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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE LETRAS Marivone Faturi Vacari UM ESTUDO SOBRE A MEMÓRIA DE TRABALHO, A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E A ESCRITA EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER Porto Alegre 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE LETRAS

Marivone Faturi Vacari

UM ESTUDO SOBRE A MEMÓRIA DE TRABALHO,

A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E A ESCRITA

EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER

Porto Alegre

2010

2

MARIVONE FATURI VACARI

UM ESTUDO SOBRE A MEMÓRIA DE TRABALHO,

A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E A ESCRITA

EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER

Tese apresentada como requisito parcial para

obtenção do grau de Doutor em Letras pelo

programa de Pós-graduação da Faculdade de

Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio

Grande do Sul.

Dr. Regina Ritter Lamprecht

Orientadora

Porto Alegre

2010

3

AGRADECIMENTOS

À Profª Dr. Regina Ritter Lamprecht, a quem chamo com todos os fonemas PROFESSORA,

por ter sido mais que uma orientadora de mestrado e doutorado durante todos os anos que

convivemos. Muito obrigada!!

Ao programa de Pós-graduação em Letras e aos professores pelo conhecimento

proporcionado.

As secretárias do Pós-graduação em Letras, Mara e Isabel, pelo pronto atendimento sempre.

Ao CNPQ, pela bolsa de estudos concedida, sem a qual não seria possível concretizar esta

formação acadêmica.

Ao prof. Dr. Ivan Izquierdo, exemplo de humildade e sabedoria, por me auxiliar na

elaboração deste estudo.

À Profª. Dr. Márcia Lorena Fagundes Chaves, por permitir o acesso aos pacientes do

ambulatório de Neurogeriatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e adaptar à

metodologia desta pesquisa ao Serviço de Neurologia deste hospital. Em seu nome, agradeço

imensamente toda a equipe do ambulatório, em especial, às médicas Ana Luiza Camozzato e

Claúdia Godinho.

Á fonoaudióloga Suzana de Ávila Piccoli do HCPA por realizar exames audiológicos nos

participantes desta pesquisa.

Aos pacientes do HCPA avaliados e aos idosos do grupo controle por participar

voluntariamente deste estudo. Muitíssimo obrigada, foi um prazer conhecê-los!!

Às colegas do CEAAL, que se tornaram grandes amigas: Carolina Cardoso Oliveira, Ana

Paula Félix Blanco e Melissa Toffoli. Obrigada pelos momentos de alegria e solidariedade.

4

Às amigas do doutorado, Denise Hogetop, Tatiana Keller e Ailma Nascimento, por

compartilhar o conhecimento, a amizade e o companheirismo pleno.

Aos meus pais, Ademar e Ivone, pelo incentivo, pela dedicação e amor. Agradeço

especialmente minha mãe e minha irmã Marta pelo auxilio em todos os momentos difíceis e

nos cuidados com meu filho, Pietro.

5

“Somos aquilo que recordamos”

(Prof. Dr. Ivan Izquierdo)

RESUMO

6

Os sintomas clínicos da doença de Alzheimer (DA) caracterizam-se por alterações cognitivas,

entre elas, a memória e a linguagem. No que compete à linguagem, estudos atuais têm

revelado que os prejuízos linguísticos não se limitam apenas a mudanças no vocabulário.

Falhas na escrita, na compreensão leitora e sua correlação com a memória de trabalho já são

detectados na fase inicial da doença. O objetivo deste estudo foi verificar se há uma relação

entre o desempenho em consciência fonológica com habilidades de escrita e memória de

trabalho em pacientes com DA leve e moderada falantes do português brasileiro. O presente

trabalho foi realizado com pacientes do setor de neurologia do Hospital de Clínicas de Porto

Alegre. Foram avaliados 05 sujeitos com diagnóstico de DA de gravidade leve e 05 idosos

com DA de gravidade moderada. Também participaram do estudo 10 idosos saudáveis

pertencentes ao grupo controle.

Os dados mostram que os indivíduos com DA avaliados apresentam desempenho inferior em

relação ao grupo controle em todas as atividades solicitadas. Embora com um grupo pequeno,

este estudo identificou alterações cognitivas nos sujeitos com DA, como habilidades de

memória de trabalho, consciência fonológica e escrita.

Palavras-chave: Memória de trabalho, doença de Alzheimer, consciência fonológica, escrita.

ABSTRACT

7

The clinical symptoms of Alzheimer's disease (AD) are characterized by cognitive

impairment, including memory and language. Concerning language, current studies have

revealed that linguistic damages are not limited to changes in vocabulary. Errors in writing,

reading comprehension and its correlation with working memory are already detected in early

disease. The aim of this paper is to determine whether there is a relationship between

performance in phonological awareness, writing skills and working memory in mild and

moderate AD patients, all of them speakers of Brazilian Portuguese. The research was

conducted in Hospital de Clinicas de Porto Alegre Neurology Center. Five subjects with a DA

diagnosis of mild severity and five with AD of moderate severity were evaluated. Ten healthy

elderly subjects have also participated as a control group. The data show that the performance

of individuals with AD was lower if compared with the control group in all activities

requested. Although the sample consists of a small group, this study has identified cognitive

impairments, as working memory skills, phonological awareness and writing in subjects with

AD.

Keywords: Working memory, Alzheimer's disease, phonological awareness, writing.

SUMARIO

8

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................................. 10

LISTA DE QUADROS ............................................................................................................................... 12

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................................... 14

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................................................. 18

2.1 ENVELHECIMENTO ...................................................................................................................... 18

2.2 LINGUAGEM NO ENVELHECIMENTO NORMAL ........................................................................... 20

2.3 DOENÇA DE ALZHEIMER.............................................................................................................. 21

2.4 DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE ALZHEIMER ................................................................................ 23

2.5 MEMÓRIA.................................................................................................................................... 24

2.6 MEMÓRIA DE TRABALHO NO ENVELHECIMENTO NORMAL E NA DOENÇA DE ALZHEIMER ...... 27

2.7 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA........................................................................................................ 29

2.7.1 Consciência fonológica: nível silábico................................................................................. 30

2.7.2 Consciência fonológica: nível fonêmico.............................................................................. 31

2.8 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ESCRITA....................................................................................... 32

2.9 ESCRITA NO ENVELHECIMENTO NORMAL E NA DOENÇA DE ALZHEIMER.................................. 35

3 METODOLOGIA .................................................................................................................................. 42

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA................................................................................................. 42

3.2 AMOSTRA .................................................................................................................................... 42

3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA ............................................................................................................... 43

3.4 AVALIAÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS............................................................................................. 44

3.4.1 Avaliação da linguagem compreensiva e expressiva ......................................................... 44

3.4.2 Avaliação Audiológica ......................................................................................................... 45

3.5 MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM) .............................................................................. 45

3.6 HÁBITOS DE LEITURA................................................................................................................... 46

3.7 HÁBITOS DE ESCRITA................................................................................................................... 47

3.8 AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA DE TRABALHO................................................................................... 47

9

3.9 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA........................................................................................................ 48

3.10 AVALIAÇÃO DA ESCRITA............................................................................................................ 49

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................................... 52

4.1 IDADE, SEXO, ESCOLARIDADE E CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA CONFORME A ESCALA CDR........ 53

4.3 EXAMES AUDIOLÓGICOS...................................................................................................... 56

4.4 MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM)....................................................................... 57

4.5 HÁBITOS DE LEITURA ........................................................................................................... 57

4.6 HÁBITOS DE ESCRITA ........................................................................................................... 58

4.7 MEMÓRIA DE TRABALHO..................................................................................................... 60

4.7.1 Relação entre hábitos de leitura e escrita e memória de trabalho dos participantes

do estudo ...................................................................................................................................... 63

4.8 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA........................................................................................................ 63

4.8.1 Desempenho dos participantes do grupo com DA de grau 1 ............................................ 63

4.8.2 Desempenho dos participantes do grupo com DA de grau 2 ............................................ 65

4.8.3 Diferenças entre os grupos de DA de gravidade leve e moderada verificadas no

instrumento CONFIAS................................................................................................................... 66

4.8.4 Desempenho dos participantes do grupo controle 1 (GC1)............................................... 68

4.8.5 Desempenho dos participantes do grupo controle 2......................................................... 69

4.8.6 Diferenças entre os grupos de idosos saudáveis verificadas no instrumento CONFIAS... 70

4.8.7 Comparação entre o desempenho do grupo com DA de gravidade leve e o grupo controle

1..................................................................................................................................................... 71

4.8.8 Comparação entre o desempenho do grupo com DA de gravidade moderada e o grupo

controle 2 ...................................................................................................................................... 72

4.8.9 Comparação entre todos os grupos (idosos com DA de gravidade leve e moderada,

idosos sadios pertencentes ao GC1 e GC2) nas tarefas de consciência fonológica.................... 73

4.8.10 Relação entre consciência fonológica e hábitos de escrita.............................................. 75

4.8.11 Relação entre consciência fonológica e memória de trabalho ........................................ 76

4.9 ESCRITA................................................................................................................................ 76

4.9.1 Desempenho dos idosos com Doença de Alzheimer de gravidade leve e moderada nas

tarefas de escrita .......................................................................................................................... 78

10

4.9.2 Desempenho dos idosos sem Doença de Alzheimer nas tarefas de escrita...................... 87

4.9.3 Comparação entre os idosos com DA de gravidade leve e moderada e os idosos

saudáveis nas tarefas de escrita .................................................................................................. 89

4.9.4 Comparação do desempenho nas tarefas de escrita entre os grupos GC1 x idosos com DA

de gravidade leve e GC2 x idosos com DA de gravidade moderada........................................... 90

4.9.5 Relação entre desempenho nas tarefas de escrita e hábitos de leitura e escrita............. 91

4.9.6 Relação entre desempenho nas tarefas de escrita e memória de trabalho ..................... 92

5 AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES.............................................................................................................. 93

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 97

ANEXOS ............................................................................................................................................... 109

Anexo 1A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.................................................... 110

ANEXO 1B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Para participantes sem Doença de

Alzheimer) ....................................................................................................................................... 112

ANEXO 2: AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA ............................................................................................. 114

ANEXO 3 – MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL............................................................................... 115

ANEXO 4: Questionário sobre hábitos de leitura e escrita ............................................................. 116

ANEXO 5: Teste ITPA (lllinois Test of Psycolinguistic Abilities) ....................................................... 117

ANEXO 6: Instrumento de Avaliação Sequencial- CONFIAS............................................................ 118

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura interna da sílaba conforme Selkirk (1982).............................................................................. 30

Figura 2: Tarefa do Teste de Boston (paciente S2). .............................................................................................. 79

Figura 3: Tarefa de ditado do Teste de Boston e produção de narrativa (paciente S3). ........................................ 80

Figura 4: Tarefa de ditado e correspondência figura/ palavra do Teste de Boston (paciente S8).......................... 81

11

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Idade, sexo, escolaridade e classificação na escala CDR dos sujeitos com DA . ... 53

Quadro 2: Idade, sexo, escolaridade dos participantes do GC1 ............................................. 54

Quadro 3: Idade, sexo, escolaridade dos participantes do GC2 ............................................. 54

Quadro 4: Resultado verificado no questionário de leitura no Grupo com DA leve............... 57

Quadro 5: Resultado verificado no questionário de leitura no Grupo com DA moderada...... 58

Quadro 6: Resultado verificado no questionário de leitura no GC1....................................... 58

Quadro 7: Resultado verificado no questionário de leitura no GC2....................................... 58

Quadro 8: Resultado verificado no questionário de escrita no Grupo com DA leve .............. 59

Quadro 9: Resultado verificado no questionário de escrita no Grupo com DA moderada...... 59

Quadro 10: Resultado verificado no questionário de escrita no GC1..................................... 59

Quadro 11: Resultado verificado no questionário de escrita no GC2..................................... 59

Quadro 12: Resultados do teste span de dígitos do Grupo com DA de grau 1 ....................... 60

Quadro 13 - Resultados do teste span de dígitos do Grupo com DA de grau 2...................... 60

Quadro 14: Resultados do teste span de dígitos do GC1....................................................... 61

Quadro 15: Resultados do teste span de dígitos do GC2....................................................... 61

Quadro 16: Resultado do nível silábico do grupo com DA leve............................................ 64

Quadro 17: Resultado do nível fonêmico do grupo com DA leve ......................................... 64

Quadro 20: Resultado do nível silábico do GC1 ................................................................... 69

Quadro 21: Resultado do nível fonêmico do GC1 ................................................................ 69

Quadro 22: Resultado do nível silábico do GC2 ................................................................... 70

Quadro 23: Resultado do nível fonêmico do GC2 ................................................................ 70

Quadro 24: Produção de grafemas dos sujeitos com DA leve ............................................... 78

Quadro 25: Produção de grafemas dos sujeitos com DA moderada ...................................... 78

13

Quadro 26: Erros fonológicos na escrita em pacientes com DA de gravidade 1 e 2............... 84

Quadro 27: Erros ortográficos na escrita em pacientes com DA de gravidade 1 e 2 .............. 85

Quadro 28: Produção de grafemas dos sujeitos do GC1........................................................ 87

Quadro 29: Produção de grafemas dos sujeitos do GC2........................................................ 87

14

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Média de dígitos memorizados pelos participantes ............................................. 62

Gráfico 2: Média de escolaridade dos participantes .............................................................. 62

Gráfico 3: Comparação do desempenho no nível silábico entre os grupos com DA .............. 68

Gráfico 4: Comparação do desempenho no nível fonêmico entre os grupos com DA............ 68

Gráfico 5: Comparação do desempenho nas tarefas do CONFIAS (GC1 e DA leve) ........... 72

Gráfico 6: Comparação do desempenho nas tarefas do CONFIAS (GC2 e DA moderada)... 73

15

1 INTRODUÇÃO

A doença de Alzheimer (DA) é responsável por 50 a 70% dos casos de demência. As

causas desta doença ainda não são conhecidas, mas parece haver características genéticas que,

associadas com fatores ambientais ainda não identificados, conduzem à perda progressiva de

neurônios e aos sintomas clínicos da doença (Bertolucci, 2006).

As primeiras manifestações clínicas estão relacionadas à progressiva dificuldade de

memória recente. Adicionalmente, pode ocorrer prejuízo na orientação temporal e capacidade

de julgamento. Alterações de linguagem também estão presentes nesta fase.

Com o avanço da doença, a memória e a linguagem ficam cada vez mais

comprometidas (Brandão e Parente, 2006; Carthery e Parente, 2006) e surgem severas

dificuldades em relação ao tempo, espaço, atividades domésticas e cuidados pessoais.

Este estudo objetiva investigar o desempenho de pacientes com DA de grau leve e

moderado em tarefas de consciência fonológica e escrita, e a correlação dessas com outra

habilidade cognitiva: a memória de trabalho.

A presente pesquisa contou com dados de dez indivíduos com DA (05 com diagnóstico

de DA leve e 05 com diagnóstico de DA moderada), atendidos no setor de neurologia do

Hospital de Clinicas de Porto Alegre (HCPA), e 10 sujeitos saudáveis, todos na faixa etária de

60 a 85 anos.

Para verificar o desempenho dos sujeitos em termos de consciência fonológica foi

utilizado o Instrumento de Avaliação Sequencial – CONFIAS, elaborado por Moojen et al.

(2003). Os dados de escrita foram observados através de tarefas de ditado, de correspondência

entre figura e palavra (Teste de Boston – Goodglass e Kaplan, 1972) e da narrativa referente

16

ao seguinte tema: ‘’O que fazia aos domingos quando era jovem”. Os erros de escrita foram

classificados de acordo com Varella (2004). A avaliação do executivo central da memória de

trabalho foi realizada através do teste ITPA (lllinois Test of Psycolinguistic Abilities). Um

mini-questionário sobre hábitos de leitura e escrita foi aplicado para auxiliar a análise dos

dados, conforme Carthery-Goulart (2005).

Dessa forma, o objetivo principal deste estudo foi verificar se há uma relação entre o

desempenho em consciência fonológica e habilidades de escrita e memória de trabalho em

pacientes com DA leve e moderada falantes do português brasileiro. A partir disso, foram

estabelecidos os seguintes objetivos específicos:

• verificar o desempenho nas tarefas de memória de trabalho e consciência fonológica

em pacientes com DA de gravidade leve e moderada, comparado ao desempenho de

idosos sem DA;

• avaliar o impacto da variabilidade do desempenho na tarefa de memória de trabalho

nos pacientes com DA de gravidade leve e moderada e nos idosos sem DA sobre as

tarefas de consciência fonológica;

• identificar e descrever os níveis de consciência fonológica que possuem os pacientes

com DA de grau leve e moderado e os idosos sem DA;

• pesquisar se há uma relação entre o nível de consciência fonológica dos pacientes e os

idosos saudáveis com relação ao desempenho da escrita;

• verificar se a variável hábitos de leitura e escrita interfere nas habilidades

metafonológicas, desempenho da escrita e memória de trabalho em pacientes com DA

de grau 1 e 2 e idosos sem DA.

A partir desses objetivos foram elaboradas as seguintes hipóteses:

1) pacientes em estágio inicial da DA já apresentam defasagem em tarefas de memória

de trabalho;

2) pacientes com DA, em estágio inicial, apresentam dificuldades para refletir sobre os

sons da língua;

17

3) o desempenho em tarefas de consciência fonológica de pacientes com DA é

influenciado pela redução na capacidade de armazenamento da memória de trabalho;

4) pacientes com DA de gravidade leve não apresentam alterações na escrita;

5) hábitos de leitura e escrita ao longo da vida interferem no desempenho em tarefas de

memória de trabalho, consciência fonológica e escrita em pacientes com DA e idosos

saudáveis;

6) o grupo controle, formado por idosos sem DA, apresenta resultados superiores em

testes de memória de trabalho, consciência fonológica e escrita em relação ao grupo

com DA em estágio inicial e moderado;

7) o grupo com DA em estágio leve apresenta resultados superiores em testes de

memória de trabalho, consciência fonológica e escrita em relação ao grupo com DA

em estágio moderado;

8) sujeitos com DA de gravidade leve e moderada com melhor nível de consciência

fonológica são os que apresentam menos alterações de escrita;

9) a escolaridade interfere no desempenho das tarefas de consciência fonológica,

memória de trabalho e escrita em idosos saudáveis, mas não interfere em idosos com

DA de grau leve e moderado.

Os dados deste estudo foram descritos e analisados utilizando-se aspectos

quantitativos e qualitativos que conduziram às considerações finais da pesquisa.

A presente pesquisa pretende contribuir para que aspectos relacionados à memória de

trabalho, escrita e consciência fonológica sejam considerados no diagnóstico e planejamento

terapêutico de pacientes com DA.

No capítulo 2, realizamos um levantamento bibliográfico de pesquisas em doença de

Alzheimer, memória de trabalho e habilidades linguísticas investigadas neste estudo.

No capitulo 3, descrevemos a metodologia usada no presente estudo, apresentando a

amostra e os instrumentos de análise.

No capitulo 4, mostramos os dados obtidos na análise e a discussão teórica.

18

No capítulo 5, retomamos as hipóteses aventadas para este estudo. As limitações da

pesquisa, apresentadas no sexto capítulo, antecedem o capítulo com as considerações finais,

onde estão inseridas as conclusões do presente estudo.

Por fim, relacionamos as referências bibliográficas e os anexos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ENVELHECIMENTO

A diminuição da taxa de fertilidade e o aumento da longevidade são responsáveis pelo

crescimento populacional de indivíduos com mais de 60 anos em relação aos demais grupos

etários. Ao contrário dos países desenvolvidos, o Brasil somente iniciou o processo de

envelhecimento por volta da década de 50, em virtude, principalmente, das condições médico-

sanitárias. Atualmente, os idosos em nosso país representam 10% da população.

Segundo projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde, entre 1950 e 2025 o

número de idosos no Brasil crescerá 15 vezes contra 5 vezes o da população total. No final

desse período, o país passará da 16ª para a 6ª posição mundial de idosos no mundo, com

aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Essa mudança na pirâmide

populacional no Brasil ocasionará uma redução na porcentagem de jovens de 42,6% para

20,6% e um aumento de 2,7% para 14,7% na de idosos (Chaimowicz, 1997).

Além desse rápido crescimento do número de idosos, o processo de envelhecimento

global provoca expressivas modificações nas demandas dos sistemas de saúde e assistência

social dos países em desenvolvimento, visto que, com o avanço da idade, há o aparecimento

de doenças crônicas e alterações cognitivas, sendo essas as principais causas de mortalidade e

incapacidade funcional nos idosos. Desse modo, fazem-se necessárias políticas públicas de

prevenção e tratamento dessas enfermidades, bem como pesquisas envolvendo esta

problemática (Who, 2000).

19

Dentre as doenças que afetam o indivíduo idoso, a demência é uma das mais

importantes causas de doenças e de mortalidade e, atualmente, é o problema de saúde mental

com as mais altas taxas de prevalência (Benkovic & Connor, 1993). As síndromes

demenciais são caracterizadas pela presença de declínio cognitivo progressivo, cujas

características principais são: declínio da memória adquirido, declínio intelectual ou de outras

funções cognitivas, mudanças no comportamento ou na personalidade, além de prejuízo no

desenvolvimento psicossocial. O grau de incapacidade aumenta com o avanço do declínio

cognitivo (Ben-Shachar et al, 1991).

Estudos longitudinais sustentam que a maior parte da população idosa não apresenta

declínio cognitivo, ou seja, apresenta trajetória evolutiva estável e benigna (Benett et al.,

2002). No entanto, declínio cognitivo é observado nos indivíduos que apresentam diagnóstico

de DA e naqueles que evoluirão futuramente para a doença (Elias et al., 2000).

No Brasil, apenas dois estudos com comunidades de idosos investigaram a prevalência

e a incidência de demência usando os critérios de diagnóstico contemporâneo. A pesquisa de

Chaves et al. (2009), realizada com 345 idosos saudáveis residentes nas proximidades do

Hospital de Clínicas de Porto Alegre por um período de oito anos, teve o objetivo de avaliar

os casos incidentes de doença de Alzheimer e distúrbio cognitivo leve (do inglês, Mild

Cognitive Impairment – MCI) e determinar as variáveis associadas com o desenvolvimento de

disfunções cognitivas. Para assegurar o diagnóstico de DA e MCI, foram coletadas

informações sociodemográficas, psiquiátricas e médicas, e aplicados o Mini-Exame do Estado

Mental (MEEM); a Escala de Índice de Demência Clínica; o Manual de Diagnóstico e

Estatística das Doenças Mentais (Fourth Edition; DSM-IV); NINCDS-ADRDA (National

Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke and the Alzheimer’s

Disease and Related Disorders Association), e os critérios clínicos Mayo.

De acordo com Chaves et al., o índice de incidência para MCI foi 13,2 por 1000

pessoas-ano e para DA foi 14,8 por 1000 pessoas-ano. A avaliação prévia da incidência de

DA no Brasil mostrou o índice de 7,7 por 1000 pessoas-ano. Uma análise de regressão

logística foi feita com a variável dependente “disfunção cognitiva” e com as variáveis

independentes educação, idade, número de pessoas íntimas e MEEM. A análise mostrou que

menos educação e menores escores no MEEM são fatores de risco para subsequente

disfunção cognitiva. Cada ano adicional de educação proporciona 1,4% de proteção contra a

20

disfunção. Entretanto, a redução de 1 ano de educação adiciona 1,4% de risco para a

disfunção. A educação está associada ao nível de função cognitiva entre pessoas mais velhas

com e sem placas senis de DA e o nível de função cognitiva difere em função do nível de

educação; é aceito que menor educação está associada a maior risco de DA. Aqueles que

começaram o estudo com escore menor de MEEM mostraram maior risco para disfunção

cognitiva, independente do nível educacional. Escores menores no MEEM, um instrumento

cognitivo global, já observou estar associado ao MCI.

