Marcelo Ridenti. Cultura e política - os anos 1960-1970 (1)

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    Cultura e poltica: os anos 1960-1970 e sua herana*

    Marcelo Ridenti**

    Tempos revolucionriosTalvez os anos 1960 tenham sido o momento da histria republicana mais marcado

    pela convergncia revolucionria entre pol tica! cultura! vida p"blica e privada! sobretudoentre a intelectualidade#1 $nt%o! a utopia &ue ganhava cora'(es e mentes era a revolu'%o )n%o a democracia ou a cidadania! como seria anos depois )! tanto &ue o prprio movimentode 196 designou+se comorevoluo # ,s propostas de revolu'%o pol tica! e tamb-mecon.mica! cultural! pessoal! en/im! em todos os sentidos e com os signi/icados mais

    variados! marcaram pro/undamente o debate pol tico e est-tico# Rebeldia contra a ordem erevolu'%o social por uma nova ordem mantinham dilogo tenso e criativo! interpenetrando+seem di/erentes medidas na prtica dos movimentos sociais! e pressa tamb-m nasmani/esta'(es art sticas# ara pensar o esp rito revolucionrio da -poca! tenho usado a meumodo o conceito deromantismo revolucionrio ! /ormulado por Michael 2345 e Roberta5re 71998 #

    $ram anos de guerra /ria entre os aliados dos $stados :nidos e da :ni%o ovi-tica!mas surgiam esperan'as de alternativas libertadoras noTerceiro Mundo ! at- no ;rasil! &uevivia um processo acelerado de urbaniza'%o e moderniza'%o da sociedade#

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    social e istente! mas de &uestion+la# a isso! em linhas gerais! &ue se pode chamar deromantismo revolucionrio brasileiro do per odo! sem nenhuma conota'%o peIorativa#Recolocava+se o problema da identidade nacional e pol tica do povo brasileiro! buscava+se aum s tempo suasra*+es e a ruptura com o subdesenvolvimento! numa esp-cie de desvio Pes&uerda do &ue se convencionou chamar deera 'argas ! caracterizada pela aposta nodesenvolvimento nacional! com base na interven'%o do $stado#

    $ssa vers%o brasileira n%o se dissociava de tra'os do romantismo revolucionrio da-poca em escala internacionalC a libera'%o se ual! o deseIo de renova'%o! a /us%o entre vida p"blica e privada! a Bnsia de viver o momento! a /rui'%o da vida bomia! a aposta na a'%o emdetrimento da teoria! os padr(es irregulares de trabalho e a relativa pobreza! t picas da Iuventude de es&uerda na -poca! s%o caracter sticas &ue marcaram os movimentos sociais nosanos 60 em todo o mundo! /azendo lembrar a velha tradi'%o romBntica#

    ,o longo do s-culo QQ! acompanhando o tortuoso processo de instaura'%o econsolida'%o da racionalidade capitalista moderna no ;rasil ) &ue alguns autores chamariamde @revolu'%o burguesaA ) desenvolveu+se o modernismo nas artes! &ue pode sercontraditoriamente caracterizado ao mesmo tempo como romBntico e moderno! passadista e/uturista# ,ssim! a a/irma'%o romBntica das tradi'(es da na'%o e do povo brasileiro como base de sustenta'%o da modernidade /ez+se presente nos mais di/erentes movimentos est-ticosa partir da emana de ,rte Moderna de 19LLC erde+amarelismo e $scola da ,nta 719L6 e19L9! &ue se apro imariam politicamente do integralismo de l nio algado ! seusadversrios au+;rasil e ,ntropo/agia 719L6 e 19LN! liderados por Ss4ald de ,ndrade ! passando pela incorpora'%o do /olclore proposta por Mrio de ,ndrade ou por illa+2obosEnos anos G0 e 0 viria a cr tica da realidade brasileira! associada P celebra'%o do carternacional do homem simples do povo! por e emplo! na pintura de ortinari e nos romancesregionalistas! at- desaguar nas mani/esta'(es dos anos 60# arlosFiegues observa numa entrevistaC @a minha gera'%o /oi a "ltima sa/ra de uma s-rie deredescobridores do ;rasil# S ;rasil come'a a se conhecer! sobretudo com o romantismo ###a&uele deseIo de uma identidade ### Minha gera'%o! do >inema

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    na'%o como individualidade "nica! representada pelo povo! como singularidade irredut velA719NN! p# F+G # ucede &ue os nacionalismos das es&uerdas brasileiras nos anos 60 n%otinham semelhan'a propriamenteincon.ortvel com o romantismo conservador alem%o dos-culo passado! pois n%o se tratava da mesma coisa! embora /ossem romBnticos e portantosemelhantes em alguns aspectos! basicamente o de colocar+se na contram%o do capitalismo!resgatando as id-ias de povo e na'%o# $m outro conte to! a valoriza'%o do povo n%osigni/icava criar utopias anticapitalistas regressivas! mas progressistasE implicava o parado ode buscar no passado 7as ra zes populares nacionais as bases para construir o /uturo de umarevolu'%o nacional modernizante &ue! no limite! poderia romper as /ronteiras do capitalismo#,percebendo+se disso! sabiamente de seu ponto de vista! as classes dominantes trataram de/azer sua contra)revoluo preventiva em 196 ! um movimento &ue soube incorporardes/iguradamente as utopias libertadoras nacionais# Mas antes de entrar nesse tema! vale a pena nos determos um pouco mais no pr-+196 #

