MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

95
MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS DE RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA Belo Horizonte Universidade FUMEC Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte 2007

Transcript of MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

Page 1: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

MÁRCIO MEIRA BRANDÃO

A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS

DE RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER

NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA

Belo Horizonte

Universidade FUMEC

Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte

2007

Page 2: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

MÁRCIO MEIRA BRANDÃO

A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS

DE RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER

NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da

Faculdade de Ciências Econômicas,

Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte da

Universidade FUMEC, como requisito parcial

para obtenção de grau de Mestre em

Administração.

Área de Concentração: Gestão Estratégica de

Organizações

Orientador: Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini

Belo Horizonte

Universidade FUMEC

Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte

2007

Page 3: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

Universidade FUMEC

Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte

A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS DE

RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER

NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA

Dissertação de Mestrado apresentada por Márcio Meira Brandão, em 19 de abril de 2007, ao

Mestrado da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo

Horizonte da Universidade FUMEC, aprovada pela Banca Examinadora constituída pelo

Professores:

Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini (Orientador) Universidade FUMEC

Prof. Dr. Fernando Gomes de Paiva Junior Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Dr. Irineu Dário Staub Universidade Federal do Paraná

Prof. Dr. Jersone Tasso Moreira Universidade FUMEC

Belo Horizonte, 19 de abril de 2007.

Prof. Dr. Luiz Antônio Antunes Teixeira

Coordenador do Curso de Mestrado em Administração

Page 4: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

Aos meus pais (in memoriam),

Marcilio e Mercês,

pelo exemplo de vida e amor incondicional,

a minha eterna gratidão.

À minha Tchuca (Celsita),

pelo sentido que deu à minha vida,

o meu amor.

Page 5: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

AGRADECIMENTOS

A Deus, razão da minha existência, por me guiar com saúde, discernimento e força

para que eu possa continuar com o firme propósito de ser um instrumento de sua palavra.

Ao Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini, meu orientador, pelo exemplo de liderança,

dedicação e responsabilidade, pela paciência e respeito às minhas limitações, pelo incentivo e

amizade e pela criteriosa orientação dada em cada etapa da minha formação acadêmica e

desse estudo.

Aos meus pais Marcilio Nunes Brandão (in memoriam) e Mercês da Conceição

Meira Brandão (in memoriam) pelo apoio, amor incondicional, exemplo de vida e fonte de

luz.

À Celsita Baeta Lopes, administradora do meu coração, paciente, amiga,

companheira de todos os momentos, pelo imensurável apoio em todas as etapas deste trabalho

e por permitir que eu compartilhe de sua vida e seja mais feliz. Aos seus filhos, Ízila, Vitor e

Caio, por se privarem da sua companhia, a meu favor.

A todos os meus familiares, por acreditarem nas minhas competências e visão de

que é possível abrir novos caminhos e conquistar novos horizontes.

Aos meus irmãos Lila, Maurício (in memoriam), Naná e Xó, por contribuírem

significantemente na minha formação; Iza, Birinha e Maurinho, por me tomarem como filho

nos momentos difíceis da minha caminhada.

Page 6: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

Às Professoras Taís Almeida Marra, Luciana Moreno, Margareth Lazzarini,

Juciany Rodrigues Ramalho e Carla Renata Soares, pela amizade e por terem assumido

funções e responsabilidades minhas, possibilitando a conclusão deste trabalho.

À Semíramis Baeta, Patrícia Brandão, David Macintyre e Ubiraci Bagno, pelo

apoio prático e emocional na conclusão deste trabalho.

À Professora Lívia Ribeiro Borges Lazzarotto, coordenadora do Curso de

Fisioterapia do Centro Universitário UNIBH, pelo “trote” - como reconhecimento e

celebração das minhas conquistas, pela compreensão dos momentos em que estive ausente,

pelo exemplo, amizade e apoio.

À direção da Faculdade Pitágoras, pela compreensão e apoio na concretização

desta qualificação.

Ao Prof. Dr. Luiz Antônio Antunes Teixeira, Coordenador do Curso de Mestrado

da FACE/FUMEC, e à sua equipe docente, por tornarem possível o desenvolvimento e

conclusão desta etapa profissional.

Aos colegas da “turma dois”, pela agradável convivência e participação ativa na

minha formação acadêmica.

Page 7: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos,

pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?

Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

Page 8: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

RESUMO

Este estudo analisa as competências empreendedoras e a rede de relações sociais

no processo de decisão do exercício profissional do fisioterapeuta. Na literatura sobre

empreendedorismo as pesquisas existentes focam em separado, ora no construto competências

empreendedoras (DRUCKER, 1986; PAIVA et al, 2006), ora no construto relações sociais

(GRANOVETER, 1985; VASCONCELOS 2005). Neste trabalho busca-se entender como

esses dois atributos são edificados nos serviços de fisioterapia e quais associações podem ser

feitas entre competência empreendedora e sistemas de relações com a opção do profissional

fisioterapeuta em ter ou não o seu próprio negócio. O segmento fisioterápico, além de ser a

área de atuação do pesquisador, possibilita uma série de alternativas de negócios para o

formando, o que se traduz em um rico campo de investigação para os objetos em estudo.

Utilizou-se uma metodologia de natureza qualitativa, realizada por meio de entrevistas semi-

estruturadas com profissionais fisioterapeutas. Os entrevistados foram assim classificados em

relação ao estágio do negócio: inicial nascente; inicial novo; estabelecidos e outros no sentido

de permitir uma análise estratificada que refletisse as etapas do exercício profissional e os

tipos de negócios definidos pelo fisioterapeuta. Para gerar os resultados foi utilizada a análise

de conteúdo clássica. Para agrupar os construtos fez-se uso da técnica de análise temática que

permitiu agrupar os depoimentos evidenciados em sub-temas e núcleos de sentidos associados

às competências empreendedoras e os sistemas de relações no campo fisioterápico. Em

paralelo a essa análise exclusivamente qualitativa, onde se buscou abstrair os dados subjetivos

das entrevistas, realizou-se também uma análise estatística simples. Nessa análise foram

levantados os percentuais que representaram o nível de freqüência/recorrência nas respostas,

sobre cada item dos construtos pesquisados no trabalho. Os resultados obtidos demonstram

que entre as competências empreendedoras associadas à visão do ambiente, 62% dos

entrevistados utilizaram a habilidade de aproveitar uma oportunidade no mercado e mais da

metade não fizeram uso de informações preliminares sobre o negócio. Já a opção pela carreira

fisioterápica e sua a inclinação em se estabelecer como proprietários de um negócio foram

fortemente influenciadas pela rede de relações sociais, sendo que a dimensão acadêmica se

mostrou como mais influenciadora.

Palavras-chave: Competências Empreendedoras; Empreendedorismo; Segmento Fisioterápico;

Sistema de Relações.

Page 9: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

ABSTRACT

This study analyzes the entrepreneur’s competencies and the social relation network in

the decision process of the physiotherapist’s professional work. In the literature about

entrepreneurs, the existing researches focus separately. Sometimes on entrepreneur’s

competencies construct (DRUCKER, 1986; PAIVA et al., 2006) and other times on the social

relations’ construct (GRANOVETER, 1985; VASCONCELOS, 2005). This paper tries to

understand how these two attributes are constructed in the physiotherapy services and which

associations can be made between the entrepreneur’s competencies and the relation systems in the

professional option of a physiotherapist in having or not his own business. The physiotherapy

sector, apart from being a research area for a researcher, offer a series of alternative business

possibilities for the newly graduated, which can be translated into a rich field of investigation for

the objects that are being studied. The methodology that was used was o qualitative nature, using

semi-structured interviews with professional physiotherapists. The professionals that were

interviewed were classified according to the stage of their business: incipient initial, new initial,

established and others (GEM, 2006), in the sense that this will allow a stratified analysis that

reflects the stages in the exercise of the profession and the types of businesses defined by the

physiotherapist. To create the results, the analysis of the classical content was used. The technique

of thematic analysis was used to gather the constructs, which permitted to gather the evidenced

testimonies in sub-themes and meaning nucleuses associated to the entrepreneur’s competencies

and the relation systems in the physiotherapy field. Beside the exclusive qualitative analysis,

where the idea was to extract the subjective data of the interviews, a simple statistic analysis was

also completed. In this analysis the percentages that represented the level of frequency/recurrence

of the answers were investigated, about each of the items researched in this paper. The results

which were obtained show that among the entrepreneur’s competencies associated the viewing of

the environment, 62% of the interviewed use the ability of taking advantage of a market

opportunity and more that half did not use the preliminary information about the business. Yet the

option for the physiotherapist career and the tendency to establish themselves as owners of their

own business were strongly influenced by the social relation network, being that the academic

dimension showed itself as being the one with more influence.

Key-words: Entrepreneur’s Competence, Entrepreneurship, Physiotherapy Segment, Relations’

System.

Page 10: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 As Três Categorias da Visão Empreendedora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

FIGURA 2 Elementos de Suporte do Processo Visionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 32

FIGURA 3 O Processo Gerencial dos Empreendedores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

FIGURA 4 O Sistema de Relações Sociais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

Page 11: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Categoria e Formação dos Entrevistados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

QUADRO 2 Quantificação das Recorrências de Competências Empreendedoras -

Sistemas de Relações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

75

QUADRO 3 Demonstrativo de Categorias de Profissionais Entrevistados. . . .. . . . . . 76

QUADRO 4 Demonstrativo de Recorrências dos Construtos - Competências

Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações.. . . . . . . . . . . . . . .

76

QUADRO 5 Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas ás

Competências Individuais Empreendedoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

77

QUADRO 6 Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas à Visão

do Ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

78

QUADRO 7 Demonstrativo de Recorrências das Competências de Oportunidade. . . 78

QUADRO 8 Demonstrativo de Recorrências de Conhecimento Antecipado do

Negócio e o Uso de Informações Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

79

QUADRO 9 Demonstrativo de Recorrências de Competência de Avaliar e Assumir

Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

80

QUADRO 10 Demonstrativo de Recorrências de Competências Individuais

Empreendedoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

81

QUADRO 11 Demonstrativo de Recorrências dos Sistemas de Relações Sociais . . . . 82

Page 12: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CES Censo de Educação Superior

CNE Conselho Nacional de Educação

CREFITO 4 MG Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Região -

Minas Gerais

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

FACE Faculdade de Ciências Empresariais

FUMEC Fundação Mineira de Educação e Cultura

GEM Global Entrepreuneurship Monitor

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

RPG Reeducação Postural Global

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TO Terapia Ocupacional

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

Page 13: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE

RELAÇOES – MOTIVAÇÕES PARA SE ESTUDAR A SUA

EMERGÊNCIA NO SEGMENTO DE FISIOTERAPIA. . . . . . . . . . . . . . . 19

3 OBJETIVOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3.2 Objetivos Específicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4.1 Empreendedorismo, Empreendedor e Ação Empreendedora. . . . . . . . . . . . . . . 25

4.2 Competências Individuais Empreendedoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4.2.1 Competências Associadas à Visão do Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.2.1.1 Competência de Oportunidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.2.1.2 O Conhecimento Antecipado do Negócio e o Uso de Fontes Preliminares de

Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.2.1.3 Competência de Avaliar e Assumir Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.2.2 Competências Associadas à Ação Estratégica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.3 Sistemas de Relações - As Redes Sociais e a Influência na Atividade

Empreendedora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

5.1 Estratégia da Pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5.2 Coleta de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

5.3 Tratamento e Análise dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

5.3.1 Técnica de Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

5.3.2 Análise Temática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Page 14: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

4

6 COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE

RELAÇÕES NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA. . . . . . . . . . 52

6.1 Antecedentes do processo de escolha do profissional fisioterapeuta. . . . . . . . . 52

6.2 Competências empreendedoras no exercício da fisioterapia . . . . . . . . . . . . . . . 56

6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

6.2.2 Competências associadas à ação estratégica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

6.3 Sistemas de relações – As redes sociais e sua influência na atividade

fisioterápica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

6.4 Análise de recorrência dos temas “competências empreendedoras” e

“sistemas de relações” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

7 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES PARA

ESTUDOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

ANEXO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

Page 15: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

15

1. INTRODUÇÃO

O tema empreendedorismo tem cada vez mais alcançado espaço na academia e na

mídia por representar uma relevante alternativa para o desenvolvimento econômico e social

do Estado de Minas Gerais. O Brasil, em especial, ocupa lugar de destaque mundial pelo

número de empreendedores que anualmente são identificados no mercado de negócios.

Segundo relatório gerado pelo GEM (2005) o país ocupa a sétima posição entre os países com

maior taxa de atividade empreendedora no mundo. Enquanto um em cada oito brasileiros em

idade adulta está pensando em abrir um negócio (PAIVA JR, 2004), em torno de 50% da

população do país conhece alguém que iniciou um novo negócio nos últimos dois anos

(GEM, 2007).

Atualmente, são várias as instituições que registram e pesquisam o fenômeno do

empreendedorismo, buscando entender o perfil e a motivação das pessoas que se sobressaem

utilizando a capacidade de empreender seja dentro das organizações ou na estruturação do

próprio negócio. A crescente necessidade das pessoas em buscar algo diferenciado do que é

oferecido pela maioria das organizações, também tem contribuído para o interesse nos estudos

que pesquisam os comportamentos voltados para colocar em prática soluções tecnológicas

empreendedoras.

A academia não tem ficado à margem dessa investigação. Nos estudos sobre

empreendedorismo uma série de “Escolas” de pensamentos tem buscado estruturar as

pesquisas sobre a temática (KURATKO e HODGGETTS, 1995; FILLION, 1999b). São

linhas que associam a atividade empreendedora ao desenvolvimento econômico, à ação

estratégica e ao comportamento de indivíduos e organizações. O foco de interesse desta

Page 16: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

16

pesquisa permeia as correntes que estudam o comportamento e a ação estratégica

empreendedora, em especial as competências individuais e as relações sociais que

influenciam na decisão dos indivíduos da área de fisioterapia.

A competência empreendedora está relacionada à capacidade do indivíduo de

identificar e colocar em prática aquelas ações que podem estimular o progresso das

sociedades (SCHUMPETER, 1984). Nesse processo, uma série de variáveis, entre elas as

interações sociais, auxilia o desenvolvimento da formação visionária. A concretização de um

empreendimento visionário pode estar associada, tanto ao esforço próprio que independe da

utilização mais efetiva de interações sociais, como da viabilização exclusiva pela rede de

contatos de que o indivíduo dispõe.

Um dos desafios presentes na literatura sobre empreendedorismo diz respeito à

influência que os sistemas de relações sociais têm na decisão dos profissionais em optar por

possuir vínculo empregatício ou assumir individualmente a condução de uma solução

tecnológica. Alguns estudos mostram que as esferas sociais – família, amigos, colegas de

trabalho e de formação educacional – cumprem um importante papel na edificação e

alavancagem de um negócio (BIRLEY, 1986; ALDRICH e ZIMMER, 1986; FILION, 1993).

Pouco se sabe, no entanto, de que maneira as relações sociais interferem na decisão pessoal de

levar adiante a idealização de um projeto de trabalho voltado para o ato de empreender.

O propósito dessa dissertação consiste em ampliar a compreensão de como a

formação do empreendedor e os contatos pessoais influenciam no futuro profissional do

indivíduo. No sentido de contribuir para essa investigação, a pesquisa objetiva analisar os

Page 17: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

17

impactos das competências empreendedoras e dos sistemas de relações na escolha dos

caminhos a serem trilhados pelo profissional de fisioterapia no mercado de trabalho.

Para analisar os impactos desses dois construtos na concepção de um

empreendimento optou-se por estudar o setor de serviços fisioterápicos da Região

Metropolitana de Belo Horizonte. Em geral, o recém-formado do curso de Fisioterapia, ao se

defrontar com o mercado de trabalho, depara-se com o dilema das diversas alternativas

existentes: exercer a profissão em hospitais, clínicas, academias de ginásticas, clubes

desportivos, centros de saúde, indústria e instituições de ensino superior, ou conduzir o seu

próprio negócio. Nesse entremeio diversas redes de relações são construídas no sentido de

viabilizar as idéias propostas.

Assim, foram entrevistadas 23 pessoas entre fisioterapeutas e gestores de clínicas

fisioterápicas e por meio da análise clássica de conteúdo identificaram-se as principais

competências que ampararam o processo de decisão profissional. Da mesma maneira,

utilizando a técnica de análise temática aprofundou-se na investigação de como os sistemas de

relações interferem na viabilização do negócio. Nos resultados finais são discutidos como as

competências individuais e o sistema de relações sociais influenciam ou não na decisão do

fisioterapeuta em montar o seu próprio negócio.

Este trabalho está dividido em sete capítulos. Além da introdução apresentada

nesta sessão, o Capítulo dois aborda as motivações para se estudar as competências

empreendedoras e os sistemas de relações. No Capítulo três são descritos os objetivos gerais e

específicos do trabalho, bem como a delimitação da amostra da pesquisa. O capítulo quatro

abrange a fundamentação teórica e é dividido em tópicos que comportam conceitos sobre

empreendedorismo, empreendedor e ações empreendedoras e a revisão da literatura associada

Page 18: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

18

às competências individuais e às redes de relações sociais que impactam na formação do

negócio. No Capítulo cinco são abordados os procedimentos metodológicos utilizados na

pesquisa. O Capítulo seis revela as competências empreendedoras e os sistemas de relações na

área de serviços de fisioterapia e por fim, no capítulo sete, apresentar-se-ão as conclusões,

limitações da pesquisa e sugestões para os estudos futuros.

Page 19: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

19

2. COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE RELAÇÕES –

MOTIVAÇÕES PARA SE ESTUDAR A SUA EMERGÊNCIA NO SEGMENTO

DE FISIOTERAPIA

No Brasil, um contingente considerável da população encontra-se em idade ativa

de trabalho. Segundo IBGE (2006), em recente pesquisa considerando as Regiões

Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto

Alegre, aproximadamente 39,6 milhões de pessoas foram consideradas aptas ao exercício de

atividades laborais.

As crises econômicas, o avanço da tecnologia e o acirramento da concorrência

decorrente da globalização têm feito com que as empresas tenham estruturas organizacionais

caracterizadas por uma redução dos níveis hierárquicos, diminuição de funcionários e

racionalização de funções. Com essa tendência de diminuição das estruturas de pessoal nas

grandes organizações e possível desemprego, as pessoas têm buscado no mercado de trabalho

novas formas de ocupação.

