, sem o nervosismo do início, poderá contornar melhor a situação.

Por fim, tenha em conta que muitas vezes a piada não guarda interdependência com o conteúdo da mensagem. Em certas circunstâncias, no meio da apresentação, poderá, entretanto, funcionar como recurso para prender a atenção ou recuperar a concentração dos ouvintes.

SUPERDICSUPERDICSUPERDICSUPERDICAS DA SEMANAAS DA SEMANAAS DA SEMANAAS DA SEMANA

• Evite piadas no início da apresentação • Prefira o uso de fatos bem humorados • Antes de contar uma piada em público, faça o teste com

amigos e familiares • Cuidado com piadas grosseiras para não cair na vulgaridade • Piadas relacionadas a raça, sexo e religião devem ser afastadas

116 116 116 116 ---- Pegue leve com os ouvintes Pegue leve com os ouvintes Pegue leve com os ouvintes Pegue leve com os ouvintes

Durante a palestra toca um celular no meio do auditório. Toca uma

vez, duas, três. Só então o ouvinte se dá conta de que se esqueceu de desligar o aparelho e que é ele o causador daquele incômodo. O orador não perdoa. Interrompe a palestra e fustiga a pessoa com críticas pela falta de respeito e de consideração.

Como consequência dessa sua atitude o palestrante quebra o ritmo da apresentação, prejudica a concentração do público e conquista a antipatia

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não só do ouvinte como também de boa parte da plateia. Especialmente quando age de maneira ríspida, destemperada ou com ironia.

Essas crises de estrelismo e de mau humor não trazem nenhum benefício para o sucesso da apresentação. Ao contrário, criam uma atmosfera negativa, adversa, que podem pôr o público em situação de desconforto e em posição defensiva.

Um renomado palestrante se apresentava diante de uma plateia numerosa em João Pessoa, na Paraíba. No início da palestra avisara que não admitiria celulares tocando durante a apresentação. Não demorou muito para que o primeiro tocasse. Demonstrando contrariedade, voltou a dizer que deveriam desligar os celulares.

Pouco depois, um ouvinte, provavelmente pensando que havia desligado o aparelho, ficou muito chateado ao perceber que o celular que estava tocando era o seu. O palestrante ficou colérico e ameaçou dizendo que na próxima vez encerraria a palestra. Sua voz indicava que ele estava muito nervoso.

Passado mais um minuto toca outro celular. O palestrante não teve dúvida, interrompeu o que estava dizendo e começou a fazer um pesado sermão sobre a falta de educação de algumas pessoas que não sabem se comportar em salas de evento. O público que estava em silêncio começou a rir, pois o celular que tocava era do próprio palestrante.

A plateia não é peça de decoração. Não é um bichinho de cem ou duzentos olhos que se mantém impassível do começo ao fim de uma palestra. As pessoas se levantam para ir ao banheiro, trocam impressões entre si, se esquecem de desligar o celular, deixam cair objetos, riem, e até ficam em silêncio.

Está certo que algumas exageram e querem aparecer mais que o palestrante. Fazem críticas e reclamam de tudo, da temperatura da sala à luz que incide sobre a tela de projeção. Esses chatos existem, mas, felizmente, são minoria nos eventos.

De maneira geral, o público é amistoso e torce pelo sucesso do orador. As pessoas não comparecem a uma palestra querendo presenciar a desgraça do palestrante. Não vibram quando ele tem branco ou se engana com números e datas. Por isso, pegue leve com a plateia. Esteja consciente de que é normal a pessoa se esquecer de desligar o telefone e ser surpreendida com uma ligação.

Quando esses fatos ocorrem algumas ficam roxas de vergonha. Se forem repreendidas pelo palestrante o constrangimento que enfrentam, às vezes, as obrigam a se retirar da sala. E, como vimos, elas não apenas se

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sentirão agredidas, como poderão conquistar a solidariedade de outros ouvintes.

Oradores experientes sabem que esses fatos ocorrem com certa frequência e aprenderam a contornar os contratempos com tanta habilidade que até torcem para que surjam fatos inesperados em suas apresentações. Veem nesses 'imprevistos' uma boa oportunidade para brincar e interagir com a plateia.

Um fato marcante ocorreu com o ex-presidente americano Ronald Reagan. Ele fazia uma palestra quando sua esposa Nancy caiu ao se sentar numa cadeira que estava bem na frente do auditório. O que poderia ser um momento de grande constrangimento foi aproveitado com presença de espírito pelo orador.

Vendo que ela não se machucara e que estava sorrindo, disse ao público: eu havia combinado com minha mulher que se não estivesse agradando ela faria essa cena, mas nunca imaginei que pudesse ser tão cedo assim. A plateia se divertiu e ele continuou a apresentação ainda mais próximo dos ouvintes.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Procure não perder o controle se algo ocorrer na plateia • Evite repreender ouvintes porque não se comportam de forma

adequada • Use a presença de espírito e brinque com os imprevistos • Se tiver de agir contra algum ouvinte, peça ajuda ao

responsável pelo evento

117 117 117 117 ---- Ruídos que matam a comunicação Ruídos que matam a comunicação Ruídos que matam a comunicação Ruídos que matam a comunicação Cada vez mais o profissional precisa contar com a boa qualidade da

comunicação para alcançar sucesso em sua carreira. Com frequência sempre maior ele participa de reuniões, de processos de negociação, apresenta projetos, concede entrevistas, abre e fecha seminários e os mais diferentes tipos de eventos.

Fica claro, por isso, que ao crescer na hierarquia da empresa o profissional mais dependerá do seu desempenho para falar em público e menos da sua qualificação técnica. Não estou dizendo que a qualificação técnica não seja importante, mas sim que nas posições mais elevadas o profissional dependerá mais da sua habilidade de se expressar verbalmente.

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Entre os problemas graves apresentados na comunicação da maioria dos profissionais aparecem os vícios de toda ordem. Temos os conhecidos 'né?', 'ta?', 'ok?', 'certo?' no final das frases; os não menos votados 'ããããã', 'ééééé' nas pausas; os desagradáveis 'bem, bom, ããããã' no início dos discursos e palestras; o 'então' democrático, que não escolhe lugar e aparece em vários pontos das apresentações, do início à conclusão.

Mencionei essa relação só para citar os mais conhecidos. Não seria difícil acrescentar uma boa dezena de outros vícios que atrapalham a comunicação e podem se tornar entraves ao desempenho do profissional e ao desenvolvimento da sua carreira. Assim que surge um novo vício imediatamente se alastra como se fosse epidemia.

Certa vez participei de um evento denominado 'Jornada de comunicação', em Olinda, PE. Eu fiz palestra sobre comunicação oral, pela manhã. Meu amigo Pasquale Cipro Neto tratou da comunicação escrita, no período da tarde.

Durante o almoço Pasquale me chamou a atenção para um fato curioso: Polito, você percebeu que a turma dessa região não usa o gerundismo? Passei a prestar mais atenção nas conversas e fiquei impressionado, ele tinha razão, o gerundismo não havia chegado por aquelas bandas.

Oito meses depois, a AESO, a mesma instituição que havia promovido aquela jornada, me convidou para dar duas aulas inaugurais na Faculdade de Comunicação. Nos dois dias em que perambulei por aquela cidade de sonho pude conviver e conversar um pouco mais com os alunos, não só da faculdade de comunicação, como também de direito e de outras áreas.

Tristeza. A praga do gerundismo já havia contaminado a garotada. O tempo todo eu ouvia: vou estar mandando, vou estar fazendo. Parecia um processo de imitação, como se falar dessa maneira creditava aos estudantes uma espécie de status de 'modernidade'.

Embora sinta ser uma luta inglória, não desisto. Durante minhas aulas tenho corrigido os alunos de maneira insistente. Mando bilhetinhos para que observem no teipe com a gravação de suas apresentações essa forma desagradável de comunicação.

Sei que há uma corrente que defende o uso do gerundismo como um processo natural da língua, que é viva e se transforma. Alguns até pedem que se apresente argumentação 'científica' para condenar seu uso. E que não vale dizer apenas que é 'feio' ou 'deselegante'.

Outros acusam àqueles que criticam o gerundismo de preconceituosos. Particularmente não gosto do seu uso. Certo ou errado,

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fruto ou não de preconceito a chance de você sair prejudicado com seu uso é enorme. Há formas mais adequadas e elegantes de se expressar.

Nos últimos tempos surgiu um novo e irritante vício - o 'na verdade'. Preste atenção e constate como muitas pessoas usam o 'na verdade' com frequência. Algumas conseguem falar um 'na verdade' a cada frase. Como tenho analisado com interesse a evolução desse vício fiquei impressionado com seu rápido crescimento. Uma praga!

Assim como o gerundismo o 'na verdade' também poderá se constituir em um ruído e até prejudicar o resultado da comunicação de qualquer profissional e se transformar em obstáculo ao seu desenvolvimento.

Preste atenção em sua maneira de se expressar. Se estiver falando 'na verdade' demais, comece a retirar o vício da sua comunicação. Deixe essa expressão apenas para reforçar e redirecionar o sentido da mensagem.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Elimine o gerundismo da sua comunicação • Afaste o 'né?', 'ta?', 'ok?' e outros vícios no final das frases • Acabe com o 'ããããã', 'ééééé' nas pausas • Evite o excesso de 'então'

118 118 118 118 ---- T T T Três defeitos na comunicação dosrês defeitos na comunicação dosrês defeitos na comunicação dosrês defeitos na comunicação dos profissionais profissionais profissionais profissionais

Há mais de trinta anos preparo profissionais para que possam falar em

público com segurança e eficiência. Independentemente do tipo de treinamento a que sejam submetidos, cursos em grupos, abertos ou in company, programas individuais, os problemas que apresentam na comunicação têm sido semelhantes ao longo dessas décadas.

Vou tratar de três deles que aparecem com maior destaque. Não são as únicas dificuldades apresentadas na comunicação verbal, podem variar de caso para caso, mas são os defeitos mais evidenciados e que trazem maior prejuízo ao resultado das exposições orais.

Falta de ordenação lógica do raciocínio - Esse é, sem dúvida, o maior problema apresentado pelos profissionais quando falam em público. De maneira geral, não sabem concatenar e estruturar o pensamento e truncam a sequência lógica do discurso. A maioria tem dificuldade para ordenar as ideias.

É comum observar profissionais, até com boa experiência de tribuna, sem a mínima noção de como iniciar, desenvolver e concluir uma apresentação. Alguns, afoitos, não preparam de forma conveniente o

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assunto, não se preocupam em conquistar os ouvintes e entram diretamente no tema central.

Não são poucos aqueles que pulam de uma etapa para outra sem nenhum planejamento. No momento de finalizar voltam para a introdução, em seguida repetem os argumentos que já haviam sido criteriosamente expostos, tornando-os frágeis pelo excesso de repetição. Por isso, tenha o cuidado de organizar com bastante critério tudo que pretende transmitir.

Leia este texto para aprender a ordenar bem o raciocínio e a planejar de maneira organizada suas apresentações.

O medo de falar em público - o medo desencadeia incontáveis problemas e prejudica a eficiência da comunicação. Quando o profissional é tomado pelo medo não consegue adequar o volume da voz ao ambiente onde se apresenta. Perde a naturalidade. Reage de maneira agressiva. Fica com o raciocínio truncado. Fala rápido ou devagar demais. Enfim, revela desconforto e se mostra incompetente para falar em público.

Praticamente todos os executivos que me procuram revelam que não se conformam com o desconforto que sentem ao falar em público. Dizem que é um sentimento que não combina com a experiência e a posição que ocupam.

Leia este texto para entender o mecanismo do medo, saber quais são suas causas e aprender como combatê-lo de maneira eficiente.

Descontrole da expressão corporal - Anthony Giddens, destacado como o mais importante filósofo social inglês dos tempos atuais, na obra 'Modernidade e identidade', afirma que: 'Aprender a tornar-se um agente competente - capaz de se juntar aos outros em bases iguais na produção e reprodução de relações sociais - é ser capaz de exercer um monitoramento contínuo e bem-sucedido da face e do corpo'.

É possível deduzir por essa afirmação que para você se sentir competente precisa manter o domínio sobre o corpo em todas as situações sociais. Além disso, o autor afirma que 'ser um agente competente significa não só manter tal controle contínuo, mas ser percebido pelos outros quando o faz'.

São dois motivos relevantes para que você aprenda a usar a postura, a gesticulação e a comunicação facial de maneira correta e segura. O primeiro é que você precisa monitorar sempre o seu corpo para que se sinta com o domínio das ações e se mostre competente e confiante. É uma espécie de porto-seguro que lhe dará tranquilidade e segurança. O segundo, é que esse domínio deve ser percebido pelos outros.

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Se, por acaso, a primeira condição não puder ser atendida, ou seja, você não conseguir manter o controle do corpo, perderá sua proteção e sua confiança básica será ameaçada. Conseqüentemente a segunda condição será afetada, pois os outros perceberão este descontrole e poderão desconfiar da sua competência.

Leia este texto para saber como ter boa postura e aprender a gesticular de maneira correta.

Com mais ou menos profundidade já tratei de todos esses aspectos da comunicação em textos publicados nesta mesma coluna do UOL. Por isso, pus links nos itens para que você possa rever e se aprofundar em cada um desses conceitos. Nas matérias indicadas você encontrará orientação adequada para resolver todos os problemas de comunicação que acabei de mencionar.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Leia as matérias sugeridas neste texto • Comece já a combater o medo de falar em público. Ele poderá

ser vencido sempre • Aprenda a usar o corpo diante da plateia como já faz no dia a

dia • Habitue-se a planejar suas apresentações. Tenha começo, meio

e fim

119 119 119 119 ---- Luxemburgo x Mano Menezes Luxemburgo x Mano Menezes Luxemburgo x Mano Menezes Luxemburgo x Mano Menezes Gosto de futebol. Segundo meus amigos de infância até cheguei a

bater uma bolinha redonda. Tenho consciência, entretanto, de que se tivesse continuado me tornaria um jogador medíocre. Por causa da violência não assisto mais aos jogos no campo. A última vez que entrei num estádio fui levar minha mãe para assistir ao Palmeiras derrotar o Juventus por 4 a 1. Naquele jogo em que o goleiro Marcos machucou o ombro.

Poucas coisas me dão tanto prazer quanto assistir a uma partida de futebol com minha mãe, Lúcia, que está com mais de 80 anos. Xingamos o juiz, os bandeirinhas, os jogadores que perdem gols. Depois rimos das besteiras que dissemos no calor da emoção.

Ela acompanha tudo. Sabe quem joga, quem está machucado, suspenso, afastado por motivos técnicos. Se não fosse por outro motivo, só essa alegria que o futebol dá a ela seria suficiente para eu gostar desse esporte.

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Sou admirador de dois técnicos. Um que passei a gostar nos últimos tempos, Mano Menezes. Outro que considero o melhor técnico da história do futebol brasileiro, Wanderley Luxemburgo. Os dois sabem como montar um bom time usando os jogadores que têm em mãos. Conseguem alterar resultados explorando as qualidades do seu grupo e atacando os pontos vulneráveis do adversário.

Não se compara a carreira de um e do outro. Luxemburgo já conquistou praticamente tudo o que pode ser possível a um técnico. Acredito até que vencer um campeonato mundial e brilhar nos melhores clubes da Europa será apenas questão de tempo. Ele é jovem e tem muito caminho a trilhar. Mano começou há pouco a obter suas conquistas importantes.

Não é meu objetivo, portanto, comparar a competência dos dois treinadores, mas sim analisar a capacidade de se comunicar e de se relacionar de cada um deles. Mostrar como um comportamento temperamental cria antipatias e até ressentimentos. Enquanto o jeito equilibrado e sensato de se expressar dá condições de afastar conflitos e pressões com mais facilidade.

Não sou ingênuo nesse aspecto. Sei que técnico vive de resultados. Se o time vencer, o treinador é gênio. Se perder, vira burro de um dia para outro. Pode ganhar todas as partidas, mas, se fracassar no jogo final e não conquistar o campeonato, todos os méritos são rapidamente esquecidos. Fica sempre mais fácil para a diretoria do clube trocar de técnico e acalmar os torcedores que acreditar na sequência de um bom projeto.

É tudo muito emocional. É como se não existisse distância entre o paraíso e o inferno. Um técnico pode entrar em campo aplaudido e sair vaiado, como se tivesse desaprendido a dirigir o time naquela partida. Boa parte da imprensa também embarca nessa emoção coletiva e chega a botar mais lenha na fogueira.

O que toda essa conversa tem a ver com a vida corporativa? Tudo. Sou presidente de uma ONG (http://www.viadeacesso.org.br/) que atua na capacitação de estudantes para ingressarem no mercado de trabalho. Nessa minha atividade voluntária constatei um fato impressionante: de maneira geral, as pessoas são contratadas pela competência e demitidas pelo comportamento.

Quebra de hierarquia, falta de pontualidade, formação de panelas, declarações indevidas são algumas atitudes que servem de motivo para demissão. Quando não perdem o emprego devido a esse comportamento inconveniente têm a carreira estagnada, sem condições de progredir.

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Talvez aí resida a maior diferença entre Luxa e Mano. Enquanto o primeiro tem dificuldade para segurar seus ímpetos, discutindo com parcela da torcida, grupos de jornalistas e outros agentes do futebol, este último consegue se relacionar de maneira mais habilidosa. Luxemburgo não perde oportunidade para ressaltar seus próprios feitos. Mano é mais discreto quando fala de si mesmo.

Aqueles que se ressentem com os comentários agressivos ou destemperados nem sempre reagem de forma clara e explícita. Atacam com sutileza para disfarçar seu rancor, mas o suficiente para minar a imagem do desafeto. É um recurso perverso, pois posam de analistas imparciais, mas estão batendo de bico no tornozelo.

Uma das táticas é a de pôr a informação negativa no final da frase. Por exemplo: ele é um treinador muito competente, mas egocêntrico. Ele é um técnico vitorioso, mas está sempre arrumando encrenca. A mensagem mudaria de sentido se as frases fossem invertidas: ele é egocêntrico, mas um treinador muito competente. Ele arruma encrenca, mas é um técnico vitorioso.

Colocar a informação negativa ou positiva no início ou no final da frase faz toda a diferença. O que leva torcedores, dirigentes e a imprensa a optar por uma forma ou outra é o comportamento e a maneira de se comunicar de Luxemburgo. Por causa de suas atitudes nem sempre simpáticas acaba batendo de frente e prejudicando sua imagem.

Mano Menezes é mais ponderado em seus pronunciamentos. Sabe como se comunicar para evitar conflitos. Esconde com sabedoria seu descontentamento. Quando, por exemplo, foi pressionado porque Ronaldo passara alguns jogos sem marcar gols e praticamente sem participar das partidas, mesmo estando em campo, o técnico corintiano foi magistral: Ronaldo precisa receber apenas quatro bolas durante a partida para fazer o resultado. Ponto.

Só para mostrar melhor como tudo é questão de comportamento. Luxemburgo é conhecido como 'reclamão' por causa dos comentários que costuma fazer contra as arbitragens. Se você observar bem, talvez Mano até reclame mais que ele, mas terminado o jogo fica na dele, e quando critica não altera a voz e mantém o semblante sereno.

Na vida corporativa as relações interpessoais funcionam de maneira semelhante. Profissionais com destacada competência são às vezes preteridos por causa da forma como agem e se comunicam.

Falta a alguns a habilidade diplomática para evitar confrontos desnecessários. Criticam ações de seus pares sem considerar os sentimentos, as aspirações, as carências, a insegurança de cada um deles.

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Contestam ideias sem levar em conta que por trás de projetos e propostas há profissionais que desejam preservar a imagem e garantir o sucesso de suas carreiras. Ao perceberem que suas ideias são atacadas costumam se defender como se recebessem uma agressão pessoal.

A maneira inteligente, sensata, equilibrada de se relacionar na vida, no ambiente corporativo em particular, pode, portanto, valer até mais que a competência profissional. São essas lições que podemos aprender ao observar a forma de se comportar de profissionais como Luxemburgo e Mano Menezes.

Portanto, conta muito para o sucesso da nossa carreira a forma como defendemos nossas posições, como reagimos nos momentos de pressão, como nos relacionamos com aqueles que nos são ou não simpáticos e como encontramos saídas para os diferentes problemas que somos obrigados a enfrentar com os assuntos associados às nossas atividades

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Ouça as entrevistas de Mano Menezes. Analise como agiria em seu lugar

• Ouça as entrevistas de Luxemburgo. Analise como agiria em seu lugar

• Aprenda a discordar sem magoar as pessoas • Procure se colocar no lugar da pessoa com quem discute

120 120 120 120 ---- Controle o falador Controle o falador Controle o falador Controle o falador

Há pessoas que gostam de falar. Algumas são até simpáticas,

agradáveis e alegram os encontros sociais. Sempre dispostas a contar histórias interessantes, bem-humoradas, que divertem e animam os encontros.

São sensatas. Se alguém entra com algum comentário, se calam respeitosamente dando a palavra para que outros possam participar. Retomam a fala quando questionadas ou nos momentos em que ocorre o silêncio social. São recebidas de braços abertos em qualquer roda de conversa.

Não faltam, entretanto, aqueles que se tornam chatos com seu falatório. Ligam a matraca e falam, falam, falam até que a última vítima sucumba e bata em retirada. Abandonados, mas ainda cheios de energia, se lançam à caça de novos ouvidos e com ânimo renovado repetem as mesmas 'velhidades'.

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Nas conversas sociais, se você não estiver com vontade de suportar o falador, basta dar uma desculpa qualquer e se retirar. Poderá dizer, por exemplo, que precisa resolver uma questão com alguém que esteja em outra roda de conversa. Se, por acaso, essa outra roda não existir, poderá ainda alegar a necessidade urgente de dar um telefonema.

A situação se torna mais delicada se você estiver proferindo uma palestra. Nessa circunstância, se um ouvinte desandar a falar ao invés de apenas fazer uma pergunta, será preciso interrompê-lo. Se você não tomar essa providência poderá prejudicar sua apresentação.

É preciso tomar as rédeas nas mãos e não deixar que o ouvinte faça o discurso no seu lugar. A melhor maneira de contornar o problema é interromper a pessoa com um elogio. Ao ser elogiado, provavelmente, ele irá se calar para ouvir o que você tem a dizer a respeito dele. Tendo a palavra de volta você poderá continuar.

Mais complicado ainda é enfrentar em reuniões pessoas que gostam de falar muito. Se um participante falar demais em uma reunião, impedirá que os assuntos propostos na pauta sejam discutidos, não dará oportunidade para que os outros se manifestem, não permitirá que o tempo determinado para o encerramento seja cumprido.

Como já mencionei o fato de uma pessoa gostar de falar não significa que ela seja chata ou desagradável. Algumas são até muito simpáticas, comunicativas e cativantes. Sempre têm uma boa história para contar, dão opinião sobre quase todos os assuntos, de maneira geral por tempo prolongado, falam alto e riem ruidosamente.

Independentemente de serem ou não agradáveis, todavia, não deveriam falar demais nas reuniões. E seria aconselhável que deixassem para usar a conversa simpática em outras circunstâncias. Como esse é um tipo difícil de ser controlado, é preciso ter personalidade forte e atenção redobrada para evitar que atrapalhem a reunião.

Uma boa solução é conversar com a pessoa antes da reunião e explicar de forma delicada que o seu comportamento prejudica o andamento dos trabalhos e a participação dos demais componentes do grupo.

Se durante a reunião você perceber que o acordo não deu resultado e ela continua com a conversa de sempre, não hesite em pedir que só fale quando chegar a vez dela. Interrompa-a sempre que se manifestar fora de hora.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Fale só o necessário • Aprenda a contar histórias curtas e interessantes • Se alguém deseja falar é melhor você continuar calado • Se não estiver com vontade de ouvir, arrume uma desculpa e

se afaste

121 121 121 121 ---- A felicidade está em casa A felicidade está em casa A felicidade está em casa A felicidade está em casa Às vezes ficamos tão preocupados em manter um bom

relacionamento com as pessoas que trabalham conosco que chegamos a nos esquecer de que a boa convivência deve começar dentro da nossa própria casa. Quem consegue se relacionar bem com parentes e amigos têm mais facilidade para estreitar os contatos no ambiente profissional.

Nem sempre temos consciência de que as pessoas da nossa própria família, de maneira geral, são as primeiras que desconsideramos. Pense bem, como tem sido o seu relacionamento com as pessoas da sua família. Você tem conversado com os filhos, com a esposa, com o marido, com os pais, com os irmãos? E que tipo de contato tem sido? Só olá, tchau e uma ou outra pergunta ou comentário, quase como se fosse obrigação?

O que poderia existir de mais importante do que olhar nos olhos daqueles que fazem parte da nossa família e procurar saber com sinceridade se estão com algum problema, se possuem algum plano, se estão se dedicando a alguma causa, se estão se sentindo sozinhos, tristes, ou se estão precisando de alguém para comemorar uma vitória?

Criticar o filho ou o irmão porque foi mal em alguma matéria na escola, ou se desentendeu sem motivo com amigos ou colegas de trabalho, é fácil. Montamos o nosso tribunal de acusação e baixamos a sentença de culpado. Mas será que nossa indiferença e descaso nos momentos em que eles se sentiram sozinhos e sem saber a quem recorrer não contribuíram para que a situação tivesse esse fim?

Não estou dizendo que somos culpados pelos problemas das pessoas que estão à nossa volta, mas sim que se agíssemos de maneira mais solidária e presente talvez o resultado pudesse ser diferente. Você pode estar pensando: 'Mas, por que eles também não se preocupam comigo? Será que só eu devo levantar essa bandeira? Se alguém precisa tomar a iniciativa, e se ninguém fez nada até agora, considere-se escalado para essa missão - e em beneficio próprio.

Às vezes passamos dias e até semanas sem um contato mais próximo com nossos pais. As pessoas quando envelhecem ficam ansiosas, perdem

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um pouco a paciência, tornam-se exigentes, em alguns casos até rabugentas, mas acima de tudo se sentem sozinhas e carentes de atenção.

Não existe prazer maior para elas do que quando encontram alguém disposto a ouvir suas histórias. Separe alguns minutos do seu dia para se dedicar a esse contato com as pessoas mais idosas da sua família. São apenas alguns minutos e se não puder ser todos os dias que seja pelo menos uma ou duas vezes por semana.

Nada de ouvir, entretanto, com aquele jeito de quem está atrasado para algum compromisso e torcendo para a conversa acabar e poder cair fora. Nada disso. Faça desse momento um ritual de atenção e de interesse verdadeiro. Sente-se sem pressa e demonstre que aquele momento está sendo dedicado para ouvir e contar alguns casos interessantes. E não se incomode se tiver de ouvir as mesmas histórias que já ouviu dezenas de vezes. Lembre-se de que as histórias serão apenas o pretexto para que exista maior aproximação.

Esse deve ser um plano de curtíssimo prazo, que não pode ser adiado de jeito nenhum. Amanhã nossa vida poderá se transformar inesperadamente com a mudança de emprego que nos leva para uma cidade distante, ou nos confina em projetos que por longo tempo nos retiram do convívio com a família. Sem contar que com o passar do tempo chegará o dia em que eles irão nos deixar, e aí serão apenas lembranças. E essas recordações serão o resultado da qualidade dos contatos que mantivermos agora.

Cuidado. Se você não estiver acostumado a conversar de maneira mais profunda com seus familiares, a tendência é a de começar a falar com o tom de quem faz um interrogatório ou carrega a receita irretocável de como as pessoas devem se comportar. Por isso, nada de fazer sermão ou cobrar mudanças de conduta, apenas se aproxime para conversar.

Embora essa oportunidade de aproximação possa servir para resolver problemas, não imagine que esse deva ser o único objetivo. Ao contrário, será sempre muito agradável se puder se divertir, contar umas piadas e rir sem reservas.

Você conhece bem as pessoas da sua família e sabe quais são as características de cada uma. Umas são mais diretas e objetivas, outras preferem explicar os fatos com detalhes e pormenores, enfim, são pessoas diferentes e que possuem maneiras próprias de se relacionar. E aí é que está o segredo da boa comunicação com os familiares - falar com cada um de acordo com a personalidade e o jeito de ser deles.

Não espere para pensar nas pessoas da família apenas quando ficarem doentes, estiverem distantes ou morrerem. Não, aproxime-se delas agora e

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faça do bom relacionamento com elas a base da sua disposição para viver bem.

Dá trabalho, exige dedicação, mas os resultados são muito compensadores, pois, além de melhorar o relacionamento e tornar o ambiente mais agradável, é também um excelente exercício de comunicação que será útil em todas as circunstâncias da vida.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Reserve um tempo para conversar com as pessoas mais idosas da família

• Evite criticar filhos, irmãos ou cônjuge sem necessidade • Quando conversar em casa demonstre interesse e dê atenção

exclusiva • Marque um jantar ou passeio inesperado com algum familiar • Recorte assuntos que interessem a alguém da família e envie a

ele • Ligue de vez em quando só para saber como estão os familiares

122 122 122 122 ---- Melhore o relacionamento no trabalho Melhore o relacionamento no trabalho Melhore o relacionamento no trabalho Melhore o relacionamento no trabalho

Na última semana escrevi sobre como melhorar o relacionamento

com as pessoas da família conversando mais com a esposa, o marido, os filhos e os pais. Agora quero falar como o relacionamento com os colegas de trabalho e as pessoas com as quais convivemos na vida corporativa também pode melhor com a boa comunicação.

A cada dia recebemos notícias de empresas que passaram por processo de fusão e que por isso reduziram o quadro de pessoal. Profissionais que eram considerados intocáveis, por causa da competência e dos anos de trabalho dedicados à empresa, são demitidos de um dia para o outro e se veem desnorteados, sem saber que rumo tomar.

Por isso, as pessoas estão em permanente desconforto e se sentem intranquilas com a possibilidade de enfrentar o mesmo destino. Ainda que não exista esse risco, devemos considerar que o dia a dia profissional é feito sempre de muita pressão, cobranças, metas, resultados e incertezas. Portanto, melhorar e ampliar o relacionamento se constitui na mais importante arma para enfrentar e vencer todos esses desafios.

Olhe o seu colega de trabalho como uma pessoa que precisa de palavras de estímulo e encorajamento e como alguém que poderá ajudá-lo a superar dificuldades e a abrir portas para novos caminhos que tenha de percorrer.

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São os detalhes que estreitam o relacionamento, por isso, fique atento a eles.

Se o colega de trabalho estava se preparando para as provas da faculdade, ou se o filho dele havia feito inscrição para algum exame, lembre-se de perguntar sobre o resultado. Se alguém da família estava doente, não se esqueça de se informar se a pessoa já se recuperou.

Não custará nada também, uma vez ou outra, permanecer um pouco além do horário do expediente para ajudá-lo em alguma atividade mais complexa que você conheça e possa ser útil. Esse comportamento solidário poderá aproximá-lo das pessoas e torná-las prontas para retribuir sua generosidade.

Ah, mas e se elas não se mostrarem dispostas a se aproximar, ou se forem ingratas e não retribuírem? Não se preocupe, sua parte foi cumprida e o que estava ao seu alcance foi feito. Siga a vida com a consciência tranquila. De maneira geral, entretanto, você se surpreenderá com a boa receptividade que terá com suas ações.

Aja da mesma maneira também fora dos muros da empresa. Você já deve ter ouvido que o número de pessoas empregadas por indicação é muito maior do que pelos métodos profissionais de recrutamento. É por esse motivo que a rede de contatos se intensifica a cada dia, o conhecido network.

Procure manter contatos de boa qualidade com cada pessoa que conhecer ou reencontrar. Normalmente conversamos com as pessoas que não são do nosso relacionamento mais íntimo, no máximo meia dúzia de vezes durante a vida toda. E a opinião que temos a respeito delas e que elas têm sobre nós é fruto desses poucos contatos.

Por isso, ao conversar com qualquer pessoa lembre-se de que esse momento servirá para que sua imagem seja construída. Não negligencie esses instantes de convivência, nem os encare como um fato passageiro, sem conseqüências, pois dependendo de como você se comportar determinará a maneira como será lembrado.

Com as atribulações do dia a dia se torna quase impossível visitar as pessoas. E, se insistirmos nessa prática, corremos o risco de incomodá-las. Mas nada impede que de vez em quando, com todo cuidado, desde que marcado com antecedência, sem surpresas inconvenientes, encontremos oportunidade de ter um contato mais próximo.

Transforme esses encontros em momentos de convivência agradável, que possam ser lembrados com alegria. Por favor, não ligue para as pessoas, como faz a maioria, apenas quando precisar de alguma ajuda. Esse tipo de contato é visto como interesseiro e oportunista. Entre em

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contato para não pedir nada, apenas para saber se está tudo bem, se precisam de algum tipo de auxílio.

Você notará que ao agir assim, de maneira desinteressada, nas primeiras vezes as pessoas até estranham, pois julgam que o telefonema tinha algum interesse oculto. Com o passar do tempo, entretanto, acostumam-se a atendê-lo sem demonstrar nenhum tipo de resistência. E se um dia, por acaso, você precisar mesmo de ajuda encontrará alguém mais disposto a colaborar.

Faça uma relação de e-mails das pessoas com quem desejará se corresponder e periodicamente mande uma mensagem falando sobre algum assunto que possa interessar a elas. Não tenha preguiça de mandar mensagens cumprimentando por todos os bons motivos: por uma nomeação para um cargo importante, por uma promoção, por uma entrevista dada a uma emissora de rádio ou televisão, enfim, por qualquer motivo que mereça ser comemorado.

Tome cuidado, entretanto, com o envio de piadas. Embora elas possam ser encaminhadas com um simples clique no teclado do computador e não consumir tempo, para quem recebe, e que normalmente está muito atarefado, poderá parecer coisa de gente desocupada, que não tem nada importante para fazer.

São atitudes simples, que não dão trabalho e que podem ampliar consideravelmente o relacionamento tanto com as pessoas com as quais já convive no ambiente de trabalho quanto com aquelas que conheceu mais recentemente. Observe sua lista de contatos e veja como ela se ampliará em pouquíssimo tempo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Cumprimente os colegas de trabalho pelas conquistas deles • Ofereça ajuda quando perceber que estejam precisando • Trate muito bem as pessoas mesmo que as encontre raramente • Mande e-mails com notícias que sabe ser do interesse delas

123 123 123 123 ---- Nuvem rabo de galo Nuvem rabo de galo Nuvem rabo de galo Nuvem rabo de galo

Ando meio na contramão das críticas que fazem à linguagem dos

jovens. Há pouco tempo fiquei surpreso ao assistir a uma palestra do meu amigo Waldez Ludwig, um dos melhores palestrantes do país, e constatar que ele pensa da mesma maneira que eu. De forma geral, entretanto, as pessoas não gostam de como os jovens se expressam para falar e escrever.

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Por estranha que possa parecer, a maneira como os jovens se comunicam, seja na linguagem oral ou escrita, no final é a que irá prevalecer. Em vez de criticar, os educadores deveriam aproveitar essa comunicação solta e quase irreverente para estimular o jovem ao aprendizado. Como já fazem os professores mais criativos e competentes.

Ficar preso à linguagem do passado é perda de tempo. Basta observar como os nossos avôs se comunicavam, e eram criticados pelos nossos bisavôs. Como nossos pais falavam, e eram criticados pelos nossos avôs. Como nós falamos, e fomos criticados pelos nossos pais. Como nossos filhos se expressam, e são criticados por nós. E sempre vingou a linguagem das gerações mais recentes, não das mais antigas.

O desenvolvimento tecnológico, os costumes, as tendências viram a sociedade de cabeça para baixo. Enquanto as gerações passadas são migrantes no mundo tecnológico, a atual já vem pronta de fábrica com os chips na cabeça. São formas distintas de se relacionar, de interagir, de se expressar. Tanto para falar quanto para escrever.

Os jovens hoje se comunicam muito mais que os da minha geração. Que tipo de experiência eu e meus contemporâneos tínhamos para escrever? Quase nenhuma. Era uma redação para as aulas de português aqui, uma cartinha para a namorada ou o namorado ali. E só. A não ser que a profissão exigisse habilidades para redigir textos, o que não era comum. Pouca gente escrevia.

Hoje não. Os jovens se contatam e se relacionam o tempo todo. Marcam encontros, contam as novidades, participam de blogs, de portais de relacionamento, estão sempre se comunicando. Lembro-me de que a primeira redação que fazíamos após as férias era 'Como foram minhas férias'. Hoje os jovens contam para os amigos o que estão fazendo nas férias o tempo todo. É quase uma redação por dia.

Se a linguagem é estranha e na base das abreviações, o treino para concatenar as ideias e organizar o raciocínio é permanente. Se alguém não conseguir expressar o que está pensando, vendo ou sentindo os colegas não vão entender a mensagem. Portanto, eles se entendem mesmo usando o 'internetês': vc para você, tb para também, tc para teclar.

Embora a comunicação oral não seja tão simplificada, também aí os jovens se valem de certos grunhidos para se entender. Com o passar do tempo eliminam o exagero e adotam uma linguagem que identifica e corporifica o pensamento em todas as circunstâncias.

Se o conhecimento do jovem para assuntos ligados à tecnologia e às novidades é superior ao de qualquer outra geração, há, entretanto, uma sabedoria cultivada pela experiência dos mais velhos que se torna quase

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imbatível. Reflita, você pediria conselho sobre questões sérias, que pudessem comprometer o relacionamento familiar, ou determinar os rumos da vida, por exemplo, ao seu filho ou ao seu pai ou ao seu avô?

Meu avô legou ensinamentos a minha mãe Lúcia que, às vezes, me deixam perplexo. Ele sabia exatamente quando deveria preparar a semente para o plantio só de olhar para as nuvens: 'o céu está com nuvens de rabo de galo, amanhã cedo vai chover'. Pimba, no dia seguinte a chuva estava lá molhando a terra, como ele havia previsto.

Minha mãe aprendeu e acerta todas. Basta olhar para o céu e encontrar uma nuvem rabo de galo. Tenho acompanhado suas previsões e me espanto com a quantidade de acertos. Nesta semana tirei uma foto de uma perfeita nuvem tipo rabo de galo e está aí para você conhecer. Nesse dia caiu um toró.

Eu também andei metido a meteorologista. Sempre que um papagaio do vizinho desandava a falar chovia. Contei para os amigos: 'acerto todas. É só o papagaio falar de manhã que chove'. Uma semana depois caiu uma tromba d'água. Como eu não havia falado nada, um deles perguntou: 'ué, o papagaio morreu?'.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Antes de criticar, procure compreender a linguagem dos jovens • Os jovens se sentem estimulados quando percebem que a

linguagem deles é considerada • Para questões sérias e relevantes nada como a sabedoria das

gerações passadas • O ideal é mesclar sempre a novidade do jovem com a

experiência dos mais velhos

124 124 124 124 ---- Nas reuniões, fale em alto e bom tom Nas reuniões, fale em alto e bom tom Nas reuniões, fale em alto e bom tom Nas reuniões, fale em alto e bom tom Talvez não haja local mais apropriado para você falar de suas

realizações e demonstrar sua competência que nas reuniões. Independentemente de você expor ideias, planos ou projetos aos subordinados, pares ou superiores hierárquicos são essas ocasiões as mais propícias para que conheçam seu desempenho profissional.

Entre os requisitos importantes para que possa ter boa participação nas reuniões podemos mencionar: correta ordenação do pensamento, linha de argumentação consistente, vocabulário técnico adequado à compreensão dos demais participantes, conhecimento das características do grupo e o tipo de objeções que poderão manifestar.

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Dependendo do tipo de apresentação que tenha de fazer, considerando ainda a complexidade do tema e o tempo necessário para a exposição, é recomendável também a utilização de recursos audiovisuais que destaquem as informações relevantes, facilitem o acompanhamento do raciocínio e permitam a retenção da mensagem por tempo mais prolongado.

De nada adiantará, entretanto, considerar todos esses aspectos que, de maneira geral, consomem muito tempo de preparação e exigem até gastos elevados, se você não levar em conta um item que, apesar de não consumir tempo nem dinheiro, acaba sendo negligenciado por alguns profissionais: o volume da voz.

Talvez você queira até me censurar nesse momento: 'não é possível que o Polito esteja querendo me chamar a atenção para o volume da voz diante de tantos pontos mais importantes para que alguém tenha sucesso nas reuniões'. Pois é, exatamente por parecer insignificante diante de tantos aspectos já mencionados que o volume da voz, às vezes, não recebe a atenção devida.

Assim que você chegar ao local da reunião avalie as condições da sala para que sua voz seja bem ouvida por todos os participantes. Depois de o profissional adquirir alguma experiência bastará uma rápida olhada no ambiente para saber como deverá se comportar.

Observe a acústica da sala e a distância que ficará dos últimos ouvintes. Esses devem ser os primeiros detalhes a ser avaliados. Você não poderá sussurrar em salas amplas, destinadas às grandes reuniões, pois correrá o risco de não ser ouvido, como também não poderá falar aos gritos diante de pequenos grupos, já que nesse caso as pessoas poderiam se sentir agredidas.

Já que estamos falando no tamanho e na acústica da sala, para que você possa determinar o volume adequado da voz é importante saber se terá ou não à sua disposição microfone com aparelhagem de som. De maneira geral, em reuniões nas empresas, que contam com número pequeno de participantes, o microfone é dispensável. Em ambientes maiores, com a presença de mais de 50 participantes, o microfone pode ser útil.

Para usar bem o microfone posicione-o um pouco abaixo da boca, mais ou menos na altura do queixo. Assim aproveitará de forma correta o campo de ganho de som e não esconderá o semblante atrás do aparelho. Você irá se afastar ou se aproximar do microfone de acordo com a sensibilidade do aparelho.

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Sempre que virar a cabeça de um lado ou de outro mantenha a boca na direção do microfone. Para não errar basta seguir essa sugestão simples: fale sempre olhando sobre o microfone. Se agir com naturalidade, ninguém irá notar que você está de propósito se valendo de técnicas.

Observe as condições do ambiente. Verifique também se a sala possui carpetes e cortinas que podem abafar o som. Nesse caso você já saberá que precisa falar um pouco mais alto. Se há janelas abertas com ruídos externos. Nesse caso se será possível ou não fechá-las. Ou, se o ar condicionado é barulhento. Se a porta da sala permanece aberta com pessoas passando com frequência no local.

A partir dessas observações você irá determinar o volume de voz adequado para a reunião. A experiência demonstra que, se você falar um pouco mais alto do que seria suficiente para que as pessoas ouvissem, irá demonstrar mais envolvimento e disposição na defesa de suas ideias. Tomando sempre o cuidado, lógico, para não exagerar.

Com essas precauções com relação ao volume da voz você irá valorizar ainda mais todos os outros aspectos envolvidos na reunião e ampliará suas chances de sucesso. Passe a observar o comportamento de outros profissionais quando se apresentam nas reuniões. Você irá constatar como o volume da voz é importante no resultado das exposições.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Observe bem os detalhes da sala de reunião para adequar o volume da voz

• Avalie a acústica da sala e a que distância ficará dos últimos ouvintes

• Veja se no local há muito carpete e cortinas que abafam o som • Em grandes ambientes, use o microfone • Fale um pouco mais alto do que seria suficiente para as pessoas

ouvirem

125 125 125 125 ---- O filósofo e Roberto Carlos O filósofo e Roberto Carlos O filósofo e Roberto Carlos O filósofo e Roberto Carlos É muito curioso observar nas salas de equipamentos de algumas

empresas o velho convivendo com o novo. No alto da prateleira vemos um aparelho que projeta disco blu-ray, com capacidade que varia de 25 a 50 gigabytes, enquanto no outro canto, ainda em perfeitas condições de uso, um retroprojetor modelo 66.

Essa convivência do passado com o presente ainda deve perdurar por alguns anos. O fato de equipamentos de alta tecnologia serem lançados a

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todo o momento não elimina a utilidade de aparelhos que até ontem frequentavam as mais sofisticadas salas de eventos.

Embora tenha todas as limitações, um retroprojetor ou um projetor de slides, por exemplo, poderá cumprir perfeitamente o papel de apoiar palestras e conferências. Desde que o aparelho consiga projetar telas que destaquem as informações relevantes, facilitem o acompanhamento do raciocínio e permitam que a plateia se lembre das informações por tempo prolongado será tão útil quanto qualquer outro.

Na última sexta feira, dia 21 de agosto, tive uma experiência intrigante a esse respeito. No período da tarde realizei um antigo sonho, fui assistir a uma conferência de um dos filósofos que mais admiro na atualidade, Pierre Lévy. Ele se apresentou no Sesc Santana para tratar do tema 'Em direção à civilização da inteligência coletiva'.

De maneira didática e bem-humorada Pierre Lévy falou sobre o impacto dessa nova era que mudou e está mudando radicalmente a forma de nos comunicar e de viver. Para o autor de 'Cibercultura', todos estamos em comunicação, não apenas como receptores, mas também como produtores de conteúdo. Esse é um processo irreversível. Nada mais novo e atual que esses conceitos.

No mesmo dia, no período da noite, mudei o roteiro e fui assistir ao show do Roberto Carlos, no ginásio do Ibirapuera. Cheguei com bastante antecedência, mas os lugares já estavam praticamente tomados. Tive de me apertar para conseguir ficar ao lado do palco. Quando o Rei apareceu, o ginásio quase foi abaixo.

Nessa turnê que Roberto Carlos faz por diversas cidades brasileiras, ele comemora seus 50 anos de carreira. Por mais que suas novas músicas sejam atraentes, a plateia só fica satisfeita se ele cantar também as velhas canções. Eu também me emocionei quando o cantor interpretou músicas que marcaram minha juventude. E ponderei sobre a importância de nossa história, de nosso passado, daquilo que faz, enfim, sermos o que somos -nossas emoções, nossos afetos, nossas alegrias e tristezas.

Além de constatar que é possível tocar a mesma plateia tanto com as mensagens novas quanto com as antigas, dependendo apenas da forma como o assunto seja abordado, no show do Roberto Carlos ocorreu um fato curioso. Em determinado momento, dos raros em que ele conversa com a plateia, mencionou que havia gravado um disco.

Riu ao perceber que não era mais disco, mas sim DVD, ou melhor, blu-ray. Interessante que nessa simples frase, procurando se corrigir, o cantor fez um retrospecto completo dos eus 50 anos de carreira: disco, DVD e blu-ray.

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Nessa mesma sexta feira ouvi dois de meus ídolos. O filósofo Pierre Lévy falando do futuro e de como vamos nos comunicar a partir de agora, recebendo e produzindo conteúdos. E Roberto Carlos cantando músicas que compôs há mais de 40 anos. Os dois me tocaram com sua mensagem e me emocionaram, independentemente da época a que se referiram.

O velho e o novo não são melhores nem piores. Aprender a conviver com o passado, o presente e o futuro pode ser importante para que a nossa mente esteja aberta, sem preconceitos, para avaliar apenas o que tenha ou não qualidade.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Geralmente tememos o novo por ainda ser desconhecido • Conhecer as novidades nos deixa atualizados, mesmo que não

gostemos delas • Estudar o passado é um bom caminho para saber como será o

futuro • Ninguém consegue se aprofundar em cada assunto novo. Por

isso faça escolhas 126 126 126 126 ---- Dicas para você enfrentar o medo de falar em Dicas para você enfrentar o medo de falar em Dicas para você enfrentar o medo de falar em Dicas para você enfrentar o medo de falar em público público público público Se você é um profissional que de vez em quando precisa falar em

público, seja em reuniões dentro da própria empresa, seja em ambientes externos nos contatos com clientes, fornecedores, investidores, sindicalistas, e não se sente confortável ao chegar diante da plateia, aqui vão algumas dicas para que possa ficar mais à vontade nessas situações.

1111---- O início é o momento mais difícil da apresentação. A adrenalina acabou de ser liberada e você está tentando encontrar o melhor local para se posicionar e até ouvir o som da própria voz. Por isso não deixe para descobrir quais serão suas primeiras palavras quando já estiver na frente da plateia. Saiba exatamente o que irá dizer para começar.

