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    FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    Desenvolvimento de uma Almofada de Violino

    Manuel Maria de Oliveira Dias Prudente dos Santos

    Dissertao submetida para obteno de grau de Mestre em Design Industrial

    Dissertao realizada sob a superviso do Prof. Dr. Rui Jorge Leal Ferreira Mendona da Fonsecada

    Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

    e coorientao da Prof. Dr. Teresa Margarida Guerra Pereira Duarteda Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto

    Porto, Outubro de 2013

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    Abstract

    This violin pad aims to reduce the risk of musculoskeletal disorders and improve the

    performance of technical and artistic professional violinists. It is characterized by the

    way it holds e accommodate to the violin and by the ease in which it suits the violinist.

    It connects the specific needs of a violinist of reference in product development and

    requests the involvement of renownedluthiersto the design and partial customization

    of the violin pad. The pain caused by static and repetitive movements is a constant

    obstacle to any violinist who seeks to improve their musical performance. On the other

    hand, the relationship between the violinist needs and characteristics assigned to the

    violin pads is still far, leading to a discrepancy of the results.

    A methodology based on the involvement of one of the most experienced violinists and

    interviews to two world-renowned luthiers in Portugal is leading the results of the

    thesis. Also the field observation, aimed to the rehearsals of the Orquestra Sinfnica do

    Porto (in Casa da Msica) has allowed the comparison of the postures adopted by

    presented violinists, consolidating knowledge about the target audience. The survey

    involving anatomical dimensions of the violinist and procedures for the correct use of a

    violin are equally relevant to understand the course of development that the violin pad

    should take to position the violin at the desired place.

    Some of the results of this paper refer to adherence as a key feature for the performance

    of the activity and should be enhanced through the application of rough materials.

    Similarly, overly flexible materials (such as polyurethane foams) do not bring any

    benefit to the user if they are fully compressed by the force of the jaw and weight of the

    instrument. The prototypes are a strong help for the designer throughout the

    development of user-centered product. In particular, it should be tested from a solid

    structure which includes the "feet" that contact between the instrument and the

    accessory. Only then can the comparison between the prototype designed and the

    existing violin pads be fair and faithful.

    Not sufficiently conclusive, the advances in this direction seek to warn and sensitize

    experts to users' needs and concerns in developing ergonomic violin pads.

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    II. Agradecimentos

    Um agredecimento especial aos meus pais e irmos que me apoiaram em qualquer

    circunstncia e que tornaram possvel a concretizao desta dissertao.

    Em segundo lugar, pretendo manifestar a minha gratido ao meu orientador, Dr. Rui

    Mendona, pela atitude, entusiasmo e frontalidade demonstrados ao longo da

    dissertao e pela persistncia com que rumou o projeto.

    Pretendo igualmente demonstrar o meu apreo minha co-orientadora, Dra. Teresa

    Duarte, pela motivao, disponibilidade e apoio prestados e pelo interesse

    demonstrado ao longo da dissertao.

    Um agradecimento especial ao violinista envolvido, Dr. Radu Ungureanu, pela

    pacincia e dedicao excecionais e decisivas na conduo da investigao e do

    desenvolvimento do produto.

    Presto, de igual modo, a minha gratido ao luthier envolvido, Dr. Joaquim Capela,

    pelo conhecimento, interesse e disponibilidade manifestados ao longo das entrevistas e

    pela documentao concedida.

    Ao Diretor do Concelho Tcnico-cientfico, Dr. Francisco Melo, pela recetividade e

    interesse demonstrados e pela sensibilidade com que abordou o tema aos

    intervenientes em questo.

    No deverei deixar ainda de honrar o contributo dado pelos luthiersAntnio Capelae

    Joaquim Capelaem prol do conhecimento e disponibilidade prestados.

    Muito obrigado tambm aos violinistas, Sr. Zofia Woycickae o Sr. Andras Buraipelo

    interesse expresso e e Sr. Snia Melopela assistncia dada.

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    ndice

    I. Resumo ............................................................................................................................. iii

    II.Agradecimentos .............................................................................................................. vii

    III.Figuras e Tabelas ............................................................................................................... xIV.Glossrio ........................................................................................................................... xv

    1. Introduo. ......................................................................................................................... 1

    Motivao ................................................................................................................... 11.1.

    Objetivos ....................................................................................................................31.2.

    Estrutura da dissertao ........................................................................................... 41.3.

    2. Reviso da Literatura. ....................................................................................................... 7

    Definio ................................................................................................................... 82.1.

    Evoluo histrica da utilizao do violino ............................................................ 92.2.

    Cuidados de construo do violino ........................................................................ 142.3.

    Leses decorrentes da utilizao do violino .......................................................... 192.4.

    Carcter do mercado e anlise comparativa ......................................................... 262.5.

    Patentes .................................................................................................................... 332.6.

    3. Metodologia de Investigao. ........................................................................................ 39

    Mtodos de estudo do utilizador ........................................................................... 393.1.

    O envolvimento do utilizador ................................................................................. 523.2.

    O Pblico-alvo e os intervenientes envolvidos ...................................................... 573.3.

    Procedimentos de utilizao de um violino .......................................................... 633.4.

    Resultados da Metodologia .................................................................................... 693.5.

    4. Projeto. ............................................................................................................................ 74

    Carcter metodolgico ........................................................................................... 744.1.

    Prottipos iniciais ................................................................................................... 764.2.

    Gerao e desenvolvimento de Solues .............................................................. 834.3.

    5. Resultados. ..................................................................................................................... 105

    6. Discusso. ........................................................................................................................ 119

    7. Concluses...................................................................................................................... 125

    Recomendaes ..................................................................................................... 1267.1.

    8. Referncias Bibliogrficas .............................................................................................. 129

    9. Anexo. ............................................................................................................................. 135

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    III. Figuras e Tabelas

    Lista de Figuras

    Figura 1 Almofada de violino (publicado por Kun). ........................................................... 8

    Figura 2 Importncia da almofada para a postura do violinista/violetista...................... 9

    Figura 3 Tcnicas associadas aos instrumentos que antecederam o violino. (Em cima)

    Orquestra de Rabecas Cego Oliveira, em Fortaleza, Brasil (publicado online por

    Overmundo.com). ( esquerda) Representao da lira da braccio, por Bartolomeo

    Montagna (Grove e Sadie 1980). ( direita) Baptiste Romain a tocar viela (publicado

    online por Baptiste Romain). ............................................................................................... 10

    Figura 4 Detalhe de uma das primeiras representaes da famlia do violino, pelo

    pintor Gaudenzio Ferrari, em1534-1536 (publicao online de Srgio Lisboa). ................. 11Figura 5 - ( esquerda) Apoio do violino com a parte esquerda do peito: representao

    de Veracini em 1744. ( direita) Apoio do violino com a clavcula: representao de

    Michel Corrette, intitulado L Ecole d Orphe em 1738 (publicaes online de Richard

    Gwilt, 2011). .............................................................................................................................12

    Figura 6 Partes constituintes de um violino, baseado em Grove and Sadie, 1980. .........15

    Figura 7 Seco de corte de um violino. esquerda, as vibraes so transmitidas

    primeiramente para as costas. direita, as vibraes so transmitidas primeiramente

    para o tampo. ........................................................................................................................ 16Figura 8 Dimenses relevantes no desenvolvimento da almofada. ................................ 18

    Figura 9 Medidas de espessura da madeira analisadas em dois tampos. O vermelho

    indica uma espessura superior a 4mm, o verde inferior ou igual a 2mm e o amarelo um

    valor intermdio (publicada pela Universidade do Porto). ................................................ 19

    Figura 10 - Prevalncia de leses de acordo com as horas dirias de prtica, baseado em

    Heming (2004). ......................................................................................................................21

    Figura 11 - Violinista Ianina Khmelik, no concerto Cincia com Termografia (2013). ... 22

    Figura 12 - Prevalncia de dor nos ombros/pescoo nos dois diferentes grupos (Nyman

    2007). ..................................................................................................................................... 24

    Figura 13 Tipos de almofadas existentes no mercado e respetiva designao adotada

    (publicado por Shar Products Company e Musicians friend inc.) .................................... 29

    Figura 14 - Primeiras patentes criadas pela Kun ( esquerda) e pela Wolf ( direita)

    (publicado por Derwent Innovations Index). ..................................................................... 35

    Figura 15 Principais perguntas da entrevista semi-estruturada, agrupadas de acordo

    com a relao de contedo. ................................................................................................. 44

    Figura 16 Posio ativa. ..................................................................................................... 46

    Figura 17 Posio inicial e final do brao esquerdo aps mudana de posio. ............. 47

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    Figura 18 Guio de observao constitudo por indicadores e respetivas categorias. ... 49

    Figura 19 Variveis que inflenciam a comparao das posturas dos violinistas. .......... 50

    Figura 20 - Orquestra Sinfnica do Porto, Casa da Msica (publicado por Casa da

    Msica). ................................................................................................................................. 59

    Figura 21 Radu Ungureanu (publicado por Tartaruga Editora). ..................................... 60

    Figura 22 Joaquim Capela no seu atelier. .......................................................................... 61

    Figura 23 - Livro de iniciao ao violino, publicado por Ferdinand Davids. ................... 63

    Figura 24 - Radu Ungureanu a posicionar o seu violino de forma a obter a postura

    indicada. ................................................................................................................................ 64

    Figura 25 - Alinhamentos possveis para os ps do violinista, em posio de p. ......... 65

    Figura 26 - Posies adotadas sem ( esquerda) e com ( direita) a presena de almofada

    de violino. ............................................................................................................................. 66

