Megaeventos esportivos e cidades: resistência popular e...

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Megaeventos esportivos e cidades: resistência popular e crise de um modelo Sporting Mega-events and cities: popular resistance and the crisis of a model Coordenador: Gilmar Mascarenhas 1 , ETTERN/IPPUR/GPDU, [email protected] Debatedor: Glauco Bienenstein 2 , PPGAU–UFF; ETTERN/IPPUR/GPDU; GPDU-UFF; [email protected] 1 Programa de Pós-graduação em da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PPGEO-UERJ; professor associado, Pesquisador associado do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza, ETTERN/IPPUR/GPDU. Líder do grupo de pesquisa Megaeventos esportivos e Cidades. 2 Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminens. Pesquisador associado do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza, ETTERN/IPPUR/GPDU; Líder do grupo de pesquisa Grandes Projetos de Desenvolvimento Urbano (GPDU-UFF).

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Megaeventosesportivosecidades:resistênciapopularecrisedeummodelo

SportingMega-eventsandcities:popularresistanceandthecrisisofamodel

Coordenador:GilmarMascarenhas1,ETTERN/IPPUR/GPDU,[email protected]

Debatedor:GlaucoBienenstein2,PPGAU–UFF;ETTERN/IPPUR/GPDU;GPDU-UFF;[email protected]

1Programa de Pós-graduação em da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PPGEO-UERJ; professor associado,Pesquisador associado do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza, ETTERN/IPPUR/GPDU. Líder do grupo depesquisaMegaeventosesportivoseCidades.2ProgramadePósGraduaçãoemArquiteturaeUrbanismodaUniversidadeFederalFluminens.PesquisadorassociadodoLaboratórioEstado,Trabalho,TerritórioeNatureza,ETTERN/IPPUR/GPDU;LíderdogrupodepesquisaGrandesProjetosdeDesenvolvimentoUrbano(GPDU-UFF).

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SESSÃO L IVRE

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

OBrasilsetornou,recentemente,omaiorpalcoplanetáriodosmegaeventosesportivos.DesdeaúltimadécadadoséculoXX,ogovernobrasileirojáesboçavaumempenhocadavezmaisclaronosentido de atrair e realizar grandes competições esportivas internacionais. Após dois malogrosiniciais (projetos olímpicos Brasília 2000 e Rio de Janeiro 2004) tal esforço se intensificou eresultou triunfal: em2002opaís conquistouodireitode sediaros JogosPan-Americanos2007,realizadosnacidadedoRiodeJaneiro;cincoanosdepois,atingiuatãoalmejadacondiçãodepaís-sededaCopadoMundode2014;eemoutubrode2009confirmou-searealizaçãodaOlimpíadade 2016 no Rio de Janeiro, a primeira edição em território sul-americano. Se organizarmegaeventosesportivostornou-seumametaexplícitadepolíticapúblicaedeprojeçãoexternanoBrasilemsuaera“neo-desenvolvimentista”,cumprerefletirsobrediversosaspectos:aarticulaçãopolítica (queenvolve as três esferasde governo), osprincipais agentes econômicos, osprojetoscomseuscustoseformatosorganizativose,substancialmente,seusefeitosnareconfiguraçãodomodelodedesenvolvimentoenoscaminhosparaoplanejamentourbanoeodireitoàcidade.

Osmegaeventosesportivosdaatualidadesedefinemporumconjuntodecompetiçõesperiódicasquadrienais,quevêmapresentandohádécadascrescimentoconstanteeelevadacapacidadedeimpactar as cidades que os abrigam. Sua realização implica a articulação de amplo e complexoconcerto logístico e volumosos investimentos públicos, consubstanciados na elaboração deprojetosurbanosque,alémdecriarumamultiplicidadedesofisticadas instalaçõesesportivasdeincerto uso posterior, anunciam a promessa de expandir a infra-estrutura geral das cidades eassim deixar um legado “positivo”, que tente justificar o impacto geral e imenso volume deinvestimentosgovernamentais.

