memoria e demencia

download memoria e demencia

of 212

Transcript of memoria e demencia

Memriaedemncia:(re)conhecimentoecuidadoUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitoraNilca FreireVice-reitorCelso Pereira de SSub-reitor de GraduaoIsac VasconcellosSub-reitora de Ps-Graduao e PesquisaMaria Andra Rios LoyolaSub-reitor de Extenso e CulturaAndr LzaroUNIVERSIDADE ABERTA DA TERCEIRA IDADEDireoRenato Peixoto VerasVice-direoClia Pereira CaldasGerncia de PesquisaShirley Donizete PradoGerncia de ExtensoSandra Rabello de FriasGerncia de Ensino e Formao de Recursos HumanosAlzira Tereza G. L. NunesRio de Janeiro2001Tnia GuerreiroClia Pereira CaldasMemriaedemncia:(re)conhecimentoecuidadoCopyright 2001, UnATITodos os direitos desta edio reservados Universidade Aberta daTerceira Idade. proibida a duplicao ou reproduo deste volume,ou de parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem autorizao ex-pressa da UnATI.Universidade Aberta da Terceira IdadeRua So Francisco Xavier, 524 10 andar bloco F MaracanRio de Janeiro RJ CEP 20.559-900Tels.: (21) 587.7236 / 7672 / 7121 Fax: (21) 264.0120e-mail: [email protected]: www.unati.uerj.brG934 Guerreiro, TniaMemria e demncia: (re) conhecimento e cuidado. / Tnia Guerreiro e Clia Pereira Caldas. Rio de Janeiro:UERJ, UnATI, 2001.212pISBN85-87897-05-51. Envelhecimento 2. Memria 3. Transtornos cognitivos4. Demncia 5. Idoso 6. Cuidadores 7. Poltica de SadeI. Ttulo II. Caldas, Clia Pereira. CDU 616-053.9Produo EditorialRosania RolinsProjeto Grfico/Diagramao/Capa Heloisa FortesReviso Alcides MelloSumrioAPRESENTAO... .................................................. 7OFICINADAMEMRIAUMAPROPOSTADEOTIMIZAOCOGNITIVAPARAIDOSOS ......................................................... 9Introduo ............................................................... 9Ostranstornoscognitivoseasdemnciasnoenvelhecimento .............................................. 13Treinamentocognitivoparaadultosidosos:umaperspectivadetratamentoeprevenodedfictscognitivos ....................... 22Acognionocursodavida ........................... 28Conceitos ....................................................... 28Asbasesneurobiolgicas ............................. 31Amente ........................................................ 38Odesenvolvimento........................................ 41Odesenvolvimentobaseadonateoriadecursodevida .............................. 49Acognionoenvelhecimentohumano ........ 52Ateno ......................................................... 53Memria........................................................ 56Inteligncia.................................................... 65Outrascaractersticascognitivas ................ 68Oindivduoqueenvelheceesuacognio ................................................ 73Envelhecimentobem-sucedido...................... 81OficinadamemriaUmaexperinciadetrabalho .................................................................. 86Narrandoaexperincia ............................. 86Funes/capacidadesexercitadasnotrabalhodaOficinadamemria ............. 94Reflexessobreaprtica ............................ 96Refernciasbibliogrficas .................................. 109CUIDANDODEUMAPESSOAIDOSAQUEVIVENCIAUMPROCESSODEDEMNCIANUMAPERSPECTIVAEXISTENCIAL ....................................................... 129Vivenciandoatemticacomopessoaeprofissional .......................................................... 129AmagnitudedaquestodaatenoaoidosonoBrasilAspectossocioeconmicos,culturaisepolticos ............................................ 136APolticaNacionaldoIdoso(PNI) ................ 140APolticaNacionaldeSadedoIdoso(PNSI) ........................................................ 144Grausdedependnciaeassistnciadeenfermagemdeacordocomasdiferentesfasesdeevoluodedemncia ..................... 148Ocuidadordoidosoquedemencia:suainstnciadeexperincia ................................... 151Aassistnciadeenfermagemaoidosoquevivenciaumprocessodedemnciaeaoseucuidador ................................................. 156Osuporteaocuidador ..................................... 160Consideraessobreomtododeinvestigaofenomenolgica............................ 165AaproximaodaabordagemHeideggeriana 167AaproximaodatemticaluzdopensamentodeMartinHeidegger .................. 170Trajetriadoestudo .......................................... 177Anlisecompreensiva ........................................ 179Compreensovagaemediana ........................ 181Ainterpretaocompreensiva ......................... 195Consideraesfinais .......................................... 204Refernciasbibliogrficas .................................. 206A P R E S E N T A O 7Apresentaonvelhecimentoumfenmenoqueinstigaoserhumanoabuscas.Oprocessosedcomousemnossacons-cinciaouaceitao.Asmudanassoimplcitasegeramoutras,nosnveispessoalesocial.Entender esse fenmeno e control-lo um grandesonhodohomem.Esselivropretendetrazerumacontribuioaocampodasadecoletivaaoabordarquestesderelevnciaparaapromoodoenvelhecimentosaudvel,relacionadasperformancecognitivaeglobaldoadultoidoso.Cadavezmaisaassistnciaaoidosocomdficitcognitivoprestadapelafamlia.Dessemodo,produesqueabordemtemascomoopapeldocuidadoreodesenvolvimentodeintervenesdeotimizaocognitivaconsistememmaterialdegrandeprocuraportodos,querprofissionaisdesadeoufamiliares,quevivenciamtaldrama.E8 A P R E S E N T A OAUnATI,sempreatentaepreocupadacomotema,pormeiodestelivroprocuracontribuirapresentandodoistrabalhosdeexcelentepadrocientficodeduasdassuasmelhoresprofissionais.OprimeirotextodeTniaGuerreiro,mdicaeprofessoradaUnATI,eapresentasuaexperinciadeotimizaocognitivavisandopromoodeumbomdesempenhocognitivonocursodoenvelhecimento.tambmumasntesedadisser-taodemestradoapresentadaaoIMS/UERJ.OoutrotrabalhodaenfermeiraCliaPereiraCaldas,vice-diretoradaUnATI,equerecentemen-teconcluiuseudoutoramento,refletindosobreotema.Otextoumacompilaodesuatese,reconhecidacomoummarconocuidadodoido-sonolar.RenatoVerasDiretordaUnATIOFICINA DA MEMRIA9Oficina da MmriaUma Proposta de OtimizaoCognitivaparaIdososIntroduoade(...)resultadodeumprocessodeproduosocialqueexpressaaqualidadedevida de uma populao, entendendo-se qualidadede vida como uma condio de existncia dos homensnoseuvivercotidiano,umviverdesimpedido,ummodo de andar a vida prazeroso, seja individual, sejacoletivamente.Eugenio Vilaa MendesSadeumanecessidadehumanaessencialquepermiteaoindivduoalcanarseupotencialparasuaplenaexpresso.Emsintoniacomessapers-pectiva,oenvelhecimentosaudvelpressupeoindivduoinseridoemseucontextonumarelaodeinterdependncia,mantendopoderecontrolesobresuavida,numambienteajustadossuasnecessidades(Beckingham,1999).Essavisosechocacomarealidadeemquevivemos,naqualaindaseobservam,desdeoS10 OFICINA DA MEMRIA.nascimentoe,sobretudonavelhice,situaesemqueohomemtratadodeformadesumana.NaspalavrasdeEclaBosi(1987):Comodeveriaserumasociedadeparaque,navelhice,ohomempermaneaumhomem?Ares-postaradicalparaSimonedeBeauvoir:Seriaprecisoqueelesempretivessesidotratadocomohomem.Assim,oenvelhecimentoemnossasociedadeconstitui-senumduplodesafio,poisnosnecessriooenfrentamentodasmudanasineren-tesaoenvelhecimento,mastambm,emgrandepartedasvezes,implicaoresgate,oumelhor,aconquistadeumacondiodedignidadehumanaatentonoalcanada.Adespeitodeumaaltaprevalnciadedoenascrnicasnapopulaoidosa,dafreqenteprocu-rapelosserviosdesadeedacaractersticamultipatologia,maisde80%dosidososmantmsuaautonomiaeindependnciae,quandointer-rogadosacercadeseuestadodesade,muitosseconsideramsaudveis(Veras,1999,p.35).umequvocopensarqueseusproblemasserestrin-gempresenadedoenas.Seprescindemdemelhorqualidadedevida,avalorizaodasade,naperspectivadepromoodoenvelhecimentosaudvel,exigeatenoadiversosaspectos,acomearpelaformacomqueasociedadepercebeseuidoso,scaractersticasdaestruturafamiliar,OFICINA DA MEMRIA11scondiesdesuamoradia,dostransportesco-letivos,daaposentadoriaetc.(Veras,1997,p.51).Asmudanasbiolgicasassociadasaoenvelheci-mentotornamdelicadoolimitequeseparaofi si ol gi codopat ol gi co. DeacordocomBeckingham(1999),osprofissionaisdesadecostumamsubestimaroestadodesadedosadultosidosos.Dessaforma,mudanasnaturaisdoenvelhecimentotendemasertratadascomodoenas,eperdasfuncionaisinterpretadascomoincapacidades.Poroutrolado,numasociedadeemqueoenve-lhecerdistanciaoindivduodoidealdehomemconcebido(LimaeViegas,1998),naqualabuscadoprazerpriorizadaaqualquercusto,emqueadoreosofrimentodevemserrapidamentein-terrompidos,demandandointervenesimediatas(Illich,1975),emqueoidealdesadeperfeitaalmejado,escamoteandonossasreaisfragilidades(Sfez,1996),avelhicemaldita.Oindivduo,aoseperceberenvelhecendo,setransformafacil-mentenumdesejosoconsumidordeterapias.Amedicalizaodoenvelhecimentoumadasconseqnciasdessaspercepesdistorcidas,egeramenoreficcianosistema,ampliandoenormementeos gastos em sade. Isso se d pela criao de falsasdemandas,aliadaaumaatuaoiatrognicapromo-toradefragilizaoedependnciadoindivduo,sobretudoquandoestesevexcludodoprocessodecisrioacercadesuasade.12 OFICINA DA MEMRIA.Pesquisasrealizadascomidososindicamqueapercepodaperdadecontrolesobreaprpriavidaresultaemenfraquecimentodacapacidadedeadaptao,baixosnveisdeatividadeedimi-nuiodasadefsica(Beckingham,1999,p.13).Nessecontexto,faz-seurgenteodesenvolvimentodepropostasdepromoodesadeque,demaneiraalternativa,rompamcomotradicionalenfoquecentradonotratamentodasdoenasepossibilitemummenorgastoderecursosfinancei-ros,associadoaumamploalcancedebenefcios.Anecessidadedesepriorizaroenfoquepreven-tivocomprogramasabrangentesdeeducaoparaasadejbastanteconhecidadosprofissionaisdarea.Porm,quediretrizseriadesejvelparanortearaspropostasdepromoodesadeequalidadedevidaparaosidosos?AnnBeckinghameSusanWatt(1999),aotrataremdessetema,situamosidososnocomorecepto-respassivosdosistema,mascomorecursosim-portantesaseremchamadosaparticipar,levando-seemcontasuaspotencialidadeselimites.Deacordocomasautoras,deveria-sepensarempropostasquevisassemaodesenvolvimentodoempowerment,isto,quebuscassemencorajarosidososadescobrirsuaforainterioretalentosparaassumirumpapelmaisativonaresoluodeseusproblemasenecessidades,capacitando-osaexercerumcomandomaisamplosobresuaspr-priasvidas.OFICINA DA MEMRIA13SegundoCusack:Empowermentnosignificadarpoderspessoasmascapacit-lasparaoexercciodopoder(...).Essa abordagem particularmente apropriada paraocampodapromoodesadeporquepoder,entendidocomoenergia,estrelacionadosno-esdesadeedebem-estar.(Cusack,1995,p.307)Aconcepodoenvelhecimentosaudvelnoexcluianecessidadedeserviosparaoscuidadosdesadetradicionais;massignificarefletirsobrequeservios,emquemomentoequalamelhormaneiraderealarasadeeminimizarostrans-tornoseperdasdecorrentesdoadoecimentodapessoaidosa.