Manual de Psicopatologia

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MANUAL DE PSICO PATOLOGIA DIOGO TELLES CORREIA Coordenação:

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Esta obra aborda as principais síndromes e sintomas psiquiátricos a ter em conta para um diagnóstico diferencial com qualidade, permitindo assim a construção de uma história clínica psiquiátrica.

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MANUAL DEPSICOPATOLOGIAMANUAL DE

MANUAL DE PSICO

PATOLOGIAM

ANUAL DE PSICOPATOLOGIA

DIOGO

TELLES CORREIA

PSICOPATOLOGIADIOGO TELLES CORREIACoordenação:

ISBN 978-972-757-955-6

www.lidel.pt

9 789727 579556

13,5 mm17 cm X 24 cm 17 cm X 24 cm

“Pela clareza e rigor científico, esta obra do Prof. Diogo Telles Correia é imprescindível

para a clínica de psiquiatras e psicólogos.”

Daniel Sampaio – Professor Catedrático de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

“Um livro que reúne a informação indispensável a qualquer médico que se queira lançar

na prática da clínica psiquiátrica.”

J. L. Pio Abreu – Professor Associado e Regentede Psiquiatria da Faculdade de Medicina

da Universidade de Coimbra

A obra Manual de Psicopatologia surge no contexto de uma tendência generalizada para mudanças nos sistemas classificativos em saúde mental. Torna-se assim fundamental ter um bom conhecimento das bases que deram origem aos últimos critérios diagnósticos e que podem contribuir para a sua revisão, sendo para isso necessário regressar ao sintoma e às suas raízes históricas.

Elaborado por um grupo de médicos psiquiatras ligados às faculdades de medicina das universidades de Lisboa, do Porto e de Coimbra e aos serviços de psiquiatria do Hospital de Santa Maria em Lisboa, do Hospital de São João no Porto e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, este livro, além de referir os princi-pais elementos históricos que estão na base da psicopatologia, faz uma revisão da semiologia psiquiátrica e dos vários termos utilizados na descrição psicopatológica, ensina a metodologia médica para a construção de uma história clínica psiquiátrica, descreve a história e o estado atual dos sistemas classificativos oficiais em psiquiatria, aborda as principais síndromes psico-orgânicas e os sintomas psiquiátricos na doença médica a ter em conta para um diagnóstico diferencial com qualidade. De modo a facilitar a consolidação de conhecimentos, todos os capítulos incluem perguntas de revisão, sendo as respetivas soluções disponibilizadas no fim do livro.

Esta obra reúne a informação indispensável aos estudantes e, de uma forma geral, a todos os profis-sionais de saúde (médicos, psicólogos, psicotera-peutas, enfermeiros) que trabalham e investigam em saúde mental e àqueles que, não estando diretamente ligados a esta área, queiram dela aproximar-se através de instrumentos rigorosos e ao mesmo tempo acessíveis a um leitor informado.

Diogo Telles CorreiaMédico Especialista em Psiquiatria; Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde é professor de Psiquiatria e de Psicopatologia; Médico do Departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (CHLN, EPE); Consultor do Centro de Transplantação Hepática do Hospital Curry Cabral (CHLN, EPE).

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Índice

Lista de Autores ...................................................................................................... IXAgradecimentos ...................................................................................................... XIPrefácio ................................................................................................................... XIII

José Luís Pio Abreu

Lista de Siglas/Abreviaturas .................................................................................... XV

I. Psicopatologia – passado, presente e futuro .......................................... 1Diogo Telles Correia e Daniel Sampaio

Perguntas de revisão .......................................................................................... 15

II. Semiologia psicopatológica ................................................................... 19Diogo Telles Correia, Diogo Frasquilho Guerreiro e António barbosa

Perguntas de revisão .......................................................................................... 90

III. Entrevista e história psiquiátricas .......................................................... 95 Diogo Telles Correia e Marco Paulino

Perguntas de revisão .......................................................................................... 132

IV. Classificações em psiquiatria ................................................................. 137Cassilda Costa e Rui Coelho

Perguntas de revisão .......................................................................................... 165

V. Psicopatologia na doença orgânica – o diagnóstico diferencial ............. 169Joaquim Cerejeira e Luísa Lagarto

Perguntas de revisão .......................................................................................... 205

Soluções ................................................................................................................. 209

Índice Remissivo ..................................................................................................... 213

Barbosa

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Lista de Autores

COORDENADOR/AUTOR

diogo telles correia

Médico Especialista em Psiquiatria; Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Me-dicina da Universidade de Lisboa, onde é professor de Psiquiatria e de Psicopatologia; Médico do De-partamento de Psiquiatria  do Hospital de Santa Maria (CHLN, EPE); Consultor do Centro de Trans-plantação Hepática do Hospital Curry Cabral (CHLN, EPE). Tem vários livros técnicos publicados, bem como dezenas de artigos em revistas internacionais de relevo.

AUTORES

antónio BarBosa

Médico Especialista em Psiquiatria; Diretor do Centro de Bioética da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Lisboa (FMUL); Coordenador do Núcleo de Psiquiatria de Ligação do Departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (CHLN, EPE); Professor de Psiquiatria da FMUL.

cassilda costa

Médica Especialista em Psiquiatria; Assistente Convidada de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

daniel saMPaio

Médico Especialista em Psiquiatria; Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universida-de de Lisboa.

diogo Frasquilho guerreiro

Médico Interno de Psiquiatria; Assistente de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

JoaquiM cereJeira

Doutorado em Psiquiatria pela da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde é Pro-fessor Livre; Assistente de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE.

luísa lagarto

Interna de Psiquiatria; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE.

Marco Paulino

Médico Psiquiatra; Doutorado em Psiquiatria; Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Lisboa ; Chefe de Serviço do Departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (CHLN, EPE).

rui coelho

Médico Especialista em Psiquiatria; Diretor do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP); Chefe de Serviço de Psiquiatria no Hospital de São João, (CHSJ, EPE). Professor Associado e Agregado de Psiquiatria da FMUP.©

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Doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde é Pro-fessor Livre; Assistente de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE.

