MARCEL MENEZES LYRA DA CUNHA -...
Transcript of MARCEL MENEZES LYRA DA CUNHA -...
MARCEL MENEZES LYRA DA CUNHA
“MELANINA COMO FATOR DE VIRULÊNCIA EM
Fonsecaea pedrosoi: ATIVIDADE
ANTIOXIDANTE, SEQÜESTRO DE ÓXIDO
NÍTRICO, RESISTÊNCIA A ANTIFÚNGICOS E A
ESTRESSES AMBIENTAIS”
TESE SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU
DE DOUTOR EM CIÊNCIAS
Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho 2 0 0 8
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Ficha catalográfica:
CUNHA, Marcel Menezes Lyra da,
MELANINA COMO FATOR DE VIRULÊNCIA EM Fonsecaea pedrosoi:
ATIVIDADE ANTIOXIDANTE, SEQÜESTRO DE ÓXIDO NÍTRICO,
RESISTÊNCIA A ANTIFÚNGICOS E A ESTRESSES AMBIENTAIS. Rio de
Janeiro, 2008. 104 fls
Tese (Doutor em Ciências Biológicas (Biofísica)) Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.
Orientadora: Prof. Dra. Sonia Rozental
1. Fonsecaea pedrosoi 2. Melanina 3. Antifúngicos 4. Óxido nítrico
5. Inibidores da via de biossíntese de melanina.
I. Universidade Federal do Rio de Janeiro
II. Título
Aos meus pais,
minha amada esposa
e minha querida irmã.
Agradecimentos
À professora Dra. Sonia Rozental, por sempre incentivar meu crescimento científico e pessoal, minha gratidão por me guiar no caminho da vida científica.
Aos professores Dra. Celuta Sales Alviano (UFRJ), Dra. Leila Lopes Bezerra (UERJ), Dra. Eleonora Kurtenbach (UFRJ), Dra. Técia Ulisses de Carvalho (UFRJ) e Dr. Andre Luís Souza dos Santos (UFRJ), pelas louváveis contribuições à micologia e ao estudo da biologia celular, e valiosas discussões científicas durante minha formação, motivo pelos quais não hesitei em convidá-los a compor minha banca avaliadora.
À professora Dra. Márcia Attias, insubstituível, pela revisão desta tese.
Aos professores Dr. Ney Vugman (Instituto de Física - UFRJ) e Dr. Marcelo Herbst (UFRRJ), pelas contribuições nos experimentos de EPR.
Ao professor Dr. Celso Nakamura (Universidade Estadual de Maringá, PR) e à mestre Kelly Ishida (LBCF) pelas contribuições no estudo da citotoxicidade dos inibidores da biossíntese de melanina.
Aos professores do IBCCF Dr. Paulo Bisch e Dr. Gilberto Weissmüller, e aos mestres Marlos Moncores e Gustavo Rocha, pelos indispensáveis experimentos em espectroscopia de força atômica.
Ao prof. Dr. Carlos Alberto Achete e à Dra. Lidia Agata de Sena, do INMETRO, pela colaboração na microscopia eletrônica de varredura ambiental.
Ao prof. Dr. Mauro Amorim (NPPN) e ao Sidney Bessa pela colaboração com experimentos de atividade antioxidante e espectrofotometria de UV.
Aos professores, e amigos, Dr. Anderson Franzen (UEZO), Dr. Sergio Seabra (UEZO) e Dr. Kildare Miranda (UFRJ) pelas indispensáveis contribuições a alguns dos experimentos desta tese, mas também ao meu desenvolvimento científico. Um forte abraço ao Eliandro, que também deu muita força nessa parte da jornada.
À Dra. Daniele E. Esquenazi, quem me apresentou à professora Sonia Rozental, e com quem ainda colaboramos.
Ao mestre Marcos Dornelas, pelas contribuições em experimentos que, mesmo não compondo essa tese, nos renderam comunicados científicos relevantes.
Aos amigos do Laboratório de Biologia Celular de Fungos (LBCF), Amanda Costa, Caroline Guerra, Taíssa Vila, Gustavo Andrade e, especialmente, à Luana Borba, a quem espero ter ensinado pelo menos metade do que foi sua contribuição para esta tese.
Ao Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer, do qual é difícil se desvincular, não pelos equipamentos e microscópios, mas pelas pessoas. Um agradecimento especial à prof. Rossiane, prof. Narcisa, prof. Cris Motta, ao grande amigo Lúcio, ao Leandro (e Joana), ao Bosco, Míria (e Leo), Lia, Celso, Érica, Juliany, Loraine, Dani, Thiago, Emile, Tati, Renata, Alan e as queridas Nete e Cazuza.
Ao Laboratório de Dermato-imunologia da UFPA e seus professores Dr. Claudio Salgado, Moises Silva e Dr. Jorge da Silva, pelas amostras cedidas para a realização desta tese, além de colaborações com nosso laboratório, e fundamentais discussões na busca pelo entendimento das micoses.
À Sandra Brito, pelas ajudas conferidas, e futuras ajudas, na parte burocrática da pós-graduação.
À minha querida mulher, melhor amiga e grande amor, Gisele.
À minha família, meus queridos avós, pais, irmã, e minha nova família, com sogros e cunhados.
Aos meus grandes amigos e amigas, da faculdade, do bairro, do colégio e da vida.
Eu, como qualquer cientista, mudaria minha opinião se as evidências permitirem. Preocupo-me sobre o que é verdade, me importo com as evidências, por querer saber o que é verdade. É bem verdade que sôo muito passional às vezes, mas é porque sou um apaixonado pela verdade.
Richard Dawkins
A ciência não tem país, pois conhecimento pertence à humanidade, e é a tocha que ilumina o mundo.
Louis Pasteur
Não só não compreendemos o universo, mas se o explicassem para nós, [hoje] não saberíamos do que estão falando.
Isaac Asimov
Este trabalho foi realizado no Laboratório de Biologia Celular de Fungos, do Instituto
de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação
da prof. Dra. Sonia Rozental, com recursos cedidos pelo CNPq e pela FAPERJ.
Resumo
Fonsecaea pedrosoi é um fungo patogênico, que produz melanina constitutivamente, e é
o principal agente etiológico da cromoblastomicose. A melanina é considerada um fator de
virulência e para caracterizá-la em F. pedrosoi inibimos sua biossíntese com o uso de 16
µg/mL de triciclazol. Verificamos o paramagnetismo da melanina por ressonância
paramagnética eletrônica, por espectroscopia de força a resistência à pressão que esta confere
ao fungo, e caracterizamos seu perfil de absorbância sob radiação ultravioleta. Em estudos
com antifúngicos verificamos que a inibição da via de biossíntese de melanina em F. pedrosoi
aumenta a susceptibilidade deste a anfotericina B, itraconazol e terbinafina, tanto em cepa
laboratorial, como em isolados recentes de pacientes de cromoblastomicose. A melanina ainda
se mostrou responsável pela resistência ao peróxido de hidrogênio, ao óxido nítrico, a
detergente e a altas concentrações de sal. Determinamos o potencial antioxidante da melanina
em conídios de F. pedrosoi, pela absorbância do radical livre 2,2-difenil-1- picrilidrazila.
Verificamos que a viabilidade do fungo após interação com macrófagos ativados murinos cai
significativamente quando a via de biossíntese da melanina é inibida com triciclazol. O
mecanismo de resistência do fungo se dá pelo seqüestro de radicais oxidativos pela melanina,
já que ensaios de imunomarcação da enzima óxido nítrico sintase induzível determinaram a
presença desta nos macrófagos em interação com o fungo. Experimentos em cultura de
células humanas e murina sugeriram que o triciclazol é pouco tóxico, e que a via de síntese de
melanina em melanócitos murinos não é afetada. Em estudos inéditos por microscopia de
varredura observamos as características celulares da lesão com células escleróticas do fungo
sob tecido epitelial e em prováveis granulomas dérmicos. Nesta tese concluiu-se que a
melanina é um fator de virulência em F. pedrosoi e que a inibição de sua via de biossíntese
restringe a viabilidade do fungo submetido a fatores de estresse ambientais, químicos e
imunológicos.
Abstract
Fonsecaea pedrosoi is a pathogenic fungus, which constitutively produces melanin, and
is the major etiologic agent of chromoblastomycosis. The melanin is considered a factor of
virulence, and to characterize it in F. pedrosoi, its biosynthesis pathway was inhibited with 16
µg/mL of tricyclazole. We evaluated the paramagnetism of melanin by electron spin
resonance, the resistance of the fungus to pressure by atomic force spectroscopy, and
characterized the absorbance profile of melanin by ultraviolet spectroscopy wave scan. In
studies with antifungals we noticed that inhibition of melanin biosynthesis in F. pedrosoi
increases the susceptibility of the fungus to amphotericin B, terbinafine and itraconazole, in
both laboratorial strain and strains recently isolated from patients with chromoblastomycosis.
Melanin was also responsible for resistance to hydrogen peroxide, nitric oxide, detergent and
high salt concentrations. We determined the antioxidant potential of melanin in conidia of F.
pedrosoi, by the extinction of the free radical 2,2-diphenyl-1-picrylhydrazyl, and the viability
of the fungus after interaction with activated murine macrophages significantly decreases after
inhibition with tricyclazole due to the scavenger of oxidative radicals, since the enzyme iNOS
was confirmed in this interaction. Experiments with human and murine cell cultures
suggested that tricyclazole has low toxicity to such models, and the melanin synthesis
pathway of murine melanocytes seems unaffected. Also, first-time observations of biopsies on
scanning electron microscope, revealed the characteristics of cellular injury as sclerotic cells
of the fungus in epithelial tissue and dermal granulome-like formations. In this thesis we
concluded that melanin is a virulence factor in F. pedrosoi and its inhibition restricts the
viability of the fungus to stress of environmental, chemical and immune origin.
Lista de abreviaturas e siglas
ANVISA: Agência nacional de vigilância sanitária
CC50: Concentração citotóxica para 50% da população
CD: Meio líquido Czapek-Dox modificado
CDágar: Meio sólido Czapek-Dox modificado com 3% de ágar
CIM: Concentração inibitória mínima
CLSI: Clinical and Laboratory Standards Institute (antigo National Committee for
Clinical Laboratory Standards, NCCLS, EUA)
DHN-melanina: Melanina produzida pela via do dihidroxinaftaleno
DMEM: Meio mínimo Eagle modificado por Dulbeccus
DMSO: Dimetilsulfóxido
DOPA-melanina: Melanina produzida pela via da dihidroxifenilalanina
DPPH: 2,2-difenil-1- picrilidrazila
EGTA: Ácido etileno glicol bis(B-amino etilenoéter) tetracético
EPR: Ressonância paramagnética eletrônica
IBM: Inibidores da via DHN de biossíntese de melanina
IFN-γ: Interferon-γ
iNOS: Óxido nítrico sintase induzível
IUPAC: União Internacional de Química Pura e Aplicada
LPS: Lipopolissacarídeo bacteriano de Escherichia coli
MEV: Microscopia eletrônica de varredura
FM: Fórmula molecular
MOPS: Ácido 3-[N-morfolino] propanosulfônico
PM: Peso molecular
NIH: National Institutes of Health (EUA)
PAF: Fator de agregação de plaquetas
PBS: Solução salina tamponada
PBS-BSA: PBS com 3% de soro-albumina bovina
RPMI-MOPS: Meio RPMI-1640 tamponado com MOPS
SDS: Dodecil sulfato de sódio
SFB: Soro fetal bovino
SNAP: S-nitroso-N-acetilpenicilamina
TLR: Receptores tipo-toll
UFPA: Universidade Federal do Pará
UMC: Unidade de referência em dermatologia sanitária do estado do Pará "Dr. Marcello
Candia”, Marituba, Pará.
UV (- A,B,C): Radiação Ultravioleta A, B ou C
Sumário
INTRODUÇÃO 1
1. O FUNGO PATOGÊNICO FONSECAEA PEDROSOI 1
2. CROMOBLASTOMICOSE 2
3. A INFECÇÃO POR F. PEDROSOI 2
4. O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA 3
5. CÉLULAS ESCLERÓTICAS 5
6. PATOLOGIA 6
7. FATORES DE VIRULÊNCIA 8
8. TRATAMENTO 12
9. MECANISMOS DE AÇÃO DE ANTIFÚNGICOS – FOCO EM AGENTES UTILIZADOS PARA CROMOBLASTOMICOSE 14
10. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATUAL EMPREGO DE ANTIFÚNGICOS 17
11. MELANINAS 19
12. MELANINA É UM FATOR DE VIRULÊNCIA EM FUNGOS 22
13. INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE DHN-MELANINA (IBM) EM FUNGOS 23
14. RELEVÂNCIA DO ESTUDO DE FUNGOS MELANIZADOS 24
OBJETIVO GERAL: 26
METAS: 26
MATERIAIS E MÉTODOS 27
1. CULTIVO DO FUNGO 27
2. INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA (IBM) 28
3. PROTOCOLO DE CULTIVO DOS FUNGOS EM PRESENÇA DE IBM 29
4. ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE PIGMENTOS TIPO MELANINA 29
5. RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA (EPR) 30
6. ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORBÂNCIA EM ULTRAVIOLETA 30
7. ESPECTROSCOPIA DE FORÇA 31
8. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE A ANTIFÚNGICOS 31
9. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE AO TRICICLAZOL 32
10. SUSCEPTIBILIDADE A ANTIFÚNGICOS EM ASSOCIAÇÃO AO TRICICLAZOL 32
11. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS 33
12. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO A ALTA TEMPERATURA 36
13. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS CONGELAMENTO E EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS 36
14. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO AO ÓXIDO NÍTRICO 37
15. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS INCUBAÇÃO COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 37
16. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS INCUBAÇÃO COM AGENTES DE ESTRESSE OSMÓTICO E DE MEMBRANA CELULAR 37
17. POTENCIAL ANTIOXIDANTE DE CONÍDIOS DE F. PEDROSOI 38
18. INTERAÇÃO COM MACRÓFAGOS 39
A. VIABILIDADE DO FUNGO ANTES E APÓS INTERAÇÃO 39
B. DETECÇÃO DA ENZIMA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE INDUZÍVEL NOS MACRÓFAGOS EM INTERAÇÃO 40
19. CITOTOXICIDADE DE INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA EM MODELOS CELULARES DE MAMÍFEROS 40
A. CULTIVO DE CÉLULAS DE MAMÍFEROS 40
B. ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE 41
C. EFEITO DO TRICICLAZOL NA MELANOGÊNESE DE CÉLULAS B16F10 42
20. ESTATÍSTICAS 42
21. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA 43
RESULTADOS 44
1. INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA (IBM) 44
2. RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA (EPR) 45
3. ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORBÂNCIA NO ULTRAVIOLETA 47
4. ESPECTROSCOPIA DE FORÇA 47
5. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE A ANTIFÚNGICOS 48
6. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE AO TRICICLAZOL 48
7. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS 49
8. TESTE DE CRESCIMENTO DE ISOLADOS RECENTES DE F. PEDROSOI APÓS EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS 50
9. COMPARAÇÃO DO CRESCIMENTO ENTRE A CEPA LABORATORIAL E ISOLADOS RECENTES DE F. PEDROSOI 51
10. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO À ALTA TEMPERATURA 51
11. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS CONGELAMENTO E EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS 52
12. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO AO ÓXIDO NÍTRICO 53
13. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO AO PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 54
14. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS ESTRESSES OSMÓTICO E DA MEMBRANA CELULAR 55
15. POTENCIAL ANTIOXIDANTE DE CONÍDIOS DE F. PEDROSOI 56
16. INTERAÇÃO COM MACRÓFAGOS 56
A. VIABILIDADE DO FUNGO ANTES E APÓS INTERAÇÃO 56
B. DETECÇÃO DA ENZIMA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE INDUZÍVEL (INOS) NA INTERAÇÃO COM MACRÓFAGOS MURINOS
ATIVADOS 58
17. CITOTOXICIDADE DE INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA EM MODELOS CELULARES DE MAMÍFEROS 59
A. ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE 59
B. EFEITO DO TRICICLAZOL NA MELANOGÊNESE DE CÉLULAS B16F10 59
18. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA AMBIENTAL 60
DISCUSSÃO 61
MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) 61
F. PEDROSOI E MELANINA 62
CARACTERIZAÇÃO DA MELANINA 63
ANTIFÚNGICOS E MELANINA 68
CALOR, FRIO, ESTRESSES CELULARES E MELANINA 71
MELANINA DE F. PEDROSOI COMO AGENTE ANTIOXIDANTE 72
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ÓXIDO NÍTRICO 73
CITOTOXICIDADE DO TRICICLAZOL E DE OUTROS INIBIDORES DA VIA DE BIOSSÍNTESE DA MELANINA 77
CONSIDERAÇÕES PARA O FUTURO 78
CONCLUSÕES 79
BIBLIOGRAFIA 80
ANEXOS 91
1
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Introdução
1. O FUNGO PATOGÊNICO FONSECAEA PEDROSOI
Existem mais de mais de 70.000 espécies já descritas de fungos em nosso planeta
(HAWKSWORTH, 2001). Fonsecaea pedrosoi é uma das mais de 300 espécies fúngicas
causadoras de doenças no homem (TAYLOR, LATHAM e WOOLHOUSE, 2001).
O solo de áreas tropicais é o habitat natural deste fungo, sendo encontrado em matéria
orgânica em decomposição, vegetais rasteiros como a Mimosa pudica - popularmente
conhecida como dormideira (Figura 1) (SALGADO, DA SILVA, DINIZ et al., 2004), e em
cocos da palmeira Orbignya phalerata (Babaçu) (MARQUES, SILVA CDE, SALDANHA et
al., 2006).
Figura 1: Microscopia eletrônica de varredura de espinho de Mimosa pudica, presença
de F. pedrosoi como filamentos e conídios (setas, detalhe em D) Barras: A: 310 µm, B: 60
µm, C: 19 µm, D: 3 µm (SALGADO, DA SILVA et al., 2004).
2
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
F. pedrosoi costuma ser encontrado na Índia, Japão e Brasil sendo isolado de lesões de
cromoblastomicose (SILVA, DE SOUZA e ROZENTAL, 1998; KIKUCHI, KONDO,
YAGUCHI et al., 2007; RASUL, HAZARIKA, SHARMA et al., 2007).
2. CROMOBLASTOMICOSE
No Brasil, o professor doutor Olympio da Fonseca Filho, em 1922, definiu com o termo
cromoblastomicose, hoje mundialmente aceito, as micoses subcutâneas causadas por fungos
negros. Este termo é impreciso, como reconhecido pelo próprio prof. Fonseca Filho, por não
se tratar de uma micose causada por leveduras que crescem por brotamento (blastos) e nem
tendo a lesão uma coloração característica, tendo sido “cromo” sugerido pela cor escura das
células fúngicas encontradas na lesão. Em 1936, pelo reconhecimento em estudos na área, o
prof. Fonseca Filho foi homenageado pelo prof. Pablo Negroni, no batismo do gênero do mais
freqüente agente etiológico desta doença: Fonsecaea pedrosoi (FILHO, 1974). Outros fungos
causadores de cromoblastomicose são Phialophora verrucosa, Cladosporium carrionii, e
mais raramente, Rhinocladiella aquaspersa (SILVA, DE SOUZA et al., 1998).
Recentemente, Exophiala jeanselmei e Exophiala spinifera também foram descritos como
agentes de cromoblastomicoses (SANTOS, PALMEIRA, ROZENTAL et al., 2007).
Esta micose tem prevalência mundial e já foi encontrada nas Américas, Ásia, África,
Europa e Oceania (MCGINNIS, 1983; LUPI, TYRING e MCGINNIS, 2005).
3. A INFECÇÃO POR F. PEDROSOI
F. pedrosoi cresce na natureza e em meios de culturas ideais, como Sabouraud,
Butterfield e Czapek-Dox, na forma filamentosa, com hifas e conídios escuros em modo de
conidiogênese definido como “tipo-Cladosporium”, “tipo-Phialophora” e “tipo-
Rhinocladiella” (Figura 2 A, B). Este fungo tem crescimento lento, formando a 25 ºC colônias
3
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
verde-escuras, aveludadas e de centro elevado, que amadurecem em 14 dias, tendo a
aparência filamentosa mantida mediante cultivo a 25, 30 ou 37 ºC (SANTOS, PALMEIRA et
al., 2007).
Conídios são pequenos propágulos (Figura 2 C), de tamanho aproximado de 3,0 x 1,5
µm, presentes nas extremidades ou em ramificações das hifas, que facilitam a dispersão do
fungo no ambiente e possivelmente vão iniciar a infecção. O fungo acessa a derme através do
rompimento da pele, geralmente causado por cortes com instrumentos agrícolas, ou farpas de
madeira ou espinhos de vegetais (SILVA, DE SOUZA et al., 1998).
Figura 2: F. pedrosoi em meio sólido sabouraud (A), colônia verde-escuro aveludada e
de centro elevado. (B) em microscopía ótica, hifas, conidiogênese tipo-Rhinocladiela e
conídios (imagens: Prof. Dr. Claudio Salgado-UFPA/UMC). (C) conídio em microscopia
eletrônica de varredura, barra=1µm (FRANZEN, CUNHA, BATISTA et al., 2006).
4. O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA
O rompimento da pele e a introdução do fungo na lesão irão provocar uma resposta do
organismo infectado para o reparo da área lesionada, e reconhecimento do agente (fúngico) na
4
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
lesão. Células de Langerhans, macrófagos (ou histiócitos) e neutrófilos são células do sistema
imune inato que atuam no reconhecimento, internalização, lise e apresentação de antígenos
dos agentes infecciosos a outras células do sistema imune e irão interagir com o fungo recém
implantado no tecido cutâneo (MURPHY, TRAVERS e WALPORT, 2007; SANTOS,
PALMEIRA et al., 2007).
