Maravilhas Da Ficção Científica - Vários Autores

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    INTRODUO

    Nos ltimos vinte anos, um gnero literrio o da co-cien-tca foi se impondo, e, dentro em pouco, tornou-se o preferido,notadamente na Amrica do Norte. Irradiou-se logo pelas diferentesnaes, quase sempre por intermdio de revistas exclusivamente

    dedicadas explorao comercial desse novo gosto das multides.Em breve, a science-ction, alcanou a histria em quadrinhos,o cinema, o rdio, a televiso e as pginas de comics dos grandesjornais. Organizaes norte-americanas que industrializam essesperidicos especializados, promoveram a revenda de seus ttulosem diversos pases, editando-os nos idiomas nacionais respectivos.A co-cientca passou a ser, assim, o maior competidor de outrogneroo policial que gozara, at o seu advento, das predileesdas massas em todos os quadrantes da terra. Escritores de todasas naes dedicaram-se, por sua vez, a cultivar o novo lo deemoes. At mesmo entre ns, no Brasil, ao lado de autores oca-sionalmente precursores, como Orgenes Lessa e Afonso Schmidt,apareceu Jernimo Monteiro, que produziu vrias aventuras inter-planetrias para o rdio, h cerca de dez anos, e que teve mesmopublicado um volume por uma de nossas empresas editoras, que,muito cautelosamente, incluiu a obra desse pioneiro numa coleode livros infanto-juvenis...

    Se bem que recente a sua atualidade atualidade que seacentuou com a exploso atmica de Hiroshima, as notcias deaparecimento de discos voadores, a ciberntica, o estudo das novas

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    teorias astronmicas, as modernas concepes biolgicas e psico-lgicas, o exame mais aprofundado dos fenmenos paranormais,como a telepatia, a percepo extra-sensria e a telekineses, e, -nalmente, com a devassa sideral pelos sputniks a co-cien-tca, como literatura, vem de longe, de muito longe, e ilustre a

    estirpe dos que lanaram os seus fundamentos.Os historiadores, que se preocupam em xar as origens des-

    sa literatura, remontam-na velha Grcia e apontam a Luciano deSamosata e a Plutarco como abridores de caminho, cabendo ao pri-meiro o mrito de haver criado o gnero com as narrativas HistriaVerdadeira e Icaromenipo. Da Grcia saltam para o sculo XVI,pois os romanos, cujo gnio se voltara antes para as leis, a polticae a organizao social, no ofereceram condies para o desenvolvi-

    mento desse tipo de literatura, coisa que ocorreu tambm na era daInvaso dos Brbaros e na Idade Mdia aquela pela concentra-o do esforo humano nas atividades blicas e esta em virtude dodominante esprito mstico, antittico do conhecimento cientco.Assim, somente com Johan Kepler, nascido em 1571, e na obraSomnium, fantasia do famoso matemtico e astrnomo aparecidaem 1634 e derivada das hipteses cientcas da poca, o gnero re-conquistava direitos. Direitos que, da por diante, se ampliariam,

    medida que se desenvolvia a mentalidade cientca. Assim, FrancisGodwin, clrigo britnico que viveu de 1562 a 1633, autor pstumode Man in the Moon, vinda a lume em 1638, conquistou extremapopularidade. Sua narrativa teve seis edies durante meio sculoaps o seu aparecimento e inspirou inmeras outras.

    Outro nome clebre arrolado entre os primitivos escritoresde co-cientca, o de Cyrano de Bergerac, com suas histriascmicas dos Estados da Lua e do Sol. Voltaire tambm tem o seulugar marcado com Micromegas e le apresenta uma inovao:enquanto seus antecessores narravam viagens a outros mundos douniverso Lua especialmente ou a permanncia do homemnesses territrios ignotos, o escritor francs imaginava a Terra sen-do visitada e criticada por extraterrenos: era o nosso mundo vistopor habitantes de Sirius e Saturno. Lady Mary Godwin Shelley esposa do arielesco amigo de Byron devem as letras o monstrocriado por Frankenstein, que, reencarnado em Boris Karlof, pelomilagre do cinema, povoou de terror tantas imaginaes. Edgard

    Allan Poe, por sua vez, no um estranho nesse campo liter-rio, mormente com as histrias Dilogo entre Eiros e Charmion eBreve palestra com uma mmia.

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    So esses os antepassados de Jlio Verne, sem dvida onome mais popular da nova literatura, o divulgador de maior res-sonncia das otimistas pretenses humanas baseadas no conhe-cimento cientco, tpico lho do sculo XIX que tanto conou noamelhoramento do homem por intermdio do saber e da tcnica.

    Antepassados tambm de H. G. Wells, que daria s suas histriasa fora da realidade e do smbolo ao mesmo tempo, informado queestava o seu pensamento das mais generosas utopias cientcas epolticas. Um e outro so chamados mesmo, pitorescamente, o ave o pai da co-cientca.

    Depois destes, o gnero ganharia terreno, cada vez mais, indoa Conan Doyle, a Carel Capek, a Anatole France, a Gaston Leroux,a tantos outros escritores, maiores ou menores, sensacionalistas

    ou mercantilizados. Mas, em meio a uma fauna heterognea, quasesempre mais imaginosa do que criadora, a co-cientca evolui-ria, assumiria novos aspectos, xaria seus caractersticos, e viria arepresentar, com validade artstica, uma face da literatura, o quevale dizer do homem e do seu mundo.

    * * *

    a co-cientca uma literatura gratuita, desligada do ho-mem, mera fantasia delirante que brotou numa era j farta da ima-ginao fatigada dos escritores? um gnero sem importncia lite-rria, que constitua mero entretenimento, evaso pura e simples,algo como uma espcie de barbitrico em letra de frma?

    H crticos que assim consideram esse ramo to popular dasletras contemporneas. Outros, alm de desprez-lo, supem-noproduto de ideologia reacionria, resultado de artimanha polti-ca que visa, de um lado, distrair as populaes revoltadas, e, deoutro, preparar o esprito dos povos para a aceitao de doutrinaimperialista e escravizadora. Atitude esta na verdade extremada eque decorre do cacoete muito em voga de tudo ver pelo ngulo daslosoas politizadas. Ser inquestionavelmente mais cientco,encarar essa literatura como vinculada prpria condio do ho-mem contemporneo frente ao conhecimento, s formas de vidae de comportamento do seu tempo, s incertezas do mundo quelimita, dia a dia, suas esperanas nos descaminhos polticos, s

    inquietaes forjadas pela prpria aventura ou experincia cient-ca, crise que, anal, dene esta etapa histrica. Na verdade, aco-cientca s literriamente vlida, enquanto pertena ao

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    universo da linguagem e da poesia e signique uma medida dacriatura humana.

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    A co-cientca, de fato, mais literatura do que cincia.Esta pertence aos compndios e aos tratados. Os cientistas, noentanto, no a depreciam. Consideram-na, antes, uma hiptese detrabalho dependente da vericao sistemtica.

    O que a cincia pode representar para o homem na fecunda-o do seu esprito e na transformao de sua vida, formulando ostermos do drama humano, j matria para a literatura, para afbula. O reingresso do homem atual no mundo da fbula eis o

    que a science-ction pratica. Parte o escritor de uma concepo noalheia cincia e cria, apoiado nela, a trama imaginria, e a narraconsoante os seus recursos literrios, e estes lhe daro, conformea qualidade artstica da fatura, grandeza ou platitude, realismo oufalsidade. Groff Conklin, experimentado antologista e terico do g-nero, conceitua-o como estando baseado em idias cientcas queno tenham sido provadas impossveis. Da no caber estranhezaante a notcia de que, na Universidade de Harvard, o professor

    Dwight Wayne Batteau mantenha uma ctedra de Fico-Cientcaaplicada Engenharia, cuja nalidade encaminhar os cientis-tas no aproveitamento das sugestes engendradas pelos escritores.Estes, por sua vez, em muitos casos, so tcnicos, homens de la-boratrio e de pesquisas, cientistas numa palavra, e se valem daco para elaborarem, na forma de contos, novelas ou romances,hipteses que no ousaram ainda formular em termos de rigorosacincia. H mesmo crticos literrios que denem a co-cientcacomo a literatura da hiptese. O que importa assinalar, que osescritores de co-cientca crem, convictamente, nas histriasque inventam e do fora de verdade supra-realidade que descre-vem. Por isso mesmo, os psicanalistas se detm na anlise maisprofunda dessas narrativas, sentindo-as como um sonho rico desmbolos. Mas neste, como em qualquer outro gnero literrio, oarteso no dispensado, as regras estticas no so abandonadase nem a arte de compor, consoante as exigncias estilsticas deplano secundrio. Exatamente porque, antes de mais nada, pre-

    ciso respeitar a sua condio de literatura.A co-cientca, muito embora trate de mundos desconhe-

    cidos, de universos vagamente pressentidos, de objetos no iden-

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    ticados, de robots e monstros, de fenmenos estranhos, de seresextraterrenos ou potncias invisveis, de naves estapafrdias, degalxias, de civilizaes e culturas de outros planetas, , em vezde escapista, vincadamente humana e d a dimenso da perple-xidade do homem na hora histrica em que vive. Pertence, como

    conseqncia, a um mundo que, pela exacerbao do conheci-mento, derrogou as certezas que conquistara com o auxlio daprpria cincia. Anal, o homem moderno e o homem primitivo seigualaram na mesma ignorncia ste por nada saber e aquelepor saber demais, cando, assim, atnito diante de cada nova des-coberta. Um e outro, cada qual no seu devido tempo, lanam asmesmas indagaes sofridas: Que o homem? A vida? O tempo e oespao? O futuro? Ambos se denem pela mesma insegurana, por

    semelhante inquietao ante o ignoto, o mistrio. A co-cientcafaz as vezes, enm, de uma Cosmogonia. O Fabuloso de tal formaenvolveu o homem, que tudo mgico, mirabolante, absurdo, in-dito e... possvel.

    A um mundo estvel, que ia da geometria euclideana ao ra-cionalismo de Descartes, da regrada lgica aristotlica ao cosmosde Galileu e ao positivismo de Comte, para assinalar apenas al-gumas balizas, sucedeu outro, conturbado e revolucionado pela

    Relatividade, a Ciberntica, os Quanta, a Mecnica Ondulatria,a Astrobiologia, a Sociometria, a Gentica, a Psicanlise, as trans-mutaes dos conceitos de Espao e Tempo, a Radioatividade e osRaios Csmicos, a Biofsica e a Bioqumica, a Eletrnica, a Teleco-municao, as mutaes articiais e tantas outras situaes novase desnorteantes que desmantelaram a solidez de suas interpreta-es da vida e do meio ambiente.

    O homem, antes centro do Universo, acabou adquirindo acincia e o que muito mais: a conscincia de que est ins-talado num minsculo ponto perdido num brao de galxia, entreoutros milhares de milhes de grupos estelares, e sabe, por exem-plo, que cada novo telescpio prescreve toda a Astronomia sabidaat ontem. Ficou sem pontos de referncia adaptados s dimenseshumanas, observa Erich From, que ainda arma: A cincia, osnegcios, a poltica, perderam todos os fundamentos e proporesque faam sentir humanamente. Vivemos em cifras e abstraes;posto que nada concreto, nada real. Tudo possvel, de fato e

    moralmente. A co-cientca no diferente do fato cientco,nem o so os pesadelos e os sonhos dos acontecimentos do anoseguinte.

