MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS - Curso de Integração Pessoal

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

CURSO DE

INTEGRAÇÃO PESSOAL

(contém apenas uma parte do livro original)

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O PORQUÊ DESTE LIVRO

 Durante os meus anos de magistério, como professor particular, fui muitas vezes procurado por  pessoas aflitas, angustiadas, que buscavam um lenitivo para as suas almas magoadas, doridas de tantas

 preocupações, desencantos e amarguras. E como também os meus dias estiveram cheios de decepções, de angústias sem fim, compreendi a

todos, e a cada um, e em meu coração ressoavam aquelas queixas e apelos.

Também minha vida foi procelosa; também passei por lanços dolorosos no caminho, pontilhados deingratidões, de amarguras demoradas, de incompreensões inexplicáveis, de inimigos gratuitos queatuavam nas sombras, e de raros adversários que me enfrentaram de fronte erguida. E não poucos foramos momentos em que, debruçando-me sobre as minhas experiências, abismei-me em desânimos e atédesesperos.

 E por todos os meios, ante o espetáculo do mundo, sem deixar-me arrastar pelo pessimismo fácil, procurei aquela fonte, a única que nos pode dar a linfa que minora a nossa sede e refrigera as nossasmágoas: um otimismo concreto e bem fundado.

 É comum, entre literatos da nossa época, tripudiar sobre as dores humanas, remexer feridas em vezde cauterizá-las. Há quem busque angústias quando não as têm, numa morbidez afanosa de sofrimentos,mais falsos que verdadeiros, para depois criar, com gritos de dor, obras nem sempre autênticas.

 Há quem diga até que o otimismo é uma atitude de filosofia barata. Mas há algo mais barato que o pessimismo? Olhem para o mundo. Quantos os que se queixam, quantos os que se angustiam, açulados pela imaginação doentia; quantos proclamam angústias (as famosas angústias físicas e metafísicas detantos intelectuais!). Quantos procuram mágoas para explorá-las? Há coisa mais barata por estemundo?

O otimismo é mais difícil das atitudes, e a filosofia, que nele se funda, não é mais fácil. É mais simples lembrar os momentos de sofrimento que os de alegria.

 E deixando de lado os envenenadores da vida, os caluniadores de que falava Nietzsche, os eternosamarguradores de todos os instantes, deficiente daquele “granus salis”, chor ões de todos os modos ematizes, falsificadores de máscaras mentirosas, abismados em sombras porque temem a luz como

 pássaros noturnos e duvidosos, sempre julguei que um sorriso valia mais que um esgar de amargura eque um raio de sol é mais belo que a sombra que obscurece.

 E foi procurando viver em mim a água lustral da alegria, que pude suportar o espetáculo das velhascarpideiras milenárias.

 E buscando essa água lustral, não a quis só para mim. E abençoei aqueles escritores otimistas,ridicularizados pelos caluniadores da vida, aqueles que sempre oferecem esperança num gesto de

 genuíno apoio aos transviados, que procuram caminhos luminosos dentro e fora de si.

 E quando de mim se acercavam os que pediam um pouco de tranquilidade de espírito, não neguei. E o gesto, que de mim esperavam, procurei realizar.

 E nessas tentativas humanas, ao procurar minorar mágoas mais profundas, ao procurar suavizar doridos, ao procurar reintegrar outros que se frangiam em dúvidas e desesperos, nasceu este curso, que

 só bem espargiu, que só humanidade disseminou, que só esperanças construiu.

 Não poderia citar aqui tantos homens e mulheres, de todas as classes e profissões, para os quais tive palavras de ânimo, e com eles sofri a mágoa que era deles, e minha também, porque sou humano.

Um dia, um daqueles a quem dera muito de minha boa vontade e de minha melhor atenção, paraajudá-lo a reintegrar-se em si mesmo, pediu-me, num gesto tão belo que me comoveu, numa voz tãohumana que me tocou a alma, que reduzisse a páginas de um livro aquelas nossas longas e demoradasconversações, para que pudessem elas levar a tantos que sofrem um novo caminho, que na verdade é um

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velho caminho apenas esquecido, a fim de pô-los outra vez na estrada real, em que há tanto daquelaalegria que decorou com beatitude nossos dias de infância.

 A tarefa não era fácil. Havia eu criado métodos de reintegração para casos pessoais. Como o que fora conveniente para indivíduos, poderia tornar-se útil aos muitos que pedem um pouco de luz e dealegria?

 Era preciso meditar, procurar por entre as lições aquelas ministráveis a qualquer um, e que lhesdesse um amparo geral benéfico.

Teria de fugir ao tecnicismo da psicologia, e falar uma linguagem muito simples e verdadeira. Ademais, precisaria passar por todas as unilateralidades de escolas e de posições, de que a psicologiaestá cheia, para oferecer um método que não implicasse senão benefícios.

 E buscando e estudando, através de meditações e ensaios, saíram estas páginas que hoje dou à publicidade.

 Anima-as apenas um desejo e uma convicção. Desejo de não aumentar a tristeza do mundo,rebuscando sombras para cobrir as poucas luzes que brilham nos corações, como é tão do sabor dos quedesejam tornar de outros as angústias duvidosas que são suas. Convicção de que elas auxiliem os que

 sofrem a encontrar uma solução aos males psíquicos, que se reencontrem, afinal, com um sorrisoautêntico nos lábios e muito amor nos corações.

Mário Ferreira dos Santos 

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PARTE ESPECIAL

NÓS E OS NOSSOS PENSAMENTOS

Tu, quem quer que sejas, não podes negar que buscas o bem.Tens uma obra a realizar, uma missão a fazer. Tua atenção está voltada para o que te cabe realizar.

Poderias conseguir o que desejas ou que te cabe construir, se desviasses as tuas forças para o que nãointeressa à realização da meta planejada? Não julgarias desde logo que toda atividade desviada do fim éuma atividade inútil e perdida?

Mas, para onde se dirige o teu apetite? Para o bem, sem dúvida.

Se o bem é a tua meta, toda atividade que não levar até ele é uma atividade inútil.

Portanto, se queres alcançar o teu bem, deves naturalmente planejar a tua ação para que não hajaatividades inúteis.

Mas, quem deseja realizar alguma coisa, precisa saber onde e quando vai realizá-la.

Um arquiteto que deseja construir um prédio precisa conhecer o terreno onde vai elevá-lo. Tu precisas, para alcançar teu bem, saber onde ele está, pois do contrário serias como aquele viandante que procura uma cidade sem saber onde ela está.

E assim como o viandante necessita que outros lhe indiquem onde está a cidade que busca, talvez precises, também, saber onde está o teu bem.

Raciocinemos juntos: é o teu bem algo a ser criado, ou já existe?

Como já vimos até aqui, o teu bem já existe, pois todas as coisas buscam realizar o seu bem. Mas seele já existe, então para que procurá-lo?

Sim, ele já existe, mas é preciso saber onde ele está, da mesma forma que o viandante sabia daexistência da cidade procurada, não, porém, onde ela se achava.

Então surge outra pergunta: está em mim mesmo ou fora de mim mesmo o bem que me é próprio?Eu te respondo que não haverá nenhum bem fora de ti, se antes não encontrares o bem em ti. E vou

mostrar-te:

O teu bem está em ti, esta é a afirmativa. Mas é preciso desvelá-lo, descobri-lo dos véus que oocultam. E o que o oculta são todas as solicitações que te afastem do teu próprio bem.

Digamos que procuras, levado pelo teu apetite, pondo em ação a tua vontade, o bem nas coisas quete cercam. Por acaso, não são elas um bem para ti? Não dão elas inúmeros prazeres, bem-estar,satisfações? Então, o teu bem está nas coisas. Mas duas são as situações de um homem ante as coisas:

a)  Ser senhor das coisas; b)  Serem as coisas senhoras do homem.

Qual situação que preferirás? Ser escravo das coisas, ou utilizá-las para o teu bem? Certamente,responderás que queres dominar as coisas. Elas devem servir-te e não servires tu a elas.

Mas como poderias tornar as coisas tuas servas, se elas te dominassem?

 Nesse caso, escravo das coisas, elas não seriam o teu bem, e quanto mais as perseguisses, maisdominado estarias por elas. Portanto, o bem que elas te dariam seria sempre menor que o bem que delastereis, se te tornasses senhor.

Desta forma, o teu bem, fora de ti, não poderia ser alcançado sem que fosses um senhor e não umescravo.

Mas pode ser senhor, quem não é senhor de si mesmo?

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Ser senhor de si mesmo é realizar o que de melhor há para nós. E a ideia de melhor implica a de um bem superior a outros bens. Portanto, o teu maior bem é seres senhor de ti, pois, desde que o sejas, tetornarás senhor das coisas.

Pois não é verdade que as coisas provocam em ti paixões, emoções, sentimentos, preocupações quenão são o teu bem, mas reduções, ataques ao teu bem?

Desta forma, vês claramente que o teu bem está primeiramente em ti e secundariamente nas coisas.Tens, portanto, que libertar o teu bem dos véus que o cobrem, para que possas dominar as coisas e

fazer com que elas te sirvam.

Já sabes que a confiança em ti mesmo é o ponto de partida. Poderias dizer: “não posso fazer istoagora, mas podê-lo-ei amanhã.” Assim como um estudioso sobe degraus até alcançar o plenoconhecimento, também conhecemos degraus para alcançar o nosso bem.

- Que devo fazer? – perguntas-me.

- Confia em tua vitória, em primeiro lugar. Já sabes que tens o teu bem em ti. Falta-te apenas libertá-lo dos véus que o encobrem.

Realiza o exercício diário de meditação, nas formas a serem indicadas e o de respiração rítmica.

Com esses exercícios abrirás as portas que conduzirão à tua vitória.Agora medita sobre estas minhas palavras:

Há coisas que dependem de mim e há coisas que não dependem.

Os meus pensamentos, a minha vontade e as minhas paixões dependem de mim. O que se refere aosoutros e ao mundo não depende de mim.

Se me aflijo com o que não depende de mim, só posso enfraquecer-me. Tudo quanto possa fazer parao bem dos outros não deixo de fazer.

Contudo, sou o meu amigo que precisa lutar por mim. Se me aflijo com o que é meu, a culpa éapenas minha, pois posso vencer o que depende de mim.

Todas as vozes que venham de mim, contra mim, não são minhas. Porque o que é meu, trabalha por 

mim. Ouvirei as minhas vozes que falam a linguagem do meu bem, e repudiarei, com o meu desprezo, asvozes que não falam a sua linguagem.

Sou eu que faço a minha força ou a minha fraqueza. Lutarei por mim e pelo meu bem.

Quando me surge uma ideia dolorosa, preocupadora, minha inimiga, dir-lhe-ei:

“Tu és apenas uma ideia e nada és do que pretendes representar.” 

Analisa-a então: é uma ideia que se refere às coisas que dependem de ti ou às que não dependem deti?

E se se refere a coisas que não dependem de ti, despreza-a, e dize-lhe: Isto não se refere a mim.

- Mas, e as minhas preocupações sobre assuntos que dependem de mim? – podes perguntar.

Pois bem, analisa-as: são sobre fatos fundados ou infundados? São dúvidas que te assaltam? Sãotemores vãos? Fundam-se em fatos sucedidos?

Sejam o que forem. Sejam reais, até, tenham fundamento até. Lembra-te, porém e pronuncia dentrode ti: “as preocupações crescem quando eu as alimento com o meu temor, quando eu lhes dou conteúdocom a minha vontade. Sei que só poderei vencer o que é contra mim, quando estou do meu lado, quandoestou unido a mim mesmo. E quem poderia fazer essa desunião, se o interior de cada ser humano é umreino onde podemos dominar soberanamente? Eu não me enfraquecerei em favor dos meus inimigos”. 

Meu caminho já está traçado: lutar por mim. Ninguém me afastará de mim mesmo e do meu bem.

Se nós somos que são os nossos pensamentos, podemos ser o que pensamos. E acaso não temosliberdade de pensar no bem, como podemos pensar no mal?

E se desejamos o nosso bem, pois esta é a lei de todo o existente, porque não pensamos em nosso

 bem?

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EXERCÍCIOS 

QUEM ÉS TU?

Se ainda não leste nem realizaste plenamente um retrato caracterológico de ti mesmo, o que te seráfácil depois de estudares a Parte Geral deste livro, não te devo preocupar esta falha, pois ela não impediráque possas agora na Parte Especial, iniciar os exercícios, depois das providências que passarei adescrever, no intuito de realizar a tua integração.

Talvez sejas um retraído introvertido ou extrovertido, nervoso ou bilioso, e estarás sujeito àscontingências do teu temperamento e do caráter que adquiriste. Mas tu podes realizar a ti mesmo, e a tua

 personalidade poderá por ti mesma ser construída.

Mas, antes, ponderemos sobre alguns pontos que são de grande importância para alcançarmos a metadesejada. Vamos dispensar certos aspectos técnicos e de certas discussões filosóficas de psicologia. Nãoiremos penetrar no tema da tensão psíquica, que em nós forma uma unidade de multiplicidade, e que émais ou menos coerente, segundo o nosso grau de integração.

Em palavras simples: há personalidades amorfas, frágeis, facilmente desviáveis, impressionáveis,móveis, e outras que são o inverso. E entre os extremos, há uma gradatividade imensa. Não há dois tiposhumanos iguais, senão dentro das formalidades estatuídas pela tipologia. Se há em comum um númeroimenso de notas, de aspectos, de qualidades, etc., há, ao mesmo tempo, outros que são diferentes,totalmente diferentes. Portanto, o ser humano é formal e tipologicamente homogêneo, mas éindividualmente heterogêneo, diferente, diverso.

Podemos, no entanto, estabelecer algumas regras que todos os psicólogos aceitam. Por exemplo: ograu de coerência da tensão psíquica (chamam-na alma, psiquismo, espírito, mental, o que quiserem, nãoimporta aqui) é uma garantia de firmeza do ser humano. Uma personalidade é mais forte quanto maiscoesa e mais coerente for a sua tensão psíquica. Em suma, a sua unidade psíquica quanto mais forte, maisforte a sua personalidade. As agressões, que os estímulos exteriores possam realizar ou os pensamentosnegativos terão sua força na proporção da fraqueza da tensão psíquica. Se essa for forte, malograrão todasas ideias errantes, negativas, como também as preocupações, as angústias; e os desajustamentos que daídecorrem se tornarão consequentemente menos comuns e mais difíceis de ser adquiridos.

Todos nós conhecemos momentos de fluxo e de refluxo.

Os fluxos psíquicos caracterizam-se pelo entusiasmo, pelo “sentir -se bem” inteiramente, pela pazconosco mesmo, pelo otimismo, pela vontade de atuar, de realizar, de empreender. Os refluxos levam-nosao pessimismo, à descrença em nós e nos outros, ao abatimento moral, e nos tornamos presas fáceis das

 preocupações, das angústias, da tristeza, da inapetência, da falta de entusiasmo, da apatia, da desilusão, dodesespero até.

Consideremos de início, o que somos. Todos nós conhecemos momentos de fluxo e refluxo, que sealternam constantemente, perdurando uns mais que outros.

Procedamos, no entanto, a algumas análises:

1)  Quando sobrevêm os momentos de refluxo? Que nos parece tê-lo motivado? Foi uma palavraque alguém pronunciou, um gesto, um fato, uma atitude? Foi porque pensamos nisto ou naquilo?

Anote-se aqui o fato que nos parece ser a chave que abriu a porta ao estado de refluxo.

2)  Quando surgem os sintomas, analisemos as circunstâncias e anotemos os acontecimentos que oscercaram, e os que os precederam. Vejamos se há repetições.

Por exemplo, quem sofreu, em sua família, um desastre de automóvel, no qual alguém que muitoestimava perdeu a vida, não tolera que lhe falem em desastres. Imediatamente se acabrunha, entristece-se,entra em refluxo, mesmo que tome uma atitude irada, nervosa, agitada.

Examine-se, portanto, e verifique que fatos provocam os estados de refluxo.

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3)  Às vezes, não somos capazes de examinar o que nos parece ter feito eclodir o estado de refluxo.Ele surge como se nada o motivasse. Sobrevêm sem um porquê, e não nos aparece comqualquer conteúdo. Estamos angustiados por nada. Não conhecemos nenhum conteúdo de nossa

 preocupação ou de nossa angústia. Tudo nos corre bem e, no entanto, sentimo-nos inquietos,como se algo nos ameaçasse. Por mais que procuremos saber de onde vem, ou a possível causa,não a achamos. Desse estado decorrem inúmeras atitudes antissociais, irritações bruscas, e

fazemos o que normalmente (dizemos a nós mesmos) não seríamos capazes de fazer. Nesses casos, a análise se torna mais difícil.

Mas meditemos sobre alguns exemplos que nos são bem úteis.

Dizemos: “gato escaldado até de água fria tem medo”. É que a água lhe associa a desagradabilidadeda queimadura. E basta vê-la para que o esquema água-desagradabilidade lhe surja, e consequentemente ogato fuja. Um cão, que levou uma paulada de algum homem vestido de zuarte, foge, ou toma uma atitudeagressiva, ante qualquer outro homem vestido de zuarte, que dele se aproxime.

A tais atos reflexos chamam os psicólogos reflexos condicionados.

Tanto a criança como nós revelamos muitos desses reflexos, e outros. São verdadeiros esquemas queconstruímos pela experiência. O ser humano é um grande estoque desses esquemas, e nossa vida estámarcada e orientada por eles. Repelimos tudo quanto nos é desagradável, aceitamos tudo quanto nos éagradável.

Além desses esquemas fáticos, que são formados pela associação de imagens de fatos, já por nósexperimentados, o ser humano tem a capacidade de organizar esquemas eidéticos; isto é, esquemasconstruídos apenas das ideias que captamos nesses fatos.

Vamos a exemplos esclarecedores. Quem sofreu injustiças em sua vida e revoltou-se muitas vezes pelos castigos ou penas recebidas, sem uma justificação, forma um esquema eidético: injustiça-revolta.E toda vez que vê alguém injustiçado, revolta-se. Aqueles que em suas vidas lutam contra a injustiça,tomam atitudes enérgicas contra todos os atos que provoquem males aos outros que não os merecem, erevoltam-se. Não basta que sejam contra si mesmos apenas. Em face de qualquer injustiça, o sangue sobe-lhes à cabeça e irritam-se, rebelam-se, esbravejam, e tornam-se até campeões da justiça, lutando para queela se instaure soberana, na sociedade.

Analisemos alguns dos nossos esquemas. Porque nos irrita isto e nos alegra aquilo. Procuremosdescobrir os primeiros exemplos, os primeiros fatos, e verifiquemos, finalmente, o esquema eidético queformamos.

Esses esquemas, depois que se coordenam com outros, estruturando-se dentro de nós, sãodificilmente desintegráveis. Tomam uma coerência tão grande que marcam o nosso caráter. (Caráter, emgrego significa marca). O nosso caráter é formado de inúmeros esquemas que se gravaram em nós. Equanto mais fortemente gravados, mais nítido o nosso caráter.

Mas, assim como há esquemas benéficos, há esquemas maléficos.

Os hábitos, que são adquiridos, são verdadeiros esquemas. E do mesmo modo que obtemos bonshábitos, também obtemos maus.

Que fazer para fortalecer os bons esquemas e desintegrar os maus, a fim de nos libertarmos da sua

tirania?

Os esquemas consistem em verdadeiras normas dentro de nossa alma. São o que os escolásticoschamam de habitus. Esse termo vem do verbo habere, haver, ter. Habitus é tudo quanto não faz parte daessência, mas que é adquirido.

E podemos, psicologicamente, adquirir bons hábitos ou maus, como também podemos libertar-nosdos maus. Ora, se são eles aquisições, e não formam a nossa essência, poderemos dispensá-los, emboraisso nos custe, às vezes, muito trabalho e boa vontade.

Mas, quem vai dispensá-los? É a nossa alma, em sua pureza. É a nossa tensão psíquica forte, que é anossa arma de desintegração dos maus esquemas. Portanto, para que ela seja capaz de uma tarefa tãoimportante, é preciso, em primeiro lugar, que ela seja muito forte, poderosa, coesa.

O caminho está em fortalecê-la. É o primeiro lanço da jornada. Podemos, depois, alcançar outrosestágios importantes.

Vamos, portanto, seguir os primeiros passos, que nos levam ao fortalecimento de nosso espírito.

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O POUCO QUE PEÇO DE TI

Vamos juntos percorrer esse lanço, e depois examinaremos outros.

Quem vai fazer uma viagem, toma diversas providências, e uma das mais importantes é preparar tudo quanto precisa para ela. E, assim como arrumamos em nossas malas os apetrechos, objetos de queiremos necessitar, precisamos, também, arrumar tudo quanto vamos precisar para essa viagem.

