Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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* * * * MANUAL METODOLÓGk PARA ESTUDOS BOTÂNICOS NA MATA ATLÂNTICA 2 1 MAH ?005 Organizadoras Lana da Silva Syívestre Maria Mercedes Teixeira da Rosa

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MANUAL METODOLÓGkPARA ESTUDOS BOTÂNICOS

NA MATA ATLÂNTICA

2 1 MAH ?005

Organizadoras

Lana da Silva SyívestreMaria Mercedes Teixeira da Rosa

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COPYRIGHT©2002

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:RENATO PIZARRO DRUMMOND E LEONARDO GWATTALJ OE MELLO CAMPOSINSTTTUTO DE PESQUISAS JARDIM BOTÂNICO DO Rio DE JANEIROLANA DA SILVA SYLVESTREDEPARTAMENTO DE BOTÂNICA - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO Rio DE JANEIROREVISÃO DO TEXTOLANA DA SILVA SYLVESTRE - MARIA MERCEDES TEIXEIRA DA ROSADEPARTAMENTO DE BOTÂNICA - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO Rio DE JANEIRO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO Rio DE JANEIROREITORJOSÉ ANTÓNIO DE SOUZA VEIGAVICE-REITORMARIA DA CONCEIÇÃO ESTELUTA VIANNIDECANO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOJORGE JACOB NETOEDITORMAURÍCIO BALLESTEIRO PEREIRA

Prefácio

581.0981M294

FICHA CATALOGRÁFICA

MANUAL METODOLÓGICO PARA ESTUDOS BOTÂNICOSNA MATA ATLÂNTICA/ORGANIZADORAS; LANA DASILVA SYLVESTRE E MARIA MERCEDES TEIXEIRA DAROSA. - SEROPÉDICA, RJ: EDUR, 2002.

123 P..'IL,. MAPAS, GRÁFICOS, TABELAS.

BIBLIOGRAFIA: p. 121-122.

ISBN 85-85720-27-1I. BOTÂNICA - MATA ATLÂNTICA - MANUAIS,

GUIAS, ETC. 2. ECOSSISTEMA- MANUAIS, GUIAS, ETC. I.

SYLVESTRE, LANA DA SILVA. II. ROSA, MARIAMhKCHUbSThlXt-IKADA, -III. TÍTULO

RESERVADOS TOOOS os DIREITOS DE PUBLICAÇÃO À:EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO Rio DE JANEIRO

PRÉDIO PRINCIPAL, SALA 102 PIRODOVIA BR - 465, KM 7, SEROPÉDICA, RJ, BRASIL

CEP: 23890-000Fone (Oxx21) ) 2682-1201 ramal 235 - Fax: (Oxx21) 2682-1201E-maíl: [email protected] http://www.ufnj.br/editora.htm

Desde os tempos da Ilha de Vera Cruz, a "nova" sociedade brasileira, nasua formação essencialmente europeia, deu início a toda sorte de utilização dosrecursos da Mata Atlântica. Os arraiais irradiaram-se primeiramente no litoral,tanto em direção ao sul como ao norte e, durante séculos, embora avançandotambém para o interior, as atividades continuaram se expandindo pelo litoral,levando à uma drástica redução da cobertura vegetal e, consequentemente, dabiodiversidade.

Apesar do grave processo de fragmentação, os remanescentes ao longoda distribuição original da Mata Atlântica guardam, ainda, boa representati vidadeda flora original.

Não é novidade a importância de estudos que visem compreender a inter-relação dos múltiplos fatores que possibilitam a ocorrência de vegetação detamanha expressão. Até a década de 70, poucos eram os trabalhos que tratavamcom o rigor de métodos as pesquisas realizadas na Mata Atlântica. Esse quadromudou substancialmente com a implantação dos cursos de pós-graduação comênfase em Botânica e em Ecologia.

Nós, brasileiros, produzimos poucos livros didáticos. Nesse sentido, é muitobem-vinda a iniciativa da publicação do MANUAL METODOLÓGICO PARAESTUDOS NA MATA ATLÂNTICA, cujos temas abordados oferecem umavisão conjunta de aspectos relevantes para a compreensão do funcionamentoda floresta, fundamental em projetos de conservação e recuperação ambiental.

O Manual, didaticamente muito bem cuidado, é escrito numa linguagemclara e objctiva, o que torna sua leitura tarefa fácil e agradável. Para osestudantes, em especial, que cada vez mais têm-se interessado por temasconservacionistas, uma lacuna está sendo preenchida.

Alexandre Francisco da SilvaProfessor Adjunto

Universidade Federal de Viçosa

IMPRESSO NO BRASIL

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O DE EiOCIÊNCIAS

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Sumário

1. Introdução ........................................................................................ 7(7 5/7 vá Sylvestre e Maria Mercedes Teixeira da Rosa

2. Caracterização da Mata Atlântica .................................................. 9Ariane Lima Peixoto, Maria Mercedes Teixeira da Rosa e lues MachlineSilva

3. Inventário florístico ........................................................................ 24Rejan R. Guedes-Bruni, Marli P. Morim, Haroldo C. de Lima e Lana daSilva Sylvestre

4. Inventário fítossociológico .............................................................. 51Yara Stntffaldi de Vuono

5. Diagrama de perfil .......................................................................... 66Maria Margarida R. Fiúza de Melo

6. Ciclagem de nutrientes minerais .................................................. 72Mansa Domingos. Márcia l. M. S. Lopes e Yara Struffaldi de Vuono

7. Conservação da flora da Mata Atlântica ........................................ 104Haroldo C. de Lima, Ariane Lima Peixoto e Tânia Sampaio Pereira

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L Introdução

Lana da Silva Sylvesíre'Maria Mercedes Teixeira da Rosa1

Este livro tem como objetivo reunir uma série de experiências obtidas pordiversos grupos de pesquisadores, no desenvolvimento de seus estudos em áreasde ocorrência de Mata Atlântica.

Neste sentido, este livro tem, inicialmente, uma finalidade didática, servindode base aos estudantes de graduação e pós-graduação e aos profissionais queora se iniciam no estudo deste ecossistema. Destina-se também ao leitor leigo,mas interessado na preservação de nossas matas nativas, professores epesquisadores de áreas conexas, uma vez que os estudos multidisciplinares têmmerecido, cada vez mais, uma atenção especial, visando o melhor uso e manejodos recursos naturais.

Este trabalho baseia-se, portanto, na coletânea de textos elaborados porequipes diversas que, por iniciativa do CNPq (Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico), integraram-se no Programa "Linhasde ação em Botânica - Ecossistema Mata Atlântica", que reuniu Instituiçõesque desenvolviam projetos nesta área. Este Programa buscou induzir pesquisasorientadas em ecossistemas diagnosticados como carentes (Pantanal, Restinga,Mangue e Mata Atlântica), num esforço concentrado. No caso específico daMata Atlântica, o Programa englobou cinco equipes multidisciplinares, quedesenvolveram estudos em áreas remanescentes em diferentes níveis depreservação, situadas em quatro Estados brasileiros (Minas Gerais, Espírito Santo,Rio de Janeiro c São Paulo). Como um dos resultados, é apresentado este manual,que aborda a metodologia desenvolvida por estes grupos na abrangência de suasespecialidades, indicando seus possíveis resultados e de que forma estes poderãocontribuir para a preservação e manejo deste ecossistema.

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Departamento de Botânica.

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L. S- Sylvestre & M. M. T. Rosa

O capítulo I N » i . i l Ha ia da caracterização da Mata Atlântica, em uma; i l i i m l i i ) ' r M i I n s i u i i c i i , geográfica, fisionômica-estrutural e conservacionista. Ot . i p i i u l i > M piinU1 apresenta o inventário florístico, com seus objetivos, métodosr i r - . uh . i i l n s , representando uma importante etapa do estudo do ecossistema,l o i i i i ' í nulo informações básicas que subsidiarão estudos biológicosM i l i M - q i i r n i c s . O inventário fitossociológico complementa a análise florística,lomivmdo as relações quantitativas entre os táxons e sua estrutura horizontalr viTl i ra l . Desta forma, são apresentados, neste capítulo, métodos e parâmetrosi | iu - são necessários para a realização destes estudos. Análises fisionômicas-t-sl iut i i rais podem ser aplicadas para ilustrar detalhes da distribuição verticalilas espécies presentes em uma determinada área de ocorrência desteecossistema. Estas análises são representadas diagramaticamente, e sãodenominadas de diagrama de perfil, conforme apresentado no capítulo 5. Oestudo da ciclagem de nutrientes minerais é utilizado para se conhecer ofuncionamento de um ecossistema do ponto de vista de sua manutenção eestágio sucessional, sendo utilizado também para a detecção de distúrbios deorigem natural ou antrópica. A metodologia de realização destes estudos, aforma de quantificação dos nutrientes, o fluxo destes nutrientes na estrutura dafloresta, bem como os resultados esperados podem ser encontrados no capítulo6.0 capítulo final trata da utilização dos dados em conservacionismo, visandoo estabelecimento de uma política conservacionista para a Mata Atlântica.

Esperamos que este livro forneça bases para esforços conservacionistas,através do incentivo de novos grupos no estudo da Mata Atlântica, em suasdiferentes e novas áreas do conhecimento. A divulgação destas pesquisas torna-se necessária e urgente, no sentido de embasar projetos de educação ambiental,m;uu'jo e conservação, que se tornam prioritários vista a acelerada degradaçãodrslr tvossistcma.

2. Caracterização da Mata Atlântica

A nane Luna Peixoto1

Maria Mercedes Teixeira da Rosa'Inês Machline Silva'

Na época do descobrimento, a Mata Atlântica estendia-se ao longo dacosta oriental brasileira, numa faixa de largura variada, desde o Rio Grande doNorte até o Rio Grande do Sul. Cobria tanto a planície costeira como as encostase planaltos, ocupando uma área de aproximadamente l milhão de km2. A fortein f luênc ia oceânica associada às condições climáticas, ecológicas eprincipalmente uma rica fácies gco morto lógica favoreceram o desenvolvimentode uma flora exuberante, a qual por sua vez propiciou a manutenção de umafantástica diversidade faunística.

A origem da Mata Atlântica tem seus primórdios na fragmentação dosupercontinente Gondwana, no Jurássico. Com a quebra e o início da derivacontinental que separou a América do Sul da África, originaram-se, na margemcontinental, numerosas e profundas bacias de sedimentação preenchidas comsedimentos cretáceos e cenozóicos (Bigarella, 1991).'A floresta que cobre acosta oriental brasileira é, assim, o testemunho de uma complexidade de eventosgeomorfológicos, climáticos, biológicos e ecológicos, cada trecho sendo únicoem sua documentação histórica e em seu conjunto de formas vivas.

As oscilações climáticas com alternâncias cíclicas de períodos frios esecos (condições climáticas semi-áridas) seguidos de outros, quentes e úmidos(condições climáticas úmidas), que se sucederam principalmente nos últimosdois milhões de anos, propiciaram ora a expansão, ora a retração das florestastropicais. Nos períodos semi-áridos, a Mata Atlântica restringiu-se a i lhas,ditas refúgios, onde as condições de umidade puderam manlê-la, senil» quegrande parte da área coberta por floresta cedeu lugar ã vegciacan adaptada aoclima seco. Nos períodos interglaciais, caracterizados por climas mais quentes

1 Universidade Federal Rural do Rio tle Janoin> - lV|i;iil;imi:nlo do |int;inic;<.

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A. L. Peixoto ei ul. Caracterização cia Mata Atlântica

e úniidos, a floresta expandiu-se sobre as áreas semi-áridas predominantementea partir dos estoques genéticos dos refúgios. A figura l (a-d) mostra as médiasatuais de pluviosidade e temperatura, evidenciando as variações ocorrentesem quatro localidades ao longo da costa atlântica.

Recobrindo, em enormes extensões, solos de boa qualidade para aagricultura e pecuária, além de possuir espécies vegetais de alto valor comercial,a floresta atlântica estava condenada ao desmatamento e a degeneração (Câmara,1991/92). Cinco séculos de ocupação reduziram a floresta a pequenas manchas.O extrativismo que teve início com a exploração do pau-brasil, expandindo-seposteriormente para outras madeiras, palmito e xaxim, a expansão de culturasde cana-de-açúcar, café, cacau e banana, assim como a agricultura desubsistência e a especulação imobiliária, podem ser apontadas como asprincipais causas da drástica redução da mata atlântica (Joly et ai, 1991). Nãoexistem dados efeti vãmente confiáveis da superfície total remanescente. Autoresdivergem quanto a este valor, que está entre 5% a 15%, sendo os resíduosflorestais, muitas vezes, pequenos fragmentos disjuntos e floristicamenteempobrecidos (figura 2). Embora seja considerada uma das regiões de maiorbiodiversidade do planeta, é paradoxalmente, uma das mais ameaçadas.

A Mata Atlântica caracteriza-se principalmente pela riqueza em epífitosdos mais variados tipos, pertencentes à táxons vasculares ou avasculares epelas árvores de folhas sempre verdes, que persistem por um temporelativamente longo e que apresentam geralmente adaptações para climaextremamente chuvoso. As palmeiras dão às florestas tropicais sua fisionomiamais típica, tanto pelo porte ímpar como pelas formas de crescimentocaracterísticas e geometricamente organizadas. Entretanto, quando se analisaa biodiversidade na mata atlântica comparando-a com outras regiões tropicais,os dados mais surpreendentes são o grande número de Myrtaceae e a quantidadede fungos associados à rizosfera (Peixoto, 1991/92).

A riqueza de Myrtaceae tem sido apontada através de estudosfitossociológicos realizados em diversas áreas, como característica marcanteda Mata Atlântica, estando essa família listada geralmente entre aquelas commaior número de espécies. Na região neotropical, esse grande número deMyrtaceae é restrito à costa brasileira, sendo, no entanto, encontrado tambémem florestas paleotropicais (Peixoto e Genlry, 1990).

É muito grande a quantidade de fungos que vivem em simbiose com raízesdas espécies da floresta, em que as plantas verdes cedem aos fungos elementosproduzidos pela fotossíntese e os microrganismos transferem ao vegetal a águaa os elementos minerais absorvidos do solo por suas hifas. Estes fungos emuitos outros microrganismos que se desenvolvem em espaços inter-radiculares,

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no solo úmido e na camada de folhas que o recobre, aumentamextraordinariamente a superfície de contato da raiz com o solo. Formam redesdensas, possibilitando assim, a ciclagem rápida da matéria orgânica necessáriapara manutenção da exuberância da vegetação em um frágil equilíbrio poucoresistente a perturbações.

O alto índice de endemismo é também uma forte característica da MataAtlântica. Mori et ai. (1981) calculam que de cada duas espécies arbóreas,uma ocorre exclusivamente neste ecossistema. Entre as plantas herbáceas,especialmente entre os epífitos, este índice é ainda maior. Joly et ai. (1991)sugerem que entre as palmeiras e bromélias, duas em cada três espécies devamser endémicas. Dentro deste contingente há, entretanto, aquelas plantas quesão restritas a determinadas localidades, sendo daí exclusivas. As serranias doRio de Janeiro, a região do norte do Espírito Santo/Sul da Bahia e o litoral dePernambuco representam áreas ditas refúgios nas quais há grande diversidadebiológica e o numero de endémicos restritos é muito alto.

Dois aspectos morfo-estruturais estão representados na Mata Atlântica:(1) terrenos de embasamento cristalino, geralmente nas regiões serranas,correspondendo a dissecações de antigas superfícies de erosão deformadaspor arqueamentos e falhamentos; (2) terrenos constituídos pelo capeamentosedimentar podendo ser exemplificado pelos tabuleiros da Série Barreiras, desuperfície plana e altitudes superiores a 100 m (Bigarella, 1991). Condicionadaspredominantemente pela topografia e altitude, cinco formações florestaisdistintas, tanto em aspectos fisionómicos quanto florísticos podem serreconhecidas: floresta de planície, floresta de encosta, floresta de altitude,floresta de tabuleiro e "brejo".

As Florestas de Planície ocupam predominantemente terrenos formadospor aluviões provenientes das escarpas das serras, que se juntam aos cordõesarenosos depositados pelo mar, sendo ricos em depósitos lagunares e fluviais,resultando assim numa região edafico-topográfica contrastando com aquelaobservada nas escarpas serranas. Os solos são areno-argilosos, ácidos e depobres a ricos em nutrientes. A pluviosidade, menor que na floresta de encosta,propicia a ocorrência de floresta subcaducifólia em alguns trechos. Nasdepressões de planície, especialmente nos tabuleiros, existem várzeas mais oumenos extensas nas quais o solo parcialmente encharcado propicia a instalaçãode uma floresta alagadiça dominada por poucas espécies e caracterizada poruma baixa biodiversidade. Na zona da mata costeira (Região Nordeste), nabaixada fluminense (Rio de Janeiro), no vale do Rio Ribeira (São Paulo) e naregião central do litoral paranaense e catarinense, a floresta de planície atingemaiores extensões. Além das espécies próprias a estas florestas, podem ser

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enconiiailas algumas outras, características das matas de restinga e da vegetação dascnmslas, A vi-f.dação tem aspecto denso, estando o dossel florestal a 20 m ou 30 m de

ia, havendo nílida superposição de copas em exlratos bem definidos. As•maivas, i|iK- em alguns locais chegam a cobrir o solo, são representadas

i i i ifipalmenlc por marantas, bromélías e samambaias. As epífitas vascularesuco abundantes, em contrapartida há uma riqueza notável de epífitaslares cobrindo os troncos das árvores e como cortinas pendentes nos

ramos.A presença do palmiteiro já é considerável na floresta de planície,

constituindo essa formação também o ambiente preferencial de ocorrência dopau-brasil. Estas florestas foram as primeiras a serem exploradas ou destruídas,cedendo espaço para o assentamento de vilas e cidades e à expansão de fronteirasagrícolas, restando dela hoje poucos remanescentes testemunhos.

As encostas íngremes apresentam-se geralmente com solos deembasamento cristalino, ora mais profundos (latossolo vermelho-amarelo), oramais rasos e sub-rochosos (litossolo), dando sustentação a exuberante florestapluvial tropical de encosta. Do norte do Rio de Janeiro ao sul de Santa Catarina,a Serra do Mar estende-se paralelamente à costa e opõe-se frontalmente à direçãodos ventos oriundos do mar, exercendo uma sensível in f luênc ia nasprecipitações, que aumentam na proporção direta da altitude. Nesta região, demodo geral, ocorrem chuvas em mais de 50% dos dias de verão, enquanto noinverno chove, em média, em 33% dos dias. As áreas mais chuvosas estãolocalizadas nas bordas das escarpas da serra, cuja pluviosidade média anualchega a até 4000m, e as menos chuvosas na base das encostas. Além das chuvas,a neblina contribui para a umidade elevada durante todo o ano, o que constituium dos principais condicionantes da mata ali existente.

Na Mata de Encosta, as árvores geralmente alcançam 20 a 30 m deallura, não havendo a formação de um dossel contínuo (figura 3, tabela l). Talfalo decorre da distribuição escalonada da vegetação sobre vertentes em geralmuilo íngremes, propiciando maior acesso a iluminação. Em função do espaçodisponível entre as copas das árvores, permitindo uma maior entrada de luz,unta infinidade de epífitos cresce sobre troncos e ramos das árvores. É nal lu i r s l i i i U' encosta que os epífitos atingem maior abundância e diversidade.l l inmcl iacnu ' , Orchidaceae, Araceae, Polypodiaceae, Pipcraceae e< Irsnn HiiTiK' silo as famílias melhor representadas entre os epífitos vasculares,mentiu MUI |iivfiult (Mir a diversidade de tipos, tamanhos e formas. Devido à beleza'OMjni l i i i ilns foi mus di- crescimento, do variegado das folhas ou ainda pelaI t r l r / U i l i iN l lotVN q iu- piodu/.rm, são consideradas plantas ornamentais ideais

Caracterização da Mala Atlântica

para ambientes sombreados. Denominadas erroneamente de "parasitas", aolongo dos anos elas vêm sendo exploradas comercialmente, levando àdegradação das populações por retirada indiscriminada de material genético.Algumas espécies são hoje conhecidas apenas em cultivo, pelo fato de suaspopulações naturais já terem desaparecido.

Estando a floresta de encosta sujeita a chuvas copiosas no verão, a coberturado solo se faz indispensável para amenizar a erosão, o escorregamento de massasem locais de declividade mais acentuada e o assoreamento dos cursos d'água. Asperturbações causadas levam a uma exposição do solo que é facilmente erodido,dada a sua textura e topografia acidentada, que maximiza a erosão laminar.Consequentemente, uma perturbação localizada pode se expandir rapidamentealterando ou destruindo áreas consideráveis (Joly et ai., 1991).

A Floresta de Altitude é a terceira fácie da Mata Atlântica, ocorrendopredomínantemente nas regiões sul e sudeste, geralmente quando a escarpaatinge altitudes em torno de l lOOm, ou mesmo abaixo desta, quando ascondições edafo-climáticas são favoráveis. Nestas faixas de altitude, a presençade neblina é uma constante, razão pela qual ela recebe também a denominaçãode floresta nebular ou floresta pluvio-nebular. A vegetação é constituída porárvores ou arvoretas de até l O m de altura, sendo maior a frequência de espéciescom folhas rijas ou com margens dentadas. Os epífitos vasculares ocorrem emmenor quantidade, estando representados predomínantemente por Bromeliaceaee Pteridófitas. Entretanto, a presença de epífitos avasculares, especialmenteliquens e musgos, é notável.

No trecho austral da floresta atlântica, entre o mar e o Rio Paraná, nochamado Planalto Meridional, e em áreas nucleares geralmente acima de 1600m de altitude (principalmente na Serra do Mar e Mantiqueira), a floresta dealtitude toma aspecto muito peculiar devido à dominância da araucária oupinheiro-do-Paraná. As florestas de araucária representam relíquias depaieoclimas mais frios e secos quando estas florestas ocuparam extensas áreas,estando agora em fase de retração, sendo os seus espaços paulatinamenteocupados pela floresta pluvial atlântica. A araucária é uma espécie pioneira,heliófita, que para germinar e se estabelecer necessita de maior luminosidadedo que aquela encontrada no interior da floresta. Assim, de modo geral, osambientes campestres são colonizados pela araucária, que ao se desenvolverpropicia ambiente para o estabelecimento de outras espécies como a imbuía ocedro e a erva-mate. Prosseguindo os estágios de sucessão florestal, espéciesumbrófilas se estabelecem, a comunidade adensa-sc c a araucária não encontramais condições favoráveis para sua germinação. Com o lérmino do ciclo v i l a l

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da araucária, de cerca de 300 anos, a floresta perde os elementos emergentesdominantes, ficando o dossel composto por indivíduos de diferentes espécies.

A Floresta de Tabuleiros ou hiléia baiana ocorre no sul da Bahia e nortedo Espírito Santo, onde se estendem vastas planícies sedimentares, os tabuleirosterciários da série Barreiras, pontilhadas de lagoas e brejos com relevocaracterizado por uma sequência de colinas tabulares, com altitude variandoentre 28 m e 90 m. Condicionada principalmente por fatores geológicos e edáfico-climáticos, apresenta-se com características fisionómicas e florísticas muitoparticulares, apresentando fortes correlações com a floresta amazônica. O soloé argilo-arenoso pobre ou muito pobre, sendo notável, em algumas áreas, aausência de elementos-traço, bem como a ausência quase total de rochas dequalquer natureza. O clima quente e úmido, com estação seca relativamentebem marcada, confere à vegetação o caráter de semideciduidade.

