MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA...

18
MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual de Maringá/PR (UEM). [email protected] Edison Fortes - UEM. [email protected] Daiany Manieri - UEM. [email protected] RESUMO A Bacia do Rio Ivaí é uma das maiores do Estado do Paraná. Engloba, em seu território, algumas das regiões agroindustriais mais importantes do país, entre outras funções espaciais importantes. É território de mais de 100 cidades paranaenses, entre elas Maringá, Campo Mourão ou Apucarana. Este trabalho pretende apresentar uma compartimentação do relevo da região baseado em critérios morfográficos. A Bacia do Rio Ivaí foi dividida em Alto, Médio e Baixo Curso seguindo parâmetros geomorfológicos variados, como densidade de drenagem, padrão de distribuição dos rios ou distância entre canais. Deste modo, foi subdividida em unidades geomórficas menores associadas a diferenças na rugosidade da superfície. Sendo um rio de planalto, o Rio Ivaí apresenta uma grande variedade de formas resultantes de processos pretéritos e atuais, principalmente marcado pela sucessão de climas secos no Mesozóico e Terciário para climas tropicais no Quaternário. Apresenta um relevo acidentado no Alto Curso, decorrente das litologias sedimentares paleozóicas e diques de diabásio no mesozóico. Contém muitas formas associadas a relevos testemunhos, relacionados aos processos de recuo paralelo de encostas que construíram a Serra Geral. O médio curso é domínio de regiões planas associadas à bacia sedimentar do Paraná, resultando em solos profundos, podendo ser desde eutróficos até álicos, originários da decomposição das rochas basálticas. A região do baixo curso é marcada pela presença de afluentes controlados por falhas e cujo padrão de drenagem é subdendrítico. Estas falhas estão associadas à ocorrência de rochas areníticas friáveis da Formação Caiuá que favorecem o desenvolvimento de um relevo suave, com declividades inferiores a 5%. Palavras-Chave: Mapeamento Geomorfológico, Rio Ivaí, Geologia do Paraná ABSTRACT Ivai river’s basin is one of the biggest in the Paraná State. Contains some of the most important industrial agrary regions in the country, and also lots of important spatial functions. It is about one hundred cities’s territory, between then are Maringá, Campo Mourão or Apucarana. This work will show a relief compartimentation based in morfographic criteria. The Ivaí river’s basin were divided into Low, Medium and High Course following geomorphologic criteria, like drainage density, river distribution pattern, or distance between rivers. Following that criteria, the basin was subdivided in minor geomorphic unities, associated with surface’s different textures. Because it is a highland river, the Ivai River contains a large variety of relief types being a result of past and actual processes, marked by the sucession of dry climate types in the Mesozoic or Tertiary periods to tropical climate types in the Quaternary. The relief in the high course is severe, following the Paleozoic sedimentary rocks and Mesozoic diabase dikes. The basin has a lot of residual relief types, related to slope retreat processes that built Geral Mountainrange. The Medium course is dominated by plan regions associated to the center of the Paraná sedimentary basin, making deep soil types, fertile or infertile, result of the decomposition of basaltic rocks. The low course has lots of tributaries controlled by faults and the drainage pattern is sub-dentritic. Those faults are related to the happening of Caiuá Formation’s Sandstones, which result in a plan relief type, with inclination lower than 5%. Keywords: Geomorphologic Mapping, Ivaí River, Paraná Geology.

Transcript of MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA...

Page 1: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR

Fernando R. Santos – Universidade Estadual de Maringá/PR (UEM). [email protected] Edison Fortes - UEM. [email protected] Daiany Manieri - UEM. [email protected]

RESUMO

A Bacia do Rio Ivaí é uma das maiores do Estado do Paraná. Engloba, em seu território, algumas das regiões agroindustriais mais importantes do país, entre outras funções espaciais importantes. É território de mais de 100 cidades paranaenses, entre elas Maringá, Campo Mourão ou Apucarana. Este trabalho pretende apresentar uma compartimentação do relevo da região baseado em critérios morfográficos. A Bacia do Rio Ivaí foi dividida em Alto, Médio e Baixo Curso seguindo parâmetros geomorfológicos variados, como densidade de drenagem, padrão de distribuição dos rios ou distância entre canais. Deste modo, foi subdividida em unidades geomórficas menores associadas a diferenças na rugosidade da superfície. Sendo um rio de planalto, o Rio Ivaí apresenta uma grande variedade de formas resultantes de processos pretéritos e atuais, principalmente marcado pela sucessão de climas secos no Mesozóico e Terciário para climas tropicais no Quaternário. Apresenta um relevo acidentado no Alto Curso, decorrente das litologias sedimentares paleozóicas e diques de diabásio no mesozóico. Contém muitas formas associadas a relevos testemunhos, relacionados aos processos de recuo paralelo de encostas que construíram a Serra Geral. O médio curso é domínio de regiões planas associadas à bacia sedimentar do Paraná, resultando em solos profundos, podendo ser desde eutróficos até álicos, originários da decomposição das rochas basálticas. A região do baixo curso é marcada pela presença de afluentes controlados por falhas e cujo padrão de drenagem é subdendrítico. Estas falhas estão associadas à ocorrência de rochas areníticas friáveis da Formação Caiuá que favorecem o desenvolvimento de um relevo suave, com declividades inferiores a 5%. Palavras-Chave: Mapeamento Geomorfológico, Rio Ivaí, Geologia do Paraná