    Artistas da revolu o !rasileira$m 1988! um grupo de Iovens comunistas da :ni%o aulista do $studantes

    ecundaristas ) na maioria /ilhos de militantes do artido >omunista 7 >; ! alguns dos &uaiseram artistas ) recebeu uma tare/a partidria para politizar seus colegasC /undar um grupo deteatro! &ue /icaria conhecido como Teatro aulista do $studante 7T $ # >ome'ava a serescrito um importante cap tulo da histria da cultura nacional! numa -poca de busca da brasilidade e estreita vincula'%o entre arte e pol tica! &ue marcou um /lorescimento cultural&ue se estenderia at- o /inal de 196N! com a edi'%o do ,to Onstitucional no 8 7,O+8 # entros opulares de >ultura 7> > ! Teatro Spini%o etc#

    S &ue no in cio parecia ser apenas uma tare/a pol tica logo se tornou uma pai %o pelaarte do teatro! &ue levaria os integrantes do T $! a partir de 1986! a associar+se a um teatroat- ent%o pouco destacado! o ,rena! &ue /uncionava desde 198G! tendo como responsvel odiretor Kos- Renato# $ssa associa'%o gerou uma renova'%o da dramaturgia nacional!especialmente a partir de /evereiro de 198N! com a estr-ia da pe'a de ?ian/rancesco?uarnieri! !les no usam blac-)tie ! pioneira em colocar no palco o cotidiano detrabalhadores! buscando um teatro participante e autenticamente brasileiro#

    urgiram ent%o os /amosos seminrios de dramaturgia! promovidos em %o aulo pelo Teatro de ,rena! a partir de 198N! incentivando a escritura e a encena'%o de pe'as deautores nacionais! &ue e pressassem os dilemas do povo#

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    2ogo apareceriam divergncias sobre como construir um e/etivo @teatro popularA! pore emploC terminadas as apresenta'(es em %o aulo! Blac-)tie seguiu para o Rio de Kaneiro!onde /icou em cartaz um ano e meio# ,ps a temporada! ianinha e >hico de ,ssisresolveram permanecer no Rio! com a utopia de criar uma rela'%o orgBnica entre as artes e osmovimentos populares insurgentes no pr-+196 # $m %o aulo! o proIeto do ,renacontinuava! capitaneado por ;oal! ?uarnieri! Kuca de Sliveira! aulo Kos- e Hlvio Omp-rio!&ue promoveram a @nacionaliza'%o dos clssicosA! reinterpretando e reelaborando te tosc-lebres da dramaturgia mundial de &ual&uer -poca! em a/inidade com a realidade brasileirado momento#

    S Teatro de ,rena sempre /oi um plo de atra'%o para Iovens artistas engaIados politicamente na capital paulista! al-m de intelectuais e estudantes# $le atra a artistas devrios campos! do cinema Ps artes plsticas! vrios dos &uais participaram das encena'(escom m"sicas 7como $du 2obo ! ou na cenogra/ia 7caso de Hlvio Omp-rio # Fepois do golpede 196 ! o ,rena viria a se constituir num dos baluartes da resistncia cultural# arlos$stevam ) este um socilogo originrio do Onstituto uperior de $studos ;rasileiros 7O $; #

    S sucesso do > > generalizou+se pelo ;rasil com a organiza'%o da01! 'olante ! em&ue uma comitiva de dirigentes da entidade e integrantes do > > percorreram os principaiscentros universitrios do pa s! no primeiro semestre de 196L! levando adiante suas propostasde interven'%o dos estudantes na pol tica universitria e na pol tica nacional! em busca dasre/ormas de base! no processo da revolu'%o brasileira! envolvendo a ruptura com osubdesenvolvimento e a a/irma'%o da identidade nacional do povo# Hoi grande o impacto da: > com a editora >iviliza'%o ;rasileira! do empresriocomunista Xnio ilveira ) dos trs livros da cole'%o'iolo de rua ! com o subt tulo reveladorde poemas para a liberdade 7Heli ! 196L e 196G # 2iberdade evocada no sentido da utopiaromBntica do povo+na'%o! regenerador e redentor da humanidade#

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    povo brasileiro! a lutar por melhores condi'(es de vida no campo ou nas /avelas# Yuase todosos poemas e pressavam a recusa da ordem social institu da por lati/undirios! imperialistas e ) no limite! em alguns te tos ) pelo capitalismo# airava no ar a e perincia de perda dahumanidade! certa nostalgia melanclica de uma comunidade m tica I n%o e istente e a busca do &ue estava perdido! por interm-dio da revolu'%o brasileira# $ra o tempo das 2igas>amponesas! celebradas em vrios poemas! como 2oo Boa)Morte 3cabra marcado paramorrer4 ! de Herreira ?ullarCQue 5 entrando para as 6igas7 8ue ele derrota o patro# 7 8ue ocaminho da vit(ria7 est na evoluo 7vol# O! p# LL+G8 #

    e os poemas trazem uma idealiza'%o do homem do povo ! especialmente do campo! pelas camadas m-dias urbanas! por outro lado! essa idealiza'%o n%o era completamenteabstrata! ancorava+se numa base bem realC a insurgncia dos movimentos de trabalhadoresrurais no per odo# Ss poetas buscavam+se solidarizar com eles! como e pressa! por e emplo!in cius de Moraes! autor de9s homens da terra ! &ue traz a seguinte dedicatriaC @$m

    homenagem aos trabalhadores da terra do ;rasil! &ue en/im despertam e cuIa luta ora seiniciaA# 7vol# O! p# NL+N8

    Ss operrios tamb-m s%o tematizados no'iolo de rua ! por-m com menorintensidade &ue os trabalhadores rurais# Mas predominam as re/erncias ao @povoAC os pobres! os homens e seres humanos miserveis! desumanizados# $m suma! nos poemas dacole'%o! h uma busca da humanidade perdida! a ser resgatadaE a aspira'%o a umreencantamento do mundo# Trata+se de mani/esta'%o e emplar do romantismo no sentido pleno! tal como concebido por 2345 e a5reC @a&uele em &ue os di/erentes temas s%ointegrados! organicamente! em um conIunto cuIa signi/ica'%o global tende para a recusanostlgica da rei/ica'%o+aliena'%o modernaA 71998! p# L80 #

