Mariângela Padilha - rl.art.br · Eu espreito e você vegeta Que pressa eu tenho em te ter Vim te...
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Mariângela Padilha
Mariângela Padilha
PRIMEIRA EDIÇÃO - 2011
Produção:Capa:
Me Morte - René OcinéRené Ociné
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo destelivro poderá ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma,seja ele impresso, digital, áudio ou visual sem a expressa autorizaçãopor escrito da Autora sob penas criminais e ações civis.
Todos os direitos reservados a:
Lamentos da Me... 07
Poetisa...08
Noite...09
Morte...10
Sou Me...11
Corvo...12
Beijo da Morte...13
Ruínas...14
Poeta...15
Coma...16
Vela Acesa...17
Diferente...18
Ecos...19
Lamentos da Me II...20
O que sou...21
Sou Me...22
Corpo...23
Pele...25
Guardião do Sono...26
Aroma de Alma...27
Dor...28
Morta...29
Vampiresco...30
Desalmada...31
Morte...32
Todas as Andorinhas
Andam Nuas...33
Pesadelo...34
Inferno...35
Farta-te...37
Olhos Negros...38
Mãos...39
Vem...40
Quero Respirar...41
Suicida...42
Meus olhos cegaram...44
Olhar e Sangue...45
Segunda Chance...46
Morrer um pouco...47
Biografia...48
Lamentos da Me... 07
Poetisa...08
Noite...09
Morte...10
Sou Me...11
Corvo...12
Beijo da Morte...13
Ruínas...14
Poeta...15
Coma...16
Vela Acesa...17
Diferente...18
Ecos...19
Lamentos da Me II...20
O que sou...21
Sou Me...22
Corpo...23
Pele...25
Guardião do Sono...26
Aroma de Alma...27
Dor...28
Morta...29
Vampiresco...30
Desalmada...31
Morte...32
Todas as Andorinhas
Andam Nuas...33
Pesadelo...34
Inferno...35
Farta-te...37
Olhos Negros...38
Mãos...39
Vem...40
Quero Respirar...41
Suicida...42
Meus olhos cegaram...44
Olhar e Sangue...45
Segunda Chance...46
Morrer um pouco...47
Biografia...48
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Mariângela Padilha
Prefácio
Numa compreensão quase invisível.
Pelos vazios que se sente, é que se adentra nessa buscaalém, como vem sendo através do tempo. Os espaçostambém nos compõem justificando uma procura. Os diaspodem ser muito obscuros, mas nem que seja uma únicaverdade dentro das ilusões, os nossos passos tendem aesse encontro, sempre, se nenhuma distância é tão grandea nos impedir diante do significado de uma chance. Aemoção e a sensibilidade superam quaisquer dúvidas eprovocam uma inquietação que não teme, que invoca, seaprofundando através da escuridão dos mistérios, quandonem mesmo uma saudade ou toda a nossa nostalgia pesao suficiente a que não nos arrisquemos.
E mesmo que muito alheio se esteja, nessa distância,não se estará necessariamente sozinho, se outros partiramantes com seus vaz ios oportunos, ansiando dessepreenchimento, e assim seguem, caminhando, sem tambémesconder a excitação por seus próprios motivos. Sob o sol,à Luz da lua, adentrando pelas sombras da noite, explorandode si na própria dualidade, numa ida que é um tipo deretirada, que exige tanta coragem enquanto é quaseimpossível sem essa sensibilidade.
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Girto - Me Morte
São poetas em seu privilégio, sentinelas por todo mundo,experimentando por sua clara ousadia, tudo do que é nopossível, e ainda muito além, em tudo que nos seja sombrio.Contam, demonstram pela alquimia do combinar dos seusversos, buscando os segredos desse infinito, encontram ese revelam, do enigma que todos somos . É nessanecessidade que se expressam e respira a civilização, quevence os obstáculos e não permite que a cultura pereça.Um sacerdócio em busca da luz , não importando osmeandros do caminho, são raias em sua disposição, sãoanjos também nesse escuro.