***OstranstornoscognitivoseasdemnciasnoenvelhecimentoHumaenormeheterogeneidadenocrebroqueenvelhece,tantonasadequantonadoenadeAlzheimer.Nsprecisamossaberporqu.FriedlandPesquisasrecentestmconfirmadoantigosachadosdequeexisteassociaoentredeclniocognitivoeriscodehospitalizao,necessidadedecuidadosdesadeformaisemortalidade(NIH,1999,p.3).14 OFICINA DA MEMRIA.SegundoRenatoVeras,osdistrbiosdemenciaissoaprincipalcausadeincapacidadeedepen-dncia na velhice. E acrescenta: H fortes indciosdequeademnciaatualmentesesitueentreasdoenasquemaismatam(Veras,1995,p.22).DeacordocomBrandteRich(1995),cercade15%dapopulaocomidadesuperiora65anosapre-sentamalgumtipodedemncia.Entreosidososcomidadesuperiora85anos,aprevalnciavariade25%a47%,dependendodoestudo(Baddeley,1995,pp.243-244).DeacordocomosdadosdaAgencyforHealthCarePolicyandResearch(AHCPR,1996),5a10%dosindivduoscomidadesuperiora65anosnosEUAapresentamdemn-cia,duplicandoaincidncianessegrupoacadacincoanos.NaHolanda,estudosrevelamqueumquintodetodososidososcomidadesuperiora80anosapresentademncia.Eindicamqueagrandemaioriadosindivduosidososnodesenvolveadoena.Almdisso,muitosdessesidosos,quan-dosubmetidosaavaliaescognitivas,apresen-tamresultadossemelhantesaosjovensouaosadultosdemeiaidade.Essesdadosvmsendointerpretadospelospesquisadorescomoindciosdeenvelhecimentobem-sucedido(MAAS,1999).Veras,nosanosde1988/1989,aoavaliaraprevalnciadedemnciaedepressoentreido-sos de trs regies do Rio de Janeiro (Copacabana,MiereSantaCruz),constatoumaiorprevalnciadedemnciaentreosidososcomidadesuperiorOFICINA DA MEMRIA15a80anos,analfabetos,queapresentavammscondiesfsicas.Aregiodemelhorpoderaqui-sitivoemaiornveldeescolaridade(Copacabana)apresentouamenorprevalnciadedemncia,confirmandoosachadosdescritosnaliteraturaestrangeira(Veras,1997).Aexpansodotempodevidadoserhumanopropiciaoaparecimentodenovospadresdecondiesdesadeedeadoecimento.Dentreesses,destacam-seostranstornoscognitivos,porsuasimportantesrepercussesnavidadoindiv-duo,dafamliaedasociedade,eporseapresen-taremnumamploraiodemanifestaes,compre-endendodesdesituaesemqueseprocessamlevesdficitsatencionaisoudememriaatosquadroscomplexosdeextensocomprometimentocognitivo,nosquaisseconfiguraumasndromedemencial.Oqueseriaesperadonoenvelheci-mentosaudvel?1Quetranstornoscognitivosdoidososeriampassveisdereversoequaisevo-luiriamparademncia?Qualopesodecadaumdosdiversosfatoresrelacionadosaodeclniocognitivo?Algunsfatoresabusodelcool,toxicidadepordrogas,depresso,hipertensoarterial,hipotireoi-dismo,deficinciadecidoflicoevitaminaB12etc.soreconhecidoscomopromotoresdedemnciareversveisoupotencialmenterevers-veis,isto,quandoidentificadosetratadospre-cocementepossibilitamarestauraototalouparcialdacapacidadecognitiva.16 OFICINA DA MEMRIA.Inmerosesforosvmsendorealizados,nosltimosanos,nointuitodesecompreenderahistria natural do declnio cognitivo ou melhor,dostranstornoscognitivosdoidosoquenopre-encham os critrios para o diagnstico de sndromedemencial2oudeoutrapatologiaconhecidaqueafeteacognioedeseestabelecercritriosdiagnsticosparaaspossveiscategorias.3Sabe-sedaexistnciadeintrincadosconjuntosderelaesdeordembiolgica,psicolgica,social,culturaleeconmicaqueafetamacogniodoindivduoidoso.Porm,atosdiasdehoje,des-conhecemosseadiversidadedemanifestaesdedficitscognitivoscorrespondeaumprocessonico,emfasesdistintasdesuaevoluonessecaso,aexpressodeclniocognitivoseriabemapropriada,ouseconsistedemltiplosproces-sosquecompartilhamelementoscomuns.Algunspesquisadoresmostram-sebastanteotimis-tasquantoaousodacategoriaMildCognitiveImpairment (MCI). Essa categoria, pesquisada peloNationalInstituteonAging(NIA,1999),vemapre-sentandoresultadospromissoresparaamelhorcompreensodostranstornoscognitivos.Repre-sentaumquadroemqueseencontramfalhasmnsicaspronunciadas,distintas,portanto,dasfalhasquepoderiamseresperadasnoenvelheci-mentonormale,poroutrolado,notosignifi-cativasquantoasobservadasnasdemncias.FoidemonstradoqueaspessoasqueseenquadramnoscritriosdeMCIconstituemumgrupodealtoOFICINA DA MEMRIA17riscoparadoenadeAlzheimer4(DA)e,dessemodo,ospesquisadoresentendemqueaidenti-ficaodessescasosabreumaperspectivaparaodesenvolvimentodeintervenesqueprevinamouretardemosurgimentodessadoena.5Apesardeexistiremalgunsachadosfavorveisaousodedeterminadacategoria,segundoHenderson(1997,p.66),inmerasevidnciasdemonstramqueostranstornoscognitivosdaidadeavanadavariamnotocanteaosdomnioscognitivosafetados,nacontribuiodefatoresgenticosparaadefiniodaetiologia,6naidadedeaparecimen-todasmanifestaes,nataxadedeclnioenarespostaaotratamento.Deacordocomoautor,atomomento,noexistejustificativaparasereconhecerumaparticularsndromededeclniocognitivo.Nopresentetrabalho,emfunodasdificuldadesdenomenclaturadescritasacimaepornocon-cordarmoscomousoirrestritodaexpressodeclniocognitivo,osdficitscognitivossignifi-cativosapresentadospeloidosoquenoseen-quadremnoscritriosdiagnsticosdedemnciaoudeout rapat ol ogi aconheci daserodenominadosdetranstornoscognitivos.Aexpressodeclniocognitivovemsendouti-lizadaporestudiososdapsicologiacognitivaaosereferi remsmudanasnaperformancecognitivaqueacompanhamoenvelhecimentosaudvel.precisoressaltarqueesseusotam-18 OFICINA DA MEMRIA.bmpassveldecrticas,jqueasmudanasqueocorremnoenvelhecimentonormalapre-sentamumcomportamentoheterogneo,nemsempreresultandoemdeclnio,comooobser-vadoemrelaointelignciapragmtica(VanderLinden,1994).Emborasejamaindaimprecisososlimitesqueseparamaperformancecognitivadoidososaud-veldostranstornoscognitivosedasmanifestaesiniciaisdasdemncias,precisocuidadoparaquenoseincorranoerrodeabordaraquestodacogniodoidosoexclusivamentepeloenfoquedadoena.Em1960,Blessed,TomlinsoneRoth(ApudKatzman,1998)demonstraram,numclssicoestudo,queadoenadeAlzheimercorrespondiamaiorpartedoscasosdedemnciasenilnoidoso, enquanto a segunda etiologia mais freqentefoiatribudaamltiplosinfartosvasculares.ParaKatzman,emdecorrnciadaintroduodepoten-tesantiagregantesplaquetriosedemaiorcontroledahipertensoarterial,vemsendoobservadoumaumentorelativodoscasosdiagnosticadoscomodoenadeAlzheimer,alcanandocercade80%dosatendimentosemcentrosespecializados.Porm,alertaparaofatodequeumnmerosignificativodessescasosnoapresentaasca-ractersticas patolgicas da doena de Alzheimer,consistindodeoutraspatologiasneurodege-nerativasaindanobemconhecidas(Katzman,1998,p.12).OFICINA DA MEMRIA19SegundoKatzman(1998),at1970,adoenadeAlzheimererapraticamentedesconhecidadop-blico.Nomundoacadmico,apenasdezartigoshaviamsidopublicadosat1966.Chegamosa1996 com mais de 2.277 publicaes, num contextodeintensodesenvolvimentodepesquisase,des-deento,acompanhartodasasproduesnessarea tem sido extremamente difcil (Katzman, 1998,p.11).AnnetteLeibing,aofazerumestudoantropolgicodadoenadeAlzheimer,provocaumainstigantereflexoacercadasperspectivasquetemoscomoverdadeirasnosdiasdehojeaodestacardiversosmomentosdahistriadessadoena.Otempodadescobertaocorreunoinciodosculo,quandoAlzheimerdescreveuumcasoestranhodeumamul her de51anosqueapr esent avaumprocessodemencial(umprocessopr-senil).Napoca,ademnciasenilerareconhecida,po-rmconsiderava-sedifcildistingui-ladasenili-dadenormal.7Aseguir,descritooperododainvisibilidade,noqualadoenaestavamedicamentedormindo,poispartedosestudiososdapocaentendiaademnciasenilcomooresultadodaaodefatoresrelacionadosaoestilodevida.Acrescente-seaissoofatodeoprprioAlzheimerterchegadocon-cluso de que as placas senis (...) no eram a causadademnciasenil,massomenteumfenmenoconcomitanteinvoluodosistemanervosocen-tral(Alzheimer,apudLeibing,1997,p.161).20 OFICINA DA MEMRIA.Maisadiante,descortina-seummomentoconjun-turalfavorvelredescoberta,emquepodemosdestacar:avalorizaodapesquisaneurobiol-gica,apoiadafortementepelaindstriademedica-mentos;oreconhecimentodoenvelhecimentopo-pulacionalcomoumarelevantequestosocial;ointeressededespertaraopiniopblicaerecrutarrecursosfinanceirosparaapesquisanareadoenvelhecimento.Essasquestesacabaramculmi-nandocomodesenrolardeumpeculiarepisdioprotagonizadoporRobertButlerprimeirodire-tordonovoNationalInstituteofAging(NIA).8ParaAnnete,ointeressegeralemestudosdavelhiceaindaera pequeno. Butler adotava a poltica do medo,explicando:OCongressonovotaafavordefinanciamentosparapesquisabsica;elesvo-tamparafinanciarpesquisassobreumadeter-minadadoena.Elefavoreceu,ento,adefi-niomaisinclusivadeKatzman,quejuntouaformasenilepr-senil,chamandoambasdedoenadeAlzheimer,oquepermitiufalardeumaepidemiaquenoafetavasomenteosidososvocpoderiaseroprximo,quesemverbasparapesquisa,umdiapoderiaderrubarasadepblicacomosaltoscustos.(Leibing,1997,p.165)Essamudananosmobilizourecursoseesti-mulouaproduocientfica,maspropiciouumnovoolharparaaquesto.Umolharnoqualocrebroprivilegiado,havendomuitopoucoOFICINA DA MEMRIA21espaoparaaconsideraodefatoresdeordempsicoafetivasesociais.Diversascaractersticaspessoaistmsidorelacio-nadascomoaumentodaprobabilidadeparaodesenvol vi ment odadoenadeAl zhei mer(Friedland,1997):idadeavanada,sexofeminino,histriafamiliardedemncia,sndromedeDown,depresso.Almdisso,temsidodemonstradaaassociao entre doena cardaca e DA, assim comoentredoenacardacaedensidadedeplacassenisemindivduosquenoapresentamdemncia,umefeitoprotetordofumocontraodesenvolvimen-todeDAeomaldeParkinsoneumefeitoprotetordaeducaocontraodesenvolvimentodeDA.OpapelprotetordaeducaoestudadoporKatzmansuscitaoutrasinmerasquestesparaserempesquisadaseabreaperspectivaparaodesenvolvimentodeintervenesquesepropo-nhamaadiarouprevenirosurgimentodeproces-sosdemenciais.NaspalavrasdeFriedland(1997,p.101):Eu acredito que ns somos compelidos a conside-raralmdaquestodiscutidaporKatzmansobreapossibilidadedeaeducaoafetareventospatognicos. As relaes entre os padres de vidalongaeatividadefsicaedoenacardiovascularsobemreconhecidas;nopoderiamassociaessimilaresestarpresentesentreaatividadedoc-rebroeoenvelhecimentodocrebro?***22 OFICINA DA MEMRIA.Treinamentocognitivoparaadultosidosos:umaperspectivadetratamentoeprevenodedficitscognitivosA evidncia da existncia de fatores de otimizaoedeestratgiascompensatriasconduziuospes-quisadoresabanirqualquergeneralizaoapres-sadacomtendnciaaconsiderarqueoenvelhe-cimentonormalimplicaumdeclniogeneralizadoesistemtico.Van der LindenAcognionoenvelhecimentohumano,portodarelevnciadotema,vemsendoalvodointeressedediversasreas.Nosltimosanos,apesquisasedistancioudaestreitaperspectivadeestudosso-brefunesdeclinantes,vindoaseconcentrarnaconcepodaspotencialidadesedoslimites(Baltes,1994;Park,1992),enriquecendo-secomcontribuies tanto da anatomia, da neurofisiologia,dagentica,dapsicologia,entreoutras,comodoenfoqueproporcionadopelascinciassociais.Nopassado,umgrandenmerodepesquisasevidenciouaexistnciadesignificativosdficitsdasfunescognitivasaolongodoenvelheci-mento(Vargas,1994;VanderLinden,1994;CraickeSalthouse,1992).Nessapoca,osestudosfoca-lizarambasicamentefunestradicionalmenteconhecidascomodeclinantes(porexemplo:me-mria)ecomissoreforaramumaexpectativadesfavorvelnotocanteperformancecognitivaOFICINA DA MEMRIA23nocursodoenvelhecimento.Outroaspectomarcantedessasproduesconsistiunaexistnciadegrandesdivergnciasnosresultadosdepes-quisasquesepropunhamainvestigarasmesmasfunes.Emparte,issopodeserexplicadopelasdiferenasmetodolgicasdosestudos,comdesta-queparaasrepercussesdecorrentesdecontex-tosdiferentes(ideaisounoideais)narealizaodasavaliaes.precisotambmconsideraroaspectodahete-rogeneidadedoenvelhecerhumano,queexpres-sa,primeiravista,umgrandeparadoxo:aindi-vidualidadesetornaplenanaidadeavanadaeasmarcassociais,histricaseculturaisindelveis.Muitosdessestrabalhoscompararamgruposdeadultosidososcomgruposdejovensportanto,indivduosdegeraesdiferentestrazendonabagagemexistencialretratosderealidadesbemdistintas.Algunsestudosvmdemonstrandoapresenadeindivduosqueatingemidadesavanadasmantendoumaboaperformancecognitiva,e,emcertoscasos,comdesempenhosemelhanteaosadultosjovens(MAAS,1999;LevyeLanger,1994).Quaisseriamasdeterminantesparaosucessocognitivonoenvelhe-cimento?Seriapossvelprevenirouadiardficitscognitivosassociadosaoenvelhecimento?DeacordocompublicaodoNationalInstituteonAging(NIA,1997),estudossugeremqueascomplexasfunescognitivasrelacionadasao24 OFICINA DA