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    A co-cientca funda suas razes nesse mundo instvele alienado. A espcie humana em perigo perigo suposto ou real produz uma literatura premonitria. o grande documento dacriatura em face ao seu destino problemtico. Ou a catarse de umsentimento de culpa coletivo. Seja como fr, uma literatura do

    homem, nascida do seu ntimo profundo, no importa que tantasvezes temerosa e fatalista, desiludida e triste.

    Em outros tempos, a literatura preocupou-se com o passadoou o presente das sociedades. Agora est voltada para o futuro, queno consegue vislumbrar nitidamente.

    Literatura de fuga, essa da co-cientca? Parece que no. antes lha do impasse, da crise, da humanidade intranqila esem paz. Mas, nem por isso, toda ela feita de dor e, em nenhum

    momento, de desprezo pela condio humana. Muito pelo contr-rio, est vinculada ao tempo terrvel que as manchetes diariamentedenunciam, e, em alguns autores, seus personagens, exilados emoutras galxias, ou em mundos articiais, apresentam-se nostlgi-cos da boa e velha Terra que abandonaram por fora das circuns-tncias, e conspiram contra os governos estelares para retornaremao solo de antanho, com o to de novamente coloniz-lo, tir-lo doseu barbarismo e reorganiz-lo em termos de amor e simplicidade.

    So personagens ansiosos por retomarem ao humano, por desco-brirem uma verdade simples, que nada tenha a ver com mquinas,poder ou glria, mas que devolva aos seres a indispensvel dimen-so humana.

    Uma derradeira indagao: at quando a co-cientcaser apenas co-cientca?

    * * *

    Esta antologia de co-cientca aspira facultar ao leitorbrasileiro mais ntimo contacto com essa nova expresso da lite-ratura nem sempre divulgada, entre ns, pelos seus melhores va-lores.

    Abandonando o critrio histrico que exigiria seleo deobras de alto interesse documentrio em prejuzo de autores maisrelacionados com o nosso tempo foi necessrio excluir algunsnomes clssicos, como, por exemplo, o de Jlio Verne, cuja obra

    j sucientemente conhecida, e que se encontra melhor repre-sentada em romances e novelas ao que em relatos breves. Pensou-se, a seguir, em recolher histrias de co-cientca dos diversos

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    pases que a cultivam, mas, nalmente, pareceu melhor ao an-tologista selecionar, para esta apresentao do gnero ao pbliconacional, escritores de reputao que fossem reconhecidamenterepresentativos da nova literatura. Da a, escolha recair, preferen-temente, em autores norte-americanos e ingleses, que oferecem o

    mximo de virtuosidade na prtica da co-cientca. Os russos,que tambm so considerados hbeis e exmios contadores dessashistrias, mas cujas obras so de diclima aquisio no merca-do brasileiro, esto representados nesta antologia por interessantenarrativa atribuda ao correspondente radiofnico de uma revistasovitica o que d pgina transcrita uma nota de originalidade:a despersonalizao autoral, a autoria annima...

    M. S. B.

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    A PRIMEIRA HORA NA LUA

    Do correspondente radiofnicoda revista sovitica Znania Cila

    27 de Novembro de 1974

    s 11 horas e 12 minutos, a bordo da astronave LUA-I ALua j est bem prxima! Ei-la diante de ns! Se estivssemos naTerra, diramos por cima de ns. Mas aqui, h muito que perde-mos a noo do que ca por cima, por baixo, esquerda, direita. Eis Alecha Sokolov, nosso piloto e radiotelegrasta quese aproxima de mim, trepando pelo corrimo. Finge vigiar os seusaparelhos de rdio mas, na realidade, procura apenas ouvir a mi-nha transmisso... Est de pernas para o ar. le, evidentemente,tem a sensao de que sou eu que estou de cabea para baixo.Falando a verdade, nestas condies apenas temos conscincia deuma nica direo para a frente para o ponto do espao ondese encontra a Lua.

    E ela continua crescendo. Seu disco cobre agora quase quea metade do cu... No, queiram desculpar, um erro! Aqui, nopodemos falar em disco! Somente na Terra a Lua nos aparececomo um disco chato. Aqui, ela aparece-nos como uma bola, umaverdadeira esfera, um globo. Apesar de ela estar toda envolvida

    por uma mesma escurido de densidade impressionante, possvelsentir que a linha do permetro est mais distanciada de ns doque o centro...

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    realmente espantoso vericar at que ponto so visveistodos os pormenores deste planeta! A limpidez perfeita, extraordi-nria. Constantemente comparamos o relevo que se estende diantede ns, com as nossas excelentes fotocartas lunogrcas, ondeest registrado o nome de cada lugar. Comeamos j a familiarizar-

    mo-nos com a paisagem em relevo. Ali est ua mancha escura oMar das Crises. Um pouco mais esquerda o Mar da Sereni-dade. E ainda mais esquerda, atrs das cadeias de montanhasdo Cucaso e dos Apeninos o Mar das Chuvas, vasta e som-bria plancie. nesse mar seco que ns iremos pousar...

    No h dvida, estamos fora da Terra! Tudo aqui diferente.Uma paisagem fantstica, selvagem, catica. Sobre a maior partedo hemisfrio visvel, distinguimos um amontoado de cordilheiras,

    inmeras crateras, fendas profundas, gargantas estreitas. As som-bras no tm cambiantes e so completamente negras dir-se-iamburacos! E o cu, esse, tambm negro. Um negrume como este,um negrume assim to absoluto no possvel encontrar na Terra.Os locais iluminados so banhados por uma misteriosa luz cin-zenta, como no possvel conceber na Terra; uma luz fria, morta.Evidentemente, h uma certa beleza em tudo isto, mas uma belezasinistra, diria mesmo angustiante. Pensando bem, seria possvel

    encontrar uma paisagem alegre e aprazvel, num planeta onde no possvel encontrar uma s gota dgua, onde no existe ar nem amenor parcela de vida?...

    Mas no fundo, no a paisagem que provoca este sentimentode angstia. Acabo de compreender agora mesmo o verdadeiro mo-tivo! A Lua aproxima-se de ns a uma velocidade progressivamentemaior. Camos a pique, de cabea para baixo. A nitidez pouco habi-tual dos contornos diminui as distncias e por isso, sem dvida,que me parece j ser tempo de procurar a posio de aterrissagem a cauda para baixo e de comear a brecar para evitar a cats-trofe... O professor e Alecha esto junto aos aparelhos, e discutemacaloradamente. evidente que esto se controlando mutuamen-te para evitar todo o risco de erro no momento decisivo... E, tam-bm eles devem estar emocionados como eu...

    No entendo! No temos necessidade de correr tais riscos! Dequalquer forma ns temos uma certa quantidade de combustvel dereserva... No h dvida que eles, os sbios, sabem melhor do que

    eu; no entanto... No haja dvida que seria realmente um bonitopresente para a Ptria, para a Terra, se no tivssemos tido tempode virar a astronave, e se furssemos esta superfcie arrepiada de

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    montanhas ... Os astrnomos registrariam na Terra uma dbil ex-ploso, uma nuvem de poeira, o surgimento de uma nova craterano Mar das Chuvas, e nada mais.

    A massa lunar continua crescendo sobre ns. interessantenotar que nem por isso desaparece a sensao de uma imobilidade

    completa no espao. Nem sequer as dimenses gigantescas da Luaalteram essa sensao. Devo dizer-lhes, caros ouvintes, que umaimpresso bastante desagradvel. A partir do momento em que opropulsor parou alguns minutos depois da partida a sensa-o do movimento desapareceu por completo. Muito simplesmente,a astronave deteve-se no espao. E foi a Terra, por baixo de ns,que comeou a girar e a diminuir. Depois, foi a Lua que comeou acrescer... Creio que no futuro, logo que os homens se habituem a

    estas sensaes visuais, ser a viagem interplanetria a mais fasti-diosa das deslocaes. Temos exatamente a impresso de estarmosnum trem que parou durante dois dias numa pequena estao in-termdia... De qualquer maneira, ser que eles no vo?...

    Uf! Finalmente! J no era sem tempo...A paisagem lunar acaba de mudar de posio, ela desliza

    ao nosso lado. A Terra, as estrelas, ocupam agora a anterior posi-o da Lua. Os propulsores laterais ressonam intermitentemente,

    como se tivessem acordado depois de um longo sono. Rodamos, etomamos a posio de descida.A est... Meia-volta completa... Stop... O propulsor principal

    j est funcionando. A queda diminui de velocidade, e agora sen-timos algumas vibraes. Acaba de aparecer a fora da gravida-de! Finalmente, j podemos car de p, em vez de utuarmos! Nomomento, evidente voamos para baixo, descemos! E a Luaque est l embaixo. As montanhas distantes desaparecem poucoa pouco do horizonte. Em contrapartida, aquelas que esto maisperto crescem assustadoramente. Uma cratera com as bordas dila-ceradas surge, no muito longe... Debaixo de ns, creio avistar umterreno plano... Tamarine faz uns incompreensveis sinais para oprofessor. Alecha vira ua manivela. Ah! A est! O professor acabade acionar o mecanismo do trem de aterragem trs ps saem dacauda do aparelho. Eles vo amortecer o choque e impedir que aastronave tombe sobre um dos lados.

    Mais alguns segundos, e iremos pousar...

    E enquanto aguardo esse momento decisivo, suspendo aemisso.

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    27 de Novembro de 1974 (12 horas e 55 minutos) Al, al! Estamos na Lua! Na Lua! Raios me partam, se eu

    entendo...A aterrissagem efetuou-se normalmente; estamos bem,

    tudo est em ordem.

    Mal tinha terminado a precedente emisso, quando o profes-sor deu a ordem:

    Todos aos seus lugares. Amarrem os cintos!Executamos os movimentos com a rapidez e a preciso que

    adquirimos na Terra, durante as muitas repeties desta cena. algo de atordoador vericar que tudo se passa absolutamente deacordo com as previses dos nossos especialistas!

    No esperamos muito tempo. Um choque amortecido, mas

    ainda assim bastante violento, projetou-nos em direo r daastronave. As molas rangeram. As cadeiras acolchoadas e os cintospreservaram-nos dos golpes e das mais que provveis equimoses.

    O foguete inclinou-se ligeiramente decerto um dos ps dotrem de aterragem pousou numa fossa e logo se imobilizou. Opropulsor parou.

    Estvamos pousados sobre a Lua. difcil descrever o sentimento que ento nos invadiu. Olha-

    mo-nos, e de sbito lanamo-nos nos braos uns dos outros. Foiuma alegria sem limites, uma verdadeira embriaguez. Compreen-damos perfeitamente o alcance histrico do nosso feito. O que aca-bava de acontecer, geraes e geraes de homens no s no oousaram sonhar, mas consideraram-no ainda como o exemplo ele-mentar da impossibilidade saltar da Terra Lua. E ns tnha-mos dado esse salto... Pela primeira vez a humanidade penetrara ocosmos em direo a um outro planeta.

    Dentro de um momento vamos sair.Vo fornecer oxignio cabina-comporta que d para o exte-

    rior. Alm do casco do foguete, o vazio. No podemos descer damesma forma como se desce de um avio, na Terra. A est! Tudopronto. Na estreita cabina parcela innitesimal do vazio univer-sal Mikhail Sedov prepara-se para sair. Revestido com o seu vi-doscafo parece um escafandrista, ou melhor, um robot fantstico.