Macrófagos e neutrófilos são as células do sistema imune proporcionalmente mais
presentes em lesões de cromoblastomicose (ESTERRE e ANDRIANTSIMAHAVANDY,
1993). São denominados fagócitos profissionais pela habilidade de internalizar partículas por
reorganização de seus citoesqueleto e membrana, possuem receptores para glucana e
receptores tipo-toll (TLR) expostos na membrana celular capazes de reconhecer o fungo
(KATAOKA, MUTA, YAMAZAKI et al., 2002). Em estado de ativação, mediante
sinalização decorrente do contado com o fungo ou estruturas deste com esses receptores,
liberam uma diversidade de moléculas causadoras de dano celular, como agentes oxidantes e
enzimas (MURPHY, TRAVERS et al., 2007).
Os fragmentos dos fungos, digeridos e processados pelos macrófagos, neutrófilos ou
ainda, pelas células de Langerhans, poderão ser apresentados a outras células do sistema
imune, como linfócitos, para o recrutamento de mais células do sistema imune, e para a
produção de anticorpos ou citocinas contra este patógeno (MURPHY, TRAVERS et al.,
2007). Tal mecanismo é extremamente eficiente em diversas infecções cutâneas, porém o
fungo F. pedrosoi já foi descrito como resistente ao repertório enzimático e oxidativo dos
macrófagos e neutrófilos, sendo essa resistência atribuída em parte à melanina presente em
sua parede celular e em organelas citoplasmáticas (FARBIARZ, DE CARVALHO,
ALVIANO et al., 1992; ROZENTAL, ALVIANO e DE SOUZA, 1994; CUNHA,
FRANZEN, ALVIANO et al., 2005).
5
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
5. CÉLULAS ESCLERÓTICAS
Na lesão de cromoblastomicose, raspados da borda desta (Figura 3 A) ou biópsias
revelam a presença de células fúngicas, maiores que os conídios (medindo aproximadamente
4 – 12 µm de diâmetro), com parede celular mais espessa, altamente pigmentada, e com uma
característica septação interna, denominadas escleróticas (Figura 3 B, C) (sclero, do latim
duro) ou muriformes (muri, do latim, muros) (RIPPON, 1988).
Figura 3: (A) Realização de diagnóstico por exame direto em paciente com
cromoblastomicose da UMC. (B) Células esclerótica após exame direto (Foto: prof. Dr.
Cláudio Salgado - UFPA/UMC). Em C: MEV de célula esclerótica cultivada pela adição de
EGTA a meio CD, barra= 1µm (FRANZEN, CUNHA et al., 2006).
Já foi sugerido que esta forma celular pode ter algum papel na inoculação do
hospedeiro, por já ter sido encontrada na natureza associada a vegetais (cactos) (ESTERRE e
QUEIROZ-TELLES, 2006).
Em laboratório a forma esclerótica foi obtida com sucesso pelo cultivo de F. pedrosoi
em meio acrescido do quelante de cálcio ácido etileno-glicol-bis-(β-amino etilenoéter)-
6
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
tetracético (EGTA), e acidificação do meio para pH 3,5 por uma semana (MENDOZA,
KARUPPAYIL e SZANISZLO, 1993; FRANZEN, CUNHA et al., 2006). Outras substâncias
associadas às mudanças na incorporação de cálcio pela célula, como propranolol e o fator de
agregação de plaquetas (PAF), em meio acidificado, também foram descritas como agentes
promotores do desenvolvimento de células escleróticas preservando a antigenicidade dessas
células (ALVIANO, FARBIARZ, TRAVASSOS et al., 1992; DA SILVA, ALVIANO,
ALVIANO et al., 2002; ALVIANO, KNEIPP, LOPES et al., 2003).
6. PATOLOGIA
As lesões de cromoblastomicose são diferentemente caracterizadas ao longo do curso da
doença. Lesões descritas como iniciais revelam vermelhidão e descamação localizada (Figura
4 A), com a progressão da doença formam-se nódulos granulomatosos (Figura 4 B) em uma
área inflamada, rompida, envolta por tecido com fibrose severa, que morfologicamente
assemelha-se ao ramo de uma couve-flor (Figura 4 C), designação essa típica da lesão de
cromoblastomicose (LOPEZ MARTINEZ e MENDEZ TOVAR, 2007; SANTOS,
PALMEIRA et al., 2007). Quatorze anos é a média de tempo entre a inoculação e o
diagnóstico (MINOTTO, BERNARDI, MALLMANN et al., 2001), levando ao agravamento
dessas lesões, o que parece ser determinante para a limitação de movimentos locomotores do
indivíduo com cromoblastomicose (MCGINNIS, 1983).
As lesões são encontradas nos membros inferiores, em mais de 80% dos casos (SILVA,
DE SOUZA et al., 1998), apesar de já terem sido descritas na face, tronco e membros
superiores (SANTOS, PALMEIRA et al., 2007). Essa freqüência parece estar associada às
atividades profissionais dos indivíduos com cromoblastomicose, trabalhadores rurais de áreas
7
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
tropicais em contato direto com solo e vegetais e sem histórico da utilização de equipamentos
básicos de proteção individual (SILVA, DE SOUZA et al., 1998).
De forma rara, a cromoblastomicose já foi descrita ocorrendo no olho e no cérebro,
relacionado ao comprometimento imune do indivíduo infectado, o que propiciou a
disseminação do fungo para áreas incomuns (BARTON, MILLER e PFLUGFELDER, 1997;
NOBREGA, ROSEMBERG, ADAMI et al., 2003; SABERI, KASHFI, HAMIDI et al.,
2003). Em 2004, Salgado e colaboradores descreveram um caso grave de cromoblastomicose
cutânea disseminada em paciente com hanseníase, neste caso as lesões acometiam mais da
metade da superfície da pele do paciente (SALGADO, DA SILVA et al., 2004).
Uma complicação comum nas lesões de cromoblastomicose são as infecções bacterianas
secundárias, purulentas e de cheiro desagradável, que dificultam o manejo do paciente em
tratamento (Figura 4 D) (LOPEZ MARTINEZ e MENDEZ TOVAR, 2007; SANTOS,
PALMEIRA et al., 2007).
Figura 4: Diferentes estágios de lesões de cromoblastomicose causadas por F. pedrosoi:
(A) lesão pequena e inicial com vermelhidão e descamação; (B) nódulos granulomatosos; (C)
nódulos e fibrose de tecido adjacente; (D) lesão com contaminação secundária bacteriana
(Fotos: Prof. Dr. Cláudio Salgado - UFPA/ UMC).
8
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
7. FATORES DE VIRULÊNCIA
Para causar infecção e doença em humanos, F. pedrosoi, a exemplo de outros fungos
patogênicos, deve interagir de forma física e bioquímica com estruturas do hospedeiro,
utilizando um conjunto de características metabólicas e estruturais próprias definidas como
fatores de virulência (virus, em latim, veneno) (CASADEVALL e PIROFSKI, 2003).
As definições de virulência têm sido ampliadas ultimamente, das baseadas no postulado
de Koch, de 1890, que definiam as doenças como sendo causadas exclusivamente por um
microorganismo cultivável, a, introduzida por Falkow (1988), relacionando a capacidade de
um organismo de causar doença a um fator genético determinante, potencialmente isolável
e/ou deletável, o que impediria a doença, denominada de postulado molecular de Koch. Hoje,
porém, a virulência é discutida como um evento de curso temporal, multifatorial, relacionado
a uma ou mais características do patógeno, desde sua quantidade no momento da infecção até
aos genes transcritos, fatores de transcrição expressos e etapas de processamento pós
traducional. Entretanto consideram-se também as características do hospedeiro, como sua
imunidade, doença prévia e sexo. E ainda, as interações decorrentes do curso da infecção, que
podem resultar na eliminação do patógeno, em doença crônica, ou ainda, em comensalismo,
simbiose, cura, ou morte (ODDS, GOW e BROWN, 2001; CASADEVALL e PIROFSKI,
2003; CASADEVALL, 2006).
As tabelas a seguir resumem os potenciais fatores de virulência descritos para F.
pedrosoi e sua provável e sugerida função na infecção (Tabela 1), assim como a participação
desse fungo em relação à resposta imune em modelos de estudo (Tabela 2).
9
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Tabela 1: Fatores de virulência em F. pedrosoi
Fator de Virulência
Observação Papel sugerido na infecção Referências
Reprodução
Crescimento lento do fungo, Maturação da colônia em 14 dias
Doença de desenvolvimento longo, crônica
SANTOS et al. 2007
Crescimento a 25, 30 e 37°C Tolerância a temperatura
normal humana
Dimorfismo
Produção de células escleróticas agregadas a 37ºC em meio ácido com
propranolol Resistência à ação
imunológica e cronicidade da doença, revisto por SANTOS
et al. 2007
ALVIANO et al. 1992
Produção de células escleróticas em meio com EGTA
MENDOZA et al. 1993
Produção de células escleróticas a partir de micélio em meio com PAF
ALVIANO et al. 2003
Alta expressão de ectofosfatases em células escleróticas
KNEIPP et al. 2003
Melanina
Extração da melanina e caracterização da composição: presença de
carboidratos, ácidos graxos e proteínas
Confere resistência a parede celular
Superexpressão de melanina em ambiente infeccioso
Capacidade antifagocítica
Resistência a fagócitos,
destruição desses e ligação a ferro
Armazenamento de cálcio e ferro
Proteção ultra-estrutural
Inibição da produção de óxido nítrico
Inibe ligação de compostos antimicrobianos ao fungo
ALVIANO et al. 1991
Microscopia eletrônica revelou vacuolização intracelular e diferenças na parede celular de conídios e células escleróticas tratadas com triciclazol
FRANZEN et al. 2006
Microscopia eletrônica e densitometria revelaram a produção de melanina em organelas e a indução da produção de melanina por soro fetal bovino
FRANZEN et al. 1999
Microscopia eletrônica da interação do fungo com macrófagos murinos ativados mostrou a produção de
melanina na infecção
FARBIARZ et al. 1990
Em interação de macrófagos com fungos tratados com triciclazol, este foi mais susceptível a macrófagos, incapaz da lise destes e com menor afinidade por
ferritina cationizada
CUNHA et al. 2005
Técnicas de microscopia eletrônica mostraram que a melanina é sintetizada em organelas contendo ferro, fósforo e cálcio, e é acumulada na parede celular
FRANZEN et al. 2008
MEV mostrou que fungos após tratamento com enzimas, ácido a 100° C e clorofórmio resulta em partículas
reativas a anticorpo anti-melanina e com mesmo formato do fungo antes do
tratamento
ALVIANO et al. 2004
Níveis baixos de óxido nítrico detectados por colorimetria em
interação do fungo com macrófagos ativados
BOCCA et al. 2006
Ligação de anti-monohexosilceramidas após solubilização de melanina em células escleróticas com NaOH
NIMRICHTER et al. 2005
10
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Tabela 1 (continuação):
Fator de Virulência
Observação experimental Papel sugerido na
infecção Referência
Ácido siálico
Modificações ultra-estruturares após tratamento com sialidases
Manutenção de morfologia SOUZA et al. 1986
Interações com vírus, enzimas e lectínas revelaram a presença de sialoconjugados em conídios, hifas, mas não em células
escleróticas Sialidases foram detectadas em micélio e
conídio
Escape do sistema imune (fagócitos)
Exposição de sítios de ligação em células hospedeiras
ALVIANO et al. 2004
Lectínas de superfície
Interação com células com diferentes moléculas de superfície resultaram na
adesão do fungo a células com resíduos de manose e N-acetilglucosamina
Adesão a substrato celular e internalização por células
não-fagocíticas
LIMONGI et al. 1997, LIMONGI et al. 2001
Proteínas cinase Uso de inibidores de proteína-cinases em interação celular resultou na redução da
associação de fungos a células
Invasão de células não- fagocíticas
LIMONGI et al. 2003
Glucosilceramidas
Cromatografia/espectrometria de massa e Imunofluorescência revelaram a produção de glucosilceramidas (GLC) pelo fungo Ocorreu inibição do crescimento do fungo em presença de anticorpos anti-GLC
Potencial alvo de superfície celular para tratamento com
anticorpos
NIMRICHTER et al. 2004
Ectofosfatases
Caracterização bioquímica e microscopia eletrônica com citoquímica sugeriram alta expressão de fosfatases em isolados
recentes do fungo e em células escleróticas
Adesão a células do hospedeiro
ALVIANO et al. 2003, KNEIPP et al. 2003, KNEIPP et al.
2004
EctoATPases Identificação, quantificação e
caracterização de ATPases em conídios, micélio e células escleróticas
Diferenciação celular, nutrição e patogênese
COLLOPY-JUNIOR et al. 2006
Peptidases
Identificação de peptidases diferentes. Caracterização de peptidases de isolados recentes do fungo. Alta expressão de peptidases em isolados recentes.
Degradação de matriz extracelular e
imunoglobulinas, disseminação no hospedeiro
PALMEIRA et al. 2006
11
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Tabela 2: Atuação de F. pedrosoi na resposta imune e possível papel do fungo na
infecção.
Observação em modelo experimental Papel sugerido na infecção Referência
Liberação de intermediários reativos de oxigênio em macrófagos na interação com
o fungo in vitro
Fungo resistente a fagócitos e a intermediários reativos de oxigênio
liberado por fagócitos
ROZENTAL et al. 1994
Neutrófilos de rato eliminam conídios em interação in vitro
Peróxido liberado por neutrófilos participam do controle da infecção
ROZENTAL et al. 1996
F. pedrosoi penetra em células tratadas com inibidores de citoesqueleto
Penetração ativa do fungo em tecidos LIMONGI et al. 1997, FARBIARZ et al. 1992
Células escleróticas produzidas em laboratório reconhecidas por anticorpos de
soro de pacientes
Resposta imune com apresentação de antígenos do fungo e produção de
anticorpos
ALVIANO et al. 2004
Fagocitose de conídios e células escleróticas aumentadas por neutrófilos em
associação à melanina do fungo
Fagocitose estimulada pela melanina do fungo
ALVIANO et al. 2004
F. pedrosoi sem ácido siálico é mais fagocitoso por neutrófilos humanos
Estruturas de superfície do fungo evitam fagocitose e lise do fungo
ALVIANO et al. 2004
Níveis menores de citocinas inflamatórias em lesões severas
Resposta majoritariamente inflamatória do hospedeiro resulta em lesões menores
SOUSA et al. 2008
F. pedrosoi estimula a produção de TNF-α e IL-1β. Modulação negativa de CD-80 e
MHC-II
Indução de resposta inflamatória, inibição de ativação linfocitária
HAYAKAWA et al. 2006
Níveis de nitrito baixos em interação de macrófagos e F. pedrosoi
Inibição da síntese de óxido nítrico na infecção
BOCCA et al. 2006
Fagocitose de conídios inibe CD-40 e b7.2 em células de Langerhans
Supressão de ativação de linfócitos B DA SILVA et al. 2007
Pacientes com lesões avançadas apresentam baixos níveis de IFN-γ e altos níveis de IL-
10
Resposta anti-inflamatória do hospedeiro sugere lesões mais extensas
MAZO FAVERO GIMENES et al. 2005
12
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
8. TRATAMENTO
F. pedrosoi, que é o mais importante agente etiológico da cromoblastomicose, é
também o menos sensível aos antifúngicos sistêmicos (BONIFAZ, PAREDES-SOLIS e
SAUL, 2004). Ainda hoje não foi definido um tratamento-padrão ótimo para a
cromoblastomicose, em classe, concentração de antifúngico e modo de administração
(ESTERRE e QUEIROZ-TELLES, 2006).
A anfotericina B é sugerida apenas como sendo parcialmente eficaz quando
administrada em injeções intralesionais, e não foi destaque nas mais recentes revisões ou
descrições de casos de tratamento (LOPEZ MARTINEZ e MENDEZ TOVAR, 2007).
Restrepo e colaboradores (RESTREPO, GONZALEZ, GOMEZ et al., 1988) sugeriram
que o tratamento com azol por monoterapia de itraconazol é eficaz em um período de
tratamento de 12-24 meses, sendo este administrado em doses diárias de 200 a 400 mg.
Queiroz-Telles e colaboradores (QUEIROZ-TELLES, PURIM, FILLUS et al., 1992) já
descreveram 42% de cura em pacientes tratados com doses de 200 a 400 mg/dia de
itraconazol em uma média de sete meses. Já o cetoconazol não é recomendado para o
tratamento da cromoblastomicose por ter baixa eficiência contra o fungo e alta toxicidade
endócrina e hepática. O itraconazol é amplamente usado hoje em dia, porém esta droga possui
irregular absorção pelo organismo e imprevisíveis níveis plasmáticos, além de ser
metabolizado no fígado, podendo levar a algumas interações medicamentosas (ESTERRE e
QUEIROZ-TELLES, 2006). No tratamento com itraconazol a dosagem pode ser limitante por
reduzir a concentração de potássio no soro, causando supressão adrenal quando administrado
em mais de 600 mg/dia.
13
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
A terapia combinada de itraconazol com flucitosina já foi descrita como tendo um
considerável sucesso, porém este último antifúngico foi excluído do mercado brasileiro por
determinações da ANVISA em 2006. Além das reações adversas que causava, eram
observadas altas taxas de desenvolvimento de resistência fúngica após breve período de
administração (http://portal.saude.gov.br/portal/-arquivos/pdf/flucitosina.pdf).
A terbinafina costuma ser empregada por apresentar taxas de cura superiores a 80%, em
doses de 250-500 mg/dia, seguida por até dois anos sem reincidência. Este antifúngico tem
baixa toxicidade em relação ao itraconazol e um potencial efeito antifibrótico em lesões
recentes (ESTERRE e QUEIROZ-TELLES, 2006). Contudo, em muitos casos a monoterapia
com itraconazol ou terbinafina é ineficaz e a reincidência da doença a longo prazo nos
pacientes chega a 43% (GUPTA, TABORDA e SANZOVO, 2002). Atualmente, a terapia
combinada de itraconazol com terbinafina, administradas alternadamente por semana, é a
mais indicada, possivelmente por serem antifúngicos com diferentes alvos enzimáticos,
podendo agir sinergicamente (ESTERRE e QUEIROZ-TELLES, 2006).
O custo anual em terapia antifúngica para cromoblastomicose, para administrações orais
de 200mg/dia de itraconazol é de R$ 4.964,16 por paciente. Sendo o tratamento escolhido 250
mg/dia de terbinafina, o valor cai a R$ 2.373,41. Considerando-se o custo anual da terapia
combinada de pulso alternada, com administração de 400 mg/dia/mês de itraconazol e 500
mg/dia/mês de terbinafina, o custo passa a R$ 1.689,15. Os valores dos tratamentos são altos
e inacessíveis a faixa da população mais afetada por essa doença, trabalhadores rurais com
baixa renda (HIRA, YAMADA, TAKAHASHI et al., 2002; BONIFAZ, PAREDES-SOLIS et
al., 2004; GROTO, 2008).
Outras modalidades de tratamento sugeridas e que possuem relativa eficácia são a
criocirúrgia com nitrogênio líquido (CASTRO, PIMENTEL e LACAZ, 2003), o uso de
14
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
compressas quentes e aplicações de laser de dióxido de carbono (HIRA, YAMADA et al.,
2002), e a combinações dessas técnicas com drogas antifúngicas.
Excisão cirúrgica de lesões pequenas, ou ainda, a amputação de membros com lesões
extensas e debilitantes também costumam ser sugeridos como formas de tratamento
complementares (LOPEZ MARTINEZ e MENDEZ TOVAR, 2007; SANTOS, PALMEIRA
et al., 2007).
No Congresso Brasileiro de Micologia, ocorrido em Recife, PE, em 2007, foi discutida
a relevância de tratamentos cirúrgicos, principalmente os debilitantes, como a amputação.
Concluiu-se que tais métodos devem ser desencorajados por causarem graves limitações ao
paciente.
9. MECANISMOS DE AÇÃO DE ANTIFÚNGICOS – FOCO EM AGENTES UTILIZADOS PARA
CROMOBLASTOMICOSE
Anfotericina B
Este antifúngico é da classe dos polienos, e é extraído do actinomiceto Streptomyces
nodosus. Mesmo não tendo uso direto para a cromoblastomicose é interessante descrever seu
mecanismo de ação por ser um dos mais antigos antifúngicos ainda com uso clínico, e por
ainda ser a terapia de escolha inicial para micoses sistêmicas (INSELMANN, INSELMANN e
HEIDEMANN, 2002). Além de ter sido utilizada como parâmetro comparativo para alguns
dos experimentos desta tese.
A anfotericina B liga-se ao ergosterol, principal esterol de membrana em fungos,
desestabilizando a membrana plasmática da célula fúngica, criando poros e causando
extravasamento do conteúdo celular (Figura 5). Sua seletividade está na diferença
conformacional do alvo, já que o principal esterol em membranas humanas é o colesterol, de
15
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
conformação sigmóide, em contraste com a conformação cilíndrica do ergosterol
(INSELMANN, INSELMANN et al., 2002; ODDS, BROWN e GOW, 2003).
Figura 5: Modelo de ação da anfotericina B, permebilização celular e extravasamento de
conteúdo eletrolítico citoplasmático (adaptado de www.doctorfungus.com).
Um problema na sua administração é sua alta nefrotoxicidade, causando reações
adversas graves, o que limita a concentração máxima das doses. Novas formulações em
inclusões nanoméricas lipídicas minimizam estas reações por liberarem a anfotericina B nas
proximidades do fungo, pela ação das lipases do próprio fungo (ODDS, BROWN et al.,
2003).
Azóis
Constituem a maior classe de antifúngicos em uso clínico. Os representantes de maior
expoente são o fluconazol, muito utilizado para infecções de Candida spp., cetoconazol, e o
itraconazol. Sua atividade é fungistática e consiste em alterar a permeabilidade da membrana
plasmática por inibir a síntese de ergosterol (Figura 6). Esta inibição se deve ao fato de um
16
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
átomo de hidrogênio dos azóis se ligar ao ferro do sítio ativo da enzima 14-α-demetilase ,
impedindo a desmetilação do lanosterol na via de síntese do ergosterol (ODDS, BROWN et
al., 2003).