MEMRIA.gerenciamentodavida,capacidadedesolucio-narproblemasedetomardecisesnodepen-demunicamentedemecanismoscognitivosbsi-cos,mastambmdasrepresentaesmentaisdoambientesocialeculturalquemodelamocom-portamento,oraciocnio,aemooeamotivao.Almdasinflunciassocioculturaisegenticasquepermeiamaconstruodaindividualidade,pode-sedizerqueascaractersticasdapersonalidade,oseventosdeordembiolgicaebiogrficaeoestilodevidaimpemmarcasnadinmicadosproces-soscognitivos.Diversospesquisadoresapontamparaumarela-opositivaentreaperformancecognitivadoidosoeaestimulaocontinuadadessascapacida-des.SegundoLePoncin-Lafitte(1987),cabvelquehajaummeiodeinterferirparaevitarcertasdegenerescncias:modificarascondiespsqui-casomaiscedopossvel.Paraaautora,oisola-mentosocial,ascrenasnegativasacercadoen-velhecimentoeadesmotivaofavoreceriamodesenvolvimentodeumestadodehipoeficinciacerebral, ao passo que o exerccio dirio da mentepromoveriaavivacidademental.Vargas(1981)ressaltaqueaexperinciaclnicatemmostradoquenaspessoasdevidaativa,in-telectualouartstica,adeterioraodosrendi-mentosintelectuaisemnsicosproduz-setardia-menteecommaislentido.Destacaaindaqueaatividadedasfunesintelectuaisdeformacon-OFICINA DA MEMRIA25tnuaimpedeodeclniosistemticoqueseobser-vaentreaquelescujasatividadescotidianassomecnicasedesvinculadasdoexercciodessasfunes.Christensenecolaboradores(s.d.),numestudolongitudinal,examinaramainflunciadaatividadenacogniodeadultosidosos.Osresultadossugeriramqueasatividadespromotorasdeestimulaomentalpodemcontribuirnapreven-ododeclniocognitivo.Almdisso,osautoresdestacaramaimportnciadessedado,aocomen-tarem:diferentementedeoutrosfatoresderiscoparaodeclnio cognitivo (idade, funcionamento sensorial,incapacidades),onveldeatividade,atcertoponto,encontra-sesoboprpriocontroledoin-divduoe,portanto,poderepresentarumpassopositivoasertomadopeloidoso.(Christensenecolaboradores, s.d.)Emboraaspesquisasrevelemqueamaiorpartedosadultosidososapresentadeclnioemcertasfunescognitivas(ateno,memriadetrabalhoeoutras),Baltes,Willis,Schaieeoutros(ApudPark,1992,p.453)evidenciaramapresenadeuma capacidade de reserva cognitiva (plasticidade),quepodesermobilizadapormeiodetreinamento,resultandoemmelhoriadaperformance.Essacapacidadedereserva,segundoBalteseWillis,estariadiminuda(Idem,p.455)nocasodosido-sosportadoresdedoenasagudasoucrnicas.26 OFICINA DA MEMRIA.Alm disso, ao estudarem os limites da plasticidade,concluramqueamaiordiferenaentreidososejovenssaudveisresidenoslimitesdacapacidadedereserva.Adultosjovens,apstreinamento,obtmsistematicamentemaioresganhosemseusdesempenhos.Motivadospelossucessosrecentesdediferentestcnicasdeintervenocognitiva,pelaevidnciadarelaoexistenteentrecognioegastospbli-cosemsadeepelaemergentenecessidadedeseachartcnicasdecarterpreventivoquesejambem-sucedidasemmanteraqualidadedevidadosidosos,inmerosestudos(NIH,1999;Baltes,1994)tmsidodesenvolvidos,buscan-do-seresponderadiversasquestesacercadodesenvolvimentodeintervenesparaadultosidosos.Willis(1990apudVanderLinden,1994),numartigodesntese,discutiuumasriedestasquestes: Amelhoraproduzidapelotreinamentoconsis-tiremumsimplesretornoaodesempenhoante-rior? Haverumapossveltransfernciadebenef-ciosaoutrasfunesapartirdotreinamentodeumafunoemparticular? Umaintervenosobreosfatoresafetivosepsicolgicosqueinfluenciamodesempenhonoteriatantaeficciaquantoumaintervenoquesatingisseosfatorespropriamentecognitivos?OFICINA DA MEMRIA27 Umsimplesexercciorepetitivodeumatarefanoseriatoeficientequantootreinamentovi-sandoamelhoraraestratgiadosujeitoaolidarcomatarefa? Seroosefeitosdotreinamentoefmerosoupersistentes?Aolongodaltimadcada,asproduesnessareaforamcapazesderesponderalgumasdessasquestes,criando,poroutrolado,umgrandenmerodeoutrasabordaremosesseassuntonaltimapartedestetrabalho.Kyriazis(1995)investigouaracionalidade,rele-vnciaeaplicabilidadedevriosexercciosdeestimulaocognitivaespecficosparaidosos,econcluiuqueaestimulaocerebraldeindivduosidosossaudveisampliaasensaodebem-estarmental,devendoserrotineiramenterecomendada,aoladodasorientaesdietticasedaprticadeexercciosfsicos,comvistaspromoodasade.Essesachadosvmrevelandoumaperspectivadeprevenoouadiamentododeclnioematividadescrticasdodia-a-dia,podendovirarepresentar,paraoserhumano,umcaminhodefortalecimentodecapacidadesimportantesparaamanutenodesuaautonomiaequali-dadedevidaempowermentnocursodoenvelhecimento.Nombitosocial,sinalizaapossibilidadedeumcaminhodepromoode28 OFICINA DA MEMRIA.sade,prevenodedoenas,adiamentodeincapacidadesereabilitao.Porm,estamosaindabemnoinciodessaestrada,portandoinmerasdvidas:quetipodeinterveno(abrangncia,metodologia,tempodedurao,formataodosencontrosetc.)podertrazerganhosreaisaocotidianodoindivduo?Oqueisso representar em termos de gastos em sade?Quaisasrelaescustobenefcio?Qualoperfil(caractersticasneuropsicolgicas,idade,nvelsocial,econmicoeculturaletc.)dosindivdu-osquemaissebeneficiaro?Apropostadestetrabalhoestlongedequererelucidartodasessasquestes.Pretendeser,noentanto,umacontribuioqueacrescentarmaisdadosparaareflexoacercadodesenvolvimento,propriamentedito,deintervenescognitivasparaadultosidosos.AcognionocursodavidaConceitosOtermocogniorefere-seafunes/capacida-desquepossibilitamaohomemaaprendizagemconstanteeoplanejamentodeestratgiasparasuaadaptaoaomeioambiente.Emseumovi-mentodeinteraocomoambienteexterno,ohomem,apartirdesuascriaes,transformaesetransformanumcontnuoprocessodialticoemquesujeitoeobjetosealternamemumcontnuodinamismo.OFICINA DA MEMRIA29ParaSanvito(1991,p.207),acogniopodeserentendidacomoprocessosmentais,relacionadosfundamentalmentecomopensamento,medianteosquaisoindivduoadquireconhecimentos,fazplanosesolucionaproblemas.Acognio,paraFlavell,umconceitodifcildeserdefinido,peloriscodelimitaroseusentido.Tradicionalmenteincluientidadespsicolgicassuperiores,taiscomooconhecimento,aconscincia,ainteligncia,opensamento,aimaginao,acriatividade,agera-odeplanoseestratgias,oraciocnio,asinferncias, a soluo de problemas, a conceituao,aclassificaoeaformaoderelaes,asimbolizaoe,talvez,afantasiaeossonhos.(Flavell,1999,pp.9-10)Segundooautor,outroscomponentesdeumaclasse um tanto mais humilde tambm deveriamserincludos,comoosmovimentosorganiza-dos,apercepo,asimagensmentais,amem-riaeoaprendizado.Outroscomponentescomcaractersticassociopsicolgicas,comoosusossociocomunicativosdalinguagem,emoposioaosprivados-cognitivos,tambmpoderiamserincludos.DeacordocomFlavell,aoampliar-mosoconceitoparaalmdoenfoquetradicio-nal,isto,paraalmdosprocessosmentaissuperiores,corremosoriscodenosabermosondeestabelecerumlimite,jqueosproces-sosmentaisparticipamvirtualmentedetodos30 OFICINA DA MEMRIA.osprocessoseatividadespsicolgicashuma-nas(Idem).DeacordocomopropostoporGuimaresdosSantos(1999,p.5),nestetrabalhoconsideraremosofenmenocogniocomoexpressescompor-tamentais,produtosdaatuaodeprocessosmentaiseneurobiolgicos(Idem,p.6). Comisso,noqueremosdesconsiderarofatodequeamentesedesenvolvecomoumprolongamentodosprocessosbiolgicos.Antesdetudo,optamosporestaconceituaoporentendermosque,dopontodevistalgico-metodolgico,estaaborda-gemdobinmiocrebro-mente,baseadanospressupostosdoneo-reducionismo,9nospossibi-litamaioresganhosparaoentendimentodacogniohumanaedosprocessosenvolvidosnasdisfunescognitivas.Damesmaforma,paraoestabelecimentodeestratgiasdereabilitaoeotimizaocognitiva,aovalorizar,deigualmodo,ascontribuiesdasinstnciasmentaleneuro-biolgica.Oencfalohumanopodeserentendidocomoumacomplexaredeeletroqumicadecomunica-oquecontm,emsuaorganizao,representa-es do mundo que o cerca e possui a capacidadedeseautoprogramaregerarumsofisticadopro-dutoopensamento.Naintimidadedessacomplexaestrutura,oneurnioconstituiaunidadefuncionalbsicaresponsvelpelatransmissodeinformaes,aoOFICINA DA MEMRIA31gerareconduziraatividadeeltricacaractersticadessesistema.Considerarodesenvolvimentodosistemanervoso,aformacomoosneurniostrabalhamesecomu-nicamentresi,amacroeamicroorganizaodosistemaeascaractersticasdeneuroplasticidadevemaserpr-requisitonabuscadedelinearopanoramaemqueseprocessamosfenmenosneurobiolgicosesuas,aindapoucoconhecidas,correlaescomosfenmenosmentais.AsbasesneurobiolgicasNorecm-nascido,osistemanervoso,aindaima-turo,iniciaumanovafasedeconstruoemquea relao com o meio ambiente assume um impor-t ant epapel nodi reci onament ododesen-volvimentodesuascapacidades.Nessaetapa,osneurnioscorticaisjnomaissedividemeasprincipaisconexesentreosrgosdossentidos,SNCergosmotores,assimcomoasprincipaisestruturasdocrebro,encontram-seemsuasposiesdefinidas.Ata,opoderdosgenesatuamarcadamente,proporcionandoaconstncianaespciedasprincipaiscaractersticasdoencfalo(Idem,cap.6-7).Oaumentodoencfalodecercade380gramas,na40semanadegestao,atcercade1.400gramas,aos18anos,ocorrescustas,principal-mente,deumprogressivoaumentodovolumedasclulas,especialmentedosneurniosem32 OFICINA DA MEMRIA.comprimentoedimetroedaprogressivamielinizao.Aoladodisso,oprocessodeamadu-recimentotambmseexpressanasmodificaesdos padres de conexes sinpticas, em que novasconexessogeradas,outrasrefinadaseoutraseliminadas.Osmecanismosdessesprocessosaindanosobemconhecidos,massabe-sequeestorelacionadosatividadeeltricanosistema.Por-tanto,apsonascimento,odesenvolvimentosedfundamentalmentenonvelmicroscpico.Adiversidadesurgenaintimidadedaestrutura,nonvelcelular,possibilitandoumagrandevariabili-dadefenotpica.Nessafase,amaiorpartedassinapsesdocrtexcerebralaindanoseformou,estando,assim,abertoocaminhoparaseestabe-leceremsobainflunciadosestmulosadvindosdarelaodoorganismocomseumeiointernoeexterno,porintermdiodapaulatinaativaodecircuitos.Dessemodo,atmesmonocasodeindivduosgeneticamenteidnticos,observamosadiversidadenaestruturamicroscpicadacircuitarianeuronal(Changeaux,1991,p.248).Poroutrolado,estudossugeremqueasregiesfilogene-ticamentemaisantigasdoencfalo(troncocere-bral, hipotlamo e outras), responsveis por regularosprocessosvitaisbsicos,recebemumainflun-ciamaiordogenoma,garantindoumcomporta-mento mais automatizado e rpido, necessrio paradarcontadeatendersobrevivnciaindividualeevolutiva(Damsio,1996,pp.137-141).Anecessidadedaatividadeneuralparaoamadu-recimentodosistemanervoso,sobretudonosOFICINA DA MEMRIA33setorescerebraismodernos,conformetemsidoevidenciadonosestudosnessecampo,geraduasgrandesvantagens(Shatz,1992): EconomiaSerianecessrioumextraordinrionmerodegenesparasedeterminaraestruturaprecisadoscercadedeztrilhesdesinapsesdocrebro.Nopossumosgenessuficientesparaisso,assimogenomaatuadirecionandoodesen-volvimentodasprincipaisestruturas,deixandomuitasespecificidadessobainflunciadaativi-dadedoprprioorganismonocursodesuavida. AdaptaoApossibilidadedeumaperfeio-amentoconstanteapartirdasexperinciasvividasconsistenumgrandediferencialdeadaptaodoorganismo,queparticularmentesedestacanoho-mem,proporcionandoumavariabilidadeessencial,decorrentesdaplasticidadedosistemanervoso.Aneuroplasticidadeumacaractersticafuncionaldosistemanervoso,quepodeserentendidacomoumaconquistadaevoluo,evidenciadanoama-durecimentoestmulo-dependente,noprocessodeaprendizagemtantoomotorinconsciente(automatismo)quantoconsciente(memria)enosprocessospatolgicosemquesemanifesta,nomovimentodereorganizaodecircuitosapsaleso(Annunciato,1994).SegundoDeGroot(1998),aplasticidadeneuralapropriedadedosistemanervosoquepermite34 OFICINA DA MEMRIA.odesenvolvimentodealteraesestruturaisemrespostaexperincia,comoadaptaoacondi-esmutanteseaestmulosrepetidos.Estudosdesenvolvidoscomcobaiasdemonstra-ramqueestas,aoseremcriadasemambientesenriquecidos,expressamcomportamentosmaiselaborados,havendoumantidarepercussonotamanhodocrebro,quetemseuvolumeampliado,aoladodoaumentodacomplexidadedoscircuitos.Nocasodeexperimentosemqueocorre um direcionamento na estimulao de certasfunespredominantementerelacionadasativi-dadedeumdeterminadohemisfriocerebral,asrepercussescelularesserestringemaohemisf-rioemquesto.10Inmerosestudosvmdemonstrandoqueasexperinciasdoindivduosointrojetadasnosis-temanervosoemodelamodesigndoscircuitoscerebrais(Damsio,1996,p.140),eissosedpelaformaodeconexesassociadasaocresci-mentodenovosaxniosedendritosdasclulasjexistentes,epelofortalecimentodeoutrasconexespoucoutilizadas.precisodestacarqueosprocessosassociadosaodesenvolvimentodosistemaapsoperodogestacionalesatividadesdeaprendizagemaolongodotempodevidasoextremamentecom-plexos.SegundoDamsio,estespossivelmenteenvolvemaatuaocombinadadedeterminantesgenticoseepigenticos,assimporeledescrita:OFICINA DA MEMRIA35[o arranjo exato das conexes no crebro] estabe-lece-se sob a influncia de circunstncias ambien-taisquesocomplementadaserestringidaspelainflunciadoscircuitosestabelecidosdeformainataeprecisa,relacionadoscomaregulaobiolgica.