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H uma espcie de ignorncia que nasce da publicidade extrema

H uma espcie de ignorncia que nasce da publicidade extrema. Nos Estados despticos, os homens no sabem como agir porque ningum os informa de nada; nas naes democrticas, agem muitas vezes ao acaso porque lhes quiseram dizer tudo. Os primeiros no sabem, os segundos esquecem. Para eles, os traos principais de cada quadro desaparecem no meio da grande quantidade dos seus pormenores. [...] Nas democracias, os homens mudam constantemente de lugar devido a mil circunstncias e nas suas vidas reina sempre um no-sei- qu de imprevisto e de, por assim dizer, improvisado. Assim, eles so muitas vezes obrigados a fazer o que aprenderam mal, a falar do que no entendem e a

entregar-se a trabalhos para os quais no foram preparados por meio de uma longa aprendizagem. [...] Portanto [o cidado das democracias], faz tudo pressa, contenta-se com medidas aproximadas, e nunca pra um momento para reflectir sobre cada um dos seus actos. [...] A sua curiosidade insacivel e, ao mesmo tempo, satisfaz-se com muito pouco, pois ele faz questo de saber muito e depressa, em vez de saber bem. Como no dispe de tempo nenhum, perde depressa o gosto por aprofundar os assuntos.

[...] Este hbito de desateno deve ser considerado como o maior vcio do esprito democrtico.Tocqueville, Da Democracia na Amrica

A opinio comum, no seio dos povos democrticos, no s o nico guia que resta razo individual, mas tambm desfruta de um poder infinitamente maior do que aquele de que goza no seio de outros povos. Nos tempos de igualdade, os homens no tm nenhuma f uns nos outros, devido sua parecena, mas esta d-lhes uma confiana quase ilimitada no juzo pblico, pois no lhes parece verossmil que, dispondo todos das mesmas luzes, a verdade no esteja do lado da maioria. [...] A mesma igualdade que o torna o homem que vive nos pases democrticos independente de cada um dos seus concidados em particular deixa-o isolado e sem defesa perante a aco da maioria. [...] Nos Estados Unidos, a maioria encarrega-se de fornecer aos indivduos uma quantidade de opinies pr-estabelecidas, aliviando-os, dessa forma, da obrigao de serem eles prprios a form-las.

Tocqueville, Da Democracia na Amrica

Do ponto de vista de Tocqueville, segundo o qual nos povos democrticos o favor pblico to necessrio como o ar que se respira e no seio dos quais estar em desacordo com as massas , por assim dizer, deixar de viver, no necessitando estas de recorrer s leis para vergar aqueles que no pensam como elas, bastando-lhe desaprov-los para que a tomada de conscincia da sua solido e da sua impotncia acabe por os acabrunhar e desesperar.