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Materiais manipuláveis e tecnologia na aula de Matemática (versão 17-10-2004)
João Almiro
Escola Secundária de Tondela [email protected]
Resumo Este artigo pretende compreender até que ponto é que a utilização de materiais
manipuláveis e de tecnologia influenciam o contexto de aprendizagem e que constrangimentos traz ao professor a condução de aulas que envolvem a sua utilização. Para esse efeito construí quatro tarefas em que previa a utilização desses recursos, que propus aos meus alunos do 8º ano, na unidade didáctica de semelhanças. A partir de um questionário e de entrevistas aos alunos, bem como da observação das minhas aulas por dois colegas com os quais realizei reflexões conjuntas, analiso as potencialidades dessas tarefas e materiais, tendo em conta o envolvimento, o desempenho e as dificuldades dos alunos, bem como os sucessos e as dificuldades vividos por mim na condução dessas aulas.
Como conclusões é de salientar um grande envolvimento e entusiasmo dos alunos na aprendizagem da Matemática, explorando situações e testando hipóteses, construindo argumentos para defender as suas ideias, para o que poderá ter contribuído a utilização dos materiais manipuláveis e da tecnologia. É de notar também a falta de autonomia e persistência dos alunos, bem como a falta de método no modo como, por vezes, “atacaram” os problemas e como encararam os obstáculos com que se iam deparando. Relativamente ao meu trabalho como professor e apesar da certeza de ter proporcionado aos meus alunos óptimas oportunidades de experimentarem Matemática, destacam-se as dificuldades que vivi na condução destas aulas organizadas em pequenos grupos, tendo-se evidenciado a importância e a necessidade de propor mais tarefas deste género aos alunos, de modo a vivenciarem mais actividades deste tipo.
Introdução
As indicações metodológicas para o ensino da Matemática actuais dão grande
relevo à utilização de materiais manipuláveis em sala de aula, valorizando o seu papel
na aquisição e construção de conceitos matemáticos em todos os níveis de ensino, desde
o pré-escolar ao secundário (APM, 1988; NCTM, 1991, 1994). O mesmo se passa
relativamente ao uso de meios tecnológicos, que favorecem a criação de contextos
significativos, permitindo a simulação de situações e o estudo de novos problemas,
facilitando uma abordagem experimental e intuitiva da Matemática, estimulando o
espírito de investigação nos alunos e dando-lhe um lugar mais activo no processo de
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aprendizagem (APM, 1988; Mathematical Association, 1992; Ponte e Canavarro 1997;
Veloso, 1988).
Também nos documentos curriculares portugueses são várias as sugestões
metodológicas que fazem referência ao uso de materiais manipuláveis e de tecnologia
na aula de Matemática. Por exemplo, no Currículo nacional do ensino básico:
Competências essenciais (DEB, 2001), relativamente à utilização de recursos, afirma-se
que:
Materiais manipuláveis de diversos tipos são, ao longo de toda a escolaridade, um recurso privilegiado como ponto de partida ou suporte de muitas tarefas escolares, em particular das que visam promover actividades de investigação e a comunicação matemática entre os alunos... (...)
Todos os alunos devem aprender a utilizar não só a calculadora elementar mas também, à medida que progridem na educação básica, os modelos científicos e gráficos. Quanto ao computador, os alunos devem ter oportunidade de trabalhar com a folha de cálculo e com diversos programas educativos, nomeadamente de gráficos de funções e de geometria dinâmica... (p. 71)
No entanto, como refere o Relatório Matemática 2001 (APM, 1998), apesar de
nestes últimos anos ter havido tantas referências e sugestões para a utilização de
materiais manipuláveis e de tecnologia na sala de aula, são ainda muitos os professores
que não planificam o seu ensino tendo em conta essas preocupações.
Este artigo surge, assim, com a ideia de compreender até que ponto é que a
utilização de materiais manipuláveis e de tecnologia influenciam o contexto de
aprendizagem e que constrangimentos traz a um professor a condução de aulas que
envolvem a utilização desses recursos. Concretamente, pretendo reflectir sobre:
(i) as potencialidades de tarefas que envolvem a utilização de materiais manipuláveis ou software de geometria dinâmica, tendo em conta o envolvimento, o desempenho e as dificuldades apresentadas pelos alunos;
(ii) as dificuldades e os sucessos vividos por um professor quando propõe e explora em sala de aula tarefas que recorrem a esses materiais e a essa tecnologia.
Que desafios para o professor hoje?
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É actualmente reconhecido por muitos autores que o professor tem mais do que
nunca um papel essencial no currículo (Alonso, 1993; Gimeno, 2000; Roldão, 1999). Já
não se espera deles uma atitude passiva de meros executores de orientações superiores;
pelo contrário, é pedido hoje aos professores que tenham uma acção mais esclarecida e
interveniente, de modo que para cada situação tenham opiniões fundamentadas. Assim,
cabe-lhes uma responsabilidade acrescida nas opções, decisões e estratégias relativas ao
currículo, na selecção crítica e na produção de materiais curriculares, no seu
ajustamento e na sua avaliação.
Gimeno (2000) afirma que existe uma influência recíproca entre o professor e o
currículo, porque o currículo molda e orienta a actividade do professor mas, por outro
lado, é traduzido e transformado, ou seja configurado pelo professor no
desenvolvimento do próprio processo de ensino-aprendizagem. Evidenciando o papel
do professor, realça que o docente, ao desenvolver uma prática concreta de acordo com
determinados objectivos, desempenha um papel decisivo no desenvolvimento do
currículo, na medida em que decide o tipo de actividades que os alunos vão realizar, a
sequência das tarefas, o seu espaçamento e duração, a forma como realiza a avaliação,
os materiais que escolhe, as estratégias de ensino, a ponderação dos conteúdos, entre
muitos outros aspectos. Salientando este papel essencial do professor, este autor afirma
que “por muito controlada, rigidamente estruturada, ou por muito tecnicista que uma
proposta de currículo seja, o professor é o último árbitro da sua aplicação nas aulas” (p.
175).
Claro que este novo papel exige uma atitude diferente do professor, no modo
como encara a sua profissão, que vai para além do bom senso e da boa vontade
baseados na sua experiência profissional. Na verdade, são vários os autores que
defendem que a reflexão sobre as práticas pode ser o elemento chave na transformação
dos professores e das escolas (Alarcão, 1991; Oliveira e Serrazina, 2002; Pérez, 1992;
Schön, 1992; Serrazina, 1999; Zeichner, 1993). A reflexão permite que as novas ideias
tomem lugar entre as já existentes, propicia tempo para pensar e cria espaço para
conhecimento novo. A promoção da prática reflexiva permite que os professores
comecem do lugar onde se encontram, ou seja, daquilo que já sabem, para que possam
construir a partir da sua experiência, possibilitando a ocorrência de mudanças integradas
no seu contexto (Muscela, 1992). Também Serrazina (1999) defende que a reflexão
sobre as propostas curriculares e sobre as práticas pode resultar numa reorganização
substancial do ensino e numa alteração das crenças e do próprio conhecimento do
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professor, nomeadamente quando se exploram novos materiais e novas tarefas de ensino
e se encontram surpresas no modo como os alunos reagem às propostas e na forma
como os alunos aprendem e adquirem o conhecimento matemático.
Para Zeichner (1993), os professores que não reflectem sobre as suas práticas
aceitam naturalmente a realidade quotidiana das suas escolas, perdendo muitas vezes de
vista as metas e os objectivos para os quais trabalham, tornando-se meros agentes de
terceiros. Segundo este autor, para desenvolver a acção reflexiva, são necessárias
algumas atitudes, nomeadamente: (i) o desejo de ouvir mais do que uma opinião; (ii)
admitir a possibilidade de erro, mesmo naquilo que se acredita com mais força; (iii)
perguntar-se constantemente porque estão a fazer o que fazem na sala de aula; (iv)
ponderar cuidadosamente as consequências de uma determinada acção; (v) reflectir
sobre as consequências inesperadas; e (vi) perguntar-se se o que está a fazer dá
resultados.
Para Zeichner, a prática reflexiva não é fácil, pois a sala de aula é imprevisível,
com grande actividade e muitos conflitos que obrigam os professores a tomarem
decisões espontâneas a todo o momento, havendo limitações institucionais, como a falta
de tempo, alunos a mais e a pressão para cumprir um dado currículo num determinado
período de tempo. Apesar disso, afirma que mesmo com estes condicionalismos é
possível ser-se um professor reflexivo e perceber em que medida é que dirigimos o
nosso ensino para metas para as quais trabalhamos conscientemente ou se, pelo
contrário, as nossas decisões são fundamentalmente dirigidas por outros, por convenção
e autoridade, aceitamos as coisas só porque estão na moda ou porque nos dizem para as
fazermos, sem decidirmos qual o caminho certo.
O desenvolvimento curricular, o desenvolvimento dos professores e o
desenvolvimento da escola estão intimamente relacionados, sendo o seu objectivo a
melhoria das aprendizagens dos alunos e da comunidade educativa, e o seu motor
central o trabalho desenvolvido pela equipa de professores. Como diz Nóvoa (1992), as
escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores e estes não podem
mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham
Hoyle e Jonh (1995) afirmam que a pedra de toque para a mudança nas escolas
está em desenvolver padrões colaborativos entre os professores. Estes autores referem
ainda que se verificam melhorias na qualidade da educação nas situações em que os
professores trabalham mais em colaboração. Reforçando a importância do trabalho
colaborativo entre professores, Serrazina (1999), acrescenta que a reflexão sobre as
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práticas pode ser potenciada se for desenvolvida num ambiente colaborativo, em que os
professores são capazes de discutir com os seus colegas sobre os seus dilemas e os seus
conflitos e principalmente sobre o que acontece nas suas aulas.
Para um professor isolado numa escola não é fácil decidir que tarefas deve
seleccionar e propor aos seus alunos, saber como as deve orientar e que questões deve
colocar, ultrapassar os medos quando experimenta coisas novas e vencer as dificuldades
que encontra na gestão das suas aulas. Mas se houver um trabalho colaborativo entre os
colegas, na discussão e troca de ideias e de experiências lectivas é possível enriquecer
as práticas e promover a inovação e a melhoria da qualidade educativa.
A selecção das tarefas: Um problema...
A selecção das tarefas é um dos muitos problemas com que os professores se
deparam, quando desenvolvem o currículo, condicionando, de certa forma, as
actividades que os alunos irão desenvolver nas aulas de Matemática, com possíveis
consequências para a sua aprendizagem. São vários os autores que realçam a
importância desta selecção. Por exemplo, para Bishop e Goffree (1986), a actividade
dos alunos será crucialmente afectada pela escolha que o professor fizer da tarefa, da
situação e do contexto, pelo envolvimento que consiga criar nos alunos e pela maneira
como venha a conduzir as actividades. Gimeno (2000), salienta que o professor, ao
seleccionar as tarefas condiciona em grande medida o currículo, porque as tarefas são os
elementos básicos reguladores do ensino; afirma, ainda, que essa escolha e planeamento
estabelecem as regras de jogo para o comportamento dos alunos dentro da aula, sendo a
forma que os professores têm de manter um certo controle sobre as condições
complexas do ambiente da sala de aula.
Para Christiansen e Walther (1986), as tarefas podem distinguir-se como fazendo
parte de um espectro entre dois pólos: rotineiras e não rotineiras. De um lado estão as
tarefas em que o processo para encontrar a solução é conhecido e se apela mais à
memorização, onde a actividade desenvolvida contribui principalmente para a
consolidação de conhecimento e de capacidades já adquiridas; e do outro, as tarefas em
que esse processo é desconhecido e em que, por isso, o aluno desenvolve raciocínios de
ordem superior e a actividade promove condições óptimas para a construção individual
de conhecimento novo. Na verdade, as tarefas podem ser simples ou complexas, podem
possibilitar o desenvolvimento de técnicas, conceitos e/ou resolução de problemas,
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podem envolver trabalho individual, trabalho de grupo ou de toda a turma ou incluir a
manipulação de materiais, tecnologia ou cálculos de papel e lápis. Em cada caso, o
essencial é compreender em que medida é que a natureza das tarefas se adequa à
intenção com que foram seleccionadas.
