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Periodicidade trimestral - 0,50 Director: Manuel Santos José Nº52 Outubro / Dezembro 2014 Vem, Senhor, Jesus! Primeiro domingo do Advento do ano de 2014. A manhã acordou cinzenta, mas serena e a acalmia que reinava naquele despertar de mais um dia… Como os outros? Não. Bem diferente! Porque, de novo, a esperança, porque de novo a súplica: Vem, Senhor Jesus! É tempo de vigília, é tempo de conversão, é tempo de clamar com o salmista: Senhor, convertei- nos, dai-nos a vossa graça! Foi assim que, ao querer viver esta manhã, a raiar, um tempo novo, decidi inverter minha rotina e, oito da manhã, peguei no carro e fui a uma paróquia vizinha viver a primeira Eucaristia do primeiro dia do advento de 2014. Ao transpor o portal da igreja, uma mulher, de etnia cigana, sentada no chão com uma criança entre os quatro e os cinco anos, pedia esmola. Ao vê-las, correu na minha memória a reportagem vista há poucos dias, sobre a vida e costumes ciganos. Eu tinha ficado chocada com a rápida trajec- tória que fazem as suas crianças, que mal nascem, já lhes impõem o estatuto de adultos e entrei apressada na Igreja, sem permitir a mim mesma, ter dado pela sua presença. A Eucaristia começou meia hora mais tarde – o senhor padre estava doente - e, enquanto esperava, a Igreja repleta, aquela criança entrou, passou banco por banco, de mão estendida. Ninguém olhou para ela. Não era mesmo local próprio para o efeito. Mas a criança não desistia. Dava a volta e saía. Voltava a entrar, e repetia o trajeto. De novo, ninguém lhe dava nada. Quase meia hora e a cena se ia repetindo e o coração doía-me por aquela criança. Tão pequenina e já sofrendo a humilhação da sociedade! Num ímpeto irreflectido, levantei-me, fui à porta da igreja e disse á mulher. “Você não tem vergonha pela forma como tratam as vossas crianças? Sua filha devia estar dormindo…” A mulher não me deixou terminar a frase. Levantou a cabeça, alterou a expressão, cerrou as Maranatha Oh Jesus, Eu confio em Vós! Caro leitor Deixo-te nestas páginas de mais um número do Água Viva, a possibi- lidade de parar, refletir, fazer silêncio dentro de ti. É este o nosso objetivo. O AV não quer ser mais um jornal que apenas olhas para ele, e depois de uma leitura rápida, o colocas num canto e esqueces. O AV pretende ser uma muleta de que te serves nos mo- mentos mais áridos da tua vida. Uma força que te ajude a compreender que não estamos sós: em comunhão, ca- minhamos para a plenitude da vida. mãos e gritou-me: “Nós amamos muito as nossas crianças, mas precisamos comer, temos fome, agora vocês, a vossa “raça” é que trata mal as crianças, porque as ma- tam, fazem abortos, as vossas crianças são abusadas, a pedofilia, as vossas crianças vivem com os pais separados, as vossas crianças são abandonadas às instituições e elas ficam… Então, meu coração gelou, porque eu vi um outro filme naquela fra- ção de segundos – o filme real da minha “raça civilizada” - o crime do aborto, o crime da pedofilia, o crime do abandono e da destruição da família. Instintivamente, coloquei a mão na boca da mulher, a si- lenciá-la - porque estava nos degraus da entrada da igreja – puxei de toda a minha complacência e disse-lhe calmamente, batendo letra por letra: “eu sei”, “eu sei”. E rematei: “Deus te abençoe”. Deus te abençoe porque me lembraste o que parece que eu havia esquecido. Voltei à Igreja, mas alguém já estava a dizer à criança que tinha de sair. Pobre criança! Peguei na menina e entreguei-a à mãe, com um carinho especial. Depois, porque não dizer, chorei. Chorei, porque a minha “raça civilizada” mata crianças, ela faz das suas crianças instrumentos e objetos de sórdido prazer, porque a minha “raça civilizada” está destruindo a família, a família que Deus sonhou para ser o berço da humanidade, a família que Deus sonhou para ser Sua imagem. Chorei, porque a minha ”raça civilizada” está descendo ao mais pro- fundo abismo infernal, ao abandonar Deus, fonte das águas vivas e puras, para se enterrar no lodo, na lama, no lixo, de que se alimentam os vermes. E a Eucaristia começou. E eu, com a consciência plena do quanto a minha “raça civilizada” - e todo o mundo, precisa de salvação, coloquei sobre o altar da Eu- caristia, a minha súplica: “Vem, Senhor Jesus! Mostrai-nos a Vossa face e seremos salvos». Carmo Lavrado