Amagnitudeatualdesseseventosserelacionacomprocessosmaisabrangentes.Nasúltimastrêsou quatro décadas, as transformações gerais do capitalismo repercutiram sobremaneira naproduçãoe gestãodas cidadesemescalamundial. Produtividadee competitividadepassaremadelinear os principais parâmetros orientadores da questão urbana, não mais concebidamajoritariamenteenquantodesafiohistóricoaoenfrentamentodainjustiçasocial(Harvey,2005).Neste contexto, destacam-se as retóricas competitivas expressasno citymarketingnasquais seinsere, certamente, a promoção de grandes eventos esportivos. É notável a confluência deinteressescontemporâneosentreoportedetaismegaeventoseomodeloneoliberaldegestãoedesenvolvimentourbano(Mascarenhas,Bienenstein,Sánchez,2011).

Os megaeventos esportivos, por sua dimensão e alcance planetários, bem como por suaarticulaçãoexplícitacomgrandescorporaçõesglobais(patrocinadores),emergeemnossoquadroanalítico comoagentee vetorparticularda globalização.Quandoos tratamos sobo ângulodosestudosterritoriais,doplanejamentoedagestãodascidades,percebemosqueestesresultamemclara oportunidade para o “novo” modelo calcado na lógica do mercado e em intervençõesurbanas pontuais e icônicas, mormente associadas ao modelo imobiliário-financeiro decrescimento urbano. Todavia, também representamuma oportunidade para pensar e enfrentarcrônicosproblemasurbanos.

OCOI (ComitêOlímpico Internacional)eaFIFAestabelecemparaascidadesquedesejamsediarseusprincipaiseventosumrigorosopacotedeexigências,queamiúdefereprincípiosbásicosdeautonomia dos Estados Nacionais, traduzido em rigoroso conjunto de determinações, algo quesugerimos situar no âmbito do “globalitarismo” de que nos fala Milton Santos (Mascarenhas,2016).Todavia,estemodoglobalitáriopareceviverumefetivomomentodecrise,promovidopelacrescente contestação em escala planetária. Neste sentindo, observa-se nos últimos anos umconjuntode reações em série, processo absolutamente inédito na história dos JogosOlímpicos:cidades comoAnnecy, na França (umdosprimeiros casos a ganhar repercussãomundial),Oslo,

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Munique, Saint Morits-Davos, Roma, Cracóvia, Graubundem (Suíça), Lviv (Ucrânia, emboramovida, sobretudopela conjuntura geopolíticade confrontobélico), Estocolmo,Bakue Torontorecusaram ou mesmo abandonaram candidaturas olímpicas, quase sempre a partir de intensacontestaçãopopular.Cumpreaindaregistrarqueparaos Jogosde2020seregistrouquantidaderecorde de cidades que cogitaram apresentar candidaturas, mas que desistiram no percurso:Brisbane (Austrália), Cairo, Berlim, Budapeste, Nairobi, Delhi, Guadalajara, Kuala Lumpur,Casablanca,Durban,Toronto,Paris,Praga,Dubai,Lisboa,Bucareste,Bursan(CoréiadoSul)eSãoPetersburgo.Sãorecorrentescríticasaos“elefantesbrancos”,aosgastospúblicosexorbitantesouincontroláveis,àspromessasdelegadojamaiscumpridaseaosimpactosindesejados,geralmentede natureza ambiental ou relacionados aos “distúrbios” (sobretudo as remoções forçadas)provocadospelasintervençõesurbanas.

Nãoporacaso,épossívelclaramentenotarnesteséculoXXIuminéditodeslocamentoespacialdosmegaeventos esportivos no sentido da periferia emergente do sistema mundial, notadamenteparaoschamadosBRICS,comdestaqueparaomundoasiático:paraalémdosjácitadoseventosnoBrasil,temososJogosdePequimem2008,asediçõesdaCopadoMundodeFutebolMasculinode 2010 (África do Sul), 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar, em detrimento do favoritismo norte-americano), bem como outros eventos: os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 (Sochi), 2018(Pieyongchang) e 2022 (Beijing), assim como os Jogos da Commonwealth (Delhi, 2010). Taldeslocamento não apenas sinaliza a predisposição financeira de determinados países de rápidocrescimento econômico em alcançar maior projeção internacional através de exibição de seupoderioemergente.SinalizatambémaestratégiaporpartedeFIFAeCOIderecorrerapaísesnosquais,supostamente,esperamencontrarmenorresistênciaporpartedasociedadecivilecontar,por vezes, com governos autoritários, desejosos de legitimação no cenário global e mesmo noplanointerno.