Obrigado Me, pelo privilégio da sua amizade, criatividadee energia.
René Ociné
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Mariângela Padilha
AmoSinta a dorTenho a lâmina apontada para tiVemDá-me a cor
O gosto do sangue por virAmorSou tua morteDá tua mãoVamos buscar o infinitoDepois do beiralSob o chãoVem escutar os gritosVamos sentir o êxtaseO alucinante do peitoInstantes de gozo e dorPor sobre o leito
Lamentos da MeLamentos da Me
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Girto - Me Morte
Eu sou tétricaEu sou tristeEu sou a Poetisa do PortalEu sou o que não posso serO mundo é feioEu tenho coragem para dizerA vida é sádicaEncaro a Morte como amigaPara ser felizPara ser Vida
PoetisaPoetisa
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Mariângela Padilha
Uma gota de sangue, por favorUm Vampiro, um AmorCrave seus dentes em mimMas crave!Não me deixes assimNão sabes como dói!Uma passagem medíocre pela vidaUma trégua só para respirarQuero morrer, se morrerMe trouxer vidaQuero amar!
NoiteNoite
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Girto - Me Morte
Olhe para mimEu espreito e você vegetaQue pressa eu tenho em te terVim te verBuscar teu arArrancar teu último suspiroTe levarOlhe para mimImponente!Sou a mais bela das criaturasCompletaEstou te olhandoCobiçando a tua historiaVais ser meuSai da luzEu sou breuOlhe para mimTe quero mais que todas as paixõesJulgam-me malNão sou horrendoSou o teu guia no portalVem ser meuSou tua sorteTeu prometidoTeu noivoTua morte!
MorteMorte
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Mariângela Padilha
Procuro o amor dos vampiros pois são fiéis na dorProcuro a dor da mortePois tem uma sensação de êxtase e vidaProcuro amigos para ser feliz num mundo tristeProcuro um pássaro para me levar em seu vôoE me tirar das trevasProcuro vocêSeja bem vindo!
Sou MeSou Me
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Girto - Me Morte
Queria ser tal pássaro de contínua belezaTeria teus versos cor de sangue e paixãoUma alma de corvo num céu azul profundoDo vôo de um Profeta que poetiza o mundoQueria ter o ardor dos vampiros esfomeadosMas só na eternidade do amor por seusamadosSer tua musa nesse planeta tão carenteDe arte, solidaria arte que lapida as mentes
CorvoCorvo
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Mariângela Padilha
Eu te procuroDá-me uma gota de teu sangueVou cortar o branco de tua vesteSeja vampiro, seja monstroAmigo das trevas ou amanteSeja alma do ser que faleceQuero teus olhos, tua luzBeber tua vidaSecar tua fonteNada mais deixarSer teu corteQuero te beijarTe mostrar o mundoNo meu submundoTenebroso e negroQuero agoraSem demoraMorre para mimDe novo
Beijo da MorteBeijo da Morte
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Girto - Me Morte
Vejo tuas ruínasMeus olhos estão cegosTanta dorSente o espinho cravando o peitoBeijo teus sonhosMeus lábios são leitosDesenganosSou demoníaca, sou brejoQuero tua almaConhecer teu lado obscuroVem transpor o muroNo beiral da morteRoubar tua sorteSer InteiraCom todas as doresTodo sangueTua pulsaçãoTeu ar
RuínasRuínas
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Mariângela Padilha
Ser poetaÉ enxergar um corpo fétidoE ver rosas que ninguém vêVer escorrer o sangue da fronteE lamber o lábio de prazerSer poeta é sentir falta da criaturaUm rosto desfigurado de canduraQue só os poetas sabem verSer poetaÉ sentar aqui no quartoGostar do breu, do tom ruimSer poetaÉ sonhar com os lábios teusE cobiçar você para mimSer poetaÉ tentar fazer versoQuando só se vê cadáveresQuando só se vive por viverSer poeta é gostar de vocêA ponto de escrever algo assimSer poetaAte que não é tão ruim...