    A vigia exterior abre-se, e imediatamente abaixada uma es-cada vertical. Prudentemente, tateando os degraus com o p, Mi-

    khail vai descendo. Um ltimo passo e seu p, protegido poruma bota metlica, pisa a superfcie da Lua.

    O nosso comandante ca imvel, contemplando a paisagem

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    morta do reino lunar, simultaneamente conhecido e desconheci-do. Essas montanhas, por exemplo: teriam elas o mesmo aspecto,vistas atravs de um telescpio terrestre? Tm, na verdade, algode semelhante. Mas a mesma semelhana que h entre uma fototomada distncia e uma paisagem real. A luz mais forte, mais

    crua, as sombras so mais absolutas, no existe a menor das bru-mas. A paz sempiterna de um planeta adormecido.

    O professor debrua-se. Segura um pouco da poeira lunar,e examina-a cuidadosamente. Que ser, anal, essa poeira lunar?H tantos anos que os astrnomos discutem e disputam, formu-lando teorias a partir de observaes feitas a 380.000 quilmetrosde distncia! O professor guarda a poeira num bolso especial doescafandro e faz-nos um sinal com a mo: Podem sair!

    E samos Alecha Sokolov e eu; respectivamente o segundoe o terceiro homens sobre a Lua. Tamarine, por agora, ca a bordoda astronave.

    Contemplo as pegadas impressas por nossas botas na ca-mada de poeira muitas vezes secular que envolve a Lua como uamortalha. O rasto dos primeiros passos humanos. Dezenas de anosho de passar; seremos enterrados e esquecidos, mas o rasto denossos passos permanecer no Mar das Chuvas. Nada vir revol-

    v-lo, assopr-lo, apag-lo. Quando muito, um meteorito tombadopor acaso, e explodindo em minsculas estrelas de encontro s ro-chas, deixar um novo trao, perturbando o repouso desta camadade poeira que guarda a memria de centenas de milnios.

    nossa volta, uma plancie rasgada por rochedos aguados,um caos de pedras, os ziguezagues das fendas... Lanamos umolhar para o fundo do abismo negro... Como desejaramos encon-trar gua! Como a viagem caria simplicada se pudssemos reco-lher gua na Lua!... E se ns descssemos ao fundo?...

    Mas Sedov chama-nos. Precisamos ir para a frente, em dire-o s montanhas, em direo aos contrafortes dos Alpes lunares.Saltamos como bolas sobre as pedras ponteagudas. Sem estes sal-tos que nos permitem percorrer 10 ou 15 metros com um nicopasso, este mundo seria impraticvel aos exploradores. E apesardisso, no sem diculdade que atingimos a crista mais prxima.

    Olhamos em volta. Inmeros rochedos, crateras, fendas... ALua um planeta morto.

    Meus companheiros lanam mos ao trabalho. Alecha ps delado a sua cmera, Sedov encheu um saco com amostras de rochaslunares. Neste momento desdobram um mapa sobre um rochedo

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    achatado. Onde se encontra o Norte? O professor aponta a pequenaestrela que, no cu da Lua, desempenha as mesmas funes que anossa Estrela Polar. Alecha segura uma bssola. Qual a orientaoque tomar a agulha?...

    E eis a primeira descoberta: tambm a Lua possui um campo

    magntico. Onde se encontra o Plo magntico da Lua? Coincidircom o Plo Norte?... Alecha mede cuidadosamente a declinao.Uma cincia nova est prestes a nascer sob nossos olhos: a mag-netologia lunar. Comparando o magnetismo terrestre e lunar, ossbios encontraro, sem dvida, a explicao deste fato misterioso:por que motivo se comporta o nosso planeta como um m?

    Ns, homens, os enviados do pas sovitico, viemos a estemundo morto e sem utilidade para ningum. Contemplamo-lo, e

    estamos prestes a entend-lo, a familiarizarmo-nos com le... Nahistria da Lua inicia-se uma nova era a Era Humana.

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    ENCONTRO NOTURNO

    Ray Bradbury

    Antes de subir para as colinas azuis, Toms Gomez paroupara se reabastecer de gasolina em um posto solitrio.

    Fica meio sozinho por aqui, no mesmo, Tio? disseToms.O ancio limpava o pra-brisa do pequeno caminho. Mas no mau. Gosta de Marte, Tio? Muito. H sempre alguma coisa de novo. No ano passado,

    quando vim para c, eu tinha me preparado para no esperar coisaalguma, no perguntar coisa alguma e no car supreendido comcoisa alguma. Temos que esquecer a Terra, e as coisas tal comoforam. Temos que ver o que somos aqui, e quanto tudo diferente.Eu tenho me divertido como o diabo, s com o clima deste lugar. clima marciano. Quente como o inferno, durante o dia, frio comoo inferno, noite. Fiquei estupidicado com as ores diferentes ecom a chuva diferente. Vim para Marte a m de me aposentar, e de-sejava aposentar-me num lugar onde tudo fosse diferente. Um ve-lho precisa ver coisas diferentes. Os jovens no querem conversarcom le, e os outros velhos enfadam-no como seiscentos diabos.

    Assim, pensei que o melhor para mim seria um lugar to diferenteque tudo quanto me restasse a fazer fosse abrir os olhos, e comisso car distrado. Arranjei este posto de gasolina. Se o negcio

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    comear a aumentar muito, eu me mudarei para alguma outra ve-lha estrada que no tenha tanto movimento, e onde possa ganharo bastante apenas para viver e ainda ter tempo para observar ascoisas diferentesdaqui.

    O senhor est pensando certo, tio disse Toms, cuja

    mo morena descansava, ociosa, no volante. Sentia-se bem. Tinhaestado a trabalhar em uma das novas colnias durante dez dias se-guidos, e agora dispunha de dois dias de folga e estava a caminhopara uma festa.

    Agora, j nada me surpreende disse o velho. Estouapenas observando. Adquirindo experincias. Se no fr possvelaceitar Marte pelo que le , o melhor voltar mesmo para a Terra.Tudo aqui maluco, o solo, o ar, os canais, os nativos (ainda no

    vi nenhum, mas ouo dizer que andam por a), os relgios. Mesmoo meu relgio funciona de um jeito engraado. O prprio tempo maluco, por aqui. s vezes tenho a impresso de que estou sozi-nho, que no h mais ningum em todo este desgraado planeta.Poderia at apostar. s vezes sinto-me com oito anos de idade, meucorpo espichado, e tudo o mais mostrando-se alto, tambm. Jesus!este o lugar ideal para um velho. Mantm-me alerta e mantm-mefeliz. Voc sabe o que Marte ? Tal qual uma coisa que eu ganhei

    no Natal, h setenta anos no sei se voc j teve algum umacoisa que chamavam caleidoscpio, pedacinhos de cristal, e pano,e contas, e quinquilharias bonitas. Voc erguia aquilo para o ladodo sol e olhava atravs dele. Ficava at sem flego. Todos os dese-nhos! Bem, assim Marte. Goze-o. No pea que seja nada mais doque . Jesus! voc sabe que esta prpria estrada, construda pelosmarcianos, tem mais de dezesseis sculos de existncia e aindaest em boas condies? So um dlar e cinqenta centavos, obri-gado e boa noite.

    Toms prosseguiu seu caminho pela antiga estrada, rindosilenciosamente.

    A estrada era longa, entrando na sombra e nas colinas, e lermou-se no volante, de vez em quando estendendo a mo paraseu porta-merenda e apanhando um caramelo. Tinha guiado semparar durante uma hora, sem ver outro carro na estrada, nem luz,apenas o cho correndo sob as rodas, o zumbido e o ronco do carro,

    e Marte por ali, to silencioso. Marte era sempre quieto, mas na-quela noite estava mais silencioso do que nunca. Os mares vazios edesertos passavam rapidamente por le, e as montanhas cresciam

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    em direo das estrelas.Havia, na atmosfera daquela noite, um odor de tempo. le

    sorriu e deu voltas fantasia, em sua mente. Ali estava um pensa-mento. Que espcie de cheiro tinha o tempo? Cheirava a poeira, arelgios, a gente. E se algum pensasse qual era o som do tempo,

    eis que era como gua correndo numa caverna escura, vozes gri-tando, sujeira caindo de tampas perfuradas de madeira, e chuva.E, seguindo mais alm, com que se parecia o tempo, aos olhos dagente? O tempo parecia-se neve tombando silenciosamente numaposento escuro, ou parecia-se a um lme silencioso num teatroantigo, cem bilhes de rostos caindo como bales do Ano Novo,para baixo, para baixo, para o nada. Assim era que o tempo chei-rava, soava e se parecia. E naquela noite Toms ps a mo ao

    vento, para fora do caminho naquela noite era quase possveltocar o tempo.Guiava o caminho entre colinas do tempo. Seu pescoo pica-

    va, e le endireitava-se no lugar, observando a frente no caminho.Parou na pequena cidade marciana, morta, desligou o motor

    e deixou que o silncio o envolvesse. Ali cou, sem respirar, olhan-do, luz do luar, para os altos edifcios, de h sculos desabitados.Perfeitos, impecveis. Em runas, sim, e, apesar disso, perfeitos.

    Ps o motor em movimento e caminhou mais uma milha etanto, at parar novamente, subindo, levando na mo seu porta-merenda, e caminhando at um pequeno promontrio de onde po-dia ver l embaixo a cidade empoeirada. Abriu sua garrafa trmicae serviu-se de uma xcara de caf. Uma ave noturna voou juntodele. Toms sentia-se muito bem, muitssimo em paz.

    Uns cinco minutos mais tarde, talvez, houve um som. L nascolinas, onde a estrada antiga fazia uma curva, houve um movi-mento, uma luz enevoada, e depois um murmrio.

    Toms voltou-se lentamente, com a xcara de caf na mo.E de entre as colinas saiu uma coisa estranha.Tratava-se de ua mquina parecida a um inseto verde-jade,

    a um louva-a-deus, voando delicadamente atravs do ar frio, indis-tinto, brilhantes verdes e incontveis faiscando sobre seu corpo, egemas vermelhas que refulgiam com olhos multifacetados. Suasseis pernas caram sobre a estrada antiga como os rudos de chuvaesparsa que se afastasse, e, da parte de trs da mquina, um mar-

    ciano, que tinha olhos de ouro lquido, olhou para Toms como seestivesse olhando para um poo.

    Toms levantou a mo e pensou, automaticamente: Ol!

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    Seus lbios porm no se moveram, porque aquele era um mar-ciano. Toms, entretanto, havia nadado em rios azuis do Ocidente,com estranhos passando na estrada, e comido em casas estranhas,com gente estranha, e sua arma fora sempre seu sorriso. No le-vava um revlver. E no sentia necessidade de um revlver, agora,

    mesmo diante da pontinha de medo que o envolvera naquele mo-mento.

    As mos do marciano tambm estavam vazias. Durante ummomento olharam-se um ao outro, atravs do ar frio.

    Foi Toms quem se moveu em primeiro lugar. Ol! disse le. Ol! disse o marciano, em sua prpria lngua.No se entendiam mutuamente.

    Voc disse ol? perguntaram os dois ao mesmo tem-po. Que foi que voc disse? falaram, cada qual numa lngua

    diferente.Ambos caram carrancudos. Quem voc? perguntou Toms, em ingls. Que est fazendo aqui? indagou o outro, movendo os

    lbios e falando marciano.

    Onde vai voc? disseram ambos, e pareceram car per-plexos. Sou Toms Gomez. Sou Muhe Ca.Nenhum dos dois entendeu, mas bateram nos respectivos

    peitos, falando, de forma que as palavras tornaram-se compreen-sveis.

