Marinheiros na umbanda

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MARINHEIROS NA UMBANDA Entidade ambígua que se apresenta na Umbanda, os marinheiros ncantam aqueles que os conhecem e os vêem trabalhando. Entendendo que as Entidades da Umbanda, apresentam-se como um “arquétipo”, de um personagem comum na história de nosso país, este artigo procura trazer pistas para compreendermos mais sobre essa entidade singular, passeando um pouco pela história, pelo folclore e por religiões fronteiriças e formadoras da Umbanda. Marinheiros e Marujos na História do Brasil Estudos trazem informações sobre quem eram os marinheiros e marujos pertencentes a nossa história 1 . A tripulação relativa ao tráfico negreiro, no século XIX, era formada por 53% de portugueses e 24% de africanos de diferentes etnias. Destes, a maioria eram ou tinham sido escravos e quase sempre estavam na condição de marinheiros. Era comum que capitães separassem escravos mais robustos para substituírem os tripulantes que morriam nas viagens. Também alguns capitães sentiam necessidade de ter na tripulação africanos para entender o que os escravos encarcerados estavam pensando ou tramando. A Marinha brasileira formada no tempo do Império recrutou á força inúmeras pessoas. No Relatório do Ministro da Marinha brasileira de 1888, cita-se que, de 1840 a 1888, foram recrutados à força 6.271 homens para o Corpo de Imperiais Marinheiros, e recebidos somente 460 voluntários. Todo homem suspeito de deserção, vadio, arruaceiro, gatuno, capoeira ou órfão poderia ser enviado para a Marinha ou para o Exército. Mendigos, moleques e vadios eram recrutados para o Exército e a Armada. Esse recrutamento era entendido como uma alternativa à superlotação das cadeias e à 1 - Um bom artigo sobre o tema é “Cultura marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil (sécs. XVIII E XIX) de Jaime Rodrigues. 1

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MARINHEIROS NA UMBANDA

Entidade ambígua que se apresenta na Umbanda, os marinheiros ncantam aqueles que os conhecem e os vêem trabalhando. Entendendo que as Entidades da Umbanda, apresentam-se como um “arquétipo”, de um personagem comum na história de nosso país, este artigo procura trazer pistas para compreendermos mais sobre essa entidade singular, passeando um pouco pela história, pelo folclore e por religiões fronteiriças e formadoras da Umbanda.

Marinheiros e Marujos na História do BrasilEstudos trazem informações sobre quem eram os marinheiros e marujos pertencentes a nossa história1.

A tripulação relativa ao tráfico negreiro, no século XIX, era formada por 53% de portugueses e 24% de africanos de diferentes etnias. Destes, a maioria eram ou tinham sido escravos e quase sempre estavam na condição de marinheiros. Era comum que capitães separassem escravos mais robustos para substituírem os tripulantes que morriam nas viagens. Também alguns capitães sentiam necessidade de ter na tripulação africanos para entender o que os escravos encarcerados estavam pensando ou tramando.

A Marinha brasileira formada no tempo do Império recrutou á força inúmeras pessoas. No Relatório do Ministro da Marinha brasileira de 1888, cita-se que, de 1840 a 1888, foram recrutados à força 6.271 homens para o Corpo de Imperiais Marinheiros, e recebidos somente 460 voluntários. Todo homem suspeito de deserção, vadio, arruaceiro, gatuno, capoeira ou órfão poderia ser enviado para a Marinha ou para o Exército. Mendigos, moleques e vadios eram recrutados para o Exército e a Armada. Esse recrutamento era entendido como uma alternativa à superlotação das cadeias e à

1 - Um bom artigo sobre o tema é “Cultura marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil (sécs. XVIII E XIX)”de Jaime Rodrigues.

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presença desse contingente sem ocupação nas ruas. Mesmo em momentos de Guerra, como a do Paraguai isso aconteceu.