(...)[Almdisso,]oscircuitosinatosintervm no s na regulao corporal como tam-bm no desenvolvimento e na atividade adulta dasestruturasevolutivamentemodernasdocrebro.(Idem,p.138)Aatuaodoscircuitosinatos,nessenvel,pareceestarrelacionadamodulaodasativi-dadesenvolvidasnoregistrodasexperinciasvividasesuasrespostas,paraqueessasativida-dessejamajustadas,visandoaoequilbriointernoeexternodoorganismo,demodoagarantirsuamaiorprioridade,ouseja,asobre-vivncia.Osistemanervosocentralassimconstitudoestconectadoatodoocorpopormeiodeligaesneuraisquecompemosistemanervosoperi-frico.Osrgossensoriaisatuamnacaptaodosestmulosprovenientesdomeioexternoeessessolevados,atravsdosnervos,adiversasregiesdoSNC.Porintermdiodosnervos,ocrebrosecomunicacomocorpoecomomundo,evice-versa.Acomunicaodocorpoparaocrebrotambmpossvelpormeiodesubstnciasqumicas,comooshormniosepeptdeosliberadosnacorrentesang nea.36 OFICINA DA MEMRIA.Existemdiversosnveisdeorganizaoneuralnocrebro.Nonvelmicroscpico,osneurniosformamcircuitoslocaiseestesseorganizamemregiescorticaisouncleos(jcorrespondendoaon vel macr oscpi co). Ossi st emassoformadospelaunioderegiescorticaisencleos,econsistemnonvelmaiscomplexodessaorganizao(Idem,pp.46-54).Osneu-rniostendemaseconectarcomneurniosprximos,emboraoutrospossamtermilmetrosouatcentmetrosdecomprimento,estandoconectadosaoutrosderegiesmaisdistantes.DeacordocomDamsio,comoresultadodessearranjo,temos:1) O que um neurnio faz depende do conjuntodos outros neurnios vizinhos no qual o primei-roseinsere;2)oqueossistemasfazemde-pendedecomoosconjuntosseinfluenciammutuamentenumaarquiteturadeconjuntosin-terligados;3)acontribuiodecadaumdosconjuntosparaofuncionamentodosistemaaque pertence depende da sua localizao nessesistema.(Idem,p.53)Quantoorganizao,podemosaindadizerqueexistem regies que so mais especializadas paradesempenhardeterminadafuno,podendoapresentarestruturasdiferenciadasnotocantedistribuiodeclulasepresenadeneu-rniosespecializados.Poroutrolado,poucastarefassoexclusivasdeumadeterminadare-gio.Emgeral,tarefaspoucocomplexasjOFICINA DA MEMRIA37exigemacolaboraoderegiesvariadas,cadaumacontribuindodeumaformaparticular(Cohen,1999,pp.3-8).Outroaspectoaserdestacadoconsistenacarac-tersticadeconvergncia/divergnciadocircuitoneuronal,quepossibilitaumagrandevariabilidadedecombinaesdeconexes,nosnonvelcelular,mastambmnosistemadeneurnios,gerando,conseqentemente,inmerascombina-esdeatividadesnervosas.SegundoSanvito,o crebro humano consegue conciliar duas fun-es at certo ponto inconciliveis: especializa-oegeneralizao.Emboraaorganizaodocrebrocombineespecializaeseno-espe-cializaes, localizaes e no-localizaes, estergotemumaincrvelcapacidadedeintegrartodasasinformaesprocessadas.(Sanvito,1991,p.144)Almdisso,oSNCtrabalhacombinandoativida-desgeneticamentedeterminadascomoutrasmarcadamenteplsticas,quepossibilitamumaprogressivaimpregnaodotecidocerebralpeloambientefsicoecultural(Changeaux,1991,p.243).Dessemodo,alcanarefinadascombinaesquegarantemaohomemasobrevivncia,propi-ciamcondiesparaumcontnuoaperfeioamentoeumaextraordinriacapacidadedeadaptaosmudanasdomeioambiente.38 OFICINA DA MEMRIA.AmenteAmente,deacordocomAurlioBuarquedeHolanda (Ferreira, 1993), pode ser entendida comointeligncia;esprito;pensamento.E,paraCaldasAulete(Aulete,1968),comooentendimento,oesprito,aalma.Naverdade,oconceitodementeextremamenteobscuro.DesdeaAntiguidade,ouniversodospensamentosfocodedebates,origemdemuitascontrovrsias(Changeaux,1991,cap.1).Seriaocoraoafontedavidaqueen-cerra a inteligncia e os sentimentos? Seria a menteumaentidadeseparadadocorpo?Oqueseriamaalmaeoesprito?Teoriasantigasadmitiamqueocrebro,comoumaentidadematerialbemdefinida,poderiaserentendidomecanicamente.Amenteeravistacomoumaentidadeno-material,dissociadadocorpo,sinnimodealma.ComRenDescartes(1596/1650),odualismomente-corpopreconizadoporPlatosefirmou,influenciandovisesfilosficasecientficasatosdiasdehoje.Assim,bioqumicoseanatomistassevoltaramparaoestudodocre-broenquantoentidadefsica;ospsiclogosparaoestudodaspropriedadessubjetivasdamente,eoterritriodoespritoedaalmaficouporcontadosfilsofosetelogos.Numperodoanterior,paraosprecursoresdeScrates(dentreesses,Leucipo,DemcritoeParmnides),asconcep-essobreespritoematriaaindanosedistin-guemsemambigidade(noseriaummrito?)(Idem,p.16).DemcritoacreditavaexistirumaOFICINA DA MEMRIA39basematerialparaassensaesepensamentosassociadaspresenadetomospsquicosqueestariamespalhadosportodoocorpo.SegundoSilviaCardoso,amenteumadefinioquetentaresgataraessnciadohomem.Aessnciadeumapessoaemergedefunesmentaisquepermitemaelapensareperceber,amareodiar,aprenderelembrar, resolver problemas, comunicar-se por meiodafalaedaescrita,criaredestruircivilizaes.(...) Sem o crebro, a mente no pode existir, sema manifestao comportamental, a mente no podeserexpressada.(Cardoso,1999)DeacordocomGeraldFischbach(1992),amentecostumaserequiparadacomumsubjetivosensodeautoconscincia;mas,almdisso,osdesejos,ohumor, anseios e formas no-conscientes de apren-dizagemtambmsofenmenosmentais.ParaDamsio,umorganismopossuiumamentesecapazdeformarrepresentaesneuraisquepodemsetornarimagensmanipulveisnumprocessochamadopensamento(Damsio,1996,p.116),detalformaquelheconfiraacapacidadedepreverofuturo,planejaraese,assim,ajustarseucomportamento.EssasidiasjfaziampartedamentebrilhantedeEpicuro(ApudChangeaux,1991,p.133)naAntiguidade:Aalmaspensacomimagens.porquealgodosobjetosexterioresnospenetraquevemosasformasepensamos.40 OFICINA DA MEMRIA.ParaDanielDennett,nossasmentessotecidoscomplexos,criadoscommuitasfibrasdiferentesequeincorporammuitospadresdiferentes.Algunsdessesele-mentos so to antigos quanto a prpria vida eoutrostonovosquantoatecnologiadehoje.Nossas mentes so exatamente como as mentesdeoutrosanimaisemmuitosaspectosecom-pletamente diferentes em outros. (Dennet, 1997,pp.7-8)Comoaconhecemosepodemosteracertezadepossu-laumcaminhodeconhecimentomuitoparticular.Conhecemosamenteapartirdenossointeriorenopodemosexperienciaraexistnciadeoutramente.Nenhumoutrotipodecoisaconhecidodestamaneira(Idem,p.11).SegundoDennett,umamente,independentementedoqueseja,deversersemelhantenossamente,docontrrionoachamaramosassim.Muitosestudiososdenossapocaassumemoprincpiodequemesmooseventosmentaismaiscomplexosesutispodemsercorrelacionadoscompadresdeimpulsosnervososnocrebro.Des-vendarosmistriosdamente,apartirdessepris-ma,constituiumgrandedesafioparaosneuro-cientistasnaatualidade.NaspalavrasdeGeraldFischbach:Doconjuntodasatividadedetodasasregiesdocrebroemergeomaisfascinantedetodososfenmenosneurolgicos,amente(Fischbach,1992,p.51).OFICINA DA MEMRIA41Hoje,apsumvastonmerodedescobertassobreanaturezaneurobiolgicadospensamentos,An-tonioDamsiotraztonaaimportnciadopapeldocorponaconstruodamente,assimcomoemsuaparticipaonaatividadementalnocursodavida.AconcepodoEu,queproporcionasubjetividadesnossasvivnciasepossuiumcarternico,setornapossvelapartirdaplenainteraodoorganismocomoumtodo,comseuambienteinternoeexterno.Dessemodo,acle-brefrasedeDescartesPenso,logoexistocaiporterra,hajavistaque,emsuaconcepofilosfica,oatodepensarconsistenumaatividadeseparadadocorpo,estabelecendoumgrandeabismoentrementeecorpo.Maisadequado,segundoDamsio,serdizermosExisto(esinto),logopenso(Damsio,1996).Ummovimentoderetornoaconcepesmaisholsticassobreamentefaz-senotar. Resgatando as palavras de Parmnides (ApudChangeaux,1991,p.16):opensamentoeosersoumaeamesmacoisaOdesenvolvimentoOrecm-nascidopossuiumabagageminataquelheconfereaptidesnecessriassuasobrevivn-ciaeaoseuaperfeioamento.Essepequenosermobilizadoporestmulosoriundosdomeioambienteedeseuprpriocorpo.Suacapacidadeinataparaaprenderaospoucosvai-lhedandocondies de interpretar e teorizar. Assim, os dadossensoriaiscomeamasecristalizarempercep-es,experinciaseconhecimento(Poppere42 OFICINA DA MEMRIA.Eccles,1992,p.5),aprendendoadistinguiroEudono-Eu.Acapacidadedeinterpretarosdadoscaptadospelosrgosdossentidosseaprimoracomaatividadeaolongodotempo,detalformaqueoserhumano,emseudesenvolvimento,vaisetornandocadavezmaiscapazdefazerinter-pretaesmaissofisticadasesutis.Existemquatrolinhastericasprincipais,segundoFlavell(1999),11quetratamdodesenvolvimentocognitivo:adeJeanPiaget,adoprocessamentodeinformao,aneopiagetianaeacontextual,emquesedestacaopesquisadorsoviticoLevVygotsky.Aquinosetemapretensodeabor-darsatisfatoriamentecadalinhaterica,esimdestacaralgunsconceitosquenospossibilitemcaminhar no entendimento da mente humana. Valeressaltarque,emboratratemdanaturezaedodesenvolvimentocognitivocomenfoquesecarac-tersticasparticularese,portanto,emcertosas-pectos,existampontosconflitantes,essasvisesnosoexcludentes,levandoaquemuitospsic-logoscontemporneosoptemporcombin-las.UmadascontribuiesquesedestacamnaobradeJeanPiagetconsistenaformulaodomodeloassimilaoacomodaodofuncionamentocogni-tivo.Piagetidealizouumsistemacognitivomuitoativoquedessecontadainteraoentreumor-ganismoeummeioambientecomplexo,possibi-litandoaadaptaobiolgica.Emseumodelo,amentenorecebepassivamenteosestmulosdoambiente;selecionaeinterpreta,construindooOFICINA DA MEMRIA43conhecimento.Almdisso,amentesemprere-constriereinterpretaesseambiente,afimdeajust-loaoseureferencialinternopresente.Noprocessodeadaptaobiolgica,doisaspec-tosocorrem,simultneosecomplementares:aassimilaoeaacomodao.ParaFlavell(1999,p.11),aassimilaoessencialmentesignificaaplicaroquejsesabe.Interpretamoseconstrumososobjetoseeventosexternosemtermosdenossosmodospreferenciaiseatualmentedisponveisdepensarsobreascoisas.Assim,umajustequevisaaadaptarosestmulosexternossestruturasmentaisinternas.Aacomodaosignificaajustaroconhecimentoemrespostascaractersticases-peciaisdeumobjetoouevento.Notamoseconsi-deramos cognitivamente as vrias propriedades reaiserelaesentreaspropriedadesdosobjetoseeventosexternos,conscientizando-nosdosatribu-tosestruturaisdosdadosambientais(Idem).Por-tanto,consistenaadaptaodasestruturasinternasscaractersticasdeestmulosexternos.SegundoFlavell(1999),Piagetenfatizouaidiadequeamentevaiaoencontrodoambientedeumamaneiraextremamenteativa,autodirecionada,semmeio-termo.Deacordocomessaconcep-o, os conhecimentos, ao serem adquiridos, atuamnascapacidadescognitivasprvias,mudando-asqualitativamente,detalformaqueaseleoeotratamentodasinformaesambientaisacontecemdeumanovamaneira.Osistemacognitivo,acadasituaodesconhecida,aobuscarassimilareaco-44 OFICINA DA