    Ento, o marciano riu. Espere!Toms sentiu que lhe tocavam a cabea, embora mo alguma

    se aproximasse dela. Pronto! disse o marciano, em ingls. Assim me-

    lhor! Voc aprendeu minha lngua to depressa! Nada disso!Encabulados com um novo silncio, olharam para o caf

    quente a deitar fumaa, que Toms tinha na mo.

    Posso oferecer-lhe de beber? disse Toms. Por favor.O marciano deslizou para fora de sua mquina.

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    Uma outra xcara foi retirada da caixa e enchida, bem quen-te. Toms ofereceu-a.

    As mos de ambos tocaram-se e como a nvoa passa-ram uma pela outra.

    Jesus Cristo! disse Toms, e deixou cair a xcara.

    Em nome dos deuses! falou o marciano, em sua prprialngua.

    Voc viu o que aconteceu? ambos balbuciaram.Estavam ambos terricados, o com muito frio. Jesus! disse Toms. Realmente.O marciano tornou a tentar agarrar a xcara, mas no lhe foi

    possvel. Ficou pensando por um momento, depois tirou uma faca

    do cinto. Veja l! gritou Toms. No entenda mal: apanhe! disse o marciano, atirando-a.

    Toms fez um cncavo com as mos. A faca passou atravs de suacarne e foi cair no cho. Toms abaixou-se para apanh-la masno conseguia tocar nela, e recuou, tiritando.

    Olhava agora para o marciano, contra o cu. As estrelas! disse le.

    As estrelas! disse o marciano, olhando, por seu turno,para Toms.As estrelas mostravam-se brancas e vivas atravs da carne

    do marciano, estavam cosidas em sua carne como centelhas en-golidas dentro da delgada e fosforescente membrana de um peixemarinho gelatinoso. Era possvel ver as estrelas reluzindo comoolhos violetas no estmago e no peito do marciano, e atravs deseus pulsos, como jias.

    Posso ver atravs de voc! disse Toms. E eu atravs de voc! disse o marciano, recuando.Toms apalpou seu prprio corpo e, sentindo-lhe o calor,

    tranqilizou-se. Sou real, pensou le.O marciano tocou seu prprio nariz e seus lbios: Eu te-

    nho carne! murmurou le, quase que audivelmente. Euestouvivo.

    Toms cou contemplando o estranho. Se eusou real, vocdeve estar morto!

    No, vocquem o est! Um esprito! Um fantasma!

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    Apontavam um para o outro, com estrelas queimando emseus membros, como adagas e pingentes de gelo, e pirilampos, edepois comearam novamente a apalpar os prprios braos e per-nas, cada qual sentindo-se intacto, quente, excitado, estupefato,tomado de respeitoso temor, e o outro, oh! sim! o outro que ali

    estava era irreal, um prisma fantasmal irradiando a luz acumuladade mundos distantes.

    Estou bbado! pensou Toms. No contarei nadadisso a ningum, amanh, no e no.

    Estavam ali, na antiga estrada, e nenhum dos dois se mo-via.

    De onde voc? perguntou, nalmente, o marciano. Da Terra.

    Onde isso? L.E Toms fez um movimento de cabea para o cu. Quando veio? Chegamos aqui h um ano, no se lembra? No. E todos vocs estavam mortos, a no ser uns poucos. Vo-

    cs so raros, no sabedisso?

    Isso no verdade. Sim, mortos. Vi os corpos. Pretos, nos aposentos, nas ca-sas, mortos. Milhares deles.

    Isso ridculo. Estamos vivos! Cavalheiro, vocs foram invadidos, apenas voc no o sabe.

    Voc com certeza escapou. No escapei. No havia nada do que escapar. Que que

    voc quer dizer? Estou a caminho de uma festa, agora, no canal,junto das Montanhas Eniall. Estive l na noite passada. No v acidade, daqui?

    E o marciano apontava.Toms olhou e viu as runas. Ora, aquela cidade est morta h milhares de anos.O marciano riu: Morta! Eu dormi l, na noite passada. E eu estive l h uma semana e na semana anterior a essa,

    e atravessei a cidade agora, e um monte de runas. Est vendo as

    colunas quebradas? Quebradas? Ora, eu as vejo perfeitamente. O luar ajuda.

    E as colunas esto de p.

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    H poeira nas ruas disse Toms. As ruas esto limpas. Os canais esto vazios, ali. Os canais esto cheios de vinho de lavanda. uma cidade morta.

    Est viva! protestou o marciano, rindo ainda mais, ago-ra. Oh! voc est completamente enganado. Est vendo todasaquelas luzes do carnaval? So lindas barcas, com mulheres esbel-tas, e belas como os barcos, mulheres cr de areia, mulheres comores de fogo nas mos. Eu as estou vendo, pequenas, correndoagora pelas ruas, ali. Para l que vou, agora, para a festa: passa-remos a noite inteira vogando sobre as guas, cantaremos, bebere-mos, amaremos. No pode ver isso?

    Cavalheiro, aquela cidade est morta e seca como um la-garto. Pergunte a qualquer um de sua roda. Estou a caminho daCidade Verde, esta noite: a nova colnia que acabamos de levan-tar junto do Caminho Illinois. Voc est confuso. Trouxemos ummilho de ps de tbuas feitas com madeira de Oregon e duas d-zias de toneladas de bons pregos de ao e assim construmos duasdas mais bonitas aldeias que voc j viu. Esta noite vamos acenderos fogos de uma delas. Dois foguetes vo chegar da Terra, trazendo

    nossas esposas e amiguinhas. Teremos dana e usque...O marciano, agora, estava inquieto. Voc disse que ca para estelado? H os foguetes disse Toms, e caminhando com le para

    o rebordo da colina, apontou para baixo: Est vendo? No. Com os diabos, ali esto eles! Aquelas coisas afusadas,

    brilhantes! No vejo! Toms, agora, ria: Voc cego! Eu vejo muito bem. voc quem no v. Mas voc v a cidadenova, no v? Nada vejo a no ser um oceano, gua e baixa-mar. Cavalheiro, h sculos que aquela gua se evaporou. Vamos, vamos, isso tambm demais! a verdade, estou dizendo.O marciano cou muito srio.

    Fale-me outra vez. Voc no v a cidade da forma que eulhe descrevo? As colunas muito brancas, os barcos muito esbeltos,as luzes da festa oh! eu os vejo claramente! E oua! Eu posso

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    ouvi-los cantar. Ficam to prximos!Toms prestou ouvidos, e sacudiu a cabea: No. E, da minha parte disse o marciano no posso ver o

    que voc descreve. isso.

    De novo sentiram-se frios. Havia gelo em suas carnes. Poder ser qu... ? Qu? Voc disse do cu? Terra. Terra, um nome, nada disse o marciano. Mas... quan-

    do eu subi pelo caminho, h uma hora...Tocou na parte de trs de seu pescoo, e continuou:

    Frio? Sim. E agora? Frio, outra vez. Estranhamente. Havia algo nas luzes, nas

    colinas, no caminho disse o marciano. Senti estranheza, aestrada, a luz, e por um momento senti como se eu fosse o ltimohomem vivo neste mundo...

    O mesmo senti eu! disse Toms, e era como se falasse

    com um velho e querido amigo, conando, aquecendo-se com oassunto da conversao.O marciano fechou os olhos e tornou a abri-los. Isto s pode signicar uma coisa. Algo que ver com o tem-

    po. Voc uma co do passado. No, voc do passado disse o Homem da Terra, tendo

    tido tempo de pensar naquilo, ento. Voc mostra tanta certeza. Como pode provar quem do

    passado, quem do futuro? Que ano este? Dois mil e um! Que signica isso, para mim?Toms pensou um instante, e encolheu os ombros. Nada. como se eu lhe dissesse que este o ano 4.462.853 S.

    E. C. Isso nada e mais do que nada! Onde est o relgio que nosmostra onde esto as estrelas?

    Mas as runas provam isso! Provam que eu sou o futuro,

    que euestou vivo, que vocest morto! Tudo em mim nega tal coisa. Meu corao bate, meu est-

    mago tem fome, minha boca tem sede. No, no, no estou morto,

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    estou vivo, ambos estamos vivos. Mais vivos do que qualquer outracoisa. Parece-me antes que fomos apanhados entre dois pontos.Dois estranhos cruzando-se na noite, eis o que . Dois estranhospassando. Runas, disse voc?

    Sim! Tem medo?

    Quem quer ver o futuro, quem o v? Um homem podeenfrentar o passado, mas pensar... as colunas esboroadas, dissevoc? E o mar vazio, os canais secos, as moas mortas, as oresmurchas?

    O marciano cou silencioso, mas depois olhou para a frente,continuando:

    Mas eles existem. Eu os vejo. No o bastante para mim?Esperam por mim, agora, apesar do que voc disse.

    E para Toms os foguetes, l longe, a espera dele, e as cida-des e as mulheres da Terra. Jamais poderemos estar de acordo disse le. Concordemos em no discordar disse o marciano.

    Que importa quem o passado ou o futuro, se ambos estamos vi-vos, e o que se seguir, seguir amanh ou em duzentos mil anos?Como sabe voc que aqueles templos no so os templos de suaprpria civilizao um sculo para alm do momento presente, der-

    rubados e partidos? Voc no sabe. Ento, no faa perguntas.Mas a noite muito curta. L esto os fogos da festa surgindo nocu, e os pssaros.

    Toms estendeu sua mo. O marciano fz o mesmo, imitan-do-o.

    Suas mos no se tocaram, mas deszeram-se uma atravsda outra.

    Tornaremos a nos encontrar? Quem sabe? Talvez alguma outra noite. Eu gostaria de ir com voc a esse festival. E eu gostaria de ir com voc sua nova cidade, para ver

    esse barco areo de que fala, ver os homens, ouvir tudo quantoaconteceu.

    Adeus disse Toms. Boa noite.O marciano saiu em seu veculo de metal verde, caladamen-

    te, entrando pelas colinas. O Homem da Terra deu a volta ao seu

    caminho e saiu silenciosamente em direo oposta. Meu Deus, que sonho foi esse suspirou Toms, as mos

    no volante, pensando nos foguetes, nas mulheres, no usque, na

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    dana da Virgnia, na festa.Que estranha viso fora aquela, cogitava o marciano, apres-

    sando-se, pensando na festa, nos canais, nos barcos, nas mulheresde olhos de ouro e nas canes.

    A noite estava escura. As luas haviam desaparecido. A luz

    das estrelas tremeluzia na estrada erma, onde no havia um som,sequer, uma pessoa, um carro, nada. E assim permaneceu ela du-rante todo o resto da escura e fria noite.

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    O JQUEI DO ESPAO

    Robert Heinlein

    No momento em que eles iam saindo, o telefone chamou-opelo nome.

    No responda suplicou ela. Vamos perder o incio doespetculo. Quem ? disse le, em voz alta. O vdeo iluminou-se e

    le reconheceu Olga Pierce, e atrs dela o escritrio, em ColoradoSprings, no Trnsito Translunar.

    Chamando o Sr. Pemberton. Chamando... Oh! voc,Jake? Voc est anotado. Vo 27, Supra-New York para a Termi-nal-do-Espao. Mandaremos um helicptero apanh-lo dentro devinte minutos.

    Como isso? protestou le. Eu estou em quarto lu-gar, na tabela de chamada.

    Voc estavaem quarto lugar. Seu nome cava abaixo dode Hiks e le acaba de passar por um exame psquico.