No entanto, as tarefas em si próprias não contêm conceitos ou estruturas
matemáticas. Pensar que determinadas tarefas têm uma espécie de garantia no que
respeita ao seu efeito pedagógico é simplificar a relação que existe entre as tarefas e
aquilo que os alunos aprendem (Christiansen e Walther, 1986). Além disso, a actividade
realizada não depende exclusivamente das tarefas propostas. Tarefas com muitas
potencialidades podem dar origem a actividades com um valor muito discutível. As
actividades realizadas estão muito condicionadas pelo modo como a tarefa é proposta,
pela forma como se organiza o trabalho na aula, pelo ambiente de aprendizagem, pela
capacidade e experiência anterior dos alunos e pelos papéis que assumem os professores
e os alunos (Ponte, 1994).
Seleccionar tarefas não é simples para os professores. É preciso ter em conta
constrangimentos como o espaço e o tempo, os manuais e os materiais de que se dispõe,
organizando os recursos e, quando necessário, aprendendo a trabalhar com ferramentas
novas. Embora exista já muito material escrito, em publicações e na Internet, os
professores ao analisarem as potencialidades educativas das tarefas, têm que tentar
perceber que tipo de actividades é que essas tarefas poderão vir a proporcionar. Este
trabalho complexo não se pode limitar à caracterização e análise das tarefas de acordo
somente com o seu grau de dificuldade e o conteúdo temático. Elas devem ser
analisadas também questionando se são apropriadas e relevantes para aqueles alunos,
verificando se existe a indicação de passos óbvios ou se é exigida uma análise lógica,
constatando se os objectos a trabalhar são ou não explícitos ou se existem indicações
sobre a forma como se explora e investiga a situação, analisando em que medida é que o
texto dá pistas ou provoca a reflexão (Christiansen e Walther, 1986).
Recursos para a sala de aula
Diversos estudos mostram que o uso de materiais manipuláveis produz maior
rendimento nos alunos do que a sua não utilização, em todas as idades e em todos os
anos da escola elementar (Suydam e Higgins, 1977; Sowell, 1989; Serrazina 1990). A
introdução de conceitos matemáticos, através da utilização de materiais manipuláveis,
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pode fazer com que a Matemática se torne viva e que as ideias abstractas tenham
significado através de experiências com objectos reais. Numa situação de aprendizagem
com materiais, os vários sentidos do aluno são chamados, através do contacto e da
movimentação, envolvendo-o fisicamente, sendo esta interacção favorável à
aprendizagem. Aprender torna-se assim num processo activo de construção do
conhecimento, com significado (Vale, 1999).
Para o aluno não é suficiente observar uma demonstração de um material pelo
professor. O aluno tem que mexer nos materiais, interpretando as suas características,
resolvendo os problemas com a sua ajuda. Como dizem Matos e Serrazina (1996), o
acto de manipular permite ao aluno experimentar e descobrir padrões e relações que são
o essencial em Matemática. Estes autores também realçam que é essencial que o aluno
tenha muito tempo e várias oportunidades para explorar os materiais. Na sua
perspectiva, isso deve acontecer não só na introdução de conceitos, mas também noutros
momentos em que os alunos se envolvem na resolução de problemas, sendo importante
que estejam disponíveis sempre que eles sintam necessidade de os utilizar.
Acrescentam, ainda, que as necessidades de concretização variam de aluno para aluno,
necessitando uns de mais tempo do que outros, o que exige uma grande atenção por
parte dos professores no modo como conduzem a realização das tarefas.
É importante salientar que a utilização de materiais não é uma garantia de uma
aprendizagem significativa, sendo o papel do professor essencial quando se quer obter
bons resultados, pois é a este que compete decidir como, quando e porquê determinado
material deve ser utilizado. Mais do que o material, o que importa é se a experiência que
o aluno está a desenvolver é realmente significativa para ele, pois aprender Matemática
fazendo-a, significa não só manipular objectos, mas também pensar e reflectir sobre a
actividade que se realizou (Serrazina, 1990).
O uso de materiais manipuláveis é um desafio para o professor, pois acrescenta
muito mais actividade e barulho às aulas e requer mais espaço e organização. É
essencial que os professores aprofundem o seu contacto com os vários materiais, pois só
adquirindo um grande à vontade no seu manuseamento é que poderão escolhê-los e
utilizá-los adequadamente com os seus alunos na sala de aula (Vale, 1999).
Segundo Hiebert e Carpenter (1992), os resultados negativos que por vezes se
verificam com o uso de materiais concretos podem ser motivados pela distância entre o
material que se está a utilizar e as relações matemáticas que é nossa intenção que eles
representem. Quanto mais próxima for essa correspondência, mais apoio contextual
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existe para os alunos construírem as relações pretendidas. Afirmam estes autores que
não há nenhuma garantia que os alunos vejam as mesmas relações nos materiais que os
adultos, mas é mais provável que as construam quando interagem com os materiais e
com os colegas quando trabalham com esses materiais. Gravemeijer (1991) chama
também a atenção para o facto de que não é o material que transmite os conhecimentos,
mas que apenas pode ajudar a resolver problemas práticos em determinados contextos.
Afirma ainda que trabalhar com materiais manipuláveis, não prepara para trabalhar sem
eles e que existe um problema na transição das ideias que surge quando se trabalha com
materiais para as ideias em termos de relações e conceitos matemáticos.
A Geometria constitui um campo propício à utilização de materiais manipuláveis,
visto que em muitas circunstâncias é indispensável a concretização de situações para
ajudar os alunos na compreensão dos problemas e dos conceitos. Na verdade, os
modelos físicos podem ser um auxiliar importante pois o contacto e manipulação das
figuras e as transformações que se vão operando com os materiais, através de uma série
de tentativas, facilitando a passagem do concreto para o abstracto, podem contribuir
para que o aluno construa conhecimento matemático mais sólido e duradouro.
Quanto à utilização dos computadores em sala de aula, já em 1988 a APM, na
Renovação do Currículo de Matemática, considerava que o computador poderia
facilitar uma abordagem experimental e intuitiva da Matemática, permitindo ao aluno
um lugar mais activo no processo de aprendizagem. Nesse documento refere-se ainda
que as novas tecnologias permitem encarar todo um novo estilo de actividades
educativas onde os alunos são encorajados a desenvolver a sua autonomia,
independência e espírito de iniciativa, esperando-se que o professor deixe de ser aquele
que tudo sabe, para passar a ser um companheiro mais experiente e com mais
entusiasmo acerca de cada assunto.
Tendo por base um grande número de investigações Fey (1991), considera que a
utilização do computador em abordagens activas e exploratórias incentiva a curiosidade,
o aumento de confiança e o gosto dos alunos pela Matemática, ajudando a criar
ambientes de trabalho em que os alunos são encorajados a fazer e testar conjecturas e a
criar e avaliar modelos matemáticos. Sistematizando o que de essencial é trazido pelas
novas tecnologias ao ensino-aprendizagem da Matemática, Ponte (1995) enumera os
seguintes aspectos: i) uma relativização da importância das competências de cálculo e
de simples manipulação simbólica; ii) um reforço do papel da linguagem gráfica e de
novas formas de representação; iii) uma atenção redobrada às capacidades intelectuais
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de ordem mais elevada; iv) um crescendo de interesse pela realização de projectos e
actividades de modelação, investigação e exploração; v) a possibilidade de envolver os
alunos em actividade matemática intensa e significativa, favorecendo o
desenvolvimento de atitudes positivas em relação a esta disciplina.
Mais concretamente, no que se refere aos programas de geometria dinâmica que
vamos utilizar neste estudo, Junqueira (1995) refere que os ambientes computacionais
gráficos para o ensino-aprendizagem da Geometria permitem realizar construções
geométricas no computador, utilizando explicitamente as propriedades das figuras,
possibilitam a manipulação directa das construções, conservando as propriedades
utilizadas. Na sua perspectiva, estas ferramentas computacionais devidamente
integradas no ensino-aprendizagem, podem constituir um veículo para aquisição de
conhecimentos, capacidades e atitudes, promovendo no aluno os processos de
aprendizagem necessários para atingir os objectivos desejados.
Segundo Canavarro (1994), os professores têm opiniões diferentes sobre o papel
que os computadores podem ter na aula de Matemática, o que de certo modo influencia
a forma como os utilizam. Para esta investigadora, os professores consideram que os
computadores podem: i) influenciar positivamente o ambiente da sala de aula, na
medida em que têm o poder de entusiasmar e motivar os alunos; ii) facilitar a realização
rápida e rigorosa de determinadas actividades habitualmente feitas à mão,
nomeadamente cálculos, gráficos e construções geométricas; iii) possibilitar a realização
de actividades de experimentação, de exploração e de investigação, dificilmente
concretizáveis ou mesmo inviáveis sem este recurso.
No entanto, para esta autora, e apesar das várias possibilidades que se nos
apresentam, tirar partido das potencialidades do computador não é por vezes tarefa fácil
para os professores. Os constrangimentos são de vária ordem e vão desde a preparação
das tarefas, à condução da aula, com as dificuldades de gestão do tempo e de
acompanhamento dos grupos. No trabalho com computadores são muitas as dúvidas que
vão surgindo, nomeadamente, saber como lidar com as descobertas não previstas dos
alunos, como conjugar o trabalho dos alunos com o computador e sem ele, como
sistematizar colectivamente os resultados obtidos com a ajuda do computador.
Assim, os computadores trazem realmente um grande desafio à nossa actividade
educativa, pois são ferramentas muito potentes, permitindo entre outros aspectos
automatizar os processos de rotina e concentrar a nossa atenção em capacidades
intelectuais de ordem superior. Contudo, esta tecnologia não vale por si só, cabendo ao
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professor um papel decisivo na criação, organização e condução das situações de
aprendizagem.
Metodologia
Tendo em conta o problema em estudo, este trabalho segue uma abordagem
qualitativa, sendo os dados recolhidos, no essencial, descritivos, e havendo uma maior
preocupação com o processo do que com o produto final (Bogdan e Biklen, 1994). O
ambiente natural constituiu a fonte directa dos dados e o principal instrumento de
recolha fui eu enquanto investigador, tendo sempre tentado que os participantes no
estudo expressassem livremente as suas opiniões sobre as questões em causa; o meu
entendimento foi também o instrumento essencial na análise dos dados.
Desenvolvi este trabalho numa unidade didáctica de Geometria – “Semelhança de
triângulos”, com os meus alunos do 8º ano, que foram os participantes no estudo. A
turma era constituída por 24 alunos, nenhum repetente, integrando um grupo muito vivo
e sempre à espera de novos desafios. Metade da turma já foi minha o ano anterior e
conheço-os bem; a outra metade, é um pouco mais passiva, integrando alunos que
apresentam algumas dificuldades na disciplina de Matemática.
A recolha dos dados foi realizada através de questionários e entrevistas aos alunos,
registos de observação das aulas efectuados por dois colegas e gravações em áudio das
reflexões conjuntas das aulas assistidas. Foram também utilizadas as resoluções das
tarefas propostas e que os alunos foram entregando no decorrer das aulas. No fim da
realização das tarefas foi passado um questionário aos alunos (em anexo), que incluiu
para além de perguntas fechadas a possibilidade de escreverem sobre o que gostaram ou
não gostaram e sobre as dificuldades que sentiram. Para complementar estes
questionários, realizei pequenas entrevistas aos alunos.
