Maranhao Historico

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O Maranhão Histórico

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Agromá Empreendimentos Rurais S.AJosé de Jesus Reis Ataíde

Alpha Máquinas e Veículos do Nordeste Ltda.Manuel Maria Correia de Almeida Plantier

Atlântica Serviços Gerais Ltda.Luís Carlos Cantanhede Fernandes

Agropecuária e Industrial Serra Grande Ltda.Pedro Augusto Ticianel

Alumar – Consórcio de Alumínio do MaranhãoJosé Maurício de Macedo Santos

Bel Sul Administração e Participações Ltda.Jorge Francisco Murad Júnior

Bunge Alimentos S.AHaroldo Gianinizi

Companhia Maranhense de RefrigerantesEduardo de Carvalho Lago

CIGLA- Cia. Ind. Galletti de LaminadosRaphael Carlos Galletti

Companhia Vale do Rio DoceMarcos Eduardo Veloso Milo

Ducol Engenharia Ltda.Henry Dualibe Filho

Haroldo Cavalcanti Cia. Ltda.Haroldo Corrêa Cavalcanti Júnior

Empresas Associadas

INSTITUTO GEIA

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Mardisa Veículos Ltda.Vicente Ferre

Moinhos Cruzeiro do Sul S.AAmaro Santana Leite

Oleama - Oleaginosas Maranhenses S.AMarco Aurélio Nascimento de Souza

Pleno – Planejamento Engenharia e Obras Ltda.Severino Francisco Cabral

Rápido London S.AValdecy Claudino

Servi Porto - Serviços Portuários Ltda.Nemésio Brandão Neves

Skala Engenharia Ltda.Adalberto Cordeiro Furtado

Tecitex Ltda.João Guilherme de Abreu

Telemar – Telecomunicações do Maranhão S.AAlceu Ventoso Júnior

Televisão Mirante Ltda.Teresa Murad Sarney

Supermercados Lusitana Ltda.Manoel Alves Ferreira

VCR Produções e Publicidade Ltda.Vanda Maria da Silva Torres

UDI Hospital - Empreendimentos Médico Hospitalar do MaranhãoLtda.

Carlos Alberto Vieira Gama

UNIHOSP – Serviços e Saúde Ltda.Antônio Gaspar

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José Ribeiro do Amaral(1853 – 1927)

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José Ribeiro do Amaral

O Maranhão Histórico

Artigos de Jornal(1911 - 1912)

reunidos porLuiz de Mello

Coleção Geia de Temas Maranhenses

São Luís / 2003

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Copyright byDireitos desta edição reservados em nome de

Instituto Geia

COLEÇÃO GEIA DE TEMAS MARANHENSEVolume 1

Revisão de TextoSebastião Moreira Duarte

Editoração EletrônicaFabiano Pestana

CapaAlbani Ramos e Jorge Murad

Amaral, José Ribeiro do O Maranhão histórico – Artigos de jornal (1911-1912) /José Ribeiro do Amaral. São Luís: Instituto Geia, 2003. 128p. (Coleção Geia de Temas Maranhenses, v. 1)

1. História do Maranhão. 2. História de São Luís. 1. Título.

CDU 981.21

FICHA CATALOGRÁFICA

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S U M Á R I O

Explicação – Luiz de Mello ....................................................... 11

A Título de Prefácio ................................................................... 13

1. Primitivas explorações feitas nas costas do Norte doBrasil. Primeiras tentativas de colonização para oMaranhão. João de Barros, Fernão d’Álvares e Aires daCunha. Versões diversas sobre a verdadeira origem dapalavra Maranhão. Fundação da povoação Nazaré, naIlha da Trindade (Maranhão). Segunda expedição.Naufrágio de Luís de Melo da Silva. Vestígios daprimeira expedição. .............................................................. 17

2. Bequimão e seus descendentes ........................................... 23

3. Os franceses no Maranhão ................................................. 29

4. Caráter, fins, meios e resultados da Ocupação Francesaem paralelo com a Invasão Holandesa .............................. 33

5. Fundação do Maranhão ....................................................... 39

6. Vestígios da Ocupação Francesa. A igreja de SantoAntônio .................................................................................. 47

7. Convento de Santo Antônio ............................................... 53

8. Qual será a população atual de São Luís? ......................... 59

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9. A cidade de São Luís por ocasião da InvasãoHolandesa .............................................................................. 71

10.Disposições diversas, relativas à cidade de São Luís.Como eram, primitivamente, conhecidas as suas ruas,ou, antes, como se diferenciavam umas das outras.Quando começaram a ter nomes próprios. Ruas,praças, travessas, praias e fortes de São Luís: origemdos nomes de algumas delas e mudanças por que têmpassado. Ruas com mais de um nome ao mesmotempo...................................................................................... 75

11.[Primitivas denominações de ruas] ..................................... 79

12.O convento de Nossa Senhora do Carmo ......................... 87

13.A imprensa no Maranhão: Jornais, revistase outras publicações periódicas de 1821 a 1908................ 97

14.A imprensa no interior do Maranhão ............................... 113

15.A Imprensa no Maranhão (Codó) ..................................... 121

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Pesquisando, durante anos, em velhos periódicos maranhenses, acon-teceu-me encontrar estes artigos do historiador José Ribeiro do Amaral,publicados entre 1911 e 1912, no Diário Oficial – Estado do Mara-nhão, jornal então dirigido por Domingos Barbosa.

Agradou-me a idéia de restituí-los à publicação, certo de estar pres-tando serviço de geral interesse, seja pelos temas tratados, seja pela autorida-de de quem o faz, bastando lembrar que algumas partes dos textos aquireunidos o próprio autor as ampliou e incluiu em seu livro A fundaçãodo Maranhão, de 1912.

Em particular, agrada-me ver que estes escritos vêm a público no anoem que se comemora o sesquicentenário de nascimento de Ribeiro do Amaral,a quem muito devemos por seu zelo incomparável pelas coisas de nossaterra, sua competência de mestre e sua liderança intelectual, agitador deidéias e organizador de instituições que perduram até os nossos dias.

Uma carta do historiador ao diretor do jornal abre a série publicadae explica o “plano da obra”. Servirá de prefácio do livro, cujo título é omesmo que encabeça os diferentes artigos, publicados regularmente às sex-tas-feiras. Por motivos que os leitores logo perceberão, foi ligeiramente alte-rada, nesta publicação, a seqüência original de datas em que estes trabalhosapareceram na imprensa.

Agradecendo ao Instituto Geia ter acolhido a reunião destas páginaspara dar início à Coleção Geia de Temas Maranhenses, registro quesão de Jomar Moraes as notas de pé-de-página que trazem informaçãoatualizada sobre alguns fatos e figuras mencionados por Ribeiro do Amaral.

Luiz de Mello

Explicação

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São Luís, 12 de outubro de 1911

Meu caro Domingos Barbosa:

ACUSO recebida sua prezadíssima cartinha de ontem, quesó hoje me foi entregue, na qual teve a gentileza de pedir-me a minha humilde colaboração para o jornal, hoje confi-

ado à sua superior orientação, designando-me, para esse fim, as sex-tas-feiras de cada semana, e lembrando-me, como feitio a dar a essamesma colaboração, a necessidade de escrever alguma coisa sobre anossa São Luís, isto é, sobre a história dos seus mais antigos e notá-veis edifícios, públicos e particulares, tais como o Palácio do Gover-no, a Catedral, templos, conventos, quartéis, fortalezas, e dos últi-mos, para não ir mais longe, essa mesma casa da Rua da Estrela,onde ainda agora funciona a Imprensa Oficial, e que tão conhecidase tornou, não só nos tempos coloniais, mas ainda nos que se segui-ram à Independência.

Satisfazendo os seus desejos, que, bem sabe, para mim são or-dens, aqui me tem, e aqui me terá sempre: não sei se com isso aprovei-tarão os leitores do Diário Oficial. Tudo farei para corresponder à suaconfiança. Se tal, porém, não acontecer, absolver-me-á a solicitude comque, prestes, acudi ao seu chamado.

A Título de Prefácio

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E, já agora, se me permitisse, pedir-lhe-ia, ou, antes, lembrar-lhe-ia a conveniência de fazermos uma ligeira alteração no planocuja execução se dignou de confiar-me, alteração que em nada o pre-judica, tornando, pelo contrário, o trabalho mais metódico, a qual é aseguinte:

Pareceu-me mais acertado, antes de escrever qualquer coisasobre os nossos vetustos edifícios, algo dizer, ainda que em traçosgerais, sobre as primeiras expedições que para aqui se encaminharam– portugueses, franceses e holandeses; fundação do primeiro estabe-lecimento colonial que aqui houve, nome que primitivamente tinhao lugar onde foi ele situado, e que teve com a fundação, e por quê;diversas fases por que passou; o que era a cidade por ocasião daInvasão Holandesa, em extensão, população e riqueza; aspecto geralda pequena cidade por aquele tempo, com inclusão dos edifícios pú-blicos que já então existiam; progressivo desenvolvimento que daíem diante foi tendo; fontes públicas existentes na cidade, até 1592, eseus nomes; como se designavam as ruas até 1733, quando ainda nãotinham nomes; quando começaram a ser mencionadas com nomespróprios; a mesma rua dividida em três trechos, com três nomes;primeiro lançamento predial; ruas que então existiam e seus nomes;quem primeiro deu começo ao calçamento da cidade; São Luís em1822, primitivos costumes dos seus habitantes; diversos gêneros demoeda, etc., etc.

Como vê, meu amigo, vasto é o campo e rica é a seara. Paramim, nada de mais atraente e agradável conheço que conversar como passado, onde a gente como que se sente bem, sem correr o riscode ofender a quem quer que seja, nem despertar suscetibilidades; enem só para mim, não só o único a assim pensar, pois lembra-me dehaver lido, não há muito, n’A Notícia, do Rio, talhados em semelhan-tes moldes, notáveis artigos do Dr. Vieira Fazenda, que tão grandeinteresse conseguiram despertar no espírito público e não pequenorenome deram àquele jornal; e ainda agora n’A Ilustração Brasileira,outros do mesmo gênero estão a sair, porventura de não menos su-bido valor, firmados pelo ilustre Dr. Pires de Almeida.

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É esta a pequena modificação a que me referi no começo. Pro-pondo-a, julgo que assim melhor servirei ao fim que, ambos, temosem mira.

Se lhe merecer ele, o plano assim organizado, a sua aprovação,conquanto em coisas do Maranhão não me sinta eu com aquela com-petência tão notoriamente conhecida dos dois ilustres brasileiros aci-ma referidos, sobre coisas fluminenses, tudo farei para ser agradávelaos leitores do Diário Oficial, e assim corresponder à sua expectativa.

E até sexta-feira.

Creia-me sempre

Seu am°. e menor servo

José R. do Amaral

(Diário Oficial, 20.10.1911)

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Primitivas explorações feitas nas costas do Norte doBrasil. Primeiras tentativas de colonização para o Ma-ranhão. João de Barros, Fernão d’Álvares e Aires daCunha. Versões diversas sobre a verdadeira origem dapalavra Maranhão. Fundação da povoação Nazaré,na Ilha da Trindade (Maranhão). Segunda expedição.Naufrágio de Luís de Melo da Silva. Vestígios daprimeira expedição.

SÃO DE 1535 as primeiras tentativas de colonização para oMaranhão. Não quer isto dizer, porém, que, anteriormente,outras explorações não se houvessem realizado já, para o nor-

te do Cabo de São Roque.

Conquanto vagas e escassas as notícias a semelhante respeito,sabe-se que, por estas bandas andaram, no primeiro decênio do sé-culo XVI, navios de Portugal, sendo de um deles, piloto, João deLisboa, que deu até seu nome a um dos rios aquém do Maranhão.

Em 1514 (e aqui já se vão tornando mais claras as notícias),por uma carta de Estêvão de Fróis ao rei Dom Manuel, escrita dailha de São Domingos em 30 de julho, sabemos que, algum tempoantes, percorrera parte da costa um João Coelho, das Portas da Cruz,em Lisboa, e que os índios haviam morto o arauto Diogo Ribeiro,

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que, com o alvará régio, andavam, um e outro, a fazer descobrimen-tos. Como, porém, essas explorações não eram completas, isto é,não se estendiam a toda essa costa, limitando-se os exploradores atraficar nas imediações das paragens onde aportavam, tanto em Por-tugal como em Castela estiveram, por algum tempo, na crença deque não havia, por aí, mais que um único grande rio entrando pelaterra adentro; pois os que conheciam o verdadeiro Maranhão (diz oVisconde de Porto Seguro) não conheciam o Amazonas atual e vice-versa; donde se originou confusão acerca destes dois rios, vindo am-bos a ser designados com o nome de Maranhão; de modo que opróprio Pinzón, descobridor, não do verdadeiro Maranhão, cuja des-coberta se deve a Diogo de Lepe, mas sim da boca do grande rio deSanta Maria do Mar Doce, ou atual Amazonas, não duvidou assegu-rar a Oviedo haver sido o descobridor do Marañon.

De tudo isto resultou que, tendo, mais tarde, Orellana baixadoo mesmo Amazonas, não pôde fazer acreditar que não era o Marañono rio por que baixara, acrescenta Herrera, e, para voltar ao mesmorio, chegava a desejar pilotos portugueses, “porque eram os únicosconhecedores da costa que continuamente navegavam.”

Em 1531, aproando ao Porto de Pernambuco, Martim Afonsoque, já, nas suas imediações, apresara três naus francesas, resolve,talvez em virtude de ordens que recebera, mandar duas delas para asbandas do Maranhão, sob o comando de Diogo Leite, a fim de fazerexplorar por aí a costa, e de colocar nela padrões em sinal de posse.

Percorrendo o litoral na direção leste-oeste, em virtude dasordens que recebera, chegou pelo menos até a baía por algum tem-po denominada Abra de Diogo Leite, hoje conhecida pelo nomede Gurupi.

Como rico e precioso vestígio desta expedição, um mapa, em per-gaminho, existe de toda aquela costa, feito por Gaspar Viegas em 1534,no qual se lê, já, aquele primitivo nome, vendo-se também, nele, desig-nada mais a oeste a Baía de São João, parecendo assim, diz o ilustreVisconde de Porto Seguro, ter Diogo Leite chegado a ela no dia destesanto (24 de junho), depois de haver entrado a 25 de março na Baía de

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São José, e, a 19 de abril, na de São Marcos, se é que estes nomes nãohaviam sido anteriormente dados por Diogo de Lepe, em 1500.

Não obstante, porém, todas estas expedições e muitas outras,encaminhadas para o litoral sul do Brasil, as quais, por não ser issodo nosso programa, aqui não as mencionamos, trinta longos anospassaram-se sem que a esta parte do Novo Mundo dispensassem osmonarcas lusitanos a atenção e os cuidados que parecia ela natural-mente solicitar-lhes, organizando um serviço de colonização sério.

A notícia, porém, de que corsários de diversas nações infesta-vam já a terra descoberta, tentando nela estabelecer-se, despertouafinal a atenção de Dom João III, até então presa nos esplendores doOriente, e fê-lo empreender alguma coisa em favor desta parte dosseus domínios.

Assim pois, dividiu o Brasil em porções desiguais de território,a que denominou de capitanias, distribuindo-as em seguida porvassalos beneméritos, sob condição de as povoarem, cultivarem ecivilizarem, concedendo-lhes, demais, todos os poderes reais, excetoo de cunhar moeda e o de impor pena de morte.

A que recebeu o nome de Maranhão, constituída por uma do-ação mista de cerca de duzentas e vinte e cinco léguas de costa, cou-be, em parte, ao glorioso historiador das Décadas, João de Barros, queconvidou para companheiros na empresa Fernão d’Álvares deAndrade, tesoureiro-mor do Reino, e Aires da Cunha, formando as-sim uma associação trina, e alcançando da Coroa, como doação es-pecial, o ouro e a prata, que na terra descobrissem, no que tiverammais favor que todos os demais donatários.

Organizada a expedição sob o mando do terceiro, que consigotrazia dois filhos de Barros1 e um delegado de confiança do segundo,

1 Essa versão, corrente na época e durantes anos depois, está hoje contestada por diversaspesquisas que desfizeram equívocos provavelmente provindos de Gândavo. Da primeiraexpedição, ao comando de Aires da Cunha, não participaram os filhos de João de Barros.Vd., de Rafael Moreira e William M. Thomas, Desventuras de João de Barros, primeirocolonizador do Maranhão; o achado da nau de Aires da Cunha naufragada em 1536.In Oceanos (Lisboa), p. 101-111. N?. 27, julho/setembro de 1996. JM.

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desferrou a grande armada do porto de Lisboa em novembro de1535, com novecentos homens, dos quais cento e treze de cavalo,em dez navios, rumo de Pernambuco, onde aportou com felicidade,recebendo do donatário dessa capitania, Duarte Coelho Pereira, quemuito pareceu interessar-se pelo bom êxito de tão luzida expedição,línguas ou intérpretes, e uma fusta de remos para ir adiante, sondandoas paragens menos conhecidas e exploradas.

Com tão bons auspícios, deixou o porto de Pernambuco a expe-dição, à qual, daí em diante, estava reservada toda a sorte de desditas.

Chegada que foi à barra do Maranhão, depois de haver inutil-mente tentado Aires da Cunha fundar uma colônia no rio Baquipe,hoje Ceará-Mirim, devido à oposição dos potiguares aliados aos fran-ceses, e de ter-se desgarrado a fusta de remos, chegando a andarperdida e já sem mantimentos, deu a expedição, devido à quase ne-nhuma prática que ainda tinham os pilotos, daquelas paragens, emuns baixios que se encontravam à entrada, por espraiar ali muito omar, perdendo-se toda a armada e perecendo miseravelmente os queescaparam, inclusive o próprio chefe da expedição, Aires da Cunha.

E assim malogrou-se a primeira tentativa séria de colonizaçãoque se encaminhou para o Maranhão.

É daí, do malogro desta expedição que, no pensar quase unâ-nime dos melhores historiadores, vem a origem deste nome, dado àregião que constituía a doação de João de Barros; ou porque ao nau-fragar supusessem os da expedição se encontrar na embocadura doimenso rio, quando realmente se encontravam a mais de cem léguasao sul, perto da ilha em que se salvaram os sobreviventes, e que ora,graças a este erro, é conhecida pelo nome de Maranhão; ou porque,como querem alguns, para enobrecer a sua desgraça, dissessem osnáufragos haver-se dado o desastre na boca do grande rio (Amazo-nas), também conhecido por Marañon (Maranhão).

Como quer que seja, o certo é que o nome se perpetuou, trans-mitindo-se, com o correr dos tempos, à região toda.

A esta ilha (do Maranhão), deram os sobreviventes o nome de

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Trindade, ou porque já se encontrasse ela com tal nome no mapa deDiogo Ribeiro, em 1529, ou porque melhor devia caber-lhe agora,pela associação dos três donatários; e procuraram, com as relíquiasdo naufrágio, nela estabelecer-se, fundando uma pequena povoaçãoque recebeu o nome de Nazaré, a qual de efêmera duração foi, poisos índios, com a sua proverbial volubilidade de amigos, que a princí-pio se tinham mostrado, pouco tardaram em se levantar, queimandoe destruindo as plantações e sementeiras e chegando a pôr em aper-tado sítio a povoação e a tomar-lhes a água das fontes de beber, desorte que, reduzidos à última penúria e havendo perdido já muitagente, viram-se os que restavam ainda forçados a abandonar a terrapara onde haviam partido todos, tão cheios de esperanças.

Nada mais se tem podido adiantar até hoje sobre a história destapequena colônia, sendo para lamentar, como diz ainda o ilustre Vis-conde de Porto Seguro, que João de Barros no-la não deixasse escrita,o que teria feito com tanto vigor, como viva era a lembrança que per-petuamente conservou desta para ele tão malfadada empresa.

Desacorçoado e profundamente arruinado com o insucessodesta gigantesca expedição, a maior que os nossos mares tinham vis-to até então em poder naval, tão grande e que tanto ruído fez que,pelos seus preparativos, chegou a fazer acreditar ao embaixador es-panhol, Sarmiento, que era mandada pelo governo português contraos recentes estabelecimentos castelhanos do Rio da Prata, abriu Joãode Barros mão do seu privilégio,2 tendo-se ainda por muito feliz empoder reaver, à custa de muitos trabalhos e despesas, seus dois filhos,mandados reter na Ilha de São Domingos.

Em 1554, segunda expedição organizou-se, sob o mando deLuís de Melo da Silva,3 a quem el-rei transferira, intacto, o privilégio

2 Equívoco a que foi levado o autor, seguindo autores de seu tempo. Em 1561, conf. fonteretrocitada (p. 111), Jerônimo, filho mais velho de João de Barros, obteve, pelo alvarárégio de 5 de março, a revalidação dos direitos de seu pai. JM.

3 Luís de Melo da Silva, não como donatário, mas na condição de contratado por João deBarros ou a ele associado, viajou pela primeira vez ao Maranhão em 1554. Em 1573,provavelmente já na qualidade de titular da capitania do Maranhão, por compra aos filhosde João de Barros (falecido em 1570), Luís de Melo da Silva fez sua segunda viagem ao

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de João de Barros; mas, tão infeliz como a primeira, naufragou emuns baixios que se presume serem os dos Atins, salvando-se apenasuma das caravelas, em que os desventurados náufragos conseguiramse recolher à Pátria.

Ao malogro destas duas expedições sucede um período de cercade quarenta anos de completa inação e abatimento, completamenteperdidos, durante os quais não consta que, por parte da Metrópoleou de particulares, tivesse havido qualquer outra tentativa de coloni-zação para o Maranhão.

Não nos deixou (que saibamos) nenhuma destas duas expedi-ções o mais ligeiro vestígio, sequer, de sua passagem por esta terra,conquanto frei Marcos de Guadalajara, trasladando a Simão Estácioda Silveira, se refira à existência de uma fortaleza, levantada noBoqueirão pelos sobreviventes da expedição de Aires da Cunha, naqual se conheciam pedras brancas de Alcântara.4

Não nos parece ser isto exato, e já o historiador Berredo, es-crevendo cerca de duzentos anos atrás e em condições, portanto, demelhor poder apurar a verdade histórica, dizia nos seus Anais quenem da fortaleza, nem das pedras de Alcântara com que o capitãoSimão Estácio a dava por fabricada, havia a menor tradição do anti-go Estado do Maranhão, quando mal pode crer-se que no espaço sóde oitenta anos (que não se contam mais desde o de 1535, em que foio naufrágio de Aires da Cunha, até o de 1615, em que Jerônimo deAlbuquerque se estabeleceu na Ilha de São Luís) tivesse já o tempoconsumido uma obra de tanta duração, e com tamanho estrago, quenem lhe deixasse os fundamentos para memória dela.

(27.10.1911)

Maranhão, na qual pereceu. Entre a primeira e a segunda expedição de Luís de Melo daSilva, houve a dos filhos de João de Barros, Jerônimo e João, que no Maranhão se demo-raram de 1556 a 1561, fazendo diversas explorações na região. JM.

4 A Alcântara aí referida é a então vila dos arredores de Lisboa, hoje bairro da capitalportuguesa. A primitiva Tapuitapera, atual cidade maranhense de Alcântara, foi assimdenominada só em meados do século XVII. JM.

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Bequimão e seus descendentes

COMEMORANDO a Pátria Maranhense neste dia, de tão tris-tes e saudosas recordações para todos, o 226° aniversário daexecução deste grande patriota, cujas últimas palavras, ao su-

bir ao patíbulo, foram de afeto, de amor para esta terra, interrompe-mos, por hoje, o programa que traçamos, para alguma coisa dizersobre os descendentes deste grande homem e de seu irmão, TomásBequimão.

Assim procedendo, julgamos prestar ao Grande Supliciado de1685 a maior e melhor de todas as nossas homenagens, contribuin-do, de nossa parte, para que de sorte alguma se possa extinguir amemória de seu nome.

Teve a família Bequimão dois ramos aqui no Maranhão – Ma-nuel – o grande e glorioso mártir de 1685; e Tomás – seu irmão maisnovo e, como ele, considerado cidadão de São Luís.

Do primeiro ficaram a viúva e duas filhas, não constando dascrônicas do tempo que houvesse deixado filho varão algum, a menosque alguma das suas filhas, casando-se, não houvesse dado a descen-dente seu o apelido de seu pai, para assim perpetuar-lhe o nome.

Outro tanto, porém, não se deu com o segundo, cuja descen-dência, numerosíssima, veio até os nossos dias, com variantes diversas

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nos seus apelidos, tais como: Bequimão, Beckman e até Bequimanz.

Nesta nossa faina de percorrer arquivos e conversar com opassado, não poucas são as vezes que nos tem sido dado depararcom autógrafos de diversos membros desta família.

O de todos mais antigo que conhecemos é a sua assinatura emum acórdão em vereação da Câmara de São Luís, cuja data não te-mos agora presente.

Nele vê-se, em um tipo de letra bem claro, bem conservado eperfeitamente legível, o nome do chefe desta família, o malogradoautor da Revolução de 1685 – Manuel Bequimão.

Trinta e dois anos depois do desfecho deste movimento revo-lucionário, encontramos pela primeira vez este nome em uma cartarégia de 20 de novembro de 1717, da qual consta haver representado ogovernador para a Corte que, fazendo o ouvidor-geral da Capitania do Pará, em1715, o pelouro dos oficiais que tinham de servir no Senado, mais por indústriaque por conformidade de votos, metera nele o nome de Roque, filho de Tomás esobrinho de Manuel Bequimão, cuja turbulência (dizia o governador na suarepresentação) lhe passara como herança, pois havia feito na mencionada capi-tania muitas inquietações escandalosas, a que o dito ouvidor deixara de atender,escolhendo-o para juiz ordinário.

A estas considerações respondeu el-rei que, se Roque Bequimão,durante o ano do seu juizado, que já devia estar findo, tivesse dado ocasião aalguma perturbação, do que os povos recebessem desprazer e escândalo, nuncamais fosse admitido na Câmara, registrando-se, entretanto, aquela ordem para atodo o tempo constar.

Oito anos depois, em 1725, encontramos Manuel Inocênciode Bequimanz (com o apelido já modificado) que por essa ocasiãoalcançou sentença para poder servir de procurador da Câmara deSão Luís, alegando que só poderia ser considerado inábil por infame se seu paifosse cristão-novo, ou tivesse sido justiçado, o que não sucedera, pois ManuelBequimão, que o fora, era apenas seu tio.

Este, como se vê, era, ao que parece, filho de Tomás Bequimão,havendo já servido como escrivão do Juízo Eclesiástico na célebre

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ação cominatória que os frades capuchos intentaram às saúvas paraas fazer despejar da cerca do seu convento, cuja posse mansa e pací-fica turbavam contra todo o direito.5

Além destes, possuímos autógrafos dos seguintes descenden-tes desta família:

Inácio de Loyola Beckman – Vivia ainda, nos últimos anos do sécu-lo XVIII, nesta capital, onde era tabelião e exercia o cargo de síndicodos religiosos de Santo Antônio, segundo se vê de documentos quetemos à vista, de seu próprio punho, com datas de 1783 e 1789.

Dr. Bernardo Bequimão – Promotor do Juízo Eclesiástico em1779 e cura da Sé. Existia ainda em 1792.

José João Beckman – Temos, deste, dois documentos, todos dopróprio punho; são duas certidões passadas “como pároco da fre-guesia de Nossa Senhora da Vitória da Igreja Catedral do Maranhãopor apresentação régia e instituição canônica” – uma de 1790, outrade 1803. Era também vigário-geral da Diocese.

João Antônio Beckman – Foi administrador das diversas rendasnacionais e inspetor da Alfândega de Parnaíba, de 1835 a 1841.

Tenente Tomás Raimundo Beckman – Em novembro de 1858, erapresidente da Câmara Municipal e juiz de órfãos por lei, na cidade deAlcântara e seu termo.

Consta isso de uma guia de recebimento de dinheiro de órfãosna importância de Rs. 54:631$000.

Miguel Eliseu Beckman – Capelão da catedral em 1859. Encon-tramos este nome em uma Relação das perdas dos empregados da Catedralno mês de abril daquele ano. E – coisa singular! – entre os empregadoscujos nomes figuram nessa folha, encontra-se o do então capelãoLuís Raimundo da Silva Brito, atualmente arcebispo de Olinda.6

5 O Processo das Formigas é fato real. Correu no Juízo Eclesiástico do Maranhão em1712-1714, segundo cópias parciais que dele existem no Instituto Histórico e GeográficoBrasileiro (Rio de Janeiro), sob código Lata 467, Documento 6. JM.

6 Não se perca de vista a data de publicação deste artigo, que é de fins de 1911. D. LuísRaimundo da Silva Brito, nascido em 1840, faleceu em 1921. JM.

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Érico Pedro Beckman – Carcereiro da Cadeia Pública da capital,em 1860, e mais tarde sargento-vago-mestre do Corpo de Polícia,vivia ainda em 1879; era magro e de estatura bastante elevada.

João Batista da Silva Beckman – Era delegado de Polícia na cidadede Vigia, província do Pará, em 1868. O documento que com a suaassinatura possuímos é um atestado em que ele declara que o vaporOdorico Mendes, da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão,entrou no porto daquela cidade, procedente dos portos do Sul em11, seguiu para o Norte na mesma data e voltou em 14, tudo de abrildaquele mesmo ano.

Francisco Xavier Beckman – Faleceu sendo chefe de seção doTesouro Público Provincial em 1869. Era um caráter respeitabilíssimo.Violinista exímio, era tido aqui como o primeiro de seu tempo, ten-do sido professor de Leocádio Rayol e regente da orquestra do Tea-tro São Luís durante muitos anos.

Tomás Raimundo Beckman Júnior – Escrivão de órfãos da cidadede Alcântara e seu termo. O documento que isto nos comprova éuma guia de recebimento do dinheiro daquele juízo, visada em 7 dedezembro de 1870 pelo então juiz de órfãos daquela comarca, Dr.Segismundo Antônio Gonçalves, que mais tarde se retirou paraPernambuco onde, com o advento da República, foi governador, eatualmente é senador.

Casemiro Francisco Beckman – Atual escrivão de um dos cartóri-os da cidade de Alcântara.

Em nossos dias, disse João Lisboa, existiram, e existem ainda noMaranhão, alguns membros desta antiga família, já com o nome de Beckmanrestituído à sua genuína ortografia estrangeira, e temos ouvido que em época nãomuito afastada, um deles, que exercia o emprego de escrivão da Câmara, queren-do, quanto em si estava, delir todas as memórias de um fato, que reputava inju-rioso, a fim de que ninguém mais o conhecesse por neto ou descendente do enforca-do, subtraiu do Arquivo e do ventre dos livros todas as folhas que tinham relaçãocom o mesmo fato.

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O certo é que daqueles memoráveis acontecimentos não se encontram alisenão referências casuais muito posteriores, faltando tudo quanto é relativo aosdois anos em que eles tiveram lugar.

Não sabemos quais as razões e testemunhos em que se baseouo nosso grande historiador para assim pensar.

Quer-nos parecer, porém, com a devida vênia que a sua auto-ridade nos inspira, que muito outra é a causa da lacuna por ele apon-tada nos livros da Câmara.

Quando, em comissão do ministro do Império, Visconde deMonte Alegre por aqui andou, em julho de 1851, o nosso ilustrepoeta Antônio Gonçalves Dias a proceder a “exames nos arquivosdos mosteiros e das repartições públicas para a coleção dos docu-mentos históricos relativos ao Maranhão”, retirou-nos daqui, entremuitos livros e documentos do Arquivo da Secretaria do Governo,doze da Câmara Municipal, segundo se vê da nota, apensa ao seurelatório, que diz: Livros da Câmara Municipal do Maranhão que vão reme-tidos para o Arquivo do Rio:

1°. Registro de 1639-1664

2°. Registro de 1654-1663

3°. Registro de 1647-1668

4°. Registro de 1668-1669

5°. Registro de 1671-1676

6°. Registro de 1685-1690

7°. Registro de 1702-1710

8°. Registro de 1732-1753

9°. Registro de 1720-1809

10°. Cartas régias 1648-1798

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11°. Acórdãos 1628-1662

12°. Acórdãos 1675-1683

Maranhão, 10 de julho de 1851

(Assinado)Antônio Gonçalves Dias

Como se vê, os livros que daqui foram retirados, para o Arquivodo Rio de Janeiro nada valem, estão lá abandonados, se existirem ain-da, para nós são de um valor inestimável, insubstituível: representam ahistória de toda a nossa vida colonial até princípios do século XIX.

Pela simples inspeção das datas, fácil é de ver que neles se deveencontrar tudo quanto diz respeito à Invasão Holandesa, às lutascom os jesuítas, à revolução de Bequimão, etc., cuja falta tanto la-menta Lisboa.

E já que nos ocupamos disto, é ocasião de fazer aqui um apeloao honrado Sr. Governador do Estado,7 que tão carinhoso é portudo quanto diz respeito a esta terra.

Procure S. Exa. reaver estes livros que daqui nos levaram, quesão nossos, que representam o esforço dos nossos antepassados peloMaranhão; não consinta que permaneçam eles por mais tempo forado lugar onde estavam e de onde nunca deveriam ter saído.

Queira, como costuma querer, e não pequeno serviço terá pres-tado a esta terra que tanto lhe deve.

(3.11.1911)

7 Luís Antônio Domingues da Silva, governador do Maranhão no quadriênio 1910-1914. JM.

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Os franceses no Maranhão

QUARENTA anos eram já passados do naufrágio de Luís deMelo e, com ele, do malogro da última tentativa de coloniza-ção, sem que a Portugal fosse dado, durante todo esse tem-

po, lançar suas vistas para esta parte de seus domínios, preocupado,como se achava então, a princípio com as guerras da África, que lheconsumiam o melhor de suas forças, e mais tarde, com a dolorosapassagem da Coroa ao domínio espanhol, quando, em 1594, um fran-cês de nome Jacques Rifault, armador de Dieppe, andando a piratearpelas costas do Brasil, acossado por tremenda tempestade, de quelhe resultou a perda de seu melhor navio, veio, com os dois que lherestavam, ter ao Maranhão.

Aqui, abrindo relações com os selvagens, e ganhando a afei-ção do principal deles, o cacique Ovirapive, conseguiu fundar umpequeno estabelecimento, cuja administração confiou a Carlos desVaux, que, depois de uma permanência de cerca de dois anos, emque logrou a posse de toda a Ilha e a amizade dos tupinambás, seushabitadores, partiu para a França a fim de obter de Henrique IV oapoio e proteção para fundar aí um estabelecimento permanente.

Tais foram as informações que, dos recursos e riquezas natu-rais da nova terra, levou ao rei, que este determinou mandar explorá-la à custa da Coroa, fazendo voltar na mesma ocasião des Vaux,

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acompanhado de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière,que vinha desempenhando as funções de comissário régio.

Chegados ao Maranhão, demoraram-se seis meses.

Exatíssimo era quanto des Vaux havia contado ao rei; volta-ram à França.

Mas, nesse ínterim, Henrique IV acabava de cair sob o punhalde Ravaillac (1610), e as dissensões intestinas, civis e religiosas, queentão consumiam aquele País, não permitiram a La Ravardière obter,de pronto, os auxílios que esperava da Coroa, e só depois de algumadelonga e não pequeno esforço, foi que conseguiu incorporar umacompanhia, de parceria com Nicolau de Harlay, Senhor de Sancy eBarão de Molle e Gros Bois, e Francisco, Senhor de Rasily e Aumelles,aos quais, em nome de El-Rei Cristianíssimo, conferiu a Rainha Re-gente as cartas-patentes de tenentes-generais nas Índias Ocidentais eterritórios do Brasil, fazendo-lhes, também por essa ocasião, doaçãode uma riquíssima bandeira com as armas da França em fundo azulceleste, tendo por divisa um navio no qual se via ela mesma ao leme,com o filho à proa, empunhando um ramo de oliveira que das mãosdela recebera, e por lema Tanti dux faemina facti.

Organizada a expedição, composta de três navios – Regente,Carlota e Sant’Ana – com cerca de quinhentos homens, levantou fer-ro do porto de Cancale, aos 19 de março de 1612, vindo, depois deuma viagem das mais tormentosas, lançar âncora no Maranhão, aos26 de julho, na ilha então conhecida por Upaon-Mirim, à qual, emmemória daquele dia, deram o nome de Santana, que ainda hoje dura.

Aqui demoraram-se os expedicionários alguns dias, que nãoforam perdidos para a causa da catequese e civilização dos índios,chegando à Ilha Grande a 6 de agosto, depois de bem se haver de LaRavardière certificado, por intermédio de seu emissário Carlos desVaux, da boa hospedagem que a todos reservavam os indígenas.

Acompanhavam a expedição, a pedido de Maria de Médicis,regente da França, os padres capuchinhos Ivo d’Evreux, Cláudio deAbbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens, todos, pelas suas

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virtudes, sendo os dois primeiros, particularmente Ivo d’Evreux, dosmais insignes religiosos que terras brasileiras têm pisado, acrescendoainda a circunstância de haverem sido mais tarde os historiadores damissão, da qual bem podiam dizer que grande parte foram.

Mas, a esse tempo, já à Metrópole haviam chegado vagos ru-mores da ocupação francesa, e então, só então, como que tornando asi do abandono a que havia deixado cair esta tão rica porção das suaspossessões, foi que a corte de Madri se decidiu afinal a empreender aconquista do Maranhão.

Aparelhada para esse fim a esquadra, que se compunha de doisnavios redondos, uma caravela e cinco caravelões, com umaequipagem de menos de cem homens de mar e guerra, desferrou doporto do Recife aos 23 de agosto de 1614, ao mando de Diogo deCampos Moreno, que deveria em viagem juntar-se a Jerônimo deAlbuquerque, dali saído desde 22 de junho com algumas embarca-ções, e já então na Fortaleza do Rio Grande.

Reunidas as duas pequenas expedições, fez-se de vela, desteúltimo porto, a armada, no dia 5 de setembro, sob o mando supremodo segundo, já investido no cargo de capitão-mor da conquista doMaranhão; e depois de uma derrota trabalhosa e difícil, deu fundono dia 26 de outubro no sítio denominado Guaxenduba, onde, ape-nas desembarcados, trataram apressadamente todos de levantar for-tificações, a fim de, assim, melhor resistirem a qualquer ataque porparte dos dominadores da ilha que lhes ficava fronteira.

E não se iludiram.

Acobertados pelas últimas sombras da madrugada de 19 denovembro, e cosidos com o mangue quanto lhes permitiam as cano-as em que iam, começaram os franceses a despejar gente em terra,ferindo-se dentro em pouco a ação, que é conhecida pelo nome deGuaxenduba – do sítio em que teve ela lugar, e que é uma das pági-nas mais brilhantes e mais gloriosas de toda a nossa história colonial.

As minguadas forças portuguesas, tendo à sua frente os doisvelhos guerreiros – Jerônimo de Albuquerque, encanecido nas guerras

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irregulares do Brasil, decidido e arrojado; e Diogo de Campos, o vete-rano de Flandres, calmo e imperturbável, cobriram-se, nesse dia, deglória, obrando excessos de energia, praticando gentilezas de valor,lutando enfim contra um inimigo dez vezes superior em número!

Prolongou-se esta famosa jornada das dez horas da manhã atéquase ao cair da noite, quando, repelidos por toda a parte, entrega-ram-se os franceses à mais desordenada fuga, abandonando o cam-po aos vencedores.

No mapa da Provincia del Maragnone que acompanha a obra Istoriadelle guerre del Regno del Brazile accadute tra la Corona di Portogallo, e laRepublica di Olanda, composta, ed offerta alla sagra reale maestà di Pietro Secondore di Portogallo, etc., dal P. P. Gio. Giuseppe di Santa Teresa, CarmelitanoScalzo. Parte Prima Anno MDCXCVIII. In Roma, nella Stamperia degl’Eredidel Corbelletti, nesse mapa, que se encontra entre as páginas 24 e 25 dareferida obra, vem já assinalado o sítio onde feriu-se tão gloriosapeleja, a quatro léguas do Rio Munim, representado por um hexágo-no perfeito com a inscrição – Forte de Santa Maria, assim chamado(diz Diogo de Campos, Jornada do Maranhão por ordem de Sua Majestadefeita o ano de 1614), por haverem os padres capuchos lançado sortesao nome da fortaleza e ter saído o Nascimento de Nossa Senhora.

A este brilhante feito de armas seguiu-se um tratado de tré-guas, que não foi respeitado por ter sido concluído com piratas, –disse-o a Corte de Lisboa, sendo então enviado Alexandre de Mouracom uma nova expedição e ordens terminantes para ultimar a con-quista do Maranhão.

No dia 11 de novembro de 1615, apresentou-se na barra aarmada portuguesa, e, no dia seguinte, intimado a render-se, assinouRavardière um auto de entrega da Fortaleza de São Luís, bem comodos navios, com toda a artilharia, munições e petrechos bélicos, ha-vendo durado a ocupação francesa, no Maranhão, cerca de três anose quatro meses.

(10.11.1911)

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Caráter, fins, meios e resultadosda Ocupação Francesa em paralelo

com a Invasão Holandesa

AQUEM ESTUDA a História do Maranhão e compara asduas invasões estrangeiras que logo nos seus começos sesucederam uma a outra com tão pequeno intervalo, não é

possível (disse o nosso grande historiador)8 que escape o pronunci-ado antagonismo do caráter, fins, meios e resultados de ambas.

De fato, assim é.

E, se não, vejamos, começando pelo próprio ato, em si, da invasão.

Dos franceses não se pode propriamente dizer que invadiram– não, eles tomaram posse, ocuparam um território totalmente aban-donado, cujas primeiras explorações lhes eram devidas, pois haviamsido feitas por armadores de Dieppe e datavam já de 1524, explora-ções completadas pelas navegações de Afonso de Chaintongeois atéàs bocas do Amazonas, em 1542.

Foi de toda essa imensa extensão de território que, vinte ecinco anos mais tarde, Henrique IV fez doação a um bravo capitãoda Religião Reformada, doação de que vamos encontrar de posse a

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8 Referência a João Francisco Lisboa. JM.

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Daniel de La Touche, pelas cartas-patentes de julho de 1605, e queeste conseguiu que lhe fosse renovada por Luís XIII em 1610, esten-dendo-se o seu domínio (dizia o texto da concessão renovada) desde oRio do Amazonas até a Ilha da Trindade.

Eram, portanto, os franceses portadores de um título, cuja le-galidade não é aqui ocasião de apurar, que os habilitava a tomar pos-se de toda esta região.

E ainda assim, como o fizeram?

Procuraram a amizade e as alianças dos naturais do País, e,uma vez aqui estabelecidos, trataram de catequizá-los e civilizá-los,levando-os sempre pelos meios brandos, conseguindo, por esta for-ma, ganhar-lhes confiança tal, que não consta, durante o período detrês anos e quatro meses, que tanto durou a Ocupação Francesa, terhavido qualquer ato de insurreição por parte dos indígenas.