O desenvolvimento de novos azóis tem sido crescente, e nos últimos cinco anos
observamos a aprovação e lançamento de dois novos compostos: voriconazol e posaconazol,
derivados do fluconazol e no itraconazol, respectivamente. O voriconazol já é terapia de
escolha para aspergiloses invasivas em alguns países; o posaconazol foi recentemente
aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA - EUA) e é sugerido para utilização em
micoses invasivas refratárias a outros antifúngicos (SCHEINFELD, 2007).
Figura 6: Mecanismo de ação de inibidores da síntese de ergosterol, azóis (em
vermelho, inibição da 14-α-demetilase) e alilaminas (amarelo, inibição da esqualeno
epoxidase) (adaptado de www.doctorfungus.com).
17
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Alilaminas
Este grupo de antifúngicos tem a terbinafina como seu maior representante. A atividade
fungicida se dá pela inibição da enzima esqualeno epoxidase da via de síntese do ergosterol
(Figura 6), acarretando na má formação do ergosterol, com conseqüente desestabilização da
membrana celular do fungo (KONTOYIANNIS e LEWIS, 2002).
10. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATUAL EMPREGO DE ANTIFÚNGICOS
Com a gravidade das infecções causadas por Candida albicans e Aspergillus fumigatus
em indivíduos imunocomprometidos, pacientes transplantados, em pós-operatório, ou sob
utilização de corticoesteróides, a necessidade de novos antifúngicos aumentou
vertiginosamente. Infecções por A. fumigatus vêm ocorrendo com incidência crescente em
formas invasivas, se tornando o maior alvo de preocupação em infecções fúngicas e maior
causa de morte em indivíduos transplantados (SELITRENNIKOFF e NAKATA, 2003). O uso
indiscriminado de fluconazol em candidíases de mucosas acarretou em pressão seletiva, ou
estímulos estressantes (COWEN, 2008), que levaram à resistência do fungo a este agente e ao
aumento de infecções por Candida não-albicans (SELITRENNIKOFF e NAKATA, 2003).
A resistência azóis se dá pela superexpressão de bombas de efluxo na membrana dos
fungos, que atuam expulsando os antifúngicos do interior da célula (GRAYBILL, 1996;
ODDS, BROWN et al., 2003). Em espécies de Aspergillus foi sugerido, que ocorre a
superexpressão da 14-α-demetilase do citocromo p450, resultando em concentrações altas da
enzima alvo dos azóis, tendo, então, pouco ou nenhum efeito sobre o fungo as concentrações
de azóis normalmente aplicadas no tratamento. (OSHEROV, KONTOYIANNIS, ROMANS
et al., 2001).
18
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Em 1996, as estratégias para o tratamento contra fungos incluíam a redução da
toxicidade dos polienos, com enclausuramento de anfotericina B em formas lipídicas;
melhoria da farmacodinâmica dos azóis; desenvolvimento de novos antifúngicos que afetam a
síntese de componentes de parede celular (equinocandinas); terapia combinada com
antifúngicos de ação sinérgica; e estimulação do sistema imune do paciente pela
administração de citocinas (GRAYBILL, 1996).
Passados mais de dez anos, pouco mudou em relação às estratégias de tratamento
antifúngico, porém alguns autores apontam a via de biossíntese da parede celular dos fungos,
e de suas moléculas constituintes, alvos promissores para o desenvolvimento de novas drogas
de atividade antifúngica (KONTOYIANNIS e LEWIS, 2002; NIMRICHTER, RODRIGUES,
RODRIGUES et al., 2005).
O desenvolvimento de novos agentes antifúngicos é extremamente demorado, levando,
em média, mais de 20 anos. A estimativa de custo para o desenvolvimento de uma droga
totalmente nova até a sua entrada no mercado é de aproximadamente 802 milhões de dólares
(HOLLINGHAM, 2005). Discute-se hoje que doenças tropicais de caráter endêmico e não
epidêmico, têm sido ignoradas pelas indústrias farmacêuticas, já que a introdução de um novo
tratamento para essas doenças é lenta. Isto se deve à baixa provenção de fomento, privado e
público para a pesquisa e o desenvolvimento de drogas para doenças que costumam afetar
uma parcela economicamente desfavorecida da população mundial.
Devido aos desafios dos tratamentos das infecções fúngicas, alguns autores sugerem,
baseados em testes in vivo e in vitro, que fármacos anteriormente destinados aos tratamentos
de outras enfermidades podem apresentar uma atividade nociva ao crescimento de fungos, e
poderiam ser uma alternativa ao tradicional tratamento com antifúngicos, tendo uso em
terapias combinadas para uma atividade sinérgica com antifúngicos clássicos (AFELTRA e
VERWEIJ, 2003).
19
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Inibidores da síntese de melanina já foram sugeridos como potenciais agentes
terapêuticos para infecções por Exophiala dermatitidis (GEIS, WHEELER e SZANISZLO,
1984). A literatura ainda indica que os compostos envolvidos na via de biossíntese e
expressão da melanina são alvos atrativos para novas terapias contra infecções por fungos
melanizados (WANG e CASADEVALL, 1996; NIMRICHTER, RODRIGUES et al., 2005;
SANTOS, PALMEIRA et al., 2007).
11. MELANINAS
Melaninas são compostos ainda hoje enigmáticos para a ciência. Apesar dos extensos
estudos em relação à contribuição da melanina para a patogênese de microorganismos,
estudos sobre pigmentação humana (albinismo, vitiligo) e câncer de pele, não existe descrição
da estrutura ou composição química definida para esse polímero. Fatores que dificultam o
estudo de melanina são a sua baixíssima solubilidade em vários solventes (a exceção de
soluções altamente básicas) e seu alto peso molecular, este ainda não definido para as
melaninas produzidas por fungos. Uma ferramenta analítica que atualmente tem sido usada
pra definir um pigmento como melanina é a espectroscopia por ressonância paramagnética
eletrônica (LANGFELDER, STREIBEL, JAHN et al., 2003; NOSANCHUK e
CASADEVALL, 2003).
Esses pigmentos poliméricos possuem propriedades em comum: (i) são muito estáveis a
extremos de temperatura; (ii) são resistentes a quebras físicas e químicas; (iii) são insolúveis
em água e em muitos solventes orgânicos; e (iv) são de difícil extração do organismo de
origem, sendo necessárias seguidas etapas com solventes orgânicos, enzimas e álcalis para seu
isolamento em laboratório (HENSON, BUTLER e DAY, 1999; NOSANCHUK e
CASADEVALL, 2003). São ainda descritos em melaninas outros atributos interessantes
20
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
como as propriedades de semicondutor que possuem, assim como sua utilização na fabricação
de protetores solares, cosméticos e corantes (JACOBSON, 2000).
As melaninas são produzidas por vários organismos, de bactérias a seres humanos,
podendo derivar de várias vias metabólicas, precursores, enzimas e intermediários distintos e
aparentemente não relacionados entre as várias espécies dos diferentes domínios da natureza.
Algumas semelhanças nas vias de biossíntese de melanina de diversas espécies parecem
começar por reações de redução e oxidação de substratos aromáticos hidroxilados, como
fenóis e indóis. As reações e substratos envolvidos no processo de formação de melanina
geram um pigmento escuro, geralmente marrom ou preto, mas podendo ter outras colorações
como amarelo e vermelho (JACOBSON, 2000).
Em humanos, a via de síntese da melanina ocorre em organelas denominadas
melanossomos, que estão em células produtoras de melanina encontradas na epiderme, os
melanócitos. Uma fenoloxidase oxida a tirosina a L-dopa, que passará por outras etapas
enzimáticas, até a auto oxidação/polimerização em melanina (DELL'ANGELICA, 2003).
Desde 1960 sabe-se da existência deste pigmento em fungos (WHEELER e BELL,
1988). Suas vias principais de produção são: (i) a via da dihidroxifenilalanina, ou via da
DOPA, por oxidação da L-dopa formando intermediários semelhantes aos da via humana; e
(ii) a via do dihidroxinaftaleno, ou via DHN, tendo sua produção constitutiva a partir do
acetato (acetil-CoA) derivado do metabolismo da glicose (Figura 7). Esta última foi descrita
como a mais freqüentemente encontrada em ascomicetos e deuteromicetos e é o que
caracteriza alguns fungos como sendo negros ou demáceos (KOGEJ, WHEELER,
LANISNIK RIZNER et al., 2004).
21
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Figura 7: Esquema proposto para a via de biossíntese de melanina em mamíferos e no
fungo Cryptococcus neoformans (via da DOPA), e para a via da DHN-melanina sugerida para
F. pedrosoi. Adaptado de (LANGFELDER, STREIBEL et al., 2003; LEE, JUNG e KIM,
2003; PLONKA e GRABACKA, 2006; ZHONG, FRASES, WANG et al., 2008)
O citoplasma e a parede celular já foram descritos como local da produção de melanina
em fungos (POLAK, 1990). Contudo, a síntese de melanina em fungos negros que tem sido
22
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
detectada em organelas especializadas chamadas melanossomos (FRANZEN, DE SOUZA,
FARINA et al., 1999; NOSANCHUK e CASADEVALL, 2003; FRANZEN, CUNHA,
MIRANDA et al., 2008).
Experimentos com C. neoformans, Paracoccidioides brasiliensis e em F. pedrosoi,
mostraram que fungos melanizados, mesmo depois de agressivos tratamentos com enzimas,
detergente, solvente e ácido a alta temperatura, mantiveram uma estrutura externa semelhante
à obtida com esses fungos antes desse tratamento, sendo, por isso, nomeada ghost. Isso
sugeriu que a melanina em fungos, possivelmente, interage com os componentes da parede
celular, mantendo a estrutura externa. Nesses experimentos, as células não melanizadas não
resistiram ao procedimento aplicado, não restando ghosts detectáveis (WANG, AISEN e
CASADEVALL, 1996; JACOBSON, 2000; ALVIANO, FRANZEN, TRAVASSOS et al.,
2004).
12. MELANINA É UM FATOR DE VIRULÊNCIA EM FUNGOS
O interesse na pesquisa da melanina em fungos é grande, devido a sua função protetora
contra agentes radioativos, oxidantes, elementares ou imunes (NOSANCHUK e
CASADEVALL, 2003). Em fungos patogênicos para o ser humano, como C. neoformans,
Aspergillus spp. e Exophiala dermatitidis, a melanina já foi citada como fator de virulência, e
em vários outros fungos patogênicos já foi descrita sua biossíntese, como Sporothrix schenkii,
P. brasiliensis, Histoplasma capsulatum, Blastomyces dermatitidis e Candida albicans
(JACOBSON, 2000; LANGFELDER, STREIBEL et al., 2003; MORRIS-JONES,
YOUNGCHIM, GOMEZ et al., 2003; NOSANCHUK e CASADEVALL, 2003).
Nos últimos anos, as revisões sobre melanina a definiram como um fator de virulência
por ser: (I) capaz de conferir resistência ao calor, ao frio, a enzimas, e a solventes orgânicos;
23
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
(II) de ter função antioxidante; (III) de aumentar a resistência a antifúngicos; e de (IV)
potencializar a invasão a tecidos (GOMEZ e NOSANCHUK, 2003; LANGFELDER,
STREIBEL et al., 2003; NOSANCHUK e CASADEVALL, 2003; 2006; PLONKA e
GRABACKA, 2006).
Sugerimos, em 2005, que a vía de biossíntese da melanina em F. pedrosoi é a DHN.
Foram observadas diferenças na pigmentação do fungo em presença de um inibidor seletivo
da via DHN (triciclazol, descrito em maiores detalhes abaixo) e da manutenção de uma
coloração não nativa da colônia com a inserção do triciclazol e do intermediário da via da
DOPA, L-dopa (CUNHA, FRANZEN et al., 2005).
13. INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE DHN-MELANINA (IBM) EM FUNGOS
Comercialmente conhecido como BIM 750 (Dow Agrosciences, EUA), o triciclazol (5-
metil-1,2,4-triazol-(3,4-β) benzotiazol) tem pouco ou nenhum efeito sobre a viabilidade do
fungo em cultura. O alvo específico deste agrotóxico está na via de biossíntese de DHN-
melanina (ROMERO-MARTINEZ, WHEELER, GUERRERO-PLATA et al., 2000;
BUTLER, GARDINER e DAY, 2005; CUNHA, FRANZEN et al., 2005).
O triciclazol, e outros inibidores da via DHN, como piroquilona e ftalida, são
comercialmente utilizados para prevenir doenças em plantações de arroz causadas por
Pyricularia Oryzae, Colletotrichum lagenarium e Colletotrichum lindemuthianum
(HENSON, BUTLER et al., 1999; MARES, ROMAGNOLI, ANDREOTTI et al., 2004).
Estes compostos atuam dentro do fungo como inibidores específicos de redutases, produzindo
o mesmo efeito de uma mutação direcionada aos genes que expressam essas enzimas. A
inibição gera o acúmulo de flaviolina, um subproduto do metabolismo de 1,3,6,8-
tetrahidroxinaftaleno. Outra etapa da via que também parece ser afetada é a redução de 1,3,8-
24
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
trihidroxinaftaleno a vermelona, possivelmente levando ao acúmulo de subprodutos, como 2-
hidroxijuglona. Esses subprodutos da interrupção da via de biossíntese da melanina
provavelmente são os compostos que conferem a coloração das colônias tratadas com esses
inibidores. (KURAHASHI, 2001; LANGFELDER, STREIBEL et al., 2003)
Outros compostos capazes de inibir seletivamente a via DHN-melanina são os
inibidores de desidratase, a exemplo da carpropamida, desenvolvidos na década de 90. Estes
atuam inibindo competitivamente a scitalona-desidratase e a vermelona-desidratase, etapas
destacadas na figura 8 (KURAHASHI, 2001).
Figura 8: Via de síntese da DHN-melanina e alvos de atuação dos inibidores de redutase
e de desidratase (KURAHASHI, 2001).
14. RELEVÂNCIA DO ESTUDO DE FUNGOS MELANIZADOS
O estudo da melanina, assim como o de interações celulares com fungos melanizados,
apresenta informações significativas sobre as infecções fúngicas e oferece modelos do
ambiente fungo-hospedeiro.
Em F. pedrosoi já foram descritas: a resistência do fungo à maquinaria enzimática da
fusão fagossoma-lisossoma em macrófagos residentes de camundongo (FARBIARZ, DE
25
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
CARVALHO, ALVIANO et al., 1990); a inibição da fagocitose pela presença de melanina na
parede do fungo (FARBIARZ, DE CARVALHO et al., 1992); o efeito fungistático da ação de
macrófagos ativados e a ação fungicida resultante da produção de mieloperoxidase em
neutrófilos de rato (ROZENTAL, ALVIANO et al., 1994); e o aumento da susceptibilidade
deste a macrófagos ativados de camundongo, quando a via de biossíntese de melanina é
inibida pelo uso do triciclazol (CUNHA, FRANZEN et al., 2005).
Assim, as informações relacionadas à formação da melanina, sua caracterização como
fator de virulência e sua importância frente a antifúngicos merecem destaque, pois podem
tornar compreensíveis alguns fatores da dificuldade de tratamento e cronicidade característica
desta infecção, contribuindo no desenvolvimento de um tratamento mais eficaz, rápido,
seguro e barato para a cromoblastomicose.
26
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Objetivo Geral:
Compreender a função e as propriedades da melanina no fungo patogênico F. pedrosoi.
Metas:
1. Caracterizar os pigmentos isolados do fungo F. pedrosoi em condições de produção
normal de melanina (controle) e após a inibição da via de síntese de melanina pelo
triciclazol, por espectroscopia de ultravioleta e ressonância paramagnética eletrônica.
2. Medir a constante elástica e a deformação mediante pressão no fungo tratado ou não com
triciclazol por espectroscopia de força atômica.
3. Avaliar a susceptibilidade e o crescimento de F. pedrosoi em presença de triciclazol e dos
antifúngicos anfotericina B, itraconazol e terbinafina.
4. Avaliar a toxicidade de inibidores de biossíntese de DHN-melanina em sistemas de
predição de toxicidade em mamíferos.
5. Aferir o crescimento de F. pedrosoi em presença de triciclazol e dos agentes de estresse:
óxido nítrico, peróxido de hidrogênio, SDS e cloreto de sódio.
6. Avaliar a atividade antioxidante do fungo.
7. Identificar a atividade da enzima óxido nítrico sintase induzível em macrófagos murinos
ativados em interação com F. pedrosoi em presença ou ausência de triciclazol.
8. Observar os efeitos do tratamento com outros inibidores da via de biossíntese da DHN-
melanina (ftalida, piroquilona e carpropamida) na pigmentação de F. pedrosoi.
9. Observar os efeitos do tratamento com triciclazol na pigmentação de outros fungos
produtores de melanina.
10. Descrever os aspectos microscópicos da distribuição de F. pedrosoi em biópsias de
pacientes com cromoblastomicose, por microscopia eletrônica de varredura ambiental.
27
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Materiais e Métodos
1. CULTIVO DO FUNGO
O fungo Fonsecaea pedrosoi (5VPL), isolado de um caso humano de
cromoblastomicose (OLIVEIRA, RESENDE, LOPES et al., 1973), foi mantido em meio
definido Czapek-Dox modificado (CD) de composição em g/L: sacarose 30, NaNO3 2,
KH2PO4 0,8, MgSO4 . 7 H2O 0,5, KCl 0,5, citrato férrico amoniacal 0,01, acrescido de 3 g/L
de Ágar a 10ºC sob óleo mineral. Para os ensaios, este fungo foi cultivado em meio CD, pH
5.0, sob agitação à temperatura ambiente por 7 dias. Isolados de F. pedrosoi de pacientes de
cromoblastomicose da Unidade de Referência em Dermatologia Sanitária do Estado do Pará
"Dr. Marcello Candia” (Marituba, Pará) descritos na tabela 3 foram mantidos em meio
CDagar a 10 ºC sob óleo mineral e cultivados em meio CDagar à temperatura ambiente por 7
dias. Estes isolados foram utilizados em experimentos de análise de crescimento após
exposição a antifúngicos e triciclazol.
Prontuário Idade (anos)
Tempo de lesão na coleta (anos)
Localização da lesão Tratamento utilizado
22957 49 10 Cotovelo esquerdo Itraconazol 200mg/dia (no momento da coleta)
36020 51 14 Dorso do pé direito Itraconazol 200mg/dia
38823 47 10 Membro inferior direito Itraconazol 200mg/dia
38868 36 1 Dorso do pé direito Itraconazol 200mg/dia.
Tabela 3: Informações dos pacientes de cromoblastomicose da UMC, doadores de
isolados de F. pedrosoi.
28
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Observação: A utilização de cepas isoladas de pacientes, de biópsia de lesão destes,
bem como divulgação de dados de seus prontuários, foi devidamente regulamentada pelos
comitês de ética das instituições envolvidas.
Phialophora verrucosa, Cladosporium carrioni, Exophiala dermatitidis, Exophiala
jeanselmei, cedidos pela Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil, foram mantidos em
Agar batata dextrose (Biolife, Brasil), a 4 ºC, sob óleo mineral. Aspergillus fumigatus
(Af293, tipo-selvagem) foi doado pelo Prof. Dr. Scott Filler (Los Angeles Biomedical
Research Institute at Harbor-UCLA Medical Center, California, EUA) e estocado em Ágar
batata dextrose, a 4 ºC, sob óleo mineral.
2. INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA (IBM)
O triciclazol, gentilmente cedido por Dow Agrosciences Industrial (EUA), foi
adicionado às culturas na concentração final de 16 µg/mL para inibir a formação de melanina
no fungo F. pedrosoi (ROMERO-MARTINEZ, WHEELER et al., 2000; CUNHA,
FRANZEN et al., 2005).
Carpropamida, ftalida e piroquilona, adquiridos de Sigma-Aldrich (Brasil), foram
adicionados individualmente às culturas de F. pedrosoi na concentração final de 16 µg/mL.
Os IBM foram previamente dissolvidos em DMSO e adicionados ao meio de cultura
(Sigma-Aldrich, Brasil) garantindo-se que a concentração final do solvente no meio de
cultura, ou no meio de ensaio de susceptibilidade a antifúngicos, não ultrapassasse 0,2 %. Tal
concentração de DMSO não provocou modificação nos padrões de crescimento dos fungos
testados.
29
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
3. PROTOCOLO DE CULTIVO DOS FUNGOS EM PRESENÇA DE IBM
Para a verificação visual da modificação na pigmentação das colônias devido à inibição
da via de biossíntese da melanina por algum IBM, F. pedrosoi em cultura de 7 dias no meio
líquido CD foi inoculado por swab em 1 mL de meio sólido Ágar batata dextrose em placa de
24 poços contendo 16 µg de triciclazol, carpropramida, piroquilona ou ftalida. Tais
observações também foram realizadas inoculando-se o fungo em meio CD nas mesmas
condições de presença de IBM.
Esse protocolo foi estendido aos fungos Phialophora verrucosa, Cladosporium
carrioni, Exophiala dermatitidis, Exophiala jeanselmei, crescidos em tubos de vidro de 5 mL
com tampa de rosca, a temperatura ambiente, por 7 dias, e a Aspergillus fumigatus (Af293),
cultivado em placas de 24 poços a 35 ºC por 3 dias, com 1 mL de Ágar batata dextrose
contendo 16 µg de triciclazol.
4. ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE PIGMENTOS TIPO MELANINA
Para a extração da melanina, 1 litro de cultura foi filtrado em papel de filtro Whatman
nº1 para remoção do meio de cultivo. O sistema foi acrescido de 1 Litro de NaOH 0,5 M e
mantido sob agitação rotatória a temperatura ambiente, por 24 horas. Em seguida, a suspensão
foi mantida em repouso a 10 ºC por 24 horas, seguida de filtração em papel de filtro e
precipitação do sobrenadante com HCl 6 M. O material, recuperado por filtração, foi lavado
exaustivamente com água destilada e liofilizado (ALVIANO, FARBIARZ, DE SOUZA et al.,
1991). O resultado desta etapa foi à obtenção de menos de 10 mg de um pó preto, insolúvel
em água e solúvel em NaOH 0,5 M o qual consideramos ser a melanina isolada.
