Masayuki Okumura, Wu Tou Kwang, Emi Iamaguchi Bonetti, João Raphael Libonati e Ary Lex Sendo a...

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Masayuki Okumura, Wu Tou Kwang, Emi Iamaguchi Bonetti, João Raphael Libonati e Ary Lex Sendo a gastrectomia, para o tratamento da úlcera gastroduodenal, uma das operações mais largamente empregadas em todo o mundo e executada em centros de diversas possibilidades materiais e pessoais, não é de se estranhar que os resultados da mesma sejam muito variáveis. As complicações não são raras, até em hospitais bem aparelhados e com corpo cirúrgico de o alto gabarito. O objetivo do nosso trabalho é proceder a uma revisão das gastrectomais executadas durante longo período de tempo (25 anos) na 1 a Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Serviço do Professor Alípio Corrêa Netto, à qual pertencíamos. As equipes cirúrgicas não eram fixas, devido às condições de Hospital Escola, sendo as operações realizadas por cirurgiões muito ou pouco experientes, assemelhando-se, por isso, ao que ocorre freqüente mente nos outros hospitais e oferecendo problemas semelhantes aos que devem existir na prática diária. Esperamos que o estudo das complicações pós-gastrectomias realizado em nosso Serviço venha a ser uma contribuição àqueles que se interessam pelo problema, principalmente os neófitos, a fim de serem devidamente alertados para os riscos que tal cirurgia freqüentemente pode oferecer. CASUÍSTICA E MÉTODO Na 1 a Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Serviço do Professor Alípio Corrêa Netto, entre o início de seu funcionamento (1945) e 1970, foram operados 1823 doentes portadores de úlcera gastroduodenal. A idade dos doentes variou de 17 a 77 anos, com a distribuição etária constante da tabela 1. Predominou o sexo masculino, com 1469 (80,58%) doentes, houve 354 (1942%) do sexo feminino (tabela 2). A indicação cirúrgica baseou-se em quatro condições: a) úlcera crônica com falha do tratamento clínico; b) hemorragia; c) perfuração e d) estenose. O diagnóstico foi firmado com base na história clínica e exames radiológicos. Foram praticadas 1837 intervenções cirúrgicas, conforme distribuição constante na tabela 3. Nota: classificamos como úlceras gastroduodenais (U.G.D.) aquelas situadas nas imediações do pilara, em que o cirurgião não tenha condições para considerá-las como do estômago ou do duodeno. A classificação das patologias foi documentada na tabela 4. As equipes cirúrgicas não foram homogêneas devido às condições de Hospital Escola. Delas participaram acadêmicos de medicina, internos, residentes, assistentes e professores.Os pacientes foram seguidos por períodos diferentes conforme a evolução pós-operatória, sendo a maioria acompanhada pelo menos durante um ano. No que tange aos resultados, dividimos as anormalidades verificadas em acidentes e complicações. Consideramos acidentes as ocorrências fortuitas, imprevisíveis, e que, de um momento para outro, podem até mudar completamente o planejamento do ato cirúrgico, e complicações todas intercorrências surgidas após a cirurgia, decorrentes dos acidentes ou de fatores que perturbam a evolução natural da moléstia. As complicações podem ser precoces ou tardias, inerentes à gastrectomia, ou comuns a outros tipos de cirurgias abdominais. Como poderemos verificar durante a exposição, nem todos os acidentes evoluem para as complicações, pois são lesões reconhecidas imediatamente e reparadas, não deixando seqüelas. Quando os acidentes não são reconhecidos no ato operatório, evoluem como complicações precoces. Nos casos de pacientes com mais de uma complicação, classificamos apenas a primária, nas tabelas de tipos de complicação. Na freqüência das complicações, todas são incluídas. CONCLUSÕES Houve predominância do sexo masculino na realização da gastrectomia na proporção de 4:1. A ida de média dos doentes operados foi de 42 anos para a série toda e 34 anos para os portadores de úlcera duodenal. A gastrectomia B. II pré-cólica foi a operação mais realizada (70%) sendo a preferida no Serviço. Ocorreram 43 (2,35%) acidentes [email protected]

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Masayuki Okumura, Wu Tou Kwang,Emi Iamaguchi Bonetti, João Raphael Libonati e Ary Lex

Sendo a gastrectomia, para o tratamento da úlcera gastroduodenal, uma das operações mais largamente empregadas em todo o mundo e executada em centros de diversas possibilidades materiais e pessoais, não é de se estranhar que os resultados da mesma sejam muito variáveis. As complicações não são raras, até em hospitais bem aparelhados e com corpo cirúrgico de o alto gabarito.

