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Matutações

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“isso funciona (…) respira (…) come (…) caga(…) fode”

com 4 comentários

Na tentativa de esclarecer melhor a posição de um dos lados da polêmica A esquerda fora do eixo,trago um artigo da Dra Heliana de Barros Conde Rodrigues que traça a história da AnáliseInstitucional, e fornece o contexto a partir do qual surgem os famosos Deleuze e Guattari, ícones dageração 2.0 e seus gurus, e de quem retiro a citação que dá título ao post.

Independentemente da posição que se tenha com relação à questão, o trabalho é muito interessante,e suscita questões que, me parece, se aproximam das que o coletivo Passa Palavra tem vindo aexplorar em artigos anteriores ao que iniciou a polêmica. Além disso, o artigo monta o cenário dealguns movimentos libertários, desde os anos 20 até maio de 68, o que torna a leitura muito atraente.

É um excelente trabalho.

Segue o artigo de Heliana de Barros Conde Rodrigues

Sejamos realistas, tentemos o impossível

Por Heliana de Barros Conde Rodrigues

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Tosquelles

Do “Efeito Stalingrado” (1945) à ‘ruína das plantações do escritor’ (1956)

Terminada a Segunda Guerra Mundial, na França – ocupada pelos nazistas durante o conflito – oPartido Comunista Francês (PCF) se vê dotado de imenso prestígio, decorrente da participação,

considerada heróica, de seus membros na resistência ao invasor. Por efeito stalingrado[1]

designamos as conseqüências, no seio da intelectualidade, dessa participação: o PCF se torna opartido dos intelectuais e, em articulação com a disputa pela hegemonia econômica e políticamundial, instaura-se, em termos de posturas teóricas, um ‘eixo horizontal’ de opção, uma “Lógicade Guerra Fria” – ou Leste ou Oeste, ou Moscou ou Washington, ou Comunismo ou Capitalismo.

Em tal panorama, subtraía-se do estudo das instituições qualquer autonomia, dado serem vistascomo mero produto da filiação a regimes econômico-políticos – comunismo ou capitalismo, uma vez

mais. Essa ‘escolha forçada’ estava a tal ponto rigidificada, que a teoria das duas ciências[2] chegoua gozar de significativo prestígio. Duas configurações, contudo, escapam ao binarismo dominante:as ações liberalizantes, durante a Segunda Guerra e no pós-guerra, em alguns estabelecimentospsiquiátricos e a ida de missões de intelectuais franceses aos EUA, como parte das iniciativas doPlano Marshall (programa de cooperação norte-americana para a recuperação econômica daEuropa no pós-guerra), a fim de se familiarizarem com técnicas modernas de gestão empresarial.

Sobrevivendo ao inferno – a Psicoterapia Institucional

Após a Segunda Guerra Mundial, os asilos psiquiátricos foram muitas vezes comparados aoscampos de concentração. Na França, onde ainda predominava a teoria da hereditariedade-degenerescência, cerca de 40.000 internos morreram durante o conflito, em total abandono materiale relacional.

As guerras, no entanto, podem apresentar conseqüências inesperadas. Em 1939, fugindo daperseguição das tropas franquistas que haviam derrotado os defensores da República Espanhola, o

psiquiatra catalão François Tosquelles (1912-1994)[3][4] atravessa os Pirineus e entra em territóriofrancês.

Após passar por um campo de refugiados, Tosquelles é enviado (1940)ao Hospital de Saint Alban, em Lozère, dirigido pelo psiquiatra PaulBalvet (1907-2001), um resistente católico, substituído, em 1942, porLucien Bonnafé (1912-2003), psiquiatra ligado ao PCF. As ações que seconjugam através desses personagens tornam Saint Alban um espaçode alguma liberdade em meio à opressão: as portas do asilo são abertase os pacientes convivem com as comunidades camponesas locais,intercambiando alimentos e modos de vida; participantes da resistênciafrancesa, dentre eles integrantes do movimento surrealista, fazem dohospital lugar de refúgio e front de luta, mas, igualmente, espaço decriação estética, produzindo, junto com os internos, ateliers de pintura,literatura, teatro etc.

Essa experiência ganhará o nome de “Psicoterapia Institucional” em1952, num artigo de G. Daumezon e P. Koechlin, e será posteriormenteapontada como um dos começos da Análise Institucional (AI) francesa.

Dir-se-á então que para exercer sua função – a cura -, a instituição psiquiátrica necessita ser curada,mediante uma democratização das relações entre técnicos e enfermos. Nesse momento, as práticas

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grupais aparecerão como um dos principais recursos para a terapêutica da instituição e dosinstitucionalizados.

Esses psicólogos maravilhosos e suas máquinas grupais

Embora existissem experiências isoladas, somente a partir do pós-guerra a psicossociologia sedifunde na França com intensidade, pois as missões de intelectuais que viajam aos EUA nessa épocatrazem na algibeira as idéias e modos de ação de Elton Mayo (1880-1949), Jacob Lévy Moreno

(1889-1974)[5], Kurt Lewin (cf. capítulo 18) e Carl Rogers (cf. capítulo 20).

Enquanto nos EUA as práticas grupais possuíam caráter predominantemente adaptativo, na Françaserão reinventadas com vistas a transformações de caráter libertário, sobretudo em decorrência dasnovas misturas de que são objeto – vale evocar a ligação com a Psicologia Institucional, antesmencionada, mas igualmente com os meios educativos, a política estudantil etc. Essas mesclaspredominarão no próximo período da história da AI francesa, fazendo da Psicossociologia (ou“psicologia dos pequenos grupos”) outro dos componentes de sua gênese histórica.

Um eixo perde a hegemonia

No que tange aos saberes ‘psi’, o eixo horizontal de escolha experimentou seu ápice na condenação(1949), sob a égide da Teoria das Duas Ciências, da Psicanálise como ‘ideologia reacionária’(Bonnafé et alii, 1987 [1949]), pelos psiquiatras membros do PCF – muitos dos quais,profissionalmente, utilizavam conceitos e técnicas freudianos. Situações como esta, porém, vão setornando cada vez mais raras, sobretudo a partir do momento (1954) em que tem início a luta anti-colonial na Argélia. À época, socialistas e comunistas são maioria na Assembléia Nacional e, parasurpresa dos que julgavam que um governo de esquerda apoiaria a independência da colônia,

ordenam violenta repressão ao movimento[6]. Inúmeros intelectuais com simpatias pelo comunismocriticam a posição do PCF, sendo acompanhados pelas organizações que congregam os estudantesuniversitários.

Talvez o acontecimento mais importante a abalar a Lógica da Guerra Fria, no entanto, seja o XXCongresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), realizado em 1956. Ali, NikitaKruschev (1894-1971), novo secretário geral, denuncia os crimes do período stalinista, repudiando o

“culto da personalidade” que predominara no Partido até a morte do ex-secretário[7]. As revelaçõescontidas no “Relatório Kruschev” obrigaram comunistas e simpatizantes a radicais mudanças dememória: processos contra dissidentes, campos de trabalhos forçados e outros pontos polêmicos, atéentão minimizados sob a alegação de constituírem “propaganda anti-soviética”, tiveram de servistos sob novas luzes. Ainda mais porque em novembro de 1956, as tropas do Pacto de Varsóviainvadem Budapeste, mostrando o quanto a “influência” da URSS consistia efetivamente em umacolonização política e cultural do Leste Europeu.

Esta série de eventos foi por nós sintetizada, ao delimitar o ocaso do período que ora apresentamos,como ‘ruína das plantações do escritor’. A expressão refere-se a um episódio apto a condensar oconjunto de forças que levam a uma mudança de eixo valorativo. Alguns dias após o XX Congressodo PCUS, Henri Lefebvre (1901-1991) viaja a Berlim. Enquanto na França nada se sabe sobre oRelatório Kruschev, membros do PC alemão lhe emprestam uma cópia do documento. De volta aParis, os ‘camaradas’ a quem transmite o que leu o acusam de se ter deixado iludir pelas contra-informações dos serviços secretos norte-americanos. Lefebvre procura Roger Vaillant (1907-1965),que ao menos o escuta, mas, a pretexto de receber direitos autorais de uma obra, parte para a URSS.

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Lefebvre

Ao regressar, Vaillant retira apressadamente o retrato de Stalinda parede e joga fora as gamelas nas quais cultivava sementes afim de provar, em seu escritório, as teorias de Lyssenko (Hess,1988:55).

De ‘quando Bandung substituiu Billancourt’ (1955/1956) à“Grande Recusa” (1968)

Bandung é a cidade da Indonésia onde se realizou a conferênciaque reuniu, em 1955, os líderes de 29 estados asiáticos eafricanos que se definiam como não-alinhados (nem Moscounem Washington). Já a cidade-sede das fábricas Renault chama-se Billancourt – termo usado, na França, como símbolo darevolução proletária na perspectiva comunista. Ao nomear oinício deste período como momento em que Bandung substituiuBillancourt, apontamos ao declínio da “Lógica da Guerra Fria” (eixo horizontal) e a um novopredomínio, o da problemática do colonialismo, quer entre nações quer entre grupos (étnicos,geracionais, intelectuais, profissionais etc). Propomos pensar Banndung, portanto, comodenominação-síntese da prevalência, para a intelectualidade, de um eixo vertical de valoração dosmodos de pensar, agir e ser: colonizadores versus colonizados, super contra sub-desenvolvidos,Primeiro e Segundo Mundos versus Terceiro Mundo.

Desencadeando um novo olhar etnológico, livros como Tristes Trópicos (1955) e O pensamentoselvagem (1962) de Lévi-Strauss condenam o ‘colonialismo externo’ (exercido pelos “civilizados”sobre os “selvagens”); uma nova esquerda francesa alia-se aos nacionalistas argelinos em suas lutaspor independência; o filósofo Michel Foucault, em História da loucura (1961), expõe as condições deexistência do ‘colonialismo interno’ exercido pela razão sobre a loucura (cf. capítulo 1); revistas como

Arguments[8] e Socialismo ou Barbárie[9]põem em questão o título “pátria do socialismo” atribuído àUnião Soviética; jovens militantes buscam na festa revolucionária cubana (1959), na Grande

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Freinet

Marcha Chinesa[10] ou nos processos de autogestão iugoslava e argelina[11], novos paradigmas

para a ação política; grupos de vanguarda, como a Internacional Situacionista[12], opõem-se àmáxima de que a revolução superestrutural precise aguardar a tomada do poder para serdesencadeada; a sexualidade, de preocupação pequeno-burguesas, se vê alçada ao posto demediação da repressão política (cf. capítulos 26 e 28); os EUA, antes fonte unitária de todos os males,passam a ser divididos em uma nação velha-racista-assassina (generais belicistas, grupos xenófobos,maioria silenciosa conivente) e uma nação jovem-dominada-libertária (críticos e desertores daGuerra do Vietnã, Flower Power, Black Power).

“Se eu soubesse, não teria vindo…” – as Pedagogias Institucionais

Em 1963, Georges Lapassade (1924-) publica A entrada na vida. Abordando a adolescência nassociedades modernas, afirma ser a maturidade um engodo, pois o homem se caracterizaria peloinacabamento. “Se eu soubesse, não teria vindo” – diz a criança do filme “A guerra dos botões”(1962), de Yves Robert, sonhando em desistir definitivamente dessa formadora-de-maturidade, aescola.

Há muito os franceses estão cientes das experiências de pedagogia moderna (cf. capítulo 15), queproblematizam a educação de crianças e jovens. Porém Celestin Freinet (1896-1966), cujas idéias sãoo principal ponto de apoio dos movimentos do pós-guerra, sempre considerou elitistas os projetosexistentes e, desde os anos 1920, procura criar “uma escola para o povo” – título, por sinal, de um deseus livros.

Amante da natureza, Freinet conduz seus alunos de Bar-sur-Loup a passeios pelos campos – “aulas-descoberta,aulas-exploração, aulas-investigação” (Fonvieille, 1988: 35).Lançando mão de uma idéia de Paul Robin (1837-1912),que utilizara a imprensa com crianças deficientes,generaliza esta imprensa escolar, combinando-a a texto edesenho livres, jornal escolar, correspondência inter-escolare Conselho de Cooperativa (em que alunos e professoreselaboram semanalmente as normas da vida da classe).

Tais procedimentos chegaram a ser incorporados areformas educacionais implantadas por diversos governos,o que não impediu que Freinet também fosse alvo decríticas, sendo excluído do Ensino Público. Forçado, apartir de 1934, a fundar sua própria escola, prosseguiuexercendo influência sobre muitos professores,congregados, após a Segunda Guerra Mundial, no ICEM

(Instituto Cooperativo da Escola Moderna).

No início dos anos 1960, surgem polêmicas entre Freinet e membros parisienses desse Instituto, quenão acatam, intactas, idéias forjadas em meio rural e querem modificá-las, incorporandoperspectivas oriundas das ciências humanas – Psicanálise, Psicossociologia e Sociologia. O conflito seacirra e, em 1961, Fernand Oury (1920-1998) e Raymond Fonvieille (1923-2000) fundam o GTE(Grupo de Técnicas Educativas), que aspira a superar os limites teóricos da Pedagogia Freinet. Os

tempos são de rigor e novidades[13], porém, conforme qual rigor e qual novo se defenda, as cisõesproliferam. Assim, já em 1963, Oury e Fonvieille pedem a Lapassade que efetue uma análise das

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tensões emergentes no GTE. A presença de Lapassade não traz o consenso e, em 1964, ocorre acisão: constituem-se o GET (Grupo de Educação Terapêutica), liderado por Oury, e o GPI (Grupo dePedagogia Institucional), por Fonvieille – grupos que passam a reivindicar, cada um a seu modo, otítulo de Pedagogia Institucional.

Fernand Oury trabalha com turmas destinadas a crianças com supostos “problemas psíquicos”.Muito ligado ao irmão, o psiquiatra Jean Oury (1934-), estabelece paralelos entre a segunda versão

da Psicoterapia Institucional[14] e os efeitos (terapêuticos) dos dispositivos freinetianos. Nestesentido, o GET define o campo educativo como sistema de relações inconscientes a analisar. Alémdisso, suas publicações sublinham a oposição entre Psicanálise e Psicossociologia, criticando a não-

diretividade da última, acusada de “caminhar no sentido da doença de seu cliente” (Oury eVasquez, 1967/1982: 221).

Nos trabalhos do GET, conceitua-se instituição de forma análoga à Psicoterapia Institucional, para aqual o termo designa, a princípio, uma forma social particular, seja concreta (o estabelecimento),seja jurídica (a organização); em um segundo momento, formas de organização das práticas, comogrupos, oficinas etc. Em 1967, membros do GET formulam concepção semelhante através da idéiade mediação:

[A pedagogia institucional] tende a substituir a ação permanente e a intervenção do professor porum sistema (…) de mediações diversas, de instituições, que assegura de maneira contínua aobrigação e a reciprocidade das trocas, dentro e fora do grupo (Oury e Vasquez: 249).

Em que pese a aparente confiança nos efeitos das mediações (instituições), para o GET um problemapermanece sem solução: o modo como os alunos terapeuticamente educados via PedagogiaInstitucional poderão se inserir na sociedade adulta. Decerto Lapassade, recorrendo a seu livro sobreo inacabamento do homem, já era capaz de diagnosticar, em tal questão, a presença de umpressuposto adultista.

Estaria o GPI mais apto a promover um Bandung educativo? Seu modo de funcionamento é apesquisa-ação: reúne-se semanalmente para debater os fenômenos grupais observados porpsicossociólogos (Lapassade em destaque) nas turmas dos professores. Alguns adolescentes, alunosdo secundário, freqüentam esses encontros, permeabilizando as fronteiras entre ‘os que sabem’ e ‘osque aprendem’. Responsável por uma turma experimental com alunos de 14-15 anos marcados porfracassos escolares, Fonvieille exacerba os princípios do Conselho de Cooperativa: enquanto nomodelo freinetiano este serve para planejar as atividades respeitando um enquadre preestabelecido(horários, conteúdos), no modelo do GPI gestiona todas as questões do grupo-classe – o que otransforma em autogestão pedagógica. À época, René Lourau (1933-2000) é professor do liceu deAire-sur-l’Adour. Conhece Lapassade, une-se ao GPI e também implanta a autogestão em suasturmas.

O que preocupa os pedagogos institucionais autogestionários é a incômoda diferença entreinstituições internas e externas.Estaria a possibilidade de mudança confinada às instituições internas– métodos, objetivos, horários, programas – ,permanecendo as externas – a Educação Nacional comseus regulamentos e hierarquias – como limites intransponíveis? Se este fosse o caso, as vantegensanalíticas permaneceriam em descompasso com as possibilidades de transformação social, fazendoda AI, então emergente, uma pirueta conceitual. No que tange ao surgimento da AnáliseInstitucional, entretanto, Lourau não nos fala de piruetas, mas de um “salto mortal executado por

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Lapassade

Lapassade ao compreender que era necessário superar a sedução da psicologia dos pequenosgrupos, desmascarando a dimensão institucional, quer dizer, toda a política reprimida pela ideologiadas boas relações sociais” (Lourau, 1977:1).

O salto do acrobata

Entre 1955 e 1960, Lapassade foi assessor da Residência Universitária de Antony, circunstância queo aproximou da direção nacional da UNEF (União Nacional dos Estudantes Franceses). Em 1962, aentidade lhe encomendou um seminário de formação em Psicossociologia, alegando que as práticasgrupais poderiam combater a burocratização das relações entre a liderança e as ‘bases’.

Antes mesmo do seminário, Lapassade já ensaiava seu ‘saltomortal’. Criticava a atribuição fácil do rótulo de “não-diretivismo” aos Grupos T (modelo lewiniano), desvelando apresença de um fator nunca identificado, a instituição do saber,nos grupos de formação: “… a situação é tal que um ‘grupo’ departicipantes encontra um monitor que sabe que é monitor,sendo assim percebido pelos outros. A situação (…) é definidacomo uma relação entre ‘saber’ e ‘não saber’” (Lapassade,1959/1979:77).

No seminário junto à UNEF, Lapassade tem por meta que osparticipantes percebam que a limitação da análise a questõesinternas ao grupo – afetos, liderança etc – oculta as condições deinstauração do grupo enquanto tal. A apreensão dessas condiçõesexigiria responder a perguntas como: quem decidiu sobre aformação?; onde, quando e como?; por quê? – passíveis de exibir a presença da instituição no grupo.

De forma ainda mais contundente, dirá tempos depois que a ênfase exclusiva na análise do grupopelo próprio grupo, na melhor das hipóteses, oculta questões relativas à organização da formação(gestão da programação; relação entre os grupos e as organizações promotoras); na pior, recai emmera análise psicológica dos indivíduos que compõem o grupo e de suas relações interpessoais(Lapassade, 1973/1977ª). Para superar este impasse não basta, entretanto, incorporar a análise daorganização à dos grupos. A própria organização, para ser compreendida, demanda levar em conta ainstituição da formação, somente acessível quando se percebe que para haver grupo, sob certosmodos de organização, é imprescindível pressupor: uma divisão e quantificação do tempo social(instituição do tempo); uma divisão do saber, distinguindo o que pode ser descoberto pelaexperiência e o que deve ser transmitido, o que é pertinente e o que não é pertinente (instituição dosaber, instituição das disciplinas); uma divisão social do trabalho e do poder a ela associado(instituição da separação entre trabalho manual e intelectual); uma referência generalizada à escola,entendida como lugar exclusivo da formação (instituição pedagogia); uma relação de clientela entreformadores e formandos (instituições do mercado, dos serviços, do dinheiro).

Em suma, com Lapassade, o institucional deixa de ser um nível adicionável ao grupo (ouorganizacional). O grupo não é a instância das instituições internas, modificáveis à vontade, dentrode um enquadre de instituições externas cristalizadas, pois não existe puro dentro e puro fora dogrupal (ou organizacional). A ordem institucional, que atravessa grupos e organizações, deve ser

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Guattari

trazida à luz por uma análise realizada em situação. Daí seu necessário caráter de intervenção[15],que embora não elimine o trabalho psicossociológico, propõe que este seja permeável a todas as(des)institucionalizações.

Um indisciplinado contrabandista

O que até agora apresentamos sobre a presença da Psicanálise nos movimentos de transformaçãoinstitucional sugere tendências mais conservadoras do que libertárias. Esta impressão começa a sedesfazer quando se abre espaço para as ações de Felix Guattari (cf. capítulo 26).

Junto com Jean Oury, ele fundara, em 1953, a Clínica de La Borde, em Cours-Cheverny. Qual SaintAlban de outros tempos, La Borde é laboratório de experimentação de uma nova psiquiatria e frontde luta (esconderijo para militantes em luta pela libertação da Argélia). Estas características muitodevem a Guattari, apelidado passeur (contrabandista):incansável derrubador de fronteiras, ele emmuito contribuiu para que La Borde se mantivesse receptiva a colaboradores e aliados, evitando quesuas portas se fechassem, concreta e doutrinariamente, à maneira de um asilo tradicional.

Integrante da segunda geração (ou versão) daPsicoterapia Institucional, que se reúne no GTPsi(Grupo de Trabalho de Psicologia e SociologiaInstitucionais), Guattari introduz, em meados dosanos 1960, a expressão “análise institucional”, nointuito de caracterizar essa segunda geração pelapresença de uma dimensão analítica. O que está emjogo, todavia, não é a simples contraposição entrePsicanálise e Psicossociologia. Para Guattari, a análisenão se confunde com a realizada pelo psiquiatra –dispositivo psicanalítico ortodoxo -, tampouco com adesenvolvida em um grupo de indivíduos –psicossociologia estrito senso. À época, dirigindo-se aos universitários, convida as organizaçõesestudantis a aproveitar suas forças de aglutinação com vistas à criação de organismos de todos os

tipos – BAPU, GTU[16], dispensários, residências, clubes de descanso etc. -, nos quais a capacidadede promover interrelações sociais e a análise estejam intimamente associadas (Guattari, 1964/1976:87). A expressão análise institucional tem, por conseguinte, uma função estratégica: instaurar umaabertura no campo analítico, até então restrito à ação dos especialistas psi e à consideração de fatorespsi.

Guattari aspira a conciliar política (milita em grupos de extrema-esquerda), psicanálise (é um dosprimeiros não-médicos a participar dos seminários de Lacan) e psiquiatria (anima a clínica de LaBorde). A união desses três universos ganhará face organizacional com a criação (1966) da FGERI(Federação dos Grupos de Estudos e Investigações Institucionais), que congrega psiquiatras,professores, estudantes, arquitetos, urbanistas, sociólogos, cineastas, antropólogos, psicanalistas epsicossociólogos. A FGERI constitui a base material da AI consoante Guattari: procura incorporarum processo analítico à atividade de todos os grupos federados, considerando que “os investigadoresnão podem compreender seu objeto a não ser (…) que se questionem a propósito de coisas que nãotêm nada a ver, aparentemente, com o objeto de sua investigação” (Guattari, 1980/1981: 96). Sendoassim, arquitetos e urbanistas discutem o desejo inconsciente; psiquiatras, as renovações no campopedagógico; antropólogos, o campo simbólico forjado pelas mediações grupais etc.

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Em 1966 é lançada Recherches, revista da FGERI, cujo primeiro número contém um artigo deLourau. Isto revela que Guattari e Lourau não são exatamente oponentes, pois partilham aspiraçõeslibertárias comuns. Porém as nascentes Análises Institucionais tradição Psicossociologia Crítica(Lourau, Lapassade e o GPI) e tradição Psicanálise Crítica (Guattari, o GET e a FGERI) acabarão pornão preservar uma aliança mais efetiva. Frequentemente reprovarão uma à outra, respectivamente,ser mera Psicanálise ou simples Psicossociologia, alegando perdida a crítica no olimpo dos detentoresdo monopólio do inconsciente ou no mercado de técnicas de grupo.

Nem por isso Guattari deixa de fundar grupos e de teorizar sobre eles. Em uma apresentaçãodatada de 1963, diferencia ‘grupos sujeitados’ e ‘grupos sujeitos’: “… grupos sujeitados: grupos querecebem sua lei do exterior, diferentemente de outros grupos [os grupos sujeitos], que pretendemfundar-se a partir da assunção de uma lei interna” (Guattari, 1976 [1963]: 60). Essas consideraçõesse contrapõem a qualquer psicossociologia que conceba algo como “o” grupo. Para Guattari, sóexistem grupos – eles não são entidades, mas modos sócio-históricos de funcionamento.

Em 1964, elucida a diferença entre esses modos, que entende como vertentes entre as quais oscilaqualquer grupo concreto. Na vertente de sujeição do grupo estariam fenômenos tendentes a “curvá-lo sobre si mesmo, (…) tudo o que tende a proteger o grupo, a calafetá-lo contra as tempestadessignificantes” (Guattari, 1981ª [1964]: 107). Já na vertente do grupo sujeito não há medidas desegurança, o que redunda em problemas, tensões e riscos de desagregação.

Essas proposições nos encaminham ao conceito de transversalidade, caro a Felix Guattari:

Enquanto o grupo permanece objeto dos outros grupos, recebe o non-sense, a morte, de fora (…)Mas desde que o grupo (…) assume sua própria finitude, (…) os dados de acolhida do superego sãomodificados, o limiar do complexo de castração específico a uma ordem social dada pode serlocalmente modificado. Está-se no grupo não para se esconder do desejo e da morte (…), mas porcausa de um problema particular, não para a eternidade, mas a título transitório: é o que chamei deestrutura de transversalidade (Guattari, 1981ª [1964]:108).

Estando a transversalidade afetada de limiares ou coeficientes – definindo a margem de abertura decada grupo em um momento particular -, a distinção entre grupo sujeito e grupo sujeitado se vêainda mais matizada, libertando-se de eventuais ressonâncias maniqueísticas (“o” grupopoliticamente correto versus “o” grupo alienado-equivocado).

Em meio a tantas teorizações originais, Guattari passa a conceber o inconnsciente de uma novaforma (cf. capítulo 22):

(…) as representações, os mitos, tudo o que alimenta a ‘outra cena’, todos esses personagens não sãoforçosamente o pai , a mãe, a avó, ou os monstros sagrados da era secundária; são mais bempersonagens que constituem as questões fundamentais da sociedade, quer dizer, a luta de classes denossa época (Guattari, 1976 [1963]: 67-68).

Imanentizam-se assim história e desejo, política e subjetividade. Neste sentido, a fim de praticar aAI, é necessário transversalizar também o lugar pretensamente imutável do analista. Para tanto, oconceito de analisador se mostra fundamental:

Transferência e interpretação (…) não poderiam ser da alçada de uma pessoa ou de um grupo (…).A interpretação, pode ser o débil mental de um serviço quem vai dar, se ele estiver em condições dereivindicar (…), por exemplo, que se organize um jogo de amarelinha, justo quando tal significante

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se tornará operatório ao nível do conjunto da estrutura (…). Convém, pois, limar a escuta de todo equalquer preconceito psicológico, sociológico, pedagógico ou mesmo terapêuticoo (Guattari, 1981b[1964]: 95).

Maio de 68: a Análise Institucional sai às ruas

Ocupação da Sorbone em Maio de 68

Em Nanterre, novo campus universitário situado nos arredores de uma estação premonitoriamentechamada “La Folie” (“Loucura”), Lefebvre diz aos alunos: “Quando vocês tomam o trem naestação de Saint-Lazare até La Folie, (…) se forem capazes de observar o que vêem da janela, serãoverdadeiros sociólogos” (Hess, 1988: 232). Da janela do trem, avista-se uma favela em que vivemcerca de 10.000 trabalhadores norte-africanos.

Entre 1964 e 1968, forja-se uma lenda: “Nanterre, isso é Cuba!”; “Nanterre é um Vietnã de

subúrbio”[17] (Rioux e Backman, 1968: 41). Em 1967, seus muros se cobrem de cartazes:

“Liberdade para Régis Debray!”[18]. Pouco depois, uma Sexpol [19]toma corpo, quando rapazessão punidos por freqüentar o dormitório das moças. Ao final do ano, uma delegação de estudantesse dirige ao Decano, diagnosticando como catastófrica a situação nanterrense: regulamentos rígidos(a ponto de criar guetos sexuais), professores insuficientes, bibliotecas inexistentes, falta delaboratórios etc. Liderados pela UNEF, os alunos de sociologia entram em greve.

No Departamento de Sociologia, como professor assistente, está René Lourau. Ele prepara, sob aorientação de Lefebvre, uma tese de doutorado sobre Análise Institucional e desenvolve, comprofessores e alunos, grupos de intervenção/análise. Também está bastante ligado a Socialismo ouBarbárie, tomando de Castoriadis o tema da dialética instituinte/instituído: o instituinte gera outransforma a instituição, ao passo que o instituído remete ao já fixado, já organizado; a sociedade éunião/tensão entre instituinte e instituído, processo de institucionalização.

A greve estudantil fracassa: embora a Assembléia Nacional tivesse acolhido algumas reivindicações,o Ministério da Educação nada promete. Consuma-se, com isso, a ruptura entre “reformistas” e“revolucionários”, e os últimos tomam a dianteira: a Guerra do Vietnã, o assassinato de Guevara naselva boliviana (1967), a reforma do ensino superior (que prevê uma seleção à entrada da faculdade),os guetos sexuais e a situação de dominação em que vivem os países do Leste Europeu, tudo

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converge, a seus olhos, para uma vida intolerável, à qual só se pode responder com uma “GrandeRecusa” – expressão cunhada por Herbert Marcuse (cf. capítulo 28). Assim, recusando até mesmo o

calendário oficial, em 22 de março de 1968 começa o Maio Francês[20]: após a prisão de seisestudantes, acusados, sem provas, de explosões em frente às sedes do American Express, TWA eBank of America, cento e quarenta e dois nanterrenses ocupam a Sala do Conselho da torre deadministração.

Muito se procurou, na França, livro e paradigma capazes de dar conta de maio de 68. Mas comoadmitir a existência de um livro como guia, se a multidão que ocupa as ruas, universidades, rádios,teatros e fábricas não fala em nome de ninguém e não deixa que ninguém fale em seu nome?Quanto ao paradigma, alguns quiseram ver nos acontecimentos a “ressureição do homem”,considerado morto pelo estruturalismo. Não é fácil, entretanto, sustentar vínculo claro entre maio esujeito, à vista de slogans como “Somos todos judeus alemães” (desafiando o governo, que considera

indesejável o “estrangeiro” Daniel Cohn-Bendit[21]) e “Somos um grupúsculo” (em resposta àsinvestidas dos partidos da esquerda oficial, que acusam o movimento de “minoritário”).

Como analista institucional, ao se voltar para maio de 68, Lapassade prefere focalizar umacontecimento-analisador. Em 22 de março de 1968, como de hábito, Lourau comparece à sessão deseu Grupo de Análise Institucional (GAI), acompanhado por um professor e alguns alunos doprimeiro ano. Os outros participantes, entre os quais Cohn-Bendit, não apareceram, pois estãoocupando a Sala do Conselho. Lapassade assim aprecia o ocorrido:

Na semana que se segue, Lourau decide interromper definitivamente (…) ‘seu’ grupo de análiseinstitucional. Mas em 22 de março (…) não estava longe de interpretar a ausência de Danny e seusamigos em termos de ‘resistência à análise’ … (Lapassade, 1969: 9).

