Margarida Roquette - Médicos Sem Fronteiras, Uma Missão

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Escola Secundária de São João do Estoril Psicologia Margarida Roquette MÉDICOS SEM FRONTEIRAS, UMA MISSÃO Projecto de Investigação 1. Tema geral: O Sentido da Vida 2. Tema específico: Médicos sem Fronteiras 3. Título do trabalho: Médicos sem Fronteiras, uma missão 4. Pergunta a que o trabalho responde: O que leva um médico a desistir da sua individualidade para ajudar outros? 5. Programa: para responder a esta pergunta vou fazer uma breve abordagem de teorias das relações humanas e da motivação

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Este é um trabalho de investigação feito no âmbito da disciplina de Área de Projecto, na Escola Secundária de S. João do Estoril, pela aluna Margarida Roquette (12º3).

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Escola Secundária de São João do Estoril

Psicologia

Margarida Roquette

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS, UMA MISSÃO

Projecto de Investigação

1. Tema geral: O Sentido da Vida

2. Tema específico: Médicos sem Fronteiras

3. Título do trabalho: Médicos sem Fronteiras, uma missão

4. Pergunta a que o trabalho responde: O que leva um médico a desistir da sua individualidade para ajudar outros?

5. Programa: para responder a esta pergunta vou fazer uma breve abordagem de teorias das relações humanas e da motivação

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Introdução

Actualmente existem mais de 28 mil profissionais que colaboram com os Médicos sem

Fronteiras, este trabalho visa ajudar à compreensão da razão que leva alguém a

ingressar nesta organização.

O que são os Médicos Sem Fronteiras?

Os Médicos sem Fronteiras são uma Organização Não Governamental (ONG) na área

da saúde que actua junto de populações afectadas por catástrofes de várias naturezas

tentando minimizar os danos. Esta instituição foi criada em França, no ano de 1971 e

hoje em dia é a maior Organização de Ajuda Humanitária prestando auxílio em cerca

de 60 países com 350 projectos. São médicos, sem fronteiras. Que fronteiras? Todas as

possíveis e imagináveis. Fronteiras étnicas, linguísticas, religiosas, ou políticas.

Significam ajuda médica para qualquer pessoa em qualquer parte do Mundo.

Acção em conflitos armados - os riscos de uma vocação

Ser profissional desta organização é uma profissão de risco, ao longo da sua história

houve diversos casos de médicos torturados, raptados ou mortos; um dos casos mais

divulgados pela imprensa foi a morte de cinco médicos em Março de 2004, cuja missão

era levar mantimentos a uma província no noroeste do Afeganistão feita refém por

talibãs, grupo este que posteriormente reivindicou a autoria do ataque. Mas muitos

outros casos ocorrem todos os dias, como refere Ceceai Babou, coordenadora médica

na Faixa de Gaza: “Desde o inicio da ofensiva terrestre, quatro membros foram

atingidos directamente. Um outro médico viu metade da própria família morrer à sua

frente (…). A filha de um colega foi atingida no ombro e teve que ser operada, e a irmã

de outro médico foi atingida no abdómen e também teve que ser sujeita a uma

cirurgia.”

As mortes de profissionais humanitários são consideradas crimes de guerra pela

Primeira, Segunda, Terceira e Quarta Convenções de Genebra, assinadas,

respectivamente, em 1864, 1906, 1929 e 1949.

O porquê do sacrifício

Carla Kamitsuji, uma psiquiatra de 32 anos, trabalha desde 2007 nos Médicos sem

Fronteiras e na primeira pessoa refere o que a maioria das pessoas conhece apenas em

teoria: “Sei que o trabalhador humanitário está mais sujeito a infecções; sofre de

solidão e stress crónico por ficar longe de casa, da língua nativa, da sua cultura;

enfrenta, às vezes, alojamentos sem energia eléctrica, onde é preciso tomar banho de

balde”. Muitos desistem, principalmente as pessoas que trabalham nos locais de

guerra, como diz Angels Mairal, coordenador de projectos psico-sociais da

organização, relativamente aos bombardeamentos no Afeganistão: “Todos são

expostos e não há lugares seguros nem possibilidades de escapar, as consequências de

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situações assim são devastadoras e muitos não aguentam. Pesadelos, insônias,perda

de peso, irritabilidade, pouca concentração,hiper vigilância ou sinais psicossomáticos

como dores de cabeça e de estômago, ocorrem com frequência após períodos de

grande stress “. Porque é que ficam? Numa análise psicossocial ficam devido às

relações humanas, que nestes casos devido ao grande stress e instabilidade são mais

acentuadas; neste âmbito é importante falar da experiência de Hawthorne com

trabalhadores em grupos e a privação de luz, que concluiu que diante de situações de

incerteza social as pessoas tendem a formar grupos que satisfaçam um desejo de

intimidade e consistência,razão pela qual os médicos estabelecem entre si relações de

amizade muito fortes e actuam como um todo e não como pessoas individuais. Com as

populações, como se encontram numa posição superior hierarquicamente criam uma

necessidade reparadora, protectora ou paternal para com os outros,criam vínculos,

tornando algumas daquelas relações numa repetição das relações primárias que

estabelecemos com os nossos pais e que tendencialmente vamos repetir mais tarde.

Estes vínculos, criam-se principalmente com crianças, cujos reguladores intrínsecos ao

crescimento do cérebro infantil são especificamente adaptados para se unirem, por

comunicação emocional, aos reguladores dos cérebros adultos, o que segundo

Schore(1994) leva a que com o passar do tempo, emocionalmente, a criança e o adulto

se tornem uma unidade biológica, cuja separação implicaria um grande sofrimento das

partes.

O profissional faz a escolha de ir, que é uma acção motivada e que pode ser, por isso,

analisada segundo uma sequência motivacional: primeiro há uma necessidade - um

desequilíbrio em alguma parte da vida pessoal, uma carência; depois há um impulso -

um estado energético que é capaz de activar e dirigir o comportamento, constitui a

força que o move a realizar a acção; em terceiro lugar há a resposta e o objectivo, que

consistem, respectivamente, na actividade desenvolvida e na meta que se pretende

atingir com a actividade manifestada, e por fim, a saciedade - a satisfação da

necessidade inicial. Mas à partida porquê mudar de país e de vida, porque é que é essa

acção que vai equilibrar a vida da pessoa em questão?

O pediatra Sérgio Cabral diz: “ Na minha vida, a palavra humanidade transformou-se

em missão, e isso é fiel ao que sou”, perspectiva explicada por Abraham Maslow, que

assumiu que as necessidades humanas estão organizadas numa hierarquia de

importância, representada graficamente na forma duma pirâmide. Esta hierarquia

refere as necessidades de Auto-realização como sendo o pico da pirâmide, estas,

consistem na procura do indivíduo para ser aquilo que realmente é, “Qual é a maior

gratificação que uma coisa pode dar-nos na vida? O máximo que podemos obter seja

do que for é a alegria. E o que é a alegria? Um «sim» ao que somos, ou melhor, ao que

sentimos ser.” (Savater, 1991, 106). No entanto, a necessidade de auto-realização só

surge quando as que estão na base da pirâmide estão preenchidas (necessidades

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fisiológicas, necessidade de segurança, sociais e de estima), razão pela qual as pessoas

partem em busca de si próprias após as necessidades afectivas, de pertença e estima

estarem satisfeitas, às quais se seguem as de auto-realização, nas palavras de Maslow:

“ (…) à medida que os aspectos básicos que formam a qualidade de vida são

preenchidos, as aspirações vão sendo cada vez mais elevadas”.

Um sentido de vida

Segundo Viktor Frankl, fundador da escola da Logoterapia que explora o sentido

existencial do indivíduo e a sua dimensão espiritual, as necessidades mais básicas não

são necessariamente as primeiras a ser satisfeitas ao contrário do que refere Maslow,

e podem ser ultrapassadas por outras, o que explica a capacidade de um profissional

dos MSF viver por opção em condições precárias, na medida em que ao encontrar um

sentido para a vida as necessidades mais básicas passam muitas vezes para segundo

plano, como ele próprio constatou nos campos de concentração, onde verificou que as

pessoas que sobreviviam eram aquelas que tinham algo pelo que viver. O ser humano

vive motivado, fundamentalmente, pela vontade de encontrar um sentido na vida,

uma vocação, e que só assim consegue satisfazer todas as suas necessidades, esta

teoria justifica toda uma motivação de profissionais de saúde para abandonarem as

suas vidas e conseguirem ser felizes mesmo assim:“ A minha vocação é estar no

mundo, entre as pessoas que têm as demandas mais agudas e urgentes. É assim que

resolvo os meus conflitos internos e me sinto realmente feliz”, diz Carla Kamitsuji;

“Nunca me senti tão feliz “, diz Sérgio Cabral num programa na Serra Leoa.

Conclusão

Os profissionais dos MSF, motivados pela necessidade de auto-realização e pela busca

de um sentido para a vida, salvam inúmeras pessoas, razão pela qual a instituição

recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1999, “ Em reconhecimento ao trabalho

humanitário pioneiro desta organização em vários continentes”.

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