Nestecontexto,paraosJogosdeInvernode2022,Osloseapresentavacomocandidatafavorita.Não apenas por sua reconhecida capacidade de organização, seu poder econômico e sua fortetradiçãoemesportesdeinverno:oprojetoOslo2022reluzianoaspectoambientaleapresentavasimplesmente o formidável índice de “remoção zero”. Após o faustoso e agressivo evento emSochi2014(omaiscaroepolêmicoeventoesportivode invernodahistória,aocustodeUS$51bilhões) e das perspectivas pouco diferentes para 2018 na Coréia do Sul, o projeto norueguês“cairiacomouma luva”paraaspretensõesdeamenizaradesgastada imagemglobaldosistemaolímpico. Todavia, a sociedade civil norueguesa, mesmo após a oficialização da candidaturaperanteoCOI,pressionoueconseguiupromover,emreferendopopular,orecuogovernamental,emoutubrode2014.RestouaoCOIsomenteduasopções,ambasemregimestotalitários(Pequime Almaty, no Casaquistão) e imbuídas do espírito “gigantista” e perdulário atualmente muitoquestionado. Optou-se por Pequim, não obstante o anunciado uso de neve artificial. Em nossasessão livre,oprojetonorueguêseovitoriosomovimentodecontestação,bemcomoarecenteondaantiolímpicaeuropéia,serãoapresentadospelopesquisadornorueguêsEinarBraathen.

Portanto, para além do propalado quadro de recessão econômica internacional, o “movimentoantiolímpico”, como alguns preferem chamar (Boykoff, 2014; Lenskyj, 2008), vem contribuindodecisivamenteparaproduzir estenovo cenário que resultounadrástica reduçãodonúmerodecandidaturasolímpicas(quevinhacrescendoprogressivamenteemvolumedesdeofinaldosanos1980),oque levouoCOIa finalmenterepensarsuasexigênciasparaascidadespostulantes.Foiassimqueemsua127ªsessãoordinária,emdezembrode2014,foiaprovadaaAgenda2020que,embora muito timidamente, flexibiliza algumas das exigências e claramente sinaliza parapossibilidades de redução dos custos do evento. Aproveitando esta nova agenda, o governojaponês vem promovendo alterações cruciais em seu projeto olímpico. Em julho de 2015,

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mediantecontestaçãosocialintensa,ogovernojaponêsdecidiupelarevisãoradicaldoprojetodoestádio olímpico para os Jogos de 2020, reduzindo bastante seus custos. Imediatamente, opresidentedoComitêOlímpicodoJapão,YoshiroMori,formalizoupedidodeautorizaçãoaoCOI.Este,porsuavez,e jádemonstrandoonovo“espírito”detentaramenizaradesgastadaimagemdourbanismoolímpico,aceitouopedidoafirmando“Wehighlyrespectthisgesture”,naspalavrasdo próprio ThomasBach, presidente doComitêOlímpico Internacional.Nuances domovimentopopularcontraoprojetoolímpicoTóquio2020(“HangorinnoKai”)serãoapresentadosemnossaSessãoLivrepelaativistalocalMisakoIchimura.

A resistência popular carioca ao projetoRio 2016, envolvendodisputas territoriais e simbólicas,será abordada por Fernanda Sánchez (UFF), destacando o emblemático caso Vila Autódromo.Eduardo Nobre (USP), por sua vez, discutirá o legado e as mobilizações populares nas cidadesbrasileirasqueacolheramaCopadoMundo2014,salientandoossinaisdefalênciadestemodelode desenvolvimento urbano que não promoveu inclusão social. Em suma, a sessão livre orapropostapretenderefletirsobreoesgotamentodomodelodedesenvolvimentourbanoassociadoa megaeventos esportivos e apresentar um balanço das experiências de contestação destemodelo,dentrodopossívelemnívelglobal.