    Hiks fazendo teste psquico? Isto uma tolice! Acontece com os melhores, meu caro. Prepare-se. At

    logo.A esposa dele estava torcendo um leno de rendas, a ponto de

    transform-lo numa coisa informe. Jake, isso uma coisa ridcula. H trs meses que no o

    vejo o suciente para saber com que cara anda.

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    Lamento, meu bem. Leve Helen ao espetculo. Oh! Jake, eu no me importo com o espetculo. Queria

    lev-lo a um lugar onde eles no pudessem encontr-lo, pelo me-nos desta vez.

    Eles teriam chamado por mim l mesmo no teatro.

    Oh! No. Eu desmanchei a gravao que voc deixou. Phyllis! Voc est querendo que me ponham na rua? No olhe para mim com essa cara.Esperou, ansiosa que le falasse, lamentando o que dissera,

    e cogitando de que maneira iria contar-lhe que sua prpria aioera causada, no pelo desapontamento, mas pelo angustiante ter-ror com que pensava na segurana do marido, cada vez que le saapara o espao.

    Continuou, desesperadamente: Voc no tem obrigao de fazer esse vo, querido. Est naTerra menos tempo do que o prazo determinado. Por favor, Jake!

    Ele estava despindo o smoking. Eu lhe disse um milhar de vezes que um piloto no faz

    carreira se quiser apegar-se demais ao regulamento. Desmancharminha mensagem-itinerrio... Por que voc fz isso, Phyllis? Estpretendendo conseguir que eu no voe mais?

    No, querido, mas pensei que s por esta vez... Quando me oferecem um vo, eu o aceito.E saiu, rgido, do aposento.Dez minutos depois voltava, vestido para o espao e aparen-

    temente de bom humor. Assobiava uma canozinha (O telefonechamou Cascy s quatro e meia. le beijou sua...) mas inter-rompeu-se quando olhou para o rosto dela. A boca do piloto enri-jeceu.

    Onde est meu sobretudo? Vou busc-lo. Deixe-me preparar alguma coisa para voc

    comer. Voc sabe que no posso entrar em alta acelerao com o

    estmago cheio. E por que perder trinta dlares para ganhar maisuma libra de peso?

    Vestido como estava, de cales, blusa de algodo, sandliase cinturo de bolso, le j se mostrava pronto para mais ou menosuma diferena de cinqenta libras a menos na bonicao do peso.

    Ela estava para dizer-lhe que a multa sobre o peso de um san-duche e caf no faria diferena para ambos, mas talvez a rplicaviesse a ser causa de novo desentendimento.

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    Nenhum deles falou muito at o momento em que o txi-areo pousou no telhado. le beijou-a, despedindo-se, e pediu-lheque no viesse para fora. A esposa obedeceu-o at ouvir o helicp-tero levantar vo. Ento, subiu ao telhado, e cou olhando o apa-relho at perd-lo de vista.

    O pblico que viaja reclama a falta de servio direto da Ter-ra Lua, mas so precisas trs naves-foguetes e duas mudanasnas estaes do espao para conseguir o insignicante salto de umquarto de milho de milhas. E por uma boa razo: dinheiro.

    A Comisso de Comrcio tinha estabelecido os preos para opresente vo de trs estgios, daqui Lua, em trinta dlares porlibra de peso. Poderia o servio direto ser mais barato? Uma navedestinada a saltar da Terra e fazer uma descida destituda de ar

    na Lua, para voltar e descer de novo na atmosfera, teria que ir tocarregada de instrumentos especiais, a serem usados apenas umavez durante a viagem, que no poderia apresentar lucro, mesmoque cobrasse mil dlares por libra! Imagine-se uma combinao debalsa, trem subterrneo e elevador expresso...

    Assim, a Translunar usa foguetes impulsionados por cata-pultas, e providos de asas para a descida, de volta Terra, a mde fazer a terrvel subida da Terra para a nossa estao-satlite,

    Supra-New York. O longo salto central, dali para onde a Terminal-do-Espao circunda a Lua, pede conforto, mas no trem de aterra-gem. O Navio Fantasma e o Philip Nolan jamais aterram. Renem-se no mesmo nvel, no espao, e parecem foguetes alados, como oDuende-do-Cu e o Vagalume, tanto quanto um trem Pulmann separece a um pra-quedas.

    O Morcgo-a-Lua e o Gremlin servem apenas para o saltoda Terminal-do-Espao Lua... no tm asas, e possuem redes deacelerao e choque parecidas a casulos, e controles parciais emseus enormes jatos.

    Os pontos de mudana no precisariam ser mais do que tan-ques de ar condicionado. E certo que a Terminal-do-Espao bemuma cidade, com o trnsito de Marte e de Vnus, mas ainda hoje aSupra-New York parece um tanto primitiva, pouco mais do que umposto de combustvel, com um restaurante e sala de espera. Nosltimos cinco anos que ela foi equipada para oferecer o confortode servio centrfugo de uma gravidade aos passageiros de estma-

    go delicado.Pemberton pesou-se no escritrio do espaoprto, depois

    apressou-se em direo do Duende-do-Cu, que estava instalado

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    na catapulta. Tirou o sobretudo, tremeu de frio enquanto o entre-gava ao porteiro, e meteu-se l dentro. Foi para sua rede de ace-lerao e adormeceu. A subida at Supra-New York no era tarefasua. Seu trabalho comeava no espao profundo.

    Acordou com o impulso da catapulta e com o zunido nervo-

    so passagem do Pico Pike. Quando o Duende-do-Cu entrou emvo autnomo, atirado diretamente para cima do Pico, Pembertonreteve o flego. Se os jatos do foguete falhassem, o piloto do solo-para-o-espao deveria lutar para mant-lo deslizando e traz-lo denovo para baixo, com as prprias asas do aparelho.

    Os foguetes rugiram no momento exato, e Jake tornou aadormecer.

    Quando o Duende-do-Cu freou em Supra-New York, Pem-

    berton foi sala de navegao estelar da estao. Ficou satisfeitoao encontrar Weinstein, o calculador, de servio. Jake tinha con-ana nos clculos de Weinstein, coisa muito boa, quando o apa-relho, os passageiros, a prpria pele dependem disso. Pemberton,mesmo, precisava ser um matemtico melhor do que a mdia, paraser piloto, e seu prprio e limitado talento levava-o a apreciar o g-nio daqueles que calculavam as rbitas.

    Valente Piloto Pemberton, o agelo dos caminhos do espa-

    o! Como vai?E Weinstein estendia-lhe uma folha de papel. Jake olhoupara o que ali estava e cou estupefato.

    Ol, Weinstein... voc cometeu um erro. Qu? Impossvel! Mabel no comete erros e Weinstein

    apontava para o gigantesco calculador de astronavegao, que ocu-pava toda a parede do fundo.

    Voc cometeu o erro. Deu-me ua marcao fcil: Vega,Antares, Rgulus. Faz as coisas fceis para o piloto, depois a suacorporao atira-o de l para fora.

    Weinstein tomou um ar encabulado, mas bem satisfeito. Vejo que no saio daqui seno dentro de dezessete horas.

    Poderia ter tomado o cargueiro da manh.Os pensamentos de Jake voltaram-se para Phyllis. UN cancelou a viagem da manh. Oh...Jake calou-se, pois sabia que Weinstein estava ciente tanto

    quanto le prprio. Talvez o vo tivesse passado perto demais dofoguete de uma bomba A, que circulava em torno do globo comoum policial. O Comando-Geral do Conselho de Segurana no for-

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    necia informaes sobre os altos segredos que guardavam a paz doplaneta.

    Pemberton teve um arrepio. Bem, se eu estiver dormindo, chame-me quando faltar trs

    horas.

    Est certo. Suas instrues gravadas em ta estaro pron-tas.

    Enquanto le dormia, o Navio Fantasma meteu brandamenteo nariz em sua doca, ajustou suas comportas de ar estao, de-sembarcou passageiros e carregou para Luna City. Quando Jakeacordou, os pores do aparelho estavam sendo carregados, seucombustvel reabastecido, e os passageiros instalavam-se a bor-do. le parou no balco do rdio-correio, procurando uma carta

    de Phyllis. Nada tendo encontrado, disse consigo mesmo que eladeveria ter mandado a correspondncia para a Terminal. Foi at orestaurante, comprou o fac-smile do Herald-Tribune, e sentou-se,carrancudo, para ler a pgina cmica e fazer a primeira refeio.

    Um homem sentou-se diante dele e comeou a inferniz-locom perguntas tolas sobre foguetes, chegando ao cmulo de con-fundir o emblema bordado no bluso de Pemberton e passar a cha-m-lo Comandante. Jack apressou a refeio para livrar-se do

    importuno, apanhou a sua ta de gravao com o piloto automti-co, e foi para bordo do Navio Fantasma.Depois de apresentar-se ao comandante, dirigiu-se cabine

    de comando, utuando, e agarrando-se aos pegadores. Avelou-se cadeira de piloto, e comeou a vericar seus instrumentos.

    O comandante Kelly entrou, tambm utuando, e acomodou-se na outra cadeira, enquanto Pemberton terminava o exame darota balstica.

    Quer um cigarro, Jake? Vou vericar a chuva.Continuou, e Kelly cou a observ-lo, com os sobrolhos ligei-

    ramente carregados. Como os comandantes e pilotos nas histriasde Mark Twain sobre o Mississipi e pelas mesmas razes umcomandante de navio espacial dono de sua nave, sua tripulao,sua carga e seus passageiros, mas o piloto o ltimo, legal e indis-cutvel patro, no que se refere ao manejo da nave desde a explosode partida at o m da viagem. Um comandante pode despedir o

    piloto, e tudo. Kelly tocou com a ponta dos dedos um pedao depapel metido em seu bolso, e relembrou as palavras com que lhoentregou o psiquiatra da Companhia, que estava de servio.

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    Estou dando licena de partida a esse piloto, Comandante,mas o senhor no est na obrigao de aceit-la.

    Pemberton um bom sujeito. Que h com le?O psiquiatra pensou no que tinha observado enquanto fazia o

    papel de turista tolo que aborrece um estranho hora da primeira

    refeio. le est um tanto mais anti-socivel do que as chas ante-

    riores demonstram. Tem algo a preocup-lo. Seja como fr, presen-temente ainda pode dominar-se. Ficarei de olho nele neste caso.

    Kelly tinha retrucado: Quer embarcar, tendo-o como piloto? Se o senhor quiser. No se incomode, eu irei. No h necessidade de levarmos

    um carona.Pemberton colocou a ta-gravao de Weinstein no robot-pilto e voltou-se para Kelly.

    O controle est pronto, senhor. D sada quando estiver pronto, piloto.Kelly sentiu-se aliviado ao ouvir sua prpria voz tomar a de-

    ciso irrevogvel.Pemberton deu estao o sinal de largada. A grande-nave

    foi deslizada para fora por um arete pneumtico dilatvel, at u-tuar no espao a uns mil ps de distncia, presa por um simplescabo. Ento virou a nave para a direo da exploso de partida,fazendo que um volante, montado sobre articulaes de Cadran,no centro de gravidade da nave, girasse rapidamente. A nave giroudevagar, em direo oposta, merc da Terceira Lei de Movimento,de Newton.

    Guiado pela ta-gravao, o robot-pilto inclinou os prismasdo periscpio do piloto, de modo que Vega, Antares e Rgulus bri-lhassem como uma s imagem quando a nave estivesse colocadana exata direo. Pemberton foi levando o aparelho vagarosamentepara esse ponto. . . ruidosamente. O engano de um minuto de arcosignicaria duzentas milhas, no ponto de destino.