Assim, os profissionais atingidos pelo desemprego passam a ter a necessidade de

recorrer a fontes alternativas de renda. Uma das opções é a criação de um negócio próprio,

normalmente na forma de micro ou pequena empresa (DORNELAS, 2005). A percepção da

oportunidade para a criação de novos empreendimentos acarreta intensa mobilização dos

indivíduos envolvidos na obtenção dos recursos necessários para concretizá-los (JARILLO,

1989; SHANE e VENKATARAMAN 2000).

Page 20: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

20

Benedetti et al. (2005) descrevem como, a partir da década de 1980, aumentou o

número de micro e pequenas empresas no Brasil. De acordo com os autores, esse modelo

gerador de empregos e multiplicador de recursos importantes para o desenvolvimento

econômico do país tem movido a expansão do tema empreendedorismo na mídia

especializada e na academia. Em 2003, uma variedade de centros de capacitação

empreendedora já se encontravam espalhados pelo território nacional (BRITTO e WEBER,

2003).

A captação dos recursos monetários para a sobrevivência familiar, além de uma

melhor qualidade de vida são frutos de uma busca por resultados a partir do exercício das

atividades empreendedoras (MENEZES, 2004). Dentro da perspectiva epistemológica

cunhada por Burrel e Morgan (1979), o ator social seria o criador da realidade estruturada por

meio da interação social com outros atores. Para alcançar os objetivos pessoais, que nem

sempre transparecem muito claros, as pessoas se sentem motivadas a empreender pelo desejo

de serem valorizadas em relação ao potencial produtivo despendido (BERGAMINI, 1997).

Nessa empreitada, o que está em jogo é como desenvolver as capacidades necessárias para a

realização pessoal. Com este estudo pretende-se aprofundar em dois fatores que podem ser

decisivos na implementação de um empreendimento: o desenvolvimento de competências

empreendedoras e a influência dos sistemas de relações sociais na implantação de um

negócio.

Na literatura de empreendedorismo a capacidade de percepção do ambiente e os

sistemas de relações são tratados como componentes das competências empreendedoras

(FILION, 1991; BRUSH et al., 2001; PAIVA JR. et al., 2006). As competências podem ser

edificadas no processo de aprendizagem oferecido pelos cursos de formação educacional ou

Page 21: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

21

na própria experiência pessoal e profissional. Em todas essas situações as relações pessoais –

familiares, afetivas e intelectuais - exercem forte influência na elaboração do negócio que se

deseja implementar. São ainda poucos os estudos que buscam compreender essa dinâmica. O

que se necessita explorar é como esses dois construtos são levados em conta na decisão pela

assunção de um novo negócio. No sentido de realizar essa investigação, optou-se por estudar

o segmento de serviços fisioterápicos. A formação de profissionais fisioterapeutas apresentou

um crescimento vertiginoso nos últimos 15 anos. Dados extraídos do Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do IBGE, demonstram que em

1991 existia, no Brasil, 48 cursos de graduação presenciais de fisioterapia. Em 2004 o número

de cursos oferecidos passou para 339, representando um aumento da ordem de 685,58 % em

13 anos. No mesmo período o número de estudantes que concluíram o curso saltou de 3.121,

em 1991, para 29.863 concluintes em 2004 (HADDAD, 2006).

O profissional fisioterapeuta, segundo o Conselho Federal de Fisioterapia e

Terapia Ocupacional, órgão representativo da classe, tem uma significativa participação na

sociedade, responsável pelas ações fisioterápicas privativas a ele atribuídas. Dentre as

atividades privativas dos profissionais fisioterapeutas está o de executar métodos e técnicas

fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do

paciente. No exercício dessas funções o profissional de fisioterapia deve fazer uso de algumas

competências e habilidades adquiridas na sua formação, segundo Diretrizes Curriculares

Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia.- Resolução CNE/CES no. 4/2002, a

saber:

a) aptidão para desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e

reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo;

Page 22: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

22

b) capacidade para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas,

baseadas em evidências cientificas;

c) habilidade de interagir com outros profissionais de saúde e público em geral,

de ter acessibilidade e manutenção da confidencialidade das informações;

d) disposição para assumir posições de liderança, tendo em vista o bem estar da

comunidade, com compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para

tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

e) aptidão de serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na

equipe de saúde e ter a capacidade para a tomada de iniciativa, gerenciar e

administrar a força de trabalho, os recursos físicos, materiais e informação;

f) capacidade de aprender continuamente, tanto na formação, quanto na prática,

de aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a educação

própria e das futuras gerações de profissionais.

Cabe também ao fisioterapeuta dirigir e assessorar serviços em órgãos e

estabelecimentos públicos ou particulares, exercer o magistério nas disciplinas de formação

de nível superior e médio e supervisionar profissionais e alunos em trabalhos técnicos e

práticos (CREFITO 4 MG, 2002). Apesar da crescente expansão das diversas áreas de atuação

do profissional fisioterapeuta, Rebelatto e Botomé (1999) relatam a inexistência no Brasil, de

estudos que norteiam os modelos de atuação profissional, questionando quais as atividades

que podem e devem ser criadas por eles.

De acordo com Nascimento et al (2006), a história da profissionalização da

fisioterapia, sobretudo em Minas Gerais, registra a hegemonia médica e a ocorrência de

diversos conflitos internos e externos, motivados pela indefinição das atribuições e

Page 23: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

23

competências da classe. A mesma autora confirma que para a afirmação efetiva da profissão é

essencial que se delimite melhor os diversos papéis exercidos pelos fisioterapeutas.

Muniz e Teixeira (2003) enfatizam que há muito o fisioterapeuta deixou de ser um

simples assalariado para tornar-se empresário, assumindo funções de chefia e

responsabilidade técnica de diversos serviços. A variedade de funções que o fisioterapeuta

pode exercer e as inúmeras relações profissionais com que se envolve nas diversas

organizações favoreceram a escolha desse setor para o nosso estudo. Nesse sentido,

pretende-se responder à seguinte questão de pesquisa:

Como as competências empreendedoras e os sistemas de relações influenciam

na decisão de empreender do profissional fisioterapeuta?

A proposta da investigação visa contribuir para com o debate sobre a influência da

formação das competências empreendedoras e do sistema de redes sociais nas decisões de

empreender do profissional fisioterapeuta. A pesquisa pode vir a apontar os atributos que

perfazem o processo de escolha dos caminhos existentes do exercício profissional, bem como,

as competências e as relações que interferem nessa decisão. Os objetivos do trabalho são a

seguir discriminados.

Page 24: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

24

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Analisar o processo de decisão do exercício profissional do fisioterapeuta da

grande Belo Horizonte sob as influências das competências empreendedoras e dos sistemas de

relações.

3.2 Objetivos Específicos

a) Identificar as características que definem as competências empreendedoras do

profissional fisioterapeuta;

b) Analisar os sistemas de relações sociais dos profissionais de fisioterapia

estabelecidos no mercado;

c) Estabelecer a influência da associação entre competência empreendedora e

sistemas de relações com a opção do profissional fisioterapeuta em ter ou não o

seu próprio negócio.

Page 25: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

25

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A revisão da literatura buscou resgatar conceitos e teorias associadas aos

construtos competências empreendedoras e sistema de relações sociais. O primeiro item

aborda as concepções de empreendedorismo e sua evolução em outros países e no Brasil. O

segundo tópico da fundamentação teórica abrange os conceitos de competência e as instâncias

em que são manifestadas: ao nível das pessoas e das organizações. No terceiro item são

evidenciados os significados e componentes das competências empreendedoras e dos sistemas

de relações sociais, bem como, a importância dessas redes na formação de um

empreendimento.

4.1 Empreendedorismo, Empreendedor e Ação Empreendedora

A existência de um mercado cada vez mais competitivo, fazendo com que os

dirigentes das organizações se sintam pressionados por resultados financeiros de curto prazo

cresceu e, com ela, as metas tornaram-se mais difíceis e a vida do trabalhador mais

estressante. Essa instabilidade no ambiente interno organizacional gerou uma procura maior

por oportunidades no ambiente externo.

Diante desse quadro, muitos negócios foram criados pelos profissionais atingidos

pelo desemprego e que se viram obrigados a buscar fontes alternativas de renda que

possibilitassem a sua sobrevivência (DORNELAS, 2005). A criação de novos

empreendimentos muitas vezes decorre das oportunidades que são percebidas e aproveitadas

por meio de uma intensa mobilização para a obtenção dos recursos necessários para

Page 26: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

26

concretizá-los (JARILLO, 1989; SHANE e VENKATARAMAN 2000). Esse fenômeno, que

impulsiona o desenvolvimento da economia nacional possivelmente pode ter sido um dos

responsáveis pela mobilização de pesquisadores interessados nos estudos sobre

empreendedorismo (BRITTO e WEBER, 2003).

O empreendedorismo consiste então no processo de criação de novos

empreendimentos, dentre outros, suportados por redes cooperativas geradas pelo governo,

pelas instituições de ensino e pelas organizações (KURATKO e HODGETTS, 1995). Pode

ser estudado por meio das dimensões individual, organizacional, ambiental e processual.

Timmons (1990) defende que o empreendedorismo é a habilidade para criar e construir uma

visão, um ato criativo. A visão empreendedora deve comportar atividades corporativas que

envolvem o desenvolvimento da economia e da sociedade (SCHUMPETER, 1984). Nesse

contexto, ela é propulsora do progresso, definindo as bases do desenvolvimento

organizacional, projetada pelas metas audaciosas que o empreendedor deseja alcançar

(FILION, 1991; COLLINS e PORRAS, 1994, PARDINI, 2005). O empreendedor seria o

catalisador das mudanças econômicas que utiliza o planejamento e a execução de ações

inovadoras para conduzir o processo empreendedor.

Segundo Schumpeter (1984), o empreendedor se distingue pela capacidade de

modificar a ordem econômica existente, seja por meio da exploração dos recursos materiais e

tecnológicos existentes ou pela introdução de novos produtos e serviços e a criação de novas

formas de organização.Essa mudança é considerada por Drucker (1986), como resultado das

divergências de opiniões e interesses, uma característica do empreendedor de estar sempre

“perturbando” e “desorganizando” a ordem natural das coisas, fenômeno denominado por

Schumpeter (1984) de “destruição criativa”.

Page 27: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

27

A história do empreendedorismo no mundo e no Brasil auxilia a entender as

origens da atividade empreendedora. Para Filion (1991) a palavra “empreendedor” apresenta

conceitos que variam de acordo com o país e a época. No século XII, na França, o termo

entreprenuer era utilizado para se referir àquele que incentivava brigas. Ao final do século

XVII, o propósito de fazer qualquer coisa significava empreender. No século XVIII,

empreendedor dizia respeito àquela pessoa responsável pela criação e direcionamento dos

projetos e empreendimentos. Já no século XIX e inicio do século XX, surgem os chamados

capitães da indústria, os empreendedores do setor automobilístico que definitivamente

incorporam a ação empreendedora no ambiente organizacional.

No Brasil, a atividade empreendedora cresceu em decorrência do significativo

aumento de novos negócios que culminou com a multiplicação de empreendimentos de

pequeno e médio porte. No ano de 2002, conforme boletim estatístico de micro e pequenas

empresas (Sebrae, 2005), os micros e pequenos negócios representavam 99,2 % das empresas

implantadas no país, responsáveis por 69,2 % da ocupação de pessoas. Entretanto, é ainda

significativo o número de negócios que encerram suas atividades. De acordo com dados do

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a mortalidade dos

negócios com até três anos de vida alcançou 56,4 % em 2005 (SEBRAE, 2005).

Para este estudo, a classificação utilizada pelo GEM (2006) dos

empreendedores por estágio do negócio e remuneração servirá de parâmetro para a

escolha da unidade de observação. O estágio de amadurecimento do empreendedor em

relação ao seu negócio pode gerar manifestações diferenciadas em relação ao objeto em

análise. De acordo com o GEM (2006) os empreendedores são tipificados como

Page 28: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

28

empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos. Os empreendedores iniciais são

aqueles que possuem empreendimento há menos de três anos e meio (42 meses), tempo

considerado como vital para a sobrevivência do negócio. Eles são subdivididos em

empreendedores nascentes e empreendedores novos. São denominados nascentes aqueles

empreendedores que geraram alguma remuneração do negócio por menos de três meses.

Os empreendedores novos são aqueles já geram remuneração há pelo menos três meses.

Por sua vez, os empreendedores estabelecidos são considerados aqueles que estão à frente

dos empreendimentos há mais de 42 meses.

4.2 Competências Individuais Empreendedoras

O conceito de competência vem sendo amplamente explorado nos últimos anos em

discussões acadêmicas. No contexto deste estudo a construção do arcabouço teórico da

competência se justifica pelo entendimento de como a sua estruturação influencia na decisão

profissional das pessoas. Competência, derivada do inglês competence, é definida pelo

dicionário Webster (1999) como uma condição ou qualidade de suficiência de conhecimentos,

habilidades ou sucesso.

O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis (2004) revela, em sua

definição, que competência é a faculdade para apreciar e resolver qualquer assunto. Ducci

(1996) acrescenta a esse significado a capacidade para enfrentar e resolver problemas com

sucesso em situações novas, incertas ou irregulares. O especialista competente seria aquele

em que se reconhece particular habilidade em determinado campo de conhecimento, o que

marca a ruptura entre aquele que a detém e os que não a possuem ou a têm de forma

incompleta (LUZ, 2003). Competência pode ser concebida como uma característica que

Page 29: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

29

engloba diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos, influenciados pela

experiência, capacitação, educação, história familiar e aspectos demográficos peculiares à

pessoa (KETS DE VRIES, 1996; MAN e LAU, 2000).

Incorporando o sentido de resultado ao conceito alguns autores associam a

competência como um meio de se obter transformações no mundo social e das organizações. Para

Barato (1998) as competências envolvem os saberes que compreendem um conhecimento capaz

de produzir determinados desempenhos, assim como de assimilar e produzir informações

pertinentes. Além disso, as competências alinham as capacidades de buscar, interpretar,

transformar e produzir processos e performances com o poder de executar corretamente uma

variedade de tarefas que representam as possibilidades concretas de uso do conhecimento,

pressupondo ainda a capacidade de transferência de aprendizagem e de adaptação a um novo

cenário (PARDINI, 2004).

Originada da psicologia, a competência, de acordo com Elliot e Dweck (2005),

pode ser observada nos indivíduos por meio de diferentes perspectivas. Ser competente diz

respeito às pessoas que utilizam um padrão específico na realização de tarefas ou ao indivíduo

que utiliza padrões de comportamento interpessoais para gerar mudanças ambientais e

normativas. Para alguns autores, as competências não se limitam apenas ao estoque de

conhecimentos teóricos e empíricos do indivíduo; ela diz respeito também, à ação de colocar

em prática o conhecimento em uma determinada situação (FLEURY e FLEURY, 2004).

Na literatura sobre empreendedorismo uma gama de características é encontrada

para definir o perfil do empreendedor. A noção de competência empreendedora está associada

ao misto de conhecimentos, habilidades e atitudes que desencadeiam ações eficazes na

Page 30: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

30

consolidação de um negócio (RUAS, 2001; PAIVA et al., 2006). No entanto, o que se

percebe nos estudos que abordam as competências do empreendedor é uma miscelânea de

significados apresentados de maneira ampla e variada. Na tentativa de estruturar as

perspectivas conceituais existentes, neste tópico será proposta uma abordagem que engloba

dimensões de natureza comportamental e processual na formação da competência estratégica

da ação empreendedora. Com este estudo assume-se o pressuposto que o desenvolvimento

das competências na opção por uma determinada ação empreendedora envolve dois

momentos: o exercício da capacidade de perceber o ambiente do negócio e a aptidão para

colocar em prática as ações idealizadas.

4.2.1 Competências Associadas à Visão do Ambiente

Entre as competências do empreendedor, destaca-se a capacidade de visualizar o

ambiente que antecede e ampara o processo de decisão. Filion (1991) classifica a visão

empreendedora em três categorias: visão emergente, visão central e visão complementar

(FIG. 1). A visão emergente diz respeito ao desenvolvimento de produtos e serviços que

apresentem potencial de mercado. A visão central seria decorrente do resultado de uma ou

mais visões emergentes, podendo ser originada de uma visualização externa – faixa de

mercado a ser ocupada por um produto ou serviço - e outras interna – que indica os

caminhos para viabilizar o negócio. A visão complementar estaria associada às atividades

gerenciais necessárias para dar suporte à visão central. As competências relativas às visões

complementares serão tratadas em uma categoria específica no item 4.3.2.

Page 31: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

31

FIGURA 1 – As Três Categorias da Visão Empreendedora. FONTE - Filion, 1993.

A concepção e a implementação do processo visionário distinguem o

empreendedor do gerente tradicional. Filion (1999a) argumenta que os empreendedores têm

visões, cuja elaboração demanda tempo, comprometimento e imaginação sobre o objetivo a

ser perseguido e os caminhos necessários para realizá-lo. Diferentemente dos gerentes e

executivos tradicionais, que normalmente utilizam habilidades administrativas para atingir

metas a partir dos recursos disponíveis na estrutura organizacional (FILION, 1999b), o

empreendedor está voltado para a definição de contextos e a organização dos recursos

necessários para fazer frente às oportunidades e ameaças ambientais (DORNELLAS, 2005).

Diante deste cenário, são desenvolvidas algumas competências que serão tratadas a seguir.

4.2.1.1 Competência de Oportunidade

Uma das principais fontes de elucidação da visão empreendedora são as

oportunidades presentes no ambiente dos negócios (DESCHAMPS e NAYAK, 1996). Paiva

Jr., Leão e Mello (2003) classificam o desenvolvimento da capacidade de se antecipar ao

VISÃO CENTRAL

EXTERNA

INTERNA

VISÕES EMERGENTES

VISÕES COMPLEMENTARES

VISÕES EMERGENTES

VISÕES COMPLEMENTARES

Page 32: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

32

mercado e estruturar ações para concretizar um determinado empreendimento como

competência de oportunidade. A oportunidade é uma idéia que está vinculada a um produto

ou serviço que agrega valor ao consumidor, seja por meio da inovação ou da diferenciação.

Para Filion (1991) a identificação de oportunidades compõe uma das etapas do

processo visionário. Inicialmente o indivíduo identifica e entende um determinado tipo de

negócio com potencialidade de ser explorado. Percebida a oportunidade ele focaliza o nicho

de negócio, aprofunda o conhecimento na sua dinâmica de funcionamento, elabora cenários

para por em prática o negócio e, por fim, planeja a execução da idéia. Dentro de uma

perspectiva cognitivista, nessa empreitada alguns elementos atuam como suporte à formação

da visão (FIG. 2), são eles: o conceito de si, a energia, a liderança, a compreensão do setor e

as relações sociais.