NoBrasil, vivemos ummomento político particular, de relativa recessão econômica e de agudorecuodeconquistasdemocráticas,processoqueafetarásensivelmenteomododeplanejaredegerirascidades.Analisarolegadodocicloneodesenvolvimentistadosmegaeventos,valorizandoaótica das vozes dissonantes, pode contribuir para a urgente tarefa de repensar os rumos doplanejamentourbanonoBrasil,noesforçocoletivoembuscadeobtençãooumesmoreconquistadepatamaressignificativosdedireitoàcidade.

MOVIMENTOPOPULARDERESISTÊNCIAAOSJOGOSDETÓQUIO2020

MisakoIchimura

ApreparaçãoparaosJogosOlímpicoseParalímpicos2020vêmimpactandoacidadeeavidadapopulação de baixa renda, acelerando processos de gentrificação em Tóquio. Apartamentosbaratosforamtransformadosemcondomínioscaros.Trezentasfamíliasemsituaçãodehabitaçãosocialeváriaspessoassem-tetonoentornodoMeijiParkforamexpulsosdevidoàconstruçãodoNovoEstádioNacionalparaosJogos.

OComitêOlímpicodoJapãofazseuapeloparauma"Olimpíadadereconstruçãonacional"apósadestruição resultante do triplo desastre (terremoto, tsunami e acidente na Usina Nuclear deFukushimaem2011),masnenhumdiscursodeesperançatemsidocapazdedissiparoaltoníveldecontaminaçãoemTóquioouemTohoku.

Soboargumentode "aumentar adignidadenacional", oprimeiro-ministrodo Japão tem faladoabertamenteemapoioàmilitarização, comnumerosasobservações racistase xenófobas,oquecontribuiparaadiscórdiaentreoJapãoeoutrospaísesdaÁsiaOriental.Sobolema"ocoraçãodahospitalidade",ogovernomunicipaldeTóquioestámobilizandomilharesdecriançasemembrosdas comunidades locais para a aberturados JogosOlímpicos / Paralímpicos visandoaproduçãoforçadado consenso. Enquantoo climadeboas-vindas está sendoencenado, diversas vozesdopovo são marginalizadas. Pretendemos apresentar o panorama atual das lutas populares (comdestaque para o movimento Hangorin no Kai: People Against Olympics,

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http://hangorin.tumblr.com)contraoautoritarismoeoprojetodecidadeacionadoparaosJogosTóquio2020.

PALAVRAS-CHAVE:Toquio2020;resistênciapopular;HangorinnoKai.

“CORTANDO O MAL PELA RAIZ”: EXPLICANDO A RESISTÊNCIA ANTIOLÍMPICAEUROPÉIA–OCASODEOSLO2022.

EinarBraathen

Entre 2011 e 2014,quatorze cidades e regiões da Europa produziramprojetos para disputar arealização dos JogosOlímpicos de Inverno de 2022: Oslo (Noruega), o cantão deGraubuenden(com Davos e St.Moritz, Suíça), Tirol e Trention (Áustria / Itália), Munique (Alemanha), Lviv(Ucrânia),Cracóvia (Eslováquia)Östersund (Suécia), Tahko /Kuopio /Helsinque (Finlândia),Nice(França),Barcelona(Espanha),Saragoça(Espanha),BrasoveValedePrahova(Roménia),Sarajevo(Bósnia e Herzegovina). No entanto, devido à falta de apoio popular, tais projetos foramabandonadosoumesmoretiradosapóssuaoficializaçãojuntoaoComitêOlímpicoInternacional.

Este artigo discute as várias explicações possíveis para esta bem sucedida onda de resistênciacontrasediarosJogosOlímpicos.Amaisdifundidaéaexplicaçãobastantedespolitizadadeque,devidoàcrisefinanceiraedoeuro,ascidadeseseuscontribuintesdescobriramquenãopodiamcustear tais eventos. Um examemaisminucioso do caso deOslo sugere que as explicações deordempolíticaesociológicasãomaisválidas.OdesprezopelamegalomaniadosJogosOlímpicosdeSochiem2014,oluxoextravagantequecercavaosmembrosdoComitêOlímpicoInternacionaleodesrespeitodoCOIedascidadesanfitriãspelotrabalhoepelosdireitoshumanos,alimentarammovimentossociaisdebaseprogressistaemsua lutacontraascandidaturasolímpicas .Oartigodiscute também em quemedida estaria em curso uma "globalização da cidadania insurgente",com asmassivasmanifestações de rua no Brasil em junho de 2013 inspirandomovimentos deresistênciacontramegaeventosesportivosempaíseseuropeus.

