Manual Orientacoes Gerais

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Manual do Educador o r i E n ta E s G E r a i s

Presidncia da Repblica Secretaria-Geral Secretaria Nacional de Juventude Coordenao Nacional do ProJovem Urbano

Manual do Educador o r i E n ta E s G E r a i s

Programa Nacional de Incluso de Jovens

Braslia, DF 2009

Presidente da Repblica Luiz Incio Lula da Silva Vice-Presidente da Repblica Jos Alencar Gomes da Silva Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica Luiz Soares Dulci Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome Patrus Ananias Ministrio da Educao Fernando Haddad Ministrio do Trabalho e Emprego Carlos Lupi

Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica Ministro de Estado Chefe Luiz Soares Dulci Secretaria-Executiva Secretrio-Executivo Antonio Roberto Lambertucci Secretaria Nacional de Juventude Secretrio Luiz Roberto de Souza Cury Coordenao Nacional do Programa Nacional de Incluso de Jovens ProJovem Urbano Coordenadora Nacional Maria Jos Vieira Fres

Presidncia da Repblica Secretaria-Geral Secretaria Nacional de Juventude Coordenao Nacional do ProJovem Urbano

Manual do Educador o r i E n ta E s G E r a i s

Programa Nacional de Incluso de Jovens

Braslia, DF 2009

Copyright 2009 Permitida a reproduo sem fins lucrativos, parcial ou total, por qualquer meio, se citada a fonte e o stio da Internet onde pode ser encontrado o original (www.projovemurbano.gov.br).

Reimpresso.

Coleo ProJovem Urbano Elaborao e OrganizaoEquipe Tcnica Coordenao Nacional do ProJovem Urbano Assessoria PedaggicaCludia Veloso Torres Guimares Luana Pimenta de Andrada Leila Taeko Jin Brando Jazon Macdo

OrganizaoMaria Umbelina Caiafa Salgado

ElaboraoMaria Umbelina Caiafa Salgado Ana Lcia Amaral

RevisoLeandro Bertoletti Jardim

Projeto Grfico e Editorao EletrnicaErika Ayumi Yoda Nakasu

M294

Manual do Educador: Orientaes Gerais / [organizao: Maria Umbelina Caiafa Salgado; Reviso: Leandro Bertoletti Jardim] Braslia: Programa Nacional de Incluso de Jovens ProJovem Urbano, 2009. 144p.: il. (Coleo ProJovem Urbano) 1. Educao Brasil. 2. Ensino Fundamental 3. Qualificao Profissional 4. Participao Cidad. 5. Informtica. I. Ttulo. II. Secretaria Nacional de Juventude III. Programa Nacional de Incluso de Jovens ProJovem Urbano IV. Salgado, Maria Umbelina Caiafa. V. Jardim, Leandro Bertoletti.

CDD 370

APRESENTAO....................................................................... 09 SEO 1 PROJETO PEDAGGICO INTEGRADOPARTE I A EXPERINCIA ANTERIOR: PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSO DE JOVENS: EDUCAO, QUALIFICAO E AO COMUNITRIA PROJOVEM ......................... 15 CAPTULO 1 HISTRICO DO PROJOVEM .............................................................................. 15 1.1 Criao do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem ............................................ 15 1.2 Implantao do ProJovem ...................................................................... 16 CAPTULO 2 MONITORAMENTO E AVALIAO ....................................................................... 17 2.1 Pertinncia do Programa ........................................................................ 17 2.1.1 Alcance da meta inicial.................................................................. 17 2.1.2 Perfil dos jovens atendidos ............................................................ 18 2.1.3 Divulgao e democratizao do acesso .......................................... 19 2.1.4 Ingresso e permanncia dos jovens no programa ............................. 20 2.2 Eficcia da Proposta Pedaggica ............................................................. 21 2.2.1 O currculo integrado .................................................................... 21 2.2.2 Organizao pedaggica................................................................ 23 2.2.3 Material didtico .......................................................................... 24 PARTE II LIES DA EXPERINCIA: O PROJOVEM URBANO ............................................... 26 CAPTULO 3 DESAFIOS RELATIVOS GESTO DO PROGRAMA ............................................... 26 3.1 Redefinio do Pblico Potencial do Programa ........................................... 26 3.2 Instncias de Gesto do ProJovem Urbano ............................................... 28 3.2.1 Nvel nacional .............................................................................. 28 3.2.2 Gesto local ................................................................................ 28 3.2.3 Plos .......................................................................................... 29

3.3 Gesto Intersetorial .............................................................................. 30 3.4 Redesenho da Matrcula ......................................................................... 31 3.5 Auxlio Financeiro ................................................................................. 31 CAPTULO 4 O SIGNIFICADO DE INCLUSO NO PROJOVEM URBANO ....................................... 31 4.1 A Perspectiva de Gerao....................................................................... 32 4.2 A Dupla Excluso .................................................................................. 33 4.3 Excluso e Crise de Confiana ................................................................ 33 CAPTULO 5 O CURRCULO INTEGRADO .............................................................................. 34 5.1 A Noo de Currculo Integrado .............................................................. 34 5.1.1 A questo dos contedos............................................................... 34 5.1.2 A seleo de contedos para o currculo integrado do ProJovem Urbano ....36 5.2 Objetivos Gerais do ProJovem Urbano ..................................................... 37 5.3 Diretrizes Curriculares ........................................................................... 38 5.3.1 Diretrizes gerais relativas s dimenses curriculares ......................... 38 5.3.2 Diretrizes operacionais .................................................................. 38 5.4 Desenho do Currculo ............................................................................ 39 5.4.1 Eixos estruturantes e matriz curricular ............................................ 40 5.4.2 Atividades de integrao interdimensional e interdisciplinar................ 41 5.4.3 Carga horria e atividades ............................................................. 44 5.5 Detalhamento do Currculo..................................................................... 45 5.5.1 Unidade Formativa I: Juventude e Cultura ....................................... 45 5.5.2 Unidade Formativa II: Juventude e Cidade ....................................... 47 5.5.3 Unidade Formativa III: Juventude e Trabalho ................................... 48 5.5.4 Unidade Formativa IV: Juventude e Comunicao ............................. 49 5.5.5 Unidade Formativa V: Juventude e Tecnologia .................................. 51 5.5.6 Unidade Formativa VI: Juventude e Cidadania .................................. 52 CAPTULO 6 A ORGANIZAO DO TRABALHO PEDAGGICO NO PROJOVEM URBANO ................ 53 6.1 Organizao dos Espaos Pedaggicos no ProJovem Urbano ....................... 54 6.2 Organizao dos Tempos Pedaggicos no ProJovem Urbano ........................ 55 6.2.1 Os tempos do aluno...................................................................... 55 6.2.2 Os tempos dos educadores ............................................................ 55 CAPTULO 7 ATUAO DOS EDUCADORES NO NCLEO E NA SALA DE AULA ............................ 59 7.1 A Gesto da Sala de Aula ....................................................................... 60 7.1.1 A gesto da sala de aula e o currculo ............................................. 60 7.1.2 A gesto da sala de aula e a relao pedaggica de mo dupla ........... 62 7.1.3 A gesto da sala de aula e a incluso .............................................. 63 7.2 A Dupla Funo do Educador .................................................................. 64 7.2.1 A funo de especialista ................................................................ 64 7.2.2 A funo de professor orientador .................................................... 64 7.2.3 A articulao das trs dimenses curriculares do ProJovem Urbano no ncleo e na sala de aula.................................................................... 65

CAPTULO 8 SISTEMA DE AVALIAO ................................................................................. 66 8.1 Modalidades de Avaliao e suas Funes ................................................ 67 8.1.1 A avaliao diagnstica ................................................................. 68 8.1.2 A avaliao formativa ................................................................... 68 8.1.3 A avaliao somativa .................................................................... 68 8.2 A Avaliao no ProJovem Urbano ............................................................ 69 8.3 A Avaliao Externa de Desempenho no ProJovem Urbano ......................... 72 8.4 Sistema de Pontos para a Avaliao da Aprendizagem ............................... 73 8.4.1 Distribuio da pontuao ............................................................. 73 8.4.2 Certificao ................................................................................. 73 CAPTULO 9 PROJOVEM URBANO NAS UNIDADES PRISIONAIS E UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS DE PRIVAO DE LIBERDADE .............................................. 74 9.1 Carga Horria ...................................................................................... 74 9.2 Calendrio Escolar ................................................................................ 75 9.3 Histrico Escolar e Certificados ............................................................... 75 9.4 Educadores .......................................................................................... 75 9.5 Qualificao Profissional ........................................................................ 75 9.6 Participao Cidad ............................................................................... 75 9.7 Material Didtico................................................................................... 75 CAPTULO 10 A FORMAO DOS EDUCADORES ..................................................................... 75 10.1 Formao Inicial/Continuada e Processo Identitrio do Educador ............... 76 10.2 Saberes Necessrios para Atuar no ProJovem Urbano .............................. 76 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 79 ANEXO I ........................................................................................................ 81 ANEXO II....................................................................................................... 85

SEO 2 O PROJOVEM URBANO EM AOCAPTULO 11 COMO EXERCER A FUNO DE PROFESSOR ESPECIALISTA .................................. 90 11.1 O Trabalho com os Textos Especficos dos Guias de Estudo ....................... 90 11.2 Consideraes sobre o Processo de Ensino e Aprendizagem dos Diversos Componentes Curriculares .............................................................. 92 11.2.1 Cincias Humanas ...................................................................... 92 11.2.2 Lngua Portuguesa ...................................................................... 93 11.2.3 Ingls ....................................................................................... 96 11.2.4 Matemtica................................................................................ 98 11.2.5 Cincias da Natureza .................................................................. 99 11.2.6 Qualificao Profissional ............................................................ 101 11.2.7 Participao Cidad................................................................... 101

