Manuel António Pina: E a verdade da poesia

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MANUEL ANTÓNIO FINA E a verdade da poesia lhe truth ofpoetry Poeta, escritor de contos infantis, cronista. Manuel António Pina, o vencedor do Prémio Gamões, o galardão mais importante da literatura portuguesa, é tudo isto porque não consegue ser outra coisa. E é-o desde criança, altura em que começou a escrever poemas para afastar pesadelos. Hoje, continua a exorcizar medos através da escrita: “Ganrar, falar alto, é uma forma de encher a sala, para vencer o medo. E no fundo, a poesia é falar alto”, segreda. Poct, n’rirei- of Cillld;ï;?~ storics, coinmnist. Mainzel António Pina, this yca;-v n’innn’ ofthc Camõcs Frizc, d’e n;ost rnipo;-tanr anui-a’ in Portnq;zcsc iitc;arnrc, is ali tiicsc tbinzys as be conid nei’cr 1w anyrhn~ clse. Me ~r lwcn lluis n’ar inelincdsnwe cbildijood, rbcn bc sta;’rcd i rritinq poenis to unia’ ojfnigbtnzarcs. Todtry he CO)) tin ncs to tixol -e/se fia th; oi’j~i; da ii itten no? a’ Sinqnny tal! z;tg mie lona’ ri a uni of flllrnjy flue 001)? oJ OVL, t0~11Hft feri, And J)OCti3’ is basieal!y tall:inq ou t lona’, Fina. COnJ≥sSCÍ Acha que o júri que lhe atribuiu o Prémio Camões quis premiar o poeta, o escritor de contos infantis ou o cronista? Não sei o que se passou lá, o que sei é o que vi nos jor nais, e na justificação deles metiam tudo, com a poesia no centro. O Luís Miguel Queirós disse no Público, no próprio dia, que canais de comunicação permanentes entre os contos infantis, a poesia e as crónicas. E é verdade. Mas e o Manuel, acha que alguma das vertentes que merece ser mais premiada? Se quer que lhe diga não vejo que isto se justifique muito. Ainda no outro dia disse isto à ministra, quando ela me tele fonou. E ela disse: “Isso se calhar é modéstia”. Não, se calhar é arrogância. Porque acho que sou capaz dc fazer melhor Além do Eugénio de Andrade, foram premiados Sophia de MeIlo Breyner, Pepetela, Agustina Bessa -Luís, Lobo Antunes... É admirador de algum deles? Da Sophia, sim, O Pepetela não conheço. Da Agustina gosto muito. Do Saramago também li uns bocadinhos. Sente-se encaixado no meio destes autores? Sinto-me um bocado desconfortável, porque são muitas estátuas para o meu gosto. Estátuas? O Lobo Antunes, por exemplo, ainda é vivo. Sim, mas é uma estátua mais ou menos viva. Por acaso, do Lobo Antunes, gostei do que li. Até das crónicas gosto Do vou thiuk tl,at die jurv gave vou thc Camões Prize to award d~e poet, rhe eh ildren’s stoi’v ~vriter or the colurnn ist? 1 doa ‘t l:;;ou’ bar happeat-d rhe;e: ir/ia! 1 i:;;on’ is o ‘bar 1 ad a; tia ar i-spa/ii-rs. a na’ 1;; tini; ason n~q rhev ;n,ludcd cren’tbtni, n’ah poet;v ar eh, cear;,’ Ou ti;,’ dar ti;,- a,rard ias annoiinced Lias jlag;id Que, ;vs saiS ii; tia 1~ aluI ‘co ;;c n’spaoc; thar the;’e ar pt-nna;;i:;it chauneis of comnin;n cargo;? hctiii’en ehzldrcn sto;’u-s, por! and a e n’spapc; Co!?,;;: ;;s. A ;;d rins is t;vn. Bur pci-sonallv, do ~‘ou do helieve one of your arcas of writing dcserves the prize moi-e than the others? ;nust isnoil’, líbia’ thc i,’hoir tu/na inaJ;p;vjnvare. Jast ti;,: orbe,’ dar 1 saia’ rhc sa;nr rhnny ro rhe n;,n;src,’ ii;,:;, shc ralice! ‘ar, And sh,’ saia’: ‘3 faria’ rins is ;uod,-stv rali:u:q ‘.is’o, n,ai-ia’ /0 a;Togaure. Bira;isr Iti;u,kf au: capabie ofdo;nfl berre;: Other prize ‘vinners have included Eugenio de Andrade,SopliiadeMello Brevner,Pepctcla,Agustina Bessa—Luís, António Lobo Antunes.. Ai-e vou a fan of aIi~’ of these? Of’Sopb:a, r,-s. 1 dou ‘t kno,,’ R-pi:r~’ia. fica/ir fila rlaustzna ii ia’!:, fie alço ira:! a little of Sa; a ;naqo Do vou [ccl you fit iisto this group oE authors? 1 frei a little :,nro;;zfà;’tabie, beca use tia’;’’ a ii’ Coo ;;;a 1)1’ star::,’; (ia’ ;nr tastr. \ill.is&GoitluPoitugal 1 50