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Prefácio

A cirurgia domina, hoje, a medicina, apesar de só ter entrado nos estudos médicos a partir do século XVII. O ponto de viragem deu-se após a publicação de A sede e a causa das doenças demonstradas pela anatomia patológica, por Morgagni, em 1761. A verificação e estudo da evolução das zonas anatómicas submetidas a uma alteração patológica facilitou imenso a tera-pêutica e o estudo das doenças humanas. Assim como a cirurgia se baseava na anatomia, a me-dicina baseava-se na dinâmica do funcionamen-to corporal humano, estudada pela fisiologia, e seus descontrolos patológicos, estudados pela fisiopatologia.Quando a psiquiatria entrou nas escolas médi-cas, já no século XIX, a sua disciplina básica – a psicologia – era ensinada nas escolas de filosofia e mal aceite pelos médicos. Mas, à semelhança dos outros ramos, a psiquiatria necessitava de estudar os seus processos patológicos, de es-tabelecer a sua psicopatologia, digamos assim. Socorreu-se então da anatomia patológica e, mais recentemente, do condicionamento, uma subespecialização da fisiologia. Seria, porém, mais natural que fosse a psicologia a base da nova disciplina, e esse esforço foi feito por The-ódule Ribot, um filósofo positivista (discípulo de Stuart Mill) cofundador e promotor da psicolo-gia, que aconselhava os iniciados na nova disci-plina a estudarem medicina, não com objetivos terapêuticos, mas apenas para melhor conhe-cerem o funcionamento do psiquismo a partir do que era diferente, seguindo a sugestão de Wundt. Foi sob esse desígnio que ele escreveu, entre 1881 e 1885, Les maladies de la mémoire, Les maladies de la personnalité e Les maladies de la volonté. Estes livros, bem como os traba-lhos posteriores dos psicólogos associacionistas, marcaram profundamente, se não a psicopatolo-gia, pelo menos a semiologia psiquiátrica.Já com a sua disciplina reconhecida, mas com pouco que fazer senão acompanhar e observar os seus doentes, os psiquiatras dedicar-se-iam à descrição de diversas doenças e seus sintomas. Mas foi a partir do início do século XX que a nosologia psiquiátrica adquiriu algum consen-

so, sob impulso de Kraepelin, por um lado, e de Freud, por outro. Qualquer destes autores e seus discípulos nos legariam minuciosas des-crições sintomatológicas que, correlacionadas com as histórias clínicas dos doentes, permitiam algumas interpretações psicopatológicas. Elas tornaram-se então abundantes, mas sem uma coerência ou consensualidade que permitisse a fundação de uma disciplina autónoma ligada à patologia psiquiátrica. Foi neste estado de coisas que Karl Jaspers, um médico com sólida forma-ção filosófica, passou pela psiquiatria e nos le-gou a sua Psicopatologia geral.Em muitos aspetos, Jaspers aceitou a visão po-sitivista da semiologia psiquiátrica e trabalhou sobre a quantificação da memória e inteligência, a que chamou rendimentos. Aceitou também a possibilidade de alguns sintomas e doenças se explicarem por modelos ou teorias diversas, reservando a designação de psicopatologia ex-plicativa para esses nexos de causalidade. Mas a sua originalidade foi recorrer às noções filo-sóficas de intencionalidade e significação para estabelecer uma psicopatologia compreensiva, a que se tem atribuído uma raiz fenomenológi-ca, não obstante a distinção entre “explicativa” e “compreensiva” ter sido retirada de Max Weber. A literatura anglo-saxónica, pouco familiarizada com a fenomenologia – aliás desconfiando dela –, traduziu psicopatologia compreensiva por psicopatologia descritiva. Esta diferença semân-tica retirou, porém, muita da riqueza conceptual de Jaspers. Aliás, comprehensive em inglês tem uma conotação de inclusividade, mais próxima do pensamento de Heidegger, mas não de “em-patia”, como indicariam Jaspers e a maior parte dos psicopatologistas alemães, franceses e ibé-ricos. A tradução inglesa mais correta de “com-preensiva” (Verstehen) é understandable.Em boa verdade, e apesar da fundamentação fi-losófica, Jaspers não fez senão explicitar o racio-cínio de cada psiquiatra perante o seu doente. A descrição dos sintomas é decisiva, mas não é tudo. Colocando-se empaticamente no lugar do seu paciente, o psiquiatra também procura des-cobrir nexos de causalidade (motivos) entre vi-

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vências e sintomas (compreensão genética) sem ter de recorrer a teorias explicativas. Por pouco científica ou demasiado filosófica que esta atitu-de possa ser, ela está na base do entendimento humano e tem sido recentemente valorizada por neurocientistas (Timothy Crow), psicólogos (Si-mon Baron-Cohen) e filósofos da mente (John Searle e Daniel Dennett), todos eles insuspei-tos de contaminação fenomenológica. Este é o modo natural pelo qual os humanos lidam entre si, e também a primeira abordagem do psiquia-tra na ânsia de entender a génese das dificulda-des do seu doente, ou seja, a sua psicopatologia. A leitura de Jaspers e dos psicopatologistas clás-sicos do seu tempo está repleta de indicações que muito ajudam este entendimento.Porém, o raciocínio psicopatológico dos psi-quiatras contemporâneos vai muito para além da psicopatologia compreensiva. Os grandes instrumentos terapêuticos são os psicofármacos, pelo que algum raciocínio neuroquímico se tor-na necessário. Além disso, as neurociências, so-bretudo através da imagiologia computorizada, têm fornecido numerosos dados que não se po-dem desprezar no raciocínio psicopatológico. A tarefa é tão complexa que se torna quase impos-sível, mas constitui o grande desafio que hoje se coloca aos psiquiatras informados e competen-tes. Para já, a maior parte dos dados conhecidos são empíricos e carecem de um modelo global que lhes dê coerência. Diversos modelos têm sido propostos, mas não se ligam entre si. A so-lução pode ser optar por um deles, mas teremos então cada psiquiatra a pensar de uma forma diferente, apesar de poderem consensualizar os sintomas, diagnósticos e mesmo terapêuticas e prognósticos, que têm sido estudados empirica-mente. Mas a psicopatologia - o conhecimento da cadeia de acontecimentos relacionais, com-portamentais, cerebrais e neuroquímicos que leva às doenças mentais - está por fazer. Por isso, qualquer reflexão ou discussão que tenha por base a psicopatologia, como é o caso deste livro, é bem-vinda.O primeiro capítulo, a propósito da psicopatolo-gia descritiva (ou compreensiva) é um contribu-to a esta discussão, introduzindo o modelo de Cambridge numa tentativa de abarcar os dados das neurociências. Tratando-se porém de um modelo hipotético, exterior à compreensão, ele não deixa de pertencer à psicopatologia explica-tiva, embora se procure adequar às descrições sintomatológicas. O segundo capítulo trata da

