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Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina MEIOS DE DIAGNÓSTICO NA DOENÇA DE REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICA Sandra Sofia Abreu Pereira Macedo Orientadora Drª Marta Salgado Rodrigues Porto, Junho 2011

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Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

MEIOS DE DIAGNÓSTICO

NA DOENÇA DE REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICA

Sandra Sofia Abreu Pereira Macedo

Orientadora

Drª Marta Salgado Rodrigues

Porto, Junho 2011

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Índice

Resumo ............................................................................................................................ 1

Abstract ............................................................................................................................ 2

Introdução ......................................................................................................................... 3

Objectivo ........................................................................................................................... 4

1. Patogénese................................................................................................................... 5

1.2. Mecanismos de refluxo .......................................................................................... 5

1.2.1. Relaxamentos transitórios do esfíncter esofágico inferior ................................ 5

1.2.2. Relaxamentos do esfíncter esofágico inferior induzidos pela deglutição

(REEID) .................................................................................................................... 6

1.2.3. Pressão do esfíncter esofágico inferior hipotensivo ......................................... 6

1.3. Hérnia hiatal ........................................................................................................... 6

1.4. “Clearance” ácida esofágica ................................................................................... 6

1.4.1. “Clearance” de volume .................................................................................... 7

1.4.2. Secreções das glândulas salivares (GS) e esofágicas .................................... 7

1.5. Resistência tecidual ............................................................................................... 7

1.6. Factores gástricos .................................................................................................. 8

1.6.1. Secreção ácida gástrica .................................................................................. 8

1.6.2. Refluxo duodenogástrico ................................................................................. 8

1.6.3. Atraso no esvaziamento gástrico ..................................................................... 9

2. Métodos de diagnóstico na DRGE ................................................................................ 9

2.1. Questionários padronizados ..................................................................................10

2.2. Supressão ácida empírica .....................................................................................11

2.3. PHmetria esofágica ...............................................................................................12

2.3.1. PHmetria 24h .................................................................................................12

2.3.2. Cápsula Bravo ................................................................................................16

2.4. Impedância Intraluminal ........................................................................................20

2.5. Endoscopia Digestiva Alta .....................................................................................22

2.6. Histologia ..............................................................................................................24

2.7. Manometria esofágica ...........................................................................................25

2.8. Raio x baritado ......................................................................................................26

Conclusão ........................................................................................................................27

Referências Bibliográficas ...............................................................................................29

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

1

Resumo

A doença de refluxo gastro-esofágico, definida como uma “condição que surge quando o

conteúdo do refluxo gástrico causa sintomas problemáticos e/ou complicações”, pelo consenso de

Montreal, é uma doença gastrointestinal crónica comum com alta prevalência na população

Ocidental. A proporção de homens e mulheres afectadas é igual. É uma doença com grande peso na

nossa sociedade em termos de custos económicos e qualidade de vida.

Houveram grandes avanços na compreensão da sua patogénese ao longo dos últimos anos,

conduzindo deste modo a uma evolução respectivamente aos métodos de diagnóstico.

Não existe um critério padrão para o seu diagnóstico. Uma série de testes encontra-se

disponível para fazer com que o médico possa prosseguir no diagnóstico clínico. Muitas vezes esses

estudos são desnecessários porque a história clínica é suficiente, revelando a presença de doença

de refluxo problemática. No entanto, em determinados casos, isso não é possível e o médico optará

por decidir quais os melhores testes para chegar a um diagnóstico de forma fiável, atempada e com o

melhor custo-benefício.

A disponibilidade da terapia supressiva altamente selectiva do ácido gástrico levou à introdução

de pequenos ensaios com inibidores da bomba de protões para o diagnóstico da doença de refluxo

gastro-esofágica. São frequentemente utilizados como uma ferramenta diagnóstica de primeira linha

na prática clínica e particularmente nos serviços de cuidados de saúde primários. Outros testes de

diagnóstico disponíveis incluem exames radiográficos usando corantes de contraste, cateteres,

endoscopia, cápsulas de medição do pH intraesofágico e, mais recentemente, a impedância

multicanal intraluminal combinada com a pHmetria tornou-se um instrumento clínico que permite o

esclarecimento dos mecanismos subjacentes relativamente aos sintomas persistentes quando sob

terapia com inibidores da bomba de protões.

Todos os estudos diagnósticos devem ser avaliados com sentido crítico no que diz respeito à

sua utilidade clínica.

Palavras-chave: Doença de refluxo gastro-esofágico - inibidores da bomba de protões -

exames radiográficos - endoscopia - cápsulas de medição do pH intraesofágico - impedância

multicanal intraluminal combinada com a pHmetria

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Abstract

Gastroesophageal reflux disease defined as a “condition that develops when reflux of gastric

contents causes troublesome symptoms or complications” by Montreal consensus, is a common

chronic gastrointestinal disorder with highly prevalent in Western populations.There´s an equal

proportion of affected men and women. This disease has a great burden in our society in terms of

economic costs and quality of life.

There have been major advances in understanding of disease pathogenesis over the last few

years, and the improved understanding of gastroesophageal reflux disease led to newer

developments in diagnostic techniques.

There is no standard criterion for the diagnosis of gastroesophageal reflux disease. A range of

tests is available to the physician pursuing the diagnosis. Many times, these studies are unnecessary

because the history is sufficiently revealing to identify the presence of troubling reflux disease.

However, this may not be the case and the clinician must decide which tests to choose to arrive at a

diagnosis in a reliable, timely, and cost-effective manner.

The availability of highly selective gastric acid suppressive therapy led to the introduction of

short trials of proton pump inhibitors to diagnose gastroesophageal reflux disease. Proton pump

inhibitors trials are often used as a first line diagnostic tool in clinical practice and in particular in the

primary care settings. Other diagnostic tests available for gastrosesophageal reflux disease include

radiographic examinations using contrast dyes, endoscopy, catheters, capsules measuring

intraesophageal pH, and more recently, combined multichannel intraluminal impedance and pH

monitoring has become a clinical tool that permits the clarification of the mechanisms underlying the

persistent symptoms on acid suppressive therapy.

All diagnostic studies need to be critically evaluated with regard to their clinical utility.

Keywords: Gastroesophageal reflux disease - proton pump inhibitors - radiographic

examinations - endoscopy - capsules measuring intraesophageal pH - multichannel intraluminal

impedance and pH monitoring

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Introdução

A doença de refluxo gastro-esofágico (DRGE) é um processo multifactorial1,2,3,4,5,6,7 e uma

doença crónica comum na prática clínica1,4-6,8,9,10,11,12,13. Apesar de amplamente relatada como uma

das doenças mais prevalentes do trato gastrointestinal2,7,12,14,15,17,18, a sua prevalência de 10% a 20%

no Mundo Ocidental13,19,20 e incidência anual de 0,38% a 0,45%19 baseiam-se mais em estimativas do

que em dados reais2. No entanto, estimar a prevalência da DRGE é diferente consoante a análise

seja baseada em sintomas, geralmente pirose, ou sinais, como a esofagite2. Estão relatadas

proporções iguais em ambos os sexos, apesar do predomínio no sexo masculino quando se trata de

esofagite e esófago de Barrett2.

Não existe um critério standard para a definição de DRGE, pois o limiar entre refluxo fisiológico

e patológico é arbitrário. Os especialistas prontificaram-se a elaborar um consenso internacional para

“desenvolver uma definição e classificação globais da DRGE, usando uma metodologia rigorosa, que

poderia ser usada clinicamente por médicos de Medicina Geral e Familiar e que acolhesse as

necessidades de médicos, doentes, investigadores e corpos reguladores de diferentes partes do

mundo”. Elaboraram em conjunto um total de 50 premissas relativas a DRGE, sendo a mais unânime

a que define a DGRE como uma “condição que surge quando o conteúdo do refluxo gástrico causa

sintomas problemáticos e/ou complicações” (Definição de Montreal, 2006)17.

Segundo a definição de Montreal a DRGE é subclassificada em síndromes esofágicas e extra-

esofágicas. As síndromes esofágicas dividem-se em síndromes sintomáticas (não necessitam de

exames adicionais) e síndromes com lesão (estenose e esofagite de refluxo, esófago de Barrett e

adenocarcinoma). As síndromes extra-esofágicos dividem-se em associações estabelecidas

(laringite, asma, erosões dentárias e tosse de refluxo) e associações propostas (sinusite, fibrose

pulmonar, faringite e otite média recorrente)17,21. A definição não inclui o termo “ doença de refluxo

não erosiva”, uma vez que implicaria o recurso a um exame complementar de diagnóstico 17.

As causas fisiológicas major da DRGE incluem o aumento dos relaxamentos transitórios do

esfíncter esofágico inferior (RsTEEI), a motilidade esofágica ineficaz e a redução do tónus do

esfíncter esofágico inferior (EEI)19.

Os factores de risco para a DRGE incluem a obesidade, a presença de hérnia de hiato,

consumo de tabaco, toma de estrogénios, nitratos e anticolinérgicos19.

Existe um grande número de testes diagnósticos disponíveis para a avaliação de pacientes com

suspeita de DRGE. Muitas vezes estes testes são desnecessários, pois os sintomas clássicos de

pirose e regurgitação ácida são suficientemente específicos para identificar a sua presença e

começar o tratamento médico. Num estudo de Klauser e colaboradores, estes sintomas

apresentaram uma especificidade de 90% para DRGE e uma baixa sensibilidade6. É necessário ter

em conta a frequência e intensidade dos sintomas bem como os factores psicossociais17. No entanto,

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a exactidão destes sintomas clínicos no diagnóstico da DRGE é difícil de definir, devido à falta de um

goldstandard para o seu diagnóstico5,6,19.

O tratamento tem como meta proporcionar alívio sintomático, cicatrizar a esofagite erosiva e

prevenir as complicações. Encontram-se aqui incluídas as terapias não prescritas, como as auto-

medicações, modificações dos hábitos de vida, medicação prescrita, finalizando com o tratamento

cirúrgico e endoscópico nos casos mais complicados2.

Por fim, é uma doença com um impacto negativo na qualidade de vida1,2,4,11,15,19,22,23, com

interrupções no sono, trabalho e nas actividades sociais e que impõe uma carga económica

importante/significativa sobre o sistema de saúde2,4,5,19,22,24.

Objectivo

O objectivo desta revisão bibliográfica é fazer uma abordagem dos meios de diagnóstico na

DRGE, nomeadamente no que respeita a indicação e utilidade clínica de cada um e dos

desenvolvimentos tecnológicos recentes nesta área para a avaliação de pacientes adultos (>18

anos).

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1. Patogénese

A patogénese da DRGE é complexa, resultando de um desiquilíbrio entre os factores de

protecção do esófago (barreiras anti-refluxo, “clearance” ácida esofágica e resistência tecidual) e os

factores agressivos do estômago (acidez gástrica, volume e conteúdo duodenal)2.

1.1. Barreiras anti-refluxo

O primeiro nível de defesa esofágica contra o dano provocado pelo ácido consiste na barreira

anti-refluxo2,7,25. É uma região complexa que inclui o EEI, o diafragma crural, a localização intra-

-abdominal do EEI, os ligamentos frenoesofágicos e o ângulo de His agudo2.

O EEI é o componente major da barreira anti-refluxo, sendo que a sua localização, com o bordo

proximal 1,5-2cm acima da junção escamocolunar (JEC) e segmento distal, com cerca de 2cm,

dentro da cavidade abdominal, mantém a competência gastro-esofágica durante os eventos de

pressão intra-abdominal2.

Há uma considerável variação diurna na pressão basal do EEI, que é menor após as refeições

e maior à noite. É também influenciada por peptídeos e hormonas circulantes, alimentos, bem como

determinadas drogas. O EEI encontra-se dentro do hiato criado pela crura direita do diafragma sendo

ancorado pelos ligamentos frenoesofágicos, que se inserem no nível da JEC. O diafragma crural,

inibido pela distensão esofágica, vómitos e durante os RsTEEI, proporciona uma compressão

extrínseca no EEI que contribui para a pressão de repouso durante a inspiração e aumento da

pressão do EEI durante os períodos de aumento da pressão abdominal.

O ângulo de His, cria um efeito de válvula que contribui para a competência da junção gastro-

esofágica (JGE)2,7.

1.2. Mecanismos de refluxo

1.2.1. Relaxamentos transitórios do esfíncter esofágico inferior

Os RsTEEI são o mecanismo mais frequente de refluxo em pacientes com pressões do

esfíncter dentro dos parâmetros normais2,26.Ocorrem independentemente da deglutição, não sendo

acompanhados pelos movimentos peristálticos do esófago, persistindo mais tempo (>10 segundos)

que os RsTEEI induzidos pelas deglutições. Existem em quase todos os episódios de refluxo em

indivíduos saudáveis e em 50% a 80% dos pacientes com DRGE, dependendo da gravidade da

esofagite associada2.

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O estímulo dominante para os RsTEEI é a distensão do estômago proximal no período pós-

-prandial2,7. Como estímulos adicionais temos as gorduras, o stress e fármacos.

1.2.2. Relaxamentos do esfíncter esofágico inferior induzidos pela deglutição (REEID)

Cerca de 5% a 10% dos episódios de refluxo ocorrem durante os REEID. A maioria dos

episódios está associada ao peristaltismo anormal ou incompleto. O refluxo que ocorre durante os

REEID é mais comum na presença de uma hérnia hiatal, pois leva à abertura da JGE com pressões

iguais ou inferiores à pressão intragástrica2.

1.2.3. Pressão do esfíncter esofágico inferior hipotensivo

O refluxo gastro-esofágico (RGE) pode ocorrer no contexto de um EEI hipotensivo por uma

tensão induzida ou por um refluxo livre. O refluxo induzido por aumento de tensão ocorre quando um

EEI hipotensivo é superado por um aumento abrupto na pressão intra-abdominal, sendo improvável

quando a pressão do EEI é superior a 10mmHg. O refluxo livre é caracterizado por queda no pH

intraesofágico sem alteração identificável na pressão intragástrica, geralmente ocorrendo quando a

pressão do EEI é inferior a 5mmHg2.

1.3. Hérnia hiatal

A contribuição da hérnia hiatal para a DRGE é controversa. Actualmente, os dados

epidemiológicos e fisiológicos confirmam a sua importância em pacientes com esofagite grave,

estenose péptica e esófago de Barrett. Ocorre em 54% a 94% dos pacientes com esofagite de

refluxo2.

Prejudica a função do EEI, afectando também, a “clearance” ácida esofágica1,2.O refluxo é mais

grave na presença de uma hérnia não redutível comparativamente a uma hérnia redutível. A

probabilidade de RGE é aumentada com a diminuição da pressão basal do EEI, efeito

substancialmente ampliado pela presença e aumento do tamanho da hérnia1,2.

1.4. “Clearance” ácida esofágica

Este fenómeno envolve dois processos relacionados mas distintos, a “clearance” de volume,

caracterizada como a remoção de material do refluxo esofágico e a “clearance” de ácido,

caracterizada como a restauração do pH esofágico normal após exposição ácida através da titulação

com uma base a partir da saliva e das secreções das glândulas esofágicas (GE). A “clearance” ácida

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esofágica determina a duração da exposição ao ácido pela mucosa e provavelmente a gravidade de

lesão da mucosa2.

1.4.1. “Clearance” de volume

O peristaltismo esofágico remove o volume de ácido, sendo no entanto inoperante durante o

sono profundo.O peristaltismo primário é provocado pela deglutição. O peristaltismo secundário,

iniciado pela distensão esofágica causada pelo refluxo ácido, é muito menos eficaz na remoção do

material refluído, tendo apenas um papel secundário de protecção2.

A disfunção peristáltica aumenta em frequência com a gravidade da esofagite. O motivo pelo

qual a esofagite leva à disfunção peristáltica ou um distúrbio de motilidade do músculo liso subjacente

predispõe ao desenvolvimento da DRGE não é claro2,7.

1.4.2. Secreções das glândulas salivares (GS) e esofágicas

A saliva é o segundo factor imprescindível para a “clearance” normal do ácido esofágico. É uma

base fraca com um pH entre 6,4-7,8. Embora ineficaz na neutralização de grandes volumes,

facilmente neutraliza uma pequena quantidade de ácido remanescente no esófago após várias

contracções peristálticas2.

A diminuição da salivação durante o sono é a razão pelo qual os episódios de refluxo nocturnos

estão associados a um tempo marcadamente prolongado de ácido. O efeito da nicotina na redução

da pressão do EEI faz com que os fumadores tenham uma “clearance” de ácido esofágico

prolongada devido à diminuição da salivação, promovendo o RGE2.

As secreções aquosas ricas em bicarbonato das GE submucosas diluem e neutralizam o ácido

esofágico residual2,27.

1.5. Resistência tecidual

Apesar dos mecanismos de “clearance” minimizarem o tempo de contacto de ácido com o

epitélio, mesmo os indivíduos saudáveis apresentam refluxo ácido durante o dia e às vezes à noite.

No entanto, apenas alguns destes experimentam RGE sintomático e um número ainda menor sofre

de DRGE. Isto é devido a um terceiro nível de defesa do esófago, conhecido como a resistência

tecidual.

Dados recentes sugerem que a dilatação dos espaços intercelulares (DIs) é o primeiro

marcador de dano celular induzido pelo ácido e possivelmente pelo refluxo duodenal2,5,6,13,28.

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1.6. Factores gástricos

Os factores gástricos são importantes na produção de esofagite de refluxo. A acidez gástrica

determina o grau de lesão na mucosa. Os aumentos no volume gástrico aumentam a taxa de

RsTEEI, levando a uma maior predisposição da quantidade de conteúdo gástrico para o refluxo2.

1.6.1. Secreção ácida gástrica

O ácido e a pepsina activada são os principais “ingredientes” do refluxo gástrico que produzem

esofagite. O ácido combinado com pequenas quantidades de pepsina quebra a barreira da mucosa,

resultando num aumento da permeabilidade aos iões H+, levando a alterações histológicas e

hemorragia2.

Em geral, a secreção de ácido gástrico é normal em pacientes com DRGE. O local de

distribuição do ácido ao invés da secreção gástrica total pode ser mais relevante para a patogénese

da DRGE. Dados recentes sugerem que a JGE pode escapar ao efeito tampão das refeições, ficando

muito ácida relativamente ao corpo do estômago. Esta "bolsa proximal de ácido" estende-se a partir

da cárdia até ao esófago distal explicando a alta prevalência da doença neste local2.

A infecção pelo H. pylori é um "agente biológico anti-secretor" que reduz a acidez gástrica,

protegendo, relativamente ao desenvolvimento de esofagite severa e esófago de Barrett2,29. Após a

sua erradicação, a mucosa pode regenerar para o normal, aumentando a secreção de ácido e

potencializando o refluxo em doentes susceptíveis, possivelmente contribuindo para a esofagite2.

1.6.2. Refluxo duodenogástrico

Juntamente com o ácido e a pepsina, o conteúdo duodenal pode ser prejudicial para a mucosa

esofágica2,4. Estudos, em animais, demonstraram que os ácidos biliares conjugados produzem maior

prejuízo na presença de ácido e pepsina, enquanto que a tripsina e os ácidos biliares não conjugados

são prejudiciais num ambiente mais neutro. Estes estudos sugerem que o refluxo do conteúdo

duodenal para o esófago predispõe a complicações da DRGE, porém, a medição exacta do refluxo

duodenal é difícil, sendo indiretamente definido através da medição do pH esofágico superior a 7

("refluxo alcalino”). No entanto, com base na nova tecnologia que mede com precisão a bilirrubina

independente do pH, sabemos que a medição do refluxo alcalino é imprecisa. Esses estudos

mostram que o ácido e o refluxo biliar aumentam em paralelo na DRGE, sugerindo um papel

sinérgico no desenvolvimento de esofagite e suas complicações. Além disso, a supressão ácida

agressiva com inibidores da bomba de protões (IBP) diminui tanto o ácido como o refluxo duodenal,

diminuindo o volume do conteúdo gástrico disponível para refluir para o esófago2,4.

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1.6.3. Atraso no esvaziamento gástrico

A importância do atraso no esvaziamento gástrico é controversa. É um dos principais factores

contribuintes para a DRGE em alguns grupos de doentes, como os diabéticos com neuropatia

autonómica periférica2.

2. Métodos de diagnóstico na DRGE

Como é evidenciado pela definição de Montreal, os critérios diagnósticos aceites para as

síndromes esofágicas da DRGE são (1) um conjunto de sintomas atribuíveis ao RGE com gravidade

suficiente para comprometer a qualidade de vida, ou (2) achados endoscópicos de esofagite,

estenose ou metaplasia de Barrett17. Nos casos mais simples, quando os sintomas são típicos, e o

paciente responde ao tratamento destinado a tratar esses sintomas, os testes diagnósticos são

desnecessários1,17,28,30.

O teste diagnóstico é invocado em três cenários principais: (1) para evitar diagnósticos

equívocos, (2) para identificar complicações da doença de refluxo e (3) na avaliação de falhas após

tratamento empírico17.

A discussão de um diagnóstico errado e a identificação das complicações da DRGE geralmente

giram em torno das "características de alarme" encontradas na avaliação clínica17. As características

de alarme ditam as circunstâncias em que o teste diagnóstico é indicado como parte da avaliação

inicial, seja porque sugerem que as complicações da DRGE estão presentes ou porque sugerem um

diagnóstico alternativo17,31. Foram relatadas sensibilidade e especificidade de 67% e 66%,

respectivamente, relativamente às características de alarme como teste diagnóstico, apesar do seu

fraco poder como teste diagnóstico17.

As características de alarme com melhor desempenho foram a perda de peso, a disfagia e a

presença de uma massa epigástrica, sendo importante a sua pesquisa quando os pacientes são

avaliados para a presença de DRGE. Se presentes, os resultados forem significativos, deverão ser

avaliados por endoscopia digestiva alta (EDA)1,2,17. A disfagia merece uma consideração especial,

podendo ser indicativo de uma estenose ou neoplasia maligna. No entanto, a disfagia foi relatada em

37% de 11.945 pacientes com esofagite, sem estenose ou esófago de Barrett. Esta discrepância

levou o grupo de consenso Montreal a sugerir que não a disfagia, mas apenas a disfagia

“problemática” requer investigação17.

Em suma, não existe um critério standard para o diagnóstico de DRGE5,6,19,32. Pirose e

regurgitação, com ou sem disfagia, compõem a síndrome clínica da DRGE e são a base para fazer

um diagnóstico clínico2,15,31. Num estudo realizado por Klauser e colaboradores, os sintomas de

pirose e regurgitação ácida foram relatados com uma especificidade superior a 90%, mas uma baixa

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sensibilidade2,6,15,31. Também é aceite que alguns pacientes possam apresentar sintomas atípicos,

como dor torácica não cardíaca, dispepsia, disfagia, dor epigástrica ou tosse crónica6.

Como tal, o diagnóstico correcto da DRGE com base numa avaliação subjectiva dos sintomas,

por si só é extremamente desafiador, daí a importância do esclarecimento e compreensão da

utilidade de cada método diagnóstico com o intuito de levar a um diagnóstico correcto e rápido,

evitando possíveis complicações resultantes do seu diagnóstico erróneo ou tardio.

2.1. Questionários padronizados

Ao longo dos anos, vários questionários de diagnóstico baseados em sintomas foram

desenvolvidos para ajudar os médicos de cuidados primários na classificação provisória dos

pacientes com queixas abdominais superiores e na selecção de pacientes com sintomas de refluxo

para tratamento empírico6,19. No entanto, têm limitações que impedem o seu uso rotineiro. Alguns

foram validados apenas num idioma, ao passo que outros não foram directamente comparados com a

EDA ou com a pHmetria. Muitos têm sensibilidade e especificidade limitadas19.

Um estudo mostrou uma sensibilidade de 62% e especificidade de 67%33.

O questionário inicial da doença de refluxo (QDR), criado por Carlsson e colaboradores,

utilizado para fins diagnósticos é composto por 12 perguntas que avaliam a frequência e gravidade da

sensação de queimadura retroesternal, a dor retroesternal, sensação de queimadura na parte

superior do estômago, dor na parte superior do estômago, sabor a ácido na boca e o movimento do

material de refluxo6,34. A frequência e intensidade dos sintomas são avaliados por um período de 4

semanas usando uma escala de seis pontos, variando de nenhuma a ocorrência diária e/ou grave.

Vários estudos têm demonstrado a validade e confiabilidade desse questionário simples para a

detecção da DRGE6. Num estudo recente realizado por Ho e colaboradores, uma versão modificada

do QDR foi utilizada para testar a sua validade na atenção primária. Foram encontradas sensibilidade

e especificidade de 77% e 51%, respectivamente. Como tal, é uma modalidade diagnóstica atractiva,

pois é relativamente simples de usar e provoca pouco stress nos pacientes6.

Não obstante, apesar de parecer o instrumento perfeito para diagnosticar a DRGE, nenhum se

tornou o goldstandard devido a diferenças culturais e à complexidade na descrição e amplitude dos

sintomas, apresentando pouca especificidade que dificulta a sua precisão diagnóstica19.

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2.2. Supressão ácida empírica

Muitos médicos utilizam a resposta empírica a um IBP como método de diagnóstico inicial, para

evidenciar a presença ou ausência da DRGE1,2,4,6,9,10,17,19,28,30,35-39. É o método mais simples, não

invasivo e rentável em termos de cuidados primários nos pacientes com sintomas clássicos ou

atípicos sem queixas de alarme2,4,6,17,19,28,31. A resposta aos IBP permite a avaliação da sua relação

com os sintomas, contrariamente a outros testes que apenas sugerem uma associação2,6,9,28. Se um

doente manifesta sintomas consistentes com a DRGE e responde à terapia com os IBP, então deverá

ser feito o diagnóstico de DRGE2,4,6,17,28,31. A precisão de um ensaio terapêutico com um IBP para o

diagnóstico da DRGE é semelhante ao da pHmetria 24 horas6,19.

Uma variedade de doses de IBP tem sido estudada em pacientes com sintomas sugestivos de

DRGE ou dor torárica não cardíaca4,6,19. A sua sensibilidade diagnóstica em pacientes com sintomas

clássicos e com dor torácica não cardíaca foi de 80% e 78%, respectivamente6. Como tal, a sua

sensibilidade é alta mas pouco específica nos pacientes com sintomas de refluxo, sem dor torácica

não cardíaca19,32, sendo de 78%, 54% respectivamente19.

Comparando o omeprazol como primeira melhor abordagem para o diagnóstico de dor torácica

não cardíaca com a EDA, manometria ou pHmetria convencional, foi mostrada uma boa sensibilidade

e especificidade para determinar a causa da dor torácica não cardíaca, e uma sensibilidade menor foi

detectada por parte dos restantes exames, para além de que são mais dispendiosos40.

O IBP mais comummente usado é o omeprazol, o que levou ao termo "teste do omeprazol"1,19.

Os sintomas geralmente respondem a um IBP em 7 a 14 dias4,14,28. Contudo, estudos com outros IBP

têm demonstrado serem igualmente eficazes17.

Um factor importante na determinação da sensibilidade de um ensaio terapêutico com um IBP é

a definição de um teste positivo. Na maioria dos estudos, sintomas como azia, dor torácica ou outros

sintomas melhoraram em mais de 50% a 75% relativamente ao seu valor basal19,32.

A confiabilidade do teste em pacientes com doença de refluxo não erosiva (DRNE) ainda não

foi determinada6, sendo o rendimento diagnóstico superior no caso da existência de esofagite

erosiva9,32.

No entanto, deve notar-se que uma resposta positiva nem sempre corresponde ao diagnóstico

de DRGE, de igual modo, uma resposta negativa não exclui a sua presença6,17,31.

Pacientes com sintomas de refluxo persistentes mesmo sob terapia com IBP, representam um

novo desafio requerendo novas ferramentas para compreender os mecanismos que estão por detrás

dos mesmos9,13,17,19.

Em suma, é um teste simples, seguro e não invasivo, com reduções significativas nos custos

quando comparado com outras ferramentas diagnósticas19,28,31,41. Fass e colaboradores mostraram

uma redução de 59% no número de testes diagnósticos realizados para a dor torácica não

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

12

cardíaca2,28. No entanto, apresenta para além das desvantagens acima referidas, limitações, como a

resposta placebo17,28, bem como o facto de ignorar a existência de outras possibilidades diagnósticas

que podem beneficiar da terapêutica com os mesmos e não ser tão efectiva para a resolução dos

sintomas da DRGE como é para a resolução da esofagite17.

Pode justificar o seu insucesso, o facto dos sintomas apresentados pelo paciente poderem ser

decorrentes do refluxo “ não-ácido” que não é adequadamente tratado pelos fármacos anti-

secretores7,15, bem como serem decorrentes do refluxo ácido não adequadamente suprimido pelo IBP

em uso15.

É importante realçar que apesar da terapia empírica com IBP alterar o pH do refluxo, não altera

a sua ocorrência e o número de episódios7,27.

2.3. PHmetria esofágica

2.3.1. PHmetria 24h

A monitorização do pH esofágico foi pela primeira vez usado em 1969

e a primeira análise sistemática da exposição ácida esofágica foi publicada

em 197419, permitindo a quantificação da duração da exposição ácida

esofágica9,25,27 e a avaliação da relação existente entre sintomas e

episódios de refluxo9,42(Figura 1).

A sonda de pH é colocada via transnasal, sendo posicionado 5cm

acima do EEI1,2,5,8,16,19,24,27,42,43 determinado manometricamente e conectado a um registador de dados

alimentado por uma bateria capaz da recolha dos valores de pH a cada 4-6 segundos2,27. Esta

localização minimiza potenciais artefactos que poderiam resultar da migração do cateter para o

estômago proximal durante a deglutição, no entanto, pode não ser o local ideal para maximizar a

sensibilidade do teste27. Se a sonda de pH estiver colocada correctamente, existe uma alta

especificidade por parte da pH metria1. O posicionamento impróprio do eléctrodo do cateter de pH foi

detectado em 5% dos pacientes27.

O posicionamento do eléctrodo de pH imediatamente acima da JEC apresenta vantagens

teóricas como as alterações endoscópicas de esofagite de refluxo que são tipicamente mais

evidentes a este nível comparados com 5cm acima da borda proximal do EEI27.

Os pacientes são estimulados a comer normalmente e a fazerem as suas actividades diárias,2

mas são avisados para a evicção de alimentos e bebidas com pH‹48. A duração standard para a

gravação do teste de pH esofágico é de 24h27.

A pHmetria foi considerada durante muitos anos como sendo o goldstandard para o diagnóstico

da DRGE3,6,9,14,24,25,37,42,44,45, com sensibilidade de 79-96% e especificidade de 85-100%6. No entanto,

Figura 1 - Aparelho de pHmetria

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13

estudos mostraram que até 25% dos pacientes com esofagite erosiva e 50% dos pacientes com

DRNE apresentavam uma pHmetria normal, mostrando a baixa sensibilidade no caso da DRNE6,42.

Estudos anteriores demonstraram que o aumento da sensibilidade pode ser feito com

amostragens rápidas de frequências de 1Hz, levando à detecção de um maior número total de

eventos de refluxo, não alterando os valores da exposição ácida global25,27.

Os episódios de refluxo são definidos por uma queda do pH inferior a 4, ou seja, pela presença

de refluxo ácido1,2,4,15. Os parâmetros medidos incluem (Índice de Demeester): a percentagem do

tempo total com pH<4, a percentagem de tempo na posição vertical e supina quando o pH<4, o

número total de episódios de refluxo, a duração do episódio mais longo e o número de episódios com

duração superior a 5 minutos1,2,15. A percentagem de tempo total com pH<4 é a medida mais

reprodutível para a DRGE1,2,9, bem como o número de episódios com duração superior a 5

minutos1(Figura 2).

A monitorização ambulatorial do pH esofágico é o único teste que regista e correlaciona os

sintomas com os episódios de refluxo durante longos períodos de tempo2,3,9,10,15,25,28,37,42,46,47. As suas

sensibilidade e reprodutibilidade (81%) são melhores que os testes de curta duração19, como o teste

de Bernstein, levando desse modo à sua substituição2,19,31. No entanto, não nos dá indicação do

volume do refluxo25,42, nem existe nenhum valor absoluto limite que permita realmente identificar os

pacientes com DRGE2.

Como apenas 10% a 20% dos episódios de refluxo são associados com sintomas, diferentes

análises estatísticas foram evoluindo2,5,27, tentando definir uma associação significativa entre estas

duas variáveis, incluindo: (1) o índice do sintoma (IS), que envolve a divisão do número dos sintomas

associados a um pH<4 pelo número total de sintomas5,9,27,34,43; (2) índice de sensibilidade do sintoma

Figura 2 – Traçado da pHmetria de um canal

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14

(ISS), que consiste na divisão do número total de episódios de refluxo associados a sintomas pelo

número total de episódios de refluxo5,27,34,43; e (3) a probabilidade de associação de sintomas (PAS), a

melhor validade estatística para a correlação entre os sintomas e o refluxo5,27,34,43. O IS e ISS

fornecem dados sobre a força da associação. Um valor PAS>95% indica que a probabilidade de

ocorrência ao acaso de associação observada entre o sintoma e o refluxo é menor que 5%5,27,43.

Limitações importantes do IS são o facto de não levar em conta o número total de episódios de

refluxo. O ISS é limitado pelo facto de não levar em consideração o número total de episódios

sintomáticos5,27,34.

Como nenhum dos regimes de associação foram bem validados, devem ser vistos como

informação complementar que estatisticamente estabelece uma ligação entre um sintoma particular e

um evento de refluxo, não garantindo resposta a terapia médica ou cirúrgica5,27.

Estudos comparando pacientes com esofagite endoscópica que se submeteram aos testes de

pH reportaram sensibilidade de 77% a 100% e especificidade de 85% a 100%2,19,31. No entanto,

esses pacientes raramente precisam da pHmetria, contrariamente aos pacientes com EDA normal e

suspeita de DRGE, que não respondem ao teste com IBP, que tirarão mais benefício1,2,13,15,

apresentando sensibilidade de 0-71% e especificidade de 85-100%19. A baixa sensibilidade faz com

que um resultado negativo não exclua a presença de DRGE1.

São factos que a presença de uma exposição ácida normal ocorre em até 29% dos pacientes

com esofagite24 e existem diferenças encontradas na exposição ácida simultânea, registada por duas

sondas de pH anexadas31.

