Manual de Piscicultura

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    Piscicultura 1

    NDICE

    1 INTRODUO .................................................................................................................. 62 CARACTERSTICAS GERAIS DOS PEIXES............................................................... 72.1 ANATOMIADOSPEIXES ................................................................................................. 7

    2.1.1 Morfologia externa........................................................................................................ 82.1.2 Morfologia interna........................................................................................................ 9

    2.2 CADEIAALIMENTARDOSPEIXES ............................................................................. 142.2.1 Planctvoros ou planctfagos...................................................................................... 152.2.2 Herbvoros.................................................................................................................... 152.2.3 Car nvoros.................................................................................................................... 162.2.4 Onvor os....................................................................................................................... 162.2.5 Detr itvoros.................................................................................................................. 162.2.6 Ilifagos....................................................................................................................... 17

    2.3 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 172.3.1 Descrio do probl ema................................................................................................ 172.3.2 Questionamento........................................................................................................... 18

    2.4 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 193 AMBIENTE AQUTICO - PROPRIEDADES FSICO-QUIMICAS DA GUA .... 203.1 TEMPERATURA .............................................................................................................. 203.2 TRANSPARNCIA .......................................................................................................... 223.3 CARACTERSTICASQUMICAS ................................................................................... 233.4 POTENCIALHIDROGENINICO(PH) .......................................................................... 233.5 OXIGNIODISSOLVIDO(O2D) ..................................................................................... 25

    3.5.1 Di fuso direta.............................................................................................................. 253.5.2 Processo de fotossntese............................................................................................... 25

    3.6 DIXIDODECARBONO(CO2) ...................................................................................... 253.7 ALCALINIDADE ............................................................................................................. 263.8 SLIDOSSUSPENSOS .................................................................................................... 263.9 NITROGNIO ................................................................................................................... 273.10 CARACTERSTICASBIOLGICAS .............................................................................. 273.11 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 28

    3.11.1 Descrio do probl ema.............................................................................................. 283.11.2 Questionamento......................................................................................................... 29

    3.12 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 294 SISTEMAS DE PRODUO ......................................................................................... 304.1 CLASSIFICAODACRIAOQUANTOASUAFINALIDADE ............................ 30

    4.1.1 Cr ia ou produo de alevinos...................................................................................... 304.1.2 Recria, engor da ou produo de pescado................................................................... 304.1.3 Explorao mista de cri a e recri a................................................................................ 304.1.4 Outr os tipos de expl orao.......................................................................................... 30

    4.2 CLASSIFICAODAPISCICULTURAQUANTOAOSISTEMADECRIAO ...... 304.2.1 Piscicul tura extensiva.................................................................................................. 304.2.2 Piscicul tura semi -in tensiva......................................................................................... 314.2.3 Piscicul tura intensiva.................................................................................................. 31

    4.3 QUANTIDADEDEGUAXSISTEMADEPRODUO ............................................ 314.3.1 Semi-intensivo.............................................................................................................. 314.3.2 Intensivo....................................................................................................................... 31

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    Piscicultura 2

    4.4 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 324.4.1 Descrio do probl ema................................................................................................ 324.4.2 Questionamento........................................................................................................... 32

    4.5 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 325 CONSTRUO DE VIVEIROS .................................................................................... 335.1 FATORESDETERMINANTESPARALOCALIZAODEVIVEIROS ...................... 33

    5.1.1 Escolha do local........................................................................................................... 335.1.2 gua............................................................................................................................. 335.1.3 Medidas de vazo......................................................................................................... 345.1.4 Solos e seleo de equipamentos - granul ometr ia...................................................... 355.1.5 Permeabilidade............................................................................................................ 355.1.6 Topografia.................................................................................................................... 36

    5.2 TIPOSDEVIVEIROS ....................................................................................................... 365.3 PARACONSTRUODEVIVEIROS ........................................................................... 37

    5.3.1 Recomendaes para tamanhos e profundidade de viveiros...................................... 375.4 TIPOSDEVIVEIROS ....................................................................................................... 38

    5.4.1 Vi veiros de terr a (escavados)....................................................................................... 385.4.2 Viveir os de alvenari a................................................................................................... 385.4.3 Outros........................................................................................................................... 38

    5.5 FORMAEDIMENSESDEVIVEIROS ......................................................................... 395.6 OUTRASCARACTERSTICASIMPORTANTESNACONSTRUODEVIVEIROS

    395.6.1 Sada de gua e Canal de Desge............................................................................. 395.6.2 Estruturas.................................................................................................................... 39

    5.7 PLANEJAMENTODEUMACRIAO ......................................................................... 425.7.1 Cronogr ama de pr oduo e uti l izao dos tanques.................................................... 43

    5.8 PROJETOPADROPARAAPISCICULTURAEMVIVEIROSDETERRA(PARA15.000M2-L,5HA) ....................................................................................................................................... 44

    5.8.1 Engorda........................................................................................................................ 455.9 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 47

    5.9.1 Descrio do probl ema................................................................................................ 475.9.2 Questionamento........................................................................................................... 485.10 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 49

    6 CALAGEM E ADUBAO DE VIVEIROS ................................................................ 506.1 PREPARODOSVIVEIROS ............................................................................................. 506.2 ESVAZIAMENTO ............................................................................................................ 506.3 DESINFECO ................................................................................................................ 50

    6.3.1 Desinfeco com cal vi rgem (CaO) ou cal hi dratada (Ca(OH)2).............................. 506.3.2 Desinfeco de reas escur as e com cheir o de enxof re.............................................. 50

    6.4 APLICAODECALCRIO ......................................................................................... 506.5 OXIDAODAMATRIAORGNICA ....................................................................... 516.6 FERTILIZAO ............................................................................................................... 52

    6.6.1

    Ferti l izantes qumicos (N - P

    K)............................................................................... 52

    6.6.2 Fert i l izao an tes do povoamento............................................................................... 536.6.3 Fert i l izao aps o povoamento.................................................................................. 536.6.4 Recomendaes............................................................................................................ 54

    6.1 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 546.1.1 Descrio do probl ema................................................................................................ 546.1.2 Questionamento........................................................................................................... 54

    6.2 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 547 ESPCIES CULTIVADAS NO BRASIL ...................................................................... 55

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    Piscicultura 3

    7.1 NATIVAS .......................................................................................................................... 557.1.1 Pacu (Pi aractus mesopotamicus)................................................................................ 557.1.2 Piau , Piauu, Piapara (L eporinus sp)......................................................................... 557.1.3 Cur imatou cur imba (Prochilodus scrofa)................................................................ 567.1.4 Matr inch, Piraputanga (Brycon sp).......................................................................... 567.1.5 Pin tado, Surubim (Pseudoplatystoma coruscan)........................................................ 577.1.6 Jundi (Rhamdia quelen)............................................................................................ 577.1.7 Tr ara (Hoplias malabari cus)...................................................................................... 58

    7.2 EXTICAS ........................................................................................................................ 597.2.1 Carpa cabea grande (Ar istich thys nobi li s)................................................................ 597.2.2 Carpa capim (Ctenopharyngodon idella).................................................................... 597.2.3 Carpa prateada (Hypophthalmi chthys moli tri x)......................................................... 607.2.4 Ti lpia (Oreochromis nil oticus).................................................................................. 61

    7.3 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 617.3.1 Descrio do probl ema................................................................................................ 617.3.2 Questionamento........................................................................................................... 62

    7.4 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 628 REPRODUO NATURAL E ARTIFICIAL DOS PEIXES .......... ........... .......... ....... 638.1 REPRODUOCOMOUMEVENTOCCLICO ........................................................... 64

    8.1.1 O ciclo anual................................................................................................................ 648.2 MECANISMOSENDCRINOSDAREPRODUO .................................................... 648.3 REPRODUONATURAL............................................................................................. 65

    8.3.1 Obtendo reprodutores.................................................................................................. 658.3.2 I nduo da ovu lao e/ ou desova.............................................................................. 658.3.3 I nduo da desova sem tr atamento hormonal............................................................ 658.3.4 I nduo da desova em superfcie art if ici al tipo kakabans......................................... 668.3.5 Vi veiros de desova com as caractersticas acima citadas........................................... 66

    8.4 REPRODUOINDUZIDA ............................................................................................ 668.5 ORIGEMECUIDADOSCOMOPLANTELDEREPRODUTORES ............................. 678.6 IDADEPARAREPRODUO ........................................................................................ 688.7 POCADEREPRODUO ............................................................................................ 688.8 SELEOETRANSPORTEEACONDICIONAMENTODEREPRODUTORES ........ 698.8.1 Tamanho dos reprodutores.......................................................................................... 698.9 RECONHECIMENTODOSEXOESELEO ............................................................... 708.10 TRANSPORTEEACONDICIONAMENTO ................................................................... 718.11 INDUOHORMONALATRAVSDAHIPOFISAO............................................. 728.12 OUTROSHORMNIOS .................................................................................................. 728.13 PREPARAOEINJEODADOSEHORMONAL ................................................... 728.14 HORAS-GRAU ................................................................................................................. 738.15 EXTRUSOEFECUNDAO ....................................................................................... 73

    8.15.1 Materi al necessrio.................................................................................................... 738.16 COLETAEPRESERVAODEGLNDULASPITUITRIAS .................................. 758.17 VANTAGENSEDESVANTAGENSDEUMADESOVAINDUZIDA .......................... 75

