MEMÓRIA SOBRE OS TRILHOS: ESTRADA DE FERRO … · Daniele Melo, Fernando Verissimo, Fernando...

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BRUCE MONTEIRO CORBETTA PATRÍCIA DOS SANTOS DIAS MEMÓRIA SOBRE OS TRILHOS: ESTRADA DE FERRO SOROCABANA E SUA PASSAGEM POR ASSIS ASSIS 2012 Av. Getúlio Vargas, 1200 Vila Nova Santana Assis SP 19807-634 Fone/Fax: (0XX18) 3302 1055 homepage: www.fema.edu.br

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BRUCE MONTEIRO CORBETTA

PATRÍCIA DOS SANTOS DIAS

MEMÓRIA SOBRE OS TRILHOS: ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA E SUA PASSAGEM POR ASSIS

ASSIS

2012

Av. Getúlio Vargas, 1200 – Vila Nova Santana – Assis – SP – 19807-634

Fone/Fax: (0XX18) 3302 1055 homepage: www.fema.edu.br

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BRUCE MONTEIRO CORBETTA

PATRÍCIA DOS SANTOS DIAS

MEMÓRIA SOBRE OS TRILHOS: ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA E SUA PASSAGEM POR ASSIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Instituto Municipal de

Ensino Superior de Assis como requisito do

Curso de Graduação em Comunicação

Social com Habilitação em Jornalismo,

analisado pela seguinte comissão

examinadora.

Orientador: MSc. David Lucio de Arruda Valverde

Analisador:

ASSIS

2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

CORBETTA, Bruce Monteiro DIAS, Patrícia dos Santos

Desenvolvimento do transporte ferroviário no Brasil: Documentário sobre a Estrada de Ferro Sorocabana em sua passagem pelo município de Assis / CORBETTE, Bruce Monteiro. DIAS, Patrícia dos Santos. Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA – Assis, 2012.

36 p.

Orientador: Ms. David Lúcio de Arruda Valverde Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis –

IMESA.

1.Assis. 2.Documentário. 3.Estrada de Ferro Sorocabana. 4.Malha Ferroviária. 5.Transporte Ferroviário.

CDD: 070 Biblioteca da FEMA

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DEDICATÓRIA

Em memória a João Batista do Santos, Noedi Cândido Dia e

Galdina Lemes Almeida.

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AGRADECIMENTOS

PATRÍCIA DOS SANTOS DIAS

Primeiramente agradeço a Deus, figura central da minha fé, a quem credito a

passagem negativa ou positiva de todas as pessoas que entraram na minha vida até

aqui e que foram responsáveis pela minha formação enquanto ser humano.

Aos meus pais, Edson e Cláudia, meus heróis de carne e osso, que nestes 21 anos

estiveram sempre ao meu lado na alegria e na tristeza, me ensinando a nunca

desviar dos meus valores morais e éticos para obter algo, e nunca desistir dos meus

sonhos, apoiando minhas decisões e investindo financeiramente em meus estudos.

E à minha irmã, Priscila, minha eterna pirralhinha, por todo apoio que me

proporcionou desde o início de sua existência, apesar das diferenças de

personalidade.

Às minhas avós: Luzia, meu exemplo de mulher, meu colo e a palavra de incentivo

em todos os momentos; e Dona Nena, - minha infância, adolescência e juventude - a

casa onde me sinto protegida de todo o mal. Também não poderia deixar de incluir

em meus agradecimentos minhas tias: Ana Paula, por todas as conversas e apoio

prestados, principalmente nestes últimos 4 anos; e Sônia, que sem indisposições

sempre esteve pronta a me ajudar.

À Fundação Educacional do Município de Assis, que apesar de suas falhas, foi onde

pude enfim dar início ao meu plano profissional. Onde na prática e na teoria, aprendi

o real valor do Jornalismo na construção da sociedade. E onde tive o prazer de

conviver com pessoas maravilhosas que sem dúvida alguma fizeram a diferença em

minha vida.

Aos Mestres, que não se limitaram em apenas transmitir seus conhecimentos

teóricos, mas foram além, se tornaram nossos amigos e dividiram experiências que

irei levar para o resto da vida.

Aos meus companheiros de estágio – representados aqui pelas figuras de Alex

Caligaris e Lutércio Alves - que mais do que colegas de trabalho, tornaram-se parte

da minha família. Os momentos, as experiências e oportunidades que me

proporcionaram são inesquecíveis. A todos esses, que chegaram e partiram durante

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os quatro anos que lá permaneci, meu singelo “obrigada” por dividirem comigo

conhecimento e alegrias, muitas alegrias.

Aos meus IRMÃOS de classe, pessoas sem as quais meus anos na faculdade não

teriam sentindo algum: Marcos Smania, meu protetor e protegido, amizade que não

me atrevo a definir para não correr o risco de tirar a essência de um sentimento tão

especial; Kallil Dib, o eterno apaixonado, meu irmão desde o primeiro encontro em

uma entrevista de estágio, antes mesmo de as aulas começarem; Renato Piovan, o

Mestre, a simplicidade e humildade aliada a um pouco de sarcasmo, bom humor e

honestidade; Nestário Piovan, o truta, futuro jornalista esportivo mais conceituado do

país, exemplo de profissional; Italo Luiz, outro futuro jornalista esportivo de respeito;

Diego Faustino, meu exemplo de persistência, o riso fácil nos momentos difíceis, a

dispersão da tensão das aulas, profissional a cima de tudo, sem sombra de dúvidas;

Bruce Monteiro, meu parceiro na execução deste trabalho. Amigo pelo qual carrego

um carinho imenso, que me ensinou que se tudo for levado a sério demais, a vida

perde a graça. E outras importantes personalidades que por um motivo ou outro

tiveram de deixar o curso: André (Cid), Bruna Domingues (Bruninha) e Felipe Portes

(Don). E a tantos outros amigos que pela minha vida passaram, obrigada por tudo,

gurizada!

