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ESTUDO ESTRATGICO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO

ESTUDO ESTRATGICO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO

direitos reservados AIMMP - ASSOCIAO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO DE PORTUGAL Rua lvares Cabral, 281 4050-041 Porto - Portugal Tel: +351 22 33 94 200 Fax: + 351 22 33 94 210 Url: www.aimmp.pt Email: [email protected]

ttulo ESTUDO ESTRATGICO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO

editor AIMMP - ASSOCIAO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO DE PORTUGAL

autores EGP - Escola de Gesto do Porto

capa, composio e arranjo grfico AIMMP - ASSOCIAO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO DE PORTUGAL - Pedro Teixeira

impresso e acabamento Tecniforma Print Dep. Legal n.

A fotocpia o uso abusivo e colectivo da obra, sem a autorizao expressa dos autores e editores. Largamente difundida, a fotocpia ameaa a vida do livro, pondo em risco o seu equilbrio econmico e privando os seus autores da justa remunerao. Por isto, proibida toda a reproduo, parcial ou total, deste manual

ESTUDO ESTRATGICO DAS INDSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIRIO

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sumrio executivo 1. Introduo um antecedente importante: o PrAsD trabalho j realizado em benefcio da indstria portuguesa de mobilirio de madeira objectivos da realizao deste estudo estratgico estrutura deste relatrio 2. A indstria de mobilirio de madeira em portugal e na regio norte de portugal Breve caracterizao da indstria de mobilirio de madeira evoluo recente da indstria de mobilirio de madeira um problema srio em matria de informao estatstica continuando, em matria de evoluo recente A indstria de mobilirio na regio norte de portugal caracterizao internacional da indstria de mobilirio Produtividade na indstria de mobilirio condicionantes de desenvolvimento tendncias para a indstria de mobilirio 3. A questo da inovao Inovao e territrio; dificuldades de portugal em matria de inovao conceitos de inovao A inovao e os seus riscos Dimenses da inovao Factores que afectam a inovao sistemas de inovao e clusters inovao, redes e desenvolvimento territorial As regies e os desafios do conhecimento em sntese Dificuldades de portugal em matria de inovao A indstria portuguesa de mobilirio de madeira e a inovao concluses obtidas atravs da conduo de entrevistas

9 15 18 22 23 27 31 33 35 36 38 41 43 46 49 48 53 55 56 57 58 60 61 63 64 65 66 71 72

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concluses obtidas por aplicao de um questionrio s empresas 4. Inovao e centros de I&D 5. Necessidade de construo de uma base de dados sobre inovao, em benefcio do sector 6. Estratgia de inovao para a indstria de mobilirio de madeira na regio norte de portugal Destinatrios e riscos do exerccio Princpio de segmentao um programa de interveno, capaz de potenciar a capacidade de inovao da imm no norte de portugal outras aces recomendveis, j fora do mbito de um programa de polticas pblicas ANExo I caracterizao da indstria de mobilirio de madeira 1. A indstria de mobilirio de madeira 2. estudos realizados sobre a indstria de mobilirio de madeira 3. evoluo recente da indstria de mobilirio de madeira 4. estrutura produtiva e tecnologias 5. os recursos humanos na indstria de mobilirio 6. Produtos da indstria de mobilirio 7. o comrcio internacional de mobilirio 8. A indstria de mobilirio na regio norte de portugal 9. caracterizao internacional da indstria de mobilirio 10. Produtividade na indstria de mobilirio 11. condicionantes de desenvolvimento 12. tendncias para a indstria de mobilirio Anexo II - a regio norte de portugal e a inovao | inovao, pme e territrio introduo conceito de inovao A inovao e os seus riscos Dimenses da inovao Factores que afectam a inovao

79 127 135 141 143 144 147 157 161 163 165 181 185 187 192 194 217 219 223 224 226 229 231 232 234 237 242

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sistemas de inovao e clusters inovao, redes e desenvolvimento territorial As regies e os desafios do conhecimento Concluses Bibliografia Anexo III questionrio utilizado Ficha tcnica Template utilizado

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SUMRIO EXECUTIVO

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Caracterizao e Evoluo Recentecomo em todo o mundo, a indstria portuguesa de mobilirio de madeira surge-nos como uma indstria extremamente fragmentada: de acordo com a informao normalmente utilizada, ser hoje constituda por 2400 empresas, com cerca de 34000 trabalhadores (5% do emprego na indstria transformadora e 60% do emprego na fileira da madeira), com um volume de vendas ligeiramente inferior a 1,3 mil milhes de euros. As vendas por empresa pouco ultrapassam os 500 mil euros/ano. como generalizadamente conhecido, esta indstria caracteriza-se tambm, em Portugal, por um elevado nvel de concentrao geogrfica. Encontram-se na Regio Norte do Pas 68% das empresas de mobilirio de madeira portuguesas, a que correspondem 60% do volume de negcios do sector (como habitualmente, uma dimenso inferior mdia nacional). 90% deste total (61% do total nacional) encontra-se no Distrito do Porto, leia-se, na prtica, nos concelhos de Paredes e de Paos de Ferreira. um segundo plo, localizado predominantemente na zona de Pataias, em Leiria, caracteriza-se por empresas de dimenso um pouco superior. Apesar desta imagem de fragmentao, h que reconhecer o caminho percorrido nos ltimos anos. De acordo com a mesma informao, em apenas sete anos, entre 1998 e 2005 (ano a que respeitam os ltimos resultados conhecidos), o nmero de empresas reduziu-se em cerca de um tero (de 3676 para as 2400 atrs referidas), enquanto o emprego no ter cado mais do que uns 15% (de 40950 para os 34000 atrs referidos), com manuteno do volume de facturao global. em resultado deste sentido de evoluo, as vendas por trabalhador subiram mais de 25% apresentando-se, mesmo assim, a um nvel (38 mil Euros/ano) que no chega a representar 50% da mdia da Unio Europeia (80 mil Euros/ano), sendo da mesma ordem de grandeza (cerca de 50%) o gap em relao produtividade mdia da indstria transformadora portuguesa. um outro resultado representativo da evoluo observada seria o comportamento das exportaes que, no mesmo perodo de sete anos, teriam subido de cerca de 10% para mais de 50% da produo global do sector.

Um Problema Srio em Matria de Informao Estatsticaos nmeros e os resultados atrs referidos resultam do processamento de uma informao estatstica h muito em uso no sector (e que teremos de continuar a utilizar, sob pena de perda de todo o comparativo histrico), cuja utilizao obriga, no entanto, a alguns cuidados. Referimo-nos, concretamente, ao facto de, nas estatsticas oficiais, a produo de mobilirio se encontrar numa rubrica que inclui a produo de outras indstrias transformadoras no especificadas e, sobretudo, elevada probabilidade de, no que tem sido tradicionalmente

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entendido como produo de mobilirio, poder estar includa a produo de mobilirio metlico, que nada tem a ver com a indstria de mobilirio de madeira de que se ocupa este trabalho. A questo, da maior importncia para a anlise do sector e para a avaliao da sua evoluo e do seu desempenho, foi sobretudo suscitada pelo aumento das exportaes para cujo valor actual contribui em mais de 70% uma sub-rubrica (fabricao de cadeiras e assentos) em que h srias razes para admitir que se encontre sobretudo contabilizada a produo e exportao de componentes para a indstria automvel. se, por razes de prudncia, excluirmos este subsector, os nmeros conhecero alteraes muito significativas. A produo de mobilirio de madeira propriamente dito descer para os 601 milhes de euros/ano, com implicaes no inteiramente controladas, mas que se presume sejam de baixa, porventura considervel, em matria de facturao por empresa e de produtividade do trabalho. As exportaes descero para os 163 milhes de euros/ ano 27% da produo do sector, muito abaixo dos mais de 50% atrs referidos (mas configurando uma evoluo ainda assim considervel, por comparao com os cerca de 10% prevalecentes sete anos atrs).

Resultados Animadores e um Contexto Pouco FavorvelPor maiores que sejam as dvidas suscitadas por estes nmeros, e por mais que se esteja consciente de que o aumento das exportaes e a progressiva orientao para o mercado externo constituem o resultado de um movimento protagonizado por um nmero muito reduzido de empresas de maior dimenso, e a preos que estaro longe de assegurar a necessria rentabilidade, trata-se de uma evoluo surpreendente, e considervel, que diz muito sobre a capacidade de sobrevivncia das empresas da indstria portuguesa de mobilirio de madeira. O contexto afigura-se, no entanto, pouco favorvel. Com o mercado interno em retraco (decrscimo acentuado da construo de habitao e estagnao do consumo privado), a oportunidade parece residir, cada vez mais, na exportao. Por maioria de razo se considerarmos a entrada em fora no mercado interno do que poderamos designar de grande distribuio organizada de mobilirio de madeira, protagonizada pela chegada de empresas nacionais e mesmo globais, de referncia escala mundial. A indstria portuguesa de mobilirio de madeira deixou de ser a que se caracteriza pela relativa amenidade do mercado interno, protegido da concorrncia externa. A hora de uma concorrncia cada vez mais intensa, que no deixa margem nem para amadorismo, nem para ineficincia. Exige-se organizao, estratgia, produtividade, numa palavra, inovao.

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Um Modo Prprio de Inovar tambm o caminho percorrido, nestes aspectos, meritrio. As empresas portuguesas de mobilirio de madeira inovaram: a seu modo, mas inovaram (nos equipamentos que adquiriram, muito por fora dos sistemas de incentivos indstria existentes nos ltimos anos; nos produtos que passaram a fabricar; nos materiais que passaram a utilizar; no recurso crescente a designers, alguns dos quais vindos de pases estrangeiros). reconhecem, no entanto, que, tambm neste domnio, h ainda um longo caminho a percorrer: insistem sobretudo na necessidade de pessoas mais qualificadas, apontando como reas crticas a gesto, a tecnologia, o marketing e o design. reconhecem o trabalho desempenhado pelo Centro de Formao Profissional do sector mas exigem a passagem a um outro patamar, que caracterizam como universitrio ou de muito maior intensidade tecnolgica.foto ADAM BENTON 2006

de costas voltadas para o Sistema Cientfico e Tecnolgicoo inqurito e as entrevistas realizadas revelaram um outro aspecto da maior importncia: a evoluo observada fez-se de costas absolutamente voltadas para as componentes mais qualificadas do que se entende normalmente por um sistema de inovao: as Universidades e os centros de investigao e desenvolvimento. As empresas no confiam neste mundo, que no entendem e com quem nem sequer conseguem dialogar. os resultados do inqurito realizado no poderiam ter sido, a este respeito, mais esclarecedores: no que se refere aos organismos de i&D, s 6% das empresas inquiridas considera que so activos e que representam um papel preponderante na inovao no sector; mesmo num patamar de exigncia mais baixo, relativo no j inovao mas dis-

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seminao de prticas inovadoras, 76% das empresas declara que os centros de i&D portugueses so ineficazes; 87% das empresas declara ter uma relao mnima ou pura e simplesmente inexistente coma as universidades; s 2% das empresas referiu as universidades e os centros tecnolgicos como fontes de inovao.