PALAVRAS-CHAVE:movimentoanti-olímpico;Europa;Oslo2022.

IMPACTOSURBANOSDOSMEGAEVENTOSESPORTIVOS:ACOPADOMUNDOFIFADE2014

EduardoAlbertoCusceNobre

Entre 2007 e 2014, o Governo Brasileiro coordenou a execução das obras para a realização daCopa do Mundo da FIFA, baseado no discurso do planejamento estratégico da criação de um“legado”eminfraestrutura,empregoserenda.Frutoda“coalizãodecrescimento”entreoEstadoecapital,essasobrasresultaramnaflexibilizaçãodalegislaçãoenousodeumagrandequantidadederecursospúblicoscomfortesimpactosurbanos.Grandepartedasobrasdemobilidadeurbanafoiprojetadaparafavorecerasáreasdeexpansãodocapitalimobiliário,conectandoosestádiosaportos, aeroportos e ao setor hoteleiro, com demanda de uso reduzida. Outros projetos demobilidade foram simplesmente abandonados, transformando-se em “elefantes brancos”. Amaioriadosestádios,construídaoureformadaparaoeventoutilizando-sederecursospúblicos,atravésde isençõesfiscaisoudeempréstimodoBNDESabaixataxade juros,apresentaagoraacapacidade de cumprir com as obrigações financeiras abalada, visto que a demanda para a sua

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utilizaçãoébemmenordoqueaprevista.Apopulaçãomaisexcluídafoiagrandeperdedoracomesse processo, pois trinta e seis mil pessoas foram removidas de suas propriedades para arealizaçãodasobras.Dessa forma,aorganizaçãodessemegaevento representouautilizaçãodeumaenormequantidadederecursospúblicos(23dototalde27bilhõesdereais)afimdegarantiro lucro das empreiteiras e fomentar o desenvolvimento imobiliário. As grandes manifestaçõespopularesqueocorreramcontráriasàorganizaçãodomegaeventoparecemindicaroesgotamentodessemodelodeplanejamento.

PALAVRAS-CHAVE:impactosurbanos;CopadoMundo;mobilidade

JOGOSOLÍMPICOSETERRITÓRIOSEMDISPUTA:SUJEITOSE INSTRUMENTOSPARAAREINVENÇÃODOESPAÇO

FernandaSánchez

A luta dosmoradores da Vila Autódromo para reinventar seu território, violentamente afetadopelamarcha da reestruturação urbana em tempos de urbanismo olímpico na cidade do Rio deJaneiro, é tomada aqui como caso emblemático de produção do espaço conflitual, neste caso,contra as remoções.Aodiscutir esta formulaçãoevidencioos diversos instrumentos, recursos eestratégias – comunicacionais, políticos e territoriais - dos quais os moradores e apoiadoresfizeramusopara resistir ao atual projetode cidade.A capacidade imaginativados sujeitosparadesfiguraras linguagensdopodere reconfigurarossentidosda lutaao longodosanospermitiuinscrever o caso na esfera pública em múltiplas escalas: local, nacional e internacional. Paradesenvolverareflexãoaapresentaçãoconstitui-sedasseguintespartes:brevecaracterizaçãodaVila Autódromo como território disputado; a mídia como instrumento ativo na produção doespaço;asviolênciasinstitucionaisnoterritório;lugareseespaçosparaacomunicaçãodaluta;asgramáticasterritoriaisdainsurgência.Serãotrazidas,comocontribuiçãoaodebate,algumasideiaschavequeenfatizamaspossibilidadesdeaprendizadoeemancipação,transformadorasparatodosaquelesqueparticiparamdoprocesso.

PALAVRAS-CHAVE:espaçoconflitual;VilaAutódromo;RiodeJaneiroolímpico.