A vegetação é caracterizada por árvores de grande porte que formam odossel a 35 m ou 40 m de altura, sendo a estratificação florestal relativamentebem definida (figura 4, tabela 2). São frequentes exemplares com diâmetro dotronco superior a 80 cm, a formação de raízes tabulares ou sapopemas e apresença de espécies lactescentes. Dentre as formações florestais da MataAtlântica, é na floresta de tabuleiros que ocorre a maior diversidade específicaentre os elementos arbóreos. Muitos géneros e algumas espécies arbóreasocorrem nesta área e na Amazónia, servindo de exemplo de distribuiçãogeográfica disjunta que testemunha períodos geológicos e climáticos anteriores,quando as florestas amazônica e atlântica estiveram conectadas.

A sinúsia de epífítos e herbáceas é menos diversificada do que nas demaisformações atlânticas, embora o número de endemismos seja surpreendente.Uma característica desta formação é a riqueza e a diversidade de lianas,especialmente as fortemente lenhosas (Peixoto e Gentry, 1990).

Os "Brejos" ou "Serras Úmidas" ocorrem no domínio das caatingas,em áreas com altitudes superiores a 600 m, onde a condensação de nevoeirosfornece grande parte do suprimento d'água necessário à manutenção davegetação. A posição destas serras, geralmente perpendiculares ao sentido dosventos dominantes, gera oásis climáticos, possibilitando a existência demicroclimas úmidos, com temperaturas amenas (figura 5). Nestes brejos, apluviosidade, embora muito superior a da caatinga circundante, não é todaviasuficiente para manter a exuberante floresta que aí viceja. A chamada"precipitação oculta" dentro da mata, contribui notavelmente para conservar osuprimento hídrico suficiente para a manutenção da floresta e para alimentaros pequenos riachos que descem das encostas. Esse fenómeno é resultante dacondensação que ocorre na densa folhagem da copa das árvores que, à noite,

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apresenta temperatura inferior a do ar circundante, contribuindo para aumentarnotavelmente a superfície de condensação do ar saturado de umidade,principalmente nos meses mais frios. A água assim condensada escorre pelostroncos, incorporando-se ao solo permeável e profundo (Lyra, 1984).

A vegetação caracteriza-se por apresentar um dossel florestal mais oumenos contínuo de 15 m a 20 m de altura e árvores emergentes esparsas, de até30 m de altura. As espécies arbóreas são, em sua maioria, as mesmas queocorrem na mata atlântica de encosta, sendo, entretanto, distinta a frequência ea distribuição das espécies nas diferentes áreas de brejo. As árvoresfrequentemente têm o tronco e os ramos cobertos por briófitas e liquens, queformam comunidades muito ricas em espécies. Entre as árvores de pequenoporte, arbustos, ervas e epífitos há um contingente grande de espéciesendémicas, muitas vezes restritas a apenas uma área de brejo. O conhecimentobotânico dessas áreas, especialmente das plantas herbáceas e epífitas, é aindamuito pequeno, o que inviabiliza o manuseio adequado e mesmo a exploraçãoracional da flora local. Sabe-se que um grande contingente de plantas é utilizadopelas populações locais como fonte de medicamentos, fibras, ceras, resinas eprincipalmente madeira, sem que haja experimentos de cultivo dessas espécies,muitas das quais com a sobrevivência seriamente ameaçada devido à reduçãode suas populações.

Referências

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HUECK, K. 1972. As florestas da América do Sul. Ecologia, composiçãoe importância económica. São Paulo, Polígono, Editora Universidade deBrasília. 466p.

JOLY,C. A.; LEITÃO FILHO, H. F. & SILVA, S. M. 1991. Vegetação daMata Atlântica. In: Mata Atlântica. Ed. Index/Fundação SOS MataAtlântica, p. 95 - 125.

LYRA, A. L. R. T. 1984. Efeitos do relevo em duas áreas do Município doBrejo da Madre de Deus (PE). L Condições climáticas: 263-277; II. Estruturada vegetação: 279-285; III. Diversidade florística: 287-296. Anais do 34".

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A. L. Peixolo eí aí. Caracterização da Mata Atlântica

( , ( j N<ii'ioiml de Botânica, v o i / / , Porto Alegre, R S .M( > N T I ' , I U < ) . S. <V KA/,, L. (eds.). 1991/92. Floresta Atlântica. Rio de Janeiro,

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Figura I: Medidas de pluviosidade e temperatura ao longo cia cosia ;i t lfnilk-;i . (< / ) Hore.sla ilcplanície em Recife, Pernambuco (Mueck, 1972); (h) Floresta ile tabuleiro cm Linhares, l íspír i ioSanto (Peixoto & Geniry, 1990); (c) Floresta de a l l i l i u l e em I la l ia ia . Rio de Janeiro (Hueck,1972); (ci) Floresta de encosta em Ubatuha, São Paulu (Silva, I9KO).

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A. L. Peixoto et u/. Caracterização da Mata Atlântica

FLORESTA ATLÂNTICA

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Figura 2: Mapa do Brasil mostrando as áreas remanescentes de Mata Atlântica (Monteiro & igura 3: Diagrama de perfil de um trecho de floresta de

Kaz, 1991). Paulo (Silva, 1980).encosta no Município de Ubatuba, São

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gU árvores em decrepitude

60mFigura 4: Diagrama de perfil de um trecho de floresta de tabuleiro no município de Linhares,

Espírito Santo (Peixoto et ai., 1995).

Page 12: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

A. L. Peixoto ef ai. Caracterização da Mata Ailàniira

Tabela 2: Lista de espécies enumeradas na figura 4

1. Duguetia lanceolata2. Hydrogaster trinervis3. Myrcia racemosa4. Astronium graveolans5. Trattinnickia sp.6. Trichilia sp.7. Couepia schottii8. Schoepfia oblongifolia9. Sterculia spedosa

10. Atrocaryum aculeatissimum11. Myrciaria amazonica12. Myrcia racemosa13. Trichilia sp.14. Ocotea aciphylla15. Senefeldera multiflora16. Franchetella sp.17. Buchenavia hoehneana18. Jacaratia heptaphylla19. Dialium divaricatum20. Solanum alatirameum2 í. Piptadenia adiantoides22. Eríotheca candolleana23. Enterolobium glaziovii24. Lecythis lanceolata25. Trichilia sp.26. Machaerium fulvovenosum27. Attalea humilis28. Hydrogaster trinervis29. Tibouchina granulosa30. Casearia decandra31. Franchetella sp.32. Attalea humilis33. Stephanopodium blanchetianum34. Franchetella sp.

35. Spondias purpúrea36. Ecclinusa ramiflora37. Alchornea triplinervia38. Dialium divaricatum39. Geissospermum laevis40. Centrolobium minus41. Mouriri glazioviana42. Attalea humilis43. Caesalpima férrea44. Schoepfia oblongifolia45. Dialium divaricatum46. Pouleria pachycalyx41. Eugenia aff. pyrifolia48. Tapirira sp.49. Dialium divaricatum50. Dialium divaricatum5 \. Spondias aff. purpúrea52. Sorocea sp.53. Spondias aff. purpúrea54. Simira grazielae55. Micropholis crassipedicellata56. Ocotea divaricata57. Caesalpima férrea58. Tachigali nndtijuga59. Poutería pachycalyx60. Dialium divaricatum61. Marlierea gardneriana62. Tabebuia serratifolia63. Enterolobium glaziovii64. Cariniana legalis65. Ocotea divaricata66. Tapirira sp.67. Caesalpinia férrea68. Myrcia panicularis

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CONVENÇÃO

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18

INSTITUTO DE BIO(

3IBUOTECA

Page 13: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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3. Inventário florístico da Mata Atlântica, evidenciaram a necessidade de melhor definir propostasmetodológicas buscando tornar compatível o uso das mesmas numa estratégiaglobal para a conservação de áreas remanescentes.

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Rejan R. Guedes-Bruni1

Marli Pires Morim1

Haroldo C. de Lima1

Lana da Silva Sylvestre2

A necessidade de exploração dos recursos naturais, associada às exigênciasculturais, tem tornado o conhecimento básico sobre os diversos ecossistemasimprescindível à geração de tecnologias ambientais capazes de promoverresultados efetivos.

Ao se estudar os ecossistemas estão previstas, fundamentalmente, duasabordagens: uma relativa à análise das comunidades e dos fatores abióticosassociados e a outra atinente aos mecanismos reguladores do estabelecimentodas diversas populações e comunidades.

O inventário florístico tem como objetivo identificar as espécies queocorrem em uma determinada área geográfica. Ele é realizado através do estudotaxonômíco do material botânico coletado que é preparado e depositado emherbários. O inventário representa uma importante etapa no conhecimento deum ecossistema, pois fornece informações básicas que subsidiarão os estudos

biológicos subsequentes.O conhecimento florístico é atualmente reconhecido como uma das

necessidades prioritárias para a conservação e uso racional dos ecossistemas.rim decorrência deste pensamento, um elevado esforço vem sendo desenvolvidopara realizar inventários das espécies ocorrentes nas principais formações

vrj ' ,iMais tropicais.Para a Mata Atlântica, este esforço está possibilitando a ampliação dos

1 ' i npus e ins t i tu ições envolvidas no estudo deste ecossistema e,OOnwquenternente, promovendo importantes avanços no conhecimento sobre

M i l l t n M . listes primeiros resultados, face à fragilidade e ao grau de destruição

i i t n i l i i ' i I J I M . . I . lardim Botânico do Rio de Janeiro.1 . i . l ..l. l < .1. M! l í t i i . i l i lo líin (U: Janeiro - Departamento de Botânica.

COLETA E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS

SELEÇÃO DA ÁREA:

A seleção para estudo de uma determinada área deve ser precedida deuma avaliação acurada do ecossistema. Deve-se estabelecer os procedimentosa serem adotados de modo a atender os objetivos propostos pelo inventário.Assim, a efeição de uma determinada área para fins de inventário deve observarcritérios, tais como:

a) o grau de representai Í vidade da vegetação no contexto regional, incluídoaqui os aspectos sócio-culturais, históricos e geográficos;

b) o bom estado de preservação da área representando uma porçãosignificativa de mancha florestal na região, incluindo formações em estadoprimário ou pouco impactadas;

c) o parco conhecimento florístico da área, sustentado pela ocorrência epela qualidade de colelas daí procedentes;

d) a possibilidade de destruição iminente da área face às pressõesantrópicas;

e) a ocorrência de significativas variações no relevo, clima, sofo, entreoutros;

f) a indicação de focos de endemismos e a natureza dos mesmos;g) a importância da área para a compreensão global do ecossistema.

LEVANTAMENTO DAS INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS:

Objetivando atender aos critérios anteriormente expostos, deve-se adotarprocedimentos capazes de reunir o máximo de informações sobro a descrição,mapeamento e composição florística da área a ser inventariada.

Descrição e mapeamento da área:A del imi tação e descrição dos aspectos fisiográficos são de

fundamentai importância para uma análise prévia dos possíveis fatores que

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Page 14: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R. R. Guedes-Bruni *-/ >ii. Inventário florístico

atuam sobre a cobertura vegetal. Assim, tornam-se necessárias algumas

atividades que permitam:a) reunir mapas temáticos (político, geológico, geomorfológico, solo,

vegetação, uso da terra, recursos hídricos, entre outros);b) consultar fontes bibliográficas sobre geografia do Brasil;c) coligir fotografias aéreas na escala 1:25.000 ou l :50.000 que poderão

ser utilizadas para o detalhamcnto da vegetação da área, assim comoimagens de satélite na escala de 1:100.000;

d) reunir dados climatológicos e, se possível, implantar urna estaçãometeorológica na área de estudo;

e) coletar informações de moradores que possam retratar a história locale apontar a relação entre a comunidade e as espécies ali ocorrentes;

f) reconhecer os diferentes tipos de formações vegetais presentes.Para a obtenção de mapas e/ou dados sobre os principais fatores abióticos

as instituições abaixo relacionadas poderão ser consultadas:Mapas temáticos:Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Departamento de Documentação e InformaçãoAv. Brasil 15670 bl.3, térreoRio de Janeiro - RJ

Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais (CPRM)Av. Pasteur, 404 - UrcaRio de Janeiro - RJ

Departamento de Recursos MineraisRua Marechal Deodoro, 351Niterói - RJ

Centro Nacional de Pesquisas FlorestaisEstrada da Ribeira km 111Curitiba - PR

Centro de Cartografia do ExércitoRua Major Daemon 81Rio de Janeiro - RJ

Fotografias aéreas:PROSPEC S.A. - Geologia, Prospecções e Aerofotogrametria

Rua das Palmeiras 52 - BotafogoRio de Janeiro - RJ

Aerofoto CruzeiroAv. Almirante Fronttm 281Rio de Janeiro - RJ

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Agrofoto - Engenharia AgropecitáriaR. Ramom Franco 99Rio de Janeiro - RJ

Imagens de satélite:Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

Caixa Postal 5 í 5São José dos Campos - SP

Dados climáticos:Departamento Nacional de Meteorologia

Eixo Monumental CruzeiroBrasília - DF

Dados sobre solos:Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

Centro Nacional de Conservação de SolosRua Jardim Botânico 1024Rio de Janeiro - RJ

Dados sobre a flora:A exploração botânica da Mata Atlântica teve o seu início no século XVII.

As primeiras expedições percorreram grande parte da costa brasileira e umarepresentativa coleção botânica tem sido acumulada desde então. Informaçõessobre estes exploradores e suas respectivas coleções são sumarizadas em Urban(!906)eHoehnetífíí/. (1941).

Para o levantamento das coleções botânicas mais recentes os principaisherbários deverão ser consultados. A relação dos endereços dos herbáriosnacionais e estrangeiros poderá ser obtida em Hoímgren et ai (1981), BoletimLatinoamerícano de Botânica (1990) e Mori et ai (1989).

Revisões taxonômicas e monografias poderão fornecer, na citação domaterial examinado, informações adicionais.

DEFINIÇÃO DAS ÁREAS DE COLETA

O inventário florístico será tanto mais rico em informações quanto maiorfor a sua área de abrangência. Portanto, o indicado é que ele não só inclua naamostragem os mais diferentes grupos taxonômicos, como também as maisdiferentes fácies do ecossistema.

Em uma primeira eíapa, deverá ser desenvolvido um trabalho exploratórioinicial em uma significativa porção da área a ser inventariada. Isto permitirá

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Page 15: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R. R. Guedes-Bruni e! til. Inventário flartsiit o

ui i i . i farnillariZBÇ&OCOma região, bem como um reconhecimento preliminar das

r - , | > r t i » - , m;iis r ep re sen ta t ivas .As vanaçors topográficas e as diferenças fisionómicas na cobertura

v r j - r i . i l . i l c v i - m n ser consideradas para efeito de escolha dos locais de coleta.Nf.tr i-jiso, as enleias poderão ser ajustadas às necessidades de amostrar toda.1 ampl i lmk ' de variação observada. De modo geral, devem ser incluídos locaisf imiu encostas, lopode montanhas, margens de rios, vales, entre outros. Parauma iiK-lhor comparação da composição florística, é de grande utilidadepiumover coletas intensivas em locais com melhor estado de conservação,como lambem naqueles com clareiras ou margens de picadas em diferentes

estágios sucessionais.A composição florística ao longo de alguns gradientes, principalmente

allitudinal, poderá ser avaliada através de transectos. Este método tambémpoderá proporcionar uma comparação entre os diferentes locais de coleta.

Um inventário deverá abranger a maior extensão possível, desde os locaisde fácil acesso, até os supostamente inacessíveis, sem privilégio de uma ou

outra fitocenose.

PROCEDIMENTOS PARA COLETA E HERBORIZAÇÃODE MATERIAL BOTÂNICO

Uma vez definida a área a ser inventariada, deve-se organizar umcronograma de excursões periódicas, bem como reunir equipamento apropriadoàs necessidades de coleta e preparação do material (sacos de papel e de plásticodr vários tamanhos, canivete, facão, desplantado!, tesoura de poda, tesoura deal ia poda, folhas de jornal, papelão canelado, alumínio corrugado, papel mata-l ioi iao, prensas, cordéis para amarrar as prensas, fita crepe, estufa de campo,t'i |mpamnno para escalar árvores, caderneta de campo, lápis, caneta, lupa de

ni.i" lu i inmlo , altímetro e bússola).A metodologia adequada e os recursos necessários à coleta de material

l ."(.nu* n i i ,u t M i propiciam maior agilidade no trabalho de campo, como conduzem.1 i t l i i r n i , , i u i Ir il;idns consistentes para alcançar, satisfatoriamente, os objetivos

|Mn|in-,hr. p.u,i ti inventário.

O «|ii« inlffui

' > i "li "l" t Ir um i i i v r i i i ã r i o dependem fundamentalmente da coleçãoU n a m ' .1 i i" ' i lu i M M | i n i i » i Ir amostras colctadas na área de estudo. Neste

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processo, o importante é o indivíduo e não o táxon, com todas as suas variaçõesfenotípicas, distribuição e ocorrência nos diversos ambientes.

Devido às exigências dos métodos fitossociológicos, é muito frequenteque apenas árvores e arbustos sejam analisados e contemplados durante acoleta. Deve-se ampliar, entretanto, o campo de trabalho de modo a abranger omáximo possível de amostras de diferentes grupos vegetais que compõem ascomunidades locais. Portanto, na coleção botânica devem constar exemplares de:

a) todos os indivíduos em estado fértil ou estéril que atendam às exigênciaspré-definidas pelo método fitossociológico adotado, isto é, aquelesinclusos na porção da área amostrai e cujo tronco atinja o diâmetro docaule a 1,30 cm do solo (DAP) pré-fixado;

b) os indivíduos, principalmente aqueles em estado fértil, que a princípioestariam excluídos da coieta por não se enquadrarem nas exigências dométodo fitossocioíógico;

O primeiro caso refere-se aos indivíduos que podem ser consideradoscomo elementos imprescindíveis à análise fitossociológica. O segundo sãoespécimes que, independente do hábito e do grupo vegetal, são coletadosaleatoriamente em diferentes locais da área, principalmente naqueles onde hámudanças ambientais, tais como solo, altitude, etc. Na realidade, estas coletasauxiliam na confirmação da representai i v idade da amostra fitossociológica,em relação à totalidade de área. Além disso, incrementam os dados para oalcance de resultados mais abrangentes, em relação à composição florística.Por outro lado, os indivíduos férteis cofetados, independentemente da amostragemfitossociológica, são muitas vezes decisivos para a identificação taxonômicadaqueles da mesma espécie, cujos indivíduos foram coleíados estéreis emoutra ocasião.

Como Coletar

As amostras coleíadas representam, na grande maioria, partes de umindivíduo (estéreis e/ou férteis) em uma determinada fase de sua vida e serãofundamentais para a identificação taxonômica, geralmente alcançada ouconfirmada em laboratório.

No sentido de retratar fielmente o indivíduo, alguns procedimentos geraisdevem ser adotados por ocasião da coleta:

a) anotar os dados sobre o local de coleta e sobre o indivíduo colmado,principalmente aqueles que se perdem após a prensagem e secagem domaterial; caso disponha de um GPS (Geographic Posilion System satilelenavigator), disponibili/ar a locali/acão de fornia geo-referenciada;

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Page 16: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R. R. Guedes-Bruni el aí. Inventário florístico

b) representar, sempre que possível, as variações individuais nas

populações;c) amostrar as variações das partes vegetativas, principalmente se estas

diferem das férteis;d) coletar as partes férteis evidenciando, se possível, suas diferentes fases

de desenvolvimento.O número satisfatório de amostras para cada indivíduo coletado, é aquele

que representa as variações encontradas e também permita a distribuição paraespecialistas, bem como a permuta entre herbários. Em média coleta-se cercade três amostras de indivíduo, quando estéril, e de cinco a sete quando fértil.Contudo, é sempre oportuno ter em mente que a coleta nunca deve colocar em

risco a existência da planta em seu habitat.

Coletando plantas avasculares

Os vegetais avasculares requerem material, procedimentos de coleta e depreparação, diferentes em alguns aspectos, daqueles utilizados para as plantas

vasculares.Na amostragem de fungos macroscópicos, liquens e briófitas de ambientes

terrestres, é essencial que seja também coletado o substrato onde habitam (solo,rocha, tronco, folha, etc), pois neste residem elementos estruturais defundamentai importância para a identificação taxonômica. A amostra é retiradacom auxílio de uma faca ou desplantador (figura 6: h, j), afofando-se o substratopara evitar quebras ou danos ao material coletado. Os espécimes que compõemuma amostra devem ser coletados, sempre que possível, sem prejuízo para aspopulações, em diferentes estágios de desenvolvimento. Os exemplarescoletados são colocados dentro de sacos de papel (figura 6: m) ou, quandomuito grandes, embrulhados em jornal e amarrados com barbante.

As algas são pouco representadas na Mata Atlântica, considerando-seaquelas de habitais terrestres. São basicamente espécies que crescem no solo,sobre rochas ou em troncos de árvores. A metodologia para coleta destes táxonsvaria de acordo com o grupo a ser estudado e o substrato onde este se desenvolve.De modo geral, as algas de ambientes lerrestres são coletadas com espátula ecolocadas em um frasco de vidro com um pouco de água para, rnais tarde(máximo de 48 horas), serem fixadas em soluções específicas (Transeau, porexemplo). O material pode também ser envolvido em papel, deixando-o abertopara secar à temperatura ambiente. Maiores esclarecimentos sobre este grupo,bem como as fórmulas dos líquidos usados para preservação, podem ser obtidos

em Fidalgo & Bononi (1986).

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No preparo de amostras de fungos deve-se, tão logo quanto possível, apósa coteta, separar o píleo do estipe para a impressão dos esporos. Para tal, énecessário que se tenham disponíveis folhas de papel bicolores, com uma dasmetades branca e a outra preta (folha de coleta de esporos). O píleo é entãocolocado sobre o meio desta folha, de modo que metade fique sobre a partebranca e a outra sobre a parte preta. Em seguida, coloca-se em um recipientecoberto, contendo em seu interior papel de filtro ou algodão levementeumedecidos. Aguarda-se cerca de 12 horas, retira-se o fungo, ao mesmo tempoem que dobram-se e secam-se as folhas, guardando-as no saco de coleta,juntamente com o restante da amostra, que geralmente é preservada pe!a simplessecagem ou em meio líquido (Fidalgo & Bononi, /. c.).

Os liquens após coíetados, tendo-se o cuidado para não destruir colóniasque sejam escassas, também são acondicionados em folhas de jornal ou sacosde papel. Não devem ser colocados diretameníe em sacos plásticos, para evitarque a umidade estrague o material. O processo de secagem deve ser realizadopor exposição das amostras ao sol, sobre folhas de jornal. Os liquens ditosfolhosos e fruticosos devem ser colocados em prensas (figuras 6: n e 7: a), quepodem ficar expostas à temperatura ambiente ou à frente de uni ventilador. Aestufa não é recomendável para secagem de liquens.

A coleta de briófitas, em linhas gerais, segue os métodos já descritos paraas demais plantas avasculares. A secagem das amostras deve ser feita àtemperatura ambiente, nos próprios sacos de coleta, sem a utilização de prensas,tendo-se o cuidado de trocá-los sempre que estiverem um idos.

Coletando plantas vasculares

Este grupo inicia-se com as Pteridófitas, plantas que possuem uma grandevariação morfológica, sendo representadas por elementos de poucos centímetrosaté vários metros de altura. Por este motivo é importante coletar partesrepresentativas do esporófito, se possível todo ele, que são indispensáveis àidentificação taxonômica. De modo geral, as técnicas para a coleta e preparaçãodo material são similares àquelas utilizadas nas fanerógamas.

As Pteridófitas, como outras plantas, devem ser coletadas férteis, isto é,com seus órgãos produtores de esporos: os esporângios. Estes são organizadosde formas diferentes nos diversos grupos (soros de formas e localizaçõesvariadas, sinângios, esporocarpos, etc.) e, por este motivo, deve-se utilizaruma lupa de mão para facilitar a identificação destas estruturas. A folha, sempreque o tamanho permitir, deve ser coletada inteira e ainda presa ao caule. Asescamas, que normalmente cobrem o caule ou o pecíolo, precisam ser

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R. R. Guedes-Bruni ff iil.

uiidiulostimciilc preservadas e descritas, especialmente em sua coloração,hevem ser observadas as possíveis variações morfológicas em um mesmoindivíduo, principalmente se as follhas férteis diferirem das estéreis.

As IMeridól i lus com esporófitos pequenos devem ser coletadas inteiras,mesmo que vários indivíduos componham uma amostra. A coleta pode serfeita eom o auxílio de um desplantador e, mesmo se o rizoma esteja muitoaderido ao substrato, este também deve ser coletado. Algumas espécies queapresentam Colhas muito maiores que o tamanho de uma folha de jornal dobradaao meio são fragmentadas utilizando-se a tesoura de poda (figura 6: k). Nocaso de folhas extremamente grandes, como a dos fetos arborescentes, as coletassão realizadas com o auxílio de um podão e devem ser seccionadas na base depecíolo e nas partes basal, mediana e apical da lâmina. Não devem seresquecidas as medidas do comprimento da lâmina e pecíolo, bem como a alturado esporófito, esta especialmente importante no caso dos fetos arborescentes.As amostras são secas, preferencialmente, em estufas (algumas mais delicadasdevem ser expostas à luz solar) devidamente acondicionadas em prensas.Informações adicionais podem ser obtidas em Windisch (1992).

O grupo predominante de plantas vasculares está constituído pelasFanerógamas, as quais variam muito em relação, principalmente, ao habito eforma de vida. Encontram-se desde delicadas ervas com poucos centímetrosde altura até árvores exuberantes que alcançam mais de 30 m. Em funçãodisto, os materiais utilizados para coleta variam de pequenos desplantadores(figura 6:j) a equipamentos mais complexos, utilizados para escalar árvores

muito altas (figura 6;c-g).Como nos outros grupos vegetais as porções férteis, aqui representadas

pelos ramos que portam flores isoladas, inflorescências e frutos, são defundamental importância. Sempre que possível, deve-se adicionar à amostraflores e frutos isolados dos ramos para serem examinados pelo identificador,especialmente no caso de frutos e sementes, com o objetivo de inclusão em

is carpológicas. Esta conservação pode ser feita em meio líquido,-• - —.._, v~nnn\^ os frutos com

Inventário florístico

eoleções carpologicas, nsia v,uu^i .«^«^ r-ulili/iuuln-sc álcool 70% ou FAA (Fidalgo e Bononi, 1989). Os frutos comynwdes dimensões, que não podem ser prensados, são colocados em sacos demlrla, dovidiniKMUc rotulados com o nome do coletor e seu respectivo número.

As civiis, e.ni geral, são coletadas inteiras com auxílio de desplantadorpui ii que scjii retirado o órgão subterrâneo. As herbáceas muito pequenas podemt nuli i i » um nuiis tli1 um indivíduo para constituírem uma única amostra.

( K i i i l n N i i s e árvores têm alguns de seus ramos seccionados com a tesourade podii c estes se eonstilueiu nus amostras que representam o indivíduo na( o l e a d o l i r i l m i i / a d i i Aos procedimentos gerais de coleta, mencionados

i;

anteriormente, devc-se adicionar, para os arbustos e árvores, as seguintesrecomendações:

a) indicar quando a amostra for procedente de indivíduos jovens e/oureb rotos;

b) mostrar a variação, se existente, entre folhas dos ramos estéreis e asdos ramos férteis num mesmo indivíduo.

Arvores cujos ramos estão a alturas inacessíveis são coletadas por meiode podão (figura 6: a, d), islo é, tesoura de aita poda, que pode alcançar atéaproximadamente 12 m de altura. Entretanto, há árvores que ultrapassam emmuito esta altura e, por esta razão, só podem ser coletadas se a equipe contarcom uma pessoa treinada em escalar árvores e util izar o equipamento necessário.São empregados nesta escalada o método de subida com "peconhas"(Oliveira& Zaú, i 995), que utiliza equipamento de alpinismo (figura 6: b), ou o métodode subida com "esporas" (IBGE, 1992), no qual hastes de ferro adaptadas aospés do escalador são cravadas na árvore (figura 6: a, f)- O primeiro método é omais indicado por não causar injúrias no tronco, uma vez que as perfuraçõesfeitas pelo uso das esporas podem facilitar a ação de agentes patogênicos.Para garantir a segurança na escalada, é utilizado o cinturão de segurança(figura 6: c) que é articulado ao talabarte (figura ó: e) e que por sua vez épassado ao redor do corpo do escalador e do tronco (figura 6: a, b). Quandoalcançada uma ramificação resistente que sirva de apoio, o coleíor processa acoleta com auxílio do podão (figura 6: a). Informações adicionais ou métodosalternativos utilizados para coíeta de amostras arbóreas podem ser obtidos emdiversas obras (Perry & Willians, 1991; Whitacre, 1981; Lot & Chiang, 1986;Fidalgo & Bononi, 1989; Dial & Tobin, 1994; Oliveira &Zaú, 1995).

As árvores próximas, com copas sobrepostas e/ou com trepadeirasrequerem atenção para que não haja troca de material no momento da coíetados ramos.

Na coleta de trepadeiras, principalmente aquelas lenhosas que atingem odossel da mata, é importante que sejam amostradas as folhas dos ramos basaise apicais, pois é comum ocorrerem variações em relação ao tamanho, forma,etc. Quando a trepadeira possui elementos específicos para a sua fixação, éimportante que estes estejam representados na amostra. Seções transversais deseus ramos mais desenvolvidos devem ser adicionadas à colelu evi tando,contudo, qualquer prejuízo para o indivíduo. Muitas vezes, ramos leríeis ouaté mesmo estéreis das trepadeiras só são obtidos através da escalada em árvores.

Quando se tratam de coletas de epífitas, eslas são l ihcradas de seus .suportesseccionando-se suas estruturas fixadoras, com auxí l io da lesonr.t de poda oumesmo do facão (figura 6: g).

33

Page 18: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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R. R. Guedes-Bruní ef ai.

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O grupo predominante de plantas vasculares está constituído pelasFanerógamas, as quais variam muito em relação, principalmente, ao habito eforma de vida. Encontram-se desde delicadas ervas com poucos centímetrosde altura até árvores exuberantes que alcançam mais de 30 m. Em funçãodisto, os materiais utilizados para coleta variam de pequenos desplantádores(figura 6:j) a equipamentos mais complexos, utilizados para escalar árvores

muito altas (figura 6:c-g).Como nos outros grupos vegetais as porções férteis, aqui representadas

pelos ramos que portam flores isoladas, inflorescências e frutos, são defundamental importância. Sempre que possível, deve-se adicionar à amostraflores e frutos isolados dos ramos para serem examinados pelo identificador,especialmente no caso de frutos e sementes, com o objetivo de inclusão em< olrções carpológicas. Esta conservação pode ser feita em meio líquido,nli l i / inulo-se álcool 70% ou FAA (Fidalgo e Bononi, 1989). Os frutos coml't ,mdi 's dimensões, que não podem ser prensados, são colocados em sacos de• i i l r i . i . i lrvidiimcnic rotulados com o nome do coletor e seu respectivo número.

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anteriormente, deve-se adicionar, para os arbustos e árvores, as seguintesrecomendações:

a) indicar quando a amostra for procedente de indivíduos jovens e/ourebrotos;

b) mostrar a variação, se existente, entre folhas dos ramos estéreis e asdos ramos férteis num mesmo indivíduo.

Árvores cujos ramos estão a alturas inacessíveis são coletadas por meiode podão (figura 6: a, d), isto é, tesoura de alta poda, que pode alcançar atéaproximadamente 12 m de altura. Entretanto, há árvores que ultrapassam emmuito esta altura e, por esta razão, só podem ser coletadas se a equipe contarcom uma pessoa treinada em escalar árvores e utilizar o equipamento necessário.São empregados nesta escalada o método de subida com "peconhas"(Oliveira& Zaú, 1995), que utiliza equipamento de alpinismo (figura 6: b), ou o métodode subida com "esporas" (IBGE, 1992), no qual hastes de ferro adaptadas aospés do escalador são cravadas na árvore (figura 6: a, f)- O primeiro método é omais indicado por não causar injúrias no tronco, uma vez que as perfuraçõesfeitas peio uso das esporas podem facilitar a ação de agentes patogênicos.Para garantir a segurança na escalada, é utilizado o cinturão de segurança(figura 6: c) que é articulado ao talabarte (figura 6: e) e que por sua vez épassado ao redor do corpo do escalador e do tronco (figura 6: a, b). Quandoalcançada uma ramificação resistente que sirva de apoio, o coletor processa acoleta com auxílio do podão (figura 6: a). Informações adicionais ou métodosalternativos utilizados para coleta de amostras arbóreas podem ser obtidos emdiversas obras (Perry & Willians, 1991; Whitacre, 1981; Lot & Chiang, 1986;Fidalgo & Bononi, 1989; Dial & Tobin, 1994; Oliveira & Zaú, 1995).

As árvores próximas, com copas sobrepostas e/ou com trepadeirasrequerem atenção para que não haja troca de material no momento da coletados ramos.

Na coleta de trepadeiras, principalmente aquelas lenhosas que atingem odossel da mala, é importante que sejam amostradas as folhas dos ramos basaise apicais, pois é comum ocorrerem variações em relação ao tamanho, forma,etc. Quando a trepadeira possui elementos específicos para a sua fixação, éimportante que estes estejam representados na amostra. Seções transversais deseus ramos mais desenvolvidos devem ser adicionadas à coleta evitando,contudo, qualquer prejuízo para o indivíduo. Muitas vezes, ramos férteis ouaté mesmo estéreis das trepadeiras só são obtidos através da escalada em árvores.

Quando se tratam de coletas de epífitas, estas são l ihcradas de seus suportesseccionando-se suas estruturas fixadoras, com auxílio da tesoura de poda oumesmo do facão (figura 6: g).

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Page 19: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R- R. Guedes-Bruni ei ai.

Dados sobre as coletas

O material botânico, coletado e herborizado, perde muito do seu valorcaso não sejam fornecidas informações precisas sobre o local de coleta e sobreo indivíduo, ainda no campo. Assim, é essencial que o coletor tenha sempreuma caderneta de campo (figura 6: i) onde são feitas as anotações necessárias,as quais serão repassadas para as etiquetas que ficarão permanentementeanexadas ao material herborizado (figura 7: d). A numeração do coletor, emrelação às amostras por ele coletadas, segue a sequência crescente de números,independente do local e data de coleta. Portanto, os dados a serem anotados,independentes do grupo vegetal ao qual pertença, devem contemplar:

a) Localização da área: devem ser citados, de forma precisa, o país,estado, município, localidade, coordenadas geográficas, de modo aviabilizar a localização da planta por qualquer outro coletor que ali venhaa retornar;

b) Condições ambientais: informações sobre o ambiente geral, tais comoo tipo de formação vegetal e o meio específico onde se encontra oindivíduo (altitude, solo ou substrato, luminosidade etc.);

c) Indivíduo: indicações sobre os elementos não representados na amostra(tamanho, DAP, fuste, dados sobre o tronco) e aqueles que, mesmopresentes, serão perdidos em consequência da herborízação (coloração,aroma, consistência etc.) são imprescindíveis. Em se tratando de umexemplar procedente de amostragem fitossociológica, deverá serindicada a numeração que este recebeu quando da implantação dométodo. O nome pelo qual a planta coletada é conhecida popularmente,assim como suas possíveis utilidades, devem igualmente constar naetiqueta. Para plantas a vasculares e vasculares de hábitos trepadoresou epifíticos, devem ser anotados também os nomes das plantas sobreas quais estão apoiadas ou fixadas;

d) Coletor: o nome do coletor e seu respectivo número de coleta estarãosempre associados à amostra, sendo ele o responsável pelo conjunto deinformações fornecidas. Indicar também a data em que ocorreu a coleta.

Herborízação do material

O processo de herborízação das amostras coletadas consiste na prensageme secagem das mesmas.

A prensagem é basicamente o acondicionamento de cada exemplar

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Inventário florímico

coletado em folhas de jornal dobradas ao meio, que são empilhadas eposteriormente colocadas em prensas de madeira. Os procedimentos geraiscitados a seguir resumem os cuidados que devem ser tomados, visando-se obteramostras prensadas de boa qualidade:

a) prensar as amostras, sempre que possível, logo após a coleta;b) adequar as amostras em tamanhos que, em média, correspondam a 35

cm x 25 cm. As partes do vegetal que excedam estas medidas (folhas,inflorescências, etc.) podem ser seccionadas ou, se possível, dobradas,sem avolumar muito a amostra;

c) colocar cada exemplar coletado em uma folha de jornal, não incluindo 2amostras em uma mesma folha;

d) escrever em cada folha de jornal o nome do coletor, acompanhado doseu número de coleta, e quando for o caso, os dados fitossociológicos(número do indivíduo e da parcela amostrai correspondente);

e) desbastar ramos com muitas folhas procurando-se sempre deixarevidente o vestígio do pecíolo, para que a amostra represente claramentea fiíotaxia e composição das folhas;

f) prensar as folhas alternando-as, isto é, algumas evidenciando a faceventral e outras a face dorsal.

As estruturas muito volumosas de algumas plantas devem receber cortessequenciais nos sentidos longitudinal e transversal e serem prensadasisoladamente das partes mais sensíveis.

Plantas como cactáceas. gramíneas, bromei ias, palmeiras, entre outras,contam com métodos específicos de prensagem empregados por seusespecialistas.

Ao término de um dia de coleta, o material botânico, já previamenteprensado, será submetido à fase da secagem.

A secagem das plantas consiste na desidratação através do calor, dasamostras recém-coletadas, objetivando-se preservar as estruturas vegetais. Omaterial será então reorganizado no interior da prensa e, entre cada uma dasfolhas de jornal, serão colocadas duas folhas de papel chupão, com a folha dealumínio corrugado entre elas {figuras 6; n, s; 7: a, b).

O lote de amostras, assim organizado e devidamente amarrado por cordões,está pronto para ser introduzido na estufa (figura 7: c).

A temperatura e o tempo ideal para a secagem serão aqueles capazes deimpedir que as amostras tornem-se rígidas e quebradiças, oscilando entre 40-60° e de 24 a 48 horas, dependendo da consistência dos exemplares coletados.É imprescindível contar com uma estufa de campo em viagens com duraçãosuperior a dois dias para evitar grandes danos às amostras e, consequentemciilf,

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Page 20: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R. R. Guedes-Bruni ei ai.

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l ' i . ' in.l i . ,11 o ti.ihalho . M I n.i totalidade.l i M - n i j i i e bom lembrar que uma coleção botânica bem documentada,

i r | n i " , r i i l ; i i i v ; t p;n; i a área e que foi adequadamente coletada e herborizada,fumei ei . i n",nl i ;ulos mais consistentes ao inventário e será uma importantelonle p.n.i l i i l m a s pesquisas.

Apesai de só lermos nos referido à coleta de material para fins de estudosllorísiicox c- fitOSSOCÍológicos, vale ressaltar a importância da coleta de plantasv i v j i s e semenlos. Será de grande valor que as instituições de pesquisa,espeei i i lmenle Jardins Botânicos, possam ter representadas em seus arboretos<• b.nií i is de sementes as diversas espécies nativas, promovendo, desta maneira,u m melhor conhecimento sobre os elementos que constituem a flora Brasileira,assim como sua propagação.

IDENTIFICAÇÃO TAXONOMICA

"O primeiro passo para o conhecimento sobre uma planta, suaspropriedades, distribuição e importância, está na garantia de sua identidade.Seu nome carreto é o acesso a muitas informações..." (Forsberg apndWomersley, 1981)

A identificação de plantas é a principal função do taxonomista botânico.Identificar cientificamente consiste em chegar ao nome específico de umdelerminado indivíduo, através da análise de suas estruturas vegetativas ereprodutivas, de acordo com um sistema de classificação existente.

A flora brasileira tem sido apontada como uma das mais ricas ediversificadas. Na realidade, o conhecimento sobre nossas plantas pode serconsiderado incipiente em relação às 60.000 espécies estimadas e aos trabalhosainda escassos sobre floras regionais. Associado a este quadro é muito frequente,nos inventários florísticos e fitossociológicos, um grande volume de material

i n l , u » | i ie dificulta, sobremaneira, uma identificação acurada até mesmo noimel dr i H i n l i i

' i i ,11.11 I r ies mais valiosos e decisivos para a determinação do matéria!i i . i - MI « M I p - i . i l , nas estruturas reprodutoras. Assim, as chaves analíticas• i - i i • i i ' , i i . i i d e n t i l u aç;to laxonômica baseiam-se, principalmente, nestesi i l l . i - h n

\ l « .o i Ir i l i d i u . ,i identificação de um indivíduo estéril consiste em um• M I . i i , h ido n pesquisador obriga-se a investigar mais atentamente

l f,

Inventário florístico

pequenos detalhes em órgãos vegetativos, que poderiam ter passadodespercebidos, e que na realidade, são muito valiosos. Algumas chaves baseadasem estruturas vegetativas já estão disponíveis (Manlovani et ai., 1985;Gentry, l993;Lima&Guedes-Buini, i994, 1996), exemplificando concretamenteo avanço da taxonomia vegetal.

A precisão e maior facilidade na determinação do material coletado implicano acesso à(s):

a) literatura taxonòmica;b) coleções botânicas depositadas em diversos herbários;c) amostras em número suficiente que possibilitem a permuta de material

por identificação;d) listagens de especialistas em grupos taxonômicos.As amostras devem ser agrupadas por morfo-espécies e em seguida

organizadas por famílias. Entende-se como morfo-espécie o material botânicoque reúne um conjunto de caracteres morfológicos, em sua amplitude devariação, e considerando como pertencente a um único táxon específico/infra-específico. Quando se desconhece inclusive a família, uma forma prática dedar início a investigação é separar as morfo-espécies estéreis em grupos defolhas simples e compostas, subdividindo-os baseando-se na filotaxia. Outroscaracteres (látex, estipulas, tipos de pelos etc.) para estes subgrupos podemser considerados favorecendo uma futura identificação. Procede-se então aconsulta bibliográfica e às coleções identificadas depositadas em diversosherbários.

Muitas vezes a amostra, já examinada pelo especialista, é determinadasomente a nível genérico. Isto não deve desestimuíar a continuidade do trabalho.O retorno ao campo favorecerá a eventual coleta de exemplares férteis quepossibilitarão a determinação e/ou a confirmação das identificações dasamostras estéreis.

Um inventário bem planejado deve prever excursões periódicas ao localde estudo, mesmo que seus objetivos gerais já tenham sido alcançados c otrabalho esteja, aparentemente, concluído.

LISTAGEM DOS TAXONS

Duas listagens devem ser elaboradas após a identificação tio um percentualsatisfatório de material coletado:

a) uma listagem voltada para os interesses da análise filossociológica,

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R. R. Guedes-Bnmi e! a!. Inventári

organizada por família, espécie ou morfo-espécie de todos os indivíduoscoletados na unidade amostrai;

b) uma outra destinada à abordagem florística, igualmente organizada porfamília, espécies, incluídas aqui também as amostras procedentes decoletas aleatórias, constando a relação do material examinado.

Ambas as listagens devem ser atualizadas à medida que as identificações,a nível específico, são atingidas. O crédito da determinação deve sempre constar

nas listagens.Uma vez listadas as espécies, o material botânico deverá ser preparado e

introduzido no acervo do herbário da instituição a que se destina.

ORGANIZAÇÃO DE UMA BASE DE DADOS PARA OS TÁXONS

Uma vez conhecida a identidade dos táxons, consequentemente, ter-se-áacesso a muitos dados. As informações consideradas mais relevantes para oestudo deverão ser selecionadas e cadastradas, visando a elaboração de umbanco de dados. Algumas sugestões destas informações são relacionadas aseguir: família, espécie, nome popular, hábito, habitat, distribuição geográfica,utilidades, observações ecológicas, fonte de informação e material examinado.

O objetivo deste cadastramento de informações é reunir e facilitar o acessoao conhecimento não só sobre as plantas mas também sobre a área inventariadae o ecossistema. Posteriormente, o banco de dados suprirá muitas necessidadespara diferentes grupos de investigações em outras áreas de pesquisas correlatas.

INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A partir da listagem e da base de dados dos táxons específicos e infra-específicos de uma determinada área amostrada, são resgatadas informaçõesque permitem uma análise multidisciplinar, proporcionando uma avaliação

quantitativa e qualitativa da flora local.Esta prática torna-se mais rápida e eficaz com a ajuda de um banco de

dados informatizado, no qual tais informações são sistematizadas e prontamente

recuperadas.

É importante ressaltar que devem ser estabelecidos parâmetros nestasanálises, de forma a facilitar a comparação dos dados com outros inventáriosflorísticos, levando-se em conta as diferentes metodologias empregadas.

A QUANTIFICAÇÃO DO INVENTÁRIO

A quantificação do inventário florístico deve considerar o número total deindivíduos e de espécies amostradas, a relação entre o número de espécies e osdiferentes grupos vegetais e hábitos apresentados, além de considerar adistribuição geográfica, utilidades e o interesse conservacionista de cada espécie.

O número total de indivíduos amostrados

O número de coletas de uma determinada espécie ou morfo-espécíe porárea determina sua abundância relativa, quando se trata de uma amostragemcom dimensões definidas.

Em áreas onde foram realizadas amostras aleatórias, os modelos deabundância não são aplicáveis. Neste caso, define-se um levantamento comorepresentativo considerando-se: a estimativa do número de espécies coletadaspor km2 ou a análise da "curva do coletor", que será construída através deacréscimo sucessivo de novas espécies durante o trabalho, tendendo aestabilizar-se à medida que o número de espécies coletadas aproxima-se donúmero real de espécies ocorrentes na área (que é observado pela tendência àestabilização da curva).

A riqueza de espécies

O número total de espécies, infra-espécies e morfo-espécies inventariadasresulta na avaliação da riqueza da flora, sendo uma das variáveis consideradasna análise da diversidade.

A distribuição do número de espécies por grupo vegetal indica aquelesmais representativos do ecossistema, salvo casos em que as coleías sãodirecionadas para um grupo (ou grupos determinados), o que não é aconselhávelnum inventário florístico. Entretanto, a maioria dos inventários realizadosenfatiza a flora fanerogâmica em detrimento da criptogâmica, a qual não deveser esquecida, especialmente depois de constatada sua grande diversidade noecossistema em questão, sendo representada por numerosas espécies de

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rR. R. Guedes-Bruni et ai Inventário florístico

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hi. is , br ióf i tas c fungos. Como as criptógamas muitas vezes apresentampiohlr i ius de identificação, suas coletas são, de um modo gerai, preteridas,r.u.i i r v n i i T este processo, é indicado que sejam contactados especialistas al MM dr ( | i ir si- possa ter uma avaliação, mesmo oriunda de coletas aleatórias, daiiqiK-/a c representati v idade desses grupos na área inventariada.

A quantificação do número total de família e géneros inventariados éimprescindível tanto para a estimativa da diversidade florística, quanto paraestabelecer parâmetros de comparação com outros levantamentos. Para isso, éinteressante relacionar as famílias com maior riqueza específica, bem como osgéneros mais representativos na área de estudo.

Quantificação das espécies por hábito

A associação dos táxons inventariados por hábito é interessante por refletiros grupos dominantes e sua representati vidade dentro das respectivas categorias.