A par de outras, sobretudo por esta razo, e por um nvel tambm muito baixo de cooperao entre as empresas do sector, inclusive em matria de relaes econmicas convencionais (baixo nvel de especializao; incipincia da rede de subcontratao) que o caminho percorrido se afasta dos cnones do processo de modernizao de uma indstria com to intensa concentrao territorial. o cluster no fechou, estando ainda muito longe de poder considerar-se constitudo.

o Futuro do Sectoro trabalho conclui, como era pretendido, com a formulao de uma proposta de actuao, dirigida tanto s empresas como s entidades com interveno pblica no sector, nomeadamente aos responsveis pelo QREN Quadro de Referncia Estratgico Nacional para o perodo 2007/2013 (IV Quadro Comunitrio de Apoio a Portugal). espera-se que possa cumprir-se, com a aprovao e a implementao do programa de interveno preconizado, umas das recomendaes do PrAsD Programa de recuperao de reas e Sectores Deprimidos, em finais de 2003. Recomendava-se ento, tendo sido aprovado pelo Governo Portugus uma aco de ndole marcadamente voluntarista dirigida indstria do mobilirio, uma das trs medidas propostas para tentar revitalizar uma das reas mais deprimidas do Pas, o tmega, onde vivem mais de 550 mil pessoas. A configurao do programa preconizado, dirigido, como se referiu, tanto s empresas como Administrao Pblica com interveno no sector, decorre do atrs referido e das implicaes estratgicas que permitiu retirar: d prioridade penetrao nos mercados externos (a oportunidade) preconizando um sistema de incentivos semelhante ao j utilizado, com xito, noutros sectores da indstria portuguesa ditos tradicionais; configura medidas para a reduo do gap de produtividade (a maior das debilidades), sobretudo dentro da fbrica, onde a aquisio dos equipamentos no foi acompanhada, at agora, de todas as outras aces indispensveis ao pleno aproveitamento do potencial destes equipamentos (aquisio e desenvolvimento de software, desenho de layouts industriais, etc.);

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pe toda a nfase na formao das pessoas, tanto na formao avanada (empresrios e quadros superiores) como na formao dos colaboradores em geral. Gesto, tecnologia, marketing e design surgem, naturalmente, como as competncias a desenvolver, de forma privilegiada; incentiva a injeco de competncias nas empresas do sector, tanto atravs da contratao de jovens vindos do sistema de ensino superior como de um sistema de bolsas para frequncia de centros de competncia no exterior. espera-se, desta injeco de competncias, a criao das condies, inclusive culturais, para um dilogo mais profcuo com o mundo da i&D; preconiza um sistema de apoios, de ndole predominantemente fiscal, celebrao de contratos de i&D com os centros de competncia nacionais e estrangeiros (medida que, naturalmente, se oferece apenas ao reduzido nmero de empresas que acredita neste caminho de modernizao, esperando contribuir para aumentar o nmero destas empresas); preconiza, no plano financeiro, uma interveno de capital de risco pblico (para resolver problemas de reestruturao financeira e para potenciar operaes mais pesadas e de maior nvel de exigncia, como sejam operaes de expanso e operaes de fuso e aquisio). Tendo por destinatrias a generalidade das empresas, e a generalidade das operaes, preconiza-se uma linha de interveno que potencie a capacidade de interveno do sistema de Garantia mtua em benefcio do sector;

foto ePocA GoLD

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suporta-se, em princpio, a orientao que venha a ser recomendada em resultado do estudo mandado efectuar pelas entidades empenhadas na recuperao do centro tecnolgico do sector.

conscientes de que, para concretizao de quase tudo o atrs preconizado, indispensvel a existncia de informao, e que esta informao flua, preconiza-se, no a criao de uma base de dados convencional (uma espcie de pginas amarelas oferecidas aos consumidores de inovao na indstria portuguesa de mobilirio de madeira) mas a criao de um mercado o mais eficiente possvel, em que quem procura inovao possa induzir o aparecimento da oferta de que tem necessidade. o portal e o motor de busca em preparao pela cotec Portugal, prestes a serem apresentados publicamente, surgem, a este respeito, como o instrumento mais recomendvel, cuja utilizao pelas empresas do sector deveria ser vivamente recomendada.

INTRODUO

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Se exceptuarmos a cortia (um produto especfico e absolutamente distintivo), a floresta portuguesa constitui ponto de partida para um conjunto de actividades industriais normalmente distribudas em trs grandes grupos: indstria da pasta e do papel; indstria dos painis, tambm dita dos aglomerados; indstrias da madeira e do mobilirio, um conjunto de actividades diversificadas, todas de algum modo relacionadas com a utilizao da madeira, desde actividades muito a montante (secagem e primeira transformao: serrao) at aplicaes quase sempre de algum modo relacionadas com a construo de edifcios (carpintaria) e com a utilizao mais comum e mais universal destes edifcios, a habitao (mobilirio). Acresceria, j com peso muito inferior, uma actividade de produo de embalagens de madeira.

assim com toda a floresta, em qualquer parte do Mundo, se exceptuarmos as actividades de produo florestal propriamente ditas (normalmente levadas at ao corte e primeiro empilhamento, no local do corte), actividades menos industriais (de fruio da floresta em si, como o lazer e o turismo) e actividades novas (como designadamente o caso da produo de energia atravs da biomassa). voltando s trs grandes utilizaes atrs referidas, elas podem encontrar-se mais ou menos desenvolvidas. Duas delas (a pasta de papel e os aglomerados) so indstrias capital-intensivas, podendo sem dificuldade ser includas no que poderamos designar de grande indstria: pelos investimentos que exigem, pelos factores de escala necessrios rentabilizao destes investimentos, seja em termos de produo seja em termos de mercados, pelo nmero de pessoas que empregam (ou que empregavam) e pelas exigncias de organizao e gesto. Podem estar mais ou menos presentes e, em muitos pases, no o esto, de facto, seja por razes naturais (ligadas quantidade e qualidade da matria prima disponvel), seja por razes de localizao e acessibilidade aos grandes mercados, seja por eventuais dfices de capital e de capacidade empresarial. O que arriscaramos afirmar que no dever faltar em nenhum pas do Mundo o terceiro grupo de indstrias atrs referido, de algum modo relacionadas com um recurso natural bsico (a madeira) e com utilizaes to bsicas e to universais como a construo e a habitao da casa. Pela prpria natureza das coisas, de esperar que se trate de um conjunto de actividades dispersas e muito fragmentadas, levadas a cabo por um grande nmero de empresas (na maior parte dos casos, melhor diramos artesos), com mercados predominantemente locais e com nveis de qualificao que, pelo menos nas afloraes mais tradicionais, no devero ser muito elevados; as barreiras entrada afiguram-se muito reduzidas, com consequentes implicaes em termos de organizao. assim tambm em Portugal. se nos restringirmos ao sub-sector do mobilirio de madeira (de longe o mais importante neste terceiro grupo de indstrias), depois de um percurso de racionalizao e de reconverso extremamente rpido, subsistiro hoje (em 2005, ano a que se refere a ltima informao disponvel) cerca de 2400 empresas, com cerca de 34000 trabalhadores (5%

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do emprego na indstria transformadora e 60% do emprego na fileira da madeira), com um volume de vendas ligeiramente inferior a 1,3 mil milhes de euros (mais rigorosamente, 1,297 milhes de Euros). As vendas por empresa no chegam aos 550 mil Euros/ano (apesar de terem aumentado cerca de 60% nos ltimos sete anos). As vendas por trabalhador (uma primeira aproximao a uma medida mais rigorosa de produtividade) rondam os 38 mil Euros/ano (tendo subido cerca de 25% no mesmo perodo de sete anos). Para se ter uma ideia do grau de atraso neste processo de racionalizao e de reconverso, apesar do caminho percorrido nos ltimos anos, pode reter-se que na unio europeia, na indstria do mobilirio de madeira, as vendas por trabalhador ascendem, em mdia, aos 80 mil euros/ano (continuando a indstria a caracterizar-se, como referimos, por nveis elevadssimos de disperso e de fragmentao); da mesma ordem de grandeza (cerca de 50%) o gap em relao produtividade mdia da indstria transformadora portuguesa. Por razes aqui fora de questo, esta indstria veio, em Portugal, a concentrar-se muitssimo do ponto de vista da sua localizao espacial: numa NUT II (Regio Norte), numa NUT III dentro daquela NUT II (Tmega), num Agrupamento de Concelhos dentro desta NUT III (Vale do Sousa), em dois concelhos dentro deste Agrupamento (leia-se Paredes e Paos de Ferreira). Encontram-se na Regio Norte do Pas 68% das empresas de mobilirio de madeira portuguesas, a que correspondem 60% do volume de negcios do sector (como habitualmente, uma dimenso inferior mdia nacional). 90% deste total (62% do total nacional) encontra-se no Distrito do Porto, leia-se, na prtica, nos concelhos de Paredes e de Paos de Ferreira.

UM ANTECEDENTE IMPoRTANTE: o PRASDAs questes decorrentes deste estado de coisas e desta concentrao j haviam sido identificadas e de algum modo abordadas no PrAsD Programa de recuperao de reas e sectores Deprimidos, cuja elaborao havia sido determinada por resoluo do conselho de ministros do Governo da Repblica Portuguesa com data de 20 de Fevereiro de 2003, ficando o seu acompanhamento a cargo de dois ministrios em particular: ministrio da economia e ministrio da segurana social e do trabalho. Permitimo-nos recordar as concluses e recomendaes mais incisivas deste trabalho, apresentadas no final de 2003, no que ao sector e regio diz respeito. Em matria de diagnstico: J referido como uma das NUTS III de mais baixo nvel de desenvolvimento em todo o Continente, o tmega apresenta-se dividido em dois agrupamentos de concelhos (vale do sousa e Baixo Tmega) entre os quais se observam diferenas considerveis sendo a situao mais desfavorvel no Baixo tmega ligeiramente mais favorvel a situao do agrupamento de concelhos do vale do sousa, mais industrializados, com ndices de Poder de compra per-capita entre os 49,5 de Lousada e os 61 de Paos de Ferreira, passando pelos 52,9 de Castelo de Paiva, pelos 55,8 de Penafiel, pelos 56,5 de Paredes e pelos 60 de Felgueiras (representando 100 a mdia nacional).

