Material Pesquisa 1 (1 de 4)-cultura cigana

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Cultura Cigana, nossa História por nós – copyright©Nicolas Ramanush- 2011 Este ensaio está registrada na Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura, sob número 9788590916109 tem todos os direitos reservados em nome de Nicolas Ramanush Leite. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem previa autorização do autor. Página 1 Cultura Cigana, nossa História por nós Por Nicolas Ramanush – grupo sinti-valshtike Presidente – Embaixada Cigana do Brasil – Phralipen Romane www.embaixadacigana.org.br

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Primeira de quatro partes de material de pesquisa sobre a cultura cigana.Cultura Cigana, Nossa História por nós – parte I copyright©Nicolas Ramanush – grupo sinte-valshtike – presidente ongwww.embaixadacigana.com.br

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  • Cultura Cigana, nossa Histria por ns copyrightNicolas Ramanush- 2011

    Este ensaio est registrada na Fundao Biblioteca Nacional, do Ministrio da Cultura, sob nmero 9788590916109 tem todos os direitos reservados em nome de Nicolas Ramanush Leite.

    expressamente proibida a reproduo total ou parcial desta obra sem previa autorizao do autor.

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    Cultura Cigana, nossa Histria por ns

    Por Nicolas Ramanush grupo sinti-valshtike

    Presidente Embaixada Cigana do Brasil Phralipen Romane

    www.embaixadacigana.org.br

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    Este ensaio est registrada na Fundao Biblioteca Nacional, do Ministrio da Cultura, sob nmero 9788590916109 tem todos os direitos reservados em nome de Nicolas Ramanush Leite.

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    A generalizao da palavra cigano(a) e suas implicaes negativas quanto nossa verdade.

    Como a prpria palavra j indica, a generalizao consiste em generalizar, isto , atribuir a todos os indivduos de uma etnia, em nosso caso, aquilo que somente se viu ou se conhece ou ainda pensa-se conhecer sobre alguns. E esta forma de raciocinar leva ao generalizador a pensar de todos aquilo que ele somente conhece ou pensa conhecer sobre alguns.

    Quando o generalizador atribui a todos os grupos ciganos aquilo que ele somente observou em um nico grupo cigano, ou ainda pior, caso que ocorre em larga escala aqui no Brasil, atribui a todos os grupos ciganos aquilo que ele observou em um grupo de no ciganos que se autodenominam ciganos, o generalizador, ento, faz uma concluso geral a partir de premissas particulares ou neste caso citado, at mesmo sobre premissas falsas.

    E vejam bem, ainda que o generalizador parta de premissas verdadeiras, no existe a possibilidade de garantir a verdade de sua concluso. Isto simplesmente pela omisso das particularidades existentes em cada grupo cigano.

    A proposito do que escrevi acima, vejamos duas generalizaes que ocorrem em dicionrios:

    No Dicionrio Aurlio

    Significado de cigano

    s.m. Fig. Bomio, astuto, velhaco, trapaceiro / Ant. vendedor ambulante de artigos de armarinho.

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    No Dicionrio Michaelis

    cigano

    ci.ga.no

    adj sm1 Etnol Diz-se de ou povo nmade, originrio do Noroeste da ndia, que emigrou para a Europa Central e que, atualmente, encontra-se presente com sua cultura e costumes em vrios pases do Ocidente. Dedica-se ao comrcio de cavalos, msica, prtica das artes divinatrias, artesanato, venda de miudezas etc.; calom, zngaro. 2 coloq Que ou quem tem grande habilidade para o comrcio. 3 coloq Mercador ambulante que oferece miudezas em domiclios. 4 coloq Que ou quem leva vida itinerante e/ou de bomio. 5 Zool Diz-se de ou carneiro treinado para guiar rebanhos. sm Ling V romani. Etim: fr ant cigain

    No Aurlio nota-se explicitamente uma generalizao preconceituosa e discriminadora. J no Michaelis apenas uma generalizao.

    Bem, eis um pouco de nossa histria contra as generalizaes.

    Aps termos deixado a ndia, alguns grupos emigraram para a Prsia, outros para a sia central e outros para o ocidente, para Bizncio, alcanando a Europa. Isso ocorreu entre 1300 e 1400.