    8.17.1 Vantagens.................................................................................................................. 758.17.2

    Desvantagens............................................................................................................. 75

    8.18 OVOSDEPEIXESFERTILIZADOS ............................................................................... 768.19 FERTILIZAOARTIFICIALDOSOVOSDEPEIXES ............................................... 768.20 FERTILIZAODOSOVOSPEGAJOSOS.................................................................... 768.21 FERTILIZAODEOVOSNOPEGAJOSOS ............................................................. 778.22 DESENVOLVIMENTODEOVOSELARVASEINCUBAO ................................... 778.23 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 79

    8.23.1 Questionamento......................................................................................................... 798.24 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 80

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    9 CULTIVO, NUTRIO E MANEJO ALIMENTAR .................................................. 819.1 CONSRCIOPEIXES/SUNO ......................................................................................... 829.2 CONSRCIOPEIXES/AVES........................................................................................... 829.3 POLICUTIVOPARACLIMATEMPERADO ................................................................. 83

    9.3.1 Espcies propostas....................................................................................................... 839.3.2 Proporo das espcies................................................................................................ 849.3.3 Cronograma do cult ivo................................................................................................ 86

    9.4 MANEJOALIMENTARDOSPEIXESEMPOLICULTIVO .......................................... 879.4.1 Alimentos..................................................................................................................... 879.4.2 Freqncia de al imentao......................................................................................... 889.4.3 Manejo alimentar........................................................................................................ 889.4.4 Resul tado Esperados.................................................................................................... 88

    9.5 NUTRIODEPEIXES .................................................................................................. 909.5.1 Ex igncias nutr ici onai s dos peixes............................................................................. 909.5.2 Exigncia protica....................................................................................................... 909.5.3 Exigncia ener gti ca................................................................................................... 929.5.4 Ex igncias vitamni co-minerais.................................................................................. 949.5.5 Qual idade dos i ngr edientes empregados para alimentao dos peixes...................... 969.5.6

    Qual idade das raes................................................................................................... 97

    9.6 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 98

    9.6.1 Descrio do probl ema................................................................................................ 989.6.2 Questionamento........................................................................................................... 98

    9.7 LEITURACOMPLEMENTAR......................................................................................... 9910 DOENAS COMUNS NA PISCICULTURA .............................................................. 10010.1 ICTIOFTIRASE ............................................................................................................. 100

    10.1.1 Tratamento............................................................................................................... 10010.2 VERMEDEBRNQUIAS(COSTIA)............................................................................ 100

    10.2.1 Tratamento............................................................................................................... 10010.3 SAPROLEGNOSE .......................................................................................................... 100

    10.3.1 Tratamento............................................................................................................... 10010.4 ARGULOSE .................................................................................................................... 101

    10.4.1 Tratamento............................................................................................................... 10110.5 ATIVIDADE ................................................................................................................... 101

    10.5.1 Descrio do probl ema............................................................................................ 10110.5.2 Questionamento....................................................................................................... 101

    10.6 LEITURACOMPLEMENTAR....................................................................................... 10211 PROCESSAMENTO DE PESCADO E COMERCIALIZAO ................................... 103

    11.1 EVISCERAOEFILETAGEM ................................................................................... 10311.1.1 Retir ada das escamas............................................................................................... 10311.1.2 Reti rada da cabea................................................................................................... 10311.1.3 Evi scerao.............................................................................................................. 10311.1.4 Fileteamento............................................................................................................ 104

    11.2 MTODOSSIMPLESDECONSERVAODOPESCADO ....................................... 10411.2.1 Resfriamento............................................................................................................ 10411.2.2 Qual idade do gelo.................................................................................................... 10511.2.3 Tipo do gelo.............................................................................................................. 10511.2.4 Quant idade de gelo.................................................................................................. 10511.2.5 Empilhamento.......................................................................................................... 10511.2.6 Armazenagem.......................................................................................................... 10511.2.7 Congelamento.......................................................................................................... 10611.2.8 Salga......................................................................................................................... 10611.2.9 Diferentes mtodos de salga.................................................................................... 107

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    11.2.10 Secagem natur al.................................................................................................... 10811.2.11 Secagem arti fi cial.................................................................................................. 109

    11.3 ATIVIDADE ................................................................................................................... 10911.3.1 Questionamento....................................................................................................... 109

    11.4 LEITURACOMPLEMENTAR....................................................................................... 10912 LEGISLAO AMBIENTAL ...................................................................................... 11012.1 INTRODUO ............................................................................................................... 11012.2 LEGISLAOFEDERAL .............................................................................................. 11112.3 LEGISLAOAMBIENTAL ........................................................................................ 111

    12.3.1 L icenciamento ambiental........................................................................................ 11212.4 LEGISLAOBSICASOBREPESCAEMEIOAMBIENTE ................................... 11412.5 LEITURACOMPLEMENTAR....................................................................................... 115

    13 LITERATURA CONSULTADA .................................................................................. 117

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    1 INTRODUO

    A piscicultura um tipo de explorao animal que vem se tornando cada vez maisimportante como fonte de protena para o consumo humano, principalmente pela reduodos estoques pesqueiros que, em 1991 (produo de 16.574.497 ton.), aumentou sua

    produo em 8,3% em relao a 1990 e, 100% nos ltimos oito anos. Outros fatores queesto favorecendo o desenvolvimento atual da piscicultura so as modificaes drsticas dohbitat, tais como poluio, desmatamento e represamentos. A mudana no hbitoalimentar das pessoas, o aparecimento de novos produtos mais prticos para o consumo e autilizao para lazer e esporte, tambm favoreceram o desenvolvimento da atividade.

    A exploso demogrfica e a conseqente necessidade de se produzir alimentos dealta qualidade, em especial aqueles oriundos da explorao animal, se constitui no fatorbsico do extraordinrio desenvolvimento verificado na criao de peixes nos ltimos anos.

    O Brasil desponta como uma potncia de primeiro mundo em criao de peixesdevido ao seu extenso territrio, com diferentes tipos de clima, bem como suas baciashidrogrficas e represas, as quais acumulam grande quantidade de guas interiores,

    havendo assim, em sua ictiofauna, uma grande diversificao de espcies apresentandogrande possibilidade de utilizao na produo de pescado.

    O desenvolvimento da piscicultura com espcies autctocnes tem sido umapreocupao constante nos pases tropicais. Por isso, pesquisadores tm-se preocupado emidentificar espcies que disponham de condies que possibilitem sua explorao emcultivos semi-intensivo e intensivo. A crescente demanda de protena de origem animalobriga-nos a buscar o aprimoramento das tcnicas de produo de alimento, visando explorao econmica e racional das espcies.

    Dentro da realidade brasileira, a piscicultura sem dvida reconhecida como umaatividade capaz de produzir protena de origem animal de alto valor biolgico, rica emvitaminas e minerais, a um custo relativamente inferior as demais criaes, devido pequena utilizao de insumos e a possibilidade do aproveitamento de resduosagropecurios no utilizados para o consumo humano.

    O objetivo deste manual dar uma informao bsica para quem pretende iniciar naatividade de criao de peixes. Esta atividade uma alternativa para o produtor diversificaro potencial de sua propriedade, produzindo uma fonte de protena animal a baixo custo e,conseqentemente, aumentar a renda da famlia rural.

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    2 CARACTERSTICAS GERAIS DOS PEIXES

    Estes animais pertencem classe dos OSTEICHTHYES (peixes sseos), ao FiloCHORDATA e ao SUBFILO VERTEBRATA.

    2.1 ANATOMIA DOS PEIXES

    Corpo achatado lateralmente e dividido em cabea, tronco e calda Nadadeiras pares e impares Boca de localizao terminal Corpo revestido por escamas ganide, ciclide e ctenide Algumas espcies no apresentam escamas, tendo o corpo revestido por pele Apresentam grande quantidade de glndulas mucides

    Aparelho digestivo completo Dentes Homodontes, Polifiodontes e Acrodontes Terminao anal separada da urogenital Abertura urogenital independente da anal Ausncia de vlvula espiral Aparelho respiratrio do tipo branquial e pulmonar Quatro pares de arcos branquiais de localizao lateral nas paredes farngeas Brnquias protegidas por um par de placas sseas (oprculos) Sistema esqueltico de natureza ssea Vrtebras do tipo anficlicas Sistema circulatrio do tipo fechado simples e venoso Nadadeira caudal homocerca e dificerca Corao com um sinus, uma aurcula, um ventrculo e um bulbo Sangue: hemcias elpticas e nucleadas Sistema nervoso com 10 pares de nervos cranianos Sistema sensorial bem diferenciado com linhas laterais, rgos visuais, olfativos, tteis

    e eltricos

    Presena de cavidade peritonial e pericrdica Presena de bexiga natatria com funo hidrosttica, auditiva, respiratria e de

    emisso de rudos Sistema reprodutor desenvolvido e duplo So diicos e raramente apresentam dimorfismo sexual Geralmente ovparos com fecundao externa, raramente ovovivparos ou vivparos Sistema excretor formado por dois rins (mesonfrons)

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    2.1.1 Morfologia externa Apresentam corpo de forma fusiforme, achatada transversalmente e fusiforme nas

    extremidades

    O corpo dividido em trs pores: cabea, tronco (sem limites ntidos) e cauda A boca de localizao terminal com aspecto de uma fenda transversal. As duas fossas nasais no tm comunicao com a boca e esto localizadas diante dos

    olhos

    Duas narinas dispostas uma de cada lado da cabea Dois oprculos laminados recobrindo as brnquias e dispostos atrs dos olhos com a

    borda posterior livre

    Nos bordos da boca podem se observar duas pequenas barbas com funo ttil O tronco limita-se anteriormente com a cabea pela borda posterior dos oprculos e

    com a cauda na altura das aberturas urogenital e anal

    No tronco encontra-se duas nadadeiras torcicas, duas plvicas ventrais e a dorsalformada por uma nica pea

    Na cauda existem duas nadadeiras impares: a caudal e anal, esta ltima disposta atrsdo nus

    A nadadeira caudal do tipo homocerca por apresentar dois lobos iguais separados pelaterminao da coluna vertebral

    Corpo apresenta-se revestido externamente por um dos trs tipos de escamas: ganides,ciclides ou ctenides

    Duas linhas laterais percorrem longitudinalmente o tronco e cauda ao longo da poromdia do corpo, formando os rgos sensoriais.