Era, portanto, a Missão Francesa uma missão toda de paz, todano interesse da própria civilização.

Dirigindo-se ao Brasil, procurando terras do Maranhão, certonão o haviam feito os franceses tão-somente no interesse ou poramor aos indígenas, não! Mais do que isso, para aqui os atraía e arras-tava a idéia de arrancar de uma terra virgem tudo quanto ela lhespudesse dar, e disso estavam mais que certos pelas afirmações de desVaux; mas, enquanto por um lado assim pensavam e assim procedi-am, por outro, não descuravam um só instante dos índios, ativandopor todos os meios a catequese e provendo ao seu bem-estar, aten-dendo-lhes assim às necessidades espirituais e temporais.

Era Daniel de La Touche protestante. Não foi, entretanto, aospartidários de sua religião que se dirigiu ele para ser bem-sucedidonesta empresa.

Pelo contrário, sem hesitar, entrou em conferência com católi-cos proeminentes, cuja lealdade perfeitamente conhecia, tais como: oalmirante Francisco de Rasilly, uma das mais antigas glórias da França,e Nicolau de Harlay, uma de suas sumidades financeiras, conseguin-

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do deles que se lhe associassem na exploração deste privilégio.

Em todo o século XVII não conhecemos transação outra, en-tre católicos e protestantes, mais leal e desinteressada: foi, na verda-de, uma empresa digna de contar em si o padre Ivo d’Evreux, tãosincero como justo.

E dos holandeses, poderemos nós dizer outro tanto?

Governava o Maranhão Bento Maciel Parente, quando, a 25de novembro de 1641, apresentou-se inopinadamente na barra po-derosa esquadra holandesa, forte de dezoito velas, com cerca de doismil homens de desembarque, a qual, recebida a princípio com salvas,como sói acontecer entre nações amigas, e logo em seguida comartilharia das baterias portuguesas, por mostrar intenções hostis, foialtaneiramente, transpondo o ancoradouro, dar fundo na Ponta doDesterro, no rio Bacanga.

Aí, desembarcando metade de suas tropas, dispunha-seLichthart a investir contra a fortaleza, quando Maciel por um emis-sário lhe fez notar a perfídia com que procurava senhorear-se de umterritório que só pertencia a El-Rei seu amo.

Iludindo o velho governador com promessas falaces de um ajustede tréguas, até que recebesse resposta dos Estados Gerais, a quem iaconsultar nesse sentido, dirigiu-se João Cornelles à testa dos seus sol-dados para a fortaleza, que encontrou indefesa, e, prendendo a BentoMaciel, fez abater o pavilhão português e arvorar o holandês.

Dar-se-á caso de maior perfídia?

Colhida esta tão fácil vitória, entregaram-se os holandeses atoda a sorte de depredações, não respeitando sagrado nem profano.Pilharam as casas e os templos, levando mão sacrílega às imagens,que despedaçaram.

Aterrados com este espetáculo, fugiram espavoridos os mora-dores para os matos, abandonando suas casas, ficando assim em poucotempo a pequena cidade quase deserta; e não satisfeito ainda, fezJoão Cornelles prender a cento e cinqüenta dos mais importantes,

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entre os quais se contava um sobrinho de Bento Maciel, atirando-osno porão de um navio, podre e inservível, que mandou sair barrafora, contando assim entregá-los a uma morte certa.

Ainda mais. Fintou em cinco mil arrobas de açúcar os propri-etários dos cinco únicos engenhos que havia nas margens doItapecuru, reduzindo-os, por escárnio, a administradores ou feitoresdos seus próprios estabelecimentos!

E agora, que contraste entre uns e outros: entre o procedi-mento indigno de João Cornelles para com os pobres habitantes deuma pequena cidade, tomada à mão armada, à falsa fé, em plena paz,e abusando da fraqueza de um povo imbele e desarmado, não menosque das irresoluções de um velho setuagenário, e o cavalheiresco enobre de Daniel de La Touche, logo após a Batalha de Guaxenduba,o qual, apesar de derrotado por Jerônimo de Albuquerque, não tre-pidou de mandar ao campo inimigo o seu cirurgião-mor e remédiospara acudir aos feridos que, à míngua deles, faleciam!

Convidado a jantar a bordo de um dos navios franceses peloSenhor de La Ravardière, depois de haver sido recebido com termosmuito corteses e de lhe terem sido prestadas todas as honras milita-res (é o próprio Diogo de Campos quem o diz) – observou que nãofaltava de comer, e música naval bem concertada, mostrando Ravardière na auto-ridade e no trato um vestígio honrado em que se enxergava despesa mais queordinária. – Ao retirar-se o sargento-mor, salvaram os navios e fize-ram-lhe todas as demais honras do estilo.

Do pouco que aqui fica dito, conclui-se que:

Os franceses levantaram, os holandeses derrubaram; os france-ses deram começo à fundação da cidade e à construção dos primeirosedifícios que aqui houve, alguns dos quais ainda hoje duram; os holan-deses incendiaram ou lançaram por terra esses mesmos edifícios; osfranceses trouxeram para aqui não pequenos cabedais, inclusive alfaiaspara o convento de São Francisco (Santo Antônio), trabalhadas pelaspróprias mãos da Duquesa de Guise; os holandeses arrebataram-nostudo isso, como fintaram o açúcar de todos os engenhos e tudo o

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mais que seus olhos cobiçosos viram, só não havendo feito o mes-mo às pedras das casas das nossas fortalezas por lhes ser, de todo,impossível transportá-las nos seus já arruinados e imprestáveis navi-os.

Eis por que na sua Introdução aos Anais históricos do Maranhão,por Berredo, dizia o nosso grande poeta9 que a expulsão dos france-ses levara consigo tantas esperanças, e a invasão dos holandeses es-tragara tantas fortunas.

(17.11.1911)

9 Gonçalves Dias. JM.

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Fundação do Maranhão

ACIDADE de São Luís, capital do Estado do Maranhão, éuma cidade de origem absolutamente francesa, ocupando,ainda hoje, o mesmo lugar escolhido por seus fundadores.

Está situada a 2°30’44" de Lat. S. e 1°6’36" de Long., em arcodo meridiano do Rio de Janeiro, em uma pequena península ao suldo Anil, a E. e N. do Bacanga, ligada à ilha do mesmo nome pelaestrada do Caminho Grande, no lugar conhecido por Alto da Carneira.

Foi na extremidade O. desta península, em um sítio previa-mente escolhido, a cavaleiro do ponto em que se dá a confluênciados dois já referidos rios – Anil e Bacanga – que, há 299 anos, lança-ram os chefes da Missão Francesa os primeiros fundamentos de umapequena cidade a que deram o nome de São Luís, em memória eter-na de Luís XIII, rei da França e de Navarra, e ao fundeadouro quelhe ficava junto o de Porto de Santa Maria - em homenagem à Vir-gem Santíssima, cuja natividade se celebrava naquele memorável dia(8 de setembro), e também a Maria de Médicis, regente da França namenoridade de Luís XIII, como reconhecimento aos largos favorespor ela dispensados à expedição.

Vejamos agora como tudo isto teve lugar; como foram assen-tados os primeiros fundamentos da nossa querida São Luís.

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Chegados ao Maranhão a 6 de agosto de 1612, guiados, comojá vimos, por de Rasilly e de La Ravardière, trataram para logo osfranceses de construir um forte que lhes pudesse dar a segurança daposse e conservação do território que acabavam de ocupar.

Escolheram para esse fim (diz o padre Cláudio de Abbeville) umabonita praça muito própria por ser numa alta montanha e na ponta de umrochedo inacessível, superior a todos os outros, e donde se descobre terreno aperder de vista, e, embora separada da terra firme, é inconquistável e muitoforte, por estar cercada de dois rios profundos e largos que desembocam no marao pé do dito rochedo, onde é o único porto da Ilha do Maranhão, e nele podemfundear com toda a segurança navios de mil a mil e duzentas toneladas.

Isto quanto à escolha do local para o forte.Vejamos agora como se construiu este, e onde e como se le-

vantaram as primeiras habitações que contou a nascente cidade.Reconhecendo os índios a necessidade desse forte, por seu e nosso interesse

(continua Cláudio d’Abbeville), principiaram a trabalhar logo nele commuita alegria e sinceridade, construindo muitas casas para os franceses, compequenas árvores, que contavam de 12, 15 e 20 pés, conforme a altura que sedesejava.

Enterrando essas árvores no chão uma contra a outra, eles as prendiamcom outros pedaços de paus atravessados com barrotes e cordas.

Por cima de tudo estendiam ripas e cobriam com folhas de palmeira, cha-madas em sua linguagem – pindoba –, e com tal arte que não deixava penetrara chuva, e vista de dentro, notava-se curiosa disposição ou arranjo.

Em pouco tempo edificaram muitas casas dessas, de um e dois andarescom um grande armazém, onde arrumaram todos os gêneros que trouxemos, eque eles próprios foram buscar a bordo.

Com auxílio dos franceses, montaram no dito forte, embora muito alto,vinte canhões grandes para sua defesa.

Junto a este forte há uma praça cômoda e bonita: nela se encontram muitoboas fontes e regatos, que são a alma de uma cidade, e aí existem todas as como-didades desejadas, como sejam paus, pedras, barro e outros materiais para aedificação sem muito dispêndio.

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Tal é a singela descrição que nos faz o reverendo padre Cláu-dio de Abbeville do local preferido pelos chefes da Missão Francesapara a fundação da pequena cidade, local que, pelos termos claros einconfundíveis por que o descreve, outro não é senão o outrora co-nhecido por Largo de Palácio, atualmente Avenida Maranhense.

Abrangia, portanto, o estabelecimento francês, no seu come-ço, a área que se estende da Rampa até o lugar ocupado hoje pelaCatedral e Palácio do Bispo, onde então havia, sob a invocação deSão Luís, uma pequena capela provisória, à imitação das igrejas dosconventos dos capuchinhos de Paris, construída de madeira, cercadae coberta de ramos fortes, cortados de uma árvore chamadaAcaiucantim.

Era aí que, temporariamente, celebravam os religiosos capuchostodos os atos divinos, enquanto procediam à construção da capelade São Francisco do Maranhão (Santo Antônio).

Aí, diz Ivo d’Evreux, celebrei missas, cantei vésperas, preguei e bati-zei catecúmenos.

À tarde tocava o sino, todos se reuniam nesta capela onde se cantava asaudação angélica, implorava-se a graça divina, e depois cada um ia paraonde queria.

De um lado e de outro, isto é, ao norte e ao sul, era a praçaladeada pelas recentes habitações, às quais, com o correr dos tem-pos, outras melhores se foram naturalmente sucedendo, até o pontoem que a vemos hoje, tudo isto defendido por altas fortificações nasquais montaram os franceses vinte canhões grandes.

Fala-nos também Cláudio de Abbeville, num dos tópicos dasua descrição a que nos referimos há pouco, de uma praça cômoda ebonita que havia junto ao forte, na qual se encontravam muito boas fontes eregatos, e existiam todas as comodidades desejadas tais como paus, pedras, barroe outros materiais para a edificação sem muito dispêndio.

A praça a que alude aqui o ilustre capuchinho, pelas circunstânciasde que faz ele revestir a sua narração – “estar situada junto ao forte, e

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existirem nela muito boas fontes e regatos”, outra certamente não ésenão a em que, poucos anos depois, foi erigida a igreja de Nossa Se-nhora do Carmo, outrora Largo deste nome, hoje Praça João Lisboa,mesmo porque nenhuma outra existe nas condições acima apontadas.

Quanto “às fontes e regatos” a que se refere a descrição, étradição velha no Maranhão existirem, por aí assim, os grandes ma-nanciais que fornecem toda essa água que, ininterruptamente, querde verão, quer de inverno, vem ter à Fonte do Ribeirão e abastece, dehá longos anos, a população que demora por aquelas imediações.

E nem só tradição velha, não.

Conhecemos, mesmo, documento positivo a semelhante respei-to, e que vem em abono do que acabamos de dizer, o qual é o seguinte:

Quando foi da sua construção, o que teve lugar em 1796, nogoverno de D. Fernando Antônio de Noronha, o encarregado dainspeção das obras que ali se praticavam, José Luís da Rocha, emofício de 13 de fevereiro daquele ano, dirigido ao referido governa-dor, com este instava para que mandasse avaliar e comprar um quintal deuma pequena casa de João Gomes Viana, porque sendo ele muito baixo e nãodando saída por parte alguma às águas que nele se ajuntavam no inverno, fica-vam encharcadas e iam filtradas pela terra ter à principal mãe-d’água da ditafonte que fica a mui pequena distância prejudicando-a com as suas impu-rezas e imundícies e tornando-se assim prejudiciais aos povos desta cidade.

Mas voltemos ao fim principal da nossa conversa de hoje.

Agasalhados nas suas habitações, depois de haverem todos, padrescomo soldados, passado as primeiras noites ao relento, sob o frondosoarvoredo que sombreava a beira-mar, trataram os da expedição francesade marcar dia para a instituição solene da pequena cidade, ou antes, a posseoficial da terra ocupada em nome de El-Rei Cristianíssimo, sendo acordado,entre franceses e indígenas, que tal solenidade se realizaria a 8 de setembro,dia da Natividade da Virgem Santíssima.

No dia aprazado estavam todos, logo bem cedo, com os fran-ceses, e depois de haverem celebrado o santo sacrifício da missa na

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capela de São Luís, de que já falamos, encaminharam-se todosprocessionalmente até o forte.

Cedamos aqui a palavra a um dos historiadores da missão, opadre Cláudio de Abbeville. É tocante e belíssima a descrição quenos deixou o ilustre religioso, daquela memorável solenidade, a pri-meira que terras maranhenses viram, e tão ao sabor daquelas épocasde piedade, de fervor e de fé viva.

Na frente, diz ele, ia um gentil-homem levando água benta, outro oincenso, outro o turíbulo.

Atrás destes ia outro fidalgo conduzindo um lindo crucifixo, presente doSr. Manoir, indo ao lado dele dois mancebos índios, filhos dos principais, carre-gando dois castiçais com tochas acesas alumiando a cruz.

Chamava-se um destes moços Louy (depois Carlos, quando se batizou) eera filho de Japiaçu, principal de toda a Ilha, e o outro era o filho mais novo deMarkoya-Pero, um dos maiores do lugar, chamava-se Patuá e era o mais pequenodos seis rapazes que levamos para a França e, pouco antes de morrer, nas águasdo batismo teve o nome de Tiago

Estes dois meninos eram da mesma idade e foram pelo Sr. de Rasillyvestidos da mesma forma, e a ele entregues desde a nossa chegada ao Maranhão.

Nós quatro religiosos, revestidos de sobrepelizes brancas, acompanhamosa cruz com ordens.

Seguia-se depois o Sr. de Rasilly, loco-tenente-general de Suas Majestades,toda a nobreza e afinal os outros franceses, misturados com os índios.

Principiamos a cantar a ladainha da Virgem Maria, como fizemos quandoplantamos a cruz na Ilha de Santana.

Chegando ao forte, no lugar escolhido para plantar-se a cruz, que eramuito grande e aí se achava pronta, cantou um de nós o Te Deum Laudamus,e seguiram-se outras orações

Em seguida teve lugar uma prática, acabada a qual o Sr. des Vaux fezcompreender aos principais dos ditos índios, e a outros de sua nação, aí presentes,o motivo e o fim da ereção da cruz, que era como testemunho da aliança entre ele

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e Deus, e solene protesto de abraçarem a nossa religião, desprezando inteiramenteo maldito Jeropari que jamais podia existir diante dessa santa cruz, apenas aben-çoada, sendo forçado a deixar a terra, quando fosse erguido este símbolo da reli-gião, pelo qual se obrigavam – em primeiro lugar, a deixar a má vida que ti-nham, e especialmente a não comer mais carne humana, embora de seus maioresinimigos; em segundo, a ser obedientes às leis e a tudo quanto lhes ensinassem ospadres; e, finalmente, a combater com valor sob este glorioso estandarte, e mil vezesmorrer antes que consentir fosse dali arrancada aquela cruz.

Causou este discurso a mais funda impressão no ânimo dos índios, queexteriormente manifestaram a emoção que sentiam, assegurando que voluntária esatisfatoriamente acolhiam e abraçavam tudo quanto se lhes propunha, visto que,de há muito, desejavam conhecer o Deus que adoravam os franceses, e aprendercomo devia ser obedecido e adorado, protestando nunca faltar à promessa tãosolenemente feita.

Feito isto, de acordo com o cerimonial usado pela Igreja em ocasiões tais,procedeu-se à benção da cruz, que em seguida foi exposta à adoração de todos, acomeçar pelos sacerdotes, e depois por de Rasilly, pelos fidalgos e afinal por todos osfranceses, uns após outros.

A estes seguiram-se os indígenas, vindo, em primeiro lugar, os principaiscom particular devoção, como exemplo dado a todos os índios (diz o historiadorda Missão).

Estavam vestidos com bonitos sobretudos de cor azul-celeste, tendo porcima deles cruzes brancas adiante e atrás, que lhes foram dadas pelos loco-tenen-tes-generais para servirem nesta e noutras iguais solenidades, seguindo-se depois osvelhos e pessoas antigas, e afinal todos os índios presentes, com ordem, sem confu-são, uns após outros, os quais todos, assim como tinham visto os franceses faze-rem, ajoelhavam-se perante a cruz, adoravam-na, beijavam-na com todo o respei-to, humildade e devoção, como se houvessem, em toda a sua vida, sido educados àsombra do Cristianismo.

Terminando este cerimonial todo, teve lugar a ereção da cruz (trabalho esteexclusivamente feito pelos indígenas), procedendo-se em seguida à benção da Ilhaao troar da artilharia do forte e dos navios, em sinal de regozijo, dando, então, deRasilly à fortaleza o nome de Forte de São Luís, e ao fundeadouro que lhe ficajunto o de Porto de Santa Maria.

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São decorridos 299 anos das cenas que, aqui, ligeiramente fi-cam descritas, mas ao percorrer ainda hoje aquelas páginas de Cláu-dio de Abbeville na sua História da missão dos padres capuchinhos na Ilhado Maranhão, como que nos parece vê-las renovarem-se aos nossosolhos, tão viva é a narração que delas nos deixou o venerávelcapuchinho, tão viva e tão verdadeira que pode e deve ser considera-da como o auto da fundação da cidade

À obra, a que acabamos de nos referir, acompanham sete finíssimasgravuras, das quais a primeira, na capa, representa o ato da elevação dacruz, e as outras seis, os retratos de seis indígenas transportados para aFrança. É raríssima (de 1614) e de inestimável valor.10

Não se sabe hoje, ao certo, precisamente, o lugar em que naantiga praça, ora Avenida Maranhense, foi erguido este primeiromonumento histórico pelos franceses.

A cruz nunca foi renovada, e o tempo, que tudo gasta e conso-me, não nos deixou dela senão esta tradição.

A julgar, porém, pelo que nos refere o historiador da Missão, pare-ce-nos não andarmos muito longe da verdade, aventurando que ela deve-ria naturalmente ter sido hasteada na área que fica entre os edifícios ocupa-dos hoje pela Capitania e Delegacia Fiscal, de modo que, mesmo ao longe,pudesse ser vista pelos que demandassem o porto.

O nome de Forte de São Luís estendeu-se depois à nascentecidade, e, finalmente, a toda a ilha.

E já agora não deixa de ser curioso saber os diversos nomespor que foi conhecida na História a ilha que habitamos.

Pelos indígenas era chamada Upaon-Açu (Ilha Grande); peloseuropeus Ilha dos Tupinambás, por serem estes os ocupadores detoda a costa, desde a foz do Jaguaribe até aqui.10 O autor faz referência à obra original, em francês (Paris: De l’Imprimerie de François

Hvby, 1614. [7]. 394, [28], f. 7 il]. Dela, o historiador César Augusto Marques fez traduçãoem 1874 (São Luís: Typ. Do Frias, [6], cii, xvi, 456, [2], iii p.), e Sérgio Milliet em 1945[inicialmente, São Paulo: Livraria Martins, 196p. (Biblioteca Histórica Brasileira, 15; comintrodução e notas de Rodolfo Garcia), com reedição em 1975 (Belo Horizonte: Itatiaia,297p.). Segunda edição de César Marques saiu recentemente em São Paulo (Siciliano,2002, 363p. Coleção Maranhão Sempre). JM.

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Os portugueses denominaram-na Ilha das Vacas, e os sobrevi-ventes da expedição de João de Barros – Ilha da Trindade.

Os franceses que andavam a corso pelas costas do Brasil, de-ram-lhe o nome de Maranhão; alguns cosmógrafos o de Ilha de Fer-ro, pela suposição da existência de minas deste metal; os chefes daMissão Francesa o de Ilha de São Luís, e finalmente, Alexandre deMoura, após a capitulação assinada pelos franceses no Forte do Sar-dinha (São Francisco) o de Ilha de Todos os Santos.

Foram todos estes nomes esquecidos, ficando somente o deSão Luís, como uma compensação aos superiores intuitos da MissãoFrancesa.

Completa o Maranhão a 8 de setembro do ano vindouro (1912)o tricentenário da sua fundação.

Não deve este dia passar aqui despercebido, como a Minas,Ceará e outros Estados não passou, e, desde já, daqui apelamos parao honrado Sr. Governador do Estado, sempre pronto a ser o primei-ro a dar o exemplo nestas comemorações cívicas, a fim de que sejacolocado no local onde foi erigida a cruz, um padrão, uma pedraqualquer, por mais modesta que seja, rememorativa daquelaimorredoura data.