É muito importante que desde início do inventário seja definida qualclassificação a ser adotada tendo-se em mente, porém, que esta deverá englobaros tipos mais encontrados nos principais estratos da mata e permitir acomparação entre as diferentes áreas inventariadas.

O hábito caracteriza o indivíduo quanto a altura, consistência e nível daramificação do caule. Entretanto, as adaptações de algumas plantas quanto aforma de crescimento e também em relação ao substrato que habitam, devemser igualmente consideradas.

Sem ignorar os diversos sistemas existentes, porém objetivando o fácilreconhecimento no campo e tornando compreensível a nomenclatura a ser;uloiada, expomos, a título de sugestão, a que se segue:

As plantas vasculares são classificadas em lenhosas e herbáceas.Considerando-se a formação do lenho, respectivamente, responsável pela

'.r.Inicia do caule. Aquelas que se desenvolvem e permanecem no solo||Q

i i ) árvores: plantas lenhosas com mais de 3 m de altura, tronco bemil rh imlo e ramificações acima da base (inclui-se fetos arborescentes eC t i n i . n i t

l i ) NrhUMlOH/Nllbarbustos: plantas também lenhosas, com menos do 3 m< l i . i l l u i i i t |iic só uimil ici im desde a base;

. i » t 11 r, | > l . u i ( . r , l inkuvi is de pequeno porte;> h i i i | . M!* ii i i , j i l i i n l í t s fom ramos flexíveis que possuem órgãos de

i . . |o i p- * ( i i l i / a i l n s , apoiam-se em árvores ou em arbustos. Asli i . 1 . . . ItMlIutNiiN (p.ox: ONcadu-de-macaco) são também conhecidas

III

como lianas, diferenciando-as das trepadeiras herbáceas (p.ex. omaracujá).

Alguns arbustos/subarbustos e ervas apresentam adaptações de caule queos distingue das formas acima mencionadas. Destacam-se:

a) cespitosa: arbustos ou ervas cujos caules formam touceiras (p. ex.alguns grupos de bambus);

b) prostrada: em geral ervas com caule rastejante que se apoia edesenvolve-se paralelamente ao solo;

c) escandente: em geral são arbustos que crescem com caule ereto,porém os ramos se inclinam apoiando-se em outra planta.

As plantas que independente de serem lenhosas ou herbáceasdesenvolvem-se no solo, entretanto não permanecem neste ou crescem sobreoutro tipo de substrato, classificam-se em:

a) epífitas: plantas em geral herbáceas que se desenvolvem e se mantémsobre outro vegetal, utilizando-o apenas como suporte (p.ex. bromélias,orquídeas etc.). Plantas lenhosas, arbóreas, que iniciam seu ciclo devida como epífitas, mas emitem raízes adventícias até o solo, sãoconhecidas como hemiepífítas (p.ex. mata-pau);

b) parasitas: plantas herbáceas ou lenhosas que crescem, se mantémsobre outro vegetal e se nutrem da seiva da planta hospedeira {p.ex.erva-de-passarinho);

c) saprófítas: plantas herbáceas, heterotróficas, que crescem e nutremsobre matéria orgânica, mesmo em decomposição.

Os vegetais avasculares são conhecidos simplesmente como talófitos,como já mencionado anteriormente habitam diferentes substratos.

Padrões de distribuição

Os dados da distribuição geográfica das espécies, oriundo de herbário eliteratura, são organizados em categorias de acordo com o alcance geográficodas espécies.

Assim, os dados sobre a distribuição geográfica e a ocorrência tias espéciesnos diferentes ecossistemas estabelecem os índices de cndcmismo, os padrõesde distribuição amplos, restritos ou disjunções. Tal análise tem como ohjelivoindicar a expressividade da composição florística da área no contexto doecossistema estudado.

Espécies de interesse conservacionista

INSTIVJVO BIOCItNClAS-USP

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R. R. Guedes-Bruni e! ai.

A partir do inventário concluído é possível avaliar espécies de interesseconservacionista. Estas estão, a princípio, diretamente ligadas à situação deendemismo, as quais, mesmo ocorrendo como populações densas, tornam-sepassíveis de desaparecimento, por estarem em áreas geográficas restritas.

E aconselhável utilização da categorização de plantas ameaçadas adotadapela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza, 1994), a fimde que os resultados sejam padronizados. Entretanto, devido à complexidadedesta tarefa, os especialistas dos grupos inventariados devem ser consultados.

Dessa forma, poderá ser indicada a singularidade da flora local,englobando-se espécies raras ou ameaçadas, especialmente aquelas quesofreram ação antrópica direta e contínua, estabelecendo assim, as bases paraa elaboração de uma proposta de criação de uma unidade de conservação.

Espécies úteis

O levantamento das espécies de interesse económico ou de uso tradicionalpelas comunidades locais é de extrema importância, uma vez que poderásubsidiar estudos de manejo integrado e orientar a exploração racional dosrecursos naturais disponíveis.

As categorias de uso devem ser listadas e quantificadas, de fornia a avaliaro grau de potencialidade da área. Tais atributos devem ser resgatados;preferencialmente no campo, onde entrevistas com a população local podemapontar usos variados das essências nativas. O levantamento deve sercomplementado através de consultas bibliográficas.

O desenvolvimento de estudos etnobotânícos, com base em inventáriosflorísticos, podem resgatar informações sobre espécies promissoras e, ao mesmotempo, subsidiar técnicas de manejo que assegurem a sustentabilidade daspopulações. Alguns procedimentos de coleta e análise de dados podem serobtidos em Pavan-Fruehauf (2000).

As categorias mais frequentemente encontradas são: ornamentais,madeireiras, medicinais, comestíveis, aromáticas, etc.

AVALIAÇÃO DO INVENTÁRIO

Uma eficiente aplicação dos resultados de um inventário só poderá serobtida se ele, de fato, tiver sido o mais completo possível. Considerando-se aalta diversidade florística na Mata Atlântica, é praticamente impossível fazer

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In ventaria flurístico

um levantamento completo das espécies. É importante estimar o percentualaproximado que representa a amostra obtida na área de estudo.

Apesar da metodologia ainda incipiente e por vezes criticada, alguns autorestêm calculado um índice de densidade de coleções botânicas para avaliarem seo inventário foi ou não satisfatório para a representação da flora na área. Estemétodo quantitativo útil iza um índice calculado a partir da relação entre o númerode coleções obtidas por 100 km2 (ICB= n° de coleções botânicas / 100 km2). Umíndice com valor 100 é considerado o mínimo necessário para assegurar que oinventário botânico tenha sido bem amostrado (Campbell & Hammond, 1989).

Mesmo que a amostragem seja representativa, é também importante avaliaro montante de material botânico identificado até o nível específico/i n fraespecífico.Um quadro comparativo indicando o número de amostras coletadas e o mínimototal de táxons determinados, pode servir de parâmetro para esta avaliação.Para as regiões neotropicais esta porcentagem parece razoável se situada emtorno de 80 a 90%, de acordo com os diversos estudos realizados.

Embora nem sempre seja possível permanecer por um longo períodoinventariando uma área, a continuidade dos estudos deve ser assegurada atravésda divulgação das necessidades prioritárias para a sua complementação bemcomo as limitações impostas pela metodologia adoíada. No sentido de atenderás necessidades apontadas é de praxe apresentar uma série de recomendaçõesindicando os pontos principais a serem enfocados, a saber: (1) os locaisinsuficientemente amostrados, (2) os grupos taxonômicos com coleçõesbotânicas pouco satisfatórias, (3) os grupos com problemas taxonômicos aindanão resolvidos.

USO POTENCIAL DOS RESULTADOS

O que fazer com os resultados obtidos?

Os resultados obtidos, ao longo de um inventário, devem estar disponíveis,de modo a atender às abordagens de geração de conhecimento e tecnologia,como também aquelas de natureza conservacionista.

In ic ia lmente , os resultados devem ser extraídos dos relatórios etransformados em publicações científicas, promovendo desta maneira, ointercâmbio de informações e favorecendo a compreensão futura do ecossistema

4.

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R. K. Guedes-Bnmi el ai.

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i Ir l u im . i j - lobal , incluídas aqui a similaridade de floras e variações estruturais,

ruiu* o u l i i i s abnídajnis.l r m l n a n d o a inda que, dificilmente um inventário florístico atende

r \ l i r , i v . i i i H - i i U ' a botânicos e ecologistas, cabe dizer que ao conhecimento davrf.riJiçai i rslau nssociados zoólogos, geólogos, químicos, geógrafos, entre outrospmlissionais, que muitas vezes precisam destes resultados para elucidar suasi i iv rs i i f . f i çors . l in i longo prazo, esta interrelação será tanto mais profícua quantomais foi capa/ de gerar modelos que retratem a arquitetura das unidadestropicais, ainda hoje pouco conhecidas.

Se, contudo, os resultados obtidos, ficarem restritos ao universo botânico,ainda assim o leque de abordagens seria infinito na razão direta em que oinventário tenha sido o mais objetívo e disciplinado durante a coleta de dados.

ELABORAÇÃO DE FLORAS

Ao se elaborar uma flora local deve-se ter em mente que ela deverá serum elemento que contribuirá para o entendimento sobre o ecossistema. Portanto,deverá auxiliar outros interessados com informações diferenciadas. Eindiscutível, nos dias atuais, a dificuldade de se elaborar floras regionais. Aomesmo tempo torna-se inaceitável, após o esforço de trabalho despendido,durante o levantamento florístico, que esse conjunto de dados reunidos nãovenham subsidiar a elaboração da flora da área em estudo.

Durante a elaboração da flora é recomendável, considerando asdificuldades anteriormente expostas para a identificação do material estéril,que sejam utilizados, nas chaves analíticas, os caracteres vegetatívos comoatributos diagnósticos dos táxons, sem, contudo, abdicar dos reprodutivos.

Uma Hora deve constar de:a) caracterização da área em estudo, incluindo os aspectos fisionómicos,

bem como, dados geológicos e climáticos da região;b) histórico sobre a região contemplando aspectos relativos a coletores do

passado e suas respectivas coleções;i (metodologia;< l | li'.hifi,em neral das espécies, organizadas por família e em ordem

nll i i lu^íea, vislo que dificilmente se reúne o conjunto dos estudoslimiilOniietiMli1 Iodas as famílias, num único volume;

*) t lntvt ' giMiil puni iis famílias botânicas da área e a descrição diagnosticat l i - i t t i ln uniu diiN Inmílias, baseada apenas nas espécies locais;

Inventário florístico

f) tratamento taxonômico por família constando de:- chave e descrição diagnostica para géneros (optativo);-chave para identificação das espécies e/ou táxons infra-específicos;- literatura relevante sobre cada espécie;- descrição diagnostica;-nome popular;- época de floração e frutificação;- utilidades, dados relativos ao potencial económico e medicinal(procurando, sempre que possível, valer-se de informações dosmoradores da região);- distribuição geográfica;- comentários;- citação do material examinado;

g) bibliografia.Ao colocar-se uma flora, à disposição, deve-se ter a proposta maior de

transferir o conhecimento adquirido sem, contudo, íer a pretensão de que osresultados obtidos sejam capazes de encerrar todos os dados sobre a diversidadeecológica e os processos evolutivos.

INVENTÁRIOS COMO SUBSÍDIOS À CONSERVAÇÃO

Se a geração do conhecimento pode parecer infindável, o que fazer entãopara que nossos dados possam contribuir na conservação da natureza? De certoque se o inventário é capaz de fornecer o tamanho das populações, as suasáreas de distribuição geográfica, bem como o potencial de utilização dasespécies, ele será, certamente, um importante documento na indicação do graude conservação dos táxons, bem como da área inventariada. Se o inventáriogerou, paralelamente, resultados sobre a estrutura das fitocenoses em estudo,ele poderá, igualmente, fundamentar propostas para que Unidades deConservação sejam criadas, ampliadas e fiscalizadas. Definir o estado deconservação, o grau de diversidade e similaridade com outro complexovegetacional podem advir, também, deste esforço de trabalho. O ideal c que secrie condições que assegurem a preservação do ecossislema como um lodo, demodo que todas as plantas sejam conservadas como populações em evoluçãona natureza. O quadro acelerado de devastação das floreslas tropicais, cnlrclanto,sugere que sejam estimulados os cultivos c.v sittt (fora do lugar de origem)sempre que possível. Neste sentido, os J a rd in s Botânicos desempenham

45

Page 25: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R. K. Guedes-Bruni et ai. inventário florístico

importante papel, tornando-se instituições indispensáveis à conservação dasespécies e à divulgação da situação de nossos ecossistemas, aíuando como umelemento formador de opinião. Assim sendo, vale lembrar as palavras deHeywood(l990):

"Cultivar plantas é muita veies apenas um começo, revelando apossibilidade para pesquisa, educação e reintroditção (...)"

Igualmente importante é reunir e tornar disponível o conjunto deinformações obtidas ao longo do trabalho, promovendo seu intercâmbio, agoracom um público não especializado, entretanto interessado nas questõesambientais.

Assim, nada mais apropriado que promover a divulgação deste conjuntode resultados através de um mecanismo capaz de facilitar a comunicação comos mais diversos segmentos da sociedade e realizar, de modo eficaz, o resgatee intercâmbio de dados. A criação de um Centro de Difusão torna exequíveleste tipo de serviço e constituí-se hoje numa das necessidades urgentes para aMata Atlântica, principalmente se ele estiver integrado a uma rede deinformações. Um Centro de Difusão que tenha dados frequentementedinamizados e, por esta razão, esteja continuamente atualizado, poderáefetivamente influenciar ações dos grupos de dirigentes que têm o poder dedecisão sobre a política da conservação em regiões compreendidas nestaformação vegetal.

LITERATURA CITADA E RECOMENDADA

ASOCIACIÓN LATINOAMHRICANA DE BOTÂNICA (ALB). 1990.Directório actualizado de botânicos latinoamericanos. Boletin Bot.Latinoatnericano 30: l -50.

CAMPBELL, D.G. & HAMMOND, H.D. (eds.). 1989. Floristic inventory oftropical countríes. The New York Botanical Garden. New York.

DIAL, R. & S. C. TOBIN. 1994. Description of arborist methods for forestcanopy acess and movement. Selhyana 15 (2): 24-37.

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R. K. Guedes-Bníni et til. Inventário florísticí

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Figura 6: (á) Coleta de material arbóreo com tesoura de alta poda e equipamento específico; (h)colctadc material arbóreo através do método das "'peçonhas"; (c - í) equipamento p a r a c s c i i K u L rcinto de segurança (c), tesoura de alia poda (d), talabarte (c), conjunto paia adaplar a rspoi.i ;ibota (/), facão (g); (h - m) material paracotcta: faca (/í), caderneta de campo ( ' ) . di-splaiiiador(/'),tesoura de poda (k), saco plástico (/), saco de papel (m); (n - r) mak-rial para pivn.sagi-m; prcnsus(n), folha de papei chupão (o), alumínio corrugado í/)), jornal (í/), roíilas para amarar < i l i Ho do

plantas após prensagem (r); (s) prensagem do maioria!.

49

Page 27: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

R. R. Guedes-Bnmi et ai.

Figura 7: (a) Ordenação dos materiais utilizados na prensagem; (b) lote de plantas prensadas; (r)colocação do lote na estufa para secagem; {</) amostra botânica (exsicata) preparada para inclusãono herbário. Fotos: Marco Pcron.

4. Inventário fitossociológico

Yara Stmffaldi de Vuono 1

Os estudos fi toss ócio lógicos fornecem, além da composição florística davegetação que se deseja estudar, as relações quantitativas entre os táxons e aestrutura horizontal e vertical da comunidade. É útil não só para o diagnósticoatual sobre o estado da vegetação em áreas preservadas, mas também paradetectar-se perturbações em áreas submetidas a impactos.

LEVANTAMENTO DE PLANTAS ARBÓREAS E ARBUSTIVAS

Os principais métodos usados em estudos fitossociológícos de plantaslenhosas em Mata Atlântica resumem-se naquele em que as parcelas são fixas(método de parcelas ou "quadrais"), onde o número de indivíduos vai variar,enquanto a dimensão da área amostrai é fixa e naquele sem parcelas (métododos quadrantes ou "point-centered quarter meíhod"), que leva em conta adistância dos indivíduos amostrados em pontos distribuídos na área de estudo.0 método de "transect", utilizado por poucos autores, necessita ainda deverificação quanto à sua eficiência em florestas brasileiras.

Qualquer que seja o método, deve-se percorrer diversas vezes a florestade interesse observando a topografia, a distribuição dos indivíduos e ;ifisionomia da vegetação, procedendo a um reconhecimento exaust ivo damesma, o que servirá de apoio no momento de decidir em que área irabalhar.Durante essas incursões ao campo, é aconselhável real i/ar colelus prévias dematerial botânico, para se ter uma ideia da composição florística tia área deestudo.

1 Inst i tuto de Botânica - Secretaria do Meio Amhicnlc do lisi;idu do São 1'aulo.

Page 28: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

Y. S.de Vuono

*

*

UM.min ,i a i ea i n i n i m a de amostragem, após discussões em eventosii us, padronizou-se l ha como sendo suficiente para a maioria das

l i M o m u M i . i s di- M u t i i Allfmtica. Vale lembrar que, no estudo de fragmentos out l r .111-,r, inipaeladas, cm que muitas vezes a dimensão do remanescente éi i i M i l n in i l r , 11 ;írea amostrai é reduzida ao total disponível para investigação.

Ml 101)0 DI-: PARCELAS

líiu ostandes homogéneos, pode-se perfeitamente delimitar uma parcelade l ha, passando-se à amostragem de todos os indivíduos lenhosos ali presentes,l ím áreas heterogéneas, não é muito conveniente apenas uma grande parcela esim várias parcelas menores sequenciais ou distribuídas aleatoriamente, pararepresentar todas as variações da fitocenose.

As parcelas ou sub-parcelas devem ser divididas em porções sequenciaisde IO x 10 m ou 10 x 5 m, para facilitar o trabalho de campo. A demarcaçãopode ser feita com barbante de nyion amarrado ern estacas fincadas no chãocm cada um dos vértices. Dentro de cada sub-área, devem ser amostrados todosos indivíduos lenhosos que possuam fuste até pelo menos 1,30 m a partir dosolo, identificando-os através de etiquetas de alumínio numeradas. Estas sãopresas por pregos galvanizados de 9 cm de comprimento, enterrando-se 1/3 domesmo no tronco da árvore, para permitir seu crescimento em diâmetro semperigo do prego ser expulso e sem maiores danos para a planta. Conforrhe oobjetivo do trabalho, árvores mortas ainda em pé podem ser incluídas na

amostragem.De cada indivíduo marcado, tomam-se as medidas de perímetro com uma

fita métrica centímetrada e as de altura da copa (alturas máxima e mínima ousomente a máxima) com um telémetro (clinômeíro) ou vara aferida previamente.Quanto ao perímetro, que será utilizado no cálculo do diâmetro, deve ser medidoà altura de l ,30 m do solo, permitindo a obtenção do DAP (Diâmetro à Alturado IVilo), medida mundialmente padronizada. No caso de troncos perfilhados,mede se o perímetro da cepa se o perfilhamento se iniciar entre o solo e a.i l inra tl i* 1,30 m. Caso o perfilhamento parta diretamente do nível do solo,mrilrm M* os perímetros individuais de cada tronco filho, anotando-se os valores• t u - i p .u . idn Pi-priulendo dos objetivos do trabalho, o limite mínimo de' l i mi. nu pudr variar, porém verifica-se que o diâmetro de 5 cm oferece uma( u m .. i . ... I M U ;iivas perturbadas da floresta ou em terrenos de grande- I . • I r i .U l i ' iili.iiiirinKli'2,5ciii,utilizadoporalgunsautores,permiteainclusãolio i i i •!" . i i l M i M | i i i - i ' d r indivíduos jovens dos estratos superiores. Havendo» ' l M ! ' - l < < "ii ip. n . K .iu * i MU trabalhos em que se adotou diâmetro mínimo

Inventário fitossoáológtco

de maior valor, basta excluir da amostragem os indivíduos com diâmetrosinferiores àquele limite, refazendo-se os cálculos com o restante dos dados.

Todas as anotações são feitas em tabelas de campo, que devem conter:designação da área estudada, data, número da parcela, número do indivíduo,altura, perímetro e colunas para nome científico da espécie e para observaçõescomo nome vulgar, presença de látex ou resina, cor da casca, cheiro da cascaou das folhas, entre outras (Figura 8). Finalmente, procede-se à coleta dematerial botânico, herborizando-sc adequadamente para posterior classificaçãotaxonômica.

Após o preenchimento das tabelas de campo, passa-se ao tratamento dosdados para o cálculo dos parâmetros fitossociológicos, após verificar-se asuficiência da amostragem. Esta pode ser obtida através de um gráfico em quesão plotados, de um lado as dimensões crescentes e regulares da área amostradae, do outro, o número de espécies novas acrescentadas em cada incremento deárea. Chega-se assim, à "curva do coletor", que normalmente apresenta umafase de crescimento acentuado, passando a ter os incrementos diminuídos atéatingir um platô. Projetando-se o ponto em que se inicia o platô, encontra-se ovalor da área mínima, considerada suficiente para aquela comunidade. Caso ototal dos dados não permita que se obtenha o platô, ou seja, a curva se mantémascendente, deve-se voltar ao campo e novas sub-parcelas devem serdemarcadas, continuando-se o levantamento até que a curva indique suficiência.Em estudos de fragmentos ou de porções de floresta impactada, nem sempre épossível obter-se tal curva.

MÉTODO DE QUADRANTES

Este método, em que a unidade amostrai é um ponto e não uma área,inicia-se com a definição da distância mínima entre pontos, que varia com adensidade de cada floresta. Percorrendo-se a área em determinada direção,medem-se com uma trena e anotam-se, em sequência, as distâncias entre asárvores encontradas no trajeto, num mínimo de 100 medidas. Ao f i n a l ,multiplica-se por dois o maior valor obtido da distância entre árvores, oblendo-se o intervalo que deverá ser mantido entre os pontos.

Os pontos podem ser distribuídos em direçõcs variadas, mudando-se otrajeto quando surgir um riacho, uma picada ou outro obstáculo, ou obedecer auma distribuição sistemática, formando uma ^rade regular. Neste úl t imo caso,os pontos podem ser demarcados com estacas de madeira de l ,30 m, fincadasno chão e numeradas, servindo de referência pura o levanlamenlo fitOSSOCÍológicoe para outros estudos feitos na mesma área. lim trabalhos de longa duração, é

53

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Y. S.de Vuono

conveniente tratar-se as extremidades das estacas com neutro! ou outro produtopreservativo de madeira, para evitar a deterioração.

Em cada ponto, aplica-se uma cruzeta de madeira, que pode sersimplesmente apoiada no chão ou encaixada em uma estaca de madeira fincadano chão, de maneira que possa ser girada com um impulso até que osmovimentos cessem, conforme esquema da figura 9. Esta cruzeta delimitaquatro quadrantes, através do prolongamento de suas extremidades. Em cadaquadrante, será amostrada a árvore mais próxima ao ponto, que receberáplaqueta de alumínio numerada, conforme já descrito anteriormente. Tambémaqui, se houver interesse, as árvores mortas poderão ser incluídas naamostragem, caso sejam as mais próximas.

Para cada árvore são medidos e anotados o diâmetro do tronco a altura dacopa, e a distância da árvore ao ponto, com os mesmos cuidados referidos nométodo anterior. Desse modo, a tabela de campo deverá conter: número doponto, número do indivíduo, distância ao ponto, perímetro, altura e colunaspara nome científico e observações (Figura 10).

Para finalizar, procede-se a coleta e identificação do material botânico.Em seguida, passa-se ao cálculo dos parâmetros fítossociológicos, desde quefique comprovada a suficiência da amostragem. Esta é verificada através dacurva do coletor, em que de um lado teremos número de pontos crescentes e,do outro, número de espécies novas adicionais.

