Marquito VisualizaBus v4

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE DESENHO INDUSTRIAL MARCOS VINÍCIUS FORECCHI ACCIOLY VisualizaBus: um sistema de informação ambiente para horário de ônibus municipal na cidade de Vitória VITÓRIA 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO CENTRO DE ARTES

    DEPARTAMENTO DE DESENHO INDUSTRIAL

    MARCOS VINCIUS FORECCHI ACCIOLY

    VisualizaBus: um sistema de informao ambiente para horrio de nibus municipal na cidade de Vitria

    VITRIA 2014

  • MARCOS VINICIUS FORECCHI ACCIOLY

    VisualizaBus: um sistema de informao ambiente para horrio de nibus municipal na cidade de Vitria

    Trabalho de Concluso de Curso

    apresentado ao Departamento de Desenho

    Industrial do Centro de Artes da

    Universidade Federal do Esprito Santo

    como requisito parcial para obteno do

    grau de Bacharel em Desenho Industrial -

    Habilitao em Comunicao Visual.

    Orientador: Prof. Dr. Mauro Pinheiro

    Rodrigues

    VITRIA 2014

  • MARCOS VINICIUS FORECCHI ACCIOLY

    VisualizaBus: um sistema de informao ambiente para horrio de

    nibus municipal na cidade de Vitria

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    ao Departamento de Desenho Industrial do

    Centro de Artes da Universidade Federal do

    Esprito Santo como requisito parcial para

    obteno do grau de Bacharel em Desenho

    Industrial - Habilitao em Comunicao Visual.

    Aprovado em 17 de Abril de 2014.

    COMISSO EXAMINADORA

    __________________________________

    Prof. Dr. Mauro Pinheiro Rodrigues

    Universidade Federal do Esprito Santo

    Orientador

    __________________________________

    Prof. Ms. Ricardo Esteves Gomes

    Universidade Federal do Esprito Santo

    __________________________________

    Elton Vincius Silva

    Instituto Federal do Esprito Santo

  • Agradecimentos / Dedicatria

    minha me Rbia Helena que, com muito esforo, viu-me sair da Engenharia

    Eltrica rumo ao Design e conseguiu conviver com isso com um sorriso no rosto.

    minha esposa Karol que me aguentou usando muitas e muitas vezes este projeto

    como desculpa para algo.

    Aos amigos da Engenharia, do Design e de fora da Ufes que me deram foras para

    enfrentar o novo vestibular e o novo curso.

    Aos colegas de Ufes Salim Suhet Mussi, Antonio Henrique Steinkopf Nascimento e

    Rmulo Vitoi, que dotados de imensa boa vontade auxiliaram para que esse projeto

    fosse realizado.

    Ao Mauro, por ser um timo orientador e um parceiro no mundo dos artefatos

    computacionais.

    A Deus, por ser fonte inesgotvel de fora de vida.

    A todos: obrigado de corao. Este projeto um pouco de cada um.

  • Resumo

    Utiliza o conceito de Sistemas de Informao Ambiente a fim de construir um artefato

    eletrnico para visualizao dos horrios de linha de nibus especfica da cidade de

    Vitria, Esprito Santo, atravs da utilizao dos dados do sistema Pontual, da

    Prefeitua Municipal de Vitria (PMV). Aborda em profundidade as tecnologias

    empregadas no desenvolvimento dos Intelligent Transportation Systems (ITS,

    Sistemas Inteligentes de Transporte) no Brasil e no exterior, com especial ateno

    aos sistemas de Automatic Vehicle Location (AVL, Localizao Automtica de

    Veculos) atravs de Global Positioning System (GPS, Sistema de Posicionamento

    Global). Demonstra projetos de informao ambiente semelhantes e conceitua o

    momento que vivemos relativamente ao acmulo de informaes computacionais e

    ao estresse que pode ser gerado a partir desse acmulo, apoiando-se na informao

    ambiente como uma sada para essa problemtica. Descreve as etapas de projeto

    de Design necessrias para o desenvolvimento e explica de forma completa os

    componentes necessrios para a construo do artefato proposto. Alm disso,

    demonstra a utilizao do artefato durante quinze dias no Laboratrio de Design

    Instrucional (LDI) da Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes), propondo

    exploraes futuras para a tecnologia e o sistema de informao dos horrios de

    nibus. Os resultados demonstram que os sistemas de informao ambiente, ainda

    pouco explorados no Brasil, so fundamentais para a integrao de informaes

    complexas em artefatos de simples utilizao diria, evitando a sobrecarga de

    informao normalmente associada a dispositivos computacionais. Conclui-se

    tambm que, especialmente no caso do transporte pblico em Vitria, grande o

    benefcio percebido na utilizao do artefato.

    Palavras-chave: Design. Sistemas de informao ambiente. Transporte pblico.

    Arduino.

  • Abstract

    Utilizes the concept of Ambient Information Systems in order to build an electronic

    artifact for the visualization of bus arrival times for a specific bus in the city of Vitria,

    Esprito Santo State, by using the data provided by the Pontual system from

    Prefeitura Municipal de Vitria (PMV, Vitria City Hall). Discusses in depth the

    technologies employed in the development of Intelligent Transportation Systems

    (ITS) in Brazil and abroad, with special attention to the Automatic Vehicle Location

    (AVL) systems based on Global Positioning System (GPS). Demonstrates similar

    projects in ambient information and conceptualizes the times we live in in relation to

    the accumulation of computational information and the stress that can be generated

    from this buildup, relying on ambient information systems as a way out of this

    problem. Describes the steps of project design needed for the development and fully

    explains the necessary components for the construction of the artifact. Furthermore,

    it demonstrates the use of the artifact for two weeks at the Laboratrio de Design

    Instrucional (LDI, Laboratory of Instructional Design) of the Universidade Federal do

    Esprito Santo (Ufes, Federal University of Esprito Santo), proposing future

    explorations for the technology and information of bus schedules system. The results

    demonstrate that ambient information systems, yet little explored in Brazil, are

    fundamental for the integration of complex information into simple artifacts for daily

    use, avoiding information overload normally associated with computing devices. We

    conclude that, especially in the case of public transport in Vitria, there is a great

    perceived benefit associated with using the artifact.

    Keywords: Design. Ambient Information Systems. Public transportation. Arduino.

  • Lista de imagens

    Figura 1: Sistema Countdown em Londres. .............................................................. 14

    Figura 2: Diversos mecanismos envolvidos em um ITS ............................................ 18

    Figura 3: Mecanismos principais e opcionais de um sistema de AVL ....................... 19

    Figura 4: Mdulo integrado dos nibus do transporte de Vitria ............................... 23

    Figura 5: Benefcios de uma API para o Sistema Pontual ......................................... 26

    Figura 6: LiveWire (Dangling String) ......................................................................... 33

    Figura 7:AmbientUmbrella avisa quando vai chover ................................................. 33

    Figura 8: Localizao do artefato e do ponto de parada nmero 6166 ..................... 36

    Figura 9: Carro de ferrovia do Ambient Trolley .......................................................... 38

    Figura 10: Viso geral do AmbientTrolley ................................................................. 38

    Figura 11: Viso geral do BusMobile ......................................................................... 39

    Figura 12: Viso geral do Datafountain ..................................................................... 40

    Figura 13: As esferas de cores .................................................................................. 42

    Figura 14: Legenda de cores das esferas ................................................................. 42

    Figura 15: Rolos giratrios de linha e tempo ............................................................. 43

    Figura 16: Funcionamento interno do sistema mecnico dos rolos ........................... 44

    Figura 17: Vista lateral dos rolos ............................................................................... 45

    Figura 18: Simulao de chegada em escala............................................................ 46

    Figura 19: Etapas gerais para o funcionamento do VisualizaBus ............................. 48

    Figura 20: Ciclo de funcionamento do Artefato ......................................................... 51

    Figura 21: Etapas de obteno dos dados do PontoVitria PMV .............................. 52

    Figura 22: As partes integrantes do VisualizaBus ..................................................... 54

    Figura 23: Arduino Duemilanove com processador ATMega328 .............................. 56

    Figura 24: Motor de passo STP-42D221-03 .............................................................. 56

    Figura 25: Placa controladora com Ponte H L298N .................................................. 57

    Figura 26: Shield Ethernet para Arduino ................................................................... 58

    Figura 27: Boto de incio e fim de curso .................................................................. 59

    Figura 28: Estrutura fsica do artefato VisualizaBus .................................................. 60

    Figura 29: Estrutura visual do VisualizaBus, com os componentes eletrnicos

    completamente cobertos ........................................................................................... 62

    Figura 30: Artefato instalado no Laboratrio de Design Instrucional (LDI) ................ 64

    Figura 31: Viso geral do VisualizaBus no local de instalao.................................. 65

  • Sumrio

    Introduo ................................................................................................................. 10

    Objetivos ................................................................................................................ 11

    Justificativa ............................................................................................................ 11

    Captulo 1: Sistemas de visualizao de horrios de nibus: no exterior, no Brasil e

    na cidade de Vitria ................................................................................................... 12

    1.1 Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS) e de Localizao Automtica de

    Veculos (AVL) ....................................................................................................... 12

    1.2 Os recursos complementares aos sistemas de localizao de veculos.......... 15

    1.3 Vantagens percebidas no uso de localizao automtica de veculos ............ 19

    1.4 O sistema de informao de transporte pblico em Vitria, Esprito Santo ..... 21

    Captulo 2: Sistemas de informao ambiente .......................................................... 28

    2.1 Sistemas de informao e design de interao ............................................... 29

    2.2 Sistemas de informao ambiente, calm technology e pervasividade

    computacional ........................................................................................................ 31

    Captulo 3: Um sistema de informao ambiente para os horrios de nibus de

    Vitria: construindo um artefato ................................................................................. 34

    3.1 Definio do problema ..................................................................................... 35

    3.1.1 Definio de pblico alvo .......................................................................... 35

    3.1.2 Delimitao do contexto do projeto ........................................................... 35

    3.2 Levantamento de dados .................................................................................. 36

    3.2.1 Anlise de similares .................................................................................. 36

    3.3 Gerao de alternativas e escolha de partido projetual ................................... 41

    3.3.1 Esferas de cores ....................................................................................... 41

    3.3.2 Rolos giratrios de linha e tempo .............................................................. 42

    3.3.3 Simulao de chegada em escala ............................................................ 45

    3.4 Desenvolvimento do prottipo ......................................................................... 46

    3.4.1 Cdigos PHP e Servio Web de consulta a horrios ................................ 51

    3.4.2 Estrutura fsica e eletrnica de movimentao do artefato ........................ 52

  • 9

    3.4.3 Estrutura visual de informao no artefato ................................................ 61

    3.4.4 Conexo do artefato Internet e funcionamento automtico .................... 62

    3.5 Disponibilizao para utilizao e testes no Laboratrio de Design Instrucional

    ............................................................................................................................... 62