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Periodicidade trimestral - € 0,50 Director: Manuel Santos José Nº52 Outubro / Dezembro 2014

Vem, Senhor, Jesus! Primeiro domingo do Advento do ano

de 2014. A manhã acordou cinzenta, mas serena e a acalmia que reinava naquele despertar de mais um dia… Como os outros? Não. Bem diferente! Porque, de novo, a esperança, porque de novo a súplica: Vem, Senhor Jesus! É tempo de vigília, é tempo de conversão, é tempo de clamar com o salmista: Senhor, convertei-nos, dai-nos a vossa graça!

Foi assim que, ao querer viver esta manhã, a raiar, um tempo novo, decidi inverter minha rotina e, oito da manhã, peguei no carro e fui a uma paróquia vizinha viver a primeira Eucaristia do primeiro dia do advento de 2014. Ao transpor o portal da igreja, uma mulher, de etnia cigana, sentada no chão com uma criança entre os quatro e os cinco anos, pedia esmola. Ao vê-las, correu na minha memória a reportagem vista há poucos dias, sobre a vida e costumes ciganos. Eu tinha ficado chocada com a rápida trajec-tória que fazem as suas crianças, que mal nascem, já lhes impõem o estatuto de adultos e entrei apressada na Igreja, sem permitir a mim mesma, ter dado pela sua presença.

A Eucaristia começou meia hora mais tarde – o senhor padre estava doente - e, enquanto esperava, a Igreja repleta, aquela criança entrou, passou banco por banco, de mão estendida. Ninguém olhou para ela. Não era mesmo local próprio para o efeito. Mas a criança não desistia. Dava a volta e saía. Voltava a entrar, e repetia o trajeto. De novo, ninguém lhe dava nada. Quase meia hora e a cena se ia repetindo e o coração doía-me por aquela criança. Tão pequenina e já sofrendo a humilhação da sociedade! Num ímpeto irreflectido, levantei-me, fui à porta da igreja e disse á mulher. “Você não tem vergonha pela forma como tratam as vossas crianças? Sua filha devia estar dormindo…” A mulher não me deixou terminar a frase. Levantou a cabeça, alterou a expressão, cerrou as

Maranatha Oh Jesus,

Eu confio em Vós!

Caro leitor

Deixo-te nestas páginas de mais

um número do Água Viva, a possibi-

lidade de parar, refletir, fazer silêncio

dentro de ti. É este o nosso objetivo.

O AV não quer ser mais um jornal

que apenas olhas para ele, e depois

de uma leitura rápida, o colocas num

canto e esqueces. O AV pretende ser

uma muleta de que te serves nos mo-

mentos mais áridos da tua vida. Uma

força que te ajude a compreender que

não estamos sós: em comunhão, ca-

minhamos para a plenitude da vida.

mãos e gritou-me: “Nós amamos muito as nossas crianças, mas precisamos comer, temos fome, agora vocês, a vossa “raça” é que trata mal as crianças, porque as ma-tam, fazem abortos, as vossas crianças são abusadas, a pedofilia, as vossas crianças vivem com os pais separados, as vossas crianças são abandonadas às instituições e elas ficam… Então, meu coração gelou, porque eu vi um outro filme naquela fra-ção de segundos – o filme real da minha “raça civilizada” - o crime do aborto, o crime da pedofilia, o crime do abandono e da destruição da família. Instintivamente, coloquei a mão na boca da mulher, a si-lenciá-la - porque estava nos degraus da entrada da igreja – puxei de toda a minha complacência e disse-lhe calmamente, batendo letra por letra: “eu sei”, “eu sei”. E rematei: “Deus te abençoe”. Deus te abençoe porque me lembraste o que parece que eu havia esquecido. Voltei à Igreja, mas alguém já estava a dizer à criança que tinha de sair. Pobre criança! Peguei na menina e entreguei-a à mãe, com um carinho especial.

