Material de Apoio para Consulta e Impressão

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A FLORESTA AMAZÔNICA e as MUDANÇAS CLIMÁTICAS MATERIAL DE APOIO PARA CONSULTA E IMPRESSÃO * Produzido por The COMET® Program em parceira com NEEF e IPAM, este curso é gratuito e pode ser concluído em menos de duas horas. São cinco sessões com áudio, gráficos, fotos e vídeos. www.IPAM.org.br CURSO ONLINE*

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PDF de 41 páginas com o conteúdo do curso online* "A Floresta Amazônica e as Mudanças Climáticas", para consulta e impressão. * Produzido por The COMET® Program em parceira com NEEF e IPAM, este curso é gratuito e pode ser concluído em menos de duas horas. São cinco sessões com áudio, gráficos, fotos e vídeos. www.ipaM.org.br IPAM; COMET; NEEF. Material de Apoio para Consulta e Impressão--Curso Online "A Floresta Amazônica e as Mudanças Climáticas". Brasília. 20 mar. 2010.

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a floresta amazônica

e asmudanças climáticas

Material de apoio para consulta e iMpressão

* Produzido por The COMET® Program em parceira com NEEF e IPAM, este curso é gratuito e pode

ser concluído em menos de duas horas. São cinco sessões com áudio,

gráficos, fotos e vídeos.

www.ipaM.org.br

curso online*

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suMário

Terra e seu clima .................................................................................................................... p.3

nossa atmosfera ...................................................................................................................... p.3

clima e tempo .......................................................................................................................... p.4

efeito estufa ............................................................................................................................... p.5

Gases de efeito estufa ............................................................................................................ p.7

o ciclo do carbono .................................................................................................................. p.9

evidências das mudanças climáTicas .................................................................. p.11

Temperaturas ......................................................................................................................... p.12

oceanos ................................................................................................................................... p.13

neve e gelo ............................................................................................................................. p.14

chuva, seca, eventos climáticos extremos .................................................................. p.16

ecologia ................................................................................................................................... p.18

Projeções Para o fuTuro ............................................................................................... p.19

aquecimento ......................................................................................................................... p.21

oceanos ................................................................................................................................... p.22

ecossistemas oceânicos ..................................................................................................... p.23

saúde ........................................................................................................................................ p.24

economia ................................................................................................................................ p.25

Brasil, a amazônia e as mudanças climáTicas ............................................... p.26

florestas tropicais e co2 .................................................................................................... p.28

desmatamento ..................................................................................................................... p.29

incêndios e tempo ............................................................................................................... p.30

outras consequências ........................................................................................................ p.32

sequestro de carbono e redd ........................................................................................ p.33

acordos inTernacionais ................................................................................................ p.36

Protocolo de Quioto ............................................................................................................ p.37

redução de emissões ......................................................................................................... p.38

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terra e seu cliMa

Introdução

Dr. Paulo MoutinhoCoordenador de Pesquisa, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

“A mudança climática certamente é o maior problema social, econômico e ambiental da humanidade. E detalhe: é para sempre! Mesmo que consigamos reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa nas próximas décadas,

o que está difícil de acontecer, o estrago feito pelas emissões do passado já são suficientes para termos o clima global alterado no futuro. Podemos, contudo, com a boa vontade das nações, manter o planeta Terra habitável e próspero. Para isso será preciso pensar e agir diferente. A sociedade terá que rever o seu padrão de consumo, atualmente insustentável e baseado na elevada emissão de gases estufa. A economia precisará ter outros alicerces do que aqueles baseados no crescimento econômico, a todo custo e insaciável, o que resulta em muitas vezes na exaustão de recursos naturais, estes finitos.  E, finalmente, será preciso manter os ecossistemas íntegros e funcionais o suficiente para continuarem exercendo a regulação dos processos biológicos e climáticos que mantém o planeta vivo. Cabe a cada um de nós o trabalho para um mundo saudável e habitável.  Para podermos agir, precisamos de informações qualificadas e esse é o objetivo desse pequeno curso online.  Espero que todos vocês o aproveitem ao máximo.”

nossa atMosfera

Vozes do Brasil:

Cristovam BuarqueSenador (*PDT - DF) e Professor de Pós-graduação da UnB

“As mudanças climáticas são os sintomas de uma catástrofe que está ameaçando a vida no planeta. É o fato de que pelo uso da ciência e tecnologia a serviço do aumento da produção para aumentar o consumo de uma forma indiscrimida, está

fazendo com que a temperatura do planeta se eleve em consequência, sobretudo do dioxido de carbono que sai dos carros, que sai das queimadas e que cria o chamado efeito estufa, que está provocando ligeiros mas catastróficos aumentos na temperatura média do planeta.”

apesar de a atmosfera da Terra ter 30 quilômetros de espessura, é na verdade uma camada muito fina. em comparação, se a Terra fosse do tamanho de uma bola, a atmosfera seria mais fina que uma folha de papel.

composta de gases como nitrogênio, oxigênio e vapor d’água, a atmosfera mantém a vida e gera o clima da Terra. vivemos bem nesse clima e agora o estamos modificando.

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adaptar-se a essas mudanças será difícil e caro. existe também a possibilidade de perdermos várias espécies e ecossistemas que têm contribuído com a vida humana. Por isso é muito importante que aprendamos e ajamos rapidamente, tanto individual-mente quanto globalmente.

cliMa e teMpo

clima e tempo não são a mesma coisa. Tempo é a condição da atmosfera num lugar e horário específicos. ele consiste de temperatura, pressão do ar, umidade, nuvens, precipita-ções, visibilidade e vento.

mas medindo estes elementos em um local específico (Belém, por exemplo) por muitos anos e calculando suas médias ao longo prazo nos dá uma imagem do clima local.

então, as informações do tempo lhe ajudam a decidir se precisará de um guarda-chuva esta tarde, enquanto os dados de clima lhe informam se haverá chuva o bastante para cultivar certas plantações.

 entretanto, clima é mais do que apenas médias de tempo. furacões, ondas de calor, secas, chuvas tor-renciais, e outros eventos extremos também fazem parte e afetam o clima em particular, sua freqüência e intensidade. até erupções vulcânicas podem afetar o clima por meses ou anos. Todos esses aspectos do clima estão sujeitos a mudanças com o decorrer dos anos – às vezes devagar, através de milênios – e às vezes em meses ou alguns anos.

cientistas descobriram a maioria das causas das maiores mudanças de

clima já ocorridas, inclusive deslocamen-to de continentes, mudanças na órbita e inclinação terrestres, o acúmulo de gelo e neve, impacto de asteróides e erupções vulcânicas. eles também sabem como variações naturais de clima, como o el niño e la niña afetam o clima em curto prazo. e sabem que as mudanças relativamente recentes no clima que nós observamos não são causadas por eles.

então o que está causando essas mudan-ças? Para entender isso, precisamos primeiro entender um dos mais importantes aspectos do clima – algo chamado de efeito estufa. discutiremos isso a seguir.

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efeito estufa

o sol emite uma forma de energia chamada de radiação, que viaja através do espaço vazio e aquece nosso planeta e sua atmosfera.

luz é a evidência mais visível da forma mais abundante de radiação, mas também existem outros tipos de radia-ção que não podemos ver. Grande parte dessa radiação atinge a Terra, aquecen-do o solo e oceanos.

Parte da radiação volta ao espaço ou fica redida na atmosfera, onde é absor-vida por certas moléculas gasosas. essas

moléculas então absorvem e re-emitem radiação em todas as direções, aquecendo o planeta ainda mais.

Temperatura média da superfície da Terra COM gases de efeito estufa: 14°C

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os chamados “Gases de efeito estufa” são aqueles particularmente bons na absorção de radiação. Tais gases são essenciais na manutenção do clima e ecossistemas terrestres. vapor d’água , por exemplo, é um gás de efeito estufa, assim como muitos outros, como dióxido de carbono (co2), metano (cH4), óxido nitroso (n2o), e ozônio (o3).

o aquecimento adicional causado pelos gases de efeito estufa é comumente chamado de “efeito estufa”, mas “efeito cobertor” pode até ser mais apropriado. apesar de apenas 1% dos gases atmosféricos serem gases de efeito estufa, eles são poderosos retentores de calor. o efeito estufa é então um fenômeno natural que faz o planeta ser próprio para a vida humana. sem ele, a superfície do planeta seria bem mais fria e muitos dos nossos ecossistemas atuais não existiriam.

mas, queimando combustíveis fósseis e florestas, o homem está acumulando coberto-res sobre a Terra, aquecendo tanto o planeta e tão rapidamente que é difícil para a nature-za e para as sociedades humanas se adaptarem.