    Quando chegamos Europa, espalharam-se vrios pressupostos a nosso respeito, entre os quais alguns por demais esquisitos: diziam que ramos descendentes dos Druidas, dos Nbios, que ramos europeus, mas que pintvamos nossa pele e falvamos uma linguagem inventada com propsitos de atividades criminais e ainda, este por conta da Igreja, que ramos feiticeiros. A Igreja Catlica, historicamente documentada, foi a primeira a gerar esteretipos a respeito de nossa gente. Pois, no Conclio de Tarracn, de 1591, a Igreja pediu aos poderes pblicos que castigassem os ciganos...pois so uns embusteiros, ladres, vigaristas e viciosos. E no sculo XVII o telogo Sancho

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    de Moncada enviou ao rei espanhol, documento em que solicitava severa represso aos ciganos: sua deportao do Pas, e defendia a pena de morte, inclusive para mulheres e crianas ciganas, segundo Sancho de Moncada dizia: porque no h Lei que nos obrigue a criar filhotes de lobos.

    Naquela Europa ramos chamados de gitanos (Espanha), tsiganes (Frana), zigeuner (Alemanha), zngaros (Itlia) e ciganos (Portugal) entre outras denominaes no leste europeu. Mas ningum respeitava nossa autodenominao de origem indiana.

    Quando estivemos em territrios controlados pelos Otomanos, fomos escravizados nos principados da Moldvia e Valquia por conta de nossa capacidade artesanal em metalurgia, de alguns grupos entre ns, na fabricao de armas.

    Nos sculos 13 e 14 ocorreu a fixao de muitos rom (ciganos) na Bulgria. Esse grupo fazia parte do exrcito otomano, na fabricao das armas, na conquista dos Balcs. E eram denominados de chingene, kibti e sterlet .

    Na metade do sculo 14 ocorre a disperso para outras partes da Europa. Na Valquia o primeiro documento com a palavra cigano aparecia tratando da escravido. Nesta referencia de 1385, um grupo de ciganos foi includo em um documento de doao do prncipe Dan I da Valquia para o Mosteiro de Tismana. E outros documentos semelhantes, encontramos durante o reinado de Mircea Cel Batran. Na Moldvia a presena de ciganos mencionada pela primeira vez em 1428, durante o reinado Alexandru Cel Bun em um documento de doao ao Mosteiro. Desde nossa chegada aos pases medievais, fomos escravizados pelos proprietrios de terras, tendo nossa emancipao somente em 1851.

    Nos sculo 15 os reis catlicos iniciaram a ideia da Espanha como um Estado. E como algumas famlias Romani j haviam se instalado em Andaluzia, a Pragmticas dos Reis Catlicos em 1499 deu incio a uma fase muito longa de perseguio. Na qual era visada a diversidade cultural de nossos grupos ciganos, e nesse caso dos Cal, de Andaluzia. Estes estavam a partir dessa data proibidos de usarem a lngua (Romans) e roupas tradicionais, e eram

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    obrigados a abandonar o trabalho tradicional, ligado ao artesanato para servir a um Lorde. Vejam a que ponto chegou a Sanso Pragmtica da Carlos II em 1783: Eu declaro que aqueles que so chamados de ciganos, no o so nem por origem nem por natureza. No dito eram reconhecidos como cidados espanhis, mas a existncia e diversidade cigana eram negadas. E essa igualdade que nos era oferecida, no passava de eufemismo e tremenda desigualdade que, incrivelmente, perdurou at a Constituio de 1978. Em 1525 fomos proibidos de entrar no Reino Portugus. E posteriormente iniciaram-se as condenaes de degredo, para Angola e Brasil.

    Durante os sculos 17 e 17 foram legisladas muitas leis contra nossa presena na Europa. E somente com a instituio do regime liberal que houve a interrupo das medidas de perseguio e expulso. Em 1822 reconhecida a cidadania de nossa etnia.

    E em todos os outros pases da Europa encontramos ditos de leis de perseguio e expulso. Apenas no sculo 18 com o Iluminismo a Histria comea a aceitar nossa legitima identidade Romani. Porm, ironicamente, registrou-se nesse perodo o estabelecimento de uma imagem cigana romantizada (estereotipada). A qual permanece at os dias de hoje, principalmente entre os brasileiros que brincam de ser ciganos, alimentando o estereotipo e o preconceito, por desconhecerem nossa verdadeira identidade e situao a nvel mundial.