MEMRIA.modar,evoluiligeiramente,possibilitandonovascapacidadesassimilatriaseacomodatrias.Dessemodo,odesenvolvimentosedlentamente,pas-soapasso.Aabordagemdoprocessamentodeinformaesutilizaocomputadorcomoummodeloparaoestudodamentehumana.Amentevistacomoumsistemacomplexoquemanipulaeprocessainformaes,codificando, recodificando ou decodificando-a, com-parando ou combinando-a com outras informaes;armazenando-anamemriaourecuperando-aapartirdela;trazendo-aouretirando-adaatenofocal e da conscincia, e assim por diante. (Idem,p.14)Asinformaesprocessadassooriundasdomeioexternoousetratamdeinformaesarmazenadasanteriormentenoprpriosistema.Almdisso,sodetiposdiversoseorganizadasdeformasvariadasemtermosdeunidadesdetamanhoenveisdecomplexidadeeabstrao.DeacordocomFlavell,quantoaotipopodemserdenaturezadeclarativaconsistindoemconhecimentosobreossenti-dosdaspalavras,fatosesimilareseproce-dimentalconsistindoemconhecimentosobrecomofazerdiversascoisas(Idem).Comoexem-plodeprocessamentosdeordemsuperior,en-contramosoconhecimentodeeventos,scripts,categorias,planos,estratgiaseregrasutilizadasnaelaboraodepensamentosesoluesdepro-OFICINA DA MEMRIA45bl emas. Dessemodo, numasi t uaodeprocessamentodeinformao,atividadesmuitodiversaspodemestarenvolvidas.Naabordagemdoprocessamentodeinformao,odesenvolvimentoacontecescustasdemudan-asnaestratgiapredominantedoindivduo;denovascombinaesdoconhecimentojarmaze-nado;deautomatizao,pelaliberaoderecur-sosmentais;degeneralizaoparaoutrastarefasedeaquisioderegrasgeraismaiscomplexas.Asmudanasocorremnamaneiradepensarso-breastarefas,nohavendoadefiniodeest-gios(Idem).OsneopiagetianosseguemosprincpiosgeraisdavisodedesenvolvimentodePiaget,associadosincorporaodemuitasnoesdoprocessamentodeinformao.Umdospontosdedivergnciaconsistenapropostadosestgiosdedesenvolvi-mentodacrianadePiaget,pelofatodeessapropostanoconsiderar,devidamente,aexistn-ciadediversosfatoresqueinterferemnodesem-penho,comoanaturezadosmateriais,acomple-xidadedastarefas,ocontextosocial,otipodeinstruo,dentreoutros.Deacordocomessaconcepo,oindivduo,valendo-sederecursosinternoseexternosparasolucionarproblemas,desenvolvenovasestratgiaseutilizaestratgiasantigasadequadamente,alcan-andoestruturascognitivasmaisavanadas.Odesenvolvimento,portanto,vistocomooapri-46 OFICINA DA MEMRIA.moramentonacapacidadeparalidarcomumnmeromaiordecaractersticasdeumproblema.Emboraumgrandevolumedetrabalhosdaabor-dagemcontextual,representadopeloeminentepesquisadorsoviticoVigotsky,sejaoriginriodasdcadasde1920e1930,elestratamdequestesextremamenteatuais,contribuindo,emmuito,paraodesenvolvimentodaspesquisascontemporneas.Apesardeasabordagenscitadasanteriormenteconsideraremaexistnciadealgumainflunciaambientalnodesenvolvimentocognitivo,soscontextualistastrataramdessaquestoemprofundi-dade.Dentrodesseenfoqueterico,ospaisassu-mem um importante papel como mediadores do desen-volvimentodascrianas.Acrianavistaemseucontextosocial,formandoumanicaentidadecriana-contexto.Nombitodessalinhaterica,osdomnioscognitivoesocialestoprofundamenteligados.Doisnveisgeraisdecontextosocialsoidentifi-cados:oprimeiroomomentosocial,histricoeculturalnoqualacrianavive;osegundonvel,sociocultural,dizrespeitoaoambientemaispr-ximodacriana,consistindonoambientedafa-mlia,daescola,doseudia-a-dia.Atumcertoponto,ospersonagensquecompemessesam-bientes(professores,amigos,irmos,figurassigni-ficativasetc.)atuamcomomediadoresdoprimeironvel.Masalmdissoospais,porexemplo,pos-suem,emqualquerculturaoucontextohistrico,contribuiesparticularesqueexpressamseusvalores,suassingularidades,crenasecompetn-OFICINA DA MEMRIA47cias.Osadultos,assim,atuariamcomoincenti-vadorescognitivos(Idem,p.20),aoorientarem,aoseremmodelos,aodesafiaremeorganizaremas atividades das crianas. A criana um aprendizeportantotemacessonosexpressodeca-pacidadesehabilidades,mastambmaosaspectosocultos:asestratgiasinternaseospensamentos.Acriana tem um papel ativo, aproveitando as oportu-nidadesparaousodeseusconhecimentoseodesenvolvimentodenovasestratgias.ParaVigotsky(1998,pp.161-162),odesenvolvi-mentoum complexo processo dialtico caracterizado pelaperiodicidade,irregularidadenodesenvolvimentodasdiferentesfunes,metamorfoseoutransfor-maoqualitativadeumaformaemoutra,entre-laamento de fatores externos e internos e proces-sosadaptativos.Segundoele,ohomemparticipaativamentedaconstruodesuaexistncia,estandoimersonumcontextoculturalehistricoemtransformao,dotadodeumorganismocomaltograudeplasticidade.UmadasgrandescontribuiesdeVigotskyfoiacriaodoconceitodazonadedesenvolvimentoproximal,queconsistenadistncia entre o nvel real de desenvolvimento (dacriana)determinadopelaresoluodeproblemas48 OFICINA DA MEMRIA.independentementeeonveldedesenvolvimentopotencial determinado pela resoluo de problemassoborientaodeadultosouemcolaboraocomcompanheirosmaiscapacitados.(Idem,p.175)Onveldedesenvolvimentorealdeumacrianadefinefunesquejamadureceram,eazonadedesenvolvimentoproximaldefinefunespresen-tesqueaindanofinalizaramseuprocessodematurao.ParaVigotsky,osprofissionaisdareadeeducaodeveriamaprofundarsuasanlisesnosprocessosinternosdodesenvolvimentoe,comomediadores,investirnascapacidadesefun-esemergentes(zonadedesenvolvimentoproximal)dosestudantes.ParaBaltes,ReeseeLipsitteLerner(ApudNeri,1995,p.25),quatroconcepestratamdanatu-rezadaprogressodasmudanascognitivasnodesenvolvimento:adeestabilidade(segundoessaconcepo,nohaveriamudananospadresindividuaisaolongodavida);ademudanaor-denada(representadaporPiaget,FreudEriksoneoutros);acontextualista(citadaanteriormente)eaflexveloudialtica.Aconcepodialtica,segundoAnitaLiberalessoNeri,consideraodesenvolvimentocomoprodutodainteraoentreeventosnormativoseno-normativos.Osprimeirossodenaturezaonto-gentica,eassimgraduadosporidade(influnciaOFICINA DA MEMRIA49biolgica)eporhistria(influnciassociais).Oseventos no normativos so aqueles cuja ocorrn-cia no pode ser prevista para a mesma poca davida da maioria dos indivduos de um determinadogrupo etrio, ou seja, tm ocorrncia idiossincrtica.Podemserbiolgicos(exemplo:doenas);ecol-gicos(exemplo:acidentesnaturais);histrico-cul-turais(exemplo:guerras,migraesemmassa);sociais(exemplo:alteraesnosistemaescolar)efamiliares (exemplo: divrcio dos pais) dentre outrasfontesdeinfluncia.Esteparadigmapresideaperspectivalife-spanoudecursodevidaempsicologiadoenvelhecimento.(Neri,1995,pp.25-26)OdesenvolvimentobaseadonateoriadecursodevidaParaalgumasconcepestradicionaisdedesen-volvimento,asmudanascognitivasseprocessamemestgioseodesenvolvimentocessanaadoles-cncia,restandoodeclnioparaavelhice.Umdospontos-chavequeaperspectivadocursodavidasepropsatratarfoiaconciliaoentreenvelhe-cimentoeodesenvolvimento.Navisotradicio-nal,odesenvolvimentoconsideradosomenteemtermosdeganhosecomoummovimentounidirecionalrumomaturidade.ParaBaltes,aconcepoemergenteadequeodesenvol-vimento comporta simultaneamente ganhos e per-50 OFICINA DA MEMRIA.das. A posio central dos psiclogos de curso devida que no h ganho sem perda, e nem perdasemganho.Odesenvolvimentosempremultidirecionalemultifuncional.(Baltes,1995,p.11)Aconcepodecursodevidasebaseianastra-diescontextualistaedialtica.Negaaproposi-odemudanasemestgios,considerandoavelhicecomoumaexperinciaheterognea,comcartermarcadamenteindividual.ParaAnitaNeri(1995,pp.31-32),a aquisio, a manuteno, o aperfeioamento e aextino dos comportamentos sociais e cognitivossoprocessosquepodemoriginar-setantonainfnciainicial,comonavidaadultaenavelhice(...) [sendo que] nem todas as mudanas do desen-volvimentosoligadasidade.Estespodeminiciar-seemqualquerfasedavidaeseremdiferentesemtermosdetrmino,deduraoedireo.Almdisso,osprocessosdedesenvolvimentonavidaadultasomaiscomple-xos,havendomarcantesdiferenasentreosindi-vduos,tornando-semais niveladas as diferenas intra-individuais, gra-asprincipalmenteinflunciadoseventosno-normativos.Ocorreriatambmumaumentodadescontinuidadenodesenvolvimento,namedidaemqueosdiferentesdomniosdascapacidadesOFICINA DA MEMRIA51podemdesenvolver-seemritmos,pocasedire-esdiferentes.(Idem,p.32)DeacordocomChangeaux(1991,pp.274-275),podemosimaginarqueocrebro,comseusmi-lharesdemilhesdeneurniosligadosentresipor uma imensa rede de cabos e conexes, parecepossuirpossibilidadescombinatriassuficientesparajustificarascapacidadeshumanas.Essascapa-cidades,segundoaperspectivadecursodevida,sodesenvolvidasaolongodavida,havendoumavariabilidadeintra-individualnodesenvolvimentoeemsuaspotencialidadeselimites(Neri,1993,p.95),estandoodesenvolvimentoeaplasticidadeindividualsobaaodascondieshistrico-culturais.Dessemodo,asingularidadedecadaserhumanofrutodecursosdevidaindividuaisresultantesdainteraodetrssistemasdeinfluncia,confor-meaperspectivadateoriadecursodevida,odegradaoporidade,osprovenientesdocontextohistricoeoseventosnonormativos.Amente,portanto,umaentidadequedesdeonascimentovaisendoconstruda,apartirdainteraodepredisposiesinatasdocrebro,oumelhor,doorganismocomoumtodo,parasentireaprender,eosestmulossensoriaisqueodesa-fiamatrabalharparainterpret-los.Assim,oorga-nismogradualmentesedesenvolveeconquistaaconcepodeSer,conseguindodistinguir-sedomundoqueocerca.Nocursodesuavida,oser52 OFICINA DA MEMRIA.humanoprosseguedandocontinuidadeaumaconstruoqueseencerraapenascomofimdesuaexistncia,poisacadamomento,acadanovavivncia,conscienteounodesseprocesso,no-vasperspectivaseidiassolanadasnosceleirosdesuabagagemexistencial,incorporadascomoumasuavebrisademudanasemsuanatureza.Aaprendizagem,portanto,umamarcadarelaodohomemcomseumeioambienteeconsigomesmo.SegundoEccles,tudonavidaaprendi-do.Estamosaprendendoafazerasmaishabilido-sasinterpretaesdoquenosfornecidopornossosrgosdossentidos(PoppereEccles,1992,p.14).Diferentementedosoutrosanimais,oserhuma-no,nutridodeintensacuriosidadeedesejodesaber,ampliousuasaptidesparatrabalharcomobjetosmentais,desenvolvendoplenamenteaconscincia,alcanandoaautoconscincia.ParaEccles,aconscincianochegaaohomemcomoumtodo,masacadahomemindividualmenteemseuprpriotempodevidadainfnciaemdiante(Idem,p.39).AcognionoenvelhecimentohumanoAssim como ns envelhecemos, as estruturas neuraisenvolvidas na aprendizagem, memria e raciocniosofremumcertonmerodemudanasfsicas.Porm,taisalteraesnonecessariamentesinali-zam uma inevitvel marcha lenta para a demnciae a morte. Indivduos idosos que permanecem emOFICINA DA MEMRIA53boa sade mostram somente um sutil declnio nasfunescognitivas.DennisJ.Sekoe(1992)Ocampodeestudosdacognionoenvelheci-mentohumanoaindaimaturo,sendorelativa-mentepoucososdadosconfiveisoriundosdaspesquisas.Novasperspectivasseabremcomaemergnciadocampodaneurocinciacognitiva,naqual,pormeiodeumintercmbiofrtilentreapsicologiacognitiva,aneurocinciacompor-tamentaleosmodeloscomputacionaisdocom-portamento,substanciaisganhoscomeamasur-gir,favorecendoainovaodetcnicasdeavali-aodaperformance,perspectivasinovadorasparaorganizaodosresultadoseaconstruodeteoriasmaisrigorosasqueexpliquemosachados(Hartley,1992,pp.39-40).Aseguirseroabordadas,sucintamente,algumascategoriasconceituaisrelativascognio,afimdequesepossatratardeaspectosrelevantesdodesempenhocognitivonoenvelhecimento.AtenoTodossabemoqueateno.Elaumprodutodamente,umaformavvidaentidadeoindiv-duo se afastar dos possveis inmeros objetos quesurgemsimultaneamenteoudotremdepensa-mentos. Focalizao, concentrao, autoconscinciasosuasessncias.Issoimplicaoabandonode54 OFICINA DA MEMRIA.algumas coisas a fim de que se