Como este estudo decorreu nas minhas aulas, estas foram assistidas por dois
colegas a que chamei Ana e Ivo, que tiraram notas sobre os aspectos que acharam mais
relevantes face ao problema em estudo. No final de cada aula, fizemos reflexões em
conjunto (a que eu chamei reflexões 1, 2, 3 e 4), gravadas em áudio, como já referi,
onde foram abordados (i) o envolvimento dos alunos na aprendizagem, os
conhecimentos e capacidades que evidenciaram, as principais dificuldades com que se
depararam; e (ii) o modo como foi lançada a tarefa aos alunos, os problemas que
surgiram na gestão da aula, e as principais dificuldades e sucessos.
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Entreguei a estes professores um documento contendo o objectivo deste estudo e
as linhas orientadoras de observação, no sentido de clarificar o que esperava da sua
participação neste trabalho. Fiz este pedido a Ana e Ivo por duas razões: i) a sua grande
experiência na utilização de materiais manipuláveis e tecnologia nas actividades
lectivas; ii) todo um passado de actividades de formação de professores e de
experiências de inovação curricular que temos realizado em conjunto, no decorrer da
nossa carreira. Penso que a sua experiência na utilização destes recursos foi evidenciada
no modo como comentaram o decorrer das aulas, o que me parece ter sido uma mais-
valia para o enriquecimento deste trabalho. Quanto ao passado que temos em conjunto,
considero ter sido decisivo para criar um ambiente de grande à vontade, que possibilitou
reflexões conjuntas, quanto a mim, relevantes e significativas. Para estes colegas, o
desafio de assistirem às minhas aulas e de poderem reflectir em grupo sobre o modo
como decorreram os trabalhos, foi uma experiência estimulante, pois puderam, através
destas observações, verem-se retratados e confrontados com muitas das suas vivências,
ansiedades e dificuldades, questionando, também, deste modo o trabalho que vão
desenvolvendo com os seus alunos, nas aulas em que utilizam materiais manipuláveis e
tecnologias.
Proposta pedagógica
Como ideias orientadoras da proposta pedagógica que defendo para as minhas
aulas, destaco a necessidade de: (i) proporcionar aos alunos a exploração de uma grande
diversidade de ideias matemáticas, num ambiente intelectualmente estimulante, no qual
experimentar e fazer Matemática sejam actividades naturais e desejadas, promovendo a
reflexão individual e em grupo, tornando-os mais aptos a analisar situações, a formular
e resolver problemas e a pensar matematicamente; (ii) valorizar a dimensão da
comunicação matemática a partir da exploração de situações problemáticas, fazendo
tentativas, errando e corrigindo esses erros, testando e construindo argumentos,
ganhando confiança na resolução de problemas cada vez mais complexos.
Claro que para levar à prática estas ideias é importante que eu assuma um papel,
não de fornecedor de informação, mas sim de facilitador da aprendizagem e orientador e
dinamizador dos trabalhos, cabendo-me o papel essencial de seleccionar as tarefas e de
criar um ambiente propício ao envolvimento e empenho dos alunos. A estes compete
uma atitude activa na resolução das tarefas, discutindo com os colegas e comigo as suas
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conjecturas, explicando e escrevendo regularmente as suas ideias, clarificando e
consolidando o seu pensamento matemático.
Tendo por pano de fundo estas linhas orientadoras, tento organizar o ensino
propondo aos meus alunos uma grande variedade de experiências de aprendizagem,
tanto no que se refere ao modo como são organizados, como ao grau de abertura das
tarefas ou mesmo no que respeita aos recursos didácticos utilizados. Na escolha e
sequência das tarefas considero o programa como orientador e o manual escolar como
base. Estes são os primeiros documentos que analiso quando preparo determinada
unidade didáctica, o que ocorre normalmente em trabalho conjunto com os colegas da
minha escola que leccionam o mesmo ano de escolaridade.
Na escola, o manual é considerado como um documento de trabalho essencial,
devido ao facto de estar na posse dos alunos desde o início do ano – é uma norma usar
prioritariamente os recursos disponíveis para evitar custos desnecessários à escola. Na
preparação de cada unidade, estudo o manual com todo o cuidado a fim de seleccionar,
de forma criteriosa, as tarefas a propor, bem como as sínteses de informação a
evidenciar junto dos alunos quando necessário.
No que se refere às tarefas, o manual do 8º ano adoptado na escola tem um
número excessivo de exercícios e de problemas fechados, tendo falta de actividades de
exploração e investigação, ou mesmo de situações problemáticas de natureza mais
aberta. Para além disso, só muito raramente é que inclui sugestões de exploração de
tarefas que apelem ao uso de tecnologia ou de materiais manipuláveis.
Aquando da selecção das tarefas, escolho as propostas de trabalho do manual que
me parecem mais desafiantes, preocupando-me se a redacção é clara e compreensível
para os alunos de cada turma e se cobrem todos os conteúdos referidos no programa,
tentando, também, que sejam o menos repetitivas possível. Depois de realizado esse
trabalho, sinto, na maior parte das vezes, a necessidade de completar esse material com
tarefas que vou encontrando noutras publicações, na Internet, ou mesmo fruto da
participação em encontros de professores ou acções de formação. Estas tarefas que
adapto costumam incluir problemas, tarefas de exploração e/ou investigação, jogos ou
projectos, apelando ao uso de recursos diversos, nomeadamente, calculadoras gráficas,
programas de geometria dinâmica ou materiais manipuláveis. Recorro também por
norma ao material desenvolvido pelos colegas que leccionaram estas unidades
didácticas no ano lectivo anterior, recriando e, por vezes, melhorando esse material que
passará, também, para os colegas do ano seguinte.
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Ao analisar o manual no capítulo de semelhança de triângulos, e depois de
constatar alguma pobreza nas suas propostas de trabalho, senti a necessidade de
construir as quatro tarefas que se encontram em anexo. O seu objectivo essencial era
proporcionar aos alunos experiências de aprendizagem que incluíssem o uso do
computador e de materiais manipuláveis, na exploração de problemas não rotineiros,
que constituíssem desafios para os alunos e em que pudessem surgir estratégias de
resolução diferentes.
Nas várias tarefas que desenvolvi em pequenos grupos, seguidas de discussão na
turma, foram colocadas algumas situações abertas aos alunos, de forma a que
formulassem e testassem conjecturas, argumentando e comunicando oralmente com os
seus colegas e comigo e apresentando por escrito as suas conclusões no final de cada
tarefa. Cada grupo de três elementos escolheu um secretário que teve como atribuição
fundamental o registo escrito das resoluções dos problemas propostos que entregou no
final de cada aula. Decidi este número de elementos do grupo tendo em atenção o
trabalho desenvolvido no computador, uma vez que grupos com mais do que três alunos
tornariam impossível o bom andamento dos trabalhos.
Os relatórios escritos foram corrigidos por mim e entregues aos alunos, tendo
esclarecido oralmente alguns aspectos que achei mais relevantes e que podiam ajudá-los
na elaboração dos relatórios seguintes. Estes trabalhos foram mais um dos elementos a
ter em conta na sua avaliação final, completando toda a informação já recolhida através
de testes, outros trabalhos já realizados e a participação nas aulas. Estas actividades
possibilitaram-me, também, observar atitudes e capacidades que noutras aulas não são
tão fáceis de observar, como a autonomia, a persistência, a comunicação oral e escrita
dos alunos e a capacidade de trabalhar em grupo.
Mais concretamente, nas tarefas 1 e 2 estavam em causa o conceito de semelhança
de figuras, bem como a relação entre as áreas de figuras semelhantes. Foram trabalhadas
com recurso ao programa de geometria dinâmica Cabri-Géomètre. Na tarefa 3,
pretendia explorar as relações entre as áreas de polígonos semelhantes e as relações
entre volumes de poliedros semelhantes. Recorri ao uso de materiais manipuláveis
nomeadamente triângulos de esponja e cubos de madeira. Com a tarefa 4, que considero
ser a situação mais aberta e em que se pretendia uma ligação ao quotidiano, coloquei um
problema aos alunos, que me pareceu possibilitar o desenvolvimento de actividades
exploratórias e talvez um pouco de natureza investigativa. Foram usados
retroprojectores, réguas e fitas métricas. Antes da realização das tarefas 1 e 2, abordei
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com os alunos o conceito de semelhança de figuras ainda que de uma forma pouco
aprofundada e à custa de poucos exemplos. Depois das tarefas 1 e 2, trabalhei propostas
do manual, previamente seleccionadas, que incluíam exercícios e problemas mais
fechados, entre os quais introduzi a realização da tarefa 3. Por fim, propus a tarefa 4
como conclusão da unidade.
As aulas
Tarefa 1
Estava um bocadinho ansioso antes desta aula. Talvez devido à minha experiência
anterior, sabia que as aulas com computadores em que um professor está sozinho com
uma turma são sempre difíceis. No entanto, tinha algumas coisas a meu favor: os alunos
eram bastante bons informaticamente, já conheciam o Cabri-Géomètre do ano anterior e
na última aula tinha-lhes mostrado os comandos essenciais do programa que iriam ser
utilizados, com um computador portátil e um projector de vídeo. A tarefa parecia-me
motivadora, mas nunca temos a certeza, pois, por vezes, a mesma tarefa é interessante
para umas turmas e outras não lhe acham “graça” nenhuma.
Os alunos entraram na sala muito agitados, o que é habitual nesta turma, pois são
muito “novitos”. Estavam muito contentes por terem saído da sua sala e terem vindo
para a sala dos computadores que eles adoram. Tive que assumir a condução da aula
com alguma firmeza, de modo a conseguir que se sentassem todos nos seus lugares,
lessem a tarefa e começassem a trabalhar.
Quanto a instruções, referi que se sentavam três alunos à frente de cada
computador, devendo um deles ficar um pouco mais recuado a fazer os registos
relativos à resolução da tarefa, incluindo os vários caminhos e dificuldades que
sentiram, para depois me entregarem no final. Relativamente à tarefa, não expliquei
mais nada. Não me pareceu que fosse necessário.
Já tínhamos constituído os grupos e combinado esta forma de trabalho na aula
anterior. Associaram-se de acordo com as suas preferências, tendo eu colocado
unicamente uma condição: não há grupos só de rapazes, nem só de raparigas. Tenho
tido experiências negativas com grupos assim constituídos, especialmente no 3º ciclo.
As condições da sala de informática são razoáveis, os alunos é que eram muitos.
Se houvesse mais intervalo entre os computadores e se estivessem em mesas separadas
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e um bocadinho maiores para que os alunos pudessem teclar e escrever ao mesmo
tempo, seria bastante melhor. Mas não nos podemos queixar. Os computadores são de
modelos recentes e todos tinham o Cabri instalado, conforme eu tinha verificado na
véspera. Estava um computador ligado a um projector que eu tinha requisitado, para o
caso de ser necessário dar alguma instrução a toda a turma, o que não foi necessário.
A primeira questão foi resolvida com muita desenvoltura por quase todos os
grupos. Alguns já não se lembravam como é que se via que dois triângulos eram
semelhantes apesar de já termos falado desse assunto na semana anterior. Como alguns
ainda se recordavam, essa informação passou rapidamente entre todos. Alguns grupos
estavam muito dependentes de mim. Não faziam nada sem me mostrar e não passavam
para a pergunta seguinte sem terem a minha opinião sobre o que tinham feito.
Aquando da planificação, eu levantei a possibilidade de conseguir acabar a tarefa
1 na primeira aula (de 90 minutos) e ainda começar a tarefa 2, mas isso não se revelou
possível. Com a pergunta 2 da tarefa 1, em que se pedia para construírem dois
quadriláteros semelhantes, que à partida parecia muito acessível, os alunos tiveram
imensas dificuldades.
