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Dossiê Teresina Caos em Teresina POTI SOBE, CEPISA CORTA LUZ DA ZONA LESTE E SHOPPING FECHA LOJAS E sta era a situação de Teresina há poucos meses, quando chuvas rigorosas acima da média normal inundaram a cidade prejudicando e modifi- cando a rotina de todos os teresinenses. Dessa situação ficou uma certeza: Teresina precisa urgentemente de um plano estratégi- co para corrigir deficiências urbanas e de infra-estrutura causadas pelas águas das chuvas. As últimas chuvas de verão - que aconteceram entre os meses de janeiro a junho de 2008 - alagaram grande parte da cidade, que ficou praticamente submersa pelas águas do rio Poti, constatando-se o óbvio: Teresina está crescendo sem um plano básico de escoamento e drenagem dessas águas. Qual a urgência de um plano como este? Como o setor público está enfrentando esta questão? O que pensa o setor privado, fortemente atingido pelo problema? Enfim, como está se comportando o mercado imobiliário de Teresina - diretamente afetado - diante da perspectiva de novas chuvas nos anos subseqüentes? Quais as possíveis soluções? Algumas medidas do governo municipal, ainda muito tímidas, estão sendo tomadas, numa tentativa de reverter ou de controlar a situação em médio prazo. Neste dossiê, apresentamos um panorama da situação, alguns projetos em andamen- to e a opinião dos vários setores ligados direta ou indiretamente a esta questão e ao mercado imobiliário de Teresina. Sabe-se que a prefeitura, atualmente, está desenvol- vendo um plano diretor de macro drenagem para a cidade, mas este plano encontra-se ainda em fase de elaboração. Estão sendo definidos as micro bacias de cada região, as galerias que devem ser construídas, assim como a relação de convivência da cidade com os dois rios que a circundam, o Parnaíba e o Poti. Na opinião do Secretário Executivo de Planejamento da Prefeitura de Teresina, o engenheiro Augusto Basílio, de fato existe uma necessidade urgente de obras estruturantes que, segundo ele, já foram solicitadas ao Governo Federal, tais como a construção de diques e a construção das duas barragens do rio Poti – uma na cidade de Castelo e outra próxima à Santa Cruz - que teriam a função de regular a vazão deste rio, e na época de cheia, fazer a contenção das águas e a regulação do volume d'água que chegaria à Teresina. Segundo A Companhia Energética do Piauí anunciou agora a pouco a suspensão parcial do fornecimento de energia elétrica para a zona leste de Teresina. O corte foi feito em função da elevação do nível da água do rio Poti, que se aproxima dos cabos de transmissão de energia. Entre as pontes Wall Ferraz e do conjunto Tancredo Neves, a água está a um metro dos fios de energia. “Nós tomamos essa decisão em função de ocorrências já verificadas na manhã desta segunda-feira (03), quando por várias vezes, galhos e troncos de árvores que estão sendo arrastados pelo rio Poti ameaçaram os cabos de transmissão de energia”, informou o assessor de operações da Cepisa, Adilson Paranaguá. A Cepisa está tentando viabilizar uma manobra para que o abastecimento de energia elétrica da zona leste passe a ser feito pela subestação do bairro Satélite.”Pedimos a compreensão da população, mas assim que o rio baixar a situação será normalizada”, informou Adilson Paranaguá. Shopping fechado A direção do Riverside Shopping informou no final da manhã que o estabelecimento ficará fechado até que o nível da água do rio Poti comece a baixar. Nas últimas horas o rio atingiu a Avenida Cajuína nas proximidades do Riverside. Fonte: Portal AZ uma cidade submersa pelas águas do Poti mercado imóvel do 14 mercado imóvel do 15 Augusto, esta é uma questão que vem sendo debatida desde a década de oitenta, mais precisamente desde o segundo governo de Alberto Silva, particularmente a construção da barragem de Castelo, que se tornou agora uma obra imprescindível. POSSÍVEIS SOLUÇÕES E ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS Paralelo a esta discussão, a Prefeitura vem também desenvolvendo um programa de reurbanização, onde a arborização das margens dos rios já é uma realidade, à revelia do crescimento imobiliário, tanto horizontal como vertical que se dá às margens desses rios. As adaptações necessárias fariam parte de uma política de planejamento municipal como a definição do macro sistema de drenagem de Teresina, com a prioridade para algumas galerias a serem construídas em curto prazo, com destaque para a galeria Eustáquio Portela, situada na zona leste, no trecho que fica por trás do supermercado Pão de Açúcar, na Avenida Homero Castelo Branco, com recursos vindos do Ministério da Integração Regional, através do Governo Estadual. O custo de uma obra como essa seria equivalente a 25 milhões de reais. Ainda segundo Basílio, a Prefeitura vem também fazendo um reforço no sistema de bombeamento em algumas regiões como a do Mocambinho e a região das Olarias, amplian- do a capacidade de vazão desse sistema com o objetivo de minimizar os efeitos das enchentes dentro do sítio urbano da cidade. Uma lagoa de estabilização e de acumulação está sendo feita no bairro do Mocambinho, usando o sistema de bombeamento. A zona norte é a mais atingida pelo problema por conta das lagoas ali existentes e pelo encontro dos rios. Este projeto já está sendo desenvolvido há cinco anos utilizando técnicos brasileiros de alto nível de especialização e tendo o acompa- nhamento do Banco Mundial. Bombeamento quando o rio está cheio, o processo de bombeamento deve retirar a água de dentro dos diques. Envolve investimentos vultosos. Outro problema apontado pelo secretário executivo da prefeitura, diz respeito ao solo de Teresina, que gradativamente está se tornando impermeável em função da construção de calçamentos e do próprio asfalto, inclusive dentro dos quintais das residências e edifícios, não sobrando espaço para a água escorrer ou ser absorvida pelo lençol freático. Esta água, então, corre para as ruas, que sem espaço para Dossiê Teresina