E como todo viajor deseja que a viagem seja a mais agradável possível, que menos dissaboresapresente, não julgues que eu vá exigir de ti, de início, muitas coisas. Vou pedir, ao contrário, bem pouco;tão pouco que não me negará, pois só exigirei de ti à proporção que sejas capaz de me dar o que te peça.

Muitos se queixam de que não têm confiança em si mesmos. Seria tudo muito fácil se disséssemosapenas: tem confiança em ti, e a confiança surgisse subitamente.

A confiança em si é a maior virtude que se pode desejar para um homem.

Quem tem confiança em si realiza o que pareceria impossível. Mas, muitos se queixam que não atêm, e não sabem como adquiri-la.

A confiança em si não se adquire diretamente, mas direta e também indiretamente.

 Não basta dizer que se tem confiança em si, pois ela não nasce apenas pela palavra. Nem adiantadesesperar-se.

 Na verdade, tu tens confiança em ti. Não acreditas no que digo? Mas, pensa um pouco. Quando televantas pela manhã, duvidas acaso que sejas capas de vestir-te? Não és capaz de ir até à mesa e tomar atua primeira refeição? Não és capaz de fazer tantas pequeninas coisas?

Se és capaz de fazer tantas coisas, és capaz, pelo menos.

Rememora, por favor, tantas coisas que fazes, tens feito e que és capaz de fazer.

Mas, logo poderias me retrucar, que há muitas coisas que não podes fazer, pois não és capaz de fazê-las.

 Não há dúvida. Mas, pensa mais um pouco; quando criança, quantas coisas não podias fazer, e quehoje fazes.

O atleta que vê um haltere tão pesado, julga que não poderá erguê-lo. E nas primeiras aulas dehalterofilismo, não pode fazer o que outros fazem. Não pode, porém, deixar de reconhecer que o queoutros fazem não o faziam antes.

Portanto, tu és capaz de muitas coisas. Assim como hoje és capaz de fazer o que anteriormente não o podias, serás capaz de fazer amanhã o que hoje parece difícil.

Se és capaz até de viver, és sempre capaz. Portanto, reconhece uma verdade: és capaz.

Assim, já alcançamos alguma coisa ao chegarmos aqui. Tu me acompanhaste até aqui. Já temos umimportante ponto de partida, pois já temos alguma confiança em nós. Pois não fazemos já o que não

fazíamos? Não fomos capazes de um progresso? Se fomos, por que não o seríamos de mais?Vamos fazer uma experiência. Deixa teus braços pousados sobre esta mesa, junto a este livro. Não o

movas. Conta até vinte, sem os moveres.

Conta: um, dois, três, quatro. . . . . . . . . . . . vinte.

 Não conseguiste? Vamos, outra vez, contemos até cinquenta. Não te movas totalmente:

Um, dois, três, quatro, cinco . . . . . . . . . . . . cinquenta!

Viste como podes ficar quieto?

Experimentemos um pouco mais: olha aquele objeto ali. Fixa o olhar sobre ele. Não te movas, nãoolhas para outra coisa, só para ele. E conta até vinte.

Um, dois, três, quatro . . . . . . . . . . . . vinte.

E que tal? Vamos contar até cinquenta.

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Um, dois, três, quatro, cinco . . . . . . . . . . . . cinquenta.

Magnífico!

Coloca-te agora na cadeira em que estás. Afasta tuas costas do encosto. Vira para cima a palma damão direita. Coloca sobre ela a mão esquerda. Deixa-as pousadas agora sobre as pernas. Toma uma

 posição firme. Não te movas. Olha para um objeto à tua frente. E conta até vinte. Repete até cinquenta.

Toma a mesma posição. Fecha os olhos. Respira lentamente, ritmadamente pelo tempo que puderes. Não te preocupas com os pensamentos que surjam. O que nos interessa agora é que realizes esse exercíciode respiração.

Respira profundamente. Enche mais que puderes os pulmões. Olhos fechados, mas procura “olhar” bem no centro da raiz do nariz.

Inspira profundamente. Guarda bem o ar nos pulmões até contares dez. Deixa-o sair lentamente,enquanto contas até cinco.

Suspende um pouco a respiração. Os pulmões esvaziados. Enche-os de novo, lentamente; guarda oar, esvazia, descansa, prossegue.

Esplêndido! Tudo já está correndo muito bem.

Vamos repetir.Agora procura respirar deste modo: enche os pulmões bem de vagar. Guarda o ar. Expira

vagarosamente. Tão vagarosamente que nem sequer ouças o ruído da respiração. Torna-a bem fluídica.

Pouco a pouco, continuando nesse exercício, conseguirás alcançar um ritmo bem teu, natural.

E faze esse exercício diariamente, tantas vezes quantas puderes. Podes abusar dele, pois quanto maisfizeres, melhor para ti. Pelo menos, deves fazê-lo uma vez pela manhã e outra à noite.

E vais fazê-lo sempre, daqui por diante, durante toda a vida.

Seria muito complexo tentar explicar quanto vale este exercício. Mas basta dizer algumas palavras:ele vai regularizar, aos poucos, a tua respiração, a alimentação do oxigênio de que precisa o teu sangue;vai regularizar todo o teu corpo e também ajudar a fortalecer o teu espírito. Pois a atenção que puseres,

olhando para a raiz do teu nariz, vai ajudar a concentrar a tua tensão psíquica.

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EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS 

O mesmo exercício que se realiza sentado, também se pode realizar quando deitado. Deita-se decostas, estiram-se as pernas. Colocam-se duas mãos bem juntas ao corpo, de cada lado. E respira-se da

mesma forma, olhos fechados, o olhar convergente.Se acaso surgir algum mal-estar, por estar o olhar convergido para a raiz do nariz, deve-se convergi-

lo, como se se dirigisse para um objeto distante.

E respira-se da maneira indicada.

Esse exercício acalma. Se se adormecer ao fazê-lo melhor ainda.

Mas se acaso houver estremecimento e câimbras não há motivo para preocupações. Nosso corpo nãoé muito acessível à disciplina, e se rebela um pouco. São pequenas reações que não fazem mal.Continuem-se os exercícios que afinal esses estremecimentos desaparecerão, e sentir-se-á o praticantecada vez mais calmo.

Daremos agora uma série de regras para exercícios respiratórios.

Respiração rítmica  – o ritmo é individual. No entanto, antes de alcançá-lo, o praticante pode seguir esta norma:

3 segundos para a inspiração;

2 de retenção de ar nos pulmões;

5 para a expiração;

2 de descanso, em, seguida retorno à inspiração.

Observações: 

 No início, é quase impossível conseguir a regularidade.Contudo, não há motivo para preocupação. Prossegue-se no exercício pelo prazo de uns 5 minutos.

Obtida certa regularidade, nos dias sucessivos, aumenta-se para 10, até 15 minutos.

A pouco e pouco alcança o praticante o seu ritmo individual, mas sempre conservando as quatrofases inspiração-retenção-expiração-descanso, até alcançar a fluidez da respiração, que se fará quase emsilêncio.

Modalidades: 

Este exercício pode e deve ser realizado:

A)  estaticamente; B)  dinamicamente;

 No caso A, deve o praticante permanecer sentado na postura já indicada.

 No caso B, deve colocar-se em pé, pernas abertas. Cruzar as mãos na nuca. Inspirar profundamente,conservar o ar nos pulmões, expirá-lo com a flexão do busto sobre os joelhos até esvaziar totalmente os

 pulmões. Permanecer os 2 segundos neste estado e inspirar levantando o busto até a posição normal.

Tempo:

Adquirido o ritmo individual, na postura estática, esse exercício deve ser seguido cotidianamente.

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O exercício dinâmico pode variar, e deve ser feito da seguinte maneira:

Inspiração – 3 segundos;

Retenção – 10 segundos;

Expiração – 5 a 6 segundos;

Descanso – 2 segundos no mínimo.Alcançar esse tempo já é extraordinário, e abre campo para profundas modificações interiores.

Duração dos exercícios:

Um dos nossos graves defeitos consiste na pressa. Não gostamos de empregar dias, meses e até anosna realização de uma tarefa que não nos ofereça imediatos resultados.

Por isso, tais exercícios, como outros, sempre úteis e benéficos para o bom funcionamento, não sófísico como químico, são abandonados em meio do caminho, por aqueles que não percebem, desde logo,imediatos benefícios.

Mas, num setor como esse, o do nosso pleno domínio, todo esforço, toda confiança, toda decisão,toda calma, toda a perfeição que se alcancem, embora que parcialmente, servem para nosso bem.Podemos não perceber os benefícios maiores, porém eles se processam lenta e silenciosamente, e terão,afinal, que dar os seus frutos, que bem valem o esforço despendido.

EXERCÍCIOS MENTAIS

Pode-se ficar na mesma posição do exercício respiratório, ou em outra que for mais cômoda.

Escolhe-se um assunto qualquer; por exemplo, esta frase de Virgílio: “Podemos, porque pensamos poder”.

Pensar que podemos é ter confiança em nosso próprio poder, e ter confiança nele, é fortalecer o poder que há em nós... e assim sucessivamente.

Medita-se sobre tudo isso, sem se mover. Apenas o pensamento atua e o corpo deve permanecer imóvel. É possível que sejamos interrompidos por pensamentos diferentes, e também levados para muitolonge do que estávamos meditando. É natural que pensamentos errantes invadam o nosso cérebro e nosdesviem do ponto onde estávamos.

O que se deve fazer é voltar novamente ao assunto e meditar sobre ele, sempre com alegria, sem se preocupar com o que aconteceu. E tantas vezes, quantas puder. Esse exercício pode durar uns 5 minutos,o que já é um progresso extraordinário.

 Não se deve forçar o pensamento, a fixar-se só sobre o tema. Não se deve lutar nunca contra asideias intrusas. Quanto mais se lutar contra elas, mais fortes elas serão. Deve-se deixá-las de lado, e

 prosseguir no exercício, que deve ser realizado diariamente. À proporção que as ideias intrusas ameaçam perturbar a meditação, recomeça-se outra vez, sem se preocupar com a interrupção.

Regra importante: escolher sempre, como tema de meditação, assuntos positivos. Não pensar emcoisas ruins, males, infâmias, doenças, fraquezas. Os pensamentos devem exercitar-se sobre aspectos

 positivos e benéficos.

Aproveitar como tema grandes pensamentos positivos de grandes autores.

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REGRAS IMPORTANTES SOBRE A MEDITAÇÃO

Depois dos conselhos que demos sobre a meditação, desejamos, agora, chamar a atenção do leitor  para os pontos seguintes, de grande importância para o bom êxito das mesmas:

a)   Na meditação, nenhuma tensão é necessária. Ao contrário, é até prejudicial.

Iniciada com tranquilidade, não exige nenhum excesso de esforço.

A meditação deve orientar-se com a maior naturalidade.

 b)  A duração deve ser aumentada à proporção que o bom êxito for sendo conquistado.

Para iniciar, basta meio caminho até à base ótima de meia-hora.

c)  A direção do olhar deve ser para frente.

d) 

Se, no início, houver estremecimentos, lembrar-se que eles são naturais. Podem dar-se em todoo corpo, ou apenas nas pernas, braços, etc.

Tais procedimentos, comuns a princípio, terminarão por desaparecer totalmente.

e)  Ao iniciar a meditação, que deve ser feita em lugar reservado e ausente de estranhos, pensar  primeiramente que se está só, entregue ao seu próprio bem, que, por sua vez, está imerso noBem Supremo. Esse o cerca, esse o sustenta, e esse o amparará.

f)  Se a meditação for sobre uma única ideia, por sobre ela a máxima tensão psíquica. Se for atravésde idealizações (por encadeamento de ideias), não se preocupar se pensamentos errantes eestranhos a perturbarem.

Quando sentimos que nos perdemos em pensamentos estranhos, não nos perturbemos por isso,

 pois é natural. Voltemos ao pensamento fundamental da meditação, prosseguindo comconfiança.

g)  Se se manifestarem dificuldades muito grandes para nos fixarmos sobre vários pensamentos, asolução é pensar em poucos, e sobre esses fazer a meditação.

h)  Procurar estar sempre alegre; um leve sorriso deve pairar no rosto. Não abrigar qualquer sentimento de hostilidade. Viver um momento de pleno amor.

i)  Permanecer em silêncio, e se discorremos, os pensamentos devem ser pronunciados apenasintimamente.

 j)  Os pensamentos errantes ou perturbadores devem ser recebidos com tranquilidade e calma, e

sobretudo com paciência. Eles acabarão por não mais surgir, e obter-se-ão a paz interior e aforça mental desejada.

Os pensamentos estranhos, se merecerem a nossa atenção, criarão raízes e força. Deve-serecebê-los com indiferença, e prosseguir na meditação. Eles acabarão por não mais nos procurar.

k)  Esse exercícios devem ser prosseguidos de 3 a 6 meses e só devem ser substituídos por outrosmais complexos, sobre temas mais amplos, depois de obtida a sua plena realização.

l)   Não se deve lutar contra o mental. Conservar-se sempre calmo.

m)  Se a concentração dos olhos causar qualquer mal-estar, pode-se abandoná-la e dirigi-la para oexterior ou olhar normalmente com os olhos fechados.

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n)   Nunca abandonar a prática da meditação, embora pareça difícil a princípio. Deve-se semprefazê-la, porque só ela nos dará a solidez da tensão psíquica e sua força interior e mental. Elacontribui para a formação, não só de um espírito forte, mas também de um corpo são.

A alegria, que se obterá, depois de uma longa prática, e a satisfação que se conhecerá, serão tãograndes, que compensarão todos os esforços despendidos.

o)  Lembremo-nos que a dor aumenta segundo a atenção que a ela lhe dermos. Também os pensamentos errantes ou contrários aumentarão de força, quanto mais atenção lhes dermos.

 p)  Lembremo-nos que o subconsciente trabalha enquanto dormimos, e também quando estamosdespertos, em vigília, e entregues ao consciente. Para problemas, cuja solução nãoencontrávamos, vemo-la surgir quando menos esperávamos. É que o subconsciente trabalhou

 para solucioná-los. Lembremo-nos que o subconsciente pode atuar quase sempre a nosso favor.

Muitos sábios, filósofos, cientistas, estudiosos de toda a espécie, confiam ao seu subconsciente asolução de grandes problemas. E conseguem obtê-la, graças à confiança que nele depositam.

q)  Lembremo-nos que o mental é a maior força que existe. Confiemos no seu poder, e trabalhemos para desenvolvê-lo, sempre com confiança nas meditações que fizermos.

r)  Lembremo-nos que um mental é tanto mais forte quanto maiores forem a alegria e a serenidade.Cultivemos a alegria com pensamentos alegres, e a serenidade pelo amor ao bem.

A SERENIDADE

Para que a mente conheça a serenidade, é preciso que o corpo a pratique constantemente.

Um bom exercício é a respiração rítmica. Mas, para conseguir melhor efeito, convém praticar  pequenos exercícios de serenidade durante o dia.

Vamos a exemplos:

Deve-se permanecer em silêncio, pelo menos um certo tempo.

Os exercícios de análise de um grande pensamento, feitos com calma, sem precipitações, separandoas ideias que estão entrosadas, para examiná-las, cada uma de per si, para depois concrecioná-las numconjunto de pensamentos, são de grande utilidade.

Se alguém, ao ter que resolver um assunto, examiná-lo ponto por ponto, com calma e ponderação,sem deixar arrastar-se por impulsos afetivos, fará outro exercício fácil, que ajuda a dar ao mental aserenidade de que necessita.

Um mental agitado não permite progressos, e é presa fácil de preocupações fantasistas.

Quem domina o mental é um verdadeiro homem. Há um grande fundamento no famoso ditado:“Aquele que é senhor do seu mental é senhor do universo.” 

A vitória sobre o mental é a realização plena da liberdade.Que cuidados devemos tomar?

Um sintoma do mental agitado está na busca desenfreada da novidade, da diversidade. Tudodesagrada. Daí o temor à monotonia, que leva tantos ao exagero de considerar monótono tudo quanto serepete.

Para evitar esse defeito, temos o exercício da meditação, que levando o mental a fixar-se sobreideias, fá-lo ir e vir de uma ideia para outra, repetindo pensamentos, permitindo vitórias, e facilitando um

 prazer na repetição.

 Não devemos desanimar, se há certa monotonia na vida.

Somos hoje tão solicitados para a diversidade, que toda repetição nos parece roubar uma

 possibilidade de novidade. No entanto, a própria novidade acaba por nos cansar, porque temos umacapacidade limitada para o sempre-novo.

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Precisamos, por isso, saber alternar a diversidade com a repetição, e saber ver, naquela, a primeira, oque se repete, e na segunda, o que oferece de novo.

Por acaso podemos ver uma coisa sob todos os aspectos? Pode alguém dizer que conhece tudo dequalquer coisa?

Todas as coisas oferecem novidades, embora sejam repetidas.

Saber perdurar entre ambas é a melhor lição que nos oferece a vida, pois os excessos, neste como emmuitos casos, só nos podem levar a aborrecimentos.

Quem teima em ver (atualizar) apenas os aspectos repetíveis, acaba por aborrecer-se. Mas, é precisover que a vida é sempre nova, e nós, de certo modo, outros, cada dia que passa. Não prestemos tantaatenção ao que se repete. Procuremos o novo no que se repete, e o encontraremos. Mas só seremoscapazes de conquistar este estado ideal se soubermos dominar o nosso mental, depois de havermosconquistado a serenidade.

Que precisamos, então, fazer?

Ser sempre pontuais em nossos exercícios e, se possível, fazê-los sempre às mesmas horas.

 Nunca esquecer a ordem do exercício de meditação:

1)  Um sorriso nos lábios, erguendo os músculos zigomáticos;

2)  Exercício de respiração rítmica;

3)  Exercício de meditação sobre temas positivos.

E, sobretudo: alimentar os sentimentos positivos!

Quando sentirmos simpatia por alguém, um sentimento de bondade, procuremos alimentá-lo. Não busquemos razões para justificar o nosso abandono, tais como: “ninguém merece nossa estima”, “os sereshumanos são todos maus”, ou afirmações semelhantes. Todas essas expressões só servem paraenfraquecer nossa potência positiva. Nesses instantes, deixemos que nossa ternura se desborde.

Como querem sentir-se bem aqueles que tudo fazem para aumentar a sua tristeza e, o pior, a sua

miséria?Para se ser feliz, é preciso exercitar-se na felicidade. A felicidade exige um treino, um longo treino.

Todos os que falam contra a felicidade, já mediram bem, já procuraram em si mesmos delinear o quefizeram para exercitar-se na felicidade?

O mundo tem muita luz. Por que, então, pensar só nas sombras?

É uma sabedoria, e a mais feliz das sabedorias, aquela que nos ensina a pôr óculos de otimismo.Quem procura o mal, e só vê o mal, como pode alcançar o bem?

Embora pensamentos bons estejam em nossa mente, muitas vezes, ao termos que resolver algumacoisa, fazemos tudo ao contrário do que seria razoável fazer. E por quê? Porque, dizemos, nossossentimentos nos levaram ao erro.

Por isso se vê que não basta apenas o pensamento para nos levar à ação. O sentimento atua com talforça que somos desviados sem considerar o que é melhor.

 Não basta a educação do mental, quando não há educação dos sentimentos. Se deixamos que ossentimentos negativos nos dominem, seremos sempre fracos. Alimentar sentimentos positivos, eis,

 portanto, a grande regra que se impõe para o nosso bem.

“Mas, é difícil, às vezes alimentá-los”! Há quem faça essa afirmativa. 

Certa vez, um famoso sábio, teve estas palavras para um discípulo:

“Se colocas uma tábua estreita no chão e caminhas ao longo da mesma, se imaginas que vais cair nela, dela cairás. Se, ao contrário, tens fé em ti mesmo, atravessá-la-ás com perfeito equilíbrio. E por que,se ela estivesse no alto, cairias, quando, com ela no chão, não caíste? Porque tua imaginação te leva a

 pensar que cais, e cairás.” 

Cuida, pois, da imaginação. A imaginação é nossa amiga ou nossa inimiga. Se ela trabalha comimagens negativas, eis que trabalha contra nós. Se trabalha com imagens positivas, ei-la a nosso favor.

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A imaginação depende muito de nós. Quando imaginamos positividades, no sentido puro do termo,alimentamo-las. Quando imaginamos negatividades, procuremos desviar-nos delas.

FORTALECE-TE

O fortalecimento do nosso espírito exige, portanto, uma tríplice atividade, pois deve dar-secombinada e contemporaneamente com o fortalecimento das nossas três funções psíquicas.

Para o fortalecimento do sensório-motriz (sensibilidade), temos os exercícios respiratórios, aginástica, etc.

Para o fortalecimento da intelectualidade, temos a prática da meditação e as práticas afins.

Para o fortalecimento da afetividade, temos os sentimentos positivos.

Caracteriza-se o nosso método pela prática da positividade, em qualquer setor.

Já que abordamos, em suas linhas gerais, os diversos aspectos e as práticas correspondentes, cabe-nos agora acrescentar, para cada setor, novas observações e práticas que nos oferecerão meios maisseguros e mais eficazes de alcançar o que desejamos.

A PRÁTICA DO JÚBILO

Chamavam os antigos de  jubileu a indulgência plenária, solene e geral, concedida pelos papas aoscatólicos, para remissão de todas as dívidas e pecados. Havia, assim, júbilo geral, alegria geral, porque oshomens tiravam de suas costas o peso do temor do pecado, que acarretava, consequentemente, os castigos

 prometidos. É verdade que o termo tomou depois outros sentidos; mas mantém e conserva o conteúdoconceitual de satisfação plena, o que nos indica uma grande e profunda alegria.

Praticar o júbilo é praticar a alegria. Em todo momento de alegria, sentimo-nos mais fortes. A alegriaé sempre excitante e criadora de forças. Com alegria, sentimo-nos mais capazes de fazer qualquer coisa,enquanto todos sabem que, sob o peso de uma tristeza, as nossas forças se amesquinham, e a capacidadede ação se torna menor ou desordenada e frágil.

 Não há, portanto, quem não reconheça o poder da alegria. Mas, se todos a desejam, nem todos avivem em sua alma, e muitas fisionomias são de uma triste eloquência, pois nos revelam evidenteabatimento moral.

Sabem muitos que é difícil a alegria quando o espetáculo do mundo nos oferece tanta mágoa.

 Não basta dizer-se que à parte de tanta tristeza, há muita luz e muita alegria no mundo, pois que estáimerso nas trevas não pode contemplar a beleza das coisas, que só a luz da alegria pode iluminar.

 No entanto, a prática da alegria não é fácil.

Pode ter alegria quem alimenta sentimentos negativos?

Pode ter alegria quem não domina seu mental?

Pode ter alegria quem não alimenta a sensibilidade com bons exercícios? Não se trata de uma alegria qualquer, como certas alegrias passageiras, que deixam atrás de si uma

marca sombria e, às vezes, até um rasto de tristeza. Trata-se agora do júbilo.

E o júbilo é predominantemente da intelectualidade e da afetividade.

O júbilo, em sua maior profundidade, implica um gozo mais profundo de todas as coisas.

Cada instante da vida nos oferece muitos motivos para cultivar o nosso júbilo. Cada uma das nossas pequenas vitórias, e somos vitoriosos quando superamos qualquer dificuldade, nos oferece um motivo de júbilo, se soubermos captá-lo.

Vejamos: cada vez que fazemos um exercício, porque não procuramos o júbilo que ele nos oferece? Não é mais um degrau para a nossa libertação? Não basta, portanto, convencermo-nos apenas de que

cumprimos uma obrigação, é preciso gozar o júbilo que ele oferece. Pois, não vencemos? Não marchamosno caminho das nossas vitórias? Não nos aproximamos cada vez mais do fim desejado? Rejubilemo-nos.

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Ergamos nossos olhos, inflemos nosso peito, um sorriso nos lábios, deixemos que nossos olhos brilhemmais, e gozaremos o instante de júbilo.

Se dissermos: felizmente já fiz o meu exercício hoje. Não há nessa frase a expressão de quem selibertou de uma obrigação penosa? Não estamos tomando uma atitude negativa?

E, no entanto, se dissermos: “muito bem, fiz o meu exercício. Mas, feli zmente, em outras ocasiões,

farei outros, e assim sem fim, até o fim da minha vida.” Não estamos, então criando um júbilo? E olhemos agora para os fatos cotidianos.

Procuremos, em cada uma das nossas atividades, o júbilo que elas nos oferecem. Ele é a luz queilumina cada um dos nossos instantes. Ele dissipa as trevas que obscurecem a beleza do mundo. Só com o

 júbilo daremos maior positividade a cada um dos nossos instantes. E a nossa vida não é feita de muitosinstantes? Pois lutemos para dar-lhes luz, dissipando as trevas que os obscurecem, e a nossa vida seráluminosa, pela clareza da grande e potente alegria, que é o júbilo.

E quando compreendermos bem isso, rejubilemo-nos. Conheçamos o júbilo do nosso júbilo, e assimmarcharemos para a posse da alegria, que é sempre positiva.

Pois não é verdade que sempre desejamos que a tristeza passe, que ela se desvaneça?

Pois, então, guardemos esta verdade: a positividade de nossa alma está na proporção das nossasalegrias. O júbilo é alimento da alma.

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NOVOS EXERCÍCIOS MENTAIS

É imprescindível, para nosso bem, este ponto de partida: o homem é um composto de corpo e alma.E essa alma é o que liga mais profundamente ao que se escapa ao conhecimento dos nossos sentidos, que

é apenas do corpóreo. Não vemos e não sentimos o que não tem corporeidade para nós, mas sabemoshoje, graças aos conhecimentos científicos, que existem poderes para os quais os nossos sentidos sãosurdos e cegos.

Vemos nossos pensamentos sem os vermos. Podem nossos olhos estar pousados sobre os fatos domundo exterior, e, no entanto, por nossa mente estão passando pensamentos, que vemos sem vê-los,intenções que surgem sem que as representemos, ideias que não têm dimensões nem formas espaciais,mas que compreendemos, aceitamos ou repelimos. E, no entanto, vemo-las sem as ver. Portanto, somoscapazes de ver muito mais do que vemos, porque, com os olhos do espírito podemos ver o que os olhosdo corpo não veem.

Essas visões não são corpo, pois não se dão no espaço, porque não estão localizadas, nem têmtamanho, formas quantitativas do espaço, e, como ideias, não têm idade, nem, portanto, tempo, embora ascaptemos dentro do nosso tempo. Essas visões não são as mesmas que temos deste livro, desta mesa,

daquele quadro. Pois estes seres, nós os vemos ali, aqui, acolá, num lugar, com um tamanho. Mas essasvisões, de que falamos, não as vemos materialmente!

Quando meditamos sobre nós mesmos, quando nos examinamos, ou interrogamos conscientemente anossa consciência, contemplamos nossas ideias, ou oramos a uma divindade, quer com palavras

 pronunciadas ou não, nós realizamos exercícios que tomam o nome genérico de exercícios espirituais.

Passear, caminhar, correr são exercícios corporais.

E assim como podemos realizar uma ginástica para o corpo, a fim de corrigir certas deficiênciasnossas, podemos realizar uma ginástica para o espírito, que nos auxilie a resolver nossos problemas e nos

 permita alcançar a pontos mais elevados, que nos darão uma fruição maior dos bens que a vida oferece.

Quem deseja realizar tais exercícios espirituais, deve dispor-se para eles de um modo todo especial,e realizar, previamente, as seguintes providencias, sem as quais é preferível nada fazer:

1.ª providência:

Afirmar para si mesmo a maior verdade cósmica: o ser é o Bem, e eu, enquanto ser, sou o Bem, eestou no Bem.

E com convicção, com fé, com dignidade e respeito, dizer para si mesmo:

“O bem me cerca, estou imerso no Bem e confio-me a ele.” 

2.ª providência:

Com a maior reverência ao Bem Supremo, fonte, origem e fim de todas as coisas, realizar oexercício respiratório, rítmico, por alguns minutos, procurando pensar apenas no Bem, no próprio bem e

no Bem Universal.

3.ª providência:

Após o exercício respiratório, realizar o exercício espiritual, segundo as normas que indicaremos.

CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

 Nunca esqueçamos que todos os nossos esforços em nosso bem encontram uma resistência, oposta pelo nosso “adversário”, o nosso obstáculo, o “demônio”, de que falam as religiões.

 Não faltam vozes que tentam desmoralizar-nos. Não faltam sugestões de pessoas conhecidas, e até

dentro de nós mesmos, que constantemente afirmem a inutilidade de nossos esforços.

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Toda voz de desânimo, todo impulso de fraqueza, de covardia ante os exercícios, são de origem doque é contrário a nós em nós. E devemos, desde logo, denunciar aos nossos próprios olhos tais fraquezas.E desprezando-as, cumprir o nosso dever com júbilo.

Repelir a desmoralização do maligno. Opor-lhe a nossa resolução, e com dignidade e confiança emnós mesmos, prosseguirmos.

OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

Sem necessidade de examinar aqui um tema de Noologia (ciência que estuda o funcionamento donosso espírito), o que nos levaria a longínquas análises, desejamos apenas lembrar uma velha experiência,que, através de milênios, sempre trouxe grandes benefícios para o homem, e é o fundamento de muitasdas orações que aconselham as religiões.

À noite, antes de dormir, naquele instante de modorra, que precede ao sono, o nosso subconscienteestá em pleno contanto com o consciente e de tal modo que tudo que, com confiança, a ele solicitarmos,será obtido.

 Nesse instante, dirigindo-nos como amigos ao subconsciente, como já vimos, devemos pedir tudoquanto é possível obter de nós mesmos, e certamente o conseguiremos. Se pedirmos para sermos calmos,confiantes, tranquilos, ter bastante capacidade de ação, boa lógica, raciocínio rápido e bem concatenado,coragem, força interior, etc., muito conseguiremos. Podemos pedir tudo quanto dependa de nós, tudoquanto desejávamos constituísse patrimônio do nosso ser.

Esse exercício deve ser repetido diariamente ao deitar e ao acordar.

Acompanhando os outros exercícios, que indicaremos a seguir, este deve processar-se da forma queexporemos.

Ao acordar, nosso primeiro empenho deve ser o de afirmar para nós mesmos a posse do quedesejamos ter. Assim, pode afirmar-se:

“sou forte, domino minhas fraquezas” (precisar quais fraquezas); 

“sou senhor dos meus desejos e venço-os (precisar quais);

“cada dia (e precisar o setor), sou mais senhor, ou cada dia sou mais senhor disto ou daquilo.”  

Esse instante, importantíssimo, deve ser aproveitado para afirmarmos a nós mesmos, o que maisdesejamos de imediato de nós. Obtido o valor desejado, prossegue-se, pedindo o seu progresso econservação, ou para afirmar outros, e assim sucessivamente.

Este exercício corresponde ao que se faz ao dormir, ao subconsciente, que já estudamos.

QUE FAZER QUANDO ERRAMOS?

Quando fizermos alguma coisa errada, quando um mau pensamento nos assaltar, quando um desejoindevido nos impulsionar, quando praticarmos um ato que foi injusto ou mal feito, não nos enchamos deaborrecimento.

Levemos a mão ao peito, sintamos sinceramente o erro, e digamos a nós mesmo:

“Evitarei que se repita. Não faz mal. Evitarei que se repita.” 

EXERCÍCIO ELEMENTAR COTIDIANO

Agradecer ao Bem todo benefício alcançado. E nunca esquecer que são muitos.

Quanto aos males sucedidos, nunca os atribuir ao Bem, mas apenas às relações do que acontece.

Quanto às nossas faltas, realizadas durante o dia, firmarmo-nos no propósito de não repeti-las.Confiar que o Bem nos há de ajudar para o nosso bem.

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Esta rápida meditação deve ser feita diariamente, antes de deitar.

Segue-se, depois o pedido ao subconsciente. Esse pedido deve ser sempre positivo.

COLÓQUIOS INTERIORES

Precisamos desdobrar-nos como um amigo com quem conversamos. E no mesmo tom amigo,confidencial e bondoso, devemos examinar nossos erros, nossos desejos, nossos sonhos, esperanças, etc.E quando tomamos um tema para meditação, podemos interrogar-nos, para saber que pensamos sobre istoou aquilo. Discordar, desafiar para análises, fazer perguntas, se não esquecemos alguma coisa, se nãoestamos examinando o assunto superficialmente, etc. Todas essas providências, num amplo diálogointerior, têm um efeito extraordinário.

CONTEMPLAÇÃO ESPIRITUAL

Tomando um tema espiritual, a visão do Bem, podemos fazer um grande exercício, de efeitosincalculáveis.

O bem desta coisa pode ser este ou aquele. Tal ser deseja alcançar tal fim, que será o seu bem. Destaforma, o bem de cada coisa está aqui e ali, mas o Bem, o sentido do Bem, está em todas e em todas éigual. Pensemos no Bem enquanto tal, não no disto ou daquilo, nem nisto ou naquilo, mas no Bem em simesmo.

Contemplemo-lo. Sentir-nos-emos logo avassalados pelo bem que nos cerca, à medida que nele penetrarmos. Nossos sentidos devem perespiritualizar-se no exercício, à proporção que o formos fazendodiariamente:

1)  Tentemos ver o Bem com os olhos do espírito, espiritualmente, em si, em toda a sua beleza;2)  Tentemos ouvir a melodia harmoniosa que ele é;3)  O perfume que dele se evola, o sabor que sentimos do Bem, e, finalmente,4)  Tacteemo-lo com os nossos sentidos.

Devemos colocar-nos nesta disposição.

“O Bem é a minha felicidade.” Rejubilemo-nos; sintamos a alegria, um sorriso nos lábios, um sorrisosuave e meigo, uma respiração fluídica, e entreguemo-nos, depois, a essa contemplação espiritual doBem, que terminaremos por alcançar, sem o menor vestígio material, sem qualquer representaçãomaterial, até conquistar um estado de beatitude interior de grande satisfação interna.

 Não se atinge logo nos primeiros dias a esse estado superior, mas esse exercício dispõe nossas forçasde modo a se tornarem cada vez mais poderosas.

Esse exercício implica, antes de tudo, a máxima confiança em si mesmo, através da qual se há dealcançar o estado de plenitude do bem.

POSITIVIDADE SEMPRE!

Todos os temas de meditação, que variarão segundo as posições dos praticantes, conforme suascrenças e ideias, devem ser positivos e nunca negativos. Desejar, tratar. Meditar sobre o que se pode dizer sim e nunca sobre o que se quer dizer não. Meditar sempre sobre o que nos é benéfico e bom, e nuncasobre o que nos é maléfico e prejudicial.

As ideias devem ser claras e nunca confusas. Para evitar a confusão, faça-se a análise lógica,dialética das ideias. Examine-se e medite-se sobre a própria meditação, na análise das ideias que seassociam, verificando se o são por contiguidade, semelhança ou contradição. Ver se as ideias emcontradição não têm uma origem no “obstaculizador”.

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SILÊNCIO!

Busca-o sempre que o possas. E ante ele, pensa em teu bem. Crê firmemente em teu progresso eafirma sempre para ti mesmo que, cada instante que passa, conheces um estado melhor.

DISCUSSÕES

Evita as longas discussões, sobretudo com pessoas dispersas, que juntam argumentos sobreargumentos, sem ordem e sem disciplina, misturando juízos apenas de gosto com algumas pseudo-ideiasmalformadas e mal assimiladas.

Evita essas discussões, que não são em nada benéficas. Se não for possível conduzir o colóquio comalguém em boa ordem, segundo boa lógica, cuidadosa e bem organizada, é preferível que te cales. Sempresê disciplinado no trabalho mental. Essa é a regra importante, e nunca ceder às fogosidades do

 pensamento em conversas diluídas, dispersas, em que se fala de tudo e não se fala de nada.

Para ajudar a disciplina mental, faze a disciplina física em tudo quanto empregares a tua atividade.

Lembra-te de que não serás capaz de segurar uma bola se tua atenção não estiver voltada para ela. Se

teus olhos estiverem dispersos, perdidos, não segurarás a bola que te atirarem.Igualmente com a meditação. O bem que desejas deve sempre ser o principal tema de tua atenção, e

os teus olhos espirituais devem estar voltados para ele.

Lembra-te que confiar em ti mesmo é confiar em teu bem. E confiar em teu bem é confiar no Bem.

Ter confiança nele é adquirir sempre e sempre maior força. Nenhum mal pode ser absoluto. Se o malfosse absoluto, o universo já teria desaparecido, porque ele é destrutivo, e se tivesse um poder absolutotudo já teria sido destruído.

O Bem, portanto, é absoluto, porque não pode ser destruído. Confia nele, e a ele entrega-te comconfiança e serás invencível. Quem poderia amanhã te derrotar, quando tens em ti, certamente, o SupremoPoder do Universo?

Medita sobre a relatividade do mal e a realidade concreta do Bem. Pensa sempre no poder absolutodo Bem.

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OBSERVAÇÕES SOBRE REGRAS DA MEDITAÇÃO

Os exercícios respiratórios e a meditação são as práticas mais importantes que se podem oferecer. Não são novidades, sem dúvida, são velhos e esquecidos caminhos que levaram muitos a alcançar os

 pontos mais elevados que o homem jamais atingiu.De todos os exercícios e métodos conhecidos até hoje, são aqueles dois os que maiores e mais

seguros benefícios ofereceram, pois nunca falharam em suas finalidades. Podem os psicólogos inventar muitos métodos, mas nenhum terá o poder daquele que alimenta o corpo, fonte de nossa vida, que é umarespiração regular e bem ordenada, e aquele que fortalece o nosso espírito, que é a meditação, e que nosdá a maior inteireza ao espírito, a maior força para resistir à dispersão e nos afastar de tudo quanto podeatuar para nosso mal.

Por isso, a recomendação desses velhos caminhos deve sempre ser lembrada, e muitos aspectosimportantes nunca devem ser esquecidos.

Um homem sem vida interior não é capaz de conhecer-se. A meditação facilita a interiorização, aconcentração das forças psíquicas, e por seu aspecto dinâmico, racional e dialético, evita a fixação em

ideias contempladas, que são um campo aberto às manias, tão perigosas.Para conhecermos os nossos erros, defeitos, e as nossas possibilidades, nada melhor que a

meditação. Todo homem, capaz de manter uma vida interiorizada muito forte, é muito mais poderoso eenfrenta melhor as situações difíceis do que qualquer outro.

Quando maus pensamentos penetrarem em tuas meditações, não te preocupes. Deixa quesobrevenham, realizem a sua atividade, não lhes resistas, nem faças nenhum esforço de vontade paraafastá-los; pois, do contrário, além de te fatigares, dar-lhes-ás mais forças por oposição. Coloca-te apenascomo espectador um tanto indiferente, e toma uma atitude de desprezo. Se tomares outra atividade,deverá consistir em pensar positivamente em temas opostos aos dos maus pensamentos, sem te

 preocupares se aqueles retornaram. À proporção que fixares o pensamento nos bons, e desprezares osmaus, sem a eles resistir, tirar-lhes-ás toda a força, e eles acabarão por não mais surgir. Permanece semprecalmo, e compreende que é natural que tais pensamentos sobrevenham.

 Não deixes passar um dia sem fazer exercícios de meditação. Nunca é demais recordar este ponto.

Começa sempre pelas meditações mais fáceis. Não te preocupes, no princípio, em alcançar os pontosmais elevados. O importante é começar.

Se és um extrovertido, um dilatado, terás, no início, certa dificuldade, menor que as que terá umretraído, um introvertido. Não te preocupes, porque alcançarás, com o tempo, o pleno domínio. Por poucoque seja o tempo de tua meditação, cada minuto ganho é uma positividade a mais. Conseguirás, com otempo, manter uma meditação, sem perturbações, por horas a fio.

Se ao iniciares a meditação, o teu espírito estiver muito dispersivo, não te irrites, nem fiquesnervoso. Deixa-o errar à vontade. Ele acabará por cansar-se. Quando sentires que podes fixar a atençãosobre uma imagem que memorizas ou sobre uma ideia (reflexão), inicia o exercício, sem te aborreceres

 pelo tempo perdido. Nunca perderás tempo se não te deixares preocupar.

 Não esperes resultados imediatos da meditação. Eles, às vezes custam a se manifestar. São umdesafio à tua diligência. Aceita o desafio, e prossegue com alegria e com confiança no progresso, queacabarás por conseguir. Ele virá fatalmente. Tem fé em ti mesmo.

Se meditares sobre um tema, sentirás súbito desejo de meditar em outro, não te preocupes. Meditasobre o novo tema. Depois, noutra ocasião, retorna ao tema primitivo. Lembra-te que vencerás por 

 persistência e não por oposição ao mental. Faze o que tens de fazer, e não te preocupes com o que sucedaem contrário. Lembra-te que o que vale são as positividades ganhas e não as negatividades vencidas.

Sempre sê pontual em tuas meditações. Não as abandones nunca. Cada dia que deixas de fazer umameditação, perdes dois. Aproveita todos os instantes para pôr o máximo de atenção no que fazes.Ajudarás, assim, a atenção às ideias.