Depois, porque não dizer, chorei. Chorei, porque a minha “raça civilizada” mata crianças, ela faz das suas crianças instrumentos e objetos de sórdido prazer, porque a minha “raça civilizada” está destruindo a família, a família que Deus sonhou para ser o berço da humanidade, a família que Deus sonhou para ser Sua imagem. Chorei, porque a minha ”raça civilizada” está descendo ao mais pro-fundo abismo infernal, ao abandonar Deus, fonte das águas vivas e puras, para se enterrar no lodo, na lama, no lixo, de que se alimentam os vermes.

E a Eucaristia começou. E eu, com a consciência plena do quanto a minha “raça civilizada” - e todo o mundo, precisa de salvação, coloquei sobre o altar da Eu-caristia, a minha súplica: “Vem, Senhor Jesus! Mostrai-nos a Vossa face e seremos salvos».

Carmo Lavrado

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Outubro / Dezembro 2014Página 2

Pinceladas de Vida

A porta estreitaSÚPLICAO ano de 2015, há dias iniciado, vai celebrar os quinhentos anos do nascimento de

Santa Teresa de Ávila, que nasceu a 28 de Março do ano de 1515. Todo o cristão que tem em apreço a oração e a vida espiritual, deve lembrar esta gigante da vida espiritual e da contemplação. Teresa deu provas ao mundo de que a contemplação é a mais poderosa das alavancas da ação, porque ela, como ninguém, soube unir a vida contemplativa à vida de acção. Mulher de ação, dotada de coragem admirável, a transbordar de amor e de alegria, na sagacidade da sua inteligência; são verdadeiramente admiráveis as luzes que a habitam, quando se trata das coisas divinas.

Para Teresa, o Senhor é o Cristo Vivo e ressuscitado, cheio de glória, sempre pre-sente, que ultrapassa todo o sofrimento. Dizia: “a porta que leva a Deus não é a porta estreita”; e explicava porque pensava assim: “eu não vejo, Senhor, em que é que o caminho que a Vós conduz seja estreito; não o vejo carreiro mas estrada real. E, Senhor, aquele que vos ama verdadeiramente, vai seguro numa estrada larga e real”. O desper-tar da necessidade de ação manifestava-se nela sob a forma de desejo de apostolado. Para ela, conversas inúteis era uma perda de tempo; pelo contrário:” solidão é igual a silêncio; o silêncio igual a concentração; concentração igual a força, força para o amor, para a felicidade”. Teresa sabia, Deus criou o homem para a felicidade e deu-lhe nos evangelhos a arte de viver feliz. “Deus quer que procuremos a verdade e nós quere-mos a mentira; quer que procuremos o que é eterno e nós inclinamo-nos para o que é transitório; quer que aspiremos a altas e grandes coisas e nós queremos as baixas, a poeira; Deus quer que amemos unicamente a certeza e nós só amamos neste mundo as coisas incertas”…

Marcelle Auclair in “Santa Teresa de Ávila”Paula Borges

Senhor!Nada mais somos que instrumentos teusNa obra da salvação;A graça, a vida, o mundo,E nós próprios, somos teusPor isso… Senhor!Que a Tua vontade seja para mim, festa,

alegria, pazCerteza de vitória, de santidade.Quero ser nas Tuas mãosComo o barro na mão do oleiroQuero que a minha vida seja um “sim”Um “Ámen” constante, total de amorPorque todos somos instrumentos escolhidos

por TiPara colaborar na obra da Redenção.Faz que cheguem ao mais íntimo da nossa almaAs palavras de Paulo:“Ai de mim se não evangelizar”.Dai-nos, Senhor, A paixão pela redenção do mundo!Dilata-nos o coração, a capacidade de amar,E faz-nos sentir Irmãos de todos os homens.

Carmo (texto escrito em1994)

Henri Caffarel, um homem cativado por

Deus. Assim o intitulou Jean Allemand, que

foi membro das Equipas de Nossa Senhora,

em França, e trabalhou diretamente com o

padre Caffarel desde 1968. Henri Caffarel

nasceu em 1903 e o cardeal Lustigier viu

nele um profeta do século XX. Desde a sua

juventude, cativado pelo apelo do Senhor, dá

aos vinte anos o seu “sim” a Cristo e decide

ser padre para levar os homens e as mulheres

do seu tempo a fazerem a experiência de

Deus, como ele a havia feito no seu encontro

com Cristo. Fundou as Equipas de Nossa

Senhora, pois ele descobriu como que por

instinto, através duma perceção inteligente,

os pontos de apoio essenciais da vida dos

cristãos e da vida da Igreja. Logo a seguir à

Segunda Guerra Mundial, ele luta por renovar

a compreensão cristã do sacramento do ma-

trimónio, descobre a sua missão, enaltece a

dignidade do amor humano, quando ninguém

ainda suspeitava o quanto viria a ser grande a

ameaça à família e ao matrimónio.