CAPTULO 12 COMO EXERCER A FUNO DE PROFESSOR ORIENTADOR ................................. 12.1 A Agenda do Estudante...................................................................... 12.2 A Informtica no ProJovem Urbano...................................................... 12.2.1 O uso do computador em projetos interdisciplinares ...................... 12.2.2 Os softwares educativos ............................................................ 12.3 O Trabalho com os Temas Integradores ................................................ CAPTULO 13 A UTILIZAO PEDAGGICA DAS INFORMAES GERADAS NO PROCESSO DE AVALIAO ....................................................................... 13.1 Avaliao Formativa .......................................................................... 13.1.1 As fichas de acompanhamento do desempenho dos alunos............. 13.1.2 Provas das unidades ................................................................. 13.2 Avaliao Externa ............................................................................. CAPTULO 14 ESTRATGIAS DINAMIZADORAS DE USO COMUM S FUNES DE PROFESSOR ESPECIALISTA E PROFESSOR ORIENTADOR .................................... 14.1 O Trabalho de Grupo e o Trabalho Coletivo ........................................... 14.2 Problematizao ............................................................................... 14.3 O Mtodo de Projetos ........................................................................ 14.4 Pesquisas......................................................................................... 14.5 Excurses e Visitas Guiadas ............................................................... 14.6 Entrevistas....................................................................................... CAPTULO 15 COMO ENCAMINHAR A RESOLUO DE DIFICULDADES ESPECFICAS DE APRENDIZAGEM ...................................................................................... 15.1 Diagnstico das Dificuldades............................................................... 15.1.1 Subsdios oferecidos pela avaliao formativa ............................... 15.2 Organizao de Tempos e Espaos Pedaggicos como Recursos para o Atendimento a Dificuldades de Aprendizagem ............................................ 15.2.1 Organizao de grupos segundo critrios que atendam as dificuldades evidenciadas pelos alunos .................................................. 15.2.2 Organizao de plantes pedaggicos ......................................... 15.2.3 Oficinas de estudos complementares ........................................... 15.3 Exemplos de Trabalho com Grupos Diferenciados .................................. 15.3.1 Cincias Humanas .................................................................... 15.3.2 Lngua Portuguesa .................................................................... 15.3.3 Ingls ..................................................................................... 15.3.4 Matemtica.............................................................................. 15.3.5 Cincias da Natureza ................................................................ 15.3.6 Participao Cidad................................................................... 15.3.7 Qualificao Profissional ............................................................

102 103 104 105 105 106

109 109 109 110 111

111 112 114 115 115 116 116

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BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 137 ANEXO III ................................................................................................... 139

Caro(a) Educador(a),Como integrante do ProJovem Urbano, voc participa de uma grande construo coletiva baseada na troca de experincias entre jovens, educadores e gestores e que almeja a formao de cidados/sujeitos preparados para (re)posicionar-se diante das dinmicas de incluso e excluso que marcam a sociedade contempornea. Seu trabalho da maior relevncia, e este Manual de Orientaes Gerais do ProJovem Urbano foi elaborado com o objetivo de ajud-lo a dirigir suas aes para uma resposta eficaz ao desafio da incluso social do grande nmero de jovens brasileiros que ainda se encontram em situao de vulnerabilidade e privados de seus direitos de cidadania. Para isso, necessrio que voc se aproprie da proposta do programa e compreenda os novos paradigmas em que ele se apia, especialmente no que diz respeito construo coletiva em ao. Isso quer dizer que o Projeto Pedaggico Integrado do ProJovem Urbano representa um primeiro mapa do percurso que queremos trilhar com os jovens no conjunto instvel e mutante das relaes sociais e da construo do conhecimento na poca atual. necessrio que esse mapa seja detalhado, completado e enriquecido por meio de reflexes e aes conjuntas de todos ns, educadores, gestores e jovens. Esperamos que j tenha percebido como grande nossa expectativa a respeito de seu trabalho! Por isso mesmo estamos fazendo nossa parte com muito cuidado e queremos que nos ajude a aprimor-la por meio de seu trabalho, responsvel, competente e crtico. Sua formao inicial e continuada foi pensada nessa perspectiva! Este Manual visa a proporcionar-lhe acesso fcil proposta pedaggica do programa e a subsdios para sua atuao docente nas seis unidades formativas em que se organiza o curso. Destina-se aos educadores das trs dimenses do currculo, preparando-os para as funes de especialista e de orientador, que desempenham simultaneamente no ProJovem Urbano. Esse um dos maiores desafios enfrentados por todos no desenvolvimento do programa, que rompe com um dos cnones tradicionais da Pedagogia, aquele que pressupe cada professor responsvel apenas pelo ensino da disciplina ou rea em que se graduou. No ProJovem Urbano, diferentemente, cada educador um professor que tem algo a ensinar e algo a aprender e cada professor, um educador comprometido com a formao integral do jovem: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser. Desejamos que este Manual represente um recurso efetivo para sua formao inicial e continuada, seja qual for a dimenso curricular em que atua. Os educadores do ProJovem Urbano esto sendo desafiados a trabalhar com uma proposta inovadora no contexto da cultura escolar tradicional que ainda vigora entre ns e que, sem que tenhamos conscincia, muitas vezes ainda conforma nossos coraes e mentes! Por isso, essencial que tomemos uma distncia crtica da cultura escolar tradicional, abandonemos preconceitos e hbitos arraigados, abramo-nos para acolher mais serenamente o novo, para que possamos verdadeiramente construir a cultura de trabalho coletivo, desenvolvendo a iniciativa e a criatividade dos participantes do curso e, ao mesmo tempo, mantendo a unidade dos aspectos essenciais da proposta pedaggica. Maria Jos Vieira Fres Coordenadora Nacional do ProJovem Urbano

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INTRODUO Investir em uma poltica nacional integrada, com programas e aes voltados para o desenvolvimento integral do jovem brasileiro representa uma dupla aposta: criar as condies necessrias para romper o ciclo de reproduo das desigualdades e restaurar a esperana da sociedade em relao ao futuro do Brasil. Com essa perspectiva, em 2005, o governo federal lanou a Poltica Nacional de Juventude, que compreendeu, alm da criao da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude, o desenvolvimento do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem (neste texto denominado ProJovem Original). A iniciativa mostrou resultados importantes e promissores, indicando a propriedade de se ampliarem, reforarem e integrarem aes voltadas para a juventude que se desenvolviam em diferentes ministrios. Para articular essa experincia acumulada em um programa integrado, constituiu-se, no incio de 2007, o grupo de trabalho GT Juventude, que reuniu representantes da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica, da Casa Civil e dos Ministrios da Educao, do Desenvolvimento Social, do Trabalho e Emprego, da Cultura, do Esporte e do Planejamento. Os resultados do GT Juventude indicaram caminhos para a realizao do propsito da Presidncia da Repblica de promover um programa amplo e diversificado de incluso social dos jovens brasileiros, lanando-se o ProJovem Integrado, que se articula por duas noes bsicas: a) OPORTUNIDADES para todos; b) DIREITOS universalmente assegurados. Em conjunto, essas noes propiciam que o jovem se torne protagonista de sua incluso social, na perspectiva da cidadania. O ProJovem Integrado compreende quatro modalidades: ProJovem Adolescente, que objetiva complementar a proteo social bsica famlia, oferecendo mecanismos para garantir a convivncia familiar e comunitria e criar condies para a insero, reinsero e permanncia do jovem no sistema educacional. Consiste na reestruturao do Programa Agente Jovem e destina-se a jovens de 15 a 17 anos. ProJovem Urbano, que tem como finalidade elevar o grau de escolaridade visando ao desenvolvimento humano e ao exerccio da cidadania, por meio da concluso do ensino fundamental, de qualificao profissional e do desenvolvimento de experincias de participao cidad. Constitui uma reformulao do ProJovem Programa Nacional de Incluso de Jovens. ProJovem Campo, que busca fortalecer e ampliar o acesso e a permanncia dos jovens agricultores familiares no sistema educacional, promovendo elevao da escolaridade com a concluso do ensino fundamental qualificao e formao profissional, como via para o desenvolvimento humano e o exerccio da cidadania. Valendo-se do regime de alternncia dos ciclos agrcolas, reorganiza o Programa Saberes da Terra. ProJovem Trabalhador, que unifica os Programas Consrcio Social da Juventude, Juventude Cidad e Escola de Fbrica, visando preparao dos jovens para o mercado de trabalho e ocupaes alternativas geradoras de renda. Atender a

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jovens de 18 a 29 anos, em situao de desemprego e que sejam membros de famlias com renda mensal per capita de at um salrio mnimo. Neste documento apresenta-se o Projeto Pedaggico Integrado (PPI) do ProJovem Urbano, cuja finalidade promover a incluso social dos jovens brasileiros de 18 a 29 anos que, apesar de alfabetizados, no concluram o ensino fundamental, buscando sua re-insero na escola e no mundo do trabalho, de modo a propiciar-lhes oportunidades de desenvolvimento humano e exerccio efetivo da cidadania. Coerentemente com o propsito governamental de promoo ampla da incluso social, o pblico potencial do programa abrange, tambm, jovens nas mesmas condies etrias e educacionais que estejam cumprindo pena privativa de liberdade em regime fechado, em penitencirias estaduais. Contempla ainda jovens de 15 a 21 anos, internados em instituies socioeducativas de privao de liberdade. O ProJovem Urbano se caracteriza por apresentar: (i) propostas inovadoras de gesto intersetorial, compartilhada por quatro ministrios, e de implantao em regime de cooperao com os estados, municpios e DF envolvidos; (ii) Projeto Pedaggico Integrado (PPI) que representa um novo paradigma de educao, articulando concluso do ensino fundamental, qualificao profissional inicial e experincias de participao cidad, como base para o alcance da finalidade pretendida; (iii) materiais pedaggicos especialmente produzidos para atender a essas caractersticas do programa, constando de guias, manuais, vdeos e outros, destinados a alunos, educadores, gestores e instituies de formao de educadores. Como foi dito, o ProJovem Urbano constitui uma reformulao do ProJovem Original, situando-o em novo contexto de polticas governamentais integradas para a juventude e utilizando os resultados da avaliao interna e externa para reforar aspectos bem sucedidos e propor estratgias para superao de dificuldades e obstculos encontrados em sua implementao. Uma viso geral do ProJovem Urbano permite distinguir os aspectos essenciais de sua proposta, que incorpora, amplia e aprimora o ProJovem Original, objetivando: tratar a incluso social no contexto do desenvolvimento humano e dos direitos de cidadania, o que implica: afirmar o jovem como sujeito de direitos; valorizar suas expresses culturais seus saberes, suas emoes, sensibilidades, sociabilidades, aes ticas e estticas; compreender a juventude na perspectiva de gerao, que necessariamente aponta para novas relaes inter e intrageracionais e pressupe um dilogo produtor de escutas e aprendizados mtuos; desenvolver um currculo integrado, interdisciplinar e interdimensional, em que o jovem atue como sujeito, construtor de um todo que faa sentido para ele. A idia que a aprendizagem s se efetiva realmente quando o aluno consegue relacionar os novos conhecimentos com suas experincias prvias e situ-los em suas diferentes facetas de ser humano. Nessa perspectiva, o currculo do ProJovem Urbano se sustenta na integrao de trs dimenses fundamentais: a Formao Bsica para elevao da escolaridade ao nvel da 8 srie do ensino fundamental; a Qualificao Profissional, na forma de qualificao inicial em um Arco de Ocupaes; e a Participao Cidad que envolve aes comunitrias, culturais, de solidariedade e de cooperao para contribuir com a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