FIGURA 2 – Elementos de Suporte do Processo Visionário.

FONTE - Filion, 1991.

Compreensão do setor

Visão

Relações

Conceito de si

Energia

Liderança

Page 33: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

33

O conceito de si ou a auto-imagem se traduz na manifestação dos valores pessoais

do indivíduo, da sua forma de ver o mundo. A energia diz respeito à quantidade e qualidade

do tempo dedicado ao desenvolvimento da visão. Já a liderança confere ao empreendedor

maior capacidade de estabelecer e de tornar concreta a visão. Ao compreender o setor de

atuação do negócio são elucidadas as ameaças, as oportunidades, as tendências tecnológicas, o

funcionamento e os concorrentes do mercado. As relações são necessárias para melhorar,

desenvolver e programar sua visão. Pela importância que ela adquire na implementação de um

negócio e, por se tratar de um dos construtos principais dessa pesquisa, será tratada em uma

seção específica mais adiante.

Kuratko e Hodgetts (1995) tratam a oportunidade como uma das Escolas do

Pensamento Empreendedor. Para os autores, as pesquisas sobre as fontes de idéias, o

desenvolvimento de conceitos e a implementação das oportunidades formam importantes

áreas de interesse dessa Escola. A criatividade e a conscientização para o mercado são vistas

como essenciais para desvendar potenciais idéias de negócios. De acordo com essa Escola, o

desenvolvimento da idéia certa, no momento certo, para um determinado nicho emergente

de mercado é um elemento chave para o sucesso do negócio (KURATKO e HODGETTS,

1995). A habilidade consiste em reconhecer as oportunidades quando elas aparecem e

implementar posteriormente os passos necessários à sua consolidação.

A origem das oportunidades pode ser classificada em duas categorias: demanda

de mercado e oferta de tecnologia (DESCHAMPS e NAYAK, 1996). A demanda do

mercado refere-se à procura pelo mercado de produtos ou serviços que não foram ainda

oferecidos. A oferta de tecnologia está associada à disponibilidade de novas tecnologias que

gerem oportunidades de inovação.

Page 34: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

34

A pesquisa de mercado pode levar à descoberta de necessidades não atendidas.

Stevenson e Gumpert (1985) confirmam que a competência empreendedora de

reconhecimento de oportunidade pressupõe a convergência de fatores controláveis - como o

domínio do ambiente, seleção da equipe de trabalho e estudos de risco – com aqueles não

controláveis, a exemplo dos aspectos culturais, sociais e econômicos.

As oportunidades podem ser especificadas indicando as soluções inovadoras, os

custos, os benefícios resultantes de sua exploração e os fatores que determinam o sucesso

empresarial do produto ou serviço. Seria uma forma de conhecer antecipadamente

determinado ambiente de negócio.

4.2.1.2 O Conhecimento Antecipado do Negócio e o Uso de Fontes Preliminares de

Informações

Uma tarefa crítica antes de iniciar um negócio é analisar e avaliar a viabilidade

da idéia do produto ou serviço. Na maior parte das situações a combinação de variáveis

influencia nos resultados. Em função disto torna-se importante que essas variáveis sejam

identificadas e investigadas antes de uma nova idéia ser colocada em prática. A construção

de uma abordagem de viabilidade pode vir a incorporar fatores externos que auxiliem na

compreensão preliminar do negócio. Kuratko e Hodgetts (1995) propõem as seguintes áreas

de análise que configuram a viabilidade de uma nova concepção:

a) técnica: análise de viabilidade do produto ou serviço;

b) mercado: determinação das oportunidades e riscos do mercado;

c) financeira: análise da viabilidade financeira;

Page 35: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

35

d) organizacional: análise das capacidades organizacionais e das necessidades de

pessoal;

e) competitividade: análise dos fatores de competitividade.

Entender as necessidades dos consumidores é fundamental para a compreensão

prévia do ambiente de negócios. Isso é feito por meio de levantamentos qualitativos e

quantitativos do negócio. O processo avaliativo consiste também da utilização de fontes de

informações necessárias à percepção das tendências emergentes no ambiente e do

conhecimento antecipado da oportunidade alvo (KETS DE VRIES, 1996). Três fontes de

dados amparam a percepção que antecipa a ação empreendedora: publicações acadêmicas e

populares, observações diretas da prática de empreendedores e a participação em seminários

sobre a temática (KURATKO e HODGETTS, 1995). As fontes de publicações impressas

incluem:

a) periódicos e revistas acadêmicas;

b) livros e textos sobre empreendedorismo;

c) biografias ou auto-biografias sobre empreendedores;

d) revistas especializadas em novos negócios;

e) publicações de conferências sobre o tema;

f) publicações governamentais sobre pequenos negócios.

g) fontes Web (espaço virtual)

A segunda fonte de informação refere-se à observação direta da prática

empreendedora. Pode ser obtida por meio de entrevistas, estudos de casos ou pelo

depoimento pessoal das experiências do empreendedor. A análise dessas experiências

oferece pistas sobre as características e personalidades de empreendedores individuais e

Page 36: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

36

possibilita a descoberta de possíveis padrões no exercício de uma ação empreendedora

futura. A terceira fonte de informação compreende palestras e apresentações de experiências

narradas por empreendedores. Essa fonte de dados possibilita oportunidades para a aquisição

de conhecimentos sobre as características que identificam o empreendedor.

4.2.1.3 Competência de Avaliar e Assumir Riscos

Um componente importante da competência de visualizar o ambiente refere-se à

habilidade de saber lidar com situações de risco. Paiva Jr. et al. (2003) incorporam a

avaliação do risco como uma competência conceitual do empreendedor . A capacidade de

visualizar o todo, permite ao detentor dessa competência conhecer o impacto de suas

decisões no negócio. São indivíduos capazes de encontrar alternativas pelo desenvolvimento

analítico obtido por visualizações de ângulos diversos sobre determinada oportunidade. O

desvendar dos possíveis caminhos que antecedem ao processo decisório auxilia a contornar

os riscos da empreitada.

A concepção de risco no processo de empreender muitas vezes é percebida de

maneira distorcida. Embora transpareça que o empreendedor joga com uma oportunidade em

potencial do mercado, o fato é que usualmente há um trabalho de moderação e cálculo do

risco envolvido no negócio. A maioria dos empreendedores de sucesso faz uso do

planejamento e da preparação para minimiza os riscos de forma a obter um maior controle do

destino de sua visão.

Liles (1974) identifica diferentes tipos de riscos encontrados pelos

empreendedores:

Page 37: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

37

a) riscos financeiros: em grande parte dos novos empreendimentos os indivíduos

colocam uma significativa porção de seus recursos; capital que será perdido no

caso de falhas do negócio;

b) riscos da carreira: um dos dilemas para se tornar empreendedor está associado

a qual o momento apropriado para abandonar a estabilidade do emprego para

se aventurar em um novo negócio;

c) risco social e familiar: em geral empreendedores que são casados ou

constituíram famílias acabam expondo seus familiares ao se arriscarem em um

novo empreendimento;

d) riscos de natureza física: o insucesso de um negócio pode implicar em

impactos de ordem física e psicológica.

4.2.2 Competências Associadas à Ação Estratégica

Como visto no tópico anterior o empreendedor é uma pessoa que imagina,

concebe e desenvolve visões. A visão é uma imagem projetada no futuro do lugar a ser

ocupada pelos produtos ou serviços oriundos de uma determinada idéia, bem como dos

meios necessários para se conquistar a projeção desejada (FILION, 1991). Para colocar o

produto ou serviço concebido no plano visionário em ação, o empreendedor faz uso de

competências associadas à implementação de estratégias. Paiva Jr. et al. (2006) evidenciam

a dimensão de competências estratégicas como aquelas ações escolhidas na implementação

do planejamento estratégico. A abordagem da formulação estratégica na teoria

empreendedora enfatiza o processo de planejamento e execução bem-sucedido do

empreendimento (LYLES, BAIRD, ORRIS e KURATKO, 1993).

Page 38: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

38

No processo de aprendizagem das competências necessárias à colocação da

proposta em prática, o modelo sugerido por Filion (1991) possibilita algumas reflexões

importantes sobre a concretização da idéia (FIG. 3). A materialização da visão em ação

perpassa o desenvolvimento das habilidades de visualização, monitoramento, criação e

motivação. Transformar a visão em ação demanda um processo de criação do produto ou

serviço e controle da viabilização do negócio.

FIGURA 3 - O Processo Gerencial dos Empreendedores. FONTE - Filion, 1991.

Degen (1989), Drucker (1986), Bernardi (2003) e Bergamini (1997) relatam que a

criatividade, a motivação e a inovação são essenciais para a concretização da visão

empreendedora. A criatividade consiste na geração de idéias que resultam no aprimoramento

da eficiência e da eficácia de um sistema (WHITING, 1988). Dois importantes elementos

afetam a criatividade: os processos e as pessoas. Os processos são orientados para o objetivo e

APRENDER

MONITORAR

ANIMAR/DAR VIDA

CRIAR

VISUALIZAR

APRENDER

Page 39: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

39

estruturados para solucionar problemas. As pessoas constituem os recursos humanos que

determinam as soluções.

É por meio da criatividade que o empreendedor viabiliza a idéia originária da

análise do potencial do mercado. De acordo com Degen (1989) a criatividade é resultante do

monitoramento incansável dos produtos e serviços demandados pelos consumidores, da

identificação de potenciais clientes e dos possíveis concorrentes do negócio a ser colocado em

prática. A predisposição funciona como um fator propulsor do processo criativo, da

aprendizagem de observação e da avaliação dos negócios.

Para Bergamini (1997) as motivações se manifestam por meio de um conjunto

complexo de fatores que se correlacionam entre si e que diferentes indivíduos buscam como

fonte de valorização do potencial produtivo e conquista dos objetivos pessoais. Entre as

principais razões que levam os indivíduos a se sentirem motivados, Bernardi (2003) enumera:

(1) a necessidade de realização, (2) a implementação de propostas (3) a fuga da rotina

profissional, (4) a assunção de maiores responsabilidades e riscos, (5) o reconhecimento de

capacidades adquiridas, (6) o aumento da renda, (7) o status e o controle da qualidade de vida.

Dentro dessa mesma perspectiva comportamentalista, os estudos realizados por

Benedetti et al. (2005) indicam que alguns empreendedores encontram motivação a partir das

necessidades de auto-realização. A orientação para a realização é fundamentada na busca de

ações projetadas para a construção de um projeto de vida. As recompensas alcançadas com a

execução dos planos estabelecidos reforçam a autoconfiança em realizar mais ações, bem

como procurar novas possibilidades em direção à realização.

Page 40: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

40

O terceiro componente necessário para materializar a visão empreendedora está

associado a estabelecer os meios que viabilizem o exercício da inovação em um determinado

negócio. Drucker (1986) revela que a inovação é a atividade central do empreendedor.

Inovações ocorrem por idéias originadas da observação, da percepção e da criatividade.

Consolidam-se da pesquisa consciente em torno das oportunidades disponíveis no mercado.

No desenvolvimento da habilidade de criação, a racionalidade, as rotinas e o uso de antigos

padrões e costumes podem impedir ou dificultar a viabilização de capacidades inovadoras

(BERNARDI, 2003).

4.3 Sistemas de Relações - As Redes Sociais e a Influência na Atividade Empreendedora

A atenção dedicada pelo empreendedor à gestão de seus relacionamentos pessoais

parece ser uma das condições determinantes para a formação de um novo negócio. Para

Granovetter (1985, 1992) a relação de um indivíduo com o ambiente de negócios está

amparada por dois tipos de inserção social: a relacional - que envolve as relações entre duas

pessoas, entre pessoas e organizações ou entre organizações - e a estrutural que se refere à

estrutura de rede social que determinado indivíduo está inserido. No caso deste estudo o

objetivo é desvendar a influência do sistema de relação social na definição do fisioterapeuta

ao optar por seu destino profissional.

As inserções sociais, relacionais e estruturais, desempenham importantes papéis na

geração de confiança no contexto das relações de negócios entre pessoas e organizações.

Nesse ponto, as construções sociais influenciam as ações dos indivíduos inseridos na rede de

relacionamentos pessoais (GRANOVETTER, 1985, 1992). Alguns estudos têm analisado a

inserção de atores sociais, firmas e indivíduos em um determinado meio social

Page 41: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

41

(JOHANNISSON, 1998). Outros autores têm estudado os vários arranjos de redes sociais

realizados entre empresas e pessoas (DACIN, VENTRESCA e BEAL, 1999).

Diante da oportunidade de criação de novos negócios os indivíduos recorrem às

pessoas do seu relacionamento próximo tais como familiares, amigos, colegas de trabalho,

bem como as demais que não estão no seu círculo de convivência, para que os recursos

necessários - físicos, informação, suporte emocional, capital, contatos de negócios, sejam

obtidos (BIRLEY, 1986; ALDRICH e ZIMMER, 1986). Esses contatos objetivam, além da

obtenção de recursos econômicos para iniciar o empreendimento, o apoio de idéias,

aconselhamentos e suporte social e emocional para a consolidação da idéia (JOHANNISSON,

1998; BARNIR e SMITH, 2002). Larson, (1991) e (1992) sugerem que a história e as

experiências vividas pelo indivíduo são de extrema importância para a concretização do novo

empreendimento. Pesquisas realizadas por Vasconcelos (2005) reiteram a importância da

inserção relacional e a existência da dependência dos indivíduos de sua rede de

relacionamentos para a obtenção de recursos para a criação de novos negócios.

Filion (1991) estabelece três níveis de relações sociais: primárias, secundárias e

terciárias (FIG. 4). As relações primárias envolvem os familiares e as pessoas mais próximas

do relacionamento e estão associadas a diversos tipos de envolvimento exercido pela pessoa.

Abrangem ligações tanto afetivas como intelectuais, esportivas e de lazer, influenciando o

conceito de si do futuro empreendedor. As secundárias englobam amizades e conhecimentos

ligados a uma atividade específica como clube social, atividade religiosa, trabalho ou política.

O aumento da intensidade do relacionamento eleva a interação para o nível primário. As

terciárias não são necessariamente relações entre pessoas, mas contatos com um campo de

Page 42: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

42

interesse, de acordo com uma necessidade. Acontecem por intermédio de cursos, viagens,

exposições industriais, feiras e congressos (FILION, 1991).

FIGURA 4 - O Sistema de Relações Sociais. FONTE - Filion (1991)

Filion (1991) descreve que o sistema de relações é aparentemente um dos fatores

mais influentes para explicar a evolução da visão. O trabalho de Van Gigch (1987) pode ser

considerado como referência para se entender a importância dos sistemas de relações na

construção da visão empreendedora. Para os autores a família é considerada o fundamento

básico do sistema de relações do empreendedor. Valores e comportamentos absorvidos no

seio familiar muitas vezes influenciam na sedimentação da visão de negócio que o indivíduo

pretende desenvolver.

Próximos

Familiares

Outros

Colegas

Externas

Sociais

Religiosas

Imediatos

Afastados

Profissionais Esportivas

Ideológicas

De amizade

s Políticas Relações

Internas

Superiores

Direção

Pares

Subordinados

Page 43: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

43

O interesse deste estudo está em verificar de que maneira as competências

empreendedoras e o sistema de relações sociais interferem na decisão profissional das

pessoas. Sabe-se que os sistemas de relações é um dos pilares básicos na construção das

competências empreendedoras. A proposta deste estudo é investigar como as competências e

as relações do indivíduo podem influenciar na opção dos caminhos profissionais a serem

trilhados, em especial, do prestador de serviços fisioterápicos. O capítulo seguinte detalha a

metodologia de investigação que foi utilizada na pesquisa.

Page 44: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

44

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O propósito do presente estudo foi o de analisar as decisões dos profissionais do

segmento de fisioterapia, quer sejam autônomos, bacharéis, administradores de clínicas,

funcionários públicos ou de empresa privada, em relação aos possíveis caminhos a serem

trilhados no mercado de trabalho. Buscou-se identificar e analisar como as competências

empreendedoras e o sistema de relações interferem na opção profissional dos indivíduos que

atuam em atividades da área de fisioterapia na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Entre

as justificativas para a escolha desse segmento, além do pesquisador ser originário da área,

encontra-se as várias alternativas de ocupação profissional disponibilizadas para o recém-

formado. Entre essas, o fisioterapeuta pode optar por ter o seu próprio negócio ou prestar

serviços em locais vinculados a outras atividades fisioterápicas. O que se quer analisar é como

o desenvolvimento de competências empreendedoras e as relações sociais do fisioterapeuta

influenciam na decisão sobre o tipo de negócio ou atividade que será desenvolvida.

Os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa foram de caráter

qualitativo. Segundo Gonçalves e Meirelles (2004), esse tipo de pesquisa se preocupa em

oferecer informações de natureza mais subjetiva e latente, por meio da análise dos

depoimentos dos entrevistados e da sua postura diante das questões que lhe são

apresentadas. Para Cooper e Schindler (2003) o estudo qualitativo é utilizado para

caracterizar um fenômeno através do seu significado, da sua definição ou modelo. Bauer

e Gaskell (1999) defendem que os estudos qualitativos fornecem dados básicos para o

desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e suas situações. A

pesquisa qualitativa é utilizada regularmente quando se tem o objetivo de compreender

Page 45: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

45

processos envolvendo um grupo, uma comunidade ou instituição (ALVES-MAZZOTTI e

GEWANDSZNADJDER, 2004).

Minayo (2002) cita que a abordagem qualitativa trabalha com o universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que correspondem a um espaço

mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis. A autora diferencia a pesquisa qualitativa da quantitativa.

Assim, os pesquisadores que trabalham estatísticas, ou seja, pesquisas quantitativas

aprendem fenômenos visíveis, ecológicos, morfológicos e concretos. Já os cientistas sociais

que trabalham a abordagem qualitativa aprofundam em questões que se baseiam no mundo

dos significados das ações e relações humanas (MINAYO, 2002). Muitas vezes essa

perspectiva pode ser enriquecida por técnicas de natureza objetiva e sistemática, como será

proposto na metodologia desta pesquisa.