A Thiago de Moraes, pessoa que neste último ano fez toda a diferença, e por quem

tenho imensa admiração.

Enfim, mas não menos importante, meus eternos agradecimentos ao Ms. David

Lúcio de Arruda Valverde, profissional que admiro desde o primeiro dia de aula, e

que me concedeu a honra em me orientar neste trabalho. Junto a ele, agradeço

também a Lucas Decarli e Marco Antonio Scaramboni, que com toda disposição

contribuíram com a parte prática, resultante desta pesquisa. E ainda, a todos os

entrevistados que se disponibilizaram a dar sua contribuição: Seu Arlindo e Seu

Décio, ex-ferroviários da extinta Estrada de Ferro Sorocabana e Seu Reinero,

historiador.

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AGRADECIMENTOS

BRUCE MONTEIRO CORBETTA

Primeiramente (lógico né) agradeço a Deus, Jeová, Ala, Buda...etc , que é o inicio,

meio e o fim de tudo, o criador do universo e tudo mais.

Aos meus pais, porque sem eles eu não existiria e que também são meu alicerce

Também não posso esquecer-me do resto da família, e que também fazem parte

deste alicerce!

Aos Mestres, que me aguentaram calados todos esses anos, dedico meu imenso

carinho por todos!

Aos companheiros de estágio– Alex Caligaris, Gabriel Camoleze, Lutécio Alves,

Daniele Melo, Fernando Verissimo, Fernando Candido, Joao Vitor Alves, Tayna

Souza, Guilherme Mendes, Carlos William, Augusto de Maio, Amanda Macedo, Igor

Matheus, Italo Luiz, Patricia Dias, Christiano M. Valim, Livia Calamita (que me

pagava lanche todos os dias) ,que tanto me ajudaram quando entrei no estagio e

principalmente a Noeli Pires que me contratou, fica aqui o meu “muito obrigado”.

Não posso esquecer também dos novos companheiros de estágio – Marina Ceconi

sempre torceu pra que tudo desse certo, a Alex Caligaris que me ajudou muito

nesses últimos quatros anos. A Marco A. Scaramboni que nesses dois últimos anos

me deu carona todos os dias. Agradeço também ao povo do busão porque sem eles

eu não conseguiria chegar até aqui!

Aos meus colegas de classe, pessoas sem as quais meus anos na faculdade não

teriam sentindo algum: Claudia Simone,Italo Luiz, Marcos Smania, Fabiane Cavina,

Aline de Cassia, Patricia Dias e Jessica Souza, muito obrigado por tudo!

À Tatiane Oliveira minha protetora e protegida, amizade que não me atrevo a definir

para não correr o risco de tirar a essência de um sentimento tão especial que cultivo

sempre.

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Parabenizo a companheira de aventuras de todas as horas, Patricia Dias, que me

ajudou em vários momentos e me deu a honra de estar fazendo este trabalho com

ela, agradeço eternamente!

Enfim, mas não menos importante, meus eternos agradecimentos ao Ms. David

Lúcio de Arruda Valverde, profissional que admiro desde o primeiro dia de aula, e

que me concedeu a honra em me orientar neste trabalho. Junto a ele, agradeço

também a Lucas Decarli e Marco Antonio Scaramboni, que com toda disposição

contribuíram com a parte prática, resultante desta pesquisa. E ainda, a todos os

entrevistados que se disponibilizaram a dar sua contribuição: Seu Arlindo e Seu

Décio, ex-ferroviários da extinta Estrada de Ferro Sorocabana e Seu Reinero,

historiador.

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“O jornalista que não acredita

na mudança, não sabe a que veio”.

Marilu Cabañas

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RESUMO O presente trabalho traz como proposta a produção de um documentário de caráter jornalístico. Desde logo se visa reconstruir a memória sobre a atividade da Estrada de Ferro Sorocabana, com foco no município de Assis. Cumpre observar que isto foi desenvolvido a partir de relatos de personagens que estiveram diretamente envolvidos na construção da Estrada. Objetivou-se, além de resgatar a memória coletiva de toda a população assisense, promover uma análise social, dos modos de vida, cultura e desenvolvimento do município a partir do ano de 1914, ano em que a Sorocabana chegou à cidade. Desta maneira, buscou-se compreender o passado para assim se entende a realidade presente. Procurou-se questionar a respeito de algumas lacunas como: o que a Estrada de Ferro Sorocabana representou na vida de cada funcionário, e o que representou ao município? Qual o sentimento dos personagens ao se depararem com a falta de manutenção deste que poderia constituir-se num valioso patrimônio histórico do município. O resultado deste trabalho além de remeter o telespectador a um reconhecimento histórico da cidade de Assis, agrega consigo uma importante discussão sobre o desenvolvimento das ferrovias no Brasil, antes considerada um avanço para todo o país e hoje, em muitas cidades, considerada um entrave ao progresso econômico e social.

Palavras-chave: Assis; Documentário; Estrada de Ferro Sorocabana; Malha

Ferroviária; Transporte Ferroviário.

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ABSTRACT

This work brings as proposed producing a documentary journalistic in nature. Firstly it aims to reconstruct the memory on the activity of Sorocabana Railroad, focusing on the city of Assisi. It should be noted that this was developed from statements from people who were directly involved in the construction of the road. The aim of besides rescuing the collective memory of the entire population assisense, promote social analysis, ways of life, culture and development of the city from the year 1914, the year the Sorocabana came to town. Thus, we sought to understand the past so we understand the present reality. We tried to ask about some shortcomings such as what the Railroad Sorocabana represented in the life of each employee, and who represented the municipality? What is the feeling of the characters when faced with the lack of maintenance that this could become a valuable historical heritage of the city. The result of this work beyond referring the viewer to recognize the historic town of Assisi, brings with it an important discussion on the development of railways in Brazil, once considered a breakthrough for the whole country and today, in many cities, considered an obstacle to economic and social progress

Key words: Assis; Documentary; Rail; Railway Network; Sorocabana Railroad.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 12

1. HISTÓRIA E MEMÓRIA ......................................................................

1.1. TEMPO E HISTÓRIA ........................................................................

1.2. PASSADO E PRESENTE .................................................................

1.3. O FUTURO EM PERSPECTIVA .......................................................

2. HISTÓRIA E COMUNICAÇÃO ............................................................

3. ROTEIRO ENTREVISTAS ...................................................................

4. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................

4.1. ENTREVISTADOS ............................................................................

5. ROTEIRO DO DOCUMENTÁRIO ........................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................

FONTES ...................................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................

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INTRODUÇÃO

Originada do grego historie, a palavra história carrega consigo o significado

de “ver” e “procurar”. Sendo assim, pode-se afirmar que história significa

testemunha, ou seja, aquele que vê.

O apogeu da construção das ferrovias no Brasil pode ser encarado por três

atos. O primeiro foi durante o último ano do Império (1880-1888), quando o governo

abriu ao tráfego uma média de 712km/ano.

Ainda no primeiro período do governo provisório da República, foi lançado um

plano de 36 ferrovias, totalizando 19.000km, com o objetivo de integrar todos os

Estados e desenvolver o interior, assegurando assim sua presença nas fronteiras.

No entanto, o plano foi abandonado em menos de seis anos.

A partir dos esforços de investimento, no período entre 1891 e 1898, a malha

ferroviária brasileira foi ampliada para 14.664km.

A terceira intensificação dos investimentos ferroviários ocorreu entre 1904 e

1914, considerada a belle époque, com planos de modernização e saneamento

urbano. Foram entregues ao tráfego, em média, 1.207km da malha ferroviária.

Criada no ano de 1870 por empresários sorocabanos, a Estrada de Ferro

Sorocabana tinha como objetivo inicial viabilizar o transporte do algodão – principal

comércio da cidade de Sorocaba.

A ferrovia chegou a Assis no ano de 1914, fazendo com que, 4 anos mais

tarde, a cidade se tornasse então sede da comarca. A Companhia contribuiu

também para o início do cultivo da lavoura cafeeira, fazendo do município um ponto

de convergência de toda a região.

Em 1971, a Sorocabana contava oficialmente com um total de 17.237

funcionários e 2.016km de extensão. E é a partir do momento em que passamos a

considerar esse número pessoas, que este trabalho se inicia. Foram mais 17 mil

pessoas e famílias que fizeram com que a Estrada de Ferro Sorocabana se tornasse

uma das mais conceituadas do país e mais importantes do estado. Garçons,

maquinistas, ferreiros, chaveiros... esses são os personagens que irão, neste

trabalho, nos contar uma história.

Afinal, quem melhor do que eles, que viveram o período cafeicultor para

documentar tudo o que acontecia na época? Suas escolas, clubes sociais e

esportivos, bandas de música, bibliotecas, armazéns, etc.

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Mais do que contar uma história, os personagens da Estrada de Ferro

Sorocabana nos apresentam uma sociedade diferente da que se vê atualmente,

porém que reside no mesmo ambiente.

Sem o objetivo de contar com a verdade absoluta, neste trabalho o que

prevalece é a visão, o olhar de diferentes pessoas, a partir de diferentes pontos, que

nos remetem a um passado não muito distante.

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1. HISTÓRIA E MEMÓRIA

História e Memória possuem uma relação de extrema cumplicidade. Para Le

Goff, essa relação se dá, uma vez que a memória não seja considerada história,

mas que se pense a memória como um de seus objetivos, pois é ela quem vai

identificar a identidade de um indivíduo ou um povo.

A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angustia (...)a memória coletiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e um objeto de poder (LE GOFF, 1992, p. 476).

A Estrada de Ferro Sorocabana faz parte de um passado recente na cidade

de Assis. Começou a ser construída no município em meados dos anos 1910 e

encerrou suas atividades em 1971. Durante esse período, vários trabalhadores

vivenciaram o dia-a-dia da construção e do trabalho, o que os torna testemunhas

vivas de um importante período no desenvolvimento econômico e cultural da cidade.

De acordo com Le Goff, pode-se compreender ainda que toda história é

contemporânea a partir do momento em que o passado é apreendido no presente.

Toda história é bem contemporânea, na medida em que o passado é apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, o que é ao mesmo tempo passado e presente (LE GOFF, 1992, p. 51).

A partir disso, compreende-se a história sob os seguintes pontos de vista: o

tempo, a oposição passado/presente e a relação da história com o futuro.

1.1. TEMPO E HISTÓRIA

Saber identificar o tempo, seja nas horas ou nos períodos da história, é uma

questão fundamental para a nossa existência.

No início dos tempos a maneira encontrada para dominar o tempo era natural.

Os primitivos baseavam-se no sol e na lua para determinarem o dia e a noite, por

exemplo. A isso, aplica-se o tempo natural das coisas.

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Mais tarde surgiram os calendários, com o objetivo de ter um controle maior

das atividades diárias; determinando dias, semanas, meses e anos.

Uma função essencial do calendário é a de ritmar a dialética do trabalho e do tempo livre, o entrecruzamento dos dois tempos: o tempo regular, mas linear ao trabalho, mas sensível a mutações históricas, e o tempo cíclico da festa, mais tradicional(...) (LE GOFF, 1992, p. 518).

O tempo cíclico é medido através dos ciclos da vida e a ideia de retorno, um

processo que se repete incessantemente de modo circular.

Le Goff analisa o tempo cronológico como “um instrumento da história

utilizado para domesticar o tempo natural”. No entanto, para ele,

A concepção dominante da historia continua ser a de uma historia cíclica, passando por fases de progresso, de apogeu e de decadência (LE GOFF, 1992, p. 246).

1.2. PASSADO E PRESENTE

Para compreender a oposição existente entre passado e presente, faz-se

necessário o entendimento de que tal relação não se trata de um dado natural, mas

de construção, uma vez que poder ser mudado de acordo com as épocas. Le Goff

afirma essa oposição como essencial na concepção de tempo.

A distinção entre passado e presente é um elemento essencial da concepção do tempo... esta definição do presente, que é, de fato, um programa, um projeto ideológico, defronta-se muitas vezes com o peso de um passado muito complexo (LE GOFF, 1992, p. 204).

Partindo do princípio de que para entender as circunstâncias do presente é

necessário conhecer e compreender o passado, Le Goff afirma:

A maior parte das sociedades considera o passado como modelo do presente. Nesta devoção pelo passado há, no entanto, fendas através das quais se insinuam a inovação e a mudança... A inovação aparece em uma sociedade sob a forma de um regresso ao passado: é a ideia- força das renascenças (LE GOFF, 1992, p. 213).

A Estrada de Ferro Sorocabana foi a responsável pelo crescimento

econômico da região de Assis, uma vez que viabilizou o transporte de mercadorias

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agrícolas para destinos distantes, atividade que antes era exercida através do lombo

dos burros em estradas carroçáveis. Esse desenvolvimento, que permitiu ao

município adentrar ao mapa daquele que na época era a principal fonte de renda do

país – o trabalho agrícola -, reflete nos dias atuais como o responsável pela

modernidade do município, o ponta pé inicial para a movimentação econômica da

região.

1.3. O FUTURO EM PERSPECTIVA

É importante ressaltar que, apesar do resgate da história, o fato histórico se

trata de uma montagem que exige trabalho técnico e teórico. Deste modo, descarta-

se a ideia de que a história é uma verdade absoluta, isenta de correções.

A história é o reino do inexato. A história quer ser objetiva, e não pode sê-lo. Quer fazer reviver e só pode reconstruir. Ela quer tornar as coisas contemporâneas, mas ao mesmo tempo tem de reconstituir a distância e a profundidade lonjura histórica (LE GOFF, 1992, p.21).

A partir do momento em que se propõe produzir um documentário sobre a

Estrada de Ferro Sorocabana sobre a visão de diferentes personagens da história –

trabalhadores e historiador -, propõe-se também fugir ao senso comum e permitir-se

chegar a conclusões não usuais.

O documento não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de uma montagem consciente ou inconsciente, da história da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio (LE GOFF, 1992, p. 547).

Documentar esse fato histórico, ao qual esta pesquisa se propõe a partir da

impressão de quem viveu à época e estudou o período, descarta também que este

seja um documento absoluto.

(...) não existe um documento-verdade. Todo o documento é mentira... falso, porque um monumento é em primeiro ligar uma roupagem, uma aparência enganadora, uma montagem. É preciso começar por desmontar, demolir esta montagem, desestruturar esta construção e analisar as condições de produção dos documentos-monumentos (LE GOFF, 1992, p. 548).

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Segundo Le Goff existem dois materiais passíveis de serem aplicados à

memória coletiva: os documentos e os monumentos.

Para ele, “monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar e

recordar, por exemplo, os atos escritos”, deste modo, possui como característica a

função de se ligar ao “poder de perpetuação voluntário ou involuntária das

sociedades históricas”.

Quando se refere aos documentos, Le Goff explica que não é qualquer coisa

que fica por conta do passado.

O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado. É um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa (LE GOFF, 1992, p. 545).

Em vista disso, destaca-se o caráter do presente trabalho como um

Monumento, ou seja, sua proposta é recordar um passado ainda recente na história

do município, porém um tanto quanto esquecida. O intuito aqui está em perpetuar

essa memória, a partir das recordações de pessoas diretamente envolvidas com o

trabalho na Estrada de Ferro Sorocabana. Quanto ao caráter Documento desta

pesquisa, acrescenta-se às entrevistas o trabalho realizado por um Historiador, o

qual já possui a análise científica do período.

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2. HISTÓRIA E COMUNICAÇÃO

Sob as perspectivas de Le Goff e sua visão de história, entendida na estreita

relação entre passado e presente, história e futuro, levanta-se neste momento uma

discussão sobre o ponto de vista dos acontecimentos presentes neste período e a

importância da comunicação enquanto codificadora da história.

Em sua obra “História e Comunicação na Nova Ordem Internacional”, o

pesquisador, Maximiliano Martin Vicente, estabelece diferenças entre os

acontecimentos abordados pela história tradicional e pelos meios de comunicação.

Para a história, o resgate do acontecimento implica a possibilidade de se exercitar a cientificidade manifesta na elaboração de explicações úteis para a compreensão das estruturas e das mudanças. Tal procedimento facilitará o entendimento do tempo presente e do mundo no qual o historiador se situa (VICENTE, 2009, p. 2017)

Os meios de comunicação, por sua vez, participam no processo de

construção da realidade social, através da divulgação dos fatos, o que acaba por

fomentar argumentos, servindo de referência para que o indivíduo forme ou rejeite

opiniões e versões de um mesmo fato.

Apesar de suas narrativas divergirem quanto à construção textual, história e

comunicação se encontram a partir do momento em que ambas estabelecem pautas

comuns que se enriquecem a partir do contato com saberes e experiências

peculiares a cada área.

O passado tem uma analogia íntima com o presente e com a atualidade. Pela história, elaboramos reconstituições interpretativas de modelos sociais, econômicos, políticos e culturais que desembocam na atualidade. Resulta tão importante desvendar o passado como interpretar o presente, o momento atual (VICENTE, 2009, p. 116).