MÉTODO DE "TRANSECT"

Em alguns estudos, foi apl içado o método de "transecf1 em Mata Atlântica,porém as áreas amostrais totais têm sido insuficientes, bem como sua eficiêncianão está confirmada neste tipo de formação florestal. O método implica emamostrar a vegetação, demarcando-se o centro da área amostra! com umbarbante de 50 m. Toma-se uma estaca de madeira geralmente comcomprimento de 2 m, cujo centro é posicionado sobre o barbante. Percorrendo-se a extensão deste último, segurando-se a estaca na horizontal, amostram-seas plantas que estiverem contidas à esquerda e à direita, nos limites da estaca.Desse modo, na realidade, o método resultará em parcelas estreitas, de 2 x 50m, que podem ser contíguas ou paralelas. Como não há demarcação de área, ométodo não serve para estudos longos, pois a área amostrai não é permanente.Tomadas as medidas de interesse e coletado material para identificação comonos métodos anteriores, passa-se ao cálculo dos parâmetros fitossociológicos

54

Inventário fitassocinlógico

assim que se obtiver indicação da suficiência amostrai através da curva docoletor. Este método pode ser o mais adequado no caso de levantamentosexpeditos em áreas impactadas ou relativamente simples do ponto de vistaflorísíico (manguezais, por exemplo), sobretudo quando a maior ênfase do estudoseja a estrutura.

CÁLCULO DOS PARÂMETROS FITOSSOCÍOLÓGÍCOS

Os parâmetros fitossociológicos podem ser calculados com o auxílio demáquina de calcular ou através do uso de programa de computador, como oFITOPAC, desenvolvido especificamente para este tipo de estudo pelo Prof.Dr. George Shepherd, do Departamento de Botânica do Instituto de Biologiada UNICAMP.

Qualquer que seja o mecanismo utilizado, os parâmetros fitossociológicossão calculados através de fórmulas, sendo posteriormente dispostos em tabelas.Apenas a densidade total por área (DTA) é calculada de forma diferente nométodo de quadrantes, com base na distância média obtida (média das distânciasdos indivíduos aos respectivos pontos de amostragem).

fDensidade Total por Área (DTA)

Representa o número total de indivíduos de todas as espécies, por unidadede área, normalmente expressa em relação a l ha.

DTA = N / l ha(parcelas)

Onde:N = número total de indivíduos amostrados.

DTA = U / d2

(quadrantes)

Onde:U = unidade de área; d = distância média de todas as árvores

amostradas.

55

Page 30: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

Y. S. de Vuono Inventário fi toxstx ~i< ilógico

»>

Densidade Específica por Área Proporcional (DAs)

Representa o número médio de árvores de uma determinada espécie(espécie s) por unidade de área.

= (n /N) .DTA

Onde:ns = número de indivíduos amostrados da espécie s; N = número total

de indivíduos amostrados; DTA = densidade total por área.

Densidade Específica Relativa (DR )

Representa a proporção percentual do número de indivíduos de umadeterminada espécie, em relação ao número total de indivíduos amostrados, detodas as espécies.

DR = (n / N) . 100s v s

Onde:ns - número de indivíduos amostrados da espécie s; N = número totái

de indivíduos amostrados.

Frequência Absoluta (FA )

Representa em que grau a espécie ocorre nas parcelas de amostragem.

FA =(P / P ) . 100s v s t'

Onde:P = número de parcelas ou pontos com ocorrência da espécie s;

P = número total de parcelas ou pontos.

i i « < [ i n NI in Relativa (FRs)

( H M i t l a da relação entre a frequência absoluta de cada espécie e a soma• l ' l" i | n r i n i.r, iibsoliiuis do todas as espécies amostradas.

FR = (FA./FAT) . 100

Onde:FA^ = Frequência absoluta da espécie s; FAT = frequência total (soma

das FAs de todas as espécies amostradas.

Os dados de frequência absoluta podem ser lançados em histograma, comintervalos de 10%, em que é representado o número de ocorrências em cadaclasse, em porcentagem do número total de indivíduos amostrados.

Área Basal Individual (ABls)

Representa a área ocupada pelo tronco de cada indivíduo, assumindo-seque o tronco tem forma cilíndrica. Desse modo, corresponde à área da secçãotransversal do tronco.

Onde:D - diâmetro de cada indivíduo da espécie s.

Área Basal Média por Espécie (ABç)

Representa a média das áreas basais dos indivíduos de uma espécie.

AB = I ABI / ns s s

Onde:ns - número de indivíduos amostrados da espécie s.

Dominância por área

Segundo o conceito mais usual, baseía-se no espaço ocupado pelos troncosdas árvores de cada espécie, utilizando, porlanlo, os valores da área basal.

DoA = DA . Alt

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Page 31: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

Y. S. de Vuono

Onde:DA^ = densidade por área da espécie s; AB = área basal média da

espécie s.

Dominância Relativa por Espécie

Representa a relação percentual entre a área basal total de uma espécie ea área basal total de todas as espécies amostradas.

DoRs = (Z ABIs / ABT) . 100

Onde:ABI^ = área basal de cada indivíduo da espécie s; ABT = soma das

áreas basais de todas as espécies amostradas (= Z ABI).

Valor de Importância (VI)

Representa em que grau a espécie se encontra bem estabelecida nacomunidade e resulta de valores relativos já calculados para densidade,frequência e dominância, atingindo portanto, valor máximo de 300.

VI = DR +FR +DoRs s s

Valor de Cobertura (VC)

Também representa o grau em que a espécie se encontra bem estabelecidana comunidade, porém é calculado sein a frequência, atingindo portanto, graumáximo de 200.

VC = DR +Dos s

s

índice de Diversidade

Utilizado para se obter uma estimativa da heterogeneidade florística daárea estudada. Entre os diversos existente, comumente utiliza-se o de Shannon-Weaver (H'), através das equações:

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J = H' / Hmax

Onde: Ps = ns / N, em que n, é o número de indivíduos da espécie s e N éo número total de indivíduos; J = equidade; Hmax = diversidade máxima (= InS, onde S é o número de espécies).

Caso os cálculos sejam feitos manualmente, deve-se considerar, no métodode quadrantes, corno distância ao ponto a medida da distância entre o ponto e atangente do tronco somada ao raio do tronco, o que se chama de "distânciacorrigida". No caso do uso do programa FITOPAC, este cálculo é feitoautomaticamente.

A maior parte dos parâmetros fitossociológicos descritos acima podetambém ser calculada por família, substituindo-se, nas fórmulas, o número deindivíduos da espécie s pelo número de indivíduos de todas as espécies dafamília considerada.

Gráficos ou tabelas contendo o número de espécies por família, o númerode indivíduos por família ou por espécie, a distribuição de frequência de classesde VI e VC, por família ou por espécie, serão úteis na interpretação da estruturaf i tos sócio lógica da comunidade em estudo. Na figura 1 1 pode-se observar ummodelo de tabela contendo os pr incipais parâmetros fítossociológicosregistrados no levantamento de árvores em área afetada pela poluição na ReservaBiológica de Paranapiacaba (SP), onde se aplicou o método de quadrantes.

No caso dos histogramas de distribuição de frequência de classes de VIou VC, recomenda-se incluir famílias ou espécies, ordenadas por ordemdecrescente de valores, que totalizem, em seu conjunto, 75% do valor total doVI ou do VC.

Os valores de altura média por espécie podem ser lançados em histogramasde frequência de classes de altura com intervalos de l m para melhor visuali/;icãoda estratificação da floresta.

Os dados de diâmetro podem também ser lançados em hístograimi dofrequência de classes, com intervalos de 5 cm, permitindo interpretação t | i i ; inloà distribuição etária dos indivíduos e, consequenlcmcnd-, do j ín iu doestabelecimento da comunidade. Dependendo do aspcclo do j ' , j ; i í i r » > , pndniise lançar hipóteses quanto à ocorrência de perl inhncucs sofridas pelacomunidade, em passado recente ou remoto, como geadas (brios, incêndios oucorte seletivo de madeira.

.S» J

Page 32: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

l . ó. ile Vuono

( ) iiiciotlo t k- parcelas é bastante eficiente, porém mais demorado em suasclapas tio campo, visto que todas as árvores devem ser registradas e resulta, emj v i i t l , rm um número muito grande de dados a serem processados. Para uma áreaamostrai de mesma dimensão, o método de quadrantes envolve menor número deárvores amostradas, é mais rápido em campo e produz resultados, em muitoscasos, equivalentes ao primeiro. O método de transect, apesar de prático, necessitade um grande número de transects para se chegar à suficiência amostrai.

LEVANTAMENTO DAS HERBÁCEAS

O levantamento das plantas herbáceas, incluindo as plântulas de espécimeslenhosos, constitui informação complementar de extrema importância no estudoda estrutura de comunidades florestais, fornecendo também dados referentesaos mecanismos de regeneração da floresta. Pode-se aplicar um métodosemelhante ao de parcelas, em que a unidade amostrai é delimitada no chão dafloresta por um quadrado de madeira de l m x l m. Dentro de cada quadrado,procede-se à contagem das plantas existentes, coletando-se material paraidentificação e anotando-se em folha de campo o número do quadrado, o númeroda planta e, posteriormente, o nome científico da espécie. Da mesma formaque nos métodos anteriores, a curva do coletor indicará a suficiência amostrai,confrontando-se de um lado o número crescente de quadrados (portantorepresentando acréscimos de l m2) e, de outro, o número de espécies diferenteadicionadas. Devem ser lançados tantos quadrados quantos forem necessáriospara se iniciar o platô da curva.

No final, calculam-se os principais parâmetros fitossociológicos nosmoldes das fórmulas já apresentadas anteriormente, lembrando-se de que aiíira amostrai é de l m2, devendo-se extrapolar adequadamente os resultadospaia l ha.

No raso de gramíneas, que constituem touceiras bem delimitadas, pode-M < " i i M i l i - t . i i i ;ida touceira como um indivíduo. Quando houver dificuldades• « n M ' i r l i i m l i i i um indivíduo, estas são melhor representadas em termos de• " i i t - H i i i t i . "U M ' | Í I , a porcentagem de cada quadrado ocupada pela espécie.

i."

Inventário fitossociológico

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61

Page 33: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

Área: Paranapiacab

: 20/08/1990

Amostra:

Observações i

Altura (m]tf d

Parcela indivíduo

A- triplinervia

A. triplinervia

G- opposita

triplinervia (Ápice quebrad

Eugenia sp.

Pêra glabrata coberta por

E- edulis

Eugenia sp.

Eugenia

T- heptaphylla

10-1 (T. heptapnylla

7-<J IA. t r i pi ine r vi ,3

—T-1 IA. tríplinecvia

f• 6 'A. Criplinervia

Figura 8: Modelo de tabela de campo - parcelas. Figura 9: Cruzeta de madeira utilizada no método dos quadrantes, que é girada sobre uniaestaca (Inçada no chão da íloresta.

62

58 6 í

Page 34: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

EspéciesEuterpe edulisAlchornea triplinerviaPosoqueria acutifoliaGuarea macrophyllaDesconhecidaMiconia cabucuFaramea tetragonaTovomitopsis panículataMatayba guianensisCryptocarya aschersonianaCupania oblongifoliaAmaioa guianensisCalyptranthes concinnaDalbergia brasiliensisMiconia theaeansMatayba elaeagnoidesVerbesina glabrataTabebuia heptaphyllaGuapira opposita

N362261710040704040303030303020302020202

FA (%)100.0020.6614.058.263.314.963.313.312.482.482.492.482.481.651.651.651.651.651.65

DR75.755.373.512.070.831.450.830.830.620.62 __0.620.620.620.420.620.410.410.410.41

DoR74.544.35_j4.072.142.820.550.510.460.990.870.570.480.360.770.440.380.380.340.34

FR50.6310.457.114.181.672.511.671.671.261.261.261.261.260.840.840.840.840.840.84

VI199.9620.1914.708,395.324.513.012.962.872.742.452.352.242.021.901.631.631.591.59

VC149.349.737.584.213.642.001.331.291.611.491.191.100.981.191.060.790.790.750.75

Tabela X: V de arvores amostradas (N), Freqiiência Absoluta (FA), Densidade Relativa (DR). Dominância Relativai DoR). Freqiiência Relativa (FR), Valor de Importância (VI) e Valor de Cobertura (VC) das espécies amostradas emárea de Mata Atlântica atetada pela poluição atmosférica na Reserva Biológica de Paranapiacaba, São Paulo - Brasil,

Figura 11: Modelo de tabela contendo os principais parâmetros íltossociológicos oriundos de levantamento de

arbóreas pelo método dos quadrantes em Mata Atlântica (Struffaldí-De Vuono et aí. 1989)6565

J

Page 35: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

5. Diagrama de perfilDiagrama de perfil

- papel mílimetrado para desenho do perfil;- papel vegetal para arte final do desenho.

Maria Margarida R. Fiúza de Melo

METODOLOGIA

Para sua confecção, várias etapas são desenvolvidas, tanto no trabalho decampo como no laboratório.

O diagrama de perfil, também chamado de perfil de vegetação ou perfil-diagrama, foi idealizado para descrever comunidades que apresentem sua florapouco conhecida, sendo considerado puramente fisionômico-eslrutural. Podeser usado para ilustrar detalhes da distribuição vertical das espécies presentesem uma determinada área. Representa um corte da vegetação e substitui afotografia, que é difícil de ser feita em uma mala densa.

Pode ser feito com diferentes graus de exatidão, de acordo com o tamanhoda comunidade estudada, sua variabilidade e os objelivos do estudo.

MATKKIA1S NECESSÁRIOS

Para elaboração de um diagrama de perfil são utilizados os seguintesmateriais:

- estacas de madeira com cerca de 80 cm de comprimento;- fios de nailon colorido (o vermelho é preferencial);- trena do comprimento do perfil;- telémetro ou clinômetro;- altímetro;- nível de bolha ou de pedreiro;- equipamento para coleta de material arbóreo;- prancheta, lápis e borracha;

Insliiuto de Botânica - Secrelaria do Meio Arnbienle do Estado de São Paulo.

TRABALHO NO CAMPO

Recomenda-se que este trabalho seja realizado por, no mínimo, duaspessoas, sendo que a responsável pelo desenho esquemático do perfil no campodeverá ser a que tenha maior habilidade para desenvolver tal atívidade.

Trabalha-se no campo com folhas de papel milimetrado, tantas quantasforem necessárias, o que se possibilita desenhar com mais proporcionalidade.

Procura-se eleger uma área, de forma retangular, que seja bemrepresentativa da comunidade que foi amostrada fítossociologicamente.

Considerando-se que o espaçamento entre indivíduos é uma propriedadetridimensional, é importante escolher uma largura para o perfil-diagrama querepresente o espaçamento e o tamanho das árvores dominantes da comunidade.A largura geralmente não deverá exceder a uns poucos melros, sendorecomendado um mínimo de 5 m. O comprimento também é variável e deveráser suficiente para representar a estrutura de um trecho proporcional à áreaestudada, recomendando-se de 30 a 60 m.

O perfil-diagrama deve, preferencialmente, ser confeccionado dentro daárea amostrada para o estudo fitossociológico. Se o método utilizado foi o deparcelas, todos os indivíduos já estão devidamente plaqueados, coletados emensurados quanto às suas alturas totais e diâmetros. No caso do método dequadrantes, somente os quatro indivíduos mais próximos o foram, logo hánecessidade de plaquear, coletare mensurar todos os indivíduos ocorrentes nuárea do perfil. Além das mensurações quanto às alturas totais e diâmetros,outros parâmetros devem ser mensurados, como altura do fuste até a primeiraramificação, limite inferior e diâmetro da copa. No interior de uma mala densa,nem sempre é possível medir-se a altura do fuste e o limite inferior da copa daárvore. Pode-se, no entanto, estimar estas medidas, bem como a forma diiscopas, para a representação gráfica que se pretende obter.

67

Page 36: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

M. M. K. K de Melo

l ' i i ia inslalar o retàngulo após definir-se sua superfície, basta fincar aseslaras de madeira c passar o fio de nailon para delimitá-lo, bem como osr sj HV i i i ii-s que serão desenhados. Deve-se determinar a direção para a confecçãodo desenho do perfil, preferencialmente da esquerda para a direita, deiimitando-se assim o ponto zero. Com a ajuda da trena estendida, processa-se a locaçãodos indivíduos arbóreos, tomando-se as medidas necessárias. Deve-se ter ocuidado de posicionar os indivíduos em relação à "linha de frente do perfil"(onde se encontra estendida a trena), de modo a delimitar, o mais Fielmentepossível, suas posições em relação aos vizinhos mais próximos à direita, àesquerda e ao fundo. Esta etapa deve ser feita em pequenos "talhões" de 2 mde largura por 10 m de comprimento por exemplo, se o perfil tiver uma área de50x10 m.

Se a área amostrada for de mata de encosta, deve-se medir a altitude noponto zero com o auxílio do altímetro.

Mede-se a inclinação do terreno por triangulação, utilizando-se para tanloduas varas métricas e um nível de bolha ou de pedreiro. Conforme a Figura 12,posiciona-se, a partir do ponto zero, uma das varas na vertical e a outra nahorizontal, que terá a sua horizontalidade determinada com o auxílio do nívelde bolha. A vara que será colocada na posição horizontal deverá ter umcomprimento definido (2 m de comprimento é um bom tamanho) e as medidasna vertical serão sucessivamente tomadas.

TRABALHO NO LABORATÓRIO

O trabalho no laboratório é facilitado se todos os indivíduos já foramplaqueados, coietados e mensurados, pois ao chegar-se do campo, procede-seapenas uma "checagem" das medições. Após esta revisão, que deverá ser(cila minuciosamente, são feitas cópias reduzidas do diagrama de perfil, demaneira a obter-se um tamanho razoável para proceder à confecção da artel i n . i l do desenho.

A título de exemplo, mosíra-seum perfil-diagrama confeccionado em umn. i h» di- mala de encosta na Ilha do Cardoso (Cananéia, SP), área de estudoi i i " •» l u ln j -u -o , oiule o método utilizado foi o de parcelas (Figura 13). Oi omprlmenloédeSOmealarguiaéde l O m; o diâmetro min imo dos indivíduosl< n l i" < l ido íi 1,30 m de altura do solo, é de 2,5 cm. A legenda relaciona

« ' | ' .nadits no perfil, com seus respectivos números plotados de• Irtilcyl ' i

l

Diagrama de perfil

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

BRAUN-BLANCHET, J. 1979. Fitosociologia: bases para d estúdio deIas comunidades vegetales, (tradução e revisão de J. Lalucat Jo &J.O.S. Capdevilla). H. Blume, Madrid. 820p

DAVIS, T. A. W. & RICHARDS, P. W. 1933-1934. British Guiana: Anecológica! study of a limited área on Tropical Rain Forest. Part I and IIJ. Ecology 2/:350-384; 22:106-155.

MATTEUCCI, S. D. & COLMA, A. 1982. Metodologia para d estúdio de Iavegetacion. Secretaria Geral da Organização dos Rstados AmericanosWashington, D.C. 169p.

MUELLER-DUMBOIS, D. & ELLENBERG, H. 1974. Aims and methods ofvegetation ecology. John Wiley & Sons, New York. 547p.

RODRIGUES, R. R. 1989. Análise estrutural das formações florestais riparias.In: Simpósio sobre Mata Ciliar. Anais, São Paulo, Instituto de Botânicap. 99-119.

69

Page 37: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

-Jc

nível de bolha

varas métricas

ponto

Figura 12: Representação esquemática da forma de medição do terreno por triangulação,utilizando-se duas varas métricas e um nível de bolha.

Page 38: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

6. Ciclagem de nutrientes minerais

Márcia I. M, Silveira Lopes '--Marisa Domingos1

Yara Stmffaldi De Vuono'

O estudo do processo de ciclagem de nutrientes é realizado com o objetivode se conhecer o funcionamento de um ecossistema sob o ponto de vista de suamanutenção e estágio sucessional em que se encontra. Pode ser utilizadotambém para a detecção de distúrbios de origem natural ou antrópíca.

Este estudo deve ser realizado através da quantificação de nutrientes queentram no ecossistema (importação), dos que saem (exportação), daqueles quepermanecem estocados nos diversos compartimentos do ecossistema e dosfluxos de transferência entre estes compartimentos.

A importação se dá através da deposição úmida (precipitação incidente),deposição seca (poeira) e entrada no solo pelo intemperismo das rochas e aexportação pela perda através do perfil do solo (lençol freático), do escorrimentosuperficial, dos cursos d'água e da ação de animais. A biomassa vegetal (folhas,ramos, caules e raízes), a biomassa animal, a serapilheira acumulada sobre osolo e o solo são os compartimentos do ecossistema onde os nutrientespermanecem estocados. As transferências de nutrientes (fluxos) entre osmesmos ocorrem através da água de chuva que atravessa o dossel da vegetação(água de gotejamento) e que escorre pelos troncos, da produção e decomposiçãoila serapilheira e da absorção pela biomassa vegetal viva.

No entanto, a quantificação de todas essas etapas do processo, tais comous fenómenos relacionados à exportação, à absorção radicular e à ação dosi i n i m u i s , (' mais dif íci l , devido à complexidade metodológica. EstudosdtMflVOlvldOB em Mata Atlântica, em geral, abordam os seguintes aspectos:1 1 í t i juprl i l ; i ; i )Mia de chuva na importação; (2) a quantidade de elementos

In •! ' l • "!,,,.|.i I n - . i i i i i i » « l i - Hulf i i i ic iu Orixá Postal 4005, 01061-970 São Paulo. SP, Brasil.' l n in i l i > u . i l i ' u < 1 , 1 míopes O smtp-gw.ibot.sp.gov.br ou [email protected]

tn de nutrientes minerais

estocados na biomassa foliar viva, na serapilheira acumulada sobre o solo, nasraízes e no soío; (3) a produção e decomposição da serapilheira e (4) a água degotejamento como os fluxos de transferências de nutrientes de um compartimentopara oulro, cuja metodologia será descrita a seguir. Estudos sobre a saída pelaágua do solo, embora com alguns resultados para a Mata Atlântica do Estadode São Paulo, por serem mais recentes, requerem ainda melhores adaptaçõesmetodológicas.

Todos esses aspectos são estimados quantitativamente, ao longo de nomínimo I ano, por meio de amostragens, que devem representar de formasignificativa o processo na área em estudo. Assi m, a escolha do local de estudo,bem como do número, área e distribuição de coletores ou dos pontos deamostragem deve ser feita com muito cuidado.

Para quantificar o estoque de nutrientes nos diferentes compartimentosdo ecossistema, sobretudo no solo, é de extrema importância realizar umacorreta amostragem. Considerando a profundidade do solo da floresta e aheterogeneidade natural, fica bem claro que esta não é uma tarefa simples.Sendo assim, a amostragem deve ser rigorosamente planejada e executada deforma que seja representativa da área estudada.

IMPORTAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE NUTRIENTESPELA ÁGUA DE CHUVA

A amostragem da água de chuva é feita utilizando-se coletores depolietileno (pluviômctro), constituídos de galões reservatórios de no mínimo3 litros de capacidade, aos quais são conectados funis com superfície conhecida.Estes pluviômetro.s são instalados no campo a uma altura de 1,20 m do chão,por meio de um suporte de madeira ou PVC. Aconselha-se a pintura externados galões reservatórios com tinta escura ou a colocação de cristais de timolem seu interior, a fim de evitar o crescimento de algas, c a colocação de umapequena tela de náilon ou bolinhas de isopor ou pérolas de vidro para evitar aentrada de corpos estranhos à amostra. A figura 14 apresenta um modelo paraa construção e instalação de um pluviômelro. Para o estudo da precipitaçãoque incide na floresta, ("rainfair), normalmente são instalados 2 ou 3pluviômetros em uma clareira próxima à área de estudo. Para obtenção maisadequada dos resultados de importação, a clareira a ser utilizada deve ter pelo

n i i u

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T

M. Domingos et ai.

menos 5 m de diâmetro. Como regra geral, é preferível instalar os pluviômetrosem locais onde a sua superfície coletora apresente 45" livre de obstáculos.