Duas preocupações orientam toda a sua

para a meditação na sua vida, no mínimo de

um quarto de hora por dia. Os Cahiers sur

l’Oraison atravessaram os oceanos, mas mui-

tos pediam assinaturas que não implicassem

um compromisso em relação a um período

de oração diária. Henri Caffarel responde:

“Queremos que os nossos Cahiers sejam

mais do que uma simples revista que se

folheia à procura de informação, mas que

constituam antes um ponto de encontro de

cristãos que se exercitam na meditação e que

tentam formar entre si uma grande equipa de

oração cuja lei seja um por todos, todos por

um e todos juntos por Deus”. E foi intran-

sigente! Troussures é o novo polo de ação

do padre Caffarel, onde dirige semanas de

oração abertas a todos, e cada um fica mar-

cado por aspetos diferentes. Mas todos estão

de acordo sobre uma mesma descoberta

fundamental: fazer meditação é possível e é

vital. O padre Caffarel regressou ao Senhor

no dia 18 de Setembro de 1996.

J. Allemand in Um homem cativado por Deus

acção na diversidade das suas iniciativas. Por

um lado, a vida do casal, a família, o amor

humano; e por outro lado, o amor de Deus

e a oração. A sua visão profética continha

uma forte intuição da situação espiritual a

que chegaria o nosso século, bem como no

que viria a transformar-se o casal e a família.

Fundou e dirigiu o l’Anneau d’Or – a carta do

mês – cujo objetivo essencial era ajudar casais

a tender para a santidade. Dizia: “santidade: a

palavra é fácil, mas a própria santidade não…

É uma dura empreitada, a vida espiritual; e é

uma dura empreitada a procura da união com

Deus”. Idêntica convicção conduziu o padre

Caffarel a outras realizações, sobretudo o

lançamento dos Cahiers sur l’Oraison, boletim

dedicado exclusivamente ao tema da medita-

ção, que todos os meses trazia um artigo de

fundo, testemunhos de autores espirituais e

onde se tratava das dificuldades, problemas

e questões dos leitores. A originalidade da

iniciativa é que, para receber esta revista,

não bastava ser assinante, seria necessário

comprometer-se em arranjar um espaço

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Ressonâncias

PARA NÃO ESQUECER

Cantinho Orante

Oração para o entardecer

Se me envolve a noite escura

E caminho sobre abismos de amargura,

Nada temo porque a Luz está comigo.

Se me colhe a tempestade

E Jesus vai a dormir na minha barca

Nada temo porque a paz está comigo.

Se me perco no deserto

E de sede me consumo e desfaleço,

Nada temo porque a fonte está

comigo.

Se os descrentes me insultarem

E se os ímpios mortalmente me

odiarem

Nada temo porque a vida está comigo.

Liturgia das Horas - Completas de Domingo

“Concordo com os ateus em muitas coisas, muitas vezes em quase tudo… Muitas vezes também me sinto oprimido pelo silêncio de Deus e pela sensação do seu afastamento. Percebo que a natureza ambivalente do mundo e dos inúmeros paradoxos da vida pode dar origem a ex-pressões tais. No entanto, a paciência com Deus é aquilo que eu considero a principal diferença entre fé e ateísmo.”

Tomás Halik

O AV, pediu à Paula Borges, que desse seus ecos sobre o texto acima, de Tomás Halik: “Dado o espaço limitado destinado a esta rubrica, não é possível explorar devidam-ente o texto. Percebe-se no texto que o autor se sente oprimido e magoado pelo silêncio de Deus. Não é ele o único. E sabe-se, que é muitas vezes este hipotético silêncio de Deus, que faz as pessoas perderem a fé do batismo e acomodarem-se no ateísmo ou na revolta. Contudo, aquilo a que chamam “silêncio de Deus”, contém o maravilhoso diálogo de Deus com o homem. Como é isto? Como o homem não ouve este diálogo de amor?