5.1 Estratégia da Pesquisa

Para explorar a dinâmica que envolve a utilização de competências e os sistemas

de relações sociais do fisioterapeuta na escolha do seu caminho profissional buscou-se

identificar os bacharéis estabelecidos na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na seleção

da unidade de análise definiu-se um escopo de entrevistados que abarcassem quatro

momentos distintos do exercício da atividade fisioterápica. Tendo como referência a

classificação do GEM - Global Entrepreuneurship Monitor (2006) foram selecionados os

seguintes tipos de profissionais:

1. Nascentes - aqueles que geraram alguma remuneração e atuam no negócio há

menos de três meses;

Page 46: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

46

2. Novos - aqueles que geraram remuneração e estão à frente do negócio há mais

de três meses e menos que 42 meses;

3. Estabelecidos - aqueles que estão à frente dos empreendimentos há mais de 42

meses;

4. Outros - prestadores de serviços ou autônomos que não possuem negócio

próprio.

A divisão nessas quatro categorias atende ao entendimento de se visualizar

diversas dimensões associadas à situação diferenciada do profissional no momento atual. A

intenção foi analisar também se a influência das competências e dos sistemas de relações

pode estar relacionada ao estágio profissional do fisioterapeuta. A identificação dos

entrevistados que atendessem à estratificação sugerida para a amostra foi realizada com o

agrupamento das pessoas, o que foi facilitado pelo conhecimento, formação e a atuação do

pesquisador na área da fisioterapia.

Além da identificação sugerida pelo pesquisador utilizaram-se ainda como fonte

para seleção dos entrevistados, informações fornecidas pelo Conselho Regional de

Fisioterapia e Terapia Ocupacional – CREFITO 4 MG e indicações de outros profissionais

por aqueles inicialmente entrevistados. Interrompeu-se a coleta quando se percebeu a

redundância de informações e conseqüente saturação dos dados (ALVES-MAZZOTTI e

GEWANDSZANADJDER, 2004).

Page 47: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

47

5.2 Coleta de Dados

No processo de coleta de dados, utilizou-se a entrevista semi-estruturada. Para

Cruz Neto (2002) esse o procedimento considerado como o mais usual e indicado para a

pesquisa qualitativa, uma vez que, a obtenção de respostas objetivas e proveitosas na fala dos

atores sociais não se dá simplesmente por meio de uma conversa despretensiosa ou neutra e

sim, por meio de uma participação ativa do investigador conduzindo as entrevistas de forma

interativa, flexível e estrategicamente direcionadas.

Segundo Minayo (2006) a entrevista no sentido mais amplo de comunicação

verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre determinado tema científico, é a

estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Elas podem ser consideradas

conversas com finalidade e se caracterizam pela sua forma de organização. A autora define

as entrevistas semi-estruturadas aquelas que combinam perguntas fechadas e abertas, onde o

entrevistado tem possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à

indagação formulada. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004) denominam as entrevistas

semi-estruturadas como focalizadas, onde o entrevistador faz perguntas específicas, mas

deixa que o entrevistado responda em seus próprios termos. O cuidado que se deve ter,

segundo Minayo (2006) é de que no momento da análise dos dados de uma entrevista semi-

estruturada, os pesquisadores não se prendam apenas aos temas previamente estabelecidos,

mas também às estruturas de relevância dos entrevistados trazidas do campo.

Com o propósito de conhecer a influência das competências adquiridas pelo

condutor do negócio e do seu sistema de relações sociais, estruturou-se um roteiro de

entrevistas com questões abordando as habilidades e características que definem as

Page 48: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

48

competências individuais empreendedoras do fisioterapeuta, bem como questões que

pudessem auxiliar no entendimento das redes de interação social do profissional. Foi

utilizada também uma ficha de identificação que possibilitou classificar o tipo de profissional

entrevistado (ANEXO A).

No total entrevistou-se 23 profissionais, sendo 21 fisioterapeutas e 02

administradores de empresas. O QUAD. 1 mostra a estratificação da amostra por categoria.

Categoria dos Entrevistados Formação Entrevistados

1 – Inicial

1.1 – Nascente

Fisioterapeutas 1 2

8

Administrador de Empresas 1

1.2 – Novo Fisioterapeutas 6 6

2 – Estabelecido

Fisioterapeutas 5 6

6

Administrador de Empresas 1

3 – Outros

3.1 – Autônomo Fisioterapeutas 1

9

9

3.2 - Funcionário Público Fisioterapeutas 1 3.3 – Funcionário de Empresa Privada

3.3.1- Ex-Empreendedor estabelecido

Fisioterapeutas

4

3.3.2 – Nunca teve negócio próprio

Fisioterapeutas 3

Total de Entrevistados Fisioterapeutas 21

23

23

Administrador de Empresas 2

QUADRO 1 – Categoria e Formação dos Entrevistados FONTE - Dados de Pesquisa, 2006.

Page 49: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

49

5.3 Tratamento e Análise dos Dados

5.3.1 Técnica de Análise

A técnica utilizada para a análise de dados no presente trabalho foi a de análise de

conteúdo. De acordo com Minayo (2006) este é o método que tem sido mais comumente

adotado no tratamento de dados de pesquisas qualitativas. A autora acredita que a grande

importância da análise de conteúdo está na tentativa de impor um corte entre as intuições e as

hipóteses que encaminham para interpretações mais definitivas, sem, contudo, se afastar das

exigências atribuídas a um trabalho científico. Minayo (2006) argumenta que a análise de

conteúdo oscila entre os pólos que envolvem a investigação científica abrangendo o rigor da

objetividade e a fecundidade da subjetividade possuindo a mesma lógica das metodologias

quantitativas, uma vez que busca a interpretação cifrada do material de caráter qualitativo.

Conforme Bardin (1979), a Análise de Conteúdo pode ser definida como:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens. (BARDIN, 1979, p. 42)

5.3.2 Análise Temática

Minayo, (2006) cita a existência de várias modalidades de Análise de Conteúdo,

como a análise lexical, a análise de expressão, a análise de relações, a análise de enunciação e

Page 50: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

50

a análise temática, que segundo a autora é mais apropriada para as investigações qualitativas

em saúde.

Bardin (1979) define o tema como a unidade de significação que se liberta

naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à

leitura. A noção de Tema está ligada a uma afirmação a respeito de determinado assunto.

(MINAYO, 2006). Assim, Minayo (2006) sintetiza que fazer uma análise temática consiste

em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou

freqüência são representativos para o objeto analítico visado.

Na busca de desenvolver a análise temática da pesquisa dessa dissertação dentro

das etapas operacionais e de atender algumas normas de validade citadas por Minayo (2006),

os dados coletados receberam o seguinte tratamento:

a) transcrição e revisão dos relatos dos entrevistados;

b) exaustiva leitura e valorização do material coletado;

c) estruturação dos dados registrados nas entrevistas dividindo os dois construtos

centrais: Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações

em “Núcleos Temáticos”, “Sub-Núcleos Temáticos” e “Núcleos de Sentido”;

d) organização do material, de forma a contemplar todos os aspectos levantados no

roteiro (exaustividade), representar o universo pretendido (representatividade),

obedecer a critérios precisos de escolha em termos de temas, técnicas e

interlocutores (homogeneidade), adequar os documentos analisados ao objetivo

do trabalho (pertinência).

A reunião de respostas por afinidade específica das diversas categorias

(COLOGNESE, 1998), coletadas das informações contidas nas entrevistas semi-estruturadas,

Page 51: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

51

possibilitou a identificação de grupos semelhantes tendo como referência as categorias

identificadas em GEM (2006) e a as competências descritas por Paiva Jr. et al. (2006). A

seleção das diversas evidências sobre as mesmas competências (CORTES, 1998) permitiu a

comparação das informações coletadas de acordo o agrupamento das categorias identificadas.

Na etapa seguinte buscou-se por meio de uma operação classificatória alcançar o

núcleo de compreensão do texto. Para isso foi realizada uma análise dos construtos, seus

núcleos temáticos, dos sub-núcleos e ainda dos núcleos de sentido, organizando-os em formas

de registros e ou expressões mais significativas. Posteriormente, os resultados brutos foram

submetidos a análises estatísticas simples permitindo que as informações obtidas fossem

colocadas em relevo. Em seguida, foram propostas inferências e interpretações relacionando

os resultados com o campo teórico elaborado nessa dissertação. Esse banco de dados serviu de

base para a análise de como as competências individuais empreendedoras e os sistemas de

relações influenciaram na decisão sobre o negócio assumido por esses profissionais. Os dois

capítulos seguintes tratam dos resultados do estudo.

Page 52: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

52

6. COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE RELAÇÕES NA

ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA

A análise das competências evidenciadas nos depoimentos dos entrevistados foi

agrupada em três grandes temas:

(1) Antecedentes do processo de escolha da opção do profissional fisioterapeuta;

(2) As competências associadas à visão do ambiente;

(3) Exercício de empreender no segmento fisioterápico.

Os antecedentes de uma ação empreendedora muitas vezes podem ser identificados

antes mesmo do processo de formação em uma área profissional específica. Assim, em função

de uma série de depoimentos que evidenciaram a escolha pelo ramo fisioterápico, a primeira

parte da análise abrangeu o agrupamento de enunciações que podem ter justificado

posteriormente a opção pela formação empreendedora.

6.1 Antecedentes do processo de escolha do profissional fisioterapeuta

Antes de optar pela formação em fisioterapia, os postulantes, em um processo de

aproximação com a área pretendida, desenvolvem um arcabouço de idéias que buscam

justificar a sua opção. Essa etapa muitas vezes pode representar a semente da visão

desenvolvida na fase subseqüente de amadurecimento do negócio.

No caso do segmento fisioterápico a escolha pela atividade pode estar

relacionada a um campo de atuação semelhante ao pretendido. Assim, o contato do indivíduo

com especialidades afins nos serviços de saúde (ex: medicina, medicina veterinária e

farmácia) acaba germinando no profissional o desejo de migrar para uma área próxima. O

Page 53: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

53

depoimento abaixo revela como a escolha do entrevistado baseou-se na complementação de

uma experiência de aprendizagem em áreas correlatas:

“Eu fazia Educação Física inicialmente, e achei que seria um curso que ia dar uma complementação boa pro curso da Educação Física, que eu achava que não ia suprir toda a minha necessidade de trabalho. Assim, então, eu pensei numa coisa que poderia juntar Fisioterapia, Educação Física e desenvolver uma coisa mais com o corpo.” (Inicial Novo 06)

A breve experiência com o ramo de Educação Física antes de cursar Fisioterapia

auxiliou o entrevistado acima, que atualmente possui uma clínica especializada em Esportes, a

alinhar os conhecimentos do estudo do movimento humano com a avaliação e tratamento

fisioterápico de lesões esportivas. Esse cruzamento de habilidades pode ter despertado no

fisioterapeuta a definição pelo seu negócio atual. A relação com outra área afim se dá também

pela experiência absorvida na trajetória de vida. O fato de ter desenvolvido atividades esportivas

e ter atuado com técnicas similares à utilização de recursos fisioterápicos funcionaram como

válvulas propulsoras para as opções dos entrevistados abaixo:

“Eu sempre me identifiquei muito na questão do esporte, o meu primeiro foco era a questão do esporte. Eu gostava muito de praticar esporte, gosto ainda. Quando eu estava no ensino médio uma coisa que eu pensava: eu quero mexer com alguma coisa que me vincula ao esporte. Naquele primeiro momento me veio a Educação Física, e ai eu conheci um pouco da fisioterapia, de tratamentos principalmente voltados ao esporte, pelo fato de eu ter sido um atleta. Então veio a questão da importância do trabalho, eu me identifiquei com aquilo; eu falei: vou tentar fisioterapia pelo fato de estar atrelado à questão do tratamento da fisiologia. Eu poderia estar seguindo um caminho dentro do próprio esporte. E ai eu escolhi, optei pela fisioterapia naquele momento.” (Estabelecido 06) “Sempre gostei da área física. Sempre dancei balé, gostava muito dessa parte de consciência corporal. Eu já dei aula de dança, então eu sempre gostei muito disso.” (Estabelecido 02) “Eu gostava de fazer massagem. Eu interessava por qualquer coisa que trabalhasse com o corpo. Eu tinha vontade de ter um contato... quando eu estava fazendo colégio, eu tive contato com massagem oriental, com Do-In. Fiquei apaixonada por aquilo: Do-In, Shiatsu. Essas técnicas propunham alguma coisa de saúde, por movimento, por atividade física, pela saúde como contato, que é diferente do médico. Eu gostava da área de saúde, mas não queria o contato do médico porque eu achava aquilo muito distante. Então eu fui na Fisioterapia porque era o que trabalhava com o corpo, trabalhava com a saúde de uma forma mais próxima.”(Outros 05) “A Terapia Ocupacional sempre me atraiu muito, porque eu sempre gostei de artes, então são duas coisas assim que eu acho que casam muito bem, que é a terapia associada e a

Page 54: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

54

Terapia Ocupacional. Agora eu faço a terapia de mão, que é reabilitação de mão. Eu consegui conciliar a Terapia Ocupacional com a Fisioterapia, é basicamente isso a minha escolha para Fisioterapia.” (Estabelecido 02)

Além das vivências anteriores com outras atividades correlatas que influenciam na

escolha da formação fisioterápica, a definição pelo negócio pode estar associada à observação

do exercício profissional e aos benefícios proporcionados pela atividade empresarial. As

declarações abaixo expressam essa constatação:

“Eu comecei a perceber que ele [o fisioterapeuta] era o grande pilar dos atletas, pelo fato dele conviver diariamente com o atleta, por estar reabilitando um atleta dentro da própria concentração, dentro do centro de treinamento ou dentro de um quarto de hotel. Ele tratando de um atleta de manhã, de tarde, de noite, de madrugada na expectativa que esse atleta consiga jogar no final de semana. Pelo fato de eu vivenciar isso muito ao longo da trajetória de vida como criança, adolescente e uma parte adulta me chamou a atenção e eu resolvi escolher a profissão de fisioterapia.” (Inicial Nascente 02) “Quando eu tinha 15 para 16 anos a minha avó sofreu um acidente de carro e ela fazia fisioterapia diariamente. Então, o meu primeiro contato com a fisioterapia, que para mim até então era uma profissão desconhecida, foi com essa profissional que fazia um atendimento em domicilio. [...] desenvolvi uma admiração muito grande pela profissão acompanhando essa pessoa. Ela tirou a minha avó de uma posição onde ela não tinha perspectiva de andar, pelo tipo de fratura, e não tinha indicação de cirurgia, para uma possibilidade assim, de melhora funcional, melhorar a qualidade de vida, então a partir daí eu interessei pela profissão e fui procurar conhecer um pouco mais.” (Inicial Novo 01)

O espelhamento em uma referência ou em uma situação específica pode estar

relacionado a uma experiência observada no âmbito das relações sociais. A sedimentação da

construção de um negócio futuro, muitas vezes se inicia no âmago do ambiente familiar, por

influência das atividades exercidas pelos entes familiares:

“Meu pai era médico, então na minha casa todo mundo esperava que tivesse um médico, esse alguém seria eu, mas, talvez eu não tivesse tão disposto a fazer medicina, e eu gostava muito da área de educação física. Eu encontrei a fisioterapia de uma maneira bem simples, como um elo entre a medicina e a educação física, na minha concepção na época. Estava entre essas duas ciências entre a medicina e a educação física, então foi uma forma de conciliar essas duas coisas.” (Outros 09) “Eu tinha uma coisa que era de referência por causa de um tio meu que fazia Fisioterapia, mas eu não tinha muita noção. Resolvi fazer, mas sem muita segurança daquilo que eu queria fazer.” (Outros 2)

Page 55: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

55

As relações sociais, denominadas por Filion (1991) de secundárias, também se

materializam como fontes de inspiração para ações empreendedoras futuras no campo da

fisioterapia:

“Eu gostava muito de atividade física. Comecei a freqüentar uma academia e nessa academia conheci alguns alunos que faziam lá e faziam o curso de Fisioterapia. Por intermédio deles eu fui conhecer a Fisioterapia. Tive visitando algumas clínicas, alguns setores que trabalhavam com atletas na área de ortopedia e, então, eu decidi que era isso que eu queria, eu gostava dessa parte de reabilitação, eu queria estar envolvido em alguma coisa na área dos esportes.” (Outros 08) “... eu não tinha conhecimento realmente do quê que era fisioterapia, comecei a me informar um pouco, mas principalmente no âmbito esportivo. Comecei a me informar mais, a pesquisar, a conversar. Como eu era muito ligado ao esporte, eu jogava nos clubes. Dentro do próprio clube aonde eu joguei que foi no Atlético, no América, eu comecei a manter um relacionamento mais próximo com os fisioterapeutas desses clubes ainda como atleta, na época de juvenil, júnior. Essa profissão foi me chamando atenção, a figura mais presente dentro do departamento médico de um clube de futebol é, sem sombra de dúvida, o fisioterapeuta.” (Inicial Nascente 02)

Os antecedentes da escolha e adoção definitiva por um empreendimento podem

sugerir pistas das bases que levaram o empreendedor a visualizar o negócio e a utilizar os

sistemas de relações sociais na construção inicial de sua idéia. A passagem preliminar por

uma área correlata, a experiência com técnicas similares às utilizadas no exercício profissional

e o processo de observação da atividade fisioterápica sendo executada por outros ilustram

algumas situações que contribuíram na aquisição de alguns dos componentes constituintes da

visão empreendedora. Por outro lado, as influências familiares e as relações em atividades

sociais específicas instigaram alguns dos entrevistados a definirem posteriormente seus

negócios influenciados por esses contatos.

Page 56: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

56

6.2 Competências empreendedoras no exercício da fisioterapia

Para entender as competências necessárias para a atuação no segmento de

serviços de fisioterapia os depoimentos foram agrupados em dois temas: as competências

associadas à visão do segmento fisioterápico e a aquelas condizentes com a ação de

empreender. Dentro desse contexto duas etapas se distinguem: os núcleos temáticos que

derivam do desenvolvimento da visão do ambiente e aqueles originários da definição dos

meios necessários para viabilizá-la.

6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente

A habilidade relacionada a perceber no ambiente as oportunidades de negócios

podem ser adquiridas no período de formação profissional, por meio de um processo

intuitivo originado da experiência da pessoa no ramo de atividade, ou mesmo derivado de

pesquisas que o indivíduo faz sobre a demanda pelo negócio de interesse.

No período de formação que antecede a escolha da atividade fisioterápica

algumas competências desenvolvidas influenciam na decisão profissional. Como revelam os

depoimentos que se seguem, o interesse por atividades de cunho acadêmico e a aproximação

com uma área de especialização durante o período da graduação determinaram a escolha de

alguns fisioterapeutas:

“[...] antes de fazer mestrado me interessei pela docência. Na verdade docência sempre foi uma coisa que eu sempre gostei. Na própria faculdade fiz três monitorias de algumas disciplinas, então foi uma coisa que foi me despertando desde minha graduação.” (Outros 09)

Page 57: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

57

“Quando eu formei, nós montamos uma clínica. A gente trabalhava em uma clínica que nós vislumbrávamos. Nós saímos de lá e montamos a nossa clínica. Quando eu estava na graduação, a gente tem um ideal da gente estar montando a clínica. E eu já tinha muito bem assim na minha cabeça que eu queria trabalhar com neurológico, criança.” (Inicial Nascente 01) “[...] comecei a montar a clínica na coragem, com a experiência que eu tive do Belo Horizonte [referindo-se ao hospital que trabalhou]. Quer dizer, sabia tudo, sabia onde tinha aparelho, sabia preço de tudo. Nunca tive medo de abrir. O que eu mais sei numa clínica é fazer cobrança, como marcar horário, como marcar consulta, esse aspecto que ninguém sabe Fisioterapeuta não sabe. Eu sabia, esse foi o meu diferencial.” (Estabelecido 03)

O fato de atuar no negócio, de ter tido uma experiência anterior, mesmo como

empregado, possibilita a aquisição de conhecimentos que podem auxiliar na ampliação da

visualização de oportunidades futuras e o gerenciamento do empreendimento. O caso abaixo

ilustra uma situação da transição da condição de empregado para acionista:

“Na época a clínica era a menina dos olhos de quem gostava de geriatria, então você falava que trabalhar lá dava um certo status, era um trabalho que eu via que estava muito dentro do que a gente idealiza, que é o trabalho individualizado, então eu arrisquei, eu investi, não era porque o dinheiro não era meu que ia jogar fora, mas eu investi. Aquilo ali ia me dar um retorno.” (Outros 01)

A antecipação da escolha do negócio implica na construção de uma série de

possibilidades a serem trabalhadas. Os propósitos da estruturação de um negócio no campo

fisioterápico evidenciados nas entrevistas derivaram de oportunidades identificadas em

relação à demanda de organizações diretamente envolvidas com a ciência da saúde e da

necessidade de atender segmentos específicos de mercado. As narrativas de fisioterapeutas

estabelecidos no negócio há mais de 42 meses, registram o desenvolvimento dessas

competências de oportunidade:

“A gente sentiu essa demanda assim de ter um espaço maior e do lado do hospital. Tinha uma demanda muito grande de reabilitação e alguns casos estavam sendo encaminhados para mim. Então absorveu também, não só a demanda do hospital, como a demanda da clínica.” (Estabelecido 02) “No inicio, todas [as sócias] trabalhavam com a mulher, com a gestante, mas cada uma em locais diferentes, isoladamente. A gente tinha uma vasta experiência na área, já tínhamos uma clientela própria. Na realidade nós somaríamos a clientela aqui e, se pudéssemos, a

Page 58: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

58

partir daí, aumentar a nossa clientela... Foi pensando nisso sim. Porque não tinha um espaço destinado à mulher com vários outros atendimentos no mesmo local, realmente não existia não.” (Estabelecido 05) “A única coisa que eu enxerguei é que eu tinha espaço ocioso e que existia um nicho de mercado.... eu observei o seguinte.....ele é um cara bom de serviço....[referindo-se ao Fisioterapeuta da academia que fazia ginástica e que seria o sócio] Tem alguma clínica aqui perto? Não tem. E assim fomos aproveitando o espaço que a gente tinha.” (Estabelecido 04) “O que mais me motivou a comprar o serviço foi justamente esta questão de um serviço dentro de uma academia. De uma academia que você tinha um fluxo de 300, 400 pessoas lá dentro. Isso mobilizava a gente a trabalhar, a comprar o setor. Porque você tinha uma rotatividade de pessoas dentro da academia, então era mais fácil da gente poder fidelizar o cliente. Pelo fato de eu estar dentro de um setor privado, de um setor montado, se eu tivesse que montar a minha clínica, talvez eu teria feito um estudo administrativo maior.” (Estabelecido 06)

As oportunidades no segmento de Fisioterapia manifestadas pelos entrevistados

referem-se às competências em perceber as necessidades de determinadas organizações

(hospitais e academias de ginástica) que necessitam do serviço e às demandas específicas de

um determinado segmento social (crianças e mulheres gestantes). Não necessariamente a

oferta do serviço pressupõe a abertura de um negócio. As oportunidades percebidas envolvem

também o arranjo de parcerias com outras empresas (hospital e academia).

Outra fonte de oportunidade explorada está associada à demanda demográfica,

determinadas localizações geográficas que ainda não contam com os serviços de fisioterapia.

Os depoimentos seguintes retratam algumas investigações e intuições antecipadas que

levantaram essas demandas:

“[...] o Prado, na época era uma região que não tinha Fisioterapia. Tinha no Felício Rocho, mas, não tinha clínicas que atendiam pacientes sem ser no hospital. A gente fez um apanhado da região, porque a gente tinha muito paciente dali, e a gente não podia ir muito longe dali, a gente tinha que ficar naquelas imediações, por isso que nós ficamos no Prado.” (Inicial Nascente 01) “O prédio era novo, o prédio tem 20 andares, sendo que a única clínica de fisioterapia era a nossa. A gente não chegou a fazer nenhuma consulta porque só tinha a gente. A gente sabia que era só a gente, então era um investimento assim por oportunidade que a gente acabou tendo e que se tornou um grande sucesso, graças a Deus.” (Outros 08)

Page 59: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

59

Se em relação ao local do estabelecimento há uma preocupação em buscar uma

demanda de oportunidade, o mesmo não ocorre quanto ao levantamento de informações

preliminares que justifiquem a elaboração de um plano para a implementação do negócio. A

maioria dos entrevistados, tanto iniciais como estabelecidos e outros, não fez uso de recursos de

planejamento para orientar a decisão sobre os tipos de negócios escolhidos. Os relatos abaixo

mostram algumas manifestações de desconsideração pelo conhecimento prévio do negócio:

“A gente não fez uma pesquisa de mercado. A gente não fez um planejamento estratégico. A gente deu um tiro no escuro, nem pesquisa, nem nada, nós não fizemos a respeito disso.” (Inicial Novo 02) “Nós montamos essa clínica sem fazer pesquisa de mercado, sem procurar saber do bairro como que era. A gente só sabia que existia aqui uma clínica e que atenderia também na mesma área que a gente atuaria e até surpreendeu o crescimento que a gente teve durante esse pouco tempo...” (Inicial Novo 03) “A gente ia montando, a gente ia vendo a possibilidade e ia fazendo. A gente não fez estudo de mercado não. Foi uma coisa aqui... foi mais uma conseqüência da necessidade de expandir, tinha uma clientela boa, um volume de pacientes bons, então a gente viu a necessidade de expandir, aí expandiu.” (Inicial Novo 06) “[...] não fiz essa pesquisa de mercado, mas eu tinha essa impressão que a coisa ia dar certo.” (Estabelecido 02) “[...] num precisei [referindo-se a necessidade de fazer pesquisa de mercado], já sabia. [...] como profissional o meu crescimento dentro da administração, dentro da empresa, ela começou... não sei se é normal..., começou primeiro pelo reconhecimento profissional. Por isto a minha segurança, jamais tive medo de abrir clínica própria.” (Estabelecido 03) “Não fizemos nada [referindo-se a pesquisa de mercado] ...cê acredita... abrimos o negócio assim no tapa....” (Estabelecido 04) “Não fiz nenhuma avaliação, não procurei saber. Já entrei com ela [sócia] 50% a 50%, não coloquei maldade, não conhecia ela bem, coloquei ela como administradora da minha empresa e já coloquei como sócia de 50%, 50% exatamente por não ter feito esse planejamento que deveria ter sido feito né?” (Estabelecido 01) “[...] nós fizemos um contrato com o hospital. Eu continuaria prestando serviço pro hospital e eles seriam a fonte dos meus pacientes, então eu não me preocupei realmente em pesquisar o mercado de trabalho. Hoje a minha idéia é completamente diferente.” (Outros 07) “Para te falar assim com toda a sinceridade, eu não tinha muita noção não. Eu procurei saber, mas eu não tinha informação administrativa para entender aquilo que foi explicado. Ninguém falou mentira comigo, talvez alguma coisa tenha sido ocultada, mas eu não tinha informação para entender a grandiosidade da coisa. Só depois, à medida que os problemas foram aparecendo que a gente tinha que resolver aqueles problemas, é que a gente foi aprendendo a lidar com essas coisas e entendendo um pouco daqueles problemas administrativos.” (Outros 04)

Page 60: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

60

Os depoimentos demonstram que os entrevistados agiram com a intuição ao

decidirem pelo tipo de empreendimento. A elaboração de planos de negócios é ainda hoje

descartada por aqueles que estão iniciando os seus empreendimentos. Uma das alegações do

Estabelecido 3 recorre à experiência profissional anterior como motivo de segurança para

amparar a decisão de abrir o próprio negócio. O compartilhamento do negócio com outro

sócio da área de gestão, situação ilustrada pelo Estabelecido 01, também é utilizado como

justificativa para a ausência de um planejamento mais detalhado. Muitas vezes a falta de

tempo ou informações suficientes para antever possíveis cenários do negócio acaba levando o

dirigente a ir se adaptando e solucionando os problemas do empreendimento no decorrer de

sua instalação.

Aqueles poucos fisioterapeutas entrevistados que utilizaram as habilidades de

rastreamento do ambiente buscaram verificar possíveis nichos ainda não explorados no

mercado, ou utilizaram experiências anteriores na área para a realização de amplas pesquisas

sobre a área de atuação:

“A gente foi fazer uma pesquisa de mercado, o que quê existia na área. Então a gente visitava outras clínicas, tanto instituição de longa permanência para idosos quanto os serviços que se aproximavam daquilo que a gente queria. O quê a gente queria? A gente só conhecia um lugar em Belo Horizonte que oferecia [prestação de serviço específica para idosos] e a gente não considerava uma qualidade boa de atendimento. Nós pensamos: deve ter outras pessoas trabalhando com isso e se não tem, é porque não estão trabalhando com isto.” (Inicial Novo 01) “Eu fui delegado do conselho [Regional de Fisioterapia] e subdelegado, então eu tinha isso em minhas mãos. Nós tínhamos um estudo de como era o número de profissionais e o número de clínicas na região. Eu fiz, nós fizemos [se referindo à esposa, também sócia] uma avaliação do número de clínicas de Ipatinga.” (Estabelecido 06) “Nós fizemos, nós consultamos catálogos, vizinhança, perguntamos no comércio como era o perfil, se tinha idoso se não tinha. Fomos à farmácia, açougue, na padaria, a gente perguntou como que era nos restaurantes, basicamente uma pesquisa informal.” (Inicial Novo 04)

Page 61: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

61

A utilização de instrumentos básicos de avaliação do ambiente restritos ao

potencial de demanda do mercado demonstra que nenhum dos entrevistados optou por um

detalhamento mais complexo que envolvesse as análises de viabilidade financeira,

organizacional ou competitiva sugeridas por Kuratko e Hodgetts (1995). Da mesma maneira o

aspecto moderador do risco não aparece nas falas dos fisioterapeutas. As decisões sobre a

abertura dos negócios foram conduzidas “na cara e na coragem”, “no tapa” e “no peito”. Uma

forma identificada de contornar os riscos foi analisar as potencialidades para assumir o

empreendimento de dentro do próprio negócio:

“Eu me propus antes de adquirir o negócio, antes de comprar, ficar trabalhando como fisioterapeuta sem receber nada por isso, só para ver como é que funcionava a academia, a quantidade de alunos. Eu tinha que saber o que o proprietário estava querendo me vender, se o que ele estava querendo dizer era verdade, e a única forma de fazer isso era estando lá dentro. Fazia avaliação para ver o que o aluno fazia. Algumas perguntas relacionadas à academia, o que tinha levado ele até lá, e acompanhava, ficava durante o dia dentro da academia vendo o movimento e, quando decidi comprar, esse que seria o meu sócio, que eu trabalhava na academia dele, desistiu do negócio. Eu já estava empolgado na hora que ele desistiu e eu acabei sozinho assumindo e comprando na cara e na coragem mesmo.” (Outros 09)

Essa característica de optar por correr o risco de aprender por meio da tentativa e

erro ao iniciar as atividades do negócio predominou na maioria dos depoimentos dos

fisioterapeutas entrevistados. A escolha por tomar uma decisão em relação ao

empreendimento pode ser facilitada pela vivência diária com a dinâmica de funcionamento do

estabelecimento em termos do conhecimento da clientela, processos gerenciais e

potencialidades do negócio. Vale frisar que o desenvolvimento de competências e a absorção

de várias informações que amparem decisões posteriores servem também como fatores

motivadores para a abertura de um negócio próprio. O tópico seguinte retrata as competências

manifestadas nos depoimentos relativas às ações utilizadas para a viabilização das idéias no

campo da Fisioterapia.

Page 62: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

62

6.2.2 Competências associadas à ação estratégica

A transformação da visão em ação é realizada por meio de processos criativos que

auxiliam na materialização do negócio proposto. O desenvolvimento de competências

associadas às inovações e aos diferenciais em relação aos outros produtos ou serviços

existentes no mercado representa um importante passo para a consolidação da visão

empreendedora. No processo visionário o idealizador estabelece estratégias que demandam de

habilidades específicas na estruturação das ações de viabilização do empreendimento.

Colocar em prática um novo negócio ainda não explorado no mercado pode-se

constituir em uma ação empreendedora de sucesso. A atividade fisioterápica antes de obter o

seu reconhecimento era exercida por profissionais da medicina física. O depoimento do

Estabelecido 04 aponta para a oportunidade percebida e concretizada que o levou a ser um dos

pioneiros nos serviços fisioterápicos:

“[...] a fisioterapia em 1985, 1986 estava na mão de fisiatras, tinha muitos poucos fisioterapeutas com clínica constituída, com nome. A maioria das clínicas eram só de médicos. Não se dava uma atenção aos fisioterapeutas, ou seja, a atividade fim era medicina, não era a reabilitação. A gente criou a clínica com a atividade fim de reabilitação, então dai a o diferencial nosso em relação as outras clínicas do mercado.” (Estabelecido 04)

Não necessariamente o empreendedor é o inventor (KURATKO e HODGETTS,

1995). A pessoa que aprimora ou busca um nicho ainda desconhecido no negócio aumenta as

chances de acertar com a implantação da idéia. Os fragmentos abaixo retratam a experiência

de alguns precursores de segmentos de especialização da fisioterapia:

“Logo após me formar, como não tinha aqui no Brasil o setor especializado em reabilitação de mão, eu fui pro exterior, eu fui pro Estados Unidos, fiquei lá dois, três meses e eu acompanhei quatro serviços de reabilitação de mão. Aí aconteceu de eu estar investindo bastante na área de reabilitação de mão, sendo que meio a pioneira aqui, porque não tinha quase nada aqui no Brasil. A gente não tem livros, a gente não tem referência. A gente montou um setor, a gente ia lá no mercado central e pegava bolinha de gude, então

Page 63: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

63

essa parte da terapia, sempre trabalhei com uma TO do meu lado. A gente montou um setor bem criativo com material mais primitivo.” (Estabelecido 02) “Quando eu resolvi trabalhar com geriatria numa época que quase ninguém trabalhava com geriatria, eu acho que isso foi um diferencial, o fato foi uma coisa que eu sempre prezei tentar. Estar ligada às pessoas que eram importantes naquelas áreas onde eu atuava, inclusive às vezes sem ter nenhum retorno financeiro.” (Outros 04)

A produção de idéias desenvolvida no processo criativo pode gerar outros tipos de

serviços dentro do empreendimento. À medida que se percebe o surgimento de demandas

associadas ao serviço central oferecido pelo negócio é assegurada a expansão para outros

atendimentos. O desenvolvimento dessa habilidade é reforçado pelos fisioterapeutas

entrevistados abaixo, diferenciais que reforçam a imagem do serviço com o consumidor, no

caso do depoente recém instalado no mercado, e com outras áreas afins da fisioterapia como

ocorreu com os entrevistados estabelecidos (03) e (05):

“[...] Um paciente basicamente na área de estética, o quê que a gente faz? A gente não oferece para ele só a fisioterapia dermato funcional, a gente oferece a nutrição, que é uma avaliação de nutrição com a nutricionista. A gente oferece grupo de atividade física, a gente oferece três vezes por semana para aquele paciente. Faz uma ficha sobre os objetivos do paciente, se é emagrecimento, se é fortalecimento. A gente faz uma ficha associada à reeducação alimentar. E tem outras coisas também, bronzeamento artificial, a gente tenta agregar tudo aquilo para aquele paciente, e que é possível ele poder encontra dentro da clínica. Se é um paciente que tem o abdômen protuso, que necessita da estética e a gente vê a postura, a gente trata da postura. Chega [cliente] de ortopedia ele está vendo que está atacando a coluna, está vendo que tem um problema no pé, a gente indica uma palmilha, então a gente oferece tudo para o paciente aqui.” (Inicial Novo 03) “[...] além dos atendimentos específicos, como hidroterapia para gestante, hoje nós estamos ministrando cursos para profissionais como se fosse até uma consultoria nas áreas afins. Hoje existe curso e até consultoria na área de fisioterapia aplicada a ginecologia, obstetrícia, na odonto pediatria, na odontologia e na enfermagem.” (Estabelecido 05)

Na montagem do negócio, a criatividade se traduz em diferencial ao ser utilizado

como atividade original não explorada pelos concorrentes. O relato abaixo descreve uma

estratégia utilizada por uma depoente para oferecer um diferencial no serviço prestado:

“Eu imaginava ter uma clínica, trabalhar num lugar legal, assim de preferência parecendo uma sala de artes, eu sempre gostei de mudar as coisas. De repente, o lugar que eu estava atendendo virava brinquedoteca, cheio de coisa. [...] eu sempre levava alguma coisa da Terapia Ocupacional para o setor de Fisioterapia para ver se a coisa ficava um pouco mais interativa.” (Estabelecido 02)

Page 64: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

64

A estrutura física do empreendimento que receberá a idéia proposta para o

empreendimento, quando trabalhada de forma diferenciada, torna-se uma atratividade para a

clientela. Saber manter o ambiente de trabalho em condições propícias ao exercício da

atividade fisioterápica ajuda na empreitada de possibilitar a harmonia necessária para garantir

boas condições de trabalho e satisfação do cliente. Alguns depoentes relatam a importância de

observar a qualidade e a manutenção constante do local de atendimento na área de saúde:

“Conhecendo as outras instituições, o que existe no mercado, nós procuramos inovar de alguma forma. Primeiro a questão do ambiente: é uma casa, é uma clínica, um local de residência, então esse ambiente tem que se aproximar do máximo. Ele tem que ser um lugar onde as pessoas chegam e elas se sintam bem, a gente procura manter um ambiente que ele é diferenciado do que existe no mercado.” (Inicial Novo 01) [...] a gente tinha um espaço físico único, uma piscina muito grande para ser utilizada, uma pista de cooper, uma instalação que era até bonita, muito bonita, toda adaptada para receber pacientes com deficiências físicas e no mais era isso, era a qualidade do estabelecimento, da estrutura, a informatização dos sistemas de prontuário e qualidade no atendimento do fisioterapeuta.” (Outros 08) “[...] é uma clínica que está extremamente moderna, como se diz, ela está toda bem equipada. Todo ano eu reformo ela, todo ano os equipamentos são melhorados, ou são limpos, ou são reformados, ou são trocados. Cada ano tem um objetivo: tem ano que é melhorar o aspecto da piscina, então melhora tudo, troca os azulejos, troca tudo.” (Estabelecido 03)

Manutenção e aprimoramento do ambiente organizacional constituem-se em

competências de execução estratégica importantes para a viabilização da visão

empreendedora. Em relação à estrutura que ampara a consolidação do negócio, a tecnologia

consistiu em outro núcleo de sentido evidenciado nos depoimentos:

“O [Fisioterapeuta] tem lá a câmera digital dele, que faz as filmagens. Nenhuma clínica aqui fazia isso, nenhuma. Tira fotos, todas as fotos, frente e verso. Tem a esteira, filmamos todas as marchas das pessoas, de lado, de costas, de frente, com câmera lenta. Eu sou referência nisso em Belo Horizonte. Eu tenho em Belo Horizonte hoje a melhor avaliação de análise de marcha.” (Inicial Novo 02)

Assim como os recursos tecnológicos, as pessoas que atuam no negócio compõem

os elementos críticos do empreendimento. No segmento fisioterápico as competências

associadas à capacitação de pessoal são fundamentais para o bom funcionamento dos

Page 65: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

65

serviços. O diferencial da prestação do serviço de fisioterapia muitas vezes pode envolver o

uso de profissionais de outros especialistas em segmentos que diferenciam a atividade

oferecida aos pacientes. A habilidade demandada corresponde em saber aproveitar as

fronteiras existentes com outras áreas da saúde e conhecer as especialidades dos funcionários

de modo a alocá-los na função correta. As narrativas a seguir revelam algumas competências

empregadas para capacitar recursos humanos e habilitá-los a atenderem pacientes:

“[...] fazemos uma reunião semanal com as cuidadoras. Elas discutem os pontos que elas têm dúvidas, as dificuldades, tanto do cuidado, como da relação com esses idosos. Isso eu sei que não tem em outras clínicas. É um ponto que eu mantenho: essa capacitação dos funcionários. Nós temos a profissional da terapia ocupacional e a estagiária. A estagiária só está presente quando a profissional está também, então ela faz grupo de culinária, grupo de memória ai depois de três meses muda esse grupo, ai faz outro tipo de oficina. Uma coisa que eu acho que é importante é o atendimento externo, o acompanhamento externo. A gente tem pelo menos uma vez por mês um teatro, um jantar fora, um baile.” (Inicial Novo 01) “O maior diferencial foi investir na qualidade do atendimento, a gente prestava um atendimento com toda uma base muito cientifica, coisas que às vezes na nossa área não tinha muito. As pessoas às vezes faziam uma coisa assim sem saber justificar as coisas, então pelo fato da titulação das pessoas que trabalhavam na clínica, pela vivência cientifica e pela vivência acadêmica, a gente investiu no atendimento com comprovação cientifica e no atendimento ao cliente, na qualidade ao atendimento ao cliente. A gente tentava atender no máximo um ou dois pacientes, um fisioterapeuta para cada dois pacientes. A gente selecionou os estagiários, então teria um atendimento praticamente individual com a ajuda dos estagiários. O maior diferencial era a qualidade de atendimento que a gente tinha.” (Outros 08)

Os diferenciais apresentados pelos entrevistados dizem respeito aos investimentos

em especialização e modelos de acolhimento. Na prestação de serviços, as técnicas envolvem

atividades criativas destinadas a atrair e acolher públicos específicos (pessoas da terceira

idade) ou mesmo de procedimentos que diferenciem a forma de atendimento como o uso da

medicina com base em evidências enfatizadas pelo segundo depoente.

O papel do estagiário na atividade fisioterápica é ressaltado nos depoimentos. Em

uma das entrevistas um fisioterapeuta faz menção a não utilização de estagiários como

diferencial na prestação de serviços da clínica. Neste caso as justificativas remetem ao foco no

Page 66: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

66

atendimento prestado por profissionais experientes, ou mesmo, às tentativas de exploração de

uma mão-de-obra barata. Por outro lado, os relatos acima do Inicial Novo 01 e Outros 08

demonstram haver uma preocupação desses fisioterapeutas em preservar a função de

aprendizagem que o estágio representa.

Entre os entrevistados, o grupo de pessoas que atuam como autônomos

(denominados de Outros) também utilizam estratégias para exercer de maneira

empreendedora suas atividades profissionais. A qualificação e a permanente atualização de

conhecimentos são frisadas como competências conceituais a serem desenvolvidas pelos

profissionais que atuam em instituições de ensino superior:

“[...] Fiz curso de RPG, participava como ouvinte de eventos, principalmente ligado à geriatria. Sempre que tinha algum Congresso a gente fazia um trabalho, mandava isso para apresentação em pôster. Hoje em dia o que eu faço é continuar estudando, correndo atrás da minha qualificação. Fiz o mestrado, já estou pensando em fazer disciplina isolada para fazer doutorado. Eu sempre participo de Congresso nas áreas, como ouvinte e mandando trabalho também. Como eu dou aula fica muito mais fácil de mandar um volume maior de trabalhos, porque eu tenho os trabalhos de conclusão de curso. Isso é uma coisa que gera uma certa produção. Nas extensões também eu tenho uma produção dos Congressos, porque tenho pessoas, eu tenho uma equipe que trabalha comigo, então a gente tem um volume razoável de trabalhos em eventos.” (Outros 01) “[...] eu ando fazendo alguns cursos, não só curso de atuação na área da fisioterapia. Eu ando estudando um pouco sobre metodologia do ensino superior, eu ando estudando um pouco do porque da mudança do perfil do aluno principalmente das escolas particulares. Ando estudando o que eu posso fazer com a minha didática para que eu possa melhorar a forma de passar a informação, para facilitar o aprendizado desse aluno. A gente vê que hoje os alunos estão chegando ao curso superior com uma base de formação muito fraca. Na verdade é esse o público que nós temos para atender.” (Outros 08) “[...] eu me mantenho atualizado nos artigos, nos Congressos, fóruns de discussão com os colegas, troca de artigos, de experiências, cursos na parte técnica, na parte de conteúdo teórico. Eu preciso estar atualizado, eu preciso estar por dentro disso ai para poder passar para os alunos. Tento passar para o aluno uma responsabilidade social dentro da comunidade e dentro da profissão também, do papel dele dentro da profissão, dentro da sociedade, no Brasil como um todo, como um cidadão, então eu tento ser diferente, eu tento criar esse diferencial nesse aspecto.” (Outros 03)

As competências associadas à execução estratégica no segmento fisioterápico

funcionam como meios para que o empreendedor consolide a visão idealizada para o negócio,

seja diferenciando-se em relação ao serviço prestado ou inovando em termos dos processos de

Page 67: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

67

aprendizagem repassados a futuros fisioterapeutas. As inovações envolvem o pioneirismo no

exercício da profissão e na exploração de nichos não existentes na prestação do serviço. Os

diferenciais incorporam novas modalidades de atendimento e o uso da criatividade para

constituir a estrutura do negócio em termos das instalações, tecnologia e formas de

acolhimento do paciente. Na seção seguinte são abordadas as influências das relações sociais

na concepção e implantação de empreendimentos de serviços de fisioterapia.

6.3 Sistemas de relações – As redes sociais e sua influência na atividade fisioterápica

A formação de um novo negócio pode estar associada à influência de

relacionamentos pessoais do empreendedor. Assim, as relações sociais no ambiente de

negócio acontecem entre indivíduos ou entre pessoas de duas ou mais organizações

(GRANOVETTER, 1992). Antes de tomar uma decisão sobre o empreendimento os

indivíduos, muitas vezes, recorrem às suas redes de relacionamento construídas nas interações

sociais presentes na trajetória de vida. Essa rede de relações, que abrange os contatos

familiares, acadêmicos e sociais, pode influenciar na definição do caminho a ser seguido em

um determinado negócio.

Para Ostgaard e Birley (1994) os inter-relacionamentos sociais são muitas vezes

utilizados como meios para acessar os recursos necessários ao desenvolvimento do negócio

ou ainda para se buscar informações úteis e confiáveis para o aproveitamento das

oportunidades do mercado. Além desses objetivos os indivíduos recorrem à família e aos

amigos o apoio às idéias e o aconselhamento social e emocional necessário nos momentos que

antecedem a escolha profissional. Parentes próximos ou mais distantes, colegas de escola,

professores ou outras pessoas que “cruzem” de alguma forma os caminhos dos indivíduos são

Page 68: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

68

influenciadores no desenvolvimento do negócio. Essas relações afetivas podem incentivar o

postulante a sedimentar o desejo de conceber um novo empreendimento.

No exame das entrevistas constatou-se a influência predominante de dois tipos de

relações sociais nos serviços de fisioterapia: as familiares e as acadêmicas. A relações

familiares se evidenciam em dois momentos da escolha profissional do fisioterapeuta: no

período de formação e na etapa que precede à decisão pelo negócio a ser constituído. Os

depoimentos abaixo ilustram a influência da família no período de formação dos

entrevistados:

“Olha, a influência maior que tive foi a dos meus pais. Meus pais, desde pequena me incentivaram, principalmente meu pai. Ele me incentivou a fazer o que eu quisesse no sentido profissional e no sentido de estudo. Quando eu decidi fazer fisioterapia, ele sentou comigo e disse: você quer fazer esse curso? O que você quer? Quais são os prós, quais são os contras?” (Inicial Novo 01) “[...] até eu começar a trabalhar quem fez todo o investimento foi a minha família. Não só o apoio acadêmico daquilo que era necessário para que eu formasse, mas dando incentivo de ir para um Congresso que não era em Belo Horizonte. De estar arcando com os custos dessas coisas, de fazer um curso, que era às vezes um curso caro. Eu vejo que em todos os sentidos, financeiros, emocional, etc... a minha família sempre me apoiou e me incentivou.” (Outros 04)

A relação familiar são as mais influentes no que diz respeito à maneira de ver o

mundo e às escolhas posteriormente realizadas (FILION, 1991). A presença do pai no início

do empreendimento exercendo o papel de incentivador e facilitador é marcante em alguns

depoimentos:

“Quando eu fui montar a clínica, eu tive esse apoio. Ele [o pai] falou: você vai montar? Você já olhou isso? Você já olhou aquilo? Quem é a sua sócia? É isso que você quer? Então vai embora. Foi um apoio no sentido, assim de orientar, mas também de me dar uma liberdade de escolha.”(Inicial Novo 01) “Meu pai sempre foi um empreendedor. Quando eu falei com ele que eu ia montar uma clínica, na mesma hora ele falou: então eu vou te ajudar. Ele mexe com engenharia, ele me ajudou no projeto, ajudou a gente na rampa. Acho que a influência familiar, isto é, a

Page 69: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

69

minha família me deu muito apoio desde o inicio que eu quis montar, então isso que me ajudou muito também.” (Inicial Novo 04) “Ele falou assim: atende um paciente meu hoje. Comecei a atender um ou outro, eu como estudante já estava assumindo os casos. No último ano eu comecei a atender. Comecei a pegar clínica de reabilitação de mãos dentro do hospital [...] eu fui direcionando essa demanda do hospital [...], no caso do meu pai, ele foi ali me puxando para a área dele, eu achei que eu ia mexer com a ortopedia geral e eu acabei me especializando na área de mão.” (Estabelecido 02)

As influências familiares derivam de auxílios que vão desde uma orientação mais

atuante até uma participação de aconselhamento ou gerada pela experiência profissional do

familiar (nos casos acima, o engenheiro e o médico). Observou-se também situações de

depoentes que declararam não terem sido influenciados pelas relações familiares na opção

pela área ou mesmo na subseqüente criação do negócio:

“[...] meus pais sempre deixaram as escolhas por minha conta, assim, nunca comentaram nada em relação as minhas decisões, tudo que fiz... escolhi... foi meio que sozinha.” (Outros 03) “Não teve nenhuma participação familiar nisso, porque o meu pai não tem escolaridade nenhuma, meu pai não tem nem primeiro grau completo, ele é balconista de farmácia. A minha mãe é costureira. Eles não têm nenhuma habilidade, são pessoas que eram muito pobres e que fizeram de tudo para poder me dar estudo. Falaram comigo: a única forma que o pobre tem de vencer na vida é estudando, não tem outra forma, não tem quem indica, não tem quem arruma emprego, não tem nada. Eu não tive nenhuma ajuda a não ser ajuda com relação à formação de caráter, a apoio em casa, carinho, educação, todo esse apoio eu tive, mas incentivo administrativo de ensinamento administrativo ou de ensinamento técnico, eu não tive não. O apoio que eles me deram foi todo apoio familiar mesmo.” (Outros 08)

O sistema de relações engloba também as amizades e os companheiros de trabalho

ou de escola. A análise dos dados evidenciou que na área da fisioterapia essa dimensão se

concentra quase que especificamente no meio acadêmico, sendo essas relações compostas por

colegas ou professores da área. As influências das relações advindas dos contemporâneos de

formação acadêmica podem ser percebidas nos relatos abaixo:

“Um dia eu estava conversando com um colega que já estava tentando fazer o vestibular que também era envolvido no meio futebolístico, que já estava mais adiantado nos estudos. Ele comentou que gostaria de ficar no meio esportivo e gostaria de fazer Fisioterapia. Nesse belo dia

Page 70: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

70

isso me chamou a atenção, porque até então nunca tinha ouvido falar na Fisioterapia.” (Inicial Nascente 02) “[...] eu me lembro que com os colegas de turma, primeira turma oficialmente formada na Faculdade de Ciências Médicas, a gente conversava muito com um grupinho de colegas que tinha o ideal de montar um grande centro de reabilitação e, posteriormente, até mesmo um hospital.” (Outros 06)

O exame dos fragmentos mostra como as amizades no meio acadêmico auxiliam

na construção de visões conjuntas que muitas vezes se transformam em negócios

empreendedores posteriormente. A consolidação de empreendimentos se mostrou mais efetiva

nas interações sociais mantidas com os professores durante o curso:

“[...] a professora solicitou voluntários para estar atuando num projeto de extensão num asilo. Eu fui voluntária, fui selecionada e trabalhei lá. A partir daí eu me engrenei na geriatria, fiz o trabalho de conclusão de curso com a professora, depois eu fiz o curso de especialização na UFMG, onde a professora também dava aula. Com certeza, eu encontrei uma pessoa que me influenciou, eu me espelhei nela, então eu acho que foi um impulso a mais.” (Outros 01) “[...] tive muita influência também durante a faculdade dos professores. Eles me ajudaram tanto que eu consegui muita coisa na área de respiratória. Se eu quisesse continuar trabalhando, eu estaria trabalhando ainda em outro hospital.” (Inicial Novo 05) “O dono da clínica era um professor que me auxiliou muito; com quem eu aprendi a parte técnica da fisioterapia, o professor e a esposa dele. Ela foi a minha orientadora de mestrado e sempre me estimulou muito não só a estudar, como também ter uma vida clínica, porque é da prática clínica que a gente tem as dúvidas para estudar no mestrado, na academia. Essas pessoas me auxiliaram muito no meu crescimento profissional, na parte técnica e na parte administrativa.” (Outros 08) “Eu fui professor substituto alguns anos e assim que eu formei a gente montou uma clínica em frente ao Extra. Foi eu e mais dois colegas de sala e mais dois professores. A gente fez uma clínica desde quando eu formei.” (Inicial Novo 06)

As relações com docentes possibilitaram nortear alguns dos empreendimentos

analisados, tanto na formação posterior em docência (Outros 01), como na escolha da

especialização (Inicial Novo 05) e na abertura e desenvolvimento de negócios (Outros 08 e

Inicial Novo 06). Os relatos demonstram ser o ambiente acadêmico um local profícuo para a

visualização e consolidação de ações empreendedoras na área fisioterápica.

Page 71: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

71

Os contatos estabelecidos nas redes sociais são cruciais para o reconhecimento de

oportunidades pelos empreendedores (PAIVA JR, 2004). Segundo o autor o que de fato

define a vivência do sujeito empreendedor na sua esfera profissional é o sentido que ele

vislumbra nas relações que coincidem com seu projeto de vida. Os inter-relacionamentos

sociais são muitas vezes utilizados, tanto como forma de acesso aos recursos inexistentes para

o desenvolvimento do negócio (OSTGAARD E BIRLEY, 1994), como para fonte de

informações úteis, confiáveis e exclusivas no sentido de aproveitar novas oportunidades de

mercado.

Os testemunhos transcritos abaixo evidenciam momentos nos quais os

profissionais fisioterapeutas empregaram contatos oriundos do local de trabalho exercido

antes da opção pelo atual empreendimento, das relações com integrantes de associações de

classes e das interações com outros profissionais que atuam no segmento fisioterápico:

“[...] eu tive alguns amigos que me indicavam pacientes assim que me formei ou me indicavam uma academia que estava precisando de um fisioterapeuta. Além disso, as pessoas com que quem eu trabalhava me influenciaram muito no sentido assim... do que fazer, de indicações, de falar, de me indicar para eu estar numa atividade, para eu estar fazendo alguma coisa.” (Outros 04) “[...] eu participo de algumas listas de discussão pela Internet como, por exemplo, da Associação Mineira de Fisioterapia Esportiva. Agora entrei na Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva, exatamente para estabelecer bons relacionamentos e daí crescer mais ainda profissionalmente.” (Outros 09) “Eu fui com o meu marido na época, ele foi fazer um curso na Alemanha. Procurei o hospital no qual esse livro era baseado [mostrando o livro], e ai o quê que aconteceu? Eu conheci os neo terapeutas que atendiam nesse hospital, nessa maternidade, e eles faziam esse trabalho muito bonito logo depois do parto, durante a gravidez, foi quando eu voltei pro Brasil e resolvi de peito aberto implantar esse serviço.” (Estabelecido 05)

As influências acima transpostas advêm de relações sociais externas, de

relacionamentos originados em atividades que serviram de base para a construção visionária

do negócio e para o seu próprio aprimoramento. A área da fisioterapia, como qualquer outra

Page 72: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

72

das ciências da saúde, envolve um maior aprofundamento das relações pessoais terapeuta-

paciente, que se reverte também para um criterioso processo de seleção da rede de pessoas

responsáveis pela prestação do serviço. O dirigente do negócio elabora estratégias para

estruturar seu sistema de relações sociais internas tendo como referência critérios de

confiabilidade, comprometimento e competência profissional. Os depoimentos que se seguem

revelam como as indicações da rede de relacionamentos, a dedicação e a experiência

profissional interferem na estruturação da rede interna no serviço fisioterápico:

“Eu tenho alguns critérios, eu primeiro sigo a indicação de alguém, depois vejo a questão da empatia. Outro fator importante é saber se o outro é bom de serviço. Graças a Deus, eu estou com uma equipe excelente. São pessoas que às vezes fizeram o curso [de cuidador de idosos], eu fico observando, sou muito observadora neste aspecto.” (Inicial Nascente 01) “Na empresa, eu acho que o critério que existe aqui seria compromisso. Se eu vejo que é uma pessoa de compromisso, que ela está engajada no nosso trabalho, em fazer a clínica crescer, esta pessoa vai estar junto comigo em tudo. Mas, se eu vejo que é uma pessoa não engajada, eu não vou insistir, não vou colocar no meu círculo de relações, nos meus negócios. Por exemplo, em alguns empreendimentos, se eu vejo que esta pessoa não é uma pessoa interessada, ela não entra, eu simplesmente vou excluir.” (Estabelecido 04) “[...] a minha rede de relações ela é muito baseada na finalidade, na afinidade profissional, na questão de estar um junto com o outro, igual eu estou te falando... um ajudando o outro, crescendo com o outro e não aquela coisa de sonegar informação. Eu não sou assim, acho que eu não combino com gente que é assim.” (Outros 01)

“[...] eu vejo quem trabalha bem, por exemplo. A gente precisou de uma massagista para trabalhar com a gente, contratei uma que eu já fazia massagem com ela, ela trabalha bem, ela é profissional. Para contratar os fisioterapeutas que trabalham com a gente o critério é o mesmo a indicação de amigos da faculdade que a gente tinha, que sabiam o que a gente falava: ‘esse vai dar um excelente profissional’, ‘esse a gente sabe que não vai ser tão bom’, ‘esse não vou trabalhar com ele’, ‘esse não vou indicar.’” (Inicial Novo 05)

O critério da indicação como fator de ampliação da rede interna de relacionamento

remete aos laços de confiança existentes com a pessoa que sugere a contratação de um novo

integrante para o empreendimento. Paralelo à confiabilidade que permeia esse processo

estabelece-se algumas condições para receber o componente e mecanismos que avaliem os

níveis de idoneidade, comprometimento e empenho do pretendente.

Page 73: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

73

A construção do sistema de relações pressupõe também objetivos de cunho

comercial. A intimidade que marca as relações fisioterapeuta-paciente acaba, muitas vezes,

tornando-se um multiplicador da clientela. Como explica o depoente abaixo, isso ocorre

quando o fisioterapeuta passa a fazer parte da rede de relações do paciente:

“Tem alguns critérios, por exemplo, relacionamento com médico, pessoas que te encaminham pacientes. A forma como você atende o seu cliente, como você explica para o seu cliente é uma forma de se manter um relacionamento com ele e fazer com que ele te encaminhe também outros pacientes, isso sempre teve na minha cabeça. Eu sempre pensei assim e ajo assim. Isso me traz um retorno. Quanto mais seguro ele sente com você, ele vai te encaminhar outros clientes, então essas são coisas importantes do relacionamento inter-pessoal.” (Outros 07)

Conforme visto neste tópico a rede de relações no meio fisioterápico auxilia na

construção da visão, na edificação do negócio e na sua ampliação. No início do

empreendimento a interação com familiares é realizada com o propósito de orientação,

transferência de experiências e, no caso de famílias com melhores condições financeiras, de

capitalização do negócio.

Pelas entrevistas foi possível perceber que as relações acadêmicas, em termos dos

colegas de formação, funcionaram como fatores propulsores de idéias para novos negócios e,

os contatos mais efetivos com os professores ajudaram na aquisição de conhecimentos da área

profissional fisioterápica e na definição de nichos de serviços ainda não explorados. Em

relação aos sistemas internos de relações, as indicações e as formas de avaliação do potencial

dos futuros componentes da rede social compõem as estratégias mais utilizadas pelos

condutores dos negócios.

O tópico seguinte esboça uma análise das recorrências dos atributos “competências

empreendedoras” e “relações sociais” identificados na pesquisa.

Page 74: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

74

6.4 - Análise de recorrência dos temas “competências empreendedoras” e “sistemas de

relações”

Conforme descrito no QUADRO 1 – Categoria e formação dos entrevistados, foram

ouvidos 23 profissionais, sendo 21 fisioterapeutas e 02 administradores de empresas, sócios-

proprietários de empreendimentos fisioterápicos com outros fisioterapeutas.

Um dos passos utilizados no tratamento dos dados foi submeter as informações

coletadas a uma estatística simples buscando colocar em relevo os diversos grupos utilizados

na pesquisa, unificados no QUADRO 2 e representados separadamente de acordo com a sua

classificação como “Temas Centrais do Estudo”, “Núcleos Temáticos”, “Sub-Núcleos Temáticos” e

“Núcleos de Sentido” nos QUADROS de 3 a 11, a seguir:

Page 75: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

75

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9

6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64

6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente

6 10 14 11 41 53

6.2.1.1 Competências de oportunidade 2 1 6 4 13 32 6.2.1.1.1 Influência na formação da visão 1 0 2 2 5 38 6.2.1.1.2 Oportunidade de demanda 1 1 4 2 8 62

6.2.1.2

Conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares

1 6 5 5 17 41

6.2.1.2.1 Informar sobre a localização 1 1 0 0 2 12 6.2.1.2.2 Fazer pesquisa de mercado 0 2 2 1 5 29 6.2.1.2.3 Não fazer pesquisa de mercado 0 3 3 4 10 59

6.2.1.3 Competência de avaliar e assumir riscos 3 3 3 2 11 27

6.2.1.3.1 Planejar o negócio 1 1 1 1 4 36 6.2.1.3.2 Utilizar a intuição 1 0 1 0 2 18 6.2.1.3.3 Não planejar 1 2 1 1 5 45

6.2.2 Competências associadas a ação estratégica 3 11 10 12 36 47

6.2.2.1 Inovações e estabelecimento de diferenciais 3 11 10 12 36 100

6.2.2.1.1 Qualificar e capacitar o profissional 0 3 4 8 15 42

6.2.2.1.2 Diversificar e ampliar a qualidade dos serviços

1 4 4 3 12 33

6.2.2.1.3 Otimizar espaços e modernizar recursos físicos 2 3 1 1 7 19

6.2.2.1.4

Consolidar a marca da empresa e aprimorar questões administrativas

0 1 1 0 2 6

6.3

Sistemas de relações – As redes sociais e a influencia na atividade empreendedora

3 13 11 16 43 36

6.3.1 Fonte de influências 3 13 11 16 43 100

6.3.1.1 Influência familiar 1 6 4 7 18 42

6.3.1.2 Influência acadêmica 1 5 6 8 20 47

6.3.1.3 Influência da rede social 1 2 1 1 5 12

Total de Recorrências de Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações 120 100 QUADRO 2 - Quantificação das Recorrências de Competências Empreendedoras - Sistemas de Relações FONTE: Dados de pesquisa, 2006.

Page 76: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

76

Segundo classificação de GEM (2006), do total dos entrevistados, demonstrados no

QUADRO 3, 08 foram classificados na categoria “Inicial”, sendo dois da categoria “Inicial

Nascente” e 06 correspondentes à categoria “Inicial Novo”. Nas categorias “Estabelecidos”

e “Outros” foram ouvidos respectivamente, 06 e 09 pessoas.

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23

100

5.2 . Categoria dos Entrevistados 8 6 9

Total de Profissionais Entrevistados 23 100 QUADRO 3 - Demonstrativo de Categorias dos Profissionais Entrevistados FONTE: Dados de pesquisa, 2006.

No estudo, como demonstrado no QUADRO 4, foram encontradas 120

recorrências, sendo que 77 delas, ou 64% do total da amostra estão relacionadas ao construto

“competências empreendedoras”, e 43 ao construto “sistemas de relações”,

correspondendo aos 36% restantes.

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9

6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64

6.3

Sistemas de relações - As redes sociais e a influencia na atividade empreendedora

3 13 11 16 43 36

Total de Recorrências de Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações 120 100 QUADRO 4 - Demonstrativo de Recorrências dos Construtos - Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações. FONTE: Dados de pesquisa, 2006.

Page 77: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

77

Os núcleos temáticos “competências associadas à visão do ambiente”, e

“competências associadas à ação estratégica”, ambos pertencentes ao construto

“competências empreendedoras”, apresentaram 41 e 36 citações, correspondendo,

respectivamente a 53% e 47% das 77 incidências desse tema (QUADRO 5).

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9

6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64

6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente

6 10 14 11 41 53

6.2.2 Competências associadas a ação estratégica 3 11 10 12 36 47

QUADRO 5 - Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas ás Competências Individuais Empreendedoras FONTE: Dados de pesquisa, 2006

Três sub-núcleos temáticos, segundo QUADRO 6, foram evidenciados do tema

“competências associadas à visão do ambiente”: a competência de oportunidade, o

conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares e a competência de

avaliar e assumir riscos.

De acordo com o QUADRO 7, o primeiro sub-núcleo temático, “competências

de oportunidade”, aparece 13 vezes nos depoimentos. O desenvolvimento da habilidade de

identificar oportunidades está associado à intuição de demanda para 62% dos entrevistados.

Para 38% que registraram “competências de oportunidade” essa habilidade está associada à

influência na formação da visão.

Page 78: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

78

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 8 9

6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente

6 10 14 11 41 53

6.2.1.1 Competências de oportunidade 2 1 6 4 13 32

6.2.1.2

Conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares

1 6 5 5 17 41

6.2.1.3 Competência de avaliar e assumir riscos 3 3 3 2 11 27

QUADRO 6 - Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas à Visão do Ambiente FONTE: Dados de pesquisa, 2006.

ÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos Entrevistados 8 6 9

6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente

6 10 14 11 41 53

6.2.1.1 Competências de oportunidade 2 1 6 4 13 32 6.2.1.1.1 Influência na formação da visão 1 0 2 2 5 38 6.2.1.1.2 Oportunidade de demanda 1 1 4 2 8 62

QUADRO 7 - Demonstrativo de Recorrências das Competências de Oportunidade FONTE: Dados de pesquisa, 2006.

O segundo sub-núcleo temático, “conhecimento antecipado do negócio e o uso

informações preliminares”, descrito no QUADRO 8, surge com 17 registros e evidencia

três núcleos de sentido. Dos 17 pessoas que buscaram antecipar informações sobre o

negócio, 12 % se informaram sobre a melhor localização, 29% fizeram pesquisa de mercado

e 59% não realizaram nenhum estudo sobre o potencial do empreendimento.

Page 79: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

79

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9

6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente

6 10 14 11 41 53

6.2.1.2

Conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares

1 6 5 5 17 41

6.2.1.2.1 Informar sobre a localização 1 1 0 0 2 12 6.2.1.2.2 Fazer pesquisa de mercado 0 2 2 1 5 29 6.2.1.2.3 Não fazer pesquisa de mercado 0 3 3 4 10 59

QUADRO 8 - Demonstrativo de Recorrências de Conhecimento Antecipado do Negócio e o Uso de Informações Preliminares FONTE: Dados de pesquisa, 2006

O QUADRO 9 demonstra o terceiro sub-núcleo temático “competências de

avaliar e assumir riscos”, com 11 incidências, nos mostrou que 45% dos entrevistados

neste sub-núcleo temático assumiram não ter feito qualquer tipo de planejamento anterior à

abertura do seu negócio, iniciando-o “no peito e na raça”, na “coragem”. Outros 36%, em

contrapartida, manifestaram a preocupação inicial com os cuidados necessários para o

sucesso do seu negócio, mesmo que para isto tenham recorrido a indivíduos da sua rede de

relacionamentos, por não se sentirem competentes ou com formação administrativa

compatível. A intuição, acreditando que a experiência profissional e/ou possibilidades de

demanda do mercado seriam indicadores de resultados positivos do seu empreendimento, a

despeito de um planejamento prévio, também foi descrito por 18% dos indivíduos.

Page 80: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

80

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9

6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente

6 10 14 11 41 53

6.2.1.3 Competência de avaliar e assumir riscos 3 3 3 2 11 27

6.2.1.3.1 Planejar o negócio 1 1 1 1 4 36 6.2.1.3.2 Utilizar a intuição 1 0 1 0 2 18 6.2.1.3.3 Não planejar 1 2 1 1 5 45

QUADRO 9 - Demonstrativo de Recorrências de Competência de Avaliar e Assumir Riscos. FONTE: Dados de pesquisa, 2006

O núcleo temático “competências associadas à execução estratégica”,

responsável por 47% das recorrências relacionadas às “competências empreendedoras”

dos indivíduos entrevistados, evidencia as ações adotadas pelos mesmos no sentido de

inovar e estabelecer diferenciais no mercado. Dentre as alternativas utilizadas para tal

finalidade, a busca de qualificação e capacitação profissional foi descrita por 42% do

montante da amostra representativa desse núcleo, enaltecidas e relatadas como de vital

importância, sobretudo pelos profissionais envolvidos com a formação acadêmica, também

objeto do nosso estudo. Outros 33% procuram melhorar a qualidade dos seus serviços

ampliando a sua demanda de pacientes e/ou valorizando as suas competências, enquanto

profissional fisioterapeuta, diversificando o seu atendimento através da implementação de

novos recursos e técnicas fisioterápicas que deixem evidentes, através dos resultados obtidos

e feed-back dos usuários ou contratantes da sua mão de obra. Atributos investigados nos

núcleos de sentido mais afetos às questões administrativas como a necessidade de otimizar

os espaços existentes e modernizar recursos físicos também foram descritos por 19% dos

entrevistados no sub-núcleo destinado ao conhecimento das competências inovadoras dos

Page 81: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

81

indivíduos investigados. A deficiência ou ausência de experiência familiar ou de formação

acadêmica focada no planejamento, gestão e ações empreendedoras, observada na fala dos

depoentes, talvez seja uma das responsáveis pelo reduzido interesse ou envolvimento da

maioria dos entrevistados nas questões administrativas, anteriormente já descritas. A baixa

recorrência, apenas 5,6%, evidenciada no núcleo de sentido destinado à avaliação das ações

de aprimoramento dessas questões e consolidação da marca da empresa, é percebida pelos

entrevistados, como uma deficiência na formação e do desenvolvimento de competências

empreendedoras dos profissionais pertencentes às categorias estudadas no presente trabalho

(QUADRO 10).

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 9 9

6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64

6.2.2 Competências associadas a execução estratégica 3 11 10 12 36 47

6.2.2.1 Inovações e estabelecimento de diferenciais 3 11 10 12 36 100

6.2.2.1.1 Qualificar e capacitar o profissional 0 3 4 8 15 42

6.2.2.1.2 Diversificar e ampliar a qualidade dos serviços

1 4 4 3 12 33

6.2.2.1.3 Otimizar espaços e modernizar recursos físicos 2 3 1 1 7 19

6.2.2.1.4

Consolidar a marca da empresa e aprimorar questões administrativas

0 1 1 0 2 6

QUADRO 10 - Demonstrativo de Recorrências de Competências Individuais Empreendedoras FONTE: Dados de pesquisa, 2006

Page 82: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

82

Já o núcleo temático “fonte de influências”, único componente do construto

“sistemas de relações”, descrito no QUADRO 11, apresentou 43 incidências, sendo 42%

relativos às influências familiares, 47% referentes às influências acadêmicas e 12%

associadas ao outros contatos da rede social. Resultados que demonstram a forte influência

da academia em ações empreendedoras, mesmo considerando que o acadêmico de

fisioterapia não tenha tido formação específica em administração.

CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO

CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS

TOTAL Inicial

Estabelecido Outros Nascente Novo

Frequência %

2 6 6 9 23 100

5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9

6.3

Sistemas de relações sociais – As redes sociais e a influencia na atividade empreendedora

3 13 11 16 43 36

6.3.1 Fonte de influências 3 13 11 16 43 100

6.3.1.1 Influência familiar 1 6 4 7 18 42

6.3.1.2 Influência acadêmica 1 5 6 8 20 47

6.3.1.3 Influência da rede social 1 2 1 1 5 12

QUADRO 11 - Demonstrativo de Recorrências dos Sistemas de Relações Sociais FONTE: Dados de pesquisa, 2006

O levantamento estatístico realizado juntamente com a análise das entrevistas

sugere algumas respostas ao problema de pesquisa deste trabalho. O capítulo a seguir traz as

conclusões geradas através dessas respostas, as limitações percebidas na execução da pesquisa

e as sugestões para estudos futuros.

Page 83: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

83

7. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES PARA ESTUDOS

FUTUROS

O objetivo principal desse estudo foi analisar o processo de decisão do exercício

profissional do fisioterapeuta tendo como parâmetro as competências empreendedoras e as

redes de relações sociais. Pelos depoimentos foi possível entender como o desenvolvimento

de competências individuais e os sistemas de relações do fisioterapeuta influenciam na

decisão de empreender.