    Quando as trs imagens se fundiram num s pequenino pon-to, le fz parar os volantes e fechou os giroscpios. Vericou, en-to, a direo da nave pela observao direta de cada uma dasestrelas, tal como o capito-de-mar usa um sextante, mas com ins-

    trumentos incomparavelmente mais precisos. O ato nada lhe dissesobre a correo da rota que Weinstein ordenara le tinha quereceb-la como aos Evangelhos mas garantia-lhe que o robot

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    e a ta estavam comportando-se como era de esperar. Satisfeito,soltou o ltimo cabo.

    Sete minutos para a partida. Pemberton tocou no boto quepermitia ao robot-pilto provocar a exploso de partida quando orelgio lhe desse a ordem. Esperou, as mos pousadas nos con-

    troles manuais, pronto para assumir a tarefa, se o robot falhasse,e sentiu a velha, inevitvel e nauseante excitao a crescer dentrodele.

    Mesmo quando a adrenalina circulava em suas veias, alar-gando seu sentido do tempo, pulsando em seus ouvidos, a mentede Pemberton conservou-se voltada para Phyllis.

    Admitia que a esposa tinha de que se queixar: um aviador doespao no podia ser casado. No que fosse car na penria, se le

    zesse uma aterragem desastrada, mas uma jovem no deseja umaaplice de seguro, e sim um marido. Faltam seis minutos.Se le conseguisse uma viagem regular, ela poderia morar na

    Terminal-do-Espao.No adiantaria: mulheres ociosas, na Terminal-do-Espao,

    acabavam mal. Oh! Phyllis no se tornaria uma desocupada erran-te ou uma cachaceira. Apenas, enlouqueceria.

    Cinco minutos mais. le mesmo no gostava muito da Termi-

    nal-do-Espao. Nem do espao! O Romance da Viagem Interplane-tria parecia muito bem no papel impresso, mas le sabia o querealmente era: um emprego. Monotonia. Sem paisagem. Explosesde trabalho, e esperas tediosas. Sem vida de lar.

    Por que no tinha le arranjado um trabalho decente paracar em casa, noite?

    Sabia por qu! Porque le era um jquei do espao, e velhodemais para mudar.

    Que possibilidade tinha um homem casado, de trinta anos,habituado a salrios altos, para mudar sua ocupao? (Quatro mi-nutos). Imagine le, agora, tentando vender helicpteros, base decomisso?

    Talvez pudesse comprar um pedao de terra irrigada e... Te-nha juzo, camarada! Voc sabe tanto de lavoura como uma vacade raiz cbica! No, le zera a prpria cama, na ocasio em que seligara aos foguetes, em sua poca de treinamento. Se tivesse tidoinclinao para o ramo eletrnico, ou conseguido uma bolsa de

    estudos GI... Agora, era muito tarde. Do servio fora diretamentepara a Exploraes Lunares Harriman, carregando minrio paraLuna. Aquilo fora o m.

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    Como vamos, doutor?A voz de Kelly parecia irritada. Faltam dois minutos e alguns segundos.Maldio! Kelly devia estar farto de saber que no se fala com

    o piloto durante a contagem de tempo.

    Olhou uma ltima vez pelo periscpio. Antares parecia des-garrada. Desatou o giroscpio, inclinou e deu movimento ao volan-te, freando-o violentamente um momento depois. A imagem estavade novo reduzida a um s pequeno ponto. le no poderia explicaro que tinha feito: era virtuosidade, simples malabarismo, coisasextravagantes dos compndios e das salas de aula.

    Vinte segundos... atravs do mostrador do cronmetro pontosde luz iam levando embora os segundos, enquanto le se mantinha

    tenso, pronto a disparar manualmente, ou mesmo a desligar e re-cusar aquela viagem, se assim o julgasse necessrio. Uma decisoque revelasse excesso de cautela poderia determinar que a Com-panhia cancelasse o seu contrato; uma deciso precipitada poderiacustar-lhe sua licena ou mesmo sua vida... e a de outros.

    Mas le no estava pensando em compromisso nem em licen-as, nem sequer pensava em vidas. Na verdade, le no estava pen-sando coisa alguma. Estava sentindo, sentindo sua nave, como se

    os terminais de seus nervos se estendessem por todos os recantosdela. Cinco segundos... o interruptor de segurana estalou. Quatrosegundos... trs segundos... dois segundos... um...

    Ia levar a mo ao boto da partida manual quando o estrpitochegou-lhe aos ouvidos.

    Kelly afrouxou na pseudo-gravidade da exploso e cou ob-servando. Pemberton estava srio e ocupado, esquadrinhandomostradores, anotando o tempo, vericando seus progressos peloradar, projetado na Supra-New York. Os clculos de Weinstein, orobot-pilto, a prpria nave, estavam latejando em unssono.

    O instante crtico aproximou-se, minutos depois, quando orobot devia cortar os jatos. Pemberton pousou o dedo sobre o inter-ruptor manual, enquanto dividia sua ateno entre o radarscpio,acelermetro, periscpio e cronmetro. Um instante eles iam rugin-do, com os jatos, e numa frao do segundo seguinte a nave estavana rbita livre, rumando silenciosamente em direo da Lua. Toperfeitamente combinados estavam o humano e o robot, que o pr-

    prio Pemberton no sabia qual deles tinha cortado a fora.Olhou de novo para o painel, depois, soltou o cinto. Que tal um cigarro, comandante? E pode dizer aos passa-

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    geiros que desamarrem os cintos.No h necessidade de co-pilto no espao, e a maior parte

    dos pilotos preferiria partilhar uma escova de dentes do que umacabine-de-comando. O piloto trabalha mais ou menos uma horano momento da exploso, mais ou menos o mesmo tempo antes do

    contacto, e ca ocioso durante o vo livre, poupado para as veri-caes de rotina e correes. Pemberton preparou-se para passarcento e quatro horas comendo, lendo, escrevendo cartas e dormin-do principalmente dormindo.

    Quando o despertador acordou-o, vericou a posio da navee depois escreveu para sua mulher. Phyllis, minha querida co-meou le eu no a censuro por se ter aborrecido de perder suanoite de passeio. Tambm quei desapontado. Mas tenha pacin-

    cia, querida, que depressa terei uma situao regular. Em menosde dez anos estarei em condies de aposentar-me, e teremos entooportunidade de nos compensarmos, com bridge, golfe e coisas as-sim. Sei que bastante duro para...

    O circuito de voz interrompeu-o: Jake, ponha a suamscara de homem cordial. Vou levar um visitante cabine-de-comando.

    No devem vir visitas cabine-de-comando, comandante.

    Vamos, Jake. Este pateta trouxe uma carta do prprio Ve-lho Harriman: Toda a cortesia possvel, etc. etc...Pemberton pensou rapidamente. Podia recusar, mas no ti-

    nha propsito desagradar o chefo. Est bem, comandante. Que seja uma visita rpida.O visitante era um homem jovial, grandalho. Jake calculou

    que le pagaria uma taxa de excesso de peso de oitenta libras. Atrsdele uma sua reproduo de treze anos esgueirava-se pela porta eia se dirigindo para o consolo de controle. Pemberton agarrou-opelo brao e esforou-se por falar-lhe prazeirosamente.

    Fique suspenso a nesse suporte, jovem. No quero quebata com a cabea.

    Largue de mim! Pai... faa le me largar!Kelly interveio. Acho que melhor le car suspenso, juiz. Hum. . . hum. . . est bem. Faa o que o comandante disse,

    Jnior.

    Ora bolas, pai! Juiz Schacht, este o primeiro piloto Pemberton disse

    Kelly, rapidamente. le lhe mostrar a cabine.

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    Prazer em conhec-lo, piloto. Gentileza de sua parte e... Que gostaria o senhor de ver, juiz? perguntou Pember-

    ton, cautelosamente. Oh! tudo que fosse possvel! para o menino. Esta a pri-

    meira viagem dele. Eu sou um velho corredor do espao: tenho pro-

    vavelmente mais horas de vo do que a metade da sua tripulao.Riu, mas Pemberton no o acompanhou no riso. No h muito o que ver, no vo livre. verdade. Ns vamos car vontade, no mesmo, co-

    mandante? Quero sentar na cadeira de comando anunciou Schacht

    Jnior.Pemberton pestanejou. Kelly disse apressadamente, com so-

    freguido na voz: Jake, quer fazer o favor de dar uma explicao sobre o sis-tema de controle, para o menino? Depois iremos embora.

    le no precisa me mostrar nada. Eu sei tudo isso. Soumembro da Sociedade de Foguetes Jnior da Amrica, no estvendo meu distintivo?

    E o menino dirigiu-se para a mesa de controle.Pemberton agarrou-o, guiou-o para a cadeira do piloto, e

    amarrou-o. Ento desligou o interruptor do painel. Que histria essa? Estou cortando a fora dos controles, para poder explicar

    como atuam. No vai acender os jatos? No.Jake iniciou uma descrio rpida do uso e propsito de cada

    boto, mostrador, interruptor, medidor, de toda a tralha, enm.Jnior retorceu-se. E os meteoros? perguntou le. Oh! talvez uma coliso em meio milho de viagens da Terra

    Lua. So raros, os meteoros. E da? Se isto aqui afocinhasse num troo daqueles? O

    senhor cava numa sinuca... Nada disso. O radar de anticoliso vigia todas as direes

    num raio de quinhentas milhas. Se alguma coisa mantm a marca-o rme por mais de trs segundos, um circuito provisrio direto

    faz funcionar os jatos. Primeiro temos um gongo de aviso, para quetodos se agarrem em algo slido, e um segundo depois bum! Ra-pidamente nos desviamos.

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    Para mim isso muito cacete. Olhe aqui, eu vou mostrarcomo fz o Comodoro Cartwright no The Comet Busters...

    No toque nesses controles! O senhor no dono deste aparelho. Papai disse... Oh! Jake!

    Ouvindo seu nome, Pemberton torceu-se, como um peixe,para encarar Kelly.

    Jake, o juiz Schacht gostaria de saber...Com o canto de um olho Jake viu o menino estender a mo

    para o painel. Voltou-se, comeou a gritar... e a acelerao apa-nhou-o, enquanto os jatos rugiam em seus ouvidos.

    Um velho viajante do espao geralmente se recupera, rapi-damente, de uma inesperada mudana de imponderabilidade para

    acelerao. Mas Jake tinha tentado agarrar o menino, em vez deprocurar apoio slido. Caiu para trs e para baixo, torceu-se paraevitar Schacht, bateu com a cabea na moldura da porta provade ar que estava aberta embaixo, e foi ter ao convs seguinte, de-sacordado.

    Kelly o sacudia. Voc est bem, Jake? Ele sentou-se. Sim. Estou.

    Teve conscincia do trovejamento, das lminas do convs queestremeciam. Os jatos! Corte a fora!Empurrou Kelly para o lado e precipitou-se para a cabine-

    de-comando, atirando-se para o interruptor. Num silncio sbito evibrante, estavam eles novamente destitudos de peso.

    Jake voltou-se, desamarrou Schacht Jnior, e levou-o numempurro at Kelly.

    Comandante, por favor, leve embora da minha cabine-de-comando este perigo.

    Largue de mim! Pai... le vai me machucar!O velho Schacht imediatamente eriou-se: Que quer dizer isto? Largue de meu lho! Seu precioso lho ligou os jatos. Jnior... voc fz isso? O menino desviou os olhos: Eu no, papai... foi um meteoro.Schacht pareceu perplexo. Pemberton bufou:

    Eu tinha acabado de lhe dizer que o radar de vigia podedar aviso para evitar meteoros. le est mentindo.

    Schacht disps-se ao que chamou tomar uma resoluo e

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    depois respondeu: O Jnior nunca mente. uma vergonha que o senhor, um

    adulto, tente responsabilizar uma criana inofensiva.Reclamareicontra o senhor. Venha, Jnior.

    Jake agarrou o brao dele.

    Comandante, quero que esses controles sejam fotografa-dos para descobrir as impresses digitais antes que este homemsaia daqui. No foi um meteoro. Os controles estavam desligados,at que o menino os ligasse. Alm disso, o circuito de anticolisofaz soar o alarma.

    Schacht parecia estonteado: Isto ridculo! Protesto contra a mancha que querem pr

    no carter de meu lho. No houve prejuzo algum.

    No houve prejuzo, hein? E braos ou pescoos quebra-dos? E o desperdcio de combustvel, e ainda o que desperdia-remos antes de voltarmos rota? O senhor sabe, Senhor VelhoCorredor do Espao, o quanto precioso um pouco de combustvelquando tentamos combinar a rbita com a Terminal-do-Espao se no o tivermos? Talvez precisemos soltar carga, para salvar oaparelho, carga de sessenta mil dlares por tonelada de taxas, defrete, apenas. As impresses digitais mostraro quem a Comisso

    do Comrcio deve processar por isso.Quando caram novamente sozinhos, Kelly perguntou, an-siosamente:

    Voc no ter, realmente, de alijar carga? Dispe, ainda,de uma reserva para manobras.

    Talvez possamos at alcanar o Terminal. Quanto tempoesteve ligado o aparelho?

    Kelly coou a cabea: Eu tambm quei estonteado. Vamos abrir o acelermetro e dar uma olhadela.Kelly animou-se. Oh! muito bem! Se o moleque no desperdiou muito, en-

    to apenas viraremos a nave e voltaremos no mesmo espao detempo.

    Jake sacudiu a cabea: O senhor esquece-se da mudana na proporo da mas-

    sa.

    Oh!... Oh! Sim!Kelly parecia embaraado. Proporo da massa... sob fora, a

    nave perde o peso do combustvel queimado. O impulso conserva-

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    se constante, mas a massa que le impele encolhe. Voltar posioprpria, rota e velocidade, tornava-se um problema complicadonos clculos de balstica.

    Mas voc pode fazer os clculos, no pode? Terei de faz-los. Mas gostaria bem que Weinstein estives-

    se aqui.Kelly saiu da cabine, para ir ver como estavam os passagei-

    ros, e Jake iniciou seu trabalho. Vericou a situao por meio deobservaes astronmicas e pelo radar. O radar deu-lhe todos ostrs fatores rapidamente, mas com meticulosidade limitada. Pon-tos tirados do Sol, Lua e Terra, dera-lhe a posio, mas nada lhedisseram sobre a rota e a velocidade, naquele momento, e le nopodia esperar e tomar um segundo grupo de pontos para aquele

    propsito.O clculo cego deu-lhe uma estimativa da situao, conju-gando a adio das predies de Weinstein ao efeito aproximandodas estrepolias do jovem Schacht. Houve uma relao bastante boaentre tais clculos e as observaes pelo radar e pela viso, mas leainda continuava sem saber se poderia voltar ou no para a trilhae alcanar o seu destino. Seria necessrio calcular agora o que talcoisa exigiria e se o combustvel remanescente seria bastante para

    frear a velocidade e combinar rbitas.No espao, de nada adianta alcanar o m da viagem, se sepassar por le numa velocidade de milhas por segundo, ou mesmoarrastando-se ao lado, a poucas centenas de milhas por hora. talcomo agarrar um vo numa bandeja... sem bater nele.

    Pemberton comeou a trabalhar obstinadamente para calcu-lar como conseguir chegar usando o mnimo de combustvel, masseu pequeno calculador eletrnico Marchant no se comparava stoneladas do calculador IBM, em Supra-New York. Ademais, leno era Weinstein. Trs horas depois teve alguns resultados. Cha-mou Kelly.

    Comandante? Pode comear por alijar Schacht & Filho. Bem que eu gostaria. No h outro jeito, Jake? No posso prometer levar seu aparelho com segurana sem

    alijar carga. melhor fazer isso agora, antes de darmos a explosode partida. mais barato.

    Kelly hesitou: teria mais satisfao em perder uma perna.

    D-me tempo para escolher o que alijar. Est bem.Pemberton voltou melanclicamente aos seus nmeros, es-

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    perando encontrar algum engano salvador, mas depois mudou deopinio. Chamou a cabine de rdio.

    Ligue-me com Weinstein, em Supra-New York. Fora do alcance normal. Sei disso. o piloto quem fala. Prioridade de segurana

    urgente. Consiga uma irradiao cerrada e mantenha-a. Hum. . . sim, senhor. Tentarei.Weinstein mostrou-se em dvida. Cristo! Jake, eu no posso pilotar voc! Com mil diabos! Mas pode resolver problemas para mim. Que adiantam os clculos mais cuidadosos sem dados se-

    guros? Est claro, est claro. Mas voc sabe que instrumentos

    tenho aqui, e sabe mais ou menos como posso manej-los. D-mea melhor soluo que puder. Tentarei.Weinstein tomou a chamar, quatro horas mais tarde. Jake: a vai a informao incerta. Voc planejou voltar

    por exploso para equilibrar sua velocidade prevista, depois fazercorrees laterais para posio. Ortodoxa, mas nada econmica, aidia. Em vez disso eu z que Mabel resolvesse o caso como mano-

    bra nica. timo! No se apresse! Economizar combustvel, mas no o bas-

    tante. No ser possvel voltar trilha anterior e depois encontrara Terminal sem alijar carga.

    Pemberton deixou a frase concluir-se, depois disse: Direi a Kelly. Espere um minuto, Jake. Tente isto: comece do princpio. Hein? Trate o caso como se fosse problema completamente novo.

    Esquea o que as instrues da ta gravada dizem sobre a rbita.Com sua rota presente, velocidade e posio, calcule a rbita maiscomum para reunir-se com a Terminal. Apanhe trilha nova.

    Pemberton sentou-se meio idiota. No cheguei a pensar nisso. Claro que no. Com o pequeno calculador do aparelho voc

    levaria trs semanas para resolver o assunto. Est com o gravador

    ligado? Estou. A vo os seus dados.

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    E Weinstein comeou a ditar as informaes.Depois de terem vericado a exatido, Jake disse: Acha que isso me orientar? Talvez. Se os dados que voc me deu representarem o m-

    ximo de meticulosidade que voc pde atingir; se puder seguir as

    instrues to exatamente quanto um robot; se puder partir porexploso e fazer contato to precisamente que no tenha necessi-dade de correes laterais... ento poder forar a mo, e chegar aoseu alvo. Talvez. Seja como fr, felicidades!

    As oscilaes da transmisso abafaram suas despedidas.Jake chamou Kelly. No alije carga, comandante. Mande seus passageiros a-

    velarem os cintos. Prepare-se para a exploso de partida. Teremos

    catorze minutos de espera. Est bem, piloto.Dada a nova sada, e controlada a manobra, le teve nova-

    mente tempo de folga. Apanhou a carta que no terminara, leu-a,e rasgou-a.

    Queridssima Phyllis comeou le, novamente. Tenhoestado a pensar muito, durante esta viagem, e compreendi que

    tenho sido apenas teimoso. Que estou eu fazendo aqui? Gosto deminha casa, gosto de ver minha mulher.Por que hei de arriscar minha vida e sua paz de esprito para

    carregar ferro velho atravs do cu? Por que car rondando um te-lefone, esperando acompanhar imbecis para a Lua parvos inca-pazes de pilotar um barco a remo, e que antes de mais nada deviamcar quietos em suas casas?

    Por causa de dinheiro, naturalmente. Tenho tido medo deme arriscar a uma mudana de ocupao. No encontrarei outroemprego que pague a metade do que posso ganhar neste, mas, sevoc estiver disposta, carei em terra e recomearemos a vida. Comtodo o meu amor,

    Jake.

    Guardou a carta e adormeceu, para sonhar que um pelo-to completo de membros da Sociedade de Foguetes Jnior tinhaaquartelado em sua cabine-de-comando.

    A viso prxima da Lua s tem rival, como atrao turstica,no aspecto da Terra vista do espao. Entretanto, Pemberton insis-tiu para que todos os passageiros fossem presos pelos cintos aos

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    seus lugares durante os crculos em torno da Terminal. Com umpouco apenas de precioso combustvel, le recusava-se a embara-ar seus movimentos para comprazer os curiosos.

    Em torno do vulto da Lua, a Terminal apareceu vista, masapenas pelo radar, pois o aparelho tinha a cauda para a frente.

    Depois de cada curta exploso de freagem, Pemberton tomava umnovo ponto de radar, depois comparava sua aproximao com acurva que organizara de acordo com os clculos de Weinstein com um olho no tempo, outro no telescpio, um terceiro no esque-ma, e um quarto no medidor de combustvel.

    Bem, Jake? inquietava-se Kelly. Conseguiremos? Como poderia eu saber? Esteja pronto para alijar carga.Tinham combinado que a carga a alijar seria oxignio lqui-

    do, pois que poderia ser despejado pelas vlvulas externas, semmanejo. No me diga isso, Jake. Com mil diabos... s o farei se no tiver outro remdio.Estava de novo mexendo nos controles. A exploso cortou-lhe

    as palavras. Quando cessou, o circuito de rdio estava chamandopor le.

    Navio Fantasma, fala o piloto berrou Jake em resposta.

    O Controle Terminal comunica que esse aparelho est comescassez de combustvel. isso mesmo. No faa a aproximao. Combine as velocidades para

    fora. Mandaremos um aparelho de provisionamento fornecer-lhecombustvel e apanhar passageiros.

    Penso que posso chegar. No tente. Espere reabastecimento. Deixe de me dizer como que devo dirigir minha nave!Pemberton desligou o circuito, depois olhou para o painel,

    assobiando lentamente. Kelly aplicou ao assobio as palavras desua mente: Casey disse ao foguista: Rapaz, melhor que vocsalte, pois que duas locomotivas vo chocar-se!

    Voc vai para o deslizador, de qualquer maneira, Jake? Hum... no, com mil demnios! No posso correr o risco de

    despencar do lado da Terminal, com passageiros a bordo. Mas novou combinar velocidades cinqenta milhas para fora e esperar um

    reboque.Dirigiu-se para um alvo prximo, junto da parte externa da

    rbita da Terminal, comandando a nave por instinto, pois os cl-

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    culos de Weinstein deixavam de ter, naquele momento, qualquersignicao. Seu alvo era bom, e le no precisou desperdiar seuto entesourado combustvel fazendo correes laterais de ltimahora, para no colidir com a Terminal. Quando estava seguro, -nalmente, de deslizar sem perigo por le, se no houvesse controle,

    freou mais uma vez. Ento, quando comeou a cortar a fora, osjatos tossiram, cuspiram e calaram-se.

    O Navio Fantasma utuou no espao, a quinhentas jardaspara fora da Terminal, velocidades equilibradas.

    Jake ligou o rdio. Terminal Ateno para o meu cabo.Vou rebocar a

    nave.