2.2 LINGUAGEM NO ENVELHECIMENTO NORMAL

A perspectiva de vida do idoso hoje é bem maior do que há três décadas. Mesmo

assim, com o passar dos anos, perdas nas habilidades comunicativas são percebidas, pois o

discurso torna-se mais simples, há mais ocorrência de erros sintáticos, disfluências como

gagueira, repetição de palavras e sentenças fragmentadas. A compreensão também é

prejudicada devido à diminuição da acuidade auditiva (Obler, 2001).

As habilidades lexicais dos idosos diferem quando comparadas aos jovens. Apesar de

os idosos utilizarem mais associações do que os jovens, aqueles mostram que a habilidade de

acessar itens lexicais está prejudicada. Por isso, quando testados, fazem mais “rodeios” para

responder, como se estivessem ganhando tempo. A fonologia não muda substancialmente,

assim como a habilidade de nomeação de nomes e verbos não se modifica antes dos 70 anos.

No entanto, essas questões linguísticas não são homogêneas, são muitas as variáveis que

envolvem o desempenho de idosos em tarefas de linguagem e de memória, tais como:

medicações utilizadas, ansiedade, condições gerais de saúde (Obler, op cit).

Mansur & Radanovic (2004) também concordam que as habilidades de linguagem

parecem estar afetadas de modo diferente nos idosos, algumas se mostram intactas enquanto

outras se deterioram de modo evidente. Para as autoras, a compreensão de frases simples,

compreensão de palavras (vocabulário passivo), capacidade de narrar, a fala e outras

atividades automáticas permanecem intactas.

Segundo Brandão (2006), a produção de frases de período simples passa a ser maior

não por um déficit de competência linguística, mas por uma diminuição da capacidade

processual da memória de trabalho. Nesse caso, a memória de trabalho impõe restrições ao

número de relações entre sentenças que podem ser formuladas em um só tempo. Cada

sentença subordinada aumenta a demanda da memória de trabalho impondo o armazenamento

21

de itens, como concordância sujeito-verbo, escolha pronominal, ordenação linear de adjetivos

e outras regras gramaticais.

Sendo assim, o universo da linguagem no idoso e a relação com a memória nos motiva

a estudar alguns aspectos linguísticos neste trabalho. Este estudo parte do fascínio da autora

em saber mais sobre o inverso da aquisição da linguagem: a perda desta. A atividade em

fonoaudiologia da pesquisadora com pacientes com DA de gravidade leve tem apontado que o

trabalho terapêutico baseado em habilidades metafonológicas, de escrita, leitura e

compreensão leitora contribui para o desempenho comunicativo destes idosos, por mais

discreto que seja.

2.3 DOENÇA DE ALZHEIMER

A doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo com características clínicas

e achados patológicos próprios (Hazzard et al., 1999). O sintoma mais frequente é declínio

global e progressivo da memória, do intelecto, da crítica e da personalidade, sendo

considerada uma síndrome de perda adquirida das funções cognitivas, de alterações no

comportamento e perda de funções sociais.

A demência do tipo Alzheimer é a mais prevalente das doenças degenerativas. Estima-

se que, até o ano de 2025, vinte e dois milhões de pessoas no mundo desenvolverão um

quadro demencial ocasionado pela doença de Alzheimer (Rodrigues, 2004).

Atualmente, uma quantidade expressiva de pesquisas vem demonstrando dificuldades

relacionadas à memória, visto que, esse é o sintoma mais evidente em pacientes com doença

de Alzheimer. No entanto, a perda neuronial acarreta o comprometimento de funções

cerebrais importantes como: julgamento, noção espaço-temporal, raciocínio abstrato,

habilidades linguísticas. Em relação à linguagem, muitas pesquisas surgiram com o objetivo

de relatar o que acontece com o processamento linguístico durante o percurso da doença. No

entanto, ainda há necessidade de investigar outras habilidades de linguagem possivelmente

comprometidas na doença, como é o caso da compreensão em leitura, análise do discurso,

processamento sintático e fonológico.

Embora os estudos relacionados às atividades do cérebro estejam avançando muito,

sabe-se que ainda há, também, muito para se conhecer. Nos últimos anos, é crescente o

22

interesse acadêmico pelos diversos declínios de habilidades cognitivas causados pela

demência do tipo Alzheimer. Estudos que relacionam memória de trabalho e linguagem

também passaram a despertar maior interesse à medida que os pesquisadores começaram a

questionar se a memória operacional contribui para a produção da fala e de outros processos

de linguagem.

De acordo com Izquierdo (2002), há predomínio de uma disfunção da memória de

trabalho no início de alguns casos demenciais. O sujeito manifesta tendência em confundir o

que recorda e o que vivencia ao seu redor. Porém, essa disfunção é difícil de perceber,

geralmente o sujeito aparenta estar apenas desorientado. O comprometimento na memória de

trabalho está associado a lesões do córtex pré-frontal. As lesões características da doença de

Alzheimer têm início no córtex entorrinal e no hipocampo e, mais tarde, em outras regiões do

córtex, principalmente pré-frontal, parietal e ocipital associativa (Hyman et al., 1990, apud

Izquierdo, 2002). Esaas áreas cerebrais são diferentes das utilizadas pela memória de trabalho

(Izquierdo, 2002), mas estão vinculadas a estas por vias neuronais bem estudadas (Goldman-

Rakic, 1996; Izquierdo, L. et al., 2007).

A apresentação da DA caracteriza-se por três estágios, com duração média de dois

anos: no primeiro há o predomínio de alterações de memória semântica e de linguagem. A

evocação de lembranças é levemente afetada, há uma deterioração gradual no senso de

orientação espacial e temporal. Neste primeiro estágio podem ser identificadas também

dificuldades no raciocínio abstrato e julgamento, desatenção crescente com cuidados próprios

e mudanças moderadas na personalidade. No segundo estágio, observa-se déficit notável nas

atividades diárias, como praxias, gnosias e capacidade de resolver problemas. No terceiro,

verifica-se perda de autonomia e independência Boller & Duyckaerts (1997).

Cabe enfatizar que ainda não é conhecida a origem da doença de Alzheimer. Na

literatura encontramos diversas teorias. Entre elas, há estudos que investigam a influência de

fatores genéticos, ambientais ou a ocorrência de algum tipo de vírus que ocasionaria a

degeneração neuronial.

Entre as alterações da recepção da linguagem, constatadas em pacientes com DA por

meio de avaliações clínicas, destaca-se a inabilidade de sintetizar e processar a informação

fornecida pela fala. Estudos de escuta dicótica detectaram dificuldades relacionadas a

aspectos de atenção e, outras, específicas, em tarefas que envolviam a alça fonológica da

memória operacional (Grimes, 1995). As dificuldades são observadas na operação de

23

informações que constituem sobrecarga, seja pelo número de dados a serem manipulados ou

pela complexidade de organização das respostas (Mansur et al., 2005). Como resultado da

deterioração progressiva das áreas cerebrais supracitadas, pacientes com DA apresentam

dificuldades com sua memória de trabalho, verificadas através da complexidade em realizar

duas tarefas concomitantes ou na incapacidade de entender o sentido de uma conversa

(Baddeley, 1986). Diversos estudos com pacientes com DA sobre o processamento de

sentenças identificaram dificuldades de compreensão, especialmente de sentenças extensas ou

com voz passiva. A explicação para essa dificuldade ainda gera controvérsia entre os

pesquisadores. Alguns autores acreditam que ela estaria relacionada ao efeito de sobrecarga

na memória de curta duração (Grossman et al., 1996); outros sustentam fatores relacionados a

operações de curta duração sob a responsabilidade do executivo central da memória de

trabalho (Rochon, Waters & Caplan, 2000); e, por fim, outros relacionam as dificuldades a

desordens multifatoriais que estão ligadas a aspectos semânticos e de processamento

(Grossman et al., 1996).

Chapman et al. (2002) realizaram um estudo com pacientes em estágio inicial da DA,

comparando habilidades de compreensão, memória e expressão do significado de um texto

discursivo extenso, e constataram que a capacidade de fornecer informações detalhadas e

fazer inferências linguísticas e cognitivas para transformar o conteúdo explícito do texto em

um nível mais amplo de significado já está prejudicada nestes indivíduos. Este prejuízo se

atribui, possivelmente, ao déficit de memória que pacientes com DA apresentam desde o

início da doença, pois, para compreender um texto, é necessário ter conhecimentos básicos

sobre o mesmo e isto depende fundamentalmente da memória.

2.4 DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE ALZHEIMER

Segundo McKhann et al. (1984), o diagnóstico da DA é realizado com bases clínicas,

observando-se critérios para classificação da doença como: a) definida (cujos achados clínicos

foram confirmados por exame anatomopatológico: placas senis, emaranhados neurofibrilares,

diminuição da densidade sináptica, especialmente na formação hipocampal e córtices de

asssociação); b) provável (com distúrbio de memória associado ao prejuízo de uma ou mais

24

funções cognitivas); e c) possível (de curso atípico ou associada a fatores causais para a

demência).

Atualmente, não existe um diagnóstico que possa atestar com certeza a DA enquanto o

paciente ainda está vivo. No entanto, a história médica do paciente, testes neurológicos e

neuropsicológicos e a exclusão de outros tipos de patologias permitem a identificação de um

provável diagnóstico de DA com uma margem de acerto de 95% na maioria dos casos.

Somente um exame histopatológico do tecido cerebral de um paciente falecido pode

confirmar a incidência da DA. Os resultados destes exames mostram as seguintes mudanças

neurobiológicas no cérebro: grau elevado de atrofia cerebral, juntamente com sulcos corticais

alargados e ventrículos cerebrais maiores, identificados através de tomografias cerebrais;

aumento expressivo de emaranhados neurofibrilares, que interfere no funcionamento de

células cerebrais; acúmulo de placas senis, compostas de fragmentos de neurônios

degenerados; redução do neurotransmissor acetilcolina, que resulta em déficits importantes na

neurotransmissão química em áreas cerebrais responsáveis pela consolidação de traços de

memória (Squire, 1992).

2.5 MEMÓRIA

A memória do homem é a história de suas experiências gravada em seu cérebro. O

processo envolvido na gravação dessas experiências e as mudanças comportamentais que

ocorrem em função delas estão associados a alterações na organização química e elétrica entre

um neurônio e outros neurônios (o que chamamos de sinapses) que ocorrem em nosso cérebro

durante todo o nosso desenvolvimento, desde a formação do sistema nervoso durante a

gestação até sua morte no envelhecimento. Essa dinâmica envolvida no processo de aprender

e recordar é passível de influências ambientais: positivas (nutrição adequada, estimulação

cognitiva, sensorial, motora, emocional e social) e negativas (carências nutricionais, traumas

neurológicos e psicológicos, doenças, privações sensoriais, motoras, cognitivas, emocionais e

sociais). No caso da doença de Alzheimer, os processos cerebrais responsáveis pela memória

são prejudicados já na fase inicial da doença, fazendo com que fatos e experiências vividas

sejam esquecidos e deles não se podendo mais tirar proveito, pois não auxiliarão numa

situação de decisão (Izquierdo, 2002).

25

Sendo assim, todas as informações que utilizamos em nosso dia-a-dia estão

relacionadas à memória. São dados novos que precisam ser armazenados, por alguns

milésimos de segundo ou por décadas, ou conhecimentos que são recuperados em nossos

arquivos cerebrais para dar sentido aos acontecimentos que nos cercam. Esse processo é feito

de forma cruzada e simultânea, em que múltiplas memórias estão envolvidas. Os dados que

chegam ao cérebro são, então, processados em diferentes regiões e resultam em memórias que

podem ser classificadas de acordo com a duração e o conteúdo.

Quanto ao conteúdo, a memória pode ser classificada em dois grupos: declarativa e

procedimental. A memória declarativa registra as informações que podem ser expressas

verbalmente (Castro, 2004). Esse tipo de memória se subdivide ainda em: episódica, quando

se refere à lembrança de algo que assistimos ou vivenciamos; e semântica, quando se refere a

noções gerais adquiridas de forma indireta, como a lembrança de um livro que lemos. As

principais áreas responsáveis pelas memórias episódicas e semânticas são o hipocampo e o

córtex entorrinal.

A memória procedimental envolve, basicamente, habilidades motoras e/ou sensoriais,

também chamadas de hábitos. Exemplos dessa memória são as nossas habilidades de montar

quebra-cabeças, andar de bicicleta, nadar (Eysenck & Keane, 1994). Ao contrário da memória

declarativa, a memória procedimental sofre pouca influência das emoções e estados de ânimo.

Xavier (1993) faz uma distinção entre memória explícita e implícita. A primeira

refere-se à lembrança consciente de experiências prévias, usualmente avaliadas nos testes de

evocação livre e de reconhecimento, que requer evocação intencional da informação

armazenada. Já a memória implícita refere-se à melhora no desempenho de dadas tarefas, sem

referência explícita às experiências prévias que facultam essa melhora, ou seja, necessidade

de que seja consciente.

A memória também envolve dois tipos de aprendizado: explícito e implícito. O

explícito refere-se ao conhecimento acessível à consciência, como os que envolvem pessoas,

lugares. O implícito refere-se às habilidades a que a consciência não tem acesso, como as

motoras, as perceptuais (Castro, 2004).

Em relação ao período de armazenamento das informações, a memória classifica-se

em: memória de trabalho, memória de curto prazo e memória de longo prazo. A memória de

trabalho está envolvida no processamento e no armazenamento temporário da informação.

26

Segundo Young & Concar (1992), esse sistema de memória nos possibilita manter um

material transitório em nossa mente, de modo que possamos construir e compreender

sentenças complexas.

De acordo com Izquierdo (2002), a memória de trabalho possui poucas alterações

químicas. Seu processamento rápido parece depender da atividade dos neurônios do córtex

pré-frontal. Este recebe axônios procedentes de regiões cerebrais ligadas ao controle do estado

de ânimo, níveis de consciência e de emoções. Os axônios liberam neurotransmissores que

modulam as células do lobo frontal encarregadas deste tipo de memória.

O córtex pré-frontal seleciona, entre todas as informações que chegam, quais são

relevantes, quais são realmente novas e quais merecem ser armazenadas. Essa área cerebral é

denominada, por muitos, de “sistema gerenciador” do cérebro, responsável pelo

processamento da memória de trabalho, ou seja, pela conservação da informação

recentemente adquirida para posterior utilização pelos demais sistemas do cérebro,

principalmente para a formação de memórias. As lesões no córtex pré-frontal causam,

dependendo de sua localização, desde um déficit geral do funcionamento cognitivo, como é o

caso da desorientação, até um quadro de perda de valores (Izquierdo, op.cit).

O conjunto de sistemas inibidores GABAérgicos presentes na região CA1 do

hipocampo, córtex entorrinal, parietal, cingulado anterior, cingulado posterior, e córtex pré-

frontal ântero-lateral e corticomedial é o principal modulador da memória de trabalho. O

GABA (ácido y-amino butírico), principal neurotransmissor inibitório do cérebro, inibe todos

os processos envolvidos na evocação ou formação dos diversos tipos de memória através de

uma ação sináptica direta sobre os receptores denominados GABAA (Izquierdo, op.cit).

Izquierdo, L. et al. (2007) estudaram a participação dos receptores NMDA, AMPA, da

dopamina DI e GABAA no córtex pré-frontal dorsolateral e ventromedial de ratos na memória

de trabalho e na consolidação da memória de longo prazo. Os resultados mostraram que o

AMPA e a dopamina DI nestas regiões cerebrais são necessários para as duas memórias e

suscetíveis à inibição pelo GABAA. Esses receptores têm papel no momento imediato do

treinamento ou nos próximos segundos, tal fato pode ser observado pela influência na

memória de trabalho. No córtex pré-frontal dorsolateral a consolidação da memória de longo

prazo começa imediatamente após o treinamento e permanece por 180 minutos. Já no córtex

pré-frontal ventromedial, a participação desses receptores começa 90 minutos depois do

27

treinamento e tem duração de menos de 180 minutos. Portanto, as exigências dos receptores

são idênticas para ambas as memórias, mas diferentes no curso do tempo e isso sugere que as

mesmas células estão envolvidas na memória de trabalho e memória de longo prazo.

De acordo com Baddeley (1992), a memória de trabalho é um sistema de capacidade

limitada, com três componentes principais: um executivo central (controle atencional) e dois

sistemas auxiliares, um responsável pelo processamento de material verbal (alça fonológica) e

outro pelo de informações visuais (alça vísuo-espacial). Esse tipo de memória está envolvido

em muitos processos de linguagem, relacionadas a operações simultâneas, tais como

compreensão de frases e textos, tarefas em que a informação deve ser manipulada (soletração

oral, repetição, julgamentos), leitura e escrita (retenção temporária antes da articulação ou

produção).

A memória de curto prazo tem início nos primeiros segundos ou minutos em que

acontece o aprendizado e estende-se até três a seis horas após a aquisição (Izquierdo et al.,

1999). Esse tipo de memória é definido como um conjunto de processos que tem como

objetivo final armazenar informações na memória de longo prazo. Portanto, a memória de

menor duração precisa recorrer à de maior duração, já estabelecida, para fazer sentido e

poderá, eventualmente, tornar-se memória de longa duração.

O terceiro tipo de memória, de acordo com o período de armazenamento, é a memória

de longo prazo. Nessa memória são armazenados os fatos, os conhecimentos e as habilidades

que acumulamos durante anos. Para Izquierdo (2002), a consolidação da memória de longa

duração requer a modificação de determinadas sinapses do hipocampo e suas principais

conexões.

2.6 MEMÓRIA DE TRABALHO NO ENVELHECIMENTO NORMAL E NA DOENÇA

DE ALZHEIMER

Com o aumento da longevidade, a relação entre a memória e o envelhecimento tem

sido cada vez mais investigada. Bryan & Luszcs (2000) sugerem que o declínio das funções

executivas na senescência normal é superficial, mas há indícios de que estas alterações são as

primeiras a aparecer.

28

As evidências dos prejuízos no executivo central são observadas através de pesquisas

comparativas entre jovens, idosos e muito idosos, as quais investigam a capacidade de

manipular informações contidas na memória operacional (Babcok & Salthouse, 1990;

Belleville et al., 2003; Carthery-Goulart, 2005). Tarefas que analisam o desempenho na

realização de duas tarefas ao mesmo tempo, isto é, a habilidade de dividir a atenção também é

utilizada na avaliação das funções executivas (Baddeley et al., 2001; Carthery-Goulart, 2005).

Baddeley et al. (2001) constataram diferença entre jovens e idosos no desempenho de

um teste de busca e identificação de desenhos, realizado simultaneamente com uma tarefa de

detecção auditiva. Segundo os autores, é possível haver um problema na atenção dividida no

envelhecimento decorrente de disfunção no executivo central.

Carthery-Goulart (2005) verificou que o desempenho dos idosos na extensão de dígitos

na ordem direta (1, 2, 3, 4, etc) foi significativamente melhor do que a extensão de dígitos na

ordem inversa (.., 4, 3, 2, 1). Um aumento importante no tempo de latência para respostas na

situação de dupla-tarefa foi encontrado. Em relação ao grupo de jovens, a autora afirma que

há um declínio na memória operacional no envelhecimento normal, e essas alterações

apontam para declínio do executivo central. No entanto, idosos com maior capacidade de

memória operacional tiveram um maior números de acertos na prova de compreensão

auditiva.

Nessa mesma pesquisa, Carthery-Goulart (2005) compara o desempenho de idosos

saudáveis com pacientes com DA leve em testes de memória operacional e de linguagem. De

acordo com o estudo, os pacientes com DA tiveram desempenho inferior ao dos idosos

controle em todas as provas, pois apresentam alterações mais graves da memória operacional

e têm disfunção da alça fonológica e do executivo central. Na prova de fluência verbal

(formal e semântica), os indivíduos com DA tiveram desempenho significativamente inferior

ao dos idosos saudáveis, sendo que essas provas não avaliam somente a linguagem, mas

também outros processos controlados pelo executivo central.

Belleville, Peretz & Malenfant (1996) também constataram que a memória de trabalho

já é afetada na fase inicial da DA, pois diferentes prejuízos são verificados na execução de

atividades simultâneas e na capacidade de memorização a curto prazo (span). O baixo

desempenho nas atividades que avaliam a memória de trabalho dos pacientes com DA estaria

relacionado a uma disfunção no sistema executivo central.

29

2.7 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

A consciência fonológica é a capacidade de refletir criticamente sobre o código

linguístico, ou seja, é a “habilidade que o falante possui em pensar de forma consciente sobre

a língua, o que implica um direcionamento da atenção para a organização estrutural do código

– pode ser de grande importância para o próprio estabelecimento da mensagem a ser

transmitida, ou ainda para o entendimento daquilo que se está lendo ou ouvindo” (Alves, no

prelo). Dessa forma, o falante pode se concentrar na maneira como os morfemas se organizam

dentro de uma palavra, ou no modo como as palavras se organizam em sintagmas, ou, ainda,

como as palavras são constituídas pela cadeia de sons, e daí por diante.

Para Moojen & Santos (2001), a consciência fonológica é a consciência de que as

palavras são constituídas por sons ou grupo de sons e que esses últimos são segmentáveis em

unidades menores. A consciência fonológica abrange não só a capacidade de refletir

(constatar e comparar), mas também de operar com sílabas ou fonemas (contar, segmentar,

unir, adicionar, suprimir, substituir, transpor).

De acordo com Goswami & Bryant (1990), há diferentes formas de se segmentar

palavras e sílabas em unidades sonoras menores. Os autores explicitam três níveis de

consciência fonológica: da sílaba, dos fonemas e de unidades intra-silábicas.

1) Consciência Silábica: é a habilidade de segmentar palavras em sílabas, por

exemplo, a palavra ‘sopa’ pode ser segmentada em SO-PA;

2) Consciência Fonêmica: é a capacidade de dividir as palavras em fonemas. Ex:

‘mala’- /m/ /a/ /l/ /a/;

3) Consciência Intra-silábica: é a capacidade de reconhecer que palavras podem iniciar

ou terminar com os mesmos sons. Corresponde à divisão da sílaba em: onset (ataque) e rima.

Ex: bala e bola; café e boné.

30

De acordo com a Teoria Métrica (Selkirk, 1982), a sílaba é uma unidade linguística

com estrutura interna e entre os constituintes está estabelecida uma relação hierárquica. Os

dois constituintes imediatos são: ataque e a rima; esta, por sua vez, consiste em um núcleo e

uma coda. A sílaba possui necessariamente um núcleo, que, seguido ou não por coda, forma a

rima; essa vem precedida pelo ataque que, em português, não é obrigatório (Bisol, 1999, p.2).

Uma estrutura do tipo CVC, seguindo essa teoria, teria a seguinte representação:

σ

Ataque Rima

Núcleo Coda

m a r

Figura 1: Estrutura interna da sílaba conforme Selkirk (1982).