    Captulo 4: Resultados e discusso .......................................................................... 66

    4.1 Dificuldades tcnicas e curiosidades ............................................................... 67

    4.2 Possibilidades para uma nova verso ............................................................. 68

    Captulo 5: Consideraes finais ............................................................................... 70

    ANEXO I .................................................................................................................... 73

    ANEXO II ................................................................................................................... 75

    ANEXO III .................................................................................................................. 82

    Referncias ............................................................................................................... 83

  • 10

    Introduo

    A utilizao de tecnologias de comunicao e informao (TIC) cada vez mais

    frequente e o interesse pelo uso dessas tecnologias no monitoramento e

    fornecimento de servios de transporte pblico evidente em diversas partes do

    mundo (TCRP, 2003; TCRP, 2008; ANTP, 2012a; TANG; THAKURIAH, 2012). Esta

    utilizao tem suas causas tanto na necessidade de fornecer um transporte mais

    confivel e tecnologicamente atualizado quanto na inteno de fornecer melhores

    informaes para os usurios do sistema de transporte, auxiliando-os e diminuindo

    seu desconforto. Conforme cita Travassos em revista da Associao Nacional de

    Transportes Pblicos (ANTP):

    A falta de informaes sobre o sistema um elemento constante nos relatos

    [...] Para a estudante francesa, a incerteza e a imprevisibilidade dos horrios

    dos nibus foram os elementos mais negativos nas primeiras semanas em

    Recife. Segundo ela, atualmente tudo muito rpido e urgente, e a

    sensao de perda de tempo esperando os nibus muito desagradvel

    (TRAVASSOS, 2012, p. 99)

    No entanto, a utilizao de cada vez mais informao no sistema de transporte,

    quando associada s Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC), precisa ser

    planejada para que no gere uma sobrecarga de informaes para quem as

    recebe. Nesse sentido, vale lembrar as exploraes de Weiser e Brown (1996), que

    j na dcada de 90 discorrem exatamente sobre o momento de tecnologia em que

    vivemos: os computadores se tornam to comuns e presentes em nossas vidas que

    passam a demandar nossa ateno o tempo todo, gerando dificuldade e uma certa

    ansiedade com este processo (RICHTEL, 2010). Para que os computadores sejam

    realmente efetivos em seu processo de infiltrao em nossa realidade atual, eles

    precisam ser cada vez mais invisveis. Para que isso seja possvel, a tecnologia

    precisa operar na periferia da nossa ateno. Rodrigues (2011) faz uma anlise de

    diversos sistemas que se utilizam destas noes para sua construo e prov uma

    extensa bibliografia sobre os mecanismos atencionais. O autor conclui que a

    referncia de Mark Weiser a tecnologias que operam na periferia da ateno tem

    relao com processos que demandem menor esforo cognitivo para sua utilizao,

    o que nos revela um panorama at ento pouco explorado. Grande parte dos

  • 11

    objetos eletrnicos que utilizamos demandam muito de nossa ateno para serem

    operados e a quantidade de informao disponvel cada vez maior (RICHTEL,

    2010; RODRIGUES, 2011, p.13; HEMP, 2009, p.3).

    Neste trabalho, intencionou-se explorar as opes de menor esforo cognitivo para

    utilizao de artefatos eletrnicos, focando em uma rea promissora devido sua

    complexidade informacional: o transporte pblico. Ao longo do desenvolvimento

    desse projeto, pudemos buscar maiores informaes sobre o transporte pblico via

    nibus no Brasil e na cidade de Vitria.

    Objetivos

    O objetivo geral deste projeto desenvolver um sistema de visualizao de horrios

    de nibus para ambiente interno, atualizado automaticamente atravs da Internet.

    Quanto aos objetivos especficos, desejamos:

    1. Produzir um mecanismo de informao ambiente de horrios de nibus que

    funcione ininterruptamente e que possibilite a checagem da proximidade

    temporal de nibus;

    2. Levantar percepes dos alunos de graduao sobre o mecanismo produzido

    quanto a sua clareza, assertividade e benefcio percebido para suas rotinas;

    3. Difundir o campo da informao ambiente aplicando seus conceitos ao

    transporte pblico.

    Justificativa

    At o momento atual, no Brasil, o campo da informao ambiente praticamente

    inexplorado. Com este projeto, pretende-se pr em prtica o uso de tecnologias de

    informao ambiente, a fim de comprovar que possvel construir um artefato que

    funcione na periferia da ateno e que gere informaes de interesse para os

    usurios do transporte pblico de Vitria, sem demandar interao direta.

    Intenciona-se, por fim, observar o uso deste artefato construdo, recolhendo

    informaes a respeito desse processo. Dessa maneira acredita-se contribuir para

    difuso deste tipo de aplicao tecnolgica, alm de verificar sua possvel

    contribuio para a rotina daqueles que utilizam nibus como meio de transporte.

  • 12

    Captulo 1: Sistemas de visualizao de horrios de nibus: no

    exterior, no Brasil e na cidade de Vitria

    1.1 Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS) e de Localizao Automtica de Veculos (AVL)

    Ao longo da ltima dcada, a mobilidade urbana tem recebido especial destaque dos

    gestores pblicos, devido a inmeros fatores associados ao deslocamento nas

    grandes cidades. De acordo com a ANTP (2012b, p.5), o transporte coletivo foi

    responsvel, em 2011, por 17,7 bilhes de viagens nas cidades com mais de 60 mil

    habitantes. Para atender a essa demanda, o Brasil conta hoje com uma frota de

    mais de 33 milhes de veculos no transporte pblico coletivo, empregando mais de

    800 mil profissionais. Nas cidades com mais de 1 milho de habitantes, a

    participao do transporte pblico apresenta-se em torno de 36% e elemento-

    chave para o deslocamento de cidados pelo municpio.

    Em paralelo a isso, nas ltimas trs dcadas passamos por um inegvel processo

    de massificao das tecnologias de comunicao e informao, a partir dos avanos

    em eletrnica e na miniaturizao de componentes eletrnicos. Em conjunto com a

    evoluo das tecnologias de microeletrnica, os Intelligent Transport Systems (ITS,

    Sistemas de Transporte Inteligentes) acompanharam esse desenvolvimento e

    passaram ser aplicados em um amplo espectro de sistemas de transporte, provendo

    diferentes servios aos usurios desses sistemas, especialmente aqueles

    relacionados ao transporte pblico. Os ITS podem ser definidos como sistemas de

    transporte que se utilizam de tecnologias de informtica, telecomunicaes e

    controle automtico, de forma a melhorar seu desempenho e produtividade

    (AQUINO; AQUINO; PEREIRA, 2001, p.33). Representando uma convergncia entre

    softwares, aparelhos eletrnicos e comunicao sem fio utilizados no transporte,

    podem ainda ser aplicados para proporcionar melhorias em segurana, mobilidade e

    disponibilizao da informao (idem).

    Presentes desde 1964 e tendo seu incio na cidade de Hamburgo, Alemanha, os

    sistemas de Automatic Vehicle Location (AVL, Localizao Automtica de Veculos)

    fazem parte do campo de estudo dos ITS. Tanto o Canad quanto os pases

  • 13

    europeus tm mais tradio na implantao de sistemas deste tipo do que os

    Estados Unidos da Amrica (TCRP, 2003, p.8), apesar destes sistemas estarem

    presentes hoje em larga escala no territrio dos EUA. O pioneirismo destes pases

    na implantao de sistemas dessa natureza se deve ao fato de que sua utilizao

    completamente dependente dos avanos em tecnologia da informao,

    especialmente nas suas relaes com a eletrnica e transmisso de dados, e da

    aplicao dessas tecnologias na gesto pblica. Tendo ocorrido mais cedo e com

    maior velocidade nos pases citados, o avano tecnolgico viabilizou a

    automatizao de processos e informaes do transporte pblico nesses pases.

    Os sistemas de AVL tm sido implementados em larga escala desde a dcada de

    90, com rpido crescimento nos anos 2000. A agncia norteamericana de

    transporte, o United States Department of Transportation (US DOT) possui um

    programa de pesquisa regular sobre implantao de ITS em 78 reas metropolitanas

    dos Estados Unidos, chamado ITS Infrasctructure Deployment. Na pesquisa

    realizada em 2004 (TCRP, 2008, p. 9), os dados indicam que 54% do total de

    veculos das 220 agncias pesquisadas j contavam com sistemas de AVL

    implementados. Pesquisas similares no Reino Unido publicadas em 2006 indicaram

    que mais de 16 mil rotas fixas de nibus na Inglaterra, Esccia e Pas de Gales j

    estavam equipadas com sistemas de AVL (42% do total de nibus da Gr-Bretanha)

    (idem, p.9).

    J no Brasil, verifica-se que o uso de AVL e em geral ITS ainda tmido, apesar de

    algumas experincias de rede de trfego misto de mdia escala em Uberlndia, Santos,

    Fortaleza e Vitria, alm de uma rede de grande porte, na cidade de So Paulo. Em

    comparao com outros pases estamos ainda na retaguarda da utilizao desse tipo de

    sistema inteligente e integrado (ANTP, 2012a, p. 123).

    Algumas caractersticas interessantes deste tipo de sistema, levantadas no ano de

    2003 pelo Transit Cooperative Research Program (TCRP, Programa Cooperativo de

    Pesquisa de Trnsito) incluem a utilizao de luzes do tipo Light Emiting Diode

    (LED, Diodos Emissores de Luz) e de telas do tipo Liquid Crystal Display (LCD,

    Telas de Cristal Lquido) como as principais maneiras de disponibilizao da

    informaes sobre o transporte pblico nos pontos de parada. Essas placas

  • 14

    eletrnicas, denominadas Dynamic Message Sign (DMS, Painis de Mensagens

    Dinmicas), podem informar sobre o horrio de chegada do prximo nibus ao ponto

    de parada ou de alguns dos prximos nibus, sobre a localizao dos nibus em

    uma malha pr-estabelecida, sobre a data e a hora atuais, sobre o nmero da rota e

    o destino final dos veculos e sobre problemas ou outras informaes relevantes

    para o servio (TCRP, 2003, p.8). A Figura 1 mostra um display luminoso de LED

    utilizado na cidade de Londres, que traz informaes sobre o tempo at a chegada

    dos prximos quatro nibus ao ponto de parada, contendo ainda o nmero e o nome

    da linha.