2222 ---- Se você tem receio de esquecer a sequência da exposição, não se pressione tentando se lembrar das etapas que irá cumprir. Falar em público não é teste de memória. Leve um roteiro com os tópicos mais importantes na ordem que pretende seguir. Provavelmente você nem precisará se valer desse apoio, mas se sentirá mais seguro com ele.

3 3 3 3 ---- Quando estão nervosas, as pessoas ficam com as mãos trêmulas. Nas situações em que precisam ler, sentem pavor só de pensar que os ouvintes possam perceber o papel tremendo. Por isso ficam nervosas. E por ficarem nervosas tremem. Quebre esse círculo vicioso levando num

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papel bem encorpado o texto a ser lido. Pode até colar a folha em uma cartolina. Com algumas folhas grossas na mão, se você tremer um pouco a plateia não vai perceber. Sabendo disso você ficará mais tranquilo.

4 4 4 4 ---- Não se precipite. Nada de chegar falando diante do público. Você precisar ganhar tempo para se acalmar e queimar o excesso de adrenalina. Pequenas atividades como acertar a altura do microfone, ajeitar as folhas que utilizará como apoio, olhar para os diferentes lados da plateia poderão dar os segundos de que precisa para ter um pouco mais de controle. Para não deixar transparecer o desconforto e a instabilidade emocional comece falando mais devagar e com volume de voz mais baixo.

5 5 5 5 ---- Ainda para ganhar um pouco mais de tempo nos difíceis momentos iniciais, se a reunião contar com uma mesa diretora, cumprimente cada um dos membros da mesa sem pressa. Se um deles for conhecido seu, aproveite a oportunidade para fazer um breve comentário sobre ele. Mesmo que saiba o nome de todos eles, não deixe de anotá-los em uma folha. São detalhes que aumentam a confiança.

6 6 6 6 ---- Não é boa estratégia tentar se lembrar momentos antes da sua apresentação de todos os detalhes do que pretende dizer. Agindo assim irá se pressionar ainda mais. Por isso, procure se distrair prestando atenção no que as pessoas estão dizendo e nos fatos à sua volta.

7 7 7 7 ---- Em todo lugar podemos encontrar gente chata. Essa turma é um veneno para a tranquilidade. Fuja das conversas que possam aborrecê-lo e procure ficar ao lado de pessoas mais simpáticas.

8 8 8 8 ---- Não faça da sua apresentação oral uma novidade para você mesmo. Antes de enfrentar a plateia converse com os colegas de trabalho ou com amigos e familiares sobre o assunto que irá expor. Além de verbalizar o que deseja transmitir, poderá treinar respostas para possíveis perguntas e objeções. Você se sentirá mais seguro sabendo como agir se for questionado pelos ouvintes.

9 9 9 9 ---- Ninguém está livre de enfrentar um branco durante a apresentação. Se ocorrer com você, procure não se desesperar. Mantendo a calma (embora não seja simples), suas chances de sucesso aumentarão. Como primeira tentativa, repita as últimas frases que pronunciou, como se desejasse dar mais ênfase àquela informação. Se não der certo, diga 'na verdade o que eu quero dizer é...'. Geralmente dá certo, pois se obrigará a recontar a mensagem por outro caminho. Se não funcionar, diga aos ouvintes que voltará a àquele ponto mais tarde.

10 10 10 10 ---- Se seguir essas recomendações irá se sentir mais seguro já nos primeiros momentos diante do público. Saiba, entretanto, que nada irá substituir uma boa preparação. Por isso, prepare-se o máximo que puder.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Saiba o que dizer no início da apresentação • Leve um roteiro escrito como apoio • Imprima seu discurso em uma folha mais encorpada ou cole

numa cartolina • Comece falando mais devagar e com volume mais baixo até se

sentir mais confiante • Converse com colegas de trabalho ou amigos sobre o que

pretende apresentar • Prepare-se o máximo de tempo que puder

127 127 127 127 ---- Erros que você deve evitar nas reuniões Erros que você deve evitar nas reuniões Erros que você deve evitar nas reuniões Erros que você deve evitar nas reuniões

Alguns erros podem prejudicar sua participação nas reuniões. Veja

como se livrar deles para fazer com que esses eventos tão comuns na vida corporativa sejam mais eficientes.

1111---- Não apresente uma proposta sem considerar os ouvintesNão apresente uma proposta sem considerar os ouvintesNão apresente uma proposta sem considerar os ouvintesNão apresente uma proposta sem considerar os ouvintes. Suas chances de ser bem-sucedido nas reuniões serão ampliadas se ao expor uma proposta ou um projeto levar em conta as características e os anseios dos outros participantes.

2 2 2 2 ---- Não comece batendo deNão comece batendo deNão comece batendo deNão comece batendo de frentefrentefrentefrente. Se em uma reunião houver pessoas que não concordam com você, tome cuidado para não dar sua opinião desde o início. Procure desarmá-las mencionando antes nos pontos que tenham em comum. Depois que baixarem a guarda será mais fácil fazer com que pelo menos ouçam seus argumentos.

3 3 3 3 ---- Não pressuponha que o assunto seja conhecidoNão pressuponha que o assunto seja conhecidoNão pressuponha que o assunto seja conhecidoNão pressuponha que o assunto seja conhecido. Embora as reuniões quase sempre sejam realizadas com o objetivo de solucionar problemas, não parta da pressuposição de que a questão já seja conhecida por todos. Antes de propor soluções procure esclarecer quais os problemas que precisam ser resolvidos.

4 4 4 4 ---- Não deixe de esclarecer quais os assuntos que serão debatidosNão deixe de esclarecer quais os assuntos que serão debatidosNão deixe de esclarecer quais os assuntos que serão debatidosNão deixe de esclarecer quais os assuntos que serão debatidos. Logo no início da reunião procure informar de maneira concisa os pontos que serão discutidos, as informações já conhecidas e os objetivos a serem atingidos.

5 5 5 5 ---- Não permita que monopolizem as discussõesNão permita que monopolizem as discussõesNão permita que monopolizem as discussõesNão permita que monopolizem as discussões. Se você liderar a reunião, evite que apenas algumas pessoas se manifestem. Faça perguntas e peça opinião de todos para que se sintam incluídos nos debates.

6 6 6 6 ---- Não fale fora de horaNão fale fora de horaNão fale fora de horaNão fale fora de hora. Se você for um dos participantes da reunião, evite tomar a palavra para responder às perguntas específicas de outras áreas. Procure só dar sua opinião quando outros profissionais não

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tiverem informações e você sentir que poderá colaborar com sua participação.

7 7 7 7 ---- Não esconda informaçõesNão esconda informaçõesNão esconda informaçõesNão esconda informações. Como líder de uma reunião você poderá colaborar com o grupo expondo as informações que já possui sobre o tema. Quanto mais subsídios os participantes tiverem, mais atuantes serão.

8 8 8 8 ---- Não seja desagradávelNão seja desagradávelNão seja desagradávelNão seja desagradável. Não faça brincadeiras que possam ridicularizar os outros participantes. O uso da ironia, do sarcasmo e da crítica desnecessária pode criar uma imagem antipática. Por mais descontraído que seja o ambiente não brinque com as características físicas, nem revele gafes dos outros participantes.

9 9 9 9 ---- Não seja sério demaisNão seja sério demaisNão seja sério demaisNão seja sério demais. Se o assunto permitir e você for o líder da reunião, procure se mostrar descontraído, leve e bem-humorado. Esse comportamento mais amistoso poderá estimular a participação mais ativa de todos.

10 10 10 10 ---- Não negligencie com o horárioNão negligencie com o horárioNão negligencie com o horárioNão negligencie com o horário. Estabeleça horário para iniciar e para terminar a reunião. E procure cumprir o que foi combinado. Assim, os outros profissionais poderão assumir compromissos antes e depois do horário e aproveitar melhor o tempo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Ao ser questionado procure responder com firmeza, segurança e convicção

• Evite conversas paralelas durante a reunião • Não fale o tempo todo. Deixe que os outros se manifestem • Não deixe de falar. Dê sua opinião quando for necessário

128 128 128 128 ---- Como conversar na empresa Como conversar na empresa Como conversar na empresa Como conversar na empresa

Provavelmente, você passa mais tempo conversando com os colegas

na empresa que em outro local com amigos e familiares. Sendo a conversa tão normal no ambiente de trabalho esteja consciente de que a maneira como você se relaciona na vida corporativa poderá ser essencial no desenvolvimento de sua carreira. Veja aqui algumas dicas para você se sair bem.

1 1 1 1 ---- Não deixe ninguém de foraNão deixe ninguém de foraNão deixe ninguém de foraNão deixe ninguém de fora. Principalmente quando pessoas tímidas estiverem no grupo, encontre uma forma de fazê-las participar para que se sintam incluídas. Faça perguntas simples a respeito da família, das viagens que realizaram, dos projetos que concretizaram ou que estejam em andamento. Pode ter certeza de que essas pessoas se sentirão

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agradecidas em poder se expressar e não deixar a imagem de que são inibidas.

2 2 2 2 ---- Valorize a presença de todos no grupoValorize a presença de todos no grupoValorize a presença de todos no grupoValorize a presença de todos no grupo. Mesmo que a pessoa não seja tímida, se ela estiver calada, procure pedir a opinião dela sobre determinados temas para que também possa participar. Em todas as situações, sendo a pessoa tímida ou não, depois que ela falar faça algum tipo de comentário para mostrar que ficou interessado em seu relato.

3 3 3 3 ---- Faça perguntas apropriadasFaça perguntas apropriadasFaça perguntas apropriadasFaça perguntas apropriadas. Ao conversar não basta apenas fazer perguntas ao interlocutor, é preciso saber qual o questionamento mais adequado para cada circunstância. Para isso, você precisa estar certo do tipo de resposta que deseja e o que pretende fazer com a informação.

4 4 4 4 ---- Faça perguntas fechadasFaça perguntas fechadasFaça perguntas fechadasFaça perguntas fechadas. Se você precisa iniciar uma conversa, afastar possíveis resistências para chegar a um acordo, ou obter informações rápidas, com respostas curtas e objetivas, faça perguntas fechadas. Nessas circunstâncias as mais apropriadas são: 'quem?', 'há quanto tempo?', 'onde?', 'quando?'.

5 5 5 5 ---- Faça pergunFaça pergunFaça pergunFaça perguntas abertastas abertastas abertastas abertas. Por outro lado, quando seu objetivo for o de motivar as pessoas para que se envolvam mais na conversa, ou deseja identificar as intenções, desejos ou necessidades que elas efetivamente possuem, faça perguntas abertas, que exigem repostas mais longas e produzem informações mais bem elaboradas. As mais apropriadas são: 'o quê?', 'por quê?', 'como?', 'de que maneira?'.

6 6 6 6 ---- Você terá vantagens sabendo perguntarVocê terá vantagens sabendo perguntarVocê terá vantagens sabendo perguntarVocê terá vantagens sabendo perguntar. Observe que com as perguntas fechadas você conseguirá respostas objetivas e terá oportunidade de obter rapidamente informações relevantes, sem truncar a conversa, ou desviar a atenção do tema discutido. Enquanto que com as perguntas abertas você fará com que as pessoas falem mais e elaborem o raciocínio de forma mais ampla.

7 7 7 7 ---- Não discordNão discordNão discordNão discorde sem necessidadee sem necessidadee sem necessidadee sem necessidade. Nem sempre será possível fugir dos confrontos de ideias, mas evite criar resistências desnecessárias. Se tiver de discordar de alguém, em vez de expressar sua opinião imediatamente, procure pedir explicações que demonstrem sua vontade de esclarecer o assunto. Diga, por exemplo: vamos ver se consegui entender bem esse ponto.

8 8 8 8 ---- Evite perguntas constrangedorasEvite perguntas constrangedorasEvite perguntas constrangedorasEvite perguntas constrangedoras. Ninguém gosta de fazer o papel de desinformado ou incompetente. Por isso, afaste as perguntas que possam provocar constrangimentos. Sempre que puder, não levante questões muito complexas, que sejam difíceis de responder ou que obriguem a pessoa a se desculpar.

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9 9 9 9 ---- Se precisar estique a conversaSe precisar estique a conversaSe precisar estique a conversaSe precisar estique a conversa. Para não deixar a conversa morrer use expressões que motivem a pessoa continuar falando. Geralmente são perguntas curtas ou sinalizações que motivam à sequência do raciocínio ou possibilitam explicações complementares. Por exemplo: 'e aí?'; 'estou compreendendo seu ponto'; 'nem imagino como você se saiu dessa', 'o que você fez?'; 'e então?'; 'como assim?'; 'e você concordou?'.

10 10 10 10 ---- Demonstre que acompanha a conversaDemonstre que acompanha a conversaDemonstre que acompanha a conversaDemonstre que acompanha a conversa. Use principalmente movimentos da cabeça para afirmar ou negar enquanto a pessoa estiver falando, assim você demonstrará que acompanha a conversa e está interessado nas informações dela. Se puder, interprete reações de surpresa, de espanto, de dúvida, de ansiedade para que a pessoa perceba seu interesse.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Faça perguntas fechadas para obter respostas rápidas e objetivas • Faça perguntas abertas para obrigar a pessoa a falar mais • Use a reação da fisionomia para demonstrar que está prestando

atenção • Em vez de discordar, peça explicações

129 129 129 129 ---- Dicas para criar e elaborar apresentações Dicas para criar e elaborar apresentações Dicas para criar e elaborar apresentações Dicas para criar e elaborar apresentações

Se você for convidado a falar em público e ficar inseguro para montar

sua apresentação, saiba que esse desconforto ocorre até com alguns oradores bastante experientes. Siga este roteiro e veja como será mais simples elaborar suas apresentações. As mesmas recomendações servem para redigir textos.

1 1 1 1 ---- O momento da criaçãoO momento da criaçãoO momento da criaçãoO momento da criação - O momento de criar é a fase mais delicada de todo o processo. Nesse instante você vai precisar refletir bem para eleger o assunto que irá expor. O bom resultado de todos os demais requisitos para que você se desempenhe bem diante da plateia dependerá dessa etapa.

2222 ---- Determine o tema e seus objetivosDetermine o tema e seus objetivosDetermine o tema e seus objetivosDetermine o tema e seus objetivos - Para que você tenha boa atuação diante do público precisará antes determinar de forma correta qual o assunto que irá apresentar e os objetivos que pretende conseguir. Embora eu esteja me referindo à criatividade, você poderá se valer de métodos simples para disciplinar e cumprir esta etapa.

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3 3 3 3 ---- Fale sobre um assunto de seu domínioFale sobre um assunto de seu domínioFale sobre um assunto de seu domínioFale sobre um assunto de seu domínio - Facilite a vida. Para se sentir confortável com sua apresentação escolha um tema de seu domínio. Quanto mais você conhecer o assunto mais seguro e confiante se mostrará diante dos ouvintes.

4 4 4 4 ---- Delimite o temaDelimite o temaDelimite o temaDelimite o tema - De maneira geral, os assuntos são amplos e permitem que você os delimite a determinados aspectos mais restritos. Se, por exemplo, a sua exposição fosse sobre o mercado financeiro. Essa matéria se compõe de diversos aspectos que poderiam ser selecionados de acordo com a intimidade que você tivesse com eles.

Se estivesse mais familiarizado com os diversos tipos de financiamento, sendo possível, poderia restringir sua apresentação a esse aspecto. Da mesma forma, se estivesse mais preparado para falar sobre a evolução das taxas de juros no mercado internacional, se não encontrasse inconvenientes pelas características do evento, essa deveria ser sua opção. E assim, teria uma infinidade de escolhas pertinentes à sua experiência.

5 5 5 5 ---- Associe ao que conheça bemAssocie ao que conheça bemAssocie ao que conheça bemAssocie ao que conheça bem - Além de optar pelo aspecto do tema sobre o qual tenha mais conhecimento, procure também desenvolver o assunto fazendo associações com histórias e exemplos que você conheça muito bem e que guardem algum tipo de relação direta ou indireta com o objetivo da apresentação.

Se você estivesse tratando dos diferentes tipos de financiamento e soubesse como constituir uma empresa, poderia contar a história de determinada companhia que se constituiu graças a um tipo específico de financiamento.

Nesse caso, você discorreria sobre as diversas etapas para se constituir uma empresa, que é o assunto que você domina, e depois faria a ligação com os tipos de financiamento relatando um exemplo de uma organização que pode ser constituída por ter escolhido corretamente o empréstimo de que necessitava.

6 6 6 6 ---- Escolha um assuEscolha um assuEscolha um assuEscolha um assunto apropriado à circunstâncianto apropriado à circunstâncianto apropriado à circunstâncianto apropriado à circunstância - De nada adiantaria falar de um aspecto do tema sobre o qual tenha total domínio se ele não fosse ao encontro das expectativas da plateia. Por isso considere sempre que o público espera que você desenvolva temas do interesse dele, apropriados ao contexto e à circunstância da apresentação.

7 7 7 7 ---- Seja cuidadoso nessa pesquisaSeja cuidadoso nessa pesquisaSeja cuidadoso nessa pesquisaSeja cuidadoso nessa pesquisa - Verifique quem são os ouvintes, qual é a formação intelectual predominante do grupo, se houve algum critério para que as pessoas fossem convidadas, que assunto foi prometido a elas e quais as informações que possuem sobre o tema.

Normalmente, com pequenas modificações no assunto que você conhece bem será possível atender a essa expectativa dos ouvintes. Com

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um exemplo apropriado, uma ilustração, ou uma metáfora bem empregada, talvez você leve o tema bem próximo ao que as pessoas desejam ouvir.

8 8 8 8 ---- Cuidados especiaisCuidados especiaisCuidados especiaisCuidados especiais - Ao definir o assunto que irá apresentar, tenha alguns cuidados importantes como, por exemplo, revestir com uma roupagem nova e atraente informações que estejam ultrapassadas e já se mostrem desinteressantes. Não há nada mais desestimulante que o 'cheiro de naftalina' em uma apresentação.

9 9 9 9 ---- Inove Inove Inove Inove - Nenhum assunto, por mais antigo e comentado que seja, deve ser descartado. Se você encontrar um bom ângulo de análise, ele parecerá novo, como se fosse uma mensagem inédita para a plateia. Procure desenvolver aspectos do tema que sejam inusitados para o público, pois ao sair do lugar-comum e se afastar da mesmice conquistará mais facilmente a atenção das pessoas.

10 10 10 10 ---- Fale do que mais gostarFale do que mais gostarFale do que mais gostarFale do que mais gostar - E não abra mão do que vou sugerir agora: se tiver possibilidade de interferir na escolha da matéria a ser apresentada, fale sobre o que você mais gostar. É quase certo que, se você discorrer sobre o que lhe der prazer, seu desempenho encantará a plateia, pois demonstrará envolvimento, disposição, energia e vontade de falar com os ouvintes. E sua mensagem será única, especial, particular.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Discorra sobre assuntos de seu conhecimento • Fale sobre temas que lhe deem prazer • Adapte o assunto ao interesse dos ouvintes • Revista os velhos temas com roupagem atual • Para outras dicas de comunicação entre no meu site

130 130 130 130 ---- Lula fala melhor de improviso Lula fala melhor de improviso Lula fala melhor de improviso Lula fala melhor de improviso

Lula é um orador excepcional, mas fala muito melhor de improviso

que lendo discursos. Sejam esses discursos impressos em papel, sejam projetados no teleprompter. Não que se saia mal, mas quando se apresenta falando de improviso sua qualidade oratória é mais eficiente.

Já estou considerando nesta minha análise que ler um discurso é mais difícil que falar de improviso. Não estou, portanto, comparando apenas a qualidade da comunicação do Lula quando fala de improviso com seu desempenho quando usa o recurso da leitura.

A comparação que faço é do Lula com outros oradores. Quando ele se apresenta falando de improviso é um orador quase insuperável.

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Quando, todavia, lê o discurso deixa um pouco a desejar, e encontramos outros comunicadores mais competentes que ele.

A leitura de discursos impressos em papel é, sem dúvida, uma das técnicas de comunicação mais difíceis que temos à disposição. Raramente encontramos uma pessoa que saiba ler bem em público. É um recurso que exige experiência, prática e técnica apurada.

A situação passa a ser ainda mais complexa quando a leitura é feita com auxílio do teleprompter. Embora seja um aparelho extraordinário, de maneira geral, é estranho até para profissionais e políticos acostumados a frequentar os mais diversos tipos de tribuna.

Na apresentação que fez para defender a candidatura do Brasil como sede dos jogos olímpicos de 2016, Lula poderia ter se saído melhor com o uso do teleprompter. Seu desempenho ficou aquém da qualidade do texto e da sua extraordinária interpretação. Observe que estou destacando a capacidade oratória do Lula, só faço ressalvas à maneira como usou o teleprompter.

Falta algum tipo de orientação. Não se pode conceber, por exemplo, que o primeiro mandatário do país, cercado dos mais competentes cerimonialistas, faça o vocativo dizendo 'Senhores e senhoras'. Dar precedência às mulheres é a mais elementar recomendação de um cerimonial.

Um dos primeiros cuidados que devemos ter ao usar o teleprompter é o de virar a cabeça e os olhos ao mesmo tempo, caso contrário a cabeça vai para um lado e os olhos permanecem no outro, produzindo um comportamento artificial. Lula cometeu essa falha quase o tempo todo - girava a cabeça e permanecia com os olhos na mesma placa de vidro, onde o texto estava projetado.

A comunicação visual do Lula tem sido sofrível também em alguns eventos em que faz a leitura do discurso impresso em papel. Em uma de suas apresentações na ONU ao invés de olhar para a plateia durante as pausas, levantava os olhos para o teto.

Acho curioso, pois, quando fez a leitura do discurso ao tomar posse pela primeira vez como presidente, foi excepcional. Lembro-me de que na época usei em sala de aula o exemplo do seu desempenho ao fazer aquela leitura. Mostrei aos alunos como a técnica bem utilizada da leitura pode ser quase tão eficiente quanto à fala de improviso.

Estou chamando a atenção para o desempenho do Lula, que é um orador sempre elogiado, para levantar essa reflexão sobre as técnicas que devem ser observadas para ler em público. É um recurso difícil, como eu disse, mas pode ser aprimorado com prática e treinamento.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Pratique leitura em voz alta de textos de jornais e revistas • Durante a leitura olhe para os ouvintes nas pausas mais

prolongadas e finais de frase • Se for usar o teleprompter, treine bastante antes de se

apresentar em público • Você é quem determina a velocidade da leitura com o

teleprompter

131 131 131 131 ---- Dicas para falar com objetividade Dicas para falar com objetividade Dicas para falar com objetividade Dicas para falar com objetividade Falar com objetividade significa falar tudo o que precisamos,

conquistando o que desejamos no menor tempo possível. As dicas mais importantes para você falar com objetividade são:

1 1 1 1 ---- Delimite o assunto Delimite o assunto Delimite o assunto Delimite o assunto. De maneira geral, os assuntos são abrangentes e compostos de diversos aspectos. Por isso, para ser objetivo é importante que você saiba que aspecto é mais relevante para a exposição que deseja fazer.

2 2 2 2 ---- Selecione os argumentos importantes Selecione os argumentos importantes Selecione os argumentos importantes Selecione os argumentos importantes. Para ser objetivo é preciso incluir apenas os argumentos mais relevantes, deixando de lado aqueles que considerar frágeis ou inconsistentes.

3 3 3 3 ---- Não repita argumento Não repita argumento Não repita argumento Não repita argumento. Por mais importante que seja o argumento reprima o ímpeto de repeti-lo muitas vezes. Além de correr o risco de enfraquecer a linha de argumentação você poderá ser visto como prolixo.

4 4 4 4 ---- Conte qual é o assunto Conte qual é o assunto Conte qual é o assunto Conte qual é o assunto. Revele qual o assunto e o resultado da sua exposição logo no início. Para parecer objetivo você não pode ficar com segredinhos para a plateia - quanto antes contar sobre as conclusões que vai chegar melhor.

5 5 5 5 ---- Esclareça quaEsclareça quaEsclareça quaEsclareça qual o problema que pretende solucionarl o problema que pretende solucionarl o problema que pretende solucionarl o problema que pretende solucionar. Em uma ou duas frases será possível informar de forma compreensível qual o problema que será objeto de resolução. Se os ouvintes estiverem ouvindo o assunto pela primeira vez, talvez, haja necessidade de um rápido histórico.

6 6 6 6 ---- Apresente a soluçãoApresente a soluçãoApresente a soluçãoApresente a solução. Sem repetir o problema já levantado apresente a solução. Neste momento evite divagar, seja direto com os argumentos.

7 7 7 7 ---- Use ilustraçãoUse ilustraçãoUse ilustraçãoUse ilustração. Se precisar esclarecer a solução apresentada use ilustração. Evite, entretanto, fábulas e parábolas, prefira histórias concretas,

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da própria vida corporativa. Elas servem como argumento e dão ideia de objetividade.

8 8 8 8 ---- Seja breve na introduçãoSeja breve na introduçãoSeja breve na introduçãoSeja breve na introdução. Agradecer a presença das pessoas ou ao convite que recebeu para falar é uma maneira simples e eficiente para iniciar. Como você precisa passar a ideia de que será objetivo, diga logo no início também que será rápido em suas explanações.

9 9 9 9 ---- Seja mais breve ainda na conclusãoSeja mais breve ainda na conclusãoSeja mais breve ainda na conclusãoSeja mais breve ainda na conclusão. Depois de completada a apresentação não volte aos pontos já abordados, parta imediatamente para a conclusão. Uma ótima expressão para concluir é: 'eu espero que...'. A partir daí você poderá pedir a reflexão ou ação dos ouvintes.

10 10 10 10 ---- Pareça objetivoPareça objetivoPareça objetivoPareça objetivo. Ser objetivo é importante, mas parecer objetivo, talvez, ajude ainda mais. Por isso, não se preocupe só em falar pouco, tenha a preocupação de conseguir tudo o que deseja no menor tempo possível. Mesmo que para isso precise falar um pouco mais.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Conte logo no início o resultado da sua apresentação • Use histórias verdadeiras da vida corporativa para ilustrar • Logo no início prometa ser breve. E procure cumprir essa

promessa • Seja breve, mas não encerre apenas porque falou pouco.

Conquiste o que deseja 132 132 132 132 ---- Dicas para expor e aprovar uma proposta no Dicas para expor e aprovar uma proposta no Dicas para expor e aprovar uma proposta no Dicas para expor e aprovar uma proposta no trabalho trabalho trabalho trabalho Se tiver de apresentar uma proposta na reunião da empresa ou em

uma negociação com clientes ou fornecedores, além dos argumentos que terá à disposição para apoiar sua causa, precisará se preparar também para afastar as resistências dos ouvintes. Estes são alguns pontos que poderão tornar sua apresentação vitoriosa.

1 1 1 1 ---- Os grupos são diferentes Os grupos são diferentes Os grupos são diferentes Os grupos são diferentes - Você não poderá simplesmente preparar a apresentação e falar diante das pessoas como se elas fossem sempre iguais. Se agir assim dificilmente afastará as defesas da plateia e, como consequência, diminuirá as chances de conquistar os objetivos que deseja.

2 2 2 2 ---- Conheça os ouvintes Conheça os ouvintes Conheça os ouvintes Conheça os ouvintes - Portanto, para neutralizar as resistências dos ouvintes o primeiro passo é identificar as características do público. É importante saber o nível intelectual predominante do grupo e o conhecimento que as pessoas têm sobre o tema. Você poderá obter essas

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informações com quem organizou a reunião ou em uma conversa preliminar com os próprios participantes.

3 3 3 3 ---- Teste especial Teste especial Teste especial Teste especial - Se, por acaso, você não puder obter antes essas informações, logo no início da apresentação faça observações sutis, subentendidas, e avalie a reação das pessoas. Se a reação for rápida, provavelmente elas possuem formação e conhecimento. Se perceber demora na reação, prepare-se para reduzir o nível das informações. Essa percepção será mais aguçada com a experiência.

4 4 4 4 ---- Estabeleça a profundidade do tema Estabeleça a profundidade do tema Estabeleça a profundidade do tema Estabeleça a profundidade do tema - Depois de identificar o nível intelectual do público e o conhecimento que as pessoas têm a respeito do assunto você poderá adaptar a mensagem de acordo com a capacidade de entendimento da plateia. Essa adequação é importante porque se os ouvintes entenderem que as informações estão muito acima ou abaixo da capacidade de compreensão delas, naturalmente, perderão o interesse pela exposição.

5 5 5 5 ---- Não confunda o tipo de resistência Não confunda o tipo de resistência Não confunda o tipo de resistência Não confunda o tipo de resistência - Algumas pessoas se enganam quando avaliam o tipo de resistência do grupo. Pensam que a resistência é com relação a elas, quando, na verdade, é com relação ao assunto. Para tirar essa dúvida basta refletir: se eu mudar minha maneira de pensar o público continuará resistente? Se a resposta for negativa ficará evidente que a resistência não é com relação a você.

6 6 6 6 ---- Concorde com os pontos comuns Concorde com os pontos comuns Concorde com os pontos comuns Concorde com os pontos comuns - Se no grupo houver pessoas que discordam da sua forma de pensar, não dê sua opinião sobre o assunto logo no início, pois essa atitude poderia acentuar ainda mais a resistência já existente. Por isso, comece tocando em pontos comuns, convergentes, para dar a impressão de que a opinião talvez seja a mesma. Procure levantar essas informações com a maior antecedência que puder.

7 7 7 7 ---- Demonstre conhecimento Demonstre conhecimento Demonstre conhecimento Demonstre conhecimento - Se os ouvintes não confiarem muito no conhecimento que você tem sobre o tema que irá abordar, comece a apresentação revelando com sutiliza sua experiência. Dentro do contexto da exposição fale sobre trabalhos que desenvolveu, projetos que idealizou, tarefas que comandou. Ao perceberem que você possui experiência o grupo se desarmará. Não se esqueça, entretanto, de ser sempre sutil, caso contrário poderá ser visto como prepotente.

8 8 8 8 ---- Tranquilize os ouvintes Tranquilize os ouvintes Tranquilize os ouvintes Tranquilize os ouvintes - Se as pessoas estiverem cansadas, com pressa, desconfortáveis, ou se sentindo pressionadas por terem de permanecer no local da sua apresentação, procure tranquilizá-las dizendo que não irá consumir muito tempo. A promessa de brevidade é mágica para afastar esse tipo de resistência.

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9 9 9 9 ---- Trabalhe nos bastidores Trabalhe nos bastidores Trabalhe nos bastidores Trabalhe nos bastidores - Não seja ingênuo imaginando que será bem sucedido na apresentação de uma proposta apenas porque terá bom desempenho diante do grupo. As resistências mais fortes devem ser tratadas e afastadas com antecedência no trabalho de bastidores, negociando pessoalmente os pontos divergentes. Por isso, amanse as feras antes de entrar na arena.

10 10 10 10 ---- Leve o que tiver de melhor Leve o que tiver de melhor Leve o que tiver de melhor Leve o que tiver de melhor - Durante a fase de preparação da sua fala selecione apenas os argumentos sólidos, consistentes, que tenham sustentação. Afaste qualquer informação que possa ser contestada com facilidade. Se você incluir um argumento frágil na sua tese, os opositores poderão destruí-lo no final e afirmar que como houve engano nessa parte da exposição, provavelmente os deslizes ocorreram também com os outros argumentos.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Antes de apresentar uma proposta converse pessoalmente 'nos bastidores'

• Dê peso aos argumentos e só inclua os mais bem avaliados • Cuidado para não dizer: concordo com vocês, mas... - essa

tática não resolve • Não use argumento polêmico para apoiar outro argumento

polêmico

133 133 133 133 ---- Marketing pessoal na empresa Marketing pessoal na empresa Marketing pessoal na empresa Marketing pessoal na empresa Não, eu não vou falar do marketing pessoal a que nos acostumamos a

ler nos livros e revistas. Quero discutir que tipo de imagem você está projetando pela forma como fala de você mesmo. Parece incrível, mas, às vezes, construímos uma narrativa de vida profissional que nem sempre é a mais favorável.

Pois é, adotamos um discurso para falar de nós mesmos e acabamos nos escravizando às palavras. Você não precisa e, talvez, nem deva falar de você sempre da mesma maneira. Pode estar certo de que há outras formas, provavelmente, mais interessantes para se revelar.

Para começar, seria interessante refletir a respeito do significado de muitas das tantas convicções que você tem, certezas que contam sua história de vida, uma narrativa incansavelmente tecida no dia a dia da sua existência.

Quem tratou desse tema de maneira esclarecedora foi Walter Benjamin em O narrador: “Podemos ir mais longe e perguntar se a relação

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entre narrador e sua matéria - a vida humana - não seria ela própria uma relação artesanal. Não seria sua tarefa trabalhar a matéria-prima da existência - a sua e a dos outros - transformando-a num produto sólido, útil e único?

(...)Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira

“. De Benjamin vamos considerar o “poder de contar sua vida” como

sendo a experiência das diversas narrativas que somadas compõem nossa existência. E “contá-la inteira” a possibilidade de harmonizar o nosso interior, tão rico, com o mundo que nos cerca.

Trocando em miúdos: cabe a cada um de nós escolher como contar as nossas experiências e torná-las mais interessantes e agradáveis para nós e para os outros. Como se pudéssemos viver diversas vidas, todas verdadeiras, mas com cores e nuanças diferentes.

Um bom exemplo de como é possível falar sobre o mesmo fato, ou a respeito da mesma pessoa de maneira completamente distinta são os debates políticos. Um político fala de seu correligionário destacando as inúmeras virtudes e qualidades do candidato que defende, enquanto seu adversário, ao se referir à mesma pessoa, só vê defeitos e imperfeições.

Talvez até todos tenham razão, pois dependerá sempre da maneira como a narrativa foi produzida. O que demonstra que até sobre você mesmo, ou a respeito das experiências que vivencia, haverá inúmeras formas de narrar as mesmas informações.

Se você já teve a oportunidade de falar sobre sua carreira mais de uma vez, deve ter percebido que, provavelmente, contou sua história da mesma maneira. E, se tiver de contar outra vez, é quase certo que usará a mesma narrativa, valendo-se das mesmas circunstâncias, criando as mesmas expectativas e discorrendo a respeito dos mesmos desafios.

Adotamos um viés de discurso e nos aprisionamos a ele, como se aquela forma de ver e encarar a vida fosse única, cristalizada e imutável - tornamo-nos prisioneiros das nossas próprias palavras.

Edgard Morin, na sua obra Inteligência da complexidade (Fundação Peirópolis), escrito com Jean-Louis Le Moigne, diz: “Nossas visões do mundo são as traduções do mundo”.

Reflita. A montanha possui vários lados, embora seja sempre a mesma montanha. Dependendo do seu posicionamento, verá a montanha de um jeito diferente, mas, se tiver de descrevê-la, independentemente do lado a que se refira, o tema da sua narrativa será o mesmo.

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Experimente contar sua experiência profissional de maneiras distintas. Você não irá mudar sua história, apenas aprenderá a descrevê-la por ângulos distintos. São suas as opções, as escolhas das informações que tiveram significado na sua vida. E dependendo da narrativa que adotar estará mostrando aos outros e a você mesmo a interpretação viva, rica e variada que tem do mundo.

Por isso, pela maneira como você narra os fatos que fizeram parte da sua existência estará revelando também quem é e como é. E você não é apenas uma coisa ou outra. A vida é muito mais ampla, aberta, repleta de experiências para as quais talvez ainda não tenha atentado.

Habituamo-nos a dizer que somos de um determinado jeito e acabamos acreditando que somos mesmo sempre assim - “sou intolerante”, “sou rígido”, “sou desorganizado“. Sim, talvez até você seja dessa forma algumas vezes, ou na maior parte do tempo, mas será que é só isso?

Não seria possível recontar sua interpretação do mundo, que no fundo faz parte da construção da sua própria identidade, por prismas distintos, que conseguissem mostrar as outras facetas da vida mais abrangente que você vive? Esse é um exercício possível que ajudará a libertá-lo das palavras que adotou para contar e recontar quem é e como é.

Ter convicção pode ser importante, mas ficar prisioneiro das próprias palavras, como se elas fossem a única maneira de ver a vida, é insensatez. No texto da próxima semana vou dar exemplos de alguns estereótipos que construímos para nós mesmos, como podemos refletir sobre eles e até de como nos livrar deles.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Em conversas diferentes conte sobre sua carreira usando fatos distintos

• Avalie quantos fatos você poderia usar para mudar sua história • Experimente contar sobre o início do seu relacionamento

amoroso de formas diversas • Imagine uma entrevista de emprego e conte suas experiências

de diferentes formas

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134 134 134 134 ---- Adversário Adversário Adversário Adversários e aliados na vida corporativas e aliados na vida corporativas e aliados na vida corporativas e aliados na vida corporativa A vida corporativa é dinâmica e, quase sempre, competitiva. As novas

ideias esbarram nas velhas posições cristalizadas. É só falar em mudança que a turma começa a rosnar. Cada um se vale dos argumentos que sustentam sua resistência e tenta por todos os meios fazer prevalecer sua maneira de pensar.

Nem sempre a contenda é explícita. Na maioria das vezes os embates se dão nas entrelinhas, na comunicação subentendida, na sutileza das ações camufladas. Você olha por cima das baias e vê o brilho cintilante das auréolas, como se o jogo político não participasse do relacionamento daqueles santinhos.

Briga de gente grande, amigo. Vencem os mais fortes, mais argutos e mais bem preparados. Nada de resmungar ou chorar pelos cantos. Já dizia meu avô, que não gostava de encrenca, quem não tem competência não se estabelece. Esse alerta vale também para as mulheres. Entrou na chuva, se prepare para o chuvisqueiro.

Há pouco tempo a candidata governista quis dar uma chiada, alegando preconceito pelo fato de ser mulher, e recebeu pancada de todos os lados. Até as mulheres ficaram indignadas com a choradeira. Não tem essa história de barriga me dói, não. Apanhou? Respira, sacode a poeira e bota o pé na estrada de novo.

A disputa por posições e conquistas é normal. Em certas organizações, até estimulada. Por isso, não dá para enfiar a cabeça no buraco e fingir que morreu. Desde moleque que acompanho as lições. Manhêêê, ele me bateu. E a mãe, do alto da sua sabedoria dizia: você é quem sabe, ou aprende a se defender ou fica aqui em casa. E com ironia completava: segurando na barra da minha saia.

Já que os debates, as diferenças de opiniões, os confrontos irão acompanhá-lo para onde você for, a não ser que queira ficar na arquibancada aplaudindo a luta dos gladiadores, precisa aprender a se virar. E aprender a se virar não significa sair por aí dando bordoada até na sombra. Não, você precisa saber agir com inteligência. E lá vai outra filosofia do meu avô: malandro esperto não reclama.

E malandragem aqui é no sentido figurado do termo. Pressupõe o comportamento que leva à vitória, sem nunca se afastar da ética, do respeito, da consideração. É a razão no comando e na determinação da conduta. É a arte do equilíbrio que ensina a contar até dez. Da sabedoria de usar a noite de sono como conselheira para as grandes decisões. E até de engolir sapo.

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Lute, brigue, dispute, mas não se esqueça nunca de que seu adversário não é um inimigo. A não ser que você crie nele o sentimento “vendeteiro”. Aprenda a deixar sempre uma saída honrosa para que o seu adversário de hoje não se transforme em inimigo amanhã. E cuidado com a velha pregação inspirada no Príncipe de Maquiavel de que inimigo bom é inimigo morto.

Em determinado contexto você pode estar em posição contrária a um colega de trabalho, por exemplo, mas se tiver atitudes elevadas, a desavença se restringirá àquele momento. Passado o confronto, cada um volta para sua trincheira sem mágoa nem ressentimentos.

Ao defender suas ideias, mantenha a serenidade e aguce o espírito de observação. Avalie os sinais de fraqueza do seu oponente. Se perceber que ele está prestes a jogar a toalha, tenha consideração e mantenha as portas abertas para continuar mantendo um relacionamento cordial. Não o deixe agonizar até que ele possa se sentir envergonhado da derrota.

Esse é o momento de pôr em prática sua inteligência. Deixe uma saída honrosa por onde ele possa caminhar de cabeça erguida, em condições de encarar a todos, e principalmente a si próprio, com dignidade e altivez. Se você for sábio e competente para agir nessa direção, o adversário não guardará ressentimentos e poderá no futuro, quem sabe, ser até um bom aliado.

Um bom exemplo talvez seja a negociação comercial. Você consegue impor as condições com a força da sua argumentação e deixa o cliente ali vencido, levando o produto de que tanto precisa, mas se sentindo um perdedor. Pergunto: Que vantagem Maria leva se o cliente sucumbiu diante da sua esperteza, mas se sente tão humilhado que nunca mais retorna para efetuar novas compras?

Por isso, avalie bem a maneira como se comporta na vida corporativa. Não adote a política do avestruz, se escondendo e fugindo dos embates que a vida nos põe à frente, mas também não seja insensível, a ponto de tornar o opositor de hoje num eterno desafeto. Vale a pena. Aprenda cada dia mais a manter as portas da conciliação sempre abertas.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Se tiver alguma chance de vitória, lute para ser corajoso e não um covarde

• Se não tiver chance de vitória, fuja para ser prudente e não um irresponsável

• Aprenda a transformar adversários de hoje em aliados de amanhã

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• Não reclame das injustiças cometidas contra você. Aprenda a enfrentá-las

• Enfrente sozinho as derrotas. Chame os amigos para compartilhar as vitórias

135 135 135 135 ---- Como não falar na v Como não falar na v Como não falar na v Como não falar na vida corporativaida corporativaida corporativaida corporativa

Em casa, conversando com amigos e familiares até dá para manter

um papo chororô ou falar sobre temas pessoais. Não que os parentes gostem desse tipo de ladainha, mas como são próximos fingem estar interessados e toleram a chateação. Nessas situações o risco para a imagem é quase zero.

Já não se pode dizer o mesmo sobre a consequência desse tipo de conversa na vida corporativa. No ambiente profissional há uma linha amarela que limita a liberdade de expressão. O jeito de falar pode determinar os rumos da carreira e estabelecer quais as perspectivas de progresso.

Vamos analisar alguns comportamentos que se tornam repetitivos e devem ser evitados para que você possa ampliar suas chances de crescimento profissional. Não são regras inflexíveis, mas ajudam a refletir sobre a conduta mais conveniente quando o assunto é comunicação.

Oh, Deus, oh, vida. Quantas pessoas você conhece que se habituaram tanto a reclamar da vida que, antes mesmo de se perguntar “como vai?”, já se sabe qual será a resposta: “Está tudo cada vez mais difícil; estou trabalhando demais; pareço um condenado (essa parte da resposta é que não consigo entender - condenado aonde?).

E não para por aí. Estou sempre correndo; não tenho tempo nem para respirar; tudo de ruim acontece comigo; a vida tem sido uma madrasta. E o mais interessante da história é que são sempre as mesmas pessoas. Com a mesma forma lamuriosa de expressar sua história e de encarar a vida.

Se você entrar nesse alçapão, especialmente no relacionamento profissional, esteja preparado para se livrar dele. Mude sua maneira de falar e adote uma postura diferente. Veja a vida por outros ângulos e reflita se é verdade mesmo que os fatos ocorrem sempre da mesma maneira.

Se for sincero com você mesmo, verá que sua história e a maneira de falar da vida poderá ser modificada. E se quiser dar uma reclamada de vez em quando vá em frente, que ninguém é de ferro. Deixe para resmungar, entretanto, no aconchego do lar, onde poderá encontrar colo para seus desassossegos.

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No fim tudo vai dar certo. Por mais animadora que seja essa expressão, em determinadas circunstâncias mais atrapalha do que ajuda. Você ali com aquele problema de tirar o sono e sair da mesa sem tocar no prato de comida e chega aquele tomado pelo complexo de eterna Poliana dizendo: “No fim tudo vai dar certo”.

Ele não sabe bem qual é o assunto e muito menos o que efetivamente nos preocupa. Mas, acostumou-se tanto a dizer que no fim tudo vai dar certo, que essa será sempre a sua mensagem, independentemente do assunto tratado e do tamanho do problema que precisa ser resolvido.

Se no dia a dia da vida corporativa você tropeçar nessa outra armadilha, reflita sobre a possibilidade de poder se inteirar mais do assunto antes de fazer sua profecia. Talvez descubra que naquele determinado momento o comentário mais apropriado seria: “Rapaz, que problemão! Eu na sua pele não saberia nem por onde começar”.

Você poderia dizer: mas você não está se esquecendo da importância do otimismo? Não, não estou fazendo culto ao pessimismo, só estou pedindo para refletir sobre a inadequação desse otimismo automático, vazio, sem respaldo, desenvolvido pela força do hábito, que nos escraviza e nos obriga a adotar sempre o mesmo discurso.

Minha última viagem. Essa conversa nem a família aguenta. E o pior é que não é apenas a última, mas também a penúltima, a antepenúltima e tantas viagens quantas puder encaixar no tempo disponível para seus relatos. É só aparecer a pessoa e já sabemos que o assunto será o mesmo do princípio ao fim - viagens.

O hábito às vezes é tão forte que mesmo você dizendo que já visitou aquele lugar diversas vezes, não haverá cristão que o remova da intenção de falar daquela que ele fez. Já presenciei pessoas tão apaixonadas pelas próprias viagens que chegam, numa mesma conversa, a contar sua aventura mais de uma vez.

Se você for picado pelo vírus do Marco Pólo, jogue a âncora e resista à tentação de falar somente sobre viagens. Falar de uma viagem de vez em quando também não estraga a festa de ninguém, ao contrário, poderá ser até um assunto muito estimulante. O que não se pode é adotar essa narrativa no ambiente de trabalho e pensar que só existe esse assunto e que todas as pessoas irão se interessar por ele.

Meu último projeto. É muito bom ouvir pessoas falando com entusiasmo sobre o trabalho que desenvolvem. Além de termos a oportunidade de aprender um pouco sobre suas atividades, também descobrimos como elas contornaram situações profissionais delicadas, informação que nos poderá ser bastante útil.

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Daí a adotar, todavia, esse assunto como narrativa permanente, nem gerente de RH vai aguentar. O trabalho consome a maior parte do nosso tempo e é lógico e muito natural que falemos das nossas atividades profissionais. Alguns, entretanto, acordam trabalho, almoçam trabalho, jantam trabalho e dormem trabalho. Por isso, na hora de falar só existe um assunto que conseguem abordar - trabalho.

Reflita como você tem se comportado com relação a esse tema e analise se não está exagerando na sua narrativa profissional. Se perceber que está aprisionado a esse tipo de discurso, principalmente na convivência com os colegas da empresa, vire o disco e passe a tocar outras músicas.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não fale só sobre trabalho • Não fale muito de suas viagens • Não desenvolva o hábito de reclamar • Não diga o tempo todo que tudo vai dar certo

136 136 136 136 ---- Não enrole. Vá direto ao ponto Não enrole. Vá direto ao ponto Não enrole. Vá direto ao ponto Não enrole. Vá direto ao ponto

Se você não passou pessoalmente por essa situação, provavelmente,

na vida corporativa já deve ter presenciado a cena. O chefe impaciente dizendo ao subordinado para não enrolar e ir diretamente ao ponto: “Essa enrolação toda não me interessa, quero saber quanto vai custar”.

O subordinado, meio sem jeito, tenta explicar, mas é interrompido de novo, só que de forma mais veemente: “parece que estou falando grego! Não temos tempo para conversa fiada, vamos diretamente ao ponto - me dê os números, diga quanto vamos gastar com a implantação desse projeto”.

Reinaldo Polito lança livro sobre experiências na vida profissional Siga as colunas semanais sobre expressão verbal no UOL Assista aos vídeos do colunista com dicas práticas para profissionais É frustrante. Parece até uma desconsideração ao trabalho criterioso

que o profissional empreendeu durante semanas, ou, em certos casos, até meses, para elaborar um projeto detalhado, prevendo todos os riscos, alternativas e possibilidades de sucesso. E, no fim, a única coisa que querem saber dele é quanto vai custar.

