Maria Morais - Terapia e Um Balde de Pipocas

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1 Escola Secundária de São João do Estoril ÁREA DE PROJECTO MARIA MORAIS TERAPIA E UM BALDE DE PIPOCAS Projecto de Investigação 1. Tema geral: Domínio Mental 2. Tema específico: Cinematerapia 3. Título do trabalho: Terapia e um Balde de Pipocas 4. Pergunta a que o trabalho responde: Qual a função terapêutica do cinema 5. Programa: para responder a esta questão vou abordar o conceito de Cinematerapia, como surgiu, como funciona e os benefícios que dela advêm. Maria Guerreiro Morais 12º 3 Estoril, 18 Novembro 2009

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Este é um trabalho de investigação feito no âmbito da disciplina de Área de Projecto, na Escola Secundária de S. João do Estoril, pela aluna Maria Morais (12º3).

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Escola Secundária de São João do Estoril

ÁREA DE PROJECTO MARIA MORAIS

TERAPIA E UM BALDE DE PIPOCAS Projecto de Investigação 1. Tema geral: Domínio Mental 2. Tema específico: Cinematerapia 3. Título do trabalho: Terapia e um Balde de Pipocas 4. Pergunta a que o trabalho responde: Qual a função terapêutica do cinema 5. Programa: para responder a esta questão vou abordar o conceito de Cinematerapia, como surgiu, como funciona e os benefícios que dela advêm.

Maria Guerreiro Morais 12º 3

Estoril, 18 Novembro 2009

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Introdução “Toda e qualquer forma de arte (…) tem efeito terapêutico quando consegue transformar o espectador e torná-lo melhor do que era antes” (Py, Luiz Alberto in Quando a tela de cinema vira divã). Hoje em dia, a par de todas as outras, surge também o cinema como forma de terapia. O uso dos filmes tem ganho grande popularidade, com um número crescente de terapeutas a contar com este método para mover as pessoas para progressos mais rápidos. Este artigo pretende explorar e descrever o efeito da cinematerapia bem como os benefícios que ela tem para oferecer a cada um de nós. Cinematerapia Cinematerapia (ou Film Therapy) é um conceito relativamente novo na sua aplicação prática como um complemento à terapia dita convencional. Baseia-se na prescrição de determinadas obras cinematográficas com o objectivo de funcionar como um adjuvante no percurso terapêutico de um paciente. A sua utilização ao longo da História A terapia pelo cinema nasceu nos E.U.A. há cerca de uma década, e tem vindo a difundir-se pela Europa nos últimos anos. Um dos mais reconhecidos pioneiros nesta área é Gary Solomon, também conhecido por “The Movie Doctor”, que publicou em 1995 o livro The Motion Picture Prescription e em 2001 Reel Therapy, que tinham como objectivo a divulgação do método juntamente com os seus benefícios. Outro grande precursor da Cinematerapia foi o psiquiatra italiano Vincenzo Mastronardi, professor de Psicopatologia Forense e grande adepto deste método, que tem estudado e aplicado a mesma técnica nos seus pacientes. Inicialmente, utilizou a terapia apenas em pessoas com perversões sexuais e tendência ao vitimismo. O psicanalista afirma que, no término do tratamento, os testes revelaram uma notória melhoria nos pacientes. Apesar de ser relativamente recente, o conceito por detrás da Cinematerapia remonta à Tragédia na Grécia Antiga, na qual se tentava alcançar a Catarse (Kátharsis), ou a purificação dos espectadores, pela representação dramática. A principal função na tragédia era ser capaz de se reconhecer a si mesmo nas peças que interpretavam, e ao mesmo tempo conseguir o distanciamento necessário para exteriorizar as suas emoções estendendo-as ao público, fazendo com que os espectadores sentissem aquilo que os actores representavam. Actualmente, devido à evolução da Cinematerapia nos últimos anos, existem mais de 2000 filmes catalogados para o tratamento de inúmeros problemas emocionais. Como Funciona Este método tem como pressuposto o facto de que as pessoas podem estar tão absorvidas pelos seus problemas, sejam eles vícios, relações disfuncionais, traumas ou simplesmente más escolhas, que perdem a perspectiva da realidade. Disto advém frequentemente a falsa noção de que certa situação não tem resolução, parecendo-nos maior e mais grave do que é na verdade.

É precisamente neste ponto que entra a Cinematerapia. Nas sessões são seleccionados filmes que se encaixam na problemática pessoal do paciente, fazendo com que este identifique o seu próprio drama na história, permitindo não só um maior distanciamento e objectividade críticos na avaliação dos seus problemas, mas também a troca de experiências e ideias sobre como a melhor forma de lidar com determinado assunto e a descoberta de caminhos alternativos em oposição ao seu padrão comportamental habitual. Existem ainda os casos de

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pacientes que sentem uma grande dificuldade em identificar e verbalizar os seus sentimentos. Aqui verifica-se outro benefício da Cinematerapia, na medida em que age inconscientemente no espectador, ajudando à manifestação de sentimentos reprimidos. Que aspectos garantem a eficácia deste método? “Scientists now think that during therapy, the individual is able to suspend his or her disbelief long enough to confront individual issues.” (Raman, Reeta, 2006). Muitos afirmam também que os pacientes se mostram mais abertos e dispostos a trabalhar nas suas emoções após uma sessão de cinema do que de análise. Este método segue, portanto, a máxima de que “uma imagem vale mais que mil palavras”, ou seja de que um quadro visual é bastante mais forte e eficaz que instruções dadas pelo terapeuta. Outro aspecto bastante favorável reside no facto de que os filmes poderem ser revistos vezes sem conta, permitindo ao paciente reviver certas situações ou estados mentais, servindo como ferramenta de discussão e análise nas sessões.