Observação: Ao longo desta tese citaremos o pigmento derivado desta extração em
culturas suplementadas com 16µg de triciclazol como “melanina-triciclazol”, e quando em
30
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
referência ao pigmento oriundo de culturas controle (sem triciclazol), citaremos como
“melanina-controle”. Assim como citaremos as células derivadas das condições de cultivo em
presença de 16 µg/mL de triciclazol de fungo (ou conídios, ou F. pedrosoi)-triciclazol, e em
condições controle de fungo (ou conídios, ou F. pedrosoi)-controle.
5. RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA (EPR)
Dez microgramas do pigmento isolado do fungo-controle ou do fungo-triciclazol, foram
triturados por maceração em cadinho de porcelana para a análise por EPR. O espectro foi
adquirido em temperatura ambiente em um espectrômetro Bruker ESP 380-E CW/FT
operando a X-Band (9.5 GHz) e 100 kHz. A modulação da amplitude foi mantida em
constantes 3.0 gauss e microondas de baixa potência foram utilizadas para evitar saturação.
Os fatores “g” foram medidos contra o padrão de DPPH (2,2-difenil-1- picrilidrazila), g =
2.0023. Os experimentos de saturação de microondas foram realizados pela medição do
espectro no intervalo de 0,02-200 mW, enquanto os outros parâmetros experimentais não
foram alterados.
6. ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORBÂNCIA EM ULTRAVIOLETA
Os pigmentos isolados e liofilizados foram dissolvidos em DMSO na concentração de 1
mg/mL e analisados em espectrofotômetro Shimadzu UV-1601, em cubetas de quartzo com 1
cm de caminho ótico, entre 250-400 nm. Melanina sintética (Sigma-Aldrich, Brasil) foi
utilizada para compor a curva de calibração a 400 nm utilizada para cálculo das concentrações
de pigmentos isolados.
31
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
7. ESPECTROSCOPIA DE FORÇA
A espectroscopia de força é um recurso baseado na microscopia de força atômica e uma
das ferrramentas utilizadas para o discernimento de propriedades adesivas e elásticas de
amostras biológicas. Conídios- controle e conídios-triciclazol foram isolados por filtração,
lavados em PBS a temperatura ambiente e aderidos a lâminas de vidro revestidas com poli-L-
lisina por uma hora. As medições de espectroscopia de força foram realizadas em microscópio
de força atômica Asylum Research MFP-3D (California, EUA), com cantilever Bio-lever
(Olympus, EUA) de constante de mola 0,027 N/m. As amostras foram mantidas e analisadas
em PBS, a temperatura ambiente e, após as medições, os dados obtidos foram extraídos e
interpretados segundo algoritimo desenvovido por Monçores (2008).
8. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE A ANTIFÚNGICOS
Os testes para determinação da susceptibilidade do fungo F. pedrosoi aos antifúngicos
anfotericina B, itraconazol e terbinafina foram realizados baseados na norma M38-A do
Clinical and Laboratory Standards Institute de 2002 (CLSI – antigo National Committee for
Clinical Laboratory Standards, NCCLS, EUA), divulgadas pela ANVISA
(http://www.sbmicrobiologia.org.br/clsi_OPAS1M38-A.pdf).
Para o preparo das soluções-padrão, os antifúngicos foram dissolvidos em DMSO
(Sigma-Aldrich, Brasil) em concentrações 100 vezes mais altas que a maior concentração a
ser utilizada nos testes. As soluções foram armazenadas em frascos de polipropileno à
temperatura de -25 °C, e utilizadas após, no máximo, 3 meses.
As diluições dos antifúngicos em RPMI 1640 (Sigma-Aldrich, Brasil), tamponado com
MOPS (ácido 3-[N-morfolino] propanosulfônico) 0,165 mol/L pH 7.0 (RPMI-MOPS) foram
feitas de acordo com a norma M38-A, sendo que as diluições para terbinafina, não descritas
32
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
na norma, foram feitas tais quais as sugeridas para itraconazol. Em placa de 96 poços, um
volume de 100 µL foi aplicado por poço para cada solução anteriormente à adição do inóculo
de fungo. Os experimentos consistiram na inoculação de 5 X 10³ conídios por poço, contados
em câmara de Neubauer sob microscopia ótica. O sistema foi incubado a 35 °C, e a leitura do
crescimento foi realizada após 48 horas em microscópio ótico invertido Axiovert (Zeiss,
Alemanha) para detecção dos poços onde não houve crescimento.
Observação: A norma M38-A não define pontos de corte específicos para os
antifúngicos testados. Contudo, no tratamento com anfotericina B no caso de fungos
filamentosos, CIMs superiores a 2 µg/mL têm sido associadas com fracasso dos tratamentos e
CIMs inferiores a 2 µg/mL, com cura clínica. Em relação ao itraconazol, os valores altos de
CIM (>8 µg/mL) estão associados com resistência clínica a esse agente.
O teste foi validado pela utilização de A. fumigatus Af293 como controle, de CIM a
anfotericina B comparável a cepa-padrão ATCC 204305 (CHIANG, EJZYKOWICZ, TIAN et
al., 2006).
9. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE AO TRICICLAZOL
Para determinação de concentração inibitória mínima de triciclazol foram testadas
concentrações de 0,17 até 350 µg/mL, em experimentos de microdiluição em caldo, conforme
descrito no item 9. As variáveis desse experimento foram conídios de F. pedrosoi,
provenientes de culturas suplementadas, ou não, com 16 µg/mL de triciclazol.
10. SUSCEPTIBILIDADE A ANTIFÚNGICOS EM ASSOCIAÇÃO AO TRICICLAZOL
Para verificar a influência da inibição da biossíntese de melanina pelo triciclazol na
susceptibilidade aos antifúngicos testados, triciclazol foi adicionado como uma variável dos
33
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
ensaios de susceptibilidade na concentração de 16 µg/mL. Estes ensaios foram realizados em
triplicata.
11. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS
2 x 103 conídios foram inoculados em diluições de antifúngicos correspondentes à
concentração inibitória mínima determinada no teste de susceptibilidade descrito no item 9 e 0
(controle), 2, 4 e 16 vezes esta concentração.
Em 1 mL de RPMI-MOPS contendo uma determinada diluição de antifúngico foi então
inoculado o fungo-controle ou o fungo-triciclazol. O triciclazol foi mantido a 16 µg/mL nos
experimentos em que o fungo-triciclazol foi variável.
O sistema foi incubado a 35 ºC por 24 horas, centrifugado, lavado em RPMI-MOPS
para remoção do antifúngico e sendo uma alíquota de 50 µL retirada e plaqueada em 1 mL de
CDagar em placa de 24 poços e mantidas a temperatura ambiente. As culturas foram
acompanhadas por 10 dias, tendo seu ponto de crescimento ideal para análise definido em 7
dias.
As placas tiveram seu fundo digitalizado em escâner (Figura 9 A) (Epson Perfection
3450 photo, Epson corp, EUA) com 600 dpi de resolução em modo de 24-bit colorido. A
imagem obtida foi processada no software Adobe Photoshop CS3 (Adobe corporation, EUA)
e em seguida: (Figura 9 B) ajustada para brilho e contraste pelas ferramentas de edição não-
linear levels e curves, para destaque das colônias de fungos sobre o fundo da placa e sobre o
meio de cultivo; (Figura 9 C) convertida à imagem binária em preto e branco pela ferramenta
34
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
threshold, tendo o ponto de corte definido visualmente pela correspondência da área onde
houve crescimento pela área definida como “preto” após aplicação do threshold; (Figura 9 D)
invertida com uso da ferramenta invert para definição da área de crescimento como “branco”
e do fundo como “preto”, sendo então os valores de “branco” passíveis de quantificação.
A quantificação do crescimento foi feita no software Image-J (Rasband, W.S., ImageJ,
U. S. National Institutes of Health, Bethesda, Maryland, EUA, http://rsb.info.nih.gov/ij/,
1997-2007) utilizando a ferramenta measure do item de menu analyze. A área definida para
medição foi a da circunferência da área interna de um poço da placa de 24 poços. Esta foi
armazenada no ROI manager (tradução livre: gerenciador de áreas de interesse) e utilizada
como área-padrão para todas as medidas dessa série de experimentos (Figura 9, E).
As medidas foram avaliadas quanto ao valor de mean gray value, ou seja, a soma dos
valores de branco e preto de cada pixel da imagem, divididos pela área medida. Sendo assim o
valor obtido foi diretamente proporcional a área do poço tomada por crescimento de fungo (e
citada ao longo dessa tese como “crescimento”), tendo sida a área definida para análise
idêntica em todas as variáveis desse experimento, os resultados foram plotados em gráficos
para análise estatística e comparação do crescimento do fungo após os diferentes tratamentos
aplicados. A análise gráfica e estatística foi feita no software GraphPad Prism 5.0 (Graphpad
software).
35
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Esses procedimentos também foram aplicados a outros isolados de F. pedrosoi,
provenientes de pacientes de cromoblastomicose da Unidade de Referência em Dermatologia
Sanitária do Estado do Pará "Dr. Marcello Candia”, Marituba, Pará (Página 27, Tabela 3).
Figura 9: Etapas da edição da placa digitalizada para avaliação de crescimento fúngico
após tratamento: (A) digitalização da placa, (B) ajuste não-linear de tonalidade, (C) aplicação
de filtro de corte binário (threshold), (D) inversão dos valores (invert) e (E) medição no
software Image J dos valores médios de cinza.
36
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
12. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO A ALTA TEMPERATURA
2 x 103 conídios-controle ou conídios-triciclazol foram incubados em 1 mL de RPMI-
MOPS em banho-maria a 42 ºC por 1 h. Após este período, alíquotas de 50 µL foram retiradas
e plaqueadas em meio CD-agar conforme experimento descrito no item anterior para a
determinação do crescimento do fungo após exposição ao calor. Condições de controle foram
obtidas inoculando os fungos por 1 h a temperatura ambiente.
13. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS CONGELAMENTO E EXPOSIÇÃO A
ANTIFÚNGICOS
2 x 103 conídios-controle ou conídios-triciclazol foram incubados em 1 mL de RPMI-
MOPS a -20 ºC por 24 h. Após este período, alíquotas de 50 µL foram retiradas e plaqueadas
em meio CD-agar conforme experimento descrito no item 12 para a determinação do
crescimento do fungo após congelamento. Condições de controle foram estabelecidas
inoculando os fungos por 24 h a temperatura ambiente.
Nos experimentos os quais os antifúngicos também foram uma variável, 2 x 103
conídios de culturas tratadas ou não com 16 µg/mL de triciclazol foram incubados em 1 mL
de RPMI-MOPS, suplementado ou não com 2 µg/mL de anfotericina B ou 0,5 µg/mL de
itraconazol por 24 h a -20ºC. Após o período, alíquotas de 50 µL foram retiradas e plaqueadas
em meio CD-agar conforme experimento descrito no item 12 para a determinação do
crescimento do fungo após congelamento em conjunção à exposição aos antifúngicos.
Condições de controle foram estabelecidas inoculando os fungos por 24 h a temperatura
ambiente com as mesmas diluições dos antifúngicos.
37
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
14. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO AO ÓXIDO NÍTRICO
O doador de óxido nítrico em meio aquoso SNAP (S-nitroso-N-acetilpenicilamina;
Sigma-Aldrich, Brasil) foi dissolvido em DMSO e utilizado para avaliar o crescimento do
fungo tratado ou não com triciclazol após contato com diferentes concentrações de óxido
nítrico. 2 x 103 conídios-controle ou conídios-triciclazol foram incubados em 1 mL de RPMI-
MOPS por 24 h a 35 ºC com concentrações finais de SNAP de 0, 0,1, 0,3, ou 1 mM. Após o
período, alíquotas de 50 µL foram retiradas e plaqueadas em meio CD-agar conforme descrito
no experimento do item 12 desta seção e observadas ao décimo dia para a determinação do
crescimento do fungo após contato com óxido nítrico.
15. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS INCUBAÇÃO COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO
Peróxido de hidrogênio (H2O2, Sigma-Aldrich, Brasil) foi mantido em estoque a 9 M e
congelado a -20 ºC. Foi utilizado para avaliar o crescimento do fungo tratado ou não com
triciclazol após contato com diferentes concentrações deste agente oxidante.
2 x 103 conídios de culturas tratadas ou não com 16 µg/mL de triciclazol foram
incubados em 1 mL de RPMI-MOPS por 1 h a 35 ºC com concentrações finais de H2O2 de 0,
0,005, 0,05, ou 0,5 M. Após este período, alíquotas de 50 µL foram retiradas e plaqueadas em
meio CD-agar conforme experimento descrito no item 12 e observadas ao décimo dia para a
determinação do crescimento do fungo após exposição ao peróxido de hidrogênio.
16. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS INCUBAÇÃO COM AGENTES DE ESTRESSE
OSMÓTICO E DE MEMBRANA CELULAR
Cloreto de sódio (NaCl, Reagen, Brasil) e Dodecil sulfato de sódio (SDS, Sigma-
Aldrich, Brasil) foram utilizados individualmente para avaliação do crescimento do fungo
38
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
tratado ou não com 16 µg/mL de triciclazol após exposição a agentes de estresse osmótico
(NaCl) e estresse da membrana celular (SDS).
2 x 103 conídios de culturas tratadas ou não com 16 µg/mL de triciclazol foram
incubados em 1 mL de RPMI-MOPS por 24 h a 35 ºC com concentrações finais de SDS de 0,
0,005, 0,05 ou 0,5 M, ou concentrações de NaCl de 0, 0,02, 0,2 ou 2 M . Após este período,
alíquotas de 50 µL foram retiradas e plaqueadas em meio CD-agar conforme experimentos
descritos no item 12, e observados ao décimo dia para a determinação do crescimento do
fungo após exposição aos agentes de estresse.
17. POTENCIAL ANTIOXIDANTE DE CONÍDIOS DE F. PEDROSOI
Foi testado o potencial seqüestrante de radicais livres dos conídios de F. pedrosoi,
tratados ou não com triciclazol, baseado no modelo fotocolorimétrico in vitro do radical livre
estável DPPH (2,2-difenil-1- picrilidrazila, Sigma-Aldrich, Brasil) dissolvido em metanol
(TediaBrazil, Brasil) (MENSOR, MENEZES, LEITAO et al., 2001). Nesse método, 1 mL da
solução de DPPH foi adicionado a 2 mL de uma suspensão de conídios em PBS nas
concentrações de 5,2 x 105, 2,6 x 105, 1,3 x 105, 2,6 x 104, 1,3 x 104 conídios/mL. O
experimento foi realizado a temperatura ambiente, por 30 min., e em seguida a absorbância
foi lida em espectrofotômetro Shimadzu UV-1601 a 518 nm. O branco foi feito adicionando-
se 1 mL de metanol a 2 mL de amostra. Como controle negativo usou-se a mistura de 1 mL da
solução de DPPH com 2 mL de PBS. Em presença de atividade antioxidante o DPPH doa um
elétron e assim deixa de absorver a 518 nm. O potencial antioxidante foi considerado maior
nas variáveis que apresentaram menor absorbância nas concentrações de fungo testadas,
tendo-se subtraído o branco.
39
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
18. INTERAÇÃO COM MACRÓFAGOS
Camundongos suíços foram sacrificados em ambiente de CO2 de acordo com as normas
de prática laboratorial ao estudo com cobaias do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
(UFRJ). Macrófagos peritoneais residentes foram obtidos por lavagem peritoneal com 5 mL
de solução de Hanks (Sigma-Aldrich, Brasil). Os macrófagos foram plaqueados em lamínulas
de vidro (13 mm) em placas de 24 poços, para aderência por 1 h a 37°C, em atmosfera de 5%
de CO2. As células foram então lavadas com solução de Hanks e mantidas por 24 h em meio
Eagle modificado por Dulbeccus (DMEM) contendo 5% de soro fetal bovino (SFB,
Laborclin, Brasil) a 37 °C, em atmosfera de 5% de CO2.
Os macrófagos foram ativados por 24 horas por suplementação do DMEM com 50
U/mL de interferon-γ recombinante de camundongo (IFN-γ; Sigma-Aldrich, Brasil) e 100
ng/mL de lipopolissacarídeo bacteriano de Escherichia coli 0111:B4 (LPS; Sigma-Aldrich,
Brasil). Os macrófagos foram então contados sob microscópio ótico invertido Axiovert
(Zeiss, Alemanha) e postos para interagir com conídios de F. pedrosoi de culturas controle ou
triciclazol, na proporção de 10 fungos por macrófago, e incubados a 37 ºC em atmosfera de
5% de CO2 por 24 horas.
a. VIABILIDADE DO FUNGO ANTES E APÓS INTERAÇÃO
Conídios-controle ou conídios-triciclazol foram isolados por filtração e incubados por
30 minutos, ao abrigo da luz, com 1% do marcador fluorescente FUN-1 (Invitrogen, USA) em
solução de HANKS. Para controles foram utilizados fungos em mesmas condições, porém
mortos pelo calor anteriormente à incubação com FUN-1.
Para medir a viabilidade dos fungos após a interação com macrófagos ativados de
camundongo, as células foram lisadas (com acompanhamento por microscopia ótica) com
40
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
jatos de água a 4 ºC sobre as lamínulas. Os conídios foram recuperados por centrifugação e
incubados em FUN-1 conforme descrito anteriormente. Os conídios foram lidos para
fluorescência em citômetro de fluxo B-D Xcalibur (Becton-Dickinson Immunocytometry
Systems, EUA) com excitação a 480 nm. As análises estatísticas, edições e plotagem de
resultados foram realizadas em software WinMDI 2.8 (http://facs.scripps.edu/software.html).
b. DETECÇÃO DA ENZIMA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE INDUZÍVEL NOS
MACRÓFAGOS EM INTERAÇÃO
Após interação de conídios de F. pedrosoi com macrófagos como descrito no item19, as
lamínulas foram lavadas com PBS a temperatura ambiente e fixadas por 30 min. em
formaldeído a 3% em PBS, lavadas novamente e incubadas por 30 minutos em 50 mM de
cloreto de amônio em PBS, e em PBS com 3% de soro-albumina bovina (PBS-BSA). As
lamínulas incubadas por 40 minutos com anticorpo (IgG) policlonal de coelho contra a óxido
nítrico sintase induzível (iNOS) de camundongos, diluído 1:100 em PBS-BSA. As lamínulas
foram lavadas com PBS, e em seguida com PBS-BSA, e incubadas com anticorpo secundário
contra IgG de coelho derivado de cabra e conjugado a isotiocianato de fluoresceína (Sigma-
Aldrich, Brasil), este diluído a 1:200 em PBS-BSA. As lamínulas foram montadas com N-
propilgalato para preservação da fluorescência e observadas em microscópio confocal Zeiss
300 com contraste diferencial interferencial e captura digital de imagem.
19. CITOTOXICIDADE DE INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA EM
MODELOS CELULARES DE MAMÍFEROS
a. CULTIVO DE CÉLULAS DE MAMÍFEROS
Para os ensaios de citotoxicidade foram utilizadas as linhagens de células epiteliais
humanas Caco-2 (carcinoma de colo retal humano), HeLa (células de adenocarcinoma de
41
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
cervix) foram cultivadas em DMEM e células de melanoma murino B16F10 foram cultivadas
em RPMI 1640 (Gibco, EUA). Os meios de cultivo foram suplementados com 2 mM de L-
glutamina e 10% SFB e tamponados com bicarbonato de sódio e 50 µg/mL de gentamicina.
As células foram mantidas a 37ºC em ambiente de 5% de CO2.
b. ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE
Monocamadas das células Caco-2, HeLa ou B16F10 foram formadas pela adição de 2.5
x 104 células por poço em placas de 96 poços e incubadas por 24 h. As células foram tratadas
com diferentes concentrações de triciclazol, de 1 a 1000 µg/mL, este dissolvido em DMSO e
adicionado ao meio de cultivo, e novamente incubadas a 37 ºC, em atmosfera de 5% CO2, por
48 h. A viabilidade celular foi aferida pelo método da sulforodamina B (LIN, HOULT e
RAMAN, 1999; VICHAI e KIRTIKARA, 2006), que é um corante que se liga a aminoácidos
básicos de proteínas celulares. Sua avaliação colorimétrica resulta numa estimativa do número
total de proteínas da célula, diretamente relacionada ao número de células.
O meio de cultivo foi removido, e, em cada poço, 50 µL do fixador ácido tricloroacético
a 10% foi inserido e incubado a 4 °C por 1 h. Em seguida a placa foi lavada 5 vezes com água
corrente e seca. Foram então adicionados 50 µL de solução de sulforodamina B (0,4% p/v em
ácido acético aquoso 1%) em cada poço e a placa foi incubada por 30 min. a 4 ºC e ao abrigo
da luz. O corante foi removido lavando-se os poços 4 vezes com ácido acético 1%. Para
avaliação do crescimento celular foram adicionados 150 µL de Tris base a 10 mM em cada
poço, a placa foi agitada por 15 min. e a leitura realizada em leitor de ELISA (Bio-Tek FL-
600 Microplate Fluorescence Reader, EUA), em densidade ótica de 550 nm.
A concentração do composto capaz de inibir 50% do crescimento celular (CC50) foi
calculada por regressão linear, e as análises estatísticas foram realizadas conforme descrito no
42
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
item 21 desta seção. Como controle de citotoxicidade foi utilizada a anfotericina B. Além do
triciclazol, concentrações variáveis de carpropamida, piroquilona e ftalida também foram
avaliadas quanto à citotoxicidade a células por essa metodologia.
c. EFEITO DO TRICICLAZOL NA MELANOGÊNESE DE CÉLULAS B16F10
5 x 105 células B16F10 em 2 mL de suspensão em placas de 6 poços foram mantidas em
RPMI por 24 h para adesão. As células foram tratadas com concentrações crescentes de
triciclazol (0, 1, 10, 50 e 100 µg/mL) por 72 h a 37ºC e em atmosfera de 5% CO2. A
monocamada foi ressuspendida em 0,01 M PBS, pH 7.2 e as células foram contadas. A
suspensão foi tratada com 1 N de NaOH para a extração da melanina por 24 h a 37 ºC e a
absorbância determinada por espectrofotometria (UV-1700-pharmaspec model –
SHIMADZU) a 475 nm. A concentração de melanina por célula foi calculada por
interpolação a curva padrão feita com concentrações de melanina sintética (Sigma-Aldrich,
Brasil) em NaOH.