Essa relação entre comunicação e história é claramente perceptível na

execução prática deste trabalho, que resultou em um documentário

caracteristicamente jornalístico, que traz a discussão sobre o desenvolvimento das

ferrovias brasileiras a partir da visão de ex-ferroviários da extinta Estrada de Ferro

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Sorocabana e um historiador, na qual a partir das memórias e estudos sob época,

questionam o porquê da extinção e os motivos que levam o país atualmente a não

investir no transporte ferroviário.

3. ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

ESTRADA DE FERRO SOROCABANA

DOCUMENTÁRIO – TCC

ORIENTADOR: MS. DAVID LUCIO VALVERDE

ORIENTANDO(S): BRUCE MONTEIRO / PATRÍCIA DIAS

VÍDEO ÁUDIO

IMAGENS ANTIGAS DA ESTRADA

DE FERRO SOROCABANA

IMAGENS ATUAIS DA ESTRADA NO

MUNICÍPIO DE ASSIS

IMAGENS DOS OBJETOS

ENCONTRADOS NO MUSEU DO

FERROVIÁRIO – ESTAÇÃO.

IMAGENS DA LOCALIZAÇÃO DA

ANTIGA FEPASA

IMAGENS DA ÉPOCA – OBTIDAS

ATRAVÉS DE DOCUMENTOS,

FOTOGRAFIAS... OBJETOS

FORNECIDOS PELOS

ENTREVISTADOS.

ENTREVISTADOS:

HISTORIADOR

REINERO ANTONIO LERIAS

– QUE IRÁ ABORDAR OS

ASPECTOS HISTÓRICOS DA

ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA, COM FOCO NO

MUNICÍPIO DE ASSIS.

PERSONAGENS

ARLINDO PEREIRA

(telegrafista e chefe de estação)

DÉCIO FRUTUOSO

(artífice)

RESGATE DA MEMÓRIA –

LUGARES QUE NO PASSADO

FORAM DE GRANDE IMPORTÂNCIA

PARA O DESENVOLVIMENTO –

ECONÔMICO, SOCIAL E CULTURAL

– DO MUNICÍPIO E QUE, NO

ENTANTO, ENCONTRAM-SE

DESATIVADOS HOJE.

20

PRIMEIRA PARTE -

INICIAR O DOCUMENTÁRIO

ABORDANDO A IMPORTÂNCIA DA

MEMÓRIA, A PARTIR DE IMAGENS

DE LUGARES QUE FORAM

IMPORTANTES NO PASSADO, MAS

QUE HOJE CAÍRAM NO

ESQUECIMENTO DA POPULAÇÃO.

SEGUNDA PARTE –

QUESTIONÁRIO

A IDEIA AQUI, É INTERCALAR A

FALA DE CADA ENTREVISTA –

HISTORIADOR E OS 3

PERSONAGENS – A COMEÇAR

PELO HISTORIADOR.

COMO ERA A CIDADE NO

PASSADO? O QUE MOVIMENTAVA

O CRESCIMENTO DO MUNICÍPIO?

COMO ERA O ESTILO DE VIDA?

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS

LUGARES QUE PODEM SE

DESTACAR NO PASSADO E QUE

HOJE, JÁ DESATIVADOS, CAÍRAM

NO ESQUECIMENTO?

- FALAR SUCINTAMENTE DE CADA

LOCAL.

POR QUE CAÍRAM NO

ESQUECIMENTO?

QUAL A SITUAÇÃO DESSES

LUGARES HOJE? COMO SE

ENCONTRAM AS ESTRUTURAS?

TERMINAR ESSA PRIMEIRA PARTE

DO DOCUMENTÁRIO COM O FOCO

CENTRA DA DISCUSSÃO – A

ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA.

HISTORIADOR –

COMO SURGIU A ESTRADA DE

FERRO SOROCABANA?

O QUE FEZ DA CIDADE UM

IMPORTANTE POLO DA MALHA

FERROVIÁRIA NA ÉPOCA?

COMO ERA A SITUAÇÃO DOS

FERROVIÁRIOS?

COMO SE DEU O ENCERRAMENTO

DE SUAS ATIVIDADES

21

3 PERSONAGENS –

EM QUE ANO COMEÇARAM A

TRABALHAR NA SOROCABANA?

O QUE FAZIA ANTES DISSO?

COMO CHEGOU NA ESTRADA DE

FERRO? – SE NÃO FOR

ASSISENSE, O QUE O MOTIVOU A

SEMUDAR PRA CÁ?

QUAL ERA O TRABALHO

REALIZADO LÁ?

COMO ERA A RELAÇÃO COM A

FAMÍLIA? RECEBIAM ALGUM TIPO

DE BENEFÍCIO?

HISTÓRIAS INTERESSANTES QUE

OCORRERAM NO PERÍODO EM

QUE TRABALHOU NA ESTRADA DE

FERRO.

COMO ERA A RELAÇÃO ENTRE OS

FERROVIÁRIOS?

E A RELAÇÃO COM OS

SUPERIORES? - OU COM OS

CARGOS INFERIORES?

QUANDO ENCERROU SEUS

TRABALHOS NA SOROCABANA?

POR QUÊ?

O QUE A SOROCABANA

REPRESENTOU NA HISTÓRIA DE

CADA UM?

NA ÉPOCA, IMAGINÁVA-SE QUE

UM DIA ELA SERIA EXTINTA?

O QUE SENTE QUANDO PASSA

PELA ESTAÇÃO HOJE, E VÊ O

22

ABANDONO AO QUAL ELA SE

ENCONTRA?

DEPOIS DE RELEMBRAR TODOS

OS ACONTECIMENTOS DURANTE

A ENTREVISTA, QUAL O

SENTIMENTO QUE FICA EM

RELAÇÃO À ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA?

INTERCALAR COM AS

ENTREVISTAS, INFORMAÇÕES

PARALELAS SOBRE O QUE

ACONTECIA NO PAÍS DURANTE AS

ÉPOCAS CITADAS, E DE QUE

MANEIRA ISSO INTERFERIA NO

TRANSPORTE FERROVIÁRIO.