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propor estratgias inovadoras de organizao do trabalho escolar, envolvendo diferentes instncias da administrao pblica e da sociedade, de modo a viabilizar o desenvolvimento do currculo integrado, o que implica novas formas de gesto compartilhada, de organizao dos tempos e dos espaos pedaggicos, de modo a articular a ao criadora dos atores envolvidos com os princpios e diretrizes do projeto pedaggico, evitando que o programa se descaracterize e perca o sentido. A idia que cada instituio ou sujeito colabore ativamente, na instncia em que participa, para a obteno de objetivos definidos coletivamente e para o desenvolvimento de aes planejadas de modo solidrio; definir estratgias de atuao na sala de aula com vistas a integrar as trs dimenses do currculo, de acordo com os fundamentos e diretrizes do Programa, o que exige considerar o mltiplo e o plural implicados nas experincias e conhecimentos dos jovens, bem como em seu percurso escolar anterior. na sala de aula que as propostas pedaggicas se concretizam ou no... nela que se constri o currculo real. Quando chegam ao ProJovem Urbano, os alunos trazem experincias pessoais e conhecimentos prvios que no podem ser ignorados, mas que devem constituir uma referncia para cada educador definir formas de trabalhar e de se relacionar com a turma. Nesse contexto, o erro no considerado como falta de informao ou incapacidade para fazer algo, mas como um indicador do momento em que o aluno se encontra na elaborao de um conceito ou uma relao; formar educadores para responder aos desafios que se apresentem durante a execuo do ProJovem Urbano, o que lhes demanda a competncia para planejar e agir cooperativamente e a capacidade de considerar as diferentes facetas do aluno como ser humano. Para isso, o professor tem de ir alm da condio de especialista em uma disciplina e agir como educador no sentido amplo da palavra, desempenhando dois papis distintos, mas inseparveis: todo educador especialista em sua rea de conhecimento, mas tambm orientador da aprendizagem vista como elemento de construo da autonomia intelectual do aluno/sujeito e de uma viso mais ampla do processo educacional. Desse modo, por meio da formao inicial e continuada, busca-se a construo de um processo identitrio em que cada educador se veja simultnea e inseparavelmente como: (a) um perito que domina o instrumental de trabalho prprio de sua rea de conhecimento e de sua atividade educacional/docente e sabe us-lo competentemente; (b) um pensador capaz de situar criticamente sua prtica e as representaes sociais sobre seu campo de atuao; (c) um cidado sujeito de direitos e de responsabilidades que faz parte de uma sociedade e de uma comunidade. O PPI do ProJovem Urbano est organizado em duas partes: Parte I. A experincia anterior: Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem. Parte II. Lies da Experincia: ProJovem Urbano.

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PARTE I A EXPERINCIA ANTERIOR: PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSO DE JOVENS: EDUCAO, QUALIFICAO E AO COMUNITRIA PROJOVEM O Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem inovador em vrios aspectos: faz parte de uma poltica nacional para a juventude, tendo sido implantado no contexto de criao da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude; a proposta de gesto compartilhada, em todos os nveis de implementao, busca estratgias para a articulao das polticas pblicas de juventude; o Projeto Pedaggico Integrado apia-se em paradigmas contemporneos, enfatizando a relao entre sujeito e objeto na construo do conhecimento e a participao/cooperao na atividade poltica e social; a implementao alvo de um processo contnuo, amplo e sistemtico de monitoramento e avaliao, cujos resultados evidenciam a pertinncia e a efetividade do programa, oferecendo subsdios importantes para o desenvolvimento do ProJovem Urbano. Nesta primeira parte, resgata-se sinteticamente o processo de criao do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem e analisam-se os resultados da avaliao de sua implementao nas capitais e respectivas regies metropolitanas, bem como no Distrito Federal: Captulo 1: Histrico do ProJovem. Captulo 2: Monitoramento e Avaliao. CAPTULO 1 HISTRICO DO PROJOVEM 1.1 Criao do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria - ProJovem O ProJovem foi criado como ao integrante da Poltica Nacional de Juventude lanada pelo governo federal em 2005, compreendendo: o desenvolvimento do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem voltado especificamente para o segmento juvenil mais vulnervel e menos contemplado por polticas pblicas ento vigentes: jovens de 18 a 24 anos, que haviam terminado a quarta srie mas no concludo a oitava srie do ensino fundamental e no tinham vnculos formais de trabalho. O Programa caracterizou-se como emergencial, atendendo um segmento que tem necessidade de chegar ainda jovem ao ensino mdio, e experimental, baseando sua proposta curricular em novos paradigmas de ensino e aprendizagem que permitem articular o ensino fundamental, a qualificao profissional e a ao comunitria; a constituio da Secretaria Nacional de Juventude, vinculada SecretariaGeral da Presidncia da Repblica, com as funes de: (a) formular, supervisionar, coordenar, integrar e articular polticas pblicas para a juventude; (b) articular, promover e executar programas de cooperao com organismos nacionais e internacionais, pblicos e privados, voltados para a implementao de polticas para a juventude; a implantao do Conselho Nacional de Juventude, rgo colegiado integrante da estrutura bsica da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica, composto por representantes de rgos governamentais, organizaes juvenis,MANUAL DO EDUCADOR ORIENTAES GERAIS

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organizaes no governamentais e personalidades reconhecidas pelo seu trabalho com jovens. Tem por finalidades: (a) assessorar a Secretaria Nacional de Juventude na formulao de diretrizes da ao governamental; (b) promover estudos e pesquisas acerca da realidade scio-econmica juvenil; (c) assegurar que a Poltica Nacional de Juventude do Governo Federal seja conduzida por meio do reconhecimento dos direitos e das capacidades dos jovens e da ampliao da participao cidad. Essas trs entidades foram institudas em 2005, por meio da Medida Provisria N 238, de 01/02/2005, transformada na Lei N 11.129, de 30/06/2005. A implantao simultnea, naquele mesmo ano, do programa, da Secretaria e do Conselho, com suas distintas e complementares finalidades e funes, representou um novo patamar de polticas pblicas voltadas para a juventude brasileira, considerada em sua singularidade, diversidade, vulnerabilidades e potencialidades. 1.2 Implantao do ProJovem O ProJovem foi implantado sob a coordenao da Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica, em parceria com os Ministrios da Educao, do Trabalho e Emprego e do Desenvolvimento Social e Combate Fome. O programa, regulamentado pelo Decreto n 5.557, de 05/10/2005, obteve parecer favorvel da Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao CEB/CNE 2/2005, de 16/03/2005, aprovado pela Resoluo 3/2006, de 15/08/2006, como um curso experimental, de acordo com o Artigo n 81 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Dessa forma, viabilizou-se, por meio dos sistemas de educao a certificao de concluso do ensino fundamental e de qualificao profissional (formao inicial). A meta inicial do ProJovem foi atender a cerca de 200.000 jovens, no perodo de 2005 a 2008, atuando em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal. Em 2006 ampliou o atendimento aos municpios das regies metropolitanas que possuam 200.000 habitantes ou mais, tendo recebido a adeso de 29 cidades. A formao integral no ProJovem compreende atividades de Formao Bsica (800 horas), Qualificao Profissional (350 horas) e Ao Comunitria (50 horas), somando 1.200 horas presenciais, alm de 400 horas de atividades no-presenciais, totalizando 1.600 horas. Aos alunos, devidamente matriculados, concedido um auxlio financeiro mensal, no valor de R$ 100,00. O recebimento desse auxlio condiciona-se freqncia e entrega dos trabalhos escolares. Assim, o aluno deve: comparecer todo ms a pelo menos 75% das atividades presenciais, em cada unidade formativa, incluindo a ao comunitria programada; entregar 75% dos trabalhos escolares previstos para cada ms. O exame nacional externo para fins de certificao no ensino fundamental ocorre ao trmino do curso e tem como referncia uma matriz de habilidades e conhecimentos elaborada em consonncia com o currculo, por comisso especialmente designada para essa tarefa. O programa tambm oferece certificao de Qualificao Profissional em um arco de ocupaes.