Bem pode essa pedra ter a forma simbólica de uma cruz emque sejam gravadas as armas da França naquela época e o escudo dehoje do Maranhão, com a seguinte inscrição:

8 de setembro de 1612

8 de setembro de 1912

HOMENAGEM DO MARANHÃO

AOS SEUS FUNDADORES

(24.11.1911)

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Vestígios da Ocupação Francesa.A igreja de Santo Antônio

DENTRE OS RAROS e preciosos vestígios dos três anos equatro meses, que sob a Ocupação Francesa, tem, sob todosos títulos, o primeiro lugar, logo após o Forte de São Luís, é

o convento de São Francisco (hoje Santo Antônio).

A primeira notícia que a seu respeito encontramos é a que nostransmitiu Cláudio de Abbeville em sua obra, tantas vezes já por nóscitada em artigos anteriores.

Em distância de mil ou mil e duzentos passos (do Forte de São Luís)há um bonito lugar de recreio, diz o notável missionário, onde existe umafonte, especial pela limpidez e bom gosto de sua água, viva e clara, que dela jorrae corre para o mar; é cercado de palmeiras, de guaiaco, de murtas e de outrasárvores corpulentas e grandes, onde se vêem, muitas vezes, monos, macacos quevão ali beber água.

Neste delicioso lugar os índios tupinambás derrubaram grande número deárvores e um pouco acima da fonte construíram uma grande e espaçosa casa parahabitarmos, e outra a ela mística, para a celebração do Santo Sacrifício da Missa,servindo de capela.

Demos a este lugar o nome de Convento de São Francisco.

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É, portanto, o convento de Santo Antônio uma das primeirasfundações francesas ocupando, segundo se infere dos termos clarose precisos da descrição acima, o lugar que primitivamente lhe foraassinalado pelos religiosos capuchinhos.

A fonte a que se refere o historiador da Missão, todos o sa-bem, é o lugar conhecido por Tanque de Santo Antônio, na cerca doconvento deste nome.

Data a sua fundação de agosto de 1612, isto é, dos primeirosdias posteriores à chegada, aqui, da expedição francesa, havendosido seus fundadores os reverendos padres capuchinhos da pro-víncia de Paris, Cláudio de Abbeville, Arsênio de Paris e Ambrósiode Amiens, tendo como superior da Missão o venerável padre Ivod’Evreux.

Grandemente auxiliado pelos indígenas, que a trabalho algumse poupavam, tiveram os padres a rara ventura de ver acabada a suacapela na véspera de Natal, a 24 de dezembro, portanto, daquele mes-mo ano, ou cerca de quatro meses, contados do dia em que à mesmahaviam dado começo, e muito a propósito, (acrescenta um deles) pela devo-ção que sempre teve o seráfico padre São Francisco a quem era dedicada.

Nessa noite, celebraram-se aí, pela primeira vez, atos do cul-to divino.

Na verdade enchia-me de imenso prazer (diz Ivo d’Evreux in Viagemao Norte do Brasil, feita em os anos de 1613 a 1614) vendo nessa capelinha,feita de madeira coberta de folhas de palmeiras, mais semelhante ao presépio deBelém do que a esses grandes e preciosos templos da Europa, os nossos compatri-otas franceses cantarem os salmos e matinas desta noite, e depois, purificados pelosacramento da Penitência, receberem o mesmo Filho de Deus no presépio dos seuscorações, envolvido nas faixas do Santíssimo Sacramento do altar.

Festejamos também o dia de Natal, à noite pregamos, o que sempre fize-mos depois das festas e nos domingos, e com prazer, embora muito sofrêssemos noprincípio; enquanto durou esta devoção corria o tempo tão depressa, que o diaparecia ter somente duas horas; e assim achando-se o nosso espírito preocupadocom obras piedosas sentia a morte vir tão depressa.

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Com a capitulação, porém, dos franceses, o que teve lugar nodia 2 de novembro de 1615, no Forte do Sardinha (São Francisco)após condições humilhantes, arrogantemente ditadas por Alexandrede Moura e vergonhosamente aceitas por la Ravardière, retiraram-setambém os capuchos, sendo o modesto hospício, que com tantodesvelo haviam levantado, entregue aos cuidados de frei Cosme daAnunciação e frei Daniel da Natividade, ex-guardião do convento daParaíba, e frei Manuel da Piedade, afamado teólogo, ambos para aquivindos de Pernambuco com Jerônimo de Albuquerque.

E é de notar como se revelaram, ainda uma vez mais, nobres eelevados os intuitos da Missão Francesa.

Os capuchinhos, muito ao contrário do que seria de esperar,talvez, em se tratando de vencidos para com vencedores, em vez delevar consigo quanto da França haviam trazido e o mais que depoisreceberam durante a sua estada aqui, deixaram à nascente igreja tudoquanto a mesma já então possuía, constante de alfaias custosas, tra-balhadas pelas próprias mãos da Duquesa de Guise, cálices, castiçaise muitos objetos outros, próprios de templos católicos, no valor demais de vinte mil cruzados, o que para o lugar e tempo era uma somajá bastante avultada.

E não somente isso: tudo o mais que lhes estava a vir de Paris!

Entretanto, Deus sabe quanto não lhes teria isso custado.

Assim procedendo, tornando-se superiores à própria desdita,engrandeceram-se os missionários franceses perante a História.

A Missão acabou, terminou aqui seus dias, como havia co-meçado.

Havia então no convento frei Arcângelo de Pembré, comissá-rio, com dois religiosos capuchos, – tão venerandos e de tais mostras, quepareciam santos, e como tais foram recebidos pelos religiosos portugueses.

Quando se retiraram para a França, não podendo ser indife-rentes à sorte da colônia que, durante três anos, lhes tinha sido apreocupação constante e única de todos os instantes, aqui deixaram

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ainda dois frades e um clérigo de missa, todos franceses, para cuida-rem dos católicos e de vinte mil índios que tinham cristianizado.

É Diogo de Campos (quem o afirma), sargento-mor e autorda Jornada do Maranhão, feita por ordem de Sua Majestade o ano de 1614, ovencedor dos franceses em Guaxenduba, testemunho, portanto, deum valor único a semelhante respeito.

Retirando-se os capuchinhos franceses, ponderaram os religi-osos portugueses que tinham vindo substituí-los, que – sendo o sítio doconvento pouco conveniente, e havendo necessidade de outro, em que morou Monsieurde Pinau, francês, com todas as suas águas vertentes para nele começarem o mos-teiro da sua ordem, por isso o pediram e terminaram solicitando carta de data doreferido terreno.

A carta foi passada por Alexandre de Moura em 12 de dezem-bro de 1615, no Forte de São Luís, tendo lugar a demarcação a 15 dejaneiro de 1616, falando-se nela em uma baixa que fazia aí o oiteiro parao Rio Cutim no teso da baixa da outra banda – parecendo ser o lugar ondeestá o Tanque.

Nesse mesmo dia foram os frades empossados das terras, daságuas e das árvores, figurando, entre outros, como testemunhas destadoação, Jerônimo de Albuquerque e Bento Maciel Parente, depoistão tristemente célebre, e, como escrivão na posse, Frutuoso Lopes,tabelião de toda esta conquista.

Com a nomeação do primeiro governador que teve este Esta-do, Francisco Coelho de Carvalho, em 1624, para aqui veio em suacompanhia o reverendo frei Cristóvão de Lisboa, como comissário,trazendo consigo um bom socorro de religiosos da província de SantoAntônio.

Em chegando aqui, em agosto do mesmo ano deu princípioao convento no lugar onde ainda hoje existe, tendo o prazer de vê-loacabado.

O templo, que, sob a denominação de igreja de Santo Antô-nio, ora conhecemos situado no Largo do mesmo nome, não é, pre-cisamente, o mesmo que há uns sessenta anos ali existia.

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Não era assim o primitivo.

Baixo, acaçapado, de proporções acanhadas, não tinha torrealguma na frente, existindo uma, pequena e muito baixa, nos fundos,por detrás do lugar onde se vê hoje o altar de Nossa Senhora daConceição.

Acompanhando toda a extensão da parede que olha para opoente (frontispício) corria em frente e encostado à igreja, um al-pendre, de regular altura, sobre o qual se via em um nicho, encravadona mesma parede, uma imagem do padroeiro da igreja, de propor-ções tais que facilmente era avistada ao longe pelos que do Largo doRosário se dirigiam à igreja de Santo Antônio.

Interiormente, mais que pobreza respirava o templo.

Era isto em 1850.

Notável era então a decadência das ordens religiosas. O seupessoal, já tão desfalcado no Brasil, e aqui mais que em outra qual-quer província, ia, dia a dia, desaparecendo, seja pelos incessantesgolpes da morte, seja pelas continuadas secularizações.

Foi nesse momento de desfalecimento e em que o velho etradicional templo ameaçava próxima ruína, pois que por toda a par-te desabava já, que um religioso houve que se encontrou à altura dasituação, merecendo por isso que lhe relembremos aqui o nome.

Esse foi frei Vicente de Jesus.

Natural da província do Pará, para aqui veio em 1849,ordenando-se no ano seguinte, e sendo nomeado, logo em seguida,guardião do convento, por haver revelado, desde cedo, não vulgaresqualidades administrativas.

Moço, com vinte e cinco anos apenas, de um gênio ativo eempreendedor, lutando não só com a falta de meios, como, aindamais, com a de um pessoal habilitado e capaz de reforma, não desa-nimou entretanto.

E assim, confiado em si e na força de sua vontade, dirigiu-se àAssembléia Provincial, pedindo um auxílio pecuniário para ajudá-lo

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na obra que tinha em plano.

Felizmente todos o compreenderam, e não foi sem assombroque os incrédulos daquele tempo viram, de velhas e carcomidas pa-redes, levantar-se, soberba e majestosa, a igreja do convento de San-to Antônio, no gosto da arquitetura gótica.

Não teve o incansável e saudoso religioso a ventura de verrealizados os seus tão ardentes desejos, mas, pelo que deixou feito,bem se pode avaliar de quanto seria ele capaz, se a morte, a terrívelmorte, não o houvesse arrebatado tão moço, aos 36 anos de idade,quando se propunha, após onze anos de um trabalho sem tréguas, adar a última demão às obras que com tanto ardor empreendera.

Faleceu o laborioso franciscano a 4 de agosto de 1862.

Era frei Vicente de Jesus um espírito culto, tendo sido, com oarcediago Dr. Manuel Tavares da Silva, de quem era grande amigo,fundador e redator d’O Cristianismo, jornal exclusivamente voltadoaos interesses da Igreja Católica e que aqui existiu de 1854 a 1855

Com o desaparecimento de frei Vicente, foi nomeado guardiãodo convento frei Ricardo do Sepulcro, que, a muito pedir, obteve daAssembléia Provincial a consignação anual de 12:000$000 para aconclusão destas obras, sendo pela Presidência incumbido da dire-ção delas o engenheiro Francisco César da Silva Amaral.

As obras, porém, pouco andamento tiveram, estacionando, devez, e talvez para sempre, com a morte deste que foi o último religi-oso que teve a Ordem franciscana no Maranhão.

(1°.12.1911)

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Convento de Santo Antônio

ÉO CONVENTO de Santo Antônio uma casa tradicional-mente histórica. Grandes e importantes acontecimentos aíse passaram desde os primeiros dias da sua fundação.

Vejamos se conseguimos, de alguma forma, reconstituir esselongo e curioso passado.

Comecemos remontando-nos ao tempo dos seus fundadores.

Aí, nas suas primitivas celas que bem modestas deviam serentão, foram escritas pelos notáveis capuchinhos Cláudio de Abbevillee Ivo d’Evreux as duas primeiras obras que do Maranhão se ocupa-ram, obras de um valor único e tal que, ainda hoje, outras não seconhecem que possam substituí-las sobre a história naqueles primei-ros tempos.

Essas obras, a que mais de uma vez nos havemos referido já,nestes despretensiosos escritos, são:

– Histoire de la Mission des Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terrescirconvoisines (Brésil) où il est traicté des Singularitez admirables & des Meursmerueilleuses des Indiens habitants de ce pais. Avec les missions et aduis qui ont esteenuoyez de nouveau. Avec titre gravé et 7 planches gravées par L. Gaultier, dont 6repres. les portraits de six indigenes qui furent transportés en France.A Paris, François Huby, 1614. Abbeville, Claude de (predicateur capucin).

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– Voyage dans le nord du Brésil faít durant les années 1613 et 1614 parle père Ives d’Evreux, publié d’après l’exemplair unique conservé a la BibliotequeImperiale de Paris, avec une introduction et des notes par M. Ferdinand Denis.1615.

Para bem se poder ajuizar do valor delas, basta saber que, daprimeira, os raríssimos exemplares que ainda hoje aparecem, são, agrande esforço, adquiridos a preço de 440 de marcos (cada um), semcontar outras despesas; e que, da segunda, um único exemplar ape-nas existe.11

E essas obras, de um valor incomparável hoje, pela verdade esinceridade com que foram escritas, e minúcia de que se revestemem todas as suas descrições, a ponto de se poderem reconhecer ain-da hoje os mesmos lugares e sítios a que se referiam os piedososcapuchinhos – aí tiveram origem, aí foram gravadas pelos abnegadossuperiores da Missão Francesa nos curtos instantes que lhes sobra-vam dos seus labores apostólicos.

Sim, é o convento de Santo Antônio uma casa tradicional-mente histórica.

Foi aí que, sob a presidência de Bequimão, reuniram-se pelaúltima vez, na noite de 23 de fevereiro, véspera de uma sexta-feirade Passos, os conjurados de 1684, adversários dos assentistas e das

11 A menção à raridade das obras remete, outra vez, ao original francês. Em nota anterior,apresentamos o roteiro editorial da obra de Claude d’Abbeville. Quanto à de Yvesd’Evreux, saiu em 1615, com o título de Suíte de l’histoire des choses plus mémorables advunuës enMaragnan ès annes 1613 & 1614, e foi destruída, ainda na tipografia, por motivos políticos,salvando-se dois exemplares (e não apenas um, como diz o autor destes artigos) mutilados,de que Ferdinand Denis se serviu para fazer a edição moderna da obra, alterando-lhe otítulo, conforme acima referido. Note-se, no entanto, que sua edição é de 1864 (Leipzig;Paris: Librairie A. Franck, [10], xlvi, 456p. Bibliothèque Américaine. Collection d’OuvragesInédits ou Rares sur l’Amérique). César Marques também traduziu o livro de d’Evreux(Maranhão [São Luís]: [Typ. do Frias]. 1874. [6], xlv, [2], 424, iiip.). Sua tradução foireeditada em 1929, em coleção dirigida por Humberto de Campos (Rio de Janeiro: Livra-ria Leite Ribeiro, 1929. 442p. Biblioteca Escritores Maranhenses). Terceira edição foipublicada em 2002 (São Paulo: Siciliano, 436p. Coleção Maranhão Sempre). É estranhoque Ribeiro do Amaral não faça qualquer referência às traduções de César Marques, tantode d’Evreux como de d’Abbeville. JM.

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leis do estanco, dali saindo a depor o capitão-mor BaltazarFernandes.

E como se nos afigura ainda hoje, decorridos 228 anos, ver,nessa reunião, o vulto de Manuel Serrão de Castro – o ilhéu brutal e depouca suposição (no dizer de João Lisboa) arrancando e brandindo aespada a exclamar furioso que, pois haviam chegado até ali, já agoranão havia recuar do propósito começado com tanto perigo, e que otraidor que o contrário sustentasse ali mesmo acabaria às suas mãos!

Foi aí nesse convento que houve o singular processo dos seusreligiosos contra as formigas, narrado pelo padre Manuel Bernardo,no tomo I, tít. 6°. § 50 da Nova floresta.

Serviram de base a este processo os roubos que “as formi-gas grandes e daninhas faziam na despensa da comunidade,minando-a e afastando a terra debaixo dos fundamentos, com oque ameaçava ruína.”

Foi nomeado um curador da res ad litem, teve lugar o autuamentoem 17 de janeiro de 1713, e depois de várias diligências, seguindo-seseis meses sem falar no feito, requereram os autores a reinstauraçãoda instância perempta, e deferindo-lhes como pediam o vigárioforâneo, o licenciado Manuel Homem, “foram as formigas citadasem sua pessoa” pelo escrivão do eclesiástico Joseph Guntardo deBequimanz, em 19 de julho de 1714.

Com o termo de vista dada aos autores no dia seguinte,terminou-se esta ridícula farsa.

Por diversas vezes serviu este convento de abrigo aos perse-guidos, ou aos que desejavam opor-se às ordens régias, ou às deter-minações das autoridades legitimamente constituídas.

Nestas condições, aí recolheram-se, entre outros, em julho de1720, o ouvidor-geral Dr. Vicente Leite Ripado, para subtrair-se aprepotências do governador Bernardo Pereira de Berredo; e em 1792,o também ouvidor-geral, Dr. João Francisco Leal, por não se terquerido submeter à intimação de suspensão que lhe fora mandadafazer pelo governador Fernando Pereira Leite de Foyos.

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Aí, do púlpito da primitiva igreja, em uma eloqüência inteira-mente nova, mais de uma vez se fez ouvir o grande padre AntônioVieira, da Companhia de Jesus.

Aí, desapontado em suas esperanças e ferido no seu orgulho,com a notícia da provisão de 17 de outubro de 1653, pela qual eramconsideravelmente modificadas as resoluções favoráveis à liberdadedos índios, cuja execução havia excitado os tumultos de 1652 – aí,dizemos, tomada subitamente a resolução de partir, pronunciou oinsigne orador a sua famosa oração conhecida por Sermão aos Pei-xes, em dia de Santo Antônio, e a propósito da festa que se celebravano respectivo convento.

Daí, da parte do antigo convento, desde 1838 ocupado peloSeminário Maior, saíram sacerdotes dos mais ilustres de que se podehonrar o clero de qualquer país católico, bastando citar, entre muitoscujos nomes não nos ocorrem agora, os do saudoso padre RaimundoAlves da Fonseca, do erudito monsenhor Dr. João TolentinoGuedelha Mourão, do grande educador que foi o cônego Raimundoda Purificação dos Santos Lemos, do Dr. Joaquim de Sampaio Cas-telo Branco, do padre João Manuel de Carvalho, de D. Luís Raimundoda Silva Brito e de D. Carlos Luís d’Amour, os dois últimos, arcebis-pos hoje: o primeiro da Sé de Olinda e o segundo da de Cuiabá.12

Foi o convento de Santo Antônio a residência de dois dosmais virtuosos antístites que tem contado a Diocese do Maranhão:Dom frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, o último dos bis-pos nomeados pelo governo português, e que nos últimos dias dodomínio lusitano aqui foi presidente da Junta Governativa; e DomAntônio Cândido de Alvarenga, removido mais tarde para São Paulo,onde faleceu.

Finalmente, para encerrar estas linhas, aí na igreja do conven-to de Santo Antônio repousam os restos de muitos homens notá-veis, ocorrendo-nos neste momento os nomes dos seguintes:

12 Hoje: entenda-se, à época em que escrevia o autor. Dom Carlos Luís d’Amour, nascido em1836, foi o segundo bispo e o primeiro arcebispo de Cuiabá, onde faleceu em 1921. J. M.

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– Padre Ambrósio de Amiens, um dos quatro membros daMissão Francesa, falecido a 9 de outubro de 1612;

– Dr. Antônio Corrêa de Lacerda, grande botânico, que fale-ceu em 21 de julho de 1852, deixando por sua morte uns vinte e doisvolumes manuscritos de diversas obras, algumas das quais apenasesboçadas, tornando-se sobre todas notável pela sua importância, epor se julgar completa, a que tem por título Matéria médica das provín-cias do Pará e Maranhão, acompanhada de mais de duzentas estampas, desenha-das e coloridas com esmero.

– Dr. José Maria Barreto Júnior, formado pela Faculdade deMedicina do Rio de Janeiro, deputado à Assembléia Geral Legislativapelo Maranhão e um dos vice-presidentes desta província; foi, tam-bém, por muitos anos, comandante superior da Guarda Nacional daCapital. Neste caráter, em 1865, espontaneamente ofereceu-se paramarchar para a Guerra do Paraguai, o que teve lugar a 5 de agosto domesmo ano, sendo mais tarde, em remuneração de tantos serviços,distinguido com o posto de brigadeiro honorário do Exército e otítulo de Barão de Anajatuba.

E finalmente o padre Raimundo Alves da Fonseca, falecidoem 1885, sacerdote insigne nas letras e virtudes.

(19.1.1912)

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Qual será a população atual de São Luís?

DANDO COMEÇO a estas linhas, é com o mais vivo prazerque fazemos nosso o belíssimo artigo que, a este propósito,em o Almanack do Maranhão de 1860, segundo se crê, atribuído

à pena de um dos homens de mais talento e gosto que já tivemos, etambém mais cheio de serviços a esta terra, o benemérito Dr. Antô-nio Henriques Leal.

A população, diz ele, é o centro para o qual convergem todos os materiaisde uma estatística e donde partem os esclarecimentos que iluminam e dão-lhe ocunho da verdade e exatidão.

Um país cuja população não é conhecida em suas condições sociais, dife-renças de idade, de sexo, estado civil, classes, profissões, movimento e de desenvol-vimento, não pode ser bem administrado, porque o governo tem necessidade detomar por guia o arbítrio e o acaso.

Nestas condições infelizmente estamos nós: os poderes do Estado, aindaquando tenham veemente desejo de acertar, erram e vexam a população, princi-palmente na distribuição dos impostos e nas divisões territorial, judiciária eeleitoral.

Com empenho e tenacidade da parte das autoridades havia de conseguir-semuito, embora os obstáculos que lhes oporiam a ignorância, a incúria, as preven-ções, os preconceitos, as más paixões e os interesses feridos de muitos.