    Figura 1: Sistema Countdown em Londres. Fonte: Transport For London (2013)

    Neste trabalho estamos interessados justamente nesta caracterstica dos ITS: a

    utilizao de mecanismos de localizao automtica de veculos a fim de informar a

    populao sobre os horrios que os nibus iro passar em determinados pontos de

    parada.

    A seguir, descrevemos as tecnologias envolvidas na implantao desses sistemas e

  • 15

    que possibilitaram maior controle sobre o transporte pblico, dinamizando suas

    atividades e informaes no Brasil e no exterior.

    1.2 Os recursos complementares aos sistemas de localizao de

    veculos

    Os veculos podem ser localizados de diferentes maneiras: via Global Positioning

    System (GPS, Sistema de Posicionamento Global) ou Differential Global Positioning

    System (DGPS, Sistema de Posicionamento Global Diferencial), que possui maior

    preciso; via comunicao entre transponders eletrnicos na pista (laos indutivos) e

    identificadores eletrnicos que fazem parte do veculo (tags); via comunicao entre

    identificadores eletrnicos nos veculos (tags) e torres receptoras distribudas ao

    longo da cidade (TCRP, 2003, p.8). Neste trabalho iremos nos limitar aos sistemas

    de localizao GPS, j que o barateamento dessa tecnologia levou sua adoo em

    massa a partir dos anos 1990 e, hoje, praticamente no h cidades que relatam o

    uso de outra tecnologia para localizao dos veculos (TCRP, 2003, p.9). No Brasil,

    o GPS a nica tecnologia de localizao utilizada dentre as cidades pesquisadas

    (ANTP, 2008; MAGALHES, 2008).

    Enquanto nos anos 70 e 80 a gerao contempornea de sistemas com tecnologia

    AVL (localizao automtica) nos Estados Unidos se utilizava da comunicao via

    torres receptoras ou signposts, j nos anos 1990 as agncias de transporte

    iniciaram a adoo do GPS, j que esse sistema entrou completamente em

    operao pblica no ano de 1995 (TCRP, 2008, p.6). O conhecimento mais

    especializado sobre a superfcie e a forma do planeta Terra tornou possvel a

    localizao geogrfica precisa de elementos posicionados no globo. Tanto a

    geodsia rea da matemtica para medir e localizar pontos sobre o planeta ,

    quanto a fotogrametria cincia que produz medidas atravs de fotografias,

    normalmente areas e a topografia cincia que oferece tcnicas para determinar

    a rea de regies tm contribudo grandemente para a compreenso e realizao

    de clculos muito precisos para esta determinao de posicionamento sobre a Terra.

    Assim, exploraes militares nas ltimas duas dcadas levaram aplicao civil do

    programa espacial NAVSTAR (Navigation Satellite with Timing and Ranging),

    proporcionando o desenvolvimento do Sistema de Posicionamento Global, o GPS

  • 16

    (SILVA, 2010). De acordo com Silva (2010), o GPS, usando uma constelao de

    satlites artificiais, em nmero de 24, pode gerar uma posio na terra com uma

    preciso at menor que 1 cm para as coordenadas geogrficas. Ainda de acordo

    com o autor, o sistema GPS, iniciado em 1973, foi projetado pelo Departamento de

    Defesa dos Estados Unidos para fornecer uma posio precisa e instantnea, alm

    da velocidade deste ponto sobre a superfcie da Terra (ou bem prximo a ele). O

    sistema GPS ajudou a resolver a limitao de manuteno imposta pelo sistema de

    torres receptoras, j que a manuteno destas torres complexa e realizada ao

    longo da cidade, enquanto o sistema GPS depende somente de equipamento

    adicionado ao veculo (TCRP, 2008). Com isso, a adoo de sistemas AVL

    baseados em GPS caminhou rapidamente na ltima dcada. A cidade de Londres,

    pioneira no uso de tecnologias de localizao de veculos, recentemente adotou

    tambm o GPS como tecnologia alternativa e para aumento da preciso de seus

    sistemas de torres de posio (TCRP, 2003).

    Alm do sistema central de localizao dos veculos, geralmente significando a

    utilizao da tecnologia GPS, diversas outras funcionalidades esto disponveis nos

    sistemas de AVL que complementam as informaes de localizao e a

    automatizao de processos nos veculos. Entre essas funcionalidades, podemos

    citar (TCRP, 2008):

    Utilizao de sensores como giroscpio, bssola e reconhecimento eletrnico

    de quilometragem (odmetro), para complementao direta do sistema de

    localizao;

    Envio e recebimento de mensagens de texto entre o veculo e a central;

    Ponto nico de identificao (logon) no terminal de operao;

    Anncios automticos de prximo ponto no interior do veculo quando este

    se aproxima do ponto de parada;

    Troca automtica do contedo dos letreiros eletrnicos ao final de cada viagem;

    Automatic Passenger Counting (APC, Contagem Automtica de Passageiros)

    que sobem ou descem do veculo em cada ponto de parada;

    Habilidade de monitorar o estado mecnico dos veculos atravs de sensores

    especficos, gravando esta informao no prprio veculo ou transmitindo os

    dados para a central;

    Sistema de alarme invisvel para envio de mensagem de emergncia,

  • 17

    algumas vezes at mesmo com microfones escondidos para monitoramento

    de udio diretamente da central;

    Wireless Local Area Networks (WLAN, Redes Locais Sem Fio) em garagens e

    locais de armazenamento dos veculos para atualizao em massa dos dados

    do veculo durante seu tempo ocioso, tanto para recolher as informaes

    acumuladas nas viagens quanto para atualizar os sistemas do nibus com

    novos parmetros e novas configuraes;

    Utilizao de algoritmos para predio de localizao em tempo real,

    provendo esses horrios e outros avisos de servio para o pblico utilizando

    vrios mtodos, incluindo painis dinmicos de mensagens (DMS) em pontos

    de parada especficos, informaes por telefone e websites;

    Envio das informaes de localizao para melhoria do sistema Transit Signal

    Priority (TSP, Sistema de Priorizao de Semforos) baseado no fluxo de

    veculos e nas necessidades do trnsito.

    Assim, podemos compreender que a posio geoespacial do veculo apenas uma

    das dimenses desse complexo sistema AVL e que a informao ao usurio uma

    importante parte deste tipo de tecnologia.

    A Figura 2 mostra diagrama publicado pela ANTP que sinaliza alguns elementos

    presentes em sistemas desenvolvidos para levar informao aos usurios do

    transporte. Estes sistemas so formados por

    [...] elementos que levam a uma informao ao usurio confivel e

    qualificada durante a viagem e que servem de suporte aos outros

    mecanismos, inclusive aquele que no seja em tempo real. Os sistemas de

    cadastro, despacho, planejamento, gesto de frota, telecomunicaes e

    segurana da informao so elementos crticos e que constituem parte da

    infraestrutura necessria para garantia de uma informao segura e precisa

    ao usurio. (ANTP, 2012a, p. 124)

  • 18

    Figura 2: Diversos mecanismos envolvidos em um ITS Fonte: ANTP (2012a, p. 124)

    A Figura 3, presente em relatrio da TCRP, mostra os componentes centrais e

    perifricos de um sistema de AVL.

  • 19

    Figura 3: Mecanismos principais e opcionais de um sistema de AVL Fonte: TCRP (2008, p. 7)

    1.3 Vantagens percebidas no uso de localizao automtica de veculos

    Do ponto de vista da informao ao usurio, a ANTP (2012a, p.124) destaca que

    [...] um dos elementos-chave de um sistema de informao ao usurio moderno a

    garantia da sincronicidade desta informao com o que est realmente ocorrendo no

    terreno e durante a operao. Um dos pontos-chave para tal funcionalidade so os

    sistemas de telecomunicaes e de gesto de rede [...]. Por essa razo, o

    investimento na estrutura de informtica essencial para a garantia do bom

    funcionamento desse tipo de sistema, o que pode gerar um alto custo de

    implantao e manuteno ou sistemas pouco confiveis caso se opte por uma

    estrutura fora do rgo de controle (ANTP, 2012a, p.124).

  • 20

    H impactos positivos na utilizao de sistemas de informao ao usurio, que tido

    como extremamente exigente quanto qualidade da informao. No entanto,

    enquanto as falhas no provimento da informao tm impacto bastante negativo, a

    disponibilizao de informao inclusive atrai novos usurios que passam a confiar

    mais no servio quando as informaes sobre ele so mais abundantes ao menos

    o que ocorre internacionalmente, j que no h estudos relevantes no Brasil a

    esse respeito (ANTP, 2012a, p.129).

    Londres uma cidade com transporte pblico em nvel avanado. Alm de fornecer

    servios bem-estruturados de transporte em si, as informaes ao usurio do

    sistema so abundantes e relevantes: indicao de prxima parada dentro de

    nibus, metrs e trens, inclusive com aviso sonoro alm do visual - mensagem

    falada; horrio aproximado de chegada atravs de placas eletrnicas nos pontos de

    parada, de Short Message Service (SMS, Servio de Mensagens Curtas) - o usurio

    envia uma mensagem pelo telefone celular e o sistema responde dizendo a hora de

    chegada, de ligao automtica - o usurio telefona para um nmero gratuito e um

    sistema informatizado disponibiliza o horrio de chegada dos prximos nibus.

    De acordo com estudo publicado pela TCRP (2003) h benefcio real devido

    implantao de sistemas que informam os usurios sobre o tempo de espera nos

    pontos de parada. Os benefcios apontados pela TCRP no deixam dvidas sobre a

    eficcia da implantao desse tipo de sistema na percepo geral dos usurios:

    Usurios tm a percepo que o tempo de espera menor em pontos de

    parada que possuem informao em tempo-real e, por isso, a espera mais

    tolervel;

    Usurios so estimulados a usar o transporte pblico mais frequentemente;

    Pode-se esperar aumento tanto do nmero de usurios do sistema quanto do

    lucro;

    Essas iniciativas poderiam resultar em mudana modal para o transporte

    pblico (diminuio no uso de outros meios de transporte para utilizao do

    coletivo).

    De acordo com a TCRP, aps a pesquisa, em 2003, as agncias que j haviam

  • 21

    implantado sistemas desse tipo relataram diversos benefcios e os dois principais

    foram uma melhoria no servio ao usurio e um aumento na satisfao dos usurios.

    Na pesquisa, responderam aos questionrios agncias de transporte dos Estados

    Unidos da Amrica, Itlia, Reino Unido, Finlndia, Irlanda e Taiwan (TCRP, 2003, p.

    37).

    Apesar de exemplos patentes nos pases da Europa, sia e Amrica do Norte, no

    Brasil, [...] a utilizao de sistemas de informao ao usurio baseados em

    tecnologias de automao e enquadrados no universo do ITS (Intelligent

    Transportation Systems) [...] somente tomou impulso no transporte pblico brasileiro

    na ltima dcada [...] (ANTP, 2012a, p. 124). Apesar de muitas cidades j contarem

    com algumas informaes sobre o transporte, especialmente aquelas de tipo

    esttico como a disponibilizao de itinerrios e de informaes sobre bilhetagem

    eletrnica, muito incipiente o uso de tecnologias voltadas para a ubiquidade da

    informao e, especialmente, a disponibilidade dessa informao em tempo real ou

    prximo do real.

    No Brasil, quanto ao tempo de cada viagem, a mdia de 41 minutos nos

    municpios com mais de 1 milho de habitantes, chegando a 21 minutos nos

    municpios que possuem entre 60 mil e 100 mil habitantes (ANTP, 2012b). Ou seja,

    se o passageiro esperar por 20 minutos no ponto de parada em uma cidade com

    mais de 1 milho de habitantes, seu tempo total de viagem passa para uma hora,

    sendo a espera metade do tempo que ele gasta efetivamente do ponto de subida ao

    ponto de descida. Em uma cidade menor o tempo de espera acaba sendo igual ao

    tempo de viagem, no exemplo citado, gastando-se o dobro do tempo necessrio ao

    utilizar o transporte pblico. Nesse sentido, um servio de informao de horrios

    eficiente e disponvel em larga escala para os usurios pode ser extremamente til:

    alm de tornar a espera mais tolervel, o passageiro pode inclusive decidir por no

    esperar ou se programar melhor para utilizar o tempo que esperaria no ponto,

    realizando outras atividades e encaminhando-se ao ponto somente quando a hora

    de chegada do nibus se aproxima.

    1.4 O sistema de informao de transporte pblico em Vitria, Esprito

    Santo

  • 22

    De acordo com a Secretaria de Transportes, Trnsito e Infraestrutura Urbana da

    Prefeitura de Vitria (SETRAN, 2012), cerca de 120 mil pessoas, em um universo de

    330 mil habitantes, utilizam o sistema de transporte coletivo municipal por dia, sendo

    este o nico meio de transporte pblico no municpio. S em dezembro de 2010,

    mais de 3,5 milhes de usurios utilizaram a frota de nibus de Vitria. Para uma

    parcela considervel da populao, no h alternativa de deslocamento na cidade a

    no ser o nibus municipal, e a espera pela chegada do transporte no ponto faz

    parte de sua rotina diria. Vitria conta com 56 linhas de nibus distribudas em 342

    veculos, que possuem idade mdia de 4,5 anos.

    Em 2009, todos os nibus do sistema de transporte coletivo de Vitria foram

    modernizados com aparelhos de localizao via GPS e tambm de transmisso de

    informaes via tecnologia General Packet Radio Service (GPRS, Servio de Rdio

    de Pacote Geral), conhecido comumente como Internet mvel, que aumenta as

    velocidades de transmisso de dados via redes de celular do tipo Global System for

    Mobile Communications (GSM, Sistema Global para Comunicaes Mveis). A

    tecnologia de GPS proporciona a localizao com altssima preciso e os dados so

    transmitidos central via redes de celular atravs do GPRS. Inicialmente, a

    implantao do projeto de localizao automtica visou a melhoria do controle do

    transporte e da gesto do sistema, especialmente quanto ao cumprimento do quadro

    de horrios pelas empresas concessionrias e quanto deteco de desvios de rota

    pelos motoristas.

    Cumpre destacar que a Prefeitura de Vitria disponibiliza um sistema que permite o

    acesso aos dados sobre o tempo de chegada dos nibus aos pontos de parada: o

    PontoVitria1, divulgado pela primeira vez em 19 de maro de 2009. Importante

    observar o tom ctico da enquete apresentada aos leitores do portal Gazeta Online

    (2009), maior portal de notcias do Estado do Esprito Santo, na data da divulgao

    da primeira notcia sobre a disponibilizao da tecnologia: Voc acredita no

    funcionamento desse sistema?. Mesmo tendo a primeira divulgao em 2009, o

    sistema s foi efetivamente disponibilizado para a populao em novembro do ano

    seguinte. O custo do software implantado foi de R$ 1,2 milho (GAZETA ONLINE,

    1 http://vitoria.es.gov.br/pontovitoria

  • 23

    2009). No se sabe se este custo inclui alguma implantao de infraestrutura ou

    est relacionado somente ao software disponibilizado.

    De acordo com a Setran (2013), "O servio disponibiliza ao cidado melhor controle

    sobre os horrios das linhas de nibus que utiliza diariamente em cada ponto da

    cidade, permitindo ao usurio seguir para o ponto de parada restando poucos

    minutos para o embarque. Dessa forma, o Ponto Vitria proporciona mais conforto e

    segurana aos cidados [...]". J o portal GazetaOnline (2010) inicia a matria

    questionando "Sabe aqueles minutos preciosos que cada cidado perde no ponto de

    nibus espera do transporte coletivo? A partir de hoje, eles podero ser

    economizados".

    O sistema Ponto Vitria depende do correto funcionamento do mdulo de

    transmisso de localizao do veculo, composto de GPS e transmitido via GPRS

    (SETRAN, 2013). Esse mdulo est presente em todos os nibus da frota a fim de

    tornar possvel a localizao automtica dos veculos. A Figura 4 mostra o mdulo

    de transmisso que est atualmente instalado nos coletivos de Vitria.

    Figura 4: Mdulo integrado dos nibus do transporte de Vitria Fonte: SANTOS (2011, p.358)

  • 24

    A exemplo de outras cidades do Brasil e do exterior, o sistema de AVL para a cidade

    de Vitria foi projetado, primariamente, para monitoramento e controle da frota, dos

    funcionrios e dos horrios a serem cumpridos pelas empresas prestadoras do

    servio, como forma institucional de controle para o pblico interno de gestores e

    administradores do transporte no municpio, sem abertura das informaes para os

    usurios externos, ou seja, os cidados que utilizam o servio. O Gazeta Online

    (2010) afirma que "O novo servio um subproduto do sistema de monitoramento

    de linhas de nibus implantado pela Setran, no fim de 2008 [...]". Em comunicao

    tcnica na ANTP, Santos deixa claro os propsitos iniciais do Sistema Pontual, como

    denominado o sistema AVL de Vitria:

    Com os relatrios dirios do Sistema, torna-se fcil determinao de

    pontos crticos do itinerrio, reas de maior utilizao dos nibus e

    desempenho das linhas, bem como informaes referentes utilizao dos

    veculos no dia-a-dia, como velocidade mdia por trecho, tempo ocioso, ou

    seja, tempo em que o nibus fica com o motor ligado sem se deslocar,

    freadas bruscas, velocidades excessivas, violao de itinerrio, formao de

    comboio, atrasos de viagens, entre outros (SANTOS, 2011, p.356)

    Enquanto na cidade de Vitria ainda conta-se apenas com a utilizao atravs do

    sistema projetado pela Setran e disponibilizado em endereo virtual 2 (SETRAN,

    2013), muitas cidades avanaram fortemente na disponibilizao das informaes

    de localizao dos veculos. A consulta aos horrios, em outras localidades ao redor

    do mundo, alcana outros meios e, portanto, est acessvel para uma parcela maior

    da populao. Alm da disponibilizao em um endereo virtual atravs de um site

    na Internet, h tambm a possibilidade de consultar os horrios via mensagens de

    texto (SMS), via ligao telefnica gratuita, via aplicativos para telefones celulares,

    via painis de mensagem varivel alocados nos pontos de nibus e nos terminais

    rodovirios. Alm do acesso pelo computador, em Vitria foi disponibilizado apenas

    um totem contendo uma tela de consulta para os horrios, localizado dentro do

    prdio da Prefeitura Municipal (GAZETA ONLINE, 2010).

    Atualmente, prtica comum que empresas com grandes volumes de dados

    2 http://vitoria.es.gov.br/pontovitoria

  • 25

    disponibilizem acesso a esses dados atravs do que conhecido como Aplication

    Programming Interface (API, Interface de Programao de Aplicativos). Atravs de

    uma API, um programador independente, ou seja, externo organizao que detm

    os dados, pode confeccionar programas que se utilizam dos dados disponibilizados

    pela empresa, manipulando-os da forma que desejar.

    Atravs da utilizao de API, empresas abrem seus dados de forma segura e se

    aproveitam de todo o potencial de criao de desenvolvedores e designers

    independentes. Disponibilizar as informaes de horrios de nibus obtidas atravs

    de sistemas AVL uma forma interessante de obter uma comunidade de

    desenvolvimento de aplicativos e solues sem direcionar recursos especficos para

    tal. A cidade de Londres, por exemplo, disponibiliza diversas APIs para seu sistema

    AVL atravs de um portal especializado3, permitindo que os dados sejam utilizados

    para diversas aplicaes, beneficiando assim os usurios sem interveno direta do

    governo da cidade na criao desses subprodutos. O governo fornece os dados de

    forma consistente e o cidado beneficiado pelo trabalho de outros cidados. A

    Figura 1 demonstra de forma simplificada como diversos dispositivos poderiam

    acessar os dados do Sistema Pontual atravs da utilizao de uma API pblica.

    3 http://www.tfl.gov.uk/businessandpartners/syndication/default.aspx

  • 26

    Figura 5: Benefcios de uma API para o Sistema Pontual Fonte: Elaborada pelo autor

    Vale destacar que, mesmo que seja compreensvel que o primeiro esforo vise a

    melhoria do sistema de controle do transporte, conforme afirmado anteriormente,

    aps quatro anos desde a implantao do sistema na cidade de Vitria ainda temos

    pouca evoluo quanto sua disponibilizao para a populao que est na rua.