20. ESTATÍSTICAS
A análise gráfica e estatística de todos os experimentos desta tese foi feita com o
software GraphPad Prism 5.0 (Graphpad software). Foram utilizadas as abordagens de teste t
(Student) para experimentos com uma variável, considerando como significativo P < 0,0001 e
testes de ANOVA para experimentos comparativos quando houve mais de uma variável,
considerando relevante quando P < 0,05. Os gráficos de barras foram expressos como média e
desvio-padrão.
43
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
21. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA
Amostras de biópsias de lesões de cromoblastomicose causadas por F. pedrosoi foram
coletadas na Unidade de Referência em Dermatologia Sanitária do Estado do Pará "Dr.
Marcello Candia”, Marituba, Pará. As biópsias de membro inferior foram obtidas, após
anestesia local, da borda da lesão com uso de um punch (vazador) inserido a 90º sobre a
epiderme. Recolheu-se amostras de cerca de 4 mm de profundidade. O material foi fixado em
solução contendo glutaraldeído a 2,5%, paraformaldeído a 4%, em tampão cacodilato de sódio
0,1 M, pH 7,2. As amostras já fixadas foram transportadas em temperatura ambiente. Estas
foram cortadas com bisturi em fragmentos de 1 mm de espessura e aderidas em stub com fita
adesiva de carbono. As observações foram feitas em microscópio de varredura ambiental
Quanta 200 (FEI company, Holanda) nos parâmetros de modo ambiental, com compressão
atingindo um máximo de 10 torr, distância de trabalho de 9 mm, 10 KV e tamanho de spot de
4.3. As imagens obtidas foram processadas digitalmente pelo software Adobe Photoshop CS 3
(Adobe corporation, EUA) quanto à coloração, brilho e contraste, por ferramentas de ajustes
não-linear (ROSSNER e YAMADA, 2004).
44
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Resultados
1. INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA (IBM)
A adição ao meio de cultivo de 16 µg/mL dos inibidores de biossíntese de melanina
carpropramida, piroquilona ou triciclazol modificou a coloração da colônia, de verde-escuro,
para um tom alaranjado (Figura 10). A adição de 16µg/mL de ftalida não provocou alteração
na coloração das culturas.
A adição do triciclazol à cultura de outros fungos demáceos (Phialophora verrucosa,
Cladosporium carrioni, Exophiala dermatitidis, Exophiala jeanselmei) e Aspergillus
fumigatus modificou a coloração escura original das colônias para tons amarelos ou
vermelho-alaranjados (Figura 11).
Figura 10: Coloração de colônias de F. pedrosoi em diferentes meios de cultura e sob os
IBM carpropamida, ftalida, piroquilona e triciclazol.
45
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Figura 11: Modificação da coloração de colônias de fungos produtores de melanina em
presença de triciclazol.
2. RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA (EPR)
Os experimentos sugerem: (I) que os pigmentos podem ser definidos como melaninas
tanto do extraído do fungo controle como do fungo tratado com triciclazol; e (II) que possuem
radicais livres que se localizam em ambientes diferentes na molécula ou em menor quantidade
na melanina-triciclazol (Figura 12 A e B). A cinética de saturação com potência (Figura 13 C)
46
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
indica ainda que a melanina-controle possua radicais livres com o dobro da potência dos
radicais presentes na melanina-triciclazol, e que tenha mais interações intramoleculares e
intermoleculares.
Figura 12: Espectros de EPR da melanina-controle (A) e melanina triciclazol (B). Em C,
cinética de saturação de potência da melanina-controle (em verde) e da melanina-triciclazol.
47
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
3. ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORBÂNCIA NO ULTRAVIOLETA
A melanina-triciclazol mostrou uma menor absorbância para comprimentos de onda
entre 260 e 315 nm, regiões correspondentes a faixa UV-C e UV-B, em relação à melanina-
controle (Figura 13). A melanina-controle possui maior uma heterogeneidade molecular por
apresentar 3 diferentes picos de alta absorbância: 264, 273 e 284 nm.
Figura 13: Espectroscopia de ultravioleta da melanina-controle e da melanina-
triciclazol. Maior absorbância da melanina controle (verde) nas áreas de UV-C e UV-B.
4. ESPECTROSCOPIA DE FORÇA
No módulo Young é medida a deformação do objeto em unidades de pressão (Pa). Esta
análise revelou que os conídios-controle têm uma resistência a deformação cerca de duas
vezes maior que nos conídios-triciclazol (Figura 14). O módulo K é a medição da constante
elástica, uma medida pontual que analisa o conídio do fungo como sendo uma mola. Nesta
análise temos a indicação que a rigidez do fungo-controle é maior que o fungo-triciclazol.
48
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Figura 14: Espectroscopia de força de conídios-controle e conídios-triciclazol, maior
resistência a pressão e maior constante elástica do fungo-controle.
5. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE A ANTIFÚNGICOS
Os experimentos para determinação da concentração inibitória mínima (CIM) de
antifúngicos revelaram valores (em µg/mL) de 2 para anfotericina B, 0,5 para itraconazol e
terbinafina, sugerindo que F. pedrosoi é susceptível a esses antifúngicos. Quando foi
adicionado 16 µg/mL de triciclazol a sistema experimental, os valores resultantes de CIM
mantiveram-se inalterados.
6. TESTES DE SUSCEPTIBILIDADE AO TRICICLAZOL
Testando-se o triciclazol em concentrações que variaram de 0,17 até 350 µg/mL não
foram detectadas quaisquer diferenças no crescimento do fungo, tendo este sido cultivado
previamente em 16 µg/mL de triciclazol ou não. Notamos, porém, a inibição da formação de
pigmento verde-escuro e a formação de colônias alaranjadas após tratamento com qualquer
das concentrações de triciclazol utilizadas.
49
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
7. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS
Esta série de testes (Figura 15) não revelou diferenças significativas no crescimento do
fungo-controle em relação ao fungo-triciclazol (sem antifúngico; P > 0,05), porém tal
diferença foi extremamente significativa na presença de anfotericina B (P < 0,0001),
itraconazol (P < 0,0001) e muito significativo no teste com terbinafina (P < 0,005).
Para todos esses experimentos, as variâncias entre as concentrações testadas foram
extremamente significativas (P < 0,0001).
Figura 15: Gráficos do crescimento de F. pedrosoi 5VPL, controle e fungo-triciclazol,
após contato com diferentes concentrações (abscissas) de anfotericina B (A), itraconazol (B) e
terbinafina (C).
50
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
8. TESTE DE CRESCIMENTO DE ISOLADOS RECENTES DE F. PEDROSOI APÓS
EXPOSIÇÃO A ANTIFÚNGICOS
O crescimento de isolados recentes de F. pedrosoi após exposição a antifúngicos variou
significativamente de acordo com a concentração dos antifúngicos e do uso ou não de
triciclazol. Entretanto, em todos os casos, o uso do triciclazol combinado ao antifúngico inibiu
o crescimento do fungo (Figura 16).
Figura 16: Gráficos do crescimento de F. pedrosoi de diferentes isolados, controle e
fungo-triciclazol, após contato com diferentes concentrações (abscissas) de anfotericina B,
itraconazol e terbinafina.
51
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
9. COMPARAÇÃO DO CRESCIMENTO ENTRE A CEPA LABORATORIAL E
ISOLADOS RECENTES DE F. PEDROSOI
Análises do crescimento entre a cepa laboratorial (5VPL) e os isolados recentes
sugerem que o crescimento delas é significativamente diferente em meio de cultivo sólido.
Dentre alguns isolados (36020, 38823 e 38868) o crescimento foi significativamente diferente
(P < 0,0001) em presença de 16µg/mL de triciclazol (Figura 17).
Figura 17: Gráficos do crescimento de F. pedrosoi 5VPL e diferentes isolados
(abscissas) em condições controle e com triciclazol.
10. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO À ALTA TEMPERATURA
Teste de crescimento após exposição por 1 h a 42 ºC sugerem que nestas condições o
triciclazol não interferiu no crescimento do fungo (P > 0,05), porém o aumento da
temperatura por si só contribuiu para uma inibição do crescimento (Figura 18).
52
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Figura 18: Gráficos do crescimento de F. pedrosoi 5VPL, fungo-controle e fungo-
triciclazol, após incubação a temperatura ambiente e a alta temperatura (abscissas).
11. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS CONGELAMENTO E EXPOSIÇÃO A
ANTIFÚNGICOS
O teste de crescimento após exposição de 24 h a -20 ºC sugerem que nestas condições o
triciclazol interferiu no crescimento do fungo (P < 0,0001), e a redução na temperatura não
provocou uma diminuição do crescimento (Figura 19).
Figura 19: Gráficos do crescimento de F. pedrosoi 5VPL, fungo-controle e fungo-
triciclazol, após incubação a temperatura ambiente e congelamento (abscissas).
53
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Os testes de crescimento após incubação a -20 ºC por 24 h, e a simultânea adição de
anfotericina ou itraconazol, sugeriram que nestas condições o triciclazol interferiu no
crescimento do fungo (P < 0,0001), como também a baixa temperatura (-20 ºC) provocou
inibição do crescimento quando comparados com a temperatura de 25 ºC (Figura 20).
Figura 20: Gráficos do crescimento de F.
pedrosoi 5VPL, fungo-controle e fungo-
triciclazol, após incubação com anfotericina B (2
µg/mL) ou itraconazol (0,5 µg/mL a temperatura
ambiente, ou congelamento (abscissas).
12. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO AO ÓXIDO NÍTRICO
De forma significativa o triciclazol proporcionou uma redução no crescimento do fungo
nas concentrações de 0,1 e 0,3 M de SNAP (P < 0,05 e < 0,001, respectivamente, Figura 21).
54
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Figura 21: Gráfico do
crescimento de F. pedrosoi
5VPL, controle e fungo-
triciclazol, após crescentes
concentrações do doador de
óxido nítrico SNAP (abscissas).
13. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS EXPOSIÇÃO AO PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO
Nesta série de experimentos foi verificado que houve variação no crescimento dado à
adição de triciclazol ao sistema (P = 0,016, Figura 22).
Figura 22: Gráfico do
crescimento de F. pedrosoi 5VPL,
controle e fungo-triciclazol, após
crescentes concentrações de
peróxido de hidrogênio
(abscissas).
55
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
14. TESTE DE CRESCIMENTO APÓS ESTRESSES OSMÓTICO E DA MEMBRANA
CELULAR
O crescimento do fungo após exposição à SDS na concentração de 0,005 M foi afetado
pela presença do triciclazol, não somente pela inibição do crescimento do fungo tratado com
triciclazol, mas também pelo crescimento superior do fungo-controle (P < 0,001). Testando-se
a concentração de 0,05 M de SDS a diferença no crescimento entre o fungo-controle e o
fungo-triciclazol não foi significativamente diferente, Na concentração de 0,5 M de SDS não
foi observado crescimento (Figura 23).
Figura 23: Gráfico do crescimento de
F. pedrosoi 5VPL, controle e fungo-
triciclazol, após crescentes concentrações de
SDS (abscissas).
Em concentrações de 0,2 e 2 M de NaCl a inibição da via de biossíntese de melanina
pelo triciclazol afetou significativamente o crescimento (p < 0,001, Figura 24).
Figura 24: Gráfico do crescimento
de F. pedrosoi 5VPL, controle e fungo-
triciclazol, após crescentes
concentrações de NaCl (abscissas).
56
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
15. POTENCIAL ANTIOXIDANTE DE CONÍDIOS DE F. PEDROSOI
Conídios revelaram atividade antioxidante significativa após exposição ao radical livre
DPPH. O uso do triciclazol, como também o aumento das concentrações de conídios, sugeriu
que ambos os fatores são significativos para a quantidade de atividade antioxidante (Figura
25). Quanto mais conídios, maior atividade antioxidante, porém o fungo-triciclazol possuiu
menor capacidade antioxidante em relação as mesmas quantidades de fungo-controle.
Figura 25: Gráfico da atividade oxidante de crescentes concentrações de conídios-
controle e conídios-triciclazol.
16. INTERAÇÃO COM MACRÓFAGOS
a. VIABILIDADE DO FUNGO ANTES E APÓS INTERAÇÃO
A viabilidade do fungo controle após interação de 24 h com macrófagos murinos
ativados mostrou-se praticamente inalterada, de 94,8% de fungos metabolicamente ativos
antes da interação, para 93,9% de viabilidade após a interação. Em fungos tratados com
57
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
triciclazol, a porcentagem de conídios viáveis antes da interação foi pouco menor que no
controle (4,6% menor), mas após a interação com macrófagos o número de fungos não viáveis
chegou a 23,1% (Figura 26).
Figura 26: Gráficos do resultado obtido por citometria de fluxo da distribuição da
viabilidade de conídios-controle e conídios-triciclazol após interação com macrófagos
murinos ativados. M1 se refere ao ponto de corte para cálculo de viabilidade (intercessão da
curva entre fungo morto e viabilidade antes da interação).
58
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
b. DETECÇÃO DA ENZIMA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE INDUZÍVEL (INOS) NA
INTERAÇÃO COM MACRÓFAGOS MURINOS ATIVADOS
A visualização da imunomarcação da iNOS por microscopia confocal de fluorescência
revelou que a enzima iNOS, responsável pela síntese de óxido nítrico nos macrófagos,
encontrava-se expressa e ativa em todas as condições testadas (Figura 27).
Figura 27: Microscopia ótica de contraste de fase, e confocal para imunodetecção de
iNOS. Nota-se que a iNOS foi detectada por imunomarcação em todas as condições
experimentais (barras=10 µm).
Contraste de fase
59
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
17. CITOTOXICIDADE DE INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE MELANINA EM
MODELOS CELULARES DE MAMÍFEROS
a. ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE
O ensaio de verificação de citotoxicidade do triciclazol foi realizado em 3 linhagens
celulares e os resultados indicam que o triciclazol tem baixa toxicidade, já que as CC50 foram
de 566,7 µg/mL para células Caco-2 e HeLa, e 600 µg/mL para células B16F10. A anfotericina
B teve sua citotoxicidade cerca de 20 vezes superior em comparação ao triciclazol, tendo sido
essa determinada em 30 e 26,8 µg/mL para HeLa e B16F10, respectivamente.
b. EFEITO DO TRICICLAZOL NA MELANOGÊNESE DE CÉLULAS B16F10
A melanogênese de células de melanoma murino B16F10 foi avaliada pela
quantificação da melanina produzida por essas células em presença de diferentes
concentrações de triciclazol (Figura 28). Os resultados sugerem que não houve modificação
na quantidade de melanina produzida pelas células nas concentrações de triciclazol testadas,
determinada pelo teste de one way
ANOVA (P=0,34).
Figura 28: Gráfico da quantidade
de melanina extraída de células B16F10
após tratamento destas com crescentes
concentrações de triciclazol.
60
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
18. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA AMBIENTAL
Pela técnica de microscopia eletrônica de varredura ambiental, e com o realce
promovido pela colorização computadorizada, foi possível observar a presença de células
escleróticas sobre o tecido infectado da biópsia, além de detalhes celulares como células em
aparente divisão e septos característicos de células escleróticas (Figura 29).
Figura 29: MEV de lesão de cromoblastomicose. (A) associação de células escleróticas
(verdes; setas brancas) a aglomerado celular (sépia). (B) células escleróticas (setas brancas)
em associação a tecido de aparência granulomatosa. (C) célula esclerótica (verde, seta) sobre
tecido queratinoso (sépia). (D) células escleróticas (verdes) com marcas de divisão (seta
branca) inseridas em tecido cutâneo (sépia).
61
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Discussão
A cromoblastomicose é uma doença crônica, endêmica no Brasil, causada pelo fungo
Fonsecaea pedrosoi. Atualmente, não existe tratamento padrão para esta doença, e a literatura
sobre tratamentos e descrições de casos clínicos também reporta a freqüente reincidência
poucos anos após o fim do tratamento (LOPEZ MARTINEZ e MENDEZ TOVAR, 2007;
SANTOS, PALMEIRA et al., 2007).
A literatura descreve a histopatologia da lesão como possuindo um caráter de fibrose,
granulomatoso e inflamatório, com a presença de infiltrados celulares de macrófagos (na
derme = histiócitos), neutrófilos, fibroblastos, queratinócitos e células gigantes (macrófagos
fusionados) (HAMZA, MERCADO, SKELTON et al., 2003; LOPEZ MARTINEZ e
MENDEZ TOVAR, 2007). Não aparecem, porém, em estudos histopatológicos, descrições de
adipócitos, principais componentes da camada subcutânea. Curiosamente a
cromoblastomicose é definida como uma micose subcutânea (LOPEZ MARTINEZ e
MENDEZ TOVAR, 2007; SANTOS, PALMEIRA et al., 2007), mesmo sendo a lesão
limitada à epiderme e derme, camadas do tecido cutâneo (pele).
MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)
Até o momento, o único estudo em microscopia eletrônica de varredura de amostras de
lesão de cromoblastomicose por F. pedrosoi se limitou a observar raspados de lesão, tratados
com solução alcalina para remoção de células da epiderme (HARADA e KUSUNOKI, 1983).
O processamento convencional para MEV, com fixação, pós-fixação, secagem e metalização;
métodos físico-químicos que são danosos ao material, revelou nessas observações algumas
características das células escleróticas, como o formato arredondado e marcas de reprodução
por septação interna.
62
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
A metodologia de observação por MEV ambiental utilizada nesta tese permitiu uma
visão mais próxima do estado real da lesão no paciente. Primeiramente, o material de biópsia
de epiderme e derme é mais complexo que um raspado de borda de lesão, possuindo camadas
mais internas do tecido lesionado além da superfície queratinosa do stratu corneum da pele. A
MEV ambiental, baseada em observação do material com poucas etapas de processamento
físico/químico, não afetou a integridade tecidual. Nossas observações mostraram a dispersão
de células escleróticas no tecido infectado, a presença de células em camadas superficiais
queratinosas e em camadas mais internas, onde é possível sugerir a presença de granuloma, e
ainda, células escleróticas entre células do tecido da derme, sugerindo o crescimento
concomitante do fungo e de células do hospedeiro.
Nossos resultados sugerem que este método de observação deve ser encorajado para o
estudo de micoses superficiais e cutâneas por ser rápida, sem necessidade de tratamento
prévio do material, e revela a posição das células do fungo em relação à lesão e suas células.
Em experimentos futuros, em lesões de diferentes graus de evolução da doença e em
diferentes profundidades, aliados a técnicas de imunomarcação, poderemos com detalhes da
ordem de micrômetros, definir as células do hospedeiro envolvidas na formação das lesões e a
formação e crescimento das células escleróticas in vivo.
F. PEDROSOI E MELANINA
F. pedrosoi é um interessante modelo de estudo, por, além de ser o principal agente
causador de cromoblastomicoses, este fungo expressa enzimas, é termotolerânte, é dimorfico,
possui adesinas e produz melanina de forma constitutiva. Essas características são associadas
à virulência desse fungo na cromoblastomicose (SANTOS, PALMEIRA et al., 2007). Tais
fatores também costumam ser descrito como relevantes fatores de virulência presentes em
outros fungos patogênicos (CASADEVALL, 2006).
63
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
A melanina mereceu destaque nos estudos que utilizaram F. pedrosoi como modelo em
conseqüência de sua função protetora na evasão do sistema imune (levantados na tabela 1,
página: 9) Sua via de biossíntese nesse fungo também merece destaque, pois sugeriu um
mecanismo de síntese em organelas especializadas (melanossomos) ultraestruturalmente
semelhante entre fungos, anfíbios e humanos, ainda que as etapas bioquímicas da síntese
sejam diferentes entre animais e F. pedrosoi (FRANZEN, CUNHA et al., 2008).
Em 2005 caracterizamos a inibição da via de biossíntese da melanina em F. pedrosoi
como pentacetidea (DHN), pelo uso do triciclazol, um inibidor seletivo desta via em fungos, e
da L-DOPA , composto inicial da via da DOPA, corroborando os experimentos de Taylor e
colaboradores que detectaram por cromatografia de camada fina a formação de intermediários
da via DHN em F. pedrosoi (TAYLOR, WHEELER e SZANISZLO, 1987).
O triciclazol tem sido ferramenta no estudo de eventos relacionados à presença ou
síntese de melanina em fungos patogênicos como E. dermatitidis, Curvalaria lunata,
Cladosporium cladosporioides, S. schenkii e F. pedrosoi (WHEELER e STIPANOVIC, 1985;
LATGE, BOUZIANE e DIAQUIN, 1988; ROMERO-MARTINEZ, WHEELER et al., 2000;
LANISNIK RIZNER e WHEELER, 2003; CUNHA, FRANZEN et al., 2005; FRANZEN,
CUNHA et al., 2006). Nesta tese buscamos elucidar algumas características da melanina
produzida normalmente pelo fungo em meio de cultura, comparando-a isoladamente e como
componente estrutural do fungo, ao pigmento produzido e extraído do fungo cultivado com
triciclazol.
CARACTERIZAÇÃO DA MELANINA
A ressonância paramagnética eletrônica revelou em espectros da melanina-controle e da
melanina-triciclazol de F. pedrosoi semelhanças ao proposto pela literatura com estudo em
melanina de C. neoformans e B. dermatitidis (WANG, AISEN et al., 1996; NOSANCHUK,
64
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
VAN DUIN, MANDAL et al., 2004). A caracterização por EPR mostrou que ambos os
pigmentos absorvem na região próximas a 3480 gauss, o que sugere a presença de centros
paramagnéticos na molécula, ou seja, elétrons desemparelhados (radicais livres), porém em
intensidade maior na melanina controle.