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Caos em TeresinaPOTI SOBE, CEPISA CORTA LUZ DA ZONA LESTE E SHOPPING FECHA LOJAS Esta era a situação de Teresina há

poucos meses, quando chuvasrigorosas acima da média normal

inundaram a cidade prejudicando e modifi-cando a rotina de todos os teresinenses.Dessa situação ficou uma certeza: Teresinaprecisa urgentemente de um plano estratégi-co para corrigir deficiências urbanas e deinfra-estrutura causadas pelas águas daschuvas. As últimas chuvas de verão - queaconteceram entre os meses de janeiro ajunho de 2008 - alagaram grande parte dacidade, que ficou praticamente submersapelas águas do rio Poti, constatando-se oóbvio: Teresina está crescendo sem umplano básico de escoamento e drenagem

dessas águas. Qual a urgência de um plano como este?Como o setor público está enfrentando esta questão? Oque pensa o setor privado, fortemente atingido peloproblema? Enfim, como está se comportando o mercadoimobiliário de Teresina - diretamente afetado - diante daperspectiva de novas chuvas nos anos subseqüentes?Quais as possíveis soluções? Algumas medidas dogoverno municipal, ainda muito tímidas, estão sendotomadas, numa tentativa de reverter ou de controlar asituação em médio prazo. Neste dossiê, apresentamosum panorama da situação, alguns projetos em andamen-to e a opinião dos vários setores ligados direta ouindiretamente a esta questão e ao mercado imobiliáriode Teresina.

Sabe-se que a prefeitura, atualmente, está desenvol-vendo um plano diretor de macro drenagem para acidade, mas este plano encontra-se ainda em fase deelaboração. Estão sendo definidos as micro bacias decada região, as galerias que devem ser construídas,assim como a relação de convivência da cidade com osdois rios que a circundam, o Parnaíba e o Poti.

Na opinião do Secretário Executivo de Planejamentoda Prefeitura de Teresina, o engenheiro Augusto Basílio,de fato existe uma necessidade urgente de obrasestruturantes que, segundo ele, já foram solicitadas aoGoverno Federal, tais como a construção de diques e aconstrução das duas barragens do rio Poti – uma nacidade de Castelo e outra próxima à Santa Cruz - queteriam a função de regular a vazão deste rio, e na épocade cheia, fazer a contenção das águas e a regulação dovolume d'água que chegaria à Teresina. Segundo

A Companhia Energética do Piauíanunciou agora a pouco a suspensãoparcial do fornecimento de energia elétricapara a zona leste de Teresina. O corte foifeito em função da elevação do nível daágua do rio Poti, que se aproxima doscabos de transmissão de energia. Entre aspontes Wall Ferraz e do conjunto TancredoNeves, a água está a um metro dos fios deenergia.“Nós tomamos essa decisão em função deocorrências já verificadas na manhã destasegunda-feira (03), quando por váriasvezes, galhos e troncos de árvores queestão sendo arrastados pelo rio Potiameaçaram os cabos de transmissão deenergia”, informou o assessor de

operações da Cepisa,Adilson Paranaguá.A Cepisa está tentando viabilizar umamanobra para que o abastecimento deenergia elétrica da zona leste passe a serfei to pela subestação do bairroSatélite.”Pedimos a compreensão dapopulação, mas assim que o rio baixar asituação será normalizada”, informouAdilson Paranaguá.Shopping fechadoA direção do Riverside Shoppinginformou no final da manhã que oestabelecimento ficará fechado até que onível da água do rio Poti comece a baixar.Nas últimas horas o rio atingiu a AvenidaCajuína nas proximidades do Riverside.Fonte: PortalAZ

uma cidade submersa

pelas águasdoPoti

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Augusto, esta é uma questão que vem sendodebatida desde a década de oitenta, maisprecisamente desde o segundo governo deAlberto Silva, particularmente a construção dabarragem de Castelo, que se tornou agora umaobra imprescindível.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES EADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS

Paralelo a esta discussão, a Prefeitura vemtambém desenvolvendo um programa dereurbanização, onde a arborização dasmargens dos rios já é uma realidade, à reveliado crescimento imobiliário, tanto horizontalcomo vertical que se dá às margens dessesrios. As adaptações necessárias fariam partede uma política de planejamento municipalcomo a definição do macro sistema dedrenagem de Teresina, com a prioridade paraalgumas galerias a serem construídas em curtoprazo, com destaque para a galeria EustáquioPortela, situada na zona leste, no trecho quefica por trás do supermercado Pão de Açúcar,na Avenida Homero Castelo Branco, comrecursos vindos do Ministério da IntegraçãoRegional, através do Governo Estadual. Ocusto de uma obra como essa seria equivalentea 25 milhões de reais.

Ainda segundo Basílio, a Prefeitura vemtambém fazendo um reforço no sistema debombeamento em algumas regiões como a doMocambinho e a região das Olarias, amplian-do a capacidade de vazão desse sistema com oobjetivo de minimizar os efeitos das enchentesdentro do sítio urbano da cidade. Uma lagoade estabilização e de acumulação está sendofeita no bairro do Mocambinho, usando osistema de bombeamento. A zona norte é amais atingida pelo problema por conta daslagoas ali existentes e pelo encontro dos rios.Este projeto já está sendo desenvolvido hácinco anos utilizando técnicos brasileiros dealto nível de especialização e tendo o acompa-nhamento do Banco Mundial.

Bombeamentoquando o rio está cheio, o processo debombeamento deve retirar a água de dentro dosdiques. Envolve investimentos vultosos.Outro problema apontado pelo secretárioexecutivo da prefeitura, diz respeito ao solo deTeresina, que gradativamente está se tornandoimpermeável em função da construção decalçamentos e do próprio asfalto, inclusivedentro dos quintais das residências e edifícios,não sobrando espaço para a água escorrer ouser absorvida pelo lençol freático. Esta água,então, corre para as ruas, que sem espaço para

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Aceleração do Crescimento). Outra parte vem do BancoMundial, e a menor parte, da própria prefeitura. Mas omontante de 300 milhões ainda está muito longe de seralcançado, deixando a cidade à mercê das próximas chuvase alagamentos. E respingando diretamente no mercadoimobiliário, que fica prejudicado com uma série deproblemas, e altamente vulnerável, como se verá nosdepoimentos tomados para estamatéria.

O superintende do SDUNorte, Marco Antônio Aires,reconhece que os pontos críticosde alagamento na cidade são osmesmos. Ele observa quealgumas obras de contenção daságuas existem, mas falta verbapara executar o que é maisnecessário. “Esse ano foi ruimem todas as prefeituras do país,por conta do corte de verbasdecorrente da crise econômica”.

Marco Antônio informa que omunicípio fez revisão emergencial das comportas do diquede contenção da zona norte em cinco lugares. “Foi feitorevisão nas bombas das estações de bombeamento dobairro Boa Esperança e Mocambinho, além do reforço daestação de bombeamento da Lagoa Azul (também noMocambinho) para os rios”, enumera.

Ele acrescenta que a prefeitura de Teresina está constru-indo uma lagoa de contenção e uma estação de bombea-mento que pretendem acabar com os alagamentos embairros como Vila Mocambinho, Vila Firmino Filho eMocambinho.

A lagoa terá a capacidade para acumular 24 mil metroscúbicos e possuirá uma estação de bombeamento de águapara equilibrar o nível dessas águas durante as enchentes. Aestação será dotada de seis bombas, onde cada uma terá acapacidade de drenar 500 litros de água por segundo.“Além disso, várias intervenções estão sendo feitas atravésdo Programa Lagoas do Norte”, explica.

Aires informa ainda, que o custo de uma obra como estada lagoa de contenção é da ordem de R$ 2,2 milhões e tem

o escoamento necessário, provoca o excesso e o conseqüentealagamento de algumas regiões de Teresina.No código urbano de edificação, existe uma cláusula queestabelece em 20% o percentual que o solo, dentro da área doimóvel, deve ficar permeável para absorver a água das chuvas.Esta área corresponderia, no caso, às áreas externas comojardins e gramados. É uma medida paliativa, pois não resolve oproblema, mas ameniza a situação no todo.Em algumas cidades brasileiras, como Curitiba, este códigoorienta os construtores a fazer um poço sumidouro, em funçãoda área de cada imóvel.

Poço sumidouroum pouco mais profundo que os poços normais, fica disponívelpara receber o excesso de água. Ao invés de sair para as ruas, aágua é absorvida para o subsolo dentro da própria área doimóvel.Em alguns países como a Coréia do Sul, há também tentativasde se resolver este tipo de problema, resgatando cursos d'águadentro do próprio períneo urbano. No caso de Seul, o prefeitoda época, que hoje é o presidente do país, resgatou através deum projeto uma grande área de curso d'água no centro dacidade, transformando o local, extremamente degradante, numagrande avenida, fazendo um sistema de tratamento dessa águaatravés da drenagem urbana, e devolvendo a área limpa edespoluída para a cidade. Este projeto tornou-se um símboloem nível nacional, sendo muito visitado hoje e servindo deponto turístico para a população.

O INVESTIMENTO NECESSÁRIO É UMEMPECILHO?

Sim. Os recursos de drenagem do sistema urbano sãoextremamente elevados. No caso da cidade de Teresina,supondo-se que todas as obras infra- estruturais fossemfeitas, deixando a cidade preparada para receber aspróximas enxurradas da estação das chuvas, o valor ficariaem torno de 300 milhões de reais, tornando-se completa-mente inviável para o poder público municipal, sozinho,implementar tais obras sem a colaboração do GovernoFederal. Este seria o primeiro e, talvez, o maior empecilhopara a resolução do problema. Concretamente existefinanciamento garantido para a construção da galeriaEustáquio Portela, na zona leste, e outra galeria na Vila daPaz, zona sul, com recursos na ordem de 10 milhões dereais. No que se refere ao projeto Lagoas do Norte, partedos recursos (21 milhões) está vinda do PAC (Programa de

Como se não bastasse a enxurrada das águas das chuvas, pelo menos duas galerias romperam, na época, causando transtornos e mais aflição àpopulação. Uma na Rua Território Fernando de Noronha, no bairro Aeroporto e a outra na Avenida Frei Serafim, que demorou uma semana para serrecuperada. De acordo com a prefeitura de Teresina, no subsolo da cidade existem cerca de 23 quilômetros de galerias, construídas para escoar a águadas chuvas e evitar que a cidade fique inundada.O que, na prática, não aconteceu.

E a explicação é simples, segundo os técnicos: o material do qual é feito os tubos das galerias (ferro e concreto) pode suportar a água da chuva que élimpa e não tem substância química. Mas na prática, a água que chega às galerias vem acompanhada por elementos químicos das casas das pessoas. “Éaquela água que cai pelo ralo do chuveiro do banheiro ou da pia da cozinha, que contém produtos químicos como água sanitária, sabão, detergente, etc.”,explicou o superintendente da SDU Centro/Norte, MarcoAntônioAires.