Neste trabalho, analisaremos com maior ênfase as habilidades de consciência

fonológica no nível da sílaba e do fonema, conforme Moojen et al. (2003). A seguir,

explicaremos cada um desses níveis.

2.7.1 Consciência fonológica: nível silábico

Segundo Yavas (1988), a consciência no nível das palavras é a primeira a se

desenvolver, seguida da consciência ao nível das sílabas e, posteriormente, da consciência

fonêmica.

Pesquisas realizadas com crianças e adultos falantes do português brasileiro mostraram

que as tarefas de consciência silábica são mais fáceis do que aquelas que envolvem

consciência do fonema (Cardoso-Martins, 1995; Capovilla & Capovilla, 1997; Menezes,

31

1999; Cielo, 2001; Freitas, 2004; Freitas & Vidor, 2005 e Toffoli, 2007). Essa facilidade de

perceber a sílaba antes do fonema deve-se ao fato de o fonema necessitar um esforço maior de

análise linguística, enquanto que a sílaba constitui uma unidade natural de segmentação da

fala (Gombert, 1992). A sílaba é mais facilmente percebida porque concentra mais energia

acústica (Gathercole & Baddeley, 1993).

Diferentes habilidades cognitivas podem ser avaliadas através da consciência silábica:

síntese; segmentação; identificação de sílaba inicial (aliteração); medial e final; exclusão e

transposição (Capovilla & Capovilla, 1998; Cielo, 2001; Costa, 2003; Moojen et al., 2003;

Morais, 2004 e Freitas, 2004).

As tarefas de síntese e segmentação silábica são cumpridas com facilidade por crianças

em processo de alfabetização ou alfabetizadas (Capovilla & Capovilla, 1997; Menezes, 1999;

Freitas, 2004). No entanto, no nível fonêmico, estas tarefas são das mais difíceis (Moojen et

al., 2003; Freitas, 2004).

2.7.2 Consciência fonológica: nível fonêmico

O nível fonêmico compreende a capacidade de dividir as palavras em unidades

menores de som, os fonemas (Freitas, 2004). Esta divisão pode modificar o significado de

uma palavra dependendo de como os segmentos são reposicionados.

O fonema é menos transparente do que a sílaba. Para perceber a palavra em unidades

bem abstratas que são os fonemas, é necessário decompor a unidade natural de segmentação,

a sílaba (Gombert, 1992). A maioria dos pesquisadores que investigam a consciência

fonológica concorda que a consciência fonêmica é o nível mais alto das habilidades

metafonológicas, e o último nível a emergir (Rueda, 1995, Moojen et al., 2003 e Freitas,

2004).

As tarefas de consciência do fonema podem ser realizadas por crianças ou adultos não

alfabetizados (Moojen et al., 2003 e Freitas, 2004), mas, para o verdadeiro desenvolvimento

da consciência fonêmica em um sistema alfabético, é necessário o engajamento no ensino

formal da leitura e da escrita (Rueda, 1995 e Rigatti-Scherer, 2008).

32

De acordo com Scliar-Cabral (1999), a consciência fonêmica é a habilidade que mais

auxilia a aquisição da escrita alfabética, pois, para a identificação do princípio alfabético, o

aprendiz deve reconhecer a relação som-letra e, dispondo desta habilidade de segmentação

fonêmica, deve ser capaz de analisar, refletir, sintetizar as unidades segmentais que compõem

a palavra.

A consciência do fonema exige a habilidade de realizar as seguintes tarefas: produção

de palavra com determinado fonema; identificação de fonema inicial (aliteração), medial ou

final; exclusão; síntese; segmentação e transposição.

Segundo Freitas (2004), os fatores que determinam o grau de dificuldade das tarefas de

consciência fonológica são: tamanho da palavra (monossilábicas, trissilábicas), posição dentro

da palavra (inicial, medial e final), contexto em que se encontram as unidades sonoras (onset

simples ou complexo), quantidade de operações cognitivas envolvidas e o tipo de operação

exigida (identificação, produção, apagamento, transposição, síntese e segmentação).

Conforme Morais (1991), tarefas de classificação ou identificação são mais fáceis do

que as de segmentação, pois estas últimas requerem a manipulação das unidades, resultado

também verificado por Cielo (2001); Freitas (op cit) e Rigatti-Scherer (2008).

Este estudo pretende verificar se os idosos com doença de Alzheimer avaliados têm

desempenho nas tarefas metafonológicas semelhante ao apresentado por crianças e adultos

alfabetizados (Freitas & Vidor, 2003; Freitas, 2004; Toffoli, 2007; Rigatti-Scherer, 2008).

2.8 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ESCRITA

Para aprender a ler e escrever, o sujeito precisa compreender o sistema de escrita

alfabético, no qual cada fonema corresponde a um grafema (com exceção dos que são

motivados por convenção ortográfica), e que os sons que pronunciamos (fonemas) seguem

uma ordem na escrita e, uma vez alterada esta sequência, o resultado será uma palavra

diferente. O sistema alfabético, do qual o português brasileiro se utiliza, requer a habilidade

de refletir e manipular os sons da fala (Soares & Cardoso-Martins, 1989). Sendo assim, a

escrita alfabética não representa diretamente o significado da palavra, mas a sequência de

sons, isto é, a escrita representa a ordem fonológica das palavras.

33

Dessa forma, fala e escrita apresentam algumas diferenças quanto a seus aspectos

físicos (Byrne, 1995). Enquanto as letras são concretas e passíveis de representação, a

manifestação física dos fonemas, os fones, é variável e sujeita a modificações através da co-

articulação produzida na fala.

Segundo Zorzi (2003), escrever não é apenas fazer a transcrição de um código oral

para um código escrito. O aprendizado da escrita implica também conhecer as várias funções

que a linguagem escrita pode ter em termos sociais, as variadas formas como pode ser usada.

Para escrever, o indivíduo precisa tanto entender que há uma correspondência entre

sons e letras quanto conhecer e aplicar as regras do código alfabético. Quando o sujeito

realiza uma cópia, ele simplesmente transcreve letras escritas sem necessariamente fazer

transposições fonografêmicas ou grafofonêmicas. No entanto, quando faz um ditado, ele está

fazendo uma transcrição do código oral para o escrito. Para isto, ele traduz fonemas em

grafemas, utilizando as regras próprias da língua.

Para realizar uma escrita eficiente, é necessário, também, escrever de acordo com as

regras do código ortográfico. O primeiro passo para escrever ortograficamente consiste em

saber decodificar, isto é, soletrar. Ao escrever, o indivíduo transforma sons em palavras e esse

processo é mais complexo do que o oposto, pois exige o atendimento às normas do código

ortográfico, e não simplesmente às características fonológicas das palavras.

De acordo com Cagliari (1989), o alfabeto ideal é aquele em que cada fonema é sempre

representado pelo mesmo grafema. No entanto, esta relação ideal só se realiza em poucos

casos no português (Lemle, 1990). A autora apresenta as letras ‘p’, ‘b’, ‘t’, ‘d’, ‘f’, ‘v’, ‘a’

como símbolos correspondentes aos fonemas /p/, /b/, /t/, /d/, /f/, /v/, /a/.

Para Cagliari (op.cit), um sistema alfabético pode, também, ter relações de um fonema

para mais de um grafema, assim como de um grafema para mais de um fonema, conforme

especificação a seguir:

a) Um fonema pode ser representado por diversos grafemas:

/k/ casa, queijo, quadro

/s/ sala, cedo, passeio, próximo, descer, açude, excesso

/z/ casa, azul, exame

34

/ʃ/ caixa, chave

/g/ gato, guerra

/ʃ/ jato, gemada

b) Um mesmo grafema pode se relacionar a diferentes fonemas:

‘x’ próximo (/s/), táxi (/ks/), exato (/z/)

‘s’ casa (/z/), sala (/s/)

‘l’ lata (/l/), salto (/w/)

‘e’ escola (/i/), cedo (/e/), dente (/i/), mãe (/y/), vela(/ʃ/)

c) Letra que não tem sons correspondentes:

‘h’ hora

Os estudos realizados sobre consciência fonológica mostram divergência sobre a

relação com a aquisição da escrita. Alguns estudos afirmam que o aprendizado do alfabeto

ortográfico desenvolve a consciência fonológica (Morais, Cary, Alegria & Bertelson, 1979),

enquanto outras pesquisas estabelecem uma relação de reciprocidade entre as habilidades

metafonológicas e as habilidades de escrita.

Nesta pesquisa, acreditamos que há uma influência recíproca entre a consciência

fonológica e o desempenho nas tarefas de escrita nos pacientes com DA, visto que pesquisas

realizadas no Brasil com crianças (Freitas (2004); Toffoli (2007) e adultos fortalecem esta

concepção. Cabe mencionar que questões ortográficas e fonológicas têm sido debatidas por

muitos autores no Brasil, tais como: Abaurre (1991), Zorzi (1998), Varella (2004) e Freitas

(2004). Porém, poucas investigações têm como amostra dados sobre o adulto em fase de

aquisição da escrita (Brisolara, no prelo) ou alfabetizados (Freitas & Vidor, 2003). Na

literatura, não encontramos estudos que investiguem a relação entre consciência fonológica e

escrita tanto no idoso alfabetizado como no idoso com DA.

Sendo assim, estudos realizados com crianças alfabetizadas ou em processo de

alfabetização mostram a reciprocidade entre habilidades metafonológicas e escrita. A pesquisa

35

de Cielo (1996) mostrou que a estimulação na área de sensibilização fonológica propiciou o

aumento do nível de sensibilidade fonológica e de recodificação de alfabetizandos. Já no

estudo de Paula, Mota & Keske-Soares (2005) verificamos que a terapia em consciência

fonológica associada ao ensino explícito da relação fonema-grafema contribuiu

significativamente para o desenvolvimento da leitura e da escrita da maioria das crianças do

grupo experimental (76,47%). As crianças desse grupo frequentavam a primeira série do

ensino fundamental e não estavam alfabetizadas no período da avaliação.

Portanto, pretendemos verificar se é possível estabelecer uma relação de reciprocidade

entre consciência fonológica e escrita nos pacientes com DA, a exemplo do que já foi

verificado em crianças e adultos saudáveis.

2.9 ESCRITA NO ENVELHECIMENTO NORMAL E NA DOENÇA DE ALZHEIMER

Conforme Carthery-Goulart & Parente (2006a), existem muitos trabalhos sobre

produção e compreensão da linguagem oral no envelhecimento, mas poucos são os trabalhos

encontrados sobre escrita com essa população. Segundo as autoras, estas habilidades não

constituem queixas frequentes dos idosos, mesmo daqueles escolarizados. Seriam habilidades

preservadas durante o envelhecimento?

No envelhecimento normal, as alterações de escrita envolvem mudanças linguísticas

ou periféricas. Os prejuízos linguísticos refletem-se no conteúdo da produção e na dificuldade

de construção de frases e textos. As mudanças periféricas são observadas no grafismo. No

entanto, assim como a leitura, essa habilidade linguística é bastante preservada no idoso

saudável (Carthery-Goulart & Parente, 2006b).

A pesquisa de MacKay & Abrams (1998), realizada com jovens e idosos, mostrou que

o envelhecimento provoca déficits no acesso ao conhecimento ortográfico mais evidente em

sujeitos acima de 70 anos, o que pode ser comparável ao que acontece frequentemente na

produção oral dos idosos (anomia). No estudo de Carthery-Goulart (2005) idosos abaixo de

70 anos não apresentaram erros na tarefa de escrita de palavras irregulares quando

comparados aos jovens participantes da pesquisa. Embora sem uma diferença significativa, o

grupo de idosos relatou hábitos de leitura e escrita mais frequentes do que o grupo de jovens

na entrevista inicial do estudo.

36

Da mesma forma que a linguagem oral, pesquisas têm mostrado que a escrita, com o

avanço da idade, pode sofrer declínio. Porém, essa não é uma característica homogênea no

envelhecimento. Estudos longitudinais que relacionem a escrita dos idosos com escolaridade e

hábitos de leitura e escrita ao longo da vida merecem investigação.

Através da escrita da paciente Augusta D, Alzheimer, em 1907, fez a primeira

constatação de alterações nessa habilidade nos pacientes com DA. A escrita dessa paciente

apresentava duplicidade de sílabas, apagamento de outras, e, em geral, terminava muito

rapidamente por um ponto. No entanto, somente há pouco tempo começaram a surgir análises

globais da expressão escrita de pacientes com DA, sendo que a maioria dos estudos analisou

danos à escrita em um molde cognitivo neuropsicológico.

A abordagem cognitiva requer que os sujeitos usem pelo menos dois procedimentos

independentes de escrita: uma rota lexical baseada no acesso a representações léxico-

semânticas estocadas (o léxico fonológico, as representações semânticas subjacentes e o

léxico ortográfico), e uma rotina no nível da subpalavra, baseada em regras de conversão

fonológica para ortográfica. Uma vez que a cadeia ortográfica apropriada for obtida ela deve

ser mantida na memória de curta duração (o buffer grafêmico), e depois será atribuída a

procedimentos periféricos de output, isto é, soletração oral e escrita e subsequente escrita à

mão ou digitação. A capacidade de sujeitos alfabetizados para escrever palavras irregulares,

bem como palavras não-familiares ou não-palavras possíveis (ou seja, cadeias fonológicas não

lexicais, mas fonotaticamente plausíveis), a partir de um ditado, pode somente ser explicada

pelo uso de duas rotas de escrita.

Segundo essa abordagem, é chamada disgrafia de superfície ou agrafia lexical o déficit

de escrita verificado em pacientes que não podem acessar o conhecimento lexical, mas fazem

uso correto das regras de conversão fonológica para ortográfica. Há assim uma prevalência de

erros fonologicamente plausíveis na escrita de palavras irregulares, isto é, palavras com

escrita imprevisível. A disgrafia fonológica é outro dano de escrita conhecido, nesse caso os

pacientes são incapazes de escrever uma não-palavra possível, mas podem escrever palavras

aprendidas no passado, tanto regulares ou irregulares. Alterações no buffer grafêmico causam

um distúrbio não diferenciado na escrita, o qual envolve cadeias ortográficas memorizadas,

em que o efeito do tamanho da palavra é o traço mais característico. Finalmente, a disgrafia

pode resultar em prejuízo, além do buffer grafêmico, para níveis mais periféricos de

processamento. Esses níveis incluem a manutenção das formas das letras e os programas

37

motores correspondentes de escrita à mão e dos nomes de letras (Luzzatti, Laiacona &

Agazzi, 2003).

Os estudos mostram que a agrafia é uma manifestação precoce da doença,

frequentemente mais severa e mais sensível para a demência do que dificuldades de

linguagem oral. Isso está bastante correlacionado à severidade da doença e ao concomitante

deterioramento cognitivo. A progressiva degradação das funções cognitivas na DA sugere

uma alteração complexa de vários componentes da escrita, uma vez que ela resulta da

interação entre três processos cognitivos distintos: linguístco (semântica e organização

sintática), grafomotor (realização gráfica de letras) e visuoespacial (disposição espacial do

texto). Por isso, estudos atuais têm focado precisamente esses diferentes aspectos das

habilidades escritas na DA. Esses estudos demonstram uma alteração progressiva e

hierárquica dos diferentes componentes da escrita (Croisile, 1999).

Assim como no envelhecimento normal, a maioria das pesquisas linguísticas em

doença de Alzheimer se concentrou na produção oral. No entanto, estudos sistemáticos

sugerem que a escrita pode ser um aspecto de cognição capaz de identificar danos específicos

para pacientes com doença de Alzheimer, sendo que, medidas de escrita podem ser

indicadores mais sensíveis da disfunção na linguagem na DA (Forbes, Shanks & Venneri,

2004).

A literatura sobre doença de Alzheimer refere que pacientes com a doença sofrem

alterações nos níveis central e periférico da escrita. Embora haja relativa preservação do

output motor, da fonologia e da sintaxe na fala, pacientes com DA frequentemente produzem

escrita espacialmente desordenada, geram paragrafias e constróem sentenças escritas que são

mais curtas e menos complexas gramaticalmente do que aquelas produzidas pelos controles.

Os pacientes com DA também mostram um padrão de disgrafia de superfície no qual a escrita

de palavras irregulares (ex: yacht, ‘iate’) é significativamente danificada com relação a

palavras regulares, e a maioria dos erros fonológicos produzidos é plausível (ex: yot),

indicando superdependência do sistema fonológico. Todavia, com o avanço da doença, o dano

se espalha para o sistema fonológico e erros fonologicamente não-plausíveis (ex: yark) se

tornam dominantes (Forbes, Shanks &Venneri, 2004).

Rapcsak et al. (1989), analisaram a performance na escrita de 11 pacientes com DA

com relação à escrita de palavras regulares, palavras irregulares e não-palavras. Os resultados

do estudo dariam suporte a um envolvimento progressivo do procedimento de escrita lexical e

38

a relativa preservação da rota de conversão fonema-grafema, uma vez que a performance de

todos os 11 pacientes foi significativamente pior em palavras irregulares, com uma maioria de

erros de regularização fonologicamente plausível. Os autores sugeriram que o

comprometimento da rota lexical (agrafia lexical) destes pacientes seria ocasionado pela perda

das representações ortográficas no léxico ou pela dificuldade de acesso a essas representações.

Segundo Carthery (2000), a escrita no paciente com DA sofre declínio já nos

primeiros estágios da doença. O estudo da autora, realizado com a população brasileira,

mostra resultados diferentes de escrita em indivíduos normais, com DA leve e DA moderada.

Em todas as modalidades de escrita foram encontradas diferenças significativas entre o grupo

controle e os grupos com DA. No grupo com DA leve, o quadro mais frequente foi agrafia

lexical, caracterizando-se por dificuldade de escrita de palavras irregulares. No grupo com

DA moderada, a agrafia mista, com comprometimento da rota lexical e de um ou mais

processamentos periféricos da escrita, como o aspecto da forma e o grafismo, foi o resultado

mais observado.

De acordo com Croisile (1999), apesar dos resultados heterogêneos em pacientes com

DA leve, a maioria dos estudos demonstram que a escrita lexical (escrita de palavras

familiares regulares, irregulares ou ambíguas através de um léxico ortográfico) é mais

deteriorada e afetada mais precocemente do que a escrita fonológica (escrita de não-palavras

pronunciáveis através de regras de conversão fonema-grafema). Ainda conforme o autor,

erros de escrita são mais frequentes em palavras ambíguas e irregulares do que em palavras

regulares ou não-palavras e paragrafias predominantemente plausíveis fonologicamente, por

exemplo ‘fame’ para ‘femme’ (mulher). Esse efeito de regularidade ortográfica é completado

por um efeito de frequência.

Dados longitudinais e transversais mostram que pacientes com DA desenvolvem uma

progressão do déficit de escrita: com o aumento da severidade da demência, há uma

progressiva redução da escrita lexical, que é mais consistentemente pronunciada do que o

déficit da escrita fonológica. O aumento dos erros de escrita é sempre maior em palavras não-

regulares e especialmente em palavras menos frequentes. As capacidades semânticas escritas,

que parecem ser um prognóstico precoce de agrafia em DA, em conjunto com traços gráficos

e habilidades espaciais necessários para a escrita, também se deterioram com a piora na

performance da escrita. No contexto de uma hierarquia semiótica, uma relação inversa é

sugerida entre a aquisição da escrita durante a infância e as subsequentes degradações na

39

escrita na DA. O distúrbio na escrita na DA está evidentemente relacionado a uma interrupção

na rede cerebral anatômico-funcional projetada para os processos da escrita, principalmente

nas regiões parietais (Croisile, 1999).

Em relação a performance escrita, os pacientes com DA ou seus familiares

frequentemente relatam dificuldade precoce de escrita para preencher documentos simples,

tais como um cheque. Além disso, as mudanças sutis na caligrafia impressionam mais do que

a presença de dificuldades ortográficas. No entanto, as habilidades gráficas e espaciais de

escrita cursiva não são alteradas significativamente até um estágio severo da demência. Uma

perda do conhecimento mental da forma da letra também parece evidente antes do

desenvolvimento de uma alteração inquestionável dos traços gráficos. Segundo Croisile (op.

cit.) uma quebra no nível dos códigos físicos das letras (alografia) foi demonstrada nos casos

de cópia e transcrição de letras isoladas. Em alguns casos, houve uma verdadeira agrafia

alográfica, caracterizada por uma mistura de letras maiúsculas e minúsculas. Contudo, essa

perda dos aspectos periféricos da escrita mostrou ser relativamente menos sensível para a

doença do que a escrita ou a semântica, e mais provável de ocorrer com a progressão da

doença. Dificuldades gráficas consistiram em letras desajeitadas ou embaraçadas.

Essas modificações sutis das medidas gráficas e espaciais em pacientes com DA de

leve a moderada dão a impressão visual de uma escrita cuidada e hesitante. Eles não são um

efeito exagerado do envelhecimento normal, mas ao invés disso parecem estar associados a

uma escrita cursiva mais frouxa (Croisile, 1999). Percebe-se a deterioração das habilidades

motoras gráficas precocemente em pacientes com DA, uma vez que elas exigem tomada de

decisões cognitivas, e não apenas automatização do movimento. O agravamento da demência

é acompanhado por uma deterioração massiva dos traços gráficos, com o aparecimento de

uma agrafia apráxica caracterizada por letras construídas de modo pobre, com curvas

invertidas, omissão ou super-repetição de traços de letras e por fim letras ilegíveis. A

assinatura é a última produção gráfica a desaparecer, presumivelmente por causa de seu

caráter mais automático.

A organização espacial da escrita cursiva é afetada menos rapidamente do que as

habilidades gráficas durante a progressão dessa doença. Inicialmente, a construção espacial da

escrita cursiva na DA é normal. Os pacientes com DA têm dificuldades leves para manter

escrita horizontal em linha reta e também deixam espaços desnecessários entre letras e

palavras. Essas descobertas sugerem uma agrafia espacial moderada. Pacientes mais

40

severamente dementes demonstram uma alteração maior das características espaciais: omissão

e repetição de traços e letras, uma tendência de escrever no lado direito da página, incoerência

da linha interrompida, textos dispersos ao longo da página (Luzzatti, Laiacona & Agazzi,

2003).

Ainda, em relação às alterações periféricas de escrita, Neils, Boller, Gerdeman & Cole

(1989), avaliaram a produção de narrativas a partir de estímulo visual em pacientes com DA

leve e moderada e verificaram a alta ocorrência de erros ortográficos e de alterações práxicas.

A pesquisa enfatizou também a heterogeneidade dos distúrbios de escrita na DA, sugerindo

que eles são ocasionados pela interação das alterações linguísticas e de outras funções

cognitivas, principalmente déficits visuo-construtivos, visuo-perceptivos, de atenção e de

memória.

Apesar da heterogeneidade na evolução das alterações de escrita, os autores sugerem

um sentido de progressão dos distúrbios, em que mecanismos centrais, especificamente a via

lexical, são atingidos primeiramente, seguidos por déficits na via fonológica e/ou em

mecanismos periféricos (Carthery-Goulart, 2005).

Na pesquisa de Neils et al. (1995), foi observado que todos os pacientes com DA

apresentavam redução de acertos em todos os tipos de estímulos (palavras regulares,

irregulares e não-palavras), porém os erros grafêmicos foram predominantes, verificados,

sobretudo em palavras de maior extensão através de substituições, omissões e inversões de

grafemas.