semiologia psiquiátrica, a construção psicopa-tológica que adquiriu maior consensualidade e que é ainda a base do conhecimento psiquiá-trico. O terceiro capítulo, também consensual, ensina a metodologia médica para a colheita dos sintomas e estabelecimento do diagnóstico: a história clínica. Apesar das suas especificida-des, a história clínica, comum a toda a atividade médica, é a marca da ligação da psiquiatria ao modelo médico. O quarto capítulo descreve a história e o estado atual dos sistemas classifica-tivos oficiais em psiquiatria: a DSM e a ICD O último capítulo, a propósito das manifestações psiquiátricas das doenças físicas e orgânicas, aborda diversas explicações para síndromes psi-quiátricas específicas. Esta perspetiva, que be-neficia de minuciosos estudos, é decisiva para a psicopatologia, pois engloba uma das suas partes: como é que o cérebro afeta o comporta-mento. Para completar o arco da psicopatologia falta, porém, a outra parte, que é saber como é que o comportamento afeta o cérebro.Este livro não resolve os arcos de causalidade nem os enigmas da psicopatologia. Nem os po-dia resolver, pois lidamos com uma mente que ninguém consegue esclarecer, aprisionados que estamos numa estrutura conceptual dualista herdada de Descartes. Mas constitui uma base de partida para que lá possamos chegar com da-dos atuais. E é, sobretudo, um livro útil. Aliás, um livro que reúne a informação indispensável a qualquer médico que se queira lançar na prática da clínica psiquiátrica.

José Luís Pio AbreuProfessor Associado e Regente

de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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Capítulo II

Diogo Telles Correia, Diogo Frasquilho Guerreiro e António Barbosa

Semiologia psicopatológica

INTRODUÇÃO

Pretende-se rever, neste capítulo, os vários termos utilizados na descrição psicopatoló-gica, organizando-os e sistematizando-os de forma didática, mantendo sempre o rigor das suas fontes históricas. São acrescentadas Vinhetas Clínicas para exemplificar as alte-rações psicopatológicas e Notas Históricas que explicam os desenvolvimentos concep-tuais dos vários termos ao longo da história (fundamentais para um conhecimento mais aprofundado da psicopatologia).

Uma boa base psicopatológica, com os seus significados atuais mais aceites, mas também a referência a outras interpretações de autor (que em psicopatologia são fre-quentes) e à história da evolução dos con-ceitos, é fundamental para que se preserve a qualidade do exame psicopatológico. Por outro lado, o acesso a este conhecimento permite a comunicação interpares e a cons-trução de uma investigação mais robusta em psiquiatria e psicologia.

Num contexto de uma tendência gene-ralizada para mudanças nos sistemas classi-ficativos em psiquiatria, é fundamental que se tenha um bom conhecimento das bases que deram origem aos atuais critérios diag-nósticos e que podem contribuir para a sua revisão.

CONSCIÊNCIA

A consciência pode definir-se como um estado em que o indivíduo está ciente em relação a si próprio e ao meio que o rodeia. Depende do bom funcionamento das seguintes funções: atenção; memória; orientação; perceção e pensamento.

Podemos afirmar que a pessoa está inconsciente quando não existe uma experi-ência subjetiva de consciência, o que pode acontecer em casos de doença cerebral ou durante o sono. Porém, ela pode estar alte-rada em casos de patologia psiquiátrica ou orgânica.

As perturbações da consciência divi-dem-se em dois grupos: alterações quanti-tativas e qualitativas[1,2].

Alterações quantitativas

DImINUIção

• Obnubilação – Ligeiro grau de sono-lência, com ou sem agitação, dificul-dades de concentração e atenção;

• Sonolência – A pessoa está acor-dada, mas se não existir estimulação externa adormece. Existe lentificação

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psicomotora, diminuição dos reflexos e do tónus muscular;

• Torpor (estupor) – Redução genera-lizada do nível de consciência. Des-perta apenas com estimulação forte;

• Coma – o doente apresenta-se total-mente inconsciente. Em fases ini-ciais pode ser acordado por estímulos intensos ou dolorosos. Nas fases mais profundas não apresenta resposta a qualquer tipo de estimulação.

os quadros de diminuição da consci-ência são, na sua grande maioria, causados por patologia orgânica, sendo fundamental a sua avaliação do ponto de vista médico.

Alterações qualitativas

ESTADo oNIRoIDE (CoNFUSo-oNíRICo)

Estado que se assemelha ao sonho, asso-ciado a patologia orgânica, embora, por vezes, possa ocorrer durante episódios dis-sociativos. ocorre com[3]:

• Aumento do limiar de captação para todos os estímulos;

• Desorientação temporo-espacial, mas não autopsíquica;

• Presença de alucinações visuais (geral-mente pequenos animais – microzo-opsias) associadas a medo ou mesmo terror e, ocasionalmente, alucinações liliputianas (pequenas pessoas) que podem ocorrer associadas ao senti-mento de prazer;

• Incapacidade de distinguir entre as suas imagens mentais e as perceções;

• Variação circadiana (com agravamento das queixas (nomeadamente desorien-tação, agitação e alucinações) à noite;

• Geralmente existe agitação psicomo-tora, insónia, e interpretação do com- portamento dos outros como ameaça - dor;

• Pode também estar presente o deli-rium ocupacional (em que o doente

pensa que está a executar tarefas da sua rotina diária).

Dentro deste tipo de alteração da cons-ciência podem incluir-se:

Delirium ou estado confusional agudo

Síndrome inespecífica caracterizada por per-turbação da consciência, atenção, perceção, pensamento, memória, comportamento psi-comotor, emoção e ciclo sono-vigília. Surge em associação com a diminuição abrupta do nível de consciência com flutuações ao longo do dia (habitualmente com agra-vamento noturno). Associada a patologia orgânica, sendo considerado uma emergên-cia médica (Vinheta Clínica 1).

Delirium tremens

Tipo particular de delirium associado a situ-ações de abstinência alcoólica (desde o pri-meiro ao sétimo dia). Pode estar associado a alucinações visuais (nomeadamente lilipu-tianas, em que o paciente vê pequenas cria-turas ou microzoopsias em que vê peque-nos animais) e sintomas físicos como tremor, taquicardia, hipertensão, febre, hipersudo-rese e desidratação. Também constitui uma emergência médica (Vinheta Clínica 2).

ESTREITAmENTo (oU RESTRIção) DA CoNSCIêNCIA

A consciência está limitada a poucas ideias e atitudes que dominam a mente do doente; existe uma polarização da consci-ência sobre determinada experiência. Pode haver alguma diminuição do nível de cons-ciência, de modo que, em alguns casos, o doente apresenta uma desorientação ligeira (temporal e espacial). ocorrem sobretudo em casos de ansiedade grave, perturbações dissociativas e epilepsia. Um tipo de estrei-tamento da consciência é o estado crepus-cular (ver Nota Histórica 1).

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Capítulo II • Semiologia psicopatológica

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Estado confusional agudo (Delirium)

Homem, 81 anos, viúvo, levado pela família ao serviço de urgência. ■ Antecedentes: hipertensão arterial, dislipidemia e depressão major. medicado com anti-hipertensor, antidislipidémico e antidepressivo inibidor seletivo da recaptação da serotonina.Segundo a família, há três dias o doente apresenta-se agitado, diz “coisas sem nexo”, não dorme à noite e não reconhece os familiares. Estaria autónomo até ao começo dos sinto-mas, vivendo sozinho, tratando da sua alimentação e fazendo as suas compras. ■ Observação: Desorientado no tempo e no espaço, alternando períodos de obnubila-ção com agitação psicomotora e agressividade verbal. Referia estar a ver “pessoas que o queriam matar” – alucinações visuais – e que “estas pessoas queriam ficar com a sua casa” – delírio persecutório. Apresentava valores elevados de tensão arterial e taquicar-dia. Estava febril, apresentava sudorese generalizada e dor a nível lombar. ■ Analiticamente: Leucocitose com neutrofilia, elevação da PCR e da VS. Elevação dos valores de função renal. Exame sumário de urina revelava padrão consistente com infe-ção urinária. Restantes análises sem alterações. ■ Evolução: Foi internado em serviço de medicina Interna com a hipótese de pielonefrite aguda, medicado com antibioterapia EV e haloperidol em SoS. o quadro reverteu pro-gressivamente nos dias seguintes, tendo o doente regressado ao seu funcionamento de base sem qualquer psicopatologia residual.

Vinheta Clínica 1

Delirium tremens

mulher, 60 anos, casada, levada pelo marido ao serviço de urgência. ■ Antecedentes: Depressão major há um ano após situação de desemprego, sem segui-mento ou medicação. Sem outros antecedentes relevantes. ■ Segundo o marido, há um ano “que andava muito em baixo”, recusava fazer tratamento e passava os dias fechada em casa. Este referiu também que a mulher tinha hábitos eta-nólicos desde jovem “bebe muito, especialmente quando está mais ansiosa“; nos últimos anos bebia todos os dias, “começava logo de manhã”, apresentava tremor matinal, sudo-rese noturna e “estava cada vez mais descontrolada e a beber cada vez mais”. o marido diz que quis “por um ponto final” e tirou-lhe todas as bebidas há dois dias. ■ Observação: Desorientada no tempo e no espaço, com agitação psicomotora marcada. Apresentava tremor generalizado e sudorese. Gritava “tirem-me estes bichos de cima” – zoopsias. Apresentava taquicardia marcada e estava apirética. ■ Analiticamente: Elevação dos valores dos marcadores de lesão hepática. Restantes aná-lises sem alterações. Ecografia hepática: Revelou esteatose hepática. ■ Evolução: Foi internada no So do serviço de urgência com a hipótese de “abstinên-cia alcoólica”. À entrada faz crise convulsiva generalizada. Foi medicada com tiamina Im e diazepam em dose elevada. o quadro reverteu progressivamente nos dias seguin-tes, sendo possível reduzir de forma progressiva a dose de diazepam. Foi referenciada às consultas de alcoologia e hepatologia. Saiu medicada com vitaminas do complexo B, antidepressivo e benzodiazepina para regulação do sono.