A água que atravessa o dossel, também chamada água de gotejamento,("thrvughfair) e a transferência de nutrientes ao chão da floresta atravésdessa água são quantificadas pela colocação de pluviômetros sob o dossel,distribuídos de forma aleatória ou sistemática (aproveitando-se, neste últimocaso, pontos de amostragem demarcados para outros estudos). O número depluviômetros utilizados depende do grau de homogeneidade do dossel, sugerindo-se, em cada ponto, o agrupamento de 2 ou 3 coletores, a fim de d iminu i r avariação dos resultados obtidos. Para uma área 2.500 m2 de floresta, o uso de15 a 30 pluviômetros, distribuídos em grupos de 2 ou 3, parece ser suficiente.

A coleta de amostras de água é realizada, para cada coletor, após cadaevento de chuva ou semanalmente ou no máximo quinzenalmente. Nestaoportunidade o volume de água deve ser medido, os pluviômetros lavados ousubstituídos por limpos e uma alíquota (aproximadamente 200 ml) de águacoletada em frasco de polietileno devidamente etiquetado. No laboratório, asamostras são (1) analisadas quanto ao pH, (2) filtradas em papel de filtroquantitativo WHATMAN n" l, (3) analisadas individualmente ou reunidas porponto de amostragem proporcionalmente ao volume de água coletado em cadapluviômetro e (4) divididas em 2 partes, das quais uma é congelada e outraacidificada com ácido nítrico na proporção de !:IOOO, para armazenamento.As amostras semanais ou quinzenais, ao final de cada mês, são reunidas tambémde forma proporcional e enviadas a um laboratório de análises químicas parase determinar a concentração iônica. Nas amostras congeladas, são determinadasas concentrações de nitrato, amónio e nitrito e nas acidificadas, as concentraçõesde fosfato, potássio, cálcio, sulfato, magnésio, sódio, manganês, zinco, ferro,boro e cobre.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

O índice pluviométrico mensal obtido tanto em clareira quanto sob odossel é expresso em milímetros (mm), que pode ser calculado uíilizando-se ovolume mensal (expresso em litros) de água coletada em cada piuviômetro e aárea superficial do funií {em m2), considerando que l mm=l l/m2. Esta relaçãopode ser representada da seguinte forma:

índice Pluviométrico = volume de chuva / área do funil

Ciclagem cie iminentes minerais

Partindo dos resultados mensais individuais obtidos para cada coletor, obtêm-se os valores mensais médios para a área de estudo, para ambas as frações daprecipitação, os quais, somados, expressam os índices de precipitação incidentee de água de gotejamento anuais.

Com os resultados do volume mensal médio de precipitação incidente(PI) e de água de gotejamento (AG), pode-se calcular a porcentagem deinterceptação (% da precipitação incidente na floresta que fica retida na copadas árvores não chegando ao chão):

% de Interceptação = (PI - AG). 100 / PI

Os resultados mensais das concentrações de nutrientes em ambas as fraçõesda água de chuva são atualmente expressos em mg/l (correspondente a unidadeppm - l mg/1 = l ppm) e podem ser transformados em kg/ha/mês (X), com oobjetivo de expressar quantitativamente e eliminar o efeito de diluição causadopor diferenças de volume de chuva registrado e de se ter melhores meios decomparação de resultados. Estes dados, quando somados, podem ser expressosem kg/ha/ano, levando em consideração o volume de água obtido e aconcentração determinada, que de forma simplificada, podem ser calculadospela seguinte fórmula:

X = mm de chuva . concentração em mg/l / 100

A quantidade de nutrientes retirada por lavagem da superfície foliar oupor lixiviação (Y), quando da passagem da água pelo dossel da vegetação,pode ser estimada pela seguinte formulação:

Y - X (AG) - X (PI)

Os resultados positivos representariam um enriquecimento da águ;i dechuva e negativos algum tipo de retenção na copa das árvores.

Uma vez de posse de todos os resultados, levando-se em consideração osobjetivos do trabalho, testes estatísticos podem ser aplicados e labehis c fjiificoselaborados, o que fornecerá um maior embasamento para a discussão i* ohicncílodas conclusões.

74

Page 40: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

M. Domingos ei a!. Ciciarem de nutrientes minerais

TRANSFERÊNCIA DE NUTRIENTES PELAPRODUÇÃO DE SERAPILHEIRA

O estudo da produção de serapilheira é realizado através da utilização decoletores em fornia de peneira (circulares ou quadrados) com a superfíciecoletora com área mínima de 0,25 m2 e afastados do solo pelo menos 15 cm.Podem ser construídos com auxílio de sarrafos de madeira ou canos de PVC etela de náilon. A figura 15 mostra o modelo de uma peneira coletora de fácilconfecção.

Para uma área coberta por Mata Atlântica, ainda preservada, a utilizaçãode 25 a 30 peneiras distribuídas de forma aleatória ou sistemática ao longo daárea de estudo, parece ser suficiente. Na verdade, quanto maior a amostragemmelhor. Recomenda-se, também, que esse número total de coletores sejadistribuído, agrupando-se pelo menos 3 em cada ponto de amostragem, a fimde diminuir a variabilidade dos resultados (neste caso, uma amostra é compostapor 3 sub-amostras e todos os resultados são expressos através das médias dassub-amostras).

As coletas de serapilheira são realizadas mensalmente, sempre que possívelno último dia do mês, quando todo o material de cada peneira é recolhido,colocado em sacos de papel ou plástico devidamente etiquetados (conforme ograu de umidade da amostra). Galhos com diâmetros superiores a 2 cm devemser descartados. Caso haja troncos ou folhas caídos que ultrapassem asdimensões das peneiras, as sobras são também descartadas.

No laboratório, as amostras provenientes de cada peneira são transferidaspara novos sacos de papel, colocadas em estufa com circulação interna de ar, auma temperatura de 70"C, para uma secagem prévia por 24 h. Após esseperíodo, as amostras são retiradas da estufa, quando são submetidas à triagempara separação de suas frações folhas, ramos, partes reprodutivas e detritosnão identificados. As mesmas são ensacadas c colocadas novamente na estufa,<\a temperatura, lã permanecendo até atingirem peso constante, que deve

SIT anotado.As frações das sub-amostras mensais provenientes de cada ponto são

reipÔCtlvamente reunidas, moídas e digeridas, visando à preparação de extratoslíquidos, que sorvem de base para as análises químicas. Com o objetivo dei l m i i m i i i o número de amostras a serem analisadas, é possível reunirir- .prt i i van i r i i l r as iVaçÕes de ramos, partes reprodutivas e detritos em umaii 11 u i ' .n . i n . j . 1 1 n u i i por área. Recomenda-se que os extratos de cada amostra

sejam feitos sempre em duplicata, o que facilita a detecção de possíveisproblemas analíticos.

O método mais utilizado para o preparo de extraíos é o da digestão ácida,com a combinação de ácidos fortes como os sulfúrico, nítrico e perclóricoconcentrados. É necessário o preparo de dois tipos de extratos ácidos, um paraa determinação de nitrogénio (sem a adição de ácido nítrico) e outro para adeterminação de fósforo, polássio, cálcio, magnésio, enxofre, boro, cobre, ferro,manganês, sódio e zinco (sem uso do ácido suífúrico). É importante ressaltarque existem algumas pequenas variações metodológicas para o preparo dessesextratos e que, em geral, deve-se consultar e seguir as recomendações dolaboratório que fará as determinações finais dos elementos. Um dos métodosde digestão utilizados é proposto por Zagalto et ai. (1981).

Cabe lembrar que, dependendo do objetivo do trabalho, não são necessáriasanálises de todos os nutrientes, podendo as mesmas ser realizadas pelo própriopesquisador em seu laboratório. Neste manual, foi recomendado o envio deextratos para um laboratório especializado, visto que possui todos os métodosde determinação padronizados. A montagem de um laboratório para análisesquímicas implicaria em altos investimentos financeiros e de tempo paratreinamento de pessoal.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A produção mensal média de serapilheira da floresta em estudo é expressaa partir do peso seco das amostras (PS) em g/área da peneira (g/0,25 m2, porexemplo), valor obtido a partir do peso médio das amostras oriundas de cadaponto de amostragem. Este valor é, em seguida, transformado em kg/ha/mês,que quando somados, fornecem a produção anual (kg/ha/ano). A base para ocálculo desse valor é:

Produção de serapilheira (kg/ha) = PS . 10.000 / área da peneira

Onde PS é expresso em kg e a área em m2.

Os valores de concentração dos macronutrieiUes (nitrogénio, fósforo,potássio, cálcio, magnésio e enxofre) contidos na serapilheira são expressosanualmente em g/kg (antes expresso em %, ou seja, em g/IOOg) e os dosmicronutrientes (boro, cobre, ferro, manganês, sódio, zinco) e alumínio emmg/kg (correspondente à unidade ppm - l ppm=mg/kg) da matéria seca. Para

/ í .77

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M. Domingos ei til.

determinação da quantidade de elementos transferidos ao chão da florestadurante a queda de serapilheira, tendo como área base ! hectare, asconcentrações e valores de produção de serapilheira são multiplicados.

Diversos tipos de comparações estatísticas, tabelas e gráficos podem serrealizados, levando em consideração os objetivos do trabalho.

ESTOQUE DE ELEMENTOS NA SERAPILHEIRA ACUMULADA

É importante que, no planejamento do trabalho, esteja muito bem definidoo que se quer coletar. Serapilheira, por definição, é a camada superficial dosolo sob a floresta, consistindo de folhas, ramos, caules, cascas, flores e frutoscaídos. É equivalente ao horizonte orgânico "O" dos solos.

No campo, às vezes, não se distingue com faci lidade a espessura da camadade serapilheira, principalmente em solos mais escuros. Desse modo, recomenda-se fazer um treinamento prévio, para uniformizar a coleta, padronizar o materiala ser coletado e sistematizar os eventuais erros.

Para estimar o estoque de serapilheira e nutrientes acumulados sobre osolo da floresta, coleta-se todo o material existente sobre a camada mineral dosolo, utilizando-se armações quadradas de madeira, com superfície mínima de0,04 m2, ou seja, um quadrado com 20 cm de lado.

Em uma área de 2.500 m2 (correspondente a quarta parte de l ha - I ha= 10.000 m2), coberta por Mata Atlântica ainda preservada, a coleta de nomínimo 30 quadrados de serapilheira tem sido suficiente. A amostragem podeser realizada de forma aleatória, coletando-se o conteúdo de 30 quadradoslançados ao acaso na área de estudo. Devem ser evitadas as coleías nas bordasda floresta e em locais muito encharcados ou próximos a picadas e córregos.

As coletas também podem ser realizadas de forma sistemática,estabelecendo-se previamente os locais de amostragem. Esses locais podemser as sub-parcelas ou os pontos amostrais do sistema de quadrantes, demarcadosnos estudos fitossociológicos.

Qualquer que seja o método utilizado, recomenda-se a coleta de 3quadrados de serapilheira por local ou ponto de amostragem selecionado, afim de diminuir a variabilidade dos resultados. Desse modo, em 2.500 m2 (1/4de l ha), são obtidas 10 amostras compostas por 3 sub-amostras cada e todosos resultados serão expressos através das médias das sub-amostras.

78

nutrientes minerais

As coletas são realizadas a cada 3 ou 6 meses. Um intervalo de 6 mesesé aceitável, desde que sejam feitas coletas em períodos do ano distintos quantoà temperatura e precipitação.

Na época de coleta, o conteúdo de cada quadrado é colocado em sacoplástico devidamente etiquetado e, no caso de trabalhos de campo com duraçãosuperior a l dia, os sacos devem ser mantidos abertos, até o momento do retornoao laboratório.

No laboratório, as amostras provenientes de cada quadrado são transferidaspara sacos de papel e colocadas em estufa a 60-70°C, até atingirem pesoconstante, quando então seu peso é anotado. As três sub-arhostras provenientesde cada ponto são misturadas, moídas e submetidas a digestões ácidas, visandoa preparação de extratos para análises químicas, conforme já descrito no itemanterior.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

O estoque médio de serapilheira acumulada sobre o solo da floresta porépoca de coleta é expresso em gramas por área do quadrado (g/0,04 m2 oug/0,25 m2, por exemplo), valor obtido a partir do peso seco médio (PS) dasamostras oriundas de cada ponto. Esses valores são transformados em kg/haou t/ha, segundo o cálculo abaixo e, quando somados e divididos pelo númerode cofetas, fornecem o estoque de serapilheira da área em estudo.

Estoque de Serapilheira = PS . 10.000 / área do quadrado

Onde PS é expresso em kg ou t e a área em m2.

As quantidades estocadas de cada nutriente são obtidas multiplicando-seos valores de concentrações (g/kg ou mg/kg) pelos valores de estoque deserapilheira.

Utilizando-se os valores obtidos para produção de serapilheira (item anterior)pode-se calcular sua taxa de renovação, através da relação entre a quantidade deserapilheira produzida e aquela acumulada. A relação inversa fornece o tempo derenovação da serapilheira. O tempo médio de ciclagem dos elementos é obtido, porsua vez, através da relação entre as quantidades destes na serapilheira acumuladae na produzida, conforme considerações de Olson (1963).

Page 42: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

M. Domingos e! ai.

LIBERAÇÃO DE ELEMENTOS PELADECOMPOSIÇÃO DE SERAPILHEIRA

Ao lado da produção, a decomposição da serapilheira é um dos aspectosmais estudados em comunidades vegetais e complementa as informações sobrea transferência de elementos para o solo.

O método mais utilizado prevê o confinamento da serapilheira em bolsasde tela de náilon ("litterbags"), que são deixadas na área de estudo, sendorecoletadas de tempos em tempos para avaliação da perda de peso (que forneceuma estimativa da velocidade de decomposição) e para análises químicas domaterial remanescente (que fornece uma estimativa da liberação dos elementosno período).

Após a escolha da área de estudo, selecionam-se pontos de amostragem,de preferência utilizando-se aqueles que demarcaram os vértices das parcelasou os próprios pontos amostrais do sistema de quadrantes, nos estudosfitossociológicos.

As bolsas devem ser confeccionadas com antecedência, em tela de náiloncom malha de l mm de abertura, nas medidas de 20x20 cm, devendo sercosturadas ou vedadas com seladora elétrica, deixando-se aberto um dos lados.

Percorrendo-se a área de estudo, coletam-se porções da serapilheira, demodo a se obter uma quantidade significativa de material misto, que é trazidoao laboratório, distribuído em sacos de papel de 5 kg e seco em estufa a 75°C,até peso constante. É importante destacar que a coleta deve ser feita apenas nasuperfície da serapilheira e de material recém caído, evitando-se folhasdecompostas ou de formato pouco comum como as de embaúba ou frondes depalmeiras.

Os conteúdos dos sacos são novamente misturados, preenchendo-se, então,cada bolsa com 10 g de serapilheira seca e costurando-se a abertura restante.Deste material, devem ser separadas 5 amostras de I g cada para análisesquímicas posteriores, que fornecerão a composição inicial em elementosminerais.

IX1 modo geral, em Mata Atlântica, a decomposição não é muito rápida,p .n l r i n lo sr f ixar 3 meses como período adequado para as medidas. Para 2500i n ' ( l Al de l i ; i ) (k- floresta, 20 a 25 bolsas por época de coleta fornecem resultados

irnir-, r u-|iirsrntalivos. Desse modo, para um ano de estudo, devem serr. u n i iimpu de HO a 100 bolsas preenchidas. A distribuição é feita de

i n . 1 1 1 . u . i .i • , ir m,ii K ;i ( ' .1 l por ponto, ou alternadamente, ponto sim, ponto não,rli l, t l i 1 l u i i n . i <|i ir ;is holsiis i-slejam submetidas ao maior número possível de

Kl!

Ciclagem de iminentes minerais

diferentes condições pontuais da área estudada. As bordas da floresta devemser evitadas, podendo-se iniciar os trabalhos após penetrar no mínimo 80 mpara o interior da floresta. As bolsas devem ser acomodadas sobre o solo,afasíando-se com cuidado a serapilheira ali acumulada, recomendando-se queuma delas seja ligada a uma árvore próxima, com fita de náilon colorida, parafacilitar o reconhecimento no campo, no momento da coleta.

A cada 3 meses, 20 ou 25 bolsas são recuperadas do campo, de preferênciauma por ponto de amostragem, tomando-se o cuidado de limpar levemente suasuperfície externa, removendo-se terra, folhas, pequenos ramos ou raízes queafi tenham se acumulado. Cada bolsa é colocada em saco de papel de 5 kgdevidamente numerado e o conjunto dos sacos é levado ao laboratório. Emseguida, o conteúdo de cada bolsa é distribuído sobre folhas de papel, parasecagem prévia ao ar ambiente. Nessa ocasião, é possível eliminar-se eventuaisanimais (minhocas, formigas, aranhas, etc.) ou resíduos dos mesmos, bem comoraízes que possam ter orientado seu crescimento para o interior das bolsas. Emseguida, o conteúdo de cada bolsa é novamente transferido para sacos de papelde l kg, passando-se à secagem em estufa a 75"C, até peso constante.

Calculando-se as diferenças entre peso seco inicial (l Og) e peso seco obtidoapós cada coleta, em cada bolsa e calculando-se a média entre elas, obtém-se ovalor da quantidade de matéria seca perdida no período, que representa avelocidade de decomposição. Normalmente, esses valores são expressos emporcentagem do peso seco inicial.

Assim, a velocidade de decomposição (d) é dada pela fórmula:

d = 100 (Pi - Pf) / Pi

Onde Pi = peso seco inicial (= 10g); Pf = peso seco do materialremanescente nas bolsas.

Após um ano, os valores obtidos nas quatro épocas de coleta podemser lançados em gráficos, onde se Eem de um lado o tempo e de oulro, ouo peso seco médio do material contido nas bolsas (dando uma curvadescendente) ou a média da perda de peso do material (dando uma nu váascendente), conforme ilustrado na figura 16.

Uma outra maneira de se expressar a velocidade deatravés do coeficiente de decomposição (k), que se refere a ni/;da decomposição e é calculado segundo a fórmula:

Hl

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M. Domingos el ci!. de nutrientes tnineraix

k = - In (l - k') em que k' = P / Po

Onde P = quantidade de material perdido no intervalo de tempo "T";Po = quantidade de material inicial no tempo To.

Com os mesmos dados pode-se calcular o tempo de renovação daserapilheira (tr = l / k') e o tempo médio de decomposição (tm = l / k), usando-se os valores de k e k' de doze meses e obtendose o resultado em anos.

Para o estudo da liberação de elementos, via decomposição, tomam-se osconteúdos das bolsas de cada coleia, já secos e reunidos e procede-se à moagemem moinho tipo Wiley. O material é então dividido em 5 sub-amostras, quesão submetidas a digestão sulfúríca para a determinação do nitrogénio e digestãonítrico-perclórica, para os demais elementos. As digestões e preparação deexíratos seguem as recomendações já citadas no item que traia da produção deserapilheira.

Os extratos são enviados a um laboratório de análises adequado, ondenormalmente são determinadas as concentrações de N, P, K, Ca, Mg, S (g/kg)e de Na, Al, Mn, Zn, B, Fe, Cu (mg/kg), expressos em relação ao peso damatéria seca. Este tipo de procedimento é, também, repetido nas cinco amostrasseparadas da serapilheira inicial.

Os valores obtidos nas quatro épocas de coleta, para cada elemento, podemser lançados em gráficos, onde se tem de um lado o tempo e, de outro, asconcentrações médias do elemento no material remanescente das bolsas,conforme ilustrado nas figuras 17 e 18. As curvas variam variar conforme amobilidade do elemento, grau de importação do elemento pela precipitaçãoseca, dinâmica da decomposição, etc., sendo que curvas ascendentes significamadições ou imobilização do elemento no material orgânico. As curvasdescendentes, por sua vez, representam liberação do elemento devido aoprocesso de decomposição e mineralização da matéria orgânica.

ESTOQUE DE NUTRIENTES NA BIOMASSA FOLIAR

A biomassa foliar viva é de difícil estimativa, uma vez que implica nautilização de métodos destrutivos para obtenção de amostras e o manuseio degrande quantidade de material. Em geral, delimita-se uma parcela representativada floresta, com área conhecida, sendo derrubadas todas as árvores nelacontidas, para separação e pesagem das frações folhas, ramos, troncos e raízes.

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A biomassa de cada fração é estimada, ao nível de hectare, da mesma formaque a produção de serapilheira.

Algumas relações alométricas podem ser utilizadas, principalmente para aestimativa indireta da biomassa de troncos (utilizando volume e peso do tronco,por exemplo), método que também implica em derrubada de indivíduos arbóreos.Para a Mata Atlântica.

Margalef (1977) sugere considerar a biomassa foliar da floresta emequilíbrio, em termos quantitativos, igual à biomassa de folhas derrubadas(serapilheira produzida). Isto seria uma solução paliativa para a obtenção dedados dessa natureza para florestas como a Mata Atlântica, onde o aspecto dapreservação é muito importante. Outras relações alométricas utilizadas sãopropostas por Burger (1997) e Pompéia (1997).

A determinação da concentração de nutrientes em folhas vivas pode serrealizada^em amostras mistas de folhas provenientes de diversos indivíduospertencentes a diferentes espécies, que ocorrem nas proximidades de um pontode amostragem {sendo aconselhável, neste caso, a utilização dos mesmos pontosescolhidos para o estudo de produção de serapilheira) ou em amostrasprovenientes de indivíduos da mesma espécie, que será sclecionada através dolevantamento fitossociológico.

A coleta de folhas deve ser cuidadosa, procurando-se retirar folhascompletamente expandidas e não senescentes, em posições da copa pre-estabelecidas. Quando se consideram espécies individuais, o ideal é coleíarseparadamente amostras de no mínimo 6 indivíduos semelhantes quanto aoporte.

Do ponto de vista de um estudo de ciclagern de nutrientes, as amostrasnão precisam ser lavadas para a retirada de materiais depositados sobre assuperfícies foliares, a menos que seja um objetivo do trabalho a estimativa(indireta) da quantidade desse material depositado, que seria obtida através decomparações das concentrações em folhas lavadas e não lavadas.

No laboratório, as amostras de folhas são submetidas à secagem, moageme digestão, seguindo a metodologia descrita no item produção de serapilheira.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS;

Os resultados das concentrações de nutrientes nas folhas são expressosem g/kg e/ou mg/kg da matéria seca e, caso tenha sido quantificada a biomassafoliar (de cada espécie ou total), este valor é utilizado para estimar as quantidadesde nutrientes em kg/ha, nela presentes. Maiores detalhes a esse respeito podem,também, ser obtidos no item de produção de serapilheira.

H 3

L

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M. Domingos et ai

\o da metodologia de amostragem adotada, os resultados sãoi ipu-scnladus por ponto ou para cada indivíduo, obtendo-se, a partir deles,valores médios para a área.

Tabelas, gráficos e comparações estatísticas são recursos a seremtilili/.ados, visando à melhor apresentação dos resultados.

ESTOQUE DE NUTRIENTES NO SOLO

Para quantificar o estoque de nutrientes no solo é de extrema importânciarealizar uma correia amostragem. Considerando a profundidade do solo dafloresta e a heterogeneidade natural, fica bem cíaro que esta não é uma tarefasimples. Sendo assim, a amostragem deve ser rigorosamente planejada eexecutada de forma que seja representativa da área estudada.