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A falta de instrução é a causa principal de todos os obstáculos de umregistro de censo, por isso que a maior parte da população, não sabendo ler, nãocompreende as suas vantagens, evita-o ou falseia-o com números inferiores, porjulgar que é feito para o fim de recrutar, de criar novos impostos, etc.

A estes obstáculos acrescem os erros cometidos pelas autoridades incumbi-das de sua organização, que para forrarem-se a trabalhos puníveis fazem mapasde sua imaginação: o cálculo inexato das idades, negando-as ou alterando-as muitosindivíduos, principalmente do sexo feminino, declarações incertas das profissões, emais que tudo o movimento perpétuo das populações. Com tempo, porém, e repe-tidas e variadas operações, chegar-se-ia ao conhecimento da verdade, havendo boavontade e dedicação.

É um dos trabalhos que se procura executar com mais exatidão nos paísescivilizados, por ser de seu conhecimento que se pode inferir o crescimento e decrescimentoda população, o seu estado de civilização, prosperidade, salubridade, etc.

Isto que, com tanta ponderação e critério, escrevia o Dr. Antô-nio Henriques Leal em 1860, reproduz-se infelizmente ainda hoje,decorridos cinqüenta e dois anos.

E como é triste, no meio de tudo isto, confessar que não co-nhece o Estado as forças de que dispõe; que não temos um censo,mesmo imperfeito, da nossa população!

Um dos últimos recenseamentos a que, nos termos do art. 13do Regulamento de 30 de dezembro de 1871, se procedeu na Pro-víncia, na administração do Dr. Augusto Olímpio Gomes de Castro,falecido senador da República, excluídas as paróquias de São Félixde Balsas, São Pedro de Alcântara da Carolina e Santa Teresa da Im-peratriz, cujos trabalhos não foram enviados, deu para o Maranhãouma população de 335.325 almas.

Que este resultado não era a expressão da verdade, disse-o opróprio presidente no relatório com que a 18 de maio de 1874 pas-sou a administração da Província ao seu sucessor:

O conhecimento que tenho de grande parte da Província habilita-me aduvidar da exatidão dos dados colhidos pelas comissões.

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Estou convencido de que a nossa população é muito mais numerosa. Enem era de esperar que fosse a expressão da verdade a primeira tentativa derecenseamento de uma população derramada por um território tão vasto, como é onosso, cortado de rios e quase privado de estradas.

Deu este recenseamento à capital da Província 27.817 habitan-tes, com 4.210 fogos em 3.898 casas habitadas; e à Ilha toda, 34.923almas, o que era simplesmente irrisório.

Remontemo-nos, agora, um pouco ao passado, e procuremosestudar desde os seus começos o desenvolvimento gradual e pro-gressivo que foi tendo a população na Ilha do Maranhão.

Em 1612, por ocasião da ocupação francesa, existiam, segun-do o padre Cláudio de Abbeville, em toda a Ilha, 27 aldeias comcerca de 12.000 almas.

Em 1648, era a sua população, exclusive os índios, de 400 co-lonos portugueses e 80 soldados, não sendo maior, por se ressentir,ainda, a pequena cidade dos desastrosos efeitos produzidos pela In-vasão Holandesa.

Em 1683 havia já, só em São Luís, para mais de 1.000 habitantes.

Em carta de 23 de maio de 1661, escrita por D. Pedro de Meloao padre Antônio Vieira, na qual lhe referia o levante em que forampresos os jesuítas pela primeira vez, diz: “O tumulto do povo devi-am de ser mais de seiscentas almas.” (Berredo, Anais, n.° 1041).

Ora, para que a esse tumulto se pudessem achar presentes 600pessoas, era preciso que a população da cidade fosse, então, aproxi-madamente de cinco a seis mil almas.

Manuel Guedes Aranha no seu Papel político sobre o Estado doMaranhão, apresentado ao Sr. D. Pedro II no ano de 1685, referindo-se àcidade daquele tempo, diz: Compõe-se a cidade de mil e tantos vizinhos, emque há muita nobreza e gente boa, mas muita pobreza, uma matriz, quatro conven-tos, uma Misericórdia, uma igreja de São João e uma ermida de Nossa Senhora doDesterro em um retiro sobre o mar, todas as tardes freqüentado de devotos. OMaranhão com Tapuitapera tem hoje o melhor de dois mil homens de armas.

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Ora, não sendo admissível a hipótese de que todos os habitan-tes de São Luís fossem guerreiros, e dando-se ao Maranhão mil equinhentos dos dois mil homens de armas que contava comTapuitapera, devia a população da cidade ser, então, pelo menos deseis mil habitantes.

Descrevendo a cidade do seu tempo, dizia Teixeira de Moraes(Relação política, parte 1ª., cap. 1°. e 4°., 1692): A cidade de São Luís temquinhentas casas e oitocentos homens capazes de tomar armas, cuja maior partevive nas suas lavouras e só vem à cidade pela quaresma e festas do ano.

No princípio, as paredes e tetos da cidade, tudo era de pindoba, de queainda hoje restam algumas renovadas, mas agora as fabricam de taipa de pilãocom sua telha-vã sobre mal polida madeira.

Frei Domingos Teixeira, na Vida de Gomes Freire de Andrade,parte 2ª., publicada em 1727, e já depois do falecimento do autor,tratando da revolta de Bequimão que, como se sabe, teve lugar de1684 a 1685, dá a cidade de São Luís habitada por quinhentos vizi-nhos.

Não se pode saber, ao certo, em que acepção tomava o cronista,aqui, a palavra vizinhos, não sendo de presumir que fosse no sentido dehabitantes, pois é de todo impossível que em princípios do século XVIIItão reduzido fosse ainda o número de moradores de São Luís.

Continuando a descrever a cidade, fala ainda frei DomingosTeixeira na sua pobreza, autorizada nas construções dos seus edifícios, algunsdos quais eram de madeira, cobertos de folhas de palmeiras, e outros de barro detaipa e adobos, cobertos de telha-vã.

A cidade, estendida por espaçosas ruas, é cercada de espessas matas pelaparte de terra.

Berredo, nos Anais, usa da mesma expressão, quando dá pou-co mais de mil vizinhos à cidade de São Luís.

O padre João Felipe Bettendorf, na sua História da missão daCompanhia de Jesus no Estado do Maranhão (1699), é mais positivo quan-do dá à cidade de São Luís uma população de mais de seiscentas

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famílias, pela maior parte pobres, o que equivale a uma população decerca de seis mil almas.

Em 1788, segundo um arrolamento então procedido pelo vi-gário da única freguesia da cidade (Nossa Senhora da Vitória), era apopulação de São Luís bem numerosa já, contando-se 16.580 habi-tantes e 1.482 fogos.

Em 1819, segundo se lê na Poranduba maranhense, de frei Fran-cisco de Nossa Senhora dos Prazeres, era a população da cidade 16.000almas, não entrando nesse número os índios. Só no ano de 1817 –continua este ilustre religioso – vieram para o Maranhão 8.000 escravos.Se não morressem tantos como morrem todos os anos (uma grande parte porcausa do mau trato e da triste lembrança de se verem separados para sempre desua pátria e parentes) existiria agora na Província extraordinário número deles.

(2.2.1912)

* * *

Prosseguindo nas ligeiras considerações que até aqui havemosfeito, relativamente ao progressivo desenvolvimento que foi tendo apopulação em São Luís, daremos começo hoje a estas linhas com otestemunho de Raimundo José de Sousa Gaioso.

Descrevendo a cidade do seu tempo (1814), dizia o autor doCompêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão: A cidade deSão Luís do Maranhão se pode dividir em dois bairros, a saber: o da Praia Gran-de, ou freguesia de Nossa Senhora da Vitória, que é o de maior povoação, ainda quemenos extenso do que o segundo. Tem muitos sofríveis edifícios, e com muita comodi-dade; mas a desigualdade do terreno lhes tira uma parte de sua formosura, e algu-mas ruas mal calçadas fazem a sua ser ventia bastante incômoda.A liberdade que cada qual tem de edificar como lhe parece faz que tudo é irregular.

A Praça do Comércio nada tem que admire, à exceção da ponte de pedrae cal que se está fazendo para o desembarque das fazendas. O Palácio do Gover-no, mandado edificar pelo governador Joaquim de Melo, é uma enfiada de casas

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sem acomodação alguma, apesar de ocupar um terreno suficiente para fazer umedifício suntuoso. Por baixo fica a Contadoria da Fazenda e a casa em que aJunta faz as suas sessões. A do bispo, que foi antigo colégio dos jesuítas, e místicaà igreja Catedral, se acha hoje com melhores acomodações, mas sem nobrezaalguma. A Casa da Câmara que também fica no mesmo bairro, e a CadeiaPública só têm de particular a nova capela que há poucos anos se edificou e se achasem exercício.

O segundo bairro é o da freguesia nova de Nossa Senhora da Conceição, ese é mais extenso, também é mais miúda e diminuta a sua povoação em geral;porém, há de pelo tempo adiante ser considerável, por ainda compreender muitosterrenos por edificar. Neste bairro fica o quartel militar, denominado de Campode Ourique. É um edifício na figura de um paralelogramo, edificado no tempo dogovernador D. Fernando Antônio de Noronha, com todas as acomodações e ofi-cinas necessárias, porém muito úmido, apesar das diligências que se têm feito paraigualar o terreno dos lados e fundo com o da frente, que era mais baixo, e supostose ache concluído aparentemente, porque nem se formou a casa para os conselhosde guerra, que devia ser por cima do portão da entrada, nem se guarneceu oedifício com a custosa cantaria que se mandou vir de Lisboa, por não poderem asparedes com tanto peso. Toda esta cantaria se acha ainda na praça fronteira aodito quartel, e a maior parte já encoberta pela terra que as enxurradas precipitamsobre ela.

Fora da cidade se acham vários sítios de recreio e frutíferos, sendo o maisprincipal de todos, o do comendador José Gonçalves da Silva (atual Quinta dasLaranjeiras ou do Barão) cujas incansáveis e dispendiosas diligências da artenão têm podido emendar os obstáculos da natureza.

A povoação da cidade, (conclui o historiador Gaioso) conforme asnotícias que tenho dos últimos numeramentos feitos pelos róis da desobriga, nãochegava a trinta mil almas; mas como do ano de 1808 para diante ela temacrescido, talvez que hoje complete esse número.

O coronel de engenheiros Antônio Bernardino Pereira do Lago,que aqui serviu no governo do marechal Bernardo da Silveira Pinto(1819-1822), e que tanto se notabilizou por serviços de toda a sorteprestados ao Maranhão, notadamente pelo levantamento da Carta

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geral da Província, trabalho este que ainda hoje serve de base e de guiaaos que se abalançam a empresas tais, pela segurança e escrúpulocom que foi feito – o coronel Lago, dizemos, no Mapa geral da popula-ção da Província do Maranhão do ano de 1821, que acompanha a sua obraEstatística histórico-geográfica da Província do Maranhão, fazendo a distri-buição da população da antiga colônia, por freguesias, dava às duasem que se dividia a cidade a seguinte população: Nossa Senhora daVitória – 1.458 fogos, com 11.713 almas; Conceição – 1.256 com7.808, o que perfazia para a cidade daquele tempo um total de 2.714fogos, com 19.611 habitantes, o que aproximadamente equivalia auma média de 8 para cada fogo.

De 1840 em diante, raro é o relatório de presidente que não seocupe deste importantíssimo ramo de serviço público.

No Jornal da Sociedade Filomática Maranhense, junho de 1847, nú-mero 2, p. 85 e 86, sob a epígrafe Movimento da População da Capi-tal, 1840-1845, encontra-se o seguinte judiciosíssimo artigo que damáxima autoridade se reveste, por ser firmado pelo notável médicomaranhense Dr. José da Silva Maia, um dos redatores daquele jornal:

Pelos mapas que ora oferecemos ao público (diz este ilustre clínico), vê-se que se enterraram no cemitério desta cidade nos anos que decorreram de 1840-1845 – 7.722 pessoas, o que dá para cada ano, termo médio – 1.287, e que nomesmo tempo batizaram-se, em ambas as freguesias (Vitória e Conceição) 4.168,o que dá para cada ano, termo médio – 694, havendo uma diferença dosenterramentos sobre os batizados de 593 pessoas anualmente.

Ora, se tivéssemos de julgar do movimento da população da nossa cidadepelo que mostram os mapas, não eram precisos muitos anos para que ela desapa-recesse completamente; entretanto, é sabido que, se a população não vai em grandeaumento, como nos primeiros anos, pelo menos conserva-se estacionária.

Convém, pois, averiguar a causa de tamanha diferença e mostrar ao mes-mo tempo que existem erros nos dados estatísticos que apresentamos.

É na Capital que grande parte dos doentes vem procurar os socorros damedicina que lhes faltam por lá e que infelizmente raras vezes aproveitam, porque

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quando a isso se resolvem é já tarde, e quase sempre sucumbem; ao passo queninguém vem aqui batizar seus filhos, e nem dá-los à luz; o número dos óbitos porconseguinte deve crescer, e muito mais ainda nos seis anos de que tratamos, porquenesse tempo reuniu-se dentro da capital quase toda a população branca da Pro-víncia, que fugia da rebelião; e porque de outro lado grassou uma desastrosaepidemia de sarampo durante os três primeiros anos, que foi causa de não pequenamortandade, com especialidade nas crianças, no de 1841.

O número dos enterramentos no Cemitério da Misericórdia, sendo aliás oúnico que temos, não representa o número exato dos óbitos, porquanto todas ascrianças que nascem mortas, ou que morrem logo depois que nascem, sem o sacra-mento do batismo, são enterradas nos quintais das casas, o que mostra o grandeatraso das nossas leis policiais, higiênicas e administrativas.

E isto basta para provar igualmente que na nossa cidade não é possívelatualmente conhecer-se o número exato dos nascimentos; além disso muitos batizadosdeixam de ser inscritos nos livros das respectivas freguesias, e muitos outros sefazem em casas particulares de que os párocos não têm notícia, uns por padres, eoutros por qualquer pessoa – em artigo de morte; e finalmente costumam osvigários a confiar o assento a sacristãos que os fazem com bem pouco cuidado.Assim, pois, algumas certidões de idade se têm requerido, que não se encontramnos competentes livros.

O senador Cândido Mendes de Almeida no seu Atlas do Impé-rio do Brasil, trabalho que, no seu gênero, até hoje ainda não foi igua-lado, quanto mais excedido, dava, em 1868, à capital da Província,35.000 almas.

No meio de opiniões tantas, diversas e tão desencontradas al-gumas, sem documentos nem dados oficiais, nada se pode afirmar,de certo, sobre a população atual de São Luís. Não obstante,parece-nos não estar longe da verdade dizer que é ela, presentemen-te, superior a 50.000 almas.

É o que procuraremos demonstrar em subseqüente artigo.

(9.2.1912)

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* * *

Ao encerrar o nosso último artigo, dissemos parecer-nos nãoestar longe da verdade dar à população atual de São Luís um cômpu-to superior a 50.000 almas; diremos mais: pode, desassombradamente,avaliar-se em 60.000 habitantes.

É o que procuraremos demonstrar nas linhas seguintes.

Pelo lançamento de 1836-1837, o mais antigo e um dos maisregulares dos que se encontram no Tesouro do Estado, do tempoem que por esta repartição corria semelhante serviço, e que nos de-mos ao trabalho de minuciosamente examinar, havia na capital daProvíncia 2.199 casas habitadas, e, com pequena diferença, o mesmonúmero de praças, travessas, ruas, etc., das atualmente existentes, sendoa sua população, segundo os melhores cálculos, avaliada então em25.000 almas.

Pelo lançamento de 1895-1896, posterior àquele sessenta anos,trabalho que corre hoje por conta do Município, verificou-se contara cidade, na direção E.-O., 2.546 casas, e na N.-S., 2.752, o que perfazum total de 5.298 casas habitadas, distribuídas por 74 ruas, 16 praças,21 travessas e 2 becos, sendo considerados como seus pontos maisculminantes: o Campo de Ourique, a 32m, 692 acima do nível médiodas marés; Largo de São João, a 29m, 418; e Largo do Carmo, a 22m,876.

Finalmente, pelo último lançamento, conta a cidade, em nú-meros redondos, segundo informações colhidas na Intendência, 6.000casas habitadas, não incluídas nessa cifra cerca de 1.000, derramadaspor diversos lugares nas proximidades da Estação, Cemitério, etc. –mas compreendidas todas no perímetro da Capital.

Se, em 1814, levado pelos últimos numeramentos feitos pelosróis da desobriga, dava o historiador Gaioso, segundo já ficou dito nonosso último artigo, uma população aproximada de 30.000 almas à

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cidade do seu tempo; se, em 1814, quando a cidade para o rumo deL., pouco além da matriz da Conceição se estendia, e havia muitosterrenos por edificar ainda, como ele próprio o refere, sendo consi-derado sítio de recreio, e já fora da cidade, o do comendador JoséGonçalves da Silva (atual Quinta do Barão ou das Laranjeiras); se,em 1821, davam-lhe o autor da Poranduba e o coronel Lago uma po-pulação de 20.000 almas; se, pelo lançamento de 1836-1837,contavam-se-lhe 2.199 casas habitadas, com uma populaçãopresumível de 25.000, não é muito dar-se-lhe, atualmente, uma po-pulação de 60.000 habitantes, depois das grandes e numerosasedificações que se vêem por toda a parte, hoje que tem ela mais dotriplo das casas que tinha em 1836.

Àqueles, porém, a quem parecer exagerada esta nossa afirma-tiva, bastará lembrar que na direção S., para além de São Pantaleão,encontra-se hoje uma cidade inteiramente nova, composta, é verda-de, de pequenas e modestas habitações, mas que enchem a grandeárea compreendida entre esta igreja, o Largo de Santiago, HospitalMilitar, Cemitério Municipal e Rua Senador João Pedro.

Na época, a que acabamos de nos referir, isto é, em 1836, exis-tiam já aí os cemitérios dos Ingleses e o da Misericórdia (o cemitériovelho) e o primeiro Hospital dos Lázaros, por detrás deste, ambosnão há muito arrasados, e bem se compreende que edifícios tais nãoseriam levantados nos lugares em que, até há pouco, ainda eram vis-tos, se já então se derramasse a cidade para além deles.

O que parece certo é que, à exceção do Hospital Militar, Quin-ta da Boa Hora, que primitivamente pertenceu ao cirurgião-mor JoséMaria Barreto (atual Fábrica de Tecidos São Luís) e de uma outra quefoi do falecido comendador João Gualberto da Costa (atual FábricaCânhamo), e que são as construções mais antigas do bairro, raríssimasedificações deveriam então por ali haver.

E tanto isto assim é, que as ruas de São Pantaleão e da MadreDeus, que por aquele lançamento (1836-1837) tinham 63 casas cadauma, possuem presentemente, a primeira, 279 prédios, e a segunda,172, não compreendidos neste número os por concluir.

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Estudando a cidade na direção E., chegaremos ainda ao mesmoresultado: veremos toda essa área, hoje, coberta de grandes e pequenashabitações; destas, numerosíssimas choupanas, sobretudo nos lugaresconhecidos por Baixinha, Vila Timon, João Força, etc, etc.

Da boca do Caminho Grande ao lugar denominado DoisLeões, que é a continuação ainda da Rua Grande, e onde chegaatualmente o perímetro da cidade, contavam-se, ainda não há mui-tos anos, apenas as seguintes Quintas: de Carlos Rocha, ocupadahoje pelo major Francisco da Costa Rodrigues; do Lapenberg (atu-al Fabril Athletic Club); Educandos (antigo Armazém da Pólvoraaté 1818, quando foi incorporado à Fazenda Provincial); do Barãode Turiaçu (propriedade atual do coronel Manuel Inácio Dias Vieira);ltamacaca, do Lamarão, (Empresa Ferro-Carril) do major InácioJosé Ferreira, do Dr. Felipe Joaquim Gomes de Macedo, do Dr.Roberto Frebourg, do desembargador Viriato Bandeira Duarte, doMonteiro e uma ou outra casinha muito rara. Entretanto, vê-se hojeinteiramente edificado todo o leito dessa estrada, não só até aoDois Leões, mas ainda até o Anil.

O Cemitério dos Passos, hoje fechado, construído por acórdãotomado em mesa geral da mesma irmandade, de 3 de outubro de1841, bem mostra que a cidade, por esse lado, até então, quandomuito, até aí se estendia.

A Rua Grande, que pelo lançamento de 1836 tinha 126 prédi-os, conta hoje 330 habitados, ou o triplo dos que então possuía!

Até 1844, segundo se vê de uma planta da cidade desse tempo,estava ainda esta cercada de trincheiras no Alto da Carneira, trinchei-ras cujos flancos se apoiavam nos rios Bacanga e Anil, e que eram osrestos das que, em 1839, foram levantadas por ocasião da Balaiada.

Se lançarmos as vistas para a direção N.E., apresentar-nos-á acidade o mesmo espetáculo, chegaremos ainda à mesma conclusão:ruas que, de vias públicas só tinham o nome, hoje já se acham calça-das e edificadas, havendo quase que desaparecido esses numerososterrenos baldios que até bem pouco tempo por ali se viam.

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Para não ir mais longe, basta citar a Companhia de Fiação eTecidos Maranhense (Camboa) com as construções que lhe ficamadjacentes; a do Chumbo, as edificações feitas na cerca do conventode Santo Antônio, em frente à Rua do Pespontão, etc.

