Mário Quintana

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Poeminha do Contra

Todos esses que aí estãoAtravancando meu caminho,

Eles passarão…Eu passarinho!

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Mário Quintana"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas. Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha, nem desconfia que se acha conosco desde o início 

das eras. Pensa que está somente afogando problemas dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar 

inquietação do mundo!"

 

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Mário Quintana (1906-1994) foi poeta, tradutor e jornalista brasileiro. É considerado um dos maiores poetas do século XX. É o autor de poemas e frases consideradas brilhantes. Em 1980 recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL, e em 1981 foi agraciado com o Prêmio Jabuti.

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Nasceu na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul.

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Em 1919 mudou-se para Porto Alegre, onde estudou, em regime de internato, no Colégio Militar de Porto Alegre. Nessa época publica seus primeiros trabalhos na revista Hyloea, da Sociedade Cívica e Literária dos Alunos do Colégio Militar.

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Em 1923 publica um soneto no jornal de Alegrete, com o pseudônimo JB. Em 1924, deixa a escola militar e se emprega, como atendente na livraria O Globo, onde permanece durante três meses.

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Em 1940 é indicado para a Academia Brasileira de Letras. Nesse mesmo ano publica o livro de poemas "A Rua dos Cataventos", que passa a ser usado como livro escolar.

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Foi saudado pela Academia Brasileira e Letras pelo Poeta Manuel Bandeira. Em 1980, recebeu o prêmio Machado de Assis da ABL pela obra total e em 1981, foi agraciado com o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano.

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Mário Quintana não se casou nem teve filhos. Viveu de 1968 até 1980 no Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre. Desempregado, sem dinheiro foi despejado e alojado no Hotel Royal, no quarto de propriedade do ex-jogador Paulo Roberto Falcão.

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Faleceu em Porto Alegre, no dia 5 de maio de 1994.

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O texto abaixo foi escrito pelo poetapara a revista IstoÉ de 14/11/1984

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não astava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à min há altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

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Consegue-o com o poder sintético das imagens, metáforas, sinestesias, associações insólitas e outros tantos recursos da poesia moderna.

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A poesia de Quintana é a humanidade posta em verso. Daí seu humor não apresentar o traço racional, intelectualizado, mas aproximar-se de uma visão chapliniana do mundo, não distanciada da que teria o homem comum.

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Em permanente “estado poético” Quintana parece não escolher assunto: todos lhe servem, tudo o que existe é poético na sua percepção feiticeira.

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Ao fazer poesia como quem respira, Quintana não se situa, como poeta, acima dos demais ou fora do mundo. Ao contrário, sendo um entre outros (“Eu nada entendo da questão social./ Eu faço parte dela, simplesmente...”), como dirá, ele se dilui no contexto geral.

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Assim, o social, em Quintana, não está designado pelo poema: é o poema. Note-se, nesse sentido, o soneto IV, de A rua dos cataventos, em seu final:

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Pra que viver assim num outro plano?Entremos no bulício cotidiano...O ritmo da rua nos convida.

Vem! Vamos cair na multidão! Não é poesia socialista...Não.Meu pobre Anjo...É...simplesmente...aVida!...

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Uma poesia extremamente crítica, a obra de Quintana constrói-se na tensão criada entre os opostos (pessimismo e alegria de viver). Por exemplo, no livro de estreia, “A rua dos cataventos” (todo ele feito em sonetos) o poeta indaga-se a respeito da morte, ao mesmo tempo que reafirma a vida e, aí encontra-se o famoso Soneto XVII em que se lê:

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Da vez primeira em que me assassinaramPerdi um jeito de sorrir que eu tinha...Depois de cada vez que me mataram,Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje dos meus cadáveres eu souO mais desnudo, o que não tem mais nada...Arde um toco de vela amarelada...Como o único bem que me ficou.

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!Ah! Desta mão, avaramente adunca,Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada.

Aves da noite! Assas de horror! Voejai!Que a luz, trêmula e triste como um ai,A luz do morto não se apaga nunca.

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Obra marcada por uma grande diversidade de temas:

• tristeza das coisas;• morte; • infância (Alegrete); • progresso; • Porto Alegre; • Ironia do cotidiano.

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Características

• individualismo; • pureza; • profundo humanismo; • finíssimo senso de humor; • poesia epigramática; • musicalidade; • intimismo;• pureza; • nostalgia da infância; • simplicidade; • liberdade poética; • cromatismo.

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Recordo Ainda...            

Para Dyonélio Machado Recordo ainda...E nada mais me importa...Aqueles dias de uma luz tão mansaQue me deixavam, sempre, na lembrança,Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de DesesperançaSoprando cinzas pela noite morta!E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui...Mas ai,Embora idade e senso eu aparente,Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!Sou um pobre menino...acreditai...Que envelheceu, um dia, de repente!...

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Não é à toa que Mario Quintana é considerado por muitos como um poeta de romantismo tardio. Seus versos por vezes recuperam as paisagens da infância perdida, unindo, vias lembrança, o velho ao menino, aquilo que o tempo distanciou. Tema nostálgico, ao gosto romântico.

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"Recordo ainda...", quanto à métrica é versos decassílabos, rimas interpoladas e alternadas, com recursos do soneto clássico, com referências simbolistas e românticas (=Meus oitos anos, de Casimiro de Abreu) e o assunto central: a idealização da infância como a época mais bela da vida do poeta.

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A poesia de Mário Quintana se caracteriza por um profundo humanismo, no conteúdo, e na forma, por uma "difícil simplicidade". Ternura, melancolia, intimismo, misticismo, humor irônico (para disfarçar o sentimentalismo), nostalgia da infância, de pureza - são os motivos de seu mundo poético.

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A facilidade com que se exprime é ilusória: nada existe aí parecido com soluções fáceis. É o artista consciente das virtualidades expressivas de seu instrumento, do verso e da língua.

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Atraído pelo realismo mágico ou fantástico, por visões oníricas ou surrealistas, Mário Quintana procura comunicar esse mundo suprarreal mediante uma grande economia, mas também grande eficiência de meios.

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Falece, em Porto Alegre, no dia 5 de maio de 1994, próximo de seus 87 anos, o poeta e escritor Mário Quintana.

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Escreveu Quintana:

"Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira".

E, brincando com a morte: "A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos".