Marx - O Capital - Livro 3, Tomo 1 - Os Economistas (Nova Cultural)

354
OS ECONOMISTAS

Transcript of Marx - O Capital - Livro 3, Tomo 1 - Os Economistas (Nova Cultural)

  • OSECONOMISTAS

  • CIP-Brasil. Catalogao-na-PublicaoCmara Brasileira do Livro, SP

    Marx, Karl, 1818-1883.M355c O capital : critica da economia poltica / Karl Marx ;v. 1-3 apresentao de Jacob Gorender ; coordenao e reviso2.ed. de Paul Singer ; traduo de Regis Barbosa e Flvio R.

    Kothe. - 2. ed. - So Paulo : Nova Cultural, 1985-1986. Os economistas!

    Contedo : v.1., t. 1-2. O processo de produo docapital. - v.2. O processo de circulao do capital. -v.3., t.1-2. O processo global da produo capitalista /editado por Friedrich Engels.

    1. Capital Economia! 2. Economia 3. Economiamarxista I. Gorender, Jac, 1923- ll. Singer, Paul, 1932-lll. Engels, Friedrich, 1820-1895. IV. Ttulo. V. Srie.

    17. CDD-335.41118. -335.41217. -33218. -332.041

    85-0508 17. e 18. -330

    Indices para -catlogo sistemtico:1. Capital : Economia 332 7.! 332.041 8.!2. Economia marxista 335.411 7.! 335.412 8.!3. Economia poltica 330 7. e 18.!4. Marx, Karl, 1818-1883 : Conceitos econmicos 335.411 7.!

    335.412 8.!

  • K RL

    O CapitalCrtica da Economia Poltica

    Volume IV

    Livro Terceiro

    O Processo Global da Produo CapitalistaEditado por Friedrich Engels

    Tomo l

    Parte Primeira!

    Coordenao e reviso de Paul SingerTraduo de Regis Barbosa e Flvio R. Kothe

    1986

    NOVA CULTURAL

  • Ttulo original:

    Das Kapital - Kritik der politschen konome

    Copyright desta edio, Abril S.A. Cultural,So Paulo, 1984. - 2? edio, 1986.

    Direitos exclusivos sobre a traduo deste volumeAbril S.A. Cultural, So Paulo.

  • Prefcio'

    Finalmente tenho a ventura de oferecer este terceiro volume da obra principalde Marx, a concluso da parte terica, ao pblico. Ao editar o segundo volume,em 1885, pensei que o terceiro somente ofereceria dificuldades tcnicas, com exce-o naturalmente de algumas sees muito importantes. Este foi efetivamente o ca-so; mas, das dificuldades que exatamente essas sees mais importantes do todome trariam, eu no tinha ento nenhuma noo, tampouco dos demais obstculosque tanto retardariam a concluso do livro.

    Em primeiro lugar e sobretudo perturbou-me uma persistente debilidade visual,que restringiu por anos a um minimo meu tempo de trabalho para coisas escritase que ainda agora s excepcionalmente me permite empunhar a pena sob luz artifi-cial. A isso se acrescentaram outros trabalhos que no podiam ser rejeitados: reedi-es e tradues de trabalhos anteriores de Marx e meus, portanto revises, prefcios,notas suplementares que, muitas vezes, no podiam ser feitas sem novos estudosetc. Sobretudo a edio inglesa do volume I, por cujo texto, em ltima instncia,eu sou responsvel e que, por isso, me tomou muito tempo. Quem de algum modoacompanhou o colossal crescimento da literatura socialista internacional durante osltimos dez anos, particularmente o nmero de tradues de trabalhos anterioresde Marx e meus, h de me dar razo quando me felicito quanto ao fato de ser mui-to limitado o nmero das lnguas em que eu podia ser til ao tradutor e, portanto,tinha a obrigao de no recusar uma reviso de seu trabalho. O crescimento daliteratura era, porm, apenas um sintoma do crescimento correspondente do pr-prio movimento operrio internacional. E este me impunha novas obrigaes. Des-de os primeiros dias de nossa atividade pblica, uma boa poro do trabalho deintermediao entre os movimentos nacionais dos socialistas e dos trabalhadores nosdiferentes pases havia recado sobre Marx e sobre mim; esse trabalho cresceu pro-porcionalmente ao fortalecimento do movimento global. Mas a este respeito Marxtinha assumido o peso principal da tarefa at sua morte; a partir da, porm, o tra-balho, sempre crescente, recaiu apenas sobre mim. Entrementes, j se tornou regrao contato direto dos diversos partidos operrios nacionais entre si e, felizmente, setorna cada dia maior; apesar disso, minha ajuda solicitada com muito mais fre-

    ' Esta traduo foi feita de MARX. Karl. Das Kapital - Kritik der politischen konomie. Dritter Band. Der Gesamtpro-zess der kapitalistischen Produktion. ln: Karl Marx - Friedrich Engels Werke ME W!. Band 25. Dietz Verlag, Berlim, 1977.De acordo com a 4? edio revista e editada por Friedrich Engels. Hamburgo, 1890. N. do Ed.!

    5

  • PREFCIO

    qncia do que me agradaria no interesse de meus trabalhos tericos. Mas paraquem, como eu, esteve ativo nesse movimento por mais de cinqenta anos, os tra-balhos oriundos dele constituem um dever iniludvel, a ser instantaneamente cum-prido. Como no sculo XVI, em nossos agitados tempos h, no campo dos interessespblicos, tericos puros apenas do lado da reao e, exatamente por isso, estes se-nhores no so sequer verdadeiros tericos, mas simples apologetas dessa reao.

    A circunstncia de que vivo em Londres faz com que esse intercmbio partidrioocorra no inverno em geral por cartas, mas no vero em grande medida por conta-tos pessoais. E por isso, bem como devido necessidade de acompanhar a marchado movimento num nmero sempre crescente de paises e num nmero ainda maiorde rgos da imprensa, acabou por se tornar impossvel para mim aprontar traba-lhos que no permitem interrupes em outra poca que no no inverno, especial-mente nos trs primeiros meses do ano. Quando j se ultrapassou os setenta anos,as fibras associativas de Meynert do crebro trabalham com certa prudncia fatal:j no se superam interrupes em difceis trabalhos tericos com tanta facilidadee rapidez como antes. Por isso, medida que o trabalho de um inverno no haviasido levado a seu trmino, ele tinha de ser em grande parte refeito no inverno se-guinte, e isso ocorreu particularmente com a dificilssima Seo V.

    Como o leitor h de perceber a partir dos dados que seguem, o trabalho deredao foi essencialmente distinto do efetuado no segundo volume. No caso doterceiro, s se dispunha de uma primeira verso, ainda por cima cheia de lacunas.Em regra, a parte inicial de cada uma das sees individuais estava elaborada demodo bastante cuidadoso, estando tambm estilisticamente acabada. Mas quantomais se avanava, tanto mais a redao se reduzia a um simples esboo e apresen-tava mais lacunas, tanto maior o nmero de digresses sobre pontos secundrios,surgidos ao longo da investigao e cujo local definitivo ficou dependente de umordenamento ulterior, tanto maiores e intrincados se tornavam os periodos em quese expressavam os pensamentos anotados in status nascendi' Em vrias passa-gens, grafia e exposio denotam com nitidez a irrupo e os progressos paulatinosde ataques da enfermidade que se origina do excesso de trabalho e que comea-vam a dificultar cada vez mais o trabalho autnomo do Autor e, por fim, acabarampor torn-lo periodicamente de todo impossvel. E no de se admirar. Entre 1863e 1867, Marx no s tinha escrito a primeira verso dos dois ltimos livros de OCapital e redigido a verso definitiva do Livro Primeiro, mas tambm desenvolveuo enorme trabalho ligado fundao e expanso da Associao Internacional deTrabalhadores. Mas, por isso, j em 1864 e 1865 se apresentaram os primeiros sin-tomas daquelas perturbaes de sade responsveis pelo fato de o prprio Marxno ter dado a ltima mo nos Livros Segundo e Terceiro.

    Meu trabalho comeou ditando todo o manuscrito, cujo original mesmo paramim era muitas vezes penoso de decifrar, de modo a ter uma cpia legvel, o quetomou bastante tempo. S ento a redao propriamente dita podia ser comeada.Eu a limitei ao mnimo necessrio, procurei manter, sempre que a inteligibilidadeo permitia, o mais possvel, o carter da primeira verso, tambm no risquei certasrepeties onde elas, como era costumeiro em Marx, abordam o objeto de outrongulo ou mesmo o recolocam em outra formulao. Onde minhas alteraes ouacrscimos no so de natureza meramente redacional ou onde eu tive de reelabo-rar o material ftico fornecido por Marx, tirando concluses prprias, ainda que, omais possvel, no esprito de Marx, toda a passagem est colocada entre colchetes2`e assinalada com minhas iniciais. Em minhas notas de rodap faltam aqui e ali oscolchetes, mas, onde esto minhas iniciais, sou responsvel por toda a' nota.

    1' No processo de nascer. N. dos T.!2' Neste volume entre chaves. N. da Ed. Alem.!

  • PREFc|o 7

    Como natural numa primeira verso, encontram-se no manuscrito numero-sas indicaes sobre pontos a serem desenvolvidos posteriormente, sem que taispromessas tenham silo mantidas em todos os casos. Deixei-as ficar, pois elas ex-pem as intenes do Autor em relao elaborao futura.

    E agora quanto aos detalhes.Para a Seo I, o manuscrito principal era utilizvel s com grandes restries.

    Logo no comeo incorporado todo o clculo matemtico da relao entre taxade mais-valia e taxa de lucro o que constitui nosso captulo III!, enquanto o objetodesenvolvido em nosso captulo I s abordado mais tarde e ocasionalmente. Aquiajudaram dois comeos de reelaborao, cada um com 8 pginas in-flio; mas tam-bm eles no esto totalmente completados no contexto. A partir deles se constituio atual captulo I. O capitulo ll provm do manuscrito principal. Para o captulo Illfoi encontrada no s uma srie de elaboraes matemticas incompletas, mas tam-bm um caderno todo, quase completo, dos anos 70, em que a relao entre taxade mais-valia e taxa de lucro exposta em equaes. Meu amigo Samuel Moore,que tambm fez a maior parte da traduo inglesa do volume I, assumiu o encargode manipular para mim esse caderno, para o que ele, como antigo matemtico deCambridge, estava mais habilitado. A partir de seu resumo que, ento, com o usoeventual do manuscrito principal, aprontei o captulo III. - Do captulo IV s setinha o titulo. Como, porm, o ponto a abordado - efeito da rotao sobre a taxade lucro - de importncia decisiva, eu mesmo o elaborei, motivo pelo qual tam-bm todo o captulo no texto est colocado entre colchetes. Verificou-se ento que,de fato, era necessrio fazer uma modificao na frmula do captulo III para a taxade mais-valia, para que ela tivesse validade geral. A partir do captulo V, o manus-crito principal a nica fonte para o resto da seo, apesar de tambm aqui muitasreordenaces e complementaes se terem tornado necessrias.

    Para as trs sees seguintes, excetuada a redao estilstica, pude ater-me qua-se sempre ao manuscrito original. Algumas passagens, em geral relativas ao efeitoda rotao, tiveram de ser elaboradas em consonncia com o capitulo IV, por miminserido: tambm elas esto colocadas entre colchetes e assinaladas com minhasiniciais.