No prólogo da segunda edição (1974) de Grupos, organizações e instituições, Lapassade avaliará aseventuais ligações entre as práticas de AI (nos campos da pedagogia e da formação sindical) e a

atuação do “Grupo 22 de Março[22]”:

… alguns entre nós pensavam que era possível transformar radicalmente a educação, a classe, auniversidade, e talvez mesmo o Estado pela introdução ‘subversiva’ de novas instituições no grupo-classe (…) A crise de maio dissipou as ilusões (…) Essa crítica (…) por meio de ações diretas (…) éinfinitamente mais profunda, mais significativa do que a que se faz, habitualmente, daburocratização dos estabelecimentos e dos aparelhos (Lapassade, 1977 [1974]: 23-25).

Lourau hesita, mas logo dissolve “seu” GAI;Lapassade carrega um piano para o pátio da Sorbonnee promove agitação nas escadas; Guattari reúne-se, na sede da FGERI, com Danny, Julian Beck eJean-Luc Godard, dando partida à ocupação do Teatro Odeón. Os especialismos se rompem, pois,como dirá futuramente Guattari (1981 [1979]: 140), “o inconsciente molha os que dele seaproximam”.

Para outros, porém, maio de 68 fracassou (ou precisava fracassar). O PCF jamais deixou de declarar“não revolucionária” a situação, acompanhado por seu braço sindical, a CGT (Confederação Geraldos Trabalhadores). É claro que a surpresa em face da explosão de greves e ocupações de fábricaschegou eventualmente a perturbar fidelidades preestabelecidas. Em 13 de maio, por exemplo,UNEF e CGT e o 22 de Março desfilam lado a lado por Paris em uma manisfestação que reúne maisde um milhão de pessoas. Uma semana depois já são cerca de dez milhões de grevistas na França.Uma semana a mais, no entanto, e a CGT esquece a aliança passageira. Em troca das presumidas

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vantagens financeiras para os trabalhadores presentes nos “Acordos de Grenelle”, passa a enviar àsfábricas de todo o país, apelos para que as greves sejam suspensas. Além disso, aparentemente éapenas a boa imagem a preservar no espetáculo da política parlamentar que impede a esquerdapartidária (socialistas e comunistas) de se unir à multidão que desfila pelos Champs-Elysées a 30 demaio, em apoio ao governo.

É rápido o restabelecimento da ordem, desejada por direita e esquerda oficiais – lateralidades cadavez mais intercambiáveis. Em junho, o governo ordena a dissolução dos “grupúsculos”, a Sorbonnee as fábricas ocupadas capitulam e, no último dia, as eleições dão ao gaullismo maioria absoluta naAssembléia Legislativa.

Menos de dois meses depois, do outro lado da Europa, as forças do Pacto de Varsóvia esmagam asflores da Primavera de Praga, adubadas com socialismo e liberdade. Tanto o PCF quanto CharlesDe Gaulle manifestam sua reprovação: a liberdade dos outros é sempre mais bela que a nossa.Adepta de um estranho humor, a ordem (soviética) restaurada oferece a Alexander Dubcek, depostoda condução do Comitê Central do Partido Comunista Tcheco, o cargo de … jardineiro público!

Do ‘Maio feito Mao’ (1968/69) ao ‘triunfo da rosa’ (1981)

Deleuze e Guattari

Encerrado o maio de 68 francês, emergem tentativas de enclausurá-lo em alguma versão totalizanteda história – circunstância que sintetizamos como ‘Maio feito Mao’, aproveitando o jogo de

palavras. Não há só maoístas, é claro: proliferam gauchismes (esquerdismos)[23], cada um delescerto de possuir “o” caminho para a revolução. Esses intentos, entretanto, foram sempreacompanhados de lutas para preservar a singularidade do maio – linha em que se inscreve a AnáliseInstitucional, a partir de agora passível de diferenciar em AI Socioanalítica e AI Esquizoanalítica.

Antes disso, cumpre destacar acontecimentos que ainda evocam uma análise institucionalgeneralizada. Apesar de Grande Recusa, maio de 68 nem tudo recusara, e anti-colonialismos atéentão pouco ruidosos passam a trazer às ruas novas palavras de desordem: 1970, primeiramanifestação pública do MLF (Movimento de Liberação Feminina); 1971, criação do GIP (Grupode Informação sobre as Prisões), manifesto de 343 mulheres em favor do aborto livre e primeira falapública da FHAR (Frente Homosexual de Ação Revolucionária); 1972, criação da associaçãoMédicos sem Fronteiras; 1974, nascimento do Movimento Ecológico Francês.

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Para potencializar movimentos como esses, que chama de “revoluções moleculares”, Guattari cria,em 1969, o CERFI (Centro de Estudos, Pesquisas e Formação Institucionais). Nesse contexto,aproxima-se de Gilles Deleuze (1925-1995) e, não muito depois, ambos promoverão o batismo oficialda Esquizoanálise.

Um livro-coisa: O anti-Édipo e a Esquizoanálise

Enquanto a oficialização da vertente socioanalítica da AI remete à sisudez de uma tese de doutorado– A Análise Institucional, de René Lourau, defendida em 1969 -, a da vertente esquizoanalíticaconduz ao que se apelidou um “livro-coisa”: O anti-Édipo, publicado em 1972. Nele, “isso” – oinconsciente ou desejo – “funciona (…) respira (…) come (…) caga (…) fode” (Deleuze e Guattari,1972: 7).

No “período de latência” que se segue a 1968, Deleuze e Guattari vêem um tempo propício paraintensificar a conjugação de revoluções moleculares, em lugar de transformá-las em “Mao” … ou

“Moi”[24]:

Pareceu-nos que não nos podíamos contentar em prender um vagão freudiano ao comboio domarxismo-leninismo. Era preciso (…) desfazermo-nos de uma hierarquia estereotipada entre umainfra-estrutura opaca e superestruturas sociais e ideológicas concebidas de tal modo que recalcam asquestões do sexo e da enunciação para o lado da representação (…). Trata-se de fazer passar o desejopara o lado da infra-estrutura, para o lado da produção, enquanto se fará passar a família, o eu e apessoa para o lado da anti-produção (Deleuze e Guattari, 1976 [1973]: 58-59).