    On/luenciado pelo clima pol tico da -poca com a ascens%o de movimentos populares!tamb-m pelas id-ias de revolu'%o nacional e democrtica do O $; e do >;!'iolo de ruae pressa a utopia do povo como regenerador e redentor da humanidade! mesclada a ummar ismo humanista! e pl cito no pre/cio de Moac5r Heli ! &ue aponta @duas verdades &uecada vez mais v%o se clari/icando no cora'%o do povo brasileiroC uma! a identi/ica'%o da lutacontra os imperialismos! sobretudo o norte+americano! com a luta pela nossa emancipa'%oecon.micaE outra! mais /unda! a da incompatibilidade essencial entre o regime capitalista e aliberdade ou constru'%o do homemA 7Heli ! 196G! p# 10 # Su seIa! no'iolo de rua ! a utopiamar ista con/unde+se com a utopia romBntica da a/irma'%o da identidade nacional do povo

    brasileiro! com ra zes pr-+capitalistas#or outro lado! no in cio dos anos 60! a poesia concreta dos irm%os >ampos /azia umcontraponto literrio ao nacional popular# alorizava sobretudo a /orma literria e a/astava+sede &ual&uer retorno a supostas origens pr-+capitalistas# Mas o &ue importa ressaltar - &ue oapelo P a'%o pol tica na -poca era /orte a ponto de sensibilizar at- mesmo os concretistas!cultores do /ormalismo! para &ue propusessem o @salto participanteA em sua poesia! pelo &ual procuravam sintonizar+se com os movimentos populares! por-m com uma linguagem tamb-mrevolucionria /ormalmente#

    Ss anos 60 /oram ainda a era do >inema -sar araceni e outroscineastas &ue de/endiam posi'(es de es&uerda# S cinema estava na linha de /rente da re/le %o

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    da Dossa .ova% como Carlos E ra% 5+r"io 4icardo e mais tarde du Eo!o' .oespetculo Opinio % contracenavam um sam!ista representante das classes popularesur!anas F+ G+ti % um compositor popular do campo nordestino ?o o do erchman%orOi% / Pequenos Burgueses % !em como o "olpede stado no as% )oram um marco decisivo na hist$ria do Teatro )icina' A partir deent o a !alana (ue oscilava entre o e,istencial e o social comeou a pender para esseBltimo3 1981% p' 1RL ' as seria com a encena o da pea de s ald de Andrade%O reida vela % (ue esse "rupo "anharia impacto artstico e poltico nacional% propondo uma

    /revolu o ideol$"ica e )ormal3 (ue% em 1967% encontraria paralelo no )ilme de >lau!er4ocha%Terra em Transe % e no tropicalismo musical de Caetano

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    de!oche (ue se concreti&a a stira violenta ao conchavo poltico ou J cnica aliana dasclasses sociais3 5ilva% 1981% pp' 1#L-1#R '

    nt o% a pro!lemtica romHntica permanece% de um outro modo: encontrar ohomem !rasileiro pela re"ress o antropo)"ica ao ndio devorador dos representantesda cultura ocidental' @e um modo di)erente da tradi o nacional-popular ; (ue se"undo?os+ Celso s$ )a&ia consolar a plat+ia acomodada% por interm+dio de uma catarsecoletiva apa&i"uadora% en(uanto seu teatro pretendia )a&er o pB!lico de classe m+diareconhecer seus privil+"ios e mo!ili&ar-se ; continuava no centro a (uest o daidentidade nacional% do su!desenvolvimento e do carter do povo !rasileiro' Com isso% o)icina seria parte constitutiva de um movimento conhecido como tropicalismo'

    Tropiclia tropicalismo% movimento de 1967-68% teve desta(ue especialmente na mBsica

    popular% com Caetano il!erto >il% Tom F+% Capinan% >al Costa% Tor(uato.eto% a (ue se a"re"aram os maestros e arranPadores 4o"+rio @uprat% ?Blio eda"lia e@amiano Co&&ella% al+m do "rupo deroc" s utantes% entre outros' as otropicalismo tam!+m envolveu artistas de diversos campos% como: M+lio iticica%4o"+rio @uarte% ?os+ Celso artine& CorrIa e >lau!er 4ocha' 5e"undo Carlos .elsonCoutinho% o tropicalismo )oi desencadeado pelas id+ias de >lau!er:

    /5e ele se considerava tal% ou se ele se reunia com o "rupo (ue depois aplicou otropicalismo J mBsica% eu n o sei' as% sem dBvida% >lau!er )a&ia parte dessaid+ia de um pas ca$tico% contradit$rio% onde a ra& o meramente )ormal n odaria conta dessas contradi es' .esse sentido%Terra em #ranse + de certo modoprecursor do (ue viria depois% U'''V um )ilme com tendIncias irracionalistas% U'''Vuma certa valori&a o do irracional como uma coisa pr$pria dos pases doTerceiro undo'3

    arece (ue e,iste a)inidade entre as o!ras de >lau!er e o tropicalismo% nosentido apontado por Coutinho' lau!er pre&ava no tropicalismo o (ue eletinha de inventivo% anticonvencional e irracional em sua !rasilidade e auto-a)irma ocultural do Terceiro undo ; mas com!atia o (ue achava ser a americani&a otam!+m presente no movimento' M um )rase su"estiva de >lau!er nesse sentido% emcarta a Cac @ie"ues: /Caetano se reapro,ima atrav+s de ?ohn Eennon mas n o tenhoo menor interesse em ?ohn Eennon% apesar de ter o maior interesse por Caetano3 1997%p' 11# '

    u sePa% >lau!er se a)astava de uma das in)luIncias !sicas do tropicalismo: acontracultura% impulsionada nos stados Qnidos pelas mani)esta es contra a "uerra do