A pesquisa de Forbes, Shanks & Venneri (2004), avaliou aspectos centrais e periféricos

na amostra de pacientes com DA mínimo, leve e moderado e um grupo controle de idosos

saudáveis em uma tarefa descritiva de narração. O objetivo desse estudo foi determinar a

natureza e a severidade do dano de escrita espontânea e identificar os componentes da escrita

que consistentemente diferenciam os pacientes com DA dos do grupo controle. A análise

mostrou que os pacientes leves e moderados produziram sentenças menores e menos

complexas do que aquelas produzidas pelos controles. O grupo com DA leve produziu mais

parafasias semânticas do que os controles, enquanto o grupo moderado produziu mais

paragrafias. A maioria dos erros produzidos pelos pacientes foram fonologicamente

plausíveis, sugerindo que o dano é central no nível semântico em oposição ao nível

fonológico. Os pacientes com DA moderada apresentaram significativamente mais

dificuldades na formação de letras do que os pacientes com DA mínimo e leve; e a letra

cursiva foi menos empregada do que a letra de forma com a progressão da doença,

41

confirmando descobertas anteriores sobre a mudança gradual no estilo de escrita. Portanto, o

padrão de dano dá suporte à proposta de que a informação adquirida mais cedo está menos

suscetível ao processo da doença.

Nos idosos saudáveis, em contraste aos pacientes que sofrem de DA, há pouca

evidência de perda do conhecimento semântico. Com exceção de pequenos problemas de

retenção de palavras e uma simplificação da forma gramatical, as habilidades de linguagem

tendem a ser bastante mantidas durante a vida. Os prejuízos linguísticos em idosos saudáveis

parecem estar ligados a um declínio mais geral em outras funções cognitivas, tais como

memória e atenção (Forbes, Shanks & Venneri, 2004).

Neste estudo, não objetivamos realizar uma análise de escrita de acordo com o modelo

cognitivo neuropsicológico, visto que essa não é a nossa linha de pesquisa. No entanto, em

virtude da riqueza dos estudos na área, pretendemos contribuir em relação aos aspectos

periféricos da escrita e observar a ocorrência ou não de alterações na escrita lexical, pois

utilizamos somente palavras familiares na testagem da habilidade escrita.

Sendo assim, nossa análise concentra-se nos erros de escrita (fonológicos ou

ortográficos) de acordo com a proposta de Varella (2004), que será descrita no próximo

capítulo. Nesse sentido, verificamos se há alterações na escrita de grafemas, tais como

acréscimos, substituições, omissões ou inversões. Observamos também o tipo de letra

utilizada (cursiva ou de forma), a organização espacial, os traçados gráficos, entre outros.

42

3 METODOLOGIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente estudo constitui pesquisa de campo de caráter transversal. A pesquisa teve

aprovação do Comitê de Ética em Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (parecer 08-

171).

3.2 AMOSTRA

Foram avaliados 20 idosos, de ambos os sexos, com idade entre 60 e 85 anos. Dentre

os sujeitos, 10 têm diagnóstico prévio de doença de Alzheimer (DA leve = 5; DA moderada =

5) realizado por médicos do ambulatório de neurologia do Hospital de Clínicas de Porto

Alegre e 10 gozam de boa saúde física e mental.

No início desse processo de doutoramento, a análise da amostra para a execução desta

pesquisa no HCPA estimou um número (N) de 35 indivíduos com DA para a obtenção de um

trabalho de relevância nesta área. No entanto, o perfil dos pacientes que fazem parte de um

atendimento público não permitiu alcançar este N ideal, evidenciando, desse modo, três

realidades: a primeira é o baixo desempenho obtido no teste de rastreio cognitivo (a maioria

dos pacientes apresenta MEEM inferior a 15), resultado que os excluiu da participação deste

estudo; a segunda é a dos casos em que os sujeitos se enquadram em todos os critérios de

inclusão exceto o fato de não serem alfabetizados; e, por último, a meu ver a mais importante

é a constatação de que a maioria dos pacientes que chegam a um serviço neurológico

especializado em casos demenciais, como o prestado pelo HCPA, estão em um estágio muito

avançado da doença, ou seja, já perderam muito tempo com diagnósticos equivocados ou não

se enquadram nos critérios de classificação para DA, apesar de, muitas vezes, já serem

medicados para tal finalidade.

43

3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA

Para participar deste estudo, os pacientes com doença de Alzheimer efetuaram exames

clínicos e neuropsicológicos segundo rotina diagnóstica do ambulatório de Neurogeriatria

(NGA) do Serviço de Neurologia do HCPA. Para o diagnóstico com base clínica, cada

paciente realizou os seguintes exames: hemograma; TSH; ácido fólico e vitamina B12,

eletrólitos, glicemia, uréia e creatinina, TGO e TGP, e tomografia computadorizada de crânio.

O Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) (Chaves & Izquierdo, 1992; Folstein et al., 1975),

a Avaliação de Atividades de Vida Diária – escala de AVDs (Katz et al., 1963) e a Escala

CDR (Clinical Dementia Rating) (Chaves et al, 2007; Hughes et al., 1982) foram os

instrumentos utilizados para definir perfil cognitivo, funcional e gravidade da doença. Foram

incluídos neste estudo pacientes com DA classificados pela Escala CDR como leve ou

moderado (CDR= 1 ou 2), e MEEM não inferior a 15.

Segundo Bertolucci et al. (2001), os sujeitos com DA classificados no estágio 1 da

escala CDR apresentam as seguintes características: perda de memória, mais marcadamente

para fatos recentes, interferindo nas atividades do cotidiano; uma ou mais funções cognitivas

comprometidas, como, por exemplo, dificuldade com orientação espacial e temporal;

dificuldade em resolver problemas por si mesmo; dificuldade com atividades domésticas; e

necessidade de incentivo em relação aos cuidados pessoais. Os pacientes não devem

apresentar anormalidades quanto à participação social.

Já os sujeitos com DA classificados no estágio 2 da escala CDR apresentam as

características a seguir: perda grave de memória; apenas assunto altamente apreendido é

recordado; uma ou mais funções cognitivas comprometidas, tais como: dificuldade grave em

relação ao tempo e espaço; dificuldade séria em lidar com problemas, similaridades e

diferenças; julgamento social danificado; preservação de tarefas muito simples, interesses

muito restritos e pouco mantidos; higiene pessoal dependente de outras pessoas.

Os dez idosos participantes do grupo controle (GC) foram selecionados na

comunidade de Porto Alegre. O grupo é formado especialmente por indivíduos conhecidos da

pesquisadora e/ou integrantes de associações de terceira idade da capital. Nesses sujeitos, a

pesquisadora aplicou a Escala de Depressão Geriátrica, com o objetivo de excluir do estudo

indivíduos deprimidos; o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM); e Avaliação de Atividades

44

de Vida Diária – escala de AVDs para descartar possível diagnóstico de demência. Os

indivíduos que obtiveram pontuação no MEEM de acordo com o nível educacional, isto é,

ponto de corte esperado para longevos normais, foram encaminhados ao Hospital de Clínicas

de Porto Alegre para avaliação audiológica e testes propostos neste estudo, conforme

agendamento aberto para a pesquisa.

Os sujeitos participantes desta pesquisa são monolíngues e têm o português como

língua materna, evitando, desta forma, a interferência de uma segunda língua no desempenho

das tarefas de consciência fonológica.

Foram excluídos da pesquisa tanto os sujeitos com provável DA como os idosos

saudáveis que apresentaram sintomas e histórico de transtornos psiquiátricos, vasculares ou

qualquer outro tipo de demência. Também não participaram deste estudo:

- idosos sadios e com provável DA que apresentaram histórico de retardo de

linguagem e/ou dificuldades de aprendizagem (dislexia, disgrafia ou ocorrências sucessivas

de repetência escolar);

- sujeitos com DA de gravidade leve e moderada e idosos saudáveis com escolaridade

inferior a 4 anos.

Cumpridos estes critérios, uma autorização específica dos indivíduos (grupo controle)

e do paciente e/ou responsável para a participação dos sujeitos neste estudo foi solicitada

(anexo 1).

3.4 AVALIAÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS

3.4.1 Avaliação da linguagem compreensiva e expressiva

Para a avaliação da linguagem compreensiva e expressiva utilizamos as figuras que

fazem parte do teste CONFIAS. Através delas, foi possível observar a adequação das

respostas e a organização lógica do pensamento dos indivíduos. O objetivo dessa avaliação é

verificar se o paciente consegue reconhecer as figuras apresentadas e, a partir destas, manter

45

um diálogo com a examinadora, levando-se em conta o contexto proposto, o vocabulário

adequado, a construção de sentenças e a produção correta das palavras. A análise desses

dados foi descrita de forma abrangente, pois não aplicamos um instrumento específico para

analisar os componentes sintáticos, semânticos e pragmáticos necessários para a

comunicação.

Essa avaliação foi gravada com gravador digital da marca PANASONIC, modelo RR-

US 395.

3.4.2 Avaliação Audiológica

A avaliação auditiva foi realizada através dos testes de audiometria tonal, audiometria

vocal e imitanciometria, com o intuito de investigar possíveis patologias audiológicas,

inclusive a presbiacusia, patologia esperada para a faixa etária estudada. Foram excluídos da

amostra os sujeitos que apresentaram Índice Perceptual de Reconhecimento de Fala (IPRF)

maior do que 70dB (anexo 2).

Os exames foram realizados no serviço de otorrinolaringologia/ fonoaudiologia do

Hospital de Clínicas de Porto Alegre pela fonoaudióloga Suzana de Ávila Piccoli (CRFa

5648).

Em todos os exames auditivos foi utilizado o audiômetro da marca SIEMENS, modelo

AC-50D.

3.5 MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM)

O MEEM é um teste composto de 30 itens que procura examinar de forma

relativamente rápida as funções cognitivas. No exame avalia-se orientação espacial,

orientação temporal, memória imediata, atenção e cálculo, memória de evocação e linguagem

(anexo 3).

46

Em sua pontuação máxima, 30 pontos, deve ser considerado o nível educacional do

paciente quando se interpreta os escores obtidos no MEEM.

Nos pacientes com DA, esse exame foi realizado e interpretado pelos médicos do

ambulatório de neurogeriatria do hospital no momento da consulta de rotina. Já com os idosos

saudáveis, o MEEM foi aplicado pela pesquisadora.

No estudo de Chaves & Izquierdo (1992), o ponto de corte utilizado para identificar

pacientes com demência em relação a deprimidos e idosos normais é 24. Em outro estudo de

Chaves et al (1999), o ponto de corte para analfabetos e indivíduos com escolaridade inferior

a 4 anos é 17. Nesta pesquisa, adotamos as notas de corte sugeridas pelos referidos autores.

3.6 HÁBITOS DE LEITURA

A variável hábitos de leitura foi investigada neste estudo, uma vez que estudos prévios

desenvolvidos pelo grupo do Prof. Ivan Izquierdo, no Centro de Memória do Instituto de

Pesquisas Biomédicas da PUCRS, mostraram que a leitura ativa mecanismos da memória

(Izquierdo, 2007).

Assim como em Carthery-Goulart (2005), foi calculado um escore de leitura para cada

indivíduo, a partir de respostas a um pequeno questionário. Através dele verificamos se o

indivíduo leu durante sua vida ou tem lido frequentemente, raramente ou nunca os seguintes

materiais: jornais, revistas, livros (romances ou técnicos). Para respostas do tipo

“frequentemente” foram atribuídos 25 pontos; para respostas do tipo “raramente” foram

atribuídos 12,5 pontos e para respostas “nunca” não foram atribuídos pontos. O número

máximo de pontos possível é 100 (anexo 4).

47

3.7 HÁBITOS DE ESCRITA

Da mesma forma que o escore de leitura (Carthery-Goulart, 2005), foi calculado um

escore de escrita a partir de um miniquestionário com os mesmos tipos de respostas do escore

de leitura. Solicitamos informações sobre a frequência de escrita de pequenas cartas, receitas,

caça-palavras. Para respostas do tipo “frequentemente” foram atribuídos 20 pontos; para

respostas do tipo “raramente” foram atribuídos 10 pontos e para respostas “nunca” não foram

atribuídos pontos. Assim como na leitura, o número máximo de pontos possível de ser obtido

é 100 (anexo 4).

3.8 AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA DE TRABALHO

A avaliação do executivo central da memória de trabalho foi realizada através do item

de memória sequencial do teste ITPA (lllinois Test of Psycolinguistic Abilities). Esse teste,

usado com frequência na clínica fonoaudiológica, consiste na repetição imediata de

sequências de dígitos que vão de dois a sete itens, perfazendo um total de 28 sequências

(anexo 5).

Os dígitos são apresentados em ritmo uniforme de dois por segundo. Caso o indivíduo

não tenha sido bem sucedido na primeira tentativa, lhe é dada uma segunda chance para

repetir a sequência. O limite do teste (teto) dá-se quando ocorrem dois erros consecutivos, em

ambas as tentativas.

A contagem da pontuação é feita da seguinte forma: considera-se 2 pontos para cada

item acertado na primeira tentativa e 1 ponto para cada item acertado na segunda. O escore é

o total de pontos acumulados. Além do escore total será considerado o número máximo de

dígitos que o sujeito consegue repetir.

48

3.9 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

A avaliação da consciência fonológica foi realizada através do Instrumento de

Avaliação Seqüencial – CONFIAS, elaborado por Moojen et al. (2003).

O CONFIAS abrange diferentes tarefas em consciência fonológica e apresenta

dificuldade gradativa ao longo de sua realização. Esse instrumento foi organizado por um

grupo de profissionais da linguística, psicologia e fonoaudiologia. Segundo as autoras, o

CONFIAS foi elaborado a partir da necessidade de avaliar a consciência fonológica de forma

abrangente e sequencial considerando as características fonológicas do português brasileiro.

Através desse teste, as autoras procuraram, também, estabelecer uma relação entre a

consciência fonológica e as habilidades de escrita, uma vez que a maioria das pesquisas em

consciência fonológica enfoca a relação com a leitura (Cielo, 1996; 2001).

A avaliação da consciência fonológica através do CONFIAS foi aplicada também em

indivíduos não alfabetizados e em processo de alfabetização, assim como em sujeitos com

dificuldades e/ou transtorno de aprendizagem (Costa, 2002; Freitas, 2003; Toffoli, 2007;

Rigatti-Scherer, 2008, Pinto, 2009).

Tarefas de síntese, segmentação, identificação, produção, exclusão e transposição

silábica e fonêmica compõem o instrumento (anexo 6). A avaliação da consciência silábica é

subdividida em nove itens: síntese (S1), segmentação (S2), identificação de sílaba inicial (S3),

identificação de rima (S4), produção de palavra com a sílaba dada (S5), identificação de

sílaba medial (S6), produção de rima (S7), exclusão (S8) e transposição (S9). A pontuação

corresponde a um ponto para cada tarefa correta, tanto no nível silábico como fonêmico.

A avaliação da consciência fonêmica é subdividida em sete itens: produção de palavra

que inicia com o som dado (F1), identificação de fonema inicial (F2), identificação de fonema

final (F3), exclusão (F4), síntese (F5), segmentação (F6) e transposição (F7).

A pontuação máxima no nível silábico é de 40 pontos e no nível fonêmico é de 30

pontos, totalizando 70 pontos entre os dois níveis testados.

As avaliações foram realizadas pela autora desta pesquisa em dois encontros com cada

paciente.

49

O desempenho dos participantes na avaliação de consciência fonológica foi registrado

no protocolo de respostas durante a aplicação do instrumento. Os dados também foram

gravados pela examinadora, com gravador digital da marca PANASONIC, modelo RR-US

395.

Cabe salientar que este instrumento não é só apropriado para uma análise quantitativa,

mas também fornece dados para análise qualitativa.

3.10 AVALIAÇÃO DA ESCRITA

Assim como a leitura, existem inúmeras formas de avaliação da escrita. No Brasil,

temos importantes estudos realizados com crianças na fase escolar (Salles, 2005), com adultos

sadios (Lecours & Parente, 1997) e idosos demenciados (Carthery, 2000; Carthery-Goulart,

2005).

Na investigação da escrita em nosso estudo utilizamos as seguintes tarefas do teste de

Boston (Goodglass & Kaplan, 1972):

a) Ditado de palavras simples (não, nenê, vai, olha, menina);

b) Correspondência entre figura e palavra: a tarefa consiste em escrever o nome de cada

figura apresentada. São elas: chave, cadeira, círculo, sete, marrom, vermelho,

quadrado, quinze, pena, dormindo.

Tradicionalmente, as tarefas a e b são usadas para a contagem de palavras. No entanto,

neste trabalho contabilizamos o número de grafemas.

Para cada grafema simbolizado corretamente foi atribuído 1 ponto. Aos grafemas não

sinalizados, ou sinalizados incorretamente, foi atribuído zero ponto. A tarefa a totaliza um

máximo de 20 pontos, o que corresponde ao total de 20 grafemas corretos. A tarefa b, por sua

vez, soma 63 pontos.

A partir das palavras descritas acima, o levantamento foi realizado através de dois

procedimentos: primeiramente, foi feita a contagem do número total de: acertos encontrados,

grafemas não sinalizados, grafemas simbolizados incorretamente e acréscimo de letras.

Partiu-se da escrita correta, convencional (sistema ortográfico padrão do português brasileiro).

50

Posteriormente, os resultados observados foram convertidos em porcentagens com o objetivo

de viabilizar a análise dessa pesquisa. Não foram considerados os erros de acentuação.

Com a produção escrita das mesmas palavras, classificamos a ocorrência dos seguintes

tipos de erros, conforme Varella (2004):

1) Erros fonológicos: esse tipo de erro relaciona-se ao sistema da língua oral. Na fase

inicial da aquisição da escrita, tanto em crianças como em adultos, é observada a

reincidência de processos fonológicos verificados anteriormente na aquisição da fala.

Esses processos evidenciam operações mentais que as crianças utilizam em suas

tentativas de fala, simplificando, reordenando, substituindo, acrescentando ou reduzindo

sons (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1991). Erros desse tipo podem ocorrer em

dois níveis: da estrutura silábica e das substituições de segmentos. São exemplos de

processos fonológicos na escrita: prato’- ‘pato’; bala – ‘pala’; canto- cato.

2) Erros ortográficos: esse tipo de erro acontece quando há transgressão da convenção.

Podem ser de quatro tipos:

a) erros puramente convencionais: ocorre alteração do símbolo gráfico permanecendo o

som. Exemplos: casa- ‘caza’; pessoa- ‘pesoa’. O indivíduo usa o símbolo que conhece,

não podendo a representação resultante ser considerada um absurdo. É um tipo de

alteração que pode persistir caso não ocorra contato intenso com material escrito, leitura

de textos e reflexões sobre o uso das letras.

b) hipercorreção: neste tipo de erro o indivíduo usa o conhecimento adquirido em outro

contexto, de forma generalizada, ocasionando trocas plausíveis. Exemplos: bateu-

‘batel’; tênis- ‘tenes’; comeu- ‘comeo’.

c) fonéticos ou de transcrição de fala: a influência dos traços da pronúncia e do dialeto

leva à produção de erros na escrita. Sendo assim, o sujeito escuta um determinado som e

escreve a letra correspondente, por exemplo: trabalha- ‘trabaia’.

d) segmentação: o erro acontece devido à união indevida entre as palavras

(hipossegmentação), por exemplo: a senhora- ‘asiora’ ou devido à separação indevida

entre elas (hipersegmetação), por ex: saúde- ‘sa ude’. No primeiro caso, o erro reflete a

fala, pois as palavras são emitidas numa única corrente sonora. É comum produzirmos

51

palavras juntando conjunções, preposições e frases sem espaçamento entre os

constituintes, como, por exemplo, a bala- ‘abala’. Já a hipersegmentação reflete os

casos de palavras já aprendidas e reconhecidas na oralidade, tais como: depois- ‘de

pois’; era- ‘e ra’.

A ocorrência ou não de erros fonológicos e/ou ortográficos também foi verificada nos

participantes desse estudo através da escrita de uma narrativa envolvendo o seguinte tema: ‘O

que fazia aos domingos quando era jovem’. Nessa narrativa, observamos somente a grafia,

não sendo analisado o discurso propriamente dito. Tal aspecto será investigado em estudo

posterior da autora devido a sua importância no diagnóstico e terapia de linguagem em

pacientes com DA (Artuzo & Panhoça, 2009).

52

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo descrevemos os dados e analisamos os resultados obtidos nas

avaliações realizadas com indivíduos com DA de gravidade leve e moderada (grupo

experimental) e indivíduos sem a doença (grupo controle).

Dos indivíduos avaliados para esta pesquisa, foi excluído da amostra um participante.

Verificou-se que este indivíduo apresenta perda auditiva severa (70 a 90 dB) na orelha

esquerda, o que compromete a discriminação dos sons da fala do português brasileiro (Russo

& Belau, 1993). Antes de descartar esse sujeito da pesquisa, foram realizados os testes

propostos neste estudo e os resultados mostraram considerável discrepância em relação aos

demais participantes do grupo. Este fato chama atenção para a importância da realização da

bateria de exames audiológicos, pois nesta população a perda de audição faz parte do processo

de envelhecimento e, uma vez não detectada, pode falsear um teste de caráter cognitivo.

Na primeira seção, mostraremos a idade, o gênero, o nível educacional de cada sujeito

participante do estudo e o grau de severidade da doença dos indivíduos com DA, conforme a

escala CDR.

Nas cinco seções seguintes serão descritos os resultados das avaliações: linguagem

compreensiva e expressiva; testes audiológicos; Mini Exame do Estado Mental; mini

questionário de hábitos de leitura e escrita.

Nas demais seções, sete a nove, serão apresentados e discutidos os dados coletados

através das avaliações de memória de trabalho, consciência fonológica e escrita realizadas

com os participantes deste estudo.

53

4.1 IDADE, SEXO, ESCOLARIDADE E CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA CONFORME A

ESCALA CDR

Conforme o quadro 1, que contém a idade e o nível educacional dos sujeitos com DA,

constatamos que a média de idade foi de 75 anos. Nesse mesmo quadro, também mostramos a

classificação conforme a escala CDR (grau 1= demência leve; grau 2= demência moderada) e

o sexo de cada indivíduo avaliado.

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10

Idade (anos) 78 70 79 71 78 78 78 78 71 72

Escolaridade (anos)

4 4 4 + 7 + 7 4 4 4 4 4

Classificação na escala CDR

1 1 1 1 1 2 2 2 2 2

Sexo F F F M M F F M M M

Quadro 1: Idade, sexo, escolaridade e classificação na escala CDR dos sujeitos com DA .

A média educacional dos indivíduos com DA de gravidade moderada foi inferior ao

grupo de pacientes de gravidade leve da doença. Enquanto os pacientes com CDR 2

apresentaram média de 4 anos de escolaridade, o grupo com DA leve mostrou média de 5,2,

sendo que dois participantes deste grupo têm mais de 7 anos de escolaridade. Desta forma,

selecionamos 10 idosos saudáveis para participar da pesquisa e dividimos este grupo controle

em dois grupos conforme média de escolaridade. Os resultados do grupo com DA de grau 1

em todas as tarefas desta pesquisa foram comparados ao grupo controle (GC1), e os dados

obtidos no grupo com DA de grau 2, receberam pareamento com o grupo controle 2 (GC2).