    Figura 27 Inclinao aconselhada sobre o plano vertical. ............................................... 66

    Figura 28 ngulo sobre o plano horizontal (vista de topo). ........................................... 66

    Figura 29 Inclinao lateral do violino (vista frontal). .................................................... 66

    Figura 30 Rotao da cabea. ............................................................................................ 66

    Figura 31 Postura tomada para atingir as posies mais altas da escala. ....................... 67

    Figura 32 Postura adotada para o antebrao que segura o violino. ................................ 68

    Figura 33 Lista de necessidades do utilizador. ................................................................. 70

    Figura 34 Radu Ungureanu a interagir com o primeiro prottipo. ................................ 77

    Figura 35 Almofada reforada com um pedao do prottipo para se adequar anatomia do violinista. ......................................................................................................... 78

    Figura 36 Modelo em massa de moldar. A zona 1 e 2 correspondem, respetivamente,

    rea do peito e ombro do violinista. .................................................................................... 79

    Figura 37 Molde final em gesso. ....................................................................................... 80

    Figura 38 Prottipo em silicone. ....................................................................................... 80

    Figura 39 Interao de Radu Ungureanu com o prottipo em silicone (em cima) e o

    resultado deste (em baixo). ................................................................................................. 82

    Figura 40Almofada Wolf, utilizada pelo ......................................................................... 84Figura 41Falta de aderncia proporcionada pela forma. ................................................ 84

    Figura 42 Soluo adotada para melhorar a aderncia e a estabilidade. ....................... 84

    Figura 43 Diferentes camadas de materiais adotados e configurao atribuda ao

    material de contacto. ........................................................................................................... 85

    Figura 44 Forma adotada atendendo posio e movimentos dos ps. ..................... 86

    Figura 45 - Verso onde a parte superior suprimida. ...................................................... 87

    Figura 46 Previso rudimentar da posio das foras geradas pelo queixo do violinista.

    ............................................................................................................................................... 87

    Figura 47 Mecanismo por movimento roscado. .............................................................. 88

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    Figura 48 Mecanismo por Snapfit. ................................................................................... 88

    Figura 49 Diferentes mecanismos de posicionamento dos ps. ................................. 89

    Figura 50 Soluo adaptada a diversas posies do pescoo. ........................................ 89

    Figura 51 Vista lateral representativa das camadas de materiais a utilizar. .................. 90

    Figura 52 Mecanismo de rotao que acompanha a curvatura do violino (ilharga). . 90

    Figura 53 Alongamento dos ps para reforar o atrito e a estabilidade. .................... 90

    Figura 54 Mecanismo roscado para facilitar o ajuste do ngulo. .................................... 92

    Figura 55 Calhas que obrigam o corpo do sistema a deslizar sobre elas. ....................... 92

    Figura 56 Base concebida para reforar a ......................................................................... 93

    Figura 57 Vista de topo do sistema e a respetiva rotao do eixo do p. ..................... 93

    Figura 58 Rasgos para facilitar a ........................................................................................ 93

    Figura 59 Calha que faz rodar o eixo do p, imobilizando o corpo do sistema de

    ajustes. .................................................................................................................................. 93

    Figura 60 Diferentes formas para o corpo do sistema de ajustes. ............................... 94

    Figura 61 Mecanismo de fcil rotao para a deslocao do p. .................................. 95

    Figura 62 Sistema de molas em ambas as direes. ......................................................... 95

    Figura 63 Calha que permite a deslocao do eixo do p. ........................................... 96

    Figura 64 Processo de desenvolvimento da forma do corpo da almofada. ................. 97

    Figura 65 (Acima) Conjunto de materiais utilizados para a realizao dos prottipos

    intermdios e (abaixo) prottipo resultante da combinao de alguns desses materiais.

    ............................................................................................................................................... 98Figura 66 Reconformao da almofada de violino. ....................................................... 99

    Figura 67 Mecanismo por Snapfite mola para o corpo do sistema de ajustes. .......... 99

    Figura 68 Perspetiva, vistas laterais e vistas de topo do Corpo do sistema de ajutes.

    .............................................................................................................................................. 100

    Figura 69 Desenvolvimento da superfcie do corpo. ...................................................... 101

    Figura 70 Alterao radical da forma (vista de topo), provocado pelo incapacidade de

    rotao do sistema de ajustes. ......................................................................................... 102

    Figura 71 Teste da ltima forma. ..................................................................................... 102Figura 72 Vistas representativas (lateriais e de topo) da almofada de violino. ............ 106

    Figura 73 Vistas representativas e respetivas dimenses. ............................................. 107

    Figura 74 Almofada de violino: representao em perspetiva. ..................................... 107

    Figura 75 Exemplos de tonalidades admitidas para a almofada de violino a obter. .... 109

    Figura 76 Tonalidades adotadas para a almofada de violino. ....................................... 109

    Figura 77 Batente que facilita o encaixe de ambas as peas de madeira. ...................... 110

    Figura 78 Vistas representativas do processo de desenvolvimento do corpo de ajustes

    inferior. ................................................................................................................................ 110

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    Lista de Tabelas

    Tabela 1 Mercado global das principais almofadas de violino. ....................................... 30

    Tabela 2 - Caractersticas dos Paradigmas Qualitativos e Quantitativos, baseado em

    Reichardt, Solana, e Cook (1986). ....................................................................................... 40Tabela 3 - Categorizao dos diferentes grupos de acordo com as diferentes

    necessidades. ......................................................................................................................... 55

    Tabela 4 - Processo de tratamento da informao recolhida. .............................................71

    Tabela 5 Requisitos hierarquizados segunda a importncia para o violinista envolvido,

    baseado em Nan et al. (2011). ............................................................................................... 72

    Tabela 6 Processos distintos de Seleo e Desenvolvimento de Conceito, baseado no

    Ulrich (2008). ........................................................................................................................ 75

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    IV. Glossrio

    Arpejo- execuo sucessiva das notas de um acorde.

    Evento tcnico acontecimento ou procedimento gerado pelo artista.

    Escala (violino) pea de bano integrada no brao do violino onde efetuado odedilhado.

    Vibrato tcnica que consiste na oscilao de uma corda de um instrumento musical.

    Mudanadeposio evento tcnico em que o brao do instrumentista desliza sobrea escala para gerar tonalidades diferentes.

    Purfling elemento preto, decorativo e estreito, situado na barriga do violino.

    Voluta- extremidade do violino em espiral ou caracol.

    Arco - dispositivo utilizado para produo de som em idiofones ou cordas a partir dafricco destes com um feixe de crina.

    Luthier profissional especializado na construo e no reparo de instrumentos de

    corda com caixa de ressonncia.

    A solo pea ou seco de uma pea tocada por um nico executante.

    Queixeira pea de madeira moldada, ligada ao corpo do violino que auxilia oexecutante na posio da sua mandbula ou queixo.

    Harmnico- ondas composto da frequncia fundamental e de todos os mltiplosinteiros desta frequncia.

    Segmentodemercado pequeno grupo que se distingue dos restantes pelas suascaractersticas.

    Elastmero- polmero que apresenta propriedades "elsticas".

    Persona interveniente que se adapta a um mundo externo.

    Prottipo- produto de trabalho da fase de testes e/ou planeamento de um projeto.

    Sistemadeajustes todos os mecanismos de ajustes que se encontram interligadosentre si.

    Sistemadeajustesinferior conjunto de mecanismos correspondente zona inferiorda almofada de violino.

    Sistema de ajustes superior- conjunto de mecanismos correspondente zonasuperior da almofada de violino.

    Mecanismos intermdios- conjunto de mecanismos situado ao centro de um dossistemas de ajustes.

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    Mecanismos inferiores - conjunto de mecanismos situados na base deum dos sistemas de ajustes.

    Corpo do sistema o mesmo que Mecanismos inferiores.

    Sonata- msica feita para "soar".

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    Introduo.

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    1. Introduo.

    Motivao1.1.

    Ainda nos dias de hoje, a atividade do violinista inquietante e perturbada pelo

    desconforto e esforo que ele tem de exercer para manter o violino na posio correta.

    Tanto sem ou com o uso dos atuais acessrios, o violino est constantemente a

    deslocar-se sobre o ombro e a obrigar o violinista a reposicion-lo. As dores provocadas

    pela postura (idealizada para desempenhar, da melhor forma, a atividade e a sua

    expresso musical) so comuns a todos os violinistas, independentemente dos meios

    que utilizam para as atenuar (Heming 2004). Estes acabam por nunca satisfazer, na

    totalidade, as suas necessidades e, por isto mesmo, dever-se- optar por encontrar

    solues especficas deste tipo de utilizadores, aumentando o conforto relativo e

    reduzindo as dores e tenses que advenham da sua atividade.

    Todas estas observaes ocupam a mente de muitos violinistas e violetistas da

    atualidade e deixam livre a das pessoas que desenvolvem este tipo de produtos. Em

    parte, este comportamento justificado pela falta de contacto existente entre aqueles

    que desenvolvem e aqueles que tocam. Como designer industrial e violinista, estes

    problemas chamam fortemente a ateno, considerando esta formao como a maisindicada para realizar uma proposta de sucesso. No entanto, o contexto em que a

    almofada de violino se insere sensvel e subjetivo onde as opinies so imensamente

    divergentes e as observaes quase impercetveis. Alm disso, cada violinista como

    cada qual e adequa-se ao instrumento sua maneira e dentro, obviamente, dos limites

    estipulados pelo ensino.