Para não passar pela mesma circunstância, aja com inteligência e sensatez. Se existir a possibilidade de que os conselheiros da empresa, por exemplo, queiram saber logo o resultado final de um determinado estudo,

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atenda a esses anseios e vá diretamente ao ponto. Conte logo no início qual o resultado que desejam saber.

A partir daí você terá acalmado a ansiedade daqueles que irão tomar a decisão e poderá, com calma, explicar com detalhes como foi que chegou àquele resultado. É quase certo ainda que as mesmas pessoas perguntem como aqueles números apareceram. Nesse momento, como se precisasse falar apenas para responder à questão formulada, você fará todo o trajeto do estudo desde o princípio.

Tenha em mente que as pessoas que tomam decisões, quase sempre, são impacientes, ocupadas e precisam de informações objetivas. Não significa, entretanto, que não queiram ou não precisem saber dos detalhes de um estudo importante. Tudo deve ser informado no tempo oportuno. Invertendo a ordem da apresentação e revelando o resultado logo de início você estará se adequando a essa circunstância.

Portanto, o caminho deve ser este: conte logo no início da apresentação qual o assunto que irá expor e, ao mesmo tempo, revele o resultado final. Ah, se falar em custo, não se esqueça de informar também sobre os benefícios. Em seguida aguarde para ver se há alguma pergunta ou objeção ao que foi exposto. Geralmente há. Se as pessoas se mantiverem em silêncio, aí sim você diz que gostaria de explicar como chegou àqueles dados.

No fim você fará o que desejava - apresentar todo o percurso desde os levantamentos iniciais, os problemas que identificou, os estudos que realizou, os desafios que enfrentou e superou até a conclusão do trabalho. E sem dar a impressão de que esteja gastando tempo à toa ou enrolando com explanações desnecessárias. Vá direto ao ponto - um cuidado tão simples, mas que pode dar excelentes resultados.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Conte logo no início sobre o que vai falar • Revele o resultado final do estudo ou do projeto • Responda às perguntas dos responsáveis pela aprovação do

projeto • Se não houver pergunta, peça para explicar como chegou ao

resultado • Não vacile. Sempre que puder vá direto ao ponto logo no

início

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137 137 137 137 ---- Evite riscos e melhore suas apresentações Evite riscos e melhore suas apresentações Evite riscos e melhore suas apresentações Evite riscos e melhore suas apresentações Meu pai foi um excelente motorista. Aprendi muito com ele. Por

exemplo, ele me ensinou que ao dirigir à noite em estrada de pista simples, ao cruzar com outro veículo eu não deveria olhar para frente, na direção dos faróis, mas sim para a faixa divisória pontilhada, pois dessa forma não teria a visão prejudicada. Uma dica maravilhosa!

Outra orientação muito boa: - Não olhe apenas para os três ou quatro veículos que estão à sua frente, preste atenção onde sua vista puder alcançar. Assim, se perceber que as luzes de freio dos veículos que estão a centenas de metros derem sinal, diminua a velocidade, pois você deverá parar em pouco tempo. Sem dúvida, uma dica nota dez!

Esses conselhos têm me ajudado muito não só para dirigir nas estradas, como foi possível adequá-los como boas regras de comunicação. É impressionante como situações tão distintas podem apresentar pontos comuns e mostram utilidade nas mais diferentes circunstâncias. Veja como os bons resultados de uma apresentação dependem muito dos cuidados que devemos tomar no momento da preparação.

Além de usar esses conselhos preciosos para dirigir nas estradas, você poderá adaptá-los perfeitamente para conquistar sucesso em suas apresentações de projetos e propostas, seja nas reuniões internas, seja nos contatos com profissionais de outras organizações, como clientes e fornecedores.

De maneira geral, as pessoas se preocupam em montar uma boa linha de argumentação quando precisam fazer apresentações. Escolhem e selecionam com critério os bons argumentos, como as estatísticas, as pesquisas, os exemplos, os estudos técnicos e científicos, as teses defendidas e aprovadas diante de bancas avaliadoras renomadas. Enfim, preparam o melhor arsenal para a batalha.

Quase sempre, entretanto, se esquecem de observar o que meu pai me ensinou para dirigir nas estradas, olham de frente para as luzes dos faróis que vêm em direção contrária e deixam de avaliar os movimentos que ocorrem mais à frente, e que trarão consequência, mais cedo ou mais tarde.

Para ser bem-sucedido em suas apresentações tome esses dois cuidados básicos e tão importantes: não estabeleça confrontos desnecessários com os ouvintes e avalie as resistências que terá pela frente. São duas cautelas simples, mas que não podem ser negligenciadas.

Se você perceber que um dos ouvintes se mostra contrariado, como se fosse um veículo vindo em sua direção com os faróis acesos, não tente

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digladiar com ele nesse momento. Não é hora de duelar. Não enfrente o olhar adverso, olhe rapidamente na testa dele e dê atenção aos outros ouvintes.

O “contrariado” também terá a impressão de que você olha para ele. Agindo assim, não se escravizará a uma pessoa, tentando fazê-la mudar naquele instante o comportamento resistente, e correndo o risco de não dar atenção aos outros ouvintes, que, sem dúvida, esperam que você os considere olhando também na direção deles.

E olhar a estrada lá na frente? Acima de tudo esse cuidado. Você não pode ser surpreendido com objeções que poderiam ser previstas. Se der para saber que encontrará resistência com relação a custos, prazo de entrega, limitação de estrutura técnica etc., saiba antes que tipo de refutação você deverá apresentar. Peça ajuda. Discuta com seus companheiros os problemas que poderá enfrentar e as melhores saídas para cada caso.

Estando preparado, ao ser contestado, você terá a resposta certa para o momento. Ouvirá o argumento contrário com mais tranquilidade, de forma mais serena, e defenderá sua tese com confiança e maiores chances de se sair vencedor. Além disso, sabendo que a resistência irá ocorrer, desde o princípio já poderá aos poucos minar a objeção, facilitando assim seu trabalho de defesa.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não olhe apenas na direção do ouvinte que se mostra resistente • Também não olhe apenas na direção do ouvinte que se mostra

amistoso • Avalie com antecedência as objeções que poderá enfrentar • Discuta com seus companheiros qual a melhor saída para cada

tipo de objeção

138 138 138 138 ---- Profissionais que falam com sotaque Profissionais que falam com sotaque Profissionais que falam com sotaque Profissionais que falam com sotaque Você fala com sotaque. Garanto. Diante dessa minha afirmação você

poderia retrucar dizendo que não é verdade, pois sabe muito bem como é a sua comunicação. Poderia argumentar ainda que não existe o mais leve sinal de sotaque em sua maneira de falar.

De maneira geral, nos habituamos tanto a ver pessoas de outras regiões se expressando de maneira própria delas, que nem notamos que todos nós falamos com sotaque. Tudo depende do local onde nos encontramos. Para o paulista, quem tem sotaque é o nordestino ou o

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gaúcho. Para o nordestino ou para o gaúcho, entretanto, quem tem sotaque é o paulista.

O fato de entendermos que todas as culturas e sociedades se orientam pela perspectiva dos costumes, valores e normas de sua própria sociedade é um fenômeno denominado etnocentrismo. Segundo o pesquisador e teórico cultural Edward T. Hall, não temos consciência da nossa própria cultura em nós mesmos.

De acordo com esse estudioso jamaicano radicado na Inglaterra, comportamo-nos a partir dos costumes e hábitos da região onde fomos criados e vemos tudo apenas com nossos próprios olhos. Tomamos como certo que os nossos costumes e hábitos devem ser a referência, ignorando como outras pessoas, formadas em outras culturas e lugares, e acostumadas a eles, podem nos ver e nos qualificar.

Com as mudanças cada vez mais frequentes do local de trabalho de profissionais de praticamente todas as áreas, a questão do sotaque e do regionalismo passa a ter importância especial. Afinal, será que você deveria mudar seu jeito de falar porque é diferente de como falam os outros profissionais com os quais vai conviver ou está convivendo?

A resposta não poderá ser simplesmente sim ou não. Antes de se decidir, você precisará avaliar diversos fatores. Mudar o jeito de falar quase sempre significa uma ruptura de comportamento cristalizado por hábitos de toda uma existência.

Eu tenho uma experiência pessoal bastante curiosa. Nasci e fui criado em Araraquara, no Interior do Estado de São Paulo. Minha cidade natal possui uma característica muito interessante: uma parte da população tem sotaque interiorano bastante carregado, e eu vivi entre eles.

Quando me mudei para a capital, com 21 anos de idade, vez ou outra observava algumas pessoas cochichando e sorrindo, provavelmente por causa da minha maneira de falar. Pensava no assunto, mas não me incomodava, pois os grupos me aceitavam bem e eu fazia amizades com facilidade.

Entretanto, aos 24 anos, quando resolvi me tornar professor de expressão verbal, percebi que o sucesso da nova carreira poderia estar associado à minha maneira de falar. Imagine eu ministrando cursos e palestras em todos os cantos do País e orientando os alunos com aquele erre arrastado do interior paulista: 'Laéérrrcio, você está toorrrto'.

Lógico que se continuasse me expressando assim poderia perder muito da minha força como professor dessa matéria. Por isso, fiz um treinamento autodidata intenso, durante muitos anos, para eliminar os

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vestígios mais marcantes desse sotaque interiorano. Mudei por necessidade profissional.

Antes de se decidir sobre a conveniência de eliminar ou não o sotaque, atente para a questão da naturalidade. Dependendo da maneira como você venha a fazer o trabalho para mudar a forma de falar poderá comprometer a naturalidade da sua comunicação e desenvolver um artificialismo que, por ser evidente, poderá até prejudicar sua credibilidade.

A mudança brusca, precipitada quase sempre é muito negativa. Você acaba cortando suas raízes, se despersonalizando e não obtendo nenhum tipo de benefício. Você deixa de falar como os habitantes de sua região, mas demonstra ostensivamente, de maneira artificial, que está tentando se expressar de forma diferente.

A compreensão da pronúncia Não confunda sotaque com dicção. Ter pronúncia defeituosa é

problema de dicção. O sotaque de algumas regiões é tão carregado que temos a impressão de que a pessoa está se comunicando em outra língua. É evidente que esse tipo de pronúncia prejudica a compreensão dos ouvintes e compromete a qualidade da comunicação. Nesse caso, a maneira de falar deverá ser modificada.

O efeito da avaliação dos ouvintes Pelos motivos já analisados, os ouvintes poderão estranhar a maneira

como uma pessoa de outra região fala e por isso passar a ridicularizar sua forma de se expressar. Se você enfrentar essa situação, pense seriamente se vale a pena ou não acabar com o sotaque e mudar seu jeito de falar.

Lembre-se de que, se precisar manter contato com pessoas de outras regiões por tempo prolongado, mesmo que, apesar da sua maneira de falar, compreendam bem o que você diz, não o ridicularizem e não o vejam como prepotente ou arrogante, vale a pena avaliar se convém ou não mudar. Essa é uma decisão sua.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não confunda sotaque com dicção. Ter pronúncia defeituosa é problema de dicção

• Se as pessoas tiverem dificuldade para entender sua fala por causa do sotaque, exercite para ser mais bem compreendido

• Se decidir eliminar o sotaque, cuidado para não perder a naturalidade

• Se o seu jeito de falar for ridicularizado, avalie se vale a pena mudar ou não

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139 139 139 139 ---- O que a vida me ensinou sobre paixão O que a vida me ensinou sobre paixão O que a vida me ensinou sobre paixão O que a vida me ensinou sobre paixão profissional profissional profissional profissional

Quase recusei o convite do editor Luís Colombini para escrever o

livro “O que a vida me ensinou - para não deixar a conquista escapar pelos dedos”. Fiquei preocupado em parecer pretensioso, como se estivesse querendo contar vantagens dos meus feitos.

Aceitei, entretanto, com a condição de contar tudo com o coração aberto, sem mascarar nenhum fato. Em cada capítulo não escondi minha origem humilde, a falta de traquejo social e a falta de jeito como aprendiz de empresário. Por outro lado, revelei também, sem nenhum constrangimento, que minha carreira foi marcada pela paixão. É sobre esse assunto que vou falar hoje.

Quando o professor Oswaldo Melantonio, o mais importante professor de oratória do país nos 50 anos em que esteve em atividade, me convidou para ser seu assistente no curso de Comunicação Verbal eu só tinha 24 anos. Eu me lembro de que era mais jovem do que todos os alunos que frequentavam o curso.

Quando perguntei ao mestre por que ele havia me convidado, sua resposta foi direta: “por causa da sua paixão pela oratória”. Veja que ele não me convidou levando em conta a minha capacidade de comunicação ou o potencial que eu pudesse possuir para me tornar um professor competente, mas sim pela paixão.

Mais de 20 anos depois, ao paraninfar uma das turmas do nosso curso, o professor Melantonio, do alto dos seus 80 anos, fez questão de falar dessa minha paixão: “Dona Margot, minha mulher, que sempre cuidou das finanças do nosso instituto, pediu que eu desse um recado a todos os formandos do curso do professor Polito. Saibam que, durante os sete anos em que ele ministrou aulas na nossa escola, jamais aceitou um centavo sequer como remuneração”.

Eu precisava muito daquele dinheiro, mas entendia que aquela atividade me dava tanta satisfação e me permitia tamanho aprendizado que eu deveria pagar, e não receber por estar ali. Não há nada contra ganhar dinheiro. Ao contrário, a remuneração é vista como forma positiva de valorizar a competência e a produtividade profissional.

O que, talvez, deva ser evitado é pensar no dinheiro antes de se preparar para desempenhar bem e se apaixonar por uma atividade. Quando deixei de atuar no mercado financeiro para me dedicar somente à profissão de professor de oratória, mais uma vez a decisão foi tomada pela paixão.

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Concluí que se ganhasse dando aula metade do que recebia como profissional da área financeira seria muito mais feliz e me sentiria mais realizado. Foi o que aconteceu. Embora a jornada diária de trabalho passasse de oito para 16 ou 18 horas, com remuneração muito menor, a impressão era a de que estava num paraíso.

Nenhuma dessas decisões foi premeditada. Agi sempre por impulso, levado por uma quase ingenuidade. Por isso, errei muito. Olhando para trás, entretanto, vejo que não poderia ter percorrido caminho melhor. Desenvolver um trabalho com prazer é muito mais gratificante e nos proporciona mais felicidade que qualquer outro tipo de remuneração.

Dizem que, se nos dedicarmos a um trabalho com envolvimento, alegria e paixão, o dinheiro vem normalmente como consequência natural. Acredito que quase sempre seja assim mesmo. Quem faz o que gosta se aprimora e se desenvolve tanto que acaba sendo bem pago por sua competência. Creio, entretanto, que a decisão primeira e definitiva deva ser a de se dedicar a uma atividade que possa acima de tudo proporcionar felicidade. Se for bem remunerado dessa forma, ótimo. Se não for, sendo feliz, será ótimo do mesmo jeito.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda o máximo que puder sobre uma atividade • Procure desenvolver uma profissão pela qual esteja apaixonado • Entre o dinheiro e a paixão por um trabalho, se puder escolha

a segunda • Se você for bom no que faz, gostará do seu trabalho e será bem

pago por isso

140140140140 ---- Quando mudar de emprego Quando mudar de emprego Quando mudar de emprego Quando mudar de emprego No meu curso de expressão verbal, mantenho contato frequente com

profissionais que exercem funções de supervisão para cima nas mais diferentes áreas. Uma conversa recorrente recai sobre a conveniência de mudar ou não de emprego. Imagino que esses alunos levantem essa questão comigo por se sentirem mais confortáveis.

Não sentem o risco que, provavelmente, correriam falando de um assunto tão delicado na empresa em que ainda trabalham. Não sofrem as pressões que normalmente sofreriam se conversassem em casa com a esposa, o marido, ou qualquer outra pessoa da família.

Com poucas alterações, ouço uma afirmação que mais se assemelha a uma pergunta: Professor Polito, estou pensando em mudar de emprego.

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Minhas observações seguem uma linha que considero lógica. Pergunto: por que você deseja mudar de emprego, não se sente bem na empresa atual?

São poucos aqueles que dizem não se sentir bem trabalhando na empresa. Quase sempre a resposta é dada com uma destas duas explicações: ou que trabalham na empresa há muito tempo, acima de três anos, ou que desejam ganhar salário melhor, 20% a 30% a mais do que ganham atualmente.

Mudar de emprego exercendo a mesma função, sem avaliar de maneira clara as reais possibilidades de crescimento na carreira, apenas porque está na mesma empresa há três ou cinco anos, não me parece ser um bom motivo para a decisão. O mesmo raciocínio serve para o aumento salarial.

Se você trabalha na mesma empresa há muitos anos, mas tem ocupado funções diferentes, desafiadoras, que permitem aprendizado constante, não vale a pena mudar. A não ser que seja para ocupar uma posição de nível hierárquico superior, e numa organização no mínimo do mesmo porte ou de maior importância.

Não será uma boa decisão deixar de aproveitar o crescimento da carreira dentro da própria empresa para ficar estagnado em outra organização, que não lhe proporcione a possibilidade de enfrentar e superar novos desafios. Portanto, a decisão de trocar de emprego deve levar em conta vários fatores.

O mesmo conselho que dou aos meus alunos passo a você que, talvez, esteja com a mesma dúvida. Avalie bem como está se sentindo no emprego atual. Considere principalmente se tem tido a oportunidade de aprender e se desenvolver no exercício de diferentes funções. Compare o tamanho e o poderio da empresa atual com aquelas que pretende procurar.

E agora o ponto mais importante de todos: você é feliz com o que faz na empresa em que trabalha ou na carreira que desenvolve? Na última semana, falei sobre uma decisão importante que tomei na minha vida profissional. Deixei um ótimo emprego, com excelente remuneração no mercado financeiro para me dedicar a minha maior paixão, ser professor de oratória, ganhando metade do que ganhava.

Para esse quesito, não há dúvida ou qualquer outra barreira que possa impedi-lo. Ser feliz no que faz é muito mais importante que qualquer remuneração ou posição hierárquica. A vida passa rápido. Não deixe chegar o dia em que ao olhar para trás sinta que consumiu boa parte da

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sua existência fazendo o que não desejou fazer. Não tem volta. A decisão é sua.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não mude de emprego apenas porque está na empresa há muito tempo

• Avalie as vantagens para sua carreira antes de mudar • Vale a pena permanecer na empresa enquanto estiver

aprendendo e se desenvolvendo • Posição hierárquica superior em empresa igual ou maior é

bom motivo para mudar • O maior motivo para ficar ou sair de uma empresa: ser ou não

feliz com o que faz

141 141 141 141 ---- Dá para aprender a falar bem em seis horas Dá para aprender a falar bem em seis horas Dá para aprender a falar bem em seis horas Dá para aprender a falar bem em seis horas Lembro-me de uma palestra a que assisti há mais de 30 anos, ainda

no início das minhas atividades como professor de oratória. O palestrante revelava de maneira enfática que algumas atividades eram impossíveis de realizar, e de como devemos nos proteger para não nos enganarmos.

Ele incluiu na relação o trabalho de alguns professores de oratória que diziam ser possível ensinar a falar em público em poucas horas. Explicou com detalhes “irrefutáveis” por que uma pessoa precisaria de meses para aprender a falar em público com segurança e desembaraço.

Prestei bastante atenção em suas palavras e saí do local satisfeito. Cheguei à conclusão de que só aquela informação teria valido minha ida ao evento. Revendo cada item das suas explicações senti que ele tinha razão. Afinal, como alguém pode ensinar técnicas de comunicação e ainda permitir que o aluno pratique todas elas e saia pronto para enfrentar plateias em apenas algumas horas?

Mais de três décadas depois posso afirmar com segurança que o palestrante estava enganado. É possível aprender a falar bem em público em apenas seis horas. Uma boa parte dos mais de 50 mil alunos que já treinamos em nosso curso participou de aulas individuais. E aprenderam em pouco tempo a se expressar em público com confiança e de forma correta.

Não seria possível ensinar em poucas horas alguém a falar em público se fosse para impor técnicas prontas, padronizadas. Mesmo que a pessoa aprendesse assim, em pouco tempo perceberia que para usá-las

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apenas interpretaria uma personagem, viveria um papel, e, por isso, as abandonaria e voltaria a agir como agia antes do aprendizado.

A técnica para ser aprendida em pouco tempo e de forma perene já deve pertencer à pessoa. Com a experiência de todos esses anos, depois que a pessoa fica descontraída, é possível observar em poucos minutos de conversa qual o ritmo da sua fala, o tipo de vocabulário que usa para construir as frases, a maneira como gesticula e como organiza o raciocínio.

Depois dessa avaliação sei como o aluno se comporta naturalmente no seu dia a dia e o que pode produzir nas situações mais formais. A partir dessa constatação o trabalho é só o de transportar para a tribuna aquilo que a pessoa já sabe fazer. Em poucas horas, portanto, ela consegue diante do microfone fazer o que já sabe quando conversa naturalmente com amigos e familiares.

Se por qualquer motivo você não puder contar com a ajuda de um profissional para melhorar sua comunicação em público, siga esta orientação: tente falar diante da plateia como se estivesse falando de maneira animada com algumas pessoas próximas na sala de visitas da sua casa. Veja que não estou pedindo para que faça nada diferente do que já sabe, apenas que seja você mesmo.

Lógico que é importante aprender a adaptar o volume da voz de acordo com o ambiente, adequar o vocabulário tendo em vista a circunstância e o tipo de ouvinte, a expressão corporal para dar harmonia ao conjunto da comunicação, a ordenar o pensamento para ter lógica de raciocínio, com começo e fim.

Esses detalhes, todavia, podem ser aprimorados em poucas horas e aperfeiçoados depois com a prática da vida real, apresentando projetos, propostas e, até mesmo, proferindo palestras e conferências. Por isso, preste atenção e aprenda como é sua comunicação nas conversas do dia a dia e procure agir da mesma maneira quando estiver falando diante do público.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Provavelmente, você já sabe falar. Aprenda a conhecer sua própria comunicação

• Fale em público como se estivesse conversando com os amigos • Falar em público é uma conversa, só que um pouco mais

animada • Invista na comunicação. Aprenda a falar em publico em

poucas horas

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142 142 142 142 ---- Não seja prolixo Não seja prolixo Não seja prolixo Não seja prolixo Você é prolixo? Consome um tempo enorme para dizer o que

poderia ser comunicado rapidamente? Entenda os motivos que o levam a falar tanto e encontre o caminho para se livrar desse problema tão grave numa época em que as pessoas não têm tempo, e às vezes, nem paciência para ouvir conversas prolongadas.

Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que você fala demais. Às vezes não percebemos defeitos em nós mesmos. Não é raro observar pessoas criticando outras porque são prolixas quando elas mesmas, que fazem as críticas, parecem verdadeiras matracas. Alguns sinais poderão servir como luz amarela para você ficar atento.

Procure se lembrar se alguém já fez algum tipo de comentário sobre o fato de você falar muito. Tente recordar ainda se você mesmo já se surpreendeu por não ter percebido como o tempo passou tão rapidamente enquanto falava. Essa reflexão servirá para que fique atento e comece a analisar melhor sua maneira de falar.

A vaidade intelectual é um dos maiores motivos para que alguém se torne prolixo. Certas pessoas não resistem à tentação de mostrar seus conhecimentos e revelar seu brilho intelectual. Basta o tema ter pelo menos uma remota ligação com o que aprenderam em livros, nos bancos escolares ou por qualquer outro meio, e não terão nenhum escrúpulo para incluí-los na mensagem.

A conversa ou apresentação fica parecida com uma árvore cheia de galhos. Caminham em determinada direção e mudam a trajetória no meio do caminho para incluírem nova informação, em seguida outra, depois mais uma. De tal forma que os ouvintes não conseguem mais acompanhar o raciocínio. Às vezes, nem mesmo aquele que fala.

Se este for o seu caso, resista e não se desvie da rota traçada inicialmente. A não ser que a informação seja muito relevante, a tal ponto de comprometer o entendimento e o sentido da mensagem, deixe-a de lado. Essa “demonstração de conhecimento” além de não ajudar na elucidação do assunto, poderá prejudicar a compreensão dos ouvintes.

Trace uma reta e permita poucos desvios à rota determinada. Faça sempre esta pergunta: em que medida essa nova informação será útil para o resultado da apresentação? Se concluir que ela apenas servirá para demonstrar seu conhecimento e dotes intelectuais, não deve ser incluída.

A falta de um objetivo claro pode obrigá-lo a dar voltas nas conversas ou apresentações sem que saiba exatamente aonde deseja chegar. Pode parecer estranho, mas muitas pessoas expõem a mensagem sem saber qual

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sua real finalidade. Afinal, o que você deseja com sua exposição? Convencer, esclarecer, entreter, informar? Estabeleça seu objetivo principal e se dedique para atingi-lo.

Não saber ordenar o raciocínio tira a objetividade da apresentação. Se você não souber qual o rumo que pretende seguir, terá dificuldade para cumprir de forma correta todas as etapas da apresentação. Seja disciplinado e estabeleça como será o início, o meio e o fim. Parece tão simples, mas são poucos aqueles que conseguem dar esses passos tão elementares.

Tomando esses cuidados, você evitará divagações desnecessárias, irá com mais objetividade ao ponto, facilitará a compreensão dos ouvintes e conquistará o sucesso que deseja com suas apresentações. Não é complicado, mas exige um pouco de trabalho, dedicação e bastante humildade. Vale a pena. O resultado será gratificante.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Descubra se as pessoas o consideram prolixo • Saiba como começar, desenvolver e concluir suas apresentações • Não inclua informações desnecessárias só para mostrar

conhecimento • Estabeleça com clareza seus objetivos para você mesmo

143 143 143 143 ---- Seis ensinamentos para você ser Seis ensinamentos para você ser Seis ensinamentos para você ser Seis ensinamentos para você ser umumumum palestrante vitorioso palestrante vitorioso palestrante vitorioso palestrante vitorioso

Às vezes vemos um palestrante bem-sucedido e ficamos curiosos para

saber como foi sua trajetória para se projetar tanto. A receita é simples, mas exige empenho e muita dedicação. Um dos palestrantes mais famosos e requisitados nos últimos tempos é o Max Gehringer. Dá para aprender muito com ele.

Além da sua larga experiência como presidente de importantes empresas multinacionais, Max se tornou um dos mais brilhantes escritores da história corporativa brasileira. Faz grande sucesso como comentarista sobre carreira na Rádio CBN e no programa Fantástico, da TV Globo.

Acompanho sua trajetória há muitos anos, desde a época em que era dos principais articulistas das revistas 'Exame', 'Você S.A.' e 'VIP', antes de se transferir para a revista 'Época'. Onde põe a mão faz sucesso. Não poderia ser diferente com suas palestras. Conseguiu transferir para os palcos a mesma leveza e bom-humor dos seus textos. Veja seis ensinamentos desse craque da tribuna:

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Primeiro ensinamento:Primeiro ensinamento:Primeiro ensinamento:Primeiro ensinamento: escolhendo o tema. Ele escolhe o tema da sua palestra de maneira bastante criteriosa. As organizações que o contratam sabem que ele aplica determinado fio condutor em suas apresentações. A cada evento, entretanto, este sedutor de plateias usa sua larga experiência como principal executivo de grandes organizações e o conhecimento adquirido como estudioso dedicado da vida corporativa para adaptar o conteúdo aos interesses do cliente.

Essa capacidade de estabelecer correlação entre os ensinamentos da sua palestra e a aplicação prática na vida dos ouvintes faz com que todos levem uma mensagem útil para as diversas atividades que desenvolvem, seja no relacionamento social, seja na vida profissional.

Segundo ensinamento:Segundo ensinamento:Segundo ensinamento:Segundo ensinamento: conquistando os ouvintes. Logo nos primeiros momentos Max mede a capacidade de compreensão da plateia. Começa com uma isca sutil que sempre provoca a reação do público. Se as pessoas reagirem rápido e de forma intensa, o caminho será mais leve e tranquilo até o final.

Se, entretanto, a resposta for lenta, sabe que deverá voltar à página dois da cartilha e redobrar seus esforços para explicar melhor os pontos que irá abordar. Esse respeito à capacidade de entendimento do público é um dos motivos que o torna tão admirado.

Terceiro ensinamento:Terceiro ensinamento:Terceiro ensinamento:Terceiro ensinamento: mantendo a atenção. Manter concentração dos ouvintes o tempo todo é uma obstinação para ele. Max é tão preocupado em segurar a plateia ligada do princípio ao fim da palestra que teve o cuidado de gravar a reação de diversos públicos enquanto se apresentava.

De posse das gravações analisou criteriosamente cada instante da sua apresentação para identificar quais os momentos em que o público começava a dispersar. Segundo ele, se os ouvintes se levantam muito para ir ao banheiro ou atender às ligações telefônicas tem algo errado com a palestra.

Para esses instantes críticos introduziu histórias interessantes e fatos bem-humorados que funcionam para recuperar e manter a atenção do grupo. Se você ficar do lado de fora da sala onde o Max se apresenta, irá constatar que suas brincadeiras funcionam, pois ouvirá risadas do público no máximo a cada dois minutos.

Quarto ensinamento:Quarto ensinamento:Quarto ensinamento:Quarto ensinamento: recuperando a concentração. Por mais que um palestrante se esforce, não tem jeito, depois de algum tempo alguns ouvintes ficam desatentos. O recurso preferido de Max para “trazer o público de volta à apresentação” é contar histórias pessoais bem-humoradas que estejam ligadas à realidade da assistência.

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Esse artifício atinge vários objetivos. Além de mostrar o lado humano do palestrante, relaxa a plateia e mantém a concentração dos ouvintes. Essas histórias ajudam o público a se lembrar dos conceitos que foram discutidos. Passados meses e até anos, os ouvintes ainda se recordam das histórias que ouviram.

Quinto ensinamento:Quinto ensinamento:Quinto ensinamento:Quinto ensinamento: garantindo o resultado. Max se considera sempre mais um dente da engrenagem que movimenta o evento para ser bem-sucedido. Por isso, faz de tudo para que a sua participação ajude no resultado do encontro. Sendo assim, não admite falhas e exige muito profissionalismo do pessoal que dá suporte ao evento.

Procura não conversar com ninguém enquanto cada equipamento, cabo ou aparelho de som não esteja em perfeito funcionamento. Se você contratar o Max, tenha certeza de que ele cumprirá a parte dele, mas esteja certo também de que ele exigirá que você cumpra a sua.

Se, entretanto, algo der errado, não se preocupe, pois ninguém como ele sabe contornar os contratempos. Pouco antes de uma de suas palestras o local ficou sem energia. Enquanto todos se desesperavam por causa do incidente, com toda a tranquilidade ele se apresentou apenas com luz de vela. E, mais uma vez, foi um sucesso.

Sexto ensinamento:Sexto ensinamento:Sexto ensinamento:Sexto ensinamento: encerrando bem. A maior preocupação de Max é deixar uma mensagem que sirva de reflexão para os ouvintes. Ele aproveita o encerramento da palestra para deixar dicas práticas para que as pessoas possam aplicar no dia seguinte. Sua intenção é a de que esses conselhos tenham efeito multiplicador e se espalhem para todos os setores da empresa.

Max Gehringer, como eu disse no início, é, sem dúvida, um dos mais brilhantes palestrantes da história do país. Seu sucesso não chegou de um dia para outro. Construiu sua trajetória com muita disciplina e trabalho. Por que não aproveitar esses ensinamentos que já estão prontos, à nossa disposição?!

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Escolha um tema que atenda às expectativas dos ouvintes • Conquiste a plateia logo no início • Mantenha a atenção do público contando histórias

interessantes • Seja bem-sucedido garantindo o sucesso do evento de que

participa

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144 144 144 144 ---- Você fala uma coisa e as pessoas entendem Você fala uma coisa e as pessoas entendem Você fala uma coisa e as pessoas entendem Você fala uma coisa e as pessoas entendem outra outra outra outra É possível que você já tenha observado inúmeros desentendimentos

por problemas de comunicação. Um diz: não foi nada disso que eu disse. Você está ficando maluco? E o outro responde: maluco é você. Diz uma coisa e depois quer passar a borracha para apagar as asneiras que falou.

O curioso dessa história é que todos estão certos. Foi exatamente o que um falou e exatamente o que o outro ouviu. E a explicação é simples: a mensagem não é formada apenas pelo que é falado, nem somente pelo que é ouvido. A mensagem é o que resulta do encontro do que é falado e do que é ouvido. Por isso, tanta confusão.

Quando você fala, se vale de palavras e conceitos desenvolvidos com sua formação, experiência, preconceitos, medos. Quem ouve o que você diz, interpreta as palavras e conceitos a partir da formação e experiência dele. O encontro dessas duas experiências produz uma mensagem que pode ser distinta de acordo com o ponto de vista de cada um.

Mesmo tendo consciência desse processo da comunicação de vez em quando me surpreendo com o resultado de alguns textos que escrevo. Há pouco tempo fiz uma análise da comunicação do presidente Lula. Como sei que a política desperta sentimentos fortes nas pessoas tive o cuidado de fazer uma análise bem técnica. Deu confusão do mesmo jeito.

Recebi grande quantidade de e-mails me censurando porque elogiei o presidente Lula. E praticamente o mesmo número de mensagens indignadas porque falei mal dele. Quando as minhas palavras se encontraram com a história de vida, crenças e valores dos leitores produziram mensagens diferentes.

Parodiando Nelson Rodrigues, querer unanimidade na opinião dos leitores é desejar o aplauso da burrice. Quem se dispõe a escrever deve ter em mente que as pessoas são diferentes, pensam de maneira diversa, reagem de forma distinta umas das outras.

O processo da comunicação oral pode ir além da escrita dependendo do local, da época, de quem está presente, do que ocorreu antes, do tom de voz e da expressão corporal do orador. Pois temos de considerar que os objetos, ruídos, imagens, cheiros provocam lembranças e reações próprios de cada ambiente.

Ao expor suas ideias tenha sempre o cuidado de levar em conta a formação, a experiência e expectativas dos ouvintes. Avalie o impacto que suas palavras provocarão nessas pessoas e que tipo de mensagem irá prevalecer. É uma cautela que evitará equívocos e proporcionará bons resultados nas apresentações.

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SUPESUPESUPESUPERDICAS DA SEMANARDICAS DA SEMANARDICAS DA SEMANARDICAS DA SEMANA

• O que você fala nem sempre é o que as pessoas ouvem • Considere a formação e experiências dos ouvintes • Adapte a mensagem de acordo com as características dos

ouvintes • Faça uma boa avaliação dos ouvintes. Só assim terá sucesso

145 145 145 145 ---- Amor Amor Amor Amores incertos no mundo corporativoes incertos no mundo corporativoes incertos no mundo corporativoes incertos no mundo corporativo

Oscar Wilde disse que a vida imita a arte muito mais do que a arte

imita a vida. Profundo. Permite mesmo uma boa reflexão. Lembro-me de quando vi pela televisão o Boeing 767-223 da American Airlines se chocando com uma das torres gêmeas no World Trade Center em Nova York, naquele aterrorizante 11 de setembro de 2001. Pensei: a imaginação desses cineastas não tem limite.

Demorei um bom tempo para tomar consciência de que não se tratava de um filme, mas sim de uma cena real. Afinal, nesse exemplo, a vida não só imitava a arte, mas apresentava ingredientes que estavam além dela. Até hoje quando assisto a algum documentário que reproduz aquelas cenas custo a acreditar que sejam reais.

Assim é com a nossa vida em todas as dimensões. Lemos um livro com a sensação de que se tratam apenas de fatos imaginários, e pouco tempo depois nos surpreendemos com episódios do cotidiano semelhantes àqueles idealizados pelo autor da obra. Não raro somos obrigados a aplaudir Oscar Wilde ao constatar que ele estava certo ao fazer a afirmação que fez.

No mundo corporativo o quadro é semelhante. Praticamente todos os episódios vividos nas corporações podem ser encontrados nos romances. Se você leu algum livro escrito por John Grisham ou assistiu a algum filme baseado em suas histórias deve ter observado que as narrativas dele não fogem do que se pode experimentar dentro das empresas. Só para citar dois dos mais conhecidos, “A firma” e “Dossiê Pelicano”

Certa vez, durante uma viagem que fiz aos Estados Unidos, comecei a ler um livro seu intitulado “Nas arquibancadas”. Como se tratava da história de um jogador de futebol americano, esporte pelo qual não tenho interesse por desconhecer suas regras, resolvi interromper a leitura. Já havia lido todos os livros que levara na viagem e só restava esse.

Sem outra opção retomei a leitura e para minha grande surpresa gostei bastante da história. Nessa época eu estava reescrevendo o livro

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“Vença o medo de falar em público” e pude aproveitar uma cena extraordinária da obra “Nas arquibancadas” para ilustrar um dos capítulos do meu livro. É o momento em que o protagonista da história entra em pânico quando precisa falar diante de uma plateia. Foi uma descrição tão real que serviu como uma luva para o que eu precisava.

Recentemente minha filha Roberta Polito lançou o romance “Amores incertos” pela Editora Europa. É uma história de amor onde duas mulheres disputam o mesmo homem. Olhando na superfície este livro não teria nenhuma ligação com a vida corporativa, mas ao mergulhar em suas páginas a opinião passa a ser outra.

A protagonista Marina Spinelli vive um dilema que atormenta muitos de nós, continuar trabalhando como empregada ou montar seu próprio negócio. No seu caso, manter o emprego seguro como psicóloga em um hospital psiquiátrico ou fazer o que mais deseja, montar seu próprio consultório.

O marido dela, Edu, também vive um conflito profissional, continuar fazendo o que sabe e domina ou migrar para a área de Recursos Humanos, na qual não tem experiência, mas que passa a ser seu objetivo de vida. Deixar uma atividade que não nos proporciona sentido de realização, mas que nos mantém financeiramente, e partir para outra de que gostamos, mas sem os mesmos benefícios financeiros é uma decisão difícil.

Edu tem ainda a oportunidade de trabalhar na Inglaterra e se mostra muito competente no desempenho de suas tarefas. A autora delineia uma encruzilhada enfrentada por muitos de nós, deixar o país de que gostamos, onde estão nossa família e nossos amigos, e nos aventurarmos em terras estranhas, tendo de aprender a conviver com outras pessoas e uma cultura, às vezes, totalmente distinta da nossa, ou permanecer sem tentar o desafio.

Já o sedutor professor de arte de Marina, Luca Bérgamo, não se incomodou em deixar a família de que tanto gostava em Siena para ministrar aulas nos museus e academias de Florença. E não pensaria duas vezes em se mudar para o Brasil se essa atitude fosse necessária para viver um grande amor. Por isso, alguns de nós arrumamos as malas com tanta facilidade, enquanto outros jamais pensariam nessa possibilidade.

O romance de Roberta fala também do domínio que algumas pessoas passam a ter sobre nossa vida profissional, pois têm nas mãos o poder de decidir o que seria adequado para nós mesmos. Aceitar essas imposições de maneira cômoda e conveniente, com prejuízo da nossa dignidade, ou nos rebelar para que possamos ter a vida nas próprias mãos também passa a ser uma escolha difícil.

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Portanto, romances apresentados nos livros, no teatro ou nos filmes podem nos mostrar a realidade que nós mesmos vivemos, especialmente na vida corporativa. É o que Mário Vargas Llosa chama de “persuasão” em seu livro “Cartas a um jovem escritor”. É o instante em que a história imaginada pelo autor se confunde com a realidade. Afinal, repetindo o que disse Oscar Wilde “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aproveite os romances para refletir sobre sua vida profissional • Saiba o que os autores imaginam sobre a vida corporativa • Tome decisões bem pensadas. Se não decidir, já decidiu errado • A arte imita a vida. Sim, mas às vezes a vida imita a arte

146 146 146 146 ---- Descontentamento é o maior problema Descontentamento é o maior problema Descontentamento é o maior problema Descontentamento é o maior problema

Os problemas de comunicação não surgem isoladamente. São, na

verdade, partes interdependentes de uma engrenagem muito mais complexa que precisa funcionar de forma harmoniosa. Só para exemplificar, se um executivo enfrenta problemas familiares, por mais que queira se distanciar dessa pressão doméstica, fatalmente sentirá as consequências na qualidade da sua comunicação.

Da mesma forma, se o ambiente na empresa não contribuir para a tranquilidade e o bem-estar do profissional, a qualidade da comunicação poderá ser afetada. Disputas internas, descontentamentos, situações mal resolvidas, frustrações e sentimentos de impotência impedem, às vezes, que o profissional se expresse de forma competente.

Portanto, para falar bem não bastam apenas os aspectos técnicos da comunicação, mas também as questões emocionais que envolvem o profissional e suas relações com o ambiente onde desenvolve suas atividades. Os problemas são recorrentes e vale a pena refletir sobre eles.

Aqueles que acompanham meus textos semanais nesses mais de três anos em que escrevo aqui neste espaço falando sobre comunicação, carreira e comportamento sabem que meu e-mail fica disponível para quem desejar comentar, elogiando, criticando, sugerindo ou complementando os temas abordados. Tenho todas as correspondências guardadas e respondo a todas elas.

Ao fazer um balanço dos e-mails que tenho recebido constatei que a maioria me escreve para dizer que está descontente. Uns descontentes com a empresa, com a carreira, outros com colegas, superiores

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hierárquicos, subordinados. Enfim, o que não falta é gente reclamando, às vezes com razão, em outras ocasiões nem tanto.

Embora um e-mail normalmente não permita que as informações cheguem com os detalhes que deveriam ter e as reclamações surjam “viciadas” por mostrarem apenas um dos lados da questão, sempre é possível avaliar os problemas e classificá-los em grupos específicos.

Uma boa parte dos leitores escreve para reclamar porque estão descontentes com o ambiente de trabalho. Alguns se sentem perseguidos ou desconsiderados pelo chefe, outros dizem conviver com colegas “traíras”, que não perdem oportunidade para dar uma puxada no tapete. Não são poucos os descontentes com a baixa remuneração, a falta de perspectiva no desenvolvimento da carreira, ou por estarem há muito tempo trabalhando na mesma empresa.

Os que dizem estar tempo demasiado na mesma empresa apoiam sua reclamação no fato de que profissionais que não tiveram experiência em organizações diferentes são vistos como limitados e sem qualificação para enfrentar os novos desafios criados pelos tempos atuais. Posso dizer sim e não. Depende muito de cada caso.

Se, por um lado, desempenhar diferentes funções em diversas empresas pode aumentar o leque de oportunidades para a carreira, não é menos verdade que essa experiência pode ser adquirida em uma mesma organização. Basta que o profissional se prepare fazendo cursos adequados, trabalhe com competência em cada cargo que exercer, e procure novas oportunidades que lhe permitam crescer e se desenvolver. Se, entretanto, sentir que naquela empresa as portas se fecharam para o seu progresso, aí sim deverá sair a campo em busca de novas oportunidades.

Há aqueles que reclamam com toda razão do comportamento do chefe. São “líderes” que agem como tiranos, como se ainda vivessem na idade da pedra. Nesse caso não há muito que fazer além de tentar uma mudança de área ou procurar outro emprego. O cuidado que se deve ter é não demonstrar descontentamento e não fazer ameaça de que irá se demitir para não ser ainda mais prejudicado.

E mais, mesmo que troque de empresa, o melhor é pôr uma pedra em cima e não partir para a retaliação. Brigar com o chefe ou falar mal dele em qualquer lugar não contribui em nada para o progresso profissional. Portanto, ao se despedir não diga ao ex-chefe que está saindo por causa dele. É preferível dizer que irá a procura de novos desafios.

Por outro lado, há pessoas que reclamam do chefe porque acham que são mandões, que criticam o trabalho que fazem, que os acusam de não ser tão competentes. Pode ser que esses fatos ocorram realmente até na

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maioria dos casos, mas sinto que às vezes quem resmunga não tem razão. É sempre bom refletir bem para verificar se não é só uma questão de vaidade ou necessidade de achar um culpado para os fracassos da vida.

Trabalhar ao lado de pessoas falsas, inescrupulosas, interesseiras, maldosas, ou que mereçam adjetivos semelhantes é um sacrifício que ninguém merece. Se perceber que a pessoa que trabalha com você tem essas características, a melhor atitude é ficar na sua, e, de forma educada, tratar apenas de assuntos profissionais. Uma boa atitude também é manter o registro de tudo o que for discutido com ela. Um dia essas anotações poderão ser úteis.

Também nesse caso, percebo que algumas reclamações não têm fundamento. São mais fantasmas existentes no interior de quem reclama que fatos respaldados na realidade. Se alguém luta de maneira ética por uma promoção ou para se destacar com seu trabalho, a iniciativa deve ser vista como ação normal da vida. Perder ou ganhar disputas faz parte do jogo. Desde que essa busca seja legítima, aberta e leal não há motivo para desavença. Sacuda a poeira, dê a volta por cima e parta para novas conquistas.

Em todos esses casos está presente a habilidade de falar e de se relacionar. Quanto mais seguro e mais competente para se comunicar maiores serão as chances de se tornar um profissional vitorioso e bem-sucedido.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Você não ganha nada falando mal da ex-empresa ou do ex-chefe

• Reflita se as críticas que faz aos colegas não são motivadas por sua insegurança

• Pense bem antes de mudar de emprego. Nem sempre vale a pena

• Evite falar de assuntos pessoais com colegas de trabalho que não conheça bem

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147 147 147 147 ---- Dicas simples para usar bem Dicas simples para usar bem Dicas simples para usar bem Dicas simples para usar bem os recursosos recursosos recursosos recursos audiovisuais audiovisuais audiovisuais audiovisuais

Acabo de reescrever o livro “Recursos audiovisuais nas apresentações

de sucesso”. Em breve a nova edição revista, atualizada e ampliada chegará às livrarias. Desde que foi lançado no início dos anos 1990 esta é a terceira atualização que faço. A terceira e a mais abrangente de todas, pois nos últimos anos a maioria dos recursos visuais e audiovisuais caiu em desuso.

A associação de computadores e projetores não só facilitou a vida de quem precisa fazer apresentações como também tornou suas exposições muito mais eficientes. Os quadros digitais interativos promoveram verdadeira revolução nas salas de treinamentos. Além das projeções normais, possibilitam ao orador fazer anotações na tela, salvar, imprimir ou enviar por e-mail as informações projetadas e modificadas durante a apresentação.

Por isso, os retroprojetores, projetores de slides e de originais que há poucos anos tiveram tanto destaque nas aulas e palestras, foram substituídos pelos aparelhos atuais e estão praticamente encostados. Embora essas mudanças ajudem no resultado das apresentações, os procedimentos do orador, na maioria dos casos, não sofreram alterações.

Algumas orientações poderão ajudá-lo a se sair bem com o apoio dos recursos audiovisuais, independentemente de eles estarem ou não desatualizados:

Ao escolher um visual leve em conta que ele deverá atender a três objetivos essenciais:

Destacar as informações importantes. Analise as principais informações que compõem a mensagem e ponha no visual apenas aquela que seja efetivamente relevante;

Facilitar o acompanhamento do raciocínio. Escolha apenas o visual que ajude o ouvinte acompanhar a sequência do raciocínio;

Possibilitar a lembrança do assunto por tempo mais prolongado. Um visual apropriado permite que o ouvinte se lembre por muito mais tempo da mensagem apresentada;

Um visual não vale apenas pelo aspecto estético. Ele deverá ser suprimido se funcionar apenas como ilustração para tornar a apresentação mais atraente, se estiver no lugar de informações que poderiam ser transmitidas verbalmente ou se servir somente como um roteiro para o orador. Esteja muito bem preparado para falar sem ajuda dos visuais, pois, por um motivo ou outro, podem não funcionar.