O objetivo do nosso trabalho é proceder a uma revisão das gastrectomais executadas durante longo período de tempo (25 anos) na 1a Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Serviço do Professor Alípio Corrêa Netto, à qual pertencíamos.

As equipes cirúrgicas não eram fixas, devido às condições de Hospital Escola, sendo as operações realizadas por cirurgiões muito ou pouco experientes, assemelhando-se, por isso, ao que ocorre freqüente mente nos outros hospitais e oferecendo problemas semelhantes aos que devem existir na prática diária.

Esperamos que o estudo das complicações pós-gastrectomias realizado em nosso Serviço venha a ser uma contribuição àqueles que se interessam pelo problema, principalmente os neófitos, a fim de serem devidamente alertados para os riscos que tal cirurgia freqüentemente pode oferecer.

CASUÍSTICA E MÉTODO

Na 1a Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Serviço do Professor Alípio Corrêa Netto, entre o início de seu funcionamento (1945) e 1970, foram operados 1823 doentes portadores de úlcera gastroduodenal.

A idade dos doentes variou de 17 a 77 anos, com a distribuição etária constante da tabela 1.

Predominou o sexo masculino, com 1469 (80,58%) doentes, houve 354 (1942%) do sexo feminino (tabela 2).

A indicação cirúrgica baseou-se em quatro condições: a) úlcera crônica com falha do tratamento clínico; b) hemorragia; c) perfuração e d) estenose. O diagnóstico foi firmado com base na história clínica e exames radiológicos.

Foram praticadas 1837 intervenções cirúrgicas, conforme distribuição constante na tabela 3.

Nota: classificamos como úlceras gastroduodenais (U.G.D.) aquelas situadas nas imediações do pilara, em que o cirurgião não tenha condições para considerá-las como do estômago ou do duodeno.

A classificação das patologias foi documentada na tabela 4.

As equipes cirúrgicas não foram homogêneas devido às condições de Hospital Escola. Delas participaram acadêmicos de medicina, internos, residentes, assistentes e professores.Os pacientes foram seguidos por períodos diferentes conforme a evolução pós-operatória, sendo a maioria acompanhada pelo menos durante um ano.

No que tange aos resultados, dividimos as anormalidades verificadas em acidentes e complicações. Consideramos acidentes as ocorrências fortuitas, imprevisíveis, e que, de um momento para outro, podem até mudar completamente o planejamento do ato cirúrgico, e complicações todas intercorrências surgidas após a cirurgia, decorrentes dos acidentes ou de fatores que perturbam a evolução natural da moléstia.

As complicações podem ser precoces ou tardias, inerentes à gastrectomia, ou comuns a outros tipos de cirurgias abdominais.

Como poderemos verificar durante a exposição, nem todos os acidentes evoluem para as complicações, pois são lesões reconhecidas imediatamente e reparadas, não deixando seqüelas. Quando os acidentes não são reconhecidos no ato

operatório, evoluem como complicações precoces.

Nos casos de pacientes com mais de uma complicação, classificamos apenas a primária, nas tabelas de tipos de complicação. Na freqüência das complicações, todas são incluídas.

CONCLUSÕES

Houve predominância do sexo masculino na realização da gastrectomia na proporção de 4:1. A ida de média dos doentes operados foi de 42 anos para a série toda e 34 anos para os portadores de úlcera duodenal. A gastrectomia B. II pré-cólica foi a operação mais realizada

(70%) sendo a preferida no Serviço. Ocorreram 43 (2,35%) acidentes dos quais 12 (0,66%) evoluíram para complicações; dessas doze, houve dois óbitos (0,10%) conseqüentes a pancreatite aguda e fistula pancreática. Nenhum doente veio a falecer de hemorragia nas primeiras 48 horas. Após esse período, houve um óbito tardio decorrente de complicação (hemorragia de boca anastomótica). A percentagem de pacientes que evoluíram

sem acidentes ou complicações, que se consideraram curados foi de 83,33%. A síndrome de "dumping“ foi mais freqüente e intensa no sexo feminino na proporção de 5:1, comparada com os homens. Em 0,60% dos pacientes ocorreu a úlcera péptica pós operatória. Faleceram em conseqüência da operação 2,18% dos doentes, sendo 50% deles como complicação direta da gastrectomia e 50% por outros problemas.

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