ABSTRACT

Ivai river’s basin is one of the biggest in the Paraná State. Contains some of the most important industrial agrary regions in the country, and also lots of important spatial functions. It is about one hundred cities’s territory, between then are Maringá, Campo Mourão or Apucarana. This work will show a relief compartimentation based in morfographic criteria. The Ivaí river’s basin were divided into Low, Medium and High Course following geomorphologic criteria, like drainage density, river distribution pattern, or distance between rivers. Following that criteria, the basin was subdivided in minor geomorphic unities, associated with surface’s different textures. Because it is a highland river, the Ivai River contains a large variety of relief types being a result of past and actual processes, marked by the sucession of dry climate types in the Mesozoic or Tertiary periods to tropical climate types in the Quaternary. The relief in the high course is severe, following the Paleozoic sedimentary rocks and Mesozoic diabase dikes. The basin has a lot of residual relief types, related to slope retreat processes that built Geral Mountainrange. The Medium course is dominated by plan regions associated to the center of the Paraná sedimentary basin, making deep soil types, fertile or infertile, result of the decomposition of basaltic rocks. The low course has lots of tributaries controlled by faults and the drainage pattern is sub-dentritic. Those faults are related to the happening of Caiuá Formation’s Sandstones, which result in a plan relief type, with inclination lower than 5%. Keywords: Geomorphologic Mapping, Ivaí River, Paraná Geology.

Page 2: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

INTRODUÇÃO

O presente estudo foi realizado de forma espacializar as formas do relevo do

terreno, sistematizando-os como compartimentos.

A espacialização das formas constitui a base do mapeamento geomorfológico, e

com ele se inicia o estudo ambiental e de planejamento. A partir do relevo, são avaliadas as

potencialidades da paisagem, bem como suas fragilidades. Este conhecimento do espaço

leva a uma reflexão de como ocupar o espaço, e das compartimentações do relevo podem

mesmo evoluir subdivisões políticas e econômicas.

Os compartimentos são definidos com base em pelo menos dois fatores: A escala

de trabalho e a forma do relevo em questão. Os fatos geomorfológicos têm como conceito

a "forma", trazido por Casseti, 2007. A "forma" do relevo seria o modo como a

morfoestrutura se manifesta no espaço, de modo a expressar a dinâmica da morfogênese no

terreno. Deste modo, a geomorfologia interessa à geografia, ao passo que ajuda a

classificar o funcionamento da paisagem e de como sua evolução afetou ou vai afetar a

apropriação deste meio.

Este estudo objetiva sistematizar o relevo na região da bacia hidrográfica do Rio

Ivaí, assim como complementar os estudos técnicos que foram realizados na área.

Os estudos técnicos realizados na região do vale do Ivaí foram desenvolvidos com

os trabalhos de Biazin (2005), sobre as características do Ivaí em sua confluência com o

Rio Paraná; Terezan (2005) sobre o leito maior do rio Ivaí em sua planície e Destefani

(2005) sobre o regime hidrológico do canal principal. Concomitantemente, o estudo de

Baldo (2006) versa sobre a dinâmica atmosférica na área, principalmente em relação à

pluviosidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Localização e caracterização da área de estudo

A Bacia do Rio Ivaí está localizada no Estado do Paraná, Sul do Brasil, ocupando

uma área de 35.845 km2 entre as latitudes 23°10'14" e 25°36'11 "S e longitudes 53°43'27"

e 50º4545,43'W (Figura 1).

Page 3: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

Figura 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Ivai no Estado do Paraná. Adaptado de Guiraud,

2004.

O canal principal nasce da confluência dos rios dos Patos e São João, e seu

quilômetro zero está localizado a 45 km ao norte do município de Teresa Cristina. O curso

principal se estende por aproximadamente 685 km até sua confluência com o Rio Paraná.

A área total é de 35.845km2, correspondente a 26% do território paranaense. Constitui-se

dessa forma como a segunda maior bacia hidrográfica do estado.

A vazão média do rio Ivaí, registrada pela Estação do Novo Porto Taquara

(próximo à confluência com o rio Paraná) é de 660,82 m3/s. A vazão mínima e a máxima

foram de 201,6 m3/s e 4968 m3/s respectivamente (Biazin, 2005).

No seu curso de SE para NW, o rio Ivaí drena uma série de unidades de paisagens

no Estado do Paraná, vinculados aos terrenos da Bacia Sedimentar do Paraná. O mergulho

para oeste, das camadas da bacia sedimentar permitiu o desenvolvimento de relevos de

"Cuestas" associadas a Serra Geral, localmente denominada de Serra da Boa Esperança.

As características favoráveis à agricultura da região fazem que ela seja uma das

principais fornecedoras de matérias-primas às indústrias, entre os produtos oferecidos estão

a cana, a soja, o algodão e o milho. Deste modo, a agroindústria regional emerge como

Page 4: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

uma das principais do país, com empresas como a COCAMAR (Cooperativa dos

Cafeicultores de Maringá).