Sabe-se que o ferro tem propriedades magnéticas, sendo paramagnético nas formas
elementar (Fe0) e no estado de oxidação trivalente (Fe+3), e diamagnético quando divalente
(Fe+2). Nesta tese, o estado de oxidação do ferro utilizado como nutriente nos experimentos e
nas condições de cultivo do fungo foi Fe+3, com o uso do citrato férrico amoniacal. Já foi
demonstrado que melaninas de fungos são capazes de reduzir Fe+3 a Fe+2, e que o seqüestro
desse íon pela melanina pode, impedir substancialmente a formação de radicais oxidativos
quando em reação com H2O2, o que protegeria o fungo desse agente oxidante (JACOBSON e
HONG, 1997).
Em F. pedrosoi, já foi utilizada a citoquímica com ferritina cationizada para evidenciar
diferenças de carga de superfície do fungo tratado, ou não, com triciclazol, mostrando uma
maior marcação na superfície do fungo-controle (CUNHA, FRANZEN et al., 2005). A
ferritina cationizada consiste no derivado catiônico N,N-dimetil-1,3-propanodiamina
conjugado a um complexo protéico com Fe+3. Comparando os resultados obtidos nesta tese,
com os publicados em 2005, é possível sugerir que a ligação da ferritina a parede do fungo
controle não seja somente resultado de cargas negativas - já descritas na superfície do fungo
pela presença de ácidos siálicos (SOUZA, SILVA-FILHO, DE SOUZA et al., 1986)- mas
também se deve à melanina, presente na parede, atuando na redução do Fe+3 desse composto.
Dados de microanálise de Raios X e mapeamento elementar em microscopia eletrônica
de transmissão sugeriram que F. pedrosoi, crescido em presença de triciclazol, não apresenta
quantidades detectáveis de ferro em sua parede ou organelas citoplasmáticas (FRANZEN,
65
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
2005). Fato também visto no fungo crescido na ausência de fonte de ferro, em contraponto ao
fungo controle que apresentou ferro na parede celular e dentro de melanossomos (FRANZEN,
CUNHA et al., 2008).
A melanina-controle e a melanina-triciclazol são pigmentos semelhantes, como sugerido
pelas caracterizações por espectrofotometria de infravermelho, EPR e ressonância magnética
nuclear (CUNHA, 2005). Porém, algumas diferenças foram notadas em todos esses
experimentos, sugerindo modificações químicas ou estruturais, as quais possivelmente eram
responsáveis pelas características atenuadas de virulência do fungo quando crescido com
triciclazol (CUNHA, FRANZEN et al., 2005; FRANZEN, CUNHA et al., 2006). Como o
ferro não esta presente no fungo-triciclazol (FRANZEN, 2005), e não tendo a melanina-
triciclazol as mesmas propriedades paramagnéticas da melanina-controle, pode-se sugerir que
o paramagnetismo é atribuído ao ferro. A presença de ferro na melanina de F. pedrosoi
(FRANZEN, 2005) e os dados de paramagnetismo por EPR descritos nesta tese sugerem que
a melanina pode estar incorporando o ferro a sua estrutura como Fe+3, ou como Fe+2, ao
reduzir o Fe+3 do meio. Contudo, é mais provável de que a espécie de ferro detectada em
nossos experimentos de EPR seja a de Fe+3, por já estar descrito as alterações de sinal de EPR
em outras melaninas na presença deste cátion (SANDRA S. EATON, 2004). Experimentos
em melanina de C. neoformans (JACOBSON e HONG, 1997) sugeriram que a melanina
funciona como um tampão redox, variando seus estados de oxidação conforme os estímulos
oxidativos e redutores do seu ambiente químico. Desta forma é possível que a melanina
maximize seu potencial antioxidante ao reduzir o Fe+3 a Fe+2, garantindo o equilíbrio redox do
seu microambiente químico, minimizando a oxidação de estruturas fundamentais ao
crescimento do fungo.
66
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Experimentos de EPR de saturação de potência, ou seja, variando o campo magnético
sobre a amostra, revelaram que a intensidade da melanina controle é mais de duas vezes
superior a do triciclazol, sugerindo que a melanina controle possui mais interações
intramoleculares, e potencialmente com estruturas que possam estar associadas, ou nas suas
redondezas, e por isso seria mais compacta. Este dado corrobora ao visto na relação
peso/volume dos pigmentos, na qual a melanina-controle apresentava um volume 3 vezes
menor que o da melanina-triciclazol (CUNHA, 2005).
Resultados anteriores de nosso grupo mostraram que a parede celular de F. pedrosoi foi
severamente modificada quando o fungo foi cultivado com triciclazol, tendo sua espessura
aumentada em conídios, e sua forma alterada em células escleróticas (FRANZEN, CUNHA et
al., 2006).
Experimentos com melanina produzida por C. neoformans, biossintetizada a partir de L-
dopa, revelaram que, com este precursor, a melanina é formada por polimerização e possuí
anéis aromáticos. Submetendo esse fungo a exaustivos processos para extração físico-química
e enzimática da melanina resultam-se nos ghosts (WANG, AISEN et al., 1996), e a análise
destes por ressonância magnética nuclear de estado sólido – atualmente a técnica mais
avançada de análise de composição química de alguma substância – revelou a presença de
açúcares no polímero, sugerida como ligações covalentes da melanina aos polissacarídeos da
parede celular (ZHONG, FRASES et al., 2008). Com base nessas informações podemos
concluir que a melanina é um fator determinante da estrutura e forma da parede celular dos
fungos por interagir covalentemente com seus componentes (açúcares).
Os experimentos de espectrofotometria no ultravioleta dos pigmentos em solução
sugerem que a melanina-controle absorve mais radiação UV-B e UV-C que a mesma
concentração de melanina-triciclazol.
67
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
A cromoblastomicose é de ocorrência tropical, mais precisamente em regiões da Terra
que estão próximas à linha do Equador, áreas de maior incidência de raios UV vindos do sol.
Devemos considerar a melanina como um fator contribuinte para a resistência a exposição a
radiação solar, e conseqüente resiliência evolutiva dos seres vivos na Terra. Como proposto
para a distribuição de melanina no gênero homo, com representantes de pele mais clara
provenientes de regiões temperadas, e negros nas áreas tropicais (JABLONSKI, 2006). Essa
mesma pressão seletiva pode ter ocorrido na história evolutiva dos fungos, e a alta incidência
de cromoblastomicose em áreas tropicais pode estar relacionada à presença de fungos
melanizados nessas áreas.
A radiação UV-C do sol não penetra na atmosfera terrestre, o que permitiu a presença
de vida na forma que conhecemos na Terra, já que o ADN absorve UV na região UV-C, e por
isso estas freqüências de radiação são letais à célula. Comprimentos de onda na faixa de UV-
B incidem fracamente sobre o planeta, porém, em quantidade o suficiente para, em áreas
tropicais, de maior incidência, causar danos celulares graves, como queimaduras e câncer.
Essa incidência de UV-B pode ter sido determinante para a resistência e resiliência de fungos
produtores de melanina na natureza, já que a melanina em estruturas mais externas, como a
parede celular, absorveria a radiação e protegeria as estruturas internas.
No espectro de UV mostrado nesta tese notamos que a curva da melanina-controle
apresenta 3 picos (264, 273 e 284 nm), sugerindo uma heterogeneidade desse composto,
talvez por estar associado a outras moléculas da parede celular como sugerido por Zhong e
colaboradores (2008).
A melanina parece conferir mais que proteção a radiação em F. pedrosoi além dos
estudos já descritos sobre resistência a mecanismos da resposta imune do hospedeiro. Nossos
experimentos com espectroscopia de força atômica em fungos inteiros revelaram que a
68
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
melanina-controle atribui ao F. pedrosoi maior resistência a pressão e a deformação,
conferindo rigidez.
Na natureza, essa resistência à pressão é descrita como importante para fungos
fitopatogênicos, a exemplo de Magnaporthe grisea, já que deve haver penetração em folhas
rígidas para haver infecção. A invasão é feita ativamente pelo próprio fungo, que gera uma
alta pressão intracelular (conhecida como pressão de turgor) pelo acúmulo de glicerol e,
assim, força sua estrutura e penetra folha. Ainda é descrito que a ausência de melanina nesse
fungo impede a formação de uma rígida estrutura capaz de penetrar no vegetal (HOWARD e
VALENT, 1996; JACOBSON, 2000).
Dados anteriores (CUNHA, FRANZEN et al., 2005) mostraram que F. pedrosoi tratado
com triciclazol, na interação com macrófagos murinos ativados, não foi resistente à lise
mecânica, enquanto o fungo-controle mostrou-se resistente, tanto na forma de conídios quanto
hifas. Dados que corroboram os experimentos de espectroscopia de força atômica realizados
nesta tese que sugerem a fragilidade estrutural decorrente na interrupção na biossíntese de
melanina desse fungo.
ANTIFÚNGICOS E MELANINA
Buscamos avaliar a interferência do triciclazol na via de biossíntese da melanina em F.
pedrosoi e a susceptibilidade a antifúngicos. Observamos que testes como os ensaios
sugeridos pelo CLSI, como normas para a determinação de susceptibilidade a antifúngicos,
não tiveram sensibilidade para a detecção de diferenças na resistência aos antifúngicos entre
fungos melanizados ou não.
Experimentos em C. neoformans, H. capsulatum e P. brasiliensis, têm sugerido que
melaninas fúngicas promovem a resistência do fungo ao tratamento com antifúngicos. Estes
69
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
trabalhos também indicaram a falta de sensibilidade do método CLSI para tais verificações.
Chamados, pelos autores, de testes de “time-kill” ou “killing”, a aplicação de antifúngicos, em
uma cinética temporal definida, e em condições de melanização fúngica ou não, seguido de
plaqueamento do fungo em meio sólido e contagem de colônias, revelaram a interferência da
melanina na ação dos antifúngicos, sugerindo a resistência de fungos melanizados aos
mesmos (VAN DUIN, CASADEVALL e NOSANCHUK, 2002; DA SILVA, MARQUES,
NOSANCHUK et al., 2006).
Em nossa adaptação desses experimentos de “time-kill/killing”, chamadas nesta tese
como “experimentos de crescimento após exposição aos antifúngicos”, a contagem de
colônias era imprecisa e resultava em um número maior de colônias sob concentrações mais
altas de antifúngico. Como foi observada uma diminuição coerente da área crescida sobre o
meio sólido, do conseqüente incremento das concentrações de antifúngicos, relacionamos a
falta de resolução da contagem de colônias à possibilidade do crescimento maior de algumas
colônias mascararem colônias próximas, já que F. pedrosoi é um fungo filamentoso de
crescimento lento.
A medição das áreas de crescimento foi possível pela adaptação de metodologias
usualmente aplicadas em microscopia eletrônica para morfometria celular. A placa onde foi
inoculado o fungo foi digitalizada, processada digitalmente e convertida em uma imagem
binária, com valores de branco e preto, sendo o branco referente somente as colônias, e preto
a todo o resto. Na escala de tons de cinza, em uma imagem digital em tons de cinza de 8 bits,
o branco tem o valor numérico de 255, e o preto, 0. A análise digital pelo software Image J
(NIH) conta em uma determinada área quantos pixels (menor unidade de uma imagem) são
branco (ou 255) e quantos são pretos (0) e divide esse valor pela área. Assim se obtêm um
valor relativo à área de ocupação da colônia, ou, como definimos, ao crescimento. Como a
70
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
área utilizada (diâmetro interno do poço de uma placa de 96 poços) para medirmos as colônias
foi exatamente à mesma para todos os experimentos, devido à possibilidade de armazenar
esse parâmetro de medição no “Image J”, e de todas as placas utilizadas nos experimentos
terem sido digitalizadas na mesma resolução, as medidas realizadas são comparáveis.
Esse tipo de processamento permitiu a otimização experimental e a análise de várias
replicatas por experimento, aumentando o espaço amostral e assim, a precisão estatística dos
resultados observados.
Com este método avaliamos a influência do tratamento do fungo F. pedrosoi tratado
com triciclazol no crescimento após contato com antifúngicos (cepa laboratorial e 4 isoladas
recentemente), e a influência desse inibidor de melanina na resistência de F. pedrosoi à alta
temperatura (42 °C), ao frio (-20 ºC), ao frio conjugado a antifúngicos, a variações osmóticas
(NaCl), a detergente (SDS) e a agentes oxidantes (H2O2 e NO).
Nossos experimentos com os antifúngicos anfotericina B, itraconazol e terbinafina
mostraram um crescimento superior do F. pedrosoi-controle em comparação ao crescimento
do fungo-triciclazol. Isto também foi observado nos 4 recentes isolados de F. pedrosoi. A
inibição da via de biossíntese de melanina neste fungo aumentou a sua susceptibilidade a
antifúngicos.
Foi interessante comparar o crescimento dos isolados recentes com a cepa laboratorial,
sem a presença dos antifúngicos, e notar que 3 de 4 isolados recentes tinham o crescimento
em presença de triciclazol bastante reduzido. Cepas laboratoriais têm sido descritas como
atenuadas, por crescerem em temperaturas e meios ideais, não sofrendo estresses que possam
sinalizar para vias metabólicas que favoreçam ou acelerem o crescimento. Estes isolados
recentes de F. pedrosoi foram obtidos de pacientes em tratamento e com lesões de
características diferentes (Página 27, Tabela 3). Para a maioria desses isolados a inibição da
71
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
via de biossíntese da melanina foi o suficiente para causar uma diferença no crescimento.
Sabe-se que células escleróticas, as formas encontradas na lesão, são mais pigmentadas que
conídios e hifas, e é possível que a melanina seja um fator importante durante a infecção,
onde o fungo tenha seu metabolismo de melanina sinalizado e estimulado na célula de forma
preferencial. Ao inibirmos esta síntese, a desregulação da via metabólica preferencial acaba
por influenciar o crescimento (ALVIANO, FRANZEN et al., 2004; PALMEIRA, KNEIPP,
ALVIANO et al., 2006).
CALOR, FRIO, ESTRESSES CELULARES E MELANINA
Um dos tratamentos propostos para a cromoblastomicose é o uso de aplicações de calor,
aumentando a temperatura local. Nossos estudos, utilizando o método de análise de área de
crescimento, sugeriram que a melanina não tem relação com a resistência ao calor, mas sim
que o calor (42 °C / 1 h) causa uma diminuição do crescimento do fungo.
O tratamento a baixa temperatura (-20 ºC/ 24 h) não interferiu no crescimento do fungo,
mas o triciclazol e os antifúngicos testados (anfotericina B e itraconazol) por si só resultaram
em diferenças significativas de crescimento. Uma das modalidades de tratamento de
cromoblastomicoses é a criocirurgia em conjunção ao tratamento quimioterápico. A literatura
sugere que o frio atue sobre o sistema imune do hospedeiro, ativando-o para a resolução da
infecção (CASTRO, PIMENTEL et al., 2003). Em nossos experimentos, verificamos que a
associação de baixa temperatura e antifúngicos é o suficiente para reduzir o crescimento do
fungo. Pode-se sugerir que a redução na temperatura reduz a velocidade metabólica do fungo,
sendo este menos capaz de reparar os danos causados pela ação do antifúngico.
Observamos também a resistência do fungo a variações osmóticas, pelo incremento de
concentrações molares de cloreto de sódio. Nesta situação a melanina pareceu contribuir para
a resistência do fungo.
72
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Em experimentos com o detergente SDS, na menor concentração de SDS empregada
(0,005 M) notamos um maior crescimento do fungo-controle em relação ao fungo-triciclazol.
Nessa concentração o crescimento também foi maior ao fungo-controle sem SDS.
Observamos esse mesmo comportamento em relação à menor concentração avaliada de
anfotericina B (seção Resultados, Figura 15). Tanto a anfotericina B, como o SDS, atuam
provocando a desestabilização da membrana plasmática. A anfotericina B liga-se ao
ergosterol da membrana, formando poros, já o SDS emulsiona os lipídios da membrana
plasmática, possivelmente também resultando em poros. Em ambas as situações, a membrana
celular é desestabilizada e o conteúdo intracelular é extravasado.
Esse tipo de estresse pode mobilizar proteínas heat shock que promovem a transcrição
de genes relacionados a funções metabólicas e de reparo, justificando o crescimento
exacerbado observado em nossos experimentos (COWEN, 2008).
MELANINA DE F. PEDROSOI COMO AGENTE ANTIOXIDANTE
Melaninas são usualmente definidas como compostos antioxidantes, característica
atribuída à composição aromática (fenólica e indólica) de suas unidades. Em C. neoformans a
melanina já foi descrita como um tampão de oxi-redução do fungo, tendo sua propriedade
(oxidada ou reduzida) dependente de sinais promovidos pelo fungo ou por estímulos
oxidativos externos (JACOBSON e HONG, 1997). Em A. fumigatus foi sugerido que a
melanina tem capacidade antioxidante, definida pela não oxidação de ácido 2-nitrobenzóico
em presença dos agentes oxidantes H2O2 e hipoclorito.
Em nossos experimentos avaliamos a atividade antioxidante da célula inteira, ainda
viável, sendo a variável experimental a inibição prévia da biossíntese de melanina pelo
triciclazol. Nossos resultados sugeriram uma maior atividade antioxidante do fungo-controle.
Sabe-se que há uma grande diversidade de mecanismos antioxidantes possuídas pelos fungos,
73
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
como superóxido dismutases, catalases, peroxidases, glutationa redutases, tioredoxinas e
manitol (GESSLER, AVER'YANOV e BELOZERSKAYA, 2007). No fungo-triciclazol,
mesmo considerando a compensatória superexpressão de alguns desses mecanismos, a
atividade antioxidante foi inferior a do fungo-controle, sugerindo um papel importante para a
melanina na proteção contra agentes oxidantes em F. pedrosoi.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ÓXIDO NÍTRICO
O óxido nítrico é um gás, principal mediador citotóxico de células imunes efetoras
ativadas, e constitui a mais importante molécula reguladora do sistema imune. A síntese do
óxido nítrico resulta da oxidação de um dos dois nitrogênios guanidino da L-arginina,
convertida a L-citrulina. Em macrófagos e neutrófilos, após indução por citocinas e/ou
endotoxinas, esta reação é catalisada pela enzima i-NOS (oxido nítrico sintase induzível. O
óxido nítrico reage diretamente com metais (especialmente o ferro) presentes nas enzimas do
seu alvo e as inativa, impedindo processos essenciais de respiração e proliferação celular. Na
infecção, macrófagos e neutrófilos ativados secretam simultaneamente óxido nítrico e
intermediários reativos do oxigênio. Sua ação citotóxica consiste, principalmente, na reação
com intermediários do oxigênio como o ânion superóxido (O-2) resultando na formação de
peroxinitrito (ONOO-), que atua na oxidação de proteínas. Este pode ser protonado na
presença de íon hidrogênio (H+), gerando o radical reativo e tóxico hidroxil (HO.),
aumentando efetivamente a ação tóxica do óxido nítrico. (DUSSE, VIEIRA e CARVALHO,
2003).
Em experimentos com H. capsulatum em modelos murinos, o óxido nítrico já foi
descrito como um importante fator para a contenção do crescimento intracelular (LANE,
OTERO, WU-HSIEH et al., 1994; LANE, WU-HSIEH e HOWARD, 1994). Hifas de C.
albicans foram descritas como susceptíveis a óxido nítrico (BLASI, PITZURRA, PULITI et
74
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
al., 1995). O óxido nítrico também foi apontado como um fator de proteção do hospedeiro
contra C. neoformans (ROSSI, CERVI, GARCIA et al., 1999), sendo que esse fungo, quando
melanizado, é mais resistente ao óxido nítrico quimicamente gerado (WANG e
CASADEVALL, 1994).
Em S. schenkii, fungo cuja via de biossíntese de melanina é a mesma de F. pedrosoi, foi
demonstrado que os mecanismos oxidativos de procedência imune (superóxido e peróxido de
hidrogênio) não contribuíam para a redução na viabilidade de conídios e leveduras desse
fungo, e que somente o óxido nítrico, também produzido in vivo, era efetivo (FERNANDES,
COELHO, LOPES BEZERRA et al., 2000).
Já foi sugerido em modelo de infecção em murinos que F. pedrosoi estimula a síntese
de H2O2 por macrófagos (BOCCA, BRITO, FIGUEIREDO et al., 2006). Nesse mesmo
trabalho é atribuída à melanina uma capacidade de inibição da síntese de óxido nítrico, em
virtude baixos níveis detectados de nitrito em interações com macrófagos murinos ativados
com IFN-γ e LPS. Em experimentos de nosso grupo (FRANZEN, 2005), também foram
notados baixos níveis de nitrito em experimentos de interação com macrófagos murinos e,
interessantemente, níveis mais altos (em 24 h de interação) quando o fungo inoculado havia
crescido com triciclazol.
A enzima iNOS nos macrófagos, e a L-arginina, presente no meio de interação RPMI-
1640, são os únicos requerimentos para a síntese de óxido nítrico em macrófagos (DUSSE,
VIEIRA et al., 2003). Detectamos a presença da iNOS na interação de macrófagos com F.
pedrosoi, e concluímos que o fungo, mesmo melanizado, não inibe a síntese de óxido nítrico.
As propriedades de resistência do F. pedrosoi-controle ao óxido nítrico, derivado do doador
SNAP, e propriedade antioxidante do fungo-controle, nos faz sugerir que a melanina do fungo
atue como uma molécula seqüestradora, impedindo os efeitos oxidativos do óxido nítrico ou
75
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
da reação deste com outros agentes, que formariam radicais com potenciais oxidativos ainda
mais deletérios ao fungo.
O alargamento da parede celular de conídios de F. pedrosoi em presença de triciclazol
(FRANZEN, CUNHA et al., 2006) em conjunto a maior liberação de óxido nítrico pelo
fungo-triciclazol na interação com macrófagos (FRANZEN, 2005) sugerem que ocorre uma
maior exposição de açúcares, que são conhecidos ativadores de resposta inflamatória,
liberando mais óxido nítrico, por interagir com receptores de glucana ou TLR em macrófagos
(KATAOKA, MUTA et al., 2002). Desta forma conclui-se que a melanina não somente é um
importante constituinte da parede celular do fungo, mas que a ligação da melanina com a
parede celular é predominante o suficiente para modificar a exposição de carboidratos na
parede celular, ou ainda, que os carboidratos da superfície celular em F. pedrosoi poderiam
ser marcarados por ela.