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Para ajudar a tua meditação noturna, evita os alimentos fortes ao jantar.

Faze uma refeição frugal, se possível, ou pelo menos a mais leve que puderes.

 Não percas tempo em discussões inúteis, sobretudo com fanáticos. O esforço, que mal gastas nessasdiscussões, aproveita-o para estudar, para meditar, para analisar bons temas.

Se fizeres tua meditação na presença de outros, convém que sejam pessoas que não perturbam a tuaatividade interior. É preferível, porém, que as faças sempre sozinho.

Procura sempre julgar os outros com justiça. Não exijas de ninguém o que está além de suas possibilidades. E ao examinar os erros que outros pratiquem, procura colocar-te na situação em que elesse encontravam. Não te esqueças nunca que, quando pensas nessas situações, tu não estás nelas. Portanto, dá mais força às circunstâncias, e procura compreender os outros para ajudá-los.

Todo o bem que faças, virá para teu bem. Podes duvidar desta milenar verdade, contudo é maisverdadeira que todas as falsas filosofias que homens desesperados quiseram construir, para estender atodos o mal que eles contém dentro de si mesmos.

Reconhece que cometes erros, e medita sobre eles. Aprenderás a compreender os erros dos outros e anão exigir dos outros o impossível. Se podes fazer uma coisa que outros não podem, não sejasdemasiadamente exigente para com eles. Medita sobre isto, muitas vezes.

A IMAGINAÇÃO

Concentra o mental, sempre que possas, ao ler um livro, ao ler um jornal, ao assistir um filme, ao

escrever uma carta.

Imobiliza-te, e concentra toda a mente sobre o que fazes.

Lembra-te que o mental nunca descansa, nem mesmo quando dormes. Quando o sono se apossa deteu corpo, em que a tua consciência também adormece, ele continua trabalhando, ativo sempre.

Os exercícios diários de meditação dão ao mental uma força e uma direção exclusiva em teu favor.

Devemos meditar sobre uma ideia sem importância, ou apenas sobre grandes ideias?

A resposta a esta pergunta é muito simples: é preferível, sempre que façamos nossos exercíciosmentais, sejam eles dirigidos para grandes pensamentos positivos. No entanto, tal não impede que, emcertas ocasiões, quando nos encontramos em face de pensamentos pouco agradáveis, não possamosmeditar sobre eles.

 No início, quando o que segue nosso curso, ainda se encontra dominado por preocupações contrárias,aconselhamos a fazer os exercícios como até agora expusemos. Tal não impedirá que, num futuro

 próximo, quando tenha fortalecido devidamente o mental, o corpo e o espírito, não analise tais pensamentos que outrora o preocupavam. Verá, então, quão fracos eram eles, e que a sua força estavaapenas na nossa fraqueza.

Ao chegarmos a esse ponto, nossa força já terá atingido a um grau bem alto. Por isso, no início,nosso conselho é: meditação sobre temas elevados e positivos. Só posteriormente sobre quaisquer outrostemas.

O que se pode fazer aqui é o seguinte: quando tenhamos que fazer algum trabalho desagradável por natureza, não devemos recuar. Não esqueçamos a força do júbilo, essa grandeza alimentadora de nossaalma e de nossa imaginação.

Por que é desagradável o serviço que temos que fazer? Porque a nossa imaginação lhe empresta asmais sombrias cores. Lembremo-nos dos estudantes de medicina, que nos primeiros anos, quando se

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veem obrigados a trabalhar no necrotério com cadáveres, sentem, de início, uma repugnância que pareceinvencível. Há muitos que abandonam a carreira. No entanto, os que a seguem, realizam, depois, umaobra de grande valor. E aquela repugnância desaparece e cuidam eles de nossas chagas e de nossasmisérias, totalmente libertados das cores sombrias e desagradáveis que lhes emprestava a imaginação.

Cuidemos, pois, quando empreendemos algo que nos parece desagradável, em ver genuinamente anossa tarefa. Ora, todas as coisas têm valores e desvalores. Não estaremos apenas vendo os maus e

escondendo aos nossos olhos os bons? E além disso, não estaremos aumentando o aspecto desagradável, por valorizarmos os maus valores, provocando com a nossa imaginação aspectos desagradáveis não tãoevidentes?

Lembro-me de uma pessoa a quem um dia lhe ofereceram uma cenoura crua para que comesse. Aolevá-la à boca, achou a coisa mais horrível e desagradável do mundo. Um caldo de cenoura seria umverdadeiro veneno. Tinha a impressão que morreria se tomasse tal coisa!

Mas, um dia, sentiu que os olhos já não viam tão bem. Para ler um jornal, precisa óculos.Consultando um médico, este aconselhou-o que comesse cenouras cruas.

- Cenouras cruas, doutor?! Mas isso é horrível!

- Coma cenouras cruas...- Mas, eu não sou lebre, doutor...

- Pois seja lebre, e coma cenouras cruas como lebre. Pois lerá jornais.

- Mas é tão desagradável.

- Procure o agradável e acabará encontrando-o. Lembra que a cenoura tem tais vitaminas, etc.

O nosso amigo começou a comer cenouras cruas. Já estava convencido que eram úteis. O gostoesquisito acabou por tornar-se agradável. Hoje, na sua casa, pode até faltar manteiga, mas cenourasraladas não faltam. E o melhor é que lê jornais sem óculos.

Muitas das coisas desagradáveis são como as cenouras cruas. Depois de comidas, acompanhadas daconvicção de que são úteis e necessárias, nossa imaginação começa a cobrir nela os bons valores.

Pode-se ainda duvidar do valor da imaginação?

Mas se nos perguntassem: podemos dirigir a nossa imaginação?

Só uma resposta cabe aqui: podemos. E como é este um tema de tal importância para a integração deuma personalidade e para o domínio do mental, merece eles estudos especiais.

Podemos fazer exercícios para dominar a nossa imaginação?

Sim, podemos. E são eles de uma importância tal que sem o bom domínio deles, não seremossenhores do nosso mental.

Comecemos, portanto, por parte, degrau a degrau.

Se um trabalho desagradável ou uma ideia sem interesse recebe de nós a atenção do nosso mental,

aos poucos verificaremos que a força do mesmo tende a aumentar, e diminuem as nossas fraquezasmentais,

Sabemos que a força de um estímulo exterior está na proporção da atenção que lhe prestamos. Seatendemos para algo, captamos melhor e mais nitidamente o que nos era confuso.

Uma imaginação quimérica, fantasista, desorientada, só pode dar-se num mental fraco, nunca nummental forte.

Portanto, o caminho do domínio da imaginação só pode ser aquele que começa pelo domínio domental.

Vamos oferecer um pequeno exercício de grande valor.

Quando sentirmos uma pequena dor numa parte do corpo ou mesmo um prurido qualquer, não os

atendamos. Procuremos desviar nossa atenção para outras coisas. Perceberemos que a dor ou o pruridodiminuirão. Mas, ao mesmo instante, porque estamos pensando sobre eles, tendem a aumentar.

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Façamos outra vez a mesma experiência, dirigindo a atenção para outra coisa, e observemos sediminuem. Certamente diminuirão.

Chegados a este ponto, procuremos não senti-los mais, pela desatenção que lhes daremos.

É a imaginação um dos temas mais importantes da Psicologia, e os estudos que tem provocado sãodos mais numerosos.

A palavra imagem vem de imago, em latim, que indica o que é interior.

Ao intuirmos um fato do mundo exterior, dele formamos uma imagem. Assim, temos imagens quesão representadas (apresentadas de novo) pela memorização. Mas eis que o poder criador do espíritohumano revela-se aqui.

 Nós não reproduzimos apenas as imagens que obtivermos dos fatos do mundo exterior. Nós tambémas combinamos. Assim a imagem do ouro, que guardamos em nossa memória, e a imagem de monte,

 podem levar-nos a construir a representação de um monte-de-ouro, sem que desse monte tivéssemos tidouma experiência.

Fácil é compreender agora o papel criador da nossa imaginação.

Contudo, é preciso considerar um ponto importante. Todas as imagens, que podemos representar, sãofundadas na nossa experiência. Não é possível construir uma unidade composta de imagens diversas, quenão as tenhamos experimentado isoladamente.

Assim, se imaginarmos o Centauro, parte homem, parte cavalo, uma cabeça humana num corpo decavalo, temos as imagens já experimentadas por nós, pois, separadamente, já as conhecemos. O que nãointuímos do mundo exterior foi a combinação dessas duas partes, formando um novo ser, o Centauro.

Este é, portanto, o produto da imaginação, que é a atividade do nosso espírito em construir novasunidades com partes que são imagens já por nós experimentadas.

Desta forma, o artista pode, com pincéis e tintas, construir, imaginativamente, e reproduzindo aimaginação na tela, novas unidades, compostas de imagens diversas.

A imaginação tem um poder criador: o de criar novas imagens pela combinação delas.

Contudo, a imaginação não pode dar vida a essas novas imagens compostas. Pode um arquitetoimaginar uma construção, e depois juntar os materiais necessários e dar-lhe a realidade.

Estamos aqui em face de uma realização material do que fora anteriormente pura imaginação. O queo construtor faz é reunir, obedecendo às leis da mecânica, materiais sob uma forma para a qual eles estãonaturalmente formados.

Uma pedra pode ser assentada sobre outra pedra. Uma parede pode ser erguida, desde que seobedeçam as leis da estabilidade mecânica.

Podemos, também, ao imaginar um monte-de-ouro, saber que ele pode ser realizado, mas já umamontanha de ouro se torna praticamente impossível, e muito menos uma cadeia de montanhas de ouro.

Um centauro, que pode ser imaginado, já não pode realizar-se em vida, porque contraria as leis da

ciência.Que vemos, então?

Que há combinações que podem encontrar uma resposta na realidade, resposta de reprodução fiel, eoutras que não o podem.

Um centauro pode ser reproduzido com tintas numa tela; não o pode na natureza.

Há pessoas que são muito imaginativas, como os poetas, artistas, sonhadores que, despertos, vivemum mundo de imagens maravilhosas.

Outros o são menos. Há acaso alguém desprovido totalmente de imaginação? A resposta que seimpõe é que não há. Se encontrarmos graus diversos na capacidade de imaginação, há em todos sempreimaginação.

A imaginação pode ser regrada ou desregrada. Chamam de imaginação regrada aquela em quealguém que a vive, não a vive como realidade, mas como ficção.

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A imaginação começa a desregrar-se, quando as imagens combinadas passam da categoria de puraficção para a de realidade, isto é, quando, quem as crias, juntando imagens, fundadas na experiência, julgaque a nova unidade forma, também, uma realidade. Assim procederia um desregrado na imaginação que,fundando-se na realidade do busto humano e na realidade do corpo de cavalo, acreditasse na realidade dacombinação Centauro.

Agora surge, nitidamente, a grande significação que tem a educação da imaginação.

Educar a imaginação não é secá-la, não é destruí-la. Que seria a Humanidade se o ser humano, semimaginação, fosse a norma? Onde estariam os grandes inventos, as grandes melhorias humanas? Onde,enfim, o progresso, se dominasse no homem uma falta de imaginação?

Todos os grandes inventores, todos os grandes criadores, foram pessoas imaginativas.

Educá-la é conduzi-la para fins benéficos.

Há muitas providências a serem tomadas neste setor, sobretudo porque já sabemos muito bem quantoela influi sobre nós.

E influi, porque, se considerarmos a imaginação como realidade, poderemos errar.

 No caso do arquiteto, como vimos há pouco, pode ela tornar-se realidade. Mas poderia o arquitetoimaginar, também, uma construção tão desmedida que não tivesse nenhuma correspondência com arealidade. Bastaria que ele desprezasse as leis da estabilidade ou as condições da técnica.

Um ser-vivo imaginário não pode tornar-se vivo na realidade, como o exemplo do Centauro.

Portanto, vemos que a imaginação pode ser medida, regrada, ou desmedida, desregrada.

Saber separar o que é mera ficção do que é realidade é importantíssimo, e implica exercícios quecomeçam onde começa o domínio do mental.

A imaginação criadora tem ainda outro papel importante: o de criar realidades dentro de nós. Note-se bem:

Se não podemos criar realidades fora de nós, podemos, no entanto, criá-las dentro de nós.

E eis onde a imaginação pode atuar positiva ou opositivamente.

Vamos a exemplos esclarecedores: certo escritor criou uma personagem, numa de suas novelas, queera um louco moral. O escritor, em toda a sua vida, havia sido um homem plenamente normal. Mas viveucom tal intensidade o tipo que criara, que tempos depois de haver escrito o livro, começou a sentir ossintomas da loucura da personagem, em si mesmo.

Terrível foi o seu espanto. Perplexo ante os acontecimentos, viu que, dia após dia, aumentavam ossintomas, e já não sentia forças suficientes para dominar-se. Apavorado com a situação, e sentindo-sefraco para dominar-se, preferiu o suicídio a realizar, em vida, a triste figura do ser que havia criado emsua novela.

Duas perguntas podem colocar-se aqui:

1)  Ou o autor criou pela imaginação um ser tão vivo em si mesmo que passou a vivê-lo com talintensidade, que ele dominou plenamente a personalidade do autor, substituindo-a aos poucos

 pela da personagem; ou2)  O autor já tinha em si, em estado de latência, a personagem, que já formava uma personalidade potencial, que, aproveitando-se da porta escancarada da imaginação artística, surgiu à tona paravencer as resistências do autor.

 No primeiro caso, a personagem é uma mera criação do autor;

 No segundo caso, a personagem tinha uma autonomia, que permitiu vencer as resistências.

Este fato, pela sua importância, merece que sobre ele meditemos e procuremos, em face dosconhecimentos de que atualmente dispomos, resolver entre tais possibilidades.

O homem é um feixe de possibilidades. Em nós, temos, em estado de potência, tido quanto o ser humano pode ser e criar, tanto para o bem como para o mal. Nossa atividade psíquica tem o papel deatualizar (tornar eficiente, realizar) ou de virtualizar (colocar no estado de latência) tudo quanto podemosser. É fácil agora compreender o que é sugestão, esse gerar sub, esse ordenar de modo a tornar em ato oque contemos em potência. Por isso, se a atividade do nosso espírito tomar um sentido positivo e benéfico

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 para nós, pode atualizar o que nos é positivo e benéfico, como, se tomar um sentido negativo, atualizará oque temos de negativo, de destrutivo, em nós. Podemos despertar as forças do bem como as forças domal, de que tanto falavam as religiões e que a psicologia moderna nos auxilia a compreender em termoscientíficos.

Os estudos, que fizemos até aqui, sobre a educação da imaginação, levam-nos a compreender quãonecessário é cuidar do domínio do mental.

Ora, a imaginação é mental, dá-se no nosso psiquismo, e dele depende.

Dominar, dirigir, educar a imaginação implica necessariamente o domínio, a direção, a educação domental.

Portanto, além dos exercícios que já tivemos ocasião de estudar e descrever, impõe-se agoraobedecer a um conjunto de regras que são de magna importância.

O dirigir a nossa atenção para fatos do mundo exterior é um exercício importantíssimo.

Ao vermos um fato, digamos, um inseto que se move por entre vários objetos, que devemos fazer?Deixar que passe sem nos interessar? Não; aproveitemos o instante para um exercício de atenção externa.Olhemos, observemos, acompanhemos os movimentos do inseto, como podemos acompanhar, observar omovimento de um avião em pleno ar, ou de um pássaro nas alturas.

Eis uma máquina que funciona com toda a sua complexidade. Devemos aproveitar o instante paraapreciar o seu movimento, dando-lhe toda a atenção.

Concentrar nossa atenção sobre os fatos do mundo exterior, eis uma grande regra para o domínio dasforças psíquicas.

Aqueles que ante os fatos são dispersos, olham ora para cá, ora para lá, interessam-se por isto, ora por aquilo, enfraquecem cada vez mais o seu mental.

Deve-se exercitar a atenção pela concentração em tudo quanto se faz. É uma carta que se lê: máximaatenção! É uma carta que se bate à máquina: máxima atenção! É alguém que nos fala: máxima atenção!

Transformemos cada um dos nossos momentos da vida exterior num exercício atencional, eestaremos construindo o poder extraordinário da mente.

Mas, nesses momentos em que observamos as coisas, surgem imagens, devaneios, ideias errantesque procuram afastar-nos do trabalho que empreendemos.

Como proceder, então? Lembremo-nos dos conselhos já dados quanto à meditação e às ideiaserrantes. Não lutemos contra o mental! 

Retornemos à observação.

A princípio, essas ideias e devaneios procurarão impedir o exercício atencional. Mas, finalmente,elas se cansarão, e nós as venceremos.

Então, podemos sintetizar agora:

A atenção exterior é a observação; a atenção interior é a meditação.

Completemos uma com a outra, e uma fortalecerá a outra.

E não nos esqueçamos nunca destas regras:

Não lutar contra o mental!

Não repelir violentamente as ideias intrusas!

Aproveitar cada instante para realizar um exercício atencional exterior!

Aproveitar cada instante para os exercícios atencionais interiores (meditação).

O trabalho feito com concentração nos dará ganho de tempo. Se hoje levarmos tal tempo para fazer um serviço, acostumando-nos a realizá-lo sempre com concentração, acabaremos espantosamentediminuindo o tempo gasto.

Os grandes homens da indústria não poderiam dirigir seus inúmeros negócios se não fossem capazes

de uma grande concentração. Nem o poderiam os sábios, os cientistas, os grandes inventores, os generais,etc.

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Vê-se, assim, claramente que o domínio da imaginação começa no preciso ponto onde se inicia odomínio do mental.

Os exercícios mentais são exercícios prévios de domínio da imaginação.

Examinemos agora estes problemas:

De onde vêm as nossas preocupações? Do mundo exterior, ou de nós?

Se vêm de nós, quando nelas atua a imaginação? Pois, ou se fundam em imagens combinadas comum sentido e um significado próprio, que nos oferecem perigos, suspeitas, dúvidas, ou se fundam emfatos sucedidos, cujas possibilidades procuramos descobrir, e construímos imagens sobre imagens dosacontecimentos futuros possíveis, que possam ainda pôr em risco algum bem que prezamos.

Conclusão: nossa vida interior, por mais seca que seja, está sempre povoada, cercada, acompanhada,estimulada ou reduzida pela imaginação.

O seu modo de proceder consiste em marcar a direção das nossas atitudes ou influir em nossasvalorizações.

Aquela montanha, que vejo daqui da janela do meu quarto, é uma massa cinzenta homogênea. Seique ali há árvores, arbustos, veios d’água, pássaros das mais variadas formas e cores. Mas daqui, de ondeestou, ela é apenas uma massa cinzenta. Quem estiver mais próximo dela, verá muito mais que umasimples massa cinzenta, e quem a percorrer encontrará uma variedade tão grande de fatos e aspectos, quenão teria fim se desejasse descrevê-los.

Vê-se, assim, que os fatos são sempre o que são. Aquela montanha é o que ela é. É a sua própriaverdade. Mas, a montanha para mim é diferente do que ela é na verdade. Assim, os fatos variam para nós,embora não sejam em si senão o que eles são. E por que variam para nós? Assim, a montanha é diversa

 para os olhos dos seus espectadores, mas apenas nesses olhos, e não em si mesma; e assim os fatos sãodiferentes aos nossos olhos, sem que em si mesmo sejam eles outra coisa do que eles mesmos.

Vejamos mais: estou aqui. Nunca vi aquela montanha senão à distância. Não sei como ela é em simesma. Sei que tem árvores, vegetação, animais diversos, caminhos para percorrê-la, algumas cabanas decamponeses. Posso construir com a imaginação até paisagens, manchas de um trecho ou de outro, possoimaginar até a visão que, olhando dali, teremos desta cidade. Muitas coisas posso imaginar. Mas todas as

que acaso imagine serão, naturalmente, muito distintas do que é a montanha na sua realidade.A imaginação tende a completar o que os olhos não veem!

E eis o seu importante papel que pode ser benéfico ou maléfico.

Se conheço a montanha como ela é, não poderei tão facilmente criar tantas imagens. Já saberei comoela é.

Ora, a nossa imaginação não pede licença para trabalhar. Ela está sempre atuando. Mesmo quandodormimos, ela atua e, muitas vezes, vislumbramos a sua atividade nos sonhos povoados de tantosilogismos e de tanta criação exótica.

Cercados por ela, como sempre estamos, podemos dizer que vivemos num mundo de realidadepovoado pela imaginação.

Onde termina a realidade e onde começa a ficção? Se o soubermos, poderemos ser senhores darealidade e da imaginação!

Que maravilhoso é possuir um critério seguro, como um guia fiel e competente que nos leve atravésde caminhos desconhecidos ao ponto almejado!