Essa água – chamada de água servida, porque foi utilizada pela população – acaba invadindo as galerias e provoca a corrosão das paredes de seustubos, resultando no rompimento, o que não deveria acontecer, pois a água servida das casas deveria ser ligada a rede de esgoto sanitário ou então cadaresidência deveria ter sua fossa séptica para receber esse tipo de água.

Mas infelizmente a rede de esgotos de Teresina atende apenas a 17% da população, deixando o restante, 83%, ou 664 mil pessoas a ver navios. Umaalternativa seria que cada uma dessas pessoas, em suas casas construíssem uma fossa séptica, em vez de jogar a água na rua – que acaba parando nasgalerias. Se a prefeitura subsidiar, até que não é uma má idéia.

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recursos do BNDES. Ela é dimensionada para acabar comos alagamentos naquela área e deve ficar pronta em janeirode 2010.

Segundo ele, mais de 20 bairros sofreram com asenchentes este ano na zona norte, sendo que alguns foramalagados e outros tiveram problemas, como as casas frágeisde taipa que sofreram danos na estrutura. Entre estesbairros, estão Poti Velho, Mocambinho, Mafrense, Vila SãoFrancisco, Vila Mocambinho, Vila Firmino Filho, entreoutros.

A posição do CREA - A problemática das enchentes e anecessidade de avaliar a drenagem da cidade de Teresinaforam os motivadores de um debate ocorrido no início dejunho deste ano (2009) na sede do CREA-PI. O eventocontou com a participação de autoridades, profissionais,estudantes e membros de entidades ligadas à questão e tevecomo principal objetivo analisar a drenagem da capital

piauiense, a perenização do rio Poti e o controle de suasenchentes através da construção de barragens.

O debate foi mediado pelo presidente do CREA-PI,engenheiro agrimensor e civil, José Borges de SousaAraújo, e teve como palestrantes o superintendente daAgência Nacional das Águas - ANA, Joaquim Gondim, oprefeito de Teresina, Sílvio Mendes e o diretor geral doInstituto de Desenvolvimento do Piauí - Idepi, NorbelinoLira de Carvalho. Dessa reunião, o CREA-PI, em parceriacom a Prefeitura de Teresina e outras entidades, sentiu anecessidade de criar encaminhamentos para aplacar osefeitos das fortes chuvas na cidade.

De acordo com o presidente do CREA-PI, José Araújo,o material, que foi denominado "Carta de Teresina",apresenta soluções e maneiras de minimizar os efeitos dasenchentes na capital piauiense. (ver depoimento dopresidente do CREA, nas páginas seguintes)

O QUE O MERCADO IMOBILIÁRIO PENSA SOBRE A QUESTÃO

Andrade JúniorPresidente do Sinduscon-Te

As inundações nas grandescidades ou nas metrópoles constitu-em realmente o grande problemaatual. E Teresina está caminhandopara isso. Um dos grandes causado-res desse mal, atualmente, está napavimentação das ruas e das casas.Há pouca área deixada para absorvera água das chuvas. Por que não háinundação na zona rural? Porque jáexistem as infiltrações naturais doterreno. Uma das soluções para oproblema, a meu ver, que já existeinclusive em São Paulo é uma lei que

obrigue o cidadão brasileiro a deixar um percentual de área nãopavimentada para esta infiltração. Outra solução importante seriao investimento do setor público em uma infra-estrutura adequa-da, como galerias, dique, bueiros, etc. No Sinduscon temosconsciência desse papel, que é o de pressionar o setor públiconeste sentido e lutar por uma lei onde, na construção de qualquerobra que se faça em Teresina, se reserve uma área para ainfiltração das chuvas.