Quase todos os grupos começaram a trabalhar da mesma maneira. Construíram
um quadrilátero e mediram os seus lados e os seus ângulos. Construíram um segundo
quadrilátero e fizeram o mesmo. Arrastaram um vértice do segundo quadrilátero até
conseguirem que os ângulos fossem iguais aos do primeiro e os lados proporcionais.
Depois de algum tempo, perceberam que era uma tarefa dificílima. Então o que fazer?
Houve grandes discussões nos grupos, mas sem grandes soluções. Fui sugerindo: “já
experimentaram fazer o segundo quadrilátero com os lados paralelos ao primeiro? Se
funcionou com os triângulos, pode ser que também funcione com os quadriláteros.”
Claro que não funcionava como nos triângulos. Mas era uma ajuda, pois pelo
menos os ângulos dos dois quadriláteros eram iguais, só era preciso arrastar um vértice
de modo aos lados correspondentes ficarem proporcionais. Uns com mais dificuldades
que outros lá foram construindo os quadriláteros semelhantes. Uma questão que parecia
tão simples, acabou por gerar imensas discussões e grandes dificuldades aos grupos até
conseguirem o pretendido.
Há que referir que um grupo, talvez pela sua constituição, apresentou muitas
dificuldades na resolução desta tarefa, bem como em todas as outras. Era constituído
por duas raparigas que na aula de Matemática fazem somente o que é mais rotineiro,
apresentando algumas dificuldades na resolução de problemas mais complexos. O
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terceiro elemento é um rapaz com grandes dificuldades em todas as actividades
escolares, já tendo ido algumas vezes conversar com a psicóloga da escola para se tentar
perceber o porquê das suas dificuldades de aprendizagem. Quando este grupo foi
constituído podia-se prever que não iria funcionar lá muito bem do ponto de vista da
resolução das tarefas, mas como tinha decidido não interferir na constituição dos
grupos, pouco havia a fazer a não ser estar mais atento ao modo como iriam desenvolver
os trabalhos.
Houve dois grupos que ainda começaram a resolver a tarefa 2, enquanto os
restantes acabavam a tarefa 1, fazendo os registos no relatório que tinham que me
entregar.
Cheguei ao fim da aula exausto, mas contente. Tinha tido grandes dificuldades em
dar apoio aos 8 grupos, pois as solicitações foram muitas, e eu não tive mãos a medir
pois os alunos, como já foi referido, revelaram pouca autonomia durante esta aula.
Contente, pois senti que com esta primeira tarefa os alunos desenvolveram actividades
diferentes do usual, exactamente como eu pretendia quando a criei, explorando a
situação que lhes tinha sido colocada, fazendo tentativas, discutindo Matemática,
errando e corrigindo até chegar a uma solução satisfatória.
Quanto aos relatórios, ficaram muito pobres. Já tinha sido identificado no
conselho de turma aquando da construção do plano curricular da turma que a principal
dificuldade destes alunos era a escrita. Os alunos não gostam de o fazer e apresentam
muitas dificuldades. Escrever Matemática, devido ao seu vocabulário próprio, ainda
complica mais esta actividade. Nas suas notas de observação da aula, Ana escreveu:
“Quando é necessário registar o que foram descobrindo, os alunos desanimam e
começam a brincar”. Um aluno escreveu no seu questionário: “O que menos gostei foi
quando tínhamos que fazer as conclusões para entregar ao professor”. No questionário,
mais de 40% responderam não ter gostado de escrever as conclusões.
Nos relatórios escritos que entregaram houve alguns grupos que explicaram bem
os seus procedimentos, mas de uma forma muito sintética, enquanto outros tiveram um
discurso quase imperceptível, como neste exemplo:
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Na reflexão 1, relativamente a esta aula, um primeiro aspecto que sobressai é a
própria natureza das propostas de trabalho. “Achei as tarefas engraçadas. Não são assim
tão simples como parecem à primeira vista” (Ana, reflexão 1). Ficou claro que elas
proporcionaram situações muito interessantes aos alunos. Para resolver os vários
problemas com que se deparavam, os alunos tiveram que se esforçar para descobrir o
melhor caminho, encontrando processos muito diferentes entre os vários grupos, com
uma atitude muito mais activa da que teriam se fosse uma aula centrada na exposição do
professor:
“Porque não fazes com paralelas? Paralelas como?” Houve processos diferentes, o que é engraçado, até na própria construção do triângulo semelhante o que permitiu obter construções diferentes, por tentativas. (...) Há imensas coisas que os miúdos tentam e que descobrem que não dá. Este não é o processo melhor e seguem outro, mas o professor não se apercebe de nada. (...) É muito diferente duma aula no quadro. Eles testam e seguem os seus próprios caminhos e não o do professor e são obrigados a pensar. Cada grupo seguiu o seu caminho e se fosse no quadro eles tinham que acompanhar só o que o professor estava a decidir (Ivo, reflexão 1)
O papel do computador no decorrer da aula foi outro dos assuntos debatidos,
percebendo-se que nesta aula foi um auxiliar importante e facilitador do trabalho que os
alunos tinham entre mãos. “O computador ali não foi um empecilho, não me pareceu
nada, naqueles grupos que eu observei. O computador, ali, era de facto uma ferramenta
de trabalho” (Ana, reflexão 1).
Ainda no decorrer da primeira reflexão conjunta discutimos aspectos relativos ao
professor. Um primeiro aspecto abordado teve a ver com as ajudas que fui
disponibilizando aos alunos e do tempo que lhes dei para me explicarem as suas
resoluções. No final da aula, explicava desta maneira o que tinha acontecido:
Eu sinto que a aula toda estou pressionado. Porque tenho 8 grupos para tomar conta. Quero que toda a gente, mais ou menos, chegue ao essencial e não lhes dou tempo para eles me explicaram coisas, nem para me
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responderem. (...) Se calhar devia tê-los deixado um bocadinho mais soltos. Dar tempo. Eles estragarem mais e demorarem mais. Estás a perceber? Mas pronto, eu estou com aquela ideia do tempo, do tempo, do tempo (Eu, reflexão 1).
Para terminar, concluímos que a principal dificuldade do professor era, realmente,
o apoio efectivo aos grupos de alunos, tarefa reconhecidamente difícil e complicada,
tendo ficado no ar a ideia que estas aulas deveriam ser leccionadas por dois professores
ou então só com metade da turma:
O professor tem imensas dificuldades em dar apoio eficaz e oportuno a toda a turma numa situação destas. 8 grupos é muito grupo. Apesar que 3 elementos, a trabalhar com o computador, 3, 2 é o ideal. Mas é muito complicado para o professor (Ana, reflexão 1)
Tarefa 2
Antes desta tarefa estava mais descontraído do que na anterior. A primeira aula
tinha corrido bem, pois os alunos tinham agarrado os desafios e não se tinham portado
mal. Nesta turma, por vezes, há muito barulho, havendo necessidade de chamar a
atenção de alguns alunos, especialmente os rapazes, para restabelecer o ambiente de
trabalho. Mas isso não foi necessário nem na primeira aula, nem nesta. Eles estavam
entusiasmados com os desafios, ainda que às vezes não reagindo muito bem às
dificuldades, chamando primeiro o professor, mesmo antes de terem pensado com
calma ou trocado impressões com os colegas do grupo. No questionário que lhes passei
no final, só quatro alunos responderam que não tinham gostado destas aulas com o
Cabri e só três afirmaram terem tido muitas dificuldades.
Relativamente à resolução desta tarefa, correu tudo muito bem nas três primeiras
alíneas. O pior foi estabelecer as relações entre os perímetros e entre as áreas dos vários
triângulos semelhantes e relacioná-los com as razões de semelhança. Como se pode
reparar, a proposta de trabalho tem poucas ajudas, com todos os riscos que daí podem
surgir e os alunos tiveram muitas dificuldades em organizar os dados de modo a tirarem
conclusões. Aqui tive um papel importante ao sugerir que organizassem uma espécie de
uma tabela em que colocassem os quocientes entre os vários perímetros e entre as várias
áreas dos triângulos construídos. Depois desta sugestão, logo alguns alunos começaram
a ver as regularidades numéricas e a estabelecer as relações. Daqui ao que se pretendia
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foi um passo que os mais perspicazes deram rapidamente, argumentando muito bem e
por vezes com muita destreza tanto para os colegas como para mim. Foi um momento
gratificante.
As grandes dúvidas com que fica o professor têm a ver com a ajuda dada aos
alunos: “Será que ajudei de mais? Será que devia ter ajudado menos? Será que deixei
para os alunos as contas e quem resolveu o problema fui eu? E se tivesse ajudado menos
o que é que aconteceria? Já tantos alunos estavam desanimados por não conseguirem
fazer nada!...”. Encontrar o ponto de equilíbrio é sem dúvida o mais difícil e nunca
saberemos se ajudámos de mais se de menos. Vamos ter que viver com esta dúvida.
Parecia que o pior estava ultrapassado e que o resto da tarefa seria simples.
Enganei-me. As alíneas g) e h) ainda dariam muito que falar. É curioso que isto tenha
acontecido pois se tinham chegado tão bem à relação entre os perímetros e as áreas de
triângulos semelhantes, relacionando-os com as razões de semelhança, pareceria fácil
esta aplicação. Mas não foi.
Os grandes problemas tinham a ver com o domínio das operações e com a
distinção entre a raiz quadrada e a metade e entre o dobro e o quadrado. Repare-se que
era dada a relação entre as áreas e pretendia-se a relação entre os lados. Os alunos
teriam que perceber que os lados do triângulo teriam que ser 3 vezes maiores, para a
área ser 9 vezes maior e que portanto teriam que fazer a raiz quadrada de 9 para
encontrarem a resposta pretendida. Muitos grupos achavam que tinham que dividir 9
por 2 para encontrarem a relação entre os lados, como se a divisão fosse a operação
inversa da potenciação.
Houve dois grupos que revelaram imensas dificuldades e por mais que eu ajudasse
eles não conseguiam desenvencilhar-se e estavam a ficar muito desanimados. Um dos
alunos chamou-me e disse-me: “Oh professor, eu vou ser sincero. Nós não estamos a
perceber nada disto”. Fiquei um bocado sem saber o que fazer, pois constatei que eles já
tinham desistido. Sentei-me no meio deles, à frente do computador e lá fui construindo
as tabelas que tinha sugerido e fazendo muitas perguntas, para que em conjunto
chegássemos às relações tão desejadas. Apesar de todos, uns com mais ajuda do que
outros, terem relacionado as áreas de figuras semelhantes com a sua razão de
semelhança, esta relação estava muito longe de estar bem interiorizada, como eu vim a
descobrir nas aulas seguintes.
Quanto à última construção no Cabri prevista na pergunta h) “construir um
triângulo semelhante ao [A3 B3 C], com os lados 3 vezes maiores” e que me parecia tão
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fácil, ainda levantou problemas nalguns grupos. Se repararmos com um pouco mais de
cuidado, realmente não são indicados ou sugeridos caminhos e as soluções são várias.
Os alunos apresentam sempre dificuldades quando colocados diante de situações deste
tipo. No entanto, lá foram resolvendo o problema, por vezes com alguns empurrões que
fui dando, aqui e ali. Dez minutos antes de terminar a aula, já quase todos os grupos
tinham acabado e estavam a passar a limpo o relatório para me entregar.
Para acabar a aula, decidi falar com toda a turma e tentar trocar algumas
impressões sobre o que tínhamos estado a fazer. Foi uma decisão um bocadinho
arriscada, pois os alunos já estavam cansados e não estavam nada para me ouvir. Mas
quando damos estas aulas, parece-nos importante chamar a atenção do que realmente é
essencial, pois ficamos com a sensação que “fica muita coisa no ar” e com pouca
consistência.
