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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA MARCOS BENEDETTI GROBLACKNER Estudo da influência de pequenas concentrações de níquel na temperabilidade do aço SAE 4125 Lorena 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

MARCOS BENEDETTI GROBLACKNER

Estudo da influência de pequenas concentrações de níquel na temperabilidade do aço

SAE 4125

Lorena

2013

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MARCOS BENEDETTI GROBLACKNER

Estudo da influência de pequenas concentrações de níquel na temperabilidade do aço

SAE 4125

Trabalho de Graduação apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Ângelo Nunes

Co-Orientandor: Marcos Vinícios Garcia

Neves

Lorena

2013

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Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Especializada em Engenharia de Materiais

EEL USP

Groblackner, Marcos Benedetti

Estudo da influência de pequenas concentrações de níquel na

temperabilidade do aço SAE 4125. / Marcos Benedetti Groblackner;

orientador Carlos Ângelo Nunes, Co-orientador Marcos Vinícios

Garcia Neves. --Lorena, 2013.

55 f.: il.

Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia de

Materiais) – Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São

Paulo.

1. Temperabilidade 2. Jominy 3. Modelamento matemático 4.

Curva CCT I. Título.

CDU 669.018

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Dedico este trabalho aos meus pais, Rita e

Adilson Groblackner, por confiar, torcer e me

apoiar em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida e pela oportunidade de cursar Engenharia de Materiais.

A minha família que é a base do que sou hoje.

A minha avó Regina, tia Alice e todos outros parentes que sempre oraram por mim e me

acompanharam a vida toda.

Ao Prof. Dr. Carlos Ângelo Nunes pela orientação, amizade, aulas, ensinamentos e paciência.

Ao Eng.º Marcos Vinícios Garcia Neves pela orientação, aprendizado, amizade e auxílio.

Ao Me. Paulo Carvalho Fernandes pela orientação, aprendizado, amizade e auxílio.

Ao aprendizado profissional que obtive de todos que convivi durante o período de estágio.

A minha namorada Julia Arruda pelo companheirismo.

A todos meus amigos de graduação pela amizade, principalmente Allan Santos, Guilherme

Ribeiro, Gustavo Alvim, Murilo Grilo, Renan Bezerra e Renato Tanaka, que sempre me

ajudaram quando mais precisei.

A meus amigos de Itu – André, Bernardo, Danilo, Diego, Felipe, Heitor, Luan, Lucas,

Raphael, Renato e Yuri – que estiveram comigo desde o ensino fundamental até hoje.

A meus amigos de república - Alexandre, André, Caio, Denyel e Guilherme – pela

convivência e grande amizade.

Aos meus amigos do futebol e futsal que formaram ao longo da graduação mais que um time,

uma família.

Aos meus amigos da república Usplayboy e Babilônia, que sempre me acolheram em suas

casas.

Aos meus amigos do movimento dos focolares, que não importa a situação, estão sempre

prontos a ajudar.

E a todos que de alguma maneira fizeram ou fazem parte da minha vida.

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―Se você julgar um peixe pela sua capacidade

de subir em uma árvore, ele vai gastar toda a

sua vida acreditando que ele é estúpido‖.

Albert Einstein

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RESUMO

GROBLACKNER, M.B. Estudo da influência de pequenas concentrações de níquel na

temperabilidade do aço SAE 4125. 2013. 55f. Monografia (Trabalho de Graduação em

Engenharia de Materiais) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo,

Lorena, Ano.

Os aços são os principais materiais estruturais em toda e qualquer cultura

tecnologicamente avançada. São ligas ferro-carbono que podem conter concentrações

apreciáveis de outros elementos de liga. Uma das mais importantes características práticas da

adição de elementos de liga é a sua influência na temperabilidade, capacidade de formar

martensita. Todos os elementos de liga afetam, em graus variados, a sua temperabilidade.

Neste presente trabalho, foi objetivado um estudo do efeito da variação de pequenas

concentrações de níquel na temperabilidade do aço SAE 4125, no intuito de mostrar que o

efeito do níquel para atender esta propriedade é pouco significativo, e com isso, possibilitar a

retirada da adição de ferro níquel, o qual tem um alto custo, e assim produzir um aço mais

competitivo no mercado sem alterar a sua capacidade de formar martensita. Uma das

maneiras de avaliar esta propriedade é utilizar o ensaio Jominy. O ensaio Jominy real exige

preparação de amostras, utilização de mão-de-obra e de equipamentos, o que demanda custo e

tempo e, assim, pode impactar na entrega do produto ao cliente. Uma solução para diminuir o

tempo do ensaio foi analisar várias corridas produzidas e ensaiadas desse aço e, por meio de

regressão linear múltipla, gerar equações matemáticas que simulam o resultado do ensaio

Jominy. Nessas equações os elementos de liga vêm acompanhados de um fator multiplicativo.

Quanto mais próximo da unidade for o fator multiplicativo, menor a influência desse

elemento na temperabilidade. Foram também retiradas e analisadas amostras de duas corridas

semelhantes, porém com diferentes teores de níquel. Uma apenas com o teor de níquel

residual proveniente da sucata, 0,07% em peso, e outra com o teor de níquel de 0,16% em

peso, próximo ao limite máximo da faixa estipulada pela aciaria para esse aço. Para essas

amostras foram feitos diagramas CCT (continuous cooling transformation) e analisado o

efeito do elemento níquel nas curvas de início e fim de transformação da austeníta.

Palavras-chave: Aço SAE 4125. Temperabilidade. Níquel. Jominy. Modelamento matemático.

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ABSTRACT

GROBLACKNER, M.B. Study on the effect of small concentrations of nickel in the

hardenability of steel SAE 4125. 2013. 55. Monograph (Undergraduate Work in

Materials Engineering) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo,

Lorena, 2013.

The steels are the main structural materials in any technologically advanced

culture. They are carbon ferro alloys that may contain appreciable concentrations of

other alloying elements. One of the most important practical features of the alloying

elements is its influence on hardenability, ability to form martensite. All alloying

addition elements affects its hardenability on different degrees. In this present work, a

study on the effect of small concentrations of nickel in the hardenability of steel SAE

4125, has the objective to show that the nickel effects on property is negligible, and so

enable removal of the addition of nickel which has a high cost, therefore to produce a

more competitive steel in the market without modifying its ability to form martensite.

One way to evaluate this property is to use the Jominy test. The real Jominy test

requires samples preparation, use of hand labor and equipments which requires cost and

time and so can impact the product delivery to the customer. One solution for reducing

the test duration was to analyse several heats produced and tested of this steel and, by

means of linear regression, generate mathematical equations that simulate the Jominy

test results. In these equations the alloying elements are accompanied by a

multiplicative factor. The closer of the unit is the multiplicative factor, the lower the

influence of this element on the hardenability. It was also removed and analyzed

samples of two similar heats, but with different contents of nickel. One with only the

residual nickel content from scrap 0.07% in weight, and another with the nickel content

of 0.16 % in weight, close to the upper limit of the range aimed by the melting shop for

this steel. To CCT (continuous cooling transformation) diagrams were made for these

samples and analyzed the effect of the nickel element in curves in the start and end of

the transformation of austenite.

Keywords: Steel SAE 4125. Hardenability. Nickel. Jominy. Mathematical equations

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Diagrama de equilíbrio binário do sistema Fe-C ................................................... 21

Figura 1.2 Diagrama CCT para o aço AISI 4130 com 0,30% C, 0,64% Mn, 1,00% Cr e

0,24% Mo. A curva CCT foi estimada (linhas pontilhadas) e determinada experimentalmente

(linhas sólidas) .......................................................................................................................... 22

Figura 1.3 Microconstituintes dos aços: a) Perlita (Cementita + Ferrita) em um aço com

0,75%C resfriado ao forno (500x). b) Bainita superior em um aço 4150 formada a 460ºC

(500x). c) Martensita em um aço com 1,8%C resfriado a -100ºC (500x) ................................ 24

Figura 1.4 Micrografia da martensita revenida. Revenida a 594ºC. As partículas pequenas são

da fase cementita. A matriz é da fase ferrita (α) ....................................................................... 28

Figura 1.5 Desenho do corpo de prova a ser utilizado no ensaio Jominy ............................... 29

Figura 1.6 Curva Jominy de temperabilidade ......................................................................... 30

Figura 1.7 Curvas de temperabilidade para aços diferentes, 4340H e 1045H. O intervalo de

variação das especificações químicas normais produz variação na temperabilidade ............... 31

Figura 1.8 Quatro taxas de resfriamento de diferentes posições do corpo de prova do ensaio

Jominy sobrepostos no diagrama CCT ..................................................................................... 34

Figura 2.1 Ensaio de temperabilidade Jominy ........................................................................ 36

Figura 2.2 Simulador Termomecânico Gleeble 3500.............................................................. 37

Figura 2.3 Dimensões do corpo-de-prova utilizado no ensaio ................................................ 38

Figura 2.4 Desenho do Dilatômetro ........................................................................................ 38

Figura 2.5 Posicionamento do Dilatômetro ............................................................................. 39

Figura 2.6 Representação do ciclo realizado no teste .............................................................. 39

Figura 2.7 Método da derivada para determinação de temperaturas de transformação .......... 40

Figura 2.8 Método da tangente para determinação de temperaturas de transformação .......... 41

Figura 3.1 Corpos de prova Jominy ........................................................................................ 42

Figura 3.2 Resultado de dureza do teste Jominy prático ......................................................... 43

Figura 3.3 Comparativo do Jominy teórico e prático para a corrida que teve adição de níquel

.................................................................................................................................................. 45

Figura 3.4 Comparativo do Jominy teórico e prático para a corrida que não teve adição de

níquel ........................................................................................................................................ 46

Figura 3.5 Diagrama CCT para o aço SAE 4125 .................................................................... 48

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Figura 3.6 Micrografia do ponto 1, distância Jominy 1∕16‖, taxa de resfriamento de 272°C/s

da corrida com adição de níquel e dureza 48,5HRC. 100% Martensita. Ataque com Nital .... 49

Figura 3.7 Micrografia do ponto 5, distância Jominy 5∕16‖, taxa de resfriamento de 43°C/s da

corrida com adição de níquel e dureza 38,0HRC. Martensita + Bainita. Ataque com Nital ... 49

Figura 3.8 Micrografia do ponto 20, distância Jominy 32∕16‖, taxa de resfriamento de 2°C/s

da corrida com adição de níquel e dureza 17,5HRC. Ferrita + Perlita + Bainita. Ataque com

Nital .......................................................................................................................................... 50

Figura 3.9 Micrografia do ponto 1, distância Jominy 1∕16‖, taxa de resfriamento de 272°C/s

da corrida sem adição de níquel e dureza 49,0HRC. 100% Martensita. Ataque com Nital .... 50

Figura 3.10 Micrografia do ponto 5, distância Jominy 5∕16‖, taxa de resfriamento de 43°C/s

da corrida sem adição de níquel e dureza 38,0 HRC. Martensita + Bainita. Ataque com Nital

.................................................................................................................................................. 51

Figura 3.11 Micrografia do ponto 20, distância Jominy 32∕16‖, taxa de resfriamento de 2°C/s

da corrida com adição de níquel e dureza 19,0HRC. Ferrita + Perlita + Bainita. Ataque com

Nital. ......................................................................................................................................... 51

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 Composição química de alguns aços da família 41XX. ........................................ 18

Tabela 1.2 Taxa de resfriamento no corpo de prova Jominy ....................................................... 30

Tabela 2.1 Composição química dos corpos de provas estudados. ......................................... 37

Tabela 3.1 Composição química dos corpos de provas estudados. ......................................... 42

Tabela 3.2 Resultado de dureza do teste Jominy prático ......................................................... 42

Tabela 3.3 Resultado do Jominy teórico. ................................................................................. 45

Tabela 3.4 Temperaturas de transformação A1 : γ + α → α + (α + Fe3C), e temperaturas de

transformação A3 : γ + α → γ (A3) para as duas corridas. ..................................................... 46

Tabela 3.5 Temperaturas de transformação para cada taxa de resfriamento para as duas

corridas. .................................................................................................................................... 47

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LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

AISI American Iron and Steel Institute

CCC Cúbica de Corpo Centrado

CCT Curva de Resfriamento Contínuo

DI Diâmetro Interno Crítico

HRC Rockwell C - escala de dureza

HTLA Heat Treatable Low Alloy

SAE Society of Automotive Engineers

TCC Tetragonal de Corpo Centrado

TTT Tempo Temperatura Transformação

UHSLA Ultrahigh Strength Low Alloy

" Polegada

A Austenita

A1 Temperatura na qual a austenita está totalmente transformada em

ferrita e/ou perlita durante o resfriamento

A3 Temperatura na qual a austenita começa a se transformar em ferrita

durante o resfriamento

Al Alumínio

B Boro

B Bainita

Be Berílio

C Cementita

Co Cobalto

Cr Cromo

Cu Cobre

F Ferrita

Fe3C Cementita

in Polegada

J Jominy

M Martensíta

Mn Manganês

Mo Molibdênio

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Ms Início da transformação Martensítica

N Nitrogênio

Nb Nióbio

Ni Níquel

P Perlita

Pol Polegada

Si Silício

Ti Titânio

V Vanádio

W Tungstênio

Zr Zircônio

Α Fase ferrita

Γ Fase austenita

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 17

1.1 Aços da família 41XX .............................................................................................. 18

1.2 Influência dos elementos de liga nos aços................................................................. 19

1.3 Diagrama de equlilíbrio, de resfriamento contínuo (CCT) e microconstituintes ...... 20

1.4 Temperabilidade ........................................................................................................ 24

1.4.1 Fatores que influenciam a temperabilidade ....................................................... 26

1.5 Revenimento .............................................................................................................. 28

1.6 Jominy ....................................................................................................................... 28

1.6.1 Jominy Prático.................................................................................................... 29

1.6.2 Jominy Teórico .................................................................................................. 32

1.7 Relação entre CCT e Curva Jominy .......................................................................... 33

2 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................. 35

2.1 Preparação das amostras e realização do Jominy prático .......................................... 35

2.2 Realização da curva CCT .......................................................................................... 37

2.3 Realização do ensaio Jominy Teórico ....................................................................... 41

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 42

3.1 Resultados do ensaio de temperabilidade Jominy prático ......................................... 42

3.2 Resultados do ensaio de temperabilidade Jominy teórico ......................................... 43

3.3 Resultados do diagrama CCT .................................................................................... 46

3.4 Micrografias obtidas .................................................................................................. 48

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 52

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 54

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1 INTRODUÇÃO

O aço é um dos materiais estruturais mais produzidos do mundo, perdendo apenas para

o cimento. O aumento da produção do aço está diretamente relacionado ao desenvolvimento

da sociedade. O mercado cada vez mais exige competitividade dos aços, em relação a custo e

garantia da qualidade. Para isso, são realizados ensaios que comprovam as propriedades

mecânicas obtidas e exigidas pelo cliente. O aço SAE 4125 tem como principal aplicação a

produção de engrenagem de caixa de câmbio de automotivos. Em uma usina siderúrgica do

interior do estado de São Paulo, esse aço é produzido com a adição de vários elementos de

liga como o cromo, molibdênio, manganês, silício, alumínio, enxofre e uma pequena

concentração de níquel. O principal objetivo dessas adições é atender as propriedades

mecânicas exigidas, como por exemplo, a temperabilidade, capacidade de formar martensita.

Essa propriedade pode ser medida por meio do ensaio Jominy e do diagrama CCT

(curvas de resfriamento contínuo). Neste trabalho foram obtidas curvas Jominy a partir de

amostras de duas corridas do aço SAE 4125 com diferentes concentrações de níquel. Foram

também obtidas curvas de resfriamento contínuo, com o intuito de demonstrar que a

concentração de níquel não é significante no atingimento da temperabilidade para esse

material, com consequente redução dos custos.

O ensaio Jominy prático demanda tempo e custo para ser realizado, devido ao

processo de retirada e preparação das amostras, além dos equipamentos envolvidos no teste.

Utilizando o programa estatístico Minitab 16 foram geradas equações matemáticas de

temperabilidade Jominy para o aço em estudo, podendo-se assim calcular o Jominy teórico.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Aços da família 41XX

Os aços da família 41XX pertencem à família dos aços baixa liga médio carbono

temperados e revenidos. Dependendo do nível de resistência mecânica para o qual eles são

tratados, podem se enquadrar como aços baixa liga tratáveis termicamente (heat treatable low

alloy steels ou HTLA) ou como aços ultraresistentes (ultrahigh strength low alloy steels ou

UHSLA), estes últimos apresentando tensão limite de escoamento de até 1380 MPa.

Os aços da família AISI/SAE 41XX são usados em aplicações de engenharia na

condição ―temperados e revenidos‖ ou ―normalizado, temperado e revenido‖, este último

quando é necessário assegurar elevados níveis de tenacidade. Os aços baixa liga dessa família,

estão entre os aços mais usados na indústria do petróleo em aplicações de alta resistência,

como em corpos pressurizados, bonnets, flanges, hangers, pistões de operação, além de

engrenagens de câmbio de automotivos, entre outras. Esses aços se apresentam em destaque

do ponto de vista de utilização porque são facilmente tratados termicamente, são

relativamente baratos e bastante disponíveis no mercado [1].

Em relação aos aços carbono, os aços baixas ligas da família 41XX são modificados

ao cromo e ao molibdênio, o que aumenta bastante sua temperabilidade. Esses aços devem ser

temperados em óleo ou em solução polimérica e por causa de sua alta temperabilidade são

mais difíceis as operações de conformação e soldagem [1].

Os fabricantes tradicionais usam na prática especificações de material que restringem

impurezas, e que preveem a adição de elementos de liga que modificam os graus usuais dos

aços AISI/SAE, principalmente elementos que aumentam a temperabilidade e retêm dureza

no revenimento, como molibdênio e vanádio, além de melhorar um pouco a tenacidade, como

o níquel. O quadro da tabela 1.1 apresenta a composição química básica, conforme AISI/SAE,

de três aços da família 41XX.

Tabela 1.1. Composição química de alguns aços da família 41XX. (%em massa)

Aços C Mn Si P S Cr Ni Mo

4125 0,22 -

0,27

0,90 -

1,20

0,15 -

0,35

0,00 -

0,025

0,015 -

0,030

0,40 -

0,60

0,00 -

0,25

0,12 -

0,18

4130 0,22 -

0,29

0,60 -

0,90

0,00 -

0,40

0,00 -

0,035

0,020 -

0,040

0,90 -

1,20

0,00 -

0,25

0,15 -

0,30

4140 0,37 -

0,44

0,65 -

1,10

0,15 -

0,35

0,00 -

0,025

0,000 -

0,025

0,75 -

1,20

0,00 -

0,25

0,15 -

0,25

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De uma forma geral, os aços baixas ligas médio carbono apresentam como principal

motivação de suas aplicações a excelente temperabilidade, combinada com alta resistência.

Por outro lado, um grande problema que esses aços podem apresentar, é a não-uniformidade

das propriedades mecânicas ao longo do comprimento do forjado. Além disso, as

propriedades podem variar de uma maneira irregular.

Os estudos voltados para essa família de aços têm objetivado o aumento da ductilidade

e tenacidade, a minimização da variação das propriedades e conseqüentemente uma maior

confiabilidade em serviço, através da melhoria e inovações de técnicas de refino e

processamento, e também através de um maior controle do processamento e inspeção [2].

1.2 Influência dos elementos de liga nos aços

Um aço que contém, além de ferro e até 2% de carbono, elementos químicos

especialmente introduzidos, não encontrados em aços carbono comuns, é chamado de ligas de

aço. Os elementos químicos propositadamente adicionados no aço são denominados

elementos de liga. A quantidade do elemento de liga adicionado pode variar enormemente: de

adições muito baixas (milésimos a décimos de porcentagem) a adições muito altas (até 20%

ou mais). Considera-se um aço de baixa liga aquele que possui menos de 8% de elementos de

liga e alta liga quando possui 8% ou mais de elementos de liga. Podem-se classificar os aços

em três categorias quanto à sua composição química: aços carbono, aços baixa liga e aços alta

liga. As duas primeiras categorias são utilizadas para se obter aços de baixa, média ou alta

resistência mecânica, nos quais o esforço mecânico é o fator principal a ser considerado.

Esses aços devem ser capazes de suportar médio ou elevado esforço mecânico sem ocorrer

deformação excessiva ou rompimento durante sua utilização.

Os aços de alta liga são geralmente utilizados em condições de grande ou moderados

esforços mecânicos, porém em ambientes hostis (corrosivos, oxidantes ou abrasivos) ou em

ambientes particulares (elétricos e ou magnéticos). Para cada aplicação utilizam-se

composições químicas diferentes com percentagens variadas de elementos de liga. Elementos

de liga proporcionam uma grande variedade de microestruturas no aço após o tratamento

térmico que deixa espaço para uma ampla gama de propriedades.

Os elementos seguintes, dispostos em ordem decrescente da sua aplicação, são

geralmente usados em ligas de aço: Cr, Mn, Ni, Si, W, Mo, V, Co, Ti, Al, Cu, Nb, Zr, B, N, e

Be. Os elementos de liga interagem com o ferro, carbono e outros elementos no aço,

resultando em mudanças nas propriedades mecânicas, químicas e físicas do aço. O principal

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objetivo da adição dos elementos de liga é a melhoria das propriedades do aço de acordo com

sua aplicação. O nível em que as propriedades do aço são alteradas pela liga depende da

quantidade de elementos de liga introduzidos e o caráter de sua interação com os principais

elementos do aço, ou seja, Fe e C. Isso porque uma análise da influência de elementos de liga

nas propriedades do aço deve começar considerando a relação entre certos elementos de liga,

Fe e C [3].

Os elementos de liga podem:

Formar soluções sólidas;

Alterar a temperatura de ocorrência de transformação de fase;

Alterar a solubilidade do carbono na austenita e na ferrita;

Alterar a velocidade de reação e de transformação (decomposição) da austenita;

Alterar a velocidade de solubilização da cementita na austenita durante o

aquecimento do aço;

Diminuir o amolecimento causado pelo revenimento;

Dissolver na ferrita;

Formar compostos (principalmente com elementos não metálicos) que se

localizam na estrutura como inclusões.

1.3 Diagrama de equlilíbrio, de resfriamento contínuo (CCT) e microconstituintes

O diagrama de resfriamento contínuo é derivado do diagrama de fases, porém o

diagrama de resfriamento contínuo mostra a formação de estruturas como a perlita, bainita e

martensita. Na figura 1.1 é mostrado um diagrama de fase do sistema Fe-Fe3C.

A utilização de uma velocidade de resfriamento constante é muito comum na prática

experimental para determinar as curvas de transformação de fase. No entanto, este regime

raramente ocorre numa situação prática. Estas curvas simulam o comportamento no interior

do material, tais como a taxa de resfriamento de uma barra Jominy a alguma distância a partir

da extremidade temperada. Na figura 1.2 é mostrado um diagrama CCT para o aço 4130.

Ferrita, perlita, e regiões bainíticas são indicadas, assim como a temperatura Ms. Nota-se que

a temperatura Ms não é constante quando a formação de martensita é precedida pela formação

de bainita, mas geralmente diminui resfriamentos de menor velocidade [4].

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21

Figura1.1 Diagrama de fases binário do sistema Fe-Fe3C [5]

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22

Figura 1.2 Diagrama CCT para o aço AISI 4130 com 0,30% C, 0,64% Mn, 1,00% Cr e 0,24% Mo. A

curva CCT foi estimada (linhas pontilhadas) e determinada experimentalmente (linhas sólidas).

[6].

Os constituintes básicos dos aços são: a austenita, a ferrita, a cementita, a perlita, a

martensita e a bainita.

A austenita, nos aços carbono comuns, só é estável acima de 727°C; consta de uma

solução sólida de carbono no ferro gama e apresenta uma estrutura de grãos poligonais

irregulares; possui boa resistência mecânica e apreciável tenacidade.

A ferrita é o ferro no estado alotrópico alfa, contendo em solução traços de carbono;

apresenta também uma estrutura de grãos poligonais irregulares; possui baixa dureza e baixa

resistência à tração, cerca de 270 MPa, mas excelente resistência ao choque e elevado

alongamento.

A cementita é o carboneto de ferro Fe3C contendo 6,67% de carbono; muito dura,

quebradiça, é responsável pela elevada dureza e resistência dos aços alto carbono, assim como

pela sua menor ductilidade.

A perlita é a mistura mecânica de 88,5% de ferrita e 11,5% de cementita, na forma de

lâminas finas dispostas alternadamente. As propriedades mecânicas da perlita são

intermediárias entre as da ferrita e cementita, dependendo, entretanto, da espessura das

lamelas de cementita. Sua resistência à tração é, em média, 740 MPa. A transformação da

austeníta em perlita contendo ferrita e cementita é típica de muitas reações no interior dos

sólidos, ou seja, começa nos contornos de grãos e prossegue em direção ao seu centro, o que é

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de se esperar, pois os átomos nos contornos dos grãos apresentam maiores energias que os

átomos no interior dos grãos. [7]

A martensita é produto do resfriamento rápido da fase austenítica. A transformação

martensítica é adifusional, e por essa razão a martensita tem exatamente a mesma composição

que a austenita, até 2% de carbono. Como a difusão é suprimida, normalmente pelo

resfriamento rápido, os átomos de carbono não se dividem entre cementita e ferrita, e sim são

aprisionados nas posições octaédricas de uma estrutura cúbica de corpo centrado (CCC),

produzindo então uma nova fase, a martensita. A solubilidade de carbono em uma estrutura

CCC é enormemente excedida quando a martensita se forma, esta assume então uma estrutura

tetragonal de corpo centrado (TCC). A martensita é uma fase metaestável que está presente

apenas porque a difusão foi suprimida. A transformação martensítica é atérmica, uma vez que

a conversão da microestrutura austenítica em martensítica acontece continuamente com o

decréscimo da temperatura durante resfriamento suficientemente rápido e contínuo. A

martensita nos aços apresenta duas morfologias, ripas e placas.

Da mesma forma que a perlita, a bainita é uma mistura das fases ferrita e cementita, e

é por isso dependente da divisão controlada por difusão dos átomos de carbono entre ferrita e

cementita. Por outro lado, a estrutura da bainita difere da perlita uma vez que a ferrita e a

cementita são arranjadas de forma não lamelar cuja característica depende da composição da

liga e da temperatura de transformação. Semelhante à martensita, a ferrita da bainita pode

estar na forma de ripas ou placas contendo uma estrutura de discordâncias e, por isso, em

determinada extensão, o mecanismo de formação da bainita envolve tanto cisalhamento como

difusão [8].

A figura 1.3 mostra as características dos microconstituintes perlita, bainita e

martensíta.

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Figura 1.3 Microconstituintes dos aços: a) Perlita (Cementita + Ferrita) em um aço com 0,75%C resfriado

ao forno (500x). b) Bainita superior em um aço 4150 formada a 460ºC (500x). c) Martensita

em um aço com 1,8%C resfriado a -100ºC (500x) [9].

1.4 Temperabilidade

A temperabilidade é uma propriedade básica, que influencia a seleção de aços para

tratamento térmico de elementos estruturais de máquinas. Os aços liga estruturais

caracterizam o principal material na indústria de máquinas, combinando alta resistência,

ductilidade e tenacidade quando submetidos a carregamento dinâmico. Tipo e importância de

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propriedades de trabalho requeridas do material são os critérios de seleção para componentes

de máquinas, definidos a partir da análise de carregamentos mecânicos e condições de serviço

do elemento. Exigências como propriedades de trabalho podem ser especificadas como

propriedades mecânicas, especialmente resistência à tração, tensão de escoamento e dureza.

Outros critérios empregados podem ser a resistência ao impacto, ductilidade e

endurecibilidade (temperabilidade) [10].

No caso de aços carbono, embora possuam propriedades que atendam à maioria dos

requisitos na construção mecânica, não podem ser utilizados em situações específicas de

grandes solicitações, devido à sua baixa temperabilidade. Desta maneira deve-se buscar

propriedades de uso que são próprias da microestrutura do material, o que garante vida útil do

componente por período de tempo determinado pela Engenharia de Projetos. Essa adequação

de propriedades tem, portanto, ligação direta com a composição química e a microestrutura do

aço, sendo que os ensaios de temperabilidade possuem extremo valor como orientação de

resistência mecânica e dureza na construção mecânica, por permitirem a ocorrência de

diferentes fases cristalinas em um único corpo de prova.

Transportando esse raciocínio para a manufatura de componentes mecânicos, quando

submetidos à têmpera, observa-se que a microestrutura formada na superfície dos mesmos

(martensítica), é específica da taxa de resfriamento aplicada. Percebe-se que a profundidade

que esta microestrutura adquire é função de variáveis próprias da designação dos aços e seu

processo de fabricação, ou seja, existem aços que apresentam a endurecibilidade para

pequenas profundidades (baixa temperabilidade), médias profundidades (média

temperabilidade) e grandes profundidades (alta temperabilidade).

Temperabilidade é definida como a "susceptibilidade ao endurecimento por resfriamento

rápido" [11], ou como "a propriedade, em ligas ferrosas, que determina a profundidade e

distribuição de dureza produzida por têmpera" [12]. Ambas definições enfatizam dureza. A

fonte de endurecimento é a formação e presença de martensita e, portanto, uma terceira

definição de temperabilidade, "a capacidade de um aço para transformar parcialmente ou

totalmente, a partir de austenita para martensita, de alguma percentagem a uma dada

profundidade, quando resfriada sob algumas dadas condições" [13].

Os principais fatores que influenciam a temperabilidade do aço são:

Composição química;

Tamanho de grão austenítico.

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1.4.1 Fatores que influenciam a temperabilidade

Composição química

Carbono: é o elemento químico mais importante na temperabilidade. Aumenta a

temperabilidade do aço retardando a formação da ferrita e perlita. Níveis elevados de carbono

reduzem a temperatura de formação de martensita e a transformação de austenita para

martensita pode ser incompleta, levando a austenita retida. Nessa microestrutura, composta de

martensita e austenita, há uma queda na dureza, embora a dureza da fase martensítica seja

elevada.

Elementos de liga: a mais importante função dos elementos de liga em aços para

tratamento térmico é aumentar a temperabilidade, o que torna possível o endurecimento de

seções maiores e possibilita também o uso de têmpera em óleo para reduzir distorção e trincas

de têmpera. Esses deslocam a curva CCT para a direita, atrasando, assim, a transformação de

austenita para ferrita, perlita e/ou bainita, o que permite a formação de mais martensita para

uma determinada taxa de resfriamento. As influências desses elementos são:

Mn, Si, Cr, Ni, Mo e V: esses elementos retardam a transformação de fase da austenita

para ferrita e perlita, sendo que os mais usados são Mn, Cr e Mo. O atraso é devido à

necessidade dos elementos de liga se redistribuírem durante a transformação de fase

difusional da austenita para ferrita e cementita. Existem interações complexas entre os

diferentes elementos, os quais também afetam as temperaturas de transformação de

fases e a microestrutura resultante.

Mo: é mais efetivo que o Cr devido sua completa dissolução na austenita, mas acima

de 0,50% tem seu efeito reduzido ao precipitar o C, formando o carboneto de Mo.

Si, Ni e Cu: tem fraca influência no aumento da temperabilidade.

Mn e Ni: Estabilizam a austenita e retardam o início de formação da perlita. Deslocam

o nariz da curva CCT para a direita, mas não modificam a curva. O Mn é mais efetivo.

Cr, Mo e V: São fortes formadores de ferrita. Causam distorções na rede cristalina do

ferro. A interação dos campos de tensões mantém os átomos de C afastados uns dos

outros em solução sólida, impedindo sua precipitação. Ao se resfriar o aço, as

condições se tornam desfavoráveis para migração do C para formação de carbonetos.

Isto quer dizer que o tempo necessário para formação da perlita é aumentado [14].

V: Aumenta a temperabilidade. É tão efetivo quanto o Mn ou Mo quando em solução

na austenita. O V tem um comportamento duplo: até 0,05% aumenta a

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temperabilidade e acima desse valor reduz a temperabilidade pela sua característica de

refinar o grão austenítico [15].

P e S: O P aumenta a temperabilidade e o S diminui.

Co: Diminui a temperabilidade. A presença de cobalto no aço aumenta tanto a

velocidade de nucleação quanto a velocidade de crescimento da perlita.

Boro: É um elemento muito potente, sendo que 20 a 30 ppm de B apresenta um efeito

equivalente a 0,50% de Mo e é mais efetivo em aços com baixo teor de C. Tem grande

afinidade por nitrogênio e no estado combinado forma BN e não atua na

temperabilidade. Torna-se necessário adicionar Ti para fixar o N formando TiN, e

assim deixando o B livre para atuar na temperabilidade. A prática usual é manter a

relação Ti/N maior ou igual a 3,42 para precipitar qualquer N disponível [16]. Esse

elemento somente afeta a temperabilidade do aço se estiver em solução sólida. É um

átomo grande para formação de solução sólida intersticial e muito pequeno para

formação de solução sólida substitucional. Os átomos de boro são atraídos para as

irregularidades do reticulado que existem nos contornos de grão e baixam a energia

nessas regiões, reduzindo a taxa de nucleação e retardando a decomposição da

austenita. A concentração ótima do elemento B situa-se entre 10 e 30 ppm.

Tamanho de grão austenítico

A temperabilidade aumenta com o aumento do tamanho de grão austenítico. Quando

não há perigo de trincas na têmpera e onde considerações de engenharia permitem, pode ser

mais prático usar aços com grão grosso do que aços ligados (mais caros) para obter maior

temperabilidade. Este método de aumentar a temperabilidade raramente é usado, pois reduz a

tenacidade e ductilidade do aço. A transformação de austenita para ferrita mais cementita é

uma reação que ocorre por nucleação e crescimento. A nucleação da ferrita e da cementita

ocorre em sítios de nucleação heterogêneos tais como os contornos de grão. A velocidade de

nucleação será tanto maior quanto mais fino for o grão austenítico, pois maior superfície total

estará disponível para nucleação de ferrita. A velocidade de crescimento da perlita não é

sensivelmente modificada pelo tamanho de grão austenítico [17].

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1.5 Revenimento

No estado temperado, a martensita além de ser muito dura, é muito frágil e não pode ser

usada na maioria das aplicações. Também as tensões internas que podem ter sido introduzidas

durante a têmpera produzem um efeito de fragilidade. A ductilidade e a tenacidade da

martensíta podem ser melhoradas e as tensões internas aliviadas por um tratamento térmico

conhecido como revenimento [18].

O revenimento é realizado pelo aquecimento de um aço com estrutura martensítica a

uma temperatura abaixo do eutetóide por um período de tempo específico. Normalmente, o

revenimento é efetuado a temperaturas entre 250 e 650ºC. Contudo, tensões internas podem

ser aliviadas com temperaturas tão baixas quanto 200ºC. Este tratamento térmico de revenido

permite, por processos de difusão, a formação de martensita temperada, de acordo com a

reação:

Martensita (TCC) Martensita revenida (α + Fe3C)

A microestrutura da martensita revenida consiste em partículas de cementita

extremamente pequenas e uniformemente dispersas em uma matriz ferrítica contínua.

Figura 1.4 Micrografia da martensita revenida. Revenida a 594ºC. As partículas pequenas são da fase

cementita. A matriz é da fase ferrita (α) [18].

1.6 Jominy

O primeiro passo no desenvolvimento do teste Jominy ocorreu em 1938 por Jominy e

Boegehold. Tornou-se um ensaio de emprego universal para aços com DI entre 1 a 6

polegadas e que pode ser convertida para diâmetro de barra redonda em diferentes meios de

têmpera.

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O ensaio Jominy pode ser usado para medir a temperabilidade dos aços e para estudar

os efeitos de elementos de liga e de parâmetros do processo de fabricação na temperabilidade.

O resultado é mostrado numa curva de dureza versus distância da extremidade temperada,

conhecida como curva Jominy. Este ensaio é muito usado nas especificações de produtos

destinados a forjarias.

1.6.1 Jominy Prático

O ensaio consiste em aquecer uma barra de tamanho determinado (25 mm de diâmetro

por 102 mm de comprimento), a fim de formar austenita. Após aquecimento, uma de suas

extremidades é temperada com uma corrente de água de vazão e pressão específicas.

Determinam-se então os valores de dureza ao longo do comprimento da barra. Dessa forma

constrói-se uma curva de temperabilidade. A composição química do aço está diretamente

correlacionada aos valores que serão encontrados no ensaio de temperabilidade.

Figura 1.5 Desenho do corpo de prova a ser utilizado no ensaio Jominy [19].

A extremidade temperada é resfriada muito rapidamente, dessa forma teremos a

dureza máxima obtida, de acordo com o teor de carbono e elementos de liga. Como podemos

observar na figura 1.6, na medida em que avançamos na distância da extremidade temperada

do corpo de prova, os valores de dureza HRC também caem. Isso se deve ao fato de termos no

ponto zero da distância temperada, velocidades de resfriamento altas e que propicia a

formação da estrutura matersítica. À medida que nos afastamos do ponto zero, a velocidade

de resfriamento diminui e, como conseqüência teremos outras estruturas presentes, como a

bainítica, ferrítica e perlítica, por exemplo, (através dos diagramas TTT e CTT podemos

prever a fase final obtidas para uma da temperatura de transformação).

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Figura 1.6 Curva Jominy de temperabilidade [20].

As curvas de temperabilidade possuem grande valor prático, a dureza pode ser lida

diretamente a partir da curva de temperabilidade. Cada posição da barra Jominy tem uma taxa

de resfriamento conhecida e independe do tipo de aço (Tabela 1.2). A Figura 1.7 mostra os

diferentes valores de temperabilidade para os aços SAE 1045H e SAE 4340H. Podemos

verificar que a diferença da curva de temperabilidade está associada diretamente aos

elementos de ligas presentes na composição química.

Tabela 1.2 Taxa de resfriamento no corpo de prova Jominy [21].

DISTÂNCIA “J” (1/16 da pol.) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

°C/s 272 170 108 69 43 31 23 18 14 12

DISTÂNCIA “J” (1/16 da pol.) 11 12 13 14 15 16 20 24 28 32

°C/s 11 9 8 7 6 5,5 4 3 2 2

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max. min.

1 60 53

2 60 53

3 60 53

4 60 53 %C %Mn %Si %Ni %Cr %Mo

5 60 53 0,37/0,44 0,55/0,90 0,15/0,35 1,55/2,00 0,65/0,95 0,20/0,30

6 60 53

7 60 53

8 60 52

9 60 52

10 60 52

11 59 51

12 59 51

13 59 50

14 58 49

15 58 49

16 58 48

18 58 47

20 57 46

22 57 45

24 57 44

26 57 43

28 56 42

30 56 41

32 56 40

Limite de Dureza para o especificado

Dist. temperada

1/16 de pol

Dureza HRC

Faixa de temperabilidade - SAE 4340H

0

10

20

30

40

50

60

70

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 18 20 22 24 26 28 30 32

Du

reza

HR

C

Distância da ponta temperada - 1/16 de polegada

max. min.

1 62 55

1,5 61 52

2 59 42

2,5 56 34 %C %Mn %Si

3 52 31 0,42/0,51 0,50/1,00 0,15/0,35

3,5 46 29

4 38 28

4,5 34 27

5 33 26

5,5 32 26

6 32 25

6,5 31 25

7 31 25

7,5 30 24

8 30 24

9 29 23

10 29 22

12 28 21

14 27 20

16 26

Dureza HRCDist. temperada

1/16 de pol

Limite de Dureza para o especificado

Faixa de temperabilidade - SAE 1045H

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 9 10 12 14 16

Du

reza

HR

C

Distância da ponta temperada - 1/16 de polegada

Figura 1.7 Curvas de temperabilidade para aços diferentes, 4340H e 1045H. O intervalo de variação das

especificações químicas normais produz variação na temperabilidade [22].

A grande vantagem do ensaio prático Jominy é a de se obter em uma única barra

diferentes velocidades de resfriamento, que produzirão diferentes durezas e microestruturas ao

longo do eixo do corpo de prova.

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1.6.2 Jominy Teórico

A utilização de equações por regressão linear múltipla nos permite analisar corridas

com valores de Jominy prático e, através de cálculos de regressão, gerar equações preditivas

que, sabendo a composição química do aço, fornece valores com alto grau de assertividade

em relação ao Jominy prático. Além de ser capaz de aperfeiçoar a adição de ligas, mantendo

os resultados de temperabilidade Jominy desejados.

O ensaio de temperabilidade é uma das mais importantes propriedades para o

beneficiamento de aços. A execução do ensaio teórico nos permite retirar uma série de etapas

(usinagem, tratamento do CP e ensaio propriamente dito), sem contar no custo envolvido e de

não haver espera para se saber os resultados.

Pode-se também objetivar custo mínimo do aço: elemento mais caro no limite inferior

da faixa e o mais barato no limite superior para uma dada especificação de temperabilidade. A

faixa de composição química visada para atender uma especificação de temperabilidade

restrita é estreitada para prevenção sobre a incerteza dos resultados experimentais.

Para a derivação das equações por regressão linear, a população amostral deve conter

diferentes valores para se obter a melhor equação que descreva tal população. Deve ser

analisado cada elemento de corrida, para que os valores possam ser calculados

independentemente. Isso permite que o modelo de regressão tenha as distâncias (tanto em mm

como polegadas) a partir da têmpera semelhantes aos valores de dureza para o ensaio prático.

A dureza nada mais é que a respectiva distância de tempera da superfície de um valor

da regressão, com influência nos parâmetros do percentual de massa e elementos químicos.

Os elementos carbono, silício, manganês, fósforo, enxofre, cromo, níquel, molibdênio,

alumínio, cobre e nitrogênio devem ser sempre considerados. A Equação abaixo representa os

elementos químicos mínimos necessários para montagem das equações de regressão linear,

bem como os respectivos coeficientes (a0, a1, a2, ...) gerados por dados amostrais.

J [HRC] = a0 + a1.C + a2.Si + a3.Mn + a4.P +a5.S + a6.Cr + a7.Mo + a8.Ni + a9.Al +

a10.Cu + a11.N

Outros elementos que podem influenciar na temperabilidade, com o titânio, boro entre

outros, devem ser considerados também. O mínimo de corridas para termos valores confiáveis

para a derivação por regressão linear múltipla deve ser igual ao quadrado do número de

elementos que constituem a amostragem populacional [23].

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Deve ser ressaltados que os coeficientes das fórmulas não podem ser usados como

análise para os materiais em questão sem uma interpretação metalúrgica. Não se pode validar

um modelo de regressão para um determinado aço, levando em consideração somente a

influência de um elemento químico para todos os pontos de temperabilidade. Deve se

considerar apenas os elementos estatisticamente significativos. A contribuição dos elementos

com coeficiente igual a zero podem ser considerados na constante da fórmula [24].

1.7 Relação entre CCT e Curva Jominy

As curvas Jominy estão estreitamente relacionadas com as curvas CCT, conforme a

figura 1.8 . A curva Jominy informa a dureza ao longo da barra do aço ensaiado. Conforme já

apresentado neste trabalho, a taxa de resfriamento do ensaio Jominy é conhecida para cada

ponto independentemente do tipo do aço. Utilizando essas mesmas taxas de resfriamento no

diagrama CCT, podem-se observar quais os microconstituintes formados para cada taxa de

resfriamento e, assim, relacionar a microestrutura formada com a dureza para cada ponto ao

longo do corpo de prova. Essa relação pode ser visualizada na figura 1.8.

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Figura 1.8 Quatro taxas de resfriamento de diferentes posições do corpo de prova do ensaio Jominy

sobrepostos no diagrama CCT [25].

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35

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta seção serão descritos os materiais, equipamentos e procedimentos experimentais

realizados para obtenção e análise das amostras do aço SAE 4125. Primeiramente foi pedido

aos operadores de uma siderúrgica que produzissem duas corridas com composições químicas

semelhantes, porém sendo uma delas apenas com o níquel residual da sucata. Depois de

lingotado e laminado, foram retiradas as amostras dessas corridas para que fossem realizados

os experimentos do ensaio Jominy prático e elaborada as curvas CCT com a utilização da

máquina Gleebe. Também foi realizado o ensaio Jominy teórico utilizando regressões lineares

múltiplas por meio do auxílio do programa estatístico Minitab 16.

2.1 Preparação das amostras e realização do Jominy prático

A preparação das amostras para o ensaio Jominy seguiu a norma ASTM A 255. Para a

preparação do ensaio prático Jominy foram utilizadas duas amostras, uma de cada corrida

(com níquel e níquel residual) de um produto laminado. As amostras sofreram o tratamento

térmico de normalização durante 60 minutos a 900ºC. Esse tratamento é feito para que a

estrutura do material não tenha as características de dureza alteradas. Em seguida as amostras

foram usinadas até o tamanho exigido pela norma, 1 polegada de diâmetro e 4 polegadas de

comprimento, e então austenitizada em uma teperatura de 870ºC por 30 minutos.

O corpo de prova é colocado em um dispositivo no qual sai uma coluna de água com

temperatura entre 5ºC – 30ºC diretamente contra a face oposta do material a ser ensaiado. A

coluna de água passa entre um orifício de 13 mm (1/2 in) de diâmetro e ergue o jato d’ água

até uma altura de 63 mm (92-1/2 in) livre do orifício.

O dispositivo deve estar seco no início de cada teste. O material a ser temperado deve

estar a 13 mm (1/2 in) entre a face quente e o orifício de água, como pode ser verificado

abaixo [26].

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36

Figura 2.1 Ensaio de temperabilidade Jominy [27].

Foram realizados no corpo de prova dois planos a 180 graus com um mínimo de

profundidade de 0,38 mm (0,015 in) ao longo do material. Nesses planos foram realizadas as

medidas de dureza, em escala Rockwell C. Esses planos e a marcação de dureza no corpo de

prova podem ser observados na figura 3.1 no tópico 3.1. A preparação das superfícies planas

foi realizada com certo cuidado de tal forma que ao remover o material, o calor gerado não

seja suficiente para que ocorra alteração da microestrutura e conseqüentemente alteração da

dureza medida.

As distâncias de medição são em escala de polegada, onde a leitura pode ser realizada

em intervalos de 1/16 de polegada a partir do primeiro valor até alcançar leituras de até 2

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polegadas, mas usualmente são feitas em intervalos até um valor mínimo de 20 HRC

encontrado.

Em alguns pontos de ambos os corpos de prova (com níquel e níquel residual) foram

obtidas imagens de Microscopia Ótica com a finalidade de observar a microestrutura formada.

2.2 Realização da curva CCT

As amostras foram retiradas das mesmas corridas que as amostras utilizadas no ensaio

Jominy prático, com composição química mostrada na tabela 2.1.

Tabela 2.1 Composição química dos corpos de provas estudados. (% em massa)

Corrida C Si Mn P S Cr Ni Mo Al Cu N

Com Ni 0,25 0,27 1,10 0,014 0,024 0,49 0,16 0,13 0,03 0,14 0,0054

Ni residual 0,25 0,28 1,10 0,014 0,023 0,49 0,07 0,13 0,03 0,14 0,0061

Para a execução deste trabalho, utilizou-se o módulo de tração do simulador termo-

mecânico Gleeble (figura 2.2).

Módulo fixo – módulo ao qual se acopla um dos outros dois módulos, de acordo com

o ensaio a ser realizado. Abriga os atuadores hidráulicos, pneumáticos e elétricos,

sendo controlado a partir do painel de controle digital;

Módulo de tração – módulo capaz de abrigar montagens e ferramentas voltadas para

testes que envolvem esforço de tração ou tratamentos térmicos;

Quanto ao sistema de aquecimento das amostras, o simulador Gleeble trabalha com a

passagem de corrente elétrica no corpo-de-prova.

Figura 2.2 Simulador Termomecânico Gleeble 3500.

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Corpos de Prova

O corpo de prova, bem como suas dimensões, utilizado no ensaio é apresentado na

figura 2.3.

Figura 2.3 Dimensões do corpo-de-prova utilizado no ensaio.

Dilatômetro

Dilatômetro é um extensômetro utilizado para medir pequenas variações no diâmetro

de materiais quando este é aquecido e/ou resfriado.

Pode auxiliar na determinação de temperaturas Ac1 e Ac3, mudanças microestruturais,

construção de diagramas CTT, etc. O Dilatômetro tem escala de 0,63mm. A figura 2.4

mostra o dilatômetro e seus componentes.

Figura 2.4 Desenho do Dilatômetro.

O dilatômetro se apoia no corpo de prova com a parte frontal e no suporte com a saída

do cabo de conexão conforme a figura 2.5.

A medida da dilatação é realizada pelo movimento da barra móvel, este movimento é

captado pelo transdutor que por sua vez transmite os dados ao computador.

86.00mm +/-5 mm

10.00mm

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Figura 2.5 Posicionamento do Dilatômetro.

Programação dos Ensaios

Primeiramente realizaram-se testes para determinação das temperaturas Ac1 e Ac3.

Com estas temperaturas, define-se o seguinte ciclo: aquecimento da amostra 100°C acima da

temperatura Ac3, a uma taxa de 20ºC/s, permanência por 1 minuto na temperatura, para

homogeneização, em seguida resfria-se com uma taxa de resfriamento constante até a

temperatura ambiente. Repete-se o ciclo para diversas taxas de resfriamento. Os ciclos são

apresentados na figura 2.6.

Figura 2.6 Representação do ciclo realizado no teste.

As taxas de resfriamento destes testes foram compreendidas entre 0,10ºC/s e 60ºC/s. Em

cada ciclo além da temperatura foram adquiridos os parâmetros de dilatometria, que foram

1 min.

Temperatura (ºC)

Tempo

Taxa de Aquecimento 20°C/s

100°C acima de Ac3

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utilizados na construção do diagrama CCT, também foram realizadas análises de

microestrutura e dureza em cada corpo de prova ensaiado.

Construção do Diagrama CCT

O simulador Gleeble possui um software de análise de dados de dilatometria, que

permite a identificação das temperaturas de inicio e fim das transformações de microestrutura.

Pode-se determinar o início e fim das transformações de dois modos: Método da

derivada e Método da tangente.

Método da derivada: O software calcula a 2a derivada da curva de dilatação vs.

temperatura e os pontos onde ocorre inflexão na curva da derivada são os pontos onde

ocorrem as mudanças microestruturais. Este modo é o de mais fácil visualização das

alterações microestruturais. Uma amostra de análise pelo método da derivada é apresentada na

figura 2.7.

0 200 400 600 800 10000,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

Inicio de

Transformação

Fim de

Transformação

Método da Derivada - GG06025 - 2°C/s

Dila

taçã

o (

mm

)

Temperatura (°C)

Figura 2.7 Método da derivada para determinação de temperaturas de transformação.

Método da tangente: Em determinados ensaios não é possível ser realizada a análise

pelo método da derivada principalmente devido a ruídos. Passa-se, então, a utilizar o método

da tangente.

Para a análise neste método marca-se um ponto na curva de dilatação vs. temperatura,

próximo ao ponto onde esteja ocorrendo a transformação e o software construirá um reta

tangente à este ponto, a mudança microestrutural estará iniciando/terminando quando a reta

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tangente coincidir com os valores da curva de dilatação vs. temperatura. Uma amostra de

análise pelo método da tangente é apresentada na figura 2.8.

200 400

-0,02

0,00

0,02

Inicio da

Transformação

Método da Tangente - GG46601 - 12°C/s

Dila

tação (

mm

)

Temperatura (°C)

Figura 2.8 Método da tangente para determinação de temperaturas de transformação.

2.3 Jominy Teórico

Foi utilizado o programa estatístico Minitab 16 para elaborar as equações matemáticas

de cada ponto Jominy, levando em consideração os elementos citados na Norma SEP 1664.

Utilizou-se um banco de dados de 92 corridas que haviam sido produzidas e, realizados o

ensaio de temperabilidade Jominy prático.

Por meio desses dados foram feitos testes de normalidade dos dados (intervalo de

confiança de 90%) de cada elemento químico e das durezas de cada ponto Jominy. Em

seguida, analisou-se a normalidade dos dados residuais (distância do valor real até a média

dos dados). Após isso, foi feita a regressão linear para cada ponto Jominy, analisou-se a

correlação para cada elemento químico de cada ponto. Os valores de P > 0,100 (ou seja, não

apresentam forte correlação) foram descartados, do maior para o menor, pois não são

significantes com aquele determinado ponto Jominy, ou seja, sua influência na

temperabilidade é insignificante.

Sobrou, então, apenas os elementos com significância na temperabilidade Jominy. Cada

elemento vem acompanhado de um fator multiplicativo, indicando o grau de influência de

cada elemento nesse teste, além de aparecer uma constante. E assim se obteve as equações

matemáticas para cada ponto Jominy com valores de R > 80%, que para um ambiente fabril

considera-se com alto grau de assertividade.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção são apresentados e discutidos os resultados de dureza obtidos no ensaio de

temperabilidade Jominy Prático e Teórico, as micrografias obtidas no MO e o diagrama CCT

gerado na Gleeble para as amostras do aço SAE 4125.

3.1 Resultados do ensaio de temperabilidade Jominy prático

O objetivo da utilização deste teste é avaliar a influência da variação de pequenas

concentrações de níquel na temperabilidade ao longo dos corpos de provas do aço SAE 4125.

De acordo com as composições químicas obtidas na tabela 3.1 e os resultados do teste

Jominy, podemos avaliar a influência da variação da concentração de níquel.

Tabela 3.1 Composição química dos corpos de provas estudados.

Corrida C Si Mn P S Cr Ni Mo Al Cu N

Com Ni 0,25 0,27 1,10 0,014 0,024 0,49 0,16 0,13 0,03 0,14 0,0054

Ni residual 0,25 0,28 1,10 0,014 0,023 0,49 0,07 0,13 0,03 0,14 0,0061

Figura 3.1 Corpos de prova Jominy.

Tabela 3.2 Resultado de dureza do teste Jominy prático.

PONTOS (1/16 pol) J 1 J 2 J 3 J 4 J 5 J 6 J 7 J 8 J 9 J 10 J 11 J 12

Com Ni (HRC) 48,5 46,5 45,0 41,0 38,0 33,0 30,5 28,0 27,5 26,5 25,5 25,5

Ni residual (HRC) 49,0 48,0 46,5 42,5 38,0 34,0 31,0 28,5 27,5 26,5 26,5 25,5

PONTOS (1/16 pol) J 13 J 14 J 15 J 16 J 18 J 20 J 22 J 24 J 26 J 28 J 30 J 32

Com Ni (HRC) 24,5 24,0 24,0 23,5 23,0 23,0 22,5 22,0 20,5 20,0 18,5 17,5

Ni residual (HRC) 25,5 25,0 24,5 24,0 22,5 21,5 21,0 20,5 19,5 19,5 19,0 19,0

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Figura 3.2 Resultado de dureza do teste Jominy prático. Mínimo e máximo representam os limites

exigidos pelo cliente.

Os corpos de provas devidamente retificados foram ensaiados em um durômetro

utilizando a escala Rockwell C, segundo Norma NBR NM 146∕98. A calibração deste

equipamento pode apresentar erros de medição de aproximadamente 1,0 HRC. Portanto, de

acordo com os resultados obtidos, pode-se considerar que a alteração da concentração de

níquel nesse aço não tem significância para a propriedade mecânica em estudo, a

temperabilidade. Sendo possível a retirada da adição desse elemento de alto custo.

3.2 Resultados do Jominy teórico

O objetivo deste ensaio de temperabilidade Jominy teórico, assim como o prático, é

avaliar a influência do níquel e dos outros elementos químicos na capacidade do material

formar martensita, além de comparar os resultados dos dois ensaios e verificar o grau de

assertividade do modelamento matemático.

Para esse modelamento matemático, foran desenvolvidas equações a partir de um

banco de dados de ensaios práticos, e para cada ponto Jominy, exigido pelo cliente,

considerado apenas os elementos com significância estatística. As equações são:

J 1/16‖ = 40,9 + 17,6 C + 6,56 Si + 18,2 Mo - 160 N - 228 Ti

J 2/16‖ = 38,8 + 16,7 C + 10,3 Si - 4,53 Ni + 19,8 Mo - 125 N - 185 Ti

J 3/16‖ = 31,0 + 20,5 C + 13,7 Si + 28,8 Mo + 135 Al + 55,2 P - 402 N - 91,7 Nb

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J 4/19‖ = 17,7 + 28,7 C + 29,3 Si + 55,0 Mo + 214 Al - 654 N - 153 Nb

J 5/16‖ = (- 2,9) + 45,0 C + 36,3 Si + 9,88 Mn + 13,3 Ni + 64,5 Mo + 251 Al - 152 S -

667 N - 547 Ti

J 6/16‖ = (- 3,8) + 37,8 C + 34,1 Si + 11,8 Mn + 13,8 Ni + 51,8 Mo + 163 Al - 149 S -

482 N - 477 Ti

J 7/16‖ = (- 4,37) + 29,4 C + 31,2 Si + 10,1 Mn + 12,8 Cr + 39,0 Mo + 108 Al - 120 S

- 366 N - 505 Ti

J 8/16‖ = 4,51 + 28,8 C + 28,0 Si + 12,6 Cr + 40,4 Mo + 87,6 Al + 90,5 P - 92,5 S -

347 N - 527 Ti

J 9/16‖ = (- 3,44) + 19,6 C + 21,8 Si + 7,31 Mn + 18,2 Cr + 33,4 Mo + 91,2 Al + 86,6

P - 76,0 S - 321 N - 476 Ti

J 10/16‖ = 8,00 + 17,6 Si + 18,0 Cr + 30,5 Mo + 64,5 Al + 133 P - 272 N - 421 Ti

J 11/16‖ = 3,39 + 15,8 C + 20,0 Si + 15,6 Cr + 32,7 Mo + 69,3 Al + 154 P - 311 N -

474 Ti

J 12/16‖ = (- 0,94) + 14,7 Si + 7,33 Mn + 16,1 Cr + 29,9 Mo + 85,0 Al + 144 P - 248

N - 348 Ti

J 14/16‖ = 0,14 + 22,0 C + 19,9 Si + 7,14 Mn + 13,5 Cr + 19,2 Mo - 77,3 S - 214 N -

312 Ti

J 16/16‖ = (- 3,18) + 22,3 C + 12,1 Si + 7,95 Mn + 16,7 Cr + 20,9 Mo + 62,1 Al - 84,5

S - 262 N

J 20/16‖ = (- 3,71) + 16,4 C + 13,4 Si + 6,28 Mn + 13,8 Cr + 32,9 Mo + 67,9 Al - 350

N

J 24/16‖ = 1,10 + 23,0 C + 15,1 Si + 7,01 Cr + 39,9 Mo + 7,15 Cu + 49,3 Al - 204 N

Observa-se que os elementos nitrogênio, titânio e nióbio apresentam coeficientes

negativos. Esse fenômeno se explica, pelo fato de que o nitrogênio combinado com o titânio

ou com o nióbio possui a característica de refinadores de grão. Um material com grãos mais

finos possui maior área de contorno de grão, região onde a difusão é facilitada devido à maior

energia presente. Sendo a transformação martensítica uma transformação adifusional, esses

elementos refinadores de grãos desfavorecem a temperabilidade. Além do que, Nb e Ti

combinam com C e N e formam carbonitretos que diminuem a concentração de C em solução

sólida os carbonitretos são sítios de nucleação da ferrita.

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O elemento de liga níquel aparece apenas em três equações e seguido de coeficientes

pouco expressivos (valores pouco distante da unidade comparados ao molibdênio e ao

alumínio, por exemplo) confirmando o fato de que para esse material o níquel é pouco

representativo no favorecimento da temperabilidade, podendo-se assim deixar de adicioná-lo

ao aço e então produzir um aço mais competitivo no mercado.

O enxofre também apresenta coeficiente negativo, pois quando combinado com manganês

há a formação de inclusões de sulfeto de manganês. As interfaces inclusões/matriz são regiões

de alta energia, que favorecem cineticamente a nucleação de ferrita pró-eutetóide,

desfavorecendo a temperabilidade desse material [28].

De acordo com a composição química das duas corridas obtiveram-se os resultados do

Jominy teórico para cada ponto exigido pelo cliente (valores representados como máximo e

mínimo). Os resultados dos dois ensaios estão comparados nas figuras 3.3 e 3.4.

Tabela 3.3 Resultado do Jominy teórico

Pontos Jominy 1/16'' 2/16'' 3/16'' 4/16'' 5/16'' 6/16'' 7/16'' 8/16''

Com Ni 48,03 46,49 45,67 41,91 38,50 34,35 31,03 29,23

Ni residual 48,03 46,95 45,53 41,74 37,46 33,35 31,30 29,47

Pontos Jominy 9/16'' 10/16'' 11/16'' 12/16'' 14/16'' 16/16'' 20/16'' 24/16''

Com Ni 27,90 26,85 26,05 25,26 24,22 23,73 22,10 20,93

Ni residual 28,06 26,92 26,13 25,30 24,41 23,75 21,99 20,94

Figura 3.3 Comparativo do Jominy teórico e prático para a corrida que teve adição de níquel.

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Figura 3.4 Comparativo do Jominy teórico e prático para a corrida que não teve adição de níquel.

O desempenho do método é avaliado mediante comparação entre curva Jominy calculada e

experimental [29]. A diferença de dureza prevista versus dureza real é influenciada entre

outros fatores por:

Erro experimental do ensaio Jominy (aceitável até 2,5 HRC);

Heterogeneidade química do aço;

O próprio método de previsão;

3.3 Resultados do diagrama CCT

De acordo com os ciclos térmicos, citados anteriormente neste trabalho, realizados para

as amostras, foram adquiridos parâmetros de dilatometria, utilizados na construção do

diagrama CCT. Para cada amostra foram obtidas as temperaturas, como mostrado nas tabelas

3.4 e 3.5, em que ocorreram transformações nas microestruturas.

Tabela 3.4 Temperatura de transformação γ + α → α + (α + Fe3C) (A1) e temperatura de austenitização

γ + α → γ (A3) para as duas corridas.

Temperaturas (°C) Com Ni Média Ni residual Média

A1 715 717 713 715 718 714 714 715

A3 831 834 828 831 828 833 836 832

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Tabela 3.5 Temperaturas de transformação para cada taxa de resfriamento para as duas corridas

Pontos Distância J

(1/16 pol)

Taxa de

Resfriamento (°C/s)

Com Ni Ni residual

F+P B M F+P B M

1 1 272 - - 401 - - 408

2 2 170 - - 393 - - 405

3 3 108 - - 396 - - 403

4 4 69 - 472 388 - 477 392

5 5 43 - 563 386 - 572 396

6 6 31 - 602 381 - 607 395

7 7 23 652 618 378 644 622 383

8 8 18 667 621 386 659 623 389

9 9 14 686 622 384 679 627 383

10 10 12 692 631 377 690 629 374

11 11 11 701 626 356 698 632 363

12 12 9 703 622 - 705 626 -

13 13 8 706 621 - 708 618 -

14 14 7 708 618 - 701 622 -

15 15 6 711 616 - 703 614 -

16 16 5,5 715 618 - 712 617 -

17 20 4 714 620 - 708 617 -

18 24 3 716 614 - 708 620 -

19 28 2 719 616 - 722 618 -

20 32 2 719 616 - 722 618 -

Observa-se que para ambas as corridas as temperaturas de transformações para todos

os microconstituintes ou fases são semelhantes, isto é, significativamente iguais. Portanto,

pode-se elaborar apenas um diagrama CCT. As linhas tracejadas correspondem às taxas de

resfriamento mostradas na tabela 3.5.

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Figura 3.5 Diagrama CCT para o aço SAE 4125.

Para cada taxa de resfriamento formou-se microconstituintes com uma determinada

dureza, já apresentada neste trabalho na tabela 1.2, e foram obtidas micrografias de alguns

pontos.

3.4 Micrografias obtidas

Neste tópico, serão apresentadas as micrografias obtidas por microscopia ótica (MO).

As figuras 3.6, 3.7 e 3.8 são do material ao qual foi adicionado níquel, já as figuras 3.9, 3.10 e

3.11 referem-se ao material que contém apenas níquel residual. A microestrutura de cada

imagem provém de diferentes taxas de resfriamento, resultando em diferentes durezas.

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Micrografias com adição de níquel

Figura 3.6 Micrografia do ponto 1, distância Jominy 1∕16‖, taxa de resfriamento de 272°C/s da corrida

com adição de níquel e dureza 48,5HRC. 100% Martensita. Ataque com Nita 2%l.

Figura 3.7 Micrografia do ponto 5, distância Jominy 5∕16‖, taxa de resfriamento de 43°C/s da corrida com

adição de níquel e dureza 38,0HRC. Martensita + Bainita. Ataque com Nital 2%.

Bainita

Martensita

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Figura 3.8 Micrografia do ponto 20, distância Jominy 32∕16‖, taxa de resfriamento de 2°C/s da corrida

com adição de níquel e dureza 17,5HRC. Ferrita + Perlita + Bainita. Ataque com Nital 2%.

Micrografias sem adição de níquel

Figura 3.9 Micrografia do ponto 1, distância Jominy 1∕16‖, taxa de resfriamento de 272°C/s da corrida

sem adição de níquel e dureza 49,0HRC. 100% Martensita. Ataque com Nital 2%.

Bainita

Perlita

Ferrita

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Figura 3.10 Micrografia do ponto 5, distância Jominy 5∕16‖, taxa de resfriamento de 43°C/s da corrida sem

adição de níquel e dureza 38,0HRC. Martensita + Bainita. Ataque com Nital 2%.

Figura 3.11 Micrografia do ponto 20, distância Jominy 32∕16‖, taxa de resfriamento de 2°C/s da corrida

com adição de níquel e dureza 19,0HRC. Ferrita + Perlita + Bainita. Ataque com Nital 2%.

Bainita

Martensita

Bainita

Perlita

Ferrita

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As micrografias do ponto 1, distância Jominy 1/16‖, tanto para a corrida com adição

de níquel quanto para a sem adição, foram resfriadas a uma taxa de 272°C/s e ocorre

predominantemente a formação de martensita. Resultado esperado devido a alta taxa de

resfriamento, que evita o processo de difusão e consequente nucleação de outras fases ou

constituintes, como ferrita e perlita. A transformação de austenita para martensita se dá por

cisalhamento, devido as altas tensões no interior do material provocadas pela têmpera . As

durezas são 48,5 HRC para a corrida com adição de níquel e 49,0 HRC para a corrida sem

adição de níquel.

As micrografias do ponto 5, distância Jominy 5/16‖, foram resfriadas a uma taxa de

43°C/s e ocorre a formação de martensita e bainita. A taxa de resfriamento sendo um pouco

menor, além do material sofrer cisalhamento devido as tensões internas geradas pelo

resfriamento rápido, permite que o carbono, antes em solução sólida na austenita, sofra

difusão e forme a bainita, que é proveniente de uma transformação difusional e também

cisalhante. As durezas para ambas corridas são de 38 HRC.

As micrografias do ponto 20, distância Jominy 32/16‖, foram resfriadas a uma taxa de

2°C/s e ocorre a formação de bainita, ferrita e perlita. O resfriamento lento favorece a difusão,

permitindo assim a nucleação e crescimento da ferrita e perlita. Porém os teores de manganês

e cromo nesse material permitem a formação de bainita, mesmo a essa taxa de resfriamento.

As durezas são 17,5 HRC para a corrida com adição de níquel e 19,0 HRC para a corrida sem

adição de níquel.

Portanto, as comparações das micrografias e durezas dos materiais em estudo

apresentam grande semelhança em relação a propriedade da temperabilidade.

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CONCLUSÃO

Neste trabalho foi estudada a propriedade temperabilidade, susceptibilidade ao

endurecimento por resfriamento rápido, do aço SAE 4125 e analisada a influência da variação

de pequenas concentrações de níquel nessa propriedade para as duas corridas, uma com

adição de níquel e outra com níquel residual da sucata utilizada na fabricação do aço. Essa

análise foi realizado pelo ensaio de temperabilidade Jominy prático, no qual não se pôde

perceber variação significativa na dureza das amostras das duas corridas citadas neste

trabalho.

Através do cálculo de temperabilidade teórico gerou-se equações matemáticas com o

intuito de analisar a influência do níquel no resultado de dureza de cada ponto Jominy e

também a influência dos outros elementos de liga. Pôde-se notar que dos dezesseis pontos que

foram gerados equações, o níquel tem influência em apenas três deles, porém é uma

influência pouco expressiva em relação a outros elementos de liga.

Através do simulador termomecânico Gleeble, identificou-se as temperaturas de início

e fim das transformações microestruturais das duas corridas analisadas. Pôde-se perceber que

as temperaturas em que ocorreram as transformações são semelhantes para as duas corridas

analisadas, caracterizando propriedade de temperabilidade semelhante para ambas.

Através do microscópio ótico, obtiveram-se imagens das microestruturas geradas a

partir do resfriamento do ensaio Jominy prático para as duas corridas em questão. Também

não há diferenças significativas na microestrutura das micrografias geradas.

Portanto, conclui-se que o níquel não é significativo para aumentar a temperabilidade

do aço SAE 4125, podendo assim excluí-lo da adição na fabricação deste aço.

Para cada 0,09% em peso de níquel (diferença de concentração de níquel das duas

corridas) tem que se adicionar em torno de 83 quilos de níquel eletrolítico (considerando que

o níquel pouco se oxida) para uma corrida de 92 toneladas. Sendo o preço do níquel

eletrolítico em torno de 35 reais por quilo, há uma economia de aproximadamente 2900 reais

por corrida. Assim, tem-se um aço economicamente mais competitivo no mercado.

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