O material trazido pelo rio fornece matéria-prima às olarias, gerando uma grande

demanda também por madeira para queima e fabricação de tijolos, telhas e cerâmicas. Isso

causa uma série de impactos nos rios locais, como o assoreamento dos canais e retirada da

cobertura vegetal original, que hoje se encontra reduzida a pequenas manchas (Biazin,

2005).

A bacia do Rio Ivaí compreende 105 municípios paranaenses, onde destacam-se

Maringá, Sarandi, Campo Mourão, Umuarama e Paranavaí. A região do vale do Ivaí

compreendia 1.990.000 habitantes em 2000, correspondentes a 21 % da população do total

do Paraná. Destas pessoas, 78% vivem na cidade (Baldo, 2006). Estas características fazem

da região do vale do Ivaí uma das mais importantes do Paraná, com fácil acesso e

recortado por algumas das principais rodovias, como a BR-376 ligando Nova Londrina à

Ponta Grossa e a BR-369, de Apucarana à Londrina.

Este trabalho vem preencher uma lacuna na sistematização do espaço físico da

bacia hidrográfica do Rio Ivaí, propondo uma classificação do relevo da área baseado em

características geográficas.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia deste trabalho é proposta por Ross (1990), sobre uma classificação

das formas baseada em tamanho da região. Assim, o referido autor destaca as formas

seriam classificadas em táxons que corresponderiam ao tamanho da unidade classificada.

Assim, o autor destaca:

1º Táxon: Grandes unidades tectônicas, como escudos, dobramentos e

bacias sedimentares.

2º Táxon: Unidades morfoesculturais definidas pelo tempo e clima, tal como

depressões, planaltos e planícies.

3º Táxon: Unidades de modelados diferenciadas pelas semelhanças

topográficas e rugosidade de terreno.

4º Táxon: Agrupamento de formas semelhantes, que podem ser de

acumulação (terraços ou planícies fluviais e marinhas) ou degradação

(morros ou cristas).

5º Táxon: Tipos de vertentes ou das seções de vertentes.

Page 5: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

6° Táxon: Ações dos processos erosivos atuais, como voçorocas e ravinas.

No caso da bacia do Rio Ivaí, o primeiro táxon corresponde à Bacia Sedimentar do

Paraná. O segundo táxon seria as unidades do baixo, médio e alto curso (Figura 2).

Cada subunidade foi dividida em compartimentos menores, correspondendo ao

terceiro táxon. As diferenças entre as unidades morfofisiográficas referem-se à rugosidade

da topografia, diferença de altitude e declividade, bem como a ocorrência de diques de

diabásio ou falhas. Deste modo, este estudo foi realizado levando em consideração as

unidades do segundo táxon, chamadas de unidades hidrogeomorfológicas, e as unidades do

terceiro táxon, chamadas de unidades geomórficas.

O mapeamento das unidades se deu pelas imagens SRTM reprocessadas pela

EMBRAPA (Miranda, 2007), na escala de 1:250 000. As imagens foram inseridas no

software SPRING (Câmara, 1996)

que serviu para a vetorização dos

compartimentos.

Concomitantemente, a

topografia foi utilizada para

calcular modelos numéricos de

terreno e elaborar as cartas de

declividade e hipsometria,

utilizadas como dados

complementares para definir as

unidades de relevo. Estes dados

foram extraídos das cartas

topográficas SF-22-Y-A, SF-22-Y-

C, SF-22-Y-D, SG-22-V-B, SG-22-

V-D, SG-22-X-A e SG-22-X-C;

feitas pelo IBGE e digitalizadas

pela MINEROPAR (Figura 3).

Todos os produtos estavam

originalmente na escala de

1:250000.

Na etapa seguinte foram

Figura 2 - Compartimentação do Relevo na Bacia do Rio

Ivaí segundo as unidades morfohidrográficas. Organização:

Santos, F.

Page 6: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

compiladas cartas já existentes contendo informações de solo, vegetação, clima,

pluviosidade e etc. Estes produtos foram adaptados à área da bacia do Rio Ivaí e

vetorizados, de modo a acrescentar um panorama geoambiental ao estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Estado do Paraná apresenta duas unidades geotectônicas principais: O

Embasamento Cristalino e a Bacia Sedimentar do Paraná. A primeira é formada por rochas

ígneas e metamórficas do pré-cambriano e constituem a base litoestrutural do relevo do

Primeiro Planalto e da Serra do Mar. A Bacia Sedimentar do Paraná corresponde a uma

ampla depressão de origem tectônica, preenchida por rochas do Fanerozóico que

representam o embasamento do Segundo e Terceiro Planalto.

5.1 Embasamento cristalino

O embasamento da Bacia Sedimentar do Paraná está relacionado às rochas ígneas e

metamórficas do escudo formado no ciclo brasiliano. Essas rochas pré-cambrianas afioram

em várias áreas da América do sul, denotando uma continuidade por baixo da bacia

sedimentar (Brito, 1979).

No estado do Paraná, essas rochas mais antigas afloram na porção leste do estado.