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ntónio Pina entrevistado pelas Villas‰Golf Portugal

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MANUEL ANTÓNIO FINA

E a verdade dapoesialhe truth ofpoetry

Poeta, escritor de contos infantis, cronista. Manuel António Pina, o vencedor do Prémio Gamões,o galardão mais importante da literatura portuguesa, é tudo isto porque não consegue ser outra coisa. E é-odesde criança, altura em que começou a escrever poemas para afastar pesadelos. Hoje, continua a exorcizarmedos através da escrita: “Ganrar, falar alto, é uma forma de encher a sala, para vencer o medo. E no fundo,a poesia é falar alto”, segreda.

Poct, n’rirei- of Cillld;ï;?~ storics, coinmnist. Mainzel António Pina, this yca;-v n’innn’ ofthc Camõcs Frizc, d’en;ost rnipo;-tanr anui-a’ in Portnq;zcsc iitc;arnrc, is ali tiicsc tbinzys as be conid nei’cr 1w anyrhn~ clse. Me ~r lwcn lluisn’ar inelincdsnwe cbildijood, rbcn bc sta;’rcd i rritinq poenis to unia’ ojfnigbtnzarcs. Todtry he CO)) tin ncs to tixol -e/se

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Acha que o júri que lhe atribuiu o Prémio Camõesquis premiar o poeta, o escritor de contos infantis ouo cronista?

Não sei o que se passou lá, o que sei é o que vi nos jornais, e na justificação deles metiam tudo, com a poesia nocentro. O Luís Miguel Queirós disse no Público, no própriodia, que há canais de comunicação permanentes entre oscontos infantis, a poesia e as crónicas. E é verdade.

Mas e o Manuel, acha que há alguma das vertentesque merece ser mais premiada?

Se quer que lhe diga não vejo que isto se justifique muito.Ainda no outro dia disse isto à ministra, quando ela me telefonou. E ela disse: “Isso se calhar é modéstia”. Não, se calharé arrogância. Porque acho que sou capaz dc fazer melhor

Além do Eugénio de Andrade, foram premiadosSophia de MeIlo Breyner, Pepetela, Agustina Bessa-Luís, Lobo Antunes... É admirador de algum deles?

Da Sophia, sim, O Pepetela não conheço. Da Agustinagosto muito. Do Saramago também li uns bocadinhos.

Sente-se encaixado no meio destes autores?Sinto-me um bocado desconfortável, porque são muitas

estátuas para o meu gosto.

Estátuas? O Lobo Antunes, por exemplo, ainda é vivo.Sim, mas é uma estátua mais ou menos viva. Por acaso,

do Lobo Antunes, gostei do que li. Até das crónicas gosto

Do vou thiuk tl,at die jurv gave vou thc CamõesPrize to award d~e poet, rhe eh ildren’s stoi’v ~vriteror the colurnn ist?