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Alm da contnua avaliao do desempenho dos alunos, o prprio programa objeto de monitoramento e avaliao externos, tendo em vista a necessidade de acompanhar suas aes, sua gesto e execuo em todo o pas, levantar e analisar dados e fornecer subsdios para o planejamento e tomada de decises. No captulo a seguir, apresentam-se as concluses parciais desse processo de avaliao e discutem-se suas implicaes para a proposta do ProJovem Urbano. CAPTULO 2 MONITORAMENTO E AVALIAO Uma das mais importantes medidas tomadas na implantao do ProJovem foi a criao do Sistema de Monitoramento e Avaliao do programa, voltado para: superviso das condies de oferta local do programa; avaliao externa de alunos; monitoramento da matrcula; freqncia e realizao das atividades pedaggicas; avaliao do programa. O Sistema de Monitoramento e Avaliao do ProJovem - SMA, coordenado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, executado mediante convnio da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica com sete Universidades Federais que atuam de forma regionalizada, nas capitais e cidades de suas regies metropolitanas, da seguinte forma: Universidade Federal do Par (UFPA): Regional Norte; Universidade Federal da Bahia (UFBA): Regional Nordeste I; Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): Regional Nordeste II; Universidade de Braslia (UnB): Regional Centro-Oeste; Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): Regional Sudeste I; Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): Regional Sudeste II; Universidade Federal do Paran (UFPR): Regional Sul. O Sistema de Monitoramento e Avaliao (SMA) possui instncia decisria, o Conselho Tcnico, presidido pela Coordenao Nacional do ProJovem, com a participao dos coordenadores do sistema nas Universidades Federais que o compem. Para a avaliao do programa, o SMA conta com metodologia que articula pesquisas quantitativas e qualitativas, avaliando, dentre outros aspectos: os perfis dos alunos e educadores, a aprendizagem (proficincia agregada), a permanncia dos jovens no programa, o material didtico e o Projeto Pedaggico Integrado (PPI). A anlise dos relatrios parciais disponveis demonstra aspectos importantes da avaliao do programa, comentados a seguir. 2.1 Pertinncia do Programa 2.1.1 Alcance da meta inicial Como foi dito, na primeira etapa, a partir de 2005, o ProJovem teve como meta atuar nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. Desde 2006, expandiu-se para as regies metropolitanas de vrias capitais, em cidades com pelo menos 200 mil habitantes (conforme dados do Censo Demogrfico/2000). Foi previsto o atendimento a 200.000 jovens de 18 a 24 anos, que tivessem terminado a quarta srie, mas no concludo a oitava srie do ensino fundamental e no tivessem vnculos formais de trabalho.MANUAL DO EDUCADOR ORIENTAES GERAIS

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O sucesso do programa e o interesse dos parceiros em sua implantao so indicadores de compromisso na luta contra as desigualdades e a excluso social, bem como de confiana na fora e na potencialidade da juventude brasileira. No entanto, a avaliao e a experincia mostraram que os jovens excludos esto mais dispersos geograficamente que o esperado, apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para cidades menores, uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixa de ser contemplada, quando se restringe o atendimento a municpios com mais de 200 mil habitantes. Alm disso, em seu Relatrio Parcial de Avaliao do programa, datado de dezembro de 2006, o Sistema de Monitoramento e Avaliao apresentou projeo estatstica combinando dados do Censo/2000, que nacional, e da Pnad/2003, que abrange dez regies metropolitanas. O estudo tomou por base os dados referentes populao de 18 a 24 anos, com quatro a sete anos de escolaridade, residente nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Os resultados mostraram que o nmero de jovens excludos, nessa faixa etria, vem decrescendo em funo, entre outros fatores, da universalizao do acesso escola e dos programas de recuperao, acelerao e incluso de jovens em situao de defasagem educacional, bem como da queda da taxa de natalidade ao longo das ltimas trs dcadas. No entanto, verificou-se que, em relao populao excluda de 24 a 29 anos, os ndices ainda so crescentes, evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etria atendida pelo ProJovem, de modo a contemplar tambm os jovens dessa faixa etria mais elevada. Com base nessas observaes e tendo em vista a implantao do ProJovem Urbano, em 2008, a Coordenao Nacional do ProJovem juntamente com o CAEd/ UFJF realizou estudo populacional que ser analisado no Captulo 3. 2.1.2 Perfil dos jovens atendidos Considerando as indicaes das pesquisas e dos estudos realizados at 2005, o ProJovem definiu como seu pblico potencial os jovens entre 18 e 24 anos de idade que cursaram, pelo menos, a quarta srie mas no concluram o ensino fundamental, e sem vnculo empregatcio formal. Segundo relatrio do Sistema de Monitoramento e Avaliao, o perfil dos jovens atendidos no curso coerente com o observado no pblico potencial, o que indica a eficcia do programa. Essa concluso leva em conta as caractersticas gerais desse pblico e as da populao atendida, bem como as especificidades de cada segmento tomado como parmetro para o estudo da efetividade do programa, como se v a seguir. Distribuio por gnero: 53% dos jovens atendidos no programa so mulheres. Faixa de idade: a metade deles tem entre 21 e 22 anos de idade. Grupo de cor: 70,8% declararam-se pardos ou negros. Escolaridade pregressa: 15% cursaram at a 4 srie do ensino fundamental; 53%, at a 5 ou 6; e 33%, at a 7; 10% no souberam identificar a ltima srie cursada com xito. Apenas 6% cursaram supletivo ou classe de acelerao, indicando que a grande maioria havia tentado anteriormente concluir o ensino fundamental regular.

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Situao familiar: 77,5% so solteiros, 73% so chefes de famlia, 53% tm filhos. Trajetria no mundo do trabalho: 20% nunca trabalharam e 53% comearam a trabalhar entre 13 e 18 anos de idade; 44% obtiveram o primeiro trabalho em 2005 ou 2006, sendo que menos de 10% com vnculo formal; 70% dos que trabalham no tm carteira assinada e 60% ficaram menos de seis meses no trabalho, em 2005; mais da metade dos que trabalham nunca fizeram curso profissional e 90% deles ganham menos que o salrio mnimo. Relaes com a comunidade: 84% moram na comunidade h mais de cinco anos, enquanto 6% chegaram h menos de dois anos; 46% convivem com grupos de at cinco amigos; mais de 50% no participam de qualquer associao; 83% nunca atuaram como voluntrios; 60% vo igreja ao menos uma vez por semana. Relaes com o bem pblico: 98% possuem ttulo eleitoral e 56% votariam, mesmo se o voto no fosse obrigatrio; 71% votaram no referendo sobre porte de armas; 87% no participam de qualquer outro programa federal para educao. Os dados relativos ao perfil dos alunos que concluram o curso at 2006 mostram que o programa tem sido equnime, pois em todos os parmetros, como gnero (51% so mulheres), cor declarada da pele (66,5% declararam-se negros ou pardos), e situao familiar (78,4% so solteiros, 75% so chefes de famlia e 54% tm filhos) observam-se caractersticas bem prximas daquelas do grupo de alunos matriculados e freqentes. A avaliao do programa indica tambm o limite das atuais ofertas educacionais para esse tipo pblico e deixa clara a dependncia desses jovens em relao a polticas especficas. Demonstra, ainda, que eles no tiveram, anteriormente, oportunidades educacionais adequadas nem chances de se preparar para os desafios do mundo do trabalho. O estudo mostra tambm que os jovens se preocupam em obter a certificao do ensino fundamental e aprender uma profisso por acreditarem que estas so condies bsicas para sua emancipao e a de suas famlias. E tm perfeita noo e pertencimento comunitrio e disponibilidade para aes coletivas e participativas. Finalmente preciso observar que difcil a relao desses jovens com o mercado de trabalho. A prpria colocao no mercado formal geralmente precria e de curta durao. A anlise do perfil dos jovens atendidos revela ser necessrio evitar obstculos sua insero no programa, tais como as exigncias de concluso da 4 srie do ensino fundamental e de no existncia de vnculo formal de trabalho. Evidentemente, essa deciso deve ser acompanhada de medidas pedaggicas e administrativas que viabilizem o reforo de habilidades bsicas de leitura e facilitem a compatibilizao entre as atividades de estudo e de trabalho. 2.1.3 Divulgao e democratizao do acesso Democratizar as vagas disponveis em cada municpio tornou-se um dos grandes desafios para garantir o sucesso do ProJovem, pois era preciso fazer com que todos os jovens que se enquadrassem no perfil do pblico-alvo tivessem acesso s informaes sobre o programa e encontrassem condies igualitrias e transparentes para se inscreverem e garantirem seu ingresso.

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A Coordenao Nacional deu suporte aos processos de inscrio e de matrcula, promovendo ampla divulgao do programa e dos locais de inscrio. De acordo com a regulamentao do ProJovem Original, sempre que o nmero de inscritos numa localidade superasse o nmero de vagas, a escolha dos candidatos era feita por sorteio, em local, data e horrio divulgados previamente e com a presena obrigatria de agente pblico e representante de rgo de fiscalizao da administrao federal. A avaliao mostrou que a divulgao do programa tem maior capilaridade quando as aes em mbito nacional, efetuadas pelo governo federal, se complementam com estratgias locais desenvolvidas pelos municpios. Deixou claro tambm que a disperso geogrfica do pblico potencial demanda uma ao local mais efetiva para identificar os jovens a serem atendidos e acompanh-los ao longo do curso, buscando sua permanncia no programa. 2.1.4 Ingresso e permanncia dos jovens no programa Segundo dados do Sistema de Monitoramento e Avaliao, de um pblico potencial estimado em um milho de jovens, 384.657 (cerca de 36%) inscreveram-se no Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem, nos anos de 2005 e 2006. Do total de inscritos, 235.585 (61%) fizeram suas matrculas, ou seja, as estratgias de recrutamento utilizadas levaram matrcula efetiva de aproximadamente 24% do pblico potencial. De acordo com dados levantados pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao, as razes para a defasagem entre inscrio inicial e matrcula so inmeras, indo da falta de cumprimento dos pr-requisitos do programa (como limite de idade, comprovao de escolaridade ou de inexistncia de vnculo empregatcio) at a desistncia em funo de trabalho em horrio incompatvel com o curso, cansao resultante do trabalho, dificuldades para guarda dos filhos, acesso difcil ao ncleo, medo da violncia, falta de apoio familiar. No apenas o ingresso, mas tambm a prpria permanncia no curso afetada pelas condies de vida dos jovens. As estatsticas, novamente, apresentam algumas indicaes para explicar essas situaes: do total de jovens de 18 a 24 anos residentes nas regies metropolitanas e com 4 a 7 anos de estudo, menos de 40% vivem com os pais na condio de filhos; 25% so referncia ou arrimo de famlia; 22% esto na condio de cnjuge. Boa parte desses jovens responsvel pela manuteno e guarda de filhos. A necessidade de trabalhar, ainda que sem carteira profissional assinada ou em atividade informal, mostra-se de fato como uma das principais barreiras ao esforo de recrutamento e permanncia no curso. Em alguns casos, a prpria obteno de emprego com carteira assinada foi indicada como causa de evaso do programa. No entanto, para esses jovens, mesmo a colocao no mercado formal, embora positiva, por um lado, precria e conjuntural. importante notar que apenas 7% declararam alguma dificuldade de aprendizagem como fator ligado evaso, e a oportunidade de realizar segunda chamada nas avaliaes formativas vista como condio favorvel permanncia.