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O uso do visual também será mais eficiente se diante do público você obedecer a esta sequência:

1 1 1 1 ---- Avise que irá projetar. Avise que irá projetar. Avise que irá projetar. Avise que irá projetar. Antes de projetar avise à plateia que irá

projetar a informação. Por exemplo: vamos analisar qual foi o melhor período de vendas do novo produto;

2 2 2 2 ---- Projete. Projete. Projete. Projete. Em seguida projete a informação prometida; 3 3 3 3 ---- Olhe. Olhe. Olhe. Olhe. Após projetar olhe na direção da tela onde foi projetada a

informação. Essa atitude servirá de exemplo e indicará aos ouvintes para onde deverão olhar;

4 4 4 4 ---- Comente. Comente. Comente. Comente. Faça um pequeno comentário sobre a informação projetada, o suficiente para que o público possa ler. Por exemplo: o primeiro trimestre foi o melhor período de vendas do nosso novo produto. Esse rápido comentário seria suficiente para que todos os ouvintes lessem as informações projetadas;

5 5 5 5 ---- Explique. Explique. Explique. Explique. De maneira geral, depois do comentário feito, as informações projetadas se transformam em “cenário” e, provavelmente, não desviarão a atenção da plateia. Nesse momento você poderá falar olhando diretamente para os ouvintes sem que o visual interfira na concentração do público. A não ser que precise mostrar as informações projetadas, como, por exemplo, no caso de gráficos.

Esses são alguns cuidados importantes para que você use o visual como um ótimo apoio e não corra o risco de se escravizar a ele.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Prefira projetar visuais que exijam tempo de elaboração e diante de plateias numerosas

• Para visuais simples e diante de pequenos grupos use flip chart ou quadro branco

• Use a regra 7X7 - no máximo 7 palavras e 7 linhas por visual • Faça pessoalmente a revisão dos visuais e dos parelhos que irá

usar • Produza visuais com tamanho de letra que possa ser visto por

todos os ouvintes • Evite letras muito desenhadas como as serifadas que dificultam

a leitura • Dê preferência àquelas com traços mais definidos, como os

tipos arial e tahoma

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148 148 148 148 ---- Minicurso para você falar bem Minicurso para você falar bem Minicurso para você falar bem Minicurso para você falar bem Este é um minicurso para você treinar e aperfeiçoar sozinho suas

habilidades de comunicação. Preparei um roteiro com respostas às perguntas mais comuns formuladas pelos alunos do nosso curso de expressão verbal. São questões que cobrem os aspectos mais relevantes da arte de falar em público. Acompanhe as orientações também pelos vídeos indicados no texto.

1 1 1 1 ---- Quando estou na frente do público parece que as mãos ficam Quando estou na frente do público parece que as mãos ficam Quando estou na frente do público parece que as mãos ficam Quando estou na frente do público parece que as mãos ficam

enormes e sobram dedos para todos os lados. Como deverei enormes e sobram dedos para todos os lados. Como deverei enormes e sobram dedos para todos os lados. Como deverei enormes e sobram dedos para todos os lados. Como deverei gesticular?gesticular?gesticular?gesticular?

Gesticular quando falamos em público não é muito diferente da gesticulação que usamos nas conversas mais informais com amigos, pessoas da família e colegas de trabalho. Se você fizer gestos diante dos ouvintes da mesma maneira como já faz nas conversas do cotidiano, com certeza irá acertar. Alguns conselhos que você poderá pôr em prática imediatamente para melhorar a gesticulação:

Faça gestos moderados, normalmente acima da linha da cintura e sem pressa de voltar com as mãos à posição de apoio. Esses cuidados farão com que a gesticulação diante da plateia seja muito parecida com a que você já está acostumado a usar e proporcionará um comportamento natural, espontâneo e expressivo. De forma objetiva e simplificada, a regra é procurar explicar com as mãos com moderação o que você está dizendo.

2 2 2 2 ---- Diante da plateia não vejo ninguém. Como devo olhar para o Diante da plateia não vejo ninguém. Como devo olhar para o Diante da plateia não vejo ninguém. Como devo olhar para o Diante da plateia não vejo ninguém. Como devo olhar para o

público?público?público?público? Com o tempo o nervosismo diminui e você passará a ver as pessoas.

Olhe para todos os lados da plateia. Gire o tronco e a cabeça para a esquerda e para a direita, de tal forma que além de enxergar os ouvintes, fará com que eles se sintam prestigiados com sua atenção.

3 3 3 3 ---- Com Com Com Como devo me posicionar diante do público? Posso me o devo me posicionar diante do público? Posso me o devo me posicionar diante do público? Posso me o devo me posicionar diante do público? Posso me

movimentar?movimentar?movimentar?movimentar? Já li alguns livros que dizem que a movimentação é importante, e outros que afirmam que é melhor ficar parado. Afinal, quem está com a razão?

Se você ficar imóvel diante do público, dificilmente conseguirá interagir com os ouvintes. Por outro lado, se você se movimentar demais, ou sem objetividade, passará a imagem de alguém inseguro, hesitante e sem convicção.

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Por isso, posicione-se naturalmente sobre as duas pernas, dando equilíbrio ao corpo e procure se movimentar quando houver alguma finalidade, como aproximar-se de uma parte da plateia que começa a ficar desatenta, para que voltem a prestar a atenção; ou para dar ênfase a determinadas informações que julgar relevante.

4 4 4 4 ---- Não gosto de ouvir m Não gosto de ouvir m Não gosto de ouvir m Não gosto de ouvir minha voz gravada e não sei como usáinha voz gravada e não sei como usáinha voz gravada e não sei como usáinha voz gravada e não sei como usá----la la la la

com eficiência.com eficiência.com eficiência.com eficiência. Algumas pessoas não gostam mesmo de ouvir a própria voz gravada.

Isso ocorre porque quando falamos ouvimos a voz pela ressonância óssea dentro da nossa cabeça. Entretanto, a voz gravada é propagada por ondas no ar e, por isso, muito diferente daquela que ouvimos quando falamos.

Acostume-se com sua própria voz gravada, pois com o tempo irá se familiarizar com ela e perceberá que se trata da mesma voz que está habituado a ouvir quando está falando.

5 5 5 5 ---- O O O O que posso fazer para melhorar a dicção? que posso fazer para melhorar a dicção? que posso fazer para melhorar a dicção? que posso fazer para melhorar a dicção? Para melhorar a dicção faça exercícios diários de leitura em voz alta

com duração de dois a três minutos. Pegue um texto qualquer, pode ser um artigo de jornal ou de revista, e faça a leitura colocando um obstáculo na boca, como o dedo dobrado, preso entre os dentes, como se estivesse com raiva - sem forçar (a ideia da raiva é só para mostrar como o dedo deve ficar dentro da boca).

6 6 6 6 ---- Qual o volume de voz apropriado? Qual o volume de voz apropriado? Qual o volume de voz apropriado? Qual o volume de voz apropriado? O volume da voz deverá ser de acordo com o ambiente onde você se

apresenta. Para aprender a adequar o volume da sua voz faça o seguinte exercício: ponha um gravador no fundo da sala e pronuncie algumas frases para verificar se o ouvinte que estaria na mesma distância em que se encontra o aparelho de gravação ouviria sua voz.

7 7 7 7 ---- E a velocidade da fala? E a velocidade da fala? E a velocidade da fala? E a velocidade da fala? Se você falar muito rápido ou muito devagar, faça exercício de leitura

de poesia em voz alta para desenvolver uma boa velocidade e um ritmo mais agradável, isto é, alternar o volume da voz e a velocidade da fala.

8 8 8 8 ---- Como posso melhorar o vocabulário? Como posso melhorar o vocabulário? Como posso melhorar o vocabulário? Como posso melhorar o vocabulário? A melhor atitude para que você tenha um bom vocabulário é falar

diante dos ouvintes da mesma maneira como você se expressa quando

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conversa com os familiares e amigos. Esse comportamento ajudará a tornar o vocabulário mais fluente.

Um bom exercício para desenvolver o vocabulário é ler textos de revistas ou jornais com uma caneta na mão. À medida que surgirem palavras diferentes ou outras de que não tenha muita certeza do significado, anote o termo e depois consulte o dicionário. Assim que aprender uma nova palavra passe a utilizá-la nas próximas conversas ou nas redações que fizer. Dessa forma será mais fácil fixá-la.

9999---- Como devo agir para planejar bem uma apresentação? Como devo agir para planejar bem uma apresentação? Como devo agir para planejar bem uma apresentação? Como devo agir para planejar bem uma apresentação? Conte sobre o que irá falar. Esclareça o problema que pretende

solucionar. Apresente a solução do problema com apoio de estatísticas, pesquisas, exemplos e comparações. Se julgar conveniente, conte uma história como ilustração. Rebata as possíveis resistências dos ouvintes. Encerre pedindo que reflitam ou ajam de acordo com sua proposta.

10 10 10 10 ---- Como devo fazer a introdução? Como devo fazer a introdução? Como devo fazer a introdução? Como devo fazer a introdução? Antes saiba o que deve ser evitado na introdução: começar contando

piadas, pedindo desculpas por problemas físicos ou pela falta de conhecimento sobre o assunto e tomar partido de um assunto logo no início quando pelo menos uma parte da plateia pensar de maneira diferente.

Inicie elogiando com sinceridade os ouvintes, para conquistar a

simpatia da plateia; contando uma pequena história interessante, que tenha ligação com o assunto; levantando uma reflexão que instigue as pessoas; mostrando os benefícios que o público terá ouvindo a mensagem.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Faça gestos que correspondam ao ritmo e à cadência da fala • Olhe para todos os lados da plateia • Procure falar em público com o mesmo vocabulário que usa

no dia a dia • Alterne o volume da voz e a velocidade da fala

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149 149 149 149 ---- Organize rápido sua mensagem Organize rápido sua mensagem Organize rápido sua mensagem Organize rápido sua mensagem Você tem um tema para desenvolver e não sabe por onde começar.

Olha para a tela do computador e observa o cursor piscando e as ideias não aparecem. Essa é uma situação comum, e ocorre todos os dias com muita gente dentro ou fora da vida corporativa. Veja algumas dicas simples para planejar suas apresentações de forma rápida e eficiente.

Ordene o assunto no tempo. A ordenação no tempo é um método simples, prático, e pode ser aplicado em quase todos os casos. Só pela sua denominação já dá para deduzir que é um recurso que mostra como as informações se apresentaram no passado, como se manifestam no presente e como se comportarão no futuro.

Além de ser excelente para organizar o pensamento e concatenar o raciocínio, este método produz grande interesse nos ouvintes, pela forma como expõe gradativamente a revelação das novidades. À medida que as diversas informações são mostradas, passa a existir maior expectativa nos ouvintes, que ficam curiosos para saber o que ocorreu e como os fatos se sucederão.

Para facilitar ainda mais a organização da mensagem, ao mencionar o fato ocorrido em um determinado tempo, procure analisá-lo dentro das circunstâncias sociais, econômicas e políticas da época mencionada. Você poderá ainda mencionar nas diferentes épocas alguma experiência pessoal. Essas informações despertam interesse e dão naturalidade à apresentação.

Ordene o assunto no espaço. O método da ordenação no espaço também é bastante simples e pode ser aplicado em quase todas as circunstâncias. Este recurso de organização da mensagem é muito útil porque, além de permitir a divisão do assunto, possibilita também o aproveitamento das circunstâncias que cercam o local mencionado, como, por exemplo, práticas religiosas, costumes sociais, atividades políticas etc.

Se, por exemplo, o seu tema fosse desenvolvimento industrial, você poderia mostrar como essa questão é tratada pelos americanos, pelos europeus, pelos asiáticos e pelos brasileiros. Ao falar sobre cada uma dessas regiões seria possível analisar as características de cada uma delas e associá-las com o método da ordenação no tempo. Essa associação produz ótimos resultados.

Mostre os problemas e suas soluções. O método da solução dos problemas pode ajudá-lo a sistematizar as informações, permitindo que você identifique os problemas a serem solucionados, analise a solução sugerida e em seguida comente as consequências dessa solução.

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É importante que você considere bem todos os ângulos do tema que irá expor, pois o que hoje pode parecer muito óbvio talvez em outra época tenha se constituído em um grave problema. Assim, ao relatar o problema existente em ocasiões passadas, poderá facilitar o entendimento da questão atual, fazendo um retrospecto, um histórico de como a questão se desenvolveu ao longo do tempo. Esse recurso pode criar um interesse adicional nos ouvintes.

Esses métodos podem ser usados separadamente ou associados. Desde que o uso dos recursos o ajude a planejar a sequência da mensagem e facilite a compreensão dos ouvintes você tem toda a liberdade para se valer deles da forma que julgar mais conveniente.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Organize a mensagem pensando sempre em como facilitar o entendimento dos ouvintes

• O melhor método é aquele que lhe permite usar mais seus conhecimentos

• O método só será ideal se as informações produzirem interesse nos ouvintes

• Qualquer método será bom desde que bem aplicado

150 150 150 150 ---- Você está preso às palavras? Você está preso às palavras? Você está preso às palavras? Você está preso às palavras? Às vezes somos prisioneiros das nossas próprias palavras. Mesmo sem

nos darmos conta, quase todos nós, de maneira mais ou menos acentuada, nos aprisionamos às palavras que proferimos. Por isso, vale a pena analisar essa importante questão.

Vamos refletir um pouco melhor a respeito do significado de muitas das tantas convicções que temos, certezas que contam nossa história de vida, uma narrativa incansavelmente tecida no dia a dia de nossa existência, para que possamos tomar consciência de que palavras são essas que podem nos aprisionar.

Quem tratou desse tema de maneira esclarecedora foi Walter Benjamin em “O narrador”: “Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira”.

Vamos considerar o “poder de contar sua vida” como sendo a experiência das diversas narrativas que somadas compõem nossa existência. E “contá-la inteira” é a possibilidade de harmonizar o nosso interior com o mundo que nos cerca.

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Trocando em miúdos: cabe a cada um de nós escolher como contar as nossas experiências e fazê-lo de forma positiva, vendo naquilo que vivenciamos o quanto crescemos, aprendemos e transformamos nossa existência. Como se pudéssemos viver diversas vidas, todas verdadeiras, mas com cores e nuanças diferentes.

Um bom exemplo de como é possível falar sobre o mesmo fato, ou a respeito da mesma pessoa de maneira completamente distinta são os debates políticos e o tribunal do júri. Um político fala de seu correligionário destacando as inúmeras virtudes e qualidades do candidato que defende, enquanto seu adversário, ao se referir à mesma pessoa, só vê defeitos e imperfeições.

O advogado de acusação, de maneira eloquente, faz um relato de todos os motivos que deveriam incriminar o réu, enquanto o advogado de defesa, com a mesma eloquência, se empenha em falar dos diversos pontos positivos que marcaram a vida do seu cliente. Talvez até todos tenham razão, pois dependerá sempre da maneira como a narrativa foi produzida.

O que demonstra que até sobre nós mesmos, ou a respeito das experiências que vivenciamos, haverá inúmeras formas de narrarmos as mesmas informações. Só que por nos aprisionarmos a uma visão única nem sempre conseguimos alterar a narrativa.

Somos a interpretação que fazemos do mundo. Como exemplo, mais cedo ou mais tarde talvez você tenha de atender a este pedido: ”Fale da sua experiência profissional”. Seja para conseguir um novo emprego ou para contar em uma entrevista como foi o sucesso da sua carreira.

Se você já passou por essa situação mais de uma vez, deve ter percebido que, provavelmente, contou sua história da mesma maneira. E, se tiver de contar outra vez, é quase certo que usará a mesma narrativa, valendo-se das mesmas circunstâncias, criando as mesmas expectativas e discorrendo a respeito dos mesmos desafios.

Você poderia contestar: 'E o que há de errado em agir assim? Acho até interessante narrar um fato da mesma maneira, porque com esse recurso é possível afastar as informações indesejáveis e aperfeiçoar ainda mais aquelas que sejam positivas'.

Você tem razão. Entretanto, a montanha possui vários lados, embora seja sempre a mesma montanha. Dependendo do seu posicionamento, verá a montanha de um jeito diferente, mas, se tiver de descrevê-la, independentemente do lado a que se refira, o tema da sua narrativa será o mesmo.

Exercitando contar sua experiência profissional de maneiras distintas você não irá mudar sua história, apenas aprenderá a descrevê-la por

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ângulos distintos. São nossas as opções, as escolhas das informações que tiveram significado na nossa vida. E dependendo da narrativa que adotarmos estaremos mostrando aos outros e a nós mesmos qual foi a interpretação que fizemos do mundo.

Ocorre que, de maneira geral, adotamos um viés de discurso e nos aprisionamos a ele, como se aquela forma de ver e encarar a vida fosse única, cristalizada e imutável - tornamo-nos prisioneiros das nossas próprias palavras.

Edgard Morin, na obra que escreveu com Jean-Louis Le Moigne, “Inteligência da complexidade” diz: “Nossas visões do mundo são as traduções do mundo”. Por isso, pela maneira como narramos os fatos que fizeram parte da nossa existência estaremos revelando também quem somos e como somos.

Não somos, entretanto, apenas uma coisa ou outra. A vida é muito mais ampla, aberta, repleta de experiências para as quais nem sempre atentamos. Habituamo-nos a dizer que somos de um determinado jeito e acabamos acreditando que somos mesmo sempre assim - “sou intolerante”, “sou rígido”, “sou desorganizado“. Sim, talvez até sejamos dessa forma algumas vezes, ou na maior parte do tempo, mas será que somos só isso?

Será que não seria possível recontar nossa interpretação do mundo, que no fundo faz parte da construção da nossa própria identidade, por prismas distintos, que conseguissem mostrar as outras facetas da vida mais abrangente que vivemos? Esse é um exercício possível que ajudará a nos libertar das palavras que adotamos para contar e recontar quem somos e como somos.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Veja se não está reclamando da vida só por reclamar • Observe se você é mesmo como diz ser • Experimente contar de maneiras diferentes uma história

conhecida • Reflita antes de responder mecanicamente a uma pergunta no

dia a dia

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151 151 151 151 ---- Conselhos para Serra e Dilma Conselhos para Serra e Dilma Conselhos para Serra e Dilma Conselhos para Serra e Dilma Foi dada a largada. Serra e Dilma (se quiser incluir outros candidatos

fique à vontade) terão poucos meses para conquistar os eleitores e vencer as eleições. É o momento em que, além do currículo de cada candidato, evidentemente, conta muito também a capacidade de comunicação.

Quem falar melhor, quem tiver mais habilidade oratória tocará o sentimento dos eleitores e ampliará as possibilidades de se sair vencedor nesse pleito. Talvez não tenhamos presenciado campanha mais acirrada em nossa história que essa que vamos acompanhar. É briga de gente grande e sem espaço para chororô. Vencerá o mais comunicativo.

Sem contar que a comparação com os dois últimos presidentes é inevitável. Lula e Fernando Henrique são dois craques na oratória. Dois sedutores de plateia que sabem tudo de tribuna, independentemente de discursarem na carroceria do caminhão ou no palanque eletrônico. Dilma e Serra terão a missão quase impossível de produzir discursos que cheguem perto de seus antecessores.

Os dois possuem uma característica comum: não são lá muito simpáticos. E em política simpatia é requisito essencial para vencer eleições. Lembro-me da época em que ainda era um garotinho. Toda vez que alguém aparecia cumprimentando com largo sorriso meu pai dizia: “esse deve ser político”. Porque, desde que o mundo é mundo, político que se preze precisa ser simpático.

Portanto, aqui vai minha contribuição aos dois candidatos. Algumas dicas simples de como conquistar os eleitores já no início de seus discursos. E vou me restringir à introdução porque é no princípio, logo nas primeiras palavras que o candidato conquistará ou não os ouvintes.

Dicas paDicas paDicas paDicas para conquistar a simpatiara conquistar a simpatiara conquistar a simpatiara conquistar a simpatia • Elogie honestamente os ouvintes. Atenção candidato. Elogio honesto, sincero, verdadeiro, pois se o

eleitor perceber falsidade interpretará a atitude como demagógica e poderá levantar resistências ao candidato. Ah, treine o sorriso para ser mais simpático. E antes que me esqueça, pare com essa besteira de “bom dia a todas e a todos”. Esse vocativo cheira falsidade, é muito “politicão”. Ao dizer “todos”, as “todas” já estão incluídas. Cumprimentar assim é demagogia. As mulheres percebem logo.

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• Demonstre envolvimento com o tema tratado. Cada tema deve ser tratado de acordo com sua importância.

Ninguém pode falar de desemprego como se fosse um assunto banal. Precisa falar com indignação e ao mesmo tempo mostrar confiança. Além disso, nada de chegar nos ambientes se sentindo por cima, como se fosse o rei da cocada preta. Se for preciso comer buchada de bode e tomar cafezinho frio, vá à luta. Sempre com semblante feliz.

• Fale de maneira simples e natural, sem afetação ou arrogância. Sei que estou pedindo demais para os dois. Entretanto, é assim que se

vencem eleições. E como, provavelmente, estão pleiteando a maior conquista da vida o caminho é esse: simplicidade e naturalidade.

Dicas para conquistar a atençãoDicas para conquistar a atençãoDicas para conquistar a atençãoDicas para conquistar a atenção • Use frases ou informações que provoquem impacto. Ouvinte de discurso político, de maneira geral, é indiferente e

apático. Por esse motivo precisa receber uma chacoalhada. Frases que provocam impacto ajudam a acordar os desligados.

• Narre um fato interessante e curto. A história interessante fisga a atenção das pessoas. Atenção,

entretanto, para o detalhe -deve ser sempre história bem curtinha. Só para chamar atenção e despertar interesse. Nada de novela nessa hora.

• Aproveite um acontecimento do ambiente e o transforme num fato

bem-humorado. Não consigo ver a Dilma ou o Serra contando piadas diante do

público. Dou risada só de pensar. Todavia, os dois são inteligentes e possuem presença de espírito. Se conseguirem aproveitar uma informação que nasce no próprio ambiente e transformá-la num fato bem-humorado conquistarão o interesse do público. O Lula é doutor nessa matéria.

• Levante uma reflexão para que comecem a pensar sobre o assunto. Se o candidato levantar uma reflexão a respeito de um tema

relevante, que toque o interesse dos ouvintes fará com que o público participe ativamente do processo de comunicação.

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• Mostre as vantagens e os benefícios que o assunto proporcionará. É da natureza humana. Só prestamos atenção na mensagem se

percebermos que teremos algum tipo de vantagem. Por isso, o candidato deve avaliar quais os benefícios a plateia terá com aquele assunto e revelar essa informação logo no início.

Dicas para quebrar a resistênciaDicas para quebrar a resistênciaDicas para quebrar a resistênciaDicas para quebrar a resistência Se a resistência for com relação ao candidato: os eleitores, quase

sempre, ficam resistentes com relação ao candidato quando não confiam na sua experiência e autoridade para assumir o cargo. Essa resistência deve ser quebrada já na introdução.

• Mostre, sutilmente, que possui bagagem para tratar do assunto.

Mencione, por exemplo, estudos realizados, projetos dos quais tenha participado, enfim, qualquer experiência associada ao tema. Coloque no pacote aqueles que foram desenvolvidos pelo governo do seu partido. Vale do mesmo jeito.

• Estabeleça laços de identidade, falando sobre a admiração que

possui por pessoas queridas do público. É só lembrar do velho ditado: “Quem meu filho beija minha boca adoça”.

• Faça citações de frases de pessoas respeitadas pelos ouvintes e que

correspondam à sua forma de pensar. Talvez você não tenha mesmo a experiência que os ouvintes gostariam que tivesse. Ou, talvez, tenha, mas sente que precisa reforçá-la ainda mais. Se a autoridade citada é respeitada pelo público, e a frase corresponde à posição que você defende, essa credibilidade poderá ser transportada para a sua mensagem.

Se a resistência for com relação ao assunto: só tome cuidado para não

fazer confusão. Às vezes pensamos que a resistência do ouvinte é com relação a nós, quando na verdade é com relação ao assunto. Para ter certeza basta responder à pergunta: se eu mudar de ideia, o ouvinte continuará sendo resistente? Se a resposta indicar que o ouvinte deixará de ser resistente, saberá que a bronca não é com você, mas sim com a ideia que defende.

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• Mencione os pontos comuns que possui com os ouvintes. Antes de apertar a jugular e dar sua opinião sobre os temas controversos, relacione os pontos comuns que possui com os ouvintes e comece a exposição mencionando cada um deles.

Os ouvintes deduzirão que a forma de pensar é a mesma e se desarmarão. Se der sua opinião logo no início, agradará aos eleitores que concordam com você, mas levantará ainda mais a resistência daqueles que pensam de maneira diferente.

Se a resistência for com relação ao ambiente. Nas situações onde os ouvintes se sintam desconfortáveis por causa do calor ou do frio, dos compromissos que possuem para aquele horário fora do ambiente, da fome, dos ruídos etc., o que mais desejam é não permanecer ali. Por isso, nessas circunstâncias, o melhor que tem a fazer é prometer que não consumirá muito tempo.

Falando nisso, os dois precisam tomar cuidado e respeitar o tempo dos ouvintes. Na posição que ocupavam até pouco tempo atrás todo mundo esperava “pacientemente” sem reclamar dos atrasos. Em campanha, tudo muda. Atrasou e fez esperar pode perder voto.

Vamos acompanhar de perto essa campanha e aproveitar para aprender um pouco mais sobre comunicação. Que vença o melhor... para o país.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aproveite a campanha eleitoral para aprender mais sobre comunicação

• Analise os argumentos de cada candidato e observe como o adversário se defende

• Imagine que você seja um dos candidatos e como agiria no lugar dele

• Estude a introdução da fala de cada um e pense numa forma de aperfeiçoá-la

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152 152 152 152 ---- Sonhos que por pouco não se realizam Sonhos que por pouco não se realizam Sonhos que por pouco não se realizam Sonhos que por pouco não se realizam No dia 4 de março foi comemorado o centenário de nascimento de

Tancredo Neves. Tancredo foi o primeiro presidente eleito depois de 20 anos da ditadura dos militares. Não foi eleito por eleições diretas já que a emenda constitucional não foi aprovada para o pleito de 1985.

Para o povo brasileiro, entretanto, Tancredo representava a voz da oposição e ainda que fosse de forma indireta interpretava a vontade popular. Pouco antes de tomar posse, todavia, ficou doente e faleceu sem ter assumido o cargo. Quem tomou posse foi o vice, José Sarney, que governou o país até 1990.

Há inúmeras histórias de eleitos que não chegaram a tomar posse. E não só na política. A Academia Brasileira de Letras também tem uma história curiosa de um acadêmico que não chegou a ocupar a cadeira. O fato foi relatado por Aloysio de Castro em seu discurso de posse.

No dia 14 de novembro de 1917 Aloysio ocupou a cadeira nº 5, que havia sido deixada por Oswaldo Cruz. Em seu discurso Aloysio contou que seu pai, Francisco de Castro, também médico, fora muito amigo de Machado de Assis.

No dia 10 de agosto de 1899 Francisco de Castro foi eleito para ocupar a cadeira nº 13 da Academia. Era um homem brilhante. Além de ser excelente orador, poeta sensível e dedicado ao ensino, era também um conversador admirável.

O tempo passou e o novo acadêmico não dava notícias sobre seu discurso de posse. Machado de Assis resolveu, então, visitá-lo para conversar e pedir que apressasse o término do discurso. Francisco de Castro atendeu à solicitação do velho amigo, concluiu seu discurso de posse, fez as revisões e o encaminhou ao autor de Quincas Borba.

Quis o destino, entretanto, que Francisco de Castro não pudesse ler sua peça oratória. Faleceu no dia 11 de outubro, pouco antes de ser empossado. Ficou para a história como o acadêmico que não chegou a pertencer a Academia.

No dia da sua posse, Aloysio de Castro dedicou boa parte do discurso para contar sobre a amizade de seu pai com Machado de Assis, e de como o fundador da Academia foi até sua casa estimular Francisco de Castro a concluir o discurso.

Fez referência a detalhes da conversa que presenciara entre os dois amigos, especialmente quando falaram sobre livros e o que faziam para protegê-los dos insetos. Comentou ainda, de forma emocionada, que essa foi a última vez que os dois se encontraram.

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Há algum tempo, “garimpando” velhos livros nos sebos do centro velho de São Paulo, encontrei em excelente estado um exemplar do livro com o discurso de posse do Francisco de Castro. Foi uma coincidência impressionante porque há poucas semanas eu acabara de ler o discurso de posse do seu filho Aloysio de Castro.

Fiquei emocionado ao ler aquele discurso que jamais seria usado em sua posse. Imaginei também a emoção sentida por seu filho ao revelar esses episódios no momento em que tomava posse na Academia. Um sonho realizado por ele, mas que não foi possível ao seu pai.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• De vez em quando passe por um sebo. Poderá encontrar obras excepcionais

• Aprimore a comunicação lendo discursos de bons oradores • Analise os discursos dos bons oradores estudando as técnicas

que adotaram • Não há discursos velhos ou novos. Há discursos bons e ruins,

novos e antigos

153 153 153 153 ---- Somos um país de proletários intelectuais Somos um país de proletários intelectuais Somos um país de proletários intelectuais Somos um país de proletários intelectuais Fiquei estarrecido. Há pouco tempo foram abertas inscrições para um

concurso público que deveria selecionar 1.400 garis no Rio de Janeiro. Pasme. Segundo a Companhia Municipal de Limpeza Urbana, 45 candidatos tinham doutorado, 22 mestrado, 1.026 nível superior completo e 3.180 superior incompleto.

Não há duvida, portanto, de que somos um país de “proletários intelectuais”. Coisa dos novos tempos. Há muita gente com canudo debaixo do braço e vivendo o desespero de não ter onde aplicar seus conhecimentos. Dê uma volta na primeira quadra movimentada de sua cidade e veja a quantidade de médicos, engenheiros e advogados.

Quando lancei o livro 'Oratória para advogados e estudantes de direito' pesquisei alguns dados que me intrigaram: além dos cerca de 3 milhões de estudantes de direito, segundo levantamento da OAB nacional há no Brasil 571.360 graduados. Ainda que os números sejam pouco maiores ou menores, merecem reflexão e análise.

Independentemente de qualquer observação complementar, os números absolutos são quase assustadores, mesmo levando em conta que nem todos exerçam a profissão. Basta dizer que o nosso país fica atrás

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apenas dos Estados Unidos e da Índia. O primeiro se explica pela força da sua riqueza. Este por causa do elevado número de habitantes.

Devido a esses dados, vou me ater no momento à profissão dos advogados. Para refletirmos se há um número exagerado de advogados, e não ficarmos apenas com as minhas informações, vamos analisar um trecho deste discurso do paraninfo de um curso de direito:

'Mas, haverá realmente advogados em demasia? Estamos aqui diante da maior turma de bacharéis formados pela

Faculdade de Direito de São Paulo. Constituirá isto um indício de que há advogados em demasia? Ou um sinal de que em nosso meio social ainda há lugares para os profissionais das letras jurídicas?

Os sábios professores João Arruda e Azevedo Marques puseram em foco a questão do proletariado intelectual em nosso país, encarando-a, porém, sob prismas diversos e apresentando soluções também dissidentes.

Não resta dúvida de que há no Brasil um grande proletariado intelectual. Há falta de braços nas indústrias e na lavoura; mas há muitos letrados sem emprego, sendo grande a proporção dos necessitados.'

Sem dúvida, as palavras do paraninfo são uma constatação do que temos notado todos os dias na profissão do advogado. O orador mostrou de forma clara as dificuldades que o advogado vai encontrar para desenvolver suas atividades no momento em que deixa os bancos da academia.

O fato curioso desse discurso, entretanto, é que ele foi proferido pelo professor Noé Azevedo, como paraninfo da turma de bacharelandos de 1938 da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Portanto, dizer que temos advogados demais não é nenhuma novidade, mas sim uma história que se conta há mais de 70 anos. Assim como em todas as profissões, seja dos médicos, seja dos engenheiros, seja dos economistas, seja dos administradores, também no direito vamos encontrar advogados e advogados.

Em todas as atividades, os profissionais competentes, que se dedicam aos estudos, ao aprimoramento, à atualização, à prática encontrarão campo de trabalho. Todos os bons advogados, médicos, engenheiros que conheço estão sempre com agenda tomada, precisando de tempo extra para dar conta dos seus processos, cirurgias, consultas e projetos. Portanto, este é o caminho a ser seguido: não importa a profissão que tenha abraçado, seja muito bom naquilo que faz.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Estude todos os dias temas da sua atividade • Faça cursos de aperfeiçoamento e de especialização • Nunca se sinta pronto e preparado para sua profissão. Saiba

cada vez mais • Seja o melhor que puder ser e não precisará se importar com

crises • Fuja dos 'resmungões'. Na sua atividade, sempre haverá gente

bem sucedida

154 154 154 154 ---- Aproveite bem a sua voz Aproveite bem a sua voz Aproveite bem a sua voz Aproveite bem a sua voz Você poderá tornar suas apresentações mais eficientes e produtivas se

souber usar a voz de forma correta. Para que você possa explorar bem esse importante aspecto da comunicação, basta pôr em prática alguns cuidados bastante simples. Atenção, se você tiver algum problema na voz, procure um fonoaudiólogo. É o profissional indicado para fazer uma avaliação adequada e apresentar a melhor solução.

Tenha bom volume. Talvez não fosse necessário alertá-lo para não falar baixo diante de plateias numerosas, nem muito alto nas pequenas reuniões com duas ou três pessoas. Entretanto, tenho observado tantos oradores contrariando essa regra tão simples que não posso deixar de fazer esse comentário.

O volume da voz deve ser estabelecido de acordo com o ambiente, o tipo de mensagem e a constituição do aparelho fonador. Todos esses aspectos precisam atuar de forma harmoniosa para o sucesso da apresentação.

Avalie a acústica da sala. Esteja preparado para falar mais alto se a sala tiver janelas e portas abertas que permitem a entrada de ruídos externos e se os aparelhos de ar-condicionado forem barulhentos. Para acertar no volume, verifique ainda a que distância você ficará dos últimos ouvintes e se poderá contar ou não com ajuda de um microfone.

Procure sempre usar o volume de voz um pouco mais alto do que seria suficiente para que as pessoas ouvissem, desde que não se sintam agredidas, evidentemente. Assim, se tiver de falar para um grupo de 20 pessoas, fale como se a plateia fosse de 50 ouvintes. Se o auditório for de 50, fale como se estivesse diante de 100. Esse volume adicional fará com que você demonstre mais envolvimento e interesse pela mensagem que transmite.

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Se contar com auxílio de um microfone, procure posicioná-lo um pouco abaixo da boca, mais ou menos na altura do queixo. Cada microfone tem uma sensibilidade própria, mas, de maneira geral, irá captar bem o som se estiver afastado uns 10 centímetros da boca.

Tenha boa velocidade. Você irá falar mais rápido ou devagar dependendo da sua capacidade de respiração, da sua emoção, da maneira como pronuncia as palavras, do tipo de sentimento que pretende transmitir com a mensagem.

Se você tem o hábito de falar depressa e se sente desconfortável quando tenta falar mais devagar, porque o pensamento não flui com a mesma facilidade, continue com sua velocidade, mas aprimore e desenvolva alguns recursos que serão importantes para melhorar a qualidade da sua comunicação.

Pronuncie bem as palavras, faça pausa no final do raciocínio e repita as informações importantes. Se você, que fala depressa, usar de maneira apropriada esses recursos, poderá transformar essa característica num estilo positivo de comunicação.

Se, ao contrário, você costuma falar muito devagar, e não se sente muito bem quando procura falar mais rápido, continue falando da mesma maneira, mas procure aprimorar alguns recursos que irão ajudá-lo a tornar sua comunicação mais eficiente.

Ao concluir o raciocínio, enquanto faz a pausa, continue a olhar para os ouvintes. Ao completar o pensamento, pronuncie as palavras com a inflexão de voz apropriada, para demonstrar que encerrou a informação.

Depois das pausas mais prolongadas, habitue-se a voltar a falar com mais energia, dando ênfase às primeiras palavras para demonstrar que naqueles instantes de silêncio você estava optando pela melhor sequência das ideias.

Se você que fala depressa usar de maneira apropriada esses recursos, especialmente das pausas e da comunicação visual, poderá transformar essa característica num estilo positivo de comunicação.

Fale com ritmo agradável. A comunicação expressiva, envolvente, está na alternância do volume da voz e da velocidade da fala. Em determinados momentos, devemos falar mais alto, em outros mais baixo; em alguns instantes devemos falar mais rápido, em outros mais lentamente.

Assim, com esse ritmo, vamos envolvendo e motivando as pessoas a acompanhar a mensagem que transmitimos. Fique atento, porque, se falar sempre com a mesma velocidade e o mesmo volume de voz, o máximo que irá conseguir é provocar sonolência na plateia.

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Dois conselhos finais. Há dois fatores importantes para o bom resultado de uma apresentação: a qualidade do som e uma boa noite de sono. Se você tiver de fazer uma apresentação importante procure descansar bem à noite, para que a voz esteja em boas condições no dia seguinte. Quando não dormimos bem, a voz fica frágil, sem vida e não permite que a comunicação seja disposta e envolvente.

Sempre que puder, cuide pessoalmente do som. Teste os aparelhos e verifique se o retorno está bom, isto é, se consegue ouvir bem pelo alto-falante o som da própria voz. Se tiver problemas com o retorno, talvez você se obrigue a falar mais alto e poderá, por isso, prejudicar a qualidade da voz.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Diante de ouvintes idosos procure falar um pouco mais alto. • Salas com carpetes e muitas cortinas podem interferir na

acústica do ambiente. • Fale para que as pessoas localizadas mais ao fundo da sala

possam ouvir. • Alterne a velocidade da fala e o volume da voz para ter bom

ritmo. • Faça leitura de textos em voz alta para melhorar a dicção e a

respiração.

155 155 155 155 ---- Histórias que podem atrapalha Histórias que podem atrapalha Histórias que podem atrapalha Histórias que podem atrapalharrrr Hoje vou falar da arte de contar histórias. Não das histórias

desgarradas, solitárias, que bastam por si. Quero discutir as histórias que são convidadas para participar como coadjuvantes de espetáculos onde nunca chegam a ser protagonistas. Desejo alertar para o perigo da presença de algumas histórias tão inadequadas que chegam a desandar o show.

Houve época em que a praga se limitava às histórias aprendidas nos cursos de oratória. Os professores ensinavam algumas pequenas fábulas e parábolas apenas como exemplo, para que os alunos as tomassem como modelo para suas ilustrações nos exercícios em sala de aula.

Esses estudantes, entretanto, por serem comodistas, não se valiam delas apenas nos treinamentos da arte de falar em público, excediam, extrapolavam, incluíam-nas em seu repertório e as levavam a tiracolo em todas as circunstâncias. Eram as mesmas histórias nos brindes de batismo, nas defesas de tese de doutorado, até nas baladas para xavecar.

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Era só alguém contar uma história durante uma palestra e já se ouvia a corrente de murmúrio no auditório, comentando em que curso ele deveria ter aprendido aquela que de original não tinha nada. Nem preciso dizer que essas histórias tiravam o encanto das apresentações.

Hoje, a fonte deixou em parte de ser os cursos de oratória e migrou para as pesquisas pessoais dos palestrantes. Uns, sem muita criatividade e nenhum escrúpulo, ouvindo e copiando outros, ou chafurdando na Internet, sem considerar que o mundo está de olho nas mesmas histórias.

É desesperador. Você não acredita que vai ouvir aquela historinha de novo, mas pela entonação do palestrante e o andar manjado da diligência, literalmente, não dá outra, pois já se pode vislumbrar a chegada daquela pérola que meio mundo gosta de contar.

Quando é autoplágio ainda vá lá. Não serei eu, um autoplagiador confesso e assumido, que vou atirar a primeira granada, pois como castigo merecido ela estouraria em minha própria mão. Refiro-me, portanto, às histórias que todos os palestrantes contam com frequência.

O problema atingiu uma dimensão tão preocupante que alguns colegas de tribuna chegam a contar a mesma história para a mesma plateia no mesmo evento - um pela manhã e outro à tarde. Como aquele que fala à tarde não fica sabendo o que o colega disse pela manhã, embarca no iceberg e muda só o nome dos bichos.

Pela manhã eram dois correndo de um leão, e um deles para e calça o tênis. À tarde são os mesmos dois correndo, só que agora de um tigre. Mas a sequência é a mesmíssima:

- Hei, não adianta você calçar o tênis, jamais conseguirá correr mais

que o leão / tigre. - Mais que o leão / tigre eu não vou correr, mas mais que você sim. Aí o palestrante da tarde, que tem certeza de que contou uma história

inédita, fica aguardando a reação dos ouvintes, mas só consegue perceber, sem entender, algumas fisionomias contrariadas. E passa a se lamentar: onde foi que errei?

Como participo de eventos em que vários palestrantes se apresentam um após o outro, já vi inúmeras vezes um deles anotando a boa história que o outro acabou de contar. Penso comigo: esse vai fazer besteira, porque está se apropriando de uma história que possivelmente será contada por aquele palestrante em outras circunstâncias.

Contar histórias em apresentações, sejam palestras, conferências ou simples aulas é um recurso excepcional de comunicação. Praticamente

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todos os palestrantes de agenda cheia e bem-remunerados são bons contadores de histórias. Eu mesmo, antes de uma palestra, faço a revisão não só do conteúdo, mas principalmente das histórias que vou usar para tornar a mensagem mais clara e interessante.

Entretanto, se não for um erro, é com certeza um risco muito grande contar histórias muito conhecidas, aquelas preferidas por onze de cada dez palestrantes. As melhores histórias são aquelas que você encontra nas suas leituras de livros, jornais e revistas, ou ouve nos filmes, peças de teatro e conversas sociais.

Essas histórias serão suas, diferentes, e por isso despertarão o interesse e criarão maior expectativa nos ouvintes. Se, entretanto, resolver contar uma história surrada pelo uso, ponha a criatividade para funcionar e revista-a com uma roupagem nova, atraente, de tal maneira que pareça aos ouvintes uma peça inédita, como se estivessem ouvindo aquela narrativa pela primeira vez.

Lembre-se, porém, de que não basta apenas trocar o nome dos bichos, pois, nessa arte de contar história, uma troca de leão por tigre, bicho continua sendo bicho.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• As histórias são um ótimo recurso como ilustração para as mensagens

• Evite contar histórias muito conhecidas • Aprenda a colecionar histórias que ouve nas conversas ou

encontra nas leituras • Só use histórias que possam ser contextualizadas, bem

associadas à mensagem

156 156 156 156 ---- Confiança, reputação e credibilidade Confiança, reputação e credibilidade Confiança, reputação e credibilidade Confiança, reputação e credibilidade Para que você conquiste bons resultados com a comunicação, é

preciso que tenha credibilidade. Não há outro caminho. As pessoas só aceitarão as ideias que você propuser se confiarem em suas palavras. E confiança não é um atributo que se adquire de uma hora para outra. É uma qualidade que precisa ser conquistada a cada instante com seu comportamento e sua postura.

Entenda que quando falo em comportamento e postura não estou afirmando que você deva ser do tipo bonzinho, que precisa concordar com tudo e agradar a todos. Não há dúvida de que amabilidade e gentileza são atributos importantes para que sejamos queridos e admirados, mas a

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conquista da confiança não se limita a esta simpatia pessoal; ela se apoia principalmente na coerência entre palavras e ações.

A credibilidade deve ser buscada em todos os momentos, desde as situações mais descontraídas, como nas conversas com amigos e familiares, até as circunstâncias mais formais, como nas reuniões de negócios ou nas importantes apresentações diante de plateias numerosas.

Às vezes sem perceber construímos armadilhas para nós mesmos. É natural que queiramos ser admirados e aceitos por todas as pessoas. Como temos consciência de que algumas qualidades favorecem nossa imagem e conseguem projetá-la de maneira bastante positiva, nós as desejamos tanto, que chegamos a acreditar que já as possuímos, e falamos como se elas estivessem mesmo incorporadas ao nosso comportamento.

Entretanto, as pessoas que nos cercam e que nos conhecem bem percebem que a realidade é diferente. Observam que falamos de uma forma, mas nos comportamos de maneira distinta. Pregamos a importância da disciplina, pontualidade, organização, mas nem sempre somos tão organizados, disciplinados ou pontuais.

Dizemos, por exemplo, que a tolerância com as pessoas mais humildes é uma prática que precisa estar presente nas nossas ações, mas nos mostramos intolerantes na primeira oportunidade. Afirmamos que usar de diplomacia é mais conveniente que perder o controle e ser tomado por explosões emocionais, porém agimos com destempero, gritando e esbravejando quando somos contrariados.

Esse descompasso, esse distanciamento entre o que defendemos e a forma como agimos não só compromete nossa imagem, como também, e o que é muito pior, tira nossa credibilidade. Analise bem como tem se comportado. Observe se as suas atitudes dão respaldo às suas palavras. Essa deve ser uma meta de todos nós: buscar cada vez mais coerência entre o que dizemos e a forma como agimos.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• As atitudes precisam corresponder ao que as palavras dizem • A reputação é construída a partir das pequenas ações • A credibilidade do orador é conquistada ainda fora da tribuna • Não se deve prometer o que não se pode cumprir • É preciso cumprir tudo o que for prometido

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157 157 157 157 ---- Uma jogada vista por diversos ângulos Uma jogada vista por diversos ângulos Uma jogada vista por diversos ângulos Uma jogada vista por diversos ângulos Há pouco tempo a seleção brasileira fez um jogo amistoso em

Zimbábue. Praticamente todos os jornalistas criticaram o Brasil por jogar no país governado pelo ditador Robert Mygabe. Não li nenhuma matéria que não tenha recriminado os brasileiros por terem realizado esse jogo.

Realmente não há como discordar. O ditador gastou uma grana para poder se promover em cima de um jogo de futebol. Ainda bem que Dunga teve o bom senso de recusar o convite para visitar o palácio de Robert Mygabe. Não só não foi como determinou que a comitiva não participasse do marketing oportunista.

Até aqui tudo certo. Esse raciocínio é lógico e segue a letra fria de uma cartilha interpretada por onze de cada dez jornalistas que se dispuseram a falar sobre o evento. Não foi por falta de espaço, entretanto, que outros ângulos da questão não foram observados.

Sim, e o outro lado? Será que outros ingredientes não poderiam ser vistos num assunto tão complexo, intrincado e que, embora tenha sido abordado por um único viés, não deixa de ser polêmico? Que tal analisarmos pontos que não foram tocados e que podem mostrar um cenário distinto de tudo o que foi comentado sobre esse episódio?

Ninguém comentou, por exemplo, que a realização desse jogo foi uma oportunidade única para dar alegria a um povo que já carrega sua cota de sacrifícios. Ou será que alguém imagina que os zimbabuenses gostam de viver debaixo de um regime ditatorial? Impedir que o Brasil se apresentasse naquele país seria penalizar duas vezes sua população. Viver na ditadura e não ver um jogo da seleção brasileira.

Imagine, por hipótese, que nas épocas em que vivemos sob a ditadura o povo brasileiro fosse impedido de assistir a bons jogos de futebol. Seria justo? Só para relembrar, o Brasil disputou seis copas sob ditaduras, duas na época em que o ditador era Getúlio Vargas e quatro com o regime militar. Como disse com propriedade Max Gehringer em uma das conversas que tivemos: as ditaduras são passageiras, o futebol é perene.

Esse é apenas um dos incontáveis temas que circulam pela imprensa no dia a dia. A leitura de jornais, revistas e textos publicados na internet é um dos melhores recursos para a aquisição de conteúdo. Devemos tomar cuidado, entretanto, com a análise das informações que recebemos para que possamos tirar nossas próprias conclusões.

Temos de ter em mente que um mesmo tema pode apresentar diferentes facetas que precisam ser observadas. Como nesse caso, se depois dessas ponderações você ainda julgar que o Brasil errou ao jogar em

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Zimbábue, tudo bem é uma opinião madura, bem pesada, que deve ser levada em consideração.