    Em meados do sculo 19 emergiu o Racismo Cientifico que tentou o extermnio de nossa gente e cultura no III Reich de Hitler. E da mesma forma que os judeus possuem uma denominao para o que representou esse genocdio, ns tambm temos uma palavra: porraimos (somente em Lodz, na Polnia, 500.000 ciganos foram mortos).

    Em maro de 1936 foi elaborado o primeiro documento referente Introduo da Soluo Total para o problema cigano a nvel nacional e internacional, sob orientao do Secretrio de Estado Hans Pfundtner do Ministrio do Interior do Reich e decidiu-se que seria estabelecida em Berlim a principal instituio

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    nazista para lidar com nossa gente, denominada Unidade de Pesquisa de Higiene Racial da Populao do Ministrio da Sade. Em fevereiro de 1940 no campo de concentrao em Buchenwald, 250 de nossas crianas foram usadas como cobaias para testar o Zyklon-B (pesticida a base de cido ciandrico, cloro e nitrognio) mais tarde usado nas cmaras de gs de Auschwitz-Birkeneau.

    Ao trmino desse horror no houveram reparaes s atrocidades cometidas pelos nazistas e, ao contrrio, quase todos os pases europeus continuaram a produzir legislao anticigana.

    Durante o auge dos regimes comunistas, nossa gente, que vivia em pases desse sistema poltico, passou fome porque a mo de obra artesanal era proibida e apenas a produo estatal era permitida ( e claro, ciganos no eram admitidos nas industrias). Depois da queda do regime comunista, muitos ciganos preferiram trabalhar no estrangeiro e os destinos preferidos foram: Holanda, Reino Unido, Frana, Blgica, Grcia, Itlia, Espanha e Portugal.

    Quantos somos no mundo? Eis uma pergunta difcil de ser respondida. Porque os representantes oficiais procuram reduzir o nmero de ciganos que vivem em seus pases (escondendo a realidade e fugindo da responsabilidade social com gente de nossa etnia). Por exemplo, o Censo IBGE 2009 apresentou na Tabela 174, em um total de 5.565 municpios, a presena de ciganos em apenas 290 municpios brasileiros. Sendo que nossa ong Embaixada Cigana do Brasil levantou a presena de 28 acampamentos, apenas na grande So Paulo. E isso no ocorre somente por aqui, em 1997, oficialmente no havia ciganos vivendo na Moldvia, enquanto ativistas ciganos citavam outra realidade. Com uma populao mundial estimada entre 8 a 12 milhes, o maior nmero vive no centro e leste europeu. No Brasil calculamos que haja, pelo menos, 800.000.

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    Ns, rom (ciganos) reconhecemos entre ns divises e subdivises em diferenas territoriais, culturais e lingusticas. Alm das vrias denominaes que os no ciganos nos atribuem, temos nossas autodenominaes. Vejamos um pouco sobre o grupo ao qual eu perteno: somos os sinti-manush, hoje em dia somos encontrados em grande maioria na Alscia, norte da Itlia e norte da Alemanha. Contudo, em vrias outras regies, mas em nmeros inexpressivos.

    Nossa maior e mais importante organizao chama-se famlia. No caso de nosso grupo encontramos famlias patriarcais e matriarcais. Nossas crianas so educadas para que possam adquirir e manter as especificidades e tnicas de nosso grupo. O papel do homem e da mulher diferente, porm altamente complementar um ao outro. Cabe mulher, por educao, assegurar a continuidade da tradio de seu cl (famlia). Uma de suas principais preocupaes a educao de sua filha, antes do casamento. Aos nossos homens cabe a manuteno fsica e espiritual da famlia, assim como a defesa da reputao familiar. Se a famlia grande, deve predominar a comunidade sobre os interesses individuais. E isso tem a ver com o que consideramos, dentro de nosso grupo, puro e impuro, bem e mal, permitido e proibido etc...

    Os mais idosos so e sero sempre os mais respeitados, pois com experincia de vida so os sbios a serem sempre consultados.

    Nossos grupos, sejam os Calderash, os Calon, os Sinti etc, representam verdadeiramente entidades histricas. Pois, certo que estamos ligados a uma histria comum, assim como por nossas tradies e lngua. Ainda que hajam especificidades culturais em cada grupo, oriundas da regio onde o grupo tenha se tornado sedentrio ou pelo fato de haver dialetos do Romani; o fato de pertencer minha famlia (vitsa) manush, e sempre ser mais importante do que me sentir apenas mais um cigano.