    A dificuldade maior ofereceu a Seo V, que tambm trata do assunto maiscomplicado de todo o livro. E exatamente a Marx foi surpreendido na elaboraopor um dos graves acessos de enfermidade j referidos. Aqui no h, portanto, umaprimeira verso completa, sequer um esquema cujos contornos pudessem ser com-pletados, mas to-somente um comeo de elaborao que, mais de uma vez, de-semboca num monte desordenado de notas, observaes, materiais em forma deextratos. Tentei, no comeo, completar essa seo, como eu havia conseguido atcerto ponto na primeira, preenchendo as lacunas e elaborando os fragmentos ape-nas indicados, de tal modo que ao menos aproximadamente oferecesse o que oAutor intencionara oferecer. Tentei fazer isso ao menos trs vezes, mas falhei de ca-da vez e no tempo perdido com isso reside uma das principais causas do retarda-mento. Finalmente me dei conta de que desse jeito a coisa no ia. Eu teria de percorrertoda a enorme literatura existente nesse terreno e por fim acabaria produzindo algoque no seria, de fato, o livro de Marx. No me restou outra alternativa, em certosentido, do que cortar o n grdio, limitando-me a ordenar o material existente, fa-zendo s as complementaes mais necessrias. E, assim, na primavera de 1893,aprontei o trabalho principal quanto a essa seo.

    Dos distintos capitulos, os captulos XXI-XXIV estavam elaborados em sua maiorparte. Os captulos XXV e XXVI exigiam um confronto do material documental ea incluso de material que se encontrava em outros lugares. Os captulos XXVIIe XXIX puderam ser reproduzidos quase totalmente de acordo com o manuscrito;o captulo XXVIII, pelo contrrio, teve de ser reagrupado em algumas passagens.

  • 8 PREFCIO

    Mas com o captulo XXX comearam as verdadeiras dificuldades. A partir da erapreciso pr na ordem certa no s o material das citaes, mas tambm a seqn-cia das idias, interrompida a cada instante por oraes secundrias, digresses etc.e continuada, com freqncia, de modo totalmente casual, em outro lugar. Assim,o captulo XXX se constituiu por meio de deslocamentos e excluses, as quais pu-deram ser usadas em outra passagem. O captulo XXXI estava novamente mais ela-borado no contexto. Mas agora, no manuscrito, segue-se uma seo longa, intituladaA Confuso, consistindo somente em extratos dos relatrios parlamentares sobreas crises de 1848 e 1857, em que os depoimentos de 23 homens de negcios eescritores econmicos, especialmente sobre o dinheiro e capital, escoamento de ou-ro, hiperespeculao etc., esto reunidos, e aqui e ali brevemente glosados de mo-do humorstico. A esto representados, seja pelos que perguntam, seja pelos querespondem, quase todos os pontos de vista ento correntes sobre a relao entredinheiro e capital, e era da confuso que da emerge, sobre o que seriam dinheiroe capital no mercado de dinheiro, que Marx queria tratar crtica e satiricamente. De-pois de muitas tentativas, convenci-me de que era impossvel a feitura desse captu-lo; o material, especialmente o glosado por Marx, foi utilizado onde se encontravaum contexto para tanto.

    A isso segue, de modo bastante ordenado, o que abriguui no captulo XXXII,mas imediatamente depois disso um novo monte de extratos dos relatrios parla-mentares sobre tudo quanto assunto tratado nesta seo, misturados com obser-vaes _mais longas ou mais curtas do Autor. Na parte final, os extratos e glosasse concentram cada vez mais no movimento dos metais monetrios e do cmbio,concluindo novamente com variadas observaes complementares. O texto das Con-dies Pr-Capitalistas captulo XXXVI! estava, no entanto, completamente ela-borado.

    A partir de todo esse material, comeando pela confuso e medida que jno tivesse sido colocado em passagens anteriores, eu compus os captulos XXXIII-XXXV. Naturalmente isso no foi possvel fazer sem grandes interpolaes de mi-nha parte para estabelecer o nexo. A medida que essas interpolaes no so denatureza apenas formal, esto expressamente assinaladas como minhas. Desse mo-do foi-me finalmente possvel incluir no texto todas as assertivas do Autor de algu-ma maneira pertinente questo; nada ficou de fora, exceto uma diminuta partedos extratos que s repetia algo dado em outro lugar ou tocava pontos em cujadiscusso mais detalhada o manuscrito no entrava.

    A seo sobre a renda fundiria estava desenvolvida de maneira muito maiscompleta, ainda que de modo algum ordenada, como j se mostra no fato de queo prprio Marx, no captulo XLIII no manuscrito, a ltima parte da seo sobrerenda! considera necessrio recapitular brevemente o plano de toda a seo. E issoera tanto mais desejvel para a edio, j que o manuscrito comea com o captuloXXXVII, a que seguem os captulos XLV a XLVII e s depois os captulos XXXVIIIa XLIV. O maior trabalho deram as tabelas sobre a renda diferencial ll e a descober-ta de que no captulo XLIII o terceiro caso dessa espcie de renda, que teria deser a abordado, no havia sequer sido examinado.

    Para essa seo sobre a renda fundiria, Marx havia feito, nos anos 70, estudosespeciais totalmente novos. Os registros estatsticos e outras publicaes sobre a pro-priedade fundiria, que se tomaram inevitveis depois da reforma de 1861 na Rssia,e que amigos russos puseram a sua disposio em forma to completa quanto sepoderia desejar, foram estudados durante anos por Marx no idioma original; delesextraiu citaes, que tinha a inteno de utilizar na reelaborao dessa seo. Dadaa variedade de forma, tanto da propriedade fundiria quanto' da explorao dos pro-dutores agrcolas na Rssia, na seo sobre a renda fundiria a Rssia deveria de-sempenhar o mesmo papel que, no Livro Primeiro, a Inglaterra desempenhou no

    1

  • PREFACIO 9

    que tange ao trabalho assalariado industrial. Lamentavelmente, a execuo desseplano ficou-lhe vedada.

    Finalmente a Seo Vll estava totalmente escrita, mas s como primeira verso,cujos periodos, interminveis intrincados, precisavam primeiro ser desmontados pa-ra ficar em condies de serem impressos. Do ltimo captulo, s existe o incio. Ne-le, as trs grandes classes da sociedade capitalista desenvolvida - proprietrios rurais,capitalistas, assalariados -, correspondentes s trs grandes formas de rendimento- renda fundiria, lucro, salrio -, e a luta de classes necessariamente dada comsua existncia deveriam ser apresentadas como resultado realmente visvel do pe-rodo capitalista. Tais resumos conclusivos Marx costuma_va reservarpara a redaofinal, pouco antes da impresso, quando, ento, os mais recentes acontecimentoshistricos lhe forneciam, com infalvel regularidade, as provas de seus desenvolvi-mentos tericos com a maior atualidade que se pudesse desejar.

    As citaes e comprovaes documentais so, como j no Livro Segundo, mui-to mais escassas do que no primeiro. Citaes do Livro Primeiro do a paginaoda 2? e da 3? edio. Onde, no manuscrito, se remete a manifestaes tericas deeconomistas anteriores, geralmente s indicado o nome, enquanto a prpria pas-sagem deveria ser incorporada na elaborao final. Eu tive naturalmente de deixarisso assim como estava. Dos relatrios parlamentares, s h 4, mas estes foram usa-dos de modo abundante. So os seguintes:

    1! Reports rom Committees da Cmara dos Comuns!, v. Vlll, Commercial Dis-tress, v. II, Parte I, 1847/48, Minutes o Evidence. - Citado como CommercialDistress, 1847/48. `

    2! Secret Committee of the House o Lords on Commercial Distress, 1847, Re-port printed 1848, Evidence printed 1857 porque em 1848 fora considerado de-masiado comprometedor!. - Citado como C. D., 1848-1857.

    3! Report: Bank Acts, 1857. - Idem, 1858. - Relatrios da comisso da C-mara dos Comuns sobre o efeito das leis bancrias de 1844 e 1845, com declara-es de testemunhas. - Citado como B. A. s vezes tambm B. C.!, 1857, ou,no caso, 1858.

    Enfrentarei o Livro Quarto - a Histria da 'loria da Mais-Valia - assim queme seja de algum modo possvel.

    No Prefcio do volume ll de O Capital, tive de acertar contas com os senhoresque, naquela ocasio, ergueram um grande clamor porque pretendiam ter encon-trado em Rodbertus a fonte secreta de Marx e um predecessor superior a ele. Ofe-reci a eles a oportunidade de mostrar o que a economia rodbertusiana capaz defazer; desafiei-os a demonstrarem como no s sem infringir a lei do valor, masmuito mais com base nela, pode e deve se formar uma taxa. mdia igual de lucro.Os mesmos senhores que, naquela poca, por motivos subjetivos ou objetivos, emregra, no entanto, de qualquer outra ndole que no cientfica, proclamaram o bomRodbertus como uma estrela econmica de primeira grandeza ficaram, sem exce-o, devendo a resposta. Outras pessoas, no entanto, consideraram valer a penaocupar-se com o problema.

    Em sua crtica ao volume ll Conrads Jahrbcher_,3` Xl, 5, 1885, p. 452-465!,3' Anurios de Economia Nacional e Estatstica - Uma revista publicada a cada duas semanas, fundada em Jena em 1863.De 1872 at 1890 ela foi editada por Johannes Conrad, de 1891 at 1897 por Wilhelm bexis. N. da Ed. Alem.!

  • 10 PREFc|o

    o Prof. W. Lexis aborda a questo, ainda que no queira dar nenhuma soluo dire-ta. Diz ele: '

    A soluo daquela contradio entre a lei do valor de Ricardo-Marx ea taxa mdiaigual de lucro! impossvel se as diferentes espcies de mercadorias so examinadas iso-ladamente e se seu valor for igual a seu valor de troca e este igual ou proporcional aseu preo.

    Segundo ele, tal soluo s possvel se

    se abandona a medio do valor, para espcies individuais de mercadorias, segundoo trabalho, e s se considera a produo de mercadorias na totalidade e a distribuiodas mesmas entre as classes globais dos capitalistas e trabalhadores. ...! Do produtoglobal, a classe trabalhadora s obtm certa parte ...! e outra, a parte que vai para oscapitalistas, constitui, no sentido de Marx, o mais-produto e, em decorrncia, tambm ...! a mais-valia. Os membros da classe dos capitalistas distribuem no entanto entre siessa mais-valia global no de acordo com o nmero de trabalhadores empregados poreles, mas de acordo com a proporo da grandeza de capital posta por cada um, sendoque a base fundiria tambm entra no clculo como valor de capital' Os valores ideaisde Marx, determinados pelas unidades de trabalho corporificadas nas mercadorias, nocorrespondem aos preos, mas podem ser considerados como ponto de partida de umdeslocamento que leva aos verdadeiros preos. Estes ltimos so condicionados pelofato de que capitais iguais demandam ganhos iguais. Por meio disso, alguns capitalistasrecebero preos mais altos por suas mercadorias do que seus valores ideais, outros re-cebero preos mais baixos. Como, porm, as perdas e os ganhos de mais-valia dentroda classe dos capitalistas se compensam reciprocamente, a grandeza global da mais-valia a mesma que se todos os preos fossem proporcionais aos valores ideais das merca-dorias.

    Como se v, a questo nem de longe est aqui resolvida, mas, ainda que demaneira descurada e superficial, est colocada corretamente em seu todo. E isso, de fato, mais do que poderamos esperar de algum que, como o Autor, se apre-senta com certo orgulho como economista vulgar; at surpreendente ao compar-locom as realizaes de outros economistas vulgares, de que trataremos mais adiante.A economia vulgar do Autor , em todo caso, de espcie muito particular. Afirmaque, desde logo, o ganho de capital pode ser deduzido maneira de Marx, masque nada obriga a adotar essa concepo. Pelo contrrio. A economia vulgar teriauma explicao no mnimo mais plausvel:

    Os vendedores capitalistas - o produtor de matrias-primas, o fabricante, o ataca-dista, o varejista - obtm ganhos em seus negcios ao vender, cada um, mais carodo que compra, elevando, portanto, em certa porcentagem, o preo do prprio custode sua mercadoria. S o trabalhador no est em condies de aplicar semelhante acrs-cimo de valor, j que, em virtude de sua situao desvantajosa em face do capitalista,v-se obrigado a vender seu trabalho pelo preo que custa para ele mesmo, ou seja,pelos meios necessrios subsistncia ...! assim, esses aumentos de preo mantm suatotal significao em face dos trabalhadores assalariados, que compram e provocam atransferncia de parte do valor do produto global para a classe dos capitalistas.

    Ora, no preciso grande esforo mental para compreender que essa explica-o econmica vulgar do lucro do capital leva, praticamente, aos mesmos resulta-dos que a teoria de Marx sobre a mais-valia; que os trabalhadores, de acordo coma concepo de Lexis, se encontram exatamente na mesma situao desvantajosaque em Marx; que so, exatamente da mesma maneira, os logrados, j que todono-trabalhador pode vender acima do preo, mas no o trabalhador; e que combase nessa teoria pode-se construir um socialismo vulgar ao menos to plausvel

  • PREFACIO 1

    quanto o construdo aqui na Inglaterra com base na teoria do valor-utilidade e dautilidade marginal_de Jevons e Menger.4` Sim, eu at suspeito que, caso essa teo-ria do lucro fosse do conhecimento do Sr. George Bernard Shaw, ele seria capazde aferrar-se a ela com ambas as mos, dar adeus a Jevons e a Karl Menger e sobreessa rocha erigir novamente a Igreja Fabiana do futuro.

    Na realidade, essa teoria s , porm, uma parfrase da marxista. Com o quese cobrem, ento, todos os adicionais de preo? Com o produto global dos traba-lhadores. E, precisamente, pelo fato de que a mercadoria trabalho, ou como dizMarx fora de trabalho, tem de ser vendida abaixo de seu preo. Pois, se a pro-priedade comum de todas as mercadorias a de serem vendidas mais caras do queos custos de produo, se, no entanto, apenas o trabalho excludo dessa proprie-dade e sempre vendido apenas aos custos de produo, ento ele de fato vendi-do abaixo do preo, que o regular nesse mundo da Economia vulgar. O lucroextra, da decorrente e que vai para o capitalista, respectivamente para a classe ca-pitalista, consiste exatamente nisso, e, em ltima instncia, s pode surgir pelo fatode o trabalhador, aps reproduzir a reposio do preo de seu trabalho, ter de pro-duzir ainda produto adicional, pelo qual ele no pago - mais-produto, produtode trabalho no-pago, mais-valia. Lexis um homem extremamente cauteloso naescolha de seus termos. Em nenhum momento ele afirma diretamente que a con-cepo acima seja a sua; se ela, contudo, o , ento claro como o sol que aquino estamos tratando com um daqueles economistas vulgares habituais, dos quaisele mesmo diz que cada um deles, aos olhos de Marx, , na melhor das hipteses,apenas um imbecil incurvel, mas com um marxista disfarado de economista vul-gar. Que esse disfarce tenha ocorrido de modo consciente ou inconsciente, umaquesto psicolgica que no nos interessa aqui. Quem quiser averiguar isso, talvezinvestigue tambm como foi possvel que, em certa poca, um homem to inteli-gente, como Lexis certamente , pde ser capaz de defender tal estupidez comoo bimetalismo.5`

    O primeiro que realmente procurou responder questo foi o Dr. Conrad Schmidtem A 'lhxa Mdia de Lucro com Base na Lei do Valor de Marx, Dietz, Stuttgart,1889. Schmidt procura harmonizar os detalhes da formao de preo de mercadotanto com a lei do valor quanto com a taxa mdia de lucro. O capitalista industrialrecebe em seu produto, primeiro, a reposio de seu capital adiantado e, segundo,um mais-produto, pelo qual ele no pagou nada. Mas, para receber esse mais-produto,ele precisa adiantar seu capital na produo; ou seja, ele precisa empregar determi-nado quantum de trabalho objetivado a fim de poder apropriar-se desse mais-produto.Portanto, para o capitalista esse seu capital adiantado pois o quantum de trabalhoobjetivado que socialmente necessrio para lhe prover esse mais-produto. Paraqualquer outro capitalista industrial vale o mesmo. Ora, como os produtos, de acor-do com a lei do valor, se intercambiam reciprocamente em proporo ao trabalhosocialmente necessrio sua produo, e como para o capitalista o trabalho neces-srio para a produo de seu mais-produto apenas o trabalho pretrito acumulado

    4' Teoria da Utilidade Marginal - Uma teoria econmica burguesa, apologtica. que surgiu nos anos 70 do sculo XIXem anttese teoria do valor-trabalho de Marx. De acordo com essa teoria, o valor de uma mercadoria determinadopor meio de sua utilidade marginal, ou seja, mediante a avaliao subjetiva da utilidade daquela unidade mercantil, quesatisfaz necessidade menos premente do comprador, com dada grandeza do estoque de mercadorias. A teoria da utilida-de marginal torna a grandeza do valor dependente da raridade relativa das mercadorias. Na realidade, contudo, a raridaderelativa das mercadorias depende de seu valor mais ou menos elevado, que determinado pelo gasto de trabalho social-mente necessrio. O valor das mercadorias influencia, mediante os preos de mercado, a dimenso da demanda solvvel,e a essa demanda se ajusta tambm a oferta de mercadorias. A teoria da utilidade marginal pertence aos fundamentostericos da moderna economia burguesa. porque ela parece adequada a seus representantes para camuflar a exploraodos trabalhadores no capitalismo. N. da Ed. Alem.!5' LEXIS. Kritische Errterungen ber die Whrungsfrage. ln: Anurio Sobre Legislao. Administrao e Economia So-cial no lmprio Alemo. Ano 5, caderno 1, Leipzig. 1881. p. 87-132. N. da Ed. Alem.!

  • 12 PREFCIO

    em seu capital, da segue que os mais-produtos se intercambiam proporcionalmen-te aos capitais exigidos para sua produo, no porm de acordo com o trabalhorealmente corporificado neles. A parcela que cabe a cada unidade de capital , por-tanto, igual soma de todas as mais-valias produzidas, dividida pela soma dos capi-tais empregados na produo. De acordo com isso, capitais iguais proporcionam,em intervalos iguais de tempo, lucros iguais, e isso se efetua ao ser o preo de custodo mais-produto assim calculado, ou seja, o lucro mdio, acrescentado ao preode custo do produto pago, vendendo-se ambos - produto pago e no-pago -por esse preo aumentado. A taxa mdia de lucro formada apesar de, como pen-sa Schmidt, os preos mdios das mercadorias individuais serem determinados deacordo com a lei do valor.

    A construo extremamente engenhosa, bem de acordo com o modelo he-geliano, mas ela compartilha com a maioria das construes hegelianas a circuns-tncia de no estar certa. Mais-produto ou produto pago no faz diferena: casoa lei do valor deva ser diretamente vlida tambm para os preos mdios, entoambos tm de ser vendidos em proporo ao trabalho socialmente necessrio exigi-do para sua produo e nela consumido. A lei do valor se orienta de antemo con-tra o ponto de vista, transmitido pela concepo capitalista, de que o trabalho pre-trito acumulado, no qual consiste o capital, no seria apenas determinada somade valor acabado, mas,-porque fator da produo e da formao de lucro, tam-bm seria formador de valor, portanto fonte de mais valor do que ele mesmo tem;ela constata que essa propriedade s pertence ao trabalho vivo. Que os capitalistasesperam lucros na proporo da grandeza de seus capitais, considerando, portanto,seu adiantamento de capital como uma espcie de preo de custo de seu lucro, algo sabido. Quando, no entanto, Schmidt usa essa concepo para, por meio dela,harmonizar os preos calculados de acordo com a taxa mdia de lucro com a leido valor, ento ele abole a prpria lei do valor ao incorporar a essa' lei, como fatorco-determinante, uma concepo que a contradiz totalmente.

    Ou o trabalho acumulado formador de valor junto com o vivo. Ento a leido valor no vale.

    Ou ele no formador de valor. Ento a demonstrao de Schmidt incompa-tvel com a lei do valor.

    Schmidt foi levado a esse desvio ao estar j muito prximo da soluo, porqueimaginou que teria de encontrar uma frmula, se possvel matemtica, que permi-tisse comprovar a harmonia do preo mdio de cada marcadoria individual coma lei do valor. Se, no entanto, aqui, bem prximo da meta, ele seguiu por um cami-nho errado, o contedo restante da brochura demonstra com que compreenso eleextraiu outras concluses dos dois primeiros livros de O Capital. Cabe-lhe a honrade haver descoberto por si, para a at ento inexplicvel tendncia declinante dataxa de lucro, a explicao correta, dada por Marx na Seo lll do Livro Terceiro;o mesmo ocorre na derivao do lucro comercial a partir da mais-valia industriale em toda uma srie de observaes sobre juros e renda fundiria, mediante a qualso antecipados elementos que esto desenvolvidos em Marx nas Sees IV e Vdo Livro Terceiro.

    Em trabalho posterior Neue Zeit, 1892/93, nf 3 e 4!, Schmidt procura a solu-o por um caminho diferente. Este leva ao seguinte: a concorrncia que produza taxa mdia de lucro, ao fazer com que o capital emigre de ramos da produocom sublucro para outros, em que se obtenha superlucro. Que a concorrncia sejaa grande equalizadora dos lucros, no novo. Mas Schmidt procura agora a com-provao de que essa nivelao dos lucros idntica reduo do preo de vendade mercadorias produzidas em excesso medida do valor que a sociedade, de acordocom a lei do valor, pode pagar por elas. Por que tambm isso no podia levar aoobjetivo se revela de modo suficiente a partir da discusso de Marx no prprio livro.

  • PRE1=c1o 13

    Depois de Schmidt, P Fireman enfrentou o problema Conrads Jahrbcher, Ter-ceira Srie, lll, p. 793!. No entrarei em suas observaes sobre outros aspectosda exposio de Marx. Elas se baseiam no mal-entendido de que Marx quer definironde ele desenvolve e de que, sobretudo, se pode procurar em Marx definies fi-xas e prontas, vlidas de uma vez por todas. Compreende-se por si mesmo queonde as coisas e suas relaes mtuas no so concebidas como fixas, mas comomutveis, tambm suas imagens mentais, os conceitos, esto igualmente submeti-das a modificao e transformao; que elas no so encapsuladas em definiesrgidas, mas desenvolvidas em seu processo de formao histrico, respectivamentelgico. De acordo com isso, ficar, pois, bastante claro por que Marx, no comeodo Livro Primeiro, onde ele parte da produo simples de mercadorias como seupressuposto histrico para ento, posteriormente, a partir dessa base, chegar at ocapital - por que ele parte exatamente da mercadoria simples e no de uma formaconceitual e historicamente secundria, da mercadoria j modificada de modo capi-talista; o que naturalmente Fireman no consegue compreender. Preferimos deixaressas e outras coisas secundrias, que ainda poderiam dar motivo a diversas obser-vaes, de lado e entrar logo no cerne da questo. Enquanto a teoria ensina aoAutor que, com dada taxa de mais-valia, a mais-valia proporcional ao nmerode foras de trabalho enpregadas, a experincia lhe mostra que, com dada taxa m-dia de lucro, o lucro proporcional grandeza do capital global aplicado. Firemanexplica isso dizendo que o lucro apenas um fenmeno convencional o que signi-fica para ele: pertencente a determinada formao social, com a qual ele se man-tm e desaparece!; sua existncia est simplesmente amarrada ao capital; este, quando suficientemente forte para impor um lucro para si, v-se obrigado pela concorrn-cia a impor tambm uma taxa de lucro igual para todos os capitais. Sem taxa delucro igual nenhuma produo capitalista possvel; pressupondo-se essa forma deproduo, a massa do lucro para cada capitalista individual s pode depender, comdada taxa de lucro, da grandeza de seu capital. Por outro lado, o lucro consiste emmais-valia, em trabalho no-pago. E como ocorre aqui a tranformao da mais-valia,cuja grandeza se orienta de acordo com a explorao do trabalho, em lucro, cujagrandeza se orienta de acordo com a grandeza do capital necessrio para tanto?

    Simplesmente porque em todos os ramos da produo onde a relao entre ...! ca-pital constante e capital varivel mxima as mercadorias so vendidas acima de seuvalor, o que tambm quer dizer que naqueles ramos da produo em que a relaoentre capital constante: capital varivel = c : u minima as mercadorias so vendidasabaixo de seu valor, e que s onde a relao c : v representa determinada grandezamdia as mercadorias so vendidas por seu valor verdadeiro. ...! Essa incongrunciade preos individuais com seus respectivos valores uma refutao do princpio do va-lor? De modo algum. Pelo fato de que os preos de algumas mercadorias sobem acimado valor na mesma medida que os preos de outras caem abaixo do valor, a soma totaldos preos permanece igual soma total dos valores ...! desaparece, em ltima instn-cia a incongruncia. Essa incongruncia uma perturbao; mas, nas cincias exatas,jamais se costuma considerar uma perturbao calculvel como refutao de uma lei.Comparem-se com isso as passagens correspondentes no capitulo lX e ver-se-

    que, de fato,Fireman colocou o dedo no ponto decisivo. Mas quantos membrosintermedirios ainda seriam necessrios, mesmo aps essa descoberta, para capaci-tar Fireman a elaborar a soluo plena e compreensvel do problema, demonstra-do pela recepo imerecidamente fria que seu to significativo artigo teve. Aindaque tantos se interessassem pelo problema, todos continuavam com medo de quei-mar os dedos. E isso no se explica somente pela forma incompleta em que Fire-man deixou seu achado, mas tambm pela inegvel insuficincia tanto de suaconcepo da exposio de Marx quanto de sua prpria crtica geral da mesma,baseada nessa concepo.

  • 14 PREFCIO

    Onde quer que haja oportunidade de, numa questo difcil, fazer fiasco, a nun-ca falta o senhor Prof. Julius Wol, de Zurique. Todo o problema, conta-nos ele Con-rads Jahrbcher, Terceira Srie, ll, p. 352 et seqs.!, se resolve pela mais-valia relativa.A produo da mais-valia relativa baseia-se no aumento do capital constante emface do varivel.

    Um plus de capital constante pressupe um plus na fora produtiva dos trabalha-dores. Como, porm, esse plus de fora produtiva por via do barateamento dos meiosde subsistncia! acarreta um plu_s de mais-valia, fica estabelecida a relao direta entremais-valia crescente e participao crescente do capital constante no capital global. Uma-mais no capital constante comprova um a-mais na fora produtiva de trabalho. Perma-necendo o mesmo o capital varivel e crescendo o capital constante, a mais-valia temde se elevar, portanto, de acordo com Marx. Essa era a questo que nos foi posta.

    E certo que Marx, em cem passagens do Livro Primeiro, diz exatamente o con-trrio; certo que a assertiva de que, segundo Marx, a mais-valia relativa aumenta-ria ao diminuir o capital varivel na mesma proporo em que sobe o capital constante to assombrosa que transcende qualquer expresso parlamentar; certo que oSr. Julius Wolf demonstra a cada linha que ele no entendeu o mnimo, nem relati-va nem absolutamente, da mais-valia absoluta nem da relativa; certo que ele mes-mo diz:

    primeira vista, aqui a gente parece encontrar-se realmente num ninho de disparates,

    o que aproximadamente a nica coisa certa em todo o seu artigo. Mas o que im-porta tudo isso? O Sr. Julius Wolf est to orgulhoso de sua genial descoberta queele no consegue deixar de conferir a Marx por isso elogios pstumos e celebrareste seu prprio absurdo insondvel como uma

    prova a mais da agudeza e amplitude de viso com que est desenvolvido seu deMarx! sistema crtico da economia capitalista!

    Mas ainda vem coisa melhor, diz o Sr. Wolf:

    Ricardo afirmou igualmente: para a mesma aplicao de capital, a mesma mais-valia lucro!, assim como: para a mesma aplicao de trabalho, a mesma mais-valia quanto massa!. E a questo era ento: como uma coisa se harmoniza com a outra? Marx,no entanto, no reconheceu a questo nessa forma. Sem dvida ele demonstrou novolume III! que a segunda assertiva no seria conseqncia inevitvel da lei do valor,que' ela, na verdade, contradiz sua lei do valor e, portanto, ...! deve ser diretamenterejeitada.E, ento, ele investiga quem de ns dois ter-se-ia enganado, eu ou Marx. Que

    ele mesmo esteja passeando no erro, nisso ele naturalmente nem pensa.Seria ofender meus leitores e desconhecer totalmente a comicidade da situao

    caso eu quisesse perder a nica palavra sobre essa esplndida passagem. S acres-cento o seguinte: com a mesma ousadia com que ento j podia dizer -o que Marxsem dvida demonstrou no volume lll, ele aproveita a oportunidade para relatarum pretenso mexerico professoral, segundo o qual o acima citado texto de ConradSchmidt seria diretamente inspirado por Engels. Sr. Julius Wolf! No mundo emque o senhor vive e atua, talvez seja costumeiro que o homem que coloca publica-mente para outros um problema d conhecimento, em segredo, da soluo a seus

    5 Aumento. N. dos T.!

  • PREFACIO 15

    amigos particulares! Que o senhor seja capaz disso, quero crer sem dificuldade. Queno mundo em que transito a gente no precisa rebaixar-se a tais mesquinhezas,demonstra-lhe o presente prefcio. - g

    Mal falecera Marx, e j o Sr. Achille Loria publicava o mais rpido possvel umartigo sobre ele na Nuova Antologia7` abril de 1883!: primeiro uma biografia re-cheada de dados falsos, depois uma crtica de sua atividade pblica, poltica e liter-ria. A concepo materialista da Histria de Marx aqui falsificada e deformadacom uma segurana que permite adivinhar um grande objetivo. E esse objetivo foialcanado: em 1886, o mesmo Sr. Loria publicou um livro, La Teoria Economicadella Constituzione Politica, em que ele anuncia a teoria marxista da Histria, defor-mada de modo to completo e to intencional, elm 1883, como sua prpria desco-berta, ao assombrado mundo contemporneo. E verdade que a teoria de Marx a rebaixada a um nvel bastante filisteu; tambm as citaes e as provas e exemploshistricos formigam com disparates, que no se perdoariam a um quartanista; maso que importa tudo isso? A descoberta de que, por toda parte e sempre, as condi-es e acontecimentos polticos encontram sua explicao nas correspondentes con-dies econmicas no foi, como aqui se comprova, de modo algum feita por Marxem 1845, mas pelo Sr. Loria em 1886. Ao menos isso o que ele fez crer comgrande felicidade a seus compatriotas e, desde que seu livro apareceu em francs,tambm a alguns franceses e, agora, ele pode pavonear-se na ltlia como autor deuma nova e memorvel teoria da Histria, at que os socialistas de l tiverem tem-po para arrancar ao illustre Loria as plumas de pavo roubadas.

    Essa , porm, uma pequena prova da maneira do Sr. Loria. Ele nos asseguraque todas as teorias de Marx se baseiam num sofisma onisciente un consaputo so-fisma!; que Marx no se assustava com paralogismos, mesmo quando os reconhe-cia como tais sapendoli tali! etc. E depois de ter transmitido a seus leitores, comtoda uma srie de papos de similar baixeza, o necessrio para que vejam em Marxum arrivista la Loria, que pe em cena seus enfeitozinhos com os mesmos calote-zinhos podres que nosso professor de Pdua, pode revelar-lhes um importante se-gredo e, com isso, ele tambm nos leva de volta taxa de lucro.

    O Sr. Loria diz: Segundo Marx, a massa de mais-valia que o Sr. Loria identificaaqui com o lucro!, produzida numa empresa industrial capitalista, deve determinar-se pelo capital varivel nela aplicado, j que o capital constante no proporcionalucro. Mas isso contradiz a realidade. Pois na prtica o lucro no se determina pelocapital varivel, mas pelo capital global. E o prprio Marx reconhece isso l, cap.XI!8` e admite que, na aparncia, os fatos contradizem sua teoria. Mas como re-solve ele a contradio? Ele remete seus leitores para um volume seguinte, aindano publicado. Acerca desse volume Loria j antes havia dito a seus leitores queno acreditava que mesmo por um momento Marx tivesse pensado em escrev-loe, agora, ele exclama triunfante:

    No sem razo, portanto, afirmei que esse segundo volume, com que Marx ameaa-va incessantemente seus adversrios, sem jamais aparecer, esse volume poderia muitobem ser um engenhoso expediente que Marx empregou onde os argumentos cientficoslhe faltavam un ingegnoso spediente ideato dal Marx a sostituzione degli argomenti scien-tiici!.

    Quem agora no estiver convencido de que Marx est mesma altura da frau-de cientfica que l'illustre Loria, um caso totalmente perdido.

    7' Nuova Antologia di Scienze. Lettere ed Arti - Revista liberal italiana sobre cincia, literatura e arte; apareceu de 1866at 1877 em Florena e de 1878 at 1943 em Roma. N. da Ed. Alem.!3' Loria utilizou-se da edio francesa do volume I de O Capital, na qual o captulo Xl, Taxa e Massa de Mais-Valia, cor-responde ao captulo IX da edio alem. N. da Ed. Alem.!

  • 16 PREFc1o

    Tanto havamos, contudo, aprendido: segundo o Sr. Loria, a teoria de Marx so-bre a mais-valia absolutamente irreconcilivel com o fato da taxa de lucro geraluniforme. Entrementes, surgiu o Livro Segundo e, com ele, minha questo, publi-camente colocada, exatamente sobre esse mesmo ponto.` Tivesse o Sr. Loria si-do um de ns alemes estpidos, ele teria ficado numa situao um tanto embaraosa.Mas ele um atrevido meridional, ele vem de um clima quente, onde, como elepode afirmar, a desinibiow' , at certo ponto, condio natural. A questo rela-tiva taxa de lucro est colocada publicamente. O Sr. Loria publicamente declarou-a irresolvel. E exatamente por isso ele agora h de superar a si mesmo, ao resolv-la publicamente.

    Esse milagre ocorre nos Conrad's Jahrbcher, N. F., v. XX, p. 272 et seqs.,num artigo sobre o texto de Conrad Schmidt citado acima. Depois de ele ter apren-dido com Schmidt como se constitui o lucro comercial, de repente tudo se tornaclaro para ele.