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    Figura 1: Anatomia externa de peixes telesteos.Fonte: LOPES, P.

    2.1.2 Morfologia interna2.1.2.1 Sistema Tegumentar

    A pele constituda por duas partes: a epiderme e a derme Epiderme

    Constituda por numerosas camadas de clulas epiteliais de revestimento. Possuiuma camada basal geradora chamada de Camada de Malpighi, responsvel pela elaboraodas clulas da epiderme. Nesta camada so encontradas as glndulas de muco elaboradasnas camadas mais profundas (Camada de Malpighi), rompendo-se na superfcie corprea eeliminado uma substncia mucilaginosa responsvel pela lubrificao corprea (diminuindoo atrito na gua e permitindo um maior deslizamento).

    Os pigmentosexistentes logo abaixo da epiderme so responsveis pela coloraodos peixes. O tipo de pigmento varia em natureza e aspecto.

    DermeConstituda por um tecido conjuntivo de preenchimento formado por clulas, fibras

    conjuntivas, vasos sanguneos e nervos. Entre e derme a epiderme existe uma condensaode tecido conjuntivo, que forma a membrana basal.

    Os cromatforos so clulas especiais localizadas na camada mais externa daderme e esto relacionados com a absoro de luz. No interior dos cromatforos soencontrados grnulos de melanina. As cores so fornecidas por pigmentos como: lipforos

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    ou xantforos (pigmento amarelo) e leucforos ou iridicitos (pigmento branco, prateado oumetlico).

    As escamasrecobrem o corpo dos peixes e so de natureza drmica, apresentando-se de dois tipos:

    Escamas ganides - desenvolvem-se inteiramente na derme possuindo formarmbica (pontuda) e articuladas uma nas outras. So de ocorrncia em peixesantigos sendo raros nos peixes atuais.

    Escamas ciclides - so as mais comuns e predominantes nos peixes atuais. Deorigem drmica, recobrem integralmente o corpo dos telesteos. Apresentam bordalivre e arredondada. Possui uma camada de dentina e no ocorre em tecido sseo.

    2.1.2.2 Sistema MuscularConstitudo por musculatura esqueltica estriada com forma de W aberto para

    trs. Esta musculatura se estende pelo corpo e cauda. dividida por segmentos com bandasde tecido conjuntivo. Os msculos da cabea e nadadeiras so menores e rudimentares.

    2.1.2.3 Sistema Esqueltico ossificado e dividido em trs pores: axial, zonal e apendicular.

    Esqueleto AxialConstitudo por cabea, coluna vertebral, costelas e esterno.

    Esqueleto zonalConstitudo pelas costelas ou por ossos isolados depositados nos septos

    intermusculares.

    Esqueleto apendicular constitudo pelas nadadeiras pares torcicas e plvicas com tamanhos, forma e

    localizao variveis. As nadadeiras impares, dorsal, ventral e caudal tambm soamplamente variveis. As nadadeiras caudais possuem dois tipos morfolgicosfundamentais: homocerca e dificerca.

    As nadadeiras homocercas caracterizam-se por apresentar dois lobos, um superior eoutro inferior, simtricos entre eles esta a terminao da coluna vertebral.

    As nadadeiras dificercas apresentam um s lobo com a coluna vertebral no seuinterior ou dois simtricos externos, com a terminao da coluna vertebral.

    2.1.2.4 Sistema DigestrioConstitudo pela boca (com dentes e glndulas anexas), faringe, esfago, estmago,

    intestino delgado e nus.

    BocaSituada na extremidade anterior da cabea, do tipo terminal. Apresenta dentes do

    tipo acrodonte, homodonte e polifodonte. Os dentes participam do mecanismo de apreensodos alimentos. A lngua de forma alongada, pouco mvel e localizada no assoalho daboca. Esta participa tambm da apreenso dos alimentos empurrando-os para o interior dafaringe.

    Faringe

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    a continuao direta da boca. No apresenta limites precisos constituindo umaampla bolsa em cujas paredes laterais se encontram as brnquias.

    EsfagoApresenta a forma de um tubo curto que se abre diretamente no estmago.

    Estmago uma dilatao do tubo digestivo com aspecto de uma bolsa. Esta bolsa fornece um

    esboo de uma pequena e grande curvatura.

    Intestino um tubo relativamente longo com vrias alas terminando no nus, na confluncia

    do corpo com a cauda. Entre o estmago e o intestino, existe uma vlvula denominadapilrica, responsvel pela regulagem da passagem dos alimentos. Entre o estmago e ointestino ocorre numerosos cecos pilricos.

    2.1.2.5 Sistema Respiratrio completo do tipo braquial, constitudo por quatro pares de brnquias pectinada

    (filamentosas). As brnquias situam-se bilateralmente nas paredes laterais da faringe. Sosustentadas pelos 30 ao 60 par de arcos viscerais. As brnquias protegidas por uma lminassea denominada oprculo. Os oprculos so constitudos por um conjunto de ossos.

    O processo respiratrio ocorre quando a gua atravs de uma corrente contnuaentra pela boca, banha as brnquias, enquanto a tampa opercular se mantm colada aotronco. Em seguida a boca se fecha, abrindo as fendas operculares, propiciando a passagemde gua para o meio exterior. A permanncia da gua no interior da faringe e em contatocom as brnquias possibilita as trocas gasosas entre o oxignio dissolvido na gua e o gscarbnico (hematose).

    Estrutur a branquialDe aspecto pectinado com duas fileiras de brnquias em cada arco branquial. O

    corpo da brnquia constitudo de uma estrutura esqueltica (raios branquiais) de naturezassea ou cartilaginosa. Interiormente as brnquias so percorridas por uma abundante redecapilar responsvel pelo processo de hematose. Os capilares penetram nas brnquias atravsde dois ramos aferentes procedentes do tronco principal da artria aorta ventral quetransporta o sangue venoso do corpo para as brnquias. Aps as trocas gasosas, o sanguesai das brnquias atravs de dois ramos eferentes que lanam o sangue arterial no interiordo corpo da artria aorta dorsal no sentido ventro-dorsal.

    Bexiga natatr ia um saco grande de paredes finas, ligadas faringe por um ducto pneumtico.

    Preenchida pelos gases (N, O, CO2) Localiza-se na poro dorsal da cavidade do corpo.

    Seu revestimento interno pode ser liso, alveolado ou septado, mas sempre simulandoaspecto de um pulmo. O canal de comunicao entre s bexiga natatria e o esfago oufaringe denomina-se Ducto Pneumtico.

    Funes da bexiga natatria:

    Hidrosttica:Sua funo de regular a descida ou ascenso dos peixes em relao superfcie da

    gua. Para tanto os peixes absorvem gases existentes no interior da bexiga atravs da

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    corrente sangunea com eliminao conseqente pelas brnquias. Desta forma os peixesconseguem atingir grandes profundidades, assim como no mecanismo inverso, onde ocorrea subida em direo a superfcie.

    Acstica:Alguns peixes possuem divertculos oriundos da bexiga natatria em direo ao

    interior da cabea at atingir o ouvido interno. A, ocorre uma srie de 3 a 4 pequenos ossosdenominados ossculos de Weber. Estes, por sua vez, procedem de vrtebras modificadas,que se ligam ao nervo auditivo. Atravs de mecanismos complexos, onde o nervo auditivo estimulado, observa-se a propagao para os ossculos de Weber e da para a bexiganatatria, permitindo a variao de presso gasosa no seu interior. A vibrao destesossculos aumenta a capacidade auditiva destes peixes.

    Emisso de rudosAlgumas bexigas possuem diversas cmaras separadas umas das outras por septos.

    Desta forma conseguem produzir rudos pela contrao rpida de sua musculatura, forandoa passagem dos gases pelas diversas cmaras, pondo em vibrao os septos existentes.