No Horeb, Deus disse a Moisés: descalça as sandálias porque a terra que pisas é sagrada. É isso! Para escutar Deus, é preciso descalçar as sandálias. As sandálias do orgulho, do amor próprio, da auto suficiência, é preciso afinal, fazer silêncio e descer ao fundo mais fundo do coração, calar todas as vozes e, paradoxo, Deus fala, sobretudo descobres-te, terrivel-mente amado, porque reconheces-te com um coração duro, reconheces-te pecador e reconheces, na humildade, o teu pecado. É isso, a humildade, o escondimento. É aos humildes que Deus dá o dom, o dom de O escutar, o dom de O amar, mas esse dom não é dado como prémio. Ele é uma dádiva gratuita do próprio Deus. Contudo, para receber o dom, é preciso despir-se, descalçar as sandálias. Então, Deus não precisa que tenham “paciência” com Ele, (se interpre-tarmos a frio este vocábulo) porque Ele é dádiva, é dom, não força nada, mas espera que tomemos a iniciativa, que nos decidamos a escutá-lO e, se o fizermos, logo seremos inundados da Sua ternura, mergulhados no oceano do Seu afeto.”

Paula Borges

Com a ajuda do Catecismo da Igreja Católica e outros documentos da Igreja, reunimos alguns dados fundamentais sobre o matrimónio e a família: “A aliança matrimonial, pela qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunidade íntima de vida e de amor, foi fundada e dotada das suas leis próprias pelo Criador…” “O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminada pela fé é a família; penso na união estável do homem e da mulher no matrimónio. Tal união nasce do amor, sinal e pre-sença do amor de Deus… Fundados sobre este amor homem e mulher podem prometer-se amor mútuo que compromete a vida inteira e que lembra muitos traços da fé: prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um de-sígnio maior, que os próprios proje-tos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada…” “A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir um grande chamamento – a vocação ao amor – e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade”. Quis deixar apenas alguns “flashs”, convidando-te a fazer o exercício de estabeleceres a comparação entre estes “flashs e o pensamento reinante na nossa sociedade acerca do matrimonio e da família e, depois medires a temperatura.

Joana Veríssimo

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Propriedade e Editor: Fundação Maria Mãe da Esperança, Rua da Barrada, nº 2; Loureira. • 2495-124 SANTA CATARINA DA SERRA. Telemoveis: 969310272; 967681456 • Director: Manuel Santos José • Redacção e Administração: Rua da Barrada, nº 2; Loureira. • 2495-124 SANTA CATARINA DA SERRA. Tlm. 969 310 272 • Equipa Redactorial: Maria do Carmo Lavrado, Maria Filomena Calão, Maria Isabel Botão • Paginação e selecção de cores: Henrique Lobo • Impressão: Indugráfica, Lda. Cova da Iria-Fátima • Tiragem: 900 exemplares• Depósito Legal nº 106355/96. • Isenção de registo ao abrigo do ar t. 12º, nº 1-A: Dec. Reg. nº 8/99, de 09/06.• E-mail: [email protected]

AV – A escuta da Palavra de Deus, quando bem vivida refletida, discernida e assumida na nossa vida, tem repercussões para nós e para os outros, de bem-estar. Com certeza concorda com esta afirma-ção. Tem exemplos práticos pessoais ou não, para nos contar e que testemunhem esta verdade?

CV – A escuta da Palavra mostra-nos o caminho a seguir para cumprirmos a vontade de Deus na nossa vida, faz-nos entrar numa dimensão diferente do ser humano, dá-nos a certeza de que não estamos sós para enfrentar as vicissitudes da vida. Ela dá-nos a conhecer o nosso Pai amoroso. Tenho o prazer de, junta-mente com a minha irmã Juvelina Patarra, ser animadora de dois grupos de oração interior e, o que podemos afirmar, é que há um crescimento espiritual evidente nos irmãos. Há também uma forma diferente de encarar a vida e aceitar a vontade de Deus. Cada um afirma que os “fardos” da vida são neste momento os mesmos, mas bem mais leves de carregar… Os irmãos dizem-nos que há uma sede no seu interior que se sacia com a escuta da Palavra, ref-erem que as suas inquietações se pacificam e anseiam pelos nossos encontros por tudo aquilo que a escuta da Palavra desperta em cada um deles.

