medicalização de crianças e adolescentes

42
PROFESSOR ULISSES VAKIRTZIS Capítulos 2, 3, 4, 5, 6, 7,10,11

Transcript of medicalização de crianças e adolescentes

Page 1: medicalização de crianças e adolescentes

PROFESSOR ULISSES VAKIRTZIS

Capítulos 2, 3, 4, 5, 6, 7,10,11

Page 2: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 2A BIOLOGIZAÇÃO DA VIDA E ALGUMAS IMPLICAÇÕES

DO DISCURSO MÉDICOLevando em conta as crianças, tem se produzido, atualmente, uma multiplicidade de diagnósticos psicopatológicos e de terapêuticas que tendem a simplificar as determinações dos sofrimentos ocorridos na infância. O que reconhecemos como resultado deste tipo de prática é que um número cada vez maior de crianças e em idade cada vez mais precoce é medicado de forma a tentar sanar sintomas das crianças, sem considerar o contexto na qual se apresentam; não levando em conta, também, as complexas manifestações singulares de cada sujeito. Assim, no lugar de considerar um psiquismo em estruturação, supõe-se um déficit neurológico.

Page 3: medicalização de crianças e adolescentes

A partir de certa informação do terreno da psicologia, os professores foram também chamados a serem chamados a serem a extensão do olhar especialista na prática cotidiana, levados a observarem as variações de comportamento das crianças e a orientarem seus familiares na busca de tratamento adequados aos problemas apresentados pelos alunos.

Page 4: medicalização de crianças e adolescentes

A permeabilidade da escola ao discurso médico, bem como ao discurso psicológico, é histórica.

Page 5: medicalização de crianças e adolescentes

Seria uma ilusão crer que o medicamento e a promessa que ele carrega, não tocam em desejos humanos. É o fato de que o sujeito deseje ver-se livre de sua dor e de seus conflitos que também anima, de certa forma, a busca por uma solução tal como apresentada pelos remédios.

Page 6: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 3OS “INTRATÁVEIS”: A PATOLOGIZAÇÃO DOS JOVENS EM SITUAÇÃO DE

VULNERABILIDADE

O tratamento psiquiátrico de jovens infratores é considerado, em muitos casos, como “punição por indisciplina” e, em vários casos, “sem justificativas para serem internados”. Abandono, carência e pobreza tornaram-se doença metal.

Page 7: medicalização de crianças e adolescentes

O então criado Transtorno Antissocial de Personalidade (TASP) descreve um indivíduo com um padrão de infrações legais e comportamentos antissociais desde a infância. Desta forma, a aplicação do diagnósticos de TASP fica restrita à prática de atos criminosos, ao mesmo tempo em que se estende a aplicação deste diagnóstico à maior parte dos autores de crimes encarcerados.

Page 8: medicalização de crianças e adolescentes

(...) o CID-10 traz recomendações expressas de que seja evitado o diagnóstico de TPAS na infância e na adolescência. “É improvável que o diagnóstico de transtorno de personalidade seja apropriado antes da idade de 16 ou 17 anos”. O período de transformações biopsicossociais da infância e da adolescência não recomenda um diagnóstico dessa natureza para pessoas nessa faixa etária. Mesmo que surja algum indício não se justifica utilizar o TPAS como elemento de defesa social.

Page 9: medicalização de crianças e adolescentes

A singularidade da adolescência e principalmente da infância deve ser levada em consideração, exatamente quando eles ingressam no campo dos direitos como sujeitos. (...) É preciso articular os direitos humanos com a defesa ativa dos processos de singularização.

Page 10: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 4RETORNANDO À PATOLOGIA PARA JUSTIFICAR A NÃO APRENDIZAGEM ESCOLAR: A MEDICALIZAÇÃO

E O DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM TEMPOS DE NEOLIBERALISMO

A análise do fracasso escolar tem um dos seus principais argumentos, o fato de que os problemas de aprendizagem incidem maciçamente sobre as crianças das classes populares e é sobre elas que surgem as mais variadas explicações (problemas psicológicos, biológicos, orgânicos e socioculturais), todas elas preconceituosas a respeito da pobreza no Brasil.

Page 11: medicalização de crianças e adolescentes

O problema do fracasso escolar se pauta em duas questões na formação do educador:1. Posicionamento político de compromisso

com o excluído, principalmente com as crianças e adolescentes;

2. Superação de referenciais teórico-metodológicos oriundos da Psicologia que tem levado a exclusão por meio de concepções medicalizantes a respeito da queixa escolar.

Page 12: medicalização de crianças e adolescentes

A criança com dificuldades em leitura e escrita é diagnosticada, procuram-se as causas, apresenta-se o diagnóstico e em seguida a medicação ou o acompanhamento terapêutico. Muitos defendem a medicalização do aprender que é um direito da criança ser medicada, ser atendida e ser diagnosticada.

