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44 4 de fevereiro de 2019 - JORNAL PROPMARK iFood e Leroy Merlin recolhem doações e são elogiadas no Facebook. Companhia de cosméticos causa polêmica com “ensaio-protesto” Empresas abordam tragédia em Brumadinho e dividem opiniões LEONARDO ARAUJO A tragédia ocorrida em Brumadinho no último dia 25 não alertou apenas au- toridades e familiares das vítimas. Muitas marcas decidiram ajudar. Algumas acerta- ram, outras não. Um dos cases mais criticados nas redes sociais foi da Jendayi Cosméticos. A empre- sa contratou modelos para interpretarem vítimas da tragédia de Brumadinho numa produção autointitulada “ensaio-protesto Brumadinho Clama”. A internet, é claro, não perdoou e a marca tirou as fotos do ar. “Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender as vítimas do crime ambiental em Brumadinho. As fotos tinha [sic] uma intenção de protestar e jamais de se apro- veitar da situação”, disse a empresa em nota. “Foi um claro exemplo daquilo que não deve ser feito. O momento é de orações, de silêncio. Se a marca quer mesmo contribuir, primeiro reveja seus valores que, depois, especialmente em momentos como o atu- al, devem ser praticados, nunca comunica- dos”, afirma Paulo Sérgio Quartiermeister, diretor-geral da Miami Ad School. Mas houve marcas elogiadas. O iFood, por exemplo. Cada pedido feito pelo app no fim de semana da tragédia foi converti- do em um prato de alimento aos moradores de Brumadinho. No Facebook, das cinco mil reações, apenas 91 foram negativas. A iniciativa gerou o resultado esperado e foi suspensa. “De acordo com as autoridades públicas de Minas Gerais, as doações estão suspen- sas por superarem as expectativas. Dessa forma, caso as doações de mantimentos não sejam necessárias, serão convertidas em outros itens para ajudar as famílias afe- tadas”, disse a empresa em suas redes so- ciais. “Todas as marcas deveriam ter responsa- bilidade social entre seus valores. É a con- tribuição delas para uma sociedade mais justa, devolvendo um pouco para quem tanto dá a elas”, afirma o professor da Mia- mi Ad School. A Leroy Merlin também se posicionou para ajudar na tragédia. Consumidores da rede de materiais de construção puderam entregar doações nas lojas. Posteriormente, assim como no caso do iFood, a marca sus- pendeu o pedido. No Facebook, a empresa obteve mais de 1,5 mil curtidas e apenas duas reações negativas. Segundo o especialista, parte conside- rável das maiores marcas do mundo luta por um mundo mais justo e responsável. “Para as empresas com preocupação social não há necessidade de uma tragédia para demonstrarem esse valor, pois elas o prati- cam o ano inteiro, todos os anos”, afirma. “Faz parte da cultura organizacional de to- das elas. E quando esses momentos tristes acontecem, muitas procuram confortar e amenizar a dor dos que foram tragicamente afetados. E quando o fazem, com certeza, a última preocupação que elas têm é com a divulgação das suas marcas”, enfatiza Pau- lo Sérgio. MARCAS Modelos cobertos com lama causam polêmica em campanha de marca de cosméticos. Já iFood e Leroy Merlin optaram por recolher doações para região afetada Reprodução/Facebook “TODAS AS MARCAS DEVERIAM TER RESPONSABILIDADE SOCIAL ENTRE SEUS VALORES. É A CONTRIBUIÇÃO PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA” 44PM0402.indd 44 01/02/19 12:20

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44 4 de fevereiro de 2019 - jornal propmark

iFood e Leroy Merlin recolhem doações e são elogiadas no Facebook. Companhia de cosméticos causa polêmica com “ensaio-protesto”

Empresas abordam tragédia em Brumadinho e dividem opiniões

LEONARDO ARAUJO

A tragédia ocorrida em Brumadinho no último dia 25 não alertou apenas au-

toridades e familiares das vítimas. Muitas marcas decidiram ajudar. Algumas acerta-ram, outras não.

Um dos cases mais criticados nas redes sociais foi da Jendayi Cosméticos. A empre-sa contratou modelos para interpretarem vítimas da tragédia de Brumadinho numa produção autointitulada “ensaio-protesto Brumadinho Clama”. A internet, é claro, não perdoou e a marca tirou as fotos do ar. “Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender as vítimas do crime ambiental em Brumadinho. As fotos tinha [sic] uma intenção de protestar e jamais de se apro-veitar da situação”, disse a empresa em nota.

“Foi um claro exemplo daquilo que não deve ser feito. O momento é de orações, de silêncio. Se a marca quer mesmo contribuir, primeiro reveja seus valores que, depois, especialmente em momentos como o atu-al, devem ser praticados, nunca comunica-dos”, afirma Paulo Sérgio Quartiermeister, diretor-geral da Miami Ad School.

Mas houve marcas elogiadas. O iFood, por exemplo. Cada pedido feito pelo app no fim de semana da tragédia foi converti-do em um prato de alimento aos moradores de Brumadinho. No Facebook, das cinco mil reações, apenas 91 foram negativas. A iniciativa gerou o resultado esperado e foi suspensa.

“De acordo com as autoridades públicas de Minas Gerais, as doações estão suspen-sas por superarem as expectativas. Dessa forma, caso as doações de mantimentos não sejam necessárias, serão convertidas em outros itens para ajudar as famílias afe-tadas”, disse a empresa em suas redes so-ciais.

“Todas as marcas deveriam ter responsa-bilidade social entre seus valores. É a con-tribuição delas para uma sociedade mais justa, devolvendo um pouco para quem tanto dá a elas”, afirma o professor da Mia-mi Ad School.

A Leroy Merlin também se posicionou para ajudar na tragédia. Consumidores da rede de materiais de construção puderam entregar doações nas lojas. Posteriormente, assim como no caso do iFood, a marca sus-pendeu o pedido. No Facebook, a empresa obteve mais de 1,5 mil curtidas e apenas duas reações negativas.

Segundo o especialista, parte conside-rável das maiores marcas do mundo luta por um mundo mais justo e responsável. “Para as empresas com preocupação social não há necessidade de uma tragédia para demonstrarem esse valor, pois elas o prati-cam o ano inteiro, todos os anos”, afirma. “Faz parte da cultura organizacional de to-das elas. E quando esses momentos tristes acontecem, muitas procuram confortar e amenizar a dor dos que foram tragicamente afetados. E quando o fazem, com certeza, a última preocupação que elas têm é com a divulgação das suas marcas”, enfatiza Pau-lo Sérgio.

marcas

Modelos cobertos com lama causam polêmica em campanha de marca de cosméticos. Já iFood e Leroy Merlin optaram por recolher doações para região afetada

Reprodução/Facebook

“TODAS AS mArcAS DeveriAm Ter

reSpOnSAbiliDADe SOciAl enTre SeuS vAlOreS. É A

cOnTribuiçãO pArA umA SOcieDADe mAiS juSTA”

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