Que podemos fazer para alcançar este ponto?

Duas propostas costumam ser feitas:

1)  Destruir a imaginação, secá-la;2)  Dirigi-la, analisá-la, dominá-la.

A primeira está prejudicada pelas razões que tivemos ocasião de acima descrever. Resta a segunda,

 portanto.

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Vamos empreender juntos este longo caminho. Serei o teu guia e tu o confiante viajor. À tua fé e àtua confiança, corresponderão a minha confiança e a minha fé. Conheço o caminho, e tu confias no meuconhecimento.

Pois bem, entre olhares amigos e confiantes, prossigamos a nossa jornada.

Quem segue uma viagem, a primeira coisa que faz, é munir-se de tudo quanto é necessário para ela.

E essa viagem, que nos levará a achar as fronteiras entre a imaginação e a realidade, que nos dará meiosde impedir que aquela nos prejudique em vez de nos auxiliar, exige uma preparação prévia.

Então devemos:

1)  Continuar firme e confiantemente os exercícios aconselhados;2)  Desenvolver a força de concentração. Exercícios atencionais exteriores e interiores.

E agora, o 3º ponto importante:

És um homem extrovertido, como poderias ser um introvertido. Onde estás, tu te extrovertes. Se tensao teu lado uma só pessoa, com quem conversas, procederás de um modo. Se tens duas ou mais,

 procederás diferentemente. Se és extrovertido, ante uma pessoa, és mais comedido; ante mais de duas, játe excitas, falarás com mais ênfase, manifestarás um entusiasmo tão excessivo que podes perder até ocontrole.

Se és um introvertido, ante uma única pessoa, conservas a tua naturalidade. Mas, eis que sobrevêmduas, três, outras, e começas cada vez a fechar-te mais, a calar-te, a sobrares, como diz o povo. Não éassim?

Por que mudaste de atitude? É que nós, em geral, nunca somos os mesmos ante fatos diferentes. E por qu? Porque os fatos nos provocam imagens novas, nos estimulam nos movimentos de extroversão oude introversão.

Cuidemos, agora, de um estudo importante: as nossas atitudes ante os outros, e procuremos analisar nelas a influência que exerce a nossa imaginação. Depois, então, nos exercitaremos para evitar osdefeitos. Aqui começa o novo caminho, aqui já palmilhamos a trilha da vitória!

Seguindo as pegadas do que dissemos, devemos, agora, salientar o importante papel das atitudes.

 Nossas preocupações surgem:1)  De nós mesmo;2)  Do mundo exterior.

Têm elas suas origens em nós mesmos, em nosso psiquismo, ou provêm de quando nos encontramos,no mundo exterior, em face dos outros.

Essa distinção apenas salienta a fonte. Se podemos distinguir quanto à origem da precipitação, da preocupação, não podemos deixar de reconhecer que ela sempre depende de nós. 

Reconhecer este ponto é de capital importância. Pois, na verdade se os outros nos provocam preocupações, segundo as suas atitudes, devemos reconhecer que precisamos estar  predispostos a nospreocupar para que tal aconteça.

Se ante outros nos surgem preocupações, deveremos sempre considerar:

Quanto nos cabe na estrutura da preocupação. Que fixemos para criar um ambiente favorável paraque ela surgisse em nós?

Se observarmos bem, verificaremos que nossas atitudes provocam certas reações dos outros que nemsempre percebemos nitidamente, mas que influem terrivelmente sobre nós.

Se somos introvertidos, num ambiente de extrovertidos, estamos sujeitos a criar situaçõesdesagradáveis, tanto para nós como para os outros. Ante a expansão geral, nós nos retraímos. E quantomais os outros se expandem, mais nos retraímos. Provocamos nos outros o aspecto de quem é “docontra”. Parecemos, desde logo, egoístas, antipáticos. Não rimos nem conversamos com a mesmaexuberância que eles.

Se somos extrovertidos, numa roda de introvertidos, logo nos sentimos como se estivéssemos numvelório. A tristeza parece dominar o ambiente. Sentimo-nos mal, e a nossa expansão e alegria causam, por sua vez, mal-estar na roda.

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Quer dizer que devemos procurar apenas os nossos pares? Poder-se-ia proceder assim, mas a vidanão nos permite, e nós nos vemos obrigados a “dançar  segundo a música que tocam”. Portanto, paciência.Temos que nos adaptar ao ambiente em que estamos. E como fazer?

Ora, o conhecimento é um meio de libertação. Se sabemos que somos introvertidos ou extrovertidos, já sabemos que, nas rodas, que nos são antagônicas, devemos conter nossos impulsos naturais e procurar compreender com simpatia os outros. Dessa forma, evitamos aborrecimentos aos outros e a nós mesmos.

Digamos agora, que, sendo nós extrovertidos, estamos numa roda de extrovertidos, na qual se dá a presença de um introvertido. Este exercerá sobre nós uma verdadeira provocação, que nem sempresuspeitamos.

Temos vontade de falar mais alto, de ser mais exuberantes, de extroverter-nos mais, porque outros(os introvertidos) parecem reagir contra nós. Queremos, então, impor-nos. E perdemos a noção doslimites. Resultado: dizemos mais do que devíamos dizer. E depois ficamos preocupados que as nossas

 palavras tenham sido compreendidas assim ou de outro modo, a serem impressões que não desejaríamos provocar nos outros.

Sentimo-nos, então, supinamente aborrecidos. “Para que disse isso? Sei que pensam que eu...” Euma dúvida nos espicaça a consciência. E nesse dia, por mais que façamos, e à proporção que maislutamos contra o mental, as preocupações crescem, e o nosso “inimigo”, sempre a postos para nos

exprobrar os erros, ri-se à nossa custa e aumenta ainda as preocupações, memorizando até fatos passados, já esquecidos, mas que voltam à memória para aumentar ainda mais o nosso mal-estar psíquico.

Portanto, há uma regra útil: conter-se. E conter-se até quando tendemos a introvertermo-nos.Procurar sempre a posição equilibrada entre introversão e extroversão, é o melhor meio. No início, comoem tudo, há dificuldades, mas é possível obter-se esse domínio. O pondo de partida é começar a dominar-se e, a pouco e pouco, a vitória se aproxima, de tal forma, que a conquistaremos, afinal.

Mas todas as preocupações, que surgem das nossas atitudes para com os outros ou dos outros paraconosco, dependem do nosso estado psíquico.

Toda a vez que tais preocupações surgem, podemos estar certos que algo de defeituoso temos emnós. Salvo, naturalmente, naqueles exemplos de desajustamento, de falta de delicadeza, de erros gravesem nosso modo de proceder, que provocam nos outros uma reação, ou que os ferimos, sem que o

desejássemos, mas apenas por falta de cuidado.Estes casos são facilmente resolúveis, pois basta que cuidemos em não repeti-los, e a preocupação se

desvanece.

Devotam-se os psicólogos ao estudo das relações íntimas entre a realidade e a imaginação. E não éum tema apenas de psicologia, mas de filosofia também. Onde termina a realidade e começa aimaginação? Traçar nítidas fronteiras é difícil. Além disso, o homem é um ser supinamente imaginativo, e

 poderíamos dizer, sem exagero, que nunca o ser humano pode viver a realidade pura e simples, sem a presença da imaginação.

Portanto, o problema só se pode resolver pelo controle desta.

Aconselham os psicólogos, como melhor método para distinguir a realidade da imaginação, observar quanto há de correspondência sobre o que pensamos com a sucessão dos fatos. Muitos imaginam isto ou

aquilo pode ser ou dar-se, mas os fatos o desmentem. Portanto, os fatos do acontecer universal podemservir-nos de guia para que analisemos os nossos pensamentos e as nossas opiniões.

Se procedermos assim, já teremos um bom meio de ver até onde vamos no terreno do imaginativo, bastando que recordemos o que pensamos sobre os fatos futuros, que nos confirmaram ou nos negaram oque a imaginação havia construído.

Tem ela, assim, um grande papel, além do de conseguir novas estruturas com velhas imagens; é o devalorizar os valores. O que valoramos pode receber de nós uma nova carga valorativa, e darmos maisvalor ao que tem menos, e menos ao que tem mais.

A medida dos valores é realmente difícil. A própria Economia não resolve facilmente este problema,e a Filosofia também não.

Portanto, precisamos estudar os valores para que saibamos guiar-nos ante as circunstâncias e

sabermos quando nos excedemos em nossas valorações e valorizações.

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Valoração é a ação de captar um valor; valorização, a atividade que consiste em dar um suprimentode valor a um valor, já valorado.

Assim, há objetos que podem ser valorados como valendo tal. Mas nós, por diversos fatores, podemos dar-lhes mais valor.

Esta caneta vale tanto, por exemplo. Mas, como ela foi de meu pai, vale muito mais. Tem para mim,

um valor a mais que lhe dou. Eu valorizo-a muito mais que outros a avaliaram.Um fato que sucede pode provocar reações diversas em diferentes pessoas. Num, pode passar 

indiferentemente, mas noutros provocará uma gama de preocupações, que vão desde o desgosto mais leveaté o mais profundo pesar.

Ora, o fato é o mesmo. Em si mesmo, tem o seu valor. Mas, para os outros, apresenta valoresdiversos.

Só nos preocupa aquilo a que damos um valor além da medida.

Analisemos as nossas valorizações e vejamos o papel que nossa imaginação exerce nessa atividade, eestaremos em condições de trabalhar a nosso favor e evitar muitos dos motivos que nos têm servido paratransformar nossa vida numa existência intercalada de preocupações totalmente inúteis. São essas

 preocupações totalmente inúteis que devemos afastar de nós, para que nos libertemos. E o empenho para

consegui-lo não é difícil.Para obter o desejado, comecemos pelo princípio. Examinemos primeiramente os valores, que

emprestamos às coisas e aos fatos, e depois a sua inter-relação com a imaginação e, finalmente, nosso papel para libertarmo-nos.

Temos, aqui, um novo veio, cuja exploração nos oferecerá novas possibilidades de vitória, efacilitará a nossa plena integração pessoal.

Antes de estudarmos os métodos de domínio da imaginação, cujo controle é fundamental para umacompleta integração pessoal, convém previamente estudá-la sob vários aspectos:

Criadora

Positiva Inovadora

Imaginação

 Negativa Desregrada

Patológica

Com este esquema, temos os diversos aspectos que são importantes para nós.

Uma imaginação positiva criadora, e uma inovadora, são úteis, benéficas e devem ser alimentadas. Écriadora a imaginação quando ela trabalha na estruturação de velhas imagens para construir uma novaimagem sintética, como a realiza o artista. É inovadora, quando, ao perceber as possibilidades que

 permitia inovar algo totalmente não conhecido, como procede, por exemplo, um industrial talentoso, que pode, com velhos materiais, com velhas técnicas, criar uma nova modalidade de produção.

Estas duas imaginações devem ser estimuladas. Mas, como há sempre o perigo de desdobramento,uma imaginação positiva, quando se desmesura, pode tornar-se desregrada. 

Como se podem dar tais desmesuramentos?

A imaginação distingue-se da realidade. Enquanto esta se dá em ato, existe em si,independentemente de nós, o imaginativo, enquanto tal, existe apenas em nós. Portanto fundamental. Masonde termina o primeiro e começa o segundo? Difícil estabelecer uma fronteira, porque, em cada caso

 particular, a imaginação e a realidade se combinam, de modos diversos.

O único critério que temos é o de considerar como realidade o que de fato, fora da nossa mente, já sedá. E como imaginação, as possibilidades maiores ou menores, ou a consideração de fatos que julgamosterem-se dado ou em ação de dar-se, mas dos quais não temos a evidência segura de seu acontecer real.Como já vimos, a imaginação não se afasta do homem, que com ela vive. Por isso, vivemos

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constantemente num mundo imaginativo e num mundo real. Mas, o critério que temos para captá-lo emmuito nos auxilia.

Convém, no entanto, ainda distinguir: Numa imaginação desregrada, o sujeito, que a experimenta,pode saber que a vive, e é o caso normal de imaginação descontrolada, ou não pode saber que ela éimaginação e a toma como realidade, que já é um caso patológico.

Assim temos:a)  Imaginamos, mas sabemos que imaginamos;

 b)  Imaginamos e pensamos que é realidade.

Quando alguém toma a imaginação por realidade é já a evidenciação de um caso patológico? Naverdade, convém ainda distinguir. Se for esporadicamente, não o é. Mas, aqueles que tomam comorealidade, constantemente, o que imaginam, revelam que o seu desregramento já atingiu a um ponto tãoagudo, que acusa o doentio, o mórbido, o patológico.

Vamos a exemplos esclarecedores:

Estamos em face de um fato real. Começamos a considerar as suas possibilidades. Quais possibilidades estamos considerando: as benéficas ou as maléficas?

Alguém nos olha de soslaio. Ficamos desconfiados. Nossa imaginação põe-se a trabalhar. “Esseindivíduo não gosta de mim, tem alguma má vontade que não revela. Certamente suas intenções não são

 boas. (A imaginação está trabalhando com negatividade, portanto, para nós, maléfica. Ela se agita e prossegue). Já observei vários gestos inamistosos. Ah, não há dúvida, esse indivíduo planeja alguma coisacontra mim!” 

E nesse diapasão trabalha a imaginação. Tudo se torna para nós evidente.

Tínhamos um fato real: um olhar de soslaio. O reto pertence às nossas ficções. Temos aqui umexemplo das fronteiras entre a realidade e a imaginação. O primeiro, o olhar, pertence à realidade; orestante, à imaginação.

Que devemos fazer em tais casos? Examinar com cuidado o que a imaginação amontoa de provas contra o indivíduo? Examinemos o que há de real contra nós? Nada, ou algum fato já praticado?Examinemos o fato e o despojemos do que é imaginativo. Tiremos dele todos os valores positivos e

opositivos, e consideremos o que há de existencial no fato.Se procedermos assim, muitas das nossas considerações imaginativas perderão sua força e a

realidade acabará por esplender com toda clareza. Lembremo-nos do seguinte: o cientista, quando estudaum fato do mundo, como procede o botânico ao analisar uma planta, não se guia nem se deve guiar por valores, mas descrever a planta existencialmente como a planta acontece. O cientista não pode fazer 

 julgamentos de valor, sob pena de afastar-se da Ciência e fazer Filosofia, o que cabe a outro setor doconhecimento.

Enquanto a Ciência trabalha com julgamentos (juízos) de existência, a Filosofia trabalha tambémcom juízos de valor. A Filosofia pode julgar o homem como o ser mais valioso da terra. Mas, o cientista oestuda, nas ciências correspondentes, com a mesma naturalidade e realidade que estuda os seres maisínfimos.

Todas as vezes que julgamos alguém ou um fato, façamos este exercício: quais são os meus juízos devalor e quais os juízos de existência? Coloquemos de um lado os de existência, e, de outro, os de valor.Cuidemos de considerar que, nos primeiros, haja realmente apenas existência, e nenhum juízo de valor,mesmo oculto.

Feito isto, analisemos nossos juízos de valor. Todo juízo dessa ordem vale realmente quando estáfundado em uma existência; do contrário, é apenas imaginação. Se tal for feito, não nos escapará nada, eevitaremos cometer injustiça ou tomar atitudes contra outros.

Este trabalho de análise pode ser empregado para qualquer fato, e pode ser aplicado quanto aos julgamentos dos outros. Estamos, por exemplo, em face de um livro. O autor defende esta ou aquela posição. Examinemos seus juízos de existência e seus juízos de valor. Façamos a análise destes últimos, procurando os fundamentos existenciais.

Veremos, desde logo, quanto trabalha a imaginação nos outros. Revertamos para nós a mesma prática, e compreenderemos quanto em nós ela atua.

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OS VALORES

A análise dos juízos de valor é o ponto de partida mais importante para uma verdadeira análise daimaginação e de pleno domínio de nós mesmos.

Toda a vez que há uma ruptura da indiferença, há a presença de um valor para nós. E também o há,quando pomos, embora considerando iguais, um objeto superior ou antecedente a outro. Sempre quedamos uma preferência a isto ou àquilo, e preferimos aquele a este, estamos revelando que há valores.

Propriamente, toda a vida é um ato de valoração. Teríamos que penetrar aqui no terreno da Filosofiase desejássemos explicar tais aspectos; mas, basta-nos ficar no âmbito da Psicologia.

Um homem e uma mulher seguem por uma rua movimentada, cheia de lojas. Certamente, ante asvitrinas, que exibem vestidos femininos, a mulher será mais facilmente atraída que o homem, enquantoeste se dirigirá mais para a que mostre objetos de uso masculino.

Uma criança verá melhor os brinquedos que um adulto. Um fumante de cachimbo prestará atençãoaos cachimbos expostos, e assim sucessivamente.

 Nós somos atraídos por tudo quanto representa um maior valor para nós, ou põe em risco um valor que estimamos.

Há um velho ditado de muita sabedoria: “quem vai aos porcos, tudo lhe ronca”. Conhecemos todasas alucinações do caçador, bem como as alucinações do sedento no deserto, que vê sempre regiões deexuberante vegetação e água cristalina e certamente fresca.

Conta um filósofo hindu que, viajando certa vez por um deserto na Índia, num dia de intenso calor,admirava-se que, por toda parte, visse tão belas vegetações à distância e lagos tão claros, de águacristalina e agradável. E punha-se a dizer a si mesmo: “Não compreendo por que dizem que esta região édesértica. Como há belas manchas de terra, com lindas árvores e belos lagos!” 

Como sentisse sede, resolveu dirigir-se para um desses oásis. E qual não foi o seu espanto quandoviu que tudo não passava de miragem.

Pôs-se, então, filósofo como era, a meditar. Nós vemos muito do que desejamos. Na verdade, a sede

 já se fazia sentir nele há muito, embora não fosse tão exigente, porque “sabia” que poderia satisfazê-lafacilmente num daqueles lagos. Mas, ao ter a evidência de que tudo não passava de miragem, a sedeaumentou, cresceu a olhos vistos, e o temor não se apossou dele totalmente porque tinha meios de afastar-se do deserto e obter água em pouco tempo. Tudo isso lhe serviu de grande lição.

 Nossa imaginação nos dá o que desejamos... mas nos dá como imaginação. Quando estamosdormindo e sentimos fome, no sonho, em imagens, recebemos lautos jantares, pratos maravilhosos, docesem profusão, que comemos de tal modo, sem nos satisfazer, o que nos provoca enjoo e mal-estar quandoacordamos.

Ora, a nossa imaginação trabalha quando estamos vigilantes e ela atua valorizando os fatos.Sabemos que valorar um fato é captar o valor que ele tem. Valorizar é dar um valor ao valor, comodesvalorizar é tirar valor de um valor, diminuir o valor de um valor.

Valorar é apreciar com justeza o valor. Valorizar é dar mais ou dar menos. Portanto, no valorizar, já

atuamos diferentemente de quando valoramos.

 Na verdade, dificilmente valoramos sem valorizar ou desvalorizar.

Valorar com justeza seria captar um valor através da elaboração de um juízo de existência do valor.

Assim, quando digo: “Esta mesa é um móvel que guarnece a casa”, eu expresso um juízo deexistência. Mas quando digo: “Esta mesa é muito confortável ou agradável”, formulo um juízo de valor.Mas esse juízo de valor pode ser existencial, isto é, o valor “está” na mesa, pois realmente ela apresenta aqualquer pessoa uma agradabilidade ou uma confortabilidade. Neste caso, o juízo de valor está justificado

 por um fato ou por uma qualidade inerente ao fato.

Ora, se nos pusermos a examinar os nossos atos e a procurar neles os juízos de valor que incluem,veremos que muitos deles se fundam no que há na coisa valorada, mas muitas vezes, o valor não está nacoisa. Nós é que nela o pomos.

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E esses valores, que são fictícios, criação nossa, representam mais o que desejamos ou o que nãodesejamos. Portanto, nossa atividade valorativa tem uma importância muito grande.

Ora, nossa imaginação, que tem um poder criador, pode emprestar a uma coisa um valor que a coisanão tem.

Assim como a imaginação pode tomar duas realidades, como o corpo de um cavalo e o busto de um

homem, e juntá-los, para formar o centauro, que é uma ficção, também pode juntar um valor, que jácaptamos e conhecemos aqui, ou ali, e pô-lo como se estivesse no objeto que apreciamos. Eis comotrabalha a nossa capacidade criadora.

Aí está um grande bem e um grande mal nosso, porque a imaginação enriquece a vida de belasimagens ficcionais, mas também nos leva a erros clamorosos, e a consequentes injustiças.

