Materiais de Construção Não Convencionais

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA CONSIDERAÇÕES SOBRE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADOS E OS NÃO CONVENCIONAIS Normando Perazzo Barbosa Professor Titular, Doutor, do Departamento de Tecnologia da Construção Civil Centro de Tecnologia, Universidade de Federal da Paraíba Cidade Universitária 58059-900 João Pessoa – PB email: [email protected] julho de 2005

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA

CONSIDERAÇÕES SOBRE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADOS E OS NÃO CONVENCIONAIS

Normando Perazzo Barbosa

Professor Titular, Doutor, do Departamento de Tecnologia da Construção Civil Centro de Tecnologia, Universidade de Federal da Paraíba

Cidade Universitária 58059-900 João Pessoa – PB email: [email protected]

julho de 2005

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Introdução

A arte de construir é uma atividade relativamente recente na história da humanidade [1]. De fato, o homem já era capaz de fazer jóias, pinturas, artefatos de caça e pesca, quando há cerca de 10 mil anos, com o advento da agricultura, sentiu necessidade de construir suas moradas para aguardar as colheitas. A partir daí foram surgindo as primeiras aglomerações humanas que deram origem às cidades. Evidentemente, os primeiros materiais de construção utilizados foram aqueles ofertados pela natureza como pedra, palha, galhos e troncos de árvores (Figura 1) e, sem dúvida, a terra.

Figura 1 – Casa dos primórdios da humanidade (de [2])

Com esses materiais o Homem foi capaz de produzir belíssimas obras de

engenharia, como são testemunhos as magníficas pirâmides do Egito, os palácios da Pérsia e da Babilônia, as imensas catedrais, castelos e mosteiros medievais e tantos outros monumentos fantásticos erguidos pelas civilizações da história antiga da humanidade. Ainda hoje se pode ver obras construídas pelos romanos que desafiam não as décadas nem aos séculos, senão aos próprios milênios (Figura 2), feitas numa época em que não se conhecia o aço nem o alumínio, nem tão pouco o cimento portland.

Figura 2 - Aqueduto de Garda e Panteon Romano, símbolos de construções duráveis

A terra ainda hoje abriga quase um terço da humanidade [2] e em paises asiáticos, africanos e do oriente médio existem ainda muitíssimas urbes construídas quase que inteiramente com esse material. Inúmeras cidades do interior do Iran são um verdadeiro tributo à terra crua como material de construção (Figura 3).

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Figura 3 – Vistas das cidades de Yazd e de Bam, Iran, construídas em terra. No Iraque, antiga Mesopotânia, um dos berços da civilização, grande parte desse patrimônio arquitetônico milenar foi vergonhosamente destruído por dezenas de milhares de bombas lançadas por homens monstruosos, que constituem a cúpula dirigente do país mais poderoso e violento do mundo. Julgando-se acima do bem e do mal, de pouca cultura, acham-se no direito de invadir e destruir uma riquíssima civilização para se apoderar das riquezas locais. Tudo isto contanto com a silenciosa conivência dos demais governos do mundo, que temendo represálias sejam militares sejam econômicas, não tiveram a dignidade de se contrapor à matança e destruição de um povo e de sua arquitetura milenar.

No Brasil, muitas construções com terra foram feitas antes do aparecimento dos materiais industrializados, e representam ainda um notável patrimônio, sobretudo em cidades no que tiveram seu apogeu nos tempos coloniais como Mariana, Ouro Preto e tantas outras (Figura 4).

Figura 4 – Construção de terra crua em Goiás Velho, Go

Com a revolução industrial, no século dezessete, começaram a aparecer os

materiais de construção que hoje são implicitamente conhecidos como materiais de construção convencionais, ou industrializados. Bilhões e bilhões de dólares são gastos em publicidade que tem conseguido incutir nas pessoas a idéia de consumi-los (Figura 5). Embora muitas vezes a construção industrializada apresente sofrível desempenho do ponto de vista do conforto interior, as pessoas preferem-na porque a propaganda está a lhes dizer que ela é que é boa. Ter a casa feita com tijolos cozidos, cerâmicas, aço, concreto, passou a ser símbolo de modernidade e sinal de status!

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Figura 5 – Incentivo ao consumo dos materiais de construção industrializados Todos os cursos de Engenharia e Arquitetura têm na sua grade curricular as cadeiras

de Materiais de Construção nas quais quase que unicamente são apresentados os produtos industrializados: o cimento, o concreto, o aço, o alumínio, as cerâmicas, isto desde o século dezenove! Pouquíssimas fazem referencia ao bambu, por exemplo, ou mesmo a terra crua como material construtivo!