Esta região é composta principalmente por quartzitos, migmatitos e mármores dolomíticos

(Thomaz, 1984). Esta área também protagonizou a formação da Serra do Mar, uma escarpa

de falha hoje bastante erodida. Durante a formação do embasamento da Bacia Sedimentar

do Paraná, uma calha deposicional formou uma série de alinhamentos de falhas de direção

geral SW-NE. Estas zonas de fraqueza têm sua formação relacionada com o ciclo

brasiliano (Zalán, 1990).

Os constantes abalos nas bordas das placas tectônicas refletiram na área

cratonizada, exercendo pressão sobre as rochas. As zonas de fraqueza são responsáveis

pelo alívio de pressão destes movimentos. Deste modo, os tectonismos impuseram

deformações ao embasamento, formando algumas das inflexões locais no terreno, como o

Arco de Ponta Grossa, e tiveram relação íntima com o episódio de derrame basáltico no

mesozóico.

Durante as eras posteriores, essas falhas formaram inúmeras flexões no arcabouço

que acabou por influenciar o modo com as rochas se organizaram e formaram o relevo

(Fulfaro, 1982).

Page 7: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

5.2 A Bacia do Paraná

A Bacia Sedimentar do Paraná é uma depressão de origem tectônica, formada de

rochas sedimentares representativas de ambientes sedimentares diversos do Fanerozóico.

Está localizada no centro-sul da América do sul e abrange uma área de mais de um milhão

e meio de quilômetros quadrados. Estas rochas apresentam distribuição que abrange os

territórios do Paraguai, Argentina e Uruguai, além dos estados brasileiros de Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e

Paraná.A seqüência estratigráfica da bacia segue um padrão de aproximadamente cinco

grandes deposições interrompidas por discordâncias temporais. As rochas mais antigas são

datadas do Período Devoniano, na Era Paleozóica, e a seqüência termina com arenitos do

Grupo Bauru da Era Mesozóica. A seqüência das formações e seu período de deposição

são apresentados na coluna geológica da figura 3.

O processo de deposição da Bacia Sedimentar do Paraná se iniciou no Período

Devoniano, num ambiente marinho com influências glaciais. Deste período resultaram as

formações Fumas e Ponta Grossa, as mais antigas da bacia formando a base da seqüência

sedimentar. (Thomaz, 1984). Posteriormente, a progressiva regressão marinha depositou os

arenitos e folhelhos do Membro Tibagi. Depois de uma descontinuidade, sedimentos

continentais depositam a Formação Campo do Tenente, ainda em ambiente glacial.

No Período Permiano, há indícios de deposições em ambientes continentais em um

clima mais úmido, resultando na Formação Mafra. Estas rochas foram depositadas em

ambientes fluviais e frios. Após este período, o mar transgrediu sobre a área, deixando

submersa por milhões de anos. Os sedimentos depositados nesse período resultaram nas

formações Rio do Sul, Rio Bonito e Palermo.

A regressão deste mar aconteceu no Período Carbonífero (final do Paleozóico) e

permitiu a deposição dos sedimentos representativos das formações Irati, Serra Alta,

Teresina e Rio do Rastro. A superficie descoberta resultante da regressão marinha estava

sob controle de um paléoclima árido, que reinou durante todo o Mesozóico. Este clima

explica a grande descontinuidade que se segue na Bacia do Paraná. Deste modo, as rochas

que cobrem a Formação Teresina foram depositadas somente na época lurássica Superior.

Alguns rios trouxeram sedimentos finos que se consolidaram formando as rochas da

Formação Pirambóia. A seca subseqüente formou um deserto. Foi este material que deu

origem à Formação Botucatu (Oliveira, 1978).

Durante a Era Mesozóica, o supercontinente de Pangea sofreu uma separação que

formou as massas continentais atuais. Antes dessa separação, houve uma grande atividade

Page 8: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

vulcânica que derramou uma grande quantidade de lava basáltica. As rochas que

resultaram deste derrame são chamadas de Formação Serra Geral (Figura 4).

Os dutos vulcânicos do derrame foram as zonas de fraqueza da Bacia do Paraná,

que foram preenchidas com material ígneo (Nardy, 2002) .Após o término dos derrames

basálticos, a região passou a

receber uma grande

quantidade de sedimentos

eólicos, formando as rochas da

Formação Caiuá. Estas rochas

encerram a estratigrafia da

Bacia do Paraná. Ainda há

sedimentos de origem fluvial,

mas por serem recentes ainda

não formaram rochas.

Normalmente estão presentes

na confluência dos grandes

rios paranaenses, inclusive o

Ivaí.

Figura 3 - Coluna Geológica da bacia do Paraná num perfil

hipotético SSW-NNW. A cronoestratigrafia é acompanhada de

uma estimativa do nível do mar na época e os eventos tectônicos

mais importantes que influenciaram na sedimentação da

seqüência. Fonte: Zalán, 199

4

Page 9: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

A bacia do Rio Ivaí no contexto do relevo paranaense

As características litoestruturais, paleoclimáticas e tectônicas tiveram importante

papel na estruturação do relevo do Estado do Paraná. Maack (1969) foi o primeiro autor a

perceber tais relações e a propor uma compartimentação do território paranaense, baseada

em dados em dados morfoestruturais. Assim, o referido autor propôs um primeiro nível de

classificação, no qual destacou de leste para oeste: a Zona Litorânea, a Serra do Mar, o

Primeiro, Segundo e Terceiro Planaltos.

Maack (op cit.) ainda subdividiu a Zona Litorânea em: orla marinha e orla da serra;

o Primeiro Planalto em: planalto de Curitiba, região montanhosa de Açungui e planalto de

Maracanã; o Segundo Planalto em: região ondulada do Paleozóico e região das mesetas do

Mesozóico; o Terceiro Planalto em: blocos planálticos de Cambará e São Jerônimo da

Serra; bloco do planalto de Apucarana; bloco do planalto de Campo Mourão, bloco do

planalto de Guarapuava e declive do planalto de Palmas.

A Zona Litorânea corresponde a área formada principalmente por depósitos

arenosos e argilosos inconsolidados depositados por ocasião de flutuações do nível relativo

do mar do Quatemário. Forma uma superficie relativamente estreita e plana, limitada a

oeste pelos contrafortes da Serra do Mar.

A Serra do Mar limita a Zona Litorânea a leste e o Primeiro Planalto a oeste.

Corresponde a uma extensa borda planáltica soerguida que se estende desde o Estado do

Espírito Santo até o norte do Estado de Santa Catarina. Sua evolução foi condicionada

pelos intensos processos tectônicos e erosivos que se manifestaram desde o Mesozóico,

com a formação de uma série de blocos falhados e erodidos voltados para leste (Almeida e

Carneiro, 1968).

O Primeiro Planalto forma uma ampla superficie aplanada do Terciário, cuja

paleosuperficie tangencia o topo da Serra de São Luiz do Purunã. O limite desse planalto

ocorre com a Serra do Mar a oeste e com a Serrinha a leste, que constitui um típico relevo

de Cuesta. O relevo característico desse compartimento são colinas suaves onduladas

modeladas sobre rochas ígneas e metamórficas do Escudo Atlântico. A intensa atividade

tectônica do Terciário possibilitou o desenvolvimento de depressões alongadas de direção

NE-SW, que foram preenchidas por sedimentos arenoargilosos em ambiente semi-árido.

O Segundo Planalto corresponde a uma superfície que se prolonga desde o norte do

Estado de São Paulo até o sul do Estado de Santa Catarina. Ross (1996) denominou essa

superfície de Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná e o IBGE (1977) de

Patamares da Bacia do Paraná. O limite se dá com o reverso da Serra de São Luiz do

Page 10: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

Purunã a oeste e o degrau em Front de Cuesta da Serra Geral. O relevo predominante são

colinas convexas modeladas sobre as rochas paleozóicas da Bacia Sedimentar do Paraná.

São comuns feições residuais como planaltos e morros testemunhos, que evidenciam

longas fases erosivas, marcadas por recuo paralelo de encosta em clima semi-árido. A

grande quantidade de diques de diabásio, que atravessa o Segundo Planalto no sentido NW

-SE, apresenta no local uma quantidade significativa de morros tabuliformes, longos e

interrompidos por vales estreitos e profundos.

O Terceiro Planalto corresponde ao maior compartimento de relevo do Estado do

Paraná. Seus limites ocorrem entre o reverso de Cuesta da Serra Geral a oeste e a calha do

rio Paraná a leste, na divisa com o Mato Grosso do Sul. As litologias características desse

compartimento são os basaltos da Formação Serra Geral e os arenitos da Formação Caiuá,

e que serviram de substrato para o relevo suave ondulado, com amplas vertentes convexas

e espessos mantos de alteração.

A bacia do rio Ivaí desenvolveu-se nesse contexto litoestrutural, constituindo-se

assim em uma bacia escavada por um rio antecedente ao processo de basculamento da

bacia. Corresponde a segunda maior bacia hidrográfica totalmente localizada em território

paranaense. A bacia tem sua área montante localizada no Segundo Planalto, quando o rio

Ivaí atravessa os alinhamentos de Cuesta em vales epigênicos da Serra Geral até alcançar o

Terceiro Planalto, quando conclui com o rio Paraná.

Mapeamento geomorfológico

A disposição alongada da bacia do Ivaí, de direção NW -SE, possibilita que os seus

rios constituintes drenem extensas faixas de rochas paleozóicas e mesozóicas da Bacia

Sedimentar do Paraná. Os aspectos litoestruturais da bacia, representados pela disposição e

inclinação das camadas da bacia sedimentar, bem como os diferentes graus de resistência

das rochas, possibilitam a diferenciação de três compartimentos geomórficos, definidos

como sistemas hidrogeomorfológicos, que são o Alto, Médio e Baixo Curso. Tal

diferenciação foi possível pela combinação dos elementos supramencionados com as

características hidrográficas (Figura 5).

A partir dos sistemas hidrogeomorfológicos foram identificadas unidades

geomórficas, representados por sub-compartimentos de relevo, definidos por padrões de

textura em imagens de radar (SRTM). Estas unidades estão associadas evolução

morfoclimática, que promoveu a intensificação da erosão diferencial sobre substrato

Page 11: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

sedimentar e ígneo. Optou-se pela utilização de terminologia geográfica para definir a

unidades geomórficas (Tabela I).

Segue abaixo a descrição e análise dos sistemas hidrogeomorfológicos e das

unidades geomórficas correspondentes.