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importante tambm notar que 83% dos alunos evadidos declararam que pretendem retornar ao Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria - ProJovem e 62% se inscreveriam em outro programa similar. A anlise das informaes sobre o ingresso e a permanncia dos jovens no programa evidencia um processo dinmico com caractersticas que remetem para as especificidades do pblico alvo e indicam a necessidade de se criarem estratgias que evitem o abandono e facilitem o retorno daqueles que desistiram temporariamente. 2.2 Eficcia da Proposta Pedaggica O Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem foi concebido como uma interveno de carter emergencial, destinada a atender parcela significativa dos jovens com o perfil socioeconmico tipificado como pblico-alvo, que tm necessidade de retomar a trajetria escolar e prosseguir nos estudos. Assume tambm carter experimental ao basear-se em novos paradigmas, constituindo sua proposta curricular a partir de conceitos inovadores que do suporte articulao entre o ensino fundamental, a qualificao profissional e a ao comunitria, visando formao integral do jovem, considerado como protagonista de sua formao. Ao integrar ensino fundamental, qualificao profissional e ao comunitria, o programa buscou oferecer oportunidade para que os jovens experimentassem novas formas de interao, se apropriassem de novos conhecimentos, re-elaborando suas prprias experincias e sua viso de mundo e, ao mesmo tempo, se re-posicionando quanto a sua insero social e profissional. 2.2.1 O currculo integrado O currculo do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem foi desenvolvido no incio do ano de 2005, com base em um conjunto de oficinas de estudos com a participao de especialistas em educao, qualificao para o trabalho e servio social. Fundamenta-se nos princpios poltico-pedaggicos e diretrizes curriculares e metodolgicas definidos no PPI. A matriz curricular foi uma referncia essencial para a elaborao dos materiais didticos e complementares, a organizao do trabalho pedaggico e a avaliao dos processos de ensino e aprendizagem. O programa d grande importncia ao protagonismo dos jovens e cidade como espao educativo. A anlise dos resultados dos grupos focais, realizada pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao, com base em depoimentos colhidos dos alunos e educadores em todo o pas, mostra o acerto da proposta pedaggica adotada pelo programa. Sempre que so solicitados a comparar essa proposta com a das escolas regulares, as referncias mais marcantes dizem respeito qualidade das relaes aluno/educador e ao reconhecimento do interesse e dedicao que os educadores demonstram em relao aos jovens. Outra vantagem do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem em relao s escolas regulares evidenciada quando os estudantes so questionados sobre as dificuldades de aprendizagem com a metodologia usual em comparao com a do programa. Em geral, eles destacam a dedicao dos professores, a forma de ensinar, a facilidade de

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compreender o material didtico e o mtodo de ensino integrado com atividades que fazem parte do cotidiano de cada um. 2.2.1.1 As trs dimenses do currculo a) Ensino Fundamental A anlise das sete avaliaes com dados processados pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao (avaliao diagnstica aplicada no incio da primeira unidade formativa; quatro avaliaes formativas, no fim de cada unidade, avaliao intermediria amostral e aplicada no incio da terceira unidade e exame final nacional externo) demonstra que os jovens que permaneceram no programa: obtiveram ganhos de proficincia em Lngua Portuguesa e Matemtica; conseguiram, nas avaliaes formativas, percentuais de acerto acima da mdia de referncia em quase todos os componentes curriculares; alcanaram, em sua maioria, mdia de acertos prxima a 56% no exame final nacional externo. Alm disso, em comparao com a educao de jovens e adultos e as classes noturnas, os resultados dos alunos do ProJovem Original registraram proficincias mdias substantivamente mais elevadas. b) Qualificao Profissional A concepo de Qualificao Profissional do ProJovem Original mostrou-se inovadora, organizando-se em arcos compostos por quatro ocupaes que abrangem o planejamento, a produo e a comercializao de bens e servios, de modo que o jovem se prepara para ser empregado, mas tambm pequeno empresrio ou scio de cooperativa. A Qualificao Profissional inclui ainda a Formao Tcnica Geral (FTG), que aborda aspectos terico-prticos importantes para qualquer tipo de curso profissionalizante. Quanto oferta de cursos profissionalizantes, nas primeiras etapas de implantao do ProJovem o Arco de Ocupaes mais presente foi o de Construo e Reparos, que tem duas modalidades e foi adotado em 19 das 27 capitais. O arco de Turismo e Hospitalidade foi oferecido em outras 17 capitais e o de Telemtica, em 14. Foram ainda marcantes as ofertas de profissionalizao em Madeira e Mveis, que se concentraram na regio norte do pas, nas capitais sob a influncia da Floresta Amaznica com exceo de Belm (PA), que optou pelo AgroExtrativismo, tambm relacionado aos recursos da floresta. A oportunidade de Qualificao Profissional um dos fatores principais de atrao para o Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem e, na opinio da maioria dos alunos ouvidos nos grupos focais, representou fator decisivo para o ingresso no curso. Entre os matriculados, a maior parte estava fora da escola e com restries no mercado de trabalho, mas vislumbrou no programa a chance de aprender uma profisso. No entanto, os alunos expressaram frustrao pelo fato de se tratar a FTG nas duas primeiras unidades e se comear o estudo dos Arcos de Ocupao apenas na terceira unidade, ou seja, na metade do curso. Isso indica a necessidade de rever a situao, procurando antecipar a formao nos Arcos e,

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simultaneamente, redistribuir a FTG por mais unidades, com maior articulao dos dois componentes. c) Ao Comunitria Por sua vez, a ao comunitria revelou-se uma dimenso marcante do currculo integrado, permitindo o desenvolvimento de trabalhos coletivos e associados a outros componentes curriculares. Nas aulas tericas e oficinas, discutem-se questes como direitos humanos, direitos do consumidor, acesso aos bens e servios pblicos, tica e cidadania, assim como questes de saneamento, sade pblica, qualidade e acessibilidade dos servios pblicos, preservao do meio ambiente, violncia, drogas, sexualidade, participao social, direito cultura e ao lazer, entre tantos outros. A avaliao da realidade e a sistematizao dos trabalhos nos planos de ao comunitria proporcionam aos alunos a oportunidade de vivenciar situaes de conflito e negociaes para sua superao, de dimensionar conquistas, avanos e recuos, refletindo sobre as prticas sociais e consolidando suas experincias. Nessas reflexes, os jovens aprendem a avaliar o alcance de suas aes, as formas de encaminhamento das demandas e os meios de realizao, sendo levados a compreender a importncia e a eficcia do trabalho coletivo e solidrio e tudo que isso pode representar em termos de aprendizado e desenvolvimento de competncias e habilidades, visando participao social e ao exerccio da cidadania. A avaliao desse componente pelos alunos e educadores foi muito positiva, indicando que representou oportunidade significativa de aprendizagem, resgate da cidadania e desenvolvimento social. No entanto, julgou-se que o nome ao comunitria no cobre toda a gama de conhecimentos e aes tratadas por esse componente curricular, devendo ser repensado para enfatizar a participao cidad dos jovens. Um aspecto importante do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem que perpassa as trs dimenses do currculo a proposta de incluso digital, na qual se procura realar o papel do conhecimento em Informtica como um dos pilares da vida moderna, visando a proporcionar aos jovens uma oportunidade efetiva de aprender os princpios de funcionamento, os programas principais e os recursos tcnicos essenciais para a operao de computadores, sistemas perifricos e tecnologias da informao. A incluso digital mostrou ser um grande atrativo para os jovens que, segundo os dados levantados pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao, justificam o interesse despertado pela informtica com a crena de que o conhecimento nesse campo abre perspectivas favorveis de conseguir um novo trabalho ou de melhorar a vida da famlia. No entanto, mostrou-se necessrio integrar mais esse componente com os demais, enfatizando sua dimenso instrumental. 2.2.2 Organizao pedaggica 2.2.2.1 Espaos O Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem organizou-se em ncleos, que acolhiam 150 jovens,

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distribudos em cinco turmas, funcionando diariamente em locais com espaos adequados disponveis e, preferencialmente, prximos aos domiclios dos estudantes. Geralmente, localizavam-se em escolas municipais e em cada ncleo foi instalado um laboratrio de informtica (dez computadores e uma impressora) para uso pedaggico dos alunos e dos educadores. Cada oito ncleos vinculavam-se a uma estao juventude, espao de referncia para os jovens: local de encontro, busca de informao, orientao, estudo, realizao de eventos culturais e outras aes favorecedoras do processo formativo, da expresso cultural e da participao cidad dos alunos. Consideravam-se tambm espaos pedaggicos do ProJovem Original os diferentes locais da cidade onde os alunos vivem seu cotidiano e os recursos urbanos postos disposio da populao em geral. Segundo levantamento do Sistema de Monitoramento e Avaliao, essa organizao do espao requer alguns ajustes relativos ao nmero de alunos e de turmas por ncleo, de forma a minimizar problemas decorrentes das flutuaes de freqncia e de permanncia dos jovens no programa. Outra questo que se coloca a necessidade de rever as funes das estaes juventude que, em grande parte dos casos, no chegaram a constituir um espao de referncia para os alunos, mas funcionaram apenas como instncias de administrao escolar. 2.2.2.2 Tempos O currculo do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem compreende 1.600 horas, sendo 1.200 de atividades presenciais e 400 horas no-presenciais, cumpridas ao longo de 12 meses ininterruptos. A organizao dos tempos pedaggicos previa que cada uma das quatro unidades formativas fosse desenvolvida em doze semanas e meia, totalizando 50 semanas. Tambm no caso da organizao dos tempos pedaggicos, as informaes do SMA indicam a necessidade de se fazerem algumas reformulaes para viabilizar a compatibilizao dos tempos de aula com os tempos de trabalho (com vnculo formal ou sem ele), o que requer menor nmero de aulas dirias, ao longo de maior extenso de tempo. Alm disso, necessrio considerar a dispensa do prrequisito de concluso da 4 srie do ensino fundamental, que tambm implica ampliar a durao total do curso sem que haja aumento substantivo na quantidade de contedos tratados. 2.2.3 Material didtico Foram organizados quatro guias multidisciplinares para traduzir o currculo em situaes de ensino e de aprendizagem, norteando o percurso dos alunos, orientando trabalhos individuais ou em grupo e dando apoio s atividades a distncia. Eles contm textos com aspectos bsicos de todos os contedos tratados nas trs dimenses do curso, que devem ser articulados com os conhecimentos prvios e as experincias dos alunos. Os eixos estruturantes permitem direcionar os estudos em uma perspectiva orgnica, contemplando temas significativos para o pblico do programa.