A maciça propaganda e a difusão dos materiais industrializados teve como

conseqüência o desprezo, o esquecimento e o abandono de técnicas e materiais tradicionais pelas camadas mais abastadas da população. Elas ficaram relegadas aos estratos mais carentes que têm dificuldade na transferência e perpetuação das antigas tecnologias. Aconteceu então o que se chama de perda de tecnologia! Décadas atrás era possível se encontrar taipeiros de qualidade. Conheciam a técnica da fabricação de paredes de taipa, sabendo distinguir a terra adequada, a quantidade de água a ser posta e como proceder para um bom acabamento final. Hoje, as construções que pessoas carentes de tudo fazem nas periferias das cidades e na zona rural, de péssimo aspecto estético e funcional (Figura 6), levou a população em geral a associar o material à pobreza. Isto, no entanto, deve ser desfeito, como se verá a seguir, em benefício do futuro da própria humanidade!

Figura 6 - Casas de terra no Nordeste brasileiro: símbolo de tecnologia perdida

Particularidades dos materiais industrializados Não há dúvida que com os materiais industrializados podem-se ser feitas construções fantásticas, muitas vezes impossíveis de serem feitas com os materiais

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tradicionais. No entanto, eles apresentam certas características que merecem ser citadas e analisadas para dar motivos à meditação. Emissão de gás carbônico e de outros poluentes

No processo de fabricação os materiais industrializados consomem oxigênio e liberam CO2 e muitos outros poluentes responsáveis por chuvas acidas que danificam severamente a natureza (Figura 7), e pelo chamado efeito estufa que lentamente está aquecendo a Terra.

Figura 7 - Industrialização excessiva causa danos à Natureza (de [3])

Em abril de 2004 foi noticiado na imprensa que modificações genéticas foram observadas em plantas sensíveis às mudanças ambientas em pleno Parque Ibirapuera, em São Paulo, megalópole já sufocada pela poluição, tanto industrial quanto social.

O teor de gás carbônico na atmosfera tem crescido fortemente nas ultimas décadas, por conta da industrialização exagerada que tem tido lugar no Planeta. O CO2 é um dos principais causadores do aumento do efeito estufa, que simplificadamente é mostrado na Figura 8. Em atmosfera com baixo teor de CO2 grande parte da radiação infravermelha que a Terra recebe do sol é refletida de volta ao Cosmos. Numa atmosfera com muito gás carbônico, parte dessa radiação é refletida de volta a Terra. No meio rural, longe de industrias, a percentagem de CO2 não passa de 0,1-0,2 %. Nos grandes centros urbanos ela pode chegar até a mais de 1%. Em termos globais o que se esta verificando é o aquecimento gradativo do Planeta (Figura 9 ) diretamente ligado ao aumento da concentração de CO2 na atmosfera terrestre. A continuar neste ritmo, corre-se o risco de as geleiras nos pólos se fundirem. O nível do mar pode aumentar ate cerca de 80m (Figura 10) pondo em risco as populações costeiras e gerando um total desequilíbrio natural. Note-se que o fenômeno já começou. Neves eternas nos Alpes, por exemplo, tem perdido massa ao longo dos últimos anos. O mesmo pode ser dito das imensas geleiras da Antártida. A flora e a fauna marinha já estão sentindo o efeito. Destruição de corais por conta do aumento ainda que leve da temperatura da água do mar já tem sido percebida. É, pois, imperativo que o processo de emissão de CO2 seja controlado! Tudo que se puder fazer para minimizar este fenômeno será benéfico para o futuro da humanidade.

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Figura 8 - O efeito estufa (de [4])

Figura 9 – Aumento da temperatura media da Terra com o aumento da concentração de CO2 na atmosfera (de [4])

Figura 10 – Conseqüência de futura fusão das geleiras (de [4])

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O aquecimento da atmosfera esta aumentando os desequilíbrios climáticos cujas conseqüências são cada vez mais danosas (Figura 11), tendo em vista o aumento de população do mundo, sobretudo a mais pobre. Fenômenos naturais como chuvas fortes, inundações, ventos intensos, variações de temperatura, têm aumentado a freqüência e a intensidade. Temperaturas recordes atingiram a Europa no verão de 2002, matando centenas de idosos não habituados a tais níveis de temperatura. Em 2004, em Fortaleza, caiu uma chuva (mais de 200 mm em um dia) cujo tempo de recorrência seria de 250 anos! Também em 2004 um ciclone atingiu as costas de Santa Catarina, fenômeno nunca antes observado! A fabricação de cimento portland é um dos maiores emissores de CO2 na atmosfera. Esta emissão é implícita ao seu processo de fabricação. Muito resumidamente o cimento portland vem da calcinação de argila com calcário (carbonato de cálcio). Durante essa queima, ocorre a descarbonatação do calcário segundo a reação:

CaCO3 + calor => CaO + CO2

Figura 11- Desequilíbrios atmosféricos causando catástrofes

Então, considerando-se a imensa produção de cimento portland no mundo atual (só

no Brasil em 2001 foram consumidas quase 40 milhões de toneladas!), vê-se a fantástica quantidade de gás carbônico que é lançada na atmosfera por um único produto industrial! Consumo de energia Os materiais industrializados exigem enormes quantidades de energia no seu processo de fabricação e manuseio. Para se produzir aço, por exemplo, é preciso chegar-se a temperaturas por volta de 1800 oC. Calcula-se que a energia envolvida na produção de um simples vergalhão de 12,5 mm seja da ordem de 80 kWh, consumo de uma família modesta. O alumínio exige por volta de 20 vezes mais! Para extrair esse metal, no Maranhão, há uma hidroelétrica construída unicamente para abastecer uma fábrica de Alumínio! Um saco de cimento de 50 kgf envolve aproximadamente 55 kWh! A temperatura nos fornos (Figura 12) chega a 1450oC. Para se produzir azulejos e revestimentos cerâmicos são exigidos possantes equipamentos para moagem, prensagem e queima dos materiais. Esta tem lugar a temperaturas até superiores a 1200 oC! Assim, se for levada em conta a enorme quantidade destes materiais produzidos no mundo moderno, (a produção de aço esta por volta de 800 milhões de toneladas anuais) pode-se ter uma idéia do consumo desenfreado de energia exigido para a fabricação dos materiais industrializados.

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Compare-se agora estes níveis de energia com aqueles exigidos para uma construção de tijolos de barro cru, sem cozimento, tão usado pelas civilizações egípcias e mesmo no Brasil colonial, ou com os de uma construção feita com colmos de bambu (Figura 13), ofertados pela própria Natureza, cuja energia para sua produção foi unicamente a fornecida do astro rei!

Figura 12 – Fabricação de aço, forno de fábrica de cimento portland

Figura 13- Construções e baixíssimo consumo energético (à direita projeto do arquiteto

colombiano Simon Velles) Geração de resíduos A fabricação dos materiais de construção convencionais produz inúmeros resíduos em volumes por vezes espantosos. Tome-se como exemplo a fabricação de aço. A quantidade de escoria que resulta do processo é qualquer coisa de extraordinária. Parte dela já é reaproveitada na industria do cimento, o que é muito benéfico, porém nem toda ela é reaproveitada. Sobram ainda volumes consideráveis!

A Figura 14 mostra uma industria cerâmica vermelha no Nordeste Brasileiro. Sem tecnologia avançada, considerável volume do produto é descartada no próprio processo de fabricação: muitas peças se quebram antes da comercialização e a deposição desses resíduos torna-se um problema ambiental. Os métodos construtivos com os materiais industrializados produzem enormes quantidades de entulhos (restos de construção), difíceis de serem reincorporados na Natureza. Muitas vezes eles são dispostos irregularmente em terrenos baldios, aterros clandestinos, ao longo de vias e praças publicas (Figura 15), e mesmo em margens de rios urbanos. Estes têm suas calhas diminuídas e, quando das chuvas fortes, a água sem ter para onde ir, vai visitar, sem pedir licença, a casa das populações ribeirinhas, inundado-as e

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destruindo o pouco que possuem. O entulho permite a proliferação de ratos e insetos danosos ao Homem, aumentando a incidência de inúmeros tipos de doenças que afetam principalmente as populações pobres, aumentado-lhes o drama da sobrevivência.

Figura 14 – Resíduos gerados na fabricação de cerâmica vermelha . Figura 15 – Deposição irregular de entulhos de materiais de construção convencionais Outros problemas ambientais Torne-se às industrias de cerâmica do Nordeste. A fabricação de telhas e tijolos exige energia para calcinar as argilas. A energia mais barata na região é a que usa a vegetação local, e, tendo em vista o volume de lenha consumido nas olarias, vê-se que elas estão contribuindo para o triste fenômeno da desertificação constatado no interior nordestino (Figura 16).

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Figura 16 – Problemas gerados pelo uso da vegetação local como combustível em indústrias cerâmicas no Nordeste Brasileiro

Necessidade de sistemas complexos e concentrados de produção e de mão de obra especializada na fabricação e na aplicação

A fabricação dos materiais industrializados é feita de modo centralizado, em complexos que reduzem cada vez mais a participação da mão de obra, substituída pela robotica, pela informatica e e mais ainda pela indiferença humana. A aplicação dos materiais de construção convencionais não se faz sem o emprego de trabalhadores devidamente treinados para tal (Figura 17). A formação dessa mão de obra é mais complexa de que aquela na qual se usam materiais mais simples. Assim o paradoxo continua: muitos desempregados, sem acesso a treinamento, não conseguem trabalhar com os materiais convencionais!

Figura 17 - Mão de obra especializada para aplicação dos materiais convencionais

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Custo elevado Muitos dos materiais industrializados são hoje em dia fabricados por cartéis globalizados que combinam, impõem e aumentam continuamente preços aos consumidores. Assim, as industrias do cimento, do aço, do aluminio, das tintas, adotam mecanismos que conduzam ao lucro maximo, pouco importando se considerável parcela da população local não pode adquiri-los. Os precos nem sempre estão ligados ao custo, mas sim a quanto de lucro podem gerar. Assim, as fábricas preferem vender menos a maior preço que vender mais a menor preço, indiferentemente ao meio onde estão inseridas. Contrariamente, pequenos produtores de materiais de construção locais não conseguem repassar muitas vezes sequer seus custos de produção aos preços! Está-se, pois, em um sistema tentacular que suga injustamente o fruto do trabalho das pessoas e contribui para a absurda transferência de renda da maioria da população para os gigantescos grupos industriais e financeiros, sob os quais nem os governos centrais têm mais controle. São eles que ditam as regras, iludindo perversamente as populações com a manipulada idéia de liberdade de mercado. Veja-se o caso do aço: em sete meses subiu 75% para uma inflação inferior a 5%! (Figura 18). Assim, não é de admirar que as mega-empresas, através de seus lucros fabulosos que desafiam à imaginação, apropriem-se da renda mundial, concentrando-a, e alijando, cada vez mais, numerosa parcela da humanidade do acesso a seus produtos! Pouco importa, enquanto houver quem pague preços exorbitantes!

Figura 18 – Distorção de preços e lucros exorbitantes da indústria do aço

Tudo isto traz como conseqüência a crescente favelizacao das cidades (Figura 19),

sobretudo nos hoje hipocritamente chamados países emergentes, para esconder sua real condição de sub-desenvolvidos, alguns deles condenados eternamente a esta condição. Como os materiais de construção industrializados custam caro, as populações excluidas por um sistema econômico que favorece alguns em detrimentos da imensa maioria procuram se abrigar de qualquer forma, como se vê na Figura 20. Essas más condições de habitação e falta de infraestrutura básica conduzem a gravíssimos problemas de saúde pública. A OMS calcula que na América Latina há 24 milhões de infectados com a doença de Chagas, provocada pelo protozoário Tripanosoma Cruzi , mal que se transmite pelo sangue causa lesões cardíacas e cujo vetor é o inseto conhecido como Barbeiro, no Brasil Vinchuca, na Argentina e Chile Pitos, na Colômbia, Chipos, na Venezuela. Ele encontra abrigo nos orifícios e vazios das paredes dessas sub-habitações e a doença de Chagas continua sendo uma triste realidade (Figura 21). No entanto, ao contrário da AIDS que ataca sem perdão pobres e ricos, como o mal de Chagas afeta às pessoas sem dinheiro, pouca ou nenhuma importância é dada à doença que, perfeitamente evitável, continua a minar a precária saúde dos deserdados povos latino-americanos.

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Figura 19 – Materiais de construção caros: favelização das cidades

Figura 20 – Sub-habitações de pessoas à margem da sociedade moderna

Figura 21 – Mal de Chagas ainda presente no Brasil

Assim, numa enorme e absurda contradição, apesar da imensa e crescente produção de materiais de construção industrializados, a humanidade chegou ao novo milênio com um deficit aproximado de 600 milhões de moradias (Figura 22).

Figura 22 – Contradição: imensa produção de materiais de construção industrializados e centena de milhões de pessoas sem direito à casa

Não bastasse essa gritante falta de moradias para grande parcela da população mundial, parte significativa das que existem têm sido continuamente destruidas pela ação de governos dominados pelo ódio, como é o caso do instaldo no Estado de Israel, que bombardeia sem cessar as residências dos Palestinos, aumentando-lhes o deficit habitacional. Armas com as últimas tecnologias são empregadas nessa destruição das moradias de um povo que, numa gritante desigualdade, defende-se e reage como pode, muitas vezes fazendo uso das ancestrais pedras, quando não com o próprio corpo!

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A insensatez não tem fim e centenas de bilhões de dólares têm sido gastos na demolição de constrções, muitas delas centenárias e mesmo milenárias, em países invadidos como o Iraque e o Afeganistão. O dinheiro gasto para destruir e tomar a antiga Mesopotânia já seria suficiente para eliminar praticamente toda a carência de moradia no chamado terceiro mundo e provê-lo de infraestrurua. Bombas moderníssimas (Figura 23), têm sido usada na destruição de casas hospitais, escolas, prédios públicos, muitos dos quais, verdadeiros patrimônios arquitetônicos da humanidade, construidos com os materiais tradicionais, como a terra.

Figura 23 – Bombas usadas para destruição de casas e disseminação do sofrimento, e

dirigentes do mundo sorrindo com a desgraça dos inocentes

Se por um lado cerca de dois bilhões de seres humanos têm necessidade de uma casa digna, algumas centenas de milhares de pessoas, que certamente fazem parte de cúpula que dirige propositada e egoisticamente o mundo atual, têm suas habitações fora de qualquer realidade e do discernimento do espírito humano. Mas já dizia Aristóteles, séculos antes de Cristo, “a ganância dos Homens não tem limites”. Assim, parte deles possuem casas tão grandes (Figura 24) que dificilmente terão todos os seus cômodos visitados pelo proprietário ao longo de sua ilusória existência. Assim, não é de admirar que nesse mundo injusto, no qual uns são mais iguais do que os outros, surjam os Bin Laden e as bombas humanas, rotulados de terroristas porque golpeiam os que representam a injustiça, ao passo que a matança oficial é justificada em nome liberdade. Que liberdade? A de se escolher entre Coca Cola e Pepsi Cola? A liberdade de ser pobre, e de ser explorado? E a liberdade do direito a casa? Esta nunca houve e continua a não existir no “mundo moderno”! Na realidade o terrorismo está sendo alimentado pela ganância da parcela da população que detém as riquezas mundiais e não quer reparti-las. Sem o menor discernimento, tornam-se, os que delas fazem parte, os terroristas oficiais, mas alguns, de tão néscios, como seu representante maior no inicio do atual milênico (Figura 25), são incapazes de se reconhecer como tal.

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Figura 24 - Casas de milionários em Brasíla: desafio ao bom senso humano

Figura 25 – Instrumento do terrorismo de estado

A reabilitação dos materiais tradicionais Foi após a segunda guerra mundial que a Terra apresentou um maior crescimento industrial. Até final dos anos 60 essa industrialização era baseada na energia relativamente barata, pouca preocupação se tinha com o meio ambiente e com a economia energética. Quando o Estado de Israel resolveu invadir terras onde se encontravam os palestinos acirrando a disputa desigual pela sua propriedade, as guerras com Egito e outros paises árabes produtores de petróleo tiveram como consequência um aumento significativo do preço desse material indispensável ao mundo industrializado. Teve fim a era da energia barata! Começou também a percepção de que os recursos energéticos do planeta não eram inesgotáveis. Foram surgindo os movimentos ecológicos, e a idéia de preservação dos recursos naturais. No ramo da arquitetura e da engenharia já apareceram pessoas pensando em voltar a utilizar materiais e tecnologias tradicionais que envolvessem menos energia e contribuissem para a preservação da Terra. Pouco a pouco essas ideias foram prosperando e hoje contam-se já muitas publicações sobre esses materiais e essas tecnologias, se bem que mereçam ainda muito mais difusão e penetração nos bitolados meios universitários em todo o mundo. No domínio da construção com terra (Figura 26) eventos interessantes e publicações de nível já mostram que ela merece seu lugar entre os materiais de construção. O mesmo pode-se dizer do bambu, outro fatástico material que merece ser muito mais explorado neste domínio.

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Figura 26 – Algumas publicações sobre construção com terra [2,5-11] Tudo isto levou o Prof. Minke, da Universidade de Kassel, Alemanha, a citar que:

A arquitetura do futuro será aquela que terá em mente:

- a conservação dos recursos naturais - a minimização do consumo de energia

- a redução da poluição para a produção de construções higiênicas e saudáveis sem aumentar seu custo.

Aos materiais tradicionalmente usados pelo Homem ao longo de sua história, agregando-se os resíduos das atividades humanas modificados de alguma forma a poderem ser empregados nas construções, internacionalmente concordou-se em chamá-los de materiais não-convencionais. No Brasil o prof. K. Ghavami, da PUC-Rio, pioneiro em estudos no assunto já em finais da década de 70, criou a ABMTENC, Associação Brasileira de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais nos anos 90. Conferências nacionais e internacionais já foram organizadas no sentido de incentivar a difusão da pesquisa com esses materiais.

Pode-se justificar a denominação de não-convencionais porque eles não são ainda

regidos por normas técnicas já bem estabelecidas, aceitas e difundidas mundialmente. Embora já se tenha muito caminhado no sentido do desenvolvimento de documentos normativos consensuais, a estrada é ainda longa.

Pode-se dizer que os materiais de construção não convencionais são ecologicamente corretos porque:

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- tratam-se de materiais tradicionais disponíveis na natureza, muitos dos quais renováveis, e como no caso do aproveitamento dos resíduos, contribuem para livrar o ambiente de seu incômodo;

- envolvem muito menor energia que os industrializados - em geral são não poluentes - muitos incorporam-se novamente à Natureza sem maiores danos - podem ser obtidos em processos não centralizados - podem gerar tecnologias apropriadas - podem levar a um menor custo construtivo - podem fazer uso intensivo de mão de obra - podem ajudar na redução do problema da casa nos países em desenvolvimento

Tecnologias apropriadas são aquelas que fazem uso de ferramentas e equipamentos simples e podem ser facilmente transferidas mesmo para populações de pouca ou nula instrução. Grande parte dos materiais não convencionais é adequada para esses tipos de atividade. Veja-se que aqui se pôs como sendo uma propriedade benéfica a possibilidade de uso intensivo de mão de obra, contrariamente ao que prega o monstruoso sistema capitalista, que procura ao máximo descartar o Homem das atividades de produção. Nos países em desenvolvimento, com taxas altíssimas de desemprego, poder-se-ia utilizar esse imenso contingente de mão de obra desqualificada e excluída para a fabricação de materiais de construção simples, saudáveis, a um custo relativamente baixo e com enormes ganhos sociais. A minimização do problema da casa é só uma questão de vontade política, como mais adiante será visto. Dificuldades com os materiais de construção não convencionais

Apesar do que aqui se tem mostrado, existem muitas dificuldades em se aplicar em

volumes consideráveis os materiais não convencionais na construção civil. Algumas delas são: - Preconceito: certos materiais (como a terra, o bambu, as palhas e fibras vegetais) estão arraigados na mente da grande maioria das pessoas como “material de pobre”; - Não foram ainda tão pesquisados como os materiais industrializados – de fato, enquanto aço, concreto, tijolos cozidos vêm sendo estudados desde o século XIX, só recentemente houve um real incremento nas investigações sobre os materiais não convencionais, mesmo assim em pouquíssimas universidades do mundo; - Não estão inseridos nos cursos convencionais de engenharia e arquitetura (com poucas exceções), de forma que os profissionais saem da universidade sem a menor visão sobre eles; - Faltam técnicos para aplicá-los corretamente – conseqüência do item anterior. Embora com os materiais aqui referidos se possa gerar as tecnologias apropriadas, não deixam de ser tecnologia. Esta requer o mínimo de controle para se ter produtos de qualidade. Exige também a elaboração de um projeto a ser seguido. Assim, qualquer ação de maior monta correria o risco de se perder por falta de orientação técnica; - Órgãos governamentais desconhecem ou ignoram propositadamente tudo que é não convencional – conseqüência da maciça propaganda dos materiais industrializados que deixam pouco espaço para qualquer alternativa, e também da ainda pouca difusão dos materiais não convencionais. Some-se a isto a enorme

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inércia dos organismos estatais, de mentalidade muito bitolada, avessos a qualquer mudança que incomode seu “status quo” e que lhe ameace fazer pensar e desenvolver algum esforço.

- Dificuldade de se organizar processos de auto-construção e transferir tecnologia – é sabido que um dos mais fecundos meios de financiamento de políticos e dirigentes de órgãos estatais está na contratação de terceiros para execução de obras. Percentagens sobre os valores contratados são prática corrente tanto para enriquecimento de ocupantes de cargos ( e às vezes suas famílias e apadrinhados) como para serem gastos em eleições. Assim pouquíssimo é o interesse em se organizarem comunidades para atuarem como vetor do desenvolvimento. Some-se a isto a enorme distorção dos órgãos de “fomento à pesquisa” que em nome de um “cientifismo” maluco, importado sem questionamentos dos paises dominantes que têm interesses bem diversos daqueles das nações em desenvolvimento, desvalorizam tremendamente atividades de extensão universitária e mesmo de ensino. Hoje só tem “status de pesquisador” aquele que publicar bastante em “periódicos internacionais reconhecidos pela CAPES”, mesmo que se trate de tema de mínimo interesse para a sociedade brasileira. Assim, sendo o gênero humano o que é, já surgem os “profissionais das publicações”, comodamente instalados atrás de microcomputadores em salas de ar condicionado, ocupados em escrever; em “esticar” trabalhos de forma a fazê-los render o maior número de artigos possível; em trocar o titulo e algumas palavras de um texto para enviá-los novamente a outra revista. Tudo em nome da “produtividade”, que lhe dá direito a receber uma gorjeta no fim do mês com o pomposo apelido de “bolsa de incentivo à pesquisa”. Evidentemente não são todos que assim procedem mas isto não deixa de ser uma realidade e uma distorção de um modelo exclusivista. Já qualquer ação que pretenda orientar-se pelas palavras “Homens não convencionais” como o admirável Che Guevara que dizia “um dos grandes deveres da universidade é levar suas práticas profissionais ao seio do povo” é desencorajada por todos, desde um chefe de departamento negando uma meia diária ao professor excêntrico que deseja se deslocar para ajudar a uma comunidade carente, até aos supremos organismos fomentadores da pesquisa tupiniquim que estão convencidos de que fazer pesquisa é publicar. Esta supervalorização da chamada pesquisa no meio acadêmico leva a situações absurdas como revisor de artigo para revista exigir do autor a inserção de suas publicações, sob pena de rejeitar seu trabalho, até o caso escandaloso do professor coreano que chegou a publicar resultados falsos sobre a clonagem humana na conceituadíssima revista Science. Assim, no seio universitário, o mundo de fantasia prevalece sobre a realidade numa hipocrisia tão grande quanto a ambição do Homem.

- Falta vontade política de resolver o problema da casa nos países em desenvolvimento – esta é uma triste realidade. De fato, os dirigentes de quase todas as nações estão hoje muito mais preocupados em agradar a quem não precisa, como os grandes banqueiros internacionais, o FMI, as multinacionais e outras instituições encarregadas de manter a dependência dos povos sob a tutela do imoral capital internacional, do que com o problema habitacional de sua população. É com imensa decepção que se vê o pagamento rigorosamente em dia de juros absurdamente elevados, quando o financiamento de um simples conjunto habitacional ou mesmo o conserto de uma estrada estragada pela chuva atrasa meses e meses e até anos. A existência de um contingente de populações carentes, dependentes, são de interesse das cúpulas dirigentes e dos políticos nefastos dos paises em desenvolvimento. Um povo necessitado constitui-se numa verdadeira reserva de mercado de votos, visto a mais fácil manipulação política pelos abutres que tomam conta do poder.

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Considerações finais A casa é um bem básico para todos os seres viventes. Pouco adianta dar escola às crianças se ao dela saírem não têm um ambiente higiênico e saudável para conviver com a família, estudar, alimentar-se e dormir. A crescente falta de habitação digna gera o que se está a ver hoje em todos os paises em desenvolvimento: promiscuidade, avanço crescente da marginalidade e da violência, mesmo nas cidades pequenas, outrora tidas como seguras. Se não tem casa, vai o ser humano praticamente viver na rua, e para sobreviver no monstruoso sistema capitalista neo-liberal, passa a se valer de tudo para conseguir dinheiro. Aumentam, então, o tráfico de drogas, os roubos e assaltos, que inquietam a todos nos dias de hoje.

A eliminação do problema da casa no Planeta geraria enorme impacto ambiental se fossem ser empregados apenas os materiais industrializados, pelas razões que aqui foram apontadas. Mas monopólios a nível internacional do aço e do cimento não permitiriam que a casa chegasse para todos. Assim, apesar das dificuldades apresentadas, o futuro da humanidade vai requerer que os materiais não convencionais tenham uma participação muito maior no mundo da construção. É preciso desfazer o mito de que representam materiais de pobre, e, pelo contrário, possam ser valorizados pela sustentabilidade que podem dar às engenharia e arquitetura. A introdução de disciplinas sobre eles nos cursos técnicos e universitários é imprescindível. Não se quer aqui de nenhuma maneira descartar os materiais de construção industrializados. O mundo não anda para trás! Muitos deles podem, perfeitamente, serem aliados. O que interessa é que se reduzam os problemas ambientais. Assim, quando possível, engenheiros e arquitetos devem procurar usá-los, mesmo que em associação com os materiais convencionais. Veja-se o exemplo da Figura 27, uma igreja nas proximidades de Lyon, França. Foi utilizada a terra crua nas paredes, mas há também estrutura em concreto armado, telhas cerâmicas, vidros, etc! Então, tem-se um material tradicional como a terra, aliando-se aos materiais industrializados!

Figura 27 – Igreja na França associando materiais convencionais e não convencionais Na Figura 28 vê-se agora que o mínimo de tecnologia pode transformar realidades. O mesmo material, a terra, usado sem tecnica apropriada conduz a um produto sem qualidade (à esquerda), ao passo que ela usada na forma de blocos prensados, associados com cimento em pequenas quantidades, com os devidos cuidados, mesmo fazendo-se uso de mão de obra iletrada, gera uma habitação saudável (à direita).

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Figura 28 – Casa de terra sem e com tecnologia em favela na Paraíba

Na Figura 29 vê-se agora a associação do bambu, um dos materiais não convencionais de maior potencial, com materiais industrializados como concreto, tijolos cerâmicos, cobertura metálica, argamassa de cimento portland. À esquerda tem-se uma construção rural no Equador, à direita protótipo de casa, em Maceió, onde foi criado o Instituto do Bambu, com apoio do SEBRAE, Alagoas. Nota-se então que passos estão sendo dados na direção correta, sendo necessária sua divulgação e disseminação.

Figura 29 – Bambu associado a materiais convencionais (à esquerda obra do arquiteto Jorge Moran, Equador)

Felizmente o sistema dominante não consegue se apossar da mente de todos os seres humanos: sempre há aqueles que pensam diferentemente, e isto traz um alento de esperança. Veja-se a notícia que segue, mostrando já a valorização de ações “não convencionais”: “En la última edición de los Premios Aga Jan de Arquitectura, uno de los más importantes del mundo y con mayor dotación, 500.000 $, dos (2) de los siete premios son humildes construcciones con tierra: la humilde escuela que en su pueblo Gando, en Burkina Fasso realizó con bloques de tierra comprimida el arquitecto Diebedo Francis Kere (la primera persona que salió fuera de su aldea para estudiar), y los refugios con sacos rellenos de tierra y alambre de espino hechos por Nader Khalili. Junto a otros premios concedidos por ejemplo a la restauración de las Torres Petronas y a la regeneración urbana del barrio palestino en la ciudad vieja de Jerusalén. ” ( De http://www.arquitecturaviva.com/Noticias.asp#el%20islam)

Na Figura 30 podem ser vistas as duas obras premiadas que têm a terra crua como material base.

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Figura 30 – Obras “não convencionais” premiadas: escola à base de terra crua e prototipo

de refugio construído com sacos de areia. (Foto: Nader Khalili/ Cal-Earth Institute)

O tipo de construçao da direita da Figura 30 já é usada pelas Nações Unidas em zonas de conflito armado, para proteção das populações pobres da insensatez humana. Quando necessário, é benéfica a associação do material não convencional ao industrializado, daí porque necessário é conhecer a ambos. Isto com o fim de explorar conscientemente todas as suas potencialidades, e para que todos das futuras geraçoes possam ter seu futuro assegurado. Todos, repete-se, e não apenas os cidadãos à esquerda da Figura 31, mas também o desesperançado garoto à direita! Para tanto é preciso a conscientização de todos de que não existe poluiçao maior que a extrema pobreza e é possível erradicá-la, podendo os materiais de construção não convencionais, a engenharia e a arquitetura darem sua parcela de contribuição. Porém, para essa mudança é necessáio que também surja com força um “sistema econômico não convencional”. O que aí está, baseado no lucro máximo, nas “leis de mercado” manipuladas pelos poderosos, no consumo, na concentração de riquezas, na especulaçao, no capital, na indiferença e no desrespeito à pessoa humana, embora levando para muitos a ilusória impressão de que bem vivem porque possuem um aparelho de telefone celular ou um DVD, mesmo morando em condições sub-humanas, está disseminando a pobreza, o desemprego, a violência, o terrorismo e o medo, que reina soberano nos dias atuais.

Figura 31 – Nova geração que espera viver na Terra sem problemas ambientais e sem a

terrível poluiçao da pobreza Referências 1- Salvadori, M (1990) – Perché gli edifici stano in piedi. Ed. Fabbri, Etas SPA, Milano, Itália. 2- Fundação Calouste Gulbenkian (1993) – Arquitecturas de Terra. Lisboa, Portugal. 3 – Time-Life (1995) – Ciência e Natureza, Ecologia. Abril Livros, São Paulo. 4 – Time-Life (1995) – Ciência e Natureza, Tempo e Clima. Abril Livros, São Paulo. 5- Minke, G - Earth Construction Hanbook (1999) – Wit Press, Southampton, England

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6- Centre George Pompidou – Interni: Architettura di terra, Gruppo Editoriale Electra, Itália. 7 - Barbosa, N P (1996) – Construção com terra crua: do material à estrutura. Monografia para concurso de Prof. Titular do DTCC, Centro de Tecnología da UFPB. 8 –Fathi, H (1973) – Construindo com o povo. Ed. Brasileira Ed. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 1982. 9 – Politécnico di Torino (1998) – Terra incipit vita nova. Anais de Seminário L´architettura di terra cruda dalla origini al presente. 16,17-abbil 1997, Turim, Itália. 10 – Proterra (2002) – Anais do I Seminário Ibero-americano de Construção com Terra. Salvador, Ba, 16-18 set 2002. 11 - Houben, H; Guillaud, H (1989) - Traité de construction en terre. Edition Parenthèses, Marseille, França, 1989.