A imaginação tem sua origem, psicologicamente falando, na nossa sensibilidade e na nossaafetividade. Ela surge espontânea, do fundo do nosso ser. Mas, nossa razão pode efetuar um grandetrabalho para controlá-la, porque a razão, sendo fria, analista e sintetizadora, como é, pode nos ajudar naanálise de nossas ficções, facilitando-nos o meio de encontrar um controle para as nossas criações.

Analisar todos os nossos juízos de valor e ver quanto há neles de valoração e de valorização é o primeiro passo para o domínio da imaginação. Pois, à proporção que descobrimos nossos interesses; istoé, nossa disposição a preferir isto àquilo, aprendemos a julgar melhor. Com o decorrer do tempo, aimaginação, que não precisa ser estancada, e que pode continuar em sua maravilhosa produção deimagens, passa pelo cadinho da análise da razão. E esta, fria e objetivamente, verificará o que é ouro delei e o que não é. A pouco e pouco nos assenhoreamos desse método de análise, e em breve a nossaimaginação, quando entra em sua atividade, não impedirá que saibamos, simultaneamente, o que é real eo que não é.

Quando atingimos este ponto, teremos dado um grande passo. E depois dele, tudo será fácilconquistar, porque já somos invencíveis, pois vencemos a nós mesmos, sem nos derrotarmos.

Já que entramos na tarefa mais difícil, como, também, uma das que melhores frutos nos podeoferecer, que é o domínio da imaginação, impõe-se uma preparação prévia.

E o primeiro cuidado é ter um espírito repousado, descansado, sem mais as agitações que tantosmales nos causam.

 No decorrer de um dia, passamos por muitas experiências. Nossos sentidos estão cansados de tantashoras de vigília e de atividade sem fim.

 Nossos olhos, despertos durante tantas horas, pedem repouso. E repouso pedem os nossos ouvidos, enosso tato e o nosso sabor.

Todo o nosso organismo precisa repousar e mesmo o nosso velho coração, infatigável trabalhador,que cuida com tanto carinho da distribuição do sangue que vai alimentar nossos músculos, também quer que não o perturbemos, mas o deixemos trabalhar descansadamente, isto é, com o ritmo que lhe é próprio.

E durante o decorrer desse dia, ficaram gravadas em nós inúmeras imagens do espetáculo do mundo, palavras que ouvimos pronunciar, e que geram agora, dentro de nós, tantas réplicas ou nos provocam aexplosão de nossos sentimentos ou nos precipitam em novas atitudes. E se rememoramos o decorrer destedia, se durante alguns minutos dizermos como que um balanço de tudo quanto ocorreu, poderemos

aproveitar muito das lições que a nossa experiência cotidiana nos oferece.

Quantas vezes, no decorrer deste dia, prejulgamos os acontecimentos; quantas vezes esperamos quealgo sucedesse e não sucedeu ou, quantas outras, o inesperado surgiu sem que tivéssemos sequer imaginado que tal pudesse suceder.

E quantas vezes procedemos com a lógica e em quantas outras fomos verdadeiramente irracionais,deixando-nos arrastar pelas primeiras impressões, sem prestar a devida atenção aos acontecimentos?

Façamos um balanço do que nos aconteceu. Examinemos aquela ocasião em que fomos ríspidosdemais, e aquela outra em que, sem o querer, magoamos alguém que, na verdade, não merecia ter sofridotal vexame. Examinemos como se deram tais fatos, ponderemos sobre as circunstâncias, e logo veremos,sem grande dificuldade, que poderíamos ter evitado aquele erro que nos magoa e aborrece agora.

E aprenderemos logo como evitar tais fatos.

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Passemos então os olhos sobre os diversos julgamentos. Como fomos injustos ali, e como fomosingênuos naquele outro caso. Como é possível que não tivéssemos visto que erramos naquele momento?Ora, tais perguntas surgirão e muitas vezes acompanhadas de uma mágoa bem dolorosa.

E por que, durante o dia, que é tão curto no tempo, erramos tantas vezes?

Por que em tantas ocasiões trabalhou a nossa imaginação com tal ímpeto que desvalorizou

demasiadamente certos aspectos e de tal modo, que não nos foi possível aquilatar com equilíbrio o que se passava?

Por não termos descansado bem o nosso mental.

Então, está no descanso do mental o caminho que nos levará a achar o equilíbrio desejado?

Responderemos que, em grande parte, sim. E essa parte é tão importante que não nos basta apenassaber manejar bem a lógica, se estamos cansados e somos capazes de nos deixar arrastar pela imaginação,cuja raiz está sempre na nossa afetividade; isto é, deixamo-nos arrastar pelas nossas paixões, que noslevam às desvalorizações ou às valorizações extremadas.

 Não dizem os psicólogos que o nosso mental nunca descansa? Não é verdade que ele sempretrabalha?

Sim, é verdade. Mas é preciso ponderar o seguinte: quando o nosso corpo está cansado, procuramosas posições que nos colocam à vontade para que descansemos os nossos músculos. No entanto, os nossos

 pulmões e o nosso coração continuam na sua faina. Pois, também o nosso espírito continua o seu trabalhosem descanso. Mas o que se dá durante as nossas horas de vigília? Dá-se que não deixamos nosso coraçãotrabalhar calmamente. Nós o excitamos, nós o apressamos, nós realizamos muitas coisas que o fazem, oraandar mais depressa, ora mais devagar. Por isso, nas nossas horas de vigília, cansamos demais o coração,como cansaria um chefe de oficina que obrigasse o operário, a toda hora, a mudar de ritmo de trabalho. Ocoração não para, e quando para, deixamos de viver. Se nós o forçamos, ele cansa além do normal.

Assim como os exercícios que fazemos fortalecem o coração, também nossos exercícios mentaisfortalecem a nossa mente. É preciso dar descanso à nossa mente de vez em quando, para que serecomponha. Por acaso, quem passa as noites mal dormidas pode pensar bem? Será capaz de ter o senso,o equilíbrio para poder pensar?

Muitos podem passar bem as noites e ter a mente cansada. E por quê?É muito simples a explicação: imaginemos que alguém tem de correr um quilômetro. Se for uma

atleta, já treinado, correrá normalmente, e mal se notará que está cansado. Se nunca fez atletismo, logosentirá cansaço, e finalmente estará completamente abatido.

Pois devemos ser atletas mentais. Um cérebro forte, treinado, é capaz de enfrentar melhor quequalquer outro as solicitações da imaginação. Não que a queiramos aniquilar, mas desejamos, e apenas,controlá-la a nosso favor. E quem irá controlar a imaginação, que é espontânea, que surge com todo oirracionalismo natural de uma criança, com ímpetos e desejos infantis, se não o nosso mental? Umaimaginação desbordada é uma imaginação que não foi bem conduzida para um recipiente, como os rios,quando os leitos não são suficientes, transbordam as margens e inundam os campos.

Então, que fazer para dominar a nossa imaginação que consista, na verdade, em pô-la em serviçoútil, a nosso favor e para o nosso bem?

Em primeiro lugar, ter confiança em que é possível alcançar esse domínio.

Um desanimado nunca o alcançará, e terminará por tornar-se joguete da imaginação.

Em segundo lugar, é preciso fortalecer o mental, o que se obtém pelos exercícios que oferecemosaté aqui, e outros que iremos, a seguir, oferecer.

Em terceiro lugar, meditar logicamente. Ler trechos e verificar como os pensamentos estãoimplícitos, contidos em outros; se há relação ou não entre um e outro. Ao lermos um trecho, vejamos sehá bom sentido, se há nexo entre as palavras do autor, ou se tudo está desalinhavado no que diz.

Em quarto lugar, não esquecer que há sempre uma luta entre a nossa vontade, orientada pelo nossoeu consciente e os impulsos que vêm do inconsciente. No próprio mental, há forças que lutam peladesordem e se rebelam. Esses choques podem dar-lhes algumas vitórias, estas, porém, serão passageiras, e

cada vez mais espaçadas.

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É preciso ter a maior atenção nos exercícios para permanecer sempre numa posição estável, evitandoqualquer movimento do corpo, pois há uma grande relação entre o corpo e o mental.

Quem domina o seu mental, domina-o até nas ruas mais movimentadas de uma cidademetropolitana; quem não o domina, nem no silêncio de uma gruta é capaz de fazê-lo.

Segui os vossos pensamentos durante a meditação, sempre sobre temas positivos. Procurai retirar de

cada ideia tudo quanto esta ideia pode conter, e tudo quanto dela pode relacionar com outras. Meditaisobre as novas ideias associadas. Fazei as comparações entre elas, procurai os aspectos contraditórios, oque deixastes de considerar, e depois medi, calculai tudo, em suma, meditai e, finalmente, terminareis por uma síntese do pensamento, completando-a com outra síntese das ideias provocadas por aquela.

Façamos exercícios práticos. Analisemos bem o que é a associação. Prestemos a atenção aos nexosque ligam as ideias, e veremos que todas elas têm um nexo muito semelhante ao dos fatos que se dão nanatureza, ao qual chamamos de realidade. Ao nexo, que liga as ideias, chamamos idealidade. Poissaibamos dominá-lo.

E com esses exercícios fortalecemos o mental, e de tal modo, que ele não se cansará facilmente. Edescansá-lo-emos através da respiração rítmica e do sono, sempre com o auxílio do nosso subconsciente,que por ser o nosso melhor amigo, há de velar, toda vez que lhe apelamos, peno nosso, e sempre, pelonosso bem.

As associações se processam:

a)  Por contiguidade; b)  Por semelhança;c)  Por contraste;

Um exemplo de associação por contiguidade: vemos uma pessoa sempre com um charuto aos lábios;ao ver um charuto, recordamo-nos dessa pessoa.

Um exemplo de assimilação por semelhança: uma bebida verde, que bebemos, e da qual gostamos, etoda vez que vemos um líquido verde, lembramo-nos da bebida.

Por contraste, temos os exemplos do branco que nos associa o negro, do bom que nos associa o mau,etc.

Mas vimos também, que essas associações têm um nexo, pois não associamos tudo o que eracontíguo, semelhante, ou contrastante. Associamos alguns fatos e não outros. Há influência da nossaafetividade, pois preferimos, inconscientemente até, associar isto e não aquilo. E nessas associações,revelamos muito das nossas preferências, muito das nossas preocupações.

Tomando-se um conjunto de ideias chaves, podemos acrescentar-lhes as palavras que se nosassociam. Partamos de um exemplo: amor. Que se associa logo a esta palavra? Uma jovem bela, uma

 praia coberta de sol, umas palmeiras decorando as margens, as ondas verdes quebrando-se nas rochas, etc.As associações variarão segundo as pessoas.

Ao analisarmos, depois, as nossas associações, podemos fazer uma espécie de autoanálise, e penetrar um pouco mais profundamente dentro de nós mesmos, e conhecermo-nos melhor.

Por meio dessas análises, poderemos saber muita coisa que estava oculta à nossa consciência sobre o

nosso próprio íntimo.Ora, a nossa imaginação trabalha também por associações. Dá-se um fato, assistimo-lo; logo a nossa

imaginação associa uma sequência de imagens que o completam. Mas essas imagens não surgem semuma razão. Elas não vêm ao acaso como muitos julgam. Há um nexo entre elas, um nexo que é precisoexaminar.

Temos um momento de preocupação. Procuramos, primeiramente, o fato chave, isto é, o fato queabriu a porta à imaginação.

Qual foi o acontecimento? Nem sempre é difícil perceber. Basta que examinemos da seguintemaneira:

a)  Vejamos qual foi o momento em que nos preocupamos. Um momento antes e tudo corria à milmaravilhas. Mas sucedeu “aquilo”. Qual foi esse aquilo? 

 b)  Examine-se o fato sucedido e coordene-se a sequência das ideias que surgiram e criaram oestado afetivo de preocupação. Faça-se uma espécie de síntese de todas as ideias e imagens que

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surgiram. Se possível, tome-se uma folha de papel e escrevam-se imediatamente todas as ideiassobrevindas, como também as imagens na ordem de sua sequência.

c)  Temos agora às mãos as ideias e as imagens. Procuremos ver o nexo que há entre elas. Veremoslogo que todas se entrosam ou por contiguidade, ou por semelhança ou por contraste.

d)  Procuremos, ao examinar a distancia entre duas ideias ou imagens, o interesse afetivo que poderia ter surgido. É fácil fazer-se o exame.

Digamos que alguém falou em guerra, e subitamente uma sequência de ideias ou imagens seassociaram. Canhões, metralhadoras, bombardeios, aviões rasgando velozes o espaço, bombas destruindocidades indefesas, mortos, crianças chorando, feridos, mães desesperadas. Subitamente, a imagem do

 bombardeio da cidade em que vivemos. Estamos na guerra, somos feridos; não, mortos, esmagados sobescombros, etc.

A preocupação nos assaltou, estamos angustiados, em mal-estar, já não atendemos nada, a tristezacobre o nosso rosto, o coração empequenece, estamos acabrunhados.

Mas, ao examinar cada uma das imagens que se associaram, podemos ver entre elas um nexo que asliga. Qual a razão por que, ao ouvirmos a palavra guerra, a ela se associaram canhões, metralhadoras, enão bombardeios, que vieram em terceiro lugar? Foi tudo obra do acaso?

Por que não nos vieram logo à visão as cidades bombardeadas, as crianças feridas, etc.?

Digamos que o analista de si mesmo, o auto analista, seja um industrial. Está aí o nexo da primeiraassociação. Primeiramente, viu, industrialmente, a guerra, porque vive com mais intensidade a realizaçãoindustrial. Só posteriormente sentiu o que seria associável comumente a um homem qualquer: asdestruições.

Assim como se pode fazer esta análise, podem-se fazer muitas outras, e tão ricas, que só a constanteexperiência, o constante exercício desses exames podem nos mostrar.

Com o decorrer do tempo, acostuma-se a uma análise tão completa, que ela poderá invadir terrenosnovos.

O interessante de tudo isso é que, no mesmo instante, substitui-se uma preocupação de ordem afetiva

 por uma preocupação de ordem intelectual.Em vez de prosseguir angustiando-se na vivência de uma preocupação, passa-se a viver outro modo

de preocupar-se, que oferece um prazer, o prazer da análise, o prazer da pesquisa. E, em pouco tempo, oestado de desagradabilidade que conhecera a princípio, é substituído por outro, cheio de agradabilidade, oque oferece a análise intelectual, racional dos nexos e das razões.

Ora, para que nos momentos de máxima preocupação sejamos capazes de fazer tais análises e vencer o estado afetivo, é necessário procedermos constantemente com exercícios, nos momentos em queestamos perfeitamente calmos, para que o nosso espírito se habilite, quando nos estados de preocupação,

 poder levar avante, sem dificuldade, a autoanálise tão necessária.

E esses exercícios, no princípio, são fáceis. E quando se complicarem, também serão fáceis, pois,nessa ocasião, já estaremos bastante fortes para levá-los adiante.

O exercício, no início, consiste em se tomarem algumas palavras chaves e escrever imediatamentetodas as palavras que se associam. Depois desse trabalho, procura se descobrir o nexo que se encontraentre elas. Não só as palavras devem ser anotadas como as imagens representadas, as visões intelectuais eimaginativas que se formam. Escrever tudo com simplicidade e rapidamente.

Só depois se deve procurar o nexo. Na hora de escrever, devemos ter o máximo cuidado em deixar as ideias e as imagens fluírem com a máxima naturalidade, sem influir, tanto quanto seja possível, com oconsciente para escolher estas ou aquelas.

A análise torna-se completa com o tempo, e permitirá o melhor domínio da imaginação, ou, pelomenos, evitar que ela influa, de tal forma, na nossa vontade, que nos desvie dos caminhos que nos sãomais úteis e convenientes, levando-nos a falsas apreciações, valorizações desmedidas e erros, que sãosempre de funestas consequências.

Aqui, como em todas as coisas superiores, a pressa deve-se evitar, porque é a mãe da imperfeição. Esó se consegue um perfeito domínio do mental, quando não nos apressamos, quando não lutamos contraele, quando sabemos, com habilidade e doçura, conduzi-lo a nosso favor.

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RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES 

As páginas, que vamos apresentar a seguir, merecem de tua parte a maior atenção. Por outro lado,não deverão ser lidas uma única vez. Relidas e meditadas, transformando-as em temas para as tuasmeditações, deves demorar-te na análise de todos os pensamentos possíveis que elas te permitam captar.

Ler, reler, e meditar!

Há muitos métodos oferecidos nas obras dos psicólogos em favor dos aflitos, dos angustiados, dosfrustrados, dos ressentidos, dos sofredores, dos inquietos, dos insatisfeitos, dos desatentos, dos inibidos,dos fracos, dos desajustados, dos refratários, dos calados, dos solitários, dos penumbrosos, e até dosabissais e dos terríveis. Um método favorece a uns, não favorece a outros. Outras vezes, o método,

 benéfico hoje, é ineficiente amanhã.

Quem os usa, nos casos de refluxo, conclui pela total ineficiência do método, sem prestar a devidaatenção às circunstâncias, que o tornam ineficiente apenas naquele momento, pois, em outras ocasiões,ele volta a ser benéfico.

§ 1  – Uma regra importante para todos os que desejam reintegrar-se, ou integrar-se plenamente, é ade que devem considerar apenas as positividades, e delas rejubilar-se, e não as negatividades, que são

comuns.Um exemplo nos auxilia a compreender bem o que pretendemos dizer.

Um agricultor, que semeou seus campos, vê nele, por entres os arbustos que surgem, vingam, os que perecem ou pereceram. Acaso a tua colheita futura será constituída dos que não vingaram? Certamente,não. A colheita será feita dos que vingaram e deram frutos ou sementes.

Pois o mesmo é conosco. Toda vez que adquirimos uma positividade (e sempre é uma pequenavitória), ela constitui um efetivo. Podemos, amanhã, conhecer um refluxo e cair novamente no mal quenos afeta, mas aquela positividade não está perdida, mas em estado de latência, guardada, esperando aoportunidade para atualizar-se, efetiva-se outra vez.

 No decorrer do tempo, as positividades em latência encontrarão, um dia, um número que as reuniránuma nova estrutura forte, e subitamente se dá a integração dela num todo positivo, que é um conjunto

estruturado de positividades diversas.As pequenas vitórias, que conquistamos cada dia, no nosso subconsciente, permanecem em latência,

as quais podem passar do estado de virtualidade para o de atualidade; isto é, se efetivarem num todo poderoso, integrando a nossa tensão psíquica na sua mais alta coerência.

O importante é obter vitórias. É preciso crer nelas e confiar que elas fortalecerão outras.

Toda a vez, portanto, que aplicares qualquer método e obtiveres uma vitória, podes estar certo de queadquiriste uma positividade que te ajudará a conquista da vitória final. Rejubila-te, portanto.

E toda a vez que te sentires em estado de refluxo, lembra-te das vitórias obtidas, e dize para timesmo, que esse malogro provisório não poderá destruir o que já há de positivo em ti.

Todas as positividades ganhas são esquemas-sementes para a colheita futura.

Um exemplo ilustrará melhor as nossas palavras. Alguém que tenha estudado piano, tendoabandonado, depois os estudos por muitos anos, se torna a estudar, encontrará muito maior facilidade doque quando o fizera pela primeira vez. É que os esquemas adquiridos, durante os primeiros anos, eram

 positividades em latência.

Quem, quando jovem, estudou, embora por alto, uma língua, e depois, quando adulto, resolveestudá-la definitivamente, encontra uma facilidade muito maior do que quem nunca a estudara. Osesquemas-sementes permanecem no subconsciente e facilitam, depois, as novas vitórias.

Pois cada vitória que obtenhas é um esquema-semente que, com positividade, estará no fundo de ti, para assegurar novas positividades futuras.

E assim como um conjunto de pedaços de ferro, armados sob certa forma, constituem o arcabouço deum prédio, de uma máquina, assim essas positividades, que permanecem no teu subconsciente, alcançam,

afinal, um número, uma forma, que dá nascimento a um todo, uma imagem integral, que formará a base positiva de tua futura libertação.

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Confia, portanto, nas tuas vitórias, e prossegue em teus exercícios, sem desfalecimentos, com bastante fé e confiança em ti.

§ 2  –  Analisa quais os esquemas que se mostram em teus refluxos, se o de aflição, esquema dainjustiça, da traição, da perseguição, do abandono, da doença, da dificuldade financeira, da preocupaçãodo amanhã, do medo, da solidão, da angústia sem motivo aparente, da ingratidão, do perigo, daincompreensão, da dúvida, etc.

Ao tomares conhecimento de quais esquemas se manifestam em teus momentos de refluxo, deabatimento ou de ira, estás apto a analisá-los, segundo as normas que tivemos ocasião de oferecer nas

 páginas deste livro.

§ 3 –  Só gozarás o prazer de um copo d’água se não o beberes logo que se manifeste em ti a sede. Oteu prazer será maior se esperares um pouco. Não ter pressa na satisfação é antegozá-la, e aumentar a suaintensidade.