Page 12: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

6.2 Sistema Hidrogeomorfológico do Alto Curso

Abrange uma área de aproximadamente 10.000km2, correspondentes as zonas das

cabeceiras de drenagem do rio Ivaí e dos afluentes do alto curso. Neste compartimento o

5

Page 13: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

rio Ivaí apresenta um curso de cerca de 220 km de extensão, e drena unidades

estratigráficas paleozóicas, representada pelo Grupo Passa Dois. Apenas localmente,

ocorrem unidades mesozóicas das Formações Serra Geral, Botucatu e Pirambóia, todas

pertencentes ao Grupo São Bento (Bittencourt, 1982).

As rochas arenosas e argilosas dessas unidades, associadas à densa rede de

drenagem de caráter conseqüente, permite o desenvolvimento de um relevo bastante

movimentado, cujas altitudes de até 1200m estão associadas ao limite do Segundo e

Terceiro Planalto Paranaense (Maack, 1968).

Essa unidade geomorfológica apresenta corno traço mais conspícuo a diversidade

de formas de relevo, associadas principalmente aos escarpamentos erosivos e estruturais da

Cuesta da Serra Geral, e que recebe localmente a designação de Serra da Esperança

Durante seu percurso o rio Ivaí atravessa em degraus formando inúmeros saltos e

corredeiras, adquirindo um padrão muito irregular, com quedas abruptas e curvas com forte

ângulo (Kuerten, 2005). São comuns nessa área escarpas formando "fronts" voltados para

leste e norte, com cornijas sustentadas por arenitos da Formação Botucatu e basaltos da

Formação Serra Geral.

Os diques de diabásio, da Formação Serra Geral, são feições comuns na parte norte

dessa unidade geomorfológica. São facilmente identificáveis por imagem de radar. Os

diques formam relevos alongados de direção NW -SE. Outras feições comuns são os

morros testemunhos e os relevos residuais, que evidenciam o recuo da escarpa no T

erciário (Ab'Saber,1969).

O relevo na referida bacia hidrográfica começa numa área de depressão periférica

construída numa área de desnudação influenciada pelo Arco de Ponta Grossa. A

paleosuperficie construída com o derrame deixou vários tipos de rocha com densidades

diferentes, criando relevos residuais que se desgastaram menos que o resto da depressão. A

serra dos porongos, a leste de Ivaiporã constitui um exemplo de relevo residual, formada

por arenitos mesozóicos na base e rochas ígneas no topo.

O canal principal do Rio Ivaí, por conseguinte, atravessa terraços escalonados e

vales de fundo chato, com uma grande divagação dos canais de forma meandrante. A

região dos vales do rio é composta de muitos paleocanais preenchidos com sedimentos

locais. No Segundo Planalto ainda há o controle estrutural de uma série de afluentes do Rio

Ivaí, aos quais se destacam o Rio Alonso. A confluência desses dois rios vai resultar num

vale epigênico que corta escarpa de erosão da Serra Geral. Este acidente limita a região do

Alto Curso.

Page 14: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

6.3 Sistema Hidrogeomorfológico do Médio Curso

Corresponde ao compartimento de relevo com maior extensão dentro da bacia, com

cerca de 16.200k:m2, sendo drenado pelo rio Ivaí num trecho de aproximadamente 380

k:m. Nessa parte da bacia o rio passa a correr de forma aproximadamente paralela ao

mergulho das rochas, com poucos afluentes.

A unidade litoestratigráfica predominante é representada pela Formação Serra

Geral, constituída pelas litologias tipo basalto e diabásio, todas do mesozóico. A maior

impermeabilidade dos terrenos, quando comparada com a das outras unidades

geomorfológicas, permite o desenvolvimento de uma rede de drenagem mais densa, que

facilita a distinção entre os compartimentos mapeados.

O padrão de drenagem é o dendrítico e o subdendrítico. Contudo, a rede de

drenagem assume um padrão semi-radial na parte sudeste, com o semi-círculo voltado para

norte, o que constitui uma anomalia nos rios, cujas causas ainda não estão esclarecidas.

A horizontal idade dos derrames basálticos promove o desenvolvimento de relevos

colinosos, com predomínio de vertentes convexas e retilíneas, formando cobertura

superficial espessa onde se desenvolvem solos argilosos e férteis como o Latossolo

Vermelho Eutroférrico e o Nitossolo Vermelho Eutroférrico. Enxames de diques de

diabásio atravessam a área na parte nordeste, tomando a cobertura pedológica mais rasa,

com freqüentes afloramentos rochosos.

Este sistema, juntamente com o do baixo curso, constitui em reverso de Cuesta,

cujo front, encontra-se na Serra Geral e limita o sistema do baixo e alto curso. O terreno

constitui-se de uma superfície suavemente inclinada, que mergulha para oeste.

Esse compartimento do relevo apresenta as simetria na sua parte norte, comparado

com a parte sul. A primeira possui distância, do canal do rio Ivaí até o divisor de águas, de

cerca de 30 a 50 km, e na parte sul cerca de 40 a 80 km.