Vinheta Clínica 2

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Estado crepuscular

observa-se um estreitamento da consci-ência caracterizado por início e fim abrup-tos, duração variável de horas a semanas e ocorrência de explosões de violência não deliberadas, no contexto de um comporta-mento aparentemente normal, ao qual se segue uma amnésia. o doente está geral-mente confuso e perplexo. É comum apre-sentar-se obnubilado, sendo por vezes des-crita a presença de perseveração (repetição automática e frequente de representações verbais e motoras) e automatismos (execu-ção de atos ou movimentos sem interven-ção consciente da vontade). A sua origem é habitualmente atribuída a causas orgânicas, tais como epilepsia temporal, mania a potu (reação patológica ao álcool) mas também associado a perturbações dissociativas[1,3,4] (ver Nota Histórica 1).

ExPANSão DA CoNSCIêNCIA

Experiência subjetiva de estar mais alerta, perceção mais viva, com melhor capa-cidade de memória, maior facilidade de compreensão e atividade intelectual mais intensa. Este quadro pode ocorrer após o consumo de psicoestimulantes ou em casos de mania aguda e, menos frequentemente, na esquizofrenia[2].

ATENÇÃO

A atenção refere-se à orientação da ativi-dade psíquica sobre determinado estímulo, objeto ou evento.

A sua natureza pode ser considerada[1]:

• Ativa ou voluntária – Em que existe o esforço consciente e intencional para dirigi-la para determinado objeto;

• Passiva ou espontânea – Que é susci-tada pelo interesse momentâneo que

um objeto desperta, não existindo aquele esforço consciente.

Existem situações normais em que é possível aumentar a capacidade de atenção como, por exemplo, em situações de ele-vada concentração ou em estados de medi-tação. A hiperprosexia refere-se a esta-dos de atenção exacerbada com tendência incoercível a obstinar-se, a deter-se indefini-damente sobre certos objetos como ocorre nas perturbações obsessivas e na esquizo-frenia paranoide, mas também, transitoria-mente, com a utilização de estimulantes (por exemplo anfetaminas).

A diminuição da atenção (hipoprosexia) e a distractibilidade (instabilidade e mobi-lidade acentuada da atenção voluntária) são consideradas perturbações da atenção ativa. Pode ser um estado não patológico (como no sono, na fadiga, no tédio ou em estados hipnóticos), por outro lado pode ter como etiologia estados orgânicos graves (como traumatismo craniano, intoxicação por álcool ou drogas, epilepsia, hiperten-são intracraniana, entre outros), estar asso-ciada a estados psicogénicos (por exemplo, episódios dissociativos, ansiedade aguda, depressão, mania, hipomania ou psicose) ou fazer parte do quadro de perturbação do défice de atenção.

Poderá também ocorrer estreitamento da atenção em que esta apenas se focaliza em determinado ponto do que é conscien-cializado. Por exemplo, nas psicoses (em que o doente está apenas atento às aluci-nações), em vivências delirantes internas, em certas depressões (com hipertenacidade em temas depressivos) ou em indivíduos sem patologia sujeitos a emoções extremas (medo, dor).

ORIENTAÇÃO

A orientação é a capacidade de se iden-tificar e de se situar adequadamente no

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Capítulo II • Semiologia psicopatológica

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Nota Histórica 1

Estado oniroide Fish inclui dentro da categoria do “estado oniroide”, o delirium e o delirium tremens.

outros autores como Sims descrevem estes estados em categorias distintas ressalvando o facto de ser difícil a sua distinção. Aqui optou-se pela divisão de Fish[3]. Restrição da consciência e dissociação

Gastó (2002) refere que os termos “restrição da consciência” e “perturbação dissocia-tiva” se referem ao mesmo conceito (em que há uma rutura da continuidade do fluxo normal das ideias, pensamento, perceções, entre outros, associados a comportamentos aparentemente normais). Este autor defende ainda que Fish terá preferido o termo “res-trição da consciência” porque o termo “dissociação” sugere a participação de forças dinâmicas inconscientes. Por outro lado, o termo “dissociação” implica “divisão” e pode confundir-se com os processos de excisão real de ambos os hemisférios[4].

Já o DSm-IV conservou o termo “dissociação” definindo-o como uma disfunção das funções normalmente integradas da consciência, memória, identidade ou perceção, e subdividindo as perturbações dissociativas em vários subtipos: amnésia dissociativa, fuga dissociativa, perturbação dissociativa da identidade, perturbação de desperso-nalização; sem outra especificação, no capítulo das perturbações dissociativas[5]. Na CID-10 a dissociação surge no capítulo das perturbações dissociativas (ou conversi-vas), sendo estas definidas como situações em que há uma perda parcial ou completa da integração normal entre as memórias do passado, consciência de identidade e sen-sações imediatas e controlo dos movimentos corporais[6].

Estado crepuscularSegundo Fish (1967), o termo “estado crepuscular”, introduzido por Westphal (1915),

corresponde a um tipo de restrição da consciência e descreve condições nas quais houve uma restrição mórbida da consciência com uma rutura na continuidade da mesma e um comportamento bem organizado. Segundo este autor, o termo tem sido aplicado em qualquer condição em que há uma restrição real ou aparente da consciên-cia, de modo que foram descritos estados crepusculares simples, alucinatórios, perple-xos, excitados, expansivos, psicomotores e orientados. Embora Fish descreva que é na epilepsia que estes estados ocorrem com maior frequência, também podem surgir nou-tras situações como na ansiedade grave, na mania a potu (reação patológica ao álcool) mas também associado a perturbações dissociativas[3]. A CID-10 inclui os estados cre-pusculares sob o título de “perturbações dissociativas (ou conversivas)” e, se estão pre-enchidos critérios para etiologia orgânica, em “perturbações mentais orgânicas”[6]. No DSm-IV não há referência aos estados crepusculares[5].

Sims (2006), limita a definição de estados crepusculares a situações em que há uma interrupção da continuidade da consciência que ocorre em situações orgânicas no con-texto de epilepsia, alcoolismo, traumatismo cerebral, entre outros. É caracterizado por: 1) início e fim abruptos; 2) duração variável de horas a semanas; 3) ocorrência de explo-sões de violência no contexto de um comportamento aparentemente normal[1].