    J que a determinao do valor mediante o tempo de trabalho d aos capitalistasque investem uma parte maior de seu capital em salrios uma vantagem, ento o capitalimprodutivo deveria ser comercial! pode impor a esses capitalistas privilegiados umjuro deveria ser lucro! mais elevado e provocar a igualdade entre os diversos capitalis-tas industriais. ...! Assim, por exemplo, se os capitalistas individuais A, B, C empregam,cada um, 100 jornadas de trabalho e um capital constante de, respectivamente, 0, 100,200 na produo, e se o salrio de 100 jornadas de trabalho contm 50 jornadas detrabalho, cada capitalista recebe uma mais-valia de 50 jornadas de trabalho e a taxa delucro de 100% para o primeiro, 33,3% para o segundo e 20% para o terceiro. Se,no entanto, um quarto capitalista D acumula um capital improdutivo de 300, que exigeum juro lucro! no valor de 40 jornadas de trabalho de A, um juro de 20 jornadasde trabalho de B, ento a taxa de lucro dos capitalistas A e B cair a 20%, igual deC, e D, com um capital de 300, receber um lucro de 60, ou seja, uma taxa de lucrode 20%, como os capitalistas restantes.

    Com to surpreendente destreza, num passe de mgica, l'illustre Loria resolvea mesma questo que, 10 anos antes, ele havia declarado insolvel. Infelizmenteele no nos revelou o segredo, de onde o capital improdutivo recebe o poder nos para espremer dos industriais esse seu lucro extra, que excede a taxa mdia delucro, mas tambm para conserv-lo em seus bolsos, exatamente como o propriet-rio fundirio pe no bolso o lucro excedente do arrendatrio, como renda fundiria.De fato, de acordo com isso, os comerciantes iriam recolher um tributo totalmenteanlogo renda fundiria dos industriais e dessa maneira estabeleceriam a taxa m-dia de lucro. Certamente o capital comercial um fator essencial no estabelecimen-to da taxa mdia de lucro, como quase todo mundo sabe. Mas s um aventureiroliterrio, que no fundo de seu corao menospreza toda a economia, pode permitir-se afirmar que ele possui o poder mgico de extrair para si toda a mais-valia exce-dente da taxa de lucro geral - e ainda por cima antes que tal taxa tenha sido esta-belecida -, transformando-a em renda fundiria para si mesmo e, alm de tudoo mais, sem que tenha para isso necessidade de nenhuma propriedade fundiria.No menos espantosa a assertiva de que o capital comercial conseguiria descobriraqueles industriais cuja mais-valia s cobre exatamente a taxa mdia de lucro, e con-sideraria ser seu dever de honra de algum modo aliviar a sina dessas infelizes vti-mas da lei marxista do valor vendendo-lhes seus produtos gratuitamente, at mesmo

    9' MARX, Karl. O Capital. So Paulo, Abril Cultural, 1984. v. ll, Prefcio.10' Jogo de palavras em alemo. intraduzvel. Engels emprega o termo Unuerrorenheit que significa ao mesmo tempodesinibio e condio no gelada. N. dos T.!

  • PREFCIO 17

    sem nenhuma comisso. Que prestidigitador preciso ser para imaginar que Marxnecessitaria de to lamentveis passes de mgica!

    Mas nosso illustre Loria s resplandece em toda a sua glria quando o compa-ramos com seus concorrentes nrdicos, por exemplo com o Sr. Julius Wolf, quetambm no nasceu ontem. Que pequeno ladrador este parece, mesmo em seugrosso livro sobre Socialismo e Ordem Social Capitalista, ao lado do italiano! Quodesamparado, eu estaria at tentado a dizer, quo modesto est ele a, ao lado danobre temeridade com o que o Maestro coloca como bvio que Marx, no maisnem menos do que toda gente, tambm era um sofista consciente, paralogista, fan-farro e pregoeiro exatamente igual ao Sr. Loria - que Marx, toda vez que ficaatolado, ilude o pblico com a promessa de que a concluso de sua teoria est emum volume seguinte, que ele, como sabe muito bem, nem pode nem deseja forne-cer! Atrevimento ilimitado, aliado habilidade de enguia para deslizar por ,situaesimpossveis, herico desprezo contra pontaps recebidos, rpida apropriao de rea-lizaes alheias, reclame importuno de pregoeiro, organizao da fama mediantecamarilha de cupinchas: em tudo isso, quem lhe chega aos ps?

    A Itlia a tenra do classicismo. Desde a grande poca, em que nela desponta-va a alvorada do mundo moderno, produziu personalidades grandiosas, de inalcan-vel perfeio clssica, desde Dante at Garibaldi. Mas tambm a poca dahumilhao e da dominao estrangeira deixou-lhe personagens clssicas encarna-das, entre elas dois tipos especialmente elaborados: Sganarell e Dulcamara. A uni-dade clssica de ambos vemos corporificada em nosso illustre Loria.

    Para finalizar, preciso levar meu leitor para o outro lado do oceano. Em NovaYork, o doutor em Medicina George C. Stiebeling tambm achou uma soluo parao problema, e na verdade de extrema simplicidade. To simples que ningum dec ou de l quis reconhec-la; isso o deixou tomado de grande clera, fazendo-oqueixar-se amargamente dessa iniqidade, numa srie infinita de brochuras e arti-gos de jornal, em ambos os lados do oceano. E verdade que se disse a ele, na NeueZeit' que toda a sua soluo estava baseada num erro de clculo. Mas isso nopoderia perturb-lo; Marx tambm fez erros de clculo e, mesmo assim, continuaa ter razo em muitas coisas. Examinemos, portanto, a soluo stiebelinguiana.

    Eu suponho duas fbricas que, com o mesmo capital, trabalhe durante o mesmotempo, mas com uma proporo diferente entre capital constante e capital varivel. Ocapital global c + v! eu fao = y, e designo a diferena na proporo entre capital cons-tante e capital varivel por x. Na fbrica l, 9 = c + v, na fbrica ll y = c -x! + U + x!. Portanto, a taxa de mais-valia na fbrica l = -Sie na fbrica ll =Chamo de lucro I! a mais-valia global m!, pela qual aumenta o capital total y ou c +v no tempo dado, portanto l = m. A taxa de lucro, de acordo com isso, na fbrica l

    l m , . , . l m .= - ou - , e na fabrica ll e igualmente - ou - , ou seia, tam-

    y c+v y c-x!+ v+x!bm = O ...! problema se resolve de tal maneira que, baseando-se na lei do

    c vvalor, aplicando o mesmo capital e o mesmo tempo, _mas quantidades desiguais de tra-

    ` Observaes sobre o artigo do Sr. Stiebeling: Sobre a influncia da concentrao do capital sobre o salrio e a explo-rao do trabalho". ln: Die Neue Zeit. 1887. nf' 3. p. 127-133.

    Die Neue Zeit [A Nova Era] - rgo terico da social-democracia alem que exerceu papel de liderana no movimentointernacional dos trabalhadores Die Neue Zeit foi publicada de 1883 a 1923 em Stuttgart e foi redigida por Karl Kautsky.com a colaborao de Franz Mehring. A partir de outubro de 1917, ela foi editada por Heinrich Cunow. De 1885 a 1894.Engels escreveu uma srie de artigos para Die Neue Zeit, apoiou constantemente a redao com seus conselhos e criticou-ano raramente por desvios em relao ao marxismo em suas publicaes. Depois do falecimento de Friedrich Engels, forampublicados cada vez mais artigos de revisionistas na revista. Durante a Primeira Guerra Mundial, Die Neue Zeit assumiuuma posio centrista e. com isso. apoiou os social-chauvinistas. N. da Ed. Alem.!

  • 18 PREFCIO

    balho vivo, surge a partir da modificao da taxa de mais-valia uma taxa mdia de lucroigual. STIEBELING, G. C. A Lei do Valor e a Taxa de Lucro. Nova York, John

    Heinrich.!Por mais bonito e convincente que seja o clculo acima, somos, no entanto,

    obrigados a dirigir uma pergunta ao senhor Dr. Stiebeling: como ele sabe que a so-ma da mais-valia que a fbrica l produz exatamente igual soma da mais-valiagerada na fbrica ll? De c, v, y e x, portanto de todos os fatores restantes do clculo,nos diz expressamente que eles tm a mesma grandeza em ambas as fbricas, massobre m no nos diz uma nica palavra.'Do fato, porm, de que ele designa ambasas massas de mais-valia algebricamente por m, isso no segue de nenhuma forma.E o que - como o Sr. Stiebeling tambm identifica o lucro l com a mais-valia -precisa antes de mais nada ser provado. Ora, s dois casos so possiveis: ou os doism so iguais e cada fbrica produz a mesma massa de mais-valia, portanto, como mesmo capital global, tambm o mesmo lucro e, ento, o Sr. Stiebeling j pressu-ps de antemo aquilo que ele ainda teria de provar. Ou ento uma das fbricasproduz uma soma maior de mais-valia, e ento todo o clculo dele vem abaixo.

    O Sr. Stiebeling no poupou esforos nem custos para construir sobre esse seuerro de clculo montanhas inteiras de clculos e apresent-las ao pblico. Posso dar-lhea certeza tranqilizadora de que quase todas esto por igual incorretas e, onde ex-cepcionalmente no esse o caso, elas demonstram algo totalmente diverso do queele quer demonstrar. Assim, comparando os relatrios dos censos americanos de1870 e 1880, ele demonstra de fato a queda da taxa de lucro, explica-a, porm,de modo totalmente falso e pensa ter de corrigir, mediante a prtica, a teoria mar-xista de uma taxa de lucro sempre constante e estvel. Agora, porm, da Seolll do presente Livro Terceiro decorre que essa taxa de lucro fixa de Marx purafantasia e que a tendncia decrescente da taxa de lucro se baseia em causas queso diametralmente opostas s dadas pelo Dr. Stiebeling. As intenes do senhorDr. Stiebeling so certamente boas, mas, se se quer se ocupar com questes cient-ficas, preciso aprender antes de tudo a ler os escritos que se quer usar do modocomo o Autor os escreveu e, acima de tudo, no ler neles coisas que neles noconstam.

    Resultado de toda a investigao: tambm em relao presente questo, no-vamente a escola de Marx que realizou alguma coisa. Fireman e Conrad Schmidt,ao lerem este volume lll, podem, cada um por seu lado, ficar satisfeitos com seusprprios trabalhos.

    Londres, 4 de outubro de 1894

    F Engels

  • LIVRO TERCEIRO

    O Processo Global da Produo Capitalista

    Parte Primeira

  • SEO 1

    A Transformao da Mais-Valia em Lucro e da Taxade Mais-Valia em Taxa de Lucro

  • CAPTULO I

    Preo de Custo e Lucro

    No Livro Primeiro foram investigados os fenmenos que o processo de produ-o capitalista, considerado para si, apresenta, como processo de produo direto,tendo-se feito abstrao ainda de todas as influncias secundrias de circunstnciasestranhas a ele. Mas esse processo de produo direto no esgota o ciclo de vidado capital. No mundo real, ele complementado pelo processo de circulao, eeste constituiu o objeto das investigaes do Livro Segundo. Aqui se mostrou, especifi-camente na Seo lll, no exame do processo de circulao como mediao do proces-so de reproduo social, que o modo de produo capitalista, considerado comoum todo, unidade de processo de produo e de circulao. Do que neste LivroTerceiro se trata no pode ser da formulao de reflexes gerais sobre essa unidade.Trata-se muito mais de encontrar e expor as formas concretas que surgem do proces-so de movimento do capital considerado como um todo. Em seu movimento real,os capitais se defrontam em tais formas concretas, para as quais a figura do capi-tal no processo de produo direto, bem como sua figura no processo de circulao,s aparece como momento especfico. As configuraes do capital, como as desenvol-vemos neste livro, aproximam-se, portanto, passo a passo, da forma em que elasmesmas aparecem na superfcie da sociedade, na ao dos diferentes capitais entresi, na concorrncia e na conscincia costumeira dos agentes da produo.

    O valor de toda mercadoria M produzida de modo capitalista se apresenta nafrmula: M = c + v + m. Se subtramos desse valor-produto a mais-valia m, en-to resta um mero equivalente ou um valor de reposio em mercadoria para ovalor-capital c + v despendido nos elementos de produo.

