Manual de Paracletologia

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  • Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected] 2

    Copyright 2012 Antnio Carlos Gonalves Bentes Capa: Carlos Bentes Reviso e diagramao: Charles Reuel de Andrade Bentes 1 edio: 2012 Bentes, Antnio Carlos Gonalves.

    Manual de Paracletologia Lagoa Santa, MG: edio do autor, 2012.

    ISBN CDD CDU

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    NDICE PARACLETOLOGIA - PNEUMATOLOGIA 5 INTRODUO 5 O ESPRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO 9 O ESPRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO 10 A TRINDADE NAS ESCRITURAS 13 A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO 16 A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO 18 A DIVINDADE E ATRIBUTOS DO ESPRITO SANTO 26 A PERSONALIDADE DO ESPRITO SANTO 27 O ESPRITO SANTO ASSEXUADO 30 NOMES DO ESPRITO SANTO 30 TTULOS E SMBOLOS DO ESPRITO 31 OS TRS TIPOS DE UNO: 35 O ESPRITO SANTO NA ERA PR-PENTECOSTAL 38 O ESPRITO SANTO NA ERA PS-PENTECOSTAL 40 OS TRS BATISMOS 41 A DOUTRINA DO BATISMO NO ESPRITO SANTO 44 CESSACIONISMO E O FALAR EM LNGUAS 57 O PROPSITO DO BATISMO NO ESPRITO SANTO 67 DIAIRESIOLOGIA - A DOUTRINA DAS DIVERSIDADES 85 DIVERSIDADE DE DONS 88 DIVERSIDADE DE MINISTRIOS 121 DIVERSIDADES DE OPERAES 133 DIVERSIDADES DE MEMBROS 139 INSPIRAO 140 O ESPRITO SANTO NA IGREJA LOCAL 157 FRUTO DO ESPRITO SANTO 163 BIBLIOGRAFIA 168

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    Apresentao Telogo de grande sabedoria, pastor de corao imenso, professor de teologia como poucos, mas acima de tudo homem de carter ilibado, Antnio Carlos Gonalves Bentes tambm um escritor inspirado, autor de vrios livros que tive o prazer de ler e reler e com eles aprender. E de novo, temos diante dos olhos mais uma produo da pena fecunda do pastor Bentes, tratando de um assunto importantssimo, antigo, muito estudado, mas paradoxalmente incompreendido em muitos arraiais evanglicos: A Doutrina do Esprito Santo - Pneumatologia. O texto que voc vai ler a seguir um acurado estudo bblico, escrito com a profundidade e a correo teolgicas requeridas pelos eruditos e com a simplicidade e a leveza necessrias compreenso daqueles que ainda esto nos primeiros estgios da vida crist. Se tivesse que resumir a minha opinio sobre este novo livro do pastor Bentes a uma nica palavra, eu diria, sem pensar: til. Com certeza, um texto til, proveitoso, benfico. til para os plpitos, til para as escolas dominicais, til para os estudos em grupo, mas especialmente til, proveitoso, benfico para o crescimento pessoal na f uma vez por todas confiada aos santos. Por isso, alm do privilgio de apresentar Manual de Paracletologia A Doutrina do Esprito Santo ao pblico leitor, sinto-me impelido a recomendar efusivamente sua leitura e seu estudo por todos os que querem crescer no conhecimento da Palavra de Deus e divulgar a s doutrina. Boa leitura e que Deus o abenoe rica e abundantemente.

    +Jos Moreno Bispo anglicano

    Reitor da American Pontifical Catholic University (EUA) Autor de Desperte o Poder do Alto.

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    PARACLETOLOGIA - PNEUMATOLOGIA O ESPRITO SANTO A FONTE DA ENERGIA DIVINA

    INTRODUO 1

    As Escrituras apresentam-nos Deus em Trs Pessoas: Pai, Filho e Esprito Santo.

    No Velho Testamento Deus nos apresentado como sendo por ns, nos Evangelhos como estando conosco e nas epstolas como estando em ns, Deus conosco e Deus em ns a sntese de todas as relaes de Deus para com o homem. A obra da Salvao vista em duas grandes divises: O Calvrio e o Pentecostes. Tanto o Esprito Santo como o Senhor Jesus Cristo so necessrios para que sejamos recriados imagem divina. O que Cristo na Carne no pode fazer, o Esprito Santo sem carne veio fazer. O homem quanto sua relao com Deus, acha-se diante de dois grandes problemas, um exterior e outro interior. Externamente necessrio que algum o reconcilie com Deus. Isto Cristo fez na sua morte. O problema interno consiste no fato de que, ainda perdoado, o homem est sujeito ao pecado que habita no seu ntimo. Isto o Esprito Santo pode fazer ou resolver, porque a Obra dEle feita internamente em ns. Cristo salva o homem da condenao do pecado. O Esprito Santo salva o homem do Poder do Pecado (Rm. 8.1,2). Antes de entrarmos no empolgante estudo do Esprito Santo meditaremos em duas importantes perguntas:

    1) O que a vida? Aqui falamos na vida global, a vegetal e a animal. A questo que tratamos aqui quanto energia que causa e sustenta a vida desde da planta at o animal, do micro-organismo at ao macro-organismo. Excetuando o esprito do homem, podemos definir a vida como sendo a conseqncia ou resultado da matria organizada. Esta matria organizada pode ser planta ou animal. Mas sem esta organizao a vida no se manifesta nem funciona. A vida a manifestao (fanerosis) da Energia Divina. Usemos a ilustrao da luz eltrica. Esta o resultado da organizao da matria de dnamo e de fios eltricos. Fora desta organizao no h luz eltrica. Apresentamos esta ideia no como doutrina, porque no h dados suficientes para tal, isto , que toda a vida, exceto o esprito humano resulta da organizao da matria. certo, entretanto que quando Deus criou a matria, deu-lhes essa propriedade de, uma vez organizada, de certa forma, a vida aparecer. E assim tem acontecido e assim se explica o fenmeno que se chama vida. Porm, desorganiza-se a matria e logo se ir a vida com todas as manifestaes. E no vale a pena perguntar de tal vida. como a luz que se apaga. No foi a parte nenhuma! O fenmeno desapareceu porque a sua causa (a organizao) desapareceu. por isso que, quando um animal morre, tudo acaba. A morte aniquilao completa do animal. 1 LANGSTON, A.B. A Doutrina do Esprito Santo. 2 ed. Rio de Janeiro: Casa publicadora Batista, p. 13-22.

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    2) O que Esprito? H diferena entre vida e esprito? A organizao da matria quer simples, quer complexa, explica todos os fenmenos que acontecem com os animais. Porm, j no assim com o esprito. Este, ao invs de receber da matria, tem em si mesmo os poderes de pensar, querer e amar. O esprito saindo da matria, pode ainda continuar a funcionar to bem, ou melhor do que quando estava na matria. Ilustremos: H pianos automticos, estes so agentes e instrumentos ao mesmo tempo. Porm, desorganizado o mecanismo no h mais msica. H outros pianos que so tocados por mos humanas. O piano simples instrumento. Porm, acabando-se com o instrumento no se acaba com a msica ou o agente. assim com os homens. O homem foi criado com corpo, alma e esprito, enquanto outros animais foram criados corpo e alma vivente. Devemos fazer distino entre esprito e alma vivente. O sopro divino (nishmath hayim) tornou-se o esprito humano e no um ser divino, entretanto este esprito tornou o homem infinitamente superior a qualquer outro animal, visto que o homem s se tornou alma vivente depois que o esprito humano lhe foi comunicado (assoprado) (J 27.3; Zc 12.1). Estes textos descrevem, com toda preciso, que o esprito do homem no alma e que, no obstante ser vida (z)2, vida de origem divina o princpio que anima o seu ser. A palavra neshama no usada na criao dos outros animais, nem expressa meramente vida animal (Gn 7.21-23; Dt 21.16-22; Js 11.11-14; 1 Rs 17.17-22). O esprito humano foi, portanto, o resultado do ato especial de Deus, assim como foi seu corpo. O corpo humano feito do p da terra (Gn 2.7), o tabernculo em que Deus coloca o esprito humano. O corpo no agente, simplesmente instrumento. Conseqentemente o que se observa no o fruto da organizao dos elementos qumicos que constitui seu tabernculo; o que se v nele o resultado do PODER CRIADOR DE DEUS, dando a existncia a um ser espiritual, criado semelhana do prprio Deus. As faculdades que o esprito possui juntamente com as faculdades da alma constituem o que chamamos de EGO ou EU. No animal no existe semelhante coisa. O princpio mecnico-biolgico explica tudo quanto h no animal. Porm est longe de explicar tudo quanto h no esprito. Quando a vida acaba no animal este deixa de existir, porque a morte dissolve e destri a organizao que produz esse fenmeno. Mas, quando o esprito sai do homem, esse esprito ainda continua a pensar, querer e amar, devido ao fato de que essas faculdades lhe pertencem por natureza e no dependem de modo algum da organizao da matria ou do corpo. Neste fato temos a base para a imortalidade e a indestrutibilidade do esprito humano. O corpo humano matria organizada, e naturalmente tem vida como qualquer matria organizada. Deixamos, porm, de emitir qualquer opinio sobre a relao dessa vida, com o prprio esprito que est no homem. Parece que o Criador no quis esclarecer-nos sobre este mistrio. O animal no tem esprito, s vida (psiqu e bios). O 2 Z ( /). a vida mais elevada, a vida do Esprito. Sempre que a Bblia fala de Vida Eterna ela usa esta palavra (Jo 3.16; 4.14; 5.24-26; 6.27, 33, 35, 49, 47, 48, 51). Das 135 referncias do Novo Testamento grego, 122 diz respeito a vida eterna ou a vida que s Deus possui. Apenas 13 referncias diz respeito a esta vida terrena.

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    homem possui um esprito e tem vida, o homem um esprito incorporado. A essncia do homem est no seu esprito. Por isso ns nos limitamos a proclamar, apenas a grande diferena que existe entre o esprito e a vida, sem procurar reconciliar os dois no prprio homem. Tentamos definir vida e esprito, queremos agora dizer alguma coisa sobre o Esprito infinito e absoluto que Deus. H uma diferena entre o Esprito Infinito e o esprito finito. As escrituras declaram que o esprito humano foi criado imagem e semelhana de Deus. Mas semelhana nunca significa identidade. O Esprito Infinito difere, em essncia do esprito finito, da mesma forma que a vida difere do esprito humano, em essncia. Ele existe por si s. A questo da essncia do esprito, seja finito, seja Infinito, como a essncia da eletricidade; ningum sabe o que . Essas coisas no esto ao alcance do homem. So grandes segredos que no foram at agora desvendados. S uma revelao do Altssimo nos poderia esclarecer tais pontos. Segundo a Bblia, h duas qualidades de esprito, um Infinito, que no podemos dizer de qualquer outro. Primeiro, Ele Auto-Existente, isto , tem existncia prpria. Ele todo suficiente para e em si mesmo, em relao questo da sua existncia. Se tudo quanto existe hoje cessasse de existir, o Esprito Infinito continuaria a existir absolutamente, como existe hoje neste vasto universo. Ele existe por si mesmo. Segundo, Ele Criador. Este poder nenhum outro ser o possui (Gn 1.1). Este assunto de criao to inexplicvel como a Auto-existncia de Deus, porm a Bblia, do princpio ao fim, ensina esta doutrina. Ele sempre existiu e deu existncia a tudo quanto existe. Em relao ao esprito finito (humano), h trs coisas a notar:

    1) O esprito humano criatura, isto , foi criado; 2) Ele de vontade livre, no animal a vontade instintiva determinada pela sua

    natureza. Sua vontade tem que obedecer aos ditames da sua prpria natureza. O animal faz o que a sua natureza lhe ordena ou permite fazer. Porm os atos do homem, ou os atos do esprito-alma, so dele mesmo, de sua prpria vontade, e no apenas a conseqncia do meio em que vive, ou da sua natureza. O homem pode com auxlio divino, contrariar a sua natureza e at mud-la. Por isso ousamos dizer que o esprito humano um ser moral e, naturalmente reconhece as duas obrigaes para com seu Criador. O esprito humano um ser religioso;

    3) O esprito humano um esprito incorporado. Ele age por meio de um corpo fsico via alma. Este fato de que o esprito incorporado tem influenciado toda a histria do homem. Sem tentar explicar, digamos que sempre a carne lutou contra o esprito (Gl 5.17). No h melhor cincia a ser estudada do que esta a que nos propomos. Estudarmos Deus e o homem deveras fascinante, todavia infindvel. maravilhoso conhecermos estes dois espritos, pois aprendemos andar numa comunho mais profunda.