    A origem desta arte musical est j suficientemente distante e exige cada vez mais dos

    instrumentistas que pretendem seguir o seu rumo. Tambm por isso, passam grande

    parte do seu tempo a dedicar-se ao instrumento, obrigando a um enorme esforo fsico

    por parte violinista. de notar tambm que a probabilidade de surgirem sintomas

    relacionados com este esforo aumenta com o aumento de contacto com o instrumento

    (Bejjani, Kaye, e Benham 1996).

    Apesar do contributo que muitas das almofadas de violino e outros acessrios tm dado

    aos instrumentistas, elas esto ainda longe de suprimir ou at minimizar as dores

    previamente mencionadas, exceto se considerssemos um instrumento cuja postura

    fosse, j por si, natural e relaxada. Alm disso, a almofada s poder contribuir paraatenuar metade dos esforos originados, nomeadamente pelo brao que segura o

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    violino pois os restantes advm do brao que promove os movimentos repetitivos do

    arco.

    curioso observar a importncia que este acessrio tem para os violinistas e violetistas

    de pequenos e grandes agrupamentos musicais, no apenas de msica erudita, masabrangente a muitos outros estilos. Basta atender proporo existente entre estes

    instrumentistas e os restantes de uma orquestra e perceber o contributo que a almofada

    de violino tem sobre os mesmos.

    O que parece lgico que as solues apresentadas para resolver os problemas destes

    instrumentistas tm sido desencaminhadas por aqueles que detm maior estima no

    mercado e repetidas por aqueles que pouco conseguem investir, ainda que tenham

    potencial para o fazer. O maior salto s dever ser dado ao unir a experincia de quem

    toca com a de quem projeta, procurando faz-lo de mente aberta e destemida.

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    Estrutura da dissertao1.3.

    A dissertao est estruturada em sete principais captulos: Introduo; Reviso da

    Literatura;Metodologia de Investigao;Projeto;Resultados; Discusso; e Concluso. A

    Reviso da Literatura serve como contextualizao ao tema e descreve os mais variados

    campos do conhecimento dos violinos e das almofadas de violino, abrangendo a

    Evoluo histrica, as leses decorrentes de utilizao, os cuidados de construo de um

    violino, o mercado e as comparao entre as almofadas e, por ltimo, as patentes

    existentes.

    O captulo da Metodologia de Investigao incorpora os mtodos adotados para a

    identificao dos problemas e das necessidades/requisitos como resultado da aplicao

    dos mesmos. igualmente acompanhado de procedimentos de utilizao de um violino,importantes para apoiar a aprendizagem dos instrumentistas atendendo a preocupaes

    ergonmicas.

    O Projeto descreve o carcter da prpria metodologia adotada para o captulo, bem

    como todo o processo pelo qual o conceito passou para chegar aos resultados (captulo

    5). Neste, so apenas incorporados os resultados provenientes da almofada de violino

    como o produto pretendido para a dissertao.

    A Discusso apresenta e interpreta os resultados mais importantes e a sua relao comos trabalhos desenvolvidos no mesmo mbito, bem como algumas das dificuldades e

    tendncias encontradas.

    Por fim, as Concluses rematam a dissertao, confrontando os argumentos mais fortes

    com os objetivos inicialmente propostos.

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    Reviso da literatura.

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    2. Reviso da Literatura.

    Neste captulo, so abordados alguns assuntos que se encontram englobados no campo

    da almofada de violino e aos objetivos inicialmente propostos, importantes para situar o

    leitor e o investigador. Todos eles influenciam, de um modo amplo, o processo de

    conceo e desenvolvimento e, por consequente, o produto como resultado final de

    toda a investigao.

    A Evoluo histrica da utilizao do violinopretende demonstrar a maneira como o

    violino tem vindo a ser tocado ao longo das vrias geraes de violinistas e luthiers(ver

    Glossrio).

    Os Cuidados de construo do violino resultam do trabalho de campo efetuado e

    procuram dar resposta s caractersticas estruturais e sonoras do instrumento e s

    relaes destas com as caractersticas da almofada como acessrio do violino. J as

    Leses decorrentes da utilizao do violino chamam ateno para as causas e

    consequncias provenientes da prpria atividade.

    O Carcter do mercado e anlise comparativa pretende dar a conhecer a dimenso,

    atitudes e oportunidades do mercado das almofadas e das partes que o constituem.

    Acima de tudo, descreve e compara as mais conceituadas marcas de almofadas a partir

    de variveis relevantes no mbito do desenvolvimento do produto.

    As Patentes do continuidade ao que foi referido anteriormente, apontando para as

    mais marcantes da sua histria.

    A Definio seguidamente apresentada para ilustrar o produto como foco de todo o

    desenvolvimento.

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    Figura 3 Tcnicas associadas aos instrumentos que antecederam o violino. (Em cima) Orquestra de

    Rabecas Cego Oliveira, em Fortaleza, Brasil (publicado online por Overmundo.com). ( esquerda)

    Representao da lira da braccio, por Bartolomeo Montagna (Grove e Sadie 1980). ( direita) Baptiste

    Romain a tocar viela (publicado online por Baptiste Romain).

    A origem do violino representa um dos maiores mistrios da histria dos instrumentos

    musicais e que a literatura no conseguiu ainda ver revelada. Desconfia-se apenas que

    poder ter partido de luthiers de Frana ou Polnia. Segundo o dicionrio Priberam,

    luthier um arteso que fabrica ou repara instrumentos de corda com caixa-de-

    ressonncia. No entanto, os mais fortes indcios apontam para o norte de Itlia, tendo

    Milo como centro das atividades. Registos publicados em Brescia (cidade do norte de

    Itlia), em 1533, mencionam a presena de flautas, violas, liras e similares concebidas por

    Giovan Giacobo dalla Corna e Zanetto Montichiaro (Boyden 1965). origem do violino,

    no se dever deixar de olhar para a obra do pintor Gaudenzio Ferrari (Figura 4), por

    volta de 1535, como a prova mais antiga da existncia deste instrumento (Grove e Sadie

    1980).

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    Figura 4 Detalhe de uma das primeiras representaes da famlia do violino, pelo pintor Gaudenzio

    Ferrari, em1534-1536 (publicao online de Srgio Lisboa).

    Como foi referido anteriormente, o violino refletia as prticas dos instrumentos que o

    antecederam. No primeiro sculo da sua existncia (sc. XVI), estes instrumentos era

    apoiados sobre as mais variadas maneiras: lado esquerdo do peito (comum nas rabecas),

    centro do peito, no ombro ou ainda no pescoo (Boyden 1965; Grove e Sadie 1980).

    Nesta mesma poca, comearam a surgir grandes construtores de instrumentos, entre

    os quais Andrea Amati e Gasparo de Sal, que contriburam para a normalizao do

    violino (Leite 1988; Boyden 1965).

    De certo modo, este processo fora reforado por parte dos luthiers e pela prpria

    fundao das escolas Brescia e Cremona e de outras que se seguiram noutros pases.

    No sculo XVII, o violino no sofre alteraes radicais comparativamente com os

    modelos produzidos no sculo anterior. Os mais avanados violinistas, especialmente

    em Itlia, j adotavam as posies do ombro e pescoo, com o auxlio de pequenossuportes para o queixo, permitindo apoiar firmemente o violino assim que surgissem

    mudanas de posies do instrumento (Boyden 1965). Com a crescente utilizao destas

    mudanas, a escala e o pescoo vieram a tornar-se maiores e mais estreitas (Grove e

    Sadie 1980). Para libertar estes mesmos movimentos do brao, o violino dever-se-ia

    segurar entre o polegar e o indicador (zona metacarpofalangeana), de uma forma no

    muito apertada. Apesar de tudo isto, o violino ainda era apoiado na parte esquerda do

    peito e inclinado para baixo, muitas vezes utilizada em danas ou em msicas fceis de

    tocar (Boyden 1965).

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    Na primeira metade do sculo XVIII, acrescentaram-se duas outras maneiras de segurar

    o violino, para alm da mencionada anteriormente. Na primeira, o violino era seguro na

    zona da clavcula e, na segunda, abraado contra o pescoo do violinista, sem auxlio

    queixeira e apertado sob o queixo ou do maxilar (Figura 5). A soluo para a atual

    posio da mo esquerda foi definida por Geminiani, normalizando os artigos de

    instruo que se seguiram (Boyden 1965). Os dedos era posicionados em forma de

    escala, colocando o dedo mindinho na corda maior, o anular na corda vizinha e assim

    sucessivamente.

    Figura 5 - ( esquerda) Apoio do violino com a parte esquerda do peito: representao de Veracini em

    1744. ( direita) Apoio do violino com a clavcula: representao de Michel Corrette, intitulado L Ecole

    d Orphe em 1738 (publicaes online de Richard Gwilt, 2011).

    As ltimas alteraes ao violino moderno foram lideradas pelos franceses at ao final do

    sculo XIX, motivadas por grandes mudanas musicais e sociais, entre as quais a

    Revoluo Francesa. Por consequncia, a sonoridade do violino veio a tornar-se mais

    forte, atravs do aperfeioamento do arco, prolongamento do brao e da escala do

    violino, aumento da altura do cavalete e aumento da espessura e comprimento da barra

    (Grove e Sadie 1980). Nos sculos XIX e XX, o potencial presente no violino suscitou um

    aumento da dimenso das salas de espetculo e das orquestras, bem como de peas a

    solo.