    A ttulo de explicitar uma diferena bastante significativa entre ns Manush e os Calderash, eis um exemplo: a organizao social dos Calderash encontra-se dividida em conceitos de naes (as natsias) calderash srvios, moldovanos, hngaros, gregos, russos... E uma nao, neste caso se refere ao pas no qual eles vivem ou viveram. Em nosso caso Manush, apenas reconhecemos nossa vitsa (famlia).

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    Os Calderash sempre viajaram e trabalharam juntos, formando uma companhia. Esta, que era composta por vrias famlias e no necessariamente consanguneas. O nome da companhia derivava, e hoje isto no acontece mais, sempre do nome do chefe. Aquele que por vrios motivos (capacidade de comunho, dinheiro, etc...) representava os demais, perante no ciganos. J entre ns, Manush, nunca houve esse tipo de procedimento. Cada homem responsvel apenas pela sua prpria famlia.

    Os casamentos representam um elemento essencial na organizao Rom (cigana). E os mesmos variam significativamente, de grupo para grupo. Para alguns grupos o casamento sempre ser o resultado das negociaes entre famlias. Para ns, Manush, o casamento geralmente comea com uma fuga do casal e posterior pedido de perdo e aceitao entre as famlias. Contudo, na ausncia dos pais de ambos, o rapaz pede a mo da moa de forma ritualstica. Um casamento de indivduos de grupos diferentes at pode ocorrer, mas muito raro. E nunca foi bem visto por todos.

    Nomadismo quem j no ouviu dizer que: cigano igual ao vento no tem parada!, eis outro estereotipo sobre nossa realidade. As viagens e os deslocamentos sempre ocuparam papis funcionais e no tradicionais. Permitiam o exerccio de nossas profisses (geralmente artesanais e bem apreciadas, como utenslios domsticos de metal e de madeira, caixeiro viajante, negociante de cavalos, feirante, artista). As viagens tinham, a ainda tem uma funo econmica. E ou ocorria o tal nomadismo, por conta de que ramos expulsos do local.

    Tradies: aqui sim, cabe uma generalizao para todos os grupos. Atravs de nossas tradies conseguimos manter nossa identidade (romanipen) atravs dos sculos. Elas sempre foram transmitidas de forma oral entre avs, pais e filhos. Portanto, na vida familiar que nossas tradies tiveram e continuam tendo fora. Elas nos acompanham do nascimento morte.

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    Eis uma sntese sobre nossas tradies:

    Nascimento em alguns grupos, desde a gestao ao dar a luz, existe um nmero significativo de proibies para a mulher. Essas tem a funo de proteger a vida e a sade da me e do bebe. Em outros grupos o nascimento de um filho marca o reconhecimento do homem na comunidade e tambm a mulher passa a gozar de certa independncia quanto ao controle exercido por sua sogra. Entre ns, Manush, h o banho da (Slav glorificao) realizado no stimo dia de vida da criana. J entre os Xoraran (grupo de ciganos convertidos f islmica), eles celebram o syunet a circunciso que deve ser feita at aos 7 anos do menino.

    Casamento:

    Ocorriam e ainda ocorrem, em menor escala a nvel mundial, em uma idade significativamente jovem. Para rapazes, entre 14 e 17. Para as moas entre 13 e 15. As relaes amorosas fora do casamento so constantemente vigiadas e desencorajadas. E toda a famlia realiza o papel de protetora das moas, a esse respeito. Dentro da maioria dos grupos as possveis esposas so procuradas por via oral: quando a moa encontra-se em idade para casamento, torna-se pblico o fato. Os pais do rapaz visitam vrias vezes a famlia da moa. Eles procuram para futura nora, algum que seja bonita, que tenha um bom dote e que seja de uma famlia conhecida e bem conceituada pela comunidade. Incrivelmente, entre os ciganos islamizados, usa-se, at hoje, uma pratica semelhante denominada de babahak (direito do pai). E uma exceo a essa tradio ocorre entre ns, Manush. Como j mencionei anteriormente raptamos ou pedimos a moa diretamente ao pai dela.