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    aralelamente% desenvolvia-se a pop ar# % com And Narhol% 4o Eichtenstein e ?asper?ohns'

    Al+m da nova mBsica e do parentesco com mani)esta es em todas as artes% acontracultura caracteri&ava-se por pre"ar a li!erdade se,ual e o uso de dro"as ; como amaconha e o E5@% cuPo uso era considerado uma )orma de protesto contra o sistema' amor livre e as dro"as seriam li!eradores de potencialidades humanas escondidas so! acouraa imposta aos indivduos pelo moralismo da chamada /sociedade de consumo3'Alis% contra os valores dessa sociedade% comearam a se )ormar comunidadesalternativas% com economias de su!sistIncia no campo e um modo de vida inovador%como as do movimentohippie '

    ? num (uadro de declnio da importHncia do chamado /nacional-popular3 noDrasil% a contracultura encontraria a)inidade em artistas tropicalistas% como M+lioiticica% autor do termoTropic$lia % ori"inalmente um proPeto am!iental% (ue inspirariao movimento' iticica escreveu um te,to so!re seu proPetoTropic$lia % de 1968% do (ual)a&em parte as se"uintes asser es: /Tropiclia + a primeirssima tentativa consciente%o!Petiva% de impor uma ima"em o!viamente S!rasileira ao conte,to atual da van"uardae das mani)esta es em "eral da arte nacional3Z e ainda: / ara a cria o de umaverdadeira cultura !rasileira% caracterstica e )orte% e,pressiva ao menos% essa heranamaldita europ+ia e americana ter (ue ser a!sorvida% antropo)a"icamente% pela ne"ra endia de nossa terra3'

    .o meio dos artistas plsticos% a temtica nacional )oi especialmente relevanteem iticica' Contudo% di)erentemente donacional!popular % con)orme depoimento deCarlos Flio% n o haveria inten o de ser porta-vo& do mar,ismo e da revolu o' rauma posi o an#i!Belas %r#es % (ue reivindicava uma /arte li"ada Jreprodu#ibilidade % aoindustrial% J sociedade de massa3' Tam!+m se li"aram ao tropicalismo outros artistasplsticos% como E "ia ClarO e 4u!ens >erchman% autor da capa do ETropic$lia '

    4etomando as palavras do militante tropicalista% Tor(uato .eto% na +poca:

    /Qm "rupo de intelectuais ; cineastas% Pornalistas% compositores% poetas e artistasplsticos ; resolveu lanar o tropicalismo' (ue +2 Assumir completamentetudo (ue a vida dos tr$picos pode dar% sem preconceitos de ordem est+tica% semco"itar de ca)onice ou mau "osto% apenas vivendo a tropicalidade e o novouniverso (ue ela encerra% ainda desconhecido' is o (ue +3 Citado em A"uiar%199# '

    Caetano

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    interna (ue est o !rilho peculiar% a marca de re"istro da ima"em tropicalista'U'''V 5o!re o )undo am!"uo da moderni&a o% + incerta a linha entresensi!ilidade e oportunismo% entre crtica e inte"ra o3 1978% p' 7#-K '

    ? Celso =avaretto% analista simptico ao movimento% esclarece (ue otropicalismo sur"iu ap$s o )estival da can o de 1967% da T< 4ecord de 5 o aulo% com>il!erto >il cantando seu (omingo no parque e Caetano %legria, alegria ' .asceu como

    /modaZ dando )orma a certa sensi!ilidade moderna% de!ochada% crtica eaparentemente n o empenhada' @e um lado% associava-se a moda aopsicodelismo% mistura de comportamentoshippie e mBsica pop % indiciada pelasntese de som e corZ de outro% a uma revivescIncia de arcasmos !rasileiros% (uese chamou de Sca)onismo ' U'''V [uando Pustap e elementos diversos da cultura%

    o!t+m uma suma cultural de carter antropo)"ico% em (ue contradi eshist$ricas% ideol$"icas e artsticas s o levantadas para so)rer uma opera odesmisti)icadora' sta opera o% se"undo a teori&a o os aldiana% e)etua-seatrav+s da mistura dos elementos contradit$rios ; en(uadrveis !asicamente nasoposi es arcaico-moderno% local-universal ; e (ue% ao inventari-las% as devora'ste procedimento do tropicalismo privile"ia o e)eito crtico (ue deriva da

    Pustaposi o desses elementos3 1996% pp' L1 e LR '

    s te,tos citados indicam (ue + praticamente consenso ; para os inte"rantes domovimento e para seus estudiosos% tanto na +poca como hoPe ; (ue o tropicalismoarticula elementos modernos e arcaicos% em!ora variem as interpreta es so!re osi"ni)icado est+tico e poltico dessa articula o' arece (ue h no movimento al"o (ue sepode chamar de con)un*o #ropicalis#a % a (ual retoma criativamente a tradi o cultural!rasileira ; o (ue Caetano

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    em parte% viria a insur"ir-se contra o tropicalismo% em resposta Js crticas (ue este lhe)ormulou no )inal dos anos 60'

    livro de mem$rias de Caetano

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    dadas as /ima"ens violentas3 nas letras de suas can es% as atitudes a"ressivas% o horrorJ ditadura a trans)ormar-se em violIncia re"eneradora' or e,emplo% a luta armada Pestaria pre)i"urada na letra de (ivino, maravilhoso 1997% p' RR0 e a admira o por>uevara era ine(uvoca em So/ loco por #i, %m0rica 1997% p' R#R ' .o livro% Caetano)ala da simpatia /ntima e mesmo secreta por ari"hella e os iniciadores da lutaarmada3% (ue /n o era do conhecimento nem dos radicais nem dos conservadores31997% p' R#R ' 4e)ere-se J /violIncia sa"rada dos (ue partiram para a luta armada e daviolIncia maldita dos (ue detinham o terrorismo o)icial3 1997% p' #K6 ' 5o!re o perododo e,lio londrino% Caetano a)irma:

    /Acompanhvamos de lon"e o (ue se passava no Drasil' 5em (ue eu estivessecerto do (ue poderia resultar de uma revolu o armada% o herosmo dos"uerrilheiros como Bnica resposta radical J perpetua o da ditadura mereciameu respeito assom!rado' .o )undo% n$s sentamos com eles uma identi)ica o JdistHncia% de carter romHntico% (ue nunca tnhamos sentido com a es(uerdatradicional e o artido Comunista' .$s os vamos ; e um pouco nos sentamos ;J es(uerda da es(uerda3 1997% p' #L7 '

    tropicalismo marcou o eplo"o do /ensaio "eral de sociali&a o da cultura3para usar o termo de Nalnice .o"ueira >alv o ; 199# % )erido de morte em 1R dede&em!ro de 1968% (uando o re"ime civil-militar !ai,ou o Ato Wnstitucional nBmero KAW-K % conhecido como /o "olpe dentro do "olpe3' Com ele% os setores militares maisdireitistas ; (ue haviam patrocinado uma s+rie de atentados com autoria oculta%

    so!retudo em 1968 ; lo"raram o)iciali&ar o terrorismo de stado% (ue passaria a dei,arde lado (uais(uer pruridos li!erais% at+ meados dos anos 70' A"ravava-se o carterditatorial do "overno% (ue colocou em recesso o Con"resso .acional e as Assem!l+iasEe"islativas estaduais% passando a ter plenos poderes para: cassar mandatos eletivos%suspender direitos polticos dos cidad os% demitir ou aposentar Pu&es e outros)uncionrios pB!licos% suspender ohabeas corpus em crimes contra a se"urananacional% le"islar por decreto% Pul"ar crimes polticos em tri!unais militares% dentreoutras medidas autoritrias' aralelamente% nos por es do re"ime% "enerali&ava-se o usoda tortura% do assassinato e de outros desmandos' Tudo em nome da /se"urananacional3% indispensvel para o /desenvolvimento3 da economia% do posteriormente

    denominado /mila"re !rasileiro3'Com o AW-K% )oram presos% cassados% torturados ou )orados ao e,lio inBmerosestudantes% intelectuais% polticos e outros oposicionistas% incluindo artistas' re"imeinstituiu r"ida censura a todos os meios de comunica o% colocando um )im J a"ita opoltica e cultural do perodo' or al"um tempo% n o seria tolerada (ual(uercontesta o ao "overno% se(uer a do Bnico partido le"al de oposi o% o moderadoovimento @emocrtico Drasileiro @D ' ra a +poca do slogan o)icial /Drasil% ame-oou dei,e-o3'

    Coordenadas hist$ricas do )lorescimento cultural e poltico, agita'%o cultural e pol tica internacional dos anos 60 ligava+se a uma s-rie de

    condi'(es materiais comuns a diversas sociedades! al-m das especi/icidades locais ) no caso

    1L

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    brasileiro! em especial! as lutas pelasre.ormas de base no pr-+196 e contra a ditadura apsessa data! &ue levaram alguns ao e tremo da luta armada# $ssas condi'(es comuns estavam presentes especialmente na $uropa Scidental e nos $stados :nidos! mas eramcompartilhadas tamb-m por pa ses em desenvolvimento! como o ;rasilC crescenteurbaniza'%o! consolida'%o de modos de vida e cultura das metrpoles! aumento &uantitativodas classes m-dias! acesso crescente ao ensino superior! peso signi/icativo dos Iovens nacomposi'%o etria da popula'%o! incapacidade do poder constitu do para representarsociedades &ue se renovavam! avan'o tecnolgico 7por vezes ao alcance das pessoas comuns!&ue passaram a ter cada vez mais acesso! por e emplo! a eletrodom-sticos como aparelhos detelevis%o! al-m de outros bens! caso da p lula anticoncepcional ) o &ue possibilitariamudan'as considerveis de comportamento ! etc# $ssas condi'(es materiais n%o e plicam porsi ss as ondas romBnticas de rebeldia e revolu'%o! apenas deram possibilidade para &ue/ruti/icassem a'(es pol ticas e culturais inovadoras e diversi/icadas! apro imando a pol ticada cultura e da vida cotidiana! buscando colocara imaginao no poder #

    Horam caracter sticas dos movimentos libertrios dos anos 60! particularmente de196N! no mundo todoC inser'%o numa conIuntura internacional de prosperidade econ.micaEcrise no sistema escolarE ascens%o da -tica da revolta e da revolu'%oE busca do alargamentodos sistemas de participa'%o pol tica! cada vez mais desacreditadosE simpatia pelas propostasrevolucionrias alternativas ao mar ismo sovi-ticoE recusa de guerras coloniais ouimperialistasE nega'%o da sociedade de consumoE apro ima'%o entre arte e pol ticaE uso derecursos de desobedincia civilE Bnsia de liberta'%o pessoal das estruturas do sistema7capitalista ou comunista E mudan'as comportamentaisE vincula'%o estreita entre lutas sociaisamplas e interesses imediatos das pessoasE aparecimento de aspectos precursores do paci/ismo! da ecologia! da antipsi&uiatria! do /eminismo! de movimentos de homosse uais!de minorias -tnicas e outros &ue viriam a desenvolver+se nos anos seguintes#