Temperatura média da superfície da Terra SEM gases de efeito estufa: -18°C

O aumento de gases de efeito estufa aumenta a temperatura da Terra.

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Gases de efeito estufa

o maior responsável pelas mudanças no nosso clima é um gás que normalmente não é visível, não tem cheiro ou gosto, o chamado dióxido de carbono. a cada ano, o ser humano tem emitido maiores quantidades desse gás na atmosfera terrestre.

em tempos pré-industriais, a concentração de dióxido de carbono era de aproxima-damente 280 partes por milhão de moléculas atmosféricas. em 2008, sua concentração aumentou para 385 partes por milhão – 30% a mais. então qual é o problema com algu-mas centenas de partes por milhão?

a concentração de carbono na atmosfera não está apenas maior do que foi por pelo menos 2,1 milhões de anos, mas o seu aumento está acelerado. Por mi-lhares de anos, essa concentra-ção não passou de 30 partes por milhão. já nos últimos 17 anos, o dióxido de carbono aumentou em 30 partes por milhão.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 10.8, Cambridge University Press

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esse acréscimo na concentração de dióxido de carbono na atmosfera provoca grandes efeitos– se continuarmos assim poderemos ver a temperatura do planeta aumentar em 4,0°c até o final do século. Por que? Temperaturas mais altas aumentam a evaporação, e esses vapores de água adicionais também são gases de efeito estufa. nesse caso, é um ciclo no qual os aumentos de temperatura ocasionam mudanças no sistema climático que causam ainda mais aquecimento.

no mundo todo, a queima de combustí-veis fósseis representa a maior fonte de co2, mas co2 também pode vir do corte de árvores, quei-ma de florestas e matas, agricultura e fabricação de cimento.

combustíveis fósseis – como gás natural, carvão e petróleo – são queimados em grandes quantidades em usinas elétricas, automóveis, aviões, outros tipos de transportes e na indústria. a agricultura pro-duz seu próprio grupo de emissões, como o arar do solo que libera o carbono armazenado na terra e animais de fazenda que emitem metano. É importante notar que as emissões por desmatamento, que cresceram rapidamente desde os anos 90, já se equiparam àquelas dos setores residenciais e de serviços.

Climate Change 2007: Mitigation of Climate Change. Working Group III Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 1.2, Cambridge University Press.

O que vOcê acha?Como os países abaixo se classificam no total de emissões de CO2 por combustíveis fósseis e mudança no uso da terra (incluindo desmatamento tropical) no ano 2000? (Escolha a melhor resposta.)

a) Estados Unidos ( ) b) Federação Russa ( ) c) Indonésia ( ) d) Brasil ( ) e) União Européia ( ) f) China ( )

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se olharmos para as emissões de co2 por mudança no uso da terra e floresta em 2001, o Brasil ficou com o segundo lugar mundial, depois da indonésia. Peru, colômbia, méxico, Bolívia e equador estavam entre os 20 primeiros, nessa categoria

dióxido de carbono não é o único gás de efeito estufa que liberamos no ar. Por exem-plo, a atmosfera possui atualmente 1.780 partes por bilhão de metano (cH4), que é um gás de efeito estufa ainda mais poderoso que o co2.

durante os últimos 650.000 anos, essa parte nunca tinha passado de 790 por bilhão. metano é produzido durante a extração e transporte de petróleo e gases, plantações de arroz, e no sistema digestivo de gado e outros animais de fazenda.

Também, alguns elementos químicos industriais chamados de halocarbonos – usados em produtos de limpeza, refrige-rantes e na fabricação de monitores e Tv’s de tela plana – retêm calor muito bem e quando liberados no ar permanecem um longo tempo na atmosfera.

o ciclo do carbono

dióxido de carbono (ou co2) não fica apenas no ar. Também entra e sai da atmos-fera, organismos vivos, solo, rochas e água. Por exemplo, através de longos períodos de tempo, a degradação das rochas, que é causada por uma reação química com o dióxido de carbono do ar e as pedras, pode adicionar carbono aos rios, que deságuam no oceano. eventualmente, esse carbono é depositado no fundo do mar e forma uma rocha sedimentar. o carbono pode ser novamente liberado à atmosfera através de vulcões, quando a rocha derrete.

Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II, and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 2.3, Geneva, Switzerland.

Concentração de metano na atmosfera nos últimos 10.000 anos

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em tempos remotos, quanto a Terra tinha um clima muito mais quente, grandes pânta-nos absorveram plantas antes delas se decomporem e, quando esses materiais foram ex-postos à pressão e calor, viraram carvão. de formas parecidas, microorganismos enterrados no fundo de lagos e mares em toda a história do planeta se transformaram em petróleo. esses processos aprisionaram grandes quantidades de carbono em forma de carvão, gás e petróleo. Queimando estes combustíveis nos últimos 150 anos, liberamos repentinamente carbono que levou centenas de milhares de anos para se formar.

as plantas representam uma parte importante no ciclo do carbono. elas absorvem o carbono no ar para fazer madeira, galhos e folhas. animais, incluindo o homem, absorvem carbono quando comem plantas, e depois liberam o co2 de volta à atmosfera na troca de gases que ocorre na respiração. Plantas também liberam co2 de volta ao ar quando folhas caem ou quando a planta morre. incêndios florestais liberam grandes quantidades de co2 quando a madeira queima.

ameaças às florestas tropicais tais como secas, doenças, fogo ou derrubadas liberam dióxido de carbono na atmosfera e diminuem a capacidade de absorção e armaze-namento. o desmatamento tropical atualmente responde por 15-20% de todas as emissões de co2 causadas

pelo homem, e milhões de hectares de floresta tropical são destruídos a cada ano. nesse caminho, estamos rapidamente perdendo esse recurso que pode contribuir de maneira significativa no combate às mudanças climáticas.

O que vOcê acha?Quanto das emissões de dióxido de carbono são resultantes do desmatamento de florestas tropicais? (Escolha a melhor resposta.)

a) 1-5% ( ) b) 5-10% ( ) c) 10-15% ( ) d) 15-20% ( )

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evidências das Mudanças cliMáticas

Mudanças antrópicas

Vozes do Brasil:

Almir SuruiLiderança Indígena do Grupo Suruí

“A floresta tem que ser reconhecida pela política, que ela tem papel importante em contribuir em manter equilíbrio. Não só equilibrio de clima, mas também que ele pode apoiar e criar o novo modelo de gestão do planeta.”

mas o aquecimento não poderia ser um fenômeno natural? – talvez provocado por uma mudança na atividade solar?

cientistas têm procurado por explicações com base nas causas naturais de mudanças climáticas no passado da Terra mas nenhuma delas explica o que estamos vendo hoje.

cientistas também estudaram quais têm sido as variações normais de temperatura nos últimos milhares de anos e, de fato, as temperaturas que estamos vendo agora estão fora

do “normal” em relação às estudadas.

estudos e modelos feitos no com-putador ajudam a confirmar as causas como sendo humanas. cientistas usam os modelos para simular as condições climáticas nos últimos 100 anos. colo-cando e tirando os maiores fatores que mudam o clima, pode-se ver como cada fator afeta a temperatura global. assim, é possível comparar as estimativas do modelo com os dados de temperatura observados através dos anos.

Quando apenas fatores naturais são colocados nos modelos, os resultados indicam que aspectos como condições solares e vulcânicas provavelmente te-riam esfriado a Terra nos últimos 50 anos.

mas quando cientistas adicionam os gases de efeito estufa e partículas de ativida-

des humanas, os resultados dos modelos correspondem bem ao aque-cimento que temos visto no último século.

Reconstrução das temperaturas do hemisfério norte.

Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II, and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 2.5, Geneva, Switzerland.

Modelo da temperatura de CO2 estima com (azul) e sem (rosa) influências climáticas antropogênicas comparadas com observações (linha preta).