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    Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, seno o seu prprio esprito que nele est? Assim tambm as coisas de Deus ningum as conhece, seno o Esprito de Deus. (1 Co 2.11). O prprio Esprito (Pneuma) testifica com o nosso esprito (Pneuma) que somos filhos de Deus (Rm 8.16). Esperamos que este estudo possa ajudar os amigos a andarem no Esprito, viverem no Esprito, receberem o maravilhoso Batismo no Esprito Santo, e juntamente com o Esprito sermos testemunhas de Cristo Jesus (At 1.8).

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    O ESPRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO 3

    Uma primeira velada referncia ao Esprito encontra-se nas primeiras linhas da Bblia, no hino a Deus Criador com que se abre o livro de Gnesis: E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Esprito de Deus se movia sobre a face das guas (Gn 1.2). Para dizer esprito usa-se aqui a palavra hebraica ruach que significa sopro e pode designar tanto vento como o respiro. Emerge da o papel do Esprito, cuja percepo favorecida pela mesma analogia da linguagem que, por associao, vincula a palavra ao sopro dos lbios: Mediante a palavra do Senhor foram feitos os cus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca (Sl 33.6). Este sopro vital e vivificante de Deus no est limitado ao instante inicial da criao, mas sustm em permanncia e vivifica toda criao, renovando-a continuamente: Envias o teu Esprito, e so criados, e assim renovas a face da terra (Sl 104.30).

    A novidade mais caracterstica da revelao bblica ter divisado na histria o campo privilegiado da ao do esprito de Deus. Em cerca de 100 passagens do Antigo Testamento o ruach IAHWEH indica a ao do Esprito do Senhor que guia o Seu povo, sobretudo nos grandes momentos do seu caminho. Assim, no perodo dos juzes, Deus fazia descer o seu Esprito sobre homens dbeis e transformava-os em guias carismticos, investidos de energia divina: o que aconteceu com Gideo, Jeft e em particular com Sanso (cf. Jz 6.34; 11.29; 13.25; 14.6,19).

    Com o advento da monarquia davdica esta fora divina, que at ento se manifestara de modo imprevisvel e intermitente, alcana uma certa estabilidade. Isto bem constatado na consagrao rgia de Davi, a propsito do qual a Escritura diz: e daquele dia em diante o Esprito do Senhor se apoderou de Davi (1 Sm 16.13).

    Durante e depois do exlio na Babilnia toda a histria de Israel relida como um longo dilogo estabelecido por Deus com o povo eleito, pelo Seu Esprito, pelo ministrio dos profetas do passado (Zc 7.12). O profeta Ezequiel torna explcito o ligame entre o Esprito e o profeta, por exemplo, quando diz: Ento o Esprito do Senhor veio sobre mim, e mandou-me dizer: Assim diz o Senhor... (Ez 11.5).

    Mas a perspectiva proftica aponta sobretudo no futuro o tempo privilegiado em que se cumpriro as promessas no sinal do ruach divino. Isaas anuncia o nascimento de um descendente, sobre o qual repousar o Esprito... de sabedoria e de entendimento, esprito de conselho e de fortaleza, esprito de cincia e de temor do Senhor (Is 11.2). 3 PAULO II, Joo. O ESPRITO SANTO. 2 ed. Lorena, SP: Editora Clofas, 2003, p. 8-10.

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    Este texto importante para toda a pneumatologia do Antigo Testamento, porque constitui como que uma ponte entre o antigo conceito bblico do esprito, entendido primeiro que tudo como a pessoa. O Messias da estirpe de Davi (do tronco de Jess) precisamente essa pessoa, sobre a qual pousar o Esprito do Senhor.

    J no Antigo Testamento emergem dois traos da misteriosa identidade do Esprito Santo, depois amplamente confirmado pela revelao do Novo Testamento.

    O primeiro trao a absoluta transcendncia do Esprito, que por isso chamado santo (Is 63.10,11; Sl 51.13). Para todos os efeitos o Esprito de Deus divino. No uma realidade que o homem pode conquistar com as suas foras, mas um dom que vem do alto: s se pode invoc-lo e acolh-lo. Infinitamente outro a respeito do homem, o Esprito comunicado com total gratuidade a quantos so chamados a colaborar com Ele na histria da salvao. E quando esta energia divina encontra um acolhimento humilde e disponvel, o homem arrancado do seu egosmo e libertado dos seus temores, e no mundo florescem o amor e a verdade, a liberdade e a paz.

    Outra caracterstica do Esprito de Deus o poder dinmico que Ele revela nas Suas intervenes na histria. s vezes corre-se o perigo de projetar sobre a imagem bblica do Esprito concepes ligadas a outras culturas como, por exemplo, a concepo do esprito como algo evanescente, esttico e enerte. A concepo bblica do ruach est ao contrrio, a indicar uma energia supremamente ativa, poderosa, irresistvel: o Esprito do Senhor lemos em Isaas torrente transbordante (Is 30.28). Por isso, quando o Pai intervm com o seu Esprito, o caos transforma-se em cosmo, no mundo acende-se a vida, e a histria pe-se novamente em caminho.

    O ESPRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO 4

    A revelao do Esprito Santo, como pessoa distinta do Pai e do Filho, velada no

    Antigo Testamento, torna-se clara e explcita no Novo. verdade que os escritos neotestamentrios no nos oferecem um ensinamento

    sistemtico sobre o Esprito Santo. Contudo, recolhendo os muitos dados presentes nos escritos de Lucas, Paulo e Joo, possvel captar a convergncia destes trs grandes files da revelao neotestamentrias concernente ao Esprito Santo.

    Em relao aos outros dois sinpticos, o evangelista Lucas apresenta-nos uma pneumatologia muito mais desenvolvida. 4 PAULO II, Joo. O ESPRITO SANTO. 2 ed. Lorena, SP: Editora Clofas, 2003, p. 11-14.

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    No Evangelho ele tem em vista mostrar que Jesus o nico a possuir o Esprito Santo em plenitude. Certamente, o Esprito intervm tambm em Isabel, Zacarias, Joo Baptista e sobretudo em Maria, mas s Jesus, ao longo de toda a Sua existncia terrena, detm plenamente o Esprito de Deus. Ele concebido por obra do Esprito Santo (Lc 1.35). A respeito dEle Joo Batista dir: Eu, na verdade, vos batizo em gua, mas vem aquele que mais poderoso do que eu, de quem no sou digno de desatar a correia das alparcas; ele vos batizar no Esprito Santo e em fogo (Lc 3.16).

    Antes de batizar no Esprito Santo e no fogo, Jesus mesmo batizado no Jordo, quando desce sobre Ele o Esprito Santo em forma corprea, como uma pomba (Lc 3.22). Lucas sublinha que Jesus no s vai ao deserto levado pelo Esprito Santo, mas Se dirige para ali cheio do Esprito Santo (Lc 4.1), e ali vence o tentador. Ele empreende a Sua misso, Jesus aplica a si mesmo a profecia do livro de Isaas (Is 61.1,2): O Esprito do Senhor est das sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertao aos cativos, e restaurao da vista aos cegos, para pr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitvel do Senhor (Lc 4.18,19). Toda a atividade evangelizadora de Jesus posta assim sob a ao do Esprito.

    Este mesmo Esprito sustentar a misso evangelizadora da Igreja, segundo a promessa do Ressuscitado aos seus discpulos: Eu vou mandar sobre vs o que Meu Pai Prometeu. Entretanto, permanecei na cidade at serdes revestidos com o poder do alto Lc 24.49). Segundo o livro dos Atos, a promessa cumpre-se no dia do Pentecoste: Todos ficaram cheios do Esprito Santo e comearam a falar outras lnguas, conforme o Esprito lhes inspirava que se exprimissem (At 2.4). Realiza-se assim a profecia de Joel: E acontecer nos ltimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Esprito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizaro, os vossos mancebos tero vises, os vossos ancios tero sonhos (Lc 2.17). Lucas v nos apstolos os representantes do povo de Deus dos tempo finais, e ressalta com razo que este Esprito de profecia envolve o inteiro povo de Deus.

    Apstolo Paulo, por sua vez, evidencia a dimenso renovadora e escatolgica da obra do Esprito, que visto como a fonte da vida nova e eterna comunicada por Jesus sua Igreja.

    Na 1 Carta aos Corntios lemos que Cristo, novo Ado, em virtude da ressurreio, Se tornou Esprito vivificante (1 Co 15.45); Isto , foi transformado pela fora vital do

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    Esprito de Deus de maneira que Se tornou, por sua vez, princpio de vida nova para os crentes. Cristo comunica vida precisamente atravs da efuso do Esprito Santo.

    A existncia dos crentes j no a de escravos, sob a Lei, mas uma vida como filhos, pois receberam o Esprito do Filho nos seus coraes e podem exclamar: Abb, Pai (Pater)! (Gl 4.5-7; Rm 8.14-16). E uma vida em Cristo, isto , de pertena exclusiva a Ele e de incorporao Igreja: Pois em um s Esprito fomos todos ns batizados em um s corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos ns foi dado beber de um s Esprito (1 Co 12.13). O Esprito Santo suscita a f (1 Co 12.3), derrama o amor (gape) nos coraes (Rm 5.5) e guia a orao dos cristos (Rm 8.26).

    Enquanto princpio de um novo ser, o Esprito Santo determina no crente um novo dinamismo operativo: Se vivemos pelo Esprito, caminhemos tambm segundo o Esprito (Gl 5.25). Esta nova vida est contraposta da carne, cujos desejos desgostam a Deus e fecham a pessoa na priso sufocante do eu que se dobra em si mesmo (Rm 8.5-9). Abrindo-se, ao contrrio, ao amor doado pelo Esprito Santo, o cristo pode saborear o fruto do Esprito: amor, alegria, paz, pacincia, benevolncia, bondade, fidelidade, mansido e domnio prprio (Gl 5.16-24).

    Segundo Paulo, contudo, aquilo que agora possumos s um sinal ou primcias do Esprito (Rm 8.23; 2 Co 5.5). Na ressurreio final, o Esprito completar a sua obra prima, realizando para os crentes plena espiritualizao do seu corpo (1 Co 15.43-44) e envolvendo de algum modo na salvao o universo inteiro (Rm 8.20-22; At 3.21).

    Na perspectiva joanina o Esprito Santo sobretudo o Esprito da verdade, o Parclito.

    Jesus anuncia o Dom do Esprito no momento de concluir a Sua obra terrena: Quando vier o Consolador, que procede do Pai, Ele testificar de Mim. E vs tambm dareis testemunho, pois estivestes Comigo desde o princpio (Jo 15.26 s). E ao esclarecer ulteriormente o papel do Esprito, Jesus acrescenta: Ele vos guiar para a verdade total, porque no falar de Si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido, e vos anunciar o que h de vir. Ele me glorificar, porque h de receber do que Meu, para vo-lo anunciar (Jo 16.13,14). O Esprito, portanto, no trar uma nova revelao, mas guiar os fiis para uma interiorizao e uma mais profunda penetrao da verdade revelada por Jesus.

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    A TRINDADE NAS ESCRITURAS TEXTOS: Gn 1.1-26; 3.22; 11.7; Is 6.8-10, Mt 3.16-17; 28.19; Jo 1.18; 14.16; At 2.32-33;

    5.3-4; 10.38; 2 Co 13.13; Cl 1.15-17; 1 Jo 5.20.

    A razo nos mostra a unidade de Deus; apenas a Revelao nos mostra a Trindade de Deus (Strong).