Em O anti-Édipo, o desejo ganha um lugar entre as forças produtivas. Nem imaginário nemsimbólico, mas real e material, ele se historiciza: todo desejo é produtivo e toda produção é desejante.

Este produtivismo esquizoanalítico[25] contrasta com apreensões paranóicas de todos os tipos:

O pólo esquizofrênico (molecular) corresponde ao desejo produtivo, o pólo paranóico à disposição dafalta. De um lado, o desejo tomado na ordem real de sua produção, (…) desprovido de fins eintenções; de outro, o desejo prisioneiro de grandes objetividades totalizantes, significantes, quefixam as organizações, as faltas e os fins (…) a falta não é original, mas constituída pelo dispositivoque capta e registra as produções (Donzelot, 1976: 175-176).

Concebe-se, assim, um Édipo-dispositivo-de-captura em lugar de um Édipo-estrutura, um desejo-usina (de produção) ao invés de um desejo-teatro (de representação-consumo de imagens – libidouniversal, fantasmas originários, edipianização, castração, falta etc.). A despeito do rótulo anti-psicanalítico, contudo, O anti-Édipo não tem a Psicanálise por alvo privilegiado: esta última é apenasum dentre os dispositivos capitalísticos de anti-produção que, segundo a perspectivaesquizoanalítica, nos restringem a vida ao ponto do sufocamento.

Deleuze e Guattari avaliam que em maio de 68 algo da ordem do desejo se fez visível à escala doconjunto da sociedade, sendo invisibilizado a seguir tanto pelo Poder de Estado quanto pelospartidos e sindicatos (ditos “operários”), esquerdismos e imperialismos significantes daintelectualidade. Se estes são os dirigentes (políticos e/ou teóricos) e os dirigentes traem, nada há deespantoso; surpreendente é que os dirigidos continuem a escutá-los. Há que procurar, pois, naprodução de subjetividade capitalística o engendramento dessa cumplicidade inconsciente que sepropaga “do Poder aos burocratas, dos burocratas aos militantes e dos militantes às nossas própriasmassas” (Deleuze e Guattari, 1976 [1973]: 57).

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Fonte: http://www.4shared.com/document/Jo_m3b6z/Sejamos_realistas_tentemos_o_i.html

[1] Expressão inspirada no cerco de Stalingrado à 6a Armada Alemã (1942-1943) – vitória dosexércitos vermelhos que abriu caminho ao desembarque dos aliados na Normandia (1944),mostrando-se decisiva para o desfecho da Segunda Guerra Mundial.

[2] A partir de 1946, Andrei Jdanov, secretário de ideologia do Partido Comunista da UniãoSoviética (PCUS), reatualiza a TEORIA DAS DUAS CIÊNCIAS, criada no início do século XX,segundo a qual a ciência é burguesa ou proletária. Uma das realizações mais polêmicas dessaperspectiva liga-se à Biologia. Em 1948, um relatório do agrônomo russo Trofime Lyssenkoidentifica duas correntes na biologia moderna: a proletária, que concebe o homem como capaz detransformar os reinos animal e vegetal, e a reacionária, praticada pelos pesquisadores do mundocapitalista, inspirados na genética mendeliana, que vê os genes como invariantes, a não ser no casode mutações acidentais.

[3] TOSQUELLES fora médico-residente no hospital Pere Mata e aluno de Emílio Mira y López.Interessado em psicanálise e militante de esquerda, voltara-se ao estudo das obras de Freud, Marx,Reich, Politzer e dos primeiros trabalhos de Lacan. Durante a guerra civil espanhola, participou dareorganização dos serviços psiquiátricos, observando curas espontâneas: sentindo-se úteis na lutaantifascista, os pacientes superavam inclusive seus sintomas mais graves.

Durante a dominação nazista, a França foi dividida em uma Zona Ocupada (onde estava Paris) euma Zona Livre (com capital em Vichy). “Zona Livre” constituía um eufemismo, pois o governo doMarechal Pétain optou pela colaboração com Hitler e as ações da resistência foram duramenteperseguidas.

[4] (Nota do blogueiro): Tosquelles também influenciou o psiquiatra e ativista negro Frantz Fanon,cujo percurso já foi destacado aqui antes (Referido em http://www.curvegallery.co.uk/index.php?subj=11)

[5] Em 1924, Mayo é chamado pela Western Electric Company, preocupada com quedas derendimento. Retira algumas operárias da oficina e as destina a um local especialmente escolhido,onde, através de procedimentos experimentais, obtém resultados não muito originais: fatores comomelhoria da iluminação, aumento salarial e introdução de uma pausa para o café são avaliadoscomo benéficos. No entanto, quando do retorno às condições habituais, o rendimento se mantémsuperior ao vigente antes do início da pesquisa, revelando a presença de um fator até então nãoidentificado: o próprio grupo, ou melhor, as boas relações informais que persistem quando retiradosos benefícios formais. Este fator é erigido em objeto de uma nova disciplina, a PsicossociologiaIndustrial ou Escola das relações humanas.

Romeno de nacionalidade, Moreno emigrou para os EUA em 1925. Em Viena, onde passou ajuventude, observara que a adaptação de exilados era mais fácil quando podiam agrupar-sesegundo suas próprias escolhas. Nos EUA, chamado a realizar uma investigação no InstitutoHudson, destinado a jovens deliquentes, sistematiza essas escolhas através do teste sociométrico, quepermite construir o sociograma – “foto sociológica” de um grupo num momento determinado.Apoiado no sociograma, Moreno reorganizou os pavilhões do Instituto, visando a facilitar a inserçãodos internos. Homem de teatro, psicólogo e gestor de relações sociais, via tanto o psicodrama –forma de terapêutica – quanto a sociometria e o sociograma – respectivamente, medida e modo deação sobre o grupo – como voltados a evitar a burocratização, liberando a espontaneidade criadora.

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[6] As lutas anti-coloniais na Argélia se prolongaram de 1954 a 1962, quando foi finalmente obtida aindependência. Conduzidas pela Frente de Libertação Nacional (FLN), tais lutas tinham basesnacionalistas, não estando, portanto, sob a égide do comunismo internacional – razão pela qual nãoforam apoiadas pelo PCF. Apesar disso, no período que apresentaremos a seguir, vários comunistase simpatizantes da esquerda em geral uniram-se à clandestina Rede de Ajuda à FLN, que auxiliava osmembros da organização a atravessar fronteiras, obtinha documentos falsos, coletava contribuiçõesem dinheiro etc.