Desta forma, evitarás que o tédio se aposse de ti. É uma forma de lutar contra o tédio: a de não dar satisfação imediata aos desejos.

Mas daí não deves ir aos extremos, pois do contrário, a satisfação obtida acaba por magoar, pois parece injusta a sua demora. Há um ponto de ouro que deves procurar em ti.

§ 4  –  Quando te assalta um momento de refluxo, procura desdobrar-te e observar a ti próprio, edeixa-o fluir. Deixa que ele venha, que ele aconteça plenamente. Não resistas, despeja-te completamente,mas observa-te. Conseguirá essa duplicação de ti mesmo como espectador e ator de teu refluxo, a pouco e

 pouco. Esse desdobramento te facilitará a purificação, a catharsis dos gregos, e te sentirás aliviado. Maste sentirás sobretudo forte, porque terás a consciência de que assistes a ti mesmo, e o teu eu espectador 

 passará cada vez a ser mais forte, mais coerente, e cada vez mais integral.

§ 5  – Toda a vez que a consciência plena do teu estado de refluxo se processar, sentirás um alívio.Quando possas dizer a ti mesmo: “bem, o que sinto agora é um refluxo, que demora um pouco, depois

 passa. Voltarei ao meu estado normal. Não tem importância, cada vez será mais fraco.” Deixa-o fluir. Seimediatamente não te sentires aliviado, não importa. O alívio será finalmente alcançado, quando já tenhasrealizado, através dos exercícios aconselhados, a plena integração. Lembra-te sempre que uma cura

 psíquica é demorada e apresente curvas ascensionais e descensionais. Há momentos de fluxos, por entre

os de refluxos. No início, estes podem ser até mais fortes e numerosos. O mal, em ti, luta pela suaconservação, positividade que se opõe à tua positividade do bem; é ele, pois, uma opositividade. Eletambém luta por conservar-se. Mas o mal, por destrutivo, não é tão forte como o bem. Afinal, a vitóriadeste é inevitável.

§ 6 – Toma de um papel e deixa fluir todas as palavras que te venham à mente. Escreve sem prestar-lhes muita atenção. Depois de haveres escrito muitas linhas, analisa-as. Dessa tua análise sairão coisassurpreendentes. Irás ver associações que jamais julgar-te-ias capaz de fazer. Nessa análise, já te estásdesdobrando num espectador analista e num objeto analisado. Esse exercício não só te dará alívio, comote facilitará a integrar a tua capacidade analista e um melhor conhecimento de ti mesmo. Penetrarás,assim, com a consciência e a calma necessárias, no âmago de ti mesmo. Se encontrares alguma coisa derepugnante, não te aborreças. Lembra-te que somos também o animal ao lado do anjo. Há em nóssordidezes que não nos devem espantar, pois somos seres humanos (síntese de animalidade e espírito).

 Não precisarás sacrificar a segunda pela primeira. Hás de alcançar a harmonia entre ambas, necessária

 para o equilíbrio de ti mesmo.§ 7  –  Se puseres tua atenção sobre a dor, ela aumentará de intensidade. Põe tua máxima atenção

sobre um instante de satisfação, e aumentarás a intensidade de tua alegria. Todo instante de alegria devesvivê-lo como se fosse eterno, e nunca o consideres um momento que passa. Luta por ti, não contra ti.

§ 8  –  Quando alguém, à tua volta, só fala no mal, nas sombras da vida, no “vale de lágrimas” daexistência, podes estar certo que ele precisa de amparo. O pessimismo é a atitude mais fácil que existe. Osque julgam que precisam de sombras e sofrimentos para criar, só criarão sombras e sofrimentos. Eles

 precisam de luz, e ajuda-os. A alegria, já o mostrava Nietzsche, é muito mais profunda que a tristeza. O prazer é mais profundo que a dor. As eternas carpideiras na literatura costumam chamar a atenção dosgrandes que sofreram e criaram. Mas esquecemos grandes que criaram, vencendo e superando osofrimento. Todo artista que julga que precisa sofrer para ser grande, e busca o sofrimento, engana-se,

 pois seria maior na alegria. A obra destrutiva de tantos autores não vale pelo destrutivo que tem, mas pelo

construtivo que perdura apesar dos sofrimentos.

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Se a vida é sofrimento, como dizem, por que aumentá-lo? Não é. Portanto, uma tarefa importantetorná-la mais bela e superior? Ademais, se prestares bem atenção, verás que os momentos de alegria e deindiferença são mais numerosos que os de sofrimento. Analisa quanto o sofrimento é exagerado pelasnossas atitudes.

§ 9  – Toda vez que aprecies alguma coisa, faze uma análise da tua apreciação. Observa se apenasevidenciaste os aspectos positivos ou os opositivos, se atuaste como um otimista ou como um pessimista.

Observa se o estudado por ti, e por ti considerado como ruim, não faria alegria dos outros. Não teesqueças que as coisas, em si mesmas, são o que elas são. Lembra-te que aquela montanha, uma manchacinzenta para ti, que estás neste lugar, é uma massa verde e bela para quem está mais próximo. Mas amontanha é a mesma. Toma esta posição ante os fatos da vida e compreenderás, então, que as coisas sãomuito do que lhe emprestamos, o que depende dos nossos julgamentos, porque as coisas, em si mesmas,são o que elas são. Se te desdobrares nessa análise, estarás auxiliando a fortalecer a coesão do eu, que

 passará a analisar a ti mesmo, e a tornar-se o teu melhor juiz, e amigo, e conselheiro.

§ 10 – Tudo o que faças, procura fazer do modo mais perfeito que possas. Principia a pôr em ordemem tuas coisas; mas devagar, não te apresses. Cada dia põe ordem em alguma coisa. Não queiratransformar-te subitamente. Procura ser perito em algum mister, por mais simples que seja. Alcança uma

 perfeição, por pequena que seja. Depois, conquistarás outras. Não tenhas pressa, se queres andar maisrapidamente.

§ 11  – Busca o máximo de delicadeza. Não queiras impor aos outros as tuas ideias e evita aborrecê-los. Trata os outros com deferência e respeito, e logo sentirás satisfação dentro de ti. Se alguém for ríspido para contigo, compreende a grosseria. Que poderias esperar de um homem grosseiro? Vais imitá-lo? Só poderás, com isso, tornar-se igual a quem consideras inferior.

Medita sobre este ponto. E quando em tua vida perderes a calma, não te preocupes. Continuameditando, e sempre com firme propósito de não imitar o pior. Acabarás conquistando um certo domíniode ti mesmo, imensamente útil para outras vitórias.

§ 12  –  Procura desembaraçar-te. Se és tímido, fala com delicadeza e calma, com bastantenaturalidade quando estiveres ante outros. Sê apenas natural e simples. Não tentes impor-te. Apenasexpõe o que pensas, sem rebuscar argumentos complicados. Todos te ouvirão, se tiveres o bom-sensocomum. A pouco e pouco irás obtendo o desembaraço, e finalmente te imporás com argumentos maissólidos.

§ 13  – Ouve os outros. Todos gostam de ser ouvidos, e tu também. Ouve com atenção e respeito, enunca desanimes a ninguém. Obterás uma força que crescerá dentro de ti, todos os seres humanos

 precisam de confidente. Sê um confidente fiel e amigo, e sobretudo compreensivo. Todos acabarão por estimar-te, e te sentirás cada vez mais tranquilo.

§ 14  – Teus maus pensamentos e tuas meditações devem sempre dirigir-se a temas positivos. Pensasempre no teu bem e confia que o melhor te há de suceder. Se alguma coisa te acontece de mal, procura olado benéfico. O velho ditado popular de “que há males que vêm para o bem” é verdadeiro, e muito maisdo que se julga. Se confiares no bem, ele se aproximará de ti. Lembra-te que o abismo atrai o abismo; omal atrai o mal. Se tiveres em ti o bem, o bem será atraído. Confia no bem, que ele não te desamparará.

§ 15 – Tudo o que fizeres, faze-o com entusiasmo. O entusiasmo é uma virtude divina. Nas pequenascoisas que tiveres de fazer, e que te parecem desagradáveis, dá-lhes a agradabilidade. Tu podes decorar a

tua vida de alegrias se o quiseres. Põe amor no que faças, e logo a agradabilidade surgirá, e tudo irárápido e fácil. Faze pequenas experiências, e logo verás que o conselho que te dou é verdadeiro.

§ 16  –  Que a tua oração diária seja esta: “Hoje farei um bem a um ser humano”, faze-o. À noite,rememora o que de bem fizeste e alegra-te, para aumentar a tua e a alegria do mundo.

§ 17  – A maior luta que o homem terá de empreender é a luta contra o medo. Nunca cresceu eletanto, avassalou tanto os seres humanos. Temer o mal é preparar-se para ele. Não tenhas medo doamanhã; confia em ti.

Examina cada um dos teus medos e procura os seus fundamentos. Verás que são quase sempreinexistentes, ou melhor, sem nenhum conteúdo real, mas apenas imaginários. Não temas adoecer, nemtemas malograr. Faze o que deves fazer, com confiança.

§ 18  –  Cristo dizia que as nossas doenças não entram pela boca. Elas vêm do que sai pela boca.Queria ele referir-se às nossas ideias. Se não temos fé em nosso poder, não temos poder. Se não temos fé

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em nossa força, somos fracos. Nossas ideias germinam nossas doenças e também a nossa saúde. Somosmuito do que pensamos que somos. Este é um grande tema para meditações.

§ 19  – Medita sobre a dignidade humana. Olha o espetáculo do mundo, e vê como o homem perdeem valor onde há ditaduras, onde há opressão, onde há a brutalidade travestida de lei e de ideias

 progressistas. Vê quanto o homem vale pouco e os grandes muito crescem de valor. E verás que os que seintitulam os mais realistas são os que glorificam e adoram as maiores abstrações. Medita sobre a

dignidade do homem. Observa-o como ele se transforma em utensílio, em coisa, em número. Meditalongamente sobre este tema, e afirma dentro de ti o desejo e o querer construir a tua personalidade.

§ 20 – Toda meditação bem ordenada, todo raciocínio bem concatenado, é um grande exercício paraa vontade e para a maior coerência do eu. Nunca deixes de fazer diariamente as tuas meditações, e dá-lhesmelhor ordem lógica e dialética.

§ 21- Se o teu dia foi agitado e tiveste de andar muito apressadamente, aproveita a oportunidade paradar uns passos bem lentos, numa lenta e tranquila caminhada. Depois, descansa, entrega-te à leitura de umlivro sereno, e cheio de luz. Evita a leitura de obras mórbidas, pessimistas, porque elas apenas veem umlado da existência e desvalorizam tudo quanto é grande.

§ 22 – Se sofres, não esqueças que todos sofrem. Mas, há também alegrias na vida. E não há dor quea não possamos vencer. Se ela é moral, e magoa-nos tanto quanto lembrada, examina-a bem. Vê as causas

que a geraram, as circunstâncias que a acompanharam, e procura como vencê-la por ti.Se te cabe a culpa, procura compensá-la por atos bons correspondentes.

§ 23  –  Sê orgulhoso da tua dignidade. Ter maus pensamentos, pensamentos destrutivos, é muitofácil. Constrói grandes e nobres pensamentos. Aumentarás a tua dignidade, o teu valor.

§ 24  –  A alegria dos outros não é um furto à nossa alegria. A alegria é como o fogo que pode propagar-se desde uma pequenina chama. Compreenderás, assim, que quando os outros são felizes, não osão à custa da tua felicidade. Ri com eles, e agradece o bem que permite a alegria daquele par denamorados, daquela criança que brinca.

§ 25 – Todos nós somos insatisfeitos, uns mais, outros menos. É uma condição de todo ser limitado.Sempre algo nos falta. Mas, quando tens, porque vais pensar na falta? Se estás aqui e sente a falta de nãoestar ali, não consegues a alegria que te dá o momento que passa.

§ 26 – A construção do esquema fundamental do eu, solidamente estruturado, só pode ser constituídode positividades e não de negatividades. O negativo não compõe a essência de qualquer coisa, como se vêna filosofia. Um copo, não é um copo qualquer por que não tem isto ou aquilo, mas por que é isto eaquilo.

O nosso eu só pode constituir-se num esquema coerente, numa estrutura sólida, se atualizar em si positividades, para com elas, embora no início dispersas, realizar a reunião que formará a nova estrutura poderosa do nosso eu.

Assim, pensar negativamente é preparar-se contra si mesmo. Se alguma coisa é pensadanegativamente, é necessário, de imediato, com lógica e precisão, compensá-la com pensamentos

 positivos, logicamente dispostos.

Digamos que ouvimos falar de tal ou qual doença, e encontramos ou julgamos encontrar em nós

algum sintoma. Se abrigarmos a ideia negativa, estaremos predispondo-nos à doença. Mas,imediatamente, com lógica, com domínio, analisa-se a ideia que surgiu. Um sintoma qualquer não éfundamento bastante. Ademais, é preciso que um especialista verifique. É preciso não temer. Aceitar a

 possibilidade de uma doença é já preparar-se para ela. Convém resistir com segurança e positividade.Ademais, o médico é competente para resolver o caso. Por que vou abrigar em mim a ideia, que énegativa, pois a doença é sempre negativa, quando sei que tais ideias cooperam para destruir e nãoconstruir, pois nada se faz com negatividade?

Assim como esse exemplo, poderíamos dar muitos outros, pois a vida de cada um está cheia deexemplos. Não aceitar a ideia negativa não é pôr-se em discussão com ela. Não se deve aceitar simplesmente por estas razões:

1)  Porque é sem fundamento real;

2)  Porque é desprezível;

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3)  Porque é apenas produto das forças adversas e não vem do nosso próprio bem, que não podequerer negatividades;

4)  É proveniente do nosso componente masoquista, essa tendência que temos, negativa semdúvida, de sofrer e de até sentir prazer no sofrimento. Essa tendência não tem sua origem nonosso bem, mas no que nos é adverso, portanto é desprezível.

A análise da ideia negativa e seu consequente repúdio não deve provocar uma espécie de discussãoentre o que luta pela nossa positividade e o que luta, em nós, contra nós, pela nossa negatividade.

O adversário torna-se forte à proporção que lhe damos atenção e valor. Aqui, lutar contra o que surgede negativo em nossa mente, através de razões colocadas de parte a parte, é fortalecer o adversário. O queé negativo, e sem fundamento, é simplesmente repudiado, por uma argumentação simples, positiva. Nãose deve proceder como os mórbidos, que se entregam ao seu sistema, à sua negatividade, para explorá-lacom furor, em plena exibição e excitação de seu componente masoquista, no intuito de provocar nosoutros repetições do seu estado doentio. Se outros mórbidos, posteriormente, vão dar valor a essa obra,como superior, é porque ela corresponde à morbidez que os anima. Grande é o sofrimento de um Mozartque o guarda com dignidade e, em sua música, salvo em raríssimos instantes, não expressa a sua dor. Enão deixou de ser Mozart, construtivo, fecundo e criador.

Todos os autores destrutivos são infecundos. Em poucos livros estão esgotados. Assim há pintores

que, com meia dúzia de obras, não têm mais nada a dizer, e músicos que além de uma dezena decomposições, na maioria medíocres, não têm mais nada que expressar.

 Não se pense que o valor que muitos expressam está em suas negatividades, pois o negativo édestrutivo. Eles são grandes pelas positividades, apesar das negatividades que expressam. É um erro

 pensar que os grandes valores na arte se impuseram pelo negativo. O negativo neles é um ponto derefluxo e não de fluxo.

 Ninguém realiza nada com negatividade. Quem quer realizar-se, integrar-se, precisa reunir  positividades.

Vejamos como se deve proceder para alcançar essa grande meta.

A colheita do agricultor, já vimos, não será feita com as plantas que pereceram, que secaram, que seestiolaram. A colheita será feita com as plantas que positivamente vingaram.

Pois a tua colheita só poderá ser feita de positividades.

Tua atitude mental, portanto, só pode ser favorável às positividades.

Queres ter coragem? Procede como se tivesses coragem. Dá positividades aos teus gestos, às tuasatitudes.

Queres ser forte? Procede como se fosses forte. Dá positividade à tua força.

Infla teu peito, ergue o teu busto, retesa teus músculos. Realiza o positivo da força, e confiança em ti.

Queres ser ponderado? Toma a posição como se fosses ponderado, lógico. Realiza a positividade do ponderado.

Queres ter atenção? Coloca-te na posição como se tivesses plena atenção.

Mas tudo isso é ficcional, exclamarão alguns. É ficcional, não há dúvida, mas em termos. Há, naatitude, uma realidade enquanto tal, não há no conteúdo. A atitude do que tem plena atenção éimobilidade, toda voltada para o objeto, olhos fixos, nem um músculo se move. Mas falta o conteúdoanímico da atenção. É só corpo. Enquanto o corpo é real, é a real posição da atenção. Já temos uma

 positividade. Falta a outra, que completa o esquema concreto da atenção: a interior. Mas já andamos meiocaminho. E é fácil compreender a razão. Se a interior se concreciona com a atitude para realizar oesquema práxico, isto é, o esquema concreto da atenção, há uma grande afinidade entre o conteúdo, ointerno, com o externo. A positivação do externo, por afinidade, provoca uma atualização, umaeficientização do interno. A repetição é importante.

O que queres ser, procede como se o fosses. Esse como se (o als ob dos ficcionalistas alemães) setorna para nós positivo a pouco e pouco, porque já traz alguma positividade. Por isso Nietzsche, quandodizia que quem pratica atos de bondade, acaba pelo menos benevolente, compreendia, como grande

 psicólogo que era, a verdade que hoje pode servir a nós todos para amplos benefícios.

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A constante realização dessas positividades termina por constituir um lastro dentro de nós, lastro positivo. São como inúmeras peças de uma máquina, que são dispostas umas aqui, outras ali. Mas amáquina, funcionalmente, ainda não está estruturada; é preciso que o mecânico as coloque umas juntas àsoutras, nos respectivos lugares técnicos, para que ela surja em sua integridade.

Assim somos nós. Se conquistamos positividades, não nos preocupemos, de início, se elas não seestruturam funcionalmente. O que importa é conseguir positividades e estabelecer um programa:

nem um dia sem positividades.

Amontoemo-las, todas, aqui ou ali, em nós. Mais realizemo-las.

E assim, como um conjunto de elementos químicos, subitamente, por um simples balanço, precipita-se numa combinação sólida, um dia subitamente, essas positividades se coordenam, estruturam-se naformação de um sólido e coerente esquema, o nosso novo eu.

Lembra-te do exemplo da gota d’água que derrama o copo cheio. 

E quando surge essa gota d’água? Mas que vale essa gota sem que o copo esteja cheio? Para queaquela gota realize a sua função de extravazar é preciso que o que enche o copo já tenha atingido oslimites deste.

Pois tu precisas atingir os limites do número das positividades, para que uma simples positividade

qualquer realize a transmutação, a transfiguração de ti mesmo, e construa, num instante, a nova tensão deteu eu, que será a tua plena integração.

Quando muitos psicólogos nos contam a história de pessoas angustiadas, aflitas, preocupadas, cheiasde problemas e inquietações, que subitamente ao ouvir uma frase ou ao ler um simples anúncio, ou aotomar uma atitude, sentem que tudo se renova dentro delas, são pessoas que procuravam positividades eas realizavam. Quando atingiram o número repentinamente, uma simples positividade realiza aestruturação da tensão, e ei-las novas, outras, libertas de tudo quanto as preocupava.

Aquele que ao ouvir alguém dizer para outra pessoa: “só quem tem confiança em si é capaz devitórias”, de súbito se sentiu capaz de vencer tudo quanto o oprimia; aquele que, ao entrar num templo, eao ouvir, num sermão, estas palavras: “quem domina seus pensamentos é mais poderoso que quem tomade assalto uma fortaleza”. E sentiu-se renovar, ser outro; aquele que ao ver o sinal vermelho, que indicava

 parar, e o amarelo, que lhe indicava atenção, e o verde, que lhe indicava trânsito livre, e pensou no

maquinista que atravessa milhares de quilômetros, confiante apenas nos sinais, sem maiores preocupações. E sentiu-se senhor de si, novo, integrado  –  todos esses homens já haviam realizado positividades e, subitamente, uma, uma simples, completou-lhes o número do esquema tensional,estruturo-lhes a nova tensão do eu.

Portanto, o caminho é conquistar positividades.

E como fazer?

Cada dia, cada momento teu, procura realizar uma positividade, tomar uma atitude positiva. Não tedeixas impressionar pelas carpideiras milenárias, nem pelos propagandistas da miséria e do sofrimentohumano. Afasta-te dos que propagam o mal.