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Falemos da sua poesia. É o género de que mais gosta?Não gosto muito de falar da minha poesia. É que a minha

poesia é tudo o que eu tenho a dizer sobre ela. Porque não éuma relação que se possa aplicar inteiramente do ponto devista racional e eu sou muito racional.

Porque a poesia não se escreve com sentimentos,já o disse.

Com a memória deles, talvez. E com palavras, sobretudo.Conhece a história do Mallarmé? Ele um dia foi visitar oateliê do Degas e este disse-lhe: “ah, quem me dera ter oseu talento para escrever, porque tenho ideias fantásticaspara poemas”. E o Mallarmé respondeu-lhe: “está muitoenganado, meu caro amigo, a poesia não se faz com ideias,mas com palavras”. E é verdade, O que acontece é que aspalavras sio seres muito dúcteis, que podem gerar ideias,sentimentos e sonoridades. A poesia tem um elemento fundamental que é o ritmo. E nisso está muito próxima da música e da vida. Porque a vida é ritmo. Inspiração - expiração,dia - noite, Primavera — Verão — Outono — Inverno.

Sonhava ser poeta em miúdo?Não. Queria ser bombeiro, cheguei a querer ser santo.

E agora é ateu.Sim. Agora quero ser astrónomo. Também gostava

de trabalhar no Laboratório do Acelerador de Partículas

Let’s talk about your poerry. Is this the genre youlike the most?1 dou ‘t 111w to tallt abons niy poetn’ ;stnch. Jlvpoetrv San n’e;-vthing Ihai’e tosa.v abont ir. Beca use this Is nor a rclationshipthat San be fidlv cxplainrdfm;;t a rational poInt ofvier’ andUm i’erv rational.

Bccause, as you’ve said, poetry is not written withfeelings.fl~Ith rhc ,ne;norv oJ the;n, perhaps. And pri;narily i’ithwords. Do vou knon’ that 51072’ abont jiallanné? 1—Is i’isitedDiaras one da,’ ai hÚ stndio and the arfar said lo him: “Oh,ifonív 1 had voz,;’ ralenrfo;’ si’nting. beca usei bare surhfan.tastzc idcasJà;’posins-’~ And ÃIallar,né “eplied: “You’regot irali w;vng mv dcarfncnd. poern’ ml ‘t abont ideas, it’s abonru’ord9 And rins is ave. 11-bar happens is tinir words are vnyductile benigs, which San genc;’are ídcas,fcdings and sonnds.Poeh—s lias afhndamcntal eieinent — ri i’thm. And iii this ir isivn’ dose to nnazc and to life. Decaias iif~ is rhvthm. Brearbeaz, brcarhe o/a; dm’, nighr; sp;v~uy, snlnlner, antuian, iii;zter

Did you dream about being a poet ~vhen you ‘verea child?No. 1 u’anted to be afireman; 1 creu nanted to be a sainI~

bastante. E curiosamente já tenho escrito coisas um bocadodesagradáveis sobre ele. É sobretudo por aquela vaidade,que às vezes até é enternecedora. Também já escrevi crónicasa pôr-me do lado dele, sobretudo quando os militares lhequeriam bate; ainda recentemente.

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Statues? António Lobo Antunes, for example, isstill alive.Tes, bur he-’s more a icss a iiruzq status. Acu,aliv, ihai’c cnj4vedrelias! bar,’ mi-ad liv Lobo Annnzes, ,lnd 1 si-ah iiked bis co)nmns. Straswdv li’,’ abradv jrs’itun SI(ff1w! nnpicasanr thin,gsabons hin,. it’s pranarilv abo,,t tuas ,‘anu~ ,rhich ar situes San.lis roncbing. I’iv also irntsen ai-rides siding with hu,n, especialiv,rhcn flue ,nihtan’ n’a,,ted a; attaci: hun,jnstrecentk’.

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Europeu, ver o infinitamente grande e o infinitamentepequeno. Sabe,são poéticos. Hápoucoestavaafalardeporqueé que gostn de poesia: a minha relação com a poesia é umsentimento de que aquilo é verdade, O Novalis diz muitasvezes que “quanto mais poético, mais verdadeiro”. Eu costumo dizer que o inverso também é verdade: quanto maisverdadeiro, mais poético. E o que é que acontece no infinitamente grande e no infinitamente pequeno? Sente-se queaquilo é verdade, mas a razão não o alcança, patina.

O Prémio Camóes serviu para lhe diminuir ainsegurança?

Sequer que lhe diga, não. Gostei de o ter recebido, todosnós gostamos de ser amados. Mas digo-lhe com a mesmasinceridade que acho que não vai alterar absolutamentenada a minha vida. Para já porque tenho plena consciênciaque não é por ter recebido um prémio que a minha obra émelhor ou pior — eu até nem gosto de utilizar a expressão‘a minha obra’.

Por ser uma expressão póstuma?É demais, eu não tenho obra nenhuma. Aquilo são uns

livros, mas a palavra obra dá ideia de uma dimensão queaquilo não tem Também pode acontecer que seja um errode paralaxe, que estando eu muito próximo veja a árvoree não a floresta.

Mas, portanto, se algum dia me sentir seguro deixo deescrever. Eu só escrevo porque sou inseguro.

Poesia, saudade da Prosa é o título do seu novo livro.É também o título de um poema. Aliás, não é um título,

é o primeiro verso.

Que diz, “Poesia, Saudade da Prosa;/Escrevia ‘tu’,Escrevia ‘rosa’;/Mas nada me pertencia”.

Aquilo é sobretudo sobre a poesia já estar carregada demetáforas. Está lá um poema, A UmJoi’ern Poeta, que dizassim: “Procura a rosa/Onde ela estiver/estás tu fora de ti.Procura-a em prosa, pode ser/que em prosa ela floresça/ainda sob,/tanta metáfora;”.

Mas náo gosta muito de prosa.Não, mas aqui a prosa é mais a ideia da prosa do mundo.

A ideia do real depois das metáforas todas. Arosa é um exempio, uma metáfora do resto. É “a própria morte à terceira

“À noite tinha pesadelos, acordava, acendia a luze tentava fazer versos sobre eles. (...) Era umamaneira de exorcizar os medos

iiroii/d bane n&hiniai’es, wake np, ruiu ou dia ligbtand tu’ ti, n’ritepoeu;;s abont them. (..) It n’as n’nvOJeXOl’CiSifl9fiars.

And now you’re au atheist?Yiss. Moa’ 1 wanr ro fie au asrro,,omex 1 n’onld also libe rororlu ia e/se Euuvpean Labo;-aton’ fia’ Parride J’bvsics, to stv

rhe inflnrtdv laççje and the infln’rdv small. Tini ser, dsevjioetir. Jnsr iio’ voa ir~e tal/tinir abon.t ,‘li~ 1 li/se poer~’’: niVrelattons/sijs withpoetn’ is a se,,se 1-bar 1-bis is tine. Nora/is of5ev said “tlse more poerie e/se trner ir is”. 1 li/se ro sav rbat e/seopjsosite is alto tunis tlse tine,’ ir is e/se ino,’w poetie. And n’baris ir thar happens iv 1-fie ínflnírdv laçge and iv e/se inJinitefvsmall? Tou fiel that this is ente, flue reasou’ eannoe ,‘eacf, ir,ir skids kv.

Has the Camões Prize helped to reduce yourinsecurity?ifvov vias! fino’, no it fias,, ‘e. 1 lilsed beinggiren ieç n’e alIli/se to fie lo,’ed. Bati say to yon ‘itbjust eh,’ sana sineentvduas 1 fie/iene that ir n’íll ebange absolutelv nor/uni8 iv as’ 4fir.

For Iam fldlv n’are duas mv n’o,’h is no berre, o; ‘ave forba’ing reee,red a pnize — 1 don’r erra li/se cismei rhe esqs;vssion ‘mv ,ro,l:~

Because it’s a posthumous expression?ir’s too aiueh; 1 doa’t bane anv ,,‘od:. I’,’e ,j’,’itten aJ?n’ bool:s:e/se rord «l.o,*»gi,vs rhe idea ofa sire that doesn ‘i n’ise. Ireould also fie a uaatrer ofjsarallax; i’ni so dose 1 ccvi’! see 5/seforestfor e/se n’te.

B,it, nonerlselrss, ifIJi~el coajidene oui,~ dav, 1 ‘II sro/s i’ririig.1 onlv irrite because i’ni inseeare.

Poesia, saudade do Prosa [Poetry, longing for Prosejis the title of vour new’ book.Ir~c also e/se tiele ofa poein. Actua/Ir, tr’s aos rhe rir/e, ir’s rueJi;’sr verse.

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estrofe já ser um problema de estilo”. Que é uma coisaque eu descobri quando era muito miúdo. À noite tinha

pesadelos, acordava, acendia a luz e tentava fazer versossobre eles. Ao falar do pesadelo, estava já confrontado comquestões de expressão, com a palavra certa para dizer aquiloe então esquecia-me do pesadelo. Era uma maneira de exorcizar os medos.

Vou dizer-lhe qual é um dos seus poemas que prefiro: “Regresso devagar ao teu/sorriso como quem voltaa casa...”. Ainda se lembra do Manuel António Pina queescreveu este poema, em 1974?

Então não lembro... Eia um tipo que namorava comuma rapariga e esse poema era de volta disso. Por acaso,até falo desse mesmo sorriso num outro poema, que começa assim: “Entre a minha vida e a minha morte mete~se

subitamentc/AArlétjca Funerária, Armadores, Casa fundadaem 1888/A esse sítio acorrem então, aflitíssimos, o teu vagosorriso/e a vaga maneira como dizes os esses” - ela era transmontana. Morámos juntos cinco anos e depois ela deixou-me e nessa altura o mundo desabou à minha volta. Não erauma sensação de esrranhcza, era umasensação deesti-anhidão,

porque até a palavra estranheza era estranha. Depois a vidaseguiu a sua viagem.

Em 1974, o Manuel acreditava na política, estavaenvolvido nela, mas a crença perdeu-se pelo caminho.

Quanto deixou de acreditar?Foi aos bocadinhos. A avó da minha mulher, que já

morreu, dizia uma coisa engraçada: “não se pode ser sérioe andar na política ao mesmo tempo”. E eu achava aquilode uma violência... Mas sabe uma coisa: pode ser-se séiio eandar-se na política, mas não se anda lá muito tempo; pelomenos não se sobrevive.

Há um poema seu em que pergunta: “Serei capaz denão ter medo de nada?”. Já descobriu a resposta?

Tenho medo dc muitas coisas. De trovoadas, por exemplo. Sabe que acho que o que move as pessoas pata os abismos do antes e do depois é o medo. E esse medo que nosleva a escrever poesia, a fazer música. No fim de contas, omedo é um dos grandes motores do pensamento. Mesmoque seja um medo metafísico. Conhece o poema do medodo Alexandre O’Neill? É um medo assim, o medo de termedo. Cantar, falar alto, é uma forma dc encher a sala, paravencer o medo. No fundo, a poesia é falar alto.

“Poetry, Longing for Prose;/I ivrote ‘~‘nu’, 1 ivrote‘rose’;/Rut nothing ‘~‘as mine”. What does th is sav?Pus is ;;iostly a1,out /toerry hainq [oadad n’ir!; ;naraphore.‘I’ha;a’s apoem, Elb A Young Poct, i’h,ah sais rlnn”Loohfbrtua ;vsa., E Vhe;a,’ar ir ev0, civ oati:detvu;sclf Lool: (liv ir ivprosa, ir ;aay be/i-hat ttJIou;vshas ,n prosa, aia;, u;,dev’so ;naehtiataphov’ Bato,, do;, ~r li/te prosa i’a;y ;,u,eh.