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No conjunto, o Tmega tem uma populao de 551 mil habitantes, com um dos ndices de Poder de Compra per-capita mais baixos do Pas (53,6), com uma das percentagens mais elevadas de populao activa na agricultura (14,7%, com maior incidncia relativa nos concelhos do Baixo Tmega), com uma das taxas de urbanizao mais baixas do Pas (7%) e com apenas trs povoaes com mais de dez mil habitantes (Amarante, Felgueiras e Paredes). Mantm, mesmo assim, uma elevada taxa de crescimento demogrfico (8,3% entre 1991 e 2001) Do ponto de vista da actividade produtiva, o tmega continua a ter como actividade mais relevante em termos de emprego a agricultura Todas as outras actividades identificadas como relevantes em termos de emprego so criadoras de postos de trabalho lquidos, destacando-se, em termos de representatividade, para alm da construo (como em quase todo o Pas), os trs sectores industriais que correspondem a clusters bem identificados, todos eles no Vale do Sousa: indstria do vesturio (com uma aglomerao significativa em Lousada), indstria do calado e dos artigos de couro em geral (concentrada em Felgueiras) e indstria do mobilirio (concentrada em Paredes e Paos de Ferreira). com diferentes cambiantes, o vale do sousa (castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paos de Ferreira, Paredes e Penafiel) apresenta-se como um espao com um nvel de industrializao elevado, decorrente da presena de trs clusters industriais com predomnio de actividades trabalho intensivas e de pequenas e mdias empresas. com um quociente de localizao elevadssimo (7,2) o Tmega a regio do Pas com maior predomnio da indstria do mobilirio e afins (com Paos de Ferreira a reivindicar para si o estatuto de capital do mvel). No que se refere ao calado (quociente de localizao tambm muito elevado, 6,2), o Tmega conserva um dos dois centros produtivos mais importantes do Pas (Felgueiras, a par do plo localizado em so Joo da Madeira e Oliveira de Azemis). menor a importncia relativa da indstria de confeces, ainda assim com um quociente de localizao de 3,3. trata-se, claramente, de um quadro de especializao muito marcada em actividades de baixo potencial de crescimento e de baixo valor acrescentado, nas quais, no entanto, a regio revelou acentuada capacidade de multiplicao de unidades produtivas. com a deteriorao da conjuntura, e com o acentuar das dificuldades competitivas dos dois sectores de actividade mais expostos ao mercado global (confeces e calado), a taxa de desemprego na regio, que se situava estruturalmente abaixo da mdia nacional, subiu de forma considervel, sendo hoje superior mdia nacional. como seria de esperar, os concelhos mais industrializados lideram o crescimento do desemprego. Em matria de vocaes, recursos especficos, vantagens relativas: Parece impossvel fugir, no tmega, importncia de dois dos trs clusters industriais a instalados: o calado (um dos dois grandes plos da indstria do calado portuguesa encontra-se no Tmega) e a madeira e mobilirio (sobretudo no que se refere indstria do mobilirio, o Tmega ocupa uma posio absolutamente hegemnica no panorama industrial portugus). Se procuramos mnimos de dimenso, de massa crtica e de potencial de afirmao em sectores transaccionveis, estes dois sectores parecem incontornveis. A sua posio de partida , no

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entanto, bastante diferente. o sector do calado portugus conheceu uma evoluo considervel nos ltimos anos, caracterizada pelo crescimento do emprego, da produo e das exportaes, sendo hoje o 3 maior exportador europeu e o 7 maior exportador mundial. Algumas empresas portuguesas seguiram um caminho de intensificao tecnolgica e outras deram passos importantes no sentido de abarcarem os segmentos a jusante na cadeia de valor, criando redes de distribuio e aproximandose do cliente final (embora, deva reconhecer-se, este processo esteja mais atrasado). O sector do calado dispe de um centro tecnolgico bem sucedido, com elevado nvel de integrao tanto com a indstria como com o sistema cientfico e tecnolgico, e encontra na sua associao sectorial, a APiccAPs, um centro de racionalidade importante. igualmente patente, porventura por maioria de razo, a vocao do tmega para as indstrias da madeira e, sobretudo, do mobilirio, num quadro caracterizado, a um tempo, por um contexto mais favorvel e por maior debilidade. Advm, o contexto mais favorvel, do menor grau de exposio deste sector ao processo de globalizao, pelo menos at ao momento. Com maior dificuldade em chegar a mercados alargados do que as indstrias txtil e de confeco, ou a indstria do calado, a indstria da madeira est tambm, por isso, mais abrigada, dispondo de mais tempo para a sua reorganizao. o quadro , infelizmente, menos favorvel se atentarmos no reduzido grau de consolidao das unidades empresariais existentes (o sector caracteriza-se por enorme fragmentao, existindo no tmega apenas 14 empresas nas reas do fabrico e comercializao de madeiras e mobilirio com um volume de vendas anual superior a 5 milhes de Euros), na fragilidade do centro tecnolgico (sediado no Tmega), na dificuldade de encontrar uma liderana e uma interlocuo organizada para o sector. Por mais elevada que parea a vocao e a prpria potencialidade, por mais eficaz que possa revelar-se o voluntarismo de algumas polticas pblicas, parece difcil chegar a resultados minimamente satisfatrios sem pelo menos alguns primeiros passos do sector no sentido da sua prpria organizao. Em matria de ncoras de desenvolvimento: sem qualquer cidade capital de distrito, com uma oferta de ensino superior politcnico muito recente e sem integrao com a actividade econmica local, sem qualquer empresa significativa

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fora das ndstrias tradicionais na regio, torna-se difcil identificar no Tmega qualquer ncora de desenvolvimento, por maioria de razo se se pensa em qualquer forma de diversificao e qualificao da actividade produtiva local. salvo melhor opinio, o tmega constitui precisamente uma das regies do Pas em que as ncoras de desenvolvimento tero de ser encontradas fora da regio, ou dificilmente aparecero. No que se refere ao sector do calado, as ncoras de desenvolvimento mais importantes encontram-se fora desta NUT III. No que se refere ao sector do mobilirio, parece mais difcil falar em ncoras de desenvolvimento, atenta a fragmentao da indstria e as dificuldades com que se debate o Centro Tecnolgico da indstria da madeira e do mobilirio, sediado em Paredes, onde tambm se encontra localizado o Centro de Formao Profissional da Indstria de Madeiras e Mobilirio. Uma das maiores empresas do Tmega (com vendas anuais superiores a 40 milhes de Euros), a Movelpartes, encontrase sediada em Paredes; a cerne, uma das empresas portuguesas do sector do mobilirio que mais se distingue pela qualidade do seu design, encontra-se em castelo de Paiva. Em matria de recomendaes estratgicas e da sua aplicao a cada uma das reas consideradas: Preconiza-se, no tmega: Aplicar as concluses e as propostas do Programa DNAMO no que se refere indstria do calado; Estudar a possibilidade de desenvolvimento de uma aco de ndole marcadamente voluntarista dirigida indstria do mobilirio, tendo em vista assegurar o progresso possvel da sua organizao e a formao dos seus empresrios e quadros superiores; Promover a implantao de unidades de produo de energias renovveis, nomeadamente elica, com interveno de entidades pblicas capazes de assegurarem a apropriao pela regio de uma parte significativa do respectivo valor acrescentado.

Perdoar-se-nos- esta longa referncia a um documento publicado h cerca de quatro anos atrs. Permitimo-nos faz-la porque, em qualquer caso, se trata de um documento mandado elaborar pelo Governo Portugus, ao nvel de conselho de ministros, e cujas concluses foram por este aprovadas. Numa matria de ndole acentuadamente estrutural, em que quatro anos muito pouco tempo, permitimo-nos realar o facto de uma das trs recomendaes estratgicas para uma das reas mais deprimidas do Pas, onde viviam mais de 550 mil pessoas, consistir numa aco de ndole marcadamente voluntarista dirigida indstria do mobilirio, atenta a sua importncia na economia da regio. Acresce que, como procuramos demonstrar, se concentra na regio grande parte da indstria do mobilirio portuguesa pelo que no pensvel para a indstria do mobilirio de madeira no Tmega, e na Regio Norte em particular, nenhum programa que no seja aplicvel a toda a indstria do mobilirio de madeira em Portugal.

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TRABALHo J REALIZADo EM BENEFCIo DA INDSTRIA PoRTUGUESA DE MoBILIRIo DE MADEIRAcom quase um milhar de associados, a AimmP Associao das indstrias de madeira e mobilirio de Portugal uma das mais importantes e das mais activas entidades representativas do sector, com especial incidncia no universo de pequenas e mdias empresas atrs englobadas no terceiro dos sub-grupos considerados (isto , excluindo as actividades de produo de aglomerados e de pasta de papel que, pelas razes expostas, correm predominantemente em pista prpria). Sem preocupaes de aferir nem mritos nem importncias relativas, partilha esta relevncia com uma outra associao sectorial (APIMA) e com duas associaes empresariais de carcter concelhio que, pela natureza das coisas, tm uma especial vocao para se ocuparem da indstria do mobilirio (Associaes Empresariais de Paredes e de Paos de Ferreira). ver-se- mais adiante que a indstria portuguesa de mobilirio de madeira, ou pelo menos parte dela, sofreu uma evoluo intensssima na ltima dezena, para no dizer na ltima meia dzia de anos que estvamos longe de conhecer, sequer de antecipar quando nos envolvemos na elaborao do PrAsD, em 2003. PeDiP i, PeDiP ii, Poe, Promim (um programa operacional expressamente dirigido modernizao da indstria da madeira) e um nmero reduzido de Aces de Demonstrao convergiram neste sentido de evoluo. De algum modo envolvida na execuo destes programas, a AimmP realizou, sob sua iniciativa e sob sua responsabilidade, o comPiFim Programa para a melhoria da competitividade das indstrias da Fileira da madeira, um programa de aco com cinco eixos: eixo 1: excelncia da gesto empresarial; Eixo 2: Eco-eficincia nas empresas; eixo 3: Promover a utilizao de tecnologia nas empresas; Eixo 4: Elevar os padres competitivos do ensino e da formao para a fileira; eixo 5: comunicao e informao.

J responsvel pela elaborao do PrAsD, a eGP viu-se tambm envolvida na execuo do comPiFim, tendo tido a seu cargo a Aco 1 do eixo 1: interveno estratgica nas empresas, atravs da qual apoiou o esforo de formulao estratgica (na maior parte dos casos, o verdadeiro incio de uma actividade de planeamento estratgico) de uma dezena de empresas do sector (a maior parte das quais do sub-sector do mobilirio de madeira). mantiveram-se as competncias crticas que tinham estado presentes na elaborao do PrAsD. integrou-se no ncleo duro de realizao do trabalho uma pequena empresa de consultoria (Almeida Conde Consultores), cujo responsvel tem um conhecimento de dezenas de anos da realidade empresarial do Norte do Pas. Pediu-se a colaborao de uma das maiores e mais qualificadas empresas de consultoria especializadas no sector da madeira, em todo o Mundo (Schuler Business Solutions) e partiu-se para a realizao do trabalho, de que resultou uma experincia considervel.