    A palavra trindade em si no aparece na Bblia. Sua forma grega TRIAS parece ter sido usada primeiro por Tefilo de Antioquia (181 d.C.), e sua forma latina, TRINITAS, por Tertuliano (220 d.C.). Com Trindade queremos dizer que h trs distines eternas em uma essncia divina, conhecidas como PAI, FILHO e ESPRITO SANTO. Aqueles que descrem na trindade divina, o fazem por um monotesmo exclusivista na acepo da palavra, em cuja prtica pecam contra o mandamento cristo que determina: Examinai todas as coisas, retende o bem (1 Ts 5.21).

    Embora Deus seja um s, ele nunca est s. Diz Irineu: Esto sempre com ele a palavra e a sabedoria, o Filho e o Esprito Santo, por meio dos quais tudo fez livre e espontaneamente. Segundo Irineu, esses trs so um s Deus porque possuem uma s dynamis, um s poder de ser, uma s essncia, a mesma potencialidade. Potencialidade e dinmica so termos latinos e gregos para significar o que expressamos em nossa lngua pelo termo poder do ser.5

    Os pais capadcios, especialmente Gregrio de Nazianzo, faziam claras distines entre os conceitos empregados para definir o dogma trinitrio. Havia duas sries de conceitos: a primeira dizia uma divindade, uma essncia (ousia - ), e uma natureza (phiysis); a segunda, trs substncias (hypostaseis - ), trs propriedades (idiotetes), e trs pessoas (prosopa, personae). A divindade era entendida como uma essncia ou natureza em trs formas, trs realidades independentes. Todas as trs tinham a mesma vontade, a mesma natureza e a mesma essncia.6

    A Trindade na Experincia Humana7

    No centro da f crist no est o ser humano, nem a Igreja, mas Deus. Este Deus

    nico, todavia, percebido de maneiras diversas por ns. Segundo a concepo bblica, Deus um Ser Tripessoal. Como, porm, Deus um

    Ser Pessoal, o nico caminho para conhec-lo, de modo a corresponder ao objeto de conhecimento, por um encontro pessoal. Quem pode dizer que conhece uma pessoa antes de encontr-la, cultivar a comunicao com ela e ter com ela um relacionamento pessoal? No possvel imaginar a f crist sem a dimenso da experincia. Deus no pode ser conhecido em si, ele pode ser compreendido unicamente na relao conosco.

    5 TILLICH, Paul. Teologia Sistemtica. Edies Paulinas, Editora Sinodal, 1987, p. 61. 6 TILLICH, Paul. Op. Cit., p. 92. 7 SCHWARZ, Christian. Ns diante da Trindade.Curitiba: Editora Evanglica Esperana, 1999, p. 6.

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    esclarecedor ver que o Antigo Testamento usa para conhecer a mesma palavra

    (Yda - ) que usa para ter relaes sexuais (Gn 4.1; 19.8; Nm 31.17,35; Jz 11.39; 21.11; 1 Rs 1.4; 1 Sm 1.19). O conhecimento de Deus, portanto, na concepo bblica, pode ser comparado, sem problemas, ao encontro intenso e prazeroso entre um marido e sua esposa! O professor de teologia enterrado em seus livros dificilmente um modelo apropriado de conhecimento no sentido bblico, mas a relao sexual entre marido e mulher sim.

    Fig. 1 O significado da revelao: 8

    O Antigo Testamento fala com freqncia em conhecer (Yda) ou no conhecer Iav (compare Is 1.3; Jr 2.8; 4.22; 31.34; Os 2.20; 4.1,6; 5.3,4; 6.6; 13.4). O conhecimento no Antigo Testamento bem diferente de nosso entendimento do termo. Para ns, conhecimento implica compreender coisas pela razo, analisar e buscar relaes

    8 SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento. So Paulo: Vida Nova, 2001, p. 95-96.

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    de causa e efeito. No Antigo Testamento, conhecimento significa comunho, familiaridade ntima com algum ou algo.

    Falando em Nome de Deus a Israel, Ams disse: De todas as famlias da terra a vs somente conheci; portanto, todas as vossas injustias visitarei sobre vs (Am 3.2, ARC).

    Vriezen disse que o Antigo Testamento faz do conhecimento de Deus a primeira exigncia da vida, jamais explica o significado do termo. O propsito da revelao divina no declarado especificamente no Antigo Testamento. A revelao no se baseia em alguma necessidade de Deus. Deus no criou o mundo nem revela a si mesmo para ter algum que guarde o sbado, como diziam alguns rabinos antigos. O conhecimento de Deus mais que um mero conhecimento intelectual; diz respeito vida humana como um todo.

    essencialmente uma comunho com Deus e tambm f; um conhecimento do corao que exige o amor do homem (Dt 4); sua exigncia vital que o homem aja de acordo com a vontade de Deus e ande humildemente nos caminhos do Senhor (Mq 6.8). o reconhecimento de Deus como Deus, a rendio total a Deus como Senhor.

    A expresso hebraica o conhecimento de Deus traz assim pelo menos trs conotaes: (1) o sentido intelectual, (2) o sentido emocional e (3) o sentido volitivo. O verbo conhecer (yada) refere-se basicamente ao que chamamos atividade intelectual, cognitiva; mas a psicologia hebraica no conhecia uma faculdade especfica que compreendesse o intelecto ou a razo.

    Conhecer a Deus significava ter um entendimento intelectual de quem ele era, ter um relacionamento pessoal e emocional com ele e ser obediente a sua aliana e mandamentos.

    A TRINDADE E A COMUNHO 9

    2 Co 13.13: A graa do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunho do Esprito Santo seja com todos vs. Amm.

    Deus no poderia existir em nenhuma forma a no ser a tripessoal (Berkhof). Deus no poderia contemplar-se a si mesmo, conhecer-se e comunicar-se Consigo mesmo, se no fosse trino em Sua constituio (Shedd).

    Deus amor (1Jo 4.16). A maior comunho que existe est na trindade, pois estas trs Pessoas se amam mutuamente. Antes que houvesse o universo, antes que se movesse o mnimo tomo de matria csmica, antes que emergisse a primeira rstia de inteligncia, antes que comeasse a haver tempo, o Pai, o Filho e o Esprito Santo estavam em si em erupo vulcnica de vida e amor. Existia a trindade imanente. Ns como criaturas, filhos e filhas, existamos em Deus como projetos eternos, gerados pelo Pai no corao do Filho com o amor do Esprito Santo (Leonardo Boff). 9 SOUSA, Ricardo Barbosa. O CAMINHO DO CORAO. Encontro Publicaes, 2002, p. 59.

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    Sob o nome de Deus a f crist v o Pai, o Filho e o Esprito Santo em eterna correlao, interpenetrao e amor; de tal sorte que so um s Deus Uno. A unidade significa a comunho das Pessoas divinas. Por isso, no princpio no est a solido do Uno, mas a COMUNHO das trs Pessoas (Leonardo Boff).10

    Deus, antes mesmo da criao, j era; e era todo amor e comunho porque existia eternamente como Trindade. Antes mesmo que houvesse qualquer objeto criado para ser alvo do amor divino, Deus j era amor e relacionava-se em amor por ser esta a natureza da Trindade. O Deus revelado na Bblia no pode ser compreendido a no ser atravs da experincia comunitria do amor.11

    Nosso ingresso na igreja de Jesus Cristo d-se em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo. Ser salvo por Cristo e tornar-se membro da sua igreja penetrar no mistrio da Trindade e ser envolvido por um Deus que comunho. O Deus cristo e bblico no existe solitariamente, ele sempre a comunho das trs pessoas divinas.12 nesta relao de amor, neste dar e receber, nesta eterna e perfeita comunho que fomos criados conforme a imagem e semelhana do Deus trino. Fomos criados para amar, conviver em amizade e comunho com o Criador e toda a sua criao. Conhecer a Deus mergulhar neste mistrio e participar desta comunho eterna que nutre a alma humana e resgata o sentido da nossa verdadeira humanidade.

    O Ser de Deus um ser relacional, e sem o conceito de comunho impossvel falar sobre a realidade de Deus. A partir da Trindade nada existe por si mesmo, individualmente. Comunho a razo de ser do homem.13

    Pela revelao do Novo Testamento, o que de fato existe o Pai, o Filho e o

    Esprito Santo. Deus Trindade. Deus a comunho dos divinos Trs. O Pai, o Filho e o Esprito Santo se amam de tal forma e esto interpenetrados entre si de tal maneira, que esto sempre unidos. O que existe a unio das Trs divinas Pessoas. A unio to profunda e radical que so um s Deus.14

    A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO

    1. O vocbulo hebraico ELOHIM (Deus), aparece mais de 2000 vezes no A. T. este um substantivo, personativo, masculino, plural. Elohim o divino autor de tudo (Gn 1.1-3). 2. Para aqueles monotestas exclusivistas, Elohim apenas um plural nobre, o que nada mais do que um escapismo, uma farsa, pois no cremos que o Esprito Santo, ao dar a

    10 BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade. 3 ed. Petrpolis: Editora Vozes, 1986, p. 74. 11 SOUSA, Ricardo Barbosa. Op. Cit, p. 59. 12 SOUSA, Ricardo Barbosa. Op. Cit, p. 60. 13 SOUSA, Ricardo Barbosa. Op. Cit, p. 60. 14 BOFF, Leonardo. A Santssima Trindade a melhor comunidade. Petrpolis, RJ: Editora Vozes, 2009, p. 25.

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    revelao a Moiss, tenha deixado-nos um mistrio, um enigma. Ao contrrio, havendo na lngua original por ele usada os vocbulos EL e ELOH (Deus), substantivo personativo, masculino, singular, usou o plural destes vocbulos, a saber, Elohim, com a finalidade de nos dar atravs dele, j no incio da histria humana, conhecer a raiz da maravilhosa doutrina da Trindade. 3. Alm do plural (Elohim), o texto do Antigo Testamento utiliza-se de verbos, adjetivos e pronomes tambm no plural em plena concordncia em gnero e nmero com o substantivo plural Elohim. Ex: Gn 1.26; 3.22; 11.7; Js 24.19. No podeis servir a Iahweh, pois Ele um Deus santo... A frase deste texto no hebraico Elohim Kdoxim, o adjetivo Kadosh () = santo, pluralizado em Kdoxim ( ), concorda com o plural Elohim. 4. A linguagem do Antigo Testamento alude a trindade divina atribuindo os ttulos PAI, FILHO e ESPRITO SANTO, s trs pessoas divinas. Ex: Is 63.16; Sl 2.7; Gn 1.2; Is 11.2; Ml 2.10; Sl 45.6-7l; Pv 30.4; Is 63.10. 5. H na lngua hebraica dois adjetivos que expressam o sentido de unidade: ERRAD () = um e IRRID () = nico.

    O monotesmo exclusivista tem por base fundamental o texto constante de Dt 6.4,

    que em hebraico diz: ( ) Ximah Israel Iahweh Eloheinu Iahweh Errad, que traduzido fielmente significa: Escuta Israel: O eterno nosso Deus, O Eterno um (Traduo do rabino Meir Masliah Melamed). Este texto hebraico foi traduzido por 70 rabinos para o grego comum do seu tempo, fielmente, conforme consta a Septuaginta: , = Akoue Israel, kurios o Theon emon eis esti - que traduzido literalmente significa: Ouve Israel, o Senhor o Deus nosso, o Senhor um. Jernimo traduziu o grego dos 70 para o latim, conforme consta da Vulgata: Audi, Israel, Dominus Deus noster, Dominus inis est. A traduo inglesa diz: Hear, o Israel, the Lord our God is one Lord. A traduo espanhola diz: Oye Israel, Jehov nuestro Dios, Jehov uno . Isto significa que o texto hebraico exprime precisamente ser a divindade Criadora, Eterna, uma unidade composta, posto que isto que exprime o adjetivo ERRAD, conforme comprovam os seguintes exemplos: Gn 2.24 - Por isso deixa o homem pai e me, e se une sua mulher, tornando-se os dois uma (ERRAD) s carne. Neste texto o adjetivo ERRAD admite a associao de dois em um s: Jz 20.1-11; 1 Sm 11.7; Ed 3.1; 6.20. Em todos estes textos, o adjetivo ERRAD demonstra que admite associao de dois e de muitos sem lhe alterar o sentido. E, pasmem os monotestas exclusivistas, este adjetivo ERRAD, que aplicado a Divindade em todo o Antigo Testamento.