A seguir, nos quadros 2 e 3, mostramos a escolaridade dos grupos GC1 e GC2, os

quais têm média de idade de 74 anos. Observamos que a média educacional do GC1 foi

equivalente a encontrada nos sujeitos com DA de gravidade leve (5,2), e a média de 4 anos de

escolaridade no GC2 foi a mesma do grupo com DA de gravidade moderada.

54

S11 S12 S13 S14 S15

Idade (anos) 76 70 78 74 72

Escolaridade (anos) 4 +7 4 4 +7

Sexo F F F M F

Quadro 2: Idade, sexo, escolaridade dos participantes do GC1

S16 S17 S18 S19 S20

Idade (anos) 70 80 75 75 70

Escolaridade (anos) 4 4 4 4 4

Sexo F F M M F

Quadro 3: Idade, sexo, escolaridade dos participantes do GC2

Salientamos que foi muito difícil encontrar pacientes com DA com escolaridade

superior a 4 anos sendo atendidos em um hospital público, neste caso o HCPA. Desse modo, a

escolaridade de nível superior de dois sujeitos com DA dificultou a análise, no entanto

optamos por não descartar esses sujeitos da amostra, pois pretendemos verificar se a

escolaridade interfere nas habilidades investigadas aqui, corroborando ou não estudo de

Caramelli, Carthery, Porto, Charchat & Nitrini (2001) realizado com 75 pacientes com

diagnóstico de DA e 76 controles, subdivididos em 4 grupos de acordo com a escolaridade

(analfabetos, 1-3 anos, 4-7anos e mais de 8 anos) submetidos à prova de fluência verbal

semântica (animais por minuto). Os autores observaram diferenças significativas no grupo

controle conforme o aumento da escolaridade, embora esta influência tenha desaparecido nos

pacientes com DA.

Cabe ressaltar que devido a essa diferença de nível educacional e grau de severidade

da doença, a análise será realizada intra e intergrupos.

55

4.2 LINGUAGEM COMPREENSIVA E EXPRESSIVA

Através das figuras que fazem parte do instrumento CONFIAS, foi possível constatar

que todos os indivíduos sem DA avaliados reconheceram as figuras apresentadas e

conseguiram manter um diálogo com a examinadora a partir delas, mostrando, dessa forma,

adequação das respostas conforme o tema proposto, vocabulário correto e organização lógica

do pensamento.

No caso dos indivíduos com DA, observamos que, mesmo naqueles que se encontram

na fase inicial da doença, é possível verificar algumas limitações com relação à compreensão

e produção da linguagem, embora esses sujeitos identifiquem as figuras apresentadas e

comentem superficialmente sobre elas.

Com relação à compreensão, verificamos que sentenças mais complexas dificultam o

entendimento dos pacientes, enquanto que orações simples facilitam o processamento da

informação. De acordo com Baddeley (1992), possivelmente a deterioração na memória de

trabalho esteja impedindo os indivíduos com DA de acompanhar e entender o sentido de uma

conversa (Baddeley, 1986).

Quanto à produção da linguagem, não verificamos a presença de processos

fonológicos na fala dos indivíduos, isto é, não observamos substituições ou omissões na

estrutura das palavras. Todas as palavras produzidas por esses sujeitos durante as avaliações

deste estudo estão de acordo com a estrutura fonológica de nossa língua e, em nenhum

momento, constatamos a produção de uma pseudopalavra. A integridade do processamento

fonológico mostra que áreas adjacentes ao córtex primário auditivo estão intactas,

possibilitando eficiente processamento (Croot, Hodges, Xuereb & Patterson, 2000).

Ainda com relação à produção, as limitações observadas são decorrentes da escassez de

fala apresentada por esses pacientes. Com exceção de um deles, os demais apenas

responderam o que foi questionado. Não verificamos intenção por parte dos indivíduos

avaliados em iniciar ou manter uma conversação com a examinadora ou acompanhante. Para

ilustrar este fato, descrevemos, abaixo, a transcrição do relato da esposa de um dos pacientes

em estágio leve da DA sobre a participação comunicativa deste no grupo familiar e social ao

qual pertence:

56

“Meu marido não gosta de sair de casa e de participar de conversas com muitas

pessoas ao mesmo tempo, fica confuso e cansado. Mesmo no convívio com as filhas, genros e

neto, participa pouco das conversas, fica apenas escutando o que falam. Quando lhe

perguntam alguma coisa, responde com poucas palavras, geralmente não lembra sobre os

assuntos, então tenho que ajudar. Mas, se o assunto é de antigamente, ele sabe. Na maior

parte do dia, meu marido assiste à televisão, mas ele não guarda o que escuta. Se pergunto

sobre o que acabou de assistir, sempre diz: “muito triste”; “muito bonito”, não seguindo a

conversa. Os amigos também não visitam mais ele depois que ficou doente, ele não conversa

mais, não tem assunto, as pessoas cansam. Antes nossa casa era cheia de amigos e parentes e

hoje as visitas são as filhas”.

Quanto ao processamento semântico, observado através das figuras do instrumento

CONFIAS e do diálogo com a examinadora, não verificamos déficit no processamento

semântico dos pacientes avaliados. No entanto, não aplicamos um instrumento específico para

afirmar se ocorre prejuízo ou não dessa capacidade linguística já na fase inicial da doença; o

que podemos assegurar é que não verificamos dificuldade em nomear ou reconhecer objetos,

seja por solicitação visual ou auditiva. Esse aspecto merece melhor investigação, visto que a

maioria dos estudos parte do princípio de que pacientes portadores de DA apresentam

dificuldade no processamento semântico desde o estágio leve da doença. O estudo de

Carthery-Goulart (2005) mostra que os idosos com DA tiveram desempenho inferior ao de

idosos sadios nas provas de fluência verbal (frutas) e em todas as outras provas de linguagem

aplicadas na pesquisa.

4.3 EXAMES AUDIOLÓGICOS

Todos os participantes dessa pesquisa realizaram os exames de audiometria tonal,

audiometria vocal e imitanciometria.

Os resultados mostraram que a maioria dos sujeitos apresenta perda auditiva leve nas

frequências mais importantes para o reconhecimento de fala (500 a 4000hz) e maior déficit

auditivo nas frequências de 6000 e 8000hz, indicando patologia esperada na faixa etária

avaliada.

57

4.4 MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM)

Os sujeitos saudáveis que participaram deste estudo tiveram pontuação no MEEM

superior a 26 pontos, indicando funções cognitivas dentro do esperado para o nível

educacional.

Os pacientes com DA apresentaram pontuação abaixo da normalidade em relação ao

grau de escolaridade, mostrando comprometimento de funções cognitivas importantes, como,

por exemplo, da memória e da linguagem, entre outras. O grupo de pacientes com DA de

gravidade leve apresentou média de 16,6 pontos, com limite inferior de 15 e superior de 19

pontos. Já o grupo de pacientes com DA de gravidade moderada apresentou limite inferior e

superior de 15 pontos.

Os resultados dos questionamentos da Escala de Depressão Geriátrica (EDG) não

mostraram qualquer indício de depressão e de outras doenças psiquiátricas nos participantes

desta pesquisa.

4.5 HÁBITOS DE LEITURA

Conforme verificamos nos quadros a seguir (4 e 5), a maioria dos pacientes avaliados

com DA moderada nunca tiveram o hábito de leitura ao longo da vida. Por sua vez, a maioria

dos sujeitos com DA leve foram leitores frequentes.

Sujeito Leu ao longo da vida?

Lê frequentemente? Lê raramente? Nunca lê Pontuação (escore máx 100 pontos)

S1 Sim Jornal 25 S2 Sim Bíblia 12,5 S3 Sim Jornal 25 S4 Sim Jornal 25 S5 sim Jornal 12,5

Quadro 4: Resultado verificado no questionário de leitura no Grupo com DA leve

58

Sujeito Leu ao longo da vida?

Lê frequentemente? Lê raramente? Nunca lê? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S6 Não Não 0 S7 Não Não 0 S8 Não Não 0 S9 sim (bíblia) Não 12,5 S10 sim (jornal) Não 12,5

Quadro 5: Resultado verificado no questionário de leitura no Grupo com DA moderada

Nos idosos sadios, 100% deles mantiveram o hábito de leitura durante suas vidas.

Exceto S16, todos utilizam a leitura frequentemente, conforme especificado nos quadros 6 e

7.

Sujeito Leu ao longo da vida?

Lê frequentemente? Lê raramente? Nunca lê? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S11 Sim jornal, revista,romance

75

S12 Sim jornal, revista, livros espíritas

75

S13 Sim Jornal 25 S14 Sim jornal,

revista,romance 75

S15 Sim jornal, livros espíritas

50

Quadro 6: Resultado verificado no questionário de leitura no GC1

Sujeito Leu ao longo da vida?

Lê frequentemente? Lê raramente? Nunca lê? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S16 Sim jornal, bíblia 25 S17 Sim Livros 25 S18 Sim Jornal 25 S19 Sim jornal, livros

técnicos 50

S20 Sim livros 25

Quadro 7: Resultado verificado no questionário de leitura no GC2

4.6 HÁBITOS DE ESCRITA

Nos próximos quadros (8 e 9), constatamos que a maioria dos pacientes não teve o

hábito de escrita ao longo da vida. Todavia, os participantes S5 e S9, apesar de não

escreverem mais, utilizaram a escrita com frequência até, aproximadamente, cinco anos atrás.

O primeiro elaborava relatórios técnicos, e o segundo, canções bíblicas.

59

Sujeito Escreveu ao longo da vida?

Escreve frequentemente?

Escreve raramente? Nunca escreve? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S1 Não Não 0 S2 Sim receitas, cartas 20 S3 Não Não 0 S4 Sim Anotações 10 S5 Sim Não 20

Quadro 8: Resultado verificado no questionário de escrita no Grupo com DA leve

Sujeito Escreveu ao longo da vida?

Escreve frequentemente?

Escreve raramente? Nunca escreve? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S6 Não Não 0 S7 Não Não 0 S8 Não Não 0 S9 sim Não 20 S10 Não Não 0

Quadro 9: Resultado verificado no questionário de escrita no Grupo com DA moderada

Diferentemente do grupo com DA, 90% dos idosos saudáveis têm o hábito da escrita,

sendo que a maioria a utiliza raramente (quadros 10 e 11).

A diferença encontrada no uso da leitura e escrita dos participantes desta pesquisa não

é uma surpresa, visto que a leitura é mais habitual do que a escrita. A maioria das pessoas

durante o percurso de suas vidas somente escreveu cartas ou anotou receitas depois de

concluir o ensino formal.

Sujeito Escreveu ao longo da vida?

Escreve frequentemente?

Escreve raramente? Nunca escreve? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S11 Sim receitas, cartas 20 S12 Sim receitas,anotações 40 S13 Sim Poemas 20 S14 Sim Anotações 10 S15 Sim cartas, poemas 40

Quadro 10: Resultado verificado no questionário de escrita no GC1

Sujeito Escreveu ao longo da vida?

Escreve frequentemente?

Escreve raramente? Nunca escreve? Pontuação (escore máx 100 pontos)

S16 Sim Receitas 10 S17 Sim receitas, cartas 20 S18 Não 0 S19 Sim Anotações 10 S20 Sim receitas, anotações 20

Quadro 11: Resultado verificado no questionário de escrita no GC2

60

4.7 MEMÓRIA DE TRABALHO

Na avaliação do executivo central, realizada através do teste ITPA, observamos que os

sujeitos com DA de gravidade leve apresentaram pontuação superior ao grupo com DA em

estágio moderado. Os resultados mostram que não houve discrepância significativa nos

escores obtidos, apesar de haver diferença de idade e tempo de escolaridade entre os

pacientes, conforme especificado nos quadros 12 e 13.

A seguir, apresentamos os resultados do teste ITPA, utilizado para avaliar a memória

de trabalho dos sujeitos com DA participantes deste estudo.

Sujeito Pontos no span de dígitos Número máximo de dígitos

S1 18 5 S2 23 5 S3 21 5 S4 24 5

S5 26 5 Quadro 12: Resultados do teste span de dígitos do Grupo com DA de grau 1

Sujeito Pontos no span de dígitos Número máximo de dígitos

S6 15 5 S7 19 5 S8 11 4

S9 13 4 S10 17 4

Quadro 13 - Resultados do teste span de dígitos do Grupo com DA de grau 2

Em relação ao número máximo de dígitos que um sujeito consegue repetir, o span de

dígitos, verificamos que os idosos com DA em estágio leve conseguem memorizar um total

de cinco números, enquanto os indivíduos de gravidade moderada apresentam média de 4,5

dígitos na capacidade de memorização sequencial. No entanto, essa média de dígitos é melhor

do que a de sujeitos em estágio mais avançado da doença, que só conseguem lembrar de um

ou dois dígitos (Izquierdo, 2002). Possivelmente os pacientes deste estudo ainda mantêm o

bom funcionamento do córtex pré-frontal, pois essa memória depende muito da atividade

61

elétrica dos neurônios desta região cerebral. De acordo com Izquierdo (op.cit), somente na

fase mais grave da doença é que o córtex pré-frontal é atingido ocasionando prejuízo no

julgamento de informações, isto é, uma vez danificado o córtex pré-frontal, que atua em

conjunto com o córtex entorrinal, parietal superior, cingulado anterior e hipocampo, a

memória de trabalho não consegue exercer seu papel de gerenciadora da realidade e verificar

se uma informação é nova ou não, se é relevante ou não.

Nos idosos sem DA, a média do número máximo de dígitos obtido pelo GC1 foi de

5,8, enquanto no GC2 a média foi de 5,6 (quadros 14 e 15).

Sujeito Pontos no span de dígitos Número máximo de dígitos

S11 38 6 S12 27 5

S13 25 5 S14 40 7 S15 32 6

Quadro 14: Resultados do teste span de dígitos do GC1

Sujeito Pontos no span de dígitos Número máximo de dígitos

S16 26 5 S17 29 5 S18 32 6 S19 32 6

S20 30 6 Quadro 15: Resultados do teste span de dígitos do GC2

A média do número máximo de dígitos obtida nos idosos saudáveis difere da média

encontrada por Argimon (2002), em pesquisa realizada com 46 longevos residentes na

comunidade de Veranópolis-RS: 6,29 dígitos. Segundo a autora, o nível de escolaridade

influenciou os resultados: os longevos com até três anos de escolaridade tiveram um resultado

significativamente inferior quando comparados com longevos com quatro ou mais anos de

escolaridade.

Se compararmos somente a média de escolaridade com o estudo de Argimon (op.cit),

isto é, não considerando outras variáveis, tais como hábitos de leitura e escrita também

verificamos que tanto os idosos com DA quanto os idosos sem a doença apresentam

62

desempenho compatível com a média de escolaridade dos indivíduos na tarefa de span de

dígitos. No caso do GC2 e do grupo de DA de grau 2, a média de memorização de dígitos foi

inferior ao GC1 e ao grupo com DA leve que possuem mais escolaridade do que os dois

primeiros. Abaixo, apresentamos gráficos (1 e 2) contendo a correlação das médias de

escolaridade e de dígitos memorizados pelos indivíduos.

Média de dígitos memorizados

0

1

2

3

4

5

6

7

DA1 DA2 GC1 GC2

Gráfico 1: Média de dígitos memorizados pelos participantes

Média de escolaridade

0

1

2

3

4

5

6

DA1 DA2 GC1 GC2

Gráfico 2: Média de escolaridade dos participantes

Sendo assim, os resultados obtidos na avaliação de memória de trabalho neste estudo

corroboram outras pesquisas encontradas na literatura, que mostram prejuízos desta memória

em pacientes com DA em relação a idosos saudáveis seja em tarefas envolvendo dígitos

63

(Carlesimo et al., 1998); palavras curtas com e sem semelhança fonológica; ou atividades que

exigem atenção e coordenação de duas tarefas simultâneas (Carthery-Goulart, 2005).

4.7.1 Relação entre hábitos de leitura e escrita e memória de trabalho dos

participantes do estudo

Através do miniquestionário de leitura e escrita, foi possível verificar que tanto os

idosos saudáveis (GC1 e GC2) quanto os idosos com DA (DA1 e DA2) que obtiveram maior

pontuação no questionário apresentaram também média mais alta na memorização de dígitos.

4.8 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

Nesta seção, analisamos os dados dos participantes com doença de Alzheimer e dos

idosos sadios no que diz respeito à avaliação da consciência fonológica obtida através do

instrumento CONFIAS.

Com o objetivo de detectar possíveis diferenças entre os grupos e verificar o

desempenho dos sujeitos nas tarefas de nível silábico e nível fonêmico, apresentamos os

resultados de cada grupo e posteriormente verificamos as diferenças intra e intergrupos.

4.8.1 Desempenho dos participantes do grupo com DA de grau 1

Observamos no quadro 16 que este grupo apresentou ótimo desempenho na tarefa de

síntese da sílaba (S1) e produção de palavra com a sílaba dada (S5). As tarefas de

segmentação (S2) e identificação de sílaba inicial (S3), respectivamente, foram, também,

tarefas mais simples de serem cumpridas. Nas demais tarefas, o grupo apresentou

64

desempenho inferior, sendo que na produção de rima (S7) e na transposição (S9) o

desempenho foi pior.

Na produção de rima (S7), todos os sujeitos do grupo realizaram uma aproximação

semântica com a palavra solicitada, não produzindo o esperado: outra palavra com a mesma

rima. No caso da palavra ‘rato’, a resposta mais comum foi ‘ratoeira’, ao invés de outras

palavras que fizessem rima com ‘rato’, como ‘gato’, ‘mato’.

Dos cinco participantes deste grupo, um acertou todas as tarefas na identificação de

sílaba medial (S6), os demais obtiveram acerto de 50%. Este mesmo indivíduo (sujeito 1)

também se sobressaiu na atividade de exclusão (S8) e no escore total da avaliação de nível

silábico: de um total de quarenta pontos, acertou trinta e dois (80%).

No nível fonêmico, o grupo mostrou desempenho inferior em relação ao nível silábico

(quadro 17). A produção de palavra que inicia com o som dado (F1) foi mais simples para ser

executada, nas demais o desempenho foi inferior em todo o grupo. Na tarefa F6, nenhum dos

participantes deste grupo pontuou.

Pontuação – Sílaba Nome

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 Total %

Sujeito 1 4 2 4 3 4 4 4 6 1 32/40 80/ 100

Sujeito 2 4 4 3 4 4 2 0 2 0 23/40 57,5/ 100

Sujeito 3 4 4 3 1 4 2 1 5 0 24/40 60/ 100

Sujeito 4 4 4 2 2 4 2 0 4 0 22/40 55/ 100

Sujeito 5 4 4 2 3 4 2 4 3 0 26/40 65/ 100

Quadro 16: Resultado do nível silábico do grupo com DA leve

Pontuação – Fonema Nome

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 Total %

Sujeito 1 3 0 1 0 1 0 0 5/30 16,6/ 100

Sujeito 2 3 3 2 0 1 0 0 9/30 30/ 100

Sujeito 3 3 2 2 3 3 0 1 14/30 46,6/ 100

Sujeito 4 4 2 2 2 0 0 2 12/30 40/ 100

Sujeito 5 4 1 1 0 4 0 4 14/30 46,6/ 100

Quadro 17: Resultado do nível fonêmico do grupo com DA leve

65

4.8.2 Desempenho dos participantes do grupo com DA de grau 2

Ao analisarmos o quadro 18, podemos verificar que os indivíduos pertencentes ao

grupo com DA de gravidade moderada obtiveram desempenho na avaliação de consciência

fonológica significativamente inferior em relação ao grupo com DA de gravidade leve,

principalmente nas atividades de nível silábico. As tarefas de síntese (S1), segmentação (S2) e

produção de palavra com a sílaba dada (S5), foram, nesta ordem, tarefas que envolveram

maior facilidade na produção, enquanto que a identificação de sílaba inicial (S3) foi mais

complexa para ser executada. Nas atividades de identificação de sílaba medial (S6),

identificação de rima (S4) e exclusão (S8), a pontuação obtida pelo grupo foi menor do que as

demais tarefas testadas, sendo que na produção de rima (S7) e transposição (S9) este grupo

não obteve pontos.

No nível fonêmico, a produção de palavra que inicia com o som dado (F1) foi a tarefa

mais simples, ao contrário das demais investigadas. As atividades de exclusão (F4),

segmentação (F6) e transposição (F7) não foram realizadas por nenhum dos pacientes dessa

pesquisa, conforme quadro 19.

Pontuação – Sílaba Nome

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 Total %

Sujeito 6 4 4 1 0 4 0 0 0 0 13/40 32,5/ 100

Sujeito 7 4 0 1 1 0 1 0 1 0 8/40 20/ 100

Sujeito 8 2 4 2 0 4 1 0 0 0 13/40 25/ 100

Sujeito 9 2 2 1 0 3 0 0 0 0 8/40 20/ 100

Sujeito 10 2 3 1 0 2 0 0 0 0 8/40 20/ 100

Quadro 18: Resultado do nível silábico do grupo com DA moderada

Quadro 19: Resultado do nível fonêmico do grupo com DA moderada

Pontuação – Fonema Nome

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 Total %

Sujeito 6 4 2 2 0 3 0 0 11/30 36,6/ 100

Sujeito 7 0 0 0 0 1 0 0 1/30 3,3/ 100

Sujeito 8 4 0 0 0 0 0 0 4/30 13,3/ 100

Sujeito 9 2 0 0 0 1 0 0 3/30 3,3/ 100

Sujeito 10 3 0 0 0 0 0 0 3/30 3,3/ 100

66

4.8.3 Diferenças entre os grupos de DA de gravidade leve e moderada verificadas no

instrumento CONFIAS

A análise dos dados mostra que a maioria dos indivíduos com DA de gravidade leve

apresentou desempenho na consciência fonológica superior aos do grupo com DA, em fase

moderada.

Dos cinco participantes do grupo com DA de grau 1, todos obtiveram resultado

superior a 55% nas tarefas de nível silábico, enquanto que no grupo com DA de grau 2, o

escore máximo de 32,5% foi obtido por apenas dois pacientes.

No nível fonêmico, a pontuação máxima no grupo com DA leve foi de 46,6% e a

mínima de 16,6%, apresentada pelo sujeito 1. Já no grupo com DA moderada, a pontuação

máxima neste nível foi de 36,6% e a mínima de 3,3%.

No nível silábico, as tarefas de síntese (S1), segmentação (S2) e produção de palavra

com a sílaba dada (S5) foram mais fáceis de serem executadas por ambos os grupos. Nas

tarefas S1 e S5, o grupo de DA de gravidade leve obteve 100% de acertos e o grupo com DA

de grau moderado alcançou pontuação de 70% e 65%, respectivamente.

Pode-se observar que, no nível da sílaba, a habilidade de identificação de sílaba inicial

(S3) foi mais fácil que a identificação de rima (S4), enquanto que a identificação de sílaba

medial (S6) foi a mais difícil das tarefas de identificação para os pacientes de gravidade 1.

Nos indivíduos de gravidade 2, a tarefa S3 também foi melhor executada do que as atividades

S6 e S4.