E se, ao que fica dito, se acrescentar ainda a grande correnteda imigração síria que para aqui se tem encaminhado nestes últi-mos anos; que, como hoje, não eram então ocupados os baixosdos sobrados e que não havia essas construções de nova espécie,mais vulgarmente conhecidas pelos nomes de cortiços, tão preju-diciais à saúde e moralidade públicas e em que grande é a aglome-ração de indivíduos de toda a casta, teremos que é, mais que racio-nal, o cômputo acima.

(23.2.1912)

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A cidade de São Luís por ocasiãoda Invasão Holandesa

Começado em 1615 por Jerônimo de Albuquerque, que, comrara habilidade, se soubera aproveitar das primitivas constru-ções francesas, pouco mais de vinte e cinco anos contava, em

1641, por ocasião da Invasão Holandesa, o pequeno estabelecimen-to português de São Luís, que, então, tinha por governador a BentoMaciel Parente, o feliz e opulento donatário da Capitania do Cabodo Norte.

Da narração de Berredo (Anais históricos, Livro XI), claramentese vê terem os holandeses dado o desembarque no Desterro, onde aterra faz volta para o Portinho, acrescenta o Visconde de Porto Se-guro, e daí guiado para a cidade, atacando e tomando, já à entradadesta, uma de suas portas que, em vão, tentara valorosamente defen-der o capitão Paulo Soares de Avelar.

Mas, o que era a cidade daquele tempo?

Entre as páginas 44 e 45, parte segunda e livro segundo daIstoria delle guerre del Regno del Brasile accadute tra la Corona di Portogallo e laRepublica di Olanda dal P. P. Gio. Giuseppe di Santa Teresa, CarmelitanoScalzo, impressa em Roma no ano de 1698, ornada de numerosasestampas, cartas geográficas, etc., etc., gravadas em aço, delineadas

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por Andréas Antonius Horatius e esculpidas por Benedictus Fariat,obra esta raríssima hoje, e por isso mesmo de um valor único,encontram-se a planta e a perspectiva da cidade de São Luís porocasião da Invasão Holandesa.

Comparando a planta e desenhos feitos então (1641) pelosholandeses com a cidade atual, vê-se, pela planta, que a cidade, na-quele tempo, estendia-se na direção S., quase sem interrupção até oDesterro, existindo já, com muitas casas, as ruas que mais tarde vie-ram a receber os nomes de Formosa (Afonso Pena), da Palma, doGiz (28 de Julho) e Estrela, cortadas por outras que, pela mesmaplanta, evidentemente se vê serem as atuais de Santana, Direita, daSaúde e Cascata (Jacinto Maia).

Sob os números 6, 7 e 15, respectivamente, assinala ainda aplanta, nos mesmos sítios onde ainda hoje se encontram as igrejasdo Carmo (Chiesa della Madona del Carmine) – que, pela sua configura-ção, nos pareceu ser o maior edifício da cidade de então; a de SãoJoão (S. Giovanni), a curta distância, por detrás desta, e de Santo An-tônio (Convento di S. Francesco), que se achava já fora da cidade, nomeio dos matos (boschi), como diz a planta.

Examinando a planta na direção L., vê-se que tinha a cidadecinco vias principais. A primeira, e mais extensa de todas com algu-mas casas já, e que corre à esquerda da igreja do Carmo, é aí designa-da pelo nome de strada maestra (Rua Grande), parecendo-nos, assim,vir daí este nome que ainda hoje conserva.

Correndo paralelamente a esta, vêem-se perfeitamente as ou-tras quatro: da Paz, Sol, Afogados, que parte de detrás do Colégiodos Jesuítas, e uma última que vai ter à igreja de Santo Antônio, e queoutra não é senão a rua deste nome. Em frente e por detrás da igrejade São João, duas outras correm paralelas, verificando-se pela dispo-sição atual da cidade serem essas a rua deste nome, e a das Flores,esta com algumas casas dispersas.

A ermida, ou pequena igreja do Desterro, vem aí menciona-da sob o n° 5, com o nome de Igreja de São Jorge – Chiesa di S.

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Giorgio, e parecendo-nos assim ter sido esta a sua primitiva invoca-ção. Do que não resta a menor dúvida, pois que isto claramente sevê da planta, é que esse bairro era então, da cidade, a parte maispopulosa, ou a em que a população se achava mais condensada, oque naturalmente se explica pela maior proximidade em que se en-contrava do litoral.

A área hoje ocupada pela Avenida Maranhense, antigo Largode Palácio, toda coberta de fortificações, formava, então, uma comocidadela para a qual se entrava por uma porta situada pouco mais oumenos na altura do prédio onde ora funciona a Administração dosCorreios.

Dentro dessa área, além do convento dos Jesuítas, exatamenteno lugar hoje ocupado pelo Paço Episcopal e de grande número dehabitações, vê-se bem distintamente, no centro, uma figura assina-lando o sítio onde, pelos capuchinhos franceses, fora, em 1612, ele-vada a primeira cruz e celebrada, pela vez primeira, o santo sacrifícioda missa nestas terras.

Fora das fortificações, mas bem próximo delas, na esquina daRua de Nazaré com a 28 de Julho, vê-se, isolado, um edifício, o qual,pela vetustez que ainda hoje apresenta, outro certamente não é se-não o vulgarmente conhecido por Palácio dos Holandeses.

Isto quanto à planta.

Pela perspectiva, vê-se a cidade de São Luís com suas casas,igrejas, fortes, etc.

No antigo Largo de Palácio descortina-se perfeitamente a re-sidência dos governadores, circulada de fortificações e diversos edi-fícios outros, entre os quais, distintamente, a primitiva igreja da Mi-sericórdia, fronteira ao Palácio, e com a frente voltada para o mar.

Em um plano inferior a este, um pouco abaixo das fortifica-ções a que nos referimos acima, vê-se uma como linha de trinchei-ras, apoiada em dois pequenos fortes ou redutos, a qual nada mais éque o atual Forte de São Luís, com os seus dois baluartes de São

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Cosme e São Damião que, conquanto desmontados hoje, existemainda nas duas extremidades desta fortaleza,

Na planta, tem esta fortificação o nome de Castelo de SãoFelipe, vendo-se logo em seguida, no lugar hoje ocupado pela guar-da-moria e diversos outros prédios fronteiros ao Tesouro do Estado,os armazéns onde eram recolhidos os gêneros vindos da Metrópolee os de produção da Colônia; e, mais adiante ainda, uma bateria nasaliência que fica entre as extremas das ruas de Santana e Direita.

Traz ainda a planta, sob a denominação de fango (lama), umafaixa de terreno que, pela posição que se lhe assinala, é precisamenteo atual Apicum, com uma casinha solitária ao lado.

Abrange, também, a planta a margem direita do Rio Anil, fron-teira a essa parte da cidade, já então habitada.

Aí destacam-se duas pontas.

Em uma delas, a que fica mais próxima, e que, inconfundivel-mente é a de São Francisco, vê-se, no alto, uma pequena igreja com asua cruz, voltada para o mar, e algumas casas derramadas pela encos-ta; e embaixo, na praia, uma bateria ou fortim.

Na outra, um pouco mais afastada, e que nos pareceu ser aPonta d’Areia, mas muito mais alta do que atualmente é, há aindauma outra igreja com a frente para o Boqueirão, deixando ver pelaparte posterior do seu lado direito o princípio de um forte.

Será a atual Fortaleza ou Reduto de Santo Antônio da Barracom a sua capelinha, há pouco incendiada?

Tal era a cidade de São Luís quando, a 25 de novembro de 1641,insidiosamente, se apresentou a esquadra holandesa diante do porto.

(1°.3.1912)

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Disposições diversas, relativas à cidade de São Luís.Como eram, primitivamente, conhecidas as suas ruas,ou, antes, como se diferenciavam umas das outras.Quando começaram a ter nomes próprios. Ruas, pra-ças, travessas, praias e fortes de São Luís: origem dosnomes de algumas delas e mudanças por que têm pas-sado. Ruas com mais de um nome ao mesmo tempo.

EM VEREAÇÃO de 6 de outubro de 1646 delibera a Câmarade São Luís que, visto as casas da cidade ou as mais delasserem de pindoba, ninguém trouxesse ou desse fogo senão em

panela para se evitarem os incêndios, pena de mil réis pagos na cadeia.

A princípio eram de pindoba as paredes e tetos das casas, mascom o correr dos tempos, sobretudo de 1692 em diante, foi essaedificação sendo substituída por outra mais de acordo com o pro-gressivo desenvolvimento que foi tendo a cidade. Passaram então ascasas a ser construídas de taipa de pilão com telha-vã sobre mal po-lida madeira. Por aquele tempo tinha São Luís quinhentas casas.

Em 1665, deliberou a Câmara de São Luís mandar fazer cami-nho de carro da cidade até o Cutim, caminho que, segundo se verifi-ca de um termo de vereação de 1691, se consertava anualmente, sen-do os moradores obrigados a concorrer para isso com seus escravos,

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que se reuniam em princípios do mês de julho, atrás da igreja de SãoJoão, onde começava a estrada.

Até 1733 ainda não tinham nomes as ruas. Designavam-se,geralmente, ou pelos pontos a que iam ter, ou pelas casas por quepassavam, ou, finalmente, pelo nome de uma ou outra pessoa distin-ta ou mais conhecida que nelas morava. Assim, era muito comum,por exemplo, o dizer-se rua que vai ter à Olaria, à Fonte da Telha, àForca, etc.

Em 1692, além das duas fontes supramencionadas, havia tam-bém a das Pedras, sendo então a Rua de Amaro Reis a mais freqüen-tada do povo e procissões.

E nada há de estranho nisso – nesse modo de assim designaras ruas, pois ainda em nossos dias, muito comum era entre nós odizer-se, por exemplo: Canto das Frazoas, querendo indicar a casade construção antiqüíssima, habitada por uma das mais importantese respeitáveis famílias da Província (a família Frazão), e que há unsbons vinte anos se via ainda na Rua do Sol, esquina da de São João,hoje inteiramente reconstruída; Canto do Lambão, Canto dos Qua-dros, Beco do Papo Roto, etc. etc.

Em 1746, começam já os terrenos a ter valor, vendendo-sepor seis mil réis um de cinco e meia braças de frente, sito na rua quevai das Mercês para a Olaria.

Em 1756, arremata-se o conserto de quarenta e seis braças decalçada da Praia Grande por 111$000.

Em vereação de 8 de janeiro de 1757, mencionam-se já as ruasdo Desterro, do Carmo, de Santo Antônio, de São João e da Praça daPraia Grande, únicos bairros que existiam então, segundo parece.Continua-se, entretanto, a fazer uso dos nomes ou designações a quenos referimos há pouco.

É desse tempo, ou antes, de 1758, o prédio sito na Praça JoãoLisboa, de propriedade, outrora, do Barão de Coroatá, e onde pre-sentemente tem as suas oficinas a Pacotilha.

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De um auto de arrematação de 12 de janeiro de 1772, quetemos à vista, assinado por Joaquim de Mello e Póvoas, consta aexistência de uma morada de casas, confiscada, entre outros bens,aos jesuítas proscritos, e sita na rua denominada do Quebra-Potes.

O traslado do auto de inventário e avaliação diz: Uma morada decasas de taipa e pilão com dois quartos assobradados da parte sul e de pedra e calaté o sobrado, cobertas de telha sitas em doze braças de chão pouco mais ou menos,as quais por se acharem com todo o emadeiramento do ar e o assoalhado dossobrados totalmente arruinados e muita parte deles podres, foram vistos e avalia-dos pelos ditos louvados em quatrocentos mil réis com que se vai, e se declara queas ditas casas são situadas na rua chamada Quebra-Potes – místicas pela partedo Norte com as da viúva Dona Luísa Maria de Assunção com quintais para opoente.

Não nos foi possível saber a que rua corresponde, atualmente,essa que então tinha o nome de Quebra-Potes.

De 1762 a 1764, mencionam já os livros do precioso Arquivoda Intendência Municipal desta Capital, ora confiado aos cuidadosdo muito zeloso funcionário o Sr. Francisco Joaquim Pereira Rego, aexistência de mais três ruas: do Giz, Formosa e da Madre de Deus,segundo se vê dos seguintes termos de arrematação, constantes doLivro n.° 12 de Acórdãos de 1764-1767:

1°) Termo de arrematação que faz Pedro de Souza Martins, dacalçada da Rua do Giz, em 18 de maio de 1762 pela quantia de 170$000;

2°) Idem, idem, que faz Felício Antônio Cordovil, mercador,morador na Rua Formosa, do contrato das aguardentes da terra, portempo de três anos, que principia a correr a 18 de novembro de1763, pela quantia de 700$000;

3°) Idem, idem, que faz Francisco Amândio Lansarote, da cal-çada da Rua da Madre de Deus, em 17 de setembro de 1764, pelo preçode 70$000.

Até 1790, pouco além da igreja de São João estendia-se a cida-de por esse lado, contando-se apenas, além do Quartel do Campo de

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Ourique, então em construção, raríssimas e modestas habitações, aquie ali dispersas. Vê-se isso de um ofício de 19 de novembro daqueleano, do ouvidor João Francisco Leal ao ministro do Ultramar.

Finalmente, para se poder avaliar do que era a cidade, até qua-se meados do século XIX, basta saber que, ainda em 1837, era oLargo de João do Vale (mais tarde Praça da Assembléia e ora PraçaBenedito Leite) tapado por uma cerca; e que nesse mesmo ano, poracórdão de 27 de outubro, concedia a Câmara a Antônio José PereiraRego e a Francisco Ferreira de Carvalho, licença para tirarem terrano Largo da Sé por espaço de três meses, tal como se pratica atual-mente nos barreiros do Caminho Grande.

E isto, por mais que pareça estranho, dava-se ainda em 1837, eo que é mais, em pleno coração da cidade!

(Vide Livro de acórdãos da Câmara Municipal de 1837-1841).

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[Primitivas denominações de ruas]

ÉO LANÇAMENTO de 1837-1838, a que já tivemos ocasiãode nos referir, o mais antigo e o mais seguro dos que se en-contram no Tesouro do Estado, do tempo em que por esta

repartição corria semelhante serviço.

Por um Índice que lhe vem apenso, vê-se que tinha São Luís,então, as seguintes ruas, travessas, becos, praias, largos, praças, fren-tes, barracas, trapiches, etc.

Ruas: de São João, São João da Praia, São João da Divisão, daFonte das Pedras, da Cruz, Ferreiros, do Ribeirão, Manga, Egito,Formosa, do Estaleiro, da Palma, Desterro, Giz, Calçada, Estrela,Rua Velha, do Machado, do Sá Vedra, Santo Antônio, Alecrim, Bar-queiros, Barrocas, Violas, do Nazaré, Sol, Barbeiros, Paz,Quebra-Costas, Grande, Relação, Covoca, Direita, Fundão, Açou-gue, Cascata, Precipício, Barraquinhas, Poço, Flores, Madre de Deus,Craveiros, São Pantaleão, Forca Velha, Portão, Pespontão, Deserto,Santa Rita, Santaninha, Norte, Remédios, Passeio, Hortas, Alegria,Prazeres, do Moinho do Vento, Retiro, Tapada, da Praia de SantoAntônio, Viração, Galhofa, Rua Cortada, Campo de Ourique, Afo-gados, Sant’Ana, Mocambo, Inveja, Cajazeiras e Santiago.

Travessas: da Passagem, do Sineiro, do Pontal, Couto, Barqueiros,

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Escura, da Lapa, Cruz, Rancho, Laranjeiras, Cotovia, Palha e SãoPantaleão.

Becos: do Desterro, da Alfândega, Feliz e do Caela.

Praias: do Prego, Caju, Pequena, da Fonte das Pedras, do Esta-leiro e de Santo Antônio.

Largos: do Carmo, de João do Vale, de Santo Antônio e de Palácio.

Praças: do Açougue.

Frentes: da Alfândega, da Rua do Giz, e dos Barbeiros.

Barracas.

Trapiches: da Boquinha e do José dos Reis.

Sob todos os aspectos, é a Rua Grande, incontestavelmente, aprimeira de todas as nossas vias públicas.

Situada no centro, no coração da cidade, daí como que se irra-diam o movimento, a vida para todos os pontos, ainda os mais extre-mos, de São Luís.

Strada maestra (estrada principal) é assim ela designada na plan-ta da cidade (1641) que acompanha a obra do notável carmelitanodescalço frei José de Santa Teresa, sobre a Invasão Holandesa, pare-cendo advir-lhe daí o nome que desde o começo lhe foi dado e que,inalteravelmente, ainda hoje o guarda, mesmo porque, como ele, ne-nhum outro tão bem lhe quadra.

Das duas ruas da Paz e Sol, que paralelas lhe correm, não nosfoi dado, até agora, encontrar vestígios dos motivos que presidiram aimposição destes nomes, parecendo-nos terem-no eles sido aprovei-tados ou imitados das de outras capitais européias.

Quanto, porém, à Rua de Santana, que corre no mesmo senti-do, não se dá outro tanto. Teve ela, outrora, três nomes distintos, aomesmo tempo, ou antes, estava como que dividida em três trechos,sendo um continuação do outro. Assim, da esquina da Rua da Estre-la à da Rua Formosa (Canto Pequeno), teve primitivamente o nome de

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Rua do Hospital Velho, ou simplesmente Hospital, assim chamadapor ter sido nela instalada, na casa onde ora funciona a Repartição deHigiene, o primeiro hospital regimental que aqui houve. Esta casafoi propriedade dos jesuítas, passando, por confiscação dos bens de-les, ao domínio da Coroa. Com este nome figura, ainda, em um livrodo Lançamento da receita da décima dos prédios urbanos da freguesia da Senho-ra da Vitória desta cidade, do ano de 1821 que temos à vista.

Com a instalação do Tribunal de Relação neste prédio, emnovembro de 1813, foi esse trecho da rua perdendo pouco a poucoo seu primeiro nome, passando daí em diante a ser mais conhecidopelo de Rua da Relação, como se vê do documento que segue, que éuma guia de recolhimento de dinheiro:

Rs. 13.500 – Com que entra para a Tesouraria de Fazenda o major deengenheiros José Joaquim Rodrigues Lopes (falecido marechal-de-campo e Barãode Matoso), por mão do abaixo assinado, importância da décima urbana de suacasa da Rua do Hospital ou da Relação, que pertenceu aos herdeiros do falecidoJosé Henriques Cottes, relativa ao ano de 1828.

Maranhão, 16 de outubro de 1850Luís José Joaquim Rodrigues Lopes

O segundo trecho desta rua, que ia daí, do Canto Pequeno àesquina da Rua da Cruz, tinha o nome de Rua dos Covões, por causados que ainda hoje existem entre os sobrados que foram outrora dosfalecidos Dr. Frederico José Corrêa e Manuel da Costa Launé.

Assim se lia, ainda, no lançamento de 1838.

O terceiro, finalmente, e último trecho, que ia da esquina da Ruada Cruz à Praça da Alegria, também chamada de Sotero, era propria-mente denominado Rua de Santana, da igreja deste orago, nome esteque com o correr dos tempos tornou-se extensivo à rua toda.

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Paralelamente, também, à Rua Grande, corre ainda a rua co-nhecida hoje em toda a sua extensão pelo nome de Afogados, outro-ra das Violas.

Teve primitivamente esta rua o nome de Afogabugio. Vê-seisto de um ato da Câmara Municipal, representada por José da CostaReis, como seu vereador mais velho, ato em que, a requerimento docônego José Maciel Aranha, cedeu-lhe, a 19 de janeiro de 1784 umchão, no fim da Rua do Afogabugio, para edificação de uma capela àSenhora Santana.

É a pequena igreja, conhecida vulgarmente hoje pelo nome deSantaninha.

(15.3.1912)

* * *

Outra das ruas nas condições da de Santana, isto é, divididaem três trechos, era a de São João.

No índice que acompanha o Lançamento de décimas urbanas de1838, apresenta-se-nos ela com três nomes distintos: São João, SãoJoão da Praia e São João da Divisão, compreendendo, o primeirotrecho, a parte que ia da esquina desta rua com a de Santana até sairao Largo de Santiago; o segundo, a que se dirigia da esquina da RuaGrande ao lugar vulgarmente conhecido por Canto do Manuel do Bico(Praia de Santo Antônio); e o terceiro e último, a que ficava entre asruas Grande e Santana, assim chamado por ser ele o marco divisóriodas duas freguesias – da Conceição e Vitória – únicas então existen-tes nesta cidade.

Das antigas ruas de São Luís, mencionadas neste lançamento,algumas há que, positivamente, não nos foi dado saber a que outrascorrespondem hoje, tal a mudança de nomes por que têm passado.

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Neste caso encontram-se as então conhecidas pelos nomes deRua Velha, dos Ferreiros, Fundão, do Moinho do Vento, da Galhofa,do Tanguitá, Rua Cortada, do Navio, etc., e bem assim a Travessa doPontal e a praia denominada do Estaleiro.

A do Fundão, quase que podemos afirmar ser o trecho da atual RuaDireita, compreendido entre o Mercado Público e o Passo, vulgarmenteconhecido pelo nome de Passo do Lapenberg, defronte do edifício daEscola Normal. Atendendo-se à configuração dessa parte da rua, vê-seque está ela perfeitamente de acordo com o nome que lhe puseram.

Lê-se isto em documento do tempo.

A do Moinho do Vento ficava por detrás da igreja dos Remé-dios, constando isso de um parecer da Assembléia Provincial, opi-nando para que se comprassem para o estabelecimento de um hortobotânico, nesta província, “os terrenos do cidadão Manuel José deMedeiros, compreendidos entre a Rua Liberal, que é a frente da Casade Prisão, com trabalhos, e a do Moinho do Vento, que é à baixa-mara Rua da Independência, e a da Fonte do Marajá.”