Os resultados da pesquisa demonstram que a visão do negócio empreendimento

fisioterápico muitas vezes pode se iniciar antes do período de sua formação. Contribuem para

essa construção visionária a vivência do indivíduo com outras áreas afins de formação

(Educação Física, Terapia Ocupacional e Medicina Veterinária) e com experiências em

atividades correlatas ao exercício profissional da fisioterapia. Nessa etapa, o sistema de

relações pode também vir exercer influência sobre a edificação da idéia, seja por meio de

referência no âmbito familiar, de relacionamentos oriundos da trajetória do indivíduo nos

esportes e escola.

Na fase que antecede a escolha da atividade fisioterápica a ser exercida, as

competências do fisioterapeuta são adquiridas no ambiente acadêmico e organizacional. Entre

as competências associadas à visão do ambiente, cabe destacar o desenvolvimento de

habilidades especialistas e aquelas obtidas por meio da experiência profissional. Em relação

ao mercado o fisioterapeuta desenvolve competências relacionadas à visualizar oportunidades

de demandas de serviços organizacionais ou relativas a um segmento social específico. As

Page 84: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

84

oportunidades podem ser trabalhadas também em relação a área necessitadas de atendimento

fisioterápico.

Mais do que agir de forma planejada, a maioria dos fisioterapeutas entrevistados se

decidem intuitivamente na decisão sobre o empreendimento. Isto pode ser observado pela

ausência de fontes de informação preliminares que amparam a opção profissional. Uma das

possíveis explicações para essa falta de investigação sobre os fatores externos que afetam um

empreendimento pode estar associada à própria formação do fisioterapeuta, que não

aprofunda em disciplinas ligadas ao empreendedorismo, planejamento e gestão

organizacional. A ação intuitiva prevalece também após a abertura do negócio, na maioria das

vezes enfrentado com “cara e a coragem” respondendo aos problemas, na “medida em que

eles aparecem”.

As competências associadas à ação estratégica dizem respeito a se antecipar ao

mercado e oferecer serviços pioneiros e especializados. Por outro lado, dentro de um processo

criativo, a diversificação de serviços pode representar um diferencial em relação aos

concorrentes. Ambiente de trabalho, recursos tecnológicos e forma de atendimento

representam elementos da estrutura do negócio que quando bem utilizados asseguram a

qualidade de execução do processo estratégico.

As competências relacionadas para diferenciar o atendimento aos clientes são

evidenciadas, por exemplo, na concepção de um modelo de capacitação de pessoal e na

própria criatividade expressada para atrair e manter a demanda de pacientes. Em termos dos

profissionais que atuam na área de formação acadêmica, as atividades de qualificação se

traduzem em diferenciais estratégicos desses docentes.

Page 85: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

85

As redes de relações, em especial, familiar e acadêmica, exercem forte influência

na decisão profissional do fisioterapeuta nos períodos que antecedem a formação e a opção

pelo tipo de serviço a ser prestado. As influências familiares predominam no início do

empreendimento, derivadas principalmente da orientação e apoio financeiro prestado pelos

pais. Já as relações acadêmicas originadas de contato com professores e colegas de curso,

exercem influência na constituição e manutenção do empreendimento.

O sistema de relações sociais envolve também interações com finalidades de

crescimento e proliferação do negócio. Internamente, o fisioterapeuta seleciona a rede de

profissionais com que atuará. Os relacionamentos com outros profissionais da área de saúde

acontecem no sentido de impulsionar a procura pelos serviços e possibilitar o fluxo de

indicações de clientes. O estreitamento das relações com o paciente permite também o

aumento da escala de atendimentos decorrente da qualidade do serviço prestado.

Este estudo apresenta algumas limitações de pesquisa. Uma das dificuldades na

coleta de dados refere-se à seleção de fisioterapeutas “inicial nascente”, aqueles que estão à

frente de seu empreendimento a menos de três meses, o que ocasionou a redução da

amostragem referente a esta categoria pesquisada. Em função do escasso tempo disponível de

alguns entrevistados, informações importantes poderiam ter sido mais bem exploradas. A

impossibilidade de generalização dos resultados também é considerada uma restrição do

trabalho. Pelo fato da análise comportar aspectos subjetivos, o fenômeno pode vir a ser

interpretado de maneira diferente pelos entrevistados.

Algumas sugestões futuras cabem ser ressaltadas. O foco da investigação em

algumas das categorias pesquisadas; inicial nascente, inicial novo, estabelecido e outros,

Page 86: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

86

possibilitariam uma análise mais aprofundada da evolução do negócio em determinado

estágio. Sugere-se também a utilização de pesquisas quantitativas que mensurem as relações

de influência entre os dois atributos investigados: competências empreendedoras e sistemas de

relações.

Page 87: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

87

REFERÊNCIAS

ALDRICH, H.; ZIMMER, C. Entrepreneurship through social networks. In: SEXTON, D.;

SMILOR, R. (Org.) The Art and Science of Entrepreneurship. Cambridge, MA: Ballinger

Publishing, 1986. Cap. 1, p. 3-23.

ALVES-MAZZOTTI, A. J; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e

sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed., São Paulo: Pioneira Thomson, 2004.

BARATO, J. N. Competências essenciais e avaliação do ensino universitário. Brasília:

Universidade de Brasília, 1998.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.

BARNIR. A.; SMITH, K. Interfirm alleances in the small bussiness: the role of social network.

Journal of Small Bussiness Management, Morgantown, W.Va., v. 40, n. 3, p. 219-232, July

2002.

BAUER. M.W.; GASKELL. G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual

prático. Vozes, 1999.

BENEDETTI, M. H. et al. As necessidades de auto-realização e a motivação do

empreendedor: uma análise de empreendedores de micro e pequenas empresas da região de

Barueri. Brasília: ENANPAD, 2005.

BERGAMINI, C.W. Motivação nas organizações. 4. ed., São Paulo: Atlas, 1997. 214 p.

BERNARDI, L. A. Manual de empreendedorismo e gestão: fundamentos, estratégias e

dinâmicas. São Paulo: Atlas, 2003. 314 p.

BIRLEY, S. The role of networks in the entrepreuneurship process. Journal of Business

Venturing, New York, v. 1, p. 107-117, Winter, 1986.

Page 88: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

88

BRITTO, F,; WEBER, L. Empreendedores brasileiros: vivendo e aprendendo com grandes

nomes. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

BRUSH, C. G.; GREENE. P.G.; HART, M. M. Fro, intial idea to unique advantage: the

entrepreneurial challenge of constructing a resource base. Academy of Mangement

Executive, v. 15, n.1, p. 64-80, 2001.

BURREL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organizational analysis. London:

Heineman; 1979.

COLLINS, J.; PORRAS, J. Build to last. New York: Harper-Collins, 1994.

COLOGNESE, A. S.; MELO, J. L. B. A técnica de entrevista na pesquisa social. Cadernos

de Sociologia, 1998: 9; p. 143 -59.

COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Métodos de pesquisa em administração. 7 Ed., Porto

Alegre: Bookman, 2003.

CORTES, S. M. V. Técnicas de coleta e análise qualitativa de dados. Cadernos de

Sociologia, 1998: 9; p. 11 – 47.

CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL DA 4ª

REGIÃO – CREFITO-4. Legislação da fisioterapia e terapia ocupacional. Belo Horizonte. 3.

ed., 2002. 116 p. [s.n.]

CRUZ NETO, O. O trabalho de campo como descoberta e criação. MINAYO, M. C. S. et

al. Pesquisa Social: teoria,método e criatividade. 20. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

DACIN, M. T.; VENTRESCA, M. J.; BEAL, B. D. The embeddedness of organizations:

dialogue and directions. Journal of Management, v. 25, n. 3, p. 317-356, 1999.

DESCHAMPS, J.; NAYAK, P. Produtos irresistíveis. São Paulo: Makron Books, 1996.

Page 89: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

89

DEGEN, R. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo: McGraw-

Hill, 1989. 368 p.

DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM

FISIOTERAPIA. Resolução CNE/CES no. 4/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de

março de 2002. Seção 1, p.11.

DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. 2. ed. rev. e

atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 293 p.

DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor. 2. ed., São Paulo: Pioneira Thomson,

1986. 378p.

DUCCI, M. A. El enfoque de competencia laboral en la perspectiva internacional: In:

OFICINA INTERNACIONAL DEL TRABAJO. Formación baseada en competencia

laboral: situación actual y perspectivas. Ginebra, OIT, 1996.

ELLIOT, A.; DWESC, C. Handbook of competence and motivation. Guilford Publications, 2005.

FILION, L. J. O planejamento do seu sistema de aprendizagem empresarial: identifique uma

visão e avalie o seu sistema de relações. Revista de Administração de Empresas –

Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, jul./set. 1991.

________. Visão e Relações: elementos para um metamodelo empreendedor. Revista de

Administração de Empresas – Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, nov./dez. 1993.

________. Diferenças entre Sistemas Gerenciais de Empreendedores e Operadores de

Pequenos Negócios. Revista de Administração da USP, São Paulo, v. 39, n. 4, p. 1999a.

________. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários gerentes de pequenos negócios.

Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 5-28, abr./jun. 1999b.

FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências:

um quebra-cabeça caleidoscópio da industria brasileira. 3. ed. rev. e amp. São Paulo: Atlas, 2004.

Page 90: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

90

GEM - Global Entrepreneuship Monitor. Empreendedorismo no Brasil - 2005: Relatório

Nacional. Curitiba: IBQP, 2006.

_________. Report Summary, 2007. Informações disponíveis no site:

http://www.gemconsortium.org. Acessado em 29 de março de 2007.

GONÇALVES, C. A.; MEIRELLES, A. M. Projetos e relatórios de pesquisa em

administração. São Paulo: Atlas, 2004.

GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness.

American Journal of Sociology. Chicago, v. 91, n.3, p. 481-510, nov. 1985.

__________. Problems of explanation in economic sociology. IN: NOHRIA, Nitin e

ECCLES, Robert G. (Org.), Networks and organizations: structure, form, and action.

Boston: Harvard Business School Press, 1992. Cap.1, p. 25-26.

HADDAD et al. A Trajetória dos cursos de graduação na Área da Saúde: 1991 – 2004.

Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Relatório de Pesquisa Mensal

de Emprego. Junho 2006. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 23 ago. 2006.

JARILLO, J. C. Entrepreneurship and growth: the strategic use of esternal resources. Journal of

Business Venturing, New York, v. 4, n. 2, p. 133 -147, mar. 1989.

JOHANNISSON, B. Personal networks in emerging knowledge-based firms: spatial and

functional patterns. Entrepreneurship and Regional Development, v. 10, n. 4, p. 297-312,

oct./dez.1998.

KETS DE VRIES, M. F. R. The anatomy of the entrepreneur: clinical observations. Human

Relations, v. 49, n. 7, 1996.

Page 91: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

91

KURATKO, D. F; HODGETTS, R. M. Entrepreneurship: a contemporary approach. 3. ed.

The Dryden Press, 1995.

LARSON, A. Partner networks: leveraging external ties to improve entrepreneurial

performance. Journal of Business Venturing, New York, v. 6, n. 3. p. 173 -188, May 1991.

________. Network dyads in entrepreunrial settings: a study of the governance of exchange

relationships. Administrative Science Quarterly, Ithaca, v. 37, p. 76 -104, March. 1992.

LARSON, A.; STARR, J. A. A network model of organization formation, Entrepreneurhip:

theory & pratice. Waco, v. 17, n. 2, p. 5 -16, Winter 1992.

LILES P. R. New Business Ventures and the Entrepreneur. Homewood, IL: Irwin, 1974

LUZ T. R. Estratégias competitivas e competências. In: RODRIGUES S.B.; CARRIERI A P.;

LUZ, T. R. Tempos de desconstrução: evolução e transformação nas empresas: um estudo

de uma empresa de telefonia. Belo Horizonte: UFMG/FACE/CEPEAD, 2003.

LYLES, M. A. et al. Formalized planning in small business: increasing strategic choices.

Journal of Small Business Management. April, 1993, p. 38-50.

MAN, T. W. Y.; LAU, T. Entrepreneurial competencies of SME owner/manager in the Hong

Kong services sector: a qualitative analysis. Journal of Entreprising Culture, v. 8 , n. 3, 2000.

MENEZES, C. E. Nova visão dos recursos humanos. Gazeta Mercantil, 2004.

MICHAELIS: O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – São Paulo: Melhoramentos,

2004. – (Dicionário Michaelis).

MINAYO, M. C. S. et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 20. ed., Petrópolis,

RJ: Vozes, 2002.

________. O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde, 9. ed. revisada, São

Paulo: Hucitec, 2006.

Page 92: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

92

MUNIZ, J. W. C., TEIXEIRA, R. C. Fundamentos de administração em fisioterapia. São

Paulo; 2003.

NASCIMENTO M.C. et al. A Profissionalização da Fisioterapia em Minas Gerais - Revista

Brasileira de Fisioterapia, v. 10, n. 2, 2006, p. 241 – 247.

OSTGAARD, T. A.; BIRLEY, S. Personal networks and firm competitive strategy – A

strategic or coincidental match? Journal of Business Venturing, New York, v. 9, n. 4, p.

281-305, July 1994.

PAIVA JR. F. G. O. et al. Competências Empreendedoras em Comportamentos de Dirigentes

de Êxito Socialmente Reconhecido. ENANPAD. São Paulo, 2003.

____________. O Empreendedorismo na ação de empreender: uma análise sob o enfoque

da fenomelogia sociológica de Alfred Schutz. 2004. 371 p. Tese (Doutorado em

Administração) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.

____________ et al. A contribuição das competências empreendedoras para a formação de

dirigentes em sistemas de incubação. XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 out. 2006.

PARDINI, D. J. A influência cultural na gestão de aquisições – uma proposta

evolucionária de transferência de competências. Anais do CLADEA – Consejo Latino

Americano de Escuelas de Administración – 2004. Puerto Plata, República Dominicana,

out., 2004.

_____________. Formação Cultural como Construto de Ligação entre Visão Empreendedora

e Ação Estratégica - uma análise do caso da USIMINAS, 3 Es - II Encontro de Estudos em

Estratégia. Rio de Janeiro, 08 a 10 de junho de 2005.

REBELATTO, J. R.; BOTOMÉ, S. P. Fisioterapia no Brasil: fundamentos para uma ação

preventiva e perpectivas profissionais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1999.

Page 93: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

93

RUAS, S. Desenvolvimento de competências gerenciais e contribuição da aprendizagem

organizacional. São Paulo: Atlas, 2001.

SCHUMPETER, J.A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.

SEBRAE – Economia Informal e Urbana – Observatório Sebrae – jul. 2005.

SHANE, S,; VENKATARAMAN, S. The promise of entrepreurship as a field of research. The

Academy of Management Review, Mississippi State, v. 25, n. 1, p. 217 -226, Jan. 2000.

STEVENSON, H. H.; GUMPERT, D. E. The Heart of Entrepreneurship. Harvard Business

Review, March-April, 1985.

TIMMONS, J. A. New Venture Creation. Homewood, IL: Irwin, 1990, 3. ed.

VAN GIGCH, J.P. Decision making about decision making: metamodels and metasystems.

Cambridge: Mas and Tunbridge Wells, Kent, Abacus Press, 1987.

VASCONCELOS, G. M. R. Inserção Social e Recursos: um estudo de caso comparativo da

criação e desenvolvimento de novos negócios. Revista de Administração de Empresas.

Brasília, RAE FGV, 2005.

WEBSTER DICTIONARY. Barnes & Noble Books, 1999.

WHITING, B. G. Creativity and entrepreneurship: how do they relate? Journal of Creative

Behaviour, 22, n. 3, 1988, p. 178-183.

Page 94: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

94

ANEXO A

FICHA DE IDENTIFICAÇÃO

Categoria:

1.Empreendedores Iniciais 1.1.Empreendedores Iniciais Nascentes

1.2. Empreendedores Iniciais Novos

2.Empreendedores Estabelecidos 3.Quanto à Formação:

3.1.Profissionais Fisioterapeutas

3.2.Outros. Se outros, especificar Formação: _________________________

Nome: ________________________________________________________________

Sexo: Masculino Feminino

Idade: _________________________

Local de graduação: ______________________________________________________

Ano de formatura: ________________

Dados do Empreendimento: (Para as categorias 1 e 2)

Nome da empresa: _______________________________________________________

Número de sócios: ________________

Número de funcionários:

Fisioterapeutas: ___________________________

Outros de nível superior: ____________________

Outros de nível médio: ______________________

Ano de abertura da empresa: _______________________

(Para categoria 3)

Tipo de organização em que atua: ______________________________________________

Atividades fisioterápicas que desenvolve: _____________________________________

_______________________________________________________________________

Page 95: MÁRCIO MEIRA BRANDÃO A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ...

95

ROTEIRO DE ENTREVISTA SOBRE COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS

Questões associadas à identificação das competências empreendedoras

1. Antes de tomar sua decisão profissional você procurou conhecer o negócio em que você atua?

2. Ao fazer a opção pela sua trajetória profissional você chegou a avaliar possíveis riscos da empreitada?

3. Você chegou a analisar em detalhes o negócio em que está engajado atualmente?

4. Você utilizou fontes de informações do mercado para tomar a decisão sobre o caminho profissional a ser trilhado?

5. Quando você decidiu sobre o negócio em que atua hoje foi levado em conta os possíveis cenários dessa atividade no futuro?

6. Você busca inovar no exercício das suas atividades profissionais? De que maneira?

7. Você busca se diferenciar ou se distinguir no exercício das atividades?

8. De que forma você busca se atualizar em relação ao negócio em que atua?

ROTEIRO DE ENTREVISTA SOBRE SISTEMAS DE RELAÇÕES Questões associadas aos sistemas de relações

1. De que maneira as relações sociais o auxiliaram na escolha da sua opção profissional?

2. Como a família ou pessoas do âmbito mais afetivo (primária) influenciaram na sua decisão profissional?

3. Pessoas ligadas a suas atividades de lazer ou trabalho interferiram no negócio escolhido?

4. Algum contato com pessoas de seu campo de atuação te auxiliou na decisão pelo negócio que você atua hoje?

5. Qual a influência que a formação acadêmica na graduação teve na escolha profissional?

6. Quais são os critérios que você utiliza para construir uma rede de relações?

7. Como que as relações sociais influenciaram em cada etapa das atividades profissionais que você exerce hoje?

8. Os relacionamentos sociais chegaram a facilitar ou dificultar o desenvolvimento de suas atividades?