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Unidade Formativa I: Juventude e Cidade Unidade Formativa II: Juventude e Trabalho Unidade Formativa III: Juventude e Comunicao Unidade Formativa IV: Juventude e Cidadania Foram tambm elaborados Manuais do Educador, sendo um de orientaes gerais e quatro especficos para as unidades. A Qualificao Profissional contou com guias e manuais especficos para o desenvolvimento dos 23 Arcos oferecidos no curso. As atividades de integrao curricular foram trabalhadas com apoio dos seguintes materiais: Snteses integradoras: Parte II do Guia de Estudo, denominada Aqui voc o Autor com espao para o registro de cada sntese, depois de corrigida e reescrita nas aulas de Informtica; Plano de Ao Comunitria: roteiro de trabalho em folheto com espaos reservados para os registros solicitados; Projeto de Orientao Profissional: roteiro especfico em folheto apropriado para o registro das anotaes e reflexes do aluno. Para orientar a avaliao formativa, processual, foi organizado um Caderno de Registro de Avaliaes, com dez fichas de acompanhamento, sendo cinco para os componentes da Formao Bsica (ensino fundamental), duas para Qualificao Profissional, uma para Ao Comunitria, uma para as snteses integradoras e uma para o desenvolvimento de habilidades bsicas. Finalmente, foi organizada uma Agenda do Estudante destinada a estimular a integrao dos jovens no curso e a ajud-los a organizar seu prprio tempo de estudo. O material didtico recebeu avaliao bastante positiva por alunos e educadores, mas necessrio fazer as adaptaes para o desenvolvimento do curso em tempo ampliado. *** A avaliao parcial do Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria ProJovem demonstra que o programa pertinente e que sua ao pedaggica eficaz. Com ela, o jovem, efetivamente, adquire as competncias prprias do ensino fundamental previstas nas diretrizes curriculares nacionais e amplia seus saberes e prticas nas demais dimenses do currculo. O ProJovem tambm opera positivamente para a promoo da eqidade, proporcionando ganhos de proficincia em nvel individual e, ao mesmo tempo, ampliando o contingente de jovens com melhora de rendimento escolar. A concluso do curso do ProJovem no deve ser encarada como um fim, mas como etapa da elevao ao patamar seguinte do percurso escolar, que o ensino mdio ou o tcnico de nvel mdio. No entanto, necessrio que se efetivem as modificaes requeridas para a superao dos fatores que se evidenciam ao longo do processo de avaliao do programa, o que ser discutido no prximo captulo.

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PARTE II LIES DA EXPERINCIA: O PROJOVEM URBANO Como se viu na avaliao do ProJovem, o programa foi bem sucedido e oferece subsdios importantes para o Projeto Pedaggico Integrado (PPI) do ProJovem Urbano, mostrando-se pertinente como poltica pblica e eficaz como proposta pedaggica e curricular. Assim, o ProJovem Urbano dever fundamentar-se nos mesmos princpios filosficos, polticos e pedaggicos que orientaram o original, mas buscando superar os aspectos que apresentaram desafios e dificuldades para a concretizao mais efetiva das finalidades pretendidas. As finalidades do ProJovem Urbano so as mesmas do ProJovem Original. Finalidades O ProJovem Urbano tem como finalidade primeira proporcionar formao integral aos jovens, por meio de uma efetiva associao entre: Formao Bsica, para elevao da escolaridade, tendo em vista a concluso do ensino fundamental; Qualificao Profissional, com certificao de formao inicial; Participao Cidad, com a promoo de experincia de atuao social na comunidade. Nessa perspectiva, o programa tem como finalidades especficas: a reinsero dos jovens no processo de escolarizao; a identificao de oportunidades potenciais de trabalho e a capacitao dos jovens para o mundo do trabalho; a participao dos jovens em aes coletivas de interesse pblico; a incluso digital como instrumento de insero produtiva e de comunicao; a ampliao do acesso dos jovens cultura. A articulao entre o programa bem sucedido e os desafios que se apresentam envolve aspectos que sero tratados a partir do Captulo 3. CAPTULO 3 DESAFIOS RELATIVOS GESTO DO PROGRAMA Os principais desafios que se apresentam para a gesto do ProJovem Urbano dizem respeito a: (i) redefinio do pblico potencial do programa; (ii) instncias de gesto do ProJovem Urbano; (iii) gesto inter-setorial; (iv) redesenho da matrcula. 3.1 Redefinio do Pblico Potencial do Programa Para o planejamento do ProJovem Urbano, a Coordenao Nacional, juntamente com a equipe tcnica do CAEd/UFJF, realizou, em 2007, um estudo populacional com o objetivo de estimar, para 2008, o pblico potencial do programa e suas variveis populacionais: escolaridade, faixa etria a ser atendida e distribuio geogrfica. O estudo valeu-se de dados do IBGE (anlise de srie histrica populacional), principalmente aqueles gerados a partir de: (a) Pnad 2005 e Pnad 2006; (b) Estimativa 2006; (c) Sistema IBGE de Recuperao Automtica (Sidra) e (d)

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Contagem Populacional 2006 - IBGE. Foram usadas ainda informaes obtidas pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao. Para o estudo, definiu-se como populao jovem excluda aquela formada por jovens na faixa etria de 18 a 29 anos que possuem de um a sete anos de escolaridade. A comparao entre dados de 1970 e 2000 permite caracterizar a evoluo do peso da populao jovem na populao brasileira total. A populao brasileira jovem com idade entre 18 e 29 anos duplicou no perodo de 1970 a 2000. No segmento urbano triplicou, passando de 10.885.955 jovens, em 1970, para 30.820.196, em 2000. As regies norte e centro-oeste mostraram os maiores nveis de crescimento demogrfico da populao jovem, enquanto a regio sul apresentou o menor ndice. O principal fator desse padro de crescimento foram as migraes internas. A proporo da populao jovem na populao total do Brasil apresentou crescimento de 2%, passando de 20% em 1970 para 22% em 2000. Entre 2000 e 2006, essa tendncia inverteu-se, e a participao da populao jovem na populao total apresentou queda de 22% para aproximadamente 21,5%. Comparando os dados da Pnad 2005 com os da Pnad 2006, percebe-se que a faixa etria de 18 a 24 anos (j atendida em parte pelo ProJovem) caiu de 11,08% para 10,94% da populao total urbana (que era de aproximadamente 155 milhes) e de 60,84% para 60,23% da populao jovem (que era cerca de 34 milhes), enquanto a faixa de 25 a 29 anos aumentou de 7,14% para 7,26% e de 39,16% para 39,77%, respectivamente. Estimativas do IBGE para 2008 projetam uma populao total de aproximadamente 192 milhes de brasileiros, sendo mais de 40 milhes na faixa etria de 18 a 29 anos, o que significa um percentual estimado de 21% para a populao jovem. Desses quase 41 milhes de jovens, pouco mais de 35 milhes (84,91%) esto em reas urbanas. A anlise da populao jovem, por sua vez, permite caracterizar a populao jovem excluda, que determinada pelas condies de vida da populao e, conseqentemente, pelo seu nvel de escolaridade. A relao dessa populao com os indicadores de desenvolvimento humano (IDH) e desenvolvimento humano educacional (IDHE) demonstra que, quanto mais desenvolvida e escolarizada a populao, menor o nmero de excludos. De 2000 para 2006 observou-se uma reduo de 13,5% da populao jovem excluda em relao populao jovem do Brasil. A tendncia haver um decrscimo bianual de 5% entre os excludos, o que leva a uma estimativa de reduo de 18%, at 2008. Essa tendncia resulta de dois fatores principais: (a) diminuio da natalidade (entrada de coortes menores); e (b) melhoria da eficincia do sistema de ensino (menos excludos). Segundo a Pnad 2006, dos cerca de 40 milhes de jovens brasileiros de 18 a 29 anos, aproximadamente 10 milhes e meio tinham de um a sete anos de escolaridade.

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Considerando apenas a populao urbana, so mais de 34 milhes de jovens com 18 a 29 anos e cerca de 7 milhes e meio com um a sete anos de escolaridade. Com base nos dados sobre a populao jovem e a populao excluda, foi possvel definir o pblico potencial do ProJovem Urbano. Para isso, foram comparadas a populao jovem excluda, j atendida pelo ProJovem Original, e a populao que ser atendida pelo ProJovem Urbano, considerando-se, neste caso, os jovens de 18 a 29 anos de idade que saibam apenas ler e escrever. Esse estudo permitiu estimar que existem cerca de nove milhes de jovens brasileiros na faixa etria de 18 a 29 anos, com um a sete anos de escolaridade, sendo que cerca de 6,4 milhes vivem nas regies urbanas, distribuindo-se entre cidades com mais de 200.000 habitantes (47%) e cidades com at 200.000 habitantes (53%). Diante do exposto, o estudo populacional aponta a importncia de estender-se o atendimento do ProJovem Urbano para alm dos municpios com populao igual ou superior a 200 mil habitantes e ampliar a faixa etria do pblico potencial, de modo a atender os jovens brasileiros que tenham 18 a 29 anos de idade e saibam ler e escrever. Alm disso, considerando o propsito do governo de promover ampla incluso social, o ProJovem Urbano contemplar jovens que estejam em unidades prisionais ou socioeducativas de privao de liberdade. Essa redefinio do pblico potencial implica resolver, entre outros, o problema de encontrar meios para alcanar jovens geograficamente dispersos nas cidades de menor porte e at em algumas cidades maiores onde, mesmo havendo grande nmero absoluto de jovens excludos, sua densidade pequena no conjunto da populao. Implica, alm disso, adequar a organizao do curso para funcionamento nas unidades prisionais e unidades socioeducativas de privao de liberdade, o que ser tratado no Captulo 9 deste documento. 3.2 Instncias de Gesto do ProJovem Urbano 3.2.1 Nvel nacional O ProJovem Urbano conta com um Comit Gestor coordenado pela Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica/Secretaria Nacional de Juventude e integrado pelos Ministrios da Educao, do Trabalho e Emprego e do Desenvolvimento Social e Combate Fome. A execuo do programa fica sob a responsabilidade da Coordenao Nacional do ProJovem Urbano, vinculada Secretaria Nacional de Juventude. Cabe Coordenao Nacional articular as gestes locais com vistas a possibilitar o cumprimento dos princpios, fundamentos e diretrizes nacionais do programa, bem como a coordenao da produo dos materiais de ensino e aprendizagem, a formao dos educadores, a circulao de informaes entre os participantes e o processo de monitoramento e avaliao externa de todo o ProJovem Urbano. No primeiro momento, o ProJovem Urbano manter a estratgia de acordos com as capitais, o Distrito Federal e os municpios maiores de 200.000 habitantes, mas ser tambm executado em parceria com os estados, para atender municpios menores. 3.2.2 Gesto local Cada estado, municpio (e o DF) integrante do ProJovem Urbano contar com: (a) um comit gestor local, formado por representantes das secretarias