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    s anos pra"mticos>om a derrota das es&uerdas brasileiras pela ditadura e os rumos dos eventos pol ticos

    internacionais nos anos D0! perdeu+se a pro;imidade imaginativa da revolu'%o social! paralelamente P moderniza'%o conservadora da sociedade brasileira e P constata'%o de &ue oacesso Ps novas tecnologias n%o correspondeu Ps esperan'as libertrias no progresso t-cnicoem si# $nt%o! /icou e pl cito &ue o /lorescimento cultural n%o bebia na /onte da eterna IuventudeE e oensaio geral de sociali+ao da cultura /rustrou+se antes da realiza'%o daesperada revolu'%o brasileira! &ue se realizou pelas avessas! sob a bota dos militares! &uedepois promoveriam atransio lenta# gradual e segura para a democracia! garantindo acontinuidade do poder pol tico e econ.mico das classes dominantes#

    arado al - &ue a nova ordem da ditadura ) uma vez devidamente punidos com pris(es! mortes! torturas e e lio os &ue ousaram se insurgir abertamente contra ela ) soubedar lugar aos intelectuais e artistas de oposi'%o# , partir dos anos D0! concomitante P censurae P repress%o pol tica! /icou evidente o es/or'o modernizador &ue a ditadura I vinhaesbo'ando desde a d-cada de 1960! nas reas de comunica'%o e cultura! incentivando odesenvolvimento capitalista privado ou at- atuando diretamente por interm-dio do $stado#

    ,s grandes redes de T ! em especial a ?lobo! surgiam com programa'%o em Bmbitonacional! estimuladas pela cria'%o da $M;R,T$2! do Minist-rio das >omunica'(es e deoutros investimentos governamentais em telecomunica'(es! &ue buscavam a integra'%o eseguran'a do territrio brasileiro# ?anhavam vulto diversas institui'(es estatais deincremento P cultura! como a $M;R,HO2M$! o Onstituto inema inema

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    P parte dentro da vida socialA# >om a ocupa'%o &uase completa do espa'o cultural pela lgicamercantil! tendia a diluir+se a presen'a da es&uerda nessa rea! na &ual permanecera at- ent%ocomo @reduto! plo de resistncia contra os e/eitos desumanizadores da lgica do capitalA7Hrederico! 199N! pp# L9N+L99 #

    , atua'%o cultural do regime civil+militar tamb-m implicou a moderniza'%oconservadora da educa'%o! com a massi/ica'%o 7e a degrada'%o do ensino p"blico de primeiro e segundo grau! o incentivo ao ensino privado e a cria'%o de um sistema nacional deapoio P ps+gradua'%o e P pes&uisa para as universidades! nas &uais a ditadura encontravaalguns dos principais /ocos de resistncia! &ue reprimiu duramente! mas sem dei ar deo/erecer uma alternativa de acomoda'%o institucional# ;uscava+se atender! dentro dos parBmetros da ordem estabelecida! Ps reivindica'(es de moderniza'%o &ue haviam levado osestudantes Ps ruas nos anos 60#

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    da individualidade! das liberdades civis! dos movimentos populares espontBneos! dacidadania! da resistncia cotidiana P opress%o! das lutas das minorias! entre outras#

    =ouve uma in/inidade de mani/esta'(es nos di/erentes campos da sociedade ae pressar essa virada no pensamento e na prtica de es&uerda# omunidades $clesiais de ;ase daOgreIa >atlica! inspiradas na teologia da 2iberta'%oE o chamadonovo sindicalismo ! liderado pelos metal"rgicos do ,;> paulistaE al-m de intelectuais e remanescentes de organiza'(es pol ticas mar istas+leninistas derrotadas pelo regime civil+militar# S T procurava dar vez evoz aos deserdados! &ue haviam come'ado a organizar+se em movimentos sociais a partir demeados dos anos D0# aralelamente! surgia uma literatura para teorizar a importBncia e aautonomia desses movimentos em rela'%o ao $stado e outras institui'(es! inclusive os partidos# or e emplo! num artigo muito di/undido! Tilman $vers 719N celebrava aindependncia dos movimentos e seu carter libertrioE apostava no T como partido servodos movimentos! Iamais seu guia! como os tradicionais partidos de es&uerda# ,lguns anosdepois! $der ader /aria um balan'o da e perincia desses movimentos emQuando novos

    personagens entram em cena 719NN # or sua vez! vrios intelectuais procuravamcompreender os dilemas da es&uerda! como os &ue participaram do debate! depoistrans/ormado em livro! As es8uerdas e a democracia ) dentre eles! >arlos outinho!Hrancisco [e//ort! Maria ictria ;enevides! Marco ,ur-lio ?arcia e Faniel ,ar%o Reis7?arcia! 19N6 #G

    Ss acontecimentos dos anos N0 ) da re/ormula'%o partidria brasileira de 19N0! passando pelo /im da ditadura civil+militar no in cio de 19N8! at- a &ueda do Muro de ;erlimem 19N9! episdio emblemtico da derrocada dos regimes pr+sovi-ticos! &ue no ;rasilculminaria com a auto+e tin'%o do artido >omunista ;rasileiro! I na d-cada de 1990 )consolidaram o esgotamento do modelo bolchevi&ue de partido revolucionrio no ;rasil!embora uma ou outra organiza'%o continuasse posteriormente a estruturar+se nesses moldes#Fentre outras raz(es! por&ue os militantes I n%o encontravam motivos para o auto+sacri/ cioem nome do artido e da revolu'%o# e o sacri/ cio da individualidade parecera+lhes /azersentido em conIunturas passadas! isso I n%o ocorreria no presente# ara a maioria! n%o teriamais cabimento integrar partidos &ue impusessem aos militantes o &ue Faniel ,ar%o ReisHilho chamou de @estrat-gia da tens%o m imaA# $ssaestrat5gia envolveria uma s-rie demecanismosCo comple;o da d*vida do militante com a organiza'%o comunista! ole8ue dasvirtudes

    do revolucionrio modelo!o massacre das tare.as

    com &ue o artido sobrecarregariaseus integrantes! acelebrao da autoridade dos dirigentes! aambival=ncia das orienta>es partidrias! bem como a s*ndrome da traio ) pela &ual seriam renegados a&ueles &uedei assem o artido 7Reis Hilho! 1991 #