O H2O2, principalmente liberado por neutrófilos, foi sugerido como possuindo atividade
fungicida a F. pedrosoi, sendo um importante agente reativo liberado pelo sistema imune para
controle da infecção (ROZENTAL, ALVIANO e DE SOUZA, 1996). Nesta tese detectamos
uma menor susceptibilidade do fungo-controle a exposição de H2O2 em relação ao fungo-
triciclazol.
A literatura vem apresentando resultados complementares em relação à melanina em F.
pedrosoi. Métodos diferentes de isolamento desse pigmento, seja pela solubilização em
NaOH seguido de precipitação ácida (ALVIANO, FARBIARZ et al., 1991), ou por digestão
enzimática, seguida de solventes orgânicos, detergente e tratamento com ácido quente dos
fungos (ALVIANO, FRANZEN et al., 2004), resultaram em padrões diferentes de ativação de
células do sistema imune. Restringindo essas observações aos macrófagos, foi descrito que a
melanina, isolada de acordo com Alviano e colaboradores (1991), é capaz de reduzir a
76
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
resposta oxidativa sobre F. pedrosoi e S. cerevisiae em interação com macrófagos
(FRANZEN, 2005; BOCCA, BRITO et al., 2006). Em contradição, experimentos com a
melanina isolada conforme Alviano e colaboradores (2004) mostraram a ativação da resposta
oxidativa e um aumento da capacidade fagocítica de macrófagos na presença do dessa.
Como a melanina que isolamos de fungos está associada a carboidratos da parede
celular (CUNHA, FRANZEN et al., 2005; CUNHA, 2005; ZHONG, FRASES et al., 2008), é
possível que a purificação deste enigmático polímero não tenha atingido o grau de pureza
necessário para desvincularmos a ativação do sistema imune detectada em modelos de
infecção, a presença desses açúcares, conhecidos ativadores de resposta oxidativa em
macrófagos (KATAOKA, MUTA et al., 2002).
Podemos considerar que as formas de isolamento da melanina atualmente utilizadas não
resultam em uma fração pura do polímero, dificultando a caracterização de seus efeitos em
modelos de estudo disponíveis. Entretanto, esta limitação não invalida o seu uso na análise da
melanina como fator de virulência. Parece mínima a probabilidade da liberação e
apresentação da melanina pelo F. pedrosoi estar totalmente desvinculada de algum
carboidrato. A associação da melanina, ou diferentes tipos de associação desta, com as
estruturas de superfície do fungo, poderiam ter diferentes resultados na ativação e
direcionamento imune, definindo-as como majoritariamente TH1 ou TH2, possivelmente
participar até dos mecanismos que definem a gravidade das lesões ou a cronicidade da
doença. Mais importante ainda seriam os estudos de compostos capazes de atuar na via de
biossíntese de melanina, in vitro e in vivo, e os efeitos da inibição dessa via na resolução da
infecção ou no direcionamento da resposta imune.
77
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Contudo, certamente seria valiosa a obtenção da melanina purificada para aplicações em
biotecnologia, por ser um pigmento capaz de conferir diversas formas de resistência a
materiais e a outros compostos poliméricos.
CITOTOXICIDADE DO TRICICLAZOL E DE OUTROS INIBIDORES DA VIA DE BIOSSÍNTESE DA
MELANINA
A melanina vem sendo extensamente demonstrada como um fator de virulência em
fungos. Nesta tese verificamos a inibição na biossíntese de melanina pelo triciclazol nos
fungos patogênicos F. pedrosoi, P. verrucosa, C. carrioni, Exophiala dermatitidis, E.
jeanselmei e A. fumigatus pela modificação da coloração da colônia.
Seria de grande interesse para o tratamento de infecções fúngicas, que a inibição da via
de biossíntese da melanina, in vivo, fosse capaz de eliminar algumas características de
virulência do patógeno, não interferindo nas características do paciente, o que permitiria um
tratamento mais eficaz. Uma primeira abordagem nesse rumo foi realizada nesta tese com
testes em modelos celulares de humanos da citotoxicidade do triciclazol e de outros inibidores
da via de DHN-melanina (carpropamida e piroquilona). Nossos resultados indicaram que
esses compostos possuem uma baixa citotoxicidade em modelos in vitro, cerca de 20 vezes
menores que a anfotericina B. Em testes com uma linhagem celular produtora de melanina
(melanócitos murinos B16F10), os resultados foram semelhantes. Ainda sobre as células
B16F10, realizamos experimentos que sugeriram que a síntese de melanina dessas células não
sofria alteração com o tratamento com altas concentrações de triciclazol. Esses dados sugerem
que testes em maior escala são indicados para esses compostos, já que existe neles um
potencial para o desenvolvimento de fármacos, baseados na inibição da via de biossíntese de
fungos patogênicos.
78
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Interessantemente, a utilização recorrente de triciclazol em cultivares agrícolas, por
mais de 30 anos seguidos, não diminuiu sua eficiência ou gerou cepas de fungos resistentes
(KURAHASHI, 2001).
CONSIDERAÇÕES PARA O FUTURO
Um passo importante na descoberta de novos fármacos baseados na inibição da via de
biossíntese de melanina em fungos negros é a determinação e caracterização das enzimas alvo
da via, e estudos in virtuo de acoplamento de potenciais IBM com essas enzimas. Já foram
descritas diversas moléculas com estruturas semelhantes ao triciclazol, com pequenas
variações nas ramificações dos anéis aromáticos (Anexo 1). Existindo estruturas “tipo-
triciclazol” já determinadas, testes com essas substâncias (nota: algumas dessas já estão sendo
testadas em screening de substâncias anti-HIV e câncer) nos aproximam da identificação de
um inibidor de DHN-melanina em fungos, com funcionalidade a seres humanos.
Depois de identificados os compostos que bloqueiem a síntese de melanina em fungos
patogênicos, e não em humanos (nem sendo tóxicos a estes), seria possível sua administração
combinada a antifúngicos, como o itraconazol ou a terbinafina. Ademais, a associação de
formulações antifúngico-IBM a estruturas nanoméricas como lipossomas, fulerenos ou
dendrímeros, potencializariam a utilização e o sinergismo desses, melhorando a
farmacocinética e minimizando a toxicidade do tratamento de micoses causadas por fungos
produtores de melanina.
79
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Conclusões
• A microscopia eletrônica de varredura ambiental é uma interessante ferramenta
aplicável ao estudo da morfologia tecidual da cromoblastomicose.
• Em F. pedrosoi, a melanina confere resistência à pressão, radiação UV, altas
concentrações de sal, detergente e aos radicais oxidativos peróxido de hidrogênio e óxido
nítrico.
• A melanina de F. pedrosoi é paramagnética e antioxidante.
• Em F. pedrosoi, o mecanismo do fungo para evasão da ação do óxido nítrico em
interação com macrófagos é por seqüestro desse radical pela melanina, e não pela inibição de
sua síntese.
• A inibição da via de biossíntese da melanina pelo triciclazol aumentou a
susceptibilidade de F. pedrosoi a antifúngicos.
• A alta temperatura (42 °C) reduziu o crescimento de F. pedrosoi.
• O congelamento de F. pedrosoi (-20 °C) não alterou o crescimento do fungo, mas a
associação de baixa temperatura e antifúngicos inibiu o seu crescimento.
• A citotoxicidade do triciclazol para culturas de células humanas e murina foi 20 vezes
menor que a do antifúngico anfotericina B.
• Triciclazol não afetou a via de síntese de melanina em modelo de melanócitos
murinos.
• A metodologia de avaliação de crescimento do fungo por medição da área de
crescimento com o uso de softwares convencionais mostrou-se relevante, útil, e de baixo
custo, para ensaios com fungos filamentosos.
80
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
Bibliografia
AFELTRA, J. e VERWEIJ, P. E. Antifungal activity of nonantifungal drugs. Eur J Clin Microbiol Infect Dis, v.22, n.7, Jul, p.397-407. 2003. ALVIANO, C. S., FARBIARZ, S. R., DE SOUZA, W., ANGLUSTER, J. e TRAVASSOS, L. R. Characterization of Fonsecaea pedrosoi melanin. J Gen Microbiol, v.137, n.4, Apr, p.837-44. 1991. ALVIANO, C. S., FARBIARZ, S. R., TRAVASSOS, L. R., ANGLUSTER, J. e DE SOUZA, W. Effect of environmental factors on Fonsecaea pedrosoi morphogenesis with emphasis on sclerotic cells induced by propranolol. Mycopathologia, v.119, n.1, Jul, p.17-23. 1992. ALVIANO, D. S., FRANZEN, A. J., TRAVASSOS, L. R., HOLANDINO, C., ROZENTAL, S., EJZEMBERG, R., ALVIANO, C. S. e RODRIGUES, M. L. Melanin from Fonsecaea pedrosoi induces production of human antifungal antibodies and enhances the antimicrobial efficacy of phagocytes. Infect Immun, v.72, n.1, Jan, p.229-37. 2004. ALVIANO, D. S., KNEIPP, L. F., LOPES, A. H., TRAVASSOS, L. R., MEYER-FERNANDES, J. R., RODRIGUES, M. L. e ALVIANO, C. S. Differentiation of Fonsecaea pedrosoi mycelial forms into sclerotic cells is induced by platelet-activating factor. Res Microbiol, v.154, n.10, Dec, p.689-95. 2003. ALVIANO, D. S., RODRIGUES, M. L., ALMEIDA, C. A., SANTOS, A. L., COUCEIRO, J. N., SOARES, R. M., TRAVASSOS, L. R. e ALVIANO, C. S. Differential expression of sialylglycoconjugates and sialidase activity in distinct morphological stages of Fonsecaea pedrosoi. Arch Microbiol, v.181, n.4, Apr, p.278-86. 2004. BARTON, K., MILLER, D. e PFLUGFELDER, S. C. Corneal chromoblastomycosis. Cornea, v.16, n.2, Mar, p.235-9. 1997. BLASI, E., PITZURRA, L., PULITI, M., CHIMIENTI, A. R., MAZZOLLA, R., BARLUZZI, R. e BISTONI, F. Differential susceptibility of yeast and hyphal forms of Candida albicans to macrophage-derived nitrogen-containing compounds. Infect Immun, v.63, n.5, May, p.1806-9. 1995. BOCCA, A. L., BRITO, P. P., FIGUEIREDO, F. e TOSTA, C. E. Inhibition of nitric oxide production by macrophages in chromoblastomycosis: a role for Fonsecaea pedrosoi melanin. Mycopathologia, v.161, n.4, Apr, p.195-203. 2006. COLLOPY-JUNIOR, I., KNEIPP, L. F., DA SILVA, F. C., RODRIGUES, M. L., ALVIANO, C. S. e MEYER-FERNANDES, J. R. Characterization of an ecto-ATPase activity in Fonsecaea pedrosoi. Arch Microbiol, v.185, n.5, Jun, p.355-62. 2006. BONIFAZ, A., PAREDES-SOLIS, V. e SAUL, A. Treating chromoblastomycosis with systemic antifungals. Expert Opin Pharmacother, v.5, n.2, Feb, p.247-54. 2004.
81
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
BUTLER, M. J., GARDINER, R. B. e DAY, A. W. Fungal melanin detection by the use of copper sulfide-silver. Mycologia, v.97, n.2, Mar-Apr, p.312-9. 2005. CASADEVALL, A. Cards of Virulence and the Global Virulome for Humans. Microbes Infect, v.1, n.6, p.6. 2006. CASADEVALL, A. e PIROFSKI, L. A. The damage-response framework of microbial pathogenesis. Nat Rev Microbiol, v.1, n.1, Oct, p.17-24. 2003. CASTRO, L. G., PIMENTEL, E. R. e LACAZ, C. S. Treatment of chromomycosis by cryosurgery with liquid nitrogen: 15 years' experience. Int J Dermatol, v.42, n.5, May, p.408-12. 2003. CHIANG, L. Y., EJZYKOWICZ, D. E., TIAN, Z. Q., KATZ, L. e FILLER, S. G. Efficacy of ambruticin analogs in a murine model of invasive pulmonary aspergillosis. Antimicrob Agents Chemother, v.50, n.10, Oct, p.3464-6. 2006. COWEN, L. E. The evolution of fungal drug resistance: modulating the trajectory from genotype to phenotype. Nat Rev Microbiol, v.6, n.3, Mar, p.187-98. 2008. CUNHA, M. M., FRANZEN, A. J., ALVIANO, D. S., ZANARDI, E., ALVIANO, C. S., DE SOUZA, W. e ROZENTAL, S. Inhibition of melanin synthesis pathway by tricyclazole increases susceptibility of Fonsecaea pedrosoi against mouse macrophages. Microsc Res Tech, v.68, n.6, Dec 15, p.377-84. 2005. CUNHA, M. M. L. Caracterização da melanina do fungo patogênico Fonsecaea pedrosoi por métodos biofísicos e bioquímicos. Análise do efeito de inibidores de biossíntese de melanina, e avaliação da citotoxicidade destes à humanos em modelos in vitro. (Dissertação de Mestrado). Doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005. DA SILVA, J. P., ALVIANO, D. S., ALVIANO, C. S., DE SOUZA, W., TRAVASSOS, L. R., DINIZ, J. A. e ROZENTAL, S. Comparison of Fonsecaea pedrosoi sclerotic cells obtained in vivo and in vitro: ultrastructure and antigenicity. FEMS Immunol Med Microbiol, v.33, n.1, Mar 25, p.63-9. 2002. DA SILVA, M. B., MARQUES, A. F., NOSANCHUK, J. D., CASADEVALL, A., TRAVASSOS, L. R. e TABORDA, C. P. Melanin in the dimorphic fungal pathogen Paracoccidioides brasiliensis: effects on phagocytosis, intracellular resistance and drug susceptibility. Microbes Infect, v.8, n.1, Jan, p.197-205. 2006. DA SILVA, J. P., DA SILVA, M. B., SALGADO, U. I., DINIZ, J. A., ROZENTAL, S. e SALGADO, C. G. Phagocytosis of Fonsecaea pedrosoi conidia, but not sclerotic cells caused by Langerhans cells, inhibits CD40 and B7-2 expression. FEMS Immunol Med Microbiol, v.50, n.1, Jun, p.104-11. 2007. DELL'ANGELICA, E. C. Melanosome biogenesis: shedding light on the origin of an obscure organelle. Trends Cell Biol, v.13, n.10, Oct, p.503-6. 2003.
82
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
DUSSE, L. M. S. A., VIEIRA, L. M. e CARVALHO, M. D. G. Revisão sobre óxido nítrico. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v.39, n.4 p.7. 2003. ESTERRE, P. e ANDRIANTSIMAHAVANDY, A. [History of a cutaneous lesion: chromomycosis]. Arch Inst Pasteur Madagascar, v.60, n.1-2, p.21-5. 1993. ESTERRE, P. e QUEIROZ-TELLES, F. Management of chromoblastomycosis: novel perspectives. Curr Opin Infect Dis, v.19, n.2, Apr, p.148-52. 2006. FALKOW, S. Molecular Koch's postulates applied to microbial pathogenicity. Rev Infect Dis, v.10 Suppl 2, Jul-Aug, p.S274-6. 1988. FARBIARZ, S. R., DE CARVALHO, T. U., ALVIANO, C. e DE SOUZA, W. Fine structure and cytochemistry of the interaction between Fonsecaea pedrosoi and mouse resident macrophages. J Med Vet Mycol, v.28, n.5, p.373-83. 1990. FARBIARZ, S. R., DE CARVALHO, T. U., ALVIANO, C. e DE SOUZA, W. Inhibitory effect of melanin on the interaction of Fonsecaea pedrosoi with mammalian cells in vitro. J Med Vet Mycol, v.30, n.4, p.265-73. 1992. FERNANDES, K. S., COELHO, A. L., LOPES BEZERRA, L. M. e BARJA-FIDALGO, C. Virulence of Sporothrix schenckii conidia and yeast cells, and their susceptibility to nitric oxide. Immunology, v.101, n.4, Dec, p.563-9. 2000. FILHO, O. D. F. A Escola de Manguinhos, contribuição para o estudo do desenvolvimento da medicina experimental no Brasil. São Paulo. 1974. 303 p. (Oswaldo Cruz Monumenta Historica) FRANZEN, A. J. Estudo ultraestrutural da melanogenese no fungo Fonsecaea pedrosoi e de sua importância na interação com macrófagos. (Tese de Doutorado). Doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. FRANZEN, A. J., CUNHA, M. M., BATISTA, E. J., SEABRA, S. H., DE SOUZA, W. e ROZENTAL, S. Effects of tricyclazole (5-methyl-1,2,4-triazol[3,4] benzothiazole), a specific DHN-melanin inhibitor, on the morphology of Fonsecaea pedrosoi conidia and sclerotic cells. Microsc Res Tech, v.69, n.9, Sep, p.729-37. 2006. FRANZEN, A. J., CUNHA, M. M., MIRANDA, K., HENTSCHEL, J., PLATTNER, H., DA SILVA, M. B., SALGADO, C. G., DE SOUZA, W. e ROZENTAL, S. Ultrastructural characterization of melanosomes of the human pathogenic fungus Fonsecaea pedrosoi. J Struct Biol, v.162, n.1, Apr, p.75-84. 2008. FRANZEN, A. J., DE SOUZA, W., FARINA, M., ALVIANO, C. S. e ROZENTAL, S. Morphometric and densitometric study of the biogenesis of electron-dense granules in Fonsecaea pedrosoi. FEMS Microbiol Lett, v.173, n.2, Apr 15, p.395-402. 1999.
83
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
GEIS, P. A., WHEELER, M. H. e SZANISZLO, P. J. Pentaketide metabolites of melanin synthesis in the dematiaceous fungus Wangiella dermatitidis. Arch Microbiol, v.137, n.4, Apr, p.324-8. 1984. GESSLER, N. N., AVER'YANOV, A. A. e BELOZERSKAYA, T. A. Reactive oxygen species in regulation of fungal development. Biochemistry (Mosc), v.72, n.10, Oct, p.1091-109. 2007. GOMEZ, B. L. e NOSANCHUK, J. D. Melanin and fungi. Curr Opin Infect Dis, v.16, n.2, Apr, p.91-6. 2003. GRAYBILL, J. R. The future of antifungal therapy. Clin Infect Dis, v.22 Suppl 2, May, p.S166-78. 1996. GROTO, V. J. Consulta Remédios. Rondonópolis 2008. GUPTA, A. K., TABORDA, P. R. e SANZOVO, A. D. Alternate week and combination itraconazole and terbinafine therapy for chromoblastomycosis caused by Fonsecaea pedrosoi in Brazil. Med Mycol, v.40, n.5, Oct, p.529-34. 2002. HAMZA, S. H., MERCADO, P. J., SKELTON, H. G. e SMITH, K. J. An unusual dematiaceous fungal infection of the skin caused by Fonsecaea pedrosoi: a case report and review of the literature. J Cutan Pathol, v.30, n.5, May, p.340-3. 2003. HARADA, S. e KUSUNOKI, T. Scanning electron microscopic observation of the parasitic forms of Fonsecaea pedrosoi in a human skin lesion. Mycopathologia, v.82, n.1, Apr 22, p.33-7. 1983. HAWKSWORTH, D. L. The magnitude of fungal diversity: the 1·5 million species estimate revisited. Mycological Research, v.105, p.10. 2001. HAYAKAWA, M., GHOSN, E. E., DA GLORIA TEIXERIA DE SOUSA, M., FERREIRA, K. S. e ALMEIDA, S. R. Phagocytosis, production of nitric oxide and pro-inflammatory cytokines by macrophages in the presence of dematiaceous [correction of dematiaceus] fungi that cause chromoblastomycosis. Scand J Immunol, v.64, n.4, Oct, p.382-7. 2006. HENSON, J. M., BUTLER, M. J. e DAY, A. W. THE DARK SIDE OF THE MYCELIUM: Melanins of Phytopathogenic Fungi. Annu Rev Phytopathol, v.37, p.447-471. 1999. HIRA, K., YAMADA, H., TAKAHASHI, Y. e OGAWA, H. Successful treatment of chromomycosis using carbon dioxide laser associated with topical heat applications. J Eur Acad Dermatol Venereol, v.16, n.3, May, p.273-5. 2002. HOLLINGHAM, R. Curing diseases modern medicine has left behind. New Scientist, online edition. 2005.