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O que vOcê acha?Olhando o gráfico, o que você conclui a respeito do pico de temperaturas em 1997? (Selecione todas as respostas que se aplicam.)

a) 1997 foi o ano mais frio desde 1880. ( )

b) 1997 foi o ano mais quente desde 1880. ( )

c) O aquecimento global acabou depois de 1997. ( )

d) Emissões mundiais de CO2 atingiram seu pico em 1997 e depois diminuíram. ( )

e) As temperaturas em 1997 eram altas por causa de fatores naturais e humanos. ( )

teMperaturas

a Terra está ficando mais quente segundo todos os meios que temos de medir essa mudança. a temperatura tem estado bem acima do normal por mais de 25 anos.

apesar de aumentos de 0,6-0,9°c durante o século passado não soarem ameaçado-res, lembre-se que essa é a média global, então alguns lugares aqueceram mais. Pense em quando você teve febre. mesmo 1°c a mais fez uma grande diferença em como você se sentia. do mesmo jeito, nosso planeta está se tornando febril.

nas américas do sul e central, estudos revelam padrões de mudanças em situações extremas consistentes com o aquecimento geral, em particular, mais noites quentes e menos noites frias. nas décadas passadas, as temperaturas tiveram um aumento maior nas latitudes ao norte, mas também tiveram aumento no hemisfério sul. as tempera-turas médias subiram 0,5°c no Brasil e aproximadamente 1°c na américa central e na

américa do sul.

a amazônia por si só aqueceu aproximadamente 0,25°c por década, um índice relativamente rápido compa-rado às mudanças climáticas anteriores. Quando nosso planeta saiu de sua última era glacial, aproximadamente em 9.700 ac, a amazônia aqueceu muito mais devagar - apenas 0,1°c por século.

a seca devastadora na amazônia em 2005 também foi resultado do el niño? apesar das temperaturas daquele ano também terem sido altas, cientistas chegaram à conclusão de que as secas na amazônia foram devidas as temperaturas excepcional-mente altas no atlântico norte tropical, e não ao el niño.

Média anual global de temperaturas observadas (1979-2005). Todo o Brasil tem vivenciado aquecimento tanto na superfície quanto na troposfera.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. FAQ 3.1, Figure 1, Cambridge University Press

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oceanos

Barcos e bóias que pontuam o globo nos mostram que os oceanos também estão aquecendo. os primeiros 300 metros de profundidade aqueceram 0,3°c nos últimos 50 anos. águas profundas também aqueceram. um estudo da administração nacional de oceano e atmosfera dos estados unidos que observou o período de 1948 a 1998 descobriu que todos os oceanos tinham aquecimento pelo menos nos primeiros 1.000 metros de profundidade.

e assim como o ar e os oceanos aqueceram, o nível dos mares subiu. a média global do nível dos mares desde 1993 subiu aproximadamente 3,3 milímetros por ano. no total, o iPcc estima que os oceanos subiram entre 10-25 centímetros no século 20, em decorrência do derretimento de gelo e neve.

nos últimos 10-20 anos, o nível dos mares no sudeste da américa do sul subiu de 1 mm/ano para 2-3 mm/ano, e vários portos do Brasil registraram aumentos de 4 mm/ano. É esperado que esse inchaço dos mares continue, o que sem dúvida irá ameaçar comunida-des costeiras.

a composição química da água do mar está mudando também, conforme o mar absorve mais co2 do ar. isso difi-culta a formação de con-chas, corais e plâncton. se populações desses organismos diminuem, o peixe que as comem e as milhares de pessoas que sobrevivem de pes-ca sofrem também.

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neve e Gelo

neve e gelo refletem a energia do sol de volta ao espaço. sem essa cobertura branca, mais água evapora e vai para a atmosfera, funcionando como um gás de efeito estufa, e o solo absorve mais calor. neve e gelo estão derretendo numa velocidade nunca vista em mi-lhares de anos, e isso tem consequências profundas no clima. assim como a temperatura do ar, a maior parte do derretimento de neve em aproximadamente 100 anos de registro oficial aconteceu depois de 1980.

na américa do sul, geleiras estão derretendo rapidamente, ameaçando os recursos hídricos e elétricos de sul americanos na Bolívia, Peru, colômbia, chile e equador. o derretimento atingiu “condições críticas” nesses países, de acordo com o iPcc, o corpo científico intergovernamental das nações unidas, estabelecido para estudar mudanças climáticas, Peru teve uma redução de 22% em área de geleira, enquanto a colômbia teve uma redução de 82%.

entre 1940 e 2005, a geleira chacaltaya na Bolívia foi de 0,22 quilômetros quadrados para menos de 0,01 quilômetros quadrados, destruindo a indústria de esqui do país. um problema ainda maior é que essa geleira fornece parte da água para proximidades de la Paz, principalmente durante a temporada de seca, no inverno. nessas imagens, as linhas

indicam a posição de um antigo elevador de esqui.

o gelo marítimo também está se desfa-zendo, especialmente no hemisfério norte. satélites demonstram que a média de gelo do oceano ártico diminuiu em 2,7% por dé-cada de 1978 a 2006, com um maior derretimento no verão.

Climate Change 2007: Impacts, Adaption, and Vulnerability. Working Group II Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 1.1, Cambridge University Press.

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no verão de 2007, os canais da Passagem noroeste, ao norte do canadá, se tornaram navegáveis pela primeira vez, enquanto a calota polar derreteu ao seu nível mais baixo registrado—30 anos mais rápido do que os cientistas do iPcc haviam previsto. o derreti-mento em 2008 foi menor apenas em relação a 2007.

no hemisfério sul, gelo marítimo próximo a penín-sula atlântica também di-minuiu significantemente devido ao aquecimento da área em 3˚c nos últimos 50 anos.

entretanto, o gelo marítimo na antártica, como um todo, cresceu em 0,97%, ou aproxima-damente 100.000 km2 por década desde o final dos anos 70. estudos recentes indicam que esse aumen-to pode ter sido causado por nevascas sobre o gelo marítimo antártico. cientistas acham que isso pode ser relacionado ao aquecimento global, que ocasiona mais evapo-ração, fornecendo mais umidade atmosférica para precipitação sobre ocea-nos do sul. isso também pode ser relacionado a

mais ventos e tempestades induzidos pelo buraco de ozônio sobre a antártica, e cien-tistas afirmam que enquanto o buraco diminui e os gases de efeito estufa aumentam, o gelo marítimo antártico vai, eventualmente, derreter mais rápido do que se forma.

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chuva, seca, eventos cliMáticos extreMos

uma atmosfera em aquecimento também muda o caminho das tempestades, modifi-cando a incidência de chuva, seca e outros padrões de tempo. Por exemplo, um estudo de 2004 realizado pelo centro nacional de Pesquisas atmosféricas, nos estados unidos, des-cobriu que a porcentagem do planeta sofrendo com secas severas havia mais que dobrado desde os anos 70.

enquanto observações são limitadas a grande parte da américa central e da américa do sul, os dados indicam que precipitações têm aumentado na parte sul do continente (com

exceção da costa oeste).

entretanto, condições mais secas têm ocorrido no leste do Brasil e partes da colômbia, equador e venezuela. durante o sécu-lo, a amazônia sofreu uma pequena diminuição de chuvas, principalmente ao norte. isso é uma má notícia para a saúde das florestas.

Pesquisadores des-cobriram que a seca de 2005 estressou a floresta amazônica, matou árvores e liberou muito carbono na atmosfera como resultado. em períodos normais, a amazônia absorve aproxi-

madamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, mas em 2005, a floresta perdeu mais de 3 bilhões de toneladas, liberando 5 bilhões de toneladas extras de carbono na atmosfera - mais do que a união européia emite anualmente juntando todas as fontes.

um experimento na floresta nacional de Tapajós, no Pará, confirmou esses resultados. lá, cientistas cobriram uma parte da floresta com painéis de plástico por 3 anos para

simular uma situação de seca extrema e avaliar a resposta da floresta às mudanças climáticas e descobriram que o solo até 11 metros de pro-

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Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 3.13, Cambridge University Press.

O que vOcê acha?O aquecimento global contribuiu para a seca de 2005? (Escolha a melhor resposta.)

a) Sim ( )

b) Não ( )

c) Talvez ( )

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fundidade secou. isso também matou muitas árvores de grande porte, expondo o centro da floresta a mais calor e seca, e diminuindo a produção de madeira em uma tonelada por

hectare / ano. esses verdadeiros buracos na floresta incentivam o crescimento de plantas que preferem mais luz.

junto com a seca, isso aumenta o ris-co de queimadas, que liberam carbono na atmosfera, abrem mais ainda a flores-ta reduzindo a incidência de chuvas nas proximidades.

em alguns lugares, a floresta vira sa-vana com plantas que absorvem menos

carbono e são mais vulneráveis ao fogo. se tais condições se tornarem mais frequentes de-vido a mudanças climáticas na bacia amazônica, árvores de florestas tropicais irão produzir menos madeira a partir no dióxido de carbono, piorando muito o aquecimento global.

Paradoxalmente, mais vapor de água na atmosfera aquecida também leva a chuvas mais pesadas e mais neve. Particularmente, a incidência de chuvas pesadas está aumen-tando em zonas temperadas.

a incidência de chuvas pesadas aumentou significantemente no leste da américa do sul entre 1900 e 2005, principalmente no sul do Brasil, no Paraguai, uruguai, Pampas ar-gentinos, e partes da Bolívia. esses aumentos prejudicam plantações e causam inundações. Por exemplo, houve um aumento de 10% na frequência de inundações do rio amazonas na região de Óbidos e aumentos de até 50% em fluxo de corrente nos rios uruguai, Paraná, e Paraguai. cientistas também têm registrado mais mortes e doenças em decorrência das inundações, deslizamento de terra e tempestades na Bolívia.

além disso, a américa do sul tem visto atividades meteorológicas altamente incomuns em anos recentes — secas na amazônia, tempestades de granizo na Bolívia e na argentina, e o furacão sem precedentes, como o catarina, no atlântico sul em 2004. Houve também mais incêndios florestais e el ninos mais duradores. cientistas calculam que desastres relacionados ao clima dobraram nas últimas décadas.

iPam

From Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 3.39, Cambridge University Press.

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ecoloGia

aumento de calor também afeta os seres vivos. a distribuição geográfica e época de reprodução e migração, desabrochar das flores a colheita de frutos estão mudando em

vários animais e plantas ao redor do mundo. no he-misfério norte, plantas e animais estão tendo fases de crescimento mais longas. os japoneses, por exemplo, mantém um registro muito detalhado do desabrochar das flores das cerejeiras de Tóquio, e notam que as flores estão desabrochando, em média, 5 dias antes do que há 50 anos.

em áreas da américa do sul onde há maior incidência de chuvas, colheitas de soja cresceram em 38%, as de milho 18%, trigo 13% e girassóis 12%.

enquanto a produtividade de pasto cresceu em 7% na argentina. de outro lado, doenças de plantas também aumentaram e produção de gado diminuiu.

Por exemplo, pesquisadores descobriram que um fungo que afeta o crescimento de trigo no Brasil aumenta durante os el niños, quando a incidência de chuvas é maior e o ar tem mais vapor.

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projeções para o futuro

uma olhada rápida

Vozes do Brasil: Rubens GomesGrupo de Trabalho Amazônico (GTA)

     “Sem as populações, sem os povos da floresta, sem as populações tradicionais, sem os quilombolas, sem os ribeirinhos, sem os Pescadores, sem as quebradeiras de coco, sem os povos indígenas, não existirá floresta. As florestas só existem porque

estas populações as protegeram. Onde não tinha população, as florestas foram embora. Nossas populações precisam da floresta para seu transporte, para sua moradia, para sua saúde, e até para musica. A floresta é muito para nós. Nos não conseguiríamos viver sem floresta.”

então o que os cientistas acreditam que acontecerá no futuro? espera-se que as médias globais de temperatura aumentem em aproximadamente 1-7°c até o final do século. na américa do sul, a amazônia provavelmente sofrerá o maior aquecimento.

como resultado desse aque-cimento e baixa umidade, gelei-ras intertropicais provavelmente desaparecerão nos próximos 15 anos. isso afetará severamente os recursos hídricos da região.

um planeta mais quente au-mentará a evaporação e mudará a circulação da umidade atmos-férica, portanto muitas áreas secas ficarão mais secas e áreas úmidas ficarão mais úmidas. o nordeste do Brasil, por exemplo, provavelmente secará e sofrerá uma mudança de semi-árido para

árido ou desértico. como resultado, é prevista uma diminuição da reposição dos lençóis freáticos em mais de 70%.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 10.8, Cambridge University Press

Projeções de mudanças relativas de escoamento superficial até o final do século 21.

Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II, and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 3.5, Geneva, Switzerland.

iPcc

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o aumento da temperatura em 2°c e a diminuição da água do solo levaria à substi-tuição de florestas tropicais por savanas no leste da amazônia e em partes do méxico, de acordo com o iPcc, o corpo científico intergovernamental das nações unidas estabelecido para estudar mudanças climáticas.

o nível dos oceanos continuará subindo no próximo século. as estimativas do iPcc vão de alguns centímetros a aproximadamente meio metro até 2100. em áreas planas e de baixa altitude, isso poderia inundar terras relativamente longe das costas atuais.

entretanto, as projeções do iPcc a respeito do aumento do nível do mar são apenas estimativas. a perda completa de tanto a camada de gelo da antártica leste quanto da Groelândia poderia eventualmente elevar o nível do mar em até 6 metros.

Para ver quais são as projeções dos cientistas em consequência das mudanças climá-ticas em partes específicas da américa do sul, clique nos círculos coloridos nesse mapa. exploraremos muitos desses tópicos em detalhes, na próxima sessão.

Climate Change 2007: Impacts, Adaption, and Vulnerability. Working Group II Contribution

to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure

13.5, Cambridge University Press.

iPcc

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aqueciMento

então, se essas previsões estiverem certas, que mudanças provavelmente ocorrerão na américa do sul? sempre existiu uma variação natural do clima, com alguns lugares e alguns anos mais quentes ou mais frios que as médias. em geral, entretanto, verões ficarão mais quentes, não só com temperaturas mais altas, mas também porque a umidade do ar será maior. uma tendência mais quente somada à variação natural significa que as tempe-raturas alcançarão os atuais recordes alarmantes com mais frequência.

Por exemplo, a onda de calor européia de 2003, que matou 35.000 pessoas, foi uma combinação de aquecimento global e variação extrema de temperatura e não teria aconte-cido sem um dos dois fatores. modelos prevêem que, em muitos lugares, eventos extremos de calor que vemos uma vez a cada 20 anos, acontecerão a cada 3 anos até o meio desse século, com frequência ainda maior no final do século XXi.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 10.19 (b), Cambridge University Press.

Anomalias de temperatura durante a onda de calor européia de 2003

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oceanos

assim como o nível dos mares aumenta, erosões costeiras acontecem numa velocidade 100 vezes maior do que o índice de aumento do nível do mar, então alguns centímetros de aumento do nível do mar podem afetar severamente as costas.

considerando que quase metade da população mundial vive em áreas costeiras de baixa altitude, o crescimento contínuo da população costeira aumenta sua vulnerabi-lidade ao aumento do nível do mar, tempestades e inundações. Pessoas que vivem em pequenas ilhas com altitude próxima ao nível do mar são particularmente vulneráveis, tendo em vista que suas reservas de água, casas, recifes de corais, áreas de pesca e plan-tações estão ameaçadas.

se ambas as camadas de gelo da antártica e Groelândia derretessem comple-tamente, o nível do mar poderia subir em até 80 metros, o que inundaria a área da américa do sul vista aqui.

se, por outro lado, o ní-vel do mar subisse apenas 6 metros, essa é a inunda-ção que eventualmente aconteceria.

À medida que o nível do mar sobe, quase todas as linhas costeiras parecem suscetíveis a frequentes inundações, particular-mente as cidades que não são ricas o suficiente para construir diques ou se adaptar de outras formas. a invasão da água salgada pode danificar fontes de água doce que fornecem água potável. na américa latina, el salvador, Guiana e a província de Buenos aires estariam em maior risco de inundação e con-seqüente erosão, enquanto a água potável do equador, costa rica e do estuário do rio da Prata estariam em risco de serem contami-nados com água salgada. mudanças costeiras tam-

bém atrapalhariam o acesso à áreas de pesca e colocariam em risco a vegetação costeira, manguezais, peixes e outras espécies do litoral.

Por causa da combinação de crescimento populacional, diminuição de gelo, precipita-ção e invasão de água salgada, o iPcc prevê que de 7 a 77 milhões de pessoas na américa latina sofrerão com reservas impróprias de água até a década de 2020, aumentando de 60 para 150 milhões até a segunda metade do século.