possa, efetivamen-te,ocupar-secomoutras.WilliamJames12Essadefinio,criadaem1890porWilliamJames,noslevaarefletirsobrearicavariedadedefen-menosquecompreendemaateno. Dentrees-ses,doisaspectossedestacam:suaatuaocomoumfiltro,processoativodeselecionarinforma-esquesejamconsideradasprioritrias;esuafunoexecutiva,quecoordenaarealizaodetarefassimultneas.Seimaginarmosumindivduodirigindonumaviacomtrnsitointenso,numlugardesconhecidoporele,procurandoumaruaespecfica,diversospro-cessosestaroocorrendosimultaneamente.Deverficaratento,olhandoasplacasnasesquinas,monitorarotrfico,ajustandosuavelocidadeeposicionamentonavia,estaratentoaomovimentodospedestres.Essesprocessosparecemacontecerquaseauto-maticamente,excetoquandosurgemerros,comonocasodeseengatarumamarchainadequada.Nessesmomentos,nosdamoscontadequede-verhaverumafunoexecutivaparaadministrarastarefassimultneas.Existemmudanassignificativasnaatenonocursodoenvelhecimento.Lapsosdeatenopo-demserperigosos.Se,paraprocurarasplacasOFICINA DA MEMRIA55comnomesderua,osujeitodeixardeprestaratenoaosmovimentosdospedestres,poderacontecerumacidenteatfatal.Entreosidososcostumamsermaisfreqentesacidentesdevidoneglignciadaatenoparainformaesre-levantes(PlanekeFowler,1971apudHartley,1992,p.5).Osproblemasnodia-a-diadecorrentesdefaltadeatenoaumentamcomaidade.Assim,torna-sei mport ant eacompreensodasmudanasassociadasaoenvelhecimento,aidentificaodefatoresinterferentesnodesempenhodosadultosi dosos, odesenvol vi mentodetcni casdeotimizaodascapacidadesatencionaiseoesta-belecimentodeparmetrosderisco,visandoaodesenvolvimentodenormasdeprevenodeacidentes.Hfortesevidnciasquesustentamaconcepode uma organizao modular para a ateno. Existeumavariedadedediferentesestruturasesistemas,mediadospordiferentesneurotransmissores,querespondempelasfunesatencionais.SegundoAlanHartley,parece pouco provvel que exista uma fonte geraldeatenoequeestamudeuniformementecomaidade.Oenvelhecimentoacompanhadoporperdaneuronalemcertasreas(comolocuscerleo),poraumentodeclulasdaglia,pordiminuiodedendritoseespinhasdendrticas,pelareduodealgunsneurotransmissores(...).56 OFICINA DA MEMRIA.Dadaaamplavariedadedemudanasemmuitosnveisdiferentes,poucoprovvelqueasmu-danasdaidadenosmdulosquecompemaatenosejamuniformesemsuamagnitude,tem-poeefeitosqualitativos.(Hartley,1992,p.10)Poroutrolado,segundoomesmoautor,aose-remexaminadastarefascomplexasqueexijamacontribuio de muitos mdulos de processamento,pode-seobservarumdeclnioamploegradualquesurgecomaperdadealgumrecursogeral.Noexisteumateoria,athoje,quedcontadeexplicarasmudanasqueocorremnosdiversosfenmenosqueconhecemoscomoateno,nocursodavida.Umateoriaquenorestritaateno,masqueconsegueemgrandepartedarcontadessedesafio,sustentaqueasdiferenasligadasidadeseriamsimplesmenteexpressesde uma lentificao global nas operaes cognitivas,ejustificaoutrasdiferenasobservadascomodecorrentesdeartefatoscriadospelosprocedi-mentosdetestagem.Umadasversesdessateoriaespecificaqueomecanismoresponsvelpelalentificaoestariarelacionadodiminuiodavelocidadedetransmissosinpticaouperdadeinformaoacadatransmisso.MemriaAmemriaumacomplexafunomentalquepossibilitaaoorganismooregistroeaconserva-odeinformaesadvindasdasexperinciasOFICINA DA MEMRIA57vividas,assimcomooseuresgateaqualquermomento.Paraissonecessrio,inicialmente,queosdadosatinjamosistemanervosoe,emseguida,sejamcodificadosdetalformaquesetornempassveisderecuperao.SegundoXavier,a memria compreende um conjunto de habilidadesmediadas por diferentes mdulos do sistema nervosoquefuncionamdeformaindependente,pormcooperativa.Oprocessamentodeinformaesnessesmdulosdar-se-iadeformaparalelaedis-tribuda,permitindoqueumgrandenmerodeunidadesdeprocessamentoinfluencieoutrasemqualquermomentoetempoequeumagrandequantidadedeinformaessejaprocessadaconcomitantemente.(Xavier,1996,p.107)Aatividadedamemriaseestendealmdoslimi-tesdacognio,interagindonaintimidadecomoutrasfunessuperioresafeto,motivao,criatividadeebsicasligadasmanutenodoequilbrioorgnico.Dentrodessaperspectiva,amemriacompeainteligncia,apersonalidade,aintegridadedenossasclulaseanossaevolu-o.Nelaresidemoselosdenossaconstruopessoal,impregnadosdeafeto,dandosentidosnossasvidas.Dessemodo,aineficciadasfun-esmnsicaspoderepresentarparaoindivduoapossibilidadedequebradasuaidentidadepes-soal,dacapacidadedeinteragircomeficcianomundo,degerirsuaprpriavida,eseraexpres-58 OFICINA DA MEMRIA.sodeumadoecimentonoplanofsicoe/oumentale/ouemocional(Guerreiro,RodrigueseMartins,1997).Serotratadosaseguirosprincipaistermosutili-zadospelapsicologiacognitivaparaoestudodamemria.Amemria,emsuadimensotemporal,podeserdivididaemcategoriasdeacordocomoconceitodeestgiosdearmazenamentomemriasenso-rial,memriadecurtaduraoouprimria,me-mriaoperacionalememriadelongaduraoousecundria.Memriadecurtaduraoouprimria(VanderLindeneHupet,1994,p.37)Refere-seaumcomponentedamemriacapazdeestocarinforma-esduranteumbreveperodoapsteremsidopercebidas.Possuicapacidadelimitada(podendoserestimadapormeiodetarefasdespan), sendosuaconcepodeestocagempassivaeunitria.Memria operacional13 Refere-se ao arquivamentotemporriodainformaoassociadoaodesenvol-vimentodediversastarefascognitivas.Estrelacio-nada,portanto,estocagemdecurtadurao,assimcomomanipulaoetratamentodainfor-mao.Constitui-senumsistemadecapacidadelimitadaecommltiploscomponentes,contandocomumexecutivocentralresponsvelpelocon-troledaatenoeoutrossistemasauxiliares,res-ponsveispeloarmazenamentoemanipulaodasOFICINA DA MEMRIA59informaes.Doisdessessistemasforammaisbemestudados,umdenaturezavisualespacialeoutrodenaturezafonolgica(Idem,p.40).Memriadelongaduraoousecundria14 relativaaprocessosderesgatedeinformaesquejnomaisestejamnaconscinciadomo-mentopresente.Omaterialaserresgatadopodetersidoadquiridoanosantesouapenassegundosantes(Craiketal.,1995,p.213).DeacordocomSquire(1992apudBaddeley,1995,p.15),podemosdistinguirdoistiposbsicos(sis-temas)dememriadelongadurao15constitu-dosporsubsistemas:amemriadeclarativa(ex-plcita)divididaemsemnticaeepisdicaeamemrianodeclarativa(implcita)constitudaporhabilidades/hbitos,pr-ativaooupriming,condicionamentoclssico,aprendizadono-associativo.Memriaimplcitareveladaquandoaexpe-rinciaprviafacilitaodesempenhonumatarefaquenorequeraevocaoconscienteouinten-cionaldaquelaexperincia(Schacter,1987apudXavier,1996,p.119).Memriaexplcitareveladaquandoosmeca-nismosdeevocaodependemdeumareflexoconsciente(Degenszajn,1996,p.139).MemriaepisdicaMemriasrelacionadasacontextosautobiogrficosespecficos.60 OFICINA DA MEMRIA.MemriasemnticaMemriasrelacionadasaoconhecimentoqueosujeitopossuiacercadomundo,queserevelamdeformaindependentedocontextoemqueseprocessouoaprendizado.Outraabordagemtericaquefavoreceacom-preensodasmudanasdamemrianoenvelheci-mentoconsistenomodelodeprocessamentodeinformaes.Nessemodelo,consideram-seasope-raesdetratamentoefetuadasnosmomentosdacodificaoedarecuperaodeumainformao,assimcomoaexistnciadecondiescontextuaisinterferentes(ambiental,cognitiva,emocionaletc.).Almdostiposdememriadescritosacima,exis-temoutros,asaber:memriaprospectiva,mem-riaremota,memriaespacial,metamemriaetc.MemriaprospectivaConsistenamemriane-cessriaparaoplanejamentoerealizaodeati-vidadesfuturas,tendocomoumelemento-chaveaoportunalembranaparaodesencadeamentodaao.MetamemriaSegundoCraiketal.(1995,p.231),oconceitoabrangetrsdiferentesproposi-es:auto-avaliaodascapacidadesdememria;conhecimentoacercadamemriaedousodeestratgiasmnemnicas;habilidadedeacessarsuaprpriacapacidadedememriaemao.Memriaremotaumtermovago,deusocorrentenaclnica.Refere-secapacidadedoOFICINA DA MEMRIA61indivduopararelembrardeeventosdeumpas-sadodistante.Apsessabreveintroduoconceitual,serdadoincioaorelatodosachadosdestacadosnaspes-quisasquesepropemaestudaramemrianoenvelhecimento.Osresultadosdosestudosvmconfirmandooquejfoiconstatadopelosensocomum:existeumsuavedeclniodamemrianoenvelhecimen-tonormal.16 Essedeclnio,noentanto,nosedemtodososmdulosquecompemamemria.Almdisso,oritmoeaintensidadedocompro-metimentovariamentreosmdulosquedecli-nam,assimcomoentreosindivduosdeumamesmafaixadeidadeegraudeescolaridade.Importantesfatores,noligadosidade,atuamcomointerferentesnodesempenhodemem-ria(experinciaprofissional,motivao,condi-esdesadeetc.)evmsendoestudadospordiversos pesquisadores (Van der Linden e Hupet,1994,p.329).Existemfortesevidnciasquesugeremnohaverdiferenas significativas na memria primria (CraikeRabinowitz,1984apudCraikeSalthouse,1992,p.57).Poroutrolado,amemriaoperacionalapresentaquedaemsuaeficcia,possivelmentepor conta da menor capacidade de armazenamentoe,principalmente,pormenorcapacidadedeprocessamentodeinformaes(Salthouse,1991apud Craik e Jennings, 1992, p. 64). Essas mudanas62 OFICINA DA MEMRIA.poderiam,emparte,seratribudasmenorvelo-cidadedeprocessamentoe,poroutro,menorcapacidadedecoordenarascorrentesdemandasdearmazenamentoeprocessamento.Tudoindicaqueasdiferenasdememrialigadasidadeaumentamnamedidaemqueaumentaacomplexidadedastarefa(VanderLindeneHupet,1994,p.68),evidenciandoummenorpodereflexibilidadedoexecutivocentral.Umaoutraexplicaopossvelparaessasdiferen-asfoisugeridaporHashereZacks(1988apudCraiketal.,1995,p.215).Segundoessesautores,afaltadeinibionoprocessamentodamemriaoperacionalfavoreceriaodevaneioeamaiorvulnerabilidade e distrao. Assim, os idosos, sendomenos capazes de ignorar informaes irrelevantes,teriamumareduodacapacidadefuncionaldamemriaoperacional,vivenciando-acomodificul-dadedeconcentrao(VanderLindeneHupet,1994,p.72).Ostranstornoscognitivosmaisfreqentementeobservadospelosidososequesomotivosdequeixasdizemrespeitosfalhasnofuncionamen-todamemriadelongadurao(MLD).Tentarrecordar um nome especfico, um nmero ou local,quandosolicitado,podeserembaraoso.Ostra-balhos(Craiketal.,1995,p.217)nessareasugeremqueacapacidadedearmazenamentonoapresentasignificativamudanaeocom-prometimentodaMLDseriadecorrentedeOFICINA DA MEMRIA63perdasnosprocessosdecodificaoeresgatedeinformaes.Os estudos mostram que o processo de codificaonoidososeddeumamaneiramaispobre,semumprofundotratamentosemntico,resultando,emconseqnci a, numafracael aboraodiscriminativa.Dessemodo,oprocessoderesgatedainformaolivrerecordar,recordarcompis-tas,reconhecimentotambmcomprometido,expressando-sedeformaineficiente.MaiordeclnionaperformancedaMLDobser-vadoentreidosos,quandosooferecidaspoucasorientaesparaaexecuodatarefaepoucosuporteparaasoperaesderesgate.Oresgatedeinformaosempistas,freerecall,olivrerecordar,mostra-semaisdeficitriodoqueacapa-cidadedereconhecimento,possivelmenteporque,noltimocaso,areapresentaodainformaofavoreaodesencadeamentodasoperaesmen-taisapropriadas.Existemfortesevidnciasdequeamemriaim-plcita(no-declarativa)memriadosprocedi-mentosnecessriosparasedirigirumcarro,fazerumaligaotelefnicaetc.nosejaafetadapeloenvelhecimento(CraikeJennings,1992,p.95).Notocantememriasemntica,osachadosre-velamumamnimadiferenaemsuafuno.Jamemriaepisdicaclassicamenteconhecidacomoumafunodeclinante(Idem,p.96)Exemplo:Ondeestacioneimeucarrohoje?.64 OFICINA DA MEMRIA.Amemriaprospectivatemumagrandeimportn-cianodia-a-diadoidoso.Tomarmedicamentos,cumprircompromissosestabelecidos,sereficaznousodeeletrodomsticos(lembrandodeligaredesligaroportunamenteosaparelhos)sotarefasrelacionadascomamemriaprospectiva.Osadul-tosidosos,comfreqncia,sesaemmelhornes-sastarefasdoqueosadultosjovens,provavel-mente por levarem as tarefas mais a srio