Ainda com relação ao nível da sílaba, observamos que nas tarefas de exclusão (S8) e

produção de rima (S7), o grupo com DA de gravidade leve obteve resultado superior

comparado ao desempenho do grupo de gravidade moderada: na tarefa S8, a pontuação foi de

5% e, na tarefa S7, este grupo não pontuou.

Como já referimos, os pacientes apresentaram dificuldade para realizar a tarefa S7.

Um deles, quando foi solicitado a produzir uma palavra que termina como ‘bola’, respondeu:

‘balanço’. Neste caso, mesmo o paciente não tendo formado a palavra esperada com rima

final (‘bola’- ‘cola’), este foi capaz de reconhecer outra palavra com o mesmo som inicial,

configurando, desse modo, uma aliteração. Esse dado reforça os encontrados na pesquisa de

67

Morais (1990), Cardoso-Martins (1995) e Freitas (2003), que apontam a consciência de rimas

e aliterações mesmo em crianças não alfabetizadas.

A tarefa de transposição silábica (S9) não foi cumprida pelo grupo com DA de

gravidade moderada, sendo que no grupo de gravidade leve apenas um dos participantes

obteve pontuação (1/4).

No nível fonêmico, o desempenho do grupo com DA de gravidade 1 também foi

superior ao grupo de gravidade 2. Os resultados verificados nas habilidades de produção de

palavra que inicia com o som dado (F1) e síntese (F5) mostram que, para ambos os grupos,

estas tarefas foram mais fáceis.

Com relação ao nível do fonema, os pacientes de ambos os grupos apresentaram

resultado semelhante nas tarefas de identificação de fonema inicial (F2) e identificação de

fonema final (F3). O grupo de gravidade leve obteve 40% de acertos nas habilidades F2 e F3

e o grupo com DA de grau 2 apresentou pontuação de 10% nas mesmas tarefas.

Na tarefa de transposição (F7), o grupo com DA de grau 1 obteve 35% de acertos,

enquanto que na tarefa de exclusão (F4) a pontuação foi de 16,6%. Já o grupo de gravidade 2

não pontuou em nenhuma destas tarefas. A atividade de segmentação (F6) não foi realizada

pelos participantes do presente estudo.

O desempenho dos pacientes dos dois grupos avaliados foi melhor com a síntese (S1) e

segmentação silábica (S2) do que com segmentação (F6) e síntese fonêmica (F5) e, de modo

geral, com a síntese do que a segmentação.

A seguir (gráfico 3 e 4), apresentamos a comparação do desempenho entre os grupos

nas tarefas de consciência fonológica. O primeiro gráfico mostra os resultados entre os grupos

no nível silábico, e o segundo gráfico o desempenho entre os grupos no nível fonêmico.

68

Gráfico 3: Comparação do desempenho no nível silábico entre os grupos com DA

Gráfico 4: Comparação do desempenho no nível fonêmico entre os grupos com DA

4.8.4 Desempenho dos participantes do grupo controle 1 (GC1)

Como podemos observar nos quadros 20 e 21, os indivíduos pertencentes ao GCI

obtiveram desempenho muito bom na avaliação de consciência fonológica, tanto nas

atividades de nível silábico quanto nas de nível fonêmico.

Comparação do desempenho no nível silábico entre os

grupos com DA

0

20

40

60

80

100

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

DA1

DA2

Comparação do desempenho no nível fonêmico entre os

grupos com DA

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7

DA1

DA2

69

No nível silábico, as tarefas de síntese (S1), segmentação (S2), identificação de rima

(S4) e produção de palavra com a sílaba dada (S5) foram executadas com 100% de acertos. A

produção de rima (S7) foi a tarefa com menor desempenho do grupo (85%), nas demais os

resultados foram entre 90 e 95%.

No nível fonêmico, a produção de palavra que inicia com o som dado (F1) e a

identificação de fonema inicial (F2) foram cumpridas com 95% de acertos. A síntese (F5) foi

a atividade em que o grupo apresentou mais dificuldade (75%).

Pontuação – Sílaba Nome

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 Total %

Sujeito 11 4 4 4 4 4 4 3 6 4 37/40 92,5/ 100

Sujeito 12 4 4 3 4 4 4 3 8 4 35/40 87,5/ 100

Sujeito 13 4 4 4 4 4 3 4 8 2 37/40 92,5/ 100

Sujeito 14 4 4 4 4 4 4 4 8 4 40/40 100/ 100

Sujeito 15 4 4 4 4 4 3 3 8 4 38/40 95/ 100

Quadro 18: Resultado do nível silábico do GC1

Pontuação – Fonema Nome

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 Total %

Sujeito 11 3 4 4 5 3 4 3 26/30 86,6/ 100

Sujeito 12 4 4 3 5 3 3 3 25/30 83,3/ 100

Sujeito 13 4 4 3 5 3 3 3 25/30 83,3/ 100

Sujeito 14 4 3 4 6 4 4 4 29/30 96,6/ 100

Sujeito 15 4 4 3 4 2 4 4 25/30 83,3/ 100

Quadro 19: Resultado do nível fonêmico do GC1

4.8.5 Desempenho dos participantes do grupo controle 2

No nível da sílaba, o grupo controle 2 apresentou desempenho de 100% nas tarefas de

síntese (S1), segmentação (S2), identificação de rima (S4) e produção de palavra com a sílaba

dada (S5) . Na identificação de sílaba inicial (S3), identificação de sílaba medial (S6) e

produção de rima (S7) o desempenho do grupo foi de 80%. As tarefas de exclusão (S8) e

transposição (S9) foram as mais difíceis para este grupo (67,5% e 60%, respectivamente).

70

No nível fonêmico, a produção de palavra que inicia com o som dado (F1) e a síntese

do fonema (F5) foram cumpridas com mais facilidade por este grupo. Nas tarefas de exclusão

(F4) e transposição (F7), o grupo apresentou desempenho inferior.

Nos quadros abaixo (22 e 23), mostramos os resultados do GC2 na avaliação

fonológica.

Pontuação – Sílaba Nome

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 Total %

Sujeito16 4 4 3 4 4 2 3 5 2 31/40 77,5/ 100

Sujeito17 4 4 3 4 4 3 3 5 2 32/40 80/ 100

Sujeito18 4 4 3 4 4 3 3 5 2 32/40 80/ 100

Sujeito19 4 4 4 4 4 4 4 7 3 38/40 95/ 100

Sujeito20 4 4 3 4 4 4 3 5 3 34/40 85/ 100

Quadro 20: Resultado do nível silábico do GC2

Pontuação – Fonema Nome

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 Total %

Sujeito 16 4 2 2 3 3 3 2 19/30 63,3/ 100

Sujeito 17 4 3 3 3 3 3 2 21/30 70/ 100

Sujeito 18 4 2 3 4 3 3 2 21/30 70/ 100

Sujeito 19 4 4 4 5 4 3 3 27/30 90/ 100

Sujeito 20 4 3 3 4 4 3 2 23/30 76,6/ 100

Quadro 21: Resultado do nível fonêmico do GC2

4.8.6 Diferenças entre os grupos de idosos saudáveis verificadas no instrumento

CONFIAS

Os resultados obtidos permitem comparar o desempenho dos grupos de idosos sadios

nos níveis do teste e nas diferentes tarefas que fazem parte do CONFIAS.

Os dados mostram que os idosos do grupo1 apresentam melhor desempenho do que os

idosos do grupo 2 em todas as habilidades silábicas e fonêmicas investigadas.

No nível da sílaba, dos cinco sujeitos do GC1 todos tiveram resultado superior a

87,5%, enquanto nos indivíduos do GC2 o percentual mínimo de acertos dos participantes foi

de 77,5%.

71

No nível fonêmico, os sujeitos do GC1 apresentaram pontuação máxima de 96,6% e

mínima de 83,3%. Neste mesmo nível, os participantes do GC2 obtiveram acertos máximo de

90 % e mínimo de 63,3%.

Na síntese silábica (S1), segmentação (S2), identificação de rima (S4) e produção de

palavra com a sílaba dada (S5), ambos os grupos atingiram 100% de acertos. A tarefa mais

difícil par o GC1 foi a de produção de rima (S7), enquanto para o GC2 foram as atividades de

exclusão (S8) e transposição (S9).

No nível do fonema, a produção de palavra que inicia com o som dado (F1) foi a

habilidade mais fácil para todos os idosos saudáveis. O GC2 apresentou mais dificuldade na

identificação de fonema inicial (F2) do que o GC1. Em compensação, na tarefa de

transposição (F7) o GC2 obteve mais facilidade do que o GC1.

4.8.7 Comparação entre o desempenho do grupo com DA de gravidade leve e o grupo

controle 1

Em relação ao nível silábico, as semelhanças encontradas entre os grupos foram que as

tarefas de síntese da sílaba (S1), segmentação (S2) e produção de palavra com a sílaba dada

(S5) foram mais fáceis do que a produção de rima (S7).

Quanto ao nível fonêmico, a produção de palavra que inicia com o som dado (F1) foi a

habilidade mais fácil para ambos os grupos. Nas demais tarefas, o desempenho do grupo com

DA leve foi significativamente inferior ao GC1, conforme gráfico abaixo (5).

72

Gráfico 5: Comparação do desempenho nas tarefas do CONFIAS (GC1 e DA leve)

4.8.8 Comparação entre o desempenho do grupo com DA de gravidade moderada e o

grupo controle 2

Apesar dos percentuais superiores obtidos pelo GC2, observamos algumas

semelhanças nos resultados dos grupos. A primeira delas é que, no nível silábico, as tarefas

mais fáceis foram de síntese (S1), segmentação (S2) e produção de palavra com a sílaba dada

(S5) e a mais difícil a de transposição (S9).

A outra semelhança é que a produção de palavra que inicia com o som dado (F1) foi

mais fácil do que a exclusão (F4) e transposição (F7) para ambos os grupos no nível do

fonema, conforme gráfico 6 .

Comparação entre o desempenho nas tarefas de

consciência fonológica entre GC1 e DA1

0

20

40

60

80

100

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7

GC1

DA1

73

Gráfico 6: Comparação do desempenho nas tarefas do CONFIAS (GC2 e DA moderada)

4.8.9 Comparação entre todos os grupos (idosos com DA de gravidade leve e moderada,

idosos sadios pertencentes ao GC1 e GC2) nas tarefas de consciência fonológica

Neste estudo, em relação à consciência fonológica, foi possível verificar que os idosos

saudáveis apresentam desempenho superior em relação aos pacientes com DA de gravidade

leve e moderada em praticamente todas as tarefas investigadas, exceto nas de síntese silábica

(S1) e produção de palavra com a sílaba dada (S5), nas quais o desempenho do grupo de DA

leve foi o mesmo dos idosos sadios (100%).

Embora os pacientes com DA mostrem resultados inferiores comparados aos idosos

normais, a segmentação da sílaba (S2) foi realizada com facilidade por ambos os grupos.

De modo geral, a identificação de sílaba medial (S6), produção de rima (S7), exclusão

(S8) e transposição (S9) foram tarefas difíceis para os grupos, corroborando outros estudos

que apontam estas habilidades como de maior dificuldade para adultos (Brisolara, no prelo),

crianças (Freitas, 2004; Toffoli, 2007) e crianças com síndrome de Down (Pinto, 2009).

Os pacientes com DA obtiveram mais facilidade na identificação de sílaba inicial (S3)

do que na identificação de rima (S4), ao contrário dos idosos saudáveis. No entanto, os

resultados de S3 e S4 apresentados pelos GC1 e GC2 também foram elevados, mostrando,

possivelmente, que estes indivíduos têm facilidade tanto na percepção inicial quanto final da

sílaba. A identificação de sílaba medial (S6) foi a mais difícil das tarefas de identificação para

Comparação entre o desempenho nas tarefas de

consciência fonológica entre GC2 e DA2

0

20

40

60

80

100

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7

GC2

DA2

74

todos os participantes desta pesquisa. Esse resultado corrobora outras pesquisas, como a de

Cardoso-Martins (1994); Freitas (2003) e Toffoli (2007), realizadas com crianças falantes de

português brasileiro. As autoras afirmam que as crianças são mais sensíveis aos sons iniciais

das palavras independente da classe de som observadas.

Da mesma forma que Freitas (2004), em estudo realizado com crianças em processo de

alfabetização, essa pesquisa constatou, também, que a produção de palavra que inicia com o

som dado (F1) foi a atividade mais fácil para ambos os grupos. Este resultado corrobora

estudo de Cardoso-Martins (1994), no qual a autora constatou que as crianças brasileiras têm

maior facilidade em trabalhar com as aliterações, apesar de a rima ser uma propriedade

saliente para crianças pequenas.

A segmentação fonêmica (F6) não foi realizada pelos pacientes com DA e, apesar do

desempenho de 75% do GC2, foi a quarta tarefa mais difícil para este grupo. A transposição

(F7) não foi realizada pelo grupo com DA de grau 2 e se mostrou a tarefa mais difícil para o

GC2. Esses dados estão de acordo com as pesquisas de Freitas (2004), Toffoli (2007) e Pinto

(2009), que apontam a maior complexidade das tarefas de transposição, segmentação e

exclusão fonêmica.

Ainda no nível do fonema, a exclusão (F4) não foi realizada pelos pacientes com DA

de grau 2, ocupando o segundo lugar de dificuldade para os grupos controle 1 e 2 e, também,

para o grupo com DA de gravidade leve. A transposição (F7) não foi realizada pelo grupo

com DA de grau 2 e se mostrou a tarefa mais difícil para o GC2.

Com exceção do GC2, a síntese fonêmica (F5) representou dificuldade para os outros

grupos.

O desempenho de todos os grupos avaliados foi melhor com a síntese (S1) e

segmentação silábica (S2) do que com segmentação (F6) e síntese fonêmica (F5) e, de modo

geral, com a síntese do que a segmentação, corroborando resultados de Goldstein (1976),

Durgunoglu et al. (1993) e Cielo (2001) realizados com crianças pequenas.

Em relação à escolaridade, o GC1 (média escolar de 5,2) obteve desempenho melhor

do que o GC2 (média de 4 anos de escolaridade) em todas as tarefas de consciência

fonológica. Da mesma forma, o grupo de DA de grau leve obteve resultados superiores nos

dois níveis de consciência fonológica comparados ao grupo com DA de grau 2. No entanto,

analisando o desempenho intragrupo, constatamos que a escolaridade não influenciou

75

verdadeiramente o resultado de nenhum dos grupos avaliados, tanto dos indivíduos saudáveis

quanto dos idosos com doença de Alzheimer. No caso do GC1, as tarefas de nível silábico e

fonêmico com maior pontuação não foram realizadas pelo sujeito mais escolarizado do grupo

e, sim, por um dos sujeitos com maior escore no mini-questionário de hábitos de leitura, o

S14. Esse dado não confirma o estudo de Freitas & Vidor (2005), no qual as autoras afirmam

que o incremento do ensino formal faz a diferença no desempenho das tarefas de nível

fonêmico de adultos alfabetizados.

Nos pacientes com DA de gravidade leve, os melhores resultados do grupo foram

verificados, também, nos sujeitos com menor escolaridade, mas com maior pontuação no

mini-questionário sobre hábitos de leitura. Portanto, o desempenho inferior do grupo com DA

de grau 1 em relação ao GC1 (ambos pareados nesta pesquisa com mesma média de

escolaridade), deve-se, possivelmente, somente ao quadro demencial destes pacientes.

Nos pacientes com DA de grau 2 e nos idosos saudáveis que fazem parte do GC2 não

foi possível comparar o desempenho individual nas habilidades de nível silábico e fonêmico

versus escolaridade, pois todos os integrantes do grupo têm nível educacional de 4 anos. No

entanto, os dados mostram que os participantes do GC2 que obtiveram melhor desempenho

nas atividades de consciência fonológica foram os mais leitores do grupo. Já nos pacientes

com DA de gravidade moderada não observamos relação de favorecimento entre hábitos de

leitura e desempenho favorável nas habilidades metafonológicas investigadas.

Sendo assim, é possível sugerir que a escolaridade não influenciou no desempenho das

tarefas de consciência fonológica nos indivíduos sadios e com doença de Alzheimer deste

estudo, mas os hábitos de leitura mostraram influência direta, exceto nos pacientes com DA

de gravidade moderada.

4.8.10 Relação entre consciência fonológica e hábitos de escrita

Os resultados obtidos na avaliação fonológica e as respostas verificadas no mini-

questionário de hábitos de escrita não apontam influência desta no desempenho das tarefas

metafonológicas. Com exceção de alguns sujeitos, principalmente do GC1, a maioria dos

participantes deste estudo nunca tiveram o hábito de escrever ao longo da vida. Esse dado não

76

nos surpreende, pois o hábito de escrita é mais incomum do que o hábito de leitura na

população em geral.

4.8.11 Relação entre consciência fonológica e memória de trabalho

Os dados desta pesquisa mostraram uma relação positiva entre o desempenho em

consciência fonológica e os resultados da avaliação do executivo central, realizada através do

teste ITPA, nos idosos do GC1 e GC2. Constatamos que há influência recíproca entre as duas

habilidades, uma vez que os indivíduos com melhores resultados na avaliação fonológica

também apresentaram pontuação superior na memorização sequencial em relação aos demais

participantes.

Os idosos com DA de grau leve obtiveram desempenho melhor do que os pacientes de

gravidade moderada nas tarefas de consciência fonológica e de memória de trabalho, fato que

pode justificar também a existência de uma correlação entre ambas, sinalizando caminhos de

intervenção terapêutica para a linguagem e memória de trabalho nestes pacientes.

4.9 ESCRITA

Nesta seção, apresentamos os resultados referentes à avaliação dos dados de escrita

dos sujeitos desta pesquisa e, posteriormente, sua correlação com as tarefas de consciência

fonológica e memória de trabalho.

De acordo com a metodologia descrita no capítulo anterior, contabilizamos o número

correto de grafemas a partir de duas tarefas de escrita do Teste de Boston (ditado e

correspondência entre figura e palavra) e analisamos os tipos de erros (fonológicos e

ortográficos) verificados na escrita de acordo com a proposta de Varella (2004). Também

examinamos as alterações de escrita observadas na produção de uma narrativa, cujo tema é:

“O que fazia aos domingos quando era jovem”.

77

As palavras ‘sete’ e ‘quinze’ foram retiradas da tarefa de correspondência figura e

palavra, pois a maioria dos participantes grafou o numeral. Sendo assim, o número esperado

de grafemas corretos nesta tarefa é 53 e, não 63. Na tarefa de ditado não foi necessário excluir

nenhuma palavra, permanecendo um total de 20 pontos. O total de grafemas corretos

possíveis nas duas tarefas do Teste de Boston é de 73 pontos.

Em relação aos erros fonológicos, analisamos os considerados mais relevantes, tais

como:

• Apagamento e substituição de grafema. Ex: chave- ‘ave’; chave-‘cave’.

• Apagamento de coda. Ex: dormindo- ‘dormido’.

• Não-realização de sílaba: Ex: quadrado- ‘quadra’

• Não-realização de encontro consonantal: Ex: quadrado- ‘quadado’

• Epêntese. Ex: vermelho- ‘verimelho’

• Metátese. Ex: dormindo- ‘dromindo’.

Quanto aos erros ortográficos, observamos a ocorrência ou não de: erros convencionais

(casa-‘caza’); fonéticos (cadeira-‘cadera’); de hipercorreção (‘mau’-‘mal’); e de segmentação

(a senhora-‘asiora’, saúde-‘sa ude’).

Nessa análise procuramos verificar se os erros fonológicos que ocorrem na fala,

aparecem na escrita e se tais erros podem evidenciar dificuldade na consciência fonológica

destes indivíduos.

A seguir, apresentamos o percentual de grafemas corretos, substituídos, acrescidos ou

não-realizados pelos sujeitos de cada grupo e os tipos de erros observados nas tarefas de

escrita deste estudo.

78

4.9.1 Desempenho dos idosos com Doença de Alzheimer de gravidade leve e moderada

nas tarefas de escrita

Nos quadros (24 e 25), observamos que o percentual de grafemas corretos é maior do

que o percentual de erros. Todavia, analisando os dados de escrita obtidos com S3 e S6,

verificamos que os participantes do grupo, independente do grau de severidade da doença,

estão sujeitos à variação individual. Esta heterogeneidade dos distúrbios de escrita na DA

também foi verificada por Neils, Boller, Gerdeman & Cole (1989) e Carthery-Goulart (2005).

Sujeito Produção correta (%)

Omissões (%)

Substituições (%)

Acréscimos (%)

S1 90,40 8,23 1,37 0

S2 91,79 1,37 6,84 0

S3 15,13 83,50 0 1,37

S4 79,46 19,17 0 1,37

S5 63,01 28,77 8,23 0

Quadro 22: Produção de grafemas dos sujeitos com DA leve

Sujeito Produção correta (%)

Omissões (%)

Substituições (%)

Acréscimos (%)

S6 0 100 0 0

S7 58,90 39,73 1,37 0

S8 46,57 41,09 8,23 4,11

S9 64,39 16,44 19,17 0

S10 64,39 27,38 8,23 0

Quadro 23: Produção de grafemas dos sujeitos com DA moderada

Os dados mostraram que a maioria dos idosos com DA de grau leve apresentou

desempenho superior em relação ao grupo com DA de grau moderado nas tarefas de escrita

79

estudadas. No entanto, os sujeitos apresentam alterações de escrita desde a fase inicial da

doença, como constatado em outras pesquisas (Croisile (1999); Rapacsak et al. (1989); Neils

et al. (1995) e Carthery- Goulart (2005)).

Nos idosos com DA, verificamos incidência maior de omissões do que substituições

de grafemas, e percentual reduzido de casos com acréscimo de letras nessas tarefas. Além

disto, observamos prejuízos práxicos na escrita já nos pacientes em estágio leve, conforme

apresentamos a seguir (figuras 2 e 3).

Figura 2: Tarefa do Teste de Boston (paciente S2).

Mesmo prevalecendo a escrita de grafemas corretos, conforme a figura acima;

verificamos, entre outros erros, a falta de grafemas (cadeira- ‘cadera’) e a substituição de um

grafema por outro (vermelho- ‘vernelho’). Constatamos, ainda, que a escrita de S2 apresenta

modificações sutis na organização espacial e nos traçados gráficos. Esse fato foi mencionado

pela família e pela própria paciente, pois, segundo ela, sua “letra não é mais a mesma”.

Conforme Croisile (1999), essas modificações das medidas gráficas e espaciais em pacientes

com DA de grau leve a moderado dão a impressão visual de uma escrita hesitante. No

entanto, essas modificações não são um efeito exagerado do envelhecimento normal, mas ao

invés disso, parecem estar associadas a uma escrita cursiva mais frouxa. A escrita das

palavras, na figura 2, mostra que os pacientes com DA têm dificuldades leves para manter

escrita horizontal em linha reta e deixam espaços mínimos entre as letras, que não são

necessários, fato também relatado por Luzzatti, Laiacona & Agazzi (2003).

80

Como observado por Croisile (1999), para os pacientes com DA de gravidade leve,

pequenas modificações na caligrafia são mais impressionantes do que a presença de

dificuldades ortográficas. A maioria dos pacientes de nossa amostra referiu que a letra está

trêmula, diferentemente de como se apresentava no passado.

No exemplo a seguir (figura 3) verificamos novamente a ocorrência de dificuldades

gráficas e motoras na fase inicial da doença. Neste exemplo, é possível constatar a mistura de

letras maiúsculas e minúsculas, caracterizando a presença de alografia que, segundo Croisile

(op. cit.), se torna clinicamente evidente com a evolução da doença. A incerteza do paciente

na escolha do grafema (observada na palavra ‘olha’) indica, possivelmente, que estas falhas

estão relacionadas a problemas de memória operacional, resultado também relatado por Neils

et al. (1995) e Carthery (2000).

Figura 3: Tarefa de ditado do Teste de Boston e produção de narrativa (paciente S3).

Nos pacientes com DA de gravidade moderada, observamos que as alterações motoras

se maximizam, bem como os percentuais de omissões e substituições de grafemas, conforme

observamos na próxima figura (4). Como afirma Croisile (op cit), o agravamento da doença é

acompanhado por uma deterioração notável dos traços gráficos, com o aparecimento de uma

agrafia apráxica caracterizada por letras construídas de modo pobre, omissão ou super-

repetição de traços de letras e por fim letras ilegíveis. Segundo o autor, a assinatura é a última

produção gráfica a desaparecer, resultado verificado neste estudo na escrita de um paciente

em estágio moderado da doença. Esse paciente não conseguiu realizar nenhuma tarefa escrita

proposta pela pesquisa, mas manteve a escrita do próprio nome, presumivelmente, por causa

de seu caráter mais automático.

81

Figura 4: Tarefa de ditado e correspondência figura/ palavra do Teste de Boston (paciente S8)

Na figura 4, observamos que, das 13 palavras pertencentes às duas tarefas do Teste de

Boston, o paciente realizou somente a escrita de 6 (olha, menina, chave, cadeira, pena,

vermelho); não houve erros de escrita apenas em uma palavra (pena). As demais palavras (7)

não foram escritas, pois o paciente não conseguiu recordar sua representação gráfica,

corroborando a afirmação de Croisile (op cit) de que com o aumento da severidade da

demência ocorre uma progressiva redução da escrita lexical.

A escrita do paciente S8 (com DA de gravidade moderada) mostrou a ocorrência de

paragrafias semânticas. As palavras ‘dormindo’ e ‘círculo’ foram grafadas ‘deitado’ e ‘bola’,

o que configura, possivelmente, perda das representações ortográficas no léxico ou

dificuldade de acesso a essas representações, conforme pesquisa de Rapacsak et al. (1989). As

paragrafias semânticas também foram observadas no estudo de Forbes, Shanks & Venneri

(2004). Os autores verificaram que o grupo com DA leve produziu mais paragrafias

semânticas do que os controles. A maioria dos erros produzidos pelos pacientes foram

fonologicamente plausíveis, isto é, a escrita estava de acordo com as regras fonotáticas da

língua, sugerindo que a alteração está no nível semântico em oposição ao nível fonológico.

Nos pacientes com DA deste estudo, verificamos que os indivíduos que se enquadram

no estágio moderado da doença apresentaram mais dificuldade na formação de letras do que

os pacientes com DA de gravidade leve. Com a progressão da doença, a letra cursiva foi

82

menos empregada do que a letra de forma, confirmando descobertas anteriores sobre a

mudança gradual no estilo de escrita. Desse modo, a informação adquirida mais cedo, no

caso, a letra de forma, está menos suscetível ao processo da doença, o que corrobora a

pesquisa de Forbes, Shanks & Venneri (2004).

A narrativa escrita 1 de S8, com DA de gravidade moderada, mostra ausência de

sílabas e de grafemas, caracterizando, mais uma vez, evidente déficit da escrita lexical. A

inversão e o acréscimo de grafemas dentro da palavra ‘domingos’ inviabiliza o

reconhecimento do que se pretendia informar. Nesse caso, o paciente escreveu primeiro a

última sílaba (‘gos’) com o acréscimo de uma vogal; omitiu a penúltima sílaba (‘min’); e

escreveu a primeira sílaba (‘do’) no final acrescida também por uma vogal, transformando

assim, uma palavra (‘domingos’) em duas (‘gosa dosa’).

Narrativa escrita 1: O que fazia aos domingos quando era jovem? (paciente S8):

Embora, este estudo não tem o objetivo de comparar descrições orais e escritas não

podemos deixar de fazer um breve comentário sobre o que observamos nos dados orais, uma

vez que houve diferenças entre essas duas modalidades comunicativas.

O relato oral 1, a seguir, mostra-se correspondente à narrativa 1, pois ambos são curtos

e pouco informativos.

Relato oral 1: O que fazia aos domingos quando era jovem? (paciente S8):

“Nos domingos saía pegar gado ou jogar carreira”.

83

Tanto os pacientes com DA de gravidade moderada quanto os de gravidade leve

produziram narrativas escritas menores do que o relato oral. Nos pacientes em estágio leve a

narrativa escrita foi menos informativa do que o relato oral; nos pacientes em estágio

moderado (narrativa 1) a escrita sobre O que fazia aos domingos quando era jovem’’ foi tão

pouco informativa quanto a descrição oral correspondente (relato 1), ou seja, ambas bem

prejudicadas.

Para ilustrar este dado, mostramos, a seguir, a transcrição do relato escrito e oral de

um paciente com DA de gravidade leve e os comparamos com o relato escrito e oral de S8

(paciente com DA de gravidade moderada).

Narrativa escrita 2 :O que fazia aos domingos quando era jovem? (paciente S4)

Relato oral 2: O que fazia aos domingos quando era jovem? (paciente S4)

“ Ir para a praia, fui salva-vidas no Rio durante 2 anos na praia de Copacabana, em frente

ao palácio, hotel continental. Ia muito estrangeiro, estrangeiro mergulhava e a onda era

muito forte e ficava..até que um dia eu mergulhei por trás dele, porque para salvar você tem

que mergulhar por trás dele, pegar ele,dar a gravata nele e ir trazendo..a onda, maré tava

muito forte, eu entrei na frente dele e ele me aguentou pelo pescoço, ele queria se salvar e

quis me matar, né...aí um colega, companhero meu, salva-vidas, foi lá e me tirou dele e veio

puxando, né..e bateu na cara dele, não foi fácil. Salvei muita gente”.

As diferenças encontradas na produção oral e escrita em pacientes com DA

corroboram o estudo de Croisile (op.cit), no qual o autor verificou que a produção escrita é

mais deteriorada do que a produção oral. Segundo ele, esta diferença é resultante da

84

deterioração da representação ortográfica de palavras em contraste com a preservação da

produção fonológica de palavras faladas.

Ainda segundo esse autor, quando comparada com a descrição oral, a descrição escrita

parece ser um teste mais apurado para detectar dificuldades semânticas e linguísticas na DA e

é inegavelmente uma avaliação mais confiável para perceber a deterioração da linguagem na

DA precoce. Uma manifestação adicional desta sensibilidade é o fato de escritas descritivas

muito desordenadas foram observadas em alguns pacientes com DA, sem déficit

concomitante no discurso oral descritivo espontâneo, que era mais longo, mais fluente e

melhor estruturado. No entanto, a observação de que a descrição escrita é mais afetada do que

a descrição oral, inicialmente no nível léxico-semântico e mais tarde nos níveis fonológico e

sintático, precisa ser confirmada por avaliações longitudinais durante a progressão da

demência.

Nesse momento, passamos a analisar os erros de escrita, observados nas tarefas do

Teste de Boston e na produção da narrativa. , Apresentamos e discutimos os erros fonológicos

mais relevantes e os tipos de erros ortográficos encontrados nos pacientes com DA em estágio

leve e moderado.

No grupo com DA de gravidade moderada, os erros fonológicos foram mais

freqüentes do que os encontrados no grupo com DA leve. Ambos os grupos produziram erros

fonológicos tanto no nível do fonema quanto no nível silábico. Os exemplos encontrados

podem ser observados no quadro 26, a seguir. Deve-se ressaltar que o elevado número de

omissões verificadas na escrita da maioria dos pacientes com doença de Alzheimer não

envolve apenas o apagamento de um segmento ou sílaba, mas também, engloba a não-

realização da palavra inteira.

TIPO DE ERRO FONOLÓGICO EXEMPLO PRODUÇÃO ESPERADA

Apagamento de grafema ‘cave’, ‘ala’ ‘chave’, ‘sala’

Substituição de grafema ‘cernelho’ ‘vermelho’

Apagamento de coda ‘domigo’ ‘domingo’

Não-realização de sílaba ‘quadro’, ‘circo’ ‘quadrado’, ‘círculo’

Não-realização de encontro consonantal

‘sobe’ ‘sobre’

Quadro 24: Erros fonológicos na escrita em pacientes com DA de gravidade 1 e 2

85

A análise dos exemplos mostra que a representação escrita incorreta de algumas

palavras, ocasionou a formação de palavras diferentes, isto é, a grafia inadequada ocasionou

mudança de significado. Na escrita de ‘quadro’ (quadrado) e ‘circo’ (círculo), fonemas

deixaram de ser representados; a omissão de uma sílaba reduziu a extensão da palavra, mas o

apagamento não ocorreu na sílaba forte do pé métrico, evidenciando que os sujeitos avaliados

são sensíveis às condições de acento da língua, conforme acontece na escrita das crianças.

Quanto aos erros ortográficos, observamos que estes tiveram menor ocorrência do que

os erros fonológicos e somente foram realizados pelo grupo com DA de gravidade leve. Este

resultado mostra que os pacientes em estágio moderado da doença apresentam maior

comprometimento da escrita do que os pacientes em estágio leve, visto que os erros

fonológicos comprometem o significado da palavra enquanto os erros ortográficos não.

A seguir, no quadro 27, apresentamos os dois tipos de erros ortográficos mais comuns

na escrita dos pacientes com DA.

TIPO DE ERRO ORTOGRÁFICO EXEMPLO PRODUÇÃO ESPERADA

Puramente convencional ‘pasear’, ‘dansar’ ‘passear’, ‘dançar’

Fonético ‘cadera’, círclo’, ‘minina’

‘cadeira’, ‘circulo’, ‘menina’

Quadro 25: Erros ortográficos na escrita em pacientes com DA de gravidade 1 e 2

Através das palavras ‘círculo’ e ‘menina’, grafadas como ‘circlo’ e ‘minina’,

verificamos que o som falado ou ouvido em nossa língua possivelmente influencia a escrita

incorreta de várias palavras. No exemplo de ‘círculo’, observamos que além do apagamento

de segmentos, há uma modificação na estrutura silábica, em que uma sílaba CV (‘cu’)

transforma-se em CCV (‘clo’). No entanto, essa alteração é aceita no português brasileiro,

visto que está de acordo com o molde silábico da língua. Outros exemplos dessa modificação

na estrutura silábica são vistos nas palavras ‘óculos’ e ‘xícara’ frequentemente reproduzidas

na forma escrita como ‘óclos’ e ‘xicra’.

Já as palavras ‘arrumava’ e ‘marrom’ escritas como ‘marõ’ e ‘arumava’, expõem o

problema da ortografia convencional de dígrafos, visto que, por convenção da língua, mais de

uma letra pode representar o mesmo som na escrita.

86

Na grafia das palavras ‘ dançar’ e ‘passear’, observamos a complexidade do fonema

[s] na escrita, pois foi representado pelos pacientes por ss, c, ç. Este erro é de natureza

ortográfica, somente com treino é que ocorre a aprendizagem adequada da escrita. No caso

dos sujeitos com DA, não há como dizer se esta convenção foi automatizada e perdida durante

a evolução da doença ou se nunca foi aprendida e utilizada corretamente.

Neste estudo não constatamos a ocorrência de erros ortográficos de hipercorreção e

segmentação, bem como não verificamos casos de epêntese e metátese na escrita. Porém, um

estudo específico contendo mais palavras se faz necessário para verificar se esses erros

ocorrem com frequência ou não.

A análise dos exemplos de erros fonológicos descritos no quadro 26 mostra que os

erros que aparecem na escrita de pacientes com DA de gravidade leve e moderada são os

mesmos encontrados no estudo de Freitas (2004) com crianças em processo de alfabetização,

tais como substituição de fonemas, apagamento de sílabas, entre outros. Esses erros também

podem ser comparados aos encontrados na fase de aquisição fonológica das crianças,

conforme pesquisa de Mezzomo (2004), Oliveira (2006), Vacari (2006) e Blanco-Dutra

(2009).

Além disso, um fato nos chama a atenção: enquanto as crianças estão desenvolvendo a

escrita, os idosos com DA estão realizando o processo ao contrário. As crianças repensam a

fala, isto é, utilizam habilidades de consciência fonológica, e aplicam essa habilidade na

escrita, os pacientes com DA de grau 2 mostram que as palavras grafadas não estão sendo

analisadas fonologicamente, sugerindo uma relação inversa entre a aquisição da escrita

durante a infância e as subsequentes degradações na escrita na DA, corroborando estudo de

Croisile (1999).

Sendo assim, há uma relação recíproca entre habilidades de escrita e consciência

fonológica, visto que o grupo de pacientes com DA testados que apresentou mais alterações

de escrita, no caso, os indivíduos com DA de gravidade moderada, mostrou menor

desempenho nas tarefas de consciência fonológica.

87

4.9.2 Desempenho dos idosos sem Doença de Alzheimer nas tarefas de escrita

Os dados mostram que os idosos sem DA apresentam elevado índice de acertos, há

prevalência de substituições ao invés de apagamento de grafemas, e não há ocorrência de

acréscimo de letras nas palavras. O GC1 obteve desempenho melhor do que o GC2 nas tarefas

de escrita, visto que não apresentou casos de apagamento de grafemas, além de ocorrência

mínima de substituições.

Sujeito % corretos % omissão % substituição % acréscimos

S11 100 0 0 0

S12 98,63 0 1,37 0

S13 95,89 0 4,11 0

S14 100 0 0 0

S15 100 0 0 0

Quadro 26: Produção de grafemas dos sujeitos do GC1

Sujeito % corretos % omissão % substituição % acréscimos

S16 94,52 2,74 2,74 0

S17 94,52 2,74 2,74 0

S18 94,52 2,74 2,74 0

S19 100 0 0 0

S20 97,26 0 2,74 0

Quadro 27: Produção de grafemas dos sujeitos do GC2

Nos idosos sadios, não encontramos erros de escrita de origem fonológica. Os erros

verificados são exclusivamente ortográficos. Assim como nos grupos com DA, os tipos de

erros ortográficos encontrados foram os de origem fonética (cachorro- ‘cachoro’) ou

puramente convencionais (missa- ‘misa’).

88

Conforme já referimos, embora não seja a proposta deste estudo, comparamos a

narrativa oral com a narrativa escrita de um idoso saudável, com o objetivo de mostrar a

superioridade da escrita (narrativa 3) em relação ao relato oral em um indivíduo com

envelhecimento normal.

Relato oral 3: O que fazia aos domingos quando era jovem?

“Eu comecei a trabalhar com 17 anos, não é.. então a semana já ficava comprometida com o

trabalho. Sábados e domingos tinha muitos afazeres domésticos, aí tinha que cuidar da

roupa..eu gostava muito de ir ao cinema e, uns bons anos assim, sábado e domingo eu ia ao

cinema, era muito interessante depois muito eu ia aos bailes na sociedade no sábado, aí no

domingo a gente dormia um pouco mais..”

Narrativa escrita 3: (O que fazia aos domingos quando era jovem?)

(escrito no verso da folha)

89

Cabe ressaltar que esses relatos foram feitos por um indivíduo com o mesmo nível de

escolaridade (+7 anos) do participante com DA de gravidade leve (relato 2). Ao contrário das

narrativas obtidas com os pacientes com DA, observamos que a escrita acima apresenta

ausência de omissões e inversões de letras, bem como de dificuldades de organização espacial

da letra cursiva. A produção escrita não está localizada em uma posição única da página e não

há problema em manter a escrita horizontal em linha reta.

4.9.3 Comparação entre os idosos com DA de gravidade leve e moderada e os idosos

saudáveis nas tarefas de escrita

Analisando o próximo gráfico (7), verificamos que, de modo geral, o percentual de

grafemas corretos foi maior do que as alterações de escrita tanto nos idosos com DA quanto

nos idosos sem a doença, com exceção de dois sujeitos com DA (S3 e S6).

Gráfico 7: Percentual de produção de grafemas dos sujeitos da amostra

Percentual de produção de grafemas dos sujeitos da amostra

0

20

40

60

80

100

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18 S19 S20

corretos

omissões

substituições

acréscimos

90

Nos pacientes com DA, os dados mostram resultados diferentes no que diz respeito a

não-realização dos grafemas. Ao contrário dos idosos saudáveis, estes pacientes obtiveram

maior percentual de omissão do que substituição de letras, e apresentaram também acréscimo

de grafemas, esse último não verificado nos idosos sadios.

O percentual maior de omissões, comparado ao de substituições, nos grupos de

pacientes com DA, confirma o comprometimento da escrita lexical desde a fase inicial da

doença, conforme já descrito na literatura (Croisile et al., 1995 e Carthery, 2000).

Com relação ao desempenho nas tarefas de escrita investigadas nesta pesquisa, os

resultados obtidos com os participantes confirmam os já encontrados por Carthery (2000) e

Carthery-Goulart (2005) nos idosos sadios e nos pacientes com DA de gravidade leve e

moderada. No envelhecimento normal, embora alguns aspectos da escrita possam sofrer

declínio, essa habilidade permanece ainda suficientemente preservada para permitir uma

qualidade de vida aceitável a esses indivíduos. Todavia, nos pacientes com DA, o

desempenho nas tarefas de escrita é precocemente prejudicado, sendo que as alterações são

intensificadas com a gravidade da doença. A literatura sugere heterogeneidade de alterações,

resultado presente na população estudada.

4.9.4 Comparação do desempenho nas tarefas de escrita entre os grupos GC1 x idosos

com DA de gravidade leve e GC2 x idosos com DA de gravidade moderada

Nas tarefas de escrita estudadas, o grupo com DA de grau 1 (exceto um paciente),

apresentou percentual de grafemas corretos entre 63 e 91%. As omissões de grafemas

prevaleceram em relação às substituições; as alterações de escrita foram mais ortográficas do

que fonológicas. Déficits práxicos no grafismo foram observados.

Já os idosos do GC1 obtiveram melhor desempenho em todas as avaliações, com

percentual de grafemas corretos acima de 95%. Esse grupo não realizou omissões de grafemas

e apenas dois sujeitos apresentaram substituições. As alterações de escrita foram somente

ortográficas.

Nos pacientes com DA de gravidade moderada, o percentual de grafemas corretos foi

de 64 a 46%, com exceção de uma paciente que apresentou 100% de omissões. O percentual

91

de omissões de grafemas foi mais elevado do que o de substituições; as alterações de escrita

foram especificamente fonológicas. Prejuízos práxicos foram mais evidentes quando

comparados aos prejuízos de pacientes em estágio leve.

Nos sujeitos do GC2, o percentual de grafemas corretos foi de 94 a 100%, a incidência

de omissões e substituições foi reduzida; os erros de escrita verificados foram apenas

ortográficos.

A heterogeneidade de escrita foi maior nos pacientes com doença de Alzheimer do que

nos idosos saudáveis.

4.9.5 Relação entre desempenho nas tarefas de escrita e hábitos de leitura e escrita

Através do miniquestionário sobre hábitos de leitura e escrita, foi possível verificar se

essas variáveis exerceram alguma influência no desempenho das tarefas de escrita deste

estudo. Os dados mostram que os idosos saudáveis que têm o habito de ler apresentam

desempenho superior nas habilidades de escrita estudadas, porém não verificamos correlação

entre hábitos de escrita ao longo da vida e tarefas de escrita. Possivelmente, este resultado seja

decorrente da frequência maior de hábitos de leitura do que de hábitos de escrita na maioria

dos indivíduos testados.

Nos sujeitos com DA, observamos que hábitos de leitura influenciaram o desempenho

da escrita. Pacientes que apresentaram maior pontuação no questionário também obtiveram

percentual maior de grafemas corretos, isto é, menos alterações de escrita. Com relação aos

hábitos de escrita, os dados mostram uma correlação positiva entre os resultados verificados

nas tarefas de escrita e a pontuação do questionário nos sujeitos. Porém, esse dado precisa ser

melhor investigado.

Sendo assim, pensamos que hábitos de leitura auxiliaram na execução de tarefas de

escrita nos pacientes com Alzheimer e nos idosos sem a doença dessa pesquisa, sugerindo que

a manutenção destes hábitos durante a vida contribua com uma senescência saudável, e que

no indivíduo com DA, a continuidade de hábitos de leitura pode auxiliar na reabilitação de

determinadas habilidades linguísticas fundamentais para a comunicação.

92

4.9.6 Relação entre desempenho nas tarefas de escrita e memória de trabalho

Os dados mostraram que os idosos saudáveis que obtiveram melhor desempenho na

produção de grafemas apresentaram, também, maior capacidade de memorização de dígitos

no teste ITPA.

Nos indivíduos com DA de gravidade leve, não foi possível estabelecer uma

correlação, uma vez que todos os pacientes obtiveram o mesmo número de acertos no span de

dígitos. Nos sujeitos com DA de grau 2, não observamos relação de desempenho entre essas

habilidades cognitivas; possivelmente não seja apenas o comprometimento da memória

operacional que esteja influenciando a execução das tarefas de escrita em um estágio mais

avançado da doença, talvez as representações ortográficas do léxico já estejam prejudicadas

ou ocorra dificuldade de acesso a estas representações, conforme Croisile et al. (1995).

93

5 AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES

A análise dos dados dos pacientes com DA de gravidade leve e moderada e dos idosos

sem a doença possibilitou a comprovação ou não das hipóteses aventadas para este estudo.

Sendo assim, foi possível verificar que seis hipóteses foram corroboradas, uma não foi

confirmada e duas foram parcialmente corroboradas.

- Hipóteses corroboradas:

1: Pacientes em estágio inicial da DA já apresentam defasagem em tarefas de memória de

trabalho.

A observação dos resultados do Teste ITPA, que avaliou a capacidade de memorização

de dígitos mostra que os pacientes com DA apresentam defasagem nesta tarefa já no estágio

inicial da doença.

2: Pacientes com DA, em estágio inicial, apresentam dificuldades em refletir sobre os sons da

língua.

Os resultados verificados na avaliação da consciência fonológica mostram prejuízo em

refletir sobre os sons da língua já na fase leve da DA. No entanto, nas tarefas de nível silábico

(S1, S2 e S5) e nível fonêmico (F1), o desempenho dos pacientes com DA em estágio leve foi

semelhante ao dos idosos saudáveis.

3: O desempenho em tarefas de consciência fonológica de pacientes com DA é influenciado

pela redução na capacidade de armazenamento da memória de trabalho.

Os dados obtidos nas tarefas de consciência fonológica sugerem que, quanto maior a

capacidade de armazenamento da memória de trabalho, melhor o desempenho das habilidades

de consciência fonológica pelos pacientes com DA.

94

6: O grupo controle, formado por idosos sem DA, apresenta resultados superiores em testes

de memória de trabalho, consciência fonológica e escrita em relação ao grupo com DA, em

estágio inicial e moderado.

7: O grupo com DA em estágio leve, apresenta resultados superiores em testes de memória de

trabalho, consciência fonológica e escrita em relação ao grupo com DA em estágio moderado.

O desempenho dos idosos sem DA em habilidades de consciência fonológica, memória

de trabalho e escrita é melhor do que os obtidos pelos pacientes com DA em estágio leve, que

por sua vez, é superior ao apresentado pelos pacientes com DA em estágio moderado.

