Material Pesquisa 2 (Parte 2 de 4)-cultura cigana

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Cultura Cigana, nossa História por nós – parte II copyright © Nicolas Ramanush 2012 Cultura cigana,nossa História por nós Parte II por Nicolas Ramanush, grupo sinti-valshtike presidente Embaixada Cigana do Brasil – Phralipen Romane www.embaixadacigana.com.br

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Segunda parte (de quatro) sobre cultura cigana, material de pesquisa.Cultura Cigana, Nossa História por nós – parte II copyright©Nicolas Ramanush – grupo sinte-valshtike – presidente ongwww.embaixadacigana.com.br

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Cultura Cigana, nossa Histria por ns parte II copyright Nicolas Ramanush 2012 Cultura cigana,nossa Histria por ns Parte II por Nicolas Ramanush, grupo sinti-valshtike presidente Embaixada Cigana do Brasil Phralipen Romane www.embaixadacigana.com.br Cultura Cigana, nossa Histria por ns parte II copyright Nicolas Ramanush 2012 No foi fcil preservar nossa autenticidade e identidade (romanipen) j que as expulses (que so eufemisticamente denominadas de nomadismo) nos levou a convivncia com as naes mais diversas no mundo. E a nossa palavra de ordem, ainda que por instinto, sempre foi famlia. Sim, a famlia nossa defesa contra a perda ou diluio de nossa cultura, em prol da cultura do pas em que estejamos vivendo. Nossas razes no se aprofundam em um corpo material chamado de solo, mas sim em um terreno muito mais profundo: em nossos valores humanos, em nossas tradies, em nossa lngua e principalmente em nossa conscincia. No existe uma ciganidade como contedo nico para todos os grupos ciganos, existe uma phralipen romane (irmandade cigana).Portanto, quem quiser brincar de ser cigano, aguarde, aqui no Brasil, o carnaval para se fantasiar. Na maioria das vezes, e dos pases, somos vistos pela sociedade majoritria como um grupo homogneo e reduzidos a generalizao da palavra cigano. Cultura Cigana, nossa Histria por ns parte II copyright Nicolas Ramanush 2012 Muito raramente somos percebidos como indivduos e na maioria das vezes somos vistos simplesmente como ciganos. No h, no planeta, um nico cigano que possa atender a todos os esteretipos que existem a nosso respeito. H uma grande diversidade entre nossos grupos e cls. O que pode ser verdade em um cl, geralmente completamente diferente em outro. E as vezes at de famlia para famlia. O que realmente existe de diferena facilmente detectada entre ns : o que tradicional e aquilo que foi assimilado. As diferenas entre os indivduos ciganos so maiores do que as diferenas entre os grupos e cls. E isso ocorre pelo fato de que vivemos nos cinco continentes, falamos lnguas diferentes e dialetos diferentes do Romani. Geralmente adotamos hbitos da populao majoritria dos pases em que vivemos ou nascemos. Hoje, com o fim de nossos ofcios tradicionais, estamos envolvidos em inmeras profisses, somos livres para professar diferentes religies, e nossa situao social quanto a finanas depende muito da situao do pas em que vivemos e das polticas de integrao. Um esteretipo enraizado na mente das pessoas atravs da literatura o do nomadismo. Muitas vezes escuto pessoas dizendo que somos nmades, que Cultura Cigana, nossa Histria por ns parte II copyright Nicolas Ramanush 2012 vivemos despreocupados, que somos livres para fazermos o que quisermos, que temos a liberdade de amar, que vivemos em tendas sob a luz da lua com muita msica e dana ao redor de fogueiras. Dizem que quando estamos com fome... roubarmos uma galinha. obvio que esse esteretipo encontra-se muito longe de nossa realidade em qualquer parte do planeta. Para que tenham uma ideia aproximada do que estou falando, na Europa apenas 15% dos chamados ciganos ainda tem vida seminmade. E entre esse nmero devemos deixar claro que 10% no so ciganos e sim Yeniches, ScottishTravellers e os Gens du Voyage (grupos tnicos que vivem do pequeno comrcio e se deslocam em trailers que so: suas casas e lojas). No Brasil apenas o grupo Calon ainda leva uma vida meio-nmade. Uma parte porque tambm depende do pequeno comrcio que necessita de mobilidade para atingir novos clientes, e outros porque no encontram polticas de integrao por parte do governo. Quanto a ns, ciganos, o nomadismo nunca foi uma questo de livre escolha ou de modo de vida. Mas sempre esteve associado questo das perseguies. Tenhamos em vista a Inquisio e posteriores aes da Igreja: no Conclio de Tarracn, de 1591, a Igreja Cultura Cigana, nossa Histria por ns parte II copyright Nicolas Ramanush 2012 pediu aos poderes pblicos que castigassem os ciganos, pois, so uns embusteiros, ladres, vigaristas e viciosos.No sculo XVII o telogo Sancho de Moncada enviou ao rei documento em que solicitava severa represso aos ciganos, sua deportao do pas, e defendia a pena de morte, inclusive para as mulheres e crianas ciganas, segundo o padre, "porque no h lei que nos obrigue a criar filhotes de lobos". No ramos autorizados a nos estabelecer ou a trabalhar em muitos pases e, portanto, tnhamos que encontrar outras formas de ganhar a vida e sobreviver. Durante a Segunda Guerra Mundial fomos alvo dos nazistas...e mais nomadismo! No fim do Comunismo fugimos das perseguies tnicas...e mais nomadismo! Todos esses grandes deslocamentos foram vistos pelos no ciganos como nomadismo. Mas para membros de nossa etnia isso era a tentativa de salvar suas vidas. Alguns quando no eram expulsos tinham que abandonar as tradies e os valores culturais, pagando o preo da aculturao e assimilao pela salvaguarda de sua prpria vida. A literatura tem sido responsvel por muitos esteretipos, por exemplo, apresenta a dana como Cultura Cigana, nossa Histria por ns parte II copyright Nicolas Ramanush 2012 uma caracterstica da nossa cultura tradicional e sempre de forma muito extica.Mas a verdade que existem cls que habitualmente no danam. Os que o fazem porque se encontram em pases onde a dana uma tradio comum. Como exemplo, podemos citar Espanha, Rssia, Hungria, Srvia etc. J entre aqueles que no tm a dana como tradio temos, Eslovquia, Repblica Tcheca, Romnia etc. Ainda na literatura ou na indstria cinematogrfica somos retratados assim: roupas coloridas, orgulhosos e independentes, uma vida apaixonada e com a possibilidade de desfrutar os prazeres da vida, nossas mulheres e homens so sedutores. E esse quadro irreal especialmente prevalente na literatura e artes plsticas da Renascena. Basta uma simples visita aos guetos ciganos existentes na Hungria, Eslovquia, Romnia para verificar que a realidade completamente outra. Outro exemplo a msica, muitos dos que deixaram a ndia no tinham habilidade musical, mas como uma estratgia de sobrevivncia tornaram-se virtuoses violinistas (que chamamos de lavtari). Agora, um dos ofcios, tradicionais, mais difundido a arte de ferreiro. A maioria que professa esse ofcio