Luis Antonio VelosoEmpresário e síndico do Shopping

Riverside

O Riverside ficou três diasfechado, ao todo são 220 lojas commais de mil funcionários. Quer dizer,três dias sem faturamento representamuito para o nosso comércio. Graçasa Deus os prejuízos físicos na áreado shopping foram muito pequenosporque a água não chegou a entrarnas lojas, ela apenas circundou oshopping, mas faltou pouco paraisso. O que gerou certa apreensão e

angústia em todos, porque a subestação de energia ficou três diasdesligada, os equipamentos de frios foram desligados, asempresas que trabalham com produtos perecíveis (supermercadoe praça de alimentação) tiveram prejuízo, algumas tiveram tempode tirar os produtos, outras não. Acho que o setor privado podeinterferir nesta questão de duas maneiras: solicitando interven-ções do poder público e também através de parcerias público-privadas. Não sei se no Piauí há alguma empresa que poderiabancar um empreendimento desse tipo, como, por exemplo, asbarragens e hidrelétricas bancadas pelo Grupo Votorantin, ondeestão instaladas suas indústrias. Acho que algumas empresascomo as do Grupo João Santos, que está aqui com uma indústriade cimento ou ainda outras indústrias que estão chegando, grupospoderosos e até internacionais de jazidas e de minério de ferro,poderiam também se interessar em fazer essas parcerias. É umaalternativa, já que o poder público sozinho não dá prioridade aoassunto.

Rosângela CastroRC Imobiliária

Eu acredito que, com a ocorrência de um fenômeno dessetipo, as pessoas ficam mais vulneráveis em relação à compra doimóvel, assim como nós também que fazemos parte do mercadoimobiliário, porque se fizermos uma análise, a melhor região deimóveis que temos hoje, ficapróxima aos rios. O Jóquei ficapróximo ao rio Poti, a região daUniversidade (UFPI), a Ilhotas,os shoppings, tudo gira emtorno desta região e zona leste.São os imóveis mais desejadospor causa da excelentelocalização. Os terrenos queficam próximo ao rio, ao ladodo Euro Business ficarambastante prejudicados também,e construtoras como a Decta,que adquiriram terrenos ali,

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sofreram um atraso muito grande em suas obras, assim como aregião do Vila Mediterrâneo, que ficou bastante afetada. Poroutro lado, existem clientes que compraram imóveis comigo,imóveis que não ficam próximos aos rios, e foram, assim mesmo,afetados com problemas de esgoto. O nível da água subiu tantoque interrompeu o funcionamento do esgoto em certas regiões.Então essas pessoas perderam os móveis e outros utensíliosdomésticos. E uma particularidade, o seguro do imóvel não cobreeste tipo de prejuízo. Nem o da Caixa Econômica e nem oparticular. Vejo isso tudo como um problema a ser sanado pelasautoridades competentes, em curto prazo, antes que aconteçanovamente.

Elkeane RochaSíndica do Euro Business e administrado-

ra de imóveis

O Euro Business foi um doslocais mais afetados nesta regiãopróxima ao rio. Ficamos, ao todo, 7dias sem condições de funcionar edurante 3 ou 4 dias, interrompemoscompletamente a entrada e a saídadas pessoas no prédio que ficou todoilhado. Mesmo depois que as águasbaixaram, tivemos que permanecerfechados porque a casa de máquinas(energia elétrica) foi atingida, sendotoda a energia do prédio desligada,procedimento feito pela própriaCepisa. Para religar depois, tivemos

que contratar empresas especializadas para checar os equipamen-tos e evitar curtos circuitos. Todo este processo durou exatos 7dias. Os supervisores e o pessoal da portaria e da segurança,durante este período, entravam pela lateral do prédio com águaaté a cintura. Na frente do prédio, a possibilidade de entrar erasomente de canoa, que foi, inclusive, disponibilizada pelo corpode bombeiro, mas não chegamos a usar este recurso. A profundi-dade das águas na frente do prédio foi bem maior e faltou poucopara chegar à recepção, que, como se sabe, é bem mais alta que onível da rua. Mas as águas destruíram todo o jardim da frente doprédio. Algumas empresas que têm salas aqui tentaram sair,depois que tudo passou. Empresas de factoring, seguradoras ebancos, que acredito, sofreram mais prejuízos. Este terreno dolado, onde será construído um prédio comercial da Decta, virouuma verdadeira lagoa e, acredito que atrasou muito o trabalhodeles, pois tiveram que passar muitos dias tirando a água dedentro. Esse tipo de fenômeno é considerado fatalidade, e porisso, o seguro do prédio não cobre. Tivemos um prejuízo naordem de cinco mil reais para a recuperação na parte inferior doedifício.