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Na sequncia desta entrada em Portugal (de facto, um regresso, pois j havia trabalhado em Portugal alguns anos atrs, ento no sector dos aglomerados), a Schuler Business Solutions continua a trabalhar no Pas, acompanhando, juntamente com Almeida conde consultores, um nmero muito reduzido das mais dinmicas empresas do sector do mobilirio de madeira.

oBJECTIVoS DA REALIZAo DESTE ESTUDo ESTRATGICoQuando a AimmP ps a concurso a realizao deste estudo estratgico da indstria de mobilirio de Madeira da Regio do Norte, e a EGP decidiu apresentar-se a concurso, a equipa anterior foi reforada com a incluso do Dr. ernesto romano, um quadro com mais de quinze anos de experincia profissional no sector, incluindo, entre Junho de 2000 e Setembro de 2005, o exerccio das funes de Director Geral da AimmP, e, entre Janeiro de 2001 e Agosto de 2004, o exerccio das funes de Director Geral do centro tecnolgico das indstrias de madeira e mobilirio. Nos termos do respectivo Caderno de Encargos, o Estudo Estratgico da Indstria de Mobilirio de madeira tinha por objectivos expressos: 1. 2. Produo de uma sntese actualizada da literatura cientfica sobre as relaes entre inovao, Pme e territrio. criao de uma base de dados com informao quantitativa e qualitativa para apoio a estudos especializados tendo como objecto a inovao na indstria de mobilirio de madeira (IMM). Produo de conhecimento cientificamente fundamentado sobre a IMM e sobre o seu potencial de competitividade atravs da inovao, entendida esta num sentido amplo. Promover a aproximao entre centros de produo de conhecimento relevante para a inovao na IMM e o respectivo tecido empresarial na Regio do Norte, e em particular, no Vale do sousa. construo de uma articulao estratgica entre poltica de inovao e territrio que, sendo fundamentada na realidade da imm, possa esclarecer e mobilizar actores e instituies para uma aco concertada que prepare o futuro desta indstria e do vale do sousa.

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No sendo a primeira vez que a AIMMP punha a concurso a realizao de trabalhos sobre o sector, a eGP entendeu realar o carcter mais focado deste estudo, de um triplo ponto de vista: 1. 2. mais focado no que se refere ao segmento empresarial, incidindo agora exclusivamente na indstria do mobilirio de madeira; mais focado no que se refere ao caminho que se antev como soluo para os problemas de competitividade que afectam a indstria portuguesa do mobilirio de madeira, fazendo emergir o papel crucial da inovao; mais focado no que se refere ao mbito espacial que se prope explorar, desta vez constitudo exclusivamente pela Regio Norte de Portugal e, em particular, pelo Vale do Sousa;

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e permitiu-se emitir a opinio de que este maior foco fazia todo o sentido, tambm por trs or-

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dens de razes: 1. A indstria do mobilirio , de entre todos os segmentos da indstria da madeira, aquele em que se anunciam problemas mais srios de competitividade, originados por foras to distintas, e todas to poderosas, como o podero ser as mudanas de gosto dos consumidores, as mudanas na forma como se processa a comercializao e distribuio do mobilirio, ou o processo de deslocalizao da actividade de produo propriamente dita, em busca de mais baixos custos de produo; Nas condies concretas da Economia Portuguesa no momento actual, no se antev outro caminho de reposio da competitividade perdida que no passe por um processo de inovao profunda da actuao das empresas (tambm da indstria do mobilirio de madeira) em praticamente todos os aspectos do seu modelo de negcio (da estratgia a todos os aspectos operacionais); na Regio Norte de Portugal, e em particular no Vale do Sousa, que se encontra concentrada a parte mais importante da indstria portuguesa do mobilirio de madeira, com o que, tanto o problema como a soluo, ganham contornos muito prprios. Por um lado, na regio Norte, e no Vale do Sousa em particular, que se sentem mais claramente as ameaas que hoje impendem sobre a produo e a capacidade de criao de emprego e de gerao de rendimento no sector, em Portugal. Por outro lado, na Regio Norte, e em particular no vale do sousa, mais concretamente, nas pequenas e mdias empresas da indstria do mobilirio de madeira a existentes, nos seus empresrios e nos seus trabalhadores, e nos seus fornecedores de servios habituais, que ter de ser implementado, e ancorado, o modelo de inovao pretendido que ter de assumir, portanto, as caractersticas de modelos conhecidos por sistemas locais de inovao, consagrando uma articulao muito estreita entre inovao, pequenas e mdias empresas e territrio.

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Ainda nos termos do caderno de encargos, o estudo deveria cobrir os seguintes contedos genricos: 1. 2. 3. 4. Apresentao de um quadro terico e conceptual adequado ao objecto do estudo. caracterizao da base de conhecimentos da imm e do seu potencial de inovao. Identificao das dinmicas da Regio Norte, e em particular, do Vale do Sousa relevantes para a inovao na imm. elaborao de propostas e sugestes de poltica pblica.

tudo ponderado, foram as seguintes as aces que a eGP se props realizar para dar cumprimento aos objectivos do estudo, procurando explicitar o entendimento dado a cada uma destas aces: 1. O objectivo 1 ( sntese actualizada da literatura cientfica sobre as relaes entre inovao, PME e territrio) ter de ser entendido como um pr-requisito. Trata-se sobretudo de um trabalho de recolha de informao bibliogrfica, para utilizao pela equipa responsvel pela realizao do estudo e para disponibilizao a potenciais interessados nos aspectos mais

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tericos e conceptuais das problemticas da inovao e do territrio, nomeadamente em espaos constitudos predominantemente por Pmes; salvo melhor opinio, tem um mbito de aplicao que transcende em muito seja a indstria da madeira e do mobilirio seja a regio Norte de Portugal; 2. o mesmo se diga do contedo genrico 1 ( quadro terico e conceptual adequado ao objecto do estudo), onde, para orientao da equipa responsvel pela realizao do estudo, e para satisfao da curiosidade de potenciais interessados nos aspectos mais tericos e conceptuais do trabalho, haver que verter os conceitos e os caminhos crticos por onde ter de passar o reforo da competitividade da indstria do mobilirio de madeira da Regio Norte de Portugal, em particular do vale do sousa, com nfase na inovao. constituindo ainda uma fase de trabalho predominantemente terico, distingue-se da anterior por um grau muito superior de concretizao, determinado seja pelo sector (indstria do mobilirio de madeira) seja pelo espao (Regio Norte de Portugal, em particular Vale do Sousa); os contedos genricos 2 e 3 ( caracterizao da base de conhecimentos da imm e do seu potencial de inovao e identificao das dinmicas da Regio Norte, e em particular, do Vale do Sousa relevantes para a inovao na IMM) s podem ser obtidos atravs do primeiro momento de trabalho realmente aplicado. ser necessrio varrer, seja a indstria do mobilirio de madeira, seja o sistema de inovao da Regio Norte de Portugal, em particular do Vale do Sousa (j razoavelmente identificados na sequncia de outros trabalhos realizados sobretudo para a CCDR-N, os ltimos dos quais tero sido os efectuados no mbito do NORTINOV). No que se refere IMM, trabalhar-se- com base em visitas, entrevistas semi-estruturadas e inquritos dirigidos a uma amostra de empresas do sector suficientemente representativa, pondo uma nfase muito especial nas pessoas e no seu potencial de inovao; o objectivo 2 ( criao de uma base de dados com informao quantitativa e qualitativa para apoio a estudos especializados tendo como objecto a inovao na IMM) surgir como um output do trabalho anterior tratando-se sobretudo de verter numa base de dados suficientemente amigvel toda a informao relevante recolhida de ordem bibliogrfica, quantitativa e qualitativa (nomeadamente uma espcie de directrio ou de quem quem) susceptvel de ser utilizada por todos os interessados numa via de desenvolvimento por inovao da indstria de mobilirio de madeira na Regio Norte de Portugal; O objectivo 3 ( produo de conhecimento cientificamente fundamentado sobre a IMM e sobre o seu potencial de competitividade atravs da inovao, entendida esta num sentido amplo) pode ser visto como um segundo output do mesmo trabalho menos informativo e mais analtico, repetindo de certo modo o contedo genrico 1 ( quadro terico e conceptual adequado ao objecto do estudo), enriquecido por todo o trabalho de campo entretanto realizado. os objectivos 4 e 5 ( promover a aproximao entre centros de produo de conhecimento relevante para a inovao na IMM e o respectivo tecido empresarial na Regio do Norte, e em particular, no vale do sousa e construo de uma articulao estratgica entre poltica

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de inovao e territrio que, sendo fundamentada na realidade da imm, possa esclarecer e mobilizar actores e instituies para uma aco concertada que prepare o futuro desta indstria e do Vale do Sousa) no se cumprem em bases de dados nem em relatrios, em suporte de papel ou electrnico. so o momento em que se torna necessrio tocar a conscincia dos agentes e, mais do que isso, a sua vontade criar as condies concretas da aco concreta nomeadamente atravs da aproximao das pessoas e entidades intervenientes, da criao da rede, da produo do efeito de cluster; 7. o mesmo se diga do contedo genrico 4 ( elaborao de propostas e sugestes de poltica pblica): mesmo sabendo que dos privados e, em particular, das empresas, dos seus quadros e dos seus trabalhadores, que ter de vir o essencial do esforo de transformao no sentido de se readquirir pelo menos parte da competitividade perdida pela indstria da madeira e do mobilirio da Regio do Norte, e do Vale do Sousa em particular, no parece chegado ainda o momento de podermos prescindir das polticas pblicas, aceitando a demisso do Estado. Ser o momento de tentar fixar a quota-parte de responsabilidade pblica neste gigantesco esforo de transformao, seja em matria de aces a executar, seja em matria de enquadramento institucional e oramental para a realizao destas aces.

conclua-se com uma referncia importncia crtica de que se revestiriam alguns conceitos ao longo da realizao de todo o trabalho: Pme, com tudo o que isso implica de modos prprios de organizao e funcionamento; Pessoas, nomeadamente em tudo o que se refere aos recursos humanos da indstria do mobilirio de madeira da Regio Norte de Portugal, e do Vale do Sousa em particular, em especial no que respeita sua base de experincia e conhecimento tcito acumulados, e ao potencial da adveniente; sociedades do conhecimento e da inovao; sistemas regionais e locais de i&D, com reconhecimento do papel desempenhado pelo sistema formal de ensino e de investigao (universidades, institutos Politcnicos, institutos e spin-offs de diversa natureza no mbito destas entidades), dos centros tecnolgicos, dos fornecedores de equipamentos e de servios avanados indstria; internacionalizao, globalizao e tudo o que isso possa acarretar no funcionamento das empresas da indstria do mobilirio de madeira no momento actual, tanto do ponto de vista das estratgias como do ponto de vista da eficincia operacional; Benchmark e melhores prticas, que o relacionamento internacional de um dos membros da nossa equipa potenciar; cooperao e produo de efeitos de cluster, provavelmente mais no Habitat do que na fileira da madeira (no se dando neste momento por adquirido qualquer papel particularmente relevante a desempenhar pela actividade de produo florestal propriamente dita); Quem quem institucional no sector (indstria do mobilirio de madeira) e na regio (Regio Norte de Portugal e Vale do Sousa em particular): AIMMP, outra associao sectorial,

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associaes empresariais de Paredes e de Paos de Ferreira, centro tecnolgico, iAPmei, ICEP, Ministrio da Economia, Agncia de Inovao, CCDR-N, entre outros; As pginas seguintes do conta dos resultados deste trabalho.