Outros inconvenientes da pHmetria incluem a possível falha do equipamento, a perda dos

eventos de refluxo e estudos falsos negativos devido a limitações na dieta ou na actividade diária,

resultante da baixa tolerabilidade da sonda nasal2,5,24,27,31,43-45,48-50.

Um período mais curto de gravação tem sido proposto como um meio preciso para avaliar o

refluxo, permitindo uma melhoria da tolerância por parte do paciente27. Num estudo em que foi feito o

teste do pH no período pós-prandial (3h) em pacientes com DRGE foi relatada uma sensibilidade de

88% e especificidade de 98%, utilizando como padrão de referência a pHmetria ambulatorial 24h.

Poderá ser uma futura alternativa para alguns pacientes27.

As indicações para a pHmetria ambulatorial encontram-se listadas no Quadro 1.

O uso ou não da terapia com IBP durante a sua realização no paciente refractário à terapia é

controverso17,1.

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15

Quadro 1 - Indicações para a pHmetria ambulatorial

Indicações para pHmetria ambulatorial2,15,24,27,30

Antes da fundoplicatura, em pacientes com EDA normal2,15,24,27,30

Após a cirurgia anti-refluxo quando há persistência e recorrêndia de sintomas2,15,24,27,30

Avaliação de pacientes com sintomas de refluxo resistentes ao tratamento, com achados normais ou equívocos na EDA2,13,24,27,28,31

Os testes sem medicação anti-refluxo são também geralmente recomendados nos pacientes

em cujo índice de suspeição para RGE é baixo, tendo como base uma exposição ácida esofágica

normal27. É preciso reforçar que a sua realização sem medicação com IBP pode demonstrar refluxo

anormal, não indicando necessariamente causalidade entre o refluxo e os sintomas do paciente, daí a

importância das análises estatísticas27.

Uma limitação do teste efectuado sob tratamento com IBP é a redução da acidez gástrica

convertendo o ácido em ácido fraco ou em episódios de refluxo não ácido que não são detectados

pela pHmetria3,9,25,27. O limite de tempo de exposição ácida num estudo feito com pH anormal sob

tratamento com IBP, não está estabelecido27.

A avaliação dos sintomas com os episódios de refluxo, quando sob terapia com IBP, pode ser

mais relevante do que a percentagem de tempo real de exposição ácida distal27.

Finalmente, os testes de pHmetria podem ajudar na definição dos pacientes com manifestações

atípicas da DRGE1,2,15,31. Nesta situação, os testes são muitas vezes feitos com sondas de pH

adicionais no esófago proximal ou faringe2,15,28,42(Figura 3). Exposição ácida proximal anormal foi

encontrada em 44% dos 34 pacientes com dor torácica não cardíaca, e a exposição ácida esofágica

e da hipofaringe estavam aumentadas em pacientes com sinais laríngeos de DRGE. Pacientes com

asma e refluxo assintomático, apresentavam grandes quantidades de ácido esofágico proximal,

Com medicação anti-refluxo

Sem medicação anti-refluxo2,15,24,27,30

Persistência da exposição ácida anormal2,13,24,27,28,31

Sem persistência da exposição ácida anormal2,13,24,27,28,31

Intensificar terapia médica2,27,28

EDA2,27,28

Tratamento cirúrgico2,27,28 Outra etiologia para

as suas queixas2,27,28

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16

enquanto pacientes com sintomas das vias aéreas superiores e outros sintomas da DRGE,

apresentavam episódios de refluxo proximal frequentes e bem correlacionados com a tosse noturna42.

Inicialmente, muitos dos estudos eram feitos sem medicação anti-refluxo para confirmar a

coexistência de DRGE, porém isso não garante a causalidade dos sintomas. Daí, a importância de

uma primeira abordagem actual agressiva com IBP, reservando-se a pHmetria para aqueles

pacientes que não respondem depois de 4 a 12 semanas de terapia2,17,28.

2.3.2. Cápsula Bravo

Um novo dispositivo, o sistema Bravo de monitorização do pH foi desenvolvido para contornar

as limitações do cateter de pH transnasal substituindo o fio por uma cápsula que fica anexada à

mucosa esofágica2,19,24,28,31,42,51. A cápsula é posicionada 6cm acima da JEC, utilizando a EDA (com

ou sem sedação)2,5,12,19,24,27,28,52 ou 5cm acima do EEI usando a manometria19,20,24

A via preferida para a sua colocação é a oral12,24, fácil, rápida e com taxas de sucesso de 98% a

100%24. É usado um dispositivo de entrega e na ausência de sedação, é notada uma sensação de

puxão durante a deglutição24.

Um estudo com posicionamento da cápsula logo acima da JEC revelou um aumento da

sensibilidade de 63% para 86%, comparativamente a 6cm acima da JEC5.

Figura 3 - Traçado da pHmetria de dois canais

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17

Os dados são transmitidos para um receptor externo através de um sinal de radiofrequência. O

seu desempenho na mensuração da exposição ácida no esófago distal foi validado e considerado um

substituto útil dos sistemas convencionais de pH baseados em catéter19(Figura 4).

Apresenta melhor tolerabilidade quando comparada com a pHmetria convencional, levando a

uma diminuição do desconforto e interferência com as actividades diárias normais2,5,9,12,19,20,24,27,28,31,42-

6,49,50,52-56.

O paciente é encorajado a continuar as suas actividades habituais e a consumir uma dieta

típica, incluindo alimentos que podem provocar sintomas. No entanto, bebidas ácidas durante a

monitorização fora das refeições devem ser evitadas devido à possibilidade de serem falsamente

registados como eventos de refluxo24.

Aumentando o período de estudo tem o benefício potencial de aumentar o rendimento de

correlação dos sintomas com o refluxo19,20,24,31,42,45,48. Relativamente ao uso do tempo de exposição

ácida esofágica distal, 12,4% dos pacientes teriam sido classificados incorrectamente como não

apresentando refluxo ácido, se apenas 24 horas de gravação fossem analisadas em vez de 48

horas19. Em suma, a precisão diagnóstica é aumentada pelas 48 horas de gravação, levando a um

aumento da sensibilidade da pHmetria convencional 19,24,42,48. Assim, esta abordagem pode beneficiar

os pacientes submetidos a avaliação dos sintomas, especialmente quando são atípicos5,12,19,24,42,48,52.

Os dados podem ser interpretados como uma média dos dois dias ou considerando apenas o

período de 24 horas em que houve uma maior exposição ao ácido. Um aumento significativo na

sensibilidade (100%) do teste e uma pequena diminuição na especificidade (85%) foram evidentes

quando se utiliza o pior dia comparativamente aos dados das primeiras 24 horas (sensibilidade de

74% e especificidade de 90%) ou com o resultado global dos dados das 48 horas comparativamente

aos controlos em pacientes com DRGE27,42.

Estudos recentes sugerem uma sensibilidade de 100% no caso de pacientes com esofagite e

60% de sensibilidade e 85% de especificidade na identificação de pacientes com DRNE2,28. Outro

estudo confirmou a baixa sensibilidade por parte dos pacientes com DRNE12.

Figura 4 – Traçado do pH pela cápsula Bravo

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18

Foi relatada uma concordância de 79% a 89% em estudos baseados no uso do cateter

convencional em dois dias diferentes de estudo27. As diferenças no estilo de vida e nos factores

dietéticos responsáveis por esta variabilidade são reduzidas pelo prolongamento do tempo de

gravação com a cápsula bravo para 48 horas5,6,13,27,31.

Outra vantagem relativamente à pHmetria 24 horas, é a permanência da cápsula numa posição

relativamente constante, com apenas 1,9mm de mudança de local relativamente à posição inicial,

comparativamente à mudança intermitente do eléctrodo de pH (5-7mm) relativamente ao EEI para

além do contacto com o ambiente ácido gástrico durante as deglutições e a fonação na pHmetria24,54.

Existe uma considerável controvérsia se o teste deve ou não ser realizado sob terapia com

IBP5,19,27. O rendimento diagnóstico do teste sob terapia com IBP em pacientes que não respondem

sintomaticamente à terapia é limitado, sendo o rendimento de associação de sintomas maior quando

a monitorização do pH é feita durante 48 horas sem terapia com IBP, comparativamente a 24 horas

sob terapia com IBP27.

No final do período de monitorização é aconselhável obter uma gravação final enquanto o

paciente bebe 100ml de sumo de laranja, para determinar se a cápsula se encontra ainda ligada à

mucosa esofágica. O descolamento da cápsula é geralmente evidente, mas as gravações podem ser

confusas se o paciente se encontrar sob terapia com IBP ou se a cápsula permanecer no estômago

por um período de tempo prolongado24.