    Se, por exemplo, a produo de certo artigo causa um dispndio de capital de500 libras esterlinas - 20 libras esterlinas para a depreciao de meios de trabalho,380 libras esterlinas para materiais de produo, 100 libras esterlinas para fora detrabalho -, e se a taxa de mais-valia monta a 10096, ento o valor do produto = 400, + 100, + 100,,, = 600 libras esterlinas.

    Depois de deduzir a mais-valia de 100 libras esterlinas, resta um valor-mercadoriade 500 libras esterlinas e este s repe o capital despendido de 500 libras esterli-nas. Essa parte de valor da mercadoria, que repe o preo dos meios de produo

    23

  • 24 TRANSFORMAO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCRO

    consumidos e o preo da fora de trabalho empregada, s repe o que a mercado-ria custa para o prprio capitalista e, por isso, constitui para ele o preo de custoda mercadoria.

    O que a mercadoria custa ao capitalista e o que custa mesmo a produo damercadoria, so, todavia, duas grendezas completamente diferentes. A parte de valorda mercadoria que consiste em mais-valia no custa nada ao capitalista, exatamen-te porque custa trabalho no-pago ao trabalhador. Como, no entanto, na base daproduo capitalista o prprio trabalhador, depois de seu ingresso no processo deproduo, constitui um ingrediente do capital produtivo posto em funo e pertencen-te ao capitalista, sendo o capitalista, portanto, o verdadeiro produtor de mercadoria,ento o preo de custo da mercadoria aparece necessariamente para ele como overdadeiro custo da prpria mercadoria. Denominemos p o preo de custo, entoafrmula M = c + v + m se transforma na frmula M + p + m, ou valor-mercado-ria = preo de custo + mais-valia.

    O agrupamento das diferentes partes de valor da mercadoria, que s repemo valor de capital despendido em suaproduo, sob a categoria de preo de custoexpressa, portanto, por um lado, o carter especifico da produo capitalista. O cus-to capitalista da mercadoria mede-se no dispndio em capital, o verdadeiro custoda mercadoria no dispndio em trabalho. O preo de custo capitalista da mercado-ria , portanto, quantitativamente diferente de seu valor ou de seu verdadeiro preode custo; ele menor do que o valor-mercadoria, pois como M = p + m, entop = M - m. Por outro lado, o preo de custo da mercadoria no , de modoalgum, uma rubrica que s existe na contabilidade capitalista. A autonomizao dessaparte de valor se faz valer o tempo todo praticamente na produo real da mercado-ria, pois, por meio do processo de circulao, ela sempre de novo retransformadade sua forma-mercadoria na forma de capital produtivo, portanto o preo de custoda mercadoria precisa recomprar constantemente os elementos de produo consumi-dos em sua produo.

    Por outro lado, a categoria de preo de custo no tem, de modo algum, nadaa ver com a constituio de valor da mercadoria ou com o processo de valorizaodo capital. Se eu sei que 5/6 do valor-mercadoria de 600 libras esterlinas, ou seja,500 libras esterlinas, s constituem um equivalente, um valor de reposio do capi-tal gasto de 500 libras esterlinas, e, por isso, s bastam para comprar de novo oselementos materiais desse capital, nem por isso eu sei como foram produzidos esses5/ 6 do valor da mercadoria, que constituem seu preo de custo, nem como foi pro-duzido o ltimo sexto, que constitui sua mais-valia. A investigao h de mostrar,no entanto, que o preo de custo, na economia capitalista, recebe a falsa aparnciade uma categoria da prpria produo de valor.

    Voltemos a nosso exemplo. Suponhamos que o valor produzido por um trabalha-dor numa jornada de trabalho social mdia se representa numa soma de dinheirode 6 xelins = 6 M; ento o capital adiantado de 500 libras esterlinas = 400 +1000, o produto-valor de 1 666 2/ 3 jornadas de trabalho de 10 horas, das quais1 333 1/3 jornadas de trabalho esto cristalizadas no valor dos meios de produo= 400 e 333 1/ 3 no valor da fora de trabalho = 100,,. Com a taxa de mais-va-lia adotada de 10096, a prpria produo da nova mercadoria a ser constituda cus-ta, portanto, um dispndio de fora de trabalho = 100, + 100m = 666 2/3jornadas de trabalho de 10 horas.

    Sabemos, ento ver Livro Primeiro, cap. VII, p. 201/193!,1' que o valor doproduto novo formado de 600 libras esterlinas se compe de 1! o valor que reapare-ce do capital constante de 400 libras esterlinas despendido em meios de produo

    1 O Capital. Op. cit., v. l, t. 1, p. 173.

  • PREO DE CUSTO E LUCRO 25e 2! de um novo valor produzido de 200 libras esterlinas. O preo de custo da mer-cadoria = 500 libras esterlinas compreende as 400, que reaparecem e metade donovo valor produzido de 200 libras esterlinas = 100,!, portanto, em relao a suaorigem, dois elementos total e absolutamente diferentes do valor-mercadoria.

    Mediante o carter adequado do trabalho despendido durante as 666 2/3 jorna-das de 10 horas, o valor dos meios de produo consumidos, num montante de400 libras esterlinas, transferido desses meios de produo ao produto. Esse valorantigo aparece, por isso, novamente como elemento do valor-produto, mas ele nose origina no processo de produo dessa mercadoria. Ele s existe como elementodo valor-mercadoria porque existiu antes como elemento do capital adiantado. Ocapital constante despendido , portanto, reposto por aquela parte do valor mercado-ria que ele mesmo acrescenta ao valor-mercadoria. Esse elemento do preo de cus-to tem, portanto, duplo sentido: por um lado, ele entra no preo de custo da mer-cadoria porque uma parte componente do valor-mercadoria, que repe o capitaldespendido; e, por outro, s constitui uma parte componente do valor-mercadoriaporque o valor do capital despendido ou porque os meios de produo custamtanto e tanto.

    Exatamente o contrrio com a outra parte componente do preo de custo. As666 2 / 3 jornadas de trabalho despendidas durante a produo da mercadoria consti-tuem um valor novo de 600 libras esterlinas. Desse valor novo, uma parte s repeo capital varivel adiantado de 100 libras esterlinas ou o preo da fora de trabalhoempregada. Mas esse valor-capital adiantado no entra de modo algum na constitui-o do valor novo. Dentro do adiantamento de capital, a fora de trabalho contacomo valor, mas no processo de produo ela funciona como formadora de valor.No lugar do valor da fora de trabalho, que figura dentro do adiantamento de capi-tal, surge, no capital produtivo realmente uncionante, a prpria fora de trabalhoviva, formadora de valor.

    A diferena entre esses diversos componentes do valor-mercadoria que, juntos,constituem o preo de custo salta aos olhos assim que ocorre uma mudana nagrandeza de valor, uma vez na parte despendida do capital constante, outra vez naparte despendida do capital varivel. Suponhamos que o preo dos mesmos meiosde produo ou da parte constante do capital suba de 400 libras esterlinas para 600libras esterlinas ou, pelo contrrio, caia para 200 libras esterlinas. No primeiro caso,sobe no s o preo de custo da mercadoria de 500 libras esterlinas para 600, +100, = 700 libras esterlinas, mas o prprio valor-mercadoria sobe de 600 libras es-terlinas para 600, + 100, + 100,,, = 800 libras esterlinas. No segundo caso, nos o preo de custo cai de 500 libras esterlinas para 200, + 100, = 300 libras es-terlinas, mas o prprio valor-mercadoria cai de 600 libras esterlinas para 200, +100, + 100m = 400 libras esterlinas. Porque o capital constante gasto transfere seuprprio valor para o produto, com as demais circunstncias constantes, o valor-produtoaumenta ou diminui com a grandeza absoluta daquele valor-capital. Suponhamos,pelo contrrio, que, com as demais circunstncias constantes, aumente o preo damesma massa de fora de trabalho de 100 libras esterlinas para 150 libras esterlinasou, pelo contrrio, diminua para 50 libras esterlinas. No primeiro caso, verdade,o preo de custo sobe de 500 libras esterlinas para 400, + 150, = 550 libras ester-linas, e no segundo caso ele cai de 500 libras esterlinas para 400, + 50, = 450libras esterlinas, mas em ambos os casos o valor-mercadoria permanece inalterado= 600 libras esterlinas; uma vez = 400, + 150, + 50,,,, outra vez = 400, + 50,+ 150,". O capital varivel adiantado no agrega seu prprio valor ao produto. Nolugar de seu valor surgiu no produto muito mais um novo valor criado pelo traba-lho. Uma alterao na grandeza absoluta de valor do capital varivel, medida queela s expressa uma alterao no preo da fora de trabalho, no muda o mnimona grandeza absoluta do valor-mercadoria, pois em nada modifica a grandeza absolu-

  • 26 TRANSFORMAO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCROta do valor novo, que gera fora de trabalho mobilizada. Tal mudana afeta muitomais apenas a proporo quantitativa de ambos os componentes do valor novo,dos quais um constitui mais-valia, enquanto o outro repe o capital varivel e, porisso, entra no preo de custo da mercadoria.

    As duas partes do preo de custo, em nosso caso 400, + 100,,, s tm em co-mum o seguinte: que ambas so partes do valor-mercadoria que repem capitaladiantado.

    Esse estado real das coisas aparece, porm, necessariamente de modo invertidoda perspectiva da produo capitalista.

    O modo de produo capitalista difere do modo de produo baseado na escravi-do entre outras coisas pelo fato de que o valor, respectivamente o preo da forade trabalho, se apresenta como valor, respectivamente preo do prprio trabalho,ou como salrio Livro Primeiro, cap. XVII!. A parte varivel de valor do adiantamen-to de capital aparece, por isso, como capital despendido em salrio, como um valor-ca-pital que paga o valor, respectivamente o preo, de todo o trabalho despendido naproduo. Suponhamos, por exemplo, que 1 jornada de trabalho social mdia de10 horas se corporifique numa massa monetria de 6 xelins, ento o adiantamentode capital varivel de 100 libras esterlinas a expresso monetria de um valor produzi-do em 333 1/3 jomadas de trabalho de 10 horas. Esse valor da fora de trabalhoadquirida, que figura no adiantamento de capital, no constitui, porm, nenhumaparte do capital realmente em funcionamento. Em seu lugar entra, no prprio proces-so de produo, a fora de trabalho viva. Se, como em nosso exemplo, o grau deexplorao desta ltima monta a 100%, ento ela despendida durante 666 2/3jornadas de trabalho de 10 horas e agrega portanto ao produto um valor novo de200 libras esterlinas. Mas no adiantamento de capital, o capital varivel de 100 librasesterlinas figura como capital gasto em salrios ou como preo do trabalho que executado durante 666 2/ 3 dias de 10 horas. Assim, 100 libras esterlinas divididaspor 666 2/ 3 d-nos, como preo da jornada de trabalho de 10 horas, 3 xelins, oproduto-valor de um trabalho de 5 -horas.

    Se, agora, comparamos adiantamento de capital de um lado e valor-mercadoriade outro, ento temos:

    l! Adiantamento de capital de 500 libras esterlinas = 400 libras esterlinas decapital gasto em meios de produo preo dos meios de produo! + 100libras esterlinas de capital despendido em trabalho preo de 666 2/ 3 jorna-das de trabalho ou salrio pago pelas mesmas!.

    ll! Valor-mercadoria de 600 libras esterlinas = preo de custo de 500 libras esterli-nas 00 libras esterlinas, preo dos meios de produo gastos, + 100 librasesterlinas, preo das 666 2/ 3 jomadas de trabalho despendidas! + 100 li-bras esterlinas de mais-valia.