ESTRUTURA DESTE RELATRIoo Ponto 2 procede a uma caracterizao sucinta da indstria de mobilirio de madeira em Portugal e na Regio Norte de Portugal, com particular incidncia na sua evoluo mais recente. o Ponto 3 aborda a questo da inovao, separando, no Ponto 3.1, a questo da inovao e Territrio, analisada em tese geral, ocupando-se tambm das consabidas Dificuldades de Portugal em matria de inovao, e, no Ponto 3.2, a indstria Portuguesa de mobilirio de madeira e a inovao. Permita-se-nos que evidenciemos as diferentes metodologias de trabalho para responder aos objectivos dos dois pontos anteriores. A resposta ao Ponto 3.1, Inovao e Territrio; Dificuldades de Portugal em Matria de Inovao, obrigou sobretudo a actualizar trabalhos j efectuados noutros contextos, apostando nos recursos humanos mais qualificados envolvidos na realizao desses trabalhos. A resposta ao Ponto 3.2 passou por um inqurito dirigido de forma quase universal a todas as empresas que operam na indstria do mobilirio de madeira em Portugal. Foi completado com um conjunto de entrevistas estruturadas a agentes particularmente qualificados do sector (empresrios, fornecedores e grandes institucionais), por um workshop e pela realizao de um focus group, atravs dos quais se procurou chegar a conhecimentos mais detalhados, e de ndole mais qualitativa, impossveis de obter pela via do inqurito. O Ponto 4, Inovao e Centros de I&D, ocupa-se de uma questo muito especfica, que se entendeu destacar: o lugar e o papel dos centros de investigao & Desenvolvimento nos processos de inovao, e a maior ou menor importncia de que podero revestir-se. o Ponto 5 aborda a questo da necessidade de construo de uma base de dados de inovao, em benefcio do sector. o Ponto 6 conclui, com a apresentao de uma estratgia de inovao para a indstria do mobilirio de Madeira na Regio Norte de Portugal para alm das recomendaes dirigidas aos empresrios, e a outros intervenientes, trata-se sobretudo da recomendao de um programa de polticas pblicas dirigidas ao sector, susceptvel de vir a ser apoiado pelo iv Quadro comunitrio de Apoio a Portugal, em preparao. encontra-se, em Anexo: caracterizao da indstria de mobilirio de madeira A Regio Norte de Portugal e a Inovao/Inovao, PME e Territrio (verso integral do estudo expressamente encomendado para satisfazer este requisito do Caderno de Encargos);

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template do questionrio utilizado.

A leitura destes pontos permitir aferir, no apenas do modo como decorreu a realizao do trabalho, e dos seus resultados, como da prpria adaptao que a realizao do trabalho foi impondo concretizao dos seus objectivos. tornar-se- patente a evoluo extraordinria e absolutamente inesperada vivida por algumas empresas do sector a qual, sem ser suficiente para alterar a apreciao que feita do sector do mobilirio de madeira em Portugal, e da grande maioria das empresas que nele operam, suficiente, mesmo assim, para evidenciar uma segmentao e um fosso crescentes entre esta grande maioria e um nmero muito reduzido de empresas, que conheceram uma evoluo muito rpida, com reflexo considervel nos resultados globais do sector. tornar-se- patente uma mudana considervel dos factores de enquadramento, com o surgimento tanto de novas ameaas (a maior das quais, j antecipada, tendo por manifestao mais relevante a entrada da grande distribuio organizada no mercado portugus de mobilirio, em particular de empresas de distribuio de mbito global, com o que temos de dar por terminado

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o carcter relativamente protegido de que o sector havia beneficiado at muito recentemente) como de novas oportunidades (a principal das quais reside na possibilidade oferecida a algumas empresas portuguesas de se lanarem decididamente numa produo e distribuio em escala global). tornar-se- patente o impacte de um cenrio macroeconmico interno muito adverso: dos baixos nveis de crescimento do PiB crise do sector da construo civil (sobretudo na vertente de construo de habitao), e prpria crise do consumo privado no Pas (com reflexo numa rea de despesa to importante como toda a que se relaciona com a habitao). tornar-se- patente a emergncia de paradigmas industriais inteiramente novos, com o surgimento de novos factores de competitividade. continuando a ser predominantemente de madeira, o sector do mobilirio afasta-se progressivamente da dependncia atvica em relao floresta dos pases em que produzido, entrando decisivamente no mbito de actuao de factores de competitividade como a inovao e o progresso tcnico, os novos produtos e os novos materiais, ou de factores to imateriais como o podem ser o design, o marketing e as novas formas de distribuio, e a gesto, num mundo cada vez mais complexo, cada vez mais global e cada vez menos material. se verdade que entre os grandes exportadores de mobilirio de madeira continuam a contar-se pases que se caracterizam pela extenso da sua produo florestal (Alemanha, Canad, Polnia), no menos verdade que o primeiro exportador mundial um Pas como a Itlia (caracterizado por factores de competitividade muito prprios, no mobilirio como no txtil ou no calado), e o segundo exportador mundial um Pas como a China (um player emergente, como a Polnia, caracterizado, ao invs deste, por um dfice estrutural de produo de madeira, mas caracterizado tambm, como sabido, pela importncia de uma srie de outros factores de custo de produo). tornar-se- patente, por ltimo, a viso idealizada que a todos nos acomete, mesmo aos mais experientes, quando comeamos a pensar em inovao e, sobretudo, nos vectores alegadamente mais sofisticados destes processos de inovao, nomeadamente no que se refere cooperao entre as empresas e as instituies do sistema de investigao & Desenvolvimento, com destaque para universidades e centros tecnolgicos - por maioria de razo num sector to frgil, e to emergente nas suas componentes mais dinmicas, como o sector do mobilirio de madeira em Portugal e na Regio Norte de Portugal, que no deixou de evoluir, e de inovar, por mais absolutamente estranho que se apresente em relao aos grandes actores formais deste mundo da inovao. esta ter sido a concluso mais surpreendente, e talvez mais importante, de todo o trabalho, com implicaes da maior relevncia.

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BREVE CARACTERIZAo DA INDSTRIA DE MoBILIRIo DE MADEIRA habitual iniciar este captulo pela afirmao da importncia das empresas produtoras de mobilirio de madeira no contexto da economia nacional, na criao de emprego e de riqueza e, mais recentemente, na capacidade exportadora. e tambm ns entendemos no haver razes para agir de forma diferente, tal o nmero de empresas e do emprego, a forma como esto enraizadas na economia das regies, em particular na Regio Norte de Portugal, e to surpreendente tem sido a sua evoluo, em termos tecnolgicos, de produto e de mercados, que a breve prazo poder ser um dos principais sectores impulsionador do investimento, das exportaes e da criao de riqueza. um sector muito pulverizado, em termos do nmero de empresas, quase sempre com uma dimenso muito pequena, muito distintas em termos de produto, desenvolvendo o seu negcio custo de situaes muito especiais ou nichos de mercado. um sector significativo em termos de emprego, cerca de 34.000 pessoas, representando 5% do emprego da indstria transformadora, onde ainda predomina o recurso mo-deobra intensiva. Com uma grande concentrao de empresas no Norte do Douro (cerca de 68%), e em Lisboa, Leiria, viseu e setbal, o sector constitudo por empresas de pequena dimenso (apenas cerca de 500 empresas empregam mais de 5 operrios), e modelos de gesto familiar. com grande capacidade de adaptao s solicitaes do mercado, o elevado desenvolvimento tecnolgico e a grande flexibilidade na produo permitiram que nos ltimos anos o sector tenha desenvolvido uma notvel capacidade de apresentar novos produtos e estilos, continuando com uma grande diversidade de produtos. Os elementos mais dbeis, encontram-se na reduzida profissionalizao em termos de gesto, marketing e polticas comerciais, numa mo-de-obra pouco qualificada e indiferenciada e numa produtividade inferior aos valores mdios de outros sectores ou do mobilirio na Unio Europeia (UE). talvez por isso a indstria de mobilirio seja tambm, de entre todos os segmentos da indstria de madeira, aquele em que se anunciam problemas mais srios de competitividade, originados por foras to distintas, e todas to poderosas, como o podero ser as mudanas de gosto dos consumidores, as mudanas na forma como se processa a comercializao e distribuio do mobilirio, ou o processo de deslocalizao da actividade de produo propriamente dita, em busca de mais baixos custos de produo. na indstria de mobilirio de madeira que se sentem mais claramente as ameaas que hoje impendem sobre a produo e a capacidade de criao de emprego e de gerao de

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rendimento no sector, em Portugal. nas pequenas e mdias empresas da indstria de mobilirio, nos seus empresrios e nos seus trabalhadores, e nos seus fornecedores habituais, que tero de ser implementados, consolidados e desenvolvidos, modelos de acesso a mercados internacionais. mas igualmente verdade que a indstria de mobilirio , dos sectores tradicionais da indstria portuguesa, aquele que, nos ltimos anos, mais cresceu nos mercados internacionais e que conheceu uma evoluo mais considervel no desenvolvimento de produtos, estratgias de marketing e evoluo na cadeia de valor. Se considerarmos as pequenas oficinas artesanais, no final dos anos 90, e tal como se pode ver no Quadro 1, o nmero de fbricas de mobilirio de madeira em Portugal ascendia a cerca de 3.700 empresas. o sector empregava cerca de 41.000 pessoas (trata-se, claramente, de uma indstria mode-obra intensiva), o que representava 5% do emprego da indstria transformadora e 60% do emprego na Fileira da madeira. o volume de vendas ascendia a aproximadamente 1,25 mil milhes de euros.Quadro 1: Breve Caracterizao da Indstria de Mobilirio em Portugal 1998 N Empresas N Trabalhadores Volume Vendas (milhes de ) Importaes (milhes de ) Exportaes (milhes de ) 3.676 40.950 1 247 122 113 2002 2.900 37.000 1 200 146 144 2004 2.500 35.000 1 250 274 461 2005 2.400 34.000 1 297 420 593Fonte: INE

Actualmente, existiro apenas cerca de 2.400 empresas, empregando 34.000 trabalhadores e atingindo um volume global de negcios de 1,3 mil milhes de euros, grande parte para mercados externos.