A sua utilidade clínica parece elevada, pois os seus resultados alteram frequentemente a

gestão (64%) e o diagnóstico (22%) do paciente19. Foi considerado que a análise atempada da

mesma reduziu o uso desnecessário dos IBP e os custos dos medicamentos19.

No entanto, apresenta as suas limitações, como custo elevado, a capacidade de apenas medir

o refluxo ácido e a necessidade rara de EDA para a sua remoção, devido a uma dor forte no

peito19,24,27. Para além disso, o procedimento geralmente é complementado com a EDA para a sua

melhor colocação, podendo este custo ser contornado pela colocação com base em marcos

manométricos. O seu descolamento precoce, embora incomum, trará alguns custos

adicionais5,12,24,27,43. O descolamento que ocorre durante as 48 horas de gravação poderá levar à

interpretação errónea do tempo de exposição ácida, resultante da gravação do pH gástrico27. Outras

limitações resultam da necessidade de um cateter de entrega para a sua colocação27 e do facto de

poderem ocorrer falhas na recepção dos dados12,27.

Dois estudos em que foi feita a comparação simultânea da exposição ácida esofágica com a

pHmetria convencional e a cápsula, mostraram uma correlação significativa entre ambos, verificando-

-se uma exposição ácida esofágica nas primeiras 24 horas significativamente menor e menos

sensível comparativamente à pHmetria convencional, relativamente à medição dos episódios de

refluxo de curta duração (‹15-17 segundos),24,27 devido à sua baixa frequência de amostragem2,24,27,54

e à incapacidade de diferenciar o refluxo verdadeiro de uma artefacto devido a deglutição24.

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19

Uma última limitação, é o facto da validade do uso da JEC como um ponto de referência para a

JGE não ter estado sujeita às mesmas medidas de controlo que o posicionamento dos eléctrodos de

pH pela manometria27.

É importante salientar que tanto a pHmetria convencional como a cápsula perdem episódios de

refluxo curto, devido às suas frequências de amostragem menores que 1Hz. É incerto se estes

episódios de refluxo estão associados com os sintomas e se podem afectar a sensibilidade da

associação do sintoma com o teste de pH. No entanto, esses eventos não alteram os tempos de

exposição ácida total27.

No que respeita a sintomatologia resultante da sua implantação, a maioria dos doentes

apresenta uma leve sensação de corpo estranho ou desconforto leve no peito24,27,43,52. Uma pequena

percentagem (5-9%)24 desenvolveu uma dor forte no peito exigindo a remoção da cápsula por via

endoscópica24,27,52.

Relativamente às principais complicações descritas, embora raras, temos o trauma12,24, a

hemorragia12,24, a perfuração esofágica12,24,27 e a aspiração brônquica12.

Em suma, é um método seguro, facilmente disponível e uma alternativa validada relativamente

à pHmetria convencional. É o teste diagnóstico de escolha para os pacientes que não toleram a

colocação do cateter da pHmetria tradicional e para aqueles que exigem um maior tempo de

monitorização do pH12,19,24,43,52.

A monitorização do pH com a cápsula bravo pode estender-se até às 96 horas5,9,24,27,57, com

sucesso em 80%-89% dos estudos24. O prolongamento mostrou melhorar a correlação dos sintomas

com o refluxo, sem alterar o diagnóstico da exposição ácida esofágica baseado nas primeiras 24-48

horas. Oferece, ainda, a possibilidade de avaliar o refluxo sob ou sem terapia com IBP num único

estudo5,24. Esta abordagem proporciona não só um método relativamente eficiente para a resolução

da controvérsia quanto à avaliação do pH sob ou sem terapia com IBP, como é uma forma de avaliar

pacientes que não se encontram sob medicação para confirmar o refluxo ácido anormal e, em

seguida, avaliá-los sob medicação para documentar se o refluxo ácido em curso é a causa dos

sintomas refractários24,46.

Limitações desta abordagem incluem o descolamento precoce da cápsula em 15% dos casos e

a necessidade de dois receptores distintos. Modelos actualizados da cápsula de pH devem permitir o

prolongamento de gravação para 4 dias com um único receptor5.

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20

2.4. Impedância Intraluminal

A monitorização da impedância intraluminal detecta a ocorrência de

mudanças na resistência da corrente eléctrica através de eléctrodos

adjacentes posicionados de forma seriada na montagem de um cateter. É

capaz de diferenciar o trânsito anterógrado (deglutição) do conteúdo

esofágico intraluminal, do retrógrado (RGE)4,5,13,15,25,27,34,42,43,46,58,59(Figura 5).

O conteúdo líquido, dada a sua alta condutividade, apresenta uma baixa

impedância, bem como o conteúdo misto, enquanto o conteúdo gasoso, que apresenta uma baixa

condutividade, apresenta um aumento da impedância4,13,25,28,34,42,43. A extensão proximal de um

evento de refluxo pode ser determinada devido aos múltiplos eléctrodos posicionados ao longo do

cateter. No entanto, não é capaz de detectar o conteúdo de ácido ou o volume do conteúdo

intraluminal25,27,34,43, levando normalmente à incorporação de um eléctrodo de pH27.

A impedância mostrou uma sensibilidade e especificidade superior a 90%19,25.

A combinação com a pHmetria (IpH) permitiu, deste modo, a avaliação do movimento

retrógrado do material refluído, caracterizando a sua natureza física (líquido, gasoso ou misto) ou

química (ácido, levemente ácido e não ácido ou fracamente alcalino), aumentando deste modo a sua

sensibilidade e especificidade2,4,6,13,15,24,27,42,56,58-60 Refluxo levemente ácido no caso de pH esofágico

com valores entre 4-7 e não ácido associado a uma queda do pH não inferior a 79,27,61.

Numa análise de associação dos sintomas de 32 pacientes com RGE, sem estarem sob terapia

com IBP, Bredenoord e colaboradores demonstraram que a maioria dos eventos de refluxo (85%)

foram associados com o refluxo classicamente definido como ácido e a minoria (15%) com o refluxo

fracamente ácido27. Outro estudo com 60 voluntários adultos, mostrou um total de 30 eventos de

refluxo em 24 horas, sendo que os episódios de refluxo ácido eram superiores aos episódios

levemente ácidos e fracamente alcalinos42, bem como outro estudo efectuado em 110 pacientes62.

Curiosamente, o factor mais importante associado à percepção do refluxo levemente ácido é a

extensão altamente proximal, sugerindo uma maior sensibilidade da região proximal do esófago em

alguns pacientes5,15,25,43.

A sua capacidade adicional de detecção de refluxo levemente ácido e não ácido torna-a a

melhor ferramenta disponível para testar a associação dos sintomas com o refluxo, conjuntamente

com a pHmetria, permitindo a detecção de episódios de refluxo independentes do seu

pH2,5,9,13,17,19,25,27,31,34,43,47,63 (Figura 6). No entanto, o algoritmo óptimo para usar na análise de dados

ainda tem que ser validado17,34.

Figura 5 - Aparelho de pHimpedanciometria

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21

A monitorização da IpH, no que respeita à monitorização do pH é superior nos doentes sem IBP

relativamente aos que se encontram sob terapia quanto à correlação de sintomas e confirmação do

diagnóstico da DRGE9,13,15,27,31,34,37,42,64, mas com maior rendimento diagnóstico nos que se encontram

sob terapia com IBP, segundo um estudo de Zerbib e colaboradores (4% vs 17%)27. Em geral, estas

observações dão credibilidade à noção de que outros mecanismos, que não apenas o refluxo ácido e

não ácido, são responsáveis pela maioria dos sintomas em pacientes que não respondem a altas

doses de terapia com IBP27,34,43.

Um estudo recente da Bredenoord e colaboradores examinou as associações entre sintomas e

eventos de refluxo ácido e não ácido usando a IpH em 60 indivíduos com DRGE sem terapia com

IBP. A proporção de pacientes com uma PAS positiva foi maior comparativamente ao teste de

pHmetria sozinho (77% vs 68%). Embora a diferença absoluta não seja grande, oferece uma maior

sensibilidade de diagnóstico. É importante notar que os pacientes neste estudo apresentavam

sintomas típicos de refluxo e não eram refractários ao tratamento com IBP27.

Um estudo feito por Vela e colaboradores permitiu avaliar a eficácia do omeprazol no refluxo

ácido e não ácido.27 O número total de episódios não diferiu antes e após a terapia com IBP9,27,34.

Embora o número de eventos de refluxo ácido fosse praticamente eliminado com o omeprazol, a

frequência dos episódios de refluxo não ácido quase duplicou, pelo que a frequência de eventos de

refluxo não se alterou com o omeprazol. Embora o número de episódios de pirose diminuísse

substancialmente, houve um aumento na frequência dos sintomas de regurgitação. O significado

clínico da regurgitação na ausência de refluxo ácido não é claro5,27,43.