Para Gastó (2002), os estados crepusculares ocorrem em doentes epiléticos corres-pondendo a estados de “ausência” de duração variável, entre cinco e vários dias. o doente geralmente está confuso, perseverativo, lento, perplexo. Não está sonolento, mas também não parece estar totalmente desperto. A perseveração, descrita por Pick como a “repetição automática e frequente de representações verbais e motoras”, pode estar presente. Além dos automatismos também são frequentes os atos impulsivos[4].

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tempo, espaço, na sua situação pessoal e no geral. Há quatro tipos de perturbações da orientação[7,8]:

• Desorientação no tempo – Quando relativa a uma questão de horas será um caso de desorientação ligeira; se a alteração envolve dias, meses ou anos trata-se de uma desorientação mode-rada a severa. Não saber a estação do ano é um quadro de desorienta-ção avançada. Este é o tipo de orien-tação mais precocemente alterada em várias patologias. Pode evidenciar-se também incapacidade de ordenação cronológica de factos e recordações pessoais;

• Desorientação no espaço – Não saber onde se está ou onde vive, bem como a ideia exata da proporção e distribui-ção dos objetos que tem ante si;

• Desorientação autopsíquica – Refere- -se a si próprio. Não sabe o seu nome, idade, estado civil ou a sua biografia pessoal (habitualmente num estádio tardio de processo orgânico);

• Desorientação alopsíquica – Refere- -se ao que está fora de si. Não se aper-cebe de quem são os outros. Inclui também a desorientação no tempo e no espaço.

A desorientação no espaço e no tempo tem, em princípio, etiologia num processo orgânico. Um estado dissociativo pode mimetizar desorientação, mas apresenta características bizarras, por exemplo, maior

desorientação em relação ao próprio que em relação ao tempo e espaço.

MEMÓRIA

As funções mnésicas permitem a capaci-dade de fixar, conservar e rememorar infor-mação, experiências e factos. Podemos falar de várias fases da memória[9,10]:

• Sensorial ou imediata – Com a dura-ção de segundos;

• Primária, recente ou a curto prazo ou de trabalho – Que dura segundos a minutos;

• Secundária, remota ou a longo pra- zo – Prolonga-se desde minutos a décadas.

Podemos também referir-nos a qua-tro tipos de memória, a que correspon-dem estruturas cerebrais diferentes e que têm interesse específico para a semiologia neuropsiquiátrica:

• Semântica – Em que não existe refe-rência ao tempo ou ao espaço (situ-ações de conhecimento geral, mais teóricas, por exemplo, “o mundo é redondo”);

• Episódica, biográfica ou histórica – Referente a experiências do próprio (por exemplo, “hoje de tarde comi uma sanduíche”). A memória auto-biográfica corresponde a eventos da

Nota Histórica 2

Segundo Jaspers, a orientação pode estar alterada em vários tipos de perturbações psicopatológicas: da consciência (obnubilação, confusão), do pensamento (vivência delirante intensa, crendo que estão a “habitar” o lugar/tempo dos seus delírios, às vezes com dupla orientação), da memória (amnésia, sem pontos de referência) ou da afetivi-dade (abulia ou apatia profundos; não se liga aos estímulos ambientais, como em qua-dros depressivos graves)[15].

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manual de Psicopatologia

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Perguntas de Revisão

1. No que se refere às alterações da consciência, assinale a resposta incorreta:

A) A obnubilação é um ligeiro grau de sonolência, com ou sem agitação, dificuldades de concentração e atenção. Faz parte das alterações quantitativas da consciência.

B) o estado oniroide (confuso-onírico) está associado a patologia orgânica, embora por vezes, possa ocorrer durante episódios dissociativos.

C) o estado oniroide (confuso-onírico) inclui o estreitamento da consciência.D) o estado oniroide (confuso-onírico) inclui o delirium.

2. Relativamente à atenção, qual a resposta mais correta:

A) Pode ser ativa ou passiva.B) A diminuição da atenção (hipoprosexia) e a distractibilidade (instabilidade e mobi-

lidade acentuada da atenção voluntária) são consideradas perturbações da atenção ativa.

C) A hiperprosexia refere-se a estados de atenção exacerbada com tendência incoercí-vel a obstinar-se, a deter-se indefinidamente sobre certos objetos.

D) Todas as outras são verdadeiras.

3. No que se refere à orientação, assinale a afirmação incorreta:

A) A desorientação no tempo é o tipo de orientação mais precocemente alterada em várias patologias.

B) A desorientação no espaço é o tipo de orientação mais precocemente alterada em várias patologias.

C) A desorientação autopsíquica surge habitualmente num estádio tardio de processo orgânico.

D) Na desorientação alopsíquica o doente não se apercebe da sua situação e de quem são os outros.

4. Relativamente às paramnésias, é incorreto:

A) Na falsificação retrospetiva existe uma distorção não intencional das memórias de acordo com o estado afetivo (depressão ou mania) ou de funcionamento (personali-dade) atuais.

B) No delírio retrospetivo o doente data o delírio como anterior à doença atual (back-date).

C) As recordações ou memórias delirantes são uma forma de delírio primário.D) As confabulações correspondem à descrição detalhada e falsa de um acontecimento

que alegadamente ocorreu no passado, verificando-se, principalmente na mitomania.

5. No que se refere às falsas perceções, assinale a afirmação incorreta:

A) As ilusões ocorrem quando estímulos vindos a partir de um objeto percebido se com-binam com uma imagem mental, produzindo uma falsa perceção.

B) As pareidolias resultam, sobretudo, da capacidade imaginativa e, ao contrário das restantes ilusões, são extintas pelo aumento da atenção.

C) As alucinações correspondem a falsas perceções que não se desenvolvem a partir da transformação de perceções reais e que ocorrem simultaneamente com as perceções reais.