[7] Joseph Stalin (1879-1953) foi secretário-geral do PCUS de 1922 a 1953.

[8] Revista publicada de 1956 a 1962, tendo como editores Edgar Morin e Kostas Axelos. Propunhaum degelo intelectual para o pensamento de esquerda e teve como principais colaboradores FraçoisChâtelet, Lucien Goldman, Claude Lefort, Georges Lapassade, Gilles Deleuze, Roland Barthes eHenri Lefebvre.

[9] Grupo e revista fundados por Cornelius Castoriadis e Claude Lefort, em 1946 e 1949,respectivamente. De início ligado à seção francesa da IV Internacional (trotskista), S. ou B. logorompe com a versão da burocratização soviética como acidente histórico e elabora uma análiseoriginal dos determinantes que conduziram ao estabelecimento de um regime de exploração edominação na URSS. A revista se encerra em 1965 e o grupo, em 1967.

[10] Embora a Revolução Chinesa date de 1949, o maoísmo (política inspirada nas idéias e ações deMao Tsé Tung) só ganha força na França no período que ora apresentamos, principalmente com ainstauração da Revolução Cultural (1966).

[11] Tanto na Iugoslávia de Joseph Tito (anos 1950) quanto na Argélia pós-independência (anos1960) houve experiências (limitadas) de gestão operária de empresas agrícolas e industriais.

[12] Grupo e revista criados, ao final da década de 1950, por um grupo de jovens, sendo GuyDebord e Raul Vaneigem os mais conhecidos. Acusam Arguments e S. ou B. de reformistas,preferindo a instauração concreta de “situações” rupturais com a ordem capitalista às intermináveismodificações teóricas dos marxistas críticos.

[13] Os diversos estruturalismos em Ciências Humanas reivindicam rigos teórico; ao mesmo tempo,o adjetivo nouveuau (novo) impera na literatura, no teatro, no cinema.

[14] Na primeira versão (período da guerra e imediato pós-guerra) convivem fenomenólogos,psicanalistas, gestaltistas e psicossociólogos, sempre com fortes cores marxistas. Já na segundaversão (1956 em diante), a Psicanálise Lacaniana é hegemônica.

[15] No Brasil, o termo intervenção costuma conotar medidas autoritárias. Para os analistasinstitucionais, significa “vir entre”, ou melhor, um modo de ação permeável às (e analítico das)instituições em jogo em um contexto concreto.

[16] BAPU (Bureaux d’Aide Psychologique Universitaire): Consultórios de Auxílio PsicológicoUniversitário, criados pela MNEF (Mutualidade Nacional dos Estudantes Franceses), quediagnostica, no meio universitário, uma verdadeira fonte de patologias.

GTU (Grupos de Trabalho Universitários): grupos de 5 ou 6 integrantes, propostos pela UNEF,através dos quais se tenta romper o isolamento dos estudantes, possibilitando o confronto dosprocessos de aprendizagem.

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[17] Em 1965, os EUA começam os bombardeios ao Vietnã do Norte comunista, deflagrando umaguerra que se prolongará até 1973.

[18] Em 1967, Régis Debray, ex-aluno da ENS (Escola Normal Superior), foi preso na selvaboliviana quando participava do foco guerrilheiro de Che Guevara.

[19] “Associação para uma política sexual do proletariado”, criada (1931) por Reich em Berlim, emligação com o Partido Comunista alemão. A entidade visava a promover uma articulação entre aação revolucionária no plano econômico e a ação revolucionária no plano sexual. Levavainformações e debates ao proletariado, e chegou a contar com cerca de 40.000 membros; porém, aruptura entre Reich e o PC alemão fez com que o primeiro fosse levado a criar uma editora própria,as “Edições da Política Sexual”. Por extensão, fala-se em “Sexpol” sempre que os registros daprodução e do desejo são postos em relação.

[20] Maio de 68 é caro a inúmeros mundos, sob uma infinidade de bandeiras. Maios, portanto:norte-americano (recusa da guerra do Vietnã, Flower Power, Black Power); alemão (crítica domarxismo ortodoxo; Universidade Livre; anti-imperialismo); polonês e tcheco (socialismo comliberdade); japonês (anti-militarismo; anti-satelização pelos EUA); italiano (anti-autoritarismouniversitário, crítica da sociedade de consumo), brasileiro (contra o golpe militar de 64 e osimperialismos) e ainda holandês, espanhol, belga, suíço, inglês, dinamarquês, turco, iugoslavo,argelino, tunisiano, marroquino, senegalês, mexicano, peruano, argentino, chileno, venezuelano,malgaxe etc. (Matos, 1981).

[21] Daniel Cohn-Bendit (1945- ): nascido em Montauban, filho de judeus alemães refugiados naFrança, aluno de Sociologia em Nanterre. Por seus cabelos ruivos e postura esquerdista, foiapelidado “Danny Le Rouge” (Danny O Vermelho). Em função de sua participação no maio de 68,o governo francês pretendia, sob argumentos xenófobos e racistas, expulsá-lo do país, o que sóconseguiu após o fim do movimento. Atualmente, é líder dos Verdes (ecologistas) no ParlamentoEuropeu.

[22] O “22 de Março” é caracterizável como grupo de ação: são seus membros todos aqueles quedesejam realizar ações em comum, o que o conduz dos 142 nanterrenses iniciais a um númeroincalculável de pessoas, entre estudantes, professores, operários, artistas, religiosos, profissionaisliberais, jornalistas etc.

[23] Citar, na constelação trotskista, Liga Comunista Revolucionária (LCR), Associação daJuventude Socialista (AJS) e Luta Operária; na maoísta, Gauche Prolétarienne (GP), Vive LaRevolution (VLR) e Partido Comunista Marxista Leninista Francês (PCMLF).

[24] Em novo jogo de palavras, aproveitamos um dos termos que, em francês, designam o “eu”(moi), para indicar as tentativas, também presentes no período que ora descrevemos, de explicarpsicanaliticamente maio de 68.

[25] Esquizo, do grego σχίζειν, “dividir”(Nota do blogueiro)

Escrito por Gustavo Lapido Loureiro

29/06/2011 às 20:27

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Etiquetado com A esquerda fora do eixo, análise institucional

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