    RespiratriaSua funo uma das mais importantes, exclusiva dos peixes fisstomos(pulmonados). Devido permeabilidade do ducto pneumtico ocorre a passagem do ar doambiente, fornecendo um tipo de respirao semelhante a dos tetraplides. Este fenmenoocorre com o Pirambia (peixe da Amaznia) que chega a superfcie da gua, provocandouma longa respirao de ar, mergulhando em seguida. No perodo de seca, estes animaispodem permanecer durante longo tempo no lodo. Para tal constroem uma cpsula degelatina que envolve seu organismo e retirando o oxignio diretamente da atmosfera. Esseprocesso estende-se at o retorno do perodo das chuvas.

    2.1.2.6 Sistema Circulatrio constitudo pelo sistema sanguneo (sangue, corao, artrias, veias e capilares) e

    pelo sistema linftico (linfa, vasos linfticos e gnglios linfticos).

    Corao constitudo por um tubo musculoso envolvido por uma camada pericrdica. O

    corao localiza-se abaixo da bolsa farngea ou regio branquial. Possui trs camadas detecidos, endocrdio, miocrdio e epicrdio.

    Pr incipai s ar trias 1 artria aorta ventral (canaliza o sangue do corpo para o corao) 2 artrias aortas dorsais (transporta o sangue do corao para as brnquias e destas

    para todo o corpo).

    2.1.2.7 Sistema NervosoApresenta duas substncias nervosas concntricas, a branca externa e a cinzenta

    interna. A massa branca representa os tratos nervosos constitudo por conjunto de axniosorientados craniocaudalmente e ricos em mielina. A massa cinzenta indicativa deestruturas celulares nervosas e de axnios sem mielina envolvente. Envolvendo o conjuntodo sistema nervoso central (crebro, cerebelo e bulbo) ocorre uma estrutura espessa, maisou menos rgida, denominada meninge responsvel pela proteo das estruturas nervosas.

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    2.1.2.8 Sistema SensorialCompreende um conjunto de estruturas especializadas para as sensibilidades:

    gustativas, olfativas, auditivas, tctil-dolorosa-trmica, e pressorreceptoras.

    Sensibi l idade gustativa muito rudimentar devido ao tipo de deglutio ser muito rpida Existem clulas epiteliais especializadas entre as criptas da lngua Terminaes nervosas sensitivas do glossofarngeo esto presentes na faringe,

    tambm, relacionadas com a degustao.

    Sensibil idade olfativa Muito desenvolvida nos peixes Atravs dos dois sacos olfativos o cheiro captado do meio, estes sacos esto

    protegidos pelos ossos do crnio

    Recebem estmulos qumicos No possui ligaes com a boca, apenas um poro aberto na superfcie do corpo

    junto aos cantos da boca A gua a cada instante mudada permitindo o animal sensibilidade odorfera de

    certas molculas

    Das clulas epiteliais partem filamentos nervosos para o interior do crnio,formando o nervo olfativo e este atinge os lobos olfativos

    Sensibil idade auditi va Apresentam canais semicirculares cujas paredes so revestidas por clulas sensitivas

    relacionadas com o mecanismo de equilbrio

    No interior dos canais semicirculares aparecem dois pequenos grnulos, os otlitos,constitudos por carbonato de clcio em suspenso na endolinfa

    Os otlitos participam no mecanismo reflexo de equilbrio do ser Sensibi l idade visual

    pouco desenvolvida Possuem dois globos oculares bem diferenciados O globo ocular apresenta a forma de um esferide com ntido achatamento antero-

    posterior

    Este formato de olho condiciona, desta maneira, a formao da imagem atrs daretina o que possibilita viso a longa distncia em detrimento de objetos colocadosprximos dos olhos

    No apresentam glndulas lacrimais Esclertica - camada mais externa, parenta em seu interior placas cartilaginosas

    destinadas a dar maior proteo ao globo ocular, principalmente nas grandesprofundidades onde a presso muito grande

    Coride - a segunda capa formada pela camada vascular, responsvel pelaalimentao sangunea das estruturas do olho

    Sensibi l idade tti l

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    Muito desenvolvida e especializada Ocorrem terminaes sensitivas em todo corpo do animal localizadas nas pores

    superficiais da camada drmica, com funo de percepo dos diferentes tipos deestmulos

    Linha lateral - formada por dois canculos situados logo abaixo da epiderme eabertos na superfcie corprea por inmeros poros que permitem a passagem ecirculao de gua do meio ambiente. As paredes internas destes canculos possuemclulas especiais Neuromastos - que atuam como estruturas pressorreceptoras(presso da gua). Na cabea a linha lateral encontra-se modificada (ampola delorenzini) no sentido de responder aos estmulos das variaes trmicas da gua.

    2.1.2.9 Sistema Excretor Apresenta-se disposto bilateralmente ao longo do tronco, diante da coluna vertebral Os rins em nmero de dois so do tipo mesonefros. Possuem colorao vermelha vinho; De cada rim parte um canal excretor que se estende at o orifcio urogenital2.1.2.10Sistema Reprodutor Apresentam sexos separados Apresentam gnadas pares situadas no interior da cavidade celomtica Os machos apresentam dois testculos. Destes partem dois canais deferentes que se

    abrem no interior do poro genital, comum ao aparelho urinrio

    As fmeas apresentam dois ovrios. Destes partem dois ovidutos que por sua vez,tambm se abrem no poro genital.

    2.2 CADEIA ALIMENTAR DOS PEIXES

    Todas as larvas de peixe, qualquer que seja a espcie, aps a absoro do sacovitelino, alimentam-se do plncton, sendo que algumas espcies do preferncia ao fito eoutras ao zooplncton. A tilpia, peixe de regime alimentar preferencialmente planctfagos,aps a absoro das reservas contidas no saco vitelino, passa a alimentar-se de algas,enquanto que a trara e o dourado, espcies carnvoras, preferem o zooplncton.

    A alimentao dos peixes pelo plncton pode-se dar direta ou indiretamente. Algunsdeles podem ingerir diretamente os organismos planctnicos, entretanto, para muitos outroso fitoplncton constitui apenas um elo inicial da cadeia alimentar, pois que ele serve dealimento a protozorios e estes a rotferos, microcrustceos, larvas de insetos, vermes eoutros animais que por sua vez constituem o alimento dos peixes. Mesmo os peixes

    carnvoros, comem outros peixes que se alimentam dos organismos planctnicos. Atingidaa fase de alevino o regime alimentar do peixe defini-se, porm, existem certas espcies quepermanecem fitoplanctfagas durante toda a vida.

    De acordo com a diversidade dos alimentos, os peixes so divididos em:eurifgicos, quando consomem vrios itens alimentares; estenofgicos, quando consomempouca diversidade de itens; e monofgicos quando existe o domnio de um item.

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    De acordo com a natureza do alimento, as espcies so classificadas em: herbvoras,carnvoras, onvoras e detrifagas (incluindo plncton), mas tambm so reconhecidas asespcies ilifagas e algumas que poderiam ser chamadas de especialistas, embora todas asoutras citadas tambm sejam especialidades.

    2.2.1 Planctvoros ou planctfagosSo assim denominados os peixes que se alimentam predominantemente de

    plncton.

    Classificam-se em:

    Seletores: selecionam suas presas individualmente; Filtradores passivos: abrem boca e nadam, deixando que os rastros concentrem as

    partculas;

    Filtradores ativos ou bombeadores: o peixe fica parado ou ligeiramente em movimentofazendo bombear gua com movimentos ativos da cavidade boca-branquial.

    2.2.1.1

    TilpiaDurante seu primeiro estgio de crescimento, que vai do nascimento at atingir3,5cm de comprimento, a Tilapia rendallialimenta-se exclusivamente de microorganismospertencentes ao fitoplncton e neste estgio, mesmo que haja na gua onde elas seencontram abundncia de organismos animais, estes no so encontrados em seu estmago.No segundo estgio de crescimento, de 3,5 at 10 cm de comprimento, d-se uma transioalimentar de algas para vegetais superiores e finalmente no terceiro estgio, de 10 cm emdiante, a alimentao feita exclusivamente na base de vegetais superiores. Entretanto,outras espcies do gnero Tilapia, como T. galillaea e T. esculenta, so exclusivamentefitoplanctfagas, alimentado-se de algas durante toda sua vida.

    2.2.2 HerbvorosSo peixes que selecionam alimento vegetal vivo: vegetais superiores, macro e

    microalgas bentnicas e fitoplncton. Embora o peixe que se alimenta de fitoplncton possaser denominado herbvoro, essa expresso mais apropriada para os que se alimentamprincipalmente de vegetais multicelulares, devido s adaptaes anatmicas necessriaspara utilizar esses vegetais e s implicaes ecolgicas de tal atividade. Os mecanismosdigestivos usados para destruir a celulose da clula vegetal, os herbvoros marinhos soclassificados em quatro grupos:

    Os que digerem o alimento em estmagos com alta acidez; Os que trituram o alimento por meio de dentes faringeanos;

    Os que trituram o alimento por meio de um estmago muscular; Os que mantm microorganismos que fermentam o alimento em uma poro da parte

    posterior do intestino.

    Na reviso sobre peixes herbvoros de gua doce, cita experimentos nos quaispeixes perdiam peso quando alimentados somente com plantas e que o recuperavam quandoa dieta era completamente com protena animal. Isso permite deduzir que, na natureza,peixes herbvoros precisam complementar suas dietas com protena animal; comentatambm sobre a ao negativa dos taninos na digestibilidade das plantas. Observou que, no

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    Rio Negro (Amaznia), os peixes herbvoros preferem frutas e sementes, ingerindo poucasfolhas.