Page 13: Manual de Psicopatologia

Capítulo II • Semiologia psicopatológica

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D) As alucinações acústico-verbais podem ser caracterizadas quanto à qualidade, con-teúdo, impacto e pessoa.

6. As pseudoalucinações caracterizam-se por. (assinale a resposta incorreta):

A) Serem falsas alucinações, sendo um fenómeno que poderia ser, à primeira vista, con-fundido com uma verdadeira alucinação.

B) Lhes-faltar consistência sensorial. C) Serem sentidas como vindas do interior ou do espaço subjetivo.D) Nunca serem rapidamente reconhecidas como falsas (sem insight).

7. Relativamente às alterações do discurso e linguagem, é incorreto que:

A) Podem ser divididas em orgânicas (mais relacionadas com perturbações orgânicas) e funcionais (relacionadas com alterações psiquiátricas).

B) A disartria é uma dificuldade em articular as palavras, normalmente resultante de paresia, paralisia ou ataxia dos músculos.

C) A gaguez é uma repetição de sílabas, hesitações, bloqueios intermitentes, aspirações com fase clónica/tónica, sendo uma alteração orgânica do discurso e linguagem.

D) o mutacismo é um mutismo deliberado na mania, na simulação ou no doente delirante.

8. No que se refere às alterações do curso do pensamento, assinale a afirmação incorreta:

A) Na fuga de ideias há perda da finalidade do pensamento. B) A fuga de ideias ocorre sempre na presença de pensamento acelerado.C) No pensamento circunstanciado há perda da finalidade do pensamento.D) o pensamento digressivo corresponde a um grau ligeiro de fuga de ideias.

9. Entre as alterações formais do pensamento, assinale a afirmação incorreta:

A) No descarrilamento o pensamento flui para um pensamento subsidiário sem relação com o primeiro.

B) É exemplo de descarrilamento: “vou apanhar o autocarro, vou a casa dos meus pais, o presidente da república controla-me as ideias, as câmaras estão na minha sala”.

C) o descarrilamento surge geralmente associado ao taquipsiquismo.D) No pensamento desagregado estão presentes um grau de descarrilamento e fusão

elevados.

10. Entre as alterações formais do pensamento, assinale a afirmação incorreta:

A) Na fusão existe uma justaposição de conteúdos heterogéneos e incompreensíveis, várias ideias A, B, C são interligadas, havendo também geralmente um afastamento do pensamento principal inicial.

B) É exemplo de fusão: ”os marcianos andam a perseguir-me desde aquele dia na praia. A forma do meu quarto mudou desde que eu tenho estes poderes sobrenaturais e a minha mãe sabe disso. Assim os marcianos vão voltar para me apanhar e aquela praia continua azul, mas os poderes que eu tenho a minha mãe nunca os negou”.

C) A fusão é um termo desenvolvido por Kurt Schneider.D) As alterações formais do pensamento não são específicas mas são características da

esquizofrenia.

Page 14: Manual de Psicopatologia

manual de Psicopatologia

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11. As ideias obsessivas diferem das ideias delirantes sobretudo porque:

A) As primeiras são egossintónicas e existe insight e as segundas egodistónicas e não existe insight.

B) As primeiras são egodistónicas e existe insight e as segundas egossintónicas e não existe insight.

C) As ideias obsessivas são alterações do curso do pensamento.D) As ideias delirantes são alterações da posse do pensamento.

12. As ideias sobrevalorizadas podem ser consideradas (assinale a afirmação incorreta):

A) Ideias erróneas por superestimação afetiva em que o conteúdo do pensamento se centraliza em torno de uma ideia particular, que assume uma tonalidade afetiva acen-tuada e é irracional.

B) Ideias em que existe egossintonia.C) Fazem parte das ideias deliroides de Jaspers.D) São sinónimo de ideias delirantes secundárias.

13. Do delírio primário fazem parte todas as seguintes com a exceção de uma, assinale a incorreta:

A) Humor delirante.B) Perceção delirante.C) ocorrência delirante.D) Falsificação retrospetiva delirante (back-date).

14. A síndrome de Cotard corresponde a:

A) Delírio de negação da pessoa no seu todo.B) Ideias delirantes de não existência de partes da pessoa.C) Conjunto de vários sintomas como ideias delirantes de não existência de toda a pes-

soa ou de partes dela; humor depressivo acompanhado de sintomas de ansiedade graves; ideação suicida; entre outros.

D) Doença delirante do idoso.

15. Relativamente aos possíveis significados de ideia deliroide, assinale a resposta incorreta:

A) Conjunto das ideias delirantes secundárias e das ideias sobrevalorizadas, que se dis-tinguem do delírio primário por serem compreensivelmente derivadas de outro fenó-meno psíquico.

B) Ideias delirantes secundárias a outro processo psíquico, mas com menor convicção que as ideias delirantes secundárias propriamente ditas.

C) Sinónimo de ideias sobrevalorizadas (convicções acentuadas por um estado afetivo muito forte compreensível tendo em conta a personalidade do doente).

D) Pode ter vários significados consoante os autores.

16. No transitivismo, todas as afirmações são verdadeiras, exceto:

A) o doente projeta para o exterior o que se passa nele.B) o doente atribui os seus comportamentos a objetos e pessoas circundantes. Pode

ocorrer na esquizofrenia.C) Corresponde, por exemplo: “doente grita e diz que alguém à sua volta está a gritar”.D) Geralmente ocorre na depressão.

Page 15: Manual de Psicopatologia

Soluções

CAPÍTULO I

1. B) Os sintomas psiquiátricos são construc‑tos teóricos criados em resultado de uma convergência entre um comportamento, um termo, e um conceito.

2. B) Conjunto sistemático de princípios gerais, enunciados descritivos e regras de aplica‑ção, cuja função é a descrição e captura de aspetos do comportamento que se assu‑mem resultar de uma disfunção psíquica ou orgânica.