Pedindo a colaboração dos alunos, fui perguntando a um grupo e a outro que
relações tinham encontrado entre os perímetros e entre as áreas dos triângulos
semelhantes, tendo as propriedades essenciais sido referidas sem grandes entusiasmos.
Fiquei um pouco mais contente, pois tinha-me parecido que alguns alunos com mais
dificuldades não se tinham apercebido do que estava realmente em causa. Percebi, no
entanto, pelas expressões de cansaço de alguns alunos que teria que voltar à discussão
destes assuntos na próxima aula, pois muitos deles já não estavam a ouvir nada.
Na reflexão 2 no final da aula salientou-se que os alunos estiveram muito
envolvidos nestas tarefas nos computadores:
Eu acho que a envolvência foi muito boa. Eles estiveram mesmo envolvidos. (...) Aquelas ali [referindo-se ao grupo fraquinho] não fizeram nada, mas não desistiram. Lentamente mediram e não sei quê, compuseram,... pararam, mas pelo menos estiveram envolvidas com o programa (Ivo, reflexão 2).
Mais uma vez se notou a importância que estas actividades poderão ter para as
aprendizagens dos alunos e do modo como fazem essas aprendizagens, experimentando,
errando e discutindo. Foi referido, também, que nestas tarefas de exploração foram
desenvolvidas actividades como: organizar os dados, ter persistência, fazer conjecturas e
prová-las, e que foram indispensáveis e essenciais para o prosseguimento dos trabalhos.
Outro dos aspectos abordados, teve a ver com a autonomia que os alunos
manifestaram. A dependência dos alunos em relação ao professor foi demais evidente,
não avançando sozinhos em imensas circunstâncias. O sim ou o não do professor parece
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ser essencial para prosseguirem os seus trabalhos, não valorizando por vezes as opiniões
dos colegas:
Eu acho que se nota aqui a dependência que eles têm relativamente ao professor. É que alguns têm uma dependência muito grande, talvez em função das dificuldades que eles têm. Tu dás uma dica, passados 5 minutos fechou. Porque há grupos que de facto têm essa dificuldade. Emperram com muito facilidade. E tu por muito que tu queiras dar uma volta a 8 grupos... É completamente impossível (Ivo, reflexão 2).
Curiosamente e apesar dessa grande dependência que os alunos revelam a
trabalhar em grupo, 80% respondem no questionário que gostam de trabalhar desta
forma e nas entrevistas esclarecem:
Foi mais fácil trabalhar em grupo, porque trocamos ideias. Quando estamos a trabalhar sozinhos é mesmo só connosco e se tivermos dúvidas ninguém nos ajuda. Aprendo muito mais com os colegas do que quando estou sozinho. (...) Se estivermos errados, os colegas podem-nos corrigir e explicar-nos melhor. Até é melhor, às tantas, do que o professor a explicar (alunos, entrevista).
Contrariamente a esta visão dos alunos do trabalho de grupo, há muitos
professores que continuam a não lhe reconhecer vantagens, apesar de todas as
recomendações no sentido de diversificarem as formas de trabalho com os alunos. Este
foi outro dos aspectos analisado na reflexão 2, tendo-se apontado alguns factores que
podem contribuir para que muitos professores fujam do trabalho de grupo,
nomeadamente a falta de autonomia dos alunos, também aqui verificada, e as grandes
dificuldades registadas na condução das aulas:
Claro que eles têm que se habituar a esperar e que o professor não é imenso e não tem não sei quantos braços, nem olhos e portanto tem que dar ajuda a todos. Muitas vezes as pessoas têm dificuldade em trabalhar em grupo, exactamente por isto, porque quando se está a trabalhar e a ajudar uns, os outros estão a precisar e aquilo é um “esterco danado”, muitas vezes. Essa é uma das dificuldades que existe e por isso é que muitas vezes se foge ao trabalho de grupo (Ana, reflexão 2).
Para terminar a reflexão conjunta no fim desta aula, foi dado muito relevo à
necessidade de uma discussão no final com os alunos, para destacar os aspectos mais
importantes dos problemas que se estiveram a resolver, possibilitando a troca de ideias e
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de processos diferentes, dando mais uma oportunidade aos alunos para comunicarem.
Esta comunicação para além de importantíssima para a sua aprendizagem, pode também
ser um indicador essencial para o professor compreender até que ponto é que os alunos
acompanharam os assuntos em estudo:
Um momento de reflexão final seria mais um momento para serem eles a explicar e a falarem sobre isto, em vez de seres tu. Porque até a forma como eles organizam a comunicação que vão fazendo, dá uma ideia ao professor se eles estão a organizar bem as ideias e a relacionar bem as coisas. Se os miúdos conseguem fazer isso bem é porque entenderam muito bem o assunto e têm as ideias sistematizadas e um encadeamento lógico. Se não perceberam então não sabem falar (Ana, reflexão 2).
Tarefa 3
Antes de ir para esta aula estava muito confiante. Por um lado, porque nesta
unidade didáctica já tínhamos resolvido bastantes exercícios e problemas e, por outro,
porque esta tarefa não trazia grandes novidades, a não ser a relação entre volumes de
poliedros semelhantes. O único elemento novo eram os materiais manipuláveis que eles
nunca tinham utilizado. Já estava avisado, por um colega da escola que já tinha levado
estes materiais para a aula quando propôs esta tarefa a outra turma do 8º ano, que os
alunos se tinham distraído imenso com os materiais, sempre na brincadeira, e que
tinham tido imensas dificuldades na resolução da tarefa.
No início da aula, não dei instrução nenhuma para a realização da tarefa, pedi
apenas a colaboração dos alunos na utilização dos materiais sem brincadeiras, tendo em
conta que eles serviriam para ajudar a resolver os problemas de Matemática que eu lhes
estava a propor. Os trabalhos iniciaram-se sem problemas, apesar de ter sido para mim
uma aula de grandes surpresas. A primeira apareceu na resolução da alínea b), uma
mera aplicação do teorema de Pitágoras. Este assunto tinha sido muito trabalhado no 1º
período, tendo sido do agrado da grande maioria dos alunos que revelaram óptimos
resultados nos vários momentos de avaliação efectuados. O desempenho dos alunos foi
uma desilusão. Aconteceu o inesperado: ninguém sabia como pegar no problema e
muitos deles já nem sabiam o próprio enunciado do teorema de Pitágoras. Realmente,
eu não estava a contar nada com isso. Tinha colocado esta pergunta com o objectivo de
voltarmos a um assunto já trabalhado, mas convencido que não iria levantar
dificuldades. Pelos vistos ainda bem que o fiz, pois muitos alunos recordaram este
23
resultado tão importante. Não sendo de forma nenhuma o objectivo central desta tarefa,
gastou-se cerca de 30 minutos com esta pergunta, tendo-se comprometido grandemente
o evoluir dos trabalhos que estariam previstos para terminar numa aula de 90 minutos.
A segunda surpresa surgiu na resolução da pergunta e). A relação pedida já tinha
sido trabalhada na tarefa 2, pelo que me parecia que a maior parte dos alunos chegaria
com facilidade ao seu enunciado. Não foi isso que se verificou. Houve bastantes
dificuldades na maioria dos grupos. Pensando melhor, a tarefa 2 já tinha sido
desenvolvida há cerca de um mês, por causa das férias da Páscoa, e este assunto ainda
não tinha sido abordado novamente. Por outro lado, já tinha verificado, noutros anos,
que os alunos apresentam, por vezes, grandes dificuldades na transposição das
propriedades descobertas num contexto para outro, nomeadamente quando elas são
descobertas primeiramente com a ajuda de programas de geometria dinâmica.
A pergunta 2 foi a mais difícil para os alunos. Aqui eu penso que os materiais
manipuláveis tiveram um papel essencial, pois sem eles teria sido impossível dar-lhe
resposta. Os alunos não estavam a conseguir pensar nos problemas que lhes estavam a
ser colocados e fizeram imensos losangos para conseguirem responder. Alguns até
tentaram fazer o losango de lado 10, não se apercebendo que o losango era
simplesmente a união de dois triângulos e que o trabalho com triângulos já tinha sido
feito na pergunta anterior. Só um grupo construiu uma tabela que mostra esta relação
entre os losangos e os triângulos construídos anteriormente, apresentando dificuldades
em explicar o resultado encontrado com a ajuda da tabela. Aliás, esta dificuldade de
escrita é uma constante em todos os relatórios.
A aula de 90 minutos estava a chegar ao fim e alguns grupos ainda não tinham
conseguido terminar satisfatoriamente a pergunta 2. Esta tarefa 3 tinha demorado muito
mais do que o previsto e teríamos que continuar na aula seguinte. Os alunos pediram
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para continuar o trabalho com os materiais, pois apesar de terem achado os problemas
difíceis, gostaram imenso do material, como aliás referiram no questionário e
reforçaram nas entrevistas, chegando a afirmar que é mais fácil trabalhar com as
esponjas e os cubos do que com os computadores:
Eu acho que é mais fácil, porque no computador só pode trabalhar um de cada vez e com as esponjas cada um pode tentar maneiras diferentes de conseguir e assim arranjamos mais do que uma solução e podemos discutir os problemas (aluno, entrevista).
No decorrer desta aula, alguns alunos, talvez um pouco menos interessados,
enquanto iam lançando um olho para os problemas iam brincando com os materiais
fazendo as suas figuras e construções sem darem muito nas vistas.
Na aula seguinte, a conclusão da tarefa foi relativamente rápida. Houve grupos
que terminaram a pergunta 2 e, contrariamente ao que eu esperava, fizeram todos a
pergunta 3, relativa aos volumes com muita desenvoltura. Eis um exemplo de uma
resolução:
Esta facilidade relativa talvez seja porque se tratava de uma situação semelhante à
pergunta 1 e também porque estavam a trabalhar com cubos, o que torna a visualização
relativamente fácil. Se tivesse escolhido quadrados em vez de triângulos, na primeira
parte da tarefa, seria com certeza bastante mais fácil a resolução de algumas das
questões, mas penso que não se ganharia mais por isso.
Fizemos depois, em conjunto, o ponto da situação das relações que se tinham
descoberto. Coloquei alguns exemplos no quadro para ajudar a discussão e perceber até
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que ponto é que os alunos tinham compreendido as propriedades. Para alguns não foi
assim tão fácil. Penso que esta conversa ajudou alguns alunos, em especial os que
tiveram mais dificuldades durante o desenvolvimento da tarefa. Os alunos
reconheceram (cerca de 50% nos questionários) que estes momentos são importantes
para perceberem melhor os assuntos. Todos terminaram e entregaram os seus relatórios,
tendo havido ainda tempo para corrigir algum material do manual que eu tinha marcado
para fazerem em casa.
Na reflexão 3 que fiz com o Ivo e a Ana no final desta tarefa houve ideias que
voltaram à discussão. Uma delas foi a autonomia que os alunos manifestaram, explicada
pelos professores, talvez pela falta de hábito que têm a desenvolver este tipo de
actividades:
Eles têm picos de grande envolvimento e de nenhum envolvimento. Eles dependem muito do teu “picanço”, da tua confirmação. Quando tu estás e confirmas, muito bem eles avançam. (...) É capaz de haver um bocado de falta de hábito deste tipo de trabalhos. Se eles, se calhar, se estivessem habituados sempre a fazer isto, talvez tivessem uma atitude diferente, mais autónoma (Ana, reflexão 3).
A este respeito e quando lhe foi perguntado se tinha sentido dificuldades durante
estas aulas, um aluno escreveu no questionário: “Sim, porque ao fazer o trabalho de
grupo o professor não ajuda muito (só dá dicas) e então custa mais fazer o trabalho,
tentando adivinhar”.