6.4 Sistema Hidrogeomorfológico do Baixo Curso

No limite entre os municípios de Mirador e Guaporema, o rio Ivaí passa a correr

sobre os arenitos mesozóicos da Formação Caiuá, caracterizando o início do Sistema

Hidrogeomorfológico do Baixo Curso. Esse setor constitui-se nos relevos mais baixos da

bacia hidrográfica, com altitudes que variam de 400 a 230m, este último próximo ao rio

Paraná. No limite oeste desse sistema está representado pela calha do rio Paraná, no qual o

Page 15: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

rio Ivaí é tributário. Apresenta cerca de 8845 km2 de área, sendo que o rio Ivaí percorre

essa unidade de relevo numa distância de 180km.

As litologias predominantes são os arenitos friáveis da Formação Caiuá. Sobreposto

a esses arenitos ocorre espesso manto de alteração que Popp & Bigarella (1975) atribuíram

gênese coluvial e deram-lhe "status" de unidade litoestratigráfica, denominando-o de

Formação Paranavaí. Essa interpretação não é corroborada por Gasparetto (1999) e

Gasparetto et al. (2001) que atribuem processos de alteração supérgenos para essas

coberturas superficiais.

A característica friável desses arenitos, aliadas ao clima úmido e a proximidade

com o nível de base regional (rio Paraná), permite o desenvolvimento de um relevo com

marcada monotonia, representada por colinas baixas, de topos arredondados e vertentes

convexas e retilíneas. Essa unidade apresenta baixa declividade e apenas localmente

ocorrem corredeiras, sendo que nos últimos 50 km o curso principal apresenta condições

favoráveis à navegação

O rio Ivaí, nesse setor, apresenta um direcionamento E-W, influenciado por

mudanças litoestruturais, associadas às formações areníticas e basálticas, bem como

lineamentos regionais.

Segundo Santos et al (2005), no curso inferior do rio Ivaí, os alinhamentos

tectônicos de direções NW e NE controlam o traçado meândrico do rio Ivaí. Estes

alinhamentos são reconhecidos nas direções de fratura dos afloramentos do arenito Caiuá

dentro do canal do rio.

Essa unidade de relevo é caracterizada pela presença de planícies de inundação, que

se desenvolvem simetricamente em relação ao canal e, lateralmente ao canal, ocorrem

diques marginais contínuos, com até 5m acima do nível da planície, que são destacados

pela vegetação. Estas formações vegetais foram bastante degradadas pela utilização

agropastoril (Barros, 2005).

A planície fluvial do rio foi estudada por Santos et al (2005) que identificou os

seguintes compartimentos: Planície do rio Ivaí, Planície Paraná-Ivaí, Terraço Paraná,

Terraço Ivaí, Leque Aluvial e Canal Fluvial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados levantados para o estudo foram adquiridos de sensores remotos,

principalmente o reprocessamento feito por Miranda (2007) dos dados SRTM. Levando em

Page 16: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

consideração as diferenças de textura da imagem, foram definidos os compartimentos

hidrogeomorfológicos de forma preliminar.

Assim que foram levantados os dados ambientais como solos, geologia, clima ou

hidrografia; os compartimentos puderam ser ajustados segundo fatores geoambientais

definindo o Alto, Médio e Baixo Curso.

As unidades geomórficas foram definidas segundo a rugosidade do terreno e sua

relação com os processos que aconteceram na sua formação. Foram definidas 7 unidades

geomórficas no Alto Curso, 7 no Médio Curso e 5 no Baixo Curso.

Percebeu-se com os estudos que as unidades do Alto Curso tendem a desenvolver

um relevo mais acidentado, relacionado à depressão periférica da Serra Geral. É comum a

ocorrência de relevos residuais devido à erosão ocorrida no período mesozóico. Os rios

normalmente são controlados por uma série de diques de diabásio com uma direção

sobretudo de NW-SE.

O Médio Curso é o compartimento mais ricamente drenado, resultado dos solos

argilosos com pouca capacidade de absorção. Corresponde ao domínio das rochas da

Formação Serra Geral. O relevo tem características tabulares, sendo comum a formação de

mesetas associadas às fases dos derrames basálticos.

Finalmente, o Baixo Curso é uma região de drenagem subdendrítica e sob o

domínio das rochas da Formação Caiuá. Contém rios extensos, mas normalmente de

segunda ou terceira ordem. Essa unidade contém a planície fluvial do rio Ivaí. O uso mais

comum para essa região é de pastagens, devido à perda da exuberância da Floresta Pluvial

Tropical.

BIBLIOGRAFIA

Ab'Saber, A. N. A depressão periférica paulista: um setor das áreas de circundesnudação pós-cretácea na Bacia do Paraná. Geomorfologia, n.15, 1969, p. 1-15. Almeida, F.M.A; Carneiro, C.D.R. Origem e evolução da Serra do Mar - Revista Brasileira de Geociências, 28 (2), 1968. Baldo, Maria Cleide. Variabilidade Pluviométrica e a dinâmica atmosférica na bacia hidrográfica do Rio Ivaí - PR. Tese de doutorado, UNESP, Presidente Prudente, 2006. Barros, Carolina Silva. Dinâmica sedimentar e hidrológica na confluência do Rio Ivaí com o Rio Paraná, Município de Icaraíma - PR. Dissertação de Mestrado. UEM, Maringá, 2005. Biazin, Pollyana Croceta. Característica Sedimentar e hidrológica do Rio Ivaí em sua foz com o Rio Paraná, Icaraíma - PR. Dissertação de Mestrado. UEM. Maringá, 2005. Bitencourt, A. V. L. Transporte de sólidos na bacia hidrográfica do rio Ivaí. Boletim Paranaense de Geociências, n. 35. Curitiba, UFPR, 1982.