    A partir do ano de 1800, os aspetos construtivos do violino estagnaram, dando espao

    aos acessrios para evolurem e contriburem para o desempenho da atividade. Restava

    ainda reduzir a presso relativa do queixo sobre o violino, aspeto que afeta os

    movimentos de ambas as mos e no brao que manipula o arco (Boyden 1965). Bastaram

    vinte anos para Louis Spohr fazer surgir a primeira queixeira que, para alm da reduo

    de presso referida, garantia uma uma maior liberdade do dedilhado, mudanas de

    posio e vibrato(Grove e Sadie 1980).

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    Cuidados de construo do violino2.3.

    O violino tem vindo a sofrer, tal como evidenciado, um conjunto de modificaes

    responsveis pelas prprias qualidades do instrumento, luthiers e compositores. Por um

    lado, o potencial que o instrumento demonstra desde muito cedo tem levado a integr-

    lo nos mais variados estilos e pocas musicais, alterando o modo como o violinista se

    adapta ao violino (ver3.4). Um dos exemplos o arco criado por Bach, que apresentava

    uma curvatura exagerada de modo a obter uma sonoridade especfica nos acordes que

    compunha (Grove e Sadie 1980). Por outro lado, a exigncia desses estilos musicais tem

    levado a um constante desenvolvimento da atividade de construo destes

    instrumentos, aprimorada por parte dos luthiers. O seu conhecimento traduz-se numa

    importante fonte para compreender as influncias estruturais e acsticas da almofada

    sobre o violino e vice-versa. A mais pequena alterao da forma do violino, originadapelo luthier, alicia a conduta de utilizao do violinista sobre o violino, recaindo

    diretamente na postura e consequente desempenho da sua atividade. Para alm disso,

    atravs dos luthiers (e das entrevistas destinadas aos mesmos no mbito desta

    investigao) que se identificam possveis necessidades dos violinistas que se digirem

    aos seus atelierspara adquirir instrumentos. Por fim, os compositores so responsveis

    pela criao de msicas e estilos, elevando consecutivamente as capacidades tcnicas

    dos msicos que as executam e do prprio instrumento.

    O violino fundamentalmente constitudo pela caixa de ressonncia, brao com a

    escala e as quatro cordas suspensas sobre o cavelete (Kolneder e Pauly 1998). Ambas as

    faces so arqueadas sendo que a da frente, em pinho de flandres, denomina-se tampo

    e a de trs, em cer, costas ou fundo. Ambas so unidas pelas partes laterais, as

    ilhargas (verFigura 6).

    A escala (em bano) est presa ao brao do violino que, por sua vez, suporta as tenses

    geradas pelo cordas. Estas so enroladas pelas cravelhas (situadas no cravelhame),

    guiadas pela pestana e cavalete, e fixadas pelo estandarte que seguro, por fim, aoboto.

    J no sculo XIX, introduzida a mentonnire ou queixeira, por Ludwig Spohr, que

    tem como objetivo adaquar o queixo do violinista ao violino (Leite 1988).

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    Os violinos da Idade do Ouro (perodo em que, segundo a mitologia grega, o mundo

    vivia num estado de apogeu) apresentam, segundo Koldener e Pauly (1998), as seguintes

    dimenses (Figura 8):

    a. Comprimento: 355mm

    b. Comprimento interno: 343mm

    c. Comprimento dos Ccs: 76mm

    d. Largura (ataque superior): 208mm

    e. Largura (ataque inferior): 168mm

    f. Largura na cintura: 112mm

    g. Arqueamento do tampo/costas: 15mm

    h. Altura das ilhargas: 30-32mm

    A espessura vista como a dimenso mais til no desenvolvimento da almofada, na

    medida em que d a entender de que forma que a almofada se poder segurar ao

    violino sem o prejudicar. As faces deste no apresentam uma espessura uniforme pois o

    excesso deste resulta em distores e impurezas na sonoridade do instrumento e a

    insuficncia dela, por outro lado, afeta o seu timbre. Estas variaes so dependentes da

    distncia a que a madeira se encontra do cavalete, da alma, dos cantos e dos blocos. Os

    mesmos factos foram comprovados por investigadores da Smithsonian Institution

    (2009) que prentendeu revelar os aspetos construtivos dos violinos de AntonioStradivari.

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    Figura 8 Dimenses relevantes no desenvolvimento da almofada.

    Para alm disso, a digitalizadora tomogrfica computadorizada (ou CT scanner)

    comprovou que o volume da madeira utilizada na construo dos seus instrumentos

    variou em 41,6% desde 1670 a 1709 (Figura 9). O volume de ar no interior do violino era

    considerado como uma das caractersticas que se pretendia ver mantida, variando

    apenas em 8,2% (Bruno Frohlich 2009).

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    Figura 9 Medidas de espessura da madeira analisadas em dois tampos. O vermelho indica uma

    espessura superior a 4mm, o verde inferior ou igual a 2mm e o amarelo um valor intermdio (publicada

    pela Universidade do Porto).

    Leses decorrentes da utilizao do violino2.4.

    Como a Evoluo histrica da utilizao do violino j o fez demonstrar, a relao

    tcnica e postural entre o violinista e o violino tem vindo a sofrer incontveis alteraes

    ao longo dos sculos, atravs de experimentaes geradas pelos instrumentistas e

    luthiers, de diferentes pocas e contextos musicais. desde cedo que esta arte tem

    procurado levar a capacidade tcnica do executante ao mais alto nvel, sempre em prol

    da sonoridade pretendida, ainda que comprometa o bem-estar do mesmo. por estesmotivos que as atuais disciplinas cientficas e sociais, como a Ergonomia, a Usabilidade

    ou a Interface, se distanciam um pouco da atividade, pois elas tm o dever de

    influenciar as interaes em benefcio do utilizador. Far sentido, num projeto com este

    carcter, que estas disciplinas influenciem a atividade apenas at a um certo limite, isto

    , no prejudicando o desempenho tcnico do violinista e contribuindo para o bem-

    estar deste.

    Atualmente, os professores do prprio ensino do instrumento tentam transmitir

    procedimentos importantes que evitem ou atenuem problemas relacionados com a

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    sade do aprendiz, tais como o relaxamento mximo dos msculos durante a atividade

    ou prevalncia de pequenas pausas para descansar (Bejjani, Kaye, e Benham 1996). Esta

    ltima dever ser tida em conta como uma boa medida de preveno de leses que

    advenham da atividade (Zaza e Farewell 1997). Para alm destes, e se for esse o caso, os

    professores aconselham a utilizao de acessrios que no vm includos no

    instrumento e que podero servir como uma grande defesa contra esses mesmos

    problemas. Na maioria dos instrumentos de corda, o professor poder ainda propr a

    dimenso adequada (normalizada) que melhor serve a estrutura anatmica do aprendiz.

    Contudo, as preocupaes (posturais e ergonmicas) ainda no esto verdadeiramente

    inseridas no programa de educao musical, prejudicando a prpria capacidade tcnica

    dos msicos que tanto se dedicam ao longo do seu percurso profissional (Heming 2004).

    Tem havido muita discusso sobre a descrio da palavra leso no contexto da

    utilizao dos instrumentos musicais, nomeadamente, sobre o uso excessivo ou uso

    indevido dos mesmos. Muitas vezes, aquilo que se ouve de que as leses so

    provocadas pela tempo excessivo com que o msico se dedica ao instrumento. Dickson

    (1989) sente que as leses no so causadas por uso excessivo pois lhe parece ser um

    diagnstico errado e o correto seria afirmar que a grande maioria das leses se devem ao

    uso indevido.

    Certo que ambos os usos so indiscutivelmente prejudiciais e, dependendo do

    instrumento e da inerente postura, poder um modo de uso influenciar mais do que o

    outro. No caso dos violinistas e violetistas, o uso indevido sobrepe-se ao uso excessivo

    pela necessidade de se ter de suportar o instrumento e os membros superiores (carga

    esttica) e pela assimetria natural inerente ao modo caracterstico de tocar o

    instrumento (Zaza e Farewell 1997).

    Inferior a isso, a durao dos ensaios determinante para a contribuio de leses em

    qualquer msico. Heming (2004), numa das perguntas do seu questionrio annimo e

    retrospectivo, procurou entender a prevalncia de leses de acordo com as horas diriasde prtica dos msicos envolvidos (Figura 10). O decrscimo exponencial dos valores

    das no leses so indicadores plenos de que a grande maioria dos msicos sofrem de

    leses ao fim de duas horas de prtica. Estes so alguns dos problemas que devero ser

    transversais ao desenvolvimento de um produto e, em especial ateno, a este projeto

    em concreto por se tratar de um pblico-alvo profissional, onde a convivncia com este

    produto uma constante.

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    Figura 10 - Prevalncia de leses de acordo com as horas dirias de prtica, baseado em Heming

    (2004).

    Inmeros estudos descrevem a sndrome de uso excessivo como uma condio ou

    entidade clnica causada pela sobrecarga ou repetio de movimentos, fazendo com que

    os tecidos dos msculos ou tendes afetados ultrapassem os prprios limites

    psicolgicos e biomecnicos (Bejjani, Kaye, e Benham 1996; Heming 2004; Dickson

    1989).

    Esta sndrome poder-se- apresentar com diferentes diagnsticos tais como neuropatias

    (doenas do sistema nervoso), tendinites (inflamao do tendo), tenossinovites

    (inflamao do tendo e da banha tendinosa), peritendinites crepitantes (desgasto de

    pequenos grupos musculares), artrites (inflamao das articulaes), espondiloses

    (osteoartrite degenerativa das articulaes da coluna vertebral), distrofias simptico-

    reflexas (doena sistmica crnica) ou leses por esforo repetitivo (leses no sistema

    nervoso e musculoesqueltico) (Bejjani, Kaye, e Benham 1996; Heming 2004). Nos

    violinistas e violetistas, todas estas condies (associadas a dor, desconforto e perda

    funcional) relacionam-se maioritariamente com msculos, tendes e articulaes dos

    membros superiores (principalmente antebrao, cotovelo, pulso e dedos), coluna

    vertebral (espinha cervical, torcica e lombar), trapzios e, no to provvel, mandbula.