    Assim, para suprir essa limitao e tendo-se em vista que a Prefeitura no

    disponibiliza acesso padronizado para os dados atravs de API, diversos

    desenvolvedores utilizam-se de outras maneiras para obter as informaes e

    transform-las, criando aplicativos que sejam de fcil utilizao e que disponibilizem

    os horrios atravs do telefone celular, ampliando um pouco mais o acesso da

    populao.

    Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, alguns aplicativos no-oficiais e

  • 27

    solues de software foram desenvolvidos utilizando-se dos mesmos dados

    apresentados pela Prefeitura de Vitria em seu sistema PontoVitria.

    1. Website NoPonto4

    2. Aplicativo para Android Ponto Vitria5

    3. Aplicativo para Android Buzzo Vitria6

    4. VixBus: rob de resposta automtica para Twitter7

    Atualmente, a Prefeitura de Vitria oferece apenas o acesso atravs do site na

    Internet. Este site exige um computador ou outro dispositivo que possua navegador

    de Internet habilitado a visualizar as informaes. Como essas informaes

    encontram-se disponveis em um site na Internet so, portanto, de difcil acesso

    populao que encontra-se na rua, sem meios de consulta rede mundial. Alm

    disso, um sistema como o oferecido demanda a ateno direta de qualquer um que

    o utilize, j que acessado atravs do computador. Na maioria dos casos,

    necessrio: sentar ao computador, abrir o navegador da Internet, digitar o endereo

    para navegar at ele, buscar o ponto desejado e escolher a linha desejada para,

    enfim, aps todas estas etapas, visualizar os horrios disponibilizados.

    Neste captulo estabelecemos o avano global na ltima dcada dos sistemas de

    transporte inteligentes e das tecnologias de localizao automtica de veculos.

    Alm disso, destacamos que, comparado a outros pases, o Brasil ainda encontra-se

    na retaguarda desses avanos e que a cidade de Vitria, merecendo destaque no

    territrio nacional, tem sua frota completa monitorada desde 2008. Mesmo assim,

    frisamos que necessrio avanar nas maneiras de disponibilizao das

    informaes para a populao e identificamos que a utilizao de uma API pblica

    seria ideal neste caso. No prximo captulo abordaremos tecnologias e formas de

    disponibilizao de dados bastante diferentes das maneiras tradicionais,

    aproveitando-nos dos avanos da tecnologia computacional eletrnica para o projeto

    de dispositivos cada vez mais fceis de usar.

    4 http://www.metzen.com.br/noponto. Servio atualmente fora de funcionamento. 5 https://play.google.com/store/apps/details?id=br.ufes.inf.ravitoi.pontovitoria 6 https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.buzzao.pmv. O aplicativo Buzzo Vitria foi

    noticiado pelo portal Gazeta Online, conforme a matria a seguir: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/07/noticias/a_gazeta/dia_a_dia/1304237-previsao-de-chegada-do-onibus-pelo-celular.html 7 https://twitter.com/VixBus. Atualmente fora de funcionamento.

  • 28

    Captulo 2: Sistemas de informao ambiente

    No final do sculo XX e incio do sculo XXI observamos de perto a rpida ascenso

    dos computadores, permeando as mais diversas atividades humanas e

    transformando nossas relaes. A Internet vem sendo construda de forma a estar

    presente em todas as nossas atividades:

    A Internet vem sendo chamada a realizar cada vez mais tarefas - do acesso

    eletrnico a bancos ao monitoramento de tsunamis. Se a Internet pudesse

    desejar qualquer presente para seu aniversrio de 40 anos, provavelmente

    pediria para ser mais poderosa, conectada e intuitiva - respondendo s

    nossas necessidades em casa, no trabalho ou na rua. 8 (European

    Comission, 2014, traduo nossa)

    Inserida em nossas vidas de diversas maneiras, a tecnologia computacional hoje em

    dia no se resume mais aos computadores conforme eram conhecidos na dcada

    de 80. Apesar de o Personal Computer (PC, computador pessoal) ser o maior

    expoente desse universo ainda hoje, a miniaturizao dos componentes eletrnicos

    tornou possvel uma gama completamente nova de objetos eletrnico-

    computacionais, que cada vez mais inserem-se em nossas atividades cotidianas

    sem serem notados. Essa pervasividade computacional caracterstica do momento

    tecnolgico em que vivemos traz consigo um desafio que diz respeito ao estresse

    informacional. Essa uma questo preocupante, sendo objeto de estudo de

    diversas rea cientficas ao redor do mundo. Em artigo publicado no New York

    Times sobre o assunto, Nora Volkow, uma das mais notveis cientistas

    especializadas no crebro humano, diz que a tecnologia tal qual temos hoje est

    reorganizando as ligaes neuronais dos nossos crebros. Adam Gazzaley,

    neurocientista da Universidade da Califrnia, So Francisco, afirma categoricamente

    que j sabemos que h consequncias claras da superexposio do crebro a esse

    ambiente de alta densidade informacional. Devido a esse fluxo fragmentado de

    informaes, muitas pessoas tem dificuldade de focar a ateno e de se concentrar

    em situaes comuns do dia-a-dia (RICHTEL, 2010). Mais adiante neste captulo

    8 The Internet is called on to perform increasingly many tasks - from online banking to tsunami

    monitoring. If the Internet could wish for anything on its 40th birthday, it would probably ask to be more powerful, connected and intuitive responding to our needs at home, work or on the go. Disponvel em: .

  • 29

    abordaremos como os sistemas de informao ambiente podem amenizar o

    estresse relacionado com essa sobrecarga informacional. Partindo do design de

    interao, demonstraremos como podemos projetar de forma a contribuir para um

    uso mais calmo da tecnologia computacional.

    2.1 Sistemas de informao e design de interao

    A evoluo e crescente disponibilidade dos PCs abriu caminho para o surgimento de

    uma nova rea de produo para os designers que, pelas caractersticas especficas

    que apresenta, ficou conhecida como design de interao. O Design , no senso

    comum, frequentemente vinculado somente camada esttica e de apresentao

    de um artefato ou sistema visual, apesar de poder desempenhar papis ainda mais

    estruturais que esse.

    [...] com a evoluo natural dessa rea de atuao, o papel dos designers

    no se limitou interface grfica. Dar uma aparncia agradvel aos

    sistemas projetados pelos engenheiros de software no era o suficiente

    para torn-los mais amigveis e fceis de usar. A atuao dos designers

    deveria ir alm da chamada camada de apresentao, envolvendo-se no

    projeto do software desde suas etapas iniciais. Alm da apresentao das

    informaes, da diagramao dos dados em uma superfcie, de definio de

    famlias tipogrficas e padres cromticos questes sensveis no campo

    da comunicao visual os designers passaram a pensar a organizao

    das informaes em um nvel mais profundo, elaborando a categorizao de

    dados, a taxionomia dos termos utilizados nos programas, preocupando-se

    tambm com as respostas do sistema aos inputs dos usurios. Tratava-se

    no mais de pensar a interface, mas de pensar toda a interao com o

    sistema, inputs e outputs possveis, o que veio a ser chamado de design da

    interao. (Rodrigues, 2011, p. 83)

    Assim, com a introduo de objetos conectados Internet capazes de interagir com

    o usurio de maneiras nunca antes experimentadas, temos como que ampliada essa

    funo do designer na construo da interao desses usurios com os dispositivos

    atuais. E est no cerne dessa atividade transformar as tarefas mais simples do dia-

    a-dia ao adicionar uma camada informacional a elas, nessa nova era da computao

    pervasiva. Greenfield (2006) fornece-nos o exemplo da banheira de hidromassagem

    produzida pela empresa brasileira IHOUSE que, repleta de sensores e inteligncia,

  • 30

    permite que, distncia, o usurio ajuste temperatura da gua, programe o nvel de

    massagem, ajuste leos e espumas de banho, cores e intensidade das luzes e ainda

    seja avisado, por telefone, que seu banho est a sua espera em casa assim que

    chegar do trabalho. E isso tudo projetado e comercialmente operante no ano de

    2006. De l pra c muito mudou e a quantidade de dispositivos conectados cresceu

    conforme j era esperado: at 2018 estima-se que o nmero de objetos desse tipo

    conectados seja igual soma de todos os smartphones, PCs, televisores e tablets

    juntos, ultrapassando a marca de 9 bilhes de dispositivos9. Uma das primeiras

    questes que nos vem mente est relacionada sobrecarga de informao: ser

    possvel lidar com tanta informao de uma s vez nossa volta?

    Pesquisas recentes sugerem que o crescente volume de informao

    disponvel e a interrupo provocada por isso no trabalho das pessoas

    pode afetar no somente o bem-estar pessoal mas tambm as tomadas de

    deciso, a inovao e a produtividade. Em um estudo, por exemplo,

    pessoas levaram em torno de 25 minutos para retornar a uma tarefa aps a

    interrupo causada por um e-mail. Essa uma pssima notcia tanto para

    os indivduos quanto para suas organizaes10 (HEMP, 2009, p.3, traduo

    nossa)

    Por isso, em meio enxurrada atual de telefones celulares, tablets, televisores com

    acesso Internet e etc., h um tipo de computao mais sutil que vem surgindo: a

    computao ambiente 11 . Esse tipo de computao atual insere-se no ambiente,

    mesclando o computador aos objetos do dia-a-dia e adicionando a eles uma camada

    completamente diferente: a da informao computacional. Tanto recolhendo quanto

    fornecendo dados, os sistemas de informao ambiente so feitos para no invadir

    nossas rotinas e para fornecer informao til enquanto se mesclam suavemente ao

    nosso entorno. Essas tecnologias de informao ambiente so pensadas para

    9 http://www.businessinsider.com/growth-in-the-internet-of-things-2013-10 10 Current research suggests that the surging volume of available informationand its interruption of peoples workcan adversely affect not only personal well-being but also decision making, innovation, and productivity. In one study, for example, people took an average of nearly 25 minutes to return to a work task after an e-mail interruption. Thats bad news for both individuals and their organizations. 11 No escopo deste trabalho estabelecer uma diferenciao formal entre computao pervasiva,

    ubiquidade computacional, Internet das coisas e etc., mas fazer uso desses conceitos a fim de esclarecer e definir os sistemas de informao ambiente. Rodrigues (2011) estabelece muito claramente as distines entre esses conceitos e sugerimos sua publicao como referncia para o aprofundamento no assunto.