    Hyporhamphus melanochir herbvoro de dia e carnvoro de noite.

    2.2.3 CarnvorosSo peixes que selecionam alimento animal vivo, incluindo zooplncton. Quando o

    alimento constitudo principalmente por peixe chamado de piscvoro ou ectifago;quando os crustceos, carcinfago, quando por moluscos, malacfago, quando porcefalpodos, teutfago, quando por insetos, insetvoro etc.

    Nos rios e pequenos lagos, os insetos tm uma importante participao na dieta dopeixe, os quais, geralmente, esto presentes o ano inteiro, embora estejam mais disponveisna poca das cheias. Os insetos adultos podem flutuar ou afundar, ao carem na gua ou sercarregados pela chuva, podendo tambm ser capturados por peixes especializados quandopousam perto da superfcie da gua. Entre as formas larvais, as de vida aqutica so maisusadas como alimento, mas tambm so aproveitadas larvas terrestres.

    O canibalismo tem importantes implicaes na auto-ecologia das espcies, porquegeralmente funciona como uma forma de autocontrole populacional, acentuando-se quandoas condies de alimentao so inadequadas ou por convenincia de adultos, como ocorreem algumas espcies de Hoplias, Cichla, Salminus, etc. Atribui aos desenhos e ao coloridode Cichla ocellaris, que aparecem em exemplares a partir de determinado tamanho, afuno de alertar os exemplares maiores da prpria espcies para evitar o canibalismo.

    2.2.4 OnvorosSo peixes que utilizam de alimento animal e vegetal vivo, em partes bastante

    equilibradas. Quando h certo domnio de algum dos itens. Referem-se s espcies como:onvoras com tendncia a carnvoras, ou onvoras com tendncia a herbvoras. Em relao

    ecologia trfica, usa o termo onvoro para referir-se s espcies que se utiliza de alimentospertencentes a dois ou mais nveis trficos. O peixe carnvoro combina ingesto dealimento animal, que de alto valor energtico, porm requer certo esforo para obt-lo,com ingesto de alimento vegetal, que de baixo teor energtico, porm pode ser obtidocom menor esforo, com a condio de ter capacidade para digeri-lo, conforme observadoemLagodon rhomboides.

    2.2.5 Detr i tvorosSo peixes que se alimentam de matria orgnica de origem animal em putrefao

    e/ou matria vegetal em fermentao. difcil reconhecer um detritvoro na naturezaatravs do exame de contedo estomacal, porque um animal j morto pode ter as mesmas

    caractersticas de um animal morto pelo predador, assim como fica difcil reconhecer odetrito vegetal do semi-digerido. Alguns detritvoros, talvez todos, tm suas dietascomplementadas com algas e bactrias, como Mugil cephalus, Tilapia mossambica eHutilus rutilus.

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    2.2.6 IlifagosSo peixes que ingerem substrato formado por lodo ou areia, que por si s no

    representa um tipo de alimento. O substrato ingerido porque nele so encontrados osalimentos procurados (animal, vegetal ou detrito) sendo que esses peixes contam com umaparelho digestivo adaptado para selecion-lo. Conseqentemente seria mais apropriadodenominar o hbito de ingerir substrato, junto com o tipo de alimento usado, como:ilifago-detritvoro, para diferenci-lo do detritvoro que no ingere lodo etc. O estudoalimentar de um ilifago deve incluir a correta separao do substrato inerte.

    Os principais alimentos includos no lodo so:

    Organismos microscpicos de superfcie; Detrito planctnico sedimentado; Detrito de macroflora; Detrito de fauna nectnica e bentnica; Matria coprognica; Detrito orgnico; Detrito inorgnico.

    Ex.: Curimbat (Prochilodus scrofa)O curimbat o peixe mais comum dos nossos rios, principalmente em So Paulo,

    onde ocorre na proporo de 70% do total dos vrios peixes. uma espcie de dentioatrofiada, que se alimenta de algas contidas no lodo. Estes peixes possuem um estmagomusculoso, semelhante moela das aves, adaptado, portanto, a digerir a carapaa silicosadas diatomceas. Estas constituem seu principal alimento, o que foi constatado atravs deestudos do contedo estomacal desses peixes.

    Ex.: Saguir (curimatus sp)

    Peixe destitudo de dentio, de tamanho pequeno e muito comum em nossas guas,quer paradas, quer correntes. Alimenta-se o saguir da matria orgnica contida no lodo,especialmente das algas.

    Ex.: Cascudo (Plecostomus sp)

    O regime alimentar dos cascudos muito especializado, pois os mesmos alimentam-se exclusivamente de algas, dando preferncia aos locais pedregosos onde estas seacumulam. Nunca se conseguiu criar uma s larva desse peixe com microcrustceos. Apreferncia dos cascudos pelas algas de tal ordem que quando presos em aqurios durantealgum tempo, aderem aos vidros, limpando-os das algas que a costumam acumular-se, daserem chamados de "limpa-vidros".

    2.3 ATIVIDADE

    2.3.1 Descr io do probl emaUm tanque de criao de peixes, apesar de total ou parcialmente controlado,

    constitui um sistema ecolgico complexo que deve ser conhecido e estudado, pois todos os

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    seus aspectos (qualidade da gua, temperatura, oxignio dissovido, etc.) sofrem ao domeio ambiente. Assim, sendo um tanque de piscicultura um ecossitema, ainda que artificial,deve-se conhecer os organismos que o compe bem como a cadeia alimentar em que elesesto inseridos para saber as perdas de energia entre organismos produtores at osdecompositores. Texto intitulado Piscicultura, retirado do site

    http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283.

    2.3.2 QuestionamentoSobre a criao de peixes em tanques e o ecossistema presente nestes, conceitue:

    a) Aquiculturab) Pisciculturac) Plnctond) Bentose) Macrfitas aquticasResposta:

    a)Aqicultura o processo de produo em cativeir o de organismos com hbitatpredominantemente aqutico, em qualquer estgio de desenvolvimento, ouseja: ovos, larvas, ps-larvas, juvenis ou adul tos.

    b)A piscicul tur a um dos ramos da aqicul tur a, que se preocupa com o cultivode peixes.

    c) So organimos microscpicos que possuem pequena capacidade demovimentao e por tanto flutuam livremente nas guas. Podem ser de origem

    animal (zooplncton) ou vegeteal (f itoplmcton) e constituem a base da cadeiaalimentar . O zooplncton representado, no tocante a piscicultur a, pelosprotozorios, rotferos e microcrustceos . J o f i toplncon composto pororganismos autotrficos (produtores) respresentados por alguns tipos debactrias e algas de di ferentes classes.

    d)Organismos que habi tam o fundo (sendimento) dos tanques, representados,entre outr os, por larvas de insetos, algas, moluscos, algumas bactrias e fugos.De modo geral estes so os responsveis pela decomposio e reciclagem dosnutrientes.

    e) Vegetais super iores que permanecem ou no enr aizados, no fundo dostanques. Podem ou no estar totalmente submersas e algumas f lutuam sobre a

    superfcie da gua e permancem com as razes submersas. Geralmente estorelacionadas com a presena de matria orgnica na gua.

    Objetivo da atividade: Discuti r alguns conceitos que sero abordados no decorrerdo contedo desta aposti la.

    http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=281http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=281http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=texto&idConteudo=283
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    2.4 LEITURA COMPLEMENTAR

    BARCELLOS, J.G. Policultivo de Jundis, Tilpias e carpas Uma alternativa deproduo para a piscicultura rio-grandense. Editora UPF. 2006, 127p.

    MOREIRA, H.L.M. et al. Fundamentos da Moderna Aqicultura. Editora Ulbra-RS,2001, 199 p.

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    3 AMBIENTE AQUTICO - PROPRIEDADES FSICO-QUIMICAS DA GUA

    A gua o composto considerado como a essncia da Terra e domina por completoa composio qumica de todos os organismos, alm de ser o meio onde vivem os peixes.

    Sendo assim especificamente, as suas caractersticas regulam eficazmente o metabolismodo ecossistema a variaes climticas e geogrficas. Essas variaes so decorrentes dainterao.

    Calor Especfico - quantidade de calor necessrio para elevar em um graucentgrado, um grama de gua -por definio corresponde a uma caloria (1,0 cal), este valor considerado alto; Calor de vaporizao - a gua possui um alto valor para estacaracterstica, sendo que a 10 C de 540 cal/g.

    Viscosidade - capacidade de oferecer resistncia ao movimento - com 30 C a guatem a metade da viscosidade que cinco graus centgrados. Portanto a viscosidade diminuicom a temperatura;

    Densidade -a gua apresenta densidade varivel, de acordo com as condies domeio, a maior densidade da gua atingida a zero grau centgrado

    A gua, por suas peculiares caractersticas lquido-slidas, tornam-na um ambienteestratificvel que influencia sobremaneira as dinmicas qumicas e biolgicas dos corposd'gua (no nosso caso viveiros). Entretanto comparando-a com o meio areo, apresenta-secomo um meio temperado, onde as flutuaes extremas de suas caractersticas etemperatura se encontram mais amortizadas que no meio areo.