0 método mais conveniente de amostragem de uma certa área baseia-sena obtenção de amostras compostas, em porções da floresta o mais possívelhomogéneas quanto à fisionomia da vegetação e solo. A figura 19 apresentaum modelo esquemático de obtenção de amostras de solo, considerando aspeculiaridades da área quanto a relevo, profundidade de solo e proximidade decoipos d'água. Uma regra adequada é coleíar sempre 20 amostras simples,uniformes em volume e profundidade, para compor uma amostra composta,qualquer que seja o tamanho da área, mesmo que esta represente apenas 10m2. Isso porque a variabilidade das propriedades químicas de um soío manifesta-se em pequenas distâncias, principalmente nas camadas superficiais (até 20 ou30 cm de profundidade).

Quanto à profundidade, recomenda-se que as amostras simples sejamretiradas em camadas de no máximo 10 a 20 cm, desde a superfície (após aremoção da camada de serapilheira) até a profundidade atingida pela maiorparte dos sistemas radiculares das plantas. Em áreas com elevada entradaai mosférica, sugere-se que a camada de 0-20 cm seja amostrada em 4 intervalos,qu; i issqam: 0-5, 5-10, 10-15 e 15-20 cm.

1 '!m 25(X) in3 (1/4 de l ha) de Mata Atlântica ainda preservada e homogénea• I M m i . > i declividade, drenagem, cor e textura do solo e fisionomia da vegetação,.1 . imo1 ,hauriu pode ser realizada de forma aleatória, coletando-se as sub-,t - . t i . i s un ,'0 ponlos ao acaso. Dessa forma, se o solo tiver 60 cm depru l i i i i d id . i d r , serão oblidns, após reunidas as sub-amostras de cada camada, 3

K- l

Ciclugem de nutrientes minerai.'!

amostras compostas por área, sendo cada uma representativa de umaprofundidade, levando em conta intervalos de 20 cm.

Dependendo do objetivo do trabalho, e se realmente as condições dehomogeneidade existirem na área, essa amostragem poderá ser suficiente.Entretanto, tais condições são difíceis de prevalecer em Mata Atlântica, queusualmente ocorre sobre terrenos com declividade variada e diferentescondições de drenagem. Nestas condições, a amostragem sistemática, além deser mais representativa para estudos de ciclagem, possibilita uma série de outrasabordagens e comparações, envolvendo tanto o solo como as relações solo-planta.

Para tanto, recomenda-se a se loção prévia dos ponlos de amostragem,que poderão ser os mesmos demarcados para o levantamento fitossocioíógicopelo método de quadrantes, ou os vértices das sub-parcelas, no de parcelas.Neste caso, é interessante que sejam utilizados os mesmos ponlos que servirampara a coleta da serapilheira acumulada, podendo-se reali/ar a colela de ambosos materiais concomitantemente. Este procedimento racionuli/a o trabalho nocampo e proporciona maior exatidão nas interpretações finais quanto a estoquese fluxos. Pontos que diferem muito em declividade, drenagem e tipo de soío,serão amostrados separadamente. Conforme já comentado em itens anteriores,deve-se evitar a coleta em locais próximos a picadas, construções, estradas,formigueiros etc., bem como quando o solo estiver muito encharcado.

As propriedades do solo. salvo em casos excepcionais, variam muito poucocom o tempo, de modo que não há necessidade de coletas periódicas deamostras. Pode-se, mais a título de confirmação, proceder-se a duas coletasem um ano. Na realidade, para este compartimento o que importa é coletar-seo maior número de amostras possível, que, estocadas adequadamente nolaboratório, permitirão uni grande número de tratamentos, análises einterpretações posteriores.

A coieta de terra pode ser feita com diversas ferramentas, apresentando-se na figura 20 aquelas mais comumente utilizadas. Destas, as mais práticassão o trado holandês e o tubo de aço inoxidável. Qualquer que seja a ferramenta,devem ser tomadas amostras uniformes quanto a volume e profundidade.

Após a retirada de amostras simples dos 20 locais homogéneosrepresentativos de cada ponto de coleta, a terra obtida a cada intervalo deprofundidade deve ser muito bem misturada, separando-se cerca de 500 g queserão colocadas em sacos plásticos devidamente etiquetados. Em trabalhos decampo com duração superior a l dia, os sacos devem ser mantidos abertos atéo momento do transporte para o laboratório, onde as amostras são transferidaspara caixas de papelão e colocadas para secar ao ar ambiente ou em estufa a

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M. Domingos ei ai. Ciclagein de nuírienies tnineritix

aproximadamente 50"C. Após a secagem, estas devem ser estocadas em sacosplásticos ou frascos de polietileno, até o momento das análises.

Apesar de ser possível a realização de algumas análises mais simples emlaboratórios comuns, é recomendável que estas sejam feitas por laboratóriosespecializados em análises de solo, que fornecerão inclusive, instruções sobreo processamento das amostras, que será específico para cada parâmetro que sedeseja analisar.

Usualmente, é de interesse a análise dos cátions na forma trocável (K,Ca, Mg, Al e Na), teores de carbono e nitrogénio totaí, os micronutrientes (Fe,Mn, Cu, Zn e B) e fósforo extraíveis.

Os resultados fornecidos pelo laboratório podem estar expressos emdiferentes unidades (%, ppm=mg/dm3, meq/100 cm3, cmol /dm\0 g).Para se proceder às devidas transformações, deve-se conhecer a forma em queo elemento foi analisado e a que se referem os valores (peso ou volume).Tomando-se por base as concentrações nas amostras, fazem-se as devidastransformações para g/ha ou kg/ha, consultando-se bibliografia apropriada,visto que cada elemento possui particularidades para fins desses cálculos.

Deve-se ter cautela nas interpretações dos resultados, visto que os termos"alto", "médio" e "baixo" da maioria dos manuais de análise de solo, referem-se a solos agrícolas.

ESTOQUE DE ELEMENTOS NA BIOMASSA DE RAÍZES

A metodologia para determinação da biomassa de raízes em florestastropicais ainda constitui problema digno de atenção. Poucos estudos têm sidofeitos a respeito, todos eles envolvendo árduo trabalho de campo e cansativaatividade de laboratório.

Estudos feitos na África, que produziram esquemas de distribuição deraízes de algumas árvores da floresta, além da quantificação das mesmas nasdiversas camadas do solo, envolveram escavação e remoção de grandes volumesde terra, desenhos dos sistemas radiculares expostos, retirada das raízes eseparação por classes de diâmetro, seguidas de pesagens, moagens e análisesquímicas para a determinação dos teores de nutrientes. Evidentemente, esteestudo é atualmente impraticável, sobretudo pelo trabalho braçal envolvido epela destruição imposta à floresta.

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Tentativas têm sido feitas, portanto, no sentido de selecionar metodologiabaseada em: ( I ) retirada de amostras de solo em diferentes profundidades; (2)separação de solo e raízes; (3) separação das raízes por classe de diâmetro; (4)quantificação da biomassa por profundidade e por classe de diâmetro e (5)análises para a caracterização química do material.

Apesar de ainda existirem restrições aos métodos, será descrita aqui aabordagem selecionada pela equipe do Instituto de Botânica de São Paulo,após testar três diferentes métodos, em estudo feito na Mata Atlântica da ReservaBiológica de Paranapiacaba, em duas áreas de í ha cada, submetidas a diferentescargas de poluentes aéreos.

Em 5 pontos selecionados de maneira a representar a área de estudo,amostras de terra são retiradas com cilindro de aço inoxidável com diâmetrode 10 cm e capacidade de um litro, às profundidades de 0-15, 15-30, 30-45 e45-60 cm.

No laboratório, cada amostra é colocada em saco confeccionado comtela de náilon de 250 fim de abertura (rede de plâncton), permanecendo sobágua corrente por tempo suficiente para a remoção das frações finas do solo.Em seguida, o conteúdo da tela recebe uma secagem ao ar lívre, até que omaterial se desagregue, quando é transferido para um recipiente e misturadocom água. Deixa-se o conjunto imóvel para decantação, de modo que no fundoserá depositada a areia e na superfície ficará a fitomassa subterrânea.

Com o auxílio de uma peneira, o material sobrenadante é recolhido ecolocado sobre folhas de papel de filtro, sendo então transferido para estufa àtemperatura de 50 a 60"C, onde permanece até atingir peso constante. Os pesosobtidos referem-se, portanto, à fitomassa de cada amostra.

Segue-se a separação manual do material mais grosso e seleciona-se orestante por classes de diâmetro, através de peneiramento em agitador mecânico,com peneiras de malhas de diferentes aberturas. Obtém-se, assim, materiais d;ifitomassa com diâmetros superiores a 2 mm e entre l e 2 mm.

Passa-se então à separação manual, sob lupa, selecíonando-se as raí/.es edescartando-se o restante da fitomassa. O trabalho é moroso e depende t k1

grande treinamento, para que as raízes não sejam confundidas com oulrosresíduos.

Após essa triagem, pesam-se as raízes correspondentes <i cada amoslia,obtendo-se a biomassa radicular existente em l l i t ro tk1 solo, na respectivaprofundidade. Sabendo-se que l ha corresponde a 10.000 m' c considerando-se cada profundidade, o valor da biomassa de cada amoslni pode MT extrapoladopara a área de estudo, expressando-se os resultados em kg/ha nu (/lia, apóscálculo da média entre os 5 pontos.

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M. Domingos ei a!.

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l - i n ; i lmen te , cada amostra é moída e submetida a digestão ácida jámencionada anteriormente, para a determinação das concentrações deelemenlos. Conhecendo-se a concentração do elemento, o peso seco de cadaamostra e a biomassa por hectare, calculam-se as quantidades de elementospresentes na biomassa de raízes na área de estudo, sendo os resultados expressosem kg/ha.

ESTOQUE E FLUXOS DE ELEMENTOS NA FLORESTA

Os resultados obtidos nos itens precedentes, além de fornecereminformações importantes sobre o papel de cada compartimento e de cadaprocesso na ciclagem de elementos, incluindo suas variações ao longo do tempo,permitem, em seu conjunto, a elaboração de esquemas que representam aimportação, os estoques e as transferências de nutrientes no ecossistema,permitindo assim, melhor visualização do balanço mineral.

De posse dos dados de concentração de cada elemento e da quantidade docompartimento considerado, levando-se em conta que o trabalho foi realizadoem l ha ao longo de l ano, obtém-se através de simples multiplicação, os valoresde estoques, expressos em kg/ha e os de transferência expressos em kg/ha/ano.

Os cálculos para obtenção da quantidade de elementos na água de chuvapor hectare, bem como aqueles transferidos ao solo pela queda de serapilheira,já foram explicados. A liberação de elementos via decomposição leva em contaa quantidade de serapilheira acumulada, suas concentrações em elementos e avelocidade de liberação dos mesmos estimada no estudo da decomposição.

Quanto ao estoque na biomassa aérea, muitos estudos ainda aplicammétodos destrutivos. Sabendo-se as concentrações dos elementos e a quantidadedo compartimento, basta multiplicar esses valores para se obler a quantidadede cada elemento, no compartimento, naquela área menor. Aplicando-se regrado três, são estimados os valores para l ha.

ronsider;mdo-se, porém, a devastação acelerada de nossas florestas, essetnr ioi lu nào é recomendável. Estudos mais recentes têm procurado desenvolver. i lHi id ; i ) ' , r i i s i iu l i iv tas , em que é considerada a área foliar ou relações com o• nniiu i l < > tronco em diâmetro, porém nenhum deles reflete a biomassa. 1 - M ,1 h .li

Ní ln h . i v n i i l n . porii inio, um método não destrutivo perfeito, e levando-se' i i i ' m i l . ) ,is limitações daqueles propostos ale o momento, uma alternativa é

II

Ciclagem de imirienies minerais

.

seguir a sugestão de Margalef (1977), que considera que a biomassa foliarseria equivalente à queda anual de serapilheira miúda. Apesar dessa abordagemtambém não representar a realidade de todas as florestas, a mesma tem seuvalor, sobretudo nos estudos em que se comparam florestas de mesmafisionomia e estrutura em regiões diferentes ou áreas perturbadas e áreaspreservadas de uma mesma floresta.

Quanto ao solo, conhecendo-se a concentração de cada elemento porvolume de terra, pode-se calcular a quantidade do mesmo em cada profundidadepor hectare. Da mesma forma, conhccencio-se a biomassa de raízes em dadovolume de solo e a concentração de cada elemento nas amostras de raízesdaquela profundidade, consegue-se uma estimativa da quantidade de elementospresentes na biomassa radicular de l ha.

Os valores assim obtidos são lançados em esquemas como aqueles dasfiguras 21 e 22, que representam os estoques e fluxos de alguns elementos emduas áreas de Mata Atlântica na Reserva Biológica de Paranapiacaba,submetidas a diferentes cargas de poluentes aéreos.

Na figura 21, por exemplo, verifica-se que : (1) o potássio se apresentaem maiores quantidades na biomassa foliar da área menos afetada; (2) por serelemento altamente móvel, o potássio é translocado na planta, antes da abscisãofoliar; (3) devido à sua grande solubilidade, maiores quantidades de potássiochegam ao solo após lixiviação e lavagem das copas pela água de chuva, doque pela queda do folhedo, em ambas as áreas; (4) os estoques na serapilheiraacumulada são semelhantes em ambas as áreas, porém a quantidade de Kliberada para o solo após a decomposição é menor na área mais afeíada, emfunção da decomposição rnais lenta; (5) no solo, em ambas as áreas, as maioresquantidades do elemento se encontraram nas camadas superficiais, decrescendocom a profundidade, porém sempre com maiores valores na área menos afetada.

Na figura 22, por sua vez, pode-se verificar que a quase totalidade docálcio estocado na biomassa foíiar retorna ao solo com a queda da serapilheira,pois é elemento estrutural, não facilmente lixiviado. O acréscimo observadona água de gotejamento é resultante da lavagem de deposições secas nasuperfície foliar pela água de chuva. À exceção da quantidade importada pelaágua de chuva, todos os valores são maiores na área menos afetada.

No que se refere ao estudo do balanço nutricional dos ecossístemas,baseando-se em trabalhos recentes, dcpreende-sc que, ainda hoje, não existeuma abordagem completa, eficiente e acurada para este tipo de estudo, mesmoem florestas temperadas, que vêm sendo há muito, exaustivamente estudadas.

No caso das florestas tropicais, o número de investigações é ainda menore a complexidade do ecossistema dificulta a adaptação de alguns métodos.

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M. Domingos ei ai.

Considerando-se as reduzidas dimensões das florestas remanescentes noBrasil, esses fatos devem servir de estímulo para novos estudos, utilizando-sea metodologia disponível, no sentido de contribuir para o conhecimento dascomunidades, verificação de tendências, proposição de modelos eaprimoramento de técnicas próprias para florestas tropicais.

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Cidagem de nutrientes minerais

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Figura 14: Representação esquemática de um pluviõmeiro c respi-clivo supotU1 \v.\n\tno campo, utilizado no estudo do papel da água de chuva no pruirs.sn ik- ni-hifi/iu inim-nil,

Page 50: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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Page 51: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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Figura 17: Dinâmica de macronutrientes minerais durante a decomposição da serapilheira nasáreas mais e menos aíetadas pela poluição, na Reserva Biológica de Paranapi acaba, no segundoano de experimento. NS: estatisticamente não significativo; * estatisticamente significativo a5% de probabilidade; ** estatisticamente significativo a \% de probabilidade. (Slruffaldi DeVuonocííi/., 1989)

98

Figura 18: Dinâmica de micronulrientes minerais e AI durante a decomposição da serapilheiranas áreas mais e menos afetadas pela poluição, na Reserva Biológica de Paranapiacaba, nosegundo ano de experimento. NS: estatisticamente não significativo; * estatisticamentesignificativo a 5 % de probabilidade; ** estatisticamente significativo a l % de probabilidade.(StrutTaldi De Vuono et ai, 1989)

99

Page 52: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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Figura 19: Esquema representando um sistema de amostragem de solo, considerando aspeculiaridades de uma área.

Figura 20: Ferramentas que podem ser utilizadas para retirar amostras de terra: (1) trado derosca; (2) trado holandês; (3) trado de caneco; (4) tubo de aço inoxidável.

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Page 53: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

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seca; incremento de utilidade; - - - + - - + — transferência total pela água de chuva:

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Figura 22: Ciclo do Cálcio - Fluxo anual do Cálcio (kg/ha/ano) m

102 103

Page 54: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

7. Conservação da flora da Mata Atlântica

Haroldo Cavalcante de Lima1

Ariane Lima Peixoto2

Tanta Sampaio Pereira1

Conservação da flora da Mata Atlântica

Os dados florfsticos sobre a Mata Atlântica, hoje disponíveis, permitemconsiderá-la uma das florestas tropicais com maior riqueza de espécies esignificativo grau de endemismo. Entretanto, as grandes transformações einterferências sofridas ao longo dos anos, repercutiram de maneira drástica nessariqueza e diversidade florística, promovendo o desaparecimento de inúmerasespécies e de ambientes ímpares, alguns até mesmo antes de serem conhecidos edescritos pelos cientistas. Diante de tais fatos, há uma necessidade urgente dasistematização dos conhecimentos disponíveis e de um levantamento detalhado dasituação aluai da cobertura vegetal remanescente de Mata Atlântica. Informaçõesatualizadas, entre elas o percentual e a localização das áreas com florestas primitivasou com florestas em avançado estádio de regeneração, a composição florística econdições aluais das populações de espécies representativas, são imprescindíveispara subsidiar atividades que poderão atenuar os diversos fatores que vêmprovocando alterações nesta floresta. Este procedimento possibilitará se por emprática algumas açòes conservacionistas, evitando-se assim perdas irreversíveisdos recursos genéticos.

MEDIDAS CONSERVACIONISTAS

l )os ecossistemas brasileiros a Mata Atlântica é aquele que historicamente\ r i i i srtulo submetido a uma maior interferência antrópica (Câmara, 1991/92;i V m H u i - /* / / . , nesse volume.). Originalmente estendia-se por «ma ampla faixa,r n l i r MS csladns do Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, restando hoje

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maior parte de pequeno tamanho, separados por áreas antropizadas ou porvegetação muito degradada. Essa realidade exige um plano de ação específicopara esse ecossistema que o trate porém de forma giobat, definindo-se áreasmínimas e prioritárias para conservação, estabelecendo-se novas Unidades deConservação ou tornando mais efetivas aquelas já existentes.

A maioria das unidades de conservação brasileiras foram escolhidas apartir de interesses em preservar áreas de notáveis beleza cénica, protegeranimais ameaçados de extinção, proteger mananciais hídricos, entre outros. Ésabido que em relação à Mata Atlântica esses critérios não consideraram atéagora o ecossistema em sua total amplitude e efetivamente não protegeramainda a totalidade de áreas de elevada riqueza florística, de alta diversidade deambientes e de habitais de espécies chave para o ecossistema- Para que issoocorra, é necessário que se utilizem critérios biológicos adequados, baseadosem inventários biológicos e pesquisas de campo, sendo, nesse contexto,imprescindíveis os dados florísticos e fauníslicos, aliados a dados abióticos.Assim, as atuais unidades de conservação bem como os remanescentes a serempreservados, no domínio da Mata Atlântica, devem ser analisadas denlro desteconlexto, para que se possa avaliar o seu polencial de conservação.

No que se refere a flora, algumas questões precisam ser respondidas,tanto do ponto de vista global do ecossistema, como do ponto de vista de áreasespecíficas. Qua! percentual de diversidade vegetal vem sendo resguardada?Os centros de alia diversidade e endcmismos estão protegidos? As áreas sãosuficientes para a manutenção das populações? As espécies tradicionalmenteexploradas de forma predatória possuem populações adequadas para se evitara erosão genética? As unidades de conservação existentes ou a serem propostasão as mais adequadas?

O conhecimento disponível ainda não permite respostas imediatas paratais questões devido à inexistência de dados para algumas regiões. Entretanto,a partir das subdivisões mais usadas na caracterização da Mata Atlântica(Rizzini, 1979; Joly et ai. 1990; IBGE, 1993) e de estudos em diversas áreas,com metodologias padronizadas, será possível apresentarem breve uma avaliaçãopreliminar porém fundamentada em dados científicos. Portanto, recomenda-seque avaliações regionais, definindo as áreas prioritárias para a conservação,sejam implementadas a partir de pré-requisitos bem estabelecidos.

Para orientar a avaliação necessária e sistematizar os dados já existentessobre as espécies vegetais da Mata Atlântica, bem como direcionar os esforçospara as regiões onde os dados não estejam ainda disponíveis, sugere-se o roteirode atividades e ações abaixo esquematizado.

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H. C. Lima et ai.

LEVANTAMENTO DE DADOS

- Levantamento das dimensões, delimitações, topografia e condições depreservação das áreas remanescentes ou em regeneração (mapeamento);

- Inventário das espécies ocorrentes nas áreas remanescentes (estudos florísticose fitossociológicos)

AVALIAÇÃO DOS DADOS

- Avaliação da diversidade florística e do padrão de distribuição dos láxons- Avaliação do grau de vulnerabilidade das espécies e suas populações.

AÇÕES CONSERVACIONISTAS

- Seleção de áreas remanescentes prioritárias para conservação;- Elaboração de listas de espécies ameaçadas de extinção e sua ocorrência

nas áreas remanescentes;- Proposição para manutenção ou a efetivação legal de unidades de conservação

existentes ou criação de novas unidades em áreas remanescentes prioritárias.- Indicação de espécies prioritárias para a conservação e criação de bancos de

germoplasma "in situ" e "e.v situ" ou associação com bancos já existentes;- Criação de viveiros para a produção intensiva de mudas de espécies nativas

para reflorestamento, recomposição e outras finalidades.Ri-passe das informações obtidas para organizações governamentais e nãogovernamentais, de atuação comprovada na região de estudo, tornando-asparceiras n. i divulgação do conhecimento e em programas de conservação.

O SISTEMA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL

O processo de criação de Unidades de Conservação no Brasil é aindarealizado através de ações desconeetadas entre as administrações municipais,estaduais e federais. Ações independentes, adotando, muitas vezes, conceitosdiversos na definição das unidades, ocasionou uma proliferação de categoriasque dificultam a aplicação da legislação exislenle. As linhas gerais da políticade áreas protegidas foram revisadas e está sendo implementadas a partir dedefinições estabelecidas por um conselho, coordenado pelo IBAMA - oConselho Nacional de Unidades de Conservação. O Sistema Nacional deUnidades de Conservação (SNUC) é assim uma tentat iva de uni f icar

106

Conservação da flora da Mata Atlântica

terminologias e definições. A Lei 9985 de 18 de julho de 2000 que instituiu oSNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão dasunidades de conservação. Em linhas gerais, são apresentados os conceitos dasprincipais Unidades dentro do sistema em vigor:

I - Unidades de Proteção Integral:Objetiva preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos

seus recursos naturais,

Estação Ecológica

Destina-se a realização de pesquisas básicas e aplicadas à ecologia, àproteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação ambiental. Éproibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional.

Reserva Biológica

Destina-se à preservação integral da biota e demais atributos naturaisnelas existentes, sem interferência humana direta ou modificações ambientais,a qualquer título, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemasalterados e o manejo das espécies que o exijam, a fim de preservar abiodiversidade. É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivoeducacional.

Parque Nacional

Destina-se a preservação de ecossistemas naturais de grande relevânciaecológica e beleza cénica, possibilitando a realização de pesquisas científicas eo desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, derecreação em contato com a natureza e de turismo ecológico,

Monumento Natural

Destina-se a preservar áreas contendo sítios, especialmente geológicosque, por sua singularidade, raridade, beleza cénica ou vulnerabilidade exijamproteção. Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possívelcompatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursosnaturais do local pelos proprietários. A visilação pública está sujeita às condiçõese restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade.

