MARÇO 2009 - CENTENÁRIO DA FPV

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ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MARÇO/2009 - ANO XIII - EDIÇÃO COMEMORATIVA - N o 146 O ESTAFETA Foto arquivo Pro-Memória O Centenário da Fábrica Presidente Vargas “Tu nasceste, na verdade, p’ra Defesa do Brasil!” A Fundação Christiano Rosa, com grande alegria, une-se à comunidade piquetense para comemorar o centenário da Fábrica Presidente Vargas. Ao registrarmos tão grata efeméride – especial tanto para a história desse estabe- lecimento, como para Piquete –, cumpre-nos evocar a memória do insigne Marechal João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Ministro da Guerra do governo Campos Sales, a quem se deve a iniciativa da criação de uma fábrica de pólvora sem fumaça no Brasil. Em 1902, o Ministro, acompanhado de uma comissão de técnicos, veio à região de Piquete vistoriar as terras doadas pelo Barão da Bocaina ao governo federal, para que nela se cons- truísse um sanatório militar e uma fábrica de pólvora sem fumaça. Escolheu para edifi- cação do sanatório a região de Lavrinhas, no alto da Mantiqueira, e para a fábrica, a região do Bemfica, em terras piquetenses. O Ministro determinou, além da constituição de uma comissão construtora do sanatório e de outra para o Ramal Férreo Lorena- Bemfica, o imediato início das obras. A construção da fábrica de pólvora sem fumaça, porém, só foi iniciada em julho de 1905, no governo Rodrigues Alves, por determinação de seu Ministro da Guerra, Marechal Francisco de Paula Argollo. O local originalmente escolhido foi subs- tituído, por questões estratégicas e técnicas, pela região das fazendas "Estrela do Norte", "Limeira" e "Sertão", adquiridas pelo governo federal. Decorridos pouco mais de três anos de obras dirigidas pelo Ten. Cel. Augusto Maria Sisson, chefe da Comissão Construtora, a fábrica foi inaugurada pelo Presidente da República Afonso Pena, em 15 de março de 1909, sob a denominação de Fábrica de Pólvora sem Fumaça, sendo designado seu primeiro diretor o Ten. Cel. Achilles Veloso Pederneiras, sob cuja envergadura moral e intelectual firmaram-se as bases de sua organização e regulamentação. Ao longo de sua história, a Fábrica foi administrada por destacados vultos do Exército, que deixaram reflexos de sua cultura, além da contribuição patriótica do seu trabalho, das experiências e sacrifícios pela causa da defesa nacional. Nomes como Antônio Afonso Carvalho, Jorge França Wiedmann, Alípio Gama, José Gomes Carneiro, Pompeu Cavalcante e Waldemar Brito de Aquino deixaram traços indeléveis, pois impulsionaram o desenvolvimento dessa indústria, ampliando suas instalações, montando outras e aperfeiçoando a quali- dade de seus produtos. O que a Fábrica deu para a Nação não se mede apenas pelos produtos que dela saíram para quartéis, fortalezas, navios e aviões, numa contribuição quase desconhecida, mas fundamental para as Forças Armadas. A área de ação sempre foi muito extensa. Pioneira no Brasil em certas atividades, foi nela que se fabricaram os primeiros explosivos industriais brasileiros e se deu partida à centelha de que se originou a indústria nacional de explosivos químicos. De norte a sul, de leste a oeste do Brasil, onde uma grande obra se realizava produtos da Fábrica se faziam necessários. Assim, em hidrelétricas, túneis, estradas, metrôs, prospecção de petróleo, minas de carvão, de ferro, de ouro, o nome da Fábrica e, indiretamente, o de Piquete, se tornavam conhecidos. Paralelamente ao grande desenvolvimento industrial experimentado nesses cem anos, suas administrações priorizaram políticas sociais voltadas para o bem-estar do operariado e seus familiares. Assim, é justo lembrarmos que todas as grandes obras sociais desenvolvidas em Piquete, sem exceção, foram conduzidas pela Fábrica, com planejamento, seriedade e competência administrativa. Piquete ganhou vilas operárias, hospital, farmácia, mater- nidade, centro odontológico, departamento educacional, clubes recreativos, praças, monumentos, campo de futebol, igrejas, zoológico... Esses benefícios se estendiam a toda a cidade. Desde seus primórdios, a Fábrica sempre colaborou com os poderes públicos, de maneira que muitas obras construídas na cidade tiveram o apoio da Fábrica, direta ou indiretamente. Em 1977, a Fábrica foi desmembrada do Exército, passando a fazer parte da Imbel, dentro da nova política do governo federal, deixando de priorizar aspectos sociais. Num olhar retrospectivo, constata-se que a Fábrica Presidente Vargas foi a consagração do esforço de nosso povo e o testemunho de nossas possibilidades, pois significa uma conquista de que se orgulhou o país. Nesta obra modelar que completa seu primeiro centenário, consubstanciaram-se a tenacidade do trabalho, o sacrifício de oficiais, funcionários e operários, e a abnegação de humildes obreiros que, na obscuridade de seus misteres, aqui edi- ficaram uma pátria forte e nova.

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Informativo O ESTAFETA, edição 146, de março de 2009, edição especial comemorativa do centenário da Fábrica de Pólvora sem Fumação.

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ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MARÇO/2009 - ANO XIII - EDIÇÃO COMEMORATIVA - No 146

O ESTAFETAFoto arquivo Pro-Memória

O Centenário da Fábrica Presidente Vargas“Tu nasceste, na verdade, p’ra Defesa do Brasil!”

A Fundação Christiano Rosa, comgrande alegria, une-se à comunidadepiquetense para comemorar o centenário daFábrica Presidente Vargas.

Ao registrarmos tão grata efeméride –especial tanto para a história desse estabe-lecimento, como para Piquete –, cumpre-nosevocar a memória do insigne Marechal JoãoNepomuceno de Medeiros Mallet, Ministroda Guerra do governo Campos Sales, a quemse deve a iniciativa da criação de uma fábricade pólvora sem fumaça no Brasil. Em 1902, oMinistro, acompanhado de uma comissãode técnicos, veio à região de Piquete vistoriaras terras doadas pelo Barão da Bocaina aogoverno federal, para que nela se cons-truísse um sanatório militar e uma fábrica depólvora sem fumaça. Escolheu para edifi-cação do sanatório a região de Lavrinhas,no alto da Mantiqueira, e para a fábrica, aregião do Bemfica, em terras piquetenses. OMinistro determinou, além da constituiçãode uma comissão construtora do sanatórioe de outra para o Ramal Férreo Lorena-Bemfica, o imediato início das obras. Aconstrução da fábrica de pólvora semfumaça, porém, só foi iniciada em julho de1905, no governo Rodrigues Alves, pordeterminação de seu Ministro da Guerra,Marechal Francisco de Paula Argollo. Olocal originalmente escolhido foi subs-tituído, por questões estratégicas e técnicas,pela região das fazendas "Estrela do Norte","Limeira" e "Sertão", adquiridas pelogoverno federal.

Decorridos pouco mais de três anos deobras dirigidas pelo Ten. Cel. Augusto MariaSisson, chefe da Comissão Construtora, a

fábrica foi inaugurada pelo Presidente daRepública Afonso Pena, em 15 de março de1909, sob a denominação de Fábrica dePólvora sem Fumaça, sendo designado seuprimeiro diretor o Ten. Cel. Achilles VelosoPederneiras, sob cuja envergadura moral eintelectual firmaram-se as bases de suaorganização e regulamentação.

Ao longo de sua história, a Fábrica foiadministrada por destacados vultos doExército, que deixaram reflexos de suacultura, além da contribuição patriótica doseu trabalho, das experiências e sacrifíciospela causa da defesa nacional. Nomes comoAntônio Afonso Carvalho, Jorge FrançaWiedmann, Alípio Gama, José GomesCarneiro, Pompeu Cavalcante e WaldemarBrito de Aquino deixaram traços indeléveis,pois impulsionaram o desenvolvimentodessa indústria, ampliando suas instalações,montando outras e aperfeiçoando a quali-dade de seus produtos.

O que a Fábrica deu para a Nação não semede apenas pelos produtos que dela saírampara quartéis, fortalezas, navios e aviões,numa contribuição quase desconhecida, masfundamental para as Forças Armadas. A áreade ação sempre foi muito extensa. Pioneirano Brasil em certas atividades, foi nela quese fabricaram os primeiros explosivosindustriais brasileiros e se deu partida àcentelha de que se originou a indústrianacional de explosivos químicos.

De norte a sul, de leste a oeste do Brasil,onde uma grande obra se realizava produtosda Fábrica se faziam necessários. Assim, emhidrelétricas, túneis, estradas, metrôs,prospecção de petróleo, minas de carvão,

de ferro, de ouro, o nome da Fábrica e,indiretamente, o de Piquete, se tornavamconhecidos. Paralelamente ao grandedesenvolvimento industrial experimentadonesses cem anos, suas administraçõespriorizaram políticas sociais voltadas para obem-estar do operariado e seus familiares.Assim, é justo lembrarmos que todas asgrandes obras sociais desenvolvidas emPiquete, sem exceção, foram conduzidas pelaFábrica, com planejamento, seriedade ecompetência administrativa. Piquete ganhouvilas operárias, hospital, farmácia, mater-nidade, centro odontológico, departamentoeducacional, clubes recreativos, praças,monumentos, campo de futebol, igrejas,zoológico... Esses benefícios se estendiama toda a cidade. Desde seus primórdios, aFábrica sempre colaborou com os poderespúblicos, de maneira que muitas obrasconstruídas na cidade tiveram o apoio daFábrica, direta ou indiretamente.

Em 1977, a Fábrica foi desmembrada doExército, passando a fazer parte da Imbel,dentro da nova política do governo federal,deixando de priorizar aspectos sociais.

Num olhar retrospectivo, constata-seque a Fábrica Presidente Vargas foi aconsagração do esforço de nosso povo e otestemunho de nossas possibilidades, poissignifica uma conquista de que se orgulhouo país. Nesta obra modelar que completa seuprimeiro centenário, consubstanciaram-se atenacidade do trabalho, o sacrifício deoficiais, funcionários e operários, e aabnegação de humildes obreiros que, naobscuridade de seus misteres, aqui edi-ficaram uma pátria forte e nova.

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O ESTAFETAPágina 2 Piquete, março de 2009

Inaugurada oficialmente sob a denominação de Fábrica dePólvora sem Fumaça, em 15 de março de 1909, passou a serchamada de Fábrica de Pólvoras e Explosivos de Piquete porforça do Decreto nº 878, de 3 de junho de 1936. Em 1939, pormeio do Aviso Ministerial nº 328, de 29 de abril, parasimplificação, foi novamente mudado o seu nome para Fábricade Piquete. Finalmente, quando da visita à Fábrica do entãoMinistro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, em 8 dedezembro de 1942, numa cerimônia no salão nobre do CírculoMilitar da Estrela, foi assinado, em ato solene, o Aviso no 3231,segundo o qual a Fábrica de Piquete passou a denominar-seFábrica Presidente Vargas.

Para acompanhar de perto as obras de expansão dessaindústria bélica, a menina dos olhos do Ministério da Guerra, opresidente Getúlio Vargas visitou a Fábrica de Piquete em 17 dejulho de 1939. Foi uma visita memorável, ainda lembrada porex-funcionários. O presidente, acompanhado pelo Ministro daGuerra, General Eurico Gaspar Dutra, e o chefe de sua CasaMilitar, Francisco José Pinto, foi cumprimentado na escadariado Cassino dos Oficiais pelo Almirante Guilhem, Ministro daMarinha, pelo Dr. Adhemar de Barros, Interventor Federal noEstado de São Paulo, generais Maurício Cardoso, Comandanteda 2a Região Militar, Lúcio Esteves, Comandante da 5a a RegiãoMilitar, Sílio Portela, Diretor do Material Bélico, RaimundoSampaio, Diretor de Engenharia, e pelo Coronel José GomesCarneiro, Diretor da Fábrica de Piquete. Lá estava tambémgrande número de oficiais, autoridades, pessoas gradas,famílias, estudantes e o povo de Piquete.

A banda dos operários da Fábrica executou o HinoNacional e uma seção de artilharia deu as salvasregulamentares. Em seguida, o Contingente da Fábricaapresentou armas em continência, enquanto os estudantesdas escolas de Piquete agitavam centenas de bandeirinhasbrasileiras. O regozijo foi geral - em cada fisionomia umsorriso de simpatia e uma expressão de curiosidade pelafigura simples e afável do magistrado supremo do país.

No salão de honra do Cassino, o Coronel Gomes Carneiro,Diretor da Fábrica, apresentou todos os oficiais que serviam

sob suas ordens, bem como alguns técnicos civis contratados. Mais tarde, todos se dirigiram para o jardim emfrente à administração, no interior da Fábrica, onde o presidente foi saudado pelo Coronel Gomes Carneiro que, em nome da diretoria, daadministração e da oficialidade deu as boas-vindas ao insigne visitante.

O operário Augusto Ribeiro de Souza, em nome do operariado saudou também o presidente, e a menina Maria Augusta Beraldo Leitedeclamou com graça e naturalidade uma poesia dedicada ao chefe da nação. Os alunos da Escola Pública da Fábrica, dirigidos pela Prof.ªCenira Araújo, e todos os operários, sob a direção do Cap. Bibiano Sérgio Dale Coutinho, cantaram o Hino Nacional. Em seguida, um batalhãoconstituído pelo Contingente da Fábrica e por mais de mil operários desfilaram recebendo palmas pelo garbo, disciplina e entusiasmo comque se apresentaram. Após essa solenidade, o presidente da República iniciou a visita à Fábrica percorrendo demoradamente todos osgrupos de fabricação.

Ao chegar às obras de instalação da fábrica de pólvora de base dupla, foi recebido e saudado pelo chefe da Comissão Construtora da"Base Dupla", Cel. Luiz Sá Affonseca.

Terminada a visita às instalações fabris, o presidente da República dirigiu-se ao "Hospital da Estrela", onde hoje se encontra instalado oFórum, e percorreu a vila operária em construção ao lado. Terminada a visita, o presidente nãoescondeu o entusiasmo por tudo que observara, tendo ressaltado a disciplina, a ordem, o asseioe a perfeita compreensão de responsabilidade de todos que empregavam suas atividades nomaior e mais importante estabelecimento fabril do Ministério da Guerra. À noite, no salão doCinema, magnificamente engalanado, foi servido um jantar pela direção da Fábrica. Após obanquete, o Presidente foi presenteado com um artístico bronze pelo Coronel Gomes Carneiro,que discursou agradecendo a honrosa visita. Ante o inesperado da cerimônia, o Presidente,visivelmente comovido, agradeceu com palavras repassadas de emoção a lembrança doada pelaFábrica de Piquete.

Antes de se retirar, inaugurou a iluminação do campo de esportes dos operários e recebeuestrondosa manifestação do povo que, em massa, aglomerava-se para novamente o saudar.

Em outubro de 1940, o presidente Getúlio Vargas, participando de manobras militares no Valedo Paraíba, fez uma segunda visita à Fábrica. Foi, com carinho, que a oficialidade, o operariado ea população de Piquete receberam a notícia de que a Fábrica de Piquete, a partir de 8 de dezembrode 1942 passaria a se chamar Fábrica Presidente Vargas. A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Imagem - Memória

A visita de Getúlio Vargas

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O ESTAFETA Página 3Piquete, março de 2009

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Coronel PederneirasO passar dos anos faz cair no esque-

cimento fatos e pessoas notáveis quelutaram pelo desenvolvimento de nossaterra. Assim, é sempre bom recordar aquelesque muito fizeram por ela.

Neste mês de março, um fato quereputamos como um dos mais importantesda história de Piquete completa cem anos -a inauguração de Fábrica de Pólvora semFumaça. Este foi um dos maiores feitos doExército brasileiro voltado para a defesanacional.

Comemorar este fato significa reviverde forma coletiva a memória de um acon-tecimento que marcou a vida de todos dePiquete. A cidade ganhou alma nova com achegada dos militares e seus habitantespassaram a conviver com homens dedi-cados ao serviço da Pátria, sempre dandoexemplo de verdadeira cidadania.

Terminadas as obras de construção daFábrica, em 03 de maio de 1907, aumentoua curiosidade dos construtores, dosoperários e da população de Piquete sobrequem viria assumir a direção de tãoimportante empreendimento. Tal curiosi-dade foi sanada em 17 de dezembro de 1908,quando foi nomeado por decreto federalpara dirigi-la o Tenente Coronel AchillesVeloso Pederneiras. Toda a história daFábrica está invariavelmente ligada a essebrilhante oficial do Exército.

Fundador e diretor dessa indústria bélica,ele chegou a Piquete, com sua família, em 16de janeiro de 1909. Deixou aqui vestígiosinapagáveis de dedicação e amor ao traba-lho. Os serviços por ele prestados sãoconhecidos muito além dos limites daFábrica. Quando da inauguração da Fábrica,recebeu simbolicamente do presidenteAfonso Pena as chaves do estabelecimentoe fez-se merecedor do cargo que lhe foraconfiado.

Lutou dia-a-dia pelo levantamento mate-rial, técnico e moral da Fábrica, encontrandoa cada passo ingentes obstáculos a transpor,desde a questão financeira à organizaçãodo pessoal eficiente para o trabalho.

Durante os quase sete anos de suaadministração correspondeu às responsa-bilidades do cargo procurando resolvertodas as questões. As dificuldades, todosos anos repetidas com a exiguidade dasverbas votadas pelo Congresso, foram osmaiores obstáculos com que conviveu.

Entretanto, apesar de todos os óbices,manteve a Fábrica em perfeito estado deconservação, com funcionamento regularde todos os serviços, com estoque dematéria-prima e produtos para todos osanos. Não por acaso fora escolhido paraa direção da Fábrica - seu preparo para ocargo era inquestionável. Em janeiro de1908, através de um Boletim do Exército,foi elogiado em nome do Presidente daRepública pelo modo lisonjeiro, crite-rioso e correto com que desempenhouo elevado cargo de adido militar junto àEmbaixada Brasileira nos EstadosUnidos da América do Norte. Emnovembro daquele mesmo ano, atravésdo Aviso 1658, foi louvado pelainteligência, zelo, critério e notávelcompetência com que integrou a comis-são encarregada de adquirir nos Esta-dos Unidos o material destinado à monta-gem da Fábrica em Piquete.

A par de todos os atributos intelectuais,o Cel. Pederneiras era uma pessoa afável econciliadora, que procurava manter harmo-nioso o ambiente de trabalho. Seu relacio-namento com os assessores diretos e com ooperariado era notável. Verdadeiro pai.

Vivendo numa pequena Vila, longe dafascinação do mundo que conhecera,construiu em torno de si um ambientesaudável, mantendo bom relacionamentocom a sociedade piquetense. O coronelPederneiras era presença frequente nasfestas promovidas pelo coronel JoséMariano, líder político local, no Hotel dasPalmeiras, reduto social de Piquete. Foiresponsável pela doação do campo defutebol do Esporte Clube Estrela, tendosido seu primeiro sócio benemérito. Foihomenageado ainda em vida pela munici-

palidade de Piquete, por meio da LeiMunicipal no 57, de 01 de agosto de 1914,com seu nome dado a uma rua na VilaOperária São José – a Rua Coronel Peder-neiras. Em Lorena, manteve bom rela-cionamento com o meio social e com osmilitares do 53° Batalhão de Caçadores e,principalmente, com os salesianos doColégio São Joaquim. Muitos militares daFábrica tinham seus filhos matriculadosnesse colégio. Por mais de uma vez foiparaninfo dos alunos salesianos nas festasde formatura. E estes vinham com certafrequência à Fábrica, a convite de seu diretor,para lhe conhecer as instalações.

Após mais de seis anos de um rela-cionamento intenso com a Fábrica, ooperariado e Piquete, no dia 4 de março de1915, o Cel. Pederneiras foi transferido parao Rio de Janeiro. Iria comandar o Arsenal deGuerra. Foi nomeado para substituí-lo oTenente Coronel Antônio Afonso de Car-valho. Sua partida deixou grande vazio. Mas,são ossos do ofício e, aos poucos, as coisasforam retomando o ritmo. Em meados de maiode 1917, a Fábrica recebeu a infausta notíciada morte do Cel. Pederneiras no Rio deJaneiro. Foi uma perda lamentável, um durogolpe no operariado. Afonso de Carvalhodecretou luto, mandou que depositassemuma coroa de flores no tumulo de Peder-neiras e suspendeu os trabalhos naquele dia.Rendia-lhe, assim, um preito de homenagem.

Para relembrar este grande homem, aspalavras do arquiteto Adolpho Morales delos Rios Filho, lançadas no livro de visitasda Fábrica, no dia 27 de dezembro de 1916:"... Ao ilustre Coronel Pederneiras, alma deartista num corpo de aço, fundador eprimeiro Diretor da Fábrica, o meu in-condicional parabéns."

Primeira diretoria da FPSF, aocentro o Cel. Pederneiras

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O ESTAFETA Piquete, março de 2009Página 4

A instalação da Fábrica dePólvoras em Piquete foi resul-tado da combinação de acor-dos celebrados entre trêsforças motrizes altamente moti-vadas pela idéia da organi-zação nacional.

1. Os interesses dos polí-ticos ligados ao Partido Repu-blicano Paulista, que foi cauda-tário das idéias positivistasque deram nascimento à Re-pública e fizeram conserva-dores monarquistas se trans-mudarem para o liberalismo eo republicanismo. Alinhavam-se entre esses o ex-deputadoe senador Arnolfo de Azeve-do, um incontestável líderentre os camaristas de Lorenae com grande espectro deinfluência nas políticas regio-nal, estadual e mesmo nacional.

2. Os arranjos tramados pelos alvistasem apoio a Rodrigues Alves (Francisco dePaula Rodrigues Alves), guaratinguetaenseque ocupou a presidência da República entre1902 e 1906. Foi nesse período de governoque o Ministro da Guerra, o MarechalArgollo (Francisco de Paula Argollo),visitando a Vila Vieira do Piquete, nelareconheceu o local ideal para a construçãoda pretendida fábrica, a que se sucederamas construções da Usina HidroelétricaRodrigues Alves, da Estação FerroviáriaRodrigues Alves e da instalação do ramalférreo Lorena-Piquete – todos estabele-cimentos inaugurados em 1906.

3. A recém-emancipada Vila Vieira doPiquete (15/06/1891), como cidade nascente,ávida de estabelecimento que lhe dessecondições de sustentação e aos seushabitantes despojados das produçõescafeeiras. Além dos muitos retornados dailusão do ouro e dos caminhos perversos,nos quais o perigo e a fome presentesdificultavam até mesmo as produções desubsistência. Viver, por aqui, sempre foimuito perigoso.

A Fábrica - a idéia formadora

A miséria e sua companheira, a insegu-rança, grassavam nos velhos caminhosprejudicados pela agudeza das escarpas daserra.

Esses três motivos tópicos norteavam-se pelos propósitos do Ministério da Guerrae das Forças Armadas, particularmente doExército, em atender a necessidade dainstalação de uma indústria bélica nacionalpara se evitar importação, até de pólvora,pois a incipiente produção no Rio de Janeironão satisfazia.

Impunha-se essa providência pelanecessidade da defesa do território na-cional, particularmente nas fronteiras aindanem todas totalmente consolidadas, aslutas internas e externas e a exigência emse atender a capacidade de dissuasãorequerida pelos Estados-nação ao se cons-tituírem frente às organizações geopo-líticas. Movimentos como a Guerra doParaguai e as questões do Contestado eda Campanha de Canudos estavam entreas motivações mais destacadas.

Daí a correlação de forças civis emilitares para a instalação da nossaFábrica, cuja história vinculou-se à vida da

cidade, definiu seu destinoe modelou a população quehoje demonstra, pelos ladospositivos e negativos, amarca indelével dos resul-tados.

A inauguração a 15 demarço de 1909 revestiu-se desolenidade pela presença doPresidente da República,Afonso Moreira Pena, e doMinistro da Guerra, Mare-chal Hermes Rodrigues daFonseca, além de outrasautoridades nacionais, regio-nais e locais.

A inauguração da Fábricaem Piquete foi um dos marcosdestacados de uma políticaque ganhara corpo com aRepública, no sentido devalorizar o que a elite definira

como governo de nação, processo civi-lizatório e consciência de, tomadas as liçõesda História, dar-lhes clareza, método eorganização, para que a nacionalidade sedefinisse como guardiã de um princípiobásico de ordem e progresso. Princípio essedefendido pelos positivistas, principaismentores da idéia republicana.

Para a população piquetense da época,a possibilidade de se atrelar aos órgãosfederais na implantação de uma indústriaacenava para um novo tempo, que nosinícios do século XX, se anunciava comopromissor.

A prioridade estratégica apontava pelasituação no eixo dos dois maiores polosconsumidores: São Paulo e Rio de Janeiro.

A fronteira ou divisa entre São Paulo eMinas Gerais ainda gerava muitas discus-sões, importantíssima questão para definiráreas de segurança e de cobrança de taxase impostos. Uma questão fiscal que mobi-lizava registros e barreiras.

A questão ambiental ainda não estavaem jogo. Ao contrário, um quadro natural,praticamente intocado, acenava, para-disíaco, para a obtenção de lenha e água.Hoje, podemos discutir os resultados dessaintervenção, e não são poucos os dadospara cruzarmos e podermos explicar a acidezdas águas da chuva, a "morte" dos rios e osentido do uso das águas correntes paracarrear toda sorte de sedimentos biode-gradáveis ou não.

Quando da primeira locomotiva seemitiu o primeiro apito de trem, os coraçõesse incendiaram, a circulação sanguínea seacelerou, os foguetes espocaram e osprimeiros viajantes foram recebidos eufori-camente. O progresso chegava pelos trilhosda estrada de ferro. Os animais de cargasubsidiariam a circulação nos caminhosmais rudes e íngremes sujeitos a toda sortede intempéries. Nos trilhos férreos,assegurava-se a movimentação. Na esta-ção, o telégrafo complementaria a efici-ência. Piquete entrava na modernidade doséculo XX movido pelo industrialismo epelo urbanismo.

Dóli de Castro FerreiraFot

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O Presidente da República Afonso Penna (à frente), no dia 15 de março de 1909, na Vila da Estrela, emPiquete, quando da inauguração da Fábrica de Pólvoras sem Fumaça.

O Marechal Mallet e o Barão da Bocaina acompanhados por comitiva quando daescolha do local para a construção da fábrica de pólvora sem fumaça, em 1902.

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O ESTAFETAPiquete, março de 2009 Página 5

O cristianismo e o hindu-ísmo divergem na consideraçãodo elemento pó.

Os cristãos são todos pó. Nodizer do Pe. Vieira, o cristãomorto é pó deitado; o cristãovivo, pó levantado.

Os hindus, divididos emcastas, consideram pó somenteos párias, os “dalits”. É pó quenão deve ser tocado, porquecontamina.

Quando a memória do povose publica nas praças, nas festas,nos encontros de amigos efamiliares, somos obrigados aconcluir que nem sempre apsicologia acerta a respeito dos sentimentoshumanos.

Diz a psicologia que a dor tem maiorcarga emotiva que o prazer, que nos esquece-mos mais facilmente das alegrias do que dastristezas, dos elogios do que das ofensas.

Parece que o ofendido é quase sempreobrigado a se lembrar de sua condição depó – e parece não gostar disso. Sem nenhumarazão; porque o pó levantado é o que semovimenta, que observa, que escolhe, queconstrói – que vive; que, pressionado,aprende.

Chamo a atenção para este ponto,porque, na proximidade da comemoração doscem anos da Fábrica Presidente Vargas,fomos anotando as lembranças espontâneasdos operários aposentados e de seusfamiliares a respeito dos oficiais e asseme-lhados que conduziram a vida do estabe-lecimento. E verificamos que, poucas vezes,se referem a acontecimentos negativos oudolorosos.

Os mais antigos fazem referência aoespírito democrático do Cel. Carneiro, que,preocupado com a assistência religiosa aseus subordinados, ajudou tanto na cons-trução de um templo católico, como na de

“foram Senhores em gentileza”(Gonçalves Dias)

um templo protestante.Ninguém se esquece do fino trato do Cel.

Aquino. Dizem que era tão gentil e afetuosoque, mesmo quando não tinha sua apelaçãoatendida, o funcionário saía da audiênciagrato ao seu superior.

Numerosos são os que rendem home-nagem ao Cel. Monte pelo esforço emoferecer boas escolas aos filhos dosoperários; e ao Cap. Tibúrcio, médico quese esmerou no curso para a formação de seusauxiliares na saúde.

Muito elogiado também é o Maj. Toledopelo seu senso de justiça, nunca permitindoque seu subordinado pagasse pelo quenão devia.

Os então estudantes são muito gratosao Cel. Xexéo e ao Cel. Pinheiro, quechamavam os colegas de seus filhos paraestudar em suas residências e lhes minis-travam excelentes aulas.

Algumas esposas e filhas de oficiais setornaram conhecidas e admiradas, porquederam aulas ou compuseram bancas nosfamosos exames finais orais.

Entre elas, são citadas D. Alda VitalBrasil, D. Selma Vital Brasil e D. NellyMeneses Quadrado.

Grande alegria proporcionouao meio artístico piquetense aesposa do Cel. Almir, D. MariaEugênia da Graça Franco de Sá.

As professoras do GrupoEscolar da FPV preparavam, todosos anos, uma festa para a entregados diplomas aos que conluíam ocurso primário.

Eram números variados decanto, dança e declamaçãoapresentados no palco do CineEstrela.

D. Geninha preparou o ro-teiro da peça Cinderela (A GataBorralheira) e convidou as pro-fessoras a representá-la na

formatura seguinte. Aceita a proposta, elamesma ensaiou as crianças, cuidou dofigurino, da cena e da música.

Durante muito tempo, a população dePiquete comentou, encantada, a atuação dascrianças e a dedicação das professoras e daD. Geninha.

Os pós levantados de Vieira criaram emPiquete, durante muito tempo, uma at-mosfera saudável e produtiva.

Os pós que produziam e os pós quecomandavam, administravam, curavam,encaminhavam, uniram seus esforços –criaram uma orquestra bem afinada.

E o que poderia ter sido apenas mais umaempresa decidiu afirmativamente o destinode muitos piquetenses.

Bons augúrios à Fábrica PresidenteVargas !

Oficiais citados: José Gomes Carneiro,Waldemar Brito de Aquino, José PompeuMonte, Otávio Tibúrcio Ferreira, BeneditoToledo dos Santos, José de MesquitaCaldas Xexéo, José Guimarães Pinheiro,Almir Autran Franco de Sá.

Foto: Coronel Aquino e Mestres daFábrica Presidente Vargas em 1945.

Abigayl Lea da Silva

"No tempo de semear, aprender. Notempo de colher, ensinar. E quando oinverno chegar, gozar...".

A frase atribuída ao inglês William Blake(1757/1827) resume bem a beleza da longe-vidade. Não há nada mais rico do que aexperiência. A oportunidade de registrar osanos, de contar as primaveras pela lem-brança do tamanho e intensidade das folhase das flores é impagável. As marcas do temposão inevitáveis. Qual o problema de assumi-las? Ninguém, nem nada, será jovem eterna-mente. Essa é a beleza do viver – o acúmulode tempo, de vida. Quem tenta vencer otempo acaba vencido por ele.

A tecnologia e o avanço da Medicinapermitem, atualmente, que se tente apagaras marcas do tempo. Nada contra. Anecessidade de bem-estar é natural. Se estarbelo significa saúde, que venham as inter-venções plásticas; elas estão aí para nosajudar. Há que se tomar cuidado, porém, comos excessos. A eterna insatisfação consigomesmo é a chave para o ridículo e torna-seuma disfunção séria quando afeta a perso-nalidade. O culto à beleza deve valorizartambém as marcas do tempo – leiam-se as

rugas... O lugar-comum já deixa claro: rugassão sinais de experiência. Prefiro pensar quedevemos agradecer a possibilidade de nosenrugarmos; caso isso não aconteça, é sinalde que "paramos" muito cedo... Concordam?

A Fábrica Presidente Vargas completaneste 15 de março 100 anos. Ao longo desseseu século de vida, passou por diversasintervenções plásticas. Todas com a finali-dade de melhorar, jamais visando a escondero passado. Suas rugas são visíveis. São,porém, de uma centenária que as exibe comprazer: os filhos criados, o patrimônioadquirido com o árduo trabalho, a descen-dência... Nem tudo é belo, sabe-se. Háalguns cancros inextirpáveis, demonstradosem arte estilhaçada; esses, sim, seriamdesejados não existir. Mas estão aí paramostrar que se deve aprender com os errose, assim, aperfeiçoar as técnicas.

A beleza de um centenário não se contapelo número dos anos. Parece também lugar-comum, mas resume a "vida" da Fábrica. Suahistória é tão bela quanto rica. Conhecê-lafaz-se necessário para que a amemos aindamais. Deixemos de lado, por instantes, suaidade atual, em que ela não se apresenta tão

bela quanto na juventude, e pensemos emcomo podemos participar de uma equipecirúrgica que faça intervenções para torná-la mais feliz e, consequentemente, maisprodutiva e atuante nestes pesados dias.Façamos de conta que um pouco da estóriade "Benjamim Button" seja possível...Tratemo-na como um recém-nascido cente-nário. Dessa forma, se a ajudarmos agora,serão, no mínimo, mais cem anos em que ajuventude será a recompensa.

Parabenizo a FPV. Parabenizo seusoperários e a memória de todos os que jáo foram. Quero, também, agradecer os 100anos da Fábrica. Quero agradecer ossulcos na pele dessa senhora que soube,no tempo de semear, aprender; que soube,no tempo de colher, ensinar. Desejo queseja longo e duradouro o outono de suaexistência; que ele sirva para angariarainda mais recursos para se enfrentar oinverno, que, sabemos, chegará. Mas queesse inverno seja um tempo de gozo, juntocom a família de piquetenses, de brasi-leiros e estrangeiros que a ajudaram emtodas as outras estações.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

É muito bom saber identificar e entender a beleza do tempo...

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Síntese histórica da Fábrica Presidente VAcontecimentos

Em ato solene, o tenente-coronelAugusto Maria Sisson, chefe da ComissãoConstrutora, entregou a chave simbólica daFábrica de Pólvora sem Fumaça ao Dr.Afonso Moreira Pena, Presidente daRepública, que a repassou ao coronelAquiles Velloso Pederneiras, diretor damesma, com palavras de confiança na suaadministração à frente da novel indústria.Eram mais ou menos 14h30min de 15 demarço de 1909.

AntecedentesPara suprir as necessidades de nossas

Forças Armadas e, consequentemente,assegurar a soberania do seu território, oBrasil dependia da importação de explosivose munições.

Como Ministro da Guerra de CamposSalles, o Marechal João Nepomuceno deMedeiros Mallet deu início a um movimentorenovador no Exército. Entre outrasmedidas, incluiu no plano de obras daDiretoria Geral de Engenharia a construçãode uma fábrica de pólvoras e explosivos,que obteve aprovação através do Aviso no

15, de 4 de fevereiro de 1902.Piquete foi o local preferido, pois

atendia às exigências estratégicas no campoda segurança, devido à sua topografia, e,no técnico, pelos seus recursos naturais.Determinou o Ministro, na mesma oportu-nidade, a construção de um ramal férreoque ligasse a Estrada de Ferro Central doBrasil ao Bemfica, local primeiramenteaceito para a edificação da fábrica.

Eleito Presidente Rodrigues Alves, seuMinistro da Guerra, marechal Francisco dePaula Argollo, deu continuidade à iniciativae, em 1905, a União adquiriu as fazendas“Estrella do Norte”, “Limeira” e “Sertão”para a localização do empreendimento, emdetrimento da Fazenda Bemfica, oferta doBarão da Bocaina.

O projeto da fábrica foi elaborado pelaCia. E.I.Dupont de Nemours, EUA, tendosido aprovado pelo Aviso no 105, de 4 demaio de 1905. O governo criou, então, aComissão Construtora do Parque Industrial,de acordo com o Decreto de 6 de julho de1905, nomeando como seu diretor o tenente-coronel Augusto Maria Sisson.

A Comissão de Compras, chefiada pelogeneral Modestino de Assis Martins,nomeada pelo governo em 26 de janeiro de1906, cuidava da aquisição das máquinas eoutros materiais indispensáveis à fábrica.Nesse mesmo ano, o ramal férreo chegava aPiquete. O primeiro prédio edificado pelaComissão Construtora, a usina hidroelétrica,

foi inaugurado com pompaspelo marechal Argollo, em 15 desetembro. Recebeu o nome de“Rodrigues Alves”, em homena-gem ao Presidente da República.Também o Ministro foi reveren-ciado, tendo seu nome ligado àrepresa que, no mesmo dia, seinaugurava.

Com a construção de 37edifícios, no ano seguinte, 1907,a Comissão Construtora deu porencerrada a sua missão em 3 demaio. Processar-se-ia a instau-ração da maquinaria.

Pelo Decreto no 7230, de 17de dezembro de 1908, foi apro-vado o primeiro regulamento daFábrica de Pólvora sem Fumaça,fixando entre seus objetivos“abastecer o Exército e a Armada com seusprodutos; entregar ao mercado as sobrasdestes, adaptadas no que convier aos usoscorrentes, criando assim uma fonte de receitapara o Estado; e proceder a toda a sorte deestudos técnicos relativos a pólvoras eexplosivos, não só em bem do serviçopúblico, como também mediante indeni-zação para fins particulares”. Mais ainda,dispunha o Decreto sua organização: 1ºGrupo – Ácidos; 2º Grupo – AlgodãoPólvora; 3° Grupo – Nitroglicerina e Dis-solventes; 4º Grupo – Pólvoras; 5º Grupo –Usina Hidroelétrica, Casa da Força Motriz,Oficinas de máquinas e ferraria, de carpin-taria e latoaria. Como serviços subsidiários,o Laboratório Químico e Casa Balística.Nesse mesmo dia, 17 de dezembro, eranomeado Diretor da FPSF o coronel AquilesVelloso Pederneiras, que assumiu o cargo a16 de janeiro de 1909.

Tudo estava pronto, aguardando apenasa inauguração oficial do Estabelecimento. Efoi marcada a data: 15 de março desse 1909,com a presença da mais alta autoridade dopaís. Em comboio especial, às 5h encostouna estação de Lorena o trem trazendo acomitiva que tinha como destino Piquete.Na gare lorenense, aguardava o séquitopresidencial o Presidente do Estado de SãoPaulo, Dr. Albuquerque Lins, e secretariado,deputado Arnolpho de Azevedo, Conde deMoreira Lima e outras autoridades. Às 7horas, no Ramal Férreo Lorena-Bemfica, oPresidente Afonso Pena, acompanhado devários ministros, do Presidente do Estado,de secretários, de grande número de altaspatentes militares e autoridades civis,tomava o rumo da obra a ser inaugurada.

Já em território militar, a Usina Hidro-elétrica “Rodrigues Alves” foi o primeiroponto de visitação. Seguindo para a fábricapropriamente dita, o Presidente Afonso Penae todos os seus acompanhantes percorrerame examinaram detalhadamente todas asoficinas. As informações e explicações sobreo funcionamento dos mecanismos foramtransmitidas aos visitantes pelo tenente-coronel Sisson, chefe das construções; pelotenente-coronel Pederneiras, Diretor daFábrica; pelo major Pedro Alexandrino, Sub-diretor, e pelos responsáveis das seções.

À hora do almoço, deslocaram-se para oprédio do quartel (Contingente), onde foi

servido um banquete. O general ModestinoMartins, Diretor Geral de Engenharia,usando da palavra, agradeceu a visita doPresidente da República, do Presidente deSão Paulo, dos Ministros de Estado e demaisautoridades, e traçou um histórico daFábrica, reverenciando os nomes dosMarechais Mallet e Argollo. Finalizando,enalteceu a missão do governo presidencial,a quem coubera a glória de concluir tãonecessária iniciativa. Respondendo àsaudação, disse o Presidente Afonso Penaestar radiante pela realização dessa arrojadaempresa do governo anterior, que preparavao Brasil para a defesa da sua soberania.

Em seguida ao almoço, o Presidente daRepública recebeu carinhosa manifestaçãodos habitantes de Piquete. A banda demúsica que os acompanhava executou oHino Nacional. Em nome do povo piquetensee da Câmara Municipal discursou o senhorFrancisco Torres Sobrinho.

Retornando à Fábrica, a comitiva foidiretamente para o último prédio a servisitado – o laboratório, denominado“Afonso Pena”. Neste local, foi lavrada aata da inauguração, que foi assinada portodos os presentes.

SubsequênciasSob o acompanhamento dos enge-

nheiros L.W.Bierwirth, representante daCia.E.I. Dupont, Theodore Baker, químicoespecialista, e T.R. Wright, mecânico, a 25de maio desse 1909, nossos operários deraminício à fabricação de pólvora sem fumaça,tendo, em setembro, o Exército recebido oprimeiro lote fabricado no Brasil. Antes decompletar seu primeiro ano de estadia, ostécnicos americanos foram dispensados.Nossos patrícios encontravam-se total-

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Síntese histórica da Fábrica Presidente Vargas

mente conscientes de suas atribuições.Confirmando a eficácia de nossos

engenheiros químicos e do operariado, em1911, participando da Exposição Interna-cional de Torino, na Itália, a FPSF de Piquete,conquistou com brilhantismo o “GrandePrêmio”. Prêmio este que se repetiu naExposição Internacional, no Rio de Janeiro,durante as comemorações do primeirocentenário da nossa independência, em 1922.

Sob a direção do coronel José Pompeude Albuquerque Cavalcante, iniciou-se aconstrução da Fábrica de Trotil, inauguradaa 19 de maio de 1933.

Através do Decreto nº 878, de 3 de junhode 1936, o estabelecimento passou adenominar-se “Fábrica de Pólvoras eExplosivos de Piquete”.

No 3º Congresso Sul-Americano deQuímica, em 1937, no Rio de Janeiro, aFábrica participou como “Hors-concours”,recebendo o diploma correspondente.

Como Diretor desde 1935, o coronel JoséGomes Carneiro propiciou um ciclo gran-dioso nos anais da Fábrica. Deu início àconstrução das Fábricas de Nitroglicerina,Dinamite e Pólvora de Base-Dupla; da novaoficina de óleum, nova oficina de fundição,novo laboratório químico experimental;refeitório, além de ampliações e cons-truções em todas as oficinas. Isso tudo nointerior da Fábrica. Fora dela, construiu oCassino dos Oficiais, playground,enfermaria-hospital, farmácia, gabineteodontológico, escola primária, reforma eiluminação para jogos noturnos no campode futebol, residências para operários,cantina; montou a banda de música,proporcionou a contratação de jogadorespara o E.C. Estrela etc.

Novamente foi alterada adesignação do estabelecimento,observando o Aviso 328, de 25de abril de 1939, para “Fábricade Piquete”.

Na administração do coronelSílvio Lourenço Scheleder, em15 de março de 1941, foraminauguradas as “Fábricas dePólvoras de Base Dupla, Dina-mite e Nitroglicerina”.

Em 25 de fevereiro de 1942,assumiu o coronel WaldemarBrito de Aquino. No âmbito daFábrica, registramos a inau-guração do Refeitório, do Labo-ratório Central, Usina de Óleum.Na área social, procedeu-se àconstrução de casas residen-ciais, do Cine Estrela do Norte,

do “Elefante Branco”, da Vila “Duque deCaxias”, do magnificente “DepartamentoEducacional”, entre outras obras.

Ainda a registrar que, em 8 de dezembrode 1942, por Aviso Ministerial 3231, ocomplexo industrial passou a chamar-se“Fábrica Presidente Vargas”.

O cinquentenário da Fábrica, em 15 demarço de 1959, ocorreu na administração docoronel Ário Rodrigues Ribas, e foi condig-namente comemorado.

Da sua inauguração até os dias atuais, aFábrica não fez outra coisa a não ser investirem novas tecnologias, em novos estudos,sempre acompanhando os passos doprogresso. Seu desligamento direto doMinistério do Exército, para ingressar noconglomerado Indústria de Material Bélicodo Brasil (IMBEL), deu-se em 1977.

Nesse período destacou-se a cons-trução das unidades de Fabricação deNitrocelulose, Unidade Piloto de Prope-lentes Moldados e a Oficina de MassaPrimária, sendo a primeira inaugurada em1987, com a presença do Presidente daRepública José Sarney.

Ao completar seu centenário no dia 15de março de 2009, a Fábrica PresidenteVargas conta com área construída de112.879m²; com 343 edifícios operacionaise 8 administrativos, mantendo uma área depreservação ambiental de 28.000.000 m²,contendo as seguintes unidades de pro-dução: Fábricas de Nitrocelulose, Nitrogli-cerina e Dinamites, Pólvoras de BaseSimples, Massa Primária (para pólvoras debase dupla), Pólvoras de Base Dupla, Trotil,Propelentes Moldados (motores parafoguetes), Nitrato de Monoetalonina,Lamas Explosivas, Explosivos Tipo Nitro-carbonitrato, Carbonitrato, EmulsõesExplosivas e Utilidades Industriais: Estaçãode Tratamento de Água, Estação deTratamento de Despejos Industriais,Estação de Geração de Vapor, com oobjetivo precípuo de produzir produtosquímicos, explosivos e propelentes deemprego militar e civil.

Nos seus cem anos de existência, aFábrica tem reconhecida sua importânciaestratégica para a IMBEL, para o Exército epara a Segurança Nacional, no sentido deestar preparada, com seus produtos eserviços de alta tecnologia militar, para

suprir as necessidades de fornecimento ede mobilização das Forças Armadas doBrasil.

Há que se fazer justiça, pois além dasqualidades morais e administrativas dosdiretores que geriram os destinos daFábrica para planos mais elevados, semprehouve a assessorá-los uma plêiade degabaritados oficiais, engenheiros e admi-nistrativos do Exército, que primavam, comseus esforços e competência, para agrandeza do Estabelecimento. Citar algunsseria injustiçar outros. Ligados igualmenteà história da instituição estão os técnicoscivis, os mestres e o operariado que, atravésdos tempos, demonstraram capacidadeinvulgar, e somente honraram, na labutadiária, a confiança neles depositada.

A Fábrica e PiqueteNossa cidade, humilde Vila do final do

século 19, que se propunha um progressobaseado no café e na agricultura, fatalmenteteria a estagnação como futuro e uma vidamodorrenta. Tivemos a felicidade de emnossas terras instalar-se a “Fábrica dePólvora sem Fumaça”. Aí, realmente, Piquetenasceu. Toda a cidade passou a viver emsua função e, mesmo aqueles que nenhumvínculo possuíam com ela, indiretamente sebeneficiavam.

As atividades sociais da Fábrica paraseus funcionários e familiares eram, semnenhum embaraço, extensíveis aos parti-culares. Relembremos de quantas glórias o“Estrela de Piquete” trouxe à cidade (e nãoà Fábrica). O nome de Piquete é que sedestacava. O mesmo acontecia com a Bandade Música e seus dois “Jazz Bands”.

A educação, através do extraordinário“Departamento Educacional”, elevoupiquetenses, filhos de operários ou não,aos mais diversificados ramos da vidanacional.

Atendendo indistintamente, o mais bemaparelhado hospital da região, o da Fábrica,amenizou muitos sofrimentos.

Também a cidade, nas horas tristes desinistros acontecimentos na Fábrica, cei-fando vidas de operários, chorava, lamen-tosa, essas armadilhas do destino. Irma-navam-se todos na mesma dor, no mesmoluto.

Piquete ainda é a Fábrica. Fundem-se,embora a maioria da população, na atua-lidade, nenhum vínculo direto mantenhacom ela. A Fábrica é nosso símbolo.

Parafraseando o brio patriótico deHibraim Nobre, encerramos: é pena que paratão grande história tão curto espaço.

Antônio Carlos Monteiro Chaves

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O ESTAFETAPágina 8 Piquete, março de 2009

As lembranças me vêm à memória umpouco apagadas, mas ainda vivas no meuinconsciente e, talvez, no inconsciente demuitos da minha geração. Certamente, osdetalhes ficaram esquecidos, pois as marcasdo tempo em nossas vidas são inexoráveis.Mas consigo me recordar das boas coisasque vivenciamos naquele longínquo tempoque começou antes mesmo do nascimentode muitos de nós.

Quem não se lembra do trem dosoperários, que subia e descia todos os dias,de manhã e ao entardecer, levando-os parao trabalho diário na fábrica? Eu o via "pelosentres" da cerca do quintal da casa do meuavô. Todo dia, dia a dia.

Curioso é constatar que a identidadeda FPV não exigia nenhuma outra menção,nenhum outro dado para complementá-la.Todos diziam apenas: a fábrica. Ondetrabalha seu avô? Na fábrica. E seu pai?Na fábrica. Onde mora fulano? Perto doportão da fábrica.

Era a única na cidade. Dispensavaquaisquer outros nomes, complementos ourótulos. E, assim como ela, a maioria de seussetores e serviços agregados se identificavatambém como sendo da fábrica: o açougue,o armazém reembolsável, o cinema, opórtico, a farmácia, a mata, as casas da VilaDuque. Tudo da fábrica.

Alguns poucos setores não eram assimidentificados: o cassino era dos oficiais, aestação era e é até hoje da Estrela. Aliás, nocassino faziam um sorvete que tinha saborde delícias!!!

Quando descíamos do Colégio Esta-dual, após as aulas, juntávamos nossodinheirinho para comprar, de vez emquando, aquele sorvete cujo sabor seperdeu no tempo.

E o futebol? Era programa familiar demuitos ir ao campo do Estrela nos finais desemana, para ver o time do mesmo nomejogar contra vários adversários da região.O time era formado por operários quetrabalhavam na fábrica e vinham de várioslugares. Muitos vinham mais pela opor-tunidade de jogar futebol, mesmo tendo quetrabalhar na fábrica.

Quando o jogo era contra a Hepacaré deLorena, aquele campo ficava absolutamentelotado de espectadores e torcedores. Émuito bom ter também esta lembrança.

Quando crianças, ficávamos encantadoscom os enfeites-de-natal que eram colo-

Fábrica de Sonhoscados na pracinha do cinema, com ospresentes que nossos pais recebiam paraentregar aos filhos, com as cestas-de-natal.Também com os parquinhos que erammontados perto da pracinha, com seusbrinquedos que, à época, eram inovadorese desafiantes. Tudo por conta da fábrica.

Havia a Escola Industrial, que tambémera da fábrica, onde muitos alunos de váriascidades do Vale iam estudar; a Escola do"Seu Leopoldo", onde muitos de nósestudamos. Além disso, e ainda maissignificativo, havia o Hospital da Fábrica,que possuía um corpo médico altamentecompetente e especializado e para ondeafluíam pessoas de inúmeros lugares.Algumas para se consultar, outras para setratar e outras, ainda, que passavam porcirurgias diversas. Era um hospital deexcelência, como poucos hoje o são.

Felizes de nós que vivemos na cidade,nessa época. Ela possuía vida, prosperidade,recursos culturais, materiais e médicos, alémde toda a gama de suporte cotidiano. Issodava aos moradores a certeza de que podiamencontrar tudo ali e sequer precisavamprocurar em outras cidades coisas básicaspara viver.

Frequentávamos o cinema, onde pas-sava quase sempre um filme diferente a cadadia. À porta do cinema, ficava o "seu"Geraldo pipoqueiro, com frio, sob chuva,para abastecer os cinéfilos e os passantes.

O cinema, bom lembrar, era da fábricatambém. O mesmo filme que passava nocassino dos oficiais era projetado para apopulação da cidade. Todos os dias. Foiali que conheci os grandes mestres dacinematografia e assisti também aosseriados eletrizantes que passavam antesde cada filme.

Enfim, vivemos por muitos anos à sombradessa instituição que foi a Fábrica. A cidadeaté hoje sobrevive contando com os pro-ventos deixados por ela, representados naaposentadoria de muitos e no valor que aspensionistas recebem a cada mês.

Essas boas lembranças afloram dequando em quando em minha mente e chegoa divagar, a imaginar como seria a cidadehoje caso essa sombra benéfica da Fábricanão tivesse deixado de pairar de vez sobreela, mas tivesse apenas diminuído deintensidade.

S.J. dos Campos, fevereiro/2009.Eunice Ferreira

Esquecimento caro...Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Como jamais me esqueço do que querque seja, exceto quando não me lembro, ficoimaginando o que passou pelas cabeças dosoperários João Wenceslao e Nelson Gomesda Luz, para aprontarem essa!

Deixar algo escapar da memória ébastante normal. Esquecer, por exemplo, ébastante normal. Esquecer, por exemplo, oguarda-chuva é quase que um ponto dehonra. Ele, o guarda-chuva, não passa deum objeto mesquinho, não cria laços deamizade e sequer proporciona maioresintimidades. Talvez por estar sempre vestidode luto considere-se no direito de seresquecido.

Existem casos mais graves. A mulhermanda o marido dela lá comprar sabão empó e, passadas umas três horas, ele surgecom um quilo de linguiça embaixo do braço.

Voltemos aos nossos amigos Wenceslaoe Nelson Gomes. Antes, uma visão doambiente. Um ramal da linha férrea passavapor trás do Almoxarifado – aquele antigo,onde, dentro, na parede, bem grande haviaum dístico, num arremedo de letras góticas:"Cada cousa em seu lugar, cada lugar comsua cousa". Era ali, numa plataforma, em quese carregavam e descarregavam merca-dorias. Como a linha fazia uma curva, omaquinista não tinha boa visão do trajeto.

Pois bem. Os dois operários citadospertenciam ao 4o Grupo e haviam levadosobre um "trolley" algo para se descar-regado no Almoxarifado. Feito o serviço,retiraram-se, lado a lado, num bom bate-papo. Andando e conversa rolando. Só quese esqueceram do trole em frente aoAlmoxarifado.

No momento em que o auxiliar demaquinista José Alves pegou o desviopara o depósito, a maria-fumaça, ao fazera curva, estava quase em cima do trole.Com uma rapidez invejável e uma períciaextraordinária, José Alves conseguiuevitar o choque que poderia destruir ocarrinho ou até provocar o descarrilamentoda máquina.

Aí a coisa esquentou. Quem deixou otrole na linha? O pagode entrou num ritmoacelerado e não demorou para que seencontrassem os autores da arte. Foiquando tomaram conhecimento da besteira.

Sabem no que resultou isso? O Diretorda F.P.S.F, Cel. Achilles Pederneiras, lascou,no Boletim no 86, de 23 de julho de 1909, umCASTIGO, multando-os em oito dias devencimentos. Esquecimento caro!

Em compensação, nesse mesmo Boletim,lá está gravado um ELOGIO ao ajudante demaquinista José Alves, louvando-o pelapresença de espírito e habilidade.

Esquecimento não rima com distração,mas que são afinadíssimos entre si, isso são!

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A história da Fábrica de Pólvora SemFumaça inicia-se com os primeiros planeja-mentos realizados sob a responsabilidadedo marechal Medeiros Mallet, em 1902,exatamente o ano em que Euclides da Cunhapublicava "Os Sertões" que, num Brasil comos olhares voltados para a Europa, tornavam-se um marco da valorização da realidade edas tradições do país e um sinal de rupturacom o projeto de Brasil europeizado. Nessecontexto em que sopravam ventos nacio-nalistas, começava a ser gerada a Fábricade Pólvoras numa grota encravada naMantiqueira, onde nossas forças militarespassaram a buscar o alimento de suaartilharia para a defesa, manutenção econstrução da federação a partir de 1909,início das atividades fabris.

Os primeiros anos da República do Brasilforam fortemente marcados por uma hege-monia agrária exportadora. Isto durou de1889 até a grande depressão de 1929, quandoa decadência do café e as dificuldades domercado externo forçaram o sistema agrárioda velha República a investir na economiaindustrial orientada para o mercado interno,substituindo as importações.

Mesmo levando em conta que a primeiraguerra mundial dera um pequeno incentivoa uma precária industrialização em algumasregiões do país, ainda podemos afirmar quea cidade de Piquete, com a implantação daFabrica de Pólvoras, viveu situação ímpar

Os filhos da Fábrica de Pólvoraentre as cidades do Vale doParaíba fortemente atreladas aocafé. Ela conheceu precoce-mente o fenômeno da indus-trialização e isto provocou,gradativamente, profundamodificação no seu perfileconômico, político, social,religioso e cultural.

A riqueza gerada com aprodução industrial criou,aos poucos, uma classe ope-rária independente das an-tigas elites; a capacitaçãoprofissional, em diversificadosofícios, causou impacto na infra-estrutura eno embelezamento da cidade; o desenvol-vimento econômico atraiu operários de todoo Brasil, bem como artesãos, sapateiros,alfaiates e comerciantes que vieram supriras necessidades dos operários. Isto causouuma rica adição de novos elementos cul-turais na vida social da cidade, que foiconhecendo uma diversidade capaz deromper a sedimentação do etos, doscostumes anteriormente estabelecidos.Acredito que a diversidade é sempreenobrecedora; por isso, penso que este fatofoi muito positivo para nosso povo.

Nestes 100 anos de atividades, a Fábricade Pólvora alimentou não só as forçasmilitares e a construção civil, mas tambéma vida dos piquetenses. Gerou muita

A principal condução que levava osoperários moradores de Lorena à FábricaPresidente Vargas, em Piquete, era o trem.

Conhecido por muitos como Piqueteiroe por alguns como o "Trem dos Operários",de segunda a sexta-feira saía da Estação deLorena, às 6h. Repleto de operários,militares, professores, estudantes, o tremcarregava a esperança de dias melhores quecada um trazia no coração.

A convergência de passageiros, logode manhãzinha, para o embarque era maciça.Todos, irmanados, procuravam sentar-se àjanela das composições para poder apreciara paisagem lindíssima no transcorrer daviagem. A fuligem largada pela máquina nãoincomodava.

A caminho da FábricaComo se fosse um trem de turismo, os pas-

sageiros conversavam, sorriam e comentavamalgo acontecendo lá fora, e, de vez em quando,o maquinista acionava o apito charmoso,numa festança incomparável.

O Chefe da Estação, ao badalar a sineta,autorizava a partida. O trem começava suajornada entre os bairros centrais e o daGabelinha. A primeira parada dava-se naPonte Nova, sobre o rio Paraíba do Sul. Deolhares ávidos, os passageiros curtiam aságuas mansas do rio e brincavam com ospescadores às suas margens.

A parada seguinte era a Estação Ange-lina (Fazenda Amarela). Ali não haviadesembarque, apenas apresentava-se umapaisagem bucólica. O rio da Angelina, entre

arbustos, corria tão pertinhoda linha férrea, que dava paraouvir o murmurinho das águasmisturando-se aos cantos dospássaros.

Na estação seguinte, Cel.Barreiros, às vezes a maria-fumaça tinha sede. Depois dearrefecida a caldeira, seguiaadiante.

Da Parada Ramos prafrente, começava a aparecerPiquete, pequeno trechoda rodovia BR-459, ascurvas do Rio do Piquete,

casas e quintais arborizados.

O maquinista, antes de chegar à paradaBela Vista, colocava a cabeça pra fora damáquina; se houvesse passageiro, facili-taria seu embarque.

Na Estação Rodrigues Alves, a paradaera um pouco demorada, pois embarcava edesembarcava muita gente. O Chefe daEstação estava sempre atento: só permitia asaída do trem com a estação sem qualquermovimento de pedestre.

Na Estação da Estrela desciam algunsestudantes, professores e militares. Erauma estação movimentada, pois algunsfuncionários ali picotavam seus cartões.Dali até a última parada, no Portão daLimeira, onde ficava a Casa do Ponto,alguns operários procuravam ir à plata-forma das composições a fim de serem osprimeiros a descer.

Com as composições vazias, o trempassava pelo Portão da Limeira, fazia amanobra no interior da Fábrica e retornava.Nunca atrasou. Sempre à hora deslizou pelotempo a fora.

O barulho das rodas rilhando, o apitocharmoso, a fuligem que às vezes queimavao capim seco ao longo do itinerário, a sinetadas estações, o picotador de passagens –tudo passou como sonho.

Neste 15 de março, centenário da FábricaPresidente Vargas, nós a abraçamos eagradecemos sua existência.

Edival da Silva Castro

alegria, produziu bom fute-bol, carnaval, templos e festas religiosas,deu às famílias o pão de cada dia. Com apólvora, produziu também a dor e osofrimento, separando pessoas que seamavam, quase sempre antes da hora. AFábrica foi sempre um ponto de con-vergência da vida da cidade.

Nós, que somos filhos de Piquete, somostambém filhos da Fabrica de Pólvora.Desejamos que esta data seja um marco naconstrução de uma empresa ainda mais fortee atual. Que este novo século que se iniciaem sua história seja um tempo de sucesso eprosperidade, e que a Fábrica continueexercendo seu importante papel social emnosso município.

Pe. Fabrício Beckmann

Fotos arquivo Pro-Memória

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A IMBEL/Fábrica Presidente Vargas éparceira da Fundação Christiano Rosa (FCR)desde sua instituição, em 1997. Por meio deseus dirigentes vem acompanhando ostrabalhos da Fundação, tendo firmado comela seu primeiro convênio de cooperaçãotécnica em 1998. Nesta ocasião foi viabilizadauma série de visitas técnicas ao fragmentode Mata Atlântica conservado pela FPV aolongo de 100 anos, que teve como resultadorelatórios dos diversos especialistas que poraqui passaram. Entre eles, citamos osecólogos Dra. Janice Wiles (MarylandUniversity-USA) e Dr. Richard Wiles (EWG-USA), biólogos Dr. Dalton MorrisomValeriano (INPE) e Dra. Diana Damasceno,ornitólogos Drs. Fábio Olmos e HerculanoAlvarenga (USP), Dra. Ana Valéria Araújo(Fundação Ford), Dr. Sérgio Leitão(Greenpeace), Dr. João Paulo Capobianco(ex-Secretário Nacional de Meio Ambiente),Geógrafa Sílvia Jordão (Fundação Florestal),Dra. Cecília (UNITAU), entre outros. Todosse encantaram com a riqueza de biodi-versidade encontrada na Mata. Pretendia-se a criação de uma unidade de conservação,a implantação do corredor ecológico daMantiqueira e a criação do “Parque daCidade”. Foram previstos cursos de capa-citação técnica e de conscientização ambi-ental, pesquisa científica de fauna e flora,

IMBEL/FPV – Responsabilidade Socialna região, equiparada a trabalhos existentesna Europa. É fundamental visitá-lo para oconhecimento da história da FPV, que seconfunde com a história de nossa cidade.Na ocasião, foi lançada uma bem ilustradarevista que orienta o visitante.

Ainda em 2006, nova parceria foi firmada,agora para a preservação de recursoshídricos: a recuperação da mata ciliar doribeirão Limeira, cuja nascente se encontraem terras da IMBEL/FPV. Até o momentoforam plantadas 34 mil mudas, com mais de90 espécies nativas. O plantio na mata ciliardo ribeirão Limeira faz parte de um projetomaior denominado “Corredor de conec-tividade entre a APA da Mantiqueira e a APAdo Paraíba do Sul”, através do ribeirãoLimeira. Trata-se de um projeto pioneiro novale do Paraíba. Em 100 anos, a FPV con-servou mais de três mil hectares de florestae, em parceria com a FCR, irá recuperar mais46 hectares. Em 2009, deverão ser plantadasmais 16 mil mudas, totalizando 50 milunidades plantadas.

Por seu lado, a FCR, reconhecendo aimportância da FPV para o município, sepreocupou em arregimentar um arquivofotográfico-documental ímpar sobre suahistória. Parte desse arquivo será expostano Espaço Cultural “Célia Apa. Rosa” nestecentenário.

O agradecimento pela confiança dis-pensada à Fundação nos seus treze anostorna imperiosa a citação dos nomes do Gen.Paiva Chaves, Cel. Alfredo Araújo, Cel.Wagner Carini, Gen. Cássio Cunha, Gen.Fernando Manquinho e Gen. Álvaro Hen-rique de Moraes, que representam osadministradores que, ao longo dos anos,puderam entender seu trabalho. A grandezade pensamento desses homens e de outrosmilitares que por aqui passaram tornoupossível a preservação e a conservação dogrande patrimônio ambiental, artístico,cultural e arquitetônico construído pela FPVem seus 100 anos de existência, a qual sefirmou ao longo do tempo como umaempresa com responsabilidade social.

Ana Maria Gouvêa, Arquiteta e Urba-

nista, é Presidente do Conselho Curador

da FCR

preservação dos recursos hídricos, ex-ploração do potencial turístico-ecológico,criação de viveiro e produção de sementescom espécies nativas do fragmento florestalda FPV, geração de empregos e renda para acomunidade de Piquete.

Outra parceria significativa na área depreservação do patrimônio cultural da cidadefoi a cessão em comodato do prédio daAntiga Capela do Hospital, que se encon-trava em estado precário de conservação.Reformado, transformou-se no EspaçoCultural “Célia Apa. Rosa”, no qual a FCRrealiza atividades culturais, artísticas,musicais, educacionais, encontros e reu-niões técnicas.

A FPV, com a anuência e promoção daIMBEL e seus dirigentes, além de parceirasempre foi nossa aliada na preservação damemória piquetense, restaurando diversosedifícios e monumentos de significativaimportância histórica e turística para Piquete(antigo Contingente, Casa 1, Estação daEstrela com sua locomotiva, Pórtico).

Recentemente, em 2006, quando docentenário da Usina Hidrelétrica RodriguesAlves e da Represa Mal. Argollo, a FPVrecuperou-as e transformou o edifício dausina no Memorial Usina Rodrigues Alves.É importante registrar a qualidade dotrabalho realizado no Memorial, obra ímpar

Fotos arquivo Pro-Memória

Inauguração doMemorial da Usina Rodrigues Alves

Diana Valeriano, Kiko Ribeiro eDalton Morrison na mata da IMBEL

Projeto de recuperação de mata ciliar do RibeirãoLimeira: plantio de mudas

Exposição ce Artes Plásticasno Espaço Cultural “Célia Ap.Rosa”

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A instalação da Fábrica de Pólvora semFumaça, em Piquete, no começo do séculoXX, inaugurada a 15 de março de 1909,trouxe animação e esperanças à recém-emancipada cidade.

Os homens em idade adulta passaram aser incorporados a suas fileiras produtivas,desde a construção das oficinas, estradasde ligação, até os galpões e prédios daadministração e burocracia, e das linhas deprodução propriamente ditas, além daedificação das residências dos oficiaisgraduados.

Ligada desde as origens ao estabe-lecimento militar do Exército e às ForçasArmadas, logo cedo ela já incorporava ahierarquia dos comandos e dos seuscomponentes.

Pertencer aos quadros de produção daFábrica não era apenas uma necessidade,chegava a ser uma questão de "status", umescalonamento social respeitável. Afinal,havia um salário, algumas garantias paraalugar-se uma casa, casar-se e ter filhos; eos mais jovens, para conseguir emprego eascender na escala produtiva, aceitavamcomeçar dos trabalhos mais pesados emenos atraentes, para lutar por melhoresposições.

Muitos nomes ascendentes na escalasocial da cidade e nos quadros do funcio-nalismo da Fábrica iniciaram suas carreirasnas seguintes condições: instalavam dor-mentes e faziam reparos na estrada de ferro,faziam limpeza de todo tipo, cuidavam dehortas, pastagens e animais, além de seremusados como mensageiros e serviçais dosmais diferentes afazeres. Afinal, eramsubalternos, e como tais tratados. Ahierarquia era obedecida sem pejo e comhumildade. Esta foi a marca individualizadoradaqueles homens que, depois de idade nãomuito avançada, anunciavam, nos rostos, amarca indelével das histórias das quaisforam protagonistas.

Enquanto isso, a pólvora à base denitrocelulose, denominada sem fumaça, eraproduzida segundo as técnicas que vinhamde 1884, que, com propriedades balísticasadequadas, exigidas pelos fuzis Mauser

Os operários da FPV

1894, importados, justificavam a imple-mentação produtiva da munição neces-sária.

A importação, onerosa, impunha acriação de fábricas de munição de armasportáteis como a que foi instalada no Rio deJaneiro – a Fábrica do Realengo, concluídaem 1898, e a Fábrica em Piquete, no início doséculo XX.

Os operários eram treinados paraelaborar o trabalho junto às oficinas deprodução que se instalavam sob orientaçãodos técnicos norte-americanos da Dupont-Nemours.

Nem tudo são glórias

Houve ferimentos e mortes entre ostrabalhadores da Fábrica. A poluição notrabalho e os descuidos da segurançacausaram muita dor e perdas.

Este é um capítulo muito difícil de sertratado. Os números reais dos eventosinfaustosos misturam-se e o que permaneceé uma angústia para não se esquecer jamais.Esta memória não deve ser perdida, por suaexemplaridade.

O ruído forte e rouco da explosão naserra, pois as usinas, perigosas, eram

encaixadas nas grotas rochosas, o penachode fumaça nas vertentes dos vales encai-xados estreitavam a circulação sanguínea eaceleravam as taquicardias.

Todos saíam às calçadas e portas.Corria-se à entrada da Enfermaria-Hospital,depois do Hospital propriamente dito.Boatos. Confirmações. Avisos fúnebres.Tudo muito difícil de ser cumprido. Asfamílias dos desaparecidos em angústia.

Os restos buscados nas matas. Osenterros quase simbólicos. As cruzesestilhaçadas no cemitério. As memórias dosque foram naquele dia ou pernoite, e nãovoltaram. Os sorrisos deixados no ar. Osanseios sepultados e os sonhos inter-rompidos. A ausência de muitas pers-pectivas. Os balcões dos bares, na procurainsana da possibilidade do esquecimentodo destino trágico. Os pulmões afetados. Aneurose do trabalho. As contas a pagar e osfilhos, o lar, os preços, a comida, osremédios. A necessidade da moradia.

Paralelamente, os diretores da Fábrica, eespecialmente, o Cel. Aquino, na angústiade tentar evitar maiores males, buscando,de alguma forma, superar essas dificuldades.Visitava as famílias, procurava oferecer umaresidência de posse permanente e here-ditária, educar os filhos, e funcionava comoconselheiro. Mas as situações compli-cavam-se e as circunstâncias nem semprefavoreciam.

O destino incerto, entretanto, irmanavaa todos. A população inteira de Piquete eLorena solidarizava-se.

O sincretismo religioso, as festaspopulares e religiosas, os bailes, o Car-naval e os desfiles cívicos pomposostentavam disfarçar esses males.

O glorioso Esporte Clube Estrela erauma boa derivação para as emoçõesreprimidas. Uma “elite” nos salões pro-gramava eventos e encontros. As bandasmarciais encantavam e animavam. E ajuventude disputava prêmios entre bailese bailes. Havia uma euforia paralela. Eramas décadas de 1940 - 1950 -1960.

Dóli de Castro Ferreira***************

Operários da FPV em 1909

Fotos arquivo Pro-Memória

Operários em 1977, quando a FPV foiincorporada ao grupo IMBEL

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11-02-1902: O Marechal Mallet chega

a região de Piquete, a convite do Barão

da Bocaina, para escolha do local para

construção de um sanatório militar e de

uma fábrica de pólvora. Em março tem

início a construção do Ramal Férreo

Lorena-Bemfica e do Sanatório Militar,em Lavrinhas, próximo a São Francisco

dos Campos.

26-03-1904: Visita do Marechal Argollo,que veio inspecionar as obras militares naregião. Nesta ocasião foi escolhido o localdefinitivo para construção da fábrica depólvora.

05-07-1905: Compra das fazendas"Sertão", "Estrela do Norte" e "Limeira" parainstalação da Fábrica

19-07-1905: Chega a Piquete a Comis-são Construtora da FPSF, sob o comandodo Tenente Coronel Augusto Maria Sisson.

24-07-1905: Lançamento da pedrafundamental da usina hidrelétrica.

26-01-1906: Nomeada a Comissão deCompras, com a função de adquirir, nosEUA, aparelhagem necessária à Fábrica,tendo como chefe o General Modestino deAssis Martins.

novo regulamento da Fábrica, que passa adenominar-se "Fábrica de Pólvoras eExplosivos de Piquete".

25-06-1936: Inauguração do novoedifício do Cassino e Cinema dos oficiais.

25-08-1937: Inaugurados o GrupoEscolar da Fábrica, a arquibancada doEstádio do Estrela e a Enfermaria-farmácia.

03-05-1939: Por determinação doMinistério da Guerra, a Fábrica de Pólvorase Explosivos de Piquete passa a denominar-se "Fábrica de Piquete".

17/07-1939: Visita do Presidente daRepública Getúlio Vargas.

19-10-1939: Criação do "Patronato" daFábrica de Piquete.

24-10-1940: Visita do Presidente da

República Getúlio Vargas acompanhado

do Dr. Adhemar de Barros, Interventor

Federal em São Paulo, e do general Eurico

Gaspar Dutra, Ministro da Guerra.

15-03-1941: Inauguração de um novogrupo fabril composto das fábricas denitroglicerina, dinamite, pólvora de basedupla e novo laboratório experimental, numtotal de 44 edificações.

8-12-1942: Inauguração oficial dafábrica de Base Dupla, pelo Ministro daGuerra, Eurico Gaspar Dutra, ocasião em quea Fábrica de Piquete passa a ser denominadaFábrica Presidente Vargas.

28-08-1948: Inauguração, pelo Pre-

sidente da República Eurico Gaspar Dutra,

do novo Hospital da FPV.

Cronologia da Fábrica Presidente Vargas17-12-1908: O então Tenente Coronel

Aquilles Veloso Pederneiras é nomeadoprimeiro Diretor da Fábrica.

15-03-1909: Inauguração da FPSF,

pelo Presidente da República, Dr. Afonso

Augusto Moreira Penna.

15-09-1906: Inaugurados pelo Mare-chal Argollo e pelo Presidente de São

Paulo, Washington Luiz, o Ramal Férreo

Lorena-Bemfica, a Estação Ferroviária

Rodrigues Alves, a Usina Hidrelétrica

Rodrigues Alves, a Represa Marechal

Argollo e a iluminação elétrica da Vila da

Estrela, em construção.

19-12-1906: Através do Decreto Esta-dual no 1033, a Vila Vieira é elevada à categoriade cidade, com o nome de "Vieira doPiquete".

03-05-1907: A Comissão Construtorada Fábrica dá por concluídos os 37 edifíciosda FPSF.

1977: A FPV é incorporada à IMBEL,empresa vinculada ao Ministério do Exército.

02-09-1987: Visita do Presidente daRepública José Sarney.

15-09-2006: Inauguração do MemorialUsina Rodrigues Alves

22-05-1909: Produção dos primeiros500kg de ácido sulfúrico.

30-08-1909: Primeiro lote de pólvoraquímica no Brasil .

1911: Conquista do "Grande Prêmio" daExposição Internacional de Torino, na Itália

06-12-1913: Fundação da SociedadeBeneficente do Pessoal da FPSF.

14-12-1914: Fundação do Esporte ClubeEstrela.

11-03-1915: Após seis anos à frente daadministração da Fábrica, o Cel. Pederneirasé nomeado Diretor do Arsenal de Guerra doRio de Janeiro, deixando a FPSF.

29-10-1915: Restringida para “Piquete”,por meio da Lei Estadual no 1470, a desig-nação de Vieira do Piquete.

20-05-1918: Visita do Presidente daRepública, Dr. Wenceslau Braz PereiraGomes, e comitiva à FPSF.

06-06-1919: A Fábrica recebe a visitado General Emilien Maurice Gamelin, chefeda Missão Militar Francesa, instrutora donosso Exército.

1922: A FPSF é premiada na ExposiçãoInternacional, no Rio de Janeiro, durante ascomemorações do primeiro centenário daIndependência.

08-07-1924: Em vista da "situaçãoanormal" que atravessava o país, chega àFPSF um contingente de 83 praças do 4º B.E.,para guarnecê-la.

14-02-1931: Criação da Seção Comercialda FPSF.

11-08-1932: Suspensão do Coronel JoséPompeu de Albuquerque Cavalcante dadireção da FPSF, em função da RevoluçãoConstitucionalista de 1932. Assume adireção da Fábrica o tenente coronelFelisberto Antônio Fernandes Leal em nomedo general Bertold Klinger, chefe das forçasrebeladas.

14-09-1932: Abandono da Fábrica pelasforças revolucionárias.

31-05-1933: Inauguração da Fábrica deTrotil.

03-06-1936: O Decreto no 878 aprova o