José Borges de Sousa AraújoPresidente do CREA- PI

De acordo com um debate quepromovemos sobre o problema dasenchentes em Teresina e que resultounum documento que denominamosde “Carta de Teresina”, em junhodesse ano ainda (2009), há umanecessidade de articulação crescentedo sistema de gestão urbana com ossistemas nacional e estadual de

gerenciamento de recursos hídricos, assim como há também anecessidade de se rever a política de ocupação do solo urbano ede se estabelecer soluções que privilegiem a retenção das águasem suas origens, evitando a aceleração do escoamento. Alémdisso, penso também que devemos estimular medidas quebusquem a convivência da população com um nível tolerável decheia dos rios, sem esquecer obras de engenharia como asbarragens, que poderão amortecer determinado volume de águapermitindo a passagem de uma vazão menor para jusante.

Nícia Formiga LeiteProfessora do Departamento de

Construção Civil e Arquitetura da UFPI

Em Teresina faltam obrasque ajudem no processo dedrenagem urbana, pois em todoperíodo de chuvas há proble-mas de escoamento nas viaspúblicas, isso reflete a falta deestrutura para o escoamento daságuas. As águas da chuva caemmuito rápidas e não encontrampor onde escoar. Esse é umproblema de muitas cidadesbrasileiras e a resolução passanecessariamente por obras queficam por baixo da terra. É umaobra enterrada, por isso não háboa vontade dos governantespara executá-las, pois o povo não vê e esquece. Outra medidapara evitar os estragos, além da construção do sistema deescoamento, é cuidar das margens dos rios, das matas ciliares eevitar que construções sejam feitas nessas margens. Além disso,é preciso aperfeiçoar a fiscalização nesse sentido. Vemos que orio não invadiu a cidade, mas ocorreu justamente o contrário, foia cidade que invadiu seu leito, e como conseqüência vêm osalagamentos.

Marco Antonio AiresSuperintendente da SDU Norte

Entre outras obras que seriam necessárias para solucionar oproblema das enchentes estão o dique do bairro Água Mineralcom estação elevatória, além de um dique na Vila Ferroviária eConjunto Murilo Resende com estação elevatória, estes na zonasul da cidade. Fora isso, são necessárias bombas móveis, poisexistem lagoas onde não há necessidade de estação elevatória,mas a água excedente precisa ser bombeada. Um exemplo dissoé uma área perto da Ponte Estaiada, na Rua Jacob de Almendra.Casos atípicos aconteceram nas últimas enchentes, como oalagamento da Avenida Raul Lopes, próximo ao ShoppingRiverside. Entre as soluções que eu vejo para futuros alagamen-tos está a construção de uma barragem em Castelo do Piauí, masaí não é uma obra do município, pois o Poti é um rio federal.Outra saída seria a elevação em três metros do nível da AvenidaRaul Lopes naquele ponto. A obra de elevação da Avenida RaulLopes não está prevista a curto ou médio prazo. Seriam necessá-rios R$ 10 milhões para solucionar os problemas da zona nortede Teresina em decorrência das enchentes.

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Teresina é uma cidade sui gêneris com relação à suatopografia e à sua convivência com os dois rios e acumula-dores de água. Porque ela é uma cidade mesopotâmica, ouseja, está entre dois rios, todo mundo sabe disso, o que atorna, de certa forma, uma cidade de fácil escoamento daságuas, mas ao mesmo tempo de convivência com umaquantidade bem grande dela. Se existem dois rios laterali-zando a cidade, existe uma linha de cumeada no centro dacidade que facilita o escoamento e a drenagem. Seria odivisor de águas da cidade de Teresina. Ocorre que suaocupação começou exatamente nesta região, com atransferência do Poti Velho para o Alto da Jurubeba, ondeestá a Igreja de São Benedito e toda a região central dacidade. Foi justamente uma tentativa de colocar a cidadenum ponto mais alto desse espaço entre rios. Assim, ocentro econômico da cidade, se tornou fácil de ser drenado