Figura 6 – Traçado de um episódio de refluxo detectado pela pHimpedanciometria

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22

Na ausência de achados endoscópicos, exposição ácida esofágica normal, ausência de

resultados manométricos significativos e um estudo de monitorização da IpH que não conseguiu

demonstrar uma probabilidade de associação de sintomas significativa entre os eventos de refluxo e

os sintomas incómodos, é possível afastar a probabilidade de DRGE17.

Estudos prévios documentaram uma associação entre o refluxo levemente ácido e os sintomas

cardirespiratórios, enfatizando a importância da sua detecção42. São aguardados estudos para

verificar os benefícios no tratamento dos episódios de refluxo levemente ácidos e não ácidos,

fundamentando a importância clínica da impedância5,27,43.

Em suma, a IPH pode vir a tornar-se o goldstandard, sendo necessários mais estudos5,9, visto

ser uma técnica importante na detecção de RGE no período pós prandial15,42,58 em pacientes com

sintomas persistentes quando sob terapia5,9,10,56,58 e no caso dos sintomas atípicos56,58

2.5. Endoscopia Digestiva Alta

Em 1946, Allison introduziu o termo “esofagite de refluxo” como consequência do dano

provocado pelo ácido gástrico no esófago, e durante muitos anos foi considerado como prova da

presença de DRGE9.

Achados endoscópicos em pacientes com DRGE incluem esofagite, erosões e úlceras,

estenoses e esófago de Barret2,6,9,13,15,17,19,28,31. A EDA é indicada quando sintomas de alarme como

perda de peso, disfagia, anemia, hematemese e melenas, ou factores de risco como o tabaco estão

presentes2,6,13,28. No entanto, a maioria dos indivíduos com sintomas de DRGE têm EDA normal6,19,31,

não indicando necessariamente a presença de sintomas menos severos ou uma forma de DRGE

mais fácil de controlar31, sendo os resultados considerados como tendo uma DRNE ou uma condição

diferente do refluxo, como a dispepsia funcional. Embora a sensibilidade da EDA para o diagnóstico

da DRGE seja menor que a pHmetria convencional, a especificidade no que respeita ao diagnóstico

de lesão da mucosa é excelente2,14,19,28, existindo esofagite endoscópica em cerca de 50% dos

pacientes com DRGE, com predomínio das manifestações típicas e em apenas 15% a 20% daqueles

que apresentam manifestações atípicas, logo, a ausência de esofagite não exclui o seu

diagnóstico15,31.

Pacientes com sintomas de RGE não complicados foram submetidos a um tratamento com um

supressor ácido antes da avaliação endoscópica. A terapia empírica teve um bom custo-benefício,

sem afectar negativamente a qualidade de vida do paciente19, no entanto, pode limitar

significativamente a sensibilidade da EDA como ferramenta diagnóstica9,19.

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

23

Permite o tratamento das complicações da DRGE, como a estenose péptica e a hemorragia

esofágica, sendo que nos últimos anos vários procedimentos endoscópicos têm sido desenvolvidos

para o tratamento da doença9.

Embora possa prever a resposta de cura esperada a agentes anti-secretores e a necessidade

de esquemas de manutenção, o tratamento da DRGE normalmente é orientado por sintomas, ou

seja, a determinação do grau de esofagite, para a maioria das situações clínicas não é

necessária2,19,28. Se a medicação consegue controlar os sintomas, nenhum controlo endoscópico é

necessário em pacientes sem esofagite ou com esofagite grau 1, porque a cicatrização da mucosa é

a regra e o risco de complicações é baixo. O controlo endoscópico é sugerido se os sintomas

persistirem e também em casos de esofagite grave mesmo que os sintomas tenham desaparecido,

para verificar a cicatrização da mucosa1.

Na Europa, a escala de classificação de Savary-Miller modificada (Quadro 2) é a mais

usada2,28,65. O sistema de Los Angeles (Quadro 3) tem ganho grande aceitação nos Estados Unidos e

na Europa2,65.

O papel das novas tecnologias endoscópicas – imagens de banda estreita, cromoscopia,

endomicroscopia confocal, endoscopia digestiva de ampliação e alta resolução, endoscopia de

cápsula, endoscopia transnasal sem sedação - para o diagnóstico da DRGE é controverso, devido à

falta de comparação com outros testes validados13,19, sendo até à data apenas testado em pacientes

com DRNE13.

Grau 0 Normal

Grau 1 Uma ou mais erosões lineares ou ovaladas em uma única prega longitudinal

Grau 2 Várias erosões situadas em mais de uma prega longitudinal, confluentes ou não, mas que não

ocupam toda a circunferência do esôfago

Grau 3 Erosões confluentes que se estendem por toda a circunferência do esófago

Grau 4 Lesões crônicas: úlceras e estenose, isoladas ou associadas às lesões nos graus 1 e 3

Grau 5 Epitélio colunar em continuidade com a linha Z: circunferencial ou não, de extensão variável,

associado ou não a lesões de 1 a 4

Grau A Uma ou mais erosões menores do que 5 mm

Grau B Uma ou mais erosões maiores do que 5 mm em sua maior extensão, não contínuas entre os

ápices de duas pregas esofágicas.

Grau C Erosões contínuas (ou convergentes) entre os ápices de pelo menos duas pregas, envolvendo

menos do que 75% do órgão

Grau D Erosões ocupando pelo menos 75% da circunferência do órgão

Quadro 2 – Classificação de Savary-Miller modificada para a esofagite65

Quadro 3 - Classificação de Los Angeles para a esofagite65

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

24

Em suma, a EDA não deve ser o primeiro teste diagnóstico utilizado para a DRGE2,9,17,19,28. Um

teste terapêutico recente com um IBP torna ainda mais improvável encontrar mudanças erosivas

(taxa de cura da esofagite erosiva de 90%)9 consistentes com um diagnóstico de DRGE2,9,17,19,28.

Como limitação principal apresenta o facto de não avaliar o RGE, mas apenas eventuais

consequências/complicações do mesmo15.

2.6. Histologia

A adição da biópsia à EDA permite a confirmação da presença de epitélio de Barrett e despiste

de displasia2,9,28,31.

A histologia não é necessária se erosões estiverem presentes, mas é importante no caso de

úlcera ou estenose para exclusão de malignidade e quando há suspeita de esófago de Barrett1,2,28,31.

No que respeita a displasia, são necessários 3 meses de uso de IBP para diferenciá-la de alterações

histológicas devidas a inflamação1,31. Colorações podem ser úteis para a detecção de metaplasia da

mucosa, displasia e carcinoma.

Os achados histológicos que funcionam como marcadores potenciais da DRGE são a DIs, a

proliferação das células basais e o alongamento das papilas6,13,28. A DIs foi proposta como um dos

primeiros sinais de dano provocado pelo ácido no esófago5,6,13,28. No entanto, as mudanças no que

respeita à proliferação das células basais e ao alongamento das papilas estão presentes em até 50%

das pessoas saudáveis, quando as biopsias são feitas a partir de 2-3cm distais do esófago28. Assim,

são marcadores sensíveis para a DRGE apresentando, no entanto, uma baixa especificidade2,4,5,28.

Vários estudos têm demonstrado que a DIs é mais comum na DRNE sendo mostrada melhora

após tratamento com supressão ácida2,5,6.

A inflamação aguda, caracterizada pela presença de neutrófilos e eosinófilos é muito específica

de esofagite2,4,28.

Dada a variedade de sintomatologia da esofagite eosinofílica, pode ser difícil a sua

diferenciação com a DRGE, estando aqui patente a importância da biópsia para a sua distinção4,5,17.

Esta deve ser realizada em todos os pacientes em que a esofagite eosinofílica fizer parte do

diagnóstico diferencial, e as amostras devem ser obtidas independentemente do aspecto

macroscópico da mucosa, devendo obter-se várias a partir de diferentes localizações ao longo do

esófago17. Uma proporção significativa de pacientes com suspeita de esofagite eosinofílica responde

tanto sintomaticamente como histologicamente aos IBP, o que complica ainda mais a sua distinção

com a DRGE5.

Apesar do potencial diagnóstico do exame histopatológico, em especial a presença da DIs, o

seu uso generalizado na prática clínica é dificultado pela necessidade de microscopia eletrónica ou

óptica e pela falta de padronização das técnicas de biópsia6. As características histopatológicas

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

25

poderão eventualmente ser usadas no futuro conjuntamente com outras modalidades para

diagnosticar e caracterizar melhor a DRGE5.

2.7. Manometria esofágica

A manometria avalia o peristaltismo do corpo esofágico, as pressões de repouso e o

relaxamento do esfíncter esofágico superior (EES) e EEI2,15,19,28 (Figura 7).

É clinicamente indicado para diagnosticar a acalásia, auxiliar na colocação de sondas de

pH2,6,5,17,19, avaliar pacientes com sintomas de disfagia motora e com dor torácica após o tratamento

empírico para a DRGE1,19,66. Não deve ser usado para estabelecer ou confirmar o diagnóstico de

RGE19.

A pressão do EEI pode estar associada com a gravidade da DRGE devido à sua importância

como um dos principais obstáculos ao refluxo2,19. No entanto, geralmente não consta da avaliação

dos pacientes com DRGE não complicada, porque a grande maioria apresenta uma pressão de

respouso normal,sendo os RsTEEI o principal mecanismo pelo qual o refluxo ocorre26,28.

Um estudo prospectivo avaliou a sua utilidade, verificando-se maior probabilidade de mudança

diagnóstica do paciente referido por disfagia66 (51%)19 comparativamente aos referenciados por dor

torácica não cardíaca (38%) ou sintomas de refluxo (25%)19.

É um exame essencial na avaliação pré-operatória dos pacientes que serão submetidos a

cirurgia anti-refluxo, para avaliação da presença de peristaltismo esofágico eficiente1,2,6,15,17,19,28,31,37.

A combinação da impedância com a manometria é útil em pacientes com motilidade esofágica

ineficaz, frequentemente encontrada em pacientes com RGE, embora não necessariamente

associada aos sintomas. Em pacientes com RGE, motilidade esofágica ineficaz e disfagia, esta

associação permite determinar se a motilidade esofágica ineficaz é a causa do trânsito anormal e se

está a contribuir para a disfagia43.

Figura 7 – Traçado da motilidade do corpo esofágico pela manometria

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

26

Em suma, o papel da manometria em pacientes com sintomas de refluxo é a contribuição para

a colocação de um dispositivo de medição do pH15,17,19 ou de impedância6. A utilidade clínica da

manometria de alta resolução não foi estudada em pacientes com RGE19, tendo no entanto sido

verificado ser igualmente eficaz na detecção dos RsTEEI.26.

2.8. Raio x baritado

O esofagograma baritado é um exame barato, prontamente disponível e não-invasivo2,28. É

ingerida uma quantidade de contraste de bário seguido por uma radiografia de monitorização.

Inicialmente, o contraste deglutido de alta densidade, permite a visualização da mucosa esofágica,

tentando destacar as lesões da mesma e a cárdia. Posteriormente, a motilidade esofágica é avaliada

fluoroscopicamente, observando-se as deglutições múltiplas de bário separadas por 20 segundos

para permitir a recuperação esofágica28. Uma solução de bário desce rapidamente o esófago,

passando pela JGE, revelando estenoses subtis, anéis e hérnias de hiato2,28.

É um exame útil na demonstração de estenose do esófago e para a avaliação da presença e

redutibilidade de uma hérnia de hiato1,2,9,28. Achados subtis, como anéis de Schatzki ou

estreitamentos mínimos de estenoses pépticas são encontrados2,9,28, sendo normalmente perdidos

quando avaliados pela EDA. Permite a avaliação do peristaltismo9 e é útil na avaliação pré-operatória

para identificação de uma baixa amplitude de contracção do esófago2,28.

Estudos de fluoroscopia são considerados positivos para o diagnóstico da DRGE, se o refluxo é

testemunhado durante o exame9,19,28. Tem um papel limitado na detecção de RGE. Uma revisão não-

sistemática de 10 estudos fluoroscópicos, utilizando diferentes técnicas constatou que o RGE foi

observado em apenas 35% dos pacientes sintomáticos. Manobras provocativas, como a manobra de

Valsava, ou teste de sucção de água2,19,28 aumentaram a sensibilidade do teste de bário de 26% para

70%19.No entanto, provavelmente, levarão a uma diminuição da sua especificidade2,28.

É inapropriado como teste inicial na avaliação de doentes que apenas apresentam pirose6.

Apresenta uma baixa sensibilidade (40%)28 e especificidade para a DRGE9, detectando-se refluxo de

bário em até 20%6 dos indivíduos saudáveis6,9. É usado principalmente na avaliação do paciente com

DRGE que apresenta disfagia de novo, para a definição de estenoses pépticas subtis e anéis, bem

como avaliação da motilidade esofágica28.

Em suma, estudos com duplo contraste de bário são úteis se o objectivo é definir a anatomia do

órgão ou identificar complicações do RGE15,19, bem como condições favorecedoras de RGE, como

hérnia hiatal e um ângulo esófago-gástrico anormal15.

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

27

Conclusão

A DRGE, doença crónica comum no Mundo Ocidental, apresenta complexidades na

heterogeneidade fenotípica e fisiopatologia, não existindo um goldstandard para o seu diagnóstico,

sendo a sua detecção importante dada a alta prevalência combinada com o impacto económico

negativo significativo no sistema de saúde.

É uma doença com um amplo espectro de apresentações clínicas. Um diagnóstico clínico

preciso pode ser feito se os sintomas clássicos de pirose e regurgitação ácida estiverem presentes.

Pelo contrário, o diagnóstico em doentes com manifestações atípicas pode tornar-se um desafio. Na

prática clínica, a DRGE é geralmente diagnosticada baseando-se nos sintomas, sendo muitas vezes

complementada com a terapia empírica com IBP.

O aparecimento da cápsula Bravo, veio melhorar a tolerabilidade por parte do paciente

comparativamente à pHmetria convencional, permitindo gravações mais prolongadas, que permitem a

detecção de refluxo ácido e a resposta à terapia. A combinação da impedância com a pHmetria levou

a um aumento da sua sensibilidade e especificidade.

A manometria esofágica detecta as duas causas mais comuns de RGE: EEI insuficiente e

anormalidades da motilidade esofágica. Por sua vez, o RGE pode conduzir a esofagite de refluxo,

detectada pela EDA, devendo ser feita rotineiramente no caso de disfagia, anemia ou perda de peso.

Uma sequela a longo prazo do RGE é o desenvolvimento do esófago de Barrett, condição que tem

que ser verificada por EDA e biópsia.

Embora a EDA permaneça como uma importante ferramenta para identificação de lesões

intraluminais ou mucosas e a pHmetria seja a principal modalidade para a quantificação da exposição

ácida esofágica em pacientes não tratados, estes instrumentos clínicos apresentam um valor limitado

na avaliação de doentes com sintomas persistentes sob terapia com IBP. A IpH, ajuda a clarificar os

mecanismos subjacentes aos sintomas persistentes nestes doentes e permite separar os doentes no

qual a persistência dos sintomas resulta do refluxo ácido ou não ácido, daqueles cuja persistência

não se encontra relacionada com o refluxo.

Ao invés de um substituto para as técnicas diagnósticas disponíveis actualmente, a IpH deve

ser considerada como um complemento para o diagnóstico da DRGE, com excelentes hipóteses de

vir a tornar-se o goldstandard para a avaliação dos doentes com sintomas persistentes quando sob

terapia com IBP.

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

28

Pesquisa de refluxo não

ácido

Sem resposta

História Clínica e Exame Físico

Melhora ou remissão

Reduzir ou suspender medicação

DRGE

Persistência dos sintomas

Manifestações de alarme Manifestações atípicas

Sintomas frequentes > 4-8 semanas

EDA

Normal

Esofagite moderada

2-3 (S. Miller) B (L. Angeles)

Esofagite grave 4-5 (S. Miller)

C-D (L. Angeles)

Trocar IBP Investigação

Medidas comportamentais +

IBP dose dupla 4-8 semanas

Melhora ou remissão

Medidas comportamentais + IBP dose padrão

4-8 semanas

Melhora ou remissão Persistência

Medidas comportamentais + IBP dose dupla

4-8 semanas

Persistência

Rever diagnóstico e ponderar cirurgia

Melhora ou remissão

Manutenção com dose mínima eficaz

Manometria

PHmetria

Suspender medicação

Terapia empírica com IBP 1x/dia (1-2 semanas)

Sintomas típicos ou atípicos ocasionais sem manifestações de alarme

Medidas comportamentais + IBP 2x/dia, durante 4-8 semanas

EDA

Esofagite leve 1 (S. Miller)

A (L. Angeles)

Impedância

Figura 8. - Fluxograma para o diagnóstico da DRGE

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

29

Quadro 4 - Modificações comportamentais na DRGE17 Evitar a ingestão de comida que pode precipitar o refluxo, nomeadamente alimentos gordurosos, café, álcool e chocolate. Evitar a ingestão de alimentos ácidos que podem precipitar o refluxo, nomeadamente os citrinos, bebidas carbonatadas e alimentos picantes. Adopção de comportamentos que podem reduzir a exposição ácida esofágica, nomeadamente a diminuição de peso, cessação tabágica e evitar o decúbito até 2/3 horas após as refeições

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Meios de Diagnóstico na Doença de Refluxo Gastro-Esofágica

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