    Nessa frmula, a parte de capital desembolsada em trabalho s difere da partede capital desembolsada em meios de produo, por exemplo algodo ou carvo,por servir para o pagamento de um elemento de produo materialmente diverso,mas de maneira alguma por desempenhar um papel funcionalmente diverso no pro-cesso de formao de valor da mercadoria, e portanto tambm no processo de valori-zao do capital. No preo de custo da mercadoria retorna o preo dos meios deproduo, como ele j figurava no adiantamento de capital, e isso porque esses meiosde produo foram utilizados e consumidos adequadamente. Exatamente da mes-ma maneira, no preo de custo da mercadoria retoma o preo ou salrio das 666 2/ 3jornadas de trabalho gastas para sua produo, tal como j figurava no adiantamen-to de capital e precisamente porque tambm essa massa de trabalho foi despendida

  • PREO DE CUSTO E LUCRO 27

    de forma adequada. S vemos valores prontos, disponveis - as partes de valordo capital adiantado que entram na formao do valor-produto -, mas nenhumelemento gerador de valor novo. A diferena entre capital constante e capital vari-vel desapareceu. Todo o preo de custo de 500 libras esterlinas passa a ter agoraduplo sentido: primeiro, ele o componente do valor-mercadoria de 600 libras esterli-nas que repe o capital de 500 libras esterlinas despendido na produo da mercado-rial; segundo, esse elemento de valor da mercadoria s existe memso porqueanteriormente existia como preo de custo dos elementos de produo emprega-dos, dos meios de produo e do trabalho, ou seja, como adiantamento de capital.O valor-capital retorna como preo de custo da mercadoria, porque e medida quefoi despendido como valor-capital.

    A circunstncia de que os diversos componentes de valor do capital adiantadosejam desembolsados em elementos de produo materialmente diferentes, em meiosde trabalho, matrias-primas e auxiliares e trabalho, s requer que o preo de custoda mercadoria tenha de recompor esses elementos de produo materialmente diver-sos. Em relao formao do prprio preo de custo, s se faz, por outro lado,valer uma diferena, a diferena entre capital fixo e capital circulante. Em nosso exem-plo, 20 libras esterlinas foram calculadas para a depreciao dos meios de trabalho00c = 20 libras esterlinas para a depreciao dos meios de trabalho + 380 li-bras esterlinas para materiais de produo!. Se o valor desses meios de trabalhoantes da produo da mercadoria era = 1 200 libras esterlinas, ento, depois desua produo, ele existe em duas figuras: 20 libras esterlinas como parte do valor-mercadoria, 1 200 - 20 ou 1 180 libras esterlinas como valor restante dos meiosde trabalho que se encontram, depois como antes, na posse do capitalista, ou co-mo elemento de valor no de seu capital-mercadoria, mas de seu capital produtivo.Em contraposio aos meios de uabalho, materiais de produo e salrios so comple-tamente despendidos na produo e, por isso, todo o seu valor entra no valor damercadoria produzida. Vimos como esses distintos componentes do capital adianta-do adquirem, em relao rotao, as formas de capital fixo e de capital circulante.

    Portanto, o adiantamento de capital = 1 680 libras esterlinas: capital fixo =1 200 libras esterlinas mais capital circulante = 480 libras esterlinas = 380 libras ester-linas em materiais de produo mais 100 libras esterlinas em salrios!.

    O preo de custo da mercadoria , por sua vez, apenas = 500 libras esterlinas0 libras esterlinas para depreciao do capital fixo, 480 libras esterlinas para capitalcirculante! .

    Essa diferena entre preo de custo da mercadoria e adiantamento de capital sconfirma, no entanto, que o preo de custo da mercadoria constituido exclusivamen-te pelo capital realmente despendido para sua produo.

    Na produo da mercadoria so aplicados meios de trabalho no valor de 1 200libras esterlinas, mas desse valor-capital adiantado s 20 libras esterlinas so perdidasna produo. O capital fixo aplicado s entra portanto em parte no preo de custoda mercadoria, porque ele s despendido em parte em sua produo. O capitalcirculante empregado entra por inteiro no preo de custo da mercadoria, porque gasto por inteiro em sua produo. O que prova isso, porm, seno que as partesdo capital fixo e circulante consumidas entram, pno rota de sua grandeza de valor,por igual no preo de custo de sua mercadoria e que esse componente de valor damercadoria s se origina, em geral, do capital despendido em sua produo. Se nofosse esse o caso, no se veria por que o capital fixo adiantado de 1 200 libras esterli-nas no agrega ao valor do produto, em lugar das 20 libras esterlinas que perde noprocesso de produo, tambm as 1 180 libras esterlinas que no perde nele.

    Essa diferena entre capital fixo e capital circulante em relao ao clculo do pre-o de custo s comprova, portanto, o surgimento aparente do preo de custo a partirdo valor-capital despendido ou do preo que os elementos de produo despendi-

  • 28 TRANSFORMAO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCRO

    dos, inclusive O trabalho, custam ao prprio capitalista. Por outro lado, a parte van-vel de capital, desembolsada em fora de trabalho, identificada aqui expressamente,com referncia formao do valor e sob a rubrica de capital circulante, com O capitalconstante a parte de capital consistente em materiais de produo!, consumando-seassim a mistificao do processo de valorizao do capitall.

    At agora s consideramos um elemento do valor-mercadoria, O preo de custo.Agora tambm temos de atentar para O outro componente do valor-mercadoria, Oexcedente sobre O preo de custo, ou seja, a mais-valia. Portanto a mais-valia , primei-ro, um excedente do valor da mercadoria sobre seu preo de custo. Como, porm,O preo de custo igual ao valor do capital despendido, em cujos elementos mate-riais ele tambm constantemente retransformado, ento esse excedente de valor um acrscimo de valor do capital despendido na produo da mercadoria e que retor-na de sua circulao.

    J se viu anteriormente que embora m, a mais-valia, s se origine de uma altera-o do valor de v, do capital varivel, e por isso seja Originalmente mero incrementodo capital varivel, ela constitui, ainda assim, uma vez concludo O processo de produ-o, igualmente um acrscimo de valor de c + v, do capital global despendido. Afrmula c + v + m!, que indica que m produzido pela transformao do valor-capi-tal determinado v, adiantado em fora de trabalho, numa grandeza corrente, portantode uma grandeza constante numa varivel, se apresenta tambm como c + v! + m.Antes da produo, tnhamos um capital de 500 libras esterlinas. Depois da produ-o, temos O capital de 500 libras esterlinas mais um acrscimo de valor de 100 librasesterlinas?

    A mais-valia constitui, no entanto, um acrscimo no s da parte do capital adianta-do que entra no processo de valorizao, mas tambm da parte que no entra nele;portanto, um acrscimo de valor no s do capital despendido, que reposto a partirdo preo de custo da mercadoria, mas do capital empregado de modo geral na produ-o. Antes do processo de produo, tnhamos um valor-capital de 1 680 libras esterli-nas: 1 200 libras esterlinas de capital fixo desembolsado em meios de trabalho, deque s 20 libras esterlinas entram como desgaste no valor da mercadoria, plus 480libras esterlinas de capital circulante em materiais de produo e salrio. Depois doprocesso de produo temos 1 180 libras esterlinas como componente de valor docapital produtivo plus um capital-mercadoria de 600 libras esterlinas. Se adicionamosessas duas somas de valor, ento O capitalista possui agora um valor de 1 780 librasesterlinas. Se ele subtrai deste O capital global adiantado de 1 680 libras esterlinas,ento fica um acrscimo de valor de 100 libras esterlinas. As 100 libras esterlinas demais-valia constituem, pois, um acrscimo de valor tanto ao capital aplicado de 1 680libras esterlinas, como frao do mesmo, gasta durante a produo, de 500 librasesterlinas.

    E agora claro para O capitalista que esse acrscimo de valor se origina dos procedi-mentos produtivos que so efetuados com O capital, que, portanto, ele se origina doprprio capital, pois aps O processo de produo ele existe e antes do processo deproduo ele no existia. No que, inicialmente, tange ao capital despendido na produ-

    1 Que confuso pode surgir em virtude disso na cabea do economista foi demonstrado no Livro Primeiro. cap. Vll. 3,p. 216/206 et seqs., tomando-se N. W. Senior comoexemplo.2 J sabemos, de fato, que a mais-valia mera conseqncia da mudana de valor que ocorre com v. a parte do capitalconvertida em fora de trabalho; portanto, v + m = u + Av v mais O incremento de v!. Mas a verdadeira mudanade valor e a proporo em que se altera O valor so obscurecidas pelo fato de que. em conseqncia do crescimento desua parte varivel, cresce tambm O capital global. Este era 500 e tornou-se 590. Livro Primeiro, cap. Vll. p. 203/'195.b!

    Ver O Capital. Op. cit., v. l. t. 1, p. 181-184. Ver O Capital. Ib., p. 174.

  • PREO DE CUSTO E LUCRO 29

    o, a mais-valia parece originar-se por igual de seus distintos elementos de valor,que consistem em meios de produo e em trabalho. Pois esses elementos entrampor igual na formao do preo de custo. Eles agregam por igual seus valores dispon-veis como adiantamentos de capital ao valor-produto e no se diferenciam como grande-zas de valor constante e varivel. lsso se torna evidente quando, por um instante,supomos que todo o capital gasto consista exclusivamente em salrios ou exclusivamen-te no valor de meios de produo. No primeiro caso teramos, ento, em vez do valor-mercadoria 400 + 100, + 100,.,,, o valor-mercadoria 500, + 100,,,. O capital de500 libras esterlinas desembolsado em salrios o valor de todo o trabalho emprega-do na produo do valor-mercadoria de 600 libras esterlinas e, exatamente por isso,constitui o preo de custo de todo o produto. A formao desse preo de custo, median-te o qual o valor gasto reaparece como elemento de valor do produto, , porm,o nico procedimento conhecido por ns na formao desse valor-mercadoria. Co-mo se origina seu elemento de mais-valia de 100 libras esterlinas, ns no sabemos.Exatamente o mesmo ocorre no segundo caso, em que o valor-mercadoria seria =500, + 100,,,. Em ambos os casos sabemos que a mais-valia se origina de dado va-lor, porque esse valor foi adiantado na forma de capital produtivo, no importa sena forma de trabalho ou na forma de meios de produo. Por outro lado, porm,o valor-capital adiantado no pode fazer a mais-valia cair do cu, por ter sido despen-dido, constituindo por isso o preo de custo da mercadoria. Pois exatamente medi-da que ele constitui o preo de custo da mercadoria, no constitui rnais-valia, masapenas um equivalente, um valor de reposio do capital despendido. A medida, por-tanto, que constitui mais-valia, no a constitui em sua propriedade especfica de capi-tal gasto, mas como capital adiantado e, portanto, como capital aplicado em geral.A mais-valia se origina, por isso, tanto da parte do capital adiantado que entra nopreo de custo da mercadoria quanto da parte do mesmo que no entra no preode custo; em suma: por igual dos componentes fixos e circulantes do capital aplicado.O capital global serve materialmente como formador de produto, os meios de traba-lho assim como os materiais de produo e o trabalho. O capital global entra material-mente no processo de trabalho real, ainda que s parte dele entre no processo devalorizao. Essa talvez seja a razo pela qual ele s contribui em parte para a forma-o do preo de custo, mas totalmente para a formao da mais-valia. Seja comofor, o resultado continua sendo que a mais-valia se origina simultaneamente de todasas partes do capital aplicado. A deduo pode ser ainda mais abreviada, se dizemos,com Malthus, de modo to curto quanto grosso:

    O capitalista ...! espera o mesmo lucro sobre todas as partes do capital que elesadianta .