EX.: 1929 – QUEDA DA BOLSA DE

VALORES EM NOVA YORK – E O

BRASIL SOFRIA COM A CRISE. UM

DOS MAIORES EXPORTADORES

DE CAFÉ SE VIU OBRIGADO A

QUEIMAR SEU ESTOQUE

CAFEEIRO. DE QUE MANEIRA

ISSO AFETOU O TRABALHO NA

FERROVIA?

O DOC. DEVERÁ SER ENCERRADO

COM A RESPOSTA DOS

ENTREVISTADOS SOBRE “DEPOIS

DE RELEMBRAR TODOS OS

ACONTECIMENTOS DURANTE A

ENTREVISTA, QUAL O

SENTIMENTO QUE FICA EM

RELAÇÃO À ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA?”

23

4. MATERIAL E MÉTODOS

O desenvolvimento prático deste trabalho contou com o auxílio de três

entrevistados e diferentes visões sobre a passagem da Estradada de Ferro pela

cidade.

Foi elaborado um roteiro de entrevistas que foram conduzidas a partir de 3

pontos de vista distintos sobre a ferrovia que passou pelo município de Assis: dois

ex-ferroviários e um historiador. A partir disso, houve a elaboração do roteiro do

documentário, edição e finalização do trabalho.

4.1 ENTREVISTADOS

Arlindo Pereira (Telegrafista e Chefe de Estação)

Arlindo Pereira iniciou seu trabalho na Estrada de Ferro Sorocabana como

telegrafista, vindo a se tornar mais tarde – por merecimento, como faz questão de

ressaltar – chefe de estação. Aposentou-se após 30 anos de serviço.

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Em sua entrevista ressalta o orgulho de ser ferroviário; as transformações

econômicas, culturais e geográficas que a ferrovia trouxe ao município de Assis.

Décio Frutuoso (Artífice)

Décio Frutuoso atuou na Estrada de Ferro Sorocabana por 24 anos, como

artífice. Atuava ainda no Associação Atlética Esportiva Ferroviária, equipe

profissional de futebol que disputou a segunda divisão do campeonato paulista, na

década de 1950.

Em sua entrevista ressalta o orgulho em ser ferroviário e as oportunidades

que o emprego lhe proporcionou como a segurança financeira e a conquista de sua

casa própria. Décio relembra ainda toda a movimentação conduzida na Estação

Ferroviária – despedida de famílias, chegadas de parentes, cargas, políticos... -, os

cargos que existiam dentro da empresa e a importância de cada um para o bom

funcionamento do trabalho em geral.

25

Reinero Antonio Lerias (Historiador)

Reinéro Antônio Lérias, pesquisador graduado em História, pela USP;

Pedagogia, pela UNINOVE; e Dr. em História Econômica, pela USP.

Em sua entrevista, traz o olhar de historiador e a criticidade de quem a

acompanhou e estudou o período a fundo. Reinero aborda lado histórico da

passagem da Estrada de Ferro Sorocabana por Assis; sua importância para o

desenvolvimento regional, sem deixar de lado o questionamento sobre a falta de

investimentos no setor ferroviário brasileiro.

26

5. ROTEIRO DO DOCUMENTÁRIO

MEMÓRIA SOBRE OS TRILHOS

ORIENTADOR: DAVID LÚCIO DE ARRUDA VALVERDE

ORIENTANDO(S): BRUCE MONTEIRO CORBETTA / PATRÍCIA DOS SANTOS

DIAS

VÍDEO ÁUDIO

PRIMEIRA PARTE

IMAGENS ATUAIS DOS ANTIGOS

GALPOES DA FEPASA

“A NATUREZA EM SUA SAPIEIS...

NAQUELE BELO DIA, TE DESCOBRI”

POESIA ESCRITA POR ARLINDO

PEREIRA

SONORAS

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“A ESTRADA DE FERRO, ELA TEM UM

COMPONENTE FUNDAMENTAL...SE

NÃO HOUVESSE A FERROVIA”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“EU INICIEI NA SOROCABANA...DE

1950”

“E EU FIZ O CONCURSO...PRA

ENTRAR, FAZER O CURSO EM 1947”

“E FUI ADMITIDO COMO

FUNCIONÁRIO...COMO

TELEGRAFISTA”

“FUI PROMOVIDO...EU TINHA 20

ANOS”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“EU QUANDO EU ENTREI NA

ESTRADA...FOI EM 1958”

27

“EU COMECEI A TRABALHAR,

TRABALHAVA NO DEPÓSITO...NO

DEPÓSITO, NÉ”

“EU FUI AJUDANTE DE

ARTÍFICE...PASSEI A SER ARTÍFICE”

“ARTÍFICE É O MECÂNICO...NO

DEPÓSITO”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“PASSAGEM DO SÉCULO IX

...COMEÇA A SE ESTENDER PARA O

INTERIOR, NÉ’

“AS FERROVIAS, NÃO SÓ COM

RELAÇÃO À SOROCABANA...MESMO

PORQUE A POLÍTICA IMPERA”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“A SOROCABANA TEVE

AQUI...DEPOIS DAÍ EM DIANTE ATÉ

PRESIDENTE EPITÁCIO”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“A ESTRADA DE FERRO, NAQUELE

TEMPO, ERA...MELHOR QUE TINHA

ERA ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA”

“QUANDO OS TRILHOS

‘CHEGOU’....ENTÃO O PROGRESSO

CHEGOU EM CIMA DOS TRILHOS”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“OLHA, ASSIS, ELA, ATÉ

HOJE...ARENOSO, NÉ, E CAMPO.

ENTÃO, É...”

“...A POSIÇÃO GEOGRÁFICA...É UM

TRNCAMENTO”

SEGUNDA PARTE

IMAGENS ATUAIS DA ESTRADA

B.G.: THE PIANO GUYS

28

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“ENTÃO, QUANDO ELA VEIO PRA

CÁ...ENTÃO VEIO TODO O

PROGRESSO PRA CÁ”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“O PROGRESSO NA CIDADE

TODINHA...O PESSOAL IA NA

ESTAÇÃO VER O TREM CHEGAR”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“NÓS RECEBÍAMOS SÓ DE

CAFÉ...TUDO TRANSPORTADO PELA

SOROCABANA, POR ASSIS”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“E O FERROVIÁRIO, ELE TINHA

ORGULHO DE TRABALHAR NA

FERROVIA....COMO A PESSOA DE

SEGUNDA CLASSE”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“A GENTE SEMPRE, SEMPRE TEVE

AQUELE...A GENTE SEMPRE TEVE

AQUELE RESPEITO E MÚTUO”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“A RELAÇÃO ENTRE OS

COLEGAS...ERA UMA FAMÍLIA”

“TUDO ERA A MESMA COISA DE UMA

IRMANDADE”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“QUANDO A GENTE ERA

JOVEM...ERA A MESMA COISA QUE

FALAR JAPONÊS”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“EU TIVE UMA FELICIDADE MUITO

GRANDE...ERA UMA UNIÃO MUITO

GRANDE”

“VOCÊ VIA DIA PRIMEIRO DE

29

MAIO...O DEPÓSITO APITAVA, OS

‘CANHÃO’...”

“TINHA TAMBÉM MISSA, NÉ”

“FORA TINHA A IMAGEM DE NOSSA

SENHORA...MAIS FERROVIÁRIO

COMA A FAMÍLIA IA FRENQUENTAR”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“A SOROCABANA DAVA SUPORTE O

SEGUINTE...PAGAVA O HOTEL,

PAGAVA TUDO”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

“A ESTRADA DE FERRO, PRA DIZER A

VERDADE PRA VOCÊ...TER UMA

CASINHA, TER UMA CASA”

“PRINCIPAMENTE A GENTE QUE NÃO

TINHA UM GRANDE ORDENADO”

“MAS EU CONSEGUI FAZER NA

ESTRADA DE FERRO

SOROCABANA....15 MIL TIJOLOS”

“ERA MENOS DO QUE SE VOCÊ

COMPRASSE NUMA HOLARIA DA

CIDADE”

“PORQUE PO FERROVIÁRIO TINHA

TUDO”

“TINHA UM ARMAZÉM...QUISESSE NA

SUA CASA, ALIMENTO BÁSICO”

30

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“AH, NA SOROCABANA TRABALHEI 30

ANOS... E CINCO MESES”

“TRABALHEI LÁ, NESSA

SEÇÃO...AINDA ERA JOVEM, 43

ANOS”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“ESSE AQUI, VOCÊ FAZ ESSES

BRINQUEDOS...UMA

HOMENAGENZINHA DO TEMPO EM

QUE EU FUI FERROVIÁRIO”

“EU COM 24 ANOS E 6 MESES...EU

SAÍ PORQUE EU APOSENTEI”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“O QUE TEM QUE SER DESTACADO,

POR EXEMPLO...ENTÃO, ELES TINHA

REALMENTE UMA POSIÇÃO DE

DESTAQUE”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“NA FERROVIA VOCÊ TINHA

DIVERSAS CATEGORIAS...QUE NÃO

EXISTIA SEPARAÇÃO DE

CATEGORIA”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“OS TRABALHADORES DA SOCA,

QUE SE CHAMA...E HOJE É

CONSIDERADO UM OBSTÁCULO”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO’

“O QUE EU VIA NA

SOROCABANA...ACABARAM, NÉ.

ACABARAM COM ELA”

TERCEIRA PARTE

IMAGENS ATUAIS DA ESTRADA DE

FERRO SOROCABANA

31

B.G.: THE PIANO GUYS

G.C.:

RENERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“A PARTIR DOS ANOS 60, O GOLPE

MILITAR...PODEMOS DIZER ASSIM, O

FIM DAS FERROVIAS, NÉ”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“NUNCA EU PENSAVA ISSO”

“VER UMA EMPRESA TÃO

GRANDE...QUE EXISTE NA FACE DA

TERRA”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“EU VOU DIZER UMA COISA PRA

VOCÊ: EU ATÉ HOJE...MAS ACABAR

NÃO!”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIA

HISTORIADOR

“PRIMEIRO A GENTE TER QUE VER O

LADO DO PROFISSIONAL...O

CHEMADO FAMOSO B.G.”

“SERÁ O CHEFE DE TREM...DA

CRISE, VAMOS DIZER, DO

SUCATEAMENTO DA FERROVIA”

“ENTÃO, ATINGE A POPULAÇÃO

COMO UM TODO...EM TODOS OS

LUGARES QUE ERAM SERVIDOS

PELA RODOVIA”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“SAUDADE E BASTANTE COMOVIDO

DE VER...COMO É QUE DAVA

PREJUÍZO? NÃO DAVA”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“MUITAS PESSOAS ‘FALA’: OS

‘TRILHO TÁ’ ATRAPALHANDO...OS

‘TRILHO ERA’ O PROGRESSO”

32

“COMO PODE ACONTECER DE

ACABAR UM TREM...MAS NUNCA,

NUNCA, NUNCA É A ESTAÇÃO

FERROVIÁRIA. É MUITO TRISTE”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“É, FOI TOTALMENTE

PERNICIOSO...O SETOR

PETROLÍFERO, POR EXEMPLO.

ESSES SE BENEFICIÁRIAM. OS

DEMAIS NÃO”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“SE ELA, COMO PROGREDIU

TANTO...UMA EMPRESA QUE ERA A

MAIOR ESTRADA DE FERRO”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“EU QUERO DIZER PRA VOCÊ O

SEGUINTE: EU TODA VIDA

PENSEI...FICA OLHANDO, FICA

OLHANDO, SABE POR QUE?”