    A seguir passaremos a tratar especificamente de cada um dos principais fatoresabiticos que geram efeito sobre a vida aqutica, bem como das principais interaes queocorrem entre eles, e tambm sobre a qualidade de gua para piscicultura.

    3.1 TEMPERATURA

    Atravs da conduo, a radiao incidente na gua transformada em energiacalorfica e nela se propaga, de molcula para molcula. Este processo de absoro deenergia trmica mais intenso quanto mais se aproxima da superfcie da gua,principalmente at um metro de profundidade, dessa forma, na ausncia de fatores queprovoquem a movimentao (turbulncia) da gua (atravs do vento do funcionamento deaeradores, infusores de ar, motores, etc) ocorre estratificao da coluna d'gua, tornando-a,teoricamente, como mostra a Figura 2.

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    Figura 2: Esquema de estratificao trmica de um ambiente aqutico.Fonte: MOREIRA et al. (2001).

    Essas diferenas trmicas observadas nestas camadas fazem com que hajamdiferentes valores de densidade em cada uma delas, o que impede que ocorra a misturad'gua em toda a coluna, dessa forma, na ausncia de fatores que provoquem turbulncia nagua, no haver distribuio uniforme de calor. Quando o ambiente aqutico apresenta-seestratificado teoricamente, normalmente apresenta-se estratificado para quase todos osoutros fatores fsicos e qumicos, com efeitos sobre as condies biolgicas do ambiente,devido grande inter-relao entre todos estes fatores. Este fenmeno muito maisfreqente e com maiores conseqncias em regies tropicais, devido s maiorestemperaturas observadas, pois os limites entre as camadas tornam-se, como j ditosbarreiras fsicas, o que pode influenciar na qualidade da gua nas diferentes camadas, um

    exemplo quanto a distribuio espacial dos gases e nutrientes no ambiente aqutico.Em um ambiente aqutico estratificado, a concentrao de gases e sais, como O2,CO2, PO3 apresenta comportamento diferenciado em cada camada, e pode ser ilustrada naFigura3.

    Figura 3: Demonstrao exemplificando a estratificao dos gases e sais no meio aqutico.Fonte: MOREIRA et al., 2001.

    RADIA O

    RADIAO

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    Figura 4: Disco de Secchi.Fonte: SOSINSKI & CAMARGO (1996).

    3.3

    CARACTERSTICAS QUMICAS

    Toda gua na natureza deriva da precipitao atmosfrica, produto da condensaodo vapor de gua no ar (chuva), e contm vrios compostos nitrogenados, sulfatos, cloretos,etc., cuja quantidade varia no somente com o local, como com as estaes do ano.

    Em todo o trajeto, a gua dissolve numerosas substncias do solo, que a tornam umasoluo mais ou menos diluda de sais minerais e 12 compostos orgnicos. Alm dessassubstncias dissolvidas, a gua arrasta no seu caminho partculas no-solveis, colides epartculas maiores, tornando-se uma suspenso mineral ou orgnica. A gua o solventeuniversal encontrado na natureza. Ela dissolve os gases como O 2, N2, CO2, CH4, H2S, entreoutros; os sais minerais e substncias orgnicas, etc. Todos esses gases so de fundamental

    importncia para a piscicultura. O valor pisccola de uma gua depende essencialmente danatureza do terreno com o qual a gua est em contato.

    3.4 POTENCIAL HIDROGENINICO (pH)

    O processo de dissociao da molcula de gua liberando ao meio certa quantidadede ons H+sem quebrar o equilbrio (H2O = H

    ++ OH).

    Quando a quantidade de ons H+ igual de ons OH- em uma soluo, ela ditacomo neutra. J quando h uma vantagem para os ons H

    +a soluo dita como cida,quando o contrario alcalina ou bsica. O pH, que definido como logaritmo negativo da

    concentrao molar de ons hidrognio a medida que expressa a acidez ou alcalinidade deuma soluo e, alm de ser influenciado pela quantidade de ons H+e OH, ainda afetadofortemente por sais, cidos e bases que ocorram no meio.

    Os valores de pH variam de 1,0 a 14,0 sendo que abaixo de 4,0 fatal maioria dospeixes, entre 5,0 e 6,0 causa queda no desenvolvimento, entre 6,5 a 9,5 permite umdesenvolvimento satisfatrio, entre 7,0 a 8,5 a faixa ideal ao desenvolvimento dos peixese, acima de 11,0 letal.

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    Em viveiros de piscicultura o pH influenciado pela concentrao de ons H+originados da dissociao do cido carbnico (H2CO32 H + CO3-2), pelas reaes deons carbomato e bicarbonato (CO3-2 + H2O< >HCO3+ OH; H2O < > H2CO3+OH), peloprocesso de fotossntese da respirao (CO3-2+ H2O c/ luz < > s/ luz CH2O + O2), porcausas do manejo como adubao e calagem, ou mesmo pela poluio. Ainda importante

    salientar que aliteraes no pH da gua podem causar mortalidade nos peixes. Essasalteraes em diferentes propores, dependendo da capacidade de adaptao da espcie,atravs da maior ou menor dificuldade de estabelecer o equilbrio osmtico em nvel debrnquias, podem determinar grandes dificuldades respiratrias nas espcies ou indivduosmenos versteis ou resistentes, levando-os morte.

    O comportamento do pH no perodo de 24 horas de um dia, segue de maneiradiretamente proporcional o do O2D (oxignio dissolvido) e, inversamente o do CO2(Figura5). Portanto intensos "blooms" de algas, em viveiros com baixas taxas de renovao degua, dependendo da densidade de estocagem, podero apresentar altas taxas demortalidade de peixes, principalmente durante a noite e na madrugada devido s altasconcentraes de CO2 no meio oriundo do processo de respirao. Este gs quando esta

    livre no meio aqutico, reage com a gua promovendo a liberao de ons CO2+ H2O < >H2CO3 + H+< > CO3-2 + H

    +, consequentemente baixando o pH e, devido ao conjuntodestes processos, a concentrao de O2poder chegar a zero.

    Figura 5: Comportamento do pH, O2 dissolvido e CO

    2 livre para um ciclo dirio de 24

    horas em um ambiente aqutico.Fonte: MOREIRA et al. (2001).

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    3.5 OXIGNIO DISSOLVIDO (O2D)

    O oxignio o gs mais importante para os peixes, por isso, em termos depiscicultura a ele que devemos dar maior importncia. As fontes de O2so: a atmosfera ea fotossntese.

    Sem o oxignio dissolvido na gua, os peixes de cultivo e todos os outrosorganismos aquticos no podem sobreviver. Existem duas fontes naturais de obteno deoxignio:

    3.5.1 Difuso diretaAtravs do contato e penetrao direta do ar atmosfrico na gua. O O2da atmosfera

    entra na gua principalmente por mistura mecnica, provocada pela ao dos ventos, porcorrentes naturais de massas hbridas e agitaes causadas pela topografia do terreno. Aconcentrao do oxignio na gua varia com a sua temperatura (relaoconcentrao/temperatura est intimamente ligada), bem como a solubilidade desse gs

    depende ainda da presso atmosfrica. A solubilidade do oxignio na gua diminui medida que a temperatura aumenta. Em temperatura alta, os peixes logo utilizam o O 2D dagua, podendo ocorrer mortalidade por asfixia. A solubilidade de O2D diminui com areduo da presso atmosfrica. A solubilidade do O2D na gua baixa com o aumento dasolubilidade.

    3.5.2 Pr ocesso de fotossnteseA liberao de oxignio na gua, mediante processo fotossinttico pelo fitoplncton

    (algas, em especial), a principal fonte de obteno do O2D em um sistema de cultivo depeixes. Durante o processo fotossinttico pelos rgos clorofilados dos vegetais, o gscarbnico (CO2) desdobrado sob a ao dos raios solares. Enquanto o carbono (C)

    utilizado para a sntese de hidratos de carbono e carbonatos, o oxignio expelido,contribuindo e muito para a oxigenao da gua. Sem a luz solar, importantssima para esseprocesso, o oxignio expelido durante as horas do dia em que ela suficiente para essafuno fisiolgica e at onde possa penetrar em quantidade suficiente. noite, h consumode O2D e no produo.

    Em guas turvas e com baixa transparncia, a produo fotossinttica pode diminuirou at mesmo parar. Pode-se notar, portanto, que o processo fotossinttico dos organismosclorofilados est limitado s camadas superficiais de gua, onde a maior parte da luz absorvida.

    3.6 DIXIDO DE CARBONO (CO2)

    um gs que apresenta uma grande importncia no meio aqutico, como vistoanteriormente o (O2dissolvido em pH). Esse gs pode causar problemas para a piscicultura,no entanto, seus efeitos patognicos so geralmente causados pela asfixia que podeprovocar. Nem sempre o CO2 txico para os peixes; a maior parte das espcies podemsobreviver por vrios dias em gua contendo mais que 60 mg/l, desde que esta guaapresente um aporte substancial de O2 para o peixe e, como j foi visto, normalmente as

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    altas concentraes de CO2na gua esto sempre acompanhadas de baixas concentraesde O2, por terem estes comportamentos inversamente proporcionais.