Por outro lado, dão-se também modificações ao nível do organismo: estado de menor tensão (mais relaxado), durante a qual há uma diminuição das frequências cardíaca e respiratória, e um aumento da atenção e da capacidade de concentração. Todas estas alterações tornam o indivíduo mais receptivo às ideias e emoções passadas no ecrã.

Num último plano, também toda a atmosfera criada pelo cinema, como as imagens, a banda sonora, as personagens (que podem ser muito inspiradoras) e principalmente a ausência de luz, levam a um ambiente mais intimista, estimulando assim a reflexão. Estrutura das Sessões Geralmente cada sessão encontra-se dividida em 4 etapas: Numa primeira fase, o terapeuta discute e esclarece com o paciente os objectivos para a sessão – identificação da realidade ou situação que é partilhada pelo doente e pela personagem, sentimentos despertos por essa mesma situação ou problemática, etc. Após este momento elucidativo, seguem-se exercícios de respiração e relaxamento, com o objectivo de favorecer a disposição e receptividade do cliente para a actividade a decorrer. De seguida, dá-se início ao visionamento ininterrupto do filme escolhido. Por fim, o terapeuta e o paciente discutem quais os pontos do filme que marcaram ou suscitaram uma alteração no comportamento do mesmo (o examinado deve estar atento às sensações e sentimentos que experiencia durante a exibição do filme), as suas possíveis causas e meios de resolução. Filmes para diferentes Males Existem muitos filmes que abordam uma grande variedade de assuntos, por isso, o filme seleccionado depende do problema que se quer tratar. Porém, deve-se ter em conta que a obra tem de ser escolhida com extremo cuidado, preferencialmente por um especialista, pois é uma ferramenta que, quando mal usada, pode causar sérios danos a pessoas com problemas mais profundos como a depressão ou trauma psicológico, por exemplo. Abaixo estão representados alguns dos filmes receitados e cada um dos seus propósitos. Tem de se ter em atenção que muitas vezes estas narrativas apresentam-se exageradas, mas o mais importante é que o paciente se consiga identificar com elas, e que consiga reconhecer o que o perturba, para que possa agir em função disso. - “Ray” - Conta a vida do cantor Ray Charles, nascido numa pequena e pobre cidade no estado da Georgia, EUA. Aos 7 anos, começa a perder a visão como consequência do trauma ao

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testemunhar a morte de seu irmão mais novo. Incentivado pela mãe, Ray encontra seu dom como pianista. A fama explode quando ele ousa incorporar o gospel, o country e o jazz, gerando um estilo inimitável. Ao mesmo tempo, Ray luta conta a segregação racial e o vício da heroína. Efeito: É uma história de determinação e vontade de viver, que ao mesmo tempo aborda um tema recorrente nos dias de hoje que é a toxicodependência. - “Sala de Pânico” (Panic Room) – a história centra-se na no drama de uma mulher e a sua filha que são assaltadas durante a noite, e se escondem numa divisão secreta, concebida para emergências, chamada “sala de pânico”. De repente vê-se encurralada lá dentro pelos bandidos, sem hipótese de sair ou chamar ajuda. Efeito: Ensina as pessoas a como reagir perante uma situação de grande ansiedade. - “Forrest Gump” – Forrest Gump nasceu com um QI baixo e com uma deficiência nas pernas pela qual tinha de usar aparelhos para conseguir andar. Isto fez com que fosse gozado durante a infância. No entanto, a sua mãe, que o ama incondicionalmente, ensina-o a olhar para os obstáculos como oportunidades e é esta filosofia que o ajuda a sobreviver e prosperar. Efeito: Este é um filme muito popular nas sessões pelo facto de abranger várias lições de vida: lembra a importância de mudarmos a nossa perspectiva e que os obstáculos nos fazem mais fortes enquanto pessoas. Outros:

- As confissões de Schmidt (distanciamento entre pais e filhos);

- Erin Brockovich (uma acção pode mudar o mundo);

- O Fabuloso Destino de Amélie (ultrapassar as nossas limitações). Conclusão Há muito que a arte é utilizada no processo terapêutico: primeiro com a pintura e escultura, depois pela literatura e agora pelo cinema. Os filmes afectam muitos de nós de uma forma poderosa, combinando o impacto da imagem, música, diálogo e iluminação, fazendo emergir emoções reprimidas ou apenas melhorando o nosso estado de espírito através de uma mensagem positiva, facilitando a reflexão e uma melhor compreensão das nossas vidas. No entanto, este método não deve ser entendido como uma cura fácil para todos os problemas, nem deve ser utilizada sem a presença de um especialista quando o paciente enfrenta questões mais sérias.

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