Outro aspecto também abordado na reflexão conjunta, foi a natureza da própria
tarefa. Todos ficaram admirados com as dificuldades apresentadas pelos alunos, na
resolução dos problemas, dificuldades estas que não eram nada previsíveis e que foram
explicadas, entre outros aspectos, por não relacionarem os assuntos com os que já
trabalharam anteriormente:
Aquela ficha tem imensos problemas para aqueles miúdos. Eu supunha que não tivesse tantos como de facto tem. Esta tarefa exige mais coisas do que por exemplo a do Cabri que eu vi, em termos de relacionar. Eles têm que organizar dados, pensar o que é importante fazer, procurar regularidades, generalizar. (...) Mostram também uma grande dificuldade em relacionar as investigações com outras já feitas anteriormente. Eles fizeram o preenchimento daquela tabela, daquilo tudo e não foram capazes de se lembrar: “eh pá, nós já fizemos isto, isto é o quadrado da razão” (Ana, reflexão 3).
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O papel dos materiais manipuláveis, foi também um aspecto debatido, realçando-
se que poder ser um factor de motivação e de interesse das actividades, mas também
pode ser um elemento perturbador, não sendo por si só uma chave milagrosa para
resolver todos os problemas da sala de aula:
O facto de os materiais poderem ser uma coisa sugestiva e que cative, se eles não conseguem avançar mesmo tendo os materiais à frente, não resolvem nada. (...) Até que ponto é que este tipo de materiais pode ser um motivo de distracção? Foi uma das coisas que eu notei em dois daqueles grupos. Era um motivo de brincadeira para eles. Às vezes brincavam quando estavam à tua espera (Ivo, reflexão 3).
Muito discutido, foi também o interesse da realização destas actividades, tendo-se
questionado até que ponto é que valia a pena investir nesta forma de trabalho, com estes
alunos, realçando-se os processos em que eles se envolveram no decorrer destas aulas:
Reparei na diversidade de estratégias na resolução de algumas questões. Aquele preenchimento da tabela teve uma cena giríssima, com dois grupos completamente diferentes. O Rui preencheu aquela tabela de uma maneira muito interessante. Em vez de preencher por linha, preencheu por coluna. E começou logo a aperceber-se da regularidade daquilo. Enquanto que os outros não estavam a olhar para o quadro todo, estavam a olhar só para a linha e era difícil tirar alguma conclusão. (...) Estes miúdos precisam de investir nisto, até para se organizaram. Aqui o que me parece importante neste caso não é o assunto que eles aprendem, mas sim os processos em que eles se envolvem e até que ponto é que aprendem a pegar nas coisas (Ivo, reflexão 3)
Constatou-se, também, que esta tarefa tinha um grande potencial, na medida em
que era susceptível de abordagens muito diferentes. Apesar de conter questões de
Geometria, levou a que muitos alunos pensassem sobretudo nas regularidades
numéricas, deixando para segundo plano o contexto geométrico dos problemas. Esta
tendência dos alunos para os números em detrimento da Geometria, que se verificou em
variadíssimas circunstâncias, parece ter a ver com todo o trabalho desenvolvido com
estes alunos nos anos de escolaridade anteriores:
Deixaram a geometria completamente e foram para as regularidades numéricas. Eles tentam sempre arredar a Geometria para o lado. Sempre para os números, é uma coisa incrível. Houve lá uma situação... Coisas daquelas que são evidentes. Aquela questão das áreas dos triângulos. Se tem 4 triângulos a área é 4 vezes a área do pequeno. Tu sabes como fez um
27
grupo? Calculou a altura pelo teorema de Pitágoras em todos os casos. Meteu 4 triângulos, a altura outra vez. Tudo algebricamente (Ivo, reflexão 3)
Por último, foram mais uma vez realçadas as dificuldades dos professores na
condução deste tipo de aulas, não se apercebendo de aspectos importantíssimos como o
apoio aos alunos com mais dificuldades:
São aulas muito complicadas em que o professor anda tão atarefado que não dá conta do que se está a passar, é impossível. Andas tão aflito que não te consegues aperceber que às vezes os que estão mais calados são os que não estão a fazer nada. E isso pode ser problemático. Havia grupos completamente atrasados e os outros muito mais avançados (Ivo, reflexão 3).
A este respeito, também no questionário, 5 alunos responderam que o professor
não os ajudou sempre que precisaram e nas entrevistas realçaram que nestas aulas o
professor demora mais tempo a dar apoio a todos os alunos:
Como era trabalho de grupo, o professor tinha que estar mais tempo em cada mesa e nós quando chamávamos o professor tínhamos que esperar sempre 2 ou 3 minutos para o professor vir, enquanto que nas outras aulas não, o professor vinha logo. Há um menor apoio, mas não tem havido problema (aluno, entrevista).
Tarefa 4
Estava numa grande expectativa em relação ao modo como os alunos iriam reagir
a esta tarefa. Tenho pouca experiência a desenvolver propostas tão abertas com os
alunos e eles não estão, também, habituados. Tinha prometido a mim mesmo que iria
ajudar o menos possível, pois queria perceber de que é que os alunos eram capazes, sem
o auxílio do professor. Será que conseguiam resolver sozinhos este problema prático?
Preparei a sala com quatro retroprojectores, um para cada dois grupos, e distribuí
uma fita métrica e uma régua para cada grupo. A sala era um bocadinho apertada para
os retroprojectores, se calhar deveria ter pedido uma sala maior para desenvolver esta
tarefa. Não dei instruções nenhumas, disse somente que tinha sido a professora de
Educação Visual que me tinha pedido para lhes colocar aquele problema. Claro que
muitos deles não acreditaram.
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As reacções dos grupos foram diversas. Alguns ficaram completamente perdidos
sem saber o que fazer, outros agarraram na tarefa e começaram a tentar encontrar
caminhos. No questionário um aluno referiu: “Senti algumas dificuldades com os
retroprojectores, pois no início não sabíamos por onde começar”. Quanto ao modo
como compreenderam esta tarefa, acabei por ficar contente, pois todos os grupos
perceberam que o rectângulo projectado teria que ter a largura e o comprimento 20
vezes maiores que o inicial, para que a área fosse 400 vezes maior. Não nos podemos
esquecer que esta tarefa só foi passada no fim do capítulo e que tínhamos resolvido
vários problemas de aplicação parecidos.
A grande dificuldade que os alunos tinham era perceber a que distância é que
deviam colocar o retroprojector da parede para que os comprimentos da figura
aumentassem 20 vezes. Quase todos os grupos recortaram um rectângulo com as
mesmas dimensões da aguarela de Escher que se encontrava na tarefa 4. Projectavam,
mediam o que encontravam e depois viam quantas vezes é que as dimensões
(comprimento e largura) tinham aumentado. Rapidamente se aperceberam que não
tinham espaço na sala para aumentar as dimensões 20 vezes, pelo que tinham que fazer
cálculos para perceber a que distância é que tinham que colocar o retroprojector da
parede.
Houve um grupo que foi espectacular. Percebeu que havia proporcionalidade
directa entre a distância do retroprojector à parede e o número de vezes que as
dimensões eram ampliadas, pelo que rapidamente resolveu o problema. Outros quatro
grupos, entreajudando-se muito, foram medindo e discutindo e quando um chegava a
uma conclusão trocava logo com os outros. Aos poucos e poucos foram avançando, por
vezes com conjecturas interessantes que os outros grupos refutavam e provavam que
não estavam certas. Mas seguindo os seus caminhos, foram chegando a soluções
aceitáveis. Infelizmente, os registos que depois entregaram nos relatórios não espelham
todo o trabalho que foi desenvolvido, apresentando resoluções pouco pormenorizadas e
com explicações insuficientes, apesar de todas as recomendações que foram sendo
dadas nos relatórios anteriores. Um dos grupos que melhor trabalhou no decorrer desta
aula entregou esta resolução:
29
Os outros três grupos não conseguiram avançar quase nada sozinhos. O grupo que
se tinha revelado fraquinho desde a primeira tarefa, continuou a apresentar imensas
dificuldades, não fazendo nada sem uma ajuda constante. Os outros dois grupos, foram
uma grande desilusão para mim. Brincaram muito e produziram pouco. Por várias vezes
durante a aula lhes chamei a atenção, mas nunca consegui grandes resultados. No final
da aula, fui junto deles tentar mostrar-lhes algumas soluções que os colegas dos outros
grupos tinham encontrado.
Houve alunos que não gostaram destas aulas, em média cerca de 20%. A este
respeito um aluno escreveu no questionário “Eu não gostei destas aulas, prefiro aulas
normais a fazer exercícios, acho que aprendo muito mais nas aulas a fazer exercícios e a
tirar dúvidas”. Há uma crença forte por parte dos alunos de que se percebe melhor os
assuntos a resolver os exercícios do manual, cerca de 70% responderam no questionário
concordo totalmente. No entanto, muitos alunos (em média 50%) responderam que
gostaram destas aulas, tendo um escrito o seguinte:
Eu gostei destas aulas porque foram aulas extremamente dinâmicas e divertidas. Acho que se pode aplicar o provérbio: “A brincar também se aprende”. Adorei estas aulas (aluno, questionário).
30
O primeiro aspecto realçado na reflexão que fizemos no final da tarefa 4, teve a
ver com a falta de persistência que muitos alunos manifestaram no decorrer dos
trabalhos:
Isto eu já verifiquei nas aulas anteriores, que é: quando eles percebem, ou vêem alguma luz no fundo do túnel de como é que se faz eles envolvem-se e fazem. Quando estão completamente perdidos, imediatamente desligam. A importância do teu picar e de dares uma dica é essencial para despoletar o interesse e o envolvimento deles (Ana, reflexão 4)
Também discutimos os relatórios dos alunos, constatando que eles não conseguem
registar os caminhos errados, bem como os raciocínios que os fizeram desistir de uma
determinada conjectura:
O registo que fazem é sempre do que lhes parece que está correcto. Nunca registam as tentativas frustadas e porque é que mudaram. Só o que lhes parece que está bem é que vai valer. Nunca referem... Está mal não está, então é para apagar. E às vezes essas coisas eram importantes. Explicarem que tentei por aqui e não consegui (Ivo, reflexão 4).
Discutimos também que para resolver actividades mais abertas que o usual, os
alunos tinham que ter um bom método de trabalho e que este só se conseguia se todos
os professores trabalhassem nesse sentido, mesmo os de outras disciplinas e que não era
em algumas aulas de Matemática, num ano lectivo, que se ia resolver este problema.
Ana reforçou que esta dificuldade tinha muito a ver com a falta de maturidade dos
alunos:
Eles não aprendem método de trabalho sozinhos, de maneira nenhuma. Nem aprendem a fazer uma investigação sozinhos. Não basta fazer... Os miúdos têm, de facto, que ir trabalhando, ver como é que o professor pensa. Ir fazendo, para ir ganhando ou apercebendo-se de certas coisas que nem sequer lhes passa pela cabeça. Porque não têm maturidade para isso. Porque eles têm que prever e têm que ter calma e frieza, mas se não dá isto o que é que eu posso fazer. Isto é um pensamento adulto. Eles não têm idade mental, ainda, para que nós possamos esperar que eles façam isto assim (Ana, reflexão 4)
Na reflexão 4, mais uma vez se realçou o que de bom se consegue ver no trabalho
que os alunos desenvolvem com estas actividades e que é completamente diferente das
aulas tradicionais. A este respeito um aluno afirmou na entrevista:
31
Os problemas são um bocadinho mais complicados do que os das outras aulas, pelo menos o do retroprojector, em que tínhamos que pensar um bocado, desenvolver, tínhamos que pensar métodos diferentes, para conseguir o método ideal para ter o resultado certo. Tínhamos que descobrir o que era para fazer primeiro. Nos manuais, as perguntas estão directas, dizem logo o que temos que fazer (aluno, entrevista).