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estaduais, municipais ou do DF, responsveis pelas reas de juventude, educao, desenvolvimento/assistncia social e trabalho. Outras secretarias tambm podero fazer parte desse comit como forma de potencializar as aes do ProJovem Urbano; (b) uma coordenao local (estadual, municipal ou do DF) incumbida da operacionalizao do programa em nvel local de modo a alcanar o maior nmero possvel de jovens excludos, assegurando a permanncia dos alunos no curso com aprendizagem efetiva. As equipes de coordenao estadual, municipal ou do DF sero compostas por um coordenador executivo, um coordenador pedaggico e pessoal de apoio tcnico e administrativo. Cabe a essas equipes, de acordo com diretrizes gerais da Coordenao Nacional do ProJovem Urbano, entre outras aes, articular-se com as administraes locais para tratar de: gerenciamento do ProJovem Urbano no nvel estadual/ municipal/DF; definio dos estabelecimentos escolares onde sero realizadas as atividades do curso; definio dos locais de aulas prticas para o desenvolvimento dos arcos ocupacionais; apresentao do ProJovem Urbano aos diretores desses estabelecimentos e a outros funcionrios cujo trabalho for afetado pelo funcionamento do curso; recrutamento e seleo de educadores de Formao Bsica, de Qualificao Profissional e de Participao Cidad; contratao dos educadores selecionados; organizao do recrutamento e da matrcula dos alunos; atendimento s solicitaes do Sistema de Monitoramento e Avaliao; organizao da formao inicial e continuada dos educadores sob sua jurisdio; definio das instituies certificadoras da concluso do ensino fundamental e ou da habilitao nos arcos ocupacionais. H previso de frum, em nvel local, a ser regulamentado posteriormente, para encaminhamentos de questes acadmicas e administrativas. 3.2.3 Plos O plo a menor instncia de gesto do ProJovem Urbano. Cada plo compreende 16 ncleos que variam de 2400 at 3.200 alunos e possui uma equipe de gesto composta por: (a) um diretor-executivo; (b) um diretor pedaggico; e (c) pessoal de apoio tcnico e administrativo. Alm desse pessoal, so lotados em cada plo ou na coordenao local (quando for o caso) os educadores que trabalham nos ncleos: (i) educadores de Formao Bsica, com licenciatura plena (sendo um de cada rea do ensino fundamental); (ii) educadores de Qualificao Profissional, com qualificao adequada ao desenvolvimento dos arcos ocupacionais escolhidos pela gesto local; (iii) educadores de Participao Cidad, com graduao em Servio Social. Cada educador de Formao Bsica atua em cinco turmas e cada educador de Participao Cidad, em dez. Os educadores de Qualificao Profissional atuam em turmas reestruturadas de acordo com os arcos ocupacionais oferecidos (no mximo, quatro arcos).MANUAL DO EDUCADOR ORIENTAES GERAIS

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Um ncleo deve ter cinco turmas, sendo cada uma composta por, de preferncia, 40 alunos, admitindo-se, excepcionalmente, variar at 20 alunos. Um ncleo deve atender no mnimo a 150 e, no mximo, a 200 alunos. Preferencialmente as cinco turmas devem funcionar na mesma escola, excepcionalmente podero funcionar em duas unidades escolares prximas. Se por qualquer razo, o nmero de alunos ficar abaixo do mnimo estipulado, as turmas devero ser reorganizadas e o ncleo ser fundido com outro em situao semelhante. A equipe de direo do plo, subordinada coordenao local, tem como principais atribuies: gerenciar o ProJovem Urbano no respectivo plo; auxiliar na apresentao do ProJovem Urbano aos diretores e outros funcionrios dos estabelecimentos em que funcionar o curso; atuar no recrutamento e seleo de educadores de Formao Bsica, Qualificao Profissional e Participao Cidad; atuar no recrutamento e na matrcula dos alunos; coordenar o trabalho pedaggico e administrativo dos ncleos, em comum acordo com os diretores das escolas envolvidas; promover reunies semanais de planejamento integrado das atividades de ensino e aprendizagem; implementar as atividades de formao continuada, apoiando a instituio formadora local; supervisionar o trabalho, a freqncia e a pontualidade dos educadores lotados no plo; manter registro atualizado do aproveitamento e freqncia dos alunos, conforme solicitao do Sistema de Monitoramento e Avaliao; facilitar ao pessoal do Sistema de Monitoramento e Avaliao o acesso aos ncleos, aos educadores e aos jovens. 3.3 Gesto Intersetorial Para viabilizar a concepo interdimensional do ProJovem Urbano, necessrio que sua gesto seja intersetorial e compartilhada pelos rgos de administrao de polticas de juventude, educao, trabalho e desenvolvimento social, em todos os nveis de implementao. Nesse sentido, um aspecto crucial a criao/implementao/potencializao de instncias da juventude, tais como secretarias estaduais, municipais e do DF de juventude e conselhos que possam promover a transversalidade da poltica e dar sustentao s coordenaes locais para articular, nesses nveis, as diferentes dimenses do ProJovem Urbano. Os resultados da avaliao do ProJovem Original oferecem indicaes no sentido de que, sem desconsiderar a perspectiva intersetorial, a escola seja o locus obrigatrio de funcionamento do ProJovem Urbano.

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3.4 Redesenho da Matrcula Levando em conta o carter nacional do ProJovem Urbano e, ao mesmo tempo, a importncia da ao local no recrutamento e no acompanhamento dos jovens estudantes, a estratgia de matrcula no curso prev diretrizes nacionais que orientaro as atividades realizadas nos estados e municpios e DF: em cada ano, o incio de novas turmas s poder ocorrer em momentos que sero definidos pela Coordenao Nacional do ProJovem Urbano; a matrcula ser realizada pelos estados/municpios/DF por meio de sistema informatizado, e ser acompanhada pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao; para matricular-se no ProJovem Urbano, o jovem dever ter entre 18 e 29 anos completos; tambm condio necessria para a matrcula que o jovem saiba ler e escrever, o que deve ser aferido por meio de teste de proficincia organizado sob responsabilidade da Coordenao Nacional e aplicado localmente, com superviso do Sistema de Monitoramento e Avaliao; haver seleo, mediante sorteio pblico, em local, data e horrio previamente anunciados, se o nmero de candidatos em um estado/municpio for maior do que o nmero de vagas disponveis. A seleo ser feita pela coordenao local, e acompanhada pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao, que se valer de instrumentos especificamente elaborados para garantir a lisura do processo; o aluno ser alocado, preferencialmente, em ncleo prximo a sua residncia ou local de trabalho. 3.5 Auxlio Financeiro O auxlio financeiro, no valor de R$ 100,00 (cem reais), ser pago durante 20 meses, ficando o pagamento condicionado freqncia e entrega dos trabalhos escolares. Para receber o auxlio, o aluno dever: comparecer todo ms a pelo menos 75% das atividades presenciais, em cada unidade formativa; entregar 75% dos trabalhos escolares previstos para cada ms. CAPTULO 4 O SIGNIFICADO DE INCLUSO Uma proposta educacional concretiza-se em um currculo que traduz as concepes nas quais se fundamenta. Assim, como passo inicial para elaborar o currculo do ProJovem Urbano, importante clarificar o sentido da expresso viver a juventude nos dias de hoje. Para isso, necessrio desvendar o mundo contemporneo, no qual os dilemas e as perspectivas da juventude esto inscritos num tempo que conjuga um acelerado processo de globalizao e crescentes desigualdades sociais que geram excluso. No Brasil, tal como pelo mundo afora, os jovens so os mais atingidos, tanto pelas transformaes sociais, que tornam o mercado de trabalho excludente e mutante, quanto pelas distintas formas de violncia fsica e simblica, que caracterizaram a sociedade do fim do Sculo XX e persistem neste incio do Sculo XXI.

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4.1 A Perspectiva de Gerao Para compreender melhor o sentido de viver a juventude nos dias de hoje, necessrio assumir uma perspectiva de gerao, que consiste numa nova forma de perceber a juventude em suas relaes com outros grupos sociais. Assim como a perspectiva de gnero no est restrita s mulheres e diz respeito eqidade nas relaes entre homens e mulheres, a perspectiva de gerao necessariamente aponta para novas relaes inter e intrageracionais e requer um dilogo intergeracional que produza novas escutas e aprendizados mtuos. O dilogo intergeracional refere-se s relaes entre os jovens e os adultos os quais se encontram nas famlias, na escola, no mundo do trabalho, nos espaos pblicos de cultura e lazer, nas instituies de abrigo e carcerrias, ou seja, em todos os lugares sociais onde existem relaes (simtricas ou assimtricas) entre jovens e adultos. Esse dilogo implica escutar os jovens porque toda experincia geracional indita (s sabe o que ser jovem hoje, quem jovem no mundo de hoje). Desse ngulo, os adultos tm muito a aprender. Contudo, numa situao dialgica, os adultos tambm tm o que dizer, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque a conquista dos direitos dos jovens no pode ser desvinculada de outras conquistas histricas das quais participaram muitos daqueles que so hoje adultos. Em segundo lugar, porque o dilogo intergeracional visa a uma aliana ancorada em valores de justia social. uma aliana que se faz em contraposio sociedade do espetculo e do consumo que, dia-a-dia, disputa os coraes e as mentes dos adultos e, sobretudo, dos jovens de hoje. Em resumo, os adultos que trabalham com jovens so portadores de valores e experincias importantes para a construo do protagonismo dos jovens. Por outro lado, preciso escutar o dilogo intrageracional, que reconhece a diversidade e amplia as possibilidades de participao dos jovens. Os brasileiros nascidos h 18 anos, por exemplo, esto prximos quanto data de nascimento, mas podem estar socialmente muito distantes entre si, afastados pela origem de classe; pelas relaes subordinadas entre campo e cidade; pelas disparidades regionais; pela geografia das grandes cidades que discrimina suas favelas e periferias; por mltiplos preconceitos e discriminaes. Os jovens brasileiros precisam encontrar-se e ouvir-se mais. Muitos participam nos movimentos sociais, fazendo parte do movimento estudantil, de ONGs, de projetos sociais de fundaes empresariais, das pastorais catlica e evanglica, das organizaes de empreendedorismo, das chamadas minorias de gnero, raa, orientao sexual, de grupos de jovens com deficincia, de redes regionais e movimentos culturais, demarcando fronteiras simblicas para construir suas identidades contrastivas (ns versus eles) no interior da prpria juventude. Portanto, a participao social e o dilogo intrageracional no buscam produzir um todo homogneo e inspido que desconhece as disputas de valores e concorrncias organizacionais que fazem parte de nossa histria recente. Busca, antes, pontos de convergncia que faam positiva diferena para a concepo e a implantao de polticas pblicas voltadas para a juventude. Nesse sentido, aproximaes inditas precisam ser experimentadas. Para viabilizar o dilogo intrageracional dos jovens que participam, fronteiras ideolgicas e preconceitos mtuos precisam ser relativizados e, por esse caminho, pode-se chegar a outros tantos que no participam por falta de interesse ou de oportunidades.