O verdadeiro gênio não é sombra. O verdadeiro gênio é luz; é luz meridiana, é sol, é alegria.

Portanto, mãos à obra; realiza positividades, e cada uma realizada, rejubila-te com ela. Fizeste hojeuma pequenina coisa bem feita, rejubila-te. Conseguiste fazer o que não contavas rejubila-te. Ao tomaresum copo d’água, que te mata a sede e te dá prazer, rejubila -te. Rejubila-te e agradece. E vê no mundo oque há de bem e de bom. Procura-o em cada momento de tua vida, em cada um dos teus atos.

Conquista positividades. Lembra-te do agricultor que só poderá colher os frutos maduros e positivos.Tua colheita só poderá ser feita de maduras positividades.

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A LIBERDADE

A INTEGRAÇÃO DO EU

Seguimos juntos até aqui. Longa foi a viagem, e o caminho entrecortado de esperanças e algumasdificuldades e estas não se abateram.

Estás convencido de que podes, por ti mesmo, alcançar dias melhores. E se cada dia disseres ao teusubconsciente: “Eu sou o meu melhor amigo, e confio em mim mesmo”, podes estar certo de que

 prepararás o verdadeiro caminho que nos leva à plena integração.

E esse velho caminho, tão esquecido dos homens de hoje, foi o que preconizaram as antigas religiõesa todos os que buscavam forças para enfrentar as grandes dificuldades, os problemas, os obstáculos deque está cheia a vida humana.

Mas como poderás tu, agora, penetrar por uma senda se não alcançaste ainda as positividades que predicamos em todo este curso?

Que pedimos de ti, senão positividade? Não foi outro o nosso intuito, senão o de que a tua colheita

fosse a mais feliz, e grandes os resultados. Não podíamos, de forma alguma, tratar do que vamos fazer agora, nos capítulos anteriores. Era

necessário primeiramente que tu tivesses realizado com bastante segurança, com bastante assiduidade, efé, os exercícios aconselhados.

Se tudo isto fizeste, se não recuaste um só momento, se foste fiel e amigo de ti mesmo, procurandocom afinco e boa vontade, com confiança e fé, a realização de tudo quanto dissemos, podes agora

 penetrar neste último caminho que te levará à plenitude de ti mesmo.

Tratá-lo-emos por partes, cuidadosamente, pois é preciso que te convenças do que iremos expor, e possas, então, sentir a grande experiência da liberdade, que é a tua completa plenitude, a vitória que tantodesejaste, e que mereces alcançar.

Relê as recomendações que no último capítulo te oferecemos. Medita sobre as positividades que são

ali expostas e oferecidas; mas faze-o constantemente, com júbilo e confiança.

O MEDO 

Quantas vezes ele te assaltou, e te enleiou em tuas redes. Sentiste um estremecimento, um minguar do teu coração, um frio que te percorria o corpo. Mas também sentiste medos que surgiam quando te

 preocupavas com a possibilidade de acontecimentos futuros que temias.

Mas se te lembrares bem, se rememorares esses momentos tão desagradáveis, deves ter notado queeles se processaram de duas maneiras extremas, incluindo, no entanto, diversos graus intermediários:

a)  Eras totalmente dominado pelo medo que crescia até tornar-se num verdadeiro pavor;

 b)  Ou então, quando subitamente te punhas a observar a ti mesmo, sentias que ele se desvaneciaaos poucos.

Como toda a tua atenção estava voltada para o medo, desejavas apenas que ele desaparecesse, e não percebeste bem o processo do seu desaparecimento. E nem podias fazê-lo. Ele te assaltava totalmente.

Mas se rememorares bem, e se agora te puseres como espectador desses momentos (e não são poucos, bem o sabes), logo verás que à proporção que for maior a tua capacidade de examiná-los comoum espectador, o medo diminui de intensidade e desaparece.

Ora, o teu medo se apresenta de maneiras variadas, mascara-se de muitas formas e alguma até seapresentam sem que sintas estremecer ou minguar o coração, nem um frio percorrer-te o corpo. É umaantecedência que se processa.

Pretendes fazer algo, mas o teu medo se mascara de racionalidade, e oferece argumentosaparentemente sólidos para que não faças isto ou aquilo. Na verdade, o teu medo procura enganar-te,

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mostrando-te apenas uma precaução, uma prudência, ou aconselhando-te uma atitude que te ponha acoberto do que temes.

 Não há dúvida que o medo é também positivo e constrói obras grandiosas. Mas é preciso evitá-lo,quando se torna negativo e, portanto, destrutivo.

Bem sabes que ele levou os homens a realizarem grandes obras, proverem-se de bens para o futuro,

construírem ciências, defenderem-se de perigos possíveis, acautelarem-se do imprevisto desagradável noamanhã. Tudo isso é positivo.

Mas o medo, quando predispõe situações contra o teu bem, é destrutivo e não deves aceitá-lo. Éfácil saber quando o é.

Examina cada um dos teus atos, verifica cada uma de tuas atitudes, e examina, nelas, quanto há demedo, quanto influi ele, positiva ou negativamente.

Se tal fizeres, logo ressaltarão, aos teus olhos, inúmeras possibilidades novas, perspectivasincalculáveis e acharás, por ti mesmo, novos caminhos interiores para o teu bem.

O CAMINHO DA LIBERDADE 

Todo o homem é um infinito ainda irrealizado. Que somos nós senão um ser finito, limitado? Ondeestá, então, a nossa infinitude?

Observa as coisas: uma pedra é uma pedra, e nada mais. Mas o homem pode modelá-la, e eis ummarco num caminho, uma estátua que simboliza a beleza.

Uma planta é uma planta, mas eis que o homem a torna um ornamento. Utiliza-a, e faz dela umalimento para o seu corpo.

As coisas são apenas o que são. Elas realizam apenas as suas perfeições e nada mais. Um cão éapenas um cão, e não conhece progressos, porque não conhece os caminhos que levam à realização das

 perfeições. Mas o homem avança no seu caminho, ascende a novas situações, cria perfeições, reunindo ascoisas.

Uma pedra que está na montanha é algo do mundo da natureza. Mas essa pedra, tornada em paralelepípedo, pela ação do homem, é transformada num ser do mundo da cultura.

Há dois mundos, portanto:

a)  Mundo na natureza; b)  Mundo da cultura.

 Neste último, é onde o homem cria, onde o homem modela as coisas com a marca do seu espírito; éo mundo da criação.

O homem é um ser da natureza, mas que constrói uma cultura. E por que pode o homem construir uma cultura, o que não a fazem os animais?

Ora, quem faz alguma coisa é porque podia fazê-lo. E a prova de que podia é que o fez. E se fez,tinha, portanto, um poder para fazê-lo; tinha em si algo efetivo, que lhe permitia realizar o que outrosseres não o podem.

O homem, portanto, é diferente dos outros seres, pois tem um poder que os outros seres não têm.

E de onde vem esse poder? Vem dos seres que existem no mundo da natura? Mas eles não orevelam? Nenhuma pedra construiu uma cultura, nem um animal, nem uma planta.

Mas o homem não é uma planta, nem uma pedra, nem um animal. Há no homem animalidade, comohá o vegetativo e o mineral. Mas o homem tem algo mais que os outros seres não têm.

E esse “algo mais” os outros seres não o têm enquanto são o que são. Portanto, o homem é delesdiferentes, e profundamente diferente.

Mas seu corpo é carne, sua carne é matéria orgânica, e nessa matéria estão os minerais. Não há

dúvida. É tudo isso; mas há nele o que não há nos outros seres: espírito criador.E que é esse espírito criador?

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 Naturalmente, não nos caberia num curso como este, em que apenas temos a intenção de cooperar com o bem dos outros, que nos detivéssemos a examinar um tema de Filosofia que muito bem cabe noslivros que se dedicam a esta tão importante disciplina. Nem, tampouco, tema de tal importância poderiaser examinado, sem que o pensamento esteja perfeitamente disciplinado nos caminhos belos, mas árduos,da Filosofia, e por isso não cabe examiná-lo apressadamente.

Mas, do que não há dúvida, é que, na essência do homem, há o que não há nos outros seres. E

chamavam os antigos filósofos a essa essência de rationalitas, que deve ter um sentido bem claro: é oespírito humano em toda a sua atividade.

O ser humano, portanto, atualiza esse poder na sua capacidade ilimitada de realizar perfeições. Senão as realiza todas de uma vez, tem, porém, a possibilidade de realizá-las umas após outras, e a históriahumana nos mostra que o homem é o grande realizador de perfeições.

Que se entende por perfeição. Por perfeição se entende a realização de uma possibilidade. Essarealização pode ser ainda melhor, e atualizando esse melhor, é mais uma perfeição que se atualiza, que serealiza.

O homem é, portanto, um realizador de perfeições.

E há um limite para ele? Há, e não há.

Exemplifiquemos: se distinguimos bem, poderemos dizer que o homem não é capaz de realizar amáxima e absoluta perfeição, aquela atualização de todas as possibilidades, porque, imerso no tempo, edele dependendo, tem de realizar, uma após a outra, as possibilidades. E também não alcança a totalidadeda perfeição; não se pode negar, porém, que ele pode avançar cada vez mais, realizando perfeições sobre

 perfeições.

Essa marcha ilimitada cabe ao homem. E criador, como é, alcança a pontos cada vez mais elevados,e que lhe podem assegurar uma marcha progressiva que todos devem compreender e desejar seguir.

Portanto, o verdadeiro e grande ideal humano só pode ser o da sua perfeição constante, o de suamarcha ascensional para superar-se.

Consequentemente: o ideal humano verdadeiro só pode ser o da superação do homem por si mesmo.O homem deve superar-se constantemente para alcançar, cada vez mais, uma super-humanidade, que será,

 por sua vez, superada.Eis um ideal para os que não têm um ideal, propunha Nietzsche. E o verdadeiro sentido do super-

homem, é este, e não o daquelas, em que se desenham o super-homem como apenas um monstro de brutalidade ou de força, como o fizeram alguns dos maus discípulos e todos os adversários.

Mas, há no homem o mesmo ser que está nas coisas, dizem. E há, não resta dúvida, mas é mister nãoconfundir. O homem, enquanto homem, não é o que as coisas são enquanto tais.

 Na forma de uma pedra, há a pedra; na forma do homem, há algo mais: o espírito.

Portanto, o espírito, que é ser também, realiza-se no homem, e não nas coisas. E aqui está adignidade, o valor do homem: ele tem e realiza o que não têm e não realizam as coisas do mundo físico.

O homem diferencia-se das coisas por ser criador; as coisas do mundo físico apenas são seres danatureza.

O homem é natureza e é espírito.

O bem nem todos sabem colher. Uns porque ignoram como encontrá-lo; outros, porque o temem.Esse fruto é a liberdade.

E embora pareça incrível, há muitos que temem a liberdade. E pode-se dizer até que o mais dolorosoespetáculo que se assiste hoje no mundo é o medo que provoca, medo que gera temor dasresponsabilidades.

Leiamos essas páginas.

“Deus quando nos deu a vida, deu-nos a liberdade ao mesmo tempo”, dizia Jefferson. 

Que é a liberdade?

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Grande e profundo problema de Filosofia, tema principal e capital de muitas das maiorescontrovérsias da humanidade, as mais belas páginas para louvá-las já foram escritas pelos filósofos, pelos

 poetas, pelos escritores de todos os tempos. Mas, muitas das páginas mais duras e mais terrivelmentedestrutivas foram escritas para negá-la.

Há livre-arbítrio ou determinismo? Praticamos nossos atos por uma escolha, ou não? Somos apenasdirigidos pelos nossos impulsos interiores aos quais não podemos dirigir nem orientar?

 Não vamos aqui relatar, nem de leve, essa imensa polêmica que levou séculos, e ainda hoje empolgao espírito de muitos.

O homem é um animal racional: verdade que todos aceitam.

E ser racional é ser capaz de escolher, capaz de preferir, de pesar, de comparar esta ou aquelasolução, de captar as possibilidades das possibilidades.

O homem pode prever as consequências de seus atos. Pode imaginar que se proceder assim, poderásuceder isto ou aquilo.

Tal ato poderá levar a tais ou quais consequências. E porque pode julgar, pode comparar, podemedir, pode escolher. Se o homem fosse apenas uma máquina, apenas um autômato, que realiza os atos

 pela determinação de uma força, não teria noção do futuro.

O ter noção do futuro demonstra independência, capacidade de escolher no suceder que sobrevém.

É por isso que o homem é um ser autônomo e conhece a liberdade.

 Não podemos negá-lo, porque ela se verifica em cada um de nós.

Temos um impulso para a prática de um ato determinado.

Queremos refletir sobre as consequências, e a nossa imaginação põe-se a trabalhar, revelando-nosuma série de acontecimentos possíveis, que vamos analisando racionalmente. Afinal, contrariando nossoimpulso, vencendo nosso desejo, resolvemos não fazer o que desejávamos.

 Negar esse fato prático que verificamos em nossa vida, seria negar praticamente também todo o poder da educação. E ninguém pode negar a ação desta no proceder do homem. Até os animais, que julgamos autômatos, podemos domesticá-los, modificar seus hábitos, transformar seus gostos, dar-lhes o

 poder de dominar impulsos e de não realizar o que desejam.

Estamos numa das épocas mais terríveis da história do homem. Apesar de toda a nossa grandeza, detodo o progresso material que conquistamos, apesar de todo o desenvolvimento de nossa ciência, de nossatécnica, estamos, no entanto, num desses momentos cruciantes da vida humana, em que muitos homensestão dispostos a perder a sua liberdade.

 Não são poucos, mas milhões e milhões de seres humanos que estão dispostos a vender a sualiberdade por um prato de lentilhas.

Os problemas de ordem puramente material, a exigência de satisfazer as necessidades imediatas,levam milhões de homens a se disporem a sacrificar a sua liberdade, para encher seus estômagos e vestir asua nudez, como se o caminho dela fosse compatível ao da solução dos problemas materiais.

 Não são poucos os que acreditam que só podemos solucionar nossos magnos problemas econômicosà custa da nossa liberdade ou, então, nos contam a impiedosa mentira de que ela consiste apenas em ter oestômago cheio e o corpo coberto.

 Não; liberdade é muito mais. E é através da conquista da própria liberdade que podemos garantir melhor tudo isso. O caminho da liberdade é o da prática da própria liberdade. É com a prática daliberdade que formamos homens livres.

Como poderás vencer se estás já disposto a ceder a tua liberdade por um prato de lentilhas? Os quenão amam a liberdade nunca podem ser vitoriosos. E lembra-te: o caminho da vitória é o caminho daliberdade, e o seu caminho é o da prática da própria liberdade.

Pratica a liberdade, e respeita a dos outros, que respeitarão a tua. Onde houver escravos, liberta-os.Onde houver opressão, rebela-te.

Luta pela liberdade de todos, e lutarás pela tua própria. Não podes ser livre onde há homensescravos.

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“Dai-me a liberdade ou dai-me a morte!” 

Que estas palavras de Patrick Henry sejam o teu lema na vida.

A DIGNIDADE

Podes perder até a tua última esperança, mas nunca deves perder a tua dignidade.

Assistimos, no mundo de hoje, a um dos mais dramáticos instantes da vida humana. Apesar de todoo nosso progresso material, apesar de toda a nossa civilização, do grande desenvolvimento de nossosaber, de nossa indústria, da técnica, o homem, esse ser para quem tudo isso é feito, e que tudo isso faz,vale tanto ou menos do que valia um cafre na época da escravatura, do que valia um escravo na épocaromana.

O homem aumentou o seu poder de dominar o mundo, mas diminui em seu valor, em sua dignidade.O homem não vale nada para o homem; a vida humana é de pouca valia. Põe-se em jogo a vida demilhões, como sempre se fez. Há falsificadores hoje mais do que nunca; há exploradores da misériahumana mais do que nunca; e a vida de um ser humano vale menos em média que a de um animal, um

 boi, um cavalo e até de um cão.

Apesar das grandes obras realizadas, do desenvolvimento da higiene, da construção de grandeshospitais, apesar, em suma, de todo o esforço da ciência, o homem continua não valendo nada.

Leem-se as notícias de dezenas de pessoas que morreram num desastre com uma insensibilidade queespanta. Muitos passam os olhos pelas páginas de jornais que descrevem os grandes acidentes em que se

 perdem vidas humanas, com enfado até. Não é isso sintomático? Será que tudo isso deve suceder só porque sucede. Será que deve ser assim porque sucede assim?

Medita sobre essa máquina imensa que consome vidas, que é a civilização. Observa essa pavorosadesvalorização do homem, a que hoje assistimos. Ninguém irá dizer que devamos chorar todas aslágrimas.

A compaixão está desterrada de entre os homens. Mas, se a compaixão está desterrada é porque algo

 possui ela que não se coaduna mais com a nossa vida.Se a compaixão não pode mais resolver esse gravíssimo problema, que é a desvalorização do

homem, muito menos o resolverá a nossa indiferença.

E além disso, precisamos dizer de uma vez: não serás um vitorioso no sentido pleno da palavra, senão compreenderes que vales alguma coisa, que és uma vida que tem valor.

O homem tem uma dignidade que deve ser apreciada, que é o seu bem maior, o verdadeiro bem.

Repetimos: é a dignidade o maior bem que o homem possui. A dignidade é o valor, e esse valor deveser alimentado por ti, continuamente.

Deves valorar-te e valorizar-te, não artificialmente, mas real e humanamente, seguindo as normasmais justas. Se a intensidade da vida de hoje faz passar despercebido esse valor, todos devemos lutar por revigorá-lo, por torná-lo maior.

Respeita a dignidade de teu semelhante para que também sejas respeitado. Não julgues que o homemmais forte em personalidade é o que se afasta dos outros, o que despreza os outros.

À humanidade de hoje falta a realização de uma grande obra. Assim como ela alcançou um grau tãoelevado na ciência, na técnica, ela deve elevar o homem em dignidade.

Quando sentires isso em ti, te elevarás a ti mesmo em dignidade.

A tua dignidade consiste também na dignidade de teu semelhante. Respeita-a, valoriza-a, e tesentirás, desde esse instante, mais poderoso e mais forte.

Um homem de dignidade conhece vitórias, e para ele uma derrota é mais facilmente superável doque a daquele que não sente nem em si mesmo, nem nos outros, o verdadeiro valor que têm.

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A LIBERDADE EM TI

Pratica a liberdade e alcançarás a tua liberdade.

E se em cada momento te puseres como um espectador de ti mesmo, um juiz austero de teus atos, sete colocares, em suma, ao te observares, ao examinar-te, com absoluta separação de tuas paixões,conquistarás subitamente um estado tão elevado, que te dará um prazer que é superior a todos os prazeresque conheceste.

Estás preocupado? Separa-te. Examina a ti mesmo em face de tua preocupação.

Desdobra-te num Eu superior, que examina friamente o teu próprio eu, e serás o observador do quefazes.

Verás que ao mesmo tempo desaparecerá totalmente a tua preocupação.

Verás que ao atingires este ponto, conquistarás a liberdade.

Estás com medo?

Examina-te: “eu estou com medo. Tremo interiormente. Deixa-me observar como se processa omedo em mim”. E eis que ele subitamente desaparece.

“Estou angustiado. Não sei por quê. Vou examinar a minha angústia. Quero ver como ela se processa”. 

E subitamente verás que a angústia e a amargura te abandonam.

E por quê?

Porque não lutas contra elas. Não precisas. A luta ainda seria servidão. E tu, nesses instantessupremos, és liberdade.

O homem pode ser espectador de si mesmo, espectador de sua limitação, espectador de suasfraquezas.

E quando atinge esse estado supremo, sente-se livre.

Vejo meu corpo sofrer, observo-o, e o meu sofrimento subitamente diminui.

Vejo minha alma abismar-se em tristeza, examino-a, e subitamente menores são as trevas e um pouco de luz cresce dentro de mim até avassalar-me totalmente.

Faze essas experiências e terás o caminho da tua liberdade.

 Não as poderás fazer sem antes percorreres os caminhos que indicamos neste livro.

Mas se fores fiel aos teus exercícios, se te encheres de fé e confiança em ti mesmo, quem te impediráde seres livre?

Construíste a tua liberdade.

Criaste-a do nada? Não, absolutamente não. Ela já estava em ti, latente, esperando apenas que desseso teu grande passo.

E esse passo era encontrá-la dentro de ti, luminosa e fiel, grande e amiga, para te servir de guia anovos caminhos superiores.

E chegado aqui, já não precisas mais de mim. Já tens em ti mesmo a tua companhia. É amável e bela,sublime, de radiante beleza: a tua liberdade.

Ela é Deus que fala em ti. Segue-a.