3. D) A psicopatologia descritiva estuda ape‑nas os sintomas psiquiátricos dos doentes.

4. D) Os modelos de continuidade e descon‑tinuidade, bem como o uso da psicometria surgem apenas em meados do século XX.

5. C) Vários autores sublinham que a única coisa em comum entre a fenomenolo‑gia de Jaspers e a de Husserl é serem um método puramente descritivo e sem inten‑ção explicativa.

6. D) A empatia que corresponde a um instru‑mento clínico que permite avaliar as mani‑festações objetivas da mente.

7. C) Sinónimo de psicopatologia.8. D) A ideia deliroide é um fenómeno pri‑

mário.9. B) A psicopatologia pode ser uma mais‑valia

no conhecimento de um psiquiatra mas não é fundamental para a sua prática clínica.

10. D) Um dos motivos para os resultados da investigação neurobiológica em psiquiatria serem escassos pode dever‑se a uma insufi‑ciência de métodos imagiológicos.

11. B) A psicopatologia atual é completamente diferente do que era na sua origem no século XIX.

12. D) Nunca pode haver um bypass a nível da barreira da consciência manifestando‑se os sinais cerebrais diretamente através compor‑tamentos reconhecidos como sintomas.

13. B) É 100% fiel e nada crítico em relação à obra de Jaspers e tudo o que ela trouxe à psicopatologia.

14. D) A ideia delirante corresponde à forma e a perceção delirante ao conteúdo.

15. D) A compreensão genética é compreender um fenómeno com base na base genética do indivíduo.

16. A) O DSM e a CID podem e devem ser utili‑zados como glossários psicopatológicos.

17. A) As necessidades da psiquiatria atual estão perfeitamente colmatadas pelos métodos psicopatológicos de hoje, não sendo funda‑mental investigação nesta área.

18. B) O estudo da história da psicopatologia é sobretudo fundamental para a análise polí‑tica dos aspetos sociais da psiquiatria.

19. A) A psicopatologia geral está na continui‑dade dos dados obtidos até ao momento, orientando‑se neles, podendo servir de base para novas evidências – seja no sentido da contradição ou da construção e avanço.

20. A) É um método empírico que foca dados subjetivos.

CAPÍTULO II

1. C) O Estado oniróide (confuso‑onírico) inclui o estreitamento da consciência.

2. D) Todas as outras são verdadeiras.3. B) A desorientação no espaço é o tipo de

orientação mais precocemente alterada em várias patologias.

4. D) As confabulações correspondem à des‑crição detalhada e falsa de um aconte‑cimento que alegadamente ocorreu no passado, ocorrendo principalmente na mitomania.

5. B) As pareidolias resultam sobretudo da capacidade imaginativa e ao contrário das restantes ilusões são extintas pelo aumento da atenção.

6. D) Nunca são rapidamente reconhecidas como falsas (sem insight).

7. C) A gaguez é uma repetição de silabas, hesitações, bloqueios intermitentes, aspira‑ções com fase clónica/ tónica, sendo uma alteração orgânica do discurso e linguagem.

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MANUAL DEPSICOPATOLOGIAMANUAL DE

MANUAL DE PSICO

PATOLOGIAM

ANUAL DE PSICOPATOLOGIA

DIOGO

TELLES CORREIA

PSICOPATOLOGIADIOGO TELLES CORREIACoordenação:

ISBN 978-972-757-955-6

www.lidel.pt

9 789727 579556

13,5 mm17 cm X 24 cm 17 cm X 24 cm

“Pela clareza e rigor científico, esta obra do Prof. Diogo Telles Correia é imprescindível

para a clínica de psiquiatras e psicólogos.”

Daniel Sampaio – Professor Catedrático de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

“Um livro que reúne a informação indispensável a qualquer médico que se queira lançar

na prática da clínica psiquiátrica.”

J. L. Pio Abreu – Professor Associado e Regentede Psiquiatria da Faculdade de Medicina

da Universidade de Coimbra

A obra Manual de Psicopatologia surge no contexto de uma tendência generalizada para mudanças nos sistemas classificativos em saúde mental. Torna-se assim fundamental ter um bom conhecimento das bases que deram origem aos últimos critérios diagnósticos e que podem contribuir para a sua revisão, sendo para isso necessário regressar ao sintoma e às suas raízes históricas.

Elaborado por um grupo de médicos psiquiatras ligados às faculdades de medicina das universidades de Lisboa, do Porto e de Coimbra e aos serviços de psiquiatria do Hospital de Santa Maria em Lisboa, do Hospital de São João no Porto e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, este livro, além de referir os princi-pais elementos históricos que estão na base da psicopatologia, faz uma revisão da semiologia psiquiátrica e dos vários termos utilizados na descrição psicopatológica, ensina a metodologia médica para a construção de uma história clínica psiquiátrica, descreve a história e o estado atual dos sistemas classificativos oficiais em psiquiatria, aborda as principais síndromes psico-orgânicas e os sintomas psiquiátricos na doença médica a ter em conta para um diagnóstico diferencial com qualidade. De modo a facilitar a consolidação de conhecimentos, todos os capítulos incluem perguntas de revisão, sendo as respetivas soluções disponibilizadas no fim do livro.

Esta obra reúne a informação indispensável aos estudantes e, de uma forma geral, a todos os profis-sionais de saúde (médicos, psicólogos, psicotera-peutas, enfermeiros) que trabalham e investigam em saúde mental e àqueles que, não estando diretamente ligados a esta área, queiram dela aproximar-se através de instrumentos rigorosos e ao mesmo tempo acessíveis a um leitor informado.

Diogo Telles CorreiaMédico Especialista em Psiquiatria; Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde é professor de Psiquiatria e de Psicopatologia; Médico do Departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (CHLN, EPE); Consultor do Centro de Transplantação Hepática do Hospital Curry Cabral (CHLN, EPE).

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