Linha costeira da América do Sul se o mar subir 80 metros.

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ecossisteMas oceânicos

À medida que os oceanos absorvem mais dióxido de carbono, a química da água do mar muda. isso significa que muitos daqueles no fundo da cadeia alimentar oceânica terão dificuldade em formar suas conchas. Quase todas as criaturas marinhas, de plânctons a ba-leias seriam direta ou indiretamente afetadas. se a cadeia alimentar oceânica se desestru-turar, muitas pessoas no mundo, que dependem da pesca para se alimentar, passarão fome e frutos do mar se tornarão uma especiaria a qual só os ricos terão acesso.

águas oceânicas mais quentes podem também causar um “branqueamento” nos reci-fes de corais, quando os corais perdem as algas que os nutrem e morrem. de acordo com o Quarto relatório de avaliação do iPcc, isso is provável que aconteça se a superfície do mar esquentar de 1 a 3 graus no próximo século, o que já é esperado. os corais também terão mais dificuldade em formar seus esqueletos numa química oceânica com mais dióxido de carbono, e sofrerão mais quebras, caso as tempestades tropicais se intensifiquem como é previsto por cientistas.

ecossisteMas terrestres

Plantas e animais também correm perigo. de acordo com o Quarto relatório de avalia-ção do iPcc, de 2007, muitos ecossistemas terrestres ao redor do mundo provavelmente diminuirão e suas habilidades naturais de adaptação às mudanças climáticas serão força-das ao extremo. isso provavelmente colocará 20-30% das plantas e animais em sério risco de extinção nesse século. o iPcc também acredita que a extinção de espécies significantes poderá acontecer na américa latina.

Por exemplo, muitas espécies de árvores do cerrado brasileiro podem ser extintas até 2050 se houver um aquecimento de 2°c. um estudo realizado em 2004, pela universidade de leeds, na inglaterra, indica que 43% de 69 espécies de árvores na amazônia podem ser extintas até o final do século.

florestas tropicais de altitude seriam ameaçadas por um aumento de 1-2°c na tempe-ratura nos próximos 50 anos, pelo aumento da nebulosidade. algumas plantas se torna-riam extintas localmente, pois suas montanhas não são mais altas o suficiente para dar suporte ao habitat que precisam.

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na floresta de altitude de monteverde, na costa rica, plantas e animais já estão sofrendo. menos dias úmidos resultarão no de-créscimo das populações de anfíbios e provavelmente de aves e répteis também.

aves migratórias também passarão por uma perda de habitat e dimi-nuição de populações. em 2005, um estudo sobre 300

espécies de aves migratórias descobriu que 84% delas estão ameaçadas pelas mudanças climáticas, principalmente devido a pouca água ou secas, que diminuem as áreas de repro-dução e lugares de descanso ao longo de rotas migratórias.

incêndios florestais também devem se tornar mais frequentes na maior parte da américa do sul; estudos projetam um aumento de 60% de fogos com um aumento de pelo menos 3°c na temperatura, o que traz uma enorme ameaça a organismos vivos.

saúde

na área da saúde as notícias também não são boas: as pessoas já estão sofrendo por causas relacionadas ao clima e muitas morrerão ou adoecerão conforme o planeta esquenta.

Taxas de mortalidades aumentam uma média de 6% durante ondas de calor, portanto mortes induzidas pelo calor ter um acréscimo conforme as temperaturas aumentam e as ondas de calor se tornam mais longas e intensas. idosos, crianças e pessoas já fragilizadas por alguma doença tendem a ser as mais vulneráveis.

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conforme as temperaturas aumentam, mosquitos, roedores e outros transmissores de doenças aumentam seu alcance e adoecem mais pessoas, principalmente em países em desenvolvimento. na américa do sul, a malária, dengue e doenças relacionadas à água são ainda mais preocupantes. o clima em mudança e florestas destruídas podem resultar em novas doenças afetando a população humana.

na Bolívia, um estudo prevê um aumento na transmissão de malária e leishmanio-se, o que coloca em maior risco as populações locais. estudos também prevêem um

aumento na incidência de dengue no Brasil, méxico, Peru e equador. Por outro lado, algumas áreas da américa central e ao redor da amazônia devem ter menos casos de malária, devido à redução das chuvas.

a poluição do ar deve também piorar, tendo em vista que temperaturas

mais altas e maior umidade contribuem para acréscimo do ozônio e fazem com que par-tículas de poluição se formem e durem mais. a poluição, por sua vez, causa mais doenças como asma e mortes por doenças de coração e pulmões.

além disso, já que as mudanças climáticas aumentam a incidência de incêndios flores-tais, a fumaça resultante deles pode causar ainda mais problemas respiratórios

econoMia

as pessoas não verão apenas os efeitos das mudanças climáticas, mas também sentirão os impactos no bolso. Por que?

mais secas, temperaturas mais altas e eventos climáticos mais extremos necessi-tarão de mudanças no estilo de vida que vão desde quais plantas cultivar até como aproveitar as férias com a família. as mudanças climáticas aumentam o número de condições para as quais nós devemos nos preparar, e essa preparação tem um preço.

Por exemplo, 50% das terras usadas para agricultura na américa latina provavel-mente serão afetadas por desertificação ou salinização até a década de 2050. cria-

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dores de gado e benefi-ciadores do leite e seus derivados também verão uma menor produtivi-dade com o aumento da temperatura. com mais calor, inundações, secas e diminuição de recursos hídricos , fazendeiros en-frentarão novas dificulda-des o que pode resultar na redução e até falência de algumas produções.

se não agirmos pra lidar com esta questão, estima-se que teremos um custo no futuro que corresponderá a algo em torno de 5% e 20% do produto interno bruto

(PiB) global a cada ano futuro. Por outro lado, custos relacionados a esforços para a redução das emissões de gases de efeito estufa devem ficar em torno de 1% do PiB global, por ano. É imprescindível, porém, que investimentos num futuro mais sustentável aconteçam nos próximos 10 ou 20 anos para que a humanidade não sofra ainda mais as conseqüências de ordem econômica, social e ecológica causadas pelo aquecimento global.

brasil, a aMazônia e as Mudanças cliMáticas

emissões brasileiras de cO2

Vozes do Brasil:

Paulo MoutinhoInstituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

     “O REDD não pode ser um mecanismo de remuneração de estoque de carbono em floresta para sempre, ele precisa ser um mecanismo, como se fosse a chave que

dá a partida no carro, de forma que você crie um incentivo, mostrando para a sociedade que ela tem lógica de gerar renda, condições de gerar crescimento econômico numa outra lógica, ao mesmo tempo em que você vai mudando essa lógica de desenvolvimento e crescimento econômico. Portanto a gente precisa muito investimento e intensificação de agricultura, muito investimento em pecuária e muito investimento no uso sustentável dos recursos florestais. Enquanto você vai recebendo por ter tomado a decisão de não mais derrubar floresta.”

existe algo incomum sobre a origem das emissões brasileiras de dióxido de carbo-no. elas são muito diferentes das emissões dos estados unidos, europa, china, Índia e a maior parte do mundo. Por um lado, isso acontece porque o Brasil está anos a frente desses países. Por outro lado, é porque o Brasil tem mais trabalho a fazer.

Brasil está à frente graças à matriz energética limpa e a preparação. a crise do petró-leo durante a década de 1970 fez com que o governo Brasileiro criasse o maior programa do mundo de geração de energia a partir da cana de açúcar. assim, o etanol recebeu as a atenção como bicombustível de extrema utilidade. mas o Brasil fez muito mais. Também iniciou programas de eficiência energética e incentivou a geração de energia a partir de hidrelétricas e usinas eólicas.

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no total, a energia re-novável geral mais de 45% da energia do Brasil – uma quantidade incrivelmen-te grande em relação a padrões mundiais.

em contraste, nos eua, 93% das emissões de gases de efeito estufa no ano 2000 vieram da geração de energia por queima de combustíveis fósseis, enquanto na união euro-péia foram 82%. no Brasil, apenas 14% das emissões de gases de efeito estufa vêm da geração de energia e apenas 5.4% vêm de carros, caminhões, ônibus e aviões, comparados a 26% nos estados unidos. esse é um dos benefícios dos programas brasileiros de energia renovável.

mas olhando para ou-tro setor – o de mudança no uso da terra e desmata-mento, o canadá, que for-nece madeira e papel para a maior parte da américa do norte, foi responsável por menos de 1% do total de emissões globais por desmatamento e mudança do uso da terra em 2000. os eua, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, armaze-nou mais carbono nas flo-

restas, árvores urbanas em outras práticas do uso da terra do que qualquer outro país, compensando, no ano 2000, 6.3% das emissões do mundo. o Brasil, por outro lado, está muito atrasado em relação a outros países no controle de emissões por desmatamento.