    Num estudo de Eletromiografia quantitativa, Philipson et al. (1990) analisaram diversos

    msculos de violinistas com potencialidade de leso e revelaram que a atividade

    detetada significativamente maior nos trapzios bilaterais e no deltide e bcep

    direito. Levy et al. (1992) demonstraram, no mesmo contexto de experimentao doEMG (sinal eletromiogrfico), que a utilizao de uma almofada de violino reduz a

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    1 hora ou

    menos

    1 a 2 horas 3 a 4 horas 5 a 6 horas 6 horas ou

    mais

    Leso

    Sem leso

    N pessoas

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    atividade detetada nos msculos esternocleidomastide e trapzios.

    Durante o concerto apresentado na FMDUP (Faculdade de Medicina Dentria da

    Universidade do Porto), foram captados, ao vivo e a cores, os movimentos e os msculos

    de uma violinista a partir de uma cmara, sendo o branco e o preto, respetivamente, os

    valores mximos e mnimos de concentrao de tenses (Figura 11).

    Figura 11 -Violinista Ianina Khmelik, no concerto Cincia com Termografia (2013).

    Apesar do detalhe com que se evidenciam todas estas leses, no existe um mtodo

    objetivo que comprove a sua existncia nem to pouco existe um consenso objetivo

    sobre as suas caractersticas, critrios de diagnstico ou tratamento (Bejjani, Kaye, e

    Benham 1996).

    De forma direta ou indireta, tem-se vindo a entender as leses como um indicador de

    maior incidncia nos instrumentistas de cordas. Esta apreciao deve-se

    fundamentalmente a fatores de risco como a exigncia tcnica do prprio instrumento

    e, por conseguinte, s exigncias tcnicas do repertrio destes instrumentos

    comparativamente com os de sopro, tratando-se, portanto, de instrumentos que

    obrigam a uma elevada repetio de movimentos. Num estudo que abrangeu 2122

    msicos da ICSOM (Internacional Conference of Symphony and Opera Musicians), 76%

    das respostas validadas afirmam sofrer de, pelo menos, um problema mdico com

    suficiente gravidade para afetar o desempenho da sua atividade, sendo ainda que, dessa

    amostra, 36% sofriam de quatro problemas graves (Bejjani, Kaye, e Benham 1996).

    Acima disso, o peso dos instrumentos de sopro so suportados apenas pelos dedos ou

    polegares dos instrumentistas. Para a maioria dos instrumentistas de cordas (em

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    especial os violinistas e violetistas), o peso do instrumento suportado pelo ombro

    (Heming 2004). Para alm disso, podemos ainda incluir outros fatores de risco decisivos

    como o gnero, o ndice de massa corporal (IMC) e o nmero de anos que o msico tem

    tocado o instrumento. Este ltimo , no entanto e para o efeito, um mtodo de difcil

    interpretao por no apresentar, em concreto, indicadores da existncia de leses ou

    defeitos corporais (Zaza e Farewell 1997). Bejjani, Kaye, e Benham (1996) reforam o

    terceiro fator, apercebendo-se de que a probabilidade de surgirem sintomas

    musculoesquelticos aumenta com o aumento do contacto experienciado com o

    instrumento. Isto sugere que as alteraes musculoesquelticas podero ser adaptativas

    e que, por isso, destacam a importncia do treino e nvel da experincia. Nas grandes

    orquestras de msica clssica, este um fenmeno comum na medida em que tendem a

    integrar msicos com um elevado grau de experincia, o que significa que j estaro

    numa fase onde o risco de leses estatisticamente superior.

    Os violinistas e violetistas apresentam os sintomas mais acentuados, no apenas pela

    assimetria da postura que tomam ou do tipo de movimento associado (esttico ou

    repetitivo) que analismos anteriormente, mas tambm pelo posicionamento dos

    braos. Noutro estudo feito a partir de questionrios e a um total validado de 235

    msicos (incluindo maioritariamente violinistas) de diferentes tipos de orquestras

    revela que os que desempenham a atividade com os braos elevados apresentam um

    valor percentual de prevalncia de dor no pescoo ou ombro superior aos que se

    apresentam com os braos em posio neutra (Figura 12). Ademais, as dores nos

    ombros/pescoo esto presentes mesmo em perodos de pouca atividade diria de um

    violinista (Nyman 2007).

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    Figura 12- Prevalncia de dor nos ombros/pescoo nos dois diferentes grupos (Nyman 2007).

    Contudo, as leses provocadas nos ombros so as mais comuns por se deverem

    necessidade de apoiar o instrumento de forma assimtrica, aliando ainda o peso

    provocado pela mandbula do violinista para estabilizar o seu instrumento. Com o

    auxlio de uma almofada de violino, o esforo e a consequente leso podero ser

    atenuados significativamente, melhorando o desempenho do violinista. No caso das

    violas de arco, este problema maior por se tratar de um instrumento maior e mais

    pesado levando a um aumento acrescido do esforo dos msculos dos ombros e dopescoo (especialmente no msculo supra-espinhal). Num estudo conduzido por Blum

    e Ahlers (1994) sobre as caractersticas das violas de arco, comprovado que as leses

    so menos comuns em instrumentos mais pequenos comparados com os instrumentos

    maiores (Reynolds 2009).

    Associado s leses da extremidade superior esquerda est tambm o aumento da

    extenso do cotovelo, a hiperextenso do pulso e a supinao do antebrao. As

    principais causas tm origem nas articulaes dos dedos da mo e com estes esto todos

    os msculos, tendes e articulaes associados a toda a extenso do brao. No entanto,

    um movimento ou posio no , s por si, responsvel pelos sintomas mas sim, todo o

    conjunto de movimentos mencionados.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    Posio neutra

    do brao

    Posio neutra

    do brao

    Posio elevada

    do brao

    Posio elevada

    do brao

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    Carcter do mercado e anlise comparativa2.5.

    O Mercado surge, neste captulo, como uma reviso fundamental no processo de

    desenvolvimento da almofada de violino. ele o principal gerador de oportunidades e,

    por conseguinte, de ideias que influenciaro todo o desenvolvimento desta temtica.

    Pretende representar todo o mercado associado s almofadas de violino e viola de arco.

    Num contexto empresarial, o estudo de mercado representa a anlise e comparao

    exaustiva e contnua de produtos ou servios de um determinado segmento na qual a

    empresa se pretende posicionar e na qual pretende investir (Ko et al. 2012). Neste

    mercado e mbito em concreto, existem apenas condies para a realizao de uma

    breve anlise sobre as principais almofadas de violino e dos segmentos que as

    distinguem.

    Os comportamentos que caracterizam um determinado mercado dependem muito do

    ambiente no qual est inserido, tais como a economia, a poltica, a religio e as

    dimenses culturais, a histria e os costumes predominantes de uma dada regio ou

    pas (Hassan, Craft, e Kortam 2003). Em mercados mais sensveis onde a componente

    artstica est envolvida (como o da presente investigao), dever-se-o tambm

    atender a comportamentos de ordem educativa, social e psicolgica. Como exemplo, a

    msica toma um papel importante como disciplina integrante e decisiva na educao e

    no crescimento psicolgico das crianas. Para alm disso, a msica toma a forma deterapia para pessoas portadoras de deficincias mentais ou com determinadas lacunas

    tais como a dificuldade de comunicao, concentrao ou o controlo da ansiedade.

    O mercado das almofadas de violino tambm est e deve estar ciente dos valores

    culturais e histricos dos consumidores pois so estes que podero gerar oportunidades

    de negcio. Em primeira anlise, o crescimento deste mercado lento e instvel pelo

    facto de se concentrar num domnio musical muito reduzido. Esta concentrao deve-se

    fundamentalmente prevalncia e imposio de luthiers e outros construtores

    especializados na produo artesanal de instrumentos de cordas, que seguem, desde h

    muito, este percurso. Para alm destes, qualquer empresa com capacidade para produzir

    uma almofada de violino, opta por faz-lo por considerar ser uma oportunidade de

    negcio vivel.

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    Com o desenvolvimento da tecnologia e dos mtodos de produo em massa, este

    mercado tem vindo a sofrer desta instabilidade pois subsiste ainda uma relao prxima

    com o artesanato especializado na produo de instrumentos ao nvel local. O

    comportamento atual de consumo , pois, traduzido num forte impacto entre a

    tecnologia, a cincia e o artesanato especializado em que o consumidor tende a ter cada

    vez mais dificuldades em decidir que almofada a escolher.

    A justificao para todas as controvrsias existentes prende-se muito com a principal

    caracterstica influenciadora nas almofadas: o conforto relativo. Independentemente das

    diferenas anatmicas e fisiolgicas entre os utilizadores, aquilo que considerado

    confortvel para um, pode no o ser para outro. Alm disso, a instabilidade deste

    mercado caracterizada pela imprevisibilidade, no sentido em que qualquer indivduo

    especializado na construo de instrumentos poder fazer oscilar os restantes

    segmentos do mercado, quer seja um indivduo, um pequeno grupo ou uma

    organizao. Uma almofada com um fim bem definido e direcionado de utilizao pode

    no representar o pblico-alvo a que se destina. Isto deve-se relatividade e

    subjetividade da avaliao e perceo dos consumidores sobre uma determinada

    almofada. Por este mesmo facto se verifica que grande parte das decises de consumo

    so influenciadas pela experincia individual dos professores de msica por ser um

    instrumento tecnicamente exigente e em que a aprendizagem , em muitos casos,

    adquirida em diversas escolas de msica (conservatrios, academias, faculdades, etc.).