e, assim,costumamutilizarrecursosexternoscomonotas,lembretes,listas.Emsituaesquenopossamlan-armodessesrecursososidososapresentamumdesempenhoinferior(Craiketal.,1995,p.227).Emboraosidosostradicionalmenterelatemumagrandefacilidadeparaserecordaremdeeventosacontecidosnumpassadodistantememriaremota,valorizandoaslembranascomosendomuitoprecisasevvidas,aliteraturacientficanotemconfirmadoessaassertiva.Quandoosindiv-duossotestadosquantomemriaparaeventospblicosouacercadepersonalidadesfamosas,evidencia-seumdeclniodaperformancedememriadopresenteparaopassado.Quantomemriaparaeventosautobiogrficos,emfunodasdificuldadesmetodolgicasparaarealizaodasinvestigaes,noexistemprovasconvincen-tes,atomomento,dequeoseventosocorridosnainfnciasejammaisbemresgatadosdoqueoseventosdeumpassadomaisprximo.ExistemalgumasquestesaseremlevadasemcontaaoconsiderarmosoestudodamemriadeOFICINA DA MEMRIA65eventosautobiogrficos:aslembranasdopassadonosoescolhidaspelopesquisadore,emgeral,estoassociadasaumaimportantecargaemocio-nal;almdisso,aslembranasrelatadasjforamrecordadasemoutrosmomentosdopassadoe,assim,foramreforadas,reconstrudaseatdistorcidas.Cermak(1984apudCraiketal.,1995,p.226)sugeriuquepormeioderepetidassituaesderecordaoaslembranasautobiogrficassetor-nariamcristalizadaseassumiriamcaractersticasmaisprximasdamemriasemnticadoquedaverdadeiramemriaepisdica.IntelignciaDe acordo com Weschler (1954 apud Vargas, 1994,p.47),podemosentenderaintelignciacomooconjuntooucapacidadeglobaldoindivduoparaagir intencionalmente, pensar racionalmente e atuareficientementeemseumeioambiente.Stenberg,nadcadade1980,descreveuateoriatrirquicadainteligncia.Emsuaconcepo,aintelignciaenglobatrselementosimportantes:ocontexto,aexperinciaeoscomponentes(asestruturaseosmecanismosportrsdaintelign-cia).Paraele,osegredodotalentoresidenasrevelaessbitasouinsights,jque,segundooautor,asprincipaisconquistascientficas,artsticasefilosficasenvolveminsightsintelectuais,eexpli-ca:oimportantecomovocpensaaquali-66 OFICINA DA MEMRIA.dadedopensamentonooquevocsabeouoquantovocsabe,ouoquantovoccapazdeabsorver(Stemberg,1985apudVargas,1994,p.46).SegundoGardner(1994),umaintelignciaacapacidadederesolverproblemasoudecriarprodutosquesejamvalorizadosdentrodeumoumaiscenriosculturais.Paraoautor,existiriamdiversasintelignciasrelativamenteindependentesumasdasoutras(inteligncialingstica,musical,lgico-matemtica,espacial,corporal-cinestsica,pessoal).ParaMarsylBulkool(Mettrau,1994,p.20),aintelignciacontinuasendoumconceitomuitogenrico,ambguoededifcildefinio.Podeserentendida como a soma de capacidades, tais como:aprendizagem,raciocnio,memria,adaptaoaoambiente,motivaoeesforo.Aautoraconcebeumainteligncianicaquepodeserexpressadediferentesformas,pormeiodecomportamentoscognitivos,criativoseafetivos(Mettrau,1998,p.63).Umadasmaneirasdeserepresentarodomniodainteligncia,equenosproporcionaumaestruturaadequadaparaaanlisedasmudanasassociadasidade,consistenaduplacategorizaodospro-cessosdaintelignciaadotadaporBaltes.Nessemodelo, Baltes justaps os conceitos de intelignciafluidaemecnica,17bemassimcomoodeinteli-gnciacristalizadaeapragmticadossistemascognitivos.OFICINA DA MEMRIA67Balteseseuscolaboradoresconceberamamec-nicacognitivacomoohardwaredainteligncia,quecorrespondearquiteturaneurofisiolgicadocrebro.Essacategoriacompreendeosprocedi-mentosdependentesdaevoluoeaspossibilida-desdamenteadaptada.Emtermosoperacionais,essaconcepoenvolveavelocidadeeapreci-sodosprocessoselementaresdoinputdainfor-maosensorial,amemriavisualemotora,eosprocessosdedi scri mi nao, comparaoecategorizao(Idem).Assimsendo,amecnica(fluida)dizrespeitointelignciacomoproces-samentobsicodainformao,sendodetermina-dapelaheranagentico-biolgica.Poroutrolado,apragmticacognitiva18foicon-cebidacomoosoftwaredamente,dependentedacultura.Estassociadaaoconhecimentofactualeproceduralsobreomundoeosassuntoshuma-nos,osquaissoadquiridosemfunodaparti-cipaodoindivduonoprocessodesocializaoempreendidopelacultura(Idem).Apragmtica(cristalizada) diz respeito inteligncia como conhe-cimentocultural,sendodeterminadapelainflun-ciasociocultural.Essaduascategorias,amecnicaeapragmtica,nosomutuamenteexcludentes.Defato,aprag-mticadecorredamecnica,enquantoamecnicasofreinflunciasdapragmtica.Nocursodevida,esperadoqueamecnicacognitivaapresentedeclnio.Issovistocomo68 OFICINA DA MEMRIA.inevitvel,jqueessacategoriarefleteosfatoresbiolgicos,genticosedesade,apresentandocomoenvelhecimentomudanasassociadasaodeclniobiolgico.Japragmti cacogni ti vapodeapresentarprogressomesmoemidadeavanada,apesardodeclniodamecnica.Acredita-seque,noenvelhecimentobem-sucedido,oaprimoramen-todaintelignciapragmticaporintermdiodoenriquecimento cultural agiria compensando par-cialmenteasperdasdeordembiolgica,dan-doassimcondiesparaumbomfunciona-mentocognitivo.Ummelhorsoftwarepodeconduziraummelhordesempenho,mesmoqueohardwaresejadepiorqualidade(Idem,p.30).OutrascaractersticascognitivasProvavelmentenoexistemmudanasassociadasidadenotocanteaoconhecimentosemntico.Osidososapresentamdificuldadesnaevocaodepalavras,possivelmentepelocomprometimentodoacessolexical.Emtarefasdeassociaodepalavras,odesempenhodejovenseidososcompatvel(Light,1992,p.133).Parecenohavermudanascomaidadenacapacidadedecompreensodeconceitosenemnoplanejamentodeaesrelacionadasaativida-desexecutadasnodia-a-diaporgrandepartedaspessoas(Idem,p.128).OFICINA DA MEMRIA69Aoseremavaliadosquantoaestratgiasaseremusadasparaaresoluodeproblemasassociadosasituaesestressantes(envolvendoperdas,ame-aasedesafios),demonstrarampontosdevistasemelhantesaosjovens.Nodomniodasrelaesinterpessoaiseemsituaesenvolvendoques-tessociaise,especialmente,emassuntoscon-trovertidosdaexistnciahumana,foidemons-tradoqueosidososexpressammaioramplitudederaciocnioaoconsideraremperspectivasal-ternativas,e,portanto,ummelhorjulgamento,caractersticasessasassociadaspresenadasabedoria.Idososapresentamincrementodamemriaedeinfernciaspragmticasaoanalisaremnarrativasacercadesituaesdevida(Idem,p.153).Segun-doVargas,emrelaomemriadoidoso,deve-mosconsideraraindaquenomes e nmeros impessoais so menos lembrados;oindivduoquenajuventuderetmmalcertascoisas,geralmenteaquelasquedevememorizar,ter mais dificuldades com o avanar da idade; ata idade de 60 anos, as aptides mnemnicas ficammais ou menos intactas. S depois que comeamasedesgastar.(Vargas,1994,p.45)Almdisso,deacordocomJaspers(ApudVargas,1994,p.45),asvivnciasprazerosasconservam-secommaisfacilidadedoqueasvivnciasdesagradveiseestasmaisdoqueasvivnciasindiferentes.70 OFICINA DA MEMRIA.Odesempenhodeidosos,segundoBaltes,marcadament ecompromet i doquandoest relacionadoreaprendizagem,reviso,oulembranasdeinfor-maes recentes. Deixar de lado o que passou, demodo que uma nova aprendizagem possa efetiva-menteocorrerparecemaisdifcilparaidososdoqueparaadultosjovens.(Baltes,1994,p.29)Adultosidososutilizamoconhecimentogeralacercadomundo,assimcomoosjovens.Ambossosensveisaosdiferentesusosdapalavraemcontextosparticulares,taiscomoosignificadodesentenasmetafricas,ousodapalavranumsen-tidoconotativoetc.(Light,1992,p.152).DeacordocomGuyLorieseJeanCoutern(1994,p.227),acompetnciadosidososparalidarcomcertosproblemascotidianospareceestarmaisrelacionadascaractersticasdesuapersonalidadedoquedesuainteligncia(numsentidoestrito).Defato,comoavanardaidadeasdiferenasindividuaisseacentuameobservam-seentreosidososcompetnciasvariadasnarealizaodecertastarefas(Fevereisen,1994,p.293).Baltesecolaboradores(1994,pp.350-351)estu-daramarespostadeadultosidososatcnicasdeinterveno para melhoria de funes classicamenteconhecidascomodeclinantesnoenvelhecimentomemorizaodelistadepalavrascomomodeloprototpicodeintelignciafluidae,apsinme-OFICINA DA MEMRIA71rostrabalhosquecomprovaramaplasticidadecognitivadeidosos,direcionaram-seaoestudodoslimitesdessaplasticidadeeproporcionaramumsaltonestareadeconhecimento,aodefini-remalgunsconceitos: Desempenhobasal:desempenhoobservadoquandoumindivduorealizaumatarefasobcon-diesstandarddeavaliao; Capacidadedereservabasal:expressapormeiododesempenhoqueoindivduopodealcanarquandorealizaumatarefasobcondiestimasdeavaliao; Capacidadedereservapotencial:expressaporintermdiododesempenhoalcanadonarealizaodetarefa,apsoindivduoter-sesubmetidoin-tervenoparaotimizaodefunescognitivas.19Aconstataodenveisdiferentesdedesempe-nhocognitivo,dependentesdascondiesdeavaliaotimasouno,empartepodeex-plicarasdiferenasencontradasnosresultadosdepesquisasquesepropunhamaestudaressasfun-esemadultosidosos.Outroaspectoasercon-sideradoacomprovaodaexistnciadecapa-cidadespotenciais,quesemantmesperadeadequadosestmulosparasuaexpresso,aolon-godavida.SegundoNeri,h interessantes dados de pesquisas indicando queasperdasdamemriapodemsercompensadas72 OFICINA DA MEMRIA.por treino mnemnico, que ter melhores resulta-dos se a pessoa, mesmo de idade avanada, tiverboascondiesbiolgicas.(Neri,1995,p.34)Emseusestudos,Balteseseuscolaboradoresvmobservandoqueasmaioresdiferenasentreadul-tosjovenseidosossaudveisencontram-senoslimitesdascapacidadesdereserva,isto,namag-nitudedamelhoriaapsarealizaodeinterven-esdeotimizaocognitiva.Cabe-nosressaltarqueessesestudosapontamparaapossibilidadedeido-sossaudveis,apstreinamentos,poderemalcanarosnveisdedesempenhodeadultosjovensquenotenhamsidosubmetidosaostreinamentos,favorecendo,portanto,amanutenoeoaprimo-ramentodehabilidadesprprias,toimportantesnamanutenodaautonomianocursodavida.MartialVanderLindeneMichelHupet(1994,p.329),aofazeremumarevisobibliogrficasobreoassunto,afirmamqueasdiferenasnofuncio-namentocognitivoligadasidadepodemvariaremfunodevriosfatores,entreosquais:1)osfatoresprpriosaosujeitoseunvelesco-lareintelectual,suamotivao,seugraudeativi-dade,seusconhecimentosprviosconcernentestarefaaserempreendidaouaomaterialasertratado,suasade,suapersonalidadeetc.;2) os fatores ligados ao material a ser tratado suariqueza,suadificuldade,suaestrutura,suaorgani-zaoetc.;OFICINA DA MEMRIA733)osfatoresligadostarefaaserempreendidae,demodomaisgeral,scondiesemqueosujeitolevadoacumpriressatarefaasexignciasdetratamentodessatarefa,aveloci-dadeeomododeapresentao,ascondiesderecuperaoetc.OindivduoqueenvelheceesuacognioSabemosqueoprocessodeenvelhecimento,nosdiasdehoj e,estassociadoaumamaiorsuscetibilidadefsicaeemocional.certoqueaexpressodessassuscetibilidadesencontra-senadependnciadacomplexainteraodefatoresfsicos,psicolgicos,sociais,econmicosecultu-rais,tornandooenvelhecer,porumlado,umprocessoextremamenteindividualizadoe,poroutro,marcadopelospadressocioculturaisdeumapoca.Assimsendo,amaneiracomoogru-posocialencaraavelhice,comointerpretaosadoecimentosecomolidacomaperspectivademorteinterfere,sobremaneira,navidadecadaindivduoemsuaauto-imagem,narelaoconsigomesmo,nasuacapacidadedeconstruirseupr-prio caminho, de se adaptar ao meio ou transform-loemseubenefcio,enasuarelaocomosoutros,idososouno.Taisconsideraespossibilitamdelinearoterrenoemqueasmudanasbiolgicasocorremeentend-las,nocomoumaforanica,queseprocessaisoladamente,massujeitastambmaoconjuntodeforasqueatuamnavidadohomem.74 OFICINA DA MEMRIA.Assim,oenvelhecimentoperdeaconceporeducionistaemqueodeterminismodasperdasbiolgicasregeoconjuntodeoutrosdeclnioseseapresentacomoumprocessointeracionalemultidimensional,queincluitransformaescons-tantesquepodemserinterpretadassimultanea-mentecomoganhoseperdas.Asingularidade,portanto,umaspectomarcantedoprocessodeenvelhecimento.Diferentesindi-vduosenvelhecemdediferentesmaneiras.Mui-tosestudostmdemonstradoaexistnciadeido-sosqueapresentamumaperformancesemelhanteaosadultosjovensemtestescognitivos(MAAS,1999)e,mesmoentreaquelesqueexpressamdeclnio, o processo se apresenta das mais variadasformasinciosbitoougradual;iniciadoemdiferentesidades;repercusseslevesouincapaci-tantesetc.Asdiferenasindividuaistendemaseampliarnodecursodotempo,emdecorrnciadainteraodediferentessistemasdeinfluncia.Grandepartedosestudosdesenvolvidosnessecampocompa-raramaperformancedejovenseidososdemes-mograudeescolaridade,eportantonoforamcapazesderesponderaumaamplavariedadedequestesrelacionadasspeculiaridadesdasmu-danascognitivasdoindivduo.Almdisso,ocomplexofuncionamentocognitivodependenosomentedosmecanismoscognitivosbsicos,mastambmdecontedosadvindosdoambientesociocultural.OFICINA DA MEMRIA75UmestudorealizadopeloDepartamentodeSer-viosdeSadedaCalifrnia(Ornish,1998,p.48)acompanhou,aolongode17anos,setemilho-mensemulheresquemoravamemumaregioprximadeSanFrancisco,AlamedaCounty,con-cluindoqueoslaossociaisecomunitrioscons-tituem-senumindicadormaispoderosodesadeelongevidadedoqueidade,gnero,raa,condiosocio-econmica, condies de sade registradas e pr-ticascomootabagismo,consumodebebidasal-colicas,comerdemais,atividadefsicaeautili-zaodeserviospreventivosdesade,bemcomoumndicecumulativodeprticasdesade(...).Aspessoascomlaossociaismaisslidosapresentaramumndicemuitomaisbaixodedoenasemorteprematuradoqueasquesesentiamisoladasesozinhas.