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EVoLUo RECENTE DA INDSTRIA DE MoBILIRIo DE MADEIRAos anos 90 foram de grande crescimento do consumo interno de mobilirio, como consequncia do crescimento do mercado da construo civil e da alterao dos hbitos de consumo. simultaneamente, era incentivado o investimento das empresas em mais e melhores tecnologias, aumentando a capacidade produtiva instalada. Desde ento, e graas aos programas existentes, tal como o PeDiP i e o PeDiP ii e, em menor escala ao POE, tem-se verificado uma grande evoluo tecnolgica, determinante nas alteraes j verificadas ao nvel dos modelos organizativos. De entre todos, destaca-se o Promim Programa de modernizao da indstria de mobilirio da madeira (nico programa de apoio especfico para o sector e que permitiu uma verdadeira revoluo industrial no mobilirio, sendo ainda responsvel pelo elevado nvel de desenvolvimento tecnolgico de muitas empresas) e as Aces de Demonstrao (mais selectivas e determinantes para adopo de tecnologias, processos e modelos de gesto, com resultados evidentes no desenvolvimento das empresas que delas puderam beneficiar). Por outro lado, nessa altura, e por no sentirem necessidade, as empresas no se prepararam devidamente, com estratgias de marketing cuidadas e projectadas no tempo, para irem at aos (futuros) clientes. Eram os clientes que vinham at elas. com o avolumar da crise econmica, em 2002 assistimos a uma reduo acentuada do consumo de mobilirio no mercado interno e instabilidade nos circuitos de distribuio com as empresas comerciais, que as empresas produtoras no dominam, a preferirem mobilirio de importao (preo e condies financeiras mais vantajosas). A par disso, sentiu-se fortemente a concorrncia com mobilirio proveniente de pases com apoios para a exportao (como a Espanha) e o reduzido investimento em estratgias comerciais e de marketing das empresas portuguesas. Ainda assim, de realar que, por via de investimentos mais recentes desde 2001 - as exportaes tm crescido de forma exemplar no contexto da economia nacional e internacional. No Mobilirio, a tendncia de crescimento das empresas viveis e voltadas para a produo com qualidade e valor para o cliente e a sua afirmao no mercado europeu. Incorporar inovao e mais valias no produto e no servio, adaptao s exigncias dos clientes, flexibilidade e produo em mini-sries, so condies para o sucesso. O que talvez explique os nmeros mais salientes: no fim dos anos 90, eram 3.676 as empresas em actividade, empregando 40.950 trabalhadores e com um volume de negcios de 1.247.000 , 10% para mercados externos. Hoje, persistem em actividade 2.400 empresas, com 34.000 trabalhadores e um volume de vendas de 1.297.000 , mais de 45% de exporta-

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es e uma quebra de vendas no mercado interno superior a 50%, face a 2002. Tem-se verificado, desde 2001, uma forte tendncia para o desaparecimento de uma parte significativa das empresas, quer pelo encerramento e abandono da actividade por parte dos empresrios, quer por processos de falncia.

1998nr empresas 3.676

20052.400

nr trabalhadores volume negcios

40.950 1.247

34.000 1.297

exportaes

113

593Fonte: INE

UM PRoBLEMA SRIo EM MATRIA DE INFoRMAo ESTATSTICAos nmeros e os resultados atrs referidos resultam do processamento de uma informao estatstica h muito em uso no sector (e que teremos de continuar a utilizar, sob pena de perda de todo o comparativo histrico), cuja utilizao obriga, no entanto, a alguns cuidados. Referimo-nos, concretamente, ao facto de, nas estatsticas oficiais, a produo de mobilirio se encontrar numa rubrica que inclui a produo de outras indstrias transformadoras no especificadas e, sobretudo, elevada probabilidade de, no que tem sido tradicionalmente entendido como produo de mobilirio, poder estar includa a produo de mobilirio metlico, que nada tem a ver com a indstria de mobilirio de madeira de que se ocupa este trabalho. A questo, da maior importncia para a anlise do sector e para a avaliao da sua evoluo e do seu desempenho, foi sobretudo suscitada pelo aumento das exportaes para cujo valor actual contribui em mais de 70% uma sub-rubrica (fabricao de cadeiras e assentos) em que h srias razes para admitir que se encontre sobretudo contabilizada a produo e exportao de componentes para a indstria automvel. se, por razes de prudncia, excluirmos este subsector, os nmeros conhecero alteraes muito significativas. A produo de mobilirio de madeira propriamente dito descer para

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os 601 milhes de euros/ano, com implicaes no inteiramente controladas, mas que se presume sejam de baixa, porventura considervel, em matria de facturao por empresa e de produtividade do trabalho. As exportaes descero para os 163 milhes de euros/ ano 27% da produo do sector, muito abaixo dos mais de 45% atrs referidos (mas configurando uma evoluo ainda assim considervel, por comparao com os cerca de 10% prevalecentes sete anos atrs). Procurando ir um pouco mais longe na utilizao da informao disponvel, podemos acrescentar o seguinte: - o nmero de empresas a quem o INE atribui o volume de produo acabado de referir de apenas 947, o que obrigaria a um redimensionamento do sector (que teria de ser revisto em baixa, de forma considervel), mas no prejudicaria a dimenso mdia das empresas, que ascenderia a vendas anuais de 635 mil euros (mais, portanto, do que os cerca de 550 mil Euros/ano atrs referidos); - infelizmente, o problema no fica resolvido, pois, de acordo com a informao disponibilizada pelo Gabinete de estratgia e Planeamento do ministrio do trabalho e da solidariedade social, o nmero de empresas ascender ainda a 3454 (um regresso aos nmeros de 1998, atirando as vendas por empresa para 175 mil Euros/ano) e o nmero de trabalhadores ascender a 30650 (abaixo, portanto, dos 34000 atrs considerados mas atirando as vendas por trabalhador para menos de 20 mil euros/ano por causa do fortssimo redimensionamento em baixa da produo anual). Damos propositadamente por terminada esta incurso nas dificuldades de informao estatstica que rodeiam o sector. Fica patente a sua evoluo, nomeadamente no que se refere orientao para a exportao (com uma percentagem das vendas seguramente superior a 25%, contra os cerca de 10% apenas sete anos atrs). Fica patente, tambm, a crescente segmentao no interior do sector, com um nmero muito reduzido de empresas a protagonizar este aumento de exportaes (de acordo com fontes de informao menos estruturadas, mas no menos dignas de confiana, as exportaes das 20 maiores empresas aproximar-se-iam, s por si, do montante global atrs referido, com produtividades mdias sempre acima dos 100 mil euros/ano, acima, inclusiv, da mdia europeia), e um nmero muito considervel de empresas (maior ou menor, de acordo com as vrias fontes de informao) a permanecerem em nveis muito baixos de vendas e de vendas por trabalhador. Os resultados mdios acabaro sempre muito influenciados pela resposta que vier a ser dada a esta ltima grande incgnita: quantos trabalhadores e, sobretudo, quantas empresas persistem a operar na indstria portuguesa de mobilirio de madeira? como referimos, doravante, regressaremos s sries tradicionalmente utilizadas.

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CoNTINUANDo, EM MATRIA DE EVoLUo RECENTEesta evoluo aparentemente positiva da ltima dcada, no altera a viso tradicional da indstria de mobilirio de madeira, que continua a ter uma dimenso mdia muito pequena, semelhana da dimenso mdia da indstria de mobilirio na generalidade dos pases europeus. o nmero de empresas do sector reduziu-se em cerca de um tero (passagem de 3500 a 2400 empresas), sem perda de facturao. o emprego caiu menos que proporcionalmente, ocasionando um aumento da dimenso mdia das empresas, da facturao por trabalhador e da produtividade do trabalho, mesmo assim insuficiente quando comparado com os valores de partida de pases onde o sector se encontra mais desenvolvido (Alemanha, Frana, Itlia, Espanha) ou com as taxas de crescimento da produtividade dos pases onde o sector tem vindo a progredir mais rapidamente (Europa Central, Pases Blticos). Deste conjunto de melhorias assinalveis, a principal mudana est no salto que levou a indstria do mobilirio portuguesa a exportar uma muito mais elevada percentagem da sua produo em muito poucos anos. verdade que os mais exigentes se queixam dos nveis de preo a que tem vindo a ser feita esta conquista dos mercados externos, surgida como soluo de recurso ou de mera sobrevivncia; no deixa, por isso, de constituir um xito assinalvel.n trabalhadores p/ empresa em termos mdios, o nr de trabalhadores por empresa passou de 11,1 para 14,2 em termos mdios, a produtividade por trabalhador passou de 30.452 para 38.147 Em termos mdios, cada empresa vendia 339.227 (1998) e hoje vende 540.417 Em termos mdios, cada empresa exportava 30.740 (1998) e em 2005 exportava 247.083Fonte: INE

produtividade p/ trabalhador

vol. negcios p/ empresa

exportaes p/ empresa

Apesar da evoluo observada, a indstria de mobilirio continua a sofrer de uma enorme pulverizao de empresas, das alteraes no comportamento do consumo e de uma forte reduo do consumo de mobilirio, no mercado interno. Como compensao, verificou-se um elevado crescimento das exportaes, o reforo das ligaes entre os fabricantes de mobilirio e os distribuidores e a procura de estratgias de

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diferenciao em termos de produto e de mercados. se prosseguirmos com a anlise de foras e fraquezas segundo o diamante de Porter, a indstria de mobilirio tem vindo a alterar a sua competitividade por via do processo de globalizao e homogeneizao de tendncias, da organizao da distribuio, crescimento dos pontos de venda, plataformas logsticas e elevada capacidade de investimento e do intercmbios de redes de distribuio entre fabricantes nacionais e estrangeiros facilitando entrada de produtos procedentes de outros pases, do que tem resultado uma maior transparncia e homogeneizao de preos e incremento de uma competitividade intracomunitria como consequncia das polticas globais. em termos dos principais Fornecedores, constata-se a concentrao de empresas (painis, madeiras), um progressivo processo de integrao entre fornecedores de diferentes sectores (painis, madeira serrada, ferragens, ) proporcionando produtos de maior valor acrescentado, o crescimento das empresas fabricantes de vernizes para mveis e uma imperiosa necessidade de identificar novos fornecedores (novos materiais ou outros preos). Finalmente, as alteraes com que a indstria mais pode vir a sofrer, vm do lado dos Distribuidores, com o crescimento da oferta (abertura e encerramento contnuo de espaos de venda), o forte desenvolvimento dos espaos comerciais, o incremento e especializao da distribuio tradicional, mas acima de tudo com a alterao dos locais de venda e a concentrao do nmero de agentes, num cada vez mais reduzido nmero de grande compradores. A imagem que tem vindo a ser transmitida da indstria de mobilirio de madeira pode no entanto vir a ser alterada, se introduzirmos alguns elementos que permitam uma anlise por segmentos, a partir de informao recolhida durante anos de trabalho junto das empresas e de um simples modelo estatstico para dimenses mdias e produtividades mdias para classes de empresas. Na posse desta informao, ser fcil concluir por um sector que se pode dividir por dois campeonatos: o das empresas industriais propriamente ditas e o artesanato industrial, sem que esta classificao seja uma regra, pois algumas pequenas e outras mdias empresas escapam ao padro traado para cada uma daquelas duas classes.. Nos primeiros dois escales (3% das empresas, 9% do emprego e 62% das exportaes), esto empresas altamente competitivas, com uma estratgia bem definida e a actuar no mercado global, no sendo raros os casos em que o crescimento do negcio se situao nos 50% por ano. No ltimo escalo (70% das empresas, 32% do emprego e 8% das exportaes), esto empresas de muito pequena dimenso, com uma organizao muito informal, normalmente dependentes de outras empresas de mobilirio ou a actuarem no mercado regional.

