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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura MARCOS JORGE GODOY CENTRALIDADE E HIERARQUIA DA CIDADE MÉDIA DE ALFENAS: A QUESTÃO DA ESPECIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO DESENVOLVIMENTO DO SETOR TERCIÁRIO Alfenas MG 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia Licenciatura

MARCOS JORGE GODOY

CENTRALIDADE E HIERARQUIA DA CIDADE MÉDIA DE ALFENAS:

A QUESTÃO DA ESPECIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO

DESENVOLVIMENTO DO SETOR TERCIÁRIO

Alfenas – MG

2014

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MARCOS JORGE GODOY

CENTRALIDADE E HIERARQUIA DA CIDADE MÉDIA DE ALFENAS:

A QUESTÃO DA ESPECIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO

DESENVOLVIMENTO DO SETOR TERCIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte de requisitos para obtenção de título de Licenciado em Geografia pelo Instituto de Ciências da Natureza pela Universidade Federal de Alfenas – MG, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.

Alfenas – MG

2014

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MARCOS JORGE GDOY

CENTRALIDADE E HIERARQUIA DA CIDADE MÉDIA DE ALFENAS:

A QUESTÃO DA ESPECIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO

DESENVOLVIMENTO DO SETOR TERCIÁRIO

A Banca examinadora abaixo-assinada aprova o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II e obtenção do título deLicenciado em Geografia pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL – MG).

Aprovada em:

Profº.

Instituição: Assinatura:

Profº.

Instituição: Assinatura:

Profº.

Instituição: Assinatura:

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AGRADECIMENTOS

Devo este trabalho ao meu pai, minha mãe e a cada um de meus irmãos

pelo apoio incondicional e por estarem ao meu lado em todos os momentos da

minha vida, pois certamente o que sou hoje devo a família que tenho. Um pedaço de

cada um contempla as linhas desse trabalho.

Agradeço ao Professor Flamarion Dutra Alves, quem me orientou durante a

realização desse projeto e certamente um amigo para longa data.

Agradeço a minha namorada Bruna por sempre me apoiar, pelo carinho e

paciência durante as fases boas e ruins enfrentadas durante esse percurso.

Agradeço aos bons amigos que aqui fiz e que sempre lavarei comigo.

Agradeço imensamente aos Professores do curso de Geografia da Unifal-MG que

atentaram sempre para nossa formação, sendo hoje grandes companheiros e

amigos

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RESUMO

Este trabalho busca compreender a dinâmica relacionada aos segmentos de educação e saúde na cidade média de Alfenas, e, sua colaboração para o setor terciário (serviços) do município. Tomamos como ferramenta de análise dos movimentos que incitam sobre o objeto analisado, as interações espaciais, para isso foi realizada uma releitura desse termo e seu emprego nos vários momentos da ciência geográfica até lançarmos mão do atual debate sobre as interações espaciais. A cidade de Alfenas é atualmente considerada um polo microrregional de saúde e educação por ofertar uma gama de procedimentos médico-hospitalares de alta complexidade e por compor um aparato educacional que se destaca na sua microrregião, centralizando a demanda por esses serviços tanto na sua microrregião quanto em municípios de outras microrregiões, atuando, portanto, de modo interescalar. Essa dinâmica propiciou a criação de uma rede de saúde polarizada por Alfenas, objetivando uma microrregião de saúde, sendo Alfenas a cidade centralizadora da demanda por esses serviços. Outro ponto a se destacar foi o impacto do desenvolvimento do segmento educacional sobre as transformações no espaço e na estrutura do setor terciário, que por meio da especialização funcional atribuiu nova dinâmica ao setor. Portanto, infere-se que a centralidade verificável em Alfenas está diretamente ligada a sua especialização funcional na educação e saúde que atua sobre o setor de serviços desenvolvendo a economia local e evidenciando a complexidade do aparato funcional que contribuiu para sua classificação como sendo uma cidade média. Palavras chave: Cidades médias; Centralidade; Setor Terciário; Alfenas; Interações Espaciais.

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ABSTRACT

This work proposes to understand the dynamics related to the areas of education and health

in the medium-size city of Alfenas, and their collaboration in the tertiary sector (services) in

the city. We take as analysis the tool for movements that incite on the analyzed object, the

spatial interactions, for this was held a rereading of this term and its use in the various

moments of geographical science until the current debate about the spatial interactions. The

city of Alfenas is currently considered a micro-regional center for health and education by

offering a range of medical procedures of high complexity and compose an educational

apparatus that of highlights in your microrregião, centralizing the demand for these services

both in its micro as in municipalities of other microrregiões, acting therefore interescalar

mode. This dynamic led to the creation of a health system polarized by Alfenas, aiming a

health microrregião, Alfenas being the coordinating city of demand for these services.

Another point to note was the impact of the development of educational segment on the

changes in scope and structure of the tertiary sector, which through functional specialization

gave new impetus to the sector. Therefore, it is inferred that the verifiable centrality in

Alfenas is directly linked to their functional specialization in education and health that acts on

the service sector developing the local economy and showing the complexity of the functional

apparatus that contributed to its classification as an medium-size city.

Keywords:Médium-Size Cities; Centralization; Tertiary Sector; Alfenas; Spatial Interactions.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Vista aérea da Praça Getúlio Vargas na década de 1950. A concentração dos aparatos de serviço e comércio se configurava nas suas mediações....................................18 Figura 2: Localização de Alfenas e dos territórios alagados na sua microrregião................20 Figura 3: Padrões de interações espaciais e suas variações espaço temporais..................32 Figura 4: Vias de acesso ao município de Alfenas................................................................38 Figura 5: Distribuição de escolas de nível médio no Estado de Minas Gerais no ano de 2012........................................................................................................................................40 Figura 6: Estrutura da rede de saúde de Alfenas no ano de 2006........................................44 Figura 7: Municípios da microrregião de Alfenas atendidos pelo Consórcio Cislagos..........46 Figura 8: Com exceção do município de Guaxupé os demais municípios de sua microrregião são atendidos pelo consórcio Cislagos, somando um total de oito municípios.47 Figura 9: Expansão dos serviços bancários e da rede de mercados em direção a periferia da região oeste da cidade de Alfenas....................................................................................................................................52 Figura 10: Agência Caixa Econômica Federal localizada na Av. Jovino Fernandes Sales no bairro Jardim Alvorada. Formação de um subcentro e traço do desenvolvimento do comércio em direção a periferia da cidade............................................................................................55 Figura 11: Correspondente da Caixa Econômica Federal na Av. Jovino Fernandes Sales. Dinâmica da concentração de serviços bancários.................................................................56

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LISTA DE TABELAS Tabela 1: População por município da microrregião de Alfenas (estimativa 2014)...............37 Tabela 2: Produto interno bruto no município de Alfenas referente aos anos de 2000 e 2010 (em Mil R$).............................................................................................................................39 Tabela 3: Produto interno bruto no município de Machado referente aos anos de 2000 e 2010 (em Mil R$)....................................................................................................................41 Tabela 4: listagem das instituições que fornecem curso pré-vestibular em Alfenas............41 Tabela 5: Rede escolar de ensino básico de Alfenas no ano de 2012..................................42 Tabela 6: Instituições promotoras de cursos EAD técnico e/ou superior com pólos ou sede em Alfenas..............................................................................................................................43 Tabela 7: Nº de procedimentos realizados em Alfenas pelos municípios consorciados no ano de 2014............................................................................................................................48 Tabela 8: Agências bancárias localizadas na região central da cidade de Alfenas...............49

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIA: Associação dos Comerciantes e Industriais de Alfenas

DATASUS: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

EFOA: Escola de Enfermagem e Odontologia de Alfenas

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMESA: Instituto de Medicina Especializada de Alfenas

PDR:Plano Diretor de Regionalização

REUNI: Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

SERPLAM: Serviço de Prestação de Assistência Médico-Hospitalar S.A.

SISU: Sistema de Seleção Unificada

TLC:Teoria das Localidades Centrais

UNIFAL: Universidade Federal de Alfenas

UNIFENAS: Universidade José do Rosário Vellano

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SUMÁRIO

1 -INTRODUÇÃO......................................................................................................11

1.1 -METODOLOGIA................................................................................................13

1.2 - APONTAMENTOS SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DA CIDADE DE

ALFENAS E A ESTRUTURAÇÃO DE SEU SETOR TERCIÁRIO...........................16

2 - A QUESTÃO CONCEITUAL DA CIDADE...........................................................24

3 - AS INTERAÇÕES ESPACIAS: UMA PROPOSTA TEMÁTICA..........................28

3.1 - GLOBALIZAÇÃO E A MAIOR FLUIDEZ DAS REDES URBANAS.................34

4 - ESPECIALIZAÇÃO FUNCIONAL DE ALFENAS: CENTRALIDADE E

HIERARQUIA URBANA ATRAVÉS DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGMENTOS

DE EDUCAÇÃO E SAÚDE........................................................................................37

4.1 - O SUBCENTRO COMERCIAL OESTE: BREVE ANÁLISE SOBRE O

DESENVOLVIMENTO DO APARATO DE SERVIÇOS NA PERIFERIA..................51

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................58

6 – REFERÊNCIAS....................................................................................................60

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1 – INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda a questão da especialização funcional do setor terciário

da cidade de Alfenas, com ênfase na análise dos segmentos de educação e saúde e

sua colaboração para o desenvolvimento estrutural do aporte comercial e de

serviços no intraurbano.

O município de Alfenas está localizado na mesorregião Sul/Sudoeste de

Minas Gerais e é detentor de um aparato estrutural no setor terciário que se destaca

em sua microrregião, exprimindo seu papel na hierarquia urbana regional. O nível de

complexidade que envolve o setor terciário de Alfenas é aqui analisado através do

desenvolvimento setorial da educação e saúde ao longo da história do município.

Esse diferencial do aparato funcional de serviços corrobora como sendo um

potencial indicador para sua classificação como cidade média.

Alfenas é atualmente considerada um pólo microrregional de saúde por

ofertar uma gama de procedimentos médico-hospitalares de alta complexidade

centralizando a demanda por esses serviços tanto na sua microrregião quanto em

municípios de outras microrregiões, atuando, portanto, de modo interescalar. Essa

dinâmica propiciou a criação de uma rede de saúde polarizada por Alfenas,

objetivando uma microrregião de saúde, sendo Alfenas a cidade centralizadora da

demanda por esses serviços.

O segmento de educação é visto como uma funcionalidade desenvolvida ao

longo da trajetória do município. A especialização inicial das instituições de ensino

superior em cursos nas áreas de saúde pavimentaram as bases para a própria

especialização funcional no segmento de saúde.

Atualmente a rede de ensino de Alfenas é dinamizada pelos cursos pré-

vestibulares e escolas públicas particulares que visam a preparação de alunos para

o ingresso no ensino superior ofertada pelas instituições locais. Também nota-se

que crescente demanda pelo serviço ofertado por essas instituições está atrelado

tanto com os programas de expansão e desenvolvimento das Universidades

Federais, promovendo o acesso a esses órgãos, como também pela consolidação

do papel exercido pela cidade no segmento educacional.

A análise do aparato comercial e de serviços da cidade é realizada por meio

dessa dinâmica que atua sobre a rede de educação e saúde no município, de tal

modo que pode se identificar o desenvolvimento estrutural do intraurbano pela lógica

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dos movimentos e fluxos de pessoas (VILLAÇA, 2001). Para tal apontamento, foi

analisado o PIB por setores da economia dos últimos anos e também as políticas de

desenvolvimento e de gestão que colaboraram para objetivar a especialização

funcional da cidade média de Alfenas nesses segmentos.

Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa é analisar as interações espaciais

no município de Alfenas, sobretudo a dinâmica relacionada ao setor terciário (saúde

e educação). Como objetivos específicos discutir o papel das cidades médias na

organização espacial e do caráter centralizador na região, além de discorrer sobre a

abrangência da centralidade de Alfenas no Sul de Minas, no que tange o setor

terciário. E por fim, apontar algumas discussões sobre a expansão urbana na zona

oeste da cidade de Alfenas, decorrente da criação da Unidade II da UNIFAL-MG.

As “Interações Espaciais” como procedimento metodológico contribuiu para

a compreensão da dinâmica do setor terciário de Alfenas e do desenvolvimento do

intraurbano. Para tal foi realizada uma releitura dessa temática em seus vários

momentos históricos no meio geográfico, apontando para as discussões e

colaborações como ferramenta de análise para a geografia e exprimindo, dessa

forma, a importância das interações espaciais como movimentos complementares na

produção do espaço e intrínsecos aos olhos do geógrafo e ao estudo da ciência

geografia atual.

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1.1 – METODOLOGIA

A importância que o método científico exprime sobre a pesquisa geográfica é

fundamental, pois, o método escolhido a ser utilizado na investigação norteará o

pesquisador em sua abordagem sobre uma determinada realidade. Eliseu Savério

Sposito (2004) considera três principais métodos científicos: “hipotético-dedutivo,

fenomenológico-hermenêutico e o dialético”. Essa classificação segundo o autor se

dá através da fundamentação teórica e científica produzida historicamente, os

configurando como sendo métodos. Validam-se, pois, historicamente na comunidade

científica, através de leis e categorias, assim como instrumentos e procedimentos

específicos que os compõem (SPOSITO, 2004).

A partir desse apontamento, inferimos nesse trabalho sobre a necessidade

de pensar a produção e estruturação do espaço através das interações espaciais,

pois esta é uma ferramenta base para a compreensão da dinâmica de redes. Redes

estas, que se configuram através dos fluxos e movimentos, sejam de bens, serviços,

pessoas ou informações, e, que se materializam por meio da estruturação articulada

dos territórios ou lugares, formando vias de acesso e aparatos de serviços que se

desenvolvem na mesma medida em que se dinamizam os fluxos. A partir disso, o

método hipotético-dedutivo tem melhor aceitação para a análise da questão

colocada na pesquisa. A cidade média de Alfenas é o pólo do setor terciário em que

medida? Com quais pontos/cidades Alfenas mantém uma interação espacial?

Esta pesquisa objetivou identificar e compreender a centralização e

hierarquização da cidade média de Alfenas a partir do desenvolvimento e

especialização do setor terciário, principalmente nas áreas de educação e saúde e

também através do aparato das atividades ligadas ao serviço e comércio de varejo

que se desenvolve continuamente tanto na zona central como na pericentral da

cidade (AMORIM FILHO; SENA FILHO, 2007) induzindo a uma força atrativa da

demanda pelo consumo de serviços mais especializados na sua microrregião.

Inicialmente, este trabalho consistiu em realizar uma revisão conceitual e

bibliográfica detalhada sobre os conceitos e temas que norteiam os processos de

produção espacial das cidades médias e que corroboram para com sua importância

regional, nacional e global. Para isso, foi realizada uma leitura e revisão minuciosa

dos fatores que inseriram as cidades médias na atual lógica de expansão e

reprodução do capital, como: rede urbana, políticas de desenvolvimento territorial,

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governança territorial local, desconcentração da indústria, globalização, entre outros

conceitos e temas que configuram e explicam o atual momento da sociedade.

As interações espaciais foram tomadas como procedimento de análise e

compreensão da dinâmica funcional da cidade média de Alfenas no que compete a

sua especialização do setor terciário e também as questões referentes à

centralidade e hierarquização exercida pelo recorte analisado.

Através da releitura detalhada dessa temática (Interações Espaciais) é

proposta sua revalidação como ferramenta explicativa da produção espacial,

explicitada através da importância que exerce no entendimento dos fluxos de rede.

As interações espaciais são aqui entendidas através da noção de

complementaridade, ou seja, uma força que atua sobre a oferta e demanda das

necessidades de produção e consumo, assim, enfatizando as relações entre os

pontos na rede, formados tanto pelos municípios quanto pelos pontos intraurbanos,

através dos deslocamentos.

Propomos, de tal modo, colaborar com o avanço nas discussões dessa

temática. Milton Santos (2008, p.18), afirma que “o conceito só é real na medida em

que é atual”, expondo a importância sobre a questão da reformulação conceitual,

e,logo, intrinsecamente também ao avanço da discussão temática.

A partir de uma análise da dinâmica político-econômica global buscou-se,

portanto, entender as manifestações em nível regional, como na formação e

estruturação de redes de produção e consumo que configuram os movimentos entre

os espaços, para então se chegar ao recorte local, onde foi analisada a dinâmica

que insere as cidades médias, como no caso de Alfenas - MG, nessa rede de

diferentes ordens e escalas. Buscando, desse modo, compreender como essas

políticas geridas por grandes atores do cenário econômico, agem sobre esta cidade

em questão, direcionando os modelos das políticas desenvolvimentistas em

detrimento da reprodução do capital sobre o território aqui analisado e que são

produzidas e geridas localmente através de uma governança territorial local (PIRES

et al, 2011) a qual pretendemos detalhar neste trabalho.

Foram realizadas atividades de campo no intuito de compreender

empiricamente as estruturas dos segmentos aqui abordados, assim pode-se criar

um acervo de fotografias que colaborou para o desenvolvimento dessa pesquisa.

Também foi feita a compilação dos diversos dados obtidos durante as etapas de

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produção desse trabalho a fim de correlacioná-los com as discussões teóricas

levantadas até então.

Também foram realizadas duas reuniões agendadas, uma com o

coordenador da atenção primaria da Secretaria de Saúde de Alfenas, Maurício

Durval de Sá e outra com a Secretaria Executiva do Consórcio Cislagos, Maria

Julieta Bruzadelli P. da Costa, que contribuíram para o andamento da pesquisa com

dados e explicações sobre o segmento da saúde do município.

No intuito de melhor compreender a dinamização do setor terciário no

intraurbano, foi realizada uma análise da expansão urbana na zona oeste da cidade

de Alfenas, tal estudo busca correlacionar essa nova estruturação do intraurbano

com a criação da Unidade II da Unifal.

Assim, através do trabalho de campo, buscou-se identificar o aparato de

serviços básico que atualmente vem se intensificando na região oeste da cidade. A

proposta é colaborar também para a afirmação centralidade de Alfenas sobre sua

microrregião por meio da complexidade do aparato funcional quem vem se

desenvolvendo, certificando seu papel na região e objetivando sua classificação

sendo uma como cidade média.

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1.2 – APONTAMENTOS SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DA CIDADE DE

ALFENAS E A ESTRUTURAÇÃO DE SEU SETOR TERCIÁRIO

O município de Alfenas teve início como muitas outras cidades interioranas

do país. Um modelo clássico de povoamento estruturado a partir do loteamento de

antigas fazendas.

O fortalecimento do povoado e, que, em consequência possibilitou a

formação do município, teve como marco histórico a construção da Capela em

homenagem a São José e a Nossa Senhora das Dores nos primeiros anos do

século XIX. No ano de 1832 foi criada a freguesia de Alfenas e também São José

das Dores de Alfenas, essas pequenas divisões político-administrativas são marcas

do modelo de gestão do território utilizado pelo governo português, evidenciando o

caráter histórico e cultural do modelo político-administrativo de ocupação territorial

importado pelo Brasil.

Mais tarde, no ano de 1869, o então pequeno vilarejo que vinha se formando

foi elevado à categoria de cidade, nomeada como Vila Formosa. Somente, a partir

de 1871 passou definitivamente a se chamar Alfenas.

O início do século XX trouxe grandes transformações para a cidade de

Alfenas, que passou a ser inserida em uma rede de transporte articulada, a partir da

integração com a Rede Ferroviária Sulmineira (RODRIGUES, 2011)

Vale aqui ressaltar, que segundo Villaça (2001), a estruturação das

espacialidades do intraurbano é essencialmente configurada pelos deslocamentos

de pessoas e de matéria, expressando o poder configurador do movimento humano

(expresso pela necessidade que incita o movimento) na estruturação e

desenvolvimento do intraurbano.

O espaço intraurbano [...] é estruturado fundamentalmente pelas condições de descolamento do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como no deslocamento casa/trabalho –, seja enquanto consumidor – reprodução da força de trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc. (VILLAÇA, 2001. p. 20)

Portanto, partindo de tal premissa, pode-se inferir que ocorre uma

aceleração do processo de estruturação intraurbana a partir da inserção de cidade

de Alfenas na rede ferroviária brasileira. Pois a circulação de pessoas e produtos em

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torno desse aparato vinculado principalmente a exportação de café potencializou o

desenvolvimento estrutural da cidade com base nas relações sociais e de mercado

que se concretizavam na circunvizinhança da estação.

A construção de um ramal em conjunto a expansão da linha férrea fortaleceu

a inserção de Alfenas em uma rede de cidades através da comunicação e mais

fortemente também se analisarmos através da pequena rede fluvial que passou a

integrar essa malha de transporte. Como apontado por Rodrigues (2011):

A partir de 1914, duas linhas de navegação fluvial estavam integradas à rede ferroviária: a Navegação Fluvial do Rio Sapucaí e a Viação Fluvial do Rio Sapucaí. Ambas serviam os municípios de Alfenas, Dores da Boa Esperança, Campos Gerais, Carmo do Rio Claro e parte de Guapé, ligando o porto de Fama (que então era distrito de Paraguaçu) ao Porto Carrito e Porto Belo, em Carmo do Rio Claro. Elas estavam "encravadas" entre o Sul e o Oeste de Minas. (RODRIGUES, 2011. p. 14)

Do mesmo modo que David Harvey (1992) concebe as transformações no

“espaço-tempo” por meio do desenvolvimento técnica, podemos incitar aqui que

esse encurtamento do espaço-tempo foi pontualmente apreendido pelo Município de

Alfenas por meio desse momento histórico que o inseriu num modelo em rede,

mesmo essa ainda sendo pouco ramificada.

A navegação nos rios da região foi de grande importância para a

estruturação espacial de Alfenas, referindo-se a sua integração em uma rede de

escala microrregional. A escoação de produtos e locomoção de pessoas através da

navegação fluvial pelo Rio Sapucaí perdurou até meados da década de 1940

(RODRIGUES, 2011), cobrindo um trecho que ia do distrito de Fama até Carmo do

Rio Claro, estabelecendo pequenos portos ao decorrer desse trajeto.

A primeira metade do século XX é um período significante em relação à

produção espacial do município de Alfenas, pautada principalmente pela

estruturação de um arranjo tendenciosamente mais complexo. Esse arranjo

estruturou-se em torno da Igreja Matriz São José, localizada em uma área mais

elevada da cidade e que foi o eixo orientador do crescimento urbano do município.

Segundo Rodrigues (2011), é nesse contexto que urbanização é

impulsionada pelo aparato urbano que vinha sendo construído e aglutinado ao redor

da Igreja Matriz São José.

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As edificações se aglutinavam na porção central da cidade, aos arredores da

Praça Getúlio Vargas (Figura 1), produzindo uma aceleração das espacialidades

urbanas, como: O cinema (Cine Teatro Alfenas) inaugurado em 1943, que servia de

instrumento de lazer e diversão para a população local e regional; a construção do

prédio da Prefeitura que representou o fortalecimento do poder político local perante

a sociedade; o prédio Clube XV no contorno da Praça Getúlio Vargas que instituiu-

se como parte do arranjo de lazer de uma pequena elite local; O hospital Santa Casa

de Alfenas fundado em 14 de julho 1907 contribuiu, juntamente coma criação da

Escola de Odontologia e Farmácia de Alfenas (EFOA) fundada no ano de 1914 e

que futuramente viria a se transformar na Universidade Federal de Alfenas(UNIFAL),

a desenvolver um arranjo central de edificações e aparatos funcionais criando uma

rede de pontos por onde a circulação de pessoas tanto do município quanto da

região fluíam e estruturava o espaço intraurbano da cidade (VILLAÇA, 2001).

Figura 1: Vista aérea da Praça Getúlio Vargas na década de 1950. A concentração dos aparatos de serviço e comércio se configurava nas suas mediações. Fonte: Arquivo pessoal do Professor Francisco Rocha.

A oferta de serviços mais bem qualificados regionalmente serviu

consequentemente para a atração ao consumo desse aparato que se estruturava e

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ao mesmo tempo a circulação de pessoas que ali se realizava fazia desenvolver um

setor de serviços complementares para atender esse fluxo. Portanto, a

especialização da cidade nos ramos de educação e saúde decorre já desse

momento.

Às décadas de 1950 e 1960 podemos inferir que as atribuições de políticas

desenvolvimentistas pautadas na industrialização acelerada dos grandes centros,

promovendo um modo de vida urbanizado atrelado ao contexto nacional de

integração atuaram significativamente sobre a cidade de Alfenas. A proximidade

com os grandes centros urbanos intensificou esse processo devido a facilidade de

locomoção através das vias de acesso por onde corriam os fluxos de pessoas,

informações, bens e serviços.

Em relação às grandes transformações orientadas pelas políticas de

integração nacional e desenvolvimento industrial, a região, num primeiro momento

viu sua estrutura territorial ser alterada pela criação do Lago de Furnas. Projeto este

determinado por Juscelino Kubitschek no ano de 1957 através do decreto 41.066 de

Fevereiro1, no qual previa a construção da barragem e usina hidrelétrica de Furnas,

inicialmente com sede administrativa na cidade de Passos.

Essa obra foi em parte responsável pela desativação da linha férrea que

configurava o arranjo regional de transporte. Ao início de suas operações, no ano de

1963, parte do território de 34 municípios foram alagados (Figura 2), deixando os

trilhos da ferrovia de baixo d’água e transformando bruscamente a paisagem da

região.

1Subsecretaria de informações do Senado Federal:

http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=172248

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Figura 2: Localização de Alfenas e dos territórios alagados na sua microrregião. Fonte:Prefeitura Municipal de Alfenas (2006)

Tal projeto tinha como objetivo promover grandes investimentos no setor

energético no Brasil, buscando sanar a demanda da indústria até então

regionalmente concentrada e assim acelerar o processo de desenvolvimento

econômico pautado principalmente sobre esse setor, servindo os estados de São

Paulo, Rio de Janeiro e algumas regiões de Minas Gerais.

A segunda metade do século XX foi a que presenciou, sem dúvidas, as

maiores transformações no estrutura do espaço intraurbano. Também podemos

destacar tais transformações no modo de vida da sociedade orientadas por uma

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lógica maior, externa ao território nacional, ou seja, a reestruturação do modelo de

produção capitalista em nível global devido à “crise do fordismo” nos anos 1960 e

1970 (BENKO, 2002). Esse processo desencadeou uma trama de novas alternativas

de incorporação de gestão de produção mais flexíveis para superar os limites do

então enrijecido modelo fordista de produção e gerenciamento, tal episódio teve

grande impacto na reestruturação do modelo de produção e gestão econômico

mundial, estendendo sua lógica para novos mercados e territórios (BENKO, 2002).

Alfenas vivenciou esse momento principalmente através de sua inserção no

esquema de produção e consumo identificado aqui pelo processo de

descentralização da indústria. A concretização de um aparato industrial se fez

presente nesse momento junto com a especialização e desenvolvimento do setor

terciário. A modernização no campo e na cidade, marca do “meio técnico, cientifico e

informacional” (SANTOS, 2006) impacta sobre a reprodução espacial do município

na forma de recriar e adaptar espacialidades para corresponder ao processo de

integração à globalização.

No segmento educacional, podemos conferir que a federalização da então

Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas no ano de 1960 norteou um programa

desenvolvimentista no setor educacional da cidade, acarretando nos anos seguintes

com a criação do curso de Enfermagem e a ampliação das vagas ofertadas pela

instituição (CORRÊA; AVELINO, 2014).

Impulsionada por esse nicho de mercado então crescente na cidade deu-se

a criação da Universidade Jose do Rosário Vellano (UNIFENAS) no ano de 1972.

Essa instituição de iniciativa privada firmou o caminho para a especialização no

segmento de educação ofertando cursos também diferenciais para a região e

expandindo seu complexo educacional para mais três unidades no ano de 1993.

Nesse período foram criados os campi de Belo Horizonte, Campo Belo e Divinópolis

e no ano de 1995 estendendo-separa a cidade de Poços de Caldas.

Com ampliação de cursos na área da saúde por essa instituição e a

crescente demanda por esses serviços, foi inaugurado, pelo mesmo grupo, no ano

de 1992 o Hospital Universitário Alzira Vellano. Essa instituição tem se destacado

desde então por oferecer um serviço diferencial para a qualificação profissional e

também de atendimento à população local e regional.

Nesse mesmo período, por meio do grupo SERPRAM (Serviço de Prestação

de Assistência Médico-Hospitalar S.A.), é inaugurado o Hospital IMESA (Instituto de

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Medicina Especializada de Alfenas) que visa oferecer um serviço diferenciado na

região, segmentado para uma classe exclusiva no que compete ao acesso à saúde

e qualidade de vida.

Ao que compreende o setor Educacional na economia alfenense e ao

desenvolvimento local e regional é notório a contribuição do programa de “expansão

das universidades e a interiorização do ensino superior federal promovida pelo

Presidente da República – Luiz Inácio Lula da Silva” (CORRÊA; AVELINO, 2014. p.

45). A transformação da então EFOA em universidade no ano de 2005 possibilitou a

ampliação no número de vagas e cursos ofertados, atraindo para a cidade um

contingente de estudantes e servidores que implantaram uma nova dinâmica sobre o

setor terciário de Alfenas.

Foram criados apenas no ano de 2005 oitenta (80) vagas para docentes,

criando 425 vagas para com os novos cursos abertos através da adesão ao

Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais (REUNI).

Até o ano de 2005, a instituição ofertava 340 vagas em cursos de graduação presenciais, sendo apenas 20 vagas (5,88%) para o período noturno. Logo após a transformação da Efoa/Ceufe em Universidade, a sua participação no Programa de Expansão – FASE I, coordenado pelo MEC, possibilitou a criação, no ano de 2006, de 8 cursos de graduação: Ciência da Computação, Licenciatura em Física, Licenciatura em Matemática, Pedagogia, Licenciatura em Química, Licenciatura em Geografia, Bacharelado em Geografia, Biotecnologia. (CORRÊA; AVELINO, 2014. p. 45)

Esse processo se estende até os momentos atuais, pois em 2007 fora

aprovada a construção de mais um campus no bairro Santa Clara localizado na

periferia da cidade e este ainda se encontra em pleno processo de construção. O

Programa de Expansão propunha a horizontalidade no acesso ao ensino

superior,visto que tal objetivo está sendo realmente cumprido, pois, atrelado como

outros programas governamentais de acesso à educação superior, como o Sistema

de Seleção Unificada (SISU), é significante o número de estudante que migram

anualmente para a cidade de Alfenas impactando diretamente sobre o comércio

local.

Em relação àquestão da expansão da universidade em direção a periferia,

esta trouxe consigo elevados questionamentos, a respeito da especulação

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imobiliária e ao real acesso da comunidade local à universidade quanto ao uso do

espaço público e aos cursos e serviços que ela dispõe, visto, sobretudo, que com a

chegada da universidade no bairro foram reestruturadas as relações entre os

agentes locais produtores do espaço urbano em função de atender a esse novo

contexto que ali se configura e se reproduz, como: os agentes mobiliários atuando

na especulação de imóveis; o governo local por meio da infraestrutura que é

direcionada para atender tanto a implantação da universidade quanto ao seu

desenvolvimento; a população residente que utiliza e mantém relações intrínsecas a

esses espaços; os proprietários fundiários, na busca de extrair o maior valor efetivo

da terra; e aos demais empresários do comércio local que visam efetivar lucros

através da estruturação do arranjo desenvolvido(SPOSITO, 2006).

Portanto, o desenvolvimento do setor terciário orientado principalmente pela

especialização e oferta de serviços nos nas áreas de educação e saúde, eleva a

importância que Alfenas exprime sobre sua microrregião, podendo ser classificada

como uma cidade média funcionalmente diversificada e centralizadora de uma

demanda microrregional. Trataremos, assim, tais aspectos com maiores detalhesao

decorrer do trabalho.

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2 – A QUESTÃO CONCEITUAL DA CIDADE MÉDIA

Para compreendermos as várias dimensões que tomam as discussões a

respeito do conceito que melhor define a cidade, bem como sua estrutura e

dinâmica, devemos primeiramente tomar nota do que é uma cidade no contexto

brasileiro, pois os critérios adotados para determinar o que é uma cidade variam de

acordo com a legislação de cada país. No Brasil, a implementação do Decreto-Lei nº

311, de 1938 (e em vigor até nos dias atuais), determina que qualquer sede de

município é uma cidade (SPOSITO, 2006a), logo o mesmo número tanto de

municípios quanto de cidades, exprimindo o critério político-administrativo adotado

para delimitação do tema.

Contudo, vale ressaltar que a definição e classificação de cidade como um

objeto de estudo no campo de ciência geográfica não é algo certamente fácil. As

discussões que abordam as classificaçõesdos diferentes tipos de cidade por muito

tempo se baseou quase exclusivamente pelo critério populacional, essa

denominação quantitativa que pairou por longa data sobre a determinação da

classificação das cidades médias pode ser verificada em diversos discursos de

pesquisadores, instituições e organizações.

Moacir M. F. Silva (1946), em trabalho publicado na Revista Brasileira de

Geografia no ano de 1946, na tentativa de classificar as cidades brasileiras aponta

como critério definidor a “população absoluta”.

[...] sobretudopara fins práticos, imediatos, melhor classificação, a mais simples, a mais clara e a mais objetiva, a que leva em conta apenas as populações absolutas das cidades, independente das extensões, das formas e de quaisquer aspectos urbanos ou urbanísticos. (SILVA, 1946. p. 290)

Silva (1946), desse modo refuta todo e qualquer outro critério na

classificação das cidades que não seja a mensuração populacional, selecionando,

portanto, como único e determinável o critério da “população absoluta”. Silva (1946),

ainda estabelece e propõe níveis diferentes para cada grande grupo de cidades

(grandes, médias e pequenas). Sendo as cidades medias classificadas em dois

níveis: as que possuem de 50.000 a 100.00 habitantes e as que possuem de

100.000 a 250.000. (SILVA, 1946).

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“O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)também adota o

critério demográfico e define como médias as cidades com população entre 100.000

e 500.000 habitantes” (FRANÇA et al, 2009. p. 56). A classificação com base em

quantificação numérica da população como critério central pode mascarar a real

dinâmica da cidade analisada, pois, de certo modo, passam uma imagem de que

quanto maior a população mais complexa é a cidade, refutando em primeira mão,

seja direta ou indiretamente, quaisquer outros fatores que atuam sobre a dinâmica

da cidade analisada, sejam esses de ordem política, econômica cultural ou social

que compõem a produção do espaço urbano.

Roberto Lobato Corrêa (1989) apresenta estruturalmente a cidade como

sendo “fragmentada, articulada, reflexo e condicionante social, a cidade também é o

lugar onde as diversas classes sociais vivem e se reproduzem” (CORRÊA, 1989. p.

9)

A complexidade que envolve a definição desse conceito é expressiva, pois

trata do levantamento de diversos critérios que se relacionam e se articulam na

produção desse espaço (CORRÊA, 2007). Nesse sentido, a cidade pode ser

representada através de um conjunto de indicadores, como: a densidade de sua

infraestrutura e do aglomerado urbano, a complexidade do seu arranjo (pólos

industriais e complexos comerciais), a estrutura e nível das funcionalidades

ofertadas pela cidade, seu papel na rede urbana etc. (SPOSITO, 2001).

Os níveis de complexidade da cidade, desse modo,evidenciam a dinâmica

da divisão territorial do trabalho, ou seja, na forma em que o espaço é recriado em

diversos momentos do tempo segundo as necessidades sociais de produção dentro

da lógica do capital (LEFEBVRE, 1991). Sendo recriada a cada momento através da

relação entre os atores produtores do espaço, exprimindo o poder que a cidade

emana por compor no seio de sua configuração o estreitamento das relações sociais

que propiciam a transformação acelerada do espaço urbano.

O tamanho demográfico é um importante e válido critério para análise das

cidades e contribui, juntamente com outros critérios, de modo a comparar,

compreender e classificar as cidades médias. O tamanho demográfico auxilia,

portanto, na compreensão do espaço urbano. Pois, se agrupado a outros critérios

possibilita maior clareza na compreensão do complexo e dinâmico emaranhado de

relações sociais, políticas e econômicas e culturais que interagem dentro do espaço

urbano.

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Esta pulsação que emana do intraurbano é notória para delimitar as

complexidades organizacionais dos centros urbanos, assim como é também

complementar a questão da infraestrutura nos níveis qualitativos e quantitativos para

atender a um projeto de desenvolvimento estrutural do intraurbano. Por exemplo, o

estudo e análise dos processos que ocorrem nas periferias, como a identificação das

funções exercidas por elas, e seu papel na economia local, bem como a exclusão

resultante dos processos de desenvolvimento do capital que impera no meio social,

verificado na teoria do desenvolvimento desigual e combinado (TROTSKY)2,

culminado pelo caráter contraditório presente na reprodução espacial.

É necessário pensar também na abrangência das funções urbanas no

detalhamento das cidades médias, ou seja, o nível de bens e serviços ofertados pela

cidade e sua articulação com outros centros. A grande concentração de atividades

funcionais desempenhadas pela cidade caracterizará sua influência na rede urbana

e desse modo torna-se possível identificar as cidades médias a partir da sua zona

de polarização, complexidade e nível das funções por ela ofertadas (CORRÊA,

2005).

A intensidade dos fluxos de consumo dos serviços ofertados pela cidade é

determinante para se estabelecer uma relação com a hierarquia urbana local e

consequentemente com seu arranjo de produção e distribuição dos serviços e

produtos ofertados (CORRÊA, 2005). De tal modo, que a importância na apuração

das funções e seu nível de complexidade são certamente fundamentais como

critérios de classificação das cidades médias.

Levando Sposito (2001) a priorizar a importância da classificação das

cidades médias quanto ao seu papel funcional no desenvolvimento local e regional

através da especialização que ela dispõe e sua inserção na rede urbana.

[...] podemos caracterizar as “cidades médias”, afirmando que a classificação delas, pelo enfoque funcional, sempre esteve associada à definição de seus papeis regionais e ao potencial de comunicação e articulação proporcionado por suas situações geográficas, tendo o consumo um papel mais importante que a produção na estruturação

2 Teoria do Desenvolvimento Desigual e Combinado elaborada por Leon Trotsky onde aborda a

coexistência de forças contraditórias que atuam na reprodução desigual dos territórios, característica intrínseca ao modo de produção capitalista. Essa desigualdade no ritmo de desenvolvimento dos territórios (fases de desenvolvimento) é acompanhada de uma combinação contraditória, que aproxima as etapas de desenvolvimento, postas lado a lado, combinando o arcaico e o moderno num mesmo quadro.

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dos fluxos que definem o papel intermediário dessas cidades. (SPOSITO, 2001, p. 635)

Ficam perceptíveis assim as formas que configuram a especialização da mão

de obra em nível regional. A grande concentração demográfica influi junto a

diversidade das funcionalidades e serviços ofertados pela cidade média e a

concentração e centralização econômica por ela exercida num aparato expressivo e

dinâmico, integrador e formador de redes de articulação com outras cidades.

Sendo as cidades com um maior grau de desenvolvimento dos quesitos

listados acima, polarizadora das demais que envolvem sua hinterlândia. Podendo

ainda se destacar por funcionalidades específicas que englobam certo nível de

aperfeiçoamento que somente se dispõe em tal localidade.

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3 – INTERAÇÕES ESPACIAIS: UMA PROPOSTA TEMÁTICA

Ao que se sabe sobre a origem do termo aqui indagado, a primeira nota

explanada sobre a temática das interações espaciais (do inglês SpatialInteractions)

foi através do trabalho do geógrafo Edward Ullman meados da década de 1950.

Ullman apresentou a temática das interações espaciais como forma de definição da

interdependência entre dois ou mais lugares, ou seja, uma forma de analisar a

produção do espaço a partir das interações entre determinados pontos no espaço

geográfico, incitando uma noção de troca e interdependência de lugares.

Ullman nesse momento faria um resgate do pensamento de Hartshorne

(1978)no que confere a “diferenciação de áreas” e do modelo analítico de La Blache

(1845-1918) que propunha seu conceito de “região concreta” (CARVALHO, 2002).

Hartshorne (1978) criticava a forma pela qual era vista a geografia reduzida a uma

concepção simplista de “diferenciação de áreas”. Sendo explicada e banalizada pelo

critério de sistematização dos elementos, principalmente os naturais, dando pouca

ou quase nenhuma preocupação à análise da produção social e seus movimentos.

Com a introdução do homem na cena, esse aspecto dinâmico do caráter das áreas se torna muito mais importante, porque constitui um dos atributos particulares do homem o fato de que ele não apenas se desloca de um lugar para o outro, mas também põe as coisas em movimento. Por conseguinte, é sobretudo em seus aspectos humanos que as áreas diferem não apenas em sua morfologia, mas, igualmente, no que Ritter denominou sua fisiologia. Entretanto, para evitar qualquer analogia com os organismos vivos, seria preferível usar a expressão “relações funcionais”, que envolve movimento de umas áreas para outras. (HARTSHORNE, 1978, p. 20)

Hartshorne apurou que a própria conotação da palavra diferenciação induzia

o sentido de “diferenciar”, desse modo, ficando impregnado sobre o julgamento do

censo comum, o “fazer geografia” da época.

A maior parte das objeções levantadas contra o conceito identificado pela referida expressão foram dirigidos para aquilo que o crítico infere meramente através de sua interpretação das palavras que a constituem. Se as inferências do crítico o levarem a conclusões inaceitáveis, ele porá de lado não só a expressão mas também o conceito que ela denota. (HARTSHORNE, 1978, p. 13)

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Portanto, para Hartshorne (1978) a forma com que os próprios geógrafos

detinham a ideia sobre a expressão de diferenciação de áreas tinha de ser

superada. Não mais se podia pensar a geografia como uma mera descrição das

diferentes áreas e componentes do planeta, mas sim validar sua forma sobre a

égide de uma ciência do estudo e análise de “variações diversas”, que ocorrem entre

o homem e o meio natural, e caberia ao geógrafo o olhar minucioso sobre o objeto

analisado, pois a amplitude do próprio campo da ciência geográfica incita esse olhar.

Qualquer que seja o grau de integração que for estudado – desde o tópico até o regional – cabe ao investigador ter em mente, desde o início, se o seu propósito consiste primordialmente em desenvolver conclusões genéricas ou em examinar um caso individual. (HARTSHORNE, 1978, p. 173)

Hartshorne, assim, pregava o papel de liberdade do geógrafo. A

diferenciação das áreas poderiam então estar sujeitas a inferências dedutivas do

investigador. Para Hartshorne, esse avanço sobre o estudo da diferenciação das

áreas possibilitaria para o geógrafo entender a relação entre os fenômenos que se

relacionam em uma dada área, assim se poderia compreender o caráter total dessa

área (HARTSHORNE, 1978), ou seja, inter-relacionando os aspectos e elementos,

e, dessa forma, saindo do ostracismo de criar enciclopédias descritivas.

Ullman, em seus estudos, faz um resgate da concepção hartshorniana sobre

a diferenciação de áreas, e propõe mudanças para melhor condizer com a aplicação

do termo no estudo e análise dos fenômenos espaciais. Por meio de uma leitura

geográfica do termo “complementaridade”, do qual o definiu como sendo uma

complementação funcional entre regiões separadas, ou seja, duas regiões

articuladas através de funções complementares a cada uma, assim, fazendo-as

dependentes através da necessidade diferencial entre os espaços. Nesse sentido,

Edward Ullman usou o termo “complementaridade” para descrever uma das bases

da interação espacial (GREGORY et al., 2005).

Ullman classificou sua abordagem na forma de interações espaciais, pois

notou que o próprio sentido da palavra “interações” correspondia a uma noção de

“reciprocidade”, denotada de “ação e movimento”. Levando em conta, porém, que

essa noção de reciprocidade era assimétrica, dando diferenciação da velocidade e

intensidade dos movimentos de um lugar para outro.

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A palavra “espaço”, que complementa o termo de interação e dá caráter

geográfico na amplitude do termo, ressalta o valor da ciência e pressupõe uma

análise entre lugares que tem suas configurações a partir das interações que atuam

sobre sua forma, ou seja, de modo genérico, caracteriza um processo dinâmico de

fluxos de um local para o outro e a interdependência de regiões geográficas.

Segundo Catão et al. (2010), a idéia almejada por Ullman, era de fornecer à

ciência geográfica um instrumento para entendimento e análise espacial. Ullman

observou que através da temática das interações espaciais poder-se-ia então

conceber unidade a esta ciência. Por outro lado, esse objetivo não foi alcançado,

restando apenas uma fragmentação na utilização dessa temática entre as várias

vertentes da geografia. (CATÃO et al., 2010)

No contexto do desenvolvimento desse pensamento, que desdobrou na

fragmentação da temática das interações espaciais, temos uma incorporação dessa

temática por uma geografia quantitativa, fortemente disseminada nas décadas de

1960 e 1970, baseada fortemente em números e estatísticas, e que buscava

evidenciar as características expressas pelo espaço através da sistematização e

quantificação de dados.

A exemplificar esse contexto no estudo da população, vimos que nesse

momento suas características foram determinadas através de dados que

manifestassem seu crescimento, movimento e desenvolvimento baseado em um

agrupamento de dados agrupados que apenas reproduziam e informavam uma

geografia de análise quantificadora e qualificadora.

No Brasil, Roberto Lobato Corrêa (1997) retoma a discussão das interações

espaciais em seus estudos sobre as redes urbanas.

Corrêa (1997), ao discorrer sobre as interações espaciais, parte da

concepção de que são definidas como sendo o processo que permeia o contato

social, onde então se produzem formas, com funções orientadas pelas necessidades

específicas a esse entrelaçamento social, ou seja, uma espacialidade configurada

pelas funcionalidades que as relações impõem sobre os espaços.

As interações espaciais constituem um amplo e complexo conjunto de deslocamento de pessoas, mercadorias, capital e informação sobre o espaço geográfico. Podem apresentar maior ou menor intensidade, variar segundo a frequência de ocorrência e, conforme a distância e direção, caracterizar-se por diversos propósitos e se

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realizar através de diversos meios e velocidades. (CORRÊA, 1997. p. 279)

Portanto, para Roberto Lobato Corrêa (1997), a questão das interações

espaciais pressupõe uma dinâmica de movimentos sobre um dado espaço, e que

irão configurá-lo conforme a intensidade e complexidade que esse emaranhado de

fluxos e contatos se dinamizam e interagem, ou seja, uma geografia de redes,

integrada e sistêmica. Esse processo faz parte do movimento de “transformação

social” (CORRÊA, 1997) e é através dele que também são produzidos e

reproduzidos os espaços, evidenciando as necessidades históricas da sociedade em

materializar e configurar seus espaços de vivência.

São nesses movimentos de articulações e vivências sociais, que se

constituem as interações espaciais.

As formas criadas a partir desse conjunto de interações tendem a fomentar

redes articuladas por funcionalidades e fluxos assimétricos. Tais funcionalidades

podem ser vistas como base para a produção dos demais componentes que se

materializarão sobre o tecido territorial, criando meios para que a reprodução

socioespacial ocorra dinâmica e continuamente.

Pode-se inferir aqui, que o motor propulsor desse processo, que produz

formas e move os agentes em direção a sua própria reprodução e articulação

espacial, é basicamente a economia.

Desse modo, podemos incitar que a forma, ou melhor, os caminhos por onde

esses fluxos, relações e/ou interações, melhor dito, decorrem, são representados

através de uma rede urbana.

A assimetria das interações espaciais, aqui visualizada através dos fluxos da

distribuição de bens, serviços, mercadorias, pessoas e informações, evidencia um

emaranhado de caminhos, articulados por uma ordem hierárquica, por onde se

conectam os centros urbanos e servem de base para a movimentação, circulação e

troca dos bens, serviços, mercadorias, pessoas e informações de um local para o

outro. Esse processo dinâmico e contínuo constitui uma teia que configura e articula

o nó da rede.

A rede urbana é uma forma espacial, isto é, uma expressão fenomênica particular de processos sociais que se realizam em um amplo território envolvendo mediações diversas que se verificam nas cidades. (CORRÊA, 2006, p. 37)

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Podemos dizer, portanto, que a rede urbana é uma representação espacial

dos caminhos que ligam e conectam os centros urbanos e seu grau de

complexidade irá depender dos níveis de aperfeiçoamento das funcionalidades que

as cidades ofertam. Segundo Corrêa (2004), “é através da forma que uma função se

realiza, no caso tratando-se de funções urbanas.” (CORRÊA, 2006, p. 37).

Assim, a melhor definição de rede urbana, e, que segundo Corrêa (2004)

explicita sua dinâmica e interação espacial, é de que a rede urbana é “um conjunto

funcionalmente articulado de centros urbanos e suas hinterlândias, envolvendo uma

complexa diferenciação entre cidades” (CORRÊA, 2006, p. 7).

Corrêa apresenta que as redes geográficas são, em dado momento de

análise, “as formas com quais as interações espaciais se verificam” (CORRÊA,

1997, p. 295). Essa constatação pode ser vista na representação dos padrões de

interações espaciais (FIGURA 3) e pela lógica das interações segundo suas

variações espaço temporais apresentada por Corrêa (1997).

Figura 3: Padrões de interações espaciais e suas variações espaço temporais Fonte: Corrêa et al. (1997)

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Segundo Corrêa (1997), as interações espaciais tendem a fluir em direção a

um centro nodal, essa característica apontada por Corrêa evidencia a centralidade

dos arranjos funcionais. Pois, segundo ele, os fluxos tendem a se orientar pela

ordem expressa pela localidade que possui maior peso e influência sobre as outras

(CORRÊA, 1997). Essa teoria das localidades centrais de 1933, formulada por

Christaller, é repensada por Corrêa, através da incorporação da teoria numa visão

crítica, pautada sobre a análise dos processos de reprodução da sociedade

capitalista, na contradição dos movimentos no espaço em detrimento de uma lógica

que “nega e transforma as coisas” (CORRÊA, 2005).

Nesse sentido, é notório ressaltar que as interações espaciais são

influenciadas e sofrem alterações, muito devido à localização das cidades dentro do

arranjo e suas especializações funcionais, pois se um centro urbano mais afastado

tem expressamente suas funções menos desenvolvidas, logo, sua articulação dentro

da rede será menor, buscando estreitar relações com outros centros que o

favoreçam.

Desse modo, fica expressa a importância dessa temática para a análise e

compreensão dos movimentos que configuram a produção espacial. Tal releitura

histórica sobre as interações espaciais e sua apropriação pelos vários momentos e

correntes do pensamento geográfico apontam para a importância desse tema no

tratamento desta pesquisa geográfica.

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3.1 – A GLOBALIZAÇÃO E A MAIOR FLUIDEZ DAS REDES URBANAS

Para melhor compreensão do processo de globalização é necessário

compreender os momentos iniciais que desencadearam essa nova fase do

capitalismo moderno.

Mesmo antes da crise do modelo de produção fordista na década 1970, o

sistema capitalista evidenciou traços claros na esfera social e nas relações de

trabalho da necessidade de reestruturação de seu modelo produtivo. A sociedade

passava por um período de transformações do modo de vida, a saturação do modelo

é retratada na esfera social através do acirramento das lutas de classes. Nesse

sentido, o “taylorismo/fordismo” torna-se, portanto, improdutivo, devido à

massificação dos movimentos sociais, mobilizações nas fábricas e nas ruas, ou seja,

ocorre uma crise no modo de regulação do sistema fordista (BENKO, 2002), pois as

insatisfações dos trabalhadores com as condições de trabalho geridas internamente

pelo modelo fordista evidenciam o colapso das políticas de bem estar social até

então reguladores da relação de controle social do trabalhador no intuído de

constituí-lo minimamente de uma base material (GOMES, 2006).

O período de aprofundamento das relações internas capitalistas objetivou-se

através da reestruturação de seu modelo produtivo, pois a rigidez desse modelo

servia de obstáculo para a expansão e reprodução do capital (BENKO, 2002). De

modo que o avanço nas ciências, tecnologias e informação incitavam a necessitava

de um novo modo de operação para realizar a acumulação, ou seja, necessitava de

flexibilidade para explorar novas condições de mercados e mesmo criar novos

mercados (BENKO, 2002).

Em resposta a essa conjuntura, o capital reorganiza seu modelo de gestão e

de seu sistema ideológico e político de dominação. Assim, o neoliberalismo surge

como uma ideologia política a fim renovar as forças econômicas pautando-se numa

política expansionista e de maior fluidez e liberdade dos agentes capitalistas.

O modelo de produção flexível, com base no potencial mercadológico, na

racionalização do trabalho e produção e na inovação é referenciado através do

modelo japonês, o “toyotismo”, que substituiu a lógica de produção em massa do

então taylorismo/fordismo baseando-se em uma lógica de produção variável e

passível a incorporação e difusão das tecnologias e adaptável aos mercados

emergentes vistos como prosperidade para o capital.

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Assim, a mobilidade otimizada, torna-se o elemento-chave da nova ortodoxia capitalista. A rapidez de resposta converte-se em elemento constitutivo do desempenho produtivo global. A linha de produção flexível tende a substituir a organização fordista de produção [...] (BENKO, 2002, p. 22)

Portanto esse modelo incrementou a nova base técnica da produção

capitalista. George Benko (2002a) em seu estudo sobre a mundialização da

economia aponta duas causas principais associadas a evolução que serviu de base

para a integração mundial do sistema produtivo.

[...] a primeira dever-se-ia ao fato de que as unidades componentes do sistema – no caso, as diversas filiais dos grupos transnacionais – estão interconectadas em redes, cada filial encontrando o seu lugar no sistema, em função da aplicação de estratégias cada vez mais globais de gestão, produção e investimento por parte dos grupos dominantes. A segunda causa é imputada às redes cada vez mais e mais complexas, cujas fronteiras e alcance das operações são também cada vez mais difíceis de ser apreendidas, sobretudo porque essas redes se cruzam e embaralham. (BENKO, 2002a, p. 50)

Foi no contexto da globalização que se fortaleceram as redes urbanas

formadas por cidades de pequeno e médio porte. As pequenas geralmente

submissas a uma escala de poder exercida pelas cidades médias, onde se

conectam a partir de uma lógica assimétrica, uma vez que a interação intra-rede

privilegia um ou outro lugar, ressaltando a hierarquia urbana do arranjo, e

submetendo as cidades menores e menos desenvolvidas a dependência econômica

dos centros urbanos que tem suas funções ofertadas mais desenvolvidas.

Tal verificação acaba por fortalecer as conexões da rede. Uma vez que a

dependência das cidades no arranjo funcional operado na rede limita a autonomia

individual da gestão municipal, sobressaltando o poderio hierárquico das cidades,

principalmente as que possuem uma maior e mais complexa dinâmica funcional.

A globalização é aqui compreendida “como a fase superior da espacialidade

capitalista” (CORRÊA, 2006, p. 255) e exerce um papel importante no que

compreende a emersão das cidades médias e pequenas sob a ótica global de inseri-

las ativamente no circuito de produção e consumo, objetivando movimentos

articulados e de interdependência com outros centros pequenos, médios ou

grandes, produzindo novas espacialidades ou adaptando novos espaços a lógica

global que incita o fluxo de redes na medida em que se apropria e em seguida

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reestrutura o arranjo produtivo das cidades, originando, de tal modo, novas funções

e formas que objetivam a reprodução do capital nesse novo modelo de gestão

exploratória dos territórios.

Essas características podem ser verificadas através do modo como se

articulam as cidades, formando redes por onde correm os fluxos de mercadorias,

pessoas, informações, bens e serviços (CORRÊA, 2006). Contudo, vê-se que tais

transformações incorporam-se no seio das esferas sociais, culturais, políticas e

econômicas, fruto de um modo de vida urbanizado, socialmente internacionalizado

pela promoção da cultura do consumo e de interesse de grandes agentes

promotores do “espraiamento do capital produtivo” (CORRÊA, 2006).

A globalização, que se manifesta de diferentes modos em razão de suas demandas e de suas contradições, e por intermédio de diversos agentes, e não exclusivamente das grandes corporações, cria novos núcleos urbanos em áreas que passam a integrar o espaço globalizado. (CORREA, 2006, p. 263)

Tal “arquitetura globalizacional” encarrega-se de tecer uma rede de

localidades, estabelecendo uma relação de poder entre elas e que se diferenciarão

pelo nível de desenvolvimento e articulação com o grande capital, destacando um ou

outro lugar como centro de tomada de poder. Esse processo é o que torna os

espaços “interconectados”, expresso pelo encurtamento das distancias de relação

entre os espaços e pela aceleração do tempo (HARVEY, 1992), que tem sua

primazia na velocidade que a informação ganhou a partir da segunda metade do

século XX (SPOSITO, 2006).

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4 – ESPECIALIZAÇÃO FUNCIONAL DE ALFENAS: CENTRALIDADE E

HIERARQUIA URBANA ATRAVÉS DO DESENVOLVIMENTO DOS

SEGMENTOS DE EDUCAÇÃO E SAÚDE

Com uma população de 78.176 mil habitantes, segundo estimativa de 2014

do IBGE, detentora de um alto nível da oferta de serviços e por possuir um dinâmico

fluxo de mercadorias e pessoas, Alfenas assume um papel de cidade central em sua

microrregião, polarizando as demais cidades ao seu entorno por portar uma

estrutura de serviços mais bem desenvolvida do que as pequenas cidades

circunvizinhas.

A microrregião de Alfenas é formada por 12 municípios (IBGE, 2010), sendo

que Alfenas se destaca como o município de maior população entre os demais de

sua microrregião (TABELA 1). A especialização nas funcionalidades de educação e

saúde contribui para objetivar o poder que a cidade assume sobre sua hinterlândia,

polarizando sua microrregião a partir do desenvolvimento funcional especializado do

setor terciário.Essas condições ainda contribuem para fortalecer seu posicionamento

de destaque na hierarquia urbana regional.

Tabela 1: População por município da microrregião de Alfenas (estimativa 2014)

Municípios População

Alfenas 78.176 Alterosa 14.371 Areado 14.624 Carmo do Rio Claro 21.273 Carvalhópolis 3.523 Fama 2.421 Machado 41.070 Paraguaçu 21.276 Poço Fundo 16.705 Serrania 7.787 Conceição de Aparecida 10.263 Divisa Nova 6.011

Total 237.500

Fonte: IBGE CIDADES, 2014.

É através da combinação de diversos fatores, como: tamanho demográfico,

as funções desempenhadas, influência regional exercida e a organização e

complexidade urbana (CORRÊA, 2007) e(SPOSITO, 2006), que classificamos a

cidade de Alfenas como sendo uma cidade média.

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A concentração populacional e a formação de uma malha rodoviária que

interliga os municípios na estruturação de uma rede propiciam a articulação e a

movimentação dos fluxos de mercadorias, bens e serviços, atuando diretamente no

desenvolvimento econômico regional (Figura 4).

Figura 4: Vias de acesso ao município de Alfenas. Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas (2006)

A proximidade com os grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e

Belo Horizonte permitiu um rápido desenvolvimento da região (Figura 4). A

infraestrutura para atender a escoação da produção e a circulação de mercadorias e

pessoas influenciou o arranjo organizacional das cidades da região no intuito

atender a essas pressões dos grandes centros e consequentemente colaborou com

a formação e o desenvolvimento das cidades pequenas e médias de toda

mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais (IBGE).

Alfenas possui um setor industrial considerável, tendo no processamento da

cultura do café sua matriz de desenvolvimento do aparato industrial. Segundo o

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, somente no ano de

2014, entre os meses de janeiro a outubro, as exportações de café processado e

produtos derivados do café representaram 99,20% do total das exportações do

município, somando cerca de 25.023.505 Kg em produtos. O destino da produção é

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variado, contudo, atendendo principalmente países da Europa, Ásia e América do

Norte. A indústria junto a agropecuária tem grande representatividade no PIB do

município e são parte de uma especialização cultural consolidada, ou seja,

contribuem com a vantagem competitiva através da especialização da cultura do

café, não somente do município de Alfenas, mas de toda a região.

Tabela 2: Produto interno bruto no município de Alfenas referente aos anos de 2000 e 2010 (em Mil R$)

Setores 2000(Mil R$) 2010(Mil R$)

Agropecuária 60.052 131.458 Indústria 92.758 198.096 Serviços 231.179 817.893

TOTAL 434.838 1.282.830

Fonte:IBGE SIDRA / elaborado pelo autor (2014)

Os processos que levaram a estruturação e desenvolvimento do setor

industrial de Alfenas ocorreram em dois momentos no tempo, por meio de

movimentos complementares. Inicialmente através de pequenos circuitos de

produção fomentado pela desconcentração da indústria e logo com a consolidação

de uma rede estruturada no novo âmbito global, onde o processo de informatização

derivado da globalização atua na expansão das redes. Esses circuitos, hoje já

fortalecidos e em pleno processo de expansão, visam integrar as localidades ainda

que muitas delas baseiam-se numa economia prioritariamente rural, como no caso

dos municípios da microrregião de Alfenas, por estarem fortemente articulados na

cultura do café.

Atualmente Alfenas é referência na sua microrregião na oferta de serviços

especializados, principalmente nas áreas da saúde, educação e lazer. A cidade

abriga duas grandes universidades que devido ao ingresso e fluxo de estudantes,

fomentam o comércio local e a especulação imobiliária. O município ainda conta

com a parceria das instituições universitárias no atendimento e assistência à

comunidade, como um hospital universitário e programas institucionais que

oferecem serviços nas áreas jurídicas, hospitalares e escolares para a população de

toda a microrregião.

Segundo Amorim Filho e Sena Filho (2007) esse diferencial se sobrepõe

sobre a hinterlândia das cidades médias, classificando-as à nível de “hierarquização

intermediário”.

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Sobre a especialização da educação, podemos citar que Alfenas dispõe de

um aparato com nível de complexidade superior as demais cidades vizinhas.

A cidade possui 12 (doze) escolas de ensino de nível médio, sendo que

6(seis) desse total são privadas e 6 (seis) públicas (Figura 5). O município também

dispõe em sua rede de ensino de um total de 28 escolas que ofertam educação de

nível fundamental contando com 9 (nove) instituições privadas atuando na oferta de

ensino de nível fundamental.

Esse número realça a cidade de Alfenas se comparada com os municípios

da sua microrregião formada principalmente por pequenas cidades, essa

característica expressa por Alfenas pode ser entendida tanto pela lógica do

desenvolvimento setorial econômico, que incrementa a educação como um nicho a

ser explorado, como tambémestá diretamente atrelada ao fato do município

concentrar a maior população da microrregião.

Figura 5: Distribuição de escolas de nível médio no Estado de Minas Gerais no ano de 2012. Fonte: IBGE CIDADES / modificado pelo autor.

Analisando a figura 5 é possível verificar que Alfenas apresenta uma maior

oferta de educação de ensino em nível médio comparado com sua microrregião,

estando apenas o município de Machado contando com nove (9) escolas desse

segmento.

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Se analisarmos o PIB do município de Machado (tabela 3), pode-se conferir

que os setores da agropecuária e indústria equiparam-se, em certo nível, a esses

mesmo setores de Alfenas, entretanto é possível notar que o terceiro setor do

município de Alfenas detém um grande diferencial quantitativo de valor,

expresso,segundo nossa análise, pela especialização funcional da educação e

saúde que incrementa o fluxo na cidade e contribui para o crescimento do setor de

serviços.

Tabela 3: Produto interno bruto no município de Machado referente aos anos de 2000 e 2010 (em Mil R$)

Setores 2000(Mil R$) 2010(Mil R$)

Agropecuária 52.555 118.390 Indústria 50.028 139.074 Serviços 116.189 387.979

TOTAL 218.772 645.443

Fonte:IBGE SIDRA / elaborado pelo autor (2014)

Sobre esse desenvolvimento, podemos correlacionar esse apontamento com

a estruturação de serviços adjacentes ao desenvolvimento das universidades locais.

Contam-se atualmente cinco instituições que ofertam cursos pré-vestibulares:

Tabela 4: listagem das instituições que fornecem curso pré-vestibular em Alfenas

CURSOS PRÉ-VESTIBULARES EM ALFENAS (MG) COLÉGIO CRA – PRÉ-VESTIBULAR

PRÉ-VESTIBULAR ANGLO PRÉ-VESTIBULAR UNIFAL

PRÉ-VESTIBULAR COLEGIO ATENAS PRÉ-VESTIBULAR PRO-FEDERAL

Fonte: ACIA (2014) e sites das instituições / Elaborado pelo autor

A rede de Ensino Básico de Alfenas pode ser analisada por duas formas

gerais: a primeira, parte do ensino público, através do entendimento de uma

estruturação promovida pelo governo local e Federal, que em sua primazia tem o

papel de fornecer educação gratuita e de qualidade para a população. O segundo

ponto a destacar é a oferta de ensino pelas instituições privadas, que, através da

qualificação e do desenvolvimento estrutural do ensino voltado para a preparação

dos alunos para o ingresso no ensino superior, captam uma demanda

microrregional, que pode ser destacada pelo desenvolvimento desse segmento

educacional em relação aos municípios circunvizinhos.

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Tabela 5: Rede escolar de ensino básico de Alfenas no ano de 2012

MODALIDADE/ NÍVEL DE ENSINO TOTAL DE ESCOLAS Ensino fundamental (privado) 9

Ensino fundamental (público estadual) 10

Ensino fundamental (público municipal) 9

Ensino médio (privado) 6

Ensino médio (público estadual) 6

Ensino pré-escolar (privado) 10

Ensino pré-escolar (público municipal) 18

TOTAL DA REDE 68

Fonte:IBGE cidades / Elaborado pelo autor (2014)

Vale ressaltar que todas as instituições privadas que atuam no segmento de

ensino básico ofertando ensino a nível médio, atuam também na oferta de cursinhos

preparatórios para o ensino superior, o que evidencia o nicho de mercado explorado

por essas empresas da educação.

O ensino superior no município também tomou dimensões próprias, sendo

responsável principalmente pela estruturação do arranjo atual do comércio e

serviços de entretenimento para o público jovem. Este caracterizado por um

segmento próprio principalmente focando no potencial mercado consumidor

composto pelos estudantes universitários.

As duas grandes universidades concentradas na cidade, tanto a

Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) quanto Universidade José do Rosário

Vellano (UNIFENAS), atuam no desenvolvimento do setor educacional local, pois

fortalecem a especialização desse serviço pela cidade média de Alfenas.

Essas duas grandes universidades atraíram uma lógica combinada de

desenvolvimento e especialização no segmento de ensino para a cidade, pois

conforme as universidades ampliavam-se, ofertando mais cursos e vagas, também

foi ampliado os serviços complementares educacionais, como: escolas privadas,

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cursinhos, instituições que ofertam cursos técnicos profissionalizantes e superiores

presenciais e a distância.

Tabela 6: Instituições promotoras de cursos EAD técnico e/ou superior com pólos ou sede

em Alfenas.

INSTITUIÇÕES NÍVEL DE ENSINO

IFSULDEMINAS TÉCNICO

UNIFAL (CEAD) SUPERIOR

UNIFENAS SUPERIOR

GRUPO EMPREENDENTE TÉCNICO

UNOPAR SUPERIOR

UNIP (INTERATIVA) SUPERIOR

UNISEB COC SUPERIOR

TOTAL 7

Fonte: Trabalho de campo / elaborado pelo autor

Essas instituições listadas são aquelas que possuem pólo ou sede em

Alfenas, não contou-se aqui os demais cursos EAD oferecidos pelas instituições de

ensino de todo o país que captam o mercado consumidor da cidade ou mesmo que

atuam em pólos em outras cidades cobrindo com o serviço o município de Alfenas,

mensurando-se, portanto, apenas as que possuem espaço físico no município.

Essa dinâmica proporcionou ao município incrementar suas atividades

econômicas, pois a universidade é vista como um importante atrativo para o

estabelecimento de novos investimentos locais, assim o desenvolvimento local se

baseia na forma de cooperação entre a população, o governo local e a universidade.

As universidades, em especial as duas grandes instituições universitária

(UNIFAL E UNIFENAS), fornecem ainda à população assistência na forma de

prestação de serviços na área da saúde e educação por meio de programas

institucionais e Federais. O grande fluxo de pessoas na cidade, devido aos serviços

ofertados na área de saúde e educação, traz consigo um potencial mercado

consumidor, ativo, e que promove o desenvolvimento do centro urbano do município.

É importante ressaltar o papel do governo local, visto que é do interesse da gestão

pública proporcionar a criação de empregos. Desse modo, é benéfico e atende aos

interesses do governo local o desenvolvimento das universidades no município, visto

que a economia local se apropriara das melhorias da nova conjuntura.

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Ao que compete a especialização nos serviços de saúde em Alfenas, este

ocorreu de modo complementar ao desenvolvimento da oferta de educação. Essa

relação pode ser verificada no início da constituição da EFOA em 1914, que por

mais de 50 anos ofereceu apenas os cursos de Farmácia e Odontologia, sendo

posteriormente criado o curso de Enfermagem nos anos de 1960.

O fortalecimento das bases da universidade em cursos nas áreas da saúde,

de certo modo é condizente com a estrutura social em que vivemos que ao longo do

tempo estrutura valores estereotipados de conservação da classe dominante. A elite

do início do século XX que era a detentora dos meios de educação, em seus vários

níveis, priorizava algumas formações intelectuais e profissionais que convinha à

estima social e remetia a um status de importância e prestígio da época, contudo,

vê-se ainda a reprodução desses valores adentrando aos anos recentes.

Figura 6: Estrutura da rede de saúde de Alfenas no ano de 2006. Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas (2006)

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Os hospitais e clínicas que hoje se consolidam como sendo referência

microrregional serviram de apoio complementar na formação dos graduandos nos

cursos de saúde (Farmácia, Odontologia e Enfermagem da UNIFAL), mas foi

principalmente nos anos de 1990 que esse papel foi fortalecido. Com a criação dos

cursos de Farmácia, Odontologia e Medicina pela Universidade José do Rosário

Vellano (UNIFENAS) e também do Hospital Universitário Alzira Vellano no ano de

1992, tornou Alfenas regente do micropolo de saúde, atraindo para a cidade a

demanda microrregional.

A expansão desse setor já era notória nos primeiros cinco anos dos anos

2000, quando foi realizado o levantamento dos dados referentes ao aparato de

saúde para compor o plano diretor do município de 2006.

Quanto a Saúde, o Município de Alfenas, sendo pólo microrregional, atende diversos outros municípios vizinhos que possuem deficiência na área de saúde, oferecendo hospitais, clínicas, laboratórios e serviços em geral. Com relação aos serviços hospitalares, pode-se contar 4 hospitais, 2 pronto-socorros e 12 postos de saúde da família (PSF), que atendem pelo (SUS). (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006, p. 129)

No segmento de saúde o Governo de Minas Gerais utiliza a divisão do Plano

Diretor de Regionalização de Minas Gerais (PDR-MG), que propõe a subdivisão do

território em macro e microrregiões sanitárias no intuito de servir de como

instrumento de planejamento em saúde. Essa divisão difere-se da divisão de macro

e microrregiões do IBGE, pois utiliza critérios que atendem a necessidade de

organização do sistema de saúde Estadual levando em consideração a distância de

deslocamento dos usuários na utilização dos serviços, essa premissa remete a

Teoria das Localidades Centrais (TLC) elaborada por Christaller em 1933, onde

exprime a importância do lugar central na otimização dos fluxos.

O PNR-MG propõe, de certo modo, a otimização das redes de saúde no

Estado como ferramenta de gestão, realocando os serviços de saúde em diferentes

escalas de redes determinadas pelo nível de complexidade dos serviços ofertados e

pela quantidade populacional que os utiliza. Desse modo, desenvolvem-se pólos

diferenciais e especializados nos serviços de saúde.

Atualmente o pólo microrregional de saúde e Alfenas é configurado por sua

estrutura e seu aporte de serviços e especializações nos segmentos da saúde, ou

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seja, explana um credenciamento de alta complexidade que abrange outros

municípios ao seu redor, formando uma rede de microrregional de saúde, (Figura 7)

mas que também transcende sua microrregião polarizando municípios de outras

microrregiões, principalmente da microrregião de Guaxupé- MG (Figura 8).

Figura 7: Municípios da microrregião de Alfenas atendidos pelo Consórcio Cislagos. Fonte:Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

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Figura 8: Com exceção do município de Guaxupé os demais municípios de sua microrregião são atendidos pelo consórcio Cislagos, somando um total de oito municípios. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

O aparato de saúde de Alfenas é composto por diferentes tipos de

estabelecimentos que servem de suporte para a realização de vários procedimentos

médico-hospitalares. Segundo a contagem de estabelecimentos de saúde do

DATASUS e da Prefeitura Municipal, Alfenas dispõe no ano de 2014 de: 1 Central

de Regulação, 1 Centro de Atenção Psicossocial, 18 Unidades Básicas de Saúde,

54 Clínicas Especializadas, 78 Consultórios, 20 Farmácias, 1 Hospital especializado,

3 Hospitais Gerais, 11 Policlínicas, 2 Postos de Saúde, 2 Secretarias de Saúde, 4

Unidades de Apoio de Diagnose e Terapia, 2 Unidades de Vigilância em Saúde, 1

Unidade Móvel Terrestre.

Esse aparato estrutural certifica a complexidade do setor de saúde em

escala microrregional de Alfenas e lhe atribui seu papel funcional.

Foi constatado em reunião com o coordenador de atenção primária da

Secretaria de Saúde de Alfenas, Maurício Durval de Sá, que o consórcio

intermunicipal de saúde tem o intuito de suprir o vazio assistencial dos municípios do

entorno de Alfenas.

Os municípios consorciados repassam o recurso que é descontado

diretamente da arrecadação municipal, que varia entre 1% a 2%, segundo o Durval

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de Sá. Esse valor é transformado em procedimentos para suprir o vazio assistencial

existente nos pequenos municípios do entorno dos lagos.

A gestão do consórcio é realizada através do Consórcio Cislagos (Consórcio

Intermunicipal de Saúde dos Municípios da Região dos Lagos do Sul de Minas

Gerais) que foi criado em comum acordo entre os municípios para atender aos

interesses dos mesmos em promover e trabalhar com a prevenção e assistência na

área de saúde. Com sede no município de Alfenas, o Consórcio Cislagos atende a

uma população de 474.284 habitantes cobrindo 27 municípios.

Tabela 7: Nº de procedimentos realizados em Alfenas pelos municípios consorciados no ano de 2014.

Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Total Nº de procedimentos

5409 6505 6678 6141 5465 6022 5640 5300 5618 52778

Fonte: Relatório de Produção Consórcio Cislagos (2014)

Os municípios atendidos pelo Consórcio Cislagos estão distribuídos

principalmente nas microrregiões de Alfenas e na de Guaxupé, contudo o município

de Guaxupé é o único de sua microrregião que não está listado no consórcio

Cislagos. Ainda constam-se outros dois municípios que integram o consórcio, mas

que são pertencentes à outras microrregiões. Estes são: o município de Alpinópolis

situado na microrregião de Passos; e o município de Eloi Mendes localizado na

microrregião de Varginha.

Desse modo pode-se constatar o recorte territorial da extensão da rede de

saúde formada pelo consórcio, destacando o papel de Alfenas como centralizadora

desse nó. Ainda percebe-se que essa rede atua na polarização interescalar de nível

microrregional, pois ela capta dois municípios que integram duas outras

microrregiões que, como Alfenas, são centralizadas por cidades médias. Constata-

se que os níveis de divisões regionais é uma forte ferramenta no auxilio de políticas

de planejamento e de gestão dos governos municipais.

Esse plano de atuação em conjunto das entidades municipais responsáveis

pela gestão do consórcio expõe fragilidades no que compete a questão de

desenvolvimento interno do aparato de saúde desses municípios. Pois, na medida

em que compactuam para suprir os vazios assistências desse setor em seus

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respectivos municípios em detrimento do fortalecimento o pólo microrregional de

saúde de Alfenas acabam limitando seu próprio desenvolvimento interno.

Essa questão evidencia que a formação de uma rede de serviços na área

médico-hospitalar pode ser mais bem explicada através das interações espaciais.

De modo, que a interações entre os municípios que compõem a rede partem do

principio da complementaridade, pois Alfenas historicamente se destacou na

formação de uma estrutura-base para receber esses empreendimentos. A técnica e

a especialização setorial estavam eminentemente atreladas ao desenvolvimento do

próprio município, que dialeticamente ao se consolidar uma base estrutural em seu

território atuou como antemão do desenvolvimento setorial dos municípios próximos.

Por consequência, a carência estrutural das pequenas e médias cidades

circunvizinhas de Alfenas em gerir em seu território políticas de desenvolvimento

estrutural interno atribuem à Alfenas o papel de polarizadora e centralizadora de

serviços especializados.

A especialização conferida ao território desta cidade média incrementa o

desenvolvimento de seu aparato estrutural na mesma medida em que a oferta dos

serviços médico-hospitalar é consumida pela população dos municípios das

microrregiões consorciadas.

Vale aqui ressaltar a complexidade do aparato central de serviços bancários

em de Alfenas. A cidade dispõe de 8 (oito) agências bancárias nas mediações

centrais, sendo 6 (seis) delas de grande porte com atuação em território nacional e

internacional. Essas grandes corporações multinacionais atuam com forte presença

na microrregião, pois essa estruturação bancária eleva o papel de Alfenas como

sendo detentora de serviços bancários diferenciados, enfatizando sua

especialização setorial em serviços mais complexos e de nível global.

Tabela 8: Agências bancárias localizadas na região central da cidade de Alfenas

Agências Bancárias no centro de Alfenas Complexidade do Banco

Banco do Brasil S.A. Grande Porte Caixa Econômica Federal Grande Porte Itaú S.A. Grande Porte Bradesco S.A. Grande Porte Santander S.A. Grande Porte HSBC Bank Brasil S.A. Grande Porte Banco Mercantil do Brasil S.A. Médio Porte (Regional) Sicoob Agrocred Médio Porte (Regional)

Total 8

Fonte: ACIA e sites das instituições bancárias / elaborado pelo autor

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Constam-se também duas agências de médio porte com atuação regional.

Essas agências além de atuarem em serviços bancários convencionais têm seu foco

principalmente no segmento de crédito agropecuário.

A região sulmineira, por exemplo, é uma grande produtora de café e

concentra nas cidades médias as indústrias processadoras dessa cultura e o

aparato de crédito para atender a esse segmento através das instituições bancárias

mais bem especializadas do que nas pequenas cidades de suas hinterlândias.

Desse modo é notável uma terceirização do que é produzido na terra, ou seja, uma

imposição sobre os pequenos e médios agricultores que reforça uma interação de

caráter de dependência desses agricultores com as indústrias cafeeiras locais e com

as agências de crédito evidenciando que as cidades médias desse contexto se

apropriam da renda fundiária da região a qual centralizam.

Esse processo resulta na formação de “subcentros de poder” pelas cidades

médias. Como no caso de Alfenas, que detém a maior complexidade do arranjo

estrutural bancário, assumindo a centralização do poder em escala microrregional.

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4.1 –O SUBCENTRO COMERCIAL OESTE: BREVE ANÁLISE SOBRE O

DESENVOLVIMENTO DO APARATO DE SERVIÇOS NA PERIFERIA

Em relação a zona pericentral e a zona periférica contínua de Alfenas, esta é

constatável devido ao grande número e extensão dos bairros e loteamentos

comparados com as demais cidades do seu entorno (AMORIM FILHO; SENA

FILHO, 2007). Essa característica da morfologia estrutural da cidade de Alfenas

atrelada ao desenvolvimento urbano e a especialização do setor de serviços permitiu

o desenvolvimento de subcentros funcionais para atender a demanda da população

dessas zonas pericentrais.

Deve-se pontuar aqui que esse processo de formação e desenvolvimento

dos pequenos subcentros é muito devido a especialização do setor terciário do

centro principal, incitando o desenvolvimento de pequenos núcleos comerciais nas

zonas pericentrais e também na periferia para suprir a necessidade de uma

demanda crescente ao uso de aparatos básicos de consumo por parte dos

moradores dessas regiões no intuito de não necessitarem efetivar o deslocamento

até o centro principal para usufruir de aparatos de consumo básico, como: Lotéricas,

agências bancárias, mercados e mercearias, bares, lazer e etc.

Os bairros Jardim Boa Esperança, Jardim Alvorada, Pinheirinho e Recreio

Vale do Sol, situados na região oeste da cidade de Alfenas atualmente encontram-

se em processo de formação de um núcleo subcentral de comércio. O

desenvolvimento dessa porção do território tem se constituído de um novo modelo

da expansão do setor de serviços da cidade. Essa região vem se dinamizando

também devido a criação do segundo campus da UNIFAL nas bordas da periferia da

cidade, ordenando a condição de infraestrutura em direção aquela extensão do

território municipal, propiciando a formação de um grande corredor comercial que

vem se fortalecendo naquela região.

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Figura 9: Expansão dos serviços bancários e da rede de mercados em direção a periferia da região oeste da cidade de Alfenas. Fonte: Google Earth / modificado pelo autor (2014)

Esse desenvolvimento de um novo núcleo subcentral nas mediações da

periferia oeste da cidade pode ser explicado através da especialização do núcleo

central, que por decorrência do aumento da população necessita sistematizar um

pequeno novo arranjo comercial para atender a demanda da população desses

bairros afastados. Pois, a localização das universidades nas proximidades do centro,

bem como dos hospitais e clínicas que se aglutinam na porção central da cidade,

formam um eixo por onde se instalam as principais empresas, escritórios, clínicas,

escolas, bares e restaurantes e propiciam o fluxo rotacional de pessoas. Essa

distribuição dos serviços e produtos ofertados no centro de Alfenas promove o

comércio por si, fato constatado pela importância do município na sua zona de

influência.

Essa especialização do setor terciário no centro principal atraiu para si uma

lógica combinada, ou seja, uma demanda crescente da especialização desse centro

principal levou a necessidade da formação de subcentros nas zonas pericentrais da

cidade (AMORIM FILHO; SENA FILHO, 2007), com o objetivo de atender a

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necessidade crescente dessa massa populacional que não precisaria se deslocar

até o centro principal na busca de serviços básicos como.

Na média em que o centro (principal) se especializa em equipamentos terciários de longo alcance, isto é, equipamentos raros, ou pouco freqüentes, voltados para a região, as necessidades cotidianas da população local passam a ser atendidas por subcentros que surgem nos eixos ou praças de maior movimento do espaço residencial (pericentral). (AMORIM FILHO; SENA FILHO, 2007, p. 69.)

Assim, fica claro que o nível de complexidade do centro principal é superior,

ficando os subcentros, em nível mais simples, responsáveis por atender as

necessidades básicas dos moradores desses bairros.

As desigualdades no que compete à acessibilidade e desenvolvimento

econômico e social na cidade também ficam bastante notórias. Nota-se na cidade

uma expansão horizontal das periferias, orientando uma lógica cada vez mais

excludente, empurrando a população para as bordas da cidade e colocando

empecilhos sobre essa população de usufruir dos aparatos sociais de lazer

ofertados pelo centro, como: cinema, praças centrais, bares e restaurantes etc.

Esses empecilhos são referentes às condições de locomoção como: ruas e avenidas

esburacadas, transporte público coletivo ineficiente e de má qualidade.

Igualmente, nota-se a tendência para a fragmentação socioespacial, sem ainda se atingir a tessitura política social das relações sociais, como se nota nas metrópoles, ainda que se tornem mais complexas as estruturas de distribuição das atividades econômicas e das funções sociais, da cidade [...] (SPOSITO, 2007, p. 244)

Pode se afirmar que a cidade de Alfenas teve um considerável aumento

econômico e estrutural no seu setor terciário com a criação e oferta de novos cursos

pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL). Em 2005, a então antiga Escola de

Farmácia e Odontologia de Alfenas (EFOA) fundada no ano de 1914, abriu espaço

para a ação do Governo Federal de expansão do ensino superior no país,

incorporando vários cursos nas áreas de humanas, exatas e biológicas,

principalmente cursos de licenciatura, e, que logo comprimiu o espaço do campus

central, estendendo um novo campus para a periferia da cidade.

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A Unidade Educacional Santa Clara leva o nome do bairro em que esta

situada. Esta unidade foi aprovada no ano de 2007 no segundo projeto de Expansão

das Universidades Federais e foi inaugurada no ano de 2010.

O reflexo dessas ações na economia local pode ser evidenciado através da

especulação imobiliária na região central (localização do campus central da

UNIFAL), ao comparar os dados de desenvolvimento do PIB de Alfenas em relação

ao setor terciário pode-se verificar o considerável aumento do comércio no

desenvolvimento econômico do município nesse período (tabela 2). Essa população

flutuante, formada principalmente por estudantes das universidades tem impacto

significativo para o comércio de Alfenas.

A população universitária traz consigo novas necessidades que são

exploradas pelos agentes locais, como por exemplo, o desenvolvimento de uma

rede de empresas que atuam com produtos alimentícios de pronta entrega, como

lanchonetes, pizzarias, casas de açaí, etc.

O efeito da nova dinâmica, propiciada com a expansão da universidade em

criar novos cursos e vagas, trouxe para o município um mercado consumidor

diferenciado, levando a cidade a se adaptar para atender a chegada dos estudantes

e sua inserção como parte integrante da população economicamente ativa na

cidade.

Na região oeste da cidade esse processo atrelou-se aos outros aqui

anteriormente mencionados, efetivando seu desenvolvimento.

A região recebeu no ano de 2012 uma agência da Caixa Econômica Federal

para atender a demanda de serviços de ordem bancária em geral, como: pagamento

de contas, pagamentos de benefícios de programas de assistência sociais, saques e

depósitos em conta corrente e caderneta de poupança, empréstimos, penhores

entre outros serviços.

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Figura 10: Agência Caixa Econômica Federal localizada na Av. Jovino Fernandes Sales no bairro Jardim Alvorada. Formação de um subcentro e traço do desenvolvimento do comércio em direção a periferia da cidade. Fonte: Arquivo do autor / pesquisa de campo (2014)

Complementarmente, a região também é beneficiada com um

correspondente do banco Caixa Econômica Federal (Caixa Aqui) para realização de

procedimento de serviços diferenciados para a população local, como: financiamento

habitacional, abertura de contas, consórcio e crédito consignado.Esse

correspondente bancário é realizado pela empresa Dekathama que atua no

segmento de financiamento e de serviços contábeis.

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Figura 11: Correspondente da Caixa Econômica Federal na Av. Jovino Fernandes Sales. Dinâmica da concentração de serviços bancários. Fonte: Arquivo do autor / pesquisa de campo (2014)

A formação de uma rede de serviços bancários é um sinal do

desenvolvimento de novas centralidades que visam atender a demanda da

população residente na região oeste da cidade. Essa estruturação é dinamizada

pela facilidade de acesso a esses serviços, pois os incrementos de serviços se

formam seguindo a direção da avenida principal que integra os bairros da região

oeste da cidade, transcorrendo um trajeto que vai do centro da cidade até a Unidade

Educacional Santa Clara (campus periférico da UNIFAL).

A via de acesso a esse desenvolvimento é concretizada pela Avenida Jovino

Fernandes Sales, que recebeu em seu entorno o aporte locacional para o

desenvolvimento do comércio que se estende pela periferia oeste da cidade.

Nesse mesmo trecho encontram-se um supermercado de grande porte e

mais três mercados de porte médio fator que corrobora com a afirmação de uma

centralidade em formação para captar o demanda de consumo dos moradores

locais. Ainda é possível verificar na mesma avenida duas farmácias e dois postos de

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gasolina com uma pequena loja de conveniência cada, intensificando o fluxo de

automóveis e pessoas pela região.

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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos constatar a cidade média de Alfenas possui uma interlândia da

saúde e educação. Esses serviços se consolidam na formação de um polo

microrregional que opera seu desenvolvimento captando a demanda sobre esses

setores e assim fortalecendo sua estrutura e solidificando seu papel como cidade

média polarizadora pelos serviços especializados prestados nas áreas de educação

e saúde.

O fortalecimento desses subsetores da economia acabou por desenvolver,

em consonância, um setor terciário mais complexo, que configurado por empresas

diferenciadas e por serviços diferenciados que atuam na oferta especializada,

captando a demanda microrregional de Alfenas e também outras cidades de outras

microrregiões próximas.

Foi possível identificar através da análise dos documentos e correlação com

o levantamento teórico e com o trabalho de campo, que infraestrutura como suporte

para a zona oeste sendo configurada através da avenida que dá acesso ao campus

da Universidade Federal que se instalou ao final da via. O que comprova a teoria da

“estruturação do espaço intraurbano” apontados por Villaça (2001). Que acerta ao

explanar sobre o papel da movimentação dos agentes sociais assim como também

de matéria na produção das espacialidades, ou seja, é uma questão de necessidade

de locomoção, pois conforme o movimento produz as espacialidades aumenta-se a

dependência ao uso dos aparatos de serviços que se consolidam, ocasionando

assim, maior fluxo de movimentação e consumo desse aparato e, logo, o

desenvolvimento estrutural da zona em que se instalam.

Sobre as interações espaciais pode se confirmar que fazem parte dos

movimentos de complementaridade que atuam na produção dos arranjos espaciais,

ou seja, estão intrinsecamente ligadas ao processo de produção do espaço através

da lógica de redes ou mesmo entre a relação de dois ou mais pontos no espaço,

sejam esses próximos ou distintos. Assim, como foi constatado na análise do

aparato de saúde que se configura em Alfenas seu desenvolvimento é cercado de

contradições. A dependência dos municípios polarizados por Alfenas acaba por

retardar seus próprios desenvolvimentos internos nesses segmentos em detrimento

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da especialização setorial em Alfenas, através do uso e também do financiamento

do aparato funcional de saúde de Alfenas.

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