– Teresina não tinha problemas de drenagem a princípio.Quando as cotas mais baixas começaram a ser ocupadas, aísim, começaram a surgir os problemas. Não houve, emmomento algum, nenhuma preocupação - transformada emação - para resolver este problema aprioristicamente, ouseja, com planejamento. Sempre as soluções eram aposteriori, aparecia o problema e a gente corria para sanar.Nunca houve um plano de drenagem. Para se ter uma idéia,a cidade ainda hoje não tem um mapa de suas baciashidrográficas completamente definidas, embora não sejatão complicado fazer este tipo de mapeamento. Nós nãotemos esqueletos de galerias, hoje nós corremos atrás deresolver problemas econômicos da cidade, tendo que atrairinvestimentos de toda ordem para poder rolar dinheiro nacidade e conviver, ao mesmo tempo, com este problema donão planejamento urbano, que provoca incompatibilidadeentre este investimento e a infra-estrutura desejada enecessária para o investimento. Assim, quando um empre-endedor de fora vem para Teresina e encontra um lugarideal para se instalar, este lugar apresenta problemas,porque a questão das drenagens não foi resolvida. Aí háuma tendência de se transferir para estes investidores um

problema que é, na verdade, municipal. Isto é uma coisaséria para o crescimento da cidade de Teresina e para osinvestimentos da área imobiliária. Solução para isso? Teme não é tão complicado. Seria, a princípio, um investimentomaciço nas linhas de drenagens, ou seja, um plano dedrenagem que seja, efetivamente, respeitado por todos,inclusive, pelo estado. Mas nós não temos isto. Nós temoscotas baixas ocupadas, lagoas ocupadas, nós temos ruas eestradas que formam, ainda hoje, lagoas e açudes. Não é àtoa que o bairro Poti Velho é cheio de lagoas feitas pelosistema viário que envolve o próprio sistema natural dedrenagem. Impermeabiliza- se a área da cidade alta, comoa Vila Bandeirantes, os mega conjuntos habitacionais, e secria uma quantidade absurda de água de superfície que nãopode mais ser absorvida pelo solo. E essa água tem quecorrer em cima de asfalto, de calçamento, ganhandovelocidade e volume, pois vai somando com as outraságuas que também correm sobre a superfície. A meu ver, omaior problema em relação às drenagens, é que não serespeitou as cotas chamadas não edificáveis, como se trataem urbanismo, as cotas das margens dos rios. Sabe-se queas enchentes temporárias são absolutamente previsíveis,sabe-se que elas sempre vão existir com uma freqüência de20, 30, 50 ou 100 anos, mas sempre vão acontecer, e sepermite que investimentos imobiliários sejam feitos nestasáreas que margeiam os rios, sem os devidos cuidados ousem a correção, digamos assim, dessas cotas. A cidade estácheia desses problemas, hoje. Solução há, além dasdrenagens já citadas, é a redução do nível dos grandescoletores de água, que são os dois rios. Em um deles, oParnaíba, nós temos a barragem de Boa Esperança, que nosajuda muito lá em cima. Mas no rio Poti, que é um rio deuma sazonalidade e de uma diferença de nível fantástica –ele chega a 11 metros de diferença entre seco e cheio - nãoexiste este suporte. Somente o fato de Teresina ser umacidade de 1 milhão de habitantes, já justifica com muitasobra a existência de uma barragem dessas. E mais: nóstemos um lugar espetacular para fazer esta barragem, játemos estudos, previsão, livro publicado sobre a famosabarragem de Castelo, que resolveria definitivamente nossoproblema de duas maneiras: manteria o rio Poti, o anointeiro, numa cota de 2 metros acima do seu nível, total-mente navegável, limpo, correndo e dando vazão, pelovolume de água, às eventuais sujeiras urbanas que semprecaem no rio. Porque o Poti pode crescer até um nível de 7metros sem incomodar Teresina. Mas ele não pode écrescer 11 metros de altura, se não invade a cidade. Estabarragem, repito, é definitivamente a solução para a cidadede Teresina. É uma coisa cara? É, mas muito mais caro é,todo ano, a gente ter gente morta, alagada, com prejuízoeconômico e financeiro. É uma repercussão negativa para acidade, é o retardo dos investimentos nacionais e internaci-onais e um prejuízo certo para o setor imobiliário como umtodo

João Alberto Monteiroé arquiteto urbanista e professor da UFPI

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