    Hoje em dia, as poucas empresas de produo massificada integradas no setor musical

    obtm resultados positivos muito pela estratgia de envolvimento adotada. Elas criam

    uma forte proximidade, tanto com a integrao de consumidores ou utilizadores finais

    (violinistas e violetistas), como de luthiers e outros construtores especializados. Por

    outro lado, um mercado com um ritmo de vendas (e consequente retorno financeiro)

    muito reduzido, justificado pelo elevado tempo de vida til das almofadas (cerca de 4 a

    6 anos), dificultando o crescimento e o desenvolvimento nesta rea. Deste modo, a

    oferta deste tipo de produtos e deve ser reduzida e controlada, ou seja, proporcional

    pouca procura existente e dimenso do segmento. Por estas razes, os responsveis

    pelos estabelecimentos de venda vem-se obrigados a procurar expr uma grande

    variedade de produtos musicais, incluindo at equipamento musical eletrnico. Nestes

    mesmos espaos de venda, os vendedores restringem a prpria variedade de produtos

    de forma a acomodar o maior nmero de produtos capazes de satisfazer as necessidades

    dos consumidores interessados na vertente musical.

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    Todos estes fatores levam a que muitos destes espaos se resumam, em mdia,

    disponibilidade de uma ou duas almofadas de violino.

    A quota atual de mercado das almofadas de violino pertence, na sua grande maioria, a

    duas marcas: Wolf e Kun Shoulder Rests. Para alm da estratgia de integrao deespecializados, estas empresas reuniem as tecnologias e os processos de produo

    massificada necessrios satisfao das necessidades ao maior nmero de

    instrumentistas. Numa primeira fase, estas companhias competiam com os luthiersde

    forma direta. medida que estas companhias cresciam e se distanciavam dos mtodos

    de produo artesanal, o crescimento concorrencial entre elas foi igualmente crescendo.

    O sucesso de vendas deve-se igualmente capacidade de distribuio dos seus

    produtos, fazendo uso de fornecedores para atingir uma grande quantidade de pases,

    incluindo Portugal. J os luthierse outros pequenos grupos de conceo de almofadas

    no tm os meios necessrios a este tipo de distribuio at porque satisfazem, em

    primeiro lugar, os clientes ao nvel local.

    Uma das grandes vantangens que justifica a iniciativa de desenvolvimento deste

    produto tem tambm a ver com a existncia de um elevado nmero de violinistas e

    violetistas nas orquestras (comprovado no3.1). A sua estrutura j bastante consistente

    e definida (com sculos de existncia) e no depende do estilo musical a que cada

    orquestra se associa ou, to pouco, dimenso da mesma. O resultado traduz-se num

    volume de vendas superior a muitas outros acessrios da vertente musical e que

    viabiliza o prprio negcio.

    Antes de indicar e avaliar as mais variadas marcas e almofadas associadas, importante

    fazer reparar que no existe qualquer terminologia dada s tipologias das almofadas,

    isto , que permitam distinguir os mais variados tipos. Para que estas possam ser

    discriminadas ao longo da dissertao, optou-se por designar cada uma das tipologias

    baseadas nesta anlise de mercado (Figura 13). A primeira caracteriza-se pela notria

    presena de um ou mais suportes ou ps que seguram a almofada ao instrumento.Tm tambm, por norma, uma variedade significativa de ajustes. A segunda, como o

    prprio nome indica, apresenta-se sob a forma de uma almofada tpica, entrando em

    contacto com a caixa do instrumento. O seu interior composto por ar sob presso ou

    materiais flexveis (espumas de poliuretano).

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    Figura 13 Tipos de almofadas existentes no mercado e respetiva designao adotada (publicado por

    Shar Products Company e Musicians friend inc.)

    A anlise deste mercado iniciou-se ao nvel nacional, percorrendo a grande maioria dos

    estabelecimentos de venda da zona centro da cidade do Porto e Leiria. Uma vez mais,

    comprovou-se que as almofadas das referidas marcas so as mais comuns. J a anlise

    internacional partiu de fontes de informao disponveis nos stios onlinedas empresas

    produtoras, fornecedores e de outras organizaes de venda de produtos, bem como

    catlogos oficiais de venda de instrumentos e acessrios presentes em muitos espaos

    de venda. Para processar toda a informao recolhida, foram definidos, de um modo

    intuitivo, vrios parmetros que permitissem avaliar e distinguir as diferentes

    almofadas. A Tabela 1 apresenta as almofadas de violino que mais surgiram entre os

    violinistas e violetistas observados e atendem ao custo unitrio relativo e s

    funcionalidades associados. Algumas destas, no entanto, eram um pouco subjetivas e

    de difcil comparao, tais como, o valor relativo, os materiais e as funes ou ajustes

    que ela concedia. Todos estes parmetros preenchidos permitiram extrair, por sua vez,

    um conjunto de problemas ou oportunidades existentes neste mercado e que

    desempenham um papel fundamental no rumo de todo o projeto envolvido. Um

    exemplo bem visvel o da grande competitividade em torno das almofadas de

    suporte, onde as grandes empresas e os luthiers localizados procuram partilhar o

    mesmo segmento de mercado.

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    Tabela 1 Mercado global das principais almofadas de violino.

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    Como j foi dito, este produto e a avaliao tida pelos utilizadores sobre o mesmo

    bastante subjetiva pelas diferenas que os distinguem, dando espao para que outro

    tipos de almofadas se insiram no mesmo segmento de mercado. Um utilizador que est

    acostumado a no usufruir de qualquer acessrio opta habitualmente por uma almofada

    tradicional. Aqueles que esto mais dependentes da prpria estrutura anatmica

    (como, por exemplo, ter o pescoo comprido) acabam mais facilmente por escolher uma

    almofada de suporte que lhe permite uma postura mais natural de utilizao.

    Tendo a seu favor todos os meios tecnolgicos de que dispem, as principais marcas de

    referncia direcionam os seus esforos a diferentes pblicos-alvo para dar resposta s

    diferentes necessidades deste mercado em concreto. No caso da Wolf, a estratgia

    aponta para almofadas de baixo custo com uma qualidade funcional bastante acima da

    mdia de almofadas existentes. Cada modelo abrange conceitos destinados a

    necessidades diferentes. Umas pretendem, em detrimento do nmero de ajustes,

    reduzir o custo de venda da almofada. Outras pretendem, em detrimento do conforto

    percebido, aumentar a variao de ajuste. Apesar da grande capacidade de

    adaptabilidade da Wolf, a Kun a que apresenta acrescido valor s suas almofadas pela

    confiana que tem vindo a deixar nos consumidores.

    Com isto, o mercado atual aparenta ser constitudo por dois principais tipos de

    consumidores. Um est confinado funcionalidade das almofadas, atravs dos materiais

    e tecnologias. A maioria destes utilizadores so profissionais pois requerem da mxima

    eficincia durante a sua utilizao. O outro tipo de consumidor no , ao contrrio do

    primeiro, totalmente dependente da funcionalidade, destacando-se pelas caractersticas

    estticas e de contextualizao histrica.

    Estas marcas concebem ainda modelos prprios para acomodar necessidades bastante

    especficas. o exemplo da transportabilidade atribuda s almofadas de violino para

    que possam ser arrumadas nas caixas dos instrumentos, levando a um aumento ligeiro

    do custo unitrio. Outros modelos existentes no mercado procuram solucionar aadaptabilidade da prpria almofada que est em contacto com o violinista, ao incluir

    materiais maleveis ou susceptveis de deformao (como o caso dos modelos Wolf).

    Muitas das restantes empresas e pequenos grupos inserem-se competitivamente nos

    modelos de gama baixa destas duas grandes empresas (Wolf e Kun) onde procuram um

    volume de vendas considervel. A baixa quota de mercado das almofadas tradicionais

    motivada por dois aspetos significativos: custo relativo elevado e elevada ressonncia

    sonora.

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    Para a grande maioria dos violinistas e violetistas, esta tida como uma caracterstica

    muito importante para o desempenho das suas atividades.

    Posto tudo isto, o mercado parece comportar-se de um modo peculiar. Constitudo

    maioritariamente por solues relativamente repetitivas e limitadas, e dado tambm aoscomportamentos de utilizao abrangentes grande maioria, os violinistas e violetistas

    parecem no estar totalmente satisfeitos com o que utilizam.

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    A patente registada mais antiga data de 1970, altura em que j se comeavam a

    massificar facilmente todo o tipo de produtos, incluindo, naturalmente, as almofadas de

    violino e viola de arco.

    Esta patente corresponde Kun, que a registou cinco anos aps a sua fundao, dando

    um importante passo para o posterior lanamento de novas almofadas. Tambm a Wolf

    detm as patentes mais antigas de que h registo, sendo uma delas de 1976, cuja

    inveno ainda hoje empregada para a introduo de novas almofadas ou variantes da

    mesma almofada.

    A amostra representativa do mercado ao nvel mundial detm cerca de quarenta

    documentos patenteados originais, o que representa um nmero significativo em

    comparao com a sua dimenso. Da mesma maneira se compreende que uma boa

    parcela destas patentes corresponde a modelos espordicos produzidos por luthiers.