A da Galhofa, era, também, lá para o bairro dos Remédios. Deuma sessão da Câmara Municipal, de 14 de agosto de 1843, vê-se quetinha ela princípio “da casa do cidadão Manuel Duarte do Vale e quevinha sair na Rua dos Remédios.”

Ficava ainda para esse bairro a Rua do Navio. Quanto às ruasVelha, dos Ferreiros, Cortada, nada de positivo sabemos sobre a suaverdadeira situação, podendo porém afirmar que a Travessa do Pontalera ali pelas imediações do antigo Açougue Velho, e que a praia de-nominada do Estaleiro era no Desterro.

Comparando-se os primitivos lançamentos com o atual vê-se queainda há ruas cujos nomes se acham hoje de alguma forma alterados.

Assim, diz-se atualmente da Savedra, de Nazaré, etc., quandoos seus primitivos e verdadeiros nomes eram Rua do Sá Vedra, Ruado Nazaré, oriundos, naturalmente, de moradores mais conhecidosque nelas foram domiciliados.

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Uma outra rua há, ainda, sobre cuja verdadeira situação maisde uma pessoa nos tem inquirido. É a conhecida nos documentos elançamentos antigos pelo nome de Tanguitá.

Em um edital da Mesa Administrativa da Santa Casa de Mise-ricórdia desta cidade, de 7 de fevereiro de 1849, assinado pelo secre-tário Luís Miguel Quadros, em que se fazia público o fornecimentode diversos terrenos pertencentes a este estabelecimento de carida-de, lê-se: Um na Rua do Tanguitá, que esteve aforado ao falecido major Joa-quim Alves de Abreu Guimarães Picaluga, com 40 braças de frente para a ruaque corre por detrás da Quinta do Monteiro.

Ora, sabido que a Quinta do Monteiro, a que se refere o editalsupra, é a chácara onde ora se acha instalado o Hospital Português,adquirida em 1868 pela Real Sociedade Humanitária 1° de Dezem-bro, claro está que a Rua do Tanguitá é uma daquelas três ruas outravessas compreendidas entre a casa dos herdeiros do saudoso clí-nico Dr. Afonso Saulnier de Pierrelevée e a Rua Grande.

(22.3.1912)

* * *

Rua do Egito: é conhecida nos primeiros dias de nossa histó-ria, na história de nossas lutas com os holandeses, pelo nome de RuaAntônio Vaz, ou rua que ia ter às casas de Antônio Vaz, sendo essascasas, segundo o erudito senador Cândido Mendes (Memórias para ahistória do extinto Estado do Maranhão, tomo II) sitas então no cantoque hoje faz a rua que vai para Santo Antônio.

Teve depois, com o correr dos tempos, o nome de Rua do Egito.

Em 1865, em homenagem ao nosso glorioso historiador, foi,por acórdão da Câmara Municipal, denominada Rua João Lisboa,devido à circunstância de haver ele aí morado, em 1838, em um

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sobradinho de dois andares que nesse tempo tinha o n.° 12 e queainda hoje ali se vê, contíguo ao Instituto Rosa Nina.

Pouco durou essa denominação, sendo, como a de tantas ou-tras, riscadas por deliberação da vereação que sucedeu àquela, vol-tando a chamar-se de novo Rua do Egito.

Rua da Cruz: assim chamada, de uma cruz de madeira, de ummetro de altura, pintada de preto, que há uns quarenta anos ainda sevia no alto da parede de uma casa onde, em tempo, houve uma pada-ria, e que faz esquina para a Rua de Santo Antônio sob o n.° 37 –placa. O trecho desta rua, compreendido entre a Rua de Santana e aFonte das Pedras, era mais vulgarmente conhecido pelo nome deCalçada da Zimbra.

Rua da Mangueira: era primitivamente conhecida pelo nomede Rua da Forca Velha – e assim é encontrada nos lançamentos de1837 a 1839. Adveio-lhe este último nome do fato de ter aí sidolevantada a forca no terreno, por muito tempo baldio, modernamenteocupado por um templo protestante. O trecho desta rua, entre as deSantana e Grande, é ainda hoje mais conhecido pelo nome de Becodas Águas Verdes.

Travessa da Passagem: foi este, sempre, o seu verdadeiro nome,e assim se lê em todos os lançamentos de décimas urbanas desde1825; mas, pelo vulgo, era mais geralmente conhecida pela denomi-nação de Beco do Panaca.

Travessa do Teatro: seu primitivo nome era Travessa do Sinei-ro, oriundo de Manuel de Assunção Sineiro, que por aí morou. Con-servou este nome até 1866, quando passou a denominar-se Travessado Teatro. O trecho desta rua entre a de Santana e o Mercado foisempre mais conhecido por Calçada do Açougue.

Praia do Caju: a denominação de Praia do Caju por que é co-nhecida esta parte do litoral da cidade, adveio-lhe de Matias CorreiaCaju, primeiro a quem foi dado alvará de concessão daquela praia, eque ali habitou e construiu, segundo se vê do Livro Objetos diversos – n.°22, de 1820-1821, ofício 660, dirigido ao juiz de fora desta cidade.

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Praia da Trindade: seu primitivo nome era Praia do Armazém, as-sim chamada por se acharem aí situados os grandes armazéns do Estanco.

Era também conhecida pelo nome de Praia Pequena. Com oestabelecimento, porém, aí, de uma fábrica de arroz, de que aindahoje se vêem as ruínas, foi pouco a pouco perdendo o seu primitivonome, e sendo mais conhecida pelo da proprietária da referida fábri-ca, segundo se vê do seguinte aviso, inserto no jornal O Progresso, n.°2, de 5 de janeiro de 1850:

Os herdeiros de D. Ana Tereza de Souza Trindade fazem público que emfevereiro de 1852 finda o contrato de arrendamento que a dita Trindade fizera aFrancisco José Rabelo, da sua fábrica de socar arroz, sita na Praia Pequena parapagamento do mesmo Rabelo, como consta da escritura feita em fevereiro de 1837pelo tabelião Nunes, cujo débito fica pago e inteiramente extinto na data acimamencionada.

É esta praia grandemente célebre na História do Maranhãopor haver aí sido suplicado Manuel Bequimão.

Praia do Prego: veio-lhe o nome de Manuel José Prego, alimorador.

Com a construção do Cais da Sagração, foram pouco a poucodesaparecendo todas essas praias, restando delas, hoje, apenas a tradição.

Barracas: chamava-se assim a um quarteirão de casebres, de-nominados das Tulhas, fronteiro à Praça do Comércio e Arsenal deMarinha (hoje Armazém da Alfândega), situado no mesmo lugar ondeora existem as atuais barracas construídas pela Companhia Confian-ça Maranhense, e que, em virtude de contrato celebrado em 1855,são atualmente de propriedade da Municipalidade.

Para dar uma idéia do que era esta parte da cidade naqueletempo, basta dizer que, então, aí se viam barracas portáteis demeaçabas velhas e podres, levantadas por licença da própria Câmara!

(29.3.1912)

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O convento de Nossa Senhora do Carmo

EM COMPANHIA de Alexandre de Moura, nomeadocapitão-mor com poderes de governador, para restaurar oMaranhão do poder dos franceses, vieram, por capelães do

presídio, os padres frei Cosme da Anunciação, pregador, e frei Danielda Natividade, filhos da vigararia do Brasil, os quais chegando à Ilhade São Luís, aos cinco de outubro de 1615, foram, aos 2 de novem-bro seguinte, testemunhas da entrega das chaves do Forte de SãoFilipe (única fortaleza que então havia), solenemente feita pelo Se-nhor de La Ravardière ao referido capitão-mor.

Restaurada a colônia da ocupação francesa, pediram-lhe os doiscarmelitas sítio para fundar um convento, concedendo-lhes Alexandrede Moura uma pequena ilha defronte da barra, conhecida pelo nomede Ilha do Medo, com meia légua de terra, fundação que nunca teveefeito na dita ilha, e mais duas léguas em quadro da ponta da terra(Bonfim) para o sul. De tudo tomaram posse a 12 de dezembro dodito ano de 1615, segundo constava dos livros do mesmo convento.

Foi esta a primeira doação de terras que aqui houveram os carmelitas,ficando livres para Sua Majestade (como rezavam então todas as cartas dedata), todas as madeiras reais que nas ditas terras houvesse e que servirpudessem para o fabrico de embarcações e de engenhos de fazer açúcar.

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Assumindo o governo da colônia o capitão-mor Jerônimo deAlbuquerque, não só lhes confirmou em nome de Sua Majestadeesta mercê, como lhes deu ainda “sessenta braças de terras para afundação, e trinta braças mais para umas casas e quintal para o mes-mo convento”, o que se vê da respectiva data, passada a 20 de feve-reiro de 1616.

De posse destas doações, vindos de Pernambuco, aquiaportaram no ano de 1624, em companhia de frei Cristóvão de Lis-boa, dois frades da Ordem de Nossa Senhora do Carmo – Frei Fran-cisco da Purificação, cronista desta província, mestre de cerimôniasdo convento de Lisboa, e que foi o primeiro prelado-maior que teveesta vigararia; e frei Gonçalo da Madre de Deus, natural da cidade doPorto, os quais em 1627 construíram o atual convento no sítio ondepresentemente se lhe vê ainda, no lugar em que, segundo a tradição,havia então uma capela sob a invocação de Santa Bárbara, sendo seuprimeiro prior, ou provincial, frei André da Natividade.

Dizemos atual convento, porque o primitivo, o primeiro queaqui houve, foi levantado em 1615, no lugar então conhecido porSítio de Monsieur de Pinau, onde atualmente se vê a igreja de Nos-sa Senhora do Rosário, que por muito tempo conservou ainda onome de Carmo Velho.

De livros de registros, existentes no Arquivo da Câmara Munici-pal, vê-se que não era pequeno o patrimônio da Ordem Carmelitananesta província, o qual sucessivamente foi confirmado: em 1° de agos-to de 1631, por Francisco Coelho de Carvalho, primeiro governadorque foi do extinto Estado do Maranhão; em 11 de outubro de 1690,por Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que sucessivamen-te foi governador do Rio de Janeiro, de Minas e de Angola; e finalmen-te, por Pedro II de Portugal, por carta de 24 de janeiro de 1698.

Abrangia esse patrimônio, aqui na cidade, nada menos que o bair-ro que se chama hoje Rua do Egito, e até 1818 todo o terreno compre-endido no quarteirão onde atualmente se acha situado o Teatro São Luís(outrora União), sendo que até aí se estendia a cerca do convento,

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terreno este que, depois de grande oposição por parte dos preladoscarmelitanos, por aforamento foi concedido a Eleutério Lopes daSilva Varela e Estêvão Gonçalves Braga para aquele fim, graças so-bretudo aos esforços do governador e capitão-general, de então, PauloJosé da Silva Gama, como em ofício de 3 de fevereiro daquele anocomunicou ele para a Metrópole.

Contemporâneo da Invasão Holandesa, é o convento do Carmoo testemunho vivo das últimas lutas feridas entre colonos e invasores.

Aí acastelaram-se os nossos antepassados. No adro que lhecorria em frente, hoje bela e espaçosa praça, deu-se o derradeiro emais renhido encontro que decidiu a sorte da nascente colônia,resgatando-a de vez da dominação batava.

Conquanto guardando as mesmas proporções, não é, todavia,a igreja do Carmo de hoje, a mesma dos primitivos tempos, sobretu-do depois das grandes e importantíssimas transformações ali opera-das, a golpes de trabalho e de coragem, pelos incansáveis e benemé-ritos capuchinhos lombardos.

Descrevendo o convento e a igreja do seu tempo, dizia umcronista da Ordem: É o dito primeiro convento no meio da cidade de São Luíscom o frontispício para o poente, tem duas torres, uma de cada banda, as janelasdos dormitórios são para a parte do mar, tem uma boa cerca povoada de muitase várias plantas frutíferas, toda murada de pedra e cal.

A igreja tem cento e sessenta palmos de comprido e cinqüenta de largo. Acapela-mor é muito formosa, o seu comprimento são sessenta palmos, a larguratrinta, a tribuna é de talha coberta de tintas, ouro, e é a melhor que há na cidade.Tem uma milagrosa imagem de Nossa Mãe Santíssima do Carmo, de seis pal-mos; da parte do Evangelho está o nosso protopatriarca Elias, e da parte daEpístola, nosso Padre Santo Eliseu. Nesta capela-mor há coro que tem duasordens de cadeiras de pau de cedro curiosamente lavrado. Saindo da capela-mor,tem duas capelas colaterais: a da parte do Evangelho é de Santa Luzia, a daparte da Epístola é de Santo Amaro.

Dentro do cruzeiro há duas capelas: a da parte do Evangelho tem a milagrosaimagem de Cristo Senhor Nosso com a cruz às costas, (hoje do Sagrado Coração

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de Jesus), que está recolhido em uma perfeita tribuna; a principal nobreza destaterra serve a este Senhor em uma bem governada Irmandade.

A da parte da Epístola é do Santíssimo Sacramento (hoje do Senhordos Passos). Em uma tribuna está a Senhora da Piedade, e da parte de fora delaas imagens da Senhora da Penha de França e da Guia. É a Senhora festejadanestes títulos com grande solenidade.

Tem o convento sua livraria com bastantes livros, assim de Padres Expo-sitores, Concio-natórios, de uma e outra Teologia, e alguns de Filosofia. NossaSenhora do Carmo é o título deste convento.

(Vide Memórias históricas dos ilustríssimos arcebispos, bispos e escrito-res portugueses da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, reduzidas a catálogoalfabético que entregou na Academia Real de História Portuguesa, e a seu Pro-tetor Augustíssimo, el-rei D. João V, Nosso Senhor, oferece e dedica o AcadêmicoSupranumerário Fr. Manuel de Sá, religioso da mesma Ordem da Província dePortugal – Lisboa Oriental, na Oficina Ferrerigana. – MDCCXXIV).

Tal a descrição que, da primitiva igreja e convento do Carmodesta cidade, nos legou um dos cronistas da Ordem.

Como se vê, do velho e tradicional templo, internamente, àexceção dos altares, quase que nada mais resta hoje, tal a transforma-ção por que ultimamente passou.

A imagem da Virgem do Carmelo foi substituída por uma ou-tra, mandada vir da Itália pelos capuchinhos lombardos, conjunta-mente com o belíssimo altar de mármore que no centro da capela-morse ostenta.

As duas bancadas da capela-mor, onde diariamente se reunia acomunidade para a recitação dos ofícios próprios do coro, no alto deuma das quais se lia a seguinte inscrição: Hinc est chorus – foram daliretiradas.

Das duas capelas colaterais a que se refere o cronista da Ordem,e que, segundo as indicações deixadas nas suas Memórias históricas, se

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encontram ao sair da capela-mor, a de Santa Luzia, que fica à direitade quem vai para a sacristia, está hoje totalmente desmontada, maldeixando ver os vestígios do que foi; a de Santo Amaro, que jaz pordebaixo do antigo consistório de Santa Filomena, de há muito queserve de capela mortuária.

O antigo púlpito, pregado à parede, e as grades de comunhão,há muito que desapareceram.

Manteve a Ordem Carmelitana, durante os tempos coloniais,sobretudo de 1814 até muito depois da Independência, cadeiras nãosó de Humanidades, mas ainda de todas as ciências morais e teológi-cas, tornando-se verdadeiramente notáveis pelo seu saber:

– frei Inácio Caetano de Vilhena Ribeiro, latinista, helenista ehebraizante que teve como discípulos Manuel Odorico Mendes eSotero dos Reis;

– doutor frei Custódio Alves Serrão, natural de Alcântara, len-te da antiga Escola Central, diretor do Jardim Botânico, falecido naCorte do Império a 10 de março de 1873, e de quem, fazendo o seuelogio fúnebre, disse o orador do Instituto Histórico, Dr. JoaquimManuel de Macedo em admirável síntese: “Sábio, criado no gabinetede profundos e constantes estudos, eminente nas Ciências Físicas,na Botânica igual a Freire Alemão, que é um monumento, em políti-ca sempre liberal por convicção e por amor à Pátria, e nunca, em umsó dia, por amor de si; de caráter independente até a resistência naguarda de seu direito, no culto da amizade tipo de dedicação e defineza, em suas relações particulares angélica amabilidade, como len-te a eloqüência abraçada com a lógica mais cerrada; como adminis-trador o zelo mais inteligente fulgurando pelo esplendor de imaculadaprobidade; eis aí frei Custódio Alves Serrão.”

– Doutor frei Antônio Bernardo da Encarnação e Silva, na-tural de Viana, que mais tarde obteve brevê de secularização e foideputado-geral por esta Província na legislatura de 1838 a 1841,bem como cônego mestre-escola da catedral, examinador sinodal,professor de retórica e poética do Liceu Maranhense, comendadorna Ordem de Cristo e cavaleiro na da Rosa, falecido em 1848;

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– e frei Antônio Julião da Costa Leite, professor de latim emAlcântara.

Não pequenos foram ainda os serviços de outra ordem, pres-tados em todos os tempos pela Ordem Carmelitana a esta província.

Por algum tempo esteve aí aquartelado o Corpo de Artilharia,até que na tarde de 7 de julho de 1829 foi transferido para o Arma-zém da Pólvora, mais tarde Casa dos Educandos Artífices, e hoje,Aprendizes Artífices.

Por longos anos cedeu o andar térreo do seu convento para aíse estabelecer o quartel do Corpo de Polícia e as aulas régias de ensi-no secundário, até que, criado o Liceu na administração de VicenteTomás Pires de Figueiredo Camargo, foi ele aí instalado, aí permane-cendo durante o não pequeno período de cinqüenta e dois anos,quando teve lugar a sua trasladação para o prédio na Rua Formosa,onde presentemente se encontram a Escola Normal e a Escola Mo-delo Benedito Leite.

No andar superior, e muito mais tarde, no interior do conven-to, na parte que dá para a Rua da Paz, funcionou a Biblioteca Pública,aí instalada em 1828.

Em 1873, governando a Província o dr. Silvino Elvídio Car-neiro da Cunha, cedeu-lhe ainda o convento do Carmo uma parte dasua cerca para a construção de uma escola, edifício este onde presen-temente funciona a Biblioteca Pública do Estado.

Com a morte, porém, em 9 de maio de 1891, do último reli-gioso e provincial que foi frei Caetano de Santa Rita Serejo, almaboa e generosa, coração extremamente bondoso, e por isso geral-mente benquisto de todos, foi o convento do Carmo incorporadoaos bens da União, caindo então em abandono, chegando mesmo aameaçar quase completa ruína, quando aí se instalou a MissãoCapuchinha, chefiada por frei Carlos de São Martinho, um dos reli-giosos mais ilustres que aqui têm pisado, a qual não só acudiu aoconvento, prestes a desmoronar-se, mas ainda transformou a velha e

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arruinada igreja no belo e majestoso templo que todos vemos e ad-miramos, e isto à custa de muito esforço, de muito trabalho e de umaabnegação e perseverança sem limites.

E já que falamos nos capuchinhos lombardos, injustiça fora,sendo eles os legítimos sucessores dos carmelitas na posse do velhoconvento, não registrar aqui os grandes e inestimáveis serviços detoda a sorte, por eles prestados à causa da religião e da civilização.

Achava-se, nos últimos anos, de todo abandonado o serviçode colonização, catequese e civilização dos índios, quando em prin-cípios de 1893 aqui chegaram os primeiros religiosos capuchinhos,tendo por superior ou prefeito o revmo. frei Carlos de São Martinho.

Dominado de ardente zelo apostólico e do desejo de chamar àfé e à civilização cristãs tantos dos nossos infelizes patrícios que va-gueiam ainda por essas matas, lançou o ilustrado e virtuoso sacerdo-te suas vistas para a comarca de Barra do Corda, onde, porventura,são eles encontrados em maior número, e aí deu começo à sua santamissão pela fundação de um instituto para educação de meninos in-dígenas; e, como se tanto não fosse bastante ainda, acabou o infati-gável e modesto superior dos capuchinhos por prestar mais um assi-nalado serviço ao Estado, com a aquisição, pela quantia de Rs.15:000:000, de um importante estabelecimento de lavoura, denomi-nado de Alto Alegre, com o fim único e altamente humanitário dechamá-los à vida social.

Não se pode calcular, ao certo, o número de índios ainda hojeexistentes em todo o Estado. Nas diversas aldeias, porém, de Barrado Corda, na ocasião em que as percorreu frei Carlos, afirmou-nosele encontrarem-se para mais de 5.000, já domesticados e com ten-dências para adquirirem os hábitos de civilização.

E tão relevante, tão humanitária considerou o Governo doEstado a obra de frei Carlos que, desde logo, lhe fez consignar noorçamento um subsídio de Rs. 2:000:000, que no ano seguinte ele-vou a Rs. 4:000:000 e por último a Rs. 12:000:000, sendo 6.000:000para o colégio de Barra do Corda e 6.000:000 para o de Alto Alegre.

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Neste ínterim, ameaçando ruína iminente o convento, e talvezmais do que este a igreja do Carmo, requereram os missionárioscapuchinhos em 10 de setembro de 1894, ao inspetor da Alfândeganeste Estado, que lhes fossem entregues as chaves de um e outroedifício, já então de propriedade da União, o que, sendo-lhes favo-ravelmente deferido, foi nomeado depositário dos mesmos o revmo.frei Carlos de São Martinho, fundador da Missão dos CapuchinhosLombardos do Norte do Brasil e primeiro superior regular da mes-ma Missão pro tempore, com decretal generalício de 12 de maio de1894, fixando sua residência nesta capital.