8: Sujeitos com DA de gravidade leve e moderada com melhor nível de consciência

fonológica são os que apresentam menos alterações de escrita.

A confirmação desta hipótese reforça a influência recíproca entre habilidades de escrita

e consciência fonológica, pois o grupo de pacientes com DA que apresentou mais alterações

de escrita (indivíduos em estágio moderado) mostrou menor desempenho nas tarefas de

consciência fonológica do que o grupo de pacientes com DA de gravidade leve.

- Hipóteses parcialmente corroboradas:

5: Hábitos de leitura e escrita ao longo da vida interferem no desempenho das tarefas de

memória de trabalho, consciência fonológica e escrita em pacientes com DA e idosos

saudáveis.

Constatamos que existe relação positiva entre hábitos de leitura e escrita e capacidade

de memorização de dígitos, visto que o grupo que apresentou média mais alta no teste ITPA

foi o mesmo que obteve maior pontuação no mini-questionário de leitura e escrita, tanto nos

pacientes com DA como nos idosos sem a doença.

Em relação à consciência fonológica, verificamos que hábitos de leitura influenciam o

desempenho das atividades metafonológicas, porém nos pacientes com DA em estágio

moderado não observamos esta relação de favorecimento. Já nos idosos saudáveis, as

95

melhores pontuações na avaliação de consciência fonológica foram obtidas pelos sujeitos

mais leitores.

Quanto aos hábitos de escrita, não observamos favorecimento destes nas tarefas de

consciência fonológica, possivelmente porque a maior parte dos participantes deste estudo

não tiveram hábito de escrever ao longo da vida, com exceção de poucos sujeitos, a maioria

do GC1.

Nas tarefas de escrita, observamos que hábitos de leitura favoreceram o desempenho

desta habilidade em todos os sujeitos desta pesquisa. No entanto, não verificamos influência

de hábitos de escrita nas atividades escritas pelos idosos sadios. Nos pacientes com DA,

observamos relação de reciprocidade entre hábitos de escrita e desempenho escrito, mas esta

não foi uma característica homogênea do grupo. Desta forma, não podemos sugerir que

hábitos de escrita auxiliam a execução de tarefas escritas.

9: Escolaridade interfere no desempenho das tarefas de consciência fonológica, memória de

trabalho e escrita em idosos saudáveis, mas não interfere em idosos com DA de grau leve e

moderado.

Na avaliação da consciência fonológica, observamos que, os grupos que obtiveram

melhor pontuação no CONFIAS foram aqueles que apresentaram maior média educacional.

No entanto, a análise individual dos participantes do GC1 e dos pacientes com DA, em

estágio leve, mostra que as tarefas de nível fonêmico e silábico não foram cumpridas com

mais sucesso pelos sujeitos mais escolarizados e, sim, pelos idosos mais leitores. Desta forma,

a escolaridade não fez a diferença no desempenho das habilidades metafonológicas nos idosos

sem DA, não corroborando a pesquisa de Caramelli, Carthery, Porto, Charchat & Nitrini

(2001), no qual os autores afirmam que a escolaridade influencia a organização semântica na

senescência saudável.

O desempenho na tarefa de span de dígitos foi equivalente à média de escolaridade

apresentada pelos grupos de idosos com DA e sem a doença.

Na avaliação da escrita, verificamos o mesmo ocorrido com o teste de consciência

fonológica: o grupo com DA, em estágio leve (com maior média de escolaridade), obteve

melhor desempenho nas tarefas escritas do que o grupo com DA, de gravidade moderada. Do

96

mesmo modo aconteceu com os grupos de idosos sem DA. Todavia, na análise individual dos

participantes, observamos que os percentuais mais elevados de acertos de grafemas não foram

obtidos pelos sujeitos mais escolarizados, mas pelos idosos que cultivaram o hábito de leitura

ao longo da vida.

-Hipótese não-corroborada:

4: Pacientes com DA de gravidade leve não apresentam alterações de escrita.

Os pacientes com DA, de gravidade leve, mesmo apresentando desempenho superior

nas tarefas de escrita em relação aos sujeitos com DA, em estágio moderado, apresentam

alterações nas habilidades gráficas. Verificamos a ocorrência de substituições, omissões e

acréscimos de grafemas bem como de dificuldades práxicas.

97

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve o objetivo principal de investigar se há uma relação entre o

desempenho de tarefas de consciência fonológica, escrita e memória de trabalho em pacientes

com DA de gravidade leve e moderada. Os objetivos específicos estabelecidos nesta pesquisa

foram alcançados através da observação dos dados dos 10 sujeitos com DA e 10 idosos

saudáveis, possibilitando a constatação da relação existente entre consciência fonológica,

escrita e memória de trabalho. A aplicação do miniquestionário sobre hábitos de leitura e de

escrita permitiu a verificação da influência de hábitos de leitura nos idosos pertencentes ao

grupo controle e nos pacientes com DA, em estágio inicial, em todas as habilidades

investigadas. O mesmo não foi observado com relação aos hábitos de escrita.

Os resultados deste estudo evidenciam que os pacientes com DA avaliados apresentam

prejuízo do executivo central da memória de trabalho, de habilidades metafonológicas e de

escrita em relação ao grupo de idosos sadios.

No que compete à consciência fonológica, verificamos que a capacidade de síntese

(S1), segmentação (S2) e produção de palavra com a sílaba dada (S5) são habilidades bem

preservadas nos pacientes com DA deste estudo. Entretanto, em tarefas que exigem a

manipulação de constituintes fonológicos, tais como exclusão (S8) e transposição (S9) e

atividades de produção de rima (S7), os sujeitos com DA apresentam dificuldade; o mesmo

ocorre com os idosos saudáveis participantes dessa pesquisa. No nível fonêmico, a produção

de palavra que inicia com o som dado (F1), foi uma tarefa fácil para todos os grupos

avaliados. Já a segmentação fonêmica (F6) e transposição (F7) foram atividades difíceis para

os pacientes com DA e para os sujeitos do GC2.

Portanto, apesar dos resultados superiores dos sujeitos sem DA em relação aos

pacientes com a doença, verificamos que há semelhança entre eles no desempenho das tarefas

de consciência fonológica, indicando possibilidade de intervenção terapêutica de linguagem.

Esse dado é reforçado quando analisamos o desempenho apresentado pelos pacientes nas

98

atividades de escrita: sujeitos com DA com pontuação maior na avaliação de consciência

fonológica apresentaram menor percentual de erros grafêmicos.

Em relação à escrita, observamos que a maioria dos pacientes com DA apresentaram

percentual maior de grafemas corretos, mas a ocorrência de omissões e substituições de

grafemas evidencia declínio da capacidade escrita já na fase inicial da doença. No entanto, o

menor número de erros fonológicos nos pacientes em estágio leve quando comparados aos

indivíduos em estágio moderado da doença, mostra, mais uma vez, que a escrita dos pacientes

com DA de gravidade leve, mesmo apresentando alterações, pode ser trabalhada, contribuindo

para a diminuição do ritmo de deterioração das habilidades comunicativas ocasionadas pela

doença de Alzheimer.

Quanto à grafia, constatamos que os pacientes com DA de gravidade leve apresentaram

alterações sutis na organização espacial e nos traçados gráficos. Entretanto, estas alterações

são percebidas pelo paciente e pelos familiares precocemente. Nos sujeitos com DA em

estágio moderado, os prejuízos motores se maximizam, assim como a ocorrência de erros

fonológicos e ortográficos.

A presente pesquisa não objetivou comparar relatos orais e narrativas escritas, todavia

os resultados encontrados no relato oral mostraram que os pacientes em estágio leve

apresentam narrativa oral significativamente superior à narrativa escrita, indicando assim a

possibilidade de que se dê também atenção à habilidade oral na terapia fonoaudiológica.

Acreditamos que aspectos relacionados à consciência fonológica e à escrita podem

facilitar a estimulação de habilidades comunicativas nos pacientes com DA, funcionando

como uma ferramenta auxiliar para a preservação de tarefas linguísticas e de memória de

trabalho.

Por fim, esse estudo apresentou as seguintes limitações: a primeira se refere a uma

possível generalização de que alterações de consciência fonológica, escrita e funções

executivas da memória de trabalho estejam correlacionadas à Doença de Alzheimer, em

função do número reduzido de participantes desta pesquisa. No entanto, o cumprimento dos

critérios de inclusão para participar deste estudo não permitiram a avaliação de um número

mais representativo de indivíduos, principalmente com diagnóstico de DA.

O segundo aspecto trata da escassez de pesquisas linguísticas realizadas com pacientes

com DA e com idosos saudáveis. A ampla maioria de estudos concentra-se na neurologia,

99

psicologia e fisioterapia, o que aumenta o interesse particular da autora na área, mas dificulta

o diálogo com outros estudos.

O último item se refere à escolha das provas. Acreditamos que provas que investiguem

aspectos relacionados à alça fonológica da memória de trabalho, aspectos sintáticos e

discursivos sejam mais sensíveis para verificar alterações em pacientes com DA e no

envelhecimento normal.

Sendo assim, a continuidade desta pesquisa pretende aprofundar questões relativas a

escrita, memória de trabalho e processamento fonológico.

100

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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109

ANEXOS

110

Anexo 1A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do estudo: ESTUDO SOBRE A MEMÓRIA DE TRABALHO E A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre( HCPA) Pesquisadores responsáveis: Márcia L. F. Chaves, Marivone Vacari, Analuiza Camozzato, Ivan Izquierdo. Telefone para contato: Dra. Márcia L. F. Chaves: 99870352- Serviço de Neurologia do HCPA; Marivone Vacari: 91372809. Nome do participante: _____________________________________________ 1. OBJETIVO DO ESTUDO: O objetivo deste estudo é ajudar-nos a entender melhor a maneira como a doença de Alzheimer atrapalha um tipo de memória chamada ‘’memória de trabalho’’ (que é uma memória muito rápida, que dura segundos) e também a ‘’consciência fonológica’’ que é a capacidade de pensar sobre os sons de nossa língua. 2. EXPLICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS: Este trabalho será realizado através de repetições de números, e de palavras sem sentido (inventadas); de um questionário sobre hábitos de leitura e de uma avaliação destas capacidades explicadas acima. 3. POSSÍVEIS RISCOS E DESCONFORTOS: Para isso, estamos solicitando a sua permissão para realizar o teste e o exame. Isso não irá lhe custar nada, nem irá lhe expor a riscos. 4. DIREITO DE DESISTÊNCIA: O (A) senhor (a) tem o direito de se recusar a participar desse estudo, sem que isso seja prejudicial ao atendimento que vem recebendo. Todas as informações obtidas neste estudo poderão ser publicadas com finalidade científica, preservando-se o completo anonimato dos participantes, ou seja, nenhum nome será identificado em qualquer material divulgado sobre o estudo. As informações serão sempre genéricas e impessoais. Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente o (a)s pesquisadores terão conhecimento dos resultados e de suas informações pessoais. 5. DIREITO DE SABER DOS RESULTADOS DE SUA AVALIAÇÃO: o Sr(a) tem direito de saber o resultado de suas avaliações. O resultado do exame estará disponível dentro de poucos dias. O Sr(a) tem direito de saber sobre os resultados desta pesquisa se assim o desejarem. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA sob nº____.

6. CONSENTIMENTO:

111

Após ler o exposto acima Eu,_____________________________________, declaro ter sido

informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito.

Foi-me assegurado (a) a garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou qualquer dúvida

acerca dos riscos e dos benefícios da pesquisa e dos métodos utilizados. Se tiver novas

dúvidas sobre esse estudo posso contatar a doutoranda Marivone Vacari, no telefone

91372809, ou a Dra. Márcia L. F. Chaves no Serviço de Neurologia do HCPA (210 8520).

____________________ ________________ Assinatura do paciente Nome ______________________ _________________ Assinatura da pesquisadora Nome Este formulário foi lido para___________________ (nome do paciente) em__/___/___pelo

________________________ (nome do pesquisador) enquanto eu estava presente.

____________________ _________________ Assinatura da testemunha Nome Porto Alegre, ____de ________ de 2008.

112

ANEXO 1B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Para participantes sem Doença de Alzheimer) Nome do estudo: ESTUDO SOBRE A MEMÓRIA DE TRABALHO E A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre( HCPA) Pesquisadores responsáveis: Márcia L. F. Chaves, Marivone Vacari, Analuiza Camozzato, Ivan Izquierdo. Telefone para contato: Dra. Márcia L. F. Chaves: 99870352- Serviço de Neurologia do HCPA; Marivone Vacari: 91372809. Nome do participante: _____________________________________________ 1. OBJETIVO DO ESTUDO: O objetivo deste estudo é ajudar-nos a entender melhor a maneira como a doença de Alzheimer atrapalha um tipo de memória chamada ‘’memória de trabalho’’ (que é uma memória muito rápida, que dura segundos) e também a ‘’consciência fonológica’’ que é a capacidade de pensar sobre os sons de nossa língua. Para realizar este estudo é importante comparar pacientes com doença de Alzheimer e pacientes sem doença de Alzheimer. Você está sendo convidado para participar deste grupo que não tem doença de Alzheimer. 2. EXPLICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS: Este trabalho será realizado através de repetições de números, e de palavras sem sentido (inventadas); de um questionário sobre hábitos de leitura e de uma avaliação destas capacidades explicadas acima. 3. POSSÍVEIS RISCOS E DESCONFORTOS: Para isso, estamos solicitando a sua permissão para realizar o teste e o exame. Isso não irá lhe custar nada, nem irá lhe expor a riscos. 4. DIREITO DE DESISTÊNCIA: O (A) senhor (a) tem o direito de se recusar a participar desse estudo, sem que isso seja prejudicial ao atendimento que vem recebendo. Todas as informações obtidas neste estudo poderão ser publicadas com finalidade científica, preservando-se o completo anonimato dos participantes, ou seja, nenhum nome será identificado em qualquer material divulgado sobre o estudo. As informações serão sempre genéricas e impessoais. Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente o (a)s pesquisadores terão conhecimento dos resultados e de suas informações pessoais. 5. DIREITO DE SABER DOS RESULTADOS DE SUA AVALIAÇÃO: o Sr(a) tem direito de saber o resultado de suas avaliações. O resultado do exame estará disponível dentro de poucos dias. O Sr(a) tem direito de saber sobre os resultados desta pesquisa se assim o desejarem. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA sob nº____.

113

6. CONSENTIMENTO: Após ler o exposto acima Eu,_____________________________________, declaro ter sido

informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito.

Foi-me assegurado (a) a garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou qualquer dúvida

acerca dos riscos e dos benefícios da pesquisa e dos métodos utilizados. Se tiver novas

dúvidas sobre esse estudo posso contatar a doutoranda Marivone Vacari, no telefone

91372809, ou a Dra. Márcia L. F. Chaves no Serviço de Neurologia do HCPA (210 8520).

____________________ _________________ Assinatura do participante Nome ______________________ _________________ Assinatura da pesquisadora Nome Este formulário foi lido para___________________ (nome do participante)

em__/___/___pelo ________________________ (nome do pesquisador) enquanto eu estava

presente.

____________________ _________________ Assinatura da testemunha Nome

Porto Alegre, ____de ________ de 2008

114

ANEXO 2: AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA

115

ANEXO 3 – MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL

116

ANEXO 4: Questionário sobre hábitos de leitura e escrita

Nome: ________________________________ Data:___________ Idade:___________ Sexo: ___________ Origem: ( ) alemã ( ) italiana ( ) espanhola Outra: _____ Sabe ler: ( ) sim ( ) não Sabe escrever: ( ) sim ( ) não Escolaridade:

( ) nenhuma ( ) primário ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental ( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio ( ) ensino superior ( ) outro

Quantos anos de escolaridade: ( )1 a 3 anos ( )4 a 7 anos ( ) 7 ou mais anos

Profissão:_____________ Hábitos de Leitura: Frequente Raro nunca Revistas Jornais Romances Livros técnicos Outros

Hábitos de Escrita: Frequente Raro nunca Anotações Cartas Receitas Relatórios Textos Outros

História de retardo de linguagem ( ) sim ( ) não

História de disgrafia ( ) sim ( ) não

História de dificuldade na escola ( ) sim ( ) não

História de repetência escolar ( ) sim ( ) não

117

ANEXO 5: Teste ITPA (lllinois Test of Psycolinguistic Abilities)

Nome paciente: ___________________________

Idade: ________ Data: ___________

Dígitos Produção 1ª ou 2ª tentativa

9-1

7-9

6-4-9

8-1-1

5-2-8

2-7-3-3

6-3-5-1

8-2-9-3

1-6-8-5

4-7-3-9-9

6-1-4-2-8

1-5-2-9-6

7-3-1-8-4

5-9-6-2-7

2-9-6-1-8-3

7-4-8-3-5-5

6-9-5-7-2-8

5-2-4-9-3-6

4-7-3-8-1-5

3-6-1-9-2-7-7

5-3-6-9-7-8-2

8-1-6-2-5-9-3

2-7-4-1-8-3-6

4-9-6-3-5-7-1

3-1-9-2-7-4-8-8

8-2-5-9-3-6-4-1

4-7-3-1-6-2-9-5

9-6-3-8-5-1-7-2

118

ANEXO 6: Instrumento de Avaliação Sequencial- CONFIAS

(S) NÍVEL DA SÍLABA

S 1 – Síntese

Ex.: so – pa = sopa pi-ja-ma = pijama

bi – co

Sor – ve – te

má – gi – co

E – le – fan – te

“Nós vamos brincar com os sons das palavras. Eu vou dizer uma palavra separada em pedaços: So-pa. Que palavra eu disse?”.

Pronuncie a palavra ‘sopa’ com um breve intervalo entre cada sílaba: so – pa.

S 2 – Segmentação

Ex.: sala = sa – la urubu = u – ru - bu

Gato

Abacaxi

Cachorro

Escova

“Agora eu vou dizer uma palavra e quero que separes em pedaços: sala”.

S 3 – Identificação de sílaba inicial

Modelo Alternativas

Cobra Copo – time – loja

Garrafa Foguete – galinha – caderno

Faca Fada – vaso – lata

Peixe Noite – peito – fita

Cabide Bandeira– palito – caneca

Cenoura Raposa – semana – chinelo

“Que desenho é este? (cobra). Agora eu vou dizer 3 palavras. Qual delas começa como cobra?”

Caso a criança não entenda, auxilie a identificação da sílaba inicial dos exemplos.

119

S 4 –Identificação de rima

Modelo Alternativas

Mão sal – cão – cor

Aranha montanha – umbigo – carrinho

Flor Pão – dor – trem

Martelo morango – tapete - castelo

abelha relógio – orelha – vestido

Coração armazém - carnaval – injeção

“Que desenho é este? (mão) Eu vou dizer 3 palavras e quero que me digas qual delas termina (ou rima) como mão.”

S 5 – Produção de palavra com a sílaba dada

Ex: pa = papai, pacote ja = jarra, Japão

Ca

Ba

pi

So

“Que palavra começa com ‘pa’?”

S 6 – Identificação de sílaba medial

Modelo Alternativas

Girafa Pirata – panela – dinheiro

Camelo Colega – vermelho – bolacha

Tomate Fumaça – lanterna – espeto

Palhaço Mochila – caneta – telhado

Cavalo Soldado – gravata – vizinho

Jacaré Avental – macarrão – dominó

“Que desenho é este? (girafa) Qual é o pedaço (ou sílaba) do meio da palavra girafa? (‘ra’). Eu vou dizer 3 palavras e só uma tem o pedaço (ou sílaba) do meio igual ao de ‘girafa’.”

Aguarde que a criança evoque a sílaba do meio, antes de dizer as 3 palavras.

ʃʃʃ

120

S 7 – Produção de rima

Ex.: chapéu = pastel, hotel pente = quente, dente

Balão

Café

Rato

Bola

“Que desenho é este? (chapéu) Que outra palavra termina (ou rima) com chapéu?”.

Ajude com pastel, hotel.

S 8 – Exclusão

Ex.: socorro = corro cabelo = calo

/pi/ de piolho

/es/ de escola

/ne/ de boneca

/zi/ de vizinho

/to/ gasto

/col/ de caracol

“Se eu tirar ‘so’ de socorro fica? (corro)

“Se eu tirar ‘be’ de cabelo fica? (calo)

ʃʃʃ

S 9 – Transposição

Ex.: darró = roda chobí = bicho

Tapór

lhomí

Cafó

Valú

“Eu vou dizer uma palavra que não existe. Esta palavra tem dois pedaços (ou sílabas) e tu vais trocar os pedaços: vais dizer primeiro o pedaço do fim e depois o pedaço do começo. Vais descobrir uma palavra que existe. Assim: darró fica? (roda). Chobí fica? (bicho)”.

Aguarde a resposta da criança para ter certeza de que ela entendeu a tarefa de transposição. ʃʃʃ

121

(F) NÍVEL DO FONEMA

F 1 – Produção de palavra que inicia com o som dado

Ex.: /a/ = amigo, agulha /f/ = feijão, família

/ž/

/v/

/š/

/s/

“Eu vou dizer um som e tu vais me dizer uma palavra que comece com esse som.”

Exemplos: /a / (amigo); /s/ (sapo); /ž/ (gente, jóia); /v/ (vaca); / š / (chave, xícara).

F 2 –Identificação de fonema inicial

Modelo Alternativas

Sino sede – chuva – gema

Bota galo – banco – pêra

Urso ovo – bolo – unha

Folha vela – figo – cola

Macaco menino – presente – salada

dedo doce – sapo– linha

“Que desenho é este? (sino). Agora eu vou dizer 3 palavras. Uma delas começa com o mesmo som da palavra ‘sino’. Descobre qual é a palavra”.

F 3 –Identificação de fonema final

Modelo Alternativas

Coelha azeite – sorriso – farinha

Chave pele – cama – lobo

Lápis pedra – garfo – férias

Tambor nariz – colher – manhã

Piano criança – cidade – banheiro

Escada cabeça– parede- morcego

“Que desenho é este? (coelha) Eu vou dizer 3 palavras. Uma delas termina com o mesmo som de ‘coelha’. Descobre qual é a palavra.”

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F 4 – Exclusão

Ex: som /š/ de chama = ama som /r/ de barba = baba

som /r/ de mar

som /ž/ de jaula

som /v/ de vida

som /s/ de pasta

som /a/ de peça

som /u/ de viúva

“Se eu tirar o som /š/ de ‘chama’ fica?” (ama)

“Se eu tirar o som /r/ da palavra ‘barba’ fica?”(baba)

F 5 – Síntese

Ex.: E – v – a = Eva m –e - s – a = mesa

j – á

u – v – a

a – s – a

m– a – l – a

“A palavra Eva tem estes sons: E – V – A . Eu vou dizer uns sons, e tu vais descobrir que palavra eles formam.”

Pronuncie os fonemas com um breve intervalo entre cada um deles. A pronúncia dos sons deve ser curta para que não se tornem sílabas. Por exemplo, o fonema /s/ deve ser pronunciado como ‘sss’ e não como ‘sã’.

ʃʃʃ

F 6 – Segmentação

Ex.: vó = v – ó lua = l – u – a

Chá

Osso

Lixo

Mola

“Agora é tua vez de falar os sons das palavras.

ʃʃʃ