Page 13: medicalização de crianças e adolescentes

(...) a finalidade do psicólogo na Educação deve-se pautar no compromisso com a luta por uma escola democrática, de qualidade, que garanta os direitos de cidadania (...) Acreditamos que há um retrocesso visível no campo educacional ao transformarmos em patologia algo que é produto das dificuldades vividas por um sistema escolar que não consegue dar conta de suas finalidades.

POLÍTICAS PÚBLICAS INADEQUADAS

Page 14: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 5DISLEXIA E TDAH:UMA ANÁLISE A PARTIR DA CIÊNCIA MÉDICA

A maioria absoluta dos discursos medicalizantes acerca de crianças e adolescentes referem-se à dislexia e TDHA. Sendo a dislexia sendo o distúrbio de aprendizagem mais falado e diagnosticado (e o mais difícil de diagnosticar!). O TDHA (Transtornos por Déficit de Atenção e Hiperatividade) surge como explicação ao DCM (Disfunção Cerebral Mínima), que também tenta explicar a dislexia!

Page 15: medicalização de crianças e adolescentes

Os estudos atuais não comprovam, de fato, que problemas de aprendizagem estejam relacionadas a dislexia e ao TDHA. A indústria farmacêutica se aproveita dessas dúvidas e amplifica a medicalização, por puro interesse financeiro...

Querem homogeneizar uma sociedade heterogênea!

Page 16: medicalização de crianças e adolescentes

Steven Rose:

“Porém, crianças recebendo Ritalina por prescrição médica estão sendo drogadas como método de controle social. Isto é, me parece, um questão ética real. Se nós não reconhecemos a situação do mundo real em que drogas são compradas, prescritas e usadas, então o debate ético é vazio.”

Page 17: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 6SUBSÍDIOS DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PARA AVALIAÇÃO DE

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TDHA NO ÂMBITO ESCOLAR

... O uso contínuo de Ritalina e possivelmente de outras drogas para controlar a hiperatividade pode resultar em estudantes obedientes, mas academicamente incompetentes. (...) O objetivo da escola deveria tornar as crianças prósperas em suas relações sociais e competentes em seu desempenho acadêmico.

Page 18: medicalização de crianças e adolescentes

INDIVÍDUOAMBIENTE INTERNO

MOTIVAÇÃO

AMBIENTE EXTERNO

ESTÍMULOS

BEHAVIORISMO RADICAL

SKINER

Page 19: medicalização de crianças e adolescentes

Skiner: “os homens agem sobre o mundo, modificam-no e são, por sua vez, modificados pelas consequências de sua ação”.

Page 20: medicalização de crianças e adolescentes

A educação é o estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e para os outros membros da sociedade em algum tempo futuro. O PLANEJAMENTO é importante nesse processo. É preciso ter:1. Clareza dos fins que se pretende alcançar;2. Repertório comportamental que o aluno apresenta

em relação àquilo que se pretende ensinar;3. Reforçadores que controlam seus comportamento.

Page 21: medicalização de crianças e adolescentes

PAPEL CENTRAL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO:

“Toda a tecnologia educacional operante estará baseada no planejamento das atividades do aluno, cabendo ao professor as tarefas de consequenciá-las, avaliá-las e revê-las. Um bom programa de ensino deve especificar o que o aluno fará, em quais circunstâncias e com quais consequências. É um planejamento da atividade do aluno, mais do que na atividade do professor.”

Page 22: medicalização de crianças e adolescentes

DESATENÇÃO DISTRAÇÃO

HIPERATIVIDADE IMPULSIVIDADE

TDAH

Page 23: medicalização de crianças e adolescentes

É consenso que o diagnóstico do TDAH é vago é difícil de distinguir dos problemas cotidianos, influenciados por fatores culturais.(ele existe de fato?) Ele é mais um conjunto de SINAIS e SINTOMAS, geralmente desconhecidos.Isso afeta a relação entre professor e aluno, sendo que o professor não se dedicará se perceber que seus alunos não aprendem (PROFECIA AUTOREALIZADORA).

Page 24: medicalização de crianças e adolescentes

EU ENSINO, MAS OS ALUNOS NÃO APRENDEM!

TDAH

Page 25: medicalização de crianças e adolescentes

O FARMACOLOGISMO, COMO O RACISMO, É UM SISTEMA IDEOLÓGICO EMBASADO EM UMA SÉRIE DE PRESSUPOSTOS QUE, EMBORA FALSOS E EXAGERADOS, GOVERNAM UM CONJUNTO DE PERCEPÇÕES, ENTENDIMENTOS E AÇÕES.

Page 26: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 7DISLEXIA, PROCESSO DE AQUISIÇÃO OU SINTOMA DE ESCRITA?

Associação Internacional de Dislexia:“Dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Isso afeta a sua aprendizagem do ponto de vista global.”

Page 27: medicalização de crianças e adolescentes

Tanto escola como as clínicas médicas se equivocam muitas vezes em diagnosticar a dislexia, ao interpretar as “instabilidades” próprias da aquisição da escrita como sintomas. Porém, é fato a percepção que essas instabilidades se mostram palpáveis, principalmente na figura do “aluno copista”, que copia perfeitamente, mas não é capaz de ler e produzir uma única linha de seu próprio punho.