PoetaPoeta
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Girto - Me Morte
Meus olhos estão fechadosMas sinto você ao ladoPensando, rezando, chorandoAlguém ao ladoComigoMeu cérebro é que te escutaQue acolhe a tua súplicaE não responde inerteNo beiral da morteNo abismoBarulhos desencontradosImagens e sonhos, quebradosMeros cacos, na inconsciênciaOs dias seguem vibrantesE eu vegetoMeus olhos estão fechadosE ainda me sinto amadoAinda me sinto vivoQuero acordarTe verMeu cérebro a tudo assisteMas, meu peito é que resisteE teima em voltarRetomar os planosViver
ComaComa
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Mariângela Padilha
Da soleira da porta avistoA chama alta, farta e esplendorosaDa vela num pires de porcelanaInspiro o odor c�lido que emanaE vejo reacender belas lembran�as......Crian�as cantam em volta da mesa:“Parab�ns pra voc�...”e eu tentoApagar a chama que logo ressurgeNa impaci�ncia, pois meu tempo urgeEscondo a vela num pote de grude...... Noite estrelada vai criando um “clima”A mesa na penumbra e o gar�om, discretoAcende a vela e teu olhar inflamaComo despedida da vida mundanaToma minhas m�os e diz que me ama
Da soleira da porta avistoA chama alta, farta e angustiante...Uma l�grima de cera, no pires, desceUm odor f�nebre emana, entristeceE feias lembran�as reaparecem......Quando chorei por meu irm�o amado...Quando roguei para que Deus me acordasseDo “pesadelo”que levou meu amigoMeu her�i, meu cais, meu pai, meu abrigoE a vela l�, queimando comigo...
Vela AcesaVela Acesa
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Girto - Me Morte
Mesmo no berço, atraio olhares...Uns de surpresaOutros, carinhoOu de fascínioAtraio olhares...Sou diferente, atraio olhares...Alguns de penaOu solidariedadeOutros de maldadeAtraio olhares...Se sou criança, atraio olhares...Sejam dos filhosSejam dos paisOu da cidadeAtraio olhares...Adolescente, atraio o lhares...Uns de desejoOutros de amorOu caridadeAtraio olhares...Hoje mulher, atraio olhares...Um no espelhoReflete e diz:Eu sou feliz!Atraio o lhares..
DiferenteDiferente
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Mariângela Padilha
Ecos
Duplica o instante
Duplica o gesto
Eco é um protesto
Sons terríveis
Que alarmam
Estonteantes
Um bebe que chora
Um cão que uiva
Sons incríveis
Que calam
Sons irritantes
Um choro angustiante
O olhar que implora
Para que não vá embora
Para não morrer
E o irrelevante
O Som da Polícia
Ou da freada brusca
Sons terríveis
Que abalam
Angustiante
Um gemido, um soluço
Um tiro, uma rajada
Ecos...
Enfeitam o instante
E se repetem
E se repetem
Repetem-se e...
EcosEcos
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Girto - Me Morte
Eu sou a sombra de tua sombraVelha luz j� apagadaClar�o velho e sem rumoSem hora, destino, sem nadaEu sou aquele que te observaAprisiona, depois te salvaTeu destino
†††Dezoito Horas†††
Sinto os primeiros sinaisMeus olhos teimam em abrirMeus sentidos em sairAtacar a presa...
†††Dezenove Horas†††
Os raios do Sol se acomodamSeparo o corpo da menteA fome incomodaMe apressar
Correr na buscaSugar
Lamentos da MeLamentos da Me
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Mariângela Padilha
PoetisaTalvez ProfetaPrometida da MortePré Trevas,Privada de SorteSou Poeta das SombrasPoetizando, amandoPara o Professor,Ponto de AfetoPara mimTemor PrediletoPonto de AmorDejeto
O que SouO que sou
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Girto - Me Morte
Não queira saber quem souDe onde vimNem para onde vouSou uma sombraUm clarãoUm reflexoTua mãoO sem nexoSem explicaçãoNó sem eloPiso sem chãoSou criaturaSem criadorPartituraSem tenorNão queira saber quem souDe onde vimPara onde vouSou sangue sem corteNoiva da MorteSem despedidaAmiga das sombrasQue ama a vida!
Sou MeSou Me
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Mariângela Padilha
Um corpo aliDesfalecidoNo chão, jogadoUm namoradoPronto para mimPara ser amado
Um corpo aliDesfiguradoNo chão, caídoSem cor,obstanteTer sobrevivido
Um corpo aliE eu com fomeEu indecisaNunca, jamaisEm toda vidaVi coisa assim
Um corpo aliEstremeceuChorou, gemeuAinda vivoReacendeuO meu instintoO meu ROMEU
Esfrego os olhosE como póSumiu, correuDe lenço, longeSorrindo, um mongeMe consumindo
Um corpo aliSou eu...
CorpoCorpo
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Girto - Me Morte
AmorAcordei com gosto de sangueResto de nossos instantesNossa loucura mórbidaEm noite chuvosaNebulosaApaixonante
AmorTive medo de ser pesadeloE perdida num total desveloNão te visse mais ao meu ladoUm medíocre casal apaixonadoEnfartadoAtordoadoDe tanto amar
Meu amorQuero, antes que a morte me tomeDizer de tudo, pronunciar teu nomeE viver mais, que mais, do teu ladoPra me sentir viva, sentir amadoE alucinadoAlimentadoDormir de novo
PelePele
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Mariângela Padilha
Velando meu sonoDestruindo meus inimigosEnquanto durmo no túmuloIndefesa como uma criançaTu mostras tua forçaO tamanho de teu amorDe teu zeloO maior de meus apegosDe todos os amores
Guardião do SonoGuardião do Sono
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Girto - Me Morte
Às vezes abro minha portaAceito uma brisa invadindo meu túmuloMesmo podre e condenado, meu submundoQuer te conhecerÀs vezes fico totalmente melodramáticaQuando sinto solidão ou fomeNão de insetos, mas de homemE vago, louca, nas madrugadasQuando te vi minha boca se encheuUm gosto de sangue teuAroma de tua Alma...
Aroma de AlmaAroma de Alma
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Mariângela Padilha
DóiNão queira saber como dóiVer sangue por todos os ladosQuando teimo em ver floresDóiComo dóiNão tente saber como dóiToda angustia de uma ausênciaUm cadáver sem consciênciaSem poder acordarVelho coma da AlmaPressionando minha nucaTanta lutaPor nada!DóiNão queira saber como dóiOs meus olhos cansadosDesalmadosTeimando em morrerQuando tento viverQuando tento amar
DorDor
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Girto - Me Morte
Deitada nessa lápide friaSentindo uma toneladaComprimindo o tórax,Sangue escorrendo da fronteNum total ápice,Lateja a menteE toda a genteVendo-me apodrecerLiberdade para viver é precisoBem mais que para morrerSem pedir licençaUm gosto de Albatroz
MortaMorta
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Mariângela Padilha
Olhar vampirescoTemor implícitoUm tom magníficoDe sangue e paixão!
Esconde as sombrasDe uma cor de honraE paixãoUm passado longeAcena as mãosDas Trevas o CriadorDas Criaturas, o sedutorDa Morte, mera ilusão
VampirescoVampiresco
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Girto - Me Morte
...No ar um cheiro de tintaComo se fossem rec�m pintadasAs paredes do quarto, desalmadoQue me vestiu s� de len��is......Na veste um rastro de sangueComo se fosse violentadaE o semblante sereno flagraUm misto prazer, um gozo gritante...•... Brigo com meus olhos trai�oeirosQue teimam em dormir, sem te ver partirArranco-os fora pra que os leve emboraN�o preciso de olhos para sorrir...Para mim, basta meu mist�rioTua fome de mim e uma certezaQue mesmo longe, distante estejaFaz t�o pr�ximos nossos instantesE sigo assim desalmadaPor todos, muitos, adoradaE s� por ti possu�daSigo com s� uma certeza na vidaSe morro um dia ou breve, morrida estejaSerei feliz na partidaPois tive por ti segundos de saudadeQue me levaram ao �xtase e a eternidade.
DesalmadaDesalmada
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Mariângela Padilha
MorteTeu encanto me fascinaTua glória me arruínaTeu olhar me persegueE por onde quer que eu andeMilhas distanteQue teu amor me leveMorteTeu nome diz dorDo amor dos imortaisO instinto dos animaisQuero te levar para longeJunto de meu corpo mongeTeus diversos aisTeu beijo desesperadoTe vejo em sonho, acordado...Com o instante de nascerDe morrer, de viverJunto do amadoPara ser feliz, para ser feliz...
MorteMorte
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Girto - Me Morte
Veste-me de sangue...
ANDO SOZINHO...TODAS AS ANDORINHAS ANDAM NUASTODO HORIZONTE É COMO A LUAINTOCAVEL
Veste-me de ódio....
VOU PERSEGUINDOVELHOS INIMIGOS INVISIVEISBELAS LUTAS SEMPRE INVENCIVEISFALTA CORAGEM...
Veste-me de Trevas...
COM TANTAS GUERRAS LA FORATRAVADAS NO ARDOR DA EXISTENCIADE TODAS AS INCOERENCIAS
TODAS AS ANDORINHAS ANDAM NUASTODAS AS ANDORINHAS ANDAM NUAS
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Mariângela Padilha
A MINHA É MAIORA MINHA É PIORA MAIS CRUEL...
Veste-me de dor...
TRAGO O ROSTO MARCADODOS MEUS DISSABORES, DE TUDOE TODAS AS DORES DO MUNDOTRAGO NAS MAOSNA SOLIDÃONO VIVER...
Veste-me de choro...
ANDO SOZINHOSOU COMO A LUAE AS ANDORINHASSÓ ANDAM NUAS
Veste-me de amor...
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Girto - Me Morte
Sei que sonhas em me terMuitos nem dormem maisNão sou convencida ao dizerSão eles que contam, me imploramMe perseguem nas noites iguaisMe querem para fazer amorPara saciar sua fome e fantasiaEsquecem que meu coração pulsaDe angustia, as vezes repulsaUma loucura que não sai de mim...Enquanto muitos me querem assimEu sigo só, sem direito, sem dóEnquanto em sonhos vocês me fazem amorEm pesadelos tramam meu fimQue venham na noite em espíritoE matem meu corpo malditoQue me faz ser assimNão quero paixão, nem gritosQuero a noiteBeijos aflitos...GritosGritosSem me ouvir...Nem escutam mais...
PesadeloPesadelo
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Mariângela Padilha
Aqui... Eu moro nele!
Venha se juntar ao Maldito!
Às paixões insaciáveis!
Ao mais profundo grito!
Venha ser de minha morte
O passageiro mais bonito!
O cão mais aflito!
O tinhoso, o bendito!
InfernoInferno
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Girto - Me Morte
Teu gosto está impregnado em minha peleGosto de sangue de dia seguinteCoagulado, seco e ruimQue continua em mim
Ontem nos perdemosEntregaste tua alma aos meus loucos desejosPor que na entrega são criaturas que vejoA me possuir, a zombar de mim
E desse modo grotesco, assimMe teve, fui tua, cravei em tua peleMeus dentes, minha unha, corrosiva febreDas paixões lascivas que tanto procuroE que a noite sempre me concebe
Te tive e fomos colados, uma só carneDe criador virei criatura,De gato, fui lebreE num êxtase de meu macabro delírioTe fiz vampiro e hoje é a mim que bebeFarta-teDeve...