    Considerando-se os processos naturais no ambiente, particularmente altasconcentraes de CO2ocorrem em viveiros aps grande mortalidade de fitoplncton, aps adesestratificao trmica e quando o clima apresenta-se nublado.

    de difcil constatao, tendo em vista que ele se transforma em carbonatos ebicarbonatos, mas sabido que capaz de acidificar a gua quando esta apresenta baixaalcalinidade. H estudos que indicam que em guas com concentraes de CO 2superiores a20mg/litro, tem-se constatado a existncia de leses calcificadas, isto pode se agravar emguas com baixas concentraes de magnsio (guas moles), nesta condio, 30 mg de CO2na gua pode levar o pH da mesma a 4,8.

    3.7 ALCALINIDADE

    a capacidade da gua em neutralizar cidos. Refere-se concentrao total de saisna gua, sendo expressa em miligrama por litro, em equivalente de carbonato de clcio(CaCO3), bicarbonato (HCO3 ), carbonato (CO3), amnia (NH3), hidroxila (OH), fosfato(PO4-2), slica (SiO4) e alguns cidos orgnicos podem reagir para neutralizar onshidrognio (H+). Para viveiros de piscicultura so desejveis valores de alcalinidade acimade 20mg/l, sendo que valores entre 200-300mg/l so os mais indicados. Um resumo dosignificado da alcalinidade no viveiro est descrito abaixo:

    Zero: gua extremamente cida, deve-se corrigir com compostos calcrios; 5-20mg/l: Alcalinidade muita baixa, pH varia muito e a gua no muito

    produtiva;

    25-100mg/l: O pH pode continuar variando mas a produtividade aumentaconsideravelmente;

    100-200mg/l: Nveis timos de produtividade.3.8 SLIDOS SUSPENSOS

    Os slidos suspensos correspondem a partculas de alimento no consumidos, fezesou matria inorgnica em suspenso na coluna d'gua. A gua suja prejudica o peixe deduas formas:

    Direta - pelos ferimentos ou acmulos nas brnquias, comprometendo a respirao dosanimais;

    Indireta - pela diminuio da penetrao de luz na gua, reduzindo a produtividadenatural do viveiro.

    Teores de 10 g/l so suportados por espcies tropicais, sendo o nvel ideal de 2 g/l.O Filtro mecnico simples pode diminuir os mesmos, sendo que um filtro de 0,35 m decamada filtrante (cascalho de 7 mm), 0,30m de altura, 1,20 m de comprimento e 0,90 m delargura filtra um canal de alimentao com descarga de 36 l/s.

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    3.9 NITROGNIO

    O nitrognio apresenta-se presente no meio aqutico de diferentes formas: N2 (noutilizvel), como constituinte de compostos orgnicos dissolvidos (purinas, aminas,aminocidos, protenas etc), na forma de compostos particulados (plncton e detritos), na

    forma de nitratos e nitritos (NO3 e NO2, respectivamente) e na forma de nitrognioamonical (NH3/NH4+).

    De modo geral o ciclo do nitrognio est mais interligado s aes biolgicas. Onitrognio origina-se de aportes fluviais e lenis freticos, da decomposio da matriaorgnica e da fixao biolgica. Os nitratos e o amnio so as principais formasassimilveis pelos produtores, os nitritos ocorrem em baixas concentraes (predomina emum meio anaerbio), pode tambm ser assimilvel e txico aos organismos aquticos emelevadas concentraes. O nitrito aps absorvido pelos peixes, reage com a hemoglobinapara formar a meta-hemoglobina, esta no efetiva no transporte de O2. Portanto umacontinuada absoro do nitrito pode levar os peixes morte por hipxia e cianose. O nvelde nitrito no meio no deve exceder a 0,15 mg/l.

    3.10 CARACTERSTICAS BIOLGICAS

    Um viveiro de criao de peixes, apesar de ser um ambiente total ou parcialmentecontrolado, no deixa de constituir um sistema ecolgico que deve ser estudado, pois todasas outras modalidades sofrem influncia das condies biolgicas do meio (Figura 6), almdas condies citadas nos tpicos anteriores. de fundamental importncia omonitoramento do plncton (Figura 7).

    Plncton so todos os organismos aquticos incapazes de vencerem correntes.Sua locomoo por conta prpria muito pequena, algumas espcies locomovem-se na

    vertical.Classificao:

    - Fitoplncton: frao vegetal composta de algas microscpicas, como, por exemplo,as algas verdes, os dinoflagelados, etc.

    - Zooplncton: frao animal composta por microcrustceos, coppodos, rotferos,etc.

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    abundncia da rede hdrica, como o Brasil, esperada uma maior dificuldade parapercepo da fragilidade e das limitaes desse recurso, porm, para os pasesdesenvolvidos ou em desenvolvimento localizados em regies ridas ou semi-ridas, aslimitaes de gua no se tratam de uma previso alarmista, pois os recursos j seencontram sob forte estresse. O desenvolvimento da piscicultura est possibilitando ampliar

    a produo mundial de pescado, estabilizada a alguns anos pelos limites da produopesqueira. Por outro lado, de acordo com Bastian (1991), uma atividade causadora depotencial degradao ambiental. No Brasil, j comeam a surgir alguns casos isolados paraos quais a implantao de unidades de piscicultura encontra dificuldades junto aos rgosambientais, inclusive com a proibio de sua instalao, devido qualidade do efluenteproduzido pelo cultivo. Caracterizao e tratamento do efluente das estaes depiscicultura Revista UNIMAR 19(2):537-548, 1997(http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077).

    3.11.2QuestionamentoA partir da leitura do artigo citado acima, escreva um resumo (com no mximo duaspginas) sobre o tratamento de efluentes de estaes de piscicultura.

    Objetivo da atividade: Desenvol ver a leitu ra e escri ta tcni ca dos alunos. importante que esta atividade seja individual , de forma que todos treinem a escri ta.

    3.12 LEITURA COMPLEMENTAR

    BOYD, C. Manejo do solo e da qualidade da gua em viveiros para aqicultura.Departament of Fisheries and Allied Aquacultures. Editora Mogiana Alimentos S.A. 1997,55p.

    POLI, C.R. et al. Aqicultura: experincias brasileiras. Florionpolis: EditoraMultitarefa, 2003, 455 p.

    http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/4538/3077
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    4 SISTEMAS DE PRODUO

    4.1 CLASSIFICAO DA CRIAO QUANTO A SUA FINALIDADE

    4.1.1 Cr ia ou produo de alevinosExplorao em que peixes so passados a terceiros para serem recriados ou usados

    em povoamentos e repovoamentos de guas pblicas ou particulares. considerada a fasemais lucrativa; entretanto, exige demanda favorvel por alevinos na regio, maiordedicao por parte do produtor, maior ocupao de mo-de-obra especializada einstalaes de equipamentos mais complexos.

    4.1.2 Recria, engor da ou produo de pescadoExplora-se a capacidade de ganho de peso e crescimento dos animais, englobando a

    fase de alevinagem at o abate. menos lucrativa que a fase de cria, entretanto,caracteriza-se por exigir menor dedicao do piscicultor, necessitar de menor ocupao de

    mo-de-obra, sendo essa menos qualificada, necessitar de instalaes e equipamentosmenos complexos, podendo ser realizada em represas rurais, arrozais inundados, represasou viveiros com ou sem integrao com outras exploraes agropecurias e por serdependente da oferta de alevinos, demanda e preo de pescado na regio.

    4.1.3 Explorao mista de cria e recriaProduz alevinos para uso prprio ou para terceiros.

    4.1.4 Outr os tipos de exploraoPara fins de lazer (povoamento de represa e pesque-pague). Para fins sanitrios

    (controlar a proliferao de insetos ou animais vetores de doenas).4.2 CLASSIFICAO DA PISCICULTURA QUANTO AO SISTEMA DE

    CRIAO

    O peixe, ao contrrio dos outros animais terrestres, pode ser criado de vriasmaneiras diferentes, dependendo das condies da propriedade, tipo de alimento, espcieconsiderada e aceitao de mercado. possvel dividir didaticamente o sistema de criaoem extensivo, semi-extensivo e intensivo.

    4.2.1 Piscicul tur a extensivaExplorao em que o homem interfere o mnimo possvel nos fatores de

    produtividade (apenas realiza o povoamento inicial do corpo d'gua). Caracteriza-se pelaimpossibilidade de esvaziamento total do criadouro, impossibilidade de despesca, ausnciade controle da reproduo dos animais estocados, presena de peixes e aves predadoras,ausncia de prticas de adubao, calagem e alimentao, alimentao apenas daprodutividade natural e, pela produtividade baixa, dificilmente ultrapassa 400 kg/ha/ano.

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    4.2.2 Piscicul tur a semi -intensivaSistema de explorao em que o homem interfere em alguns fatores de

    produtividade. Caracteriza-se pela possibilidade de esvaziamento total do criadouro,possibilidade de despesca, controle da reproduo dos animais estocados, ausncia oucontrole de predadores, presena de prtica de adubao, calagem e, opcionalmente, umaalimentao artificial base de subprodutos regionais, manuteno de uma densidadepopulacional correta durante o perodo de cultivo, produtividade que pode chegar a10ton./ha/ano, sistema racional e econmico de produo recomendado para criao depeixes tropicais e por abranger ainda consorciaes com sunos, aves, arroz, etc.