Page 28: medicalização de crianças e adolescentes

O que a escrita requer do sujeito não é pouco. Ela necessita ir além do desenho da letra e sim sua compreensão. Porém não significa que o aluno tenha renunciado à letra como imagem (esse é o “B” de Bruno).Para ler e escrever, o sujeito deve compreender as regras do jogo, ou seja, compreender de que forma a combinatória entre as letras entra em jogo na escrita.

A importância do fonoaudiólogo nos casos de escrita

Page 29: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 10A DESATENÇÃO ATENTA E A HIPERATIVIDADE SEM AÇÃO

O transtorno de atenção e a hiperatividade, assim como a impulsividade, serão considerados como marcas de nossa cultura que, nos dias que correm, dificulta a diferenciação individual.

Page 30: medicalização de crianças e adolescentes

Em nossa sociedade os indivíduos não são mais formados, mas

instrumentalizados.

ATENÇÃO e DISCIPLINA

Page 31: medicalização de crianças e adolescentes

O encaminhamento dos alunos para os psicólogos e médicos é resolver os problemas dos alunos “fora da escola”. Características próprias da escola que podem gerar o desinteresse e a desatenção não são postas em questão.

Page 32: medicalização de crianças e adolescentes

A desatenção é atenta: recusa o que é oferecido, como se percebesse o seu grau de simulacro;A hiperatividade é sem ação: é tão sem objetivo, quanto as tarefas sem sentido que são oferecidas pela escola.

Page 33: medicalização de crianças e adolescentes

ALUNO-PROBLEMATermo que retira a responsabilidade da escola, onde o diagnóstico psicológico tem servido para comprovar que determinados alunos são de fato incapazes de realizar algumas tarefas exigidas pela escola. Isso é um alívio para a escola, pois relaciona a dificuldade do aluno a uma dinâmica psíquica, tirando a responsabilidade da escola em tomar uma atitude que possa superar essa dificuldade.

Page 34: medicalização de crianças e adolescentes

EDUCAÇÃO BANCÁRIA

XEDUCAÇÃO CRÍTICA

(LIBERTÁRIA)

Page 35: medicalização de crianças e adolescentes

O DEFICIT DE ATENÇÃO EHIPERATIVIDADE, ASSIM COMO A

IMPULSIVIDADE, NÃO SÃO TRANSTORNOS GERADOS

PELO INDIVÍDUO, AINDA QUE OEXPRESSE, MAS PELA

CULTURA

Page 36: medicalização de crianças e adolescentes

CAPÍTULO 11PRECONCEITOS NO COTIDIANO ESCOLAR:

A MEDICALIZAÇÃO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

ESCOLADESNUTRIÇÃO

DISTURBIOS NEUROLÓGICOS

UNIDADES DE SAÚDE

ALUNO

Page 37: medicalização de crianças e adolescentes

Agnes Heller

“...crer em preconceitos é cômodo porque nos protege de conflitos, porque confirma nossas ações anteriores.”

As crianças não aprendem porque:• São pobres;• São negras;• São nordestinas;• São imaturas;• Seus pais são analfabetos;

Page 38: medicalização de crianças e adolescentes

Transformar questões sociais em biológicas, se chama BIOLOGIZAÇÃO. As crianças não aprendem e seu fracasso escolar deriva de quaisquer doenças das crianças.

MEDICALIZAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Page 39: medicalização de crianças e adolescentes

Em pesquisa sobre o fracasso escolar em escolas municipais de Campinas chegou-se a seguinte conclusão:

Para todas as diretoras e professoras o fracasso escolar é motivado por questões referentes à criança e à família. Não existem dúvidas, não existem opiniões divergentes. Trata-se de uma certeza absoluta.

Page 40: medicalização de crianças e adolescentes

A formação dos professores está no cerne da questão:

“Ao transformar teorias em simples métodos, nega-se ao professor a possibilidade de, pelo conhecimento e entendimento de uma teoria, modificar efetivamente sua prática pedagógica. Enquanto “métodos”, todos são iguais. (o “método Montessori”, o “método Piaget”, o “Método da Emília Ferrero”...)

Page 41: medicalização de crianças e adolescentes

Um ponto relevante apontado na pesquisa é a responsabilização do professor no fracasso escolar do aluno. 100% dos diretores responsabilizam os professores, porém não apontam solução. Quando questionados se afastam das questões pedagógicas, apesar de, por lei, para exercerem a função de diretor necessitam ser professores.

Page 42: medicalização de crianças e adolescentes

Concluindo...Se pretendermos ser agentes efetivos da transformação social, sujeitos da história, fica o desafio de sermos capazes de nos infiltrar na vida cotidiana, quebrar seus sistema de preconceitos e retomar a cotidianidade em outra direção. Na direção de construir o sucesso na escola.