Farta-teFarta-te
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Mariângela Padilha
Sempre te tive em pesadelosMacabro e sedutor, criatura e criadorFisgada pelo místico de tuas palavrasPelo sangue de teus contosLevada pelo toque de tua AlmaJá tens meu eterno encantoE meu desgraçado espantoMinha loucura e paixão!Sabia que na mente sádicaDe tão talentoso VampiroSe escondia uma ternura bravaQue viria um dia tomar-me os olhosQue já há muito havia concedido...Sempre achei que o "Olhos Negros"Tivesse sido feito pra mimE mesmo sem ter visto os teusMesmo sem crer que vivesseSentia tua pele em cada linhaCada gota de sangue que bebiaEra minha por te desejar-te um dia!
Olhos NegrosOlhos Negros
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Girto - Me Morte
Mãos
Sangrento dia que me fez dormirSangrenta noite em que te devoreiUm corpo no limbo inodoroPronto para servir...Nas madrugadas fiz meu prantoMeu riso macabro, inútilMinha fúria e teu espantoCompanheiros de lamúriaDa dor, dos absurdosDo amor, dos abusosE do vermelho das Paixões!Agora, sangrenta é a tua vozQue não soa mais, está morta!Teu corpo inerte e ainda quenteMe devora sangrenta, incoerenteComo se tivesse aprendido, displicenteCom louvor, toda lição...Sangrentas mãos!
Mãos
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Mariângela Padilha
Estou com sono, Senhor das minhas Trevas!Com névoas no olharEsperando tua carne podreNa demora em chegarMeu corpo decompõe rapidamenteMinha mente apaga, derreteMeus olhos padecem, entristecemNão vejo mais o teu olharVem, Vampiro da NoiteDar o ar da graçaSugar o sangue enquanto passaDepois adormeceEstou com sono, Senhor de minha TrevasE nos meus sonhos vou te devorarAh! Vou...
VemVem
39
Girto - Me Morte
Abra uma fresta para mimNão me deixe morrer assimSem espaço, sem chance, sem ar...Sinto o cheiro de minha carneQuerendo se deteriorarQuerendo fugir, escaparDe ser enterrada vivaDe procurar saídaDe amarE mesmo que eu pareça friaMe ajude a retornar ao diaAntes que os vermes me tomemMeu sangue jorra desesperadoPor não ver luz, não ter amado,Ao longe, ao longe...E mesmo agora, com vida eternaCom vampiros ao meu redorMesmo sendo Morta-Viva,Sinto a amargura de viverEu vivo...
Quero respirarQuero respirar
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Mariângela Padilha
Suicida
Quantas mentes torpes tentam fugirProcuram a Paz que se tem ao partir
Esquecem de que na Morte não se adormecePois que Morte é sinônimo que entristeceTalvez a controvérsia seja agora de mim
Morte, falando em vida, assimMas morte nos poemas é vidaDe amor e gozo dos imortais
Alimenta, sustenta, seca os "ais"Sangue corre nas páginas frias, distante,Para longe dos olhos, para nunca mais
Querem saber de Morte, leiam meus dias,Minha lápide de mármore bela e friaEspiem meus amigos, companhias
Ajudem a enfeitar cadáveres todos os diasEnsinando-os a viver
Nas linhas de meus versos, que por certoJá te acalmaram um dia.
Mas nunca se mate, não abrevie tua vidaPois que esse inferno bem conheço
Muito caro sai o preço
Suicida
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Girto - Me Morte
De quem tenta subjugar a DeusE quando se tenta tomar a frentePassar por cima da vontade divina
Tem que se estar preparado, cuidadoPara o que vem após a carnificina:O dedo do Pai te mostrando a sinaDos que tentaram tomar seu lugarMorra em verso, morra nos dias
Mas cultue a vidaPois a dor dos suicidas
É Morte que destrói a paz!
42
Mariângela Padilha
Meus olhos cegaram
Ela tava morta bem ali
Eu não pude fazer nada
No peito uma faca cravada
Nos olhos uma dor sem fim
E ela olhava para mim...
Maldito, mil vezes maldito!
Que nasceu num monte de lixo
E cruel, atacou feito bicho
Uma indefesa borboleta!
Tirou das asas as cores
Roubou seu futuro de flores
E depois lhe jogou na sarjeta
Tirem de mim essa visão
Torpe e cruel podridão
Que não me deixa dormir
Não posso combater o mal
Se a vontade de me vingar
Meus olhos cegaram
43
Girto - Me Morte
De mim não quer partir!
Meus olhos cegaram, enlouqueci
A menina não vai mais voar
Na infância, jamais brincar...
E meus olhos opacos, sem vida
Vão te seguir para o resto da vida
Sem ter direito de descansar!
Eles hão de te achar maldito
E ouvir de ti o mesmo grito
Que escutei a borboleta dar
Na agonia de minhas mãos
Quando os teus olhos arrancar!
44
Mariângela Padilha
Sai de mimCheiro de morte
Essência e putrefaçãoJorra tua lama na Alma
Dos que consomem tua calmaSai de mim...
Desejo inconstantePrazer e luxúria
Que a sociedade seguraDesejo e carne!
Sai de mim violentoTormento que sangra no vento
E nunca estanca, nunca, nunca...Sai de mim demônio das Trevas
Que me toma as rédeasE assopra minha morte!
Sai de mim dor dilacerada
Olhar e sangueOlhar e sangue
45
Girto - Me Morte
Decepção de ser amadaE se sentir traída!Sai da minha vida!
Se for para ver teu peitoPulsando por outro leito
Idolatrado, tortura e breu...Prefiro a morte e com sortePara não te ver apaixonadoCegos meus olhos adorados
Para nunca mais olhar os seus...
46
Mariângela Padilha
Segunda Chance
No dia de minha Morte tentei viverComo se só ali descobrisse o SentidoDe se estar Vivo, de ter sobrevividoÀ tanto ódio em tão curta existênciaMas de todas as incoerênciasEssa talvez tivesse sido a maiorDescobrir que se está vivo no diaQue seria da própria MorteE contar com a benevolência da SorteDo Bom Deus nos deixar ficarConsertar os erros, redefinir os diasRezar pela primeira vez a Ave MariaSem ser piegas, nem pagão demais!Ser somente um ser viventeQue devolveu seus dissaboresTrocou o cinza por diversas coresUma segunda chance de encontrar a Paz!
Segunda Chance
47
Girto - Me Morte
Morrer um pouco
Meus olhos cansadosCaladosObtusosAbsortos em lágrimas contidasAo longo de uma vidaImpuraInfectaE meus lábiosE minha peleQuer teu beijoEm sangueTeu gozoQue vejo no nadaDo sepulcroQue rondaMinhas vontadesMinha saudadeMeu serVemMorrer um pouco
Morrer um pouco
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Mariângela Padilha
Biografia
Mari�ngela Padilha, nascida cidade de Vacaria, Rio Grandedo Sul em e residente em Minas Gerais desde os dozeanos de idade, em Pouso Alegre desde 1976.Trabalhou na Empresa Brasileira de Correios e Tel�grafosdurante o ito anos; fo i Coordenadora do Centro deReeduca��o Municipal – CREM, atualmente trabalha na �reaadministrativa da Secretaria Municipal de Esportes e Lazerde Pouso Alegre - MG.Na �rea liter�ria foi colaboradora durante dois anos doJornal “Sul das Geraes”, participou de v�rias antologiaspelo Brasil, concursos e exposi��es.Na internet possui oheter�nimo g�tico “Me Morte” e desenvolve um projeto deliteratura sombria com participa��o deescritores e artistas em geral.“A Lenda do Corpo Seco” � seuprimeiro livro impresso, umromance infanto juvenil inspiradonuma lenda urbana da cidademineira de Pouso Alegre, lan�adoem agosto de 2009.
Mariângela Padilha