    IRRID () = nico. IRRID uma unidade absoluta, exclusiva, que em absoluto, no admite qualquer associao para poder exprimir o seu sentido restrito, absoluto, posto que, qualquer associao que se lhe fizer, altera-lhe 100% o sentido que tem. Veja as referncias: Gn 22.2,16; Jz 11.34; Jr 6.26; Am 8.10. Todos estes textos e outros que poderamos acrescentar relao evidenciam o adjetivo - IRRID (nico). Este adjetivo um adjetivo absoluto que no admite associao com ningum, porque qualquer associao lhe altera o sentido, deixando de ser nico para ser apenas um entre outros.

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    Este adjetivo IRRID nunca usado (aplicado) em relao a Deus no texto hebraico do Antigo Testamento.

    impossvel, at o momento, descobrir a razo porque os tradutores da Bblia para o portugus haverem traduzido o vocbulo ERRAD (um), como o sentido de IRRID (nico): Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus nico Senhor. Chegamos a pensar: ser que Jesus ao citar este texto em resposta pergunta do escriba, conforme Mc 12.29, haja dado ao mesmo este sentido, motivando assim a traduo constante de nossas verses? Mas consultando a verso hebraica do Novo Testamento e o Novo Testamento Grego Koin, verificamos que Jesus foi 100% fiel ao texto hebraico e a seu valor literal, citando sem nenhuma alterao.

    A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO

    No progresso da Revelao o nico Deus Verdadeiro aparece claramente no Novo Testamento existindo em trs Pessoas Divinas chamadas: PAI, FILHO e ESPRITO SANTO (Mt 28.19; 2Co 13.13; Mt 3.16-17; Ef 2.18; 4.4-6; 5.18-20; 1 Pe 1.2; Jd 20-21). 1. Cada uma destas Divinas Pessoas possui Suas prprias caractersticas pessoais e se distinguem claramente das outras Pessoas (comp. Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7-15). Contudo as trs Pessoas so iguais no ser, no poder e na glria; cada uma sendo chamada de Deus (Jo 6.27; At 5.3-4); cada uma possuindo todos os atributos divinos (Tg 1.17; Hb 13.8; 9.14); cada uma realizando as obras divinas (Jo 5.21; Rm 8.11); e cada uma recebendo honras divinas (Jo 5.23; 2 Co 13.13). 2. Com referncia ordem de suas atividades, o Pai o primeiro, o Filho o segundo, e o Esprito Santo o terceiro; a frmula geral sendo a seguinte: do Pai (1 Co 8.6); Atravs do Filho (Jo 3.17), pelo Esprito Santo (Ef 3.5) e para o Pai (Ef 2.18). Mesmo assim, entretanto, nenhuma das Pessoas age independentemente das outras pessoas; mas sempre h uma concorrncia mtua, como disse o Senhor: O meu Pai trabalha at agora, e eu trabalho tambm (Jo 5.17); e o filho nada pode fazer de si mesmo (Jo 5.19); e novamente, Eu e o Pai somos um (Jo 10.28-30). 3. Na revelao de Deus no Novo testamento como um ser tri-pessoal, no h afastamento do rigoroso monotesmo do Velho Testamento (comp. Dt 6.4-5 com Mc 12.29-30; Rm 3.30). As trs Pessoas Divinas so um Deus, no trs deuses. Foi preciso que o Velho Testamento enfatizasse primeiro a unidade Divina a fim de resguardar contra as tendncias politestas. Mas mesmo no Velho Testamento, quando lido luz do Novo Testamento, surge a pluralidade de Pessoas dentro do nico Deus Verdadeiro (comp. Gn 1.26; Is 6.8; 48.12 com 48.16). 4. A Trindade de Deus reconhecidamente um grande mistrio, algo totalmente alm da possibilidade de uma explicao completa. Mas podemos nos resguardar do erro apegando-nos firmemente aos fatos da Revelao Divina, que: 1) quanto ao Seu Ser ou essncia, Deus um; 2) quanto Sua Personalidade, Deus trs; 3) no podemos nem dividir a essncia, nem confundir as Pessoas. Mas, apesar do seu mistrio, a doutrina da Divina Trindade sempre comprovou ser rica em valores espirituais e prticos.

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    5. A importncia atribuda Divina Trindade, na Revelao do Novo Testamento, aparece no fato de que a doutrina est firmemente embebida em duas frmulas que so constantemente repetidas para o povo ouvir na igreja: 1) a frmula do batismo (Mt 28.19); 2) a frmula da bno apostlica (2 Co 13.13).

    O CREDO DE ATANSIO

    Adoramos um Deus em Trindade, a Trindade em unidade. No confundimos as Pessoas, nem separamos a substncia. Pois a Pessoa do Pai uma, a do Filho outra e a do Esprito Santo outra. Mas no Pai, no Filho e no Esprito Santo h uma Divindade, glria igual e majestade coeterna. Tal qual o Pai, o mesmo so o Filho e o Esprito Santo. O Pai incriado, o Filho incriado, o Esprito Santo incriado. O Pai imensurvel, o Filho imensurvel, o Esprito Santo imensurvel. O Pai eterno, o Filho eterno, o Esprito Santo eterno. E, no obstante, no h trs eternos, mas sim um Eterno. Da mesma forma no h trs seres incriados, nem trs imensurveis, mas um incriado e um imensurvel. Da mesma maneira o Pai onipotente, o Filho onipotente e o Esprito Santo onipotente. No entanto no h trs seres onipotentes, mas sim um Onipotente. Assim o Pai Deus, o Filho Deus e o Esprito Santo Deus. No entanto, no h trs deuses, mas um Deus. Assim o Pai Senhor, o Filho Senhor e o Esprito Santo Senhor. Todavia no h trs senhores, mas um Senhor. Assim como a verdade crist nos obriga a confessar cada Pessoa individualmente, como sendo Deus e Senhor, assim tambm ficamos privados de dizer que haja trs deuses ou Senhores. O Pai no foi feito de coisa alguma, nem criado, nem gerado. O Filho procede do Pai somente, no foi feito, nem criado, mas gerado. O Esprito Santo procede do Pai e do Filho, no foi feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. H portanto, um Pai, no trs Pais; um Filho, no trs Filhos; um Esprito Santo, no trs Espritos Santos. E nessa Trindade no existe primeiro nem ltimo; maior nem menor. Mas as trs Pessoas coeternas so iguais entre si mesmas; de sorte que por meio de todas, como foi dito acima, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas.

    Na Trindade h um s Esprito (Ef 4.4), trs almas ou Pessoas, e depois da

    encarnao um corpo (o do Filho) (Aldery Nelson). Assim como aquele que nega a doutrina da trindade pode perder a sua alma; aquele

    que luta demasiadamente para entend-la pode perder o seu juzo (Dr. Robert South).

    Concluso sobre a Trindade A rebelio humana contra a vontade de Deus tem procedido, em certa maneira, em

    srie contra as Pessoas da Trindade: 15 15 GUNDRY, Stanley. TEOLOGIA CONTEMPORNEA. 1 ed. Editora Mundo Cristo, p. 366.

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    1. A rebelio contra o Esprito Santo na rejeio da inspirao (das Escrituras) nos sculos XVIII e XIX;

    2. A rebelio contra o Filho na rejeio da expiao vicria e da redeno mediante o sangue de Cristo nos sculos XIX e XX;

    3. E, agora, a rebelio contra o Pai, na negao da criao do universo, e at mesmo da sua realidade objetiva, nos sculos XX e XXI.

    H trs maneiras consagradas de aprofundar racionalmente a doutrina trinitria:16 1. As correntes ortodoxas; 2. A latina; 3. A moderna.

    A Teologia Ortodoxa (da Igreja Ortodoxa do oriente) parte da unidade da natureza

    do pai. O Pai a fonte e origem de toda divindade. Ele por sua boca profere a Palavra, que o Filho. Ao proferir a Palavra lhe sai simultaneamente o sopro, que o Esprito Santo. Os trs recebem so consubstanciais.

    A Teologia Latina (da Igreja romana catlica) e outras partem da natureza divina, que espiritual. O Esprito absoluto sem princpio e origem de tudo o Pai. O Pai gera o Filho, Pai e Filho se amam e juntos espiram o Esprito Santo. A mesma natureza se encontra nos trs, por isso h um s Deus.

    A Teologia Moderna parte das trs Pessoas juntas. Reala o fato de que as trs esto sempre inter-relacionadas e em eterna comunho (pericrese)17 [on-line]. Esta relao to absoluta que os divinos Trs se unificam sem se fundirem, sendo ento um nico Deus vivo.

    H trs maneiras erradas de se pensar a f na Trindade: 18 1. O Tritesmo; 2. O Modalismo; 3. O Subordinacionismo.

    O Tritesmo afirma que existem trs deuses: o Pai, o Filho e o Esprito Santo. Nesta

    viso no se considera a pericrese, quer dizer, o entrelaamento eterno entre os divinos Trs.

    O Subordinacionismo considera somente o Pai como o Deus verdadeiro. O Filho e o Esprito Santo so subordinados a ele, sem possuir a mesma natureza divina; aqui se nega a igualdade divina entre as Trs Pessoas.

    O Modalismo afirma que existe somente um nico Deus [s uma Pessoa], mas trs modos de sua manifestao no mundo. Quando Deus cria, usa a mscara de Pai; quando 16 BOFF, Leonardo. A Santssima trindade a melhor Comunidade. Editora Vozes: So Paulo, 2000, pp. 174,175. 17 Pericrese. Expresso grega que literalmente significa Uma pessoa conter as outras duas (em sentido esttico) ou ento cada uma das pessoas interpenetrar as outras e reciprocamente (sentido ativo); o adjetivo pericortico quer designar o carter de comunho que vigora entre as divinas Pessoas. 18 BOFF, Leonardo. A Santssima trindade a melhor Comunidade. Editora Vozes: So Paulo, 2000, p. 175.

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    liberta, o pseudnimo de Filho; e quando santifica e reconduz de volta ao Reino, se apresenta com a cara de Esprito Santo; nesta viso se abandona a Trindade de Pessoas.

    Label1

    CONCEPES FALSAS ACERCA DA TRINDADE

    UNITARISMO RIO

    P

    F

    E. S.

    Criador

    Criatura

    Impessoal

    O arianismo nega a plena divindade do Filho e do Esprito Santo

    Sabelianismo

    Pai (V.T.) Filho N.T.)

    Esprito (Hoje)

    Trindade Modalstica O modalismo afirma que existe s uma nica pessoa, que se revela a ns de trs diferentes formas (ou modos)

    Tritesmo

    Trs deuses

    P

    F ESSS

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    O Desenvolvimento Histrico da Doutrina da Trindade Introduo

    A doutrina da Trindade essencial ao cristianismo bblico; ela descreve os relacionamentos existentes entre os trs membros da Divindade de um modo consistente com a Escritura. fundamental nessa doutrina a questo de como Deus pode ser ao mesmo tempo um e trs. Os primeiros cristos no queriam perder o seu monotesmo judaico enquanto exaltavam o seu Salvador. Surgiram heresias quando pessoas procuravam explicar o Deus cristo sem se tornarem tritestas (como os judeus rapidamente os acusaram de ser). Os cristos argumentaram que o monotesmo judaico do Antigo Testamento no exclua a Trindade. O clmax da formao trinitria ocorreu no Conclio de Constantinopla, em 381 d. C. Devemos a esse Conclio a expresso do conceito ortodoxo da trindade. Todavia, para apreciarmos o que disse o Conclio til acompanharmos o desenvolvimento histrico da doutrina. Isso no significa que a Igreja ou qualquer conclio tenha inventado a doutrina. Antes, foi para responder s heresias que a Igreja explicou o que a Escritura j pressupunha.

    A Igreja Pr-Nicena: 33-325 d.C. Os apstolos, 33-100 d.C. O ensino apostlico claramente aceitou a plena e real divindade de Jesus, e aceitou e adotou a frmula batismal trinitria. Os Pais Apostlicos, 100-150 d.C. Os escritos dos Pais Apostlicos eram caracterizados por uma paixo acerca de Cristo (Cristo provm de Deus; ele pr-existente) e por ambigidade teolgica acerca da Trindade. Os Apologistas e os Polemistas, 150-325 d.C. As crescentes perseguies e heresias foraram os escritores cristos a declararem de maneira mais precisa e defenderem o ensino bblico acerca do Pai, do Filho e do Esprito Santo. Justino Mrtir: Cristo distinto do Pai em sua funo.

    Atengoras: Cristo no teve princpio. Tefilo: O Esprito Santo distinto do Logos. Orgenes: O Esprito Santo co-eterno com o Pai e o Filho. Tertuliano: Falou em Trindade e pessoas trs em nmero, mas um em substncia.

    Quadro adaptado do grfico n 21 do livro: Teologia Crist em Quadros.

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    O Desenvolvimento Histrico da Doutrina da Trindade Conclio de Nicia: 325 d.C. Por causa da difuso da heresia ariana, que negava a divindade de Cristo, a unidade e at mesmo o futuro do Imprio Romano pareciam incertos. Constantino, recentemente convertido, reuniu um conclio ecumnico em Nicia para resolver a questo. A questo: Cristo era plenamente Deus, ou era um ser criado e subordinado?

    rio

    Somente Deus Pai eterno. O Filho teve um princpio como o primeiro e mais importante ser criado. O Filho no um em essncia com o Pai. Cristo subordinado ao Pai. Ele chamado de Deus como um ttulo honorfico.

    Atansio

    Cristo co-eterno com o pai. Cristo no teve princpio. O Filho e o Pai tm a mesma essncia Cristo no subordinado ao Pai.

    Declaraes Fundamentais do Credo do Conclio [Ns cremos] em um Senhor Jesus Cristo...verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, no feito, de uma s substncia com o Pai. Mas aqueles que dizem que houve um tempo em que Ele no existia, e que antes de ser gerado Ele no era...a estes a Igreja Catlica anatematiza. E cremos no Esprito Santo. Resultados do Conclio

    O arianismo foi formalmente condenado. A declarao homoousias (mesma subsistncia) criou conflitos. Os arianos reinterpretaram homoousia e acusaram o conclio de monarquianismo modalista. A doutrina do Esprito Santo ficou sem ser elaborada.

    Conclio de Constantinopla: 381 d.C.

    O arianismo no foi extinto em Nicia; na realidade, ele cresceu em importncia. Alm disso, surgiu o macedonismo, que subordinava o Esprito Santo essencialmente da mesma maneira que o arianismo havia subordinado Cristo. A Questo: O Esprito Santo plenamente Deus?

    Declarao Fundamental do Credo do Conclio ...e no Esprito Santo, o Senhor e doador da vida, que procede do Pai, que adorado e glorificado juntamente com o Pai e o Filho.

    Resultados do Conclio O arianismo foi rejeitado e o Credo Niceno reafirmado. O macedonianismo foi condenado e a divindade do Esprito Santo afirmada. Foram resolvidos grandes conflitos acerca do trinitarianismo (embora os debates cristolgicos tenham continuado at Calcednia, em 451 d.C.).

    Quadro adaptado do grfico n 21 do livro: Teologia Crist em Quadros.

  • 21

    Noo Fonte Partidrios Percepo da Essncia de Deus (Uno-Unidade)

    Percepo da Subsistncia de Deus (trino-Diversidade)

    Monarquianismo Dinmico

    Teodoto Paulo Samsata Artemon Socino Modernos Unitrios

    A unidade de Deus denota tanto singularidade de natureza quanto singularidade de pessoas. Portanto, o Filho e o E. Santo so consubstanciais com a essncia divina do Pai somente como atributos impessoais. A dynamis divina veio sobre o homem Jesus, mas ele no era Deus no sentido estrito da palavra.

    A noo de um Deus uma impossibilidade palpvel, uma vez que a sua perfeita unidade perfeitamente indivisvel. A diversidade de Deus aparente, e no real, j que o evento de Cristo e a obra do Esprito Santo somente atestam uma operao dinmica dentro de Deus, e no uma unio hiposttica.

    Monarquianismo Modalista

    Prxeas Noeto Sablio Swedenborg Schleiermacher Pentecostais Unidos (Jesus somente)

    A unidade de Deus ultra-simples. Ele qualitativamente caracterizado em sua essncia por uma natureza e uma pessoa. Essa essncia pode ser designada seja como Pai, Filho ou E. Santo. Estes so diferentes nomes do Deus unificado e simples. Porm idnticos com eles. Os trs nomes so os trs modos pelos quais Deus se revela.

    O conceito de um Deus subsistente errneo e confunde a verdadeira questo do fenmeno da auto-manifestao modalista de Deus. O paradoxo de um trs em unidade subsistente refutado pelo conhecimento de que Deus no trs pessoas, mas uma pessoa com trs nomes diferentes e papis correspondentes que se seguem um ao outro como as partes de um drama.

    Subordinacionismo rio Modernas Testemunhas de Jeov e vrias outras seitas menos conhecidas

    A unidade inerente da natureza de Deus somente se identifica de maneira apropriada com o Pai. O Filho e o E. Santo so entidades discretas que no partilham da essncia divina.

    A essncia unipessoal de Deus exclui o conceito de subsistncia divina com uma Divindade. A trindade na unidade auto-contraditria e viola os princpios bblicos de um Deus monotesta.

    Trinitarianismo Econmico

    Hiplito Tertuliano

    Diferentes trinitarianos neo-econmicos

    A Divindade caracteriza-se pela triunidade: Pai, Filho e Esprito Santo so trs manifestaes da nica substncia idntica e indivisvel. A perfeita unidade e consubstancialidade esto envolvidas de maneira especial em aes tridicas manifestas como a criao e a redeno.

    A subsistncia dentro da Divindade articulada por meio de termos como distino e distribuio afastando de modo eficaz a noo de separao ou diviso.

    Trinitarianismo Ortodoxo

    Atansio Baslio Gregrio de Nisa Gregrio de Nazianzo Agostinho Toms de Aquino Lutero, Calvino Cristianismo ortodoxo contemporneo

    O ser de Deus perfeitamente unificado e simples: de uma s essncia (homoousia). Essa essncia de divindade possuda em comum pelo Pai, Filho e Esprito Santo. As trs Pessoas so consubstanciais, co-inerentes, co-iguais e co-eternas.

    Diz-se que a subsistncia divina ocorre simultaneamente em trs modos de ser ou hipstases. Como tal, a Divindade existe indivisa em pessoas divididas. Essa concepo contempla uma identidade de natureza e cooperao de funes sem a negao das distines das pessoas da Divindade.

    Quadro adaptado do grfico n 23 do livro: Teologia Crist em Quadros.

  • 22

    Atribuio de Divindade / Eternidade Concepo

    Pai Filho Esprito Santo Referente (s) Analgico

    Crtica (s)

    Monarquismo Dinmico

    Originador nico do universo. Ele eterno, auto-existente, sem princpio ou fim.

    Um homem virtuoso (mas finito) em cuja vida Deus estava dinamicamente presente de maneira singular. Cristo certamente no era Divino, embora a sua Humanidade tenha sido Deificada.

    Um atributo impessoal da Divindade. No atribui nenhuma divindade ou eternidade ao Esprito Santo.

    Eleva a razo acima do testemunho da revelao bblica no que concerne Trindade. Nega categoricamente a divindade de Cristo e do E. Santo, solapando assim a sustentao teolgica da salvao

    Monarquismo Modalista

    Plenamente Deus e plenamente eterno Como o modo ou manifestao primordial do Deus nico, singular e unitrio

    Plena Divindade / Eternidade atribudas somente no sentido de ser outro modo do Deus nico, e idntico com a sua essncia. Ele o mesmo Deus manifesto em seqncia temporal especfica a uma funo (encarnao).

    Deus eterno somente na medida em que o ttulo designa a fase na qual o Deus uno, em seqncia temporal, manifestou-se em termos da funo de regenerao e santificao

    Uma pessoa Representando trs papis diferentes no mesmo drama. gua-gelo-vapor

    Despersonaliza a Divindade. Para compensar as suas deficincias trinitrias, essa concepo propes idias claramente herticas (por exemplo, o patripassianismo). O seu conceito de manifestao sucessivas da Divindade no pode explicar os aparecimentos simultneos das trs pessoas, como no batismo de Cristo.

    Subordinacionismo O Deus nico e ingnito que eterno e sem princpio

    Um ser criado e, portanto, No eterno. Embora deva Ser venerado, ele no Possui a essncia Divina.

    Uma emanao do Pai no pessoal e no eterna. visto como uma influncia ou uma expresso de Deus. No se lhe atribui divindade.

    Mente-idia-ao Conflita com o farto testemunho bblico acerca da divindade tanto de Cristo como do E. Santo. Sua Concepo hierrquica tambm afirma trs pessoas essencialmente separadas com relao ao Pai, Cristo e o E. Santo. Isto resulta em uma soteriologia inteiramente confusa.

    Trinitarianismo Econmico

    A igual divindade do Pai, Filho e Esprito Santo claramente elucidada na observao das caractersticas relacionais/operacionais simultneas da Divindade. Por vezes a co-eternidade no se manifesta inteligivelmente nessa concepo ambgua, mas parece ser uma implicao lgica.

    Uma fonte e o seu rio. A unidade entre a raiz e o seu ramo. O sol e a sua luz

    mais hesitante e ambgua no seu tratamento do aspecto relacional da Trindade.

    Trinitarianismo Ortodoxo

    Em sua destilao final, esta concepo apresenta resolutamente o Pai, o Filho e o Esprito Santo como co-iguais e co-eternos na Divindade com relao tanto essncia quanto funo divinas

    Todas as analogias deixam de expressar adequadamente o trinitarianismo ortodoxo

    A nica deficincia tem que ver com as limitaes inerentes prpria linguagem e pensamento humanos.

    Quadro adaptado do grfico n 23 do livro: Teologia Crist em Quadros.

  • 23

    Uma Apresentao Bblica da Trindade

    Introduo

    A palavra Trindade nunca usada, nem a doutrina do trinitarianismo jamais ensinada explicitamente nas Escrituras, mas o trinitarianismo a melhor explicao da evidncia bblica. A exposio teolgica da doutrina resultou de ensinos bblicos claros, porm no abrangentes. uma doutrina essencial para o cristianismo porque se concentra em quem Deus , e especialmente na divindade de Jesus Cristo. Como o trinitarianismo no ensinado explicitamente nas Escrituras, o estudo da doutrina um esforo de reunir temas e dados bblicos por meio de um estudo teolgico sistemtico e pela observao do desenvolvimento histrico da atual concepo ortodoxa acerca de qual apresentao bblica da Trindade.

    Elementos essenciais da Trindade

    1. Deus um (errad). 2. Cada uma das Pessoas da Deidade divina. 3. A unidade de Deus e a Trindade de Deus no so contraditrias. 4. A Trindade (Pai, Filho e E. Santo) eterna 5. Cada uma das Pessoas tem a mesma essncia e no inferior ou superior s outras em essncia. 6. A Trindade mistrio que nunca poderemos entender plenamente. Ensino Bblico Velho Testamento Novo Testamento Deus Um Echad - errad

    Escuta Israel: O eterno nosso Deus, O Eterno um (Traduo do rabino Meir Masliah Melamed). (Dt 6.4; 20.2,4; 3.13-15)

    Assim ao Rei eterno, imortal, invisvel, Deus nico, honra e glria pelos sculos dos sculos. Amm (1Tm 1.17; 2.5,6; 1Co 8.4-6; Tg 2.19) O Pai: Ele me disse: Tu s meu filho, eu hoje te gerei (Sl 2.7). ...eleitos segundo a prescincia de Deus Pai...(1Pe 1.2; cf. Jo 1.7; 1Co 8.6; Fp 2.11). O Filho: Ele me disse: Tu s meu Filho, eu hoje te gerei (Sl 2.7; cf. Hb 1.1-13; Sl 68.18; Is 6.1-3; 9.6)

    Batizado Jesus, saiu logo da gua, e eis que se lhe abriram os cus, e viu o Esprito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos cus, que dizia: Este o meu filho amado, em quem me comprazo (Mt 3.16,17).

    Trs Pessoas Distintas descritas como Divinas O E. Santo: No princpio criou Deus os cus e a terra...e o Esprito de Deus pairava por sobre as guas (Gn 1.1,2; cf. x 31.3; Jz 15.14; Is 11.1).

    Ento disse Pedro: Ananias, por que encheu Satans teu corao, para que mentisses ao E. Santo? No mentisses aos homens, mas a Deus (At 5.3,4; cf. 2Co 3.17).

    Quadro adaptado do grfico n 24 do livro: Teologia Crist em Quadros.

  • 24

    Uma Apresentao Bblica da Trindade

    Pluralidade de Pessoas na Divindade

    No Velho Testamento, o uso de pronomes no plural aponta para, ou pelo menos, sugere a pluralidade de Pessoas na Divindade. Tambm disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana (Gn 1.26).

    O uso da palavra singular nome em referncia a Deus Pai, Filho e Esprito Santo indica uma unidade dentro da trindade. Ide, portanto, fazei discpulos de todas as naes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo (Mt 28.19).

    ATRIBUTO PAI FILHO ESPRITO SANTO Eternidade Sl 90.2 Jo 1.2; Ap 1.8,17 Hb 9.14 Poder 1Pe 1.5 2Co 12.9 Rm 15.19 Oniscincia Jr 17.10 Ap 2.23 1Co 2.11 Onipresena Jr 23.24 Mt 18.20 Sl 139.7 Santidade Ap 15.4 At 3.14 At 1.8 Verdade Jo 7.28 Ap 3.7 1Jo 5.6

    Pessoas com a mesma essncia: Atributos (a) Aplicados a Cada Pessoa

    Benevolncia Rm 2.4 Ef 5.25 Ne 9.20 Criao do Mundo Sl 102.25 Cl 1.16 (b) Gn 1.2; J 26.13 Criao do Homem Gn 2.7 Cl 1.16 J 33.4 Batismo de Cristo Mt 3.17

    Mt 3.16 Mt 3.16

    Igualdade com diferentes funes: Atividades que Envolvem Todas as Pessoas Morte de Cristo Hb 9.14

    Hb 9.14 Hb 9.14

    Quadro adaptado do grfico n 24 do livro: Teologia Crist em Quadros.

  • 25

    Uma Apresentao Bblica da Trindade

    Pluralidade de Pessoas na Divindade

    No Velho Testamento, o uso de pronomes no plural aponta para, ou pelo menos, sugere a pluralidade de Pessoas na Divindade. Tambm disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana (Gn 1.26).

    O uso da palavra singular nome em referncia a Deus Pai, Filho e Esprito Santo indica uma unidade dentro da trindade. Ide, portanto, fazei discpulos de todas as naes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo (Mt 28.19).

    ATRIBUTO PAI FILHO ESPRITO SANTO Eternidade Sl 90.2 Jo 1.2; Ap 1.8,17 Hb 9.14

    Poder 1Pe 1.5 2Co 12.9 Rm 15.19

    Oniscincia Jr 17.10 Ap 2.23 1Co 2.11

    Onipresena Jr 23.24 Mt 18.20 Sl 139.7

    Santidade Ap 15.4 At 3.14 At 1.8

    Verdade Jo 7.28 Ap 3.7 1Jo 5.6

    Pessoas com a mesma essncia:

    Atributos (c) Aplicad

    os a Cada Pessoa

    Benevolncia Rm 2.4 Ef 5.25 Ne 9.20

    Criao do Mundo

    Sl 102.25 Cl 1.16 (d) Gn 1.2; J 26.13

    Criao do Homem

    Gn 2.7 Cl 1.16 J 33.4

    Batismo de Cristo Mt 3.17

    Mt 3.16 Mt 3.16

    Igualdade com diferentes funes: Atividades que Envolvem Todas as Pessoas

    Morte de Cristo Hb 9.14

    Hb 9.14 Hb 9.14

    Quadro adaptado do grfico n 24 do livro: Teologia Crist em Quadros.

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    A UNIDADE DO ESPRITO DE DEUS E SUAS SETE MANIFESTAOES 1. H um s Esprito: Ef 4.4. Isto constitui uma declarao da unidade do Esprito

    Santo. Ele uma pessoa distinta com personalidade toda especial. verdade que Ele chamado Esprito de Deus e Esprito de Cristo, bem como Esprito Santo. So estes os seus principais ttulos, mas uma s pessoa que desempenha diversos ministrios.

    2. H sete espritos: Is 11.2, Ap 1.4, Ap 4.5, Ap 5.6. Estes textos constituem uma referncia aos 7 espritos de Deus, mas no h contradio entre este fato e Ef 4.4. A unidade do Esprito se manifesta em sete formas diversas. O Supremo nico e uno (Dt 6.4), mas a Bblia afirma haver trs pessoas reconhecveis na Divindade. Semelhantemente, o Esprito Santo uma unidade, mas h 7 expresses da sua operao entre os homens. Como o candelabro do Tabernculo era feito de uma s pea de ouro batido, mas tinha 7 hastes e 7 lmpadas (Ex 25.31-37), assim tambm o Esprito Santo um s, mas resplandece no mundo de 7 maneiras diferentes.

    3. O Esprito Santo mais o esprito humano igual a um s esprito em termo de comunho (1 Co 6.17). No novo nascimento, o Esprito Santo regenera o esprito humano e passa habitar ali. H ento uma unio transcendental, mesclagem divina, que Paulo chega a dizer que somos um s esprito com Ele.

    4. Um s Deus e Pai... o qual est em todos (Ef. 4.6); Seu Esprito que em vs habita (Rm. 8.11); Jesus Cristo est em vs (1 Co 13.5). Esses trs versculos revelam que Deus Pai, Deus Filho e Deus Esprito Santo esto em ns. Quantas Pessoas esto ns? Trs ou uma? No devemos dizer que Trs Pessoas separadas esto em ns, nem dizer que somente uma Pessoa est em ns, mas que os Trs em um est em ns. As Trs Pessoas da Trindade no so Trs Espritos, mas um nico Esprito (Ef 4.4). As trs Pessoas esto em um Esprito, por isto temos o Pai, o Filho e o Esprito Santo. Distinguindo-se a essncia ( - uia) da personalidade ( - hypstasis) a verdade que somente a Pessoa do Esprito Santo habita em ns.

    A DIVINDADE E ATRIBUTOS DO ESPRITO SANTO

    1. ONISCINCIA - 1 Co 2.10-11; Jo 14.26; 16.12-13. O Esprito Santo onisciente. Ele sabe todas as coisas. Paulo declarou: Porque Deus no-las revelou pelo seu Esprito; pois o Esprito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, seno o esprito do homem que nele est? assim tambm as coisas de Deus, ningum as compreendeu, seno o Esprito de Deus (1Co 2.10,11). 2. ONIPRESENA - Sl 139.7-12; Is 66.1; Jr 23.24. O Esprito Santo onipresente. O salmista perguntou retoricamente: Para onde me irei do teu Esprito, ou para onde fugirei da tua presena? Se subir ao cu, tu a ests; se fizer no Sheol a minha cama, eis que tu ali ests tambm (Sl 139.7,8). Podemos perceber, nessa passagem, que a presena do Esprito Santo a mesma coisa que a presena de Deus. Onde estiver o Esprito de Deus, ali estar Deus.

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    3. ONIPOTNCIA - J 33.4; Lc 1.35,37; Rm 15.19; 1 Ts 1.5. O Esprito Santo o Todo Poderoso. 4. ETERNIDADE - Hb 9.14: quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Esprito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificar das obras mortas a vossa conscincia, para servirdes ao Deus vivo?. 5. DEIDADE - Is 6.8-10; At 28.25-27; Ex 16.7; Hb 3.7,8; Jr 31.33,34; Hb 10.15,16; At 5.3,4. A Bblia apresenta o Esprito Santo como possuidor dos atributos divinos e exercendo a autoridade divina. Desde o sculo IV d.C. a sua deidade tem sido raramente negada por aqueles que concordam em que ele uma Pessoa. Isto , embora tenha havido muitas disputas concernentes questo se o Esprito Santo uma Pessoa ou apenas uma fora impessoal, uma vez que se admita que, verdadeiramente, ele uma Pessoa, o fato que ele Uma Pessoa divina ajusta-se facilmente em seu lugar. Nas Escrituras encontramos aluses freqentes deidade do Esprito Santo. No Antigo Testamento, por exemplo, aquilo que dito sobre Deus Pai dito tambm a respeito do Esprito de Deus. As expresses Deus disse e o Esprito disse so repetidamente intercaladas. E as obras do Esprito Santo aparecem como obras de Deus.

    O mesmo fenmeno ocorre nas pginas do Novo Testamento. Em Isaas 6.9, Deus diz: Vai, e dize a este povo. E o apstolo citou esse mesmo texto em Atos 28.25, comeando com estas palavras: Bem falou o Esprito Santo aos vossos pais pelo profeta Isaas... Nesse caso, o apstolo atribuiu o falar de Deus ao Esprito Santo.

    A PERSONALIDADE DO ESPRITO SANTO 19

    O Esprito Santo tem personalidade, ainda que Ele no possua um corpo fsico.

    Personalidade individualidade consciente que possui inteligncia, sentimentos e vontade. E quando um ser possui as caractersticas, propriedades e qualidades de personalidade, ento personalidade pode ser atribuda a este ser. Personalidade, quando usada com relao a Divindade, no pode ser medida por padres humanos, pois Deus no imagem do homem, mas o homem que foi feito imagem de Deus. Deus no um homem endeusado, antes o homem que uma espcie de Deus limitado (Salmo 8.5). Somente Deus possui personalidade perfeita e absoluta.

    Por que h dificuldades para falarmos da Pessoa do Esprito Santo? Porque para falarmos do Pai e do Filho, dispomos de noes bem mais definidas

    e acessveis de paternidade e de gerao ou de filiao. Esses termos significam especificamente a primeira e a segunda Pessoas, e so termos relativos, que caracterizam essas Pessoas em suas relaes mtuas. Esprito, porm, no diz nada disso. S nos falado da terceira Pessoa em termos comuns e absolutos: Esprito convm tambm ao Pai e ao Filho; igualmente o termo Santo: no so termos que significam uma pessoa. Processo se aplica igualmente ao Verbo-Filho. No h revelao objetiva da Pessoa do Esprito Santo como da Pessoa do Filho-Verbo em Jesus e, por ele, da Pessoa do Pai. Sobre esse assunto, falou-se de uma espcie de Kenosis do Esprito Santo; ele se esvaziaria de certo modo de sua prpria personalidade para ser inteiramente relativo, de um lado, para Deus e para Cristo; de

    19 CONGAR, Yves. Revelao e experincia do Esprito. So Paulo: Editora Paulinas, 2005, p. 5,6.

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    outro lado, para os homens chamados a realizar a imagem de Deus e de seu Filho. Para se revelar, no utilizou - como Iahweh no Antigo Testamento e Jesus no Novo - o pronome pessoal Eu.20 O Esprito Santo nos revelado e conhecido, no em si mesmo, ao menos no diretamente, mas porque ele age em ns.21 Alm disso, enquanto as atividades de entendimento dele so no apenas perceptveis, mas transparentes e, portanto, definveis, as da afetividade e do amor no foram analisadas do mesmo modo.22

    Por que a Doutrina da Personalidade de Esprito Santo importante? Ela importante do ponto de vista de adorao e reconhecimento: Se pensamos

    Nele como uma influncia ou um poder abstrato (energia), estamos roubando de uma pessoa com carter Divino a adorao, o amor e o reconhecimento que lhe so devidos.