  • 31

    serem minimamente percebidas fora do nosso foco direto de ateno, ou seja, so

    projetadas para funcionar em conjunto com todas as nossas outras atividades

    (Rodrigues, 2011). Certamente essa maneira de projetar objetos de forma no-

    invasiva muito til em uma era de estresse causado por excesso de informao.

    2.2 Sistemas de informao ambiente, calm technology e pervasividade

    computacional

    Fazendo parte do conceito maior de computao ubqua 12 , os sistemas de

    informao ambiente so maneiras de, especialmente, explorar o problema da

    sobrecarga de informao. necessrio atentar para o fato que lidamos com uma

    quantidade muito maior de informao em atividades fora do computador do que

    atravs dele e, mesmo assim, ele nos parece mais complexo e cansativo muitas

    vezes.

    [...] H mais informao disponvel para ns durante uma caminhada em um

    bosque do que em qualquer sistema computacional, entretanto as pessoas

    acham uma volta no bosque algo relaxante enquanto computadores so

    frustrantes. Mquinas que encaixam no ambiente humano, ao invs de

    forar humanos a entrar no seu ambiente, iro fazer com que usar um

    computador seja to agradvel quanto uma caminhada no bosque. 13

    (WEISER, 1991, p. 104, traduo nossa).

    Por essa razo, em uma era de sobrecarga de informao computacional,

    importante entender que a tecnologia deve avanar para que se assemelhe mais

    caminhada no bosque exemplificada por Weiser, gerando menos estresse para sua

    utilizao diria. claro que devemos entender que no somente o fator

    tecnolgico que determina o estresse relacionado ao uso de determinada tecnologia

    e ateno que dispensamos a ela. Conforme afirma Rodrigues (2011), elucidando

    12 Ubiquidade computacional, computao ubqua ou simplesmente ubicomp so conceitos das

    cincias da computao introduzidos por Mark Weiser na dcada de 80 e referem-se a uma presena invisvel dos computadores em nosso meio, assim como a presena da escrita atualmente. como se as tecnologias computacionais, dentro desse conceito de ubiquidade, fossem mais percebidas quando esto ausentes do que quando esto presentes (RODRIGUES, 2011, p. 15). 13 There is more information available at our fingertips during a walk in the woods than in any computer system, yet people find a walk among trees relaxing and computers frustrating. Machines that fit the human environment, instead of forcing humans to enter theirs, will make using a computer as refreshing as taking a walk in the woods.

  • 32

    sobre este processo

    [...] A ateno deve ser entendida como um continuum entre processos

    automticos (que demandam menos recursos cognitivos e aumentam a

    possibilidade de realizao de atividades simultneas) e processos

    voluntrios (que demandam mais recursos cognitivos e em geral ocorrem de

    forma serial, reduzindo a possibilidade de envolvimento com atividades

    paralelas). A maneira como esses processos atuam varia em funo do

    contexto, da situao que motiva a captura da ateno, sofrendo tambm

    influncia da memria, do conhecimento acumulado atravs de experincias

    anteriores. (Rodrigues, 2011, p. 122)

    Sistemas de informao ambiente podem ser formados de artefatos extremamente

    simples. Talvez o primeiro desses artefatos de que se tem notcia conhecido como

    Dangling String e consiste em um fio conectado a um motor no teto de uma sala.

    Pensado primariamente como uma instalao artstica pela artista Natalie

    Jeremijenko, o LiveWire, como tambm conhecido, denota a quantidade de trfego

    de rede de determinado local no centro de pesquisa da Xerox em Palo Alto (Xerox

    PARC), local onde foi instalado: quanto mais trfego na rede, mais rpido o motor

    gira, girando tambm o fio plstico amarrado a ele. Esse giro, quando em

    velocidades mais altas, produz zumbidos caractersticos que permitem ter uma

    noo do trfego na rede sem nem ao menos olhar para o artefato (Rodrigues, 2011,

    p. 123).

    Um exemplo mais recente e completamente cotidiano do uso da informao

    ambiente o AmbientUmbrella. Ao mesmo tempo que executa as funes de um

    guarda-chuva comum, o AmbienteUmbrella pode conectar-se a um servio de

    previso do tempo na Internet e acender uma luz azul quando h previso de chuva,

    informando com antecipao quando necessrio lev-lo para a rua. A Figura 6 e a

    Figura 7 demonstram os dois artefatos. Na seo 3.3 abordamos outros exemplos

    de sistemas de informao ambiente.

  • 33

    Figura 6: LiveWire (Dangling String) Fonte: Rodrigues (2011, p.124)

    Figura 7: AmbientUmbrella avisa quando vai chover Fonte: Rodrigues (2011, p.134)

    Neste captulo observamos como o avano das tecnologias computacionais tem

    permitido cada vez mais a criao de sistemas de informao ambiente, conectados

    a informaes antes ocultas atravs dessas tecnologias. Vimos tambm que um dos

    propsitos fundamentais desses sistemas diminuir a tenso gerada com a

    sobrecarga de informaes do mundo atual, gerando um uso mais calmo da

    tecnologia. No captulo a seguir abordaremos a construo de um artefato que leva

    em considerao esses conceitos ao levar os horrios de nibus para uma interface

    fsica com a utilizao de tecnologias eletrnicas.

  • 34

    Captulo 3: Um sistema de informao ambiente para os horrios

    de nibus de Vitria: construindo um artefato

    Apesar dos avanos dos ltimos anos, a utilizao de sistemas inteligentes para o

    transporte pblico ainda pouco explorada no Brasil. Mesmo assim, a adoo

    desses sistemas, especialmente quanto localizao automtica de veculos, tem

    crescido e medida que a tecnologia para informar o usurio torna-se mais

    presente, cada vez mais possvel fornecer os horrios de nibus aos cidados a

    fim de minimizar sua ansiedade durante a espera do coletivo. Por isso, a fim de

    justamente minimizar essa ansiedade, importante ser cautelosos a fim de no

    sobrecarregar as pessoas com sistemas que sobrecarreguem os usurios de

    informao e que gerem cada vez mais estresse por necessitarem de sua ateno

    direta e focada. Atravs da aplicao dos conceitos dos sistemas de informao

    ambiente podemos disponibilizar as informaes de forma mais calma, trazendo o

    conforto da informao sem forar uma interao estressante.

    Pretendeu-se, como concluso deste projeto, construir um dispositivo informacional

    a ser disponibilizado no ambiente de forma contnua, operando de forma a

    evidenciar o tempo de chegada de determinada linha de nibus a um ponto de

    parada especfico e comportando-se em conformidade com os princpios dos

    sistemas de informao ambiente.

    Para a construo e desenvolvimento do artefato aplicou-se uma metodologia de

    projeto em design derivada a partir de Brdek (2006) e Lbach (2001). Ambos

    exploram etapas similares para os projetos de design, que podemos sintetizar da

    seguinte forma: definio do problema, levantamento de dados, gerao de

    alternativas de projeto, escolha de uma (ou mais) ideias a se projetar, prottipo e

    testes. Lbach (2001) aprofunda-se na execuo do projeto atravs da produo

    industrial propriamente dita e da especificao detalhada de todos os itens de

    fabricao do artefato. Entretanto, este no o escopo deste trabalho de graduao,

    que se dar por finalizado com a construo de prottipo funcional que possibilite a

    realizao de testes. Esteticamente, o prottipo simula visualmente uma possvel

    verso do produto final atravs da utilizao de materiais artesanais, mas seu

    funcionamento real (no simulado). A seguir apresentamos as etapas

  • 35

    desenvolvidas para a construo do artefato em questo.

    3.1 Definio do problema

    3.1.1 Definio de pblico alvo

    Embora, em tese, um artefato desta natureza seja aplicvel a diversos pblicos

    diferentes, para fins de recorte definiu-se como pblico alvo os alunos de graduao

    frequentadores da Ufes que utilizam o transporte pblico de Vitria. Este recorte se

    faz necessrio devido natureza tecnolgica do artefato, que exige conexo

    contnua com a Internet e com a rede de alimentao de energia eltrica. Alm

    disso, esse pblico de fcil acesso e cooperao dentro da Universidade Federal

    do Esprito Santo (Ufes). Por essa razo, em acordo com o Laboratrio de Design

    Instrucional (LDI), o artefato construdo foi testado por vinte dias no Ncleo de

    Ensino Aberto e Distncia (Ne@ad), onde est localizado o laboratrio. O LDI

    conta com treze alunos-bolsistas que puderam estar em contato com o projeto

    durante este tempo.

    3.1.2 Delimitao do contexto do projeto

    O projeto se limita visualizao dos horrios de nibus do transporte municipal de

    Vitria, Esprito Santo. Para o contexto deste projeto, devido sua natureza, foi

    selecionada uma linha de nibus e um ponto de parada. A linha selecionada

    inicialmente foi a de nmero 0214 Bento Ferreira / Goiabeiras (via Shopping) e o

    ponto de parada escolhido foi o de nmero 616614, localizado em frente ao Teatro

    Universitrio do Campus Goiabeiras da Ufes, na Avenida Fernando Ferrari. A Figura

    8 mostra em um mapa o local de disponibilizao do dispositivo e o local do ponto

    de parada a que ele se refere. A distncia entre o local de instalao do dispositivo e

    o ponto de parada de aproximadamente 150 metros.

    Durante a etapa de testes decidiu-se mudar temporariamente a linha monitorada

    para que outras pessoas, com outros destinos, pudessem tambm se utilizar do

    recurso, enriquecendo os testes. Este foi um pedido feito pela equipe do laboratrio

    que estava utilizando o artefato. Por esta razo, em dias especficos, acordados com

    14 Essa numerao a forma apresentada pela PMV para identificar os pontos de parada. Todos os

    nmeros esto disponveis em

  • 36

    a equipe que estava utilizando, o servio foi ajustado para operar com as linhas

    0161 Mrio Cyprestes / Jardim Camburi (via Marupe) e 0121 Mrio Cyprestes /

    Jardim Camburi (via Reta da Penha).

    Figura 8: Localizao do artefato e do ponto de parada nmero 6166 Fonte: Elaborada pelo autor

    3.2 Levantamento de dados

    3.2.1 Anlise de similares

    Ao longo deste trabalho foram observados diversos sistemas de informao

    ambiente, mesmo que no possussem relao direta com o transporte pblico. Esta

    anlise permitiu considerar tanto o contexto das informaes sobre o transporte

    quanto o das informaes no ambiente com base computacional. A seguir,

    destacamos duas solues de informao ambiente que tem funo anloga do

    VisualizaBus, relacionadas ao transporte, e uma soluo muito diferenciada para

    informaes financeiras, exemplificando seus contextos de uso.

    3.2.1.1 Ambient Trolley

    O projeto Ambient Trolley muito semelhante ao projeto desenvolvido por ns.

    Apesar de diferir tecnicamente em diversos aspectos, sua representao tambm

    realizada atravs de um pequeno artefato que se movimenta em uma base pr-

  • 37

    configurada, proporcionando uma noo temporal a respeito da chegada do prximo

    veculo a um ponto de parada especfico, tendo seu tempo indicado por pequenos

    marcadores textuais. Tratamos do Ambient Trolley, em primeiro lugar, por se tratar

    do projeto mais semelhante encontrado entre as referncias pesquisadas.

    Desenvolvido pelos integrantes do Information Interfaces Lab (Laboratrio de

    Interfaces de Informao) da Georgia Institute of Technology (Georgia Tech, Instituto

    de Tecnologia da Georgia), o sistema de informao ambiente auxilia os integrantes

    do laboratrio na previso dos horrios do bonde que faz o transporte entre o

    laboratrio, a estao de metr e outros pontos dentro da universidade.

    No relato de sua experincia, os membros responsveis pelo Ambient Trolley

    descrevem a dificuldade de mover o artefato com preciso, fazendo-se necessrio o

    uso de botes de incio e fim de curso, maneira que tambm utilizamos no nosso

    projeto (seo 3.4.2.6). Uma diferena crucial entre o projeto que propusemos e o

    Ambient Trolley, no entanto, que no caso deste ltimo necessria a utilizao de

    um computador para processamento, enquanto no nosso somente utilizamos o

    Arduino15 e um shield de conexo Internet (os shields so abordados com mais

    profundidade na seo 3.4.2). No projeto AmbientTrolley, a comunicao realizada

    entre o pequeno trem, uma placa controladora Phidgets16 e um computador pessoal

    (PC) que, [...] em intervalos regulares, [...] retorna uma pgina Web simples

    contendo horrios estimados de chegada baseados em informaes de GPS

    fornecidas pelo NextBus17 [...]18 (STASKO et al., 2007, traduo nossa). Essa uma

    caracterstica importante em sistemas de visualizao ambiente. Quanto mais

    invisvel o computador em si puder ser, melhor. Ou seja, quanto menos um sistema

    de informao ambiente for parecido com um computador comum, mais integrado

    15 O Arduino , de forma elementar, um placa de circuito eletrnico programvel a partir de um

    computador. Uma vez programado, o Arduino opera os comandos de forma independente, sendo capaz de receber informaes de sensores (como temperatura, luminosidade, presso e etc.) e controlar dispositivos eletroeletrnicos (como motores, luzes, caixas de som e etc.). Abordaremos o Arduino em profundidade mais adiante neste trabalho. 16 http://www.phidgets.com/ 17 O NextBus um servio de localizao dos veculos operados pela San Francisco Municipal

    Transportation Agency - SFMTA (Agncia de Transporte Municipal de So Francisco), localizada na Califrnia, EUA. Disponvel em http://www.nextbus.com. 18 At regular intervals, the application retrieves a simple web page containing estimated arrival times

    based on GPS data provided by NextBus

  • 38

    ele aparentar estar com o ambiente. A ideia que sistemas desse tipo se

    aproximem na forma de um objeto ou sistema informacional qualquer, mesclando-se

    no ambiente. Isso significa que cabos e tudo que possa remeter a um computador

    de uso comum deve estar o mais camuflado possvel e o computador pessoal

    comum deve ser evitado a todo custo, abrindo espao para computadores menores

    e mais invisveis. Como podemos ver, no caso do Ambient Trolley, os fios de

    conexo ao computador so bastante visveis, apesar de o PC estar camuflado.

    Figura 9: Carro de ferrovia do Ambient Trolley Fonte: Pgina do projeto AmbientTrolley na Web19

    Figura 10: Viso geral do AmbientTrolley Fonte: STASKO (2007)

    19 Disponvel em: http://www.cc.gatech.edu/gvu/ii/trolley/, acesso em 10 mar. 2014

  • 39

    3.2.1.2 BusMobile

    Seguindo a mesma linha de aplicao relacionada ao transporte pblico, o projeto

    BusMobile uma iniciativa do Intel Research Berkeley20, e disponibiliza os horrios

    para seis linhas de nibus distintas. O dispositivo composto de seis plaquetas que

    contm a referncia do nibus e, atravs de pequenos motores adaptados no topo, a

    estrutura movimenta as plaquetas, movendo-as de baixo para cima. Quanto mais

    alta est a plaqueta, mais prximo o nibus est de chegar. As plaquetas so

    movidas independentemente. A Figura 11 demonstra a instalao do dispositivo e as

    plaquetas em utilizao.

    Este artefato se destaca por apresentar seis linhas diferentes para o mesmo ponto

    de parada, utilizando seis marcadores independentes. No entanto, um usurio que o

    utiliza pela primeira vez precisa de algum tempo de aprendizado para compreender

    seu funcionamento, devido abstrao que o objeto proporciona. Na Figura 11

    observa-se, no quadro branco, que h explicaes sobre o funcionamento do

    artefato.

    Figura 11: Viso geral do BusMobile Fonte: MANKOFF & DEY (2003)

    20 O Intel Research Berkeley fazia parte de uma rede de laboratrios de pesquisa patrocinados pela

    gigante da computao Intel Corporation. Os ltimos laboratrios foram fechados em 2011, incluindo o Intel Research Berkeley. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Intel_Research_Lablets

  • 40

    3.2.1.3 Datafountain: cotaes financeiras com colunas dgua

    O projeto DataFountain21 foi escolhido para figurar aqui por sua simplicidade externa

    e por estar muito bem alinhado s caractersticas dos sistemas de informao

    ambiente. Conectado s cotaes da bolsa de valores, o dispositivo utiliza colunas

    de gua, em forma de chafariz, para demonstrar a relao entre as cotaes do

    Euro, do Dlar e do Yen. A complexidade envolvida na produo de uma instalao

    como essa foi completamente abstrada com a utilizao de gua para

    disponibilizao das informaes. O resultado final representado somente pela

    comparao entre as alturas das colunas de gua, que oferecem um panorama da

    situao atual entre as trs moedas. A DataFountain um exemplo claro de

    utilizao de um objeto extremamente comum para disponibilizao informaes

    complexas. A Figura 12 mostra o dispositivo em funcionamento.

    Figura 12: Viso geral do Datafountain Fonte: Pgina do projeto DataFountain na Web21

    21 Disponvel em: Acesso em 01 mar. 2014.

  • 41

    3.3 Gerao de alternativas e escolha de partido projetual

    A fim de gerar alternativas, partiu-se das informaes recolhidas para o desenho de

    possibilidades de projeto. Em um primeiro momento no houve preocupao com a

    adequao especfica das alternativas quanto ao contexto, criando-se diversas

    variaes que inclusive no se limitaram a uma linha especfica como a 0214

    Bento Ferreira / Goiabeiras (via Shopping). Em um segundo momento fez-se uma

    crtica a cada alternativa gerada, verificando tanto sua viabilidade tcnica quanto

    adequao aos requisitos do projeto a adequao aos sistemas de informao

    ambiente e a situao de uso pretendida, que a utilizao interna em um

    ambiente de escritrio.

    A seguir temos ilustraes do processo criativo de trs alternativas para o sistema

    informacional, com breve explicao de cada uma, destacando aspectos positivos e

    negativos de cada ideia gerada.

    3.3.1 Esferas de cores

    As esferas de cores utilizam a luz como fator primrio de indicao da proximidade

    dos nibus. De acordo com uma escala de cores e intensidades, os usurios seriam

    informados dos horrios aproximados para os nibus pr-configurados.

    De acordo com o exemplo da Figura 13, o prximo nibus da linha 0214 demoraria

    ainda mais de vinte minutos para chegar; o da linha 0161 entre dez e vinte minutos e

    o prximo da linha 0121 estaria a menos de dez minutos da sua chegada.

  • 42

    Figura 13: As esferas de cores Fonte: Elaborada pelo autor

    Figura 14: Legenda de cores das esferas Fonte: Elaborada pelo autor

    As esferas de cores, apesar de funcionais, possuem alguns problemas. O primeiro

    deles de natureza tcnica: mostradores luminosos no so claramente visveis

    durante o dia e necessitaramos de lmpadas de alta potncia para cada uma das

    linhas de nibus. Alm disso, qualquer abstrao dessa natureza, mesmo quando

    acompanhada de legenda, necessita de um certo tempo de leitura e aprendizado

    para ser compreendida. Como buscvamos um sistema mais intuitivo, esta ideia

    ficou em segundo plano. No entanto, relativamente complexidade de

    implementao, esta uma ideia muito simples e com implementao bastante

    rpida.

    3.3.2 Rolos giratrios de linha e tempo

    Os rolos giratrios de linha e tempo representam um aparato mecnico composto

    por dois rolos impressos com todas as linhas e todos os horrios possveis para o

  • 43

    ponto determinado. Dois motores, um para cada rolo, so responsveis pela

    movimentao. Assim que o artefato recebe as informaes, os motores atuam para

    posicionar a linha e o tempo estimado de forma correta, informando o tempo para a

    chegada do nibus. A Figura 15 demonstra como poderia ser esse artefato. A Figura

    16 mostra-o internamente, deixando evidente como funcionam o desenrolar e

    enrolar dos rolos impressos.

    Figura 15: Rolos giratrios de linha e tempo Fonte: Elaborada pelo autor

  • 44

    Figura 16: Funcionamento interno do sistema mecnico dos rolos Fonte: Elaborada pelo autor

    Mesmo que a informao seja muito clara e que um artefato como esse possibilite a

    visualizao de diversas linhas diferentes, ainda assim necessrio que o usurio

    leia tanto a linha quanto o tempo restante, exigindo ateno direta (para a leitura) e

    distanciando-se dos fundamentos da informao ambiente. De forma simples, este

    dispositivo uma tela analgica: ao invs de pixels como em uma tela eletrnica,

    temos papis impressos que se alternam, mudando a informao de acordo com a

    necessidade. A vantagem bvia deste artefato que deixamos de depender de uma

    tela luminosa, que usualmente apresenta problemas de luminosidade e de

    angulao para visualizao.