Mi, bar hera prosa is ;no,e tha laica of’p;vse 0,/rija nor/ai. Thalaica 0,/rue real afta;’ ai! thr ;;terapbo;’s. ‘lhe ;vsa Is au t:va;np/a.a ;naraphor fim- rha ,‘asr. Ir is “daath iescif in rija thi ri! sta;izaaI;vadv heiu,j a p;’ohh’m oJ’sri’la’ Wbiah is so;nathin rhat 1disaora,’ad nhan 1’ nas ‘c;v’ rotina. 1 n’ou/a! haia níqhr;naras,ira/te aji, ri,;’;, o,i rhe liqhr anti rir ro n’tire poans aboar tha;,,.Iii tall:iuq abo,,r rija ;unyhn;,are, 1 ira: “0w aonf’o;,red rith

n,atrn’s o[nvp;’ass,o;,, niah thr ;‘iqhr ,rord ro usa/à;’ ir, and sol(oraot rija ;aghtuiara. Ir n’as Iray ofa.vo;’ausiuaJl-ars.

Tliis is one of my favourite pocms of yours: “1return slo,vlv to your/smilc 1 ike someone eominghomc...”Do you still remember thc Manuel AntónioPina who ivrote this poem, baelt in 1974?So 1 do;i ‘t ;v;,,e,,,hn:.. He ires agavgonuj our ,,‘irh agir! andrins por-vi n’as ali abour rins. Ar-lua/Ir, [ ;uauuou rir!: santaou/la a; anodia;- potro. n’hiei, bcqn:s Ilha th,s.’ “Retirar;, ;ny

lifi’ and ;ny dcarh.”rhe Atldrira Funeral Roma, A;’,;:ado;’as.Jhnnded tu 1888, su,ddr;;/y pops np 1’he;i (loal:ing ro rhisplaca, so ajllzared, yoar raea,,r siaile a;,d the rara;,r n’ay voltsay yo,,r essas” — she had a ‘l}as-os-jIo;,,’as arrr;ir, lT~ li,vdroqarher Jhr (iva leais a;,d sue lrfr via and ar rija ri;ua vir

iro;’ldflrli aparr. Ir lias;, ‘r a fèaliuq o/’srra;uya;u’ss, ir n’as afèehnq of strangirirclc, heaausa creu a/ir n’ora! sr;’anqe;,ess iassa,’ange. Then lira took ias parh.

Iii 1974 vou bclicvcd in politics, vou wcre involvedin it, but vou lost your bclief along the ,vay. XVhendid you stop bclieving?Little by little. ÀIy ir//li’ g;’a;:d;uorha;; irho is no lonjira ii’,rhas, saia! sonirthuuxfhn ti,>’: “yotr rio: ‘r ba se; ‘tons and lia tu pol:tias ar tha sarna unir ‘. And 1 no/mali d;saaraad il,iÍ/j rija,..Bar, [‘li reli yon so;narhinjy: mi’ cmi lia serio;a and n’o;!: vi po1i-rica, bittyou ran ‘r do ,rfàr lotar: ar laasryoit 110;i ‘t sul nua ir.

In one of vour poems vou ask: “Will 1 be able to not beafiaid of anytbing?” Have vou fotmd thc ansmvcr vet?Dii afratd of ;na;n’ rhi;igs. Ofrhu.ndersron;ns. fl;r ~tva;npli’.Mi, l:;,onm f rh,nlz that ,i’hat moias /ieopla tona reIs rija hrinl:oJ’daspair and bati: afiei;? :s/liai: TbisJ)ar cansar as ao i,’,’,rapoetas, ro ;i;ahe ;;insia. Ar tha atua! of ‘rija da,’, /liar Is ona of’thagraat ;,,orogr o/’thoagbr. E vau if it’s o n;rtaphi’siralJèa;: Dovou. l:;,on’ the poema abourftar byAkvand;’a O ‘]Ç’rill? Itr s,,ah

aJ≥ar: thaJliar of banuy a/laia!. S:nqing, tall:ing oar load isa. “ai’ of ftlling rha voou;;. ro o,’erco;nr fia;: lucram’ is has,aalivtallanq our lond,

lavro de llixt liv Andreia Barros Fa;’ra,ra [ Fotografias dei’boronrapbs liv Alia! ,indrade

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