    ?anhavam proIe'%o! nos anos N0! correntes de es&uerda ) &uer se autodesignassemmar istas! &uer n%o ) &ue buscavam contato com a realidade imediata das vidas cotidianas!com as lutas dos movimentos sociais por direitos de cidadania! contra a vis%o doutrinria/echada de certas vertentes do mar ismo#

    Mas h o outro lado da moeda# ^s vezes a 7auto cr tica do engaIamento dos anos 60n%o /oi sen%o a mscara para o triun/o da concep'%o 7neo liberal do indiv duo! da sociedade eG Ss livros mencionados s%o uma amostragem relativamente aleatria de um movimento intelectual e pol ticomuito mais amplo# $les s%o citados por indicarem re/le (es de intelectuais engaIados! como sintoma da procurade novos caminhos por parte das es&uerdas! valorizando os @sinais das ruasA e a democracia#

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    &ue teria um movimento prprio de eterna autodestrui'%o criadora! a &ue todos deveriam seaIustar#

    , vivncia das contradi'(es da modernidade pode levar o intelectual e o artista aoengaIamento na mudan'a! ou a pre/erir adaptar+se P ordem em trans/orma'%o constante!aceitando o @destinoA! livre do dilaceramento e istencial# ,o inv-s do intelectual revoltadocontra o mundo! ou revolucionrio a propor um novo mundo ) t pico dos anos 60 )!consolida+se o intelectual reconciliado com o mundo! no &ual reconheceria o eterno einevitvel movimento em &ue deve se inserir! e n%o combater! usu/ruindo ao m imo o prazer e a dor de viver em meio Ps intemp-ries da modernidade#

    Fe modo &ue se estabeleciam tardiamente ) durante o per odo da ditadura!consolidando+se posteriormente com a redemocratiza'%o no ;rasil ) novas condi'(es &ue/azem lembrar os comentrios de Kacob5 71990 sobre o decl nio do intelectual atuante navida p"blica da sociedade norte+americana I na d-cada de 1980C os intelectuais e artistasestariam ocupados e preocupados especialmente com as e igncias das carreiras pro/issionais! como na :niversidadeE P medida &ue a vida pro/issional prospera! a cultura p"blica /icaria mais pobre e mais velhaE haveria a substitui'%o crescente de empresrios!trabalhadores e pro/issionais independentes por empresas corporativas! processoindissocivel da e plos%o da educa'%o superiorE desaparecimento do espa'o urbano barato eagradvel &ue podia nutrir umaintelligentsia bomia! modelar de uma gera'%o de intelectuais7di/erente da bomia massi/icada de hoIe! comercializada e popularizada E elimina'%o dasmoradias baratas! restaurante! ca/-s e livrarias modestasE comercializa'%o acelerada dacultura! num cenrio em &ue @a literatura e a cr tica se tornam carreiras! n%o voca'(esA! comautores independentes dando lugar P pro/issionaliza'%o da vida cultural#

    , institucionaliza'%o de intelectuais e artistas neutralizaria a liberdade de &ue emteoria disp(em! de modo &ue eventualmente o sonho com a revolu'%o conviveria com oinvestimento na pro/iss%o! na &ual prevaleceria a realidade cotidiana da burocratiza'%o e doemprego# , pro/issionaliza'%o da vida intelectual nos limites do campus universitrioconduziria P privatiza'%o ou P despolitiza'%o! P trans/erncia da energia intelectual de umdom nio mais amplo para uma disciplina mais restrita! em &ue as press(es da carreira e da publica'%o intensi/icariam a /ragmenta'%o do conhecimento# $sse processo ocorrerialentamenteC @a trans/orma'%o do ambiente do intelectual tradicional n%o - instantBneaE ela - paralela ao decl nio das cidades! ao crescimento dos sub"rbios e P e pans%o das

    universidadesA 7Kacob5! 1990! p# L 8 # Tudo isso misturado a uma recomposi'%o do p"blico!ao sucesso da televis%o! P e pans%o dos sub"rbios! deteriora'%o das cidades e incha'o dasuniversidades#

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    circulavamC o pessoal de teatro dos inovadores ,rena e S/icina! escritores! cineastas! artistas plsticos! Iovens representantes da insurgente m"sica popular brasileira! pro/essores da : !militantes do movimento estudantil e de organiza'(es de es&uerda! en/im! todo um conIunto&ue representava o /lorescimento cultural do per odo#

    =oIe alunos e pro/essores est%o instalados no distante campus universitrio da : no;utant%! e muitos deles se espalharam pelas in"meras universidades p"blicas e privadas &uesurgiram pelo interior do estado e por outras unidades da /edera'%o ao longo dos anos! ondeencontraram seu lugar pro/issional# S pessoal do teatro em geral alcan'ou ito na televis%oou na ind"stria dos espetculos teatrais# Ss cineastas encontraram apoio na $M;R,HO2M$ eoutras alternativas de /inanciamento p"blico &ue a sucederam! &uando n%o nas agncias de publicidade# ,rtistas plsticos viram /ruti/icar um mercado rentvel para suas obras!escritores se deram bem em Iornais ou na e pans%o da m dia em geral! sem contar acrescentemente prspera ind"stria do livro# rios m"sicos da M ; alcan'ariam sucesso demercado maior &ue artistas de &ual&uer outro setor# $ os pol ticos radicais de ent%oencontrariam lugar nos mais diversos partidos da ordem! do MF; ao F;! passando at- pelo T ) cada vez maiscon.ivel ) e outros partidos! pelos &uais muitas vezes chegaram agovernos municipais! estaduais e /ederais# Onviabilizava+se a condensa'%o de umaintelligentsia cr tica num espa'o geogr/ico e histrico criativo# Talvez uma das imagensmais e pressivas da mudan'a e do esvaziamento desse espa'o esteIa no destino do local do/amoso bar RedondoC virou uma loIa de .ast .ood #