    4.2.3 Piscicul tur a in tensivaSistema de explorao em que os fatores de produo so controlados pelo homem.

    Caracteriza-se por apresentar densidade populacional elevada de peixes por volume d'gua,alimentao artificial exclusivamente base de raes balanceadas, necessidade de altofluxo de gua ou uma recirculao forada devido a alta densidade populacional,

    produtividade elevada, podendo ultrapassar 90 kg/m3

    /ano, sistema racional de custoelevado, com mo-de-obra especializada e alto nvel de mecanizao.

    4.3 QUANTIDADE DE GUA X SISTEMA DE PRODUO

    A quantidade mnima de gua que se deve dispor depende de vrios fatores. Deveser no mnimo suficiente para repor as perdas por evaporao e por infiltrao e, satisfazer,em parte, as necessidades de oxignio dos peixes.

    4.3.1 Semi-intensivo

    A renovao de gua pode variar de 5 a 30% por dia; A vazo pode variar de 10 a 50 litros/s/h (estimada no perodo seco); O nvel de oxigenao deve ser maior ou igual a 5 mg/l; A estocagem pode ser de 1 kg de peixe/m2. Quantidades maiores podem causar

    problemas na produo e sade dos peixes.

    4.3.2 I ntensivo Renovao de gua varia entre 100 a 200% por dia (Ex.: truta); Vazo de 200 a 500 l/s/ha; Nvel de oxignio entre 5 e 10 mg/l (dependendo da espcie); Densidade de 50 a 600/m3 permitida (Ex: tilpias em gaiola podem produzir de 50 a

    300 kg/m3/safra).

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    5 CONSTRUO DE VIVEIROS

    5.1 FATORES DETERMINANTES PARA LOCALIZAO DE VIVEIROS

    5.1.1 Escolha do localA escolha do local para construo de viveiros para aqicultura deve satisfazer

    algumas condies, a fim de otimizar a ocupao do terreno, minimizar custos deimplantao, e de que as futuras instalaes possam oferecer condies para um bommanejo. Para isto devem ser analisados, prioritariamente, os seguintes itens: gua, solo erelevo.

    5.1.2 guaA gua deve existir em qualidade e quantidade suficientes para viabilizar a

    implantao de um projeto de piscicultura. de suma importncia o conhecimento daorigem desta gua, vazo, propriedades fsico-qumicas e biolgicas que propiciem

    condies timas para o crescimento dos organismos aquticos.Aspectos qualitativos

    Propriedades fsicas: temperatura, cor, odor, turbidez, transparncia, slidos suspensos,etc.

    Propriedades qumicas: pH, oxignio dissolvido, alcalinidade, dureza, amnia, demandabioqumica de oxignio (DBO), dixido de carbono, etc.

    Propriedades biolgicas: qualidade e densidade do plncton, espcies e quantidades deparasitas, etc.

    Aspectos quantitativosA quantidade necessria de gua para a aqicultura depende de vrios fatores como

    clima, solo, sistema de cultivo adotado, intensidade, prticas de manejo, etc. Dependendodo sistema adotado, se extensivo, semi-intensivo ou intensivo, a quantidade de guautilizada varia, desde algumas renovaes por ano at vrias renovaes por hora.

    As fontes de gua mais utilizadas so nascentes ou pequenos riachos. Quando dautilizao direta de gua de nascentes, recomenda-se a construo de um aude reservatriopossibilitando o abastecimento dos viveiros por gravidade, atravs da derivao de umcanal alimentador, garantindo desta forma volume de gua necessrio para o enchimentodos mesmos e, renovaes, quando necessrio. A nascente deve ficar pelo menos a 30centmetros acima do nvel mximo do reservatrio e, de preferncia proteg-la, pois amesma gua poder servir para outras finalidades alm da piscicultura.

    Quando da utilizao de gua proveniente de outras fontes como pequenos crregose rios, deve-se derivar a gua necessria, por meio de um canal alimentador, por gravidade.Cuidados especiais neste caso devem ser tomados, como: utilizao de filtros,monitoramento peridico de qualidade de gua e controle atravs de pequenas comportas,para que haja controle total do abastecimento.

    Para o sistema de cultivo semi-intensivo, baseado em fertilizao orgnica e baixadensidade de estocagem (2.500 - 4.500 peixes/ha). Este sistema requer uma pequena vazo,sendo suficiente para repor perdas por infiltrao e evaporao, que podem chegar a valores

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    significativos, principalmente no vero. Para calcular o requerimento de gua pode-se usara seguinte frmula, segundo FAO, 1984:

    Q= V + Vr + Pe + P, + Pc - C (mV1) 86400 x T

    onde:

    Qr = vazo necessria

    V = A x h volume total do viveiro (m3)A= rea superficial do viveiro (m2)

    h = profundidade mdia (m)

    Vr = Nr x V volume de gua renovada (m3)

    Nr = n de renovaes durante o perodo de cultivo

    Pe = A x E perda de gua por evaporao (m3)

    E = evaporao mdia no perodo (m)

    P, = A x T x l perda de gua por infiltrao (m3)

    l = infiltrao (m/dia)

    Pc = Ac x 1.2 x E perda de gua no canal de alimentao (m3)Ac = rea superficial molhada do canal (m2)

    C = At x Pr contribuio da gua de chuvas (m3)

    At= rea total do viveiro incluindo os diques (m3)

    Pr = precipitao no perodo (m)

    T = tempo de durao do perodo de cultivo

    Exemplo:

    Qual a vazo necessria para um policultivo com fertilizao orgnica considerandoum viveiro de 1,0ha, com profundidade mdia de 1,0m, perodo de cultivo de 300 dias, trs

    renovaes, dadas evaporao mdia de 120mm/ms e uma infiltrao de 0,5cm/dia ?Q = 10.000,0 + 30.000,0 + 12.000,0 + 15000,0 = 2,6 l/s

    300 x 86400

    Neste exemplo no foram considerados: canal de alimentao e contribuio degua de chuvas. Para viveiros de concreto desprezar a infiltrao.

    O tempo requerido para abastecimento dos viveiros determinar a maior vazonecessria. Para um bom manejo, o tempo necessrio para enchimento dos viveiros varia de15 a 30 dias. Necessitando, neste momento, vazes em torno de 5 a 10l/s, 1 por hectare derea alagada.

    5.1.3 Medidas de vazo de suma importncia o conhecimento das vazes das fontes de gua a serem

    utilizadas, para que se possa planejar a atividade com segurana. Deve-se medir a vazopelos menos em duas pocas distintas do ano, inverno e vero.

    Mtodo direto o mtodo mais simples e seguro. Consiste na coleta de toda a gua, atravs de

    uma tubulao, em um recipiente de volume conhecido. Determinando-se o temponecessrio para encher o recipiente tm-se a vazo, em L s-1. Esta medida deve ser feita por

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    vrias vezes, no mnimo trs, calculando-se ento a mdia. Para medir at 3L s-1 utilizarbalde de 15 litros e cronmetro, e at 10 L s'1 viveiro de 80 a 100 litros e cronmetro. Otempo de medio deve ser no mnimo de 5 segundos (CHIOSSI. N. J., 1975).

    Por vertedouroPara vazes maiores, e medidas em crregos, pode-se utilizar vertedouros

    retangulares, de vazo calculada pela frmula Q = 1,85 . W . H3/2 , onde W a largura dasoleira do vertedor e H altura da lmina da gua sobre a soleira. Vertedouros so passagens,aberturas ou entalhes, feitos na parte superior de uma parede atravs das quais o lquidoescoa livremente. Sua principal utilizao na medio da vazo de canalizaes abertas.Podem ser de diversas formas retangulares, triangulares, trapezoidais, etc. Trataremos aquidos vertedouros retangulares.

    5.1.4 Solos e seleo de equipamentos - granulometr iaOs solos empregados na construo de viveiros devem, de preferncia, em sua

    anlise granulomtrica, possuir a maior porcentagem do peso total da amostra, partculas dotamanho de argila e silte, contendo pelo menos 35% de argila e, no mximo, 20 a 30% deareia. Suas principais caractersticas, que interessam na construo de viveiros, so:impermeabilidade, plasticidade e coeso.

    Plasticidade a capacidade que possuem as argilas de se deixarem moldar emdiferentes formas sem variao de volume, dependendo do teor de umidade do solo.

    Como mtodo prtico pode-se comprimir com a mo uma poro de solo at formaruma bola compacta. Se for possvel manipul-la sem que desagregue, e ao ser arremessadaa uma altura de 50 centmetros ela se mantiver coesa, provavelmente contm um teor deargila adequado construo de um viveiro. Se esfarelar, o solo contm muita areia.

    Figura 8: Teste de plasticidade do solo (SILVEIRA, F.S., 1999).Fonte: POLI et al. (2003).

    Outro mtodo consiste em fazer um rolinho com uma amostra umedecida do solo do

    local que se pretende utilizar. Em seguida juntar as duas pontas, fazendo uma "rosquinha",isso indica que o solo tem uma boa quantidade de argila (Figura 8). Caso contrrio,procurar outro local para emprstimo (SILVEIRA, 1999).

    5.1.5 Permeabilidade a propriedade que o solo apresenta de permitir o escoamento da gua ou ar atravs

    dele, sendo o seu grau expresso numericamente pelo coeficiente de permeabilidade (K), quevaria para os diferentes solos e, para um mesmo solo, dependendo essencialmente da

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    temperatura e ndice de vazios. E medida em