Se você decidir mudar de opinião, também está ótimo, pois refletiu sobre o tema e resolveu pensar de forma diferente. Esse deve ser o nosso comportamento - analisar as diversas opiniões, consultar a nossa razão e decidir sobre o melhor caminho a seguir.

Se mais tarde, chegarmos à conclusão mais uma vez de que deveríamos mudar a maneira de pensar, sem problema. Temos o direito de tomar a decisão que bem entendermos, desde que possamos pensar, refletir, avaliar e com isenção e liberdade adotar a posição que julgarmos mais conveniente.

Em uma apresentação não existe nada mais importante que o conteúdo. Por isso, temos de ser criteriosos na avaliação das informações que pretendemos transmitir. Um grave erro seria ouvir ou ler opiniões de terceiros e repeti-las como se todas estivessem sempre respaldadas em uma verdade absoluta.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• O conteúdo é aspecto mais importante para quem fala em público

• Leia jornais, revistas, ouça programas de rádio e assista à televisão para se informar

• Tenha o cuidado de analisar as informações por ângulos diferentes

• Desenvolva o hábito de ler jornalistas com visões diferentes para ter sua própria opinião

151515158888 ---- A mulher do político sobe no palanque A mulher do político sobe no palanque A mulher do político sobe no palanque A mulher do político sobe no palanque

A campanha política começa a ferver. Os candidatos lançam mão de

todas as armas de que dispõem para conquistar os votos dos eleitores. Uma das mais importantes é o aprimoramento da oratória, o que não é nenhuma novidade. Afinal, na maioria dos casos, os discursos políticos são os responsáveis pela vitória ou derrota nas eleições.

É pouco sabido, entretanto, que as mulheres dos candidatos políticos também vão à luta nessa época de campanha. Elas fazem reuniões, discursam, pedem voto, falam bem do marido e instigam as pessoas a comparecerem às urnas para exercerem a cidadania. Na maioria das vezes essas mulheres são mais autênticas e convincentes que os próprios candidatos.

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Algumas que me procuram aparecem tímidas, hesitantes, nervosas, sem muita convicção de que possam se sair bem nessa empreitada. No final, felizes, descobrem que sua competência oratória está acima, muito acima de suas próprias expectativas. Terminam o treinamento emocionadas, ávidas para mostrar ao marido o desempenho que podem ter na tribuna.

Todos os exercícios são gravados. É emocionante ver como elas colocam o DVD na bolsa, como se carregassem para casa um verdadeiro troféu. Muitas me contam que ao retornarem reúnem imediatamente a família para passar a gravação e mostrar como evoluíram no curso.

Algumas se saem tão bem na função de cabos eleitorais que também acabam se candidatando e vencendo eleições. A maioria, entretanto, assim que a votação termina, considera a missão cumprida e se recolhe na paz do lar para cuidar dos filhos.

Gosto muito de treinar as mulheres dos políticos. Quase sempre são pessoas anônimas, sem vaidade pessoal, que preferem distância dos holofotes. Se tivesse de definir o perfil dessas mulheres diria que são dedicadas, disciplinadas, obstinadas e corajosas. Não mentem. Apenas contam com entusiasmo o que sabem da atuação política do marido.

Na conversa inicial que tenho com elas, ouço histórias muito semelhantes. Precisam fazer discursos em pequenas reuniões para ajudar o marido a se eleger. O problema é que não sabem como se comportar. Algumas dizem ficar tão nervosas que não conseguem abrir a boca para pronunciar o próprio nome.

Pergunto o que conhecem sobre a atuação do marido. Praticamente todas sabem quantos projetos eles apresentaram, quantos foram aprovados e que benefícios proporcionaram à população. Em seguida peço que se dirijam à tribuna e repitam o que disseram para mim na conversa informal.

Problema resolvido. Descobrem que o diabo não é tão feio quanto imaginavam. Mais alguns exercícios e já estão morrendo de vontade de retornar às bases para falar dos feitos do marido, pedir votos e ajudá-lo a vencer as eleições. Por isso, quando você vir uma mulher discursando saiba que nem sempre é uma candidata, pode ser apenas a mulher do candidato.

Ah, em 35 anos fazendo esse trabalho nunca recebi um único marido de candidata política.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Ajude o parceiro ou a parceira em seus projetos de vida • A família é o maior estímulo e amparo que se pode ter • Os concorrentes e adversários devem estar fora, não dentro de

casa • Às vezes, para ajudar, basta apenas ouvir

159 159 159 159 ---- Dunga Dunga Dunga Dunga

Na vida, você pode perder ou ganhar. Além da competência e do

preparo, há diversos fatores que precisam ser considerados, como sorte, acaso, coincidência etc. Na política, por exemplo, quantos vices que não teriam a mínima chance de ocupar a cadeira de presidente ou de governador acabaram chegando lá. Só para relembrar, podemos citar os casos de Sarney com a morte de Tancredo, Itamar com o impeachment de Collor e de Alckmin com a morte de Covas.

No esporte, a presença dos aspectos fortuitos é ainda mais gritante. Na Copa do Mundo, por exemplo, quando existe diferença técnica acentuada entre os times, dificilmente a sorte e o acaso poderão interferir. Nos jogos entre seleções com o mesmo peso, entretanto, o detalhe inesperado faz a diferença. Por isso é um jogo que precisa ser jogado. Caso contrário bastaria entregar a taça àquele considerado melhor.

Lembra do jogo entre Brasil e Inglaterra na copa de 2002? Aquele timaço do Felipão também talvez tivesse ficado nas quartas de final se não fosse o gol de falta do Ronaldinho do meio da rua - acho que a mais de 40 metros. Se ele chutar mil bolas como aquela não vai repetir o gol. E assim tantos outros lances casuais que mudaram a história das Copas.

Fiz todo esse preâmbulo para dizer que Dunga é meu ídolo! Fazer uma afirmação como essa hoje, depois de o Brasil ter saído tão cedo da Copa do Mundo, parece heresia. Afinal, Dunga virou saco de pancada preferido da maioria. Burro, incompetente, despreparado, grosseiro são alguns dos adjetivos mais comuns ouvidos nos botecos, salas de aula e programas esportivos do rádio ou televisão.

Em sala de aula e nas palestras, tenho tido o topete de dar minha opinião que contraria o sentimento geral. É uma loucura, só falta jogarem tomate na minha cabeça. Começam com um “você não está falando sério”, até terminar com semblantes contrariados. Meu consolo é que alguns na aula seguinte dizem que refletiram melhor e até acham que tenho razão em certos pontos.

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Bem, você deve estar curioso para saber por que defendo uma ideia tão antipática. É uma questão de coerência para o que sempre defendi na vida: seriedade, trabalho e competência. Gosto de gente focada em suas tarefas e comprometida com resultados.

Um dia antes do jogo do Brasil com a Holanda, Dunga tinha 70% de aprovação do povo brasileiro (Datafolha). O time canarinho fez um primeiro tempo mágico, excepcional, digno de constar em livro. Por pouco não fez o segundo e o terceiro gols. Foi um passeio no time holandês.

No segundo tempo, de um lance fortuito, uma fatalidade, de uma jogada que enganou o melhor goleiro do mundo e bateu na cabeça do defensor, saiu o gol de empate e desestabilizou o time. Quero ver quem não ficaria atordoado com um gol daqueles. Pouco depois saiu o segundo gol, também de cabeça. Ironia do destino, pois esse era um dos melhores fundamentos da nossa excelente seleção.

Perdemos. Coisa de futebol. Como eu disse, entre times de qualidade semelhante o resultado fica por conta de detalhes inesperados. Os críticos, principalmente parte da imprensa raivosa, espinafraram o técnico. Se tivéssemos vencido, o que seria natural, estariam todos agora enaltecendo os princípios adotados por Dunga.

Uma jogada infeliz e a “farândola ignóbil”, como diria o príncipe dos advogados Waldir Troncoso Perez, coloca os demônios para fora tentando encontrar um culpado. O que me deixa atônito é o fato de alguns jogadores e jornalistas que vivem há décadas no meio futebolístico reagirem emocionalmente como se os resultados tivessem de ser matemáticos.

Certas pessoas dizem que faltou liderança ao técnico. Pergunte ao Júlio César, Kaká, Lúcio se eles não gostam do Dunga. Todos o elogiam. Não acredito que alguém possa dizer que esses jogadores sejam mentirosos, inexperientes, incompetentes, levianos. Se conviveram com Dunga durante todo esse tempo, acatando suas orientações, e o admiram algum motivo existe.

Sei que pode parecer delírio, mas eu permaneceria com o mesmo técnico e a mesma filosofia de trabalho para a Copa de 2014 aqui no Brasil. Assim como acontece com os clubes, quando não ganham, o primeiro a ser sacrificado é o técnico. Só para recordar: depois da derrota do Brasil em Copas passadas caíram de pau em cima do Feola, Zagalo, Lazaroni, Parreira, Cláudio Coutinho. Não sobrou um. Com Dunga não seria diferente.

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Ah, e se o goleiro Casillas da Espanha não tira com a pontinha do pé aquela bola que já estava entrando, chutada cara a cara pelo atacante holandês, a história da copa de 2010 seria outra. Pois é, são os detalhes que mudam o rumo dos jogos entre seleções com qualidade técnica parecida.

Agora vamos esquecer os jogos da Copa e começar a conviver com os embates políticos. Muito mais sérios e importantes que um jogo de futebol. Por incrível que pareça, também nesse caso, os detalhes poderão ser responsáveis pela vitória ou derrota do candidato.

Uma frase mal formulada, uma reação inesperada, uma afirmação infeliz poderá determinar o resultado das eleições e fazer com que o eleito seja o responsável pelos destinos da nossa nação por quatro ou oito anos. Que vença o melhor para o Brasil.

Bem, que venham os e-mails para comentar. A liberdade de opinião começa por aí.

SUPERDICAS DA SEMANA SUPERDICAS DA SEMANA SUPERDICAS DA SEMANA SUPERDICAS DA SEMANA

• Esteja preparado sempre, mas saiba que alguns detalhes podem fugir do controle

• Faça o melhor que puder agora para ser forte na adversidade • Na vida nem sempre vencemos, mas a retidão de caráter e de

princípios nos protegerá • Mesmo com a certeza da vitória, esteja preparado para a

derrota que parecia impossível

160 160 160 160 ---- Como falam os candidatos à Presidência Como falam os candidatos à Presidência Como falam os candidatos à Presidência Como falam os candidatos à Presidência Nas últimas semanas, os três principais candidatos à Presidência, José

Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva foram entrevistados na TV. Cada um com seu estilo, com suas qualidades e defeitos tentaram convencer os telespectadores de que estão preparados para chegar ao Palácio do Planalto.

Fiz uma avaliação técnica da comunicação dos candidatos e procurei identificar em cada um quais são suas características mais importantes, seus pontos fortes e onde está o calcanhar de Aquiles. Acompanhe esta análise e compare com sua opinião. Se não ajudar a escolher o melhor candidato, pelo menos servirá como aprendizado para a comunicação.

Durante as entrevistas todos procuraram usar o humor e a descontração. Esse é um dos melhores recursos para demonstrar naturalidade e um importante ingrediente para conquistar credibilidade.

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Eu estava curioso para ver como se sairiam, pois os três nunca foram muito chegados a fazer gracinhas.

Fiquei surpreso com a desenvoltura do trio. Todos acertaram nesse aspecto, pois as brincadeiras foram na medida certa e no momento oportuno, sem risco de caírem na vulgaridade. Ponto positivo para os três.

Os três também abordaram os assuntos relevantes com envolvimento e boa dose de emoção. Demonstrar interesse e envolvimento pelo assunto tratado é essencial para o orador. Afinal, como poderiam conquistar os eleitores se eles mesmos não demonstrassem interesse pelo tema que tratavam?!

Nesse quesito também houve acerto. Ninguém ultrapassou a linha amarela. Colocaram tempero na dose apropriada para a importância do tema abordado. Falar de maneira emocionada sobre assuntos triviais pode ser visto como teatro e comprometer a credibilidade. Mais um ponto positivo para os três.

Por melhor que tenha sido a participação dos três candidatos, nem tudo são flores. Com relação aos aspectos negativos, todos foram contemplados. Alguns podem ser considerados mais ou menos graves que outros e até influenciar na decisão de eleitor. Caberá a cada candidato se aplicar para corrigir os problemas e aperfeiçoar ainda mais sua comunicação.

Dilma tem um problema que só a experiência poderá sanar. Quando trata de assuntos que fogem um pouco do seu conhecimento, fala de maneira hesitante, procurando com dificuldade as palavras para compor o pensamento. Até consegue falar sobre o tema, mas deixa claro que aquela matéria não é bem a sua praia.

Essa é uma questão delicada e que precisa ser encarada com determinação pela candidata. Nos debates com os adversários e com o público, não será possível escolher as perguntas e os temas. Saber como se sair das situações mais delicadas é importante para não demonstrar insegurança ou fragilidade.

O problema da Marina está no fato de desviar com frequência os olhos dos interlocutores para se concentrar na mensagem e no vocabulário excessivamente politizado, com poucas alternâncias no volume da voz e na velocidade da fala. Em determinados momentos, a falta de ritmo chega a tornar a fala cansativa. Sem contar que é quase um discurso de uma nota só, pois gira sempre em torno de temas ambientalistas.

A candidata tem consciência dessa sua característica e tenta enveredar por outros temas que fogem do meio ambiente, mas seu envolvimento com a matéria é tão intenso que não resiste à tentação e

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sempre volta às questões ambientais. Quem deseja ser presidente da República, porém, precisa transitar com facilidade sobre a diversidade dos assuntos.

Serra tem fama de ser carrancudo. Em determinados momentos, quando é contrariado, fala de forma ríspida, mas faz grande esforço para frear esse ímpeto até com tiradas bem-humoradas. Entretanto, deixa evidente que está se esforçando para não ser agressivo. O candidato também demonstra ter consciência desse seu pronto frágil e procura se mostrar mais suave no momento de contestar as questões mais contundentes e brincar com a circunstância e com o entrevistador, mas sua atitude ainda não é natural. Vai precisar se exercitar bastante para se mostrar simpático sem fazer esforço.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Descubra seus pontos fracos na comunicação e trabalhe para eliminá-los

• Fale sempre com energia e envolvimento • Use o humor na medida certa, sem excesso nem falta • Se for atacado num debate, procure manter a serenidade para

não perder o controle

161 161 161 161 ---- Saiba f Saiba f Saiba f Saiba fazer apresentações para o chefeazer apresentações para o chefeazer apresentações para o chefeazer apresentações para o chefe ccccomomomom uso de recursos visuaisuso de recursos visuaisuso de recursos visuaisuso de recursos visuais

Apresentação de subordinado para chefe tem suas peculiaridades.

Como tem hierarquia na relação, quase sempre o chefe não tolera enrolação e exige objetividade. Essa história de subordinado esticar a exposição com excesso de detalhes pode não dar bom resultado. Especialmente se entrarem em jogo os recursos visuais.

Depois de três ou quatro telas, a paciência se esgota e surge a frase mais ou menos padrão: como é que é, vai demorar muito tempo para chegar ao ponto? Ou, quando a chefia pega mais leve: talvez desse para pular essas etapas intermediárias e chegar logo ao que interessa.

Dica para sequência da projeção Nas apresentações para o chefe, o procedimento mais indicado é

mostrar logo de saída um slide com resumo de toda a informação. Por exemplo, os custos, a receita, o resultado líquido e o tempo necessário para o retorno do investimento.

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LANÇAMENTO LANÇAMENTO LANÇAMENTO LANÇAMENTO Livro dá dicas para fazer apresentações De posse dessas informações, seria normal que o chefe desejasse saber

a seguir como o subordinado chegou àquele resultado. Assim, os slides com as fases iniciais do estudo poderiam ser expostas com tranquilidade e sem atropelos.

Apresentação com recursos visuais bem feitos não é sinônimo de excesso de sofisticação. Ao contrário, slides produzidos com cores exuberantes, sons chamativos, mudanças 'acrobáticas' das imagens podem dar a impressão ao chefe de que o subordinado perdeu mais tempo em mostrar suas habilidades em usar os recursos tecnológicos do que com o conteúdo da mensagem.

Dicas para elaboração dos visuaisDicas para elaboração dos visuaisDicas para elaboração dos visuaisDicas para elaboração dos visuais Para que um visual seja elaborado de maneira correta e eficiente, sem

falta nem excessos, siga estas orientações: 1 1 1 1 ---- Coloque um título 2 2 2 2 ---- Faça legendas 3 3 3 3 ---- Escreva com letras legíveis - prefira os tipos Arial e Tahoma em

corpo acima de 20 4 4 4 4 ---- Limite a quantidade do tamanho de letras - limite a três tamanhos 5 5 5 5 ---- Crie frases curtas - limite a sete palavras 6 6 6 6 ---- Use poucas linhas - limite a sete linhas 7 7 7 7 ---- Use cores - limite a três ou quatro cores 8 8 8 8 ---- Apresente apenas uma ideia em cada visual 9 9 9 9 ---- Utilize apenas uma ilustração em cada visual 10101010 ---- Retire tudo o que for dispensável ou incompatível com a

mensagem Cada vez mais os subordinados se relacionam com seus chefes sem

temores e com liberdade para se expressarem. Mesmo assim, por mais à vontade que o subordinado esteja, de uma maneira ou de outra é evidente que possa existir algum desconforto. Afinal, a hesitação ou o nervosismo, normais para quem fala em público ou em situações mais formais, podem pôr em jogo o futuro da sua carreira.

Saber como interagir com o interlocutor e usar as informações projetadas na tela é fundamental para demonstrar segurança e

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descontração. Por isso, o subordinado poderá seguir estes cinco passos para aumentar suas chances de sucesso:

1 1 1 1 ---- Avise. Avise o chefe que irá projetar a informação. Por exemplo:

vou mostrar o plano de vendas para o próximo semestre 2 2 2 2 ---- Projete 3 3 3 3 ---- Olhe. Após projetar, olhe na direção da tela para indicar onde ele

deverá se concentrar 4 4 4 4 ---- Comente. Faça um pequeno comentário ainda olhando na

direção da tela 5 5 5 5 ---- Explique. Passe a explicar naturalmente as informações

projetadas, mantendo contato visual com o interlocutor Nem sempre uma mensagem necessita de um visual para ser

transmitida. Um visual deve ser usado quando atinge esses três objetivos: destaca a informação importante, facilita o acompanhamento do raciocínio e permite que o ouvinte se lembre das informações por tempo mais prolongado.

Dica final importanteDica final importanteDica final importanteDica final importante Esteja bem preparado para falar usando recursos visuais, mas se

prepare ainda mais para falar sem eles. Não são raras as ocasiões em que surgem problemas com os equipamentos. Nesses casos é importante que a apresentação seja feita da melhor maneira possível mesmo sem a ajuda dos visuais.

162 162 162 162 ---- A fala certa do chefe para o subordinado A fala certa do chefe para o subordinado A fala certa do chefe para o subordinado A fala certa do chefe para o subordinado Cuidado com o jeito como você fala com o chefe. Esse tipo de

conselho é comum. Há pouco tempo fiz algumas sugestões de como o subordinado deveria fazer apresentações com apoio de visuais para o chefe. Chamei a atenção para a importância da objetividade e de ir diretamente ao ponto, sem enrolação.

Hoje vou mudar as posições do orador e do ouvinte. Quero discutir como o chefe deve agir para falar com o subordinado. Embora os aspectos estéticos relacionados à voz, ao vocabulário e à expressão corporal sejam os mesmos, a forma de transmitir a mensagem tem características diversas e peculiares.

O respeito deve ser o mesmo em todas as circunstâncias. Assim como o subordinado não deve contrariar gratuitamente a opinião do chefe em

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público, da mesma forma o chefe precisa tomar cuidado para não repreender o subordinado na frente dos outros funcionários.

No primeiro caso porque o chefe poderia se sentir diminuído e comprometer sua autoridade diante do grupo. No segundo porque o subordinado poderia se sentir humilhado e constrangido diante dos colegas. Contrariar a opinião do chefe ou chamar a atenção do subordinado são situações que exigem conversas particulares.

Além desses pontos, há outros mais complexos que exigem cuidados especiais com a comunicação. Fogem um pouco do conteúdo em si e têm a ver com a maneira de transmitir a mensagem. Conforme eu disse no princípio vou me ater a alguns aspectos da comunicação do chefe para o subordinado.

Talvez você já saiba que a promessa de brevidade é um dos recursos mais poderosos para quebrar a resistência dos ouvintes com relação ao ambiente. Se as pessoas estiverem cansadas, com pressa, desconfortáveis ou se sentindo pressionadas por terem de permanecer no local da apresentação, a promessa de brevidade é excelente para afastar esse tipo de resistência.

A regra é clara: a promessa de brevidade deve ser sutil e mostrar claramente o benefício dos ouvintes. Deve ser sutil porque se um orador diz apenas que será breve, talvez, os ouvintes não acreditem muito em suas palavras. Afinal, tantos oradores já prometeram brevidade e não cumpriram que esse recurso caiu um pouco no descrédito.

Portanto, o ideal é que o orador diga, por exemplo, que, para encerrar os debates do evento, o ponto que está faltando para fechar o raciocínio deverá ser tratado numa rápida pincelada, ou com uma brevíssima reflexão.

Deve mostrar claramente o benefício dos ouvintes para não dar a impressão de que o orador não está com vontade de falar com o grupo. Por isso, é recomendável dizer, por exemplo, que não irá consumir muito tempo porque sabe que todos ali trabalharam duro o dia todo e estão precisando descansar.

A questão passa a ser mais delicada quando o orador é o superior hierárquico. Não teria sentido o vice-presidente da empresa, por exemplo, demonstrar preocupação em não consumir muito tempo para beneficiar os gerentes e supervisores que participam da reunião. Além de não ser normal que tenham esse tipo de preocupação, dependendo da circunstância, sua autoridade poderia ser enfraquecida diante do grupo.

A presença do grande chefe, entretanto, não fará com que o aparelho de ar-condicionado deixe de fazer barulho, ou que a temperatura se torne

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mais agradável, ou que os compromissos desapareçam de suas agendas. A situação exige uma saída diplomática e inteligente. Nesse caso, a promessa de brevidade deverá ser feita de forma quase imperceptível, mas suficientemente clara para que as resistências sejam afastadas.

O orador poderá dizer, por exemplo: quero falar rapidamente sobre os critérios do controle de qualidade. Ou, vou falar um pouco sobre os planos de diversificação. Ao dizer que vai falar rapidamente ou um pouco sobre determinado tema, embora a promessa de brevidade esteja implícita, poderá parecer que ele vai falar apenas o tempo que o assunto precisa para ser esclarecido. É uma adequação da regra para que o recurso seja utilizado e atinja seu objetivo sem o risco de qualquer outra consequência negativa.

Outra regra comum e que garante bom resultado no início da apresentação é agradecer a presença dos ouvintes na reunião, pois as pessoas se sentem acolhidas e bem recebidas no ambiente. Considerando o exemplo anterior, entretanto, esse recurso também deveria sofrer adaptações, pois não seria natural que o grande chefe convocasse a reunião e depois tivesse a preocupação de agradecer a presença dos subordinados.

Nessa circunstância a atitude mais adequada seria cumprimentar a pontualidade de todos para tratar daquele assunto tão relevante.

Dessa forma, o chefe valorizaria a presença das pessoas, um ótimo recurso para conquistar a benevolência dos ouvintes, e teria a atenção desde o início ao revelar a importância do assunto.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não repreenda subordinados em público. Tenha uma conversa

particular • Não contrarie gratuitamente o chefe em público. Tenha uma

conversa reservada • Procure sempre a técnica mais adequada para cada situação • Por melhor que seja a técnica, analise a necessidade de adaptá-

la à circunstância

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163 163 163 163 ---- E se disserem o que você ia dizer? E se disserem o que você ia dizer? E se disserem o que você ia dizer? E se disserem o que você ia dizer? Sete dicas para sair dessa saia justaSete dicas para sair dessa saia justaSete dicas para sair dessa saia justaSete dicas para sair dessa saia justa

Um evento com a presença de vários palestrantes que falam sobre o

mesmo tema exige alguns cuidados especiais. Para não ser apanhado de surpresa siga estas sete orientações:

1 1 1 1 ---- Procure assistir às outras palestras para se certificar de que não

anteciparão assuntos que estavam incluídos na sua apresentação. 2 2 2 2 ---- Se, por qualquer motivo, você não puder assistir a essas palestras,

peça a alguém de sua confiança que assista e o inteire do que foi tratado antes da sua apresentação.

3 3 3 3 ---- Embora seja muito difícil, monte uma segunda palestra diferente para o caso de anteciparem tudo o que pretendia dizer. Mesmo que a qualidade da segunda palestra não seja a mesma, pelo menos você terá uma tábua de salvação. Não é fácil, pois até os grandes palestrantes, acostumados há muitos anos a enfrentar todo tipo de plateia, têm dificuldade para preparar uma palestra de reserva. Em todo o caso, vale a pena se dedicar ao preparo de uma segunda opção.

4 4 4 4 ---- Prepare sua palestra com exemplos visuais diferentes, especialmente vídeos ilustrativos, pois ao mudar a ilustração será possível alterar mais facilmente os comentários, além de passar a impressão de que se trata de temas novos.

5 5 5 5 ---- Colecione histórias para entreter a plateia e ilustrar sua mensagem. Se alguém que falou antes de você, por coincidência ou não, usou informações que normalmente usa nas suas palestras, a nova história poderá fazer toda a diferença. Entretanto, não tenha a esperança de que essas boas histórias surjam no momento em que estiver falando, colecione e prepare-as com antecedência e deixe-as na regra três, esperando o melhor momento para colocá-las em jogo.

6 6 6 6 ---- Prepare alguns exercícios para estimular a participação dos ouvintes. Assim, se outros palestrantes fizerem uso do que pretendia dizer, transforme a apresentação que seria teórica em uma exposição prática e interativa.

7 7 7 7 ---- Vá para os eventos desarmado e preparado ao mesmo tempo. Desarmado de preocupações, sabendo que sempre encontrará uma maneira de contornar as situações que surgirem; e preparado para não deixar que essas soluções sejam apenas obra do acaso.

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Para descontrair. Relatei aqui no UOL um momento de genialidade do Luiz Marins. Cerca de dez palestrantes haviam comentado antes dele sobre o lançamento do livro “Pensamento estratégico para os líderes de hoje e de amanhã”. Não sobrara nada para ele dizer. Veja como o experiente e bem-humorado palestrante usou sua presença de espírito para contornar a situação.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Se o palestrante “roubou” suas ideias, aproveite e faça comentários sobre o que ele disse

• Se o palestrante antecipar as regras que iria sugerir, fale como elas poderiam ser quebradas

• Não entre no horário dos outros palestrantes. Termine no tempo determinado

• Colabore com o evento. Se o tempo estiver estourado encurte sua apresentação

164 164 164 164 ---- Expressõ Expressõ Expressõ Expressões mágicas ajudam a encerrares mágicas ajudam a encerrares mágicas ajudam a encerrares mágicas ajudam a encerrar apresentações apresentações apresentações apresentações Muitos oradores encerram suas apresentações com um vazio e

inexpressivo “era isso o que eu tinha a dizer, muito obrigado”. Perdem assim a oportunidade de fazer uma conclusão poderosa, que leve os ouvintes a refletir ou agir de acordo com a proposta da mensagem.

Em alguns casos até encerram bem, com mensagem adequada à conclusão, mas demonstram pelo tom de voz que a fala teria continuidade. Como, entretanto, já haviam encerrado, soltam uma das pérolas próprias de quem não tem mais nada a dizer, como, por outro exemplo, “isso era tudo o que eu tinha para falar”.

Em certas circunstâncias, raríssimas, é bom ressaltar, o uso dessas frases no final do discurso pode ser apropriado para o contexto da exposição. Se, por exemplo, na conclusão o orador desejar afirmar que a posição que tomou é final e decisiva, esse encerramento pode demonstrar sua convicção. Ou seja, o que eu tinha para dizer era isso e não há mais nada a ser acrescentado.

De maneira geral, todavia, a conclusão deve ser forte e coroar a qualidade da apresentação. Embora uma conclusão bem-feita não chegue a salvar uma péssima apresentação, o certo é que um final correto valoriza muito um bom discurso.

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Algumas formas recomendadas para concluir o discurso: • Levante uma reflexão; • Use uma citação ou frase poética; • Peça ação; • Elogie com sinceridade os ouvintes; • Aproveite um fato bem-humorado; • Provoque arrebatamento.

Você escolherá a conclusão mais apropriada para cada tipo de

apresentação, considerando sempre o objetivo de levar os ouvintes à ação ou à reflexão. Embora você possa aproveitar informações nascidas no ambiente ou do próprio contexto da mensagem, tenha o cuidado de preparar com antecedência e com bastante critério o que pretende dizer no final.

Quando você encerrar a apresentação e perceber pelo tom de voz que o encerramento foi inconsistente, lance mão de algumas expressões mágicas para concluir: “assim sendo”, “dessa forma”, “com isso”, “portanto”, “espero que”. Você verá que esses recursos o levarão naturalmente a uma boa conclusão, com o tom de voz e a mensagem na medida certa para encerrar.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Mesmo que não tenha ido muito bem, não revele no final seu descontentamento à plateia.

• Saiba para aonde irá depois de encerrar. Vai se sentar ou ficar parado na frente do público?

• Não fique parado esperando os aplausos cessarem. Saia enquanto ainda estiverem aplaudindo.

• Se não souber o que fazer, tome a iniciativa de cumprimentar alguém sentado à sua frente.

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165 165 165 165 ---- Não fale da ativid Não fale da ativid Não fale da ativid Não fale da atividade paralelaade paralelaade paralelaade paralela Tive um aluno que atuava como gerente de uma grande construtora.

Ele participou com os colegas da mesma empresa de um curso de Expressão Verbal na minha escola. Eram 15 gerentes e cinco diretores. Embora os gerentes fossem subordinados diretamente a esses diretores, as diferenças hierárquicas não eram evidenciadas dentro da sala de aula.

Não preciso dizer, entretanto, que mesmo não sendo expostas as posições de comando e de subordinação continuavam existindo. Era possível notar, por exemplo, o olhar mais enviesado de um ou outro diretor quando um dos subordinados exagerava nas brincadeiras, ou se aproximava das fronteiras tênues da vulgaridade.

Tanto eu como o Professor Jairo, que ministra cursos comigo há mais de 30 anos, temos o cuidado de nunca criticar um aluno na frente dos colegas, especialmente se tratando de superiores e subordinados. Se temos de sugerir alguma mudança de comportamento ou a utilização de determinada técnica, a conversa é sempre reservada.

Foi o que precisei fazer com esse aluno. Todas as vezes em que ele se dirigia à tribuna para cumprir um exercício invariavelmente dava um jeito de citar como exemplo uma empresa que havia montado com a esposa. Seus olhos brilhavam de satisfação. Demonstrava orgulho daquele empreendimento. Era como se dissesse a todos: sou diferenciado, tenho aptidões que me distinguem de vocês.

Quase no final do primeiro dia de treinamento chamei esse aluno para uma conversa particular e sugeri que parasse de mencionar sua atividade paralela. Pedi que refletisse sobre a vantagem e os benefícios daquela atitude. Será que seria admirado pelos outros gerentes? Será que seria valorizado pelos diretores? Provavelmente não.

O mais certo é que despertasse inveja dos colegas e desconfiança dos superiores. Afinal, alguém que fala com tanto entusiasmo de outra atividade que desenvolve, talvez não esteja tão comprometido com seu trabalho na organização.

Portanto, essa vaidade de se dedicar a um empreendimento alternativo poderia prejudicar o futuro de sua carreira. Ele se convenceu imediatamente, agradeceu e fez a promessa a si mesmo de nunca mais tocar no assunto.

Ainda que se considere exagerada a pregação de Vieira, o certo é que afirma em um de seus sermões: “Platão mandava na sua República que nenhum oficial pudesse aprender duas artes. E a razão que dava era porque nenhum homem pode fazer bem dois ofícios”.

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A história mostra exemplos que contrariam as palavras de Vieira. Só para citar dois, Michelangelo e Da Vinci. Especialmente nos dias de hoje, com o extraordinário desenvolvimento da tecnologia, aprender e se aprimorar em mais de uma atividade chega a ser simples para muitas pessoas. Abraçar tarefas distintas e perder o foco já é diferente.

Por isso, mesmo que detenha ínfima parcela de uma sociedade, não leve esse assunto para dentro da empresa, muito menos discuta suas vitórias e agruras extramuro com pares ou superiores hierárquicos. Se achar que a atividade paralela é muito boa e lhe proporciona satisfação e bons rendimentos, pense em se dedicar a ela com exclusividade.

É importante ressaltar também que um profissional pode ser visto com bons olhos se usa parte do seu descanso semanal para desempenhar trabalhos voluntários, assim como poderia ser admirado se uma vez por semana ou a cada quinze dias atuasse como professor universitário, ensinando matérias ligadas à sua atividade.

Cabe a você refletir e ponderar sobre o que pretende na vida. Em qualquer circunstância, saiba que a empresa deseja contar cem por cento do tempo com um profissional, e, provavelmente, não tolerará que atividades paralelas sejam concorrentes das preocupações daqueles a quem paga o salário.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda quantas matérias desejar, mas desenvolva apenas uma

delas. • Se sua atividade paralela der mais satisfação, pense em se

dedicar a ela com exclusividade. • Se tiver uma atividade paralela, não discuta esse assunto na

empresa. • Não use seu tempo na empresa para tratar de negócios

próprios. Alguém vai saber. Mesmo que ninguém descubra, agindo assim você não será um bom profissional.

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166 166 166 166 ---- Comunicação de presidenciáveis melhora Comunicação de presidenciáveis melhora Comunicação de presidenciáveis melhora Comunicação de presidenciáveis melhora nananana campanha, mas ainda há erros campanha, mas ainda há erros campanha, mas ainda há erros campanha, mas ainda há erros

Dilma, Serra e Marina falaram durante alguns meses tentando

convencer os eleitores de que mereciam receber o voto no dia 3 de outubro. Para ser sincero, eu esperava um pouco mais de emoção nessa campanha. Como não quis ficar apenas com a minha opinião tenho perguntado nas palestras o que os ouvintes acharam dos debates e do programa eleitoral gratuito.

O comentário mais eloquente definiu a participação dos candidatos como morna. Frases repetidas, respostas previstas, tom de voz estudado, gestos programados, beirando ao artificialismo. Está duro de aguentar. E olhe que por força da profissão sou chegado em campanhas eleitorais.

Praticamente todos os candidatos se apaixonaram pelas próprias palavras e saíram repetindo as mesmas frases em todas as oportunidades. Plínio foi o único que ousou um pouco mais. Com ele nos debates a expectativa é a de uma acusação contundente, uma ironia sagaz, um deboche inteligente.

Embora suas ideias não empolguem, pois não consegue romper 1% das intenções de voto, sua maneira de comunicar é um tempero que torna essa campanha presidencial um pouco menos sem graça. Sem contar que do alto dos seus 80 anos é um exemplo de vida. Gostaria de chegar lá com esse pique.

Além dessa pasmaceira quase desanimadora, houve acertos e progressos que precisam ser considerados na comunicação dos candidatos. Por exemplo, fiquei surpreso com o grau de simpatia apresentado por eles. A Marina tem um jeito que nos cativa até sem falar. De Serra e Dilma eu não esperava um avanço tão espetacular.

Em abril, pouco antes de os candidatos iniciarem sua peregrinação, escrevi um artigo aqui no UOL com um pretensioso título 'Conselhos para Dilma e Serra'. Só aos dois, porque Marina Silva ainda não havia despontado como candidata no cenário nacional.

Entre os conselhos que dei aos candidatos, o mais importante naquela oportunidade foi que se mostrassem mais simpáticos. Um amigo dizia em tom de brincadeira que se colocássemos os dois juntos em um copo de água dariam azia em Sonrisal. Afirmei naquele momento que simpatia é requisito essencial para vencer eleições.

Serra, quem diria, passou a sorrir. Até antes de começar a falar já arma o sorriso. Em seguida põe um veludo na voz e destila “seu charme”. Seu maior mérito é apresentar essa simpatia até nas falas de improviso.

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Quero esperar um pouco mais para ver se não terá recaída depois das eleições.

Dilma ficou simpaticíssima no programa eleitoral gratuito pela televisão. Desenvolveu um tom de voz agradável e um sorriso constante que torna seu semblante arejado e cativante. Até as pausas acompanhadas do 'ééééé' que a mostram insegura nas falas de improviso e em alguns debates são produzidas na medida certa quando lê as mensagens no teleprompter.

Mesmo tendo muito menos experiência que Serra, quando faz uso do teleprompter Dilma conseguiu mais qualidade de comunicação que seu concorrente. Nas falas de improviso, ainda demonstra tensão, e o semblante perde espontaneidade.

Outro aspecto que evoluiu nos três candidatos foi a comunicação visual. Marina parou de fugir com os olhos. Dilma já não desvia tanto o olhar quando precisa procurar respostas. Serra parece que acertou de vez a direção da câmera. Há momentos de hesitação de um e de outro nesse quesito, mas, sem dúvida, melhoraram muito.

Ainda que os gestos pareçam programados em determinadas circunstâncias, é um aspecto que não compromete o resultado das apresentações. Na medida certa, sem excesso, nem falta, como reza a boa cartilha, as mãos não passam na frente do rosto diante das câmeras e acompanham bem o ritmo e a cadência da fala.

Marina é a que tem mais problemas com o vocabulário. Não que não encontre as palavras. Os termos aparecem até com certa facilidade para corporificar seu pensamento, mas são incompreensíveis para boa parte da população. É um linguajar extremamente politizado, incomum para pessoas não acostumadas à militância política.

Serra procura traduzir o economês, mas nem sempre consegue sucesso. Para ficar bom na campanha, precisaria ser ainda mais simplificado. Há momentos em que ele diz a mesma coisa duas vezes na tentativa de tornar a informação mais compreensível. Vai ficar bom quando sair de primeira.

Dilma alterna termos mais simples com palavras mais empoladas. Dá a impressão até que o vocabulário não é dela, tal a diferença de estilo dentro da mesma mensagem. Nas gravações para o horário eleitoral consegue a unidade de vocabulário, sendo que em determinados momentos a qualidade da sua leitura chega a ser até melhor que a de Serra.

Pois é, mesmo sendo uma campanha chata, sem muitos atrativos, o que os candidatos produziram será responsável por boa parte dos votos que

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conquistarão. Defendo a tese de que boa comunicação é aquela que consegue resultado. Portanto, as urnas dirão quem falou melhor. Que o vencedor seja o melhor para o Brasil.

167 167 167 167 ---- Demissão pelo comportamento Demissão pelo comportamento Demissão pelo comportamento Demissão pelo comportamento

Sou presidente da ONG Via de Acesso. Promovemos periodicamente

as “mesas redondas”. De um lado as melhores empresas de setores específicos (automobilismo, eletrônicos, construção civil etc.), do outro as principais faculdades e universidades.

Soa o gongo e começa a discussão. As empresas querem saber o que a escola pode fornecer de melhor para ser aproveitado no mercado de trabalho. As escolas querem saber o que as empresas necessitam na formação dos alunos para que sejam mais bem aproveitados.

Surpresa! As empresas continuam querendo “alunos de escola de primeiro nível”, mas começam a dar preferência a “alunos de primeiro nível”. Dizem que são melhores aqueles que “ralam”, superam desafios para pagar a escola, precisam estudar de madrugada e finais de semana. Estão mais calejados para os embates da vida corporativa.

Surpresa maior! Quase sempre os profissionais são admitidos pela competência ou potencial de desenvolvimento, e são demitidos pelo comportamento. Fatores como pontualidade, respeito, comprometimento são decisivos para que os profissionais permaneçam na empresa, sejam demitidos, fiquem estagnados, sejam promovidos.

Conclusão. Nesse trabalho voluntário que desenvolvemos na ONG Via de Acesso tomamos uma decisão: preparar cada vez mais e melhor o comportamento dos jovens. Ensinamos a se vestir, a falar, a escrever, a se comportar diante dos superiores hierárquicos etc. Bingo! O resultado é maravilhoso. Todas as empresas, sem exceção, elogiam os jovens que encaminhamos para elas.

Por isso, aprenda muito. Saiba tudo o que puder sobre os aspectos técnicos da sua atividade, mas não deixe de considerar um dos mais relevantes - o comportamento. Atenção geração Y: chegue com o chip na cabeça, com a criatividade, com o idealismo, até com a irreverência, mas não se esqueça de se comportar bem. Esse é o X da questão.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Participe gratuitamente de um trabalho de capacitação na

ONG Via de Acesso. • Aprenda como se comportar na empresa. • Saiba o que a geração X deseja dos jovens que estão chegando. • Aprenda a se comportar, mas não perca seu jeito de ser.

168 168 168 168 ---- Serra e Dilma deixam o ringue Serra e Dilma deixam o ringue Serra e Dilma deixam o ringue Serra e Dilma deixam o ringue

e aprimoram a comunicaçãoe aprimoram a comunicaçãoe aprimoram a comunicaçãoe aprimoram a comunicação Em alguns debates chegou a sair faísca entre os dois candidatos.

Quando ouvíamos Dilma dizer 'o candidato Serra', ou Serra começar com 'a Dilma', já sabíamos que vinha chumbo grosso na conversa. A resposta tinha o mesmo tom da acusação, sempre acompanhada de um revide.

A temperatura mais elevada dos confrontos, embora criticada por alguns analistas, aumentou o interesse dos telespectadores. Lógico que pessoas com boa formação abominam a baixaria. Entretanto, uma disputa mais acirrada mexe com a adrenalina e cai no gosto da maioria.

A linha que separa a acusação ácida da afronta pessoal é delicada e perigosa. Se, por um lado, ao se aproximar dessa fronteira, o candidato demonstrava mais coragem, confiança e determinação aos eleitores, por outro, maior passava a ser o risco de ultrapassar o limite e de se mostrar grosseiro e agressivo.

Tanto assim que os dois aproveitavam os raros momentos de excesso do adversário para avisar aos telespectadores que o outro havia abandonado o debate qualificado. Independentemente de quem seja seu candidato, deve concordar que identificar essa divisa imaginária no calor da discussão não é tarefa simples.

Todos nós, com maior ou menor grau, temos audição seletiva. De maneira geral, ouvimos e assimilamos o que vem ao encontro de nossos interesses, e nos afastamos das mensagens ou fatos que não nos interessam. Esse processo está presente de maneira acentuada nos debates políticos.

Quase todos ouvem apenas o que beneficia seu candidato e prejudica o adversário. Da mesma forma que se fecham para as informações que possam prejudicar seu candidato e beneficiar o adversário. Por isso, por mais isenta que possa ser a avaliação do comportamento de um e de outro, sempre haverá discordância. Mesmo assim vamos aos fatos.

A disputa pela Presidência da República permitiu que os dois candidatos, José Serra e Dilma Rousseff, aprimorassem a comunicação.

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Embora Serra tivesse muito mais experiência, devido às inúmeras campanhas políticas em que se envolveu, aperfeiçoou ainda mais a maneira de se comunicar. Dilma, caloura em campanhas eleitorais, aprendeu rápido, em poucos meses.

O maior problema de Dilma no início da campanha era a insegurança. Produzia pausas indevidas no meio do raciocínio, repetia palavras, exagerava no uso de expressões como 'eu acho que' e 'no que se refere' (cerca de dez em um único debate) e se valia de gestos demasiadamente estudados. Dava a impressão de que havia decorado as informações.

O processo normal é ter um pensamento e encontrar as palavras adequadas para corporificar o raciocínio. Devido à insegurança e falta de domínio sobre alguns temas, Dilma se sentia desconfortável ao fazer as pausas. Por isso, se precipitava em pronunciar logo as palavras, invertendo o processo, pois tentava encontrar a sequência do pensamento a partir das palavras. Esse era o principal motivo das repetições, dos 'ééééé' nas pausas e até de certa gagueira.

Serra sempre foi tido como carrancudo e antipático. Esse comportamento poderia afastá-lo dos eleitores. Consciente do problema procurou se mostrar mais simpático nos primeiros debates e nas entrevistas. Ficava evidente, entretanto, essa vontade de mudança, tirando assim parte da sua naturalidade.

No transcorrer da campanha os dois candidatos foram corrigindo os defeitos e aperfeiçoando os aspectos positivos. Dilma ficou mais segura e fluente na exposição de suas ideias. Diminuiu as interrupções indevidas e adquiriu mais tranquilidade para suportar os momentos de pausa. Depois de se mostrar agressiva no primeiro debate do segundo turno, se recompôs nos últimos confrontos, demonstrando convicção e assertividade, mesmo quando acuada.

Serra passou a sorrir de maneira mais espontânea e incluiu um ingrediente excepcional em sua forma de falar, a emoção. As conclusões que fez nos últimos debates foram exemplares. Falou com envolvimento, disposição e boa dose de eloquência.

Permaneceram pequenos senões que, provavelmente, não devem interferir na opinião dos eleitores. Serra se valeu da ironia em vários momentos. Por se tratar de um recurso sutil, que demonstra inteligência e presença de espírito, cativa as pessoas com boa formação intelectual e que já decidiram votar nele. Por outro lado, esse comportamento chega a ser perigoso em campanhas políticas, pois pode afastar os eleitores que ainda precisam ser conquistados.

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Dilma merece todos os elogios. Inexperiente nas disputas eleitorais, teve como adversário um dos oradores mais competentes da atualidade. Poucos políticos são tão eficientes na tribuna quanto Serra. Mesmo assim, passada a fase inicial de adaptação, ela não se intimidou e entrou na jaula para combater a fera.

Também no seu caso alguns aspectos ficaram pendentes. Talvez não representem perdas de votos, mas são perigosos. Em certos momentos se deixou envolver pela fala mais agressiva. Desde que se candidatou investiu em mudanças na maneira de falar e de se apresentar em público. Procurou se mostrar mais suave, fez plástica, arrumou o cabelo, aveludou o tom de voz e passou a sorrir com simpatia. Por isso, a agressividade poderia ser vista como indicador de incoerência na sua comunicação.

Outro aspecto que Dilma não conseguiu resolver - a construção de frases muito curtas, que a obrigam a fazer sucessivas pausas. Em certas circunstâncias, essa atitude, além de não contribuir com a estética e prejudicar a qualidade do estilo, pode até ter passado ideia de insegurança e artificialismo.

Agora já foi. Vai vencer quem tocou mais o coração dos eleitores, quem foi mais ao encontro de suas aspirações. Aqui entra um ingrediente subjetivo, que nem sempre pode ser avaliado pela técnica da comunicação. Há situações tão especiais que até os defeitos podem ajudar mais que as qualidades. Saberemos breve, assim que as urnas forem abertas e os votos forem apurados.

169 169 169 169 ---- Por qué no te callas? Por qué no te callas? Por qué no te callas? Por qué no te callas?

Um candidato ganha ou perde eleições não somente por aquilo que

diz e pela forma como age durante a campanha. Quando se apresenta diante dos eleitores, especialmente pela televisão, não é avaliado apenas pelo discurso que faz naquele momento, mas, sim, pela reputação que construiu ao longo da vida.

Talvez essa seja a explicação para a derrota de Serra. Por que perdeu a eleição se é hoje o político mais bem preparado para assumir o cargo de presidente? Por que não se elegeu presidente se tem melhor currículo, mais experiência, mais competência oratória que todos seus adversários? Por que não convenceu se sabidamente é um político honesto, sem manchas ao longo da extensa carreira?

Ao fazer inúmeras análises sobre a comunicação dos candidatos desde o início da campanha confesso, foi difícil, muito difícil encontrar um defeito na maneira de falar do Serra. Todos os itens da sua oratória se

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mostravam irrepreensíveis. Houve momentos em que se aproximou da perfeição.

O fato interessante é que tendo comunicação excepcional e obtendo extraordinários resultados nos debates ainda assim era criticado. Poucos percebiam, entretanto, que censuravam não o que estavam observando naquelas apresentações, mas, sim, a imagem negativa que ele havia construído ao longo das últimas décadas.