“EU SEMPRE MOREI PERTO DA

ESTRADA DE FERRO SOROCABANA,

NÉ...HOJE TÁ ESTORVANDO EM

TUDO QUANTO É CIDADE”

G.C.:

REINERO ANTONIO LERIAS

HISTORIADOR

“O QUE PERMITE AO HOMEM

ROMPER... SÃO AS FERROVIAS”

G.C.:

ARLINDO PEREIRA

TELEGRAFISTA – CHEFE DE

ESTAÇÃO

“É, EU FICO ATÉ

CONTRARIADO...SENDO MAL

USADA”

G.C.:

DÉCIO FRUTUOSO

ARTÍFICE

“ESSA PERGUNTA QUE VOCÊ ME

FAZ, ME DÁ UM PONTADA NO

CORAÇÃO...É MUITO TRISTE”

33

“EU NÃO SEI, EU...VOCÊ NÃO

ACREDITA CERTAS COISAS”

IMAGENS ATUAIS DA FERROVIA

B.G.: THE PIANO GUYS

POEMA DE ARLINDO PEREIRA

“QUANDO CAIU A

TARDE...DESCANSANDO MEU

CORAÇÃO.”

CRÉDITOS FINAIS, COM VÍDEO DO

ARQUIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO

GEOGRÁFICO E GENEALÓGICO DE

SOROCABA - IHGGS

34

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da clara diferença entre a escrita histórica e a escrita da comunicação,

não se pode negar que ambas caminham juntas.

Enquanto a história busca nos fatos argumentos para explicar e entender a

evolução da sociedade e suas mudanças até aqui, a comunicação, por sua vez,

apresenta o papel de documentadora desse estudo, de construtora da realidade

social.

Para tal feito, a comunicação busca na memória subsídios para levar a seu

público conhecimentos que os possibilitem compreender suas raízes, formar sua

própria opinião e, por fim, resgatar sua identidade.

A Estrada de Ferro Sorocabana, mais do que contribuir para o

desenvolvimento econômico nacional, foi a responsável pela urbanização de

inúmeras cidades do interior paulista.

Sua contribuição não foi além dos efeitos econômicos e refletiu na vida dos

assisenses, que passaram a sair do campo e instalar-se na cidade.

O início do comércio local, os primeiros restaurantes e armazéns, também se

deram em função de toda a movimentação que a ferrovia gerou naqueles tempos.

Não por acaso, seu fim também refletiu claramente a vida dessas pessoas.

Ao se proceder a análise dos discursos proferidos pelos entrevistados surge

então uma importante discussão sobre o fim das ferrovias no país – dado a

interesses internacionais e principalmente nacionais – e, mais do que isso, a

importância do período para a história do município de Assis, o descaso atual com

as lembranças da época e, deste modo, o valor da memória enquanto construção da

identidade coletiva.

A bem da verdade, quanto mais se buscam respostas para sua extinção, se

descobre que para além de uma razão definitiva se elevam perguntas sobre seu

legado histórico capaz de construir um memorial coletivo inesquecível e inseparável

de três conceitos que inundam o imaginário da modernidade, quais sejam:

velocidade, tempo e espaço.

35

FONTES

BIBLIOTECA DE ASSIS. Economia. Documento eletrônico {on line} disponível na Internet

via WWW.URL: <http://www.bibliotecadeassis.sp.gov.br/assis.htm>. Acesso em 28 de maio

de 2011.

CAVALCANTI, Flavio R. Evolução Histórica da Malha Ferroviária Brasileira: Extensão

dos Trilhos e Variação Anual. Documento eletrônico {on line} disponível na Internet via

WWW.URL: <http://vfco.brazilia.jor.br/Planos-Ferroviarios/evolucao-quilometrica-das-

ferrovias-no-Brasil.shtml>. Acesso em 13/08/2012

DNIT FERROVIÁRIO. A História da Locomotiva. Documento eletrônico {on line} disponível

na Internet via WWW.URL: <http://www1.dnit.gov.br/ferrovias/historico.asp>. Acesso em 28

de maio de 2011.

ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS. Estrada de Ferro Sorocabana: histórico da linha.

Documento eletrônico {on line} disponível na Internet via WWW.URL: <

http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/berncampos.htm>. Acesso em 23/10/11

EUMED. A Importância Das Ferrovias Para o Desenvolvimento Econômico Brasileiro.

Documento eletrônico {on line} disponível na Internet via WWW.URL:

<http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/07/slp.htm>. Acesso em 23/10/11

PLURICOM. Importância da Estrada de Ferro Sorocabana e suas relações de trabalho.

Documento eletrônico {on line} disponível na Internet via WWW.URL:

http://www.pluricom.com.br/ clientes/fundacao-editora-da-unesp/noticias

/2008/12/importância- da-estrada-de-ferro-sorocabana-e-suas/?searchterm=> Acesso em

28/05/11

36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LABAKI, Amir. É Tudo Verdade. Editora W11, 2005.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, et all. 2° Ed.

Campinas: UNICAMP, 1992.

LOSNAL, Célio José. Nos Trilhos da Memória: Trabalho e Sentimento – História da Vida

dos Ferroviários da Companhia Paulista e FEPASA. Volume 1. São Paulo: Editora

Unesp, 2004.

LOSNAL, Célio José. Nos trilhos da Memória: Ferro e Sangue – História da Vida de

Ferroviários da Noroeste do Brasil e RFFSA. Volume 2. São Paulo: Editora Unesp, 2004.

MOREIRA, Maria de Fátima Salum. Ferroviários, Trabalho e Poder. São Paulo: Editora

Unesp, 2008.

SILVEIRA, Márcio Rogério. A Importância Geoeconômica das Estradas de Ferro no

Brasil. Dissertação (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista Faculdade

de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente – SP, 2003.

VICENTE, Maximiliano Martin. História e Comunicação na Ordem Internacional. São

Paulo: Editora Unesp, 2009.