Medicalização Simone

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Medicalização da Saúde, Educação e Sociedade Simone Farinha Fonoaudióloga da Avaliação Psicoeducacional Departamento de Educação Especial [email protected] Araucária 2013

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  • Medicalizao da Sade, Educao e Sociedade

    Simone FarinhaFonoaudiloga da Avaliao PsicoeducacionalDepartamento de Educao Especial [email protected]

  • ...Cada um l e rel com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.

    (BOFF, LEONARDO.Todo ponto de vista a vista de um ponto. In: A guia e a galinha.4 ed. RJ: Sextante, 1999)

  • Mas afinal:

    O que significa Medicalizao?

    Existe diferena entre Medicalizao e Medicao?

  • Medicao e Medicalizao Medicao: Tratar com medicamento, aplicar remdios, medicar...

    Medicalizao: um processo que busca tornar natural o que historicamente constitudo. a tentativa de transformar as diferenas em problemas de causa e soluo no campo da sade, localizado no plano individual, no sujeito e no na estrutura poltica. Pode ou no desencadear o uso de medicamento.

    Nem toda a pessoa medicalizada medicada; nem toda a pessoa medicada medicalizada.

  • Medicalizar, Patologizar, Judicializar...Embora no sejam sinnimos, tm como pano de fundo a mesma lgica coercitiva: minimizar as diferenas, desigualdades e os problemas coletivos, polticos e sociais.MedicalizaoPatologizaoBiologizao (ou antibiologizao)Judicializao

  • Pensando em Prticas Medicalizantes...

  • Prticas Medicalizantes: Interface entre Cincia e IdeologiaGravidezPartoAmamentaoRelaes amorosasVidas profissionaisDa Dor

  • MedicalizaoSe entendermos que somos seres biolgicos e que a dimenso social, histrica, poltica e cultural no nos define, estamos abrindo mo de sermos autores e construir possibilidades!

  • A terminologia mdica invadiu a linguagem em todas as classes sociais e regies e se inscreveu na cultura (Brum, Eliane, 2009).

  • Prticas Medicalizantes EducacionaisDizem respeito ao mito de que questes biolgicas so responsveis ao menos em parte pelo fracasso escolar, tornando natural esperar que um profissional da sade ou da Educao descubra uma categoria que o educando se enquadre, reforando a crena de que este mau sucedido por questes unicamente individuais.

  • Prticas Medicalizantes EducacionaisDesatenteno InquietudeImpasses no Aprendizado

  • Raciocnio Patologizante

    Embasado no pensamento mdico, ou seja, pautado em causa e efeito, so atribudas a determinadas manifestaes, o carter de sinais e sintomas de possveis comprometimentos orgnicos.

    Se determinadas leses cerebrais podem desencadear alteraes de comportamento ou de linguagem oral e escrita, crianas que apresentam tais alteraes, provavelmente apresentem tambm uma leso cerebral, sendo estas tomadas como sintomas.

  • DiagnsticoInicia-se na prpria escola; a seguir passa por diversos especialistas que muitas vezes avaliam o que j foi visto... Ou seja, o que a criana no faz...

  • Exames de Imagem para Detectar a DislexiaOs exames que pretendem detectar Dislexia curiosamente apresentam os mesmos resultados para dislxicos e para no-alfabetizados no idioma (PET-SCAN ).

    A pessoa precisa ler para ativar as reas de leitura do crebro, se no ler no as ativa.

  • ASRS 18Levantamento dos Sintomas de Dficit de Ateno e Hiperatividade em Adultos

  • ASRS 18 Levantamento dos Sintomas de Dficit de Ateno e Hiperatividade em AdultosVoc comete erros por falta de ateno quando tem que trabalhar em um projeto chato ou difcil?Voc tem dificuldade em manter a ateno quando est fazendo um trabalho chato e repetitivo?Voc quando necessita fazer algo que exige muita concentrao, evita ou adia o incio?Voc tem dificuldade em fazer um trabalho que exige organizao?

  • ASRS 18 Levantamento dos Sintomas de Dficit de Ateno e Hiperatividade em AdultosVoc se distrai com atividades ou barulho a sua volta?Voc tem dificuldade para sossegar e relaxar quando tem tempo livre para voc?Voc se sente ativo demais e necessitando fazer coisas, como se estivesse com um motor ligado?Voc se pega falando demais em situaes sociais?

  • SNAP 04Levantamento dos Sintomas de Dficit de Ateno e Hiperatividade infantis

  • Discutindo Exemplos da Lista de Sintomas de DesatenoNo consegue prestar ateno a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas.Tem dificuldade em manter a ateno em tarefas ou atividades de lazer;Parece no estar ouvindo quando se fala diretamente com ele;No segue instrues at o fim e no termina deveres de escola ou obrigaes;Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;Evita, no gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforo mental prolongado;

  • Discutindo Exemplos da Lista de Sintomas de DesatenoPerde coisas necessrias para atividades (ex: brinquedos, deveres da escola, lpis ou livros); facilmente distrado por estmulos alheios tarefa esquecido em atividades do dia-a-dia; Mexe com as mos ou os ps ou se remexe na cadeira;Frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situaes nas quais se espera que permanea sentado;Frequentemente corre ou escala, em situaes nas quais isso inapropriado(inapropriado para quem?);

  • Discutindo a Lista de Sintomas de Hiperatividade-impulsividadeTem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calmaNo para, parece estar a mil por horaFala em demasiaResponde perguntas de forma precipitada antes delas terem sido completadasCom frequncia tem dificuldade para aguardar sua vezInterrompe os outros ou se intromete (em conversas ou jogos)

  • Como AvaliarSe existirem pelo menos 6 itens marcados com bastante ou demais de 01 a 09 = existem mais sintomas de desateno que o esperado para uma criana ou adolescente;Se existirem pelo menos 6 itens marcados com bastante ou demais de 10 a 18 = existem mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que o esperado para uma criana ou adolescente;

    Nem um pouco s um poucoBastanteDemais

  • Critrios

    Lista de sintomasAlguns destes sintomas devem estar presentes antes de 7 anosExistem problemas causados pelos sintomas em pelo menos 2 contextos diferentes (escola, vida social, em casa)H problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomasSe existe um outro problema (depresso, deficincia mental, psicose, etc).

  • Vdeo sobre a Medicalizaohttp://www.youtube.com/watch?v=JZliK_BW2ks (Nau dos Insensatos III: Medicalizao)

  • Voltando a Dislexia...

  • Dislexia : Dificuldades para aprender a ler e a escrever podem ser sintomas?

    A escrita uma modalidade de linguagem tanto quanto a linguagem oral/fala e sua aquisio ocorre em um processo. Aprendemos a andar, andando; a falar, falando e a escrever escrevendo. Erros: hipteses lanadas pela criana no processo de apropriao.

  • Dislexia : Dificuldades para aprender a ler e a escrever podem ser sintomas?Durante o processo de aquisio da linguagem escrita, bem como acontece na oralidade, podem haver impasses, devendo estes serem investigados para viabilizar a retomada da apropriao desta modalidade de linguagem, sendo importante abolio dos valores negativos que a criana possa ter em relao a linguagem escrita; o resgate de sua auto-estima e a ressignificao das manifestaes/queixas iniciais;

  • Apropriao da Linguagem EscritaA escrita importante na escola porque importante fora da escola.Inicia do no domnio, para as trocas inerentes ao processo de aquisio at chegar a apropriao, sendo este processo contnuo ao longo de toda a vida, tal qual ocorre com a linguagem oral. Sua apreenso ocorre a partir de experincias significativas e vivenciadas no s na escola como tambm em famlia, na leitura de livros, revistas, jornais, etc.

  • Apropriao da Linguagem Escrita comum ouvir educadores, mdicos, fonoaudilogos e psiclogos referirem que a persistncia das trocas na escrita podem ser sintomas de alguma patologia... Mas como seres singulares, cada qual se apropria da linguagem escrita em seu prprio ritmo, de acordo com as experincias anteriores a escolarizao.

  • Fracasso EscolarUm Dilema NacionalApenas 25% dos brasileiros acima dos 15 anos tm domnio pleno das habilidades de leitura e de escrita. Isso significa que s um em cada quatro brasileiros consegue entender totalmente as informaes de textos mais longos e relacion-las com outros dados.