    Ela importante do ponto de vista prtico: Se meramente O concebemos como uma influncia ou um poder, ento diremos: Como posso possu-lo ou us-lo? Mas se O reconhecemos como uma pessoa Divina os nossos pensamentos sero: Como o Esprito Santo pode possuir-me e usar-me? Isto traz humildade ao invs de auto-exaltao.

    Ela importante do ponto de vista de experincia: Sabemos que temos na verdade, uma Pessoa da Trindade habitando dentro de ns e no apenas um poder ou uma influncia. Isto resulta naquela comunho com o Esprito a que Paulo se refere em 2 Co 13.13.

    Por que a Doutrina da Personalidade do Esprito Santo questionada? Porque em contraste com as outras pessoas da trindade o Esprito Santo parece

    ser impessoal: Os seus atos e obras so mais msticos e secretos. Ele aparece em Teofanias ao invs do seu prprio corpo (Ele no possui). Fala-se tanto da sua influncia, graa, poder, dons, o que nos inclina a pensar Nele como uma influncia ou alguma espcie de agente ao invs de uma pessoa. Estes, no entanto, so meras descries de suas operaes.

    Por causa dos nomes e smbolos atribudos ao Esprito Santo. Ele chamado sopro, vento, poder, fogo, leo, etc. Em vista disto, muitos chegam a crer que o Esprito Santo uma influncia impessoal que procede de Deus Pai.

    Porque Ele no normalmente associado com o Pai e o Filho nos cumprimentos e saudaes dos livros do Novo Testamento (Mt 28.19).

    Porque a palavra Esprito neutra em gnero: Ela procede da mesma palavra grega usada para vento (PNEUMA). Por causa disto algumas verses que possuem o pronome neutro ele (IT) usam a forma neutra, ao invs de usarem o pronome pessoal correspondente em algumas passagens (Rm 8.16-27).

    20 H. MHLEN, Mysterium salustis. Paris, 1972. v. 13, p. 182. 21 Observao de So Bernardo, Sermo 88 de diversis, 1: Pl 183, 706; De Pentecoste sermo 11: PL 323. 22 Cf. TOMS DE AQUINO, Sum. Theol. 1, q. 37; a. 1; Compend. Theo., c. 59.

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    Provas Contundentes da Personalidade do Esprito Santo: O Esprito Santo exerce atributos de uma personalidade: 1. Conhecimento (1 Co 2.11; Ne 9.20); 2. Vontade (1 Co 12.11; At 15.28; 16.6,7); 3. Mente (Intelecto) (Rm 8.27; Ne 9.20); 4. Emoes (Ne 9.20; Is 63.10; Rm 15.30; 5.5; Ef 4.30). ATIVIDADES PESSOAIS DO ESPRITO SANTO 1. Ele perscruta (1 Co 2.10). 2. Ele ora, intercede e assiste (Rm 8.26). 3. Ele ensina (Jo 14.26; Ne 9.20). 4. Ele fala (Jo 16.13,15; At 10.19,20; 13.2; 8.29; Gl 4.6; Ap 2.7,11,17,29; 3.6). 5. Ele d testemunho (Jo 15.26). 6. Ele guia (Jo 16.13; Rm 8.14; At 16.6,7; 15.28; 20.23). 7. Ele chama e comissiona os homens (At 13.2,4; 20.28). 8. Ele consola (At 9.31; Jo 14.16,26; 15.26; 1 Jo 2.1). 9. Ele testifica (Rm 8.16; At 15.28; 20.23). 10. Ele manda e impede (At 8.29; 16.6,7). 11. Pode-se mentir a Ele (At 5.3-4). 12. Pode-se resistir a Ele (At 7.51). 13. Pode-se blasfemar contra Ele (Mt 12.31,32). 14. Pode-se apag-lo (1 Ts 5.19). 15. Ele convence (Jo 16.7,8). 16. Ele pode ser obedecido (At 10.19-21). 17. Ele pode ser insultado (Hb 10.29). O esprito Santo exerce um cargo que somente poderia ser exercido por uma

    pessoa (Jo 14.17,26; 1 Jo 2.1). Parkltos [] uma palavra grega que traduzida consolador.

    A palavra Parclito (Parcltos) literalmente significa em grego, algum

    chamado para estar ao lado de outra ou para o seu auxlio. Era usada com referncia a um assistente legal, conselheiro ou advogado. Descreve fortemente algum que defende a causa de outra. Parcltos traduzido na Bblia King James como advogado e a nota de rodap nos informa:

    A palavra advogado vem do latim advocatus que equivalente exato do adjetivo

    verbal passivo grego parkltos (Jo 14.16; 1 Jo 2.1), formado pelas palavras gregas para (ao lado de) e kltos (chamado). Usado de forma nica por Joo para se referir ao Esprito Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador,

    Encorajador. Quando Jesus se refere a outro (em grego allos - outro da mesma espcie e tipo), quer dizer que o outro Advogado igual a Ele em tudo, mas viver dentro dos crentes para orient-los e defend-los para sempre.23

    23 Bblia King James. Novo Testamento. Editoras: SRG Publicaes, SBIA e Abba, 2007, p. 256.

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    Pronomes pessoais so usados com referncia ao Esprito Santo (Jo 16.7,8). A Bblia mostra-nos que h uma distino entre o Pai e o Filho e o Esprito

    Santo. (Jo 14.26; Mt 28.19; Lc 3.21,22; Jo 15.26; 2 Co 13.13).

    NOTA: rio, um presbtero de Alexandria do 4o sculo da nossa era, introduziu o ensino, sustentando que Deus uma eterna pessoa, que Ele criou Cristo, o qual por sua vez criou o Esprito Santo, negando assim a sua Divindade. Esse ensino obteve grande aceitao na Igreja de ento, mas foi corrigido pelo Credo Niceno, de 325 d.C.

    O ESPRITO SANTO ASSEXUADO 24 Quando perguntamos se Deus do sexo masculino, muitos se mostram claramente inseguros. Afinal de contas, no nos dirigimos a Deus como Pai? No empregamos continuamente o pronome pessoal Ele ao referir-nos a Deus? Considere a resposta de Jernimo. inconcebvel que exista sexo entre as agncias de Deus, desde que mesmo o Esprito Santo, de acordo com o uso da lngua hebraica, expresso pelo gnero

    feminino (ruach - ; em grego, no neutro (to pneuma ); em latim, no masculino (spiritus). Disto devemos entender que, quando h discusso sobre o acima citado e alguma coisa registrada no masculino ou feminino, isto no tanto uma indicao de sexo, mas uma expresso do idioma da linguagem. Porque o prprio Deus, o invisvel e incorruptvel, representado em quase todas as linguagens pelo gnero masculino, e portanto o sexo no se aplica a Ele.

    NOMES DO ESPRITO SANTO

    O Esprito Santo tem nomes que denotam o seu carter e sua obra. 1. O Esprito de Deus (Gn 1.2; Ex 31.1; 1 Sm 10.10; 11.16; J 33.4; 1 Co 3.16;

    7.14; 2 Co 3.3; 1 Pe 4.14; Mt 12.28; 1 Jo 4.2). 2. O Esprito Santo (Sl 51.11; Mt 3.11; 12.32; 28.19; Mc 1.8; 12.36; 13.11; Lc

    1.35; 1.41; 2.25,26; 16.22; 4.1; 10.21; 11.13; 12.10,12; Jo 1.33; 20.22; At 1.2,5,8; 2.2,33,38; 4.8,25,31; 5.3,32; 6.3,5; 7.51,55; 8.15,17,19; 9.17,31; 10.38,44,45; 11.15,16; 13.2,4,9,52; Rm 5.5; etc.).

    3. O Esprito Santo da Graa (Hb 10.29; Zc 12.10). 4. O Esprito Santo de Santidade (Rm 1.4). 5. O Esprito Santo da Justia e Purificador (Is 4.4; Jo 16.8-11). 6. O Esprito Santo da Verdade (Jo 14.17; 16.13). 7. O Esprito Santo da Vida (Rm 8.2). 8. O Esprito Santo da Sabedoria e Revelao (Ef 1.17; Is 11.2). 9. O Esprito Santo da Promessa (Ef 1.13; Gl 3.14; Jl 2.28; Lc 24.49; At 1.4-8). 10. O Esprito da Glria (1 Pe 4.14). 11. O Esprito de Cristo (Gl 4.6; At 16.7; Rm 8.9; 1 Pe 1.11). 12. O Consolador (Jo 14.16; 14.26; 15.26; 16.7; 1 Jo 2.1). 13. O Esprito de Adoo (Rm 8.15; Gl 4.5-6).

    24 HALL, Christopher A. LENDO AS ESCRITURAS COM OS PAIS DA IGREJA. 2 ed. Viosa: Editora ULTIMATO. p. 127,128.

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    14. O Esprito de Splicas (Zc 12.10; Rm 8.26,27). 15. O Esprito de Elias (Lc 1.13-17; 1.39-45). Elias andou em plena comunho

    com o Esprito que este passou a ser chamado de O Esprito de Elias.

    TTULOS E SMBOLOS DO ESPRITO Estes realam os vrios aspectos das operaes e da natureza do Esprito Santo.

    O Esprito de Cristo (Gl 4.6; At 16.7; Rm 8.9; 1 Pe 1.11). Fogo: (Mt 3.11) E eu, em verdade, vos batizo com gua, para o arrependimento;

    mas aquele que vem aps mim mais poderoso do que eu; cujas alparcas no sou digno de levar; ele vos batizar com o Esprito Santo, e com fogo. O fogo representa tanto a sua presena como a sua glria (Ez 1.4,13), representa tambm a sua proteo (2 Rs 6.17), sua santidade (Dt 4.24), seus juzos (Zc 13.9), sua ira (Is 66.15,16) e, finalmente, o Esprito Santo (Mt 3.11; At 2.3; Ap 4.5). As manifestaes de Deus algumas vezes faziam-se acompanhar pelo fogo (Ex 3.2; 13.21,22; 19.18; Dt 4.11; Is 4.4; Lc 3.16; At 2.3; Hb 12.29; 1 Co 3.13-15; etc). O fogo purifica as nossas vidas queimando as impurezas.

    Vento (Jo 3.8): O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas no sabes de onde vem, nem para onde vai; assim todo aquele que nascido do Esprito. (Ez 37.7-10; Jo 20.22). O vento simboliza a obra regenerativa do Esprito Santo e indica sua operao misteriosa, independente e penetrante.

    gua (Jo 4.14; 7.38-39; Is 44.3; Os 14.5; Tt 3.5; Ex 17.6; 1 Co 10.1-4; Ez 36.25-27; Tt 3.5). A gua lava o que sujo; ela purifica, satisfaz a sede, refresca, mantm a vida e torna as coisas frutferas. Sem a gua no haveria vida natural alguma; sem o Esprito no haveria vida espiritual alguma. A gua a essncia da vida. Para que esta gua permanea VIVA ou que produza VIDA necessrio que ela esteja continuamente borbulhando ou fluindo, no um brejo ou reservatrio estagnado em nossas vidas (Jo 12.24-25).

    leo: No Velho Testamento todos os ministrios profticos, reais e sacerdotais eram ungidos com um leo especial. Esta uno representava uma separao e santificao da pessoa para um propsito sagrado. Ela representava a capacitao e qualificao divina para este ministrio. Ningum ousava entrar num desses ministrios especiais sem esta uno (Zc 4.2-6; Ex 30.30; Lv 8.12; 1 Sm 10.1; 16.13; Mt 25.1-13; Is 61.1,2; Lc 3.14-20; At 10.38; 1 Jo 2.20,27).

    POMBA: (Lc 3:22) E o Esprito Santo desceu sobre ele em forma corprea, como pomba; e ouviu-se uma voz do cu, que dizia: Tu s o meu Filho amado, em ti me comprazo. Ela denota gentileza, ternura, sensibilidade, inocncia, pureza, paz e pacincia do Esprito Santo.

    O PENHOR DO ESPRITO (ARRABNA - ): 2 Co 1.22; 5.5; Ef 1.14. O Penhor do Esprito Santo um antegozo da vida do prprio Deus (Hb 6.4), uma garantia de que Deus cumprir a sua promessa e capacitar o cristo a ingressar na Vida Eterna Plena. Portanto, aquele que est no Esprito tem a prpria vida de Deus dentro de si.