    Uma tradio ainda muito bem preservada, entre os ciganos mulumanos, so os fatos que ocorrem ao dia em que antecede ao casamento: ocorre a pintura das mos da noiva com hena nos dedos dos ps, das mos e nas palmas (que deve ser feita por mulher idosa e influente, que somente tenha se casado uma vez e nunca tenha trado o marido). Esse ritual acompanhado com a doao

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    de dinheiro dentro de um pano branco que envolto nos ps e mos da moa. O pano branco amarrado com linha vermelha simboliza sua integridade. Ao termino todos os mais velhos abenoam ao casal.

    Funeral: entre os Calderash, que conheci na minha infncia, quando algum morria na famlia, os familiares mais prximos compravam o caixo e colocavam os objetos estimados pelo falecido. Durante um determinado nmero de dias, o defunto era velado dentro de casa, com toda a famlia sentada sua volta. Depois quando o ritual chegava ao final, o falecido era levado ao cemitrio, sempre com os ps para frente, e era enterrado em tmulos suntuosos. Para os Xoraxan o costume da sepultura envolvia dar dinheiro famlia. Entre os Manush e os Calon, via-de-regra queima-se as principais coisas do falecido(a) e o que no queimado ter de ser distribudos aos familiares e amigos.

    Cultura Cigana quando ouvirem falar sobre cultura cigana ser imprescindvel lembrar que ela no universal, ao contrrio, bem diversificada. Contudo, com caractersticas comuns a todos os grupos ciganos. Nossa cultura, tal como qualquer outra, possui duas colunas principais: os valores espirituais e materiais.

    Valores Espirituais: nestes encontram-se a medicina cigana, o folclore cigano e os conceitos religiosos. Quanto a religiosidade cigana sabido que os grupos adotam a religio dominante no pas, onde foram acolhidos. por esse motivo que h um nmero bastante significativo de ciganos catlicos, islmicos. E mais recentemente, desde a II Guerra Mundial um nmero crescente de ciganos evanglicos; cujos membros tornaram-se pastores e criaram suas prprias igrejas e organizaes missionarias. E se esse fato, por um lado importante porque as pregaes so realizadas em Romani, fato que viabiliza a preservao da lngua, no deixa de ter seu lado negativo. Pois, em detrimento das tradies muitas famlias tm abandonado as atividades que entram em conflito com os conceitos da Religio, tais como medicina tradicional e leitura de mo.

    Minha famlia, em particular, sempre foi e se Deus permitir continuar sendo agnstica (sabemos que no se pode provar a existncia ou inexistncia de

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    Deus por essa razo, no acreditamos em tudo, mas tambm no desacreditamos em tudo). Procuramos usar como ferramentas, a Verdade e o Amor para atingir um equilbrio de vida.

    Ainda temos dentro deste tpico, nossas lendas, provrbios, poesias e as mais importantes: msicas e danas. Existe uma forte tradio de musica e dana no centro e leste europeu, em pases como: Iugoslvia, Bulgria, Romnia e Hungria. E isso decorre do fato de que uma parte considervel da musica cigana esteja fundamentada na msica popular dos pases por onde passamos. Exemplo vivo disso, temos aqui no Brasil em nosso repertrio uma cano chamada Hozd El Istem (que em hngaro significa, traga-me meu Deus) que foi retirada do folclore hngaro. E assim ainda ocorre em todo o mundo, a msica e a dana local so adotadas pelos nossos grupos e vo se transformando lentamente no estilo cigano. Na Bulgria as canes e danas ciganas representam uma mistura das tradies populares dos Balcs. E ainda podemos citar como exemplo, agora j na Europa ocidental, o flamenco espanhol, que na realidade a msica e a dana cigana de Andaluzia.

    E para finalizar, sem ter esgotado o tpico sobre nossos valores espirituais, cito alguns valores muito nossos:

    - nossa palavra dada a outros ciganos respeitada e deve se fazer respeitar sem a necessidade de assinar papeis e ou documentos escritos;

    - o respeito aos nossos idosos que nunca sero vistos em asilos;

    - o valor de Ser e no de Ter (ainda que atualmente vejamos alguns grupos em outro posicionamento).

    Valores Materiais: nestes encontramos o resultado de todos os ofcios e trabalhos tpicos de nossos grupos. So eles:

    - a forja de metais, um dos mais respeitados e admirados. arte e ofcio dos Calderash (ferreiros, armeiros e fabricantes de utenslios domsticos de metal); - o trabalho em madeira, a arte de produzir colheres, taas, potes e pentes em madeira. arte e ofcio dos Lingulari e Sepecides (carpinteiros e cesteiros);

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    - criao, compra e venda de cavalos e adestramento de ursos. So artes e ofcios dos Lovara, Calon e Ursari.

    Com o passar do tempo temos visto, gradativamente, a perda de nossa cultura material. Pois, a tecnologia e seus adventos tomaram o espao que antes pertencia s nossas artes e ofcios. Exemplo, quem comprava um balde de metal, feito a mo, que durava quase a vida toda, hoje consome baldes plsticos que duram menos e so mais baratos. Essa perda tem representado um processo irreversvel de assimilao das comunidades majoritrias em relao s nossas etnias. E como j me referi anteriormente, que em tudo sempre tem o lado bom da histria. Com essa inevitvel assimilao, hoje em dia, encontramos ciganos de todos os grupos nas mais diversas profisses. E aqui no Brasil, principalmente nestas: advogado, professor, mdico, comerciante e empresrio.

    E finalmente devo ressaltar que h uma arte e ofcio em ns que mesmo a tecnologia no ir ocupar o espao. Refiro-me a leitura da verdade: nossas mos so pedaos de um velho pergaminho, que no caminho para o cu o Senhor resolveu rasgar...e o vento tratou de espalhar. E foi nas linhas tortas das palmas de nossas mos que o certo e o errado Ele escreveu. Somente compreenderemos a verdade quando unirmos nossas mos!

    Desde nossa chegada Europa nos tornamos conhecidos pela pratica da arte de falar sobre a sorte. Ao longo dos tempos cada grupo se utilizou de muitos mtodos, desde bolas de cristal, leituras de mo (embasada na quiromancia), baralho, tarot, borras de caf, cabal etc. Se por uma lado essa pratica pode ser analisada como prestao de servios de psicologia a preo popular, de outra forma tambm tem sido analisada como contraveno penal artigo 171, estelionato: sendo definido como obter para si ou para outro, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.

    Bem queridos leitores, devo lembrar que no incio deste falvamos em generalizaes e as implicaes negativas dessa prtica sobre nossa cultura

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    ou etnia. Portanto, devemos ressaltar dois fatores de usma importncia com relao Leitura da Sina ou da Verdade:

    - primeiro, aqui no Brasil, h um nmero muito grande de no ciganos que se utilizam do estereotipo cigano(a) travestindo-se daquilo que eles acreditam que seja ser cigano (leno na cabea, bijuterias etc) para ganhar dinheiro.

    - segundo, que tambm no se descarta a possibilidade de pessoas de etnia cigana praticaram algo errado (afinal em qualquer comunidade, encontramos pessoas corretas e no corretas). Quando um cigano(a) pratica uma Arte Mntica deve faz-lo respeitando nossos antepassados, do contrrio no honra a palavra!

    E finalizando, resta uma pergunta: A quem interessa ou a o que interessa a generalizao praticada pela Mdia (Imprensa) brasileira? Exemplo: quando uma pessoa de origem nipnica se envolve em uma desinteligncia e isso acaba em morte. Nunca lemos ou ouvimos a seguinte frase: japons mata em briga de trnsito! o que se l ou se ouve : o Sr. Nakamura matou fulano em briga de trnsito. Agora quando o envolvido de etnia cigana, eis o que ouvimos ou lemos: cigano mata o cidado fulano de tal em briga de trnsito.

    E ento a pergunta no cala: a quem interessa a generalizao praticada pela Mdia brasileira, levando-se em conta que o envolvido pode ser um desses mitomanacos que brinca de ser cigano! E mesmo em se tratando de pessoa realmente portadora da etnia cigana, por que a generalizao?

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    Somos uma etnia sem territrio, porm com Hino e Bandeira:

    Nosso Hino chama-se Gelem, Gelem.

    Foi composto por um cigano iugoslavo, Jarko Janovic, inspirado em uma cano popular do leste europeu. Seus versos foram inspirados nos ciganos que foram reclusos em campos de concentrao nazistas, durante a II Guerra Mundial. Foi adotado oficialmente como Hino no I Congresso Internacional, realizado em Londres, em 1971.

    Gelem, gelem, lungone dromensa

    Maladilen baxtale romensa

    Ah Romalen katar tumen aven

    E chaxrensa bokhale shavensa

    Ah Romanle, Ah shavale

    Sas sa vi man bari famlia

    Mudardias la i kali legia

    Saren chindas vi Romen vi Romen

    Mashkar len vi tinke shavorren

    Ah Romale , Ah Shavale

    Putar Devla te kale vudara

    Te shai dikhav kai si me manusha

    Palen ka gav lungone dromensa

    Ta ke phirav baxtale romensa

    Ah Romanle, Ah Shavale

    Opre Roma isi vaxta akana

    Aide mansar sa lumiake Roma

    Ah Romale, Ah Shavale

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    Andei, andei por longas estradas

    E encontrei ciganos de sorte

    Ai ciganos, de onde vocs vem?

    Com tendas e crianas famintas?

    Ai homens ciganos, ai jovens ciganos Eu tambm j tive uma grande famlia Foi assassinada pela legio de preto (nazistas) Homens e mulheres foram mortos

    Entre eles tambm crianas pequenas

    Ai homens ciganos, ai jovens ciganos Abra, meu Deus, as portas escuras

    Para que eu possa ver onde est minha gente

    Voltarei a percorrer os caminhos

    E andarei com os ciganos de sorte

    Ai homens ciganos, ai jovens ciganos Levantem ciganos! Agora o momento

    Venham comigo ciganos do mundo

    Ai homens ciganos, ai jovens ciganos

  • Cultura Cigana, nossa Histria por ns copyrightNicolas Ramanush- 2011

    Este ensaio est registrada na Fundao Biblioteca Nacional, do Ministrio da Cultura, sob nmero 9788590916109 tem todos os direitos reservados em nome de Nicolas Ramanush Leite.

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    Tambm instituda no mesmo Congresso de 1971, a nossa Bandeira foi inspirada na Bandeira da ndia

    Bandeira da ndia, trs listras horizontais laranja, branco e verde a roda azul marinho com os 24 raios do Ashoka (que representam as 24 virtudes);

    Bandeira Rom (cigana) duas listras horizontais, azul representando os valores espirituais, verde os valores materiais e ao centro roda com 16 raios representando os 16 principais grupos.

    O Dia Internacional Cigano comemorado em 8 de abril, justamente por ser o dia em que deu-se incio ao I Congresso Internacional Roma.

    Dia Nacional do Cigano comemorado oficialmente no dia 24 de maio, e foi institudo em 25 de maio de 2006 por um decreto assinado pelo presidente Lula, em reconhecimento contribuio das etnias ciganas na formao da histria da cultura brasileira.

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    Entre as pessoas nesse Congresso tivemos a presena de nosso querido amigo Carlos Munhoz Nieto, representante da Espanha.

    Declarao do Dia Internacional da Lngua Roma

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    Ns, participantes, linguistas, professores, jornalistas, lideres de organizaes ciganas de 15 pases reunidos em Zagreb, para a Conferncia sobre nossa lngua, de 03 a 05 de Novembro, tomamos a seguinte deciso:

    1 Em 5 de Novembro deve ser o Dia Internacional da Lngua Romani,

    Esta deciso tomada pelo mesmo desejo de todos os participantes. Na Europa vivem mais de 15 milhes de ciganos e sua situao muito complicada. Observamos aumento tanto do nazismo e do nacionalismo radical, que so contra nossa lngua e cultura.

    E por isso que ns, os ciganos, tememos por nossa lngua que muito importante para ns, pois refora a nossa identidade e no deve ser esquecida entre os prprios ciganos e outros.

    O que queremos:

    2 que a linguagem Romani seja oficialmente reconhecida como lngua europeia de grande envergadura entre outras lnguas da Europa;

    3 Como enunciados na Carta Europeia das Lnguas Regionais ou Minoritrias, a lngua Romani tem que ser aceita nas duas administraes do Estado como em outras instituies estatais;

    4 Os Estados devem financiar a promoo da lngua Romani, assim como todas as aes que ela acarreta;

    5 As instituies europeias devem fazer um acompanhamento minucioso e controle sobre aes tomadas pelos Estados envolvidos na lngua e cultura cigana;

    6 Queremos que o Dia 05 de Novembro seja reconhecido e celebrado em todos os pases.

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    Sa e Rom si phrala! Opre, Romalen, Shavalen!