    Tinha preenchido o seu relatrio, tomado um banho de chu-veiro, e dirigia-se para a agncia do correio a m de enviar, peloradiostato a sua carta, quando o alto-falante chamou-o ao escrit-rio do Comodoro-Pilto. Oh! Oh! disse le, consigo mesmo. Schacht foi fazer suas queixas... Quantas aes ter aquele tipo?E h o outro negcio, tambm: o estrilo com o Controle...

    Apresentou-se, rgido: Primeiro piloto Pemberton, senhor.

    O Comodoro Soames levantou os olhos: Pemberton... oh! sim. O senhor tem duas classicaes:espao-a-espao, e descida sem ar.

    Nada de perder tempo, disse Jake consigo mesmo. Em vozalta, falou:

    No tenho desculpas a apresentar por coisa alguma nestaltima viagem. Se o Comodoro no aprova a maneira pela qual eugoverno minha cabine-de-comando, apresento meu pedido de de-misso.

    De que est o senhor falando? Bem... o senhor no teve queixas de um passageiro contra

    mim? Oh! Isso! Soames fz um gesto que punha de lado o

    assunto. Sim, le esteve aqui. Mas eu tinha o relatrio de Kelly,tambm, e do seu chefe dos jatos, e um especial da Supra-NewYork. Foi um excelente trabalho de pilotagem, Pemberton.

    Quer dizer que no h encrenca com a Companhia?

    Desde quando eu deixei de apoiar meus pilotos? O senhorteve toda a razo. Eu teria sufocado o tal, pondo-lhe a cabea parafora das comportas de ar. Mas voltemos ao nosso negocio. O se-

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    nhor est no quadro de espao-a-espao, mas necessito mandarum aparelho especial a Luna City. Quer aceitar a prebenda comoum favor a mim?

    Pemberton hesitou. Soames continuou falando: Aquele oxignio que o senhor poupou, para o Projeto

    de Pesquisas Csmicas. Eles estouraram as soldas no canal nor-te e perderam toneladas do material. O trabalho parou o querepresenta mais ou menos cento e trinta mil dlares por dia, emdespesas gerais, salrios e multas. O Gremlin est aqui, mas noh piloto, at que o Morcgo-da-Lua chegue a no ser o senhor.Est disposto?

    Mas eu... olhe, Comodoro, o senhor no pode arriscar opescoo das pessoas numa das minhas aterragens a jato. Estou

    enferrujado, preciso refrescar a mente, passar por um exame com-pleto. No h passageiros, nem tripulao, nem comandante...

    apenas o seu pescoo. Irei.Vinte e oito minutos mais tarde, com a quilha feia e poderosa

    do Gremlin em torno dele, Pemberton dava a exploso de partida.Um nico empurro forte, para romper a velocidade orbital do apa-

    relho, e deixar que le descesse em direo Lua, depois nenhumapreocupao mais, at que chegasse o momento de cavalg-lopela cauda, para descer.

    Sentia-se bem, at que puxou por duas cartas, a que nohavia mandado, e uma de Phyllis, que lhe fora entregue na Termi-nal.

    A carta de Phyllis era carinhosa e supercial. No falavana sbita partida do marido, ignorava completamente a prossodele. Modelo de correo, aquela carta, mas Pemberton cou pre-ocupado.

    Rasgou as duas e comeou a escrever outra. Dizia, mais oumenos: ... voc nunca o disse claramente, mas ressente minhaprosso. Preciso trabalhar para nos manter. Voc tambm temum trabalho. um trabalho muito, muito antigo, que as mulhe-res vm fazendo h muito tempo, quando cruzaram as planciesem vages cobertos, quando esperaram navios que regressavam daChina, ou quando esperam do lado de fora de uma mina, depois da

    exploso... o de dizer at logo ao marido com um beijo e um sorriso,o de cuidar dele no lar.

    Voc casou-se com um aviador do espao, de forma que parte

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    do seu trabalho aceitar o meu, animadamente. Penso que podefaz-lo, quando o compreender. Espero que sim, pois da formacomo as coisas se tm passado no iro convir para voc nem paramim.

    Acredite-me, eu a amo.

    Jake.

    Ficou pensativo, at que chegou o momento de fazer o apare-lho inclinar-se para a chegada. De vinte milhas de altitude a umamilha deixou que o robot freasse a nave, depois passou para omanual, enquanto ainda tombava vagarosamente. Uma perfeitadescida sem ar tem que ser o contrrio da sada de um foguetede guerra cada livre, depois uma longa exploso dos jatos, ter-

    minando com a nave parada imediatamente, ao tocar o solo. Naprtica, o piloto precisa manobrar aquela descida do aparelho, semexcessiva lentido. Uma nave poderia queimar todo o combustvel,naquele lado de Vnus, se combatesse a gravidade durante dema-siado tempo.

    Quarenta segundos mais tarde, caindo um pouco mais doque cento c quarenta milhas por hora, le apanhava, cm seus pe-riscpios, as estaes estticas de mil ps de altura. A trezentos

    ps explodiu cinco gravidades por mais de um segundo, desligou, eapanhou o aparelho com um sexto de gravidade, exploso normalda Lua. Vagarosamente, foi afrouxando, sentindo-se feliz.

    O Gremlin manteve-se acima, seu jato brilhante espalhando-se no solo da Lua, depois acomodou-se com dignidade, pousandosem uma sacudidela.

    A tripulao da terra tomou conta do aparelho. Um veculohermticamente fechado levou Pemberton at entrada do tnel.Dentro de Luna City foi chamado mesmo antes que acabasse depreencher o seu relatrio. Quando atendeu, Soames sorriu parale, do vdeo.

    Vi essa descida, do dispositivo do campo, Pemberton. Vocno est precisando refrescar a mente.

    Jake enrubesceu. Obrigado, senhor. A no ser que voc esteja muitssimo agarrado ao espao-

    a-espao, posso us-lo em viagens regulares para Luna City. Re-

    sidncia em Luna City ou aqui. Quer?le se ouviu, respondendo. Luna City. Quero.

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    Rasgou a terceira carta quando entrava na agncia do correiode Luna City. No balco do telefone, falou com uma loura, que usa-va um trajo lunar, azul.

    Quero falar com a Sra. Jake Pemberton. Subrbio: seis-quatro-zero-trs, Dodge City, Kansas, faa o favor.

    Ela olhou para o moo, da cabea aos ps. Vocs, pilotos, desperdiam dinheiro. s vezes uma chamada telefnica barata. Apresse-se,

    sim?Phyllis estava tentando compor as frases da carta que ela

    sentia que devia ter escrito antes. Seria mais fcil dizer, escreven-do, que ela no se queixava de solido ou de falta de divertimento,mas que no podia suportar a fadiga do pavor que a sacudia pela

    segurana dele. Mas ela prpria no sabia tirar uma concluso l-gica daquilo. Estaria preparada para enfrentar a situao, deixan-do-o completamente, se le no abandonasse o espao? Realmente,ela no sabia ... e a chamada telefnica foi uma interrupo bemrecebida.

    O vdeo manteve-se apagado. Longa distncia disse uma voz frgil. Luna City cha-

    ma.

    O medo apertou-lhe o corao. Phyllis Pemberton quem est falando.Uma demora interminvel: ela sabia que as ondas do rdio

    levavam quase trs segundos para fazer a viagem volta da Terra Lua, mas no momento no se lembrou disso, e, mesmo que tivessese lembrado, ainda assim no se tranqilizaria. Tudo quanto podiaver era um lar desmoronado, ela viva, e Jake, o bem-amado Jake,morto no espao.

    Senhora Jake Pemberton? Sim! Sim! Faa a ligao!Outra espera. Teria ela despedido o marido em ms condi-

    es de esprito, inquieto, seu discernimento afetado? Teria mor-rido l, lembrando-se apenas de que ela amuara pelo fato de ater deixado para atender ao trabalho? Falhara quando o maridodela precisava? Bem sabia que o seu Jake no era homem paracar preso aos cordes de um avental feminino. Homens, homensadultos, no lhinhos da mame, tm que se libertar dos cordes

    de aventais, maternos. Portanto, por que tentara ela prender o ma-rido aos seus? Devia ter melhor entendimento, e sua prpria merecomendara-lhe que no tentasse tal coisa. Comeou a rezar.

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    Ento, outra voz, uma voz que tornou os seus joelhos trmu-los de alvio:

    voc, meu bem? Sim, querido, sim! Que que voc est fazendo na Lua? uma histria comprida, e cont-la custa um dlar por

    segundo. O que desejo saber se voc quer vir morar em LunaCity...

    Foi a vez de Jake sofrer o inevitvel interldio na respos-ta. le cou pensando se Phyllis cara indecisa, incapaz de tomaruma resoluo. Por m, ouviu-a dizer:

    Claro que quero, meu bem. Quando devo ir? Quando... escute, voc nem quer saber por qu?Ela ia dizer que o porqu no tinha importncia, mas falou:

    Sim, quero saber, sim.O interldio ainda estava presente, mas nenhum dos dois seimportava mais com isso. le contou-lhe a novidade, depois acres-centou:

    Corra at Springs e diga a Olga Pierce que tome as pro-vidncias necessrias para a sua vinda. Precisa de minha ajuda,para fazer as malas?

    Ela pensou rapidamente. Se le tivesse pensado em voltar,

    fosse como fosse, no teria feito aquela pergunta. No. Posso arranjar-me sozinha. timo! Passarei um rdio com uma carta comprida sobre o

    que voc deve trazer e outras coisas. Amo-a, e agora, adeus. Oh! Eu tambm o amo. Adeus, querido!Pemberton saiu da cabine assobiando. Boa moa, a Phyllis.

    Leal. le cou a cogitar por que dela duvidara um momento.

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    FILOGENIA S AVESSAS

    Amlia R. Long

    Mais uma vez eu me vejo diante da tarefa de explicar ao p-blico outra escapada de meu amigo, o Professor Aloysius OFlan-

    nigan. No que Aloysius ma tenha pedido, pois orgulhoso demaispara isso. Mas quando em conseqncia de ligeiro incidente queno constava de seu plano original, e pelo qual no se lhe podeimputar responsabilidade so feitos comentrios, nos quais sediz que toda aquela experincia concernente ao continente perdidoda Atlntida, tinha, decididamente, certo odor duvidoso, e quan-do certos indivduos de lngua maliciosa comeam a acusar umhomem inofensivo, pacco, tal como Aloysius, de ter delibera-damente tentado afogar o Sr. Theophilus Black em terra rme,parece-me que, por simples esprito de justia, algo deve ser feitocomo defesa.

    Tudo comeou com uma srie de artigos em conhecida revis-ta cientca, da qual Aloysius ardente leitor. Ao passar por sua bi-blioteca, certo dia, encontrei-o sentado sobre as pernas cruzadas,no cho, com muitos nmeros da revista espalhados ao seu redor.Quando entrei, le levantou os olhos, avanou em direo de umadas revistas e atirou-ma.

    Eric, quero que voc leia isso! exclamou le, os olhosfulgurando por trs das lentes espessas de seus culos. Depoisdiga-me o que acha.

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    A revista estava aberta na pgina que inseria um artigo cujottulo era: Atlntida: Provas de sua existncia, e fora escrito porum Sr. Theophilus Black. Tratava-se de um artigo bem feito, exi-bindo excelentes qualidades de imaginao, e, pelo menos na mi-nha opinio, bastante erudio por parte do autor. Quando