    Como tal descendente imaginrio do capital global adiantado, a mais-valia rece-be a forma transmutada de lucro. Uma soma de valor , portanto, capital porque gasta para produzir lucrof* ou o lucro surge porque uma soma de valor aplicadacomo capital. Se denominamos l o lucro, ento afrmula M = c + v + m = p = mse transforma na frmula M = p + l ou valor-mercadoria = preo de custo + lucro.

    O lucro, tal como o temos inicialmente ante ns, , portanto, o mesmo que amais-valia, apenas numa forma mistificada, que, no entanto, brota necessariamentedo modo de produo capitalista. J que na formao aparente do preo de custo

    3 MALTHUS. Principles of Pol. Econ. 29 ed.. Londres. 1836. p. 268.4 Capitalz that which is expended with a view to profit.` MALTHUS. Deinitions in Pol. Econ. Londres, 1827, 1827. p. 86.

    Capital: aquilo que gasto tendo em vista lucro. N. dos T.!

  • 30 TRANSFORMAO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-vA1_1A EM TAXA DE LUCRO

    no se reconhece nenhuma diferena entre capital constante e varivel, a origem daalterao de valor, que ocorre durante o processo de produo, precisa ser deslocadada parte varivel do capital para o capital global. J que num plo o preo da forade trabalho aparece na forma transmutada de salrio, no plo antittico a mais-valiaaparece na forma transmutada de lucro.

    Ns vimos: o preo de custo da mercadoria menor do que seu valor. ComoM = p + m,entop = M - m. AfrmulaM = p + msereduzaM = p,valor-mer-cadoria = preo de custo da mercadoria, se m = 0, um caso que, na base da produ-o capitalista, nunca ocorre, embora, sob conjunturas particulares de mercado, o preode venda das mercadorias possa cair at seu preo de custo ou mesmo abaixo dele.

    Se, portanto, a mercadoria vendida por seu valor, ento se realiza um lucroque igual ao excedente de seu valor sobre seu preo de custo, portanto igual a todaa mais-valia contida no valor-mercadoria. Mas o capitalista pode vender a mercado-ria com lucro, embora a venda abaixo de seu valor. Enquanto seu preo de vendaestiver acima de seu preo de custo, ainda que abaixo de seu valor, sempre realiza-da parte da mais-valia nela contida, sempre se obtendo, portanto, lucro. Em nossoexemplo, o valor-mercadoria = 600 libras esterlinas, o preo de custo = 500libras esterlinas. Caso a mercadoria seja vendida por 510, 520, 530, 560, 590 librasesterlinas, ento ela vendida respectivamente por 90, 80, 70, 40, 10 libras esterli-nas abaixo de seu valor e nem por isso deixa de se obter lucro, de cada vez, de 10,20, 30, 60, 90 libras esterlinas com sua venda. Entre o valor da mercadoria e seupreo de custo , evidentemente, possvel uma srie indeterminada de preos de venda.Quanto maior o elemento do valor-mercadoria consistente em mais-valia, tanto maiora margem prtica de jogo desses preos intermedirios.

    Da se explicam fenmenos cotidianos da concorrncia, como certos casos devenda a preo baixo underselling!, nvel anormalmente baixo dos preos das mercado-rias em certos ramos industriais5 etc. A lei bsica da concorrncia capitalista, at agorano entendida pela Economia Poltica, a lei que regula a taxa de lucro geral e os as-sim chamados preos'de produo, determinados por ela, fundamenta-se, como sever mais tarde, nessa diferena ente valor e preo de custo da mercadoria e na possi-bilidade, dela resultante, de vender com lucro a mercadoria abaixo de seu valor.

    O limite mnimo do preo de venda da mercadoria dado por seu preo de cus-to. Se ela for vendida abaixo de seu preo de custo, ento os elementos gastos docapital produtivo no podem ser totalmente repostos a partir do preo de venda. Seesse processo continua, ento desaparece o valor-capital adiantado. J a partir desseponto de vista, o capitalista est inclinado a considerar O preo de custo como O autn-tico valor intrnseco da mercadoria, pois o preo necessrio mera manutenode seu capital. A isso se acresce, no entanto, que O preo de custo da mercadoria o preo de compra que O prprio capitalista pagou por sua produo, portanto opreo de compra determinado por seu prprio processo de produo. O excedentede valor, ou mais-valia, realizado por ocasio da venda da mercadoria aparece, porisso, ao capitalista como excedente de seu preo de venda sobre seu valor, ao invsde como excedente de seu valor sobre seu preo de custo, de modo que a mais-valiacontida na mercadoria no se realiza pela venda desta, mas se origina da prpria venda.J ilustramos essa iluso mais de perto no Livro Primeiro, cap. IV, 2 Contradiesda Frmula Geral do Capital!; voltamos aqui, no entanto, por um momento, paraa forma em que ela foi tornada novamente vlida por Torrens etc., como um progres-so da Economia Poltica para alm de Ricardo.

    5 Cf. Livro Primeiro, cap. XVlll, p. 571/561 et seqs.

    Ver O Capital. Op. cit., v. l, t. 2, p. 136-138.

  • PREO DE CUSTO E LUCRO 31

    O preo natural, que consiste no preo de produo ou, em outras palavras, no gastode capital na produo ou fabricao de mercadoria, no pode incluir o lucro ...! Se umarrendatrio gasta 100 quartis de gro na plantao de seus campos e obtm em trocapor 120 quartis, os 20 quartis, como excedente do produto em relao a seu gasto, consti-tuem seu lucro; mas seria absurdo chamar esse excedente ou lucro de parte de seu gasto. ...! O fabricante gasta certa quantidade de matrias-primas, ferramentas e meios de subsis-tncia para o trabalho e, em troca, obtm uma quantidade de mercadoria pronta. Essamercadoria pronta tem de ter valor de troca mais alto do que o das matrias-primas, dasferramentas e dos meios de subsistncia, mediante cujo adiantamento foram comprados?

    Da conclui Torrens que o excedente do preo de venda sobre o preo de custo,ou o lucro, se originaria do fato de que os consumidores

    por troca direta ou indireta circuitous! do certa poro maior de todos os ingredientesdo capital do que o custo de sua produo.

    De fato, o excedente acima de certa grandeza dada no pode constituir nenhu-ma parte dessa grandeza, assim tambm o lucro, o excedente do valor-mercadoriasobre os gastos do capitalista, no pode constituir nenhuma parte desses gastos. Portan-to, se na formao de valor da mercadoria no entra nenhum outro elemento senoo adiantamento de valor do capitalista, ento no se pode entender como h de sairda produo mais valor do que nela entrou, a no ser que se crie algo do nada.Dessa criao a partir do nada Torrens s escapa, no entanto, medida que a deslo-ca da esfera da produo de mercadorias para a esfera da circulao de mercadorias.Torrens afirma que o lucro no pode provir da produo, seno ele j estaria contidonos custos da produo, no sendo, portanto, um excedente acima desses custos.O lucro no pode provir da troca de mercadorias, responde Ramsay,2' se ele j noexistia antes do intercmbio de mercadorias. A soma de valor dos produtos intercambia-dos no se modifica, evidentemente, pelo intercmbio de produtos, cuja soma de va-lor ele . Ela permanece a mesma, tanto antes quanto depois do intercmbio. Observe-seaqui que Malthus se refere expressamente autoridade de Torrens,7 embora elemesmo desenvolva a venda das mercadorias acima de seu valor de outro modo, ou,antes, no a desenvolva, j que todos os argumentos dessa espcie desembocam,de fato, infalivelmente no clebre, em sua poca, peso negativo do flogisto3'.

    Dentro de uma situao social dominada pela produo capitalista, tambm oprodutor no capitalista est dominado pelas concepes capitalistas. Em seu ltimoromance, Les Paysans, Balzac, sobretudo excelente pela profunda compreenso dascondies reais, descreve magistralmente como o pequeno campons, para conser-var a boa vontade de seu usurrio, faz para ele de graa toda espcie de trabalho eacredita que nada lhe d de presente porque seu prprio trabalho no lhe custa nenhu-ma despesa em dinheiro. O usurrio, por sua vez, mata dois coelhos com uma scajadada. Poupa um desembolso efetivo em salrios e enreda o campons, o qualao se privar do trabalho no prprio campo se arruna progressivamente, mais e maisna teia de aranha da usura.

    TORRENS. R. An Essay on the Production of Wealth. Londres. 1821. p. 51-53. 349.7 MALTHUS. Deinitions in Pol. Econ. Londres, 1853. p. 70-71.

    2 RAMSAY. An Essay on the Distribution of Wealth. Edimburgo, 1836. p. 184.3' At o final do sculo XVlll. preponderava na Qumica a teoria flogistica. Ela explicava a essncia da combusto supon-do um material hipottico. o flogisto. que se evadiria do material em combusto. Quando se verificou que o peso dos metaisse eleva ao queimarem no ar, alguns partidrios dessa teoria atriburam ao flogisto um peso negativo. O qumico francsLavoisier refutou a teoria flogstica ao reconhecer e demonstrar a essncia da combusto como ligao com o elementoqumico oxignio. - Ver tambm Friedrich Engels sobre a teoria do flogisto no Prefcio ao volume ll de O Capital. Naed. MEW. v. 24. p. 21-23.! N. da Ed. Alem.! Na edio Abril Cultural, v. ll, p. 14-16.!

  • 32 TRANSFORMAO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCRO

    A inepta concepo deque o preo de custo da mercadoria constitui seu verdadei-ro valor, mas que a mais-valia se origina da venda da mercadoria acima de seu valor,que, portanto, as mercadorias so vendidas por seus valores quando seu preo devenda igual a seu preb de custo, ou seja, igual ao preo dos meios de produonelas consumidos mais salrios, foi trompeteada por Proudhon, com a habitual charlata-nice pretensamente cientficacomo segredo recm-descoberto do socialismo. Essareduo do valor das mercadorias a seu preo de custo constitui, de fato, a base deseu Banco Popular. Foi' demonstrado anteriormente que os diferentes elementosde valor do produto podem ser representados em partes proporcionais do prprioproduto. Se, por exemplb Livro Primeiro, cap. Vll, 2, p. 211/203!,5` o valor de20 libras de fio ascende Q 30 xelins - a saber, 24 xelins de meios de produo, 3xelins de fora de trabalHo e 3 xelins de mais-valia -, ento essa mais-valia represen-tvel em 1/ 10 do produto = 2 libras de fio. Se, no entanto, as 20 libras de fio sovendidas por seu preo de custo, 27 xelins, ento o comprador recebe 2 libras defio gratuitamente ou a mercadoria foi vendida por 1/10 abaixo de seu valor; maso trabalhador, depois como antes, efetuou seu mais-trabalho, s que para o compra-dor do fio, em vez de para o produtor capitalista de fio. Seria totalmente falso pressu-por que, se todas as mercadorias fossem vendidas por seus preos de custo, o resultadoseria de fato o mesmo que se todas fossem vendidas acima de seus preos de custo,por seus valores. Pois mesmo se valor da fora de trabalho, durao da jornada detrabalho e grau de explorao do trabalho fossem equalizados em todos os lugares,mesmo assim as massas de mais-valia contidas nos valores das diferentes espciesde mercadorias seriam completamente desiguais, conforme a diferente composioorgnica dos capitais adiantados para sua produo.8

    8 As massas de valor e de mais-valia produzidas por diferentes capitais esto, com dado valor da fora de trabalho e igualgrau de explorao da mesma, em razo direta s grandezas dos componentes variveis desses capitais, isto , de seus