Ficou claro, para os professores que acompanharam estas actividades, que a
Matemática envolvida foi muito mais rica, do que em aulas em que os alunos resolvem
somente exercícios repetitivos:
Há momentos espectaculares, que numa aula mais tradicional tu não tens, não vês. Nós a vê-los a construírem e a juntarem as peças do puzzle., não é. Conseguirem dar o salto a pensarem sozinhos. Faz-se o clic., de vez em quando, isso nota-se. (...) Eu acho que a Matemática envolvida é um bocado diferente de estarem a fazer exercícios repetitivos, isso não tenho dúvida nenhuma. Eles têm que relacionar, têm que conjecturar, têm que provar, têm que fazer montes de coisas que não fazem de outra maneira. Isso eu acho. O procurar regularidades, experimentar coisas, testar, “parece que é isto...” e vão ver (Ivo, reflexão 4).
Na reflexão 4 discutimos também outros aspectos que tinham mais a ver com a
condução e as decisões do professor em aulas deste tipo. Um dos assuntos abordados foi
a constituição dos grupos e o modo de a operacionalizar, não se tendo encontrado
grandes soluções: “Como é que se organizam os grupos para eles funcionarem da
melhor maneira? Juntar bons com maus, juntar maus com maus. Há sempre o reverso da
medalha. Nunca sei como constituir os grupos” (Ivo, reflexão 4).
Como o ambiente desta aula foi um bocadinho diferente, visto que os alunos
andaram todos levantados a fazer as suas medidas, arrastando os retroprojectores de um
lado para o outro, também foi abordado o barulho e alguma desordem que se verificou
na aula:
Esta questão do barulho, eu acho que é um trauma dos professores. Quando vamos para a biblioteca usar os computadores, se há um burburinho maior, é visto com maus olhos, pelos colegas, pelos funcionários - não tem controlo na turma. Há este trauma. Eu estou a dizer isto, porque eu acho que uma pessoa nem sempre sabe lidar bem ou reage bem também ao barulho dos miúdos. Neste tipo de aulas o ambiente é diferente, é mais barulhento, é mais anárquico (Ana, reflexão 4).
32
Por último, também se reflectiu sobre a insegurança sentida por um professor na
condução de aulas deste tipo, o que foi indicado como uma possível explicação do
reduzido número de professores que utiliza tecnologia e materiais manipuláveis nas suas
aulas:
Eu acho que uma pessoa tem que acreditar muito nisto que está a fazer. Pois estas aulas dão muito maior insegurança quer aos alunos, quer ao professor. Enquanto o professor os vê sentadinhos, sossegadinhos e caladinhos até fica com a ideia de que eles estão a ouvir e que até estão a fazer. Tem uma noção errada de que está a controlar a aula. Neste tipo de aulas, tu ficas com a noção nítida de que não controlas rigorosamente nada. E por isso é que há menos gente a experimentar coisas destas, como é evidente (Ana, reflexão 4).
Conclusão
A partir do estudo realizado, podemos afirmar que as tarefas construídas
colocaram os alunos perante situações desafiadoras, possibilitando-lhes actividades de
organização de dados, procura de regularidades, necessidade de estabelecer relações e
encontrar generalizações. Estas tarefas proporcionam-lhes um ambiente de experiência
Matemática, em que puderam testar e provar as suas conjecturas, bem como comunicar
as suas ideias.
Os recursos utilizados parecem ter constituído um contexto motivador para os
alunos e ter contribuído positivamente para o modo como se envolveram nestas
actividades: i) o computador como ferramenta de trabalho reconhecidamente muito
potente, em especial com programas de Geometria Dinâmica; ii) os materiais
manipuláveis como auxiliar do pensamento matemático dos alunos. Ao possibilitarem
concretizações, foram auxiliares indispensáveis, não sendo, apesar de tudo, uma chave
milagrosa para todas as dificuldades encontradas no decorrer destas aulas. Estes
recursos parecem ter contribuído para um grande envolvimento dos alunos nestas aulas,
os quais manifestaram o seu gosto por estas actividades e que foi evidenciado pela sua
atitude activa e empenhada, trocando ideias com os seus colegas e com o professor,
ainda que se deparassem, por vezes, com grandes dificuldades na resolução dos
problemas.
Com os mesmos recursos podem-se desenvolver actividades muito diferentes,
pelo que podendo parecer um pormenor de pouca importância, a escolha adequada tanto
dos recursos como das tarefas a realiazar pode ser um factor importante para fomentar
33
nos alunos o gosto pela Matemática. Gostar do que se faz é por vezes a chave da
resolução de muitos problemas e poderá também ser um contributo para ajudar os
alunos a encararem a nossa disciplina de outra maneira. Considero que a realização de
actividades deste tipo proporciona uma maior aproximação dos alunos à Matemática,
com consequências sobre o modo como vêem a disciplina. Foi curioso e agradável
verificar que no início do ano lectivo seguinte ao que decorreu este estudo, na ficha de
caracterização da turma, cerca de 50% dos alunos afirmaram que a Matemática era a sua
disciplina preferida.
A forma como organizei os alunos, em pequenos grupos, pode também ter sido
um factor essencial para o modo como decorreram estes trabalhos. Com esta
organização, fica claro que se espera deles uma atitude mais interveniente e responsável,
contrariamente a uma certa passividade que pode ocorrer em aulas em que o professor
conduz as actividades. Espera-se que assumam o protagonismo na resolução das tarefas,
o que pode levar a um grande empenho e entrega, comportamentos que se verificaram
muitas vezes no desenvolvimento destas aulas.
Relativamente ao desempenho dos alunos, pode afirmar-se que se envolveram
numa Matemática muito rica, explorando situações, errando e corrigindo, fazendo
tentativas e testando hipóteses, descobrindo o melhor caminho, encontrando processos
diferentes dos seus colegas, procurando regularidades numéricas e estabelecendo
relações, registando-se momentos de grande criatividade e imaginação patentes
nalgumas resoluções das tarefas que foram fazendo.
Pode afirmar-se, também, que assistimos a uma comunicação multifacetada e
muito produtiva. Os alunos discutiram com os seus colegas e comigo as suas resoluções,
tendo que argumentar oralmente e por escrito para validar as suas ideias matemáticas.
Valorizar as opiniões dos colegas e não somente a do professor é um aspecto da
comunicação que foi tentado no decorrer destas aulas e que tem de continuar a ser
trabalhado, não sendo fácil de desenvolver devido às crenças dos alunos relativamente
ao que consideram ser a Matemática válida, ou seja, a do professor e a dos manuais.
Como dificuldades dos alunos há a referir, em primeiro lugar, a sua falta de
autonomia evidenciada pela dependência da confirmação do professor para progredirem
nos trabalhos, o que se verificou em variadas situações. Podemos referir, também,
alguma falta de persistência que demonstraram ao encontrar alguns obstáculos, tendo
recorrido por vezes ao professor em primeiro lugar em vez de a si próprios e aos colegas
de grupo. Como explicação para esta falta de autonomia e persistência, parece ser
34
decisiva a pouca frequência com que estes alunos desenvolvem actividades deste tipo,
não só na disciplina de Matemática, mas também nas outras disciplinas, no decorrer de
todo o seu percurso escolar. A escassa realização de actividades deste tipo nas diferentes
disciplinas, e que tem sido nitidamente insuficiente, parece também explicar a falta de
métodos de trabalho que alguns destes alunos evidenciam, no que se refere à
organização dos dados, na forma como “atacam” os problemas, no modo como reagem
aos obstáculos com que se vão deparando, sempre que são confrontados com tarefas
abertas.
Outra dificuldade, também patente no decorrer destas aulas, tem a ver com os
registos escritos produzidos pelos alunos. Os relatórios que entregaram foram, quase na
sua totalidade, muito superficiais, descrevendo de uma forma incompleta as suas
resoluções, não referindo, nem ilustrando os caminhos errados que seguiram, nem
explicando o que os levou a desistir deles, aspectos que poderiam enriquecer muito
estes registos. É uma pena que variadíssimas resoluções extremamente criativas da parte
dos alunos não tivessem sido mencionadas e descritas nos registos que foram
entregando no decorrer destas aulas.
Há também a constatar que os alunos demonstraram, por vezes, dificuldades em
relacionar os assuntos já trabalhados anteriormente com os problemas que tinham para
resolver. Os alunos evidenciaram, também, que não era um processo simples a
transposição de propriedades de um contexto para outro, nomeadamente, as
propriedades que foram descobrindo com o auxílio do Cabri-Géomètre e que, com
dificuldade, foram chamadas para a resolução das tarefas seguintes com materiais
manipuláveis. O pouco domínio de alguns conceitos já trabalhados anteriormente, em
especial no que se refere a conceitos de Geometria, contribuiu também para tornar mais
difícil a descoberta destas novas relações.
No que respeita ao professor, identificaram-se como principais dificuldades as que
se prendem com a condução destas aulas. Não é fácil orientar os alunos quando estão
organizados em pequenos grupos, deparando-se o professor com problemas muito
diferentes e variados como por exemplo: 1) prestar um apoio eficaz e oportuno a todos
os grupos; 2) escolher as melhores ajudas a prestar aos alunos; 3) dar atenção aos alunos
mais calados que por vezes são os que têm necessidade de maior apoio. Para resolver
estes problemas em nada contribui o elevado número de alunos de cada turma, que
tornam o trabalho do professor ainda mais complicado. Das discussões que tivemos no
final das aulas surgiu a sugestão destas actividades serem acompanhadas por dois
35
professores, em vez de um, ou então só como metade dos alunos, com o sistema de
desdobramentos como tem funcionado até ao momento no ensino secundário. Se esta
necessidade foi reconhecida no ensino secundário ainda mais sentido teria com alunos
mais novos e por isso menos autónomos.
Gerir o tempo necessário para a resolução das tarefas, é ainda outro aspecto a ter
em conta pelo professor, na medida em que tem de atender aos vários ritmos de
aprendizagem e proporcionar aos alunos o tempo indispensável para pensarem quando
seguem os seus próprios caminhos. Não é fácil prever o tempo que uma tarefa demora a
ser realizada, nem decidir quando é que se deve parar e mudar de assunto ou de
actividade, devido aos tempos muito diferentes no desenvolvimento dos trabalhos dos
vários grupos. Aqui parece-me que a experiência tem uma palavra importante a dizer,
pois só experimentando muitas vezes é que se consegue sentir o pulso de uma turma e
decidir, naquele momento, qual a melhor solução.
O barulho que os alunos fazem quando estão a trabalhar em grupo é também um
aspecto que assusta muitos professores. Por vezes, este barulho é considerado pela
comunidade escolar (colegas, funcionários e alunos) como indicativo que o professor
não consegue controlar os alunos. Por outro lado quando desenvolvemos aulas deste
tipo há a sensação que não estamos a controlar os trabalhos e que é pouco previsível o
que irá acontecer a seguir, sensação muito diferente da que se tem quando se é o centro
da aula. Estes dois aspectos, o barulho e a falta de controlo, trazem por vezes alguma
insegurança aos professores, o que me parece ser a explicação para muitos “fugirem” às
aulas de trabalho de grupo, forma de organização privilegiada para o desenvolvimento
destas actividades.
Relativamente à planificação destas aulas, a maior dificuldade é realmente
perceber se as tarefas estão adaptadas aos nossos alunos, ou seja, se são fáceis ou
difíceis, e se eles serão cativados pelos desafios que lhes colocamos. Dúvida essa que só
se desvanece na hora, na aula, havendo por vezes tarefas que nós achamos óptimas e
que algumas turmas não consideram bons desafios e outras que até nos parecem
vulgares e que provocam um grande entusiasmo nos alunos.