84
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
HOWARD, R. J. e VALENT, B. Breaking and entering: host penetration by the fungal rice blast pathogen Magnaporthe grisea. Annu Rev Microbiol, v.50, p.491-512. 1996. INSELMANN, G., INSELMANN, U. e HEIDEMANN, H. T. Amphotericin B and liver function. Eur J Intern Med, v.13, n.5, Aug, p.288-292. 2002. JABLONSKI, N. G. Skin: A Natural History University of California Press. 2006. 281 p. JACOBSON, E. S. Pathogenic roles for fungal melanins. Clin Microbiol Rev, v.13, n.4, Oct, p.708-17. 2000. JACOBSON, E. S. e HONG, J. D. Redox buffering by melanin and Fe(II) in Cryptococcus neoformans. J Bacteriol, v.179, n.17, Sep, p.5340-6. 1997. KATAOKA, K., MUTA, T., YAMAZAKI, S. e TAKESHIGE, K. Activation of macrophages by linear (1,3)-beta-D-glucans. Impliations for the recognition of fungi by innate immunity. J Biol Chem, v.277, n.39, Sep 27, p.36825-31. 2002. KIKUCHI, Y., KONDO, M., YAGUCHI, H., HIRUMA, M. e IKEDA, S. [A case of chromomycosis caused by Fonsecaea pedrosoi presenting as a small plaque on the left upper arm: a review of reported cases of dematiaceous fungal infection in Japan.]. Nippon Ishinkin Gakkai Zasshi, v.48, n.2, p.85-9. 2007. KNEIPP, L. F., PALMEIRA, V. F., PINHEIRO, A. A., ALVIANO, C. S., ROZENTAL, S., TRAVASSOS, L. R. e MEYER-FERNANDES, J. R. Phosphatase activity on the cell wall of Fonsecaea pedrosoi. Med Mycol, v.41, n.6, Dec, p.469-77. 2003. KNEIPP, L. F., RODRIGUES, M. L., HOLANDINO, C., ESTEVES, F. F., SOUTO-PADRON, T., ALVIANO, C. S., TRAVASSOS, L. R. e MEYER-FERNANDES, J. R. Ectophosphatase activity in conidial forms of Fonsecaea pedrosoi is modulated by exogenous phosphate and influences fungal adhesion to mammalian cells. Microbiology, v.150, n.Pt 10, Oct, p.3355-62. 2004. KOGEJ, T., WHEELER, M. H., LANISNIK RIZNER, T. e GUNDE-CIMERMAN, N. Evidence for 1,8-dihydroxynaphthalene melanin in three halophilic black yeasts grown under saline and non-saline conditions. FEMS Microbiol Lett, v.232, n.2, Mar 19, p.203-9. 2004. KONTOYIANNIS, D. P. e LEWIS, R. E. Antifungal drug resistance of pathogenic fungi. Lancet, v.359, n.9312, Mar 30, p.1135-44. 2002. KURAHASHI, Y. Melanin biosynthesis inhibitors (mbis) for control of rice blast. Pest icide Outlook, n.12, p.4. 2001. LANE, T. E., OTERO, G. C., WU-HSIEH, B. A. e HOWARD, D. H. Expression of inducible nitric oxide synthase by stimulated macrophages correlates with their antihistoplasma activity. Infect Immun, v.62, n.4, Apr, p.1478-9. 1994.
85
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
LANE, T. E., WU-HSIEH, B. A. e HOWARD, D. H. Antihistoplasma effect of activated mouse splenic macrophages involves production of reactive nitrogen intermediates. Infect Immun, v.62, n.5, May, p.1940-5. 1994. LANGFELDER, K., STREIBEL, M., JAHN, B., HAASE, G. e BRAKHAGE, A. A. Biosynthesis of fungal melanins and their importance for human pathogenic fungi. Fungal Genet Biol, v.38, n.2, Mar, p.143-58. 2003. LANISNIK RIZNER, T. e WHEELER, M. H. Melanin biosynthesis in the fungus Curvularia lunata (teleomorph: Cochliobolus lunatus). Can J Microbiol, v.49, n.2, Feb, p.110-9. 2003. LATGE, J. P., BOUZIANE, H. e DIAQUIN, M. Ultrastructure and composition of the conidial wall of Cladosporium cladosporioides. Can J Microbiol, v.34, n.12, Dec, p.1325-9. 1988. LEE, J. K., JUNG, H. M. e KIM, S. Y. 1,8-dihydroxynaphthalene (DHN)-melanin biosynthesis inhibitors increase erythritol production in Torula corallina, and DHN-melanin inhibits erythrose reductase. Appl Environ Microbiol, v.69, n.6, Jun, p.3427-34. 2003. LIMONGI, C. L., ALVIANO, C. S., DE SOUZA, W. e ROZENTAL, S. Isolation and partial characterization of an adhesin from Fonsecaea pedrosoi. Med Mycol, v.39, n.5, Oct, p.429-37. 2001. LIMONGI, C. L., DE SOUZA, W. e ROZENTAL, S. Protein kinase antagonists inhibit invasion of mammalian cells by Fonsecaea pedrosoi. J Med Microbiol, v.52, n.Pt 3, Mar, p.201-9. 2003. LIMONGI, C. L., ROZENTAL, S., ALVIANO, C. S. e DE SOUZA, W. The influence of surface carbohydrates on the interaction of Fonsecaea pedrosoi with Chinese hamster ovary glycosylation mutant cells. Mycopathologia, v.138, n.3, p.127-35. 1997. LIN, Z. X., HOULT, J. R. e RAMAN, A. Sulphorhodamine B assay for measuring proliferation of a pigmented melanocyte cell line and its application to the evaluation of crude drugs used in the treatment of vitiligo. J Ethnopharmacol, v.66, n.2, Aug, p.141-50. 1999. LOPEZ MARTINEZ, R. e MENDEZ TOVAR, L. J. Chromoblastomycosis. Clin Dermatol, v.25, n.2, Mar-Apr, p.188-94. 2007. LUPI, O., TYRING, S. K. e MCGINNIS, M. R. Tropical dermatology: fungal tropical diseases. J Am Acad Dermatol, v.53, n.6, Dec, p.931-51, quiz 952-4. 2005. MARES, D., ROMAGNOLI, C., ANDREOTTI, E., MANFRINI, M. e VICENTINI, C. B. Synthesis and antifungal action of new tricyclazole analogues. J Agric Food Chem, v.52, n.7, Apr 7, p.2003-9. 2004.
86
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
MARQUES, S. G., SILVA CDE, M., SALDANHA, P. C., REZENDE, M. A., VICENTE, V. A., QUEIROZ-TELLES, F. e COSTA, J. M. Isolation of Fonsecaea pedrosoi from the shell of the babassu coconut (Orbignya phalerata Martius) in the Amazon region of Maranhao Brazil. Nippon Ishinkin Gakkai Zasshi, v.47, n.4, p.305-11. 2006. MAZO FAVERO GIMENES, V., DA GLORIA DE SOUZA, M., FERREIRA, K. S., MARQUES, S. G., GONCALVES, A. G., VAGNER DE CASTRO LIMA SANTOS, D., PEDROSO E SILVA CDE, M. e ALMEIDA, S. R. Cytokines and lymphocyte proliferation in patients with different clinical forms of chromoblastomycosis. Microbes Infect, v.7, n.4, Apr, p.708-13. 2005. MCGINNIS, M. R. Chromoblastomycosis and phaeohyphomycosis: new concepts, diagnosis, and mycology. J Am Acad Dermatol, v.8, n.1, Jan, p.1-16. 1983. MENDOZA, L., KARUPPAYIL, S. M. e SZANISZLO, P. J. Calcium regulates in vitro dimorphism in chromoblastomycotic fungi. Mycoses, v.36, n.5-6, May-Jun, p.157-64. 1993. MENSOR, L. L., MENEZES, F. S., LEITAO, G. G., REIS, A. S., DOS SANTOS, T. C., COUBE, C. S. e LEITAO, S. G. Screening of Brazilian plant extracts for antioxidant activity by the use of DPPH free radical method. Phytother Res, v.15, n.2, Mar, p.127-30. 2001. MINOTTO, R., BERNARDI, C. D., MALLMANN, L. F., EDELWEISS, M. I. e SCROFERNEKER, M. L. Chromoblastomycosis: a review of 100 cases in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. J Am Acad Dermatol, v.44, n.4, Apr, p.585-92. 2001. MONÇORES, M. D. C. Propriedades mecano-elásticas de sistemas biológicos: caracterização por microscopia de força atômica (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 2008. 135 p. MORRIS-JONES, R., YOUNGCHIM, S., GOMEZ, B. L., AISEN, P., HAY, R. J., NOSANCHUK, J. D., CASADEVALL, A. e HAMILTON, A. J. Synthesis of melanin-like pigments by Sporothrix schenckii in vitro and during mammalian infection. Infect Immun, v.71, n.7, Jul, p.4026-33. 2003. MURPHY, K. M., TRAVERS, P. e WALPORT, M. Janeway’s Immunobiology. London: Taylor & Francis Group. 2007. 928 p. NIMRICHTER, L., BARRETO-BERGTER, E., MENDONCA-FILHO, R. R., KNEIPP, L. F., MAZZI, M. T., SALVE, P., FARIAS, S. E., WAIT, R., ALVIANO, C. S. e RODRIGUES, M. L. A monoclonal antibody to glucosylceramide inhibits the growth of Fonsecaea pedrosoi and enhances the antifungal action of mouse macrophages. Microbes Infect, v.6, n.7, Jun, p.657-65. 2004. NIMRICHTER, L., CERQUEIRA, M. D., LEITAO, E. A., MIRANDA, K., NAKAYASU, E. S., ALMEIDA, S. R., ALMEIDA, I. C., ALVIANO, C. S., BARRETO-BERGTER, E. e
87
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
RODRIGUES, M. L. Structure, cellular distribution, antigenicity, and biological functions of Fonsecaea pedrosoi ceramide monohexosides. Infect Immun, v.73, n.12, Dec, p.7860-8. 2005. NIMRICHTER, L., RODRIGUES, M. L., RODRIGUES, E. G. e TRAVASSOS, L. R. The multitude of targets for the immune system and drug therapy in the fungal cell wall. Microbes Infect, v.7, n.4, Apr, p.789-98. 2005. NOBREGA, J. P., ROSEMBERG, S., ADAMI, A. M., HEINS-VACCARI, E. M., LACAZ CDA, S. e DE BRITO, T. Fonsecaea pedrosoi cerebral phaeohyphomycosis ("chromoblastomycosis"): first human culture-proven case reported in Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo, v.45, n.4, Jul-Aug, p.217-20. 2003. NOSANCHUK, J. D. e CASADEVALL, A. The contribution of melanin to microbial pathogenesis. Cell Microbiol, v.5, n.4, Apr, p.203-23. 2003. NOSANCHUK, J. D. e CASADEVALL, A. Impact of melanin on microbial virulence and clinical resistance to antimicrobial compounds. Antimicrob Agents Chemother, v.50, n.11, Nov, p.3519-28. 2006. NOSANCHUK, J. D., VAN DUIN, D., MANDAL, P., AISEN, P., LEGENDRE, A. M. e CASADEVALL, A. Blastomyces dermatitidis produces melanin in vitro and during infection. FEMS Microbiol Lett, v.239, n.1, Oct 1, p.187-93. 2004. ODDS, F. C., BROWN, A. J. e GOW, N. A. Antifungal agents: mechanisms of action. Trends Microbiol, v.11, n.6, Jun, p.272-9. 2003. ODDS, F. C., GOW, N. A. e BROWN, A. J. Fungal virulence studies come of age. Genome Biol, v.2, n.3, p.REVIEWS1009. 2001. OLIVEIRA, L. G., RESENDE, M. A., LOPES, C. F. e CISALPINO, E. O. Isolamento e identificação dos agentes da cromomicose em Belo Horizonte. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 7, p.1. 1973. OSHEROV, N., KONTOYIANNIS, D. P., ROMANS, A. e MAY, G. S. Resistance to itraconazole in Aspergillus nidulans and Aspergillus fumigatus is conferred by extra copies of the A. nidulans P-450 14alpha-demethylase gene, pdmA. J Antimicrob Chemother, v.48, n.1, Jul, p.75-81. 2001. PALMEIRA, V. F., KNEIPP, L. F., ALVIANO, C. S. e DOS SANTOS, A. L. The major chromoblastomycosis fungal pathogen, Fonsecaea pedrosoi, extracellularly releases proteolytic enzymes whose expression is modulated by culture medium composition: implications on the fungal development and cleavage of key's host structures. FEMS Immunol Med Microbiol, v.46, n.1, Feb, p.21-9. 2006. PLONKA, P. M. e GRABACKA, M. Melanin synthesis in microorganisms--biotechnological and medical aspects. Acta Biochim Pol, v.53, n.3, p.429-43. 2006.
88
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
POLAK, A. Melanin as a virulence factor in pathogenic fungi. Mycoses, v.33, n.5, May, p.215-24. 1990. QUEIROZ-TELLES, F., PURIM, K. S., FILLUS, J. N., BORDIGNON, G. F., LAMEIRA, R. P., VAN CUTSEM, J. e CAUWENBERGH, G. Itraconazole in the treatment of chromoblastomycosis due to Fonsecaea pedrosoi. Int J Dermatol, v.31, n.11, Nov, p.805-12. 1992. RASUL, E. S., HAZARIKA, N. K., SHARMA, A., BORUA, P. C. e SEN, S. S. Chromoblastomycosis. J Assoc Physicians India, v.55, Feb, p.149-51. 2007. RESTREPO, A., GONZALEZ, A., GOMEZ, I., ARANGO, M. e DE BEDOUT, C. Treatment of chromoblastomycosis with itraconazole. Ann N Y Acad Sci, v.544, p.504-16. 1988. RIPPON, J. W. Medical mycology. The pathogenic fungi and the pathogenic actinomycetes. Philadelphia: W. B. Saunders. 1988 ROMERO-MARTINEZ, R., WHEELER, M., GUERRERO-PLATA, A., RICO, G. e TORRES-GUERRERO, H. Biosynthesis and functions of melanin in Sporothrix schenckii. Infect Immun, v.68, n.6, Jun, p.3696-703. 2000. ROSSI, G. R., CERVI, L. A., GARCIA, M. M., CHIAPELLO, L. S., SASTRE, D. A. e MASIH, D. T. Involvement of nitric oxide in protecting mechanism during experimental cryptococcosis. Clin Immunol, v.90, n.2, Feb, p.256-65. 1999. ROSSNER, M. e YAMADA, K. M. What's in a picture? The temptation of image manipulation. J Cell Biol, v.166, n.1, Jul 5, p.11-5. 2004. ROZENTAL, S., ALVIANO, C. S. e DE SOUZA, W. The in vitro susceptibility of Fonsecaea pedrosoi to activated macrophages. Mycopathologia, v.126, n.2, May, p.85-91. 1994. ROZENTAL, S., ALVIANO, C. S. e DE SOUZA, W. Fine structure and cytochemical study of the interaction between Fonsecaea pedrosoi and rat polymorphonuclear leukocyte. J Med Vet Mycol, v.34, n.5, Sep-Oct, p.323-30. 1996. SABERI, H., KASHFI, A., HAMIDI, S., TABATABAI, S. A. e MANSOURI, P. Cerebral phaeohyphomycosis masquerading as a parafalcian mass: case report. Surg Neurol, v.60, n.4, Oct, p.354-9; discussion 359. 2003. SALGADO, C. G., DA SILVA, J. P., DINIZ, J. A., DA SILVA, M. B., DA COSTA, P. F., TEIXEIRA, C. e SALGADO, U. I. Isolation of Fonsecaea pedrosoi from thorns of Mimosa pudica, a probable natural source of chromoblastomycosis. Rev Inst Med Trop Sao Paulo, v.46, n.1, Jan-Feb, p.33-6. 2004. SANDRA S. EATON, G. R. E., LAWRENCE J. BERLINER. Biomedical EPR - Part A: Free Radicals, Metals, Medicine and Physiology: Springer. 2004. 522 p.
89
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
SANTOS, A. L., PALMEIRA, V. F., ROZENTAL, S., KNEIPP, L. F., NIMRICHTER, L., ALVIANO, D. S., RODRIGUES, M. L. e ALVIANO, C. S. Biology and pathogenesis of Fonsecaea pedrosoi, the major etiologic agent of chromoblastomycosis. FEMS Microbiol Rev, v.31, n.5, Sep, p.570-91. 2007. SCHEINFELD, N. A review of the new antifungals: posaconazole, micafungin, and anidulafungin. J Drugs Dermatol, v.6, n.12, Dec, p.1249-51. 2007. SELITRENNIKOFF, C. P. e NAKATA, M. New cell wall targets for antifungal drugs. Curr Opin Investig Drugs, v.4, n.2, Feb, p.200-5. 2003. SILVA, J. P., DE SOUZA, W. e ROZENTAL, S. Chromoblastomycosis: a retrospective study of 325 cases on Amazonic Region (Brazil). Mycopathologia, v.143, n.3, p.171-5. 1998. SOUSA, M. G., AZEVEDO, C. D., NASCIMENTO, R. C., GHOSN, E. E., SANTIAGO, K. L., NOAL, V., BOMFIM, G. F., MARQUES, S. G., GONCALVES, A. G., SANTOS, D. W. e ALMEIDA, S. R. Fonsecaea pedrosoi infection induces differential modulation of costimulatory molecules and cytokines in monocytes from patients with severe and mild forms of chromoblastomycosis. J Leukoc Biol, Jun 18. 2008. SOUZA, E. T., SILVA-FILHO, F. C., DE SOUZA, W., ALVIANO, C. S., ANGLUSTER, J. e TRAVASSOS, L. R. Identification of sialic acids on the cell surface of hyphae and conidia of the human pathogen Fonsecaea pedrosoi. J Med Vet Mycol, v.24, n.2, Apr, p.145-54. 1986. TAYLOR, B. E., WHEELER, M. H. e SZANISZLO, P. J. Evidence for pentaketide melanin biosynthesis in dematiaceous human pathogenic fungi. Mycologia, v.79, p.2. 1987. TAYLOR, L. H., LATHAM, S. M. e WOOLHOUSE, M. E. Risk factors for human disease emergence. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci, v.356, n.1411, Jul 29, p.983-9. 2001. VAN DUIN, D., CASADEVALL, A. e NOSANCHUK, J. D. Melanization of Cryptococcus neoformans and Histoplasma capsulatum reduces their susceptibilities to amphotericin B and caspofungin. Antimicrob Agents Chemother, v.46, n.11, Nov, p.3394-400. 2002. VICHAI, V. e KIRTIKARA, K. Sulforhodamine B colorimetric assay for cytotoxicity screening. Nat Protoc, v.1, n.3, p.1112-6. 2006. WANG, Y., AISEN, P. e CASADEVALL, A. Melanin, melanin "ghosts," and melanin composition in Cryptococcus neoformans. Infect Immun, v.64, n.7, Jul, p.2420-4. 1996. WANG, Y. e CASADEVALL, A. Susceptibility of melanized and nonmelanized Cryptococcus neoformans to nitrogen- and oxygen-derived oxidants. Infect Immun, v.62, n.7, Jul, p.3004-7. 1994.
90
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
WANG, Y. e CASADEVALL, A. Susceptibility of melanized and nonmelanized Cryptococcus neoformans to the melanin-binding compounds trifluoperazine and chloroquine. Antimicrob Agents Chemother, v.40, n.3, Mar, p.541-5. 1996. WHEELER, M. H. e BELL, A. A. Melanins and their importance in pathogenic fungi. Curr Top Med Mycol, v.2, p.338-87. 1988. WHEELER, M. H. e STIPANOVIC, R. D. Melanin biosynthesis and the metabolism of flaviolin and 2-hydroxyjuglone in Wangiella dermatitidis. Arch Microbiol, v.142, n.3, Aug, p.234-41. 1985. ZHONG, J., FRASES, S., WANG, H., CASADEVALL, A. e STARK, R. E. Following fungal melanin biosynthesis with solid-state NMR: biopolymer molecular structures and possible connections to cell-wall polysaccharides. Biochemistry, v.47, n.16, Apr 22, p.4701-10. 2008.
91
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
ANEXOS
ANEXO 1: ESTRUTURAS TIPO- TRICICLAZOL DERIVADAS DE PESQUISA POR SIMILARIDADE
ESTRUTURAL EM BASE DE DADOS PUBCHEM COMPOUND DO NATIONAL INSTITUTE OF
HEALTH – EUA (HTTP://WWW.NCBI.NLM.NIH.GOV/SITES/ENTREZ?DB=PCCOMPOUND).
Triciclazol IUPAC: 8-methyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 189.236980 g/mol | FM: C9H7N3S
IUPAC: 8-ethyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 203.263560 g/mol | FM: C10H9N3S
IUPAC: 8-methyl-[1,2,4]triazolo[5,1-b][1,3]benzothiazole PM: 189.236980 g/mol | FM: C9H7N3S
IUPAC: 6,8-dimethyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 203.263560 g/mol | FM: C10H9N3S
IUPAC: 6-methyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 189.236980 g/mol | FM: C9H7N3S
IUPAC: 1-chloro-8-methyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 223.682040 g/mol | FM: C9H6ClN3S
92
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
IUPAC: 8-butyl-[1,2,4]triazolo[5,4-b][1,3]benzothiazol-1-amine PM: 246.331360 g/mol | FM: C12H14N4S
IUPAC: 8-ethyl-[1,2,4]triazolo[5,4-b][1,3]benzothiazol-1-amine PM: 218.278200 g/mol | FM: C10H10N4S
IUPAC: 8-methyl-[1,2,4]triazolo[5,4-b][1,3]benzothiazol-1-amine PM: 204.251620 g/mol | FM: C9H8N4S
IUPAC: 8-methyl-3H-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazol-9-ium PM: 190.244920 g/mol | FM: C9H8N3S
+
IUPAC: 8-methylsulfanyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 221.301980 g/mol | FM: C9H7N3S2
IUPAC: 1,8-dimethyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 203.263560 g/mol | FM: C10H9N3S
IUPAC: 8-fluoro-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 193.200863 g/mol | FM: C8H4FN3S
IUPAC: [1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 175.210400 g/mol | FM: C8H5N3S
93
Marcel Menezes Lyra da Cunha Melanina: fator de virulência em F.pedrosoi
IUPAC: 1-methyl-8-(trifluoromethyl)-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 257.234950 g/mol | FM: C10H6F3N3S
IUPAC: 8-ethyl-7-methyl-[1,2,4]triazolo[5,1-b][1,3]benzothiazole PM: 217.290140 g/mol | FM: C11H11N3S
IUPAC: 6-ethyl-[1,2,4]triazolo[5,1-b][1,3]benzothiazole PM: 203.263560 g/mol | FM: C10H9N3S
IUPAC: 4-methyl-N-(1,2,4-triazol-4-yl)-1,3-benzothiazol-2-amine PM: 231.276960 g/mol | FM: C10H9N5S
IUPAC: 6,7-dimethyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 203.263560 g/mol | FM: C10H9N3S
IUPAC: 8-propan-2-yl-[1,2,4]triazolo[5,4-b][1,3]benzothiazol-1-amine PM: 232.304780 g/mol | FM: C11H12N4S
IUPAC: 6-methyl-1-methylsulfanyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 235.328560 g/mol | FM: C10H9N3S2 IUPAC: 1-chloro-6-methyl-[1,2,4]triazolo[3,4-b][1,3]benzothiazole PM: 223.682040 g/mol | FM: C9H6ClN3S
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo