Maria Ines Lamy O Tempo Em Psicanalise1

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    O TEMPO EM PSICANLISE1

    Maria Ins Lamy

    Palavras-chave: retroao / tempo lgico / transitoriedade / pulsao do

    inconsciente

    H muitos anos atrs, mais precisamente em 1899, h um sculo pois, Freud

    escrevia um texto que revolucionava as noes de memria e tempo !em"ranas

    #nco"ridoras$1% &o contrrio do que se poderia pensar, di'ia ele, comum recordarmos

    n(o o essencial nem mesmo o traumtico, mas o detalhe insi)ni*icante% #, tomando

    como exemplo uma lem"rana de um suposto paciente seu de trinta e oito anos +que

    trache- nos revela ser o prprio Freud., aca"a por concluir que a recorda(o v/vida de

    um *ato, a princ/pio incuo, de sua in*0ncia mais remota +aos dois, trs anos. havia sido

    na verdade constru/da, por associa(o com acontecimentos e *antasias de seus de'essete

    anos, para dar conta das di*iculdades pelas quais ele passava aos vinte%

    u"vertendo totalmente a no(o de tempo, assim que o inconsciente *unciona

    na contram(o da ordem cronol)ica, por retroa(o, s depoispodemos sa"er o que

    ter acontecido ou mesmo o que teremos sido%

    2a 3nterpreta(o dos onhos$4, Freud d o nome de atemporalidade 5 rela(o

    do inconsciente com o tempo 6 que, na chamada via r)ia para o inconsciente$,persona)ens e lem"ranas dos mais diversos tempos podem 7se associar% &demais,

    Freud est, com isto, *risando o carter indestrut/vel do dese6o sempre presente,

    sempre pronto a eclodir, desde sempre%

    1ra"alho pu"licado em adernos de :sicanlise$, revista da ociedade de :sicanlise da idade do ;iode >>%

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    ;etroa(o e atemporalidade dois modos de o inconsciente se mover no

    tempo%

    e o inconsciente atemporal e su"versivo 5 cronolo)ia, o"edece no entanto

    com *idelidade 5s suas prprias leis% 3)nora a simples conti)?idade no tempo, mas n(o

    escapa de ter sempre como motor a *ora incessante do dese6o que, para se mani*estar,

    se utili'a o"ri)atoriamente de si)ni*icantes, ou palavras desvio$ +se quisermos usar o

    termo empre)ado por Freud no aso @oraA.B s(o asgotasque li)am as prolas do colar

    ao catarro do pai e ao corrimento de @oraC o amarelodo vestido da adolescente que se

    une ao amarelodas *lores da in*0ncia, na lem"rana enco"ridoraC ou ainda o branco

    dos lo"os que leva 5s roupas brancasno caso do homem dos lo"os%

    & propsito, detenhamo7nos por um momento no exemplo do homem dos

    lo"osD, 6 que ele aponta para al)umas vertentes *undamentais do tempo para a

    :sicanlise%

    &ntes de tudo, interessante notar que *oi para este caso de adulto que Freud

    propEs o conceito de neurose infantil$%

    &lm disso, trata7se de um paciente cu6a aderncia e *ixa(o da li"ido se

    apresentam de *orma t(o intensa e resistente +o que !acan denominaria )o'o do

    sintoma$., que provocou em Freud uma atitude indita a marca(o de um tempo

    limite para o *inal de anlise% & partir desta marca(o, as lem"ranas se precipitaram,

    culminando na *amosa cena primria$%

    ratou7se a/ ent(o de um prenncio do tempo l)ico de !acanG

    & princ/pio poderia parecer que sim, 6 que a pressa, a ur)ncia, a partir de um

    pra'o marcado, *e' com que o paciente tra"alhasse%

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    entrada em anliseC ou o per/odo de todo o processo anal/ticoC ou ainda o tempo de

    dura(o de uma sess(o%

    empo pois de *uncionamento do inconsciente mas, tam"m, tempo a ser

    aproveitado, ou melhor, ocasionado pelo analista que, com seu ato, provoca a

    emer)ncia do dese6o%

    omentando HamletN, a prpria tra)dia do dese6o, se)undo ele, !acan aponta

    estes trs tempos na peaB o instante de ver, quando Hamlet encontra o *antasma do pai

    e 6 sa"e qual deve ser seu atoC o tempo para compreender, que dura quase toda a pea

    tempo de vacila(o, da dvida entre ser ou n(o ser$C e, por *im, o momento de

    concluir, quando rapidamente a a(o *inal se precipita, a partir do ressur)imento do

    dese6o%

    &o eterno adiamento do neurtico +ainda n(o$. ou 5 lamenta(o e revolta

    neurticas +n(o d mais tempo$., !acan prope assim a *un(o da pressa, a ur)ncia

    em concluir, o corte% K analista, com seu ato, intervindo nas associaes si)ni*icantes

    do paciente, pontua, *risa, su"linha a emer)ncia do dese6o% K ato se tradu' tam"m em

    corte da sess(o que rompe o discurso para dar 5 lu' a palavra$ 8, ou se6a , rompe com o

    )o'o do discurso, o bl bl bl, para provocar a emer)ncia do dese6o%

    2isto, !acan n(o est distante de Freud que, em seu "elo texto o"re a

    ransitoriedade$9, discorre so"re a *initude do tempo como limite ltimo, castra(o% @i'

    Freud que a transitoriedade e a iminncia da perda podem provocar trs reaesB ou a

    desola(o, como no 6ovem poeta ao qual se re*ereC ou a revoltaC ou ent(o o terceiro

    caminho o luto pelo o"6eto perdido, que possi"ilita a su"stitui(o e o relanamento do

    dese6o% O por n(o serem perenes que os o"6etos assumem valor% O por n(o ser eterna que

    a vida nos t(o cara%

    D

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    2a tens(o entre a atemporalidade do inconsciente e o tempo como limite,

    corte, situa7se o tra"alho anal/tico, na tentativa, pois, de tornar terminvel a anlise,

    apesar de o inconsciente, enquanto cadeia si)ni*icante e dese6o indestrut/vel, ser

    interminvel%

    :ara concluir, *ao re*erncia a um terceiro autor nem Freud nem !acan

    mas o poeta portu)us contempor0neo de Freud Fernando :essoa +1888719AI.% &o

    *inal de um poema so"re a nostal)ia da in*0ncia, evocada por uma msica ouvida,

    Fernando :essoa parece resumir o que nos di' a :sicanlise so"re o anseio pelo

    perdido, o retorno imposs/vel ao passado e a reconstru(o *eita no presente, en*im, o

    tempo no qual ha"ita o su6eito% @i' eleB

    om que 0nsia t(o raiva

    Puero aquele outroraQ

    # eu era *eli'G 2(o seiB

    Fui7o outrora a)ora$1>

    a"e ent(o ao tra"alho anal/tico tornar esta 0nsia, n(o em raiva, nem em

    lamenta(o e saudade da in*0ncia querida que os anos n(o tra'em mais$, mas, ao

    contrrio, reatuali'ando o luto pela in*0ncia perdida, romper com o outrora$ para

    instaurar o a)ora$, ou se6a, operar um corte com a neurose in*antil para ocasionar a

    a"ertura para o tempo atual do dese6o% # isto tra"alho de todo o percurso de anlise, a

    cada sess(o%

    2K&B

    17Freud,% creen emories$+1899.% #mB Standard Ed%, vol%A, !ondres, Ho)arth

    :ress, 19=4%

    I

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    47Freud,%$he interpretation o* dreams$+19>>.% #mB Standard Ed.,vol%D, op% cit%

    A7Freud, % Fra)ment o* an anal-sis o* a case o* h-steria$ +19>IR19>1S.% #mB Standard

    Ed., vol% N, op% cit%

    D7Freud, % From the histor- o* an in*antile neurosis$ +1918R191DS.% #mB Standard

    Ed%, vol%1N, op% cit%

    I7!acan,