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como j hbito dizer-se, o maior problema poder estar na classe mdia, os dois escales do meio, onde esto 28% das empresas, 46% do emprego e 30% da capacidade exportadora. Na generalidade so empresas com um bom nvel tecnolgico, com potencial de desenvolvimento e condies para responder a mercados exigentes, prestes a passar para a diviso superior, ou, em alguns casos, a deixarem de ter viabilidade.Quadro 2: Empresas de Mobilirio em Portugal por Escalo Volume negcios () > 5.000.000 2.500.001-5.000.000 1.250.001-2.500.000 500.001-1.250.000 < 500.000 N. Empresas 20 50 195 500 1735 N. Trabalhadores 2.900 4.500 7.100 8.500 11.000 Exportaes (milhes ) 225 125 98 70 45(valores aproximados em 2005)

em resumo, esta a situao actual da indstria de mobilirio de madeira, um sector que ao mesmo tempo um sector tradicional e inovador, onde co-existem muitas pequenas e algumas (poucas) mdias empresas. De uma indstria tradicional, o mobilirio de madeira tem-se transformado, com os tempos, numa actividade moderna e competitiva. mas tambm corre o risco de vir a perder algumas das unidades. para esta dualidade que tm de ser vistas as estratgias e as medidas preconizadas neste trabalho.

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A INDSTRIA DE MoBILIRIo NA REGIo NoRTE DE PoRTUGALA Regio Norte de Portugal conhecida pela sua densidade industrial em torno de alguns clusters considerados tradicionais, onde reside boa parte do know-how tecnolgico e da capacidade exportadora do Pas.Grfico 1: Distribuio geogrfica das Empresas de Mobilirio

Outros; 9% Viseu; 3% Santarm; 3% Aveiro; 4% Leiria; 5% Braga; 7%

Porto; 61%

Lisboa; 8%

Fonte: CTIMM

A forte concentrao das empresas produtoras de mobilirio, com predominncia na regio a norte do Douro (68%) razo suficiente para que uma reflexo estratgica sobre a IMM no possa ignorar a dinmica socioeconmica da Regio do Norte e em particular do Vale do sousa. embora presentes em todo o Pas, uma grande maioria das empresas da imm esto concentradas nos distritos de Braga e Porto, com 2/3 do total no vale do sousa. De facto, e atravs da anlise do grfico anterior, pode-se constatar que 61% das empresas de Mobilirio esto localizadas no distrito do Porto e 7% pertencem ao distrito de Braga. A concentrao geogrfica tem vindo a acentuar o crescimento de um outro plo industrial de mobilirio, na regio de Leiria, com caractersticas relativamente diferentes das observadas na Regio Norte do Pas normalmente empresas que nascem de raiz para se dedicarem produo de mobilirio, de maior dimenso e mais automatizadas. uma outra abordagem mostra-nos que nos distritos do Porto, Lisboa, Braga, Aveiro, Leiria e setbal se localizam 81% dos estabelecimentos, aos quais correspondem 90% do valor da produo do sector e 89% do emprego.

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Em termos de volume de negcios, aos 68% do nmero de empresas da Regio Norte, correspondem 60% do volume de negcios do sector, enquanto as 32% das empresas localizadas no resto do Pas, so responsveis por 40% das vendas totais. No ser por isso de estranhar que no ranking das 20 maiores empresas de mobilirio de madeira, das que tm um volume anual de vendas superior a 5 me, s 6 estejam localizadas na Regio Norte, 5 das quais no Vale do Sousa. importa recordar que j no relatrio do PrAsD Programa de recuperao de reas e sectores Deprimidos, para a regio do tmega, onde se situam os dois mais importantes concelhos produtores de mobilirio (Paredes e Paos de Ferreira), se considerava que o modelo industrial que veio a prevalecer no Norte-Centro Litoral do Pas, frequentemente assente em indstrias trabalho intensivas, orientadas predominantemente para a exportao, utilizando uma mo-de-obra pouco qualificada e auferindo salrios relativamente baixos encontra-se esgotado. este modelo de industrializao, que tem como expoentes o Ave, o cvado, partes considerveis do entre-Douro-e-vouga e uma boa parte do tmega (agrupamento dos concelhos do Vale do Sousa) veio a constituir-se numa das partes mais vulnerveis do territrio nacional, sobretudo a partir do momento em que processos como a intensificao tecnolgica e a globalizao, ambos em curso, vieram acentuar a sua fragilidade. nestas regies, em que se concentra parte considervel da populao activa na indstria, que se verifica hoje o perigo mais acentuado de intensificao do desemprego (desemprego mais industrial e no to envelhecido como o que se encontra no interior, mas no necessariamente menos estrutural). Regressando ao mobilirio, o que mais parece diferenciar as empresas da Regio Norte, precisamente o facto de ser um sector que trabalha em rede, com um punhado de empresas a dirigirem e incorporarem o trabalho de outras - uma das vantagens importantes na concentrao regional de empresas de mobilirio, seja ao nvel da contratao de mo-de-obra qualificada, seja ao nvel dos sub-contratos, ou na concentrao de fornecedores. De referir que em algumas empresas lideres, cada nova coleco ou produto, com a exigncia de novas matrias-primas, processos ou solues, conduz procura de novos fornecedores (de madeiras, de acabamentos, de vidros, ferragens ou tecidos) e concepo e teste de novos produtos. Casos que so a confirmao do exemplo de funcionamento da inovao em rede, que envolve os clientes, os seus prescritores, os fornecedores e os subcontratados.

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CARACTERIZAo INTERNACIoNAL DA INDSTRIA DE MoBILIRIoAo nvel Europeu este sector caracterizado (classificao NACE [1]) em duas grandes rubricas: indstria de transformao da madeira: secagem, primeira transformao, e semi-acabados, embalagens e outros produtos, e mobilirio em madeira.

A indstria de mobilirio (metlico e de madeira) , segundo documentos da EUROSTAT, uma das indstrias transformadoras mais importantes no conjunto dos Pases da comunidade europeia, associando cerca de 97.000 empresas e representando 2,1% (890.000 trabalhadores) do total da sua mo-de-obra industrial. um sector caracterizado pelo predomnio das pequenas empresas, apesar da tendncia crescente de concentrao como resposta aos desafios da concorrncia mundial. em muitos dos aspectos mais industriais, uma empresa de mobilirio europeia no muito diferentes de uma empresa portuguesa. em 1994 cerca de 96% das empresas do sector tinham menos de 20 colaboradores. As empresas com 100 ou mais pessoas representavam cerca de 0,5% do total de empresas e eram responsveis por cerca de 24% do emprego e 34% do volume de vendas do sector. Os factores mais diferenciadores, esto na organizao, na profissionalizao da gesto, na qualificao da mo-de-obra, na produtividade e na relao com o mercado. tal como pode ser observado a unio europeia e os euA so os principais consumidores de mobilirio. Podemos, tambm, observar no quadro seguinte uma tendncia clara de crescimento do consumo de mobilirio at 2010. Este crescimento ser mais significativo na china e rssia, sendo que nestes pases, e at 2010, se prev um aumento do consumo de mobilirio na ordem dos 50%.Quadro 3: Evoluo do Consumo de Mobilirio Comsumo de Mobilirio Amrica do Norte Unio Europeia e Suia Novos estados membros China 2003 (bio. ) 63.6 71.6 3.1 12 Projeco 2010 (bio. ) 75.6 82 3.9 18

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Rssa Sudoeste asitico

1.4 8.1

2 9.9Fonte: Schuler Business Solutions | Almeida Conde Consultores

os euA so os maiores fabricantes de mobilirio a nvel mundial, concentrando aproximadamente 25% da produo. seguem-se a itlia, a china e a Alemanha, representando cada um destes pases cerca de 10% da produo total. Note-se ainda que, em termos de exportaes, a economia chinesa tem sido a mais dinmica, registando desde 1995 taxas de crescimento muito elevadas. As economias emergentes tm vindo a registar um crescimento considervel cotando-se j como players importantes a nvel mundial e com tendncia para aumentar nveis de competitividade e dimenso. At 1995 Portugal, espanha e a Alemanha eram os pases mais especializados no sector; em 1995 entram na comunidade europeia a sucia, a ustria e a Finlndia, que fazem crescer o sector em termos europeus. o crescimento europeu no perodo 94-99, foi de cerca de 5,9% anuais.Grfico 2: Consumo de Mobilirio no MundoFrana; 4% Reino Unido; 4% Canad; 4% Japo; 6% Reino Unido Canad Japo Outros pases; 18% Alemanha; 8% Alemanha Itlia Estados Unidos da Amrica China; 9% Brasil; 1% Polnia; 2% Mxico; 1% Outros pases emergentes; 10% Estados Unidos da Amrica; 23% Itlia; 10% Outros pases emergentes Mxico Polnia Brasil China Outros pases Frana

Pases emergentes (24%) Pases desenvolvidos (76%)

EU25

~us$ 90 bilion ~43%

EU15 EU10 USA China

~us$ 80 bilion ~us$ 10 bilion ~us$ 50 bilion ~us$ 20 bilion

Na Europa, Itlia, Alemanha, Frana e Reino Unido, tm uma posio de destaque e doze dos vinte maiores importadores mundiais de mveis esto na europa ocidental e respondem por 45% das importaes totais. Na sia, a China apresenta-se com grande potencial de desenvolvimento e a rssia tem e ter um crescimento assinalvel. A tendncia, portanto, em geral, de crescimento do comrcio internacional do sector, com perspectivas boas de novos mercados, no somente para produtos acabados como tambm, em larga escala, para partes, peas, componentes e produtos semi-elaborados.