Obtido este primeiro favor, foi, pelos seus superiores de Roma,constituído chefe da missão o revmo. frei Carlos, que, espírito supe-rior, antevendo nos seus grandiosos ideais um auspicioso porvir parao convento do Carmo, e desejando que fosse ele contínua habitaçãodos missionários capuchinhos, fez à Senhora do Carmo um votoque ainda hoje é respeitado pelos seus sucessores, a fim de alcançar,pelo patrocínio dela, esta pacífica posse.

A frei Carlos sucedeu, no governo da Missão, com decretal de11 de agosto de 1897, o malogrado frei Reinaldo de Paulo, que foi umadas vítimas do massacre de Alto Alegre em 13 de março de 1901.

Em 1900, voltou de novo frei Carlos ao governo da Missão,como superior regular, com decretal de 24 de abril.

Em 1901, ano fatal para os capuchinhos lombardos pela co-nhecida hecatombe de Alto Alegre, profundamente ferido no seucoração e no seu espírito altamente criador, não pôde este venerávelmissionário resistir ao abalo produzido pelo desmoronamento desua obra, tão paciente e sabiamente organizada; e assim, um tantoenfraquecido em suas faculdades mentais, foi, a conselho médico,forçado a procurar o doce clima de sua terra para se restabelecer,sendo substituído no governo da Missão, como vigário, por frei JoãoPedro de Sexto, que, nomeado pelo revmo. visitador-geral, frei Ti-móteo de Brescia, em 28 de junho de 1901, foi, por decretal generalíciode 23 de abril de 1903, confirmado no mesmo governo, como supe-

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rior regular, por um triênio, e reconfirmado por outro, por decretalde 3 de maio de 1906.

O Maranhão, isto é, o convento do Carmo – Mater et CaputMissionís como é conhecido na Ordem – foi, desde o início da Mis-são, o lugar de residência do superior dos capuchinhos lombardos,até que sendo pela segunda vez eleito frei Carlos, que se achava entãono Pará, ali determinou este fixar, como superior regular, sua novaresidência, que permaneceu por bem sete anos.

Nomeado superior regular da Missão, por decretal de 10 dejulho de 1909, transferiu o revmo. frei Estevão de Sexto a residênciapara o Maranhão.

Amando profundamente esta terra, bem compreendeu o ilus-tre capuchinho que, tendo aqui sido o primeiro e hospitaleiro asiloseu e dos seus companheiros, aqui deveria ser também a Casa Mater.

Tornando-se, pelo desaparecimento do último religioso, comojá vimos, propriedade da Fazenda Nacional o convento do Carmo,foi ele, pela segunda vez, em julho de 1911, posto em hasta pública,apresentando-se por essa ocasião os seguintes proponentes:

Os Revmos. Padres Capuchinhos, pela quantia de Rs.16:500:000;

Os Srs. Lisboa Machado & Companhia, pela de Rs. 15:000:000;

E a Liga do Livre Pensamento, pela de 10:000:000, tendo sidopreferida a primeira, por mais vantajosa à Fazenda Pública.

A transmissão de propriedade, feita pelo poder competente aosuperior, frei Estevão de Sexto, que para esse fim fora ao Rio deJaneiro, teve lugar nessa mesma capital, em 21 de agosto de 1911, naProcuradoria Geral da Fazenda Pública, sendo registrada aqui noMaranhão, no livro competente, em 11 de novembro do mesmo ano.

Tem tido o convento do Carmo nesta sua nova fase, isto é,depois que chegou a Missão Lombarda, os seguintes superiores, aquiresidentes:

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1°) Frei Carlos de São Martinho, 1894-1897. Vice-superior –frei Mansueto da Perseverança;

2°) Frei Reinaldo de Paulo, 1897-1900. Vice-superior – FreiJoão Pedro de Sexto

3°) Frei João Pedro de Sexto, 1900-1901.

4°) Frei Agostinho de Milão, 1901-1903

5°) Frei Estêvão de Sexto, 1903 até o presente, tendo tido,durante o seu superiorado, sucessivamente, como vice-superiores,os reverendos frei Roberto de Castelança e frei Miguel de Origgio; oprimeiro, de 1909 a 1910; o segundo, daí até esta data.

Tal é, em traços gerais, a história da Missão Lombarda noMaranhão durante estes últimos dezoito anos, havendo durante essetempo passado por não pequena transformação o convento e a igre-ja que lhe fica anexa, isto à custa de avultadas despesas de que todo opovo desta terra é testemunha, e a imprensa por mais de uma vez otem registrado.

(16.4.1912)

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A imprensa no Maranhão: Jornais, revistas e outraspublicações periódicas de 1821 a 1908

CATÁLOGO organizado por ocasião da celebração do cente-nário da imprensa no Rio de Janeiro:

1821 – O Conciliador do Maranhão

1822 – A Folha Medicinal do MaranhãoPalmatória SemanalGazeta da Verdade

1823 – Gazeta Extraordinária do Governo da ProvínciaDiário Eclesiástico Independente

1824 – O Amigo do Homem

1825 – O Argos da LeiO Censor, mais tarde, O Censor Maranhense

1826 – O Piparote

1827 – MinervaO Farol MaranhenseA Bandurra

13

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1828 – O Despertador Constitucional

1829 – A Estrela do Norte do BrasilA CigarraO MaranhenseO Observador ConstitucionalO PoraquêO Azorrague dos Corcundas

1830 – O BrasileiroSemanário OficialO Almanack MercantilO ClarimA Segunda Estrela do Norte do Brasil

1831 – O Publicador OficialO ConstitucionalO Jornal dos AnúnciosA Bússola da LiberdadeA OpiniãoFoguete da Nova Luz Jurjuba

1832 – O BrasileiroO Correio do Conselho ProvincialO Mentor LiberalO Escudo da VerdadeO Rondante Político

1833 – O Publícola BrasileiroA Sentinela MaranhenseAtalaia dos Caiporas?

1834 – Eco do NorteO Berro do NorteO Correio Semanal

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O Maranhão Histórico

O Publicador da RelaçãoReformatório

1835 – O Investigador MaranhenseO JusticeiroCorreio da Assembléia Provincial

1836 – CacamboO Americano

1837 – Sete de SetembroO MomborréO Correcionador dos AbusosO ParaenseA Tábua de SalvaçãoA Temperança ou O Moralista Maranhense

1838 – O Investigador ConstitucionalA SentinelaCrônica MaranhenseO Bem-te-viCrônica dos CronistasCaçador de Bem-te-visO Amigo do PovoO DespertadorCorreio d’Anúncios28 de JulhoO Recopilador de Anedotas

1839 – A RevistaO MilitarO Recreio dos MaranhensesO Amigo do PaísBuscapé

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1840 – O MoralistaO CometaO LegalistaO Astro MaranhenseO Jornal MaranhenseO GuajajaraO Raio

1841 – O ImperialistaVinte e Oito de Julho

1842 – Publicador MaranhenseO Correio MaranhenseO DissidenteA Opinião MaranhenseO Caboclo MaranhenseO Pica-pauO Museu Maranhense

1843 – O MaranhãoO DiárioEco da OposiçãoLiberalA Figa

1844 – A Malagueta MaranhenseTapy OuaissúVigilante da LiberdadeFoguete

1845 – Jornal da InstruçãoO AlmazémA RabecaO Atleta PiauienseTribuna do Povo

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O Maranhão Histórico

1846 – O UnitárioO ArquivoJornal da Sociedade Filomática MaranhenseA PalmatóriaA MatracaO Arre e IrraO PatuscoO AzorragueO Cacete

1847 – O Homem do PovoO EstudanteO ObservadorO Bem-te-viO Bem-te-vi MaranhenseCorreio MaranhenseO BarreteO Progresso

1848 – Diário MaranhenseO Tribuno do NorteO Verdadeiro PatriotaVoz do Bacanga

1849 – A Sentinela da LiberdadeRevista Universal MaranhenseO Porto FrancoO SulistaA ÉpocaO VulcãoO CanelaO Bem-te-vi CorcundaO MexeriqueiroO Salvador do PovoO Salvador da Liberdade

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O TimbiraO LuziaO Defensor do Povo

1850 – A Marmota Maranhense

1851 – Argos MaranhenseCorreio dos AnúnciosO ConstitucionalO Infante

1852 – O Novo FarolO GloboO DespertadorO EclesiásticoA MarmotinhaJornal de TímonArgos da Cena MaranhenseO Propugnador CatólicoO Universal

1853 – O EstandarteO ConciliadorO Apreciador DramáticoO Bem-te-vi

1854 – O CristianismoO Botão de Ouro

1855 – Diário do MaranhãoA SentinelaO SuspiroA Saudade

1856 – A Nova ÉpocaA Conciliação

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Regeneração PolíticaA Saudade

1857 – A ModeraçãoA ImprensaA Estrela da TardeO EspelhoJornal dos Jovens

1858 – O IguaçuO GloboJornal do ComércioCorreio MaranhenseO JapiA TentativaA Aurora do NorteÁlbum MaranhenseO Guaraciaba

1859 – Correio da TardeO SéculoA Estrela MaranhenseO ConservadorEco da Verdade

1860 – Ordem e ProgressoA Verdadeira MarmotaO EstudanteA JararacaA Tulipa

1861 – A Opinião PúblicaClarim da MonarquiaO Jardim dos MaranhensesO Comércio

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O Porto LivreCaldo de BoiO Pirilampo

1862 – Revista JurídicaO ArtistaA CoaliçãoO FórumO InsulanoHeracliaO Ramalhete

1863 – O PaísA SituaçãoO ConstitucionalGinásio LiterárioO Eco da Pátria

1864 – A Aurora MaranhenseO TrevoO TrovadorA FéO Eco da JuventudeA Lanterna de DiógenesPalestra MilitarA VerdadeSatanásBoletim ComercialO Janota

1865 – A TribunaA Exposição EvangélicaO Passatempo

1866 – O FuturoO Apreciável

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O Maranhão Histórico

PrimaveraRevista ComercialTifon

1867 – Semanário Maranhense

1868 – O ArtistaO LiberalA Sensitiva

1869 – JuveniliaA AtualidadeA NaçãoO FantasmaO Represador

1870 – O FormigãoA SituaçãoO 14 de JaneiroA Opinião PúblicaMonitorVinte e Oito de JulhoO EstudanteA EsperançaO Chicote

1871 – O TelégrafoO ForteO Represador

1872 – A BrisaO Domingo

(15.12.1911)

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1873 – Diário do Maranhão

1874 – A InstruçãoO Justo

1875 – Jornal da LavouraA Mocidade

1876 – Revista JuvenilGazeta do PovoJornal para TodosA Floresta

1877 – ProvínciaRevista de Instrução e RecreioO Amigo do PovoO Telégrafo

1878 – O TempoEscolaO TimbiraO DemocrataO Progresso

1879 – A FlechaO Regenerador

1880 – PacotilhaO TribunoCivilizaçãoCartas aos Maçons do MaranhãoO PensadorA LeiO MalhoIdália França

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O Maranhão Histórico

1881 – PacotilhaO FuturoAntônio Pedro

1882 – Lúcia Avalle

1883 – Gazeta de NotíciasO DomingoAtualidadeLidador Maranhense

1884 – O CruzeiroO PigmeuAuroraCarapuçaJornal da TardeTribunoO Abolicionista

1885 – Gazeta do PovoA ProvínciaO RepolhoO SorrisoVoz do PovoO EstudantePorvirA EvoluçãoO Abolicionista

1886 – O LiberalO MensageiroA LuzO EcoO ProtestoO Repórter

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A FederaçãoO MeteoroHomenagem do Comércio a Retalho ao Dr. João Henrique

1887 – Revista MaranhenseO BinóculoO EstudanteCampeão PortuguêsA Semana

1888 – O Novo BrasilEco do NorteVibração Suave

1889 – O GloboA RepúblicaCorreio de AnúnciosLuso-BrasileiroO SéculoA LuzO PovoHomenagem ao Presidente da República dos Estados Unidos

1890 – A Aurora MaranhenseO CoriscoO DomingoO VulcãoO EnsaioA CruzadaO Nacional

1891 – O Estado do MaranhãoA EscolaA Luta

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O Maranhão Histórico

O CanudoO Cruzeiro

1892 – O FederalistaA Cruzada (2ª. fase)28 de JulhoO OperárioRevista EleganteO Novidades

1893 – A IdéiaA União PostalDiário de NotíciasO EstudanteO BisturiA InfânciaAtenas

1894 – PierrôO Mefistófeles

1895 – A AlvoradaO EstudanteO PorvirFilomatia

1896 – O MembiA LiberdadeCaméliaO Canudo

1897 – O ArgosO Centro CaixeiralO Estudante

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1898 – O AtenasRegeneraçãoO PiagaO IdealO PapagaioO PauO AbelhudoO FilomáticoA Vassoura

1899 – O ImparcialA SograA Vassoura

1900 – Jornal da ManhãOs NovosO AtletaA AtualidadeA Tesoura

1901 – O DomingoA Revista do NorteA PropagadoraO AnúncioAvanteA RenascençaJornal dos ArtistasA CriseO Carnaval de 1901La Tourterelle

1902 – O ApitoO Porvir A EscolaA Campanha

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1903 – Nova AtenasO RouxinolA FendaAs PastorinhasJoão BragaO Domingo

1904 – A FaíscaCorneta de Ouro

1905 – Amor às Letras

1906 – A NotíciaA ImprensaDiário OficialO CombateO ChicoteMaranhão ModernoRevista MusicalA MocidadeCorreio da ModaVerdade e Paz

1907 – Jornal do ComércioO MaranhãoMensageiro DiocesanoA AvenidaRevista TipográficaO MolequeO CorsárioO FaladorO BrasilO MensageiroO Progresso

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1908 – A PátriaPrimaveraJornal dos ArtistasA Via LácteaA SentinelaA Boa NovaO BoréO FuturoRevista da Associação Comercial do MaranhãoO SentinelaA NegradaO Condor

(22.12.1911)

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A imprensa no interior do Maranhão

CAXIAS

1845 – Brado de Caxias

1846 – Jornal CaxienseO Tigre de Caxias

1847 – MarimbondoO TelégrafoO Povo

1848 – O PescadorO Correio dos MunicípiosO Analítico

1849 – O LidadorA Água BentaO Bem-te-vi CaxienseA Aurora

1850 – O Farol

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1851 – O Eco CaxienseO Pelourinho

1853 – A Crônica

1854 – O Correio Caxiense

1859 – A Imprensa CaxienseO Pugnador

1862 – O Álbum Caxiense

1864 – A Rosa

1866 – O Justiceiro

1867 – O Cabo d’Esquadra

1870 – Jornal de Caxias

1871 – Semanário Caxiense

1873 – O Lidador Caxiense

1874 – O Beija-flor A CruzO Comércio de Caxias

1876 – A Luz

1877 – A Situação

1880 – A Tarrafa

1881 – O Observador

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1883 – O XixixiCrisálida

1884 – Eco Liberal

1886 – O Brado

1887 – GazetaArtista Caxiense

1891 – O Pirilampo

1893 – Gazeta Caxiense (2ª. fase)

1895 – Jornal de Caxias

1898 – O TimbiraCidade de Caxias

1899 – O Lábaro

1900 – O TrepaO Caxiense

1901 – O Zéfiro

1903 – O PaísCorreio do SertãoParnaso

1904 – O PorvirO Janota

1905 – Jornal do ComércioLiberdade

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1907 – O BinóculoA LuzO IndependenteO MaranhãoA Luz

1908 – O PartenonGruta de Lourdes

COROATÁ

Em 1867, apareceu nesta vila um pequeno jornal, denomina-do Coroataense, impresso em Caxias e destinado à defesa dos interes-ses locais. Efêmera foi a sua duração. Com ele desapareceu, até hoje,a imprensa naquela localidade.

VIANA

1876 – O VianenseAlavancaA Violeta

1878 – O Guanambi

1879 – O Domingo

1880 – Recreio JuvenilA Reforma

1881 – A Ordem

1884 – Atualidade

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BREJO

Jornal Imparcial do Brejo – Foi este o primeiro periódico queteve esta localidade. De cor política, apareceu em agosto de 1865.Depois de um intervalo de cerca de quarenta anos, apareceu em 1906O Anapuru.

ALCÂNTARA

1893 – Gazeta Alcantarense

1906 – O Alcantarense

ROSÁRIO

No dia 8 de abril de 1855, circulou pela primeira vez na vila doRosário um jornalzinho intitulado O Baluarte do Povo. Era impressona Capital, na tipografia do Bem-te-vi, e tinha como redator o falecidomajor João da Matta de Moraes Rego, a quem deve a imprensa daprovíncia os mais relevantes serviços. Saíram apenas 18 números.Após um intervalo de 55 anos, apareceu em

1903 – O Rosariense

1904 – O Ser

PICOS13

1895 – O Município

1896 – O Carapuceiro

13 Atualmente, Colinas. J. M.

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O Republicano

1897 – A Estrela

1898 – A ÉpocaA Imprensa

1899 – O Juvenil

1903 – Gazeta de Picos

1906 – Filolítera

BARRA DO CORDA

1888 – O Norte

Fundado em 1888, pelo inolvidável dr. Isaac Martins dos Reis,tinha este jornal, principalmente, por fim a propaganda das idéiasrepublicanas. Com a proclamação da República e desaparecimentodo seu fundador, assumiu a direção desta folha o intemerato jorna-lista Frederico Figueira, que continua a prestar os mais relevantesserviços, especialmente à zona sertaneja do Estado.

– O Novo Mundo

1897 – O Porvir

1898 – O Guarani

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FLORES14

1906 – O Trabalho

LORETO

1904 – O Ideal

SÃO FRANCISCO

1905 – O Lírio

SÃO BENTO

1902 – O São Bento (manuscrito)

(29.12.1911)

14 Atualmente, Timon. J. M.

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O Maranhão Histórico

A Imprensa no Maranhão(Codó)

NO FINAL de 1869, veio à luz o primeiro número do Aristarco,primeiro jornal que teve Codó, periódico de pequeno formato, de quatro páginas de duas colunas, contidas em meia folha

de papel genovês ou almaço.

Foi impresso na primeira tipografia havida naquela localidade,sendo seu redator o ilustre Dr. Antônio de Aguiar e Silva, pai dodistinto Sr. major Alcebíades de Aguiar, atual congressista do Esta-do, a quem pertencia a referida tipografia.

Apareceu cerca de um ano, e semanalmente.

Desejando aumentar-lhe o formato, suspendeu o majorAlcebíades a publicação do Aristarco, obteve novo material e em se-guida (1870) fez circular O Codó, que não logrou ir além de 1871.

Mais tarde, essa tipografia, que ficara guardada em uma casapróxima à margem do Rio Itapecuru, foi sepultada sob as ruínas damesma, em conseqüência do desmoronamento produzido pela grandeenchente de 1875.

Em 1880 ou 1881, reunido a outros companheiros de luta, fezo major Alcebíades aquisição, no Piauí, de outra tipografia, nela pu-

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blicando A Voz do Povo, de que era redator o coronel Aristides Lobão,então residente naquela cidade, onde estreou sua vida pública, e quemais tarde, com rara competência, desempenhou as funções de ins-petor do Tesouro do Estado.

A tipografia foi montada na própria residência dele, e sob suaimediata direção corria o jornal, que contava, entre outros, ao majorAlcebíades como dos principais colaboradores.

Essa tipografia passou depois, gratuitamente, às mãos do te-nente Pedro Marques de Sousa, que fez dela surgir um número únicode um jornal intitulado Codouara, sob os auspícios do finado Dr. Lucasda Silva Antunes, então juiz municipal naquele termo.

A falta de meios do novo periódico não lhe permitiu ir além,obrigando-o a vendê-la novamente para o Piauí, onde em 1902 exis-tia ainda.

Batalhador infatigável, não podendo nem sabendo conservar-seinativo, montou ainda o major Alcebíades pela quarta vez, em 1890,nova oficina tipográfica naquela cidade, adquirindo para esse fim omaterial do periódico A Luta, que aparecia então na capital do Estado.

Dela fez surgir, enquanto seu proprietário, a Gazeta do Codó,em 6 de novembro de 1892, a qual teve duas fases, suspendendo em1894, passando em seguida a novo proprietário, o Sr. AntônioRodrigues de Oliveira Sobrinho.

Este fez dela aparecer o Monitor Codoense, em agosto de 1894,que passou por diversas fases, à proporção que a tipografia mudavade proprietários, desaparecendo finalmente em 1908.

Por esta ocasião fez dela aquisição o Sr. Ulisses de Jesus, que avendeu a uma sociedade de cinco companheiros, entre os quais seachava ainda o major Alcebíades, vindo, por último, a tipografia che-gar às mãos de Raimundo Viana, que dela fez sair em 14 de abril de1901 a Gazeta Codoense.

Em conclusão, depois de tantas mudanças de proprietários,foi esta tipografia, por derradeiro, adquirida pelo ilustre Sr. coronel

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O Maranhão Histórico

Manuel Ferreira Bayma, que fez dela sair, em 9 de fevereiro de 1902,o primeiro número do Comarca, jornal que ainda circula e que desdeo seu aparecimento grandes e importantes benefícios tem prestadoàquela localidade.

Além destes que acabamos de mencionar, viram mais a luz dapublicidade em Codó, entre outros cuja existência talvez desconhe-çamos, os seguintes jornaizinhos:

A Lâmpada – em 1°. de março de 1893;

A Primavera – em 10 de dezembro de 1896;

O Martelo – em 10 de dezembro de 1908;

O Marimbondo;

A Gazeta das Moças – em março de 1882, sendo seu principalredator Alípio de Castro Marques.

(5.12.1912)