    ,ssim pode+se constatar! com certo desencanto! os rumos &ue tomou uma parcela daintelectualidade e do meio art stico! &ue I se propusera a mudar o mundo e a vida# uadespolitiza'%o ) &uando n%o mudan'as de rota em dire'%o P direita ) talvez n%o se devaapenas e essencialmente P vontade dos agentes! mas Ps prprias trans/orma'(es por &ue passou a sociedade brasileira#

    Yue ningu-m se iludaC n%o h como voltar Ps circunstBncias do passado# sabido &uea tendncia P /ragmenta'%o social do capitalismo de hoIe di/iculta proIetos coletivosalternativos! como a&ueles dos anos 60! levando muitas vezes os atuais artistas e intelectuaisengaIados a meramente trans/erir a uma dada causa seus apoios e prest gios pessoais! pore emplo! declarando apoio a certos candidatos ou partidos no horrio pol tico obrigatrio natelevis%o# Mas nem por isso seria ade&uado con/ormar+se com o presente de burocratiza'%oino/ensiva das atividades intelectuais e art sticas#

    ara um estudo do en/ra&uecimento da arte pol tica nos anos D0 e sobretudo nos N0 e90! - instigante a anlise de Kameson 7199 sobre os problemas envolvidos na produ'%o deuma arte pol tica em nossos dias! em &ue o capitalismo &uase inviabilizaria &uais&ueratividades grupais &ue pudessem embasar socialmente uma arte subversiva! numa era deocupa'%o &uase completa do espa'o cultural pela lgica mercantil# =averia umaatomi+aorei.icada# imposta pelo capitalismo de hoIe# Kameson admite! contudo! como /undamentosocial para uma nova arte pol tica e uma produ'%o cultural autntica a ser criada! aconstitui'%o de um grupo novo e org?nico ! por meio do &ual o coletivo abriria caminho naatomiza'%o rei/icada da vida social capitalista! a partir da luta de classes#

    eria e&uivocado reproduzir ao p- da letra propostas culturais e pol ticas dos anos 60#

    Mas parece &ue seria poss vel encontrar alternativas melhores de inser'%o da sociedade brasileira e de sua cultura no mundo de hoIe do &ue o ceticismo passivo! de submiss%o P novaordem mundial do @consenso de [ashingtonA#

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    implica a inviabilidade de retomar suas esperan'as! apostar em novos proIetos coletivos detrans/orma'%o social ) inclusive nas es/eras intelectuais e art sticas ) ao inv-s da carreiraindividual de cada um no mercado#

    inema hastel#vers ! Tilman# ,bril de 19N # @Odentidade! a /ace oculta dos movimentos sociaisA#Wn 1ovos !studos $!B A% #%o aulo! v# L! n# #=avaretto! >elso# 1996#Tropiclia alegoria alegria # La# ed# rev# %o aulo! ,teli $d#=eli, ! Moac5r 7org# # 196L 196G#'iolo de rua @ poemas para a liberdade # ols O! OO e OOO# Rio de Kaneiro!>iviliza'%o ;rasileira#=rederico! >elso# 199N# @, pol tica cultural dos comunistasA#Wn [uartim de oraes ! Ko%o 7org# # ist(ria domar;ismo no Brasil# , Teorias, nterpreta>es # >ampinas! $d# da :nicamp#>alv o ! [alnice incias =umanas#E] ! MichaelE5a re ! Robert# 1998# evolta e melancolia + o romantismo na contram%o da modernidade#etrpolis! ozes#

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    liveira ! Hrancisco de# Sut# dez# de 19N8# @,ves de arriba'%oC a migra'%o dos intelectuaisA# %o aulo! 6ua 1ova ! v# L! n# G#4eis =ilho! Faniel ,ar%o# 1991# A revoluo .altou ao encontro # %o aulo! ;rasiliense#4identi! Marcelo# 199G#9 .antasma da revoluo brasileira # %o aulo! $d# :nesp# \\\\\\\\\\\\\\ # 199N# @S sucesso no ;rasil da leitura do Mani/esto >omunista /eita por Marshall ;ermanA#Wn 4eis =ilho! Faniel ,ar%o 7org# #9 Mani.esto $omunista CHI anos depois # Rio de Kaneiro %o aulo!>ontraponto Hund# erseu ,bramo# \\\\\\\\\\\\\\ # L000# !m busca do povo brasileiro" artistas da revoluo# do $%$ & era da T', Rio deKaneiro! Record# \\\\\\\\\\\\\\ # L000b# Ontelectuais! artistas e estudantesC aris! 196N#Wn 4eis =ilho! Faniel ,ar%o 7org# # ntelectuais# hist(ria e pol*tica 3s5culos J J e JJ4 # Rio de Kaneiro! D 2etras# \\\\\\\\\\\\\\ # ,bril Iunho de L001# @Ontelectuais e romantismo revolucionrioA# So %aulo em %erspectiva ) Revista da Hunda'%o $,F$# olume 18 no#L#4ocha! ?lauber# 199D#$artas ao mundo # Srg# Ovana ;entes# %o aulo! >ompanhia das 2etras!#4ouanet! -rgio aulo# 1L#0G#19NN# ultura e pol tica! 196 +1969#Wn 9 pai de .am*lia e outros estudos # Rio de Kaneiro!az e Terra#5ilva! ,rmando -rgio da# 19N1#9.icina" do teatro ao te)ato # %o aulo! erspectiva#aetano# 199D#'erdade tropical # %o aulo! >ompanhia das 2etras#Nilliams! Ra5mond# 19D9# Mar;ismo e literatura # Rio de Kaneiro! Zahar#

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