A constituição dos grupos é outro problema complicado e com uma infinidade de
soluções. Nestas aulas decidi que os alunos se associassem conforme o seu gosto e tive
um grupo que trabalhou muito mal. Será que se fosse eu a decidir a constituição dos
grupos os resultados seriam mais positivos? A constituição dos grupos, não é um
36
assunto fácil e exige o bom senso do professor, o conhecimento prévio dos alunos e um
grande poder de negociação com eles.
Quanto a sucessos, penso que não há nada mais gratificante do que ver os alunos
satisfeitos e muito envolvidos na resolução das tarefas, conseguindo, por vezes, fazer
aqueles “clics” no avanço dos problemas e que nos deixam entusiasmados e a pensar
que vale a pena o investimento neste tipo de actividades. Considero que os resultados
que apresento evidenciam ter havido da parte dos alunos momentos em que exploraram
uma grande diversidade de ideias matemáticas, em que experimentaram e exploraram
situações, tornando-os mais aptos a pensar matematicamente, para o que contribuíram
os recursos utilizados – o computador e os materiais manipuláveis.
De acordo com os aspectos que queria desenvolver com os meus alunos nestas
aulas, realço, também, a comunicação matemática envolvida, em que os alunos foram
capazes de conjecturar e construir argumentos para defender as suas ideias perante o
professor e os colegas, ganhando cada vez mais confiança na resolução dos problemas
que foram surgindo. Quanto ao material escrito que apresentaram, como já foi referido
anteriormente, considero que há um longo caminho a percorrer, tendo ficado
evidenciada a necessidade de criar muitas outras oportunidades para que estes alunos
expliquem por escrito as suas resoluções.
Outro aspecto, também conseguido, teve a ver com as relações que estas tarefas
permitiram estabelecer e que foram muito além daquilo que eu tinha previsto. Foi com
muita satisfação que me deparei com abordagens dos problemas realizadas pelos alunos
completamente diferentes daquelas que eu esperava, tendo resolvido problemas de
Geometria, pesquisando regularidades numéricas nas tabelas de dados que tinham
recolhido e organizado.
Considero fundamental, em termos da gestão curricular, proporcionar aos alunos
variadas oportunidades de trabalho de grupo que lhes fomentem a autonomia e a
persistência no ultrapassar dos obstáculos com que se deparam nas situações
problemáticas que têm que resolver. Aspectos estes que passam essencialmente pela
escolha das tarefas que selecciono, havendo a necessidade de propor, em cada unidade
didáctica, um número maior de tarefas não rotineiras do que aquelas que proponho
actualmente.
Não quero terminar este artigo, sem uma palavra de grande apreço pelo trabalho
que desenvolvi com os meus alunos e os meus colegas que considero ter sido muito rico
do ponto de vista do meu crescimento como professor. Infelizmente, não é todos os dias
37
na nossa profissão que temos uma oportunidade, como esta, de trabalharmos em
colaboração com outros professores e de reflectirmos de uma forma tão profícua sobre
as nossas práticas lectivas.
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40
Anexos
Inquérito aos alunos Tarefa 1 Tarefa 2 Tarefa 3 Tarefa 4
41
Escola Secundária com 3ºCiclo do Ensino Básico de Tondela
Ano Lectivo 2003/2004
Semelhança de Triângulos 8º Ano
Questionário
Durante o capítulo das semelhanças realizaste várias tarefas que não se encontravam no teu manual, nomeadamente com o Cabri-Géomètre (tarefas 1 e 2), com esponjas e cubos de madeira (tarefa 3) e com o retroprojector e fitas métricas (tarefa 4) Com este questionário pretendo conhecer a tua opinião sobre o modo como decorreram essas aulas. Responde às seguintes questões assinalando com uma circunferência o número (de 1 a 5) que melhor corresponde à tua opinião.
Aulas com Cabri-Géomètre
1. Gostei 1 2 3 4 5
2. Percebi tudo 1 2 3 4 5
3. Tive muitas dificuldades 1 2 3 4 5
Aulas com esponjas e cubos de madeira
4. Gostei 1 2 3 4 5
5. Percebi tudo 1 2 3 4 5
6. Tive muitas dificuldades 1 2 3 4 5
Aula com retroprojector e fitas métricas
7. Gostei 1 2 3 4 5
8. Percebi tudo 1 2 3 4 5
9. Tive muitas dificuldades 1 2 3 4 5
Durante estas cinco aulas
10. O professor ajudou-me sempre que eu precisei 1 2 3 4 5
11. Gostei de trabalhar em grupo 1 2 3 4 5
12. Gostei de escrever as conclusões para entregar ao professor 1 2 3 4 5
13. As discussões finais ajudaram-me a perceber melhor os assuntos 1 2 3 4 5
14. Aprendi muita coisa nova 1 2 3 4 5
15. Fiquei com muitas dúvidas 1 2 3 4 5
Discordo totalmente
Discordo ligeiramente
Não concordo nem discordo
Concordo totalmente
Concordo ligeiramente
1 2 3 4 5
42
16. O que gostaste mais nestas aulas e o que gostaste menos? Explica porquê.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
____________________
17. Sentiste algumas dificuldades durante estas aulas? Indica quais.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
____________________
Nas aulas de Matemática
18. Quando resolvo exercícios do manual percebo melhor os assuntos 1 2 3 4 5
19. É melhor trabalhar a pares do que em grupo 1 2 3 4 5
20. Em Matemática prefiro trabalhar sozinho 1 2 3 4 5
21. Aprendo melhor quando o professor explica no quadro 1 2 3 4 5
22. Compreendo melhor quando o professor me tira as dúvidas no lugar 1 2 3 4 5
23. É importante discutir ideias com os meus colegas 1 2 3 4 5
24. Aprendo quando comunico as minhas ideias a toda a turma 1 2 3 4 5
25. Escrever as conclusões é importante para pensar no que fiz 1 2 3 4 5
26. Utilizar o computador facilita a minha aprendizagem 1 2 3 4 5
27. Percebo melhor quando uso materiais manipuláveis 1 2 3 4 5
28. Acho importante utilizar a calculadora na resolução das tarefas 1 2 3 4 5
43
Escola Secundária com 3ºCiclo do Ensino Básico de Tondela
Ano Lectivo 2003/2004
Semelhança de Triângulos 8º Ano
Tarefa 1: Polígonos semelhantes
(com o Cabri – Géomètre)
1. a) Constrói um triângulo [ABC].
b) Constrói outro triângulo [DEF], com os lados paralelos aos lados de [ABC].
c) Mede as amplitudes dos ângulos internos desses triângulos e os
comprimentos dos seus lados.
Que relações podes estabelecer entre estes triângulos que te permitam afirmar
que são semelhantes?
d) Qual a razão de semelhança?
e) Arrasta um dos vértices do triângulo [ABC] e verifica se as relações que
estabeleceste na alínea c) se mantêm.
2.
a) Constrói dois quadriláteros semelhantes.
b) Que razões te permitem afirmar que são semelhantes?
Explica as medições que efectuaste e as relações que encontraste que
justificam que esses quadriláteros são semelhantes.
44
Escola Secundária com 3ºCiclo do Ensino Básico de Tondela
Ano Lectivo 2003/2004
Semelhança de Triângulos 8º Ano
Tarefa 2: Razões de semelhança: perímetros e áreas
(com o Cabri – Géomètre) 1. a) Constrói uma figura como a seguinte, onde:
A1 é ponto médio de [A C] e B1 é ponto médio de [B C]
A2 é ponto médio de [A1 C] e B2 é ponto médio de [B1 C]
E assim sucessivamente…
b) Todos os triângulos que fazem parte desta figura são semelhantes.
Justifica esta afirmação, efectuando se necessário algumas medições.
c) Preenche a tabela abaixo:
Triângulos Perímetro Área
[A3 B3 C]
[A2 B2 C]
[A1 B1 C]
[A B C]
45
d) Consegues estabelecer alguma relação entre os perímetros dos vários
triângulos? A razão de semelhança ajuda a explicar estas relações?
e) Consegues estabelecer alguma relação entre as áreas dos vários
triângulos? A razão de semelhança ajuda a explicar estas relações?
f) Se arrastares um dos vértices do triângulo [ABC], estas relações mantêm-se?
g) Se quisesses construir um triângulo semelhante ao triângulo [A3 B3 C] mas
com a área 9 vezes maior, como é que procederias?
h) Tenta construi-lo com a ajuda do Cabri-Géomètre e mostra que a área desse
novo triângulo tem a medida que desejavas.
46
Escola Secundária com 3ºCiclo do Ensino Básico de Tondela
Ano Lectivo 2003/2004
Semelhança de Triângulos 8º Ano
Tarefa 3: Razões de semelhança: perímetros, áreas e volumes
(com esponjas e cubos de madeira)
1. Vamos construir polígonos utilizando triângulos equiláteros de esponja.
Considera para unidade de comprimento o lado de um triângulo.
a) Constrói triângulos equiláteros de lado 2, de lado 3 e de lado 4.
Estes triângulos são semelhantes ao triângulo de lado 1?
Justifica a tua resposta, indicando a razão de semelhança.
b) Qual é a área do triângulo de lado 1 considerando a mesma unidade de
comprimento?
c) Preenche a tabela abaixo em que:
- R é a razão de semelhança quando partimos do triângulo de lado 1 e o
ampliamos para encontrar os restantes.
- N é o número de triângulos de lado 1 usados em cada figura.
Triângulos R Perímetro N Área
de lado 1
de lado 2
de lado 3
de lado 4
de lado 5
de lado 10
de lado 20
de lado n
e) Consegues estabelecer alguma relação entre as áreas dos vários
triângulos? Como explicas estas relações?
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f) Quanto mediria de lado um triângulo semelhante ao triângulo de lado 1 mas
com a área 144 vezes maior?
2. Constrói um losango a partir de dois triângulos de lado 1.
a) Quantos triângulos precisarias para construir outro losango semelhante
àquele em que a sua razão de semelhança fosse 3. E se a razão fosse 10?
b) Que relação encontras entre as suas áreas e a do losango inicial? O que é
que isso tem a ver com a razão de semelhança?
3. Vamos agora construir poliedros utilizando cubos de madeira. Considera
para unidade de comprimento a aresta de um cubinho.
a) Constrói cubos de aresta 2 e de aresta 3.
Estes cubos são semelhantes ao cubo de aresta 1?
Justifica a tua resposta, indicando a razão de semelhança.
b) Preenche a tabela abaixo em que:
- R é a razão de semelhança quando partimos do cubo de aresta 1 e o
ampliamos para encontrar os restantes.
- N é o número de cubos de aresta 1 usados em cada poliedro.
Cubos R Área da face Área Total N Volume
de aresta 1
de aresta 2
de aresta 3
de aresta 4
de aresta 5
de aresta10
de aresta 20
de aresta n
e) Consegues estabelecer alguma relação entre os volumes dos vários cubos?
Explica estas relações utilizando o que já aprendeste sobre razões de
semelhança?
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Escola Secundária com 3ºCiclo do Ensino Básico de Tondela
Ano Lectivo 2003/2004
Semelhança de Triângulos 8º Ano
Tarefa 4: Como fazer ampliações?
1. A professora de Educação Visual quer fazer a ampliação para papel de
cenário da aguarela que se encontra em baixo, mas colocou a seguinte
condição: a área da figura ampliada tem de ser 400 vezes maior do que a área
desta.
A professora vai fazer um acetato com a aguarela e projectá-lo, usando um
retroprojector, no papel de cenário que irá pendurar numa parede.
Mas tem um grande problema: A que distância é que deve colocar o
retroprojector da parede?
Como é que podemos ajudá-la?
Elabora um relatório que inclua a descrição das tuas pesquisas, os cálculos
que efectuaste, as tuas conjecturas e possíveis soluções para entregarmos à
professora.
(M. C. Escher, 1965)