Quando se observa os países com as maiores emissões de gases de efeito estufa por corte, queimadas e conversão de florestas em pastos ou plantações, somente a indonésia supera o Brasil.

no total, desmatamento, mudança no uso da terra e agricultura são responsáveis por mais de 3/4 das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.

O que vOcê acha?Agricultura é outra grande fonte de emissões de gases de efeito estufa, principalmente em países como o Brasil. Em todo o mundo, qual atividade agropecuária você acha que mais produz gases de efeito estufa? (Escolha a melhor resposta.)

a) Decomposição decorrente de solos alagados para produção de arroz ( )

b) Adubo de gado ( )

c) Fertilização do solo ( )

d) Gases provenientes da digestão do gado e outros animais ( )

e) Queima de biomassa ( )

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florestas tropicais e co2

juntas, as florestas tropicais do mundo absorvem aproximadamente 1,8 bilhões de toneladas métricas de carbono por ano, armazenando aproximadamente 1/4 das emissões mundiais de gases de efeito estufa em suas madeiras e solos.

cientistas estimam que a quantidade de carbono retida nas árvores da amazônia equi-valem a 9-14 anos das emissões atuais de carbono globais induzidas pelo homem anual-mente. árvores absorvem o carbono do ar na forma de gás carbônico através do processo

Mapa das florestas tropicais no mundo (verde escuro)

de fotossíntese, ou seja, usando a energia do sol. o carbon absorvido vai sendo incorpora-do pelas árvores nas suas folhas, galhos, troncos e raízes. Parte desse carbono também vai para o solo. Quando uma árvore morre e se decompõe naturalmente, fungos e bactérias agem na madeira podre e a quebram lentamente para se alimentarem, liberando dióxido de carbono. a maior parte da madeira, galhos e folhas numa floresta derrubada irão se decompor em 10 anos. se houver o reflorestamento da área, essas árvores levarão mais de

100 anos pra incorporar uma quantidade de carbono similar a que tinham.

a quantidade de carbono armaze-nada na amazônia é enorme. Por uni-dade de área, as florestas retêm de 20 a 50 vezes mais carbono em sua madeira, folhas e solo do que áreas de clareira. e árvores nos trópicos armazenam apro-ximadamente 50% mais carbono por hectare do que as florestas do norte. isso significa que cortar árvores tropi-cais libera muito mais carbono do que cortar árvores em qualquer outro lugar.

mas sob algumas condições naturais – principalmente secas ou altas tempera-turas, florestas tropicais podem se tornar emissores de carbono. um estudo com árvores em mais de cem pontos diferen-tes da amazônia durante a seca de 2005, descobriu que nesse período muitas

nasa’s earth observatory, image by robert simmon

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árvores tiveram crescimento mais lento ou morreram. consequentemente, no ano de 2005 a amazônia se tornou uma fonte de co2, ao invés de absorvê-lo.

estudos sugerem que condições climá-ticas que promovem secas na amazônia, como o el niño, por exemplo, podem ocorrer com maior frequência no futuro. isso torna a conservação da floresta agora ainda mais crucial para a saúde do planeta, já que pode levar anos para que o homem reduza significantemente sua dependên-cia de combustíveis fósseis.

Queimadas naturais também liberam muitos gases de efeito estufa, principalmente em anos de el niño, mais propícios a secas. no el niño de 1997-1998, incêndios liberaram 2,1 bilhões de toneladas de carbono – aproxi-madamente 1/4 das emissões globais causadas pelo homem em um ano. com as mudanças climáticas associadas aos eventos de el niño, há diminuição do volume de chuvas e, conse-

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 10.18 (d), Cambridge University Press.

quentemente, maior é a probabilidade de ocorrência de incêndios florestais. uma vez que a floresta pega fogo, aumenta sua vulnerabilidade a incidência de novos incêndios. o fogo também podem ficar fora de controle e queimar cercas, pastos ou plantações. estudos estimam estimam que fogos na amazônia custam uma média de 0,2% do Produto interno Bruto da região anualmente, mas o número real pode chegar a 10%.

desMataMento

no Brasil, quase 20% de floresta tropical – uma área do tamanho da frança – foi derrubada e convertida para outros usos nos últimos 30 anos. as margens sul e leste da

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floresta sofreram mais devido a expansão de pastos de planta-ções de soja na área.

algumas vezes a floresta não é diretamente derrubada, mas degradada por falta de técnica na extração madeireira. aproxima-damente 1/3 da amazônia já foi degradada dessa maneira, o que responde por aproximadamente 25% das emissões por desmata-mento na amazônia brasileira. o efeito conjunto do desmatamen-

to, degradação e corte e queima para agri-cultura aumenta em muito o risco de fogo em milhões de hectares de floresta virgem.

a floresta degradada libera carbono lentamente conforme os materiais orgâ-

nicos se decompõem, enquanto o fogo destrói tudo de uma vez. em ambos os casos, a floresta ao redor pode ser enfraquecida por mais incidência de luz, calor e seca.

outros fatores ainda impulsionam a liberação de carbono depois da derrubada da flo-resta. aproximadamente 25-30% do carbono no solo recém desmatado e cultivado retorna ao ar quando matérias das árvores mortas e micróbios do solo são expostos ao ar. a exposi-ção ao ar permite que esses materiais se decomponham mais rapidamente. o pastejo e cultivo do solo recém desmatado levam a liberação de gases de efeito estufa. o uso de fertilizantes ricos em nitrogênio faz com que o solo libere óxido nitroso, outro gás de efeito estufa. animais de criação, adubo, e plantações de arroz liberam metano que, como vimos, é um gás de efeito estufa 21 vezes mais poderoso que o co2.

incêndios e teMpo

o desmatamento pode também afetar o clima de formas não relacionadas a liberação de gases de efeito estufa. as florestas liberam a água que absorvem do solo através de suas folhas, o que faz com que atuem como gigantes umidificadores do nosso planeta. essa liberação de vapor d’água também move o calor da superfície para a atmosfera, onde

a água condensa. esse efeito diminui as tem-peraturas da superfície. derrubar florestas é como tirar da tomada esse ar-condicionado, o que não só esquenta o clima como também diminui o vapor de’água que poderia virar chuva.

como resultado, a derrubada de mais de 30% da floresta seria responsável por uma amazônia permanen-

O que vOcê acha?qual país perdeu área de floresta com maior velocidade entre 2000 e 2005? (escolha a melhor resposta.)

a) Sudão ( ) b) Indonésia ( ) c) Espanha ( ) d) Brasil ( ) e) Venezuela ( )

Imagem de satélite do rio Amazonas, no Brasil.  Nuvens se formam sobre a densa copa das árvores, mas são esparsas sobre as áreas mais secas ao longo do rio.

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O que vOcê acha?as duas imagens de satélite ao lado mostram focos de calor nos anos de 2005 (esquerda) e 2006 (direita). qual será a razão da maior concentração em 2005 comparada a 2006? (Selecione todas as respostas que se aplicam.)

a) Menos chuva em 2005 ( )

b) Mais desmatamento para ampliação de fazendas em 2005 ( )

c) Mais incêndios causados por raios em 2005 ( )

d) Fiscalização e maior cumprimento de leis ambientais em 2006 ( )

temente mais seca, provocando um ciclo que converte mais e mais floresta em savana. conforme mais árvores morrem, todo o resto seca mais rápido, o que mata mais árvo-res e assim por diante.

um estudo recen-te da universidade federal de viçosa, Brasil, sugere que se apenas mais 3% da floresta na região do mato Grosso fosse derrubada, a área po-deria se tornar uma permanente savana.

essas mudanças também afetam futuros padrões climáticos. alguns estudos indicam que

o desmatamento em larga escala na amazônia pode aumentar a temperatura global e reduzir significantemente a incidência de chuvas em lugares tão distantes como o méxico e os eua.

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outras consequências

em 2004, pelo menos 13 pessoas no estado do Pará morreram de raiva trans-mitida pela mordida do morcego vampiro enquanto dormiam. em 2005, 23 pessoas morreram e mais de 1.300 foram mordidas no maranhão. apesar de essas mortes não parecerem ligadas às mudanças climáticas, elas podem ser. e o desmatamento é uma das possíveis causas.

na época, alguns cientistas atribuíram as mortes aos morcegos des-locados de seus lares, florestas que foram derrubadas, e às colônias de morcegos super populosas por estarem se alimentando de gado mantido pelo homem.

outro estudo na amazô-nia peruano descobriu que mosquitos transmissões de malária picam 100 vezes mais em áreas desmatadas do que em florestas intactas. mas raiva e malária são os únicos efeitos do desmatamento na saúde.

fumaças de florestas em chamas causam doenças respiratórias nas pes-soas próximas ao local da queimada. em 1997, as visitas ao médico por problemas respiratórios aumentaram 20 vezes durante os incêndios de alta floresta. apenas em 1998, o governo brasileiro gastou us$11 milhões com o tratamento de problemas respiratórios na amazônia.

se, como os atuais estudos científicos sugerem, secas se tornarem mais comuns

na amazônia, comunidades tradicionais e rurais e povos indígenas podem ter de lidar com a escassez e a insalubrida-de de água, a falta de alimen-tos e outras dificuldades liga-das às mudanças climáticas.

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sequestro de carbono e redd

já deve estar claro que conservar florestas é um jeito rápido de lutar contra mudanças climáticas e proteger a saúde humana. usar árvores para armazenar carbono é uma forma de “sequestro de carbono,” que é qualquer processo que tira carbono do ar e o fixa na vege-tação durante um período de tempo.

entretanto, conservar a floresta não é uma solução permanente, pois até as florestas pro-tegidas atingem um ponto de saturação onde serão incapazes de absorver mais carbono.

existem passos importantes que devem ser tomados enquanto o mundo tenta desenvolver políticas ambientais de longo prazo e diminuir sua dependência de combus-tíveis fósseis. os primeiros passos na redução de emissão de carbono são: - impedir que o carbono já armazenado nas florestas tropicais seja liberado de volta ao ar, e - preservar as habilidades de absorção de carbono das árvores.

se nada for feito, as florestas continuarão sendo derrubadas em velocidades alarman-tes. cientistas estimam que, assim, até 2030, 55% da amazônia brasileira terá sido derru-bada, explorada ou danificada por seca ou fogo. isso não apenas liberaria 15-25 bilhões de toneladas de carbono no ar, mas também acabaria com a capacidade das florestas de absorver carbono, esfriar e umidificar o ar.

aqui você vê dois possíveis futuros para a amazônia, um otimista e um pessimista.

creative commons cordygeps

iPam

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no cenário pessimista, que parte do princípio de que nenhuma mudança será feita, 40% das florestas estariam desmatadas até 2050, liberando 32 bilhões de toneladas de carbono. no cenário otimista, que conta com mais áreas protegidas, manutenção de áreas indígenas, governança mais forte e criação de políticas de proteção das florestas, 25% das florestas seriam desmatadas, o que liberaria 17 bilhões de toneladas de carbono. isso conti-nua não sendo bom, mas quanto mais desmatamento pudermos evitar, melhor.

Imagem de satélite do desmatamento no Mato Grosso, Brasil

nos últimos anos, o Brasil deu importantes passos para contornar o desmatamento. Por exemplo, o governo tem tentado monitorar e controlar o desmatamento ilegal.

o instituto nacional de Pesquisa espacial (inPe) desenvolveu um sistema chamado deTer (sistema de detecção de desmatamentos em Tempo real) que usa imagens de satélite para que o governo e sociedade vejam exatamente onde e quando as florestas são queimadas ou derrubadas, ajudando imensamente o monitoramento.

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entre 2005 e 2006, o governo prendeu mais de 500 desmatadores ilegais e, como resultado dessa e outras ações, o governo conseguiu reduzir pela metade os índices de desmatamento em três anos.

e o governo delimitou 24 milhões de hectares de área protegida na fronteira de ex-pansão da agricultura, aproximadamente 10% da área total da floresta. de acordo com um documento de 2008, do serviço florestal Brasileiro, essas ações ajudaram o Brasil a evitar a emissão de 200 milhões de toneladas de carbono desde 2004.

esse sucesso não passou despercebido e foi o motivo que levou a convenção Quadro das nações unidas sobre alterações climáticas (unfccc) a destacar o Brasil, assim como outros países na áfrica, ásia, e américa latina, por seus êxitos com programas de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, conhecido como redd.

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o conceito desse mecanismo é que países desenvolvidos signatários da  convenção de clima (conhecidos como países do anexo i) ajudariam a compensar os países detentores de florestas tropicais, como Brasil e indonésia,  pela redução no desmatamento e promo-ção de práticas de gerenciamento sustentável da floresta. apesar de não ser arato inicial-mente, autoridades estimam que os custos diminuam no decorrer do tempo.

o mecanismo de redd, no Brasil, deve incluir compensações ou incentivos positivos para agricultores familiares, produtores rurais, povos indígenas, comunidades tradicionais e esferas de governo pelo serviço que prestam pela a humanidade mantendo a floresta em pé ou deixando de desmatá-la. esse mecanismo contempla não só a redução de emissões provenientes do desmatamento e da degradação, mas também o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas nos países tropicais.

além de reduzir emissões de carbono oriundas de desmatamento, estudos mostram que tal mecanismo também ajudaria a amenizar a pobreza e proteger cidadãos, além de promover a conservação da biodiversidade. no Brasil, o recurso gerado poderia dobrar a renda de 200.000 famílias de produtores rurais que vivem em áreas de floresta; redu-zindo doenças respiratórias, mortes e danos às florestas e plantações decorrentes de queimadas; e evitando a redução na incidência de chuvas, importante para plantações  e hidroelétricas. em conclusão, redd pode ajudar a evitar a perda de serviços ambientais múltiplos e de muitas espécies importantes e insubstituíveis que fazem da amazônia um tesouro único

acordos internacionais

uNFcc—convenção sobre Mudanças climáticas

Vozes do Brasil:

Manoel Silva da CunhaPresidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)

“Eu não sei o que são as mudanças climáticas, mas eu sei dizer o que a gente já sofre de diferença lá. Lá nós sofremos uma diferença muito grande, uma mudança no jeito da natureza, que vocês chamam isso mudanças climáticas. 

Eu entendo que a proposta do mecanismo REDD é uma proposta bastante interessante para nós. O grande problema é de que jeito nós podemos afinar ela, adaptar ela, a um jeito que faça bem para as populações tradicionais da floresta, que não faça mal como outros programas que já tiveram, não de mudanças climáticas, mas outros fundos, outras coisas, que vieram como uma solução, mas na verdade não chegou até as comunidades. A proposta para nós é interessante, ela vai na linha, ela é um meio concreto, assim se transforme em política, de redução de desmatamento.”

atualmente cientistas concordam que apenas mudanças globais drásticas irão desace-lerar as mudanças climáticas. essa não é uma nova conclusão. em 1992, durante a confe-rência internacional sobre meio ambiente e desenvolvimento em no rio de janeiro, o tex-to da convenção-Quadro das nações unidas sobre mudança do clima, também conhecida como unfccc, foi aberto para assinatura. a convenção foi assinada e ratificada por mais de 192 países. essa convenção havia sido sugerida pelo Painel intergovernamental sobre mudança do clima, mais conhecido pela sigla em inglês iPcc, a autoridade mundial nas questões de mudanças climáticas, criado em 1988 pela organização mundial de meteoro-logia (Wmo) e pelo Programa das nações unidas para o meio ambiente (Pnuma).

o objetivo da unfccc é unir países para definir estratégias técnicas e políticas para combater o aquecimento global. nesse tratado, a comunidade internacional:

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reconheceu as mudanças climáticas como um problema ambiental real e global;

admitiu a importância do papel das atividades humanas nas mudanças climáticas e a necessidade de cooperação internacional;

definiu que estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa é um objetivo crucial.

sob o tratado da convenção, que se tornou efetivo em março de 1994, os governos concordaram em:

coletar e compartilhar informação sobre emissão de gases de efeito estufa, políticas nacionais e melhores práticas;

lançar estratégias nacionais para a redução de emissões de gases de efeito estufa;

dar apoio financeiro e tecnológico para países em desenvolvimento;

cooperar na preparação para adaptação aos impactos das mudanças climáticas.

o principal objetivo da convenção é estabilizar gases de efeito estufa na atmos-fera a fim de evitar mudanças climáticas drásticas, permitir que animais e plantas se adaptem naturalmente aos níveis mais altos de co2, garantir produção adequada de alimentos e preservar um desenvolvimento econômico sustentável.

a unfccc atinge seus objetivos através de seus encontros anuais, chamados de conferência da Partes (coP) nos quais as nações participantes discutem questões sobre as mudanças climáticas globais. a primeira coP foi realizada em 1995 em Berlim, na alemanha, onde as nações membros começaram a negociar objetivos e prazos para países desenvolvidos reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa.

a coP3, o terceiro encontro, foi realizado em 1997 em Quioto, japão, onde o co-nhecido Protocolo de Quioto foi adotado. em 2004, as regras para implementação do Protocolo de Quioto foram aprovadas durante a coP10. durante a coP 13 em 2007, as florestas foram mencionadas como parte da solução para as mudanças climáticas pela primeira vez, e o Plano de ação de Bali foi desenhado.

protocolo de quioto

o tratado da unfccc não impôs limites obrigatórios de emissão de gases de efeito estufa. ao invés disso, foram feitos protocolos para definir tais restrições. o primeiro foi o Protocolo de Quioto.

reconhecendo que países desenvolvidos são os principais responsáveis pelos altos níveis atuais de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, o Protocolo de Quioto impôs me-tas para 37 países industrializados e a união européia, os chamados países do anexo 1.

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sob o Protocolo de Quioto, os países do anexo i se comprometem a reduzir suas emissões nacionais em uma média de 5% dos níveis de 1990 entre 2008-2012 (chamado de “primeiro período de compromisso de Quioto”). sob o Protocolo de Quioto, países em desenvolvimento, ou seja, não pertencentes ao anexo i, não têm compromisso de reduzir suas emis-sões. o Brasil está nesse grupo, assim como a china, Índia e indonésia.

redução de eMissões

com compromissos dentro do Protocolo de Quioto para limitar ou reduzir emissões, os países precisam atingir suas metas primeiramente através de políticas públicas e regulamentações que limitem as emissões diretamente, ou que criem incentivos para melhor eficiência dos setores energéticos, industrial e de transporte, e que promovam maior uso de fontes renováveis de energia.

o Protocolo de Quioto também introduziu três mecanismos com base no mercado para ajudar os países a reduzirem emissões:

1. comércio de emissões2. implementação conjunta3. mecanismo de desenvolvimento limpo

atualmente o carbono é rastreado e vendido como qualquer outra mercadoria. isso é conhecido como “mercado de carbono”. já que o dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa, simplesmente falamos “ ‘’comércio de emissões de carbono”, e outros gases de efeito estufa, como o metano, por exemplo, são expressos em sua equivalência em dióxido de carbono (co2eq).

o comércio de emissões permite que países desenvolvidos que tenham diminuído suas emissões de gases de efeito estufa para níveis abaixo de suas metas, comercializem esse excesso com outro País do anexo i, ou seja, os países vendem seus créditos para aque-les que não atingiram suas metas.

o mecanismo de implementação conjunta permite que um país do anexo i invista num projeto de redução de emissões em outro país do anexo i, onde o custo para redução seja mais baixo. Por exemplo, se o custo de redução de emissões no japão for muito alto, o japão poderia investir num projeto na frança. nesse exemplo, a frança se beneficiaria do investimento e tecnologia externos e o japão teria uma possibilidade maior de cumprir suas metas.

o mecanismo de desenvolvimento limpo, também conhecido como mdl, é o único que permite a participação de países em desenvolvimento. nesse mecanismo, países desenvolvidos com compromissos de redução de emissões podem investir em projetos em países em desenvolvimento – aqueles que não têm compromissos de reduções sob o protocolo de Quioto – para gerar créditos de carbono de forma mais barata. esses projetos resultam em créditos que, certificados, podem ser comercializados e somados para o alcan-ce das metas de Quioto.

O que vOcê acha?O protocolo de quioto se tornou efetivo em 16 de fevereiro de 2005, e até 2009, foi ratificado por 184 países. qual país(es) influente(s) NÃO ratificou o Protocolo até 2009? (Selecione todas as respostas que se aplicam.)

a) Alemanha ( ) b) Rússia ( ) c) Estados Unidos ( ) d) Austrália ( ) e) Grã Bretanha ( )

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exemplos de projetos de mdl podem incluir:

levar eletricidade às áreas rurais usando painéis solares e turbinas de vento.

Trocar combustíveis fósseis por biocombustível.

dispor corretamente lixo urbano e rural para evitar emissões de metano.

sequestrar carbono plantando árvores onde florestas foram derrubadas (reflorestamento) ou em terras onde não havia florestas (aflorestamento).

o mdl registrou mais de 1.838 projetos, e esse é um número que só cresce.

Para países em desenvolvimento, projetos de mdl fornecem desenvolvimento susten-tável e redução de emissões, enquanto a países industrializados dão alguma flexibilidade em como atingir suas metas de redução de emissão.

como os países têm participado do mdl?

até setembro de 2009, 5.340 projetos estavam em alguma fase do ciclo de projeto do mdl (validação, aprovação e registro). a china tem a maioria 37% do total, a Índia vem em segundo 27%, seguida pelo Brasil com 8% do total. juntos, eles representam 72% dos projetos existentes.

em termos de emissões reduzidas por esses projetos, o Brasil contribuiu com 6% do total global.

apesar de projetos de mdl envolverem aflorestamento e reflorestamento, projetos que visam evitar emissões prevenindo o desmatamento e incêndios ainda não fazem parte do mecanismo. Por o Brasil ser um dos 5 maiores emissores de gases de efeito estufa, e por mais da metade de suas emissões serem provenientes do desmatamento, tem-se falado

muito sobre a criação de programas de redução de emissões por desmatamento usando um mecanismo como o mdl em países em desenvolvimento.

essa idéia tem uma história que vem desde 2003, quando um grupo de pes-quisadores liderados pelo iPam - instituto de Pesquisa ambiental da amazônia – introduziu uma proposta chamada de “redução compensada de desmatamento” na coP 9, em milão. a proposta sugeria que países desenvolvidos que, voluntaria-mente, reduzissem emissões por desma-tamento receberiam uma compensação financeira internacional equivalente às emissões evitadas, de acordo com os preços do mercado de carbono.

depois disso, muitas outras propos-tas foram feitas, inspiradas pela propos-ta apresentada em milão. na coP 11, em 2005, um bloco de nações em desen-volvimento, liderado pela Papua nova Guiné e costa rica, propôs compensar países com florestas tropicais pela redu-ção do desmatamento.

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em 2007, na coP 13 em Bali, indonésia, evitar emissões por desmatamento tropical e o papel das florestas em pé foi uma questão central na redução do aquecimento global. ao final do encontro, a importância das florestas para o clima foi oficialmente reconhecida. os países membros aprovaram o mapa do caminho de Bali, que estabelece um calendário de dois anos de negociações para construir um arcabouço legal de um tratado para o período pós-2012, ano em que finda o primeiro período do compromisso do Protocolo de Quioto.

nesse período de dois anos se intensificariam as medidas nacionais/internacionais de mitigação da mudança do clima. uma das medidas de mitigação em discussão é sobre um mecanismo de políticas e incentivos positivos com relação a questões referentes à redução de emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento; e o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas nos países em desenvolvimento. esse me-canismo é conhecido também pela sigla redd (redução de emissões por desmatamento e degradação).

as nações membro terão que decidir como tornar redd realidade. os detalhes me-todológicos do mecanismo e o e o tipo de financiamento são elementos decisivos para o sucesso do redd em países em desenvolvimento e, em conseqüência, a conservação de florestas tropicais e compensações para aqueles que a mantém em pé e que auxiliam nos esforços de redução de desmatamento e degradação.

nos próximos anos haverá muitas mudanças em como as nações do mundo se pronun-ciam sobre o problema das mudanças climáticas e esse importante mecanismo. redd, com já visto, pode ser essencial para a manutenção das florestas tropicas, mas cabe a cada um de nós, como governo ou cidadão, as pequenas e grandes atitudes que vão conter o clima e proteger a humanidade. Para atualizações e mais informações favor visitar e guardar em seus favoritos nosso website: 

www.ipam.org.br

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