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Page 56: Manual Metodologico Para Estudos Botanicos

H. C. Lima et ai.

Refúgio de Vida Silvestre

l i constituída de áreas em que a proteção e o manejo são necessários paraassegurar a existência ou reprodução de determinadas espécies residentes oumigratórias, ou comunidades de flora ou fauna. Pode ser constituído por áreasparticulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade coma utilização da terra e dos recursos naturais. A visitacão pública está sujeita àsnormas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade.

II - Unidades de Uso Sustentável:Objetiva compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável

de parcela dos seus recursos naturais.

Área de Proteção Ambiental

Áreas em geral extensas, com certo grau de ocupação humana, dotadasde atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantespara a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e têm comoobjetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo deocupação e assegurar a sustentabilídade do uso dos recursos naturais. Podeser constituída por terras públicas ou privadas.

Área de Relevante Interesse Ecológico

Destina-se a manter ecossistemas naturais de importância regional oulocal e regular o seu uso. E uma área em geral de pequena extensão, em terraspúblicas ou privadas, com pouca ou nenhuma ocupação humana e comcaracterísticas naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biotaregional.

Floresta Nacional

Áreas de domínio público, com cobertura florestal de espéciespu-duniinanlemente nativas. Destinanvse ao uso múltiplo sustentável dosimiisos f l o r e s t a i s e a pesquisa científica, com ênfase em métodos pararxpln i i i t^ iu sustentável de florestas nativas. E admitida a permanência de|!o|>iihcoi'Mi adicionais que as habitavam quando da criação e a visitacão pública.

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Conservação da flora da Mata Atlântica

Esta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada,respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal.

Reserva Extrativista

Áreas naturais de domínio público, alteradas ou não, utilizadas porpopulações tradicionalmente extrativistas como fonte de subsistência paracoletade produtos da biota nativa, segundo formas tradicionais da atividade económica.Destinam-se a proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, eassegurar o uso sustentável dos recursos naturais.

Reserva de Fauna

Áreas naturais de domínio público contendo populações da fauna brasileira,residentes ou migratórias, adequadas aos estudos técnico científicos do manejoeconómico sustentável dos recursos faunísticos. Em virtude da complexidadedas intervenções fauna-flora, esta unidade é também adequada aodesenvolvimento de estudos sobre a ecologia de espécies vegetais, principalmenteaquelas relacionadas com a alimentação da fauna. A visitacão pública pode serpermitida.

Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Áreas naturais de domínio público que abrigam populações tradicionais,cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursosnaturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condiçõesecológicas locais e que desempenham um papei fundamental na proteção danatureza e na manutenção da diversidade biológica. Destinam-se a preservar anatureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessáriospara a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploraçãodos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservare aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvidopor estas populações.

Reserva Particular de Património Natural

Áreas do domínio privado destinadas por seus proprietários, no todo ouem parte, para a preservação do ciclo biológico de espécies da fauna e da florabrasileiras. Devem apresentar condições naturais, primitivas, semi-primitivas,

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H. C- Lima e! ai

recuperadas ou cujas características justifiquem ações de recuperação peloseu aspecto paisagístico. É permitida a pesquisa científica e a visitação comobjetivos turísticos, recreativos e educacionais.

PROCEDIMENTOS PARA A DEFINIÇÃO DASCATEGORIAS

PARA ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Um dos instrumentos empregados em trabalhos conservacionistas, bemcomo no estabelecimento de políticas de conservação da diversidade biológicatem sido as listas de espécies ameaçadas de extinção, instituídas primeiramentepela União Mundial para a Natureza (IUCN), em 1966. Desde então, aschamadas listas vermelhas, vêm sendo reconhecidas e adotadasinternacionalmente, como um instrumento adicional na luta em prol dasobrevivência de espécies, bem como no estabelecimento de áreas prioritáriaspara conservação.

A preocupação com a extinção de espécies de animais e plantas, emboraretratada abundantemente na literatura científica, só em 1988 foi incorporada àlei maior brasileira. Em seu capítulo referente às questões ambientais, aConstituição de 1988, no capítulo VI, artigo 225, parágrafo I", inciso VII,determina como responsabilidade do poder público "proteger a fauna e a flora,vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais a crueldade".Após a promulgação dessa lei, a maioria dos estados brasileiros e váriosmunicípios incluíram, em suas constituições, dispositivos que obrigam o poderpúblico a proteger as espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção. Asprimeiras ações decorrentes desta legislação começam a aparecer na formade listas de espécies ameaçadas Mello Filho et ai. 1992; Lins et ai. 1997; Riode Janeiro/SMMA 2000, entre outros), ou no estabelecimento de comissõesdestinadas a promover estudos sobre o assunto, e mais timidamente, em políticaspúblicas. Após a publicação de uma primeira lista parcial de espécies brasileirasameaçadas de extinção (Meíío Filho et ai. 1992), Paraná, Minas Gerais, SãoPaulo e Rio Grande do Sul foram os primeiros estados e o Rio de Janeiro foi oprimeiro município a elaborar suas listas incorporando peculiaridades regionais.

A ameaça da extinção de espécies, com a consequente redução dadiversidade biológica, foi alvo de um dos principais acordos discutidos durante aRio 92 - A Convenção sobre Diversidade Biológica. Entre as obrigaçõesassumidas por cada país signatário desta Convenção, está o compromisso de"desenvolver ou manter legislação própria e/ou outras medidas para a proteção

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de espécies e populações ameaçadas" (artigo 8°). Entretanto, cinco anos depois,os dados apresentado na Assembleia Geral da Segunda Conferência das Partesdo Convénio das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, realizada emJacarta, em 1997, apontam para o fato de que de 5% a 20% das espéciesanimais e vegetais jã identificadas estarão ameaçadas de extinção em um futuropróximo, se medidas de proteção não forem tomadas com urgência. O processode erosão dos recursos naturais é então apontado como um dos problemasmais sérios a ser enfrentado pela população humana no final de século XX. Aadoção de estratégias para reverter este processo constitui-se numa necessidadeurgente e representa um grande desafio para os governantes deste novo milénio.

Definem-se como espécies ameaçadas de extinção aquelas espécies queenfrentam uma alta probabilidade de extinção ou que se aproximarão destasituação se continuarem em curso pressões diretas sobre elas ou sobre seushabitais.

Os trabalhos sobre conservação de espécies, principalmente aquelesdestinados a definição de categorias ou graus de ameaça para estabelecimentodo status da espécie na natureza, podem íer maior abrangência ou serem restritosa um pequeno número de espécies ou áreas selecionadas. Desde a elaboraçãodos primeiros critérios para inclusão de espécies nas listas vermelhas, asdiscussões sobre os critérios de inclusão vêm sendo aperfeiçoados. Roche(1987), ressalta que os trabalhos devem ser inicialmente restritos a um pequenonúmero de espécies selecionadas tomando como base os seguintes critérios: a)Distribuição ecológica restrita; b) Baixa densidade populacional; c) Baixacapacidade de regeneração; d) Exploração intensiva para madeira, alimento,óleos, gomas, resinas, etc.; e) silvicultura desconhecida e nenhuma plantaçãoestabelecida; f) habitais vulneráveis ou ameaçados de extinção.

Para a avaliação do status das espécies na natureza, deve-se iniciar peladefinição dos critérios e categorias a serem utilizados. As definições gerais dostermos hoje comumente empregados na literatura sobre espécies ameaçadasforam aprovados na 40" Reunião do Conselho da IUCN (IUCN, 1994), apósdiscussões e frequente reavaliações por parte da Comissão de Sobrevivênciade Espécies (CSS) e de um amplo processo de consulta, tendo passado portransformações em vista da necessidade de atualização e de maior objetividade.Os critérios, de modo muito geral, envolvem: a) Intensidade dos fatores adversosque afeiam as populações naturais existentes, seja em termos de exploraçãodireta ou de destruição de seus habitais', b) Número e tamanho das populaçõesexistentes e sua condição de estável, em declínio ou ascensão; c) Extensão d;iárea de distribuição da espécie.

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As categorias são assim definidas:

EXTINTO (EX)

Um táxon é considerado Extinto quando não há dúvida de que o últimoindivíduo desapareceu.

EXTINTO NA NATUREZA (EW)

Um táxon é considerado Extinto na Natureza quando é conhecido apenasde cultivo, em cativeiro ou em populações naturalizadas fora de sua área dedistribuição original. Esta constatação deve ser feita após exaustivoslevantamentos em sua área original de ocorrência, em habitais conhecidos e/ou esperados, sem que se constate qualquer indivíduo. Os levantamentos devemser feitos por um período de tempo apropriado ao ciclo e fornia de vida dotáxon.

CRITICAMENTE EM PERIGO (CR)

Um táxon é considerado criticamente em Perigo quando corre um, riscoextremamente alto de extinção na natureza em futuro imediato, como definidopor qualquer dos critérios descritos (em ÍUCN, 1994).

EM PERIGO (EN)

Um táxon é considerado Em Perigo quando não está Criticamente emPerigo, mas está enfrentando um risco muito alto de extinção na natureza emfuturo próximo, como definido em qualquer dos critérios descritos (em ÍUCN,1994).

VULNERÁVEL (VU)

Um táxon é Vulnerável quando não se enquadra nas categoriasCri l icnnuMilc em Perigo nem Em Perigo mas está enfrentando uma altaimibnlidmlr de extinção na natureza a médio prazo, como definido por um dos

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critérios descritos (em ÍUCN, 1994).MENOR RISCO (LR)

Um táxon é de Menor Risco quando, havendo sido avaliado, não satisfeza nenhuma das categorias de Criticamente em Perigo, Em Perigo ou Vulnerávele não corresponda a "Dados Insuficientes". Os taxons incluídos na categoriaMenor Risco podem ser divididos em três subcategorias:

1. Dependentes da Conservação (de)Taxons que são o centro de um programa contínuo de conservação de

especificidade taxonômica ou especificidade de habitat, dirigido ao táxon emquestão, e cuja cessação resultaria em que, dentro de um período de 5 anos otáxon qualifique para alguma das categorias de ameaças antes citadas.

2. Quase Ameaçados (ca)Taxons que não podem ser qualificados como Dependentes de

Conservação, mas que se aproximam da categoria Vulneráveis.

3. Preocupação Menor (pm)Taxons que não qualificam para Dependentes de Conservação ou Quase

Ameaçados.

DADOS INSUFICIENTES (DD)

Um táxon pertence a categoria Dados Insuficientes quando as informaçõessão inadequadas para fazer uma avaliação, direta ou indireta, de seu risco deextinção com base na distribuição e/ou condição da população. Um táxon nestacategoria pode está bem estudado e sua biologia está bem conhecida porémnão se tem dados apropriados sobre a abundância e/ou a distribuição. DadosInsuficientes portanto não é uma categoria de ameaça ou de Menor Risco. Aose incluir um táxon nesta categoria se indica que se requer mais informações ereconhece-se a possibilidade de que pesquisas futuras mostrarão que urnaclassificação de ameaça pode ser apropriada.

NÃO AVALIADO (NE)

Um táxon é considerado não avaliado quando não foi ainda avaliado emrelação a estes critérios.

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A extinção é vista como um processo que tem chance ou probabilidade deocorrer. Assim, a inclusão de um táxon em uma categoria superior implica emuma alta expectativa de extinção. Com o passar do tempo, se efetívas açõesconservacionistas não forem implementadas, espera-se que sejam extintosmuitos taxons aí listados. O estudo de uma espécie e a sua inclusão em listas deespécies ameaçadas tem sido um importante instrumento auxiliar na delimitaçãode áreas prioritárias para conservação. As listas são também utilizadasinternacionalmente como maneira de conter o tráfico e comércio ilegal dasespécies, conforme disposto nos anexos da Convenção sobre o ComércioInternacional de Espécies da Florae da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção(CITES), da qual o Brasil é signatário desde 1975. Um papel importante que aslistas vêm cumprindo é o de trazer à tona importantes informações sobre adilapidação do património genético que se observa em todo o planeta, alertandoassim os tomadores de decisão, profissionais da área de meio ambiente,conservacionistas, e a opinião pública em geral para a responsabilidade deguardião deste património para as gerações futuras. "Se bem entendidas, aslistas podem e devem influenciar o desenho das políticas públicas e privadas deocupação e uso do solo, a definição e priorização de estratégias de conservação,o estabelecendo de medidas que visem reverter o quadro de ameaça às espéciesinseridas nas mesmas, além de direcionar a criação de programas de pesquisae formação de profissionais especializados. De outra forma, se as listas nãopassarem de documentos que acompanham um processo de perda de espécies,não terão cumprido o seu papel (Lins et ai. 1997)".

OS RECURSOS GENÉTICOS E SUA CONSERVAÇÃO

A conservação dos recursos biológicos é a manutenção dos processoecológicos e dos sistemas vitais essenciais, a preservação a diversidade genéticae a utilização sustentável de espécies e ecossistemas (IUCN, 1980) Usosustentável é a utilização racional dos recursos genéticos a fim de que estespossam render dividendos às gerações atuais, resguardando suas potencial idadespara o benefício das gerações futuras (IUCN, i 980). Conservar a biodiversidadesignifica tomar medidas para a proteção de gens, espécies, habitais eecossistemas. A perda dos recursos genéticos não está limitada aos ecossistemastropicais, mas considerando a fragilidade desses ecossistemas e o aceleradoritmo de desmatamento nas florestas de regiões tropicais, prioridade tem sidodada, nos últimos anos, à conservação nestas áreas. Sabendo-se que a mata

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atlântica é um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo, urge a realizaçãode estudos de conservação nesta formação, principalmente àqueles relacionadoscom o estabelecimento de prioridades, a criação de banco de sementes e: dereservas genéticas. Esta prioridade é ainda mais realçada pela constatação deque as medidas conservacionistas vigentes são, em grande parte, ainda incipientese carecem de ações sistemáticas que garantam a sua continuidade, efetivandoa preservação de espécies e populações.

A melhor maneira de sal var espécies é conservar seus habitais, impedindoa degradação dos ecossistemas, manejando-os e protegendo-os eficazmenteem seu ambiente (in situ) conservando seu potencial de evolução natural. Mascomo muitos habitais têm sido modificados pelo homem, a conservação deveincluir medidas orientadas a restaurar habitais e a manter espécies que perderamseus ambientes originais, preservando-as em bancos genéticos e outrasinstalações (ex situ) (Wri, 1992). A conservação ex situ consiste assim namanutenção de organismos fora de seu ambiente natural.

Segundo Kageyama et ai, (1987), a conservação ex situ constitui-se emuma estratégia utilizada quando, por alguma razão, não se pode aplicar aconservação in situ, por exemplo, no caso de populações que se encontram emáreas sob forte pressão demográfica. Enfatiza ainda que a eleição de umaestratégia de conservação para qualquer espécie vegetal, depende dosconhecimentos sobre a sua biologia e variabilidade genética. Heywood (1991)resume que a conservação ex situ e in situ são complementares e se reforçammutuamente, sendo normalmente a melhor maneira de salvar uma espéciecriticamente ameaçada.

CONSERVAÇÃO EX SITU

A conservação ex situ faz parte de uma estratégia global e tem comofinalidade assegurar que as espécies, em última análise, sobrevivam na natureza.Sua função deve ser vista como um meio e não como um fim em si mesma:oferecer fonte de material genético para a reintrodução em habitais danificadose aumento das populações, como parte do manejo de um ecossistema. Acimade tudo, deve-se considerar que a conservação ex situ torna as plantasdisponíveis para serem utilizadas pelo homem.

A semente se constitui na estrutura da planta mais conveniente para serarmazenada e preservada. Com poucas exceções, cada semente tem umaconstituição genética diferente, de modo que uma grande amplitude devariabilidade genética pode ser incluída numa única amostra de sementes em

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um recipiente lacrado. Uma coleção de tais amostras, armazenadas emcondições especiais, para assegurar sua sobrevivência a longo prazo é conhecidacomo Banco de Sementes. Um banco de sementes apresenta muitas vantagenssobre outros métodos de conservação ex situ. As sementes são fáceis deestocar, o banco ocupa relativamente pouco espaço e requer pouca mão deobra, quando comparada com outros métodos (entretanto, mão de obraespecializada e dedicada) para a rotina de manutenção.

Embora o conhecimento sobre a biologia de sementes de espécies tropicaisseja limitado, intensifica-se o interesse sobre a metodologia de coleta, estocageme germinação de espécies da Mata Atlântica. Este estudo é imprescindível aomonitoramento da viabilidade das amostras submetidas ao armazenamento embanco de sementes.

As espécies que não produzem sementes faci [mente e aquelas que possuemsementes difíceis de serem armazenadas, podem ser melhor conservadas deforma exsiíu, em Bancos AtivosdeGermoplasma(BAG's). Esta é uma técnicapara conservar coleções de espécies que se reproduzem vegetativamente ouque produzam sementes recalcitrantes. Nos BAG's, as espécies podemexpressar de forma bastante evidente sua variabilidade genética. Entretanto,esta técnica, embora indispensável para algumas espécies, apresenta limitações,uma vez que a área necessária para manter as coleções é da ordem de lhectare por população, para a maioria das espécies perenes tropicais (Lleras,1991), sendo portanto onerosa e de difícil manutenção.

A conservação in vitro constitui um tipo especial de coleção ex. situ. Asespécies podem ser mantidas por vários anos, utílizando-se para isto técnicasde culturas de tecidos, devido à dormência meristemática, sob condições debaixa luminosidade ou ainda em meio nutritivo com ínibidores de crescimentoem cultivo mínimo.

CONSERVAÇÃO IN SITU

A floresta tropical úmida é, sem dúvida, o ecossistema de maior diversidadede espécies e de maior complexidade de relações ecológicas, sendo um modelot Ir dificuldade de conservação genética. Para efetivar a conservação in situ dei | irrirs r populações é necessário preservar o ecossistema como um todo,MUbtlocendo medidas defensivas, implementando principalmente umal i . . ili/açao Hicienie e adotando medidas corretivas, se a área encontra-se

ii l f .um }>nm ilr degradação. É necessário também um plano de educação

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Conservação da flora da Mata Atlântica

ambiental, para iniciar ou dar continuidade às ações de conservação, considerandoque através da conservação in situ a população que se busca conservar émantida dentro da comunidade da qual faz parte, no ambiente ao qual se acliaadaptada. Há necessidade de assegurar que a base genética das populaçõesenvolvidas seja suficientemente grande.

Devido à grande diversidade e complexidade dos ecossistema tropicaistorna-se difícil estabelecer o padrão de amostragem das populações e suadistribuição, assim como definir áreas mínimas para os trabalhos de conservaçãogenética. O estabelecimento da distância mínima entre os indivíduos da mesmaespécie e entre populações homogéneas é complexo e requer o conhecimento,entre outros, da biologia reprodutiva da espécie para estabelecer sua área deabrangência afim de evitar híbridos naturais. Assim sendo, quanto maior for aárea estabelecida para programas de conservação, e a área amostrada, maiorespossibilidades ter-se-á de garantir a variabilidade genética.

O reconhecimento das espécies de um ecossistema ou de parte dele (aidentificação ou classificação das espécies) possibili ta estabelecer-seacuradamente suas relações com a comunidade vegetal da qual faz parte.Análises f i toss ócio lógicas são indicadoras do grau de relacionamento entre asespécies e da importância de cada uma delas para determinada região. Dadossobre a biologia da reprodução com informações sobre sistema de reprodução,ecologia da polinização e as características da dispersão das sementes no solosão indispensáveis para compreender uma espécie e suas-inter-relações nacomunidade. Assim sendo, o trabalho de conservação é essencialmenteinterdiscipí inar e integrado, cada parte do conhecimento interferindo ecomplementando os dados parciais e totais das espécies e do ecossistema.

Para a Mata Atlântica já foram definidas algumas espécies prioritáriaspara conservação in situ, as quais fazem parte da lista elaborada em 1989 pelaFAO. Trabalhos concluídos sobre filossociologiade trechos de algumas regiõesda Mata Atlântica (Silva e Leitão Filho, 1982; Guedes, 1988; Kurtz, 1994;Rodrigues, 1996; Barbosa, 1996, entre outros) que fornecem dados sobre aestrutura e a dinâmica de populações são de fundamental importância para aescolha dos locais e das espécies prioritárias para conservação. Outro subsídiopara a seleção de espécies é a lista oficial brasileira de espécies ameaçadas deextinção (Mello Filho et ai. 1992).

Também é importante que a área a ser trabalhada, sob o ponto de vistados recursos genéticos, esteja legalmente protegida ou que haja interessedeclarado da comunidade local na conservação integral da mesma.

Para o estabelecimento das reservas genéticas, a atividade fim da

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conservação "in situ\m rol de ações são recomendadas:a) Escolha da espécieb) Definição do tamanho das populaçõesc) Localização dos indivíduosd) Marcação dos indivíduos para o acompanhamento fenológico e coleta

de sementes.Sob o aspecto prático, deve-se levar em consideração o estudo de amostras

da vegetação em diferentes cotas altitudinais ou situados em tnicroambientesde características diferentes sob o ponlo de vista de luminosidade, proximidadede mananciais hídricos ou afloramentos rochosos. Estes f ato rés podemproporcionar a expressão de genes adaptados a diferentes situações, assimcomo a expressividade da vegetação e sua relação com as pressões antrópicaslocais.

Após a escolha das espécies, que segundo alguns autores não deve excedera quinze, proceder-se-á a demarcação de matrizes, no mínimo de l O indivíduospor espécie, escolhidas a partir de uma população com mais de 20 indivíduospara acompanhamento do ciclo biológico. Além das matrizes destinadas àobservação fenológica, deve-se proceder à prospecção do maior número possívelde indivíduos adultos, bem formados e saudáveis destinados à colheita desementes (matrizes porta-sementes).

As matrizes de observação deverão ser etiquetadas e de preferênciamarcadas com material que as identifique à distância. Material botânico completo:folhas, flores e frutos - deverá ser colhido para conhecimento das característicasmorfológicas da espécie e confirmação do binómio em registro de herbário,contendo todas as informações da procedência e microlocalização acurada,preferencialmente com as coordenadas geográfica de um ponto de referêncialocal (Guedes-Bníni et ai, neste volume). O mesmo deverá ser feito para cadamatriz porta semente, uma vez que nestas árvores será efetuada a colheita degermoplasma.

Quanto ao intervalo entre as observações, este pode ser semanal, sendoimportante salientar que, quanto maior for o número de informações, maisseguras serão as observações (enológicas.

Observações complementares, paralelas às observações das fenofasescom presença de prováveis agentes polinizadores, dispersores, tipo de dispersãode fruto e semente, padrão de estabelecimento de bancos de plântulas e suasobrevivência, ou sua forma de regeneração no ambiente da floresta, sãoimportantes para conservação in situ da espécie estudada.

É sempre aconselhável avaliar o objetivo da unidade de conservação e darespectiva reserva genética. Se o objetivo envolver a proícção de espécies

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Conservação da flora da Mala Atlântica

ameaçadas de extinção, será necessário proceder-se um estudo detalhado nocampo, avaliando-se as populações, a natureza das ações a serem promovidasvisando a sobrevivência das espécies, É indispensável, neste caso, oenvolvimento de instituições ou de pessoas que atuem na área, decidindo amelhor estratégia de conservação, considerando os custos e o tempo necessáriopara implementação das ações.

Hoje, a conservação é um processo social, onde a Iroca de informaçõesentre cientistas e as comunidades locais é imprescindível para que açõessistemáticas em conservação, educação ambiental e programas de extensãotenham sucesso.

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