Quantos me revelaram que votaram no Serra não porque gostavam dele, mas porque era o adversário do governo que queriam combater. Se tivessem outro candidato para escolher, mesmo que não fosse tão competente, teria o voto deles.

Eu mesmo nunca fui grande admirador do Serra. Entre vários motivos, o principal, sua maneira arrogante e antipática de tratar as pessoas. Já ouvi essa crítica de fontes tão diversas que não há dúvida de que ele seja mesmo assim. Ele se basta. Por isso, não chegou na frente.

Ainda assim não se pode admitir que uma desconhecida participante da Fundação Zapata, do México, que assistia ao seu discurso no encerramento do XI Fórum de Biarritz, no sul da França tenha tido a petulância de dizer da plateia: “Por qué no te callas?”. Por mais que se aplauda o direito de uma pessoa se expressar, a afronta não se justifica.

Como candidato derrotado, mas com quase 50 milhões de votos, e um dos principais nomes da oposição em nosso país, tem o direito, diria mais, o dever de criticar a política econômica do governo e mostrar os caminhos que poderiam ser mais adequados para nós, independentemente de agradar ou não àqueles que o ouviam.

Serra, com todos os senões que enumerei, não é uma pessoa qualquer. Foi governador e prefeito de São Paulo, dos melhores ministros que o Brasil já teve, senador atuante, líder perseguido e exilado. Como ele mesmo diz, tem currículo e não ficha corrida.

Uma coisa é o rei Juan Carlos de Espanha dizer essa frase ao presidente venezuelano Hugo Chaves, que, de forma irresponsável, acusava o ex-primeiro-ministro José Maria Aznar de fascista. Nesse episódio era o rei espanhol com sua importância e autoridade fazendo calar a verborragia inconsequente de alguém que não conhece limites para suas investidas.

Outra é uma desconhecida piratear a frase do rei para atacar alguém que ela, provavelmente, nem saiba quem é. Serra pode não ser a pessoa mais simpática que conhecemos, mas possui estatura, passado, competência e integridade que merecem respeito e consideração.

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As eleições terminaram. A presidente eleita não é presidente apenas do nordeste ou de um partido, é sim presidente de todo o país, de todos nós. Quem gosta do Brasil vai torcer para que faça um excelente governo para o bem dos brasileiros. E como vivemos em um país democrático deverá sofrer oposição. Principalmente de pessoas bem preparadas como José Serra. Por isso, nosso pedido é: Serra, no te calles!

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Você será julgado não apenas pelo que diz no momento do discurso.

• Quando você falar os ouvintes levarão em conta toda sua história de vida.

• O que você diz precisa encontrar respaldo em suas atitudes. • Se prometer, cumpra. Se não puder cumprir, não prometa.

170 170 170 170 ---- A aventura de publicar um livro A aventura de publicar um livro A aventura de publicar um livro A aventura de publicar um livro

Quem olha os números pode ter uma falsa impressão da realidade.

Estima-se que já foram publicados no mundo 130 milhões de livros. Se tantas obras assim foram impressas parece simples, basta escrever um livro que haverá pelo menos uma editora interessada em editá-lo.

Quem pensa dessa forma é porque ainda não teve de colocar seus originais debaixo do braço e bater de porta em porta nas editoras. Algumas das grandes editoras recebem montanhas de originais. Só um pequeno percentual é aceito. Os outros são avaliados e recusados, devolvidos e, em certos casos, nem avaliados, nem devolvidos.

Muitos autores, até com excelentes livros, desistem e se conformam em não ver sua obra impressa. Outros lançam mão de suas economias, fazem empréstimo, vendem bens e bancam a própria edição. São raros, entretanto, aqueles que se saem bem publicando os próprios livros.

A maioria recebe o pacote da gráfica, fica feliz em ver sua obra impressa, distribui três ou quatro dezenas de exemplares para parentes, amigos e vizinhos e guarda o estoque para mofar no quartinho do fundo da casa. Faz algumas investidas tentando colocar o livro nas livrarias e descobre que nem em consignação elas aceitam.

Sabendo que não poderão fazer o trabalho sozinhos recorrem a um distribuidor. Ficam indignados quando recebem a grata notícia de que para distribuir os livros serão cobrados de 60% a 70% do que for comercializado. É pegar ou largar. Não significa, entretanto, que mesmo pagando esse montante os livros serão efetivamente distribuídos.

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Geralmente não são. Nada contra os autores, apenas operações normais do mercado.

Se nem as editoras conseguem colocar com facilidade os livros nas livrarias, imagine, então, os obstáculos a serem superados por um autor inexperiente, sem a mínima noção do que deve fazer e que não sabe por onde começar. Dá para contar nos dedos aqueles que conseguiram sozinhos romper esse bloqueio.

Por isso, é tão difícil publicar um livro. E não há muitas saídas. Para ver o fruto do seu esforço intelectual exposto em uma livraria o autor precisa encontrar uma editora interessada na publicação da sua obra. As editoras, entretanto, cada vez mais, só apostam nos livros com bom potencial de vendas.

Aí é que está o nó da questão. Embora os editores tenham experiência e consigam prever quais livros terão chance de sucesso, nem sempre acertam.

Em certas oportunidades publicam livros que não emplacam e chegam a ser destruídos e vendidos como aparas. Em outras recusam autores que seriam campeões de vendas.

Leonard Mlodnow, no seu ótimo livro 'O andar do bêbado', faz revelações curiosas a esse respeito. Você sabia que alguns livros de John Grisham e J. K. Rowling foram recusados dezenas de vezes? Uma das melhores obras de Grisham, 'Tempo de matar', foi recusado 26 vezes antes de ser publicado. E pensar que esse livro se transformou em sucesso mundial e sua história foi aproveitada para um filme também vitorioso.

O próprio Grisham na página de agradecimentos do seu livro 'Caminhos da Lei' conta o seguinte: 'Quando 'Tempo de matar' foi publicado há 20 anos, eu logo aprendi a dolorosa lição de que vender livros era bem mais difícil do que escrevê-los. Comprei mil exemplares e tive dificuldade até para dá-los. Arrumei os livros na mala de meu carro e saí vendendo-os como um mascate em bibliotecas, clubes campestres, mercearias e armazéns, cafeterias e um punhado de livrarias'.

O primeiro Harry Potter, de Rowling, recebeu nove 'nãos'antes de ser impresso. Pois é, 'Harry Potter e a Pedra Filosofal' vendeu mais de 120 milhões de exemplares. Virou paixão de crianças e adultos em quase todos os países. Estou citando apenas esses que são os mais conhecidos. A lista é interminável.

Mlodnow conta também um caso impressionante. John Kennedy Toole não resistiu a tantas negativas das editoras e cometeu suicídio. Sua mãe, entretanto, continuou acreditando, mesmo depois da morte do filho.

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Somente depois de 11 anos ela conseguiu o intento de publicar 'Uma Confraria de Tolos'. O livro de seu filho conquistou o Prêmio Pulitzer de ficção, e suas vendas superaram dois milhões de exemplares.

Se é que minha história pessoal possa servir como algum tipo de exemplo: levei nove anos desde o momento em que comecei a escrever até a data em que vi publicado meu primeiro livro, 'Como falar corretamente e sem inibições'. Hoje na 111ª edição, já vendeu mais de 500 mil exemplares.

Portanto, se você está pensando em escrever um livro, ou já possui alguma obra pronta para ser publicada nunca desista. Saiba que, provavelmente, receberá inúmeros 'nãos'. Talvez até digam que você não terá chance. Não acredite. Continue perseverando um, dois, 10, 20 anos. Assim como aconteceu com milhares de outros autores, o momento de ver seu livro publicado, exposto, e, quem sabe, bem-sucedido também poderá chegar.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Nunca desista de um sonho, mesmo que para os outros pareça impossível de realizar

• Se você não acreditar em você não pode desejar que os outros acreditem

• O 'sim' pode estar no início, mas pode estar também no final de dezenas de 'nãos'

• Não encare o 'não' como derrota, mas como um obstáculo que precisaria ser superado

171 171 171 171 ---- Aparelhos eletrônicos atrapalham a aula? Aparelhos eletrônicos atrapalham a aula? Aparelhos eletrônicos atrapalham a aula? Aparelhos eletrônicos atrapalham a aula?

A vida de palestrantes e professores mudou bastante nos últimos anos.

No passado não muito distante os ouvintes se concentravam praticamente o tempo todo nas palavras do palestrante, enquanto que os alunos, exceto os espíritos de porco que jogavam batalha naval, ficavam atentos aos ensinamentos do mestre.

Hoje o quadro apresenta contorno bastante diverso. Professores e palestrantes, tidos como competentes, ficam indignados. Como é que pessoas em sala aula, ou durante uma palestra, sem a menor cerimônia, podem abrir o computador ou sacar o smartphone para passar mensagens ou atender a uma chamada telefônica?!

Algumas escolas chegaram a proibir esses aparelhos durante a aula. Por mais estranho e difícil que possa parecer, entretanto, essa é uma nova

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realidade que precisa ser assimilada. Como afirma o antropólogo Pierre Lévy: 'Para dizer a verdade, cada um de nós se encontra em maior ou menor grau de desapossamento.'

Isto é, os imigrantes no mundo tecnológico vivem um momento de transição onde os métodos pretéritos que dominam se desatualizam com velocidade incontrolável, mas, ao mesmo tempo, têm dificuldade para manusear o novo com naturalidade.

Professores e palestrantes descobriram que precisariam se adaptar rapidamente à nova onda. Esses profissionais passaram a me procurar cada vez mais para dizer que se sentiam impotentes diante de pessoas com esse comportamento. Querem saber como agir nessas situações.

Minha tarefa tem sido a de mostrar a esses profissionais que em certas circunstâncias algumas pessoas ficam tão dependentes dos seus aparelhos que não conseguem se livrar deles onde quer que estejam. Nesse caso deve entrar o rigor da disciplina, pois se o professor não interferir não haverá aprendizado. Para isso, lógico, o mestre precisa do respaldo da escola, caso contrário pode se tornar refém do aluno.

Por outro lado, mostro que por trás desse aparente problema poderá haver uma boa oportunidade para tornar ainda mais eficiente o trabalho desses profissionais. O celular e o computador podem participar naturalmente das aulas e palestras, ajudar no aprendizado e se tornar bons aliados dos professores e palestrantes.

Vamos combinar. Essa garotada é superantenada. Eles se concentram em diversas atividades ao mesmo tempo. Parece incrível, mas conseguem no mesmo instante conversar ao telefone, trocar mensagens, fazer pesquisa, assistir à televisão e ainda avisar a mãe que já vai para a mesa almoçar com a família.

Segundo o pesquisador franco-canadense Derrick Kerckhove, 'estamos à beira de uma nova cultura profunda que começou a tomar forma durante os anos 90. Todas as vezes em que a ênfase dada a um determinado meio muda, toda a cultura se move'. Acompanhar essa mudança com a velocidade exigida é o desafio que deve ser vencido.

Tive relato de um professor que se sentiu envergonhado. Ele tentou pegar desprevenido um aluno que teclava o computador e se aproximou por trás como quem não quisesse nada. Descobriu que não se tratava de joguinhos ou troca de mensagens com amigos, mas sim de um resumo da aula ministrada.

Outro contou que quis saber o que o aluno estava 'tuitando' com o smartphone. Ficou surpreso ao constatar que ele usava o Twitter para

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compartilhar uma dica que o mestre acabara de ensinar. São inúmeros os exemplos do bom uso desses aparelhos em aulas e apresentações.

Procuro incentivar o professor para que seja criativo e aproveite esse potencial de maneira positiva. Por exemplo, se estiver diante de alunos que gostam de mandar mensagens pelo Twitter, talvez, um bom exercício seja pedir que escrevam um texto com tamanho máximo de 140 caracteres com finalidades diversas: um para amigos, outro para apresentação de proposta comercial, outro sobre um fato histórico etc.

Dessa forma poderão usar o 'brinquedinho' do aluno para desenvolver seu potencial de redação de maneira lúdica e participativa. Isto é, em vez de se mostrar cerceador, o professor se comporta como um parceiro aliado. Sem dúvida o resultado das aulas terá melhor qualidade.

Portanto, computador e celular em sala de aula ou na plateia, embora devam ser observados com cautela, pois podem ser motivo de desatenção, não indicam necessariamente que a pessoa esteja sendo negligente ou desinteressada. Ao contrário, em muitos casos podem revelar atitude participativa e comprometida.

Na próxima semana vou falar como o professor ou palestrante poderá se comportar diante de ouvintes que deixam o celular ligado. É uma realidade irreversível que precisa ser tratada com cuidado à luz dos novos tempos.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Encare os aparelhos eletrônicos como parte integrante de palestras e aulas

• Aproveite o potencial dos alunos para usar os eletrônicos como meio de aprendizagem

• Nunca reaja de maneira emocional porque um aluno usa computador em aula

• Se perceber que o aluno só brinca com o aparelho e atrapalha a aula, peça que desligue

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172 172 172 172 ---- Tocou um celular na plateia Tocou um celular na plateia Tocou um celular na plateia Tocou um celular na plateia Como eu havia mencionado na coluna anterior, vamos conversar

agora sobre celulares que tocam bem no meio de uma apresentação. Já tive oportunidade de tratar desse tema aqui no UOL, mas senti que era necessário voltar a ele. As questões relacionadas a esse assunto se avolumam de maneira impressionante. Não passa nem uma semana sequer sem que alunos ou leitores me façam perguntas sobre como enfrentar ouvintes que usam celular na plateia.

De todos os recursos que temos à disposição, o melhor e mais eficiente são as histórias. As histórias são mais eficientes que a atitude extrema de parar de falar e dar uma espinafrada no mal-educado que atende às chamadas em voz alta. Elas apresentam melhor resultado que fingir não ter percebido a presença inconveniente daquele que põe o aparelho no ouvido e fala como se ninguém mais estivesse à sua volta.

Plateia lotada no Hotel Mofarrej em São Paulo. A ONG Via de Acesso, da qual sou presidente, realizava um de seus eventos mais importantes. Havia enorme expectativa para a palestra do presidente da Vivo, Roberto Lima. Sua apresentação foi feita com a pompa merecida. Claudia, a mestre de cerimônias, caprichou nos detalhes e, lógico, não se esqueceu de pedir a todos que desligassem os celulares.

Roberto Lima foi aplaudido com entusiasmo assim que chegou ao palco. Afinal, um dos executivos mais bem-sucedidos do país iria falar sobre carreira, tema que interessava a todos. Saboreou aquele momento com satisfação, cumprimentou os ouvintes e numa tirada espetacular emendou: peço a todos que não desliguem o celular.

A plateia entendeu a brincadeira e caiu na gargalhada. Afinal, o presidente da Vivo queria mais que todos usassem o telefone. Durante a palestra, em meio a uma pausa silenciosa, tocou um celular. Com o mesmo sorriso triunfal que demonstrou na chegada, o palestrante olhou com jeito maroto na direção do ouvinte, como se fossem cúmplices, e o público voltou a rir diante do seu humor sutil e inteligente.

Já promovemos mais de uma centena de palestras com os conferencistas de maior relevância em todo país, mas ainda hoje quando converso com Ruy Leal, superintendente da ONG, nos referimos àquele momento como um dos mais marcantes protagonizado por um orador.

O palestrante conquistou os ouvintes, com sua simpatia, inibiu que usassem o celular e empregou uma das técnicas mais preciosas da comunicação ao estabelecer interdependência perfeita entre a circunstância nascida no próprio ambiente e o tema da palestra.

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Garimpo histórias como essa para montar um repertório que me ajude a enfrentar a presença cada vez mais acentuada dos telefones celulares em aulas e palestras. Como falo em público todos os dias, normalmente três vezes diante de plateias diferentes no mesmo dia, fiz todos os testes e adotei as histórias como arma predileta para essas situações. Por isso, tenho sempre uma na manga.

Nunca critico o dono do celular. Prefiro contar uma história para tentar me aproximar ainda mais do público. Por exemplo, quando toca o celular eu comento que acho curioso a reação dos ouvintes. E emendo - o quadro é mais ou menos este: a pessoa olha do lado com cara de censura. Depois de algum tempo percebe que o celular que está tocando é o dela.

Se for uma mulher abre a bolsa tentando encontrar o aparelho. A situação piora porque com a bolsa aberta o barulho é ainda mais intenso. O mais grave da situação é que o objeto que ela procura é quase sempre o último a ser encontrado. Por isso, meu amigo Gretz diz que as bolsas deveriam ter zíper por baixo.

Bastaria abrir esse zíper e o objeto seria localizado mais facilmente. As pessoas riem e o dono do celular imediatamente desliga o aparelho. Sem provocar contrariedade, o problema não apenas é resolvido como também passa a existir maior interação com o público.

Portanto, nada de agir como alguns que chegam a parar a apresentação para repreender a pessoa que deixou tocar o celular. Estragam o desenvolvimento da mensagem, fazem papel antipático e só agravam a situação. Pegue leve, brinque com os ouvintes.

Assim, sem humilhar ninguém você demonstra simpatia, presença de espírito, bom humor e sutilmente dá o recado para que os outros desliguem seus aparelhos. E se um ouvinte não se tocar e deixar o aparelho ligado, sempre aparecerá alguém para fazer o psiu.

SUPERDICAS DSUPERDICAS DSUPERDICAS DSUPERDICAS DA SEMANAA SEMANAA SEMANAA SEMANA

• Colecione histórias interessantes sobre o uso de celular • Se o celular de alguém tocar, lance mão de uma dessas

histórias • Se o problema continuar, brinque fazendo referência à história

que contou • Deixe que outros façam o papel do censor. Não se desgaste

repreendendo ouvintes

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173 173 173 173 ---- Um bom plano de Ano Novo Um bom plano de Ano Novo Um bom plano de Ano Novo Um bom plano de Ano Novo Como acontece com quase todas as pessoas, provavelmente, você

também começou a fazer planos para o próximo ano. É nessa época que desengavetamos alguns velhos projetos que, se postos em prática, talvez, nos trouxessem mais felicidade. Algumas dessas propostas de vida são simples e até fáceis de concretizar. Outras, entretanto, são tão complexas e exigirão tantos sacrifícios que parecem inatingíveis.

Entre os planos mais simples podemos incluir, como exemplo, o aprendizado de uma nova língua, perder uns quilinhos, dar mais atenção às pessoas da família, comprar um aparelho eletrônico, entre outros. Já se torna mais difícil reatar uma velha amizade, comprar um carro do ano ou um apartamento maior, ir mais adiante na formação acadêmica etc.

Jamais tentaria dissuadi-lo de um grande projeto. Afinal, conquistas desafiadoras proporcionam sentido de realização indescritível. Por outro lado, entretanto, são esses projetos grandiosos que, por serem quase sempre inatingíveis, na maioria das vezes produzem frustrações, e, segundo alguns especialistas, até a depressão.

Não nos interessa aqui discutir as causas e os efeitos dessas questões, mas sim refletir que objetivos devemos estabelecer numa época em que rasgamos papeis e os atiramos pela janela. Nesse período agimos como se passássemos uma borracha para apagar o que não conseguimos realizar, o que realizamos, mas não com tanta competência, e os planos que nem ao menos saíram do papel.

Por isso projetos menores, com amplas possibilidades de concretização podem ser mais adequados. O ideal seria fazer planos a curto, médio e longo prazo. Poderíamos considerar como projetos de curto prazo tudo o que seria possível realizar até o final do próximo ano. A médio prazo os planos realizáveis em até três anos. A longo prazo o que só seria possível concretizar depois de três anos. Portanto, para o próximo ano você teria de realizar todos os planos de curto prazo e parte dos planos de médio e longo prazo.

Falar bem em público pode ser uma excelente decisão para o início do ano. Possível de realizar com sucesso em curto prazo. Na pesquisa que realizamos com os alunos que passam pelo nosso curso de expressão verbal, constatamos que a maioria procura desenvolver a comunicação para crescer na carreira. Pelo menos essa era a motivação inicial. Muitos descobrem depois que falando melhor se tornam mais participativos e integrados no relacionamento social e na convivência familiar. A boa

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comunicação proporciona tal sentido de realização que os torna pessoas mais felizes.

Portanto, esta é a minha sugestão para seus planos de início de ano: aprimorar sua habilidade para falar em público e conversar com as pessoas de maneira segura e confiante. Embora o ideal seja frequentar um bom curso de oratória, você poderá se aprimorar lendo bons livros sobre o assunto. Verá que o crescimento é gradativo e constante. Depois de ultrapassar as primeiras etapas sentirá tanto prazer em falar diante das pessoas que desejará dominar cada vez mais as técnicas oratórias. Aceite este desafio. Aprenda a falar bem em público e aproveite todos os benefícios dessa conquista. Que 2011 seja um ano de muitas realizações. Sempre com saúde, paz, amor e bastante alegria.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Comece o ano com planos de curto, médio e longo prazo • Antes de fazer novos planos verifique os que já foram feitos,

mas que ainda estão no papel • Pense em fazer aquilo que lhe dê muito prazer. Assim é mais

fácil realizar • Aprenda a falar melhor em público e a conversar com mais

desembaraço e confiança

174 174 174 174 ---- Reconheça um mentiroso Reconheça um mentiroso Reconheça um mentiroso Reconheça um mentiroso Eu minto, você mente, ele mente. Enfim, todos nós somos

mentirosos. Pelo menos é o que afirma o pesquisador David Livingstone Smith, um conceituado estudioso da 'arte de mentir'. Ele é autor do livro 'Os fundamentos biológicos e psicológicos da mentira'. Segundo suas pesquisas, em média uma pessoa conta três mentiras a cada dez minutos.

Ou seja, se nós conversarmos com alguém durante uma hora, deveremos ouvir cerca de dezoito mentiras. Se somarmos com as nossas, a conta passa de 30. Vamos imaginar a hipótese absurda de que Smith tenha se enganado na conta, que tenha exagerado e dobrado o resultado. Mesmo assim sobra mentira.

O pesquisador ressalta que não são necessariamente mentiras pesadas, daquelas que levam a arder no inferno. Na maioria dos casos são as chamadas mentirinhas brancas, contadas com o objetivo de evitar constrangimentos sociais. Como dizer que alguém está bem fisicamente, quando qualquer um percebe que o sujeito engordou uns bons quilos.

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Analisar ou interpretar o comportamento e a comunicação das pessoas é um bom exercício para a vida de todos nós. Nos encontros e embates dos negócios na vida corporativa, na convivência social, no relacionamento familiar com um pouco de observação e bastante prática entendemos melhor, não apenas o que as pessoas dizem, mas, principalmente, o que não dizem ou não gostariam de dizer.

O objetivo não deve ser o de caçar bruxas em todo canto. O fato de descobrir que uma pessoa mentiu não pressupõe que deva merecer o carimbo de desqualificada. Já vimos que mentir é normal. Eu mesmo tenho amigos queridos que vez ou outra, sem muito esforço, percebo que contam, digamos, umas inverdades. Querem apenas se defender, se projetar para serem mais admirados. Gosto deles do mesmo jeito.

Meu passatempo preferido são os discursos políticos. Seus autores são craques na arte de mentir. Por maior que seja a cautela do orador, entretanto, não tem jeito, um ponto sempre escapa na complexidade do texto. Na comunicação oral, então, os lapsos se ampliam com ajuda da entonação, das pausas, da respiração acelerada, de um olhar desviado e de tantos outros indicadores da intenção camuflada.

Nas últimas eleições, os debates entre os candidatos se constituíram num prato cheio para essa finalidade. Cheguei a assistir a um dos debates mais de 20 vezes. Alguns leitores dos meus textos me escreveram indignados: como foi que você chegou a essa conclusão absurda? Como foi que ele, eleitor do candidato, não percebera esse deslize?!

Respondia apenas que era a prática da análise. Na verdade, para eles observarem as incoerências precisavam ser isentos e imparciais. Como não eram, ficavam cegos ao que estava bem diante dos olhos. Pois é, queremos tanto acreditar que a mensagem seja verdadeira que não vemos os sinais da mentira.

Não é simples, nem fácil. É um aprendizado que exige muito estudo, capacidade de observação e longa prática. Há mentirosos tão competentes que eles mesmos chegam a acreditar nas próprias mentiras que contam. De novo podemos citar os políticos. Repetem tantas vezes as mesmas mentiras que julgam estar dizendo a verdade.

Outra tática que ilude a maioria dos observadores é a pessoa contar inúmeras verdades e no meio da conversa, com o mesmo ritmo e a mesma entonação incluir a mentira. Para quem ouve parece ser tudo verdade. Possuem tanta habilidade para mentir que dificilmente são desmascarados.

Nas primeiras tentativas podemos cometer equívocos. Um trejeito característico de certas pessoas pode ser visto como sinal da mentira, quando na realidade não é. Nós mesmos nos enganamos. Às vezes

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queremos tanto acreditar em uma informação que não nos permitimos ter dúvidas sobre sua autenticidade.

Smith diz que somente uma em cada mil pessoas identifica sinais de mentira nos outros. Mesmo aqueles muito treinados conseguem um percentual bastante baixo de acerto. Segundo ele, os políticos são tão bons mentirosos que chegam a iludir 90% desses observadores tarimbados.

Wilhelm Reich na obra 'Análise do caráter' diz que 'a linguagem humana atua, interfere na linguagem da face e do corpo. Por isso, a expressão total de um organismo deve ser literalmente idêntica à impressão total que o organismo provoca em nós'.

Por isso, mesmo sendo difícil, é possível descobrir quando uma pessoa mente. Ninguém consegue controlar o tempo todo a linguagem do corpo. Especialmente a fisionomia. Geralmente o mentiroso se trai pela comunicação fisionômica.

Aprender a identificar a mentira pode nos colocar a um passo adiante dos nossos interlocutores, evitar que sejamos enganados, ludibriados, mas não deve ser motivo para mantermos o dedo em riste sempre acusando as pessoas. Afinal, quem nunca mentiu que atire a primeira pedra.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Observe os mentirosos contumazes. Descubra como agem ao mentir

• Grave entrevistas e debates. Depois assista com calma para identificar incoerências

• Será melhor não revelar a um amigo que descobriu uma de suas mentiras

• Não se torne um paranóico imaginando que todos mentem ao seu lado

175 175 175 175 ---- Bem, bom e ããããã têm pacto com o Demôn Bem, bom e ããããã têm pacto com o Demôn Bem, bom e ããããã têm pacto com o Demôn Bem, bom e ããããã têm pacto com o Demônioioioio

Milésimos de segundo separam vencedores e perdedores em

inúmeras modalidades esportivas, como no automobilismo, natação e atletismo. Frações imperceptíveis de espaço da mesma forma no basquete, tênis e futebol. São esses infinitésimos os responsáveis, algumas vezes, por lágrimas, outras, por sorrisos.

Detalhes. Neste item Deus está dando de goleada no Demônio. Fiz uma rápida pesquisa na web e encontrei um resultado curioso. A frase 'Deus está nos detalhes' é contemplada com quase 38 mil citações,

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enquanto que 'O Demônio está nos detalhes' aparece apenas 43 vezes. Xô, Satanás!

Em comunicação, entretanto, a frase derrotada nessa busca é responsável pelo fracasso de muitos oradores. A negligência e a falta de atenção nos detalhes podem jogar por terra as chances de sucesso de quem fala em público. Ficam tão preocupados com a floresta que acabam tropeçando nos galhos.

Não dar importância aos detalhes é quase que implorar por encrenca. Por mais insignificante que pareça ser, um pequeno deslize pode ser responsável pelo fracasso da apresentação. Ao tentar descobrir o motivo do insucesso, normalmente, o orador incauto se martiriza dizendo: Como foi que não pensei nisso?!

Eu poderia fazer uma lista quase interminável de detalhes que derrubam não só novos e iniciantes, como também experientes e tarimbados frequentadores de tribunas. Só como exemplo, vou me ater a um conhecido derruba oradores, que passei a denominar de 'trio irritante'.

É uma atitude comum em muitas pessoas, especialmente quando falam em público. Elas iniciam as apresentações com: bem, bom, ããããã. Além de não produzirem nenhum tipo de beneficio, dependendo da intensidade, esses sons podem até desmotivar os ouvintes, mesmo antes de o orador proferir a primeira palavra.

De maneira geral, os oradores não percebem que iniciam assim suas apresentações. Em nosso curso, gravamos os exercícios que os alunos fazem para desenvolver e aprimorar a maneira de se expressar. Poucos são aqueles, entretanto, que têm consciência desse vício na comunicação.

A maioria se revolta ao perceber no vídeo que começaram o discurso usando esse ruído. Alguns, além de iniciar as apresentações com esses sons desagradáveis, aumentam o volume da voz que, diante do microfone, tornam o problema ainda mais grave.

Embora, como disse, eu esteja me referindo apenas a um exemplo para mostrar a importância dos detalhes no resultado das apresentações em público, não poderia deixar de dar sugestões para resolver o problema. Considere antes que só o fato de tomar consciência dessa falha pode ser suficiente eliminá-la.

No lugar desses sons desnecessários inicie cumprimentando as pessoas. Além de se valer de uma forma respeitosa de se dirigir aos ouvintes é também uma maneira eficiente para chamar a atenção sobre sua presença e informar que está pronto para falar.

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Portanto, dizer bom dia, senhoras e senhores, ou um simples olá pessoal, pode ser um bom substituto para esses sons que nada acrescentam. Afinal, Deus é quem deve estar nos detalhes, não o Demônio.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Esteja atento aos detalhes quando falar em público. • Esteja atento, mas não sofra por causa deles. Devagar, vá

eliminando os deslizes. • Observe os outros oradores e avalie se não possui os mesmos

defeitos que eles. • Se descobrir uma falha em sua comunicação, corrija e pratique

imediatamente

176 176 176 176 ---- Discurso de formatura Discurso de formatura Discurso de formatura Discurso de formatura Pessoas de todas as partes do mundo me escrevem pedindo ajuda para

se apresentar em público. Alguns dizem sentir muito medo de falar diante de plateias, ou que não sabem usar bem recursos audiovisuais, outros precisam se sair bem na exposição de projetos acadêmicos ou profissionais. Respondo a cada um, com muito prazer.

Entre todos os temas, entretanto, há um recorrente e “campeão de audiência”: como fazer e expor um discurso como orador de turma em formaturas. São questões que vão desde o que dizer, quanto tempo falar, até como se apresentar nessas circunstâncias.

Se você tiver de passar por essa situação, encontrará neste texto todas as dicas para ser bem-sucedido. Basta seguir as orientações, considerar as peculiaridades do seu evento e preparar o discurso na medida certa para se desincumbir bem dessa tarefa.

A duração do discursoA duração do discursoA duração do discursoA duração do discurso Discursos longos, com 20, 30 minutos de duração se transformam em

verdadeiro suplício para os convidados. Esteja certo de que se falar por muito tempo irá tirar o encanto da sua apresentação. Portanto, fale apenas o tempo suficiente para transmitir a mensagem e tornar o momento ainda mais marcante.

Se apenas uma ou duas pessoas discursassem, apresentações de até 10 ou 12 minutos seriam suportáveis. Mas, com tanta gente usando a palavra o tempo precisa ser bastante reduzido. Embora algumas instituições determinem em seu regulamento o tempo máximo dos discursos, que

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variam de cinco a dez minutos, uma apresentação com começo meio e fim entre cinco e sete minutos estaria de bom tamanho.

Não estou afirmando que discursos longos sejam necessariamente ruins. Há muitos que necessitam de dezenas de páginas de um livro para abrigá-los e são peças oratórias de qualidade excepcional. Entretanto, não combinam com a velocidade e a pressa dos dias de hoje.

Houve um tempo em que discursos longos faziam parte das solenidades de formatura. E, independentemente de serem cansativos ou não, eram recebidos com naturalidade. O mais famoso e também mais extraordinário de todos é 'Oração aos moços' de Rui Barbosa, como paraninfo da turma de formandos de 1920, da Faculdade de Direito de São Paulo. É uma obra prima!

Discurso do orador da turmaDiscurso do orador da turmaDiscurso do orador da turmaDiscurso do orador da turma O orador da turma fala em nome dos formandos. É como se ele

interpretasse em seu discurso a vontade e as aspirações da turma. Por isso, é importante que ele seja escolhido pelos colegas, de preferência em um concurso de oratória.

Nessa disputa, cada formando poderá analisar não apenas o conteúdo do discurso, mas também a competência do orador. Embora o conteúdo seja extremamente importante, sugiro que num concurso de oratória se leve mais em conta a habilidade do orador em se apresentar em público.

Desde que ele se comprometa a aceitar sugestões do grupo para melhorar o teor da mensagem, o resultado poderá ser positivo. Mensagem de qualidade razoável pode ser aprimorada com a participação dos colegas. Entretanto, a falta de dotes oratórios dificilmente poderá ser resolvida pouco tempo antes da formatura.

Como deve ser apresenComo deve ser apresenComo deve ser apresenComo deve ser apresentadotadotadotado O discurso do orador da turma deve ser lido (não deixe de ler este

texto sobre a leitura). Primeiro porque essa técnica de apresentação da mensagem permite que o conteúdo escrito represente bem o desejo da turma. Depois, a não ser que o discurso fosse decorado (o que nunca é recomendável), é a única forma de cumprir o tempo estabelecido.

Nada impede que o orador faça comentários de improviso, aproveitando informações que nasçam no próprio ambiente da formatura. Entretanto, só se ele se sentir bem à vontade e tiver certeza de que valerá a pena sair momentaneamente da mensagem preparada. Em caso de dúvida, nada de gracinhas arriscadas, é melhor seguir o que foi planejado.

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É cada vez mais comum as turmas escolherem dois oradores, normalmente, um homem e uma mulher, para que leiam uma frase ou um trecho cada um. Essa participação simultânea dos dois oradores, quando bem ensaiada, dá um ótimo resultado, pois torna a apresentação mais leve e dinâmica.

O estiloO estiloO estiloO estilo O estilo de um discurso de orador de turma precisa ser arejado, solto

e muito bem-humorado. Quanto mais alegre e divertido mais chance de sucesso terá. Esse estilo de discurso combina mais com a irreverência comum dos formandos e as características de uma festa. O único cuidado é manter o limite do bom senso e não cair na vulgaridade.

O conteúdoO conteúdoO conteúdoO conteúdo Algumas informações que poderão participar do discurso: •Agradecimento às pessoas que compareceram à solenidade, •Agradecimento aos pais e parentes que contribuíram para aquele

momento de conquista, •Agradecimento aos professores. Durante os agradecimentos aos

professores cabem algumas brincadeiras, como imitações ou histórias que tenham marcado determinadas aulas ou o relacionamento com os alunos.

Atenção, brincar não significa humilhar ou ridicularizar, pois esse comportamento poderá comprometer o brilho da festa e até a boa imagem do grupo. Portanto, tudo deve ser feito com bom gosto e na medida certa.

•Comentar sobre as expectativas que tinham ao chegar ao curso, sobre as amizades que fizeram e o quanto puderam aprender. Aqui também cabem algumas brincadeiras mencionando fatos curiosos ocorridos com os colegas.

•Comentar sobre a aplicação que o curso que estão concluindo terá no mercado de trabalho.

•Comentar, mesmo que bem superficialmente, sobre a realidade do país. É conveniente não entrar em considerações políticas que podem ser polêmicas e, por isso, descontentar alguns formandos ou parte da plateia. É sempre melhor falar de esperança e de possibilidade de realizações. Cabem também palavras de incentivo para que continuem estudando, aprendendo e se aperfeiçoando.

•O final deve ser emocionante. O orador precisará encontrar uma mensagem que possa surpreender a plateia pelo ineditismo, pelo humor ou pela emoção da mensagem.

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Nada de correriaNada de correriaNada de correriaNada de correria Embora a fala deva ser entusiasmada e motivadora, não significa que

deva ser na base da correria. É preciso saber usar bem as pausas. Ao encerrar um raciocínio a pausa ajudará a valorizar a informação transmitida, dará oportunidade para que os ouvintes reflitam sobre ela, e será um excelente indicador da naturalidade e do domínio do orador. Uma leitura feita com a técnica apropriada poderá ser tão atraente quanto uma fala de improviso.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Leia o discurso como orador de turma de formandos • Escreva uma mensagem que interprete bem o sentimento dos

colegas • Faça uma apresentação leve e bem-humorada • Use o humor, mas não caia na vulgaridade • Ensaie bastante a apresentação até se sentir bem natural

177 177 177 177 ---- O discurso do Rei O discurso do Rei O discurso do Rei O discurso do Rei

Não sobrou pra mais ninguém. O filme “O Discurso do Rei” se torna

ainda mais eloquente com 12 indicações para o Oscar 2011. Incluindo aí alguns dos prêmios da Academia mais cobiçados, como melhor filme, melhor ator (Colin Firth), melhor diretor (Tom Hooper), melhor ator coadjuvante (Geoffrey Rush), melhor atriz coadjuvante (Helena Bonham Carter) e melhor roteiro original.

Não há dúvida, é filme bom chegando à praça. “O Discurso do Rei” traz uma mensagem que nos permite profundas reflexões. Segundo Geoffrey Rush (indicado para melhor ator coadjuvante), que faz o papel de Lionel Logue, o professor de oratória do rei, é uma história charmosa, comovedora, potente e emocionante.

É a história de um homem que de uma hora para outra, sem esperar e sem se sentir preparado para assumir o posto, se tornou o Rei George 6º da Inglaterra. Por ser gago e ter, obviamente, muita dificuldade para se comunicar, sofria muito com esse problema. O filme mostra como ele se dedicou para eliminar suas deficiências até conseguir falar em público, porque só assim se sentiria pronto para o cargo.

Com a morte do Rei George 5º o trono inglês passou ao sucessor natural, o Rei Edward 8º. Ocorre que este rei se apaixonara por Wallis

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Simpson, uma americana que estava se divorciando. A realeza inglesa não concordou com aquele casamento. Edward não se curvou e preferiu abdicar.

Sua carta de renúncia é ao mesmo tempo uma eloquente declaração de amor: “Mas, deveis acreditar-me ao declarar-vos que julguei impossível continuar a assumir a minha pesada responsabilidade e a preencher, como desejaria, os deveres de rei, sem o auxílio e o apoio da mulher a quem amo”.

Para encurtar a história e compreender melhor quanto custou essa decisão, basta dizer que ele deixou de receber 4 milhões de libras que lhe cabiam como herança de seu pai, e teve de se virar apenas com os bens que conseguiu amealhar. Viveu exilado até sua morte, em 1972.

Quem poderia imaginar que um rei deixaria o trono para se casar com o amor da sua vida! Por isso, o Príncipe Albert, Duque de York, se surpreendeu quando a coroa, literalmente, caiu em sua cabeça. Principalmente por sofrer de gagueira e não conseguir se expressar em público se achava incompetente para o cargo.

Bertie, como era chamado carinhosamente, era tão tímido que precisou da ajuda da esposa para encontrar um fonoaudiólogo que pudesse afastar aquele drama da sua vida. Rush, que viveu de forma tão intensa esse papel, disse que o problema não era físico, que algo havia ocorrido aos quatro ou cinco anos, algum trauma que provocou a gagueira.

Segundo o ator, ver alguém que luta contra uma incapacidade que se arrasta desde criança e superá-la é como superar todos os problemas. Para isso tem de se dedicar e trabalhar muito para controlá-lo, acertá-lo e libertar-se de alguma forma. E mais, o trabalho só daria resultado se houvesse confiança e cumplicidade entre ambos.

Deparamo-nos aqui com um desafio difícil de ser contornado. Afinal, um era rei e o outro apenas um profissional da fala. Como poderia haver confiança e cumplicidade nessa situação. Bem, não só conseguiram ultrapassar esse obstáculo como construíram uma bonita amizade. Foi assim, que o rei conseguiu fazer seu discurso. O discurso do rei.

Poder, hierarquia, conquistas sociais ou profissionais não são necessariamente requisitos para que alguém perca o medo de falar em público ou consiga excelência na comunicação. O contrário sim pode ser verdadeiro. Aprender a falar bem pode ser o ponto de apoio para o desenvolvimento de uma carreira, independentemente da sua importância.

Quando ministros, governadores, presidentes de importantes empresas multinacionais procuram o nosso curso para desenvolver a

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comunicação, a reclamação é recorrente: esse desconforto que sinto para falar em público não combina com minha posição. E não combina mesmo. Por isso estão ali. Precisam se dedicar e se preparar para fazer o discurso do rei. Seja lá qual for o seu reinado.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não importa sua posição, assim como o rei, faça um curso de oratória

• Não importa o nível da sua fala, assim como o rei, melhore com um curso de oratória

• Não importa a gravidade do seu problema, com dedicação sempre poderá falar melhor

• Assista ao filme “O Discurso do Rei”

178 178 178 178 ---- 62 anos depois que Gandhi morreu 62 anos depois que Gandhi morreu 62 anos depois que Gandhi morreu 62 anos depois que Gandhi morreu O jovem advogado estava apavorado. Recém-formado, sem nenhuma

experiência profissional e morrendo de medo de falar em público. Precisava encontrar com urgência uma maneira de se tranquilizar. Por isso, redigiu todo o texto que pretendia apresentar.

Imaginava que com o papel nas mãos bastava ler o que havia escrito e o problema estaria solucionado. O resultado não foi bem o que o orador havia planejado. Diante da plateia continuou nervoso e tremeu tanto que não conseguiu visualizar as palavras que estavam à sua frente.

Talvez você não saiba, mas esse advogado tímido, que alimentava pavor incontrolado de falar em público se tornou um dos maiores líderes mundiais de todos os tempos, Mahatma Gandhi. Mahatma foi um título acrescentado ao seu nome, que em sânscrito significa 'grande alma'.

Sua carreira como advogado não foi bem-sucedida. O medo de falar em público, todavia, não o impediu de aceitar convite para defender uma empresa indiana na África do Sul. Os dois países tinham uma condição comum, eram colônias do Império Britânico.

Embora Gandhi tivesse feito o curso de direito na Inglaterra, se vestisse e agisse como os ingleses, descobriu que o preconceito continuava. Por causa da cor escura da sua pele era tratado, isto é, maltratado como todos os colonizados. Só havia uma saída, combater a opressão.

Por isso, depois de concluída sua tarefa, resolveu permanecer naquele país lutando para melhorar as condições de vida dos seus conterrâneos. Eram pessoas sofridas, que trabalhavam no campo, sem nenhuma

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perspectiva de mudança. Era o início de uma batalha que continuaria até o último dia da sua vida.

Por mais que tenha se esforçado, percorrendo o país de ponta a ponta, não conseguiu impedir a promulgação de uma lei que impedia os indianos pobres de votarem. Graças a essa sua atuação, entretanto, seu nome passou a ser conhecido e projetado em vários países da Europa.

Viveu na África do Sul por cerca de duas décadas, combatendo as injustiças e se preparando para retornar à Índia, onde conquistou o maior feito da sua existência, libertar o país do jugo inglês. Obteve todas as vitórias sem nunca ter usado nenhuma arma.

Para defender suas causas usou apenas a palavra, o silêncio, as orações e a resistência pacífica contra as leis que julgava injustas. Apesar de tantas vitórias, Gandhi não conseguiu evitar a divisão dentro do seu próprio país entre hindus e muçulmanos, que formaram dois países, Índia e Paquistão.

No fim do mês passado, completaram-se 62 anos da morte de Gandhi. Na tarde do dia 30 de janeiro de 1948, ele foi assassinado por um radical hindu quando se dirigia para o local onde costumava fazer suas orações. Foi alvejado por um tiro e não teve chance de se defender.

Caído no jardim, as únicas palavras que conseguiu pronunciar antes de morrer foram 'He Ram', que no dialeto devanágari significa 'Oh, Deus'. Ele que sempre afirmou que só encontrava forças em suas orações para continuar a luta pela independência da Índia, aos 78 anos fez assim sua última oração.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Em certas circunstâncias, o silêncio fala mais que as palavras • Uma palavra só será boa se encontrar respaldo na atitude • A palavra é uma semente que para germinar só precisa de terra

apropriada • A palavra e o silêncio podem valer mais que as armas

179 179 179 179 ---- Calculadoras financeiras e a comunicação Calculadoras financeiras e a comunicação Calculadoras financeiras e a comunicação Calculadoras financeiras e a comunicação

Quanto custa um empréstimo? Hoje é muito fácil calcular o custo de

uma operação financeira apenas colocando as variáveis em simples programas de computador elaborados para essa finalidade. O que agora se mostra tão elementar, entretanto, nem sempre foi assim.

Quando eu ainda era um garotão, nos anos 1970/80, fui gerente de banco. Posso afirmar: naquela época poucos diretores ou gerentes

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financeiros, até de grandes empresas, e mesmo gerentes e diretores de bancos sabiam calcular o custo das operações. Como pouca gente sabia fazer cálculos, quem tinha noção de juros compostos se diferenciava.

Por isso também que os engenheiros de produção tomaram conta do mercado. Todos saíam da faculdade sabendo mexer com números e encontravam as portas abertas nas organizações financeiras. E quem não sabia fazer conta, como conseguia se virar?

A história é bastante curiosa. Tanto nas empresas como nas organizações financeiras, no comecinho dos anos 1970, os profissionais, sem nenhum constrangimento, usaram umas tabelinhas. Todos tinham a bendita tabela na pasta ou na gaveta.

Assim que começavam a discutir a operação, cada um do lado oposto da mesa sacava sua tabelinha. Ali encontravam os diferentes percentuais de reciprocidade em depósitos à vista e arrecadação de impostos, taxa de juros, prazo da operação e pronto, a rentabilidade ou o custo do empréstimo estava calculado.

O problema é que tudo tinha de ser feito com os mesmos números da tabela. Se fosse sugerido um percentual de reciprocidade diferente, uma taxa de juros quebrada em décimos, ou prazo fora dos 30, 60 e 90 dias, a tabela já deixava de ter utilidade. Era comum ajeitar operações só para que se enquadrassem nas variáveis da tabela.

Até que surgiram as HPs financeiras. A primeira foi a HP 22, lançada em 1975. Com um pouquinho de conhecimento de matemática financeira, todos os cálculos podiam ser feitos com facilidade. Assim, aos poucos as tabelas foram abandonadas e os profissionais passaram a ser mais bem qualificados.

Fui professor de um programa criado no Banco Francês e Brasileiro (hoje Itaú Personalité), chamado Proforge (pró-formação de gerentes). O banco recrutava os melhores alunos das faculdades de ponta e durante alguns meses ensinava tudo o que precisavam para se tornarem gerentes do banco.

Um programa muito bem-sucedido. Até hoje, mais de 30 anos depois, é possível encontrar alguns profissionais remanescentes desses programas ocupando posições de destaque em importantes organizações financeiras. Eu orientava como calcular a rentabilidade de operações com reciprocidade em conta corrente e impostos.

Lógico que não me escolheram apenas porque eu conhecia matemática financeira e as operações bancárias, mas também para deixar claro que fazer apresentações de qualidade era, em determinadas circunstâncias, até mais importante que saber fazer cálculos.

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Em 1978 guardei minha HP 22 e a substitui por uma novidade revolucionária, a HP 38E/C. Lembro-me de que fui para praia num final de semana prolongado e voltei sabendo mexer em todas as operações. Com essa máquina ficou ainda mais simples elaborar os critérios para negociar os diferentes tipos de operações financeiras.

Um ano depois, em 1979 veio a sofisticação da HP 41C e em seguida a 41CV. Dava para fazer programas com uns cartõezinhos. Eu montava os programas com as operações mais comuns e na hora de calcular bastava passar o cartão na máquina.

Finalmente em 1981 chegou a HP 12C. Nunca mais a substituí. Desde o seu aparecimento até hoje não encontrei calculadora financeira melhor. Tenho todas essas máquinas guardadas como espécie de histórico da evolução dos cálculos nas operações financeiras.