AV – Hoje constatamos no nosso mun-do uma autêntica convulsão de valores de toda a ordem: moral, político, social, ético, familiar… mas verificamos que as pessoas se vão adaptando com certa naturalidade. Que opinião tem, de como fazer para ajudar as pessoas a fazer face a tal convulsão?

CV – Sim, apesar de viver num meio relativamente pequeno, esta realidade também se faz sentir. A verdade é que já nada surpreende, já tudo é normal, já tudo é aceitável. Ou talvez até se surpreendam e não aceitem, mas, por facilitismo, cada um acomoda-se no seu canto e espera que alguém que não ele, faça alguma coisa… A verdade é que todos nós nos sentimos

Todos os sábados - Adoração noturna, das 21,30h-23,30h, na Tenda do Encontro da COF Janeiro: 10 e 11 – Retiro: Faz-te ao largo – Casa Retiro Sª Rafaela Maria – Palmela31 – 13ª sessão da EO – das 14.30h-18.30h – na COF.Fevereiro: 07 – Jornada de Espiritualidade – A Virgem Maria, Mãe e mestra dos discípulos ¬ 09h-18h – COF.20-22 – Retiro: Família: Dom e missão – Se-minário Diocesano de Leiria.Março: 08 – Via Sacra – Bouça / Mendiga – 15.00h28 – 14ª sessão da EO – das 14.30h-18.30h – na COF.

Próximas Atividades

ENTREVISTA

arrastados por esta corrente quase im-parável, e remar contra ela exige muito esforço da nossa parte. Penso que a mu-dança desta realidade passa por tentar combater esta frase recorrente: “Eu sou apenas uma gota de água no oceano, que diferença posso fazer?” É preciso que cada um tome consciência e entenda que tem um papel fundamental na sociedade e que os seus “pequenos” gestos podem tornar o mundo melhor.

AV – Não estará o homem descen-trado do seu centro, quero dizer, do seu ADN? Pois sendo o homem divino, está rastejando no pântano do pecado. Que pecados maiores enfermam a nossa so-ciedade, as nossas comunidades, as nossas famílias, as nossas amizades?

CV – Aquilo que me parece é que, neste momento, tudo gira à volta de uma única palavra que não é difícil de adivinhar: dinheiro. E na minha opinião é a causa de grandes males na nossa sociedade. Parece cliché, mas vivemos numa sociedade que se preocupa muito mais em “ter” do que em “ser”. E para ter mais, alguns passam por cima de tudo e de todos sem o mínimo escrúpulo. Há uma idolatria do dinheiro mas, infelizmente, não é a única enfer-midade na nossa sociedade, o egoísmo e a ingratidão são outros dois fatores que nos fazem afastar cada vez mais de Deus. Cada um vive centrado em si próprio, nas suas vontades e no seu bem-estar em detrimento do outro que se encontra ao seu lado. E depois a ingratidão… já são poucos os gratos… começando pelas próprias crianças a quem alguns pais se estão a esquecer de ensinar este valor tão grandioso que é a gratidão. Tudo é graça na nossa vida e são tantos os que neste momento não se dão conta disso…

AV – Muitas vezes, nos sentimos impo-tentes… que fazer? Que importância tem para si e para aqueles com quem convive, a vivência da oração? Oração em grupo? Ora-ção particular? Oração em comunidade?

CV – Sentimo-nos impotentes e até invadidos por todas estas “enfermi-dades”. Porque somos humanos, nós pecamos… e é aí que entra a vivência, o poder da oração. Eu considero todas as formas de oração importantes. Na oração em grupo e em comunidade há um sentimento de comunhão com os irmãos muito forte. Na oração particular conseguimos um maior grau de intimidade com o Senhor. Para mim e para aqueles com quem convivo, a oração chama-nos à razão, a oração permite-nos discernir o que está certo e o que está errado, a oração eleva-nos… na oração nós sentimos o Amor de Deus e é esse Amor que nos faz querer ser melhores, que nos impele à mudança e que nos abre à Graça de Deus…

Carla Vilhena, residente em Pegões, Diocese de Setúbal, professora, e animadora com Juvelina Patarra, de dois grupos de oração interior nas pa-róquias de Canha e Pegões, acedeu dar uma entrevista ao AV, o que muito agradecemos. Nela vai dar-nos o seu sentir sobre o lugar e a importância da oração no mundo de hoje.