Page 17: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

Brito, Ignacio Machado. Bacias sedimentares e formações pós-paleozóicas do Brasil- Rio de Janeiro: Interciência, 1979. Camara G, Souza RCM, Freitas UM, Garrido J."SPRING: Integrating remote sensing and GIS by object-oriented data modelling". Computers & Graphics, 20: (3) 395-403, May-Jun 1996.

Casseti, Valter. Cartografia Geomorfológica, disponível na web em: http://www.observatoriogeogoias.com.br/observatoriogeogoias/artigos-pdf/CASSETI,%20Valter.pdf, consultado em 21/09/2007. Destefani, Edilaine Valéria. Regime Hidrológico do Rio Ivaí - PR. Dissertação de mestrado, Maringá, UEM, 2005. Fúlfaro, Vicente José; Saad, Antonio Roberto; Santos, Mário Vital; Vianna, Roberto Breves; Comparimentação e Evolução Tectônica da Bacia do Paraná, in: PAULIPETRO, Consórcio CESP/IPT. Geologia da Bacia do Paraná, Reavaliação da Potencial idade e Prospectividade em Hidrocarbonetos. São Paulo, 1982. Gasparetto, N. V. L. As formações superficiais do noroeste do Paraná e sua relação com o arenito Caiuá. Tese de Doutorado. São Paulo, SP, 1999, 172 p. Gasparetto, N. V. L.; Nobrega, M. T. de; Carvalho, A. A reorganização da cobertura pedológica no noroeste do Paraná - BR e as suas relações com o arenito Caiuá. BoI. Resumos. In: VIII Enc. Geogr. América Latina (Santiago do Chile), 2001, 254p.

Guiraud, Deborah Maria Corrêa; Lenzi, Ervim; Luchese, Eduardo Bemardi et aI. Loss of macronutrients (N, P, K) in the hydrographic basin of the River Ivaí, an affluent of the River Paraná. Braz. arch. bioI. technoI., ago. 2004, voI.47, no.4, p.649-658. ISSN 1516-8913.

IBGE, Geografia do Brasil Região Sul. Volume 5, Rio de Janeiro, 1977. Kuerten, Sidney. Variação Longitudinal das características sedimentares e hidrológicas do Rio Ivaí-PR em seu curso inferior. Dissertação de Mestrado. UEM, Maringá,2005. Maack, Reinhard. Geografia Física do Estado do Paraná, Curitiba, 1968.

Miranda, E. E. de; (Coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005.Disponível em: http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/. Acesso em: 1 out. 2007 Nardy, Antonio José Ranalli; Oliveira, Marcos Aurélio Farias; Betancourt, Ram Horizonte Seixas; Verdugo, Diego Roberto Huete; Machado, Fábio Braz. Geologia e Estratigrafia da Formação Serra Geral, in: São Paulo, UNESP, Geociências, vol1, n. 1/2, 2002.

Oliveira, Avelino Ignácio e Leonardos, Othon Henry. Geologia do Brasil. 3aed, Coleção Mossorense, Volume LXXII, 1978.

Popp, J. H. & Bigarella, J. J. Formações cenozóicas do noroeste do Paraná. Anais da Acad. Bras. Ciências. Rio de Janeiro, supl. , v. 47, 1975, p. 465-472.

Ross, J. Geomorfologia ambiente e planejamento. S. Paulo:Contexto, 1990 Ross, Jurandir Luciano Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo, Edusp, 1996.

Santos, M. L. dos; Stevaux, J. C.; Souza Filho, E.; Gasparetto, N. V. L. Geologia e Geomorfologia da Planície Aluvial do rio Ivaí - PR. In: Relatório do Projeto Fundação Araucária. Regime Hidrológico do rio Ivaí em seu curso inferior: ênfase a análise geoambiental. Univ. Est. de Maringá, Maringá, 2005.

Page 18: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE … · MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA PAISAGEM DA BACIA DO RIO IVAÍ-PR Fernando R. Santos – Universidade Estadual

Terezan, Ester L. Delimitação do leito maior do Rio Ivaí e estabelecimento de sua sazonalidade. Dissertação de Mestrado, Maringá, UEM, 2005. Thomaz, Sergio Luiz. Sinopse sobre a geologia do Paraná, in: Boletim de Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Geografia, p. 76, Ano 2, Número 02, 1984.

Zalán, Pedro Victor; Wolff, Sven; Astolfi, Marco Antonio Mendonça et alli. Bacia do Paraná, in: Raja-Gabaglia, Guilherme Pederneiras e Milani, Edison José (org). Origem e evolucao de bacias sedimentares - Rio de Janeiro: Ed. Gavea: R. Redisch Prog.Visual Prod. Graf. e Editoracao: PETROBRAS, 1990.