  • 32

    O Penhor 25

    Quando confiamos em Cristo, Deus no nos d o Esprito somente como selo. Ele tambm o penhor (algumas tradues trazem garantia) de acordo com passagens como 2 Co 1.22 e Efsios 1.14.

    Porque o Prprio Deus que nos d a certeza, com vocs, de nossa vida em Cristo. E foi Deus quem nos separou para si mesmo. Como dono, ps sua marca (selo) em ns, e colocou o Esprito Santo em nossos coraes como garantia de tudo o que ele tem para ns (2 Co 1.21,22).

    Nos tempos do apstolo Paulo os comerciantes usavam penhores com trs finalidades: como pagamento adiantado, entrada que fechava um negcio; representava um compromisso de pagamento, e era uma amostra do que haveria de vir.

    Imagine que voc esteja querendo comprar um carro. O penhor seria a entrada que voc paga, fechando o negcio. Representaria tambm o compromisso de pagar o carro. E seria urna amostra do que seguiria as parcelas restantes do dinheiro. De maneira semelhante o Esprito Santo o penhor de que Deus nos comprou, a garantia. Sua presena mostra o compromisso que Deus assumiu de nos redimir completamente. Talvez o melhor de tudo, a presena do Esprito Santo, vivendo em unio conosco, nos d um gosto antecipado, uma amostra de nossa herana, da nossa vida futura na presena de Deus.

    Em Nmeros 13, quando os espias de Israel partiram para olhar a terra de Cana, era a poca das primeiras uvas maduras. Vieram at ao vale de Escol, e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas (Nm 13.23). Este eles levaram consigo para mostrar ao povo de Israel. O cacho de uvas era o penhor da sua herana. Era um pequeno antegosto do que os esperava na Terra Prometida. Era a garantia de Deus de que se eles marchassem adiante em f, receberiam completamente o que agora tinham s em parte.

    Recentemente uma das maiores lojas de mantimentos de Nova Iorque exps um cesto de belssimas uvas na vitrine. Sobre o cesto havia um cartaz: Esperamos para os prximos dias um caminho de uvas como estas. As uvas eram um penhor do que haveria de vir. As primcias, comparadas com a colheita toda, so somente um punhado; assim, concluindo do conhecido para o desconhecido, perguntamos com o poeta: O que Tua presena h de ser, Seja na terra um tal prazer Coroa a vida em Ti?.

    O Novo Testamento fala trs vezes do penhor do Esprito: 1) (Deus) tambm nos selou e nos deu o penhor do Esprito em nossos

    coraes (2 Co 1.22). A presena do Esprito em nossa vida a garantia de que Deus vai cumprir Sua promessa.

    2) Ora, foi o prprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Esprito (2 Co 5.5). Aqui o contexto d a ideia de que o Esprito em ns a garantia de que Deus nos dar corpos espirituais quando Jesus vier.

    3) (O Esprito Santo) o penhor da nossa herana at ao resgate da Sua propriedade, em louvor da Sua glria (Ef 1.14). Nesta passagem o Esprito a prova

    25 GRAHAM, Billy. O Poder do Esprito Santo. So Paulo: Edies Vida Nova, p. 79-81.

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    de que Deus garante a nossa herana at que o futuro traga a redeno total dos que so propriedade de Deus.

    Em resumo, podemos dizer que quando somos batizados no corpo de Cristo, o Esprito entra em nossas vidas e nos sela atravs da Sua presena. Ele a garantia de Deus, dando-nos certeza de que nossa herana vir.

    A concluso sobre este assunto nos fornecida por Matthew Henry: A garantia (esta a palavra usada pelo Novo Testamento na Linguagem de Hoje para penhor) parte de pagamento, que assegura o pagamento integral. A mesma coisa acontece com o dom do Esprito Santo; toda a sua influncia e atuao, santificando e confortando, tem sua origem no cu e glria em semente e boto. A iluminao do Esprito garantia (penhor) de luz eterna; a santificao garantia de santidade perfeita; Seu conforto garantia de alegrias eternas. Ele a garantia at a redeno da propriedade que foi comprada. J podemos falar de propriedade, porque a garantia d tanta certeza aos herdeiros como se j a tivessem; foi comprada para eles pelo sangue de Cristo. Fala-se de redeno, de resgate, porque ela foi confiscada e hipotecada pelo pecado; Cristo a devolve a ns. resgate em aluso lei da redeno.

    O SLO DO ESPRITO SANTO

    (SFRAGUIMENOS - ): 2 Co 1.22; Ef 1.13 4.30.

    O selo era o sinal de propriedade, ou prova de que um artigo era propriedade de

    determinado homem ou firma. Isto, pois, significa que a posse do Esprito Santo a garantia de que determinado homem pertence a Deus. Se um homem tem o Esprito Santo, a vida dele o produto da obra de Deus.

    O SELO 26

    O selo do Esprito Santo um de uma srie de acontecimentos simultneos ao nosso arrependimento e recebimento do Senhor como Salvador, sem ns o percebermos. Em primeiro lugar, claro, Deus nos regenerou e justificou. Em segundo lugar, o Esprito nos batizou no corpo de Cristo. Em terceiro lugar, o Esprito imediatamente se instalou nos nossos coraes. Neste e nos prximos captulos enfocaremos outras coisas que acompanham nossa salvao, alm da Sua atuao contnua em ns.

    O quarto acontecimento a Bblia chama de Selo. Esta palavra traduz um termo grego que quer dizer confirmar ou imprimir. Trs vezes a palavra usada no Novo Testamento em relao aos crentes. tambm mencionada na vida de Jesus. Joo diz: Neste (Jesus), Deus, o Pai, imprimiu o seu selo (Joo 6.27, IBB). Aqui vemos que o Pai selou o Filho.

    No momento da converso os crentes so selados com o Esprito para o dia da redeno: Tendo nele (no evangelho) tambm crido, fostes selados com o santo Esprito da promessa (Ef 1.13; cf. 4.30).

    26 GRAHAM, Billy. O Poder do Esprito Santo. So Paulo: Edies Vida Nova, p. 77-79.

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    Parece-me que Paulo tinha duas ideias em mente quando fala de ns sermos Selados com o Esprito Santo. Uma segurana, a outra propriedade. Ser Selado, no sentido de segurana, ilustrado no Antigo Testamento, quando o rei Dario colocou Daniel na cova dos lees, ps uma pedra sobre a entrada e a lacrou com seu selo (Dn 6.17) para que Daniel no sasse. Nos tempos antigos, como por exemplo no tempo da rainha Ester (Ester 8.8), os reis tambm costumavam colocar com um anel sua marca ou selo em cartas e documentos escritos em seu nome. Depois de feito isto, ningum podia reverter o que estava escrito ou dar ordens em contrrio.

    Pilatos fez a mesma coisa quando deu ordens aos soldados para guardarem o tmulo de Jesus. Ele disse aos sacerdotes: A tendes uma escolta; ide e guardai o sepulcro como bem vos parecer. Indo eles, montaram guarda ao sepulcro, selando a pedra e deixando ali a escolta (Mt 27.65,66). A palavra selo usada nesta passagem a mesma, no grego, usada em passagens que falam do selo do Esprito Santo.

    A. T. Robertson diz que o selo na pedra do sepulcro era provavelmente uma corda presa sobre a pedra e lacrada em cada ponta rocha da caverna, como em Daniel 6.17. Isto foi feito na presena da guarda romana, encarregada de proteger esta marca de autoridade e poder de Roma. Quando o Esprito Santo nos sela ou pe em ns Sua marca, ns estamos seguros em Cristo de uma maneira muito mais significativa.

    Um dos pensamentos mais eletrizantes que j passou por minha mente foi a conscincia de que o Esprito Santo me selou. E ele selou voc tambm se voc for um crente.

    Nada pode tocar em voc. Porque estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poder separar-nos do amor de Deus, que est em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8.38,39).

    Mas este selo do Esprito significa mais que segurana, Significa tambm propriedade. Lemos no Antigo Testamento que Jeremias comprou uma propriedade, pagou por ela diante de testemunhas e selou o documento de acordo com a Lei e os costumes (Jr 32.10). Agora ele era o proprietrio.

    A aluso ao selo como prova de compra deve ter sido especialmente significativa para os efsios. feso era um porto martimo, e havia intenso comrcio de madeira com os portos vizinhas. O mtodo usado na compra era este: o mercador, depois de escolher a madeira, carimbava-a com seu anel, seu sinete uma prova reconhecida de propriedade. No tempo devido, o mercador enviava um encarregado de confiana, com o sinete; este localizava todos os troncos que tinham a mesma marca e os levava.

    Matthew Henry resume a ideia assim: Os crentes so selados por Ele (o Esprito Santo), ou seja, separados para Deus, colocados parte, distinguidos com a Sua marca, pois pertencem a Ele.

    Voc e eu somos propriedade de Deus para Sempre!

    NOTA: Sem o Esprito Santo, o homem no pode nem sequer comear a ser um cristo (Rm 8.9). o Esprito Santo que faz dele um filho de Deus (Rm 8.14). Que lhe assegura a realidade daquela filiao (Rm 8.16).

    Para o cristo, o Esprito precisa ser a Lei da sua vida, seu dirigente, o padro mediante o qual julga todas as coisas, a Pessoa cujas ddivas ele mais deseja (Rm

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    8.4,5,9). O Esprito lhe traz dons grandiosos (1 Co 12.4-11). O Esprito lhe traz libertao da Lei do Pecado e da Morte (Rm 8.2). O homem cuja vida o Esprito entrou um homem liberto. O Esprito lhe traz paz (Rm 8.6). O Esprito lhe traz vitria no conflito da alma (Gl 5.16-17). O Esprito lhe traz vida abundante (Jo 7.38-39; 10.10). Seu corpo mortal vivificado pelo Esprito (Rm 8.11). O homem natural (ANTROPOS PSIQUIKOS) ou o no cristo, sem Cristo e sem o Esprito Santo, pode ser declarado existente, mas no pode ser declarado vivo. O Esprito lhe traz PODER capacitando-o a mortificar as obras da carne (Rm 8.13); lhe traz PODER para testemunhar de Cristo (At 1.8). O Esprito do homem nascido de novo (2 Co 5.17) mesclado com o Esprito Santo (1 Co 6.17) o poder de Deus que nele habita ou, num outro modo de declarar o fato, o Cristo Ressurreto que reside nele. O esprito do homem aquela parte que tem afinidade com Deus, e que, portanto lhe d a comunho com o Senhor e poder para obter a vitria no conflito (carne x Esprito) (Gl 5.16-17).

    OS TRS TIPOS DE UNO: 2 Co 1.21: Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu,

    Deus. 1 Jo 2.20, 27: Ora, vs tendes a uno da parte do Santo, e todos tendes

    conhecimento. E quanto a vs, a uno que dele recebestes fica em vs, e no tendes necessidade de que algum vos ensine; mas, como a sua uno vos ensina a respeito de todas as coisas, e verdadeira, e no mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei.

    Antigamente, no Oriente Prximo, o costume de ungir pessoas ou objetos com leo simples ou perfumado era generalizado e tinha propsito medicinais, cosmticos e de conservao. O azeite, em especial, era freqentemente aplicado depois do banho (Rt 3.3; Ez 16.9), nos feridos (Is 1.6; Mc 6.13; Lc 10.34; Tg 3.14), nos cadveres (Mc 16.1; Lc 23.56; Jo 19.39), nos cativos libertos (2 Cr 28.15) e at mesmo nos escudos (2 Sm 1.21; Is 21.5). leos especialmente preparados tambm eram usados para ungir a cabea (Sl 23.5; Mt 26.7; Lc 7.46) e os ps (Lc 7.28, 46; Jo 12.3). Profetas foram ungidos (I Re 19.16), sacerdotes (Ex 29.1-7; 30.22-33; 40.1) e reis (1 Sm 16.1-13; 2 Sm 2.4; 5.3). A uno do Esprito Santo tem a ver com a entrada deste no nosso esprito, tem a ver com selo (Ef 1.13, 14). Compartilhamos com vocs