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4.2 A Dupla Excluso O casamento que parecia indissolvel entre escola e trabalho est em crise e precisa ser repactuado. A concepo moderna de juventude surgida de profundas transformaes a partir do Sculo XVIII e consolidada aps a segunda guerra mundial tornou a escolaridade uma etapa intrnseca da passagem para a maturidade. Idealmente, o retardamento da entrada dos jovens no mundo do trabalho, garantiria melhor passagem para a vida adulta. Na prtica, essa passagem no aconteceu em ritmo e modalidades homogneos nos diferentes pases e no interior das juventudes de um mesmo pas. Amplos contingentes juvenis de famlias pobres deixaram e deixam a escola para se incorporar prematura e precariamente ao mercado de trabalho informal e/ou experimentar desocupao prolongada. Assim, urgente reconectar a escola com o mundo do trabalho. Jovens de todas as classes e situaes sociais esto submetidos s transformaes recentes no mercado de trabalho em que o diploma no mais garantia de insero produtiva condizente com os diferentes nveis de escolaridade atingida. Certamente, os jovens sabem que os certificados escolares so imprescindveis. Mas sabem tambm que as rpidas transformaes econmicas e tecnolgicas se refletem no mercado de trabalho, precarizando relaes, provocando mutaes, modificando especializaes e sepultando carreiras profissionais. Isso apresenta o desafio de oferecer respostas diferenciadas para possibilitar distintos modos de acesso escola e de continuidade na formao escolar. Nesse cenrio, necessitamos no s de novos currculos, materiais escolares, equipamentos e recursos humanos, mas tambm de um novo casamento entre educao e qualificao profissional. O que est em jogo uma nova perspectiva de cooperao interdisciplinar, voltada para o desenvolvimento de saberes, conhecimentos, competncias e valores de solidariedade e cooperao condizentes com o Sculo XXI. Assim como, frente globalizao dos mercados, redesenha-se o mundo do trabalho, constri-se uma nova cultura de formao que deve permitir ao jovem tanto se adequar s demandas do mercado de trabalho quanto buscar formas de empreendedorismo individual, cooperativo e associativo. 4.3 Excluso e Crise de Confiana A juventude de hoje vive inmeras situaes de violncia relacionadas ao trfico de drogas, ao uso de armas de fogo e falta de preparo das polcias para lidar com os jovens. No h como negar que uma parcela deles est hoje bastante desestimulada. muito difcil vencer o realismo advindo das experincias vivenciadas. Um jovem que parou de estudar e no consegue estabelecer vnculos estveis no mundo do trabalho no uma folha de papel em branco. Observa e conhece a atual dinmica do mercado de trabalho mutante e restritivo. Muitas vezes tornou-se tambm refratrio a iniciativas do poder pblico. Muitos partilham de desconfiana em relao a programas e aes governamentais, conhecidos pela descontinuidade administrativa, pela fragmentao e pelos grandes hiatos entre o que prometido e o que realizado. Por esses e outros motivos como as dificuldades de acesso s informaes e o medo de deixar precrias fontes de renda (lcitas ou ilcitas) , muitas vezes h tambm uma resistncia emocional do jovem a se envolver com uma segunda chance de formao escolar.

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Isso traz uma srie de desafios para o ProJovem Urbano. Do ponto de vista dos professores e coordenadores do programa, preciso muita criatividade, energia e habilidade para apostar no potencial dos jovens e para faz-los crer que vale a pena buscar alternativas de insero social. tambm necessrio que tenham energia e habilidade para lidar com as novidades curriculares. Afinal, contedos estanques e fronteiras disciplinares esto cristalizados nos livros didticos e nas trajetrias pessoais dos profissionais de educao, tornandose necessrio um esforo deliberado para superar preconceitos e perceber novas formas de ao educativa. Tudo isso aponta para um currculo integrado que considere as dimenses humanas do conhecimento, da ao e do compromisso consigo mesmo e com os outros. importante notar, entretanto, que o processo de construo interdisciplinar e interdimensional envolvido na integrao curricular uma condio importante, porm no suficiente para garantir a incluso social dos jovens. Do ponto de vista especfico da proposta curricular, preciso que se respeitem e se valorizem as culturas dos jovens, mas tambm que se criem contextos que lhes favoream, na posio de sujeitos, a efetiva apropriao crtica de conhecimentos e linguagens de outros grupos sociais e do mundo do trabalho. Reconhecer e valorizar as culturas dos jovens no significa, por exemplo, aceitar que no sejam bons leitores, que no saibam usar o computador, a Internet, e outras tecnologias usuais na vida cotidiana dos tempos atuais. preciso que a educao faa sua parte, embora no se possa esperar que ela cumpra sozinha uma misso que de toda a sociedade. CAPTULO 5 O CURRCULO INTEGRADO O princpio fundamental do ProJovem Urbano o da integrao entre Formao Bsica, Qualificao Profissional e Participao Cidad, tendo em vista a promoo da eqidade e, assim, considerando as especificidades de seu pblico: a condio juvenil e a imperativa necessidade de superar a situao de excluso em que se encontram esses jovens no que se refere aos direitos educao, ao trabalho e cidadania. Entende-se ainda que o acesso a esses direitos, assim como a outros direitos universais, s ser pleno quando a sociedade reconhec-los e, particularmente, quando os segmentos deles privados assumirem-se como cidados ativos, conscientes do seu direito a ter direitos e da necessidade de lutar por eles. Assim, o ProJovem Urbano prope aliar teoria e prtica, formao e ao, explorando a dimenso educativa do trabalho e da participao cidad. E para que a Formao Bsica, a Qualificao Profissional e a Participao Cidad possam fortalecer-se mutuamente, cada uma delas deve desenvolver-se plenamente e em consonncia com as demandas para uma insero plena, criativa e produtiva na sociedade contempornea. O currculo do ProJovem Urbano foi concebido nessa perspectiva e pretende ultrapassar o campo das intenes para promover situaes pedaggicas que efetivamente favoream a construo do protagonismo juvenil. Isso implica criar estruturas, tempos e espaos de aprendizagem vinculados aos objetivos do programa e planejar aes nas quais se concretizem as experincias julgadas fundamentais para o processo de incluso pretendido.MANUAL DO EDUCADOR ORIENTAES GERAIS

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5.1 A Noo de Currculo Integrado A palavra currculo teve diferentes significados ao longo da histria da Pedagogia. Numa perspectiva mais tradicional, significa a lista dos contedos de um curso. Em outras vises como a da Escola Nova, por exemplo, refere-se ao conjunto das experincias vividas pelo aluno sob a orientao da escola. No contexto do tecnicismo, reporta-se aos arranjos necessrios para compatibilizar os objetivos com os contedos e as atividades do processo de escolarizao. Esses significados no so simplesmente substitudos uns pelos outros, mas permanecem no imaginrio dos educadores, at de forma inconsciente, o que leva necessidade de refletir sobre as influncias que eles exercem na prtica pedaggica. No entanto, as idias mais atuais vem o currculo, no como algo feito, mas como algo que se faz ao longo do tempo, e essa concepo que se adota no ProJovem Urbano, considerando-se o currculo como um processo que envolve escolhas, conflitos e acordos que se do em determinados contextos como os rgos centrais de educao ou as prprias escolas com a finalidade de propor o que se vai ensinar. O resultado desse processo chamado currculo formal, que, na escola e, principalmente na sala de aula, transforma-se em currculo real, ou seja, aquilo que efetivamente ensinado/aprendido, nas interaes com professores e colegas e, em geral, nas experincias vivenciadas no contexto escolar. O currculo real, portanto, se concretiza no cotidiano da escola, ao longo do tempo. importante lembrar ainda as noes de currculo oculto (o que se ensina e se aprende, sem que seja explicitado ou planejado, ao vivenciar a cultura da escola) e de currculo nulo (o que calado, omitido no processo de ensino e aprendizagem, intencionalmente ou no). Esses elementos podem influir no currculo formal e, especialmente, no currculo real, gerando preconceitos e discriminaes que devem ser explicitados e superados. Um currculo pode ser integrado ou no, mas hoje se acredita que a integrao seja importante para a eficcia do processo de ensino e aprendizagem. Integrar significa inter-relacionar dimenses ou idias de modo a construir um todo que faa sentido. No ProJovem Urbano, trabalha-se com o princpio de que o sujeito aprende realmente quando organiza os conhecimentos de forma prpria, relacionando as novidades com aquilo que j sabia. Em outras palavras, preciso que a educao seja contextualizada e considere o aluno como sujeito, protagonista de sua formao como ser humano e cidado. Como foi dito, o currculo do ProJovem Urbano abrange os diferentes aspectos do ser humano em sua interao com a cultura e a sociedade contemporneas, sustentando-se em trs dimenses que funcionam como pilares: a Formao Bsica para elevao da escolaridade ao nvel da 8 srie do ensino fundamental; a Qualificao Profissional para o mundo do trabalho, incluindo qualificao inicial em um arco de ocupaes (ver relao anexa); e a Participao Cidad envolvendo uma experincia de ao social cidad. Para que o curso cumpra as finalidades a que se props, essas trs dimenses d