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Os grficos seguintes, no deixam dvidas sobre quem so os principais mercados exportadores e importadores de mobilirio de madeira.Grfico 3: Importaes de Mobilirio

Grfico 4: Exportaes de Mobilirio

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em termos de produo de mobilirio na europa, a grande capacidade produtiva est instalada na itlia e na Alemanha. mais recentemente, Portugal comea a ser referido como o melhor dos mais pequenos, mas com a forte ameaa dos novos pases do alargamento.Quadro 4: Evoluo da Produo de Mobilirio na UE (em milhes de ) Pas Alemanha itlia Frana espanha reino unido Holanda Dinamarca Blgica ustria sucia Portugal Finlndia Grcia irlanda EU15 2000 22690 20810 9530 7820 6100 2780 2300 2220 2150 1925 1170 790 750 380 81415 2001 22417 21393 9673 7890 6198 2852 2381 2260 2154 1964 1248 798 776 388 82392 2002 20228 21028 9160 8080 6136 2795 2369 2224 2193 1964 1248 796 776 388 79385 19812 20200 8600 8000 6216 2585 2405 2200 2200 2000 1261 805 800 398 77482 2003 -2,10% -4,10% -6,10% -1,00% -1,30% -7,50% 1,50% -1,10% 0,30% 1,90% 1,00% 1,20% 3,10% 2,50% -2,40%

Nota: de 2000-2002 valores actuais; os valores para 2003 so estimativas, sem o Luxemburgo. Fonte: Schuler Business Solutions | Almeida Conde Consultores

PRoDUTIVIDADE NA INDSTRIA DE MoBILIRIoAs empresas existentes no sector detm nveis tecnolgicos e equipamentos muito diversos o que condiciona os produtos por elas fabricados. O tecido empresarial muito diversificado, podendo encontrar-se empresas muito tradicionais e empresas muito inovadoras.

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A produtividade do trabalho (medida pelo valor acrescentado bruto por trabalhador) neste sector baixa quando comparada com a mdia da indstria transformadora nacional, representando cerca de 50%. Quanto comparada com a produtividade dos concorrentes europeus, a situao ainda mais confrangedora. recorde-se que a produtividade mdia do sector de 38.000 , enquanto o valor mdio europeu de 80.000 .Quadro 5: Produtividade por Trabalhador na Indstria de Mobilirio

Fonte: Schuler Business Solutions | Almeida Conde Consultores

No que diz respeito produtividade do equipamento, constata-se que, em comparao com a indstria transformadora, as empresas deste sector apresentam, em mdia, valores superiores, com a excepo do sub-sector da fabricao de mobilirio de cozinha. o fraco desempenho da indstria portuguesa no que se refere produtividade indicia grandes lacunas na cadeia de valor das fileiras de maior especializao, as quais traduzem a situao das empresas face aos factores de competitividade. esta fragilidade tem-se traduzido essencialmente ao nvel do mercado interno, atravs de quotas de mercado crescentes de produes externas, uma vez que a evoluo das quotas de mercado das exportaes tem sido favorvel.

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CoNDICIoNANTES DE DESENVoLVIMENToos pontos fortes da indstria portuguesa de mobilirio de madeira assentam na qualidade das produes efectuadas, na forte especializao e baixos custos da mo-de-obra existente e na tradio e saber trabalhar a madeira, transmitido de gerao em gerao. os actuais factores da competitividade do sector, fundamentalmente o baixo custo da mode-obra e de algumas matrias-primas, tendem a ser neutralizados pela insuficiente qualificao humana, e pela ausncia de mecanismos sistemticos de inovao nas reas do marketing e do design. As grandes limitaes em termos da orientao da inovao tecnolgica, por processos estratgicos reflectidos, orientados para a abordagem ao mercado, a incapacidade de definir e implementar uma estratgia eficaz de comercializao e as debilidades ao nvel financeiro e organizacional esto na origem dos grandes problemas que as empresas enfrentam. so de vria ordem os estrangulamentos actuais desta indstria, mas sobretudo de natureza estrutural. A gesto das empresas , em muitos casos, incipiente em termos de estratgia. o empresrio, que muitas vezes acumula vrias funes, est, de uma forma geral, mais vocacionado para a gesto corrente, do dia-a-dia, no investindo tempo ou recursos em planeamento estratgico. H que melhorar a eficcia dos processos de gesto, prestando a devida ateno ao mercado, cada vez mais exigente, e concorrncia cada vez mais agressiva, apelando actualizao tecnolgica dirigida s necessidades reais do mercado, formao profissional, inovao, ao design e qualidade dos produtos, a parcerias empresariais e a estratgias comerciais e de marketing eficazes. todo o investimento dever ser suportado por uma interveno estratgica que permita: Avaliao da empresa - avaliar as condies tcnicas e econmicas, estudar a produtividade, a capacidade instalada, as tecnologias, indicadores de rentabilidade e de eficincia. Planos de marketing, integrados e projectados no tempo, que permitam dotar as empresas de mecanismos de conhecimento dos mercados, identificao dos seus segmentos alvo, concepo e desenvolvimento de produtos adequados e competitivos nos mercados e segmentos alvo, e adequao tecnolgica ao planeamento da produo dos mesmos. Desenvolvimento e adaptao de novas tecnologias e processos - promover e divulgar

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as aplicaes de tecnologia nas empresas, orientadas para o aumento de produtividade e para a reestruturao das empresas. Por ser um sector tradicional, com forte implantao em regies desfavorecidas, o mobilirio portugus certamente, um sector estratgico na economia nacional. Passa por uma fase em que fundamental incutir-lhe capacidade de investimento e de inovao. inovar nos processos de gesto, nos produtos, nas formas de comercializar, condio sem a qual no se reverte a tendncia negativa. No existem razes objectivas para que no se reverta, desde que os empresrios no tenham resistncia a inovar nos seus processos de deciso estratgica.

TENDNCIAS PARA A INDSTRIA DE MoBILIRIoA evoluo gradual e sustentada do processo de integrao de Portugal na unio europeia, o crescimento dos padres de qualidade e de exigncia dos mercados, a abertura alargada a segmentos cada vez mais diversificados e a modernizao empresarial ou a sada do mercado das unidades sem competitividade, so tendncias previsveis do cenrio global onde tem de actuar a indstria de mobilirio portuguesa. se considerarmos o processo de reestruturao que se verificou na indstria de mobilirio na Unio Europeia, nos ltimos anos, de prever um longo e difcil caminho para as empresas portuguesas, at que alcancem os nveis de desenvolvimento j atingidos na maioria dos pases-membros, o que pode levar ao encerramento ou fuso de muitas unidades estruturalmente deficientes. Para o evitar, fundamental uma dinmica sectorial que permita a evoluo das empresas, no sentido da especializao, modernizao e desenvolvimento tecnolgico, por forma a reforar a sua competitividade e a sua sobrevivncia num mundo cada vez mais agressivo. uma viso cuidada do sector de mobilirio em Portugal, permite-nos dizer que, actualmente, as possibilidades ou capacidades deste sector para transformar, inovar, arriscar e planear estratgias de superao da crise ou melhoria da situao actual, no parecem ser muito significativas. Decisivo neste processo a actuao das empresas lderes do sector, j detentoras de

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uma organizao e posicionamento no mercado, capaz de arrastar outras empresas para uma estratgia de diferenciao. A liberalizao dos mercados e o acesso a novos consumidores pelas empresas mais competitivas, tem conduzido a uma maior segmentao e reforo dos negcios atravs de novos produtos. A oportunidade poder estar na cooperao entre empresas, na criao de redes para a partilha de canais de distribuio e de novos mercados, de tecnologias, de servios de formao ou informao. o estabelecimento de objectivos qualitativos mais elevados atravs de investimentos em design, moda e em flexibilidade visando a reduo do time to market e o investimento intensivo em tecnologias de informao e multimdia para suporte das suas estratgias, designadamente de marketing, so preciosos auxiliares para a presena numa europa importadora de mobilirio de madeira e que tem como objectivo chave o aumento do consumo de produtos florestais. Para o conseguir, indispensvel proceder modernizao das estruturas empresariais, profissionalizao da gesto e ao reforo das competncias de engenharia e tecnologia, e ter na inovao tecnolgica uma prioridade. o mercado de mobilirio encontra-se em constante evoluo. A penetrao nalguns mercados europeus bastante difcil e por isso se torna fulcral a escolha de um parceiro local, seja ele fabricante, importador ou retalhista. o segmento de mercado de produto barato tende a fechar-se s empresas portuguesas, dada a crescente concorrncia de produtos importados dos pases do Leste europeu e da sia. As empresas nacionais, para vencerem no mercado mundial, tero de procurar oferecer um produto de maior componente tecnolgica e design, e a um preo competitivo. A maior parte dos produtos do mobilirio encontra-se numa fase madura do seu ciclo de vida, ou seja o empresrio tem bastante experincia face ao produto que fabrica. manifesta-

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se uma tendncia para um maior envolvimento da empresa com as questes relacionadas com o preo, sendo a problemtica da qualidade relegada para segundo plano. em termos genricos, a indstria do mobilirio no recorre a instrumentos da funo marketing para projectar a sua empresa comercialmente. A gama de produtos tender a ser, generalizadamente, alta e mdia/alta, reforando a capacidade de gerir as ameaas decorrentes do alargamento e diferenciao dos mercados e da qualificao e proactividade das estratgias de marketing e comerciais. Nos ltimos anos, registou-se uma acentuada quebra da actividade: crise macroeconmica generalizada; Aumento do desemprego, restries no acesso ao crdito e diminuio do rendimento disponvel; Diminuio dos bens de consumo duradouro; Decrscimo de obras de construo civil; encerramento de muitas unidades produtivas.

o mercado est a contrair-se menor nmero de empresas, mas de maior dimenso. A curto e mdio prazo so expectveis grandes alteraes no sector de segunda transformao: As empresas menos preparadas e com estruturas rgidas encontraro bastantes dificuldades e acabaro por fechar; As empresas melhor posicionadas e com uma estrutura que lhes permita aguentar o perodo de turbulncia, iro manter-se no mercado; As pequenas empresas ficaro responsveis pela montagem, pelo assentamento; Aposta na customizao, na qualidade e na inovao.

o cluster est num momento crucial. A mudana poder levar ao desenvolvimento de um sector competitivo, enquanto que a manuteno da situao actual ir resultar, certamente, num decrscimo da riqueza gerada.

A QUESTO DA INOVAO

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INoVAo E TERRITRIo; DIFICULDADES DE PoRTUGAL EM MATRIA DE INoVAo

A inovao um dos factores chave de melhoria da competitividade das instituies e um dos elementos fulcrais no desenvolvimento territorial. este conceito est a ser utilizado, com uma frequncia crescente, para avaliar a geografia econmica, o que permite analisar e caracterizar regies inovadoras e os factores que permitem o seu desenvolvimento. A adopo de uma postura mais inovadora e articulada de modo concertado ao nvel local e regional, para tirar partido de sinergias e gerar valor acrescentado a partir de complementaridades ao nvel tecnolgico e comercial, constitui uma das formas de enfrentar as ameaas sobre os sectores industrias tradicionais, como a indstria do mobilirio e da madeira, designadamente ao nvel da produo, gerao de valor e de emprego. Importa assim comear por definir o conceito de inovao, a sua importncia, o desenvolvimento da teoria integradora do processo de inovao, sua consequncia para a inovao de produto e de processo e, finalmente, a importncia da inovao organizacional. sublinham-se a seguir os riscos de inovao, ou da falta dela, devido necessidade de a empresa desenvolver uma vantagem competitiva, face aos seus concorrentes. As dimenses da inovao (empresa como geradora ou como utilizadora de inovao e a abordagem extra-i