Da época das tabelinhas até aqui muita coisa mudou. Saber calcular custo ou rentabilidade de operações passou a ser competência essencial para gerentes de banco ou financeiros de empresa. Mesmo que o profissional não tenha tanto domínio, os programas de computador darão o resultado de que precisa.

E a comunicação? Há pouco tempo nosso curso foi contratado para treinar 150 executivos de um grande banco. Na conversa inicial que tive com o presidente da organização ele me disse: 'Polito, estou contratando você porque de nada adianta os 'meus meninos de ouro' conhecerem tudo sobre matemática financeira se não souberem falar. Nós não estamos precisando de 'pilotos de HP'. Queremos que os nossos profissionais saibam se comunicar bem para inspirar confiança e credibilidade'.

E completou: 'qualquer gerente de banco hoje sabe fazer conta, mas nem todos sabem falar de forma clara, objetiva e persuasiva'.

Que interessante. A mesma habilidade que os gerentes de banco e os financeiros das empresas tinham há 40 ou 50 anos é exigida hoje: a insubstituível capacidade de falar bem. É possível deduzir, portanto, que saber falar hoje é tão importante quanto saber calcular.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Entenda e domine a tecnologia, mas não negligencie a comunicação

• Aprenda a fazer cálculos, mas saiba negociar • Para descobrir os bons negócios, vale tanto saber calcular

quanto falar • Os melhores negociadores não convencem com as máquinas,

mas sim com a palavra

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180 180 180 180 ---- O imortal Moacyr Scliar deu aula de O imortal Moacyr Scliar deu aula de O imortal Moacyr Scliar deu aula de O imortal Moacyr Scliar deu aula de grandeza grandeza grandeza grandeza Audiolivros são expostos em livraria de Nova York Nossas letras empobreceram. No último domingo, 27 de fevereiro, o

Brasil perdeu uma de suas penas mais brilhantes. Morreu aos 73 anos em Porto Alegre o titular da cadeira número 31 da Academia Brasileira de Letras, Moacyr Scliar.

Scliar trabalhou duro. Publicou mais de 70 livros e levou várias vezes o Prêmio Jabuti. Suas obras foram publicadas em 12 línguas e dois de seus livros, 'Sonhos Tropicais' e 'Um Sonho no Caroço do Abacate', transformaram-se em filmes.

Foi um homem elevado. Como todo Ser Humano que tem grandeza, Scliar foi um homem simples, atencioso, cordato e muito simpático. Quando conversava jamais se manifestava como um acadêmico ganhador de tantos prêmios literários. Ao contrário, ouvia, perguntava e contava suas histórias.

Tivemos um encontro inesquecível. Há pouco mais de dois anos, no dia 30 de julho de 2008, tive o privilégio de participar com ele de um debate sobre audiolivro na 20ª Bienal Internacional do Livro. Também participaram do evento os autores Marcelo Rubens Paiva (Feliz ano velho) e Laurentino Gomes (1808 e 1822).

Falou de sua experiência pessoal. Durante o debate coube a Scliar fazer as observações iniciais sobre o audiolivro. Contou que tomou contato pela primeira vez com o audiolivro em uma visita que fez a Nova York e que ficou impressionado com a quantidade de títulos expostos na Barnes & Noble, na Quinta Avenida.

Bebemos na mesma fonte. Por uma coincidência impressionante, sem que tivéssemos combinado nada, eu havia levado para o evento algumas fotos para serem projetadas que tirara na última viagem que fizera a Nova York, na mesma Barnes & Noble da Quinta Avenida. Ele se divertiu muito com o fato e me disse entusiasmado que era exatamente aquele local que havia visto.

Sua surpresa foi um elogio. Ele também disse que ficou surpreso e impressionado quando liguei meu celular e pus um trecho do meu audiolivro 'Superdicas para falar bem' para que a plateia ouvisse. Era uma forma de mostrar como o audiolivro poderia ser levado para todos os lugares, inclusive pelo celular. Ele me disse: por essa eu não esperava.

Aconteceu o que previmos. No final externamos a mesma opinião. Concluímos que o audiolivro ocuparia um espaço especial nas livrarias, mas jamais substituiria o livro tradicional, impresso em papel. Passados

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quase três anos desse nosso encontro parece que tínhamos razão, os leitores aceitaram o audiolivro de forma comedida e as livrarias disponibilizaram espaços maiores para sua exposição.

O adeusO adeusO adeusO adeus Antes de sairmos, pedi a ele que autografasse um de seus livros, pois

como bom tiete eu havia levado o exemplar da minha casa. E nos despedimos. Uma despedida, infelizmente, derradeira porque nunca mais nos encontramos. Ficará para sempre, entretanto, a lembrança daquele debate que me deu tanta alegria e do qual sempre tenho saudade.

181 181 181 181 ---- Dispense Dispense Dispense Dispense os recursos visuaisos recursos visuaisos recursos visuaisos recursos visuais

Você já pensou em rasgar a cartilha, ser mais ousado e falar em

público sem o apoio de recursos visuais? Parece até irresponsabilidade, nos dias de hoje, com tanta tecnologia disponível, alguém se apresentar diante da plateia “em pelo”, sem nenhum equipamento para sustentar a apresentação.

Os argumentos a favor dos recursos visuais são inúmeros. A começar pela pesquisa que mostra dados impressionantes. Se fizermos uma apresentação sem o uso de visuais, depois de três dias os ouvintes se lembrarão de apenas dez por cento do que falamos.

Se fizermos a mesma exposição com auxílio de visuais, depois do mesmo período o público irá se recordar de sessenta e cinco por cento da mensagem que transmitimos. É uma diferença tão extraordinária que contrariar esses números, à primeira vista, dá a impressão de insensatez.

Sem contar que os visuais tornam a apresentação mais leve, interessante e persuasiva. Segurar a atenção dos ouvintes por cerca de uma hora é tarefa que exige habilidade, competência e excepcional capacidade de comunicação. Esse trabalho, geralmente, é facilitado com a ajuda dos recursos visuais.

Por esses e outros motivos, quase todo mundo usa recursos visuais em suas apresentações. Principalmente, como vimos, por causa das facilidades proporcionadas pela tecnologia. É simples. Mesmo com limitados conhecimentos de informática, qualquer pessoa pode elaborar bons visuais.

A grande novidade! Alguns palestrantes, dos melhores, passaram a enfrentar as plateias de peito aberto, sem nenhum recurso visual como apoio. E com resultados extraordinários. Começam e terminam suas apresentações olho no olho sem projetar uma tela sequer.

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E onde estão as vantagens de falar em público dessa maneira, se essa atitude parece ser um retrocesso? O benefício está na surpresa, no inusitado, no inesperado. Como os ouvintes já se acostumaram a assistir às apresentações com o apoio dos visuais, quando surge um orador inovando, “transgredindo essa regra” as pessoas ficam intrigadas.

Pode passar pela cabeça do público a seguinte indagação: como ele vai conseguir segurar a atenção da plateia e desenvolver a mensagem do começo ao fim sem ao menos usar alguns slides como apoio?! Será que ele não vai se perder ou comprometer o interesse dos ouvintes?!

Falar sem nenhum tipo de apoio talvez seja entendido pelas pessoas como espécie de salto de um trapézio, sem rede de segurança. Para os ouvintes, alguém que toma a iniciativa de agir assim desprotegido é porque tem total domínio da matéria. E mais, tem de ser muito bom de palco.

Outro ponto favorável às apresentações sem recursos visuais é o despojamento do orador. À medida que desenvolve sua linha de pensamento pode dar a impressão ao ouvinte que sem apoio as informações nascem no momento, ali diante da plateia.

Funciona como se fosse uma conversa onde os assuntos se sucedem naturalmente, ao sabor da interatividade. O público admira ainda mais o desempenho do orador, pois se ele consegue organizar as informações no instante em que se apresenta é porque conhece muito bem o tema.

Se você entendeu que basta dispensar os visuais, ir para frente da plateia e comemorar o sucesso da apresentação, talvez esteja se precipitando. Inovar não significa ser irresponsável. Há certos fatores a serem considerados. Vamos analisar cada um deles para que você possa tomar sua decisão.

O conteúdoO conteúdoO conteúdoO conteúdo Para falar sem os visuais, acima de tudo você precisa dominar com

muita profundidade o assunto. Deve estar tão seguro do conteúdo que as informações surgirão naturalmente, desde o princípio até o final. Assim, dependendo do andamento da apresentação poderá mudar a sequência da exposição com tranquilidade.

Como você estará em voo solo não dá para ter conteúdo limitado. Precisa sobrar matéria, suficiente para substituir o que porventura não esteja agradando, ou caso tenha de esticar um pouco mais. O repertório de histórias também deve ser extenso, sempre com algumas das boas no estoque.

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O tempoO tempoO tempoO tempo Os melhores resultados sem recursos visuais são obtidos em

apresentações que duram no máximo uma hora e meia, dependendo, lógico, da circunstância do evento e desempenho do orador. Portanto, se tiver de falar por mais de uma hora e meia, talvez não seja interessante abandonar totalmente os visuais.

O espetáculoO espetáculoO espetáculoO espetáculo O que atrai os ouvintes em uma apresentação não é apenas o

conteúdo, mas também, e em muitos casos, principalmente o espetáculo, o show. De maneira geral os visuais são ótimos para promover o espetáculo na apresentação. Sem eles será preciso encontrar bons substitutos.

Cada orador deve descobrir e usar o que possui de melhor para introduzir espetáculo em sua apresentação. Alguns sabem fazer imitações, outros contar histórias, há aqueles que têm habilidade para usar a presença de espírito ou interagir com os ouvintes. Identifique suas melhores competências e as use para manter o público atento e interessado.

A movimentaçãoA movimentaçãoA movimentaçãoA movimentação Além de interagir com os ouvintes, de vez em quando mude o foco

de atenção do público. Pelo menos a cada dez minutos mude de posição diante da plateia. Movimente-se no meio das pessoas, saia de um lado da sala e dirigia-se a outro ponto. Alterne o volume da voz e a velocidade da fala.

As pausasAs pausasAs pausasAs pausas A pausa é sedutora. Quando feita no momento oportuno, valoriza a

informação transmitida, demonstra domínio sobre o tema e cria expectativa sobre o que será dito a seguir. Depois de cada bloco de informações relevantes faça pausas mais prolongadas. Faz parte do espetáculo.

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A novidadeA novidadeA novidadeA novidade Mesmo se movimentando diante dos ouvintes, depois de certo tempo

as pessoas terão dificuldade em acompanhar e se concentrar na linha de raciocínio. Interrompa o que estiver dizendo e conte uma história curta e interessante para distrair as pessoas e permitir que voltem a se concentrar.

Forma físicaForma físicaForma físicaForma física As apresentações sem o auxílio de visuais cansam mais. Muito mais.

Enquanto projeta os slides e filmes o orador descansa, se refaz. Sem eles você estará em atividade e concentrado o tempo todo. Se resolver falar sem esses recursos saiba que vai se desgastar e consumir mais energia.

HumorHumorHumorHumor e histórias e histórias e histórias e histórias De todas as recomendações que fiz, as duas mais importantes são o

humor e as histórias. Dificilmente você Conseguirá manter a concentração da plateia sem os visuais se não for bem-humorado e não souber contar histórias.

Só tome cuidado com o exagero. Histórias e gracinhas demais podem atrapalhar. Observe ainda o tema e o objetivo da apresentação. Em alguns casos o humor não tem lugar e as histórias precisam ser muito bem contextualizadas para não destoar.

Você não está obrigado a usar ou deixar de usar os recursos visuais. O sucesso ou fracasso da apresentação será sempre responsabilidade sua. Por isso, avalie bem antes de se decidir. Se, entretanto, não havia passado pela sua cabeça falar sem esse apoio, vale a pena refletir sobre o assunto.

Quem sabe você não encontra nessa mudança o resultado que está procurando para melhorar o resultado de suas apresentações. Considere também que nada precisa ser definitivo. Faça o teste. Se estiver inseguro, deixe tudo montado para uma emergência. Se você sozinho não estiver dando conta do recado, os visuais estarão lá para socorrê-lo.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Observe os bons palestrantes que falam sem apoio de visuais • Comece falando sem visuais em apresentações curtas • No início, apenas reduza a quantidade de visuais • Descubra e aperfeiçoe o que sabe fazer de melhor para cativar

o público

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182 182 182 182 ---- A oratória sedutora de Barack Obama A oratória sedutora de Barack Obama A oratória sedutora de Barack Obama A oratória sedutora de Barack Obama

Obama deu uma aula completa de oratória do começo ao fim. Sem

dúvida, o presidente americano é hoje um dos maiores oradores de todo o mundo. Sabe como ninguém cativar, emocionar e sensibilizar o público com sua capacidade de comunicação.

A começar pelo traje. Num domingo à tarde no Rio de Janeiro nada mais apropriado que um orador se vista sem gravata, mesmo se tratando do presidente dos Estados Unidos. Ao se apresentar com traje menos formal, Obama deu sinal claro de que estava à vontade e que sua intenção era a de se aproximar dos ouvintes.

Ao chegar à tribuna foi longamente aplaudido. Simpático, sorriu demonstrando que estava feliz com a receptividade. Agradeceu em português. Ora, um 'obrigado' saído da boca de alguém tão importante no contexto mundial se transforma em música para os ouvidos dos brasileiros. Ponto positivo para Obama antes mesmo de iniciar o discurso.

Cumprimentou a plateia com um 'oi, Rio de Janeiro'. Alguém respondeu 'oi'. Demonstrando ter entendido a brincadeira retribuiu com um sorriso. Em seguida, depois de uma pausa bem medida, continuou com 'olá, Cidade Maravilhosa'. Mais aplausos e gritos de alegria dos ouvintes. Não parou por aí. Sempre com sorriso aberto e amigo disse 'boa tarde a todo povo brasileiro'. Mais aplausos e mais sorrisos.

Aproveitando a acolhida, Obama se valeu do momento para falar de como ele e a família foram bem recepcionados e receberam o calor e a generosidade do espírito brasileiro. Outro obrigado em português. E mais aplausos.

Em um minuto Obama já havia conquistado a todos. Esse é o primeiro conceito importante da arte de falar em público: conquistar os ouvintes logo nos primeiros momentos da apresentação. Usou para isso um dos recursos mais eficientes da técnica oratória - ser simpático, demonstrar envolvimento e interesse pelo ambiente onde se encontra e elogiar com sinceridade a plateia.

Não contente, agradeceu especialmente às pessoas que compareceram ao Theatro Municipal. Reconheceu o sacrifício que estavam fazendo, a partir de um comentário bem-humorado, citando o jogo que seria realizado à tarde entre Vasco e Botafogo.

Ouviu algumas vaias, provavelmente de torcedores de outros times. Com inteligência, sorriu e chegou a gargalhar, demonstrando assim que

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tinha consciência de que cutucava os ouvintes. Jogo de cintura e presença de espírito que só os grandes oradores possuem. Mais um tento de Obama.

Mesmo tendo já a plateia nas mãos, continuou com o processo de conquista. Fez referência ao primeiro contato que teve com o Brasil a partir do filme que assistiu com sua mãe quando era muito pequeno, “O Orfeu da conceição”. Falou de como sua mãe se encantou com o filme e com a favela que serviu de cenário para a história.

Fez referência ao Theatro Municipal dizendo que a estreia havia sido naquele local. Aproveitou dessa forma uma circunstância de lugar, recurso que ajuda a estabelecer identidade entre o orador e os ouvintes.

Obama continuou elogiando o povo e as paisagens brasileiras. Sempre de forma pausada, sem pressa, mas com bastante expressividade. Toda vez que o público aplaudia ele parava de falar.

Não retomava imediatamente para não interromper o momento de emoção, mas também não deixava que os aplausos cessassem totalmente para não desperdiçar aquele instante. Quando o ruído dos aplausos começava a diminuir, voltava a falar aproveitando da melhor maneira possível a reação do público.

Citou Jorge Ben jor para dar sequência aos elogios que fazia às belezas brasileiras. Lembrou de D. Pedro. Falou de forma elogiosa da presidente Dilma. Incluiu frases de Paulo Coelho. Sempre com o objetivo de agradar e conquistar não só quem estava presente, mas também a todos que o assistiam pela televisão ou ouviam pelo rádio. Não foi sem motivo que mencionou paulistas, baianos, mineiros, homens do campo.

Obama alinhavou seu discurso falando das conquistas sociais do Brasil, da Copa do Mundo e dos Jogos olímpicos que serão sediados no nosso país. Brincou mais uma vez com a plateia quando disse que o Brasil não era o seu preferido para os jogos.

O público ficou em silêncio. Após pausa bastante prolongada e sorrindo complementou que, como os jogos não puderam ser realizados em Chicago, não havia lugar melhor para realizá-los que o Brasil.

Com sua habilidade oratória, mencionou que o Brasil não é mais o país do futuro, pois o futuro já chegou no Brasil. Uma frase que tem sido repetida por políticos brasileiros em diversos momentos e que é, portanto, familiar a todos.

Foram cerca de dez minutos envolvendo e cativando os ouvintes. Só depois é que introduziu temas da sua mensagem central, começando pelas parcerias que poderiam ser realizadas pelos dois países. Falou de como o mundo deve existir sem armas nucleares.

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A ajuda que os americanos estão dando aos japoneses não foi assunto esquecido. Enalteceu a democracia que proporciona o crescimento e o desenvolvimento do Brasil e dos Estados Unidos. Destacou a importância da inclusão social não só no Brasil, mas também em todo o mundo.

Resguardou a imagem dos americanos e sem mencionar a abstenção do Brasil no episódio da Líbia declarou que devemos lutar em defesa da democracia e da soberania dos países.

Quase no final elogiou o Brasil como exemplo de um país que mostrou ser possível sair da ditadura e viver numa democracia. Relembrou que do lado de fora do teatro, na Cinelândia, as pessoas se reuniram para exigir a liberdade e a democracia.

Mencionou explicitamente o papel da presidente Dilma nessa luta e de como foi presa por causa de seus ideais até que conseguisse a vitória.

Encerrou falando sobre os obstáculos que os dois países terão pela frente, mas como tudo poderá ser superado. Foi aí que usou a frase de Paulo Coelho e agradeceu em português. Obama foi aplaudido de pé longamente e agradeceu com acenos se movimentando de um lado para o outro da tribuna.

Barack Obama leu o discurso com auxílio do teleprompter. Ficou tão à vontade diante do aparelho que em nenhum momento deu impressão de estar lendo. Aproveitava as pausas para ler em silêncio as frases seguintes e só voltava a falar olhando para a plateia. Por sinal, a comunicação visual foi um dos pontos altos da sua apresentação.

Nos 24 minutos em que discursou em nenhum momento deixou de olhar para os ouvintes. Todos tiveram a impressão de que ele olhava em sua direção. Seus gestos foram perfeitos, firmes quando a mensagem era contundente, moderados quando a informação era suave.

A fala foi pausada e o volume da voz suficientemente alto para demonstrar o sentimento que desejava transmitir. As pausas medidas é o meio que usa para seduzir os ouvintes. Valoriza sempre as informações que acabou de transmitir, cria expectativa sobre o que vai falar e demonstra domínio dos temas que desenvolve.

Quem esteve presente no Theatro Municipal do Rio de Janeiro na tarde de domingo teve o privilégio de ver em ação um dos maiores e mais competentes oradores de todos os tempos. Que bom que está usando sua oratória para se aproximar do Brasil.

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Use o início para conquistar os ouvintes • Nas primeiras palavras, elogie com sinceridade o público • Comente fatos recentes da realidade dos ouvintes para se

aproximar da plateia. • Se o tema permitir, comece a fala de forma simpática e bem-

humorada

183 183 183 183 ---- José Alencar era José Alencar era José Alencar era José Alencar era um contador de 'causos'um contador de 'causos'um contador de 'causos'um contador de 'causos' e cativou pela simplicidadee cativou pela simplicidadee cativou pela simplicidadee cativou pela simplicidade

O Brasil perdeu um de seus mais extraordinários contadores de

“causos”. José Alencar foi um orador diferente. Simples na maneira de se expressar, inteligente na forma de argumentar, competente para persuadir. Falava uma linguagem que todos conseguiam entender. Tinha o mérito de ser compreendido pelo povo, ao mesmo tempo em que era admirado por empresários e intelectuais.

Foi um incomparável contador de histórias. Para cada tema sacava da manga uma história que ilustrava com perfeição o assunto da conversa. Se, por um lado, era excelente na arte de conversar, por outro, talvez, tenha sido mais habilidoso na arte de desconversar.

Assisti a várias de suas entrevistas em longos programas de televisão. Se a pergunta era contundente ou constrangedora encontrava com facilidade um jeito de se defender. Para as mais delicadas lançava mão de histórias interessantes que funcionavam como nuvens de fumaça. Para as mais corriqueiras sua arma era a presença de espírito.

Os entrevistadores se envolviam tanto com suas histórias e tiradas bem-humoradas que se sentiam até constrangidos em insistir na pergunta formulada. Não tenho dúvidas de que essa competência de falar com simplicidade e contornar situações de pressão permitiu que se tornasse um empresário e político bem-sucedido.

Como sabemos, a política exige jogo de cintura para contemporizar, apaziguar e considerar interesses. Sua atitude atenciosa, quase sempre bem-humorada, educada o transformou num interlocutor especial. Alencar foi arguto no relacionamento com seus pares e adversários. Graças à sua presença Lula conseguiu quebrar a resistência da classe empresarial.

Agindo como se estivesse sempre defendendo a classe empresarial se comportava como se ainda pertencesse à oposição. Criticava abertamente as elevadas taxas de juros e batia no peito como um ferrenho nacionalista. Transitou com tanta facilidade entre situação e oposição que até mesmo os

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petistas mais radicais, que torceram o nariz na composição chapa entre PT e PL, o aceitaram como um dos seus.

Discreto, nas constantes viagens de Lula ao exterior jamais usou a posição de presidente interino para tomar decisões para se projetar. Foi um parceiro fiel do presidente em todos os momentos, tanto nas vitórias eleitorais quanto nos instantes em que a situação se mostrava desfavorável.

Não perdeu o humor nem mesmo quando o câncer o obrigava a retornar com frequência ao hospital. Mostrava um otimismo que angariava simpatia não só dos médicos, que se surpreendiam com suas atitudes, como também da população que o colocava em suas orações para que se recuperasse.

Há oradores que são eloquentes pela força e timbre da voz, há outros que impressionam pela gesticulação, há aqueles ainda que conquistam pela argumentação. Alencar foi um orador que saiu dessa linha e encontrou seu próprio caminho. Nunca iremos encontrar oratória como a dele.

Sua técnica natural foi aprimorada com a experiência acumulada ao longo de seus 79 anos muito bem vividos. Contou histórias como ninguém, sorriu com simpatia como poucos e encontrou técnica pessoal para sensibilizar, cativar e encantar quem cruzasse seu caminho.

Por esse e por tantos outros motivos o Brasil de todos os partidos chora seu desaparecimento. Alencar será lembrado sempre como um exemplo de empresário, homem público, pai de família e amigo fiel, dentro e fora da política. Que descanse em paz.

184 184 184 184 ---- Tem gente burra e maldosa Tem gente burra e maldosa Tem gente burra e maldosa Tem gente burra e maldosa

Cuidado, muito cuidado quando conversar com gente com

quantidade limitada de massa cinzenta e com aqueles maldosos, que fazem de tudo para arrumar encrenca. O que me surpreende é a proliferação dessa turma. Tenho cá comigo que isso se deve ao exagero do politicamente correto.

Politicamente correto, tudo bem. Agora, aproveitar a onda e explorar a moda para aflorar a hipocrisia, é, sem dúvida, um desvirtuamento do relacionamento social. Isso não pode, aquilo não pode, quase nada pode. E como fazer para equilibrar os pratos no meio dessa tempestade?

Gente normal, com um mínimo de semancol pega de primeira a mensagem subentendida. São pessoas com inteligência para compreender a linguagem metafórica. Riem das ironias finas, das brincadeiras, até

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quando elas mesmas são alvo de gozações. Percebem que o que vale não é o que foi dito, mas sim o que ficou nas entrelinhas, por trás das palavras.

Gente burra, não. São pessoas com cérebro do tamanho da cabeça de um alfinete. Pegam tudo ao pé da letra. Não são capazes de perceber uma brincadeira a não ser que o interlocutor se vista de palhaço e vire cambalhota no picadeiro. E olhe lá! Reagem com aquele ar obtuso e com palavras mais ou menos programadas: eu não acredito que você teve coragem de dizer isso para mim.

Quem não é acredita é você. Como é possível que essa cabeça de ostra não tenha percebido que se tratava de uma brincadeira? Pior, dependendo do tipo de comentário ou de brincadeira que você fez cai na vala comum do politicamente correto e o estrago é ainda maior.

É praticamente impossível explicar para uma toupeira que o comentário não teve nenhuma intenção de ofender, e que valia na mensagem a informação oculta, com outro sentido atrás das palavras. Ããããã? Não, não adianta explicar. A melhor saída é ficar longe de gente burra. Se não for possível, não diga nada que possa dar duplo sentido.

Há também os maldosos. Esses são perigosos porque sabem que o comentário ou a brincadeira teve outro sentido além das palavras, mas fingem não entender essa sutileza verbal e reagem como se fossem pessoas burras, só para arrumar encrenca. Você não se conforma. Sabendo que se trata de uma pessoa inteligente, como ela pode dizer que não entendeu que a informação era outra?!

Tanto no primeiro como neste caso a melhor solução é manter distância dessas pessoas. Nem sempre é possível. Por isso, continua valendo a sugestão de não dizer o que pode ser mal interpretado quando se tratar de pessoas com cabeça fechada.

E no caso de gente maldosa, ou evitar esses comentários, ou exagerar tanto na maneira de dizer que não sobre brecha para atazanarem sua vida. Se esbarrar no politicamente correto duplique a precaução.

Tanto uns como outros podem arrumar tanta confusão que você entrará numa verdadeira armadilha. É esse tipo de orientação que tenho dado aos alunos que reclamam dizendo que as pessoas não entendem bem suas brincadeiras. Não é por nada não, mas essas idiotices estão deixando a vida um pouco mais chata. Xô, Satanás!

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Procure se afastar de pessoas burras ou maldosas • Se não puder se livrar delas, evite fazer comentários que

possam ter duplo sentido • Se usar linguagem metafórica, exagere tanto que ninguém

possa ter dúvida de que o sentido era outro • Analise se você não está exagerando nessa de politicamente

correto e ficando meio chato nas conversas

185 185 185 185 ---- Sarney sim é o cara Sarney sim é o cara Sarney sim é o cara Sarney sim é o cara Quem viu a desenvoltura do presidente Barack Obama nas visitas que

fez à Brasília e ao Rio de Janeiro deve ter pensado: “esse é o cara”. Elegante, simpático, charmoso são alguns dos adjetivos que definem o comportamento do presidente americano em todos os lugares em que se apresentou.

Entre os convidados havia um, entretanto, que se manteve em silêncio e quase não foi percebido, mas que mereceria mais que todos receber a alcunha de “o cara”, José Sarney. Antes que me atirem ao fogo ou aos marimbondos, explico.

Embora a imprensa e parte da sociedade americana critiquem a visita que Obama fez ao Brasil, o momento é favorável para os dois países em muitos aspectos. Basta observar como Obama e Dilma trocaram amabilidades.

Muitos interesses estavam envolvidos nessa visita. O bom resultado da vinda de Obama, se por um lado traz perspectivas alvissareiras ao Brasil e aos Estados Unidos, pode também prejudicar quem gostaria que tudo continuasse exatamente como está.

Por isso, segmentos da sociedade que se sentiram prejudicados aproveitam para dizer que a época foi inadequada, pois o presidente americano veio ao Brasil no momento em que as forças de coalizão atacavam a Líbia e o Brasil se absteve de votar.

Se não fosse esse motivo, encontrariam outros para criticar. A verdade é que por interesses de toda natureza nós e os americanos vivemos um incomparável período de lua de mel. Na pauta de negociações há assuntos positivos para todos os gostos.

Nem sempre foi assim. Aí é que entra a história heroica do “cara” José Sarney. No mês de setembro de 1986, quando ele era presidente do Brasil, num momento difícil para o nosso país teve de visitar os Estados Unidos. Estávamos endividados e tentando superar problemas econômicos

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que nos impediam sequer de olhar de frente quem quer que fosse. Reagan era o presidente americano.

Sarney havia preparado discursos de aproximação em termos protocolares amenos e amáveis. Reagan, porém, foi um anfitrião grosseiro, antipático e descortês. Logo no primeiro discurso de recepção que proferiu usou palavras que não devem ser ditas a um visitante:

“Nenhum país pode continuar exportando para outros se seus mercados domésticos estão fechados para a concorrência estrangeira”. E, se não bastasse essa punhalada, em outro momento foi ainda mais agressivo dizendo que nenhum país deve crescer à custa dos outros.

Dá para imaginar a situação de um presidente que visita com boa vontade outro país ter de ouvir de surpresa ataques como esse. Sarney foi altivo. Se fosse outro, eu diria que sacudiu a poeira, mas, no caso dele talvez seja melhor dizer que ajeitou o jaquetão e com classe partiu para o revide.

Assessorado por Rubens Ricúpero e Dílson Funaro proferiu as seguintes palavras: “O presidente Reagan disse esta manhã que nenhum país pode crescer à custa dos outros, nós concordamos com isso. O Brasil sempre cresceu graças às suas potencialidades, através de seu trabalho e do sacrifício do povo.” Touché!

Sarney não ganharia nada se estabelecesse confronto pessoal com os americanos, por isso, de forma premeditada e com a dose certa de sensatez usou a língua afiada de Funaro para golpear os “adversários”.

O ministro brasileiro afirmou que as razões da crise da dívida brasileira não estavam sendo esclarecidas em meio às críticas sobre o nosso comportamento comercial. Sem alterar a voz, mas com a firmeza de quem defende a soberania do seu país enfatizou que os juros internacionais haviam subido de maneira absurda e que esse fato se devia aos deficits fiscais americanos.

E para não ficar apenas no discurso sustentou que o descontrole orçamentário fiscal dos Estados Unidos era responsável por um aumento de US$ 25 bilhões da nossa dívida. E cravou com um argumento irrefutável. Disse que para continuar crescendo o Brasil precisaria importar. E para poder importar ou não pagaria a dívida ou os juros deveriam ser menores.

Sarney foi habilidoso. Enquanto seus ministros entravam no ringue o presidente aproveitava seus discursos para falar das semelhanças dos ideais do povo brasileiro e americano, de como nosso Congresso se parecia com o Congresso dos Estados Unidos. Dessa forma, não só procurava quebrar

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resistências, mas também mostrar que o Brasil voltava a ser uma democracia.

Diante de tantas adversidades, Sarney voltou dessa empreitada como vencedor. Defendendo causas tão antipáticas como a manutenção da reserva de mercado para a informática, quebra da taxação para facilitar a importação dos nossos produtos, não-pagamento dos juros da dívida externa etc., deu seu recado e retornou para casa com a alma lavada.

Disseram alguns especialistas que foi graças aos excelentes discursos de Sarney que os americanos deixaram de lado a ideia de retaliar o Brasil. Podemos dizer agora, depois de 25 anos, que essa foi uma das mais bem-sucedidas ações diplomáticas do nosso país em todos os tempos. Esse é “o cara”.

Obama está com todos os holofotes. É um dos melhores oradores do mundo. Sabe como ninguém adaptar a mensagem e a forma de discursar de acordo com o tipo de plateia e a circunstância que o cerca. Foi assim que se projetou para o mundo durante a campanha presidencial fazendo comícios arrebatadores.

É essa mesma eloquência que o acompanha quando fala para os americanos, em momento de crise tão grave como a que enfrentaram recentemente, e ao se dirigir aos países nos mais diferentes cantos do planeta. Sua oratória o acompanhou em todos os instantes da visita que fez ao Brasil.

Com certeza, a postura que adotou ao discursar em ambiente fechado no Theatro Municipal do Rio foi muito diferente da que adotaria se tivesse discursado na Cinelândia. Lá seria mais popular, mais eloquente, mais palanqueiro. Mostrou que realmente é bom de tribuna.

Continuo achando, entretanto, que naquela visita que fez aos Estados Unidos em 1986 Sarney foi insuperável. Esse sim é “o cara”.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não se recepciona um visitante de maneira grosseira e descortês

• Se você for muito importante deixe que pessoas de nível hierárquico mais baixo briguem

• Independentemente de como seja tratado, concentre-se no objetivo da sua missão

• Mesmo sendo agredido com palavras, responda com cortesia. O resultado é o que importa

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186 186 186 186 ---- Por que algumas palestras desencantam? Por que algumas palestras desencantam? Por que algumas palestras desencantam? Por que algumas palestras desencantam? A notícia correu solta: Lula cobra US$ 500 mil para fazer palestra de

cerca de uma hora. A informação foi surpreendente pela cifra. Meio milhão de dólares é dinheiro para ninguém botar defeito. Se fizermos uma conta rápida, tomando a taxa do dólar a 1,60 dá por volta de R$ 800 mil. Lulalá!

Considerando que o salário da presidente hoje é de R$ 26.700,00, noves fora nada, Lula teria de ficar no Palácio da Alvorada uns dois anos e meio para faturar o que vai levar nessa horinha de conversa. Isso mesmo, 30 meses aguentando conversa de político para faturar a mesma quantia.

A pergunta que não quer calar: vale? Bem, tenho como filosofia de negócios que se alguém paga o preço pedido é porque vale. É tudo questão de custo/benefício, matemática superior do primeiro ano primário -se o que estou investindo vai me proporcionar um ganho maior, vale.

Aí é que entra o desencanto com algumas palestras. Em alguns casos, o que foi investido no palestrante não proporciona à empresa o benefício esperado. E não se trata de a palestra ser cara ou barata, mas sim questão exclusiva de saber se o benefício superou o investimento.

Deve ser duro para um profissional de RH (geralmente quem contrata a palestra) passar uma semana tentando justificar por que parou o trabalho de centenas de funcionários para ouvir baboseiras. Por isso, a contratação de palestrantes exige uma série de cuidados.

O que significa fazer uma boa palestra? Se o palestrante se apresentar sem conteúdo, só na base das historinhas, recorrendo a piadas e citações, o público vai rir, e, no final se entusiasmar e até aplaudir de pé. Há casos, e não são poucos, em que a plateia chora e aplaude comovida.

Entretanto, depois que saem dessa espécie de transe e caem em si há um sentimento de frustração quase generalizado. Os ouvintes têm uma sensação de vazio, ficam com aquele sentimento de que o momento foi prazeroso, mas que aquela pirotecnia não vai ter nenhuma utilidade.

A conscientização passa a ser maior quando voltam aos locais de trabalho e se dão conta de que continuam na mesma trilha de sempre, sem que possam aplicar um único conceito sequer. A situação fica ainda mais grave quando tentam explicar o conteúdo da palestra a um colega de trabalho.

— E aí, o que o cara ensinou na palestra de hoje? — Muita coisa, ele explicou que uma longa jornada se inicia com o

primeiro passo.

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— É? — Insistiu para não desistirmos nunca, mesmo quando a situação

parece irreversível. — Sei. — Disse ainda que devemos dar uma mãozinha aos colegas de

trabalho. — Mesmo? Esse palestrante é mesmo um gênio! Puxa, se ele não

tivesse vindo à empresa para transmitir esses conceitos tão elevados não sei como iríamos superar nossos problemas. Ele não falou também que Deus fez o homem com uma boca e duas orelhas, que é para ele ouvir mais e falar menos?

Agora ficou claro, o jeito é contratar palestrante que se preocupa só

em transmitir conteúdo, pois assim a empresa e o público ficarão satisfeitos com o resultado. Afinal, pagaram uma grana, mas os funcionários irão assistir a uma palestra que transmite informações para torná-los melhores e mais eficientes. Certo? Errado.

Esse é um equívoco. Se a exposição tiver como única finalidade o conteúdo, supondo ser essa a solução para que a contratação seja bem-sucedida, outro erro poderá ser cometido. Não se deve confundir palestra com aula. Uma aula tem por finalidade ensinar determinada matéria que precisa ser aprendida e, por isso, exige concentração total dos alunos.

A palestra é diferente, pois embora também possa ter o objetivo de ensinar, geralmente, é proferida diante de um público que não tem obrigação de aprender e que por isso se dispersa com facilidade, por não conseguir se concentrar em muitos detalhes técnicos. Querem receber as informações de maneira mais suave, para uma reflexão, sem ter de fazer muito esforço.

Por isso a palestra deve guardar equilíbrio entre o espetáculo e o conteúdo, pois um recurso depende do outro para que a apresentação propicie resultados positivos. Uma boa palestra, de maneira geral, deve ser planejada em diversos blocos distintos, que guardem relação, mas onde um não dependa necessariamente do anterior para ser compreendido.

O palestrante transmite um conjunto de informações, conta uma história cativante ou uma anedota para ilustrar e arejar a exposição, usa um visual para ajudar os ouvintes a apreender a matéria, promete um conceito novo que irá surpreender ou beneficiar a todos, passa a régua, fecha a conta e parte para o novo bloco.

Dessa forma, cumpre as etapas da apresentação entretendo a plateia e transmitindo conteúdo. O bom palestrante também precisa ter o cuidado

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de organizar a apresentação com apoio de um fio condutor que mostre a ligação desde o primeiro até o último bloco, pois esse recurso dará movimento à exposição, mostrando como o tema está evoluindo em cada um dos segmentos.

Outra função desse fio condutor é a de fazer com que as diversas etapas atuem de forma interdependente e inter-relacionada. No final, bastará que faça uma recapitulação das principais informações de cada bloco para mostrar como todas participaram da composição da mesma mensagem.

Esse é o segredo. Palestras que usem o show para tornar o conteúdo ainda mais atraente. O palestrante que tiver essa competência fará com que o evento seja bem aproveitado. Permitirá que a empresa tenha um benefício bem acima do que investiu na contratação do profissional.

Outro ponto que influencia a contratação do palestrante é a fama. As empresas procuram profissionais que além de saber falar e de ter ótimo conteúdo sejam uma atração para o evento. Normalmente os palestrantes são contratados também porque são famosos.

Imagino que Lula não tenha sido contratado apenas por saber falar e pelo conteúdo que transmite em suas palestras. Seu carisma, sua fama, sua projeção internacional com certeza foram considerados na negociação. Se o custo/benefício foi positivo ou não caberá a empresa concluir.

Finalmente. Para saber se uma palestra foi boa e valeu a pena ser contratada basta esperar pelos próximos eventos. Se o palestrante for consultado para retornar à empresa, está aprovado. Se ninguém mais se lembrar dele, por mais que tenha sido aplaudido, provavelmente, o custo foi maior que o benefício.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Faça palestra equilibrando show e conteúdo • Use a quantidade de espetáculo na medida certa para tornar o

conteúdo atraente • Intercale histórias, piadas e visuais entre um bloco e outro para

arejar a palestra • Assista a palestras dos bons palestrantes e observe as técnicas de

cada um • Não imite palestrantes nem copie suas palestras. Isso é pirataria

rasteira

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187 187 187 187 ---- Como se comportar na mudança Como se comportar na mudança Como se comportar na mudança Como se comportar na mudança Olhe à sua volta. Observe como tudo está mudando. Não são apenas

as fusões e incorporações que surgem de um dia para outro, nem a mudança de rumo das próprias organizações. As pessoas, o mercado, os objetivos, tudo, absolutamente tudo passa por verdadeira revolução.

O que valeu para hoje até o momento de irmos para cama descansar de um dia atribulado e desafiador no trabalho, talvez já não tenha nada a ver com o que teremos de enfrentar amanhã. E esse é o desafio, estar acostumado e pronto para as mudanças. Quem não estiver será atropelado.

Quem disser “no meu tempo...”, provavelmente estará pedindo que lhe cortem a cabeça. Quem disser “isso não é comigo”, se não tiver uma boa explicação para o comportamento resistente, corre o risco de ser excluído, ou, pelo menos, ser colocado numa geladeira.

Como se preparar para sobreviver às mudanças? A resposta está na própria questão - preparo e consciência do tempo em que vivemos. Vale a pena fazer um treinamento pessoal com as coisas que nos cercam no cotidiano. Só para ir se acostumando.

Trocar de restaurante, experimentar novas comidas, mudar o trajeto para o trabalho, testar outro meio de transporte, sentar em outro lado da mesa, fazer novas amizades. Das experiências mais simples até as mais complexas e difíceis, como mudar de casa ou trocar de carro.

Tudo para se acostumar com as mudanças e abrir o espírito para novos desafios. É questão de sobrevivência. Talvez você possa achar tudo isso uma grande besteira. Quem sabe não seja uma boa oportunidade para descobrir certa tendência a resistir às novidades.

Se você não mudou tanto nos últimos anos, dê uma boa olhada nos seus amigos, vizinhos e parentes. Será que todos continuam na mesma empresa, no mesmo cargo, na mesma casa, com o mesmo casamento? Esse cenário pode ser um bom indicador de que a fila anda cada vez mais rápido.

Você sabia que a maioria das pessoas que são demitidas jamais pensou em tal possibilidade. Estavam tranquilas em seus postos, imaginando serem insubstituíveis, e se surpreendem de uma hora para outra enviando currículo e procurando o número do telefone dos velhos amigos.

Não estou escrevendo este texto só para você. Escrevo principalmente para mim. O que eu queria na verdade era refletir com os amigos sobre esse desconforto da mudança. Por isso, ninguém melhor que você, para quem escrevo há tantos anos, um papo assim de peito aberto.

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Valeu muito. Essa conversa mexeu comigo. Já estou pensando em escrever um novo livro e imaginado que projetos poderiam sacudir minha vida no momento. Concluí que meu tempo é agora e como disse Ortega Y Gasset: “Eu sou eu e minha circunstância”.

Tomara que você faça o mesmo. E se resolver não fazer nada, pelo menos que possa refletir sobre esse assunto e ficar atento aos sinais de mudança. Quem sabe essa nossa conversa não seja uma fumacinha para mostrar o que vem por aí.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Prepare-se para as mudanças • Saia da rotina e se sujeite a novas atividades • Faça novos amigos • Faça inscrição em novos cursos. Que tal um de oratória?! • Ah, não se esqueça de que passarinho na muda não pia.

188 188 188 188 ---- Para que façam o que você deseja Para que façam o que você deseja Para que façam o que você deseja Para que façam o que você deseja

Talvez não exista no universo da oratória anseio mais acalentado que

este: conseguir que as pessoas façam o que desejamos. Concretizar esse objetivo pode significar também a conquista do poder, da riqueza, da fama, da realização profissional e das vitórias pessoais.

Nem todos, entretanto, desejam essas conquistas. Alguns, por se sentirem incompetentes, desistem antes de tentar. Outros porque a vida lhes sorri com valores distintos, e a felicidade lhes propõem caminhos diversos. Há aqueles ainda, e não poucos, que gostariam muito de chegar ao topo, mas não sabem como agir.

Independentemente dos motivos de cada um, há um componente obrigatório em todos os casos - a ética. A oratória deve sempre se subordinar à ética. Se o ingrediente ético não estiver presente, outras denominações poderiam ser utilizadas, menos oratória.

Essa conversa, portanto, é para você que deseja todas essas conquistas e não sabe bem que rumo tomar. Ou sabe, mas gostaria de avaliar outros aspectos do processo de comunicação. Sem contar que você pode não ter grandes ambições, mas gostaria de saber como as pessoas precisam se comportar para influenciar a vontade e o desejo de seus interlocutores.

Independentemente de regras, o importante é refletir sobre esse tema e cada um tirar as próprias conclusões. Em todas as situações há cerca de três ou quatro pontos que são fundamentais para o sucesso da comunicação.

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Nem sempre as pessoas podem ser convencidas a fazer o que desejamos. Simplesmente porque o que queremos não é exatamente o que elas aspiram. Portanto, levar alguém a fazer o que pretendemos implica levar a pessoa a agir em direções que nem sempre estão dispostas a seguir. Significa que devemos persuadi-la.

Persuadir vem do latim persuadere, que significa levar alguém a acreditar ou a aceitar uma conclusão, uma ideia, uma proposta. Fazer com que as pessoas ajam de acordo com nossa vontade, independentemente de estarem ou não dispostas a seguir a direção sugerida.

Nada substitui você. Sua autenticidade, retidão, conduta ética são os “argumentos” mais eficientes de que poderia dispor para persuadir. São essas munições poderosas que abrem o coração das pessoas. Ao tocar o coração do interlocutor a mente dele se desarmará de resistências e avaliará com benevolência a mensagem que você deseja transmitir.

Gerry Spence foi um advogado vitorioso. Em mais de 40 anos de carreira nunca perdeu uma única causa criminal. Na sua obra 'Como argumentar e vencer sempre' revela um de seus segredos: 'Concentradas em seus sentimentos, as pessoas que estão dizendo a verdade falam com o coração, que é incapaz de compor precisamente o raciocínio linear de um cérebro laborioso. E ao ouvir o que é expresso pelo coração o ouvinte também é levado a ouvir com o coração.'

A persuasão também se apoia no argumento. Há momentos em que o argumento sozinho não consegue tornar uma causa vitoriosa. Se tomarmos o 'exemplo', que é um argumento poderoso, por melhor que seja, normalmente, servirá como um meio no processo de persuasão. Portanto, o argumento apoia, fortalece, sustenta, mas nem sempre persuade.

Como o processo de persuasão leva a pessoa a agir em determinada direção, mesmo sem ter necessariamente vontade de seguir por aquele caminho, ela precisa receber um estímulo para aceitar determinada proposta, ainda que seja contra a vontade. Nunca é demais ressaltar que a ética deverá ser a luz norteadora dessas ações.

Experimente convocar os condôminos para participar de uma reunião e diga que o objetivo é votar assuntos relevantes para o edifício. Provavelmente terá de tomar as decisões com a presença de meia dúzia de gatos pingados. De maneira geral, esse argumento por si não estimula o comparecimento dos moradores.

Para que se animem a comparecer precisam ser persuadidos. Se você disser que os apartamentos serão muito desvalorizados se algumas medidas não forem tomadas na reunião, as chances de que se disponham a

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comparecer aumentam. Mesmo não desejando participar da reunião irão comparecer, pois vislumbram algum tipo de benefício.

Não se deslumbre com os argumentos. Não exagere no uso de determinado argumento só porque julga que ele possui importância, força e consistência. O uso prolongado de um argumento pode enfraquecê-lo a ponto de minar as possibilidades de persuasão. Por isso, resista à tentação e, por melhor que seja o argumento, não exagere, use-o na medida certa.

Não exagere. Tão perigoso quanto usar um bom argumento por tempo prolongado é se valer de um número exagerado de argumentos. Seja criterioso e escolha apenas os melhores argumentos. Dessa forma evitará que os ouvintes se dispersem e percam a concentração. Sem contar que se fizer uso de muitos argumentos correrá o risco de incluir algum que possa ser derrotado.

A derrota de um argumento poderá fazer com que cheguem à conclusão de que todos os outros argumentos também talvez não sejam consistentes. Um perigo que pode ser evitado com escolhas mais criteriosas.

Pense com a cabeça do ouvinte. Para persuadir, aprenda cada vez mais a pensar com a cabeça do ouvinte. Sabendo o que as pessoas desejam será mais simples envolvê-las com nossas ideias e propostas. Essa, talvez, seja a melhor de todas as regras - dar o que as pessoas desejam, e não o que imaginamos que estejam desejando.

Por exemplo, você apresenta um projeto. Se as pessoas estiverem interessadas em benefícios financeiros, pouco adiantará falar em segurança. Da mesma forma, se estiverem interessadas em segurança, quase nada adiantará dizer que obterão grandes vantagens financeiras.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Aprenda a pensar com a cabeça do ouvinte • Ofereça às pessoas o que desejam receber efetivamente • Conte com sua verdade, ética e boa reputação para persuadir • Escolha argumentos na medida certa • Discorra sobre um argumento o tempo necessário para que seja

compreendido

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189 189 189 189 ---- HQ ensina o jovem a ser bom de papo HQ ensina o jovem a ser bom de papo HQ ensina o jovem a ser bom de papo HQ ensina o jovem a ser bom de papo

História em quadrinhos de Reinaldo Polito Curioso. Houve época em que cheguei a ter vergonha de revelar que

gostava de histórias em quadrinhos. Imagino que essa ideia equivocada surgiu quando eu era garotão. Certa vez ouvi alguém dizendo, com jeito de quem sabia das coisas, que HQ era literatura menor, destinada a quem não se entusiasmava muito com os livros.