(Idem)Outrosgrandesestudos(Idem,pp.36e39)20 vmcorroborandoessesachados,fortalecendoopres-supostodequeapresenadeforteselossociais21consistenumfatorpromotordelongevidadeas-sociadasadefsica,mentaleemocional.Umasriedeestudoslongitudinaisvemsendorealizada,buscandodeterminarosfatoresderiscoparaocomprometimentocognitivonocursodavidaecompreenderospadresindividuaisdoenvelhecimentocognitivo.Osresultadosdessesestudossodegranderelevnciaparaasadepblica,poisfavorecemaconstruodemodelos76 OFICINA DA MEMRIA.deenvelhecimentobem-sucedido,assimcomoodesenvolvimentodeintervenescomenfoquepreventivo visando promoo do envelhecimentocomqualidade.Umtrabalhoderevisobibliogrfica,desenvolvidoporLauner(1999),revelouqueinmerosestudospopulacionais examinaram a relao existente entredficitcognitivoefatoressociodemogrficosedestacaramoavanardaidade,menornveledu-cacionalemenorpatamarsocioeconmicocomofatoresqueaumentamoriscoparaodficitcogni-tivo.OsestudosquesededicaramaanalisaracontribuiodosfatoresderiscocardiovascularparaodficitcognitivotmidentificadooAVE,nveispressricoselevados,doenaarterialperif-rica,diabetes,intolernciaglicose,hiperinsu-l i nemi acomofatorescomprometedoresdacognio.PesquisasenvolvendoagenotipagemdeApoErelacionamapresenadealelosE4comadoenadeAlzheimereoutrosquadrosemqueseconstataprejuzocognitivo.OMaastrichtAgingStudy(MAAS,1999)umamploprojetodestinadoaoestudododeclniodememria,eoutrasfunesafins,relacionadoidade.Prope-seaacompanharcercadedoismilsujeitossaudveiscomidadevariandoentre24a81anos(idadeapresentadanomomentoinicialdoestudo).Seumaiorobjetivoconsisteemiden-ti fi cardetermi nantesdedecl ni ocogni ti voassociadosaoenvelhecimentoeestimaroimpac-torelativodecadaum.Nosresultadosiniciais,OFICINA DA MEMRIA77existemfortesevidnciassugerindoqueoseven-tos de ordem biolgica, Biological Life Events (trans-tornosdesadequetrazemrepercussesnofun-cionamentodocrebro),exerceminflunciamaismarcantedoqueaidadenotocanteaodeclniocognitivo.Almdisso,sugerequeosfatoresderiscoparadoenavascular(hipertensoarterial,distribuiodegorduracorporal,inatividade)socapazesdediscriminaroenvelhecimentonormaldoenvelhecimentocognitivobem-sucedido.Umdostemasquevmsendodestacadosemrecentes pesquisas a importncia do engajamentosocialnamanutenodaeficciacognitivanoenvelhecimento.UmestudolongitudinaldesenvolvidopeloDepar-tamentodeSadeeComportamentoSocialdaHarvardSchoolofPublicHealth(Bassuk,GlasseBerkman,1999)avaliou,quantosfunescognitivasedesengajamentosocial,2.812idososcomidadesuperiora65anos,emsuasresidn-cias,nosanosde1982,1985,1988e1994.Osautoresconcluramqueodesengajamentosocialumfatorderiscoparaocomprometimentocognitivoemadultosidosos.Acreditamqueointercmbiointerpessoalexige,aomenos,umamnimamobilizaodasfaculdadescognitivasequeambientesdemaiorcomplexidadepromo-vemmaiormobilizao.Ahiptesepostuladaqueaestimulaomentalcontinuadaafastaodeclniocognitivonosidosos,possivelmentepelamanutenodeumadensidadecrticadesinapses78 OFICINA DA MEMRIA.neocorticais.Assim,sugeremqueamanutenode muitos contatos e atividades sociais pode ajudaraprevenirouadiarodeclniocognitivoemido-sos.Out roest udoLongitudinalAgingStudyAmsterdam(Lasa)sepropsadetectarquaiscaractersticasdaredesocial(tamanho,variedade/complexidade,nmerodecontatos,tipoeinten-sidadedesuporte)somaisefetivasemotimizaraperformancecognitivavisandoaodesenvolvi-mentodeintervenespreventivas.Opblicoalvofoiconstitudopor3.107idososde55a85anos,queresponderamentrevistaeforamtestadosemsuasresidncias.Otrabalhoressaltouumasignificativacontribuiodotamanhodaredenavelocidadedeprocessamentodeinformaes,memriaeintelignciafluida,independentedaidadeeeducao.Opapeldosfatoresdeordemcontextualcomoeducao,ocupaoatividadesocialedelazereestilodevidafoiexaminadonoBonnLongitudi-nalStudyonAging(BOLSA)queacompanhou,naAlemanha,indivduosnascidosentre1890/1895e1900/1905at1984,emoitoavaliaesentre59e93anosdevida.Aanlisedosdadosrevelouqueosfatoresqueevidenciamasatividadesdoindivduoemcontextosespecficossomelhorespreditoresdoenvelhecimentocognitivodoqueaquelasquedescrevemostatusindividualcomoidade,sade,funessensoriais.Osautoressuge-remqueosadultosidosos,incluindoaquelescomOFICINA DA MEMRIA79i dadeaci made80anos, mant enhameincrementemhabilidadesintelectuaisvisandoaumbomdesempenhocognitivo.UmtrabalhodesenvolvidoporStevens,Kaplaneoutros(Stevensetal.,1999)buscouexplorarasrelaesexistentesentrememriaeestilodevida.Paraisso,estudaram497adultos,comidadeentre25 e 80 anos, usando o Mectamemory in AdulthoodQuestionnaire.Osresultadosdemonstraramquearealizaodeatividadefsicaeaexistnciadecontatosocialcomamigosefamiliaresforamrelacionadoscomosmaisaltosescoresemmem-ria,econcluramqueaspessoasqueseconside-ramfisicamenteesocialmenteativaspercebemsuascapacidadesdememriaboasesomenosansiosasemrelaoaoseudesempenhodeme-mria.Apercepodemudanasnacapacidadedememriapareceser,predominantemente,in-fluenciadapeloenvelhecimento,enquantoacapa-cidadedememriaeaansiedadeacercadodesempenhodememriasomaisinfluenciadasporfatoresdeordemsocial.OsefeitosdoestressenamemriadeadultosidosossaudveisforamestudadosporLupien,Gaudreaueoutros(Lupienetal.,1997).Osresul-tadosdotrabalhosugeremqueaperformancedamemriadeclarativa(associadaaoresgateconsci-entedomaterialaprendido)comprometidapeloaumentodecortisolnacorrentesangnea. Aoladodisso,observou-sequearespostaemocionalexacerbadaeantecipada(associadaliberaode80 OFICINA DA MEMRIA.cortisol)frenteexpectativadeumasituaoestressantemaiscomprometedoradoqueasituaoestressanteporsis,reforando,dessemodo,aimportnciadascaractersticascomporta-mentais de cada indivduo em relao aos efeitos desituaesdeestressenamemria.Osautoressuge-rem que a reao exacerbada de liberao de cortisolassociadaasituaesdeestresseagudasecrnicaspoderiaconstituir-senumfatorexplicativodaori-gemdosdficitsdememrianapopulaoidosa.BeccaLevyeEllenLanger,doDepartamentodePsicologiadaUniversidadedeHarvard(LevyeLanger,1994),desenvolveramuminteressanteestudoemqueinvestigaramoquantoosestere-tipos negativos acerca da velhice contribuem paraosdficitsdememriaemadultosidosos.Osparticipanteseramjovenseidososdetrsdistin-tosgrupos:chinesesquepossuamboaaudio,americanosportadoresdedficitauditivoeame-ricanosquepossuamboaaudio.Chineseseamericanossurdosforamescolhidosapartirdopressupostodequeteriamsidomenosexpostosaesteretiposnegativossobreenvelhecimentoe,emconseqncia,incorporadomenosdoqueamericanosquepossuamboaaudio.Buscaramavaliarostiposdememriaquetradicionalmentesoconhecidoscomodeclinantes.Comoresultado,observaramqueosjovensdostrsgruposobtiveramdesempenhosemelhante;oschinesesexpressaramumavisomaispositivaacercadoenvelhecimentoeseusidososobtiveramOFICINA DA MEMRIA81osmelhoresescoresnostestesdememria;osamericanos(nosurdos),comoesperado,apre-sentaramcrenasnegativasacercadoenvelheci-mentoeosseusidososospioresresultadosnostestes;osamericanossurdosexpressaramcrenasconsideradasintermediriasentreosoutrosdoisgruposeseusidososobtiveramumaperformancedememriaintermediria.Almdisso,noforamobservadasdiferenases-tatisticamentesignificativasentreaperformancedosjovensedosidososchineses.Deacordocomosautores,osresultadossugeremqueascrenasculturaisacercadoenvelhecimentoparticipamamplamentenadeterminaododesempenhomnsicoemadultosidosos.Envelhecimentobem-sucedidoQuando perguntaram ao grande pianista Rubinstein,numaentrevistadateleviso,comofaziaparacontinuarsendotobom,apesardaidadeavan-ada, ele mencionou trs estratgias: com a idade,passouatocarumnmeromenordepeas;pas-souapraticarcommaisfreqnciacadapeaepassou a introduzir ralentandos um pouquinho antesdecertostrechosmaisaceleradosdaspeas,demodoqueestessoassemmaisrpidosdoquenarealidadeeramtocados.Aestoexemplosdeseleo, (menos peas), otimizao (mais prtica),ecompensao(aumentodousodecontrastenavelocidade).Baltes(1994,p.37)82 OFICINA DA MEMRIA.Pensarnumatrajetriadeenvelhecimentobem-sucedidoleva-nosarefletirsobreoidealdemanutenodaautonomia,sobreapossibilidadedeoindivduoseguirocursodesuavida,man-tendoaconcepodesuaidentidadeedesuacapacidadedeinteragirnomundo,fazendoop-esajustadasssuasnecessidades,ereconhe-cendoquetambmautordeumahistriasin-gularqueestsendocontinuamenteconstrudaedsentidosuaexistnciaetc.Paratanto,pre-cisoconsideraroambientesocialnoqualseencontraesseindivduo,revendoessesparmetrosnumaperspectivaqueconsidereoindivduo-con-textocomoumaentidadenica,conformesuge-rido por Vigotsky. Isso porque as condies sociaisoferecidas,emtermosdeestruturaevalores,mantmumaintrincadarelaocomdiversosparmetros(sadeelongevidade;atividade,pro-dutividadeesatisfao;eficciacognitivaecompe-tncia social; capacidade de manter papis familiareseumaredederelaesinformais;capacidadesdeauto-regulaodapersonalidade;nveldemotiva-o etc.22) que, com freqncia, so apontados comoindicadoresdeumavelhicebem-sucedida.DeacordocomNeri,velhicebem-sucedidapodeserentendidacomoumacondioindividualegrupaldebem-estarfsico e social, referenciada aos ideais da sociedade,s condies e aos valores existentes no ambienteem que o indivduo envelhece, e s circunstnciasdesuahistriapessoaledeseugrupoetrio.OFICINA DA MEMRIA83Finalmente, uma velhice bem-sucedida preserva opotencialindividualparaodesenvolvimento,res-peitadososlimitesdaplasticidadedecadaum.(Neri,1995,p.34)Acognioportantoconstitui-senumaquestorelevante,fazendodaproduodeconhecimentonessareafontevaliosadesubsdiosparaoen-tendimentoemelhoraproveitamentodaspoten-cialidadesdoserhumano.Envelhecerbemimplicaumequilbriosutilentreaslimitaeseaspotencialidades,emqueoindi-vduo,conscientementeouno,adotaestratgiasquepossibilitamamanutenodesuaeficcia.SegundoLauraCarstensen(1995,p.114),BalteseBaltesdefiniramummodelodeenvelhecimentobem-sucedidobaseadonaotimizaoseletivacomcompensaoquenosajudaacompreenderofatodealgunsidososmaximizaremcertasexperi-nciaspositivasnocursodoenvelhecimento.NaspalavrasdeCarstensen:[osautores]argumentamqueaspessoasquetmuma velhice bem-sucedida selecionam os domniosquetmmaiorimportnciaemsuasvidas;com-pensamosdeclniosirrecuperveiscomhabilida-desaindapreservadasecomauxliossuplemen-tares;eotimizamodesempenhoemdomniosselecionados, lanando mo de reservas existentesouaumentandooesforocolocadonessesdom-nios.(Idem,p114)84 OFICINA DA MEMRIA.Umexemploclssicodaatuaodemecanismosdecompensaoemi ndi v duosi dososfoidemonstradonumainvestigaoquesepropsaestudarahabilidadededatilgrafosjove