A Marinha também foi um caminho encontrado por escravos brasileiros para sua liberdade. Alguns praticavam pequenos delitos, promovendo desordens e arruaças, zanzando pelas ruas, proferindo impropérios ou envolvendo-se em brigas, para serem recrutados á força. Outros fugiam de seus senhores e apresentavam-se na Marinha de Guerra voluntariamente, para embarcar em navios que sabiam ser necessário e urgente ir à Europa. Houve casos também, como na guerra do Paraguai, que o Governo assumia que os que lutassem com afinco poderiam ser emancipados, independentes do desejo do seu dono.O alistamento na Marinha do Brasil, foi tanto um castigo para os homens livres, como uma das rotas seguidas por escravos para encobrir sua fuga e garantir a liberdade.2

Uma marca do trabalho dos marinheiros era o sofrimento físico e emocional que tinham. Estes eram mal tratados pelos comandantes dos navios, tinham água e comida muitas vezes estragadas, eram mal remunerados e permaneciam isolados por longo tempo o que podia dificultar as relações sociais que obtinham. Normalmente era uma profissão de pessoas pobres e sempre de homens.Há indicação de que na segunda metade do século 18 a maior parte dos mendigos brancos que existiam em Salvador era de ex marujos convalescentes de alguma doença; assim como era comum que marinheiros morressem pelas tavernas, pelo excesso de álcool. Álcool que era uma das rações diárias dadas aos marinheiros em navios de guerra, previstas na legislação brasileira da época.

A insubordinação que foi uma característica dos marinheiros na história de nosso país3

esteve ligada a luta contra a exploração dos oficiais e como estes tratavam os marinheiros. Bravura e trabalho em equipe também foram características descritas dos marinheiros. Navegar era viver em confronto com a natureza. Estar embarcado, nesse tempo, dependia do trabalho conjunto contra toda sorte de problemas que se deparava.

2 - Essas informações constam no artigo: “ Do cativeiro ao mar: Escravos na Marinha de Guerra”, de Álvaro Pereira do Nascimento.3 - Não há como não lembrar a “Revolta da Chibata” acontecida em 1910, realizada com a liderança de marinheiros negros, como João Cândido. A foto é dele.

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A mobilidade que tinham também permitia o contato com diferentes culturas, nacionalidades e etnias.

Quanto à religiosidade, o que existe registrado é que as crenças religiosas dos marinheiros eram bem amplas: católicos, protestantes, crenças africanas, asiáticas e outras coexistiam a bordo dos navios. Em situações de perigo, como tempestades prometiam velas a Deus ou faziam uma promessa de peregrinação. Para progredir se utilizavam da astrologia ou magias locais.

Também se observou que Netuno figurava entre os marinheiros, como uma combinação cristã e pré-cristã, reinventada pelos marinheiros. São descritas que nas embarcações haviam festas nos momentos de calmaria do mar, já que o trabalho diminuía. Nestas festas era abolida a hierarquia entre o capitão e o restante da tripulação. Um tripulante representava Netuno, vestido de branco, com uma coroa e um tridente na mão, secundado por outros que representavam o demônio. Nessa ocasião “Netuno” era saudado pelo comandante, indagava sobre a rota e o objetivo da viagem, falava aos novatos como seus súditos e procedia a um batismo.

Um personagem importante na história brasileira, o alufá Rufino, foi cozinheiro de navio negreiro. Rufino, cujo nome mulçumano era Abucare, nasceu no Reino de Oyo, atual Nigéria. Foi capturado e trazido como escravo para o Império do Brasil, entre 1822 e 1823. Morou em vários estados, comprou sua alforria e tornou-se marinheiro. Retornou ao Brasil onde escolheu Recife em 1850, se popularizando como adivinho, curandeiro e mestre mulçumano. Como este, certamente outros haviam.4

Marinheiros também exerciam práticas médicas, como a sangria. Durante as três primeiras décadas do século XIX, as práticas médicas eram bem diversas e poderiam ser exercidas por quem tivesse autorização do governo para tal. Haviam médicos, cirurgiões, boticários, sangradores, parteiras e curandeiros. Escravos e forros constituíam 85% dos pedidos de oficialização para o ofício de sangradores, sendo que 64 % dos oficializados era de africanos. A sangria era também uma prática entre comunidades indígenas e em setores populares europeus.Os sangradores se quisessem trabalhar em navios, deveriam apresentar licença. Esses homens eram fundamentais nas embarcações, que não contavam com profissionais médicos.

4 - Referência no livro tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico negro, de Marcus Carvalho, Flavio Gomes e João José Reis

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Sangradores africanos eram importantes nos navios negreiros, pois possibilitava que marinheiros e escravos se comunicassem mais facilmente, graças às semelhanças lingüísticas entre os bantu, que predominavam entre os escravos na região centro-sul do Brasil. Estes sangradores também compartilhavam com os escravos capturados de uma mesma concepção de saúde-doença, que entendia que o desequilíbrio, o infortúnio e a doença seriam causados pela ação malévola de espíritos ou de pessoas.5

Essas informações indicam que a profissão de marinheiro podia significar para muitos homens pobres uma forma de ascensão social; como também representar valores de ousadia e força, pois as condições para as viagens não eram nada fáceis.Se o contato com diferentes culturas permitia uma ampliação de valores, a função em si os unia, pois eram todos pobres e estavam na mesma condição. Aprenderam que juntos combatiam os desmandos da hierarquia existente e a enfrentarem o mar, o desconhecido existente.Também percebe-se que marinheiros exerciam atividades de cura em navios, curas que expressavam uma concepção popular, aonde os fatores espirituais participavam das doenças.De outro lado, mostra também que há sempre uma forma de descontrair para poder levar a vida que se tem e que brincar com o sagrado é uma forma que os humanos encontram em muitos momentos para aliviarem o cotidiano.

Marinheiros e Marujos no Folclore NacionalUma de nossas expressões folclóricas é a “Marujada” também chamada: “Nau clarineta” na Paraíba; “Barca” em Minas Gerais e “Barquinho Fragata” no interior Baiano, que tem origem em Portugal.É a expressão de uma dança ou um bailado com cantos e diálogos que contam uma história; que pode ser de uma barca perdida no oceano e os feitos heróicos da viagem; façanhas marítimas dos portugueses durante o Império de Portugal, época de navegação e desbravamento de terras ou da luta entre cristãos e mouros.

No Brasil, a Marujada mais popular é a de Bragança, cidade do Pará, realizada com dança e música, caracterizada como um auto encenado com referência a episódios da vida marítima portuguesa, relacionada ao período das grandes navegações. Ela é ligada a Irmandade de São Benedito, o Santo Preto; sendo composta por manifestações de origem portuguesa e de origem africana. A marujada nesta local tem uma particularidade de ter uma predominância feminina, onde a maruja (ou capitãs) são enaltecidas. Para alguns historiadores isso

5 - informações do artigo: “ Entre sangradores e doutores: prática e formação médica na primeira metade do século XIX”, de Tânia Salgado Pimenta.

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acontece por conta da importância da mulher negra como ama doméstica, mães pretas e servas dos senhores e de seus filhos.

Em Minas Gerais, as danças dos “marujeiros” tornaram-se populares no século 18, devido à instalação de portugueses nessa região atraídos pelo descobrimento do ouro. Ela ocorre na Festa do Reinado em Conceição do Mato Dentro.Toca-se violas, pandeiros e tambores e os participantes se desafiam em cantorias e em combate de bastões,

simulando golpes em dança em roda. Há cânticos em língua bantu e em português: “Cuenda cuenda cambaiá dêia muxima, vamu vê a mãe de Deus”. Querem dizer: “Vem, mano do coração, vamos ver a mãe de Deus”6. A lenda ligada a essa manifestação é de que Nossa Senhora do Rosário surgiu no mar e os índios foram chamá-la, mas ela os ignorou não os reconhecendo como humanos. Depois os marinheiros brancos vestiram roupas novas, levaram padres e uma banda de música. Eram ricos e poderosos mas tinham pouca fé e com isso a Santa também não os reconheceu. A partir disso, se permitiu então que os escravos negros fossem ter com ela. Estes de pés descalços bateram seus tambores e assim comoveram a Santa que veio para a terra. Nessa marujada os heróis são os “catopês”, os escravos negros. Os marujos são brancos e andam em filas, numa ordem militar, demonstrando respeito a hierarquia e os caboclos/índios são vistos como aqueles que foram convertidos ao cristinianismo.

O papel dos marujos nestas expressões folclóricas é diverso: “... Quando vinculados aos festejos dos reis congos e às irmandades negras, o tema dos marinheiros remete à memória da dolorosa travessia do Atlântico a bordo dos navios negreiros, pelos antepassados africanos, chamados “marinheiros de Deus” nas cantigas dos congadeiros de Minas Gerais (...) Por sua vez, antigas epopéias portuguesas de marinheiros, representadas em diferentes danças dramáticas, são lidas pelos negros das irmandades como a triste saga transatlântica dos antepassados africanos a bordo dos navios negreiros. O caso de danças dramáticas como a marujada da cidade de Serro, em Minas Gerais, onde os componentes, trajados como marujos, após percorrerem as ruas da cidade cantando e dançando em louvor à Mãe do Rosário e aos reis congos, encenam encarniçadas lutas de espadas no episódio denominado rezinga grande”. Portanto, nesse folguedo,

6 - Estas informações constam no artigo: “Quando éramos Reis” de Denis Russo Burgierman, do Serro.

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fazem-se presentes, entrelaçados, os quatro temas antes relacionados – “reis congos”, “cristãos e mouros”, “culto aos santos” e “marinheiros”. 7

Nestas manifestações folclóricas podemos perceber várias formas do imaginário social brasileiro e como cada uma realça o papel dos povos que foram conformando nosso país – os brancos colonizadores, os negros escravos e os índios que já habitavam nosso país. Elas vão resignificando o papel de cada um desses povos na travessia do mar, ao desconhecido. Mesmo que todas demonstrem a hierarquia presente na marinha em seus personagens, o simples marinheiro é destacado como o herói e até mesmo mulheres que não faziam parte dessa história na marinha aparecem... resignificações do imaginário social.

Marinheiros e marujos em cultos religiosos do BrasilO Catimbó, culto de caboclos encantados, predominante no nordeste, tem entidades, denominadas de “Mestres”. Estes são descritos como espíritos de curadores de descendência escrava, mestiça ou branca que em vida possuíam conhecimento de ervas e plantas curativas. Alguns deles se iniciaram nos mistérios e “ciência” da Jurema antes de morrer, outros adquiriram esse conhecimento no momento da morte, pelo fato desta ter acontecido próximo a um espécime da árvore sagrada. Os “Mestres” são responsáveis por Reinos Encantados. Cada Mestre tem seu reino encantado, que são num total de sete. Um desses reinos é o “Fundo do Mar” onde trabalham espíritos de “Marinheiros, marujos e em algumas regiões chamados marujeiros”. Como saudação aos Mestres do fundo do Mar se diz: “ Trunfé, trunfa, trunfa, trunfá trunfeá, a costa marujada!”

É também no Catimbó que se fala do Mestre Martin Pescador. Conta a lenda que este nasceu em Aracajú, sendo caiçara e pescador, vivendo numa colônia de pescadores. Desde jovem tinha premonições e intuições e com isso ganhou fama. Casou-se, teve quatro filhos e morreu aos 68 anos vítima de uma pneumonia.

Nos candomblés de Caboclos, Martim Pescador, o pássaro, é uma divindade das águas, correio entre os mortais e os encantados, com a função de um timoneiro, um guia para um porto seguro. Um protetor especial, como um anjo da guarda. Também conhecido como Martim-Bangolá, Martin-Kimbanda e Marujo, se manifesta pedindo aguardente e parece bêbado.

7 - Extraído do artigo: Os fios da trama: grandes temas da música popular tradicional brasileira, de Marianna F. M. Monteiro e Paulo Dias

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A Encantaria, culto praticado principalmente no Maranhão e Pará, cultuam também “Encantados”. Estes tem várias origens: podem ser índios, portugueses, turcos, ciganos, africanos, etc. Diz-se que são “Encantados” por que desapareceram misteriosamente ou se transformaram em um animal, pedra ou planta. São personagens lendárias, agrupados por famílias, possuem nome, sobrenome e geralmente sabem contar sua história de quando viveram na terra antes de se tornarem encantados.

Há citações que há na Encantaria uma família de marinheiros que tem como símbolo uma âncora e um tubarão.Na Encantaria Maranhense há a família da Turquia, chefiada pelo Pai Turquia, rei mouro que teria lutado contra os cristãos. Vindos de terras distantes alguns dos encantados turcos têm nomes que lembram postos de guerra ou de marinheiro. Na família do Lençol algumas entidades estão ligadas às narrativas míticas das Cruzadas e das guerras de Carlos Magno, muito presentes na cultura popular maranhense. Alguns membros da Encantaria citam que foi na Vila de Joanes, no arquipélago do Marajó, que a esquadra da Cabocla Mariana afundou. Mariana seria filha do Rei Sebastião e queria a coroa real da Turquia de seu pai. Pediu isto a este que não aceitou. Por isto fugiu em seu navio. Quando este afundou, foi encantada pelo marinheiro José Fernandes que deu sua esquadra para ela.

O que podemos extrair sobre os “encantados marinheiros” nesses cultos religiosos é que estes foram espíritos que além da lida com o mar, enquanto profissão, desempenhavam funções de cura e encantamentos em sua vida na terra.No Candomblé de Caboclo, estes tem a função e características de Exu e uma singularidade própria de cultos indígenas, ser um “ animal encantado”.

Marinheiros na UmbandaNa Umbanda os espíritos estão agrupados em falanges e podem apresentar nomes que não necessariamente foram os que tiveram em alguma encarnação. Como nomes dados por marinheiros na Umbanda temos: Chico do Mar, Zé Pescador, Marinheiro Japonês, Gererê, Martim Pescador,7 Marolas, Capitão dos Mares, Marinheiro 7 Espadas, Marujo Crispim, 7 Mares, 7 Ondas, 7 Marés, João Timoneiro, Beira Mar, Zacarias, Maria do Cais, dentre outros.

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A origem dessas entidades tem vários significados para os umbandistas. A maioria entende que tiveram suas vidas ligadas ao mar, foram marinheiros, pescadores, jangadeiros, timoneiros. Outros ainda consideram que também entre essa falange se encontrem corsários e piratas. E há ainda quem entenda que em suas encarnações tiveram vínculo com as forças armadas brasileiras.

A presença de entidades femininas nesta falange não é uma unanimidade entre umbandistas. Alguns afirmam existir e outros não.

Sobre a Linha de Trabalho que atuam há também controvérsias. A maioria entende que os marinheiros trabalham na linha de Iemanjá. Outros consideram que podem atuar na Linha de Oxum, por serem do povo de água e ainda há quem os considerem mensageiros de Ogum ou serem chefiados por uma entidade de nome Pai Tarimã.

Sobre seus trabalhos, em sua maioria os umbandistas entendem que os marinheiros realizam descarregos, trabalhos para cortar demandas, feitiços, desfazer o mal, sendo as energias dissipadas e enviadas ao fundo do mar. Também é citado que os marinheiros gostam de ajudar pessoas com problemas amorosos ou em procura de alguém, de um "porto seguro".

Ao descrevê-los fala-se de gargalhadas, abraços e apertos de mão, cantorias, alegria.Não é por acaso, que alguns os consideram os “Exus do mar”, por conta dos trabalhos que efetuam e sua forma de manifestação.

Há ainda marinheiros na Umbanda que atuam na cura, a partir de práticas de diferentes culturas.

Marinheiros na Umbanda, o que expressam?

“Cada tipo um estilo de vida, cada personagem um modelo de conduta. São exemplos de um vasto repertório de tipos populares brasileiros, emblemas de nossa origem plural, máscaras de nossa identidade mestiça. As entidades sobrenaturais da umbanda não são deuses distantes e inacessíveis, mas sim tipos populares como a gente, espíritos

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do homem comum numa diversidade que expressa a diversidade cultural do próprio país.”8

O que podemos notar é que enquanto arquétipo coletivo, os marinheiros na Umbanda trazem como mensagem a importância da luta e do desbravamento do desconhecido, que se faz de forma conjunta, unidos para combater qualquer coisa que se possa temer ou se precise vencer, coisa que aqueles que tiveram sua vida ligada ao mar aprenderam e passam a todos os que os procuram.

Tania Jandira R. FerreiraUmbandista da Aldeia do Caboclo Arari no Rio de Janeiro.

Laércio Adriano BenazziSacerdote da Casa de Umbanda da Terra e da Vida Sagrada, em Londrina, Paraná

8 - Palavras de Reginaldo Prandi, estudioso das religiões brasileiras.

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