    Considerando, numa primeira fase, que a definio do pblico e as necessidades

    inerentes esto ainda por definir, conveniente no excluir patentes que paream ser

    menos importantes. Algumas delas foram intuitivamente excludas por serem

    consideradas inadequadas ao futuro desenvolvimento presente nesta investigao.

    A primeira e principal patente original (DE2009097) diz respeito implementao de

    braadeiras bifurcadas ou ps e tm como objetivo segurarem a almofada ao

    instrumento com o mnimo contacto possvel (Figura 14)Isto previne que o instrumentovenha a produzir ressonncia sonora durante o momento de frico das cordas. uma

    patente citada por muitos outros produtores especializados que consideraram relevante

    a sua aplicao para o seu sucesso de implementao no mercado.

    Outra patente relevante (WO2004077399) para o desenvolvimento da almofada

    pertence Kune dispe de um mecanismo que proporciona um movimento adicional

    ao ajuste da almofada no utilizador. Este mecanismo dotado das mais recentes

    tecnologias da companhia, refletindo sobre a elevada gama de produto associada.

    Na patente correspondente marca Linnd, sobressalta a importncia da estabilidade em

    produtos de forte componente de utilizao e interao com o utilizador. Esta

    caracterstica garantida pela existncia de uma dupla estrutura longitudinal que inibe

    a presso exercida nas braadeiras bifurcadas.

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    Figura 14 -Primeiras patentes criadas pela Kun ( esquerda) e pela Wolf ( direita) (publicado por

    Derwent Innovations Index).

    Todas a anlise efetuada forma um importante passo para o crescimento do mercado e

    das solues concretas para as almofadas de violino e evita que estas possam ser

    copiadas para o futuro desenvolvimento. So inseridas neste contexto pois so parte

    integrante do contributo que se pretende dar s mesmas.

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    Metodologia da Investigao.

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    3. Metodologia de Investigao.

    Mtodos de estudo do utilizador3.1.

    Independentemente do conhecimento e experincia de um investigador sobre uma

    determinada especialidade, este no deve, se pretender encontrar problemas de

    usabilidade inespectveis, excluir a possibilidade de utilizao de mtodos empricos no

    processo de design(Jordan 1998). Serve isto para mostrar que um investigador com esta

    carcter poder no ter as mesmas necessidades, dificuldades, hbitos ou reaes que

    um utilizador. Na realidade, esta observao foi identificada numa fase inicial da

    investigao quando caractersticas aparentemente suprfluas para o investigador se

    revelaram valorosas para o utilizador.

    A metodologia que se pretende abordar parte, sobretudo, do ambiente em que se insere

    o produto ou a que se pretende que esteja associado. Se se pretender conceber um

    produto direcionado para um mercado amplo, natural que os resultados da

    metodologia aplicada sejam divergentes pela dimenso da amostra que lhe inerente.

    No caso em concreto, pretende-se conceber um produto abrangido pela vasta

    experincia de violinistas, fazendo com que as necessidades destes e os resultados

    obtidos se intercetem. (Jordan 1998).

    Antes de introduzir os mtodos adotados, importante perceber que estes atendem a

    um conjunto de fatores como o tempo de execuo, capacidade e conhecimento

    possvel, equipamento necessrio disponvel, nmero de participantes envolvidos,

    disponibilidade dos mesmos e, de realar, o contexto de utilizao. Estes dividem as

    metodologias presentes na literatura em dois tipos de dados: quantitativa e qualitativa.

    De um modo sucinto, as que se associam informao quantitativa so teis para

    responder pergunta o qu? e a qualitativa pergunta porqu? (Nan et al. 2011). A

    segunda metodologia mencionada adaptada para este projeto na medida em que

    consegue fornecer dados descritivos ricos, facilmente capazes de diagnosticar os

    problemas e as solues para as mesmas no contexto de desenvolvimento de um

    produto. Afinal de contas, o contacto direto e aprofundado entre o investigador e o

    utilizador que viabiliza uma compreenso mais detalhada sobre o que este pensa ou faz

    em determinadas circunstncias.

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    No entanto, envolve despender de mais algum tempo para contactar com os

    intervenientes selecionados e combinar encontros para discusses ou entrevistas. A

    Tabela 2 representa o paradigma (qualitativo) utilizado na conduo desta investigao

    e as diferenas contrastantes entre as caractersticas que os distinguem.

    Tabela 2 - Caractersticas dos Paradigmas Qualitativos e Quantitativos, baseado em Reichardt,

    Solana, e Cook (1986).

    Para alm de qualitativa, a metodologia baseada na metodologia de Ulrich-Eppinger

    (2008) e normalmente aplicada a um grande conjunto de produtos pelo seu carcter

    intuitivo e genuno. Contudo, muitos destes processos variam consoante o produto a

    que se destina, incluindo o presente desenvolvimento da almofada de violino. De acordo

    com ele, o processo de identificao das necessidades deve ser visto apenas como um

    ponto de partida e no como um processo rgido, sendo constitudo pelas seguintes

    cinco fases:

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    1. Recolha da informao crua a partir dos utilizadores.

    2. Interpretao da informao crua em termos de necessidades dos utilizadores.

    3. Hierarquizar as necessidades em primrias, secundrias e (se necessrio) em tercirias.

    4. Estabelecer a importncia relativa das necessidades.

    5. Refletir sobre os resultados e o processo.

    Para alm da primeira fase (descrita no3.1), a interpretao da informao crua partiu

    dos registos efetuados ao longo das observaes, registos udio e apontamentos

    resultantes das entrevistas e do envolvimento contnuo do utilizador (Cohen e Crabtree

    2006). Alm disso, as necessidades mais evidentes foram sendo listadas num documento

    prprio, dando liberdade a outras que surgissem posteriormente. Aps a recolha de

    todas as necessidades (Figura 33), elaborou-se uma tabela (ver os Resultados da

    Metodologia) que permitiu definir os requisitos de produto em paralelo com asmesmas.

    Na terceira fase, o investigador hierarquiza as necessidades de acordo com o nmero de

    opinies semelhantes entre todos os intervenientes no projeto. Considerando que esta

    dissertao integra apenas um interveniente (utilizador final), a hierarquizao estar

    unicamente dependente dele.

    As duas ltimas fases revelaram-se decisivas no processo de identificao das

    necessidades e rematam todo o trabalho desempenhado ao longo do presente captulo.

    Para a quarta fase, restou apenas perceber quais as necessidades/requisitos mais e

    menos importantes para o utilizador de forma a garantir uma boa coeso dos objetivos

    para o projeto e para a almofada.

    Para a fase de recolha, utilizaram-se entrevistas (livres e semi-estruturadas), observao

    direta no-participante e o prprio envolvimento contnuo como mtodos de obteno

    das necessidades do utilizador. As entrevistas livres, utilizadas nos primeiros encontros

    com os violinistas e luthiers, serviram para libertar os intervenientes de quaisquerobstculos que se impusessem comunicao.

    Apesar do tipo de estrutura, as entrevistas dadas foram sempre suportadas por um

    guio, contendo perguntas que pudessem liderar o discurso, caso no seguisse o rumo

    pretendido. O investigador dever tentar gerar um ambiente harmonioso para que

    consiga obter a informao de que necessita para a sua investigao (Leech 2002).

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    As entrevistas semi-estruturadas serviram como forma de procurar obter respostas mais

    especficas e relativamente fechadas (Hermano Carmo 2008). O carcter de

    envolvimento e proximidade com os intervenientes fez com que o tempo de durao das

    estrevistas fosse totalmente aleatrio e, por isto, acabavam por durar mais do que era

    esperado (entre duas a quatro horas).

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    Este tipo de entrevistas exigem um conhecimento prvio por parte do investigador,

    dando sempre alguma liberdade para o interveniente se expressar. As entrevistas

    estruturadas no foram levadas em considerao por serem excessivamente formais,

    atendendo que estariam integradas num processo de envolvimento do utilizador

    (mencionado no3.2).

    Em particular, foram concebidos dois inquritos por entrevista com diferentes

    finalidades, isto , para intervenientes de reas distintas. Um direcionado para o

    violinista envolvido e o outro para os luthiers (ver 3.2). No inqurito ao violinista,

    pretendia-se descobrir, suncintamente, as consequncias provenientes da sua atividade,

    bem como os fatores que influenciavam esses problemas. Por se tratar de um inqurito

    extenso, surgiu a necessidade de ordenar e agrupar todas as questes consoante a

    relao do contedo existente entre elas. J no inqurito feito aos luthiers, a quantidade

    de questes e a diversidade do contedo no eram suficientes para efetuar essa

    organizao.

    Para gerir melhor a informao, o inqurito ao violinista foi dividido em seis grandes

    grupos: pessoais; de relao entre almofadas; de relao com o meio envolvente; de

    relao com a posio, de relao com os aspetos tcnicos; de prosperidade (verFigura

    15).

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    As de relao com o meio envolvente, como o nome indica, procuram perceber o

    modo como o meio (que envolve os violinistas) pode afetar o desempenho da sua

    atividade. Como exemplo, um violinista que se situe esquerda da partitura musical

    toma, por hbito, uma postura diferente da do violinista que se encontra direita do

    mesmo.

    Por ltimo, as questes de prosperidade procuram descobrir obstculos com que o

    violinista se debate diariamente ou expectativas e conceitos idealizados a longo prazo.

    Muitas vezes, os utilizadores deparam-se com obstculos que identificam na sua

    atividade diria e que no conseguem ver resolvidos por razes diversas. Cabe ao

    investigador identificar esses mesmos obstculos e, numa fase posterior, traduzi-los em

    solues de design.

    A partir destas questes, identificou-se um conjunto de problemas na almofada e que

    so relevantes para o utilizador. Entre elas est a necessidade de ajustar as dimenses da

    almofada de forma precisa, adaptando-se tanto ao violino como ao utilizador. O

    desgaste e consequente falta de aderncia do corpo da almofada, provocada pelo

    contacto com o violinista, acaba tambm por influenciar a sua postura e obrigar o

    violinista a reposicionar o violino com maior frequncia. Este comportamento foi

    detetado durante a realizao das observaes da orquestra (ver 3.2) e verifica-se

    independentemente da anatomia do violinista ou das almofadas atuais. O peso da

    almofada no dever ser posto de lado contando que tem fundamental incidncia sobre

    as tenses e dores geradas durante a atividade.

    Durante os ensaios ou concertos da orquestra (ver O Pblico-alvo e os intervenientes

    envolvidos), os violinistas adotam, por hbito, dois tipos de posturas: ativa ou presente;

    e de repouso. A primeira , segundo o interveniente, a mais correta para tocar na

    medida em que o violinista consegue antever e controlar mais facilmente os eventos

    sucessivos da pea musical. uma postura ereta e prxima da partitura, onde apenas se

    utiliza a ponta da cadeira (Figura 16).

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    Figura 16 Posio ativa.

    A de repouso, como o prprio nome indica, uma postura segundo o qual o violinista

    apoia a coluna vertebral na cadeira, dificultando a expresso dada ao som que produz

    no violino. Apesar de facilitar o conforto, considerada como uma conduta incorreta e

    pouco tica perante o pblico e a restante orquestra.

    No comum encontrar almofadas tradicionais entre os elementos da orquestra. Nelas

    permanece a ideia de que o seu contacto poder ferir o verniz e a madeira do violino,

    bem como reprimir parte do som gerado pelo instrumento (opinio partilhada por

    muitos violinistas). Para alm disso, no garantem altura de ajuste suficiente para

    confortar o violinista ou mant-lo sob uma postura ereta e relaxada. Tudo isto no

    implica que grandes violinistas no possam ou deixem de usufrui-las pois cada um

    procura adaptar-se independentemente da qualidade da almofada.

    A capacidade de execuo tcnica e expressiva de um violinista apresenta-se de

    mltiplas formas (dinmicas, acentos, ornamentos, articulaes, entre outras)

    consoante a linguagem exigida pelas obras musicais e a interpretao pretendida. Todas

    elas influenciam os movimentos do violinista, exigindo estabilidade e firmeza por parte

    da almofada. Porm, muitas delas tm pouca ou nenhuma influncia direta sobre os

    movimentos do brao esquerdo. Ao longo das entrevistas e das explicaes sob a forma

    de interao com o instrumento, pde-se concluir que as maiores causas para a

    instabilidade da almofada se deviam a movimentos de rotao e translao do brao

    esquerdo, do dedilhado e do arco.

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    O primeiro , possvelmente, o principal influenciador e abrange eventos tcnicos como

    a mudana de cordas (exemplo: arpejos), acordes complexos e mudanas de posio

    (Figura 17).

    O segundo implica que o violinista segure bem o instrumento com a queixo para efetuardedilhados que instabilizam a almofada, tais como vibrato, mudanas de posio ou

    mesmo harmnicas soltas.

    Figura 17 Posio inicial e final do brao esquerdo aps mudana de posio.

    Por fim, os rpidos movimentos do arco so responsveis por fazer oscilar o corpo do

    violinista e, consequentemente, a almofada de violino. Nenhum destes problemas

    passou fase de interpretao pelo facto de no serem diretamente relevantes para a

    almofada a conceber. No entanto, funcionam como problemas complementares,preenchendo o conhecimento geral do investigador e daqueles que prentendam dar

    seguimento no mesmo mbito.

    O mtodo da observao de campo teve um impacto reduzido no processo de

    identificao de necessidades. Apesar de tudo, serviu como um mtodo emprico

    complementar, contribuindo, de forma holstica, para o conhecimento sobre a atividade

    do violinista. O da observao de campo visto, como o prprio termo indica, como

    um mtodo que envolve a observao de utilizadores no ambiente sobre o qual esto

    familiarizados, podendo revelar detalhes importantes na procura pelas necessidades do

    utilizador (Jordan 1998; Iivari e Iivari 2011). Ao contrrio de muitos outros, este mtodo

    tem a particularidade de fornecer dados factuais, pois aquilo que o utilizador diz poder

    no corresponder com o que faz (Robson 2002).

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    A observao introduzida j numa fase avanada de envolvimento do utilizador (ver

    3.2) devido s dificuldades erguidas para observar o violinista em contexto real de

    utilizao. A presena nos trs ensaios da Orquestra Sinfnica do Porto, na Casa da

    Msica, surgiu como uma boa oportunidade para observar, no s o violinista envolvido

    no projeto, mas tambm os restantes violinistas e violetistas. Deste modo, permitiu

    comparar posturas, comportamentos e hbitos de utilizao do violino atendendo a

    fatores como a anatomia, a idade ou o tipo de almofada. A presena nestes ensaios

    implica uma observao direta, ou seja, em contexto natural dos violinistas e no-

    participante pelo que o observador no interage com os msicos (como objetos de

    estudo). Este tipo de observao corresponde com os objetivos desejados pois faz com

    que o investigador no interfira com o desempenho dos msicos observados e, ao

    mesmo tempo, no perca controlo dos acontecimentos.

    Hermano (2008) faz referncia ao indicador como um instrumento construdo com o

    objetivo de revelar certos aspetos pertinentes de uma dada realidade e que, de outro modo,

    no seriam percetveis. Nas nossas vidas quotidianas, utilizamos intuitivamente os

    indicadores para selecionar a informao relevante e aquela que no corresponde s

    nossas pretenses.

    O guio de observao (ver Figura 18) foi estruturado de acordo com um conjunto de

    diferentes indicadores responsveis por abranger todos os objetivos propostos. Para

    facilitar o processo de correspondncia entre os mais variados indicadores e

    observaes, optou-se por numerar cada um deles. Em situaes como esta,

    aconselhvel partir de indicadores percetveis ou passveis de serem identificados em

    qualquer circunstncia (exemplo: indicadores demogrficos) para outros possam ser

    mais facilmente construdos. Posteriormente, procuram-se indicadores tcnicos,

    normalmente associados postura do violinista que poder depender dos eventos

    tcnicos, do tipo de almofada que utiliza ou mesmo do meio envolvente. No final do

    ensaio, atender-se- aos indicadores espordicos ou de difcil perceo tais como as

    expresses faciais ou certos movimentos de estiramento que procurem identificar a

    origem das tenses ou dores musculares e nervosas.

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    Figura 18 Guio de observao constitudo por indicadores e respetivas categorias.

    Cada um dos ensaios da Orquestra Sinfnica do Porto duraram cerca de trs horas,

    dando espao para observar cuidadosamente cada indicador e refletir sobre a eventual

    existncia de outros. Ao mesmo tempo, permitiu adotar uma observao mais exigente,

    facultando, no apenas o mero registo dos acontecimentos, mas tambm as suas causas

    e consequncias (Baxter, Taylor, e Francis 2007).

    Os primeiros indicadores revelam que 45% (41 violinistas e violetista) dos elementos

    desta orquestra so violinistas e violetistas. Estes valores no devero estar longe da

    realidade das restantes orquestras a nvel mundial, alm de que a prpria dimenso

    desta amostra representativa contribui para uma estimativa confiante dos dados.

    Contudo, no implica que todos os violinistas e violetistas das orquestras faam uso de

    almofadas. Porm, essa exceo regra no se verificou na presena dos ensaios desta

    orquestra.

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    As idades dos violinistas e violetistas no foram examinadas ao pormenor por no

    corresponderem ao intuito deste mtodo. Ainda assim, observou-se uma amplitude

    aproximada de trinta anos, isto , partindo dos 30 aos 60 anos de idade. Isto poder

    querer dizer que uma boa parte dos msicos poder j sofrer de leses provocadas pela

    atividade (analisado no2.4).

    A observao destes ensaios fez antever trs variveis individuais, isto , que

    caracterizam cada violinista e o modo como toca, influenciando a comparao entre os

    vrios indicadores: aprendizagem; anatomia; e almofada de violino (Figura 19). A

    primeira varivel diz respeito, no fundo, ao modo como o violinista aprendeu a tocar

    pois no existe ainda uma abordagem nica de ensino e cada professor leciona de

    acordo com aquilo que considera ser o melhor para os seus alunos.

    A segunda varivel influencia a adaptabilidade da almofada ao violinista. Aqui,

    verificou-se que os violinistas fisicamente mais bem constitudos tomavam uma postura

    mais ereta do que os menos constitudos. Este comportamento tem a ver, sobretudo,

    com a incapacidade que as almofadas tm em adaptar-se aos violinistas de pescoo

    comprido, obrigando-os a curvar o pescoo para a frente.

    Figura 19 Variveis que inflenciam a comparao das posturas dos violinistas.

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    A ltima refere-se preponderncia das caractersticas intrsecas almofada sobre o

    modo de utilizao do violino. As diferenas substanciais encontraram-se naqueles que

    faziam uso de almofadas tradicionais quando no tm condies anatmicas adequadas,

    obrigando-os a tomar uma postura excessivamente ereta e, de certo modo, tensa.

    Na categoria dos indicadores espordicos, verificou-se uma grande quantidade de

    reposicionamentos do instrumento a nvel geral, o que levou a concluir, de imediato,

    que as almofadas podero no