Por isso durante um bom tempo guardei minhas coleções de gibis lá no fundo da última gaveta. Mais crescido, com opiniões próprias, descobri que estava enganado. Cheguei à conclusão de que as revistas em quadrinhos foram quase tão importantes na minha educação quanto alguns dos bons livros que perambulam pela minha biblioteca.

Passava pela minha cabeça que se as histórias em quadrinhos tiveram tanta importância na minha formação, talvez, como educador eu pudesse ajudar mais pessoas a falar em público com segurança e a conversar com desenvoltura por meio dos quadrinhos. Especialmente os jovens.

Era um sonho que eu não sabia como realizar. Embora gostasse dos gibis, nunca tive contato com nenhuma pessoa ligada a essas publicações. Até que do nada recebi uma proposta do inquieto e talentoso Roberto Araújo, diretor da Editora Europa, para produzir um livro em quadrinhos que ensinasse jovens a conversar em todos os ambientes.

Topei na hora. Não sabia bem como o projeto poderia ser concretizado, mas acreditei que seria uma empreitada maravilhosa. Para me resguardar, pedi ajuda a minha filha Roberta, escritora, arquiteta e que o tempo todo transpira criatividade. Depois de muitas idas e vindas, com todos os envolvidos exagerando no perfeccionismo, a obra foi concluída.

Fazia tempo que não me entusiasmava tanto com um projeto. Estou convencido de que os jovens aprenderão muito com a leitura dessa história. O título não poderia ser mais adequado: 'Como ser bom de papo e se enturmar', com dicas para o jovem se relacionar melhor. A história é divertida, instigante e muito bem elaborada.

O enredo foi idealizado por um dos mais extraordinários roteiristas do mundo dos quadrinhos, Edson Rossatto. Os desenhos nasceram da genialidade do incomparável artista Álvaro Omine. No final, é apresentado um estudo mostrando a evolução dos traços de cada personagem. Acompanhar cada uma dessas fases é emocionante.

Não tenho dúvidas de que depois da leitura das primeiras páginas o jovem não conseguirá parar até chegar à última linha. É a história de um

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garoto tímido chamado Rodrigo que resolve aprender a conversar e a se relacionar com outros jovens.

Em cada página, Rodrigo recebe aulas para aprender a pronunciar bem as palavras, a iniciar e manter conversas agradáveis e interessantes. Toda vez que comete um erro, ou se sai mal na arte de se relacionar é orientado a corrigir as falhas e a se comportar de maneira adequada.

Obstinado, ele não desanima diante das dificuldades e consegue fazer o que mais deseja -conversar e se relacionar na escola, na casa dos amigos, nas baladas, no clube. Se o jovem seguir o mesmo caminho percorrido por Rodrigo, com certeza, poderá chegar a um resultado idêntico ao que ele conquistou.

Espero que você leia e também goste tanto quanto eu.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Aprenda a pensar com a cabeça do ouvinte • Para ser bom de papo, aprenda a ser um bom ouvinte • Para ser bom de papo, aprenda a ser bem-humorado • Para ser bom de papo, aprenda a contar histórias interessantes • Para ser bom de papo, aprenda a fazer perguntas adequadas

190 190 190 190 ---- Como falar com quem chega e com quem sai Como falar com quem chega e com quem sai Como falar com quem chega e com quem sai Como falar com quem chega e com quem sai

O cotovelo da transição tecnológica é enorme. Começou faz um bom

tempo e jamais terá fim. Nessa caminhada revolucionária da tecnologia, nativos digitais ora dão as mãos, ora batem de frente com os imigrantes digitais. Podem estar enganados, entretanto, aqueles que pensam que as questões de relacionamento no mundo corporativo se resumem apenas aos aspectos tecnológicos.

Recentemente fiz palestra no Conarh, o segundo maior evento de recursos humanos do mundo. Era um mar de gente, todos ávidos por conhecimento, novidades e network. Pouco antes de me apresentar fiquei numa sala reservada ao lado do auditório para me concentrar na apresentação que faria.

Imaginava que essa história de geração y, baby boomer e outras denominações da mesma família havia se esgotado. Afinal, se falou tanto nesse tema que pouco poderia ser acrescentado. Que nada, ouvi pessoas conversando sobre esse assunto em quase todas as rodas ao meu lado.

Alguns diretores de recursos humanos trocavam ideias sobre os desafios das organizações na tarefa de facilitar o relacionamento entre os jovens, que chegavam à empresa com smartphone na mão, e os

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profissionais experientes, acostumados a enfrentar problemas e a superar desafios. A questão fundamental envolvida é a comunicação.

Um deles comentou sobre a resistência de alguns executivos traquejados para conviver com uma geração que se comporta de forma diferente da que estavam acostumados. De maneira geral os jovens são mais irreverentes, não muito focados e procuram não se submeter às posições hierárquicas.

Nenhum desses diretores criticou a maneira como os jovens e os mais velhos se comportam. Mostraram compreender que essas diferenças são naturais e que com o tempo um ponto de equilíbrio será encontrado. Disseram ainda que às vezes é preciso alertar cada uma das partes sobre a importância dessa boa convivência profissional.

Minha experiência como presidente da ONG Via de Acesso me ajudou a conhecer bem os dois lados. Temos de tratar com executivos tarimbados que precisam conviver com essa garotada que chega ao mercado de trabalho aos borbotões. Assim como temos de orientar os jovens para que entrem de maneira correta nas empresas e possam ser bem-sucedidos em sua carreira.

É curioso notar que alguns ficam tão envolvidos com as tarefas do dia a dia que não se dão conta dessa nova realidade. Temos obtido resultados excepcionais com os jovens. Nossa preocupação principal não é mudar a maneira de ser das pessoas, mas sim mostrar as vantagens que terão na carreira se adotarem uma forma de falar e comportamentos mais adequados.

Embora quase sempre os gestores já tenham consciência dessas diferenças, também temos o cuidado de alertá-los para que vejam os jovens não como irreverentes ou desrespeitosos, mas em um momento de amadurecimento e aprendizado. O resultado também é bom porque os mais refratários passam a ser mais receptivos e compreensivos.

A convivência de gerações tão distintas é uma realidade irreversível. Não há fórmula mágica ou regra pronta para orientar como as pessoas devem se comportar nesse relacionamento. Um bom começo é saber que as pessoas possuem formações diferentes, aspirações e motivações peculiares.

Em que ponta você está? No grupo daqueles que chegam para dar os primeiros passos ou daqueles que se encontram no meio do caminho ou se preparam para apagar as luzes e fechar o livro bem escrito da sua história? Independentemente da situação em que possa estar, o bom senso mostra que é importante evitar os extremos. Não ficar assustado diante de tantas novidades, nem passar a impressão de ser o dono do mundo.

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Com o tempo, é possível descobrir que os jovens precisam do auxílio da turma de cabelos grisalhos em tantos assuntos de condução da vida. O fato de não terem domínio da tecnologia, ou se mostrarem até um pouco conservadores não significa que sejam parvos. Só tem a ganhar o jovem que colabora quando lhe pedem ajuda.

Ao passar para o time da velha guarda, o melhor é agir com naturalidade. A experiência, a superação de desafios e a luta para encontrar saídas aos inúmeros problemas presentes na trajetória profissional são um patrimônio valioso. Essa história de vida dos mais idosos não poderá ser substituída por mais voluntariosa que seja a nova geração.

Enfim, nesse ambiente alimentado pelas novas condições tecnológicas, a colaboração mútua, a busca de entendimento e respeito pelas diferenças permitem conquistar de maneira mais serena e confiante as realizações aspiradas. Esse é o princípio da boa comunicação - compreender as diferenças e ajustar o verbo para cada circunstância. É questão de competência e de boa vontade .

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Domine a tecnologia, mas não se escravize a ela • A mensagem deve ser transmitida também de acordo com a

faixa etária dos ouvintes • Os jovens se envolvem mais com mensagens que falam de

planos, do futuro, de desafios • Os mais velhos gostam mais de falar do passado e de suas

experiências • As pessoas sempre serão mais importantes que as máquinas • Se você for um imigrante digital, não tenha vergonha de pedir

ajuda a um jovem • Se você for um nativo digital, sempre que puder ajude quem

precisar de você

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191 191 191 191 ---- Parecer tonto pode ser vantajoso Parecer tonto pode ser vantajoso Parecer tonto pode ser vantajoso Parecer tonto pode ser vantajoso Há poucos dias um amigo promotor de Justiça me contou sobre

algumas estratégias que usa para tornar suas causas vencedoras. Disse que entre tantos recursos de que lança mão, de vez em quando procura se mostrar frágil para tornar o oponente mais vulnerável.

Pouco antes da disputa coloca os óculos quase na ponta do nariz, curva o corpo, inclina a cabeça e fala com voz abafada. O adversário se enche de confiança e não o ataca com veemência. Aos poucos, entretanto, meu amigo vai levantando a cabeça, endireita o corpo, solta a voz e se transforma.

Nesse momento o adversário se intimida e perde o controle da situação. Quando meu amigo parte para o ataque quem se torna impotente é o adversário. Só para ter ideia de como a teatralização funciona basta dizer que ele é considerado o melhor promotor de Justiça da nossa história.

Esse é só um exemplo. Tenho amigos que rezam todos os dias para agradecer à natureza por terem nascido com cara de tonto. Há outros ainda, como esse meu amigo promotor de Justiça, que fazem de tudo para disfarçar e parecerem desligados e inofensivos. Dizem que a cara de parvo desarma resistências e os ajuda a conseguir o que desejam com menos esforço do que se parecessem espertos.

Ou seja, esperto é aquele que não afugenta as pessoas posando com jeitão de águia. Por sinal, essa comparação, embora comum, é injusta, pois meu avô dizia do alto da sua experiência que a águia ataca suas vítimas fazendo 'piu, piu' e não 'xô, xô'.

Há algum tempo o apresentador de televisão Carlos Massa, conhecido como Ratinho, deu entrevista no programa 'De frente com Gabi'. Ele contou sobre as fazendas e emissoras de rádio e televisão que comprou nos últimos anos. Aplicou bem o dinheiro que recebeu e amealhou uma fortuna considerável.

As pessoas têm interesse em saber como ele conseguiu tanto sucesso. Para explicar sua habilidade de bom negociante disse: 'Deus foi tão bom comigo, Marilia Gabriela, que até cara de tonto ele me deu. Quando o nego vai negociar comigo, pensa que está ganhando. Eu deixo, vou brincando e quando ele vê já assinou o cheque'.

A televisão apresentou há algum tempo o seriado 'Columbo', protagonizado pelo ator Peter Falk. Eram histórias de um detetive de Los Angeles chamado Columbo que com seu jeitão inofensivo desvendava os crimes mais complexos. Para caracterizar sua personagem, Falk usava um

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sobretudo bege surrado e um carro Peugeot 403 conversível com pintura desbotada.

Chegava a ser ridicularizado pelos colegas da polícia e pelos criminosos. Com esse jeito desligado e ar de tonto, ele surpreendia a todos desvendando com inteligência incomum os casos mais intrincados. Um bom exemplo que pode sair das telas e se incorporar à realidade do nosso dia a dia.

Ter cara de tonto, entretanto, não significa ser tonto. Ao contrário, somos avaliados, admirados e respeitados pela nossa inteligência. A questão está no fato de querermos, às vezes, sem necessidade, demonstrar essa esperteza e levantar resistências desnecessárias ou prevenir interlocutores ou oponentes para que usem suas melhores armas contra nós.

O perigo é deixar que a vaidade fale mais alto e querermos sempre parecer espertos, ágeis e fortes. Essa pode ser uma armadilha que montamos para nós mesmos, pois o outro se protegerá reunindo toda sua energia para se tornar vitorioso. É uma decisão que precisamos tomar: queremos parecer espertos ou sermos vencedores?

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não queira parecer esperto demais. • Parecer inofensivo ou frágil pode, às vezes, evitar resistências. • Analise e procure aprender com o comportamento dos bons

negociadores. • Parecer tonto não significa ser tonto. É só uma estratégia.

192 192 192 192 ---- A comunicação de Dilma na ONU A comunicação de Dilma na ONU A comunicação de Dilma na ONU A comunicação de Dilma na ONU

Falar na ONU é, provavelmente, o momento mais estimulante e ao

mesmo tempo difícil e delicado na vida de um orador. A presidente Dilma Rousseff disse um dia antes da sua apresentação que estava com frio na barriga só de pensar em discursar nesse evento.

Só para dar ideia de como Dilma aprimorou sua comunicação ao longo do tempo, nas primeiras avaliações técnicas que fiz sobre suas apresentações, com muito boa vontade de zero a dez mereceu dois e meio. No final da campanha já havia evoluído para um sete e meio. Em certos momentos chegou a superar o Serra, mesmo seu adversário tendo a experiência que tem.

Só para justificar o fato de eu dar nota, esse talvez seja um vício muito arraigado. Avalio com notas cerca de 200 apresentações por semana.

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Ou seja, 800 por mês. Quase dez mil por ano. Se multiplicarmos pelos 35 anos em que faço esse trabalho dar notas para apresentações é quase automático.

O treino da campanha e os meses em que está à frente do governo deram à presidente um bom traquejo de tribuna. Convenhamos, entretanto, que falar num evento da magnitude da Assembleia Geral da ONU é um desafio que ela ainda não havia experimentado. Por isso, fiquei de olho não apenas no que ela disse, mas também em como se expressou.

Já vou adiantar minha nota e depois explicar as razões. Para o conteúdo dei nove. Foi um discurso quase perfeito na estrutura organizacional e nos pontos abordados na mensagem. Para o seu desempenho dei sete. No conjunto, portanto, o Brasil sai desse evento com oito. Ou seja, muito bem aprovado.

Dilma chegou à tribuna visivelmente tensa - o que era de se esperar. Contornou bem o nervosismo inicial na forma como fez o vocativo. Cumprimentou sem pressa as autoridades. E como devia ter treinado bem esse momento, pronunciou com firmeza o nome de todos e teve tempo para respirar.

Poucos oradores têm a felicidade de fazer uma introdução tão apropriada quanto a feita pela presidente. Logo nas primeiras frases conseguiu arrancar aplausos entusiasmados da plateia. Ela se aproveitou do fato de ser a primeira mulher a falar na inauguração do evento e louvou as mulheres:

“Pela primeira vez na história das Nações Unidas uma voz feminina inaugura o debate geral”. Os aplausos foram tão intensos que até ela pareceu se surpreender com a reação do público. E o melhor da história foi que em vários momentos do discurso ela voltou a falar da mulher.

Não foi, portanto, apenas um comentário vazio, a introdução guardou perfeita interdependência com o conteúdo apresentado. E como veremos mais a frente, fechou a apresentação de maneira magistral, falando mais uma vez da mulher. Dessa vez defendendo com veemência e autoridade as mulheres mais oprimidas.

Durante as gravações dos programas políticos na campanha eleitoral Dilma deu um show de comunicação fazendo uso perfeito do teleprompter. O semblante arejado, o contato visual eficiente, as pausas devidamente aproveitadas. Entre outros motivos esse seu desempenho deve ter ajudado muito a conquistar a vitória.

Nesse discurso na ONU não foi tão feliz. Demonstrou de maneira clara que estava se valendo do aparelho para fazer a leitura. No início

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tentou disfarçar alternando a leitura do texto impresso no papel e no texto projetado no teleprompter.

Depois das primeiras tentativas, como não se sentiu à vontade, desistiu e só olhou para o teleprompter, perdendo totalmente o contato visual com o público. Como ficou preocupada em não perder a linha da leitura manteve o semblante carregado praticamente o tempo todo. Apenas três vezes conseguiu olhar rapidamente para o público.

Dei sete no desempenho porque comparei a presidente com ela mesma. Ela pode produzir muito mais do que produziu. Sem dúvida. Já demonstrou essa competência em outras oportunidades. Se, entretanto, fosse compará-la com Barak Obama, um dos mais competentes oradores da história, poderia melhorar bem a nota da presidente.

O presidente americano também se valeu do teleprompter. Embora tenha disfarçado um pouco melhor alternando o uso do aparelho com a leitura do texto no papel, seu desempenho também não foi dos melhores. Ele conseguiu resultado infinitamente mais eficiente quando esteve discursando no Brasil.

Ora, se ele que é tão craque para falar em público não foi tão bem, até que a nota de Dilma poderia ser mais alta. Bem, aí a média geral do conteúdo e do desempenho da nossa presidente melhoraria muito. Como nota também é questão de critério pessoal, cada um pode fazer sua própria avaliação, e, provavelmente, discordar dessa que estou fazendo.

A conclusão do discurso foi o momento mais elevado da apresentação da presidente. Fechou com chave-de-ouro. Tenho certeza de que o final do seu discurso será reproduzido em todos os cantos do mundo. Uma obra prima. Mais uma vez falando da mulher, Dilma se valeu de uma figura de linguagem muito apropriada, a anáfora.

Fez uma sequência de frases iniciando sempre com a mesma palavra (aquela). E a cada repetição elevando o volume da voz. O resultado não poderia ser outro que não o aplauso caloroso e prolongado do público. Ela se incluiu na mensagem, dando mais respaldo e autoridade às suas palavras:

“Além do meu querido Brasil, sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras.”

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“Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje.

Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade”.

*Reinaldo Polito é mestre em Ciências da Comunicação, palestrante

e professor de oratória no curso de pós-graduação em Marketing Político na ECA-USP

193 193 193 193 ---- A comunicação de Steve Jobs A comunicação de Steve Jobs A comunicação de Steve Jobs A comunicação de Steve Jobs

O mundo da comunicação perde um de seus astros mais brilhantes -

Steve Jobs. Sinto uma profunda tristeza ao falar de sua partida. Após seu afastamento do mundo corporativo todos nós sabíamos que em breve receberíamos a notícia da sua morte. Mesmo assim fiquei chocado.

Meu contato com Steve Jobs foi sempre a partir de suas apresentações. Seu jeito simples, espontâneo e correto de falar me encantou sempre. A primeira vez que o vi em ação como orador foi na apresentação que fez como paraninfo na Universidade de Stanford em 2005. Um show incomparável.

Seu discurso emocionante para aqueles jovens formandos bombou na internet e teve milhões de acessos. Os alunos do nosso Curso de Expressão Verbal começam a se envolver com a comunicação desde as primeiras aulas e pesquisam com disciplina exemplos de bons oradores.

Em todas as turmas, sem exceção, me perguntam se já assisti a esse vídeo em que ele discursou como paraninfo. A maioria deseja saber se aprenderá a tocar a emoção dos ouvintes da mesma maneira como fez Steve Jobs naquela apresentação. Tenho certeza de que esse evento foi responsável por uma grande parcela dos fãs que conquistou.

O fato curioso é que, em sua apresentação na Universidade de Stanford, Steve Jobs mostrou uma técnica de leitura apenas razoável. Mesmo que seu desempenho não tenha sido sofrível não podemos afirmar que foi excepcional. A mensagem, entretanto, foi empolgante. Ao contar detalhes da sua vida pessoal seduziu a todos.

Sem se mostrar magoado pelos infortúnios que precisou superar, nem vaidade por ser vencedor usou a emoção na medida certa e tocou o coração de todos. Para aqueles que estavam se formando e recebiam de seu paraninfo a última aula não poderia haver melhor lição.

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Um dos pontos mais importantes de seu discurso foi a habilidade que usou para falar de suas superações de filho abandonado pelos pais e que não se conformava em gastar o dinheiro dos pais adotivos para estudar. Talvez mais surpreendente ainda tenha sido a revelação de que estudara caligrafia para aproveitar o tempo ocioso.

Todos sabiam que estavam diante de uma das pessoas mais bem-sucedidas do mundo, mas vibraram quando sua história mostrou que os momentos de dificuldades faziam parte do passado e que agora era um vitorioso. Assistir a esse vídeo é sempre uma experiência que emociona, ainda que seja pela vigésima vez.

Vemos outro perfil de orador no momento em que fez o lançamento do iPad. Nesse dia se mostrou competente, bem-humorado e muito bem preparado. Não conheci muitos como ele que conseguiram falar mal de seus concorrentes sem demonstrar prepotência ou agressividade.

Com frequência usava a ironia fina e certo ar de deboche para ridicularizar os competidores. Como se todos fizessem parte do mesmo time, os ouvintes vibravam com as agulhadas que ele dava nos adversários. De forma sempre competente, mostrava em cada etapa da apresentação as vantagens competitivas de seus produtos.

Improviso era só impressão. Embora passasse a ideia de que a mensagem era improvisada, não fazia nada ao acaso. Todos os detalhes da sua exposição eram planejados com rigorosa disciplina. Se assistirmos aos vídeos de suas apresentações, vamos constatar que as palavras que pareciam brotar sem reflexão eram imediatamente projetadas na tela com sincronismo perfeito.

Até seu jeito despojado, com aquele ar meio desengonçado de caminhar na frente da plateia, era planejado. Esse estilo “descolado” passava a imagem de alguém sem vaidade e que sentia orgulho dos produtos que oferecia aos consumidores. Steve Jobs interpretava tão bem seu próprio papel que tudo nele parecia espontâneo.

A fama precede o orador. Ninguém é avaliado apenas por aquilo que mostra diante do público. A reputação do orador chega aos ouvintes bem antes de ele pronunciar a primeira palavra. O seu sucesso no comando da Apple o ajudou muito a se tornar um comunicador carismático e encantador. Todas as suas tiradas pareciam geniais porque eram também produzidas por um empreendedor inigualável.

Quando penso nos motivos que o levaram a se sair tão bem como orador concluo que o sucesso foi principalmente graças a sua capacidade de adaptar a mensagem de acordo com as expectativas da multidão sempre

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ávida em aplaudi-lo. Cada pessoa tinha a sensação de que ele falava exclusivamente para ela.

A maioria dos bons oradores faz de suas apresentações um verdadeiro espetáculo. Vão para o palco como se fossem artistas de sapateado. Steve Jobs não tinha esse estilo exuberante. Sua força carismática estava no jeito sereno e tranquilo de se expressar. Essas características foram fundamentais para que a empresa que representava conquistasse tanta credibilidade. Responda: quem duvidaria da palavra de Steve Jobs?

A beleza e a eficiência da sua oratória não estavam no ritmo de suas frases, mas sim na perfeição de suas pausas. Toda vez que encerrava um raciocínio abaixava a cabeça e caminhava como se estivesse à procura da sequência do raciocínio. Esse comportamento era, com certeza, premeditado e lhe emprestava sempre um ar espontâneo. Conseguiu assim a confiança das plateias que o assistiram, uma confiança que ajudou a construir sua reputação e a fortalecer a imagem da Apple.

Seja qual for o ângulo que você analise a vida de Steve Jobs, o resultado será sempre o de uma pessoa brilhante, empreendedora, vitoriosa e exemplar. Sua passagem pela Terra tornou o mundo melhor. Que seu exemplo seja uma luz para as futuras gerações.

194 194 194 194 ---- Tchau, Zé Tchau, Zé Tchau, Zé Tchau, Zé

O Brasil perdeu um dos maiores comediantes da nossa história. Um

gênio do humor. Um imitador excepcional. Um artista que arrastava multidões para os seus shows. Um dos humoristas mais engraçados e inteligentes que tive a felicidade de conhecer. Perdemos Zé Vasconcelos.

Ele nos deixou aos 85 anos, depois de ter encantado durante décadas plateias em todas as cidades importantes do país e do mundo. Zé Vasconcelos foi o inspirador de inúmeros comediantes que hoje são admirados e reverenciados. Foi o primeiro artista que vi atuando no gênero Stand-up comedy.

Meu primeiro encontro com ele foi assim. Toca o telefone. Atendo. Do outro lado da linha está uma pessoa que diz ser José Vasconcelos. Não acredito. Tinha certeza de se tratar de um trote. Ele insiste. Queria assistir a uma de minhas aulas. Ainda cético disse que seria uma honra recebê-lo em nossa escola. Era ele mesmo.

Zé Vasconcelos chegou cedo para o nosso encontro. Para minha surpresa seus cabelos estavam brancos. Totalmente brancos. O rosto um pouco envelhecido. Era uma pessoa diferente daquela que eu via com os

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cabelos pretos pela televisão e pelas revistas. Sua voz, entretanto, continuava inconfundível.

Assim que me cumprimentou fiquei emocionado. Quase me belisquei para ter certeza de que não estava sonhando. Nunca imaginei que um dia receberia a visita de um dos meus maiores ídolos. Cancelei as aulas da tarde. Nada poderia ser mais importante que conversar com Zé Vasconcelos.

Fomos almoçar em uma churrascaria na Avenida Faria Lima. Com calma, sem nenhuma pressa perguntei tudo o que sempre desejei saber da sua vida. As histórias que ele contava soavam como música para mim. Ele era naturalmente engraçado. Até quando não tinha intenção de fazer graça.

Saímos do restaurante no finalzinho da tarde. Retornamos a minha escola onde à noite eu ministraria uma aula de apresentação do meu curso. Sempre disposto, Zé Vasconcelos disse que ficaria comigo até o momento de fechar a escola. E foi exatamente o que ele fez. Só se despediu depois que apaguei as luzes e fechei a porta.

Durante a aula ele nos deu um show especial. Pediu para ir à tribuna e usar o microfone. Que espetáculo! Assim que ficou de frente para a plateia ele disse: Sei que se eu viesse à frente e não contasse uma piada seria uma frustração...para mim. O público reagiu com estrondosa gargalhada.

Comediante participa de aula; ouça 'Como falar corretamente e sem inibições' - Faixa 5 Veja que sacada genial. O fato de ser um humorista consagrado o

autorizava a pensar que os ouvintes gostariam de ouvir uma piada contada por ele, mas daí a revelar esse fato fez com que parecesse prepotente e provocasse certo desconforto nas pessoas. Entretanto, depois de uma pausa medida com perfeição, completou dizendo que a frustração seria dele próprio, apanhou o público no contrapé e transformou a mensagem em um momento de humor incomparável.

Ao reescrever meu livro “Como falar corretamente e sem inibições” pedi sua autorização para incluir no CD de áudio que acompanha a obra as histórias, imitações e piadas que contou naquela aula. Assim que o livro ficou pronto enviei um exemplar a ele. Telefonei para saber se ele havia recebido e se gostara do resultado. Adorou. Foi a última vez que conversamos.

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Nos últimos dias tenho ouvido no meu carro com frequência esse CD. Já ouvi suas histórias dezenas de vezes, mas sempre caio na gargalhada quando as ouço, como se fossem inéditas e eu as estivesse ouvindo pela primeira vez. Tenho certeza de que por um bom tempo continuarei ouvindo esse CD. Para mim será difícil acreditar que nunca mais nos encontraremos.

Tchau Zé. Foi um enorme prazer conhecê-lo e ter convivido com você. Enquanto eu estiver por aqui serei sempre um divulgador do seu nome e da sua obra. Se depender de mim as novas gerações irão aprender e se divertirão muito com você. Seu legado artístico jamais desaparecerá.

As histórias, imitações e piadas contadas por Zé Vasconcelos naquela

visita memorável que fez a minha escola poderão ser ouvidas no CD de áudio que acompanha 111ª edição do livro “Como falar corretamente e sem inibições”, publicado pela Editora Saraiva.

195 195 195 195 ---- E E E E o que mais?o que mais?o que mais?o que mais?

As lições de vida vêm de onde menos se espera. Uma delas foi

marcante. Era apenas mais um curso que eu ministrava em Vitória, no Espírito Santo. Como parte do treinamento, os alunos deviam contar um fato relevante da sua vida. O objetivo do exercício era avaliar a espontaneidade de cada um quando falavam em público.

As histórias de viagem, de desafios profissionais e de bebedeira da época em que eram estudantes e moravam em repúblicas se sucediam. De repente, surgiu uma experiência diferente que tinha tudo para começar e terminar sem provocar o interesse do grupo.

Um dos alunos contou que o filho pequeno, ainda nos primeiros anos escolares, chegou em casa, jogou a mochila no canto da sala e foi correndo lhe entregar o relatório de aproveitamento das atividades desenvolvidas em sala de aula.

Nosso aluno disse que desejava muito saber sobre o aprendizado e participação do garoto e, por isso, olhou as avaliações com bastante atenção. À medida que observava os comentários da professora e conferia o relatório fazia suas observações: filho, você precisa terminar os desenhos, conversar menos com os coleguinhas durante a aula e não dobrar as folhas do caderno.

O filho olhava para o pai e com os olhinhos brilhantes indagava: e o que mais? O pai continuava a analisar os resultados da avaliação e

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apontava o que poderia ser melhorado. O filho continuava firme em sua frente e não parava de perguntar: e o que mais?

Só depois de um bom tempo o pai caiu em si e percebeu que só estava apontando os defeitos, em nenhum momento havia feito um comentário sequer sobre os méritos do garoto. O filho, entretanto, estava ansioso para ouvir algum elogio ou palavra de incentivo.

O pai, então, passou a mencionar todos os pontos positivos que pôde encontrar. Revelou que a cada descoberta fazia uma festa com o filho. Comemorava os acertos com voz vibrante e entusiasmada. O semblante do menino ficou iluminado de alegria. Ele estava envaidecido por ter conseguido resultados que davam orgulho ao pai.

Que lição para a nossa vida! Será que não agimos assim com subordinados, com nossos pares, com a esposa, com o marido, com os amigos. Quantos esperam que seus feitos sejam reconhecidos e aplaudidos, mas, sem perceber, às vezes, só temos olhos para os erros e palavras de críticas e censura.

Sem contar que certas pessoas por se mostrarem tão fortes, seguras e confiantes parecem não precisar que valorizem suas realizações. Em alguns casos, entretanto, são até mais carentes que a maioria. Apesar da aparência, no fundo são frágeis e precisam muito de reconhecimento.

Vale a pena nas próximas conversas com aqueles que nos cercam pedindo avaliação de seus trabalhos não sermos tão rigorosos com a crítica. O foco no negativo pode ser desestimulante e, quase sempre, fazer mais mal que bem. Não custa nada, mesmo que não nos perguntem, responder como se esta pergunta fosse feita: e o que mais?

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Quem pede crítica ou avaliação normalmente deseja ouvir elogio

• Nenhum trabalho é tão ruim que não mereça alguma apreciação positiva

• Ninguém é tão poderoso ou forte que não necessite de reconhecimento

• Vale a pena ser tolerante e generoso nos elogios com quem convivemos

• Ah, principalmente ser tolerante e generoso nos elogios com relação a nós mesmos

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196 196 196 196 ---- Dicas para discursos de formatura Dicas para discursos de formatura Dicas para discursos de formatura Dicas para discursos de formatura 1 1 1 1 ---- Cumprimente os componentes da mesa, os pais, os convidados e

os colegas. 2 2 2 2 ---- Agradeça às pessoas que compareceram à solenidade. 3 3 3 3 ---- Agradeça aos pais e parentes que contribuíram para a conquista. 4 4 4 4 ---- Agradeça aos professores. 5 5 5 5 ---- Faça comentários bem-humorados sobre os professores. Sem os

ridicularizar. 6 6 6 6 ---- Comente sobre as expectativas que tinham ao chegar ao curso. 7 7 7 7 ---- Fale sobre as amizades que fizeram e quanto puderam aprender.

Aqui as brincadeiras são bem-vindas. 8 8 8 8 ---- Reflita sobre a aplicação que o curso terá no mercado de trabalho. 9 9 9 9 ---- Sem entrar em considerações políticas, comente sobre a realidade

do país. 10 10 10 10 ---- Enfatize a esperança e a possibilidade de realizações

profissionais. Vale a pena incluir palavras de incentivo para que continuem estudando e se aperfeiçoando.

11 11 11 11 ---- Faça um final emocionante. Encontre uma mensagem que

surpreenda o público pela novidade, pelo humor ou pela emoção da mensagem.

12 12 12 12 ---- Fale pouco. De 5 a 7 minutos. 13 13 13 13 ---- Leia o discurso. 14 14 14 14 ---- Durante a leitura não deixe de olhar para a plateia ao fazer as

pausas. 15 15 15 15 ---- Represente e interprete a vontade dos colegas.

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16 16 16 16 ---- Use um estilo arejado, solto e bem-humorado. 17 17 17 17 ---- Fale com entusiasmo e motivação, mas sem correria. Use bem as

pausas. 18 18 18 18 ---- Lembre-se de que o momento é de comemoração, por isso,

demonstre felicidade no semblante. 19 19 19 19 ---- Só improvise se estiver confiante e se sentir que o comentário

será oportuno. 20 20 20 20 ---- Ensaie bastante. Leia o discurso pelo menos 15 vezes antes da

formatura.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • A escolha do orador deve ser por meio de um concurso de

oratória • A escolha do orador deve ser mais pelo desempenho que pelo

conteúdo • Bom desempenho é mais difícil de aprimorar que o conteúdo • Se a apresentação for em dupla, os dois devem harmonizar o

tom do discurso no ensaio

197 197 197 197 ---- Pegaram Obama com a boca na botija Pegaram Obama com a boca na botija Pegaram Obama com a boca na botija Pegaram Obama com a boca na botija Obama pensou que estava tendo uma conversa confidencial com

Dimitri Medvedev, presidente da Rússia, mas na verdade estava contando ao mundo o que ninguém deveria saber. Sem desconfiar de que sua conversa estava sendo gravada pediu ao colega russo que lhe concedesse mais tempo para tratar da política antimísseis.

Em pouco tempo sua “conversa confidencial” lá na Coreia do Sul já havia se espalhado aos quatro cantos do planeta. O presidente americano pediu a Medvedev que esperasse mais um pouco para falar sobre o assunto: “É minha última eleição, depois terei mais flexibilidade”.

Lógico que os republicanos não deixariam escapar esse trunfo e passaram a criticar Obama de esconder o que realmente pretende combinar com a Rússia. É difícil prever as consequências do fato, mas dá

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para concluir que o presidente americano não terá vantagens com essa história.

Há quatro anos publiquei um texto aqui mesmo no UOL chamando a atenção para os perigos de se conversar sobre assuntos confidenciais onde quer que seja, pois sempre corremos o risco de sermos flagrados por um microfone espião.

Um dos mais emblemáticos foi o do ex-ministro Rubens Ricúpero, um dos homens que mais admiro na história recente do país. Ele conversava de forma descontraída com o jornalista Carlos Monforte nos bastidores de uma emissora de televisão antes de ser entrevistado.

Apesar da enorme experiência dos dois, não se deram conta de que o microfone que usavam na lapela já estava aberto. Os segredinhos daquela conversa foram transmitidos por uma antena parabólica para todo o país e o ministro perdeu o emprego. Perdemos todos nós porque deixamos de contar com uma das pessoas mais integras e brilhantes do Brasil.

Se observarmos os fatos mais recentes veremos que foram tantos os casos de filmagens e gravações telefônicas que, de uma maneira ou de outra, esses episódios chegaram a mudar a história do nosso país. Quantos homens públicos responsáveis por decisões que afetariam nossa vida foram destronados.

Se esses poderosos estão sujeitos a tais flagrantes, imagine então nós pobres mortais. Mesmo que não tenhamos nada tão comprometedor a esconder, sempre haverá um projeto, uma negociação, uma ideia que precisariam ser preservadas. Por mais protegidos que pensemos estar, vale o velho ditado – as paredes têm ouvidos.

Podem ser perigosas conversas em aeroporto, avião, táxi, sala de espera, saguão de hotéis, sala de eventos. Uma orelha comprida aqui, um microfone sensível ai, uma câmera bisbilhoteira acolá poderão prejudicar planos que levaram tempo enorme para serem desenvolvidos. O risco de prejuízo é tão grande que não compensa negligenciar.

Vou repetir as superdicas que dei há quatro anos e que parecem ser cada vez mais atuais:

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SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA • Não fale em público sobre assuntos confidenciais • Tome cuidado com o que fala em elevadores, táxis, aeroportos

e rodoviárias • Não converse sobre assuntos sigilosos pelo telefone, seja ele

celular ou fixo • Quando receber visitas, não deixe documentos importantes

abertos sobre a mesa • Lembre-se do conselho de Sêneca: seu amigo tem um amigo, e

este amigo tem outro amigo, por isso, seja discreto

198 198 198 198 ---- A melhor técnica para falar em público A melhor técnica para falar em público A melhor técnica para falar em público A melhor técnica para falar em público A melhor técnica para falar em público é aquela com a qual você

possa se sentir mais à vontade. Há oradores que preferem se apoiar em anotações. Outros se sentem mais livres quando memorizam alguns tópicos. E não são poucos aqueles que gostam de decorar os discursos.

Quem poderia criticar um orador que decora, mas se sai bem em suas apresentações?! Embora eu desaconselhe esse recurso, devo reconhecer que certos oradores decoram com admirável competência. Memorizam com facilidade, são hábeis na interpretação e contornam bem os inesperados lapsos de memória.

Não se nota neles aquele brilho vidrado nos olhos, próprio de quem decora o que vai dizer. Mesmo com a fala decorada conseguem aproveitar fatos do ambiente e os incluem em suas falas como se toda mensagem nascesse ali diante do público.

Alguns se dão bem no outro extremo. Levam consigo o texto completo, como se fossem ler a mensagem. Diante do público, entretanto, apenas batem os olhos para pinçar uma informação aqui, outra ali, e se certificar de que obedecem à sequência que planejaram. Um cuidado deve ser observado: adequação à circunstância. Não seria apropriado, por exemplo, o filho ler a homenagem à mãe no dia do aniversário dela. Nessa situação seria mais apropriado um discurso curto, sem anotações, com informações da própria experiência familiar.

Da mesma forma, seria desaconselhável o discurso de improviso em ocasiões que exigem correção rigorosa das informações. Se a mensagem tiver grande quantidade de cifras e datas só a leitura, ou no mínimo algumas anotações ajudariam a cumprir bem essa tarefa.

Se você for convidado a proferir palestra sobre temas de sua especialidade, evite o excesso de anotações. Uma ou outra ficha com

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lembretes para as emergências e alguns visuais seriam suficientes para que pudesse desempenhar bem seu papel.

Se, entretanto, mesmo sendo assunto de sua especialidade tiver de montar uma apresentação nova, não hesite em levar as anotações para a tribuna. Com um bom treino ficará tão familiarizado com a sequência das informações que o simples bater de olhos indicará o que deve dizer.

Independentemente do domínio que tenha sobre o assunto e da técnica que resolva utilizar, nunca deixe de se preparar. Treine o máximo que puder. Esse exercício será útil não apenas para aquela determinada apresentação, mas também para o desenvolvimento da sua comunicação. Quanto mais treinar, melhor orador se tornará.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Experimente todas as técnicas que puder e escolha a que julgar mais conveniente

• Treine o sincronismo entre a leitura das anotações e o contato com a plateia

• Olhe para as anotações como se estivesse pensando, sem se precipitar

• Recursos visuais na medida certa são úteis e dão confiança

199 199 199 199 ---- O IPad chegou à tribuna O IPad chegou à tribuna O IPad chegou à tribuna O IPad chegou à tribuna Foi com um misto de estranheza e curiosidade que no ano passado vi

a notícia publicada no UOL: Lendo discurso em iPad, Gleisi se despede do Senado. Como é que é, uma senadora usando IPad para ler seu discurso de despedida?! Cliquei imediatamente para assistir ao vídeo, e lá estava a senadora fazendo história com a forma de ler discurso. Pelo menos aqui no Brasil em cerimônia importante.

Sim, porque a leitura de discurso nos tablets, ou o uso desses aparelhos como recurso de apoio como roteiro escrito, ou anotações ocorre desde o aparecimento desses equipamentos. A surpresa foi ver a engenhoca nas mãos de uma senadora no dia da sua despedida.

Para alguns pode parecer algo banal, mas é uma revolução estonteante. Afinal, são séculos de experiência com discursos impressos em papel. A novidade me surpreendeu. Quase sempre é assim, o novo, às vezes, provoca algum tipo de desconforto. Não chego a resistir. Pesquiso, experimento e se for bom, adoto com tranquilidade.

Esperei para ver se a moda pegava. Passado um ano, entretanto, poucos tiveram essa “ousadia”. Vi alguns casos no exterior, especialmente

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nos Estados Unidos, mas nada que pudesse indicar um novo hábito na forma de fazer apresentações. Afinal, temos de levar em conta que ainda estamos vivendo um processo de transição.

Um episódio interessante ocorreu com Michele Bachmann, candidata à presidência pelo partido republicano nos Estados Unidos. Ela prometeu que não usaria o teleprompter, mas lançou mão de um IPad para ler o discurso. Esse fato ocorreu em dezembro de 2011.

Ela falou ao ar livre e parecia ventar bastante. Um IPad naquela circunstância, embora muito mais pesado, foi mais fácil de segurar que se estivesse usando folhas de papel. Como para a maioria era novidade, dá para notar que as pessoas ao seu lado disfarçavam, mas olhavam mais para o aparelho nas mãos da oradora e prestavam menos atenção ao discurso.

Um caso mais antigo foi noticiado no Canadá: Gordon Barnhart lê discurso usando um iPad em outubro de 2010. A manchete da notícia diz que é só questão de tempo para que o IPad seja usado no parlamento. A foto ilustrativa mostra o orador com o IPad colocado naturalmente sobre a tribuna.

Outra mais antiga ainda, a mais antiga que encontrei sobre o uso do IPad por uma personalidade para ler o discurso foi do Prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg. A notícia é de junho de 2010: Prefeito Bloomberg dispensa cartão de notas por um IPad. Estou mencionando esses exemplos todos para mostrar que o assunto não é totalmente novo, embora o uso dos tablets para leitura de discurso ainda não tenha se alastrado.

Esta semana um leitor do UOL me escreveu perguntando se teria algum problema se usasse o IPad para ler o discurso de agradecimento a um título de cidadão que recebeu em uma cidade do interior de São Paulo. Logo me lembrei da ministra-chefe da Casa Civil quando se despediu do senado.

Ora, se uma senadora pode usar o aparelho, por que essa pessoa não poderia fazer o mesmo ao agradecer o título que recebeu? Voltei a fazer pesquisas para ver como o mundo estava se comportando diante do fato. Não encontrei nada muito expressivo. Apenas uma experiência aqui, outra lá, nada relevante.

Ponderei bem sobre os motivos que levariam alguém a substituir o papel pelo IPad para ler discursos em público. Relacionei alguns pontos favoráveis, outros contrários e não consegui chegar a uma conclusão para o seu caso. Para não ficar sem dar resposta eu sugeri que continuasse com o papel. A regra é simples: na dúvida, lance mão do tradicional.

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Embora os tablets sejam desconfortáveis para segurar, exijam bastante traquejo de uso para não provocar insegurança no orador e podem prejudicar a concentração dos ouvintes por ainda serem novidade, não há dúvida que daqui para frente estarão cada vez mais presentes na arte de falar em público. Tirando esses inconvenientes mencionados, são muitos os benefícios.

Considere que você poderá receber discursos de última hora, mesmo que já esteja no evento, diante da plateia. Mostra atualização tecnológica. Permite a escolha do tamanho da letra de acordo com sua capacidade de visão. Possibilita a projeção de gráficos e ilustrações no momento da leitura.

Além dessas vantagens você poderá arquivar no aparelho todos os discursos para que consulte a qualquer tempo. Assim evitará repetir informações para a mesma plateia. Ficará mais simples para disponibilizar em links o texto para jornalistas ou outras pessoas interessadas.

A decisão é sua. Se você estiver acostumado a usar tablets em suas tarefas corriqueiras, provavelmente também se sentirá à vontade para ler discursos nesses aparelhos. Se, entretanto, eles constituírem uma novidade em sua vida, cuidado porque ler diante de uma plateia já não é tão simples, com uma preocupação adicional pode ser até embaraçoso.

SUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANASUPERDICAS DA SEMANA

• Não seja resistente às novidades tecnológicas. Esteja aberto para experimentar

• Se estiver inseguro para usar uma nova tecnologia, não arrisque antes de dominá-la

• Treine muito antes de usar um aparelho em suas apresentações • Observe como os ouvintes reagem aos oradores que se valem

das novas tecnologias

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200 200 200 200 ---- A comunicação da nova Fátima Bernardes A comunicação da nova Fátima Bernardes A comunicação da nova Fátima Bernardes A comunicação da nova Fátima Bernardes Estreia é quase sempre muito difícil e democrática. A maioria dos

apresentadores, tarimbados ou iniciantes, sofrem um desconforto que os impede de mostrar o que possuem de melhor na comunicação. O nervosismo da estreia é tão comum que algumas gafes nem são consideradas pelos críticos.

Lembro-me bem de quando Osmar Santos, o melhor narrador esportivo da história do Brasil, estreou na Rádio Globo depois de ter saído da Jovem Pan, onde havia atuado por muitos anos. Foi um dos momentos mais esperados das transmissões radiofônicas.

Em uma das primeiras vezes em que precisou dizer o nome da rádio saiu o bordão da ex-emissora: 'essa é a jovem radio Jovem Pan'. O locutor, desconcertado, pediu que o comentarista continuasse um pouco mais com suas análises até que conseguisse se recuperar.

Da mesma forma quando o programa 'Na Geral' estreou na Rádio Bandeirantes, um de seus apresentadores confessou no final que a estreia o havia deixado muito nervoso. Mesmo tendo larga experiência como apresentador em programas de rádio, não se sentiu à vontade.

Com Fátima Bernardes não poderia ser diferente. O primeiro programa sob seu comando foi longamente aguardado e gerou enorme expectativa, não só dos telespectadores, como também da apresentadora. Todos queriam saber como seria o cenário, a dinâmica do programa, e até como Fátima se comportaria.

Dediquei minha atenção ao desempenho da apresentadora. Embora ela tivesse muita experiência em entrevistas e à frente do Jornal Nacional, a responsabilidade de um programa só seu, num formato mais popular, exigiria adaptações na maneira de se comunicar. Não poderia ser a mesma, nem ser muito diferente.

Um dos requisitos mais importantes numa empreitada como essa seria manter um sorriso cativante, simpático e sedutor. Nesse aspecto não foi mal, mas também não empolgou. Faltou um pouquinho de naturalidade que, com certeza, aparecerá no transcorrer dos próximos programas.

Uma coisa é ler e interpretar notícias pelo teleprompter - aparelho que exibe textos em telas transparentes, usados por apresentadores de telejornais. Outra coisa muito diferente é falar de improviso, contando apenas com anotações.

Nesse papel, Fátima precisaria se mostrar descontraída, mais leve, evidenciando o tom mais conversacional. Ela estava consciente de que

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deveria se comportar assim, só que, na maior parte do tempo, exagerou na dose e ultrapassou o ponto.

Na tentativa de ser mais natural e mostrar-se mais à vontade, em certos momentos falou rápido demais, deixando transparecer a ansiedade. A sua dicção, que foi sempre exemplar, perdeu qualidade, atropelando a pronúncia de algumas palavras, suprimindo sons e até sílabas inteiras.

Ela manteve a elegância da postura, tanto para falar em pé quanto sentada. Foi cordial com os participantes do programa, quase como uma cúmplice. Gesticulou na medida certa, e manteve ótimo ritmo em todas as manifestações que fez. Só a comunicação do semblante não correspondeu com perfeição ao sorriso.

Sempre admirei a qualidade da comunicação de Fátima Bernardes. Tenho certeza de que esses atropelos normais da estreia serão corrigidos.

Por mais experiente que seja uma pessoa, estreias como essa são um enorme desafio, provocam insegurança e tiram a espontaneidade. É normal. Imagino que daqui em diante tudo entrará nos trilhos e ela poderá explorar o que existe de melhor e mais eficiente em suas apresentações.