  • 45

    Figura 17: Vista lateral dos rolos Fonte: Elaborada pelo autor

    3.3.3 Simulao de chegada em escala

    Nesta alternativa temos a opo mais mecnica possvel: uma miniatura de nibus

    move-se sobre um trilho pr-determinado e quanto mais prximo o pequeno nibus

    se encontra do zero (denotado pelo tringulo vermelho esquerda do nmero 05

    na Figura 18), mais prximo o nibus est de chegar ao ponto configurado.

  • 46

    Figura 18: Simulao de chegada em escala Fonte: Elaborada pelo autor

    Uma desvantagem ntida desta opo que ela permite monitorar somente uma

    linha por vez. Mesmo assim, esta a opo que apresenta a informao de forma a

    demandar menos interpretao. O movimento do pequeno nibus como que simula

    o movimento do nibus real e a aproximao de um denota a aproximao do outro.

    A relao de interpretao da informao bastante direta e de apreenso rpida:

    basta uma rpida olhada para compreender o estado atual do sistema. Alm disso,

    a informao textual sobre o tempo apenas complementar: mesmo que os

    nmeros da escala de tempo fossem suprimidos seria possvel compreender o

    tempo restante a partir da experincia de uso continuado do objeto, aprendendo-se

    com o tempo quanto cada distncia representa no tempo de chegada do nibus ao

    ponto real.

    Esta foi a ideia adotada para a construo do dispositivo. Alm das vantagens

    informacionais que apresentamos anteriormente, devemos destacar que tnhamos

    disposio os componentes eletrnicos e eletromecnicos necessrios para

    produo deste artefato e esse fato tambm influenciou diretamente na escolha

    dessa ideia.

    3.4 Desenvolvimento do prottipo

    Apresentamos a seguir o desenvolvimento do dispositivo de informao ambiente

  • 47

    para informar os horrios de uma linha de nibus municipal de Vitria, relativo ao

    ponto 6166, conforme descrito anteriormente. Chamaremos este sistema de

    informao de VisualizaBus.

    Aps analisar uma srie de sistemas de informao ambiente, Rodrigues (2011,

    p.182) enumera uma lista de caractersticas que podem influenciar o envolvimento

    de nossa ateno no uso desses sistemas e em ltima instncia, na eficincia deles

    em nos comunicar algo. Baseando-nos na classificao apresentada pelo autor,

    podemos enquadrar o artefato nas seguintes caractersticas:

    1. A complexidade das informaes exibidas baixa;

    2. H poucos detalhes e variaes possveis para as informaes apresentadas,

    j que somente temos a posio e a luz indicadora mudando de estado ao

    longo do funcionamento;

    3. As informaes so claramente visveis, j que a escala do objeto atende ao

    seu contexto de utilizao e sua movimentao pode ser observada com

    clareza em um escritrio ou sala;

    4. A movimentao do artefato est diretamente ligada movimentao do

    nibus real na via, possibilitando uma associao de fcil acepo com a

    realidade;

    5. O nvel de engajamento do usurio para utilizar o sistema extremamente

    baixo: como o artefato est sempre em funcionamento, seu uso se d apenas

    recolhendo a informao, ou seja, olhando pra ele.

    Do ponto de vista do design de interao e do projeto do artefato como um sistema

    de informao ambiente, podemos destacar que o dispositivo est adequado aos

    conceitos que permeiam o campo. Elaborando a ideia inicial, chegamos a um

    artefato que alia simplicidade de utilizao e complexidade de funcionamento, ou

    seja, conseguimos aliar uma informao de alta relevncia a um sistema de

    visualizao extremamente intuitivo.

    J do ponto de vista tcnico, o funcionamento de um artefato computacional como o

    VisualizaBus depende de diversos fatores tecnolgicos, distribudos em nveis de

    complexidade distintos. Conforme j definido, parte dos avanos das tecnologias de

    transportes inteligentes diz respeito localizao e monitoramento da frota de

  • 48

    veculos de uma determinada instituio. No caso do transporte pblico, a

    geolocalizao via GPS a forma mais comum de obter a posio geogrfica de

    determinado veculo de forma constante. O VisualizaBus se aproveita dessa

    tecnologia, j presente em todos os veculos que realizam o transporte municipal na

    cidade de Vitria, interceptando os dados utilizados pelo sistema PontoVitria da

    Prefeitura Municipal e utilizando-os para movimentar o artefato de acordo. A seguir,

    tentamos ilustrar como se d esse processo em termos simples, definindo a

    macroarquitetura do projeto na Figura 19.

    Figura 19: Etapas gerais para o funcionamento do VisualizaBus Fonte: Elaborada pelo autor

    O conhecimento j acumulado com a construo do VixBus (ACCIOLY et al, 2012),

    que informava os horrios de nibus a partir do Twitter, fez com que o tempo gasto

  • 49

    para implementao da etapa de obteno dos horrios fosse mnimo. Quando

    desenvolvemos o VixBus, foi necessrio compreender a lgica envolvida em um

    servio como esse, bem como interpretar e filtrar os dados disponibilizados pelo

    sistema PontoVitria PMV. Dessa maneira, ao produzir o VisualizaBus j

    possuamos conhecimento para resolver a parte do problema relacionada

    obteno e filtragem dos dados. A experincia com o VixBus tambm nos tornou

    cientes de que o sistema PontoVitria PMV transmitia dados com boa confiabilidade,

    j que utilizamos o VixBus com sucesso no passado.

    Mesmo assim, quando tentamos obter os dados do PontoVitria PMV nos

    deparamos com dificuldades tcnicas. Aparentemente a Prefeitura Municipal de

    Vitria (PMV) havia dificultado o acesso aos dados, o que tornou nossa utilizao

    invivel. Neste perodo, conhecemos o aplicativo para o sistema de telefones

    Android chamado Ponto Vitria, mesmo nome utilizado pela PMV. O aplicativo

    havia sido desenvolvido pelo Sr. Rmulo Vitoi e estava funcionando normalmente

    mesmo aps as modificaes implementadas pela PMV, ou seja, no foi impactado

    pelo bloqueio aos dados.

    A partir da observao do aplicativo PontoVitria22, desenvolvido pelo Sr. Rmulo

    Vitoi sem qualquer ligao formal com a Geocontrol23 ou a Prefeitura, resolvemos

    entrar em contato com o desenvolvedor a fim de verificar a possibilidade de

    utilizao das informaes de seu aplicativo. Aps breves conversas via e-mail, nas

    quais o Sr. Vitoi foi extremamente solcito, obtivemos acesso ao servio que ele

    mesmo utiliza para o seu aplicativo. Apesar de homnimo do servio fornecido pela

    PMV, reforamos que este aplicativo no possui relao oficial alguma com a PMV.

    Para aumentar a clareza, denominaremos o servio da PMV por PontoVitria PMV e

    o servio fornecido pelo Sr. Romulo Vitoi por PontoVitria Rmulo Vitoi.

    A fim de esclarecer as diferentes partes componentes deste projeto, poderamos

    22 Disponvel em:

    Acesso em 01 mar. 2014. 23 A Geocontrol uma empresa brasileira especializada em criao, desenvolvimento e produo de

    tecnologias para gesto das reas de Segurana Pblica, Mobilidade Urbana, Gesto Compartilhada de Cidades, Controle de Frota e Defesa Nacional. a empresa responsvel pelo desenvolvimento do sistema Pontual. Para mais informaes, acessar

  • 50

    dividir o VisualizaBus em 2 partes: interface fsica e servidor de dados. A interface

    fsica composta, por um lado, pela carcaa de papel, madeira, acrlico e outros

    materiais, incluindo o nibus-maquete e, por outro, pelo circuito formado pelo

    Arduino e outros componentes responsveis pelo controle da posio dos elementos

    fsicos visveis. O servidor de dados quem fornece as informaes ao Arduino,

    atravs da Internet, a fim de que este ltimo possa movimentar os elementos fsicos

    de acordo com os dados reais do sistema de transporte da PMV. Nas sees

    seguintes abordaremos esse processo em profundidade e destacaremos cada um

    dos componentes envolvidos neste sistema.

    Devido especificidade do projeto, algumas premissas foram decididas para

    disponibilizao dos dados necessrios, conforme a lista a seguir:

    1. O servio web VisualizaBus, que consultado pelo artefato, est disponvel

    no endereo da Internet http://marcosaccioly.com.br/apps/v214.php;

    2. Esse servio obtm os dados do PontoVitria Rmulo Vitoi que obtm os

    dados, por sua vez, do servio PontoVitria PMV (ver Figura 20). O

    VisualizaBus filtra os dados e disponibiliza um arquivo em formato XML24 no

    formato disposto no ANEXO III, que contm a previso para o prximo nibus

    do ponto configurado;

    3. O ponto pr-configurado o de nmero 6166;

    4. A linha pr-configurada a de nmero 0214 Bento Ferreira / Goiabeiras (via

    Shopping);

    5. Somente h movimento do artefato quando o tempo de chegada do nibus ao

    ponto configurado est entre um minuto e sessenta minutos. Qualquer tempo

    maior que sessenta minutos faz com que o nibus-maquete se conserve

    parado na posio inicial.

    A ordem dos eventos que torna possvel o funcionamento do artefato a seguinte:

    1. O Arduino conecta-se ao servio VisualizaBus via Hyper Text Transfer

    Protocol (HTTP, Protocolo de Transferncia de Hipertexto) e requisita o tempo

    para o prximo nibus configurado para o ponto de parada especificado;

    24 XML: eXtensible Markup Language. um formato estruturado de arquivo que possui elementos

    com hierarquia, marcadores de incio e fim das informaes e atributos. O HTML (utilizado para as pginas da Internet) um tipo de XML.

  • 51

    2. O VisualizaBus requisita as previses do ponto ao servio PontoVitria

    Rmulo Vitoi;

    3. O servio PontoVitria Rmulo Vitoi requisita as previses ao servio

    PontoVitria PMV;

    4. O servio VisualizaBus filtra as previses recebidas, baseando-se no

    algoritmo descrito no ANEXO I, gerando um resultado que demanda

    pouqussimo processamento da parte de quem o recebe (neste caso, o

    Arduino);

    5. O servio VisualizaBus devolve o resultado via HTTP para o Arduino;

    6. O Arduino processa o valor recebido atravs do cdigo descrito no ANEXO II

    e converte-o em um nmero de giros do motor;

    7. O artefato movimenta o nibus-maquete para a posio correspondente ao

    tempo recebido ou para a posio inicial, no caso de no haver previso ou

    de haver algum problema de conexo.

    A Figura 20