  • Fracasso EscolarUm Dilema Nacional38% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais, desses, 8% so absolutamente iletrados e 30% tm um nvel de habilidade muito baixo.Outros 37% tm um patamar bsico -so capazes de localizar uma informao em textos curtos, como uma carta ou uma notcia. (Instituto Montenegro 2003).

  • E os Diagnsticos?Os diagnsticos servem para construir uma direo, um caminho para que se avance e no para selar destinos e criar estigmas.As crianas esto em plena constituio subjetiva, ser mesmo que devemos dar-lhes um ttulo de doentes?Na infncia os diagnsticos devem ser escritos com lpis!

  • Vamos continuar descrevendo as crianas ou nos encontrar com o infantil?Atualmente, pais, educadores muitas vezes se colocam numa posio de descrever suas crianas ao invs de estarem presentes, seja educando, seja fazendo laos, seja brincando.Constituio dos vnculos afetivos: Podemos estar presentes na constituio dos vnculos, ofertando aquilo que somos ou podemos descrever as dificuldades apresentadas pelas crianasAprendizagem das regras sobre laos sociais: Podemos estar presentes, doando um lugar comum a todas as crianas ou podemos apontar suas dificuldades, rotulando-as

  • Quem estamos Silenciando?As crianas questionadoras, que correm, que pulam, que gritam, que sonham, e que ousam acreditar que a escola pode ser diferente. Assim vamos silenciar a vida! (neste sentido a medicalizao poderia se chamar antibiologizao da vida)As crianas que sofrem de todo tipo de violncia e/ou abusos Silenciamos seus pedidos de socorro!

  • A Palavra Aplaca a AngstiaMuitas crianas nas escolas como tambm nos consultrios fonoaudiolgicos e psicolgicos subnutridas de palavras. Dar sentido ao vivido aplaca a angstia! Dar nomes s coisas queda brutal na angstia.

    As crianas buscam criar uma teoria para se explicarem, explicarem suas existncias. E o professor pode ajudar a dar sentido vida deles.O educador s se avalia pelos resultados pedaggicos, mas deveria perceber que faz muito mais que isso pelas crianas.

  • O impulso para escrever parece originar-se no sistema lmbico conjunto de clulas cerebrais associadas emoo e transformado em ideias editadas pelos lobos temporais

  • Um belo dia, depois de anos mergulhados num mundo cheio de palavras escritas, aprendemos a ler:

    a duras penas, se ningum pensou em nos fazer brincar com as palavras e com esse mundo escrito desde cedo; muito devagar, se ningum teve a boa ideia de povoar a casa de livros e outros materiais impressos;

  • mais facilmente, se desde pequeninhos nos damos conta de que existem coisas escritas por toda parte; pegamos, folheamos, empilhamos livros; vemos outras pessoas passando bons momentos com livros e papis escritos; com prazer, se fazemos parte do grupo de sortudos para quem outras pessoas leram em voz alta varinha mgica para a descoberta de que dentro de um livro existe um mundo e temos direito a ele.

  • De que que est povoado o mundo do seu aluno? Com o que que ele d vida s ideias que jorram de sua cabecinha?

    Que tipo de coisa ele v como parte do seu mundo?

    De onde vm as palavras que ele usa para dizer quem , contar o que sente, pedir o que espera?

  • Lembrando...A vida nunca uma reta perfeita.

  • Vdeo EX ET.http://www.youtube.com/watch?v=Tkli780dX6U

  • Sugestes de leitura na WEBFrum sobre a Medicalizao da Educao e Sociedade (www.medicalizao.org.br)Verso Resumida: Recomendaes de Prticas no Medicalizantes para Profissionais e Servios de Educao e Sade (http://medicalizacao.com.br/wp-content/uploads/2013/07/recomendacoes_2ed_2013.pdf)Ifono (www.ifono.com.br) Recomendaes de Prticas no medicalizantes para Profissionais e Servios de Educao e Sade (entrar em Na boca do Povo)Grupo Interinstitucional Queixa Escolar (www.grupoqueixaescolar.blogspot.com.br)Youtube: Moyss e Colares; Adriana Marcondes Machado; Carla Biancha Angelucci; alm da busca por Frum sobre a Medicalizao da Educao e Sociedade

  • Sugestes de leitura

  • Obrigada!!!

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